International Guy Vol. 7 - 8 - 9 - Londres, Berlin, Washington (Oficial) - Audrey Carlan

475 Pages • 137,807 Words • PDF • 2.8 MB
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Também de Audrey Carlan Série A GAROTA DO CALENDÁRIO Volumes de Janeiro a Dezembro Série TRINITY Corpo Mente Alma Vida Destino

Tradução Sandra Martha Dolinsky

1ª edição Rio de Janeiro-RJ / Campinas-SP, 2019

Editora Raïssa Castro Coordenadora editorial Ana Paula Gomes Copidesque Lígia Alves

Revisão Cleide Salme Capa, projeto gráfico e diagramação da versão impressa André S. Tavares da Silva Juliana Brandt Foto da capa Spectral-Design/Shutterstock (homem) Título original International Guy

London, Berlin, Washington

ISBN: 978-85-7686-755-5 Copyright © Audrey Carlan, 2018 Todos os direitos reservados.

Tradução © Verus Editora, 2019

Direitos reservados em língua portuguesa, no Brasil, por Verus Editora. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da editora.

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Rua Benedicto Aristides Ribeiro, 41, Jd. Santa Genebra II, Campinas/SP, 13084-753 Fone/Fax: (19) 3249-0001 | www.veruseditora.com.br CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ C278i Carlan, Audrey International guy: Londres [recurso eletrônico] / Audrey Carlan; tradução Sandra Martha Dolinsky. – 1. ed. – Campinas [SP]: Verus, 2019. recurso digital (International Guy; 7) Tradução de: International guy: London Sequência de: International guy: Montreal Continua com: International guy: Berlim Formato: epub Requisitos do sistema: adobe digital editions Modo de acesso: world wide web ISBN 978-85-7686-755-5 (recurso eletrônico) 1. Romance americano. 2. Livros eletrônicos. I. Dolinsky, Sandra Martha. II. Título. III. Série. 19-54866 CDD: 813 CDU: 82-31(73) Vanessa Mafra Xavier Salgado – Bibliotecária – CRB-7/6644 Revisado conforme o novo acordo ortográfico Seja um leitor preferencial Record. Cadastre-se no site www.record.com.br e receba informações sobre nossos lançamentos e nossas promoções.

Atendimento e venda direta ao leitor: [email protected] ou (21) 2585-2002

Para Amy Tannenbaum, minha agente, minha amiga. Quando as coisas estavam muito escuras... você foi a minha luz. Quando perdi a esperança... você me prometeu outro caminho. Para mim, você é um presente para o mundo. Eu sou apenas uma honrada destinatária.

SUMÁRIO Skyler 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Skyler

Skyler

Esta noite, meu caminho está aberto a minha frente, dividido como uma bifurcação. Uma direção leva ao “felizes para sempre” com o homem que passei a amar e em quem confio; a outra, a uma vida sem ele. Escovo os dentes enquanto leio as palavras que escrevi no espelho. Confie no seu coração. Espero que essas palavras não o levem a me deixar, como a carcaça vazia da mulher que eu era antes de conhecê-lo. Nos últimos meses, eu ganhei muito. Não financeiramente ou como celebridade. Ganhei muita, muita felicidade, como nunca imaginei que teria depois de perder meus pais. Até conhecer Parker, minha vida parecia dividida ao meio. Entre a pessoa feliz que eu era antes e a mulher com um presente incerto. Com Parker ao meu lado, essa incerteza mudou. Pela primeira vez me senti inquebrável, vivendo um sonho perfeito. Com um homem para chamar de meu, por quem eu tenho sentimentos profundos. Novos amigos verdadeiros, que não querem alguma coisa de mim por causa da fama. Dois ótimos seguranças a quem eu confio minha vida, e minha inspiração está de volta, meu trabalho melhor do que nunca. O paraíso. Talvez haja uma cota de coisas boas para cada pessoa na vida e eu tenha atingido a minha. O divino, Deus, o universo, a Mãe Natureza, seja quem for que fez as regras deu a cada pessoa um medidor de felicidade, e eu cheguei ao máximo quando me apaixonei por Parker James Ellis. Sempre acreditei que existe um equilíbrio natural no funcionamento do mundo. Bem, mal. Felicidade, tristeza. Amor, ódio. Sem um, o outro nunca poderia atingir seu potencial máximo.

Para mim, Parker é tudo de feliz e certo. Com isso, o meu destino é ser triste e errada? Fecho os olhos e respiro fundo. De repente, um calor invade o ar ao meu redor. Uma mudança na atmosfera faz arrepiar os pelos finos das minhas costas e pescoço enquanto sua carne masculina e quente pressiona minha pele. Um peso familiar envolve minha cintura, me puxando mais firmemente para perto dele. Mantenho os olhos fechados, com medo de imaginar tamanha beleza. Ansiei por essa sensação, pelo carinho das suas mãos em minha pele nua de um jeito amoroso e gentil, por um tempo que me pareceram dias intermináveis e horas incontáveis. Sua barba rala arranha meu pescoço enquanto ele encaixa o rosto nesse espaço que já é seu. Um suspiro me escapa, como se tivesse vontade própria. Inconscientemente, sei que em seus braços estou no lugar mais pacífico do mundo. — Você me deixou uma mensagem — ele diz, e sua voz ressoa pelo meu pescoço e peito. Anuo, incapaz de falar com ele tão perto. A força de sua energia se mistura com a minha, abrangendo tudo. — Confie no seu coração. Parece ser um tema recorrente desde a semana passada. Você está me dizendo para confiar no meu próprio coração ou no seu, que já é meu? — Ele passa os braços pela minha cintura, me abraçando por trás. Enlaço meus braços nos dele, deixando seu calor me penetrar profundamente. — As duas coisas — digo, um pouco mais alto que um sussurro, porque cada centímetro do meu coração machucado é dele. Parker geme no meu pescoço, e eu sinto o som descer até chegar aos dedos dos pés. Abro os olhos e encontro seu olhar azul preso ao meu no espelho. — Pronta para ir para a cama? — ele pergunta. — Com você? — Minha respiração falha, e não sei bem se é porque estamos prestes a fazer amor ou porque ele vai cumprir o que prometeu: conversar sobre o que nos afastou. Neste momento, não sei qual dos dois prefiro. — Sempre. Parker pousa um beijo gentil na curva do meu pescoço, agora quente por causa de seus lábios e sua respiração. Desce as mãos

pelos meus ombros até as minhas. — Vem — chama. — Eu vou com você para qualquer lugar — admito a sincera necessidade que queima minha alma. Eu me viro, para que ele possa me olhar nos olhos. — Onde quer que você esteja, é onde eu quero estar. Esta sou eu, sendo honesta e vivendo a minha verdade. Ele afunda a mão no meu cabelo e levanta meu queixo com o polegar. O tempo parece parar. Ouço sua respiração entrando e saindo pela boca quando ele chega mais perto. Imagino ouvir seus cílios cada vez que ele pisca, até que fecha os olhos e toca meus lábios com os seus. A pressão inicial de sua boca é hesitante, uma saudação, oferecendo um simples “olá”. Fico na ponta dos pés e pouso as mãos em seus ombros nus. Sua pele é quente e me aquece instantaneamente. Ele passa um braço ao redor da minha cintura e me segura contra si enquanto seu beijo de saudação passa para um mergulho total de lábios, língua e dentes. Cada vez que minha boca se abre, sua língua penetra mais fundo, reaprendendo aquilo de que eu gosto, tomando tudo que eu tenho para lhe oferecer e um pouco mais. Meus pulmões ardem de necessidade de ar enquanto o beijo se intensifica, línguas se acariciando com intimidade e gula. Parker recua, permitindo que o ar rompa a ligação dos nossos lábios. Passa a língua pelo meu lábio inferior antes de sugar e morder deliciosamente esse pedaço de carne. Uma onda de prazer me atravessa, descendo como uma tirolesa e levando o calor até o meio das minhas coxas. — Meu bem... — gemo. Não sei do que preciso mais: da sua boca na minha, do seu membro dentro de mim ou de suas palavras selando as rachaduras do nosso relacionamento. Tudo isso parece ter prioridade máxima enquanto minha mente perde contato com a realidade. — Nossa, como eu senti falta de ouvir esse meu bem quando estou com a boca na sua. Eu vivo para te fazer suspirar. Isso cola os pedacinhos dentro de mim. Passo os braços ao redor do seu pescoço e ombros e o beijo com força antes de me afastar.

— O que eu preciso fazer para consertar as coisas? Ele pressiona a testa na minha e nós dois fechamos os olhos. — Já está consertando. Ficando comigo, mostrando a profundidade do que nós temos. Passo os dedos pelo seu cabelo, arranhando seu couro cabeludo. Ele geme, como se fosse a melhor sensação do mundo. — Me leve para a cama. — Não consigo pensar em nenhum lugar onde eu prefira estar do que com ele. Parker abre aquele sorriso sexy que faria qualquer calcinha se encharcar. Ele é tão bonito. — Tenho certeza de que é onde vão parar estes amassos improvisados — diz, erguendo a sobrancelha e sorrindo. Reviro os olhos e empurro seu peito, fazendo-o andar de costas. Quando a parte de trás de seus joelhos bate na cama, ele cai e me puxa junto, e eu aterrisso em seu peito nu e quadris cobertos pela cueca. Ele passa a mão pelas minhas costas, e, antes que possa pôr a boca em mim, eu me sento e monto nele. — Antes de tudo, antes de nós fazermos isso, e, acredite, eu quero passar a noite toda juntando os pedacinhos quebrados em você e em mim... temos que ser honestos um com o outro sobre o que aconteceu. Senão nunca vamos seguir em frente. Ele suspira e cobre os olhos com o antebraço. Eu o pego, levanto e afasto. — Eu não traí você com o Johan. — Seu corpo fica tenso e ele tenta se afastar. Travo as pernas em suas costelas e quadris. — Não. Você não vai fugir. Sim, eu pisei na bola. Achei que podia ir falar com ele, convencê-lo a não cumprir as ameaças, e tecnicamente eu consegui isso. Parker cerra os dentes e fala com o maxilar apertado: — Sky... Sacudo a cabeça. — Não, você tem que me ouvir. Eu fui lá. Ele disse que estava falido, que devia muito dinheiro para uns caras perigosos. Milhões. A família o deserdou. Ou ele arranjava um jeito de pagar as dívidas, ou a vida dele estaria em perigo. — Aquele maldito jogou o problema dele nas suas costas! — Park rosna como um animal enjaulado e se contorce de raiva.

— Seja como for, há muito tempo eu achava que o Johan era tudo que eu tinha. Ele me ajudou a superar o pior momento da minha vida. Talvez, em algum lugar na minha cabeça, tudo tenha ficado distorcido, e eu sentia que lhe devia alguma coisa. — Você não deve merda nenhuma para ele! — Parker responde, ríspido. Pouso as mãos em seu rosto, acariciando suas linhas tensas com o polegar. — Depois de refletir um pouco e de algumas sessões com o meu terapeuta esta semana, estou trabalhando isso. De qualquer forma, naquele momento, ajudá-lo a sair de uma situação horrível de um jeito que não envolvesse advogados nem imagens caluniosas minhas estampada nos jornais parecia a coisa certa a fazer. Parker pousa uma das mãos em meu quadril, o braço em minhas costas e nos leva até a cabeceira da cama, de modo que ele fica recostado ali e eu montada em seu colo. Sua voz fica ainda mais profunda. — Você pôs a sua vida e o nosso relacionamento em risco. — Seus olhos queimam minha alma, e meu coração bate forte no peito. Talvez eu esteja prestes a ter um ataque de pânico. Lágrimas fazem meus olhos arderem e eu assinto, passando a ponta dos dedos em sua clavícula. Preciso tocá-lo para conseguir falar o que eu preciso. — Não tenho orgulho do que fiz. Tudo que posso dizer é que, na época, parecia a coisa certa. Não estou acostumada a ter alguém ao meu lado, um homem para me ajudar nas dificuldades... — Engulo em seco; parece que tenho algodão na garganta. — Eu queria resolver as coisas, deixar tudo para trás. Não pensei que... — Não consigo mais segurar as lágrimas. Elas correm pelo meu rosto como uma torneira aberta. — Eu não percebi o que podia parecer. Mas juro que só paguei as dívidas dele, organizei tudo para internálo em uma clínica de reabilitação e... — Por que você passou a noite lá, Sky? Por quê? — Parker pergunta, apertando os lábios. Eu lambo os meus. Preferiria beijá-lo agora. — Honestamente, foi uma estupidez. Quando nós acabamos de resolver tudo, já era madrugada e eu estava vendo estrelas de tanta

exaustão. Não contei para os meus seguranças aonde ia, então eles não sabiam que eu estava lá... Parker solta um grunhido, parecendo um animal, e franze o cenho. Acaricio sua testa, até ele relaxar mais uma vez. — Meu bem, eu estava cansada. Exausta. Emocional e fisicamente esgotada. Ele ofereceu o quarto, que tinha porta e fechadura, que eu usei. Peguei no sono. Sozinha. Ele dormiu no sofá. O corpo de Parker parece se soltar e relaxar sob o meu. Ele leva as mãos ao meu rosto e pescoço e passa a ponta dos dedos na minha pele, me acariciando. Seu toque é um bálsamo de cura, uma loção sobre as minhas feridas. Cada centímetro que ele cobre alivia a dor que queima meus poros. Quando ele fala, sua voz soa como se uma lixa tivesse raspado sua garganta em carne viva: — Ele me disse que vocês tinham voltado. E que ele tinha passado a noite com você. Enfiar a ponta de uma faca na tomada não poderia ter me provocado um choque maior. Sinto meu coração se apertar e meu estômago revirar. É isso. Foi por isso que ele acreditou piamente que eu o traí. Pouso as mãos no rosto de Parker e olho diretamente em seus olhos. — Eu nunca faria isso com você. Com a gente. Você me devolveu a vida. Eu estava vazia antes de você. Minha vida era oca. Eu me arrastava um dia de cada vez, mas com você, meu bem, eu vivo. Em todos os momentos eu vivo e amo. Não há nada que possa me afastar disso ou me fazer correr o risco de te perder. Nada. Ele fecha os olhos e eu me inclino para a frente, pousando os lábios nos seus, selando minha verdade com um beijo purificador e curativo.

1

O beijo de Skyler me enche de vida e felicidade e cura a dor inacreditável que criou raízes em meu estômago quando ouvi a voz de Johan pelo telefone. Ela se afasta um pouco e fica olhando para mim, enquanto passa o dedo pela minha testa e têmporas, descendo pelo meu rosto para acariciar meus lábios. Minha garota nunca me traiu. Eu acredito nela com cada fibra do meu ser. Seus olhos castanhos brilham com sinceridade e um toque de tristeza enquanto seu queixo treme. — E agora? — Ela parece insegura depois de tudo que revelou. Passo as mãos de suas coxas até a cintura e subo para as costelas. — Agora nós fazemos as pazes. — Tomo sua boca em um beijo ardente. Ela se entrega inteira, me abraçando, me puxando mais para perto, colando meu peito ao seu. Quando recuo, ela suspira e esfrega o nariz em meu rosto, então crava as unhas na pele nua das minhas costas. — Tive tanto medo de te perder. De perder tudo por causa de um grande erro. Respiro fundo e apoio o queixo entre seu ombro e pescoço. — Não vou mentir e dizer que não pensei que tivesse acabado. Se você tivesse me traído, seria o fim. A palavra “traído” soa como um alarme no meu cérebro. Fico tenso quando a lembrança de ter beijado Alexis surge em minha memória. — Merda! — sibilo e recuo. — Que foi? Lambo os lábios e desço as mãos de seus ombros, acariciando seus braços e voltando.

— Quando eu achei que tínhamos terminado... — começo, e seu corpo fica rígido. Skyler cruza os braços. — Você transou com a peituda, não foi? Sacudo a cabeça, e sua resposta é um suspiro trêmulo. — Alguma coisa aconteceu entre vocês. Ela falou de uma oferta — diz com a voz hesitante, apertando os lábios e retesando o maxilar. — Meu pêssego, eu não transei com ela. Eu não faria isso, não poderia. Você não me saía da cabeça. Só que... houve um momento de fraqueza. Eu estava cochilando, sonhando com você, e ela veio e... Ela geme. — Fala de uma vez. — Eu beijei a Alexis, mas foi só isso. Parei antes que qualquer coisa mais pudesse acontecer e deixei claro que não estava disponível. Skyler endireita a coluna e aperta o queixo. — Você deseja essa mulher? Meu coração bate rápido e minha garganta seca. Fica difícil engolir. — Caralho, não! Ela inclina a cabeça, e uma mecha de cabelo dourado cai em seus olhos. Eu a ajeito enquanto a ouço falar. — Ela é linda. Peitão, corpo fantástico. Fecho os olhos. Flashes de Alexis surgem em minha mente. Suas curvas voluptuosas definitivamente são o ponto alto. — Sim, e usa essa aparência para brincar com os homens. Sem falar que no momento está brincando de esconder o salame com o Bo. Skyler arregala os olhos. — Não acredito! Sorrio, sabendo que o jeito galinha do Bo está prestes a me dar um grande salvo-conduto com a minha namorada. — Pois é. — Afff! Ele transou com a peituda? Solto uma risada.

— Com certeza. E, pelo que eu sei, está com ela agora. Skyler relaxa a cabeça no meu peito, encostando a orelha no meu coração. — Tudo bem. Franzo a testa e pouso a mão em sua nuca antes de brincar com os fios de seu cabelo sedoso. Sinto o ar sair de sua boca, excitando meu mamilo, que fica duro, querendo atenção. — Só isso? Eu te conto que beijei outra mulher e o que você tem a dizer é “tudo bem”? Ela dá de ombros. — Honestamente, eu não acho que o nosso problema seja essa mulher. A palavra “problema” ativa um alarme, e sinto uma pontada na base da coluna. — Você acha que nós temos um problema? Ela suspira. — Sim, acho. — Além do Johan e da Alexis? Skyler endireita o corpo para me olhar nos olhos. — Por que você não confiou em mim? A pergunta vem de surpresa, mas, pensando bem, faz sentido. — Eu confio em você... Ela me interrompe antes que eu possa terminar. — Não. Você acreditou no Johan sem nem falar comigo. Aperto os dentes e penso de novo em como me senti ao ligar para ela naquele dia. A impotência, a preocupação com sua segurança, o medo de que algo tivesse acontecido com ela. E, depois, descobrir que ela estava sã e salva, nos braços do ex, enquanto eu esperava por ela em sua cama. As garras malignas do ciúme arranham minha pele. Sinto dor só de lembrar. Respiro fundo, tentando me acalmar, dizer o que precisa ser dito sem ferir nenhum de nós. Por um momento, penso com cuidado em minhas palavras. — Baby, as circunstâncias foram complicadas. Você passou a noite com o seu ex em um quarto de hotel. Ele me disse claramente que tinha ficado com você e que vocês tinham voltado. A confiança nunca esteve em jogo. Ela estreita o olhar.

— Só que, quando o mundo todo pensou que você estivesse me traindo em Milão com aquela stripper, ou com a Sophie, e tive que esperar um dia inteiro para descobrir os detalhes, nem uma única vez eu perdi a confiança em você. Por que foi tão fácil para você acreditar na palavra do meu ex? Alguém que você sabe que é mentiroso e traidor? Uma flecha de culpa rasga meu peito e perfura meu coração. Sinto um nó no estômago, e aquela sensação de vazio se instala de novo. — Tem razão. — Acaricio suas faces e a encaro. — Você está certa, Sky. Eu devia ter tido mais confiança em você, na gente. No que construímos nos últimos meses. É que... Ela leva a mão ao meu rosto e eu me aconchego nela, precisando de seu calor e de seu toque suave. — Fala comigo. — Meu passado foi difícil, você sabe. Quando nós dois começamos, eu estava me resguardando, mantendo uma distância segura. Imaginei que poderíamos nos divertir juntos e só. Mas o tempo todo, no fundo, eu queria muito mais. Só que eu tinha medo. Caralho, Sky, ainda tenho. — Medo de quê? — De você fazer o que ela fez. — A honestidade escapa como um dragão cuspindo fogo e chamuscando tudo ao redor. — Quem? — ela pergunta, franzindo a testa e passando os dedos pelo meu cabelo, arranhando meu couro cabeludo do jeito que eu gosto. — A Kayla. Ela pestaneja lindamente. — A garota que você namorou na faculdade. Anuo. — Ela ferrou com a minha cabeça, baby. Ferrou feio. Eu nem sabia quanto, até estas últimas semanas. O Royce e o Bo têm me aconselhado, me feito lembrar de não comparar o que você e eu temos com o que eu tinha com ela, mas... eu não escutei. Estou tentando mudar meu pensamento e não fazer comparações, mas o medo ainda existe.

— Meu bem... — Essas duas palavrinhas são de tirar o fôlego, cheias de amor e tristeza. Por mim, não por ela. — Eu não sou a Kayla. Nunca vou ser, não vou te magoar. Lambo os lábios e fecho os olhos. — A única outra vez que eu estive perto de ser tão feliz na vida foi com ela. O que você e eu temos é um milhão de vezes maior. Melhor, mais forte. Tem muito mais valor. E eu... tenho medo de perder isso. Sky pega meu rosto, encosta a testa na minha e me beija com suavidade. Uma vez. Duas. Três vezes. — Você não vai me perder. O único jeito de isso acontecer é se você me deixar. Eu quero uma vida com você, Parker. Nada vai mudar o meu amor por você. Passo os braços ao redor dela até sentir seu calor em meu peito, exatamente onde necessito. — Eu quero muito acreditar nisso. Ela beija meu pescoço e recua um pouco para poder me olhar nos olhos. — Então acredite. Confie no seu coração. Ele nunca vai desviar você do caminho. — Ela sorri com doçura, usando as palavras que escreveu no espelho como um mantra pessoal. Confie no seu coração. — Acho que vou ter que tatuar essas palavras no pulso, para lembrar delas o tempo todo. Ela sorri. — Podemos dar um jeito nisso. Enfio a mão no seu cabelo, deixando os fios cobrirem meu antebraço. — Vamos ficar bem? — Você me ama? — ela pergunta com suavidade. — Mais do que jamais imaginei. Sinto meu peito se apertar. A emoção deste momento faz minhas terminações nervosas ganharem vida. Sinto cada centímetro de sua pele me tocando. Ouço sua respiração enquanto ela inspira e expira fluentemente. Sinto o cheiro de seu tesão misturado com seu perfume de pêssego com chantili. — Então vamos ficar bem.

Ela passa o polegar pela minha bochecha e desce até o queixo, com a barba por fazer. Esfrego o nariz no dela. — Simples assim. — O amor não tem que ser difícil. Pode ser simples e fácil. — Ela sorri, e juro que ilumina o quarto escuro com um brilho etéreo. — Só sei de uma coisa, meu pêssego. Seja lá o que o amor planejou para o futuro, eu quero tudo com você. Isso faz minha mulher se endireitar e tirar a blusa, soltando os seios nus. Ah, como senti falta desses biquinhos rosados. Sinto água na boca e aperto seus quadris com força. — Boa resposta — ela rosna e ataca minha boca.

Os coturnos pretos de Rachel Van Dyken batem forte no piso frio do hospital. Seu cabelo loiro está preso em um rabo de cavalo complexo, cheio de tranças que eu diria serem de guerreira. As mangas da camiseta estão dobradas, e não dá para não notar os músculos definidos em seus bíceps e ombros. Ela caminha decidida, com a arma no quadril e um par de algemas pendurado no cinto, na altura da lombar. Cada passo seu é dado com determinação enquanto ela examina os corredores do hospital. Alguns metros atrás de nós, seu marido cuida da retaguarda, garantindo que não sejamos interrompidos ou abordados. A presença de Skyler não foi detectada ontem, mas, no instante em que as pessoas começaram a comentar no Twitter que a viram no hospital, foi preciso convocar os seguranças dela, o casal Van Dyken. Nenhum dos dois se dirigiu a mim ainda. Não sei se estão chateados comigo ou com a situação, ou tentando não se envolver pessoalmente. Em algum momento, vou ter que conversar com eles para esclarecer as coisas. Quando nos aproximamos do quarto de Wendy, fico surpreso ao ouvir sua voz ecoar no ambiente silencioso. — Eu quero a minha maldita coleira! — ela grita, com a voz rouca. Rachel para na frente de Skyler e sacode a cabeça, basicamente tentando nos convencer a não entrar. Podemos ver Wendy sentada na cama, as mãos cobrindo o rosto, e Michael ao lado dela.

Contorno Rachel e entro no quarto, com Skyler atrás de mim. — Você acordou! — Corro até Wendy e pouso a mão em sua cabeça. Ela ergue o olhar marejado. — Você está bem? — murmura. Lágrimas enchem meus olhos, e nem me importo de parecer um molenga quando duas delas rolam. A alegria de ver Wendy acordada e bem é avassaladora. — Muito bem, não se preocupe. Feliz por você ter acordado. Você nos deu um susto nos últimos dias. Quando foi que acordou? Ela engole em seco. — Ontem à noite. Eu pedi para o Mick não ligar para vocês. Queria fazer surpresa. Olho para Michael. Ele está péssimo. Pior: parece ter sido atropelado por um trem e largado para morrer. Seus olhos claros estão vermelhos, com olheiras escuras e bolsas inchadas. Seu cabelo, em geral arrumado, está um caos — parece que ele o puxou e passou os dedos nos fios um milhão de vezes. — Como está se sentindo? — Skyler pergunta, acariciando a canela de Wendy. Ela sorri quando vê Sky. — Não estão me deixando sentir muita dor. As drogas são boas para isso — ela diz, dando uma piscadinha. Eu rio. Só Wendy poderia contar piadas e fazer as pessoas preocupadas ao seu redor se sentirem melhor. Passo de novo a mão pelo seu cabelo vermelho curto. — Por que você estava gritando? Seu semblante endurece e ela se joga no travesseiro. — Eles cortaram a minha coleira. Michael pega a mão dela e a beija. — Eu pus o seu anel de volta — diz. Mas até para mim soa como um prêmio de consolação. O que é uma surpresa, visto que ele comprou um diamante enorme para ela. A maioria das mulheres estaria preocupada com a pedra. Ela olha para o anel de noivado, mas só esboça um leve sorriso. — Não é a mesma coisa, e você sabe disso. Ele respira fundo.

— Sim, eu sei. Eles cortaram, coração. Tiveram que fazer isso para levar você para a cirurgia e consertar o estrago que a bala causou no seu peito e pulmão. — Ele se apruma e se inclina mais perto dela. — Não se preocupe, vou comprar uma nova. Sob medida, com diamantes dessa vez. Você vai gostar. Ela dá de ombros e se encolhe. Talvez os remédios não acabem com toda a dor. Mas ela não reclama. — Eu estou me sentindo... — Lágrimas enchem seus olhos e rolam por suas faces enquanto ela olha para Michael. — Estou me sentindo nua. Exposta. Sozinha. Ele morde o lábio, e a expressão que domina seu rosto é como um estrondo. Então alisa o próprio peito, na altura do coração, e juro que quase dá para ver as engrenagens girando em sua mente. Como se alguém tivesse apertado um interruptor, a escuridão e a raiva são substituídas por uma felicidade súbita. Ele leva a mão para dentro do colarinho da camisa, onde está sua longa corrente. O cadeado dela está ali, com a chave. Ele tira a corrente do pescoço, abre o fecho e retira a chave. Coloca-a no bolso da camisa e olha Wendy nos olhos. — Ficou bem no meu coração o tempo todo. Porque é você, Wendy, que faz esta coisa inútil bater. Você sabe disso. Você sabe... — Sua voz falha. Ela faz que sim freneticamente, e as lágrimas caem de seus olhos. Observando-os, parece que Sky e eu estamos nos intrometendo em um momento particular. Mas o clima no quarto é caloroso, existe uma energia no espaço entre nós, o que me enche de uma sensação de paz e amor. É tão especial que não consigo me afastar. Estou pregado ali, segurando Skyler perto de mim enquanto Michael tenta acalmar o amor da sua vida. Ele põe a corrente em Wendy, dando uma, duas voltas, então encaixa o fecho. O fio de contas cai no peito dela. Wendy suspira, segurando o cadeado como se fosse seu talismã. — Está melhor agora? — ele pergunta, sorrindo confiante, sabendo muito bem que sim. Ela sorri e pestaneja, sonolenta. — Sim. Você sempre sabe como cuidar de mim.

Ele lhe dá um beijo na testa e leva a mão dela ao seu rosto. — Esse é o trabalho mais importante da minha vida. Você e a sua felicidade sempre vão estar em primeiro lugar. Sempre. — Eu sei — ela murmura antes de fechar os olhos. — Estou tão cansada... — Sua voz se apaga, e uma lufada de ar abandona seus pulmões quando ela adormece, ainda segurando o cadeado. Skyler me pega pelo cotovelo e indica a porta com a cabeça. — É melhor deixarmos esses dois descansarem. Pigarreio, sentindo a emoção dominar meu peito. Michael se certifica de que Wendy esteja bem coberta e nos acompanha até o corredor. — Como ela está de verdade? Qual é o prognóstico? Ele esfrega a nuca e gira os ombros. — Ela acordou no meio da noite. O médico veio examiná-la e disse que tudo parece bem, não há sinais de infecção. Mas ela está tomando antibiótico na veia, e analgésicos também. As feridas parecem limpas e cicatrizando normalmente, mas vai levar um tempo até ela ter amplitude total de movimentos do ombro e do braço. Ela vai ter que pegar leve nas próximas seis semanas, pelo menos. E talvez para sempre. Para sempre. As palavras me atingem como um tiro no peito, quase me derrubando. — Espere um minuto. Você está dizendo o que eu acho que está? Ele cruza os braços, na defensiva. — Se você acha que eu quero dizer que a minha futura esposa vai cuidar da nossa casa, planejar o nosso casamento e nada mais, então sim. Ela não precisa trabalhar... Eu o interrompo, porque, neste momento, a possibilidade de Wendy não voltar à International Guy é devastadora. — Você acha que ela vai concordar? — Vou deixar claro que é para o bem dela, pela nossa família. A família que estamos construindo e que planejamos ter no futuro. A sua empresa pode ser importante para você, mas ela — ele aponta para Wendy na cama —, ela é tudo para mim. Se ela não respirar mais, podem arranjar um caixão para dois, porque não há lugar aonde eu não a siga, nem a sepultura.

Caralho. Existe paixão e existe isso. Não posso nem explicar o nível de devoção e compromisso cego de Michael para com Wendy. Francamente, nunca vi algo assim. Nem mesmo com meus pais, e eles são apaixonados há quase quarenta anos. Isso é cósmico. — Eu entendo, Michael, mas a escolha é da Wendy. Mesmo que você tente isolá-la com todos os seus milhões, ela deixou bem claro que nós somos parte da vida dela, parte da família que você mencionou. E eu não vou abrir mão da Wendy tão fácil. Ela é como uma irmã para mim agora, a irmã que eu nunca tive. Então esteja preparado para lutar... Michael pousa a mão no meu ombro. — Não vou interferir na amizade de vocês, mas não estou interessado em deixá-la voltar ao trabalho. Eu nem queria que ela trabalhasse. E o que aconteceu só prova como é perigoso lá fora. Respiro fundo. — Normalmente não é assim. Ele bufa e passa a mão pela barba por fazer. — Olha quem fala: um homem cuja namorada precisa não de um, mas de dois seguranças ao lado dela o tempo todo. Ele olha para Rachel e Nate, que estão a um metro e meio de distância fingindo não estar nem aí. Mas todos sabem que, se houvesse alguma ameaça, eles reagiriam mais depressa do que se pode acender um fósforo. Sky esfrega meu braço, me acalmando, me mostrando que posso contar com seu apoio ou com o que mais necessitar. Passo o braço pela sua cintura. — Nós voltamos mais tarde, depois que ela descansar um pouco. Posso contar para os rapazes que ela acordou? Vou avisá-los que ela vai descansar nas próximas horas. Ele assente. — Mas diga para o Montgomery que, se eu ouvir um comentário espertinho ou qualquer tipo de insinuação, sou capaz de socá-lo. Acabou essa história de ficar cantando a minha mulher, ouviu? Mordo o lábio, tentando segurar o riso. — Sem problemas. Vou avisá-lo.

— Obrigado. E, Skyler, é sempre bom ver você. Eu não quis ofender quando falei dos seus seguranças. Eu sei que você precisa deles — ele diz, franzindo a testa. Ela dá um tapinha no ombro dele. — Fique tranquilo. Eu não devia precisar deles, mas preciso. E você tem razão, a vida pode ser perigosa, mas não viver todos os dias ao máximo também é. Eu já fiz isso, e, de certa forma, foi como sofrer uma morte lenta sem ninguém notar. Agora, pode ser que eu corra alguns riscos, mas vivo livre e aproveito cada momento. — Ela se afasta de mim e o abraça. A princípio, é como se Michael não soubesse o que fazer com as mãos, ou como abraçar outra pessoa que não Wendy. Fico triste por ele. Depositar toda a sua alegria em uma única pessoa não é maneira de viver. Só me faz querer incluir o sujeito ainda mais no nosso grupo. Ele acaba relaxando e apoia o queixo no ombro dela, abraçandoa, aceitando seu conforto. Treme, como se seu corpo estivesse liberando a tensão acumulada. — Eu achei que tivesse perdido a Wendy... — ele sussurra. Sky segura sua nuca e assente. — Mas não perdeu. Ela está aqui, sã e salva, se recuperando. E precisa de você mais do que nunca. Ele anui e funga no pescoço dela, liberando as emoções. Praticamente posso sentir a angústia saindo dele. Sky o abraça por mais um minuto antes de recuar. — Você vai ficar bem? Tem alguma coisa que possamos fazer para ajudar? Ele sacode a cabeça, cobrindo a curta distância até as janelas que dão para o quarto de Wendy. Apoia a mão no vidro e diz: — Tudo de que eu preciso está ali. Ela sorri e dá um tapinha nas costas dele. — Então volte lá para dentro. Nós voltamos mais tarde com os rapazes e alguma coisa para comer. — Tudo bem. Ele vira e pega a mão de Skyler, aperta-a e sussurra: — Obrigado. — E acena para mim. Skyler volta para mim, e passo o braço pela sua cintura.

— Você mandou bem com ele — sussurro enquanto caminhamos pelo corredor, com Rachel na frente e Nate atrás. Ela dá de ombros. — Eu sei o que é perder tudo o que se ama. Não tem nada mais assustador. Dou um beijo em sua têmpora e penso como foi ficar sem ela. Mesmo que tecnicamente não a tenha perdido, por um tempo achei que sim. Eu não desejo esse tipo de dor e tormento a ninguém. — Não, meu pêssego. Não tem mesmo.

2

Nesta noite, mais tarde, os rapazes estão com pressa de ir ver Wendy. Skyler e eu caminhamos alguns passos atrás deles. Estou com a mão machucada levemente pousada no quadril dela, e com a outra carrego uma sacola com um sanduíche, batata frita e CocaCola para Michael. Chegamos ao quarto dela e Bo entra direto, sem bater. Royce segue atrás, depois eu e Skyler. Bo está levando um grande urso de pelúcia, e Royce um alqueire de flores silvestres. Quando Bo vê Wendy sentada na cama, abre os braços para o céu, segurando o urso em uma das mãos. — Obrigado, Senhor! Sininho, como você está, linda? Wendy sorri. — Esse urso é para mim, ou é o que você abraça à noite para se aquecer depois que dispensa suas peguetes? Ele balança o urso e vai até o lado da cama. Levanta o queixo e se inclina para a frente, pronto para dar um beijo em Wendy. Mas, antes que ele possa alcançar seus lábios, Michael se inclina sobre ela, coloca a mão inteira no rosto de Bo e o empurra. — Não me provoque — rosna, ameaçador. Bo dá um riso dissimulado. — Que foi? Eu só ia dar um beijo na testa dela. Isso é que é marcar território — diz, sacudindo a cabeça, debochado. — Seria sensato você se lembrar disso. Eu mal tolero você, Montgomery, e só porque ela tem paciência com babacas e um fraco por idiotas. Mas não quer dizer que eu também tenha. Bo estende o urso para Michael. — Tome, acho que você precisa disso mais do que ela. Talvez aqueça o seu coração gelado.

Sky e eu, no canto, não podemos deixar de rir enquanto assistimos ao desenrolar da disputa. Wendy pega o urso e o coloca ao seu lado. — Gostei. Obrigada, pinto pensante. É bom ver você vivo. Bo passa a mão pelo cabelo. — Nada pode me segurar — diz e dá uma piscadinha. — Aposto que eu consigo uma camisa de força para resolver isso — Michael murmura. Wendy pega a mão dele e aperta. — Calma aí. É só a mim que você pode amarrar. — Ela sorri, e juro por tudo que há de mais sagrado que o olhar do sujeito pega fogo de luxúria. — É verdade, meu amor. — Ele se inclina e beija os lábios dela com doçura. — Ownn — sussurra Skyler. Acaricio sua têmpora, até que ela vira a cabeça e olha para mim, e eu posso beijá-la com doçura também. Ela abre um sorriso largo depois do beijo, e nesse momento coloca no lugar um dos pedaços quebrados do meu coração. Há muitos flutuando por aí, e nós dois precisamos trabalhar juntos nisso, mas acho que vamos conseguir. — Muito bem, meu irmão. Dê licença para eu poder dar um pouco de carinho para a minha menina. — Royce tira Bo do caminho. Wendy estende a mão para ele, que a pega entre as suas, enormes. — Como você está, menina? Ela sorri. — Estão me dando remédios incríveis. Agora estou me sentindo muito bem. — Que bom, é isso que eu gosto de ouvir. Você levou uma bala no peito e ainda está sentada aqui, sorrindo com esses dentes brancos para os seus irmãos. Você me surpreende, menina. Não existe mulher na Terra como você. — Ele alisa a mão dela, se inclina e lhe dá um beijo no alto da cabeça. — Acho bom pensar assim mesmo! — Wendy suspira e se recosta no travesseiro. Dá para ver que ela está tentando se mostrar feliz e extrovertida, como é seu normal, mas está exausta. Ela foi baleada e sofreu um

colapso pulmonar há três dias. Precisa descansar. — E aí, quando você vai sair desta gaiola e voltar ao trabalho? Você sabe que nós não podemos continuar sem saber quando o coração da agência vai estar de volta, não é? — Royce diz. — Não tão cedo — ela diz, ao mesmo tempo em que Michael se intromete: — Nunca. — O quê? — Ela solta a mão de Royce e volta a atenção para Michael. — Eu volto ao trabalho assim que o médico me liberar. Michael balança a cabeça. — Nós falamos sobre isso quando você estiver em casa, sã e salva. Wendy se agita, virando um pouco mais de lado. — Não, nós vamos falar sobre isso agora. Eu vou voltar para a agência, Mick. Você sabe que eu amo o meu trabalho... — E esse trabalho te pôs em perigo. Você não precisa trabalhar, eu tenho muito dinheiro... — Você tem muito dinheiro. Você, Mick, não eu. Eu quero contribuir com a nossa vida. Ele toma o rosto dela nas mãos. — Coração, você contribui. Todo dia você cuida de mim, da nossa casa, faz esse mundo de merda em que vivemos brilhar, mas eu não posso te perder, e o seu traba... — Foi a melhor coisa que me aconteceu, depois de você. Os meninos são parte da minha família agora, eu não posso abandonálos. Principalmente quando está começando a ficar bom. Agora eu faço parte de uma equipe de verdade. — Baby, você sempre fez parte da minha equipe. Ela dá um tapinha na mão dele, que está em sua face. — Você não pode me trancar em uma gaiola dourada e esperar que eu fique ali quietinha. Eu não ficaria feliz, e você sabe disso. — Então você pode trabalhar comigo. Eu vou esvaziar a sala ao lado da minha. Você pode ser minha assistente. Seria perfeito. Nós poderíamos trabalhar juntos e viver juntos... Ela sacode a cabeça. — Não, meu amor. Você adora a sua assistente.

— Não, eu adoro você e só você. Ela vai ter outro cargo, você vai ver. Eu vou fazer valer a pena — ele diz com esperança, como uma prece. Mas eu sei que não é suficiente. Wendy é uma fera, nunca recua diante de um desafio. Se ela quiser ficar na IG, vai ficar. Bo fica resmungando no canto, franzindo o cenho para Michael. Royce esfrega a careca e suspira. Eu, com a mão de Skyler na minha, vendo Wendy viva e bem, estou bastante otimista. Vou jogar os dados e ver no que vai dar. Pode ser um sete ou um dois, mas só o tempo dirá. Aposto todas as minhas fichas em Wendy. — Mick, eu preciso de alguma coisa que seja minha, para contribuir com a nossa vida juntos, não sob o seu comando e vigilância. Eu não vou abandonar a IG nem os meninos. Você vai ter que superar esse medo. Não se preocupe, vai ficar tudo bem. Nós vamos dar um jeito. O semblante de Mick se contorce em uma expressão torturada. Ele franze o cenho e os lábios, mas tudo se derrete sob o olhar sincero dela. — Tudo bem, coração, como você quiser. Você sabe que eu não consigo te falar “não”, mas não fique surpresa se acabar com um guarda-costas. Os olhos dela se iluminam. — Posso escolher um? Eu ia adorar ter um saradão abrindo todas as portas para mim, me levando para todos os lugares como se eu fosse alguém importante. Sky! — Ela se volta para a minha garota. — Talvez a gente possa compartilhar a Rachel e o Nate! Seria muuuito legal. — Wendy está radiante e animada. Michael primeiro sorri, depois ri. É a primeira vez que vejo esse homem rir desde que entrou correndo no pronto-socorro, há três dias — o que, neste momento, parece que foi uma vida inteira atrás. — O seu guarda-costas vai ser um ex-militar, do tamanho de uma muralha e feio como o diabo. Eu mesmo vou escolher, muito obrigado. — Ele se inclina para a frente e a beija. — Você testa a minha paciência, amor. Ela sorri e morde o lábio. — E você ama.

— Eu amo você. — Ele a beija de novo, então um homem de jaleco branco entra no quarto. — Srta. Bannerman, você está com uma cor ótima, e, considerando o sorriso que tem no rosto, vejo que está se sentindo um pouco melhor. Wendy sorri para o homem baixinho de cabelo branco como a neve e óculos. — Sim, doutor, obrigada. Pena que eu perdi a sua visita hoje de manhã. O médico da noite passada me disse que eu tenho que agradecer ao senhor por salvar a minha vida. Obrigada. Michael, sentado na cadeira ao lado de Wendy, se levanta e estende a mão, até que o médico a pega e sacode educadamente. Ele diz, com a voz áspera: — Michael Pritchard, noivo dela. Eu vou fazer uma boa doação para o hospital em sua homenagem. Se quiser que o dinheiro vá para alguma área específica, basta me dizer. Vou ser eternamente grato pelo seu talento e experiência. O senhor salvou a minha noiva. O médico sorri, mas seu sorriso logo se transforma em uma expressão de tristeza. — Lamento muito não termos conseguido salvar o bebê — diz, dando um tapinha na mão de Michael e soltando-a. O quarto inteiro fica em silêncio. Não se ouve nem uma respiração. Provavelmente porque todos nós estamos sem fôlego. — O quê?! — Wendy diz, surpresa, levando a mão à barriga. — Bebê? — Michael sussurra. Ah, não. Deus, por favor, não. Sinto um nó no estômago. Skyler aperta minha mão com tanta força que quase grito, mas me controlo. Com dificuldade. A coisa não me diz respeito, mas parece que enfiaram uma faca no meu estômago, me abrindo como um pescador estripando seu peixe. Wendy estava grávida quando foi baleada. Ela perdeu o bebê. Wendy perdeu o filho... por minha causa. Minha estupidez. Minha culpa. Eu devia ter percebido que era Eloise. Se não estivesse tão distraído com meus patéticos problemas pessoais, poderia ter me esforçado mais, ter sido mais esperto. Talvez... talvez isso não

tivesse acontecido. Talvez Wendy e Michael estivessem celebrando a notícia de que iam ser pais, em vez de saber da perda do que nunca foi. Jesus, não. O médico olha para Michael, depois para Wendy e de volta ao prontuário. — O dr. Lopard não falou com vocês sobre isso? — pergunta, com a voz dura e triste ao mesmo tempo. Michael simplesmente sacode a cabeça. — Bem, talvez devêssemos discutir isso em particular... — o médico começa, mas Wendy o interrompe: — Diga agora. Essas pessoas são da minha família. — Sua voz treme quando as lágrimas começam a encher seus olhos. — Eu lamento muito, srta. Bannerman, sr. Pritchard. Nossos registros mostram que você estava com aproximadamente dez semanas de gestação quando deu entrada no pronto-socorro. — Ele limpa a garganta, como se fosse difícil falar. — Devido ao trauma da queda, do tiro e do colapso pulmonar, você sofreu um aborto. Não havia nada que pudéssemos fazer. Michael leva as mãos ao cabelo e gira, antes de correr para Wendy e cair ao lado dela. Lágrimas correm pelo seu rosto, e seu queixo treme. Ele abraça os quadris da namorada e pressiona a testa em sua barriga. — Saiam. — A palavra fica abafada pela posição dele, pairando de forma protetora sobre Wendy. Michael começa a tremer sem parar, e a tempestade dentro dele vai aumentando. — Todos... fora daqui! — ruge, ainda com a cabeça na barriga dela, abraçando a metade inferior de Wendy. Ela baixa a cabeça enquanto as lágrimas rolam, acariciando o cabelo dele. O médico sai primeiro, e o restante de nós o segue. Só percebo quando estou fora do quarto, em choque, que Skyler está com a testa grudada na minha, as mãos no meu rosto, enxugando as lágrimas que eu não sabia que estavam caindo. — Eu pisei na bola com ela — afirmo para ninguém e para todos ao mesmo tempo. — Nada disso. Aquela mulher atirou nela, você não teve participação nisso. — A voz de Skyler treme de tristeza.

— Irmão... — Royce está rouco, com um tom mais grave que o normal. Ele me dá um tapinha no ombro, dizendo: — Se você é culpado, todos nós somos. Nós trabalhamos juntos naquele caso. — É, Park, nós não podemos assumir essa culpa. Dói do mesmo jeito, mas não é nossa — Bo diz, pigarreando e esfregando as pálpebras. Fecho os olhos, mas as luzes brilhantes do hospital refletidas nas paredes brancas queimam minhas retinas. — Vamos lá, todos nós precisamos sair daqui. Dar aos dois um tempo para descansar e processar isso — Skyler sugere, passando o braço pelo meu. — Acho que nenhum de nós vai conseguir aceitar isso, especialmente eles — digo, indicando o quarto, onde ainda posso ver Michael sobre Wendy, suas costas tremendo pelo que suponho que sejam soluços torturados. — Nós precisamos ir embora, dormir um pouco — Skyler insiste. A emoção embarga suas palavras com o mesmo peso que todos nós sentimos. Bo solta um suspiro. — Que se dane o sono, eu preciso de uma bebida. — Ele cruza os braços e o couro range com a pressão de seus músculos. — Amém, irmão — Royce acrescenta, passando as mãos pelo rosto, juntando-as e apoiando o queixo na ponta dos dedos. A crueza do que acabamos de testemunhar aperta dolorosamente meu coração, feito um torno. — Acho uma boa ideia — admito, com um suspiro cansado. — Sky? — Aonde você for, eu vou. — Ela acaricia meu bíceps e pousa um beijo nele, então acena para Nate e Rachel. — Nós vamos a um bar. — Que divertido — Nate murmura secamente. Rachel, por outro lado, estala o pescoço e gira os ombros. — Legal — diz. — Eu ando procurando um motivo para bater em alguém, liberar um pouco a tensão. Existem boas chances de alguém fazer alguma bobagem. Quando tem bebida na parada, sempre aparece um idiota pronto para agir. — Ah, essa eu quero ver. A princesa guerreira gostosa chutando traseiros e derrubando homens com duas vezes o tamanho dela? —

Bo abre um sorriso sensual. — Eu conheço o lugar certo para isso. — E sai na frente do grupo. — Pega leve, matador. É da minha mulher que você está falando — Nate rosna, apertando o maxilar e os punhos, pronto para fazer estragos com eles. Se eu fosse Bo, teria muito cuidado. Tenho certeza de que Nate seria capaz de derrubar uma manada de elefantes com a mão nas costas. Como se ouvissem a deixa, os músculos dos seus braços incham e ondulam, e suas narinas se dilatam conforme uma carranca desagradável se forma em seu rosto normalmente bonito. Bo olha por cima do ombro enquanto caminha pelo corredor, com o restante da turma atrás. — Eu sei. As tatuagens combinando nos dedos não deixam dúvida. Mas ela é muito mais assustadora — diz, indicando Rachel. Ela ergue a sobrancelha e sorri. — Sim, sou mesmo. Você não sabe da missa a metade. Agora mostre o caminho, gênio.

Chegamos ao Chez Serge e eu começo a rir histericamente. Não só o bar está lotado como há uma área acolchoada nos fundos com um touro mecânico enorme no centro. Nate não desanima diante do número de pessoas e nos leva para o bar. Rachel fica perto de Sky, olhando para cada um ali, provavelmente em busca de potenciais ameaças. Pensando bem, talvez não tenha sido uma boa ideia vir aqui com uma celebridade como Skyler. Até agora ela passou despercebida, mas está se escondendo ao meu lado com o cabelo na frente do rosto. Nate diz algumas palavras ao barman. Ele levanta a cabeça, olha para Skyler e arregala os olhos. Anui algumas vezes e desaparece atrás de uma porta. Volta com um homem grande que emana autoridade, o qual indica uma parte isolada perto do touro. Nate aperta a mão dele e nós o seguimos para uma área longe da multidão. Dou um jeito de pôr Sky no canto mais escuro e me sento à sua esquerda, com Rachel do outro lado, de frente para os clientes. Nate fica parado ao lado de braços cruzados, com um olhar

ameaçador no rosto duro. Ele não está satisfeito com a decisão de virmos para cá, mas é a vida de Skyler. Ela precisa poder ir aonde quiser, dentro do razoável, desde que esteja segura. — Baby, você está à vontade aqui? Minha garota abre um sorriso largo e anui com entusiasmo. — Eu não vou a um bar lotado desde... Caramba, nem lembro desde quando. É incrível! — diz no meu ouvido e me abraça com força. Royce e Bo ocupam as cadeiras diante de nós. — Alguém quer beber? Essa rodada é por minha conta — Bo oferece, levantando. O homem que estava atrás do balcão pousa a mão no ombro dele. — Não se preocupe, amigo. As bebidas são por conta da casa. — Ele acena para Nate e se dirige a Skyler. — Eu sou o gerente, Simon. O seu guarda-costas disse que você vai nos deixar tirar uma foto sua na entrada, ao lado do letreiro, se formos discretos quanto à sua presença aqui. Fico muito feliz por ter você no meu estabelecimento. Querem fazer os pedidos? — Claro que eu tiro a foto. E obrigada pela discrição. Ele anui educadamente. Ainda há estrelas em seus olhos enquanto esfrega as mãos em um gesto nervoso. — Que tal um 7 and 7? — Skyler pergunta. Simon assente e olha para Royce. — Uísque puro, obrigado. — Roy tenta se fazer ouvir acima do rock. — Cerveja pra mim. Qualquer marca local — digo. — O mesmo para mim — Bo acrescenta. — E você, mocinha? — Simon pergunta, se inclinando para ouvir Rachel melhor. — Água para mim e para o grandalhão ali — ela diz, indicando Nate, que não tira os olhos da multidão. Simon dá meia-volta para retornar ao balcão, mas Bo o interrompe. — Quando a aventura começa? — pergunta, indicando o touro. — Quando vocês quiserem. Eu ia suspender o touro, mas, se vocês não se incomodam, eu posso colocar para funcionar.

Rachel se endireita e põe as mãos na mesa. — Desde que a área fique isolada da multidão, tudo bem. Bo sorri maliciosamente, avaliando-a. — Aposto que você não aguenta cinco segundos em cima daquilo. Ela sorri. — Se não estivesse trabalhando, eu aceitaria a aposta. Sky dá um tapinha em Rachel. — Ah, por favor, vá lá! — diz, batendo palmas como uma criança que vai ganhar um pacote inteiro de doces. Rachel sacode a cabeça. — Estou aqui para trabalhar, não para brincar. Sky faz uma cara feia. — E eu quero que a minha guarda-costas cale a boca do melhor amigo do meu namorado. Você sabe que quer ir. Olhe para ele... Você precisa apagar esse olhar presunçoso da cara dele! — provoca. — Não. — A voz de Nate soa como uma ameaça do outro lado da mesa. Rachel estreita os olhos e leva as mãos aos quadris. — Você não é meu dono. Isso vai ser interessante. “Você não é meu dono” são palavras de combate em qualquer conversa. Nate estreita o olhar. — Acho que a tatuagem no seu dedo anelar e os votos que trocamos dez anos atrás discordam, espoleta. Ela sorri, mas um daqueles sorrisos maliciosos que uma mulher dá antes de cortar o pinto de um homem e enfiá-lo na boca dele. Bo esfrega as mãos e assobia. — Vamos lá. Batalha Van Dyken! Eu aposto na Rachel. Nate aperta o maxilar, como se estivesse mastigando pedras. Rachel olha diretamente nos olhos do marido quando diz: — Vamos lá, Bo. Você contra mim. — O que nós vamos apostar? — ele pergunta, recostando-se na cadeira, confiante. — Quem perder vai ter que usar saia um dia inteiro. O vencedor decide quando — Rachel diz, abrindo um sorriso confiante.

— Caralho, essa eu quero ver — Royce diz, rindo. Nate rosna alto para ser ouvido acima da música barulhenta. — Não sei qual dos dois eu prefiro ver de saia! — Sky ri. — Qualquer um seria incrível! — Todo o seu rosto está iluminado, brilhando de felicidade. Senti tanta falta disso que quero beijá-la forte e profundamente. E é o que faço. Ela ofega na minha boca, e eu aproveito e mergulho a língua, provando a dela. Mas logo ela se afasta, dando beijinhos nos meus lábios, e volta para o drama que se desenrola em nossa mesa. Passo o braço sobre os ombros de Skyler e a mantenho perto. — Vamos lá, gênio. Nate, você está sozinho. — Obviamente — ele diz, rangendo os dentes, furioso. Ela pisca para ele e vai até onde o touro está sendo preparado. Bo tira a jaqueta de couro e a joga na cadeira antes de ir atrás dela com a mesma determinação. Royce e eu pegamos a carteira e jogamos cinquenta dólares na mesa cada um. — Ei, eu quero entrar nessa. — Sky revira a bolsa, pega uma nota de cinquenta e a coloca na mesa. — Em quem vocês apostam? Nós dois respondemos ao mesmo tempo: — Bo. Ela abre a boca, e posso facilmente dizer que é de choque. — De jeito nenhum! Eu aposto na Rachel! Sororidade! — Agita o punho no ar e grita: — Vamos lá, Rach! As luzes ao nosso redor diminuem e o ringue se ilumina. Bo, surpreendentemente, vai primeiro. Engancha uma perna coberta de jeans no corpo largo do touro, agarra a alça, ergue o braço no ar e acena para o sujeito que está no controle do bicho. O touro começa a dar pinotes, e a multidão conta os segundos. No terceiro segundo, o touro balança loucamente e Bo escorrega, mas não cai. Ele arqueia o corpo com o touro quando a multidão chega a oito segundos, antes de a coisa fazer um movimento rápido para a direita e o arremessar para longe. Seu corpo voa e aterrissa sobre o piso acolchoado vermelho. Ele pula, levantando os braços. A multidão grita e aplaude. Com um olhar presunçoso, ele aponta para Rachel e faz uma arma com a mão.

Rachel atravessa o piso acolchoado e pula em cima do touro como se tivesse montado a vida toda. Oh-oh. Ela curva as pernas contra o corpo da fera e as trava no lugar, enquanto esfrega a mão na perna, depois pega a alça. Fecha os olhos, respira calmamente e levanta a mão. O touro ganha vida, movendo-se para a esquerda, para a direita, para cima, para baixo, girando. Começa a circular quando a multidão chega a quatro segundos. Ele pinoteia aos cinco. Gira para a direita aos seis. De novo para a esquerda aos sete. Aos oito segundos, o corpo de Rachel já flui como água. Ela gira o braço enquanto o animal mecânico dá uma volta e sobe e desce. Seu longo cabelo trançado segue seus movimentos como um laço. Ela é mágica. Move-se com a máquina, não contra ela. Nunca vi nada igual. A multidão chega a nove... e ela ainda está firme. O touro finalmente para aos dez segundos. Rachel ajeita a trança sobre o ombro enquanto olha para Bogart e dá uma piscadinha. Como se fizesse isso todos os dias, ela levanta a perna para o lado e desliza do touro. — Podem passar o dinheiro, meninos! — Sky aplaude, pega as notas e acena para Rachel. Bo volta até a mesa atrás da deusa loira. Não está com uma cara azeda por ter perdido, mas admirado com essa mulher incrível que acabou de derrotá-lo. Rachel volta para a cadeira calmamente e bebe sua água. Bo vai até Nate e o olha bem nos olhos. — Você é um homem de sorte. Nate dá um sorriso afetado. — Pense no que mais ela pode montar assim. — Puta merda! — Bo passa a mão na nuca. — Exatamente. — Nate sorri. — Bela cavalgada, espoleta — diz para a esposa. — Acho que essa não é a única cavalgada que eu vou dar esta noite — ela solta.

— Não mesmo — Nate promete. Parece que alguém vai se dar bem. Eu me volto para Skyler e acaricio sua têmpora com o nariz. Ela leva a mão ao meu joelho e sobe pela minha perna, até o alto da coxa, onde a deixa. Parece que vou me dar bem esta noite também. Skyler aperta minha coxa, e, apesar de termos recebido uma notícia horrível e estarmos com o coração partido por Wendy e Michael, conseguimos encontrar momentos para aproveitar o bom da vida. Acho que às vezes a questão é esta: viver o momento.

3

Voltamos a Boston, e uma semana inteira se passou desde que Wendy e eu fomos baleados. Três dias de medo de que Wendy não acordasse, para depois acordar e descobrir que perdeu um bebê que ninguém sabia que estava esperando. Nem ela. Agradeço ao bom Deus por essa pequena bênção. Isso não significa que eles não sintam a perda, mas dá mais esperança para o futuro. Algo para ansiar. É engraçado que, quando sofremos uma perda, podemos tomar dois caminhos. Um é nunca superar nem entender, não ter coragem e força para avançar e aceitar aquilo como o que é: uma perda. Isso pode deixar a pessoa em um círculo infernal sem fim, constantemente revivendo a perda, sem abrir mão nem esquecer — o que, para mim, não faz jus ao amor que a pessoa tinha pelo que perdeu. E o segundo caminho é a aceitação. Aceitar a dor e a mágoa da perda e deixar que isso nos guie para a frente, nos tornando mais fortes, nos incentivando a viver o momento e a deixar o passado para trás. Mas deixar o passado para trás é mais fácil de falar que de fazer. É um desafio com o qual acredito que cada pessoa tenha que conviver todos os dias. Todo mundo já perdeu alguma coisa, já sobreviveu a uma tragédia. O segredo é recolher os pedaços do nosso coração, da nossa força, e seguir em frente. Um passo de cada vez. Um dia de cada vez. Vivendo o momento. Todos os dias tenho medo de receber um comunicado do governo, ou de ter um oficial militar na minha porta, ou na dos meus pais, dizendo que Paul, meu irmão, morreu em batalha. Um arrepio

percorre minha espinha, e sinto meu peito se apertar. Meu irmão é um herói, meu e de cada cidadão americano. Ele arrisca a vida para proteger nossa liberdade e lutar contra a tirania no mundo todo. Mesmo assim, não saber é cruel. Nessa situação, minha maior esperança é que Wendy e Michael se apoiem mutuamente para superar a perda e sair dessa mais próximos, mais conectados. Tenho certeza de que eles vão conseguir. Ser baleada, perder um bebê que eles não sabiam que estavam esperando vai alicerçar seu futuro juntos. A vida é curta, e isso ficou provado para todos nós na semana passada. Temos que viver como se não houvesse amanhã. E é também por isso que eu não disse a Skyler que fosse para casa. Vou até a lateral da minha cama, onde Sky ainda está dormindo, e deixo a xícara de café que fiz para ela. Meu Deus, como ela é delicada. Seu tom natural de pele brilha, seu cabelo dourado cintila sob os raios de sol que entram pelas persianas do meu quarto. Ela está com o edredom branco esticado até o queixo. Lentamente vou puxando o tecido, encontrando seu peito nu e seus seios de mamilos perfeitamente rosados. Deixei um chupão roxo do tamanho de uma moeda em um deles — fiquei meio carente e territorial com seu corpo. Não há nem um centímetro de sua pele que eu não tenha lambido, beijado, chupado ou mordido nas últimas quarenta e oito horas. Eu conheço cada sarda, cada pequena cicatriz e marca de nascença, todo o patchwork que compõe o corpo da minha namorada. Deslizando em cima dela, puxo o cobertor nas minhas costas e me aninho a ela. Mas não solto muito meu peso. Meus dedos estão enfaixados, e a palma da minha mão não é nada mais que uma mancha vermelha cicatrizando. Vou pôr a tipoia de novo, já que vou voltar ao trabalho hoje, mas precisei tirá-la, pois passei os últimos dois dias amando minha mulher. Skyler suspira e me abraça. Eu me aconchego entre seus seios, passo a língua em cada mamilo, chupando com força até ficarem úmidos e durinhos. O rosa escurece até um tom de ameixa, condizente com seu tesão. Deslizo a mão boa por sua barriga e levo os dedos ao espaço entre suas coxas. Quando encontro sua carne

molhada e quente, não posso deixar de gemer e morder um dos mamilos, enfiando nela dois dedos, devagar e fundo. — Ah... Achei... humm... achei que estava sonhando. Começo a masturbá-la devagar, até que seu corpo se contorce sob o meu. Ela levanta os quadris para ajudar meus dedos a mergulhar mais fundo. Sky suspira e joga a cabeça para trás. Eu sei quando encontro o ponto que a deixa louca, porque seu corpo fica perfeitamente imóvel, cada músculo tenso. — Quer gozar agora, ou quer que eu coma você? — pergunto, lambendo seu pescoço e chupando-o até fazê-la tremer. — Quero gozar agora, e depois quero que você me coma. — Ela geme e crava as unhas nas minhas costas. Sacudo a cabeça e rio com a boca no seu cabelo. — Menina gulosa! — De você... sempre. — Ela suspira enquanto eu redobro os esforços, brincando com seu ponto G, até que Skyler sacode o corpo acompanhando meus movimentos. Seu corpo fica glorioso nos momentos antes de gozar. Nunca me canso de ver. Ela sempre fica de olhos bem fechados, abre a boca em um grito mudo, o pescoço totalmente estendido. Mas não é isso que eu mais amo. Testo de novo, tentando me erguer e me afastar dela, tocando apenas o seu centro, mas ela não deixa. Minha garota prefere me tocar o tempo todo, especialmente quando vai gozar. — Venha aqui... — Ela prende a respiração quando mexo os dedos com mais força, fazendo-os tremular contra seu ponto sensível em uma cadência à qual não pode deixar de se render. — Parker... meu bem, venha aqui. Suas mãos alcançam minhas costas e me puxam sobre ela, peito com peito, coração com coração. Posso sentir os batimentos selvagens contra meu peito, meu coração sincronizado com o dela, pulsando como um só quando ela se entrega. Ela aperta os braços e as pernas ao meu redor enquanto move os quadris contra os meus, fazendo uma gota aparecer na ponta da fera. Gemo em seu ombro, retiro a mão e mergulho em suas profundezas quentes. Ela me acolhe com um grito. As paredes de seu sexo ainda se contraem de prazer. Eu a tomo rápido e forte e

ela continua gozando. Até que sinto a tensão descer pela minha coluna, a base do meu pau formigar, minhas bolas se retesarem, e então ela me prende por dentro com seu sexo, e por fora com seus braços e pernas, me envolvendo inteiro até que não sei mais se somos dois ou um. Gozo tão intensamente que perco a linha de raciocínio e de movimento, fodendo-a como se nunca mais fosse ter outra chance. É sempre assim. Nós nos perdemos no tempo, espaço, tudo ao redor. Eu só vejo e sinto Skyler. Só Skyler. Para mim, o sexo nunca foi tão bom, tão abrangente. Talvez porque, antes, eu nunca tivesse feito amor; era só sexo mesmo. Dois corpos se esfregavam, provocando uma resposta biológica. Apenas isso. Com Skyler, é uma aventura. Toda vez é diferente. Quando meu corpo e o dela se juntam, não é só a união de nossas formas físicas; é nossa mente e nosso coração se fundindo, nossa alma reconhecendo uma à outra. Algumas pessoas acreditam que a alma sabe quando encontra o parceiro ou parceira. Não posso imaginar qualquer outra experiência melhor que o que tenho com Skyler. Ela é a melhor coisa que me aconteceu. Minha pergunta agora é: Eu sou suficiente para ela? No longo prazo, isso que temos vai ser suficiente para ela? Para mantê-la fiel a mim? E depois, claro, há a questão do trabalho dela. Ela é a mulher mais desejada do mundo, dentro e fora das telas. Como posso competir com isso? Meus pensamentos se dispersam quando entra em minha mente a sensação de Skyler gemendo e passando as unhas pelo meu couro cabeludo. Sorrio com a boca em seu pescoço, onde me encaixei, e então levanto a cabeça. — Bom dia, meu pêssego. Tudo bem? Ela sorri. — Humm, tudo ótimo. — Estica as pernas e meu membro desliza suavemente para fora dela, provocando um beicinho em seus lábios. Eu rio e me afasto. — Não se preocupe, mais tarde tem mais. — Vou beijando seu peito até a barriga antes de me sentar. — Fiz café para você —

digo, indicando a mesinha. Meu telefone toca do outro lado. — Você é tão bom comigo — ela murmura, se sentando, passando o braço pelo meu pescoço e me beijando com suavidade. Se isso fosse verdade..., penso comigo mesmo, ainda em conflito com o fato de que, quando brigamos, eu não confiei nela, não acreditei que estivesse sendo sincera comigo, conosco. E quando passou pela mesma situação, alguns meses antes, ela não hesitou em acreditar em mim e ouvir o meu lado antes de atirar pedras. Eu sei que Kayla pisou na bola, mas, olhando para trás e vendo o que Sky e eu temos, as situações não eram nada parecidas. Skyler não é Kayla. E o que eu tive com aquela vaca não é nem de longe tão bonito e forte como o que tenho com Sky. Suspirando, tento não pensar nisso, porque Sky e eu estamos recomeçando. Nossa escolha é confiar e acreditar no nosso amor e descobrir o restante enquanto vivemos. Isso é tudo que podemos fazer por enquanto. Contorcendo-me, eu a solto e rolo até alcançar o telefone e leválo ao ouvido. — E aí! — digo, feliz. Não há nada além de sol e arco-íris aqui. — Irmão — ouço a saudação calorosa de Royce. — Eu sei que isso vai acabar com a sua lua de mel com a Skyler, mas a próxima cliente vem hoje. — Sim, eu sei. E você me disse que ia recebê-la. Ele suspira. — Só que ela quer você, e não tem acordo. São mais seis dígitos, cara. Depois de tudo que passamos em San Francisco e em Montreal, eu quero focar nos negócios e no meu objetivo para garantir o meu lindo bebê prateado. O Porsche 911. Royce cobiça esse carro há anos, mas, mesmo com todo o dinheiro que ganha, nunca dá o passo. Um lado meu acha que ele está traçando um objetivo ridículo que não vai atingir. Outro lado, mais maduro, percebe que isso é assunto dele e não tem nada a ver comigo. — Merda. Tudo bem, mas a Sky está comigo e os paparazzi sabem que estamos aqui. Nós dissemos para o Nate que não íamos

sair do prédio por pelo menos três dias. Eles estão fazendo umas coisas que a Skyler pediu, e eu não posso deixá-la aqui desprotegida. O Andre mandou alguém para substituir a Wendy até ela voltar? — Sim, ontem. Ela parece legal. Quieta. Até demais. Eu quero a Wendy de volta. Sinto uma pontada de culpa pela situação de Wendy, mas a escondo com meus problemas de confiança. — Eu também, meu irmão, eu também. Nos arquivos da Wendy tem o contato de uma empresa de segurança que os Van Dyken analisaram. Mande um deles e um motorista daqui a uma hora e nós vamos até aí. — Pode deixar. Valeu, cara — diz Royce. — Nós estamos juntos nessa. Eu, você, o Bo e a nossa Wendy, certo? — Certo, irmão. Fique na paz — ele murmura e desliga antes que eu possa responder. — E aí? — Sky pergunta ao sair do banheiro só de calcinha branca rendada e minha camisa. Lambo os lábios e mordo o inferior. Todos os pensamentos sobre trabalho desaparecem num piscar de olhos ao ver seu corpo maravilhoso. — Se você não colocar uma calça agora, não me responsabilizo. Ela ri e se inclina para pegar o café. Sua bunda em forma de coração aparece quando a bainha da camisa sobe. — Caralho, mulher, você vai me matar. Precisa parar de ser tão sexy, senão eu nunca vou conseguir trabalhar. Ela faz beicinho. — Você tem que ir trabalhar? Eu achei que teríamos mais um dia. Eu me levanto e vou até ela. A fera está a meio mastro, pronta para mais uma rodada com a mulher mais gostosa do mundo. — Desculpe. A cliente se recusou a falar só com o Royce. — Passo as mãos pelos seus braços em um gesto reconfortante. — Ele não disse por que, mas não ligaria se não fosse necessário — digo. — Ele vai mandar os seguranças alternativos. Tudo bem se você for ao trabalho comigo? Skyler anui e pousa a testa no meu peito.

— Eu só quero ficar com você o máximo possível. — Ela sobe as mãos pelas minhas costelas e desce até meus quadris, depois volta para cima. — Senti tanto a sua falta, e sei que nós estamos bem, mas... — Ainda não está pronta para se separar de mim — respondo por ela. — Não, não estou. Pego sua xícara de café e a deixo de novo na mesinha antes de tomar seu rosto nas mãos. — Eu também não estou pronto, então hoje é dia de levar a namorada para o trabalho. Que tal? Ela sorri e anui. — Mas antes... — Desliza as mãos pelo meu peito, pelos meus abdominais definidos e desce até os pelos escuros, onde encontra a fera totalmente acordada mais uma vez. Com o olhar mais malicioso e o sorriso mais arrogante, desliza pelo meu corpo e senta na beira da cama baixa. Sua cabeça fica na altura perfeita do meu amigo ávido. Ela lambe a ponta e uma pérola de tesão vem à tona. Skyler envolve com os lábios a cabeça do meu pau e me leva garganta adentro. Minhas mãos voam para seu cabelo como se estivessem no piloto automático. Fecho os olhos. — Que mulher perfeita! Ela chupa forte minha carne sensível e puxa os lábios, fazendo plop. Com sua mão pequena, envolve a base e movimenta para cima e para baixo, enquanto sua boca me deixa louco. Ondas de calor tomam meu centro de prazer, até fazer meus joelhos tremerem. — Nunca se esqueça disso — ela cantarola, me levando ao refúgio da sua garganta mais uma vez. Engulo em seco e volto o rosto para o teto enquanto ela gira a língua em volta da ponta, na parte sensível embaixo da glande. — Nunca — suspiro e forço os quadris para afundar mais em sua boca. Ela geme, abrindo a garganta para minha invasão. — Nem em um milhão de anos eu poderia esquecer a mulher que eu amo me fazendo ver estrelas.

Seguro sua cabeça e ela acelera. A deusa do boquete. Agarro seu cabelo com uma mão e seu rosto com a outra, mantendo-a onde quero enquanto bombeio superficialmente. Ela me chupa fundo e forte, alternando mão e boca com perfeição. Minha visão escurece, e tudo que posso ver são estrelas cintilando por trás das pálpebras. Os arrepios começam, e estou pronto para explodir. Aperto seu rosto para avisar o que está vindo, mas ela não para. Minha garota fica louca pelo meu pau quando estou para gozar. Tenho plena consciência de que é porque ela gosta do controle que tem sobre mim nesse momento vulnerável. O que ela não sabe é que eu gosto de lhe entregar as rédeas sempre que ela quiser. Antes dela, nunca, de jeito nenhum. Era eu que comandava o show. Com Sky, é dar e receber. Gozo espetacularmente em sua garganta, e ela extrai até a última gota. Sky se levanta e eu tomo sua boca em um beijo feroz e grato. — Você faz a minha cabeça explodir, baby — sussurro em seus lábios, saboreando a mim mesmo em sua língua doce. — E eu achando que estava fazendo seu pau explodir — ela retruca. Passo os braços em volta dela e fico ali, abraçando-a e rindo. É tão bom tê-la comigo de novo... Desejo que ela nunca mais vá embora, não quero ficar sem ela de novo. Meu novo objetivo é afastar tudo que não me ajude a avançar com essa mulher. Eu quero um futuro com ela, e nada vai me deter. Independentemente de eu ser digno dela ou não, se Sky continuar se entregando inteira, eu vou aceitar.

Passamos pelas portas do escritório da IG de mãos dadas e rindo como dois bobos apaixonados. Quando vejo não uma, mas duas mulheres estranhas na nossa sede, enlaço a cintura de Skyler e a mantenho perto de mim. A loira sentada atrás da mesa de Wendy se levanta imediatamente. Olha para mim, mas seus olhos se arregalam quando pousam em Skyler. — Sr. Ellis, srta. Paige, presumo.

— E você é... — Annie. Annie Pinkerton. — Ela estende a mão trêmula. Fica piscando, olhando para Skyler, e sua voz falha quando completa: — Eu sou a temporária enviada pela Canton Global. O Andre me enviou para substituir a sua assistente por alguns meses. — Ah, sim. Bem-vinda à International Guy. — Então viro e pergunto à outra mulher: — E você? Uma morena miúda, com olhos escuros e inteligentes e cabelo cor de cappuccino, levanta e se aproxima com a mão estendida. Ela não tem mais que um metro e cinquenta e cinco. Está usando um tubinho simples, mas de caimento perfeito, e um intrincado colar dourado, que é a primeira coisa que se nota nela. Nos pés, sapatilhas caras e elegantes que combinam com a bolsa de grife. Ela exala confiança e objetividade em uma embalagem pequena, porém bonita. — Eu sou Amy Tannenbaum, agente literária de Geneva James. Tenho uma reunião marcada com você. — Seu tom é direto e profissional, sem nenhum indício de entusiasmo por ter uma celebridade diante de si. Gosto dela instantaneamente. — Obrigado por esperar, srta. Tannenbaum. Me deixe acomodar a minha namorada e eu já venho atendê-la — digo, indo em direção ao corredor onde fica minha sala. — Na verdade, eu gostaria de falar com vocês dois, se não se importarem. De certa maneira, minha proposta envolve ambos. Franzo a testa e Skyler inclina a cabeça para mim. — Por mim tudo bem — diz. — Acho pouco ortodoxo... — começo. Amy se apressa a acrescentar: — Segundo Sophie Rolland, namorada do meu primo, Gabriel Jeroux, nada do que vocês fazem é muito ortodoxo, não é? — ela diz, sorrindo e esperando calmamente enquanto eu digiro suas palavras. Sophie... Essa garota! De uma princesa a uma agente literária. O que vem depois? Um mágica rica? Eu não me surpreenderia. Isso me lembra mais uma vez que preciso falar com ela. Já faz muito tempo, e ainda não descobri se ela ganhou ou não um anel de noivado do cientista francês.

— Tudo bem então, vamos entrar. Annie, por favor, diga ao Royce que eu estou aqui. Se ele precisar de mim, nós estamos com a srta. Tannenbaum. — Imediatamente, sr. Ellis. Ela abre um sorriso enorme e se senta em silêncio atrás de sua mesa — ou melhor, da mesa de Wendy. Aperto os dentes e a mão de Sky. Ela passa a mão pelo meu braço enquanto Amy nos segue com o olhar. — Ela está bem e logo vai estar de volta ao trabalho, você vai ver — sussurra Sky. Inspiro fundo, assimilando suas palavras. Wendy vai voltar, é só uma questão de tempo. Vamos passar por essa fase difícil sem ela. Abro a porta da sala e indico o lugar onde Skyler e eu podemos nos sentar lado a lado e Amy na poltrona. Quando nos instalamos, junto as palmas e estremeço ao bater os dois dedos quebrados. Skyler pousa a mão no meu antebraço e eu ponho a minha sobre a dela, olhando para Amy. — Como a International Guy pode ajudá-la, srta. Tannenbaum? Amy abre sua pasta e põe na mesa entre nós um maço grosso de papéis presos por um clipe. — Esta é a primeira metade do último livro da cobiçada Trilogia Classe A. Skyler fica de queixo caído. — Não acredito... — suspira. Amy anui. — Eu vejo que você conhece... — ... Geneva James — Sky diz, com ar sonhador. Do jeito que estou acostumado a ouvi-la no quarto, não na minha sala, falando de uma escritora. — Ela é simplesmente uma das melhores romancistas de todos os tempos. Já li tudo que ela escreveu. Amy sorri, e sua linguagem corporal demonstra o orgulho que sente. — Fico feliz por você ser fã. Isso facilita o que quero pedir. Franzo a testa e pego o maço de papéis. Deixo as páginas flutuarem enquanto as examino. Não há nada ali que eu reconheça. Mas já ouvi falar dessa escritora. Muitos livros dela viraram filmes românticos de grande orçamento.

— O que é isto mesmo? — pergunto, erguendo o maço. — Como eu disse, é metade do terceiro e último livro da Trilogia Classe A. Os outros dois volumes estão na lista de best-sellers do New York Times há mais de cem semanas. Este livro deveria ter sido publicado um ano atrás. Os fãs estão irritados, e, quanto mais demorarmos para lançar, mais nos arriscamos a perder seguidores. Já vendemos os direitos da trilogia para a Paramount Pictures e eles querem começar a produzir o primeiro filme, mas estão cautelosos. Preferem esperar até que o último livro seja concluído. — Tudo bem, entendi. Mas ainda não sei por que você está aqui. Ela franze os lábios. — A Geneva está sofrendo um bloqueio criativo. Desses que podem acabar com a carreira de um escritor. Ela fica dizendo que não sabe como a história termina. Que os personagens não estão mais falando com ela. Sky cutuca meu ombro. — Você já lidou com isso antes — sorri. Inclino a cabeça. — Não é bem a mesma coisa. Eu trabalhei com a sua inspiração e com questões internas, não com o enredo de um livro. Não sei se posso ajudar com isso. Amy pega seu talão de cheques. — A minha empresa está disposta a pagar duzentos e cinquenta mil dólares para dar um jeito na nossa autora, tirá-la desse marasmo, ajudá-la a ver o que todos nós vemos. — E o que seria? — pergunto, me inclinando para a frente e me concentrando nas palavras de Amy e na sinceridade de seu tom. — Que ela é incrivelmente talentosa. Ela tem o dom das palavras, e isso transparece nas histórias que conta. Infelizmente, a editora com quem ela trabalhou no último projeto a tratou de maneira horrível. Abusou da confiança dela e a deixou se sentindo um lixo. Agora, a pressão de terminar o último livro de uma trilogia que está se tornando um império, uma lenda, acabou com ela. A Geneva está paralisada por causa do medo de falhar com os leitores e consigo mesma. Skyler leva a mão ao peito.

— O quê? Não! Isso é horrível. Ela é uma contadora de histórias incrível. Meu bem, você precisa ler os dois primeiros livros da trilogia. São maravilhosos. — É interessante que você pense assim, srta. Paige, já que você foi a inspiração para Simone Shilling, a jovem atriz do livro. A mulher que milhões de leitores do mundo todo adoram amar quando a coitada não consegue encontrar o amor. Até que... O rosto de Skyler se ilumina de entusiasmo e ela termina a frase de Amy: — ... ela conhece Dean Briggs, um empresário que não é do ramo nem tem interesse em namorar alguém que seja. Amy abre um sorriso largo, e seu rosto vai de bonito a lindo em um instante. Seu cabelo escuro e liso cai como seda pelas laterais do rosto. É um contraste perfeito com o tom de oliva de sua pele e a maquiagem de bom gosto. Se eu tivesse que descrever essa mulher em poucas palavras, diria que ela é o epítome da elegância confiante. — Estou percebendo que você leu os livros. — Sim, sim, um milhão de vezes sim! A minha agente está sempre de olho em algum filme novo dela para tentar me encaixar no papel principal. — Aí está o que eu gostaria de pedir. — Amy não está exatamente sorrindo, mas dá para ver que está com vontade. Tem Sky na palma da mão. Finalmente, penso, mas não digo. — Sou todo ouvidos. — Se interessar à srta. Paige, eu gostaria que você e ela fossem a Londres conhecer e passar um tempo com a minha cliente. Ela precisa terminar esse livro, mas alguma coisa está impedindo. Eu quero que vocês descubram o que é e acabem com esse bloqueio criativo. Tem muita coisa envolvida nisso. E, srta. Paige, se você acompanhar o sr. Ellis, eu vou garantir que a Paramount entenda que você foi a inspiração para essa personagem e que é a atriz mais adequada para interpretar o papel. Só esse contrato já seria uma recompensa multimilionária para você. — Conte comigo! Estou dentro! — Skyler diz com entusiasmo.

— Meu pêssego, não sei se você entendeu o que isso significa. Você vai perder tempo de trabalho, e eu sei que a Tracey não vai ficar satisfeita. Achei que você tivesse que promover o filme da série Angel, que está para sair. Ela torce os lábios e acena com a mão. — Eu dou um jeito. Mesmo que não houvesse a possibilidade de transformar os livros em roteiro de filme, eu vou conhecer uma das minhas escritoras favoritas. Você tem ideia de como vai ser legal? Me deixe ir! — Ela força um beicinho, e tudo que eu quero fazer é beijar e morder esse seu lábio. Olho para Amy e suspiro. — Duzentos e cinquenta mil e duas semanas, nada mais. Se eu não conseguir tirar a sua cliente desse estado de ânimo, isso não prejudicará a mim, a minha empresa ou a possibilidade de a Skyler trabalhar no filme se a Geneva terminar o livro. De acordo? Amy se endireita e estende a mão. — Você negocia muito bem. Eu respeito isso. Pego sua mão e aperto. Skyler faz o mesmo. — Quando precisa de nós em Londres? Ela se levanta e passa as mãos pela saia, eliminando as rugas. — Tomei a liberdade de reservar duas passagens de primeira classe pela British Airways. O voo sai amanhã às dez da manhã. — Isso foi meio arriscado, não acha, srta. Tannenbaum? — digo mas sorrio. Estou adorando esse lado agressivo dela. — A vida é cheia de riscos. Quando se tem algo que vale a pena, o risco de repente parece pequeno. Não vejo a hora de receber relatórios regulares sobre os avanços da minha autora, sr. Ellis. — Você receberá. Deixe seus contatos com a minha assistente e nos falamos em breve — digo. — Foi bom conhecer vocês — ela diz. — E, srta. Paige, você é uma atriz muito talentosa. Adoro o seu trabalho e espero vê-la na telona dando vida à Trilogia Classe A. Elegante. É assim que se demonstra apreço pelo trabalho de alguém. Ela não fez um escândalo sobre ser fã, apenas declarou apreciar o talento da minha garota. — Obrigada, Amy. Vamos fazer o possível para que a criatividade da sua escritora flua de novo — Sky diz, sem fôlego.

Amy fecha os olhos por um momento, sorri e abre de novo. — Isso seria maravilhoso. Cuidem-se e boa viagem. No instante em que a porta se fecha, Skyler pula e sai dançando pela sala. — Você faz ideia de como eu queria conhecer Geneva James?! Eu rio. — Não. Achei que Sylvia Day fosse a sua escritora favorita. Ela sacode a cabeça. — Eu conheci a Sylvia e ela é superlegal. Geneva James não faz eventos de autógrafos nem para fãs. Dizem que ela ficou reclusa. Agora eu vou poder conhecê-la e ser cogitada primeiro para fazer a trilogia do filme! Este é um dos melhores dias da minha vida! — Ela dá pulinhos. — Nós precisamos comemorar. Precisamos sair para tomar champanhe. Ah, não... — Ela franze a testa. — Precisamos fazer as malas! — Balança a cabeça e fica andando de lá para cá. — Não, esquece. Vou pedir para a minha personal shopper mandar roupas para Londres, assim eu levo só o essencial. Que maravilha! Eu me levanto e me aproximo dela, abraçando-a. — Eu adoro ver você feliz. Me faz lembrar quando nos conhecemos e eu te levei para passear em Nova York. Lembra? Ela sorri. — Sim, nunca vou esquecer. E agora eu vou poder te mostrar Londres! Conheço bem a cidade. — Ela joga os braços em volta do meu pescoço e me encara com um olhar satisfeito. — Nós vamos trabalhar juntos, meu bem. Não é demais? Sorrio e beijo seus lábios rosados. — É muito legal. Mas temos que trabalhar de verdade. Precisamos ajudar essa escritora, então, no voo amanhã, eu quero que você me conte tudo que sabe sobre ela. Hoje à noite eu vou começar a ler a série, e espero ter terminado até chegarmos a Londres. Ela arregala os olhos. — Vamos ler juntos! Eu vou ler de novo e nós podemos conversar sobre os livros. Vai ser épico! — O corpo inteiro de Sky vibra de entusiasmo nos meus braços. Fico feliz por ela pensar assim, mas um arrepio na nuca me alerta. Como é que eu vou andar por Londres com uma das

escritoras mais famosas do mundo e uma celebridade do cinema, ambas com milhões de fãs, sem ter problemas? Na lista desta noite está ligar para os Van Dyken para que eles armem um esquema de segurança para Skyler e Geneva. Já posso sentir a tempestade de merda se aproximando, só não sei como vai ser.

4

O celular de Skyler toca ao mesmo tempo em que alguém bate suavemente na porta da minha sala. Ela leva o telefone ao ouvido e vai abrir a porta para Annie. A nova funcionária. Estremeço e olho para o computador. Não quero ver uma loira no lugar da minha ruiva flamejante, que se transformou em muito mais que uma assistente ou recepcionista. Durante os vários meses em que Wendy esteve aqui, ela se tornou parte não só da equipe, mas também da nossa pequena família. — Oi, Flor. Que bom que você ligou. Você não vai acreditar aonde eu vou amanhã e quem eu vou conhecer! — Sky se joga no sofá, muito entusiasmada. Annie olha para ela e se aproxima de mim com uma pilha de envelopes e papéis dobrados. — Desculpe incomodar, sr. Ellis. Eu abri sua correspondência. As contas eu encaminhei para pagamento, e estas aqui são propostas de negócios para a sua análise. Este envelope eu não abri, porque diz “confidencial”. — Ela me entrega a pilha de papéis. Folheio as propostas e lhe devolvo a pilha. — Você vai ter que entregar isto para o Royce. Eu vou para Londres amanhã cuidar do contrato com a Tannenbaum. — Tudo bem. Precisa que eu compre a passagem? Sacudo a cabeça e olho para o envelope amarelo tamanho ofício. Tem apenas o meu nome na frente, sem carimbo, o que significa que alguém o deixou no prédio. — Isso foi deixado diretamente no escritório ou veio com a correspondência? — pergunto, segurando o envelope. — Foi entregue aqui.

— Não vou precisar das passagens, a cliente já reservou para mim e para a Skyler. Mas a minha namorada precisa que os seguranças dela, Nathan e Rachel Van Dyken, estejam no mesmo voo. Primeira classe. Se não conseguir, remarque as quatro passagens e mande a conta para a cliente. — Sim, sr. Ellis. Eu devo entrar em contato com os Van Dyken para pegar as informações pessoais deles? — ela pergunta. Mas Sky levanta a voz, fazendo ambos nos concentrarmos nela. — Tracey, você não é só a minha agente, é também a minha melhor amiga. Eu preciso desse tempo com o Parker, você sabe. Você sabe que... — Ela levanta o olhar para mim, e vejo a dor que atravessa seus olhos. É o suficiente para eu saber a que ela está se referindo: a nossa briga recente. — Não me interessa o que você quer, eu vou passar as próximas duas semanas em Londres. Isso pode render um contrato para os três filmes de Geneva James. Se você quer falar com a imprensa... dê um jeito. Eu participo de uma ou duas entrevistas de elenco para promover o filme enquanto estiver em Londres, mas só vou aos outros países depois dessas duas semanas. Annie arregala os olhos ao ouvir o tom de voz de Sky e retorce os dedos diante da minha mesa. — A srta. Paige parece muito brava. Quer que eu traga alguma coisa para ela? Chá, café? Assinto. — Por favor. Pegue o cartão da empresa e vá até o café do saguão. Traga para ela um café com leite e caramelo e um café com chantili grande para mim. E muffins e bagels variados para todos. Veja se o Royce e o Bo querem alguma coisa. Ela sorri levemente, anui e sai. Annie é doce, tímida e se veste bem. Está usando um tailleur azul-escuro que já vi antes — os detalhes na lapela e no bolso são intrincados, e eu me lembro claramente de passar os dedos por um dos zíperes dourados sobre a clavícula de Skyler. Quando Annie chega à porta para sair da minha sala, a ficha cai. É o mesmo tailleur que a minha namorada usou em uma das entrevistas que demos juntos. Fica melhor em Sky, mas Annie tem um bom corpo. Pernas torneadas, bundinha

firme. Está longe de ser Skyler Paige, mas tenho certeza de que faz algumas cabeças virarem. — Obrigado, Annie. E deve ter um arquivo nos documentos da Wendy com os dados da Van Dyken Segurança, assim como as informações pessoais do casal. Ela joga o cabelo comprido por cima do ombro e me lança um sorriso radiante. — De nada, sr. Ellis. Vou cuidar disso. Apalpo o envelope e deslizo o abridor de cartas pela aba colada. Puxo a folha para fora e a viro. Há apenas seis palavras, digitadas em letras maiúsculas pretas. EU SOU ELA. ELA SOU EU.

Estranho. Não faço ideia do que isso significa. Viro o papel, mas não há nada atrás. Procuro alguma marca no envelope que explique quem enviou esse bilhete estranho. Nada. Não tem endereço para devolução, nada escrito a mão na frente, só meu nome, o nome da empresa e o endereço digitados em uma etiqueta, além de um selo vermelho escrito “CONFIDENCIAL”. Skyler suspira, se inclina para a frente e passa a mão pelas madeixas compridas. — Tracey, sinto muito se isso atrapalha os seus planos, mas eu vou para Londres com o Parker. Vou participar das estreias e dar entrevistas para o lançamento do filme nos próximos três meses. E, entre elas, vou passar muito tempo em Massachusetts, então você vai ter que se acostumar a não me visitar toda hora em Manhattan. Eu estou onde quero estar, e mais feliz do que nunca. — De repente ela sorri, e seu corpo relaxa no sofá. — Eu também te amo. Não se preocupe comigo, estou em boas mãos. Tchau. Deixo de lado o bilhete esquisito e vou até minha garota. — Você definitivamente está em boas mãos. Venha aqui. Sento no sofá e ela rasteja até meu colo, montando em mim e escondendo o rosto no meu pescoço. É tão bom ter Skyler nos braços... É difícil acreditar que ela ainda é minha. Depois da merda com Johan, realmente cheguei a pensar que nunca mais teria isso. Que nunca mais me sentiria satisfeito, aquecido e em paz. Passo as mãos pelas costas dela e massageio seu pescoço.

— Tudo bem? Sky assente. — Agora sim. A Tracey não ficou feliz, mas ela nunca fica. Acho que ela precisa transar. Está criando teias de aranha entre as coxas. Inclino a cabeça para trás e rio alto. — Sexo é a resposta para todos os problemas do mundo. Sky coloca a mão entre nós dois e pousa em meu membro crescente. — Se o mundo inteiro transasse o tempo todo, ninguém teria tempo para guerras. Imagine um mundo sem guerras. Sorrio enquanto acaricio seu rosto e passo a ponta do polegar em seu lábio cheio. — Faça amor, não faça guerra, certo? Ela se inclina e pousa os lábios nos meus, enquanto me agarra por cima da calça. — É isso aí. — Quer sair daqui? Ela acaricia meu pau sobre o tecido apertado da calça. — Sim. — Que tal jantar hoje à noite com os meus pais? Skyler interrompe seus movimentos e se inclina para trás. Uma luz de felicidade toma conta de seu olhar de luxúria. — Eles querem me ver de novo? Franzo a testa. — Meu pêssego, eu não contei a eles que nós estávamos brigados. Nada mudou com a minha família. Ela dá pulinhos no meu colo, pega meu rosto com as duas mãos e me dá um beijo profundo. Estamos em uns amassos fortes quando a porta da sala se abre, vinte minutos depois. Annie fica parada segurando dois copos de café, com cara de constrangida. — Eu... Desculpem. Eu... não consegui bater por causa dos copos — diz, apressada. Tiro a mão da bunda de Skyler e ela gira o corpo por cima de mim e cai de pernas cruzadas ao meu lado. Limpa os lábios que eu borrei.

— Desculpe, estamos compensando o tempo perdido. — E fica lindamente vermelha. Annie deixa os copos na mesa a nossa frente. — Um café com leite e caramelo e um grande com chantili. Sr. Ellis, prometo bater da próxima vez. Ela enrubesce — imagino que de vergonha —, quando na realidade Sky e eu é que devíamos ficar envergonhados. Estamos tão famintos que não conseguimos tirar as mãos um do outro, mesmo no local de trabalho. — Não se preocupe. Você vai ver e ouvir muita coisa interessante trabalhando na IG. Nós somos uma turma diferente. Annie levanta a cabeça. — É o que a Wendy fica me dizendo. Eu tenho muito a aprender. — A Wendy? — Franzo a testa, contando o tempo na cabeça. Faz só uma semana que ela fez a cirurgia e três dias que saiu do hospital. Annie lambe os lábios, nervosa. — Ela está me treinando de casa, mandando instruções e dicas sobre certas coisas para eu poder ser útil. Estou pegando tudo muito rápido, não precisa se preocupar. Olho para Sky, que franze os lábios e balança a cabeça. — Não há nada que você possa fazer, Parker. A Wendy dança ao ritmo da própria música. Eu bufo, levanto e pego o telefone. — É, até o Michael acabar com a graça dela e com a minha. A última coisa que eu quero é irritar o cara, considerando que ele já está torcendo para ela largar a International Guy. O celular toca algumas vezes antes de ela atender. — E aí, chefe. Meu Deus, como é bom ouvir essa voz. Mas não digo isso, vou direto brigar com ela. — Wendy — solto, quase rosnando —, você não devia estar trabalhando. Ela suspira. — É o meu trabalho, e alguém tem que ajudar a menina nova até eu voltar. O que espero que seja daqui a três semanas, um mês no máximo.

Jogo a cabeça para trás e pressiono a têmpora. — O Michael sabe que você está trabalhando? Ela baixa a voz. — Humm... claro. — Então, se eu mandar uma mensagem para ele dizendo que você está treinando a nova assistente, tudo bem? — Não se atreva! — ela ameaça, sussurrando. Quero rir, mas me seguro. — Eu posso fazer isso, estou falando sério. Pare de trabalhar e se recupere. Nós precisamos de você. Ninguém pode te substituir. — Eu me volto e percebo que Annie ainda está parada ali, chateada. Fecho os olhos. — Merda. — A temporária está bem aí, né? — Wendy diz. — Sim — respondo, apertando os dentes. Ela começa a rir no meu ouvido, mas logo grita. — Não me faça rir. Dói quando eu rio. — Então não ria de mim. Você é um pé no saco! — Foi isso que ela disse! — Wendy retruca, seguida por outra gargalhada histérica. E mais uma vez ela geme. — Cara, eu preciso desligar. Divirta-se em Londres. Vou ficar de olho. — E a linha fica muda. Droga, Wendy, sempre na frente. Maldita abusada. Dou meia-volta e encontro Sky escondendo o riso e Annie saindo da sala. Graças a Deus. — A Wendy controla você também, gato. — Ela sorri. Pego meu café enquanto me sento ao seu lado e passo o braço em volta de seus ombros. Sky se aconchega em mim, levando seu café aos lábios. — Está pronta para ir a Londres? — Totalmente. — Vamos arrumar as coisas, então. Eu não tenho uma personal shopper, o que significa que preciso ir para casa e fazer as malas antes de irmos jantar no Lucky’s. Também preciso ter uma conversa com o Nate e a Rachel. O que eles estão fazendo em Boston? Ela morde o lábio e sorri. — Não posso dizer, é surpresa. Logo você vai descobrir. Vou ligar para eles no caminho da sua casa e pedir que nos encontrem,

contar que vamos para Londres amanhã. Eles sempre têm roupa suficiente para sete a dez dias, então tenho certeza que não vão ter problemas em ir para Londres amanhã cedo. — Combinado. — Eu me levanto e lhe ofereço o braço bom com a mão estourada. Ela o segura e juntos saímos da IG. Acabei de voltar e já vou viajar de novo. Estou começando a me perguntar se realmente preciso de um escritório, com o tanto que tenho viajado nos últimos tempos. Amanhã, Londres. A próxima cliente pode ser na Ásia. Com o braço ao redor da minha garota e minha vida amorosa de volta aos trilhos, não importa onde eu esteja, desde que tenha o coração dessa mulher. O coração de Skyler é o meu lar.

Chegamos a Londres às dez da noite seguinte, hora local, e ao hotel à meia-noite. Agora, exatamente vinte e quatro horas depois de termos entrado no avião, seguimos em um Audi preto até a casa da escritora Geneva James. Skyler, praticamente pulando no banco, mal consegue ficar parada. Pouso a mão em seu joelho saltitante, coberto pelo jeans. — Meu pêssego, relaxa. Você está descontrolada. Ela coloca a mão sobre a minha. — Estou tão nervosa! E se ela não gostar de mim? Do meu verdadeiro eu, não do que ela vê na tela do cinema. Esse é um medo comum da minha garota. Uma das razões pelas quais nos conhecemos e eu a convenci a fazer a campanha Toda sua. Levanto sua mão e a levo aos lábios para beijar a ponta de seus dedos. Ela se acalma no segundo em que minha boca toca sua pele. Espero que sempre responda assim ao meu toque. — Sky, tudo que você é, tudo que ela vai ver é lindo, porque você é linda, baby. Por dentro e por fora. Você não tem nada com que se preocupar. Além disso, a Amy disse que a Geneva é sua fã. Ela suspira forte e recosta a cabeça no banco de couro. — Sim, mas as pessoas sempre imaginam como os outros são. Quando a realidade não se encaixa perfeitamente na ideia, elas acham que falta alguma coisa.

Ela torce os lábios rosados e brilhantes. Está usando um jeans de lavagem escura, sapatos de salto amarelo-canário, uma blusa de seda florida verde e amarela e um blazer branco com as mangas arregaçadas. Uma série de pulseiras de ouro tilinta a cada movimento seu. Metade de suas ondas loiras está puxada para cima, longe do rosto, me dando uma visão desimpedida de seus lindos olhos castanhos e das maçãs altas. Eu me volto para ela, pego seu rosto e a faço olhar para mim. — Não falta nada em você. — Passo o olhar por sua roupa moderna e chique. — Bonita, estilosa, bom coração, sorriso meigo... — Ela sorri, facilitando a admiração de seus lábios. — Rosto lindo, corpo escult... Ela cobre minha boca com a sua e me beija tão forte que sinto até nos dedos dos pés. Então segura meu queixo e passa o polegar pelo meu lábio, do jeito que eu faço com ela. — Já entendi. Sorrio com malícia. — Ótimo. Agora relaxa. Ela provavelmente está mais nervosa por conhecer você do que o contrário. Ela sacode a cabeça. — Duvido. — Até parece que você vai conhecer o papa ou... — balanço a mão até pensar em outra celebridade — ... a Oprah. Skyler ri. — Verdade. Interessante você comparar uma apresentadora de TV e atriz com o líder de uma religião. Dou de ombros. — É quase a mesma coisa. — Dou uma piscadinha e ela ri. — Nossa, eu te amo tanto! — diz, suspirando e pegando minha mão. Eu a aperto firme. — Que bom, porque você não vai se livrar de mim. Ela descansa a cabeça em meu ombro, por fim relaxando no banco, mais reclinada. — Como se eu quisesse. Pffff. — A última parte sai em uma explosão de ar, mas as palavras pululam em minha mente como

uma promessa solene, e não só uma resposta casual a algo que eu disse. Quinze minutos depois, Nate estaciona diante de um belo portão de ferro preto no bairro elegante e tranquilo de Notting Hill, no lado oeste de Londres. O bairro se tornou ainda mais popular depois do sucesso do filme Um lugar chamado Notting Hill, estrelado por Hugh Grant e Julia Roberts. Entendo por quê. Os edifícios aqui são bem conservados, as ruas limpas e arborizadas e os comércios pitorescos. Esta casa em particular é um prédio de cinco andares que me lembra o estilo colonial. Se eu fosse adivinhar, diria que tem cerca de seiscentos metros quadrados, o que parece muito para uma pessoa só. Segundo Skyler, que é stalker de Geneva James, não há registros de que a escritora tenha família ou uma pessoa especial, e imagino que nas próximas duas semanas vamos descobrir por quê. Nate se comunica com alguém pelo interfone preto e o portão se abre como por mágica. Seguimos um caminho até uma rotatória que dá direto no segundo patamar da casa. Rachel e Nate saem do carro primeiro e abrem nossas portas. Quando descemos, podemos ver uma trilha à direita que leva ao que parece um jardim privado. Pássaros gorjeiam e cantam enquanto o vento balança as folhas das árvores. O ar é gelado, mas o sol brilha. — Que surpresa estar tão ensolarado. Londres não é famosa pelos dias luminosos — Sky comenta, pondo a mão sobre os olhos para bloquear a luz enquanto olha para a grande casa londrina. — Linda, não é? — Sim. Eu já pensei em comprar uma casa aqui em Londres. O meu contador ficaria feliz se eu comprasse umas dez. — Ela sorri. Passo o braço pelos seus ombros e seguimos até a porta. Nate e Rachel nos acompanham, observando o entorno. — Por que não comprou? Ela dá de ombros. — Nunca tive ninguém para tirar férias comigo fora de Nova York. Eu me inclino e lhe dou um beijo na têmpora. — E agora? — sussurro, com os lábios em sua pele. Ela abraça minha cintura e levanta o queixo.

— Agora eu tenho você, a Tracey, os seus sócios e a Wendy. Seria legal comprar um lugar que todos nós pudéssemos usar nas férias. Parece um desperdício comprar uma casa tão grande e deixar sem uso. Eu assinto. — Faz sentido. O que você quiser, meu pêssego. Sky gira, passa os braços em volta do meu pescoço e olha diretamente nos meus olhos. — E se eu quiser casar e ter um monte de filhos com você? Engulo em seco e tento não deixar que o pânico imediato ao pensar em tanta responsabilidade me domine e me faça desmaiar. — Eu diria “uma coisa de cada vez”. Ela sorri. — Mas não está fora de questão no futuro, está? No futuro. Ufa. É bom saber que ela me vê em seu futuro, e também que nos veja casados e com filhos. A primeira parte é incrível, mas a segunda me deixa nervoso. — Não. Não está fora de questão, mas eu teria que passar um ou dois anos me acostumando com a ideia de ter filhos. Sky dá um pulinho na ponta dos pés e me beija. — Eba! Estamos em total sintonia. — Sim, Sky, acho que estamos. Ela ri enquanto eu a conduzo em direção à escada. Quando chegamos às portas duplas azul-royal e brilhantes, aperto a campainha. Rachel e Nate se postam ao nosso lado como se um predador pudesse surgir do nada. Sempre prontos esses dois. Fico muito feliz por eles estarem sempre colados em Skyler, especialmente quando não estou por perto. Enquanto esperamos que atendam à porta, imagino um empregado ou assistente vindo abri-la. E fico surpreso quando a própria escritora nos recebe. Os olhos azuis da morena demonstram gentileza quando me veem, mas ela fica boquiaberta ao pousar o olhar na minha garota. — Skyler... Ai, meu Deus. Skyler Paige na minha porta. Na minha casa. — O sotaque britânico faz cada palavra parecer adorável,

embora ela esteja praticamente balbuciando. Geneva pisca algumas vezes, olha para mim e de novo para Skyler. — A minha agente me disse que um homem da International Guy viria me ajudar com o bloqueio criativo e que ele traria uma surpresa. Nós chegamos a apostar. Apostar! Meu Deus, você é mesmo Skyler Paige? E está na minha casa. Por que você está na minha casa? Skyler ri. — Você está agindo como se fosse minha fã! Eu é que sou sua fã! Estou emocionada desde que nós conhecemos a Amy em Boston esses dias. Eu li todos os seus livros. — Você leu os meus livros... Skyler Paige leu os meus livros. Ah, meu Deus... Acho que preciso me sentar. — Geneva cambaleia. Dou um passo à frente para passar o braço pelos seus ombros da maneira menos invasiva possível. Ela olha para minha mão, depois para mim e de novo para Skyler, como se nada disso pudesse ser real, ou como se fosse desmaiar. — Oi, eu sou Parker Ellis, da International Guy. Fui contratado pela sua agente, Amy Tannenbaum, para auxiliar com o seu problema. A Skyler está aqui para ajudar também. Ela sacode a cabeça e leva a mão ao peito, como se seu coração batesse milhares de vezes por minuto e ela tentasse controlá-lo. — Podemos entrar? — pergunto. Ela respira fundo. — Ah, claro que sim. Por favor, entrem. — Geneva abre mais a porta e nós a seguimos até uma ampla sala de estar, decorada com uma paleta de cores suaves. Tons pastel de azul, creme, verde e dourado compõem um ambiente sereno e tranquilo. — Posso oferecer uma bebida a vocês? — pergunta a morena alta, se dirigindo a uma bandeja cheia de garrafas de vidro e se servindo de um copo. — Xerez? — Bebe de uma vez e estremece antes de servir outra dose. Eu rio e me dirijo ao sofá. — Posso? — pergunto. — Por favor, sentem-se. Eu tenho chá e vinho também. — Eu adoraria uma taça de vinho. Vamos começar a festa — Skyler diz, esfregando as mãos e se sentando no sofá ao meu lado.

— Festa? Nós vamos a uma festa? — Geneva pergunta, franzindo o cenho. — Não, boba, nós somos a festa. Segundo a sua agente, estamos aqui para fazer você se soltar e trazer as palavras de volta. Quando a minha agente contratou o Parker, a primeira coisa que fizemos foi encher a cara juntos. Acho que foi um excelente começo, não concorda, meu bem? — ela diz, sincera como sempre. Geneva toma um gole de sua bebida e aponta para Sky, depois para mim. — Vocês estão juntos, certo? Eu vi alguns tabloides. E você está me dizendo que foi cliente dele? — ela direciona a pergunta a Sky. — Sim, e a gente se apaixonou no processo. — Uau! Essa sim parece uma boa história. — Geneva abre uma garrafa de vinho, enche duas taças, entrega uma para Sky e outra para mim. — Vocês se importariam de me contar como foi? Skyler olha para mim e eu aceno com a mão. — Vá em frente. Estou vendo que você está morrendo de vontade de contar. Ela bate na minha perna de brincadeira. — Cala a boca — me repreende e vira para Geneva. — Você não vai acreditar. A gente se conheceu porque a minha agente contratou a International Guy. O Parker apareceu na minha cobertura em Nova York. Eu não tinha ideia de que ele ia chegar naquele momento. A minha agente tinha acabado de sair e... — Ela bebe um grande gole de vinho, e eu faço o mesmo. As notas de cereja e ameixa deslizam suavemente pela minha garganta e me aquecem por dentro. — E aí eu ouvi uma batida na porta, nem cinco minutos depois. Bom, eu tinha acabado de acordar e pensei que a minha agente tivesse esquecido alguma coisa. Geneva se ajeita no sofá, mais confortável. — E o que aconteceu? — Eu abri a porta e lá estava o cara mais gostoso que eu já tinha visto na vida. — Ela aponta o polegar para mim, e tudo que posso fazer é me endireitar um pouco e dar um sorriso presunçoso. Geneva me observa de cima a baixo, avaliadora, como se estivesse catalogando minhas características.

— Estou vendo. Ele seria um Dean perfeito. Bom, se tivesse o cabelo mais escuro. Skyler olha para o meu cabelo por um instante, interrompendo sua história. — É mesmo — diz, ofegante. — Enfim, eu abri a porta e esse gostoso estava parado ali. E eu estava só de regata, sem sutiã, e de calcinha fio-dental. Geneva esconde um sorriso atrás da mão. — Eu teria tido um ataque cardíaco! — Eu quase tive — diz Sky. Bebo meu vinho tranquilamente enquanto as duas vão se conhecendo. — Eu morri de vergonha! Mas não posso dizer que os meus atributos não me ajudaram a conquistar o gostosão. — O timbre sensual de Sky faz meu pau ficar em alerta. Porra, a fera se manifesta a cada cinco segundos perto dessa mulher ultimamente. As duas caem na gargalhada e de repente já são amigas, do jeito que só as mulheres conseguem. Fico ali sentado curtindo o espetáculo. Vê-las se aproximar graças ao amor de ambas por livros e filmes românticos me dá uma ótima ideia de como começar a tirar Geneva da apatia.

5

Dia 1: desbloqueando a criatividade de Geneva James

É o que rabisco em um bloco de papel. Sky olha por cima do meu ombro e ri. Acaricio seu braço enquanto andamos pela casa de Geneva, no dia seguinte. — Que foi? — Você está registrando tudo, como se fosse um diário? Sempre faz isso? — pergunta, erguendo as sobrancelhas. — Fez isso comigo? Ela pega as lapelas do meu paletó esporte e faz voz de sargento: — Me mostre as anotações sobre mim! Ri de si mesma e começa a subir a escada até o escritório de Geneva, no solário. A mulher tem dois escritórios: um que usa quando o dia está ensolarado, para aproveitar a luz, e outro que chama de “caverna”, cercado de livros e com cortinas pesadas nas janelas. Escritores são seres estranhos. Eu sei disso faz tempo — via minha mãe lidando com aspirantes a escritores na biblioteca em que trabalhava quando eu era criança. Aliás, ela ainda trabalha lá! Quando chegamos ao solário, Geneva está sentada à sua mesa com uma página em branco aberta na tela à sua frente. Ela suspira e apoia a cabeça na mão, com o cotovelo firmemente fincado na mesa. — Não consigo. Não sei como seguir em frente. — A coluna curvada e os ombros caídos dão uma ideia de como a situação é torturante para a mulher. Sky vai até ela e pousa as mãos nos ombros de Geneva. — Quando a minha melhor amiga procurou o Parker, ela estava desesperada. E eu estava completamente perdida. Não tinha

vontade de atuar, de trabalhar. A paixão da minha vida, que sempre foi atuar, contar uma história legal, não estava mais dentro de mim. Eu tinha perdido a inspiração. Geneva ergue o rosto, e lágrimas ofuscam seus olhos azuis. — E se eu fizer a escolha errada? Tem muita coisa acontecendo neste livro. E eu... eu não posso errar. Sky se agacha e pousa as mãos no joelho de Geneva. — Por que você acha que vai fazer a escolha errada? A história é sua. O que você decidir vai dar certo. É o que você imagina para a Simone e o Dean. Geneva sacode a cabeça e as lágrimas caem. — Do jeito que eu terminei, o gancho que eu deixei no fim do volume dois... Eu comecei a escrever o que achava que seria o destino deles no terceiro livro, mas não parece certo. Parece que estou escrevendo o que vai me fazer ganhar mais dinheiro, e não a história que está na minha alma. Skyler inspira fundo e solta o ar. — Você só pode escrever a história que sente no coração, aquela que toca a sua alma. É o que os leitores querem ler e a história que os personagens exigem. Eu sei que, quando estou representando um papel, se eu tentar atuar contra a natureza do personagem, não dá certo. É como tentar encaixar uma peça redonda em um buraco quadrado. Geneva enxuga os olhos e se inclina sobre a mesa, apoiando a cabeça na mão de novo. — Você leu os dois primeiros livros. O que acha que vai acontecer? Sky e eu passamos a noite antes da partida para Londres e o voo inteiro lendo os primeiros volumes. Ela se senta sobre os calcanhares e pensa na pergunta. Já eu respondo imediatamente: — Nós não sabemos. Você deixou muitas possibilidades em aberto. Estamos esperando o caminho que você vai traçar. Posso perguntar uma coisa? — Claro. — Você vê o Dean e a Simone juntos? Eles vão ser felizes para sempre?

Ela olha para mim, mas é como se estivesse olhando através de mim. — Sim, eu acredito que eles acabam juntos. Eles merecem, depois do inferno que eu fiz os dois passarem. Skyler sorri e joga as mãos para cima. — Yes! — grita baixinho. — Viu? Não interessa como você os leve até lá, desde que no fim eles se encontrem. A vida e o amor não são isso mesmo? O caminho para sermos felizes para sempre com a pessoa com quem estamos destinados a ficar? Geneva anui. — Eu sempre pensei assim. — O que nós precisamos é fazer você encontrar a luz de novo, a alegria de escrever. Quando foi a última vez que você fez um evento com fãs? Ou uma sessão de autógrafos? — pergunto com delicadeza. Geneva franze os lábios. — Nossa, nem sei. Pelo menos dois ou três anos. Fiquei concentrada só nos livros. — A Sky me disse que muitos escritores têm pré-leitores, ou leitores beta. Você trabalha com algum? Ela sacode a cabeça. — Eu tenho a minha editora, Catherine Martin. Ela lê tudo que eu escrevo e trabalha comigo na edição do texto. Sky levanta e se apoia na mesa. — Ela ganha para te ajudar com isso, né? Geneva concorda com a cabeça. — E o que ela diz sobre a sua situação? A morena bufa. — A Catherine diz que eu preciso parar de acreditar que sou um lixo, como a minha última editora me fez sentir. — Suas faces ficam rosadas, como se ela estivesse envergonhada. — Como assim? — pergunto. Inclino a cabeça e me recosto no sofá no centro da sala, tendo o cuidado de não manter uma postura dominante. — Eles diziam que eu não era boa o bastante. Que eu só cheguei aonde estou hoje por causa deles e das habilidades de marketing da editora. Basicamente, previram que esta série fracassaria sem eles.

Sky aperta o maxilar e os punhos. — Quanta bobagem! Eles não escreveram os livros, não construíram uma história tão linda que as pessoas querem mais. Você não pode acreditar nessa besteira. Geneva dá de ombros. — Quando alguém te diz várias vezes que você não é nada sem o dinheiro deles, sem o marketing, você acredita. E aí acaba tendo dúvidas sobre o que está fazendo. — O marketing e o dinheiro deles não mudam o fato de que a série que você está escrevendo é um best-seller mundial. A sua agente negociou um acordo com a Paramount para os três filmes. Isso é demais! Seus outros livros venderam bem também, e não por causa da editora. Claro que eles ajudaram a divulgar, e uma boa editora, assim como um bom agente, acredita no autor e na história que ele produz. Mas o resultado final é seu, e ninguém teria comprado o segundo livro se não tivesse adorado o primeiro. Você consegue enxergar essa lógica, pelo menos? Geneva solta um longo e lento suspiro e dá de ombros. — Acho que sim... Não sei. Sky se apruma e pousa as mãos na cintura. — Bom, eu sei. E acho que você precisa enxergar isso por si mesma. — Exatamente! Eu não poderia concordar mais com a Skyler — digo. — E foi por isso que entrei em contato com a Amy ontem à noite. Skyler me lança um olhar interrogativo. — Você estava no banho — explico. — Ah. Viajar me deixa cansada — ela observa aleatoriamente. Sorrio para a minha garota. Estou feliz por ela estar aqui comigo, trabalhando nesse caso. E ela está certa. É divertido tê-la aqui, é diferente. Adoro voltar para o hotel e me perder no seu corpo, jantar com ela, assistir a um filme tarde da noite antes de dormir. É uma coisa nova, que não tive com nenhuma mulher antes de Skyler e que estou adorando cada vez mais. — Enfim, eu falei com a Amy. Das quatro às seis da tarde de hoje você vai fazer uma sessão de autógrafos em uma livraria no centro

de Londres. Ela já encomendou banners ao seu designer gráfico, que nós espalhamos por todas as suas redes sociais. Geneva arregala os olhos. — Sério? Uau. Tudo bem, eu... — Ela se levanta e sorri. — Acho que vai ser interessante. Eu não falo com os meus leitores há muito tempo. Será que vai aparecer alguém? Skyler faz um barulho alto de deboche, enquanto eu mordo a língua, observando a resposta dramática da minha namorada. Ela sorri. — Fala sério! Claro que vai. E eu vou ser a primeira da fila! Quero todos os livros que eles tiverem na loja autografados. Geneva agita a mão e vai até uma porta, que parece levar a um depósito. Quando a abre, há fileiras e fileiras de prateleiras com cópias de seus livros. Ela sorri conforme Sky passa os dedos pelas lombadas e quase baba nos títulos. Leitores e seus livros... Esquisito, mas legal. — Pode pegar um de cada, se quiser. Sky assente, entorpecida. — Ah, que demais! Enquanto Geneva começa a remover exemplares e empilhá-los em uma mesa, observo a capa dos dois primeiros livros da Trilogia Classe A. Vejo o casal ali impresso. Não dá para ver os rostos inteiros; o designer cortou a cabeça de ambos, dos olhos para cima. — Por que cortar os rostos? — pergunto, virando a capa para Geneva para que ela possa ver do que estou falando. Ela pega o livro da minha mão e o observa. — Se os leitores vissem o rosto dos personagens, poderiam achar que não correspondem ao que imaginam. Eu prefiro que eles usem a imaginação, a menos que eu tenha uma visão perfeita e exata dos personagens. Mas isso é raro. Como a Skyler era a minha escolha para representar Simone e eu não tinha como colocá-la na capa, pedi para o designer escolher um casal cujos traços e a cor do cabelo combinassem com os dos personagens. É também por isso que os rostos estão de perfil, só meio visíveis. — Interessante. Outra ideia se concretiza para trabalhar a inspiração da escritora, mas vou ter que falar com Skyler sobre isso — e com Bo, se ela

concordar. Meu celular toca no bolso do paletó. Eu o pego e vejo o número de Amy Tannenbaum. — Srta. Tannenbaum, como vai? — Saio do depósito e volto para o solário. Do lado de fora há um jardim privativo, verde e exuberante, que seria um lugar excelente para sentar e fazer uma refeição, ou conversar sobre a vida com uma cerveja na mão ou uma taça de vinho, no caso de Skyler. Eu não tenho quintal. Meu apartamento é só isso, um apartamento. Tem uma porta de correr que dá para a sacada e deixa minha namorada exposta aos paparazzi se ela decidir abri-la para sentir o clima lá fora. Franzo a testa e penso em Royce e sua casa de três dormitórios no subúrbio. Talvez seja algo para cogitar no futuro. Uma bela casa e um lindo entorno para compartilhar com quem você ama enquanto planeja enchê-la de filhos um dia. A resposta de Amy me tira do devaneio. — Ótima. Como está a minha cliente? Olho pela porta do depósito e vejo Geneva empilhando mais exemplares. Vamos ter que despachá-los para o apartamento de Sky em Nova York. Não tem como levar essa pilha enorme nas malas. Nós precisaríamos de uma só para os livros. — Está se divertindo, conversando sobre livros com a minha namorada. Amy solta um suspiro aparentemente aliviado. — E ela concordou com a sessão de autógrafos? — Sim. Ela pareceu animada, mas está com medo de não aparecer ninguém. Amy resmunga. — Ela não confia muito em si mesma. O anúncio saiu de manhãzinha. Cinco minutos antes de eu ligar para você, a fila estava dando a volta no quarteirão da livraria. Os fãs já estão esperando, e ainda faltam algumas horas. A loja teve que reforçar a segurança. Achei melhor avisar você, especialmente por causa da Skyler. Posso imaginar como a coisa vai ficar se ela aparecer. — Se? — Minha sugestão é que ela não vá. A multidão já está maluca. Se Skyler Paige aparecer, a situação pode ficar assustadora.

Uma pontada de medo percorre minha coluna e eu aperto os dentes. — Eu vou falar com a Sky e com a equipe de segurança. Ela não vai ficar feliz com isso. — Quem não vai ficar feliz com o quê? — Sky pergunta, com uma pilha de livros nas mãos. Seu sorriso desaparece quando olho para ela e não respondo. Ela estreita o olhar. — Park... Fecho os olhos e esfrego a nuca. — Tudo bem, eu aviso o que ficar decidido — respondo a Amy. — Boa sorte — ela deseja antes de desligar. — Bom, tenho boas e más notícias — começo. Skyler franze a testa enquanto Geneva aparece atrás dela com outra pilha de livros e a deixa na mesa. — Qual é a boa? — Sky quer saber. Tento sorrir, despreocupado, mas vejo que não deu certo quando ela coloca sua pilha de livros na mesa, cruza os braços e chupa o lábio inferior. — A fila de fãs para pegar um autógrafo está dando a volta no quarteirão da livraria. Geneva para o que está fazendo e suspira, levando a mão ao peito. — Sério? Sky olha para ela. — Como se houvesse alguma dúvida. — Uau. Faz séculos que eu não faço um evento para os fãs. Achei que eles poderiam ter me esquecido. Eu me aproximo de Geneva e pouso a mão em seu ombro. — Acho que os leitores querem conhecer a mulher que escreveu as histórias pelas quais eles se apaixonaram. Ela abre um sorriso largo. — Parece que sim. Preciso ver o que vestir! — Geneva olha para seu jeans e pega a bainha da camiseta branca de gola V. — Isto aqui não é exatamente roupa de escritora bombada, né? — Tenho certeza que a Skyler pode te ajudar a escolher alguma coisa — digo. Eu sei que Sky sempre vai ajudar qualquer pessoa de bom grado, se puder. Faz parte de sua natureza.

— E a má notícia? — ela insiste, batendo o pé no chão de madeira. Desta vez eu me aproximo dela e a puxo para meus braços. Não é muito profissional, mas Skyler estar aqui já não é nada ortodoxo. — A Amy está preocupada com o risco potencial de segurança se o público, já grande, descobrir que Skyler Paige vai estar presente na tarde de autógrafos. Seu rosto é tomado por tristeza. — Não... — sussurra. — Sinto muito, meu pêssego. A Amy acha que não é seguro. A livraria já precisou reforçar a segurança. Se você aparecer, pode ser um caos. Ela faz beicinho e inclina o corpo contra o meu, afundando a testa em meu peito. — Não é justo, Park. Eu quero ir. Nunca fui a uma sessão de autógrafos. Geneva limpa a garganta. — E se ela for disfarçada? A minha melhor amiga adora usar perucas e trajes malucos quando sai, e compra as mesmas coisas para mim. Se mudarmos a cor do cabelo da Sky e pusermos um par de óculos, pode dar certo, não? Skyler abre um sorriso largo, passa os braços em volta da minha cintura e me puxa. — Por favor, por favor... — Sua voz assume aquele tom sensual que ela usa quando estamos na cama. — Eu vou fazer valer a pena pra você. Aperto os dentes. — Você não está jogando limpo. Skyler faz círculos com os dedos na minha lombar, provocando raios de tesão que correm pela minha pele direto para o pau. Forço os quadris contra ela sem perceber, e ela suspira e ri. Eu resmungo. — Vou falar com o Nate e a Rachel. Mesmo com você disfarçada, os fãs estão começando a me reconhecer, e os seus guarda-costas também. Quem pode afirmar que ninguém vai suspeitar da sua presença se nós formos vistos? Skyler me sacode.

— Parker, eu não posso viver em uma redoma de vidro. Não é justo comigo nem com ninguém. Além disso, eu posso entrar pelos fundos enquanto você e a Geneva vão pela frente. Vou ficar de lado, perto dos meus seguranças. Vai dar tudo certo, eu sei disso. — Essas foram as últimas palavras de todas as celebridades antes de serem atacadas ou mortas por um lunático. — Meu coração começa a bater forte. Esfrego o punho sobre o esterno, sentindo a tensão tomar conta. Ela revira os olhos e sai do meu abraço. — Você está sendo dramático. Os paparazzi nem sabem que estamos aqui. Não vimos nem sinal deles. — Ainda! No instante em que um deles sentir o seu cheiro numa livraria no centro de Londres com a escritora mais famosa do mundo, vai dar merda. Geneva sacode a cabeça. — Não é verdade. Os mais famosos são Stephen King, James Patterson, J. K. Rowling... — ela recita uma lista de escritores. Solto um suspiro bem forte e levo as mãos aos quadris. — Eu vou falar com os Van Dyken. Por que vocês não vão escolher a roupa para a Geneva usar no evento? — Olho para o relógio e vejo que são onze e meia. — Nós temos que sair daqui às três horas. Acho melhor pedir algo para comer também. — Eu posso fazer o almoço — Geneva diz. Essa mulher faz tudo sozinha? — Vamos pensar em alguma coisa — respondo, suspirando, e me dirijo à escada. Sky pega a mão de Geneva. — Vem. Vamos deixar o Parker pensar. Faço uma careta quando meu celular toca de novo. Tiro-o do bolso e vejo que é uma mensagem de texto de um número desconhecido. O QUE ELA TEM QUE EU NÃO TENHO?

Leio e releio a mensagem. Não faz sentido. Nunca conversei com essa pessoa antes. Deve ser engano. Parker Ellis Você mandou mensagem para o número errado.

Clico em enviar e desço os dois lances de escada até a entrada da frente, que Rachel e Nate estão vigiando. Durante o tempo em que estamos aqui, Nate faz rondas ao redor da casa enquanto Rachel vigia o interior, e vice-versa. Quando Nate está saindo pela porta da frente, eu chamo: — Ei, Nate, Rach, podemos conversar? Nós precisamos planejar uma coisa. Nate fecha a porta e verifica se está trancada antes de me seguir até a sala de estar. Fico em pé perto das janelas, olhando para o jardim. Tão pacífico e sereno... Me dá vontade de ter esse tipo de recanto de descanso na minha casa. Se eu tivesse um espaço reservado como esse, cercado de árvores, protegido por um belo muro alto para que minha garota não fosse observada, nós poderíamos tomar sol, jogar frisbee, ter um gato ou um cachorro. Porra, os dois. O que ela quisesse. E, se tivéssemos uma piscina, eu poderia ver minha garota andando de biquíni no conforto da nossa casa... — Ellis? — Nate interrompe meus desvarios. Tusso. — Desculpe. Nós temos um problema. Marcamos uma sessão de autógrafos com a Geneva às quatro horas da tarde. A agente dela me ligou e disse que a fila já está dando a volta no quarteirão. Nate resmunga baixinho. O homem não gosta de multidões. Não sei se é porque pessoalmente não gosta, ou porque a multidão dificulta a proteção de sua cliente. — A livraria contratou mais seguranças, para o caso de alguma coisa fugir do controle. — Me deixe adivinhar. — Rachel sorri. — A Skyler pretende ir. Aponto para ela.

— Bingo. — Puta merda. A mulher não tem nenhum senso de autopreservação. — Nate passa a mão pelo queixo. Rachel lambe os lábios e cruza os braços. — Talvez ela só queira viver uma vida normal. — Ela devia ter pensado nisso antes de escolher essa carreira — Nate retruca, em um rosnado profundo. Rachel franze a testa. — Não é culpa dela ser talentosa. Além disso, nós temos emprego porque ela é quem é. E, francamente, é nosso trabalho manter a Skyler segura. Eu acho que tudo bem. Nós damos conta. É uma livraria com um monte de leitores, não um show de rock pesado com um bando de imbecis descontrolados. — Mesmo assim, eu acho que precisamos ser cuidadosos. A Skyler vai se disfarçar para ver se conseguimos enganar os fãs o máximo de tempo possível. Se as coisas fugirem de controle, quero ela fora dali — digo, tentando avaliar todos os cenários possíveis em que minha garota poderia se machucar. Realmente, não são muitos. Como Rachel afirmou, são leitores de romance, não maníacos assassinos de celebridades. — Eu vou lá agora dar uma olhada no espaço e nas saídas. Volto mais tarde com informações — Nate declara. Para Rachel, não para mim. Ela acrescenta coisas à lista de itens a examinar: — Eu controlo a casa. Encontre o melhor lugar para estacionar e avise o dono da livraria que a Skyler vai estar lá para que ele deixe uma área separada onde possamos mantê-la. Ele caminha até a esposa, pega sua mão e a aperta. Eles se olham nos olhos, se comunicando sem palavras. Imagino que seja algo do tipo “Eu te amo”, “Volte logo” ou “Fique bem”. Ou todas as anteriores. Subitamente, ele solta a mão dela, gira sobre seus coturnos e desaparece porta afora. — Homem de poucas palavras — digo, para quebrar o silêncio. — Estamos trabalhando. Bobagens de amor não se encaixam no trabalho — ela replica. Suas palavras são afirmativas, sem espaço para discussão.

— Tem razão. Ela me dá uma piscadinha, trazendo de volta a leveza com que normalmente nos tratamos. — Vou checar os arredores. Você fica atento aqui dentro? Não consigo imaginar alguém capaz de escalar o portão e entrar na casa sem ser notado, mas, como já fui alertado antes, esse time leva a segurança muito a sério, o que significa que a mulher que eu amo vai estar sempre segura. — Sim, senhora. Ela franze a testa. — Não me chame de senhora. Me faz sentir uma velha. Eu rio e bato continência. — Agora gostei — ela diz, sorrindo e saindo pela porta. Sacudo a cabeça e atravesso a casa até encontrar a cozinha. Uma vez lá, olho os armários, despensa e geladeira. Não há pasta de amendoim em lugar nenhum, o que é estranho. A maioria dos lares americanos tem pasta de amendoim na despensa, a menos que haja alguém alérgico na casa. Só que não estamos nos Estados Unidos, o que significa... Ah, sim. Encontro o pote de Nutella. Creme de avelã. Que, para mim, tem mais gosto de sobremesa que de recheio de sanduíche. Abro a geladeira, pego algumas maçãs e as deixo no balcão. Também encontro frios e queijos. Em vez de preparar sanduíches para nós três, faço uma tábua de frios, queijos e frutas que poderia concorrer com uma entrada de restaurante. Encontro a adega climatizada e pego um sauvignon blanc da Nova Zelândia bem gelado para acompanhar a refeição. Depois de encher três taças, chamo as garotas. As duas descem a escada rindo. Quando chegam, abro os braços, mostrando a surpresa. Skyler bate palmas e dá pulinhos antes de correr para mim e me beijar com doçura. — Você fez tudo isso para a gente? — Sim. — Mexo as sobrancelhas, fazendo-a lembrar que ela já me deve uma, e com essa são duas. — Está com uma cara ótima, estou morrendo de fome. — Geneva se senta ao balcão em frente à comida. Eu lhe passo uma taça, outra para Skyler e pego uma para mim.

— A que nós vamos brindar? — Skyler pergunta. — Às palavras que vão escrever a história como tem que ser — digo, indicando o elefante na sala, ou na cozinha. — É isso aí! — Skyler bate na taça de Geneva e depois na minha. Faço o mesmo antes de focar o olhar em Skyler e sorver seus olhos, enchendo a boca com um sabor frutado, não muito diferente de seus beijos. Geneva baixa a taça. — Quero agradecer a vocês por terem vindo. Eu sei que estão sendo pagos para isso, mas hoje eu me diverti como há muito tempo não me divertia. — Srta. James, a diversão está só começando — prometo com um sorriso. Ela também sorri e leva um pedaço de maçã à boca. Mastiga, pensativa, olhando para Skyler, que está inclinada sobre mim. — Pelo tempo que já passei com vocês, acho que você tem razão.

6

A agente de Geneva subestimou o número de pessoas esperando para ver a escritora. Conforme nos aproximamos da livraria, dois seguranças abordam o carro. No instante em que Geneva desce, a multidão começa a gritar, agitando livros e cartazes. Observo a rua e percebo que a fila já deu duas voltas no quarteirão. Geneva acena enquanto, com a mão em suas costas, eu a conduzo para a livraria. Ela olha para mim com as faces rosadas. — Não acredito! Quer dizer, eu sei que os meus livros vendem bem, mas... — Ela fica sem palavras quando a multidão grita ainda mais. — É incrível. Sorrio e a levo para dentro. Quero tirá-la do campo aberto. Acho que, por namorar Skyler, já me acostumei à regra de Nate de sempre dar cobertura à celebridade e sair do meio da multidão o mais rápido possível. — Você merece essa atenção. Seus livros não são só bem escritos, têm uma história que faz pessoas de diferentes estilos de vida se identificarem. Os leitores encontram nas suas palavras alguma coisa que fala com eles. Ela sorri com timidez e fica olhando para os sapatos, como se estivesse refletindo sobre o que eu disse. Os seguranças nos seguem até a mesa onde estão os mais recentes lançamentos de Geneva. Há um banner de quase dois metros de altura ao lado da mesa, com o nome dela e uma foto do casal da trilogia, mais uma vez com os rostos cortados. Interessante. Cutuco o ombro de Geneva. — Se você pudesse ter os personagens certos na capa dos livros, quem seriam a Simone e o Dean perfeitos? Ela abre um sorriso largo.

— Eu já disse. A Skyler foi a inspiração para a Simone, e o Dean teria o tipo do Henry Cavill. Cabelo castanho, olhos azuis... Se bem que você serviria perfeitamente — diz, batendo o dedo no lábio inferior, pensativa. — Eu? — pergunto, surpreso, levando a cabeça para trás. — Claro. Caso não tenha notado, você e a Skyler formam um casal lindo. O mundo inteiro vai desmaiar quando vocês se casarem e começarem a ter filhos. Sinto um nó garganta. — Ei, calma lá. Você está pondo a carroça na frente dos bois. A Skyler e eu estamos felizes, mas nem perto de casamento e filhos. Ela contorna a mesa montada para os autógrafos e dá de ombros. — As coisas mudam. As opiniões mudam quando você encontra a pessoa certa para passar o resto da vida. O dono da livraria vai até Geneva e aperta sua mão, repassando a programação. Enquanto isso, Skyler entra pelos fundos. Sorrio e mordo o lábio com força. Ela está linda escondida debaixo de cachos compridos e escuros e óculos de armação preta. Seus lábios são da cor de chiclete cor-de-rosa, que eu quero morder como um donut. Nate a leva para uma área atrás do banner e de uma estante de livros. Ela pode ficar à vontade nesse canto, falar com Geneva e conosco e ainda ficar praticamente escondida de todos. Contorno a estante e a abraço por trás. — Morena... — Empurro o cabelo falso para o lado e rosno em seu pescoço. — Isso pode ser interessante. — Beijo sua pele até que ela gira e me abraça. — Estou gostando cada vez mais... — Ela sorri e eu dou um beijo forte e profundo em seus lábios cor de chiclete. Emaranhamos as línguas e ela pressiona o corpo contra o meu, nos alinhando do peito aos dedos dos pés. Inclino sua cabeça e lambo fundo, saboreando o máximo de sua doçura, sabendo que nosso tempo escondidos é limitado. Atrás de nós, o som de vozes e passos anuncia a primeira leva de fãs. O resto da livraria teve que ser fechado, mas o proprietário não se importa. Depois que os leitores conhecerem Geneva, vão poder pagar os livros que pegaram.

Eu me afasto de Skyler a contragosto e limpo o batom borrado em sua boca. — É hora de trabalhar. Ah, eu tive uma ideia que queria discutir com você. — O que é? Sempre tão disposta, minha garota... — Se eu te pedisse para posar para a capa do terceiro livro da Geneva, você toparia? Isso poderia causar algum conflito legal ou profissional? — Ela pediu isso? Sacudo a cabeça. — Não, mas acho que ajudaria a Geneva a se conectar com os personagens, vê-los ganhar vida, como vão ganhar na tela do cinema. Se ela pudesse já começar a trabalhar no primeiro filme com a produtora, talvez não se sentisse tão desconectada. E eu pensei que, se você posasse com um modelo que se pareça com o Dean, isso poderia inspirá-la. O que você acha? Ela abre um sorriso largo. — Eu acho maravilhoso! Nunca saí na capa de um livro, mas faria isso por essa série e essa escritora. E isso também poderia ajudar os produtores do filme a me verem como Simone. — É verdade. Vou falar com a Amy e ver o que ela acha, e se consegue que o modelo das outras duas capas pose com você. Mas você precisa checar com a Tracey para garantir que não haja conflitos. Skyler pega o telefone. — Vou fazer isso agora mesmo. Ótima ideia, meu bem — diz, ficando na ponta dos pés e me beijando mais uma vez. — Fale sobre isso com a Tracey e veja também quando vão ser as entrevistas para o lançamento do seu filme aqui em Londres, para acertarmos tudo com o Nate e a Rachel. Ela franze a testa e fica passando a ponta do pé pelo chão bege. Seu sorriso desaparece. — Você iria comigo... fazer essas coisas com a imprensa? Normalmente eu passo o dia no lugar e vou de sala em sala dar entrevistas sobre o filme. Eu sei que seria um saco para você,

mas... — Ela dá de ombros. — Eu gosto de estar com você mesmo quando estamos trabalhando. Sei lá, acho que talvez... — Nós somos assim. Fazemos o que for necessário para passar um tempo juntos e ainda fazer o nosso trabalho e cumprir nossas obrigações profissionais. Seu rosto se ilumina e o brilho de Skyler volta, corando suas faces e fazendo seus olhos castanhos faiscarem. — Sim! — ela ofega. — Exatamente. Eu a pego pela cintura e desço as mãos até sua bunda. Dou um apertão enquanto baixo o queixo, até sentir sua respiração em meus lábios. — Meu pêssego, é claro que eu vou com você. Se pudermos resolver isso enquanto estivermos aqui, vamos lá. — Eu te amo, Parker Ellis. — Ela pronuncia as palavras com um suspiro. Nunca me canso de ouvi-las. Esfrego o nariz no dela. — Que bom, porque eu também te amo, Skyler Lumpkin. Apenas sussurro seu nome, pois não quero que ninguém ouça. Com um rápido beijo nos lábios e um aperto firme em sua bunda, eu me afasto dela, odiando a distância, mas sabendo que preciso focar no trabalho e não ficar beijando minha namorada em uma livraria lotada. Deixo Skyler em seu canto e vou até Geneva, que está conversando com uma fã. — Ai, meu Deus, você é a minha escritora favorita. O jeito como você fez o Dean pegar a Simone quando ela caiu da sacada... — Os olhos da moça enlouquecem, e ela passa a mão no cabelo. — Achei que ela fosse morrer, eu ia ficar com tanta raiva... Geneva assente e autografa o livro da tagarela. — Fico feliz por você ter gostado. — Não vejo a hora de descobrir o que acontece. Aquela exnamorada ainda está atrás do Dean, e a Simone está ficando maluca achando que pode estar grávida... Mal posso esperar! — a fã praticamente grita. — Muito obrigada pelo apoio. O terceiro livro vai ser lançado... em breve. Acho que logo.

A próxima leitora surge com algo que parece um álbum de recortes preenchido com partes do livro digitadas e... Como é que é? Eu me inclino sobre o ombro de Geneva e vejo foto após foto de Skyler, de propagandas de revista recortadas a promoções de filmes, coladas ao lado de imagens de Henry Cavill. Os olhos de Geneva se iluminam enquanto ela vira cada página. — Ela é a Simone perfeita. A leitora concorda freneticamente. — Você acha que vão conseguir contratá-la para o filme? Ela já fez romance e suspense, e é simplesmente a Simone Shilling perfeita. Quero ver logo os filmes! — Talvez. A minha agente solicitou Skyler Paige especificamente, mas nunca se sabe. Cruze os dedos. Eu também vou cruzar — Geneva diz, descontraída. Pouso a mão no ombro dela e me inclino até seu ouvido. — Parece que você tem muitos leitores satisfeitos aqui. Ninguém reclamou sobre o próximo livro. Você não decepcionou ninguém. Cada pessoa aqui está feliz por ler suas histórias e compartilhar este momento com você. Isso é muito poderoso. Geneva anui enquanto a próxima pessoa se aproxima com seus livros. — Sim, sr. Ellis. E é muito bom também. — Srta. James, eu sou sua fã número um — diz a décima pessoa consecutiva. Rio discretamente e percebo que a pilha de livros na mesa está diminuindo, mas a fila ainda é longa. O livreiro está parado ao lado, conversando com alguns funcionários, assistindo ao espetáculo. — Nós vamos precisar de mais livros. — Já? — o dono pergunta. — O pessoal está devorando a pilha. — Meninas — ele diz para duas funcionárias —, vocês podem pegar aquelas caixas grandes nos fundos e trazê-las até aqui? Vamos deixá-las atrás da srta. James para poder repor os livros sem interrompê-la. As duas vendedoras vão para os fundos da loja e eu vou falar com Nate. — Como estão as coisas?

Ele parece um agente do Serviço Secreto protegendo o presidente. Não tira os olhos da multidão nem para olhar para mim, mas faz uma varredura no local para ver onde Skyler está e o que está fazendo. Nesse momento, ela está conversando com Geneva atrás do banner. As duas riem como se fossem amigas de longa data. A voz rouca de Nate preenche o ar: — Tudo certo. Embora haja muitas pessoas, os leitores são dóceis. Esperam a própria vez, não reclamam nem tentam ir para o fundo da loja. Ele continua observando os clientes, que se aproximam, trocam palavras rápidas com Geneva, ganham o autógrafo e levam seus livros ao caixa. Respiro fundo, acho que pela primeira vez desde que o evento começou. Quando Amy me avisou do tamanho da multidão, o medo pela segurança de Skyler fez meus pulmões se apertarem, a ponto de eu não conseguir respirar direito. Agora que estou aqui e posso confirmar que os fãs são realmente muito gentis e parecem todos civilizados, posso recuperar o fôlego. Claro, eles não sabem que a atriz mais requisitada do mundo está disfarçada atrás de uma estante a alguns metros. Enquanto mantivermos isso em segredo, não teremos problemas. — Já que está tudo tranquilo, eu vou lá para o fundo fazer umas ligações. — Aponto com o polegar por sobre meu ombro. — Está tudo sob controle — Nate afirma, com voz confiante e firme. Dou um tapinha no ombro dele e tiro o celular do bolso enquanto me afasto. Quando passo por Skyler, ela olha para mim e me joga um beijo. Como não quero chamar atenção para ela, dou apenas um sorriso e vou para um canto mais sossegado, de onde ligo para a agência. Annie atende ao primeiro toque. — International Guy, Annie. Em que posso ajudar? Reviro os olhos e reclamo internamente, odiando o fato de não ser a voz atrevida de Wendy atendendo o telefone. — Oi, Annie, é o Parker. Eu preciso falar com o Bo, ele está aí?

— Olá, sr. Ellis, como vai? Espero que a sua estadia em Londres esteja sendo agradável. Aperto os dentes e me forço a ser gentil. Não é culpa de Annie ela não ser Wendy. A culpa é de uma mulher desprezada e louca que mandou nossa garota para o hospital com um ferimento a bala, aumentando a lista de coisas a que Wendy sobreviveu. Fecho os olhos e lembro que ela me mataria se eu pensasse em tratar mal sua substituta temporária. — Muito agradável, obrigado, Annie. Eu... — E a Skyler, está se sentindo melhor? Quando a vi pela última vez, ela não estava muito feliz. — Ela está bem, obrigado por perguntar. Posso falar com o Bo, por favor? — Claro, já vou transferir. E fique à vontade para ligar ou mandar e-mail solicitando coisas. A Wendy me informou que este trabalho não é das nove às cinco, que é mais como um arranjo em tempo integral. É um prazer ser seu braço-direito. — Sua voz é doce ao fazer a oferta gentil. — Pode deixar. O Bo, por favor. — Sim, senhor. Ouço alguns bipes e a seguir a voz do meu amigo. — Me diz que a Geneva James é tão legal quanto os livros dela — Bo solta, sem qualquer tipo de saudação. — Você leu os livros dela? — Eu já devia ter adivinhado. — Você não? — ele pergunta, com escárnio. — Bom, agora sim. A Skyler e eu lemos os dois primeiros da Trilogia Classe A juntos no avião. — Você viu como ele pegou a Simone quando ela estava literalmente caindo do céu? — Era uma sacada no segundo andar, não uma queda livre — respondo secamente. — O Dean é foda. Ele é descolado, anda de moto e pega uma mulher parecida com a Skyler. Aliás, como estão as coisas entre você e a gostosa? — Não. Fale. Assim. Entendeu? — digo com uma voz que parece um rugido.

Ele ri tão alto que tenho que afastar o telefone da orelha. Gargalha mais uma vez e diz: — O que você vai fazer comigo se está aí em Londres, hein? Além disso, você não é cego. A sua namorada tem uma bunda maravilhosa. Quatro em cinco espectadores concordam com isso, segundo uma pesquisa que acabei de ler na internet. Eu gemo e pressiono as têmporas com o polegar e o indicador. — Esqueça as fofocas e mantenha essa mente suja fora da sarjeta... — Não consigo — ele brinca. — Só por alguns minutos. Solto um suspiro exasperado e apoio o cotovelo em uma estante. As aventuras sexuais noite adentro estão acabando comigo. Nós precisamos dormir hoje. Dormir mesmo. — O que precisa de mim? Você parece cansado. Ahhh, já sei por quê. A Sky está mantendo você acordado a noite toda fazendo um juco-juco. Quero bater a cabeça — ou talvez o telefone — na estante mais próxima. Melhor o telefone. Wendy não está aqui para brigar comigo se eu quebrar outro. Mais uma vez, uma pontada de tristeza atravessa meu peito. Porra, pensei que a pressão e a dor desapareceriam quando eu tivesse Sky de volta. Mas ficar sem qualquer pessoa que eu amo faz aquela maldita adaga se cravar de novo em meu peito. — É vuco-vuco — digo, mas ele me corta. — Juco-juco-juco — cantarola e ri de si mesmo. — Senhor, por que eu aguento isso? — Porque você me ama. Admita, é impossível não amar. E você sempre pode contar comigo. Como daquela vez que você socou a parede com uma garrafa de cerveja na mão. — Affff, nem me lembre. Abro a palma da mão e fico feliz ao ver que a pele cicatrizou e há apenas uma faixa rosada onde levei os pontos. Mas os dois dedos quebrados ainda doem quando dobro, mesmo enfaixados juntos. — Foi mal, cara. Sem brincadeira, como você e a Sky estão? Ouvir o nome dela me faz sorrir e procurar seu lindo rosto. Vejo-a do outro lado da livraria, mexendo sua bundinha maravilhosa,

dançando atrás da estante de livros ao som de uma música que não consigo ouvir. — O que eu posso dizer? Estou apaixonado. Bo solta um longo assobio. — Graças a Deus. Nós não queríamos escolher um lado. Queríamos esperar até vocês terem tempo para conversar. Resolveram tudo? — Sim, sim, resolvemos. Ela não me traiu e entendeu que se colocou em uma situação muito perigosa, e nunca mais vai fazer algo tão estúpido. — E você? Meu amigo sabe que eu também tive uma parcela de responsabilidade no nosso rompimento. Das grandes. — Eu me desculpei também por não ter confiado nela. Estou trabalhando nisso, porque percebi que a história com a Kayla afetou o modo como eu via o meu relacionamento com a Sky. E aprendi que não posso fazer isso. A Skyler não é como a Kayla, e eu tenho que confiar no que nós dois temos e cuidar disso o máximo possível. — Ótimo. Fico feliz por você, irmão. O Royce também. Meu coração assume um ritmo mais relaxado. Não sei por que, mas acho que no fundo eu tinha medo de que Bo e Royce tivessem mudado de opinião sobre Skyler por causa do que aconteceu com Johan. É bom saber que eles confiam em mim e nela, o que é o mais importante. Eles devem gostar de ver nós dois juntos. — Valeu. Agora, o motivo da minha ligação. — Sou todo ouvidos... Bem, nem todo ouvidos — ele diz, com o tom de voz sedutor que usa com suas peguetes. — Tenho um belo e grande... — Você toparia fazer uma sessão de fotos com a Skyler para a capa do livro da Geneva James? — eu o interrompo antes que ele comece a falar do tamanho do seu “amigo”. — Park, você já me ganhou. — Você é muito facinho. Agora me deixe contar o que eu tenho em mente.

As duas horas passam voando e ainda há uma fila dando a volta no quarteirão. Geneva faz questão de ficar até atender a última pessoa. Três horas depois, já são nove da noite e estou levando uma escritora exausta e sua superfã até o SUV Audi que Nate alugou. As duas se espremem com Rachel atrás enquanto Nate dirige e eu vou no banco do passageiro. Skyler se inclina para a frente e pousa a mão no ombro de Nate. — Obrigada por me manter segura. — Volta para trás e pega a mão de Rachel. — Valeu, garota. Ela diz a mesma coisa depois de cada vez que saímos com eles. — Fique tranquila. — Rachel cutuca o ombro de Sky. Geneva põe a mão no meu ombro. — Obrigada, Parker. Hoje foi incrível. Ver os fãs, ouvi-los falar do amor que sentem pela Simone e pelo Dean... Me deu muitas ideias sobre como eu posso conduzir a história. Sorrio e olho para Skyler por cima do ombro. — Era o que queríamos ouvir. Que tal se amanhã dermos uma escapada discreta para eu conhecer a cidade? Skyler, você escolhe. Mas avise a sua equipe. Ela esfrega as mãos. — Bom, tem a London Eye, que é icônica. O Palácio de Buckingham, obviamente, para dar um oi aos guardas. — Seus olhos se arregalam de entusiasmo e o cansaço se esvai quando a alegria toma conta, lhe dando mais fôlego. Só a observo conforme ela se anima. Suas bochechas vão ficando rosadas a cada sorriso. A curva acima dos lábios é tão apetitosa quanto no dia em que a conheci, e o formato de seu rosto me dá água na boca de tão perfeito. Tudo nela me enfeitiça. A beleza dessa mulher me deixa mudo nos momentos mais estranhos. Que sorte eu tenho de ter o coração dessa linda mulher. — Tem a Torre de Londres, a Catedral de São Paulo, o Castelo de Windsor... — Sky leva as mãos ao rosto. — Honestamente, não sei nem por onde começar. Geneva entra na conversa: — Eu sei. Já que os dois estão aqui por minha causa, que tal eu mostrar Londres a vocês como uma verdadeira nativa? Skyler levanta a mão aberta e bate a palma na de Geneva.

— Acho ótimo. Meu bem? Meu bem. Sorrio e fixo meu olhar no dela. Ela ri baixinho, e sei que entendeu. Meu bem. Senti falta dessas palavras saindo de seus lábios, mais que do sexo, e isso é muito significativo. Nunca pensei que eu seria do tipo sentimental, que fica babando pela companheira, mas, com Skyler, é como se eu não tivesse escolha. O universo decidiu por mim. — Legal. — A palavra sai cheia de emoção enquanto mantenho os olhos em minha namorada. — Nos passem o roteiro que pretendem fazer e vamos estar prontos para levar vocês — Rachel acrescenta. Geneva franze a testa. — Vocês dois não preferem tirar o dia de folga? Rachel pousa a mão sobre a dela. — Aonde a Skyler vai, nós vamos. A menos que ela esteja segura com o Parker, no set ou em casa. Geneva olha para Skyler e uma expressão sombria toma seu semblante. — Você nunca sai sozinha? Skyler sacode a cabeça. — Já tentei, mas não é uma boa ideia. Quando eu não fazia tantos filmes de sucesso, podia ir a muito mais lugares sem ser notada. Agora não consigo nem andar pela rua. Só se tiver um bom disfarce. Geneva dá um tapinha na mão dela. — Coitada. Deve ser horrível não ter um pingo de privacidade. Skyler aperta os lábios e dá de ombros. — Ossos do ofício. Eu amo o meu trabalho. A maioria dos fãs é gentil e tem consideração, mas nem todos. Nós precisamos ter cuidado com aqueles que não conseguem distinguir a realidade do que veem na tela do cinema. — Entendo. Bom, amanhã nós vamos nos divertir. E eu tenho uma peruca ruiva incrível que vai ficar maravilhosa em você. Minha garota abre um sorriso largo. — Eu andei pensando em ficar ruiva. Eu me encolho, e Sky emenda:

— Ou não. Respondo como um homem deve responder se não quiser se encontrar na frente de um pelotão de fuzilamento feminino: — Eu te amo com cabelo vermelho, preto e até roxo. — Boa resposta, meu bem. Boa resposta. — Ela ri. Nate levanta o punho e eu bato o meu no dele. — Está aprendendo — diz e sorri pela primeira vez no dia. — Pode crer.

7

— Por que você não está de peruca? — Geneva pergunta assim que entra no carro, no dia seguinte. Skyler passa os dedos pelo cabelo loiro comprido. — Fiquei com dor de cabeça depois de usar a peruca castanha o dia todo ontem. O meu couro cabeludo precisa de um tempo. Estou com o boné do Red Sox do Parker e um par de óculos aviador. Vai dar tudo certo. Nate aperta os lábios e faz uma careta. Eu sei que ele não gosta dessas aventuras públicas sem uma equipe de segurança maior conosco, mas Skyler precisa poder ver o mundo. Não vou arriscar que ela volte para sua concha, especialmente depois que encontrou a felicidade dentro de si de novo. — Não se preocupe, Nate. Eu tenho plena confiança nas suas habilidades e nas da sua mulher para cuidar da nossa garota — digo, tentando inflar seu ego. Mas Nate não é de cair nesse papo. Mesmo assim, um homem gosta de saber que as pessoas de quem ele cuida acreditam nas suas habilidades. Ele não diz nada, apenas acena secamente. Entendo seu nervosismo, mas ele vai ter que superar. Rachel, por outro lado, é uma explosão de energia esta manhã. Com um copo gigantesco do Starbucks na mão e um canudinho verde nos lábios, ela exala alegria. — Qual vai ser a primeira parada? — Skyler pergunta. — Primeira parada, ruínas de Saint Dunstan-in-the-East! — Geneva exclama. Skyler franze a testa. — Nunca ouvi falar. O que é? A escritora sorri. — Vocês vão ver.

Por mais trinta minutos as mulheres conversam baixinho no banco de trás enquanto eu observo as ruas e os pedestres. Londres é realmente uma cidade interessante. Um monte de ruas de paralelepípedos misturadas com vias pavimentadas. Pequenos carros europeus rodando de um lado para o outro, bem distantes dos enormes SUVs, minivans e caminhonetes dos Estados Unidos. Os edifícios com fachada de pedra, as pontes antigas e o rio Tâmisa fazem a cidade parecer monárquica. Faz sentido, já que a família real mais conhecida do mundo vive aqui. Alguns minutos depois, Nate encontra uma vaga na rua, estaciona e desce. Rachel o segue até o lado do passageiro. Eles deixam Geneva e Skyler saírem. Sky coloca meu boné, eu passo o braço em volta de sua cintura e sigo Geneva até o que parece uma relíquia de guerra. — Que lugar é este? — Skyler pergunta, observando a estrutura alta de pedra, com janelas de estilo catedral há muito destruídas. Há marcas pretas de queimado na lateral da fachada, e videiras se enrolam pelos lados, pelas janelas e teto eviscerados. Passamos uma cerca e notamos algumas pessoas por ali, mas ninguém presta atenção em nós. Sky tira os óculos e gira, observando as ruínas. — Isto era uma igreja? Geneva assente. — Durante a Segunda Guerra Mundial, a Alemanha bombardeou a Inglaterra em uma campanha que chamamos de Blitz. Quando o bombardeio parou e a guerra terminou, mais de um milhão de casas e edifícios estavam destruídos, incluindo este. Em 1967, a cidade decidiu transformar as ruínas em um jardim público. É um dos jardins secretos da cidade, escondido entre construções mais recentes. Eu conheci quando era criança e fiquei encantada. Skyler assente e pega minha mão para caminharmos sozinhos. Um momento de privacidade para nós dois. Ela tira o boné e passa a mão pelas mechas douradas. — Acho que nós devíamos tirar uma selfie. — Sorri. — Nós não temos muitas fotos juntos, precisamos mudar isso. Eu a pego pela cintura e a puxo para mim. — Tudo o que fizer você feliz, meu pêssego.

Vamos até uma parte do edifício que tem um arco com degraus de pedra, levando a um pátio e a uma janela enorme com um banco embaixo. Skyler senta e bate na superfície de madeira, para que eu me sente também. — Ei, eu tiro uma foto de vocês — Geneva oferece, e Skyler prontamente entrega seu celular. Eu me sento ao lado da minha garota, com o braço em seus ombros e um sorrisão bobo no rosto. Skyler se aconchega em mim e abre seu sorriso perolado enquanto Geneva nos fotografa com o celular de Sky e depois com o seu. — Para melhorar a inspiração — explica. Rachel e Nate ficam de olho nos arredores, mas de vez em quando vejo Nate ir até sua mulher e brincar com ela, cutucando-a ou beliscando sua bunda. A resposta de Rachel é sempre de retaliação, fazendo-o recuar com um forte tapa na bunda ou tentando lhe passar uma rasteira. Mesmo assim, a atenção deles está focada no ambiente — embora não haja com que se preocupar. Depois de visitarmos os restos da antiga igreja, Geneva nos leva até a saída. — Estão a fim de um chá com biscoitos? Skyler sorri. — Adoro os chás e os biscoitos ingleses feitos na hora. — Então prepare-se para um verdadeiro deleite! — Geneva anuncia enquanto entramos todos no carro e descemos a rua. A conversa nos leva ao próximo destino, que faz Skyler pular no banco no instante em que vê o arco branco entre dois edifícios maiores. Há um leão dourado empoleirado acima da porta e duas estátuas de homens asiáticos dos lados. Embaixo está a placa dourada com o nome mais reconhecido na indústria do chá. — Twinings! — Skyler grita. Geneva sorri e abre a porta do carro. Antes que ela possa colocar o pé na rua, Nate a está ajudando e Rachel está perscrutando a área. Somos levados até a pequena loja, que cheira a especiarias e folhas frescas de chá. O gerente do estabelecimento, um homem alto, magro e bem-vestido, se aproxima de Geneva e aperta sua mão.

— Srta. James, que bom vê-la de novo. Fazia muito tempo. — Ele levanta a mão dela e a beija formalmente. — Abbot, obrigada por abrir uma exceção tão em cima da hora para o nosso pequeno grupo de renegados — ela diz, dando um tapinha na mão dele. — Mas é claro. — Ele ergue o queixo e se apruma antes de ir até a porta e virar a chave e a placa para “Fechado”. Geneva gira e bate palmas. — Eu reservei a loja por uma hora e meia para uma degustação privativa de chá. — Ela aponta para Rachel e Nate. — Assim vocês dois podem compartilhar a experiência conosco. Nate inclina a cabeça levemente. — Com todo o respeito, senhora, eu devo guardar a porta da frente e a minha esposa a dos fundos, para garantir que não vamos receber visitas inesperadas. O gerente da loja, cujo terno parece feito sob medida, alisa a gravata e a camisa impecáveis e estende a mão. — Se me permite... as portas estão trancadas, e posso garantir que não seremos interrompidos, como é habitual durante as degustações privativas. Eu atendo a família real sem problemas. Uma celebridade americana e uma escritora conhecida estarão em total segurança no nosso pequeno santuário. Ele indica a janela, por onde se vê um segurança armado diante da porta. — Há outro nos fundos. Agora, se fizerem a gentileza de se acomodar no balcão... Já esquentei as chaleiras e abasteci cada estação com uma variedade de petiscos. Assim que estiverem prontos, eu começo com o primeiro sabor. — Ele se inclina para a frente e, com voz suave, declara: — É um Darjeeling. Somente quinhentas latas foram feitas este ano. Venham, fiquem à vontade. Nós cinco nos sentamos, e Abbot levanta uma xícara de chá. — Peguem a primeira xícara, em que eu já coloquei as folhas. Vocês vão notar primeiro a cor de esmeralda das folhas, com as pontas prateadas. Sintam o perfume dentro da xícara e notem a fragrância floral única de um chá que é colhido jovem. Todos o acompanhamos. As notas florais fazem cócegas em meus sentidos de um jeito agradável, e inalo mais profundamente.

Abbot verte água quente na primeira xícara e prossegue até chegar a Skyler e depois a mim. — Agora, sintam mais uma vez o perfume e observem que as notas florais se ajustam levemente quando as folhas são molhadas. Fiquem à vontade para provar o chá e combiná-lo com o biscoito de sua preferência. — Humm. — Sky bebe seu chá, segurando a xícara branca e quente com as duas mãos. — Que delícia. — Sorri para mim. — O que você achou? Lambo uma gota dos meus lábios. — Adorei. Vamos comprar. — Vamos comprar todos os chás que gostarmos — ela diz. Mas Abbot interrompe: — Todos os chás de que vocês gostarem serão colocados em uma caixa Twinings. Cortesia da sua anfitriã, a srta. James. Sky se volta para ela e cutuca seu braço. — Não precisava fazer isso! — Estão se divertindo? — Geneva pergunta. — Gen... — Skyler diz, já abreviando o nome da escritora, dandolhe um apelido. — Eu nunca vou esquecer esta experiência. — Ótimo. — Geneva assente. — Ainda tem mais, então beba o seu chá e vamos experimentar o próximo. Abbot vai até Nate, que é o primeiro da fila. — O próximo chá é um double mint. — Tipo as gêmeas? — brinco, e Sky revira os olhos. — Que foi? Não lembra das gêmeas que faziam a propaganda do chiclete Doublemint? Eu via quando era pequeno, no meio dos desenhos animados do sábado de manhã. Abbot continua seu discurso, apesar da minha brincadeira. — É uma mistura de hortelã-pimenta e hortelã-verde, que pode ser cultivada em qualquer lugar. Inalem profundamente. As folhas podem limpar os seios nasais. Nós cinco cheiramos as folhas, e Geneva diz: — Adoro chá de hortelã. — É ótimo para acordar ou depois do jantar — Abbot diz enquanto despeja água sobre as folhas, uma xícara de cada vez.

Inalo o vapor da minha e não posso deixar de suspirar. Para mim, o cheiro de hortelã é calmante. — Você parece contente. — Skyler passa a mão na minha coxa. Seu toque aumenta meu contentamento. — Este me faz lembrar a minha avó. Quando o meu irmão e eu íamos visitar os nossos avós em Rhode Island, no verão, ela sentava no balanço da varanda e ficava tomando chá de hortelã. Quando eu fiz dez anos, ela começou a me dar chá também. Bom, a minha xícara tinha bastante açúcar e leite, porque naquela idade eu não iria gostar do jeito como ela bebia. Era uma coisa que fazíamos juntos, e eu gostava de ter algo especial com a minha avó. Skyler passa a mão pela minha perna, provavelmente por nenhum outro motivo além de manter contato físico. — Talvez seja algo que você pode compartilhar com os seus filhos e netos um dia. Sorrio e me inclino para ela, sentindo o cheiro de hortelã em sua respiração. — Talvez. Você gostaria que os seus filhos tivessem essa tradição? — pergunto, sem perceber o que estou insinuando até que seja tarde demais. Skyler lambe os lábios e eu olho para sua língua rosada, querendo tocá-la com a minha, mas lutando com a necessidade de ser civilizado, especialmente em companhia tão heterogênea. — Se eu estivesse com você para participar da tradição, adoraria. Seu olhar escuro se ilumina e ela sorri, sem me pressionar a me comprometer com algo para o qual nenhum de nós está pronto ainda. — Acho que podemos dar um jeito — brinco, erguendo uma sobrancelha e me sentindo corajoso. Não tão corajoso a ponto de fazer planos para o futuro aqui e agora. Mas tenho de admitir que falar sobre isso, desmistificar a ideia, torna tudo menos assustador. — Ótimo. — Ela franze o nariz, me dá um selinho e deixa a xícara no pires. Abbot fala sobre o chá seguinte, um chai especial indiano, mas meus pensamentos ainda estão no futuro. Eu sentado em uma varanda com vista para um lote de terra, meu neto ao lado tomando

chá com seus avós. A imagem desaparece quando o celular vibra em meu bolso. Eu o pego e vejo “Sosso” na tela. Skyler olha para mim e eu lhe mostro o visor. Quero transparência total entre nós. Ela sorri. — Atenda. Eu sei que você estava querendo falar com ela. Deixo o banquinho, passo a mão no cabelo dela e a beijo com força nos lábios antes de aceitar a ligação de Sophie. — Sosso! — Bonsoir, mon cher. Ou devo dizer bonjour? Onde o meu querido amigo está hoje? Rio e passo por entre as prateleiras em direção ao fundo da loja, onde, aparentemente, uma variedade infinita de chás de diversas cores e sabores é embalada e preparada para venda. — Na verdade, Sosso, estou pertinho. Londres, para ser exato, trabalhando com uma cliente. — Que maravilha. E quem é a cliente da vez? — Como se você não soubesse. A prima do seu namorado me procurou. — Ah, magnifique. Eu adoro a Amy. É uma mulher brilhante. Excelente profissional. — Ãhã. Falando em namorado... como vão as coisas? O silêncio cai. Posso ouvir Sophie fungando. Sinto a raiva se agitar e aperto o punho. — Se ele sacanear você, Sophie, vai se arrepender de ter nascido. Isso sem falar no que o Bo e o Royce vão fazer com o canalha. Um soluço atravessa a linha. — Eu terminei com ele — ela revela, chorando mais alto. — O quê? Por quê? Ele te traiu? Vou estrangular esse cara... — Non! Por Deus, não. Ele é um perfeito cavalheiro. Senão, eu não o teria convidado para morar comigo. Uau, eles estavam indo depressa. Estavam juntos havia menos tempo que Skyler e eu e já foram morar juntos. — Você levou o cara para a sua casa? O que deu na sua cabeça, Sosso?

— O que deu na minha cabeça, mon cher, é que eu amava o Gabriel. Ainda amo — ela responde com voz frágil, como a Sophie que eu conheci quando ela estava de luto, não a mulher que deixei e de quem sou amigo desde então. — Você está me deixando confuso, Sophie. O que ele fez? Ela funga alto e choraminga. — Sophie, juro por Deus que se você não me disser agora... Sinto uma mão quente nas costas e me volto, surpreso com o toque reconfortante. Percebo que é Skyler. Respiro fundo e pego a mão dela, levando-a ao peito. O medo e a preocupação por minha amiga correm em meu sangue como veneno. Skyler passa a outra mão pelo meu ombro enquanto me concentro na ligação. — Sophie, fala comigo. Qual é o problema? — Ele quer se casar comigo! — ela chora. Franzo a testa. Não entendo como isso pode deixá-la tão infeliz. — Que foi? — Sky sussurra, com medo nos olhos. Levo o telefone ao peito, abafando o microfone com a roupa. — O namorado da Sophie a pediu em casamento e ela terminou com ele — cochicho. Ela franze a testa e sacode a cabeça, como se também estivesse questionando a situação. — Tudo bem, querida. Me conte por que você terminou com o Gabriel. — Você é surdo? Ele me pediu em casamento. Ela continua chorando enquanto eu fico olhando para Skyler com cara de idiota. — Eu ouvi, Sosso, mas ainda não entendi por que isso faria você colocar um ponto-final na relação. Ele não era bom com você? Ela responde com a voz triste: — Ele era parfait. Perfeito. Lambo os lábios e esfrego a nuca. — Querida, não faz sentido. Por que você terminou, então? — Mon cher, porque nada que eu amo permanece. Se eu lhe der o meu coração, vai ser dele. E aí, se ele me deixar ou morrer, eu vou ser um nada para sempre.

— Não, querida, o amor não é assim — digo, pensando em como me sinto completo com a mão firme de Skyler no meu coração e seus olhos cheios de compaixão. Meses atrás, ela tinha ciúmes de Sophie, mas agora parece que decidiu acreditar que o relacionamento entre nós não é nada além de amizade, mesmo tendo começado como outra coisa. — Eu te amei e você foi embora — ela afirma. Sinto meu coração se partir. — Sophie, você sabe... Ela me interrompe: — Eu amava o meu pai, e ele morreu. A minha mãe também. — O mundo não é assim. Você não pode ficar sem um amor na vida. — Aperto os molares, tentando encontrar uma maneira de fazê-la enxergar a realidade. — Posso sim. Se eu deixar o Gabriel agora, vou ficar triste... Mas, depois de anos de casamento, eu ficaria destruída. Esfrego a cabeça furiosamente. — Porra, Sophie. Você não pode fazer isso. — Posso. Preciso. Está feito. — Resoluta. Da mesma maneira que eu estava quando terminei com Skyler. Mas sempre há espaço para o amor entrar e consertar tudo. — Querida, eu quero que você pense na sua vida agora. Em como ela é melhor com o Gabriel. Se agarre a esse sentimento e veja como isso é lindo. Aproveite o máximo que puder, porque, como você aprendeu recentemente, a vida é curta. É melhor tê-lo na sua vida pelo tempo que durar do que nunca. Isso eu garanto. — Como você sabe? — ela pergunta. Seu choro baixinho parte meu coração. — Porque, nas últimas semanas, a Skyler e eu passamos por uma fase difícil. Eu terminei com ela. Skyler inclina a cabeça em meu peito e beija meu coração. Imagino que seja seu jeito de dizer que está tudo bem. Que já passou, que ela já superou. Passo a mão pelo seu cabelo e aperto sua nuca. — Ah, não, mon cher. Você está bem? Claro... No meio do colapso de Sophie, ela está preocupada comigo.

Tiro a mão da cabeça de Skyler e levanto seu rosto. Quando ela olha para cima, indico uma cadeira ao lado de onde estamos. Ela entende e sai do meu abraço para que eu possa continuar a conversa andando de um lado para o outro. Preciso me mexer para defender meus argumentos e fazer Sophie entender o que quero dizer. — Sim, estou bem agora, porque a gente voltou. Parei para pensar e percebi coisas que não estava admitindo para mim mesmo. Eu estava completamente apaixonado por ela. Durante o tempo em que ficamos juntos, a minha vida mudou para melhor. E tudo por causa dela. Agora eu penso no futuro, não me preocupo só com o hoje. Estou pensando em uma casa grande com um balanço na varanda, gatos e cachorros, filhos e netos. Cerquinhas de madeira... E em cada um desses pensamentos e sonhos a Sky está presente, segurando a minha mão. Levanto a cabeça e encontro Skyler. Lágrimas rolam pelo seu rosto enquanto Geneva passa o braço em seus ombros. Os olhos da mulher também estão cheios de lágrimas. Aperto os lábios e sacudo a cabeça ao ver tanto sentimentalismo, e Sky apenas dá de ombros e enxuga os olhos. Digo “eu te amo” só mexendo a boca para marcar o momento, tão intenso para ela quanto para mim. — O que você está dizendo é... que eu preciso dar uma chance para o Gabriel? Fecho os olhos e respiro fundo. — Exatamente. Sosso, você não vai querer passar a vida sozinha e afastar todo mundo só porque tem medo de que te abandonem em algum momento. Isso não vai fazer bem a você nem a ele. E você vai acabar ficando para titia. — Eu não tenho sobrinhos, você sabe que eu sou filha única. O riso borbulha em minha garganta e enche a sala. — Meu Deus, eu estava com saudade, Sosso. “Ficar para titia” quer dizer ficar solteirona. Quero te ver logo. Quando nós terminarmos este caso, talvez possamos passar em Paris. — Ah, mon cher, eu adoraria a sua visita. Algum dos rapazes está com você?

— Não. A Skyler veio comigo desta vez, mas o Bo está vindo para cá. Ele chega no fim da semana. — Eu adoraria receber a visita de algum de vocês. Me faria bem. — E, Sosso... eu não amei e deixei você. — O olhar de Sky se crava em mim e eu continuo: — Eu ainda te amo, e você vai ser sempre uma das minhas melhores amigas, mesmo minha vida sendo em Boston e a sua em Paris. Isso significa que precisamos manter mais contato. Oui? — Oui — ela concorda, fungando baixinho. — Vai pensar no que eu disse e dar uma chance para o Gabriel? Não estou dizendo para você casar com o sujeito, mas não ponha o carro na frente dos bois. — Que bois? Do que você está falando? — Affff. É uma expressão, Sosso. Só pense no que eu disse, por favor. — Merci. Vou pensar. Tenho uma reunião agora e preciso retocar a maquiagem. — Tudo bem. Eu te ligo no fim da semana e quem sabe nos encontramos por um dia ou dois. Tudo bem? — Oui. Je t’aime. Bonjour, mon cher — ela diz com a voz trêmula. Tenho que deixá-la passar por isso sozinha. Eu disse o que podia, e espero que ela escute. E, juro, falar tudo isso a ela foi como pôr um grande espelho diante do meu rosto. — Eu também te amo, Sosso. Tchau. Quando desligo, Skyler corre para mim e me abraça, escondendo o rosto no meu pescoço. — A Sophie está bem? Anuo e passo a mão em suas costas, curtindo seu calor. — Vai ficar. Está meio confusa, com medo de perder o Gabriel do jeito que perdeu todos os outros na vida. Eu tive que lembrá-la que ela não perdeu a minha amizade, e acho que ela entendeu. Mas a Sophie está interpretando tudo na vida como um horrível amontoado de decepções e desgostos. Quando uma pessoa faz isso, a única coisa que se pode fazer é ser franco e direto. Espero que tenha sido suficiente. — Meu bem... as coisas que você disse sobre nós dois... — Sua voz treme de emoção.

— É tudo verdade — digo, acariciando seu rosto e levantando seu queixo com os polegares. — Tudo verdade. Você é o meu futuro. Eu sei disso agora, e não vou deixar as dificuldades da vida estragarem tudo. Vamos aproveitar cada dia que tivermos juntos. Seu sorriso se ilumina. — Nós vamos ajudar a Sophie. Nós. Porque é isso que nós somos agora. Um casal. Duas pessoas que vão enfrentar a vida de mãos dadas. De repente, os dias não parecem tão difíceis, os anos não tão longos, porque tenho alguém com quem compartilhar tudo isso. A mulher dos meus sonhos. Para sempre.

8

Até o fim da semana visitamos Londres inteira com Geneva e a equipe. Fomos à Tower Bridge, ao Big Ben e ao Palácio de Buckingham, além de andar na London Eye. Infelizmente, Skyler foi vista na roda-gigante, e tivemos que ir embora antes que a multidão ficasse grande demais. Ela não pareceu se importar, sempre disposta a dar autógrafos e a tirar selfies. Nate, no entanto, quase perdeu a cabeça, e Rachel acabou empurrando dois sujeitos de cima de Sky antes de puxar seu taser e avisar que não recuar poderia ser prejudicial à saúde deles. A coisa poderia ter sido muito pior, mas agora a imprensa sabe que estamos aqui, o que significa que precisamos ser mais cuidadosos. Desde que Geneva James foi reconhecida nas fotos que circulam nos canais de entretenimento, os paparazzi sabem onde estamos e com quem. Isso significa que brincar fora de casa só em áreas altamente seguras — nenhuma que Nate tenha aprovado. As mulheres, naturalmente, estão insatisfeitas e se sentem enjauladas. Com duas forças da natureza como Skyler e Geneva conspirando contra você, não há o que fazer. Onde há vontade, há um jeito, e juntas elas o encontrarão. Eu não me surpreenderia. A campainha toca, e Nate e Geneva vão atender. Skyler está sentada na poltrona, com o rosto apoiado na palma da mão e o cotovelo sustentando o peso da cabeça. Está entediada. — E aí, grandão. — Ouço Bo dar um tapinha no ombro de Nate. — E essa linda criatura deve ser a srta. Geneva James. Ah, merda. É melhor eu intervir. Pulo do sofá e vou para a entrada. — Bo, que bom que você pôde vir — digo. Mas ele não tira as mãos de Geneva nem o olhar do rosto dela.

— E aí, irmão? — ele me cumprimenta, ainda olhando para ela. Sacudo a cabeça e bato em seu ombro. — Vejo que já conheceu a nossa cliente, Geneva. Ele franze a testa. — Eu pensei que Tannenbaum fosse a cliente. É um prazer. Sem dúvida, se você estiver avaliando a mulher à sua frente como sua próxima transa, quando há menos de duas semanas concordou que ir para a cama com as clientes não era bom para os negócios. — Cai fora, Casanova — aviso. Geneva intercede: — Ah, não, nada disso. — Ela sorri para Bogart, flertando abertamente. Puta que pariu. Lá se vai outra. O baixo e a guitarra do Queen em “Another One Bites the Dust” vibra em minha mente enquanto vejo Bo beijar a mão de Geneva e lhe oferecer seu sorriso de molhar calcinhas. Dane-se. Não é da minha conta. Talvez transar com o maior galinha do mundo ajude a arrancá-la do bloqueio criativo. Mal não vai fazer, com certeza. Geneva limpa a garganta. — Aceita uma bebida? — Só se você for beber — ele responde. — Bom, eu estava bebendo água. Mas, pensando bem, vou beber, sim. Acho que todos nós precisamos nos animar um pouco, já que estamos em prisão domiciliar — diz, lançando punhais invisíveis com os olhos na direção de Nate. O guarda-costas dá de ombros. — Não me arrependo, srta. James. Vou fazer minha ronda. Rachel? — chama. — Tudo em ordem — ela grita dos fundos da casa, onde provavelmente está checando portas e janelas de novo. — Prazer em te ver, Bo — Nate diz. — Estou ansioso para voltar a Boston e ver você pagar a aposta. — E abre um sorriso largo pela primeira vez no dia todo. Seu sorriso é quase ameaçador, mas faz sentido, porque Rachel ganhou a aposta. Bo vai ter que usar saia quando ela determinar.

Não vejo a hora. Bo é um homem de palavra, vai cumprir o compromisso. Só espero estar presente quando acontecer. Bo inclina a cabeça, balançando o queixo afirmativamente. — Tudo bem. Basta ela dizer quando e onde. A saia já está pronta — sorri, confiante. — Claaaaro — Nate diz, sem acreditar no que Bo disse e se dirigindo à porta da frente. — E aquela bebida? — Bo encara Geneva. — Por aqui. — Ela vai na frente, rebolando de um jeito que não havia feito antes. Mentalmente, tenho que reprimir o gemido que quer escapar dos meus lábios e me lembrar: Não é da sua conta, Parker. Skyler pula da poltrona. — Bo! Que bom que você está aqui. Nós estamos entediados! — Ela se joga em seus braços e ele a abraça forte. — Senti sua falta também, gostosa. O meu irmão está te tratando bem? — Ele a segura pelos ombros e se inclina para trás. Ela fica corada e assente, tímida. — Sim, está. Bo lhe dá um beijo na testa e eu tento não rosnar. Ele gosta de falar e tocar as mulheres, mesmo as amigas. É o jeito dele, e tenho que deixá-lo criar um relacionamento com Sky se ela vai ficar por perto, porque Bogart já provou repetidamente que não vai a lugar nenhum. — Que bom — ele murmura. — Senti sua falta, garota. Mais que isso, senti falta da sua energia. Ele solta Sky e eu corro para reivindicar meus direitos, passando o braço pela cintura dela e a puxando para mim, sentindo seu corpo quente alinhado ao meu. Bo continua tagarelando: — Sem você e a Wendy, o escritório está um tédio. O Royce está me fazendo trabalhar em casos simples que não dão trabalho nenhum. Mas não posso reclamar, porque eles é que estão trazendo a grana. Fiquei animado quando vocês me chamaram. — Ele abre um sorriso largo, senta no sofá e estende os braços longos para os lados. A camiseta branca se estica sobre o peito musculoso.

Geneva engole em seco, os olhos grudados no corpo do meu sócio enquanto leva um gim-tônica para ele. Bo sorri e pega o copo. — O que é isto, linda? — Gim-tônica. É o que vou beber, e eu não quis interromper você. Mas posso preparar outro drinque, se preferir. Ele sacode a cabeça. — Quando uma mulher te faz uma bebida, você bebe, mesmo que tenha gosto de merda, porque o gesto é mais importante. Pegou, docinho? Ela pisca algumas vezes, mas sacode a cabeça. — Não, de jeito nenhum. Ele ri com vontade, e eu sento ao seu lado. — Tudo bem, vai pegar. — Seu tom e suas palavras são repletos de insinuações, mostrando que ele está planejando dar o próximo passo. Bato palmas para que os três se concentrem em mim. — Amanhã nós vamos fazer a sessão de fotos. A Amy disse que o modelo para o papel de Dean vai nos encontrar no set às dez da manhã. Bo, trouxe todo o equipamento? Ele dá um gole da bebida e geme, aprovando. Geneva cora e gira o canudinho em seu drinque. Sua linguagem corporal está cem por cento focada em Bo e seus movimentos. Vai ser uma noite longa. — Eu trouxe o que é necessário. Combinei com a Amy que ela vai arranjar a iluminação e outros equipamentos mais volumosos. As roupas vão estar lá. Se bem que não vamos precisar de muita roupa — ele diz, piscando para Skyler. — Espere um minuto — digo, franzindo o cenho — Do que você está falando? Pensei que o modelo ia vestir terno, camisa branca e gravata preta. Bo se recosta e apoia o pé sobre o joelho. — Sim, em algumas fotos. Mas eu quero fazer uma coisa um pouco mais quente, mais erótica. Minhas mãos começam a suar e a gola da minha camisa parece apertada. — Como assim?

— Vou fotografar a Skyler e o modelo sem camisa, ver como fica a química entre eles, e tirar algumas fotos estratégicas, sensuais pra caralho. Eu me levanto abruptamente, incapaz de manter a calma. — Espere aí! Não foi isso que nós combinamos. Skyler vem até mim e pousa as mãos no meu peito. — Eu já fiz fotos quase nua. É uma capa de livro. Nós vamos criar uma ilusão de óptica, não a coisa de verdade. Estreito os olhos para Bo por cima do ombro de Skyler. Ele está sorrindo feito um lunático. Aponto um dedo acusador para ele. — Você gosta de me irritar! — Sempre que posso! — ri. Aperto os dentes, seguro os quadris de Skyler possessivamente e digo: — Você não precisa fazer isso se não gostar do que está acontecendo. — Meu bem, acho que é você que não está gostando do que está acontecendo. Relaxe e confie em mim. — Ela passa a mão em meu peito. — Confie no seu coração. Você sabe que eu não vou perder o rumo. Fecho os olhos e respiro devagar por um minuto, contando até dez várias vezes, até recuperar a calma. — Eu confio em você — digo para minha garota. Beijo seus lábios, selando minha afirmação com uma declaração física. — É nesse desgraçado que eu não confio — completo. Faço uma careta por cima do ombro dela enquanto puxo seu corpo contra o meu, totalmente preso em meu abraço. Bo sacode a cabeça e tamborila no copo. — Irmão, você facilita demais para mim.

Chegamos às nove horas da manhã seguinte para Skyler fazer maquiagem e cabelo antes da sessão de fotos, marcada para as dez. O modelo ainda não está aqui. Vejo Skyler de camisa branca masculina, uma gravata preta pendurada no pescoço como se acabasse de tirá-la de seu homem, pernas bronzeadas besuntadas

de óleo a ponto de brilhar sob a iluminação fotográfica. Estou preocupado por ainda não termos o modelo. — Quer fazer algumas fotos sozinha, Sky? — Bo pergunta. Ele está com um jeans escuro e sua camiseta branca básica, e uma câmera na mão. De vez em quando troca a camiseta branca por uma preta, às vezes até por uma cinza-escura ou azul-marinho. Ela franze a testa e ajeita o cabelo diante do espelho. — Ele ainda não chegou? Já chequei o celular um milhão de vezes quando noto que Geneva está falando no seu, do outro lado da sala. Está andando de um lado para o outro e não parece feliz. — Tire algumas fotos sozinha. Eu vou descobrir o que está acontecendo. Vou irritado até Geneva, que está com uma cara azeda. — Mas a Skyler já está aqui. Eu não posso pedir que ela fique mais tempo e faça as fotos de novo. Nós temos um fotógrafo particular e tudo o mais. — Ela passa a mão pelo cabelo trançado. Seus olhos azuis escurecem e o maxilar fica tenso. — Tudo bem, eu entendo. Obrigada por avisar. — O que aconteceu? Geneva desliga o telefone e o guarda no bolso de trás da calça jeans. — Ele não vem. — Seu lábio treme e lágrimas brotam de seus lindos olhos azuis. — Depois de tudo isso... — diz, apontando para Skyler, que posa para Bo. — Quem não vem? — Barron, o modelo que fez as duas primeiras capas. Gastroenterite. Ele disse que não pode arriscar, está muito mal. E daqui a alguns dias tem outra sessão de fotos, fora do país. — Geneva deixa cair os ombros e solta um suspiro trêmulo. — Já era. Olho para Skyler, sentada em um banquinho, segurando as pontas da camisa para que cubram suas partes íntimas, com as coxas tonificadas abertas. Seu cabelo cai no rosto e ela dá à câmera o olhar mais sensual do mundo. A ponta do meu pau vibra de necessidade de chegar perto dela. Meu coração começa a bater forte, e percebo que, se essas fotos não acontecerem, todo o plano

de fazer Geneva ver o casal ganhando vida vai ser um grande fiasco. Até que me lembro do que Geneva disse na livraria. Que achava que eu poderia ser um Dean perfeito. Bem, eu já tirei fotos com a minha garota antes. Isto aqui não é diferente. — Eu tive uma ideia. Vou pôr em prática e você me diz o que acha. Ela funga conforme uma lágrima rola pelo seu rosto. — Sinto muito, Parker. — Fique tranquila, eu vou dar um jeito. Pelo menos é o que espero. Vou até Skyler e entro no foco da câmera. Agarro seus cabelos na nuca e inclino seu queixo para cima. Faço-a girar, de modo que eu possa estar entre suas coxas, com a câmera pegando nosso perfil. — Coloque as mãos na minha bunda. Ela faz o que eu peço. Levo minha boca quase até a dela, pairando sobre seus lábios. Ela ofega e a câmera enlouquece. — É disso que estou falando. Skyler, levante a perna e enrosque na cintura dele. Ela faz como Bo orienta, e durante alguns minutos nos acariciamos, tocando narizes e bochechas. Passo os lábios pelo seu pescoço, criando a ilusão que já vi em outras capas de livros. Bo para de fotografar. — Tire a camisa, amigo. Ponha a gravata dela no pescoço. Eu tiro o paletó, e Geneva corre para pegá-lo. — Vocês ficam incríveis juntos. Nunca vi duas pessoas personificarem melhor a Simone e o Dean. — Sua alegria é palpável e alivia meu nervosismo. — Que bom que você está conseguindo ver os personagens ganharem vida. Skyler dá uma risadinha e tira minha camisa. — É hora do show, meu bem. Ela me arrasta até uma assistente, que besunta meu peito nu com óleo, dando um brilho legal em meus peitorais e abdome. Bo e um assistente do estúdio aproximam uma chaise longue de veludo vermelho-escuro com arabescos dourados na madeira do

acabamento. Parece da realeza e está prestes a ficar melecada de óleo. — Agora desabotoe a calça. Eu quero um vislumbre da sua bunda, Park — Bo ordena. Faço o que ele diz. No instante em que abro a calça e desço um centímetro do zíper, ela desliza um pouco para baixo nos meus quadris. — Sky, desabotoe a camisa e mostre o que tem embaixo dela — ele pede para a minha garota. Sacudo a cabeça para Bo e rosno: — Vá se foder! — Cara, ela está usando sutiã e calcinha de renda preta para a capa. Deixa de ser besta e fique em cima da sua mulher. — Seu tom de voz não aceita argumentos. Mas eu ficaria feliz em dar um soco na sua cara feia por sugerir que Sky tire a roupa na frente dele. — Fique em cima dela — ele grita, com o rosto escondido atrás da câmera. Ergo a mão e lhe mostro o dedo do meio antes de olhar para Sky, que está com um sorriso convidativo, me chamando com o dedo. Ela afasta as pernas e eu vejo uma faixa sexy de tecido preto em sua virilha. Seus seios estão bem para cima e parecem tão apetitosos que preciso acalmar a fera pensando na minha mãe lendo histórias para crianças na biblioteca. — Isso eu posso fazer. Sorrio, passando o olhar por todo o seu corpo lindo. — Vem cá, bonitão, e faça o seu pior! — Sky brinca. Ela se ajeita para deitar na chaise. Eu me aproximo e pairo sobre suas curvas. Subo a mão pela sua coxa até o quadril, onde cravo os dedos. Ela passa a outra perna ao redor da minha cintura e me puxa com o pé. A câmera começa a clicar, mas não posso deixar de beijar minha mulher. Minha audição só capta o som de sua respiração e os gemidinhos que vêm de seus lábios brilhantes enquanto chupo e mordo cada um. Ela se perde no momento também, arranhando minhas costas com suavidade, me provocando. Eu gemo. Ela joga a cabeça para trás, seguindo a linha da chaise, arqueando o corpo e oferecendo o pescoço. Passo os lábios por ele, esquecendo onde estamos.

De repente, somos somente Skyler e eu, sozinhos, seu corpo disponível para mim. Beijo cada centímetro do seu pescoço, agarro sua bunda e puxo seus quadris para mim, e nos esfregamos do jeito que nós dois precisamos. — Meu pêssego, você tem cheiro e gosto de paraíso. Ela suspira e vira o rosto de lado. Abre os lábios, arfando, enquanto chupo seu colo, logo acima dos seios. — Uau, isso vale ouro. Gen, o que você acha? — Bo pergunta. Mas ouço a voz dele abafada, como se fosse um sonho distante. Então, outra voz entra e fica tudo muito claro. As luzes brilhantes e o pano de fundo voltam, me fazendo lembrar que estamos em uma sessão de fotos, não na privacidade da minha casa ou da dela. — Incrível. — Ouço a voz de Geneva em meio à luxúria que gira enlouquecida em minha mente. — Esses dois foram feitos um para o outro. Ao ouvir suas palavras, pego o rosto de Skyler e aproximo o meu o máximo que posso, ignorando os cliques da câmera, solidificando este momento como nosso. — Tenho que concordar. Você foi feita para mim, Sky. Nunca mais eu vou ficar sem você. Sem a gente. Ela passa os braços em volta do meu pescoço e trava os tornozelos ao redor dos meus quadris. — E nunca vai precisar ficar sem mim. Eu jamais vou dar razão para você me deixar e nunca vou te magoar. É uma promessa, meu bem. De mim para você. Eu a beijo com força, e as coisas começam a ficar meio selvagens. Esqueço mais uma vez onde estamos e que tem gente olhando. Bo limpa a garganta enquanto eu me esfrego em Skyler e ela geme. — Hum, crianças, vocês estão em uma sessão de fotos. Tem seis pessoas vendo vocês dois se beijarem. Vamos segurar a onda aí para tirar as fotos de que precisamos para a capa? Skyler cai na gargalhada e eu a acompanho. Eu me afasto da minha garota e sento na chaise. Dar um tempo para respirar e deixar a fera relaxar é uma boa ideia. Olho por cima do ombro. — E agora?

Bo inclina a cabeça. — Eu quero que você se ajoelhe na frente da Skyler. Sky, coloque as pernas em volta da cintura dele. Aninhe o Parker no seu peito, mas não aperte, senão o rosto dele vai amassar. Eu quero que você feche os olhos e acaricie o cabelo dele. Skyler e eu fazemos o que ele pediu e a câmera clica. Ela passa os dedos pelo meu cabelo e eu suspiro em seu peito, curtindo a sensação da minha mulher suavizando o fogo que há dentro de mim. Pode estar calmo, mas ainda está ali, girando, esperando que ela despeje o querosene e jogue o fósforo, fazendo as chamas recrudescerem mais uma vez. Eu posso esperar até estarmos sozinhos à noite. Neste momento, o que importa é a experiência, viver a aventura até acabar. Curtir cada momento, valorizando qualquer oportunidade de tocar a minha garota. — Tudo bem, agora eu quero a coisa mais safada, à beira da indecência. Vocês topam ou vou ter que convencer? — O olhar de Bo é desafiador. — Qual é a sua ideia? — pergunto. — Tire a calça. Sky, tire a camisa. Fiquem só de roupa íntima. Skyler se levanta e deixa cair a camisa. Mordo a língua, mas acompanho minha namorada. Abaixo a calça, que se amontoa nos meus tornozelos. Desafio aceito. Bo já deveria saber que eu seguiria minha namorada a qualquer lugar. Especialmente com ela parecendo uma deusa, com lingerie de renda preta. — Nós precisamos de mais um pouco de óleo aqui! — ele grita. — Além disso, eu quero a Skyler de meia sete oitavos preta e salto alto preto. Se tiver algum com a sola vermelha, melhor ainda. A Simone com certeza usaria Louboutin. Traga essas pernas sensuais até aqui. Sacudo a cabeça e ponho as mãos na cintura. Skyler sai do set e Bo levanta a câmera, tirando fotos minhas. — Mexa as mãos, cara — instrui. Ele me mostra os movimentos que deseja e eu os reproduzo do meu jeito, com mais naturalidade. — Flexione os músculos, Park.

Faço o que ele pede, mas não posso deixar de rir. — Você está curtindo demais isso. Bo sorri atrás da câmera. — O que você quer que eu diga? Você é um cara bonito, e essas fotos vão deixar as leitoras loucas. Eu estava pensando que seria bom deixá-las animadas, suspirando pelo Dean. A Geneva vê as reações e bum! Cenas sensuais aparecem nas páginas do livro. Levo a mão à nuca e olho para o lado. A câmera clica. — Não é má ideia. Ele ri. — Eu sei, porque a ideia foi minha. Reviro os olhos, mas sorrio. Ele se aproxima até ficar a meio metro de mim e continua fotografando. — Sabe de uma coisa? — pergunta, olhando para a tela. — Se a International Guy não der certo, você pode começar uma carreira tardia de modelo. Estas fotos estão ótimas. Se eu gostasse de macho, pegaria você. Olha o seu corpo nesta. Cara, está foda. — Bo vira a tela para que eu possa ver. Surpreendentemente, as fotos estão muito boas. Mesmo de cueca, não pareço fora de forma ou velho. Meus abdominais parecem blocos de cimento. Meus peitorais são dois quadrados grandes, mas não volumosos. E meus ombros são o melhor. Eu não tinha percebido o bem que as idas regulares à academia estavam fazendo para eles. Ossos e músculos maciços, vigorosos, com um pouco de brilho e a luz certa, definitivamente são dignos de ser fotografados. Por um momento, me deixo tomar pelo orgulho do que fiz pela minha forma física. Bo capturou meus melhores atributos em ótimos ângulos, o que prova que é verdade o que dizem: iluminação é tudo. Skyler volta toda sexy, com uma lingerie diferente. É um espartilho de renda vermelha e preta, com cinta-liga e meias de seda. Nos pés, os sapatos mais altos que já a vi usar. Ela se aproxima e pousa as mãos no meu peito. — Gostou? Fico com água na boca. Passo os dedos sobre as taças que cobrem seus seios, até ela arfar. Então desço, tocando levemente suas costelas, alisando a renda, até chegar às partes acetinadas.

Passo as mãos nos seus quadris e na bunda, pressionando seu corpo contra o meu. Estou me acostumando com a câmera, que gosta de disparar quando menos esperamos. Aperto seu traseiro. Bo se abaixa e eu cerro os dentes. Ouço o som alto nos meus tímpanos. A câmera foca a bunda de Sky e minhas mãos. — Aperta, Park. Fecho os olhos e tento esquecer que Bo está ali. Imagino que estou apenas apalpando a bunda da minha garota. — Isso mesmo! Agora, peitos — Bo solicita. — Peitos? — grunho, furioso. — É, você sabe que não tem nada melhor que um belo par de peitos. Então, sim, peitos. As fotos vão ficar quentes demais. Agora vire a Sky, ponha a mão nas partes privadas dela para que nada apareça, e vamos apimentar um pouco. — Tudo bem para você? — sussurro com a boca no cabelo de Sky enquanto cubro o sexo dela possessivamente com a mão. Ela ofega e se inclina contra meu corpo. — Contanto que você me segure. Estes sapatos machucam pra caramba, eu mal consigo me manter em pé. Nós dois caímos na risada e tiramos fotos eróticas rindo feito idiotas. — Nossa, como eu te amo! Beijo seu rosto. Ela pousa as mãos sobre as partes que estou pegando, fazendo Bo gritar de entusiasmo. — Eu também te amo. Obrigada por me segurar. Aperto mais e ela morde o lábio, soltando um gemido baixinho. — De nada, meu pêssego. Beijo a curva entre seu ombro e pescoço... o meu lugar. — Do caralho! — Bo está fascinado. O geek que há dentro dele se manifesta a todo vapor, e não há muito que possamos fazer além de ir na onda. Normalmente, quando isso acontece, surge a magia. E agora, abraçando sedutoramente minha mulher seminua, envolta em cetim, renda e sapatos sensuais, não tenho do que reclamar.

9

Acordo com a cabeça zumbindo, como se milhares de vespas furiosas voassem dentro dela. O restante do meu corpo está pesado, um peso quente e macio. Pisco na escuridão. Não reconheço o lugar, mas o corpo que cobre o meu é muito familiar. O cheiro de pêssego com chantili de Skyler está impregnado em mim, assim como ela. Flashes da noite passada voltam à minha mente em um remoinho em tecnicolor. A sessão de fotos com Bo, Skyler e Geneva. Geneva fazendo o jantar para nós. Um jogo de charadas, bêbados. Mais bebida. Os lábios de Skyler nos meus enquanto a prenso na parede, na escada do corredor. Nós dois cambaleando até um quarto escuro com cheiro de roupa limpa. Skyler de joelhos, eu encostado na porta, sua boca sugando profundamente. Eu de joelhos na beira da cama, as pernas de Skyler abertas sobre os meus ombros, seus tornozelos apertando minhas costas. Minha garota me cavalgando forte, de frente para mim. Eu cavalgando Skyler, de frente para ela. A cabeceira batendo na parede, me fazendo ranger os dentes, até nós dois gozarmos juntos em uma explosão de energia e desabarmos. Porra! Enquanto os flashes voltam, a fera ganha vida, querendo entrar em ação de novo. Skyler mexe a perna, esfregando a coxa no meu não tão pequeno amigo. Eu gemo e me estico, aliviando a tensão do corpo. Nossa, parece que eu corri uma maratona na noite

passada, e depois alguém se divertiu batendo na minha cabeça com um taco de beisebol. Skyler suspira, apoiada no meu peito. O ar sai de sua boca lindamente enquanto ela abre os olhos. Ela estremece e leva a mão à cabeça. Passo a mão por sua coxa até a bunda e a aperto para fazê-la rir. Mas a risada logo se transforma em um gemido de dor, e ela rola de costas. Eu rolo também e me aninho ao seu lado. A pontinha nua do seu seio cutuca meu nariz. Sentir seu cheiro me acalma, e tento voltar à terra dos sonhos, enrolado em minha garota. Mas ela não se entrega ao novo arranjo. Ela passa as mãos pelo meu cabelo e se afasta de mim. — Meu bem, eu preciso muito fazer xixi. As palavras fazem meu cérebro doer. Demoro para deixá-la ir. Minhas mãos estão lentas devido às britadeiras que alguém está usando dentro da minha cabeça. Eu a solto e ela rola para o lado, segurando a cabeça com as mãos antes de levantar, trêmula. — O que foi que nós bebemos ontem à noite? Sinto acidez no estômago e coloco o braço sobre os olhos. — Acho que a pergunta é o que nós não bebemos. Lembro claramente que começamos com vinho e depois passamos para os destilados. Scotch, se não me engano. — Afff — ela murmura. Sky procura minha camisa e a põe sobre os ombros nus, onde posso ver a leve marca de um chupão que deixei ali na noite passada. Por tudo que é mais sagrado, a mulher está tão sexy agora, com o cabelo desgrenhado, quanto na sessão de fotos de ontem, produzida como uma pantera. Sinto a garganta seca. — Eu sou um filho da puta sortudo. Sky... nunca me abandone — digo com a voz cansada, tomado por uma insegurança que não costumo expressar. Mas não é mais que honestidade. Honestidade pura. Ela para na porta e olha por cima do ombro. — Continue me amando direitinho que eu nunca vou te abandonar — diz, dando uma piscadinha, e fecha a porta do banheiro.

Deus, essa mulher poderia facilmente acabar comigo. Ela tem meu coração e minha alma na palma da mão. Esfrego a testa dolorida e olho em volta. Vendo as paredes azuis e as arejadas cortinas brancas de renda, percebo que não sei onde estamos. Eu me sento na cama e minha cabeça reclama, martelando sem parar. Preciso de café e ibuprofeno, e talvez até de uma dose de scotch — se é que não acabamos com todas as bebidas do mundo ontem à noite. Ouço a descarga e uma torneira abrir. Skyler sai do banheiro e senta na beira da cama, esticando o braço para mim. Pego sua mão. Ela faz uma careta. — Acho que ainda estamos na casa da Geneva. — A última coisa que eu lembro é que nós bebemos um monte com a Geneva e o Bo, e eu te beijei e te comi na escada. Ela sorri e se inclina para a frente, me beijando com suavidade. — Quem te comeu fui eu, mocinho. — E cutuca meu peito. — De qualquer forma, precisamos vestir uma roupa e descobrir o que está acontecendo fora do nosso ninho de amor improvisado. Ela bufa. — Ninho de amor? Parece mais uma garçonnière. O que nós fizemos ontem à noite, as marcas que você deixou no meu corpo todo... Ela levanta minha camisa. Há um punhado de chupões em seus seios, e os mamilos estão vermelhos em vez de rosa-claro, como normalmente são. O que significa que foram chupados de monte. Mais abaixo, ela aponta as marcas dos meus dedos em seus quadris. — Devo me desculpar? — pergunto com cara de paisagem. Assim ela não sabe como estou orgulhoso desses pequenos lembretes do tempo que passamos juntos. É bem óbvio que eu cuidei da minha mulher do jeito que um homem deve cuidar. Skyler ri e arranca o cobertor do meu peito. — De jeito nenhum! Acho que eu também te marquei. Ela passa os dedos pelas minhas costelas, onde há alguns vergões vermelhos. Só posso supor que são das suas unhas. Dois chupões marcam meu peito, onde ela me sugou como um aspirador de pó. Ela deu tanto quanto recebeu.

Sorrio e passo o dedo pela marca roxa sobre o meu coração. — Vou ostentar a minha mordida de amor com orgulho. — Eu também — ela diz, passando os dedos pelos meus músculos abdominais, provocando ondas de prazer. — Mas nem lembro direito o que aconteceu — suspira. — Só lembro de estar nua com você em todas as posições possíveis. Não disfarço o enorme sorriso que toma meu rosto. Ela empurra meu peito. — Safado! Passo o braço pela sua cintura e a puxo sobre mim. — Está dolorida? — murmuro em seus lábios, sugando o de baixo e mordiscando-o. Skyler fica vermelha. — Sim... — sussurra, querendo parecer tímida. Dou um tapa na sua bunda, bem doído. — Então eu fiz o meu trabalho de homem! — E solto uns barulhos animalescos, como imagino que um Neandertal faria. Ela ri em meu peito, então geme e segura a cabeça. Faço uma careta. — Temos que arrumar uns analgésicos. — Com certeza — ela geme, e dá para notar a dor em seu tom de voz. — Muito bem, levanta — digo, batendo na sua bunda deliciosa de novo. Ela rola sobre mim e fica em pé, meio instável. Faço o mesmo. Visto minha camiseta branca com decote V e a calça. Skyler coloca a calcinha. Minha camisa nela chega até o meio das coxas, o suficiente para parecer um vestido. Pego sua mão e saímos pela porta. Uma vez fora, fica claro que estamos mesmo na casa de Geneva. O cheiro de bacon e batata me faz puxar Skyler para a escada. Minha boca saliva de necessidade de encher a barriga com o máximo de gordura possível. Enquanto subimos, ouço um estalido proveniente do segundo escritório da autora, à nossa esquerda. Levo o dedo aos lábios, pedindo silêncio a Sky. Ela anui e nós vamos na ponta dos pés até o cômodo.

Quando paramos na porta aberta, somos recebidos pela visão mais impressionante. Geneva, vestindo um baby-doll de cetim cor de vinho, está escrevendo no computador. Seu cabelo está igual ao de Skyler, uma bagunça total, só a cor é diferente. Pressiono a barriga de Skyler para fazê-la recuar e deixar a escritora trabalhar. Juntos, Skyler e eu subimos os degraus, um de cada vez, bem devagar, ambos doloridos. Quando chegamos ao topo, sigo o cheiro até a cozinha. No fogão está Bo, de peito nu, jeans escuro e um sorriso brilhante. Seu cabelo está arrepiado para todos os lados, provando que ele também acabou de sair de uma cama bem agitada. — Bom dia, SkyPark. — Ele nos cumprimenta pelo nome que os paparazzi nos atribuíram. — Afff — Skyler geme. Ela se senta em uma banqueta e apoia a cabeça nas mãos. Os punhos da minha camisa caem para trás, sobre as mangas. Segurando uma espátula, Bo dá alguns passos até um frasco de comprimidos, no balcão oposto, e o entrega a Sky. — Tome, gostosa. Eu vou pegar um pouco de água. — Então coloca uma garrafa diante dela. — Deus te abençoe, meu amigo. Ele ri. Parece perfeitamente bem, não de ressaca, o que realmente me irrita. Eu sei que Bo aguenta bebida, mas não tanto assim. Todos nós bebemos um monte ontem à noite. — Como é que você pode estar tão animado? — resmungo, me sentando ao lado de Skyler. Ela abre o frasco de comprimidos, joga dois na palma da mão e os entrega a mim, repetindo o processo para si mesma. Põe os comprimidos na boca e bebe metade da garrafa antes de entregá-la a mim. Faço o mesmo, engolindo as pílulas com o restante da água. Bo volta para o fogão e vira o bacon. Quase posso sentir o gosto da gordura no cheiro. Meu estômago ronca alto, e eu esfrego a barriga vazia. — Você foi para a cama na mesma hora que a gente... Ele vira com uma sobrancelha erguida. — Fui? — Foi?

Acesso minhas memórias e me lembro de Geneva indicando um quarto para Skyler e eu, enquanto Bo a levava para o dela, supostamente para ter o mesmo tipo de diversão que a gente. Bo sacode a cabeça. — Não. A Geneva teve um período de seca no ano passado. Passei a noite garantindo que cada centímetro dela estivesse preenchido — diz, sorrindo. Faço cara de nojo. — Mandou bem, cara! — Skyler diz, erguendo o punho e batendo no dele. — Baby, não incentive. Ela apoia o cotovelo no balcão e a cabeça na mão. — Por que não? A Geneva é adulta e queria um pouco de amor. Olhe esse cara... Ela se deu muito bem — minha garota diz, bocejando e fechando os olhos. Fervo por dentro ao ouvir suas palavras. O calor invade meu peito. Quero soltar fogo pelas ventas. Skyler abre os olhos e olha para mim, depois para Bo. Ele está com os braços cruzados sobre o peito nu, flexionando os bíceps, fazendo seus músculos incharem. — A sua mulher me acha gostoso. Ela se endireita e arregala os olhos antes de apontar para mim e depois para ele. — Vocês dois tiraram as minhas palavras do contexto. — Sai do banco e encaixa o corpo entre as minhas coxas, passando os braços em volta da minha cintura. — Ninguém é mais gostoso que você. O que eu quis dizer foi que o Bo é um cara bonito e a Geneva é uma mulher linda. Se eles quiseram passar a noite juntos, por que não? Sky encosta o corpo no meu e pousa os lábios no meu pescoço. — Você me entendeu. Inalo fundo seu cheiro e a insegurança desaparece na hora. Skyler pode declarar suas opiniões, e eu deveria ser homem suficiente para entender que é a mim que ela ama, que quer ficar comigo e que me acha atraente. Eu sou a escolha dela. Só porque ela acha um homem bonito, não significa que quer ficar com ele. É uma simples observação.

Suspiro diante da minha estupidez e acaricio sua testa, depositando um beijo ali. Bo inclina a cabeça, provavelmente esperando minha retaliação. Mas desta vez não vou lhe dar essa satisfação. — Porra, essa mulher está fazendo você mudar — ele observa e volta a cuidar da comida. — Para melhor — concordo. Mantenho minha garota perto de mim e deixo que seu corpo alivie minha tensão, antes que se transforme em algo de que não me orgulho. Skyler levanta a cabeça e segura meu rosto com as duas mãos. — Eu te amo. — Eu sei. — E acho você o homem mais gostoso que eu já conheci. — Não precisa dizer isso. Eu sou homem suficiente para aceitar que a minha mulher tem olhos. — Observo Bo, seu corpo sarado, costas largas e grandes músculos. Ele malha muito para ter essa boa forma. — Você tem razão. Ele é um sujeito bonito, mas não diga a ele que eu falei isso — sussurro. — Eu ouvi! — Bo grita acima do exaustor, que ligou por causa da gordura do bacon. — Você me acha gostoso. — E ginga um pouco. Skyler olha para ele, em seguida cutuca meu queixo com o nariz até me fazer olhar para ela. — Você é mais. — Ouviu? — digo o mais alto que meu cérebro cansado permite. Bo gira o botão para aumentar a velocidade do exaustor. — Não. Estou cozinhando! — Idiota. Sorrio e fico olhando enquanto Bo termina de preparar o café da manhã.

Skyler dá outra garfada nos ovos e geme com o garfo na boca. — Está bom? — Bo pergunta. Ela anui, sem parar de comer. — Mais uma receita da dona Sterling? — pergunto. Ele sacode a cabeça.

— Não. Quando eu era criança, a minha mãe me ensinou a fazer o café da manhã típico do sul. Aí, na adolescência, eu aperfeiçoei as comidas de café da manhã. Ovos, bacon, panqueca, rabanada, pão caseiro, salsicha com molho. O básico — diz, levando uma porção de batatas à boca. — Achei que você tivesse sido criado em Boston, como o Parker e o Royce — Skyler diz, pousando o garfo no prato. — Não. Eu nasci e fui criado em New Orleans pela minha mãe e irmãs. Sou o caçula de quatro filhos. — Quatro! — Skyler arregala os olhos enquanto espeta suas batatas. Bo dá uma risadinha. — Sim, senhora — diz, com o sotaque sulista que ele sempre esconde. — O que os seus pais fazem? — ela pergunta. Estou surpreso por ele não ter cortado o assunto ainda. Bo não fala muito sobre sua família. Isso significa que ele aceitou Skyler em nosso círculo íntimo. — A minha mãe, Elizabeth, é estilista. — Não... Meu Deus! Eu nunca fiz a conexão! A sua mãe é Liz Montgomery! Eu usei um dos vestidos dela em um tapete vermelho. Ela é muito talentosa. — Sim, é mesmo — ele diz, estufando o peito e endireitando a coluna, cheio de orgulho. — E todas as minhas irmãs trabalham com ela. Uma é a costureira braço-direito da minha mãe, a outra trabalha nos designs e a última é a gerente da loja oficial da Liz Montgomery Designs em Nova York. Elas querem expandir por todo o país e me convidaram para participar, mas... Meu cérebro de ressaca zumbe. Começo a ligar os pontos do que ele acabou de dizer. — Bo, você nunca comentou que a sua família quer que você faça parte do negócio. — Não posso evitar a preocupação na voz. Meu filtro não está funcionando hoje. Ele dá de ombros e levanta, deixando a refeição pela metade, como se a necessidade de fugir fosse mais importante que o desejo de encher a barriga. — O Royce sabe disso? — continuo.

Ele suspira e joga o resto de comida no lixo. — Não, e eu agradeceria se você não contasse. Isso me faz recuar e pular do banquinho. — Por que não? — Porque não é necessário. Eu não vou aceitar o convite, então não importa. Vou até Bo, deixando o resto do meu café da manhã no prato. — Talvez você precise pensar melhor, conversar com a gente sobre o assunto. Nós nunca te impediríamos de participar das suas obrigações familiares. Ele se volta com uma carranca. — E a nossa família? A irmandade, a IG? Nós construímos isso juntos, nós três. Agora temos a Wendy no time e estamos melhor do que nunca. Da última vez que conversei com o Royce, ele comentou sobre a ideia de expandir pelo país e contratar um advogado corporativo. Agora você quer que eu pense em abandonar o navio, quando nós finalmente estamos vendo os resultados do nosso esforço? Balanço a cabeça e me apoio no balcão. — Não, de maneira nenhuma. Mas são a sua mãe e as suas irmãs. Se você quiser participar, tenho certeza que conseguimos arranjar um jeito de dividir você, se necessário. Nós nunca te impediríamos de fazer algo que você acha que deve. Ele pega o pano de prato e enxuga as mãos. — Tudo bem, mas o meu lugar é na International Guy. Não preciso me dividir entre o império da moda da minha mãe e a IG. Ela criou a Montgomery. Eu ajudei a criar a IG e tenho orgulho do que conquistamos. Neste momento, o céu é o limite, e eu quero estar presente em tudo. Tudo bem para você? — ele diz com firmeza. Levanto as mãos em um gesto de rendição. — Claro, meu irmão. Nós somos a IG. Mas, se você precisar falar sobre esse assunto ou mudar de ideia, estou aqui. O Roy também. Se quiser se envolver na Montgomery, nós vamos te apoiar. É só isso que eu quero dizer. Bo ergue o queixo, mas seu maxilar está tenso. — Tudo bem? — sinto necessidade de confirmar.

Ele deixa cair os ombros e estende a mão. Eu a pego, e ele me puxa para um abraço peito com peito, dando tapinhas nas minhas costas e fazendo a parte mole do meu cérebro gritar de agonia por causa do movimento rápido e forte. — Tudo bem, irmão. — Bo bate mais uma vez nas minhas costas e vejo estrelas. Inclinando-me para trás, eu me seguro no balcão. — Mais café? — ele pergunta. — Pode crer. Ele ri. — Conta de novo: como é que você não está de ressaca? — pergunto, voltando ao meu prato e me sentando. Skyler limpou o prato e está mordiscando outro pedaço de bacon. Essa garota é um saco sem fundo depois de uma noite de bebedeira. Eu aprendi isso da primeira vez que tomamos um porre juntos. — Eu não dormi nada. Estou cansado pra caralho! — ele diz, rindo. Franzo a testa. — Mas eu vi a Geneva no escritório, escrevendo feito louca. — Pois é. Seja lá o que vocês andaram fazendo na última semana, combinado com uma noite de sexo selvagem, despertou a inspiração dela e acabou com o bloqueio criativo. — Sério? — Meu peito se enche de esperança, e meu coração bate animado. Ele serve uma xícara de café e o prepara do jeito que eu gosto antes de colocá-lo na minha frente. — Sim. Da primeira vez, eu fiz a Geneva gozar duas vezes e fui tomar banho. Quando saí, ela estava escrevendo na mesa. Fiquei sentado lá, li um dos livros dela, até que ela quis outra rodada. Eu cuidei dela, e então ela voltou para o teclado. Foi assim a noite toda. Nos intervalos eu pegava comida e água, ela escrevia e depois a gente transava. Foi uma noite ótima. Agora eu quero dormir um pouco e depois encarar mais uma rodada. Ela é uma gata selvagem na cama, puta merda! Skyler ri e eu estremeço. — Não precisava dar tantos detalhes.

Então Geneva entra, desta vez vestindo um robe de seda até os tornozelos. — Está com fome, linda? — Bo pergunta. Ela sorri, vai até ele e toma sua boca em um beijo ardente. Tanto que Skyler e eu desviamos o olhar. — Sim — responde baixinho. — De comida? — ele indaga, com seu sorriso sexy. — Também. Bo rosna e morde seu pescoço até fazê-la rir feito uma boba. Quando os amassos chocantes — que eu provavelmente nunca vou esquecer — acabam, ele a solta e lhe dá um tapinha na bunda. — Sente ali. Tenho um prato quentinho para você. Geneva se senta à mesa e afasta o cabelo dos olhos. — Uau — sussurra para Skyler e balança a mão, como se tivesse tocado em algo quente. — Então... — falo, para evitar que ela prossiga. — Nós vimos que você estava escrevendo... — Meu Deus, sim! A noite toda, na verdade. Eu já sei o rumo da história e tenho uma ótima ideia de como acaba! Skyler e eu nos olhamos, e ela estende a palma da mão aberta para mim. Bato a minha na dela e depois nós dois com Geneva. Isso é coisa mais de Skyler que minha. — Que notícia incrível, Gen — Skyler comemora. A escritora fica vermelha. — É mesmo. E eu não... — Sua voz treme e lágrimas enchem seus olhos. — Eu sinceramente não acreditava que um consultor americano pudesse me ajudar com isso, mas foi o que vocês fizeram. Ver vocês dois juntos, colocar os meus personagens na história de amor que emana de vocês, fez tudo se encaixar. Ver os fãs, saber que eles não esqueceram de mim nem da história... — Ela sacode a cabeça. — Foi tudo muito revelador. Bo coloca um prato de comida na frente de Geneva. Ela leva a mão ao seu rosto quando ele se inclina para roubar um beijo, acaricia-o e sorri. — E uma noite com um garanhão como você... muito inspiradora. Ele sorri. — Viu? Eu disse — fala e olha para mim.

— Que rumo a história vai tomar, se você não se importa que eu pergunte? — quero saber, pegando a xícara e bebendo meu café. Geneva coloca uma mecha de cabelo atrás da orelha. — Bem, eu decidi dar uma apimentada nas coisas. Este livro vai ser erótico. Skyler fica de queixo caído. — Uau! — Tem certeza que os seus leitores não vão se preocupar com o aumento no nível de erotismo? Ela dá de ombros. — Com certeza eu vou ter que comunicar aos leitores, mas é o rumo que o casal vai tomar. O amor deles é intenso, sensual, quente como a sessão de fotos de ontem. Não posso mais deixar o fogo entre eles oculto nem deixar a trama suspensa. É hora de o amor deles amadurecer assim. E eles vão se casar. Nós três ficamos em choque. — No segundo livro, a Simone disse que jamais se casaria. Foi o que separou os dois no fim — Skyler observa, preocupada. Geneva anui. — É verdade. Ela tem medo de que o relacionamento com o Dean mude para pior, como aconteceu com a família dela e com o primeiro casamento dele. Isso influencia não só a opinião dela, mas a dele também, já que ele percebe isso como um fracasso. No entanto, a história que estou construindo agora vai ter um grande crescimento emocional, tristeza, angústia, amor, segundas chances, e o Dean e a Simone se acostumando com o fato de que não querem se separar. Eles precisam um do outro. Separados, são apenas metades do todo. O compromisso final é o que faltava no livro. Os dois estão chegando perto de saber o que querem. Eles não podem viver a vida no tempo roubado entre os filmes da Simone. Têm que tomar uma decisão final e escolher o amor acima de tudo. Ficamos calados enquanto o conceito da história de Geneva entra na cabeça de cada um e encontra uma conexão pessoal, em cada um por diferentes razões. Limpo a garganta. — Parece...

— Uma mudança de vida — Skyler completa. Eu não poderia concordar mais com ela. — Sim, de fato. Bo dá um beijo no topo da cabeça de Geneva. — Bom, eu sou a favor de sexo explícito. Vamos falar sobre essas cenas. Melhor ainda — ele passa as mãos pelos braços dela —, vamos encenar. Skyler e eu nos levantamos depressa. Graças a Deus o remédio está fazendo efeito na minha dor de cabeça. Agora é um rugido surdo, em vez de um estrondo. — Acho que isso significa que você precisa voltar ao trabalho, e o Parker e eu ao hotel — Sky diz. Geneva ignora a comida, levanta e cola seu corpo ao de Bo, seminu. — Tudo bem, então. Nós vamos indo. Vamos pegar nossas coisas e chamar o Nate. Seria bom tomar um banho quente e dormir um pouco — admito, cansado. — Estou dentro — Skyler concorda, indo até a escada. — Hum, a gente telefona mais tarde... — Quando me volto, o robe de Geneva já está aberto, a mão de Bo está no seio dela e a boca na sua. Deixando-os à vontade, subo a escada. Percebo que provavelmente é a última vez que estarei nesta parte da casa de Geneva. Pegando o corredor que sei que leva ao seu quarto, entro silenciosamente e vou até o banheiro. Abrindo a primeira gaveta, encontro toalhinhas. Na segunda, escovas de dentes, pasta de dentes, fio dental e afins. Na terceira gaveta... Bingo! Maquiagem. Pego um batom, abro-o e sorrio. No canto do espelho, pressiono o vermelho-pêssego na superfície e escrevo uma mensagem que, espero, a faça pensar. Quero que ela continue alimentando o que está dentro dela, e que não deixe nada nem ninguém fazê-la duvidar de si mesma ou de seu talento.

GENEVA, ALIMENTE A SUA ALMA.

COM AMOR, EU Uma vez terminado, coloco o batom de volta na gaveta e saio do quarto. Tiro o celular do bolso e ligo para Nate, que atende no primeiro toque. — Precisa de carona? — Sim. Quanto mais rápido, melhor. Ele ri. — Ainda bem que nós estamos aqui fora. Viemos logo cedo. — Vocês merecem um aumento. Vou para a escada pegar meus sapatos, meu paletó esporte e minha mulher. — É mesmo? Diga isso para a minha chefe — ele retruca com indiferença, mas posso ouvir o humor em seu tom de voz. — Sem problemas. Abro a porta do quarto de hóspedes e vejo minha garota curvada sobre a cama, sua bunda sublime exposta. Passo a mão nela e ouço um gritinho. — Vocês saem daqui a cinco minutos? — pergunta Nate. Passo a mão entre suas coxas e encontro minha garota molhada e ardente para mim. — Hum, melhor quinze... Skyler geme enquanto deslizo dois dedos para dentro de seu calor. Apoia as mãos na cama e eu largo o telefone. Ele cai no chão, em algum lugar, mas não me importo. Estou mais interessado em tirar a calça e liberar meu pau duro. — Na verdade, mais ou menos trinta — digo, olhando por cima do ombro e vendo o telefone piscar e a tela ficar branca, mostrando que a ligação terminou.

10

— Você faz milagres, sr. Ellis — diz Amy Tannenbaum ao telefone, cheia de gratidão. — A Geneva disse que adoraria se despedir de vocês, mas está no fundo da caverna escrevendo. Acho que ela vai terminar o livro nas próximas semanas. E isso, sinceramente, parece intervenção divina. Eu rio. — Bom, não vou dizer que não ajudamos, porque era óbvio que ela precisava recarregar as energias e redescobrir a própria magia, mas o trabalho é com ela agora. Nós só apresentamos a verdade para a Geneva. Ela já sabe que é melhor do que a antiga editora dizia. A história da série é épica, e os leitores estão totalmente comprometidos com ela e com a trama, qualquer que seja o rumo tomado. Ver a Skyler no papel talvez a tenha ajudado a dar forma ao enredo. Nunca se sabe o que vai tirar alguém da fossa. Acho que a noite de sexo sem culpa com Bo não fez mal também. — As fotos da capa ficaram incríveis. A Geneva me contou que escreveu dois capítulos baseados apenas nas fotos na chaise. Nós precisamos que você e a Skyler assinem a autorização de uso de imagem. — Sem problemas. Mande por e-mail para a minha assistente que nós assinamos e devolvemos quando chegarmos a Boston. Vamos para Paris hoje ver uma amiga antes de voltar para os Estados Unidos. — Eu adoro Paris. É a cidade do amor, de verdade. Se você vir a Sophie e o meu primo Gabriel, diga que eu pedi para virem me visitar em Nova York. — Pode deixar. Londres foi uma experiência maravilhosa. Nunca vamos conseguir agradecer o suficiente à Geneva por ter nos mostrado a cidade e compartilhado a vida dela. Eu vou pedir para a

Skyler falar com ela daqui a algumas semanas, ver como está indo. E, claro, da próxima vez que uma de vocês estiver em Boston, nós adoraríamos recebê-las para jantar. A minha família tem um bar fantástico, com o melhor sanduíche de porco desfiado da cidade — digo com orgulho. — Ótima ideia. Tenho certeza de que, quando a Geneva vier para este lado do oceano, vai querer entrar em contato. — Excelente. E agradeço por ter contratado a IG. Foi um prazer trabalhar com vocês. — Pego minha calça dobrada e a coloco em cima da pilha organizada em minha mala. — Igualmente. Vou pedir para os produtores entrarem em contato com a equipe da Skyler. A Geneva está decidida a ter a sua namorada interpretando a Simone. Engraçado, ela perguntou se você estaria interessado em fazer um teste para o Dean... Rio alto ao telefone. — Amy, eu sou um monte de coisas, mas ator não é uma delas. — Não tem vontade de ser? — ela pergunta, rindo. — Nem um pouco. Isso é com a Sky, e ela está ansiosa para interpretar o papel quando for a hora. Está radiante com a ideia. Disse que é exatamente o tipo de drama romântico que vem procurando para desafiar as próprias habilidades de atuação. — Vou cobrar para que entrem em contato com a agente dela. — Ótimo. Tenha uma ótima semana, e avise se precisar da nossa ajuda de novo. — Pode deixar. E obrigada mais uma vez, sr. Ellis. — E desliga. Skyler sai do banheiro carregando seus artigos de higiene pessoal. Lambe os lábios e para no meio do quarto. — Mudei de ideia. Franzo a testa. — Sobre ir à França ver a Sophie? Ela sacode a cabeça. — Não, sobre ficar na casa dela. Nós podemos ficar num hotel? Sorrio. Ela está parada mastigando o lábio inferior, preocupada. É um de seus tiques nervosos, e a última coisa que quero é que Skyler fique nervosa. Vou até ela. — Meu pêssego, nós não temos que ficar com a Sophie. Ela não se importa. Se isso vai te deixar desconfortável, ficamos num hotel.

Tem um lindo na esquina oposta ao prédio dela. Sem problemas. — Aliso seus braços e baixo a cabeça para olhar em seus olhos. Ela enruga o nariz. — Ela vai me achar uma tonta? Sacudo a cabeça. — A Sophie não vai ligar. Ela não fica procurando lógica em decisões como essa. Só está pensando no fato de que o amigo dela e a namorada vão lhe fazer uma visita. E ela precisa de mim agora. Vamos focar no motivo de passarmos por lá. Ela anui. — Tudo bem. Ótimo. — Vou pedir para a Wendy... quer dizer, para a Annie reservar um quarto para a gente. Desta vez Skyler cola o corpo no meu e passa as mãos em volta da minha cintura. — Você não está lidando bem com a ausência da Wendy. Aperto os dentes e estalo a língua antes de conseguir falar. — Estou odiando. Não parece certo ter outra pessoa no lugar dela. Você acha que o Michael vai conseguir convencê-la a mudar de ideia sobre voltar? Skyler bufa e sacode a cabeça. — De jeito nenhum. A Wendy é dedicada à equipe. Pode estar cem por cento comprometida afetivamente com o Michael, mas ela também ama vocês. E ama o trabalho. Além disso, ela é a melhor. Quando a pessoa encontra alguma coisa em que é boa e que adora, poucas coisas podem fazê-la se afastar. E a Wendy é forte. — Sim. Passo a mão no cabelo e abraço Sky com o braço livre. Ficamos assim por um longo tempo. — Vai dar tudo certo, você vai ver — ela diz, dando um tapinha na minha bunda e se afastando. — Está pronto? Coloco o carregador do celular e o nécessaire na mala e fecho o zíper. — Sim, senhora. Vamos ver a Sosso, colocar um pouco de juízo na cabeça dela.

Depois que fazemos check-in no hotel, do outro lado da rua da casa de Sophie, Nate e Rachel nos acompanham até lá. Estranho não haver paparazzi no aeroporto e nenhum deles ter nos encontrado ainda. Skyler passa o braço pelo meu e suspira. — Eu adoro Paris. Você acha que podemos fazer alguma coisa na cidade amanhã? — Sim, não vejo por que não. Bato e espero o mordomo atender à porta da minimansão de Sophie. Ele abre e nos cumprimenta com uma reverência. — É um prazer vê-lo, sr. Ellis. Sophie aparece no topo da escada e corre para baixo. Quando chega ao último degrau, se joga em meus braços. — Mon cher! — E me abraça com força. Seu rosto brilha de alegria quando se afasta e me dá dois beijinhos. Então puxa Skyler para abraçá-la. — Ma chérie, bonjour! — E repete a saudação com dois beijinhos. Skyler retribui o abraço, e a rigidez no corpo da minha garota desaparece. Se sentiu algum nervosismo ao ver a mulher com quem fiquei no passado, já sumiu. Sophie tem essa característica de trazer tranquilidade. É uma das coisas que eu adoro nela. — Venham, entrem. — Ela estende a mão para Nate e depois para Rachel. — Eu sou Sophie Rolland. É um prazer conhecer vocês. — Nate e Rachel Van Dyken. — Ele aperta a mão de Sophie e indica sua mulher. — Equipe de segurança da srta. Paige. — Ah, oui. Imagino que vocês têm que ser muito cuidadosos, não? — diz, olhando para Skyler. — Sim. O meu trabalho exige isso — ela responde. — Bom, a minha casa é como cabeça de mãe: sempre cabe mais um — diz Sophie com doçura, destruindo o ditado. Todos nós rimos. — Sosso, é coração de mãe — corrijo. Ela faz um beicinho e tamborila com o dedo nos lábios. — Vou me esforçar para lembrar da próxima vez. Venham todos. Eu tenho café e uns petiscos para nós antes de irmos jantar. Fiz reserva no Buddha-Bar. É fantástico. A iluminação é baixa, em tons

de vermelho e roxo. No centro, tem uma enorme estátua cor de cobre do mestre. Vocês vão amar! Os olhos de Sky se iluminam. — Faz tempo que eu quero ir lá! Fica do outro lado do Sena, um pouco abaixo do Louvre, certo? — Oui — diz Sophie com olhos distantes, suspirando. — O Parker me levou a um jantar especial no Louvre. Era uma exposição inédita de uma artista americana. Nós jantamos no meio da exposição. Foi fantástico. Recordo a ocasião com carinho, as pinturas de Georgia O’Keeffe, a conversa com Sophie sobre arte e vida. Foi o melhor encontro que já tive — até levar Skyler para passear em Nova York. — A gente se divertiu. Sorrio e olho para Sky, então descubro que ela não está sorrindo. Seu maxilar está tenso. Ela se afasta do nosso pequeno grupo e vai até a janela, abrindo a pesada cortina e olhando a vista. Sophie estremece quando nota que Sky se retirou da conversa. Eu sabia que a coisa seria estranha. Sophie e eu temos uma história. Skyler é meu futuro. Ambas são meu presente — Sophie como uma amiga querida e Skyler como minha mulher. Vai haver obstáculos no caminho para que sejamos todos próximos, mas para mim é importante encontrarmos um meio-termo feliz. — Vou pegar o café — Sophie anuncia e sai da sala. Vou até Skyler e envolvo sua cintura, apoiando o queixo em seu ombro. — Tudo bem? — Ãhã. — Eu sei que é estranho, mas quero muito que vocês duas sejam amigas. A Sophie é importante para mim, assim como você. E eu quero que as duas mulheres da minha vida, além da minha mãe e da Wendy, se deem bem. Você acha isso possível? Skyler suspira e dá meia-volta, colocando os braços em volta de mim. Ela observa a sala vazia, verificando se Sophie não voltou. — Não vou mentir e dizer que não é difícil para mim saber que vocês já foram um casal. Sacudo a cabeça.

— Nós nunca fomos um casal, só tivemos uma relação física durante algumas semanas, só isso. Você e eu estamos juntos há vinte vezes mais tempo. — Esfrego o nariz no dela. — É importante destacar que eu escolhi você. Você é o meu futuro. E a Sophie é o meu passado. Nós dois já deixamos isso para trás, e eu espero que você também consiga. Ela assente. — Eu vou conseguir. É que às vezes eu lembro que ela teve você daquele jeito. — Não, a Sophie nunca me teve do jeito que você tem. Ela teve o meu corpo por um tempo muito curto. Você tem o meu coração e a minha alma. Além do mais — beijo seus lábios com suavidade —, eu te amo. Sou apaixonado por você, e isso não vai mudar. Ela sorri, pega meu rosto e me beija com força. — Eu vou superar. — Essa é a minha garota. — Levanto seu queixo e a beijo de novo, enquanto Sophie volta para a sala. — Ah, Deus. Eu posso sair e voltar daqui a pouco. — Não, Sophie, tudo bem. É que eu não consigo manter as mãos e os lábios longe da minha namorada. Sophie leva as mãos ao peito. — Estou tão feliz por vocês dois. É a deixa perfeita para falarmos sobre o motivo de estarmos em sua casa. — Você também tem isso com o Gabriel. Já falou com ele? Seu sorriso desaparece e ela limpa a garganta. — Ele está no mesmo hotel que vocês. Se recusou a tirar suas roupas do meu closet. Disse que vai deixar tudo aqui até eu o aceitar de volta. Teimoso. — Para mim, parece um homem apaixonado fazendo o que for preciso para ter a sua garota de volta. A questão é: Você vai ceder? Vai se arriscar por ele, como ele está se arriscando por você? Sophie se acomoda no sofá e serve o café. — Não sei. Eu só tenho pensado no que você me disse. Sua mão treme ao entregar uma das xícaras a Skyler, que a pega e senta ao lado dela. Uma mulher sofrendo é como um ímã para o coração mole de Skyler.

— Sosso, você ama o Gabriel? — Oui. Muito. — Seus olhos se enchem de lágrimas, mas ela endireita a coluna e respira fundo, como se estivesse empurrando o turbilhão emocional para longe com sua força de vontade. Skyler pousa a mão no joelho dela. — É normal ter medo. Abrir mão da sua individualidade, se comprometer com uma pessoa, é uma mudança radical na vida. Quando é alguém por quem você está apaixonada, mais ainda. Sophie dá um tapinha na mão dela. — Eu quero tentar, mas não sei como consertar o que já estraguei. Skyler franze as sobrancelhas. Todo o seu corpo parece assumir a tristeza de Sophie como se fosse sua. — O que você acha, meu bem? — pergunta para mim. Eu me inclino para a frente, já sentado no sofá, e junto as mãos. — Acho que devíamos ligar para o Gabriel e convidá-lo para jantar. — Convidar assim, do nada? — Sophie pergunta. Eu rio. — Não. Diga que você recebeu convidados de surpresa e gostaria de transformar o trio em um quarteto. Peça para ele nos encontrar no Buddha-Bar para jantar. Vamos começar por aí. Sophie esfrega as mãos. — E se ele não puder ir tão em cima da hora? — Sosso, eu odeio dizer isso, mas você é muito sem noção. O cara te pede em casamento, se recusa a tirar as coisas pessoais dele da sua casa e reserva um quarto no hotel do outro lado da rua para poder ficar perto de você. Sophie, ele vai largar tudo para estar disponível quando você ligar. Pode acreditar. Eu tenho certeza disso. — Como você pode ter tanta certeza? — ela pergunta com a voz mais suave e estremece. — Confie em mim. Eu sei o que um homem está disposto a fazer por amor. Ele vai.

O Buddha-Bar tem uma vibe sombria e misteriosa. O proprietário nos recebe na porta e nos guia por entre os clientes na fila de espera até uma parte isolada, acima do salão principal. Eu me volto para Nate, cujo rosto é uma máscara sinistra de desconforto. Ele e Rachel seguem Skyler até o ventre do restaurante. — Você providenciou isso? — pergunto a ele, referindo-me à nossa entrada imediata. — Não. Já estava tudo arranjado quando eu liguei. A srta. Rolland deve ter cuidado de tudo. Quando chegamos à área privada, um homem que reconheço vagamente se levanta de maneira abrupta, ajeita o paletó e puxa uma cadeira. Tem cabelo loiro-escuro cheio, queixo esculpido e usa óculos de aro preto sobre os olhos azuis. Ele parece ser uns cinco a dez anos mais velho que Sophie, mas é elegante e atraente. Eles são definitivamente yin e yang, a escuridão e a luz um do outro. Sophie sorri com timidez, me fazendo recordar a mulher que conheci muitos meses atrás, que não tinha autoconfiança nem poder de sedução. Nada disso é problema mais, mas sua doçura voltou com força total. Nestes meses desde que deixei Paris, Sophie mudou para melhor. Está mais forte, direta, não é mais retraída. Mas posso dizer que esse homem desperta algo de recatado nela. — Bonsoir, Gabriel — ela o cumprimenta. Ele só tem olhos para Sophie. Mal dirige um olhar para nós e pousa as mãos ao redor do pescoço e da cintura dela, puxando-a para um abraço. — J’ai rêvé de ton appel. — Ele sussurra algo mais no ouvido dela, algo que parece ousado, e lhe dá um beijo no pescoço antes da saudação padrão na França: dois beijos no rosto. Se não me falha a memória, ele disse algo do tipo “Eu sonhei com a sua ligação”. — Por favor, fale inglês. Os nossos convidados são americanos. — Como vão? — ele cumprimenta, com um forte sotaque francês, enquanto estende a mão para mim e inclina a cabeça. — Eu sou Gabriel Jeroux. Sorrio e aperto a mão do homem. — Parker Ellis, e minha namorada, Skyler Paige.

Ele não arregala os olhos ao ouvir o nome de Skyler. Ou consegue disfarçar a surpresa por conhecer uma das celebridades mais famosas do mundo, ou ainda não fez a conexão. Prossigo: — Já nos conhecemos brevemente. Você é químico no Grupo Rolland, certo? — Oui. Foi assim que eu conheci a minha Sophie. — Pousa a mão na cadeira dela. — Por favor, sentem-se. Enquanto nos acomodamos, Gabriel olha para Nate e Rachel, que flanqueiam a mesa privativa — ele de braços cruzados, ela com as mãos às costas. — Quer que eu peça cadeiras para os seus amigos? Não sei por que estão parados como se fossem guarda-costas. Skyler ri. — Eles não vão sentar mesmo se nós convidarmos. São meus seguranças. Uma garçonete se aproxima e fala das bebidas da noite e das especialidades do chef. Começamos pedindo vinho, drinques e aperitivos. — Skyler, é isso? — Gabriel pergunta. — O que você faz? Sophie e eu rimos alto. — Isso é tão revigorante. Sabe, já gostei de você, Gabriel — Skyler diz, abrindo um de seus sorrisos de megawatts. Ele dá um tapinha no peito, ajeitando a gravata. — Obrigado pelo elogio. Sophie pousa a mão na coxa de Gabriel, que olha para baixo e depois para ela. — A Skyler é uma atriz muito conhecida. Ele pisca algumas vezes. — Ah, sim? Fez algo que eu possa ter visto? Dessa vez eu gargalho. — Você realmente não a reconhece, né? — digo, me reclinando e pousando o braço no encosto da cadeira de Skyler. Gabriel sacode a cabeça. — Sinto muito, não. — Ele franze a testa e fica vermelho, imagino que constrangido. — Mas tenho certeza que isso não significa que você não seja boa. Eu não vou muito ao cinema, ou melhor, nunca

vou. Estou sempre no laboratório ou com a Sophie, quando possível. Skyler segura minha mão, no encosto da cadeira dela. — Tudo bem, é bom não ser reconhecida. — Você é reconhecida com frequência? Ela sorri. — Posso dizer que o suficiente — responde, fazendo pouco de seu sucesso e status. — Me conte o que você faz no Grupo Rolland. Os olhos de Gabriel se iluminam de entusiasmo. — Eu ajudo o meu amor na criação de aromas únicos. Sou perfumista. Mas o seu é uma mistura que eu não reconheço. Parece pêssego... e... — Chantili — acrescento, levando o nariz ao pescoço dela e inalando fundo. Um forte arrepio de tesão percorre meu corpo. — É o meu cheiro favorito no mundo. Gabriel se inclina em direção a Sky. — É um perfume? — Pega o pulso dela e o leva até o nariz. — Posso? Skyler ri. — Claro. Mas não é perfume. Acho que é só a combinação do meu sabonete líquido, xampu e hidratante. — E da sua essência natural. O meu nariz é capaz de detectar as diferenças sutis de cada aplicação ou produto de beleza — ele anuncia. — O Gabriel é conhecido por ter os melhores receptores olfativos do ramo. Muitos concorrentes tentaram roubá-lo de mim, mas, infelizmente para eles, ele ficou. — Sophie sorri, orgulhosa, para o homem que só tem olhos para ela. — Eu fiquei por você, mon amour — ele declara, sério. — Eu vivo por você. Skyler recosta seu corpo no meu. — Ela vai dar luz verde para ele, não vai? — sussurra, conspiratória. Levo o dedo a seus lábios e aponto para eles. Sophie e Gabriel estão de mãos dadas, se olhando. O cabelo escuro e comprido cai nos ombros dela, escondendo um pouco seu rosto. Prendo a respiração, esperançoso.

— Gabriel... — Sua voz é trêmula, o que, nessa situação, é um bom sinal. Ele a interrompe: — Eu só quero estar com você sempre, mon amour. Por favor, posso voltar para casa? O queixo de Sophie treme e ela anui. — Oui. Eu me senti tão sozinha sem você. Skyler observa o casal e enxuga os olhos. Sinto um nó na garganta e meu coração acelera. Nós estávamos em situação semelhante há poucas semanas. Isso só prova que, quando existe amor, sempre existe um jeito. — Você nunca vai ficar sozinha. Você tem a mim, tudo de mim. Até o seu último suspiro — ele promete. — Je t’aime, Gabriel. — Sophie toma o rosto dele entre as mãos e o beija. Skyler aperta minha mão e a leva aos lábios para beijá-la. Então pousa minha palma em sua bochecha, sem tirar os olhos da demonstração romântica diante de nós. — Isso significa que você vai se casar comigo, mon amour? — O foco de Gabriel está inteiramente em Sophie. Ela se afasta e ri. — Uma coisa de cada vez. Vamos viver esta fase sem pressa. Ele sorri. — Se esse é o seu desejo, eu vou te esperar para sempre, se for preciso. Sophie o beija com doçura mais uma vez. Depois olha para o nosso lado da mesa, onde Skyler e eu estamos em silêncio assistindo. — Onde estão as bebidas, afinal? — pergunta, enquanto o rubor sobe de seu pescoço até as bochechas. Sky e eu rimos, tentando quebrar a tensão para que eles não se sintam expostos — embora estejam. Cuidadosamente, estendo a mão por baixo da mesa e pego a de Sophie, apertando-a. — Estou orgulhoso de você. Ela sorri e aperta a minha também, soltando-a em seguida.

Skyler

Parker balança minha mão enquanto caminhamos pela área de Saint Germain, em Paris. Rachel e Nate estão nos seguindo, mas até agora não vimos indício algum de paparazzi. É como se tivéssemos saído do radar deles, e tenho de admitir que é maravilhoso! — E ali? — Parker pergunta, apontando para uma butique feminina. Franzo o nariz e balanço a cabeça. — Não. Não estou no clima de comprar roupas. — Como? Isso é inédito. — Na verdade, não. Eu não gosto muito de comprar roupas, mas adoro acessórios. Balanço seu braço um pouco mais e sigo para a faixa elevada para atravessarmos a rua. Caminhamos pela Rue Dauphine, não muito longe da Catedral de Notre-Dame. O sol brilha, mas o ar está frio, o que me faz apertar meu suéter no pescoço. — Um cachecol cairia bem. Passamos o Hôtel d’Aubusson e chegamos a uma área lotada de restaurantes e mais lojas. Noto uma banca cheia de echarpes na frente de uma lojinha com uma vibe meio artística. Paro em frente à loja e passo a mão nos tecidos, apreciando a textura de cada um. Parker solta minha mão e olha pela janela. — Vou comprar uma echarpe para mim. Ah, e para a Wendy, a Tracey e talvez para a sua mãe. — Viro e espero Rachel olhar para mim. — Quer uma echarpe de lembrança? Ela observa sua calça cargo preta, os coturnos de mulher durona com tachas nos saltos e a jaqueta de couro preta, depois sorri. — Acho que não combina com o meu visual. Franzo os lábios e olho para ela.

— É, tem razão. Ela sorri e se afasta, andando ao redor enquanto pego alguns lenços e os abro para poder ver melhor as estampas. — Vou dar uma olhada lá dentro — Parker avisa, pegando a maçaneta da porta e entrando. — Legal. Eu já vou. Coloco uma echarpe vermelha, azul e marrom em volta do pescoço. Seria perfeita para a mãe de Parker. A seguir, escolho uma amarelo-canário, branca e preta para Wendy. A garota curte combinar padrões e cores fortes, e tenho certeza de que vai gostar dessa. Escolho uma rosa e preta, linda, para Tracey, que ela pode usar com seu elegante sobretudo preto em Nova York. Depois encontro uma legal, laranja, roxa e azul-royal, que combina com meu jeans e meu suéter, e ponho ao redor do pescoço também antes de entrar. A loja tem uma grande variedade de pinturas, esculturas, bugigangas e outras mercadorias que imagino que os turistas devem adorar. Mas tudo parece artesanal, não comprado em grandes quantidades para vender em massa. Encontro Parker no fundo da loja apontando para umas tiras de couro. Cada uma é diferente da outra. Algumas têm um colchete na ponta, ou uma fivela, e são de larguras variadas. — O que você está olhando? Ele sorri. — Lembra que eu disse que ia tatuar o meu mantra no pulso? — diz, com os olhos azuis brilhando. Dou uma risadinha e o abraço por trás, olhando para as faixas de couro. — Sim. — Bom, obviamente eu estava brincando... — Ãhã. — Mas acho legal usar alguma coisa com o meu mantra. Torço os lábios e pego uma faixa de couro. Parece uma pulseira. Tem uns vinte centímetros de comprimento e um colchete como fecho. É marrom-avermelhada, com três ilhoses em cada ponta e um espaço vazio no centro. Deve ter um centímetro de largura.

Atrás do balcão há um velhinho trabalhando em uma máquina que faz um barulhão. Depois ele vai até Parker, soprando uma tira de couro que tem na mão e esfregando-a entre os dedos. Coloca a pulseira no balcão, e sinto meu coração parar. No centro da tira há quatro palavras: CONFIE NO SEU CORAÇÃO — Uau — suspiro e passo os dedos pelo couro gravado. — Ele acabou de fazer isso para você? É incrível. Parker abre um sorriso largo, pega a pulseira e prende em volta do pulso. É tão descolada, tão moderna, tão... tudo. — Você colocou as minhas palavras no corpo, meu bem? — Seguro sua mão e admiro o gesto mais incrível que ele já fez, além de dizer que me ama. — Sim — ele responde, com orgulho e amor. Franzo a testa. — Eu também quero uma com o meu mantra! Mas eu quero... Ahhh! Vejo uma tira de couro da mesma largura que a dele, mas preta em vez de marrom. Tem flores e folhas em cada ponta, como se tivessem sido entalhadas no couro, de um marrom-claro que contrasta com o preto. É uma bela mistura de cores. — Com licença, senhor. Pode gravar outra frase nesta? — Oui. Como quiser. — Eu quero gravar na minha, em letras de forma: “Viva a sua verdade”. Ele assente, pega a pulseira de couro debaixo do balcão e vai até a máquina. — Ah, quando terminar, eu vou levar estas quatro echarpes também! Tiro os lenços do pescoço e deixo no balcão. Fico dando pulinhos, o entusiasmo correndo em minhas veias como se houvesse formigas na minha calça. Parker passa o braço pelos meus ombros e me puxa. — Isso é muito romântico. Sorrio e levanto o queixo enquanto ele olha para mim.

— Eu vou usar o tempo todo. Ele me beija e se afasta. Juro que, quando ele me beija assim e me olha nos olhos tão profundamente, parece que somos as únicas pessoas no mundo. Eu me apaixono mais a cada vez que ele me olha com esse fascínio. — Eu também. Assim, quando não estivermos juntos, vou ter um lembrete do meu amor por você bem aqui no meu pulso. — Você sabe que os meninos vão rir até de você — digo, dando uma risadinha. Ele fecha os lindos olhos azuis por um instante. — Eu sei, mas vale a pena. — Pronto. — O homem atrás do balcão acaba com o clima entregando o pedaço de couro para que eu veja. — Ficou linda. — Passo os dedos pelas palavras que significam tudo para mim. VIVA A SUA VERDADE Parker coloca a pulseira em mim e passa o polegar sobre ela. Levanta minha mão e beija as palavras no meu pulso. — Fica ainda mais bonita em você. Cutuco seu ombro e rio. — Bico-doce. Ele ri. Pago minhas compras e logo Parker e eu estamos de volta às ruas do bairro de Saint Germain. Levo-o por uma rua que conheço bem até meu lugar favorito para comer na França. Bem, minha pizzaria favorita. Parker ergue as sobrancelhas ao ver a Pizzeria Pépone. É um lugarzinho capaz de acomodar só umas quinze pessoas de um dos lados. Do outro, o pizzaiolo fica girando a massa, assando as pizzas e cozinhando as massas feitas na hora. — Skyler! — O proprietário abre os braços e eu solto Parker para abraçá-lo. Ele sorri. — Você voltou! — Eu disse que, toda vez que viesse à França, viria comer a minha pizza favorita.

Ele nos leva a uma mesa, de onde ainda podemos ver as pessoas andando na rua. — Você vem sempre aqui? — Park sussurra no meu ouvido. Assinto e mordo o lábio inferior. — Quando estou em Paris, sim. É a melhor pizza da Europa. Ele afasta a cadeira para mim antes de se sentar. — Você é perfeita. Suas palavras me provocam um friozinho na barriga. — Perfeita? — repito. — Bom, perfeita para mim. Posso sentir a vermelhidão correndo por minha pele aquecida. — Acho que vou aceitar o elogio, já que você é perfeito para mim. Meu celular toca no bolso de trás da calça. Pego-o e vejo que é uma mensagem. Olhando para a tela, franzo a testa. Achei que fôssemos amigas. Amigas contam tudo uma para a outra.

— Que foi? — Parker pergunta enquanto o dono traz meu vinho favorito. É um borgonha que eles sempre têm disponível quando venho — nos últimos anos, pelo menos uma dúzia de vezes. Sacudo a cabeça e uma sensação desconfortável ocupa o lugar do friozinho na barriga. — Não sei. Que estranho, olha. Entrego o aparelho para ele, que lê e franze a testa. — Número desconhecido. Não está nos seus contatos. Será que foi engano? — Acho que sim. Provavelmente — digo, passando a mão pelo cabelo. Ele tamborila no telefone. — Esquisito. Há uma semana eu também recebi uma mensagem de um número desconhecido. Uma inquietação me arrepia a nuca, mas tento não pensar nisso. — Hum... Parker levanta.

— Sirva o vinho e peça para mim a mesma pizza que você for comer, por favor. Vou deixar o seu celular com o Nate para ele investigar. — Você não acha exagero? É só uma mensagem. — Duas, contando com a minha. — Você está... — Talvez, mas é melhor prevenir que remediar, certo? Dou de ombros. — Como quiser, gato. Mas volte logo. Eu quero brindar à nossa última noite em Paris antes de voltarmos para casa. Ele se inclina e passa dois dedos pelo meu rosto até chegar ao queixo. Levanto a cabeça e ele me beija brevemente antes de percorrer os três metros até onde Rachel e Nate estão esperando sua pizza, sentados à mesa bem perto da saída, de onde podem ver tudo. Vejo Parker passar meu celular a Nate e dizer alguma coisa. Então o dele deve ter tocado, porque ele o tira do bolso e leva ao ouvido. Seu rosto se ilumina, e fico me perguntando quem será. O proprietário vem à mesa e eu peço duas pizzas margherita, divinas. Parker sorri enquanto volta e se senta. Nossa, adoro vê-lo de jeans justo e suéter. Ele é um gato, um cara pé no chão, empresário bem-sucedido, amante habilidoso, tudo em um só. Minha vontade é lamber seu pescoço, enfiar a mão em sua calça e transar com ele bem aqui, sem constrangimentos. Ele me incendeia de desejo. — Sim, Roy, entendi. Tudo certo. Mas primeiro duas semanas em casa. É isso aí! — diz ele, feliz. — Não sei se ela vai viajar. Vou descobrir. Se estiver indo para Nova York, eu posso ir com ela e levar o meu notebook. Sorrio quando ele termina a ligação e deixa o celular na mesa. — Você tem duas semanas livres? — pergunto. — Isso mesmo. E, dependendo dos seus compromissos, pensei em passarmos uma semana em Boston e uma em Nova York. Eu sei que você tem que fazer a divulgação do filme em Nova York. — Tenho. Seria perfeito. — Então está resolvido. A minha mãe já planejou um jantar caseiro para nós quando voltarmos.

— É mesmo? — digo. — Sim, meu pêssego. Ah, e o meu pai pediu para você autografar algumas coisas para leiloar num evento de caridade que ele e a minha mãe fazem na biblioteca local. Se você não se incomodar. — Claro que não. Fico feliz em ajudar. E em fazer uma doação também. — Ótimo! Ah, o Roy e o Bo querem desafiar você para um jogo de sinuca no Lucky’s. Ainda estão putos por você ter ganhado da última vez. E, se você não se importar, eu queria passar na casa da Wendy e do Michael também, para ver pessoalmente como ela está. — Ele lista as coisas que precisamos fazer quando chegarmos em casa. Casa. Lar. É um termo estranho desde que meus pais morreram. Minha cobertura em Nova York é confortável, a decoração é a minha cara, mas não é um lar. É o lugar onde eu fico quando não estou filmando. Estar com Parker, seus amigos, sua família, Boston... tudo isso parece um lar de verdade. Parker sorri, penetrando fundo meu coração e me aquecendo. Pego sua mão por cima da mesa e entrelaço nossos dedos. Nossas pulseiras ficam ótimas sob a iluminação suave do restaurante. Estar sentada aqui, segurando a mão do meu namorado, planejando voltar para Boston e fazer um jantar em família, um leilão de caridade para o trabalho da mãe dele... Parece tão certo, tão... normal. Ergo minha taça de vinho e Parker me acompanha. — A que nós vamos brindar? — ele pergunta. — À volta para casa. Bate a taça na minha e bebe, olhando só para mim. — À volta para casa.

Uma gravadora de Madri contrata a International Guy para transformar Juliet Jimenez, uma menina com voz de anjo, em uma pop star sexy e poderosa. O cliente quer os mesmos resultados que eles obtiveram no desfile de moda em Milão, de modo que Parker aciona o mestre do sexo... Bogart Montgomery. Com os planos para a filmagem da série Classe A evoluindo, Parker sugere que Skyler viaje com eles. Sua inclusão no trabalho se revela fundamental para um bom resultado. Enquanto isso, uma antiga cliente da agência faz uma visita surpresa. No penúltimo volume da série, encontramos os amigos devastados pelos acontecimentos recentes. Amizades destruídas, membros da equipe em condições críticas, e a ameaça a Skyler e Parker nunca foi tão real. Mesmo assim, uma situação leva dois membros da agência ao Rio de Janeiro, onde o amor, a honra e a família ganham precedência. E, bem quando pensamos que já está tudo solucionado, descobrimos que alguns relacionamentos são mais deturpados do que poderíamos imaginar. Algumas verdades podem libertar... ou acabar com tudo de uma vez. No último passo da jornada de Parker e Skyler, a agência aceita um trabalho que considera fácil em Los Angeles. Uma produtora influente e absurdamente sexy está criando uma versão mais moderna daqueles programas de namoro na TV. A equipe da IG é chamada para ajudar a escolher os melhores casais a fim de deixar o programa engraçado, sedutor e quente e torná-lo um campeão de audiência. O que eles não sabem é que tudo isso é um grande esquema para colocar Parker sob os holofotes, como alvo dos desejos mais loucos de uma linda mulher.

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Também de Audrey Carlan Série A GAROTA DO CALENDÁRIO Volumes de Janeiro a Dezembro Série TRINITY Corpo Mente Alma Vida Destino

Tradução Sandra Martha Dolinsky

1ª edição Rio de Janeiro-RJ / Campinas-SP, 2019

Editora Raïssa Castro Coordenadora editorial Ana Paula Gomes Copidesque Lígia Alves

Revisão Cleide Salme Capa, projeto gráfico e diagramação da versão impressa André S. Tavares da Silva Juliana Brandt Foto da capa Spectral-Design/Shutterstock (homem) Título original International Guy

London, Berlin, Washington

ISBN: 978-85-7686-756-2 Copyright © Audrey Carlan, 2018 Todos os direitos reservados.

Tradução © Verus Editora, 2019

Direitos reservados em língua portuguesa, no Brasil, por Verus Editora. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da editora.

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À equipe da Ullstein Verlag. Obrigada por compartilhar seu lindo país comigo. De castelos antigos e salas com milhares de conchas à saborosa cerveja alemã e o histórico Muro de Berlim... Eu nunca vou esquecer o tempo que passamos juntos.

SUMÁRIO Skyler 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Skyler

Skyler

Sinto um arrepio correr pela espinha antes que seus lábios quentes toquem meu pescoço. Essa leve sensação desliza pelo meu ombro até que, naquele sussurro de tempo entre o sono e a vigília, seus dentes afundam em minha pele, atingindo um ponto que me faz rir. — Hora de levantar, meu pêssego. — Parker funga em meu pescoço, mordiscando, enquanto segue em direção ao outro lado do meu corpo, para que não se sinta negligenciado. Adoro essa sua necessidade de simetria. Equilíbrio em tudo. Na verdade, eu adoro muitas coisas nele: ser acordada por lábios e toques suaves, e não pelo grito estridente de um despertador. Meu namorado desperta com o amanhecer, a menos que tenhamos enchido a cara na noite anterior. É como se a luz do sol entrasse no quarto, caísse sobre seu belo rosto e o acariciasse gentilmente, da mesma forma que ele faz comigo. Só que Parker é inteligente. Tem café pronto e palavras gentis para acompanhar seu ataque feito para me acordar. — Eu trouxe café — ele diz. Viu? O melhor homem do mundo. Com uma súbita explosão de energia, rolo na cama e o envolvo com os braços e as pernas, puxando-o para cima de mim. Seu corpo é quente, e ele cheira a café e hortelã. Já deve ter escovado os dentes. — Humm — suspiro ao sentir seu calor envolvente. Sempre me pergunto como os homens conseguem estar tão quentes o tempo todo. Parecem aquecedores, prontos para funcionar a qualquer momento. — Você precisa levantar. Já te deixei dormir mais vinte minutos, e quero mesmo ir até a casa da Wendy. Faz muito tempo que não a

vejo, e tenho de admitir que isso está me fazendo mal. — Ele se senta e eu o acompanho. Com a cabeça em seu pescoço, anuo. — Para mim também. Tudo bem que nós conversamos com ela dia sim, dia não, mas você tem razão: ao vivo é melhor. Vou me arrumar rapidinho. Ele me dá um beijo na bochecha, pega meu rosto com as mãos e me dá um belo beijo de bom-dia. Quase me desmancho. Meu coração acelera, e sinto um friozinho na barriga. Toda vez. O tempo todo me vejo fascinada por ter esse homem na minha vida. Só o jeito como ele me olha, como se eu fosse feita de ouro, coberta de rubis e diamantes, já é suficiente para fazer uma garota chorar. Isso, sem contar o fato de eu nunca precisar fazer meu café quando estamos juntos, além de ele me deixar usar o chuveiro primeiro para que eu pegue a água quente — a menos, claro, que a gente economize tempo e tome banho juntos —, faz dele o homem perfeito para mim. Ainda estamos avançando aos poucos e conhecendo as particularidades um do outro, mas, quanto mais tempo passo com ele, mais as coisas melhoram. Aprofundo o beijo e deixo o cobertor cair entre nós, expondo meus seios colados em seu peito nu. — Sky... Seu tom é meio de advertência, pois eu o empurrei de costas na cama para poder montá-lo. Sem muito empenho, ele tenta me dominar, depois me deixa assumir o controle, e eu pressiono meu corpo nu contra a calça de seu pijama. Subo a língua pelo seu pescoço e desço. Ele pega minha bunda e pressiona seu membro duro em meu centro. — Para ganhar tempo, que tal um banho juntos? — sugiro, mordendo seu mamilo. Ele suspira. — Você está jogando sujo. Sorrio, sabendo que ele vai ceder. Seu pau está duro como um taco, pronto para a ação. Esfrego minha virilha na dele, meu clitóris em seu membro, até saber que estou pronta para uma trepada rápida e selvagem na parede do box.

Ele me pega pelo traseiro e nos levanta juntos. Não teve problemas com o ombro desde que voltamos, e seus dedos estão finalmente curados. Chega de socar paredes. Com certeza. Passo as pernas em torno de sua cintura e os braços em volta de seu pescoço. — Eu amo as manhãs com você — digo, apertando as coxas com mais força para que sua ereção provoque um pouco mais de atrito. Ao chegar ao banheiro, ele me segura mais forte com um braço ao redor das minhas costas enquanto abre a água quente. Então abaixa sua calça de algodão, regula a temperatura e nos coloca debaixo do chuveiro. Sinto pingos quentes caindo nas costas enquanto me acostumo à temperatura da água. Os lábios de Parker deslizam no meu pescoço e eu jogo a cabeça para trás. O vapor sobe ao nosso redor enquanto ele me pressiona contra a parede azulejada, com uma mão debaixo da minha bunda e a outra no meu queixo, virando meu rosto para poder devorar minha boca. Eu já conheço alguns dos movimentos sexuais de Parker. Antes de entrar em mim, ele gosta de tomar minha boca, lambendo profundamente, mordendo meus lábios até eu gritar. E então ele entra, suavemente ou dura e profundamente, dependendo do seu humor. Parece que a urgência está dominando sua “fera” agora, e ele me penetra com uma investida firme. Eu gemo e aperto as pernas, deixando a sensação de estarmos encaixados me percorrer em ondas de prazer e êxtase. Ele passa os lábios pelo meu pescoço, mordiscando, e vai descendo até alcançar um dos seios. Chupa forte, alternando entre morder e agitar impiedosamente o bico macio. Ele sabe quanto meus seios são sensíveis e usa isso a seu favor o máximo que pode... ainda bem! — Meu bem... — Cravo as unhas nas costas dele, provavelmente deixando marquinhas em forma de meia-lua. — Mais. Por favor, mais. Ele sorri com a boca no meu seio e chupa com força antes de soltá-lo com um som audível. — Quer que eu te coma com força, baby? Quer que eu te faça me sentir entre as pernas... — ele pergunta, passando o nariz pelo meu pescoço até a orelha — o dia inteiro? Humm, você gosta disso?

Ele tira seu membro até a pontinha e entra de novo, até que bato os dentes e meu sexo se contrai, apertando, segurando, se preparando para a forte investida. — Sim... — Suspiro quando ele faz de novo, mas desta vez ele sobe com a mão pelas minhas costas para apoiar minha cabeça e protegê-la da parede. — Lembre que foi você que pediu. Ele morde meu ombro e aproveita que a parede escorregadia me ajuda a subir e descer em sua ereção, como um jóquei correndo na pista montando um cavalo em alta velocidade. Ele é o cavalo, no caso. O prazer ruge em minhas veias enquanto a cabeça bulbosa de seu pau toca cada nervo meu. Seu osso pélvico esmaga meu clitóris a cada investida. O calor do espaço fechado faz cócegas em minha pele. Uma sensação avassaladora de paz, felicidade e amor puro preenche cada um dos meus poros. — Nossa, como eu te amo — ele sussurra, apertando os dentes. — Adoro foder com você. Eu nunca me canso. — Ele acompanha suas palavras com uma investida brutalmente profunda, me provocando um orgasmo prolongado, aquele do qual as mulheres sempre falam, mas nunca experimentam. Só Parker consegue, toda vez. — Eu te amo. Eu te amo. Eu te amo — repito várias vezes enquanto ele bombeia para chegar ao fim. Ele jorra dentro de mim de um só fôlego e solta um grito de guerreiro que ricocheteia nas paredes do banheiro. Crava os dedos em minha pele, me segurando firme, me colando a ele, como se nunca mais fosse me soltar. — Caramba, você acaba comigo, Skyler. Sorrio preguiçosamente enquanto ele arfa sobre a minha pele, sobe beijando meu pescoço até alcançar meus lábios, onde sela seu amor por mim com um beijo. Parece brega, mas, quando faz isso, é como se estivesse me agradecendo por estar com ele, por amá-lo. — Tomar banho com você é demais! — digo.

Sorrio enquanto ele ri com a boca na minha e me levanta, nos desconectando. Sinto uma leve dor quando ele sai de dentro de mim e me ajuda a ficar em pé. Então me leva para debaixo do chuveiro. Enquanto lavo o cabelo, vou checando meu corpo. Minhas coxas estão queimando. Ombros cansados, mas poderia ser pior. Parker põe um pouco do meu gel de banho nas mãos, esfrega-as e se ajoelha. Pega uma perna minha de cada vez e a ensaboa meticulosamente. Enquanto ele passa as mãos pelos meus músculos, eu os sinto doloridos. Dois dias sem fazer nada além de dormir, comer e transar fazem isso com uma mulher. Não que eu esteja reclamando. De jeito nenhum. Parker passa a mão ensaboada entre minhas pernas e eu me encolho com a pontada de desconforto. Ele esfrega os dedos entre minhas coxas, lavando o resultado do nosso amor. — Está dolorido? — pergunta, sorrindo com cara de louco, como se fosse essa sua intenção. — Sim. Está orgulhoso? Ele sorri, pega mais gel e passa as mãos sobre a minha barriga e os meus seios, lavando-os e atiçando meu desejo mais uma vez. Quando chega aos mamilos, uma leve dor me faz lembrar quanta atenção ele deu aos gêmeos nos últimos dois dias — ou melhor, semanas, se contarmos Montreal, Londres, Paris e o tempo que passamos em Boston. — Dói? — Ele dá um puxão em cada mamilo e eu tento não estremecer, mas não consigo evitar. Então franze os lábios, baixa a cabeça e beija suavemente cada ponta vermelha. — Desculpe — diz para cada seio, não para mim. Ponho a mão na testa dele e o empurro. — Para, seu maníaco. Ele ri e pega seu sabonete enquanto passo xampu e condicionador no cabelo. — Você avisou o Nate e a Rachel para estarem prontos às nove? — pergunta. Assinto e enxáguo o condicionador. — Sim. O Nate ficou feliz, porque fez uma ronda ontem à noite e não gostou do bando de paparazzi acampado na frente do prédio. Parker franze a testa.

— Por mais que eu odeie dizer isso, este apartamento não é seguro para você. Você não pode ficar sozinha aqui. Nunca. — É... Eu comecei a notar isso, por menos que queira. Mordo o lábio inferior e penso na surpresa que tenho para ele. Enquanto Park estava trabalhando em seu notebook ontem, eu estava assinando a papelada do apartamento que aluguei em Boston. Eu poderia ter comprado, mas ainda não sei como ele vai reagir, e não tenho certeza sobre a localização. Pode ser cedo demais. E também há o vislumbre que eu tive da vida que Parker pode querer quando ele mencionou seus avós e como adorava visitá-los. Tenho a sensação de que ele quer uma casa com quintal, varanda, cachorros, gatos, filhos. O lugar que aluguei não é assim, mas, se nosso relacionamento chegar aonde parece que vai chegar, vai ser melhor escolhermos uma casa juntos. Um lugar pelo qual nós dois nos apaixonemos. Parker fecha o chuveiro e pega duas toalhas felpudas enquanto guardo meus sonhos de futuro. Não quero alimentar minhas esperanças. Parker e eu estamos juntos há meses apenas, e uma parte do relacionamento foi instável. Precisamos de tempo para ser apenas um casal, viver na mesma cidade, conviver com os amigos, a família e tudo o mais, conciliando tudo isso com a nossa carreira. Juntos, como casal, precisamos conseguir equilibrar tudo e descobrir onde nosso amor se encaixa. O bom é que eu sei que sou dona de seu coração, e ele do meu. Todo o resto nós vamos descobrir. — Sim, os paparazzi estão ficando mais abusados. Vamos falar disso mais tarde. O Nate tem algumas ideias — digo, tentando mudar de assunto. Quando ele souber da surpresa, esse assunto pode não ser um problema, pelo menos por um tempo. — Vamos nos apressar. Eu quero ver a Wendy. Ele abre um sorriso largo, e a tensão que marcava seu rosto desaparece quando ele pensa em sua assistente. — E a melhor parte é... — ele diz, mexendo as sobrancelhas. — É? — pergunto, me enrolando na toalha e a prendendo na axila. Ele abre um sorriso brilhante e enorme.

— O Bo vai nos encontrar lá. De saia! — Não acredito! — rio, jogando para trás meu cabelo molhado. Ele anui e esfrega a toalha no peito definido, espirrando umas gotas perdidas. Parker está nu em frente ao espelho, absolutamente à vontade, passando as mãos pelo cabelo. Observo seu corpo sexy, seus músculos tonificados. Parker Ellis se cuida muito bem, e eu sou a sortuda que aproveita o resultado de todo esse trabalho duro. Delícia. — Pode acreditar. Ele vai de saia. A Rachel disse que hoje era o dia, e, como eles vão nos escoltar até a casa da Wendy, é a hora perfeita. Penso na noite em que a minha guarda-costas derrotou Bo no touro mecânico. — Que bom que ele tem que ir de saia à casa da Wendy. Ela vai adorar. — Sim. Contanto que o Michael não acabe quebrando a cara do Bo enquanto estivermos lá, vai dar tudo certo. Dou de ombros e começo a escovar o cabelo, desembaraçandoo. — Bom, a saia não vai ser um empecilho. Parker ri e passa um pouco de protetor solar no rosto. — É verdade. Observo-o em frente ao espelho e percebo como é bom dividir o espaço com alguém. Os dois se arrumando juntos, falando sobre os amigos, planejando coisas. Nunca tive isso antes, mas é uma coisa pela qual eu lutaria. Talvez essa seja a parte do amor de que as pessoas não falam. A beleza de simplesmente ter um parceiro. Vou até Parker. Ele está com a lâmina na mão se barbeando. Normalmente faz a barba antes de entrar no chuveiro, mas eu meio que atrapalhei a ordem. Se bem que acho que ele não se importa. Chego pelas costas, pressiono meu corpo contra o dele e o beijo bem na coluna, relaxando meus braços ao redor de sua cintura e apoiando o rosto em sua pele quente. — Eu gosto disso. Você e eu fazendo coisas normais. Seu corpo estremece um pouco, como se ele estivesse rindo, e ele se volta e pega meu queixo. Ergo os olhos e vejo que ele ainda

está com creme de barbear no rosto e no pescoço. Seus olhos ardem com uma intensidade que só vejo quando ele me encara. — Eu também — responde. Parker se inclina e me beija, lambuzando meu rosto com creme de barbear. Mas eu não ligo. Passo os braços em volta de seu pescoço e o beijo até ficar sem fôlego.

1

Wendy e Michael moram longe da área central, em um condomínio fechado a cerca de trinta minutos de Boston. Estou morrendo de curiosidade de ir à casa deles. Posso imaginar balanços eróticos pendurados nas vigas como lustres, espalhados por todo lado, e chicotes em cima das mesas, para quando der vontade de usar. Michael levou tão a sério a questão da coleira em Montreal que eu me pergunto se ele trata Wendy como escrava sexual. Ah, meu Deus, e se ele obrigá-la a andar nua pela casa? O suor se acumula sobre minha boca. Puxo a camisa e abro o botão de cima. Não, ele não a deixaria andar nua na frente dos colegas de trabalho. Ele é muito possessivo, e além disso Bo vai estar lá também. O cara implica com Bo, e não é pouco. Porém estou mais nervoso que intrigado. Não vejo Wendy há uma eternidade e não sei como reagir. Meu lado carente quer cair de joelhos e implorar para ela voltar, explicar que Annie é legal e eficiente no trabalho, mas que não é fodona nem uma hacker extraordinária. Além disso, seu eterno constrangimento me incomoda. Enxugo a testa e o lábio superior com o lenço, guardo-o de volta no bolso e olho pelo vidro do carro. A voz de Nate invade minhas preocupações. Pelo espelho retrovisor, ele olha primeiro para mim e depois foca em Skyler. — Ah, Sky, aquela coisa que você pediu... hum... vai estar pronta hoje à noite. — É mesmo? Legal! — Ela cruza as pernas, e suas coxas bronzeadas aparecem pela fenda do vestido longo. Pouso a mão em seu joelho nu, querendo não apenas tocá-la e me livrar do nervosismo por ver Wendy, mas também para chamar sua atenção.

— O que você está aprontando? — pergunto, apertando seu joelho e olhando para ela. Skyler morde o lábio inferior carnudo, pousa a mão na minha e vira para mim, para eu poder ver seus olhos castanhos brilhando à luz do dia. Ela tem uma beleza efervescente. Como um raio de sol, que me aquece com um único olhar. — Você vai ter que descobrir! — me provoca. Aproximo o rosto do dela. — Está escondendo alguma coisa de mim, meu pêssego? Ela mexe a cabeça para cima e para baixo. — Sim. E espero que você goste. Se bem que é mais para mim que para você. Mas é para você... entendeu? — Ela franze o cenho, como se o que está escondendo de mim pesasse em sua consciência. Ou então ela simplesmente é péssima em guardar segredos. Levo a mão dela aos lábios e beijo seus dedos. — Por que você não me conta o que é, aí eu digo se gosto ou não? — arrisco, com a voz mais suave. Ela sacode a cabeça. — Não. De jeito nenhum. Nem pensar. Estou guardando esse segredo há semanas, e até que enfim está pronto. Estou tão animada quanto nervosa. Só promete que hoje, quando eu te mostrar o que é, você vai receber com a mente aberta. Tudo bem? Beijo seus dedos de novo. — Eu faço qualquer coisa por você — digo, sustentando seu olhar até suas bochechas ficarem lindamente coradas. — Uau. Existe gente rica e existe gente podre de rica. Caraca! — Rachel solta, admirada ao ver os portões pretos e uma guarita com segurança. — Pois não? — o guarda pergunta, ostentando um coldre grande e gordo com uma quarenta e cinco milímetros. — Nós vamos à casa de Michael Pritchard. Rachel e Nathan Van Dyken, Skyler Paige e Parker Ellis — Nate responde. O homem procura algo na prancheta e anui, ticando um item. — Bogart Montgomery e Royce Sterling deveriam estar com vocês? Nate balança a cabeça.

— Eles vêm mais tarde. — Tudo bem, podem passar. Vá em frente e pegue à esquerda na trifurcação. Quando chegar a uma bifurcação, vire à esquerda de novo. A propriedade do sr. Pritchard fica no final da rua à esquerda. Nate agradece ao guarda e o portão se abre. Enquanto percorremos lentamente a rua, vemos quilômetros de colinas verdejantes, pinheiros altíssimos, um lago e mansões gigantescas pontilhando os montes em diferentes direções. — Nossa! Eu não fazia ideia de que eles moravam em um lugar desses — digo, boquiaberto diante das casas luxuosas. — O que o Michael faz? — Skyler pergunta, olhando pelo vidro com os olhos arregalados. — Quando a Wendy apareceu, ela disse que ele trabalhava em uma agência de publicidade, mas eu nunca entrei em detalhes e ela mentiu sobre várias coisas. Então não sei. Observo as paisagens exuberantes. Não tem como uma pessoa comprar uma casa em um condomínio desses por menos de vinte ou trinta milhões de dólares. É muito luxo e privacidade. Além disso, tem acesso fácil para o centro de Boston, o que é altamente desejável. Depois de uns dez minutos rodando por imensas faixas de terra, chegamos a uma casa gigantesca, do tipo que Jay-Z e Beyoncé provavelmente teriam — e não minha assistente e hacker espoleta meio punk e rock and roll. — Bizarro... — Sky sussurra, saindo do carro. Nós quatro olhamos ao redor e vemos apenas partes de outras casas, bem distantes. Cada mansão deve ter um terreno de uns sessenta mil metros quadrados ou mais. — Eu nem sabia que este lugar existia — digo. — Nem eu. Será que tem alguma casa para vender? — Sky pensa alto, observando a área. Meu coração dispara. Será que ela realmente pensaria em mudar de Nova York para Boston para ficar mais perto de mim? Eu sei que nós dois já insinuamos que queremos estar mais perto um do outro, e, depois de ter ficado sem ela, não estou a fim de vivermos vidas separadas.

Levo a mão à testa para bloquear o sol. Eu jamais poderia pagar uma propriedade dessas... mas ela pode. Provavelmente não faria nem cócegas em sua conta bancária. Se fosse esse o caso, o que eu teria para oferecer? A porta se abre e Wendy é conduzida pelo noivo escadaria abaixo até o caminho de cascalho. Seu cabelo ruivo fica magnífico sob os raios do sol. Eu sorrio e corro para abraçá-la. — Abusada... — digo, inalando o cheiro de coco do seu cabelo. — Que saudade, menina. — Olho para Michael, que está abraçando Skyler e apertando as mãos de Rachel e Nate. Recuo um pouco enquanto Wendy enxuga os olhos marejados. — Como está se sentindo? Você está fantástica! — minto, notando suas olheiras e a falta de cor em sua pele. Ela limpa a garganta. — Bem. Melhor com vocês aqui. Estou tão feliz por terem vindo — diz com a voz trêmula, mas engole em seco e se controla antes de olhar ao redor. — Onde estão o Bo e o Royce? — Eles vêm dep... — começo a dizer quando vejo um reluzente Porsche 911 prateado se aproximar voando e parar, sem um único tranco, bem atrás do Range Rover de vidros escuros que Nate usa quando Sky está em Boston. — Puta merda, ele comprou — digo, embasbacado diante daquele sexo sobre rodas. Royce sai do veículo e dá um tapinha no teto. — Gostaram da minha nova primeira-dama? — Seu cachorro! Não acredito que você comprou. — Aperto sua mão, e ele me puxa para a tradicional colisão de peitos e tapas nas costas. — Você estava enrolando para comprar esse carro fazia mais de um ano... Por que agora? Ele dá de ombros e vira para Bo, ainda sentado no banco da frente. — Já estava na hora. Chega de esperar as coisas acontecerem. Se eu quiser alguma coisa, vou atrás. — Ele passa as mãos na camisa. Está incrível, como de costume, de terno, mas sem gravata. Parece que nós dois pusemos uma pitada de casual em nosso estilo para o programa de hoje. — É isso aí! — Wendy ergue o punho, mas logo estremece. Passo o braço pela sua cintura e acaricio seu ombro.

— Você está bem? — Sim, tudo bem — ela diz, contrariada. — Bo, saia do carro. Ele fecha os olhos e abre a porta. Uma bota de motociclista preta atinge o cascalho. Noto o pedaço de perna nua por baixo da porta, sabendo o que estou prestes a ver. — Vai logo, seu bebezão! — grito, esperando aumentar seu desconforto. — Aposta é aposta. — O que está acontecendo? — Michael pergunta. Ele se aproxima de Wendy e estende a mão, que ela pega, saindo do meu lado e se aninhando em seu noivo. — O Bogey perdeu uma aposta para a Rachel. Vamos lá, Bo, seja homem! — encorajo. Ele bufa, abre a porta por completo e sai abruptamente. Nós sete o encaramos, mas não dizemos uma palavra. Ele está com suas botas de motociclista pretas, a jaqueta de couro e uma camiseta branca por baixo, que é o padrão para ele. Porém o que chama nossa atenção é o kilt xadrez verde e preto que cobre seus quadris. Acaba logo acima dos joelhos e tem uma fina linha amarela entremeada no tecido. Em cima, um cinto grosso com uma bolsinha pendurada no centro, onde imagino que fica seu pacote. Bo cruza os braços musculosos e fica parado feito um motociclista escocês, pronto para rodar com sua motoca pelas encostas do norte da Europa. — Que foi? — intima, rangendo os dentes. E aí ferrou. Sete variações diferentes de risadas quebram o silêncio e enchem o ar de humor. A risadinha de Wendy com o rosto escondido na camisa de Michael, a gargalhada estrondosa de Royce por trás da mão, o riso estridente de Skyler e muito mais. Todos nós perdemos o controle. Com seu corpo miúdo e torneado, toda vestida de preto — desta vez, calça de couro, regata e sua jaqueta —, Rachel anda em volta de Bo lentamente. Cruza os braços, levando a mão ao queixo enquanto inspeciona seu kilt. — Bom, amigo, acho que você cumpriu os requisitos da nossa aposta. Estamos quites — diz, lhe dando um tapinha nas costas, bem-humorada.

Ele sorri e dá uma voltinha, claramente se sentindo mais confiante. — Mas esta não é a melhor parte... Rachel para na frente do marido, que pousa a mão em seu ombro. — E qual seria? — ela pergunta. Bo vira de costas, se inclina e levanta o kilt, mostrando a bunda branca. — O que tem embaixo, seus trouxas! — E ri da própria piada. Skyler sai correndo e bate na bunda dele o mais forte que consegue, a seguir recolhe a mão dolorida. Bo dá um grito enquanto ela corre de volta e se esconde atrás de mim, gargalhando histericamente. Michael caminha devagar até Skyler e estende a palma aberta. Ela bate a sua na dele, rindo feito louca. — Muito bem. Eu estava ocupado tentando cobrir os olhos da minha mulher antes que eles derretessem — ele diz, sorrindo. Bo esfrega o traseiro ardente. — Caraca, Sky, que mão pesada! Ela espia por cima do meu ombro, pressionando o corpo nas minhas costas. — Eu fiz um filme de esportes uma vez. Eles contrataram um jogador de beisebol profissional para nos ensinar a lançar e rebater. Fiquei muito boa. Ele faz beicinho. — Park, é melhor tomar cuidado. A sua garota tem um ferrão no lugar da mão. Eu rio. — E você acha que eu não sei disso? — Arqueio a sobrancelha. Sky me abraça por trás, entrelaçando as mãos diante do meu peito. Bo ergue as sobrancelhas. — Irmão, pode contar tudo. Reviro os olhos e me volto para Michael e Wendy. — Obrigado por nos receber. Precisamos pôr o papo em dia. Wendy anui, vai até Royce e o abraça. Ele a afasta um pouco e pega seu rosto, virando-o de um lado para o outro. — Você parece cansada, garota.

Ela sorri sem humor. — É... Bom, não é tão fácil dormir como eu imaginava. Solto as mãos de Sky que estão em volta de mim e vou até Michael. — Do que ela está falando? — Pesadelos. Mas ela me fez prometer não ficar falando disso. Ela quer se divertir, e eu gosto de vê-la sorrir. Estou feliz por vocês estarem em Boston por um tempo. Ela precisa de apoio agora. Assinto e vejo nossa garota abraçar Bo. Ele a envolve devagar, como se ela fosse de porcelana. — Sininho, você está bem? — pergunta. Ela concorda com a cabeça encostada em seu peito e sorri, mas o sorriso não chega aos olhos. — Vamos entrar, pessoal. O Mick preparou um brunch. Vamos comer. — Ela se aproxima do noivo e ele a conduz pela escada, dando-lhe apoio, para o caso de ela precisar. Deus, eu queria que ela não precisasse. Ao entrar, fico impressionado. A casa não se parece em nada com um lugar onde se esperaria que alguém como Wendy morasse — um apartamento descolado, com discos de vinil antigos e pôsteres de filmes obscuros nas paredes, ou talvez um galpão transformado em loft modernoso. Definitivamente, não o tipo de casa que se esperaria de um político. Esta propriedade é típica de famílias tradicionais endinheiradas. Lembra mais um museu que um lar. — Uau. — Skyler olha para a grande escadaria e os quadros que revestem as paredes. — Que... enorme. Wendy ri. — Sim. No primeiro ano que morei aqui, nem conhecia todos os cômodos. No segundo dia, eu me perdi e tive que ligar para o Mick ir me buscar — ela diz, dando um soquinho no ombro do noivo. Observo as obras de arte e reconheço um Picasso e um Monet autênticos pendurados entre outras belas peças, que devem valer centenas de milhares, se não milhões, de dólares. — Você tem um olho muito bom para arte — comento, observando uma pintura de Claude Monet que nunca vi antes. Michael olha para o quadro e suspira.

— O meu avô e o meu tataravô eram colecionadores. Eu cresci nesta casa, que foi herdada pelos meus pais. Os dois já não estão mais nesta Terra, e a casa passou para mim. Um dia vai ser dos meus filh... — Ele não completa a frase, como se as palavras ficassem presas na garganta. Pouso a mão em seu ombro e aperto. Meu coração também bate dolorido. Ele já teria um filho a caminho se aquela maluca de Montreal não o tivesse levado embora. Um raio de raiva atinge meu peito e eu aperto os dentes, tentando me controlar. Essa dor e essa raiva não são minhas de direito. Não aconteceu comigo, mesmo que me deixe arrasado. Sussurro para que só ele ouça: — Sinto muito. Surpreendentemente, ele pega minha mão e aperta. — Obrigado. Nós estamos superando. Faço que sim com a cabeça, sério. Sky se aproxima e pega minha mão livre. — Tudo bem? Deve ter notado a rigidez em minha postura e a tristeza nos olhos de nós dois. — Estamos conversando sobre arte. Ela pousa a outra mão no meu peito e olha para os quadros. — O Park adora arte e museus. Estou curiosa para conhecer o resto da casa. Wendy aparece, levemente saltitante. Não estava assim quando se aproximou de nós lá fora. Parece que nossa simples presença já está ajudando. — Levaria o dia todo. Vamos mostrar só as partes legais. O Mick me prometeu que eu posso tomar uma taça de vinho branco, agora que já estou quase sem tomar remédios. E eu tenho sido uma boa menina, não é, baby? — Ela fala com um tom de súplica, mas com uma pontinha de insinuação. Ele sorri e ergue a sobrancelha. — Sim, coração. Eu te prometi uma taça com seus amigos e vou cumprir minha promessa. Estão todos prontos para bebidas e petiscos na sala de recepção?

— Vocês têm uma sala de recepção? — Sky pergunta, admirada. Wendy sorri e passa o braço pelo de Mick, indo na frente para mostrar o caminho. — Este lugar é uma loucura — Sky sussurra no meu ouvido. — Total. Olho por cima do ombro para Royce e Bo, que estão na retaguarda do grupo, observando o centro do hall. O pé-direito deve ter uns sete metros de altura, com um lustre gigantesco de cristal pendurado acima da nossa cabeça. Mas não há nenhum balanço erótico, e, com base na decoração grandiosa do hall de entrada, estou começando a achar que vou me decepcionar. Ainda tenho esperança de me deparar com um quarto vermelho, como o de Cinquenta tons de cinza. Rachel e Nate decidem ir embora, agora que já avaliaram a segurança da propriedade, e se despedem. Assim que entramos na sala de recepção, um garçom cumprimenta o grupo. Está atrás de um balcão de mogno maciço que corre por uma das paredes da sala, formando um belo cenário, com direito a garrafas de cores e tamanhos variados dispostas em prateleiras de vidro com espelho no fundo. — O que desejam beber? Temos um vinho branco e um tinto que o sr. Pritchard escolheu, além de um bar inteiro à disposição. Royce pede uísque puro. Sky e Wendy vão de vinho branco, Michael de tinto, Bo e eu de gim-tônica. Depois de cada um pegar sua bebida, seguimos Wendy e Mick pelos amplos aposentos: salão de bilhar, biblioteca, escritório, banheiro e a cozinha enorme com uma equipe atarefada. Depois, atravessamos a sala de jantar até a sala de estar, que dá para um solário de frente para um belo jardim. Há uma grande mesa de jantar já preparada, com finger food em abundância. — Por favor, sentem-se e experimentem os petiscos antes que o brunch seja servido. Temos spanakopita, quiche, rolinho primavera e cogumelos recheados — Michael oferece, indicando a comida. E sai, provavelmente para checar a cozinha. Todos nós sentamos, Skyler à minha direita, Wendy à esquerda. À nossa frente estão Royce e Bo. A cadeira vazia à cabeceira da

mesa deve ser de Michael. Há lugar para Rachel e Nate, mas não sabíamos se o convite se estendia a eles. — Estou me sentindo mal por ter deixado a Rachel e o Nate irem embora — Sky murmura, com uma leve tristeza na voz. Acaricio sua têmpora com o nariz. Adoro o coração bom da minha garota. — Eles vão curtir ficar um pouco sozinhos. Os dois estão com você vinte e quatro horas por dia. Assim vão ter tempo para ser um casal normal, ver um filme, fazer uma refeição sozinhos, você sabe, coisas de casais. Ela faz beicinho. — É, acho que você tem razão. — Tenho, sim. Confie em mim. — Passo o braço em volta dos seus ombros e esfrego seu bíceps até sentir a tensão diminuir. — Tudo bem — ela diz, tranquila. Então fica toda animada, observando a mesa antes de escolher um cogumelo recheado. Seus olhos se iluminam de alegria. No começo, acho que é por causa da comida — minha garota gosta de comer. Odeia malhar, mas adora comer. Só que não é pela comida. — Ah, Wendy, eu trouxe uma coisa para você! Skyler deixa o cogumelo no prato, limpa os dedos no guardanapo e procura algo em sua grande bolsa, pendurada na cadeira. Pega um presente embrulhado em papel de seda e o entrega a mim para que eu o repasse. Wendy pisca rapidamente, olhando para o embrulho rosa com um grande laço amarelo, virando-o repetidas vezes. — Por quê? Sky apoia o cotovelo na mesa para virar para ela. — Quando o Parker e eu saímos de Londres, passamos em Paris para ver a Sophie. O Park me levou para passear e fazer compras, e nós trouxemos uma lembrancinha para você. Wendy olha para mim e depois para Sky. — Eu... não sei o que dizer — responde, com a voz rouca e trêmula. Sky franze a testa.

— Não precisa dizer nada, sua boba. É só uma lembrancinha. Abra! Wendy abre o pacote, pegando o lenço de seda com faixas amarelas e padrões em preto e branco que definitivamente vai ficar ótimo nela. Então funga e enxuga o nariz com o guardanapo. Levo a mão ao queixo de Wendy, até ela erguer o olhar choroso para mim. — Ei... — É lindo... Não sei nem como agradecer. Adorei. — Suas palavras saem abafadas pelas lágrimas. Ela leva o lenço ao peito, como se fosse o presente mais precioso que já ganhou. Passo o polegar em seu queixo e me aproximo mais, para poder olhar em seus olhos. — Abusada, qual é o problema? Ela balança os ombros e estremece com a dor. — Seu ferimento, não faça isso — repreendo. — Me diga o que está acontecendo. Ela sacode a cabeça. Michael se aproxima por trás e lhe dá um beijo no rosto antes de dizer: — Coração, é normal uma mulher comprar um presente para uma amiga. Basta agradecer, só isso. — E a beija de novo. — Mas eu nunca ganhei um presente de uma amiga antes. Nunca tive uma amiga. — Wendy engole em seco e as lágrimas rolam conforme ela levanta o lenço carinhosamente à sua frente. — É o lenço mais bonito que eu já tive. Vou usar o tempo todo. Obrigada, Skyler e Parker. Sinto o coração se apertar. Esfrego o peito e sacudo a cabeça. — Ah, não, foi ideia da Sky — começo. Mas minha namorada belisca minha coxa e me lança um olhar significativo. — De nada, Wen — diz, usando o apelido que inventou para ela. — Nós sentimos a sua falta e queríamos que você soubesse que estávamos pensando em você. Bo se intromete: — E cadê o meu presente? Royce o empurra com tanta força que ele quase cai da cadeira, tentando firmar as pernas no tapete oriental abaixo dos nossos pés.

Skyler revira os olhos e Wendy ri, então minha mulher ergue sua taça de vinho. — Estou muito feliz por estarmos em casa e por você estar se recuperando. Eu sei que os meninos não veem a hora de você voltar para o escritório. A voz de Royce é um estrondo profundo: — Eu brindo a isso, com certeza. — Sem dúvida. — Bo concorda com a cabeça. — Volte logo, Sininho. Aquela loira é um gelo e não dá nem um sorriso com as minhas piadas. Além disso, ela é toda arrumadinha. Não tem absolutamente nada para olhar. Jogo a cabeça para trás e gemo diante do comentário absolutamente fora de hora. — Que foi? Ela é toda formal, um tédio — Bo resmunga antes de pegar seu gim-tônica. — Não dê bola para ele, abusada — aconselho, lançando um olhar de advertência para Bo. — Eu nunca dou. Só para a parte de vocês sentirem a minha falta. É verdade mesmo? Eu sei que a Annie está fazendo um bom trabalho. Ligo todos os dias... — Três vezes por dia, garota. Não precisa ficar ligando para saber como eu estou — Royce diz e suspira. Wendy faz biquinho. — Mas vocês estavam sozinhos, e eu precisava saber se estavam bem. Pouso a mão em suas costas. — Wendy, ninguém nunca vai te substituir. O seu emprego está lá, esperando até você estar curada. Ela abre um sorriso largo, e Michael passa a mão em sua nuca antes de por fim se sentar, depois de colocar uma garrafa de champanhe em um balde de gelo ao lado da mesa. — A Wendy está louca para voltar ao trabalho, mas eu estou forçando a minha mulher a tirar as oito semanas inteiras de licença. Ela precisa desse tempo para se preparar mental e fisicamente antes de voltar ao escritório. O médico concorda. Certo, meu amor? Ela afunda na cadeira. — Sim. Mas isso é bobagem. Eu estou bem.

Michael retesa o maxilar e me lança um olhar inflamado. Sutilmente sacode a cabeça, me comunicando em silêncio que Wendy não está bem. De jeito nenhum.

2

— Qual é o próximo trabalho na agenda da IG, rapazes? — Wendy pergunta. Ela bebe o vinho branco devagar, como se fosse um néctar dos deuses. Muito provavelmente porque o noivo só lhe permitiu uma taça. Royce passa a mão pela careca, esfrega o queixo e se inclina sobre a mesa. — Nós três vamos para Berlim atender uma indústria automotiva. — Gatinhas de Berlim... Não vejo a hora — Bo comemora, passando a mão pela camiseta branca enquanto se recosta na cadeira. Ele deve estar estourando. Comeu mais que Roy e eu juntos. Parece que estava em jejum fazia uma semana. Roy suspira e passa a mão pelo cavanhaque bem aparado. Wendy sorri. — Alemanha... Parece divertido. Dou de ombros e empurro meu prato. — Eu preferiria passar um bom tempo no escritório. Skyler pousa a mão na minha coxa e a acaricia, em um gesto de apoio. — Pelo menos você tem mais uma semana de folga. — Só que nós combinamos de ir para Nova York na semana que vem. Wendy franze a testa. Percebo que o sorriso de Sky também desaparece. Parecendo pensativa, minha garota diz: — Na verdade, acho que a gente podia ficar em Boston. Eu preciso conversar com a Wendy sobre as coisas do casamento. O rosto de minha assistente se ilumina, como se um holofote fosse ligado dentro dele. — É mesmo?

Sky faz uma careta. — Eu não seria uma boa madrinha se não ajudasse a noiva com os detalhes. Wendy abre um sorriso largo. — Seria maravilhoso. Obrigada, Sky. — Imagine! Amiga é para essas coisas. Vamos marcar esta semana, se você puder. — Ah, eu posso. A única coisa em que o Mick me permite trabalhar é o casamento. Na cama, com o celular e o notebook na mão — Wendy conta, torcendo o nariz para o noivo. Ele ignora o comentário. — Falando em trabalho... — Royce se levanta, deixando o guardanapo em cima do prato e vindo para o nosso lado da mesa. — Nós precisamos voltar. — Ele abre os braços para Wendy. — Estou sentindo a sua falta, garota. Ela fica em pé e passa os braços em volta da cintura de Royce quando ele puxa o corpo dela contra seu peito. Ele a abraça durante um minuto, depois baixa a cabeça até o nível da dela, quase tocando sua testa. — Fique bem. Faça o que o médico mandar. Ouça o que o Michael diz, desde que ele não esteja tentando te convencer a nos deixar. Se for isso, ignore cada palavra. Está me ouvindo? Ela sorri e anui. — Sim. — Tudo bem, então. — Dá uns tapinhas nas costas dela. — Eu venho te ver daqui a alguns dias. E chega de ligações. — Ele a olha nos olhos, como se fosse um irmão mais velho brigando com a irmãzinha. Coisa que, do jeito que as coisas estão, meio que é. Wendy franze a testa e sorri. — Prometo não ligar para você. Roy franze os lábios e lhe dá um beijo na testa. — Fique bem. — Vou ficar. Bo surge por trás, e desta vez Michael se levanta, protegendo Wendy. Royce pode abraçá-la e beijar sua testa, mas, se Bo se aproxima, Mick está pronto para a batalha.

Levo a mão à boca para esconder o riso e passo um braço no encosto da cadeira de Skyler. Ela ri e dá um gole em sua segunda taça de vinho. O álcool deixa suas bochechas mais rosadas e seus sorrisos mais fáceis. Adoro Skyler meio bêbada. E adoro transar com ela quando está assim. — Que foi? Eu não vou bater nela. Relaxa, Tarzan — Bo diz a Michael e abre os braços para Wendy. Então, quando coloca as mãos em volta dela, desliza-as em direção à sua bunda. — Se encostar na minha bunda, eu quebro os seus dedos. Bo interrompe a brincadeira. Mick rosna e tira Wendy dos braços dele. — Não vai ser preciso, porque eu já vou ter cortado um a um com o cortador de charutos — ele ameaça, só que parece mais uma promessa. Bo levanta as mãos em um gesto de rendição. — Tudo bem, bando de rabugentos. Mas sério, Sininho. Se precisar de alguma coisa, estamos a um telefonema de distância, está bem? — Pode deixar. — Ela se aconchega em Mick enquanto meus sócios vão para a porta da frente. Coloco a mão em volta da boca e grito: — Boa sorte para encontrar a saída! Royce ri. — Eu sei onde fica. — Terminaram? — Michael pergunta, indicando nossos pratos vazios. Dou um tapinha na barriga. — Sim. Foi um brunch maravilhoso, Michael, obrigado. — Acho que você ganhou o direito de me chamar de Mick. Wendy ergue as sobrancelhas e tenta disfarçar, passando o braço pelo de Skyler e dizendo: — Quer ver as coisas que eu já planejei para o casamento? — Claro que sim! — Aceita mais uma dose? — Mick me oferece. — Claro. — Sigo-o pela casa em direção à sala de recepção. — Você disse que esta casa é da sua família há muito tempo. Gosta de

morar aqui? Ele diminui o passo. — Sim e não. Às vezes eu gostaria que a Wendy e eu arranjássemos outro lugar e começássemos do zero. Mas esta casa é tudo que eu tenho da minha família. Eu venho de uma longa linhagem de filhos únicos, e os meus pais e avós já morreram. Não tenho família além da Wendy, e poder proporcionar isto aqui a ela é importante para mim. E ela parece feliz aqui. Chegamos ao salão, e Mick pede ao garçom que complete nossas bebidas. — Acho que a Wendy ficaria feliz em qualquer lugar com você. Como ela está, de verdade? Você falou em pesadelos... Mick fecha os olhos e respira fundo antes de abri-los de novo e indicar as cadeiras de couro em frente a uma janela com vista para a propriedade. Por cima do ombro, ele olha a porta aberta, provavelmente para se assegurar de que Wendy não ouça. — Toda noite. Ela grita, leva uma mão ao peito e outra à barriga. — Caralho. Suas palavras me atingem como um caminhão em alta velocidade. Ele solta um grunhido e aperta o punho. — Se nós soubéssemos... Ela teria ficado em casa e estaria segura o tempo todo. — Mick, você não pode manter a Wendy em uma redoma de vidro e esperar que ela aceite. Ele passa a mão pelo cabelo claro. — E o que eu poderia ter feito? — Você não poderia ter feito nada que provocasse um resultado diferente. Acredite — digo, batendo no centro do peito —, eu tentei descobrir, mas o fato é que existem pessoas loucas no mundo. Aquela mulher era doente. Ele bufa. — E, por causa disso, o meu filho está morto. Faca. Direto no coração. Engulo em seco. — Ela procurou ajuda? E você? Ele sacode a cabeça bruscamente.

— Cara, essa merda pode se complicar — alerto. Ele respira fundo e bebe. — Eu tenho um plano. — Qual? Por favor, não diga “Fazê-la pedir demissão”. — Ela vai engravidar de novo assim que estiver saudável e a gente se casar. Inclino a cabeça e olho para os cubos de gelo que rolam em meu copo enquanto as bolhas da água tônica estouram. — Será que é uma boa ideia? Uma substituição nem sempre é a resposta. Ele levanta o punho, mas parece se controlar e deixa para lá. Aperta a borda da cadeira. — Não, não é. Mas, com o que aconteceu, a Wendy e eu descobrimos que queremos uma família, e logo. Precisamos ter algo entre nós que possamos amar e compartilhar. Algo que seja nosso juntos. Com essa perda, nós percebemos quanto queremos um filho. Muitos, na verdade. Lambo os lábios e assinto. — Desde que façam isso pelas razões certas, fico feliz por vocês dois. Mick toma sua bebida e pousa o olhar frio no meu. — Eu entendo quanto você, a equipe da IG e a sua família significam para o meu amor. Por mais que eu queira ser tudo de que ela precise, sou homem o suficiente para admitir que o coração e a capacidade de amar da minha mulher são muito grandes. Ela deseja esse ambiente familiar que vocês três construíram, e eu quero dar para a minha companheira tudo que o coração dela desejar. Baixo a cabeça em reverência. — Que bom. Nós amamos a Wendy como a uma irmã. E, enquanto ela quiser, sempre vai ter um lugar na nossa equipe e na nossa família. A Sky e ela se dão muito bem. — Eu quero fazer mais jantares e encontros como o de hoje, conhecer melhor todos vocês. — Inclusive o Bo? — digo, com um sorriso sarcástico. Ele olha pela janela com uma expressão desdenhosa. — Se for preciso...

— Você sabe que ele está só brincando com a Wendy, né? A insinuação, o flerte, é tudo inofensivo. Ele nunca faria isso de verdade. É só fingimento. A Wendy é importante para ele. E, para ser honesto, o Bo não deixa as mulheres se aproximarem. Especialmente aquelas por quem ele se interessa. O fato de ele expressar carinho pela Wendy prova que não tem nenhuma segunda intenção com ela. — Seja como for, o senso de humor dele é insuportável. — E é por isso que ele faz essas coisas. Ele adora tirar você e a Wendy do sério. O truque é não dar trela. — Dou de ombros e me reclino, me acomodando na cadeira de couro. — Entendi. Vou levar isso em consideração. — Brincadeiras à parte, o que o médico dela diz sobre os pesadelos? — pergunto em voz baixa, em respeito à natureza confidencial das preocupações dele. Mick solta um longo e cansado suspiro. — Ele prescreveu um remédio para dormir que ela se recusa a tomar. Diz que não quer dormir sob o efeito de drogas. — Algo mais? — Tempo. E terapia. — Se você fosse com a Wendy, ela iria a um terapeuta? — pergunto. — Você faria isso? — Eu faria qualquer coisa por ela. — Então sugira. Veja se isso ajuda. Mal não vai fazer. E nós vamos tentar visitá-la mais, mas você precisa tirá-la de casa. Ela precisa ver que existe vida além do que passou e da perda que vocês sofreram. As mulheres entram na sala rindo como adolescentes. A tristeza de Wendy desapareceu depois de passar um tempo com Skyler. Eu sei como é isso. Minha garota tem esse efeito sobre mim também. — Meu bem, você precisa ver o vestido que a Wendy escolheu. É ma-ra-vi-lho-so! — ela conta, esticando as sílabas. — Prefiro ver no dia do casamento. Eu gosto de surpresas, lembra? Ela arregala os olhos ao ouvir a palavra surpresas, deixando claro que percebeu que ainda estou esperando para descobrir o que ela reservou para mim.

Ao ouvir barulho de cascalho, olho pela janela e vejo Nate e Rachel no Range Rover de vidros escuros. Me levanto, abotoando o paletó. — Parece que a nossa carona chegou — digo. Wendy faz beicinho. — Ah, não! Eu estava me divertindo tanto. Mick vai até ela, puxa-a para seus braços e beija sua testa. — Sim. E parece que você está caindo de sono. Acho que dormir um pouco vai te fazer bem. Ela franze a testa e olha para ele. — Você vai cochilar comigo? Ele baixa a cabeça e a beija com suavidade. Só um selinho, que, por alguma razão, me enche de luz. Ver como ele a idolatra, quanto realmente a ama e precisa dessa mulher, alivia minha preocupação. O caminho da recuperação vai ser difícil, em especial psicologicamente, mas, com Michael ao seu lado e nós para apoiála, Wendy vai ficar bem. Aperto a mão de Sky e a puxo para meu lado. Ela vem de bom grado. — Vamos, meu pêssego? — Meu pêssego... Qual é a de vocês, hein? — Wendy brinca. — A minha garota tem cheiro de pêssego com chantili — digo, acariciando seu pescoço e fingindo mordê-la, fazendo-a rir. — Ha! — Ela aponta para nós. — Vamos levar os nossos amigos até lá fora — Mick diz. — Nossos? — ela repete, cheia de esperança. — Sim, coração, nossos. — Perfeito. Eu sabia que você ia se apaixonar pelos meus meninos. Ele geme. — Eu sou o seu menino. Eles são seus amigos. Ela balança os quadris e passa a mão nas costas dele enquanto caminhamos até a porta da frente. — Pelo menos eu não chamo os três de namorados. — Só faltava. Por cima do meu cadáver — Mick responde categoricamente, com uma seriedade que eu não poderia expressar, mesmo se tentasse.

Talvez ele esteja falando sério. Ele é muito possessivo, apegado ao ponto da obsessão, mas quem sou eu para julgar? Eles são felizes, é isso que importa. Wendy e Skyler estão gargalhando quando abrimos a porta. Nate e Rachel saem do carro. Meu celular toca no bolso, avisando que chegou uma mensagem. Paro e a leio antes de entrar no carro. Que bom que chegou bem em casa. Senti sua falta.

O remetente é desconhecido. Leio e releio as palavras. Que porra é essa? Só pode ser alguém brincando comigo. Um dos caras... ou talvez um velho amigo? Nós nos despedimos de Wendy e Mick. Assim que Skyler e Rachel entram no carro, seguro Nate, antes que ele deslize no banco do motorista. Ele fecha a porta, percebendo que quero conversar em particular. Um pouco afastados, eu lhe mostro meu telefone. — Conseguiu alguma coisa com o celular da Skyler? — Enquanto vocês estiveram fora, eu falei com um amigo meu, um ninja da tecnologia. Ele rastreou o número e chegou a um telefone pré-pago. Não conseguiu a localização porque o aparelho não tem uma operadora específica, e a pessoa deixa desligado entre as mensagens. Por isso não tem como rastrear. — Recebeu mais mensagens no celular antigo dela? — Sim. O meu amigo trabalhou nelas também, mas não chegou a lugar nenhum. Ele pega o telefone antigo de Sky e se apoia no carro enquanto me mostra a sequência de novas mensagens, todas de remetente desconhecido. POR QUE VOCÊ ESTÁ ME IGNORANDO?

PENSEI QUE VOCÊ FOSSE DIFERENTE

VOCÊ É COMO TODOS OS OUTROS

Você se acha melhor que os outros? Só porque é famosa? Não é, e eu vou provar.

— Mas que inferno. — Leio de novo. — Parece um stalker, ou talvez um fã enlouquecido. Nate assente. — Também acho. Vou ligar para a Tracey, a agente dela, para tentar obter mais informações, ver se ela recebeu alguma coisa suspeita de fãs da Skyler, por telefone ou e-mail. Eu sei que tem uma empresa que cuida da conta de e-mail dela e outra do site. Vou ver com a equipe da web se chegou algo estranho. Amanhã já devo ter mais informações. Sinto um calafrio, mas assinto e tento fazer uma cara feliz para não preocupar Sky. — Me avise quando descobrir alguma coisa. O que não dá para entender é como a pessoa conseguiu nosso número pessoal. — Devem ser hackers muito bons. Sorrio. — Eu conheço uma pessoa boa assim, mas ela vai tirar um cochilo agora — digo, erguendo o polegar e indicando a mansão atrás de nós. — Sim... Talvez, quando ela estiver se sentindo melhor, a gente possa pedir a opinião da Wendy sobre tudo isso e ver se ela pode ajudar. Anuo e olho para a casa de novo antes de entrar no carro. Skyler pousa a mão na minha coxa. — Tudo certo? — Sim, eu estava só conversando com o Nate, acompanhando algumas coisas. Agora... sobre a minha surpresa.

Ela abre um sorriso largo. — Nate, tudo pronto? — Sim. Quer ir para lá? — Com certeza! — ela diz, dançando sentada no carro. — Coloque uma música animada, garoto! Estou com vontade de requebrar. — E aqui está a terceira taça de vinho que a vi pegar. — Você se divertiu? — pergunto, passando o braço ao redor de seus ombros e a puxando para mim. — Muito. Eu adoro estar com os seus amigos, meu bem. Inspiro o cheiro de pêssego com chantili que seu cabelo exala. — Eles são seus amigos agora também. Pode contar com eles. Ela sorri. — É verdade! Eu gosto de estar com gente divertida. — E suspira, feliz. — Faz a vida valer a pena, sabe? Depois de trabalhar tanto, poder compartilhar tempo e espaço com pessoas do bem faz tudo valer a pena. Beijo sua testa, então ela levanta a cabeça e me oferece os lábios. Estão com gosto de vinho branco e dos morangos que ela comeu no fim do brunch. — Humm — murmuro, lambendo e mordiscando seu lábio inferior antes de repetir o processo com o superior. Ela crava os dedos na minha coxa e desliza a mão para cima, pegando minha ereção crescente. Todo o meu ser está focado em sua mão e nessa parte do meu corpo que ela está acariciando com prazer. Eu a deixo agir por alguns minutos, até sentir as bolas formigarem. Sei que, se continuarmos assim, vou querer comê-la no carro, e que se danem os guarda-costas. Com toda a força que consigo reunir, cubro sua mão com a minha. Gemo com a boca na dela e afasto sua mão. Quando o beijo acaba, ela está sem fôlego, e seus olhos são um misto selvagem de manchas marrons e amarelas, como uma camada de caramelo nas profundezas de um chocolate. Ela morde o lábio inferior e faz o beicinho mais carente que já vi. Grunho, encostando os lábios em sua cabeça. — Você está jogando sujo, baby. Ela sorri, percebendo a situação em que me colocou. — Tudo bem, eu paro. Por enquanto.

Respiro fundo, tentando pensar em alguma coisa que acalme a fera. Logo paramos em frente a um edifício que conheço muito bem. — Você me trouxe para o escritório? A minha surpresa está no trabalho? Ela abre um sorriso enorme. — Mais ou menos, mas não exatamente. Vem. Rachel abre a porta para Sky, e os Van Dyken nos escoltam enquanto abotoo o paletó sobre meu pau duro — tentando disfarçar depois dos carinhos da minha garota. Então, do nada, uma horda de fotógrafos nos rodeia. Passo o braço pela cintura de Skyler enquanto Rachel e Nate nos protegem, empurrando os paparazzi. — Filhos da mãe — Nate resmunga. — Vamos ter que usar a entrada da garagem da próxima vez. — Ele pega o cotovelo de Sky e nos guia. Quando chegamos ao prédio, fica tudo bem, porque a propriedade é privada e há seguranças por todo lado. É preciso ter um crachá ou hora marcada para entrar, a não ser que a pessoa more no edifício. Eu sei que os últimos cinco andares atendem empresários ricos que querem morar na cidade em que trabalham. Os seguranças nos deixam passar — eles sabem que eu trabalho aqui, e Nate, Rachel e Sky têm autorização. Quando entramos no elevador, Nate aperta o botão do último andar. — Nate, os andares de cima são residenciais. Esse botão que você apertou é da cobertura, aliás. Ele sorri e cruza os braços maciços, ignorando meu comentário. — O que está acontecendo, Sky? — pergunto, girando para ela. Minha namorada mal se aguenta de entusiasmo. Pode ser por uma de três coisas: ela bebeu demais; está com um puta tesão, o que pude confirmar no carro com sua minipunheta; ou está prestes a me contar alguma coisa chocante. Por fim, as portas se abrem para um apartamento. Nate entra, com Rachel atrás. — Esperem aqui. Nós vamos checar o local. Quando eles saem, eu me volto para Sky. — O que é isto?

Ela morde o lábio, segura o vestido longo e balança de um lado para o outro, como se estivesse nervosa. — É a minha nova casa. Eu aluguei por seis meses. Abro a boca e olho para o grande apartamento mobiliado. Há uma parede de janelas a pelo menos dez metros do elevador. Entro e vejo uma mesinha no hall, e sobre ela uma singela foto minha e de Skyler em seu apartamento em Nova York. Vou caminhando pelos cômodos e percebo que a decoração é semelhante à da cobertura de Skyler. Confortável, macia, com tecidos ricos e toneladas de almofadas e mantas para deixar o ambiente aconchegante. — Você comprou a cobertura no prédio da IG? — Abro os braços e giro, tentando absorver tudo isso. — Aluguei, com opção de compra — ela sussurra, hesitante. Eu me viro para ela. — Está de brincadeira?!

3

— Isso quer dizer que você está feliz ou puto? Porque neste momento, meu bem, estou tão nervosa que não consigo identificar — ela diz com a voz trêmula, mas o queixo erguido, mostrando sua força de caráter. Corro para ela, pego seu rosto entre as mãos e a beijo loucamente. Mas não é suficiente. Nunca é suficiente. Eu a levanto pela bunda, ela enrosca as pernas em volta da minha cintura e eu a levo para um sofá que identifico com a visão periférica. Sento com ela no colo, e ela pressiona a virilha na minha, vira a cabeça de lado e mergulha a língua na minha boca, enroscando-a na minha, até que me vejo apertando sua bunda e esfregando mais e mais meu pau duro como pedra contra ela. — Ei, ei, deem um tempo! Acho que vocês não se importam se o apartamento é seguro ou não — Rachel comenta de algum lugar atrás de mim. Não sei dizer bem, porque Sky está esfregando seu corpo sexy no meu e eu estou enlouquecendo. A voz de Rachel continua: — Nós já vamos. O nosso apartamento fica um andar abaixo. Vocês vão precisar da gente hoje? Sky não tira os lábios dos meus quando murmura: — Nã-ãh. Recuo. Preciso de ar para responder: — Nós vamos ficar bem. Lambo os lábios, sentindo a doçura de Sky em minha língua. Um sabor que faz disparar um raio de tesão pelo meu corpo até chegar à pelve, colada na dela, o que a faz gemer. Ela ri quando os dispenso com a mão. — Nós vamos ficar bem — repito. — Se precisarmos de vocês, telefonamos, mas acho que vamos passar a noite aqui.

— Tudo bem. Divirtam-se! — Rachel sorri no momento em que Sky gruda os lábios nos meus de novo. — Está feliz, meu bem? — ela pergunta, depositando uma fileira de beijos no meu pescoço. Minha pele se arrepia e entra em erupção, e fico pensando com que rapidez consigo tirar a roupa. Ou talvez a coma completamente vestido, terminando rapidinho. E depois nós podemos ir devagar. Sim, eu gosto desse plano. Só posso inclinar a cabeça para trás e deixá-la me devorar. — Feliz. Pra. Caralho. — Gemo enquanto ela leva a mão ao meu cinto e o abre, desabotoando minha calça no caminho. — Eu quero ficar mais perto de você — ela diz, recuando um pouco e tirando o cabelo do rosto. — É cedo demais? — continua, com a mão no meu pau duro. Quero gritar de tesão, mas me concentro nas palavras que ela está dizendo e no significado delas. Sacudo a cabeça e pego seu rosto. — Ter você perto de mim, na minha cidade, no prédio em que eu trabalho... — Suspiro. — Significa o mundo para mim. Mas... e Nova York? Meu membro pulsa, revoltado por eu fazer perguntas nesse momento. Ela lambe os lábios e passa os dedos pelo meu cabelo até eu morder o meu, segurando o gemido que quer sair. — Nova York não tem você. A flecha do desejo contida em suas palavras faz meu pau chorar pela ponta de necessidade de entrar fundo nela. Mas controlo a luxúria e aperto os dentes. — E Boston nem sempre — eu a faço recordar, com uma honestidade que ela não pode ignorar. — Nem sempre, eu sei. Mas aqui é a sua casa, e está começando a ser a minha também. — Ela abre um botão por vez da minha camisa enquanto fala. — Sua família, sua empresa, sua vida está aqui. Eu posso morar onde quiser e pegar um avião para ir aonde precise trabalhar. — Tira minha camisa e pousa as mãos quentes no meu peito nu. É como se me marcasse com um ferro em brasa, e eu puxo o ar por entre os dentes. — O resto do tempo eu quero estar

perto de você. — Então se inclina para a frente e passa a língua no meu mamilo. Pego seu queixo, puxo seu rosto para o meu e a beijo com força. — Tem certeza? É um grande passo. — Morar junto é um passo ainda maior. Por enquanto eu quero que a gente consiga passar o maior número de noites possível juntos. E você estava preocupado com a minha segurança... Este prédio é completamente seguro. — Seus dedos ágeis correm para minha virilha e abrem meu zíper. — O Nate e a Rachel olharam muitos, mas eu queria este. Eles aprovaram com base na segurança do saguão e da garagem, e também por causa da ativação do elevador por impressão digital. Falando em dedos... ela desliza o polegar sobre a minha cueca úmida, me provocando com o que é capaz de fazer. Mas eu sei que sua boca e sua fenda molhada podem fazer ainda melhor. Suas palavras invadem meus pensamentos cheios de desejo. — O que me lembra... você precisa cadastrar a sua impressão digital para poder entrar e sair quando quiser. Os meninos e a Wendy também. E seus pais. Gemo e ofego quando ela enfia a mão na minha cueca, fecha o punho ansioso ao redor do meu membro e dá um belo puxão. — Puta merda. — Aperto os dentes e levo as mãos a sua bunda, procurando a bainha de seu vestido diáfano. Ela acaba me ajudando, tirando o vestido pela cabeça, ficando só de sutiã nude sem alças, que valoriza seus seios fartos, e uma calcinha de renda da mesma cor. Em vez de fazê-la levantar do meu colo para tirar a calcinha, simplesmente a rasgo nas laterais, enroscando os polegares no tecido frágil. Então seguro cada extremidade da calcinha rasgada, uma parte nas costas e outra na frente, e puxo para cima, apertando o triângulo de renda contra seu sexo até ela gritar. — Parker... meu bem... — ela ofega enquanto esfrego o tecido para a frente e para trás em sua fenda molhada e seu clitóris. — Eu preciso de você. Preciso de você... — Ela deixa a cabeça cair para trás, e seu cabelo faz cócegas na minha mão enquanto a excito. — Por favor... — implora. Eu me inclino para a frente e mordo a parte carnuda do seu seio.

— Adoro quando você implora. — Mordo mais forte, então alivio a mordida com a língua. — Eu sei. Sky ofega quando puxo o tecido mais forte e mexe os quadris com os meus para provocar mais atrito. Minha garota é uma gata selvagem na cama. Apenas sensações e necessidades, nunca insegurança e desconforto. Ela arfa, e, quando sei que está prestes a gozar, tiro o tecido, centro meu pau e meto fundo. Ela grita, as paredes do seu sexo se fecham e pulsam com o orgasmo enquanto a penetro profundamente. Aperto os dentes com tanta força que meu maxilar dói, tentando não gozar instantaneamente. Quando ela começa a respirar mais devagar e a voltar a si, começo a bombear forte. Forço o corpo para cima e puxo o dela para baixo, até que ela começa a participar de novo. Minha garota gulosa quer mais, sempre mais. Murmuro enquanto ela sobe e desce em meu pau, se segurando no encosto do sofá para dar impulso, respirando forte a cada mergulho. — Você é uma deusa... — Sinto meu pau inchar, e minhas bolas se retesam a cada investida dela. — Que delícia. Delíííícia! — Ela cola a boca na minha e grita, travando o corpo no lugar. Com uma necessidade animalesca, giro nós dois e a faço sentar no sofá. Seu cabelo voa, seus seios pulam para fora do sutiã. Levanto uma de suas pernas, segurando-a para cima e para o lado, abrindo-a totalmente enquanto a tomo com força. Meu desejo me incita a ir mais fundo, a bombear os quadris com mais força. Quero fazê-la gritar até ficar rouca. Ela trava a outra perna ao redor da minha bunda, onde está minha calça, amontoada entre nós. O pouco espaço restringe meus movimentos, mas logo estou rangendo os dentes e bombeando, até ver tudo preto. Não ouço nada além do som do segundo orgasmo deixando seus pulmões em um grito tão alto que tenho medo de as janelas tremerem. Reteso a lombar, contraio a bunda e as coxas enquanto meto fundo com uma poderosa investida e paro. Um tremor me percorre

enquanto meu pau libera tudo em jatos poderosos. Parece uma bomba explodindo na cabeça do meu membro a cada espasmo. O gozo continua até meus ossos não conseguirem mais me sustentar. Desabo em cima dela, respirando forte, como se tivesse prendido o ar durante anos. Ela me envolve com as pernas e os braços, formando um casulo de Skyler em volta de mim, sem ligar para o meu peso. Nunca mais quero sair daqui. Esta mulher se tornou meu lugar mais feliz. Eu sei que preciso lhe dar um pouco de espaço, mas, em vez de sair de dentro dela, deslizo para o lado e a puxo junto, para ficarmos deitados lado a lado, ainda conectados. — Acho que você gostou do apartamento — ela sussurra em meus lábios. — Humm, adorei. — Imagine então quando conhecer de verdade. Começamos a tremer juntos de tanto rir. Minha calça está enroscada nos joelhos, a cueca pressionando meu pau, que está começando a escapar de dentro dela. — É melhor a gente levantar, senão vamos estragar o sofá novo. — Foi impermeabilizado — ela diz, bocejando e fechando os olhos. Manobro sua perna, tentando evitar que escorra alguma coisa antes que eu consiga localizar algum tecido. Apoiando-me na almofada, eu me levanto, e ela aconchega seu corpo nu no assento. — Por que a gente transa tanto em sofás? — pergunto enquanto puxo a cueca e a calça e a fecho. Ela boceja de novo. — Nós gostamos de sofás. É o nosso lance. Enquanto eu olho para a mulher mais linda que já conheci, que me deixa louco de necessidade e desejo, sorrio. — É, baby, é o nosso lance. Durma um pouquinho. Pego uma manta e jogo sobre seu corpo nu. Giro ao redor e observo o que me cerca. Skyler alugou um apartamento em Boston. Por mim. Não... por nós.

Dois dias mais tarde, de volta ao escritório, estou olhando pela janela, batendo nos lábios com a caneta, recordando todas as coisas escandalosas que fiz com Skyler antes de deixá-la na cobertura esta manhã. Suspiro ao ouvir uma batida na porta. — Entre. Sorrio quando Annie entra segurando dois sacos de papel brancos. — Boa tarde, sr. Ellis. — Ela indica os sacos. — Comprei sanduíches e batata frita pensando que talvez pudéssemos almoçar aqui enquanto repassamos os planos da viagem para Berlim. — E abre um sorriso largo. Observo sua roupa. A saia lápis padrão, desta vez combinada com uma blusa roxa soltinha de manga comprida que ultrapassa os pulsos. Me faz lembrar uma donzela renascentista de uma peça de Shakespeare. Não é algo que eu imaginaria Annie usando. Consigo visualizar Skyler com essa blusa, combinada com calça jeans e botas de camurça, mas Annie nem tanto. Pelo menos ela está sempre alinhada e profissional. Exatamente o que este escritório necessita. Suspiro e indico a cadeira em frente à minha mesa. Wendy iria gostar que eu me esforçasse para aceitar a garota, e, durante a minha reunião com Royce ontem, ele disse que devíamos pensar em ficar com Annie para cuidar da contabilidade. Sem falar que ele está pensando em contratar um advogado também. Parece que a empresa está crescendo rápido, e não estamos com tudo tão regularizado quanto deveríamos. A agência precisa estar protegida. — Muito gentil da sua parte, Annie, não precisava. Ela me oferece um sorriso radiante, e um rubor sobe pelo seu pescoço até as bochechas conforme deixa os dois sacos de papel na mesa e tira um sanduíche embrulhado em plástico. — Peguei o seu preferido. Franzo a testa. — Como você sabe qual é o meu preferido? Ela pisca por alguns segundos, depois sacode a cabeça. — Ah, estava no arquivo de almoço da Wendy. Ela tem tudo de que vocês gostam anotado. Eu consultei.

— Uau, que eficiente. — Eu tento. Ela vai me entregar o sanduíche quando ouço batidinhas antes de a porta se abrir e minha namorada megagostosa entrar como um raio de sol. Seu cabelo dourado está preso em um rabo de cavalo charmoso, que balança conforme ela ginga. Está usando um jeans skinny que realça todos os seus atributos, regata e cinco colares de tamanhos e comprimentos variados, com uma blusa de seda franjada de estampa paisley por cima. Tem três anéis de prata em uma das mãos e dois na outra. A pulseira de couro com a mensagem “Viva a sua verdade” está acompanhada de algumas outras, que também parecem artesanais. Fico olhando para ela como se estivesse começando a respirar um pouco de ar fresco depois de sufocar. O decote da regata azulmarinho é baixo o suficiente para dar um vislumbre de seus seios incríveis, e minha boca se enche d’água. Dane-se o sanduíche, prefiro dar uma mordida nela. Mas fico na vontade. Ela me mostra uma sacola. — Eu fiz almoço para a gente, meu bem! — Vem para o meu lado da mesa e eu a puxo para o meu colo, provocando um farfalhar de seda e risos. Ela roça o nariz no meu e me dá um beijo rápido. Olho para ela, para seu rosto viçoso e seus doces lábios vermelhos, e então lembro — e ela percebe — que não estamos sozinhos. Sky inclina a cabeça e passa o braço em volta do meu pescoço, se ajeitando no meu colo. — Oi, Annie! Está se adaptando bem? A mulher fica parada do outro lado da mesa com o sanduíche embrulhado na mão. — Sim, obrigada, srta. Paige. Sky faz um aceno com a mão. — Pode me chamar de Skyler, ou Sky. Os olhos de Annie se iluminam diante da oferta. — Obrigada, Sky. Eu trouxe o almoço do sr. Ellis, para repassarmos os detalhes da viagem para Berlim, mas posso guardar para amanhã. Sem problemas — ela diz, colocando o sanduíche de novo no saquinho.

— Por que você não dá o meu sanduíche para o Bo, Annie? Ele pode repassar os detalhes com você enquanto eu almoço com a minha namorada — sugiro, apertando o quadril de Skyler e inalando o cheiro delicioso de comida italiana que vem da sacola a meus pés. O sorriso de Annie desaparece, mas ela o substitui por um falso. — Tudo bem. Vou fazer isso. Skyler aponta para ela. — Eu tenho uma blusa igual! Confortável, né? E ficou ótima em você! — Minha mulher fala do jeito que só ela consegue. Exuberância devia ser o nome do meio de Skyler, não Paige. O sorriso verdadeiro de Annie volta, como um patinho feio que acaba de ouvir que é bonito. — É mesmo? — diz, elevando a voz com alegria. — Estou usando uma peça igual à da Skyler Paige! Ai, meu Deus. Vou ligar para a minha mãe para contar. Ela vai morrer! Skyler ri. — Que bobaginha. — Bobaginha... — murmuro. — Alguém andou falando com a minha mãe de novo. Ela dá aquele sorriso de gato que comeu o canário. — Se você quiser, eu posso autografar alguma coisa para você e a sua mãe. Aí você pode surpreendê-la. Annie arregala os olhos. — Você é... única — diz com admiração. — Que nada! Eu sei como é. As mães são muito importantes. Nós temos que fazer com que se sintam especiais o máximo possível. Skyler tira meu bloco de papel de baixo de uma pilha de pastas, esfregando no processo o belo traseiro em meu membro prestes a endurecer. Um toque dela e a fera já fica em alerta. Caramba, adolescentes têm menos ereções involuntárias do que eu! — Qual é o nome da sua mãe? — pergunta, pegando uma caneta e tirando a tampa... com os dentes. Eu gemo e jogo a cabeça para trás, pressionando as têmporas com os polegares e os indicadores. Não fique duro. Não fique duro. — Trudy.

Skyler cutuca a bochecha com a língua, e juro que tudo em que posso pensar é no meu pau cutucando sua boca desse jeito. De volta à ladainha: Não fique duro. Não fique duro. Mordo o lábio e espero enquanto Skyler escreve duas mensagens, uma para Annie e outra para sua mãe. Então arranca as folhas do bloco. — Pronto. Agora você vai ganhar o título de melhor filha do mundo! Annie pega as folhas e as lê uma vez, duas vezes, depois uma terceira vez. Passa os dedos pelos autógrafos com reverência antes de olhar para nós. E fala com a voz trêmula: — Obrigada. Muito obrigada. Eu sabia que você era incrível. — Ah, que fofa. Agora, se nos der licença — Skyler pede, esfregando o nariz no meu rosto —, eu tenho um encontro com este gostosão. Annie ergue as sobrancelhas. — Ah... Sim, claro. — Pega os dois sacos de papel e se apressa para fora da sala com as folhas autografadas na outra mão. — Se eu puder fazer mais alguma coisa por vocês, é só me avisar — oferece antes de sair. — Onde estávamos? — pergunto, travando os braços em volta da cintura da minha garota e colando a testa na dela. — Ela é boazinha, né? — Skyler comenta enquanto beija meu rosto. — Ãhã. Muito boazinha. Então, o que você trouxe que está me deixando com água na boca e querendo chorar de alegria? Ela sorri e se afasta para poder ver meu rosto inteiro. À luz da janela, está incrivelmente bonita. Sua pele bronzeada brilha, e dá para ver magnificamente cada mancha dourada de seus olhos castanhos. — Eu fiz lasanha e salada. E trouxe uma baguete. Levanto uma sobrancelha. — Você fez tudo isso depois que eu te deixei saciada e cochilando hoje de manhã? Ela assente. — Sim. O Nate e a Rachel me levaram ao mercado e eu enchi a despensa.

— Encheu a despensa? Achei que ia mudar de ideia e voltar para Nova York esta semana, antes de eu ir para Berlim com os rapazes e você fazer a turnê de divulgação do filme. — Não. Eu resolvi conhecer a minha nova cidade. O Nate já escolheu o Range Rover para mandar personalizar. É exatamente igual ao que alugávamos. — Ela revira os olhos, divertida. — Que bom. — Sorrio. — Como foi no mercado? Seu sorriso desaparece. — No começo foi tudo bem. Mas aí uma mulher me reconheceu e pirou. Não do tipo me abraçar e pedir um autógrafo. Ela literalmente começou a gritar. Daí desmaiou, bem no meio da seção de congelados. — Sky deixa cair os ombros, suspirando e saindo do meu colo. — É uma merda. Eu adoro o meu trabalho, não existe outra profissão no mundo para mim, mas às vezes... às vezes é uma merda ser famosa. Eu me inclino para a frente enquanto ela tira os potes da sacola que trouxe e coloca um diante de mim e um do outro lado. — E o que vocês fizeram? — pergunto, pegando da mão dela os talheres enrolados no guardanapo. — A Rachel ajudou a mulher e alguém chamou uma ambulância. Foi só um desmaio, mas, como aconteceu no meio do mercado, foi um problemão. Da próxima vez que eu for a algum lugar, vou usar um disfarce. — Ela solta outro suspiro enquanto se senta a minha frente e abre a tampa do seu pote. O vapor sobe do recipiente, e o cheiro de alho e queijo atinge meu nariz como um duplo soco de fome. Meu estômago ronca. Sky aponta com seu garfo para o meu pote. — Coma enquanto está quente. Deixo de lado os talheres e abro a tampa. — Meu pêssego, vai levar algum tempo até você encontrar os lugares que pode frequentar sem se preocupar com a reação das pessoas. Você sabe disso, né? Ela anui, mas franze os lábios. — Eu acho que, por ter ficado dentro da nossa bolha de normalidade na semana passada, acabei me acostumando. — Ela sopra para cima, agitando as camadas mais longas da franja que cobre sua testa. — Não acho que seja pedir demais não ser

reconhecida, ou ser deixada em paz. Eu já devia estar acostumada, mas não estou. Adoraria poder escolher minhas verduras sem ser incomodada por causa de um autógrafo ou de uma selfie, ou por uma pessoa dizendo que me ama, que adora os meus filmes. É o céu e o inferno ao mesmo tempo, sabe? Pouso a mão sobre a dela do outro lado da mesa. — Não sei muito bem, mas, quando estamos juntos e os paparazzi surgem do nada, acho que tenho uma ideia do que você precisa enfrentar. Lamento, baby. Ela dá de ombros e passa a mão pelo rabo de cavalo. — Tudo bem. Estou sendo dramática. Mas você devia ter visto aquela mulher. Ela estava carregando dois pacotes de frutas vermelhas congeladas, e de repente revirou os olhos e caiu feito um pino de boliche. Morro de rir, o que faz Skyler gargalhar também, com o garfo ainda na boca. — Pelo menos nós podemos rir, já que ela não se machucou — digo. — Verdade. Muito obrigada, meu bem. — Por quê? Você que trouxe o almoço. E está excelente, aliás — elogio, dando mais uma garfada dessa delícia cheia de queijo. — Obrigada por ser você. Por entender, por me deixar desabafar. — Você sempre pode contar comigo, Sky. Ela inclina a cabeça, fixa os olhos nos meus e faz meu coração parar com suas palavras: — Eu sou tão feliz por você ter batido na minha porta naquele dia. — Eu também. Agradeço ao cara lá de cima todos os dias. Agora coma. Eu preciso trabalhar para poder voltar logo para casa e ver a minha namorada. — Ah... imagino que ela não seja do tipo que fica esperando o dia todo — ela retruca, mordendo um pedaço de pão grande demais para sua boca. — Não, a minha garota não precisa esperar. Eu corro o dia todo só para chegar à melhor parte: o instante em que ela abre a porta e eu a vejo sorrir. Sky limpa a boca graciosamente e solta um comentário mordaz:

— Nossa, eu devia ter trazido vinho para acompanhar esse biscoito que você acabou de me dar. Jogo meu guardanapo em seu rosto risonho, e ela joga o dela em mim. Riso e amor. Não há nada melhor que isso.

4

A primeira classe está movimentada enquanto os rapazes e eu nos acomodamos. Royce ocupa o assento da janela, pois sabe que eu não faço questão de olhar para fora. Para mim, aviões são como trens ou ônibus flutuantes — basta deixar o movimento me fazer dormir, aceitar as duas ou três refeições que não precisei preparar e atualizar o trabalho, a leitura ou o filme mais recente. O voo para Berlim vai levar cerca de dez horas, e, como é noturno, vamos conseguir nos adaptar ao fuso horário europeu bem rápido. Bo pega a poltrona do corredor ao lado da minha e estica as longas pernas. Royce me entrega seu paletó, que eu passo à comissária de bordo com o meu. Vamos encontrar o cliente logo depois que pousarmos. Nós três concordamos que essa viagem duraria no máximo uma semana. Temos uma lista de clientes esperando, e o próximo está em Washington. Eu esperava escapar deste, mas, como tive mais tempo livre que os rapazes ultimamente, preciso estar disponível. O que é um saco, porque eu queria passar mais tempo mostrando Boston a Skyler. Claro, isso se ela estiver na cidade. Pedimos nossas bebidas à comissária de bordo. Vou direto para o melhor e escolho um uísque. Quero dormir neste voo. Skyler me manteve acordado a noite toda com seus atributos femininos. Desde que ela alugou o apartamento em Boston, está insaciável. Já estreamos quase todas as superfícies, para “criar memórias” no novo apartamento e torná-lo nosso, não só dela. Não que eu me importe com isso. Tudo que eu quero é transar com a minha namorada com a maior frequência possível. Então o plano dela serviu para mim... perfeitamente. Sorrio enquanto a comissária nos entrega as bebidas e vai atender outros passageiros.

— Como foram as coisas com a Sky quando você foi embora hoje? — Roy pergunta, bebendo seu uísque puro. — Tudo bem. Mas preciso confessar que eu não imaginava que ela fosse alugar um apartamento na cidade. Ele sorri com suavidade e aponta para mim com um dedo, enquanto com os outros quatro segura o copo de uísque. — Você não acha que merece uma mulher como ela? Dou de ombros e penso na pergunta. — A verdade? — Sempre, irmão, sempre. — No começo eu não achava. Aliás, nem no meio do relacionamento. Mas muita coisa mudou nos últimos dois meses, especialmente depois do rompimento e do tempo que passamos em Londres e Paris. É como se nós dois juntos fizéssemos sentido agora. Pode não ser fácil. Namorar uma celebridade do calibre dela não seria fácil para ninguém. Muitos problemas de segurança e preocupações da vida real podem atrapalhar, mas nós conversamos sobre tudo e mantemos a comunicação aberta o tempo todo. Roy anui, ouvindo atentamente. — Quando ela alugou o apartamento no prédio da IG — digo, sacudindo a cabeça —, foi como se alguma coisa se abrisse em mim. — Aceitação? — ele sugere. — Sim. — Bebo o uísque e deixo o líquido aquecer minha garganta e minhas entranhas. — Ela pode ser tudo que eu poderia querer em uma mulher, mas o fato de se mudar para Boston, se dedicar a conhecer vocês, a minha família, bateu forte. — Como assim? — Ele concentra em mim os olhos negros como carvão. Nem nota as pessoas agitadas ao redor procurando seus lugares, ou o sujeito tirando algo do compartimento de bagagem e batendo a tampa. — Talvez eu seja o que ela sempre procurou, tudo que ela sempre quis em um homem... Royce ergue a sobrancelha, em dúvida. — Tudo bem, talvez sem os problemas de confiança — admito. Ele sorri.

— Eu não queria dizer, mas você concluiu sozinho. — Suas palavras são acompanhadas de um riso grave. — Se o que estou ouvindo estiver correto, vocês resolveram as diferenças em relação aos seus ex e, claro, à Sophie. Suspiro e encosto a cabeça na poltrona de couro. — Honestamente, eu acho que sim. Não posso dizer que coisas não vão acontecer. Nunca vou achar normal o Johan fazer parte da vida dela, assim como ela não gostaria se a Kayla aparecesse de repente. Mas a Sophie é outra história, e ela sabe disso. A Sosso é minha amiga, e nessa última viagem eu acho que a Sky entendeu que a nossa relação é baseada na amizade, não no amor romântico. Royce respira fundo. — Não sei como você conseguiu. Nunca conheci uma mulher que ficasse de boa com o fato de o namorado ser amigo de uma mulher com quem já transou. Eu rio e reclino a poltrona para ficar mais confortável. — Talvez seja porque a Sophie e eu não moramos no mesmo continente. Ele aponta para mim de novo. — Agora sim faz sentido. Rimos. Meu celular avisa que recebi um e-mail. Olho para a tela e vejo um endereço familiar. De: Paul Ellis Para: Parker Ellis Assunto: Berlim ou nada P-Drive, Acabei de falar com a mamãe! Eu sei, muito tempo sem notícias, foi mau. Fiquei infiltrado um tempo, mas finalmente estou livre. Pelo menos por enquanto. Estou na Europa e ia voltar para casa daqui a alguns dias. A mamãe disse que você está indo para Berlim hoje, e eu vou estar em Frankfurt amanhã. Posso ir para Berlim te encontrar. Faz muito tempo, mano. Tempo demais. Estou com saudade da sua cara feia. Me passe as suas coordenadas quando puder. Mande um oi para o Royce. Diga ao Bo que ele ainda me deve vinte dólares pelo último futebol fantasy que perdeu. Vê se arranja um tempo para o seu irmão mais velho, beleza? Precisamos conversar. Tenho uma coisa para te contar. O mais atraente dos irmãos Ellis, Paul

P.S.: Você está mesmo comendo a Skyler Paige?

— Puta merda! — ofego, relendo o e-mail do meu irmão. Não o vejo há dois anos, e não falo com ele há mais de seis meses. — Que foi? — Bo estreita o olhar para mim. Royce se debruça sobre meu celular enquanto leio a mensagem pela terceira vez. Tenho que segurar as lágrimas. Honestamente, sempre imaginei que a próxima mensagem que receberíamos sobre Paul seria dizendo que ele tinha morrido em batalha. Ele nunca passou mais de seis meses sem fazer contato. Minha mãe deve estar muito emocionada. Porra, não posso ligar para ela agora, porque o comandante anunciou que o avião está pronto para decolar. — Caramba, o Paul deu notícias? — Royce comenta por cima do meu ombro. Anuo e lhe entrego o telefone. Ele pega e lê a mensagem antes de passá-lo a Bo, que franze a testa depois de ler. — O filho da puta é que me deve vinte dólares! Eu rio quando o sujeito no assento ao lado de Bo resmunga e vira para o outro lado, como se estivesse tentando evitar ser associado ao meu amigo e seu palavreado sujo. — Porra, quando foi a última vez que você teve notícias do Paul? — Roy pergunta quando Bo me devolve o celular e se inclina sobre o braço da poltrona para participar da conversa. — Há seis meses. Talvez um pouco mais. — Pelo menos agora você sabe que ele está bem. Eu me preocupo com o seu irmão — Bo comenta antes de beber um gole de cerveja. Sacudo a cabeça e suspiro, liberando a preocupação que até o momento nem sabia que tinha com o meu irmão. — Caralho... — Passo a mão pelo cabelo. — Ele está bem. Tem alguma coisa para me contar e planos de voltar para casa. Meus pais vão pirar. Vão ficar superfelizes. — É. Você imagina o que ele tem para contar? Bebo um gole do meu uísque, mas então esvazio o copo. Preciso sentir o líquido queimando.

— Seja o que for, não faz diferença. Desde que ele esteja seguro, e não morto em algum país devastado pela guerra, qualquer coisa está bem para mim. Royce assente. — Tem razão. Que bom que o seu irmão está voltando para casa. — Estende o punho fechado para mim, e eu bato no dele com o meu. — Legal que o Paul está voltando. — Bo se reclina e estica as pernas, virando a cabeça para o lado para poder olhar para mim. E acrescenta, sério: — Mas é ele quem me deve vinte dólares, e eu vou cobrar. O riso toma conta de nós três. Eu me reclino e ergo a mão, segurando o copo vazio, até que a comissária vê e acena com a cabeça. — Valeu, irmãos. — Por quê? — Royce quer saber. — Por serem meus amigos. — Ah, essa é a parte fácil. Família é na alegria e na tristeza. Certo, Bogey? Bo rosna ao ouvir o apelido, suga sua cerveja até só sobrar a borra e anui. — É isso aí. Inspiro longa e profundamente. — Tem família de todo jeito.

Os escritórios da OhM Motors estão situados no coração de Berlim. Eles também têm escritórios e fábricas em países parceiros — Estados Unidos, França, Japão e Índia. Quando chegamos, estamos o mais apresentáveis possível, depois de escovar os dentes no avião e limpar o rosto com a toalhinha quente que eles nos dão antes da aterrissagem. Até Bo está de blazer, com jeans preto, suas eternas botas de motociclista e uma camiseta mais elegante que o normal, com decote V. Bo é Bo e, independentemente do que esteja vestindo, é um membro valioso da nossa equipe. Ele usa o que acha que mostra o seu melhor. Quem sou eu para julgar?

No extremo oposto, Royce está de terno preto Tom Ford com caimento perfeito e uma camisa rosa risca de giz com abotoaduras de prata — aparência de um milhão de dólares. Eu fico no meio, de terno azul-marinho Hugo Boss e camisa branca, gravata listrada de verde e azul e meus Ferragamo marrons. Este trabalho, apesar de durar apenas uma semana, está pagando duzentos e cinquenta mil pelos nossos serviços completos — daí a presença de toda a equipe. Exceto, claro, a nossa ruiva, que ficou em casa. Preciso lhe avisar que chegamos bem e saber como ela está. Não que ela já não tenha rastreado nossos cartões de crédito... Ela seria capaz de colocar rastreadores na nossa carteira quando não estivéssemos olhando. A mulher é paranoica. Mas, vendo as coisas sob a perspectiva dela, Wendy foi baleada no trabalho por uma lunática. Nós somos sua única família além de Mick. Ela é meio superprotetora, mas, francamente, não me importo. Não faz mal a mim nem aos rapazes, e, se algo der errado, vamos ter reforço. Royce abre a porta dos escritórios da OhM, no centro da antiga Berlim Oriental. Imediatamente somos recebidos por uma recepcionista e levados até um conjunto de portas duplas. Ela bate, diz alguma coisa em alemão e abre a porta. — Podem entrar. A sra. Schmidt está esperando. Monika Schmidt é uma loira alta, escultural, de olhos azuis e traços marcantes. Ela me faz lembrar a modelo preferida da minha mãe, Claudia Schiffer — maçãs salientes, rosto comprido e lábios naturalmente carnudos, em forma de coração. Só que essa mulher não parece uma modelo de passarela; parece pronta para uma batalha no tribunal. Seu tailleur é cinza-escuro com pespontos pretos. A saia lápis tem um plissado atrás e cai como uma luva. Seu cabelo platinado está preso em um coque apertado na nuca. A maquiagem é simples, sem frescura, e não apaga sua beleza natural. — Monika Schmidt. Bem-vindos à OhM Motors — ela diz em inglês com sotaque alemão, mas pronúncia perfeita. — É um prazer recebê-los e já podermos começar a trabalhar.

Tudo bem, sem rodeios e lisonjas desta vez. Ela deve ser a melhor jogadora de Banco Imobiliário do mundo. Aperto a mão que ela estende. — Sra. Schmidt, obrigado por nos receber. Estamos ansiosos para saber mais sobre a sua empresa e os lançamentos ao redor do mundo. Depois de apertar a mão de Bo e Royce, ela indica uma mesa de reunião ao lado da sua. Nada de poltronas confortáveis aqui. É tudo trabalho. Cada um de nós se acomoda em uma cadeira, então ela pega um controle remoto e aperta um botão. Uma grande tela de projeção desce do teto, as luzes se apagam e aparece um vídeo. — Eu quero que vocês assistam a dois vídeos feitos por duas agências de marketing diferentes, mas igualmente reconhecidas, sobre os nossos produtos e os lançamentos da companhia. Gostaria de ouvir a opinião de vocês primeiro. — Tudo bem — digo, indicando a tela. Ela anui e os vídeos começam. O primeiro é de uma mulher sexy com um vestido chique, cheia de “Ohs!” e “Ahs!” ao lado de um dos melhores carros que a empresa automotiva vai lançar. Pelo material que li, eles vão lançar seis veículos ao mesmo tempo. Mas são modelos únicos. A montadora cria somente veículos híbridos, ecológicos e de alto desempenho. Muito parecida com a Tesla, nos Estados Unidos, mas esta marca oferece a opção híbrida a gasolina e elétrica. A gasolina carrega a bateria e o carro pode fazer mais quilômetros com menos emissão de poluentes e menos combustível. Um homem pega a mão da mulher e a beija, depois dança valsa com ela em volta do carro, como se estivessem em um salão de baile. Eu me encolho e bocejo. O jet lag está começando a bater. Bo alisa o cavanhaque, observando atentamente a tela. Royce analisa o casal dançando, então a imagem muda para a mulher grávida e o sujeito dançando com ela em volta do carro de novo. Essa cena faz Royce torcer os lábios, como se estivesse sentindo um cheiro ruim. A última imagem é do homem dançando ao redor do carro com a filha a seus pés e a mulher com uma criança no colo. O logotipo da

OhM Motors aparece na tela, seguido do slogan “Dance seu caminho para o futuro”. — Algum comentário? Nós três nos entreolhamos, e eu levanto a mão. — Vamos ver o próximo antes de comentar. Monika contrai os lábios enquanto aperta play para o próximo. A tela ganha vida de novo, mostrando um dos crossovers da OhM em uma pista de corrida. Ao lado dele, um Mercedes, um Audi, um BMW, um Porsche e um Lexus, todos na versão crossover. A bandeira verde sobe. Reviro os olhos enquanto os seis carros voam pela pista. Claro que o crossover da OhM vence. Então, de cada carro sai uma mulher entre trinta e quarenta anos. O logotipo da montadora aparece na tela e termina com o slogan: “Não aceite o segundo lugar. Corra pela vida em grande estilo”. Preciso piscar diversas vezes para despertar minha mente do tédio extremo que esses dois vídeos me causaram. Monika aperta um botão e cruza os braços. — Opiniões? — São péssimos — Bo afirma, categórico. — Eu não compraria o carro — Royce resmunga. Viro para ela. — Não queremos menosprezar o esforço das agências de marketing que vocês contrataram, mas, depois de ver o que elas produziram, eu entendo mais claramente por que você nos chamou. — Bom, ouvi dizer que vocês são os melhores em situações excepcionais. — É mesmo? Quem disse isso? — Alexis Stanton. Nós usamos a tecnologia da empresa dela. A Alexis me contou que vocês resolveram um problema para ela e me convenceu de que poderiam resolver o meu. Vejam, eu tenho exatamente um mês para desenvolver uma nova campanha e distribuí-la aos nossos quatro parceiros na França, Estados Unidos, Japão e Índia. Estes vídeos não vão conseguir lançar uma nova marca automotiva que precisa vender bem em um mercado global. Eu gostaria de ouvir algumas das suas ideias iniciais. Pego minha maleta e tiro quatro pastas que Annie montou depois que nós três fizemos nossas pesquisas sobre a OhM Motors.

Entrego uma para cada um. — Primeiro, vamos falar sobre o que não gostamos nos vídeos — digo para o grupo. — Eles têm o foco muito estreito. O primeiro mostra um homem e uma mulher com roupa sofisticada, o que imediatamente faz as pessoas pensarem em dinheiro. Depois mostra a família crescendo, de modo que você basicamente apresenta o veículo como um carro para uma família rica — Royce observa. — O segundo usou uma pista de corrida — Bo intervém. — Imediatamente eu penso em homens e esportes. Daí mostra um monte de mulheres que parecem estar no estágio de formar uma família. E os homens, ou as pessoas solteiras que querem um carro novo? — Minhas preocupações são essas, mas também o fato de que o carro assumiu um papel quase secundário em relação às pessoas — digo. — O carro precisa ser parte do cenário maior. Eu entendo que vocês estavam tentando mostrar que ele pode nos acompanhar no decorrer da vida, mas, na minha opinião, não foi do jeito certo. Monika bate a caneta nos lábios. — E como vocês mudariam esses conceitos? — Abra a pasta. Vamos falar sobre as características com as quais queremos impressionar todos os compradores, não só um grupo demográfico. O que tem de especial nos veículos da OhM? — pergunto. — Ecologicamente corretos. Como os carros são híbridos, o usuário produz menos poluição e usa menos combustível — Royce responde. — E isso também torna o carro economicamente atraente, porque não gasta tanto combustível. Então a pessoa economiza dinheiro e poupa o meio ambiente. — Exatamente — digo, apontando para ele. — Economiza dinheiro e salva o meio ambiente. Bo? Ele gira a caneta na mão. — Os seis modelos que serão lançados são de alto desempenho. Isso é atraente para o público masculino, seja um apaixonado por carros, um universitário, um atleta, um empresário, um pai ou um avô. Não é nenhum segredo que os homens tendem a gostar de

máquinas rápidas e bem lubrificadas. Nós podemos até brincar dizendo que está no nosso DNA. — Os veículos têm alto desempenho. Muito bem — continuo. — Eu também notei que cada um atende a um tamanho. Temos a moto, o carro de dois lugares, a caminhonete, o sedã, o crossover e o SUV completo. Tem um jogo de números aí. Um, dois, três, se você colocar um cachorro na caminhonete, quatro para o sedã, cinco para o crossover e seis para o SUV. O que significa que... — Nós atendemos a todos — Monika completa, rabiscando em seu bloco de papel. — Bingo! O que queremos fazer com a campanha é mostrar tudo isso, para que vocês possam alcançar todos os grupos demográficos. Se quiser fazer depois uma série de campanhas menores para cada veículo, promovendo-os para um público específico, seria bom. Mas por enquanto, se você vai lançar um carro novo no mercado atual, onde os seus concorrentes são carros no estilo americano ou o europeu de luxo e o Tesla ecologicamente correto, tem que agradar a todos. Ela anui e continua escrevendo. — Muito bem. Como vocês propõem que façamos isso? — Bom, nós três trocamos ideias, mas eu gostaria de ver os veículos pessoalmente, para ter uma ideia do que estamos vendendo, fazer um test drive. Depois, acho que vou dar um telefonema para um amigo meu. — Quem? — Bo pergunta. — O Pritchard. — Ótimo — ele acrescenta, seco. Royce arregala os olhos, mas concorda com a cabeça. — O sujeito sabe controlar as coisas. — Exatamente. E nós estamos com um prazo apertado. Para que a campanha esteja totalmente desenvolvida em um mês, precisamos gravar esta semana e preparar material impresso, criar comerciais, exibições dos veículos, grupos de usuários etc. Ele é uma pessoa que faria de tudo para nos ajudar e tem os contatos certos. Na semana passada, quando visitamos Mick e Wendy mais uma vez, descobri que ele não é dono só de uma das maiores agências

de publicidade dos Estados Unidos como também de editoras, gráficas, agências de modelos — basicamente qualquer coisa que envolva marketing e publicidade, até gráficas rápidas que imprimem cartões de visita. O cara tem um sério problema com controle e privacidade. Gosta de tocar um projeto desde a semente até a floração, por isso é multimilionário vezes cem. Não que pudéssemos notar esse nível de sucesso escondido sob seus ternos caros. Ele só parecia ser o namorado controlador e amoroso da minha assistente. Agora que o estou conhecendo melhor, ele vem mostrando um lado totalmente novo, que está começando a se ramificar. Está aprendendo a confiar em outras pessoas além da noiva. Ainda tem um longo caminho pela frente com a nossa equipe, mas vamos chegar lá juntos. Bem, pelo menos Royce e eu. — Michael Pritchard? — Monika pergunta, e seus olhos se iluminam. — Nós oferecemos o projeto para ele, mas ele recusou. Franzo a testa, me reclino na cadeira e puxo o tornozelo para apoiá-lo no joelho. — É mesmo? Por alguma razão em particular? Ela inspira e expira, como se estivesse se centrando. — O Michael e eu tivemos um relacionamento. Foi há muito tempo, mas ele não é o tipo de homem que mistura negócios com prazer. Caramba. Agora a coisa ficou muito mais interessante. — Juuuura? — Bo diz, com um sarcasmo inconfundível. Ela dá de ombros. — Isso não é problema. Eu sou casada. E ele deve ser também, pelo que fiquei sabendo. Mesmo assim, a coisa não terminou bem... Duvido que ele ajude vocês. O Michael que eu conheço raramente muda de ideia. Abro um sorriso largo. — Ele vai mudar de ideia. — Você acha mesmo? — ela pergunta, inclinando a cabeça. Seu olhar azul penetra o meu, curioso. Espero que só tenha encontrado confiança em meus olhos.

— Sim. Nós temos uma carta na manga para usar com o nosso amigo Mick. Royce sacode a cabeça. — Você vai mesmo fazer isso, né, Park? Logo agora que nós suavizamos as coisas? Você vai falar com a Wendy. Abro um sorriso largo. — Só se ele disser não. Bo gargalha, balançando para a frente e para trás na cadeira. — Pedir para a mamãe se o papai disser não? Adorei. — Se for preciso, mas acho que não vai ser. O Mick e eu estamos nos entendendo ultimamente — digo, olhando para meus dois irmãos. — Vocês vão ver.

5

— De jeito nenhum! Ellis, não faça isso. Você não sabe no que está se metendo. E eu não vou pôr em risco o relacionamento com o amor da minha vida por causa de um negócio para a IG. — O tom de Mick não admite argumentos, mas eu prossigo. — Mick, ajudar a IG ajudaria muito a deixar a Wendy feliz. E é verdade. Eu sei que Wendy tem interesse no bem-estar da International Guy e nosso. Nós somos como seus irmãos mais velhos. Se seu noivo trabalhasse conosco, ela ficaria muito empolgada, tenho certeza. E o que faz Wendy feliz deixa todo mundo feliz. Especialmente Mick. — Você não sabe a história que... Conto o que a cliente nos disse na reunião: — A Monika mencionou que você recusou o trabalho e que vocês tiveram um relacionamento... Ele ergue a voz ao responder: — Essa mulher me destruiu. Não vou deixar que ela coloque as garras em mim de novo. Fecho os olhos e esfrego as têmporas enquanto pressiono o celular no ouvido. Merda. A coisa não está saindo como eu esperava. — Não seria preciso. Você tem a Wendy, lembra? Além disso, ela é casada e não guardou ressentimentos... — Ah, claro que não... Eu terminei com ela — ele diz, irado. — Olha, esse é um grande contrato para a IG e uma oportunidade para a sua empresa participar da fase inicial de lançamento de uma indústria automotiva. O que eles estão fazendo é novo, moderno e sem precedentes, mas nós precisamos da sua ajuda para decolar. Eu preciso da sua ajuda. — Parker... — Mick suspira e pigarreia — você não entende.

— O que é que eu não entendo? Diga que eu vou dar um jeito. Seja qual for a complicação, ou por mais que tenha sido ruim, acredite, eu sou bom em consertar as coisas. É o que eu faço: resolver os problemas das pessoas. — Você não pode resolver o que ela fez. Os círculos que a Monika, a Wendy e eu frequentamos não fazem parte do seu mundo. Faço uma careta, andando através do quarto de hotel. — Imagino que você esteja se referindo ao estilo de vida sadomasoquista. — De certo modo, sim. Existem linhas que não podem ser cruzadas. E ela cruzou. Eu levei anos para confiar em outra submissa de novo. Só quando encontrei a Wendy eu renasci, decidi viver de novo. — Mick, eu tive uma mulher no passado que me traiu feio. Isso me impediu de confiar nas mulheres por um longo tempo. Até que eu conheci a Sky. E, mesmo assim, quase estraguei tudo por causa dos demônios do passado. O melhor conselho que eu posso te dar é não varrer essas coisas para baixo do tapete, e sim arejar tudo. Processe tudo com a Wendy, comigo. Eu sou seu amigo. Não tem nada que eu não faria para te ajudar. Especialmente agora, depois do que a Wendy passou. — Aperto os dentes e respiro fundo para poder dizer o que preciso. — Eu sofro todos os dias por ela, cara. Todos os malditos dias. Queria que as coisas fossem diferentes, mas ignorar e afogar a dor não funciona em longo prazo. Faz você não poder ajudar um amigo quando ele precisa da sua experiência. Uma pequena dose da culpa católica que minha mãe me ensinou faz Mick ficar mudo. Por dez longos segundos, não há nada além de silêncio. — Eu preciso falar com a Wendy, contar a ela sobre a Monika. Vou deixar que ela decida se eu posso ajudar vocês ou não. — Ótimo, cara! Valeu. Wendy vai convencê-lo rapidinho. É a IG, e ela é cem por cento membro da equipe. Eu sei que posso contar com ela. — Não me agradeça ainda. Eu preciso falar com a minha mulher sobre isso. Não sei como ela vai reagir.

— Independentemente disso, eu agradeço por você estar disposto a ajudar. Sabe, você poderia me contar o que aconteceu, suavizar o choque de falar sobre isso. Sento na cama macia e levanto a perna, apoiando o tornozelo no joelho oposto. — Merda — Mick praticamente rosna. — Foi há muito tempo. Eu estava com vinte e poucos anos, tinha acabado de sair da faculdade, já administrava a minha empresa e ganhava mais dinheiro do que achava possível. Mesmo com a herança da família, eu queria construir o meu próprio império. A coisa explodiu globalmente, tanto que acabei na Alemanha, abrindo outro braço da empresa lá. Foi quando conheci a Monika. Ela foi minha funcionária. A inteligência dela foi o que me atraiu primeiro. Claro, o fato de ela ter um belo par de pernas não atrapalhou. Bom, você a conheceu. Sorrio. — Sim, conheci. Muito bonita. Mas não é a Wendy. Mick ri. — Ninguém no mundo é como a Wendy. Eu comparo todos os seres humanos com ela. Ela é fiel a si mesma e aos outros o tempo todo. Existe uma liberdade na Wendy que me encanta. Eu quero segurar isso na mão, fazê-la minha para sempre. E eu vou fazer... mas porque ela vai deixar, não porque eu exija. Suas palavras fazem meus pensamentos divagarem para Skyler. Meu mundo é muito diferente agora que ela faz parte dele. Nosso comprometimento um com o outro nunca foi tão sólido, e eu faria de tudo para protegê-lo — e imagino que Michael se sinta da mesma forma em relação ao que precisa contar a Wendy sobre Monika. — A Wendy é única. Eu entendo que você queira protegê-la de tudo. Mas não pode protegê-la do passado nem impedir que ele surja de vez em quando. Eu aprendi essa lição da maneira mais difícil com a Sky. Imagino que a Wendy te contou sobre o Johan. Ele suspira. — Sim. Ela quase perdeu a cabeça pelo que estava acontecendo entre você e a Sky. E ficou muito aliviada quando vocês fizeram as pazes. Eu também, porque gosto da Skyler. A maneira como ela ama, profundamente, me faz lembrar a Wendy. Dá para ver nos

olhos o que ela sente em relação a uma pessoa. O jeito como ela olha é muito revelador. Eu sorrio e me inclino para a frente, apoiado nas pernas. — É... mas vamos voltar à Monika. Você ia me contar por que teve uma reação tão dura à possibilidade de trabalhar com ela. O som de Michael andando pelo escritório passa uma imagem clara. Posso vê-lo servindo uma bebida de seu decantador de cristal, sentando à sua enorme mesa de mogno, olhando a paisagem exuberante de sua mansão em Boston. — Nós ficamos juntos por cinco anos. Ela era minha submissa. E, nesse estilo de vida, é comum frequentar clubes privados, onde às vezes praticamos atos consensuais com outros casais. A Monika era aventureira. Em casa e no trabalho, ela era reservada, uma namorada amorosa, dedicada e submissa. Mas, no clube, era uma prostituta. Preferia praticar suas excentricidades com muitos parceiros. Havia um em particular, o dono, que gostava dela. Quando um submisso consente em compartilhar, a permissão final é do dominador. Fui ficando incomodado, porque eu não gostava de compartilhar. Descobri que eu não queria isso, e nem ultrapassaria as limitações dela só porque ela estava à minha disposição. Senhor... esse não é o tipo de conversa que achei que teríamos. Por dentro estou gritando: “Me poupe dos detalhes!”, mas já entrei na toca do coelho. Não há esperança de encontrar a saída tão cedo. — Hum. Faz sentido. — Pronuncio as palavras, mas não faço ideia se o que ele está dizendo é razoável nesse tipo de mundo. — Nos relacionamentos sadomasoquistas, com dominador e submisso, a confiança é crucial. Mais que tudo, a confiança é essencial, senão os jogos físicos e mentais não são agradáveis para nenhuma das partes. Eu não queria machucar a Monika do jeito que ela gostava. Ela queria que fosse até sangrar. Eu não machuco a pele da mulher que amo de um jeito que não cicatrize rápido ou exija curativos. O que eu não sabia era que, escondida de mim, ela começou a sair com o dono do clube, que a machucava como ela queria. Ela passou a mentir para mim e ia para o clube na surdina quando eu viajava a trabalho, me traindo várias vezes. Até que me traiu de um jeito que não deu para negar.

— Puta merda, Mick. Que chato, irmão. Só posso dizer que eu entendo. Eu entendo você. — Imagino que sim, senão você não teria tido o problema que teve com a Skyler. Enfim, a Monika deu um passo além da traição emocional e física. Ela engravidou e tentou me convencer de que o filho era meu. Mas a matemática da coisa não fechava. Eu tinha ficado fora por três semanas, justamente no período em que ela engravidou. — Caraca! — rosno. Eu me levanto. Preciso andar pelo quarto. Sinto a raiva ferver no estômago. Caramba, e eu achava que com a Kayla tinha sido ruim. Pelo menos ela não mentiu dizendo que estava grávida de mim. — Quando o bebê nasceu, eu fiz o teste. Não era meu. Não que eu esperasse que fosse... Solto todo o ar dos pulmões, com a raiva solidária. — Mick... que merda. Você sabe que a Wendy nunca faria uma coisa dessas, né? Seu riso explode do outro lado da linha. — Essa é a razão pela qual eu coloquei um anel no dedo dela e, mais importante, uma coleira. — A coleira é mais importante que o anel? Pareceu mesmo, quando ela teve um chilique no hospital porque cortaram a dela. Pelo anel, ela nem pestanejou. — No nosso mundo, no nosso estilo de vida, a coleira significa que eu reivindiquei a Wendy para mim. O fato de ela concordar em usá-la todos os dias significa que se entregou a mim de corpo e alma. Um anel é só um símbolo convencional, mas não vou mentir e dizer que não estou interessado em ter o papel legalizando a coisa. Vou pendurar a certidão na parede com orgulho e olhar para ela todos os dias, sabendo que existe uma pessoa na Terra que é verdadeiramente minha e a quem eu pertenço. Entende? Minha garganta está travada. Difícil encontrar as palavras. A emoção do discurso me atinge. — Sim, eu entendo. Então você vai contar a ela e pegar um avião para a Alemanha para me ajudar? Ele respira fundo.

— Sim, vou. Acho que falar com você fez a situação parecer um pouco mais leve. Mas não posso prometer que, se ou quando eu for, ver a Monika não vai despertar sentimentos desagradáveis. Se eu estivesse ao lado dele, apertaria seu ombro em um gesto solidário. Como não posso fazer isso, me restam as palavras. — Eu vou estar lá para te dar uma força, como seu amigo. Como alguém que quer que você e a Wendy sejam felizes para sempre. O silêncio recebe minhas palavras por alguns segundos, até que a voz rouca de Mick o atravessa: — Eu entendo por que ela te ama. — Quem, a Skyler? Ele ri. — Não, a Wendy. Você é verdadeiro e sincero. Isso é raro, ainda mais em um homem de negócios. — É... Bom, eu prefiro fazer negócios como vivo a vida: confiando no meu coração. Parece brega... — começo a explicar, mas Mick me interrompe. — É por isso que você sempre vai ser bem-sucedido. Bom, vou desligar para conversar com a minha amada. A enfermeira já deve estar louca depois de assistir a horas intermináveis de Days of Our Lives e reality shows. — Caramba. — Pois é. Obrigado pela ligação, Parker. Eu entro em contato. — Ei... — Sim? — Diga a ela que estou com saudade. É sério. Mais alguns segundos de silêncio preenchem o espaço antes que eu o ouça responder em um tom calmo e sucinto: — Como quiser. Desligo, jogo o celular na cama e passo os dedos pelo cabelo algumas vezes. Estou cheio de energia e incerteza depois de ouvir sobre o passado infeliz de Mick. Merda, o que foi que eu pedi para o sujeito fazer? Encontrar a ex que o tratou como lixo. Que mentiu, o traiu e mentiu mais um pouco. Ando mais rápido pelo quarto, com passos longos. Sou um idiota. Um completo idiota. Porra!

Meu celular vibra. Talvez seja um dos caras querendo sair para comer e beber alguma coisa. Bastante coisa. Muita bebida cairia bem agora. Preciso parar de pensar em Mick, Wendy e Monika e focar na criação de uma campanha brilhante para apresentar à equipe. Pego o telefone e abro as mensagens. Sorrio ao ver o nome do meu irmão. Paul Gato Estou em Berlim, no Reingold, na Novalisstrasse 11. Venha beber alguma coisa comigo, mano.

Legal! Dou um soco no ar e abro um sorriso largo. Meu irmão está na cidade. Demais! Estou louco para vê-lo. Passando os olhos por um mapa no celular, descubro que posso chegar depressa ao local, de táxi. Parker Ellis Chego em vinte minutos.

Enquanto corro pelo espaço pegando meu blazer, a carteira e o cartão-chave do quarto, o telefone vibra de novo. Paul Gato Venha sozinho. É papo entre irmãos.

Franzo a testa. Eu não pretendia chamar Royce e Bo, mas no passado ele ia querer ver os caras. Ele gosta deles tanto quanto eu. O pedido de Paul é estranho. Bom, não vejo meu irmão há dois anos. Talvez ele só queira passar um tempo comigo para conversar sobre a família.

Em vez de responder, ajeito o cabelo. Preciso cortar os cachos rebeldes. Devia ter feito isso em Boston, mas passei o tempo todo brincando de casinha com Sky e atualizando as coisas da International Guy. Não é um jeito ruim de passar o tempo. O que me lembra que preciso ligar para minha garota. Desço pelo elevador, saio à rua e pego um táxi, um Audi preto. — Novalisstrasse 11, Reingold, por favor — digo, com a melhor pronúncia possível. O taxista parece entender, porque anui e se mescla ao tráfego noturno. Como sei que tenho cerca de quinze minutos, pego o celular no bolso e seleciono o lindo rosto de Skyler em minha lista de favoritos. — Ouve essa! — Skyler diz ao atender. Sem alô, vai diretamente ao que quer me contar. — O quê, baby? Sorrio ao ouvir sua voz. Simples e imensamente reconfortante ao mesmo tempo. — A Wendy quer amarelo-vivo e toques de verde e branco nas cores do casamento! Não é estranho? E incrível! Ela vai usar margaridas, sabe, aquelas com pétalas brancas e miolo amarelo, além de cravos espalhados por toda parte e grandes gérberas amarelas. Vai ficar irado. Rio diante da exuberância de seu tom. — Irado? — Sacudo a cabeça enquanto olho para a parte leste de Berlim. — Muito! Enfim, como você está? E os meninos, todo mundo bem? Fecho os olhos e respiro fundo. Ter alguém que me pergunte como estou, se estou bem ou não, querendo saber de verdade... É o que faz sentido. Surge um lampejo do corpo nu de Sky em minha mente. Bem, não é só isso que faz sentido. Eu entendo por que Mick quer se amarrar a Wendy pelo resto da vida. ... sabendo que existe uma pessoa na Terra que é verdadeiramente minha e a quem eu pertenço. Entende? As palavras de Mick passam pela minha cabeça como um hamster em uma roda de plástico, girando e girando.

— Sim, meu pêssego, eu estou bem. Os caras também. Você não vai acreditar em quem entrou em contato comigo. — Quem? — ela diz, com a voz preocupada. — Meu irmão, Paul. Ele está em Berlim. Estou indo encontrá-lo agora. Ela suspira. — Meu Deus! Que maravilha, meu bem. Eu sei que você estava preocupado com ele. — Mas foi um pouco estranho, chegou um e-mail dele do nada. Ele normalmente liga. E ele mencionou algumas vezes que precisa conversar comigo. — Humm... Será que ele vai sair do exército? Talvez ele precise de um lugar para ficar. Se for esse o caso, ele pode ficar no seu apartamento e você no meu. O que for mais confortável para ele. Ou ele pode ficar comigo, em um dos quartos de hóspedes. — Ela oferece sua nova casa sem sequer conhecer meu irmão. — Eu te amo. Já disse isso hoje? — Não, e nunca me canso de ouvir. Eu também te amo. Você parece triste. Por quê? Solto um longo suspiro. — Foi um dia estranho, mas não estou a fim de falar sobre isso. E você? O que está fazendo? Ou melhor, onde você está? — Em Nova York. No momento estou com a Tracey no Marriott Marquis, na Broadway, onde a imprensa está reunida. Estamos acabando de almoçar rapidinho antes de ir para a segunda rodada com os jornalistas. Ah, e você não sabe... — O quê? — pergunto, e meu entusiasmo aumenta com a felicidade dela. — A capa do livro que nós fizemos foi revelada hoje! O terceiro volume da série já é um best-seller, e só vai ser lançado daqui a dois meses! A Geneva está alucinada! Abro um sorriso largo e aperto o celular no ouvido. Não quero ouvir nada além da alegria da minha garota. — Que legal, baby. — É. E adivinhe o que mais! — ela praticamente grita de alegria. — O quê? — Rio. Adoro cada segundo com ela.

— Eu vou fazer um teste para o papel de Simone Shilling na Trilogia Classe A! Mas acho que vai ser uma saga, porque a Geneva disse para a Amy, agente dela, e a Amy contou para a Tracey, que o terceiro livro vai ser bem longo. O que significa que provavelmente vai sair em duas partes no cinema. Isso pode significar quatro filmes seguidos! E adivinhe o que mais! Uma gargalhada sai do meu peito. — Diga. Sou todo ouvidos, meu pêssego. — Eles vão filmar na costa Leste! Isso significa que eu vou trabalhar em Nova York. Mas a Geneva disse que estava procurando um local mais familiar para o bar onde o personagem Dean trabalha, e eu falei sobre o Lucky’s. A equipe de produção vai checar para ver se serve! Dá para acreditar?! Se rolar, eles vão pagar uma grana preta para o seu pai para poder filmar quando for necessário, e de qualquer maneira podem filmar de manhã, quando está fechado. Ele vai encher a burra de dinheiro! — Encher a burra? Baby, onde você aprendeu isso? — provoco. — Você ouviu alguma coisa do que eu disse?! — ela pergunta, elevando a voz e fingindo irritação. — Sim, sim, eu ouvi. Vai ser demais. Estou muito feliz. Por você e por mim. — Eu esperava isso mesmo. Estou radiante! E como vai o projeto dos carros? Sacudo a cabeça de um lado para o outro e aperto os lábios. — Vai... bem. Nós temos alguns desafios pela frente, mas nada que não possamos resolver. O táxi para em frente a uma porta enferrujada em que se lê “Reingold Bar” em preto, escrito contra um fundo branco iluminado. Parece um cubículo enfiado entre empresas e prédios de apartamentos. — Meu pêssego, cheguei. Vou desligar. Divirta-se promovendo o seu filme. Eu ligo de novo amanhã, na hora do almoço aí. Estamos seis horas à frente aqui. Mande uma mensagem se quiser falar mais tarde, para saber se estou acordado. — Pago ao motorista e desço do táxi. — Tá bom, meu bem. Eu te amo — ela murmura no meu ouvido, doce e sexy, como quando acorda de manhã.

— Eu te amo, Sky. Pra caralho. — Sonhe comigo, meu bem. — Eu sempre sonho. — Digo isso porque é verdade. Ela preenche meus pensamentos durante o dia e meus sonhos à noite. Ouço o som de um beijinho ao telefone antes de ela desligar. — Minha garota maluca — sussurro e sacudo a cabeça. Dou uma olhada no estabelecimento e puxo a maçaneta de ferro fundido. Lá dentro, é um mundo totalmente novo. O lugar é escuro, iluminado pelo brilho suave de uma luz de fundo e tubos fluorescentes vermelhos. Algumas paredes são revestidas com cobre, que brilha sob as luzes embaixo e nas laterais da parede. Couro e madeira abundam, e as mesas de ferro com bancos altos estão espaçadas de um jeito intrincado para permitir capacidade máxima. O lugar já está lotado, e ainda é bem cedo. Vasculho a escuridão, tentando focar o olhar em algum sujeito volumoso de um metro e noventa, provavelmente usando uniforme do exército ou algo parecido. Meus olhos pousam em costas largas, a cabeça quase toda raspada, mas com uma leve sombra escura, o maxilar forte e esculpido, calça e botas camufladas, camiseta térmica preta de mangas compridas. A silhueta familiar está falando com o sujeito a sua direita. Vira a cabeça, e seu olhar castanho-escuro chega até mim. Fico parado olhando para meu irmão, vivo e bem. Aqui, a cinco metros de mim. Paul manobra seu grande corpo, desce do banquinho e abre os braços. — P-Drive! Venha aqui! — diz. Dou alguns passos rápidos e me jogo nele com tal força que ele tem que dar um passo atrás para não cairmos. Eu o abraço tão apertado que é capaz de sua pele ficar marcada. — Caralho. Caralho. Caralho — repito com o rosto colado no dele. A emoção me atravessa como um incêndio. Ele cheira a couro e a protetor solar, algo tão típico do meu irmão que faz minha garganta e meu nariz coçarem. Ele me dá uns tapinhas nas costas e me abraça apertado. Então me afasta um pouco para poder segurar meu rosto e virar meu queixo.

— Senti falta dessa sua cara, Park. Meu irmãozinho caçula, em carne e osso. — Ele me puxa de volta, e aproveito para abraçá-lo com força mais uma vez. Quero imprimir este momento na alma. — Dois anos, Paul. Dois longos anos. — Minha voz treme. Limpo a garganta, tentando não deixar as lágrimas rolarem. Mas meus olhos ficam marejados mesmo assim. Ele anui e bate nas minhas costas mais um monte de vezes. — Eu sei, eu sei. Vem, vamos tomar uma cerveja. Aperto seu bíceps, só para manter o contato físico, e percebo que o sujeito está enorme e duro como aço. Como se sua profissão fosse malhar. Seria um bom páreo para Nate. — Caralho, cara. Tem se exercitado bastante? Ele me dá um sorriso maroto. — Estou na minha melhor forma. Não tem muita coisa para fazer além de malhar quando você fica parado esperando ordens em um local secreto. — É verdade. — Levanto o braço para chamar o barman. — Cerveja. Qualquer uma local que você recomende. Paul ri. — Você ainda curte os sabores locais quando se trata de cerveja. Aposto que o papai fica orgulhoso. Dou de ombros. — Ele gosta de novas recomendações. E eu bebo de graça no bar dele. É o mínimo que posso fazer. Paul ergue a cabeça. — Eu acho que, já que você comprou aquele bar, merece beber de graça. — Não. Ele criou nós dois, cuidou da gente e da mamãe. Merece ser o próprio patrão. Meu irmão inspira fundo antes de me dar um tapinha nas costas. — Estou muito feliz em te ver, Park. Sorrio do fundo do coração. — Eu também. Por que você voltou de repente? Vai ficar um tempo, né? Ele anui. — Eu cumpri o meu prazo, servi meus doze anos. Se for voltar, vão ser no mínimo mais quatro anos. Talvez tenha chegado o fim da

linha para mim em operações especiais... Quem sabe até de serviço. — Está brincando — digo, sem disfarçar o choque. Desde que me conheço por gente, tudo que meu irmão sempre quis foi ser soldado. Soldado de operações especiais, de elite. Ele conseguiu isso e mais. E, julgando por todas as medalhas que conquistou, é bom demais nisso. — Eu não brinco com você, meu trouxa preferido. É a mesma coisa que ele me dizia quando éramos crianças, e, como naquela época, ele começa a me dar socos no braço. A dor se espalha como lava quente saindo de um vulcão, do ponto em que ele me acerta até o ombro e o braço. — Caralho! — Eu o empurro. Esfrego o braço dolorido e meu orgulho ferido. Eu já deveria esperar por isso. — Por que você está pensando em largar? Ele pega sua cerveja no momento em que o barman põe um copo cheio a minha frente. Deixo a sensação agradável do lúpulo encobrir meu nervosismo e entusiasmo por ver meu irmão pela primeira vez em dois anos, vivo e sentado bem aqui ao meu lado. Ele inclina a cabeça sobre o ombro para olhar para mim, e seu olhar fica sério de repente. — Estou pensando em sossegar. Se eu não estivesse segurando meu copo apoiado no balcão, teria deixado cair no chão. — Você conheceu uma mulher... A mamãe vai pirar. Entre eu namorar a Skyler e você encontrar uma garota legal para levar para casa... Bom, imagino que seja uma garota legal. — Bebo um gole e continuo tagarelando. — A mamãe vai começar a ir à igreja duas vezes por semana para agradecer ao bom Deus por seus filhos enfim virarem adultos e sossegarem. Paul não diz nada, só fica me encarando com o olhar contemplativo. Surge uma incerteza em sua expressão quando ele diz: — Então, é por isso que eu precisava falar com você. Não vou levar uma garota legal para os nossos pais conhecerem. Vou levar um cara legal. Meu namorado, Dennis Romoaldo.

6

— Desculpa, pode repetir a última parte? Acho que não ouvi direito. Paul franze a testa. — Você ouviu sim, Park. Mas preferiria não ter ouvido. Olho para ele, piscando estupidamente por um minuto. Ele é paciente, tenho de admitir. Não move um músculo enquanto eu processo o que acabou de dizer. Deve ser todo aquele treinamento especial que recebeu. Meu irmão é gay. — Você é gay? Desta vez Paul resmunga: — Gay, bi, como quiser chamar. — Você é bi? — digo ainda mais alto. Então percebo que estou falando sobre seus assuntos pessoais e me inclino mais para perto, sussurrando em tom mais conspiratório: — Você é bissexual? Ele vira a cabeça e assente. — Sim, sou. Eu gosto de mulheres e de homens. Já tive os dois, gosto dos dois. No momento, estou namorando um cara chamado Dennis. A gente se conheceu há um ano na América do Sul e se via de vez em quando, nos momentos em que eu podia sair. Agora a relação ficou séria. Na verdade ele está aqui, do outro lado do bar. Paul acena para um sujeito de pele clara, cabelo escuro e cheio e olhos castanhos. Está usando um blazer esporte azul-marinho com cotoveleiras marrons. Sobre o nariz bem formado, um par de óculos pretos modernos. Ele abre um sorriso largo — tenho a impressão de que é natural, especialmente quando acena para o meu irmão. Mas ele não se levanta neste exato segundo, e fico grato. Respiro fundo e solto o ar devagar. — Tudo bem, você é bi. — Dou de ombros enquanto processo essa nova informação sobre meu irmão.

Paul olha para meu rosto de tal forma que sei que está procurando nuances sutis. Então retesa o maxilar e diz: — Eu entendo se você não aceitar. Não sei o que os nossos pais vão pensar, mas esse sou eu, e você sabe que não vou me esconder... Bom, a menos que seja do inimigo — solta uma piadinha improvisada, provavelmente para aliviar o peso do que acabou de me contar. Pouso a mão em seu ombro. — Cara, eu não tenho que aceitar nada. Ele aperta os lábios e segura seu copo com tanta força que os nós dos dedos ficam brancos. — Eu entendo se você quiser evitar o assunto, não pensar nisso, sei lá — ele começa a se justificar. — Lamento se isso muda a sua opinião sobre mim. Eu ainda sou seu irmão, e um homem, mas o relacionamento é sério. Com meu coração batendo e doendo como louco, ergo as mãos à nossa frente. — Ei, ei. Calma aí. Como você pode pensar que isso me incomoda? Paul, você é meu irmão, é meu herói. Eu beijei o chão que você pisava durante décadas. Não estou nem aí com quem você se diverte. Ele endireita o corpo por alguns instantes antes de falar. — É mesmo? Você não... — Lambe os lábios e foca o olhar em sua bebida. — Você não me vê de forma diferente? — Não! Em que século você vive? Eu vivo no século XXI, quando um homem ou uma mulher pode ficar com quem quiser. Contanto que não dê em cima da minha namorada, não estou nem aí. Paul inclina a cabeça para trás, gira os ombros e se volta para mim de braços abertos. Antes que eu possa reagir, ele me puxa contra a muralha que é seu peito e bate nas minhas costas, me fazendo tossir. — Valeu. Valeu mesmo, porra — sussurra e sacode a cabeça. — Você era a minha única preocupação. Eu me afasto e inclino a cabeça, me sentindo meio incomodado. — Por que você achou que eu teria uma mente tão fechada? Isso magoa, cara.

— Não... É que muitos caras do meu círculo não são tão fáceis. O meu parceiro de campo... — O Kenny? Ele assente. — Sim. Ele não aceitou tão bem. Ele me pegou com o Dennis em... você sabe. Sorrio e anuo. — Aí ele cuspiu nas minhas botas, disse o que achava da minha orientação sexual e pediu outro parceiro. Sinto a bile se agitar dentro de mim enquanto a raiva corre pela minha coluna. — Babaca. Ele dá de ombros. — Não, ele era legal, até que deixou de ser. Nunca se sabe como as pessoas vão reagir, e eu... Porra, P-Drive, eu não suportaria se você me considerasse menos por isso, como homem, como seu irmão. O Kenny que se dane. Você é meu sangue, minha família. O que você pensa significa muito. — Por isso você não queria que os caras viessem hoje? Ele faz que sim com a cabeça. — Em parte foi por isso. E também porque eu queria te contar em particular, apresentar você ao Dennis antes de levá-lo para conhecer a mamãe e o papai. A ideia de nossos pais sentados com Paul e Dennis, ele contando que o sujeito é seu namorado, forma uma imagem hilária em minha mente. Começo a rir, e o riso se transforma em gargalhada. Paul bebe sua cerveja e sorri. — Você é foda. Isso me faz uivar de rir, a ponto de não conseguir respirar. — Acho que não tanto quanto você! Paul sorri e me dá um soco no braço, de brincadeira. Mas um soco de brincadeira do G.I. Joe faz até meus ossos arderem. — Ai! Porra, cara. Segura essas marretas. Eu preciso dos meus braços. Caralho! — Esfrego o local dolorido. Paul para de sorrir e vira para mim. — Tudo bem mesmo para você? Sorrio para que ele possa ver por si mesmo.

— Sim. Não importa com quem você queira se relacionar. Contanto que mantenha as patas longe da minha Sky, tudo bem. — Ah, sim! É verdade, o meu irmãozinho está comendo a estrela mais gostosa de Hollywood. Cara, eu estive fora do país, incomunicável, e até eu sei como você é sortudo por conquistar essa gata. Estão ficando ou é coisa séria? Me conta tudo. Pensar em Sky me faz sorrir como um lunático. — Ela é tudo pra mim, mano. A primeira coisa em que eu penso quando acordo, a última quando vou dormir. Estou totalmente apaixonado. E ela acabou de alugar um apartamento em Boston. Mais um passo adiante no nosso relacionamento. — Caraca! O meu irmão se amarrou em uma atriz linda e loira. Já está escolhendo as alianças? Bebo a cerveja e sacudo a cabeça. — Não, estamos vivendo um dia de cada vez. É complicado, porque os dois viajam o tempo todo, e ela está muito em evidência. Isso torna as coisas um pouco mais difíceis. Você vai ver quando a conhecer, em Boston. — Não vejo a hora. Ele ergue o copo e eu bato o meu no dele antes de tomar mais um gole. Paul baixa os olhos e depois olha para o outro lado do bar. — Está pronto para conhecer o Dennis? — Você está pronto para apresentar o sujeito à família? É tão sério assim? Ele abre um sorriso largo e fica vermelho. — Sim, estou. Tem alguma coisa entre nós que eu nunca senti com ninguém. Desde a primeira vez, e não consegui mais recuperar o fôlego. — Isso se chama amor, irmão. Parece que você está apaixonado pelo cara. Paul olha para o homem, que está pacientemente bebendo sua cerveja e mexendo no celular. Ele ergue os olhos, capta o olhar do meu irmão e sorri. Os dois só têm olhos um para o outro. — É, você tem razão. Estou apaixonado. Nunca pensei que pudesse me apaixonar por um homem, mas... — Dá de ombros. — Acho que o mundo funciona de maneiras misteriosas. Dou um tapinha em suas costas.

— Sim. Vá buscá-lo. Eu quero conhecer o homem que conquistou o coração do meu irmão mais velho. Paul sorri, desliza seu grande corpo do banco, me pega pela nuca e me puxa para poder dar um beijo no topo da minha cabeça. — Senti muito a sua falta. Não tem nada melhor do que ter o meu irmão por perto. Eu te amo, Park. Fecho os olhos e respiro fundo. Meu irmão, são e salvo, está em um bar em Berlim, comigo. Levanto a cabeça, pouso a mão no seu rosto e lhe dou um tapinha. — Também te amo, Paulie. Agora vá buscar o seu namorado. Ele dá uma piscadinha e vai até o lado oposto do bar, inconfundivelmente saltitante. Observo enquanto Dennis e meu irmão se olham fixamente. Paul vai gingando. Todas as mulheres nas mesas ao redor se voltam e o observam conforme ele avança com um único objetivo em mente: seu namorado. Enquanto meu irmão se senta no banco ao lado de Dennis, menor que ele, e passa o braço pelo seu ombro, penso no fato de que Paul estava genuinamente preocupado em me contar que é gay. Tecnicamente bi, sei lá. Os detalhes não interessam. Se meu irmão estiver feliz, tiver alguém para amar e que o ame, eu vou apoiá-lo. Agora que tenho Skyler, não sei como vivia sem ela antes. Se meu irmão tiver essa mesma ligação com Dennis, vou ser o primeiro a parabenizá-los. Estou puto com o que ele contou sobre seu parceiro de trabalho, Kenny, que cuspiu nele. É como se tivesse sido comigo. Se eu pudesse ficar cinco minutos em uma sala com esse babaca, ele ia ver só. Que cara intolerante. Uma mancha na sociedade. Meu irmão não é só corajoso por arriscar a vida todos os dias como soldado. Precisou de muita bravura para falar comigo. E vai ter que reunir coragem de novo quando voltar para casa e apresentar o namorado aos nossos pais. Se eu acho que eles vão ridicularizá-lo ou ficar bravos com suas escolhas? Não. Felizmente, não foi assim que fomos criados. Sei que isso não é a regra, mas gostaria de acreditar que a sociedade está mudando. Quem a pessoa leva para a cama ou com quem divide a vida é uma escolha pessoal, e os outros não têm o direito de opinar. Meus pais vão receber Dennis de braços abertos, mas eu

sei que minha mãe vai falar um monte por ele estar com trinta e dois anos e sem perspectiva de ter filhos. Agora que está com um homem, ela vai ter que mudar de tática, o que significa que vai encher o meu saco e o de Sky. De repente, vejo um flash de futuro: Skyler com uma barrigona, carregando meu filho. Nós dois sentados em uma varanda com vista para um campo ou uma paisagem exuberante... O mais louco é que eu posso realmente ver isso no futuro. Mas não hoje ou amanhã, provavelmente nem daqui a um ano. Eu me pergunto se Sky pensa em ter filhos comigo. Quando falamos sobre minha avó e sua tradição, ela pareceu interessada na ideia de termos filhos. Mas não conversamos realmente sobre isso. Ela iria querer um logo, digamos, nos próximos dois anos, ou mais para a frente? Vou fazer trinta anos daqui a um mês. Ela é alguns anos mais nova, tem mais tempo e uma carreira na estratosfera. Seria louca se pisasse no freio para formar uma família, pelo menos por enquanto. Mesmo assim, precisamos conversar para que os dois estejam na mesma sintonia. Eu consigo me ver com dois filhos, especialmente com os grandes olhos castanhos de Skyler e sua bondade incondicional. Meu telefone vibra exatamente quando vejo meu irmão se aproximando com outra rodada de bebidas e seu namorado. Olho para a tela e aperto os dentes. Remetente desconhecido. A DISTÂNCIA DEIXA O CORAÇÃO MAIS APAIXONADO. SAUDADE.

— Merda! — rosno. Meu irmão se aproxima e retesa o maxilar. — Por que parece que você quer dar um soco em alguém? — Ele olha para os lados, analisando o ambiente com a habilidade de um soldado, o que significa que provavelmente deve saber o que cada pessoa está vestindo neste estabelecimento agora. — Qualquer coisa eu te cubro.

Bufo e rio ao mesmo tempo. — Está tudo bem, relaxa. Mas é bom ter você de volta. — É bom estar de volta. Eu quero que você conheça uma pessoa, irmãozinho. — Paul me entrega uma bebida. Quando a pego, ele passa o braço ao redor do cara, mais baixo que ele, pelo menos uns oito centímetros. Tem um corpo legal e se veste bem. Notei seu blazer, combinando com jeans escuro e mocassins de camurça caramelo, sem meias. — Este é o meu namorado, Dennis Romoaldo. Dennis empurra seus óculos pretos mais para cima do nariz e sorri levemente. — Oi, Parker. É um prazer te conhecer. O Paul fala muito de você e da sua família. Ele tem muito orgulho de tudo que você já conquistou sendo tão jovem. — Suas palavras saem com um sotaque peculiar. Franzo a testa e me inclino para perto. — Estou detectando um sotaque. De onde você é, se não se importa que eu pergunte? O rosto de Dennis se ilumina. — De jeito nenhum. Sou do Rio de Janeiro, Brasil. A cidade mais linda do mundo — ele diz, com evidente patriotismo. Cutuco meu irmão. — Brasileiro, é? — digo, mexendo as sobrancelhas, divertido. Paul olha seu namorado de cima a baixo. — Você não sabe da missa a metade, irmãozinho. O riso irrompe boca afora. Eu me volto para as banquetas, indicando: — Venha sentar conosco, Dennis, para eu te conhecer melhor. Ele sorri para meu irmão, puxa o banco e se senta como um cavalheiro. Paul se senta à direita dele, e eu à esquerda. — Muito bem... Antes de mais nada, eu quero saber como vocês se conheceram. Paul faz um círculo com o dedo sobre a mesa brilhante. — Eu fui enviado ao Brasil por um tempo. A gente se conheceu por meio de um amigo em comum. E, hum... acabou se tornando uma noite de libertinagem. O Denny estava todo tímido comigo no bar aonde o nosso amigo nos levou. Ele estava com uma gostosa

chamada Andrea. No começo eu estava de olho na garota — ele ri —, até a turma toda encher a cara. Eu tinha setenta e duas horas de folga, e a garota foi proativa. Convidou todos nós, eu, o nosso amigo em comum e o Dennis, para ir para o apartamento dela. As coisas ficaram meio loucas lá. Acabou que o Denny e eu nos divertimos mais juntos, e os outros dois se pegaram como animais selvagens. Estamos juntos desde então, né, baby? Olho para aquele homem aprumado e vejo suas bochechas ficarem vermelhas. Paul coloca o braço atrás da baqueta de Dennis e passa a mão por suas costas casualmente, como se nem se desse conta do que está fazendo. Deve estar tentando deixá-lo mais à vontade, depois de contar uma história bem particular. — É, pistola. Mas você poderia ter dito apenas que a gente se conheceu por meio de um amigo no Brasil. Teria sido menos... invasivo. — As palavras que ele escolhe são quase formais, com uma conotação apropriada, não tão casual. — Você fala inglês muito bem, Dennis. Aprendeu na escola? Ele anui. — Sim, e também com um professor particular. A minha família trabalha com importação. Para fazer bons negócios e prestar um serviço de excelência, temos que falar inglês fluentemente. — Bom, você arrasa, cara. — Dou um tapinha em suas costas. Esse simples gesto de camaradagem faz meu irmão sorrir. Dennis também sorri timidamente e olha para Paul. — Eu disse que ele ia adorar você. — Paul esfrega a nuca de Dennis. Levanto a mão. — Ei, devagar aí. O Dennis ainda não disse pra que time de beisebol ele torce. O amor é reservado para... — Eu curto o Red Sox e os Patriots — Dennis responde antes que eu possa terminar a frase. Paul ri. Volto a cabeça para ele. — Você treinou o cara para dizer isso. — Sim — confessa. — Sem problemas. Vale mesmo assim — digo, abrindo os braços. — Bem-vindo à família, Dennis.

Mais tarde, de volta ao hotel, encaminho para Nate a mensagem que recebi do número desconhecido. Pouco depois de enviá-la, meu telefone toca. A tela mostra “Nate Van Dyken”. — E aí? — atendo. — Meus recursos me levaram a um beco sem saída. Não gosto de dizer isso, mas a pessoa é esperta. Ela troca de telefone prépago depois de algumas mensagens — diz e suspira. — Parker, eu quero pedir a ajuda da Wendy. Puxo o ar entre os dentes. Já pedi ao namorado dela para me dar uma mão com o trabalho. — Nate, você sabe que ela está se recuperando. — Sim, eu sei. E respeito isso. Mas, segundo a Skyler, ela é ativa feito um esquilo. Pior: ela está entediada. Está atormentando a Skyler pelo telefone com as coisas do casamento porque não tem nada melhor para fazer. A Rachel teve que atender algumas ligações. Ela gosta da Wendy, muito. Mas o que a Rach não gosta é de distração no trabalho. Ela fica irritante. Parker, não queira conhecer o lado irritante da minha esposa. Afasto a preocupação e o medo para me concentrar no que Nate está dizendo. — Onde vocês estão agora? — A Skyler e a Rachel estão enchendo a cara. Pisco algumas vezes, tiro os sapatos e desabotoo a camisa. — O quê? — digo, rindo. — É isso mesmo. O trabalho acabou. Estamos no nosso apartamento. As duas comeram meia pizza grande enquanto viravam um monte de tequila em forma de margarita. Agora estão bebendo shots de Patrón e jogando baralho. Ouço interjeições, gritos e risadas ao fundo. Nate prossegue: — Quem perde tem que virar um shot. Nem preciso dizer que as duas estão empatadas. — Caraca! — Tiro a camisa de dentro da calça e as meias antes de ir ao banheiro. — Você estava dizendo... — ele continua, mas acrescenta, com voz mais profunda e séria: — Não se preocupe, a Skyler vai ficar no quarto de hóspedes esta noite, assim eu posso ficar de olho nas

duas, mantê-las em segurança. Não quero que ela fique sozinha, mesmo se tiver que abraçar o vaso sanitário. A sua namorada está segura comigo. Eu sorrio e me apoio no espelho. — Posso falar com ela um segundo? Só de saber que ela está ali fico com vontade de ouvir sua voz. — Sim. Mas, sério, prefere que eu não fale com a Wendy? Ponho o celular no viva-voz para poder reler a mensagem. A DISTÂNCIA DEIXA O CORAÇÃO MAIS APAIXONADO. SAUDADE.

Sinto um arrepio e tiro o telefone do viva-voz. — Não, que merda... — Passo a mão pelo cabelo algumas vezes, tentando decidir. Skyler precisa estar segura. — Mas vá com calma. Chame a Wendy para almoçar para falar sobre o assunto, dê uma sondada. Ela vai se oferecer se achar que pode ajudar. Mas não force a barra. Falou com a Tracey de novo? — Sim, e você não vai gostar. Eu queria esperar até podermos falar pessoalmente... — Pessoalmente o caralho. Se tem alguma coisa a dizer que envolve a Sky, pode me contar agora. — Não é nada muito sério, mas tenho minhas suspeitas. — Que são...? Ele respira fundo e se afasta do barulho que eu estava ouvindo ao fundo. — A Tracey disse que a Skyler tem uns dez ou vinte fãs descontrolados que sempre mandam cartas, e-mails, presentes, essas coisas. A equipe da Skyler nunca responde. O tom das mensagens é passivo-agressivo. Eu analisei as mensagens que a Sky recebeu no celular, e elas passaram de amigáveis, com “Eu pensei que fôssemos amigas”, a mais furiosas. Como se a Skyler não estivesse correspondendo a algo mais além das mensagens. Elas dizem: “Por que você está me ignorando?” e “Você acha que é melhor que os outros”. Só que alguma coisa mudou.

— O quê? — Você e a Skyler receberam a mesma mensagem. Sinto uma inquietação. — O que você acha que isso significa? — Eu não sou especialista, mas parece que a Sky caiu de novo nas boas graças da pessoa. De repente, do nada. E vocês dois estão longe um do outro. Então a pessoa sente saudade dos dois, ou ela sabe que vocês estão com saudade um do outro? — Nate pergunta. — Pode ser qualquer uma das possibilidades, ou as duas. Nunca se sabe, quando se trata de uma mente claramente perturbada. — No entanto, a pessoa tem o número de vocês dois, mas não faz contato pessoalmente. A palavra “pessoalmente” fica se repetindo em minha cabeça. — Merda! — O quê? Tem alguma coisa que você não me contou? — Caralho. — Suspiro e puxo o cabelo. — Eu recebi uma carta no escritório. Era estranha, mas eu não tinha somado dois e dois até agora. Dizia algo tipo “ela sou eu”... Puxo pela memória, recordando aquele dia até o momento em que abri o envelope. Era um daqueles amarelos. Digitado na frente, com carimbo de confidencial. — Dizia: “Eu sou ela. Ela sou eu”. Sim, era isso. “Eu sou ela. Ela sou eu” — repito. — Parker, isso é dissociação extrema. Quando eu estava no exército, nós lidávamos com indivíduos com comportamento dissociativo. Eles podem ser extremamente imprevisíveis, e seus motivos podem mudar de uma hora para outra. Lendo nas entrelinhas do que essa pessoa escreveu, ela basicamente insinua que a Skyler e ela são a mesma pessoa. Mas as mensagens passaram a flutuar entre passivas e furiosas, e agora doces. A situação piorou. Eu preciso pegar todas as mensagens que a Tracey me enviou e analisá-las para ver se consigo relacionar tom e estilo de palavras com as que você recebeu. Eu quero uma cópia da carta, você guardou? — Sim, está no escritório. Vou ligar para a Annie e pedir para ela te mandar.

— Obrigado. Vou agendar um encontro com a Wendy. Sinto meu coração se apertar, mas conheço Nate muito bem. Ele não vai se aproveitar de uma mulher fragilizada. Se ela estiver bem, ele vai tocar no assunto. Senão, vai deixar para lá. — Posso falar com a Sky? Ouço as vozes ao fundo ficarem mais altas de novo. Ele deve estar voltando para a sala onde elas estão se divertindo. — Skyler, é o Parker. — Uhu! Meu namorado sexy, meu namorado sexy. Uhu, vou falar com o meu gostosão. Eu rio e espero. — Ela está vindo? — Não, está fazendo uma dancinha — Nate responde secamente. — É isso aí, garota. Mexe essa bunda! — Rachel grita ao fundo. — Sky, ele está no telefone — Nate acrescenta. — Yes! Maravilha! — Por fim sou saudado com um sussurro: — Oi, meu bem... A voz dela vai direto para a fera, acordando-a. Eu a ajeito e sorrio ao som de seu tom arrastado e sexy. — Oi, meu pêssego. Me contaram que você está bebendo e jogando baralho. — Estou ganhando! — ela grita e depois baixa a voz. — Estou ganhando, babe. Estou ganhando da Rach nas cartas. Ouço algo que parece vagamente alguém pondo a língua para fora e soprando com força, e então um barulho molhado. — Enfia essa língua de volta na boca, vadia! — Sky diz, rindo. — A Rach só fala besteira quando bebe. — Soluça e suspira. — Estou com saudade. Queria transar com você agora... — murmura. — Humm. Eu queria transar com você agora também, meu amor, mas vamos guardar para quando eu voltar para casa. Você vai estar em Boston na semana que vem? Eu vou ficar aqui pelo menos mais três dias depois que a semana acabar, para cuidar da campanha. — Ah, não, que saco! Odeio isso. Buá! — ela grita e depois ri. — Eu sei, mas o trabalho é grande. Espero que o Mick nos ajude. Depois te conto tudo. — Humm... estou cansada — ela murmura, bêbada.

— Aposto que sim. Fale com o Nate. Ele vai cuidar para que você durma bem. Eu te amo, baby. — Eu te amo muito, muito. Eu te amo muito, muito, meu bem. Rio e sacudo a cabeça. Queria poder curtir Skyler bêbada mais um pouco, mas não posso, porque estamos a um oceano de distância. — Vá se divertir e dormir um pouco, se precisar. É muito tarde aqui. Preciso descansar antes da reunião de amanhã, mas tenho muita coisa para te contar. — Tudo bem... Sonhe comigo muito. — Muito, muito — rio. — Prometo. — Que bom. Eu te amo. — Boa noite, meu pêssego. Quando vou desligar, ouço barulho de beijos e depois um “Ai, que nojo! É o telefone do Nate! Nojento...” ao fundo, depois mais nada. Tiro o restante da roupa e ligo o chuveiro. — Minha garota me ama muito, muito — digo e entro debaixo da água com um sorriso no rosto.

7

Entro no restaurante gelado do hotel e abotoo o paletó por causa do ar-condicionado. Olho ao redor e encontro Bo e Royce sentados à janela com vista para Berlim. A rua está lotada de transeuntes e ciclistas indo para o trabalho. Os dois erguem os olhos e observam enquanto me dirijo a eles, puxo uma cadeira e pego na mesa uma xícara de café vazia. Agito-a para o garçom, e ele assente. — E aí, pessoal, como vão as coisas? Royce mostra seu celular. — Wendy... Essa garota é foda — ele diz, franzindo a testa. — Não consegue manter o nariz longe do trabalho. Dê uma olhada. Apoio os cotovelos na mesa enquanto o garçom enche minha xícara de café. — O que ela está aprontando desta vez? — Ela vai pegar um avião agora de manhã. Para Berlim. Aparentemente, um jato particular. Com o noivo. Ergo as sobrancelhas, sem poder acreditar. — Está brincando! O médico a liberou para viajar? Ele anui. — Sim. Disse que ela está bem para viajar, desde que pegue leve. Parece que ela está se recuperando incrivelmente rápido para alguém que levou um tiro no peito e sofreu um colapso pulmonar. Quanto tempo faz? — Um pouco mais de cinco semanas — calculo, refrescando a memória: alguns dias em Montreal, pelo menos uma semana em Boston, duas semanas em Londres, mais duas em Boston. — Não me parece uma boa. Como ela conseguiu fazer o Mick concordar em vir para Berlim? — Bo pergunta. Baixo a cabeça e olho para o meu café.

— Fui eu. Eu liguei para ele ontem, pedi ajuda com a campanha. Nós precisamos dele para que seja bem-sucedida e devidamente divulgada. Ele é um gênio. Bo se recosta na cadeira e tamborila na mesa com dois dedos. — Só que ele tem uma história com a cliente, que nenhum de nós conhece... Franzo o nariz, como se tivesse acabado de sentir um cheiro ruim, e desvio o olhar. — Ou devo dizer que só o Roy e eu não conhecemos? — Bom, ele me contou algumas coisas sobre o passado com a cliente. Não cabe a mim compartilhar. Só sei que me sinto mal por ter pedido a ajuda dele, e agora com a Wendy vindo também... — Balanço a cabeça e esfrego a nuca. Roy me dá um tapinha no braço. — Meu irmão, não se preocupe com problemas que não são seus. Se eles vêm para Berlim, é porque ela está bem e ele quer ajudar. Ele está se tornando nosso amigo, e eu gosto do cara. Ele ama a Wendy loucamente, e a nossa garota merece isso. Bo faz uma careta. — Não que ela não pudesse conseguir outro homem que a idolatrasse. Royce franze a testa. — Você vai se casar com ela? Bo arregala os olhos e sacode rápido a cabeça. — Então cala a boca — diz Royce. — Estou cansado da troca de farpas entre vocês dois. A Wendy precisa de paz agora, precisa se sentir parte de alguma coisa. Não afaste a garota sendo um idiota, está me ouvindo? Bo revira os olhos e cruza os braços. — Tudo bem. Vocês acham que o relacionamento passado dele com a Monika vai ser um problema? Tudo que posso fazer neste momento é dar de ombros. — Eu não pensei muito nisso, mas acredito que o Michael seja um profissional em primeiro lugar e um homem com sentimentos depois. Ele vai suprir as necessidades da Wendy na vida pessoal, mas vai cuidar dos negócios como de costume. Não tenho dúvida disso.

Royce assente. — Concordo. Agora só precisamos criar a campanha perfeita. Sorrio. Depois da revelação do meu irmão na noite passada, tive uma ideia enquanto dormia. — Acho que já resolvi isso. Bo descruza os braços e bebe um gole de sua água. — O que você pensou? — Vamos lá: imagine soldados dos Estados Unidos, França, Alemanha, Japão, Índia, todos os países parceiros. Mulheres e homens. Eles aparecem usando farda, ou algo igualmente respeitoso que possamos usar nos vídeos e no material impresso. A linha é a seguinte: eles são soldados corajosos, que põem a vida em risco pelo bem maior. Depois, aparecem de roupa normal, com a família entrando em um carro, um solteiro subindo na moto ou na caminhonete com seu cachorro, um homem de negócios no sedã e assim por diante. Vamos mostrar o aspecto ecologicamente correto com os veículos passando por diferentes paisagens, por árvores, praias, montanhas, rodovias... e um narrador falando sobre a baixa emissão de poluentes. Royce assente com a cabeça. — Muito bem, muito bem. Estou imaginando... Continue. Eu sorrio. — Então nós podemos usar o slogan “Bravura que nos move”, que vai relacionar a coragem desses soldados, que põem a vida em risco, com eles sãos e salvos, vivendo a vida, entrando em um veículo novo em diversas partes do mundo. Bo se inclina para a frente e bate palmas, com um sorriso no rosto. — Adorei! — Porra, meu irmão, você deve ter queimado a moleira na noite passada. — Royce aplaude antes de pegar sua xícara fumegante e levá-la aos lábios. — Na verdade, eu encontrei o Paul ontem à noite em um bar. — Ah, por isso o enfoque militar. Como ele está? Por que não chamou a gente para ir junto? — Bo inclina a cabeça e me atravessa com seu olhar escuro.

Ajeito minha gravata vermelha Ermenegildo Zegna, que combina com a camisa azul-clara, o blazer cáqui e a calça azul-marinho. Nos pés, meus Ferragamo marrons preferidos. Faço um biquinho, levanto a xícara e tomo um gole do líquido quente. Preciso de mais cafeína para expor os detalhes da sessão de confidências da noite passada. Paul me pediu para contar aos caras, para que as coisas não fiquem estranhas quando todos voltarmos para Boston e eles conhecerem Dennis. Limpo a garganta. — É que o Paul queria conversar comigo sobre um assunto particular. Royce e Bo demonstram preocupação, mas permanecem em silêncio, esperando que eu continue. — Hum... ele queria me contar sobre uma escolha de vida que fez. Royce sorri e suas bochechas ficam rosadas. — Ele vai levar alguém especial para casa? Mamãe Ellis vai ficar tão feliz. Inclino a cabeça. — Sim, é por aí. Bo bate na mesa. — Cachorrão! Onde ele conheceu a moça? Uau, com a boa pinta do Paul e o status de herói, aposto que arrumou uma gostosa de outro país. Asiática, talvez? Miudinha, cabelo preto comprido, grandes olhos escuros. Hummm... — Joga a cabeça para trás e olha para o teto. — Talvez uma alemã escultural... Ah, já sei, uma italiana. — Balança os dedos, como se tivesse se queimado. — Adoro mulheres italianas. São muito passionais na cama — diz com reverência, como se recordasse bons momentos. — Errado. Ele conheceu alguém no Brasil. Os olhos de Bo brilham como diamantes lapidados. — Ahhh... as brasileiras são muy calientes. — Isso é espanhol, idiota. Os brasileiros falam português — retruco. Suspiro e me recosto, pressionando as têmporas repentinamente doloridas com o polegar e o indicador.

— Não interessa. Se uma mulher fala outra língua no meu ouvido enquanto eu transo com ela... que loucura. — Bo beija os dedos dramaticamente e os abre. — Não é uma mulher! — digo à queima-roupa. Royce esfrega o queixo. — Como é que é? Por um momento pensei ter ouvido que não é uma mulher. O que não é uma mulher? — A pessoa que o Paul está namorando. É um homem. Um cara chamado Dennis. Eu o conheci ontem à noite. Ele é legal, parece certinho e uma pessoa bastante gentil, coisa que eu não esperaria que atraísse o meu irmão. — Dou de ombros e tomo um gole de café, permitindo que os dois cheguem a suas próprias conclusões. Bo se inclina para a frente e sussurra: — O Paul é gay? — Bi, na verdade. — Uau. Eu não imaginava. Ele sempre teve um monte de garotas para escolher quando estava na cidade. — Assim que pronuncia as palavras, ele abre um sorriso largo. — Com o soldado Paul todo gostoso fora do circuito... sobra mais para mim. Royce vira a cabeça para Bo e, mais rápido que um relâmpago, lhe dá um soco no braço. — Obrigado — digo a Roy. Ele sacode a cabeça. — Esse cara pensa em sexo vinte e quatro horas por dia. Juro por Deus, um dia você vai se ferrar. Bo sorri. — Enquanto isso, vou me distraindo com uma morena peituda. — Puta merda... — Royce passa a mão pela careca brilhante. — Ele nunca vai aprender. Suas palavras me fazem rir. — Mas é sério, irmãos. O Paul vai para casa encontrar os meus pais. Quando voltarmos, ele ainda vai estar lá. Está pensando em largar o exército. Já cumpriu doze anos, economizou muito morando na base. Acho que ele vai tirar um tempo para si, talvez para passar com o namorado, Dennis. — Fale mais sobre esse Dennis. Ele é legal? — Royce pergunta.

Ele levanta sua xícara para o garçom, que traz uma cafeteira fumegante até a mesa, abastecendo todos nós. — Gostariam de algo para comer? — o rapaz pergunta. Eu quero; meu estômago está roncando. Antes que eu possa fazer o pedido, ele sai pelas portas duplas. — Tudo bem... Enfim, o Dennis parece legal. Tímido, reservado, educado. Disse que gosta do Red Sox e dos Pats. Bo ri com sarcasmo. — Aposto que o Paul mandou o cara dizer isso para ganhar você e o seu pai. Sorrio. — Pode crer. Não passamos muito tempo juntos, porque eles estavam cansados da viagem. Espero ficar mais com eles quando chegar em casa. Quero que eles conheçam a Sky, se ela já tiver voltado de Nova York. — Fico feliz por você e a Sky terem resolvido tudo, meu irmão. — Bo estica a mão e pega meu antebraço. — Eu estava preocupado com vocês, mas agora sei que ela te faz feliz... — Valeu, cara. — E quem não ficaria feliz indo para a cama com Skyler Paige toda noite? Caramba, a sua namorada é muito gostosa... Estico o braço e aperto sua mão, virando seu polegar de um jeito que, se eu continuar forçando, vai quebrar. — Ei! — Bo cai na gargalhada. — Tudo bem, desculpa. — Mas continua rindo. — Só não quebro a sua cara porque você tem razão. — Eu também sorrio, soltando sua mão. — A Skyler é muito gostosa. Royce ri alto. O garçom volta com uma bandeja. Coloca na mesa três tigelas com flocos de milho, frutas secas, granola e castanhas. A seguir, deixa uma jarra de leite, uma cesta de pães variados e uns potinhos com manteiga e geleias, além de uma bandeja repleta de frios. Examinamos o estranho café da manhã. Meu estômago ronca de novo, proclamando sua insatisfação. A esta altura, não me interessa o que vou comer, desde que encha minha barriga. Agora mesmo. — Danke — digo ao garçom, que sorri antes de se afastar de novo.

— Parece que nós vamos comer cereais e frios no café da manhã — Bo comenta, contrariado. — Coma sem reclamar. É comida, não seja ingrato. Eles têm costumes diferentes dos nossos ovos com bacon ou panquecas com xarope de bordo. Além disso, quando foi a última vez que você colocou alguma coisa saudável na boca? — Royce resmunga, então abre o guardanapo no colo e pega um pãozinho e uma geleia cor de laranja. Bo pega um pedaço de fruta seca na tigela e come. — Está querendo dizer que a metade de uma vaca que eu comi ontem à noite, coberta com molho béarnaise e batata assada sem vegetais, não era saudável? Que calúnia! — Para o seu coração, não. Coma o cereal. Dê ao seu corpo alguma coisa de que ele precisa. Royce começa a comer e, quando Bo levanta a cabeça para, sem dúvida, fazer uma réplica improvisada com conotação sexual, aponta o garfo para o rosto dele. — Nem pense nisso. Bo morde o garfo jovialmente. — Nossa, como vocês estão sensíveis hoje. Coloco bastante leite sobre o meu café da manhã de esquilo e, depois de cinco colheradas, juro que meus molares vão se desintegrar se eu mastigar mais dessas pedras que eles chamam de castanhas. Empurro o pote de isca de esquilo e pego um pão macio. — Você disse que a Wendy e o Mick chegam quando mesmo? — Hoje à noite. Vamos ter tempo para discutir o novo conceito com a Monika, conseguir a aprovação dela e começar a traçar alguns planos preliminares — Royce repassa, mordendo um pedaço de pão. Anuo e mordo o meu, enquanto Bo devora seu cereal. Assim que terminamos, Royce assina a conta, que será cobrada quando fizermos o checkout, e nos levantamos rumo à saída. Lá fora, notamos que Monika mandou um motorista, que segura uma placa com duas palavras: INTERNATIONAL GUY

Sorrio. — Parece que a nossa carona chegou. — Estou adorando esse tratamento VIP. — Bo me dá um tapinha nas costas e outro no rosto. — Continue arranjando esses clientes milionários, meu irmão. Acho que consigo me acostumar com isso. Rio, observando a beleza que é um OhM Bolt de seis lugares cinza-metálico novinho em folha. — Consegue sim.

— Ich liebe es... Amei! — Monika diz. Ela abre um sorriso que mostra uma fileira de dentes brancos e uniformes. Seu cabelo loiro hoje cai liso sobre os ombros, e ela está usando outro tailleur matador que se ajusta perfeitamente a suas formas graciosas. — Vamos ter que nos informar sobre as fardas. Não sei se as forças armadas vão permitir exibir seus uniformes oficiais em um comercial de TV ou campanha publicitária de carro. — Concordo. Mas tenho certeza que vamos pensar em algo. O Michael deve ter algumas ideias. Ela ergue as sobrancelhas interrogativamente. — Então o sr. Pritchard vai ajudar no projeto, afinal? Inspiro devagar e profundamente, pensando em como lhe dar a informação. — Sim. O Michael é nosso amigo. Na verdade, a noiva dele trabalha conosco. Ela levanta a cabeça levemente. — Ah, entendi. — Nós queremos o melhor, para garantir que a campanha seja realizada sem problemas. — Muito bem. Mas não sei se vamos conseguir evitar problemas. O Michael e eu ainda temos assuntos pessoais pendentes... — Sua voz muda e seus olhos brilham quando pronuncia o nome de Mick. Lendo sua linguagem corporal, posso dizer que há mais que interesse profissional envolvido em sua resposta. — Não deve haver problemas, pois ele está vindo com a noiva. Ela pisca algumas vezes e fica de boca aberta.

— A noiva vem para cá? Sorrio. — Como eu disse, ela faz parte da equipe da IG. Eu pedi a ajuda do noivo dela, então faz sentido que os dois venham juntos, não é? Sua expressão demonstra cautela. Ela se recosta na cadeira, depois levanta abruptamente. Empertigada, se dirige a sua mesa e diz, sem olhar para mim: — Sim, faz todo o sentido. Os dois vão ser bem recebidos. Por favor, me avisem o que vocês desenvolverem, porque nós temos pouco tempo, e eu me preocupo se vamos estar prontos para o lançamento no cronograma acordado entre nossos parceiros e investidores. — Não se preocupe. A nossa equipe vai fazer o que for necessário para realizar nada menos que um milagre para que esse projeto seja bem-sucedido. Não é só a reputação da sua empresa que está em jogo. É a da nossa também. Ela dá um sorriso falso. — Podem usar a sala de reuniões que eu preparei para vocês, e dois assistentes estão prontos para mover montanhas se for necessário. — Obrigado. — Eu me levanto, e Bo e Royce me seguem. — Cavalheiros — ela diz —, nós conversamos mais tarde. Royce aperta o maxilar e vai na frente para sair da sala. Quando ele e Bo passam pela porta, eu paro e digo: — Me deem um segundo. Eles acenam e seguem pelo corredor até a sala que Monika preparou. Fecho a porta e volto para sua mesa. — Pois não, sr. Ellis. — Ela suspira e cruza as mãos trêmulas sobre a mesa. — Vai ser um problema trazer o Michael e a Wendy para o projeto, por causa da história de vocês? Ela franze os lábios. — Não sei bem o que você quer dizer. As palavras de Michael voltam para me assombrar. Nos relacionamentos sadomasoquistas, com dominador e submisso, a confiança é crucial. Ela engravidou e tentou me convencer de que o filho era meu.

Recordar isso faz meu sangue ferver, mas ela é a cliente. Estamos aqui para fazer nosso trabalho e nada mais. Michael não viria se não achasse que valeria a possível turbulência emocional. Ela tentou convencê-lo de que era pai do filho dela. Por que faria isso? Para salvar o relacionamento? Se ele não podia lhe dar o que ela desejava, por que ela queria ficar com ele? Dinheiro? Talvez. E, definitivamente, ele é um homem bonito. Não se envolva mais que o necessário, Parker. Deixe pra lá. Meu coração bate forte, sibilando como um motor a vapor. Confie no seu coração. Passo o dedo pela pulseira de couro que tem as palavras de Skyler gravadas. Às vezes precisamos dar um salto de fé por um amigo, independentemente do que isso possa significar. Isso me lembra uma famosa citação de Malcom X: “Um homem que não se levanta para defender nada cai por nada”. Meu pai vivia repetindo essa frase quando eu era criança. Nunca a esqueci, e nunca foi mais relevante que agora. Cabe a mim defender meu amigo, apesar dos riscos. — O Michael me contou o que aconteceu entre vocês. Não foi nada bonito. Eu sei que vocês não se separaram numa boa. Agora vou repetir a pergunta: o Michael e a Wendy neste projeto vão ser um problema? Se assim for, a minha equipe vai fazer as malas e voltar para casa, porque a nossa lealdade é com eles. A International Guy prometeu fazer o melhor trabalho para você, mas precisamos de total conformidade e um ambiente de trabalho harmonioso para isso acontecer. Você pode garantir que o seu passado não vai causar nenhum problema? O queixo de Monika treme, mas ela se controla. — O meu maior desejo é que este projeto se desenvolva plenamente. E se, nesse meio-tempo, eu tiver a oportunidade de resolver algumas transgressões do passado com um bom homem, gostaria de aproveitá-la. Mas acredito que todos nós podemos trabalhar neste projeto com profissionalismo. Mordo o lábio e avalio a sinceridade nos olhos e na postura de Monika. Ela parece... Derrotada.

Imagino que, quando o passado volta para nos assombrar, é isso que acontece. Eu sei que, se Kayla aparecesse do nada implorando meu perdão, eu iria querer jogá-la aos lobos. Os lobos seriam minha mãe primeiro, Skyler depois e a mãe de Royce em terceiro. Essas três juntas acabariam com ela. Apesar da estupidez de Kayla, ouvi dizer que ela se casou com um advogado mequetrefe em Chicago. Não que eu me importe. Ela merece toda a merda que a vida possa lhe dar. Mesmo assim, uma parte de mim espera que ela veja as revistas de fofocas e as fotos de mim e Skyler juntos. A vingança perfeita. Merda. Enquanto estou pensando em vingança, percebo que Wendy provavelmente sabe sobre o passado de Monika e Mick. Esquentadinha como é, Wendy não vai deixar barato. Aquela garota protege ferozmente as pessoas de quem gosta. Se ela é assim com três sujeitos com quem trabalha e considera amigos, imagine com o noivo. Estremeço. Quase lamento por Monika. Quase. Silenciosamente, rezo para que Mick não apresente Wendy a Monika. — Tudo bem. Eu vou voltar ao trabalho, definir as fases da campanha para impressão, internet e vídeo. Pode mandar os seus desenvolvedores web primeiro? Eles precisam reformular todos os hotsites dos veículos com as novas imagens e frases. Ela pega o telefone e faz que sim com a cabeça. — Algo mais? — Além de você deixar o passado no passado? Não. Se alguém jogar a merda no ventilador, nós estamos fora. Simples assim. A International Guy não arrisca sua equipe e seus amigos para pôr dinheiro no bolso. Nós não fazemos negócios assim. Nunca faremos. — Combinado — ela murmura, retesando o maxilar. — Acho que estamos de acordo. Vamos ter algo para te mostrar no fim da tarde. Monika anui com secura. — Então isso é tudo. Sorrio e saio do escritório, sabendo que confiei em meu coração, mesmo que isso pudesse ter posto em risco um grande lucro para a

nossa empresa. Os rapazes vão entender. Dinheiro não é tudo. Dinheiro serve para ajudar as pessoas a obter as coisas que desejam. Ajuda a enriquecer, mas não deve controlar a vida.

8

— Caramba, meu bem, o seu irmão é... — Skyler suspira — muito gato. Por que eu não sabia disso? Ela morde o lábio enquanto observa a imagem que lhe mandei. O FaceTime me dá uma visão clara da minha garota olhando uma foto minha com meu irmão. Também mandei uma do meu irmão com Dennis. Bo gargalha do outro lado da sala. Obviamente ouviu a exclamação dela. Ele está sentado à mesa de reuniões enquanto eu estou no canto, onde há dois sofás de couro e um pequeno bar. — Cala a boca! — grito para o telefone. Skyler sorri, e meu coração se enche de vontade dela. Vontade de abraçá-la. Vontade de sentir seu corpo apertado no meu. Vontade de estar onde ela está. O amor é uma coisa poderosa. É um sentimento que entra e destrói toda a razão, controlando cada pensamento nosso. — E esse é o namorado dele? — ela pergunta, tocando a tela. — Sim. — Esfrego os olhos cansados. — Ele é fofo. Parece meio conservador para um soldado grande e malvado, não acha? — ela comenta, apertando os lábios e mordendo o dedo. Gemo, imaginando brevemente aquele dedo na minha boca, ou sua boca em torno de algo meu, muito maior e mais sensível. — Não sei, talvez. O amor é estranho. Você e eu sabemos disso muito bem. — Sorrio, e ela responde me jogando um beijo. — Quando ele vem para Boston? Eu gostaria de hospedá-los na minha casa, se possível. Fazer um belo jantar. Eu cozinho. — Você cozinha?

Minha namorada cozinha bem, mas odeia ir ao mercado, por isso estou surpreso com a oferta. — Eu contratei um serviço para fazer minhas compras. Então, em vez de ir ao mercado, eu compro pela internet. — Ela dá de ombros. — Acho que é a mesma coisa. — Meu pêssego... — Suspiro, pois sei o preço que a fama lhe cobra. Ela afasta as longas mechas de cabelo para longe do rosto. — Tudo bem. Acho que um dia eu vou encontrar um lugar discreto onde possa fazer compras, onde todo mundo me conheça e a novidade de ter uma celebridade por perto acabe. Meus colegas de trabalho dizem que sempre encontram lugares assim. Tipo o Lucky’s. Ninguém me incomoda quando vamos lá. — Provavelmente porque o meu pai perderia a calma se alguém te incomodasse. Além disso, os clientes de lá são principalmente trabalhadores. Metade deles nem deve saber quem você é, e a outra metade fica feliz só de ver uma loira sexy enfeitando o ambiente de vez em quando. Ela sorri. — Pode ser. De qualquer forma, não vejo a hora de conhecer o Paul. Como vai a campanha? — Nós estamos arrebentando! — Bo se debruça sobre meu ombro. — Oi, Sky. Vamos ver a sua bela bunda quando voltarmos para Boston? Aperto os dentes. — Irmão, fique esperto... Ele revira os olhos enquanto Skyler ri. — Sim. Eu termino a turnê de divulgação esta semana. Devo voltar um dia ou dois antes de vocês, já que vão estender a estadia aí até quarta-feira. — Certo. Vejo você no Lucky’s, garota. — Com certeza, Bo. Não deixe o meu namorado levar o trabalho muito a sério e esquecer de rir! Ele faz um som rude com a boca. — Nunca! Royce se aproxima e me entrega uma pasta. — E aí, garota. Como vão as coisas?

Sky balança na cadeira. — Comigo tudo ótimo. E com você? — Tudo certo. Está tudo bem. — Ele bate no meu ombro. — O Michael está subindo. — Meu pêssego, eu tenho que ir. Te ligo mais tarde, antes de dormir — digo e arqueio as sobrancelhas. Ela ri como uma adolescente. — Combinado. — Te amo. — Também te amo! — Ela me joga um beijo e encerra a ligação. Abro meu paletó esporte e vou para a porta da sala de reuniões, onde me deparo com Monika segurando as fotos dos veículos que ela imprimiu. No fim do corredor, um grupo de pessoas se aproxima. Todas elegantes, vestidas em tons variados de preto, cinza, marinho e cáqui. Se eu não soubesse do que se trata e estivéssemos nos Estados Unidos, pensaria que a empresa estava sendo invadida pelo FBI. Na frente do grupo está Michael, liderando o bando. Ao seu lado, de braço dado com ele, minha ruivinha. — Wendy... — digo seu nome como um suspiro e me adianto pelo corredor. Ela abre um sorriso largo, solta o noivo e vem saltitante para mim, me encontrando no meio do longo corredor. Abro os braços e ela me abraça, com seu cheiro de coco e felicidade. Eu sorrio. — Você está incrível! Wendy inclina a cabeça. Seu cabelo vermelho está mais comprido, penteado para trás, como uma daquelas garotas de Robert Palmer pelas quais meu pai era apaixonado. Nos lábios, um batom rosa-chiclete brilhante, e sua roupa é... um tédio. Observo seu tailleur marinho, sem nenhuma cor viva ou acessório interessante. A única diferença em relação aos terninhos comuns que as mulheres usam no trabalho é que o dela é curtíssimo. Não é algo que eu imaginaria minha assistente usando. — Que roupa é essa? — Não posso evitar a pergunta. Ela sorri e se inclina em direção ao meu ouvido, como se quisesse sussurrar um segredo. — É a minha roupa de jogo de poder. Vou pegar aquela submissa diabólica de guarda baixa me fazendo passar por uma da espécie

dela, depois vou dar o bote e mordê-la bem no coração. — Ela aperta meu bíceps. — Bom te ver, chefe. Não vejo a hora de mergulhar nesse projeto e molhar os pés de novo. Mick se aproxima por trás da noiva e passa o braço ao redor da cintura dela, se encostando em seu corpo. — Coração, você vai pegar leve, senão eu vou te trancar no quarto de hotel e um dos meus capangas não vai te deixar sair. Wendy faz beicinho. — O médico me liberou — ela recorda. Enquanto Wendy fala, Monika se aproxima do nosso pequeno grupo. O restante das pessoas que Mick trouxe está mais atrás, esperando em silêncio até serem apresentadas. Wendy e Michael nem parecem ligar para o fato de a cliente — a ex de Mick — estar atrás de mim, ao lado de Royce e Bo, porque continuam conversando. — Bom, talvez seja necessário arranjar um médico mais sensato — Mick rosna baixinho. — Arranjar? Ou subornar? — Ela revira os olhos. — É subornar — explica para mim. Então ela se volta e cutuca o peito dele com um dedo longo e delicado. Nossa, eu odeio quando as mulheres fazem isso. Dói pra caramba. — Espere até me engravidar de novo, grandalhão. Você vai ver todo tipo de médicos e parteiras malucas... Ele ri. — Não, porque eu já entrevistei enfermeiras e parteiras. Nós vamos contratar uma de cada para te ajudar a cuidar da gravidez. Nada de acidentes desta vez. Vamos fazer direito. Ela arregala os olhos e passa o braço pela cintura dele, lhe dando um beijo doce no pescoço. Um anel rosa de batom fica grudado na pele de Mick, mas ele está tão tranquilo que nem liga. Royce pigarreia atrás de mim. Eu me volto e vejo que todos estão esperando enquanto nós três, principalmente Wendy e Mick, fazemos gracinhas. Roy dá um passo à frente. — Olá, Michael. Wendy, venha aqui me dar um abraço! Ela sorri e vai até Roy, que lhe dá um abraço de urso. — Que bom ver você, garota.

— É bom estar aqui. Ela sai dos braços dele e vai na direção de Bo. — Veja só, a Sininho parecendo... — Bo franze o cenho e avalia o figurino dela — ... profissional. Ela bate no peito dele. — Me abrace e não faça perguntas. Ele fecha os olhos e inspira o cheiro de Wendy antes de exalar como se tirasse um grande peso dos ombros. Todos nós estamos aliviados por tê-la de volta, depois de quase a perdermos. — Chega, Montgomery. Wendy... — Mick chama a noiva. Ela sorri e recua, mas não antes de dar um tapinha no rosto de Bo e dizer: — Você está bonito... para um galinha. Ele sorri e leva a mão ao coração. — Ela disse que eu estou bonito. Viu, Sininho, você gosta de mim. Você me ama. Você quer transar comigo — brinca, e Mick fica puto. Nesse momento, Monika por fim se aproxima. — Michael... Há quanto tempo. Obrigada por ter vindo.— Ela estende a mão para Mick, que a pega brevemente, sem soltar Wendy. O cadeado no pescoço da noiva balança pendurado na nova gargantilha de ouro branco. Wendy estende a mão. — Eu sou a Wendy, noiva dele — diz, inclinando a cabeça para Michael. Monika esboça um sorriso, e seu aperto de mão é fraco. — E essas pessoas? — pergunta, franzindo a testa, sem entender a presença delas. E eu compreendo, porque também não sei o que fazem aqui. — São especialistas de alguns dos meus escritórios na Europa — Mick responde. — Nós temos marketing social, marketing comercial, otimização de mecanismos de busca e internet, TV, rádio, modelos e atores, desenvolvimento de conteúdo e assim por diante. Pelo que entendi, a reviravolta tem que ser rápida. Muitas mãos são necessárias. — Você é nosso salva-vidas, Mick — digo, oferecendo a mão e apertando a sua com fervor e gratidão.

Ele torce os lábios. Isso é tudo que vou conseguir deste homem estoico. Normalmente ele é um pouco mais descontraído comigo, mas negócios são negócios, e esta empresa em particular é administrada por sua ex-submissa. Alguém que o decepcionou e traiu sua confiança. Monika se apruma, erguendo o queixo. — Sim, Michael, estou em dívida com você... — Não, a sua dívida é com o meu departamento financeiro. Os meus serviços e equipe são caros — Michael afirma, sem nenhuma gentileza. — Ah, claro. A OhM Motors vai arcar com todas as suas despesas. Ele passa o braço em volta de Wendy. — Ótimo. Onde devemos nos acomodar? Dou um passo para trás e indico a sala de reuniões no fim do corredor. — A porta à esquerda. — Imagino que a IG já tenha o conceito e o tema prontos, certo, Parker? — Mick pergunta. — Com certeza. Só precisamos da equipe que vai tornar isso realidade — digo, sorrindo. — Excelente. Eu me volto e rumo para a sala de reuniões. Quando olho para trás, vejo Wendy lançando olhares cortantes para Monika enquanto passa. O que responde a minha pergunta anterior sobre se Mick teria contado à noiva a história toda de seu passado. A resposta é um grande e gordo sim. Vão ser dias interessantes. Novo objetivo: impedir que Wendy e Monika fiquem sozinhas enquanto desenvolvemos a nova campanha.

— De jeito nenhum... — Royce diz no dia seguinte, sacudindo a cabeça. — Você deve estar louco, Pritchard. Eu não vou fazer isso. Minha mãe me mataria! — Eu estou dentro, com certeza — Bo diz, rebolando. — Eu sou excelente para fazer as mulheres babarem. — Ele mexe os quadris

em uma imitação malfeita de Elvis. — Obrigado. Muito obrigado. — O que está acontecendo aqui? Eu me sento e recosto a cabeça no sofá de couro da sala de reuniões. Ontem terminamos à meia-noite, fomos comer comida ruim de bar e por fim caímos na cama, às duas da manhã. Preciso dormir mais e trabalhar menos. Estamos trabalhando há cinco horas hoje, e já fizemos tanto que minha cabeça está girando e latejando em um ritmo cansado. Olho para o relógio enquanto Mick fala sobre o que espera de nós. Nossa, já é de tarde. Meu estômago está roncando, exigindo sustento. Não entendo todos os detalhes do que ele está dizendo, mas assinto mesmo assim. — Sim, tudo bem. O que for necessário, Mick — respondo, sem saber com que estou concordando. Mick não é brincadeira. Ele é um empresário agressivo que sabe exatamente como mover as peças de um projeto deste tamanho. Eu só queria não ter bebido tanto e precisava ter dormido mais. Um dos especialistas em TV vem até mim e me mostra algumas fotos. — Não encontramos um sujeito robusto o suficiente para a foto da picape. Queremos usar um soldado americano para essa e, claro, um pastor-alemão. — Ele coloca seis fotos na mesa de centro espelhada à minha frente. — O que você acha destes homens? Observo os rostos enquanto Michael apresenta um plano que tem para o final da filmagem. — Muito estilo modelo de passarela. Muito magro. Muito parrudo — digo enquanto aponto para cada rosto e os empurro de lado. Quem diria que eu teria que selecionar fotos de modelos para um comercial? Depois de passar pelo próximo lote, aponto para um rosto. — Este seria bom como marido do carro da família. Usem ele com camisa polo e calça jeans e uma mulher que pareça um soldado. O cara deixa cair os ombros. — Você eliminou todas as fotos que escolhemos para os soldados. — Talvez porque sejam todos modelos.

Então surge uma ideia, e eu rolo a tela de chamadas recebidas até encontrar o que quero. — E aí, P-Drive! Como vão as coisas? Sorrio ao ouvir a voz familiar do meu irmão. — Tudo bem. Ouça: estou com um problema com o projeto em que estou trabalhando e queria discutir umas coisas com você, se tiver tempo. — Irmão, tudo que eu tenho é tempo. O Denny e eu estamos sentados na beira da piscina do hotel, relaxando e tomando uma cerveja. Pode falar. Eu me levanto, passo pelas pessoas na sala de reuniões e me dirijo à janela, de onde posso ver metade de Berlim. Carros alemães maravilhosos correm pelas ruas tomadas de um misto de edifícios contemporâneos, remanescentes de relíquias destruídas pela guerra e algumas estruturas incríveis que sobreviveram aos bombardeios. — Estou com dificuldade para selecionar modelos para ser soldados em um comercial. Eles não vão ter falas, mas o rosto de modelo e o corpo esbelto não convencem como soldados de verdade, homens e mulheres que já estiveram no inferno lutando pelo país, protegendo os civis dos tiranos e da guerra. — Tudo bem. Deve ser porque você acabou de reencontrar o seu irmão soldado depois de tanto tempo. Isso é normal, Park. Eu fiquei longe muito tempo. Não foi fácil para mim, e eu sei que também não foi para a minha família. Nunca saber onde eu estava, quando ia voltar, se estava bem, vivo... Caralho, deve ser muito difícil. Esse é um dos motivos pelos quais estou pensando em me reformar. Fico pensando em suas palavras. — Acho que é isso. Eu tenho a impressão de que escolher um modelo experiente, ou um ator, não vai passar sinceridade, realidade. Entende? Ele puxa o ar entre os dentes, provocando um assobio. — Por que você não pega soldados de verdade? Tem tantos caras de licença ou reformados. Muitos deles não teriam problema algum para participar de uma campanha publicitária internacional. Eu tenho amigos no mundo todo. De quantos você precisa?

Instantaneamente, a imagem do meu irmão pulando na cabine da caminhonete com um cachorro enorme me faz sorrir como um lunático. — Incluindo você, cinco, e eu prefiro que dois sejam mulheres, de todas as etnias. Vou te mandar os detalhes do que estamos procurando. Você toparia? Eu adoraria ver o rosto do meu irmão na frente das câmeras, entrando em uma caminhonete, com uma bandeira americana se agitando ao fundo. O que me diz? — Duas coisas. — Diga. — O trabalho é pago? E eu posso levar meu namorado? — ele pergunta, bem-humorado. Começo a rir muito diante de suas exigências simplórias. — Porra, claro que é pago! E claro que você pode trazer o Dennis. Assim vamos poder apresentá-lo aos caras também. Não tem problema se você aparecer na TV? Pergunto por causa das suas operações especiais secretas. — Não, irmão. Ninguém sabe o que eu faço, onde e para que sou designado. Eles me mandam quando é uma operação rápida, resgate, retirada, recuperação e outras coisas que eu não posso falar. Não importa se alguém vê o meu rosto em uma operação, porque quem me vê não dura muito tempo, se é que você me entende. Sinto a boca seca. Concordo com a cabeça devagar, mas logo a sacudo. Porra, não, eu não entendo. Parece que o meu irmão acabou de admitir que faz coisas assustadoras que acabam com a vida das pessoas. Não quero saber mais sobre isso. — Vou dar uns telefonemas depois que receber a sua mensagem — ele diz. Assim que encerro a ligação, vou até um dos assistentes. — Preciso que você faça uma lista com as especificações necessárias para os modelos do comercial e envie para este número o mais rápido possível. Michael se aproxima com alguns gráficos sobre a distribuição do vídeo na internet e na imprensa. — Nós precisamos de uma exposição automobilística. Deixo cair os ombros.

— Em quanto tempo você consegue organizar isso? — Já está sendo organizado. Entrei em contato com alguns clubes europeus e estou reunindo os detalhes. Vai estar tudo pronto para o fim de semana em que os veículos vão ser lançados. Assinto. — Estou com um problema com os modelos. Mick franze a testa. — Que problema? — Nenhum deles parece um soldado. — Talvez porque são modelos, e não soldados — ele observa. — Eu pedi para o meu irmão falar com alguns amigos para ver se conseguimos usar soldados de verdade nos comerciais. Mick abre um sorriso diabólico. — Eu quero a autorização deles para usar o nome, patente e divisão militar. Para mexer com telespectadores do mundo todo, precisamos de rostos com nome. — Me dá um tapinha nas costas. — Boa ideia. Sorrio, feliz por minha preocupação colaborar com o conceito. — E vocês três amanhã vão fazer cabelo, maquiagem e guardaroupa — Mick avisa por cima do ombro enquanto sai andando. — O q... Espere aí! Do que você está falando? Cabelo e maquiagem, nós três? Ele vira, cruza os braços e me lança um olhar sombrio. — Uma contribuição para a campanha. Para o slogan: “Bravura que nos move”. — E pisca, como se suas palavras devessem surtir algum efeito em mim. Mas nada acontece. — Não sei do que você está falando. Ele suspira. — Parker, você concordou que os três representariam o slogan diante das câmeras. A Monika e eu achamos que vocês três na tela vai ser excelente. E mais que isso... — Dá um passo à frente, se inclina para mim e sussurra: — É a minha vingança perfeita por ter que largar tudo, ver a minha ex e vir socorrer vocês. Fecho os olhos. Puta merda. — Então você vai nos pôr na frente das câmeras. Ele apenas sorri.

— Amanhã? Será que eu quero saber o que nós vamos ter que fazer? — Todo tipo de ideia maluca preenche minha imaginação: nós três de farda, fingindo ser soldados... Acho que não seria tão ruim. Ele abre um sorriso malvado. — Vocês três vão estar em frente a um espelho comprido, com três cubas, tipo um vestiário. Acabaram de sair do chuveiro, peito nu, toalha enrolada na cintura. O Royce me contou que você gosta de deixar mensagens no espelho das suas clientes. — Ai, cacete... — Fiquei pensando... — Ele leva os dedos ao queixo. — O que poderia ser um grande gesto para a cliente, para o mundo, e, claro, deixaria vocês três cada vez mais desconfortáveis... para a minha satisfação? E descobri. Três homens nus na frente do espelho com uma embalagem de creme de barbear. Cada um de vocês vai escrever uma parte do slogan da campanha no espelho. — Ele estende as mãos à frente e olha para cima. — Bravura — diz, movendo as mãos do centro para as laterais. — Que Nos — de novo. — Move. — E sorri feito um maníaco. — Estiloso, não? Aperto os dentes. — Tudo bem. Se é o que você precisa para se vingar... Mick inclina a cabeça. — Ah, não, não, não. Veja, a minha noiva está me pressionando para eu fazer uma despedida de solteiro de verdade. E eu decidi que você vai planejar. Parece que ela não quer que eu perca as coisas normais da vida. Eu expliquei que tudo o que eu quero é ela, mas, sabe, ela consegue o que quer de mim. Coloque isso na agenda. Como o casamento está próximo, você precisa começar a se mexer. Eu te mando a lista de convidados e conto com a IG lá. Rio e balanço a cabeça. — Seu cachorro! Tudo bem. Eu faço o que for preciso para voltar às boas graças de Michael Pritchard. Mick sorri. Wendy aparece e passa o braço em volta da cintura dele. — Estou com fome. — Ela olha para Monika, do outro lado da sala, que encara o casal sem nem disfarçar. — Me leve para algum lugar longe daqui.

— Como quiser, meu amor. Ela sorri. — Park, está com fome? — Na verdade, estou... Mick sacode a cabeça uma vez. Tudo bem, o convite acaba de ser retirado. — Mas vou esperar os caras acabarem e comer com eles. Talvez eu ligue para a Sky. — Ah, ela está bem. A gente se falou hoje de manhã. — Wendy balança os ombros. — O vestido de madrinha dela ficou um arraso. Amarelo-claro, elegante. Supersexy com aquele cabelo dourado dela. Eu sorrio. Qualquer menção a minha namorada me faz abrir um sorriso bobo. — E eu? — Você e o Michael vão provar os smokings quando voltarmos. Passo para o lado dela e a afasto de Michael, mas não muito, para que ele possa ouvir. — Sabe, Wendy... se você quiser cancelar o casamento, desistir a qualquer momento, como o homem que vai te levar ao altar eu te ofereço uma rota de fuga... Mick rosna e a tira de mim. — Não tem graça, Ellis. — Para mim tem — digo, controlando o riso. Ele estreita o olhar para mim. Levanto a mão, aproximando o polegar e o indicador: — Um pouquinho de graça. — Coração, você disse que estava com fome, não disse? — ele pergunta, erguendo uma sobrancelha e olhando para Wendy. — Estou faminta — ela responde, baixando a voz e passando a mão pela gravata de cetim azul-claro dele. — Então vamos lá. Até mais tarde. — Vou ficar com saudade — brinco, e Mick aperta os dentes. Bo se aproxima e engancha o braço no meu pescoço. — Ele facilita muito. — É — rio. — Está com fome?

— Meu estômago já engoliu minhas entranhas e está roendo a espinha dorsal agora — ele diz, sem nenhuma inflexão na voz. Não consigo segurar o riso. — Que nojo. — Você riu! Dou um tapinha em seu ombro. — Você está sempre pronto para fazer um irmão rir. — Eu assumo essa tarefa da mesma forma que transo com uma mulher... como se fosse o meu trabalho — ele retruca. — Você é inacreditável — decreto, mas na forma de um insulto. — É o que elas dizem. — E sorri. Sacudo a cabeça e empurro Bo para o outro lado da sala, onde está Royce. Olho para ele, e Roy ergue a cabeça, larga os papéis e abotoa o paletó antes de vir até nós. — Hora de comer, espero. — Desde que a gente consiga manter este aqui sob controle. — Aponto o polegar para Bo. — Qual é? Vocês me amam. E morreriam de tédio se eu não existisse, sempre animando vocês, rindo para aliviar as preocupações. Royce bate na nuca de Bo e eu sacudo seu ombro. — Tem razão. Acho que vamos ficar com você — provoco de novo. — É isso aí. — Bo franze a testa. — Que tal arranjarmos uma bela loira para você? — Royce propõe. — Uma mocinha? — Bo arregala os olhos, todo alegre. — Uma cerveja — Royce responde e ri com aquele estrondo profundo, como um trovão caindo no topo de uma montanha. Bo finge desânimo. — É a segunda melhor coisa, mas serve. Saímos do prédio e entramos no carro da OhM. — Nos leve a algum lugar que tenha cerveja gelada e hambúrguer no estilo americano, amigo — peço ao motorista. — Eu conheço o lugar certo.

9

Esfrego os braços, arrepiados. — Isso é loucura — digo, cruzando os braços sobre o peito. — Está tão frio que daqui a pouco meus mamilos vão quebrar e cair. Tem que ser tão gelado aqui? — Não sei do que você está reclamando. Eu estou bem — Royce retruca. Ele está com os pés afastados, uma toalha branca felpuda enrolada na cintura, chegando à altura dos joelhos. O sujeito é enorme, e sua pele, na qual uma maquiadora está esfregando óleo, tem uma rica cor de ébano, em forte contraste com a toalha. Ele sorri e me dá uma piscadinha. Seu abdome é como um tanque de lavar roupa. Caramba, ele parece esculpido. Não que eu seja um desleixado, mas sou homem suficiente para notar que o meu parceiro é muito sarado. — Bom, eu não estou sendo esfregado por uma linda morena, né? — digo, indicando a maquiadora. — Meu trabalho tem seus benefícios. Este é um deles — ela diz, sorrindo e despejando mais óleo nas costas nuas de Royce. — Não se preocupe, você é o próximo. — E me dá uma piscadinha marota. Bo está por ali com sua toalha. Um cara durão, de cavanhaque, músculos definidos e cintura fina. — E quando vai ser a minha vez de ser esfregado? Melhor ainda, posso fazer isso deitado? — ele pergunta com um tom sugestivo, que não deixa nada para a imaginação. Aperto os dentes. Mal me controlo para não torcer o pescoço dele. — Já ouviu falar em assédio sexual, Bo? Se aplica a clientes também.

A mulher untando Roy para o que está fazendo, olha para Bo de cima a baixo e aparentemente gosta do que vê, porque sua resposta diz tudo: — Você e eu, depois do trabalho. Talvez, em vez de eu passar óleo em você, deixe você passar em mim. Bo leva a mão ao coração. — Mulher, você está falando a minha língua. Ela ri. — Não é difícil de adivinhar, jogador. — Um jogador reconhece o outro — ele responde e ela abre um sorriso largo. Quando ela termina com Royce, me entrega o pote de óleo. — Acho que o seu amigo precisa de uma ajudinha nas costas. Talvez vocês dois possam se ajudar. Eu preciso encontrar os soldados. — Sorri e se afasta rebolando. Bo a observa. — Hummm. Não vejo a hora de dar uma mordida nessa bunda hoje à noite. Derramando um pouco de óleo nas mãos, esfrego os braços e o peito. Bo imita meus movimentos e, a contragosto, lubrificamos as costas nuas um do outro sem nenhuma delicadeza. — Ah, aqui estão os meus modelos! — Mick, seguido por Monika, aparece, usando um terno preto risca de giz e outra gravata de cetim, só que esta é amarela. Aposto que foi Wendy quem lhe comprou essa gravata. É a cor favorita dela. — Eles são perfeitos para o comercial, não acha, Monika? — E aponta para nós três. Estamos seminus, apenas com uma toalha na cintura e uma tanguinha minúscula por baixo. Eles querem que o início do nosso traseiro fique sugerido na toalha, de modo que não podemos usar cueca normal. — Você está falando merda. Sabe disso, né? — digo a Mick, me certificando de que ele entenda que não estou nada impressionado. Ele responde com o sorriso do gato de Alice. — Sim, eu sei. Quer dar alguma ideia, Monika? — Mick se dirige à nossa cliente. Ela olha para ele com adoração, com um brilho no olhar que eu não havia notado antes.

— Tudo fica perfeito quando você está aqui — diz com uma voz sexy, cheia de segundas intenções. Antes que eu possa falar alguma coisa, Wendy aparece atrás dos dois e ri, passando o braço ao redor de Mick. — Engraçado, eu digo isso a ele o tempo todo. — Coração... — Ele inclina o queixo dela para cima e a beija com suavidade. — Coração? — diz Monika com desdém. — Ele me chamava de princesa. — Ai... — Bo murmura. — Merda — Royce sussurra. — Não é uma boa ideia... — alerto. — Com licença! — Wendy vira para Monika. — Vamos fazer isso mesmo? Bem aqui? Porque eu tenho várias palavras bem escolhidas para dizer sobre você. — Algo em seu tom de voz me diz que isso é mais uma promessa que uma ameaça. Bo arregala os olhos e cobre a boca com a mão. Eu recuo um pouco para evitar fazer parte do que possa ocorrer. Royce se intromete: — Garota... Levanto a mão e sacudo a cabeça. — Não é problema nosso, irmão — lembro. Isso é entre Mick, Wendy e Monika. — É melhor irmos para... algum lugar. Qualquer lugar. — Nem fodendo — Wendy responde para nós. Então, com toda a insolência que eu sei que tem dentro de si, volta a cabeça e direciona sua fúria a Monika: — Vamos esclarecer isso agora mesmo... princesa — diz, pronunciando o apelido com malícia. — Meu amor, realmente não é hora nem lugar — Mick tenta. Ah, coitado. A intenção dele é boa, mas, pelo pouco tempo que conheço Wendy, sei que ela não é o tipo de mulher que alguém pode impedir de falar. Já aprendi isso. O rosto dela se contorce em uma expressão de nojo. — Eu discordo, Mick. Isso termina aqui. — Volta a atenção para Monika e aponta para ela.

Por que as mulheres sempre apontam? Vou ter que perguntar a Sky. — Você pode ter um passado com o meu noivo, mas não tem um futuro com ele. Quem tem sou eu. — Ela acena para indicar Mick do topo da cabeça até os pés. — Tudo isto poderia ter sido seu. Felizmente você pisou na bola, e agora é tudo meu. — Perdão, Michael — Monika praticamente choraminga. Wendy sacode a cabeça, furiosa. — Eu disse que você podia falar? Ainda não terminei. A loira aperta os lábios. — Você — Wendy aponta para ela de novo — traiu a confiança do Mick, mentiu e nunca mereceu usar a coleira dele — pega seu cadeado — nem um anel de noivado. — Levanta a mão, onde o enorme diamante que Michael lhe deu refrata a luz. — Eu amo o Mick mais que a minha própria vida. Não preciso ter prazer com outro homem, porque ele me dá tudo que eu preciso. Monika franze a testa e engole em seco. Os músculos de seu pescoço se movem com o esforço. Ela mantém os punhos apertados nas laterais do corpo. Meu palpite é que ela está dividida entre responder ao que Wendy está dizendo, ser profissional e admitir que Wendy está certa. E minha assistente continua: — Eu entendo que você esteja triste por ter perdido o Mick. Faz sentido. Se eu estivesse no seu lugar... não que eu fosse burra a ponto de fazer isso, mas, se eu estivesse, só ia querer reconquistálo. Eu entendo. Entendo que você queira pedir desculpa, fazer as pazes, fazê-lo recordar os bons momentos que vocês viveram. Só que eu estou aqui para te dizer, querida: não se dê o trabalho. O que você não sabe, e eu estou aqui para te dizer, é que o que o Mick e eu temos é lendário. O que vocês tiveram foi esquecível. — Wendy dá de ombros. — É triste, mas é a verdade. Agora, a minha equipe tem uma campanha para terminar. Posso confiar que você vai guardar seus comentários para si e deixar o passado onde deve estar... morto e enterrado? Bo assobia baixinho. — Uau. Durona, Sininho.

Michael passa o braço em volta do pescoço de Wendy e segura o cadeado, puxando-o. Os olhos dela brilham como glitter. — Sim. — Monika lambe os lábios com nervosismo. — Eu só quero dizer que sinto muito pelo modo como as coisas terminaram. As minhas ações naquela época não refletem quem eu sou agora. Mick limpa a garganta. — Eu tenho certeza de que o seu marido aprecia a diferença — diz com a voz monótona, sem absolutamente nenhum sentimento. — Nós estamos separados — Monika revela. Wendy fica rígida, mas Michael percebe depressa seu desconforto e esfrega a clavícula dela com o polegar enquanto responde: — Que pena. Eu agradeço pelo pedido de desculpa, mas, como você pode ver, para mim foi o melhor. Eu tenho a mulher dos meus sonhos, que usa a minha coleira, o meu anel, e nós estamos planejando uma família. Vamos terminar os especiais de TV nos próximos dias e depois vamos embora. A minha equipe pode terminar o que for necessário nos meus escritórios, e todos nós podemos acompanhar as coisas por videoconferência e e-mail. — Michael olha para nós, que estamos tentando nos encolher e ficar fora da conversa. — Continuem, rapazes. A Wendy e eu vamos checar os outros estúdios. E, assim, eles nos dão as costas e se afastam friamente, de braços dados, como uma só força. Monika deixa os ombros caírem, derrotada. — Lamento que vocês tenham testemunhado isso. Não foi nada profissional e... — Nós entendemos. Que tal rodarmos logo a cena para podermos tirar essas toalhas e vestir nosso terno? — sugiro, tentando mudar de assunto. Ela anui como se estivesse anestesiada, como se voltasse ao passado, sem prestar atenção ao que está acontecendo ao seu redor agora. — Fale por si, irmão. Eu fico perfeitamente bem só de cueca a qualquer hora do dia — Bo comenta, diminuindo a tensão que Mick e Wendy deixaram em seu rastro.

Royce sacode a cabeça e empurra Bo para seu lugar em frente ao balcão. Diante de cada um há uma pia, uma lata de creme de barbear e uma navalha. Monika ergue o queixo e endireita a coluna antes de se dirigir aos operadores de câmera e à equipe. Luzes brilhantes, ofuscantes como o sol, cintilam ao nosso redor. Instantaneamente, minha pele começa a esquentar. Graças a Deus! — Muito bem, virem para o espelho. Nós vamos passar por vocês com a câmera algumas vezes. Então, cada um vai levantar a lata. Vamos passar a câmera de novo. Depois, um de cada vez vai escreve a sua parte no espelho com o creme de barbear. Entendido? Cada um responde com sua versão de sim. — Prontos? Silêncio no estúdio! — o diretor do comercial grita. — Ação! Os caras com as câmeras nos filmam, cada um de seu ângulo, depois param. — Agora peguem as latas de creme de barbear... Eu quero que cada um de vocês observe a própria pele, o rosto, faça pequenos movimentos. Tem que parecer natural. Seguimos suas instruções. Sorrimos para nosso reflexo, inclinamos o queixo, avaliamos os pelos crescidos, esse tipo de coisa. Até que ele pede para parar. — Muito bem. Royce, você é o primeiro. Ação. Ele sacode a lata de creme de barbear e esguicha no espelho até formar a palavra “BRAVURA” em letras de forma. — Bo, você agora — o diretor ordena. Ele chacoalha a lata e esguicha as palavras “QUE NOS” sobre a superfície do espelho. — Parker... Sacudo minha lata, sorrio e escrevo a palavra “MOVE” em letras maiúsculas, para combinar com a dos rapazes. — Tudo bem. O pessoal vai limpar o espelho e vamos fazer de novo. Nós três gememos e resmungamos como bebês.

Por fim o diretor encerra a cena e nos libera. Uma vez vestidos, levo os rapazes para o outro estúdio, onde encontro Paul usando um uniforme camuflado. Não é o padrão, e certamente não é o seu verdadeiro, mas é como um soco no estômago vê-lo vestido assim. Me faz lembrar que é uma grande sorte ter meu irmão de volta inteiro. — P-Drive. — Ele me puxa para seus braços e bate nas minhas costas com força. — Estamos quase prontos para filmar. Ele acena para Dennis, que está sentado em uma cadeira ao lado, fora do caminho da equipe. Atrás de Paul há uma caminhonete prata fodona da OhM Motors chamada 2.5 Amp. Todos os veículos têm um nome chamativo, que se relaciona com a natureza elétrica dos carros híbridos. À direita, vejo um sujeito alto e esguio de uniforme, com o padrão de cores e design similares aos das forças armadas francesas, parado diante da 1 Volt, que é a motocicleta. Do lado oposto há uma mulher com o uniforme do exército alemão, com a bandeira preta, vermelha e amarela costurada na manga, na altura do bíceps. Ela tem um bebê no colo, e o marido está abrindo a porta enquanto a câmera os segue. Ela coloca o bebê no sedã, chamado 4 Watt. — Dennis, venha aqui — chamo. — Quero que você conheça os meus amigos. O namorado do meu irmão se aproxima. Está de calça azulmarinho e polo branca, um cachecol azul, branco e amarelo em volta do pescoço, relógio de couro marrom e sapatos combinando. Os óculos de armação preta estão empoleirados no nariz, e o cabelo escuro — quase preto — está penteado para trás em um estilo elegante. — Parker, obrigado por me permitir vir hoje. É muito empolgante ver tudo isso dos bastidores. — Pessoal, este é Dennis Romoaldo, namorado do Paulie. Estes são Royce Sterling, meu sócio, e Bogart Montgomery, nosso outro sócio. Dennis aperta a mão deles antes de se aproximar de Paul. Instantaneamente, meu irmão esfrega as costas do namorado, como se o estivesse acalmando. Dennis sorri.

— Ouvi falar muito de todos vocês. Vocês são os irmãos que a vida trouxe, segundo o Paulo. Bo e Royce riem. — Sim, é por aí — Roy responde. — O Parker disse que você é brasileiro... Dennis se ilumina, inflando o peito de orgulho enquanto suas bochechas ganham um tom rosado. — Sim. O Rio é a minha casa e a sede dos negócios da minha família. — Ah, é? O que vocês fazem? — Bo pergunta. — A minha família trabalha com importações e comércio exterior. Enquanto eu estiver em Boston para conhecer a família do Paul, ele vai me ajudar a procurar um espaço para um novo depósito, e também um estaleiro no porto de Boston. Vamos ver o que tem disponível. Quando ouço essa informação, fico atento. — Vocês estão expandindo e pensando em fazer isso em Boston? — Abro um sorriso tão grande que meu irmão percebe na hora. — Sem promessas, Park. O Denny precisa fazer o que for melhor para os negócios e para ele... — E se o namorado dele, por acaso, mora em uma cidade portuária que é incrível para remessas da costa Leste... — digo, deixando-os somar dois e dois. Ele ri. — Você acha que eu não pensei nisso? Mas não vou forçar nada. Ele também está analisando o Texas e a Califórnia. — Na Califórnia tudo é muito caro — Royce opina, pensativo. Ele acompanha as tendências em negócios, especialmente quando se trata de capital. — Alguns dos estaleiros mais caros ficam na costa da Califórnia — acrescenta. Dennis concorda. — É o que estamos descobrindo. Vimos potencial também no Oregon e em Washington. — São opções melhores financeiramente, mas podem tornar o transporte terrestre menos lucrativo, dependendo das suas necessidades — Royce explica.

— Exatamente. Não é tão bom quanto Boston — digo, apertando os dentes e estreitando os olhos para Roy. Ei, eu acabei de recuperar meu irmão. Ainda não quero que ele vá embora por aí com o namorado. Bo dá risada e passa um braço em volta dos meus ombros. — O nosso garoto aqui só quer que o irmão fique em Boston. Ele vai pressionar bastante, se prepare — avisa a Dennis. Faço cara feia para ele e chacoalho os ombros, dispensando sua camaradagem. — Bom, não precisamos falar sobre isso agora. Vamos filmar e sair para comer alguma coisa. E beber por conta da International Guy à noite. Paul sorri e aperta a nuca do namorado. — O que você acha da ideia? Tudo bem sairmos com o pessoal hoje à noite? Dennis cora sob a atenção de Paul. Honestamente, nunca imaginei meu irmão com um homem, mas os dois são bem atenciosos e carinhosos um com o outro. — Eu adoraria sair com eles — Dennis responde e fica vermelho de novo. Royce bate palmas. — Muito bem, está resolvido. Vou cuidar das questões financeiras com o Michael. Bo, quer dar a sua opinião sobre as fotos e os anúncios? Bo assente. — Vou ver se o restante dos comerciais está indo na direção que nós decidimos — digo. — Acho que tenho que voltar para o meu lugar. — Paul aponta com o polegar por cima do ombro. Nesse momento, um filhote de pastor-alemão entra correndo no set. — Nein! Halt! — alguém grita em alemão enquanto corre atrás do cachorro rebelde. — Isso que acabei de ver era um filhote fofo correndo por aqui? — digo, franzindo a testa e olhando ao redor. Bo abre um sorriso largo. — Sim! Eu quero participar. Adoro cachorros!

Ele gira e persegue o sujeito que está perseguindo o cão pelo set. O filhote corre com a língua rosada para fora. — Esse não é um cachorro enorme e fodão. É um filhotinho fofo. — Suspiro e reviro os olhos. — Preciso resolver isso. Jantar hoje à noite. Vou convidar a Wendy e o Mick também. Ela vai arranjar um lugar para a gente. — Tudo bem. Até mais tarde. — Royce bate o punho no meu. Aceno para meu irmão e Dennis e me dirijo aos dois imbecis que estão perseguindo um cachorrinho.

A música está rolando. Vejo Bo se esfregar na maquiadora, que ele convidou para se juntar a nós depois que jantamos. Ele sempre se diverte, mas não mistura suas peguetes com a família e os amigos íntimos. Nunca levou uma mulher ao Lucky’s. Acho que, quando esse dia chegar, vai significar que está apaixonado. Royce coloca uma cerveja gelada a minha frente, um uísque puro para Mick e outro gim-tônica para Wendy. Senta, bebe seu uísque e sacode a cabeça, olhando para a pista de dança. — O Bo definitivamente sabe dançar. Eu devia ir até lá e mostrar como um homem de verdade seduz uma mulher — diz, sorrindo. Eu também sorrio. — Cara, duvido. Aposto vinte dólares que você não consegue fazer a garota dele te dar bola. Royce deixa seu uísque na mesa depois de tomar um gole generoso. — Fechado, irmão. Observe e aprenda. — Levanta da cadeira e vai até a pista de dança. — Este lugar é incrível, Wendy. Grande achado — digo e sorrio, grato. E é mesmo. No início da noite, estava bombando de gente jantando, mas, assim que o relógio bateu dez horas, começou a se transformar em um ambiente de balada. As luzes do salão de jantar diminuíram e o neon tomou conta, e um DJ assumiu o som nos fundos. Está tocando uma seleção de sucessos americanos de hiphop e rock, de modo que nós conhecemos todas as músicas.

— É mesmo! Foi um dos caras da equipe de TV que recomendou — Wendy explica. Ela se levanta, e Mick a pega pela cintura. — Aonde você vai, meu amor? — pergunta, apertando seu quadril. — Ao banheiro. Ele vai se levantar para escoltá-la quando Dennis fica em pé. — Eu vou até lá com você — diz, olhando para Mick. — Vou dar uma olhada por aí, esticar as pernas. Wendy revira os olhos. — Você precisa parar com esse negócio de não poder tirar os olhos de mim — reclama, se abaixando para Mick com um sorriso carinhoso e acariciando seu rosto. — Nunca — ele diz. Uma única palavra e nada mais. — Affff... homens. Vem, Dennis. Vamos desabafar sobre como os homens são idiotas. Mick lhe dá um tapinha na bunda quando ela vai passar o braço pelo de Dennis. — Eu adoro os homens — Dennis responde com sinceridade. — Especialmente um homem de uniforme — sorri para meu irmão. — Dá para explicar isso? — diz, franzindo a testa e pegando o braço de Wendy. Ela sacode a cabeça. — Você tem muito que aprender sobre jogar duro para conseguir o que quer. Não se preocupe, eu te ensino. Paul ergue as sobrancelhas. — A sua noiva é uma espoleta — diz, gesticulando para Mick. — É mesmo. — Ele se inclina para trás, observando a bunda de Wendy enquanto ela se afasta. — Tudo bem entre vocês depois do climão de hoje? — pergunto, cutucando seu ombro. Mas ele não tira os olhos de Wendy. — Foi... difícil ver a Monika, mas não porque sinto falta dela. É porque eu realmente queria o melhor para ela. Acho que ela não está feliz, e isso me deixa triste — diz, franzindo os lábios e pegando seu uísque. Faço que sim com a cabeça.

— Ela teve a oportunidade de ser feliz com você e desperdiçou. Agora, você tem fogos de artifício iluminando o seu mundo. Você se deu bem. Mas ela escolheu o próprio caminho. Se foi o caminho errado, é problema dela. Mick toma sua bebida devagar, com o olhar fixo no corredor dos banheiros. — Você está louco para ir atrás dela, né? — provoco. Ele deixa cair os ombros e baixa a cabeça um instante. — Com certeza. — Sua mão treme enquanto segura o copo, e ele se concentra no local por onde Wendy passou. — Você já conversou com alguém sobre esse seu medo? — pergunto com cuidado, sem julgamento. Ele suspira. — Sim. Nós dois estamos fazendo terapia. Juntos e separados. Quase perder a Wendy e ter perdido o bebê... — Ele engole em seco e baixa o copo. — Não está sendo fácil. Ela é tudo que eu tenho de importante no mundo. Mas planejar o casamento e estar abertos a outra gravidez vem ajudando. Temos conversado muito sobre o futuro, o que queremos e como queremos que seja. Dou um tapinha em seu ombro e o aperto. — Que bom. Vai dar tudo certo. E é saudável ficar triste e precisar de um tempo para processar as coisas. Eu tenho feito o mesmo com a Skyler. Nós conversamos, eu tento superar a culpa... — Admito que sinto dor na alma pelo que aconteceu com Wendy. Mick volta seu olhar para mim. — Por que você se sente culpado? Você não teve nada a ver com o que aconteceu. Você acha que... — Ele pisca várias vezes, me encarando. — Porra, cara, você está se responsabilizando? Sinto uma onda de culpa e dor, e minha boca seca. Engulo em seco para combater a repentina sensação de vazio. Pego minha cerveja, bebendo mais do que deveria de uma só vez. Mick franze a testa. — Parker, nem eu nem a Wendy culpamos você ou qualquer outra pessoa da equipe pelo que aconteceu. Aquela mulher era doente. Ela vai pagar pelos crimes que cometeu. O meu advogado está cuidando disso. A justiça está sendo feita. A Wendy está curada, e está aqui... — Ele se inclina para mais perto. — Eu não

vejo a minha namorada tão feliz desde a sua última visita. Ela se ilumina perto da equipe da IG. Se eu gosto que três homens exerçam tanta influência no coração dela? Não, porque sou ciumento pra caralho. Se eu confio nela? Com a minha vida. Se eu confio em você? Sim. No Royce? Absolutamente. O Bo curte forçar a barra. Não gosto da personalidade dele e vou continuar na defensiva. Mas eu sei que, para ter o amor da Wendy, preciso permitir que ela ame os outros também. Abro um sorriso enorme, passo o braço em volta dos ombros dele e lhe dou um meio abraço viril. — Nós amamos a sua mulher e preferiríamos morrer a vê-la se machucar de novo. Se eu pudesse decidir, teria levado aquela bala. Mick aperta os lábios e pousa a mão no meu ombro. — Eu sei, e agradeço por isso. Por favor, esqueça a culpa. Vamos focar no que há de bom a nossa frente. — Ele aperta meu pescoço. — Mas não se atreva a dar a ela uma chance de fugir do nosso casamento. Eu vou atrás dela. Não tem nada que me impeça de fazê-la minha em todos os sentidos possíveis. Entendeu? Rio muito, até ele apertar meu pescoço com mais força. — Cara, entendi! Eu só estava brincando. Além disso, ela não ia querer fugir. Mick me solta, ajeita o paletó e alisa a gravata. — Seja como for, prefiro não arriscar. Ela é muito importante para mim. Bebo minha cerveja e viro para ele. — Obrigado — digo aleatoriamente. Mas a gratidão é real e sincera. Devo muito a Mick. Mais do que ele imagina. Ele estreita o olhar. — Por quê? — Por vir até aqui nos salvar. Por fazer o que você não queria para ajudar um amigo. Mick anui, respira fundo e observa a porta pela qual Wendy entrou. Seus olhos brilham de repente, e ele sorri quando a vê aparecer ao lado de Dennis caminhando em nossa direção. — Mantenha a minha garota feliz quando ela estiver trabalhando e estaremos quites. Ah, mas você ainda tem que cuidar da minha despedida de solteiro.

Sorrio. — Sem problemas. Já convoquei a ajuda do Bo, do Royce e do Paul. Mick cruza os braços. — Ótimo. Posso até imaginar o que os três patetas vão aprontar. — Ei. — Dou outro tapinha em suas costas. — Deixa com a gente. Wendy caminha em nossa direção, rebolando e sorrindo, então aponta para Royce e Bo na pista de dança. — Estão vendo isso? Bo e Royce competindo. — Ela procura em sua bolsa até pescar o telefone. — Isso vai ser épico. Preciso filmar. É material de chantagem para mais tarde! Sigo o olhar dela e encontro Royce dançando com a bela maquiadora. Ela está passando as mãos pelo corpo dele, para cima e para baixo. Mas Bo não perde tempo. Está atrás dela, com as mãos em seus quadris, e ela, no meio do sanduíche, sorrindo feito um gato que acabou de ganhar uma tigela de leite. — Merda, perdi vinte dólares para o Roy.

10

Do outro lado da sala de reuniões, que parece um auditório, a tela se ilumina. Surge a imagem de um homem jogando o filho para cima. Sua linda esposa se aproxima, usando uma farda com a bandeira alemã no braço. Enquanto caminham, o uniforme se transforma em um vestido esvoaçante. Ele abre a porta do 4 Watt sedã e os dois colocam o bebê no carro. A imagem muda para um homem — meu irmão — vestindo uma farda camuflada, sujo de terra e grama. Enquanto caminha em direção ao 2.5 Amp, vai limpando a grama e a terra, como se estivesse trocando de pele. A roupa se transforma em calça jeans e camiseta com a bandeira americana estampada na frente. Antes de entrar na caminhonete, ele se inclina e pega um filhote de pastor-alemão, que lambe seu rosto agora limpo. Ele abre um sorriso largo para a câmera, coloca o cachorro no banco da frente e senta atrás do volante. A seguir, vemos um francês de farda correndo pela rua. O uniforme se transforma em calça preta, jaqueta de couro e um cachecol em volta do pescoço enquanto ele atravessa as ruas de Paris pilotando a 1 Volt, com o Sena e a Torre Eiffel refletidos nos retrovisores. Outras imagens mostram os demais carros atravessando montanhas, passando por uma praia, através da neve e do campo, enquanto palavras na tela falam da natureza ecologicamente correta dos veículos, antes de aparecermos nós três na frente do espelho. Eles nos fizeram balançar a bunda enrolada na toalha. Bo está cantando e segurando a lata de creme de barbear, eu estou sorrindo e Royce ri. Então a música aumenta e entra a voz do locutor: — A OhM Motors conduz você por todas as fases com uma série de veículos que não depreciam a vida, mas a enriquecem. A OhM Motors é...

Nisso, aparecemos nós três escrevendo as palavras “BRAVURA QUE NOS MOVE” no espelho, enquanto o locutor repete esse mesmo slogan. A última imagem foca todos os veículos alinhados, de cores diferentes, e a frase: “Para todas as fases da vida, OhM Motors. Bravura que nos move”. Quando a tela fica preta, os cerca de cinquenta funcionários ali sentados começam a bater palmas descontroladamente. As luzes se acendem, e Mick e eu, ao lado de Monika, vamos para a frente da sala. Monika fala em alemão para o grupo e depois passa o microfone para mim. — Obrigado a todos por assistirem. Esperamos que o seu entusiasmo se espalhe pelo mundo. Nós realmente acreditamos que a campanha “Bravura que nos move” vai levar a OhM Motors e a nova linha de veículos direto para o futuro. Nós apresentamos uma amostra de cada força militar, para que vocês possam ter uma ideia do visual de cada comercial. Cada um vai mostrar soldados e uniformes do seu próprio país. A Monika vai apresentar o comercial alemão e os demais planos de marketing ao conselho duas semanas antes do lançamento. A International Guy está feliz por ter feito parte de um lançamento tão inovador. Agora vou passar o microfone ao CEO da MP Propaganda, que vai fornecer mais detalhes sobre a campanha. A multidão aplaude enquanto entrego o microfone a Michael. — Danke a todos. Estamos muito entusiasmados com a forma, o conceito e o tema dos comerciais, tudo contribuição da International Guy. Obrigado, senhores. Eu me inclino com as mãos juntas diante do peito. — A campanha vai ser lançada em quinze idiomas diferentes e vai atingir vinte países. Uma exposição de veículos vai lançar a linha para os aficionados e chamar a atenção da imprensa na semana do lançamento. O site está pronto para ir ao ar, também traduzido para quinze idiomas, disponível em todo o mundo. Nós conseguimos espaço na televisão. A Monika vai divulgar os veículos em programas de entrevistas noturnos e matutinos e tudo o mais. Nós vamos fornecer uma lista dos programas. Jornais do mundo todo

vão anunciar os lançamentos nas seções correspondentes. Vai ser uma campanha muito cara, mas com certeza bem-sucedida. Obrigado a todos por suas contribuições nesta última semana. Foi uma grande conquista, e nada disso teria sido possível sem o talento e o esforço de cada um. Agora é a hora de vocês adotarem a “bravura que nos move”. Desejamos boa sorte à companhia. Todos se levantam e batem palmas com entusiasmo. Mick entrega o microfone a Monika e troca com ela um aperto de mãos, a seguir gira e aperta a minha, prosseguindo pela fila com seus principais executivos. Depois Bo, Royce e outros funcionários. Monika se aproxima por trás e lhe dá um tapinha nas costas. Olho ao redor e vejo Wendy do outro lado da sala, conversando com um rapaz da equipe de Mick. — Michael, hum... posso falar com você em particular? — Monika pede, endireitando a coluna e erguendo o queixo, como se estivesse pronta para a batalha. O sorriso dele desaparece. — Não, não pode. O meu trabalho aqui acabou... — Michael, você não pode ir embora sem termos uma conversa sobre o passado. Houve muito amor entre nós, e eu sei que, se tivesse a chance, poderia te fazer feliz de novo... — Seu tom é suplicante. Estou em dúvida: não sei se assobio alto para chamar a atenção de Wendy ou se acabo eu mesmo com isso. Mas não preciso fazer nada, porque, quando ela tenta tocá-lo, ele recua e vem em minha direção. Eu o detenho, mas me coloco ao seu lado, solidário. — Monika, se Deus quiser, esta é a última vez que você vai me ver. Eu vim até aqui pelo Parker, chefe e melhor amigo da Wendy. Não estou aqui por sua causa. Nem penso mais em você. — Mas nós temos tanta história... Ele aperta os dentes. — Só isso, uma história que acabou. Eu agradeceria se você parasse de envergonhar a si mesma e de me constranger se agarrando a algo que está morto há muito tempo. — Você me amou um dia... — Eu não sabia o que era amor naquela época, porra! — ele diz, grunhindo. — Agora eu sei, graças à deusa que usa o meu anel e a

minha coleira. Eu me curvo diante dela todas as noites, assim como ela se ajoelha aos meus pés. Submissa, aberta, amorosa. Ela me dá tudo que eu poderia querer ou necessitar e espera a minha retribuição. E eu retribuo, com toda a minha maldita alma. Eu e você nunca tivemos isso. Você nunca se entregou totalmente a mim, nunca confiou em mim para te dar o mundo. — Michael, eu ainda amo você... Ele se apruma e diz, sarcástico: — Você não sabe o que é amor e confiança. Já chega. Acabou. Me esqueça. — Não sei como. — Ela tenta segurá-lo pelas lapelas. Eu me coloco na frente dela e delicadamente a faço recuar. — Vamos parar por aqui. A partir de agora, cada um segue o seu caminho. A campanha está pronta. Era o que você queria. — Volte para o seu marido, Monika — Mick aconselha. — Faça o que é certo. Se comprometa totalmente com alguém que te ame, porque essa pessoa não sou eu e nunca vai ser. Nesse momento Wendy chega saltitante, sorrindo, corada de entusiasmo. — Foi incrível! — ela exclama e joga os braços ao redor do namorado, sem saber o que acabou de acontecer. Ele a abraça, levanta-a do chão, fecha os olhos e enterra a cabeça no pescoço dela, beijando várias vezes a coleira e sua pele. — Pronta para ir para casa, meu amor? Você tem compromisso com a Skyler e as mães e irmãs dos rapazes. Um dia inteiro no spa. Ela sorri e anui. — Claro que sim. E eu tenho champanhe! Ele franze a testa, coloca-a de volta no chão e pousa a mão sobre seu abdome. — E se você já estiver grávida? — Só vou saber daqui a duas semanas. Só porque estamos tentando não significa que já aconteceu. Você prometeu que eu poderia beber até aparecerem dois risquinhos no palito do teste, Mick! Ele ri, encarando-a. Olho discretamente para Monika, cujo lábio está tremendo e os olhos estão marejados. Então, surge uma expressão em seu rosto, que eu reconheço como reconheceria a

palma da minha mão: derrota. Ela funga, se endireita e vira para mim com uma máscara de profissionalismo no rosto. — Parker, eu quero lhe agradecer por ter vindo e trazido a MP Propaganda, e por vocês terem criado uma campanha memorável. Vou ter o maior orgulho de apresentá-la aos nossos parceiros e ao mundo nas próximas semanas. — E me estende a mão, que eu seguro. — Fico feliz por tudo ter dado certo... — Volto a cabeça para olhar para Wendy e Mick, que ainda conversam baixinho, completamente absortos um no outro. — ... para todos os envolvidos. Acho que, com o tempo, você também vai entender isso. Ela lambe os lábios e engole em seco. — Talvez. Por enquanto, vou lamentar a perda do que poderia ter sido e aprender com isso. Sorrio e aperto a mão dela. — É tudo que qualquer um de nós pode fazer. Se cuide. Se precisar de assistência com o lançamento, me avise. Nós vamos estar à disposição por telefone, e-mail e videoconferência, se necessário. — Faça uma boa viagem de volta para casa, sr. Ellis.

O Lucky’s está lotado conforme nós três passamos pela porta. Ao redor de uma grande mesa no centro está minha família: Paul, Dennis, minha mãe, meu pai, Rachel, Nate e, correndo a toda a velocidade, a mulher dos meus sonhos, Skyler. Ela se joga em meu colo e eu a pego pela bunda e as costas. Ela enrosca as pernas na minha cintura e pousa os lábios nos meus. Me beija com força uma vez, duas, depois recua a cabeça com as bochechas coradas, o cabelo como um halo selvagem de ondas douradas e os lábios vermelhos brilhando. — Que saudade! Tenho um monte de coisas para te contar! — Antes que eu possa responder, ela enche meu rosto de beijos. Morro de rir, e ela solta as pernas e desliza pelo meu corpo até o chão. — Oi, meu pêssego.

Eu a beijo com muito mais suavidade que ela, e seu perfume de pêssego com chantili me envolve como um cobertor felpudo. Enfio o nariz na base de seu pescoço e deixo a paz preencher meu corpo e minha mente cansados. Ela me abraça durante um minuto. Fico parado ali, mais uma vez, com os pés firmemente plantados no chão, enquanto me conecto com ela. A eletricidade corre pelos meus membros. Eu me recarrego em sua presença. Deus, o que essa mulher provoca em mim é diferente de tudo que eu jamais poderia ter sonhado para um relacionamento. Passo a mão pelo seu cabelo sedoso e acaricio sua face e seu lábio inferior com o polegar. — Posso falar oi para os meus pais, ou você precisa me contar tudo agora? — pergunto e aguardo sua resposta, sorrindo. Ela balança a cabeça, onde uma mão minha está levemente apoiada, enquanto a outra descansa em seu quadril. Inclina-a de um lado e do outro, mordendo o lábio inferior. — Acho que pode, já que o assunto envolve os dois também. Mas vai logo. Passo o braço ao redor dos ombros dela e nós caminhamos para a mesa. Puxo a cadeira para ela se sentar antes de ir até meu pai e abraçá-lo. Ele bate forte nas minhas costas, várias vezes. — Quem bom ter você em casa, filho. — É bom estar de volta. Abraço minha mãe, que me aperta com força. — Meus dois filhos no mesmo lugar ao mesmo tempo. Estou no paraíso. Dou um beijo em seu rosto e deixo que me abrace por um tempo, até que ela me solta e ordena ao meu pai: — Randy, pegue bebidas para os meninos. Eles parecem estar morrendo de sede. — Mulher, eu conheço esses garotos como o meu próprio reflexo. Fique fria — ele protesta, mas se dirige ao bar. Quando se aproxima, vira para ela: — Você poderia ajudar... Ela faz uma careta, e posso ver que sua insolência está prestes a vir à tona.

— Ajudar? Eu dei a vida a esses dois. Já fiz a minha parte! — ela retruca, mas vai para o lado dele. Eu rio, aperto a mão de Paul e aceno para Dennis, que está sentado ao lado dele observando nossa família maluca. — Foi tudo bem na apresentação? — pergunto, indicando nossos pais com a cabeça. Paul abre um sorriso largo e coloca o braço em volta de Dennis. — Tudo tranquilo, mano. Supertranquilo. Tudo é sempre bom na casa dos Ellis. A mamãe está feliz por eu estar são e salvo em casa. E achou o Dennis “superfofo”... Palavras dela. Acho que os dois ficaram um pouco chocados, mas estão aceitando bem. Estou grato por isso. Sorrio e bato meu punho no dele. — Que bom. Vai ficar ainda mais tranquilo com o passar do tempo. Paul assente, levanta seu copo e bebe um gole de cerveja. — Certeza — ele abraça Dennis com mais força —, porque eu sei que nada vai mudar tão cedo. — O namorado sorri diante do comentário. Nate pigarreia atrás de mim. Eu me volto e aperto sua mão. Ele me dá um abraço de lado, depois eu me inclino e dou um beijo no rosto de Rachel. — Que bom ver vocês. Senti falta das minhas sombras lá. Rachel sorri e me dá um soco no braço. — Ai! Você anda levantando mais peso? — brinco. — Como se fosse novidade... — ela diz, impassível. — Tem razão. — Passo por ela para me sentar ao lado da minha namorada. — E aí, baby, quais são as novidades? — Entrelaço meus dedos nos dela, feliz só de estar perto e tocá-la depois de dez dias longe. — Bom, antes de mais nada, vamos fazer algumas tomadas do novo filme aqui em Boston. Não é incrível? — Demais! Isso significa que você vai ficar menos tempo longe. Gostei. — Baixo a cabeça e beijo seu pescoço. Quero impregnar seu perfume em mim. Faz tempo demais que não o sinto. Pelo menos, parece muito tempo. Suspiro e beijo sua pele. Ela passa as

unhas pelo meu couro cabeludo e eu fecho os olhos, gemendo pelo prazer que seu toque provoca. — Meu bem, você está cansado... — Sim. Não dormi muito no avião. Tentei trabalhar um pouco. O Royce acha que nós precisamos de um advogado, então tentei localizar um na região, pesquisar, mas não encontrei nada. O Mick disse que tem um para recomendar e descobriu que o cara está voltando para Boston. Com o volume de trabalho que já temos e a próxima cliente, com quem vamos nos reunir na semana que vem, vamos precisar de um advogado em tempo integral. Ela franze a testa. — Qual é o próximo caso? — É em Washington. Uma indústria farmacêutica. Tem algo a ver com mudança de legislação para um projeto de lei específico. Antes de assinarmos, precisamos de um advogado não só para nos proteger, mas também para fazer lobby para a cliente no Senado. — Parece complicado. — E é. Ela pousa a mão no meu rosto e me beija. — Bom, por enquanto nós vamos encher você de comida, bebida e família — diz e a seguir baixa a voz: — E depois eu vou querer me encher de você. — Eu já disse ultimamente que te amo? — Não nas últimas vinte e quatro horas. — Eu te amo, baby. Ela abre um sorriso enorme. — Eu também te amo. — Ah, eu te amo. Não, eu te amo mais. Smack, smack — Bo imita, dando beijinhos no ar. — Vocês dois me dão vontade de vomitar. — Está com inveja porque não tem uma mulher te esperando em casa. — Ah, eu tenho... Duas, na verdade, prontinhas, me esperando no apartamento delas. Gêmeas. Ficamos todos de queixo caído. Royce e eu jogamos nossos guardanapos nele. — Afff. Guarde as suas histórias pervertidas para você, mano.

Bo levanta as mãos. — Que foi? O que eu disse de errado? — Sorri como um maníaco. Ele sabe exatamente o que disse e obteve a reação que queria. É o palhaço do grupo. Meus pais voltam com bandejas de bebidas, principalmente cerveja e uísque. Nate e Rachel aceitam a água que eles põem à sua frente. Para Skyler, uma taça de vinho branco. — Bogart, meu filho, você nunca deve se arriscar a namorar irmãs. Só dá problema — meu pai alerta. Minha mãe anui e coloca as mãos na cintura. — Além disso, você nunca vai encontrar a pessoa certa se ficar sempre galinhando. — Quem disse que estou tentando encontrar a pessoa certa? — ele retruca e sorri timidamente. Paul passa o braço em volta de Dennis, que se aconchega em seu corpo maciço. Minha mãe bufa com o comentário. — Bogart, todo homem precisa de alguém especial... — Ela olha para Paul e Dennis. — Uma companhia de vida. Ninguém deve ficar sozinho. Os seres humanos não foram feitos para viver sozinhos. A minha maior esperança é que você encontre a pessoa certa. Royce e eu nos recostamos e deixamos minha mãe espalhar sua sabedoria. Bo lhe dá corda. — Como eu vou saber quando for a pessoa certa? Ah, esse é um terreno perigoso. Se alguém permitir que Cathy Ellis entre em seu território amoroso, ela vai invadir pra valer. Vai ocupar toda a costa Leste. — Bom, a mulher certa para você vai deixar o seu coração em chamas. Você não vai conseguir parar de pensar nela. Vai sonhar com ela, imaginar um futuro com ela, pensar em filhos. — E se eu não quiser ter filhos? — ele pergunta, totalmente sério. — Caralho... — resmungo e me encosto em Sky. — Porra, irmão, agora você fodeu tudo. Minha mãe fica eriçada. A ideia de que um de seus filhos, mesmo de coração, não queira ser pai é incompreensível para ela. Seu

coração maternal não consegue lidar com um golpe desses. Ela leva a mão ao peito. — Jesus, Bogart. Morda a língua, senão o bom Deus vai deixar você estéril. Ele sorri. — Isso ajudaria a melhorar as coisas... sem risco de gravidez... Minha mãe junta as mãos e sussurra para o teto. Consigo ouvir algumas partes. — Ele não sabe o que diz, Senhor — ela murmura. Caio na risada, sem conseguir me controlar. O jet lag está dominando minha mente, enquanto a cerveja quase inteira que eu virei em dois segundos rola agradavelmente nas minhas entranhas. Skyler cobre minha boca com a mão. — Ele está muito cansado — diz, me justificando, enquanto eu rio através de seus dedos. — Só estou dizendo, sra. Ellis, que eu acho que não quero filhos, e as chances de eu sossegar são quase nulas. Se apaixonar é inútil. Nunca aconteceu comigo e nunca vai acontecer. — Ele bebe um longo gole de cerveja e reclina a cadeira para trás, oscilando nas pernas traseiras dela. — Eu sou feliz assim. As mulheres com quem eu saio sabem qual é o esquema. Todo mundo sai ganhando. Minha mãe sacode a cabeça. — Guarde minhas palavras, Bogart Montgomery, filho meu por escolha: qualquer dia, uma mulher vai arrebatar o seu coração, e você nem vai saber o que foi que te atropelou. Ele sorri e desce a cadeira. — Se esse dia chegar, você vai ser a primeira pessoa a quem eu vou vir pedir conselhos. Isso parece acalmar minha mãe por enquanto. — E eu vou estar aqui, pronta para pôr um pouco de juízo nessa sua cabeça. Muito bem, quem está pronto para comer massa? O cozinheiro fez rigatoni à bolonhesa com pão de alho e parmesão e uma salada bem saudável. Sacudo a cabeça enquanto minha boca se enche d’água e meu estômago ronca. — Na mesma frase, minha mãe consegue pôr um homem no seu lugar e encher a barriga dele. Eu amo a minha família! — digo,

erguendo o que resta da minha cerveja. Todos ao redor fazem o mesmo. — A esta família incrível. Todo mundo brinda. Eu me recosto na cadeira com minha garota nos braços, a barriga cheia de cerveja e as pessoas de quem gosto ao redor. A vida não poderia ser melhor. Neste momento, meu telefone toca. Quando vou pegá-lo no bolso, percebo que foi o de Skyler. Ela ri e pega seu celular. O fundo de tela é uma foto nossa em Londres, sentados no banco da antiga igreja. Ela está incrível, com o sol que passa por entre as árvores iluminando seu lindo rosto. Já eu pareço um sujeito que tem o mundo inteiro nos braços. Talvez porque tenha mesmo. Uma sensação de orgulho estufa meu peito. Assimilo os aromas e os sons do bar do meu pai, que me fazem relaxar como se estivesse em uma piscina funda. Estar nesta mesa com a família ao meu redor, rindo, bebendo, com a mulher que eu amo preenchendo minha alma com sua simples presença, o trabalho feito, a cliente feliz... Não há muito mais que eu poderia pedir. — É uma mensagem — ela murmura e clica no botão para abri-la. Olho para o outro lado para lhe dar privacidade, até que sinto seu corpo tenso contra o meu. Encaro minha garota, que empalideceu de repente. — Que foi?

Skyler

Sinto o medo rasgar minhas terminações nervosas e aquecer meu sangue enquanto olho para a estranha mensagem. — Park... — digo seu nome em um suspiro, e minhas mãos começam a tremer. — É da... da p-pessoa. Só pode ser — gaguejo e ergo o telefone para que ele veja a mensagem com remetente desconhecido. Que bom que está em casa. Não vejo a hora de te encontrar. Logo.

Parker retesa o maxilar. Noto um músculo palpitar em seu rosto quando ele vê que é de um número desconhecido. Ele pega o aparelho e lê a mensagem. O medo que senti há pouco se transforma em um momento de leve pânico. Meu coração começa a bater forte e faz minha cabeça latejar, enquanto a ansiedade desliza pela minha coluna como uma cobra fria e úmida. Olho em volta, de mesa em mesa, esquadrinhando rostos, linguagem corporal, para ver se alguém está ao telefone. Tentando ver se consigo descobrir quem pode ser. A pessoa pode estar me observando agora? Está aqui? Ouvindo, sabendo tudo que há para saber sobre mim? Sinto um tremor percorrer meu corpo. O braço de Parker aperta meus ombros. Sólido, forte, impenetrável. Ele se inclina contra mim e pousa os lábios na minha testa. — Não vai acontecer nada com você, juro pela minha vida, Skyler. Não sei como conseguiram este número, mas nós vamos descobrir. A Rachel e o Nate estão aqui. Os rapazes estão todos aqui. Meus

pais também. — Ele vira minha cabeça para eu olhar para todos esses rostos familiares. — Meu irmão é capaz de neutralizar uma possível ameaça em menos de meio segundo. Ele é treinado para isso. Tenho certeza que ele já avaliou cada ser humano neste bar. Está no sangue dele, no DNA. Se tivesse alguma ameaça aqui, de qualquer tipo ou forma, ele já teria dado um jeito. Tudo bem? Fico em silêncio, e ele prossegue: — Nós estamos em um lugar público. Você está segura. Está me ouvindo? Anuo, mas ele tem mais a dizer: — Eu nunca deixaria alguma coisa acontecer com você. Quem quer que seja, nós vamos descobrir. Eu prometo, baby. Agora vou te deixar aqui um instante e falar com o Nate. Tudo bem? Ergo os olhos e vejo Parker olhando para Nate e fazendo um movimento com o queixo. Meu guarda-costas sai de sua cadeira e vem se sentar ao nosso lado. — Você está bem, Sky? — pergunta baixinho. Sacudo a cabeça, porque não estou bem. De jeito nenhum. Estou apavorada. Muito. Parker lhe entrega o celular e Nate lê a mensagem. Noto quando seu rosto enrijece e fica inexpressivo. Tenho certeza de que ele está se esforçando para controlar a raiva. Quase como Parker. — Eu já falei com a Wendy. Ela concordou em se encontrar comigo amanhã. Acho que devemos falar com ela juntos, Parker. — A voz de Nate é severa, sem rodeios. Meu namorado anui. — Eu quero ir também — digo. Mas encontro dois rostos contrariados: um que espero olhar pelo resto da vida, e outro do homem que contratei para me proteger. — Skyler, acho que não é uma boa... — Parker tenta. Antes que ele comece a dar uma longa justificativa, eu o interrompo: — Não. Eu estou envolvida nisso, quero saber o que está acontecendo. Essa é a única maneira de eu me sentir segura. Ponto-final. Nate, desculpe dizer isso, mas não preciso te lembrar que você trabalha para mim, né? Ele pigarreia e suaviza a expressão.

— Não é necessário. Vai ser como você quiser. Parker rosna: — Skyler... não precisa se preocupar com isso. Nós cuidamos de tudo. Franzo a testa. — É mesmo? Porque, do meu ponto de vista, acabamos de receber outra mensagem, em um número de telefone novo em folha, e não estamos mais perto agora de descobrir quem mandou do que estávamos quando você pegou meu outro celular, em Londres. Isso foi há o que, um mês ou mais? Parker fecha os olhos e esfrega as têmporas com o polegar e o indicador. — Tudo bem. Vamos falar sobre o que sabemos quando chegarmos em casa. Nós pedimos a ajuda da Wendy porque, quem quer que seja, está tendo acesso às suas informações pessoais. — Ele concentra a atenção em Nate. — A Tracey enviou as cartas e os e-mails dos fãs? Meu segurança faz que sim com a cabeça. — Eu já separei os que deixaram a Rach e a mim desconfortáveis para você analisar — Nate relata. — Quer dizer, para vocês dois analisarem. — Obrigada. Por me incluir e por cuidar de tudo. Eu sou grata a você, Nate, você sabe disso. Você e a Rachel são uma parte importante da minha vida agora. São como a minha família. Nós precisamos descobrir isso juntos, como uma equipe. Ele retesa o maxilar. Juro, parece que está mastigando pedras. — Sua segurança é a nossa prioridade número um. É por isso que, agora que estou vendo esta mensagem, acho que precisamos compartilhar essa informação com a polícia. Levanto a cabeça. — A polícia? Infelizmente, falo tão alto que a mesa inteira para de conversar e beber e olha para mim. — O que tem a polícia, querida? — Cathy pergunta, com sua preocupação de mãe. Puta merda. A última coisa que eu quero é envolver a família do Parker nisso, especialmente seus pais.

— Ah, nada. Eu só estava contando sobre a parte do filme que vai ser filmada aqui no Lucky’s — minto, mudando de assunto. Nate aperta os lábios e se reclina na cadeira, cruzando os braços. Sob a iluminação do bar, seus músculos incham, forçando as mangas da camiseta justa. — Ah, sim! A nossa Skyler nos conseguiu um acordo com uma empresa cinematográfica de verdade! — Cathy revela ao grupo. — No mês que vem, uma equipe vai vir aqui para rodar o próximo filme dela. Minha sogra sorri para mim, cheia de orgulho. Não posso expressar em palavras o tanto que esse olhar atua como um bálsamo para a minha aflição. Ela me faz lembrar muito a minha mãe. Não na aparência ou nas palavras, mas nas ações. Minha mãe seria a mãezona do grupo, trataria todos como uma galinha cuida dos pintinhos. E ela amaria Parker. Ele não é só bonito, humano e gentil, mas dá para ver seu amor por mim como um farol brotando no peito. Eu o sinto em cada olhar, em cada toque sutil de sua mão e em cada sorriso. Cathy continua contando sua história, e eu tento tirar os olhos do meu namorado para prestar atenção. — E a melhor parte: toda vez que o personagem aparecer no bar, a cena vai ser rodada no Lucky’s, então nós vamos colher os frutos desse acordo pelos próximos anos! — ela grita e agita o pano de prato com alegria. A mesa lotada bate palmas. Todos ovacionam, estridentes, menos os que fazem parte do grupo preocupado de três pessoas debruçadas sobre uma mensagem assustadora em um maldito celular. Endireito os ombros. — Chega de falar disso. Esta é uma noite de amizade, comida e família, as coisas mais importantes que existem. O nosso problema ainda vai estar aqui de manhã, quando pudermos discuti-lo longamente e elaborar um plano... juntos. Não só vocês dois — digo, apontando um dedo acusador para Parker e Nate. Parker me puxa para si, me abraçando. Eu me aconchego, porque é morno e agradável ali. Mais que isso, me faz sentir segura. Como um lar.

Nate se levanta. Seu rosto está totalmente desprovido de emoção enquanto se afasta da mesa. — Vou circular por aí — sussurra para mim e acena para Rach, indicando que fique de olho em mim sozinha. Ela acena para ele também. Parker baixa a cabeça e beija minha testa. Então leva os lábios à minha orelha. Arrepios de prazer e tesão percorrem meu corpo, substituindo o medo e a incerteza de antes. — Sabe, tem mais uma coisa que você esqueceu de acrescentar. Franzo a testa. — O quê? — Sexo. Esta é uma noite de amizade, comida, família... e sexo. Você não vai dormir hoje sem umas belas boas-vindas. Aperto os lábios. A seguir, inclino a cabeça para trás em seu ombro, para que ele possa aproximar os lábios dos meus. — Talvez eu não estivesse pensando em fazer sexo esta noite. — Ele ergue as sobrancelhas. — Talvez eu estivesse pensando em fazer amor com você. Ele esfrega o nariz no meu. — Tudo bem, eu vou fazer amor com você... depois de treparmos como selvagens. O que você acha dos meus planos para esta noite? Penso nele me comendo enquanto me seguro na cabeceira, na diagonal em minha cama king-size, no chão, debruçada sobre o sofá — as possibilidades são infinitas. Deixo escapar um leve gemido e ele me beija, mergulhando a língua profunda e completamente. Bem diferente dos nossos beijos rápidos de quando ele chegou. Este beijo é profundo, molhado e abriga uma promessa do que está por vir. Quando recua, ele morde meu lábio inferior. — Acho que isso significa que você concorda com os planos. — O sorriso de Parker transborda sexo. — Eu vou estar nua esperando por você. — Então me levanto abruptamente, e todos os olhos se voltam para mim. — Estou muito cansada. Foi bom conhecer vocês, Paul e Dennis. Espero que venham jantar em casa em breve. Royce, Bo, a gente se vê amanhã. Cathy, Randy, obrigada por me receberem. Rachel?

Ela se levanta e se aproxima. Pega seu celular e diz algo baixinho. Provavelmente está pedindo a Nate que traga o carro. Viro para Parker, que se levantou e está sem palavras diante da minha necessidade repentina de sair dali. Pego suas bochechas e o beijo com força na boca. — Vá logo para casa, meu bem — digo com o máximo de lascívia possível. — Ah, eu vou. Pode contar com isso — ele diz, com a voz densa de tesão. Seus olhos normalmente claros agora assumiram um tom azulescuro deslumbrante, cheios de desejo. Dou uma piscadinha e digo: — Não esqueça. Vou estar esperando.

Uma gravadora de Madri contrata a International Guy para transformar Juliet Jimenez, uma menina com voz de anjo, em uma pop star sexy e poderosa. O cliente quer os mesmos resultados que eles obtiveram no desfile de moda em Milão, de modo que Parker aciona o mestre do sexo... Bogart Montgomery. Com os planos para a filmagem da série Classe A evoluindo, Parker sugere que Skyler viaje com eles. Sua inclusão no trabalho se revela fundamental para um bom resultado. Enquanto isso, uma antiga cliente da agência faz uma visita surpresa. No penúltimo volume da série, encontramos os amigos devastados pelos acontecimentos recentes. Amizades destruídas, membros da equipe em condições críticas, e a ameaça a Skyler e Parker nunca foi tão real. Mesmo assim, uma situação leva dois membros da agência ao Rio de Janeiro, onde o amor, a honra e a família ganham precedência. E, bem quando pensamos que já está tudo solucionado, descobrimos que alguns relacionamentos são mais deturpados do que poderíamos imaginar. Algumas verdades podem libertar... ou acabar com tudo de uma vez. No último passo da jornada de Parker e Skyler, a agência aceita um trabalho que considera fácil em Los Angeles. Uma produtora influente e absurdamente sexy está criando uma versão mais moderna daqueles programas de namoro na TV. A equipe da IG é chamada para ajudar a escolher os melhores casais a fim de deixar o programa engraçado, sedutor e quente e torná-lo um campeão de audiência. O que eles não sabem é que tudo isso é um grande esquema para colocar Parker sob os holofotes, como alvo dos desejos mais loucos de uma linda mulher.

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Também de Audrey Carlan Série A GAROTA DO CALENDÁRIO Volumes de Janeiro a Dezembro Série TRINITY Corpo Mente Alma Vida Destino

Tradução Sandra Martha Dolinsky

1ª edição Rio de Janeiro-RJ / Campinas-SP, 2019

Editora Raïssa Castro Coordenadora editorial Ana Paula Gomes Copidesque Lígia Alves

Revisão Cleide Salme Capa, projeto gráfico e diagramação da versão impressa André S. Tavares da Silva Juliana Brandt Foto da capa Spectral-Design/Shutterstock (homem) Título original International Guy

London, Berlin, Washington

ISBN: 978-85-7686-757-9 Copyright © Audrey Carlan, 2018 Todos os direitos reservados.

Tradução © Verus Editora, 2019

Direitos reservados em língua portuguesa, no Brasil, por Verus Editora. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da editora.

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Para Lauren Plude e sua cachorrinha resgatada, Sophia. Lauren, você deu uma chance a mim e à série International Guy, e eu me esforço para merecê-la. Seu amor pela Sophia e suas histórias não têm igual. Estou muito feliz por você ser a minha editora. Sinto que tirei a sorte grande! Obrigada por ser quem você é. E obrigada, Sophia, por ter servido de inspiração para este volume. Muito amor e lambeijos.

SUMÁRIO Nota da autora Skyler 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Skyler

Nota da autora

Nesta parte da história, eu me aprofundei em alguns tópicos bastante sérios, incluindo política, crueldade contra animais, abuso sexual, aborto, ética e resgate de animais. Basicamente, mergulhei de cabeça :) Com toda a honestidade, eu pesquisei muito para escrever este livro e fornecer ao leitor as informações mais precisas possível, sem deixar de lado certa liberdade criativa, uma vez que a história é fictícia. A crueldade contra animais permitida nos testes de produtos para uso humano, incluindo a indústria da beleza — mas não limitada a ela —, é um problema no nosso país e no mundo. Na verdade, fiquei chocada com as coisas horríveis que encontrei durante a minha pesquisa. Alguns desses cenários e situações inspiraram a natureza realista do que está escrito aqui. Se quiser saber mais sobre direitos dos animais e resgate, confira o Rescue Freedom Project: www.rescuefreedomproject.org.1 Se você é vítima de abuso sexual ou quer saber como ajudar, acesse o site da RAINN: www.rainn.org. E, se precisar de ajuda neste momento, ligue para 1-800-656-HOPE.2 Espero que goste desta parte da história de International Guy e que a leitura seja um incentivo para você pesquisar e se mobilizar naquilo que lhe for importante. Que situação faria você quebrar todas as regras para seguir sua bússola moral? Viva a sua verdade, Audrey

Notas 1 No Brasil há inúmeras ONGs e sociedades protetoras dos animais, como o Instituto Mapaa e a Uipa. Você pode procurar pela internet uma que atue na sua região. (N. do E.) 2 Um recurso de muita valia para vítimas de violência sexual no Brasil é o Mapa do Acolhimento (www.mapadoacolhimento.org), rede virtual de apoio que auxilia as vítimas a localizar serviços de atendimento especializado. E, para quem precisa de ajuda urgente, vale ligar para 188, o número do Centro de Valorização da Vida. (N. do E.)

Skyler

Eu odeio correr. Eu odeio correr. Eu odeio correr. A ladainha de sempre flui em minha mente enquanto Nate e Rachel correm ao meu lado, ambos me flanqueando a uma distância protetora. — Mais uns dois quilômetros? — Nate diz, com um sorriso. O suor escorre pelas laterais de seu rosto e pela barba curta, castanho-avermelhada, que ele deixou crescer recentemente. Rachel aperta os lábios. — Eu aguento — responde, dando uma explosão de energia, de modo que Nate e eu temos que acelerar o ritmo. Posso ver meu prédio daqui. — Vocês são malucos? — reclamo enquanto corro sem elegância nenhuma. Então paro bruscamente, me dobrando ao meio e descansando as mãos nos quadris trêmulos. — Sério, vocês dois estão tentando me matar. — Levanto a mão e imito um pato falando. — Ah, vamos dar uma volta, Sky, correr um pouco. O clima está ótimo. Vai ser bom malhar ao ar livre. Ãhã. Com extremo esforço, pressiono o peito com a mão, tentando controlar a respiração. O suor escorre pela minha coluna, e eu flexiono as costas e esfrego o local com a camiseta. Nate leva as mãos à cintura. — Um corpo em forma é um corpo saudável. — E um corpo saudável é um corpo cansado! — replico, fazendo beicinho. — Tenho certeza que vocês estão tentando me matar. Matar de correr. Da próxima vez, melhor me perseguir com uma faca na mão. Pelo menos assim iam conseguir os seus dois quilômetros a mais. Giro sobre meu par de Nike e começo a andar rápido para me afastar daqueles dois sarados e seus exercícios sem fim.

Rachel é incapaz de conter uma risadinha, o que me faz encará-la e lhe mostrar o dedo do meio enquanto vou num trote rápido em direção ao prédio onde moro quando estou em Boston. — Foi você quem disse que queria estar em forma para a Trilogia Classe A! — Rachel grita, rindo. A qualquer momento, os dois vão estar a menos de três metros de mim. — Grrr! Vejo o café Grounds, ao lado do edifício onde ficam minha cobertura e o escritório da International Guy. Na maioria das vezes, o dono está atrás do balcão, sempre com o mesmo barista. Já conheço os dois, tiramos selfies juntos e dei autógrafos, de modo que a novidade de ter uma celebridade morando ao lado perdeu a graça. Os dois ficam na deles quando me veem. Além disso, me permitiram abrir uma conta, o que funciona bem quando minha equipe de segurança está tentando me matar e eu não carrego dinheiro comigo. Como estou olhando para trás, abro a porta do Grounds e trombo com um peito firme. Chá gelado cai sobre minha camiseta, legging e moletom. — Merda! — Dou um pulo para trás, sacudindo o gelo da camiseta. — Desculpe! Mil desculpas! — grito e me abaixo para recolher o gelo. — Vou comprar outro para você. Eu estava olhando para trás — murmuro enquanto pego os pedaços escorregadios de gelo. — Skyler? — diz uma voz familiar. Encaro o homem alto e vejo os olhos verdes de alguém que reconheço, mas não consigo identificar. Franzo a testa e me levanto. O gelo congela a palma das minhas mãos enquanto derrete. — Desculpe... — Sacudo a cabeça e jogo o gelo em uma lata de lixo ali perto. Logo atrás de mim, Nate e Rachel entram. Quando o homem estende a mão para pegar em mim, Nate o segura pelo antebraço e o puxa para trás, imobilizando-o pelas omoplatas em um movimento que deixaria Bruce Lee orgulhoso. — Ahhhh! Me solte! — o homem grita, o corpo formando um arco no ar, obviamente dolorido.

Eu agito as mãos. — Não, não, não, Nate! Eu trombei com ele. E ele é... Eu conheço. Por favor, largue o rapaz. — Me solte! — Ele empurra Nate. Meu guarda-costas acaba soltando o cara, mas se coloca à minha frente com os braços cruzados, totalmente ameaçador. — A Skyler e eu somos velhos amigos — o sujeito avisa, girando o ombro e esfregando a mão e o braço machucados. — É verdade, Sky? — Nate resmunga com a voz profunda. Ele parece meio animalesco e não tira os olhos do homem. Mordo o lábio e observo o rosto do estranho. Olhos verdes simpáticos, nariz pontudo, maçãs do rosto altas, queixo barbeado. Cabelo curto, corte normal. Jeans e camisa polo. Um cara comum. — Desculpe. Eu não lembro quando nos conhecemos — digo, franzindo a testa enquanto escavo em minha mente. O homem estremece, e uma expressão magoada toma seu rosto. — Nós fizemos um comercial juntos. — Ele franze as sobrancelhas. — “Humm, quando cai na barriguinha eu peço mais. É divertido, parece um bichinho. Cereais Minicaracol!” — cantarola. — Ai, meu Deus! O comercial dos cereais Minicaracol! Isso foi há... uau, dezessete, dezoito anos? Eu tinha uns oito anos! Ele sorri. — E eu tinha dez. Ele fala como se fosse uma bravata, como se o fato de ser dois anos mais velho que eu quando fizemos aquele comercial, dezessete anos atrás, fosse algo de que se orgulhar. — Ah, sim — digo, anuindo. — Qual é o seu... Desculpe, não lembro o seu nome. Seu sorriso desaparece e seu maxilar fica rígido. — Bom, agora que você é famosa, deve ser difícil lembrar dos velhos amigos. É Ben. Benny Singleton. Benny Singleton. Agora lembrei. Minha mãe me dizia para ficar longe dele, porque o garoto estava sempre tentando me beijar entre as cenas. Nenhuma menina de oito anos quer que um menino a beije. Especialmente se ele for desengonçado e tiver cheiro de xarope de bordo.

— Ah, sim, lembrei — respondo, dando um tapinha na cabeça. — Atores, sabe como é. São tantos papéis que a gente esquece o nome real das pessoas. Ele franze os lábios. — Imagino. — Puxa, me deixe pegar outra bebida para você — ofereço com um sorriso, apontando para o balcão movimentado. Ele olha por cima do meu ombro. — Desde que o seu namorado mantenha as patas longe de mim... Ele poderia ter me machucado de verdade. — Benny esfrega o braço e a mão. Rio baixinho, o que o faz franzir a testa. — Desculpe — digo, pousando a mão no seu braço de maneira amigável. Até que ele olha para minha mão com desejo e seu olhar verde escurece com o toque. Afasto a mão rapidamente. — Ele não é meu namorado. Benny abre um sorriso largo, revelando alívio e talvez expectativa. — Guarda-costas — Nate o corrige, rangendo os dentes enquanto nos segue até o balcão. — Ah, que bom. — Ele sorri para mim e lambe os lábios, olhando para minha boca. — Muito bom. Respiro fundo, vou até o balcão e cumprimento o barista: — E aí, Freddy, tudo bem? — Não posso reclamar. O céu está azul, o café está quente e os muffins acabaram de sair do forno. A menos que você prefira tomar chá — diz, olhando para minha blusa encharcada e sorrindo. — Mas acho que já bebeu o suficiente por hoje. Eu me debruço no balcão alto. — Trombei com um velho amigo e derramei a bebida dele por todo lado. Desculpe, ficou uma poça enorme ali — digo e olho por cima do ombro, mas vejo que Rachel está enxugando tudo com guardanapos. — Acho que a Rachel está limpando. Eu quero o de sempre, o preto sem graça do Nate, o americano da Rachel, com espaço para o chantili, e o que o meu amigo aqui tinha acabado de pedir. Ah, e dois muffins de mirtilo. Os olhos de Benny se acendem quando digo a palavra “amigo”. Afff. Preciso fazer um curso de como não encorajar atenção

indesejada. — Sky... — Nate alerta quando eu acrescento os muffins. Eu me viro, e meu rabo de cavalo voa como um chicote atrás de mim. — Estou com fome. — Então coma alguma proteína — ele diz, impassível. — Você vai me fazer uma bebida proteica quando voltarmos, né? Ele estreita o olhar. — Sim, mas era para tomar com ovos mexidos, não com muffin de mirtilo, cheio de carboidrato, gordura e açúcar. Eu me volto para Freddy: — Dois muffins de mirtilo e um de banana com nozes! — Nate geme atrás de mim. — Tem nozes. Nozes contam como proteína — retruco, dando a ele meu melhor sorriso falso. — Sim, proteína cheia de gordura. Agora você vai ter que fazer seis agachamentos a mais. Talvez segurando halteres de cinco quilos. Eu estreito os olhos, aperto os lábios e paro diante do rosto carrancudo de Nate. — Você não ousaria. Ele estreita os olhos. — Pode apostar. Eu não tenho medo de você. Lembra quem demitiu o seu personal? Ele me faz recordar a exigência de Parker quando nosso relacionamento ficou sério. Nada de transpirar com um homem com quem já transei. Já que Nate está comigo vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana, faz sentido que ele me treine. — Eu te odeio — sibilo com raiva fingida. — Você me ama. Mais que isso, você vai amar o seu bumbum durinho quando pisar no set do próximo filme — ele responde, com um sorriso sarcástico. — Cala a boca! — digo e mostro a língua para ele. Percebo que Benny e Freddy nos observam. — Desculpem, rapazes. Põe na minha conta, Freddy? — Claro, Sky. O dono me entrega o chá e eu passo para Benny, esperando que ele pegue o copo e vá embora. Mas ele nem se move. Chupa pelo

canudinho bem alto enquanto o restante das bebidas chega, com meu saquinho de muffins. Minha barriga ronca. Vou até uma mesa vazia e me sento. Benny me segue. Nate se senta com Rachel na mesa ao lado e entrega a ela seu americano. — Leite, baby? Ela assente. Nate destampa o copo dela e o leva até uma mesa onde há chantili, guardanapos e outras coisas para o café. Serve um pouquinho de leite, mexe e leva a bebida de volta para ela. Então se joga na cadeira. — Aqueles dois estão juntos? — Benny pergunta, inclinando a cabeça na direção da mesa deles. — Sim, eles são casados e formam a minha equipe de segurança. — Pego um muffin de mirtilo, tiro o papel da lateral e dou uma mordida gigantesca, olhando nos olhos de Nate. — Humm... que delífia — digo, com a boca cheia de carboidrato. Ele sorri e sacode a cabeça. Eu vou pagar por isso, mas é tão gostoso! Estou mastigando quando sinto o ar se encher de eletricidade. Ergo os olhos. Meu coração começa a bater rápido, e sinto um frio na barriga. Parker, de terno cinza, camisa branca e gravata azulmarinho, está parado na entrada do café. Está delicioso. Mastigo o muffin enquanto seus olhos examinam o lugar e se fixam em mim. Quando me vê, ele abre aquele seu sorriso diabólico e se aproxima, cheio de ginga. O salão inteiro desaparece, menos meu namorado. Sua calça se agarra às coxas musculosas e a camisa se estica sobre a ampla extensão de seu peito. Lambo os lábios e levanto a cabeça enquanto ele se aproxima. — Se ele não é seu namorado, talvez eu e você possamos... — Benny começa. Mas mal consigo me concentrar no que ele está dizendo, de tão decidida que estou a receber meu homem. — Oi, baby... — Parker chega até nós, se inclina para mim, pega meu queixo e me beija profundamente, mordiscando meu lábio inferior antes de se afastar. — Humm, mirtilo e pêssego. Meu favorito. — E me dá uma piscadinha antes de notar o cara sentado comigo. — Oi. Você é...?

— Um amigo da Skyler. Benny. Quero dizer ao Parker que Benny não é de fato meu amigo, mas vai haver tempo para isso depois. — Meu bem, eu trombei com o Benny. Literalmente. Derramei o chá dele todo em cima de mim. — Parker passa o olhar pela minha blusa encharcada e volta para meu rosto enquanto continuo: — Aí nós lembramos que fizemos um comercial juntos quando crianças. Dá para acreditar? Parker franze os lábios e ergue a sobrancelha. — Mundo pequeno. De onde você é? Benny... é isso? — S-Sim. Eu... não sou de Boston, na verdade. Passei um tempo em Nova York e agora estou aqui. Trabalho neste prédio — diz, apontando para a parede que divide o café do edifício onde eu moro e onde fica o escritório da IG. Park inclina a cabeça. — É mesmo? Eu também trabalho ali. Nunca te vi. — Eu comecei há poucas semanas — Benny responde. — Ah. — Parker observa o saco de muffins e estende a mão, com um sorriso. — Sim, tem um de mirtilo para você. E um de banana com nozes para o Bo — digo, olhando para Nate e sorrindo antes de me concentrar em meu namorado. — O Royce diz que não come muffin nem nenhum tipo de carboidrato no café da manhã. Nate bate palmas lentamente. Faço cara feia para ele, e Rachel e ele riem enquanto tomam seus cafés. — Obrigado, baby. Vou te levar para casa. Eu me levanto, percebendo que Parker está me dando um pretexto para sair dali. Assim que fico em pé, ele passa o braço em volta da minha cintura e desce a mão até minha bunda. — Está ficando mais durinha — diz, apertando meu glúteo com firmeza. — Nate, você está fazendo a minha mulher malhar demais. Você sabe que eu gosto de curvas. — Viu? — aponto para Nate, e ele balança a cabeça. — O meu namorado gosta da minha bunda do jeito que é. — Vou te lembrar pela centésima vez: foi você quem quis que eu te treinasse! — Nate retruca, com certa exasperação na voz.

— Bom, estou vendo que você tem coisas para fazer. — Benny se levanta. — Foi bom te encontrar, Skyler. Agora que estamos no mesmo lugar, espero te ver por aí. — Ãhã. Se cuida — digo, me aconchegando no peito de Parker quando Benny finalmente vai embora. Então solto: — Afff. — Vou adivinhar: não era um amigo? — Parker beija minha testa. — Não. Nós fizemos um comercial juntos há dezessete anos, e ele ficou agindo como se a gente se conhecesse desde sempre. Quando as palavras saem de minha boca, sinto Parker tenso. Ele estreita o olhar e faz um movimento com o queixo para Nate. Mas meu guarda-costas dá de ombros. — Não senti nada estranho em relação ao sujeito, mas não custa dar uma checada. Vou colocar o nome dele na lista. — Você acha que o Benny é o maluco que fica me mandando mensagens? — pergunto, atônita. Parker pousa as mãos no meu rosto. — Não sei, mas ele disse que morava em Nova York, e agora, de repente, está morando aqui. Agiu como se fosse um grande amigo seu... — É verdade. Ele se comportou com familiaridade demais. Se bem que muitas vezes as pessoas fazem isso quando acham que conhecem alguém. — Mal não vai fazer dar uma conferida — Nate repete. Dou de ombros. — Como vocês quiserem. Preciso terminar o meu muffin e o meu café e tomar um banho. Depois vocês dois vão me mostrar o que andam escondendo sobre a pessoa que está mandando as mensagens. Parker passa o braço em volta da minha cintura e me acompanha para fora do café, em direção à entrada do nosso prédio. — Não estamos escondendo nada de você — diz. — Só pensamos que... — Você está me protegendo. Eu entendo, meu bem, não estou brava. Eu sei que você me ama e quer me manter segura. Parker para na calçada e me faz girar para ficar de frente para ele. Seus olhos azuis parecem cinza à luz da manhã. — Eu faria qualquer coisa para te proteger. Você é o meu mundo.

Fico na ponta dos pés e o beijo. — Eu sei, mas me deixar no escuro não está dando certo. Já sabe se a Wendy pode se encontrar conosco? Ele assente. — Sim. Ela disse para irmos jantar com ela. Tudo bem para você? Eu tenho um almoço de negócios hoje com o Andre, meu headhunter, e uma candidata. — Ah! Para o cargo de advogado? — Sim. — Ele passa as mãos pelo paletó e pela gravata. — Estou bem? Parece que ela começou em Harvard e depois se transferiu para a Universidade de Georgetown com uma bolsa de estudos integral, e passou no exame da Ordem com uma pontuação excelente. Ela trabalhou no Capitólio nos últimos anos, mas de repente quer se mudar para Boston. — Meu bem, você está ótimo. Tenho certeza de que ela vai babar. Ele sorri e me acompanha para dentro do prédio. Passamos pela segurança e nos dirigimos ao elevador. — Vocês me deixam no meu andar e vão tomar banho, que tal? Depois podemos falar sobre o assunto no meu escritório antes do almoço. Nate e Rachel, que nos seguem o tempo todo, anuem, e eu confirmo com a cabeça quando o elevador começa a subir. Assim que apita no andar da IG, Parker me dá um beijo rápido e se afasta para sair. Annie está parada diante da porta com uma pilha de correspondência. — Bom dia a todos — ela diz com a voz doce e entra. — Oi, Annie — cumprimento. — Desculpe, você pegou o elevador com o bando de fedidos! Nós acabamos de correr. Também estamos subindo. Ela acena com a mão. — Sem problemas. Eu só vou levar isto aqui para a sala de correspondência. — Indica a pilha que tem nos braços. — Está gostando de morar em Boston? — Sim, muito! Estou aqui há pouco tempo, mas já sinto que é como voltar para casa, para o Parker. Annie abre um sorriso largo enquanto o elevador sobe. — Aposto que sim.

— Tem alguém especial na sua vida? — pergunto, cutucando seu ombro com o meu. Suas bochechas ficam rosadas, e ela remexe nos envelopes. — Talvez... É coisa nova, não quero criar expectativa. — Ah, eu superentendo. Mas não tenha medo de se divertir. Viva um pouco! — digo, mexendo as sobrancelhas para cima e para baixo. Ela ri e baixa a cabeça, e o cabelo loiro cai em volta do rosto, cobrindo sua risada. O elevador apita no meu andar. Rachel e Nate saem, apesar de o apartamento deles ser no de baixo. Eles nunca descem no deles antes de entrar na minha cobertura e inspecionar tudo, para se assegurar de que está tudo certo. Quando saio do elevador, subitamente tenho uma ideia e me volto para aquela mulher nervosa e meio tímida. — Sabe, nós podíamos almoçar juntas um dia. Os olhos azuis de Annie parecem se alargar. — É mesmo? — Claro. Você trabalha com o meu namorado. Acho que devemos ser amigas, né? — Eu adoraria — ela diz e depois suspira. — Ah, meu Deus, a minha mãe vai ficar em choque. Rio e sacudo a cabeça. — Eu sou só uma mulher normal de vinte e poucos anos que não conhece muita gente na região. Seria legal se a gente pudesse ser amigas. Seu sorriso tímido brilha. — Eu também acho, Skyler. Eu também acho. — Então está resolvido. Vamos marcar alguma coisa esta semana. — Legal. Vou adorar. — Ela sorri e acena, e as portas do elevador se fecham. Com o braço, indico meu apartamento, dizendo a Nate e Rachel: — Tudo bem, façam o seu pior. Vou esperar aqui, entediada, enquanto vocês vasculham tudo.

1

Nate separa em cinco pilhas as cerca de sessenta cartas e e-mails impressos dos fãs de Skyler que achou mais suspeitos. — Esses cinco indivíduos têm o histórico mais consistente de envio de correspondência. Acho que devemos começar com aqueles que escrevem para a Skyler há mais tempo. Skyler e eu pegamos uma pilha cada um e nos dirigimos ao sofá. Por uns dez minutos ficamos sentados lado a lado analisando cada carta das nossas respectivas pilhas. — Uau. Eu não fazia ideia de que as pessoas se envolviam desse jeito. Bom, no fundo eu sabia. Obviamente, tenho muitos fãs já faz tempo, mas isso aqui é chocante — ela diz, atônita. — Este aqui não só me escreve desde que eu era adolescente, dizendo que me ama, como me manda um cartão de aniversário todo ano, me parabeniza por determinados papéis que faço e até me mandou um cartão de condolências quando os meus pais morreram. — Ela sacode a cabeça. — Como uma pessoa pode se envolver tanto na minha vida se nem me conhece? Eu simplesmente não entendo. — Suspira. Pouso a mão em sua coxa e esfrego suavemente. — Meu pêssego, eles acham que te conhecem. Acreditam nisso piamente. Os papéis que você faz, as pessoas que você representa na telona, são amigas deles. São pessoas que eles admiram. Isso, mais o fato de você ser linda e doce como um quindim, te faz ter fãs incondicionais. Eu entendo, porque estou enfeitiçado — digo e me inclino em direção a ela. Sky levanta o queixo para que eu possa alcançar seus lábios com mais facilidade, e eu lhe dou um beijo suave. Ela deixa cair os ombros enquanto curva a coluna no encosto do sofá.

— Não acho que essa pessoa seja perigosa. Só gosta muito de mim. Nate assente. — Sim, eu concordo. Park? Anuo com o queixo e analiso a próxima leva de cartas. Em instantes, algo me chama atenção. Uma pilha de envelopes brancos. Sem endereço para resposta e com a palavra “CONFIDENCIAL” na frente de cada um. A carta que recebi tinha a mesma palavra carimbada na frente. Pode ser coincidência. Muitas pessoas carimbam ou escrevem isso em algo que querem que só o destinatário leia. Pego a pilha e abro a primeira carta. É digitada, mas o carimbo postal tem dez anos. Sky teria cerca de quinze. Passo os olhos pela carta: Sky, Sonhos agridoces é excelente. Eu vi o filme três vezes no cinema. Você fez a fugitiva perfeita. Às vezes tenho vontade de fugir como você fez naquele filme. Você foi tão corajosa. Se eu fugisse, com certeza me pegariam. E aí aquela demônia ia me bater até a minha pele ficar roxa, como da última vez que tentei ir embora. Enfim, teria sido muito legal assistir ao filme com você. Eu seguraria a sua mão nas partes assustadoras, assim você não estaria sozinha. Enquanto estivermos assim, bem perto, não vai existir solidão, certo? De quem mais te adora

— O tom desta carta fez o meu alarme disparar — digo, entregando o papel a Nate. Ele mal a olha antes de entregá-la a Sky. Afinal já leu todas, visto que foi ele quem selecionou as que o incomodaram. Pego a próxima carta digitada. Sky, Eu queria que você morasse aqui. Preciso muito de você agora. Está tudo uma merda. O ensino médio é horrível. As pessoas não entendem o que é ser diferente. Mas você entende. Eu soube disso quando te vi em Diário de uma colegial, em que você interpretou uma garota maltratada e agredida. Eu sei o que é isso... Se você estivesse aqui, nós poderíamos sair, ver outros atores se atrapalhando nas falas dos filmes, tomar sorvete. Você iria se divertir, garanto. E assim todo mundo veria o que essa relação significa para a gente. De quem mais te adora

Entrego essa carta a Skyler e leio as três seguintes, uma atrás da outra. Sky, Estou com saudade. Parece que faz uma eternidade que não te vejo na tela. Eu li que você se machucou no set, o que atrasou a produção. Você devia ter me ligado. Eu teria ficado do seu lado a cada segundo, segurando a sua mão, te fazendo rir, o que fosse necessário para você melhorar. Em vez disso, estou aqui nesta jaula com a demônia, atendendo cada capricho da rainha e fazendo aulas de administração. Ela é horrível! Eu queria estar com você, assim me sentiria melhor. Nós teríamos tudo de que precisamos. Pense nisso. Você sempre vai poder contar comigo. De quem mais te adora Sky, Eu te vi hoje. Foi rápido, mas você olhou diretamente para mim e acenou. Eu queria correr até você, passar por todos os seguranças e dizer a eles que nós nos conhecemos, mas aquela bruxa idiota da sua agente entrou no caminho e te empurrou para dentro para fazer o Today Show. Eu gravei o programa e assisti cem vezes. Você é tão linda! Mas estou P da vida por não conseguirmos nos encontrar. Foi difícil sair de perto da demônia. Tive que mentir um monte, mas valeu a pena ver você acenando para mim. Eu sempre vou te amar. De quem mais te adora Sky, Por que você está com esse canalha? Não acredito que você está namorando esse cara. Ele não está à sua altura. Por favor, termine esse namoro. Agora. Não estou feliz com essa situação. Nem um pouco. Estou pensando em fazer alguma coisa em relação a isso. Johan... Que nome é esse? Ele está usando você, abra os olhos. Se livre dessa víbora. Ele me dá nojo. DE QUEM MAIS TE ADORA

— Meu Deus! Nestas aqui, parece que o sujeito faz parte da sua vida. É bizarro. Ele mantém um relacionamento completamente unilateral com você. E nesta última, quando você obviamente começou a namorar o Johan, ele está furioso. Veja que ele usa letras maiúsculas, como se estivesse gritando que é ele quem mais te adora. Sky morde o lábio e franze a testa. — Mas ele nunca dá um endereço para resposta nem assina. É como se uma parte dele soubesse que isso é correspondência

indesejada. Mesmo assim, ele fala de um jeito tão familiar... Como se eu devesse saber quem ele é. Eu assinto e analiso a próxima carta. Sky, Estou de coração partido por você. Tentei ir ao funeral, de verdade, mas a demônia jamais permitiria. Sinto muito. Você precisava de mim, e eu não estava lá. Pior: aquele homem horrível estava te abraçando, quando eu é que deveria ter emprestado o meu ombro para você chorar. Eu, a pessoa que mais te adora. Eu daria tudo para estar do seu lado, Sky, você sabe disso. Você sabe quanto eu te amo e me preocupo com você. Eu sei que os seus pais eram boas pessoas, sorrindo em todas as fotos com você. Estavam sempre no set, como bons pais que eram. Por favor, saiba que eles vão estar sempre com você. Assim como eu. Eu sempre vou estar aqui. Sempre, menina linda. Vou arranjar um jeito de me aproximar, de estar do seu lado. Prometo. De quem mais te adora

Meticulosamente, leio o restante das cartas. Parece que são pelo menos uma ou duas por ano. Sempre digitadas. Todas com “CONFIDENCIAL” carimbado na frente. — Não tem endereço para resposta em nenhuma carta. Só o carimbo postal, sempre do lugar onde a Sky estivesse vivendo na época — murmuro e passo a mão pelo cabelo. Skyler alisa minhas costas e eu fecho os olhos, curtindo seu toque por um momento. — Parece que o sujeito se mudava com ela. Aonde ela ia, ele ia — Nate acrescenta. — Sim. E essa demônia que ele menciona? Começou quando ele era novo, então não pode ser uma namorada. Deve ser uma tutora, uma espécie de figura materna. Ele sempre faz referência ao fato de não poder fugir dela. Fala de apanhar. Como é que um adulto não fugiria? Eu entendo isso enquanto ele era mais novo, mas depois dos dezoito anos... — digo, sacudindo a cabeça. Nate franze a testa. — Outro mistério. Ele me entrega mais uma pilha e eu leio as cartas. Há ameaças que talvez devessem ter sido relatadas às autoridades, mas nada que pareça concreto.

— Aposto que esse “De quem mais te adora” é o nosso suspeito — declaro, jogando na mesa a pilha de cartas que estava lendo. — Por que essa pessoa já não foi encontrada? A Tracey cuida da minha segurança e da correspondência dos fãs. Obviamente ela deve ter achado essas cartas estranhas, ou não teria guardado todas elas durante tanto tempo. Passo o braço ao redor dos ombros de Sky. — Não sei, baby. Talvez ela estivesse ocupada e não achasse que eram uma grande ameaça. A maioria parece inocente. É quando você coloca tudo junto que o padrão de perturbação se torna visível. Provavelmente não vimos toneladas de cartas no meio dessas. Mesmo desse “De quem mais te adora”, existem intervalos de seis meses a um ano entre as cartas. Um cara que pensa que é seu namorado manteria mais contato. Você não acha? Ela dá de ombros. — Não sei. Acho que sim. Ouço uma batida na porta antes que se abra e revele a cabeça de Annie. — Estou interrompendo? — ela pergunta, sorrindo. Faço um sinal negativo e me levanto, abotoando o paletó. — Não. Nós já acabamos. Ela entra com seus sapatos de couro preto de salto alto com tachinhas, saia lápis e blusa de seda azul que cobre os ombros estreitos. Se não fosse tão magra e desengonçada, seria uma mulher bonita. Seus traços faciais pontiagudos a fazem parecer fria, menos quando está sorrindo. — Ah, meu Deus! — Skyler aponta para os pés de Annie. — Eu tenho sapatos idênticos! Não são confortáveis? Custam uma nota, mas são maravilhosos. Dá até para correr com eles! Annie olha para baixo e fica vermelha. — Você tem sapatos iguais? — Sorri. Skyler assente. — Ãhã. E você fica muito sexy com eles, garota. Não é, meu bem? Volto a cabeça para Sky. — O quê? — pergunto. — A Annie não está sexy com esses saltos?

Olho para os sapatos e os avalio. — Com certeza. Supersexy — digo, com um sorriso de lábios fechados. Olho para baixo de novo. Se ela engordasse um pouco, suas pernas ficariam mais grossas e muito melhores. Porém guardo o comentário para mim. Skyler ficaria chateada, e eu não quero ferir os sentimentos da minha recepcionista. Vejo o rosto de Annie vermelho como beterraba quando por fim olho para ela. — Obrigada, Parker. Gentil da sua parte dizer isso — ela agradece, baixando os olhos e desviando o olhar. Ótimo, agora eu a deixei constrangida... Skyler se levanta e passa o braço em volta da cintura de Annie. Cutuca a jovem com o ombro, conspiradora. — Vai rolar um encontro hoje à noite? Esses sapatos são para alguém especial? Hein? — E bate o ombro no dela de novo. — Sky... — alerto — local de trabalho. Ela ri. — Não é o meu local de trabalho. Eu posso fazer a pergunta inapropriada que quiser. Além disso — ela abraça a moça de lado —, nós somos amigas, e amigas falam sobre homens. Certo, Annie? — Sorri e olha para minha funcionária, cujo rosto inteiro se ilumina com um enorme sorriso. — Certo, Sky. Amigas. Amigas fazem isso. Minha garota arqueia as sobrancelhas. — Viu? E aí, vamos almoçar na sexta-feira? — pergunta para Annie. Eu gemo. Claro que ela vai fazer amizade com a recepcionista, da mesma forma que fez com Wendy. — Eu preciso checar a agenda do sr. Ellis... — Com ele não. — Sky aponta para mim. — Eu vejo o Parker o tempo todo. Com você. Eu e você, almoço na sexta. Legal? — Legal — Annie responde devagar, como se estivesse testando a palavra. — Sim, seria legal, Skyler. — Ótimo. Bom, agora o meu namorado tem que ir falar com um cara sobre uma advogada. — Ela tira o braço da cintura de Annie e

vem até mim, envolvendo meu pescoço e me beijando com força. — Eu te amo, meu bem. Boa reunião. Agarro as longas mechas em sua nuca e inclino sua cabeça, beijando-a muito mais fundo do que normalmente faria na frente dos outros no local de trabalho. Antes que eu possa me afastar, Nate já está pigarreando. Sorrio enquanto recuo. — Eu também te amo. Passo a mão pelo cabelo sedoso de Skyler, memorizando-o para poder revisitá-lo ao longo do dia. Quero um pouco mais, então mergulho na curva de seu pescoço e inalo seu perfume de pêssego com chantili, me preenchendo com a paz e a serenidade que passei a associar a esse aroma. Beijo seu pescoço suavemente. Ela dá uma gemidinha. Nossa, como eu amo esse som. Sai direto de sua boca, preenche o ar e viaja como uma carícia até meu pau. A fera aprova mil vezes e está começando a dar bandeira, deixando minha calça meio apertada. Cerro os dentes e empurro minha garota pelos quadris. Ela sorri e dá uma piscadinha. Sabe exatamente o que sua proximidade está fazendo comigo. — Jantar hoje na casa da Wendy e do Mick. A Rach e o Nate também. — Já está na minha agenda. Encontro você lá. — Vocês... humm, vão ver a Wendy? — Annie pergunta com a voz trêmula, nervosa. Faço Skyler girar e pego a mão dela, levando-a aos lábios para beijá-la. — Sim, nós vamos jantar com ela — Sky diz, descontraída. Annie franze a testa. — Ah. Achei que fossem conversar sobre quando ela vai voltar. Vocês vão me avisar com antecedência, né? Bom, não que tenham que fazer isso, já que eu sou temporária, mas eu... eu adoro aqui, e gostaria de talvez me despedir ou... Agito a mão. — Annie, a Wendy está planejando voltar muito em breve. Mas nós estamos conversando sobre manter você como recepcionista. A Wendy é necessária na agência por uma série de habilidades, e estamos pensando em fazer dela a nossa diretora de informações e

manter você como assistente. Você estaria interessada no emprego de forma permanente? — Vocês querem que eu fique? De verdade? — Seus olhos são uma chama de fogo azul. Ela foca o olhar intenso no meu. — Eu nunca pensei. Não esperava... Sorrio e falo baixinho: — Você está fazendo um excelente trabalho aqui. A equipe está muito feliz com o seu desempenho, e nós estamos crescendo rápido. Eu vou falar com os meus sócios e preparar uma carta formal com uma oferta até o fim da semana, detalhando o processo que implica tornar você membro oficial da IG. Ela lambe os lábios e seus olhos lacrimejam. Não é exatamente o que eu pensava que aconteceria, mas pelo menos ela parece feliz com a oportunidade de emprego... eu acho. — Eu quero ficar aqui mais que tudo. Nós somos uma equipe. Parece tão certo... — sussurra, como se estivesse maravilhada. Puxo o ar por entre os dentes. — Bom, tudo bem... Marque na sua agenda uma reunião comigo e os rapazes na sexta-feira. Agora eu tenho que ir falar com o Andre e a possível nova advogada. É como se ela fosse movida por minhas palavras. — Sim, claro. Foi por isso que eu entrei, para lembrar você do compromisso, para que não se atrase para uma reunião tão importante. Boa sorte, Parker. Espero que ela seja a pessoa certa para a nossa equipe. — Ela abre um sorriso largo, e suas bochechas ficam rosadas. Garota estranha. Inteligente, eficiente, aprende rápido, mas é estranha em termos de interação social. Espero que com o tempo ela supere isso. — Eu te levo até o elevador — diz Sky, segurando minha mão. Nate está a postos, pronto para nos acompanhar. Ela aponta para ele e sacode a cabeça. — Você não vai a lugar nenhum, Tarzan. Vou só levar o meu namorado até o elevador e volto para ver mais cartas. Annie aponta para a mesa. — O que é tudo isso? — Cartas de fãs malucos — Skyler responde.

A moça franze a testa. — É muita coisa. Minha namorada ri. — Isso não é nada. Eu recebo milhares de cartas por ano. — Milhares... — Annie repete, arregalando os olhos para as pilhas de papel. — É... As pessoas são muito estranhas. A assistente cruza os braços, observando a montanha de correspondência. — Bom, se precisar de ajuda, conte comigo — oferece com doçura. — Parece muito trabalho. Pego a mão de Sky e a puxo em direção à porta enquanto digo: — Acho que nós temos tudo sob controle. Obrigado, Annie.

O restaurante elegante perto do centro de Boston fica em uma rua lateral cheia de casas de arenito vermelho. Quando entro, Andre acena. Está sentado em um pátio cercado por paredes de tijolos, vegetação exuberante e uma fonte. O lugar exala calma e relaxamento, mas todos estão vestidos profissionalmente. O restaurante é conhecido como o point dos executivos atarefados. É possível falar abertamente, porque as mesas são bem separadas e a água que jorra da fonte abafa o som. Os garçons são rápidos. Quando me aproximo, Andre se levanta, assim como uma negra alta. Vejo apenas suas costas. Está usando um tubinho azulmarinho com uma prega na parte de trás da saia justa, cinto dourado e Louboutins também dourados arrematando um par de longas pernas bem torneadas. Desvio o olhar de suas pernas quando ela vira para mim. Seus olhos me impressionam. Um par muito familiar de olhos castanhoesverdeados, os mais bonitos que já vi. Os lábios cheios, com gloss cor de pêssego, se abrem em um sorriso largo, revelando dentes brancos e brilhantes. O cabelo cor de café é liso e chega à clavícula, em um corte reto que combina lindamente com seu rosto oval e suas maçãs altas. Seu tom de pele, marrom-claro, é suave e atraente. Com esses traços, ela bem que poderia ser filha de

Vanessa Williams. É uma mulher impressionante, e por um momento fico passado. Sem palavras. — Parker, sou eu... — ela diz, mas sua voz falha. — Kendra Banks, eu... Uau! Não acredito que te encontrei de novo. Não acredito que é a mesma Kendra que fez faculdade comigo. Ela pisca e baixa os olhos. — É... Bom, eu não planejava voltar para Boston. Nunca mais. Mas os planos mudaram, e agora estou aqui. Abro a boca, mas a fecho de novo. É quando Andre, meu headhunter, por fim interrompe a saudação desajeitada. — Então vocês dois se conhecem. Ótimo! Umedeço os lábios e me aproximo dessa mulher que jamais pensei que voltaria ao meu mundo. Seguro levemente seu braço e encosto a bochecha na dela. Inalo seu aroma cítrico enquanto fecho os olhos e deixo que as lembranças de anos passados subam à superfície. — Estou feliz em te ver, Kendra — sussurro em seu ouvido e aperto seu braço. Ela respira fundo e engole em seco. — Você sempre se manteve neutro. Recuo enquanto percorro seu antebraço até pegar sua mão. Da última vez que a segurei, eu estava lhe pedindo para não ir embora. Para não partir. Mas ela não me escutou. — Alguém tem que fazer isso. Ela aperta o maxilar. — Imagino que outras pessoas não vão ficar tão contentes quanto você ao me ver de novo. Isso se os nossos caminhos se cruzarem. Franzo a testa. — O Andre não te contou? Ele fica atento ao ouvir seu nome. — Não contei o quê? — O Royce e o Bo são meus sócios. Nós administramos a empresa juntos. Ela volta a cabeça para mim. — Então esta reunião é inútil. Eles nunca concordariam em trabalhar comigo.

— Sentem-se, vocês dois. As pessoas estão começando a olhar — Andre diz. Nós nos sentamos e não dizemos nada até o garçom anotar nossos pedidos. Com o choque de estar vendo Kendra de novo, peço uma cerveja. Ela também deve estar abalada, porque pede uma taça de vinho branco. Andre prefere chá gelado. — Por que a reunião seria inútil? — ele pergunta assim que o garçom sai. Kendra coloca o guardanapo no colo, sentada ereta na cadeira. — Eu tive um relacionamento com um membro da equipe da International Guy. Digamos que não acabou mal... mas bem também não. Inclino a cabeça e me recosto na cadeira. — Depende do ponto de vista — digo, sorrindo, e olho para ela, demonstrando que não há ressentimentos entre nós. — Você está mesmo considerando trabalhar na IG? Nós precisamos de um advogado imediatamente, uma pessoa da nossa confiança, que não nos ferre e que defenda os nossos interesses, especialmente em questões de direito empresarial. Você é a candidata perfeita. Tem as habilidades, a experiência e o interesse pessoal em nos manter felizes. Seu olhar, que parece muito mais verde neste momento, pousa no meu. — Acho que depende do ponto de vista — ela repete minhas palavras. Sorrio. — O Royce não está aqui. — É, não está. — Ela desvia o olhar, e sua expressão demonstra arrependimento por um breve instante. Então volta os olhos em minha direção. — Você está pronto para encarar a ira dele se me contratar? Rio alto. — Ele confia em mim, sabe que eu colocaria os interesses da IG acima dos nossos. São só negócios, né? Além disso, vocês terminaram amigavelmente, certo? Sua expressão denota surpresa. — Foi isso que ele disse?

Assinto, franzindo a testa. — Sim. — Então, se você tem interesse em me fazer uma oferta, estou muito interessada em ouvir.

2

A porta da mansão se abre e vejo um borrão branco e dourado descendo os degraus antes de minha garota voar para os meus braços. Eu a pego pela cintura e a giro. Sua exuberância ao me ver derrete meu coração. — Oi, meu amor! — Ela pousa a boca na minha em um beijo ardente. Aprofundo o beijo e deslizo a língua em sua boca. Ela dá uma gemidinha antes de se afastar e lamber os lábios. — Adivinhe! — diz, dando um tapinha no meu peito. O entusiasmo apressa suas palavras. — O quê, meu pêssego? Skyler sorri. — Não só a Trilogia Classe A vai filmar as cenas de bar no Lucky’s como a maioria das filmagens vai ser em Boston! O que significa — ela dá pulinhos nos meus braços — que eu não vou ter que viajar muito nos próximos dois anos! A série tem três volumes, e eles estão estendendo a história ao máximo para ganhar mais dinheiro, fazendo o último livro sair em duas partes, como fizeram com a saga Crepúsculo! Abro um sorriso largo e beijo forte seus lábios sedosos. — Que maravilha, Sky. — E adivinhe o que mais! A dancinha continua. Passo o braço em volta dela e começamos a subir os degraus da mansão de Mick e Wendy. Wendy está esperando pacientemente no topo, encostada no batente da porta. Seu cabelo vermelho flamejante brilha, refletindo a luz do enorme lustre lá dentro. Ela agita os dedos para mim, sorrindo. — O quê? — pergunto enquanto guio minha mulher pelos degraus de concreto. — O Rick Pettington vai contracenar comigo!

Paro antes que meu pé toque o próximo degrau. — O Rick Babaca? Ela se volta, com um pé no degrau acima, e franze a testa. — Achei que você gostasse dele. Até deu dicas para ele agir de um jeito sexy em uma cena. Imaginei que ficaria feliz — retruca, fazendo beicinho. Levo a mão a sua nuca e a mergulho em seu cabelo. — Sky, eu nunca vou ficar feliz vendo um homem fazer o papel do seu amante em um filme romântico. Não interessa quem seja, nem que fosse o meu melhor amigo. Ver outro cara beijando e tocando você é um fato da vida que eu tenho que engolir, mas não significa que tenho que ficar satisfeito. Ela deixa cair os ombros e me abraça. Atrás dela, Wendy está escondendo a risada com a mão. — Mas você sabe que o Rick me vê como uma irmã. Achei que você ficaria — ela dá de ombros — animado com a notícia. — Baby, você ama o seu trabalho. Eu fico animado de te ver feliz. Ver você feliz é tudo que me interessa. Seus colegas podem ser legais e te tratar com respeito, o que eu espero que aconteça sempre, senão... — Deixo o resto no ar. Ela sabe o que significa, sem que eu precise dizer nem mais uma palavra. Puxo seu corpo contra o meu. Skyler está um degrau acima, e nivelamos nossos olhos. — Mas eu nunca vou gostar de te ver interpretando um relacionamento com outro homem — prossigo. — Eu te amo muito. Você é minha. Nunca vou te pedir para não aceitar um papel ou não fazer o seu trabalho. Faz parte de quem você é, uma parte linda. Eu tenho orgulho do seu trabalho e do seu talento e sempre vou te apoiar. Mas me pedir para gostar de ver um marmanjo beijando a minha mulher? — Sacudo a cabeça. — Baby, você tem que olhar pela minha perspectiva. Ela me beija suavemente. — Bom, pelo menos eu vou poder estar sempre aqui num futuro próximo! — Essa parte eu adorei. — Desço as mãos até sua bunda e aperto, divertido, enquanto tomos seus lábios. Ela ri e retribui o beijo.

— Pessoal... ainda estou esperando. Vocês vão entrar em algum momento? — Wendy grita. — Oops! — Sky ri. Minha garota está sempre rindo comigo, e eu faço de tudo para ouvir esse som. Ela já enfrenta rivalidade suficiente em seu mundo. Giro Skyler e a empurro pela bunda para fazê-la subir. Quando chego ao topo, abro os braços para a minha segunda garota favorita. Wendy sorri e vem direto para mim, pousando o rosto em meu peito. Seu aroma de coco se mistura com o cheiro frutado de Sky, me enchendo de familiaridade e conforto. — Como vai, abusada? Ela mexe a cabeça, ainda em meu peito. — Bem. Agora que estamos em casa e longe daquela vadia, está tudo bem. Estamos nos arranjos finais do casamento e — ela se inclina para trás e olha em meu rosto — tentando engravidar. Eu não tomo mais remédio, não tenho mais dor, só alguns ajustes aqui e ali, mas nada que eu não possa resolver com uma taça de vinho e uma boa noite de sono. Coisas que ando fazendo bastante. Passo o braço pelo dela e a acompanho para dentro da casa. Dou um beijo em sua testa. — Me mantenha informado — sussurro, sabendo que ela está compartilhando comigo algo privado. — Pode deixar. Estou muito animada, e também nervosa. Espero que aconteça em breve. Nós queremos muito construir uma família. — Ela morde o lábio inferior. Eu me detenho antes de entrarmos na sala de recepção. Franzo a testa e cochicho em seu ouvido: — Pare de se preocupar. Vocês têm muito tempo. Um dia de cada vez. Quando você parar de se preocupar, vai acontecer. Wendy anui. — Bom conselho. Vou deixar rolar. Aperto seu ombro e lhe dou um beijo no topo da cabeça enquanto entramos na sala formal, que transpira dinheiro e tradição, da arte à mobília antiga de mogno maciço e os tecidos vibrantes em tons de pedras preciosas com detalhes dourados por todo lado. Mick já está me esperando com uma bebida na mão.

— Ellis, eu fiz um gim-tônica para você, mas tenho uma IPA gelada, se preferir. — Ele me estende um copo. Solto Wendy enquanto pego a bebida. Ele olha para ela, depois para mim e de volta para ela. — Tem alguma coisa que vocês dois queiram me dizer? — pergunta com um sorriso malicioso. Ela sacode a cabeça. — Não. O Park só estava me dizendo para deixar rolar e esperar a natureza fazer o trabalho dela. Mick ergue uma sobrancelha. — Estou vendo que você compartilhou... Ela dá de ombros e aperta os lábios. — Não muito. Além disso, preciso falar com alguém. Mick estreita o olhar, passa o braço em volta da cintura dela e a puxa contra seu peito. — Eu sou seu alguém. Fale comigo. Ela revira os olhos e se afasta. — Não sobre coisas que envolvem você, seu bobo. Ele a puxa de volta para seu peito, segurando firme. Rio baixinho enquanto Sky passa os braços em volta da minha cintura e apoia o queixo no meu peito. — Especialmente quando me envolve — Mick diz e a beija com doçura. Ela o encara. — Você é insuportável às vezes. — E você adora. Wendy abre um sorriso enorme. — Adoro mesmo. Ela o beija com força antes de sair de seus braços e se dirigir a Nate e Rachel, sentados no sofá. — Bom, vocês querem conversar antes ou depois do jantar? — Acho melhor nos livramos das coisas de trabalho primeiro para depois aproveitar o jantar, não é? Sky assente. — Sim. O Park ou o Nate disseram por que nós queríamos falar com você? Wendy franze o cenho.

— Não. Só disseram que você está com um problema de segurança e que iria precisar da minha ajuda com a tecnologia. Skyler solta: — Eu tenho um stalker. Mick abraça Wendy ao mesmo tempo em que ela abre a boca e seus olhos azuis se tornam ardentes. — Como é que é? — Que tal nos sentarmos? — digo, apontando os sofás confortáveis. — Que tal vocês me contarem o que está acontecendo e por que a palavra “stalker” acabou de sair da boca da minha melhor amiga? — Wendy pergunta, com a voz baixa e autoritária. — Coração, vamos nos sentar. Vou fazer uma bebida mais forte para você. — Vai mesmo. — Ela se acomoda no braço do sofá. Skyler e eu nos sentamos de frente para Nate e Rach. — Oi, gente. — Oi — Rachel responde, ao mesmo tempo em que Nate faz um movimento com o queixo. Mick atravessa a sala em direção ao bar e dispõe cinco copos. Pega um decantador de cristal em uma bandeja e serve dois dedos de um líquido âmbar em cada um. A seguir, leva a bandeja para a mesa de centro, deixa-a ali, pega um copo e o entrega a Wendy. Ela imediatamente vira os dois dedos do que suponho que seja uísque de uma só vez. Então pega outro. — Desta vez eu vou degustar. Sorrio, lembrando da primeira vez que ela fez isso em um hotel no Canadá, quando eu estava perdendo a cabeça por causa da Skyler. Afasto esses pensamentos tristes e pego um copo para entregar a Sky. — Uísque? — pergunto a Mick. Ele assente. Sky segura o dela e eu aceito um. Mick pega o último, depois de Rachel e Nate sacudirem a cabeça. Eles estão trabalhando, o que significa que não bebem. Nunca. — Muito bem, alguém me conte o que está acontecendo — Wendy exige.

Começamos pelas mensagens de celular. Nate imprimiu todas, com a hora em que foram enviadas e o telefone do remetente. Uma pilha para as recebidas por Skyler e outra para as recebidas por mim. A seguir, ele entrega a Wendy a cópia das cartas dos três indivíduos que separamos da correspondência dos fãs. Os três são anônimos. A única pista é que as cartas de dois deles têm o mesmo carimbo, o que significa que foram enviadas do mesmo local. Nova York e uma cidadezinha no Alabama. Wendy analisa os papéis. — As cartas são estranhas. Algumas, perturbadoras. Lamento, Sky. Skyler pega minha mão e eu a aperto, mostrando que estou ao seu lado. — As mensagens é que me preocupam. São confusas e passam de amistosas a possessivas e iradas. As do Parker, menos. As cartas parecem ter sido escritas por um homem obcecado pela Skyler, com interesse amoroso. Já as mensagens parecem ter sido escritas por uma mulher. Vejam as frases: “Achei que fôssemos amigas”, “Você se acha melhor que os outros”. Mas as duas últimas são mais desconcertantes. Quem mandou essas mensagens está te observando. Sabe quando você vai e vem. Observe a escolha de palavras: “Que bom que está em casa”, “A distância deixa o coração mais apaixonado”. — Balança a cabeça. — E a Skyler recebeu muito mais mensagens que o Parker, e com mais frequência. Para mim, isso é um comportamento ciumento. Você disse que recebeu um bilhete, Park? Nate vasculha os papéis que tem nas mãos e entrega a Wendy a carta original, dentro de um saco plástico transparente. Ela lê em voz alta: — “Eu sou ela. Ela sou eu.” Bebo um gole generoso de uísque, que desce suave e quente. Deve ser envelhecido por muitos anos. Como tudo o que Mick possui, provavelmente é de primeira qualidade. Wendy bate o dedo nos lábios enquanto olha para a carta. — É como se essa pessoa quisesse provar que a Skyler e ela são, de alguma maneira, as mesmas. Mas por que ela precisaria deixar isso claro para o Parker? Depois, a primeira mensagem que

ele recebe pelo celular é uma comparação. Talvez a pessoa esteja atrás do Parker... Ela pode estar perseguindo o Parker e mexendo com a Skyler para chegar até ele. — Ele recebeu o bilhete primeiro mesmo, depois a primeira mensagem. A da Skyler veio depois. — Podem ser duas pessoas diferentes, talvez trabalhando juntas para assustar vocês — Wendy sugere. Dou de ombros e passo a mão pelo cabelo. — Pode ser. Mas o tom é semelhante, o texto é gramaticalmente correto, sem abreviações nem emojis. E a primeira que a Skyler recebeu fala sobre serem amigas. As cartas que ela recebeu dos fãs são bastante amigáveis. Todos eles acreditam que têm uma espécie de amizade ou relacionamento com a Sky. Wendy morde o lábio e anui. — Vou dar uma fuçada nesses números de celular para ver se consigo rastreá-los, descobrir quando foram comprados. Talvez eu consiga chegar ao local onde a pessoa comprou os aparelhos. Não é muito, mas é um começo. — O que você acha de avisar as autoridades? — Nate pergunta. — O que nós temos, realmente? — pergunto. — Não tem nada de ameaçador nas mensagens. Só porque nos deixa desconfortáveis não significa que a pessoa infringiu a lei. São algumas mensagens e um bilhete... Até a correspondência dos fãs continua por anos sem violar a segurança nem fazer mal à Sky — acrescento. — É verdade. Não dá para fazer nada sem ameaça de violência física — Mick afirma. — De qualquer forma, eu vou investigar. E, claro, se a pessoa tentar mexer com vocês, vai ter que enfrentar o He-Man — aponta com o polegar para Nate, depois para Rachel — e a She-Ra. Se fosse eu, não me aproximaria. Se bem que eu não sou idiota. Embora nada nessas mensagens ou no modo como o remetente evita ser identificado indique que a pessoa seja. Mantenham os olhos abertos e tenham cuidado. — Wendy termina seu segundo uísque. — Bom, se já acabamos com a parte feia da noite, acho que é hora de irmos para a sala de jantar. O chef preparou um banquete

para nós seis — Mick enfatiza o “seis” e olha para os guarda-costas de Sky. Rachel ergue as sobrancelhas. — Ah... eu pensei que nós só voltaríamos depois que vocês jantassem com os seus amigos — diz, olhando para Skyler e depois para mim. Wendy se levanta, pega a mão dela e a puxa. — Vocês são nossos amigos. Vamos lá. Eu não quero estragar o plano do nosso chef chique de servir o grupo inteiro. O chef Tony é italiano e gosta de ter muitas bocas para alimentar e barrigas para encher. Mais uma razão pela qual precisamos ter uma casa cheia de filhos. Venha. — E passa o braço pelo de Rachel. Nate e Sky seguem logo atrás. Estou na retaguarda quando Mick me detém com a mão no meu braço. Paro abruptamente e ele me solta, mas espera até que todos saiam da sala. — Eu devo me preocupar com o envolvimento da Wendy nessa questão? — pergunta. Respiro fundo e esfrego a nuca. — Honestamente, Mick, eu não sei. Muitas coisas no mundo da Skyler me deixam desconfortável, mas fazem parte do pacote. O Nate e a Rachel estão com ela o tempo todo, quando eu não estou. Bom, e na maior parte do tempo eles estão conosco também. Ninguém vai saber que a Wendy está investigando, mas, se isso não te agrada... não sei o que você poderia fazer para impedir. A Wendy é a melhor para pesquisas detalhadas. Se tem alguém que pode encontrar alguma coisa nessas cartas ou mensagens, é ela. O Nate e eu estamos perdidos. Nós esgotamos todos os meios possíveis antes de recorrer a ela. Eu o vejo retesar o maxilar enquanto anui rapidamente. — Comunicação aberta o tempo todo, e não só entre você, a Wendy e o Nate, entendeu? Se a minha mulher está nessa, eu estou junto. — Comunicação completa. Feito — prometo imediatamente. Eu exigiria o mesmo se a situação fosse inversa. — Então estamos perfeitamente entendidos. Espero que você esteja com fome. O Tony preparou um jantar de família hoje. Abro um sorriso largo.

— E existe outro tipo? Um pequeno esboço de sorriso surge nos lábios de Mick. — Acho que não.

— Estou atolado em papelada, meu irmão. É muita coisa. Não posso cuidar do dinheiro, gerenciar os nossos investimentos, discutir com o Bo e fingir que sou advogado — Royce reclama ao telefone, sua voz com certo grau de nervosismo que não me lembro de ouvir normalmente. Skyler joga seu suéter no encosto do sofá enquanto atravesso sua cobertura e entro no quarto. Vou até o closet para pendurar meu paletó, mas paro ao ver que todo o lado direito está cheio de ternos. Ternos masculinos. Camisas polo. Camisas sociais. Camisetas. Jeans. Calças. E, sobre uma superfície plana, gravatas caras, de uma grande variedade de designs coloridos e modernos, arrumadas sobre um suporte de madeira feito a mão. Pisco e foco de novo na ligação, mas reparo que os outros três quartos do armário estão lotados com as roupas de Skyler, muitas ainda com etiqueta. — Cara, eu entendo, eu entendo. E estou cuidando disso. Hoje eu tive uma reunião com o Andre e uma pessoa que seria perfeita para a agência... — Ótimo! Contrate o cara logo — ele diz, com a voz cansada e determinada. — É uma mulher, na verdade, e... — Não interessa. A pessoa é qualificada? — Muito — suspiro. — Bem preparada? Boas referências? — acrescenta. — Todas e mais algumas. Mas... Ele interrompe de novo: — Ela é experiente? Aperto os dentes. — Sim. Trabalhou no Capitólio, é especialista em direito empresarial, mas também se aventura em legislativo, o que seria ideal para o caso que vamos começar a atender na semana que vem, da Pure Beauty Farmacêutica. — Contrate a mulher — ele afirma.

— Royce, acho que você não está entendendo... — Eu entendo que você encontrou uma pessoa qualificada, estudada e experiente. Ela é horrorosa ou algo assim? Você transou com ela? — Não! E não! Ela é linda. Tem classe. — Maravilha. Então o único problema vai ser o Bo querendo pegar a mulher. Na verdade, Bo é minha menor preocupação no que diz respeito a Kendra Banks. — Tem algumas coisas que você não sabe. Além disso, eu tive uma conversa com a Annie hoje sobre efetivá-la. Ela ficou feliz. Bom, pelo menos pareceu. Não consigo interpretar muito bem aquela moça. Ele começa a rir. — Provavelmente porque, das últimas vezes que você esteve no escritório, a Skyler também estava. A sua namorada é a distração perfeita. Sorrio. Ele não deixa de ter razão. — Enfim, ela está interessada no emprego. Não conversei com a Wendy sobre a nossa ideia de ela ser diretora de informações porque pensei que você e o Bo gostariam de participar. E também no caso da Annie e da nova advogada. — Foda-se isso. O Bo não está nem aí, você sabe. Quanto à Wendy, ele vai querer estar presente só porque adora provocá-la. Com a Annie não vai se importar. E da contratação de uma advogada ele não vai querer participar. Se você está dizendo que a mulher é qualificada, vamos nessa. Nós conhecemos depois. Você sentiu afinidade com ela? Respondo enquanto vou tocando as etiquetas de todas as roupas penduradas no armário de Sky. — Sim, muito. É que... — Você já viu a surpresa! — Skyler grita na entrada do closet. — Ah, eu ia te vendar e tudo o mais — diz, fazendo beicinho. — Parece que você tem outro assunto para cuidar. Mande um beijo para a Sky. Park, eu confio em você. Salve a minha pele, eu não tenho tempo para perder. Nós precisamos de ajuda agora.

Quanto antes, melhor. É tudo que tenho a dizer. Boa noite. Fique na paz — é a última coisa que fala antes de desligar. Inclino a cabeça para trás e esfrego as têmporas com o polegar e o indicador. Um par de braços desliza pelo meu peito e enlaça meu pescoço. — Meu bem, achei que você ia gostar da surpresa. Assim você pode ficar aqui sempre que quiser, sem ter que atravessar a cidade para pegar suas roupas. Solto um longo suspiro e puxo minha garota em meus braços. — Que surpresa boa, meu amor. Adorei. Como você descobriu o meu tamanho? Ela sorri e recua um pouco. — A Wendy pesquisou todas as suas compras do ano passado. Eu descobri os seus estilos preferidos e liguei para a minha personal shopper. Ela escolheu tudo e mandou para cá. Tudo deve servir perfeitamente. Se não servir, ela troca. — Incrível, meu pêssego. Vou fazer a transferência para a sua conta. Ela franze a testa. — Não, meu bem. É presente. Eu quero que você se sinta em casa aqui. Isso é só um passo, não acha? Eu sei que, se forçar a barra com o lance do dinheiro, ela vai ficar magoada. E, honestamente, estou cansado. Moído. Então acaricio seu pescoço. — Obrigado, baby. Adorei. Foi muito legal da sua parte. Agora eu só preciso da minha camiseta do Sox e pronto. Ela balança as sobrancelhas, deixa meus braços e se dirige a umas gavetas. Abre a de cima. — Roupa íntima. — A segunda. — Meias. — A terceira. — Pijamas. E na última gaveta... tudo do Sox! — exclama, abrindo um sorriso largo. — Você acabou de provar o que eu já sabia — digo, com pura admiração e amor. Ela volta para meus braços segurando uma camiseta do Red Sox. — O quê? — Que você é a mulher perfeita, e toda minha.

3

— Caralho! — Ah, meu bem... — Sky diz, com um suspiro ofegante. — Goza — rosno, com arremetidas longas e duras. Aperto os dentes. O desejo desce pela minha coluna. Chupo um mamilo cor-de-rosa. Skyler arqueia o corpo, se oferecendo em puro instinto. Depois de passar a língua ao redor da pontinha escorregadia e dura, mordo a carne sensível. É o que basta para fazer minha garota gritar e seu corpo se enrijecer sob o meu. — Isso! — Deslizo as mãos por suas costas, passo-as por baixo dos braços e a seguro pelos ombros enquanto suas coxas apertam minhas costelas. — Parker, eu vou gozar! — grita de novo. Seu corpo me aperta em três pontos. Pernas, braços, boceta. É o paraíso. — Vai mesmo. — Dou impulso me segurando nos ombros dela, metendo fundo e me esfregando em sua pelve até ela gemer. O som vai direto para o meu pau, e eu gozo de pura felicidade. Minha mente fica nublada e eu grunho. — Isso! Quando os tremores diminuem, escondo a cabeça em seu pescoço, sentindo-a enquanto o restinho do meu tesão reveste sua carne. — Humm — ela murmura e suspira quando beijo cada centímetro de pele que minha boca alcança. — Eu te amo, meu pêssego. Ela passa os dedos pelo meu cabelo, me apertando contra si, coração com coração. — Eu te amo, meu bem. — Dá um suspiro profundo. — Mas, agora que você teve uma boa noite de sono e uma bela rodada de sexo matinal, vai me dizer o que você tem?

Franzo a testa escondida em seu pescoço. A seguir, levanto a parte superior do corpo para poder olhar em seus lindos olhos castanhos. — Você acha que tem alguma coisa errada depois de eu dormir o sono dos justos com você nos meus braços e acordar com a sua boca no meu pau? Depois de eu retribuir o favor chupando você todinha? De sentir o gosto do seu orgasmo, de sentir outro ainda mais gostoso, e depois de eu gozar? Baby... você está olhando para o homem mais feliz do mundo. Skyler ri e eu observo sua risada espalhar uma beleza inacreditável em suas feições. Meu Deus, sou um homem de sorte. E pensar que quase a perdi com aquela merda toda em Montreal... Caralho! Minha garota passa os dedos pelo meu cabelo e me observa. — Meu bem, você estava estressado não só por causa do problema do stalker. O que está acontecendo? Tem alguma coisa a ver com a reunião que você teve ontem com a advogada? Porra, ela é boa nisso. Suspiro, saio de dentro dela e deito de costas. Ela se aconchega ao meu lado e espera pacientemente até eu estar pronto para lhe contar o que se passa pela minha mente. — Eu descobri que já conhecia a advogada. Sky passa a mão em meu peito e abdome nus. — Conhecia intimamente? — Não sexualmente. Ela namorou o Royce em Harvard. Eu achava que eles iam casar. Ficaram juntos por dois anos. Ele era louco por ela. Mas aí, quando nos formamos, eles terminaram e ela foi fazer direito em Washington. Ele não falou muito sobre o rompimento, só que ela queria focar na carreira e ele na International Guy. Por que eles não podiam fazer as duas coisas juntos, eu não sei. — Humm... Então você está preocupado em contratar essa moça? — Sim. Eu não sabia se era uma boa ideia, mas falei com o Roy ontem à noite, e ele está cuidando de toda a parte legal da empresa. É muita coisa, fora o trabalho normal dele, e nós precisamos de uma pessoa em tempo integral.

Skyler dá de ombros. — Arranje outra pessoa. Mais uma vez, solto um longo suspiro. — O problema é que não temos muito tempo. O próximo caso vai precisar de um advogado corporativo. Tem muito dinheiro envolvido. Demais. Sem falar que é uma indústria farmacêutica que quer que a gente mexa em acordos legislativos. A Kendra tem experiência nisso. Muita, na verdade. Ela seria valiosa nesse projeto. Além disso, o Roy me mandou contratá-la. Sky levanta a cabeça para nivelar seu olhar com o meu. — Mandou? Bom, então sem problemas. Me parece que as coisas terminaram bem. Sacudo a cabeça e passo a mão por seu cabelo bagunçado. — Não exatamente. Eu não tive a chance de contar quem é a candidata antes de ele me mandar contratá-la. E, mesmo que eu queira muito contratar a Kendra, sinto que estou fazendo isso pelo motivo errado. Ela estreita o olhar. — Ela tem todas as habilidades e qualificações de que você precisa e pode cuidar desse caso grande imediatamente? — Sim. — Então qual seria o outro motivo? Sorrio. — Ah, não. Você está metendo o nariz onde não devia, né? — ela diz, franzindo a testa. Puxo minha namorada para o meu peito para sentir seu calor na minha pele e abraçá-la do jeito que eu quero. — Na época da faculdade, nada separava aqueles dois. Ela era a tal. — A tal? — Sky apoia as mãos no meu peito e o queixo em cima delas. — A tal, a mulher certa. A única para ele. Sky aperta os lábios. — E o que aconteceu? Por que ela não fez direito em Harvard para poder ficar com o Roy? Sacudo a cabeça.

— Pois é, eu não sei. O Roy não quis falar muito sobre isso. Acho que o Bo sabe, porque, quando tudo aconteceu, os dois ficaram mal. Eu estava lidando com os meus problemas com a Kayla e o maldito do Greg. Não estava em condições de me preocupar com o rompimento entre o Roy e a Kendra, já que estava encarando o meu próprio e a traição da minha noiva com o meu melhor amigo. Na época, a gente mal teve tempo de se recompor antes de montar a empresa depois da formatura. Nós três simplesmente deixamos toda a merda pessoal de lado para focar no negócio e tentar fazer dar certo. Felizmente deu, mas... — Deixo as palavras morrerem. — Você se sente mal por não ter explorado mais o assunto? — Sky pergunta. — Sim, baby. Eu me sinto um péssimo amigo. E, quando vi a Kendra, percebi como sentia falta dela. Ela era uma amiga de verdade, tipo a irmã que eu nunca tive. Eu amava a Kendra, confiava nela para cuidar do meu amigo. Alguma coisa aconteceu, e do nada ela foi embora. E foi logo depois da merda com a Kayla. Tipo, duas semanas depois. Eu ainda estava enchendo a cara para afogar as mágoas. O Bo e o Roy estavam cuidando de mim. De repente, o Bo estava cuidando de nós dois. — E o Roy nunca te contou o que aconteceu? Relembro uma noite, nós três bebendo uísque e jogando sinuca no Lucky’s. Meu pai ainda não era dono do bar, mas éramos clientes assíduos. — Lembro de ter perguntado, e ele disse que os dois queriam coisas diferentes. Quando tentei forçar a barra, ele disse que ela tinha terminado tudo e que ia embora. — Coitado do Roy. — É. Eu sabia que ele já tinha comprado o anel de noivado e estava esperando o momento certo. Ele disse que ia pedi-la em casamento na noite da formatura, que seria a melhor noite da vida dele. Ela terminou tudo uma semana antes e se mudou para Washington. Até onde eu sei, ficou por lá desde então. A expressão de Skyler é tão triste que levanto a cabeça e beijo seu beicinho. — Que merda. Ela era o amor da vida dele e simplesmente caiu fora. Acho que não vou gostar dela. — Minha garota, leal até a

medula. — Tenho certeza que você vai gostar sim, apesar da atitude dela ter mudado um pouco agora. É como se ela tivesse uma armadura, como se estivesse escondendo o seu verdadeiro eu atrás de um muro. Ela continua linda, talvez mais ainda com quase trinta anos do que quando tinha vinte e dois. O Roy vai ficar louco quando a vir. E, depois da merda que deu com a Rochelle Renner em San Francisco, ele admitiu que estava pronto para sossegar. Até comentou que você e eu temos sorte de ter nos encontrado. Ele quer isso também, e eu não sei, mas ver a Kendra de novo... Talvez a razão de ele não ter encontrado ninguém é porque devia estar com ela. Skyler ergue as sobrancelhas e abre a boca em um sorriso enorme. — Você está dando uma de Mago do Amor com o Royce! Estou nessa. Tento negar, mas ela pressiona meus lábios com dois dedos. — Meu bem, eu vou entrar nessa. Se ela é a mulher certa para ele, o amor que ele perdeu, nós temos que juntar os dois! — Ela se senta em cima de mim e encosta seu centro na fera. A fera se anima, pronta para a segunda rodada. Sky deve ter sentido a rigidez entre suas coxas, porque levanta uma sobrancelha e esfrega os quadris de um lado para o outro, provocante. — Vai me deixar entrar nessa? — pergunta, sorrindo. Ela leva dois dedos à boca, lambe-os sedutoramente e depois os esfrega na pequena linha de pelos entre suas pernas. — Caralho... — Vejo os dois dedos girando em torno de seu feixe de nervos e desejo que fosse minha língua. — Vai me deixar entrar? — Ela suspira e mexe os quadris em círculo com os dedos, gemendo. — Você vai me deixar entrar? — digo, agarrando seus quadris, louco de vontade de levantá-la e colocá-la sobre meu pau, duro como pedra. Ela sorri com lascívia, linda. Leva a outra mão a meus lábios, e eu chupo dois dedos, passando a língua entre eles do jeito que quero fazer entre suas pernas. Ela retira os dedos e os leva ao mamilo,

girando-os sobre a ponta rosada antes de beliscá-la até ficar vermelha. — Caramba! — Aperto os dentes. — Me deixe entrar. Tento levantar seus quadris de novo, mas ela me aperta com as coxas. Eu poderia dominá-la se quisesse, mas esse jogo é um tesão, e quero ver aonde vai chegar. — Se você me deixar participar, pode fazer o que quiser comigo — provoca, as mãos ainda ocupadas entre suas coxas e o seio. Caralho, não sei o que quero fazer primeiro: chupar essa tetinha já pronta, deixar a outra escura igual, enfiar três dedos no calor úmido dela ou comê-la e ficar olhando enquanto ela cavalga meu pau. São tantas opções... — Humm... fechado. — Eu já pretendia ceder, porque, para conseguir juntar Kendra e Royce, ou pelo menos ver se os dois ainda são compatíveis, vou precisar de toda a ajuda que puder arranjar. Ela abre um sorriso enorme. Eu retribuo. — Agora me dê essa mão. — Pego o pulso que está trabalhando sobre seu sexo e levo seus dedos à boca. Quando seu gosto doce e salgado toca minha língua, fico faminto. Limpo seus dedos com a língua, pego-a pela cintura e faço força com as pernas no colchão para arrastar nós dois até a cabeceira da cama, com ela no colo. Levanto-a e enfio meu pau furioso dentro dela. — Ah! — ela grita. Cubro sua boca com a minha até nos tornarmos um emaranhado de corpos se agitando, gemidos guturais e gritos animalescos. Levamos um ao outro ao êxtase. Nosso orgasmo corre pelo nosso corpo como trens de carga. Nós nos recostamos na cabeceira, mesclados e suados, Sky ainda em meu colo, a fera firmemente presa dentro dela e seu rosto em meu pescoço. Acaricio suas costas, curtindo o peso do seu corpo. A cada respiração, seus seios fazem cócegas no meu peito. — Você está bem? — pergunto, sorrindo e curtindo o ritmo sincronizado do nosso coração. — Ótima — ela suspira em meu pescoço, soltando sua respiração quente sobre a minha pele. — Adoro negociar com você.

Sorrio e abraço seu corpo. — Especialmente quando envolve compensações nuas. Ela assente e bate de leve no meu peito. — Exato. Assim todo mundo sai ganhando. — É, baby, todo mundo sai ganhando.

— Você fez o quê?! — Bo está diante da minha mesa com a mão no quadril, de jeans, jaqueta de couro e o capacete da moto debaixo do braço. — Eu contratei Kendra Banks como nossa nova advogada. Ele faz uma expressão de desgosto. — Eu ouvi o que você disse. Só não estou acreditando nos meus ouvidos. Me diga que na verdade você contratou uma advogada que, por acaso, tem exatamente o mesmo nome da ex do Roy de oito anos atrás. Sacudo a cabeça e deixo a pasta de documentos que acabei de assinar na bandeja para Annie. — Você ouviu bem. Eu tive uma reunião com o Andre. A Kendra era a melhor candidata para a vaga. — Aquela vadia não mora em Washington? — ele rosna. Vadia? Uau. Eu não esperava esse nível de raiva vindo de Bo. — Ela voltou para Boston. Não perguntei por que, só confirmei se ela ficaria por aqui, porque não queremos contratar alguém para, depois que nos acostumarmos com a pessoa, ela cair fora. Ele começa a andar de um lado para o outro. — Não acredito nisso. E o Roy aprovou essa merda? — Ele me disse para contratar o melhor candidato. O Andre fez uma pesquisa extensa. Ela é a única que tem experiência não só com direito empresarial, mas também com legislativo. O que significa que é perfeita para o caso da Pure Beauty Farmacêutica. Que, devo recordar, é um caso de meio milhão de dólares para a agência! Bo aperta os dentes e o maxilar. — Não dou a mínima para quanto estão pagando. Essa vadia não pode trabalhar aqui!

— Tarde demais. Eu já contratei. Ela vai estar aqui dentro de uma hora. Seus olhos castanhos praticamente saltam das órbitas. — Você foi longe demais com isso, Park. Longe pra caralho. Lembra como foi quando ela largou o Roy? Sacudo a cabeça e me levanto. O medo pressiona minhas têmporas. — Não. Eu estava passando pelo problema com a Kayla. O Roy não me contou nada. Ele fez parecer que tudo acabou de forma amigável. Bo agita a mão no ar. — Quem é que termina um relacionamento de dois anos, com anel de diamante comprado, só com palavras de despedida? Você está de brincadeira. Não pode ser tão burro assim. Exalo longamente e esfrego a nuca. — O Roy estava surtando com as questões legais da agência. Eu tentei avisar quem era a candidata, e ele nem se interessou. Me mandou contratar. Você também disse que não se importava. Então eu a contratei, porra! — A irritação, com uma pontinha de arrependimento, domina minha psique. Bo sacode a cabeça, vai até a porta e leva a mão à maçaneta. Quando se volta, me perfura com um olhar mortal. — Você vai se arrepender. Quando abre a porta, Kendra e Annie estão paradas diante dele, bloqueando o caminho. — Caralho! — ruge e olha Kendra de cima a baixo, não uma vez, mas duas. Do impecável terninho branco com viés vermelho feito sob medida até os sapatos de salto, vermelhos e sensuais. Ela parece uma profissional feroz, cara e implacável. — Você não podia ser gorda e tão feia quanto a sua alma? — ele pergunta. Kendra aperta os lábios. — O prazer é meu, Bogart. Vejo que o seu temperamento não mudou. Ele aponta o dedo diante do rosto dela. — Estou de olho em você. Não sei o que está acontecendo, por que você decidiu voltar agora, quando está tudo indo bem. Mas eu te conheço, mulher. Eu te conheço.

— Isso é tranquilizador. Me considero advertida por essa ameaça velada — ela retruca. A seguir, volta o olhar para mim. — Bom dia, Parker. — Bom dia, Parker. Inacreditável! — Bo resmunga, então passa por Kendra e Annie e sai porta afora. — Pode ir, Annie, obrigado. Kendra, por favor, entre — convido. Ela entra em minha sala, fecha a porta e se senta à minha mesa. — As coisas não saíram como eu planejava. Desculpe — digo, com certa frustração. Ela sacode a cabeça. — Não precisa se desculpar. Eu já esperava essa reação de um ou de ambos os seus sócios. Eu sabia que o Bo ia ficar contrariado com a minha presença, mas não achei que ficaria tão furioso. Vou ter que trabalhar isso. — Dê tempo ao tempo. Ele não é muito diferente de quando te conheceu na faculdade. Só mais esperto, mais rodado... Beeem rodado. — Sorrio e por fim sou agraciado com um dos grandes sorrisos brancos de Kendra. — Ele é protetor. — Eu que o diga. — É assim com todos nós. Incluindo a Wendy. — Wendy? — A nossa assistente. Ela franze a testa. — Pensei que a assistente fosse a Annie. — Sim, tecnicamente. A Wendy está afastada, volta esta semana. Ela vai ajudar a manter o Bo e o Royce sob controle. — Ela está de licença? — Sim. — Maternidade? Sinto um aperto no coração. Odeio falar sobre o que aconteceu, mas, se Kendra vai ser nossa advogada, tem que saber tudo sobre a empresa. — Não. Ela está afastada há dois meses, se recuperando de um tiro que levou em um dos nossos casos. Uma sobrancelha escura se ergue na fronte de Kendra. — Tiro? Passo a língua nos lábios e me recosto na cadeira.

— Sim. Foi complicado. Nós tivemos um caso em Montreal... — Isso aconteceu em um caso internacional? Parker, existem tantos desdobramentos legais que podem voltar para te assombrar se essa funcionária processar a International Guy... O que é direito dela, a propósito. Aceno com a mão. — Deve ser mesmo. Mas não precisamos nos preocupar com a Wendy. Ela é IG de coração e se tornou membro da equipe e da família. Tem tanto interesse na IG quanto nós três. Além disso, o noivo dela é rico. Do nível da Oprah Winfrey. Ela não precisa processar a agência. Kendra aperta os lábios e pega um bloco de anotações. — Vou confiar na sua palavra por enquanto, até conhecê-la e avaliá-la. Acho que você precisa me fornecer os arquivos dos casos dos últimos seis meses. Talvez eu precise analisar tudo seriamente para garantir que os bens da empresa não correm risco. Abro um sorriso largo. — A boa notícia é que o Royce cuida de todas essas coisas, de modo que ele pode te fornecer os arquivos e as informações sobre o que fez até agora. Ela fecha os olhos ao ouvir o nome de Royce. Noto seu corpo ficar tenso, mas ela tenta não deixar transparecer. Abre os olhos e um sorriso conciliador. — Ótimo. — Independente do que aconteceu entre você e o Roy no passado, Kendra, ele é profissional. Além disso, foi há muitos anos. Muita água já passou debaixo da ponte, certo? Ela lambe os lábios e anui, mas não responde. Para mim, isso é revelador. Basicamente me diz que ela não está tão confiante como eu com a reação de Roy ao fato de tê-la trabalhando aqui. Antes que eu possa entrar no tema do trabalho propriamente dito, minha porta se abre e Roy entra sorrindo, animado. — Desculpem o atraso. Fiquei preso no telefone com uma cliente e... — Quando vê Kendra, suas palavras morrem, assim como seus movimentos. Seu rosto fica pálido enquanto ela se levanta. — Olá, Royce. Há quanto tempo. — Ela estende a mão para ele.

Roy pisca olhando para a mão dela, depois para mim e de volta para ela. — O que você está fazendo aqui? Ela deixa cair a mão e endireita a coluna, parecendo alguns centímetros mais alta. — Eu sou a nova advogada de vocês. Roy arregala os olhos cor de carvão e aperta os lábios a ponto de ficarem brancos. — Isso deve ser piada. — Ele se volta para mim. — Park, irmão, você contratou a minha ex para trabalhar com a gente? Eu me levanto, abotoo o paletó e engulo em seco, tentando aliviar o desconforto instantâneo que reveste minha garganta. — Você me disse para contratar. Não quis me ouvir quando eu tentei explicar quem ela era. E você está com muito trabalho... Ele levanta a mão. — Você contratou a mulher que eu pedi em casamento, que recusou o pedido, tirou as coisas dela do apartamento que dividíamos e me deixou sem mais nem menos para se mudar para Washington? — Caralho — sussurro, me dando conta dos desdobramentos da decisão que tomei. Merda. — Acho que cometi um erro. — Você acha, porra? — Royce grunhe. É quando Kendra, a advogada esperta, fala: — Seja como for, nós temos um contrato blindado, que você assinou, me dando seis meses de estabilidade, desde que eu não desrespeite nenhuma cláusula. Se vocês rescindirem, vão ter que me pagar seis meses de salário integral em dobro, pelo meu inconveniente. Como o salário de seis meses equivale a cem mil dólares, vocês vão me dever duzentos mil, sem receber absolutamente nenhum serviço. — Porra, você é boa — sussurro, chocado com a letalidade dessa mulher. — A melhor. Razão pela qual, devo recordar, você me contratou e eu fui tão altamente recomendada pelo Andre. Você não vai encontrar uma pessoa mais qualificada para esse cargo, nem mais comprometida. — Não me interessa. Duzentos mil, que seja — Royce declara.

Eu me aproximo dele e pouso a mão em seu ombro. — Roy, desculpe. Eu não sabia da gravidade do que aconteceu entre vocês. Eu não teria... — Não consigo continuar, porque meu coração está martelando no peito e minha garganta parece estar sendo espremida por um torno. — Royce, fala sério. Você ainda está tão ligado a mim, oito anos depois, que não suporta a possibilidade de trabalhar comigo? É trabalho, negócios. Não há nada em que nós dois sejamos melhores que nos negócios — ela tenta. Ele se aproxima, levando o rosto a menos de cinco centímetros do dela. — Eu posso pensar em pelo menos uma coisa em que nós éramos ainda melhores juntos — rosna. Vejo o peito de Kendra subir e descer, mas eles ficam ali, em um impasse. — Talvez possamos encontrar uma solução... — começo, tentando minimizar minha pisada na bola. Royce sorri, com os olhos ainda nos de Kendra. — Não vai ser necessário. Se ela consegue ser profissional, eu também consigo. Nós vamos te dar seis meses. Mas uma pisada bola, Kendra, e você está fora. Ela dá um sorriso levemente sarcástico. — Estou ansiosa pelo dia em que você encontrar uma única pisada na bola da minha parte. O meu trabalho é excepcional, você vai ver. — Espero estar errado. — Eu também — ela diz, com a voz trêmula. Kendra dá as costas para ele. O que ela disse quase parece ter duplo sentido. Sobre o que ela poderia estar errada também? Ela pega seu bloco de anotações e se afasta de Royce. — Parker, imagino que você tenha uma sala para mim. Assinto. — Ótimo. A melhor hora para começar é agora. Royce, o Parker me disse que você tem os arquivos dos últimos seis meses. Eu gostaria de analisá-los, me inteirar nos próximos dias para discutirmos qualquer problema que eu possa encontrar ou providências que tenhamos que tomar.

— Tudo bem. Vou mandar a Annie te entregar tudo — ele diz com a voz profunda, retumbante e baixa, como uma tempestade se formando. Ela assente com secura. — Além disso, quero revisar as fichas dos funcionários, para me assegurar de que todos os documentos exigidos estão disponíveis e em ordem. — Sem problemas. Eu tenho tudo aqui — digo. Tiro minhas chaves do bolso, destranco a gaveta de baixo à direita, pego as pastas — minha, de Bo, Royce, Wendy e Annie — e entrego a ela. — São confidenciais. — A minha sala tem armários com chave? — Kendra pergunta. — Sim. As chaves estão na gaveta da mesa. — Vou começar agora. — Mais para o fim da semana, nós precisamos falar sobre o caso da Pure Beauty Farmacêutica. Ela franze o cenho. — Vocês estão trabalhando com eles? — pergunta com certa tensão na voz. Pode ser por causa do confronto com Royce e Bo ou por outra coisa. Vou ter que arranjar tempo para conversar com ela quando as coisas se acalmarem um pouco. — Sim, é o nosso próximo cliente. Nós vamos para Washington na próxima semana. E, quando digo nós, quero dizer você, eu e o Royce. Precisamos revisar o contrato, alterar o que não nos favoreça, assinar e despachar. Eu estava esperando o novo advogado para fazer isso. Ela fecha os olhos por um momento, como se estivesse se estabilizando, antes de reabri-los. — Então é melhor eu começar a trabalhar. — A Annie vai te mostrar a sua sala. — Obrigada, Parker. — Ela se volta para a porta, mas, quando vai sair, para. Vejo seus ombros subirem e logo descerem antes de ela girar. — Royce, lamento que isso tenha sido um choque para você. Não era a minha intenção. Estou realmente entusiasmada para trabalhar com você. Nós sempre funcionamos bem juntos. Pelo

menos nos estudos e... de outras maneiras. — Um lampejo de dor passa pelo seu rosto antes que ela disfarce. Roy lambe os lábios e cruza os braços maciços. — Antigamente nós de fato funcionávamos bem juntos, mas muita coisa mudou. — Compreendo. Estou esperando os arquivos. — Você vai receber em breve — ele promete. Ela anui e sai pela porta.

4

No instante em que a porta se fecha, Royce vem para cima de mim. — Isso foi golpe baixo, meu irmão. Um golpe baixo e implacável. Não consigo nem imaginar por que você acreditaria que não haveria problema em contratar essa mulher como nossa advogada. — A voz dele sai cheia de mágoa e choque. Suas palavras me acertam como um soco bem dado no meio do estômago, onde vive minha autodepreciação. — Roy, eu tentei te contar, cara. E várias vezes você me disse para contratar a pessoa mais qualificada... Ele aperta os dentes e torce os lábios. — Eu não pensei que a candidata ideal seria a mulher que acabou comigo e me deixou recolhendo os cacos em uma cama vazia, na casa onde tínhamos sido felizes juntos. Eu queria me casar com ela, Park, dar o meu sobrenome a ela. Ter filhos com ela. Nós falávamos sobre isso o tempo todo... Passo a mão pelo cabelo. — Caralho, o que aconteceu? Naquela época você fez parecer que o término tinha sido consensual. Como eu ia saber que não foi assim? Roy estreita os olhos escuros. — Não consigo falar disso. Nem agora nem nunca. Só saiba que eu não estou feliz com a situação. A última coisa de que preciso é ver a mulher que me largou andando por este escritório toda saltitante, me tentando, pisando em mim de novo. — Roy... Ele sacode a cabeça, ajeita o paletó e o abotoa sobre o corpo maciço. Como se estivesse ajeitando seu eu emocional e físico ao mesmo tempo.

— Eu posso ser profissional pelos próximos seis meses. Mas depois acabou. Eu quero a Kendra fora daqui, está me escutando? F-O-R-A. — As palavras de Royce são uma promessa, não uma ameaça. Fecho os olhos e sinto o ar da sala pesar com sua inquietação. — Como você quiser. — Não há muito mais que eu possa fazer para salvar a situação. — Isso é o que eu quero. — Então assim será. — Nunca mais, irmão — Royce avisa. Franzo a testa e olho para ele, que crava os olhos escuros nos meus. — Nunca mais se intrometa em uma situação que diga respeito a mim e uma mulher, entendeu? Se você fizer isso, nós vamos ter problemas. Problemas muito maiores do que ter a minha ex trabalhando na nossa maldita empresa. Merda. A Operação Royce Mago do Amor está fora de questão. A Sky vai ficar chateada. Mas vai superar. Ela é assim. — Entendido. Royce retesa o maxilar e olha pela janela, bem no momento em que minha porta se abre e uma ruiva familiar entra. — E aí! Ei, quem é a rainha do gelo negra toda sexy e durona, mas totalmente fria quando cutucada? Royce fecha os olhos e suspira. — É a Kendra Banks, nossa nova advogada. Wendy abre um sorriso largo. — Legal. Isso significa que você se livrou de toda a parte legal da empresa, hein? — E cutuca Royce, que dá um sorriso desanimado. Ela estreita os olhos. — Não está contente por ter uma advogada fodona aliviando a sua carga de trabalho? Ah, não... O que é? — Ela franze os lindos lábios vermelhos. — Vou adivinhar. O Bo já está dando em cima dela. Bom, dá para entender. Ela parece filha da Vanessa Williams com a Angelina Jolie. Não que isso possa acontecer, sendo ambas mulheres e tal, mas ela é linda demais. Royce vai até Wendy, pousa a mão em sua nuca, beija o topo de sua cabeça e vai saindo.

— Que bom que você está de volta, Wendy. Eu tenho coisas a fazer — diz, evasivo, e nos deixa ali. — Não era para eu vir hoje falar com vocês três? — ela pergunta, estendendo a mão em direção à porta pela qual Royce acabou de passar. Suspiro e esfrego a testa. — Eu pisei na bola. De novo. Wendy fecha a porta antes de pegar minha mão e me levar para o sofá. Faz com que eu me sente e depois pousa a bunda na mesa de vidro à frente. — Me conta tudo, chefe. Eu preciso de informações, porque o que aconteceu agora há pouco não foi legal. O Royce não disse nada nem me olhou nos olhos. Evitou falar sobre a nova advogada, o que significa que tem algum problema com ela. E você... Parece que alguém acabou de bater no seu Tesla. Me conta tudo. Então eu conto. Dou todos os detalhes, ponho tudo para fora, como uma menininha chorona, deixando todas as minhas preocupações em suas mãos capazes. Quando termino, estou exausto, como se minha mente tivesse sido atropelada por um ônibus e precisasse dormir por uma semana. Wendy aperta os lábios, mas logo eles se transformam em um grande sorriso. — Você percebe que agiu certo? Franzo a testa. — Como assim? Ela sorri. — Se o Royce já tivesse esquecido a advogada, não se importaria por ela trabalhar aqui. Poderia ter ficado meio incomodado, mas não teria aquela reação perturbada. Se tudo entre eles fosse passado mesmo, não seria problema, certo? Sua lógica tem mérito. — Continue. Ela inclina a cabeça e seus olhos azuis brilham. Oh-oh, isso significa que está prestes a sugerir alguma travessura. — Wendy... — tento alertá-la, pensando no ultimato de Royce. — Não tem como não avançar com o plano de juntar os dois. Mas primeiro eles precisam trabalhar juntos por um tempo, fazer os

hormônios reagirem, entende? Ficar perto um do outro, como nos velhos tempos. O caso de Washington vai ajudar, com certeza. Trabalhar lado a lado em um caso, o tempo todo um vendo a cara do outro... — Ou pode piorar a situação e machucá-lo ainda mais. E aí quem vai acabar machucado sou eu, por perder o meu melhor amigo ou por levar um soco do Royce por tê-lo colocado nessa situação. Wendy franze a testa. — Quando foi a última vez que vocês saíram no tapa? — Nunca. Nós somos muito amigos. Se acontecer atrito físico, a amizade morre. É o nosso código. Podemos socar qualquer um que ameace os nossos amigos, mas nunca um ao outro, a menos que seja em um ringue, lutando por diversão. — Ah, eu pensei que os homens brigassem quando não conseguem expressar suas emoções. Interessante. As garotas se atacam verbalmente e acabam logo com o problema. É quase catártico, acho. Não que eu saiba de fato, já que as minhas primeiras amigas de verdade são a Skyler, a Rachel, a sua mãe e a mãe e as irmãs do Roy, mas eu vejo muito Gilmore Girls e Desperate Housewives. Pego a mão de Wendy e a aperto. — Abusada, estou feliz por você ter voltado. — Eu também. Bom, eu gosto da parte de transar muito para engravidar, mas preciso de um tempo — ela diz e solta um suspiro cansado. — O Mick assumiu o dever de me engravidar como se fosse um trabalho. — Dá um sorriso malicioso. — Não que eu esteja reclamando, mas você sabe... a mulher tem que fazer o homem suar um pouco. E ter espaço ajuda. Pisco sem dizer nada. Ela franze a testa e deixa cair os ombros. — Falei demais de novo? Faço que sim com a cabeça. — Droga. Preciso melhorar isso. Eu nunca sei direito quando é conversa de menina e quando é conversa de menino. — Pergunte para a Sky. Ela fica toda animada. — Boa ideia.

— A melhor que eu já tive, aparentemente. Wendy sorri. — Além da nova questão da advogada com o Royce... — E o Bo. Ela fica em choque, ergue as sobrancelhas e seus olhos azuis brilham. — Ele também está a fim dela? — Não. Ele despreza a Kendra. Tenho a impressão de que ele sabe mais sobre o passado dela com o Roy e não está feliz por vêla aqui. O que significa que nós temos um Bo mal-humorado e um Royce carrancudo. Não é uma boa combinação. — Ah, entendi o dilema. Vou cuidar deles. — Agradeço muito. — Imagine! Agora, o que vocês três queriam falar comigo, afinal? — Bom, acho que, já que não vou conseguir fazer os dois falarem comigo tão cedo, eu mesmo vou fazer as honras. — Honras? Eu me levanto e vou até minha mesa para pegar o documento que Bo, Royce e eu já assinamos. — Uma oferta para você se tornar oficialmente a nova diretora de informações da International Guy. Acompanha um aumento salarial, um novo cargo, mais responsabilidade e acesso ilimitado a praticamente tudo aqui. Ela ri. — Como se eu já não tivesse acesso ilimitado. Hacker, lembra? — E aponta para seu peito. Sorrio e lhe entrego a carta e o contrato. Wendy examina rapidamente o contrato e lê a carta com atenção. — É um contrato de três anos, com renovação automática, a menos que ambas ou uma das partes queira rescindi-lo. Vocês estão se comprometendo comigo por três anos... — ela diz, com a voz rouca e ofegante. — Sim. E queremos que você se comprometa conosco também. — Posso levar para casa e conversar com o Mick antes de assinar? — Claro. Você vai estar comprometendo três anos da sua vida com a IG. Eu ficaria desapontado se não falasse com o seu noivo

sobre isso. Ela funga e aninha os documentos contra o peito como se fossem algo querido, e não pedaços de papel. — Eu quero que você saiba que isso significa muito para mim, Parker. — Ela respira fundo e ergue os olhos azuis marejados para mim. — Estou lisonjeada. Sorrio e pouso a mão em seu ombro. — É uma honra para nós três ter você como parte da equipe, e queremos formalizar tudo oficialmente. Leve o contrato para casa. Nós três já assinamos. Depois de analisar e, esperamos, assinar, você vai se mudar para a sua nova sala. Ela arregala os olhos. — Eu vou ter uma sala só minha? — Sim, ao lado da recepção. Assim você vai poder ficar de olho na Annie e em nós. — Maravilha! — Que bom que gostou. Por enquanto, você poderia ir falar com a Annie. Ela tem muita coisa para assumir. Tem se saído bem, mas não é você. Tem muita coisa que nós não passamos para ela sabendo que você voltaria. — Sem dúvida. — Wendy me dá uma piscadinha. — Além disso, talvez você possa sondar o Bo e o Royce, tentar ver como está a cabeça deles em relação à Kendra. — Você quer que eu entre nessa. — Sim. Obviamente. — Nada mudou, mesmo depois de dois meses. — Ela sacode a cabeça, como se estivesse curtindo sua piadinha. — Exceto o fato de você ser promovida, de contratarmos uma nova assistente e uma advogada, de que você vai se casar, de a Skyler estar trabalhando em Boston no futuro próximo, de ela ter um fã maluco/stalker mandando mensagens estranhas para nós. E de o meu irmão ser bissexual. É, nada de mais.

Três dias depois, dizer que a tensão na sala é tão densa que dá para cortar com uma faca é minimizar o óbvio.

Os olhos e a linguagem corporal de Kendra são ferozes, uma força que não deve ser desprezada. Ela está sentada estoicamente, olhando para a frente, para mim, ignorando os outros dois homens sentados à sua esquerda. Bo está na cadeira do meio e sorri com desdém para Kendra toda vez que olha para ela. Royce ignora tudo, focando toda a sua atenção em seu celular. Ele pode estar checando a pontuação dos jogos da noite passada ou o mercado de ações, ou talvez até jogando sudoku. Meu Deus, que merda. Onde está a Wendy, afinal? Por falar em minha salvadora, ela entra na sala com um tablet na mão. — Desculpem pelo atraso. Eu andei pesquisando sobre essa empresa e achei que vocês iam gostar de saber dos projetos atuais e interesses legislativos dela. Um peso do tamanho de Massachusetts sai do meu peito ao ver nossa própria srta. Moneypenny. Ofereço a Wendy um sorriso grato quando ela entra e se apoia na prateleira que há na parede de janelas atrás de mim. — Kendra, vamos começar com você. Nos atualize sobre a Pure Beauty Farmacêutica. Nós vamos para lá na segunda-feira, e eu quero estar o mais informado possível — digo, me dirigindo a nossa nova contratada. Vestindo blusa de seda laranja, saia justa de tweed bege e blazer creme com mangas três quartos, Kendra procura algo nos documentos a sua frente. Então levanta e entrega a cada um de nós, inclusive a Wendy, uma cópia de alguma coisa. A mulher está sempre preparada. Bo rosna para ela, mas pega o documento, mantendo seu comportamento adolescente. Kendra não parece se deixar afetar. Ela pega a arrogância dele e a joga de lado, como se fosse um pano velho e puído. — Este é o contrato atualizado assinado pela CEO da Pure Beauty Farmacêutica. — Atualizado? — Royce pergunta, analisando o documento. — Sim. Achei o primeiro inaceitável — ela afirma, olhando fixamente para ele.

— Eu mesmo elaborei aquele contrato — ele retruca, com certa grosseria e uma hipersensibilidade que ninguém em um raio de um metro e meio deixaria passar despercebida. Ela abre um sorriso falso e diz: — Obrigada por adiantar as coisas. Só que no contrato antigo faltavam alguns itens necessários e uma cláusula muito importante. Ele franze a testa, olhando para o novo contrato. — E qual seria? — Uma cláusula para o caso de desistência. — E por que nós iríamos querer desistir? — Bom, segundo a minha experiência, se o consultor assume um caso e encontra uma questão moral, ou um possível risco para a sua reputação na continuação do trabalho, certamente vai desejar que o contrato ofereça uma saída legal sem prejuízo para o seu patrimônio. Ou, em caso de rescisão, uma garantia de não estar violando o contrato. Basicamente, é uma medida de proteção. Analiso o documento e noto toda a verbosidade legal que ela acrescentou. — Foi um ótimo acréscimo. Mas, com a sua experiência no Capitólio, você tem alguma preocupação com o fato de nós trabalharmos nesse caso? Kendra aperta os lábios. — Com base em razões profissionais, não. — Isso significa que você tem algum problema pessoal com a Pure Beauty Farmacêutica? — rebato. — Além dos negócios escusos envolvendo dinheiro e medicamentos que geralmente rodeiam grandes indústrias farmacêuticas, sim, eu tenho razões pessoais. Muitas dessas entidades preferem fazer as coisas de modo a reduzir todos os custos possíveis e assumem riscos com seus produtos. Riscos que, como mulher, eu não gostaria de correr fazendo um tratamento de beleza. Produtos de baixa qualidade, datas de validade ignoradas e muito mais. No entanto, basicamente, segundo este contrato, a IG deve abordar senadores em nome do cliente para obter ajuda no apoio a uma legislação. Eu não sei que legislação é essa, o que de cara me deixa desconfortável. Vou querer uma cópia disso no instante em que chegarmos ao escritório deles.

— Ótimo plano. Alguém mais? — pergunto. Wendy se aproxima de mim enquanto digita algo em seu tablet. — Sim, eu tenho algumas preocupações. Quando pesquisei sobre essa empresa, o nome dela apareceu algumas vezes em blogs e sites de ativistas dos direitos animais, alegando que eles testam os produtos em animais. Sua careta corre ao redor da sala como uma ola na arquibancada de um jogo. Aparentemente, esse grupo não gosta da ideia de animais inocentes serem usados para qualquer tipo de teste. — Alguma coisa concreta sobre essas alegações? — pergunto, sentindo um formigamento desconfortável na nuca. Ela sacode a cabeça. — Não, só conjecturas até agora. Nada provado. Mas vou continuar investigando. Pelo que eu vi, não tem muita coisa na mídia sobre essa empresa, o que é estranho para alguém que está tentando conseguir a aprovação de um projeto de lei. Geralmente dinheiro grande vem com grandes nomes. É como se eles estivessem se mantendo fora do radar da imprensa e da política até agora. Ainda estou tentando ligar os pontos sobre os produtos que eles realmente fabricam, e não está sendo fácil. Royce se endireita, com uma expressão séria no rosto. — Você acha que é uma empresa nova? — E capaz de pagar uma consultoria de quinhentos mil dólares? — também direciono a pergunta a Wendy. Ela sacode a cabeça. — Não. No site deles diz que estão no mercado há trinta anos. — Todo mundo pode mentir — Bo acrescenta e olha para Kendra. — Eu mesmo conheço muitos mentirosos. Ela retesa o maxilar e endireita a coluna, como um soldado se preparando para a batalha. Eu o ignoro, mas pretendo falar com ele sobre sua atitude em relação a Kendra quando estivermos sozinhos. — Já recebemos algum dinheiro? — pergunto a Royce. — Sim, vinte por cento adiantados, como acontece com todos os clientes — ele confirma. — Considerando que nós recebemos cem mil adiantados, sugiro continuar pesquisando e nos encontrar com eles na segunda. O

Roy, a Kendra, eu e o Bo vamos assumir o comando. — Acho que a minha inclusão não vai ser necessária, agora que você tem a Kendra. Além disso, estou negociando com outra cliente. Seria bom ter tempo para isso. Sem mencionar que ainda precisamos nos preparar para Madri — Royce anuncia. — O que tem em Madri? — pergunto, abrindo minha agenda no notebook. — Pop star — ele diz, tamborilando no topo de seu celular com o indicador. — Pop star. Uma artista? — pergunto. Os olhos de Bo se iluminam como uma fogueira na praia. Sorrio, notando seu entusiasmo, satisfeito por ver o desdém desaparecer por um momento, por mais breve que seja. O que vier é lucro. Ele está um saco nos últimos três dias, desde que Kendra chegou. Talvez o caso da pop star o tire dessa. — Juliet Jimenez, espanhola de Madri. Uma coisinha. É conhecida como JJ. Voz de anjo, aparência de criança, mesmo na casa dos vinte. Vamos desenvolver seu poder de sedução e ensinar a menina a ser confiante, atrevida e a ter presença de palco. Juro que, toda vez que pegamos um caso novo, fico surpreso com o que nos pedem para fazer. Parece que a reputação de nada ortodoxos nos precede, porque cada caso é diferente. É sempre alguma coisa exótica. — Interessante — comento enquanto bocejo, mostrando que não estou exatamente pulando de alegria com a ideia de viajar até Madri. — Muito interessante. Estou nessa. — Bo sorri. — Ótimo. Especialmente se eu puder não estar — digo, na esperança de que a equipe aceite. Royce franze a testa. — Hum, acho que não, mas vamos discutir isso quando estiver mais perto. A cliente pediu especificamente você, Park. Parece que soube do trabalho que você fez em Milão e quer resultados semelhantes. Isso significa que requisitou você e o Bo. Eu estou fora. Inspiro longa e lentamente. Parece que nunca vou ter sossego para ficar em Boston por alguns meses seguidos e ter uma vida

normal. Uma vida normal. Nem sei se eu sei como é isso. Entre minha namorada famosa, nosso problema com o stalker/fã maluco, minha equipe em pé de guerra e as viagens ao redor do mundo, não sei se eu preferiria ficar no escritório e no fim de semana fazer um churrasco ao ar livre com a minha garota, jogando bola para um cachorrinho espevitado. A imagem fica impressa em minha mente: Sky de shorts, um filhote de golden retriever mordendo seus calcanhares, esperando que ela jogue a bola enquanto eu ponho uns bifes na grelha na nossa varanda. Nada além de árvores e campos verdes durante dias, o pôr do sol no horizonte cobrindo de brilho o corpo da minha garota. — Park... — A voz de Royce corta meu devaneio como faca quente na manteiga. Franzo a testa e a imagem desaparece. A fuça de Royce está na minha cara. — Onde você estava, irmão? Eu perguntei se terminamos aqui. Tenho coisas para fazer. — Ah, sim. Bom, acho que estamos todos indo na direção certa. Bo olha para Kendra. — Pelo menos alguns de nós. Até mais, Sininho, Roy... — Ele sai e, de fora, acena com a mão sobre a cabeça. — Park, fique na paz. — Não se despede de Kendra, pois isso seria lhe dar atenção e reconhecer sua presença. Ele tem se saído muito bem ao evitá-la a semana toda. Roy também se despede e sai da minha sala. Kendra se levanta e alisa a saia. — Bom, se a semana acabou, também vou me despedir. Preciso fazer as malas e me preparar para a viagem. Eu a detenho segurando seu pulso. Wendy nota meu movimento e sai apressada. — Tchau, gente. Nos falamos na semana que vem — diz e fecha a porta ao sair. — Ele vai mudar de ideia — tranquilizo-a. Ela inclina a cabeça para o lado. Vejo dor em seus olhos esverdeados.

— Quem? O Royce ou o Bo? Nenhum dos dois quer saber de mim. — Vai levar um tempo, mas eles são gente boa. Eu conheço os dois desde sempre. Eles vão mudar de ideia. Mas é uma promessa vazia. Não sei se eles vão superar os problemas que têm com ela. Só posso torcer para que sejam os homens que eu conheço. Justos, que não julgam. Ela assente, endireita os ombros e leva uma mecha de cabelo para trás da orelha. — Tudo bem. Já encarei coisas piores. Isso também vai passar. Estreito o olhar e aperto sua mão. — Algo me diz que você já viveu coisas muito piores. Se compartilhar, pode ajudar a curar algumas mágoas causadas pela sua partida. — Parker, não faça isso — ela diz, contraindo os lábios e apertando o bloco de anotações contra o peito. Ficamos nos olhando por longos segundos. Nenhum dos dois fala nem quer recuar. Por fim, ofereço uma saída: — Tudo bem. Mas saiba que, se quiser conversar, estou aqui. Na IG nós somos um time, mesmo que agora não seja assim. Por baixo de tudo isso, existe muita camaradagem e respeito. Eles vão mudar de ideia, você vai ver. Ela me presenteia com um sorriso gentil. — Espero que você esteja certo, Parker. De verdade. — Vamos encerrar a semana, então? A minha namorada vai pedir comida chinesa e pretende fazer uma maratona de Netflix, seja lá o que isso signifique. E eu vou ter que engolir, porque quando quero ver o jogo ela não reclama. Kendra ri. — Você tem alguém especial te esperando em casa? — pergunto, pressionando um pouco. — Só a minha família. Fiquei longe por muito tempo, tenho que compensar. Além disso, eu sou necessária aqui — ela diz, sai pela porta e vai para sua sala. — Sim, você é, Kendra. Olho para a porta de Royce e penso nele me dizendo que queria sossegar.

— Talvez mais do que você imagina — sussurro para mim mesmo enquanto vou para o elevador. Aperto o botão da cobertura e coloco o polegar sobre o leitor. Ele apita, a luz fica verde e o elevador começa a subir. As portas duplas se abrem para a entrada do apartamento de Skyler. — Querida, cheguei!

5

A Pure Beauty Farmacêutica está localizada a oeste da Casa Branca e do centro de Washington, em um pequeno bairro chamado Foggy Bottom. Do nosso hotel, no centro, pegamos o metrô, porque Kendra disse que era mais rápido que andar de carro no trânsito local. Como ela morou aqui, confiei em sua experiência. O motorista que nos esperava na saída da estação George Washington University nos leva pelo quilômetro final até a fábrica da Pure Beauty, que também é onde seus principais escritórios se localizam. Agora estamos em uma sala de espera cercada de vidro, com uma excelente vista do rio Potomac. Fico de pé olhando para o rio, até que uma mulher de cabelo muito preto e terninho muito caro se aproxima. Sua pele é impecável, cor de pérola brilhante. Os olhos são de um verde-escuro que combina com a blusa de seda sob o blazer preto Armani. Os saltos de couro de cobra verde-musgo dão um toque estiloso ao visual, mas, no conjunto, ela me lembra uma guerreira. Como se estivesse vestindo sua armadura, pronta para a batalha. Talvez esteja mesmo, uma vez que convocaram nossa equipe. Ela toma minha mão em um aperto surpreendentemente firme. — Olá, sou Vivica Preston, CEO da Pure Beauty. — A seguir, estende a mão para Kendra. — Parker Ellis, CEO da International Guy, e nossa advogada, Kendra Banks. Vivica ergue a sobrancelha com desconfiança e sorri. — Acho que temos alguns conhecidos em comum, Kendra. É um prazer tê-la de volta a Washington, e tão cedo. Kendra não retribui o gesto.

— Sim... Eu esperava dar um tempo da Cidade do Chocolate, mas o governo parece estar me chamando. — Humm. Certo. Por favor, venham comigo. Estão todos esperando. — Todos? — pergunto. — Sim. Ela não oferece mais explicações. Gira sobre os saltos agulha e nos guia por um longo corredor. Quando chegamos ao que suponho que seja uma sala de reuniões, ela abre uma das portas duplas e a segura para que entremos. Sentados à mesa estão cinco homens de terno e gravata. Três parecem muito jovens, e dois são de meia-idade. — Pessoal, este é Parker Ellis, CEO da empresa que eu contratei para nos ajudar a conquistar as senadoras Birchill e Portorino. E, com ele, alguém que vocês talvez já conheçam, Kendra Banks. Advogada corporativa, representando a International Guy. Ela trocou recentemente as relações governamentais pelo setor privado, e parece que o setor privado a trouxe de volta para casa. Risadas retumbantes correm entre os homens enquanto cada um deles se levanta para apertar nossa mão. Vivica apresenta três deles como funcionários da Pure Beauty Farmacêutica. Surpreendentemente, os dois mais velhos são nomes que eu reconheço: um é o sr. Damren, ex-senador democrata por Delaware, e o outro é o sr. Kemper, atual senador republicano pela Louisiana. — Por favor, sentem-se, sr. Ellis, srta. Banks. — Vivica aponta duas cadeiras de couro vazias à mesa. Assim que nos acomodamos, um ao lado do outro, olho ao redor e noto que Kendra está sentada em sua pose de guerreira — como gosto de pensar. Costas eretas, ombros tão rígidos que daria para equilibrar uma pilha de livros em cada um, joelhos unidos, canelas e pés debaixo da cadeira. Está com as mãos cruzadas sobre a mesa, e seu olhar é frio e está firme em Vivica. Vejo nossa cliente se dirigir à frente da sala e pegar um controle remoto. Uma tela cobre a parede diante de nós. — Agora que estamos todos aqui, podemos começar. — Ela aperta um botão e a imagem de uma mulher sem graça, vestindo um terninho marrom barato, ganha vida na tela. — Esta é a

senadora Birchill. É uma das parlamentares que nós precisamos influenciar para votarem a nosso favor no projeto que atualmente está em processo de revisão no comitê. — Na verdade, eu tenho novidades em relação a isso. A comissão se reuniu ontem. Todos concordaram em pôr o projeto de lei em votação na próxima semana — o senador Kemper anuncia, com uma soberba que não me impressiona. Vivica sorri. — Você acha que a comissão toda vai votar a favor do projeto de lei? Ele ri, e suas bochechas balançam com a barriga redonda. — Aquelas pessoas lá nem sabem o que acontece. Só veem o número de empregos que a nova lei vai gerar para a indústria e o dinheiro que vão ganhar. O senador Damren sorri. — Quando você promete duas novas fábricas e cinquenta mil novos empregos, o que vai gerar muito mais dinheiro em impostos, é uma venda fácil. Infelizmente, convencer Birchill e Portorino a votarem a favor do projeto na próxima semana vai ser muito mais difícil. Os nossos lobistas têm trabalhado na Câmara e no Senado há meses e são capazes de afirmar que essas duas senadoras vão ser o fator decisivo. Se elas concordarem, vários outros que estão em cima do muro vão se alinhar com essa posição. — Por falar no projeto de lei, eu gostaria de ver uma cópia dele — Kendra interrompe. Vivica acena para um dos membros da equipe, que pega duas cópias e as entrega a Kendra e a mim. Eu me inclino para a frente. — O que eu quero saber é o que há nesse projeto de lei que faz essas duas senadoras se recusarem a votar a favor da Pure Beauty Farmacêutica. Logicamente, se a lei que vocês estão tentando aprovar vai permitir construir duas novas fábricas e gerar tantos novos empregos para o país, e em consequência para os contribuintes, imagino que seja benéfica para todos os envolvidos. Vivica cruza os braços em uma postura defensiva. — Nada que garanta uma revogação, eu lhe asseguro. Sorrio para ela.

— Então me diga. Ela retesa o maxilar. — Primeiro, elas têm a impressão de que a lei vai permitir a nós e a outras empresas testar nossos produtos em animais. — E isso é verdade? Um cara que muito provavelmente acabou de sair da faculdade, mas com uma intensidade na expressão que não posso ignorar, entra na conversa. Deve vir de gerações de políticos. — A lei não vai proibir testes em animais. Dou de ombros. — Então por que vocês simplesmente não corrigem a redação do projeto de lei, deixando claro que testes em animais serão estritamente proibidos? Fim do problema. Os olhos do senador Kemper brilham de fúria. Aparentemente, toquei em um ponto sensível do buldogue. — Você está nos sugerindo escrever uma legislação que liste todas as coisas que uma empresa não pode fazer para realizar o seu trabalho? O projeto teria mil páginas. É um absurdo! — Não vemos isso como uma maneira prática de alcançar nossos objetivos, sr. Ellis, mas agradeço pela contribuição — Vivica acrescenta. — Além disso, testes em animais são parte do nosso negócio. Não podemos vender nossos medicamentos, sejam prescritos ou de venda livre, nem nossos tratamentos de beleza sem testá-los antes em seres vivos. Nossa prioridade é a segurança da humanidade. Até mesmo a sua pasta de dentes é testada em porquinhos-da-índia antes da distribuição para garantir a segurança humana. Sinto um gosto amargo tomar minha língua, e meu café da manhã começa a girar no estômago. Preciso mudar de tática, então tento conseguir o que mais preciso deles: — Desculpem, eu posso estar fora de sintonia, mas qual é o objetivo do projeto de lei? — Gerar empregos e impostos... — o senador Damren responde. Agito as mãos. — Perdoem a minha ignorância mais uma vez. A Pure Beauty contratou a minha equipe para convencer algumas senadoras a votar a favor de algo que vocês querem que seja aprovado. Eu

preciso saber por que vocês querem isso, para traçar o melhor plano de ataque possível. Vivica franze os lábios e se apoia na mesa. Seu olhar verde queima o meu. — A lei vai dar à Pure Beauty... na verdade, a todas as empresas farmacêuticas, a capacidade de distribuir nossos produtos mais rapidamente e com menos obstáculos do FDA, o órgão regulador americano. Por exemplo, os agentes que investigam riscos à saúde podem segurar o lançamento ou a distribuição de um produto por causa de um detalhe simples, como uma porta de segurança que foi deixada aberta porque um funcionário saiu para fumar um cigarro e esqueceu de fechar direito. Levanto as sobrancelhas. Parece um absurdo impedir que algo avance devido a um erro humano tão simples. Ela prossegue: — A agência também pode optar por não aprovar um novo medicamento porque o número de testes realizados não atingiu a marca por um décimo de ponto. Um pontinho minúsculo no processo todo. Estamos buscando mais espaço de manobra nas práticas recomendadas para que possamos lançar mais produtos e contratar mais funcionários. Esse é um problema de um bilhão de dólares que precisamos consertar, e essas duas pessoas estão nos impedindo de expandir nossos negócios, de fornecer o que os consumidores necessitam e de criar mais empregos em uma economia em crise. Uau. Duas pessoas podem impactar o destino de uma empresa inteira, duas fábricas, cinquenta mil novos empregos, um monte de dinheiro em novos impostos para os governos local, estadual e federal e um bilhão de dólares para o consumidor. Incrível. Entendo por que a maioria do Senado é a favor. — E qual é o problema específico para essas duas senadoras? — pergunto, inclinando a cabeça, pensativo. Vivica sorri e aponta para a tela. — Senadora Birchill, republicana, do Colorado. Grande defensora da Agência de Proteção Ambiental. Acredita que os locais que escolhemos para as novas fábricas não são “ecologicamente corretos”, segundo suas palavras. Ela não gosta da ideia de que nós

vamos precisar remover algumas árvores e vegetação para construir uma fábrica de quase trezentos mil metros quadrados em Jackson, Wyoming, à margem da Floresta Nacional de Bridger-Teton e de Yellowstone. Um dos jovens funcionários complementa: — É o local perfeito. Acessível, perto da costa Oeste e do extremo norte do país. A segunda fábrica vai ser construída no norte do Texas e vai atender ao sul e ao leste do país. — Então ela é do tipo natureba? — arrisco. Vivica sorri. Uau, ela é muito mais atraente quando dá um sorriso genuíno. — Podemos dizer que sim. O trabalho de vocês vai ser fazê-la enxergar os aspectos positivos das novas fábricas e desviar o pensamento dela dos pontos ambientais negativos. Dou de ombros e esfrego o queixo. Não parece muito difícil. Vou analisar os projetos de construção, as informações de localização, ver quanto dano vai ser causado e quanto poderia ser. Muitas vezes é uma questão de comparar seis com meia dúzia para fazer alguém ver que os aspectos positivos superam os negativos. — E a senadora Portorino? — pergunto, tamborilando nas folhas de papel brancas e brilhantes diante de mim. — Ela ama cães. Tem cachorros em vez de filhos — outro funcionário de Vivica responde. — E quer a garantia de que não vamos fazer testes em animais nas nossas novas instalações. Mas não podemos prometer isso. Quando pensei que meu estômago havia se acalmado, uma sensação desagradável, um nó, se forma em minhas entranhas. Pensando em Spartacus, o gato amarelo do escritório de Alexis, em Montreal, e em como eu gostava daquele felino sonolento, não consigo imaginar alguém testando nada no pobrezinho, a menos que seja uma cadeira de escritório feita especialmente para gatos de escritório. Pensar em Spartacus me faz lembrar do meu desejo recente de ter um animal de estimação. Sky adoraria, e, com o filme dela sendo rodado em Boston, um bichinho pode muito bem ser uma possibilidade. Fico imaginando se ela ia querer um gato ou um cachorro. Provavelmente um gato, já que mora na cobertura de um

edifício no centro de Boston. Vou ter que conversar sobre isso com ela mais tarde. Vivica toca um botão no controle remoto e aparece a foto de uma mulher de terninho e tênis, com três guias nas mãos ligadas a três cachorrinhos de raças diferentes andando a sua frente em uma rua movimentada da cidade. — Ama cães — sussurro na direção de Kendra enquanto avalio a mulher. Pequena, pele cor de oliva, cabelos escuros. Nada mal. Quarenta e tantos anos. Brincos de argola dourados nas orelhas, corpo violão, cabelo preso em um rabo de cavalo grosso e apertado na nuca. Se fosse adivinhar, eu diria que ela é descendente de italianos e se casou com um também, visto que seu sobrenome é Portorino. — Vamos começar fazendo uma análise profunda dessas duas mulheres. Elas moram em Washington atualmente? Eu gostaria de ir ao gabinete delas, ver se consigo falar com ambas. Vivica sorri, mas o senador Kemper ri. Ele fala primeiro. — Você acha que vai simplesmente entrar nos gabinetes de Washington e ser atendido na hora? Filho, você tem muito a aprender sobre política e sobre esta cidade. Kendra se levanta abruptamente e pousa a mão em meu ombro. — Não se preocupe. Eu vou atualizar o sr. Ellis sobre tudo a respeito de Washington. — O restante de sua fala é direcionado a Vivica. — Nós vamos analisar o projeto de lei, avaliar os dados disponíveis e pesquisar sobre os nossos alvos. Assim que tivermos o plano elaborado, entraremos em contato, sra. Preston. A mulher assente em resposta. — Ótimo. Minha equipe compilou mais algumas informações preliminares sobre as senadoras Birchill e Portorino. Coisas que sabemos sobre elas, outras que podemos fazê-las recordar que temos contra elas se decidirem não se deixar influenciar pelos métodos de vocês. Ela pega duas pilhas de papel com sua equipe e entrega uma para mim e outra para Kendra. Agarro a papelada e a coloco debaixo do braço.

— Nós entraremos em contato — digo, me levantando e seguindo Kendra para fora da sala de reuniões. Ela não profere uma palavra, nem eu, até estarmos na estação de metrô, sentados no trem, observando a paisagem. — O que foi que eu acabei de presenciar? — pergunto a Kendra, me sentindo como se tivesse apanhado sem saber por quê. — Um golpe político — ela responde, sem rodeios, irritada. — O quê? — Eles querem nos fazer arruinar a reputação de Birchill e Portorino. Estreito o olhar. — Como nós arruinaríamos a reputação delas tentando convencê-las a votar a favor de um projeto de lei que a cliente quer que seja aprovado? Seus lábios se curvam, formando uma careta de contrariedade. — Birchill é a principal protetora ambiental do Senado. Ela é conhecida por isso. E não recua, jamais. É por isso que está na posição em que está no Colorado. O estado inteiro é verde. — Certo, mas como é que isso pode significar arruinar a reputação dela? — Se a minha suspeita for real, além da perspectiva de que essas fábricas sejam enormes e acabem com boa parte das árvores, da vida animal e dos recursos naturais da região, se ela apoiar o projeto de lei, vai dar a outras indústrias o poder de afetar o meio ambiente também. Qualquer empresa que afirme que pode criar milhares de novos empregos e gerar milhões em impostos vai usar essa lei como carta branca para destruir a terra e poluir o ar, além de inundar o mercado de produtos possivelmente perigosos. Uma coceira me queima debaixo dos braços, me fazendo sentir suado e desconfortável. — E Portorino? — Ela é uma defensora veemente dos direitos dos animais. Também é a mais forte defensora no Senado da Humane Society em Washington. A sede deles é aqui, e ela está sempre na empresa, bem como em jantares, eventos de caridade etc. Ela é incondicionalmente contrária a qualquer tipo de testes em animais. Convencê-la a votar a favor desse projeto de lei vai arruinar a

reputação dela de defensora dos inocentes. Seria melhor ela renunciar que votar a favor desse projeto. Não há nada que possamos fazer para que ela veja isso de outra forma. — Entendi. Eu quero que a Wendy investigue as duas, e quero descobrir mais com a nossa análise. Amanhã vamos passar o dia analisando os documentos que eles nos deram e tudo que a Wendy encontrar. Depois vamos falar com cada uma delas. Você tem ideia de como fazer isso? Isto aqui é terreno seu. — Sorrio educadamente. Quero que ela saiba que eu confio totalmente em seu julgamento e sua experiência. — Eu vou sondar por aí amanhã, falar com alguns contatos. Tenho certeza que conseguimos descobrir onde elas costumam almoçar ou jantar. Talvez possamos encurralá-las na rua, entrando ou saindo de casa. Olho pela janela quando passamos por Georgetown. Washington é coberta de árvores e belas paisagens depois de cada bairro. Gostei até da voz feminina do metrô. Parece quase britânica, o que me fez lembrar de Geneva James, em Londres. Fico imaginando se vamos vê-la em breve, já que seu filme vai ser produzido em Boston. — É um bom plano — digo. Sorrio e continuo vendo o mundo passar. A conversa morre. Ficamos ambos perdidos em pensamentos, uma vez que o plano do dia seguinte está traçado. Mas tenho uma sensação desconfortável retorcendo minhas entranhas. Pensar que essa empresa é tão indiferente à realização de testes em animais me faz querer saber mais sobre o que fazem, quando, onde e com que frequência. Também não gosto da ideia de uma fábrica gigante ser construída ao lado de uma floresta nacional. Não pode ser bom para o meio ambiente, independentemente dos empregos ou do dinheiro que gere para a economia ou para o governo. Neste momento, tudo que posso fazer é tentar descobrir mais sobre a Pure Beauty Farmacêutica, o projeto de lei e as duas senadoras que eles querem que influenciemos a seu favor. Conhecimento é poder.

No dia seguinte, Kendra e eu estamos sentados na suíte que acabamos tendo que dividir. Alguma coisa saiu errado com a nossa reserva. O hotel pisou na bola, e não havia mais apartamentos. Mas a suíte tem dois quartos e dois banheiros separados, e uma sala de estar e copa-cozinha entre eles. Quando mandei uma mensagem para Sky contando sobre o incidente, ela morreu de rir. Achou engraçado eu estar preocupado em lhe dizer que teria que dividir a suíte com outra mulher. Especialmente porque sabe o que aconteceu entre Roy e Kendra anos atrás. Ela acha que vai ser uma boa maneira de eu conhecer a Kendra de agora e compará-la com a jovem namorada do meu melhor amigo da faculdade. Expliquei repetidamente que não pretendo mergulhar mais fundo no passado de Kendra, por medo de perder meu melhor amigo e sócio. Mas estou muito intrigado com o motivo de ela voltar para Boston, depois de morar oito anos em Washington. — Esse projeto de lei não é boa coisa, Parker — Kendra rompe o silêncio. Ela está sentada no sofá usando calça e blusa de moletom. Também estou vestido informalmente, de jeans e camiseta. — Por quê? Ela sacode a cabeça e ergue o projeto, indicando a seção que despertou seu interesse. — Se esta lei for aprovada, basicamente a Pure Beauty, para não dizer as indústrias farmacêuticas em geral, vai ficar livre para testar no que quiser. Também vai poder liberar produtos antes do que eles chamam de “fase beta”, desde que tenham passado por dois testes em seres vivos. O que significa que eles podem pular a fase de testes em seres humanos. — Sério? Ela assente. — Assim eles podem fazer seus testes e, se obtiverem os resultados esperados, podem decidir se querem ou não ir para a fase beta, que é onde os humanos entram. Geralmente as indústrias de cosméticos trabalham com grupos focais, voluntários ou pagos, às vezes ambos, para testar novos produtos. As farmacêuticas conseguem seus pacientes para testes de um jeito um pouco diferente, mas, em ambos os casos, o resultado é o seguinte: com a

nova lei aprovada, se quiserem, eles podem pular a fase de testes em humanos e lançar um novo produto. — Eu ainda estou preocupado com a parte de testes em animais. — Já ouvi falar dessa empresa, Parker — ela diz, franzindo a testa. — Não quero entrar em detalhes porque é só uma conjectura. Uma amiga minha daqui é ativista dos direitos dos animais e disse que a Pure Beauty Farmacêutica está ligada à PB Insumos. — O que é PB Insumos? — Uma empresa que faz testes médicos, mas também, e eis a questão, cria animais só para serem usados como cobaia. Os animais nascem em laboratório para serem usados em vários tipos de testes, muitos deles cruéis. Não estamos falando de exames de sangue ou picadas de agulha. E vão além de ratos e porquinhos-daíndia, como a Vivica mencionou. Eles usam cães e gatos em muitos testes. Pego meu celular e toco em “IG”. Annie atende. — International Guy, Annie. Como posso ajudar? — Annie, é o Parker. Preciso falar com a Wendy agora. — Ah, sim, tudo bem. Humm, posso ajudar, já que agora sou oficialmente sua assistente? Aperto os dentes e puxo o ar pelo nariz, tentando dissipar a irritação que sinto por ela não fazer imediatamente o que peço, e ao mesmo tempo tentando entender que ela quer ser útil e fazer um bom trabalho. — Não, obrigado. Eu preciso do conhecimento técnico da Wendy. — Ah, tudo bem — ela diz com a voz triste. — Vou transferir. Espero que você esteja se divertindo em Washington. Faz-se um breve silêncio até eu perceber que ela está esperando uma resposta. — São negócios, não lazer, Annie. A Wendy, por favor — digo, com um grunhido mal disfarçado. — Sim, claro, agora mesmo. Por fim o telefone começa a tocar. — Olá, chefe. A que devo este grande prazer? — Está na frente do computador? — Essa é a pergunta mais idiota que eu ouvi o dia todo. — Seu tom é de brincadeira, mas não estou no clima.

— Sem gracinhas. Eu preciso que você investigue a PB Insumos e me diga quem é o dono e o que eles fazem. — PB Insumos, entendi. — Posso ouvi-la digitar descontroladamente ao fundo. — Parece um laboratório de pesquisas médicas. Que coisa estranha... — O quê? — Alguns nomes que você me fez pesquisar da Pure Beauty Farmacêutica aparecem aqui também. Alguns membros do conselho são os mesmos. Ah, merda... Não pode ser. — O quê? — Enquanto pesquiso, estou levantando algumas informações mais profundas. Do tipo que não se deveria obter, sabe, mas eu consigo porque sou fod... — Wendy, por favor, diga o que você encontrou. — Solto um suspiro exasperado e esfrego a testa. Minha cabeça está começando a doer. — Vivica Preston é esposa de Jeffrey Preston, CEO da PB Insumos. Pelo que estou vendo nas finanças, diretoria e investidores deles, parece que a Pure Beauty Farmacêutica e a PB Insumos estão juntas em tudo. Mas, que chocante, tudo muito discreto. Não há menções públicas dos dois juntos, e o casal nunca é visto nos mesmos eventos. — Por que será? — Não sei, mas o meu “podrômetro” está tocando alto. Eu preciso ir mais fundo na minha caça ilegal, a lugares que você nem acreditaria que existem. Eu sorrio. — Não faça parecer sórdido. — Essa merda é sórdida. Tudo incestuoso e... Ah, merda. Não! Cara... — Wendy hesita. — O quê? — O USDA intimou a PB Insumos várias vezes. — O que é USDA? — Penso em algumas possibilidades para o acrônimo, sem sucesso. — Departamento de Agricultura dos Estados Unidos. — Ah, certo. Que relação isso tem com o resto?

— A PB foi intimada por violações ao Decreto de Bem-Estar Animal. Sinto meu estômago revirar ainda mais. O café que acabei de tomar parece uma poça de ácido em minhas entranhas. — Há uma lista dessas intimações? — Sim, e a coisa é feia. Bem feia. Merda grande. Eles fizeram cachorros engolirem batom para ver o que acontecia interna e externamente, para poder dizer se é seguro para crianças caso comam o produto por acidente. Literalmente despejaram garrafas de esmalte nos pelos de animais para ver o que acontecia quando o lambessem e ingerissem. — Caralho! — rosno ao telefone, e meu coração bate ferozmente. — Meu Deus, toneladas de animais mortos foram encontrados jogados em uma caçamba de plástico, um em cima do outro, com dezenas de metros de profundidade. A última intimação foi porque a garganta dos animais fechou quando os cientistas injetaram na boca dos bichinhos a fórmula que estavam testando para preenchimento labial, mas o negócio adquiriu consistência de cola quando juntou com a saliva, e todos eles morreram asfixiados... Parece que demorou um tempo para acertarem a química do preenchimento. — Meu Deus, Wendy — digo e cubro a boca. — Nossa, Park. Eles foram citados uma vez por deixar os animais trancados em gaiolas minúsculas o fim de semana inteiro, sem comida nem água. — Ela ofega. O ácido gástrico começa a subir pela minha garganta. Mal consigo controlar a vontade de vomitar. — Wendy... — Coitadinhos. Outra intimação foi por um acidente em que um membro da equipe trancou gatinhos recém-nascidos em um freezer, e eles morreram congelados. Tinham uma semana de vida. Ao imaginar isso, não aguento mais. Corro para a cozinha e vomito na lixeira. Kendra vem atrás de mim e passa a mão nas minhas costas. — Calma, Park. — Ela me chama como chamava antigamente e sai da cozinha. Volta com passos rápidos e uma toalha molhada, que coloca em minha nuca. Aperto o telefone na mão enquanto o resto do meu almoço e do café da tarde abandona meu estômago. Kendra pega o telefone.

— Wendy? É a Kendra. O que aconteceu? Ignoro a conversa delas para me concentrar na respiração e aplacar meu estômago agora vazio. Limpo a boca com o pano úmido, lavo as mãos na pia e bebo um pouco de água gelada. Minha garganta está raspando, como se eu tivesse engolido lâminas de barbear. Depois de aplacar a sede, amarro o saco de lixo. Vou ligar para o serviço de limpeza para que o levem daqui. Kendra volta com os olhos brilhando de ódio e fúria. — Entendi, garota, e estou cuidando disso — diz ao telefone. — Ãhã. Eu vou cuidar dele. Sim, peço para ele falar com você mais tarde. Obrigada. — Ela encerra a ligação e deixa meu celular no balcão. — Parece que a Pure Beauty está mesmo ligada à PB Insumos, e, depois de ver você vomitando e ouvir a Wendy pirar no telefone, vamos precisar de uma nova abordagem neste caso. — De jeito nenhum nós vamos ajudá-los a tornar mais fácil ferir animais ou humanos. — Você está disposto a perder meio milhão com essa decisão? — ela pergunta, à queima-roupa. — Não, não estou. Mas, mais importante que isso, não estou disposto a perder a minha alma por meio milhão também. Os lábios de Kendra se contraem, formando um pequeno sorriso. — Parece que nós precisamos começar a trabalhar. — Como? — Provando que a consultoria para a Pure Beauty vai contra a nossa reputação e os nossos princípios. Parece que vamos precisar daquela cláusula de rescisão. Abro um sorriso largo. — Contratar você foi uma ótima decisão. — Agora você só tem que convencer os seus sócios disso — ela diz, inclinando a cabeça e sorrindo. — Fazendo o que você vai fazer, vai facilitar muito. A International Guy não vende a alma ao diabo por nada. Não aceita a morte de animais inocentes por um monte de dinheiro. — Eu sabia que tinha feito a escolha certa, Parker. Mesmo com o passado mostrando a sua cara feia, algo lá no fundo me dizia que era na International Guy que eu deveria estar. Você acabou de me confirmar isso.

— O que você está sentindo, Kendra, é recíproco. — Bom, Parker, muito legal, mas nós ainda temos um problema. Acabar com eles vai nos levar a tomar algumas decisões morais acima da ética nos negócios. Você está preparado para mergulhar nesse mar de lama e arriscar o futuro da IG? Tudo que nós vamos fazer e divulgar vai estar no fio da navalha da conduta ética profissional. Legalmente nós podemos ser processados por dividir com terceiros o que descobrimos sobre a Pure Beauty. — Você está dizendo que não há nada que possamos fazer para consertar essa situação? Ela sacode a cabeça. — Não, não é isso que estou dizendo. Vamos fazer o que pudermos para atenuar qualquer efeito colateral, mas precisamos estar preparados. — Vamos ser inteligentes e reduzir os riscos o máximo possível. Na vida, escolher o caminho da moral é o que permite dormir à noite. Eu simplesmente quero dormir tranquilo. E não posso fazer isso sabendo que o lado sombrio da humanidade está ganhando. Se existe chantagem e crueldade extrema contra animais, alguma coisa tem que ser feita. Alguém tem que se posicionar. A International Guy nunca vai ser nada se não dermos o exemplo.

6

— Cara, isso vai além da crueldade. Eu entendo que remédios precisam ser testados de alguma maneira, mas nós estamos falando de beleza, de uma vontade, não de uma necessidade. E o que eles estão fazendo é errado. Completamente zoado. — A voz profunda de Royce invade o quarto pelo viva-voz. É tarde, bem depois do meu surto, e estou andando pela suíte conversando com meus irmãos. Li as intermináveis informações condenatórias que Wendy me mandou depois que eu abracei a lixeira da cozinha. — Eu não quero ganhar dinheiro à custa dos animais — Bo insiste. — Se fosse para isso, eu seria um caubói e no mínimo teria um time de vaqueiras para cavalgar depois de longos dias de trabalho na fazenda. Prefiro montar minha motocicleta a um cavalo, portanto nem pensar — ele diz. Seu humor habitual felizmente alivia minha ansiedade com a situação em que nos metemos. Esta é a primeira vez que somos contratados para um caso no qual nenhum de nós quer prosseguir. Nunca deixamos de cumprir a promessa de dar ao cliente o que ele necessita. Só que essa merda que eles querem que façamos vai contra tudo em que acreditamos. Não dá para fazer vista grossa. Ainda assim, essa cliente pode destruir o negócio que criamos, e vamos fazer qualquer coisa para garantir que isso não aconteça. Esfrego as têmporas. — Gente, esses figurões da indústria... Ir contra eles pode prejudicar a IG, e bastante. Nós temos que ser espertos, provar que as senadoras não vão ser influenciadas e encontrar uma maneira de sair sem nos queimar. A Kendra já está estudando a melhor maneira de tecer a nossa rescisão. Graças ao bom Cristo ela colocou essa cláusula no contrato. É o que vai salvar a nossa pele.

— Parker, eu não fico muito confortável simplesmente nos afastando disso. Eles vão encontrar alguém para intimidar, além de outras maneiras de queimar essas duas senadoras. Eles entregaram a vocês tudo o que têm sobre elas? — Bo pergunta. — Sim. — Suspiro longa e profundamente, deixando todo o ar sair dos pulmões. — A senadora Birchill fez um aborto aos dezesseis anos. Isso estava escondido nos registros dela, mas eles encontraram. Ela é republicana, e sua postura sobre essa questão em particular tem sido pró-vida. Aos olhos do partido, isso faria dela uma hipócrita e mentirosa. Poderia facilmente arruiná-la. — Jesus! Eles vão divulgar as informações — Royce acrescenta. — Sim. — E a outra, a democrata de Illinois? — ele pergunta. — Quanto a esta, eles são meio vagos no que diz respeito a informações que poderiam arruinar sua reputação. A senadora tem uma irmã em uma clínica de reabilitação para usuários de drogas. Várias passagens. A plataforma dela é ser rigorosa em leis contra as drogas. Ela pode dizer que é por isso que é tão firme, mas isso vai contra o fato de que ela depôs a favor da irmã na terceira audiência no tribunal. A irmã foi pega com uma bolsa cheia de drogas, o suficiente para a promotoria querer acusá-la de tráfico. A juíza era amiga da senadora Portorino e conseguiu arranjar um jeito de diminuir a pena. Isso permitiu que a irmã fosse liberada para reabilitação uma última vez e não presa, que é o que deveria ter acontecido. — Então a juíza pegou leve com a irmã da Portorino, e isso é exatamente o oposto do que ela propõe para outros perpetradores na mesma situação — Bo conclui. — Exato — concordo. — Política é uma merda — ele resmunga. — Um monte de fofocas, e são todos uns mentirosos e hipócritas. Não dá para confiar em ninguém para proteger os cidadãos. — Pois é, irmão. Roy, você comentou que não gostou da ideia de deixar que eles se safem. O que você sugere que a gente faça que não nos prejudique? Ele suspira pesado do outro lado da linha.

— Estou pensando em você falar com essas senadoras, explicar um pouco mais sobre o que está acontecendo e usar os contatos da Kendra em Washington para divulgar que a PB Insumos está vinculada à Pure Beauty Farmacêutica e o que isso significa para o projeto de lei. Uma lâmpada se apaga. — Kendra! — chamo, saindo do meu quarto. Ela abre a porta, vestida com roupa de ginástica. — Pode vir aqui, por favor? Ela se aproxima. Sua roupa mostra um corpo tonificado e uma bunda maravilhosa. Caramba, eu sabia que ela tinha um belo portamalas quando estávamos na faculdade, mas não era tão empinado e redondo. Suas formas de menina agora são de mulher. O top deixa entrever alguns centímetros do abdome duro. Acho até que tem tanquinho. Royce estaria babando agora, se estivesse aqui. Desvio os olhos de seu corpo quando ela passa por minha porta com as mãos na cintura e o maxilar tenso. — Berrou? Sorrio e balanço a cabeça com o humor que seu comentário merece. — Você conhece pessoalmente alguns senadores? Ela anui. — Sim, eu tenho alguns bons amigos no Congresso. Por quê? — Bom, eu falei com os caras sobre a conversa que você e eu tivemos. Eles não gostaram da ideia de a Pure Beauty se safar dessa história de torturar animais e essas duas senadoras por causa de assuntos pessoais, e concordaram em correr alguns riscos bem calculados. Nós precisamos jogar a merda no ventilador e espalhar essas informações por Washington inteira. Ela franze a testa. — Como discutimos anteriormente, Parker, nós temos um acordo de confidencialidade estrito com a Pure Beauty Farmacêutica. Precisamos ter cuidado ao quebrá-lo, pois eles podem processar a International Guy e tirar tudo de nós. — Puta merda. — Passo a mão pelo cabelo. Os cachos em cima estão mais prevalentes que o normal. Kendra tamborila com os dedos no queixo.

— Mas isso não significa que não possamos falar sobre a PB Insumos. Não há nada no contrato relativo ao que descobrimos sobre eles e sobre quem são os clientes deles. Só precisamos ter cuidado com a forma como vamos divulgar as informações. Se a pessoa com quem falarmos tirar conclusões sozinha sobre a conexão entre a PB Insumos e a Pure Beauty, isso já não é conosco. Sorrio para Kendra. — Você é brilhante. — É verdade — ela afirma, impassível. Mas posso ver seus olhos brilhando de alegria. — Brilhantismo de Kendra à parte, como é que nós vamos esconder essas informações da Pure Beauty? — Roy pergunta. — Deixe que eu cuido dessa parte — ela pede. — Não há razão para eu não almoçar ou jantar com velhos amigos enquanto trabalho em Washington. Às vezes, a melhor maneira de esconder informações é deixá-las ao ar livre para que todos vejam. — Mais brilho — sorrio. — Obrigada. Agora, se vocês acabaram, eu vou fazer a minha corrida. Volto a tempo de jantarmos. Vamos ver se conseguimos encontrar a senadora Birchill hoje à noite. — Legal. Pessoal, vamos manter contato. — Fique bem, irmão — Ro se despede. — Fique na paz. — Royce também desliga. — Boa corrida, Kendra. Eu vou passar um tempinho analisando esses documentos e talvez ligue para a Skyler. Ela sorri. — Faça isso. Traje casual hoje à noite. A senadora Birchill é uma mulher pé no chão. Faço uma careta. — Eu lembro do terninho marrom desajeitado. Imaginei que provavelmente o estilo dela fosse mais jeans e botas. — É isso aí. Até mais. — Kendra acena por cima do ombro enquanto se dirige para a porta. Quando ela sai, apanho o celular e ligo para Skyler, torcendo para pegá-la em um bom momento. Toca algumas vezes antes de um homem atender. — Celular da Skyzinha! — uma voz jovial diz.

Fecho os olhos, aperto o alto do nariz e solto a respiração que estava segurando enquanto esperava ouvir a voz da minha garota. Esse cara não é dono da voz calmante e sensual que eu esperava ouvir. Caramba, eu nunca quero ouvir outro homem atendendo o telefone da minha mulher, a menos que seja Nate e que tenha uma boa razão para isso. — Rick, é o Parker. Por que você atendeu o telefone da minha namorada? — Caaaaaaara! — ele arrasta a palavra, como se tivesse uma dúzia de As. — Legal falar com você. Estou repassando as falas com a sua garota. Não é demais? Vamos trabalhar juntos, tipo, para sempre! Estou superfeliz com isso, cara! Você e eu vamos ser ótimos amigos! Ótimos amigos. Com o Rick Babaca? Improvável. — Que bacana, Rick. Ela está aí? — Claro — ele diz com exuberância, mas não passa o telefone para Skyler. — Posso falar com ela? Reviro os olhos e tento não deixar transparecer a irritação. — Ela está no banheiro, mas volta logo. A menos que esteja fazendo o número dois. Mãe do céu. Esse cara só deve conseguir papéis por ficar bem diante das câmeras sem camisa, porque é burro como uma porta. E tenho certeza de que, com o talento e a experiência da minha mulher, ela é capaz de fazer qualquer ator se sair bem. — Isso foi... Não vou nem dizer o que isso foi. Diga para ela me ligar quando tiver um tempinho. — Não, cara, eu quero falar com você. Quero te dizer como sou grato pelas dicas que você me deu. Foram excelentes, e o filme arrasou por causa delas. Além disso, vão ajudar muito quando a Sky e eu tivermos que fazer cenas sensuais no futuro. Na Trilogia Classe A, a coisa vai esquentar entre a gente, cara. Eu tenho que saber que o namorado dela encara isso numa boa. Encarar numa boa? O Rick Babaca pondo as mãos e a boca por todo o corpo da minha mulher? Absolutamente não, porra. Aperto os dentes e respiro pelo nariz, como um touro irritado. — Vou tentar... levar numa boa.

— Maravilha, cara. Estou procurando um lugar por aqui. O apartamento da Skyler é foda! Ela disse que talvez possa passar o contrato para mim pelos próximos meses, quando eu me mudar para cá e começarem as filmagens. Ela comentou que vai procurar um lugar maior. Vocês vão morar juntos? Essa é a pergunta de um milhão de dólares, que ainda não nos fizemos. Por que raio ela está pensando em procurar um lugar maior? Ela é uma pessoa só, não faz sentido. A menos que, como Rick disse, esteja planejando morarmos juntos. Penso em todas aquelas roupas novas para mim penduradas no closet dela, seu desejo de que eu me sinta em casa no seu espaço. Nós dormimos juntos todas as noites quando estamos em Boston, seja no apartamento dela ou no meu. Caralho. Já estamos morando juntos sem formalizar a coisa? Merda. Minha mente alucina com imagens de nós dois fazendo de uma casa o nosso lar. Dela e meu. Juntos. Nunca morei com uma mulher, nem nunca quis. Até este momento. Preciso falar com Sky sobre isso, ver o que ela está pensando e sentindo. Cada vez mais me convenço de que essa mulher é perfeita para mim. Relação duradoura, cerquinha branca, animais de estimação. Pacote completo. Afastando esses pensamentos, me concentro na ligação. — Que bom que eu ajudei, Rick. Por favor, diga para a Sky me ligar. — Ela está aqui. Acho que foi só o número um. Ei, Skyzinha, é o seu namorado. Estávamos trocando uma ideia, coisa de camaradas. Eu me encolho e sacudo a cabeça. Esse sujeito precisa muito instalar um filtro entre o cérebro e a boca. Ouço alguns ruídos e então nada além da voz sensual da minha namorada doce e sexy, o que imediatamente me deixa feliz. — Oi, meu bem... — Meu pêssego — digo com a voz rouca e me dou conta de que meu tom está carregado de desejo só de ouvi-la falar do outro lado da linha.

— Já estou com saudade, e você acabou de viajar. Será que isso é uma desvantagem de morar em Boston? — Tem alguma desvantagem? — pergunto e sorrio. Ela ri levemente, e soa como música em meus ouvidos. — Imagino que você deve sentir falta do burburinho de Nova York. Morou lá nos últimos anos, tem seus amigos... — digo. A risada de Skyler enche meus ouvidos. — Meu bem, a única amiga que eu tenho em Nova York é a Tracey. Claro, quando eu contar que estou planejando me mudar para cá definitivamente, ela vai pirar, mas é assim com os melhores amigos. No fim ela vai ficar feliz por mim. Definitivamente. Relação duradoura. Essa ideia de novo. — Então seus planos vão além da série Classe A — sondo. A ansiedade sobe pela minha coluna e se aloja no lugar onde ficam minhas inseguranças. — Você não... hum... planejava me ter por perto por mais tempo? — ela pergunta, com a voz levemente trêmula. Dá para ver que Skyler está tentando ser durona e agir como se para ela fosse indiferente eu a querer em Boston para sempre ou não. — Humm, bom, acho que depende de onde eu vou estar. Se eu estiver na cama ao seu lado e essa cama estiver em Boston, provavelmente vou ser o homem mais feliz do mundo. O que você pensa sobre gatos ou cachorros? — Em que sentido? — ela pergunta, confusa. — No sentido de ter um. Eu conheci um gato legal chamado Spartacus em Montreal e gostei dele. Sempre achei que tivesse mais afinidade com cachorros, até conhecer aquele gato. Agora estou aberto a qualquer um... ou ambos. Especialmente tendo você comigo nos próximos anos. Isso limitaria a quantidade de vezes que precisaríamos de pet sitter, ou de viajar com os nossos bichinhos. — Nossos bichinhos? — Ela eleva a voz. Sorrio, pensando em minha doce garota com um gato amarelo gordo no colo e um cachorro a seus pés quando chego do trabalho. Felicidade pura.

— Nós vamos ter animais de estimação juntos, gato? — Sky brinca. — Não sei. O que você acha? Eu tenho pensado em adotar um animal de estimação desde Montreal, e não consigo tirar da cabeça a imagem de você passeando com um amigo peludo. — Sei. E nessa imagem nós moramos na mesma casa pelo bem dos animais? Mordo o lábio, pensando se não deveríamos ter essa conversa pessoalmente. É um grande passo. Enorme. Mas ela está pronta para discutir o assunto, e não consigo encontrar uma razão para não pôr isso em prática. — Talvez. Você gostaria? — Parker, você está sugerindo que a gente vá morar junto e arrume um cachorro e um gato? — Skyler ri levemente. Estou? Sim, estou. Merda. Caralho. A bomba caiu. — O que você diria se eu estivesse? — sondo. Tenho receio de talvez estar sugerindo isso muito subitamente e de ela não ter pensado em morarmos juntos. Talvez eu tenha interpretado mal o fato de ela ter se mudado para Boston e me comprado um guarda-roupa novo. Talvez ela só estivesse sendo atenciosa, e não demonstrando qual é minha posição em sua vida. — Eu diria: estou dentro, meu bem! Ando morrendo de vontade de começar a ver casas para comprar aqui em Boston, mas não tinha certeza se você queria dar o próximo passo. Parker, eu quero fazer a minha vida aqui, me estabelecer, comprar uma casa. Uma casa de verdade, com jardim na frente e uma varanda, como a dos seus avós. Você está pronto para isso? Lambo a frente dos dentes e medito por alguns momentos. — Eu nunca quis isso com outra mulher. Mas, com você, quero tudo. Engulo o medo e a ansiedade que fecham minha garganta. Gotas de suor cobrem minha testa quando cai a ficha. Skyler e eu morando na mesma casa. Comprando uma juntos. É um

compromisso imenso, um passo antes do casamento. E, pela primeira vez, a ideia de me casar depois de Kayla não me faz querer sair correndo. — De verdade? — Sua voz tem tanta empolgação e alegria que desfaz o medo que pressionava meu peito. Isso está certo. Skyler e eu. — Sim, baby, de verdade. Sky, eu quero estar com você o máximo possível. Quando estou em casa, quero me deitar ao seu lado. São os seus lábios que eu quero beijar antes de dormir. É o seu rosto que eu quero ver todas as manhãs quando acordar. E, se você acrescentar um gato ou um cachorro, ou ambos, o que você quiser, eu adoraria. — Meu bem... — Ela parece ofegante. — Diga. Ela começa falando como um sussurro e vai aumentando o volume: — Eu também quero tudo isso. E quero um gato grande e gordo e um cachorro gigante. Se pegarmos os dois ainda filhotes, eles vão crescer juntos e vão se amar. Seria perfeito! Vai ser perfeito. — Então está resolvido — digo. — O quê? — Vamos adotar um gato e um cachorro. E comprar uma casa. Juntos. — Ai, meu Deus! — ela grita. — Só para ter certeza de que eu entendi: quando você voltar de Washington, nós vamos procurar uma casa para comprar juntos. Eu e você. Porque vamos oficialmente morar juntos. — Caramba... — Esfrego a nuca. — Sim, meu pêssego, nós vamos morar juntos. — Ai. Meu. Deus. Estou tão animada! Eu a imagino saltitando pela cobertura. — Parker! Não vejo a hora de começar a procurar a casa! Vou ligar para a Wendy e o Mick e ver se tem alguma coisa disponível onde eles moram. Fica a vinte minutos da IG, é seguro e simplesmente perfeito! Aposto que podemos até encontrar alguma que tenha uma casa de hóspedes ou algo assim, para a Rachel e o

Nate morarem se quiserem. Senão eles podem ficar no apartamento no prédio da IG. Meu bem... — Parece haver tremor em sua voz, no lugar da sensualidade e animação anteriores. — Sky, que foi? Achei que você estivesse feliz. Franzo a testa e começo a andar de lá para cá de novo. Droga, eu sabia que deveríamos ter tido essa conversa quando eu pudesse abraçá-la, tocá-la, lhe dar a segurança de que ambos precisamos agora. Ela limpa a garganta. — Eu estou feliz. Muito feliz. Nem sei como lidar com tanta felicidade. Vou comprar uma casa com o meu namorado, vou me mudar para Boston de vez. E... — ela funga — e nós vamos ter animais de estimação! Eu nunca tive um animal de estimação por causa do meu trabalho, por viajar muito, e não vejo a hora de viver isso com você. Este... Es-Este é o melhor dia da minha vida. — Sua voz morre em um gemido. — Nossa, como eu queria estar aí com você! Meu pêssego, não exagere, nós temos muito tempo. Que tal você começar a procurar alguns lugares, ter algumas ideias? Lembre-se apenas que o meu fôlego é menor que o seu. Nós precisamos encontrar uma casa que os dois possam bancar. — Humm, bom, eu olhei os preços das casas na área do Mick e da Wendy quando fomos lá pela primeira vez, e é tudo bem caro. Não está fora da minha faixa de preço, e, claro, eu vou vender a cobertura de Nova York. Preciso ter certeza de que o que quer que a gente compre seja na área mais segura. Você não devia se preocupar com isso, e eu também preciso garantir que a Rachel e o Nate tenham um lugar e... Uma pressão desconfortável nas minhas bolas me faz perder a capacidade de falar. Por um lado, há uma voz em minha cabeça falando alto, dizendo que preciso ser o provedor, pagar nossa casa e bater no peito como o homem das cavernas que sou. Mas outra voz, muito mais suave, me faz recordar que minha namorada, a mulher com quem eu vou viver, tem necessidades sérias de segurança que precisam ser atendidas. Com essas medidas não podemos economizar, por mais que eu queira prover tudo para ela.

Mas preciso deixar que ela encontre o que necessita e contribuir da maneira mais apropriada. — Por que você não olha alguns lugares, por enquanto? Com algumas ideias em mente, nós conversamos depois. Não vou forçar você a baixar o seu padrão de conforto ou luxo por mim, mas quero fazer uma boa contribuição, entende? — Sim, meu bem, entendo perfeitamente! — A alegria volta a seu tom de voz. — E eu te amo. Adoro o fato de nós estarmos indo em direção ao futuro e de que vamos comprar uma casa juntos. Isso é mais do que eu poderia sonhar. Você está me dando tudo que eu poderia desejar da vida. Amor, uma casa... uma família de novo. — As fungadas voltam, mas dá para perceber que ela está tentando se conter. — Sky, eu sinto o mesmo. Eu quero uma casa onde possamos nos estabelecer por um longo tempo, se não para sempre, com nossos animais de estimação, e um dia, talvez, até nossos filhos. Ela ofega. — Filhos. Ah, meu... — Você vai querer ter filhos comigo um dia, né? Meu coração começa a bater forte. Não acredito que estamos falando em casa e filhos. Skyler me fez mudar muito mais do que eu poderia imaginar. Antes dela, havia só minha vida de playboy e um mar infinito de mulheres à minha disposição. Não que eu tenha pegado todas, mas, mesmo assim, as opções estavam ali. Essa porta está fechada agora, e não há mais nada que eu queira da vida além de montar uma casa com ela. — Claro que eu quero. Mais que tudo. — Suas palavras estão cheias de emoção e um pouco de espanto. — Tudo bem. Um passo de cada vez, certo? — Sim. Um passo de cada vez, meu bem. Uma casa e animais de estimação. — Isso mesmo, meu pêssego. Uma casa e animais de estimação. — É o início mais perfeito de todos os tempos, Parker. — Ainda há espanto em sua voz. Eu gostaria de poder prová-lo com a língua, beijá-la até ficarmos sem fôlego, selar esse acordo da maneira correta. Abro um sorriso largo por saber que estamos em sintonia.

— Bom, agora que já decidimos, eu posso saber por que o Rick atendeu o seu telefone? Ela geme. — Aff... Ele tem problemas com limites. Ele me vê como uma irmã, disse que nós vamos ser melhores amigos e que você e ele vão ser como irmãos quando ele mudar para cá. Está até falando em trazer a namorada. Namorada é a palavra mágica do dia, depois de relação duradoura. — Namorada? Sky ri. — Eu sabia que você ia gostar de saber. Sim, ele tem namorada. Parece que é uma garota legal que está com ele há um ano, mas totalmente fora do radar do público. Só os amigos mais íntimos conhecem. Eles são bem discretos, e acho que vão se casar. — É mesmo? Isso me faz dar um sorriso enorme. Rick Babaca acorrentado... Essa é uma ideia legal. — Sim. Mas ela é religiosa. Eles não transam — ela sussurra. Suas palavras saem abafadas, como se ela estivesse cobrindo o bocal do telefone com a mão. Franzo a testa. — Como é que é? — Isso mesmo. O Rick disse que as bolas dele vão explodir, mas ele está apaixonado por ela e respeita a decisão da moça de esperar até o casamento. — Por isso a pressa de se casar, imagino. — É o que eu acho. Mas acho bonitinho que ele esteja disposto a esperar. Você esperaria por mim? Não meter fundo em Skyler Paige por meses a fio? — De jeito nenhum! Eu esperei demais. — Você esperou dois dias. Isso não é nada. — Uma eternidade. Cada minuto de espera para estar com você intimamente é como esperar um ano inteiro. — Você é um porco — ela brinca. — Oinc, oinc.

Rio alto, e o som ricocheteia nas paredes, me fazendo sentir menos sozinho. Caramba, que saudade dela. Sky ri comigo. — Estou brincando, meu bem. Você sabe que eu quis transar com você na noite em que nos conhecemos. Eu vi seu corpo alto e forte, seus olhos azuis, seu cabelo grosso e fiquei perdida naquela primeira noite. Só queria grudar a boca na sua e enlouquecer. — Foi o que nós fizemos, né? — Sim — ela sussurra timidamente. — E agora vamos morar juntos e ter filhos peludos. Alguma raça especial? — Acho que eu gostaria de um gato amarelo — sugiro, pensando mais uma vez em Spartacus, o felino simpático. — Você tem alguma queda por ruivas que eu deva saber? — ela provoca. Sorrio. — Só peludas, baby. — E cachorro? — De qual você gostaria? — Pensei em um golden retriever. — Ela fala de um jeito que dá para ver que já tinha pensado nisso bem antes dessa conversa. — Você tem uma queda por loiros? — retruco. Ela continua me provocando: — Talvez... — Então está resolvido. Vamos ter um gato amarelo e um golden retriever. — Oba! Vou começar a procurar abrigos de animais imediatamente! Óbvio que a minha mulher está planejando adotar. Essa é ela. — Ótimo, então. Vamos salvar um animal. — O que me faz lembrar o caso em que estamos trabalhando e as preocupações que temos em relação à Pure Beauty. — Comece a sua busca — acrescento — e não ensaie nenhuma cena de sexo ou beijos com o Rick Babaca enquanto eu estiver fora. — Meu bem, nós geralmente não ensaiamos isso. Guardamos esse tipo de coisa para ensaios ao vivo no set. Não tem por que eu encostar a boca na dele sem necessidade — ela diz, fingindo ter ânsia.

Isso me faz sorrir como louco. — Essa boca é toda minha. — Sim. — Não se esqueça disso. — Não esqueço. — Preciso ir — digo. — Quanto mais cedo eu encerrar esse caso, melhor. Não estou nada satisfeito com ele. — Quer falar sobre isso depois? — Não. Só quando eu voltar para casa. Não há nada com que se preocupar. — Tudo bem, baby. Eu te mando fotos do que encontrar. — Eu adoraria. E, meu pêssego... — Sim... — ela diz, com um timbre ofegante que vai direto para o meu pau. — Não vejo a hora de ir morar com você. — Nem eu. Bom descanso. — Para você também. — Te amo! — O som de um beijo penetra minha orelha. Eu rio. — Nunca deixe de fazer isso! — Impossível! — ela diz e desliga. Fico olhando para o celular, giro os ombros e o pescoço e imagino minha garota saltitando pela cobertura, feliz porque vamos morar juntos. Vou ter que reunir os caras logo, beber umas cervejas e contar a boa notícia. Mas acho que eles não vão ficar surpresos.

7

— Senadora Birchill! Eu achei mesmo que era você! — Kendra cumprimenta, com uma exuberância dramática que nunca vi antes. — Srta. Banks? Pensei que você tinha se mudado para os pastos mais verdes de Boston. — A mulher mais velha, de aparência conservadora, baixa seu sanduíche de bacon, alface e tomate. Kendra sorri genuinamente, o que me surpreende. Eu não sabia que ela conhecia a senadora Birchill. — É, mas o trabalho me trouxe de volta a Washington. Não é engraçado? A senadora me surpreende quando dá um tapinha na banqueta vazia ao seu lado e diz: — Bom, por que você e o seu amigo não jantam com esta velha? — É muito gentil da sua parte, senadora — digo e estendo a mão. — Parker Ellis. Prazer em conhecê-la. Ela abre um sorriso largo. As pontas encaracoladas de seu cabelo curto se agitam quando ela balança minha mão para cima e para baixo. — Ora, mas que jovem forte. Kendra, parece que você fisgou um dos bons, querida. Kendra ri. — Ele não é meu namorado, Karen. É meu chefe. O olhar castanho da mulher me avalia de cima a baixo. — Que pena. Você merece um homem bonito como o sr. Ellis. Sorrio e aliso minha camiseta. Eu me vesti segundo a sugestão de Kendra: com roupas casuais. — Ora, agradeço muito e espero que a minha namorada pense o mesmo a meu respeito. — Então levanto uma sobrancelha e dou uma piscadinha para ela. Nós nos sentamos a sua direita; Kendra no meio, eu na ponta.

— Kendra, querida, você sempre foi muito lenta com os homens. Precisa sair mais, deixar para trás a doença que teve e seguir em frente, buscar coisas melhores e... maiores. Tipo um metro e oitenta! — a mulher brinca com bom humor. Kendra ri, mas eu não. Todo o meu humor desaparece quando a ouço dizer que Kendra esteve doente. Bem, fazia muito tempo que não nos víamos, mas o que essa mulher deu a entender foi que Kendra teve uma doença séria, que obviamente afetou sua vida. Isso se as palavras da senadora puderem ser levadas a sério. — Ah, você sabe que eu amo o meu trabalho. Não dá para encaixar um homem na minha carreira. É muita coisa para fazer, casos para ganhar. — Kendra acena com a mão. — Mas chega de falar de mim. Vamos falar sobre o que está acontecendo no Senado agora. Uau, ela é boa. Se bem que poderia ter mencionado o fato de conhecer a senadora Birchill muito melhor do que deixou transparecer. Parece que as duas são amigas. — Ah, só coisa chata. Quero saber mais sobre a sua mudança para Boston. Aquele cara que você namorou no passado ainda está lá? Já se encontraram? Qual era o nome dele? Ray... Ron... Kendra se endireita e tosse. — Não, não, nada disso. A mudança foi a decisão certa por causa da minha família, você sabe. Quero explorar a deixa que a senadora acabou de me dar. — Acho que o nome dele é Royce, senadora. A mulher bate no balcão e aponta para mim. — Roy... Royce! Sim, isso mesmo. Quando nos conhecemos, ela era uma jovem meiga, voltando com “tudo limpo” depois do último período no hospital. Lembro que ela era louca por um negro grandão que havia deixado em Boston. Kendra pousa a mão no braço da senadora. — Karen, o Parker e o Royce são amigos. Nós trabalhamos juntos agora. Podemos não falar nisso? Por favor. — Seu tom é direto, mas tem uma pontinha de súplica. Os olhos de Karen praticamente saltam das órbitas. — Ah, meu Deus. Eu não quis te constranger, querida. Desculpe — diz, dando um tapinha na mão de Kendra de um jeito maternal.

Meu sexto sentido se aguça ao ver o gesto. A senadora Birchill é muito mais que uma conhecida de Kendra. Ela gosta dessa mulher. O que significa que Kendra não foi completamente honesta. Ao que parece, ela não foi completamente honesta sobre muitas coisas. Sinto um arrepio e aperto os dentes. Kendra foca o olhar castanhoesverdeado em mim e morde o lábio. Ela fazia isso na faculdade quando estava pensando em algo difícil. — Que curioso termos nos encontrado, senadora. O seu nome apareceu em um caso em que nós estamos trabalhando — digo. Tento levar a conversa para o campo profissional para que possamos acabar logo com isso e voltar ao hotel, onde vou poder cobrar de Kendra o fato de ter escondido seu relacionamento com a senadora. Sem falar no fato de que quando deixou Royce, oito anos atrás, ainda gostava dele. Durante parte desse tempo ela esteve doente, e nenhum de nós soube de nada. Não é exatamente um crime, mas uma mentira por omissão. Fico imaginando se Royce sabia que ela estava doente. Foi por isso que ela foi embora? Qual era a gravidade dessa doença? Muitos pensamentos do passado estão se misturando com o presente. Nenhum deles tecnicamente me envolve, mas qualquer coisa que diga respeito a Royce diz respeito a todos nós. Minha lealdade é para com ele em primeiro lugar. Kendra limpa a garganta. — Sim. Na verdade, nós fomos contratados como consultores para trabalhar com um projeto de lei. É um projeto que está sendo defendido pelo senador Kemper... — Aquele canalha sórdido! Não sei como esse homem consegue dormir à noite. Se está trabalhando com ele, é melhor cair fora depressa, querida. Ele vai acabar com você e nem vai olhar para trás. Esse homem não presta. Só pensa em quanto dinheiro pode enfiar no bolso. E essa Pure Beauty, as coisas que eles querem fazer... Meu Deus, fariam o seu estômago revirar. Cortar todas aquelas árvores, destruir a terra de Deus, para quê? Para que uma mulher rica possa passar mais porcaria no rosto? Qual é o problema de envelhecer com dignidade? De viver com o que Deus nos deu e ser felizes por estarmos vivos, em vez de nos preocupar com quantas rugas temos no rosto? — A expressão da senadora é de

revolta. — Quem decidiu que rugas de sorriso são ruins? Sabe o que é ruim? Fazer preenchimento no rosto, testar esses preenchimentos em animais para que você possa parecer cinco anos mais jovem. Cortar milhares de árvores que dão o ar que sustenta a vida! — Seu rosto está muito vermelho. — Entendo a sua contrariedade — digo, erguendo a mão para chamar sua atenção. — Nós concordamos com você. Completamente. Ela franze o cenho. — Concordam? Então por que estão trabalhando com esses fracassados? — Nós não conhecíamos todos os detalhes do que eles queriam fazer. E agora estamos em uma posição difícil — Kendra acrescenta. — Acontece que o principal cliente da PB Insumos é a Pure Beauty Farmacêutica. A senadora arregala os olhos até ficarem do tamanho de bolas de boliche antes de retorcer os lábios e soltar um grunhido. — Isso não é bom. Eles fazem coisas perigosas com os animais. Vocês têm provas de que eles estão trabalhando juntos? Lambo os lábios e me inclino para a frente. — A CEO da Pure Beauty Farmacêutica e o da PB Insumos são casados. Muitos membros dos conselhos de diretores e investidores das duas empresas são os mesmos. Isso é tudo que podemos dizer sem ser processados. As narinas da senadora se dilatam, e ela aperta os lábios. — Ora, que interessante... Isso muda tudo. Quando os outros senadores souberem quem está apoiando esse projeto de lei, não vão ficar muito felizes. — Infelizmente, segundo o Kemper, o comitê vai aprovar o projeto de lei com os votos do restante do Senado. Somente o seu voto e o de... — Portorino — ela adivinha imediatamente. Assinto. — Vocês não vieram aqui para jantar. — Seu comentário é uma declaração, não uma pergunta. Kendra engole devagar e sacode a cabeça. — Não, Karen, não viemos.

— Entendo. O que eles têm contra mim? — pergunta, tamborilando no balcão como se fosse uma conversa comum. Kendra retorce os dedos no colo. É a primeira vez que a vejo reagir sem seu profissionalismo impecável. Está incomodada, e sua linguagem corporal e a expressão soturna que macula seu lindo rosto demonstram isso. Diante da dor que posso ver em seus olhos, dou o primeiro passo: — Você tomou uma decisão difícil no passado, quando tinha dezesseis anos. Eles sabem disso. — Falo sem rodeios, poupando Kendra da difícil tarefa de ter que admitir que sabemos sobre o aborto de sua amiga. A senadora fecha os olhos e, quando os abre, estão vidrados e desfocados, mas sua expressão está completamente desprovida de emoção. Ela fixa o olhar do outro lado do balcão. Seu cabelo encaracolado cobre a maior parte do rosto, mas posso ver que ela está perdida em lembranças. Quando por fim fala, parece que suas cordas vocais passaram por um ralador: — Eu fui estuprada. Eles se deram o trabalho de ler o boletim de ocorrência? Uma sensação horrível oprime meu peito. Aperto a mão direita, querendo dar um soco na cara daqueles canalhas sujos. Vários socos. Talvez até não conseguirem mais respirar. Como essas pessoas conseguem dormir à noite? Eles certamente sabem por que ela fez o aborto. E usar algo tão horrível contra uma mulher que foi estuprada? Não consigo conter a raiva. Não conheço muitas mulheres, se é que conheço alguma, que topariam criar o bebê de um homem que as estuprou. Seria um lembrete constante, eterno, de um dos piores momentos de sua vida. De jeito nenhum. Além disso, ela era uma menina. Dezesseis anos, uma criança. — Ele me agarrou quando eu saí da biblioteca. Eu usava os livros da biblioteca e fazia os meus trabalhos lá. Ele tinha vinte e cinco anos, viciado em metanfetamina. Me arrastou para os arbustos, me imobilizou com a ponta de uma faca e roubou a minha inocência. E me estrangulou até eu perder a consciência, me largou ali para morrer. Não sei como eu sobrevivi. A bibliotecária me encontrou. Ela

chamou a polícia e uma ambulância e ficou comigo. Só que ele não me deixou só a lembrança da experiência miserável. Ele me engravidou. Fecho os olhos e imagino minha mãe tropeçando com uma adolescente estuprada à beira da morte. Tremo e respiro fundo, tentando conter a raiva que borbulha em minhas veias, que ferve meu sangue, que me faz arder. — A polícia acabou pegando o homem. Prisão perpétua. Mesmo assim, eu não suportaria criar o filho dele. Então fiz um aborto. Como eu era menor, os registros são confidenciais. Naquele dia, eu jurei que nunca mais tiraria uma vida. Jamais, independente do que acontecesse. Mas, no fim, isso causou danos suficientes, porque eu nunca mais deixei um homem se aproximar de mim. Sem filhos, sem marido, optei por viver uma vida solitária. Então entrei para a política. E agora eles querem tirar isso de mim também? É a única coisa que eu tenho nesta vida. Ela sacode a cabeça e bebe algo que parece ser Coca-Cola. — Às vezes eu odeio a política. Outras vezes, eu vivo por ela — acrescenta. Eu me levanto. Não consigo mais ficar sentado. — Hora de ir. Kendra? — digo, apontando para a porta. Ela franze as sobrancelhas e se levanta. — Karen, vamos conversar um pouco mais amanhã. Nós queremos impedir que essas pessoas façam o que pretendem fazer, mas precisamos ter cuidado. Não podemos permitir que as informações se voltem contra nós. A mulher dá um sorriso furioso. — Não se preocupe com isso. Vou mandar o meu sobrinho investigar a empresa assim que acabar de jantar. Ele mesmo vai encontrar a conexão. Acho que os próximos dias vão ser uma tempestade de compartilhamento de informações. Pouso a mão em seu ombro. — Talvez você não queira fazer isso. Eles sabem do seu passado e não se importam de usá-lo. Ela aperta os lábios até formar uma fina linha branca. — O meu passado ficou escondido por tempo suficiente — diz, dando um tapinha na mão que pousei em seu ombro. — Não se

preocupe comigo, filho. Esta velhota sabe se cuidar. Aperto seu ombro e me viro para sair, dando a Kendra um instante em particular para se despedir. Assim que entramos em nosso carro alugado, ataco: — O que é que você estava pensando? Por que não me contou sobre a sua ligação com a senadora antes de nós a abordarmos? As narinas de Kendra se dilatam. Ela vira o corpo para me olhar de frente. — Foi há muito tempo. Eu fui estagiária no escritório dela por seis meses, quando estava me preparando para o exame da Ordem dos Advogados. Ela foi boa comigo... — Obviamente vocês duas têm uma ligação. Não pensou em compartilhar isso comigo? Talvez antes de concordarmos em aceitar esse caso? — digo, com a voz trovejante e firme como um tambor. — Eu não sabia que nós trabalharíamos com ou contra ela. Fiquei tão surpresa quanto você quando a foto dela apareceu na tela na reunião de ontem. Desculpe, Parker, eu não sabia. — Seu tom de voz não é agressivo, o que alivia consideravelmente minha ira. Lambo os lábios e inspiro profundamente. — Você é muito próxima dela, Kendra. Não deveria estar aqui. Seus olhos nos meus são como dois raios laser incandescentes. — Não tenho como voltar atrás agora. Eles vão tentar arruinar alguém de quem eu gosto. Eles trabalham com uma empresa que tortura animais abertamente, e é óbvio que têm bolsos sem fundo e contatos fortes no Capitólio. Senão já estariam fora do circuito. Não vou desistir enquanto não tiver certeza de que esse projeto de lei não vai passar. — Porra! — grito, batendo no volante. Durante dois minutos aperto o volante o mais forte possível, tentando deixar a raiva e a frustração diminuírem para poder dirigir com segurança. Kendra não diz uma palavra. Ou está satisfeita com o silêncio, ou precisa dele para controlar suas emoções agora à mostra. — Do que ela estava falando quando disse que você ficou doente e internada? — pergunto e viro a cabeça para me concentrar em seu rosto e ver o que suas microexpressões me dizem.

Um flash de intensa dor perpassa seu olhar por um instante e logo desaparece. — Parker, o meu passado e a minha vida pessoal não estão abertos a discussão. Eu não pergunto sobre o seu, e espero receber o mesmo respeito. Estreito o olhar. — O seu passado acabou de surgir e nos esfregou na cara uma situação legal que pode destruir a minha empresa. Preciso saber se tem algo mais que possa prejudicar a mim ou aos meus sócios. Ela sacode a cabeça. — Não é verdade. A minha internação e o meu passado com o Royce não têm nada a ver com esse caso. Eu agradeceria se você esquecesse o que ela disse sobre isso. Não é relevante, e, francamente, não quero me aprofundar nisso. Suas palavras são diretas. Por alguns segundos, fico olhando para seu rosto. Formas angulares, maçãs arredondadas, sobrancelhas perfeitamente delineadas, lábios grossos e cheios, queixo e nariz pequenos. Sua beleza é absoluta, o que é parte do motivo pelo qual Royce está tão magoado por ela o ter abandonado há tantos anos. Ela estava doente? Muito doente? Sinto como uma pontada vibrar na base do crânio. É o que eu sinto quando quero saber mais... quando preciso saber mais. Apertando os dentes, decido que vou pedir para Wendy investigar o passado de Kendra. Bem, conhecendo nossa abusada maluca, ela já deve ter feito isso, mas está guardando as informações para si em respeito à nova colega de trabalho. — Tudo bem — minto, uma vez que não há nada que eu não faça para garantir que Royce e a empresa estejam protegidos. Se Kendra tem esqueletos no armário, quero saber quais são e como podem impactar meu irmão ou os negócios. Depois que eu souber o que ela está escondendo, vou decidir se exponho seus segredos ou não. Por enquanto, preciso esfriar a cabeça e focar no caso. Merda, tudo que eu quero agora é ir embora de Washington e voltar para Boston, onde uma loira sexy está procurando filhotes peludos e casas com varanda.

— Obrigada, Parker — ela diz, se recostando no banco e pondo o cinto de segurança. Faço o mesmo e ligo o carro. — Só espero que possamos passar ilesos por este caso e sair com a empresa intacta. — Assim será. Nisso eu aposto a minha carreira. Nós não vamos afundar com o navio deles. Suas palavras são uma promessa à qual me agarro. Preciso confiar nela para ter alguma esperança de sair desse pesadelo político.

Uma batida na porta me faz pular da cama meio instável e ofegante, como se tivesse acabado de correr uma maratona. A porta se abre e Kendra está ali parada. Seu cabelo está molhado, e ela está vestindo uma camiseta enorme de Harvard que chega até os joelhos, mostrando um par de pernas espetaculares. Ela olha para mim da cabeça aos pés. — Nossa, Park, você cresceu. — Sorri, parecendo satisfeita. — Eu sempre soube que você era sarado, mas caramba! — Ela se abana com um jornal dobrado. — Agora eu sei como você conquistou uma estrela de Hollywood. Se eu tivesse isso tudo na minha cama, seguraria firme também. — Ela fica me olhando com a cabeça inclinada, mas não passa pela porta. Ponho as mãos nos quadris, agradecendo a Deus por não estar sonhando com Skyler quando acordei e assim não ostentar uma ereção matinal. Procuro meu jeans no chão, pego-o e visto. — Algum motivo para esse despertar repentino? Ela passa o olhar pelo meu corpo mais uma vez e sacode a cabeça. A seguir, olha para o jornal. — Você não vai acreditar — diz, abrindo o jornal e o estendendo para mim. Eu pego e leio a manchete. REVELADA TRAGÉDIA DA ADOLESCÊNCIA DA SENADORA BIRCHILL

— Puta merda!

Leio a matéria. Está tudo ali. O estupro aos dezesseis anos, a depressão terrível que ela enfrentou depois. Ela conta que engravidou do estuprador e fez a difícil escolha de abortar. A história está tão bem escrita que surgem lágrimas em meus olhos. — Não acredito que ela revelou tudo. — Foi a decisão mais inteligente que ela poderia tomar. — Kendra cruza os braços. — Tomar a ofensiva, ser a primeira a divulgar os próprios segredos do jeito dela, com a voz dela. Agora eles não vão poder usar isso contra a senadora. Ela se dirige à TV e a liga, sintonizando em um dos noticiários matinais. Como esperado, a história da senadora é o destaque. Ficamos ouvindo enquanto o locutor expressa profunda tristeza pelo que ela passou. Mudo de canal até encontrar a senadora Birchill falando. Sua voz é confiante e segura. — É por isso que eu sou a favor da vida agora, mas não critico quem seja a favor da escolha. Eu passei pelo inferno que é abrir mão de um filho devido à depressão e ao estupro. Como ainda era uma criança, fiz o que os meus pais me incentivaram a fazer. Se pudesse decidir de novo, não sei se faria a mesma escolha. Mesmo assim, essa é a razão pela qual hoje eu sou quem sou e estou nesta posição, protegendo outras mulheres que talvez precisem fazer uma escolha semelhante. Quero incentivá-las a escolher a vida, se possível. E essa é a minha postura — declara a senadora, enfática, parada diante do que parece ser um pódio. — Porra, ela trabalha rápido — sussurro. — Nesse negócio, é preciso ser assim. Com sorte, as notícias de hoje estão no lixo amanhã. É melhor divulgá-las ao público e seguir em frente o mais rápido possível. E veja as reações. O público aceitou bem. Estão dizendo que ela é muito decidida e uma heroína por revelar o próprio passado. Surpreendente... — Kendra sacode a cabeça. — É o que parece. Meu palpite é que agora ela pode falar o que quiser sobre a Pure Beauty, uma vez que a bomba já explodiu. Kendra sorri. Meu celular toca, eu o pego na mesinha de cabeceira e vejo o prefixo de Washington. — Parker Ellis.

— Sr. Ellis, é Vivica Preston. Tenho certeza de que viu o noticiário desta manhã. — Sim, eu vi. Estava agora mesmo discutindo o assunto com a minha advogada. — Isso estraga nosso plano para forçar a senadora a votar a nosso favor. Até que possamos encontrar outra coisa contra a senadora Birchill, trabalhe com Portorino. Sinto um tremor percorrer meu corpo. Aperto os dentes e tento segurar um rosnado. — Isso definitivamente torna o nosso trabalho quase impossível. — Deixo clara a possibilidade de fracasso da nossa parte, para nos ajudar depois, quando formos rescindir o contrato. — Sim, nós entendemos. Trabalhe com Portorino. Precisamos do apoio dela. Vamos analisar os outros senadores para ver quem mais pode ter algo que possamos usar. Eu entro em contato — ela diz rapidamente e desliga sem mais uma palavra. Apago a TV e gemo alto, apertando os punhos nas laterais do corpo. — Não quero trabalhar com essas pessoas. Elas me dão nojo. Kendra anui. — Estou traçando o nosso plano de difusão de informações. Hoje nós vamos encontrar mais quatro amigos meus do Capitólio. Vamos falar sobre a PB Insumos e a conexão com a indústria de cosméticos. O que precisamos fazer, no entanto, é conseguir mais informações sobre a PB Insumos. Onde é a empresa? O que mais podemos descobrir? — Você está sugerindo visitar o laboratório? Ela sorri. — Não. Eu quero que o Bo vá até lá. Antigamente ele era muito bom para invadir lugares. — E mexe as sobrancelhas, como se soubesse de algo que eu não sei. Ergo as sobrancelhas. — A minha advogada está sugerindo que nós violemos a lei? Ela sorri. — Só um pouquinho, e só se ele realmente achar que pode conseguir algumas fotos contundentes como prova do que eles fazem com os animais.

A invasão do laboratório não vai acontecer. De jeito nenhum. Mas surge outra ideia em minha mente, como um tiro no escuro. — Eu tenho uma ideia melhor. — Pego o telefone e digito um número. — Oi, chefe. Que desejos a minha magia tecnológica pode lhe conceder hoje? — Wendy diz e ri da própria piada. Sorrio. — Preciso que você hackeie um pouco. Coisa de detetive. — Ahhh, eu gosto quando você fala assim comigo. Não vou contar nada para o Mick — Sua voz é baixa, conspiratória. — Do que você precisa? Reviro os olhos e paro diante da janela, olhando a cidade de cima. — Hackeie a PB Insumos e descubra se eles têm vagas de emprego abertas. Depois eu preciso que você coloque o Bo em um avião e o faça entrar na empresa como um funcionário novo o mais rápido possível. Ouço seus dedos batendo no teclado ao fundo. Depois de alguns instantes, quebro o silêncio: — Você consegue fazer isso? — Pffff, brincadeira de criança. Da próxima vez, me peça para entrar no sistema do Departamento de Defesa e arranjar um emprego para ele, aí sim vamos falar de dificuldade — ela diz e gargalha. — Olha, eles têm uma vaga de faxineiro e outra de assistente de laboratório. Por favor, me deixe forçar o Bo a limpar banheiros! — Sua voz é alta, e a alegria é desenfreada. — Eu ganharia o ano todo com isso, Parker, por favor! Prometo não pedir mais nada o ano todo! Juro! Juro pela minha vida! Essa parte faz meu sorriso desaparecer, ao me lembrar de sua passagem recente pelo hospital por causa de um sério ferimento a bala. — Não diga isso, abusada. Ela geme ao telefone. — Desculpa. Mas, sério, posso colocá-lo como faxineiro? — Nós precisamos dele no laboratório... — Que foi? — Kendra pergunta por cima do meu ombro.

— A Wendy encontrou vagas de faxineiro e de assistente de laboratório na PB Insumos. — Faxineiro — ela diz, categórica. Franzo a testa. Ouço o grito de Wendy e afasto o celular da orelha. — Por que faxineiro? Não seria melhor o Bo se infiltrar no laboratório, ficar por dentro do que eles fazem lá? Ela encosta na cama. — Não. Primeiro, eu não quero colocá-lo em uma posição na qual ele não saiba o que fazer. Assistentes de laboratório precisam conhecer o trabalho, e ele não conhece. Segundo, eu nunca pediria a ele para fazer algo que eu mesma não faria. E se eles pedirem para o Bo injetar alguma substância em um animal, ou pior, machucá-lo? — Ela estremece. — Não. Os faxineiros normalmente têm acesso à maior parte do edifício. Provavelmente ele pode conseguir muito mais informações nesse cargo. Além disso, não é difícil limpar banheiros, pisos e tal. Ele vai arrasar. — Yes! — Wendy grita na linha. — Por favor, me deixe contar que ele vai entrar disfarçado de faxineiro! Rio de sua animação. — Não, sua maluca. Eu preciso falar com o Bo sobre isso. Basta você ajeitar tudo e cuidar para que, se possível, ele comece amanhã ou depois. Nós precisamos imediatamente de provas contundentes de como essa empresa trata os animais. Senão, este caso vai acabar conosco. — Pode deixar. Estou cuidando disso, chefe. Não vou te decepcionar. — Você nunca me decepciona, Wendy. Me mande uma mensagem quando estiver tudo pronto. Pode me transferir para o Bo? — Com prazer.

8

Mais dois dias perdidos, e estou irritado com o tesão acumulado. Skyler não teve tempo para fazer sexo por telefone na noite passada, mas teve tempo de me mandar uma foto dela só de calcinha antes de pegar o avião para visitar Tracey e assinar os contratos do primeiro filme da série Classe A. Passo o polegar sobre a foto escandalosa. Ela está vestindo só renda vermelha. Seu rosto está escondido pelo cabelo, mas eu conheço esse corpo como conheço meu próprio pau. Cada curva sutil, as panturrilhas grossas... Minha boca fica cheia d’água, e meu telefone vibra em minha mão. “Mago do Amor” aparece na tela. Atendo, levando o celular ao ouvido. Todos os pensamentos sobre a minha deusa dourada desaparecem, na esperança de que Bo tenha boas notícias. — Diga que você tem alguma coisa! — vou logo falando, quase implorando. Estou cansado de ficar nesta cidade visitando senadores conservadores e fingindo trabalhar para uma empresa que vai contra tudo em que eu acredito como ser humano. — Pode crer! Estou falando com você do armário do faxineiro esperto da PB Insumos, onde a merda que eles escondem é inconcebível. Na verdade, não consegui jantar ontem nem tomar café da manhã hoje, e isso depois de só um dia de trabalho. Faço uma careta. Não quero que meu irmão tenha que lidar com essa merda grotesca mais do que eu mesmo gostaria de fazer. — Sinto muito, irmão. — Não, tudo bem. Tinha que ser feito. Eu vou enviar umas fotos que tirei escondido. Meio comprometedoras, mas não o suficiente para atingi-los. O pior até agora são dois cachorros que estão só pele e osso, definitivamente desnutridos. Voltei lá depois de passar

na máquina de venda automática e dei dois palitos de carne-seca para eles. Hoje o meu macacão está cheio de petiscos, por precaução. Sorrio ao pensar em Bo dando carne-seca sorrateiramente aos cães. Não importa quantas mulheres ele ame e deixe, Bo é um sujeito bom, com um coração enorme. — Tem uma sala em que ainda não estive. Não estava no rodízio de limpeza, vai entrar hoje à noite. Tenho a sensação de que é onde fica a maior parte da merda. Depois te digo o que mais descobrir. — Tudo bem. E, Bo... obrigado de novo por fazer isso. Não precisava, mas o fato de você querer fazer a coisa certa e colaborar significa muito. Ele rosna, claramente frustrado. — Para com isso! Um bom pedaço da IG é meu, é o meu que está na reta tanto quanto o seu e o do Royce. Nós somos um time. Mais que isso, somos uma família. Não vamos deixar os escrotos se safarem. Mantenha o celular ligado que eu vou mandar tudo que puder. Quero sair logo daqui. Já limpei salas sujas por uma vida inteira. Aliás, vou dar um aumento para a minha faxineira só por limpar o meu banheiro. A mulher é uma santa! O riso enche meus pulmões e me faz quase gargalhar ao telefone, com tanta força que minha barriga dói. — A Wendy queria te contar sobre o cargo de faxineiro. Ela ficou nas nuvens de alegria. Ele solta um gemido. — Tenho certeza disso! Vou ter que encontrar maneiras interessantes de me vingar. Talvez eu mande para ela umas fotos dos presentes que esses filhos da mãe deixam para eu limpar. Sim... vou fazer isso. Solto uma risadinha, mas tento cobrir a boca e disfarçar. A última coisa que quero é receber uma foto dessas. — Enfim, eu vou nessa, Park. Te mantenho informado. Tenho alguns pisos para esfregar e espionagem para fazer. Até mais. Depois que desligamos, meu telefone vibra. Abro as mensagens de Bo. Uma mostra a imagem de pelo menos seis ratos em uma gaiola lotada de merda e mijo. Nojento, mas não o suficiente para lhes criar problemas. A segunda foto é de dois cachorros de orelhas

caídas, as costelas completamente visíveis, encolhidos, obviamente com medo. Aperto os dentes e respiro devagar pelo nariz. A raiva só vai me fazer estragar este caso. O importante agora é manter a cabeça fria com a promessa de que vai ter troco, e num futuro próximo. Salvo as imagens e as encaminho a Kendra, Royce e Wendy. Nós cinco estamos trocando todas as informações que obtemos, cada um de um ângulo. Royce e Wendy estão investigando as finanças e os clientes para ver se encontramos outros meios e mais portas para chutar. Bo está trabalhando no laboratório. E hoje Kendra e eu vamos nos encontrar com a senadora Portorino. Ontem passamos o dia nos reunindo com lobistas, um congressista e dois senadores. Passamos a todos eles a informação comprometedora sobre a conexão entre a PB Insumos e a Pure Beauty Farmacêutica e o que a lei significaria para a segurança pública em geral, sem falar no rumor sobre como tratam os animais nos testes. A missão da senadora Birchill é falar sobre suas preocupações ambientais com a remoção de milhares de árvores e a destruição da área que faz fronteira com um parque nacional muito popular, além da quantidade de poluição que essas fábricas jogariam no ar e na água. Infelizmente, na minha opinião, aos olhos dos políticos locais o argumento é fraco. O benefício de as fábricas gerarem dezenas de milhares de novos empregos e impostos para uma economia em recuperação superaria em muito a fumaça lançada no ar ou a derrubada de parte de uma enorme floresta. O público em geral normalmente não pensa nos desdobramentos de longo prazo de uma decisão como essa, só nos benefícios de curto prazo. E empregos e dinheiro são um grande benefício. É o que está incluído no projeto de lei que precisa ser destacado: a capacidade de pular etapas cruciais em testes médicos que garantiriam a segurança do consumidor; o fato de abusarem de animais inocentes para fabricar seus produtos. Segurança médica e cosmética e talvez a possibilidade de ajustar a bússola moral da humanidade são os melhores argumentos que temos para derrotar esse projeto de lei. Pego meu blazer esportivo e vou ao encontro de Kendra na sala de estar da nossa suíte.

— Estou cansado de Washington. Como você conseguiu morar aqui por oito anos? A energia negativa da política é insuportável. Ela sorri. — Depende do lado da política em que você está. Quando você luta contra injustiças, é bem divertido. Como um super-herói ou um justiceiro trabalhando pelo bem de todos. Eu fiz isso pegando casos que protegiam o público e os interesses de empresas boas e honestas, não usando roupa de lycra e lutando contra o crime. Visto o blazer cáqui com cotoveleiras de camurça. Combina muito bem com a calça azul-marinho e a gravata amarela listrada que Skyler acrescentou ao meu novo guarda-roupa em sua casa. A ideia de que logo vou estar pensando na nossa casa me faz sorrir. Esse pouquinho de positividade em relação ao nosso futuro me ajuda a me sentir mais leve. Eu posso cuidar deste caso, encarar tudo isso. Que inferno, posso sobreviver a qualquer coisa se minha recompensa for voltar para casa e encontrar Skyler. — Por que você está sorrindo tanto? Você estava todo ranzinza desde que tivemos nossa conversa constrangedora com a senadora Birchill. Inclino a cabeça para o lado, tentando decidir se compartilho algo tão íntimo. Ela me pediu para respeitar sua vida pessoal, mas, nos bastidores, não é o que estou fazendo. Ainda espero descobrir mais sobre a lacuna de oito anos de sua vida que eu não conheço. Se Kendra quiser ter a mesma ligação que o restante da equipe da IG tem, terá que se abrir. Ao mesmo tempo, precisamos ser abertos com ela, construir essa ponte de camaradagem. — A Skyler e eu decidimos morar juntos e adotar um cachorro e um gato. Ela ergue a sobrancelha esculpida. — Uau. É um grande passo. Vocês estão juntos há muito tempo? — Entre idas e voltas, há quase um ano. — Entre idas e voltas? — Ela demonstra interesse como um falcão que vê um roedor no meio do deserto. — Bom, houve um intervalo de umas duas semanas, alguma confusão com informações desencontradas. Mas nós resolvemos e estamos mais fortes por causa disso. Acabamos de decidir morar juntos, dar um fim nesse negócio de duas casas, já que quando

estamos na mesma cidade ficamos juntos todas as noites. Além disso, a Skyler deu um grande passo ao se mudar para Boston para ficar perto de mim, e agora cabe a mim fazer alguma coisa parecida. — Vocês estão planejando se casar logo? A pergunta praticamente me nocauteia, como se uma onda me atingisse e me desequilibrasse. Encosto na borda do sofá e apoio a bunda no braço. — Por enquanto não. — Interessante. Comprar uma casa e ter animais de estimação é algo que geralmente um casal faz depois de... você sabe... dizer “sim”. — Ela apoia os cotovelos nos joelhos e olha fixamente para mim sem expressão, permitindo que seu comentário chegue a meu inconsciente. — É verdade — assinto. — Mas a Skyler e eu temos uma relação nada convencional, sendo ela uma celebridade e eu... bem, uma não celebridade. Nós temos o nosso jeito de fazer as coisas. Ela se levanta, pega seu blazer branco imaculado e o veste sobre a blusa de seda mostarda com um laço na gola. A saia é preta, assim como os sapatos, mas estes têm uma fina tira dourada que envolve delicadamente seus tornozelos. Uma coisa é certa: Kendra sabe se vestir. Ela não precisa de nenhuma dica. Tudo o que usa é uma combinação perfeita de elegância e profissionalismo. Basicamente uma tentação para o empresário médio. Kendra é o tipo de mulher que qualquer homem se sentiria sortudo por ter. Linda, elegante e inteligente. É por isso que é tão fácil imaginá-la com Royce. Os dois juntos não seriam apenas um casal de cair o queixo, mas também teriam filhos lindos. E eu sei que meu irmão quer isso, do fundo do coração. Uma família para criar e proteger. A questão é: Kendra quer a mesma coisa? Sendo ela tão fechada em relação a seu passado e a sua vida pessoal, não sei nem se eles estão na mesma galáxia, que dirá na mesma sintonia.

— Senadora Portorino? — Eu me aproximo da mulher miúda de pele oliva. Seus olhos são de um castanho-escuro que combina com

o cabelo cor de café, e ela tem formas curvilíneas, corpo violão. Uma verdadeira italiana, da cabeça aos pés. Ela estreita o olhar. — Sim. Estendo a mão. — Eu sou Parker Ellis, e esta é a minha advogada, Kendra Banks. Somos da International Guy, localizada em Boston. Ela franze a testa. — Não sei do que se trata. — E olha em volta, como se houvesse alguém ali com quem eu devesse falar. — Se pudermos nos sentar, eu explico. Não vamos tomar muito do seu tempo. O olhar da senadora é gelado. — Eu não sei quem vocês são e não tenho muito tempo de almoço. Preciso voltar logo. Kendra, que estava atrás de mim, se adianta. — É sobre a sua irmã. Aquela que está no Betty Ford Center, em Rancho Mirage, na Califórnia, em uma estadia paga pelo irmão do seu marido. Agora, por que o irmão do seu marido se envolveria com a sobriedade da sua irmã? A menos que... — Sentem-se — ela ordena, e uma expressão tensa toma seu rosto bonito. Nós dois obedecemos e fazemos um sinal para o garçom se afastar. — Veja, senadora Portorino, a nossa intenção não é desrespeitála — começo, tentando contornar a dura abordagem que tivemos de fazer para que ela falasse conosco. — Você quase me convenceu — ela diz, exalando desdém. Respiro fundo e tento suavizar a tensão. — Nós não queremos trazer à tona o problema da sua irmã. No entanto, certas pessoas nos contrataram para ajudá-las a fazer isso. Estamos tentando evitar a campanha de difamação que elas planejam veicular se você não votar a favor do projeto de lei que regulamenta testes farmacêuticos e cosméticos, que vai ser votado daqui a alguns dias. A senadora joga a cabeça para trás e ri. Seu cabelo comprido e liso chega além dos ombros com o movimento.

— Não estamos brincando. — Estão o que, me chantageando? Você acha que eu sou estúpida para aceitar os termos de um chantagista? Eu não estaria há tanto tempo na política se fosse. Não tenho nada a esconder. Sacudo a cabeça. — Em primeiro lugar, nós não estamos chantageando você. Em segundo lugar, a Pure Beauty Farmacêutica está pronta para divulgar as informações sobre o último “passe livre para fora da prisão” que a sua irmã recebeu da juíza Mastery. Isso não só prejudicaria sua reputação como poderia comprometer a juíza por não ter se afastado do caso ao ver que envolvia a sua irmã. Ela conhece você pessoalmente e sabia que a ré era da sua família. A senadora cruza os braços, na defensiva. — Primeiro, foi uma acusação pequena por porte de drogas. Ela teria pegado uns dois anos, no máximo, e seria liberada em um ano por bom comportamento. Em vez disso, nós concordamos com um ano em uma clínica de reabilitação. A mesma onde ela ainda está, e se saindo muito bem. Não tenho medo do que a imprensa possa divulgar. A Pure Beauty vai ter que se esforçar mais se quiser me prejudicar. — E quanto à juíza? Ela dá de ombros. — A Mandy se aposentou um mês depois desse caso. Ela se mudou para a Flórida para poder jogar cartas e ir à praia. Abro um sorriso largo para Kendra. — Que ótima notícia. Não vejo a hora de contar ao nosso contato. A mulher franze a testa. — Você não é um bom chantagista, já que fica feliz por eu não me preocupar com as informações que tem sobre mim. Além disso, mesmo que eu fosse obrigada a renunciar, o que eu duvido que ocorra, este é o meu último mandato. Dessa vez, Kendra sorri. — Senadora, aqui estão algumas informações sobre a Pure Beauty Farmacêutica que você desconhece. Alguns colegas seus podem não gostar do fato de essa empresa ter conexões com o laboratório PB Insumos.

Esse nome a incomoda, pois seus lábios formam uma careta de desgosto. — Essa empresa é nojenta. Eles têm uma das maiores “fábricas” de reprodução em massa de filhotes, mas ninguém consegue provar. Já sofreram blitz e receberam inúmeras citações por maltratar animais, mas pagam as multas e depois continuam, como de costume. Ninguém consegue encontrar os canis. Não posso nem imaginar essas pobres criaturas inocentes criadas com o único propósito de serem torturadas em nome do batom perfeito e duradouro ou do melhor preenchimento de rugas — diz e estremece. — Nós também não. É por isso que vamos fazer tudo o que pudermos para garantir que esse projeto de lei não seja aprovado. Não só o que eles fazem com os animais é inaceitável, mas também as medidas que querem tomar para liberar os produtos para o público são assustadoras — acrescento. Ela anui. — Bom, não me interessa o que eles vão tentar fazer comigo. Eu não vou votar a favor desse projeto e, com essas informações, conheço mais três senadores que também votariam contra. Sorrio. — Excelente. Kendra intervém: — Por favor, se possível, não diga nada sobre esta reunião e o nosso envolvimento. Estamos fazendo o máximo para evitar um processo legal. Ela faz o sinal da cruz sobre o coração e diz: — Minha palavra é minha garantia. E eu acredito nela. — Obrigado. Vamos deixá-la almoçar em paz. — Boa sorte, sr. Ellis, srta. Banks. Estou torcendo por vocês. — Muito obrigado. Acho que vamos precisar — concluo. Então, puxo a cadeira de Kendra e saímos do restaurante. Assim que pisamos na calçada, ela se volta para mim. — Foi arriscado dar a informação a ela assim, abertamente. Suspiro.

— Às vezes é preciso fingir que estamos fazendo o que os bandidos pediram para que eles acreditem que estamos do lado deles. Se fizéssemos uma reunião clandestina em algum lugar e fôssemos descobertos, seria muito mais plausível pensarem que estávamos armando contra eles. Então trabalhamos abertamente, visíveis para todos. Falando nisso... — Pego meu celular e vejo as chamadas recentes. Seleciono o número que sei que é de Vivica. — Preston — ela atende. — Olá, sra. Preston, é Parker Ellis. Nós temos novidades. Mas receio que, mais uma vez, não vão deixá-la feliz.

Na manhã seguinte, estou sentado no sofá da sala, de frente para Kendra, que está na poltrona. Meu celular está no viva-voz na mesinha diante de nós. — Estamos só esperando o Bo ligar — Wendy diz. Juro que o silêncio é ensurdecedor. Não recebemos nenhuma boa notícia, e parece que vamos ter que engolir esse sapo. A menos que Bo tenha algo substancial para nós. — E aí, pessoal. — A voz dele explode na linha como se meu telefone estivesse no volume cem. — Caramba, cara, abaixe isso um pouco — sugiro. — Muito bem, estamos todos aqui — Wendy anuncia. Limpo a garganta e começo: — Primeiro, vamos falar do que nós temos aqui. A senadora Portorino não se sente ameaçada pelas informações que a Pure Beauty tem sobre ela. A senadora Birchill foi a público com as provas contundentes que tinham contra ela. Isso significa que as duas vão votar contra o projeto de lei, independente do que a empresa tente fazer contra elas. Em tese, tudo isso é muito bom, mas, quando eu falei com Vivica Preston para passar as novidades, ela nos informou que o senador Kemper e o senador Damren andaram tentando conseguir mais votos a favor do projeto e, de acordo com eles, conseguiram. Os votos a favor agora somam cinco a mais do que os contra. — Que merda! — Wendy lamenta. — Como essas pessoas podem não perceber que os planos dessa empresa são perigosos

para o público? Pular fases dos testes, sem falar na parceria com um laboratório horrível que maltrata animais... — É, pessoal, e a coisa é pior do que pensávamos. Sabem aquele boato sobre a fábrica de filhotes? — Bo questiona. Kendra se inclina para se aproximar mais do telefone. — A senadora Portorino disse que não há provas de que a fábrica existe. — Ah, existe. E é um horror. Eles têm centenas de animais sendo criados em péssimas condições no laboratório. — Não! — Kendra diz, pasma. — Como o USDA deixou passar isso nas repetidas citações que fez? — Deve ser porque o canil é subterrâneo — Bo continua. — Como você conseguiu essa informação, meu irmão? — pergunto. — Com meus próprios olhos, e eu vou adotar um cachorro, um gato ou uma chinchila assim que chegar em casa. Todos nós precisamos fazer isso. Essa merda é um horror. Quando a coisa estourar, vai haver centenas, talvez até milhares de animais precisando de um lar. De todas as raças, de todas as variedades. É horrível... — Sua voz diminui. Parece que ele está tomando fôlego. — Você conseguiu provas? — Quem você pensa que eu sou? Não me ofenda, Park. Levanto as mãos, mesmo que ele não possa ver. — Não foi minha intenção, irmão, desculpa. Diga o que você viu, o que aconteceu. Ele ri. — Tenho certeza de que você não vai querer saber exatamente o que aconteceu, porque tinha uma loira alta chamada Stephanie, técnica de laboratório no programa supersecreto. E parece que ela adora um homem de uniforme... — De uniforme de faxineiro! — Wendy deixa escapar, e nós rimos. É um alívio bastante necessário, devido à seriedade da situação que enfrentamos a semana toda. — Ei, querer é poder. E pode acreditar, Sininho, eu sempre quero. — Você é ridículo — Wendy responde. — Diz a mulher que usa coleira, como um animal de estimação!

— O dia todo, todos os dias. Pelo menos eu não saio transando com qualquer par de pernas! Royce interrompe o fogo cruzado: — Ei, ei, ei, calma aí vocês dois. Já deu. — Desculpa, Royce. Fazia três dias que eu e o chacal não trocávamos farpas. Estamos tirando o atraso — Wendy admite, com bom humor. — É verdade. Estou com saudade, Sininho — Bo murmura. O que esses dois fariam se não pudessem se provocar? Sinto um tremor me percorrer. Provavelmente escolheriam um de nós para atazanar. — Enfim, como eu estava dizendo antes de ser tão rudemente interrompido por uma boca grande de Boston... — Bo recomeça. Wendy rosna, mas não retruca. Surge em minha mente a imagem de Royce colocando sua mão enorme sobre a boca da nossa diretora de informações para mantê-la calada. — Depois que eu deixei a loira toda saciada e feliz, prometi leválas às alturas se ela me mostrasse onde ficavam os filhotes. Eu disse que estava encantado com o trabalho que faziam lá e blá-bláblá. Ela me levou a um elevador especial no terceiro andar. Fica recuado em um canto e raramente é usado, porque, em tese, só circula entre o terceiro e o quinto andar. Mas há uma portinha embaixo dos botões com um espaço para inserir um cartão-chave. Ela passou o cartão e o elevador desceu mais de três andares. Tipo uns sete ou oito. — Caramba — sussurro, enquanto Kendra cobre a boca com a mão. — Quando o elevador se abriu, o lugar cheirava a antisséptico e cachorro molhado. Ela me levou por um corredor que tinha pelo menos vinte portas. Atrás de cada uma tinha uma sala de reprodução diferente. Quando ela não estava olhando, tirei fotos de pelo menos quatro delas. Deve ser o suficiente para prejudicar a empresa. Só que fica pior... — Nossa, meu irmão, não sei se aguento mais, e você acabou de começar. — O tom profundo de Royce ecoa pela sala. Kendra fecha os olhos ao ouvir a voz dele. Não é a primeira vez que a vejo reagir a Royce, e duvido que seja a última.

Bo limpa a garganta e suspira. — Nós passamos por uma sala que chamam de “zona morta”. Não entramos, mas deu para ver pela janela que tinha um sujeito jogando os animais dentro de um tanque com algum tipo de ácido. — Animais mortos — afirmo. — Não, meu irmão. Aqueles animais não estavam mortos. Pareciam doentes, desnutridos, mas a maioria estava viva e respirando até ser jogada no tanque. Esperem... Merda, estou com ânsia de vômito. — A voz de Bo é abafada, e então sua linha fica muda. Ninguém diz nada por um bom tempo. Minhas entranhas estão se revirando. Sinto um nó no estômago, minha pele está quente como fogo, e uma pulsação, como se alguém batesse um bumbo, lateja em minhas têmporas. O pêndulo oscilou para um dos piores cenários possíveis. Eles estão basicamente fritando animais vivos para se livrar das provas depois de torturá-los com toda a porcaria que injetam neles. Bo volta à linha. — Pronto. Desculpem, é que... falar disso trouxe tudo de volta. Literalmente. Faço algumas respirações calmas e profundas e concentro meu olhar no telefone. — Pessoal, eu quero que eles queimem no inferno. A Kendra e eu contornamos os limites da ética nos negócios mais do que eu gostaria. O que eles estão fazendo é errado. Se tivermos que quebrar todas as regras do contrato, eu digo: vamos quebrar. Que se danem as consequências. Seja qual for o preço, isso precisa acabar agora. Estão dentro? — Concordo — Royce diz. — Sem dúvida! — Bo exclama. — Absolutamente — Kendra afirma. — Pode crer — Wendy cantarola. — É hora de pensarmos juntos e sermos espertos. O que nós precisamos fazer é...

9

— Sr. Ellis, srta. Banks, entrem. Por favor, podem se sentar. — Vivica indica dois lugares vazios à mesma mesa de reuniões da primeira vez que estivemos ali. — Obrigado. — Puxo a cadeira para Kendra. Ela se senta e eu tomo meu lugar. Sentada a nossa frente, Vivica entrelaça os dedos e apoia as mãos no tampo da mesa. — Fiquei surpresa quando vocês solicitaram uma reunião tão cedo. Espero que isso signifique que têm boas notícias e que conseguiram influenciar as senadoras. Ao meu lado, Kendra se inclina sobre o braço da cadeira para pegar sua pasta, de onde tira uma série de documentos grampeados e os entrega à nossa cliente. — Infelizmente não temos boas notícias. Estamos rescindindo o contrato. Vivica franze a testa e pega o documento, então analisa a notificação de rescisão que Kendra elaborou e eu já assinei. — Rescindindo? — Sim. Chegaram ao nosso conhecimento informações preocupantes, que vão contra o nosso código moral e de práticas comerciais, o que nos forçou a tomar a difícil decisão de rescindir o contrato com a Pure Beauty Farmacêutica. — Tem a ver com o anúncio da senadora Birchill alguns dias atrás? Apoio os antebraços na mesa de mogno escuro e inclino a cabeça. — Não. Ainda que, embora não atenda aos critérios para a rescisão do contrato, tentar arruinar a reputação de uma mulher

tornando públicos o estupro que ela sofreu e o subsequente aborto vá contra a nossa moral pessoal. Kendra se recosta na cadeira e sorri. — Chegou ao nosso conhecimento que a Pure Beauty Farmacêutica trabalha com a PB Insumos. Vivica estreita o olhar e torce os dedos com tanta força que ficam brancos. — O que a relação com os nossos fornecedores tem a ver com o contrato com a International Guy? — Fomos informados de que a PB Insumos adota práticas questionáveis de testes de produtos em animais. A International Guy apoia a Humane Society com uma vultosa doação anual, e trabalhar com uma empresa diretamente ligada à PB Insumos vai impactar negativamente a nossa reputação em geral, mais especificamente perante os nossos clientes que são ativistas pelos direitos dos animais. O rosto de Vivica fica vermelho e ela aperta o maxilar. — Eu posso assegurar que o nosso relacionamento com a PB Insumos é limitado a... Ela está mentindo, e eu a interrompo: — Nós sabemos que o CEO da PB Insumos é seu marido. Sabemos, de fato, que a sua empresa usa a PB Insumos exclusivamente para testar novos produtos. Embora não haja crime nisso, há evidências circunstanciais e substanciais de que vocês e eles colaboraram para ocultar inúmeras violações aos estatutos de abuso contra animais. Provas adicionais podem ser encontradas nas citações que eles receberam no ano passado, quando injetaram em cães o preenchimento labial que a sua empresa fabrica. Ela pega o contrato. — Nós pagamos um grande adiantamento à sua empresa... Kendra junta a ponta dos dedos. — Que não é reembolsável. Estamos liberando a Pure Beauty de quaisquer custos adicionais que tivemos desde a nossa chegada a Washington, há alguns dias. Nós vamos cobrir as despesas com voos, hospedagem e auxiliares com o adiantamento feito, mesmo sendo nosso direito cobrá-las de vocês. — Ela se apruma e dá um sorriso falso.

— Vou pedir aos nossos advogados que revisem essa cláusula. Não vamos aceitar essa roubalheira tão facilmente, e vamos reagir de acordo. — Vivica estreita o olhar enquanto apoia as mãos no tampo da mesa e se levanta, de ombros curvados, em uma pose ameaçadora que acho que pretende servir como um alerta. Kendra empurra a cadeira para trás e junta as mãos no colo. — Você está ameaçando a nossa empresa por querer cancelar o contrato? — Nunca uma empresa contratada desconsiderou os nossos desejos. Seria sábio da parte de vocês pensar bem nessa decisão antes de deixar a cidade sem cumprir o acordo. Nosso alcance é longo, e nossos recursos são infinitos. — Já chega — digo e me levanto, empurrando a cadeira para trás e abotoando o paletó. — Já a notificamos sobre a nossa intenção de rescindir o contrato. Você não tem base legal para insistir. Eu sugeriria que colocasse os assuntos da sua empresa em ordem. Uma tempestade se aproxima, e eu não gostaria de estar no meio dela quando chegar. — Há algo que queira me dizer, sr. Ellis? — ela pergunta, erguendo uma sobrancelha. — Sabendo o que vocês estão fazendo nos bastidores para aprovar esse projeto, só lhe digo que é o seu que está na reta. Vocês abriram a caixa de Pandora, e ela tem um temperamento perverso. Se eu fosse você, me prepararia para a maior luta da minha vida. — Você acha que é o único que faz o dever de casa, sr. Ellis? Eu sei tudo sobre você, Royce Sterling, Bogart Montgomery e Wendy Bannerman. Vocês têm na equipe três formados em Harvard e uma que abandonou o ensino médio. Sem mencionar que você namora Skyler Paige, a celebridade mais reconhecida do país, se não do mundo. O que acha que a imprensa faria se alguns dos seus esqueletos saíssem do armário? Sacudo a cabeça e cruzo os braços. — Eu não tenho nada a esconder. Meu passado é o que é: passado. — É mesmo? Você acha que a sua ex-namorada, Kayla McCormick, diria o mesmo? Ou o seu ex-amigo, Greg, de quem

você e seus sócios tiraram legítimos vinte e cinco por cento da International Guy? Ele fez parte da idealização da empresa, pelo que eu saiba, e depois vocês três o chutaram para escanteio. E quanto à srta. Bannerman, que levou um tiro trabalhando em um caso da agência? Imagino como seus futuros clientes se sentiriam ao saber dessa informação, que ficou de fora da imprensa nacional porque o fato aconteceu no Canadá. Aposto que a mídia adoraria conhecer alguns desses detalhes. Certos ou errados, os tabloides podem criar uma história que pegaria mal não só para a sua namorada e o status de celebridade dela, mas também para o seu negócio. Meu coração bate forte, parece que vai sair do peito. Cerro os dentes e os punhos, querendo simplesmente estrangular esse ser humano repugnante. Mas, em vez disso, controlo a raiva e a deixo em segundo plano. — Boa sorte com a sua campanha de difamação — retruco sem emoção. — A Pure Beauty nos contratou conhecendo essas informações. Como ficaria a imagem de vocês se dissessem algo que pudesse nos difamar? Não tenho medo de você nem dos seus bilhões — digo, sarcástico. Ela dá um sorriso falso, como se não acreditasse em mim. Continuo, implacável: — Meu medo é que mulheres usem os seus produtos e acabem desfiguradas devido a testes apressados ou erros de cálculo na composição química, porque não passaram por um processo experimental completo. Ou pior: que morram porque você decidiu pular alguns passos para ganhar mais dinheiro. Seu olhar é ardente e irado, mas vou em frente, destemido: — Meu medo é ver animais serem maltratados e mortos para encontrar o tom perfeito de batom. Meu medo é que florestas sejam destruídas e se mude a paisagem deste país para fazer mais do seu trabalho sujo. Todo mundo tem um passado, sra. Preston. Eu não tenho vergonha do meu, faz parte do que eu sou hoje. E, quanto aos meus sócios, digo o mesmo. No que se refere a Wendy Bannerman, o futuro marido dela é Michael Pritchard. Eu pensaria duas vezes antes de atacar a mulher dele. Ele é extremamente possessivo e não hesitaria em usar todos os seus muitos, muitos bilhões e

contatos para proteger a honra dela. Eu adoraria ver você em uma batalha contra a MP Propaganda. Na verdade, eu pagaria para ver. Com esse comentário, abro a porta da sala de reuniões e faço um gesto para Kendra passar primeiro, olhando de novo para Vivica. — Sinta-se à vontade para mandar o seu advogado entrar em contato com a Kendra. Não que vocês possam fazer alguma coisa a respeito. Nós também fazemos o dever de casa, e somos muito meticulosos. Vivica retorce os lábios antes de rir com secura. — Você vai se arrepender disso. A International Guy tem cinco membros e talvez fature o que, de oito a dez milhões por ano? — ela diz, erguendo o queixo em uma expressão arrogante. — Nós somos uma organização de bilhões de dólares, com mãos em cada bolso político da costa Leste à Oeste. Aproveite seus últimos dias em Washington, porque, quando chegar em casa, vai sentir os efeitos da decisão que tomou hoje. E isso é uma promessa, não uma ameaça, sr. Ellis. — Ela sorri. Tenho certeza de que aprendeu esse charme todo com o próprio diabo. — Tome cuidado com o carma, sra. Preston. Nunca se sabe quando ele vai se cumprir.

— O primeiro passo foi dado — falo no viva-voz do celular. Kendra está andando de um lado para o outro como um ratinho na gaiola, e eu estou sentado bebendo o uísque que pedi pelo serviço de quarto, mesmo não sendo nem duas da tarde. — Liguem a TV — Wendy pede com alegria. Kendra encontra o controle remoto e sintoniza em um noticiário da TV a cabo. Uma apresentadora está observando a tela atrás de si, com a mão erguida cobrindo a boca, ocultando o que parece ser uma expressão de pura repugnância. A tela mostra centenas de cachorros, gatos, porcos, cabras e uma variedade de outros animais trancados em gaiolas minúsculas. Outra imagem mostra bichos mortos empilhados em um freezer, onde obviamente eram armazenados antes de ser descartados. — Meu Deus... — a apresentadora balbucia.

Estremeço ao ver uma equipe da polícia entrar nas salas. Uma delas parece o local que Bo descreveu como a “zona morta”. Um homem está sendo algemado, gritando a plenos pulmões que está só fazendo seu trabalho. Cães presos à mesa atrás dele choramingam e tremem. Dois policiais pegam alguns deles no colo, acariciando-os antes de sair da sala. A câmera se move para outro cômodo, onde há animais em cubos de acrílico. Uma série de testes está sendo feita. A cena de um bichinho espumando pela boca e revirando os olhos é horripilante. A apresentadora desvia o olhar, e lágrimas escorrem pelo seu rosto. — E... E... — Ela limpa a garganta, olha diretamente para a câmera com um olhar determinado e enxuga as lágrimas. — As autoridades invadiram a PB Insumos depois de receber fotos de uma fábrica de filhotes escondida e de maus-tratos praticados em suas instalações de testes. O laboratório é o único que faz testes para uma das maiores empresas de cosméticos do país, a Pure Beauty Farmacêutica. Segundo fontes ouvidas pela reportagem, a Pure Beauty está por trás de um projeto de lei que deverá ser votado no Senado amanhã. Se aprovada, essa lei vai permitir que ela e outras empresas testem seus produtos ignorando completamente a fase de testes em humanos para acelerar a liberação para o público. — Faz uma careta. — Ativistas das redes sociais organizaram um boicote aos produtos Pure Beauty e divulgaram uma lista abrangente para os consumidores. Aparece na tela uma lista enorme de algumas das mais conhecidas marcas de maquiagem, cremes e esmaltes. — Quando consultar um cirurgião plástico, não deixe de se certificar de que os preenchimentos que vai usar não sejam os que fizeram isso. — A tela atrás dela mostra uma das fotos que já vimos, de cães que receberam o preenchimento na cara. Abro a boca, impressionado, enquanto observo as autoridades arrasarem o lugar onde Bo esteve para levantar informações. — Bo, você está aí? — chamo. — Sim, cara. Assistindo e bebendo uma cerveja no conforto da minha cama no quarto do hotel. Pego o primeiro voo amanhã de

manhã. Vou ver se consigo encontrar uma mocinha para me esquentar hoje à noite antes de ir embora. Rio com os olhos ainda grudados na TV, que mostra a Humane Society entrando e socorrendo primeiro os animais mais debilitados. — Bom trabalho. Você salvou a nossa pele. As ameaças que ela fez... — Park, todos nós temos coisas que gostaríamos de manter no passado... — a voz profunda de Roy sai pelo alto-falante crepitante. Kendra para no meio da sala e fica imóvel. As palavras dele são como um tiro certeiro para ela. — Mas você precisa lembrar — ele continua — que nós trabalhamos em equipe. Quando um de nós é atingido, o outro assume. A agência é como um filho para nós, do qual temos orgulho. E, sem dúvida, vamos apoiar um ao outro para que ninguém possa ferir nem um fio de cabelo nosso. — Disse o careca! — Wendy brinca, me fazendo sorrir. — É verdade, irmão — concordo. — Estou feliz porque tudo deu certo. Ainda fico imaginando se vamos sofrer alguma retaliação da Pure Beauty. Eles vão desconfiar de que foi obra nossa. O timing é suspeito, para dizer o mínimo. Se eles... — Desconfiar é uma coisa, provar é outra. Se eles tentarem, vamos estar prontos — Royce afirma, com uma convicção que ainda não sou capaz de sentir. — Temos tudo sob controle, e a Wendy está de olho. Se eles tentarem algo, vamos saber antes. — Honestamente, eu acho que eles vão ter muito que fazer em termos legais. Multas, citações, as leis que quebraram são um pesadelo. Tentar uma vingança contra a IG exigiria muita energia e esforço, que eles não podem desperdiçar agora — Kendra acrescenta, sempre perspicaz. Inclino a cabeça de um lado e do outro, avaliando a informação e deixando-a acalmar meus nervos. — Além disso, vocês viram o mercado de ações? — Royce pergunta, deixando transparecer um sorriso no tom de voz. — Claro! Eu não via a hora de abrir o jornal e conferir o Nasdaq — digo com ironia. — Bom, se tivesse feito isso, teria visto as ações deles na merda. Eles vão falir. Todo mundo está vendendo as ações da companhia.

Acho que ninguém vai querer ter algo a ver com uma empresa como aquela. Então, mesmo que eles quisessem vir atrás de nós, com que dinheiro fariam isso? Sinto um calor sutil no centro do peito, que se espalha como raios de sol me iluminando de dentro para fora. — Maravilha. — Tomo um gole da minha bebida e olho para a TV. Kendra pega o controle remoto e muda de canal. Estão todos transmitindo a invasão e falando sobre a Pure Beauty e a PB Insumos. O último em que ela para mostra a imagem de Vivica e o marido sendo retirados de casa algemados. Lado a lado. Talvez eles fiquem em uma cela dupla. Um buraco pequeno, escuro e úmido para dois seria perfeito. Abro um sorriso largo e ergo meu copo para brindar à justiça que está sendo feita. Amém, porra.

Nos dois dias após a invasão, conversamos com os senadores, garantimos que o projeto de lei de fato fracassasse e demos nossos depoimentos às autoridades, falando até da ameaça que sofremos pela rescisão do contrato. Por fim conseguimos pegar um avião e voltar para casa. Não falei com minha namorada nesses dois dias. Tivemos apenas algumas chamadas perdidas e trocamos mensagens. Agora que estou em casa, caio de cara na cama. Skyler me escreveu enquanto eu estava no avião, dizendo que ainda não saiu de Nova York. Por um momento, quando vi a mensagem depois de voltar desse caso de merda, sou homem o suficiente para admitir que fiquei puto. Tudo que eu queria quando voltasse de Washington, depois de trabalhar em um caso dos infernos, era ir direto para os braços da minha mulher, mergulhar meus sentidos em seu perfume de pêssego com chantili, afundar meu pau em seu calor e deixar a semana inteira desaparecer. Mas, em vez disso, recebo a porra de uma mensagem. Sem mulher, sem abraços reconfortantes, sem calor apertado onde me perder. Meu lado racional entende que ela precisa trabalhar, e nosso trabalho geralmente nos leva para longe em momentos inoportunos.

Mesmo assim estou de mau humor, sem esperança de melhorar em breve. O algodão macio da fronha contra a pele do meu rosto alivia a irritação. Sinto o aroma dela da última vez que esteve aqui. Ficamos mais no apartamento dela, convenientemente localizado no prédio da IG. Mas estou feliz por ter vindo para o meu. Não quero poluir seu apartamento com meu humor sombrio. Esse caso me abalou. Como uma maldita cobra, afundou suas presas na minha jugular e me apertou até eu perder o fôlego. Foi assim que me senti. Rolo de costas e olho para o teto. As coisas que aquela empresa estava disposta a fazer para conseguir o que queria iam além do limite. Isso me enoja a tal ponto que me deixa preocupado com a humanidade. Está tudo tão fodido assim fora da esfera da IG e dos clientes para quem geralmente trabalhamos? Estou ignorando a destruição que acontece no mundo além da minha própria existência? Um gosto amargo na boca me faz tirar a bunda da cama e me arrastar para o banheiro. Sem pressa, escovo os dentes, tiro a roupa suja e entro debaixo do jato quente de água do chuveiro. Por alguns minutos, deixo o calor aliviar a tensão nos músculos das costas e do pescoço. Olho para meu pau flácido, cansado demais para mexer com ele. O alívio me ajudaria a dormir, mas, sem a emoção e o toque de Skyler, esta noite não estou interessado. Eu me lavo no piloto automático. E assim continuo ao fechar a água, me secar e vestir o roupão. Quando saio do chuveiro, a visão que me recebe é muito mais que deslumbrante. Minha mulher está sentada de pernas cruzadas no centro da minha cama, vestindo jeans, camiseta e um sorriso. Seu cabelo cai em ondas douradas pelas costas e sobre os ombros. Sua presença não é a maior surpresa. São as duas bolinhas de pelo pulando em seu colo que me chamam a atenção. Uma amarela e uma preta. — O que você está fazendo aqui? Pensei que... Eu... — Olho em choque enquanto ela ergue os dois amiguinhos peludos. Corro para a cama e pego o cachorrinho preto no colo. Levanto-o e ele lambe meu rosto com sua língua comprida e rosada.

— Quem é você, amigo? Sky fica de joelhos, segurando o filhote amarelo contra o peito. — Bom, oficialmente, este é o 707 e este é o 1116. Eles não têm nome — ela responde, triste. — O que significa que vamos ter a honra de dar nomes aos nossos bebês. — Seu sorriso brilha e me faz lembrar o sol surgindo no horizonte em um dia que prometia ser sombrio. — Meu pêssego... — Faço um carinho em seu braço e encaro seu rosto. Mesmo com o sorriso, posso ver a tristeza por trás. — Duas noites atrás, o Bo me mandou fotos das centenas de animais que precisavam de um lar. Peguei a Tracey e a minha equipe de relações públicas e fui até lá ontem de manhã para visitar os abrigos que foram montados. Gravei uma mensagem para a imprensa usar, depois autografei toneladas de fotos que a Tracey imprimiu em uma gráfica de lá e ajudamos a coordenar um evento de adoção em massa. Encorajei todo mundo a escolher um animal para adotar. Quem adotasse ganhava uma foto minha autografada e um número para concorrer ao sorteio de um almoço particular comigo e com o meu namorado mês que vem. Espero que você não se importe. — Claro que não, baby. Achei legal. Pego sua cabeça e levo sua testa aos lábios, lhe dando um beijo e deixando que sua pele macia e seu perfume se misturem com a respiração do outro filhote, que se agita ao nosso redor. — E esses dois? Dois cachorros? Ela anui. — Fiquei apaixonada. Este é golden retriever misturado com alguma outra raça. Aquele é um pastor-alemão. Eles estavam na mesma gaiola e, sempre que tentavam separá-los, ficavam assustados. Latiam, ganiam, era terrível. Quando eu fazia carinho na cabeça deles, os dois lambiam a minha mão, e eu soube que tinham que ser nossos. Tudo bem? Beijo seus lábios no mesmo instante em que o amarelo lambe nosso rosto. Nós dois começamos a rir, e Sky beija a cabeça peluda do cachorro. — O que nós vamos fazer com esses dois? — Rio e olho para a carinha feliz do cachorro que estou segurando. — E que nome

vamos dar a eles? — Talvez eu tenha uma ideia... — Ela sorri e ergue os ombros, tímida. Inspiro longa e profundamente, gravando na memória a visão de Sky segurando no colo um cachorrinho fofo. — Diga. — Bom, esta aqui é fêmea, muito feliz e alegre e dourada como o sol. Pensei em Sunny. — Sunny — testo o nome. A cachorrinha gira a cabeça nos braços de Sky para olhar para mim. — Acho que ela gosta e já sabe que é o nome dela. — Talvez porque eu fiquei chamando a pobrezinha um dia inteiro por esse nome — ela admite, corando. — Adorei. E este brutamontes aqui? — digo, acariciando o cachorrinho nos meus braços. — Midnight — sugere. — Midnight — repito. Olho o pelo negro do cachorro, com pequenos tufos castanhos espreitando ao redor da carinha e da barriga, como estrelas no céu noturno. — Sky, Sunny e Midnight. Adorei. — Eba! Você ouviu isso, Sunny? O papai adorou! Você vai ser tão feliz quanto a gente como seus pais. — Ela abraça a cachorra, se inclina e abraça Midnight, depois me beija com força, me puxando pelo pescoço com uma das mãos. — Eu te amo. — Eu também te amo, e adorei você ter salvado esses cachorros. Faz com que o inferno que passamos tenha valido a pena. — Achei que você pensaria isso mesmo. Quando a Wendy me contou o que aconteceu e o Bo pediu a minha ajuda, entrei em ação. A última notícia que eu tive é que faltava arranjar um lar para uns duzentos cachorros apenas. Eles vão ser distribuídos nos abrigos mais afastados para ter maior alcance. Foi muito fácil distribuir os animais de fazenda. Todas as propriedades da região estavam dispostas a aceitar porcos, cabras e galinhas. As escolas, universidades e pet shops ficaram com os roedores. O que restou foi uma tonelada de gatos e cachorros. Principalmente cachorros. E a equipe toda adotou animais. A Wendy e o Mick levaram uma jack

russell com beagle de dois anos, deram o nome de Lauren. O Royce adotou uma pit bull que chamou de Halle. E o Bo... — O Bo adotou um cachorro? — digo, arregalando os olhos de surpresa. — Achei que ele estivesse brincando outro dia quando disse isso. — Ele estava falando sério, só que não foi um cachorro. Tinha uma gata branca fofa que não desgrudava dele. O Bo disse que qualquer mulher que se esfregue nas pernas dele e marque território merece estar com ele. Disse que a entendia, porque é difícil resistir a ele. Meu amigo é foda! Rio tanto que minha barriga dói. — E ouve essa! — Skyler abre um sorriso lindo, e eu penso mais uma vez em como amo seus lábios carnudos e brilhantes. — Sabe que nome ele deu para a gata? — Não, qual? — Snowflake. — Está brincando! Ela ri como uma adolescente comentando fofocas. — Não. Ele disse que uma fêmea que consegue prendê-lo e fazêlo se comprometer deve ser única, como um floco de neve. — Boa! — E rio ainda mais. — Mas que bom que ele pegou uma gata. Gatos precisam de muito menos supervisão. E a Kendra? Sky franze a testa. — Ela não adotou nenhum. Disse que não podia agora, mas que, quando for morar sozinha, vai pensar nisso. — Quando for morar sozinha? — Eu não sabia que ela não mora sozinha. Skyler dá de ombros. — Ela não acabou de se mudar para cá? — Sim. Eu sei que a família dela é daqui. Ela deve estar morando com eles por enquanto. Mas é estranho, porque ela é uma mulher muito independente. Morar com os pais, mesmo que por pouco tempo, não combina muito com seu jeito. Isso me lembra que eu preciso perguntar a Wendy o que ela descobriu sobre Kendra enquanto eu estive fora. — Deve ser. — Ela suspira.

— Sabe, é tudo muito triste, mas eu estou satisfeito por ter derrubado a PB Insumos e a Pure Beauty Farmacêutica. Conversei com os caras. Sabe os cem mil dólares que eles nos deram de adiantamento? Nós vamos doar à Humane Society para ajudar esses animais, especialmente os doentes que eles maltrataram. Sky franze o cenho e abraça mais Sunny. — Meu bem, foi horrível... A quantidade de animais doentes e inválidos... Alguns tiveram que ser sacrificados. Não havia mais como ajudá-los, estavam sofrendo muito. Se vocês não tivessem encontrado aquele lugar e os laboratórios secretos... Eu tremo só de pensar no que teria acontecido com todos esses animais, inclusive os nossos bebês — diz, e sua voz é só um sussurro. Ela pousa o queixo na cabeça da bolinha de pelo, como se a cadelinha fosse dela desde sempre. Skyler vai ser uma mãe incrível um dia. Não logo nem no ano que vem, mas quando estivermos prontos. E esses filhotes vão ajudar bastante a definir o caminho rumo a uma família. Por enquanto, estou muito feliz por ter minha namorada e dois bebês peludos. — Vamos ajeitar tudo para esses dois e pedir comida. O que acha? — sugiro. — Tudo o que meu homem quiser. Eu estava com saudade. Ela solta Sunny para a cachorrinha explorar um pouco o ambiente, e eu faço o mesmo com Midnight. Então me abraça e descansa o rosto na curva do meu pescoço. Com Skyler nos braços e dois filhotinhos fuçando todo o meu quarto, meu mundo está em paz de novo. Não é a primeira vez que esse pensamento fervilha dentro de mim, mas é sempre uma sensação maravilhosa. Estar nos braços de Skyler é estar em casa.

10

— Filhotes! Você tinha que adotar filhotes. Não podia pegar cães adultos, que sabem quando e onde fazer xixi e cocô e só latem com motivo. Tinham que ser filhotes, que latem para qualquer coisa e mijam nos meus tapetes. — Nate joga um punhado de guardanapos para nós, que estamos no banco de trás. Pego o papel e entrego a Skyler. Ela é bem menor que eu, consegue se abaixar e limpar o mais recente incidente de Sunny nos tapetes do SUV. — Tecnicamente, são meus tapetes — Sky retruca. — Você está bravo porque eu não te consultei sobre os cachorros. — Estou mesmo. Eu não teria comprado tapetes acarpetados. Agora vou ter que mandar lavar o carro. Skyler franze os lábios e dá de ombros. — A Sunny não fez de propósito, não é, menininha? — Esfrega o nariz na cabeça peluda da cachorrinha. Midnight parece um garanhão. Está em pé, o focinho para fora da janela, atento ao que acontece ao redor. Sunny é um desastre. Um lindo desastre por quem minha mulher está apaixonada. — Não é culpa dela. O carro é um lugar muito excitante, não é, menina? Eu sei, não se preocupe, logo vamos chegar ao prédio do papai e à sua segunda casa — Sky arrulha para a cachorra, como se Sunny entendesse tudo o que ela diz. E talvez entenda mesmo. A cadelinha presta atenção a cada palavra que sai da boca de Skyler, como se fosse o próprio Deus falando. Quando Nate vira a esquina do edifício da IG, Skyler dá um tapinha em seu ombro. — Pare na frente. A Sunny e o Midnight precisam aprender a fazer xixi na grama.

Nate balança a cabeça secamente. — Tem paparazzi na frente. — Não interessa. Os meus cachorros precisam fazer xixi. — Eles podem esperar até você estar segura dentro do prédio. Depois eu levo os cães. — Pare o maldito carro, Nate. Os meus bebês precisam fazer xixi agora. — Ela não acabou de fazer? — ele pergunta, sarcástico. Skyler estreita o olhar, fuzilando-o. — O Midnight não. Ele está se comportando muito bem, e eu quero reforçar o bom comportamento. Pare este maldito carro. Nate aperta os lábios e Rachel esconde um sorriso, sem dizer uma palavra. Acho que ela sabe que o humor do marido é questionável e não quer cutucar a onça mais do que Skyler já cutucou. — Espere até eu dar a volta no carro... por favor — ele rosna. Quando Nate sai do carro, Rachel o segue. — Oh-oh, você arrumou problemas com o seu guarda-costas — provoco. Ela faz beicinho e estreita o olhar. — Ele trabalha para mim. Sorrio. — Talvez você precise lembrá-lo disso, mas honestamente, meu pêssego, ele está só fazendo o trabalho dele. A sua segurança é a prioridade número um para ele, não se o seu cachorro precisa mijar. — Nossos cachorros — ela diz. Não que eu precise ser lembrado disso. Estou com Midnight no colo. O menino gostou de mim. Decidiu que eu sou seu humano, e acho ótimo, porque ele é uma graça. Sunny é um docinho e ama a mamãe, mas ambos querem atenção de nós dois. Eles dormem juntinhos e estão sempre perto de nós, independentemente do cômodo em que estejamos. Tanto que, quando Sky e eu tomamos nosso necessário banho juntos, ao sairmos encontramos os dois parados na porta do banheiro nos esperando. Saber que eles têm medo de ficar sem nós me dói. Não sei o que eles passaram no laboratório, nem quero saber. Estou determinado a garantir que eles tenham uma vida ótima.

Nate abre nossa porta enquanto Skyler põe uma guia em cada cachorro. Ela me entrega Midnight e tira Sunny do carro. Os paparazzi enlouquecem quando ela sai com a cachorrinha no colo. — Skyler, Skyler, é o cachorro que você adotou? Ela acena, bem-humorada, enquanto leva Sunny até o gramado perto do nosso prédio. — Qual é o nome dele? — outro paparazzo grita. Sigo Sky com Midnight. — Parker, Parker, os cães são de vocês dois ou só da Skyler? — Como se chamam? Eles continuam tirando fotos enquanto Nate e Rachel os mantêm a uma distância segura. — Tudo bem, eu sei que tem plateia, mas faça um esforço para a mamãe, está bem? — ela pede, dando um tapinha na cabeça de Sunny. A cadela não está gostando de tanta atenção. Põe o rabo entre as pernas e se apoia em Skyler. Coloco Midnight ao lado de Sunny e ele imediatamente vai até a árvore, levanta a perninha e faz seu trabalho. — Bom menino! Você é um bom menino — digo, acariciando sua nuca, e ele olha para mim com a língua de fora, todo feliz. Sunny parece descobrir o que queremos que ela faça, se agacha e faz um pouco de xixi. Skyler dá pulinhos, batendo palmas descontroladamente, como se sua cadela tivesse acabado de realizar o truque mais incrível do universo. — Boa menina! Ela pega petiscos na bolsa e continua elogiando Sunny e Midnight. Está agachada e olha para mim. Seus olhos estão dourados cor de mel hoje, transbordando de felicidade. Imediatamente meu coração se aquece. Pouso a mão em seu rosto, acariciando sua bochecha rosada, querendo tocar e sentir sua alegria. — Eles são tão espertos — ela diz, cheia de orgulho. Sorrio para minha garota. — São mesmo.

— E se a gente apresentasse os dois aos fotógrafos, para eles irem embora? — ela pergunta. — Não — Nate rosna. — Sim — eu digo ao mesmo tempo. Ele enrijece os ombros e sacode a cabeça. Depois que os cães cheiraram toda a grama e a árvore, pegamos nossos respectivos no colo e Nate nos escolta até os paparazzi. As câmeras enlouquecem. — São seus cachorros, Skyler? — um sujeito respeitoso que já vi antes pergunta, mas não tenta se aproximar. Ela assente, feliz. — Sim, o Parker e eu adotamos estes dois cachorros daquela fábrica de filhotes horrível que acabou de ser invadida pela Humane Society. Esta é a Sunny, e este é o melhor amigo dela e agora irmão, Midnight. Mostro o cachorro. Surpreendentemente, ele não tem medo dos flashes. Até se apruma, estica o pescoço, parece se preparar para as câmeras. Eu devia tê-lo batizado de Stud. É um garanhão mesmo. — Você disse que os dois adotaram esses cachorros. Quer dizer que adotaram juntos? Skyler sorri. — Sim. — E se aconchega a mim. — Nós vamos criar estes bebês peludos juntos. Ela olha para mim e eu a beijo ali mesmo. Toda vez que olho para ela, fico perdido em sua beleza. — Boa sorte para vocês! — um dos fotógrafos diz. — Muito fofos esses cachorros! — grita outro. — Obrigada. E lembrem-se: salvar um cachorro é salvar uma vida! A beleza está dentro de nós, e não precisamos torturar animais inocentes para criar produtos que nos deixem mais bonitos. O que importa é a beleza interior — ela diz, inspirada, antes de pôr a cachorra no chão e enrolar a guia em volta do pulso. — Vamos lá, Sunny. Vamos conhecer a equipe da IG. Tchau! — Sky acena por cima do ombro e segue em direção ao prédio, acompanhada por Nate e Rachel. Sigo ao lado dela, com Midnight liderando o grupo.

Assim que entramos, Nate nos deixa para levar o carro até a garagem, mas Rachel fica conosco. A loira miúda permanece atenta enquanto passamos pela segurança e vamos até o elevador. Assim que entramos e as portas começam a se fechar, uma mão as detém. — Espere! — diz uma voz meio estridente. Aperto o botão para abrir a porta e Benny Singleton entra no elevador. Rosno por dentro. Mas talvez tenha rosnado em voz alta, porque ouço o som reverberar nas paredes do pequeno espaço. Até perceber que não sou eu quem está rosnando. É Midnight. Benny se espreme contra a parede do elevador. É um covarde mesmo. — Ei, garoto! Sky, pode me ajudar? — ele pede. Ela se abaixa e pega Midnight. Faço o mesmo com Sunny. — Ele protege a família. Não é, garoto? — ela diz, acariciando-o embaixo do queixo e o segurando perto de si. — Eu adoro cachorros — Benny comenta. Vai acariciar Midnight, mas o cão começa a rosnar de novo. Rachel levanta a mão e pega o pulso do cara no ar. — Ei, não toque no cachorro. Ele morde — avisa. Tecnicamente, não sabemos se ele morde. Mas do jeito que está, com os lábios repuxados para trás e os olhos fixos em Benny, eu diria que ela foi sensata ao avisá-lo. Benny puxa a mão. — Caramba! Tudo bem. Desculpe, Midnight. E você? O estúpido vai acariciar Sunny em meus braços. Midnight rosna mais uma vez e Sunny se encolhe, enterrando o focinho em minha axila. — Olha, estes cachorros são novos e passaram por muita coisa ruim. Eles não querem ser tocados por estranhos. Melhor se afastar — recomendo, e meu tom não admite argumentos. Benny arregala os olhos e se apoia na parede do outro lado do elevador. — Desculpe, é que eu adoro cachorros. Sky, eu não sabia que você era fã também. Eu posso ir com você levar os seus para passear — sugere, analisando o corpo de Skyler, vestida de jeans e regata, com um monte de colares e uma infinidade de anéis e pulseiras, que tilintam a cada movimento.

— Eu... — ela começa, pegando leve. Mas eu tenho tolerância zero com esse idiota. — Pode deixar, eu levo os cachorros para passear com a Sky. Além disso, em breve ela não vai estar mais morando aqui. Ele franze a testa. — Ah, é? Para onde você vai? Vai voltar para Nova York? Passo o braço livre em volta dela. — Estamos comprando uma casa juntos. — Vocês... Ah, vocês vão morar juntos. Entendo. — Sim, de modo que eu vou levar os cachorros para passear. Mas obrigado por oferecer — digo secamente, sem dar brecha para ele pensar que não estou sendo sarcástico. Ele esfrega a nuca e seu rosto sofre não um, mas dois espasmos. — Isso é... humm... tenho certeza de que vai ser bom para você — diz para mim, mas evita olhar para Skyler. Esquisitão. O elevador apita e percebo que é o andar da IG. Ele deve trabalhar em um andar mais alto. Preciso que Wendy ou Nate descubram. Na primeira checagem, ele estava limpo. Nada de estranho, além do fato de mudar de emprego regularmente. Rachel sai com Sky do elevador e segura a porta aberta para mim. — Tchau, Skyler. Espero te ver de novo em breve! Vamos tomar um café de novo — Benny grita. Pouso a mão na lombar dela. — Acho que não... amigo — rosno e estreito o olhar, deixando bem claro o que penso sobre sua ideia. — Humm, tudo bem. Tenha um bom dia, Skyler. — Benny acena como louco, mas já estou conduzindo-a para a frente, de modo que ela não retribui o gesto. — Qual é o problema desse cara? Ele age como se fôssemos amigos, quando na verdade passamos só um dia juntos filmando um comercial, os dois crianças. Aí eu o encontro uma vez e o que, viramos melhores amigos? — Skyler faz uma careta. Passo o braço em volta de seus ombros. — Eu vou cuidar disso.

Ela ri, mas não diz nada enquanto nos dirigimos à IG com os cachorros no colo. No instante em que abrimos a porta, Annie se levanta. — Bem-vindos de volta, sr. Ellis, srta. Paige. — Annie, pode me chamar de Parker. Skyler dá de ombros. — E eu de Sky. Somos todos uma família aqui, Annie. O sorriso dela cresce e a vermelhidão sobe de seu peito e tinge as bochechas. Ela leva as mãos ao rosto e olha para as bolinhas caninas que temos nos braços. — Meu Deus, quem são essas coisinhas? Skyler entrega Midnight para Annie e o apresenta. O cachorro fica perfeitamente bem com a moça. Coloco Sunny no chão e ela sai farejando pela sala. — Aquele é seu, Parker? Acabei de adotar um golden retriever também! Fiz como a Skyler disse no vídeo — declara, orgulhosa e mais confiante do que jamais a vi. — Sim, são os nossos cachorros — digo, olhando para minha mulher enquanto enfatizo a palavra “nossos”. Sky abre um grande sorriso. — O Parker e eu temos novidades! — Ah... achei mesmo ter ouvido a voz de vocês. — É Wendy que entra. Seu cabelo vermelho está alisado para trás com um topete interessante, bufante. Está usando luvas verdes tipo arrastão, sem dedos, que combinam com os sapatos de camurça verde. Calça skinny preta que chega até os tornozelos, camiseta rasgada branca e blazer branco de mangas três quartos. Os farrapos da camiseta deixam ver o sutiã de renda amarela por baixo. Nas orelhas, um par de brincos compridos, tipo candelabro. E sua nova coleira e cadeado, sempre presentes. — Você parece uma rock star — digo, colocando uma das mãos no quadril e a outra no queixo, avaliando-a. — Porque eu sou uma rock star! Hellooo! Já nos conhecemos? — diz, sorrindo, e abre os braços, me puxando para um abraço. Eu a envolvo e inspiro seu aroma de coco e sol. — Certas coisas em você nunca mudam — sussurro em seu ouvido, apertando-a.

— O que, minha personalidade cintilante? — Você tem sempre o mesmo cheiro. — Eu não uso perfume. — Eu sei. É o seu cheiro. Pergunte ao Mick um dia, veja o que ele diz. Se ele for sensível a cheiros como eu, vai saber do que estou falando. Ela se afasta e sorri, e seus olhos azuis brilham alegremente. — Como vai, chefe? Eu a solto e indico nossos novos bebês peludos. — Muito bem, considerando tudo. — Ai, meu Deus! Eles são perfeitos! Só perdem para a minha Lauren — diz, orgulhosa. — Lauren? — sorrio, lembrando vagamente que Sky mencionou o nome da cachorrinha de Wendy. — Você batizou a sua cachorra de Lauren? Ela faz biquinho. — Sim. Como Sophia Loren, mas com L-A-U-R-E-N, porque é mais fofo. O Mick era obcecado pela Sophia Loren... antes de me conhecer, claro. Agora a obsessão dele é por mim. Ela dá uma piscadinha e tira o celular do bolso de trás da calça. Mostra a tela de fundo: uma foto de Mick segurando uma cachorra de pelo amarelo-avermelhado. Ele não está sorrindo, mas segura o animal de forma protetora. — A minha Lauren é louca pelo Mick. Compreensível. Nós somos as duas garotas do papai — e sorri, sacana. — Tá certo, abusada. — Suspiro e concentro a atenção em Skyler, até Bo entrar na sala. — Irmão! — Ele caminha até mim e me puxa para um abraço, batendo em minhas costas com força. — Que bom que você está em casa. Quando recuo, percebo longos pelos brancos em sua camiseta preta. Puxo um e mostro para ele. — Snowflake? Ele dá de ombros. — O que eu posso dizer? A bichana me ama. — Metido! — Wendy lhe dá um soco no braço quando passa atrás dele para abraçar Sky e conhecer nossos cães.

— Tenho uma coisa para você, mas deixei na sua sala — ele me diz, misterioso. — Ah, é? Devo ficar com medo? Bo sorri e passa um braço pelo meu pescoço. — Qualquer outro dia, talvez. Mas hoje não. Acho que você vai gostar da surpresa. — Meu bem, eu vou levar os filhotes para a cobertura para eles se acostumarem com a segunda casa deles. — Tudo bem. Te vejo no almoço? — Vou preparar a minha especialidade! — Ela vai em direção à porta de vidro onde Rachel está, levando nossos cães. — Digam tchau para o papai. — Papai? — Bo morre de rir. — Cala a boca, Snowflake. Ele sorri e vai me empurrando para minha sala. — Qual é a especialidade dela? É um código para uma rapidinha na hora do almoço? Eu rio. — Não. A especialidade dela é sanduíche de pasta de amendoim e geleia. — Está brincando! Sacudo a cabeça e rio. — De jeito nenhum. Mas a rapidinha está garantida. — Aí sim. Quando chegamos à minha sala, ele abre a porta e eu entro. No começo não vejo nada fora de lugar, até que contorno minha mesa. No meio da minha cadeira está um gato amarelo enorme dormindo. Olho para Bo e abro um sorriso largo. — Você pegou um gato para mim? — Sim, um belo macho para você. Dessa vez lhe dou um soco no outro braço. — Que saco, você e a Wendy! Parem de me bater. Eu vou ficar cheio de hematomas, o que significa que vou ter que arranjar uma mocinha para me fazer sarar. — Faz uma pausa dramática. — Na verdade, talvez seja bom você me bater de novo — diz, subindo e descendo as sobrancelhas. — Não me provoque — rosno de brincadeira.

Viro minha cadeira. O gato ergue a cabeça, e me vejo mirando seus surpreendentes olhos verdes. — Qual é o nome dele? — Ele não tem nome. Achei que devíamos deixar isso com você. Ele era usado para cobrir as fêmeas. O veterinário que o examinou disse que tem um ano ou dois. Parece que é manso e supertranquilo. Deixei o bichano aqui pouco depois de aterrissar e ele ficou numa boa, tomando sol. E saca só: ele ficou livre para andar pela agência e escolheu a sua sala. Isso me faz sorrir. Surgem em minha mente imagens agradáveis de Spartacus em Montreal, até eu lembrar que já tenho dois cachorros. Acrescentar um gato agora não é uma boa ideia. — Irmão, eu não posso levar esse gato para casa... Os cachorrinhos... — começo. Mas Bo me interrompe com um aceno de mão. — Eu conversei com o Roy, a Wendy e a Annie. Achamos legal mantê-lo aqui na agência. Todo escritório precisa de um belo ma... Tampo sua boca com a mão. — Tá bom, já entendi. Bo lambe minha palma. Retiro-a e a esfrego na perna da calça. — Você me lambeu! — Você pôs a mão na minha boca, cara. Não me responsabilizo pelo que acontece quando um pedaço de carne se aproxima desse orifício. — Você é nojento. — Obrigado — diz, mordendo o lábio inferior e sorrindo. — Muito legal, mas como nós vamos cuidar dele se estamos sempre viajando? — A Annie se ofereceu para limpar a caixa de areia todo dia e dar água e comida quando chegar e sair. É um gato, cara. Eles não precisam de muita coisa. Vamos deixar as portas abertas à noite para ele poder andar por aí. É metro pra caramba para um animal. Ele vai ser o rei do castelo. Está aqui faz dois dias e já adora. Olhe só para ele. Olho para o gato deitado na minha cadeira de couro preto. Ele levanta uma pata e a lambe levemente antes de bocejar, baixar a cabeça e fechar os olhos.

— Que nome você vai dar para ele? — Bo pergunta. Olho para meu novo amigo. — Bom, se ele é o rei do escritório e um procriador, acho que vou chamá-lo de Zeus. — Ótimo nome, irmão. Perfeito. — Agora eu só preciso fazê-lo sair da minha cadeira para poder trabalhar. Ele ri enquanto se dirige à porta. — Boa sorte. Ele tomou posse do lugar. Você vai ter que lutar com ele para recuperá-lo. Sem um pingo de medo, levanto o gato e o coloco no chão. Zeus se senta todo pomposo e lambe a pata, depois olha para mim com seu olhar esmeralda e mia. — Este lugar é meu, Zeus. Vá se acostumando — digo. Ele inclina a cabeça e pula no meu colo. Dá uma voltinha, deita e olha para mim. Então mia mais uma vez antes de baixar a cabeça e fechar os olhos. Passo os dedos pelo seu pelo macio e sedoso. — Tudo bem. Acho que nós podemos dividir.

Skyler

— Passarinha, eu sei que nós soltamos o comunicado à imprensa sobre a sua mudança para Boston, mas tem certeza de que é a decisão certa? Você é uma garota do agito, uma garota da cidade. Franzo a testa. Na verdade, no fundo eu não sou. O trabalho é que sempre me levou às grandes cidades, de Los Angeles a Nova York. Como Tracey está estabelecida em Nova York, fazia sentido que eu morasse lá também. Além disso, Boston fica a cinco horas de avião de LA, ou sete a oito de Paris e outros lugares da Europa onde eu teria que filmar. — Não muda muito. Eu vou morar em Boston, que não é uma cidade pequena — digo. — Muda tudo. — Como assim? Ainda estou na costa Leste. A mesma distância de avião das principais cidades, além de ser mais fácil para rodar a série Classe A. E o meu namorado mora aqui, e nós demos um passo adiante. Estou tão animada! Nem acredito que foi ele que sugeriu! — Isso te surpreende? Ele namora Skyler Paige, a atriz mais desejada do mundo. Todo mundo quer um pedaço de você. Suas palavras me descem de um jeito desconfortável e me deixam um gosto amargo na boca. — Ele não quer um pedaço de mim, Flor. Ele me quer inteira. De corpo e alma. É sério. — Bom, acho que vou acreditar quando passar mais tempo com vocês juntos. — Legal! — digo, sorrindo, gostando de ver seu tom de voz deixar de parecer pessimista e ficar mais agradável. — Você vai ter que vir para as filmagens de qualquer maneira, então nós vamos passar muito tempo juntas.

Os cachorros entram correndo no quarto e me acompanham até o banheiro, se contorcendo e choramingando. — Ei, Trace, vou ter que desligar. Os bebês precisam ir dar uma volta. — Ainda não acredito que você adotou dois cachorros. Que mulher louca. Como se você tivesse tempo para animais de estimação. — Bom, espero que em um futuro bem próximo eu tenha muito mais tempo. Acaricio meus cães e penso na ideia que tive sobre abrir uma escola de atuação. Mas ainda quero falar com Parker sobre isso. — O que você quer dizer? — Tracey pergunta, com tensão na voz. Os cachorros batem em minhas pernas de novo. — Trace, não posso falar sobre isso agora. Preciso levar os bebês para fora logo. A gente conversa depois. Te amo, tchau! — Desligo e chamo Rachel, que está em algum lugar da casa. — Rach, eu preciso levar os filhotes para fazer xixi de novo! Olho para o espelho à minha frente e ajeito o cabelo enquanto penso no caso em que Parker trabalhou e em como ele acabou com a Pure Beauty Farmacêutica e a PB Insumos. O que eles fizeram foi arriscado, e, depois de ouvir todos os detalhes, senti medo de que ele ou a agência sofressem reações violentas. Mas a gravidade do que foi encontrado naquele laboratório e a conexão com a Pure Beauty alcançaram proporções astronômicas. Isso me lembra de checar todas as minhas marcas de maquiagem para ter certeza de não usar produtos deles. Abro a gaveta de cosméticos e observo alguns tubos e pacotes fechados de sombras e cremes. Imediatamente reconheço alguns dos nomes que vi na extensa lista na TV outra noite. Jogo esses poucos produtos no lixo. Vou comprar maquiagem nova, orgânica. Pego um batom e noto que é vermelho-cereja, de uma das marcas citadas. Faço uma careta e vou jogá-lo fora quando tenho uma ideia. Me olho no espelho. Olhos castanhos não muito distantes nem próximos demais. Cabelo loiro comprido e selvagem. Poderia ser um pouco domado. Lábios cheios em forma de coração. Sobrancelhas arqueadas e

maçãs altas e arredondadas. Que preço eu pagaria para permanecer jovem e me sentir bonita? Estremeço, abro o batom e pouso a ponta vermelha no espelho. O que importa é a beleza interior. Escrevo as palavras no espelho para me lembrar de nunca achar que a imagem diante de mim é permanente. Qualquer preço é alto demais para distorcer o que a genética e o Senhor me deram. Entendo a pressão para continuar e parecer jovem, porém, mais que isso, penso que o envelhecimento mostra que eu vivi a vida. As rugas de sorriso significam que eu estou feliz o tempo todo. As rugas entre as sobrancelhas e os vincos nos olhos significam que eu cresci, aprendi, mudei e vivi todos os dias ao máximo. Neste momento, prometo a mim mesma não cair na armadilha de não me achar boa o suficiente, jovem o suficiente ou bonita o bastante para as pessoas ao meu redor, para meus fãs ou meu namorado. Eu vivo por mim. Minha beleza é interior, e espero que apareça do lado de fora também. Tomada a decisão, falo para meus bebês: — Vamos lá, galera, vamos fazer xixi e buscar o papai para almoçar. Que tal? Eles pulam em volta das minhas pernas. Tirando Parker, não há nada que eu ame mais neste mundo que esses dois cachorros. Em três dias, eles já possuem completamente a minha alma. Midnight se senta quietinho, como um bom menino, enquanto fecho sua coleira. Sunny gira em volta das minhas pernas algumas vezes antes de imitar o irmão. — Boa menina, bom menino. — Acaricio as duas cabecinhas enquanto Rachel se aproxima. — Estive pensando. E se nós colocarmos um pouco de grama em um dos terraços? — sugere. Franzo a testa. — Grama sintética? Ela sacode a cabeça. — Não, grama de verdade. O Nate pode fazer uma plataforma, tipo um canteiro, só com grama, e os cachorros vão ter um lugar

para fazer xixi e cocô sem precisar pegar o elevador e ir até a frente do prédio, onde os paparazzi podem tirar fotos suas a cada trinta minutos. Meu coração bate forte. Olho para a segunda varanda. Não tem muita coisa lá, só uma mesinha e cadeiras, algumas plantas e meus tapetes de ioga. — Pode funcionar. Você acha que ele consegue fazer isso depressa? Rachel sorri, o rabo de cavalo loiro caído sobre o ombro. — Bem depressa, considerando que eu já o mandei ao depósito de material de construção comprar as coisas e arrumar alguém para ajudar. — Maravilha! — digo, espantada. — Você é demais, Rach. — Pode crer! — Ela me dá uma piscadinha. — Vamos. Por enquanto, ainda temos que treinar os cachorros. — Legal. Quando acabarmos, preciso pegar o Parker para almoçar. — E se eu te deixar no escritório dele e descer com os cachorros? Você me liga quando estiver descendo e eu encontro vocês na frente do prédio. Desde que esteja com o Park, você vai ficar bem. Sorrio. Sim, com ele eu estou bem. Ter esse homem nos braços é um bálsamo. Sou uma mulher de sorte, com certeza. — Boa ideia. Pegamos o elevador e ela me deixa na IG. Entro e encontro Annie ao telefone. Aponto para a sala de Parker, ela anui e acena para mim. Quando chego à sala dele, me surpreendo ao encontrar a porta aberta. Normalmente ele prefere silêncio e privacidade enquanto trabalha. Conforme me aproximo, ouço sua voz suave e meiga, como se estivesse falando com uma criança. Paro à porta e olho para dentro. Parker está sentado, e em cima da mesa, bem a sua frente, há um gato amarelo. Ele está tão concentrado no gato que nem percebe que eu cheguei. — Zeus, eu já entendi que você quer dormir o dia todo no meu colo ou na minha mesa. Mas você precisa escolher outro lugar, cara, senão não vai dar certo.

Eu rio, e o olhar azul do meu namorado se eleva para encontrar o meu. — Oi, baby. — Quem é esse aí? — pergunto ao entrar. — Presente do Bo. Ele resgatou este carinha para mim quando pegou a Snowflake. Dei a ele o nome de Zeus. Passo a mão na cabeça e nas costas do gato. — Ele é mais macio ainda que os nossos cachorrinhos. Ele sorri. — Eu sei. É um gatinho de colo. Só quer ficar comigo. — Bom, você queria um gato amarelo e agora tem um. Mas e os nossos bebês? Não sei como vai ser enquanto treinamos os cachorros. Ele pega o gato e o coloca no chão. Zeus prontamente vai até uma fresta de sol de meio metro no carpete, perto da mesa de Parker, e deita ali. Seu pelo dourado brilha. — A equipe decidiu que ele vai ficar no escritório. — Legal! — digo, batendo palmas, mas não muito alto, para não incomodar Zeus e seu banho de sol. Apoio o traseiro na mesa de Parker. — Eu adoro todo mundo aqui. Agora todos nós temos bebês peludos e um gato no escritório. Parker levanta, se acomoda entre meus joelhos e pousa as mãos no meu pescoço, erguendo meu queixo com os polegares. — Eu também. Mas sabe o que eu adoro mais que tudo isso junto? — diz, erguendo a sobrancelha e sorrindo. Mordo o lábio e o lambo devagar. Ele observa o movimento, e suas narinas se dilatam um pouquinho antes de ele se inclinar para mim. — O quê? — digo sem fôlego, devido a sua proximidade. Seu cheiro cítrico e amadeirado invade meus sentidos. Enlaço seu tronco com os braços e seus quadris com as pernas, cruzando os tornozelos atrás de suas coxas. — Você sabe... — ele provoca. Sorrio e falo bem pertinho de sua boca: — Diga mesmo assim. — Eu te amo mais que qualquer coisa.

— Humm. — Suspiro em sua boca enquanto ele me beija, afastando qualquer pensamento sobre bebês peludos, xixi e cocô no lugar certo, grama no terraço e tudo o mais. Ele mergulha a língua em minha boca, e sinto o sabor de café misturado com seu gosto único. Mergulho a língua na dele também. Quero um sabor mais profundo. Parker passa as mãos pelas minhas costas até seus dedos encontrarem a bainha da minha blusa. Ele a levanta alguns centímetros para poder acariciar minha carne nua. Parker adora me tocar pele com pele. Depois de deixá-lo explorar minha boca, mordiscar meus lábios e beijar meu pescoço, onde inala repetidamente meu perfume, por fim suspiro e empurro levemente seu peito. — A Rachel está nos esperando com a Sunny e o Midnight. Pensei em pegarmos uns sanduíches no café e levá-los ao parque. Os paparazzi já tiraram muitas fotos de mim e dos cachorros, de modo que estão entediados, e não há tantos. Acho que conseguimos enganá-los pegando os sanduíches, entrando no carro e pedindo para a Rachel nos levar ao parque. O que você acha? — Acho perfeito, meu pêssego. Me deixe só ver se o Zeus está bem acomodado. Ainda colada nele, sinto um zumbido e uma vibração na barriga. Ele recua e pega seu celular. Lê algo na tela, e vejo seu maxilar retesar e seu olhar se estreitar. — Que foi? Posso ouvir seus dentes rangendo. — Nada. Pouso a mão em seu peito. — Não me esconda as coisas. Você ficou perturbado. Quero saber por quê. Ele inspira devagar antes de me mostrar a mensagem. VOCÊ A LEVOU PARA LONGE DE MIM. VOCÊ NÃO É DE CONFIANÇA.

Sinto um arrepio na nuca.

— Achei que esse maluco tivesse desistido. Tivemos uma boa folga, e a última mensagem parecia mais agradável. O que você acha que isso significa? — pergunto. Engulo em seco e retorço as mãos. Uma eletricidade belisca minhas terminações nervosas, me fazendo sentir insegura. Parker responde com a voz tensa e palavras comedidas: — Obviamente, quem quer que seja, ficou sabendo que você vai permanecer em Boston. Você contou para alguém em particular? — Sim, para o mundo inteiro! — digo, com uma pontinha de pânico. — Estive com a Tracey há alguns dias em Nova York, quando você estava em Washington. Nós jantamos e eu contei para ela que ia morar definitivamente aqui e que nós íamos começar a procurar uma casa e adotar animais de estimação. A Tracey soltou um comunicado à imprensa sobre a minha participação oficial na série Classe A, com uma declaração minha sobre estar entusiasmada por me mudar para Boston e ficar mais perto dos meus amigos e do meu namorado. — Parece que o nosso amiguinho — ele sacode o telefone com desdém — não gostou da ideia de você se mudar. Isso pode significar que a pessoa mora em Nova York, ou em algum lugar próximo. Sacudo a cabeça e passo a mão pelo cabelo. — Ou pode ser alguém que ficou louco porque nós adotamos os cachorrinhos juntos. Acabamos de conversar com os repórteres hoje de manhã. Talvez ele tenha percebido que o nosso relacionamento é sério. Além do fato de o comunicado à imprensa ter sido divulgado. Ou seja, voltamos à estaca zero. Ele solta um suspiro pesado quando seu telefone vibra de novo. Dessa vez nós dois lemos a mensagem. LIÇÃO APRENDIDA. AGORA É A SUA VEZ DE APRENDER UMA LIÇÃO.

— Ah, meu Deus. — Cubro a boca com a mão. — Ele vai te fazer mal, tenho certeza. Ele está bravo e vai machucar você! —

Lágrimas fazem meus olhos arderem, mas elas não têm chance de cair antes de Parker me abraçar. — Shhh... Nada vai acontecer comigo. Está tudo bem. Nós vamos cuidar disso. A tensão pode ter aumentado, mas isso não significa que a pessoa vai atacar. Não houve nenhum desdobramento físico até agora. Engulo em seco e minha voz treme. — Até agora! Ele ainda não fez nada! É uma questão de tempo. Não posso nem pensar em perder você, Parker. Ele mergulha o rosto em meu pescoço, apertando firme meu corpo contra o seu. Seus braços são como uma barreira segura contra qualquer coisa que possa estar ali fora esperando para me pegar. Segura. Eu me sinto segura em seus braços. — Respire, baby. Não vai acontecer nada. Vamos pôr o Nate e a Wendy para investigar isso imediatamente. — Ele passa as mãos para cima e para baixo em minha coluna. — Meu bem... — As palavras saem trêmulas de meus lábios. — Eu não posso te perder. Ele me afasta um pouco, até nossos olhares se encontrarem. — Você não vai me perder. O sujeito está de brincadeira. É um fracassado que está ligado em você de um jeito doentio. Ele não fez nada além de nos provocar, não é? Lambo os lábios salgados e assinto. — Pois bem. Isso significa que é um covarde. Nós precisamos ser espertos, e somos. Agora vamos lá. Nossos cães querem ir ao parque, e eu preciso dar comida para a minha mulher, já que ela não fez a sua especialidade. — Pode ser no jantar? — sugiro. — Como você quiser. — E me puxa contra o peito. — Eu só quero você, nossos filhotes e nossos amigos... e o Zeus. Park ri e diminui um pouco meu medo e minha ansiedade. — E o Zeus, claro. — Então beija meus lábios e enxuga as poucas lágrimas que derramei. — Não preocupe mais a sua linda cabecinha com isso. Eu vou cuidar de tudo, está bem?

— Tudo bem. Mas não me esconda nada. Eu preciso saber o que está acontecendo, senão vou ter mais medo. Parker me pega pela cintura e me leva até a porta. — Vamos bater um papo rápido com a Wendy e depois vamos ao parque. Nada além de céu azul, grama verde e os nossos bebês — diz, apertando meu ombro carinhosamente. — Só nós. Contra o mundo. — Isso mesmo. Você, eu e os nossos filhotes. Ele me dá uma piscadinha e eu sorrio. Sei que Parker não vai parar até encontrar essa pessoa. Só preciso aguentar firme e confiar. Ele vai cuidar de mim e da nossa nova pequena família.

Uma gravadora de Madri contrata a International Guy para transformar Juliet Jimenez, uma menina com voz de anjo, em uma pop star sexy e poderosa. O cliente quer os mesmos resultados que eles obtiveram no desfile de moda em Milão, de modo que Parker aciona o mestre do sexo... Bogart Montgomery. Com os planos para a filmagem da série Classe A evoluindo, Parker sugere que Skyler viaje com eles. Sua inclusão no trabalho se revela fundamental para um bom resultado. Enquanto isso, uma antiga cliente da agência faz uma visita surpresa. No penúltimo volume da série, encontramos os amigos devastados pelos acontecimentos recentes. Amizades destruídas, membros da equipe em condições críticas, e a ameaça a Skyler e Parker nunca foi tão real. Mesmo assim, uma situação leva dois membros da agência ao Rio de Janeiro, onde o amor, a honra e a família ganham precedência. E, bem quando pensamos que já está tudo solucionado, descobrimos que alguns relacionamentos são mais deturpados do que poderíamos imaginar. Algumas verdades podem libertar... ou acabar com tudo de uma vez. No último passo da jornada de Parker e Skyler, a agência aceita um trabalho que considera fácil em Los Angeles. Uma produtora influente e absurdamente sexy está criando uma versão mais moderna daqueles programas de namoro na TV. A equipe da IG é chamada para ajudar a escolher os melhores casais a fim de deixar o programa engraçado, sedutor e quente e torná-lo um campeão de audiência. O que eles não sabem é que tudo isso é um grande esquema para colocar Parker sob os holofotes, como alvo dos desejos mais loucos de uma linda mulher.

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International Guy: Milão - vol. 4 Carlan, Audrey 9788576867432 134 páginas

Compre agora e leia Mesma autora da série A Garota do Calendário, que vendeu mais de 670 mil exemplares no Brasil. International Guy é a agência de Parker Ellis, um dos maiores especialistas do mundo em vida e amor, que tem como missão ajudar as mulheres em questões tão diversas quanto se sentir sexy e poderosas, aprender a administrar um império empresarial ou conquistar o homem dos seus sonhos. Parker e seus dois sócios atendem mulheres ricas do mundo todo, como atrizes de Hollywood, membros da realeza e CEOs de multinacionais bilionárias. E, às vezes, eles não podem evitar que as coisas esquentem e vão parar na cama de suas clientes. Literalmente. Parker adora sua vida de playboy e não está procurando compromisso. Afinal, há um mundo inteiro à sua frente: os negócios o levam de Paris a Milão, de Berlim ao Rio de Janeiro. Mas, conforme ele pula de cidade em cidade — e de cama em cama —, é possível que acabe encontrando mais que sexo ao longo do caminho... Neste volume, o trabalho é em Milão, onde os executivos vão ajudar mulheres comuns a descobrir a arte da sedução.

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A garota do calendário: Janeiro Carlan, Audrey 9788576865247 144 páginas

Compre agora e leia Fenômeno editorial nos Estados Unidos com mais de 3 milhões de cópias vendidas. Mia Saunders precisa de dinheiro. Muito dinheiro. Ela tem um ano para pagar o agiota que está ameaçando a vida de seu pai por causa de uma dívida de jogo. Ela precisa de um milhão de dólares. A missão de Mia é simples: trabalhar como acompanhante de luxo na empresa de sua tia e pagar mensalmente a dívida. Um mês em uma nova cidade com um homem rico, com quem ela não precisa transar se não quiser? Dinheiro fácil. Parte do plano é manter seu coração selado e os olhos na recompensa. Ao menos era assim que deveria ser... Em janeiro, Mia vai conhecer Wes, um roteirista de Malibu que vai deixá-la em êxtase. Com seus olhos verdes e físico de surfista, Wes promete a ela noites de sexo inesquecível — desde que ela não se apaixone por ele.

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