Fruto Do Amor-Anne Mather

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Anne Mather - Fruto Do Amor The Greek Tycoon's Pregnant Wife

O seu casamento acabara, mas… e o bebê? O casamento entre Jane e o bonito magnata grego, Demetri Souvakis, chegara ao fim há já cinco anos. De rastos e traída, Jane abandonara-o e começara uma nova vida. Agora, Demetri precisava urgentemente de um herdeiro, por isso pediu o divórcio à sua bonita esposa. Contudo, antes de assinar os papéis, desejava ter uma última noite no leito matrimonial, 1

pelos velhos tempos, claro… O que não desconfiava era que esse último encontro teria semelhante resultado. Como podia dizer ao homem do qual estava prestes a divorciar-se que ia ter um filho fruto do amor dele?

Digitalização: Fátima Tomás Revisão: Fátima Tomás ANNE MATHER HARLEQUIN Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, © 2007 Anne Mather. Todos os direitos reservados. FRUTO DO AMOR, N.° 1080 - 2.7.08 Título original: The Greek Tycoon's Pregnant Wife Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres. Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV. Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência. ®, Harlequin, logotipo Harlequin e Sabrina são marcas registadas por Harlequin Books S.A. ® e São marcas registadas pela Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas que têm ® estão registadas na Oficina Espanola de Patentes y Marcas e noutros países. I.S.B.N.: 978-84-671-6299-8 Depósito legal: M-18347-2008 Fotocomposição: M.T. Color & Diseno, S.L. Las Rozas Impresso: COIMOFF, S.A. Arganda del Rey DISTRIBUIDOR EXCLUSIVO PARA PORTUGAL: LOGISTA Rua República da Coreia, 34 Ranholas-2710 Sintra-Portugal

Série Magnatas Gregos (Greek Tycoons) Autor

Título

Ebooks

Data

Constantine's Revenge

(01) - Sabrina EEF 038 - Planos De Sedução

Jan-2000

Jacqueline Baird

Husband On Trust

(02) - ?????

Feb-2000

Lynne Graham

Expectant Bride

(03) - Julia 1084 - Noiva Misteriosa

Mar-2000

Kate Walker

2

Autor

Título

Ebooks

Data

Lynne Graham

The Cozakis Bride

(04) - BD 740.1 - Passado Que Condena

May-2000

Michelle Reid

The Tycoon's Bride

(05) - Rede De Mentiras

May-2000

Anne Mather

The Millionaire's Virgin

(06) - Julia 1100 - Outra Vez a Paixão

Jun-2000

Penny Jordan

The Demetrios Virgin

(07) - Julia 1183 - Romance na Grécia

Apr-2001

Jacqueline Baird

Marriage At His Convenience

(08) - BD 775 - Paixão Inesquecível

Aug-2001

Sara Wood

The Kyriakis Baby

(09) - Sab.1261 - Outra Vez o Amor

Nov-2001

Helen Brooks

The Greek Tycoon's Bride

(10) - Sab.1243 Fama de Irresistível

Jun-2002

Jacqueline Baird

The Greek Tycoon's Revenge

(11) - Dívida Saldada

Aug-2002

Anne Mather

His Virgin Mistress

(12) - Terríveis Suspeitas (PtPt)

Feb-2003

Julia James

The Greek Tycoon's Mistress

(13) - Sab.1301 - O Poder de Um Jun-2003 Sedutor

Lynne Graham

The Contaxis Baby

(14) - Dormindo com o Inimigo

Jul-2003

Cathy Williams

Constantinou's Mistress

(15) - Furacão Do Desejo (PtPt)

Aug-2003

Sharon Kendrick

The Greek's Secret Passion

(16) - Px 02 - Um Amor Secreto

Sep-2003

Lucy Monroe

The Greek Tycoon's Ultimatum

Kim Lawrence Cathy Williams

(17) - Julia 1271 - Chantagem De Oct-2003 Amor

The Greek Tycoon's Wife (18) - Px 06 - O Magnata Grego The Greek Tycoon's

(19) - Js 012 - Ironias Do Amor

Nov-2003 Feb-2004 3

Autor

Título

Ebooks

Data

Secret Child Julia James

The Greek's Virgin Bride

(20) - Js 07 - A Prometida

Mar-2004

Penny Jordan

The Mistress Purchase

(21) - Px 020 - Procura-se Uma Amante

Apr-2004

Lynne Graham

The Stephanides Pregnancy

(22) - Paixão No Egeu

May-2004

Sara Craven

His Forbidden Bride

(23) - ?????

Jun-2004

Sara Wood

The Greek Millionaire's (24) - Js 010 - O Casamento Ideal Jul-2004 Marriage

Sarah Morgan

The Greek's Blackmailed Wife

(25) - A Esposa Chantageada (ARE)

Sep-2004

Jacqueline Baird

The Greek Tycoon's Love-Child

(26) - ??????

Oct-2004

Trish Morey

The Greek Boss's Demand

(27) - O Amante Grego (PRT)

Jan-2005

Lynne Graham

The Greek Tycoon's Convenient Mistress

(28) - A Amante Do Grego

Feb-2005

Susan Stephens

The Greek's Seven-Day Seduction

(29) - ??????

Mar-2005

Lucy Monroe

The Greek's Innocent Virgin

(30) - Js 072 - Falsa Ilusão

May-2005

Kim Lawrence

Pregnant By The Greek Tycoon

(31) - Js 071.2 - Sopro De Vida

Jul-2005

Julia James

The Greek's Ultimate Revenge

(32) - ?????

Oct-2005

Jacqueline Baird

Bought By The Greek Tycoon

(33) - Px 034 - Destinos Entrelaçados

Jan-2006

4

Autor

Título

Ebooks

Data

Julia James

Baby of Shame

(34) - Px 036 - Até o Fim

Feb-2006

Melanie Milburne

The Greek's Bridal Bargain

(35) - ??????

May-2006

Cathy Williams

At The Greek Tycoon's Bidding

Kate Walker

The Antonakos Marriage

Melanie Milburne The Greek's Convenient Wife

(36) - Js 064.1 - Pura Sedução ou Jul-2006 À Mercê Do Grego (PtPt) (37) - Js 64.2 - Promessa Do Coração

Aug-2006

(38) - ??????

Sep-2006

Lynne Graham

Reluctant Mistress, Blackmailed Wife

(39) - Px 063 - Chantagem Do Desejo

Nov-2006

Cathy Williams

At the Greek Tycoon's Pleasure

(40) - Js 058 - Bel-Prazer

Dec-2006

Trish Morey

The Greek's Virgin

Anne McAllister

The Santorini Bride

Jane Porter

At The Greek Boss's Bidding

Chantelle Shaw

The Greek Boss's Bride

(44) - Noites No Mar

May-2007

Natalie Rivers

The Kristallis Baby

(45) - Amor Em Corfu

Jun-2007

Julia James

(41) - Js 93.2 - Loucos De Paixão Jan-2007 (42) - Amor Mediterráneo (Espanhol)

Feb-2007

(43) - Js 088.2 - Tentadora Paixão Apr-2007

Bought For The Greek's (46) - Js 070 - Esposa De Ocasião Jul-2007 Bed (Comprada Por Um Grego)

Lynne Graham

The Petrakos Bride

(47) - Px 073 - Amor Sem Fim

Helen Bianchin

The Greek Tycoon's Virgin Wife

(48) - PX 101.1 - Escolha Perfeita Oct-2007

Kate Walker

The Greek Tycoon's

(49) - Para Lá Do Esquecimento Nov-2007

Aug-2007

5

Autor

Anne Mather

Título

Ebooks

Unwilling Wife

(PtPt)

The Greek Tycoon's Pregnant Wife

(50) - Fruto Do Amor

Dec-2007

(51) - Px 092 - Sedução e Vingança

Feb-2008

Susan Stephens Bought: One Island, One Bride

Data

Kate Hewitt

The Greek Tycoon's Convenient Bride

(52) - Px 188 - A União Do Desejo Apr-2008

Michelle Reid

The Markonos Bride

(53) - Px 105 - Renascer Do Amor May-2008

Sarah Morgan

Bought: The Greek's Innocent Virgin

Abby Green

The Kouros Marriage Revenge

(55) - Px 177 - Negócios e Prazer Sep-2008

Kate Walker

Bedded By The Greek Billionaire

(56) - Px 153 - Somente Você ou Nov-2008 Dueto 03.1 - Inocência

Anne McAllister

Antonides' Forbidden Wife

(57) - Js 109.2 - Doce Regresso

Jan-2009

Lucy Gordon

The Greek Tycoon's Achilles Heel

(58) - Js 137.1 - Ponto fraco

2010

Catherine George

The Power Of The Legendary Greek

(59) - Dueto 19.2 - O Poder Do Desejo

2010

Kate Walker

The Good Greek Wife?

(60) - Js 141 - O Retorno

2010

Robyn Donald

Powerful Greek, Housekeeper Wife

(61) - Js 146.1 - Olhos De Sereia

2010

Trish Morey

His Mistress For A Million

(62) - Px 166 - Ao Bel-Prazer

2010

(54) - Js 103.2 - Sedução Implacável

Aug-2008

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CAPÍTULO 1 Jane entrou no seu apartamento e foi directamente ao frigorífico. Talvez não houvesse nada para comer, mas sabia que deixara meia dúzia de refrigerantes. Tirou uma das latas, abriu-a e bebeu. Então, tirou os sapatos e foi para a sala. Alegrou-se de estar em casa. Olhou à sua volta e também se alegrou de ter conseguido que o construtor tirasse a divisória que separava a sala de jantar da sala de estar. Aquela zona, juntamente com uma cozinha muito pequena, o quarto e uma casa de banho, era o seu lar há cinco anos. Deixara a mala no hall minúsculo e, quando foi buscá-la, viu que a luz do atendedor de chamadas estava a piscar. Pensou, com resignação, que seria a sua mãe. Certamente, estava ansiosa por saber que a sua filha chegara a casa, sã e salva. Embora navegasse muito bem na Internet e, certamente, tivesse confirmado os voos que tinham aterrado em Heathrow, precisava de ouvir a voz da sua filha para ficar descansada. Jane carregou no botão, disposta a ouvir a voz da sua mãe. Os seus amigos sabiam que estivera fora e as chamadas de trabalho estavam desviadas para a galeria. Por isso, estava desprevenida quando uma voz masculina, conhecida e perturbadora, disse o seu nome. - Jane... Jane, onde estás? Se estiveres aí, atende. Ineh poli simandiko. É importante. Jane deixou-se cair na poltrona que tinha ao lado do telefone. Embora tivesse decidido firmemente não permitir que Demetri Souvakis voltasse a entrar na sua vida, não podia negar que aquela voz profunda e com um sotaque muito característico tinha a capacidade de fazer com que lhe fraquejassem os joelhos. No entanto, se conseguira ser multimilionário antes de ter feito vinte e cinco anos, não fora pela sua voz. Fora pela sua herança e porque não tinha compaixão nos negócios, uma falta de compaixão que se estendera à sua vida privada. Jane soprou e tentou acalmar-se. Então, ouviu outra mensagem. - Sou o teu marido. Sei que estás aí. Não me obrigues a ir ter contigo. Não podemos tratar-nos 7

como adultos civilizados? Aquela arrogância era-lhe característica. Assumia que ela estaria sempre ao seu dispor. Além disso, como se atrevia a apelidar-se "seu marido", quando passara cinco anos sem se preocupar em saber se estava viva ou morta? Sentiu tanta raiva que cravou as unhas nas palmas das mãos, mas isso não impediu que as lembranças dolorosas toldassem a objectividade que tanto lhe custara atingir. Como se atrevia a telefonar-lhe naquele momento, como se tivesse o mínimo direito de o fazer? Ela, por seu lado, eliminara-o da sua vida. Bom, quase... Suspirou. Lembrou-se de quando conhecera o seu pai na galeria de Londres onde ela trabalhava. Leo Souvakis fora muito encantador. Explicara-lhe que queria uma escultura para a Grécia. Se fosse possível, em bronze, para não destoar das restantes obras que coleccionara durante anos. Ela estava há pouco tempo naquela galeria, mas demonstrara habilidade para reconhecer o talento quando o via e aquela escultura da Deusa Diana, de um artista quase desconhecido, parecera-lhe a escolha mais adequada. Leo Souvakis ficara encantado, tanto com a escultura, como com Jane, e estavam a comentar as excelências da porcelana oriental quando Demetri Souvakis aparecera... Jane abanou a cabeça. Não tinha vontade de pensar naquilo. Acabava de chegar de uma viagem muito frutífera pela Austrália e pela Tailândia, e só queria meter-se na cama. Ia levantar-se, disposta a não se sentir intimidada, quando ouviu uma terceira mensagem. - Jane... Estás aí, querida? Acho que me disseste que chegarias às oito horas e já são oito e meia. Estou a começar a ficar preocupada. Telefona-me assim que chegares. Estou à espera. Jane tentou esquecer as outras mensagens e pegou no telefone. - Olá, mamã! Lamento que tenhas ficado preocupada. O avião fez uma escala imprevista no Dubai. - Ainda bem - a sua mãe pareceu aliviada. - Supus que teria acontecido algo do género. À excepção disso, fizeste boa viagem? Tens de me contar tudo ao almoço. Almoço? Jane conteve um resmungo. Não tinha forças para ir almoçar com a sua mãe. - Não poderá ser hoje - disse-lhe, com tom de desculpa. Sabia que a sua mãe não gostaria da recusa. Estou exausta. Tenho de dormir, pelo menos, oito horas antes de conseguir fazer algo. - Oito horas? Jane, eu quase nunca durmo mais de quatro horas. Não dormiste no avião? Muito pouco Jane teria gostado de ser menos sincera. - Podemos almoçar juntas amanhã... Assim terei tempo para me recompor. Fez-se silêncio. - Jane, estiveste fora quase três semanas. Tinha pensado que gostarias de ver a tua mãe. Sobretudo, quando sabes que passo o dia quase todo metida nesta casa. Jane esteve prestes a perguntar-lhe quem tinha a culpa disso, mas mordeu a língua para não começar uma discussão. - Porque não propões a Lucy que vá almoçar contigo? Tenho a certeza de que irá. - Eu também tenho a certeza - respondeu a sua mãe, com pouco entusiasmo. Além"disso, se a tua irmã vier almoçar, Peter e Jessica andarão a correr pela casa toda. - Mamã, são os teus netos! - Sim e não têm nenhuma disciplina. -Mamã...! - Está bem, se não podes dar-te ao trabalho de vires visitar a tua mãe, fico sozinha. É uma pena, queria contar-te quem veio visitar-me na semana passada. Teria sido Demetri? Jane respirou fundo para se acalmar. Tiveste uma visita? - perguntou, com um tom que tentou ser de ligeira curiosidade. - Que bom...! - Não foi nada bom! - replicou a sua mãe, com aborrecimento. - Suponho que te terá contado. Ele é o motivo para me adiares até amanhã? Não! - Jane susteve a respiração. - Suponho que te referes a Demetri. Deixou-me algumas 8

mensagens no atendedor de chamadas. Ao não obter resposta, terá suposto que saberias onde estava. - O que, naturalmente, sabia. - Disseste-lhe? - perguntou-lhe Jane, com receio. - Disse-lhe que estavas no estrangeiro - respondeu a senhora Lang, secamente. - Não esperarias que lhe tivesse mentido... - Não - Jane suspirou. - Disse-te do que quer falar comigo? - Como já te disse, se quiseres saber, terás de esperar até teres espaço na tua agenda repleta. Sabes que não gosto de comentar os assuntos familiares ao telefone - fez uma pausa. - Então, virás amanhã? Jane apertou os dentes. Era o que lhe faltava! Tivera uma viagem muito proveitosa e pensara tirar alguns dias livres antes de voltar para a galeria. No entanto, sentia-se obrigada a ir ver a sua mãe, nem que fosse só para saber o que estava a acontecer. -Posso ir jantar... Sabia que a sua mãe adoraria aquilo. Ter a sua filha mais velha numa situação comprometedora era um dos seus maiores prazeres. Enquanto vivera com Demetri, soubera perfeitamente que a sua mãe estava convencida de que aquele casamento correria mal. Quando fracassara, ela estivera presente para a apoiar, mas Jane também soubera que o fizera com uma certa satisfação, por ter voltado a provar que acertara. - Jantar? - pensou um segundo. - Referes-te a esta noite? Jane sabia que era ceder, mas estava demasiado cansada. - Quando te der mais jeito - respondeu, com aborrecimento. - Deixa-me uma mensagem quando tiveres decidido. - Isso parece-te uma forma de tratares a tua mãe? no entanto, a senhora Lang pareceu dar-se conta de que não era o momento de esticar a corda. - Esta noite parece-me perfeito, querida. Parece-te bem às sete horas ou é demasiado cedo? - Parece-me bem - respondeu Jane, inexpressivamente. - Obrigada, mamã. Até logo. Jane alegrou-se de desligar e, quando o telefone voltou a tocar, atendeu-o com um tom realmente irritado. No entanto, era uma chamada para tentar vender-lhe uma cozinha e desligou bruscamente. Apercebeu-se de que poderia ser Demetri, mas não lhe pareceu provável. Ele estaria em Londres por motivos de trabalho e não teria tempo para pensar na sua ex-mulher. Ela ocuparia um lugar muito baixo na sua agenda. Como sempre ocupara. A julgar pelo seu tom de voz, não tinha motivos para pensar que ele tivesse mudado. Suspirou, decidiu que desfaria a mala mais tarde e foi para a casa de banho, para tomar um duche. Viu-se ao espelho, afastou algumas madeixas de cabelo loiro da cara e pensou que parecia exausta, que mudara muito naqueles cinco anos. Tinha ligeiras rugas nos cantos dos olhos, mas continuava a ter a cútis suave noutras partes da cara. Naturalmente, tinha as ancas um pouco maiores, mas os seios continuavam firmes, embora também tivessem crescido. Pensou que tanto fazia. Apanhou o cabelo molhado e meteu-se, nua, entre os lençóis. Nem sequer a preocupação em saber o que Demetri quereria, conseguiu que mantivesse os olhos abertos. Acordou com o telefone. Ela achou que era o telefone, mas, quando atendeu o que tinha na mesa-de-cabeceira, o ruído não cessou. Era o intercomunicador do edifício. Alguém queria entrar num dos apartamentos e estaria a bater a todas as portas. Suspirou, apoiou-se nas almofadas e olhou para o relógio. Era quase meio-dia. Dormira menos de quatro horas, mas teria de se contentar. O intercomunicador voltou a tocar. Jane levantou-se e vestiu um robe verde de seda. Atravessou a sala e atendeu. - Quem é? 9

- Jane? Jane, sei que és tu. Abres-me a porta? Era Demetri. Ficou petrificada. Ainda estava desorientada e não conseguia falar. Era demasiado cedo. Precisava de tempo para organizar as ideias. Sempre pensara que, se alguma vez voltasse a encontrar-se com o seu ex-marido, fá-lo-ia como ela quisesse, não como ele quisesse. - Jane! - ouviu-o praguejar em grego. - Jane, sei que estás aí. A tua mãe disse-me que chegavas hoje - o tom era cada vez mais impaciente. - Abre a porta. Queres que me prendam por desacato ou algo parecido? Jane não conseguia imaginá-lo preso por desacato. Era demasiado autoconfiante. Era apenas uma desculpa para que lhe abrisse a porta. Evidentemente, os outros vizinhos estavam a trabalhar e ela era a única forma que tinha de entrar. - Nem sequer estou vestida, Demetri." Deu-se conta de que o dissera atrapalhadamente e foi a única coisa que lhe ocorreu. - Por favor! Não seria a primeira vez que te vejo nua - recordou-lhe ele, ironicamente. -Ando há quase uma semana a tentar falar contigo. Nem todos podemos passar o dia na cama. - Acabei de chegar de uma viagem, Demetri - replicou ela, com acritude. - Se bem me lembro, tu não suportas muito bem ojet lag. - É verdade. Desculpa - não pareceu lamentar muito. - Fui desagradável. Atribui-o ao desespero. Também não o suporto muito bem. - A quem o dizes...! - Jane tentou ser mordaz. Como estás, Demetri? Vejo que tão impaciente como sempre. - Pelo amor de Deus, tive paciência, ghinekal Vais abrir-me a porta ou vou ter de a deitar abaixo? Jane levantou o queixo. Teria adorado aceitar o desafio, mas a vergonha que passaria, se ele cumprisse a sua ameaça, dissuadiu-a. Carregou no botão. Ouviu-se um zumbido, a porta abriu-se e ouviu alguns passos nas escadas. Passos que subiam tão depressa, que ela recuou até ao canto mais afastado da sala. Deixara a porta entreaberta e, embora pensasse que tanto lhe fazia o que pensasse dela, apercebeu-se de que nem sequer se penteara depois de se levantar da cama. Estava a passar os dedos pelo cabelo, quando Demetri apareceu à entrada. Alto, magro e com o cabelo preto e denso dos seus antepassados. Também parecia mais velho, consolou-se ela. No entanto, face às madeixas grisalhas nas têmporas, o seu rosto, com a sombra de barba preta de sempre, estava mais duro do que recordava, mas igualmente atraente. A sua presença era tão imponente como quando entrara na galeria, à procura do seu pai. O seu pai apresentara-os e ele fora cortês, mas também a tratara com uma frieza e indiferença que quase a ofendera. Demetri entrou. Ouvira dizer que estava bem no seu trabalho e admirou o apartamento espaçoso. A luz entrava pelas janelas que havia de cada lado e banhava o apartamento com um tom esbranquiçado. No entanto, embora estivesse incomodado por o ter feito esperar na rua, os seus olhos dirigiramse directamente para Jane. Estava no outro lado da sala, com os braços cruzados, como se quisesse proteger-se. Usava um robe de seda que fechava com força. Como se ele fosse uma ameaça, disse para si com desgosto. O que achava que ia fazer? Achava que ia atirar-se a ela? - Jane... - disse, antes que aquela ideia acabasse com o desinteresse que sentia. Pensou que tinha bom aspecto, demasiado bom para um homem que pensava casar-se com outra mulher, assim que estivesse livre para o fazer. Não em vão, Jane sempre tivera aquele efeito nele. Fora por isso que se casara com ela. Fora por isso que resistira tanto a encontrar outra mulher que a substituísse. - Demetri - respondeu ela, laconicamente. Ele apoiou-se na porta para a fechar e ela endireitou-se um pouco, como se se preparasse para o que a esperava. 10

Jane não usava maquilhagem, evidentemente, e Demetri supôs que a cor das faces se devesse mais a algum motivo interno do que externo. Aqueles olhos verdes que o obcecavam em sonhos... - Tudo bem? - perguntou ele, enquanto se afastava da porta. A boca de Jane secou quando ele entrou mais na sala. Mexia-se com uma elegância natural que fazia com que qualquer roupa que usasse parecesse do melhor estilista, embora tivesse a certeza de que as calças de algodão e o casaco preto de couro que usava eram. Deu-se conta de que continuava a usar a aliança de casamento. A aliança que ela comprara e que tinham trocado na pequena capela de Kalithi, a ilha propriedade da família e onde ele vivia quando não andava a viajar pelo mundo, para cuidar dos assuntos do seu empório naval. O seu pai reformara-se antes de se casarem, muito apesar dos desejos da sua mãe. Ela nunca quisera que o seu filho se casasse com uma inglesa e, muito menos, com uma que tivesse opiniões próprias. - Tudo bem - respondeu ela, com um sorriso forçado. - Cansada, claro! Dormi muito pouco nas últimas vinte e quatro horas. - Ainda por cima, acordei-te - Demetri pôs-se ao lado de um dos sofás e arqueou um sobrolho. Desculpa. - A sério? - Jane encolheu os ombros. - Importas-te de me dizer porque vieste? Disseste-me que era algo importante. Demetri parou de olhar para ela e concentrou-se na mão que agarrava num dos almofadões do sofá, - E. Voltou a levantar a cabeça e olhou para ela de tal forma que ela tremeu. - Quero o divórcio, Jane. CAPÍTULO 2 Foi a vez de Jane desviar o olhar. Estava a tremer e esperou que ele não reparasse. Naturalmente, fora uma comoção muito forte. Desde que se tinham separado, vivera com a certeza de que, mais cedo ou mais tarde, Demetri lhe pediria a liberdade. Tinha a certeza de que a sua mãe o convenceria, se não o fizesse outra pessoa. Além disso, ela também o quisera naquela altura. No entanto, com o passar do tempo, chegara a achar que nunca aconteceria. - Passa-se algo? Estava a aproximar-se dela. Tinha de fazer algo, antes que ele sentisse pena. Não poderia suportá-lo. - Vou vestir-me - disse ela, sem respirar, para que não lhe escapasse um soluço. - Janie... Chamava-a assim quando faziam amor. - Dá-me um minuto. Jane fechou-se no seu quarto, mas, uma vez sozinha, não conseguiu conter a onda de sentimentos. Lágrimas abrasadoras caíram-lhe pelas faces e foi para a casa de banho. Agarrou num monte de lenços de papel e sentou-se na tampa da sanita, com a cara entre as mãos. - Querida... Não sabia há quanto tempo estava ali fechada quando ouviu a voz dele. Levantou bruscamente a cabeça, com expressão de incredulidade. Demetri estava à porta. Nunca se sentira tão humilhada. - Sai! - gritou, enquanto se levantava. - Como te atreves a entrar? Não podes entrar na minha privacidade desta maneira. Demetri limitou-se a suspirar e a apoiar o ombro na ombreira da porta. - Atrevo-me porque gosto de ti - respondeu ele, com um afecto desconcertante. - Janie... Como 11

ia saber que reagirias assim? Pensei que ficarias contente de te livrares de mim. - E fico contente - Jane soluçou. Nota-se... - Não te vanglories, Demetri. Acabo de dar meia volta ao mundo e estou exausta - fez um esforço para esboçar algo parecido a um sorriso. Não nego que me tenha afectado, mas não estou a chorar por estar destroçada, nem pouco mais ou menos. - Então... - Demetri não parecia muito convencido. - Vais sempre abaixo quando voltas de uma viagem? Queres dizer isso? - Não te armes em parvo! - replicou Jane, numa tentativa de recuperar a compostura. - O que queres que diga? Que estou destroçada? Que estou desolada? Que estou desfeita, porque o arrogante com quem me casei vai atirar-se a outra pobre mulher? - soltou uma gargalhada áspera. - Podes esperar sentado. Demetri, involuntariamente, zangou-se com aquelas palavras. Fora ali com as suas melhores intenções e respondia-lhe daquela maneira. Era muito típico dela: primeiro, disparava e, depois, arrependia-se. Embora, daquela vez, algo lhe dissesse que não ia arrepender-se. - És uma ingrata! Sabias? - perguntou-lhe, enquanto fechava os punhos. - Acabaste de mo dizer. Jane secou as faces, atirou o lenço para a sanita e puxou o autoclismo. - Talvez devesses morder a língua. Segundo o meu advogado, nestas circunstâncias, não tenho de te oferecer nada. - Não quero o teu dinheiro. Nunca quis! - exclamou ela, com desprezo. - Vai-te embora. Quero vestir-me. Demetri olhou, fixamente, para ela. Tinha a certeza de que não tinha tanta confiança em si mesma como queria aparentar. Aqueles olhos verdes incríveis ainda brilhavam com lágrimas e a sua boca, aquela boca que beijara tantas vezes, não conseguia disfarçar o tremor. - É isso que queres? - perguntou ele, apesar de o ter irritado. - Há algo mais? Jane também olhou fixamente para ele e ele não conseguiu evitar sentir uma certa admiração pela forma como estava a lidar com a situação. Uma certa admiração e algo mais, algo que preferia não especificar. Algo que fez com que se aproximasse dela. Jane tinha a banheira atrás e não pôde recuar quando ele estendeu a mão, agarrou-a pelo pescoço e olhou para ela com uma expressão que lhe pareceu um pouco brincalhona. - O que te parece isto? Antes que ela pudesse entender a pergunta, ele inclinou-se e beijou-a na boca. As pernas de Jane quase falharam. Há muito tempo que Demetri não lhe tocava, que não sentia aqueles dedos sobre a sua pele. Chegou-lhe uma onda ardente que a envolveu com o seu manto de sensualidade. Embora estivesse decidida a não fechar os olhos, ao apreciar a proximidade das suas pestanas e a sombra do seu queixo, desejou fazê-lo para se deixar levar pelo beijo. No entanto, não podia fazê-lo. Há um instante atrás, estava furiosa com ele e, naquele momento, estava a deixar que lhe tocasse, que a beijasse, que lhe colocasse a coxa entre as pernas, como se não sentisse palpitações ali. Devia ser por ter estado a chorar, disse a si mesma, para tentar racionalizar algo que não podia ser racionalizado. Ficava sempre muito sensível quando chorava e Demetri sabia perfeitamente, porque a fizera chorar muitas vezes. No entanto, naquele momento, aquilo não teve a importância que deveria ter tido. -Ah, mora... - sussurrou ele, em grego. Ela afastou os lábios com um suspiro de entrega e encontrou-se com a língua voraz dele dentro da boca. Demetri percorreu-lhe as faces com os lábios, para saborear os restos de lágrimas. Tinha uma pele suave e delicada. Rodeou-lhe a cintura com um braço e apertou-a contra si. Perdera o bom-senso. O desejo apagou-lhe os motivos pelos quais fora ali. Puxou-lhe o cinto do robe e abriu-lho. Olhou para aqueles seios generosos com uns mamilos tão duros. Agarrou num 12

e passou-lhe o polegar pelo mamilo, com uma ansiedade devoradora. - Skata, Jane! - resmungou ele. Inclusive naquele momento, soube que se arrependeria, mas tinha-a precisamente onde queria têla, abraçada a ele e a provocar-lhe uma erecção que poderia matá-lo de um ataque de coração se não aliviasse a sua pressão. Jane agitou-se no meio de um redemoinho de sensações. Não podia permitir-lhe que fizesse aquilo. Tinha de se livrar dele. No entanto, quando gemeu sobre os lábios dele, Demetri percebeu que ela queria que continuasse. Ele agarrou-lhe ao colo, levou-a para o quarto e o robe caiu no chão. Encontrou-se deitada na cama, que continuava quente. Demetri tirou o casaco e a t-shirt, e mostrou a sua pele morena. Sentou-se sobre ela, com a protuberância da erecção como se fosse rebentar as calças. - Demetri... - sussurrou ela, com um tom de certa queixa. Ele inclinou-se e tomou um mamilo entre os lábios. Jane já não conseguia resistir. Tinha a necessidade de que lhe acariciasse outro sítio muito mais húmido. Queria tocar-lhe, percorrer a linha de pêlos suaves que desaparecia dentro das calças. No entanto, quando ia descer-lhe o fecho, segurou-lhe a mão. - Espera, querida! - Demetri levantou-se para tirar as calças. - Não demasiado cedo, eh? Se usava roupa interior, desapareceu com as calças e Jane pôde ver a sua virilidade. Ele afastoulhe as pernas, baixou a cabeça e saboreou-a, até que ela se contorceu por debaixo dele. - És muito doce - sussurrou Demetri, com um tom rouco. - Queres que te leve ao clímax? - Não... quero que me acompanhes... - respondeu ela, hesitantemente. Ainda não perdera o bom-senso ao ponto de não saber que o queria dentro dela quando atingisse o clímax. - Pronta... Com um movimento rápido, introduziu a sua dureza e preencheu-a tanto que Jane deixou escapar um gemido. Ele soprou. - Estás muito fechada. Magoei-te? - Não... - os seus músculos fecharam-se automaticamente à volta dele. - Continua, Demetri... Não esperes... Como se pudesse esperar!, pensou Demetri. Só a vontade de desfrutar do momento fez com que se sentasse nos calcanhares para olhar para o ponto onde os corpos se uniam tão completamente. Embora fosse um disparate, nunca a desejara tanto como naquele momento. - Demetri... - queixou-se ela, com um fio de voz. Ele, com um resmungo, voltou a penetrá-la e Jane acolheu-o ardentemente. - És maravilhosa! - voltou a inclinar-se para trás. Não quero que isto acabe. "- Eu também não - reconheceu ela, que lhe rodeou a cintura com as pernas. Demetri sentiu as convulsões quando ela perdeu o domínio de si mesma. O calor líquido envolveu-o e arrastou-o para além do limite. Tremeu com um prazer intenso e deixou-se cair com um abandono absoluto. Demetri abriu os olhos ao ouvir o ruído do duche. Ficou com o olhar cravado no tecto e não reconheceu o papel pintado daquele tom pêssego. Olhou para a janela com persianas verdes, que deixavam entrar alguns raios de luz: desconhecida, embora a reconhecesse. Conteve uma exclamação, endireitou-se e olhou à sua volta com olhos de incredulidade. Estava no apartamento de Jane, na cama de Jane. O que fizera? Fora ali para lhe pedir o divórcio, não para ir para a cama com ela... Fechou os olhos com a vã esperança de que fosse um sonho, de que, quando voltasse a abri-los, se encontrasse no seu quarto de Kalithi, embalado pelo som do Mediterrâneo. Quando abriu os olhos pela segunda vez, continuava na cama de Jane e com um lençol que o tapava entre a cintura e as coxas. Supôs que ela o teria tapado. Pareceu-lhe o mais apropriado, porque confirmou que, dar-se conta de onde estava, não evitara uma erecção tão vigorosa como 13

inadequada. Era incrível, deveria estar a pensar em como sair dali com a dignidade intacta, não na casa de banho e em como seria maravilhoso tomar banho com Jane. Levantou-se e vestiu as cuecas, a t-shirt e as calças. Deixou de ouvir o duche e, embora tivesse a tentação de ficar para ver como saía da casa de banho, o bom-senso impulsionou-o a agarrar nos sapatos e no casaco, e a sair do quarto antes de cometer outro erro. Uma vez na sala, calçou os mocassins e vestiu o casaco, e passou os dedos trémulos pelo cabelo. Como pudera acontecer aquilo? Como era possível que uma mera conversa tivesse despertado toda a sensualidade dos seus sentidos? Porque fora parvo ao ponto de ir ali? Porque não esperara que ela se recompusesse e, depois, resolvera a conversa, rápida e objectivamente? Fora o que ela dissera que queria. Além disso, quando ela fora ao seu quarto, ele assumira que fora vestir-se. Só suspeitara quando os minutos tinham passado e não ouvira nada no quarto. Inclusive, sentira uma certa angústia, reconheceu com aborrecimento. Jane sempre fizera aquilo. Durante os três anos em que tinham vivido juntos, ele perdera a conta das vezes em que o deixara sozinho durante uma situação delicada e das vezes em que ele fora atrás dela para confirmar que estava bem. Suspirou. Mesmo assim, encontrá-la a chorar não deveria tê-lo afectado tanto. Ele não tinha a culpa de que já não estivessem juntos. Além disso, se pedir-lhe o divórcio era tão terrível para ela, porque não tentara vê-lo antes de a situação se deteriorar até àquele ponto? Nada fazia sentido. Também não fazia sentido o prazer que acabara de sentir ao fazer amor com ela. Detestava ter de reconhecer, mas não sentia tanto prazer desde a última vez que estivera com ela. Ir para a cama com outras mulheres não o satisfazia. Quando Jane o deixara, dissera para si que seria fácil substituí-la, mas não conseguira. Perdera a conta às mulheres que a sua mãe lhe apresentara, com a esperança de que ele considerasse que continuar solteiro não era uma boa decisão. No entanto, o casamento com Jane conseguira que nenhuma mulher o satisfizesse e chegara a pensar que, acontecesse o que se acontecesse, nunca voltaria a sentir aquela satisfação sexual. No entanto, sentira. Com ela! Sentou-se para calçar os sapatos, mas levantou-se outra vez. Não conseguia ficar quieto quando o seu mundo andava às voltas como um redemoinho. Deveria ter sido um encontro breve, o suficiente para ter a cortesia de lhe dizer pessoalmente e não descobrir através do seu advogado de Londres. Em vez disso, como receava a sua mãe, voltara a encantar-se com ela. Foi até à janela e viu a limusina estacionada diante da casa. O motorista, que trabalhava para a Souvakis International, estaria a perguntar-se porque demorava tanto, mas trataria de não comentar nada com ele, nem com qualquer outra pessoa. Ouviu a porta a abrir-se e virou-se, quase com remorso. Outro sentimento que não conhecera até então. Pensou que, talvez, devesse ter partido antes de ela acabar de tomar banho. Embora não tivessem acabado a conversa, poderia tê-la deixado para o dia seguinte. Jane entrou na sala com certa indecisão. Secara e penteara o cabelo, que lhe caía sobre os ombros. Usava uma t-shirt verde e umas calças de ganga. Sabia que não era assim, mas parecia que vestira aquela roupa para realçar os seus olhos. Estava cativante, mas a sua expressão não era estimulante. O olhar era precavido e frio, quase depreciativo. - Continuas aqui - comentou ela, ao ver que ele não dizia nada. - Queres um café? Demetri não soube se havia de se sentir aliviado ou ofendido. Minutos antes, ela estivera a ofegar debaixo dele e, agora, oferecia-lhe um café, como se tivessem estado a passar o tempo, em vez de terem tido um encontro tórrido. - Não, obrigado - respondeu ele, enquanto a seguia até à bancada que separava a cozinha. Passa-se algo? - perguntou-lhe, involuntariamente. 14

- O que haveria de se passar? - ela virou-se para olhar para ele. - Senta-te. Vou-me já embora. - Prefiro ficar aqui - Demetri respirou fundo. - Vamos falar disto? Jane concentrou-se em pôr a cafeteira debaixo do filtro e em tirar uma chávena do armário. - De certeza que não queres beber nada? - De certeza! - Demetri começava a impacientar-se. Estava a fingir que não se passara nada? Jane, olha para mim. Em que estás a pensar? Diz-me! CAPÍTULO 3 Jane não podia fazer o que ele queria. Sabia que nada mudara. Efectivamente, tinham dormido juntos e tinham sentido imenso prazer, mas isso não mudaria absolutamente nada em Demetri. Para ele era só sexo. Sempre fora uma forma muito boa de conseguir o que queria. Devia pensar que ela era fácil de seduzir. Bastara-lhe levá-la para a cama para que quase lhe rogasse que o fizesse. Fora uma estúpida, disse para si, com amargura. Ele tivera de aparecer precisamente quando estava exausta da viagem e, além disso, prestes a ter o período. Ficava sempre muito sensível naquela altura do mês. Ainda por cima, a sua delicadeza foi a gota de água. - Não estou a pensar em nada - mentiu ela, enquanto a água caía na cafeteira. - E tu? Em que estás a pensar, Demetri? Demetri pensou que era melhor que não soubesse, que não soubesse que estava a pensar em voltar a levá-la para a cama. Além disso, isso só mostraria mais fraqueza do que aquela que já mostrara. - Estou a pensar que... devia desculpar-me - respondeu ele. - Não queria... que acontecesse. - Bom, já somos dois! Demetri sentiu um murro no estômago. Tinha de ser tão displicente? Não podia ter reconhecido, pelo menos, que tinha uma parte de culpa? No entanto, deu-se conta de que não ia fazê-lo. Voltou para a janela. A limusina continuava ali e desejou entrar nela e desaparecer. Queria esquecer o que acontecera, esquecer que quando fora ali queria deixar resolvida a sua situação. Resolvida! Em vez disso, sentia que abrira uma ferida. - E então? Demetri ouviu a pergunta de Jane, virou-se e viu-a sentada no braço de um sofá, com uma chávena de café na mão. - Devo depreender que há mais alguém? acrescentou ela. Era uma pergunta absurda naquelas circunstâncias e Demetri esteve tentado a partir sem responder. Sentiu-se ridículo ao ter de responder que esse era o motivo da sua visita, que queria casar-se com alguém quando estivesse livre. No entanto, não tinha outra alternativa naquele assunto. Era o que se esperava dele como filho mais velho do seu pai. Quando Leonides Souvakis se reformara, cedera-lhe o controlo da Souvakis International e isso implicava certas responsabilidades, nem todas elas relacionadas com a empresa. - O meu pai está a morrer. Decidira não ter contemplações, mas não esperara que ela empalidecesse daquela maneira. - Leo está a morrer? Meu Deus, porque não me tinhas dito? Não posso acreditar! Estava tão em forma, tão forte... - O cancro não pára perante a força - replicou Demetri, laconicamente. Encontrou um tumor, mas não fez nada a respeito. Disse que estava muito ocupado. Quando foi ver o médico, já era tarde para que o operassem. - Meu Deus! - Jane deixou a chávena, agarrou a cara com as duas mãos e os olhos encheram-se de lágrimas. - Pobre Leo! É um homem muito bom e amável. Portou-se muito bem comigo. 15

Sempre me acolheu, ao contrário da tua mãe. Demetri não disse nada. Sabia que era verdade. A sua mãe nunca quisera que se casasse com uma inglesa, porque tinham princípios diferentes. Afinal, tinha razão. - Desde quando sabes? - perguntou Jane, que não entendia o que tinha isso a ver com o divórcio. - Quer ver-me? Demetri ficou atónito. Embora tivesse a certeza de que o seu pai adoraria ver a sua nora, a sua mãe nunca o consentiria. Suplicara-lhe, durante cinco anos, que fosse falar com um padre para que tentasse obter a anulação do casamento com Jane. Tinha a certeza de que o padre Panaystakis faria todos os possíveis para obter alguma permissão especial da igreja. Demetri, no entanto, não tivera nenhuma pressa em acabar com aquela relação. Calhara-lhe muito bem em todos os sentidos. Entre outros, para dissuadir as caçadoras de fortunas. No entanto, já não podia manter aquela situação e tinha de se divorciar. Jane considerou aquele silêncio como uma resposta. - Então, não entendo. O que tem a ver a doença do teu pai com o nosso divórcio? Demetri suspirou e enfiou as mãos nos bolsos. - O meu pai quer um neto, netos. Yanis é padre e Stefan não se interessa por mulheres. Só resto eu. - Que antiquado! - exclamou ela, com tom mordaz. Mas... e o menino? - O filho de lanthe? - perguntou ele, sem se alterar. - Marc morreu. Achei que sabias. - Porque achavas isso? - Jane estava furiosa. - Não falamos muito, Demetri. Ele encolheu os ombros, como se lhe desse a razão. - Marc teve uma pneumonia, passados cinco dias de nascer. Os médicos tentaram salvá-lo, mas era demasiado pequeno, prematuro. - Pobre lanthe! lamentou-se ela, sinceramente. - Sim, pobre lanthe! - repetiu ele, embora com certa amargura. - Não merecia isto. - Não - Jane voltou a agarrar na chávena e deu um gole no café. - Então, suponho que os dois estão, finalmente, a pensar em casar-se - tentou dizê-lo, com um tom despreocupado. - A tua mãe deve estar contente. - Não replicou ele, com aspereza. - lanthe nunca me interessou, embora tu pensasses o contrário. Quero casar-me com Ariadne Pavios. Se calhar, lembras-te da família Pavios. Ariadne e eu somos amigos de infância. Recentemente, voltou de uma temporada nos Estados Unidos. - Que bom! - Jane tentou disfarçar os seus verdadeiros sentimentos. Sofia Pavios, a mãe de Ariadne, era amiga da mãe de Demetri e também não aprovara o seu casamento. - Ariadne sabe do filho de lanthe? - continuou Jane. - Sabe o que tem de saber - respondeu ele. O passado era o passado e não fazia sentido remexer nele. Não devia ter ido ali. Devia ter feito caso do advogado e deixar que ele se ocupasse daquilo. No entanto, não se dera conta do quão perigoso seria voltar a estar com Jane. - Bom - disse ele, quando o silêncio se tornou insuportável, - tenho de ir. Tenho a certeza de que agora me odiarás, mas não tinha intenção de... - Me seduzires? - Não! - respondeu Demetri, com irritação. - Não acho que tenha sido uma sedução. Tu também não ficaste de braços cruzados. - Está bem - Jane corou. - Talvez não tenha razão, mas não seria a primeira vez que o usarias contra mim. O que esperas que diga, Jane? Vim comunicar-te a minha intenção de te pedir o divórcio, mais nada. Não esperava encontrar-te seminua. - O quê? - Jane não acreditava. - Sou assim tão irresistível que não conseguiste fazer nada? 16

- Algo do género - balbuciou Demetri, enquanto se dirigia para a porta. - O meu advogado entrará em contacto contigo para esclarecer os "pormenores. Apesar da tua atitude, não recusarei os pedidos do teu advogado. Jane levantou-se de um salto e quase entornou o café. - Já te disse! Não quero o teu dinheiro, Demetri! Consigo sustentar-me sozinha, obrigada. -Ala... - Esquece! - Jane foi até à porta e abriu-a. - Vai-te embora, antes que digas algo que possas lamentar. Demetri apanhou um avião para Kalithi naquela mesma tarde. Pensara ficar mais alguns dias. Tinham-no convidado para uma reunião da Associação de Produtores de Petróleo, mas desculpara-se e enviara o seu assistente. O seu pai não acharia graça nenhuma. Estava satisfeito com o facto de a Souvakis International ter conquistado o respeito dos países produtores de petróleo, o que demonstrava que acertara ao ceder as rédeas ao seu filho. Demetri, no entanto, não tinha assim tanta certeza. Já se dera conta de que dirigir uma empresa daquelas dimensões lhe exigia muito tempo. Inclusive, poderia dizer-se que as responsabilidades que assumira há cerca de oito anos tinham tido parte de culpa na ruptura do seu casamento. Se Jane e ele tivessem tido mais tempo para falar, ele teria podido convencê-la de que era inocente das acusações que ela lançara contra ele e, talvez, não tivesse partido como fizera. No entanto, Jane considerara-o culpado da gravidez de lanthe e ele fora incapaz de a convencer do contrário. Já escurecera quando o seu avião privado aterrou na ilha. Era uma pista de aterragem privada. Embora a ilha atraísse turismo, os turistas chegavam de barco e ficavam na parte sul da ilha Os faróis do carro indicaram-lhe que o seu pai recebera a mensagem que lhe enviara, embora supusesse que Leo quereria saber porque não lhe dissera pessoalmente. O seu assistente pessoal, Theo Vasilis, foi o primeiro a descer do avião, para organizar o transporte que os levaria à residência dos Souvakis. No fim da pista, estava um todo-o-terreno que esperava que acabassem os trâmites da aterragem. Quando Demetri chegou até ele, confirmou que o motorista do seu pai não estava ao volante. Ariadne Pavios esboçou um sorriso acolhedor, embora levemente presunçoso. - Uma surpresa agradável, não é? - perguntou ela, quando Demetri se sentou ao seu lado. Ele apertou os dentes, porque teria preferido não ter de a ver naquela noite, mas, ao dar-se conta do motivo, sorriu e inclinou-se para ela para a beijar. - Muito agradável! - respondeu ele, hipocritamente. - Esperaste muito? - Só seis anos - respondeu ela, habilmente. - Sentiste a minha falta? Demetri virou-se para colocar o cinto de segurança. - O que achas? Como está o meu pai? - perguntou ele, para mudar de assunto. - Certamente, não estará muito contente por teres faltado à reunião. - Está... bem - Ariadne estava impaciente, porque Theo Vasilis colocara a bagagem no portabagagem com uma certa brusquidão. - Cuidado! no entanto, a sua surpresa foi descomunal quando Theo abriu uma porta e se sentou atrás. - Tem de vir connosco? - Porque não? - o tom de Demetri foi de inocência para disfarçar o alívio e fez um sinal com a cabeça para o computador portátil. - O meu pai quererá um relatório das reuniões que tivemos em Londres. - As reuniões com a tua esposa? - perguntou Ariadne, com um tom muito suave. - Eu também gostaria de saber algo dessas reuniões. Demetri soprou. - Não - respondeu, secamente. - Das reuniões de trabalho. - Essas reuniões são muito chatas, não são? - continuou ela, com tom frívolo. - Fala-me da tua mulher. Achas que vai colocar obstáculos? Obstáculos! Demetri conteve a exclamação 17

- Não, nenhum obstáculo - virou-se para Theo. Trouxeste os documentos todos do avião? Ariadne, que ia ligar o carro, percebeu que não era o momento de falar do assunto; teria tempo mais tarde. Demetri também percebeu o que passara pela cabeça dela. Efectivamente, afinal, fora visitar Jane, por ela e pela doença do seu pai. Saíram do aeroporto e tomaram o caminho sinuoso que os levava à residência dos Souvakis. Os faróis do carro só iluminavam as ervas silvestres que cresciam dos lados da estrada e, de vez em quando, alguns ciprestes, mas Demetri sabia que, paralelamente, ao caminho estavam as dunas e, um pouco mais à frente, as águas azuis do mar Egeu. Era Primavera e seria maravilhoso acordar no dia seguinte a ouvir o sussurro do mar e não o ruído do trânsito. No entanto, pensar em Londres não era o melhor que podia fazer naquele momento. Trazia-lhe demasiadas lembranças e não conseguia evitar a comparação entre a beleza morena e algo voluptuosa de Ariadne com a beleza pálida e delicada da sua ex-mulher. Eram muito diferentes, disse para si. Ariadne era sensual e de formas contundentes, enquanto Jane era alta e esbelta, e disfarçava a sua sensualidade por detrás de uma fachada cativante de postura distante. - Foste ao casamento da tua prima? - perguntou a Ariadne, para pensar noutra coisa. - De Julia? Claro! Apareceram os portões de madeira que indicavam que tinham chegado à propriedade. Ariadne fez sinal de luzes e um homem saiu de uma guarita, e abriu os portões. Naturalmente - continuou Ariadne, fui a única mulher sem acompanhante. A tia Thermia disseme que não devia ter permitido que te ausentasses tanto tempo. -Sim... Demetri apertou os lábios. Importava-lhe muito pouco o que Thermia Adonides pensava dele. Também era a mãe de lanthe e, por isso, não o apreciava muito. Surpreendera-o que não tivesse tentado frustrar a sua relação com Ariadne, mas estava claro que a sua fortuna compensava os receios que pudesse ter. Demetri cumprimentou Georgiou, o guarda, e o carro acelerou para entrar no caminho que os levaria à casa. Os seus pais ainda viviam na villa, que ficava sobre uma pequena planície de onde podia ver-se o mar. Demetri construíra a sua própria casa na propriedade, mas, desde que Jane se fora embora, costumava passar mais tempo noutro sítio qualquer. A sua mãe queixava-se muito do pouco que o via e era verdade que, até à doença do seu pai, ele passava pouco por sua casa. Trabalhava muito e, graças a isso, conservara o bom-senso. Se também tivera muitas relações sexuais, merecera-as. Sempre tivera a certeza de que não sucumbiria aos encantos de outra mulher. Assim fora. Só decidira voltar a casar-se quando descobrira que a doença do seu pai era terminal. Ariadne era a candidata perfeita: era grega, solteira e a sua mãe aceitava-a. Chegaram a um pátio pavimentado, rodeado de construções. Eram os estábulos, a garagem e a casa dos seus pais. Ariadne parou e desligou o motor. No entanto, quando Theo saiu e Demetri ia abrir a porta, ela segurou-o pelo braço. - Espera! - pediu-lhe, com tom preocupado. - Demetri, diz-me que não mudaste de ideias. Demetri olhou, fixamente, para ela. As luzes do pátio iluminavam os seus olhos escuros e ansiosos. - Mudar de ideias? - rodeou-lhe a cara com uma mão. - Porque pensaste isso? CAPÍTULO 4 Estava grávida. Jane respirou fundo e guardou o dispositivo na mala. Era o terceiro resultado positivo em duas semanas e, embora tentasse convencer-se de que aqueles testes podiam falhar, até ela mesma duvidou de que falhassem três vezes seguidas. Tentou conter as lágrimas e soluçou. Como pudera acontecer? Tinha a certeza de que, quando 18

Demetri e ela tinham feito... tinham ido para a cama, não estava a ovular. Sempre fora muito regular. Embora tivesse de reconhecer que, quando viviam juntos, nunca deixara nada ao acaso. Ao princípio, os dois tinham decidido que os filhos podiam esperar um ano ou dois. Como Jane queria trabalhar, Demetri abrira-lhe uma galeria na vila de Kalií thi. Aquilo permitira-lhe continuar em contacto com Olga, que se mostrara encantada de poder trocar antiguidades e pinturas com aquela que fora sua discípula. Correra tudo muito bem e, como Jane era a dona da galeria, podia acompanhar Demetri nas suas viagens de trabalho quando queria. Parecia-lhe uma vida maravilhosa e nunca fora tão feliz. Até que lanthe dissera que estava grávida. O castelo de cartas desmoronara-se. Jane não conseguira perdoar a traição de Demetri e só a consolara pensar que não tinham filhos que pudessem sofrer com a ruptura do casamento. Suspirou. Para ser sincera, tinha de reconhecer que, quando Demetri a beijara, não pensara em tomar precauções. O contacto da sua língua apagara-lhe qualquer ideia da cabeça. Desejara-o tanto como ele a ela. Fora muito fácil convencer-se de que ele não estava a usá-la em benefício próprio. Duas semanas depois, quando ainda não lhe aparecera o período, considerara a possibilidade. Inclusive então, custara-lhe aceitar que aquela atitude insensata pudesse ter tido aquela consequência. Tinham passado cinco semanas desde que Demetri a visitara no seu apartamento e já recebera a notificação de que ele entrara em contacto com os seus advogados para tratarem do divórcio. O que ia fazer?"" O aparecimento da sua chefe obrigou-a a afastar o problema de momento. Olga Ivanovitch tinha quase setenta anos, mas entrou no escritório de Jane com a vitalidade de uma jovem. O seu pai, um judeu russo que emigrara para a Inglaterra da Alemanha, fundara a galeria, mas fora Olga quem conseguira que prosperasse. Costumava usar saias compridas e camisolas largas e Jane achava que parecia uma hippie idosa, mas fora a sua mentora e acolhera-a quando só podia oferecer um diploma em Belas Artes e um entusiasmo que Olga considerara semelhante ao seu. Olga afastou a cabeleira ruiva. - Veio? - perguntou-lhe, impacientemente. - Sim - respondeu Jane. Ela sabia que se referia a um coleccionador famoso, que demonstrara interesse por uns bronzes que conseguira na Tailândia. - E então? - Olga não conseguia disfarçar o nervosismo. - Comprou-os - respondeu Jane. - Quer que os embalemos e os mandemos para a sua casa de Suffolk. Maravilhoso! - exclamou Olga. - É uma comissão considerável para ti. Vou ter de te mandar outra vez de viagem. Tens o dom de encontrar tesouros nos sítios mais insuspeitados. Jane esboçou um leve sorriso, mas sentia-se consternada e não conseguia deixar de pensar no dispositivo que tinha na mala. Colocou uma mão na barriga. Seria possível que tivesse um filho de Demetri dentro de si? Quanto tempo demoraria a notar-se? Quanto tempo demoraria Olga a dar-se conta? Olga, como se tivesse reparado no ensimesmamento da sua empregada, apoiou a anca na mesa de Jane. - Estás pálida - comentou, com o sobrolho franzido. - Tens dormido bem ou esse jovem mantémte acordada durante a noite...? Jane remexeu nos papéis que tinha na mesa. - Não há nenhum jovem, Olga. Já lhe disse uma dúzia de vezes. Alex Hunter e eu somos só amigos. - Ele sabe? Como seria de esperar, uma vez recebidas as notícias dos bronzes, Olga concentrou-se na sua 19

assistente. Como reagiria quando soubesse que estava à espera de um filho? Como reagiria Alex, quando lhe assegurara que a sua relação com Demetri estava acabada? - O que...? - perguntou Jane, para ganhar tempo. - O senhor Hunter... Estava a perguntar-te se ele sabe que só queres ser sua amiga. - Ah...! - Jane fez um gesto de impotência. - A nossa relação não é assim tão profunda. Gosto de Alex, é uma companhia agradável, mas conhecemo-nos há relativamente pouco tempo. - Há o suficiente! - insistiu Olga. - Preocupas-me, Jane, a sério. Quando vais esquecer o passado e seguir com a tua vida? -Eu... Jane continuava a pensar numa resposta quando Olga voltou a falar. - Não está na altura de pensares no divórcio? Às vezes, a perspicácia de Olga era assombrosa. Noutras, teria admirado a sua capacidade para saber no que estava a pensar, mas aquela vez não era o caso. Enquanto esperava a resposta de Jane, Olga remexeu num bolso e tirou um maço de cigarros. Levou um à boca e acendeu-o. Jane nunca gostara do cheiro do tabaco, mas, naquela manhã, considerou-o nauseante. Sentiu uma náusea e saiu a correr para a caSa de banho. Uma vez no cubículo minúsculo, vomitou. Depois, apoiou-se contra a parede de azulejos com um lenço de papel na boca e pensou que há muito tempo que não se sentia tão mal. Só comera uma torrada ao pequeno-almoço, de modo que não podia ser isso. Realmente, não sentira vontade de tomar o pequeno-almoço; sentira-se mal desde que se levantara. Sentiu-se uma verdadeira idiota ao compreender o que estava a acontecer-lhe. Bateram, suavemente, à porta. - Jane... Sentes-te mal? Passa-se algo? Passava-se tudo, disse para si Jane, enquanto tentava recompor-se. - Não, estou bem, Olga. Devo ter comido algo que me caiu mal e ao sentir o cheiro do cigarro... - Meu Deus! - exclamou Olga, com tom de espanto. - Vomitaste por causa do meu cigarro? - Não, que ideia! - Jane sentiu-se horrorizada por se sentir culpada e abriu a porta, - Desculpe. Olga balbuciou algo que Jane não conseguiu entender e passou-lhe um braço pelos ombros. Felizmente, apagara o cigarro, mas Jane conseguia sentir o cheiro a tabaco na sua roupa. - Tens a certeza de que o senhor Hunter e tu são só bons amigos? - O que está a insinuar? - Jane tentou parecer perplexa. Olga suspirou e olhou para ela com curiosidade. - Bom... Estava a perguntar-me se poderia haver algum outro motivo para que te sentisses mal... - Outro motivo? - Jane engoliu em seco. - Tenho de te explicar? - Olga olhou para ela com uma expressão ainda mais penetrante. - Se calhar, estás a enganar-te... - A enganar-me? - Jane soprou. - Está a insinuar que posso estar grávida? - Só digo que é uma possibilidade que deverias ter em conta, não é? Não serias a primeira mulher que se rende aos encantos do jovem Hunter. Jane afastou-se dela. - Já lhe disse! - replicou, com rotundidade. - Alex e eu nunca... nunca... - Nunca? - perguntou Olga, com cepticismo. - Nunca! - resolveu Jane. - Podemos falar de outra coisa? Já pensou onde poderíamos encontrar as outras peças que sir George quer? Olga encolheu os ombros e Jane compreendeu que a sua resposta não a convencera. Mesmo assim, enquanto não decidisse o que ia fazer, Jane não se sentia com forças para comentar a sua situação com ninguém. Ainda não assimilara que estava grávida. Continuou a dar voltas àquilo durante o dia todo. O que ia fazer? Tinha um bom salário, mas não podia pagar a alguém para que cuidasse do bebé. 20

Outra possibilidade era contar a Demetri. No entanto, como ia contar ao seu marido que estava à espera de um filho, quando ele estava a preparar o divórcio? Além disso, havia mais gente implicada, por exemplo a mulher com a qual esperava casar-se e a mãe dele. Podia imaginar a reacção de Maria Souvakis quando descobrisse que o seu filho concebera outro filho. Com a detestável rapariga inglesa... Jane saiu cedo e foi para casa. Disse a Olga que se sentia constipada, com a esperança de que um novo mal-estar fizesse com que a sua chefe se esquecesse do que insinuara antes, porém, a julgar pelo seu olhar, suspeitou que não conseguira. Estava a chover e apanhou um autocarro. Foi um alívio entrar na tranquilidade espaçosa do seu apartamento e deixar-se cair num sofá, com um chá. No entanto, não estava há muito tempo assim quando o telefone tocou. Jane supôs que seria a sua mãe, que teria telefonado para a galeria e que Olga lhe teria dito que estava ali. Esperou que a sua chefe não lhe tivesse comentado os seus receios. Durante dez segundos, pensou em não atender, mas a possibilidade de que fosse outra pessoa fez com que atendesse. - Sim... - disse, com um tom desanimado. Esteve prestes a largar o aparelho quando ouviu a voz grave e profunda de Demetri. - Vejo que o teu humor não melhorou - comentou ele, com tom irónico. - Quem te chateou desta vez? Jane susteve a respiração, mas conseguiu responder. - Ninguém me chateou, Demetri, há algum tempo que não falo contigo. - Meu Deus, sempre disposta para o comentário ácido! - replicou ele, com ironia. - Suponho que estavas à espera que te telefonasse. - Porque haveria de esperar que me telefonasses? perguntou ela, com o sobrolho franzido. Certamente, teria algo a ver com o divórcio. - Falei há pouco com a tua mãe - explicou-lhe Demetri, com uma paciência inesperada. - Não tinha o número da galeria e tive de lhe telefonar. Ela deu-me o número, embora com uma certa resistência. É uma mulher esquiva fez uma pausa. Espero que estejas melhor. A boca de Jane secou. Embora continuasse a dar voltas ao motivo da chamada, perguntou-se, com espanto, o que Olga lhe teria dito. Esperou que não tivesse sido indiscreta, embora também não se distinguisse pela sua discrição. - Sim... Imagino que Olga te terá dito que me vim embora porque não me sentia bem aventurou, com cautela. - Algo do género - confirmou Demetri, vagamente. - Espero que não seja nada grave. Jane pensou que era grave, mas ele não lhe telefonara para falar da sua saúde. - O que queres, Demetri? O teu pai não está pior, pois não? - Não - Demetri disse-o com entusiasmo. - Na verdade, parece que está algo melhor. Os medicamentos controlaram o tumor. - Fico contente. Dá-lhe lembranças minhas quando o vires. Tenho pensado muito nele. - A sério? - Claro...! - o tom de incredulidade incomodou Jane. - Pelo facto de um homem tomar o que quer, sem lhe importarem as consequências, não quer dizer que o seu pai mereça a minha antipatia. Jane ouviu Demetri soprar com desespero. - Suponho que ainda te referes a lanthe - replicou ele, com acritude. - A quem haveria de ser? - Jane engoliu em seco. - Não sei - o tom de Demetri passou a ser sarcástico. - Pensei que poderia ter sido uma forma subtil de me recordares o que se passou quando fui ao teu apartamento. Jane agarrou com força no auscultador. - Tens de me recordar isso? 21

- Foi bom, Jane, mas também não tanto. Se achas que quero falar disso, perdes o tempo com as tuas provocações. -És um... - Canalha? - ajudou-a Demetri com frieza. - Já sei o que pensas de mim. Não é preciso que mo digas. - Então, para que me telefonastes? Se não for para te desculpares, não creio que queira ouvir mais nada. Ia desligar quando lhe pediu que esperasse. - O meu pai... o meu pai quer ver-te continuou ele, sobriamente. - Não me perguntes porquê, mas quer ver-te - fez uma pausa. - Vens? - À Grécia? - perguntou ela, sem conseguir acreditar. - A Kalithi, naturalmente. - Não estás a falar a sério! - Porquê? - ele recuperara o autocontrole. Se aceitasses o convite, ele encará-lo-ia como um grande favor pessoal. - Mas... - havia tantos "mas", que Jane não sabia por onde começar. - A tua mãe não o consentiria. - Não lhe resta outro remédio. Tu não quererás que vá... - Isso é irrelevante. - Além disso, não posso deixar o trabalho de repente. Olga depende de mim. - Tira alguns dias sem vencimento! - insistiu ele. Se te preocupa o dinheiro... - Não! - chateou Jane que pensasse que tudo se resolvia com dinheiro. - Então, não sei qual é o inconveniente. A não ser que aches que o teu namorado não gostará. Não me disseste que tinhas namorado. Desde quando estás com ele? Jane susteve a respiração e esteve tentada a dizer-lhe que não lhe dizia respeito, mas pareceu-lhe mais sensato não mentir. - Alex Hunter é um amigo, não é meu namorado. Presumo que Olga te tenha falado dele. Está desejosa que encontre alguém que cuide de mim. - Ele fá-lo? Jane ficou atónita. - Faz o quê? - Cuida de ti? - esclareceu-lhe Demetri, com suavidade. - A tua chefe contou-me que tem um emprego muito bom na City. Tenho de reconhecer que não te imagino com um contabilista, querida. Dizem que são homens cinzentos com fatos cinzentos, não é? - Tu não tens nada que pensar sobre os homens com quem saio - Jane respirou fundo. - Esperas, realmente, que aceite o convite do teu pai? Não sabes porque quer ver-me? - Se calhar, quer despedir-se - respondeu ele, com tom aflito. - Espero que deixes as nossas diferenças de lado durante os dias que estiveres na villa. Não foi a tua casa. Como sabes, a casa que construí para nós fica a certa distância. Se preferires, manter-me-ei afastado. CAPÍTULO 5 Era o fim da tarde quando o barco atracou em Kalithi. Foi uma travessia de três horas desde Andros, onde aterrara o avião que a trouxera de Londres. Quando desembarcou, sentiu-se realmente cansada. Passara uma semana desde a chamada de Demetri e cinco dias desde que o médico lhe confirmara o seu estado. Ainda não dissera a ninguém que estava grávida, apesar de continuar com os enjoos matinais e de saber que Olga não acreditara que fora um vírus. A sua mãe, a quem tivera de dizer onde ia, assumira que o seu aspecto angustiado se devia à tensão que lhe produzia voltar a ver a família Souvakis. Na sua opinião, a sua filha deveria ter 22

recusado o convite. Embora o motivo fosse comovente, Demetri e ela estavam a divorciar-se. Olga pensara algo parecido. Não sabia nada da visita de Demetri ao seu apartamento e, naturalmente, achava que, se estava grávida, era de Alex, o jovem contabilista que cuidava da contabilidade de Olga e que, tal como ela, se opusera à viagem. - Parece-me curioso que, algumas semanas depois de te pedir o divórcio, te proponha ires ver o seu pai! exclamara ele, quando Jane lhe telefonara para lhe dizer que não poderia vê-lo durante alguns dias. Confias nele? Não será uma artimanha para que voltes para ele? - Por favor! - Jane já discutira com Olga sobre aquilo e não lhe restava paciência. - Demetri quer o divórcio, já te disse. O seu pai está muito doente e quer ver-me. - Isso é o que ele diz. Só tens a sua palavra para acreditares que o seu pai está doente. - Demetri não mentiria sobre algo do género - replicara Jane, com firmeza, embora Demetri lhe tivesse mentido antes. - Além disso, ele tem uma namorada. Uma grega. Pensa casar-se com ela assim que possa. - Entendo. Alex acalmara-se com a sua explicação, mas ela perguntara-se se Olga não teria razão ao pensar que Demetri poderia esperar algo mais do que uma amizade platónica. Um amigo não a teria interrogado, não se teria comportado como se tivesse algum direito de saber o que fazia. Além disso, quando lhe perguntara quanto tempo pensava ficar na Grécia, ela fora intencionalmente ambígua. Uma vez em solo grego, perguntou-se se teria sido prudente ir. Como se sentiria ao voltar a ver Demetri, quando sabia que estava grávida dele? Tinha a certeza de que o veria, tivesse ele dito o que dissera. Ele seria incapaz de não estar com os seus pais, só porque pensava que ela preferia que se mantivesse afastado. Jane trouxera apenas um saco, mas, mesmo assim, foi uma das últimas pessoas a desembarcar. Não viu sinal de Demetri, mas não conseguiu evitar uma certa cautela. Sabia que a propriedade dos Souvakis ficava a vinte minutos de carro do porto e nunca recordava ter visto um táxi. Nem de ter necessitado, disse para si, ao lembrar-se do pequeno carro desportivo que Demetri lhe oferecera para se deslocar na ilha. Estava junto de um monte de caixas que tinham descarregado do barco, quando reparou numa mulher que olhava para ela. Não achava tê-la visto antes, mas pareceu-lhe que tinha algo ligeiramente conhecido. Não era alta, nem baixa e tinha traços duros, como muitas outras mulheres gregas que vira no passado. No entanto, a sua roupa e a sua atitude eram diferentes, e Jane sentiu que lhe acelerava o pulso quando viu que se aproximava. - É Jane? - perguntou-lhe a mulher. Fê-lo com um sotaque tão marcado que lhe custou entender a pergunta, embora talvez fosse pelo tom desdenhoso com que dissera o seu nome. Além disso, eram desconhecidas, mas não usara o seu apelido. - Efectivamente, mandaram-na vir buscar-me? perguntou Jane, que estava cansada e não queria fazer o esforço de ser amável. A mulher olhou para ela de cima a baixo e Jane reparou que a t-shirt, as calças de linho e as botas de tecido que usava contrastavam muito com a blusa de seda, a saia vaporosa e os sapatos de salto alto da outra mulher. - Vim buscá-la - corrigiu-a ela. - Maria Souvakis pensou que seria uma boa ideia que nos conhecêssemos. O meu nome é Ariadne Pavios. Demetri e eu vamos casar-nos quando estiver livre do seu casamento consigo. Jane ficou boquiaberta, embora tivesse de reconhecer que era uma jogada típica da mãe de Demetri. No entanto, mandar a namorada ou noiva, ou amante de Demetri ir buscá-la era um pouco grosseiro, até para Maria. Jane perguntou-se se Demetri saberia. Supôs que sim. Ali faziam-se poucas coisas sem que ele soubesse. - Que amável! - Jane tentou disfarçar o seu desconcerto. - Tem carro? 23

- Claro! - Ariadne, evidentemente, não esperara que o encarasse com tanta tranquilidade. - Está ali. Acompanha-me? O carro era-lhe dolorosamente familiar. Era o carro vermelho desportivo que Demetri lhe comprara. Jane supôs que seria uma manobra de Maria, embora Ariadne devesse ter transigido. Felizmente, já não fazia muito calor. Era o fim da tarde e uma luz dourada banhava a ilha. O Verão chegava cedo ao Egeu e, embora quase toda a ilha fosse bastante árida, ali, junto ao mar, as flores brotavam com abundância. Jane deixou o saco no banco traseiro e sentou-se ao lado de Ariadne. - Endaxi - disse a outra mulher, secamente. - Pameh. Se achava que Jane não iria entendê-la, estava muito enganada. Embora só tivesse passado dois anos em Kalithi, conseguira aprender bastante bem a língua. Tivera de o fazer para poder gerir a galeria e Demetri gostava que lhe falasse na sua língua, sobretudo quando faziam amor... Foi uma lembrança perturbadora, fundamentalmente porque estava sentada ao lado da mulher que seria a sua esposa. Sem conseguir evitá-lo, passou uma mão hesitante pela barriga. O bomsenso dizia-lhe que tinha de contar a Demetri que estava grávida, mas não queria que pensasse que o fazia para que voltasse para ela. - Quanto tempo vai ficar? A pergunta de Ariadne interrompeu os seus pensamentos, o qual era de agradecer. Não estava ali por Demetri a ter convidado. - Não sei - respondeu, embora tivesse reservado o bilhete de volta para o fim da semana. - Como está Leo? Demetri disse-me que está melhor. Ariadne deixou de olhar para a estrada e olhou para ela. - O senhor Souvakis está... bem. Um pouco... desorientado. Estivemos preocupados. - Claro... Jane tentou ser compreensiva com ela, mas teve a sensação de que Ariadne estava mais preocupada com a sua estadia ali do que com a saúde do pai de Demetri. As suas palavras não expressavam nenhum sentimento. - Está desejoso de ver Demetri finalmente feliz parecia que tanto fazia a Ariadne o que Jane pensava dela. - Não é bom que um homem esteja sem esposa ou família. - Demetri tem esposa - Jane não conseguiu evitar dizê-lo. - Não por muito tempo - Ariadne olhou para ela, com uma certa satisfação. - Demetri disse-me que não vai pôr obstáculos ao divórcio. - Disse-lhe isso? - Jane esteve tentada a dizer-lhe que devia ter pensado antes de ter ido para cama com ela. - Não, claro, certamente tem razão. - Certamente? Jane olhou para o mar. - Onde está Demetri? Está na casa? Fez-se um silêncio bastante incómodo. Está fora - respondeu Ariadne, contrariada. Em trabalho. Não voltará antes do fim-de-semana. Jane sentiu uma dor muito profunda. Não foi uma dor física, mas foi saber que, embora Demetri fosse fazer o que dissera, lhe tivesse custado muito a notícia. Afinal, parecia que não ia vê-lo. Isso deveria facilitar-lhe a decisão. Ou não. - Esperava vê-lo, não era? Ariadne não estava disposta a deixar aquele assunto e Jane teve de morder a língua para não lhe responder com maldade. - Não podia estar mais enganada. Estamos quase a chegar. Era tudo terrivelmente familiar. Os portões de madeira, o caminho sinuoso ladeado por árvores que tapavam a casa, a villa, grande, pintada de branco, com as venezianas abertas e com azulejos cor de laranja pelo reflexo do sol. Jane susteve a respiração. Não conseguiu evitá-lo, mas disfarçou-o como se estivesse a pigarrear. No entanto, a irrupção daquelas lembranças não era motivo para se sentir nostálgica. Partira da 24

ilha por vontade própria, quase destruída pelo engano do seu marido. Ariadne parou o carro e Jane saiu antes que a sua acompanhante pudesse dizer algo. Ela não pedira para vir e não estava disposta a mitigar os receios de Ariadne. Se tinha dúvidas sobre Demetri, teria de as aguentar sozinha. Jane só queria fazer o que era necessário e ir-se embora. Embora não soubesse o que era necessário. Um empregado apareceu enquanto Jane estava a tirar o saco e ela entregou-lho, satisfeita. Embora aquilo lhe fizesse dar-se conta de quão absurda era a sua situação. Só esperou que lhe indicassem qual era o seu quarto e lhe dessem tempo para se recompor antes de voltar a encontrar-se com os pais de Demetri. - Apo etho ineh, kiria - disse-lhe o homem, depois de pendurar o saco ao ombro. - Parakalo, akolootha meh. Jane virou-se para olhar para Ariadne, que estava junto do carro e a rapariga arqueou um sobrolho. - Está à espera para lhe mostrar o seu quarto - traduziu-lhe. Jane assentiu com aborrecimento. - Entendo um pouco de grego. Obrigada por ir buscar-me, Ariadne. Espero vê-la depois. - Claro, muito em breve! - Ariadne apertou os lábios. - Maria Souvakis convidou-me para ficar alguns dias. Pensou que assim seria... mais fácil.". Para quem seria mais fácil?, perguntou-se Jane, enquanto seguia o homem pelo pátio pavimentado e entravam no alpendre. As portas estavam abertas e davam lugar a um hall magnífico com chão de mármore. As ventoinhas enormes no tecto refrescavam as divisões. Aparentemente, ali não costumava fecharse as portas. O homem indicou-lhe que o acompanhasse por uma escadaria ampla, que os levaria ao piso superior. Dali, pôde admirar as floreiras cheias de açucenas, que enchiam todos os cantos. Jane sabia, de quando vivera na ilha, que a villa tinha um edifício central de dois andares, com duas alas com um apartamento em cada lado. Quando Demetri e ela tinham estado ali, tinham ocupado uma daquelas alas no rés-do-chão, mas, evidentemente, daquela vez iriam alojá-la noutro sítio. Ao olhar para baixo, Jane teve uma sensação de solidão entristecedora. Só estava o empregado da casa e, embora tivesse esperado poder escapulir-se para o seu quarto sem ver a mãe de Demetri, sentiu-se estranhamente ofendida por ninguém da famíIlia ter vindo recebê-la. No entanto, certamente aquela fora a intenção de Maria, disse para si, enquanto se recusava a que a sua atitude a afectasse. Talvez quisesse deixar-lhe claro o quão deslocada sempre estivera entre pessoas para quem o luxo era a sua forma de vida. Mesmo assim, a beleza das divisões que se comunicavam entre si com paredes forradas a seda era impressionante. Afinal, a família Souvakis era imensamente rica. O que fizera com que a sua relação com Demetri acabasse por ser impossível e destrutiva. Um patamar em forma de galeria levou-a aos seus [aposentos. O seu quarto era luxuoso e confortável. Uma sala muito elegante dava lugar a um quarto imenso, com umas portadas que se abriam para um terraço. O empregado entrou com o saco ao ombro e ela foi até às portadas. Uma estava entreaberta e pôde ouvir o sussurro do mar. Por baixo, a água da piscina resplandecia com a luz do sol do entardecer. Mais além, umas dunas levavam à praia de areia branca banhada pelas águas azuis esverdeadas do Egeu. - Soo are si afto, thespinhl O empregado perguntara-lhe se gostava do quarto. - Muito - respondeu-lhe ela na sua língua. - Obrigada. - Foi um prazer - replicou ele também em grego, com um sorriso, antes de sair do quarto. Jane acompanhou-o e, quando se encontrou sozinha, apoiou-se na porta. Sentia-se muito cansada, todavia apercebeu-se de que era um cansaço tanto psicológico como físico. Passou uma mão pela barriga. Ia ser mais difícil do que imaginara. Não lhe apetecia ter de lidar com a mãe 25

de Demetri, mas também não suspeitara que teria de o fazer com a sua noiva. Sabia que tinha de desfazer a sua escassa bagagem, mas, naquele momento, pareceu-lhe um pesadelo. Tirou as botas a pontapé, foi para o quarto e deitou-se na cama. Era uma cama enorme, mas muito cómoda. Fechou os olhos. CAPÍTULO 6 Acordou quando alguém bateu à porta. Abriu os olhos e, por um momento, não soube onde estava, mas, quando viu as cortinas ondulantes, percebeu. Sentou-se de um salto e teve de se agarrar à beira do colchão quando o quarto começou a andar às voltas. Sentiu um enjoo, mas, felizmente, passou em seguida. - Thespinis! Boro na boi Jane levantou-se e foi até à porta. Esperou que não fosse Maria. Não tinha vontade de se encontrar com a sua sogra quando estava com umas calças amarrotadas e uma t-shirt húmida. Devia ter suado quando estava a dormir e sentia-se acalorada e pegajosa. Para seu alívio, deparou-se com uma criada quando abriu a porta. Trazia uma bandeja com um jarro de sumo e um copo. Jane deu-se conta de que, efectivamente, tinha sede. - Obrigada. Jane agarrou na bandeja, mas a rapariga não se mexeu. - O senhor Souvakis pergunta se acompanhará a família no aperitivo antes do jantar - perguntoulhe em grego. - Parece-lhe bem às sete e meia? Jane, que deixara a bandeja numa mesa de apoio e estava a servir o copo, olhou, atónita, para ela. Deu um gole e olhou para o relógio. Eram quase sete horas. Dormira mais de duas horas. Deviam ter considerado uma indelicadeza. Nem sequer fora cumprimentar o pai de Demetri. - Sim, claro, muito bem - apercebeu-se de que a rapariga não entendia a sua língua e disse-o em grego. - Direi ao senhor Souvakis. Jane sorriu-lhe antes de fechar a porta, foi para a casa de banho com o copo de sumo e abriu a torneira do duche. Tirou a t-shirt, as calças e a roupa interior, e colocou-se debaixo do jorro refrescante de água. Meia hora mais tarde, viu o seu reflexo nos espelhos do armário. Felizmente, o vestido verdeesmeralda não sofrera muito com a viagem no saco e tinha as sandálias de salto alto que comprara na Tailândia Não achava que alguém fosse importar-se com o seu aspecto. Excepto, talvez, o pai de Demetri. Abriu a porta, saiu para o patamar, respirou fundo e dispôs-se a descer as escadas. Já escurecera e o andar de baixo estava iluminado com dúzias de focos no tecto. Havia alguns cantos com estatuetas de ouro e inclusive a fonte que havia no meio do hall estava iluminada por dentro e emitia uma luz fascinante. Disse para si que aquilo era o que podia conseguir-se quando o dinheiro não era um obstáculo e, embora o admirasse com olhos de perita, não sentiu nenhuma inveja. Uma criada estava à sua espera ao pé das escadas para a acompanhar até aos seus anfitriões. Era jovem e olhou para ela de soslaio. Aquilo fez com que Jane se perguntasse, mais uma vez, se era possível que alguém suspeitasse do seu segredo. Era impossível. A rapariga simplesmente sentiria curiosidade e não tinha nada de mal. Seguiu-a por uma galeria abobadada que levava à parte traseira da villa. A galeria era aberta de lado e podia ouvir-se o rumor suave do mar. Perguntou-se se Leo Souvakis receberia os convidados no exterior, mas, antes que chegassem ao alpendre, a criada entrou num pavilhão enorme de vidro. A estufa era uma verdadeira selva de plantas e árvores tropicais. 26

A criada anunciou-a e Leo Souvakis apareceu, apoiado numa bengala, mas com um sorriso sincero de boas-vindas no rosto. Jane deu-se conta das rugas, mas conservava as feições muito parecidas com as do seu filho. - Jane... - cumprimentou-a, carinhosamente, enquanto lhe agarrava nas mãos com a que tinha livre e lhe dava um beijo em cada face. - É um prazer ver-te, mas... estás perturbada. Ariadne disse que parecias cansada quando chegaste. - Estava Jane deixou que Leo a levasse ao encontro das outras pessoas. - Peço desculpa, mas adormeci e não consegui vir antes agradecer o seu convite. É um prazer vê-lo. Não vou perguntar-lhe como está. Imagino que estará cansado de responder a essa pergunta. - Tens muita razão, querida - Leo deu-lhe uma palmada na mão e largou-a. - Além disso, não tens de te desculpar de nada. Evidentemente, esse sono foi reparador. Acho que conheces toda a gente, não é? Maria, certamente - Leo esperou que as duas dessem um beijo gélido e continuou. - Já conheceste Ariadne e Stefan. Certamente, lembras-te dele. Yanis, ou deveria dizer o padre Josef?, veio expressamente para te ver - Leo endureceu a expressão inesperadamente. Jane cumprimentou todos e alegrou-se de conhecer todos, menos Ariadne. Até há cinco anos, considerara-os a sua família, para além da de Demetri. Até a sua mãe, apesar de nunca a ter recebido com agrado. Durante os minutos seguintes, contou-lhes tudo o que fizera ultimamente. Aparentemente, Demetri também lhes contara como a galeria estava bem graças à sua colaboração. Tentou não sentir prazer por ele ter ficado impressionado com as responsabilidades que Olga lhe outorgara e perguntou-se se não estaria a tentar tranquilizar a sua consciência. Embora, pensando bem, não soubesse que o seu pai iria convidá-la quando voltara para a ilha... Durante o jantar, que foi na sala de jantar contígua, a conversa foi trivial e Jane falou com todos. A mãe de Demetri manteve a frieza e Ariadne mostrou um ressentimento evidente por lhe ter roubado o protagonismo no que ela considerava o seu terreno. No entanto, Leo e os seus dois filhos mais novos fizeram todos os possíveis para que se sentisse cómoda. Stefan sempre fora muito amável e o seu bom humor era contagioso. Yanis fora o que mais mudara. Quando ela saíra da ilha, ele estava a começar a sua formação para ser sacerdote. Naquele momento, com as suas roupagens pretas e a barba, parecia-lhe um desconhecido; mais inacessível num certo sentido, embora tão amável como sempre. Jane comeu pouco e bebeu menos. Bebera um aperitivo antes do jantar, mas recusou o vinho. Se alguém estranhou, quando antes adorava o vinho que a família produzia, ninguém comentou. A mãe de Demetri acabava de propor que passassem para a sala, para beberem o café, quando se ouviu um estrondo. Jane deu-se imediatamente conta de que não era um avião. Parecia um helicóptero que ia aterrar. Secou-lhe a boca e as suas mãos humedeceram. Pousou o copo de água que tinha na mão para que não lhe caísse. Só podia haver uma explicação. Como se suspeitasse o mesmo, Ariadne esbugalhou os olhos com uma mistura de surpresa e alegria. - Demetri? - perguntou a Leo, com um gesto sensual na boca. - Achava que só voltaria no fimde-semana. - Não conseguiu esperar tanto para te ver, Ari - comentou, carinhosamente, Maria. - Porque não vais recebê-lo? Tenho a certeza de que Leo te desculpará. No entanto, Leo interveio antes que Ariadne se levantasse. - Pode ser Vasilis. Theo Vasilis - acrescentou, dirigindo-se a Jane. - É o assistente de Demetri. Esta manhã, pedi-lhe que me mandasse alguns relatórios. Se calhar, decidiu trazermos pessoalmente. - Não acredito. Maria tentou convencer o seu marido de que o assistente de Demetri nunca usaria o helicóptero da empresa para algo pessoal e Jane engoliu convulsivamente em seco. Não podia ser Demetri. Prometera-lhe que... O que lhe prometera? Que se manteria afastado. Não dissera nada sobre não estar na ilha. Era a sua casa e, afinal, Ariadne estava ali. 27

- Não é um assunto pessoal, querida - replicou Leo, enquanto agarrava na bengala e se levantava com o nariz franzido. - Parece que já aterrou. Vou esperá-lo no alpendre. - Posso ir... começou a dizer Ariadne, antes que Leo rejeitasse a oferta com um gesto da mão. - Vai para a sala com os outros, querida - disse-lhe ele, com delicadeza. - Bebe o café calmamente. Além disso, se for Demetri, eu gostava de falar com ele de algumas coisas da empresa. Entendes? Jane olhou para Ariadne e para a mãe de Demetri e não conseguiu decidir qual das duas estava mais incomodada com aquelas palavras. - Tens de estar tranquilo! - exclamou Maria. - Estarei depois de ter falado com o meu filho - garantiu ele, enquanto se dirigia para a porta. - Porque não podem falar no escritório? - perguntou-lhe Maria, que o seguira. - O facto de ela estar aqui não significa que Demetri não possa entrar na sua própria casa. - Jane. Chama-se Jane - replicou Leo, com um brilho de desagrado nos olhos. - Trata do café. Volto já. Saiu da sala sem dizer mais nada e fez-se um silêncio perturbador. Jane aproveitou a ocasião para se levantar. - Se me desculpar, Maria, vou para o meu quarto. Foi um dia cansativo e ainda não desfiz a bagagem. Demoraria cinco minutos a tirar do saco uns calções e algumas t-shirts, mas a mãe de Demetri não tinha de saber, embora Ariadne soubesse o que trouxera. - Muito bem, se tens a certeza... Jane tinha a certeza de que Maria e Ariadne não podiam acreditar na sorte que tinham tido. - Sim - Jane sorriu aos irmãos de Demetri. - Prazer em voltar a ver-vos. Stefan, Yanis. Se não voltarmos a ver-nos, obrigada pela vossa hospitalidade. Leo acabava de chegar à porta da rua quando ela entrou no hall. Tirou as sandálias para não chamar a sua atenção e subiu rapidamente para o primeiro andar. Quando chegou ao patamar, tinha a respiração entrecortada pelos nervos e a pressa, e parou um momento para olhar para baixo. No entanto, quando ouviu as vozes masculinas inconfundíveis, sentiu pânico e meteu-se no seu quarto. Não estava disposta a que Demetri pensasse que desejava vê-lo. Se lhe contasse do bebé, ele não podia pensar que ela esperava que mudasse de ideias sobre o divórcio. Nada mudara. Ele continuava a ser um canalha mentiroso. Não lhe devia nada depois de como se portara em Londres. Foi até à janela e viu a piscina iluminada. Demetri e ela costumavam ir nadar quando os outros estavam a dormir. Maria teria ficado espantada de os ver ali, nus. à A fazerem amor... Não conseguiu apagar aquelas imagens e voltou para o quarto. Alguém acendera os candeeiros que havia nas mesas-de-cabeceira ao lado da cama. Também lhe tinham aberto a cama; os lençóis de algodão eram branquíssimos. Além disso, tinham-lhe desfeito a mala, pendurado o outro vestido no armário e guardado o resto nas gavetas da cómoda. Naturalmente, Maria sabia, mas não fizera nada para a dissuadir de que se fosse embora. No entanto, porque haveria de o ter feito? Não queria que estivesse ali. Ariadne era a favorita. Ela era apenas um aborrecimento que o seu marido se empenhara em devolver às suas vidas. Desceu as alças e deixou que o vestido caísse no chão. Não usava sutiã e pareceu-lhe que os seios lhe pesavam mais do que antes. Foi à casa de banho e viu-se ao espelho. Efectivamente, tinham mudado. Tocou-lhes e confirmou-o. Depois, colocou-se de lado e passou as mãos pela barriga. A tanga, que era a única coisa que usava, realçava-lhe a leve protuberância em que tinha reparado antes. Embora talvez estivesse a imaginar. Estava de pouco menos de seis semanas. Quando se notava a gravidez? Deveria ter Perguntado à sua irmã. Embora fosse melhor não o ter feito. Lucy teria sido incapaz de não dizer à sua mãe e esta teria ficado ofendida. Suspirou. Seria melhor não dizer a ninguém de momento. Até decidir, definitivamente, o que ia fazer. 28

- Estás a admirar-te? A voz era atrozmente familiar. O que não lhe pareceu tão familiar foi a intensidade do tom. Se não soubesse que era impossível, ter-lhe-ia parecido que Demetri estava excitado por a ver a acariciar o corpo. Há quanto tempo estaria à porta da casa de banho? Tê-la-ia visto examinar os seios? Com certeza que sim, respondeu-se, com o pulso acelerado. Era por isso que olhava para ela com aquele brilho de paixão nos olhos. CAPÍTULO 7 Ela desviou o olhar para o outro lado e o silêncio tornou-se mais tenso. Sabia que deveria taparse com uma toalha, mas algo, talvez fosse uma vontade perversa de o provocar, impediu-a de o fazer. Perguntou-se o que ele esperava que dissesse. Demetri devia saber que o seu aparecimento sem avisar ia contra todas as regras. Estavam prestes a divorciar-se! A sua noiva estava no andar de baixo. Era injustificável da sua parte e ela era parva por não o expulsar imediatamente do seu quarto. - Um déjà vu, Demetri? - perguntou ela, que sabia que ele também sabia perfeitamente ao que se referia. Olhou-o por cima do ombro e confirmou que ele tinha uma expressão sombria. - Não - respondeu Demetri, passado um momento. - Veste algo, quero falar contigo. Espero-te na divisão do lado. - No quarto. - Não, na sala. Despacha-te! Ela voltou a olhar para o seu reflexo. Se calhar, não quero vestir-me. Subi para me deitar. Estou cansada. Acho que devias ir-te embora. Falamos amanhã de manhã. - Amanhã de manhã, não estarei aqui - replicou Demetri. - Tenho de ir a uma reunião em Atenas. Durará dois dias. Voltarei no fim-de-semana. - Isso... o que tem a ver comigo? - Jane, sem saber como, perguntou-o com sarcasmo. - Veste-te - Demetri tirou um robe de seda de um gancho na porta. - Isto será suficiente. Jane não se incomodou em agarrar no robe, que caiu no chão. Demetri praguejou na sua língua, aproximou-se dela e o seu reflexo apareceu no espelho, enquanto se baixava para apanhar o robe e, depois, lho punha por cima dos ombros. - Veste-o! - insistiu-o ele, com um tom áspero. Ou não serei responsável pelos meus actos. - Estou aterrada! Jane começava a divertir-se, embora soubesse que estava a brincar com o fogo. Demetri não encarava uma provocação levemente e a sua expressão fez com que ela sustivesse a respiração. - Jane! - o tom foi levemente ameaçador. Ele ia tapá-la com o robe, mas ela afastou-se. O robe voltou a cair no chão e roçou-lhe nos seios com a mão. A sensação foi perturbadora, uma mistura de sensibilidade cativante e de desejo ardente. Queria que lhe passasse a palma da mão pela pele delicada, que se inclinasse e colocasse um mamilo ofegante na boca. Os olhares encontraram-se no espelho e ela reparou que ele sabia o que estava a sentir. Aquilo chateou-a, porque não queria que ele pensasse que fora ali com a esperança de reiniciar a relação. Baixou-se, apanhou o robe, vestiu-o e atou o cinto com força. - Muito bem - disse ela, taxativamente. - Vamos para a sala. Não consigo imaginar o que podemos ter para conversar, mas tenho a certeza de que vais esclarecer-me. Demetri afastou-se um pouco para a deixar passar e ela teve de lhe roçar. Usava um fato cinzento-escuro de seda, uma camisa cinzento pérola e a gravata frouxa. O seu aspecto era muito diferente do que tinha quando fora ao seu apartamento enr Londres, mas ela sabia que podia ser 29

igualmente imponente com camisola e calças de ganga. A sala estava um pouco escura e Jane acendeu mais candeeiros para mitigar a sensação de vulnerabilidade. Porque fora Demetri aos seus aposentos? Não podia ter esperado até à manhã seguinte para lhe dizer o que tinha para lhe dizer? Então, lembrou-se de que na manhã seguinte ia para Atenas e, pelo menos, poupava-se à possível humilhação de ele ir à casa de banho e de a encontrar a vomitar. Mesmo assim, alterava-a. Era alto, moreno e perigoso. A sala tornou-se, repentinamente, mais pequena, mais íntima. Teve a sensação de que ele adivinhara sobre a gravidez. Quis sentar-se, mas Demetri não fez menção de se sentar e ela também não quis dar-lhe o prazer de o convidar a que se sentisse cómodo. Levantou a cabeça e olhou para ele com toda a frieza que conseguiu, embora tivesse o estômago revolto e ameaçasse voltar a pô-la numa situação comprometedora. Demetri ficou no arco que dava para o quarto. Estava cansado e sabia que não era o melhor momento para ter uma conversa com a que, em breve, seria a sua ex-mulher. O facto de ter desaparecido assim que ouvira o helicóptero demonstrava que não queria vê-lo. Porque não seguira o conselho da sua mãe e lhe telefonara no dia seguinte de Atenas, para se certificar de que recebera os documentos do divórcio? Porque a verdade era que queria saber o que Olga Ivanovitch pretendera ao telefonar-lhe. - Recebi uma chamada - comentou ele. - Uma chamada? - repetiu ela, com tom hesitante. - O que tem isso a ver comigo? - A chamada foi de Olga Ivanovitch - respondeu Demetri, que percebeu um brilho de preocupação nos olhos de Jane. - Olga? - perguntou ela, despreocupadamente. Como...? - Perguntas-te como me localizou? Lembras-te de que eu lhe telefonei? Estava à tua procura para te dizer que o meu pai queria ver-te e, evidentemente, o seu telefone guardou o meu número. - Para que haveria Olga de querer entrar em contacto contigo? Jane engoliu em seco. - Uma vez, vendeu uma estatueta" de "bronze ao meu pai, não foi? Uma estatueta que, além disso, ela encontrara. Então, conhecera Leonides Souvakis e o seu filho... - E o que queria? Queria dizer ao teu pai que encontrara algo interessante? Demetri apertou os lábios. - Parece-te provável, quando sabe que está doente? Jane sentiu um calafrio. - Não sei o que pensar. Porque não me dizes tu, em vez de jogares ao gato e ao rato? - Não é um jogo - Demetri abriu outro botão da camisa e semicerrou os olhos. - A tua chefe está preocupada com a tua saúde, não com a do meu pai. Disse-me que estás... fraca. Pediu-me que não fizesse nada que te incomodasse. A que achas que se referia? O que lhe contaste? - Bom, evidentemente, não lhe contei a verdade replicou ela, rapidamente. - Tu já sabias que não me sentia bem quando me telefonaste. Olga preocupa-se comigo. - Concordo com isso - ele fez uma pausa e Jane reparou que ele se dera conta de que corara ao falar. Mas disseste-me que fora uma constipação. As constipações não costumam causar tanta preocupação. - Sim... mas Olga é uma pessoa muito atenciosa Jane fez um gesto de impotência. - Se calhar, não confia que tu... não... - O quê, Jane? Demetri aproximou-se e Jane teve de fazer um esforço para não se mexer. - Não vais conseguir que faça uma idiotice - respondeu ela, precipitadamente. - Ariadne estará a perguntar-se onde estás... - Ariadne confia em mim - afirmou ele, com tom de incómodo, por ter ficado à defesa. - Achas que não lhe disse onde vinha? Achas que me escapuli, para vir ver a mulher da qual estou desejoso de me livrar, e não disse a Ariadne o que vinha fazer? 30

Jane franziu os lábios. - Não - respondeu ela, também à defesa. - Ainda bem, porque estarias muito enganada. Demetri estava furioso, embora não soubesse porquê. Ali estava Jane, em casa dos seus pais e mais bonita do que nunca, e ele não o suportava. Não queria que ela estivesse ali, não queria que lhe recordasse o que tinham sido. Ariadne e eu compreendemo-nos - concluiu Demetri. - Bom, ainda bem para vocês - Jane sentiu uma certa indignação, mas preferia-a ao apuro que sentira. - Se vieste dizer-me isso, do que estás à espera? Eu adoraria deitar-me. Demetri soprou e esperou até acalmar-se. - Porque vieste, Jane? Ela esbugalhou os olhos. - Porque vim? - repetiu Jane. - Sabes muito bem. O teu pai pediu-me. - Podias ter recusado. - Recusar a um homem moribundo? Por quem me tomas? - Não sei, pois não? - Demetri apertou os dentes. Quem és, Jane? Uma santa ou uma pecadora? Não consigo sabê-lo com certeza. - Bom, eu não tenho esse dilema - replicou ela, com desprezo. - És um egoísta. - Tu não és? - Demetri não entendia porque se metera naquilo, mas não conseguia sair..Suponho que, assim, justificas porque me abandonaste. Ou tens de continuar a recordar-te porque cometeste um erro tão grande? - Não foi um erro! - Não sei porquê, mas custa-me a acreditar. Não é um pouco hipócrita içares o estandarte da moral quando, há algumas semanas, estavas de pernas abertas, comigo em cima? Tudo soou muito pior com o seu sotaque. Antes de conseguir evitá-lo, Jane bateu-lhe na cara e arrependeu-se imediatamente. Nunca fazia aquelas coisas, mas já era tarde. Demetri perdeu o escasso autocontrole que lhe restava. Praguejou em grego, agarrou-a pelo pulso e puxou-a para si. - Se é o que queres, não vou queixar-me. - Demetri... - queixou-se ela, inutilmente. - Cala-te! - Não podes... - Cala-te! - repetiu ele. Agarrou-a pelo cabelo, inclinou-lhe a cabeça para trás e beijou-a, ardentemente, na boca. Ela soube que estava perdida. A fúria e o desespero fizeram com que não pudesse ser delicado com ela. Apoiou-a contra a parede e a sua língua abriu caminho na boca dela. Queria arrancar-lhe o robe e possuí-la. Confirmou que a vulnerabilidade dela não era dissuasiva. O gemido que Jane deixou escapar deveria tê-lo envergonhado, mas não o fez. Só serviu para o perturbar ainda mais. Abriu-lhe o robe e cravou os olhos nos mamilos erectos, na barriga ligeiramente volumosa e no seu sexo. - És muito bonita - sussurrou ele, apressadamente. - Desejo-te. Jane libertou as mãos e arranhou-o nas faces. Não lhe fez sangue, mas, quando lhe puxou o cabelo, ele deixou escapar um gemido. - Não finjas que não me desejas também. Ela puxava-lhe o cabelo para lhe afastar a cabeça, mas o tom da sua voz acabou com toda a sua firmeza. - Eu... eu não te desejo... No entanto, os seus lábios disseram outra coisa quando ele voltou a beijá-la. A paixão 31

transbordou entre eles com cada movimento da sua língua e, quando lhe mordeu o lábio inferior, ela agarrou-se ao seu pescoço. - Foi para isto que vieste, não foi? - perguntou-lhe, enquanto lhe tirava o robe. - Estás decidida a destruir-me. - Não - queixou-se ela, enquanto o robe caía no chão. Demetri não a ouviu. Estava a acariciar-lhe os ombros, as costas e o rabo. Apertou-a contra si e mexeu-se para que ela sentisse claramente a sua erecção. - Sentes? - perguntou ele, com um tom rouco. Claro que sentes! Sabes o que é ter-te tão perto e não fazer parte de ti? - Demetri... - Enlouqueces-me - continuou ele, enquanto colocava a coxa entre as pernas dela. Completamente louco, mas, mesmo assim, quero que estejas mais perto de mim, debaixo de mim, com as pernas abertas para me aliviares da tortura que me infliges. -Demetri... - Não tentes convencer-me de que não sei o que digo. Eu sei, Jane, garanto-te. - Demetri, por favor...! O tom suplicante atravessou-o, mas não conseguia parar para ouvir raciocínios. Colocou a mão entre o cabelo dela, levantou-lhe a cabeça e silenciou qualquer queixa com a boca. Foi um beijo profundo e erótico, uma confirmação de tudo o que lhe dissera. Arrastou-a a um ponto onde nada importava, só que continuasse a beijá-la e a acariciá-la, até a derreter com a sua própria excitação. Ele estava a tirar a camisa e a gravata com a mão que tinha livre, e ela agarrava-se ao seu pescoço e cravava as unhas na carne que cheirava maravilhosamente a homem. Arqueava-se contra ele, deleitava-se com o roçar dos pêlos do seu corpo contra os seios. Então, bateram levemente à porta. Os dois ficaram quietos um instante. Foi como se tivessem ficado petrificados. Demetri afundou a cara no ombro dela e Jane deixou cair a cabeça contra a parede. -Jane! A boca dela secou. Achou que Demetri gritara o seu nome, mas deu-se conta imediatamente de que ele não conseguia dizer nada e de que fora outra voz, incrivelmente parecida com a de Demetri, a que ela ouvira. Jane afastou a cabeça de Demetri para que pudesse ler-lhe os lábios. Disse-lhe que era o seu pai com uma expressão de espanto evidente e ele assentiu. - O que vais fazer? - perguntou-lhe ela, com um fio de voz, enquanto apanhava o robe e o vestia. - Não pode encontrar-te aqui. Tens de sair. - Para onde? - perguntou ele, com sarcasmo. - Esperas que me esconda na casa de banho até que se vá embora? - É uma ideia. - Nem pensar! - replicou ele, com desprezo. - Jane... fez-se um silêncio persuasivo. Está alguém contigo. Posso voltar depois, se preferires acrescentou Leo Souvakis. -Não, eu... Jane procurou desesperadamente uma resposta, enquanto pedia com o olhar a Demetri que desaparecesse. Ele limitou-se a abotoar os botões da camisa e a colocá-la dentro das calças. Então, para espanto dela, foi até à porta e abriu-a. CAPÍTULO 8 Para sua surpresa, Jane dormiu espantosamente bem. Depois de tudo o que acontecera, pensara que ficaria acordada durante horas, a dar voltas aos acontecimentos do dia e da noite. No 32

entanto, adormecera assim que apoiara a cabeça na almofada. Não tinha a consciência tranquila. O que fizera o que permitira que Demetri fizesse, era imperdoável. Merecia passar a noite a repreender-se. Embora também se tivesse apercebido de que, se dormira tão facilmente, em parte teria sido devido à gravidez. Deitou-se de costas e observou o sol que entrava pelas cortinas. Em Londres, inquieta com tudo o que a esperava, os sonhos eram repletos de imagens angustiantes, mas na noite anterior estava tão cansada que conseguira manter os olhos abertos. Sentia-se descansada, como não se sentia há muito tempo. Na verdade, desde que Demetri reaparecera na sua vida. No entanto, tinha de se levantar para enfrentar tudo o que a esperava, e não se referia aos enjoos de todos os dias. O que teria pensado Leo, quando o seu filho abrira a porta e saíra do quarto sem dar nenhuma explicação? Dirigira-se para as escadas como se não estivesse disposto a responder a nenhuma pergunta sobre a sua presença ali. Era fácil imaginar o que teria pensado ao encontrar o seu filho com a mulher da qual estava a divorciar-se. Afinal, recebera os primeiros documentos no dia anterior a partir para Kalithi. Que ele não os tivesse assinado, não lhes subtraía nenhuma veracidade. Afastou os lençóis e confirmou que dormira sem a t-shirt enorme que usava sempre. No entanto, sentira-se humilhada ao ter ficado sozinha para enfrentar a evidente perplexidade de Leo e não era de estranhar que tivesse ficado desorientada quando ele se fora embora. O pai de Demetri olhara para o seu filho como se não entendesse a situação. Depois, olhara para Jane, vira que só usava o robe e o seu rosto enrugado adoptara uma expressão de entender tudo. Jane estivera prestes a explodir. Sabia muito bem que tinha os lábios inflamados e as faces congestionadas. Leo não era tolo. Devia ter percebido exactamente o que interrompera. Fora por isso que recusara o convite dela para que entrasse. - Não te preocupes, Jane - desculpara-se, enquanto olhava para o patamar, como se esperasse que o seu filho reaparecesse. - Se não precisas de nada, desejo-te uma boa noite. Dorme bem, querida. Evidentemente, decidira que não era o momento de ter uma conversa corriqueira. Antes de se despedir, Jane tivera vontade de lhe dizer que, aquilo que presenciara, não era o que ele pensava, mas, realmente, também não tinha muita vontade de saber o que pensava sobre o seu comportamento, para não falar do do seu filho. Uma criada trouxe-lhe o pequeno-almoço enquanto tomava banho. Quando saiu da casa de banho, encontrou uma bandeja com sumo, bolos e café na mesa-de-cabeceira. Esperou que a rapariga não tivesse ouvido mais da conta, mas, se ouvira, também não interessava. As Pessoas vomitavam pelos mais diversos motivos. O cheiro a café era repelente, mas comeu um pedaço de um bolo. Era muito bom e recordou ter lido que a comida podia aliviar os enjoos matinais. Comeu dois bolos e bebeu o sumo. Inclusive, acabou por beber meia chávena de café e sentiu-se bastante bem. Vestiu uma t-shirt cor-de-rosa sem mangas e uns calções a condizer. A cor favorecia-a e prendeu o cabelo. Então, com certo receio, saiu do quarto. Passavam das nove horas e poderia encontrar alguém. Não estava a pensar em Demetri, disse para si, enquanto descia as escadas, mas também não conseguia evitar perguntar-se se já se teria ido embora. Encontrou Stefan, que estava a tocar piano na sala de música. Atravessou o hall e parou à porta. Embora fosse impossível que ele tivesse ouvido os seus passos, levantou a cabeça. - Jane! - exclamou, enquanto se levantava do banco. Dirigiu-se para ela e Jane confirmou que também usava calções e t-shirt. - Dormiste bem? - continuou Stefan. - Não estás cansada depois... da viagem? A hesitação foi muito eloquente, mas Jane preferiu ignorá-la. - Muito bem - respondeu ela, enquanto se perguntava se a mãe de Stefan teria aprovado os beijos que tinham dado nas faces. - Vejo que hoje não trabalhas. 33

Quando ela partira da ilha, Stefan fazia de secretário do seu pai, mas, conhecendo Leo como ela conhecia, sabia que não teria permitido aquele traje, se estivesse a trabalhar para ele. Hoje, não confirmou ele, sem dar mais explicações. - Já tomaste o pequeno-almoço? Posso pedir a ngelena... - Já tomei o pequeno-almoço, obrigada - Jane deu uma olhadela à sala iluminada pelo sol. - É uma sala linda e muito silenciosa. Tinha-me esquecido de como Kalithi pode ser aprazível. - Quererás dizer aborrecida - replicou Stefan, com um tom que pareceu um pouco sério a Jane Na noite anterior, ele parecera contente, mas, naquele momento, as suas feições arredondadas transmitiam um ar de melancolia. Isso depende do que pretendes - sussurrou ela, que não queria entrar numa conversa sobre a sua vida. - O que pretendes tu, Jane? - Stefan arqueou os sobrolhos. - Só queres sucesso no trabalho? - Não sei o que quero respondeu ela, laconicamente, embora fosse verdade. - Hum... onde está toda a gente? Estão a tomar o pequeno-almoço? O meu pai não costuma descer antes do almoço e a minha mãe, normalmente, passa a manhã com ele. Embora, se Ariadne estiver cá, se calhar mude esse hábito Yanis voltou para o mosteiro e... o meu outro irmão partiu há uma hora. - Demetri? Jane perguntou-o com espanto, porque não ouvira o helicóptero, embora também sentisse um certo alívio. - Sim, Demetri - confirmou Stefan. - Espera voltar amanhã à tarde. - Amanhã à tarde? - Sim, amanhã à tarde respondeu Stefan, com um tom algo brincalhão. - Como pensas entreter-te até então? Jane corou. - Não sei o que queres dizer. Não vim ver Demetri. -Não...? Ele não parecia muito convencido e Jane perguntou-se se os seus pais pensariam o mesmo, para não falar do próprio Demetri. - O teu pai queria ver-me - Jane entrelaçou os dedos. - Eu não podia... não quis recusar. - Pois...! - Stefan encolheu os ombros. Era mais baixo do que Demetri e o seu sorriso brincalhão tinha algo feminino. Se tu o dizes, eu não vou discutir. Se calhar, a influência da minha mãe altera o meu critério. Jane abanou a cabeça e quis ir à procura de uma companhia mais amigável, mas ele estendeu os braços. - Desculpa - desculpou-se Stefan. - Sou terrível, eu sei. Não me faças caso, Jane. Vamos dar um passeio. Atravessamos o jardim e vamos à praia. - Não sei se... - Jane hesitou. - Por favor! - Stefan podia ser encantador quando queria. - Se quiseres, podemos ficar na piscina. Sei que adoras nadar. Poderia tê-lo encarado como outro comentário malicioso, mas, naquele momento, não lhe pareceu prudente vestir um fato de banho e aceitou a primeira oferta. - Prefiro o passeio. Era preferível a ficar à espera da chegada da sua sogra e de Ariadne. Saíram pela sala que utilizavam durante o dia. Era uma sala linda, apenas manchada pela lembrança da discussão que tivera com Demetri, na manhã anterior à sua partida definitiva da ilha. Pelo menos, ela achara que era definitiva, disse para si, enquanto seguia Stefan através das portas de correr. Naquele momento, estava tão confusa que não sabia o que pensar. Felizmente, o alpendre não albergava más lembranças e desceram os degraus que levavam à enorme piscina redonda. Contornaram as cabanas de madeira que serviam de vestiários e sauna, e seguiram pelo caminho entre a relva acabada de cortar. Era tudo maravilhoso, mas estava um 34

calor incrível. Jane, que não colocara protector quando fizera a mala, esperava não se queimar. No entanto, nada naquela viagem estava a correr como ela previra e tinha de rever as suas perspectivas. Uma brisa recebeu-os quando chegaram à areia. Jane tirou as sandálias, agarrou-as pelas tiras e dirigiu-se para o mar. - Calma! - exclamou Stefan, enquanto tentava acompanhá-la. - Temos a manhã toda. Jane perguntou-se porque Stefan se conformava em passar o tempo na ilha, quando o seu pai trabalhava tão pouco naquele momento. Sentiu a frescura da água nos pés e lembrou-se de que aquela era a melhor altura para se tomar banho, antes de o sol queimar, inclusive dentro da água. - Tens de aprender a relaxar, Jane - comentou-lhe Stefan, com a respiração um pouco entrecortada. Agora não estás em Inglaterra. - Achas que não me dei conta? - perguntou ela, com o olhar cravado na água que banhava os seus pés. - O que estás a fazer aqui? perguntou-lhe, repentinamente, olhando para ele nos olhos. Mandaram-te vigiar-me? - Achas que me prestaria a fazê-lo? - perguntou-lhe Stefan, com tom ofendido. Jane arqueou um sobrolho. - Devo considerá-lo como um sim? - Não! estava indignado. - Pensei que gostarias de ter companhia, mais nada. Jane olhou fixamente para ele um instante e virou-se. - Está bem - começou a andar pela areia. - O que fazes? Já não trabalhas para o teu pai? - Tenho a certeza de que os meus problemas não te interessam, Jane - Stefan apertou os lábios. Mas tenho curiosidade sobre a tua relação com Demetri. Sabes que vai casar-se com Ariadne, assim que estiver divorciado? - Sim, ele contou-me. - Contou-te, porquê? - Isso é o de menos, Stefan. Quer o divórcio e ponto final. - Não, não é o ponto final. Não era necessário que Demetri se divorciasse, a menos que quisesse fazê-lo, claro! - O que queres dizer? - perguntou Jane, com o sobrolho franzido. - Quero dizer que eu desejava dar ao meu pai o neto que tanto deseja. Mas eu não servia, a minha relação com Phillippe não lhe serve, embora estejamos juntos há mais de seis anos. Jane parou e olhou para ele com incredulidade. - Quer dizer que Phillippe Martin e tu são...? - Um casal? Sim - Stefan arqueou os sobrolhos. Conhece-lo, não é verdade? Demetri não te contou que vivíamos juntos? - Disse-me que eram... amigos. Jane sentiu-se estúpida. Demetri dissera-lhe que Stefan não se interessava por mulheres, mas ela não soubera fazer a ligação. - Naturalmente, não devia surpreender-me - Stefan dava pontapés à água. - Demetri é o herdeiro do nosso pai. O filho mais velho. Para o meu pai, não serve o filho de mais ninguém. Jane abanou a cabeça. Saberia Demetri de tudo aquilo? Saberia como Stefan se sentia? Deveria saber. Era uma situação tão delicada, que Demetri e o seu pai deveriam tê-la comentado nalgum momento. - Lamento. Jane sabia que aquilo era insuficiente, mas não lhe ocorreu outra coisa para dizer. Stefan sorriulhe. - Não faz mal - replicou ele, com resignação. - Vamos mais longe? Andaram quase um quilómetro pela praia e voltaram. Para alívio de Jane, a conversa tomou um 35

rumo menos pessoal e, esteve tão preocupada em não tocar em assuntos complicados, que se esqueceu completamente do calor que fazia. No entanto, quando tomaram o caminho de volta para o alpendre, reparou que os ombros lhe ardiam. Olhou para os braços e confirmou que estavam vermelhos, pelo que era fácil supor que teria a cara como um tomate. Algo que a chateou muito quando se encontrou com a sua sogra e Ariadne no alpendre, e protegidas por um toldo às riscas. Precisou de muita coragem para avançar para elas. Além disso, sentia-se bastante aturdida. Uma situação que não melhorou quando Stefan se desculpou e entrou na villa. - Olá, Jane! - cumprimentou-a Maria, enquanto observava com prazer como se sentia a sua nora. - Porque não nos acompanhas? Estamos a beber café. Jane sabia que Maria não tinha nenhum interesse em que a acompanhasse, só queria complicarlhe mais aquela situação tão incómoda. Evidentemente, sabia que Jane teria preferido ir para o seu quarto, para colocar creme nos braços e nos ombros, mas não podia desperdiçar a oportunidade de a torturar. Jane, que estava disposta a não fazer nada que piorasse a situação, esboçou um sorriso forçado. - Obrigada - disse, antes de se sentar numa poltrona junto de Ariadne. O cheiro a café dava-lhe náuseas e, quando Maria pediu à criada que trouxesse outra chávena, Jane humedeceu os lábios ressequidos. - Importa-se que beba água? - Água? - Maria olhou para ela, com impaciência". - O que se passa? Sentes-te mal? - Tenho calor e muita sede. Se não se importar... - Não está habituada ao nosso clima - comentou Ariadne, com desdém. - Pareces um tomate. Se calhar prefere ir para o seu quarto... Chateou Jane que falasse dela como se não estivesse ali, mas alegrou-se que tivesse dito o que dissera. - Efectivamente, Maria, se não se importar... - sussurrou Jane, enquanto se levantava. - Importase de dizer à criada que leve a água ao meu quarto? - Não podes ficar alguns minutos? - perguntou-lhe Maria, com os dentes apertados. - Hoje não tivemos ocasião de falar. Não queres saber como está o meu marido? - Claro que quero saber como está Leo - Jane voltou a sentar-se. - Só pensei... - Imagino o que pensaste. Tenho a certeza de que preferias não ter esta conversa - Maria interrompeu-a, taxativamente. - No entanto, deixemos clara uma coisa, Jane. Eu não aprovei que Leo te convidasse. Independentemente do que ele diga, não és bem-vinda na minha casa. Assim que o vires, espero que partas assim que for correcto. - Porque permitiu que Demetri entrasse em contacto comigo? - Jane soprou. - Porque não fingiu ter falado comigo e que eu recusara? - Porque Leo nunca teria aceitado. Além disso, gosto demasiado de Demetri para Lhe mentir. Jane abanou a cabeça e arrependeu-se em seguida. Voltou a sentir-se enjoada e agarrou-se aos braços da poltrona para se sossegar. Infelizmente, Maria e Ariadne deram-se conta e a sua sogra deixou escapar um som de impaciência. - Muito bem, vai para o teu quarto. Se não consegues controlar-te nem cinco minutos, é melhor que faças o que Ariadne diz. Mas não te esqueças do que te disse. Da próxima vez, poderá não ser tão compreensiva. Jane não soube a que se referia. Demetri voltou para a ilha ao fim da tarde do dia seguinte. Não ficou para ouvir as conclusões da reunião, com a desculpa de que tinha de estar atento à saúde do seu pai. Toda a gente o entendeu, mas ele perguntou-se se teriam sido tão compreensivos se soubessem que a saúde do seu pai só supunha metade das suas preocupações. Estava ansioso por voltar a ver Jane e certificar-se de que não a tinham incomodado durante a sua ausência. Não sabia porque tinha aquela 36

necessidade de amparar a sua ex-mulher Como se ela se tivesse alegrado de o ver... apesar de ter sido incapaz de não lhe tocar, tinha a certeza de que ela lamentava tanto como ele o fim tão abrupto. Quando o helicóptero aterrou, suspirou, aliviado, e saltou imediatamente para o chão. - Esta noite, não precisarei de ti, Theo - disse ao seu assistente. - Podes ir para casa, se quiseres os pais de Theo viviam noutra ilha do arquipélago. - Yanis leva-te. - Se não te importares, preferia ficar na casa de campo. Theo referia-se a um edifício de pedra onde viviam muitos empregados da propriedade. - Eu gostava de ver lanthe - continuou Theo. - Se não achares inconveniente... - Porque haveria de ser? - Demetri fez um sinal ao piloto para que se afastasse. - É uma mulher livre. -Eu sei, mas... - Mas...? - Bom... - Theo pareceu coibido. - Toda a gente sabe que tu e ela foram... - Amigos - acabou Demetri, rotundamente. - Fomos amigos, Theo. Não fomos amantes, como tenho a certeza de que te disseram. - Mas a tua mulher... - Ela também não acreditou em mim - replicou Demetri, sem sinal do bom humor com que estava. - Esquece. Já pertence ao passado. Talvez, um dia, lanthe te conte quem era o verdadeiro pai de Marc. Até então, aceita a minha palavra. Desejo-vos toda a sorte do mundo. Está bem? - Obrigado. Demetri agarrou na mala e os dois homens afastaram-se ao chegar à casa. Quando Demetri entrou no hall, a sua mãe apareceu no alpendre. - Demetri! - exclamou ela, com tom de surpresa. Passa-se algo? - Porque haveria de se passar algo? - ele percebeu uma impaciência injustificada. - Fui à reunião e voltei. Onde está o meu pai? - perguntou, para não perguntar onde estava Jane. - Fazes bem em perguntar - respondeu ela, com um tom de desagrado evidente. - Foi dar uma volta de carro com aquela mulher. Avisei-o de que era uma imprudência fazer aquele esforço desnecessário, mas não me fez caso. Demetri soube a quem se referia a sua mãe e sentiu tal alívio que não pensou na resposta. - Não acho que dar uma volta de carro com Jane seja um esforço excessivo. No entanto, franziu o sobrolho. O que dissera? Queria que aquela mulher desaparecesse da sua vida e animar o seu pai a tornar-lhe a visita agradável não era muito sensato. - Deveria ter suposto que não estarias de acordo comigo. Afinal, tu trouxeste-a para aqui. Demetri ignorou-a, mas a sua mãe continuou. - Felizmente, Ariadne acompanhou-os. Ela encarregar-se-á de que o teu pai não faça uma tolice. - Uma tolice? - Demetri soprou. - Sim, como convidá-la para que fique o tempo que quiser - Maria deu-se conta de que aquela não era a melhor maneira de receber o seu filho e agarrou-o pelo braço. - Vamos, estou a beber chá gelado com Thermia, no alpendre. Gostará de te ver. Ele duvidou. Além disso, não tinha nenhuma vontade de ver a mãe de lanthe. Teria o azar de que lanthe estivesse com ela? Tenho calor e estou cansado. Preciso de um duche e de algo mais forte do que chá gelado. - Tolices! O que pensaria Thermia, se não fosses cumprimentá-la? Demetri apertou os dentes. - Está sozinha? - Claro que não, está com lanthe! Sei que se alegrará de ter companhia mais jovem. Demetri conteve um resmungo. Quem as teria convidado? De qualquer forma, Theo teria uma desilusão. Ao contrário do que a sua mãe dissera, lanthe não pareceu muito contente de o ver. - Demetri... - sussurrou ela, educadamente, depois de ele cumprimentar a sua mãe. -A tia Maria 37

tinha-nos dito que só voltarias amanhã. lanthe sempre lhe chamara "tia", mas era apenas uma denominação honorífica. Na verdade, as duas mulheres eram primas afastadas. Demetri olhou para a sua mãe com ironia, mas ela disfarçou enquanto tirava um copo. - Bebes um pouco de chá gelado, não é? - Não, obrigado - respondeu Demetri, que percebera que lanthe trocava um olhar furtivo com a sua mãe. - Não posso ficar. Já que sei que o meu pai está bem, gostaria de ir para minha casa. Maria ficou muito rígida, com o copo na mão. - Mas, Demetri, não podes ir sem veres o teu pai. - Vejo-o mais tarde! - insistiu ele, com os dentes apertados. - Neste momento, quero encontrar Theo antes que parta. - Theo veio? - perguntou lanthe - Sim - respondeu Demetri. - Vai passar a noite na casa de campo. Queres vê-lo? -Bom... - Não acredito, Demetri. lanthe e a sua mãe falaram ao mesmo tempo, mas foi Maria Souvakis quem disse a última palavra. - Porque haveria de querer ver Theo? Por favor! Thermia estava a contar-me que lanthe recebeu mais de uma dúzia de mensagens daquele homem enquanto estava fora. Começa a ser um verdadeiro chato. - É verdade? - perguntou Demetri a lanthe. - Efectivamente, escreveu-me. - Referia-me a ser chato - esclareceu Demetri, com tom de paciência. - Ele acha que desfrutas da sua companhia. lanthe olhou com desconforto para a sua mãe e a sua tia. - Bom... gosto dele... - balbuciou lanthe, enquanto as duas mulheres idosas se olhavam com inquietação. - Então? - Demetri começava a perder a paciência. - Queres vê-lo ou não? - ela olhou para o outro lado e Demetri continuou com irritação. - Tens vinte e três anos, lanthe. Se queres ser sua amiga, ninguém pode impedir-te. -Demetri! A sua mãe, que se sentara ao lado de Thermia, olhou para ele, com espanto. E então? lanthe olhou para a sua mãe com nervosismo, mas levantou-se. - Sim, eu gostava de o ver - sussurrou ela, com um fio de voz. Demetri despediu-se da sua mãe e THermia, e voltou para a casa com lanthe. Estavam a atravessar o hall quando ouviu o ruído inconfundível de um carro que se aproximava da casa. Sentiu um calafrio. Pensara que as coisas não podiam correr pior, mas estava enganado. - Serão o teu pai, Ariadne e... a tua mulher - disse lanthe. - Sim - respondeu ele, secamente. - Acho que tens razão. É maravilhoso! - Não achas isso - replicou ela, com um olhar de censura. - Não? - apesar da sua reticência, Demetri continuou para a porta da casa. - Já vemos. Ficaram no alpendre, enquanto o Bentley do seu pai parava ao pé dos degraus. Jane, que não se dera conta de que a observavam, foi a primeira a sair. Aparentemente, fora a condutora e Leo estava no banco do acompanhante. Ela deu a volta ao carro, abriu a porta e ofereceu-lhe uma mão para o ajudar. Ele aceitou-a e apoiou-se no seu braço, enquanto recuperava a bengala. - Obrigado, querida - disse ele, com um calor evidente, antes de ver o seu filho. - Demetri! Ariadne, que estava a sair, muito mal-humorada, do banco traseiro do carro, levantou o olhar, com expressão de incredulidade. - Querido! - saiu disparada para ele e deu-lhe um beijo fugaz nos lábios. - Voltaste! 38

- Efectivamente. Demetri estava a olhar para o seu pai e a sua mulher, que subiam cuidadosamente os degraus. Praguejou para dentro, deixou a mala no chão e foi ajudá-los, enquanto Ariadne e lanthe trocavam um olhar muito pouco amistoso. - Eu consigo sozinho - disse o seu pai, com raiva. Jane olhou para o seu marido, com desprezo. - Queres impressionar as tuas namoradas? - perguntou-lhe, com um sorriso malicioso. - Bom, é evidente que não te impressiono - replicou ele, enquanto agarrava no seu pai, apesar dos seus protestos. - Além disso, embora não acredites em mim, não sabia que lanthe estava aqui. - Tanto me faz que soubesses ou não - afirmou Jane, com certa falsidade. - Já falta pouco, Leo. - Estou a ver - o pai de Demetri abanou a cabeça, mas não sou um inválido. Não sabiam? - Não está habituado a subir degraus - respondeu Demetri, ao chegar ao alpendre. - Muito bem, já está acrescentou, enquanto largava o braço do seu pai. - Obrigado - o tom foi tenso, mas Leo, ao ver a expressão angustiada de lanthe, suavizou a voz. Olá, Pequena! Onde vão? Não vamos a lado nenhum - respondeu Demetri, e se irritava mais, cada vez que o seu pai dizia algo. - Vou ver Theo - explicou lanthe, com certo nervosismo. - Demetri disse-me que está na casa de campo. - Ah...! - o idoso assentiu. - A tua mãe aprova-o? - Tanto faz que a sua mãe aprove ou não! - interveio Demetri, com fúria. O seu pai olhou, ameaçadoramente, para ele. - Que tu faças o que queres, não significa que os outros tenham de fazer o mesmo - Leo virou-se para olhar para Jane. - Vamos, querida, dás-me o braço? Jane pareceu sentir-se incomodada e Demetri pensou que não lhe faltavam motivos. Não a trouxera ali para que causasse uma ruptura entre o seu pai e ele. Estava farto. - Eu gostava de falar com a minha mulher, se puderes prescindir dela durante cinco minutos. Ariadne fez uma expressão de desagrado, mas Demetri disse para si que ainda não estavam noivos, embora fosse apenas uma questão de tempo. - Não pode esperar? - perguntou-lhe o seu pai. Foi a gota de água - Não - respondeu Demetri, rotundamente. - Jane, acompanhas-me à biblioteca? Jane olhou à sua volta com angústia, mas sabia que não podia esperar ajuda de Ariadne, nem de lanthe. Leo, depois de encolher os ombros, começara a entrar no hall, o que demonstrava que não precisava da sua ajuda. - Imagino que sim... - aceitou Jane, que se encontrou com o olhar inquieto de lanthe. - Não se preocupem, não o reterei muito tempo. - Por favor! - Demetri agarrou-a pelo braço e conduziu-a para o corredor abobadado, mas virouse para olhar para Ariadne. - Vemo-nos ao jantar, Ari. Teremos a noite toda para nós, prometo-te. - Muito bem - a expressão de Ariadne suavizou-se. -Amo-te. Demetri não respondeu, mas Jane ficou tensa e teria libertado o braço se tivesse conseguido. Ele quase a arrastou até à biblioteca e fechou a porta com força. Uma vez lá dentro, Demetri largou-a e ela afastou-se imediatamente dele. Foi olhar pela janela. Dali, o mar parecia muito distante, mas era um fundo impressionante. O silêncio tornou-se muito tenso, mas ela, que não estava disposta a ser a primeira a falar, reuniu a coragem necessária para permanecer direita. Embora, como acontecia sempre naquelas situações, receasse que ele tivesse adivinhado que estava grávida. No entanto, se tivesse adivinhado, ela já saberia. Ouviu um ruído de papéis e virou-se, quase convencida de que lhe mostraria uma carta do seu médico. Isso, no entanto, era ridículo e envergonhou-se de o ter pensado. Ele estava a ver alguns papéis na secretária do seu pai. - O que estás a fazer, Demetri? - perguntou Jane, com indignação. - Trazes-me para aqui e 39

dedicas-te a ler a correspondência do teu pai. Se é uma demonstração de poder, esquece. Demetri olhou para ela, sem deixar de estar inclinado sobre a secretária. - Não é uma demonstração de nada. Aparentemente, tens o meu pai enfeitiçado. - Era o que querias dizer-me? - Não - Demetri endireitou-se com uma carta na mão. - Queria perguntar-te se recebeste os documentos do divórcio, que Cari Gerrard te mandou. Deverias têlos recebido na semana passada, antes de vires para cá. - Pois, não - replicou ela, com a desculpa de que os recebera há quatro dias. - Tens a certeza? - insistiu ele, com o sobrolho franzido. - De que não os recebi há uma semana? Sim, absoluta. Demetri deu a volta à mesa e apoiou as ancas na tampa de granito. - É muito estranho - olhou para ela, com uma intensidade perturbadora. - Falei esta manhã com ele e garantiu-me que mandou os documentos. - Será culpa do serviço dos correios - replicou ela, enquanto se dirigia para a porta. - Se me desculpares, gostava de me refrescar um pouco. - Espera! - ele não se mexeu. - Quando pensas voltar para Inglaterra? Jane cruzou os braços. - Queres livrar-te de mim? - Só quero saber o que disseste ao meu pai. - Claro, não queres saber quando vou - replicou ela, com tom provocante. - Não te preocupes, Demetri, não contei a ninguém o que aconteceu no meu apartamento. - Dize-lo como se fosse uma ameaça. - Não - Jane evitou o confronto. - Só quero deixar-te claro que não tens nada a recear de mim. - Recear? - ele parecia disposto a discutir. - Porque haveria de te recear? Tenho a certeza de que nada do que possas dizer interessa a Ariadne. - Insinuas que não acreditaria em mim? Seria tola! - Estás a dizer que te arrependes do que aconteceu? - perguntou ele, com tom sombrio. - Estás a brincar? - Jane ficou boquiaberta. - Claro que me arrependo! - Porquê? - o tom era de certo nervosismo. - Não creio que tenha sido nada novo para ti. Segundo aquela bruxa que chamas chefe, o teu namorado e tu passam muito tempo no teu apartamento. -Não é verdade! Jane não estava disposta a que ficasse com aquela ideia e, pela enésima vez, desejou que Olga não se metesse onde não era chamada. - Porque haveria de acreditar em ti? - Porque Alex nunca esteve no meu apartamento. Não julgues toda a gente pela mesma medida, Demetri. Embora não acredites, não vou para a cama com toda a gente. - Então, o que fazem juntos? - perguntou Demetri, com os olhos semicerrados. - Não te diz respeito. - Dá-me esse prazer... - Não - Jane estava farta. - Eu não te perguntei o que fazes com Ariadne e tanto me faz. Acho que nem sequer te perguntei o que fizeste com lanthe. Também não fez falta. CAPÍTULO 10 - Não fazes ideia! Demetri afastou-se da mesa com um movimento rápido e ameaçador. Era enorme, imponente, e estava furioso. Não conseguiu evitar afastar-se dele. Bateu contra uma poltrona de couro e, para 40

sua surpresa, acabou sentada. Demetri inclinou-se sobre ela e, por um segundo, pensou que ia bater-lhe. Apoiou as mãos nos braços da poltrona e encurralou-a. - Muito bem. Ela sentiu o seu fôlego ardente sobre a pele queimada pelo sol. Usava um top sem alças e uma saia creme de algodão, que lhe subira muito ao cair na poltrona. - Vou dizer-te pela última vez - continuou ele. Fui para a cama com Ariadne, não o nego, mas nunca fui para a cama com lanthe. Jane sentiu uma pontada de dor ao ouvi-lo dizer que Ariadne e ele eram amantes, mas conseguiu manter a calma. Alguém o fez. Não fui eu. - Então, porque disse que tinhas sido tu? - perguntou Jane, com voz entrecortada. - Digo-te o que já te disse: pergunta-lhe a ela. Se calhar, agora diz-te a verdade. Jane engoliu em seco e olhou fixamente para a cara dele. - O que não consigo entender é como consegues relacionar-te com ela se mentiu. - Não consigo, mas a minha mãe... - Meu Deus! - Jane abanou a cabeça. - Devia ter imaginado que a tua mãe estava metida nisto. - Gosta de lanthe - afirmou Demetri. - Considera-a da família. - Não é como eu. - Está bem - ele suspirou. - Sei que foi muito difícil para ti, mas tudo teria melhorado. - Antes ou depois de teres ido para a cama com lanthe? -Disse-te... - Está bem... - Jane encolheu os ombros. - Continuo sem entender o que te importa o que eu penso agora. - Importa-me - replicou ele, com certa tensão. - Porquê? O que achas? - Porque ninguém pode contradizer o grande Demetri Souvakis ou porque gostas de me torturar? - É o que faço? Jane olhou para ele e captou uma humildade estranha na sua expressão. - Sabes muito bem - Jane tremeu. - O quê? Jane estendeu as mãos para assinalar os braços de Demetri. - É preciso que te diga? Uma sombra atravessou os olhos de Demetri, mas teve de reconhecer que tinha razão. - Muito bem, tens razão - Demetri não se mexeu. Talvez devesse perguntar-te o motivo. - O motivo pelo qual gostas de me torturar? - Não disse que gostava - levantou uma mão hesitante e tomou o queixo de Jane para que olhasse para ele. - Continuas a enlouquecer-me e sabes disso. Jane voltou a estremecer. Uma onda de calor subiu-lhe por toda a cara. Demetri não conseguiu evitar apoiar um joelho no chão diante dela e beijá-la na boca. Ela deixou escapar um gemido. Demetri tomou-lhe a cara entre as duas mãos e aprofundou o beijo, até que ela afastou os lábios e pôde introduzir a língua. Foi uma sensação deliciosa, um músculo rígido em contacto com a carne suave e húmida; um aviso demasiado evidente do quão quente e receptiva estaria quando introduzisse o seu sexo nela. Uma espécie de autodestruição irreflectida estava a apoderar-se dele e a palpitação da sua erecção era como o rufar de um tambor na sua cabeça. - Demetri... - queixou-se ela, com um fio de voz. Esperaria que ele parasse? Ele passou a beijá-la no pescoço. O pulso de Jane acelerou, mas não fez nada para se afastar. Estava a seduzi-la com os lábios e os dentes, estava a arrastá-la inexoravelmente para as redes que conhecia muito bem. 41

Acariciou-lhe os ombros enquanto lhe sussurrava algo na sua língua, desceu as mãos pelas costas e introduziu-as por debaixo do top. Passou-lhe os dedos pela espinha dorsal e ela tremeu outra vez pela excitação. Inclinou a cabeça e lambeu-lhe a pele levemente húmida. No entanto, a cintura da saia era uma barreira e as mãos dirigiram-se para as coxas, onde a pele estava nua. - Aghapita - Demetri inclinou-se até lhe beijar o interior da coxa. - És linda! - Demetri, por favor, não... - Desejo-te. Ele não atenderia à sua queixa e ela sentia que cada vez conseguia agarrar-se menos ao seu bomsenso. Além disso, havia algo incrivelmente agradável em ouvir a sua voz quebrada quando falava, na emoção tão pura que nenhuma arrogância conseguia disfarçar. Afastou-lhe as pernas e percorreu-lhe sensualmente a coxa com os lábios, deixando um rasto ardente e húmido que fez com que ela se arqueasse na poltrona. - Relaxa - Demetri voltou a sentá-la. - Deixa-me fazê-lo. Era um disparate! Tanto lhe fazia onde estava e o que poderia acontecer se a sua mãe ou Ariadne decidissem ir ver o que estavam a fazer? Evidentemente, sim. Jane sentiu as suas mãos por debaixo do rabo, que agarravam no elástico da sua tanga. Com uma firmeza a que ela não conseguiu opor-se, tirou-lhe a roupa de seda. - Muito melhor - Demetri levantou a cabeça para lhe beijar avidamente os lábios, enquanto lhe acariciava a barriga. - Não achas? Jane não conseguiu dizer nada. Só conseguia assentir com a cabeça. Demetri, como se a congestão do seu rosto e aquela entrega o tivessem excitado mais, agarrou-a pela nuca, para voltar a beijá-la com uma paixão implacável e possessiva. - Se thelo - Jane interpretou que era uma forma de lhe expressar a sua excitação. - Desejo-te. Acaricia-me! Ela, que tinha as mãos sobre o colo, agarrou-o pelos ombros e tirou-lhe o casaco. A pele abrasava-lhe debaixo da camisa. Ele levantou-lhe o top por cima dos seios e avivou-os com a língua e os dentes. Tomou os mamilos erectos com a boca e sugou-os com voracidade. Ela não conseguiu conter um gemido. Não foi um gemido de dor. Deu-se conta de que nunca estivera tão excitada e de que estava muito enganada quando pensava que uma mulher grávida não poderia reagir da mesma maneira. Demetri sempre fora capaz de a deixar louca de desejo e aquela vez não era uma excepção. Reparou que ele estava a desapertar o cinto e a desabotoar o botão das calças. Sem conseguir resistir, afastou-lhe os dedos, desceu-lhe o fecho e teve de suster a respiração quando se deparou com a erecção coberta pela seda das cuecas. O tecido das cuecas era extremamente delicado, mas, quando acariciou a sua pele, teve de reconhecer que ainda era mais suave. Theos! sussurrou ele, para indicar como estava perto do limite. - Gostas? - perguntou ela, com a voz entrecortada. - Adoro - balbuciou ele. Jane compreendeu que o desejava tanto como ele a ela. Ao sentir o membro nu dele contra o seu sexo, soube que a decisão não admitia discussão. Embora depois o lamentasse, e tinha a certeza de que o faria, era o que mais desejava. - Mas... não podemos fazê-lo aqui... - replicou ela, ao dar-se conta de que alguém poderia vê-los pela janela. - Nem penses em mexer-te! - balbuciou Demetri, enquanto lhe subia a saia. - Para mim, é um sítio fantástico. Quando entrou no seu sexo húmido e ardente, Jane descobriu que não tinha nada a objectar. Ele levantou-lhe as pernas para que lhe rodeasse a cintura com elas. Entrou tão profundamente que Jane se sentiu preenchida. - Agapi mou - ofegou ele. - Estou a magoar-te? 42

- Já me perguntaste isso - recordou-lhe ela, enquanto se arqueava com veemência. -E...? -Não! Demetri, com um gemido de prazer, olhou para onde se uniam os corpos. - És perfeita! Juntos, somos perfeitos, não te parece? - Sim, sim. Por favor, não pares...! - Não conseguiria, agapi mou. Até o meu autocontrole tem limites - Demetri acelerou o ritmo. Parecemos feitos um para o outro. Jane não podia negá-lo quando o seu corpo se convulsionava à volta do seu membro, alguns segundos antes de ele se libertar tão agitadamente que a derreteu. Apertou-o entre as coxas, num último gesto de posse. Jane não soube quanto tempo esteve com Demetri a mover-se entre as suas coxas. Primeiro, não conseguiu mexer-se, mas, depois, não quis. Os corpos continuavam unidos e sabia que lhe custaria muito pouco voltar a excitá-lo. Tinha o sexo meio erecto dentro dela e bastar-lhe-ia tocar-lhe para o reviver. No entanto, fez um esforço para olhar para o relógio e, para seu espanto, confirmou que tinham passado mais de uma hora na biblioteca. Alguém, certamente a sua mãe, acabaria por se perguntar porque demoravam tanto e podia imaginar como reagiria, se abrisse a porta e encontrasse o seu adorado filho seminu, nos braços daquela que deveria ser a sua ex-mulher. Fez um esforço para se afastar. Não conseguia suportar a ideia de Maria Souvakis presenciar aquela humilhação. Porque, mais uma vez, permitira que Demetri se aproveitasse dela. Não aprendera a lição. Estava grávida e não fora por geração espontânea. - O que estás a fazer? - perguntou ele. A queixa lenta de Demetri fez com que ela se apressasse. Afastou-o e saiu da poltrona. - Vou-me embora. Jane desceu o top, vestiu a roupa interior e desviou o olhar da nudez descarada dele. - Se fosse a ti acrescentou ela vestia-me. Não acho que Ariadne achasse muita graça a ver-te assim. Demetri praguejou, mas subiu as calças e fechou o fecho. No entanto, quando ela pensou que podia partir, ele levantou-se e olhou para ela com os olhos semicerrados. - Isto não acabou, tu sabes. Jane olhou para ele e soube que nunca esqueceria a visão dele com a camisa aberta e o fecho prestes a rebentar. - Eu acho que sim - replicou ela, enquanto ia para a porta. - Vemo-nos ao jantar. Jane saiu e rezou para conseguir chegar ao seu quarto, sem se encontrar com Ariadne, lanthe ou qualquer outra pessoa da família de Demetri. Queria estar sozinha. Precisava de tempo para pensar e, sobretudo, queria fugir de toda aquela confusão em que se metera. No entanto, isso não ia acontecer. A ideia de não ter o bebé era-lhe tão dolorosa como seria partir da ilha, mas tinha de partir em breve. Antes que fizesse algo tão disparatado como dizer a Demetri que ia ter um filho dele. Embora parecesse impossível, teria sido mais fácil dizer-lhe que ainda o amava. Susteve a respiração. Seria verdade? Podia ser tão parva para se ter apaixonado outra vez por ele? Acontecesse o que acontecesse, Demetri nunca acreditaria que não engravidara deliberadamente e conseguiria manter uma relação baseada nessa suspeita? Tinha de acabar com aquilo. Mesmo que Demetri acreditasse, existiria sempre o fantasma do filho de lanthe. Além disso, ele tinha uma relação com Ariadne. Ela não podia voltar a interferir na sua vida. Embora ele tivesse interferido na sua. Estava prestes a subir as escadas, quando alguém a chamou. Pensou que era Demetri e não parou, todavia apercebeu-se de que o tom fora demasiado afável para ser a voz do seu marido. Virou-se e viu Leo. Parou. Estava congestionada, mas desceu, com a esperança de que as 43

sombras lhe cobrissem o rosto. - Ia mudar de roupa - explicou, ao ver que Leo não dizia nada. - Ariadne disse-me que estavas com Demetri. Espero que não te tenha incomodado. Incomodá-la! Jane conteve um arrebatamento de histeria. - Só queria perguntar-me se tinha recebido os documentos do divórcio. Na verdade, fico contente de ter esta oportunidade de falar consigo. Acho que está na altura de voltar para Inglaterra. - A sério? - o pai de Demetri franziu o sobrolho. - Sim - Jane engoliu em seco. -Agora que Demetri voltou... - Portanto, esteve a intimidar-te... - Não - Jane não podia permitir que pensasse isso. - é que... sou um estorvo... - Não és um estorvo para mim, Jane. - Não, mas sabe ao que me refiro - Jane suspirou. Adorei voltar a vê-lo, Leo, mas este já não é o meu lugar. - Bom, se é a tua decisão... - Leo suspirou. - É - Jane desceu as escadas e abraçou-o. - Sabe que não quero deixá-lo... - Então, porque o fazes? - Tenho de o fazer! - insistiu ela. - Por favor, diga-me que entende. - Suponho que o disseste a Demetri. - Hum... ainda não. - Não achas que ele deveria saber? - Talvez - no entanto, naquele momento não conseguia pensar em dizer-lho. - Importa-se de o fazer? Refiro-me a dizer-lhe. Mas, por favor, não o faça antes do jantar. - Tens medo dele? - perguntou Leo, com preocupação. - Não. É que não quero... confusões - sussurrou ela. - Se não se importar, gostava de tomar banho antes do jantar. Para alívio de Demetri, Thermia não ia jantar com eles. Quando chegou ao pavilhão de cristal, encontrou-se só com os seus pais, Stefan e Ariadne. Quis perguntar onde estava Jane, mas decidiu que era melhor ser discreto. O seu pai entreteve-o com uma conversa sobre a reunião a que fora, mas, quando fez uma pausa para falar com a sua mulher, Ariadne aproveitou a oportunidade. - O que fizeste a tarde toda? Aquela mulher e tu passaram séculos na biblioteca. Tive de entreter a tua mãe e a tua tia, e garanto-te que não foi fácil. - Thermia não é minha tia - explicou Demetri, sem se alterar. - lanthe voltou? - Não - respondeu Ariadne, com acritude. - Esperavas que voltasse? - Esperava que não o fizesse - respondeu ele, taxativamente. - lanthe e eu não temos nada para falar. - Dei-me conta de que a tua mulher não gostou de vos ver juntos - comentou ela, com um certo regozijo. - Imagino que lhe trará más lembranças, não é? Custou a Demetri conter a raiva. - Que más lembranças? Jane quase nem conhece lanthe. - Sim - Ariadne encolheu os ombros, - mas vê-la deve recordá-la como foram íntimos. - Jane e eu? - Não - Ariadne estalou a língua, - lanthe e tu. Vá lá, Demetri, sei que o filho que teve era teu! - Não sabes nada desse assunto - replicou Demetri. - De qualquer forma, prefiro não falar disso. Nem contigo, nem com ninguém. - Entendo - Ariadne arqueou os sobrolhos. - Jane e tu estiveram a discutir sobre isso, não foi? deixou escapar um gemido de satisfação. - Consigo imaginar o prazer que seria... 44

Demetri teve a tentação de lhe dizer que não sabia do que estava a falar, mas era preferível que pensasse isso, em vez de fazer conjecturas sobre o que poderiam ter estado a fazer. Não conseguia acreditar. Realmente fizera amor com Jane, quando podiam tê-los visto pelas janelas da biblioteca? O que lhe fazia para que lhe importasse tão pouco que os vissem? Quando acabaria aquela paixão disparatada? - A tua mãe alegrar-se-á de a ver partir - Ariadne continuava a falar sem se dar conta de que ele não a ouvia. - Acho que até Leo começa a arrepender-se de a ter convidado. Demetri não achava. Lembrou-se de como o seu pai a tratara naquela tarde. Deixara-lhe muito claro que a apreciava. Apreciava-a inclusive demasiado, se esperava que o seu filho se divorciasse dela para se casar com outra mulher. Um pressentimento fez com que se virasse precisamente quando o seu pai cumprimentava a mulher em questão. Jane usava umas calças justas de seda e uma camisa larga também de seda. O decote era tão grande que permitia confirmar que não usava sutiã. Demetri lembrou-se da palidez daqueles seios entre as suas mãos, 97 das protuberâncias rosadas que saboreara há algumas horas... As lembranças provocaram-lhe uma erecção e desejou usar um casaco para a disfarçar. Tranquilizou-se com a penumbra que havia no pavilhão. Além disso, quando o seu pai a acompanhou, para que se unisse ao resto da família, ele já recuperara o controlo. - Porque não serves uma bebida à tua mulher? propôs-lhe o seu pai, com certa malícia. - Ouzol - perguntou-lhe Demetri, sem olhar para ela nos olhos. - Não. Um sumo de laranja, por favor. Jane deu-se conta de que ela também não o olhara nos olhos e virou-se para o irmão mais novo. - Olá, Stefan, não te tinha agradecido por, esta manhã, me levares a Kalithi. Stefan fez um comentário para lhe tirar importância, mas Demetri reparou que não lhe agradava a ideia de imaginar Jane e o seu irmão juntos. Supunha-se que não lhe interessava a companhia de mulheres. Porque levara Jane à vila? Ela sabia conduzir, porque não fora sozinha? Olhou-a fixamente quando lhe entregou o copo de sumo e ela lhe correspondeu com um olhar provocador. - Obrigada. Não bebes nada esta noite? - Não tenho vontade - Demetri disse para si que, se calhar, embebedar-se seria o ideal. - O que compraste em Kalithi? Se soubesse que precisavas de algo, poderia tê-lo trazido de Atenas. - Não sabes que não é preciso que uma mulher precise de algo para que vá às compras? interveio, jocosamente, Stefan. -Tu, um homem casado... - Não por muito tempo - disse Ariadne. - Não é, querido? - agarrou-se ao braço de Demetri. Está desejoso de ficar livre. Demetri viu que Jane apertava os lábios perante aquele comentário tão descarado. No entanto, foi Stefan quem replicou. - É para isso que estou aqui, para ser seu protector - Stefan rodeou a cintura de Jane com um braço. Damo-nos maravilhosamente, não é? - Bom - Jane voltou a sorrir, - tenho de reconhecer que cuidaste muito bem de mim. Demetri teve vontade de dar um murro ao seu irmão. - Porque não foste sozinha de carro à vila? - Demetri libertou-se do braço de Ariadne. - O teu carro continua na garagem, não é? - A tua mãe deu-me o Porsche, Demetri - Ariadne tentou agarrar outra vez no braço de Demetri, mas ele escapou-se. - Jane já não vive aqui... - A minha mãe não tem o direito de dar aquele carro a ninguém - replicou Demetri, com tanta rotundidade que até Stefan olhou para ele com surpresa. - Não é um carro novo... - Stefan calou-se ao ver a cara do seu irmão. 45

- Aquele carro é de Jane! - insistiu Demetri. - Porque ninguém me consultou? Maria Souvakis ouvira as vozes e olhou para o seu filho com irritação. - Por favor, Demetri, é só um carro! Não são as jóias da coroa. - Não sabias o que fazer para humilhares Jane, não era? - virou-se para Ariadne. - Não me digas mais nada, foste buscá-la ao barco com o Porsche - Claro...! - era evidente que Ariadne não entendia o motivo daquela animação. - Como a tua mãe disse, é só um carro. - O carro de Jane, não o teu. Jane compreendeu que tinha de intervir, antes que ele dissesse algo do qual se arrependeria quando ela se fosse embora. - Não o quero - afirmou, olhando com frieza para os seus olhos exaltados. - Pertence a Ariadne. Vai no lote. - Se achas... Jane ficou sem saber o que teria dito, se Leo não tivesse intervindo. - O jantar está servido - disse, com seriedade. Angelena está há cinco minutos a tentar chamar a nossa atenção - olhou, ameaçadoramente, para Demetri. - Vamos? A comida não foi do seu agrado. Primeiro, serviram beringelas grelhadas com salada e, depois, um peixe com um molho de tomate demasiado condimentado para o gosto alterado de Jane. Alegrou-se quando retiraram os pratos e trouxeram a sobremesa. Os bolos doces e estaladiços eram mais do seu agrado. Achou que ninguém se dera conta da sua falta de apetite, mas, quando se dirigiam para a sala para beberem o café, deparou-se com Demetri ao seu lado. - Não tinhas fome? - perguntou-lhe ele, em voz baixa. - Surpreende-te? - Estás a acusar-me? - Bom, eu gostava de saber para que foi aquela confusão. Vais casar-te com Ariadne. Porque não há-de usar o carro? Significa assim tão pouco para ti? - Demetri, certamente está aí abandonado há cinco anos. - Revejo-o periodicamente. -Óptimo! Jane tentou parecer indiferente, mas tanta insistência estava a pô-la nervosa. Era espantoso estar tão perto dele, embora soubesse que um abismo os afastava. Ela não deixava de dar voltas ao que se passara naquela tarde e não suportava que ele parecesse tão distante daquela situação extremamente íntima. - Imagino que terá sido por isso que terás pedido a Stefan que te levasse à vila. Não sabia que eram tão amigos. - Há muitas coisas que não sabes do teu irmão olhou à sua volta e confirmou que toda a família estava à sua espera. - Temos de ir sentar-nos. - Um segundo. A criada apareceu com o café e interpôs-se o tempo suficiente para que Demetri lhe perguntasse o que queria dizer. - Nada importante - respondeu Jane. - A tua mãe e Ariadne estão a olhar para nós. - Quero saber! - insistiu Demetri. - O que não sei de Stefan? Não vais dizer-me que, de repente, prefere as mulheres aos homens... - Não sejas impertinente! Aparentemente, Stefan e o seu companheiro estão juntos há seis anos. - Eu sei - Demetri encolheu os ombros. - Têm uma casa em Kalithi. Stefan só passa tanto tempo na villa devido à doença do meu pai. - Efectivamente! - Jane voltou a confirmar que toda a gente estava a olhar para eles. - Não me esclareceste o que querias dizer sobre Stefan. O que deveria saber? - Demetri... - Jane suspirou. - Não podemos falar agora. 46

- Muito bem - ele inclinou a cabeça. - Irei depois ao teu quarto e contar-me-ás. - Não estarás com Ariadne? - Jane não conseguiu evitar a pergunta. - Depois desta tarde? Não creio. - Demetri... - Jane teve de disfarçar o nervosismo. - Estás a ficar velho. Quando estavas comigo, eras mais vigoroso. Ouviu-se um telefone tocar algures na casa, mas Demetri limitou-se a olhar para ela com fúria. Ela contornou o sofá e sentou-se ao lado de Leo. Sabia que não era justo provocá-lo quando não podia responder, mas, daquela vez, fora demasiado longe. - O que queres dizer com isso? - Demetri agarrou-se às costas do sofá. - Jane, estou a avisar-te! Fosse o que fosse, o aparecimento repentino de Angelena interrompeu a conversa. Ficou à porta com uma expressão de inquietação evidente. - Desculpe, senhor - disse, olhando para Demetri. - Tem uma chamada de Atenas. Disse-lhe que estão a jantar, mas o senhor Avensis insistiu em falar consigo. Disse que é um assunto de vida ou morte. Demetri hesitou um instante, mas seguiu-a. Fez-se silêncio. Avensis não telefonaria se não fosse algo grave Leo ia levantar-se, mas deixou-se cair, cansadamente, no sofá. - Maria, importas-te de ir ver o que se passou? Eu iria, mas... Claro! Maria deixou o café e levantou-se. Com a vossa permissão... Jane não soube o que dizer, mas Stefan teve menos reparos. - Podias ter-me pedido, papá. Consigo transmitir uma mensagem. Leo abanou a cabeça e, por uma vez, pareceu desassossegado. - Não pensei, Stefan. Desculpa. Claro que podes ir ver o que se passa. - Servirá de algo? - Stefan abanou a cabeça. - É possível - Leo recuperara a compostura. - Se não te importares... Stefan hesitou, mas acabou por se levantar e deixou Leo com Jane e Ariadne. - O que acha que se passou? - perguntou Ariadne. - Não sei - Leo acariciou a bengala. - Se calhar, um barco abalroou. - É grave? - perguntou outra vez Ariadne. - Pode ser - Leo esboçou um sorriso forçado. - Esperemos que não. - Demetri terá de... cuidar disso? - Jane conseguiu formular a pergunta. - Não necessariamente - respondeu Leo, antes que Ariadne lhe dissesse que não lhe dizia respeito. - Há pessoal especializado nisso. Embora, seja possível que o faça. - Como você faria - particularizou Jane. - Conheces-me muito bem, querida - Leo deu-lhe uma palmada na mão. - Sim, eu adorava. Jane sorriu e Ariadne soprou, com expressão de aborrecimento, mas Maria apareceu e fez uma expressão séria ao ver o seu marido. - O que se passou? - perguntou Leo, com impaciência. - Houve um acidente - Maria voltou a sentar-se e levantou a chávena de café. - Onde está Angelena? É impossível beber... - Que tipo de acidente? - Leo não estava disposto a dar-se por satisfeito. - Demetri vai tratar disso - Maria voltou a pousar a chávena. - Há alguém que...? - Maria! - Leo olhou para ela com fúria. - Está bem. Houve uma explosão. Não se sabe o que se passou, mas o Artemis tem uma fenda precisamente acima da linha de flutuação. - Uma fenda? Há feridos? - Avensis disse que só houve um ferido. - Ainda bem! - Leo pareceu aliviado. - Há perigo de que se afunde? - É possível - Maria inclinou-se para lhe acariciar o joelho. - Tu não tens de te preocupar. Já te disse que Demetri vai tratar disso. - Imagino que irá a Atenas esta noite. 47

- Está a organizar as coisas para que Costas venha buscá-lo. - Claro! - Leo assentiu. - O helicóptero pode levá-lo até ao barco. - Nem pensar! - exclamou Maria, com tom de espanto. Jane sentiu uma pontada de desgosto. - Claro que sim! - Leo foi cortante. Conheço-o e quererá vê-lo pessoalmente. - Não é... perigoso? - perguntou Ariadne. - A vida é perigosa - Leo olhou para ela, com impaciência. - Não te tinhas dado conta? Jane sabe, não é verdade, querida? Jane não soube o que responder, mas o aparecimento providencial de Stefan salvou-a. - A mamã contou-te o que se passou? - Leo assentiu. - Vou com Demetri - arqueou, brincalhonamente, os sobrolhos para Jane. - E qualquer coisa... Jane só pôde olhar fixamente para ele, mas Maria interveio com nervosismo. - Não podem ir os dois, Stefan. E o teu pai? E todos nós? Podemos precisar... - Deixa-o ir, Maria - interrompeu-a Leo. - Se calhar, está na altura de me lembrar de que tenho três filhos e não dois, não é, Stefan? Tem cuidado, eh? - Terei, papá. Stefan agarrou, carinhosamente, no ombro do seu pai, despediu-se das três mulheres e partiu outra vez. Maria esteve prestes a desatar a chorar e Jane sentiu-se muito inquieta. A ideia dos dois homens num petroleiro acidentado era aterradora. Quis ir à procura de Demetri para lhe pedir que tivesse cuidado, mas não tinha essa prerrogativa e foi Ariadne quem se levantou de um salto e seguiu Stefan. - Bom! - Maria olhou para ela, com frieza. - Espero que isto não interfira nos teus planos de partires. Leo contou-me que queres ir o mais depressa possível. Dadas as circunstâncias, acho que é o melhor que podes fazer, não é? CAPÍTULO 11 Jane estacionou diante da casa da sua mãe e perguntou-se como ia lidar com aquilo. Tinha de lhe dizer que estava grávida. Não a via há uma semana e a sua mãe merecia saber a verdade. Mesmo assim, não estava disposta a dizer-lhe quem era o pai. Depois do que se passara, dir-lhe-ia que o avisara e já se sentia suficientemente desgraçada. Partira de Kalithi na tarde anterior. Face à hesitação em partir, Leo pedira para que um helicóptero a levasse a Atenas, onde a esperava um bilhete de primeira classe para Londres. Jane agradecera-lhe muito, embora a mãe de Demetri não o aprovasse. Na noite anterior, quase não dormira, por não saber nada de Demetri. Não podia negar o medo que tinha pela sua segurança e a de Stefan. Se Maria não lhe tivesse complicado tanto a vida, teria ficado alguns dias para se certificar de que não lhes acontecera nada. Leo dissera-lhe que falara com Demetri e que estava tudo bem, mas não era o mesmo que ouvi-lo pessoalmente. Além disso, uma vez em Londres, teria de saber pelos meios de comunicação. Leo acompanhara-a até ao pé do helicóptero e despedira-se ali, longe do olhar reprovador da sua mulher. Ele voltara a agradecer-lhe que tivesse ido visitá-lo e expressara-lhe o desejo de voltar a vê-la. Jane respondera-lhe que, se quisesse vê-la, só tinha de lhe dizer. Algo um tanto disparatado, se tivesse em conta que, dentro de muito pouco tempo, o seu estado seria muito evidente. Enquanto o piloto guardava a bagagem, ela tivera a sensação de que Leo quisera dizerlhe muitas coisas. Supusera que quisera defender o seu filho, mas que não encontrara as palavras adequadas. Naquele momento, tinha de esquecer os dias passados em Kalithi. A sua vida era em Londres e, dentro de alguns dias, voltaria a comprar e a vender antiguidades. A sua mãe abriu a porta, enquanto ela avançava pelo caminho do jardim. - Meu Deus! - exclamou. - Não me tinhas dito que tinhas voltado. 48

- Cheguei ontem à noite. Vamos para a cozinha? - Não, vamos para a sala, para o andar de cima. Acabei de fazer chá. Vai andando. - Precisas que te ajude? - Consigo subir uma bandeja - replicou a sua mãe, causticamente. - Vou já. - Está bem. Jane encolheu os ombros e subiu para a sala. Começou a pensar em como era diferente da sua casa. - Senta-te, por favor. A sua mãe aparecera e entrara para deixar a bandeja na mesa que havia diante do conjunto de sofá e poltronas. Jane sentou-se numa das poltronas e aceitou a chávena que a sua mãe lhe entregou. - Obrigada. - Muito bem... - a sua mãe sentou-se no sofá. Está-se bem aqui, não está? - dirigiu um olhar escrutinador à sua filha. - Estás com má cara. A viagem correu mal? - Não... - Jane foi muito ambígua. - Leo recebeu-me muito bem. - Na verdade, ouvi algo sobre um barco dele que se incendiou no Mediterrâneo. Suponho que não saberás nada... - O que disseram? - Jane susteve a respiração. Há... feridos? - Se te referes a Demetri, não - a sua mãe franziu o sobrolho. - Os homens como ele não se ocupam de coisas pequenas como uma explosão! - Isso não é verdade! Jane não conseguiu suportar aquela afirmação. - Sabia do acidente. Aconteceu na noite antes de voltar. Demetri e o seu irmão saíram imediatamente para Atenas. - Foi por isso que voltaste? - Não! - exclamou Jane, à defesa. - Já dissera a Leo que ia partir antes de acontecer. - Bom... a sua mãe deu um gole no chá Pelo que ouvi, não foi um incêndio muito grande. Suponho que seja notícia pelo perigo que supõe para os outros barcos. Jane assentiu. O que a espantava era que o seu marido estivesse lá. - Como está o senhor Souvakis? - perguntou a sua mãe. - Muito magro, claro, e bastante fraco, mas está tão lúcido como sempre. - Acha-lo realmente? - a sua mãe parecia céptica. - O que queres dizer? - Bom, ele sabe que Demetri e tu vão divorciar-se, não sabe? Deveria saber que convidar-te não era muito sensato. Suponho que não esperaria que fosses mudar de ideias... - Não - Jane pousou a chávena com uma mão trémula. - Claro que não! E tu? - perguntou a sua mãe, com os olhos semicerrados. - Eu, o quê? - Esperavas que Demetri mudasse de ideias? - Não! Eu abandonei Demetri, mamã, não foi ao contrário. - Hum...! - a sua mãe não parecia convencida e Jane pensou que ia ser impossível contar-lhe da sua gravidez. - Quando vais voltar ao trabalho? - Não sei. Amanhã ou depois. Tenho de falar com Olga. - Foi muito amável e compreensiva. - Bom, a verdade é que não me sentia muito bem. - Eu sabia. Disse-te que tinhas mau aspecto, antes de ires. - É verdade - concedeu Jane, com resignação. - O que se passa? Foste ao médico? - Fui, antes da viagem. - Não me tinhas dito nada - a sua mãe parecia ofendida. - Suponho que terás dito àquela Ivanovitch. Contas-lhe tudo. Mas sou a tua mãe. Não achas que mereço saber o que está...? - Estou grávida! 49

As palavras brotaram sem que Jane se apercebesse. Só quis que a sua mãe parasse de dizer coisas que não eram verdade. Fez-se silêncio. A sua mãe pousou a chávena e engoliu, várias vezes, em seco. - De Demetri, suponho. - Sim - Jane baixou a cabeça. - Jane! - esperara muitas coisas da sua mãe, mas não compaixão. - Desde quando sabes? Foi por isso que foste à Grécia? - Não. Demetri não sabe. Não pode saber. Vai casar-se com outra. - Não estás a falar a sério... - Sim. - Mas, Jane, como vais deixar que se case com outra, quando esperas um filho dele? - Mamã, o fato de estar à espera de um filho seu não muda o que sentimos um pelo outro. - Não acredito nisso. O que se passou entre mim e Demetri foi um erro. Nunca devia ter acontecido. - Porque aconteceu? - Não sei - Jane alegrou-se de não lhe ter contado porque Demetri queria o divórcio. - Eu estava incomodada.. e ele... - Aproveitou-se de ti. - Não, não foi assim. - Como foi? Jane corou com a pergunta. - Mamã, aconteceu. Não consegues aceitá-lo? - Não tomas precauções nessas ocasiões? - Não costumo ter ocasiões destas - respondeu Jane, com sinceridade. - Foi uma imprudência, eu sei, mas estava à espera do período e... - Pensaste que não aconteceria nada. -Sim. - Pelo amor de Deus! - Eu sei Agora, dou-me conta de que fui uma estúpida. - Quantas jovens terão dito isso... a sua mãe levantou-se do sofá e começou a andar de um lado para o outro. - Ele também tem a sua parte de culpa... - Certamente, pensou o mesmo que tu, que tomaria precauções. - Mesmo assim... - Mamã, não é uma questão de Demetri. É meu e quero que seja assim. - Parece que esse homem tem o hábito de ter filhos com as mulheres que não devia. Suponho que terás visto... lanthe, quando estiveste lá. - Sim, vi-a. - Vai casar-se com ela? - Não - Jane hesitou. - O filho de lanthe morreu. - A sério? - a mãe de Jane arqueou os sobrolhos. Que oportuno! - Não foi - Jane teve de defender a outra rapariga. - Acho que lanthe sofreu muito. - Demetri também sofreu muito? Acho que sim - Jane fez uma pausa. Ainda sustenta o filho que não era dele. - Não acreditas, pois não? - a sua mãe olhou, fixamente, para ela. - Não... - Já é alguma coisa - a cara da sua mãe expressou um certo alívio. - O que pensas fazer? Criá-lo sozinha? - É uma possibilidade. - Uma possibilidade? - a sua mãe franziu o sobrolho. - Que outras possibilidades há? Se não vais meter Demetri nisto... Não estás a pensar em não ter o bebé...? Não deves tomar decisões precipitadas. Eu terei todo o prazer de fazer algo e sei que Lucy te ajudará. 50

- Mamã! - os olhos de Jane encheram-se de lágrimas. - Só te faltava ter um bebé aqui. - Se depender disso que tenhas o filho ou não, não há discussão - deu uma olhadela à sala matizada. - Já está na altura de libertar um pouco a casa. Lucy está sempre a dizer-me isso. Além disso, não te esqueças de que é meu neto, como Paul e Jessica. - Mamã... - Jane abraçou a sua mãe. - Adoro-te. - Espero que sim - a sua mãe quis usar um tom de indignação, mas não conseguiu. Bebe o chá. As raparigas grávidas têm de estar fortes. CAPÍTULO 13 Demetri estava a olhar pela janela do quarto da sua casa em Kalithi quando bateram à porta. Praguejou, porque ainda não se mudara para o jantar na villa, e foi abrir, com a remota esperança de que não fosse Ariadne. Não lhe apetecia voltar a ter uma discussão com ela. Ela não conseguia entender porque não tinham dormido juntos desde que voltara a ver a sua ex-mulher e ele não tinha uma resposta. No entanto, para seu alívio, não era Ariadne. Um empregado comunicou-lhe que o seu pai queria vê-lo. Demetri seguiu o empregado sem hesitar. - Pai - cumprimentou-o, quando entrou na sala. Não me digas que vieste sozinho de carro. - Não, não - Leo olhou para o seu filho do sofá, com uma mistura de afeto e impaciência. Micah trouxe-me. Embora ainda consiga conduzir. - Se tu o dizes... - Demetri reparou que o seu pai estava cansado por ter vindo do carro até à casa. Queres beber algo? Vinho... - Vinho! - exclamou Leo, com desagrado. - Preferes ouzol - Demetri foi ao bar e voltou com um copo com ouzo, água e gelo. - Parece-te melhor? - Muito melhor - Leo agarrou no copo e olhou para o seu filho com uma expressão sombria. Sabes que a tua mãe me proíbe de o beber - deu um gole. - Mas eu digo-lhe que, se vou morrer, para quê prolongar isto? - Não falas a sério - Demetri sentou-se numa poltrona à frente do seu pai, - mas não acho que esta bebida tão suave vá fazer-te mal. - Suave, eh? - viu a cara do seu filho e sorriu. Está bem, agradeço-te, mas de vez em quando... - Bom, porque vieste? Passa-se algo? - Tu me dirás... - Leo deu um gole e olhou para o seu filho. - Está delicioso... - O que devo dizer-te? - Demetri franziu o sobrolho. - Ariadne acha que já não queres voltar a casar-te. Pelo menos, foi o que disse à tua mãe. Demetri sentiu uma onda de fúria. - Ariadne deveria calar-se com as suas opiniões. - Então, não é verdade? - Que não quero casar-me com ela? Não disse nada disso. - Também não fizeste nada? - perguntou o seu pai, ironicamente. - Como hei-de dizer, Ariadne sente-se... descuidada, não é? Demetri levantou-se. - Por favor... o que andou a contar? -Acho que não é preciso responder, Demetri. - Pelo amor de Deus! - resmungou o seu filho. - Se pensas dizer que não me diz respeito, não o faças. Responde-me uma coisa, voltaste a ver Jane depois de partir para Inglaterra? - Sabes que não. - Como hei-de saber? - Passei as três últimas semanas em Atenas, a tratar das consequências da explosão do Artemis. Quando Poderia ter ido a Inglaterra? Ela não te visitou em Atenas? 51

- Jane? Claro que não! - Se me dizes que não a viste, tenho de acreditar em ti - Leo deu outro gole. - Mas diz-me outra coisa. Terias gostado? - Do quê? - De a ver, Demetri, de ver Jane. É uma pergunta muito simples. Demetri praguejou, afastou a poltrona e foi ao bar. Agarrou numa garrafa de uísque de malte, serviu um copo, bebeu metade de um gole e olhou para o seu pai. - Muito bem - passou uma mão pela nuca. - Deixemo-nos de rodeios. O que queres que diga? Diz-me e pouparemos muito tempo. - Não é preciso ficares assim - Leo apertou os dentes. - Fiz-te uma pergunta. - Sim, claro! - A julgar pela tua resistência a responder-me, suponho que a minha preocupação era justificada. - Não - replicou Demetri, acaloradamente. - Reconheço que, ultimamente, não prestei a Ariadne toda a atenção que merece, mas, assim que tiver o divórcio, poderei compensá-la, vais ver. - Portanto, veres Jane não mudou os teus sentimentos por Ariadne... -Não! - Não sei porquê, mas não acredito em ti - Leo suspirou. - Pai, independentemente do que eu sinto, e não digo que sinto algo, não interesso nada a Jane. Tu sabes - Demetri hesitou. - Está bem, há uma atracção física entre nós, mas ela nunca me perdoará o que acha que fiz a lanthe. - Podias dizer-lhe a verdade. - Achas que acreditaria em mim? Nunca acreditou - Porque sempre lhe escondeste algo. - Sim, mas, se me amasse, teria acreditado em mim, dissesse eu o que dissesse. - Demetri, não sejas básico! Como te terias sentido, se Jane tivesse ficado grávida de outro homem e tivesse assegurado que era o pai? - Espero que lhe tivesse dado o benefício da dúvida - Demetri olhou para o copo. - Que galante! - exclamou Leo, com ironia. - Demetri, conheço-te. Tê-la-ias mandado passear e terias cortado o pescoço ao outro homem. - Que bela opinião que tens de mim...! O que queres dizer? Que não devia divorciar-me de Jane? - franziu o sobrolho. - Achava que apreciavas Ariadne. - Claro que a aprecio! - Leo estava impaciente. Além disso, quando eram mais jovens, pensava que seria uma boa esposa para ti, mas não aconteceu. Conheceste Jane e, assim que vos vi juntos, soube que era o amor da tua vida. - Que imaginação! - Demetri apertou os maxilares. - Nem sequer gostámos um do outro quando nos conhecemos. - Se calhar não, mas deitavam faíscas. Quando entraste na galeria, estavas convencido de que ela estava a seduzir-me. -Hum... Demetri não quis recordá-lo, mas não conseguiu evitá-lo. Enfurecera-se ao ver o seu pai a falar de arte com uma rapariga que parecia uma adolescente. Embora depressa se tivesse apercebido de que a sua fúria também era dirigida a ele. Ficara ciumento? Era possível, porém, certamente, chateara-o que um homem idoso tivesse encontrado uma companhia tão jovem e Sexy. Quando Leo lhe propusera que ela levasse pessoalmente a peça de bronze ao hotel, Demetri interviera imediatamente. Oferecera-se para ir buscá-la, segundo as suas palavras: "Não era preciso que a menina Lang se incomodasse". Ela, naturalmente, opusera-se e garantira que não era nenhum incómodo. Além disso, Demetri tivera a certeza de que a bruxa velha da Olga Ivanovitch ouvira a conversa toda e tirara as suas conclusões sobre porque queria relegar o seu pai. No entanto, por fim, fora o seu pai quem tomara a decisão. Com um sorriso um pouco presunçoso, aceitara que 52

aquela era a melhor solução. Alguns dias depois, Demetri apresentara-se na galeria para ir buscar a estatueta... Lembrou-se de que a galeria estava prestes a fechar. Tinham fechado umas cortinas de tecido e, quando abriu a porta, achou que o sítio estava vazio, mas, então, Jane saiu do escritório e as suas feromonas dispararam. - Receio que já fechámos... - começou a dizer ela, até que o reconheceu. - Ah, é você! - Efetivamente! - concedeu ele. - Achava que estaria à minha espera. O meu assistente não a avisou de que eu vinha? - Avisar-me? - os olhos verdes brilharam-lhe com certa ironia. - É um homem perigoso, senhor Souvakis? - Não, impaciente - chateou Demetri que o tivesse posto à defesa. - A estatueta está pronta? Ela suspirou e ele sentiu-se mal por ser tão desagradável. - Sim, está pronta - Jane fez um gesto para o escritório. - Se me acompanhar para assinar o recibo. - Efkaristo. Estava a ser desnecessariamente grosseiro e não sabia porquê. Ela não fora desrespeitosa, sabia que só tentara ser simpática e não conseguia entender o que tinha ela que o fazia comportar-se daquela maneira. O escritório era pequeno. Tinha dois armários contra a parede, um computador, uma impressora e uma secretária cheia de sacos de plástico pretos. - Desculpe isto tudo - desculpou-se ela, assinalando os sacos. - Estive a desembalar e não tive tempo de os colocar nas traseiras - tirou alguns papéis da cadeira. - Sente-se, tentarei encontrar o recibo. Demetri ficou à porta. Ela estava curvada e complicava-o tratá-la como um ser inferior. Entrou no escritório e, de forma impulsiva, agarrou em meia dúzia de sacos. - Porque não me diz onde quer que deixe isto, para que, assim, tenha espaço para se mexer? Ela esbugalhou os olhos e, quando sorriu, ele ficou atónito com a sua beleza. Já se dera conta de que era uma jovem atraente, mas, com as faces um pouco avermelhadas e os lábios carnudos afastados, era impressionante. - É muito... amável, mas esses sacos têm pó e vão sujar-lhe o fato. - Não se preocupe. Disse nas traseiras? -Sim. Olhou-o fixamente um instante, mas, ao dar-se conta de que ele falava a sério, contornou a mesa e roçou-lhe ao dirigir-se para a porta. Foi um contacto muito breve, mas sentiu-o como nunca sentira nenhuma mulher. Adorou a sua elegância e o seu cheiro provocou-lhe uma onda ardente. Ela já estava no corredor estreito que levava aos fundos do edifício, abriu a porta e ele pôde ver mais amontoados. - Deixe-os aí - indicou-lhe Jane, enquanto se afastava para que ele pudesse livrar-se da sua carga. - Depois vêm buscá-los - voltou a sorrir. - Agradeço-lhe. - Erkaristisi mou - replicou ele. - É um prazer traduziu-lhe, ao ver que não entendera. Jane esperou que ele voltasse para o corredor e fechou a porta. - Deve ser muito forte - comentou ela. Ele sorriu. - É muito amável - replicou ele, com ironia. - Não costumo receber elogios como esse. Poderia ter acrescentado que não recordava quando fora a última vez que fizera um trabalho físico, mas teria sido fanfarronice. - Tenho a certeza de que recebe muitos elogios afirmou ela, que o precedia. Demetri podia observar calmamente os seus ombros largos, a sua cintura estreita, o seu rabo arredondado e as suas pernas compridas, generosamente desvendadas por um vestido muito curto. O cabelo caía-lhe como uma cascata até aos ombros e teve vontade de enterrar a cara naquela massa sedosa. Afastou aqueles pensamentos e perguntou-se se teria passado aquela noite com algum homem. 53

Seria por isso que teria escolhido aquele vestido tão pouco apropriado para o seu trabalho? Quando a vira na vez anterior, usava uma blusa branca discreta e uma saia elegante. De repente, encontrou-se outra vez no escritório e ela abria as gavetas da secretária. - Deve estar algures - balbuciava Jane. Demetri ficou à porta para desfrutar do prazer de a observar. Era linda e muito feminina. Além disso, não ia para a cama com uma mulher há muitas semanas. Obrigou-se a olhar para outro lado. O que estava a acontecer-lhe? O seu pai não estava ali e não podia dizer que só queria provocá-lo. Também não podia dizer que houvesse escassez de mulheres na sua vida. Naturalmente, Jane não fazia ideia do que estava a pensar. Não fazia ideia de que estava a imaginá-la debaixo dele. Se pudesse ler o seu pensamento, não se teria inclinado sobre a secretária. - Onde estará? - perguntava-se ela. Jane continuava a abrir gavetas e a remexer no seu interior. Era evidente que queria livrar-se dele e isso era uma novidade. - Tem de estar nalgum lado. Olga deu-mo antes de partir. Precisamente depois de aquela pessoa do seu escritório telefonar. Tenho a certeza de que o pus... Ai! O grito de dor interrompeu-a e Demetri contornou imediatamente a secretária. - O que se passou? Tinha sangue num dedo e ele, sem pensar duas vezes, levou-o a boca. Lambeu-lhe a ferida e deu-se conta de que ela olhava para ele com os olhos esbugalhados. Desculpe - disse, precipitadamente. - Não devia tê-lo feito. - Efetivamente! - replicou ela, com indignação. Não é para tanto, só me cortei com um papel afastou o dedo e examinou-o. - Vou pôr um penso rápido. Demetri afastou-se um pouco para que pudesse tirar a caixa de uma gaveta do armário. Ele reparou que tinha o lábio superior um pouco húmido e perguntou-se se sentiria a indiferença por ele que queria transmitir. Fosse como fosse, não fora ali para ter uma aventura com uma mulher. Só tentara proteger os interesses do seu pai. Ninguém acreditaria nisso. Quisera vê-la outra vez. Tinha de o reconhecer. Ainda por cima, considerava-a uma estudante de arte dissimulada. Com aquela roupa feminina e aquele impulso, era absolutamente fascinante. Finalmente, encontrou o penso rápido e, ao ver que ele continuava a olhar para ela, esboçou um sorriso. - Corto-me muito com os papéis. As vezes, penso que devia usar luvas de borracha. E esconder essas mãos tão bonitas? Demetri abanou a cabeça e tirou-lhe o penso. - Permita-me pôs-lhe o penso no dedo. - Está melhor, não está? Jane olhou para as mãos dos dois e encolheu, levemente, os ombros. - Sim. Obrigada - soprou. - Agora, se me permite, vou buscar o seu embrulho. Demetri olhou para ela um momento nos olhos, antes de a largar. Se é o que quer. Ela afastou os lábios. - É o que quer, não é? - Bom, não faz ideia do que quero, menina Lang. Ela susteve a respiração. Então, como se acordasse de um sonho, virou-se, colocou a caixa na gaveta do armário e voltou para a secretária. CAPÍTULO14 No entanto, os seus olhos cravaram-se nos dele, como se tivessem vida própria. - O que quer, senhor Souvakis? - perguntou, com um leve tremor na voz. - Se quer uma aventura de uma noite, aviso-o que não vou para a cama com qualquer um. - Eu também não - replicou ele, com certa indignação. - Pedi-lhe para ir para a cama comigo? 54

Desculpe-me, mas não recordo tê-lo feito. Ela ficou vermelha como um tomate e ele lamentou ter sido tão cortante. Além disso, para ser sincero, tinha de reconhecer que gostara da ideia de a seduzir. Mais do que gostar, divertira-se com ela. Fora por isso que o incomodara a sua perspicácia. - Os sinais que esteve a enviar-me não me disseram isso, senhor Souvakis - replicou ela. Jane voltou para a sua tarefa e ele sentiu uma vontade quase incontrolável de lhe demonstrar como estava enganada. No entanto, não fez nada e, ao fim de alguns minutos, ela encontrou o famoso recibo. - Eu sabia que o tinha! Demetri, que não tinha o mínimo interesse num documento que o seu assistente poderia ir buscar, esboçou um sorriso brincalhão. - Tentarei conter a emoção - comentou ele, ironicamente. - Talvez não seja importante para si, senhor Souvakis - Jane estava ainda mais corada, - mas tenho a obrigação de fechar pertinentemente todas as transacções. Tenho a certeza de que o seu pai não ficaria contente sem o certificado de origem da estatueta. - E eu tenho a certeza de que tem razão, menina Lang. Como disse, essas coisas importam ao meu pai, a mim, infelizmente, não. - Então, porque se ofereceu para vir buscá-la? Demetri já não conseguia resistir à necessidade de lhe tocar. - Porque queria vê-la outra vez - passou-lhe os nós dos dedos pela face ardente. - Que suave! Mas disse... - afastou a cara, mas não se mexeu. Disse que não queria ir para a cama comigo. - Os homens e as mulheres podem fazer muitas coisas, para além de dormirem juntos - Demetri arqueou um sobrolho. - Nunca teve um namorado? - Claro que tive namorados! Espero que não queira fingir que quer ser meu namorado! - Não - fez uma careta. - Então, o que pretende? - Quer que explique? Eu gostava de a conhecer melhor. Depois, se nos dermos conta de que somos compatíveis, se calhar dormimos juntos. Quem sabe... - Eu sabia! - afastou-se dele e olhou para ele com desprezo. - É a única coisa que lhe interessa, não é? Porque não o reconhece? - Porque não é verdade - respondeu ele, com raiva. - Pareço-lhe assim tão mulherengo? - Não sei, não o conheço, senhor Souvakis. - Efectivamente! Antes de me insultar, talvez devesse tentar comprová-lo. - Não quero comprová-lo! - exclamou ela, puerilmente. Demetri reparou que começava a perder o controlo. - Tem a certeza? - deixou-se levar pelos instintos, agarrou-a pelo pulso, apertou-a contra si, rodeou-lhe a cintura com o braço e olhou para ela nos olhos. - Tem a certeza? Por um instante, ela não conseguiu desviar o olhar, mas depois conseguiu pôr uma mão entre os dois e empurrar-lhe o peito. -Largue-me! - E se não o fizer? O que fará? Está sozinha aqui. - Está a ameaçar-me, senhor Souvakis? - olhou para ele, com olhos sombrios. - Não - ele próprio sentiu-se incomodado com a situação que criara e largou-a. - Dê-me a estatueta e vou-me embora. Parece que é o que quer. -Sim. Pareceu a Demetri que não havia muito convencimento no tom. Embora talvez fosse o que ele queria pensar Ela, certamente, não lhe dera motivos para achar que mudara de ideias. O embrulho com a estatueta era maior do que imaginara. - É por causa da embalagem - explicou-lhe ela ao ver a sua surpresa. - Consegue? - Estaria 55

disposta a ajudar-me? - - Se quiser... - Jane hesitou. - Estou habituada a lidar com embrulhos complicados. - E clientes complicados também - comentou ele, com ironia. - Ofendi-o, não foi? - Jane olhou para ele, com Preocupação - Raios! - exclamou Demetri. - O que lhe interessa se me ofendeu? Certamente, não voltará a ver-me. - Mas eu não gostaria que o seu pai pensasse que fui mal-educada com o seu filho. - Meu Deus! - Demetri deixou escapar uma leve gargalhada. - Trata-se disso. Teme que o meu pai gaste o dinheiro noutro sítio. - Sou só uma empregada, senhor Souvakis. - Não se preocupe - Demetri resmungou. - Certamente, o meu pai aplaudiria como me parou. Ele acha que sou demasiado... arrogante. - É - confirmou ela. - A sua humildade durou bem pouco. - Se calhar, é porque gosto mais de si assim - ela sorriu. - Como, a fazer uma figura ridícula? - Não conseguiria fazer uma figura ridícula, nem que quisesse - Jane susteve a respiração. -Não? -Não. - Nem sequer, se lhe dissesse que quero beijá-la neste instante? - Não o faria - ela recuou. - Não - Demetri inclinou-se para agarrar na caixa com a estatueta. - Suponho que os nossos caminhos se separam aqui - fez uma careta pelo peso do embrulho. - Importa-se de me abrir a porta? O carro está estacionado aqui à frente. - Claro...! - Jane adiantou-se para lhe abrir a porta. - Certamente, terá uma multa. A polícia é muito susceptível nesta zona. - Talvez - Demetri saiu de costas e desceu até um todo terreno imponente. - Efetivamente, tinha razão. Jane desceu até ao carro e tirou o papel de debaixo do limpa pára-brisas. - Direi a Olga que trate disto. Demetri estava a colocar a caixa no porta-bagagem, mas assomou a cabeça. - Deixe, eu trato disso. - Mas não pode... - Quer apostar? - Talvez isto não tivesse acontecido, se não me tivesse ajudado a tirar os sacos e depois eu não tivesse cortado o dedo... - ela calou-se ao ouvir que fechava o porta-bagagem. A culpa é minha... - Não se preocupe - arrebatou-lhe o papel dos dedos e atirou-o para um cesto de papéis. Assunto resolvido. - É o que faz com todas as multas? - perguntou ela, espantada. - Não, só com as que me passam por ajudar mulheres bonitas - respondeu ele, com um tom brincalhão que fez com que ela se risse. - A sério, não se preocupe -É tão... - Perverso? - propôs ele. - Sim, eu sei. - Não ia dizer isso - rebateu ela. - Não acho que seja perverso. - Mas também não gosta. Uma sombra de desconcerto atravessou o rosto de Jane e ele deu-se conta de que não estava tão segura de si como queria aparentar. A rua estava deserta e na penumbra. No entanto, não ia fazêlo. Não ia acabar com aquele entendimento frágil que estava a criar-se entre eles. Por isso, ficou atónito quando ela apoiou as mãos nos seus ombros e lhe roçou os lábios na sua boca. - Eu não disse que não gostava. 56

Demetri, sem acreditar, apoiou-se no carro. Fora um beijo fugaz, quase impessoal, mas ele soube que também a impressionara. Embora Jane ainda não tivesse desatado a correr para se refugiar na galeria, também soube que não demoraria a fazê-lo. Olhou para ele nos olhos com arrependimento e ele arqueou um sobrolho. - Acho que, finalmente, fiz algo bem - comentou ele. - Não sei o que se passou comigo - sussurrou ela. Demetri sabia que um homem mais gentil teria dado a cena como acabada, mas ele estava muito excitado há uma hora e aquela inocência tão atraente era a gota de água. Inclinou-se, agarrou-a pelas ancas e puxou-a para si. - Eu sei. Eu explico-lhe. Não lhe deu tempo para replicar. Beijou-a como quisera beijá-la desde que entrara na galeria e voltara a vê-la. Agarrou-a pela nuca e apropriou-se dos seus lábios, até que a delicadeza do seu fôlego lhe indicou que tinha a boca aberta. Ela tentou manter algum domínio e também se apoiou no carro com as mãos ao lado dele. No entanto, quando ele introduziu a língua já não conseguiu conter-se. Deixou escapar um gemido e entregou-se. Deixou-se cair contra ele e sentiu a ereção na barriga. Era o paraíso e o inferno. O paraíso porque a desejava com paixão; o inferno porque, embora ela também o desejasse, não podia possuí-la na rua. Mesmo assim, a necessidade de lhe levantar a saia e penetrá-la era premente e, quando ela desceu uma mão para lhe acariciar a ereção palpitante, Demetri deixou escapar um resmungo de prazer. - Theos... Apesar de todas as situações que imaginara um momento antes, nada o preparara para a realidade. Tinha-a contra si e estava a deixá-lo louco com os dedos. No entanto, aquilo era só uma parte. O seu contacto, o seu sabor, o roçar dos mamilos duros contra o peito... Era voraz e activa. Só conseguia pensar em tê-la nua. Mas isso não ia acontecer no meio da rua. No entanto, podia convidá-la para o hotel. Mais uma vez, foi ela quem o surpreendeu. - Vamos para dentro. A galeria está fechada e Olga tem um sofá aceitável no seu escritório. Assim começara tudo, disse para si Demetri, com saudade. Além disso, depressa descobrira que, apesar da sua atitude desenvolta, ela só fora para a cama com um homem. Conservava a ingenuidade e uma inexperiência deliciosa. Confessara-lhe que nunca tivera um verdadeiro orgasmo. Até então, achara que as relações sexuais estavam sobrevalorizadas. Ele mostrara-lhe a realidade, lembrou-se, com certa vaidade. A primeira vez que a penetrara, tivera de sufocar os seus gritos com a boca. Fora algo incrível para os dois e tivera de voltar a vê-la em seguida. Naturalmente, houvera obstáculos. As suas respectivas mães não aprovavam. A sua mãe ficara espantada quando lhe contara que se apaixonara por uma rapariga inglesa e a mãe de Jane nunca confiara nele. No entanto, tinham superado os inconvenientes e, embora soubesse que desconcertara Jane que se tivesse casado com ela tão depressa, estava tão apaixonada que não se importara. Tinham ido de lua-de-mel para as Caraíbas, onde se tinham limitado a comer, nadar e fazer amor. Amara-a tanto! Susteve a respiração. Amava-a tanto! - Passa-se algo, Demetri? perguntou o seu pai. Demetri deu-se conta de que passara um bom bocado a olhar para o infinito. Ficara tão ensimesmado que se esquecera de que o seu pai esperava uma resposta. - Desculpa - afastou-se da janela e serviu-se de outra bebida. - Estava a pensar. - Em Jane? - Acaso consigo pensar noutra coisa? - replicou Demetri, com um olhar de desespero. - Não sei. Não consegues? - Esquece. Se continuarmos com isto, vamos discutir e não quero. - Porquê? Achas que não podes dizer-me a verdade? - o seu pai olhou, fixamente, para ele. - Sê sincero, Demetri, porque aceitaste divorciar-te de Jane para te casares com Ariadne? Foi só porque pensaste que eu queria um neto? - Pai... - Demetri suspirou. - Responde-me! 57

- Muito bem - Demetri soprou. - Talvez isso fosse um... motivo. - Imagino que foi o que a tua mãe te disse. Como me disse que Ariadne e tu se tinham Apaixonado e como disse a Stefan que eu nunca aceitaria um filho que tivesse com Phillippe. - Stefan e Phillippe? - Sim - Leo estendeu uma mão com o copo vazio. - Serve-me algo, Demetri. Temos de falar de algumas coisas, queira a tua mãe ou não. CAPÍTULO 15 Jane estava sozinha na galeria, quando Alex Hunter entrou. Por um instante, achou que era Demetri e o seu coração disparou. Não soubera nada dele desde que voltara da Grécia, há seis semanas, e embora tentasse convencer-se de que era normal, gostaria que não fosse. Inclusive, telefonara algumas vezes para Kalithi, para confirmar que não lhe acontecera nada, mas nunca chegara além de Angelena e, como a imprensa deixara de falar do assunto, supôs que os irmãos teriam voltado, sãos e salvos. Também não voltara a ver Alex desde a sua volta e isso fora decisão dela. No entanto, embora lhe tivesse dito que não queria vê-lo mais, ele não aceitara essa recusa. Acusara-a de gozar com ele, de lhe ter dado esperanças, quando só queria fazer ciúmes ao seu marido. Aquilo não era verdade, mas Jane decidiu que, se era o que ele queria pensar, podia ser o melhor para todos No entanto, ele não deixara de lhe telefonar e, naquele momento, estava ali. Não tinha a desculpa de ter combinado com Olga para tratar da contabilidade. A sua chefe partira há uma hora e ela lamentou não lhe ter feito caso e ter fechado cedo. - Trabalhas demasiado para o teu estado - dissera-lhe Olga. Desde que soubera da sua gravidez, estava muito compreensiva. Embora, tal como a sua mãe, não aceitasse que não dissesse ao pai. Jane, efetivamente, pensara fechar cedo, mas, naquela manhã, chegara uma entrega e decidira dedicar uma hora a catalogar os tecidos. Desejou não o ter feito. Não receava Alex, mas teria preferido vê-lo num sítio mais público. Por outro lado, alegrou-se de ter uma pasta que podia esconder o seu estado. Enfureceu-se ao dar-se conta de que estava a deixar que a intimidasse. - Olá, Alex! - cumprimentou-o com uma certa acritude. - Se vieste ver Olga... saiu... - Tanto me faz - ele encolheu os ombros. - Não vim ver Olga. -Alex... - Eu sei. Disseste-me que não queres ver-me mais... - Não disse exactamente isso. Acho que não devíamos continuar a sair juntos. Achava que éramos amigos, mas, evidentemente, tu querias outra coisa. - Tu também, até que foste ver o teu ex-marido. - Ainda não é o meu ex-marido - Jane suspirou. Além disso, isso não é verdade. A minha relação com Demetri não mudou. - Então, porque não podemos continuar a ver-nos? - perguntou ele, com incredulidade. - Achava que gostavas de mim, achava que nos divertíamos juntos. - Claro...! - Jane cruzou os braços por cima da pasta. - É que... Bom, acho que não é justo para ti que possas pensar que alguma vez seremos algo mais do que amigos. - Isso não te importava antes - replicou ele, com o sobrolho franzido. -Antes de me teres dito o que sentias - recordou-lhe Jane, com tristeza, enquanto compunha a pasta. - Sinceramente, Alex, nunca quis magoar-te. - No entanto, fizeste-me isso - Alex mexeu-se com nervosismo e, subitamente, arrebatou-lhe a pasta. - Por favor! Não podes largar isso enquanto falamos? Atirou a pasta para o chão que deslizou pelo chão encerado. Os dois ficaram a olhar para ela. Alex, para tentar dominar o seu temperamento e Jane, porque se sentia nua. Ele desviou o olhar para a sua barriga. 58

Estás grávida? perguntou ele, passado um momento. - Certamente, Demetri sabe algo... acrescentou, com amargura. - Não sabe de nada - replicou ela, com raiva, enquanto se baixava para apanhar a pasta. - Além disso, não te diz respeito, Alex. É melhor ires-te embora. - Não contaste a Demetri que vai ser pai? - Acaso disse que é filho de Demetri? - Não, mas assumi... - Assumes muitas coisas. Porque não me ouves e te vais embora? - O que vais fazer? O quê? Jane não acreditava em tanto atrevimento. - Acho que isso é um assunto meu. - Vais casar-te com o pai? Diga o que disseres, é de Demetri, não é? Não tens o direito de dizer isso. - Assumo que não vás voltar a casar-te... - Estou casada e, como disse antes, assumes muitas coisas. Por favor, quero fechar a galeria. Eu gostaria que te fosses embora. - Não sejas assim, Jane - Alex aproximou-se um pouco. Só quero ajudar-te. Gosto de ti. Ainda gosto de ti, embora me tenhas traído com outro. - Não te traí! - Jane estava desesperada. - Alex, isto tudo é absurdo. Lamento se achas que te defraudei, mas, por muito que falemos, não vai mudar nada. - Se calhar, sim - Alex estava muito perto. - Podias casar-te comigo. Acho que seria um bom pai e os filhos precisam de um pai, não achas? - Mas não te amo, Alex! - respondeu ela, com espanto. - Eu sei. -Então...? - Eu amo-te. -Não... - Sempre te amei. Desde a primeira vez que vim tratar da contabilidade da senhora Ivanovitch. Ela sabia o que eu sentia. Ela contou-me como o teu marido foi canalha contigo. Disse-me que só tinha de ser paciente, que, mais cedo ou mais tarde, te darias conta de que não sou como ele. Jane fechou os olhos e desejou que a sua chefe estivesse ali. Evidentemente, aquela conversa da qual Alex falava fora há muito tempo. Se Olga estivesse ali, poderia explicar-lhe. - Lamento - repetiu ela. - Agradeço-te o elogio, Alex, mas não posso casar-me contigo. - Porquê? - Sabes porquê. Não. Acho que não pensaste bem. Sei que não me amas, mas temos tempo. - Não, Alex. Ela foi cortante, mas ele aproximou-se mais e agarrou-a pelos ombros. - Vá lá, Jane! Dá-me uma oportunidade. Deixa-me demonstrar-te como seria bom... -Não, Alex! Começava a ficar assustada. Ele recusava-se a ouvi-la. - Parece-me que não te dás conta da tua situação acariciou-lhe os braços. - Divorciada e mãe solteira. Não há muitos homens dispostos a aceitarem o filho de outro homem - inclinou-se e, face à resistência de Jane, passou-lhe os lábios pelo ombro. - Deixa-me cuidar de ti, Jane. Sabes que o desejas. - Não, Alex, por favor...! - apoiou as mãos no peito dele e a pasta caiu outra vez. - Tens de me deixar em paz! - Não tenho de fazer nada! - empurrou-a contra um dos quadros preferidos de Olga. - Posso fazer o que quiser, quem vai impedir-me? -Alex, por favor...! Jane estava a perder a esperança, nunca sentira tanta impotência. No entanto, deu-lhe um pontapé na tíbia. Ele praguejou, mas também a largou um pouco. Jane escapou dele e foi para a porta entre gemidos. Ficou parada ao ouvir a porta abrir-se. O visitante estava contra a luz do 59

entardecer. Jane só conseguiu ver que era uma mulher e pensou que seria Olga. - Ainda bem que voltou - dirigiu-se para ela aos tropeções. - Tem de fazer com que Alex me deixe em paz. -Alex? Jane não reconheceu a voz e rezou para não ter feito uma figura ridícula perante uma das melhores clientes de Olga. Então, deu-se conta de que conhecia aquele sotaque. lanthe Adonides, com um fato Chanel e um colar de pérolas, olhava fixamente para ela. Os Souvakis tinham em Londres uma casa elegante de três andares, com cave e águas-furtadas. Jane lembrou-se de que Demetri lhe contara que fora de um membro da aristocracia. Divertia-o usar a zona "clandestinamente". Isso era, naturalmente, quando os seus pais iam muito àquela cidade. Ele acondicionara os quartos da cave quando era rapaz e levou Jane para ali quando se tinham tornado amantes. Também ali lhe perguntara se queria casar-se com ele, recordou Jane, com o pulso acelerado. Tinham sido muito felizes. Como pudera permitir que os ciúmes acabassem com tudo o que tinham conseguido? Porque não acreditara nele? Pediu ao taxista que a deixasse na esquina e percorreu a pé os últimos metros até à casa que conhecia tão bem. Havia alguns degraus até à porta de entrada e a janela de cima estava iluminada. Estava alguém, embora pudesse ser a governanta ou Theo Vasilis. lanthe contara-lhe que a tinham convidado para aquela viagem de trabalho pela sua relação cada vez mais estreita com o assistente de Demetri. Jane subiu os degraus e bateu à porta. Enquanto esperava, certificou-se de que atara bem o cinto do casaco largo de lã. Não queria que o seu estado influenciasse o resultado daquela visita. A espera pareceu-lhe eterna e imaginou Demetri a observá-la num monitor. Talvez se recusasse a vê-la. Talvez não fosse verdade que Ariadne e ele já não saíam, como lanthe lhe dissera. Ter-lhe-ia mentido? Já mentira uma vez. O ruído de uma chave avivou o seu nervosismo. A porta abriu-se para mostrar uma mulher de trinta e muitos anos, algo gordinha e bonita. A primeira coisa que pensou, com espanto, foi que ela era o motivo pelo qual Demetri e Ariadne teriam acabado. No entanto, quando a mulher falou, compreendeu que se precipitara. - Posso ajudá-la em algo? - perguntou, com um tom cortês. - Hum... o senhor Souvakis está? - Está à sua espera, menina...? - voltou a perguntar a mulher, com o sobrolho franzido. - Senhora Souvakis - esclareceu Jane. - Sou a esposa de Demetri Souvakis. A mulher pestanejou e olhou para trás com nervosismo. - Peço desculpa, mas o senhor Souvakis não me anunciou a sua visita. Jane desejou ter a coragem necessária para entrar na casa, mas não vivia com Demetri há cinco anos e aquela mulher não a conhecia de lado nenhum. - Efetivamente, ele não me espera. Onde está a senhora Grey? - acrescentou Jane, para confirmar a sua identidade. - A senhora Grey? - perguntou a mulher, algo desconcertada. - Conhece a senhora Grey? - Sim, é a governanta do senhor Souvakis. Continua aqui? - A senhora Grey reformou-se há três anos. Eu sou a senhora Sawyer, a sua substituta. - Entendo. Jane sentiu-se algo mais tranquila quando uma voz masculina as interrompeu. - Quem é, Freda? - perguntou do andar de cima. É Theo? Diz-lhe que entre. - Não é o senhor Vasilis, senhor Souvakis - respondeu a governanta. O pulso de Jane acelerou quando ouviu passos descerem as escadas. - Bom, sabe que vou sair. Demetri chegou ao pé das escadas e atravessou o hall. Fez-se um silêncio ensurdecedor quando a viu. - Olá, Demetri! - Jane compreendeu que tinha de dizer algo. - Posso entrar? 60

Demetri olhou para a senhora Sawyer. - É a minha esposa, Freda - sem olhar para Jane, recuou um pouco e fez sinal para que entrasse. Claro, entra! Vou sair, mas posso dedicar-te alguns minutos, se for urgente. - É - Jane sorriu à governanta. - Como estás? Estás com bom aspecto. Na realidade, isso não era verdade. A tensão pela doença do seu pai estava a notar-se. lanthe contara-lhe que Leo estava vivo, mas muito doente. Jane imaginara que estaria muito aborrecido por a relação de Demetri com Ariadne ter acabado. Demetri não respondeu, mas isso não surpreendeu Jane. Devia saber que não fora ali para se interessar pela sua saúde. Estaria a perguntar-se o que fazia ali, porque, apesar do que lanthe lhe dissera, ele não fizera nada para a ver. - Estaremos na sala - disse Demetri à governanta. Queres um café ou outra coisa? - Hum... um chá - sussurrou Jane, que ainda não conseguia suportar o café. - Se for possível... - Um chá, Freda - Demetri assinalou as escadas. Sobe, sabes onde é a sala. - Já não vives na cave... - comentou ela, enquanto subiam. - Freda e o seu marido vivem na cave. Há anos que não a uso. -Ah...! Jane tentou habituar-se ao que via. Paredes forradas a seda, quadros muito valiosos, tapetes macios e candelabros de cristal. Na sala, havia mais tapetes, sofás de couro, todo o tipo de obras de arte e uma lareira. Quando os Souvakis tinham vivido em Londres, tinham uma vida social trepidante. Jane virou-se para o recordar a Demetri, mas ele já atravessara a sala para se servir de uma bebida. Notou-o mais magro e com mais cabelos brancos. - Diz-me - ele virou-se e apoiou as ancas no bar A que devo esta visita tão inesperada? - Estou a ver que não disseste "prazer inesperado" - replicou ela. - Como está o teu pai? - perguntou ela, para quebrar um pouco o gelo. - Está... tão bem como poderíamos esperar. Obrigado pelo teu interesse. Mas poderias ter telefonado para a villa para saberes. -Demetri... - Por favor! - lançou-lhe um olhar gélido. - Não podes aparecer caída do céu e esperar um comité de boas-vindas. Sobretudo, quando partiste de Kalithi assim que me virei. - Não foi assim - Jane ficou boquiaberta. - Não? Sabias que Stefan e eu íamos para o Artemis. Não te ocorreu que podia ser perigoso ou não te importava? - soltou uma gargalhada brincalhona. - Claro que me importava! - Psematal - Sim, a sério! Mas sabia que não podia ficar indefinidamente ali - não quis falar diretamente da sua mãe. - Além disso, telefonei para a villa quando cheguei a Inglaterra, mas não consegui entrar em contacto contigo. - Esperas que acredite nisso? -É a verdade! - Porque não conseguiste entrar em contato comigo? Esqueceste-te do meu número de telefone? - Claro que não! - Jane suspirou. - Se calhar, Angelena não entendeu o que queria. O cepticismo de Demetri era evidente. - Ariadne detestava-me, sabes disso - acrescentou Jane, para tentar explicar o que fizera. - Ariadne disse algo para que partisses? - Demetri franziu o sobrolho. -Não... - Já imaginava. - Demetri, por favor...! - Por favor, o quê? - acabou o copo de um gole e virou-se para o encher. O que queres, Jane? Estás preocupada porque deixei o divórcio em ponto morto durante algumas semanas? perguntou Demetri, virando-lhe as costas. - Compreenderás que tive outras preocupações. - Eu sei - Jane mordeu o lábio, mas tinha de saber se lanthe dissera a verdade. - Continuas a sair 61

com Ariadne? Ele virou-se, com uma expressão aterradora. - O que te interessa? Acaso importa-te o que se passa, comigo? - Sim! Nunca deixaste de me importar. - Pois, tens uma forma bastante curiosa de o demonstrar replicou ele, com amargura. Porque não me dizes de uma vez o que queres? - olhou para o relógio de pulso. - Tenho um jantar dentro de quarenta minutos. - lanthe foi ver-me. Jane não quisera ser tão direta, mas já era tarde. Ele estava a olhar fixamente para ela e com incredulidade. - Impossível! - exclamou, passado um momento. - é verdade - Jane olhou para ele sem esperanças. Ela... apareceu na galeria e disse-me que Ariadne e tu não estão juntos. - Ariadne e eu não estivemos juntos, como tu dizes, desde que fui ao teu apartamento, há três meses. Não acho que seja uma novidade para ti. - Não sei o que queres dizer - Jane franziu o sobrolho. - Quando cheguei a Kalithi, Ariadne fezme acreditar... - Que ela e eu dormíamos juntos? - Demetri perguntou-o, com acritude. - E tu, naturalmente, acreditaste - estendeu os braços, teatralmente. - A minha esposa, que continua a achar que vou para a cama com a primeira que me aparece à frente - deu um gole no uísque. - E ainda dizes que te importo. Desculpa se te digo que me custa a acreditar. CAPÍTULO 16 A chegada da senhora Sawyer com o chá deu alguns minutos a Demetri para se recompor. Esteve tentado a servir-se de outra bebida, mas sabia que embebedar-se, mais uma vez, não iria servir-lhe de nada e pousou o copo com um golpe seco. Jane, entretanto, aceitou a sugestão de Freda e sentou-se junto da mesa onde deixara a bandeja. Ele deu-se conta de que Jane não fez menção de provar o chá que lhe tinham servido e Freda saiu da sala. Demetri compreendeu que tinha de fazer algo para reconduzir a situação e sentou-se à frente dela. - Suponho que lanthe te terá contado que veio com Theo e comigo. -Sim Demetri pensou que aquilo seria outro golpe contra ele. Teria ido reprová-lo, pela enèsima vez, por algo que não fizera? Franziu o sobrolho. Ainda por cima, ela estava absolutamente maravilhosa. Tinha um brilho, uma espécie de calor interior que fez com que se amaldiçoasse por ter conduzido tão mal todo aquele assunto. Nunca deixara de a desejar, nunca deixara de a amar Inclusive quando dissera que a odiava, soubera que o fazia pelo seu desventurado desejo Reparou que tinha o cabelo mais comprido Uma madeixa caía-lhe sobre o ombro do casaco de lã Desejou que tirasse o casaco. Era um disparate, mas queria ver-lhe os seios. Sempre tinham denunciado o seu estado de espírito. Jane reparou que Demetri lhe percorrera o corpo com o olhar e sentiu que os seus olhos pretos lhe abrasavam a pele. Sempre tinham tido aquele efeito nela e, naquela noite, mais do que nunca. Sabia o que lhe fizera, sabia que ele não lhe mentira, sabia que fora uma estúpida. - Disseste que lanthe apareceu na galeria. - Efetivamente! Foi uma sorte que o fizesse. Alex estava ali, Alex Hunter, e estava a incomodarme. - A incomodar-te? - Demetri semicerrou os olhos. - Como? O tom afável deveria tê-la posto de sobreaviso, mas ela alegrou-se tanto de poder falar 62

calmamente que continuou. - Bom... como sempre. Ele... não aceitava que eu não quisesse voltar a vê-lo. Se lanthe não tivesse aparecido... - Estás a dizer-me que esse homem te agrediu? Demetri levantou-se de um salto. - Encontrá-lo-ei e matá-lo-ei! Como se atreveu a pôr as mãos em cima da minha mulher? - Continuo a ser a tua mulher, Demetri? - sussurrou Jane, enquanto olhava para ele. - De momento balbuciou ele, tentando conter a necessidade de a acariciar. - De qualquer forma, isso é o de menos. Esse homem vai descobrir que ninguém agride alguém da minha família e fica impune. - Não me agrediu, Demetri. Só me assustou. - Maldito! - ele passou os dedos pelo cabelo. Portanto, desta vez terei de agradecer a lanthe pela sua intervenção, não é? -Sim. - Que paradoxo, não achas? - É possível - Jane engoliu em seco e assinalou o sofá. - Porque não nos sentamos? Quero contar-te algo. - Achas que posso cair? -Não... - Estou a avisar-te, Jane, se vieste falar mais sobre lanthe... - Não! - agarrou no braço de Demetri e reparou que os seus músculos ficavam tensos. - Por favor, tens de me ouvir! Demetri olhou para a mão e perguntou-se como era possível que aquele contacto hesitante pudesse produzir-lhe uma descarga eléctrica por todo o corpo. Sentiu uma pressão no peito pelo desejo de a acariciar, de se deleitar com aquele corpo. Acelerou-lhe o pulso. Como conseguiria recompor-se o suficiente para ir a um jantar de trabalho na sala de reuniões da sua empresa? - Está bem - libertou-se e sentou-se junto dela no sofá. No entanto, ela mexeu-se e a sua coxa ficou perturbadoramente encostada à dele. Jane, por seu lado, reparava intensamente que o seu olhar a abrasava e passou uma mão pela barriga para se acalmar. Alguns dias antes, fizera uma ecografia e, quando vira a imagem do seu filho no monitor, sentira um nó na garganta. A sua mãe acompanhara-a e fora uma grande ajuda, mas teria adorado que Demetri tivesse estado lá. Também era o seu filho e merecia saber que ia ser pai. No entanto, naquele momento, ela achara que estava a planear o seu futuro com Ariadne e não quisera arruinar-lhe a vida pela segunda vez. - Conta-me... Demetri estava a impacientar-se e Jane inclinou-se para dar um gole no chá. - Suponho que estarás a perguntar-te o que posso contar-te que vá interessar-te. - Não me digas...! - replicou ele, com ironia. Achava que, se calhar, te compadecerias de mim por não conseguir manter uma relação duradoura, mas isso seria excessivo, não é? - Não sejas sarcástico! - Jane suspirou. - Então, o que devo fazer? - Demetri endureceu a expressão. - Trata-se de outra provocação? - Não - Jane torceu o cinto do casaco. - Ainda não te disse porque lanthe foi ver-me. - Achava que tinha ido contar-te que Ariadne e eu já não dormíamos juntos. - Tens de ser tão explícito? - Jane apertou os lábios. - Pareces a minha mãe - Demetri franziu o sobrolho. - Mas deu-te algum motivo para que duvidasses do que Ariadne te disse? -Sim... - É alguma coisa. - No entanto, tu disseste-me que tinhas ido para a cama com Ariadne. - Não sou um monge! - Eu sei. 63

- É verdade...! Sabes, porque tive uma aventura com lanthe alguns meses depois de nos casarmos. Ele ter-se-ia levantado naquele instante, mas Jane, com um arrojo que desconhecia, agarrou-o pelo pulso e sentiu o calor que emanava e o pulso alterado. - Não te vás embora! - pediu, com voz rouca. lanthe contou-me o que aconteceu. Que o pai era Yanis, não tu. Ele ficou a olhar fixamente para ela e Jane não soube o que estava a pensar. Era um olhar tão carregado de amargura, que ela se sentiu intimidada pelas acusações que lhe faria. - lanthe contou-te? - perguntou Demetri, com aspereza. - Porquê? - Não sei muito bem - Jane humedeceu os lábios. Se calhar, tem algo a ver com Ariadne e tu terem acabado. - O que tem a ver lanthe com a minha relação com Ariadne? Estava desconcertado e Jane quis tranquilizá-lo, mas receou que não recebesse bem a sua compreensão. - Acho que... se deu conta de que não"eras feliz... com... mais ninguém... - Queres dizer...? - libertou o pulso e levantou-se bruscamente. - Pelo amor de Deus! - foi até à janela. Devo estar-lhe agradecido? - olhou para ela, com desdém. - Bolas! Não quero a tua compaixão! - Não te compadeço - Jane levantou-se para se aproximar, mas ele atravessou-a com o olhar e ficou quieta. - Por favor, tens de me ouvir! Sei que fui uma estúpida... Nisso, tens razão. -... mas que outra coisa podia fazer? - Podias ter acreditado em mim. - Efetivamente, poderia tê-lo feito. Parece muito fácil, não é? Deveria ter acreditado em ti, quando a única pessoa implicada insistia em culpar-te. - lanthe mentia. - Agora, eu sei, mas tens de reconhecer que ninguém, nem sequer o teu pai, me disse de quem era o filho. Demetri passou as mãos pela nuca. - Para eles, também foi... muito difícil - balbuciou. - É verdade - Jane sentiu-se indignada. - Yanis estava a começar a sua formação para ser sacerdote. Não teria podido continuar os estudos naquelas circunstâncias. - Deveria ter pensado nisso antes de ir para a cama com lanthe! - Concordo - Demetri olhou para Jane de soslaio. Garanto-te que ficou muito claro que o seu procedimento o desonrou e à família. - Para não falar de como te afetou e a mim, como consequência. - Não deveria ter acontecido - replicou Demetri, com veemência. - Ninguém esperava que lanthe dissesse a toda a gente que eu era o culpado. - Mas eu pensei... - Jane conteve-se. - Ninguém o negou, excepto tu. - Receio que isso tivesse sido obra da minha mãe. - O que queres dizer? - Hum... - as suas mãos ficaram inertes. - Foi há muito tempo. - Não é uma resposta. - Muito bem - virou-se para olhar para ela, com os braços abertos num gesto de derrota. - Sabes que a minha mãe sempre se opôs ao nosso casamento. Quando lanthe contou o que se passara, a minha mãe convenceu o meu pai e Stefan de que negá-lo concentraria todos os olhares em Yanis. Como sabes, lanthe passou muito tempo na villa naquele Verão. - Vais contar-me isso - Jane não conseguiu disfarçar o rancor. - Efectivamente! - o tom de Demetri foi inexpressivo. Parecia que era o único que podia salvar o futuro de Yanis - suspirou. - E eu, pobre de mim, pensei que acreditarias em mim quando te 64

dissesse que não era meu filho, pensei que o nosso casamento era suficientemente sólido para resistir às mentiras. - Podias ter-me dito a verdade! - insistiu Jane. Não que não tinhas nada a ver, mas que Yanis era o pai. - Tens razão. Poderia tê-lo feito - Demetri olhou, sobriamente, para ela. - Mas sabes uma coisa? Naquela altura, tinha um certo orgulho e indignou-me que pudesses achar aquilo de mim, depois do que tínhamos sido um para o outro. Pensei que te darias conta do teu erro. - Esperavas que ficasse, quando sabias como me sentia? - Jane olhou, fixamente, para ele. - Claro! É o que as pessoas fazem quando se amam. Tentam resolver as coisas. Nunca me passou pela cabeça que fosses abandonar-me. Achava que nos amávamos. - Amávamo-nos. Eu amava-te - Jane estava à beira do choro. - Não vou dizer que não o tivesse lamentado depois, mas também tens de me entender. Perguntei a lanthe, supliquei-lhe que me dissesse a verdade e disse-me que te tinhas casado comigo indiretamente, que sempre se tinham amado e que era por isso que a tua mãe se opunha ao nosso casamento... - Isso é uma sordidez! lanthe nunca me interessou e ela sabe. Estava apaixonada por Yanis. Seguia-o como um cãozinho. Quando descobriu de que ia ser sacerdote, acho que ficou desesperada. Faria qualquer coisa para o impedir. Inclusive, atirar-se nos seus braços. Yanis era jovem e sentiu-se lisonjeado. Tenho a certeza de que não sabia o que ela estava a tramar. - Se me tivesses dito... - as pernas de Jane fraquejaram. - Se tu me tivesses dito que ias partir... - contra-atacou ele, com raiva. - Sabes como me senti quando voltei de uma viagem de trabalho e descobri que a minha mulher se fora embora para Londres, e, segundo a minha mãe, não pensava voltar? - Devia ter imaginado que a tua mãe tivera um papel nisto tudo. - Sim. Eu estava destroçado. Se não fosse o trabalho, teria ficado louco. - Podias ter vindo ver-me. Poderias ter-me contado sobre Yanis. - Jane...! - Demetri deixou-se cair na poltrona que havia junto da janela. - Achas que não tentei? - Não entendo... - Jane estava desconcertada. - Quando compreendi que não ias voltar, tentei ver-te, mas a tua mãe e aquela tal Ivanovitch insistiram que não querias ver-me. - Não... - Sim - replicou ele. - Deixei mensagens no atendedor de chamadas da tua mãe para que te encontrasses comigo. Inclusive, rondei pela galeria, com a esperança de me encontrar contigo, mas, ou saías pela porta de trás, ou te esquivavas de alguma forma. - Não sabia - Jane estava pálida. - Quando voltei, fiquei em casa da minha mãe e fui trabalhar para a galeria. Não entendo que não nos encontrássemos... Claro! - exclamou. - Acho que já sei o que aconteceu. Lembrou-se do pouco que lhe apetecera uma viagem a Nova Iorque que Olga lhe propusera. Acabava de chegar a Londres e só queria lamber as suas feridas. A ideia de viajar para Nova Iorque, para falar com outras galerias, era excessiva para ela. No entanto, acabara por ceder, perante a insistência de Olga, e achara que o fazia para que se distraísse e se afastasse um pouco das lembranças más. Naquele momento, entendeu qual fora a verdadeira intenção de Olga e, certamente, da sua mãe: afastá-la de Londres e de Demetri. Demetri percebeu os sentimentos que atravessaram o seu rosto ao assimilar a verdade, mas a sua reação não foi a que ela esperara. - Então - comentou ele, com resignação, - lanthe e a minha mãe não eram as únicas que queriam manter-nos afastados... - Não - Jane olhou para ele, sem pestanejar. - Lamento. - Eu também - Demetri escondeu a cara entre as mãos. - Não consigo suportá-lo. Durante este tempo todo, pensei que estavas contente com a situação. - Eu também pensei que estavas contente - Jane susteve a respiração. - Como pudeste pensá-lo? - Demetri levantou a cabeça. 65

- Porque não? Demetri olhou para ela um momento e suspirou. - Finalmente, sabemos a verdade. Já é algo. - É só isso o que te ocorre? - Jane sentiu-se indignada. - O que queres que diga, Jane? Achas que fico contente de descobrir desta maneira? Todos estes anos, todas as mentiras que nos contaram... Nem sequer sei o que queres de mim agora. Compreensão? Absolvição? Exoneração? Conta com isso, mas, sinceramente, nunca me perdoarei. - Demetri... Jane foi até ele e olhou-o com olhos ardentes. Pousou a mão na sua nuca e confirmou que tinha o cabelo molhado do suor. - Alguma vez me perdoarás por ter duvidado de ti e por ter permitido que outras pessoas estragassem as nossas vidas? Demetri não respondeu, mas sentou-a no seu colo e apoiou a cabeça na sua barriga. - Sou eu quem precisa do teu perdão. Se não tivesse sido um tolo, não terias partido. - Oxalá não o tivesse feito! - rodeou-lhe a cabeça com os braços. - Oxalá tivesse ficado! Oxalá tivesse obrigado lanthe a dizer-me a verdade! Nunca deixei de te amar. nem quando achava que te odiava. Demetri levantou a cabeça para olhar para ela. - É verdade? - as lágrimas nos olhos de Jane confirmaram-no. Não posso acreditar. - Nunca te mentiria - Jane tomou-lhe a cara com as mãos e beijou os seus lábios. - Isto convence-te? - Então, ficarás comigo? Voltarás para Kalithi para seres a minha esposa? - Se for o que queres... - Jane estava a tremer por saber que ele tinha a cabeça apoiada sobre o seu filho. - Se me amares, naturalmente. Se achares que temos um futuro juntos. -Amo-te! Demetri levantou-se e tomou-a entre os braços. Olhou para ela nos olhos e beijou-a. - Amo-te - repetiu, enquanto lhe mordiscava o lóbulo da orelha. - Claro que te amo. Porque achas que parei o processo do divórcio? O meu advogado dizia que não era uma boa ideia que voltasse a passar algum tempo contigo. Porque achas que me empenhei em que fosses a Kalithi? - Mas o teu pai... - Sim. O meu pai desejava voltar a ver-te, mas também sabia o que eu estava a fazer. Era por isso que, às vezes, se zangava tanto comigo. Sabia que te amava e que não estava a ser sincero, nem com Ariadne, nem comigo mesmo. - Tinha tantos ciúmes de Ariadne! - reconheceu Jane, enquanto lhe acariciava a face. - Não tinhas motivos. Assim que te vi, compreendi que Ariadne era uma má substituta. Além disso, tenho de reconhecer que, quando voltei, depois da explosão do Artemis, e descobri que tinhas voltado a desaparecer, me senti destroçado. Não podia acreditar que me tivesses abandonado outra vez. - Mas o teu pai devia ter-te contado o que aconteceu. - Claro, não sabes! O meu pai estava doente quando voltei para Kalithi... Acho que foi devido ao abalo da explosão. Não foi grave, mas passou alguns dias na cama. Quando se levantou, eu tinha voltado para Atenas. - Atenas? - Sim. Não tinha nenhuma necessidade, mas queria afastar-me da ilha. Voltei a pensar que só o trabalho me manteria cordato. Não conseguia comer e quase não dormia. Stefan estava muito preocupado comigo. Achava que ia beber até me matar. - Fui tão parva...! - Jane voltou a acariciar-lhe a face. - Garanto-te que não foste a única - Demetri acariciou-lhe o pescoço por debaixo do casaco. 66

Devia ter-te contado a verdade sobre lanthe assim que me dei conta de que continuava a amar-te. Mas parecias tão distante, tão contente com a tua vida... - Demetri... - Jane tremeu quando lhe acariciou os ombros e alcançou o nó do cinto do casaco. Bastava que me tocasses para que me derretesse. Não finjas que não sabias, naquele dia que foste ao meu apartamento... - Embora não acredites - ele sorriu, - não fui ao teu apartamento com a ideia de ir para a cama contigo beijou-a nos lábios e ela voltou a estremecer. - Tinha a certeza de que não querias verme, de que me ouvirias e que depois me expulsarias. - Eu? Expulsar-te? - Jane não conseguia acreditar. - Bom, se calhar não fisicamente, mas sabes o que quero dizer. Achava que te alegrarias de te livrares de mim. - Pensavas, realmente, isso? - Jane estava boquiaberta. - Se queres que te diga a verdade, só percebi quando te vi. Então, compreendi porque a minha mãe se opunha a que eu te participasse pessoalmente o divórcio. Sabia o que sentiria quando voltasse a ver-te. - E o que eu sinto - sussurrou Jane. - Quando entraste na casa de banho, quis morrer! - E eu só quis abraçar-te - Demetri desceu-lhe o casaco dos ombros e deixou que caísse no chão. - Quero abraçar-te agora. Vá lá, deixa-me demonstrar-te o quanto te desejo, o quanto te desejarei para o resto da minha vida. - Mas tens um jantar... - Theo pode tratar disso. Achas que vou deixar-te agora? Jane quase nem se lembrava do quarto principal daquela casa. Demetri e ela só o tinham usado algumas vezes no passado, quando a sua mãe estava de viagem. A mãe de Jane teria ficado ofendida se não tivessem aceitado a sua hospitalidade, embora, então, não perdesse a oportunidade de criticar a vida privilegiada de Demetri. Jane olhou à sua volta. Os tons creme e dourados tinham dado lugar a outros muito mais masculinos. - Ariadne nunca veio aqui - comentou Demetri, enquanto entrava atrás dela e a abraçava. - Já sei o que estás a pensar, mas a nossa relação limitou-se à ilha. Imagino que lá, estaria na tua casa Jane temeu que reparasse no vulto da cintura. - Não - Demetri passou-lhe os lábios pelo lóbulo da orelha. - Quando queria ir para a cama com ela, fazíamo-lo na villa. -Acho... que não me interessa... imaginar-te a fazer amor com outra. - A ir para a cama com outra - corrigiu-a ele. - Só fiz amor contigo. - Também não... houve mais ninguém na minha vida - confessou Jane. - Não sabes como isso me faz feliz. Serei egoísta, mas custar-me-ia ser tolerante com isso. - Que machista! - Sou, é verdade - agarrou-lhe na cara para que olhasse para ele. - Conseguirás perdoar-me? - Pensarei nisso - olhou para ele, maravilhada. Demetri, dás-te conta de que, se lanthe não tivesse acabado por ter uma certa consciência, talvez não tivéssemos voltado a ver-nos? - Não acredito - Demetri passou a acariciar-lhe os seios. - Porquê? Estás em Londres e não fizeste nada para me ver, não foi? - Estive com Gerrard, o meu advogado, e disse-lhe que não queria continuar com o divórcio. - A sério? - Jane olhou para ele com os olhos esbugalhados. - Sim. Decidi que, se tu quisesses divorciar-te, terias de falar comigo. Jane sentiu uma satisfação entristecedora, mas lembrou-se de outra coisa. - E o teu pai? - O meu pai sabe o que sinto por ti - agarrou no cinto que lhe fechava o casaco. - Tivemos uma conversa e disse-me que a minha mãe o fizera acreditar que Ariadne e eu estávamos apaixonados - suspirou. Também disse algo a Stefan sobre o meu pai, mas isso não nos diz respeito. 67

- Sobre o teu pai nunca reconhecer um filho de Stefan como seu neto? - Como sabes? - Demetri franziu o sobrolho. - Stefan contou-me. Falámos bastante enquanto estava em Atenas. Contou-me que estava muito magoado por o seu pai ter tão pouca fé nele. - A sério? - Demetri tentou assimilá-lo. - As coisas vão mudar e mudarão mais quando descobrir que vou nomeá-lo meu comissário. - É ideia do teu pai? - Jane estava boquiaberta. - Não, é minha. Não estou disposto a pôr em perigo outra vez a nossa relação. Durante as últimas semanas, dei-me conta de que o trabalho é bom se não tiver outra coisa na vida, mas agora tenho-te a ti. A nossa felicidade vai ser a minha prioridade. - Stefan está de acordo? - Estará. Compreenderá como estou indignado por ter passado mais tempo com a minha mulher do que eu. - Estás ciumento...? - Jane afastou os lábios. - Sim. Consumido pelos ciúmes passou-lhe a língua pelo pescoço, até chegar aos seios. - Querote só para mim. Abriu o casaco e Demetri tomou entre os lábios os mamilos endurecidos através do sutiã. - Maravilhoso! - sussurrou. - Amo-te - sugou o mamilo. Ela sentiu uma onda de desejo que foi dos seios até ao sexo, que estava húmido e palpitante. - Desejo-te - acrescentou Demetri. - Demetri... Jane tirou-lhe a gravata e abriu-lhe os botões da camisa. O seu peito apertou-se contra o dela e Jane decidiu que lhe contaria mais tarde sobre o seu filho. Fizeram amor apaixonadamente. Demetri propusera-se fazê-lo devagar, para apreciar cada instante, mas todas as suas boas intenções se dissiparam assim que ela o abraçou com aquele desejo demolidor. Desejava-a. Precisava dela. Tinham muito tempo para aperfeiçoarem algo que era quase perfeito. Tirou a colcha, deitou-a na cama e despiram-se. Ela parecia ter a mesma pressa que ele. Penetrou-a e sentiu a humidade, enquanto a preenchia com a sua dureza, mas queria que o acompanhasse em cada passo. Jane levantou os joelhos e pôs as plantas dos pés sobre o colchão para conseguir levantar as ancas. Ele ia afastar-se para se deleitar com ela, mas ela cravou-lhe as unhas nas costas e incitou-o. Precisava plenamente dele e o estremecimento do orgasmo exigia que não se afastasse. Foi maravilhoso, melhor do que nunca, porque, daquela vez, ninguém poderia interrompê-los. Tiveram a noite toda para indagarem nos prazeres do seu reencontro e, quando o clímax arrastou Jane, ela pôde ouvir o gemido de satisfação de Demetri, que a acompanhava. Ainda estava escuro quando Jane abriu os olhos. Demorou um momento a adaptar-se à penumbra, mas acendeu uma luz e deu-se conta de que Demetri estava apoiado no cotovelo e que estivera a olhar para ela enquanto dormia. - Olá! - sussurrou ele, antes de a beijar na face. Pensei que ias dormir para sempre. - Que horas são? - É quase meia-noite e meia - respondeu ele, com suavidade. - Tens fome? - Fome? - Jane passou a mão pela barriga. - Não... especialmente. - A sério? - Demetri virou-se para agarrar num copo de vinho. - Tens sede? Lamento não ter champanhe, mas o vinho branco está muito bom. - Hum... - Jane deu-se conta de que estava nua e tapou-se. - Não, obrigada. - O que se passa? - perguntou-lhe Demetri, com o sobrolho franzido. - Não se passa... nada. Demetri deixou o copo de vinho e sentou-se com as pernas cruzadas. Jane sabia que não era o momento de ser provocadora, mas também não conseguiu evitar pôr-lhe a mão entre as pernas. 68

Ele endureceu imediatamente e ela passou a língua pelos lábios. - O que se passa? - Demetri pôs a mão sobre a dela. - Diz-me. - Lembras-te do que me disseste sobre me quereres só para ti? - Claro! - o tom foi de cautela. - Pois, o que me dirias se te dissesse que, dentro de seis meses, isso vai ser impossível? - Não...! O que queres dizer? Queres que a tua mãe viva connosco? Não, Jane sorriu, não é a minha mãe, bobo! olhou para o seu corpo. - Não notaste nada diferente? Não achas que engordei um pouco desde a última vez que fizemos amor? Demetri olhou para ela nos olhos, olhou para a sua barriga e voltou a olhar para ela nos olhos. - Theos! - exclamou, com voz hesitante. - Estás grávida! - Hum...! - Jane ficou nervosa. - O que te parece? - O que me parece? - Demetri colocou-se de joelhos e tomou-lhe a barriga entre as mãos. - Eu... não posso acreditar! Quando ias contar-me? - Como podia contar-te? Achava que ias casar-te com Ariadne. - Jane! Sabias porque ia casar-me com Ariadne! - Sim, mas não conseguia suportar a ideia de que pensasses que tinha ficado grávida só para te arruinar a vida pela segunda vez. - Terias arruinado a minha vida se não me tivesses contado do bebé. Vou ser pai! - Então, estás feliz? Demetri tomou-lhe a cara entre as mãos e beijou-a apaixonadamente. - Não estou feliz. Estou na glória. A minha mulher! O meu filho! Não pode haver nada melhor. EPÍLOGO Nicolas Demetri Leonides Souvakis nasceu no dia de São Valentim. Era um menino muito grande e Jane estava esgotada, mas feliz, quando a sua família foi vê-la. Demetri acompanhou-a durante o parto e foi o primeiro a tocar no seu filho. Fora maravilhoso que Leo pudesse pegar-lhe ao colo. Na verdade, desde que Jane voltara para Kalithi e ele soubera da sua gravidez, fora como se tivesse revivido. Inclusive a mãe de Demetri, embora se tivesse oposto ao reencontro, fora incapaz de disfarçar o orgulho de ser avó. Stefan também fora ver o seu sobrinho, mas, naquele momento, estava em Inglaterra, para ir buscar a mãe e a irmã de Jane. Quanto a Olga, mandara uma mensagem, para expressar a sua alegria. Iria ver o menino numa das suas viagens frequentes à Grécia. A mãe e a irmã de Jane já tinham chegado e tinham visto o menino, mas, naquele momento, estavam na villa. Decidira-se que todos os convidados ficariam na villa e não com Jane e Demetri. Maria Souvakis insistira que a sua nora tinha de descansar. Por uma vez, antepusera os sentimentos de Jane aos próprios. Jane e Demetri só tinham ficado sozinhos quando era muito tarde. Jane dormira um pouco e tomara um duche. Quando o seu marido aparecera no quarto, ela estava relaxada e tinha um aspecto de felicidade evidente. - Estás cansada? - Demetri sentou-se na cama ao seu lado e acariciou-lhe a face. - Um pouco. E tu? Nem sequer te deitaste. - Eu não gosto de dormir sozinho - ele brincou com os botões da camisa de dormir. - Não tens de dormir sozinho... - Jane arranjou-lhe espaço na cama enorme. - Tens de dormir... - Demetri olhou para o relógio. - Tu também. Quero que fiques. Eu também não gosto de dormir sozinha. Demetri olhou fixamente para ela, levantou-se e desabotoou a camisa. Deixou-a na poltrona"e.tirou as calças. Depois, meteu-se na cama. - Vais dormir com cuecas? - perguntou-lhe ela, com voz rouca. 69

Ele tirou-as com um pontapé. - Não sei o que dirá a enfermeira, quando trouxer Nicolas para que lhe dês peito acrescentou Jane, com ironia, e Demetri fez menção de se levantar. - Não te preocupes, querido, será só inveja.

FIM

70
Fruto Do Amor-Anne Mather

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