APOSTILA CAPACITAÇÃO AIS PRONTA

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MINISTÉRIO DA SAÚDE

ÀREA TEMÁTICA III - AIS AÇÕES DE PREVENÇÃO A AGRAVOS E DOENÇAS E DE RECUPERAÇÃO DA SAÚDE DOS POVOS INDÍGENAS

PROGRAMA DE QUALIFICAÇÃO DE AGENTES INDÍGENAS DE SAÚDE (AIS) E AGENTES INDÍGENAS DE SANEAMENTO (AISAN) BRASÍLIA – DF 2016

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MINISTÉRIO DA SAÚDE Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde Departamento de Gestão da Educação na Saúde

ÀREA TEMÁTICA III - AIS Ações de Prevenção a Agravos e Doenças e de Recuperação da Saúde dos Povos Indígenas

PROGRAMA DE QUALIFICAÇÃO DE AGENTES INDÍGENAS DE SAÚDE (AIS)

BRASÍLIA – DF 2016

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rdenar a formação de recursos humanos para o Sistema Único de Saúde (SUS) por meio do planejamento, coordenação e apoio às atividades relacionadas ao trabalho e à educação na área de saúde tem sido um compromisso constante do Ministério da Saúde, sobretudo, a partir da criação da Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde (SGTES). Para garantir o direito à saúde, previsto na Constituição Federal e no âmbito de seu escopo de atuação, a SGTES realiza parcerias com as demais secretarias do Ministério da Saúde, bem como com as Escolas Técnicas do SUS (ETSUS), docentes e profissionais de saúde de instituições de ensino e de serviços de saúde. A partir dessas parcerias, a SGTES define diretrizes para a formação e qualificação dos profissionais, produzindo materiais didáticos e de apoio ao desenvolvimento dos cursos, sob a coordenação do Departamento de Gestão da Educação na Saúde (DEGES)/Coordenação Geral de Ações Técnicas da Educação na Saúde. Este material é uma ação conjunta entre a Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde (SGTES) e a Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI) em parceria com a Fiocruz Mato Grosso do Sul, a partir do reconhecimento da importância da missão do Agente Indígena de Saúde (AIS) e do Agente Indígena de Saneamento (AISAN) no contexto da qualificação das ações de saúde junto às famílias indígenas. Os AIS e os AISAN estão distribuídos em todas as regiões do país e contribuem significativamente para os avanços e as melhorias da saúde dos povos indígenas brasileiros, principalmente nas ações voltadas à redução da mortalidade infantil, cobertura pré-natal, melhorias nas condições sanitárias, acesso à água de qualidade, acompanhamento das crianças, vacinação e vigilância à saúde da população indígena em geral. Esta iniciativa pretende, portanto, contribuir e facilitar o trabalho dos AIS e AISAN na desafiadora missão diária de ser um promotor de saúde e um agente de cidadania. Com base neste objetivo central, este material didático oferece subsídios para a otimização dos seus resultados e melhor utilização das ferramentas de trabalho disponíveis. Agradecemos a todas e todos que contribuíram para a elaboração do presente material didático, trazendo os seus conhecimentos teóricos e práticos, numa construção coletiva, democrática e participativa, valorizando mais ainda o resultado final do trabalho. Desejamos, por fim, que este curso contribua para a qualificação dos AIS e AISAN, tornando-os mais preparados para o cumprimento de suas missões sociais. SECRETARIA DE GESTÃO DO TRABALHO E DA EDUCAÇÃO NA SAÚDE SECRETARIA ESPECIAL DE SAÚDE INDÍGENA

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Anabele Pires Santos Nutricionista. Especialista em Saúde Indígena – UNIFESP. Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Medicina Translacional – UNIFESP. Tutora do Curso de Especialização em Saúde Indígena - UNASUS/UNIFESP. Mariana Maciel Queiroz Membro do Projeto Xingu coordenando a Área Técnica de Saúde da Mulher. Especialista em Ginecologia e Obstetrícia - Hospital Israelita Albert Einstein, Especialista em Saúde Indígena – UNIFESP. Maurício Soares Leite Nutricionista. Mestre e doutor em Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública/ Fiocruz Professor adjunto do Departamento de Nutrição e do Programa de Pós-Graduação em Nutrição da Universidade Federal de Santa Catarina. Pablo Natanael Lemos Cirurgião-Dentista do Projeto Xingu - EPM/UNIFESP. Especialista em Saúde Coletiva, Saúde Indígena e Gestão em Saúde. Mestrando em Saúde Pública - FSP/USP. Patricia Rech Monroe Enfermeira, especialista em Desenvolvimento de Recursos Humanos em Saúde (FSP USP) Mestre em Saúde Pública (FSP USP). Professor-tutor do Curso de Especialização em Saúde Indígena - UNASUS/UNIFESP. Rui Arantes Mestre e Doutor em Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca da Fundação Oswaldo Cruz-RJ (ENSP/Fiocruz). Atua como Pesquisador Assistente na Fiocruz Mato Grosso do Sul desenvolvendo projetos na área de saúde dos Povos Indígenas. Sofia Beatriz Machado de Mendonça Médica Sanitarista. Antropóloga. Coordenadora do Projeto Xingu, programa de extensão universitária da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo EPM/ UNIFESP. Vanessa Moreira Haquim Nutricionista do Projeto Xingu - programa de extensão universitária da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo EPM/UNIFESP. Especialista em Nutrição e Saúde na Pobreza pela UNIFESP. Mestranda em Ciências da Saúde pela UNIFESP.

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INTRODUÇÃO............................................... 10 DOENÇAS DIARREICAS .............................. 15 INFECÇÕES RESPIRATÓRIAS AGUDAS ...... 36 SAÚDE BUCAL ............................................ 60 ALIMENTAÇÃO NO RECÉM NASCIDO ........ 106 MALÁRIA .................................................. 132

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esta Unidade vamos estudar sobre as características e os papéis sociais da família; a alimentação e nutrição nas famílias indígenas; o ciclo de vida e as fases que envolvem a gravidez, o parto, puerpério, o crescimento e o desenvolvimento da criança. Por fim vamos conhecer alguns agravos e doenças mais comuns na infância. Vamos refletir sobre o trabalho do Agente Indígena de Saúde (AIS), do Agente Indígena de Saneamento (AISAN) e da Equipe Multidisciplinar de Saúde Indígena (EMSI) nas atividades de prevenção, proteção e recuperação da saúde e nas ações de promoção da saúde junto com a comunidade, setores governamentais, a sociedade indígena e não indígena. Para atingir os objetivos propostos nesta Unidade, vamos conversar sobre os seguintes assuntos: - Agravos e doenças mais comuns na infância: desnutrição, anemia, infecções respiratórias agudas - IRA, doenças diarreicas e cárie; sinais e sintomas das doenças mais comuns na infância; trabalho do AIS, AISAN e demais membros da EMSI nos cuidados e prevenção dessas doenças.

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DOENÇAS DIARREICAS OBJETIVOS

• Entender porquê as doenças diarreicas acontecem mais nas crianças; • Estudar como fica o corpo doente, quais são os sinais de perigo e as complicações da diarreia • Compreender e refletir sobre o papel do AIS, AISAN, da EMSI, da família e da comunidade nas ações de recuperação, proteção, prevenção e promoção da saúde, relacionadas às doenças diarreicas.

ATIVIDADE PROPOSTA Você já acompanhou crianças com diarreia na sua comunidade? Conte como foi seu trabalho e da EMSI. Conte o que aconteceu com a criança e a família. Para seu povo, por que a diarreia acontece? Existem tratamentos tradicionais para diarreia? Existem cuidados para a criança não pegar diarreia?

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A TRANSMISSÃO E OS FATORES DE RISCO DAS DOENÇAS DIARREICAS No mundo inteiro, a diarreia acontece principalmente em famílias e comunidades que moram em lugares onde não há saneamento básico com água potável e esgoto; que não conseguem ter uma boa alimentação por falta de dinheiro ou falta de recursos naturais para plantar, pescar e caçar; e que não recebem uma boa assistência à saúde, lugares onde não há equipes de saúde, estrutura, materiais e equipamentos para o trabalho de saúde. A doença é uma das maiores causas de adoecimento e morte, principalmente em crianças abaixo de dois anos e idosos. As diarreias são causadas por vários tipos de micro-organismos, como bactérias, vírus e protozoários, e por vermes. Os micróbios (ou micro-organismos) causadores de diarreia são seres vivos muito pequenos, invisíveis para os nossos olhos. Eles vivem no intestino do ser humano e podem viver em todo o ambiente: na terra, na água, nas plantas, em animais e nos objetos que usamos. Os vermes vivem no ambiente, na terra, dentro de animais e de seres humanos. No texto “Saúde e Natureza” você vai conhecer melhor os tipos de micróbios (também chamados de microorganismos) e de vermes. Vai estudar como os cientistas não indígenas descobriram que eles existem, o ciclo de vida e também muitas doenças causadas por eles. A transmissão da diarreia acontece de muitas formas. Nas diarreias causadas por vermes e micróbios, a transmissão acontece pela via fecal-oral, quer dizer, a pessoa doente contamina o ambiente com suas fezes e a pessoa saudável leva até a boca o micróbio ou verme causador da doença, sem perceber. As fezes da pessoa doente podem contaminar a água dos rios, lagoas e poços; a terra, as plantas e a roça; os animais que se alimentam de plantas; o terreno em volta das casas; a rede, colchão, roupas, toalha, lençol e cobertor que a pessoa doente usou. Quando a pessoa doente não lava bem as mãos depois de evacuar, os micróbios das fezes ficam na sua mão e ela pode contaminar qualquer objeto que pegar, como os utensílios de cozinha, incluindo panela, balde, cuia, copos, prato, colher; os acessórios de banheiro, como vaso sanitário, botão de descarga, torneira, maçaneta da porta; toalhas, roupas, ferramentas e brinquedos.

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A mulher doente que não lava as mãos depois de evacuar pode transmitir a doença para o bebê quando vai amamentar, porque ela mexe nos seios e no bebê com a mão contaminada. A contaminação acontece quando os micro-organismos são transportados de um lugar para outro lugar ou objeto, em quantidade suficiente para causar a doença, se a pessoa entrar em contato com os micro-organismos neste novo lugar. Por exemplo, na frase “a pessoa sujou suas mãos com fezes e contaminou a maçaneta da porta e os copos em cima da mesa”. Usamos a palavra transmissão para dizer que uma doença passou de um organismo para outro, pode ser de um animal para um ser humano ou entre os seres humanos. Por exemplo: “a criança mais velha, que estava doente, transmitiu a diarreia para seus irmãos”. As moscas, abelhas, formigas, baratas, ratos, gatos e cachorros podem passar pelas fezes de uma pessoa doente e depois contaminar alimentos, água armazenada em casa e objetos. Nas diarreias causadas por vírus, a transmissão acontece também pelo contato direto, isto é, de uma pessoa doente para outra, pela saliva, espirro e tosse. Por isso, os casos de diarreia por vírus aumentam rápido e podem chegar a uma epidemia na comunidade e na Terra Indígena.

FIGURA 3: formas de transmissão

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A diarreia é uma doença que começa com a alteração repentina (que aparece de repente) no hábito intestinal. Acontece um aumento da frequência (do número de vezes) das evacuações, junto com uma diminuição da consistência das fezes, que ficam líquidas ou semilíquidas. Dizemos que a pessoa está com diarreia quando ela faz cocô mais vezes que o normal e mais mole que o normal. Em alguns casos, aparece muco (um tipo de catarro) e sangue nas fezes. A pessoa também pode ter náusea, vômito, febre e dor abdominal. A complicação mais rápida e perigosa da diarreia é a desidratação.

ATIVIDADE PROPOSTA

O que você acha que acontece no corpo humano quando ele está com desidratação? Por que ela é perigosa?

A ÁGUA EM NOSSO ORGANISMO: CONCEITO DE HIDRATAÇÃO E DESIDRATAÇÃO No conhecimento da biomedicina, o corpo humano é formado por várias estruturas e órgãos. O corpo também é formado por água. Ela está em todas as partes do corpo e no sangue. Todos os líquidos que bebemos têm água: suco, água de coco, mingau, leite, chá. As frutas também têm muita água misturada nelas. Algumas raízes, como a mandioca, batata, cará, cenoura, inhame, têm bastante água também e todos os outros alimentos sempre têm um pouco de água. Depois que ingerimos qualquer tipo de líquido e alimento, a água é absorvida no intestino durante a digestão. Então ela vai para a corrente sanguínea e se mistura com o sangue, que é composto por aproximadamente 85% de água. A água presente no sangue passa por todas as partes do nosso corpo, órgãos e tecidos, até chegar em todas as células. Ela ajuda a transportar nutrientes, hormônios e anticorpos pelo sistema linfático e circulatório. E ajuda a retirar as toxinas e venenos que as células produzem.

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O sangue também passa pelos rins, que são um tipo de filtro. Neles, toda a toxina que o corpo produz normalmente é misturada com a água do sangue e eliminada pela urina. Podemos dizer que a água em nosso corpo é um tipo de solvente, ela está misturada ao sangue, levando os nutrientes e retirando as toxinas em todo o organismo. Veja na imagem algumas funções importantes da água em nosso corpo:

FIGURA 4: funções da água no organismo humano

Em um homem adulto, o organismo precisa de quatro litros de água para realizar bem todas essas funções. Pelo sistema circulatório, o sangue faz passar por nossos rins um volume total de 1.500 litros de água a cada dia. A quantidade de água no corpo das crianças, proporcionalmente, é maior do que nos adultos: as crianças de até dois anos têm 80% de água na composição do corpo. Entre 20 e 40 anos de idade, a pessoa tem 60% de água na composição do corpo. Quando as crianças estão com diarreia e vômito perdem mais líquidos que os adultos.

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Por isso é preciso ficar muito atento quando uma criança está com diarreia. Vamos olhar dois gráficos: o primeiro mostra de que maneiras a água entra em nosso corpo. O segundo mostra como eliminamos a água do corpo, quer dizer, de que formas ela sai do nosso corpo. Veja os gráficos e converse com outros AIS da sua turma sobre o que vocês entenderam.

FIGURA 5: gráfico como a água entra em nosso corpo

FIGURA 6: gráfico como a água sai do nosso corpo

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Isso é importante para entender o conceito de hidratação e desidratação. Dizemos que o organismo está hidratado quando ele tem água suficiente para ficar saudável e manter o bom funcionamento dos órgãos. O organismo desidratado está com pouca água, que não é suficiente para manter um bom funcionamento de todos os órgãos. Quando ingerimos a mesma quantidade de água que sai do nosso corpo, conseguimos manter nossa hidratação, ficamos hidratados. Quando perdemos muita água pelas fezes, urina, transpiração ou respiração e não ingerimos o suficiente para repor, nosso corpo fica desidratado.

SINAIS E SINTOMAS DA DESIDRATAÇÃO

ATIVIDADE PROPOSTA Como podemos saber quando uma pessoa está desidratada? Você já deve ter visto uma planta seca por causa da falta de chuva ou porque alguém se esqueceu de molhar. Como ela fica? Ela fica diferente da planta normal? Por quê? O que você viu de diferente na planta seca, são os sinais de que ela não está normal. Quando o corpo humano está desidratado, também aparecem sinais de desidratação, aquilo que conseguimos enxergar de diferente no corpo da pessoa doente. Sinais de hidratação: a criança está bem hidratada quando seus olhos têm lágrimas e estão úmidos e brilhantes; a boca tem saliva e a língua está úmida; a pele está firme; a quantidade de urina está normal; o batimento do coração está normal; a respiração está normal; e ela não tem sede. A criança está alerta, presta atenção, olha e brinca quando conversamos com ela.

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Sinais de hidratação: a criança está bem hidratada quando seus olhos têm lágrimas e estão úmidos e brilhantes; a boca tem saliva e a língua está úmida; a pele está firme; a quantidade de urina está normal; o batimento do coração está normal, a respiração está normal e ela não tem sede. A criança está alerta, presta atenção, olha e brinca quando conversamos com ela. É muito importante o AIS e as famílias conhecerem os sinais de desidratação, para ficarem alertas e avisarem a EMSI sempre que uma criança com diarreia ficar desidratada.

FIGURA 7: sinais de hidratação

Sinais de desidratação: quando a criança está desidratada, sua boca e língua ficam secas; os olhos ficam fundos, sem brilho e secos; quando a criança chora, sai poucas lágrimas e pode até mesmo parar de sair lágrimas. A pele fica parecendo borracha, quando seguramos a pele com nosso dedos, fazendo uma prega, ela demora pra voltar ao normal. A criança faz pouco xixi e pode até mesmo parar de urinar. Ela fica com muita sede. A criança fica mais sonolenta ou irritada. Em casos graves, o batimento do coração fica mais rápido e a respiração fica mais profunda e rápida. Ela pode ficar prostrada, com o corpo mole e caidinha, com os olhos parados e não reage quando conversamos com ela.

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FIGURA 8: sinais de desidratação

Outra complicação importante da diarreia nas crianças é a desnutrição, principalmente quando acontecem episódios repetidos e frequentes de diarreia. Você já estudou sobre as complicações da desnutrição e como ela pode deixar a criança mais vulnerável às doenças. Mais à frente vamos estudar sobre o ciclo vicioso da diarreia e desnutrição juntas.

TIPOS DE DOENÇAS DIARREICAS Na biomedicina, falamos que as diarreias podem ser de três tipos, depende do tempo de duração da doença: • Diarreia aguda: a pessoa doente tem sinais e sintomas de um até 14 dias. • Diarreia persistente: é quando a diarreia se prolonga por mais de 14 dias, até 30 dias. • Diarreia crônica: é aquela diarreia que continua por mais de 30 dias com os sintomas ou tem três ou mais episódios de diarreia aguda no período de 60 dias. 1. Diarreia aguda É o tipo de diarreia mais comum. É uma doença autolimitada, ou seja, sua duração é de um a 14 dias, em média uma semana, e termina mesmo quando não é feito um tratamento específico. As causas mais comuns de diarreia aguda são: • Vírus: o mais frequente é chamado de Rotavirus. • Bactérias: existem muitas bactérias, ou as toxinas (veneno) que elas produzem que podem causar diarreia. A mais conhecida é a Escherichia coli. • Protozoários: o mais comum é a Giardia lamblia. • Remédios: em algumas pessoas, remédios que são usados para tratar outras doenças podem provocar diarreia. Por exemplo: alguns antibióticos, como a amoxicilina. • Alimentos: existem alguns alimentos que podem causar diarreia, principalmente se forem ingeridos em grande quantidade. Por exemplo: açúcar, balas e doces; gordura como a gordura da carne, óleo para cozinhar; frutas que não estão maduras, leite de vaca; pequi; açaí. Outro tipo de diarreia causada por alimentos é a intoxicação alimentar. Ela acontece quando ingerimos alimentos estragados, ou seja, apodrecidos ou contaminados por micro-organismos durante o seu preparo (pelas mãos ou utensílios contaminados) e pela má conservação de alimentos que ficam expostos muito tempo ao calor e ao ar. As bactérias são os micro-organismos mais comuns nas intoxicações alimentares, como a Salmonella.

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• Estado emocional: algumas pessoas quando ficam muito nervosas sentem dor de barriga e têm diarreia, mas em geral, nestes casos, ela passa rápido. • Outras doenças: às vezes a diarreia é uma alteração inicial de outras doenças, como malária, pneumonia e infecção urinária. No quadro de diarreia aguda, o intestino reage e fica inflamado, aumentando os movimentos peristálticos. Movimentos peristálticos são movimentos involuntários, realizados pelos músculos do tubo digestivo (intestinos e esôfago). Esses movimentos de contração e relaxamento dos músculos empurram devagar o bolo alimentar pelo tubo digestivo, para que a digestão aconteça no local certo. Na diarreia, os movimentos estão empurrando todo o conteúdo do intestino bem rápido, não há tempo para absorver a água, nutrientes e os sais minerais como o sódio e potássio. Com isso, aumenta o número de evacuações e as fezes ficam mais moles, até mesmo líquidas. A principal complicação da diarreia é a desidratação causada pela perda rápida de água nas fezes. Por isso, o tratamento principal é manter a criança bem hidratada, ou seja, recebendo líquido suficiente para seu organismo continuar funcionando bem. Fatores de risco para a criança ter diarreia: • Não ter água potável (tratada) para beber • Não ter boa higiene pessoal e na casa • Criança que para de mamar o leite materno antes de completar seis meses • Criança que nasce com peso baixo (menor que 2.500 Kg) • Criança desnutrida tem mais diarreia e, quando tem, é mais grave O que o profissional da EMSI examina e avalia no paciente com diarreia: Conversando com a família e com o doente. Perguntar sempre: • Qual a idade do paciente? • Que dia começou a diarreia?

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• Quantas vezes evacuou hoje? • Quantas vezes evacuou no dia anterior? • As fezes estão amolecidas ou líquidas? • Está piorando ou melhorando? • Apareceu sangue ou muco (catarro) nas fezes? • Ele comeu alguma coisa diferente? • Ele está vomitando? Quantas vezes por dia? • Está vomitando só agua ou alimentos? • O paciente está apresentando outros sinais e sintomas, como dor de barriga, dor de cabeça, fraqueza, pouca vontade de comer ou mamar? • O paciente teve febre? • O paciente tem sede? • O paciente está fazendo xixi? • O paciente já teve diarreia antes? Há quanto tempo foi isso? • Tem mais gente na casa com os sintomas? Examinando o doente. No exame físico, o profissional da EMSI verifica: • Peso e estado nutricional: teve perda de peso depois que começou a diarreia? Está desnutrido ou eutrófico? • Estado geral: o paciente está ativo, atento, tranquilo, irritado, desanimado, sonolento ou caidinho e mole (prostrado)? • Temperatura: tem febre? • Boca e língua: a boca e a língua estão úmidas ou secas? • Olhos: estão normais ou fundos? Quando chora tem lágrimas ou o olho está seco? • Prega da pele: quando faz a prega da pele, ela volta rápido ou demora?

FIGURA 9: fazendo a prega da pele: segure a pele entre dois dedos, assim… Se a pele não voltar logo ao normal, a pessoa pode estar desidratada.

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• Frequência cardíaca: está normal ou aumentada? • Frequência respiratória: está normal ou o paciente está cansado, com respiração rápida e difícil? • Abdome: o ruído dos movimentos peristálticos está aumentado? Dói quando aperta? • Mãos e pés: estão quentes ou frios? Estão úmidos e suados? • Fontanela (moleira) em bebês: está normal ou está funda? Tratamentos A diarreia aguda é uma doença autolimitada, a maioria dos casos não é tratada com medicamentos. O tratamento mais importante é manter a criança bem hidratada e evitar a desidratação, que pode matar! Se não é feita a reposição de água e de sais minerais, o corpo da criança entra em um quadro perigoso de queda de pressão arterial, perda de consciência, convulsões, coma, falência de órgãos, parada cardíaca e morte. Plano 1: tratamento do paciente sem desidratação O que fazer: - Pesar a criança duas vezes ao dia – pela manhã e à tarde, todos os dias, enquanto durar a diarreia. Anotar o horário e o peso. - Avisar a EMSI da sua área ou Polo Base assim que puder, passando o caso. - Explicar para a família a importância de dar mais água, mingau, suco natural, chá ou leite materno para a criança. - Após orientação da equipe, dar soro de reidratação oral (envelope) ou soro caseiro após cada evacuação (usar colher, copo, cuia ou seringa): • Crianças até seis meses - dar 50 ml • Crianças de seis meses a um ano - dar 100 ml • Crianças de um a dois anos - dar 150 ml • Crianças acima de 2 anos - dar 200 ml - Lembre-se de que a criança pode sentir náusea e não conseguir tomar o soro, por isso ele deve ser dado para a criança bem devagar, um pouquinho de cada vez. - Anotar o horário e a quantidade de soro que a criança tomou. - Anotar o horário quando a criança urinar, evacuar, vomitar ou se alimentar.

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- Se a criança vomitar, esperar 10 minutos para continuar o soro. - Passar para a equipe todos os registros que você fizer durante o dia sobre o que a criança ingeriu e eliminou. - A criança que é amamentada pode continuar recebendo o leite da mãe à vontade. A criança mais velha pode continuar tomando normalmente outros líquidos naturais que a família oferecer: água, mingau, suco natural, chá, água de coco. O refrigerante, suco em pó e suco de caixinha não podem ser oferecidos enquanto a criança estiver doente. Esses produtos não hidratam bem e muitas vezes pioram a diarreia. Se a criança começar a apresentar qualquer sinal ou sintoma da situação 2 (veja o quadro anterior), é preciso começar o plano de tratamento 2. Plano 2: tratamento do paciente com pouca desidratação O que fazer: - Pesar a criança duas vezes ao dia – pela manhã e à tarde, todos os dias, enquanto durar o quadro diarreico. Anotar o horário e o peso. - Avisar a EMSI da sua área ou Polo Base. A criança deve ser acompanhada pela equipe. Ou a equipe se desloca para sua aldeia ou a criança deve ser encaminhada para o Polo Base ou Unidade Básica de Saúde. A EMSI deve iniciar a Terapia de Reidratação Oral (TRO). - Iniciar a TRO: a criança deve receber o soro oral (de envelope ou caseiro) na dose correta, que é de 50 ml/kg no período de 4 a 6 horas. Por exemplo, uma criança de 6 kg precisa tomar 300 ml no período de 4 a 6 horas para repor a água e os sais minerais (sódio e potássio) que está perdendo. - A criança deve receber o soro oral aos poucos, em pequenas quantidades, várias vezes, para não vomitar. Pode ser usada colherzinha ou seringa. - Anotações e balanço hídrico: o profissional deve anotar o horário em que a TRO começou, a quantidade de soro que a criança tomou e o horário de cada tomada. Ao fim de 4 ou 6 horas a criança precisa tomar toda a quantidade calculada para o seu peso. - Deve-se anotar também a hora e a quantidade aproximada de urina e fezes que a criança eliminou. Se a criança mamar, comer ou vomitar, também deve ser anotado.

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Assim, a equipe tem um controle do balanço hídrico, ou seja, da quantidade de água ou líquidos que está entrando no organismo e da quantidade que está sendo eliminada pela criança. - Outros medicamentos: a criança pode precisar de medicamentos para febre ou para diminuir os vômitos, de acordo com a avaliação médica. Por exemplo, nas diarreias causadas por Rotavírus a criança vomita muitas vezes, por isso não consegue tomar o soro e desidrata muito rápido. Nestes casos, a equipe avalia a necessidade de usar antiemético injetável, para continuar a TRO. A Terapia de Reidratação Oral (TRO) deve ser feita sempre por uma pessoa da equipe. O AIS que recebeu treinamento pode fazer junto com os outros membros da EMSI. Durante a TRO, o soro oral não deve ser entregue à família, porque é um tratamento supervisionado. O profissional precisa dar a dose certa e anotar todas as vezes que a criança tomou, recusou ou vomitou. Quando a TRO é feita de forma supervisionada, aumenta muito a chance de a criança se recuperar e não ficar com desidratação grave, que pode matar.

“Quando a equipe de saúde, junto com o AIS, sabe explicar bem sobre a importância do soro oral, sobre a doença e o que a desidratação faz no corpo da criança, a família entende que o soro é um tipo de tratamento... É remédio mesmo, não é só água para encher a barriga da criança... Mas precisa paciência para explicar, mostrar a doença no filme, na foto... Tem mãe que não quer dar o soro porque ela acha que a diarreia vai piorar com essa água. Na nossa cultura, não é bom tomar água pura quando tem diarreia, isso é novidade para nós. Pode tomar mingau e alguns tipos de sucos, não é qualquer fruta que pode. Mas se a gente explicar do jeito certo e se mãe ver que tem um resultado, que a equipe fica lá com a criança direto, dando o soro devagar e acompanhando, ela vai confiar. Mas se o enfermeiro vai lá na casa, deixa uma jarra de soro com a mãe e vai embora, para ela isso é igual a uma jarra de água mesmo”. Fonte: Depoimento de AIS. Relatório de oficina de vigilância da saúde, Projeto Xingu/ UNIFESP, 2004

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Após o período da TRO, depois que a criança receber toda dose de soro calculada, deve-se continuar dando o soro oral depois de cada evacuação, seguindo as doses: • Crianças até seis meses - dar 50 ml • Crianças de seis meses a um ano - dar 100 ml • Crianças de um a dois anos - dar 150 ml • Crianças acima de dois anos - dar 200 ml A criança que é amamentada pode continuar recebendo o leite da mãe à vontade. A criança mais velha pode continuar tomando normalmente outros líquidos naturais que a família oferecer: água, mingau, suco natural, chá, caldos ou água de coco. Se a criança em tratamento continuar piorando, ou se o caso já chegar para você com sinais e sintomas da situação 3 do quadro anterior, é preciso começar o plano 3. Plano 3: tratamento do paciente com desidratação grave O que fazer: - Pesar a criança. Anotar o horário e o peso. - Avisar a EMSI da sua área ou Polo Base. A criança deve ser encaminhada imediatamente. Se não conseguir falar com a equipe, remova a criança de qualquer jeito para a sua referência. - Enquanto isso, tente dar o soro oral aos poucos, mas não insista se a criança estiver vomitando muito. - Durante o transporte da criança para o Polo Base ou Unidade Básica de Saúde, anotar se teve vômitos, o número de evacuações, se está urinando, se está mamando, aceitando alimentos ou líquidos. - Durante a viagem de remoção, oriente a mãe a proteger a criança do sol, porque ela perde mais água pelo suor, ficando desidratada mais rápido. - Hidratação venosa: a criança deve receber o soro na veia, prescrito e administrado pela EMSI. Outros medicamentos injetáveis para febre e vômitos podem ser usados, de acordo com a necessidade e a avaliação da equipe. Tratamento com antibióticos e antiprotozoários Algumas diarreias agudas causadas por bactérias e protozoários precisam de tratamentos específicos. A EMSI deve avaliar o caso.

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2. Diarreia persistente A duração desse quadro é de 14 a 30 dias e, geralmente, a causa é infecciosa, ou seja, causada por bactérias ou protozoários. Acontece principalmente com crianças desnutridas e abaixo de três anos. O corpo da criança desnutrida é mais fraco, não tem proteção contra os micro-organismos. Quando a criança desnutrida tem uma diarreia persistente, ela não consegue absorver bem os nutrientes dos alimentos, assim perde peso e piora a desnutrição. Por outro lado, a desnutrição também causa uma piora da diarreia persistente. Chamamos isso de círculo vicioso da doença. É muito grande a chance de uma criança desnutrida morrer quando tem uma diarreia persistente, sem acompanhamento e sem tratamento. Para recuperar a saúde da criança, é preciso quebrar esse círculo vicioso. Isso só é possível se os profissionais de saúde, família e comunidade trabalharem juntos, para o tratamento e acompanhamento da criança e nas ações de vigilância nutricional, vigilância em saúde e segurança alimentar que já conversamos em outros textos. 3. Diarreia crônica É a diarreia que dura mais de 30 dias ou quando ocorrem três ou mais episódios de curta duração num período de dois meses. Pode ser causada por parasitoses, como amebíase ou giardíase; alergia ao leite de vaca; ou pode ser sinal de outras doenças mais graves. A equipe deve ser avisada e ficar atenta para identificar, avaliar e acompanhar um caso de diarreia crônica. Em geral a diarreia crônica cursa junto com a desnutrição. IMPORTANTE Preparo do soro de reidratação oral O SRO (soro de reidratação oral) é embalado em um pequeno pacote ou envelope protegido da luz. É um pó para solução oral. Após a diluição em 1 litro de água, sua composição é de glicose, cloreto de sódio, cloreto de potássio e citrato de sódio. Além da água, o SRO também repõe alguns sais minerais (sódio e potássio) muito importantes para o funcionamento de todo o corpo, músculos, coração e cérebro. Ele contém um pouco de glicose, para oferecer energia para o organismo. Cuidados durante o preparo do soro de reidratação oral: • Verificar a data de validade do pacote e se ele está limpo e seco. Não usar o soro se ele estiver com data de validade vencida ou se a embalagem estiver úmida, suja ou aberta.

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• Usar uma vasilha, jarra ou outro tipo de recipiente com tampa que mostre a medida de 1 litro. Lembre-se de lavar bem o recipiente com água e sabão. Se não houver tampa pode ser usado papel toalha, gaze ou outro tipo de material limpo e seco para manter o frasco tampado. • Usar somente água fria, filtrada ou fervida. Se usar agua fervida, precisa esperar ela esfriar para misturar o pó. • Respeitar o volume total de 1 litro e misturar bem todo o conteúdo do pacote. • Não ferver o soro depois de preparado. • Não misturar nenhum outro ingrediente, como açúcar. • Anotar a data e a hora em que foi preparado. Após o preparo, o soro pode ficar em temperatura ambiente (15ºC a 30ºC) e deve ser usado em até 24 horas. Após esse tempo, jogar fora o que sobrou e preparar outro pacote. Como preparar o soro caseiro Se faltar o envelope de SRO, pode ser usado o soro caseiro, apenas em último caso, se não tiver outro jeito de hidratar a criança. • Lave bem as mãos com água e sabão. Pegue um copo limpo, de 200 ml, com água fria que esteja filtrada ou fervida. • Acrescente um punhado de açúcar (com a mão fechada) e uma pitada de três dedos de sal. Misture bem. Você também pode utilizar a colher-medida, distribuída nos postos de saúde: • Lave bem as mãos com água e sabão. Pegue um copo limpo, de 200 ml, com água fria que esteja filtrada ou fervida. • Misture duas medidas rasas de açúcar e uma medida rasa de sal. Para fazer certo a medida rasa, encha a medida da colher, passe a uma espátula ou as costas de uma faca, retirando o excesso de sal ou açúcar. É muito comum as pessoas acreditarem que dar algo para beber pode piorar a diarreia. É fácil pensar isso, quando se vê as fezes líquidas numa criança, mas os líquidos naturais não causam diarreia. Ela vai continuar mesmo que a pessoa não beba líquidos. Mas dar líquidos ajuda a pessoa a ficar forte e a sair do quadro de desidratação, que pode matar. Também ajuda a “limpar” o sistema digestivo, retirando micro-organismos. O AIS e a EMSI têm um trabalho muito importante de orientar e ajudar as famílias a conhecerem e entenderem mais sobre os perigos da desidratação.

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Espaço para registro de palavras novas Anote aqui palavras do texto que você não conhece e pesquise o significado com seus professores, colegas e no dicionário.

O QUE O AIS E O AISAN DEVEM FAZER? Ações de prevenção individual e ações de promoção da saúde coletiva relacionadas às doenças diarreicas: • Melhoria da qualidade da água. • Destino adequado de lixo e dejetos. • Ações de controle de moscas, formigas e baratas. • Medidas de higiene individual e de manipulação de água e alimentos. • Orientação dos familiares da criança doente para não transmitir a doença. • Ações de educação em saúde, particularmente em áreas de elevada incidência de diarreia. • Participar da articulação com escolas, lideranças, mulheres, associação indígena, para o desenvolvimento de ações coletivas, como mutirões de limpeza e ações educativas. • Explicar sobre o que acontece com o corpo da pessoa com diarreia e desidratação, para entenderem a importância da terapia de reidratação oral. • Verificar com a EMSI se está acontecendo a vacinação contra o Rotavirus. Esta vacina ajuda a controlar os surtos de diarreia causados por este vírus. Rotavírus, em geral, causa quadros graves, de transmissão rápida para um número grande de crianças e aldeias. Ações de acompanhamento e recuperação da saúde da criança com diarreia: • Vigilância das doenças diarreicas. • Conhecer sinais e sintomas das complicações. • Acompanhar as consultas e visitas da equipe, buscando tirar dúvidas, aprender e exercitar. • Registro dos casos de diarreia. • Comunicação com a equipe.

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INFECÇÕES RESPIRATÓRIAS AGUDAS (IRA) Patricia Rech Monroe e Sofia Beatriz Machado de Mendonça.

OBJETIVOS • Entender porquê as infecções respiratórias agudas afetam mais as crianças; • Estudar como fica o corpo doente, os sinais de perigo e as complicações das doenças respiratórias agudas; • Compreender e refletir sobre o papel do Agente Indígena de Saúde (AIS), da Equipe Multidisciplinar de Saúde Indígena (EMSI), da família e da comunidade nas ações de recuperação, proteção, prevenção e promoção da saúde relacionadas às doenças respiratórias agudas.

ATIVIDADE PROPOSTA Quais são as doenças respiratórias que você conhece? Para seu povo, por que elas acontecem?

SISTEMA RESPIRATÓRIO: TRANSMISSÃO, SINAIS E SINTOMAS DAS IRA As doenças respiratórias são um conjunto de doenças causadas por micro-organismos e outros agentes, como poluição, substâncias tóxicas, fumaça e cigarro, que atacam o caminho do ar, que chamamos de sistema respiratório. Essas doenças podem ser AGUDAS ou CRÔNICAS.

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As doenças ou Infecções Respiratórias Agudas (IRA) têm início rápido e duram em média sete dias. A gripe, o resfriado, a pneumonia, a otite média aguda e a amidalite são exemplos de IRA. Sempre são causadas por micro-organismos, como vírus, bactérias e fungos. As Doenças Respiratórias Crônicas demoram mais para apresentar sinais e sintomas; melhoram e voltam ao longo da vida; são mais difíceis de tratar e curar. Geralmente são causadas pela poluição, poeira, fumaça e cigarro. São exemplos a asma, a rinite alérgica e a doença pulmonar obstrutiva crônica. Neste texto, não vamos estudá-las, pois não acontecem tanto nas crianças, como as IRA. Para entender melhor como as Infecções Respiratórias Agudas atacam nosso organismo, vamos estudar agora o caminho do ar, ou sistema respiratório. O caminho do ar: o sistema respiratório O sistema respiratório é o conjunto de órgãos que fazem a entrada, a filtração, o aquecimento, a umidificação e a saída do ar do nosso organismo. A respiração e a troca dos gases acontecem nos pulmões, mas para o ar chegar lá deve percorrer várias partes de uma estrutura, que recebe o nome de vias aéreas, ou caminho do ar. As vias aéreas são divididas em via aérea superior e via aérea inferior. A via aérea superior tem a função de preparar o ar do meio ambiente para entrar nos pulmões, ou seja, filtrar, esquentar e umidificar o ar. Cada componente da via aérea superior trabalha realizando uma atividade. A via aérea superior é formada por: nariz, orofaringe, laringe, ouvidos e seios da face. Nariz - a parte de dentro se chama cavidade nasal. As laterais do nariz recebem o nome de asa de nariz. A cavidade nasal possui pelos que são importantes para filtrar, umedecer e esquentar o ar. Orofaringe - é um tubo que começa na cavidade nasal e segue para baixo, no pescoço. A porção de cima da faringe tem uma comunicação com o canal do ouvido. A parte de baixo tem comunicação com a boca e serve de passagem para o ar e os alimentos. As amídalas ficam na orofaringe e protegem contra a entrada de vírus e bactérias. Laringe - é um tubo curto que liga a faringe na traqueia. A laringe tem uma tampa chamada epiglote que não deixa o alimento entrar na traqueia. Na laringe temos as cordas vocais, por onde o ar passa e produz a voz e a fala. Seios da face - são cavidades (buracos) cheias de ar que ficam dentro dos ossos da face. Nestes seios da face também pode acontecer uma inflamação ou infecção, chamada sinusite.

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FIGURA 10: Via aérea superior

A via aérea inferior tem a função de continuar a levar o ar até os pulmões. É formada pela traqueia e pelos brônquios. Traqueia – é um tubo que entra no tórax e se divide em dois brônquios. Por dentro, a traqueia é forrada por mucosa e pequenos pelos chamados cílios, que têm a função de expulsar a poeira, micro-organismos e secreção. Brônquios – são dois tubos que entram no pulmão e se dividem em bronquíolos, que continuam se dividindo em muitos tubos, que vão ficando cada vez mais finos, até formar os alvéolos, que é o local do pulmão onde acontece a troca de gases, entrando oxigênio e saindo gás carbônico do sangue. Perto dos alvéolos passam vasos de sangue muito finos. Os vasos de sangue trazem o gás carbônico do corpo, jogam o gás carbônico nos alvéolos e recebem o oxigênio dos alvéolos, para levar para todo o corpo. Pulmões – são dois órgãos localizados um de cada lado do tórax, vão do diafragma até um pouco acima das clavículas. Cada pulmão pesa aproximadamente 700 gramas e está cheio de pequenos saquinhos chamados alvéolos, por onde o ar entra e sai, onde ocorre a troca gasosa.

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Pleuras – são membranas de dupla camada que envolvem e protegem cada pulmão. Entre as pleuras há um pequeno espaço, chamado de espaço pleural, que contém um líquido lubrificante que facilita o movimento da respiração. Diafragma – é um músculo que separa o tórax do abdome, ele é muito importante para fazer o movimento de inspiração e expiração.

FIGURA 11: Sistema respiratório e via aérea inferior

A função mais importante do sistema respiratório é fazer a troca de gases entre o ar do meio ambiente e o nosso corpo. O ar tem oxigênio, que entra pelo caminho do ar, chega nos pulmões e vai para o sangue. Para a biomedicina, o oxigênio é um tipo de gás que funciona como um dos combustíveis do nosso corpo. Ele é carregado pelo sangue e é usado em todas as células. Dentro delas, o oxigênio e o alimento são queimados, produzindo energia e calor. Durante essa queima, as células também produzem gás carbônico, que é tóxico, ou seja, venenoso. Por isso, esse gás precisa sair do corpo, primeiro pelo sangue e depois pelo caminho do ar. Nosso corpo é parecido com o motor, a gasolina é o oxigênio, a fumaça é o gás carbônico.

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A respiração acontece em duas etapas: inspiração e expiração. Inspiração: o ar entra pelo caminho do ar, levando oxigênio para o pulmão e depois para a corrente sanguínea. Expiração: da corrente sanguínea, o ar passa para os pulmões, até chegar no nariz, levando para fora o gás carbônico.

FIGURA 12: Inspiração e expiração

Além do oxigênio, o ar que respiramos contêm muitos outros tipos de gases, alguns fazem bem e outros são tóxicos. Por exemplo, em lugares com muitos carros e indústrias, o ar fica carregado de gases tóxicos, liberados pelos combustíveis e motores. As queimadas também liberam gases tóxicos, que parecem sufocar quando respiramos. O ar também carrega muitos tipos de micro-organismos, pequenos e invisíveis, como bactérias e vírus. Alguns desses microorganismos podem causar doenças em várias partes do sistema respiratório. Vamos conversar sobre essas doenças?

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A transmissão e os fatores de risco das Infecções Respiratórias Agudas (IRA) A transmissão das IRA acontece de uma pessoa doente para uma pessoa sadia, pelo ar carregado de vírus e bactérias, ou quando uma pessoa sadia entra em contato com um objeto contaminado. A contaminação acontece quando a pessoa doente tosse ou fala perto de outra pessoa, pelas mãos das pessoas ou objetos contaminados por micro-organismos. Por exemplo: nebulizador sem limpeza adequada, pratos, copos, talheres, cuias, panelas, brinquedos, chupeta, mamadeira, panos e lenços. As Infecções Respiratórias Agudas são as doenças que mais atacam a população indígena no Brasil, principalmente as crianças. É a principal causa de morte em crianças menores de dois anos de idade. Várias situações facilitam o ataque das IRA em populações indígenas: • Ocorrência de várias epidemias de gripe, uma após a outra, e intensa movimentação das pessoas. Nas Terras Indígenas onde há maior trânsito de pessoas da cidade para as aldeias acontecem mais surtos de gripe, porque na cidade tem muitos doentes. Os surtos de gripe fazem a doença se espalhar muito rápido e algumas crianças, mais vulneráveis, podem desenvolver um quadro mais grave e até a pneumonia. • Hábitos e costumes: crianças sem roupa no inverno, banhos de rio no frio, exposição à chuva e frio, uso de fogueira dentro de casa. • Casas grandes, com pouca ventilação, onde moram muitas pessoas: dependendo da arquitetura da casa, o ar não circula. Se muitas pessoas moram juntas, a chance de ter um doente é maior. O doente libera no ar os micro-organismos. Como o ar fica parado dentro de casa, é maior a chance de outra pessoa respirar micro-organismos junto com o ar. • Idade: crianças e idosos têm mais chances de desenvolver uma infecção respiratória grave, porque seu sistema de defesa não é tão forte quanto o do jovem e o dos adultos. O recém-nascido e o bebê até três meses de idade têm maior chance de morrer com uma infecção respiratória, principalmente a pneumonia. • Desnutrição: como já estudamos, crianças desnutridas tem menos força e defesa para se protegerem de doenças infecciosas, como a gripe e pneumonia. Elas pegam essas doenças mais fácil que outras crianças.

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Quando estão doentes, as crianças desnutridas também demoram mais para se recuperar e têm mais chances de evoluir para casos graves e até morrer. • Falta de informação das famílias sobre os cuidados para evitar ou mesmo perceber as complicações das IRA; falta de explicações e de ações educativas que poderiam ser feitas pelos AIS, AISAN, EMSI e professores. • Diagnóstico tardio das IRA complicadas, como as pneumonias, por falta de profissional capacitado; falta de materiais e insumos. • Falta de conversa da equipe de saúde com os especialistas tradicionais que estão mais próximos das crianças, nas aldeias, e que poderiam ajudar a tratar e a encaminhar, junto com o AIS, os casos de IRA antes de ficarem graves. Os sinais e sintomas mais comuns das Infecções Respiratórias Agudas Febre A febre sozinha não é uma doença, é uma reação do organismo tentando se defender dos micróbios que estão provocando a doença. O jeito correto de saber se a criança está com febre é usando um termômetro, que vai mostrar uma temperatura maior ou igual a 37,5 °C. Durante a febre, a criança perde líquido pela pele, suor e respiração, podendo ficar desidratada. Por isso, é importante dar bastante líquido para a criança, colocar panos molhados com água na testa e embaixo dos braços, deixar a criança com pouca roupa e longe do fogo. É preciso usar medicação para baixar a febre porque a criança que fica muito tempo com febre alta pode ficar desidratada ou ter convulsões. Convulsão ou ataque é quando a criança apresenta contrações musculares súbitas, fortes e incontroláveis por todo corpo, até desmaiar e perder a consciência. Nariz escorrendo ou coriza nasal O nariz é a porta de entrada do sistema respiratório, por isso, é o local onde acontece o começo da infecção. Logo que os vírus ou bactérias encostam na mucosa nasal, que é a pele da parte interna do nariz, começa um mecanismo de defesa. Começa uma grande produção de secreção, nesta secreção estão anticorpos e outras substâncias que vão tentar combater os micróbios responsáveis pelas doenças respiratórias.

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Por isso o nariz fica cheio de secreção, ou coriza, deixando a criança irritada, com dificuldade para respirar, dormir e se alimentar. É importante a família manter o nariz da criança sempre limpo e desentupido, para que ela consiga se alimentar e para evitar complicações da infecção em outras partes do sistema respiratório, que falaremos mais à frente. Quando a criança está gripada ou com resfriado é importante hidratar bem, dar bastante líquido para que a secreção seja bem fluida, molinha, porque se a criança não estiver bem hidratada essa secreção pode ficar mais grossa e atrapalhar mais o caminho do ar, piorando o quadro da gripe. Dor de ouvido É uma queixa muito comum. Existem vários tipos de dor de ouvido. A dor pode acontecer quando a parte interna do ouvido está inflamada. A dor na parte externa do ouvido também pode acontecer por causa de água, sujeira, insetos ou uma infecção. Quando a criança menor de dois anos tem dor de ouvido não consegue mamar direito, ela solta o peito da mãe porque ao abrir a boca movimenta também o canal do ouvido. Isso pode ser um sinal de infecção no ouvido em crianças pequenas, que não conseguem falar onde dói. Dor de garganta Acontece quando as amídalas ou a faringe estão inflamadas. As amídalas são massas de tecido esponjoso, localizadas atrás da língua, na entrada das vias respiratórias, nos dois lados da garganta. Elas são muito suscetíveis à infecção por micro-organismos e agem como filtros, impedindo que infecções da garganta, boca e seios da face se espalhem para o resto do corpo. As amídalas também são responsáveis pela produção de anticorpos, que ajudam a combater as infecções na garganta e no nariz.

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FIGURA 13: Amídalas inflamadas

Tosse A tosse é um reflexo do organismo. Ela joga para fora das vias aéreas qualquer tipo de substância estranha, como muco, secreção ou partículas que entram junto com o ar que respiramos. A tosse é importante para o bom funcionamento do pulmão, pois é assim que as substâncias estranhas, como poeiras, bactérias ou até mesmo pedaços de alimentos (quando a pessoa engasga), são eliminadas do sistema respiratório. Assim como a respiração, o movimento da tosse ocorre de forma automática, ou seja, sem a pessoa pensar. Mas a pessoa também pode forçar a tosse quando sente que tem alguma coisa atrapalhando o caminho do ar. Não se deve dar remédios específicos para cortar a tosse porque ela é um tipo de defesa quando a pessoa está com uma IRA. Existem várias doenças que podem causar tosse, além das Infecções Respiratórias Agudas. Se a tosse demorar muitos dias, ou tiver características diferentes da gripe comum, o caso precisa ser avaliado pela EMSI. Taquipneia ou respiração rápida Quando a criança respira mais vezes por minuto para conseguir o ar que precisa, dizemos que ela está com taquipneia. Isto acontece porque as suas vias respiratórias estão cheias de catarro produzido pela infecção.

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A respiração rápida é um sinal de que a IRA está piorando, atacando os pulmões e atrapalhando a troca de oxigênio e gás carbônico. Para saber a frequência respiratória e se a criança está com taquipneia, o profissional de saúde conta os movimentos respiratórios durante um minuto. A contagem é feita escolhendo uma das etapas do movimento respiratório, ou seja, conta-se somente a inspiração durante um minuto ou somente a expiração. Chamamos de frequência respiratória o número de vezes que a pessoa respira em um minuto. Para contar a frequência respiratória na criança, é mais fácil contar a inspiração, quando ela puxa o ar para dentro dos pulmões. Cada idade tem uma frequência respiratória normal. Os bebês respiram mais rápido que as crianças maiores. Para saber se a criança está com taquipneia ou com a frequência respiratória normal, o profissional de saúde precisa saber os números do quadro abaixo. A respiração rápida, ou taquipneia, é o sinal mais importante de pneumonia.

CUIDADOS NA CONTAGEM DA FREQUÊNCIA RESPIRATÓRIA - A criança tem que estar calma ou dormindo, sem chorar, de preferência no colo da mãe. - A criança não pode estar com febre (ela aumentaafrequênciarespiratória). Precisabaixar a febre primeiro e depois contar a frequência.

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- Em recém-nascidos, a obstrução nasal (nariz entupido) causa dificuldade respiratória que pode ser confundida com taquipneia. Precisa limpar o nariz da criança com soro fisiológico ou água antes de contar a frequência. Tiragem intercostal É o afundamento da parte de baixo do tórax, quando a criança puxa o ar, quando ela inspira. Dá para ver um espaço entre ossos da costela. Isto acontece porque os pulmões estão cheios de secreção e a criança tem que fazer mais força para respirar e conseguir oxigênio do ar. A tiragem intercostal é um sinal de piora da doença, um sinal de pneumonia grave.

FIGURA 14: Tiragem intercostal

Chiado no peito É um som que a gente escuta quando o ar passa pelas vias aéreas inferiores (traqueia, brônquios e bronquíolos) que estão mais apertadas que o normal, dentro dos pulmões. O barulho parece um assobio. As vias aéreas inferiores podem estar apertadas por causa do acúmulo de catarro ou pelas contrações da musculatura dos brônquios que chamamos broncoespasmo.

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Tipos de Infecções Respiratórias Agudas As IRA recebem um nome de acordo com as partes do caminho do ar que foram afetadas. Para cada tipo de IRA existem sinais e sintomas específicos, como mostra no quadro abaixo:

As IRA são classificadas de acordo com sua gravidade e tratamento. Veja o quadro abaixo:

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O QUE O PROFISSIONAL DA EMSI DEVE PERGUNTAR E EXAMINAR NO PACIENTE COM IRA 1. Conversando com a família e com o doente, devemos perguntar sempre: • Qual a idade do paciente? • Que dia começaram os sintomas? • Está piorando ou melhorando? • Está com febre? • O nariz está escorrendo? • Está com tosse? • Está com dificuldade para respirar? Está cansado? • A tosse tem catarro? Como é o catarro? Qual é a cor do catarro? • A garganta está doendo? • O ouvido dói? • Está comendo ou mamando normalmente? Parou de comer? Desde que dia? • O paciente já teve IRA antes? Há quanto tempo foi isso? • Tem mais gente na casa com os mesmos sintomas? • O doente tem outros problemas, com fezes, vômito, feridas? 2. Examinando o doente: no exame físico, o profissional deve avaliar: • Estado geral: o paciente está ativo, irritado, desanimado, sonolento ou “caidinho”? • A criança está “caidinha”? Gemendo? • Verificar a temperatura: normal, com febre ou hipotermia? • Baixar a febre antes do exame, pois como já vimos a febre aumenta a frequência respiratória. • Esperar a criança ficar calma, mamando ou dormindo. • Quando a criança estiver calma e tranquila você pode prosseguir o exame. • Frequência cardíaca: está normal ou aumentada? • Frequência respiratória: está normal ou aumentada? • O paciente está cansado, com respiração difícil? • Tem tiragem intercostal? • Tem chiado no peito? Faz barulho quando respira? • Peso e estado nutricional: verificar se a criança teve perda de peso depois que começou a doença. Está desnutrida ou eutrófica (com peso adequado)?

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• Verificar a presença de gânglios aumentados (pequenas bolinhas no pescoço, axilas e acima das clavículas). • Oroscopia (exame da boca e garganta): está avermelhada (hiperemia), inchada (edema) ou com placas de pus? • Ausculta pulmonar (com estetoscópio): o exame deve ser feito com o nariz limpo. A ausculta mostra se o pulmão está sem ruídos ou com sibilos, roncos e estertores, que são ruídos que mostram vários tipos de alterações quando o ar passa pelos pulmões. • Verificar se a barriga está distendida (cheia, inchada). • Mãos e pés: estão quentes ou frios?

SINAIS DE GRAVIDADE NAS CRIANÇAS COM IRA – RISCO DE MORTE Febre com temperatura maior que 37,5º C ou hipotermia (quando a temperatura é muito baixa, inferior a 35,5 º C), em crianças menores de três meses e desnutridas. • Insuficiência respiratória: grande dificuldade para respirar e respiração muito rápida. • Criança sonolenta, com dificuldade para acordar ou inconsciente (a criança não acorda). • Criança não aceita leite materno, nem líquidos ou comida. • Muita palidez da pele e mucosas: a pele, os lábios e a boca ficam sem cor, brancos. • Cianose: a pele, os lábios e a boca ficam azulados, escuros. • Estridor: forte barulho ao respirar, dá para ouvir este ruído mais forte na altura da laringe. • Desnutrição grave: pesar e olhar no gráfico. • Edema generalizado: inchaço de todo o corpo, principalmente pernas e braços. • Convulsões. • Desidratação. • Crises de parada respiratória (apneia).

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O que fazer quando existe suspeita de pneumonia e IRA grave, sem presença da EMSI no local? Se uma criança da aldeia está com suspeita de pneumonia, com sinais e sintomas de infecção respiratória grave, o AIS e AISAN devem: • Comunicar o médico e o Polo Base logo e providenciar a remoção do doente para o Polo Base ou a vinda de um profissional da EMSI. • Manter a criança seca e aquecida com cobertor, longe do fogo e protegida do sol. • Manter a criança alimentada, se ela aceitar. • Abaixar a febre com banhos, pano com água fria ou antitérmico, com orientação da EMSI. • Hidratar a criança com soro de reidratação oral, se tiver diarreia ou sinais de desidratação. • Iniciar tratamento com antibiótico ou outros medicamentos somente com orientação do médico ou enfermeiro.

CUIDADOS GERAIS COM A CRIANÇA QUE ESTÁ COM INFECÇÃO RESPIRATÓRIA AGUDA 1. Crianças com IRA leves: gripe, amidalite viral, otite externa: • Não precisam tomar antibióticos! Esses medicamentos não aliviam os sintomas, muito menos curam nem previnem o aparecimento de uma pneumonia. • Podem tomar medicamentos para aliviar sintomas de febre e dor, como antitérmico, analgésico, remédios tradicionais, banhos e chás. • Para aliviar a dor de garganta podem ser usados remédios tradicionais, dependendo de sua cultura, como chá de romã, guaco, mel, própolis, gengibre etc. • Tomar bastante líquidos naturais: leite materno, suco natural, mingau, água, chá, água de coco. Os líquidos hidratam o corpo, repõem a água perdida pelo calor da febre e pela respiração e ainda ajudam a amolecer a secreção e o catarro para saírem mais fácil pela tosse.

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• Não deixar acumular secreção e catarro no nariz e nas vias aéreas inferiores. Mais à frente vamos falar sobre a importância da limpeza nasal, da tapotagem e da inalação com água quente. • Não deixar a criança muito perto do fogo ou exposta ao sol forte e ao vento: tudo isso piora a febre e os sintomas. • Não tomar banho muito frio. Se não tiver luz elétrica, aquecer a água para banhar ou levar ao banho de rio quando a água estiver mais quente. • Depois do banho, secar bem a criança, lembrar das dobras do corpo e orelha, para não ficarem úmidas. • Receber boa alimentação. Este é outro cuidado muito importante, do qual vamos falar mais à frente. • Otite externa: no banho, não deixar entrar água no ouvido. 2. Crianças com IRA moderadas: pneumonia, amidalite bacteriana, otite média aguda, sinusite, bronquiolite • Precisam receber antibióticos prescritos pelo médico e ser avaliadas pela EMSI várias vezes ao dia. De preferência, devem ser levadas ao Polo Base por pelo menos 48 horas. Depois disso, se a criança estiver melhorando, deve ser reavaliada três vezes ao dia pela equipe. A febre pode continuar por até três dias após o início do antibiótico. Quando a criança está melhorando, a febre fica mais baixa e demora mais para aparecer; a respiração fica mais lenta e fácil; a criança volta a comer e a mamar. • Todos os outros cuidados para as crianças com IRA leve devem ser feitos com as crianças que estão com IRA moderada: medicamentos para aliviar febre e dor; líquidos naturais à vontade e soro de reidratação oral (se tiver sinais de desidratação); limpeza nasal, tapotagem e inalação com água quente; proteção contra frio, sol, vento e umidade; boa alimentação. Tapotagem: é uma manobra com as mãos, dando batidas fracas nas costas da criança, que serve para soltar a secreção dos pulmões. Na pneumonia, acumula-se muita secreção grudada dentro dos pulmões e isso atrapalha a respiração. A mãe ou outras pessoas da família podem aprender e ajudar a fazer a tapotagem.

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COMO FAZER A TAPOTAGEM • Colocar a criança deitada de barriga para baixo no colo da mãe ou na cama em um travesseiro, com a cabeça um pouco mais baixa que o resto do corpo. • Com a mão um pouco fechada, formando uma concha, dar leves palmadas no tórax da criança. • Começar as palmadas na parte de baixo do tórax até chegar em cima. • Limpar a secreção que sair do nariz. • Fazer cinco vezes no lado esquerdo e cinco vezes no lado direito do tórax, durante mais ou menos cinco minutos • Podefazeratapotagemváriasvezesaodia, depreferência depois que a criança fez inalação, porque o catarro está mais mole e fácil de sair. • Não fazer a tapotagem logo depois que a criança mamar ou comer, pois ela pode vomitar. Depois de comer, esperar uma hora para fazer a tapotagem.

FIGURA 15: Tapotagem

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Limpeza nasal A limpeza nasal é importante para uma recuperação mais rápida da criança e para prevenir complicações. Quando a criança está com IRA leve, o caminho do ar e os pulmões ficam cheios de micro-organismos (vírus ou bactérias). Se o ar entra e sai fácil por todo sistema respiratório, ele também ajuda a limpar esses micro-organismos, carregando-os para fora do corpo quando a criança expira. Com poucos micro-organismos dentro do caminho do ar, o organismo se defende mais fácil e a criança se recupera mais rápido. Se o ar não está chegando bem porque o caminho do ar está entupido por secreção e catarro, a doença vai piorando nos pulmões da criança, porque vai aumentando o número de microorganismos. Se o nariz fica entupido, começa a aumentar o número de micro-organismos na secreção, porque eles se reproduzem bem em lugares quentes e úmidos. Eles podem ir para os pulmões, causando pneumonia; para os seios da face, causando sinusite; ou para os ouvidos, causando otite. Quando o nariz está entupido, a criança começa a respirar pela boca, então a garganta fica seca, vermelha e dolorida. A criança com o nariz entupido não consegue mamar direito, por isso fica agitada e fraca. Quando o nariz está escorrendo, isso também pode causar feridas no nariz, a pele em volta fica vermelha e dolorida. É muito importante explicar tudo isso para a família, assim todos entenderão porque é bom limpar e secar o nariz da criança várias vezes por dia para não deixar acumular secreção. Em muitos povos, quando a criança é bem pequena, a mãe pode sugar essa secreção porque a criança não consegue assoar sozinha o nariz. Isso funciona muito bem. Podemos usar também o soro fisiológico ou água, várias vezes por dia, para ajudar a desentupir o nariz. Secar o nariz ajuda a criança não ter feridas na pele. Inalação com água quente A inalação em casa, usando água quente, funciona muito bem. O vapor da água quente entra pelo caminho do ar e vai amolecendo e facilitando a saída da secreção. Desse jeito, a criança respira melhor. Muitos povos usam ervas para colocar junto com a água e soltar o catarro.

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Como fazer: - Lavar bem uma panela com água e sabão; - encher a panela com água e esquentar no fogo até ferver; - deixar a água ferver por cinco minutos; - tirar a panela do fogo e colocar em um lugar firme, um banco, mesa ou tábua; - colocar a criança perto da panela, para respirar o vapor. Pode usar uma toalha cobrindo a cabeça para o vapor ficar mais forte. Fazer a inalação por cinco minutos. - ATENÇÃO!! O adulto precisa segurar e cuidar a criança, mesmo as crianças maiores. Não deixar o rosto muito perto do vapor quente para evitar queimaduras. Quando a criança faz inalação na Unidade Básica de Saúde, com máscara, a EMSI precisa ter muito cuidado com a limpeza e desinfecção das máscaras e outras partes do equipamento. Não adianta somente lavar os equipamentos com água e sabão, porque os micro-organismos mais fortes não morrem. Precisa deixar as máscaras de molho em produtos químicos, na quantidade e no tempo certo, para matar esses micro-organismos. Quando não é feita a limpeza e desinfecção correta, as máscaras de nebulização podem transmitir vírus e bactérias de uma criança para outra e até mesmo causar uma IRA mais grave em uma criança que estava com IRA leve. Alimentação A criança com IRA fica com as defesas do corpo mais fracas. Para ela se recuperar mais rápido da IRA, é muito importante se alimentar bem, com todos os tipos de nutrientes e vitaminas, para as defesas do corpo ficarem fortes. Quando a criança desnutrida pega uma IRA, fica mais doente e demora mais para se recuperar do que a criança normal, eutrófica. Isso acontece porque seu corpo não tem boas defesas e os microorganismos se aproveitam para crescer e se multiplicar. O importante é ter uma alimentação equilibrada, com alimentos construtores, energéticos e reguladores, como você estudou no texto sobre alimentação e nutrição. No costume de alguns povos não indígenas, o mel é usado para o doente com IRA e dor de garganta. O mel ajuda a criança a engolir, diminui a dor de garganta e ajuda a criança a tossir. O mel pode ser usado várias vezes ao dia, misturado com gotas de limão.

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Para alguns povos indígenas, dependendo do tipo de mel, não é recomendado para crianças pequenas. Procure sempre conversar com os mais velhos e sábios sobre os cuidados tradicionais. Também é muito importante oferecer líquidos naturais para a criança, na forma de água, mingau, leite materno, sucos ou chás. Quando o corpo está hidratado, a secreção dos pulmões fica mais líquida e mais fácil de ser jogada para fora. Quando a criança não toma muito líquido, a secreção fica mais seca e grudada nos pulmões, piorando a doença. Cuidados e tratamentos tradicionais Além desses cuidados utilizados pela biomedicina, todos os cuidados que a mãe e a família quiserem fazer devem ser respeitados e valorizados. Cada povo conhece muitos tipos de rezas, pajelanças, banhos especiais, remédios do mato, pinturas, regras de comportamento que vão curar aquilo que está prejudicando a criança ou protegê-la de alguma coisa que pode piorar sua doença. O AIS e a EMSI precisam estar muito atentos a esses cuidados, nunca proibir algum tipo de prática tradicional e sempre que possível ajudar a família para que os cuidados tradicionais aconteçam da melhor maneira. Por exemplo: uma criança com pneumonia internada na Unidade Básica de Saúde pode precisar de um pajé que mora longe. A EMSI pode ajudar a providenciar o deslocamento do pajé. Se o pajé precisar fazer o trabalho na Unidade Básica de Saúde à noite, a equipe deve colaborar para o trabalho dele acontecer. Lembrem-se que é muito importante que o trabalho seja feito em conjunto. Espaço para registro de palavras novas Anote aqui palavras do texto que você não conhece e pesquise o significado com seus professores, colegas e no dicionário.

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O QUE O AIS E AISAN DEVEM FAZER? • Ações de prevenção individual e ações de promoção da saúde coletiva relacionadas às doenças respiratórias agudas. • Ações de educação em saúde com toda a comunidade. • Conversar com as famílias que viajam para a cidade para tomarem cuidado com as infecções respiratórias nas Casas de Saúde Indígena, em ambulatórios e hospitais, no centro da cidade, nos ônibus etc. Eles devem se tratar antes de voltar para a aldeia. • Explicar sobre o que acontece com o corpo da pessoa quando ela tem infecção respiratória, os cuidados que devem ser tomados desde o começo da doença e os sinais de quando está piorando a doença. • Lembrar a comunidade da importância da vacina contra a gripe! Ela ajuda a diminuir os casos desta doença e também reduz as suas complicações. • Ações de acompanhamento e recuperação da saúde da criança com Infecções respiratórias. • Vigilância das doenças respiratórias. • Conhecer sinais e sintomas das complicações. • Acompanhar as consultas e visitas da EMSI, buscando tirar dúvidas, aprender e exercitar. • Registro dos casos de IRA. • Comunicação com a EMSI.

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BARROS, D. C.; SILVA, D. O.; GUGELMIN, S. A. (Org.). Vigilância Alimentar e Nutricional para a Saúde Indígena. Fundação Oswaldo Cruz/ Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2007, v. 1- 2. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Guia prático do agente comunitário de saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2009. . Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. O trabalho do agente comunitário de saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2009. . Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Agenda de compromissos para a saúde integral da criança e redução da mortalidade infantil. Brasília: Ministério da Saúde, 2004. . Ministério da Saúde. Fundação Nacional de Saúde. Manual de Atenção à saúde da Criança Indígena Brasileira promovido pela Sociedade Brasileira de Pediatria. Brasília: Fundação Nacional de Saúde, 2004. . Ministério da Saúde. Fundação Nacional de Saúde. Formação inicial para agentes indígenas de saúde: módulo introdutório. Brasília: Fundação Nacional de Saúde, 2005. . Ministério da Saúde. Secretaria Especial de Saúde Indígena. Manual Orientativo de Vigilância Alimentar e Nutricional Indígena (versão preliminar). Brasília: Ministério da saúde, 2013. . Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância Epidemiológica. Capacitação em monitorização das doenças diarreicas agudas – MDDA: manual do treinando. Brasília: Ministério da Saúde, 2010. GERLIC, S. (Org.). Índios na visão dos índios: Somos Patrimônio. Salvador: Thydêwá, 2011.

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HESPERIAN HEALTH GUIDES. Novo Onde Não Há Médico. E-BOOK. Disponível em: . Acesso em 31 mai. 2016. INSTITUTO DE PESQUISA E FORMAÇÃO INDÍGENA (IEPÉ). Jane reko mokasia. Fortalecendo a organização social Wajãpi. Programa de Formação de pesquisadores Wajãpi - Iepé e Conselho das Aldeias Wajãpi – Apina. São Paulo: APINA/ IEPÉ/ IPHAN, 2008. . Fundação Nacional de Saúde. Educação profissional básica para agentes indígenas de saúde: módulo promovendo a saúde da mulher, da criança e a saúde bucal. Brasília: Fundação Nacional de Saúde, 2005. SOLYMOS, G. M. B.; SAWAYA, A. L. Coleção Vencendo a Desnutrição. Centro de Recuperação e Educação Nutricional/ Universidade Federal de São Paulo/BNDES. São Paulo: Salus Paulista, v. 1-6, 2002. TRONCARELLI, M. C. et al (Org.). Ecologia, Economia e Cultura, livro 1. Instituto Socioambiental (ISA) e Associação Terra Indígena Xingu (ATIX). São Paulo: ATIX/ISA/MEC, 2005. UNICEF. Fundo das Nações Unidas para a Infância. Cartilha: Os direitos e os cuidados com as crianças Ticuna no Alto Rio Solimões, Amazonas. Brasília, DF, 2013. UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO (UNIFESP). Departamento de Medicina Preventiva. Projeto Xingu. Relatório IV Encontro de Mulheres Xinguanas – saúde da criança. 2008, Mimeo. . Departamento de Medicina Preventiva. Projeto Xingu. Caderno de Atividades do Curso de Formação de Agentes Indígenas De Saúde - Médio e Baixo Xingu. Área Curricular I. “Conhecendo a família indígena / Promovendo a troca de experiências”. Módulo de Doenças da Infância I. 2008, Mimeo. . Departamento de Medicina Preventiva. Projeto Xingu. Caderno de Atividades do Curso de Formação de Agentes Indígenas De Saúde - Médio e Baixo Xingu. Área Curricular I. “Conhecendo a família indígena / Promovendo a troca de experiências”. Módulo – Saúde Bucal e Vigilância Nutricional. 2007, Mimeo.

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78 AÇÕES DE PREVENÇÃO A AGRAVOS E DOENÇAS E DE RECUPERAÇÃO DA SAÚDE DOS POVOS INDÍGENAS | A Saúde do jovem, do adulto e do idoso

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SAÚDE BUCAL E POVOS INDÍGENAS Pablo Natanael Lemos, Sofia Beatriz Machado de Mendonça e Rui Arantes.

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este tema vamos conhecer um pouco sobre a saúde da nossa boca. Vamos explicar qual a importância da boca para nossa saúde e como o Agente Indígena de Saúde (AIS) pode tra- balhar na sua aldeia promovendo a saúde bucal do seu território. Também vamos conversar sobre as formas de evitar as doenças bucais, principalmente a cárie, que é a doença mais comum do mundo.

SAÚDE BUCAL A saúde da boca, também chamada de saúde bucal, geralmente é separada dos outros temas de estudo da saúde. Mas não dá pra separar a boca do corpo. O que acontece na boca reflete em todo o corpo. Afinal, como é a nossa boca?

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A boca é uma parte muito importante do corpo porque ela realiza, juntamente com outros órgãos, uma série de funções muito importantes para nossa vida. É pela boca que nos alimentamos. É pela boca que conversamos com parentes e amigos, é pela boca que expressamos nossa alegria, é com a boca que falamos a nossa língua e também as boas palavras. Para muitos povos indígenas a boca e as palavras que saem dela são muito valorizadas, a ponto de colocarem adornos como o poturu, para os Zoé; o botoque para os Tapayuna e Metuktire.

FIGURA 16: índios com adornos de madeira na boca

FIGURA 17 : O sorriso e o riso também expressam nossa alegria - Foto: Rui Arantes

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ATIVIDADE PROPOSTA Pense e escreva no seu caderno alguma ação em que você precisa da boca ou de alguma parte dela. A boca é formada por várias partes: a gengiva, a bochecha, os lábios, o palato (céu da boca), o assoalho bucal (chão da boca), a língua e os dentes. Ela está ligada a um conjunto de estruturas (tecidos) e órgãos. Ela está ligada aos músculos e ossos da face e do pescoço. Dentro da boca temos dentes, língua, gengivas e glândulas salivares (que produzem a saliva). Temos, também, a articulação da mandíbula com o crânio, que permite a mastigação dos alimentos. Todos juntos funcionam como um sistema único. Para que a boca e todas as estruturas ligadas a ela cumpram corretamente suas funções, todas essas partes têm que trabalhar juntas e funcionar bem, formando um conjunto, como uma equipe de futebol. Cada jogador tem uma função dentro do time. Esta equipe é responsável pela mastigação, fonação (fala), sucção, deglutição. A boca também está envolvida na respiração e, junto com os músculos da face, tem outras funções, como o sorriso, o bocejo, o beijo, a mordida, além da percepção de estímulos sensoriais como o gosto, a temperatura, a textura e a consistência dos alimentos.

FIGURA 18: A boca e suas principais estruturas Crédito: Sôwabzê Xavante

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A MASTIGAÇÃO A mastigação é, sem dúvida, a função mais importante da boca. A mastigação é a fase inicial do processo digestivo, que se inicia na boca. Entende-se por mastigação o conjunto de ações que promove a degradação dos alimentos, isto é, a trituração e moagem dos alimentos, degradando-os em partículas pequenas que, logo após, ligam-se entre si pela ação misturadora da saliva, obtendo o bolo alimentar, pronto para ser engolido. A mastigação é uma das principais funções para garantir a nossa sobrevivência. Sem a mastigação não conseguimos nos alimentar corretamente e podemos ficar desnutridos. Os dentes são os operários da mastigação, são eles os responsáveis por cortar e amassar os alimentos durante a mastigação. O dente é a parte mais dura do nosso corpo. Eles têm diferentes formas e tamanhos porque têm funções diferentes no processo de mastigação. O dente é formado por fosfato de cálcio, um mineral que também forma o osso. As moléculas de fosfato de cálcio grudam uma na outra como se fossem tijolos e formam o dente. Se a pessoa já perdeu muitos dentes ou se eles estão estragados, ela tem dificuldade para se alimentar porque mastigar fica mais difícil. Durante a mastigação, todas as partes da boca trabalham: os lábios, a língua, as glândulas salivares, os músculos da face, os ossos que prendem os dentes, o maxilar e a mandíbula.

FIGURA 19: modelos dos dentes caninos e molares realizados - Foto: Rui Arantes

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LÁBIOS Os lábios protegem os dentes, ajudam a pessoa a falar (fonação), na sucção (chupar) e na deglutição (engolir). Também são bons para sentir a temperatura, a textura e a consistência dos alimentos (tato).

GLÂNDULAS SALIVARES As glândulas salivares produzem a saliva. A saliva tem uma função importante para manter a boca e os dentes saudáveis. Ela é formada por uma série de substâncias que ajudam a proteger os dentes e gengivas da cárie e de outras doenças. A saliva também ajuda na digestão dos alimentos e auxilia na limpeza dos dentes. Na boca, a saliva se mistura com a comida, deixando a comida mais mole e fácil de engolir.

LÍNGUA A língua é importante para ajudar a mastigar a comida e também para produzir o som das palavras quando a gente fala. Pela língua sentimos o gosto da comida: salgado, doce, azedo (limão) ou ardido (pimenta) e também sentimos se o alimento está frio ou quente, duro ou mole.

MAXILAR E MANDÍBULA Os ossos seguram os dentes e os músculos da mastigação. Maxilar é o nome dado ao osso da parte de cima da boca. Mandíbula é o osso que fica na parte de baixo. A mandíbula é o osso que se movimenta durante a mastigação e está ligada ao crânio por uma articulação. Os músculos presentes na face movimentam a mandíbula para podermos mastigar os alimentos e falar.

DENTES O dente é uma parte viva do corpo. Ele nasce, cresce, recebe alimento pelo sangue e precisa ser cuidado para continuar vivo. Ele está dividido em duas partes. A coroa é a parte do dente que a gente consegue ver. Cada dente só tem uma coroa. A raiz é a parte que fica dentro do osso e não conseguimos ver. Os dentes podem ter uma, duas ou três raízes, dependendo do tipo de dente.

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ATIVIDADE PROPOSTA Para o seu povo há alguma história sobre a origem dos dentes?

Alguns povoscontamahistóriadosurgimentodosdentes. Para o povo Kamajurá, os dentes apareceram quando, um dia, o poderoso Mawutsini resolveu transformar tronco de madeira em moças. Saiu à procura de madeiras boas, trouxe para casa e cortou. Fez várias rezas em torno dos troncos, para transformá-los em moças. No dia seguinte, ao amanhecer, ele acordou ouvindo risadas do lado de fora da casa. Ele falou: - Bom dia, meninas! - Bom dia. Elas responderam. - Como vocês estão? - Estamos bem! - Meninas, vocês podem me chamar de pai, fui eu que fiz vocês. Mawutsini viu que elas não tinham cabelos e quando ele as mandou rir, observou também que não tinham dentes. No outro dia Mawutsini saiu à procura de dentes. Ele trouxe ita (pedra preta), colocou nelas e mandou que rissem para ver se os dentes ficaram bons para elas. Ele não achou bonito, pois os dentes ficaram pretos, e saiu novamente em busca de um novo material. Achou uma fruta chamada mangaba, tirou suas sementes e viu que eram brancas. Trouxe as sementes de mangaba para casa, colocou nas moças novamente e mandou rirem para ver os dentes novos. Elas riram e ele gostou: Assim fica bom para vocês, meninas, mas esse dente não vai durar muito e vai estragar logo. Assim será também com nossos netos, os dentes deles estragarão logo e sofrerão.

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COMO É O NOSSO DENTE? Se a gente cortar o dente no sentido vertical (de baixo para cima), veremos que ele apresenta quatro partes diferentes: Esmalte: é a parte externa da coroa do dente que conseguimos ver. É a parte que tem mais mineral e por isso é a mais dura. Ele é amarelo claro ou branco acinzentado. O esmalte não dói quando a gente toca nele. Dentina: fica embaixo do esmalte e forma o corpo do dente. É a maior parte do dente. A dentina é menos dura que o esmalte porque tem menos mineral (fosfato de cálcio). Tem cor amarela e é sensível à dor. A dentina na parte da coroa é revestida pelo esmalte, na parte da raiz é revestida pelo cemento. Polpa: é a parte mais interna e fica dentro da dentina. A polpa do dente fica tanto na coroa como na raiz. É um tecido mole, por onde passam pequenos vasos sanguíneos por onde o sangue leva o alimento para o dente. Pela polpa também passam os nervos. Cemento: é a parte do dente que recobre a raiz e ajuda a prender o dente no osso. Entre o osso e a raiz do dente temos pequenas fibras que unem o dente ao osso, que se chamam ligamento periodontal. O ligamento periodontal é como um conjunto de fios que sai do cemento do dente e vai até o osso alveolar. Ele fixa o dente no osso e ajuda a não deixar o dente ficar batendo no osso quando a pessoa mastiga, ele trabalha como uma mola também. Periodonto: é a região em volta dos dentes. É o conjunto de estruturas ou tecidos que ficam em volta dos dentes, como a gengiva, o ligamento periodontal e o osso alveolar. O osso alveolar é o osso onde os dentes estão encaixados. A gengiva cobre o osso e protege os dentes na boca. Ela é rosa como goiaba nova e quando a gente olha a sua superfície parece casca de limão. Tem uma parte bem pequena da gengiva que fica encostada na coroa do dente. Esse espaço entre o dente e a gengiva chama-se sulco gengival. A outra parte da gengiva fica grudada no osso.

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FIGURA 20: As partes que compõe os dentes

OS DIFERENTES TIPOS DE DENTES Cada dente é diferente do outro e trabalha na boca de formas diferentes. Eles têm funções diferentes nas arcadas dentárias e por isso têm nomes diferentes, tanto para os indígenas como para os não indígenas. Para os não indígenas, os dentes da frente têm o nome de “dentes anteriores” ou “incisivos”. Os incisivos cortam a comida como faca. Os dentes caninos, que vêm depois dos incisivos, são pontudos e fortes e servem para rasgar a comida. Os dentes do fundo, ou dentes posteriores, servem para amassar e moer a comida e são de dois tipos diferentes: o pré-molar e o molar. Os dentes que ficam no maxilar (osso de cima da boca) são chamados de dentes superiores. Juntos eles formam a arcada dentária superior. Os dentes que ficam na mandíbula (osso de baixo) são os dentes inferiores. Juntos formam a arcada dentária inferior. Arcada dentária é o conjunto de dentes que estão no maxilar e na mandíbula. Ela tem este nome porque os dentes estão distribuídos em forma de arco.

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FIGURA 21: Os participantes da Oficina de Saúde Bucal, aldeia Moigú, Parque Indígena Xingu, preparam diferentes tipos de dentes para montar as arcadas dentárias. Fonte: Projeto Xingu / Rui Arantes

ATIVIDADE PROPOSTA Como a sua etnia nomeia e classifica os dentes da boca?

Dentição: é o conjunto de dentes que formam as arcadas dentárias superior e inferior. Nós temos duas dentições durante nossa vida. A dentição de criança, chamada pelos não índios de dentição de leite ou dentição decídua, que depois vai sendo trocada pela dentição permanente. A dentição permanente da criança fica completa aos 12 anos e mais tarde, por volta dos 18 anos, pode nascer um último dente, chamado de dente do siso. A dentição permanente deve durar para o resto da vida. Os dentes têm o tempo certo para nascer (erupcionar) na boca. Cada dente tem um tempo certo para nascer, de acordo com a idade. Os primeiros dentes de leite, ou dentes decíduos, começam a aparecer quando a criança tem mais ou menos seis meses e terminam de nascer com 24 meses, normalmente. São menores, mais brancos e mais fracos. Quando a dentição de leite ou a dentição decídua está completa na boca da criança ela tem 20 dentes, 10 em cima (superior) e 10 embaixo (inferior).

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FIGURA 22: desenho da dentição de leite - Crédito: Sôwabzê Xavante

Os dentes decíduos são muito importantes porque além de permitirem à criança se alimentar e mastigar os alimentos, eles também guardam o espaço para os dentes da próxima dentição nascerem no local e na posição certa. Quando o dente permanente está nascendo, vai gastando a raiz do dente decíduo, até ficar só a coroa, então o dente de leite fica solto e cai sozinho. Os cuidados com os dentes de leite e com a saúde bucal das crianças, você encontra na Unidade de “Saúde da família indígena”.

FIGURA 23: Perda precoce dos dentes de leite interferem na erupção dos dentes permanentes Crédito: Rui Arantes

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Os dentes permanentes começam a aparecer com seis anos e terminam com 18 anos ou até mais. São os dentes que ficam na boca por toda a vida (permanecem na boca) e por isso têm o nome de permanentes, pois não são mais trocados. São maiores, mais fortes e mais amarelos. Um adulto tem 32 dentes permanentes na boca. O primeiro dente permanente a nascer é o primeiro molar inferior. Ele aparece quando a criança tem mais ou menos seis anos. Não cai nenhum dente decíduo para ele nascer! Ele nasce lá no fundo, atrás do último dente de leite. É muito importante cuidar deste dente, pois este dente não troca mais. Precisa escovar bem este dente.

ATIVIDADE PROPOSTA Como as pessoas antigas de seu povo cuidavam dos dentes? Como era a saúde bucal do seu povo antigamente? Quais são os problemas de saúde bucal que você observa atualmente na sua aldeia?

A SAÚDE BUCAL DOS POVOS INDÍGENAS NO BRASIL De modo geral, os riscos de cárie em povos indígenas aumentaram à medida que se intensificou a interação dessas populações com a sociedade envolvente. O contato permanente com a sociedade não indígena trouxe transformações nas formas de subsistência, nos sistemas socioculturais e nos estilos de vida dos povos indígenas. As mudanças nos hábitos alimentares introduziram o consumo de alimentos industrializados e ricos em açúcar, provocando um aumento significativo nos níveis de cárie dos povos indígenas em todo o mundo, não só no Brasil. Apesar de ainda ser pouco conhecida a situação de saúde bucal dos grupos indígenas do Brasil, já existem dados disponíveis que mostram uma diversidade muito grande de situações. Existem grupos que apresentam elevados níveis de cárie, muito superiores aos apresentados pela população não indígena.

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Por outro lado, existem também grupos nativos que ainda apresentam baixos níveis da doença. A prevalência de cárie em uma população, seja ela indígena ou não, depende muito do tipo de dieta, do acesso aos serviços de saúde e às medidas de prevenção adotadas. Dentre as medidas de prevenção, o acesso regular ao flúor é fundamental no controle da cárie. A cárie é uma doença muito fácil de prevenir. Existem boas experiências de programas de saúde bucal que foram implementados em aldeias indígenas que conseguiram diminuir a cárie na população. Estes programas foram baseados em medidas preventivas que garantiram o acesso regular ao flúor, seja através do creme dental fluoretado ou da aplicação tópica de flúor; aos serviços de atenção básica de saúde bucal; e a ações educativas e de promoção de saúde bucal.

QUAL A ORIGEM DAS DOENÇAS DA BOCA? Como vimos antes, a saúde da boca interfere em todo o nosso corpo e toda pessoa precisa ter dentes bons para ter saúde. Quando a pessoa tem cárie, por exemplo, ela não consegue mais comer direito, não consegue trabalhar, não consegue dormir direito, porque a cárie provoca dor, inchaço e muito desconforto. Quando tem alguma doença na boca ou nos dentes, todo o corpo fica doente. Muitas das doenças bucais são doenças transmissíveis, ou seja, causadas por bactérias que não conseguimos enxergar. Quando a criança nasce, ela ainda não tem bactérias na boca. Quando a criança começa a comer, as bactérias que estão na boca da mãe ou dos irmãos passam para o bebê através de cuias, copos ou colheres e, então, essas bactérias começam a morar na boca da criança. As bactérias mais comuns que vivem na nossa boca receberam nomes dos não indígenas: estreptococos e espiroquetas. As bactérias da boca se juntam umas às outras formando o que chamamos de placa bacteriana ou biofilme. A placa com as bactérias fica grudada no dente. Vamos ver agora algumas das doenças que mais acontecem na nossa boca e são provocadas por essas bactérias.

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FIGURA 24: Biofilme ou placa bacteriana aderida aos dentes, pintada em cor de rosa por meio de corante - Foto: Rui Arantes

FIGURA 25: colônia de bactérias Streptococcus mutans

FIGURA 26: Placa bacteriana no microscópio eletrônico. Foto: Bob Blaylock.

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CÁRIE DENTÁRIA A cárie dentária é a doença mais comum no mundo. Ela atinge quase todas as pessoas. Entre 60% a 90% das pessoas têm ou já tiveram cárie nos dentes. A cárie é muito antiga na humanidade, mas ela se tornou mais frequente depois que o homem deixou de ser nômade, desenvolveu a agricultura, se fixou em cidades e passou a consumir mais amido (alimentos energéticos), principalmente os alimentos ricos em açúcar (doces). A cárie acontece quando os dentes perdem seus minerais de fosfato de cálcio. É o que chamamos de desmineralização do dente. Estes minerais, os tijolinhos que formam o dente, vão se dissolvendo aos poucos no ácido que as bactérias que estão na nossa boca produzem. O primeiro sinal de que o dente está perdendo minerais de fosfato de cálcio é o aparecimento de uma mancha branca na superfície do dente. É o inicio da cárie. Como os dentes perdem minerais? Quando comemos, o resto de comida que fica nos dentes é usado pelas bactérias para formar a placa bacteriana ou biofilme. A placa bacteriana é como se fosse uma massa de mandioca bem fina, da mesma cor dos dentes, que contém muitas bactérias, muitas mesmo. A placa de bactérias se desenvolve mais rápido e fica mais agressiva quando comemos comidas doces. As bactérias acumuladas nas placas ficam presas no dente e só saem com a escovação. Lavar só com água não adianta, pois elas ficam bem grudadas. As bactérias do biofilme ou placa produzem um líquido muito forte que se chama ácido. O ácido produzido pelas bactérias desgasta os minerais do dente, o esmalte começa a ficar fraco e mais branco. É possível ver uma mancha branca na região do esmalte que está ficando mais fraco, pois já perdeu muito mineral. Se o processo continuar, o esmalte vai perdendo mais mineral até aparecer uma cavidade, um buraco. Se não tratar logo, as bactérias continuam produzindo ácido, que continua a roer o dente e a cárie vai crescendo, podendo chegar até a polpa do dente. Aí o dente morre.

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BACTÉRIAS + RESTOS DE COMIDA = PLACA BACTERIANA PLACA GRUDADA NO DENTE LIBERA ÁCIDO FURANDO O DENTE = CÁRIE

RESUMINDO Cárie = restos de comida na boca + bactérias que crescem rapidamente + falta de higiene bucal

FIGURA 27: Mancha branca nos incisivos superiores, mostrando o início do processo de desmineralização do dente - Foto: Rui Arantes

A PROGRESSÃO DA CÁRIE DENTÁRIA

FIGURA 28: a progressão da cárie - Crédito: Sôwabzê Xavante

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Quando a cárie é rasa e está localizada só no esmalte, ela não dói. A doença é pequena e é mais fácil de curar. Se não tratar, a cárie avança e ataca a dentina do dente. Quando ela chega à dentina, o dente já dói um pouco quando você mastiga ou bebe água fria, mas a dor passa rápido. Quando a cárie está profunda e grande, é porque ela está muito perto da polpa. O dente dói forte quando a pessoa come ou bebe líquidos quentes. Se a cárie crescer mais e chegar até a polpa do dente, ela provoca uma dor de dente muito forte. O dente fica inflamado e dói sozinho, o tempo todo, até sem comer ou beber nada. É importante tratar a cárie logo que ela aparece para interromper sua evolução e preservar o dente. Inflamação é uma reação do organismo a uma agressão. Esta agressão pode ser o ataque de bactérias (infecção) ou outro tipo de agressão que provoca alguma lesão no corpo, como uma picada de marimbondo ou uma martelada no dedo. O organismo reage à agressão levando mais sangue para a região, por isso, quando se tem uma inflamação o local afetado fica mais quente, inchado e dolorido.

ABSCESSO DENTÁRIO

FIGURA 29: abcesso dentário - Crédito: Prepe Xavante

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Quando a cárie chega à polpa, as bactérias matam a polpa do dente, o dente fica sem sangue e morre. As bactérias que estavam na polpa chegam até o osso e provocam uma infecção, ou seja, elas contaminam o osso. O corpo responde levando mais sangue para a região, o rosto fica inchado, forma pus, dói bastante e forma o abscesso, que pode provocar febre também. Pus é um líquido amarelado composto por bactérias mortas e vivas. A infecção ocorre quando algum micro-organismo, como bactérias, vírus, parasitos ou fungos, ataca o nosso corpo. O abscesso, por exemplo, é uma infecção dentro do osso, provocada pelas bactérias que entraram pelo dente e se alojaram entre a raiz e o osso. O tratamento para o abscesso pode ser feito através de bochecho com água morna, que pode ajudar o pus a sair e, assim, a diminuir o inchaço. Mas geralmente é preciso encaminhar a pessoa para o dentista, que muitas vezes tem que fazer um procedimento cirúrgico para drenar o abscesso, ou seja, fazer o pus sair para diminuir a dor e o inchaço. O dentista também vai medicar o paciente para acabar com a infecção bucal. Consequências da cárie dentária: • Dor. • Abscesso dental e seus perigos para a saúde do corpo. • Febre. • Perda dental. • Dores musculares (músculos da mastigação).

DOENÇAS PERIODONTAIS O nome periodontal vem da junção de duas palavras. Perio = em torno de Odonto = dente Doença periodontal significa, portanto as doenças que ocorrem em torno do dente. Essas doenças estão associadas à presença da placa bacteriana. Temos dois tipos de doenças peridontais:

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Gengivite É uma inflamação que deixa a gengiva vermelha, inchada e sangrando facilmente. Está associada ao mau hálito e ao tártaro. O tártaro ou o cálculo dentário é a placa bacteriana calcificada, endurecida. Algumas situações podem facilitar o aparecimento da gengivite, por exemplo, quando há mudanças hormonais no nosso corpo, como na puberdade, na gravidez, na menstruação, na menopausa e durante o uso de anticoncepcionais.

FIGURA 30: Gengivite. Foto: D. Rosenbach.

Sinais de gengivite: • Gengiva inflamada (inchada) e vermelha como urucum. • Gengiva fica frouxa (mais mole) e mais lisa. • Gengiva sangra facilmente se encostar. • Mesmo com a gengivite o osso ainda segura firme o dente. Periodontite É uma inflamação que atinge as estruturas que sustentam (suportam) o dente no osso. Geralmente é acompanhada da gengivite. A doença periodontal é mais grave que a gengivite porque ela destrói as estruturas que seguram o dente (osso, ligamento periodontal e o cemento do dente). Em alguns casos a gengivite não tratada vira periodontite.

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Geralmente, a periodontite só é notada na sua fase mais avançada, quando a gengiva se desprende do dente, os ligamentos periodontais, que ligam o dente ao osso, se enfraquecem e o osso começa a ficar mais fino e fraco. O dente perde sua sustentação, fica frouxo e sem apoio e pode cair. A doença periodontal evolui devagar ou pode ser rápida, dependendo do sistema de defesa de cada pessoa.

FIGURA 31: Periodontite. Foto: D. Rosenbach.

Sinais da doença periodontal: • Gengiva sangra com facilidade. • Gengiva fica inchada, mole, vermelha e meio solta do dente. • A gengiva pode retrair deixando a raíz do dente exposta. • Pode sair pus quando aperta a gengiva. • Geralmente tem presença de cálculo ou tártaro grudado nos dentes. • Nos casos avançados de periodontite, o dente fica mole e não dá pra mastigar comida dura. • Pode levar ao aparecimento de abcesso na gengiva e doer bastante. • Cheiro ruim na boca. • Gosto de sangue na boca. • Pode não doer, a pessoa sente apenas que o dente está frouxo na boca.

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PROMOÇÃO DE SAÚDE E PREVENÇÃO DAS DOENÇAS BUCAIS Agora que você já sabe bastante sobre saúde bucal e quais as causas das principais doenças bucais, vamos ver como o AIS pode ajudar na promoção da saúde bucal e na prevenção dessas doenças. A cárie é uma doença provocada por uma bactéria que se aloja na boca. Entretanto, para essas bactérias se tornarem perigosas, elas precisam de condições adequadas dentro da boca. Se o ambiente dentro da boca estiver adequado para as bactérias, com tudo o que elas precisam, elas se desenvolvem e produzem doenças. Ao contrário, se a boca não possuir as condições que as bactérias necessitam para se desenvolver, elas não vão conseguir causar nenhuma doença. Por isso, todo o trabalho de promoção de saúde e de prevenção das doenças bucais está ligado aos cuidados com a boca. Ou seja, todas as atitudes e ações que impedem o desenvolvimento das bactérias que ficam no meio bucal e também aquelas ações que fortalecem os dentes, que dificultam a sua desmineralização.

ATIVIDADE PROPOSTA Discuta com seus colegas, amigos e parentes e responda às seguintes perguntas: Para o conhecimento não indígena, o que é necessário para que a cárie e as doenças da gengiva se desenvolvam dentro da boca? O que é necessário para que a cárie e as doenças da gengiva NÃO se desenvolvam dentro da boca? Para o conhecimento indígena, do seu povo, quais são as causas da cárie e das doenças periodontais? Uma das tarefas mais importantes do agente indígena de saúde, quando trabalha a promoção da saúde bucal, é levar informações para a comunidade de como se prevenir e cuidar para não ter as doenças bucais. Quais são as formas de autocuidado com a saúde bucal? Vocês lembram o que é autocuidado com a saúde?

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“Antigamente nós escovávamos os dentes passando e esfregando areia nos dentes e na gengiva e também limpávamos os dentes com palito. Também não tomávamos mingau quente quandotínhamosfilhospequenosenemcomíamos beiju duro, pois tudo isso causa sensibilidade nos dentes. Tomávamos todos esses cuidados também para não envelhecermos logo”. (Watpiro Miran, Unifesp, 2012).

Leia o relato a seguir, escrito por um AIS:

“Pensando um pouco na casa: quando a gente não tem uma vassoura para varrer a casa, só vai acumulando o lixo dentro dela, então, isso acontece porque a vassoura serve para limpar a casa. A casa tem uma porta que serve para nossa entrada, por onde levamos a sujeira para dentro de casa. Com a gente acontece a mesma coisa: a boca é a nossa porta. A casa também tem lugar para firmar a parede, o que também é outro problema (quando você não cuida dos seus dentes e da boca, as doenças periodontais ou tártaro vão destruir o dente, a gengiva e o osso), assim acontece com a casa se não cuidarmos dela. O chão da casa também é um exemplo da nossa língua, que fica mais suja quando aumenta o lixo na casa e fica cheirando ruim, assim causa várias doenças na família da casa. A mesma coisa acontece na boca da gente. Pensando bem nos dentes, devemos cuidar ou usar a escova para limpar a nossa boca, assim como limpamos a nossa casa. Para ter bom hálito saudável é preciso limpar principalmente a boca, os dentes e a língua”. (A.K, Agente Indígena de Saúde).

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ATIVIDADE PROPOSTA Procure saber das pessoas o que é considerado o principal problema de saúde bucal. Pense e escreva o que você pode fazer para ajudar a solucionar este problema. O que a equipe de saúde pode fazer para também ajudar a resolver este problema? Pesquise com os mais velhos como eles evitavam as doenças da boca, a cárie, a gengivite e outras doenças bucais.

COMO CUIDAR DA BOCA Para deixarmos a boca bem limpa e sem bactérias precisamos remover a placa bacteriana. Para isso é muito importante escovarmos corretamente nossos dentes. Os dentes limpos, sem a placa, ficam saudáveis, pois sem a placa não há formação de ácidos que corroem os dentes. A melhor forma de evitar as doenças bucais é remover as bactérias e a placa bacteriana, que causam as doenças, e não abusar dos alimentos que ajudam no aparecimento e desenvolvimento da cárie.

FIGURA 32: O professor Xavante ensina os alunos como usar o creme dental e a escova para escovar os dentes - Foto: Rui Arantes

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FIGURA 33: escovação dentária - Fonte: Projeto Xingu

ESCOVAÇÃO DENTAL De preferência, use uma escova com cerdas macias, para não machucar a gengiva, e com a cabeça pequena, para ela alcançar os dentes de trás, para escovar bem. A cárie é uma doença transmissível, por isso cada pessoa deve ter a sua própria escova de dentes. Não pode emprestar para os amigos e as crianças não devem usar a escova dos adultos. Devemos escovar os dentes sem pressa e com cuidado para não deixar placa nos dentes. A escova deve ser passada várias vezes nos dentes, em todos os lados. Precisa escovar na frente, atrás, dos lados e em cima. Por exemplo, comece pelos dentes posteriores de cima do lado direito. Escove todos os dentes por fora, por dentro e em cima, onde mastigamos. Depois, faça o mesmo com os dentes do outro lado e, depois, com os dentes de baixo. O sentido da escovação é da gengiva para o dente, como se estivesse varrendo a sujeira. É importante não se esquecer de escovar a língua. Muitos micróbios se escondem nela. A escovação deve ser feita pelo menos três vezes por dia, mas o mais importante é sempre escovar os dentes à noite, antes de dormir. Quando dormimos, durante o sono, o alimento que está na boca fica parado, grudado nos dentes por um longo período. A saliva, que é uma defesa que nós possuímos, diminui durante a noite e por isso as bactérias produzem mais ácidos, que atacam mais os dentes nesse período do sono.

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COMO CUIDAR DOS BEBÊS E CRIANÇAS O bebê não tem dentes, mas a mãe deve limpar a língua e a bochecha para tirar as bactérias uma vez ao dia. Assim o bebê se acostuma a limpar a boca todo dia desde cedo. As crianças menores de seis anos não conseguem escovar os dentes corretamente sozinhas. É necessário que os pais ou irmãos mais velhos ajudem a escovar os dentes das crianças. É muito importante os pais cuidarem da higiene bucal da criança, pois a criança pode sofrer muito com as doenças da boca, principalmente a cárie. O AIS deve ensinar as pessoas a escovarem os dentes do jeito certo.

FIO DENTAL

As cerdas da escova não conseguem entrar entre os dentes. Por isso, para limpar essa parte, nós devemos usar o fio dental. Pegue um pedaço pequeno, do tamanho do antebraço, enrole as pontas no dedo, passe entre os dentes abraçando, limpando o lado de um dente primeiro e depois o outro, passando o fio até atrás do último dente. FIGURA 34: uso do fio dental

As cerdas da escova não conseguem entrar entre os dentes. Por isso, para limpar essa parte, nós devemos usar o fio dental. Pegue um pedaço pequeno, do tama- nho do antebraço, enrole as pontas no dedo, passe entre os dentes abraçando, limpando o lado de um dente primeiro e depois o outro, passando o fio até atrás do último dente.

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CREME DENTAL O creme dental (pasta de dente) deve ser usado em pequenas quantidades sobre a escova, no tamanho de um grão de milho. O uso do creme dental é importante porque ele contém flúor, que é um remédio que ajuda a fortalecer e proteger os dentes contra o ácido produzido pelas bactérias. O flúor da pasta é bem forte e não pode ser engolido. Por isso, as crianças muito pequenas não podem escovar os dentes sozinhas, os adultos devem ajudar as crianças e pedir para elas cuspirem e não engolirem a pasta. Também devem usar uma medida bem pequena de pasta, do tamanho de um grão de arroz. É importante orientar bem a comunidade para usar do jeito certo e não comer pasta, nem usar a pasta para outros fins, para não causar problemas para a pessoa. Tem que tomar cuidado também para não deixar as crianças brincarem com a pasta, porque é um remédio.

O USO DO FLÚOR NA SAÚDE PÚBLICA O flúor vem sendo utilizado na prevenção e no controle da cárie dentária desde que foi descoberta sua ação preventiva. A descoberta que o flúor protege contra a cárie ocorreu na década de 1940, nos Estados Unidos. Alguns profissionais observaram que as pessoas que moravam em uma região desse país quase não tinham cáries, apesar de ter os dentes manchados. Então, pesquisadores começaram a estudar e perceberam que a água que as pessoas bebiam possuía uma quantidade alta de flúor. Os cientistas descobriram que o flúor ajuda a fortalecer os dentes porque ele deixa o esmalte do dente mais resistente aos ácidos das bactérias. Fica muito mais difícil do dente perder mineral e também ajuda a recuperar os minerais perdidos. O flúor está presente na água, no solo, nos cremes dentais, nas soluções para bochechos, nos géis e vernizes para aplicação tópica e em outros produtos odontológicos. No Brasil, a utilização do flúor no tratamento de água nas cidades se tornou lei federal em 1974. Quando tomamos água fluoretada, aumenta a concentração de flúor na saliva.

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O USO DO FLÚOR NAS ALDEIAS INDÍGENAS A forma mais utilizada para o uso do flúor nas ações coletivas é a aplicação do flúor gel com o uso de escova dentária. O flúor gel é como um creme dental que pode ser passado nos dentes com a ajuda da escova dental. A aplicação do flúor gel não deve ultrapassar o tempo de um minuto de aplicação e deve ser realizada pelo auxiliar de saúde bucal ou pelo AIS que foi treinado pelo dentista. O flúor gel não deve ser engolido. Ao contrário do flúor que vem na água para beber, ele é muito concentrado. Assim, a aplicação deste remédio só deve ser feita em crianças quando elas já estiverem maiores (acima de seis anos), pois já sabem cuspir. É importante não engolir o flúor, pois isso pode ajudar a causar problemas gastrointestinais, intoxicação e a fluorose dentária.

Fluorose dentária O excesso de flúor pode causar a fluorose dentária, que é uma doença que pode produzir manchas nos dentes e prejudicar a formação dos dentes.

FIGURA 35: Aplicação de flúor gel em crianças da aldeia Ngoiwere, Parque Indígena Xingu, 2005. Projeto Xingu, Unifesp - Foto: Rui Arantes

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FIGURA 36: Aplicação de flúor gel em crianças da aldeia Ngoiwere, Parque Indígena Xingu, 2005. Projeto Xingu, Unifesp - Foto: Rui Arantes

A aplicação de flúor nos dentes é uma importante forma de prevenção de cárie e pode ser realizada não somente em crianças, mas também em adultos, principalmente nos locais onde não há água fluoretada. Existem diversas maneiras de usar o flúor para prevenir as cáries. Além do flúor gel que destacamos acima, existem outras formas de utilizar o flúor, como os vernizes de flúor que também ajudam muito na prevenção da cárie. Converse com a equipe de saúde bucal que atua no seu território sobre quais são as formas mais adequadas de utilizar o flúor na sua aldeia. Vejacom a equipe de saúde como você pode ajudar a desenvolver ações de prevenção de cárie utilizando o flúor na sua aldeia.

FIGURA 37: O agente de saúde bucal Xavante faz aplicação de verniz de flúor nas crianças. Aldeia Pimentel Barbosa, 2008 Foto: Rui Arantes

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O QUE A ALIMENTAÇÃO TEM A VER COM A SAÚDE BUCAL? Consumo de açúcar e cárie A relação entre cárie e alimentação é muito forte. O consumo exagerado de açúcares, como doces, refrigerantes, balas e biscoitos, favorece o acúmulo de placa bacteriana e aumenta a produção de ácido pelas bactérias, aumentando o risco de cárie. O açúcar, quando chegou na Europa, trazido da Índia pelos navegadores europeus, aumentou muito a quantidade de cárie na população. A mesma coisa tem acontecido com os povos indígenas que começam a mudar os hábitos alimentares tradicionais e passam a consumir alimentos industrializados ricos em açúcar, como refrigerantes, biscoitos, café. Esses alimentos são chamados de alimentos cariogênicos, porque eles aumentam o risco de cárie. Para muitos povos indígenas existem também alimentos tradicionais que podem causar cárie.

ATIVIDADE PROPOSTA Pesquise com os mais velhos se existem alimentos que, na tradição de seu povo, podem provocar cárie.

VIGILÂNCIA DA SAÚDE BUCAL A forma de trabalhar ou a maneira de se planejar o trabalho de atenção à saúde do Sistema Único de Saúde (SUS) e também do Subsistema de Saúde Indígena (SasiSUS) é baseada em um modelo que os brancos chamam de Vigilância em Saúde. Este nome você já deve ter visto em outras partes do curso. O “modelo de Vigilância em Saúde” organiza o trabalho na saúde. A vigilância da saúde bucal inclui ações de diagnóstico de saúde bucal na população, de promoção da saúde e de prevenção das doenças bucais, principalmente a cárie.

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ATIVIDADE PROPOSTA Vamos conversar um pouco sobre como o AIS participa desta história de “modelo de vigilância em saúde em saúde bucal”? Qual a função do AIS neste modelo? Você já discutiu isso durante o curso? Como foi a discussão? O AIS e o Agente Indígena de Saneamento (AISAN) são os trabalhadores mais importantes dentro da Vigilância em Saúde. Vamos explicar o porquê. Você, como membro da comunidade e como agente de saúde ou de saneamento, conhece todas as pessoas, pode identificar qualquer mudança na situação de saúde das pessoas e da comunidade, antes de qualquer outro profissional da equipe. Os agentes têm mais facilidade de se comunicar com as pessoas de seu território e, por isso, conseguem conversar sobre como cuidar da saúde e como prevenir doenças de uma forma mais clara e fácil de entender. A este trabalho de trocar informações sobre como viver com saúde e as formas de prevenir as doenças que podem atacar crianças, homens, mulheres e idosos chamamos de “promoção da saúde”. Apesar da promoção da saúde ser um campo muito grande de trabalho, o AIS e o AISAN têm uma função muito importante neste tipo de trabalho, principalmente pelo papel de educador que os agentes desempenham. Os agentes trabalham muito com a educação, difundindo, espalhando os conhecimentos sobre saúde e estimulando as pessoas a prestarem atenção na própria saúde. Este trabalho do agente de saúde e de saneamento não é nada fácil. Em todos os povos indígenas existem regras de convivência e respeito entre as famílias e entre as gerações. Por isso é muito importante que o agente de saúde faça o seu trabalho com muita responsabilidade, junto com a equipe, com as lideranças, com as mulheres, com os professores... Assim ele vai ser mais valorizado e as pessoas vão ter mais confiança em seu trabalho. Vamos ver agora como o AIS faz a promoção da saúde bucal e a prevenção das doenças que podem atingir a boca. O AIS pode ajudar muito na prevenção e na promoção de saúde bucal e também na vigilância em saúde. Por exemplo, a distribuição de creme dental e escovas nas aldeias, a aplicação tópica de flúor realizada de forma regular na comunidade e a escovação supervisionada em crianças, são medidas de prevenção fundamentais em saúde pública que

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podem ser executadas pelos AIS de forma bastante eficiente. Estas ações são conhecidas como ações coletivas de saúde bucal, que envolvem também reuniões e palestras educativas. Como você viu na Unidade sobre processo de trabalho, o AIS deve registrar suas atividades em fichas específicas para que as informações coletadas e as atividades realizadas alimentem o Sistema de Informação de Atenção à Saúde Indígena (SIASI). Este sistema ajuda a acompanhar, avaliar e planejar o trabalho de saúde nas comunidades. O preenchimento da ficha de identificação de necessidades individuais (ficha 1) que identifica as pessoas com cavidades nos dentes, aquelas que apresentam dor e sinais de doença periodontal, também é um instrumento importante na vigilância em saúde bucal na medida em que levanta as necessidades individuais de cada pessoa da comunidade. As informações contidas nesta ficha ajudam a identificar os grupos com maior risco de terem doenças bucais. As estratégias de vigilância, de promoção e de prevenção em saúde bucal podem variar de uma aldeia para outra, ou de um DSEI para outro, o importante é que estas estratégias sejam definidas de acordo com a realidade de cada aldeia envolvendo os AIS e demais membros da comunidade.

ATIVIDADE PROPOSTA Discuta com seus colegas como você atua nas ações de prevenção e de promoção de saúde bucal na sua aldeia. Você recebe apoio suficiente da equipe multidisciplinar de saúde indígena para realizar as ações de vigilância, prevenção e promoção de saúde bucal? O que pode ser melhorado?

CUIDADOS ESPECIAIS DURANTE AS FASES DA VIDA Nas unidades da Área Temática III discutiremos alguns cuidados específicos de Saúde Bucal de acordo com a fase da vida. Há cuidados importantes relacionados à saúde bucal que você verá desde a gestação. Conheceremos as mudanças da boca e dos dentes ao longo das fases da vida e os tipos de doenças bucais que podem ocorrer nestas fases. Na gestante, o atendimento odontológico é importantíssimo. A falta de alguns nutrientes e as mudanças no corpo da mulher, com a formação do bebê, podem facilitar o aparecimento de algumas doenças bucais, principalmente as doenças periodontais.

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Por isso, na fase da gestação, a mulher precisa de um acompanhamento da equipe de saúde bucal, principalmente do Agente Indígena de Saúde. Durante a gestação a mulher precisa ter uma boa nutrição, pois a criança esta formando dentro do seu corpo e depende da alimentação da mãe para se desenvolver. Dentro da barriga da mãe o bebê está se formando, inclusive os dentes decíduos, conhecidos como dente de leite. Desde quando a criança nasce, os pais precisam ter muitos cuidados para ela ter uma boa saúde bucal. Na Unidade “Saúde da Família Indígena”, vamos estudar estes cuidados antes e após o nascimento dos dentes. Falaremos também sobre a cárie precoce, que acontece em crianças menores de dois anos. Serão explicados também quais são os sinais e sintomas que aparecem com o nascimento dos dentes e a importância de dentes saudáveis para o desenvolvimento da criança. Na Unidade “Saúde do Adulto” estudaremos os cuidados com a saúde bucal de diabéticos e hipertensos e as alterações bucais provocadas por estas doenças. E na Unidade sobre “Saúde do Idoso”, você conhecerá as doenças mais comuns nesta fase, as mudanças que ocorrem na boca e nos dentes, o edentulismo (que é a perda dos dentes), o uso e os cuidados com as próteses dentárias e a atenção que devemos ter com o câncer bucal. Na Unidade sobre “Urgências e Emergências”, conheceremos um pouco sobre o que devemos fazer quando há cortes e sangramentos na boca, o que fazer quando um dente quebra ou quando há a perda de um dente devido queda ou trauma e ainda conheceremos a pericoronarite, que é um problema que pode ocorrer quando os dentes estão nascendo.

CONHECENDO UM POUCO MAIS SOBRE AS LESÕES BUCAIS Além das doenças que ocorrem nos dentes e na gengiva, existem outros problemas que podem ocorrer na boca. Estas doenças são causadas por bactérias, fungos ou vírus e se manifestam através de lesões. Chamamos de lesões bucais os inchaços, manchas ou feridas na boca, nos lábios ou na língua. As principais lesões bucais estão relacionadas a doenças, como candidíase, também conhecida como sapinho, herpes labial e câncer bucal.

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Candidíase A candidíase também é conhecida como monilíase oral ou “sapinho”. A candidíase é uma micose causada por fungos que ocorre na cavidade bucal. Os fungos gostam de ambientes quentes e úmidos e a cavidade bucal é assim. Entretanto, a candidíase ocorre geralmente quando as defesas naturais do nosso corpo estão baixas, por isso a candidíase ocorre com mais frequência entre os bebês e os idosos. Nos adultos, a candidíase pode estar relacionada com a higiene das próteses dentárias, que são as dentaduras. As próteses dentárias são usadas para repor os dentes perdidos. A falta de limpeza das próteses ou dentaduras leva ao acúmulo de sujeira, criando um ambiente bom para as bactérias e fungos que se encontram na bochecha e na língua. As lesões da candidíase mais comuns são placas brancas (iguais ao leite) que se destacam facilmente e podem aparecer em toda a cavidade bucal.

FIGURA 38: Candidíase. Foto: James Heilman, MD.

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Queilite angular A queilite angular ou boqueira é uma infecção localizada nos ângulos da boca e muito comum principalmente nas crianças desnutridas e nos idosos. A lesão aparece no canto da boca como uma ferida dolorida que arde e incomoda muito. Forma uma área avermelhada com rachaduras e dói bastante ao tomar bebidas e alimentos ácidos e também ao abrir a boca. A queilite pode ser causada por fungos, por deficiência de nutrientes como o ferro, pelo aumento da produção de saliva, pela queda de resistência do organismo, pelo uso de dentaduras mal adaptadas, pela má higiene e por lábios ressecados. O tratamento da queilite angular é eliminar ou corrigir os fatores que estão causando esta lesão, como conserto de dentaduras e correção de deficiência de nutrientes. Em outros casos, pode ser necessário o uso de medicamentos com aplicação de pomadas antimicóticas, antibióticas ou anti-inflamatórias no local da lesão. Deve ser recomendado evitar alimentos e bebidas ácidas que irritam ainda mais o local das lesões.

FIGURA 39: Queilite angular. Foto: James Heilman, MD.

Aftas As aftas podem ocorrer em diferentes locais da boca. São lesões pequenas, geralmente de forma circular, com o centro esbranquiçado e bordas avermelhadas. As aftas demoram de sete a 15 dias para desaparecer e podem reaparecer mais tarde.

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Podem variar de tamanho. As lesões podem causar bastante dor e dificultar a alimentação, especialmente nas crianças. Crianças com aftas babam muito e não conseguem se alimentar, ficam bastante irritadas e podem perder peso. Nos casos mais amenos, vocês podem orientar a pessoa ou seu familiar a evitar alimentos ácidos ou apimentados. Dependendo do quadro, se evoluir para uma forma mais grave ou persistente, pode ser preciso usar alguma medicação analgésica, anestésica ou anti-inflamatória.

FIGURA 40: Aftas. Foto: Maksim

Herpes labial O herpes labial é uma doença contagiosa, transmissível, causada por um vírus de fácil transmissão pelo contato. Os principais sintomas são: - lesões em forma de bolhas nos lábios e na pele em volta dos lábios, que ardem e incomodam; - mal estar geral; - pode ter inchaço na região. Quando as bolhas se rompem, inicia-se o processo de cicatrização, formando uma crosta (casca) no local. Enquanto houver a presença de feridas é importante que a pessoa tome alguns cuidados de higiene para não contaminar outras pessoas. É importante lavar sempre as mãos, evitar tocar os olhos e beijar.

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A pessoa com herpes também não pode compartilhar cuias, pratos, copos e colheres com outras pessoas, porque a doença pode ser transmitida pelo uso comum destes utensílios. O herpes labial se manifesta mais de uma vez na mesma pessoa, podendo retornar de tempos em tempos. É como se o vírus ficasse dormindo, acordando quando a resistência da pessoa fica baixa, provocando a doença novamente. Com o tempo, a pessoa começa a perceber quando vai aparecer nova lesão. Nestes casos, podem ser usados alguns medicamentos para interromper ou diminuir a lesão antes que ela se desenvolva totalmente.

FIGURA 41: Herpes Labial. Foto: Domínio Publico.

Câncer bucal O câncer bucal é uma doença muito séria, que se não for diagnosticada a tempo pode levar à morte. No câncer bucal ocorrem lesões que não cicatrizam. No início da doença, as lesões não são doloridas e não sangram. Assim, a pessoa não se preocupa e não procura os profissionais que cuidam da saúde bucal. As principais causas que podem levar ao aparecimento destas lesões são: o fumo, as bebidas alcoólicas e os traumatismos provocados por próteses mal adaptadas.

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Lembre-se de que as próteses mal adaptadas podem machucar de maneira lenta, por muito tempo, e por isso podem provocar feridas que podem se transformar em câncer bucal. Para prevenir é importante: - Não fumar. - Evitar bebidas alcoólicas em excesso. - Fazer o autoexame, ou seja, estar sempre olhando se aparece alguma lesão na boca e se ela não cicatriza. - Examinar as pessoas de sua comunidade. - Encaminhar ao dentista se encontrar algo diferente. - Observar pacientes com dentaduras (chapas ou perereca) mal adaptadas.

FIGURA 42: Câncer bucal - Foto: Welleschik

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SÍNTESE Neste texto nós conversamos sobre uma parte específica do nosso corpo, que é muito importante para a nossa saúde: a boca. Vimos que a boca está associada a funções importantes, como a mastigação, a fala, a sucção, a deglutição, a respiração etc. Conhecemos as principais estruturas que formam nossa boca, como gengiva, bochecha, lábios, palato, assoalho bucal, língua e dentes. Vimos que a boca está ligada a outras estruturas, como os múscu- los e os ossos da face, que funcionam em conjunto para que pos- samos nos alimentar, falar e sorrir. Também vimos que, dentre as estruturas da boca, os dentes têm um papel importante na nossa vida, pois iniciam o processo de digestão dos alimentos com sua função de cortar, picar e triturar os alimentos, para que eles pos- sam ser deglutidos e digeridos. Conhecemos todas as estruturas que formam o dente e quais são as suas funções. Estudamos que em volta dos dentes existe o periodonto - que é formado por gen- giva, ligamento periodontal e osso alveolar - que ajuda os dentes a se fixarem no osso. Falamos, também, sobre os dentes de leite ou dentes decíduos e sua troca pelos dentes permanentes conforme a criança vai crescendo. Os primeiros dentes começam a nascer na boca quando a criança tem mais ou menos seis meses. Os dentes permanentes começam a aparecer aos seis anos de idade e devem ficar na boca por toda a vida. Aprendemos sobre as principais do- enças bucais, como a cárie dentária, o abscesso dentário, a gengivi- te, a doença periodontal e as lesões bucais. Finalmente, discutimos sobre a prevenção das doenças bucais e como o AIS pode atuar nesta importante tarefa. Vimos que o uso do flúor, seja na esco- vação diária ou através de aplicações regulares, é uma importante medida de prevenção a que toda a população deve ter acesso.

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ALIMENTAÇÃO NO RECEM NASCIDO

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TEXTO 1

A ALIMENTAÇÃO DO RECÉM-NASCIDO Fernanda Roder Martinez, Mariana Maciel Queiroz, Vanessa Moreira Haquim, Maurício Soares Leite e Sofia Beatriz Machado de Mendonça.

n

este texto textovamos vamos falar sobre a alimentação do recém falar sobre a alimentação do recém nascido, nascido, dando muita atenção para o aleitamento materno, dando muita atenção para o aleitamento materno, que é como que é como chamamos quando a criança mama no peito da chamamos quando a criança mama no peito da mãe ou de oumãe ou de ou tras mulheres. Vamos conversar também sobre os os alimentos alimentos que o bebê começa a comer quando fica mais velho. Também o bebê começa a comer quando fica mais velho. Também vamos falar os problemas domamadeiras, uso de mamadeiras, falar sobre ossobre problemas do uso de de leitesde leites artificiais e de algumas comidas dosque nãodevem índios que devem ser artificiais e de algumas comidas dos não índios ser evitadas, evitadas, por que podem fazer mal para ela. porque podem fazer mal para ela.

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PARA REFLETIR

Neste material, vamos conversar sobre como os não índios entendem a alimentação da criança recém nascida. É muito importante lembrar que todos os povos sabem tradicionalmente como cuidar de suas crianças e da alimentação delas. Precisamos reconhecer estes conhecimentos como muito valiosos e, assim, como uma riqueza que deve ser conhecida e respeitada. Estes conhecimentos podem incluir regras sobre cuidados que o pai, a mãe e outros parentes devem tomar depois que a criança nasce, e também sobre a alimentação deles depois do nascimento. Também podem falar sobre assuntos como quando a mãe deve dar o peito depois que a criança nasce, e se pode ou não dar outra coisa além do leite do peito, por exemplo. E sobre o jeito de segurar a criança enquanto ela mama, sobre a época certa de dar outras coisas para ela comer ou beber, e até que idade ela deve mamar. Como já dissemos, o agente indígena de saúde tem um papel muito importante, porque tem acesso tanto aos conhecimentos de seu povo como aos conhecimentos dos não índios sobre estes assuntos. Às vezes pode acontecer do AIS não entender bem de alimentação da criança, se ele é homem e em seu povo quem entende deste assunto são as mulheres que já tiveram filhos. Se isso acontece em sua comunidade e você, AIS, é homem, procure conversar com mulheres que possam falar com você sobre isso. Muitas vezes os não índios não sabem que os povos indígenas têm seus conhecimentos tradicionais sobre estes assuntos, e podem mesmo achar que eles não são certos. Então, lembre-se sempre do valor dos conhecimentos que seu povo tem. Lembre também que as informações que são trazidas aqui a você sobre a alimentação do recém nascido devem ser somadas aos conhecimentos e práticas tradicionais, e não vistas como melhores. Elas não querem dizer que os conhecimentos tradicionais não são bons, não se esqueça disso.

O ALEITAMENTO MATERNO O leite materno é o principal alimento para os bebês, pois ele contém todos os nutrientes importantes para o bom crescimento e desenvolvimento da criança. Para os não indígenas, o bebê deve ser amamentado somente com leite materno até os seis meses, não sendo necessário introduzir nenhum outro alimento antes des- se período. O leite materno continua sendo muito importante até o segundo ano de vida, pois protege a criança das doenças mais comuns da infância.

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O leite materno contém muitos nutrientes importantes e em quantidades adequadas, como por exemplo: proteínas, carboidra- tos, gorduras, vitaminas, minerais, além de água. O leite materno também contém anticorpos que ajudam na proteção contra doen- ças.

LEITE MATERNO AGENTES INDÍGENAS DE SAÚDE DO POVO YUDJA O aleitamento materno é muito importante para alimentar a criança. É por isso mesmo que a criança não come outras coisas, só o leite materno a deixa ficar gordinha, forte e a faz crescer bem, com saúde. Todos os nutrientes dos alimentos que a mãe come passam pelo leite para a criança. O leite materno é muito importante para a criança, porque é um alimento rico e nutritivo, é por isso que é o alimento principal da criança. Por isso não podemos deixar a criança parar de ser amamentada pela mãe antes da hora, pode prejudicar o crescimento da criança e ela ficar vulnerável para qualquer tipo de doença. Fonte: Atxuã seha - Nutrição. Projeto Xingu/Unifesp. Impresso pelo MEC e A produção UFMG, 2012. de leite materno é chamada de lactação. Depois

do nascimento é importante que o bebê sugue o peito da mãe para es- timular a produção de leite, quanto mais o bebê mamar, mais leite a mãe vai ter. O ideal é estimular o aleitamento materno logo após o parto. É muito importante para a sobrevivência do bebê o contato com a mãe e com o leite materno já na primeira hora de vida. Esse contato logo após o nascimento ajuda a proteger a mãe e o bebê contra doenças. Alguns estudos mostram que o aleitamento materno é fundamental para diminuir o número de mortes de crianças até cinco anos e para proteger a criança das principais doenças que podem aparecer na infância, como a diarreia e a pneumonia.

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O leite produzido pela mãe não contém micro-organismos que provocam doenças no bebê. Já os leites artificiais podem provocar doenças quando preparados de forma inadequada, por exemplo, usando água que esteja contaminada ou quando as mãos e a ma- madeira não estão bem limpas. Os leites artificiais não têm anti- corpos que ajudam na proteção da criança.

FASES DA PRODUÇÃO DO LEITE MATERNO A lactação tem algumas fases importantes e que a equipe deve ter conhecimento para informar e orientar as mães que acabaram de ter seus bebês. No começo, a mãe vai produzir uma pequena quantidade de lei- te. Esse leite pode ter uma cor mais clara ou mais amarelada e é chamado de colostro. O colostro é comparado a uma vacina, pois contém anticorpos que irão proteger o bebê de muitas doenças. Como o colostro sai clarinho e em pequena quantidade, algu- mas mães ficam preocupadas achando que o seu leite é fraco e não sustenta seu bebê, deixando de amamentar o seu filho e procuran- do usar leites artificiais. Por isso, é importante informar a mãe que esse colostro é um alimento muito nutritivo e rico em anticorpos que vão ajudar na proteção do bebê. Em cada mamada, quando o bebê começa a mamar o leite é mais claro, mas é rico em proteínas e vitaminas. Conforme o bebê vai mamando ele fica mais amarelo, pois o leite vem com mais gor- dura. Por isso é importante que o bebê mame todo o leite do peito da mãe, assim ele vai ingerir todos os nutrientes importantes para o seu crescimento. Após alguns dias do nascimento e com o bebê sugando o peito da mãe, o leite vai começar a descer. Então as mamas da mãe co- meçam a ficar cheias e o leite começa a sair em maior quantidade. Geralmente a descida do leite em maior quantidade acontece até cinco dias após o parto. Quanto mais rápido a mãe começa a ama- mentar o bebê, mais rápido acontece a descida do leite. Enquanto a mãe está amamentando sua menstruação fica interrompida. Nesse período é mais difícil ela engravidar, mas algumas vezes pode acontecer por que ela pode ovular mesmo sem mens- truar.

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O TEMPO CERTO PARA ENGRAVIDAR NOVAMENTE Existe uma regra entre grande parte dos povos indígenas que recomenda que os casais evitem ter outro filho até a criança aprender a andar e começar a falar. Essa regra ajuda a mãe a continuar amamentando seu filho e cuidando bem dele. Se ela tiver outro bebê enquanto a criança ainda estiver muito pequena, vai ser mais difícil ela conseguir cuidar direito dos dois filhos ao mesmo tempo e suas crianças podem ficar desnutridas. A biomedicina também recomenda que a mãe espere a criança completar dois anos para engravidar novamente. Esperar esse período para engravidar garante que a criança se desenvolva adequadamente, evita a desnutrição e diminui problemas durante seu crescimento.

A equipe deve estar preparada para responder às dúvidas das mães esclarecendo sobre a importância do leite materno para ela e o bebê terem saúde. LEMBRE-SE. O aleitamento materno também ajuda o útero a voltar ao seu tamanho normal. Por isso, algumas mulheres sentem cólicas quando estão amamentando. A produção de leite aumenta a cada dia. Quanto mais a mãe oferecer o peito para o bebê mamar, mais leite ela vai ter. É importante que a mãe esteja calma e tranquila quando está amamentando. Conversar e ajudar a mãe nesse período é muito importante e ajuda a prevenir problemas na amamentação.

A IMPORTÂNCIA DO ALEITAMENTO MATERNO PARA O BEBÊ O leite materno traz muitos benefícios para a vida do bebê e da mãe. Crianças que são amamentadas com leite materno ficam menos doentes e se desenvolvem melhor.

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A amamentação é um momento que ajuda na aproximação entre a mãe e o filho. Além da importância nutricional, o ato de sugar o leite materno auxilia na fala, na respiração e na formação da arcada dentá- ria do bebê. O leite materno é produzido na temperatura certa, é de fácil digestão, por isso causa menos cólica no bebê.

Os principais benefícios para o bebê são: • Evita diarreia. • Evita infecção respiratória. • Evita otite média. • Diminui o risco de alergias alimentares e da pele. • Ajuda na formação dos dentes. • Ajuda a prevenir obesidade e diabetes. • Ajuda no desenvolvimento motor: a criança consegue engati- nhar, andar e brincar com mais facilidade. • Evita doenças graves que podem levar à morte. • Não tem custo financeiro.

Benefícios do aleitamento materno para mãe: • Ajuda na contração do útero, fazendo com que o útero da mulher diminua de tamanho, voltando ao que era antes do nascimento. • Evita doenças como câncer de mama e câncer de ovário. • Aproxima a mãe e o filho. • Diminui o risco de desenvolver diabetes. • Ajuda a mãe a voltar ao seu peso normal mais rápido.

Cuidados para uma boa amamentação • A mãe deve sempre estar em uma posição confortável para amamentar: deitada ou sentada. • O bebê não deve ficar com a cabeça muito baixa quando está sendo amamentado, isso pode fazer com que ele tenha dores de ouvido. • Limpar os mamilos apenas com água antes de amamentar. • Massagear os seios para evitar o “empedramento” do leite tam- bém conhecido como “ingurgitamento da mama”. • Expor as mamas ao sol da manhã para fortalecer a pele da mama. • Orientar a mãe a verificar se sua mama está muito cheia de leite. Se estiver muito cheia, o bebê tem dificuldade de pegar a mama, machucando o bico do peito. Nesses casos, a mãe deve esvaziar um pouco a mama para depois amamentar o bebê. • Para não machucar o peito, a mãe deve retirar a criança com cuidado quando ela parar de mamar.

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A AMAMENTAÇÃO VISTA POR DENTRO DO CORPO

FIGURA 1: A anatomia da mama na amamentação

COMO COLOCAR O BEBÊ NO PEITO O bebê deve: • Ficar com a barriga voltada para o corpo da mãe. • Deve estar com a boca bem aberta. • Deve estar com o seu lábio inferior virado para fora. • Pegar na aréola e não apenas no bico (a aréola deve estar mais visível acima da boca do que abaixo). • Encostar o queixo no peito da mãe.

FIGURA 2: A posição do bebê durante a amamentação

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Na posição incorreta o bebê pega somente a região do bico, o que o impede de mamar o suficiente e aumenta os riscos de ma- chucar o peito da mãe.

PROBLEMAS MAIS COMUNS NA AMAMENTAÇÃO Ingurgitamento da mama O ingurgitamento é quando a mama fica muito inchada e dolori- da, quando o leite fica acumulado dentro dela. Isso acontece quan- do o bebê não consegue sugar corretamente a mama ou quando a mãe fica um longo período sem oferecer o peito. É importante o AIS ficar atento aos sinais de infecção, como febre e manchas vermelhas na mama. A mãe deve ser orientada sobre a pega corre- ta, massagens na mama e a retirada do leite (ordenha) quando as mamas estiverem muito cheias, para que o bebê consiga pegar o peito corretamente.

FIGURA 3: Ingurgitamento da mama

Como retirar o leite: Antes da retirada de leite, a mulher deve massagear as mamas. A mãe deve segurar o peito com uma mão embaixo e com a outra mão massagear a parte de cima do peito, fazendo movimentos cir- culares de cima para baixo.

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FIGURA 4: Automassagem nas mamas

Depois de massagear a mama a mãe deve começar a retirar o leite pela região areolar (rodela marrom em volta do bico do peito). Primeiro a mulher tem que posicionar o dedo indicador na parte de baixo do peito e o polegar na parte de cima, próximos à aréola. Em seguida, pressionar esta parte do peito que ficou entre os dedos. A mãe deve repetir esse movimento várias vezes em torno de toda região areolar, até que o bebê possa abocanhar o peito com facili- dade.

FIGURA 5: Retirada do leite

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Fissuras As fissuras são lesões na região da aréola e geralmente aparecem nos primeiros dias de amamentação, quando o bebê pega o peito da mãe de forma errada. Os cuidados nesse tipo de problema são: • Orientar a mãe a alternar as mamas a cada mamada. • Tirar o mamilo cuidadosamente da boca do bebê. • Expor as mamas ao sol na parte da manhã para ajudar na cicatrização das lesões. É importante lembrar que não se deve utilizar nenhuma poma- da, pois podem fazer mal ao bebê e acabam deixando as mamas com a pele mais fina, facilitando o aparecimento de lesões.

FIGURA 6: Fissura na mama

Mastite Mastite é uma inflamação da mama. A mama fica vermelha, en- durecida, quente e a mulher sente dor, podendo ocorrer febre em alguns casos. A mãe deve massagear o peito e retirar o excesso de leite sempre que for preciso. A mãe deve ser orientada a continu- ar amamentando, pois ajuda a melhorar os sintomas da mastite. É importante o AIS ou outro profissional da equipe avaliar se o bebê está pegando corretamente o peito da mãe. Algumas vezes é ne- cessário usar antibiótico para tratar este problema.

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POSIÇÕES PARA AMAMENTAR

FIGURA 7: Posições para amamentar

Apesar da importância do aleitamento materno, existem algu- mas situações em que as mães não podem amamentar a criança: • Mães infectadas pelo HIV. • Uso de medicamentos que podem passar através do leite e prejudicar o bebê. • Criança que tem uma doença rara chamada de galactosemia (com essa doença a criança não pode ingerir leite humano ou qualquer outro que contenha lactose). • Infecção da mama. • Mãe com varicela. • Mãe com doença de Chagas. • Abcesso mamário (mama com presença de pus). • Mãe que consome drogas.

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Algumas pessoas acham que o aleitamento materno não pode ser indicado quando as mães estão com alguma doença, mas isso não é verdade, o aleitamento materno pode e deve ser indicado mesmo na presença de algumas doenças, como: • Tuberculose. • Hanseníase. • Hepatite B. • Hepatite C. • Dengue.

RECEITA PARA AUMENTAR A PRODUÇÃO DE LEITE MATERNO RECEITA DE PALMITO DE TUCUM MATE IKPENG Quando a mulher não tem leite materno para dar de mamar ao filho, é recomendado para ela tomar mingau de palmito. Primeiro você vai ao mato derrubar o tucum. Depois de derrubar o tronco é tirado o palmito. Traz o palmito até em casa e a mulher vai ralar. Quando a mulher terminar de ralar, coloca-se uma panela com água no fogo. Precisa acender muito fogo, quando a água ferver já pode colocar o palmito ralado dentro, aí precisa mexer, mexer bastante. Pode demorar alguns minutos até ficar pronto. Quando ficar pronto é tirado do fogo e esperamos esfriar bem. Depois de frio já pode dar para a mulher que está amamentando, daí ela vai ter muito leite materno no seu peito. Fonte: Watpïro Mïran - Livro sobre nutrição. Projeto Xingu/Unifesp. Impressão: MEC e UFMG, 2012.

ATIVIDADE PROPOSTA

Para o seu povo, qual a importância do leite materno para a criança? O seu povo tem alguma regra ou receita para aumentar a produção de leite? Escreva um texto explicando.

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Dicas que podem ajudar no aumento da produção do leite: • Melhorar o posicionamento e a pega do bebê, quando não es- tão corretos. • Aumentar a frequência das mamadas. • Oferecer as duas mamas em cada mamada. • Dar tempo para o bebê esvaziar bem as mamas. • Trocar de mama várias vezes numa mamada se a criança esti- ver sonolenta ou se não sugar vigorosamente. • Evitar o uso de mamadeiras e chupetas. • A mãe deve consumir alimentos saudáveis de acordo com a regra cultural de seu povo. • Ingerir bastante líquido, beber água frequentemente, ou suco natural de frutas.. • Repousar.

COMENTÁRIOS ERRADOS SOBRE A AMAMENTAÇÃO “O leite materno é fraco e o meu filho chora com fome” – Isso não é verdade, pois o leite materno é o alimento completo para o bebê. • “Tenho pouco leite”- Como já vimos, quanto mais o bebê mama, maior vai ser a produção de leite. São muito raras as situações em que a mãe não produz o leite em quantidade suficiente. • “Criança que nasceu antes do tempo”(prematura) – O leite materno é ainda mais importante nessa condição. A mãe não deve deixar de amamentar mesmo que seu filho tenha nascido antes do tempo.

Classificação do aleitamento materno O aleitamento materno costuma ser classificado em: • Aleitamento materno exclusivo: quando a criança recebe so- mente leite materno de sua própria mãe ou de outra mulher. No aleitamento exclusivo a mãe não oferece nenhuma outra bebida ou comida, nem mesmo água. • Aleitamento materno predominante: quando a criança recebe, além do leite materno, água ou bebidas à base de água (água adocicada, chás, mingau, suco de frutas, outro tipo de leite etc) • Aleitamento materno complementado: quando a criança re- cebe, além do leite materno, qualquer outro alimento. Essa fase acontece geralmente após os seis meses de vida. Você e sua equipe podem anotar essa informação no mapa diário de acompanhamento das crianças da sua comunidade.

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LEITE DE VACA E FÓRMULAS INFANTIS O uso desses leites é recomendado apenas para aquelas crian- ças que não têm condições de serem amamentadas no peito da mãe por algum dos motivos que vimos anteriormente. As crianças que não apresentarem nenhum problema devem ser amamenta- das no peito da mãe. Quando o leite de vaca é oferecido nos primeiros dias de vida a criança pode ter alergia. Por isso não é bom oferecer leite de vaca antes do primeiro ano de vida. Quando necessário, por exemplo em caso de adoção ou adoecimento da mãe, o uso de leite de vaca e/ ou fórmula infantil deve ser avaliado pelos profissionais de saúde. As fórmulas infantis não devem ser prescritas para as crianças que podem ser amamentadas por suas mães, pois o leite materno é muito melhor para a saúde da criança. Caso a criança tenha a necessidade de usar a fórmula infantil, a equipe deve acompanhar a família até que ela consiga preparar a fórmula sozinha. O uso de um copinho é a melhor maneira para oferecer o leite artificial para a criança, mas muitas vezes algumas mães acabam oferecendo o leite artificial na mamadeira. Se a mãe insistir no uso da mamadeira o AIS deve orientá-la sobre os cuida- dos de limpeza e preparo.

CUIDADOS AO PREPARAR AS FÓRMULAS INFANTIS Quando a mamadeira não é bem limpa, ela pode contaminar o leite e a criança fica com diarreia. Além disso, ela pode ser ruim para a amamentação. Algumas crianças, depois que experimen- tam a mamadeira, passam a apresentar dificuldade quando vão mamar no peito. A mamadeira contaminada também pode pro- vocar lesões na boca do bebê, atrapalhando a amamentação e a criança pode ficar doente. Além disso, é preciso estar muito atento para a quantidade de pó e água que foi prescrita pelo médico ou nutricionista. Se a fórmula for preparada com uma quantidade errada de pó ou água também pode dar diarreia na criança. O modo de preparo e as quantidades certas estão escritas na embalagem das latas, mudando de acordo com a marca do leite.

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FIGURA 8: Cuidados ao preparar fórmulas infantis

Problemas no uso da mamadeira • Contaminação do leite, causando doenças. • O preparo do leite com as mãos sujas, o que também provoca doenças. • Oferecer o leite artificial que já foi preparado há bastante tem- po. • Oferecer a mamadeira pode atrapalhar o aleitamento mater- no. • O uso de mamadeira pode prejudicar a fala, a posição dos dentes e a respiração da criança. • Colocar açúcar no leite • Oferecer outras bebidas como refrigerantes e sucos industria- lizados que podem provocar cárie. Quando a mãe apresentar dificuldades para amamentar, o AIS deve saber identificar as principais causas dessa dificuldade e orientá-la sobre os cuidados para prevenir os problemas e tornar a amamentação um momento em que a mãe se sinta bem. A in- trodução da mamadeira tem sido cada vez mais comum entre os povos indígenas. Muitas vezes porque não são orientados sobre os benefícios do leite materno. Muitos profissionais da área da saúde acabam prescrevendo o leite artificial sem necessidade, pois acham que a mãe não quer amamentar. Nesse caso, é preciso investigar novamente essa prescrição, lembrando que o uso do leite artificial é muito caro e não oferece toda proteção que o bebê precisa.

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ATIVIDADE PROPOSTA Depois de estudar sobre a amamentação, pense junto com sua equipe sobre uma atividade de educação em saúde que aborde o tema da amamentação, perguntando sobre a importância e os cuidados na amamentação para o seu povo. Depois de fazer a atividade em sua área de atuação ou aldeia faça um relato para a sua turma.

ALIMENTAÇÃO COMPLEMENTAR Para a biomedicina, a alimentação complementar é a comida oferecida ao bebê depois que ele completa seis meses de vida. Nesse período, a criança não pode mais se alimentar somente com o leite materno, ela precisa de outros alimentos para ajudar no seu crescimento e desenvolvimento.

ATIVIDADE PROPOSTA

Para o seu povo, quando a criança já pode receber algum alimento? Que tipo de alimento é oferecido para a criança pequena quando ela ainda está sendo amamentada?

Começar a comer é um momento novo e importante para a criança. O nome dado para essa transição é alimentação comple- mentar. Esse período de transição pode ser um momento de risco se não houver os cuidados necessários. Os principais riscos na in- trodução da alimentação complementar são: • A criança pode perder peso e ficar desnutrida. • Diarreia. • Uma criança que esta perdendo peso pode ficar mais vulnerá- vel a outras doenças. Conhecer os riscos envolvidos na introdução de novos alimen- tos e os cuidados necessários nesse período auxilia o profissional nas suas atividades de acompanhamento das crianças, como por exemplo durante uma visita domiciliar ou uma pesagem coletiva. É importante que os profissionais saibam identificar quem são as crianças que estão nessa fase de transição.

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Os principais cuidados para prevenir a perda de peso e diarreias estão relacionados à escolha de alimentos adequados para a idade da criança e os cuidados para não contaminar o alimento (limpeza das mãos de quem prepara a comida, cuidados com insetos, roe- dores etc). Para os não-indígenas a alimentação do bebê deve ser muito saudável, sem açúcar, sal e alimentos industrializados. Esses alimentos não têm nutrientes importantes e atrapalham o cresci- mento e o desenvolvimento da criança. Outro problema bastante comum quando se ingere uma quantidade grande desses alimen- tos é a diarreia. O corpo de uma criança que está começando a receber novos alimentos ainda está se formando e por isso precisa de cuidados e alimentos nutritivos. Nessa fase não devem ser oferecidos ao bebê os seguintes ali- mentos:

FIGURA 9: Alimentos que não devem ser oferecidos ao bebê.

Nessa fase, a alimentação da criança deve ser variada: ela deve experimentar vários tipos de comidas diferentes. Os melhores ali- mentos são aqueles produzidos nas próprias comunidades, pois são alimentos naturais que não estão contaminados com agrotó- xicos e não contém conservantes. Esses alimentos são muito mais nutritivos do que os comprados nas cidades.

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PARA O POVO TICUNA, OS ALIMENTOS COMPLEMENTARES SÃO Cereais ou tubérculos (arroz, batata, cará, macaxeira e milho), frutas (banana, bacuri, entre outras). Uma boa opção de prato para as crianças depois de completarem seis meses são as papas, mingaus, sopas grossas, caldos, suco de pupunha, garapa de cana, frutas amassadas, mujica de peixe e açaí. Fonte: Cartilha “Os direitos e os cuidados com as crianças Ticuna no Alto Rio Solimões”, Amazonas – UNICEF

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Fonte: Adaptado de “Dez passos para uma alimentação saudável: guia alimentar para crianças menores de dois anos” : um guia para o profissional da saúde na atenção básica / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. – 2. ed. – Brasília : Ministério da Saúde, 2010. http://dab.saude.gov.br/portaldab/biblioteca.php?conteudo=publicacoes/ enpacs_10passos

As orientações devem ser construídas junto com a família, lem- brando da disponibilidade de alimentos na casa da família da crian- ça, valorizando os alimentos tradicionais e as regras de alimenta- ção.

ATIVIDADE PROPOSTA

Pesquise e escreva uma receita tradicional usada para alimentar a criança que está começando a comer. Existem mais receitas que eram preparadas para as crianças e que vem sendo esquecidas?

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BARROS, D. C.; SILVA, D. O.; GUGELMIN, S. A. (Org.). Vigilância Alimentar e Nutricional para a Saúde Indígena. Fundação Oswaldo Cruz/ Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2007, v. 1- 2. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Política nacional de atenção integral à saúde da mulher: princípios e diretrizes. Brasília: Ministério da Saúde, 2004. . Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Livro da parteira tradicional. 2. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2012. . Ministério da Saúde. Universidade Estadual do Ceará. Humanização do parto e do nascimento. Brasília: Ministério da Saúde, 2014. . Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas. Além da sobrevivência: práticas integradas de atenção ao parto, benéficas para a nutrição e a saúde de mães e crianças. Brasília: Ministério da Saúde, 2011. . Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Guia prático do agente comunitário de saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2009. . Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. O trabalho do agente comunitário de saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2009. . Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Saúde da criança: crescimento e desenvolvimento. Brasília: Ministério da Saúde, 2012. . Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Agenda de compromissos para a saúde integral da criança e redução da mortalidade infantil. Brasília: Ministério da Saúde, 2004. CARVALHO, C. (Org.). Pa’miri-Masa. A origem do mundo. São Paulo: Saúde sem Limites, 2004.

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FREITAS, A. (Org.). O kujà e o sistema de medicina tradicional kaingang – por uma política do respeito. Relatório do II Encontro dos Kujà, Terra Indígena Kaingang Morro do Osso, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil. Revista do (LEPAARQ-UFPEL). Cadernos do Laboratório de Ensino e Pesquisa em Antropologia e Arqueologia da Universidade Federal de Pelotas (LEPAARQ), Porto Alegre, v. 4, n. 7-8, 2007. GERLIC, S. (Org.). Índios na visão dos índios: Somos Patrimônio. Salvador: Thydêwá, 2011. INSTITUTO DE PESQUISA E FORMAÇÃO INDÍGENA (IEPÉ). Jane reko mokasia. Fortalecendo a organização social Wajãpi. Programa de Formação de pesquisadores Wajãpi - Iepé e Conselho das Aldeias Wajãpi – Apina. São Paulo: APINA/IEPÉ/ IPHAN, 2008. INSTITUTO DE PESQUISA E FORMAÇÃO INDÍGENA (IEPÉ); CONSELHO DAS ALDEIAS WAJÃPI (Apina). Alguns conhecimentos sobre alimentação. Programa Wajãpi. Macapá: Iepé, 2007. . Fundação Nacional de Saúde. Manual de Atenção à saúde da Criança Indígena Brasileira promovido pela Sociedade Brasileira de Pediatria. Brasília: Fundação Nacional de Saúde, 2004. . Fundação Nacional de Saúde. Formação inicial para agentes indígenas de saúde: módulo introdutório. Brasília: Fundação Nacional de Saúde, 2005. . Fundação Nacional de Saúde. Educação profissional básica para agentes indígenas de saúde: módulo promovendo a saúde da mulher, da criança e a saúde bucal. Brasília: Fundação Nacional de Saúde, 2005. . Secretaria Especial de Saúde Indígena. Manual Orientativo de Vigilância Alimentar e Nutricional Indígena (versão preliminar). Brasília: Ministério da saúde, 2013. . Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Orientações para a coleta e análise de dados antropométricos em serviços de saúde. Norma Técnica do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional-SISVAN. Brasília: Ministério da Saúde, 2011.

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MALÁRIA Para conversar sobre as endemias em nosso país é importante que estudemos a história do Brasil e das políticas públicas relacionadas à saúde. Vocês já estudaram muitas coisas nos primeiros cadernos, quando se falou de território, história e política. Agora será importante estudar e entender como são essas doenças e o que é necessário para elas acontecerem e para preveni-las. Algumas destas doenças já existem no Brasil há muitos séculos e provavelmente seu povo já conhecia e sabia como tratar e cuidar. Enquanto estiver estudando esta matéria procure conversar com os mais velhos para saber se eles já conhecem ou conheciam essas doenças e como eles faziam para evitá-las ou tratá-las.

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ATIVIDADE PROPOSTA

Vamos ler este texto para começar a conversa em grupos. http://cienciaecultura.bvs.br/pdf/cic/v55n1/14855.pdf

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Para sabermais:

http: //bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/agentes_ indigenas_endemicas.pdf

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MALÁRIA A malária é uma doença infecciosa causada por um protozoário chamado plasmódio, do gênero Plasmodium. No Brasil existem três espécies: o Plasmodium vivax, o P. malarie e o P. falciparum, sendo que este último é o responsável pelos casos mais graves. O plasmódio é transmitido pela picada de mosquitos do gênero Anopheles, conhecidos como anofelinos. A doença atinge vários países no mundo, especialmente os países em desenvolvimento. No Brasil ela é considerada endêmica na região amazônica. Durante muitos anos, a estratégia de combate à malária era focada na eliminação do mosquito vetor e, desde a década de 1990, vem se adotando um modelo centrado no homem, no qual o agente de saúde tem um papel muito importante.

FIGURA 57: Hemácias infectadas pelo plasmódio - Crédito: Universidade Federal de Goiás

FIGURA 58: Anofelino picando ser humano. Foto: CDC/Jim Gathany (2003).

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Quase todos os casos de malária no Brasil ocorrem na região da Amazônia Legal, como pode ser visto no mapa a seguir.

FIGURA 59: distribuição da malária no Brasil - Fonte: SVS

ATIVIDADE PROPOSTA Observe este mapa que mostra a distribuição da malária no Brasil. Pesquise e converse com seus colegas sobre a realidade de sua região ou Distrito, e responda: Por que a malária aparece nestas regiões do mapa? Existem casos de malária em seu território? Estão dentro ou fora da área indígena? Quais são as condições do ambiente que facilitam o aparecimento dos casos de malária? Além dos casos estarem concentrados nas regiões apresentadas no mapa, a malária é uma doença sazonal, com aumento dos casos nos períodos chuvosos do ano.

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Ciclo de transmissão

Sazonal é um acontecimento que ocorre em algumas épocas do ano, como os períodos da seca e da chuva. No caso da malária, a doença ocorre mais na época das chuvas e das cheias dos rios, quando acontece a proliferação dos mosquitos transmissores.

O ciclo da doença começa quando um mosquito Anopheles pica uma pessoa doente, adquirindo o parasita. Quando este mesmo mosquito pica uma pessoa sadia, ele passa o parasita para ela. Logo que o mosquito transmite os protozoários para a pessoa, o parasita vai para o fígado, onde se multiplica nas células desse órgão. Esta fase da doença dura cerca de uma semana, no caso dos P. falciparum e vivax, e duas semanas, no caso do P. malarie. Nessa fase, a pessoa não apresenta sintomas; este período é conhecido como período de incubação. Às vezes acontece de alguns parasitas ficarem “dormentes” no fígado, podendo provocar recaídas da doença meses depois que o indivíduo foi contaminado.

FIGURA 60: ciclo de transmissão da malária

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Do fígado, os parasitas vão para o sangue, entrando nas hemácias (glóbulos vermelhos), onde se multiplicam. Depois de períodos que variam de 48 (P. falciparum e vivax) a 72 horas (P.malarie), os parasitas rompem as hemácias ficando livres na circulação. Esses momentos correspondem às crises maláricas, quando o doente apresenta febre alta, calafrios, tremores e sudorese intensa.

O diagnóstico e tratamento rápido da doença são a melhor estratégia para evitar novos casos. Assista a esses filmes em sala de aula para entender melhor como acontece o ciclo da malária no homem e no mosquito:

https://www.youtube.com/watch?v=xyc4gZsHEGQ https://www.youtube.com/watch?v=s-SKYfERZd4 Manifestações

O quadro clínico da malária é classificado em leve, moderado e grave, isto depende do tipo de plasmódio, da quantidade de parasitas circulando no sangue, do tempo da doença e das defesas do doente. Os quadros graves são comuns em crianças pequenas, mulheres grávidas e as pessoas que pegam malária pela primeira vez, especialmente se for causada pelo Plasmodium falciparum. Além da febre e dos sintomas descritos acima, as crises maláricas podem vir acompanhadas de náuseas e vômitos, dores pelo corpo e dor de cabeça.

Em áreas onde a malária costuma ocorrer, devemos sempre pensar na possibilidade de malária quando encontramos uma pessoa com febre! Cuidados

Para cortar o ciclo de transmissão e impedir o aparecimento de novos casos, o diagnóstico e o tratamento precoce são fundamentais. O principal método de diagnóstico é o exame do sangue do paciente, pela técnica da “gota espessa”, que permite ter o resultado cerca de uma hora depois da coleta.

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A qualidade do exame depende da experiência e treinamento da pessoa que faz a leitura da lâmina e da qualidade dos reagentes utilizados. A leitura da lâmina permite confirmar o diagnóstico e descobrir qual o tipo de plasmódio o paciente contraiu. Uma das estratégias utilizadas há vários anos em áreas indígenas para permitir o diagnóstico precoce da malária é manter na comunidade pessoas treinadas, os microscopistas, ou mesmo agentes de saúde capacitados para realizar a coleta e leitura das lâminas nas aldeias. Hoje, além da lâmina, encontra-se disponível um kit para teste rápido para malária falciparum, mas a leitura da lâmina ainda é considerada o melhor e mais confiável método de diagnóstico. Uma vez identificado o doente, o tratamento deve começar imediatamente, conforme o tipo de malária encontrado. Além do diagnóstico e tratamento precoces, existem uma série de medidas importantes para prevenção da malária e algumas delas também ajudam a prevenir outras doenças transmitidas por mosquitos: a) uso de repelentes; b) uso de mosquiteiros; c) uso de roupas grossas, mantendo a maior parte do corpo coberta, especialmente em momentos de se aproximar dos rios e lagoas (durante pescarias, por exemplo); e) evitar proximidades com rios e lagoas, especialmente no início da manhã, no final da tarde e começo da noite (horários de maior atividade dos mosquitos).

FIGURA 61: Colocação de mosquiteiro em cama. Foto: Angela Peres/Secom.

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Em regiões de alta ocorrência de malária a chamada borrifação residual, com inseticidas, é uma opção para controle dos vetores (mosquitos), devendo ser realizada periodicamente (o inseticida mais utilizado mantém seu efeito por cerca de três meses). Durante epidemias ou grandes surtos existe ainda a possibilidade de se realizar a chamada termonebulização para controle do vetor (mosquito), na qual se pulveriza o ambiente com um inseticida que fica no ambiente, por isso mesmo não deve ser utilizado como rotina.

ATIVIDADE PROPOSTA

Faça uma pesquisa em sua aldeia, conversando com os mais velhos, sobre a malária. Pergunte se a malária acontecia nas aldeias e quando ela apareceu. Como a malária chegou nas aldeias? O que acontecia com as pessoas? Havia muitas mortes? O que era feito para diminuir a malária? Havia equipe especializada para combater a malária? Quem capacitava estas pessoas? Existia o controle dos mosquitos nas aldeias? Quem fazia esse controle? E hoje? Como está a situação da malária em sua aldeia? Faça um relato desta pesquisa e apresente para seus colegas em sala de aula. Atividades importantes que vocês devem realizar na comunidade: • Identificar os casos suspeitos de malária e comunicar ao restante da equipe de saúde • Ficar atento aos casos de febre em pessoas que estiveram em áreas em que há casos de malária, principalmente lugares onde existam garimpo ou desmatamento • Orientar a comunidade com relação ao risco de infecção pela malária e as medidas de prevenção • Orientar a comunidade sobre a importância do tratamento correto da doença • Realizar todos os registros das informações em instrumento de registro estabelecido pelo seu local de trabalho e mantendo-o atualizado • Planejar ações de educação em saúde, junto com a comunidade, para eliminar os criadouros de insetos, como mutirões de limpeza, drenagem de poças de água parada, entre outras.

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APOSTILA CAPACITAÇÃO AIS PRONTA

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