A. M. Hargrove - The Hart Brothers 3 - Kestrel

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AVISO A presente tradução foi efetuada pelos grupos Warriors Angels of Sin (WAS), e Pégasus Lançamentos (PL) de modo a proporcionar ao leitor o acesso à obra, incentivando à posterior aquisição. Trata-se de uma tradução de fãs para fãs, sem intuito comercial. O objetivo dos grupos é selecionar livros sem previsão de publicação no Brasil, traduzindo-os e disponibilizando-os ao leitor, sem qualquer forma de obter lucro, seja ele direto ou indireto. Levamos como objetivo sério, o incentivo para o leitor adquirir as obras, dando a conhecer os autores que, de outro modo, não poderiam, a não ser no idioma original, impossibilitando o conhecimento de muitos autores desconhecidos no Brasil. A fim de preservar os direitos autorais e contratuais de autores e editoras, os grupo WAS e PL poderão, sem aviso prévio e quando entenderem necessário, suspender o acesso aos livros e retirar o link de disponibilização dos mesmos, daqueles que forem lançados por editoras brasileiras. Todo aquele que tiver acesso à presente tradução fica ciente de que o download se destina exclusivamente ao uso pessoal e privado, abstendo-se de o divulgar nas redes sociais bem como tornar público o trabalho de tradução dos grupos, sem que exista uma prévia autorização expressa dos mesmos. O leitor e usuário, ao acessar o livro disponibilizado responderá pelo uso incorreto e ilícito do mesmo, eximindo os grupos WAS e PL de qualquer parceria, coautoria ou coparticipação em eventual delito cometido por aquele que, por ato ou omissão, tentar ou concretamente utilizar a presente obra literária para obtenção de lucro direto ou indireto, nos termos do art. 184 do código penal e lei 9.610/1998.

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Equipe Disponibilização: Pegasus Lançamentos Tradução: Paula Revisão Inicial: Liani Revisão Final: Sidriel Wings Leitura Final: Gaby Formatação: Sidriel Wings

PARCERIA Setembro 2020

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THE HART BROTHERS A SÉRIE

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SINOPSE

Um olhar para ela e quero correr. Cabelo crespo, óculos grossos, jeans de mamãe e babados até o pescoço. Quem por Deus usa isso? Em que década ela está vivendo? Minha mãe nem se veste assim! Criado por um monstro, Kestrel Hart de alguma forma sobreviveu. Agora que o monstro está morto, ele está tentando seguir em frente, para se recompor. Lutando contra problemas que ninguém pode imaginar, ele se afasta de sua família, do irmão que o ama e da cunhada que o apoia e o compreende melhor. Charleston, Carolina do Sul é sua nova casa. E ele tem um propósito. Ele está abrindo uma nova divisão da empresa de seu irmão. Mas uma surpresa espera por ele. O nome dela é Carter Drayton. O passado de Carter também é doloroso. Ela está lidando com a morte trágica de sua família. Ela está se curando da única maneira que sabe. Carter precisa de amor. Kestrel anseia por contato humano. Nenhum deles reconhece o que está certo diante de seus olhos. Eles verão isso antes que seja tarde demais?

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DEDICATÓRIA

Para Carter...

Este livro é dedicado àqueles que lutam contra o câncer todos os dias. Também é dedicado àqueles que venceram aquela batalha e a todos aqueles que não tiveram tanta sorte. Embora você não esteja mais aqui, viverá para sempre em nossos corações.

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CAPÍTULO UM Carter Outubro de 2010

Não deveria acontecer do jeito que aconteceu. Não assim. Tudo deu errado. Terrivelmente errado. Como os meteorologistas poderiam estar tão fora do alvo? Minha família deveria estar bem. Meu pai era ótimo com esse tipo de coisa. Ele sabia sobre eles. Ele sabia disso. Ele era marinheiro, pelo amor de Deus. Ele possuía todo aquele equipamento idiota na casa de praia. Ele rastrearia essas coisas incessantemente, como uma criança seguindo seu jogador de beisebol favorito. Mas ele não sabia... não poderia saber. Ninguém sabia. Nem mesmo a NOAA1. Pegou todos de surpresa. Acima de tudo, eu. Deus, como eu gostaria que tudo fosse diferente... como eu gostaria que minha mãe não tivesse me incentivado a ir. — Querida, é a oportunidade de uma vida. Isso vai catapultar sua carreira. Engenharia genética é o seu amor. Você não pode perder a chance de participar deste seminário na Duke2. Apenas um punhado de estudantes no mundo são convidados. Você tem que ir, — minha mãe insistiu. — Mas Ells, — eu disse. Minha mãe zombou. 1

A Administração Oceânica e Atmosférica Nacional é uma instituição governamental que faz parte do Departamento de Comércio dos Estados Unidos. Wikipédia 2 Universidade Duke, Durham, Carolina do Norte

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— O quê? Eu não posso cuidar da minha neta por uma semana enquanto você está longe? Não é como se eu não fosse babá para ela diariamente. A culpa me inundou, no entanto. Era meu intervalo de outono... uma chance para passar algum tempo de qualidade com a minha filhinha. Meu nariz estava nos livros a maior parte do tempo e raramente possuía um minuto livre para brincar com minha filha. — Eu sei, — gemi. — Mas quero estar com ela também. — Carter, me escute. Quando descobri que você estava grávida, nunca pensei que você chegaria a esse ponto. Há uma luz no fim do túnel agora. Você está no caminho, querida. Um dia em breve, você terá esse cobiçado Ph.D e o trabalho duro valerá a pena. Estou tão orgulhosa de você. Esta é uma semana curta. Será Dia de Ação de Graças antes que você perceba e você terá alguns dias de folga, e então o Natal estará aqui. Ells será toda sua, então. Este convite que você recebeu é enorme. Não passe isso, querida. — Oh mãe. Eu nunca soube que seria tão difícil. Minha mãe me abraçou. O que eu não sabia – não poderia saber – era que me pedir para ir era a pior coisa que ela poderia ter feito por mim. Tomei o conselho da minha mãe e fui ao seminário. Foi em engenharia genética, especificamente no oncogene3, que é minha área de interesse. Sim, eu sou uma geek... uma cientista ou o que você quiser me chamar. Eu estudo o câncer usando camundongos que foram geneticamente alterados, tornando-os suscetíveis Oncogene são genes relacionados com o aparecimento e crescimento de tumores, malignos ou benignos.

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a células cancerosas invasivas. E não, eu não acredito que seja cruel. O que eu acredito, no entanto, é que é cruel ver crianças sofrendo de doenças devastadoras. Se eu puder, de alguma forma, avançar contra essas doenças atrozes, estudando-as no oncomouse4, então que assim seja. Eu realmente não dou a mínima para o que os poupadores de ratos do mundo pensam. Meu objetivo de vida é ser um protetor infantil e, espero, encontrar uma cura para o câncer. No entanto, ao ir àquele seminário específico, e ao me divertir no encontro científico por uma semana, acabei sendo uma assassina de crianças. Minha própria. Porque se tivesse ficado em casa, teria insistido que Ells saísse da ilha de Sullivan naquele dia. Eu nunca correria esse risco. E Ells, junto com meus pais, estariam vivos hoje. Era o começo de outubro e a tempestade que estava se formando era apenas um furacão de categoria um. Ela se formou na costa de Cabo Verde como um sistema de baixa pressão, avançando pelo Atlântico. Quando atingiu o Mar do Caribe, ganhou força e se transformou em uma tempestade tropical. Quando chegou às Bahamas, era um furacão. Ninguém, nem mesmo a NOAA ou o NHC5, estavam muito preocupados com isso, porque todas as informações de rastreamento levaram todos a acreditar que permaneceria no status de Categoria Um ou seria rebaixado para uma tempestade tropical. Charleston, Carolina do Sul, era seu alvo, e os charlestonianos eram bem versados em preparação para furacões. Afinal, eles eram sobreviventes do furacão Hugo. Eles levavam todas as tempestades a sério. 4

https://en.wikipedia.org/wiki/Oncomouse

5Centro

Nacional de Furacões dos Estados Unidos

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Mas esse enganou a todos. As previsões fizeram com que a tempestade aterrissasse durante o dia na maré baixa. No entanto, aconteceu algo terrível que mudou tudo. Um sistema de baixa pressão que se desenvolveu rapidamente nas Bahamas colidiu com essa tempestade, transformando-a em uma monstruosidade. As águas do Atlântico, ainda quente, do Sul, só alimentavam essa fera, e ela se transformou em uma Categoria Cinco, ganhando velocidade e força da noite para o dia, até atingir a costa da Carolina do Sul, pegando todos de surpresa. As evacuações ainda estavam ocorrendo antes que a preparação para emergências tivesse que fechar as pontes e fazer as pessoas girarem. As estradas estavam cheias de carros tentando escapar da desgraça iminente. O furacão atingiu a maré alta, trazendo consigo uma tempestade de 10 metros e deixando para trás uma faixa de morte e destruição que deixou o litoral e o estado entorpecido pelo choque e pelo desespero. Meu seminário ocupou a maior parte dos meus momentos de vigília, por isso não dei a menor atenção ao noticiário ou ao clima. Mas na manhã da tempestade, a conversa estava correndo solta. Meu celular era inútil. — Não foi possível completar essa ligação, — foi a gravação que recebi. O pânico me atingiu. Certamente eles deixaram a ilha. Eles não correriam riscos, não com Ells ficando com eles. Mais tarde, naquela manhã, meu telefone tocou. Era minha mãe. — Carter, me escute. — Mãe! Eu tenho tentado falar com você o dia todo. Onde está você? 10

— Ouça-me, Carter. Eu não tenho muito tempo. As torres de celular estão sobrecarregadas e essa chamada pode cair a qualquer segundo. Escreva isso rapidamente. Você tem papel e caneta? — Sim. — Eu rapidamente peguei os dois. — 10-21-57-3-28-88. Você tem isso? — Sim. Mãe, o que é isso? — Essa é a combinação para o cofre no nosso closet na Avenida Murray. Dentro você encontrará uma cópia do nosso testamento, cem mil dólares em dinheiro e todas as minhas jóias. — Por que todo o dinheiro? — Não há tempo para explicar. Carter, com toda a probabilidade, não vamos conseguir. — O que você está dizendo? — Sua declaração me confundiu. — A tempestade. Estamos no Norte a frente dela. O olho vai passar ao Sul de nós. Isso significa que o peso da onda vai nos pegar. Ai Jesus. Deus não. — Você ficou? Você ficou na casa dos Sullivan? — Eu fiquei instantaneamente doente. Meu corpo tremia violentamente. Choque. Eu entrei em choque quando minha bunda bateu na cadeira atrás de mim.

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— Nós não sabíamos, Carter. Eles tinham tudo errado. Nunca teríamos ficado se soubéssemos. Eu sinto muito, querida. Eu te amo muito. Nós todos te amamos muito. Um zumbido alto encheu meus ouvidos e depois um lamento alto. Alguém gritou meu nome, mas não consigo me lembrar de quem. É tudo que lembro. E essa foi a última conversa que tive com minha mãe. Ninguém foi permitido nas ilhas ao redor de Charleston por dias. Presumia-se que as linhas de gás estivessem quebradas e possíveis linhas elétricas, embora eu duvidasse disso, porque todas as linhas principais de troncos elétricos foram derrubadas pelo vento ou pela água. A Guarda Nacional fez buscas minuciosas em todas as ilhas de barreira e declarou que não teve sobreviventes. Foi oficial. Meus pais e minha filha – Minha família toda – morreram na tempestade. Pouquíssimas casas permaneceram de pé, e o que restou foram cascas que eu imaginava que uma cidade pós-Segunda Guerra na Europa seria. Nada além de restos esqueléticos e fragmentos de ossos daquilo que antes eram belas e imponentes casas à beira-mar. Uma parede aqui e ali, estranhos móveis espalhados, a maior parte empurrada contra o que restava de pé, como se fosse empurrada pela parede de água que caiu na praia. Eu andei a ilha de ponta a ponta, procurando por algum sinal, mas não continha uma única coisa que restasse da casa dos meus pais. Nada. Tudo acabou, mastigado pelo mar que veio reivindicá-los naquela noite. Minha mãe estava errada, afinal. Não existia luz no fim do túnel. Nunca existiria para mim. Deste dia em diante viveria na escuridão, sozinha, sem meus pais e sem meu doce bebê Ells. 12

CAPÍTULO DOIS Kestrel Dias de hoje

— Você tem certeza disso? — Gabby pergunta. Virando-me, enfrento minha cunhada e sorrio. É difícil porque o que gostaria de fazer é gritar. Em vez disso, aperto os dentes, respiro fundo e depois digo: — Gabby, sou um homem adulto. Se alguém souber, sou eu. — Você sabe o que eu quero dizer. Sim, eu sei. Minha bem-intencionada cunhada está preocupada comigo. E com razão. Ela sabe o quão fodido é o meu passado. Ela também é psiquiatra, então está entranhado nela. — Eu aprecio sua preocupação. Eu realmente aprecio. Mas passei mais de dois meses ‘sozinho’ percorrendo a trilha dos Apalaches. Você estava preocupada comigo, então? Ela me dá um soco no ombro. Não é forte, mas o suficiente para chamar minha atenção. — Estava preocupadíssima. Pergunte a Kolson. — Pergunte-me o quê? — Meu irmão questiona quando entra na cozinha onde Gabby e eu estamos de pé. 13

— Eu não estava preocupada enquanto Kestrel estava nessa louca viagem de mochila? — Maldição, nem sequer comece. O que trouxe tudo isso? Eu dou a Kolson um olhar. — Não é isso de novo? Eu pensei que já passamos por tudo isso, — diz Kolson enquanto agarra sua esposa pela cintura. — Dezenas de vezes, — eu digo. — Sim, mas não posso evitar. — Ouça-me, Gabby. Eu sou tão bom quanto sempre vou ser. Eu sempre serei um pouco fodido. Como posso não estar atrás do que nosso pai fez? Kolson e Gabby acenam com a cabeça. — Dra. Hart, coloque seu chapéu de psiquiatra e escute. Eu ainda posso ser fodido e funcionar perfeitamente bem. Você não concordaria? — Ok, eu vou te conceder isso. E você está certo. Qualquer uma das coisas que Langston fez para você – as gaiolas, reter o contato, mantê-lo no escuro – seria o suficiente para traumatizá-lo. Adicione todos eles e seria difícil não ficar um pouco fodido. — Gabriella, olhe para mim. Você sabe como sou e lidei com isso muito bem, — diz Kolson. — É verdade, mas você tem a mim para conversar. Eu me preocupo que quando Kestrel sair, não terá ninguém. 14

Eu jogo meus braços no ar. — Oi?! Este é o século XXI. Você já ouviu falar de telefones celulares e Face Time? Eu tenho o seu número. Kolson ri. — Ela é teimosa, mano. — Estou ciente, acredite em mim. Eu sentei no sofá proverbial naquele escritório dela, embora eu questionasse meu julgamento com frequência. — Ei! O que isso significa? — O que significa, querida irmã, é que se você tivesse do seu jeito, você me trancaria em seu apartamento e nunca me deixaria fora de sua vista. Gabby realmente tem a boa graça de corar. — Ahhh! Eu estou certo! Ela olha para Kolson e ele diz: — Não me coloque no meio disso. Desculpe. — Ok, então sou superprotetora. — Agora que temos a sua admissão, podemos seguir em frente? Ela acena com a cabeça. — Excelente. Então, eu vou embora depois de amanhã. Kolson, minha residência temporária, será aquele apartamento executivo que seu agente imobiliário me encontrou, mas enquanto isso eu quero procurar algo para comprar. 15

Mesmo se acabar odiando Charleston, o que duvido que seja, seria um ótimo investimento. Meu irmão está em total acordo comigo. Estou me mudando para Charleston, Carolina do Sul, para abrir a filial sul da Hart Serviços de Transportes, ou HTS, a empresa que meu irmão começou. A sede está aqui em Manhattan, mas Kolson acha que precisamos expandir os negócios. Eu trabalhei para o nosso pai, Langston, no negócio de cassino até dezembro passado. Isso terminou quando meu pai foi tragicamente (ou não) morto por minha mãe para impedi-lo de atirar em Gabby. Basta dizer que meu pai era um homem mau. Kolson deixou o negócio da família anos atrás, mas eu permaneci por vários motivos, principalmente doentes. As coisas desmoronaram após sua morte e descobrimos que ele estava envolvido em todo tipo de coisas ilegais, tráfico humano, por exemplo. Sabíamos que ele estava ligado à máfia, mas não sabíamos a extensão de suas atividades. O FBI desmantelou seu negócio de cassinos, Hart Entretenimento, e fui trabalhar para meu irmão depois disso. Gabby, de repente, joga os braços em volta de mim, me pegando de surpresa. Eu tenho essa coisa sobre o toque. Longa história. Seu peso me manda para trás e nós dois começamos a cair. Kolson vê o que está acontecendo e seus reflexos rápidos salvam sua esposa, mas acabo me estatelando no chão de mármore da cozinha. — Jesus, Gabby. Que diabos foi isso tudo?

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Seu rosto tímido me diz tudo que preciso saber. Minha bunda vai ficar roxa amanhã. Kolson apenas ri. Eu apenas balanço minha cabeça. — Sinto muito. Eu só queria te abraçar. Vou sentir sua falta. Minha cabeça bate quando Kolson me ajuda. Se eu soubesse que me mudar para Charleston seria tão doloroso, teria pensado duas vezes sobre isso. Ela significa muito e eu a amo, mas às vezes ela me deixa doido. Pelo olhar em seu rosto, se eu não disser alguma coisa, ela estará em lágrimas. — De todas as pessoas que eu conheço, a que mais vou sentir é você. — Eu abro meus braços e ela entra no meu abraço. — Você me ajudou mais do que qualquer um que eu já conheci, até mesmo Kolson. E isso diz muito, Gabby. Obrigado. — E essa é a verdade. — Se você precisar de mim... — Eu vou ligar. Não se preocupe. E assim que eu tiver uma casa, quero que vocês venham me visitar. Gabby bate palmas e diz: — Talvez devêssemos ir com ele esta semana. Você sabe, para ajudá-lo a se estabelecer. Kolson e eu dizemos ao mesmo tempo: — Não! 17

Ela recebe a mensagem. — Porra, Gabriella, você é como uma mãe galinha. Ele está bem.

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É uma linda tarde de setembro quando saio do jato particular. Um carro me encontra na pista e me leva ao meu novo escritório. É perto do Aeroporto Internacional de Charleston, ao Norte de Charleston, então o passeio é breve. Nós selecionamos esse local por estar perto do aeroporto e da terra. Será mais fácil para nós ter todos os nossos veículos em um único local. No momento, estamos fazendo uma oferta de uma grande fatia de área a cerca de três quilômetros daqui. Se a nossa proposta for aceita, adicionaremos um grande jato charter para acompanhar nossas embarcações menores. No momento, usamos apenas jatos corporativos. Com a proximidade de Charleston para Atlanta e Charlotte, estamos em uma localização privilegiada para garantir uma variedade de negócios que ainda não foi explorada. São quase três e meia quando chego ao escritório. Minha secretária, Shayla Drummond, me cumprimenta quando entro. — Bem-vindo, Sr. Hart. — Shayla. É bom te ver.

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O escritório foi criado durante minhas visitas anteriores. Atualmente, estamos trabalhando com uma equipe de quatro funcionários. O restante será contratado quando novos negócios começarem a chegar. Jack, o braço direito de Kolson, está enviando seu time para fora depois que Kolson examinou possíveis clientes. Estamos procurando trazer os Atlanta Falcons, Carolina Panthers, Atlanta Braves e algumas empresas menores. Existem algumas empresas em Charleston que vou começar a pesquisar, mas meu principal objetivo é fazer com que esse escritório funcione como uma entidade comercial totalmente funcional. — Shayla, quando a nova recepcionista começa? — Segunda-feira, senhor. — Bom. Você pode me ajudar a acelerar tudo? Ela me segue até o meu escritório. Shayla tem quarenta e poucos anos, é casada e tem dois filhos na faculdade. Ela é uma assistente executiva há mais de quinze anos e conhece as regras. Eu a contratei porque ela não se importaria de trabalhar longas horas e quer o dinheiro. Eu vou compensá-la bem por isso também. Olhando em volta do meu escritório, vejo que ela ajustou tudo às minhas especificações. A última vez que nos falamos dei-lhe instruções explícitas onde queria tudo colocado. Eu sou exigente sobre essas coisas, então estou satisfeito com os resultados. — Café, água, qualquer coisa para beber, senhor? — Café, por favor, e dispense o senhor. Vamos eliminar as formalidades. Me chame de Kestrel, já que vamos trabalhar juntos todos os dias. 19

Ela me examina por um momento, depois me dá um breve aceno de cabeça. — Creme, senhor? — Preto. Ela me entrega o café e tomo um gole. É nojento. — Não se ofenda, mas este café está horrível. Seus olhos se arregalam um pouco. De pé, eu pergunto: — Onde está a máquina de preparação? — Minhas intenções são fazer uma xícara de café melhor do que essa porcaria que ela me entregou. — Máquina de preparação? — Você sabe, a máquina de café. — Hum, nós não temos uma. — Então, como você fez isso? — É instantâneo, senhor. — Kestrel. — Kestrel. Senhor. Eu coço minha testa e estendo meu braço em direção à cadeira. — Por favor, sente-se. Shayla se senta. 20

— Então, nós não temos uma máquina de café, hein? — Eu pergunto enquanto me inclino em minha mesa. Eu não fico lá mais de um segundo porque as contusões na minha bunda picam. Minha mão automaticamente alcança atrás de mim para esfregá-las, mas paro quando vejo Shayla curiosamente me observando. — Não, senhor. — Kestrel. — Kestrel, senhor. — Shayla, você tem um problema me chamando de Kestrel? — Não, senhor. — Então por que você continua dizendo 'senhor'? Um enorme sorriso se espalha em seu rosto rechonchudo e em seu adorável sotaque sulista ela diz: — Ora, é como fui criada, senhor. É uma coisa do sul. — Então, não é algo que você está dizendo por que está desconfortável? — Por quê, não, senhor! — Diz ela tão enfaticamente que temo ter insultado a pobre mulher. — Shayla, você está mais confortável dizendo senhor do que está dizendo Kestrel? — Bem, estou confortável com os dois, senhor. — Tudo bem então. Agora, vamos ter que fazer algo sobre esse café horrível. 21

E Shayla solta uma gargalhada. Depois de revisar os itens mais importantes da agenda, ela me diz onde posso encontrar uma cafeteria. — Shayla, eu nunca pisei em uma Loja. Eles entregam? Suas sobrancelhas sobem até à linha do cabelo. Então ela ri e ri um pouco mais. — Vocês nova-iorquinos são todos assim? Eu esfrego meu queixo. — Provavelmente não. Eu sou um pouco estranho. — Hmm. Fazemos assim. Vou pegar uma cafeteira a caminho de casa. Que tipo devo pegar? — O melhor tipo que tiverem. Eu sou exigente sobre o meu café. E você pode pegar um bom grão também? Eu gosto de moer meu próprio grão. Ela balança a cabeça e murmura: — Bem, eu irei. — Vejo você amanhã. — Boa noite, senhor. Vai demorar um pouco para me acostumar com essa coisa de ‘senhor’. Isso me faz sentir como o idiota do meu pai. Ele sempre insistiu para que todos o chamassem de senhor. Meu celular toca, interrompendo meus pensamentos. — Kolson. Eu estava me preparando para ligar para você. — Como estão as coisas? 22

— Além de Shayla tentando me envenenar, estou bem. — Envenenar você? — Ela me alimentou com café instantâneo. Meu irmão explode em um rugido de riso. — Oh. Espere até contar a Gabriella. — Não! Não conte a Gabby. Ela vai pegar seu piloto para trazê-la até aqui para tentar me salvar. E não diga a ela que minha bunda está me matando. Ainda está roxa de onde ela me bateu no outro dia. Sua esposa é uma ameaça. — Devo contratar-lhe uma enfermeira? — Só se ela for uma beleza de cabelos negros com enorme... — Ei! — Ele protesta. — Você perguntou. — Eu suponho que mereço isso. Então, como está o escritório? — Bem. Shayla é bem organizada e se eu conseguir que ela pare de me chamar de senhor, vamos nos sair bem juntos. — Senhor, hein? — Sim, e eu odeio isso. Me lembra de Langston, aquele filho da puta. — Verdade. Então, existe uma grande empresa de software que você precisa para seguir em frente. E Jack vai chegar na próxima semana para seguir em frente, — diz Kolson. 23

— Certo, mas preciso colocar a equipe em funcionamento. Preciso de pelo menos mais três pessoas para que esse lugar funcione. — O que você precisar, Kestrel. Eu vou descer para fechar o negócio do terreno no próximo mês. Se tudo correr como planejado, o restante do prédio será aberto e terá mais de cem funcionários até o final do ano que vem. — Bom. Eu honestamente não vejo nada nos impedindo. Nós não vamos pisar nos pés de ninguém. As empresas menores não querem o que queremos, elas não podem lidar com isso. E as grandes corporações precisam terceirizar tudo de qualquer maneira. Não há outra empresa aqui que ofereça o pacote completo como nós. — Por isso que eu precisava tanto de você, mano. — Outra coisa. A proposta que fiz ao governador deve voltar na próxima semana. Isso deve ajudar a lidar com a questão da terra. Kolson cantarolou. — Certamente podemos prometer ao estado alguns empregos com salários mais altos, se eles puderem nos dar algumas isenções fiscais. Isso é um dado. — Oh, você sabe quando meus veículos devem chegar? — Espere. Deixe-me ver. Eu posso ouvi-lo clicando em seu teclado. — Sim. Eles devem estar chegando amanhã.

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— Ótimo. E deixe-me saber se você conseguir uma linha sobre quaisquer boas propriedades aqui. Vou sair daqui para poder ir ao meu apartamento executivo, que tenho certeza que é mais um buraco na parede. Meu irmão ri. — Sem dúvida. Eu fiquei em alguns que são piores do que albergues da juventude. — Cala a boca. Com a minha sorte, o banheiro não vai funcionar ou algo assim. — Kestrel, você já pediu para alguém checar para você? — Seu agente, lembra? — Oh, tudo ficará bem. Gaston nunca me envia para qualquer lugar que não esteja à altura. — Eu espero que você esteja certo. Te vejo depois. O motorista está me esperando quando saio do prédio. Meu apartamento é no centro, na parte antiga de Charleston, onde estão todos os edifícios históricos. Na verdade, o estúdio está no que costumava ser uma antiga casa de carruagens. É pitoresco e bonito, com piso de pinho de tábuas largas e mobiliário antigo lindo. Estou estupefato. Isso excede em muito, qualquer coisa que esperava. Para minha surpresa, o proprietário tem um fichário maravilhoso de menus de todos os restaurantes nas proximidades. Eles são divididos em seções de acordo com a entrega ou não. Há outro pequeno fichário de mercearias locais, destacando

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aqueles que entregam. Eu rapidamente faço alguns telefonemas, colocando pedidos de comida, vinho e jantar. Enquanto espero minhas coisas chegarem, desfiz as minhas roupas. Meu pensamento é que eu estarei aqui por pelo menos um mês ou dois, talvez mais. Depois de um breve passeio por este lugar, decido que quero comprar algo semelhante a ele, mas muito maior do que isso. O apartamento é espaçoso – um quarto com um banheiro enorme, sala de estar e área de jantar combinada com cozinha de bom tamanho. Na parte de trás é um terraço de pedra coberto de musgo que é murado e muito particular. Eu não tenho certeza se o proprietário mora na casa principal que é adjacente a esta, mas se assim for, eu o invejo ou a ela. A casa de carruagem é equipada com um sistema de som topo de linha, então sincronizo meu bluetooth e coloco algumas músicas. Não é que me importe de ficar sozinho; é o silêncio que me atinge. É quando as memórias chegam. A música as mantém à distância, então geralmente tenho algo tocando o tempo todo, mesmo que eu tenha que usar fones de ouvido. Não muito depois, há uma batida na porta e minha comida chega. Logo depois disso, minhas compras seguem. E então meu telefone toca. — Sim. — O que é todo esse barulho? — É minha cunhada. — Estou guardando mantimentos que acabaram de ser entregues, ouvindo música e tentando jantar. — Hmm. Muito ocupado? 26

— Não. Só esta noite. E você ligou bem no meio disso. — Você está sempre ocupado, Kestrel. — Não muito ocupado para você. — E então? — É ótimo. O escritório é ótimo. Minha secretaria é incrível, exceto que ela fez um café horrível. Gabby explode em um ataque de risos. Ela sabe que sou viciado em café. — Oh Deus. O que ela te deu? Alguma marca de base genérica? — Pior. Instantâneo. — Ela não fez isso! — Oh, sim, ela fez. E seus olhos saltaram quando disse que era horrível. Eu queria que você pudesse tê-la visto. — Oh meu Deus! Pobre mulher. — Mas aqui está algo melhor. Eu disse a ela para não me chamar de 'senhor', apenas 'Kestrel'. E ela continuou dizendo ‘Kestrel, senhor’. Estou falando constantemente, sabe? — Uh Huh. — Bem, aparentemente é uma coisa do Sul, mas eu pensei que ela estava com medo de mim. — Não! O que você disse? 27

— Eu perguntei a ela. E ela finalmente esclareceu tudo. — Ah, caramba. Que engraçado. — Mas aqui está o melhor. Não tem uma máquina de café no escritório. Eu a ouço cuspir a bebida e depois tossir. — Ei, você está bem? — Sim. Me dê um segundo. Então ela uiva e eu posso ouvir sua mão batendo no balcão. — Puta merda, Kes, o que você vai fazer? — Só isso. Ela me disse para ir à loja. — Você? Loja? Meu cunhado idiota pretensioso colocando os pés em uma loja? — Ela começa a bufar agora. — Eu sei, ok? Sou tão ruim assim, Gabby? — Uh, sim. Bem, na maior parte do tempo. — Hmm. Estou trabalhando nisso, juro. De qualquer forma, eu disse a ela que nunca pisei em uma loja e agora ela acha que todos os nova-iorquinos são como eu. Eu ouço este estrondo, e depois um acidente, e nada além de fungar e rir do outro lado. Isso vai demorar um pouco. Finalmente ela volta ao telefone. — Jesus, estou morrendo aqui. Eu gostaria de ser uma mosca na parede. — Oh, você adoraria. Depois que ela percebeu que eu não era um alien ou algo assim, ela finalmente se ofereceu para me pegar a cafeteira. Mas agora estou 28

preocupado que ela consiga uma dessas ruins. Você sabe como a que você e Kol têm. — Então é a minha vez de rir. — Sim, você é um esnobe de café. Isso lhe servirá bem. — Sério, se ela fizer isso, eu estou ferrado. Eu vou ter que comprar uma e escondê-la em algum lugar para que os sentimentos dela não se machuquem. — Kestrel, tenho certeza que você vai descobrir isso. — Ei, eu sou um cara sensível. — Uh Huh. Eu vi esse lado sensível de você. — O quê? — Você sabe a que estou me referindo. — Então eu sou um idiota às vezes. — Eu só posso imaginar o rosto que ela está fazendo. Eu sou um idiota a maior parte do tempo. — Mas Shayla é uma super secretaria e não quero foder nada com ela. Ela vai ser a rainha do escritório, então não posso estar magoando seus sentimentos. — Se você diz. Como está o apartamento? — Bom. — Você tem uma suíte? Eu pensei que era um quarto? Eu gemo. — Não, é bom, como o açúcar. — Impressionante. 29

— Você precisa vir aqui. Esta cidade é o lugar mais fofo. Você vai adorar, Gabby. Você e Kol precisam comprar um lugar aqui embaixo. — Talvez sim. — Pense na praia. Ou talvez até um iate. — Você parece bem. — Ela parece satisfeita. — Estou bem. Agora pare de se preocupar. — Certo. Eu vou deixar você ir. Fale depois. Isso foi mais fácil do que o esperado. Faço um pouco de trabalho no meu computador e depois vou para a cama. Amanhã será um dia ocupado para mim.

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CAPÍTULO TRÊS Carter

Eu fico no cemitério e olho fixamente para as três lápides. Elas são apenas marcadores sem corpos abaixo delas. Mas eu precisava de algo para honrar suas memórias.

Ellsworth Carter Simon Drayton Filha amorosa de Carter Ellsworth Drayton 14 de agosto de 2007 – 2 de outubro de 2010 Mary Ellsworth Drayton 11 de abril de 1958 – 2 de outubro de 2010 Daniel Carter Drayton 15 de fevereiro de 1958 – 2 de outubro de 2010 Pais amorosos de Carter Ellsworth Drayton e Avós amorosos de Ellsworth Carter Simon Drayton

Quatro anos se passaram e ainda é difícil para mim processar. Sua ausência deixou um buraco na minha vida, uma ferida que nunca se curará. Eu tiro as fotos 31

que carrego comigo em todos os lugares. Uma é de Ells e eu. Outra é de Ells sozinha e uma é de Ells com meus pais. Seus cachos loiros brilham ao sol. Ela está brincando na areia na casa de praia. Ela amava a praia e a água. A ironia é uma assassina. A única coisa que ela mais amava foi a que tirou sua vida. Ela teria sete anos agora. Eu deveria estar comprando seu sorvete e presentes. Em vez disso, estou sentada em sua lápide. Um braço chega ao meu redor e me abraça. — Você teve sorte de tê-la, mesmo que apenas por esses três curtos anos. É minha amiga Harper. Ela sempre vem no aniversário de Ells, porque ela sabe que é onde estou. — Sim, eu sei. Mas foi muito curto, Harper. — Isso foi. Mas ela foi o maior presente de todos. — Ela foi. Harper pega as fotos e as segura por um segundo. — Ela também era a mais preciosa. — Eu sei. Obrigada por estar aqui. — Minha mão cobre minha boca. Dizer a mim mesma que não vou chorar é inútil. Isso nunca funciona. Harper dá tapinhas nas minhas costas e me diz que tudo vai ficar bem. Não vai. Quatro anos depois, e ainda estou tão destruída quanto estava no dia em que aconteceu. Minha mão se estende para apoiar na lápide, guardo as imagens no bolso enquanto nos dirigimos para nossos respectivos carros. O orvalho da manhã deixa 32

meus dedos e sandálias molhados, mas não me importo. Eles estarão secos quando eu começar a trabalhar. Além disso, ninguém me vê de qualquer maneira. Estar presa em um laboratório o dia todo, olhando através de um microscópio, às vezes tem suas vantagens. E por que eu deveria me importar se meus pés estúpidos estão molhados? Aliás, por que eu deveria me importar se mais alguém os vê? Meu telefone perturba meus pensamentos deprimentes quando fecho a porta do carro. — Drayton. — Carter. É o tio Foster. Tio Foster era sócio de meu pai em seu escritório. Eles cresceram juntos e se pareciam mais como irmãos do que como amigos, e então passaram a praticar direito juntos. Foster foi além do que qualquer tio verdadeiro faria por uma sobrinha, financeiramente. — Ei. — Como está minha garota hoje? — Você realmente tem que perguntar? — Não. É um dia ruim para todos. Hum, odeio fazer essa ligação, mas querida, não posso mais deixar isso de lado. — Eu sei. A casa. — Eu lamento, mas percebo que se não vender a casa da Avenida Murray, estarei falida em breve. A casa fica na área mais rica do centro de Charleston. Sua manutenção é astronômica e os impostos são mais do que qualquer 33

encargo que possa suportar. Eu tirei uma segunda hipoteca para cobrir as despesas, e o tio Foster me ajudou o máximo que pôde, mas não foi suficiente para manter as coisas funcionando. Agora não tenho escolha senão vender. Não posso pedir a Foster para me salvar. Eu gastei todo o dinheiro da empresa que veio para mim como parte do benefício de morte, os cem mil no cofre e, infelizmente, para mim, meu pai estava ridiculamente subestimado. — Eu coloquei à venda. — Eu sei. O agente me ligou na semana passada. Eu posso ouvir o tio Foster suspirar. — Você não me odeia? — Não. Eu nunca poderia te odiar. Eu sei que tenho que vender. Não há outra opção. Estou apenas triste. Nada de novo? — Eu gostaria de poder tirar sua tristeza. — Eu também. — Anne disse que nos ligaria quando tivesse alguém interessado, — ele diz. — Anne? — Eu pergunto. — A corretora de imóveis. — Oh, certo. — Caramba. Eu preciso tirar a cabeça da minha bunda. — Ok, querida, eu falo com você depois.

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Ele termina a ligação e meu coração bate forte. O pensamento de até mesmo mostrar a casa me assusta. Ninguém sabe sobre o quarto. E se alguém olhar a casa, eles terão que ver. É tudo em que consigo pensar enquanto dirijo para o trabalho. Meus nervos estão tão confusos; coloquei meus fones de ouvido e aumentei o volume da minha música tão alto que Muse6 tocou nos meus ouvidos. Eu realmente deveria cuidar melhor da minha audição, mas agora, a música é a minha salvação. Isso afasta meus demônios e me acalma. Quanto mais alto melhor. Enquanto ando no laboratório, meu chefe, John, me cumprimenta com um sorriso alegre. — Bom dia, Carter. Minha mão aberta se move pelo ar, gesticulando de volta para ele. — Eu vejo que temos música Carter hoje. — Ele grita comigo. Eu sacudo minha cabeça. Normalmente, é o suficiente para afastá-lo, mas não hoje. — Então, no que você está trabalhando? — Ele pergunta enquanto me segue como um filhote ansioso. Por que diabos ele me perguntaria isso? Ele sabe muito bem no que estou trabalhando. É a mesma coisa em que venho trabalhando desde que cheguei aqui. Estou tentando decodificar as células cancerígenas para que elas não possam Muse é uma banda britânica de rock de Teignmouth, Devon, formada em 1994. Seus membros são: Matthew Bellamy, Christopher Wolstenholme e Dominic Howard. O estilo de Muse é um misto de vários gêneros musicais, incluindo rock alternativo, música clássica e eletrônica. 6

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produzir PD-L1. As células cancerígenas produzem proteínas PD-1 que se ligam às células T, inibindo-as de matar as células cancerígenas.7 Puxando os fones dos meus ouvidos, irritação ataca minha voz quando eu respondo a ele. — John, você sabe que eu tenho trabalhado na inibição do PD-L1. Estou tentando reprogramar o código genético das células cancerígenas para que elas não sejam capazes de produzir a proteína 1 do ligante de morte programada. Você sabe, então eles são suscetíveis a serem lesados pelas células T. Ele entusiasticamente sorri para mim. — Sim, eu sei. É quase como se ele estivesse se preparando para pegar um bolo ou algo assim, como uma criança. Eu me pergunto o que está acontecendo. Ele nunca age assim. — Você está se sentindo bem? — Eu pergunto. — Esplêndido. Absolutamente esplêndido. Estou feliz que alguém esteja neste dia horrível. Mas quando olho para John, seu entusiasmo é quase contagiante. Ele é um homenzinho engraçado. Baixo e atarracado, só chegando ao meu ombro (embora eu seja alta para uma mulher com 1,78 metro), ele é careca no topo, com uma larga faixa de cabelos grisalhos 7

O PD-1 é uma proteína de ponto de verificação nas células do sistema imunológico denominadas células T. Normalmente age como um tipo de interruptor desligado que impede que as células T ataquem outras células do corpo. Ele faz isso quando se liga à PD-L1, uma proteína em células normais (e câncer). Quando a PD-1 se liga à PD-L1, basicamente diz à célula T para deixar a outra célula sozinha. Algumas células cancerígenas têm grandes quantidades de PD-L1, o que permite que escapem do ataque imunológico.

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espalhados pela cabeça, enquadrando-o como um ninho rijo. Seu nariz comprido e estreito sustenta um par de óculos de armação de arame e ele tem grandes dentes quadrados que são sempre visíveis porque ele geralmente está sorrindo por uma razão ou outra. — Você vai me dizer o que é tão absolutamente esplêndido? — Bem, Carter, para que você continue sua pesquisa, o que é que você mais precisa? — Uma oferta ilimitada de oncomice8? Ele começa a gargalhar, terminando em uma bufada. Isso é altamente incomum, mesmo para John. — E para obter esse suprimento ilimitado, o que você precisa para isso? Seus olhos estão iluminados como esferas de avelã, provocando excitação. E finalmente me bate. — Não! — Sim! — Ele grita, salta para cima e para baixo como um coelho, e agarra minhas mãos. Nós dois estamos pulando agora. — Quando? Quem? Quantos? — Tarde de ontem. Uma grande empresa farmacêutica. E o quanto for preciso para você descobrir ou não. Eles querem uma cura, minha médica inteligente. Eles

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Medicamento usado na pesquisa do câncer.

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querem o seu trabalho, Dra. Drayton. Eles querem que você crie uma maneira de reprogramar a célula. Você está pronta para a tarefa? — Hã? O que diabos eu tenho feito todo esse tempo? — E olha onde está você! — Oh meu Deus! Espera! Você está me dizendo que eu tenho fundos ilimitados? — Carter, minha garota, você tem fundos ilimitados para sua pesquisa. Eu jogo meus braços em volta do seu pescoço e o beijo direto nos lábios. Então eu rio e ele ri. E nós pulamos um pouco mais. De repente eu paro. — Jesus. — O que foi? Esfregando meu rosto, eu digo: — Bem, de todos os dias. Eu... hoje é o aniversário de... você sabe. — Eu sei. E achei mais apropriado e adequado que esse dia fosse dedicado à memória da sua família. Seu trabalho duro, tudo que você dedicou a sua vida, não será em vão, Carter. Algum dia, as crianças viverão por sua causa. As pessoas não receberão uma sentença de morte por causa do que você está fazendo e do que você acredita. Poucas pessoas podem dizer isso. Então você sabe que não foi em vão, a morte de Ells. Indo para essa conferência, coloque você no lugar certo. E por

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mais que você sinta falta dela e de seus pais, você pode pelo menos pensar dessa maneira. Meus braços voam ao redor de seu corpo tão rápido que quase derrubo o cara. — Obrigada, John. Nada disso teria acontecido sem você. Se eu não tivesse te conhecido na Duke e se você não tivesse acreditado em minha pesquisa, eu nunca teria chegado tão longe. — Não, você é um gênio, minha garota. Então, por que você não começa fazendo uma lista de tudo que você precisa e, em seguida, uma lista de tudo o que quer. Vou tentar pegar os dois. — Ele pisca para mim. É difícil de acreditar. Meu sonho está se tornando realidade. Financiamento para o meu projeto de pesquisa. Eu posso começar a cavar. Drogas que inibem PDL1 estão em desenvolvimento. Duas já estão no mercado com resultados surpreendentes. Mas e se alguém pudesse ligar alguma coisa na célula cancerosa para

tornar

impossível

que

essa

célula

produzisse

PD-L1?

Decodificar

geneticamente, por assim dizer. Desligue o interruptor. Uma vez que essa capacidade foi removida, o sistema imunológico humano poderia funcionar como foi projetado e as células T poderiam destruir as células do tumor. Estrondo! Fim do câncer, ou pelo menos alguns dos cânceres. Esta é minha missão. Meu gol. E se isso funcionar, então vou passar para outros projetos semelhantes. Minhas listas são ultrajantes, mas não tenho nada a perder neste momento. A única coisa que eles podem dizer é não. Eles (quem quer que eles sejam) viram toda a minha pesquisa e estão obviamente impressionados com meus dados até agora. 39

Eu vou ver o que eles se dignam a distribuir para mim. Se eu receber metade do que pedi, ficarei tonta de excitação. — Então, quando devo esperar para ouvir deles? — Amanhã. Eles estão vindo se encontrar com você. — Merda, John. Um pequeno aviso seria bom. — Você não tem nada com o que se preocupar. Tudo o que você precisa fazer é dizer o que você quer. E seja honesta. Carter, eles querem você, muito. E eles estão com medo que se não pegarem você, outra pessoa o fará. É assim que sua pesquisa é importante. — Mesmo? — Sim, com certeza. Você deve ter mais fé e confiança em seu trabalho. É espetacular. — Suponho que sim. Minhas listas estão completas, então, depois do almoço, estou de volta ao trabalho e meu telefone toca. — Dra. Drayton. — Oi Dra. Drayton, aqui é Anne Crosby, da Premier propriedades. Foster Haynesworth disse que discutiu a venda de sua casa comigo. Eu sei que isso é repentino, mas já tenho alguém interessado em sua casa. E dado o preço, isso é altamente incomum. Eu queria saber se você poderia me encontrar em casa para uma visita porque eu não tive a chance de colocar uma reserva sobre isso ainda. 40

Como eu disse, sei que isso é muito repentino, mas esse comprador em potencial pode ser uma combinação perfeita. Meu coração cai. Oh Deus. Hoje, não. — OK. Quando? — Eu gaguejo. — Hoje. — Hum, bem, eu estou no trabalho e não posso sair. — Dra. Drayton, tudo bem. A parte interessada não pode estar lá até às cinco e meia. Tudo bem? Não, não está bem! — Claro. Eu vou te ver, então. — Obrigada. Agora estou com um humor completamente ruim. Meu humor mudou de baixo para alto de volta para baixo novamente. Que diabos! Estou pronta para este dia acabar. E o quarto! Porra! Meu coração está doendo só de pensar nisso. Maldição! Eu esperava que ninguém nunca se interessasse. Isso não é verdade, mas o fato é que não quero me afastar daquela casa. Eu amo essa casa. É a minha casa. Agora eu nunca conseguirei me concentrar. Não ouço John atrás de mim até ele falar e eu quase pulo com o susto. — Ei, acalme-se. Está tudo bem? — Não é um bom dia, John. 41

— Eu posso ver isso. Você precisa tirar a tarde de folga? — Não. Eu só preciso de alguns minutos para me recompor. Pelo menos, se eu ficar aqui, ficarei longe do que mais me aflige. Vou para o refeitório, pego uma xícara de café e me sento. Alcançando dentro da minha jaqueta, eu tiro minhas fotos sempre presentes e olho para elas. Meu coração se quebra quando vejo seu rosto. Eu descanso a cabeça na minha mão enquanto coloco as fotos para baixo. Às vezes acho que gostaria de terminar tudo se não tivesse meu objetivo para me focar. Quando volto ao laboratório, meu cérebro mal está envolvido. Estou atordoada e tudo o que posso fazer é pensar naquela reunião de cinco e meia. Às quatro e meia, digo a John que estou terminando o dia e vou para casa. Eu nem me incomodo em tirar meu jaleco. Entorpecida, dirijo para casa e vou até à cozinha, onde me sento no balcão. Ainda estou sentada lá quando a campainha toca. Uma pequena parte de mim pensa em não responder, mas sei como isso seria tolo. Quando abro a porta, fico chocada ao ver um homem parado lá e não Anne Crosby. E não é qualquer homem. Olhos verde esmeralda pregam nos meus e eu estou instantaneamente intimidada. Ele me avalia, me analisa. Eu quase posso ver seu cérebro se afastando. Não me surpreenderia se uma impressão de computador aparecesse milagrosamente, e ele a pegasse do ar, dobrasse e colocasse no bolso para referência futura. — Olá. — Sua voz é profunda e rouca. Ele não pisca desde que abri a porta. 42

— Oi. — Eu aceno para ele, mas ele não entra. — Anne não está aqui ainda? — Ele pergunta secamente. — Aparentemente, não. — Eu sou Kestrel Hart. — Carter Drayton. Estendo minha mão para apertar a dele. Ele toma conta dela e a dele é quente, quase reconfortante. Meu telefone toca e a solto para tirá-lo do meu bolso. É então que percebo que ainda estou com meu avental de laboratório. — Dra. Drayton, — eu respondo, sem pensar. Aceno para ele novamente, mas ele ainda não entra. — Oi, Dra. Drayton. Anne Crosby aqui. O Sr. Hart chegou? — Sim, ele está de pé na varanda agora. — Sinto muito. Surgiu uma emergência familiar. Nada sério, mas não vou conseguir. Você se importaria de mostrar ao Sr. Hart por aí? É a última coisa que quero fazer, mas que diabos eu posso dizer? — Não, está bem. Eu vou avisá-lo. — Obrigada. Entrarei em contato. — Está tudo bem? — Pergunta ele. — Anne tem uma emergência e não pode fazer isto. Eu vou te mostrar a casa, se você estiver bem com isso. 43

— Certo. Desta vez ele entra quando eu aceno. Nós começamos no primeiro andar e depois de alguns minutos, eu digo: — Você sabe, por que não olha para si mesmo? Se você tiver alguma dúvida me avise. — Soa bem para mim. Ele sorri e suaviza seus traços severos. Então sai para dar uma olhada por conta própria. Ele tem que sentir minha hostilidade. Eu tentei encobri-la, mas é difícil. Vejo-o enquanto ele se afasta. É muito alto e bem construído com cabelo preto que é mais longo no topo, mas cortado curto nas laterais e nas costas. Uma camisa azulcobalto abraça o torso, complementada por uma gravata preta. Ele usa calça preta e sem jaqueta. Em outras circunstâncias, eu provavelmente iria sucumbir à sua aparência extraordinariamente impressionante, mas agora, eu gostaria de nada mais do que vê-lo sair. Volto para o meu poleiro no banco do balcão enquanto espero que ele complete sua inspeção. E então espero. E espero. E espero mais um pouco. Se alguém pudesse torcer o interior, seria assim que se sentiria, toda torcida em nós e machucada. Meu coração sofre como se um pedaço de arame farpado fosse amarrado em volta dele. Eu ouço seus pés descerem os degraus. Ele ainda não esteve na cozinha, então eu sento e aguento firme, e segundos depois ele chega. Ele não ficará descontente. É tudo de primeira linha, desde o fogão de oito bocas da

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linha Viking até à geladeira e freezer Sub-Zero lado-a-lado. Meus pais não pouparam gastos com essa remodelação. Ele fica lá por um momento e depois diz: — Impressionante. Eu não respiro uma palavra. Eu mal posso olhar para ele. — Há um quarto no andar de cima que estava trancado. Você pode me dar a chave ou desbloqueá-lo, por favor? Eu mordo meu lábio inferior. — Sim. Sobre isso. — Eu limpo minha garganta. Eu quero dizer alguma coisa, qualquer coisa, mas as palavras me escapam. — Sim? — Eu, uh... — Você tem uma chave ou não? Levanto-me e subo as escadas de madeira. Eu sinto muito Ells. Eu tentei. Eu realmente tentei. Chegamos à porta e minha mão treme. As chaves chocalham no anel. São necessárias algumas tentativas antes de conseguir encaixar a chave na fechadura. Mas não a consigo girar e me afasto até atingir a parede. Ele olha para mim como se eu estivesse maluca. Suponho que esteja, em grande parte. Mas estou congelada. Ninguém viu meu santuário. Mas agora ele está prestes a ver e mal consigo respirar. É como se minha alma estivesse sendo arrancada do meu corpo. 45

Ele avança, vira a chave e abre a porta. Eu sinto a onda de ar de seu quarto bater no meu rosto e a menor sugestão de seu cheiro se infiltra em meus ossos... aquele cheiro de bebê que ainda permanece no ar. Me arrasto pela parede até a minha bunda atingir o chão. Vozes enchem meus ouvidos... sua risadinha borbulhante... o bater de seus pés descalços ao longo do chão de pinho. Mãos gordinhas espirrando água da banheira enquanto voa em meu rosto em um spray, e nós duas rindo com gotículas escorrendo por minhas bochechas e nariz. Tudo desaparecerá quando esta casa for vendida. Sua memória... o santuário que dediquei a ela em seu quarto... arrancado como se nunca tivesse existido. Minha testa repousa sobre meus joelhos e ouço o clique de seus calcanhares quando ele se aproxima. — Ells. Ela era sua filha? — Sim. — Minha voz está rouca de emoção. — Sinto muito. Eu reuno coragem para olhar para ele. Seus olhos, são tão penetrantes, sinto que ele está sondando minha alma. Ele estende a mão para me ajudar, então pego. É quente, um aperto firme. Este é um tiro no escuro, eu sei, mas tenho que tentar. — Olha, eu não quero vender. Mas sou forçada a isso. Se vender para você, você vai manter o quarto de Ells assim? — O quê? 46

— Você me ouviu. Há uma casa de hóspedes nos fundos. Está arrumado em um apartamento de um quarto. Eu gostaria de alugá-lo. Se eu fizer, posso vir uma vez por mês para ver o quarto dela? — Você tem que estar brincando. — Não. Eu farei o que quiser. Qualquer coisa. — Então algo toma conta de mim. Chame de loucura. Desespero. Insanidade. Chame o que você quiser. Eu ando até ele e coloco minhas mãos em seus ombros. Então eu o beijo. Ele fica ali como um pedaço de pedra. Então eu pressiono meu corpo contra ele e me esfrego contra ele. Eu abro minha boca e corro minha língua sobre seus lábios, e então a empurro em sua boca. Nada. Sem resposta. A humilhação se instala. Eu não sou essa garota. Eu sou a nerd clássica. Eu não tenho namorados. Eu nem namoro. De onde veio isso? Ele se afasta de mim e se afasta, esfregando a boca. — Sinto muito, mas você não é o meu tipo. — Suas características inicialmente registram choque. Mas pior que isso, o desgosto o substitui. Aquelas picadas. Realmente picadas. Mas ainda mais terrível, tenho vergonha mórbida de mim mesma. Isso não me impede de cavar em um buraco ainda mais profundo. — O quê? Eu não sou sexy o suficiente? As minhas roupas não são reveladoras o suficiente? — Hum, Dra. Drayton, isso é mais do que um pouco estranho. — Não me diga. E meu nome é Carter. 47

— Você está me propondo. — Agora eu detecto choque e mais do que uma pitada de zombaria. — Não, não propondo. Eu quero fazer um acordo. Você vê, sou uma mulher desesperada. E pessoas desesperadas fazem todo tipo de coisas. — Carter, eu realmente não estou interessado. — Eu sei que não sou muito atraente, mas se você quiser que eu mude a minha aparência, posso fazer isso. — Você não entende. — O quê? Não sou boa o suficiente para você? Seus olhos me observam da cabeça aos pés. — Bom não tem nada a ver com isso. Você não é ruim o suficiente para mim. — Hã? Então ele me agarra, torce a mão no meu rabo de cavalo sempre presente e me beija. Mas não é nada parecido com qualquer coisa que eu já experimentei. Isso não é um beijo. É um evento de mudança de vida. Seus lábios não tocam. Eles possuem e controlam. Estou tão atordoada que minha boca se abre. Sua língua varre e não lambe; tem gosto e suga quando se emaranha com a minha. Seus dentes ainda se envolvem de uma maneira que eu não achei que fosse possível. Não há nada doce e gentil nesse beijo. Agora eu entendo o significado da paixão absoluta. No momento em que ele me libera, minha cabeça gira com a falta de oxigênio e meus dedos entram em seus bíceps, esperando por sua vida. 48

Quando penso que ele acabou, sua boca mergulha no meu pescoço, onde seus dentes raspam e sua língua lambe. Eu me choco ao ouvir gemidos profundos que emanam de mim. Jesus, o que diabos ele está fazendo comigo? Então, de repente, ele para. — Agora você entende, Carter? Ele é alto, mas eu também sou. E não estou pronta para desistir da minha busca. — Você não acha que estou pronta para este desafio? Seus olhos estreitam quando ele serpenteia a mão sob o meu jaleco e agarra minha bunda. Ele ri do meu suspiro. — De modo nenhum. Você é tão verde, está molhada atrás das orelhas. — Esse não é o único lugar que eu estou molhada. Agora é sua vez de ficar chocado. Então ele solta uma risada. — Eu não sei o que fazer com você, Dra. Drayton. — Me dê uma chance. Por favor. Ele gesticula com a cabeça, dizendo: — O que você tem aqui é uma dose enorme de morbidez. Meus olhos de fecham. Ele está certo, mas eu não posso encarar isso. — Se eu perder isso, tenho medo de perder a memória dela também. — Isso não faz sentido. 49

— Não se atreva a me dizer o que faz sentido. Você já perdeu um filho? — Eu puxo fora do seu abraço. — Não. — Não se sinta tão alto e poderoso, então. Você provavelmente foi criado como eu, sem um cuidado no mundo. Suas feições imediatamente escurecem e seus lábios ficam finos. — Eu andaria com cuidado, se fosse você. Você não sabe nada sobre mim, Dra. Drayton. Suposições podem ser muito perigosas. — Ponto tomado. — Qual é o seu preço? — Meu preço? — Para a casa? — Você vai aceitar o acordo? — O aluguel da casa de hospedes é seu. O quarto eu tenho que considerar. — Eu quis dizer o que disse. Farei o que você quiser. Não há barreiras. — Você pode mudar de ideia, — ele avisa. — E depois? Dou de ombros. — Depois você pode fazer o que quiser com o quarto. Mas não vou mudar de ideia. Eu juro. — O preço? 50

— Quatro ponto cinco. — Eu vou ter um cheque entregue amanhã. Quando você pode tirar suas coisas? Jesus! Ele não piscou nem sequer discutiu. O tio Foster disse que eu nunca conseguiria tanto assim. — Depende. Você quer o mobiliário? — Não há nada que você queira manter? — Bem, claro. Algumas das antiguidades da família que quero, mas se eu estiver indo para a casa de hospedes, não terei espaço para todas essas coisas. Esta é uma casa de seis quartos. Além disso, a casa de hóspedes já está mobilada. — Eu acho que nós precisamos nos encontrar para discutir o que você quer. — O preço vai mudar se você quiser muito da mobília. Meus pais não compraram coisas baratas. — Eu posso ver isso, — diz ele, secamente. — Jantar? Sexta-feira? Eu cozinho e você pode olhar em volta e decidir que móveis você gostaria de comprar. — Parece que podemos ter um acordo. — Ele aperta os olhos. — Como você sabia que eu era solteiro? — O quê? — Como você sabia que eu não era casado? Sua proposta? 51

— Sem aliança. — Hmm. Muitos homens casados não usam aliança, — diz ele. — Sim, os que tentam esconder isso. Ele aperta o lábio inferior enquanto a íris de esmeralda perfura os meus cinzentos desbotados. Então ele diz: — Sexta-feira. Sete horas. Eu o acompanho até à porta. Ele entra em um carro esportivo preto e elegante. O motor ronca tão profundamente que vibra em meus ossos. Não tenho certeza do tipo de carro que é, mas sei que é caro porque nunca vi um como esse antes. O que diabos acabei de fazer? Espero saber o que estou fazendo porque ele parece estar fora do meu alcance e muito perigoso. A primeira coisa que faço é ligar para Harper. Eu preciso de algum encorajamento aqui. Mas não ouso contar a ela sobre o acordo.

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CAPÍTULO QUATRO Kestrel

Isso foi interessante. Ou não. Eu quero a casa. É perfeita. A garota nem tanto. Ela é tão fodida quanto eu. Não, eu aceito isso. Ela pode ser pior. Aquele quarto é um sinistro santuário para sua filha morta. Flores mortas estavam por toda parte. Cartões e balões também. Era totalmente psicótico. Eu me pergunto o que Gabby pensaria. Porra, eu sei o que ela pensaria. Que a boa médica precisa ser trancada em um hospício. Eu estaria lhe fazendo um favor me recusando a manter aquele quarto. E o jeito que ela se jogou em mim. Cristo! Era como beijar uma freira! E eu pensei que tinha problemas. Quando chego em casa, sirvo-me de uma bebida e meu telefone toca. — Como foi? É Kolson. — Perfeito. Eu fiz uma oferta. Tenho que me encontrar com a dona na noite de sexta-feira para falar sobre a possível compra do mobiliário. Você não acreditaria no lugar. — Qual foi o preço pedido? — Quatro ponto cinco. E ela quer alugar a casa de hóspedes. — A sério? Renda de aluguel em cima disso? — Sim. — Eu não digo a ele o resto da história perturbadora. 53

— Então, me fale sobre isso. Eu preencho-o com detalhes da casa. — Porra, mano, você matou isso. E a localização. É exatamente onde você queria. — Sem dúvida. Você deveria ver o lugar. Está completamente renovado também. A cozinha é irreal. Ele ri. — Como se você desse a mínima sobre isso. — O que isso deveria significar? — Com que frequência você cozinha? — Ei, você nunca sabe. Eu posso fazer disso um hobby. Ele faz algum tipo de ruído gemido. Ele sabe que isso é uma besteira completa. Eu odeio cozinhar. Posso grelhar um bife e fazer um pouquinho aqui e ali, mas nada extravagante. — Bem, eu posso contratar alguém para cozinhar para mim. E eles vão adorar a cozinha. — Agora nisso eu posso acreditar, — diz ele, rindo quando terminamos a ligação.

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A pressão na minha garganta aperta. Suas mãos são tão grandes, grandes demais para eu lutar contra. Meus dedos apertam seus pulsos e tentam afastá-los de mim, mas não ganham nenhum afrouxo. Então ele para de apertar e inclina a cabeça para o meu ouvido. — Você vai fazer o que eu digo, ou isso continua. Compreende? Eu aceno ou tento mesmo assim. Então ele me solta e eu escorrego pela parede, as pernas amassadas. Meu corpo estremece quando acordo do meu sonho recorrente. Sonho, maldição. Foi a minha realidade por anos com esse cretino. O Dragão. Com o coração batendo, eu alcanço meus fones de ouvido e ligo a música. Isso me acalma em tempos como este. Quando penso em sua morte, uma sensação de felicidade me irrita. Quão doente é isso? A maioria das pessoas choraria se o pai fosse baleado. Eu não. Eu me alegro diariamente. O estranho nisso, porém, é que não posso fazer isso na frente do meu irmão. E eu não entendo por quê. É como se andassemos na ponta dos pés em torno do assunto, nenhum de nós quebrando o gelo de discutir isso. Minha cunhada acha que isso me prejudicou além do ponto de reparo. E talvez tenha feito isso e estou muito fodido para notar. Mas todos os dias desde que ele morreu é uma comemoração para mim. Eu estava amarrado ao filho da puta por uma corrente invisível. O dia em que ele deixou a Terra foi meu ingresso para a liberdade. Não que eu não tenha problemas mentais do que ele fez comigo ao longo dos anos. Mas o 55

simples fato de que ele se foi é um bálsamo para minha alma dilacerada e esfarrapada. Pessoas que nunca foram maltratadas não entendem; não conseguem entender o terror. É uma coisa viva que respira. Não vai embora. Ela só cresce e se desenvolve em algo tão monstruoso que distorce cada coisa que você faz. Até as menores ações são afetadas. Escovar os dentes, pentear o cabelo, comer e até beber água. Te esmaga pelo seu peso até você mal funcionar. E então ele vem correndo sobre você e se intensifica ainda mais. Viver torna-se quase intolerável e não há saída. Essa foi a vida com o dragão. Agora ele está morto e o terror está recuando. Aos poucos. E finalmente estou sentindo que há vida para mim novamente. Meu pai adotivo, Langston Hart, era um monstro. Um dragão vivo que cospe fogo. A crueldade começou com meu irmão mais velho, Kolson. Eu vim em seguida e, finalmente, meu irmão mais novo, Kade. Langston fez parecer que ele era um grande filantropo, adotando três garotos. Filantropia minha bunda, ele era mais como um fodido sádico. Se eles soubessem a verdade sobre o monstro que ele era... que o tempo todo ele orquestrou um plano para adquirir três filhos sem perguntas. Nós estávamos todos em torno de cinco ou seis quando ele nos adotou. Nós fomos privados de tanto, é difícil até pensar, muito menos explicar. O forte do dragão era intimidação. Ele prosperou e seu método favorito era me agarrar no pescoço e me sufocar. Nós não fomos abusados sexualmente, mas ele compensou de outras maneiras. Ele era um cretino brutal. Espero sinceramente que apodreça no inferno. Todos nós vivíamos em nosso próprio inferno por causa dele. 56

São quatro da manhã e duvido que consiga voltar a dormir. Uma corrida boa e dura ajustaria minha mente corretamente. Não demorou muito para me vestir e ir para as ruas. Ainda está escuro e quieto. Meus pés atingem um ritmo decente enquanto observo todas as maravilhosas casas ao sul da Rua Broad. A arquitetura é tão interessante aqui que mal noto a rua em que estou, até atingir a avenida Murray. A vista da água é soberba. Estou totalmente convencido disso e descubro que estou na Estação da Guarda Costeira antes de dar conta. Ao invés de continuar, faço uma volta e volto para ver as casas em Murray novamente. Estou completamente apaixonado por elas, o que é estranho porque Kolson adquire bens imóveis por nada. Eu estou esperando que ao olhar uma segunda vez seja uma desilusão. É bem o contrário. É muito melhor que a primeira vez. Cristo. Eu não posso acreditar que estou prestes a ser dono disto aqui. Eu diminuo meu passo quando passo pela casa em que fiz a oferta. Há uma luz no andar de cima e não posso deixar de me perguntar se Carter está dormindo ou se ela está acordada e ansiosa com a venda. No caminho para o escritório, eu tenho o motorista encontrando um Starbucks ou o equivalente. Não posso arriscar não tomar café. Pego duas xícaras grandes. Shayla não estará até às oito e meia de qualquer maneira. Isso vai me segurar até lá. Assim espero. O escritório está escuro e vazio quando chego. Minha música toca enquanto começo a trabalhar. Há uma tonelada de possíveis contas que podemos estabelecer e eu tiro todas as minhas informações para Kolson e Jack. Também começo a

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executar números e a configurar planilhas. Precisamos contratar alguém para tratar da parte financeira para este ramo. Meu telefone toca. — Sim. — Você já atendeu seu telefone de maneira profissional? Eu ri. — Kestrel Hart. — Assim é melhor. — Por que diabos eu deveria me incomodar quando eu sei que é você? Kolson ri. — Estou apenas checando. — Você precisa trazer sua bunda aqui. O setor imobiliário vai deixá-lo tonto. — Eu não fico tonto. — Sim, você fica. Quando se trata de imóveis. — Errado. Carros me deixam tonto. Assim como cavalos. — Tanto faz. Estou falando sério, Kol. Este lugar balança. Posso assegurar-lhe que haverá uma explosão em suas calças9. — A única coisa que causa uma explosão nas minhas calças é minha esposa. — Mantenha essa droga para você, cara. — Você trouxe isso, não eu. — Venha para cá. Eu realmente não posso esperar por você ver a gema que estou comprando. Kolson, estou te dizendo. Este lugar é incrível. — Digo a ele o 9

Quer dizer que ele vai ficar empolgado com isso.

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endereço da casa e ele puxa para cima na internet. Eu ainda não lhe falo sobre a garota excêntrica. — Parece doce, cara. — Sim, mas o que você não está vendo são as vistas do último andar. A porra do porto é incrível. Você pode até ver o Forte Sumter. Isso é tudo para mim. Eu estou apaixonado. — Sim, isso não soa como o Kestrel que eu conheço. Você moraria no fundo de um celeiro. — Isso é o que eu estou tentando dizer a você! Ele faz um som de arrulho. — Então, podemos conversar um pouco aqui? — Sim, eu preciso de um gênio das finanças aqui. Em breve. O Sudeste está carregado de uma tonelada de oportunidades. — Isso é o que eu quero discutir. Jack está indo. Precisamos contratar alguém e rápido. Ele não pode estar indo e voltando e nem eu. Temos muitas coisas para lidar aqui. Esta é uma excelente notícia para mim. — Quando é que ele vem? — Então hoje é quinta-feira. Eu estou programando para ele voar na terçafeira. Enquanto isso, estamos abrindo a pesquisa. Eu tenho alguém que acho que pode servir, mas vamos ver. — Você não tem ninguém que queira transferir, não é? 59

Kolson ri. — Você está tentando roubar meus funcionários já? — Isso aí. Seria muito mais fácil ter um funcionário experiente aqui para ajudar do que ter que treinar um novato. — Ponto bem feito, Kestrel. Vou dar uma olhada ao redor. — Bom. Tudo certo. Tenho que começar a trabalhar. Me ligue mais tarde. — Vai fazer. Cuidado com esse café. Antes que eu pudesse responder, ele encerrou a ligação. Estou um pouco surpreso por Gabby não ter pulado no telefone. Eu volto para as minhas planilhas e prospecto e Shayla entra. — Bom dia, senhor. — Shayla. Como você está hoje? — Tudo bem, senhor. Há café na sala de descanso, se você quiser um pouco. — Oh, obrigado. — Eu estou de pé para pegar uma xícara. — Vou lhe trazer um pouco, senhor. — É Kestrel, lembra? — Sim, senhor, Kestrel. Acho que posso ter que desistir dessa nave. — Shayla, não me oponho a conseguir meu próprio café. Eu não contratei você para me trazer coisas.

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— Mas você me contratou para manter as coisas em ordem por aqui e facilitar seu trabalho. Trazer café para você é uma das coisas que facilitam seu trabalho. Segurando minhas mãos no ar, eu digo: — Você venceu. — Preto, senhor? — Sim, senhora. Ela ri. Estou determinado a fazê-la abandonar a coisa do senhor. Momentos depois ela entrega minha bebida. Vamos ver como isso é. Ela espera, enquanto eu provo. Definitivamente não é a Starbucks. — Bom? — Honesto? — Sim! — Precisa ser forte, e eu quero dizer muito forte, para se adequar a mim. Sou viciado em café. — Devo refazer isso? — Sim, mas deixe-me mostrar a você. Ela me leva para a cafeteira e não é a melhor, mas certamente não é a pior. Ela comprou o café do Starbucks e um moedor. Eu mostro a ela quanto e sua boca se encolhe em um olhar distorcido de horror. — Eu sei. Realmente, muito forte. 61

— Seu estômago não vai apodrecer? — Eu certamente espero que não. Enquanto o café coa, falamos sobre a família dela. Seu filho mais velho é júnior na Faculdade de Charleston. Sua filha mais nova quer ir para a Universidade Clemson, que fica na parte alta da Carolina do Sul. — Foi difícil para você. — Oh, eu estava uma bagunça durante todo o mês de agosto. Meu filho não estava mal porque estava aqui na cidade. E minha filha ainda estava em casa. Mas quando meu marido e eu saímos do dormitório dela em agosto, posso dizer que houve uma enchente no carro. Meu pobre Ralph. Ele trazia uma tola chorando em suas mãos todo o tempo. Estou bem agora, mas senhor, foi difícil. Nunca pensei que seria tão difícil para uma mãe. — Você não parece velha o suficiente para ser um ninho vazio, — eu digo. Ela sorri. — Bem, é muito gentil de sua parte, senhor. — Apenas sendo honesto, senhora. Eu acho que você chega a um ponto na vida em que a idade se torna menos importante. Sua risada enche o quarto. Seu som tilintante é quase musical. Isso meio que me lembra de Gabby. Eu me vejo sorrindo. — Você diz isso agora. Espere até você estar batendo na porta dos cinquenta. Então isso se tornará muito importante.

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— Provavelmente, sim. Mas olhe para tudo que você tem. E com sorte, seus filhos se casarão em um futuro não muito distante e você terá netos. — Oh, eu adoraria isso, quando for a hora certa, com certeza. Mas e você? Você poderia ter o mesmo. Crianças no seu futuro, quero dizer. Nunca. Isso nunca vai acontecer no meu caso. Eu não sou capaz de compartilhar esse tipo de amor. Nutrindo alguma pequena criatura que é completamente dependente de mim? Eu mal posso cuidar de mim mesmo. — Não, — eu digo. — Bem, claro que você vai. Em um tom que não transmite argumentos, eu digo: — Absolutamente, não. Isso nunca acontecerá. Eu acho que o café está pronto agora. Minha mudança de assunto a perturbou. Não posso ser ajudado. Este é um assunto fechado para todos. Eu não discuto isso com ninguém. Quando olho para ela, minha atitude suaviza um pouco. — Sinto muito, Shayla. Há algumas coisas sobre mim das quais você não pode estar ciente, coisas que não discuto com os outros. Ela balança a cabeça quando voltamos para o escritório e começamos a trabalhar. — Eu entendo, senhor.

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Não a corrijo dessa vez. Talvez eu precise manter nosso relacionamento formal. Pode revelar-se melhor assim. Eu não posso tê-la se intrometendo em minha vida privada, mesmo que suas intenções sejam boas. — Vamos começar? — Eu pergunto. À medida que nos aprofundamos no trabalho, fica claro o quão excelente Shayla é no que faz. — Eu tenho que elogiar suas habilidades, Shayla. Estou muito impressionado. Eu preciso te perguntar uma coisa. Você se opõe a viajar comigo? Sua cabeça se inclina e eu sei que ela está confusa com a minha pergunta. — Deixe-me explicar. Eu gostaria que você me acompanhasse quando eu tivesse que me encontrar com alguns dos possíveis clientes com quem podemos estar lidando. Isso exigirá viagens de sua parte. Algumas delas serão para Atlanta, Charlotte ou outras áreas próximas. Outras podem estar mais distantes. Você está pronta para isso? Se não, tudo bem. Eu só preciso saber para encontrar alguém que possa. — Posso checar com meu marido? Eu nunca fiz nada assim antes e gostaria de conversar com ele. — Absolutamente. Deixe-me saber quando tiver uma resposta, quanto mais cedo melhor. — Deve ser uma coisa antiquada. Ou talvez eles tenham aquele casamento apertado, mas nunca me ocorreu que ela teria que checar com ele. Então uma ideia me atinge.

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— Shayla, ajudaria se eu levasse vocês dois para jantar para que ele pudesse me conhecer? Sorrindo, ela diz: — Sim, acho que seria legal. — Que dia seria bom para você? Estou aberto a sugestões já que me mudei para cá. — Sábado à noite? — Sábado é perfeito. Vou fazer uma reserva e pedir a um motorista que te pegue. — Ah não! Nós podemos encontrá-lo. — Absolutamente não. Haverá vinho no jantar. Sem direção depois disso. — Sim, senhor. — Ah, e Shayla. Pelo menos no jantar, podemos dispensar o “senhor”? — Veremos. Nós rimos. Meu telefone toca e, quando atendo, é a empresa de transporte informando que meus veículos chegarão em trinta minutos. — Excelente. Meu transporte está aqui. — Então eu franzo a testa. — O que há de errado? — Eu tenho que descobrir como chegar em casa. — Eu posso dirigir um se você quiser. 65

O pensamento me faz sorrir. — Você pode dirigir um supercarro esportivo? — Ah com certeza. — Um com sete marchas? Ela aperta os olhos. — Que tipo de carro você tem? — Um Roadster Aventador. — Eu não sei o que é isso. E o outro carro? — É uma moto. — Bem, eu não vou estar dirigindo isso, nem essa garota vai andar nisso também, — ela bufa. — Essas coisas são perigosas. Se ela acha que a Harley é ruim, espere até ver o carro. — Não se preocupe com isso. Vou chamar Mario, um dos motoristas da HTS para fazer isso. Não muito tempo depois, a porta vibra e o entregador está lá. Quando saímos, eles estão dirigindo meus veículos para fora do caminhão de carga. Eu me encolho quando os vejo. — Não se preocupe, Sr. Hart. Esta é uma operação de luva branca. — Foi o que me disseram.

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— Bem, eu volto depois. — Um longo e melodioso apito sai da boca de Shayla. — Isso é um tipo de máquina elegante que você tem aí. Ela olha para o Aventador preto, depois passa o dedo pelo capo brilhante. Em seguida vem a Harley. Seu brilho preto e cromado iria fazer parar a maioria das pessoas. Shayla solta outro assobio enorme. — Bem quente, maldição Kestrel, você gosta de seus brinquedos, não é? Eu não tenho certeza do que me choca mais, o uso dela da palavra, maldição, ou o uso do meu nome. Eu começo a rir. — Você pode dizer que sim. Depois de inspecionar os dois veículos em busca de danos e ficar satisfeito em não encontrar nenhum, eu me desligo e voltamos para dentro. No caminho, eu digo: — Vou levá-la para dar uma volta no Aventador quando formos almoçar hoje. Você vai amá-lo. — Ou isso, ou a amaldiçoada coisa vai me assustar até à morte. — Eu garanto. Não assusta. Meu comentário a leva a uma parada brusca. — Kestrel, posso parecer uma velha para você, mas não nasci ontem. Você não pode me enganar com isso. Eu entro naquele carro e você vai dirigir como um morcego fora do inferno. E sabe de uma coisa? Eu não culpo você, porque se eu possuísse algo assim, faria o mesmo. Essa mulher me fez rir mais nos últimos dias do que eu ri em toda a minha vida. 67

— Shayla, todas as mulheres do Sul são como você? — O que você quer dizer? — Você me faz rir e você fala o que pensa. — Bem, eu imagino que sim. — Então eu acho que vou gostar de morar em Charleston. As horas seguintes são preenchidas com um trabalho intenso, enquanto atravessamos montes de papéis que precisavam ser concluídos. Shayla tem pilhas dele e ela foi bloqueada porque tudo exigia minha assinatura. Juntos, nós percorremos muito e colocamos um grande estrago nisso. Quando o começo da tarde chega, estamos famintos. — Vamos comer. Ela escolhe um restaurante e nos preparamos para ir. Eu abro a porta do carro e ela suspira. A porta se ergue e isso a surpreende. Então ela percebe quão baixo estão os assentos no chão. — Prometa-me uma coisa, — diz ela com um rosto sério. — Certo. — Puxe meu grande traseiro deste balde quando for hora de sair. Não tenho certeza se vou conseguir. Ela tem um brilho diabólico nos olhos e eu começo a rir. — Você é uma encrenqueira, não é? 68

— Não digo. Eu a ajudo e antes de fechar a porta ela diz: — Espere! Tire uma foto minha. — Ela me entrega o iPhone. Eu tomo algumas fotos dela sentada no carro e entrego seu telefone de volta para ela, rindo como eu. Quando entro no carro, ela está rindo de uma tempestade. — Eu só mandei essas fotos para meus filhos e meu filho queria saber que tipo de besteira eu estava jogando nele. Você pode imaginar? — Não. Se eu falasse isso para minha mãe, ela teria desmaiado e depois me espancado. O que você disse? — Que eu não sou bem versada em fofocas, e que eu estou sentada neste Lamborghini indo almoçar com meu chefe. Eu também só mandei uma mensagem para ele e lhe contei o que você disse. — Parece que você tem um relacionamento incrível com seus filhos. — Sim. Mas eles são bons garotos, então eu não posso reclamar. — Então ela solta um enorme gorgolejo de risadas. — Oh meu Deus. Ele me mandou uma mensagem de volta com uma foto dele em pé ao lado de seu carro de lixo com uma legenda que diz: — Não há mais bobagens. — O que precisamos fazer é colocar você na Harley quando voltarmos. Isso realmente o faria ir. Ela bate na perna dela. — Deus, ele morreria! 69

— Você parece uma mãe incrível. — Bem, eu tento. — Eu tive uma educação realmente ruim. Tenho certeza que você leu todas as notícias sobre Langston. As histórias da máfia não eram nada comparadas com a criação de sua paternidade. Seus filhos são realmente sortudos. Ela não diz nada por um tempo. Talvez eu não devesse ter mencionado Langston. Não sei por quê, mas gosto muito de Shayla; eu me sinto confortável em torno dela. Ela é calorosa e, por algum motivo, sinto que quero ser aberto com ela, o que é extremamente incomum. Finalmente ela diz: — Sinto muito, Kestrel. Minha família era muito amorosa, então não posso me imaginar sendo criada assim. Deve ter sido muito difícil para você. — Você não sabe a metade disso. A vida foi um pesadelo. Ela me dá um tapinha no braço e eu sacudo em resposta. — Desculpe. Esse é um dos meus pequenos problemas. Não se sinta mal. Honestamente, eu nunca falo sobre isso, então estou surpreso que estou te dizendo isso. — Você não precisa dizer nada. — Eu sei. Mas sinto que posso com você e não o encontro com muita frequência. — Qualquer coisa que você diga para mim ficará bem entre nós. Eu não fofoco. 70

Eu apenas aceno em resposta. Quando entramos no estacionamento, eu procuro o serviço de manobrista. — O que você está buscando? — Manobrista. Ela borbulha de tanto rir. — Você não vai encontrar isso aqui, apenas no centro. — Oh. — Eu circulo o lote e encontro um lugar para estacionar. Então eu a ajudo a sair do carro. — Veja, isso não foi tão ruim, foi? — Ah. Eu tenho um SUV, então sim. Nós conversamos enquanto comemos. Segunda-feira é quando o resto da nossa equipe chega. Isso não significa muito, apenas a recepcionista, que Shayla treinará, um representante de vendas e outro administrador. Jack chegará na terçafeira e Shayla levará o novo administrador a conhecer as coisas enquanto eu começo a treinar o novo representante de vendas. As coisas vão começar a aquecer depois disso. — Temos muita coisa acontecendo na próxima semana, — eu digo. — Temos, não é? — Uma vez que nossa equipe for contratada e em funcionamento, poderemos realmente fazer o nosso trabalho. Então, onde você gostaria de comer no sábado? — Oh, eu acho que vou deixar você escolher, — diz ela. — Tudo bem por mim. Só não me odeie se eu fizer a escolha errada. 71

Shayla não acredita. Ela já sabe que vou escolher um ótimo restaurante.

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CAPÍTULO CINCO Carter

Este é um grande dia para mim. Como John disse, os todo-poderosos da StrongMeds Inc. vêm me ver. Há quatro deles, todos vestidos com seus ternos de marinha, parecendo enfadonho pra caramba. Eu lhes ofereço uma excursão ao meu laboratório assim que chegam, enquanto mostro onde toda a magia acontece. Dois deles tiram notas e fotos com seus iPads, enquanto os acompanho vou explicando exatamente o que faço. Apenas um deles realmente entende. Os outros obtêm as implicações por trás disso. Tradução, se tudo correr como esperado, a StrongMeds Inc., deverá ganhar muito dinheiro com os produtos da minha pesquisa. — Dra. Drayton, vamos fazer isso acontecer. StrongMeds quer você. Tudo o que precisamos é de sua assinatura, — diz o líder do bando. Seu nome é Winston Miles e ele é o vice-presidente de pesquisa e desenvolvimento. — Uau. Desacelere. Há algumas coisas que quero esclarecer primeiro. — Com certeza. Podemos ir a algum lugar sentar e discutir isso? Há uma sala de conferências no final do corredor e eu sugiro isso. Winston ri. — Dra. Drayton, estou pensando mais nas linhas de algum lugar em que podemos tomar uma boa xícara de café. Ele deve pensar que sou uma idiota. É óbvio que não saio muito. — Ah, claro. Por que não vamos ao refeitório? A universidade tem um... 73

— Dra. Drayton, você se importa se sairmos desse cenário e formos para algum lugar um pouco menos... estéril? Minha testa se enruga quando eu puxo meus óculos. — Sim. Nós poderíamos ir para... — Que tal a Cafeteria Porto Cidade? Isso combina com você? — Ele pergunta. Relaxo. Não é sempre que eu levo homens de negócios para tomar café. — Sim, seria ótimo. Deixe-me dizer a John que vou embora por um tempo. Depois que aviso John, subimos em uma limusine preta e vamos até à cafeteria. Uma vez sentados, e depois que nossas bebidas chegam, nós começamos. — Eu gostaria de mencionar algumas coisas que precisam de esclarecimento, — eu começo. — Tudo bem. — Winston mergulha a cabeça. — Em primeiro lugar, não trabalho para vocês, trabalho para a universidade. — Acordado. — Segundo, respondo apenas ao meu supervisor, John Corbin. — Acordado. — Terceiro, só farei pesquisas que estejam dentro do meu interesse e sejam sempre éticas. — Acordado.

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Eu esperava muito retorno uma vez que estou lidando com o mundo corporativo e eles sempre gostam de estar no controle, mas não tenho nenhum. Winston apenas sorri para mim e pergunta: — Mais alguma coisa? — Eu não penso assim, além de me recusar a ser pressionada em um prazo. Minha pesquisa é tênue e não é impulsionada por um relógio. — Entendido. — Bem. Então me explique o que eu vou assinar. Winston acena para um dos outros cavalheiros. Ele sorri e se apresenta como um dos advogados de seu escritório corporativo. Ele explica tudo no contrato e eu pergunto se posso fazer com que o meu advogado o examine. Winston não tem um problema com isso. O resto da nossa visita é agradável. — Devo dizer, Dra. Drayton, quando cheguei aqui, esperava encontrar alguém muito mais velho que você. Que surpresa. Como você conseguiu tanto, dada a sua idade? — Primeiro, por favor, me chame de Carter. Segundo você pode dizer que eu estava extremamente motivada e acho que se poderia dizer que sou uma workaholic. Eu terminei a graduação em três anos, depois fiz um mestrado e doutorado combinados depois disso. Tive a sorte de encontrar John em um seminário e conquistar minha posição com ele. O resto é, como eles dizem, história. 75

— Oh, eu concordaria que você é a única que está fazendo história. Seu trabalho é brilhante. Eu não posso deixar de irradiar. — Posso te perguntar uma coisa, Sr. Miles? — Certamente. — Algum desses outros caras aqui já falou? Os outros homens olham para ele e então ele começa a rir. — Suponho que não o suficiente. Talvez precisemos mudar isso, hein? — Quer minha opinião? — Sim, acho que sim. — Eles parecem um pouco patetas. — Eu me inclino para frente e digo: — Eu acho que você precisa deixá-los usar seus cérebros. Eles podem te surpreender. Os outros homens estão boquiabertos. Suas xícaras de café estão vazias, então entramos na limusine e voltamos para o laboratório. Aperto a mão de Winston e digo que ele logo ouvirá falar de mim. Depois que ele sai, me pergunto sobre os outros caras. Por que eles não falam? O que Winston realmente gosta? Como eu gostaria de trabalhar com ele? Eu descobrirei em breve. John e eu temos uma longa discussão sobre o contrato que Winston quer que eu assine. John não vê nada de errado nisso, mas eu ainda quero que meu advogado dê uma olhada. Às duas horas, vou ver o tio Foster. Ele concorda com John. Não há 76

nada no contrato, a não ser que a StrongMeds que me concederá fundos para pesquisa e compartilharei minhas descobertas com eles. Eles terão direitos exclusivos para criar os medicamentos resultantes da minha pesquisa e que este contrato será vinculativo enquanto eu trabalhar na PD-L1. Eu terei participação nos lucros em qualquer dinheiro ganho com drogas criadas a partir de minha pesquisa na forma de opções de ações. Tio Foster me dá um olhar estranho. — Carter, eu sempre soube que você era inteligente. Seu papai falou muito sobre isso. Ele sempre pensou que você iria para a faculdade de direito e seguiria seus passos e ser um parceiro nesta prática aqui. Mas você é mais esperta do que ele jamais foi. Essa coisa, bem, querida, está bem acima da minha cabeça. Como no mundo você faz isso? Eu ri. — Tio Foster, não é nada. Para mim, leis é o difícil. Minha missão é encontrar uma cura para o câncer. Eu acredito que esta é uma maneira de direcionar isso. — Querida, você pode me dar uma explicação rudimentar de como isso funciona? — Ah com certeza. O que estou fazendo é modular a sequência genética das células cancerígenas. Você vê, todas as células cancerígenas têm a capacidade de bloquear os mecanismos de defesa do próprio sistema imunológico e desativá-los para que não possam matar a célula cancerosa. O que estou fazendo, ou tentando, é criar uma mutação genética que interrompa a capacidade da célula de fazer isso. 77

Então, ao contrário de tratar o câncer com quimioterapia e deixar o paciente doente, a futura terapia será dar ao paciente uma droga que instrua o DNA das células cancerígenas a se replicar de uma maneira que não permita desabilitar o sistema imunológico humano. Isso faz sentido? — Como diabos você descobriu tudo isso? Eu ri dele. — Por mexer no laboratório. Ajustar isso e aquilo sob um microscópio. É divertido! — Jesus, Carter. Seu cérebro... bem, é um presente incrível que você tem. — Obrigada, tio Foster. Mas ainda tenho muito a fazer. Eu tenho algumas descobertas. Mas quero resolver tudo. Eu quero curar todos os cânceres pediátricos. — Estou preocupado com você, querida. — Eu? Por quê? — Oh, querida, você sabe o por quê. Eu sempre odeio essas conversas. Foster e meu pai eram melhores amigos. Ele sente falta do meu pai tanto quanto eu. Eles eram parceiros de trabalho, companheiros de pesca, companheiros de vela, o nome dele. Eles cresceram juntos e se uniram no quadril desde a pré-escola. — Sim, eu suponho que sim. — Você está saindo? Fazendo coisas? Você não pode trabalhar o tempo todo. 78

— Eu sei. Eu saio com alguns amigos meus. O ceticismo nubla sua expressão. Ele é muito esperto para eu passar qualquer coisa por ele. — Carter, eu sei que dia foi ontem. Eu também lamento. — Sim. Eu sei que você lamenta. Está ficando mais fácil. Ele franze os lábios. — É isso? Eu olho para ele bruscamente. — O que é isso? — Megan vai se casar. Ela acabou de ficar noiva no final de semana passado. — Oh, isso é fantástico! Parabéns! — A coisa é, Carter, não me sinto empolgado com isso. Daniel e eu sempre conversamos sobre o que faríamos e como celebraríamos quando nossas filhas se casassem. Como nos sentiríamos quando as levássemos pelo corredor. Nós fizemos um pacto, sabe? Ele provavelmente nunca te contou. Mas nós fizemos. Nós prometemos estar lá um para o outro, com doses de Jameson na mão, antes de fazermos a caminhada. E agora eu me sinto como uma alma perdida. Eu também me sinto como um lixo por chorar em seu ombro, mas você entenderia isso mais do que ninguém. Eu não posso contar a Megan. E Janet não entende. — Maldição. — Eu me levanto e me movo para trás de sua mesa para envolver meus braços em torno dele. Nos abraçamos e choramos. É estranho porque nunca penso em mais ninguém no aniversário. Eu sinto que sou a única que ainda sofre. Ele acabou de provar o quão errada estou. 79

— Te digo uma coisa, tio Foster. No dia do casamento de Megan, estarei lá no lugar do papai e você e eu faremos essas doses juntos. Nós nos olhamos, olhos lacrimejantes e sorriso. — Soa como um acordo para mim. Nós nos sentamos em silêncio por alguns momentos. — Carter, como foi a visita do imóvel? Sua pergunta me faz estremecer. Isso não é algo que eu queira discutir com ele. — Bem. — Você acha que ele está interessado? — Talvez. O homem disse que me ligaria. As sobrancelhas do tio Foster se aproximam. — Por que diabos ele ligaria para você? — Anne não pôde estar lá ontem. Surgiu uma emergência. — Ainda assim, isso é estranho. Eu dou de ombros. É preciso toda a força que tenho para ficar em seu escritório. Quero correr para fora e arrancar meu cabelo. Quero gritar com todos meus pulmões. Mas não faço nada. Meus dentes se apertam enquanto eu aceno. — Eu sei o quão difícil isso é para você.

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Ele não tem a menor ideia. Meus olhos se concentram nos meus joelhos. Se eu olhar para ele, tenho medo de quebrar em mil pedaços. — Carter, me desculpe, querida. Seu pai, bem, ele foi o melhor advogado, mas o pior planejador financeiro. De pé, abraço o tio Foster de novo e começo a sair. Antes de chegar à porta, meu tio me chama. — Carter, é uma aposta segura – o contrato. Você vai ficar bem lá e, se precisar que eu dê uma olhada em qualquer outra coisa, me ligue. — Obrigada, tio Foster. — Minha voz grita enquanto eu falo. — Eu te amo, Carter. — Amo você também. Eu mal chego ao carro antes de desmoronar, soluçando. Há um zilhão de razões pelas quais não quero vender a casa e agora tenho que lidar com ele. O que no mundo eu vou fazer? Olhando para o relógio no meu painel, percebo o quão tarde está ficando. Preciso voltar ao trabalho. Eu freio minhas emoções e volto para o hospital. No caminho, chamo Harper. — O que há, Doc.? Ela adora dizer isso quando eu ligo. — Oh Deus. Você é tão idiota. 81

— Uh, eu acho que você tem isso para trás, Carter. Você é a idiota que mora em um laboratório. — Verdade. Mas adivinha o quê? Esta idiota acabou de receber financiamento de uma grande empresa farmacêutica para trabalhar em sua pesquisa. Eles querem minhas coisas, Harper! — Oh, sagrados experimentos de laboratório! Toque aqui, irmã. Nós rimos e sua excitação me aquece. Não é sempre que meus amigos entendem o que acontece na minha vida em relação ao meu trabalho. Mas Harper é a única que realmente se importa. — Isso é uma boa notícia. Você agora será famosa, Dra. Drayton. — Ei, diminua um minuto. Meu material tem que realmente produzir algo no corpo e não apenas no laboratório, — eu a lembro. — Oh, Carter, conhecendo você, vai conseguir. Eu sinto isso. Eu sempre soube que você faria algo especial um dia. Você era essa garota. — Sim, aquela criança nerd. Mas obrigada, Harper. Você sempre esteve lá para mim. Quando volto para o laboratório, ligo para Winston Miles e deixo uma mensagem de que vou enviar o contrato, assinado. Ele provavelmente ainda está em um avião voltando para seu escritório. Minha cabeça nada com tantas coisas: o contrato, minha pesquisa, minha excitação diminuindo devido à necessidade de vender a casa, e Kestrel Hart. 82

Precisando de uma diversão, eu me jogo de volta no trabalho, e quando olho para a hora, são dez da noite. — Que diabos? Quando John foi embora? Ele até disse adeus? E quanto a todos os outros? Eu preciso sair daqui. Fecho tudo e vou para casa. A casa está escura e silenciosa quando destranco a porta dos fundos e desligo o sistema de segurança. Largo a mochila no balcão e pego uma garrafa de vinho na geladeira. Derramando um copo enorme, eu tiro minhas sandálias e vou para o quintal. Como muitas vezes em Charleston, em outubro, o ar da noite ainda é quente e agradável. Uma brisa suave bagunça meu cabelo enquanto eu caio em uma das espreguiçadeiras à beira da piscina. Ligo as luzes enquanto saio pela porta, de modo que o quintal parece bastante iluminado. Por um breve momento, me permito imaginar como foi quando meus pais e Ells ainda estavam vivos. Ells adorava mergulhar na piscina nos dias quentes de verão. Olhando para o terraço atrás da casa, lembro com carinho das muitas festas que mamãe e papai costumavam fazer. Eram tais socialites, sempre tendo algum tipo de reunião aqui ou na casa de praia. Agora, esse lugar enorme fica vazio a maior parte do tempo, com apenas seus fantasmas para me lembrar dos tempos mais felizes. Talvez seja melhor que eu passe este lugar para alguém que possa preenchêlo de novo com risos e sol. Eu pulo e caminho até o portão de ferro forjado que barra a entrada da propriedade. Quando olho para a entrada, vejo a água, pois a casa está na baía de 83

Charleston. Esticando meu pescoço, olho para o miradouro. Esse é o meu lugar favorito, particularmente em noites frias e claras durante o inverno. As estrelas são incríveis. Se eu escutar de perto o suficiente, quase posso ouvir o ruído dos pés de Ells subindo e descendo a entrada da garagem. Toda vez que penso em ir embora, tenho medo de que as lembranças dela se transformem em nada. E meu fantasma bebê vai desaparecer para sempre. — Oh, Ells, o que eu vou fazer? Eu tentei manter isso. Eu realmente tentei. Mas parece que não vai funcionar mais para nós. Engulo o restante do meu vinho, ando de volta para dentro e encho meu copo. Então volto para o meu lugar à beira da piscina. A água parece um lugar apropriado para mim esta noite. O aniversário da morte de Ells. Quatro anos. Quatro longos e horríveis anos sem ela. Ficou melhor? Não posso responder isso porque realmente não sei. Eu vivo em um estado de dormência perpétua agora. A única coisa que me motiva, que me permite sentir é o meu trabalho. Tudo o mais é um vazio simples. — Bem, Ells, eu fiz isso. Me desculpe, eu não estava na praia ontem, sentada em nosso lugar habitual, mas eu estava muito chateada com a casa. E esta noite... bem, trabalhei até tarde e o tempo se afastou de mim. De qualquer forma, consegui o contrato e os fundos para nossa pesquisa, querida. Todo o trabalho duro está valendo a pena. Claro, nada é o mesmo sem você. Mas pelo menos terei algo para mostrar. E tudo será nomeado depois de você algum dia. O Projeto Ells – Código da Morte para o Câncer. Tudo será para você, querida. Deus, eu sinto sua falta. Eu menti para o tio Foster hoje. Nunca fica melhor, só pior. Todo dia eu acordo, eu me 84

pergunto como você se pareceria. Quão alta você seria? Quanto tempo seu cabelo ficaria? Ainda seria loiro e encaracolado? Seus olhos ainda seriam tão azuis? Sua risada ainda seria a mesma? Todos os dias me faço essas perguntas. E carrego suas fotos comigo em todos os lugares. Me pergunto mais e mais porque eu te deixei. Por que eu fui a esse seminário? Eu sinto muito, bebê. Então, porra, desculpe. É assim toda vez. Eu nunca percebi o quanto choro até acordar várias horas depois com os olhos inchados e molhados e um nariz entupido. Eu me arrasto para a cama. Pelo menos desta vez estou em casa em vez do lote na Ilha Sullivan, e não tenho que entrar em um carro e dirigir. Nem me incomodo em vestir o pijama. Não há ninguém aqui de qualquer maneira. Puxando as cobertas, deixo o sono me reclamar. O sono é o único lugar onde eu posso encontrar consolo porque é onde eu vejo Ells. É onde Ells me espera de braços abertos, rindo, com seus longos cabelos encaracolados, todos emaranhados e salgados do mar. É lá que ela me diz o quanto está feliz e não se preocupa mais com ela. E é lá que eu sei que ela está segura.

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CAPÍTULO SEIS Kestrel

São sete horas quando toco a campainha. Cerca de trinta segundos depois, ela atende a porta. Quem escolhe suas roupas precisa ser baleado. Ela está vestindo jeans da mãe. Eu juro por Deus. Eles parecem ser do início dos anos noventa. Minha mãe, que tem sessenta anos, nem usaria essa coisa. E nem me faça começar a falar da camisa dela. Tem babados, até o pescoço. Estilo puritano. Quem diabos usa babados? Eles são tão medonhos, que é difícil tirar meus olhos. Ela é um repelente de sexo. E ela me percebe encarando. Sua mão paira sobre o pescoço. — Ok, então eu não tenho o mais recente em roupas da moda, — ela bufa. Eu nem sei como lhe responder. O cabelo dela não é ruim, se ela só penteasse. Infelizmente, a bagunça emaranhada parece mais um ninho de águia do que qualquer outra coisa. Eu me pergunto o que aconteceria se ele escapasse da prisão do rabo de cavalo? Pode ser um perigo para a sociedade. E os óculos. Entendi. Ela precisa deles. Mas escolha um par estiloso pelo amor de Deus. — Certo. Você tem algum vinho por acaso? — Eu realmente preciso desviar o assunto aqui. O inferno iria congelar antes que eu pudesse dormir com ela. Conseguir um tesão seria como ressuscitar os mortos. — Oh, desculpe. Venha na cozinha. 86

Eu a sigo pela casa e me sento no balcão. — Branco ou tinto? — Sua escolha. — Este é um teste. Eu quero descobrir o gosto dela por vinho. E fico agradavelmente surpreso quando ela me serve um bom copo de Shiraz. — Muito agradável. Um sorriso momentaneamente ilumina seu rosto e fico impressionado com a forma como altera sua aparência. Mas se foi quase tão rapidamente quanto apareceu. — O que tem para o jantar? — Eu pensei em preparar alguns frutos do mar frescos. Espero que você seja um fã? — Sim, absolutamente. — Ótimo. Quando fui para o mercado local de frutos do mar, eles tinham acabado de receber Wahoo10. Então, é isso que vamos ter, junto com alguns legumes fritos e massa. Como isso soa? — Excelente. Você cozinha muito? Ela faz uma careta e seu tom se achata. — Não. Eu gosto disso, mas não me incomodo muito. — Pelo menos você sabe como fazer. Fico desesperadamente perdido em uma cozinha. — Há uma tigela de legumes picados na ilha, que presumo que ela frite 10

Tipo de peixe de água salgada conhecido como cavala.

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mais tarde. Uma panela já está no fogão e ela tem o peixe na ilha, temperado e pronto para ser cozido. — Deixe-me colocar o peixe de volta na geladeira e posso mostrar-lhe o mobiliário para que você possa começar a avaliar o que pode ou não estar interessado. — Ela caminha até uma gaveta e pega um bloco e uma caneta. Nós vagamos por cada quarto e ela sinaliza o que quer. Então ela me diz que todo o resto está aberto para mim. O quarto da filha dela está fora dos limites. Eu não quero nada lá de qualquer maneira; é tudo mobília para uma criancinha. O que diabos eu faria com isso? — Anote o que você está interessado em tudo. Todo o resto terá que ser vendido em leilão. — Sua mão massageia sua testa e não posso deixar de notar seus dedos longos e graciosos. Ela é alta para uma mulher. Meu palpite é que ela está perto de um metro e oitenta. Eu tenho cerca de um metro e oitenta e três e ela quase pode me olhar nos olhos. Quase. E não notei antes por causa daquelas roupas feias dela, mas ela é elegante. É o jeito que ela se desloca e suas linhas longas e magras. Isso desperta minha curiosidade. Eu me pergunto como ela será. Seu cabelo loiro escuro é longo e crespo, mas talvez com um pouco de penteado poderia parecer meio decente. Olhos cinzentos me encaram. Eles são claros e pálidos. Ela me pegou avaliando. — Eu vou deixar você saber exatamente o que eu quero. Ela sai da sala e eu a vejo ir. Deus, essa roupa. Poderia ser mais feia? Preciso limpar minha mente e decidir o que, se for o caso, quero comprar aqui. Há muitas 88

coisas para escolher. Leva mais tempo do que eu esperava, e só passo pela metade da casa quando ela me chama para comer. Ela põe a mesa na cozinha e eu sento. — Espero que isso seja do seu agrado. — Carter, eu não sou exigente e parece delicioso. — E é mesmo. O peixe é grelhado com um pouquinho de temperos e os legumes parecem crocantes e frescos. A massa é servida com um pesto de manjericão; meu estômago ronca em resposta ao aroma de tudo isso. Ela ri um pouco e, quando o faz, parece razoavelmente atraente. Ou talvez seja apenas uma ilusão da minha parte. Meu garfo perfura o peixe e eu provo. — Oh. Isto é excelente. Como você chamou isso? Ela ri novamente e isso ilumina todo o seu rosto. Eu não estava imaginando isso antes. Há uma jóia escondida sob seu traje desagradável e gosto de óculos. — É Wahoo. É capturado localmente. — Eu nunca comi antes, mas esta não será a minha última vez. — É um dos meus favoritos. O meu também, obviamente, enquanto eu inalo. — Se eu soubesse que você ia gostar tanto disso, eu teria comprado mais. Eu olho para o meu prato e depois para o dela. E rio.

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— Carter, você deve pensar que estou privado de comida, do jeito que eu devorei isso. — Na verdade, não. Talvez seja o meu talento culinário requintado que o deixou tão apaixonado. — Tenho certeza que é isso. — O resto da refeição é todo bom, tudo cozido à perfeição. Carter conhece o caminho da cozinha. Isso é mais do que posso dizer por mim mesmo. — Então, Sr. Hart, você viu algo que esteja interessado em comprar? — Kestrel. E sim. Bastante. Há alguns móveis de que não preciso, só porque tenho muitas coisas minhas chegando, como sofás e cadeiras. Infelizmente, também tenho algumas antiguidades, então tenho que decidir se quero mantê-las ou comprá-las aqui. O que posso fazer é usar um dos quartos como depósito, já que não preciso de uma casa de seis quartos. Seu rosto já pálido se torna ainda mais fantasmagórico. As poucas sardas que estão espalhadas pela ponte de seu nariz e bochechas se destacam em contraste. Sua língua se ergue e umedece os lábios enquanto gagueja: — U-usar um dos q-quartos? — Sim. Como eu disse, não preciso de todo o espaço agora. Seria apenas temporário. Ela pula e diz rapidamente:

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— Mas você viu todo o espaço de armazenamento no sótão? Ora, há toneladas disso lá em cima. Tenho certeza de que poderia abrigar suas coisas com muito espaço de sobra. — Eu ainda não tomei minha decisão sobre o quarto. Sua postura se dobra. É como ver alguém sendo socado por um punho invisível. Tudo nela se esvazia, como um pneu com um vazamento lento. — O que aconteceu com sua filha? Sua mão treme quando ela levanta a taça de vinho até os lábios e abaixa o resto do copo. Ela não responde, mas fica de pé e limpa os pratos, seus movimentos rígidos. Depois de vários minutos de silêncio desconfortável, volto a olhar para mais alguns dos móveis. Eles são perfeitos aqui. Eu tirei fotos das peças sobre as quais estou indeciso para que possa inspecioná-las novamente mais tarde. Eu provavelmente deveria comprar tudo isso, mas vou decidir em alguns dias. Quando volto para a cozinha, ela se foi. Quando olho pela janela, noto-a sentada à beira da piscina em uma espreguiçadeira. Ela está olhando à distância em alguma entidade invisível, perdida em seus próprios pensamentos. Está escuro e frio com apenas uma luz fraca acesa. Eu saio e digo: — Eu terminei de olhar, então eu vou seguir meu caminho. Eu fiz uma lista, mas quero pensar sobre isso. Vou te dar minha decisão final daqui a alguns dias, se estiver tudo bem. 91

Ela se levanta e segura na minha mão. — Por favor. O que eu posso fazer para mudar de ideia? — Seu agarre firme me surpreende e eu recuo. Puxando a minha mão, eu digo: — Minha mente ainda não foi definida. — Eu sei, mas tenho uma boa noção do que vai ser. — Me ajude a entender sobre o quarto, Carter. Por quê? Ela meio grita. — É a única coisa dela que me resta. — Mas não vai trazê-la de volta. — Isso preserva sua memória. Quando eu entro lá, é como se ela ainda vivesse. — Você não acha que isso dificulta para você? — Isso faz com que seja mais tolerável. Essa coisa toda é tão fodida para mim. Ela precisa falar sobre isso, então eu faço algo que sei que ela vai odiar. — Ok, aqui está o acordo. Você tem que me dizer algumas coisas. Onde está o resto da sua família, Carter? É muito escuro para ver as complexidades de suas expressões faciais, mas eu posso entender a essência delas. Ela recua quando eu faço a pergunta. — Eles... todos se foram. 92

— O que diabos aconteceu? Por favor, conte-me toda a história. Ela se afasta de mim e caminha de volta para a casa, cabeça baixa. Eu sigo. Quando entramos, ela se dirige para o bar e prepara uma vodca com gelo. Ela pergunta se quero, mas recuso. Sua bebida não tem chance contra ela. Ela bebe em vários goles. Ela me enfrenta e com uma voz firme diz: — Minha família morreu no furacão quatro anos atrás. Eu estava fora em um seminário na Duke. Ells estava com minha mãe e meu pai. — Jesus Cristo. E seu marido? — Nunca tive um. — Porra. Sinto muito. — E sinto. Não posso imaginar ter toda a minha família aniquilada ao mesmo tempo. — Não tanto quanto eu. Não é de admirar que ela seja uma porra. E eu pensei que estava ruim com meu pai abusivo. — Certo. Com certeza não. Conte-me sobre ela. — Não. Minha mão automaticamente alcança meu pescoço e massageia a nuca. Então puxo as mangas pelos cotovelos. Eu faço um pouco de um rosnado no fundo da minha garganta.

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— Uh, sim, então, guardar toda essa confusão dentro de você funcionou bem, pelo que vejo. Sua cabeça se agita e olhos cinza pálidos pousam por conta própria. Eu não percebi antes, mas acho que quando ela estava fora, ela deve ter chorado. Suas bochechas assumiram um brilho que não estava lá antes. Usando as costas da mão, ela as enxuga. — Pare de me julgar. — Eu não estou julgando; apenas afirmando o óbvio. Dê uma olhada para você, Carter. Ela está em silêncio e eu também estou. Finalmente eu digo: — Se você não me contar sobre ela, mostre-me o quarto dela novamente. Ela quer correr. Está nos olhos dela, no rosto dela. Ela está com medo. — Ouça. Eu quero esta casa. Eu conheço seu segredo. Você chegou até aqui, pode ir pelo resto do caminho. De repente, ela sai do quarto. Eu acho que ela já teve o suficiente. Então, para minha surpresa, ela retorna carregando as chaves. Eu a sigo pelos degraus. Quando chegamos à porta, ela olha para mim, piscando rapidamente. O suor contorce seu lábio superior. Eu sei o que o medo parece. Eu vivi isso por anos. — Não há nada lá que possa te machucar. Suas feições rapidamente se transformam em uma máscara de dor. 94

— Você não entende, não é? Tudo lá me dói. Isso me despedaça. Ela ainda deveria estar viva hoje. Ela balança as chaves nos dedos e as pego. Destrancando a porta, abro e pego sua mão. — Me fale sobre ela. Eu quero saber sobre Ells. Através de uma parede de lágrimas, ela me diz em uma voz quebrada: — Seu nome era Ellsworth Carter Simon Drayton. Ela nasceu em um dia quente em agosto – o décimo quarto, para ser exata. Ela teria sete anos agora. E ela era incrível, linda, engraçada, animada, feliz... tudo o que não sou. E ela era minha. E se eu tivesse ficado em casa e não tivesse ido àquele seminário naquela semana, ela provavelmente estaria viva hoje. Ela se move para a cama, senta, pega um travesseiro e leva para o rosto. — Ela amava rosa e roxo. Cores medonhas, mas ela era uma garotinha, então foi assim que decoramos o quarto dela. Fizemos isso no aniversário dela naquele ano. Coloque toda essa porcaria. Eu encontrei todas essas fotos com tudo que combinava com Pottery Barn. Foi muito divertido e meus pais foram incríveis. Quando mostramos a ela, ela disse: ‘É um quato de pincesas’. Ela não podia pronunciar erres. E eu disse que ela era uma princesa, minha princesa. Ela era tão precoce. Começou a falar antes do que as crianças costumam fazer e tinha um extenso vocabulário, também, para a idade. Ela me dava tapinhas nas minhas costas quando eu estava estudando e sempre me sentia culpada por estar tão longe. Ela enfia as mãos no cabelo e puxa. 95

— Deus, o que eu não faria para recuperar aquelas horas preciosas que perdi com ela. Você tem alguma ideia da meia-vida de dor que uma mãe sente pela perda de seu filho? Eu balanço minha cabeça, deixando-a saber que não. — Eternidade, Sr. Hart. Carter sai correndo do quarto. Eu ouço seus pés bater quando alcançam os degraus. Pela primeira vez, desde que me lembro, o bloco de gelo dentro do meu peito, também conhecido como meu coração, começa a derreter. Nenhuma mulher jamais me tocou da maneira que ela acabou de fazer. Sou deixado sozinho, olhando para todas as lembranças que ela tem de Ells, tentando entender o verdadeiro significado de cada uma delas. Não posso. Não é possível. Eu estou completamente perdido. Permitir que ela mantenha este quarto como um santuário para sua amada filha não a faz deixar o passado para trás e seguir em frente. Mas a verdade é como ela pode? Sabendo o que aconteceu, não tenho certeza se poderia. A única pessoa com quem eu poderia discutir isso é Gabby e já sei qual seria a resposta dela. Eu posso ser um idiota, mas nem eu acho que posso dizer não. A fim de dar-lhe mais tempo sozinha, eu perambulo, inspecionando alguns dos móveis e outros itens mais uma vez. Então vou procurar por Carter. Eu a encontro do lado de fora novamente na piscina, bebendo vodca. Desta vez, a garrafa fica ao lado dela. — Bem, acho que terminei. Aqui está o que estou interessado agora. Eu estou de olho em algumas outras coisas que quero pensar por alguns dias. Como disse, 96

vou deixar você saber, se estiver tudo bem. Eu tirei algumas fotos, então quero olhar para elas e verificar meu próprio inventário. Entrego a lista que fiz. — Você pode armazenar o que eu não quero aqui no sótão, ou no espaço debaixo da casa. Olhos cinzentos procuram os meus. — E o quarto? — Eu vou mantê-lo como está por um período indeterminado de tempo. — O que isso significa? É exatamente o que eu gostaria de saber. — Eu não tenho certeza, Carter, além de agora, você pode ter acesso a ele. — E nosso pequeno arranjo? — Olhe, por favor, não fique ofendida, mas não posso aceitar isso. Eu posso, no entanto, levar você para uma parte disso. Ela olha para mim com cautela. — Eu não entendo. — Deixe-me explicar. Eu recentemente me mudei para cá e não conheço uma alma. Você nasceu e cresceu aqui, certo? Ela acena com a cabeça. — Ocasionalmente, precisarei de um encontro. Principalmente para funções de negócios. Eu gostaria de chamar você para isso, porque você pode me apresentar às 97

pessoas. Eu suponho que você está conectada a alguns dos empresários de Charleston que eu preciso conhecer. No entanto, você realmente precisa melhorar seu guarda-roupa. Seus traços se apertam quando ela diz: — Sim, eu conheço muita gente e posso fazer isso. Quanto ao meu guardaroupa, meus fundos foram muito apertados, com a casa e tudo. Não comprei nenhuma roupa desde, desde a tempestade. Eu tive que vender as jóias da minha mãe e todas as suas coisas que valiam algum dinheiro só para manter o lugar. — Sinto muito por ouvir isso. — Mas agora, com a venda, poderei pagar todas as dívidas para que tudo corra bem. Vou colocar o lote no Sullivan à venda e, quando isso for vendido, poderei fazer compras. — O lote em Sullivan? Seu corpo caiu quando ela respondeu: — Sim. — Nenhuma casa? — Ah não. O Atlântico engoliu tudo. — Jesus Cristo. Tudo? — Sim. A entrada de automóveis e os escombros foi tudo o que ficou para trás. Eu tive que ter tudo limpo. Mas a laje é tudo o que resta. Eu posso te mostrar se você quiser. 98

— Você está vendendo? — Foi o que eu disse. Não tenho escolha. Estou liquidando tudo o que possuo para permanecer solvente. Se não, perco tudo. Os impostos me mataram. E honestamente, não sei por que estou lhe dizendo isso. — Seus pais não estavam seguros? Ela solta uma risada amarga. — Eu amava meus pais com loucura. Mas, de acordo com o tio Foster, meu pai era um advogado brilhante e um idiota de um homem de negócios. — Entendo. — Então, nosso arranjo. Você vai me querer como um encontro para várias funções? — Sim. Ela mastiga os lábios por um segundo e diz: — Tudo bem, posso fazer isso. E prometo estar apresentável assim que puder fazer compras. Eu quero pedir a ela para arrumar o cabelo, mas hesito. — O quê? — Não tome isso do jeito errado, mas seu cabelo. — E o meu cabelo? — Você pode penteá-lo? 99

— Eu penteio. É simplesmente indisciplinado. — Existem coisas, você sabe, tratamentos e tal, que podem ajudar com isso. Sua expressão se transforma em uma de desgosto. — Como diabos você sabe disso? — Eu só faço. Vá a um salão de beleza. — Salões custam dinheiro, Sr. Hart. Minha carteira está na minha mão antes mesmo de pensar nisso e entrego-lhe quinhentos dólares. — Aqui. Isso deve bastar. Use-os bem. E encontre o melhor salão em Charleston. — Eu não posso levar o seu dinheiro. — Ela se mostra insultada. — Você pode, se você quiser manter o quarto de Ells. — Você está me chantageando? — Não. Estou tentando fazer você consertar seu cabelo. Se você vai sair comigo, você tem que fazer algo com isso. Ela pega o dinheiro da minha mão. — Ok, mas eu estou pagando de volta assim que o acordo for fechado. — Tudo bem por mim. Mas faça isso o mais rápido que puder. — Você tem vergonha de mim? — Não, Dra. Drayton. Eu te ligo na próxima semana. 100

Ela me leva até à varanda da frente. — Que tipo de carro é esse? — Um Aventador. — Oh. Claramente, ela não tem ideia do que é. Isso é bom. Ela vai entrar logo e descobrir.

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No sábado à noite, Shayla e seu marido me encontram no Huck's Downtown. Quando eles chegam e depois que estamos sentados, Shayla quer saber como consegui reservas em tão pouco tempo. Este é um dos melhores restaurantes da cidade e geralmente leva semanas para chegar aqui. Eu não digo a ela que parei no caminho para casa ontem e dei algumas notas de cem ao gerente para pegar uma mesa. — Eu tenho algumas conexões. — Eu sorrio. Ralph não parou de me inspecionar desde que chegamos. Pensei em usar uma camisa que cobrisse minhas tatuagens, mas decidi contra isso. Ambos precisam conhecer o meu verdadeiro eu. Shayla as examina também. — Sr. Drummond, uma das razões para este jantar foi para que você pudesse me conhecer. Espero que Shayla tenha mencionado que eu gostaria que ela viajasse 101

comigo quando a empresa necessitar. Obviamente ainda estamos construindo nossa equipe e ainda não estamos nesse momento, mas estaremos em breve. Sua esposa é uma talentosa assistente administrativa e eu gostaria de tê-la como minha mão direita. Claro, eu só quero fazer isso com sua benção. A HTS viaja usando nosso serviço de limusine ou nosso jato corporativo e somente ocasionalmente usamos companhias aéreas comerciais. Oferecemos grande segurança para todos os nossos funcionários, usando os melhores hotéis. — Você teve sua segurança em mente quando a levou para esse passeio em seu Lamborghini? — Seus olhos perfuram os meus. Ele é um cliente difícil. — Na verdade, sim. Normalmente, teria dirigido pelas estradas – se as conhecesse – em velocidade excessiva, mas não o fiz e dirigi dentro do limite de velocidade. — Inclino meus dedos enquanto encaro seu olhar. Não recuo, mas também não serei um idiota. — Que bom para você, — diz ele amargamente. O garçom nos interrompe, perguntando se gostaríamos de pedir coquetéis. — Vinho? — Eu pergunto. — Scotch. Lagavulin. Limpo, — ele responde. — Shayla? — Eu pergunto. — Chardonnay. Eu peço uma garrafa de Chardonnay para nós.

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— Olhe, Kestrel, eu não vou bater no arbusto aqui. Eu não queria que minha esposa tomasse esse emprego. Seu pai era um criminoso. Um mafioso. E eu não queria que ela fosse associada ao nome Hart. Ela foi contra meus desejos, de qualquer maneira, e aceitou o emprego. Tanto quanto estou preocupado, viajar com você está fora de questão. Isso nunca acontecerá enquanto estivermos casados. — Entendo. Posso ao menos explicar algumas coisas para você? — Desde que você esteja ciente de que eu não queria nem vir a este jantar. Uau. Fale sobre hostil. Ele adicionou uma nova dimensão à palavra. — Justo. Você está certo. Meu pai era um criminoso. O pior tipo, e o melhor dia da minha vida foi a noite em que ele foi baleado e morto. Langston Hart foi o cretino mais cruel que já viveu. Mas a HTS não tem nada a ver com Langston Hart e nunca teve. Eu tenho cooperado com o FBI no desmantelamento da Hart Entreteniments, e é por isso que agora estou trabalhando com a HTS. Não quero nada que tenha as mãos de Langston. Ele era um homem vil e quanto mais eu puder me distanciar dele, melhor. Eu não estou pedindo para você ser meu amigo. Eu nem estou pedindo para você gostar de mim. O que estou lhe pedindo é que sua esposa trabalhe em uma empresa altamente respeitável, tenha um ótimo salário com excelentes benefícios e faça algumas viagens de negócios comigo. Ela vai ser muito respeitada em seu papel na HTS e você pode acreditar que nenhum de vocês vai se arrepender dessa decisão. Agora, se você quiser, posso fazer com que minha equipe de segurança lhe envie o que quiser para satisfazer sua desconfiança sobre mim. Eu nunca estive preso. Sim, tive algumas multas por excesso de velocidade, mas apenas isso. Bebo álcool, não uso drogas, e além das minhas tatuagens aqui, eu levo uma 103

vida relativamente entediante. E a propósito, cada uma delas conta uma história, mas realmente isso não é da sua conta. Ele se senta e olha. Eu não interrompo o contato visual, nem mesmo para piscar. Sou especialista nisso porque um intimidador me criou. Ralph é um cara de tamanho decente, mas não é tão grande quanto eu. Ele tem provavelmente um metro e oitenta e sabe que o tenho. As rodas se agitam; eu posso vê-lo apertando seu queixo e o tremor em suas pupilas. Finalmente, ele abaixa a cabeça ligeiramente. — OK. — Bom. Mais nenhuma besteira aqui, então? — Pergunto. Sua testa se enruga. — Hã? Shayla bate a mão na mesa e os copos chocalham. Seu riso enche a sala e as cabeças se viram. Eu pisco para ela enquanto Ralph a olha como se ela tivesse perdido a cabeça. O resto do nosso jantar correu muito bem. Quando terminamos, pergunto se eles gostariam de se juntar a mim para uma bebida em um bar na rua. Eles declinam, então nos separamos. Eu vejo como eles sobem na limusine e partem. Então eu desço a rua e encontro outro lugar para ficar. São apenas dez horas e não estou com vontade de ir para casa. Acho um bar calmo e agradável e pego um Lagavulin. Rio para mim mesmo quando penso em Ralph pedindo isso. Eu não posso negar seu gosto em uísque. 104

Enquanto tomo meu drinque, escuto a multidão do meu assento de canto no bar. Consiste em casais, exceto eu. Eu espio um casal em uma mesa do outro lado da sala e parece que estão tendo uma discussão. Quando dou uma olhada melhor, percebo que é Carter. Ela está franzindo a testa e gesticulando e ele está com raiva. Ambos têm bebidas intocadas na frente deles. Ele é do tipo que parece uma fêmea e ela parece nerd, como de costume – óculos grossos e cabelos presos em um rabo de cavalo desleixado. De repente, ela se levanta, a cadeira cai, ela pega e sai do lugar, chorando. Ele ficou lá olhando para ela. Primeiro, estou surpreso de como fiquei chocado ao vê-la aqui com um homem. Ela não parece do tipo que namora. Em segundo lugar, estou dividido entre segui-la ou deixá-la sozinha. Ela estava claramente chateada, chorando e com raiva. Devo verificar se ela está bem? Eu não quero que pareça que eu estava escutando, mas também quero que ela esteja segura. Este é o centro de Charleston, no entanto, uma área segura, por isso não me demoro por muito tempo. Como a vida pessoal de Carter não é da minha conta, decido desistir. Alguns minutos depois, termino minha bebida e caminho para casa. Virando a esquina da Tradd Street, alguns metros à frente, vejo uma figura curvada encostada em uma parede de tijolos. Quando me aproximo, reconheço que é Carter, e posso ouvi-la chorando baixinho. Quando ela ouve meus passos, se levanta. — Carter? Você está bem? — Eu pergunto.

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Ela tira os óculos e me olha com um olhar morto. É difícil enxergar porque está tão escuro, mas o reflexo da luz da rua faz suas bochechas brilharem onde as lágrimas deixaram seus traços para trás. — Estou bem. O que você está fazendo aqui? Seu sotaque sulista é refinado, muito diferente do de Shayla. É óbvio pela maneira como ela está se protegendo de que a assustei. Devo dizer a ela que estava no bar? Isso vai parecer que a estava espionando? — Estou a caminho de casa do jantar. Você precisa de ajuda? — Não. Estou bem. Verdadeiramente. — Você tem certeza? Eu posso te levar para casa. — Não, está tudo bem. Ela realmente não está em condições de andar sozinha. Então seguro seu braço e digo: — Venha. Eu insisto. Ela me permite conduzi-la. — Então, o que você está fazendo aqui sozinha? Ela choca contra mim. — É uma longa história. — Eu tenho tempo.

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— Encontrei o pai de Ells. Somos meio que amigos. E nós discutimos. Como costumamos fazer. Seu corpo se apoia no meu, como se o peso fosse demais para suportar agora. — Seria muito intrometido da minha parte perguntar sobre o que você discutiu? — Ele me culpa pela morte de Ells. De novo. — Ele culpa você? Ela tropeça na calçada irregular e eu a pego. — Desculpe, — diz ela. — Está bem. Essas calçadas são complicadas, eu notei. — Sim, elas são. Você já esteve na Chalmers Street? — Não. — Você precisa ir. São paralelepípedos puros. Super complicado. Não vá depois que você bebeu mais do que alguns drinques. Tornozelo torcido com certeza. — Eu vou manter isso em mente. — Ela está desviando a conversa. — Então, Carter, por que ele te culpa? — Simon me culpa por tudo. Porra, eu também me culpo. Estamos chegando perto da minha casa de carruagens, então tomo uma decisão rápida. — Você gosta de filmes antigos? 107

— Gosto. — Sua voz é pesada como se ela carregasse o peso do mundo. Eu suponho que de alguma forma ela carrega. — Bom. Eu a levo em direção ao meu pequeno lugar e ela pergunta onde a estou levando. Quando destranco a porta, digo: — Bem-vinda ao meu lar temporário. Ela examina o local e diz: — Isso é legal. — Nós vamos assistir a um filme antigo. — Ok. — Ela me olha com cautela. — Qual filme? — O original Star Wars. Ela bufa: — Isso não é velho. Eu pensei que você diria, 'E tudo o vento levou' ou algo assim. — Carter, eu sou muitas coisas, mas não romântico. Desculpe. — Mas Star Wars não é nem velho. — Sim. É dos anos setenta. Isso é velho. — Não! — Ela insiste, rindo. — O velho é como os anos quarenta ou cinquenta. — Vamos dizer que concordamos em discordar. Posso pegar algo para você beber? 108

— Eu vou ter o que você está bebendo. — Scotch? — Ai credo! Não! Vinho, por favor, se você tiver. Depois que preparo nossas bebidas, o filme começa e nos sentamos no sofá. Ela está em uma ponta e eu estou na outra. Ela conversa incessantemente durante o filme sobre R2D2, C3PO, Chewbacca e Han Solo, até a segunda metade, quando ela está completamente em silêncio. Eu olho para ela e acho que está dormindo. É quase uma da manhã, então decido deixá-la ficar aqui. Minha cama é uma King size, então há espaço para nós dois e se ela achar ofensivo, vou lidar com isso de manhã. Depois de puxar as cobertas para trás, levo-a para a cama, tiro os sapatos e os óculos e depois a cubro. Quando começo a me despir, repenso. Vai contra o meu melhor julgamento ela acordar com um homem nu, então visto uma boxer e uma camiseta e depois vou para a cama. Enquanto estou lá, algumas coisas passam pela minha cabeça. Um, nunca uma mulher compartilhou minha cama durante a noite. Dois, ela está fazendo barulhinhos estranhos enquanto dorme. Se eu não estivesse tão cansado, levantaria e daria uma olhada nela. Carter é uma coisa estranha. Enquanto eu caio no sono, meus pensamentos são apenas dela.

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CAPÍTULO SETE Carter

Quando acordo, algumas coisas me atingem. Meu rosto está esmagado contra as costas de algo duro. Não duro como concreto, mas firme e ligeiramente maleável quando encosto mais firmemente contra ele. Então noto o cheiro. Porra, cheira delicioso. Eu coloco minhas pernas contra ele e permito que minha mente se desvie. Este casulo em que estou envolvida é tão agradável; nunca mais quero sair. A realidade afasta o nevoeiro e abro os olhos. A extensão das costas de um homem me enfrenta. Não é qualquer homem. Kestrel. Passei a noite com ele. Ele deve ter me colocado na cama. Quando tento me mover, fica evidente que meu braço está enrolado em seu torso e ele está segurando-o. Então eu ouço uma risada pesada com rouquidão, muitas vezes acompanhada de manhã cedo. — Dormiu bem? — Sim. Acho que adormeci durante o filme? — Sim. — Obrigada por me colocar na cama, — murmuro contra suas costas. — De nada. Porra ele cheira bem. Até os lençóis cheiram como ele. Que diabo é isso? Minha boca não filtrada deixa escapar: 110

— O que cheira tão bem aqui? — O que você quer dizer? Ele está surpreso com a minha pergunta. Eu farejo um pouco e digo: — Tudo cheira bem. Então ouço sua risada profunda novamente. — Que bom que você aprova. — Sim, então, isso é um pouco estranho. — Hmm. Pense em como você se sentiria se eu tivesse dormido do jeito que normalmente faço. Isso me intriga. — O que você quer dizer com isso? Ele rola e um canto da boca está virado para cima. Eu quase recupero o fôlego. Com os olhos semicerrados, o homem parece comestível. Admito que nunca passei a noite com ninguém. Triste, eu sei, mas é a verdade. Todos os homens parecem tão bem de manhã? É isso que eu tenho perdido? Maldição! — Pense nisso, Carter. — Ok, uma coisa sobre mim, eu não jogo. — Nem eu. Odeio, na verdade. — Então... 111

— Você é incrivelmente ingênua. Eu costumo dormir nu. Minha boca deve ter aberto porque primeiro ele ri, e então ele usa o dedo para empurrar meu queixo para cima. Depois de processar a ideia dele nu na cama comigo, eu digo: — Sim, muito mais do que um pouco estranho. — Então, se isso fosse mais do que um pouco estranho, como você acha que conseguiria fazer qualquer coisa que eu pedisse a você? Ele teria que trazer isso, não seria? — Eu descobriria um jeito. — Só por curiosidade, para o caso de esse relacionamento se mover nessa direção, com quantos homens você dormiu? — Eu, uh, bem, isso não é da sua conta, — eu gaguejo. Ele agarra meu pulso e me puxa através dele dizendo: — Oh, mas é. Veja, se eu concordar com esse arranjo, quero saber exatamente como você é experiente. — Bem, mas, eu pensei que você disse que só me queria para determinadas datas. — Talvez eu tenha mudado de ideia. Por um momento, me permito avaliá-lo. Que ele consegue o que quer com as mulheres é um dado. Ele é perfeito. Boca cheia. As maçãs do rosto salientes que 112

mergulham nas covas perfeitas logo abaixo delas me fazem querer tocar seu rosto. Ele tem alguns dias de barba e eu adoraria esfregar as costas da minha mão. Olho para cima para ver olhos esmeralda me examinando. — Você faria isso? — Quantos, Carter? Dois podem jogar este jogo. Embora eu seja muito inexperiente, decido ser um pouco ousada. Eu rastejo em cima dele e o monto. Ele finge que não está chocado, mas vejo o ligeiro aumento de suas pálpebras e a dilatação de suas pupilas. Se foi em um instante, mas estava lá. Na voz mais sedutora que posso fazer, o que provavelmente é bobagem, eu digo: — Eu vou te dizer, se você me contar primeiro. — Oh, Carter, você está brincando com fogo aqui. — Talvez, mas o fogo pode ser uma coisa boa às vezes. É melhor do que gelo. Sua cabeça se inclina e então ele de repente puxa meu pulso. Eu caio e meu rosto está alinhado com o dele. — Você perguntou, mas quando eu disser a você, não diga que não foi avisada. — Ok. — Minha voz sai como um sussurro. — Dezenas. — Dezenas? — Eu grito. 113

— Dezenas. — Quando você diz isso, você quer dizer? — Quero dizer mais do que posso contar, querida menina. Agora é sua vez. — Dois, — eu grito novamente. Porra. Não admira que ele não tenha interesse em mim. Ele quer uma mulher que conheça o caminho de um homem. Eu mal conheço o meu próprio caminho. Seus dentes roçam seu lábio inferior, mas ele não profere nenhum pio enquanto me inspeciona. Ele libera meu pulso e sua mão alcança atrás da minha cabeça e puxa meu cabelo para fora do meu rabo de cavalo sempre presente. Para onde isso está indo? Uma vez que meu cabelo é liberado, ele enfia a mão nele, agarrando um pedaço dele enquanto puxa minha cabeça para trás. Sua voz vem para mim como um murmúrio, como se ele estivesse pensando em voz alta, quando diz: — Seu cabelo é da cor mais incomum. Isso me lembra o sol quando ele rompe a aurora, seus raios dourados misturados com listras de laranjas e vermelhos. É muito lindo, Carter. Por que você se esconde embaixo de toda essa confusão? — Ele balança a cabeça. — Há uma criatura impressionante escondida aqui em algum lugar, implorando para ser libertada. E se eu estiver correto, pode ter uma apaixonada escondida aqui também. — Certo. Eu não sou apaixonada. Eu sou uma nerd. — Só porque você escolhe ser. 114

— Não. Mesmo antes. Quando eu estava no ensino médio. E faculdade. Eu sempre fui uma nerd. A garota que todos zombavam. Especialmente os caras. Foi assim que engravidei. Ele muda em um instante. Foi o sexy Kestrel e em seu lugar é o Sr. Sério. Mas seus olhos suavizaram quando ele pergunta: — O que você quer dizer? Eu dou de ombros. — Na Faculdade. Feriado de Ação de Graças. Nós estávamos todos saindo para casa. Eu tinha muito para absorver. Os caras fizeram uma aposta. Eu não sabia, obviamente. Para não mencionar, que era virgem. Uma coisa boa também, porque estava bêbada. Então, entreguei minha virgindade, em troca de um embrião. Eu não descobri até o semestre seguinte. Fale sobre o choque do século. Quero dizer, quem diabos engravida na primeira vez que faz sexo, certo? Eu realmente não conseguia me lembrar de todos os detalhes, se você sabe o que quero dizer, além de quem foi o cara de sorte. Meus pobres pais, eles realmente lutaram com isso. Eu me senti mal. Eu sei que foi uma grande decepção para eles. Eu era a garota que nunca fez nada de mal, mas eu sabia que não conseguiria me livrar ou desistir dela. Então acabei com Ells. Eu a tive em agosto e voltei para as aulas na semana seguinte. Ia ao meu carro para bombear meus seios quando tinha tempo entre as aulas. Você pode imaginar? Nossa, foi horrível. Estou realmente contando tudo isso para você? — Esfrego meu rosto com a palma da mão. — Sim, você está. 115

Por alguma razão, o embaraço me penetra como um maremoto. Eu me movo para saltar para cima, mas estou presa pela faixa de aço de seu braço. — Onde você vai? Eu olho em volta freneticamente. Em qualquer lugar, menos para ele. — O que há de errado? Eu desmorono em cima dele e enterro minha cabeça contra ele. — Acabei de lhe contar o que nunca contei a mais ninguém. E agora estou chocada. — Por quê? — Por quê? Por quê! É por isso. Nossa. De onde veio a diarreia vocal? — Às vezes ajuda falar sobre isso. — Oh, e como você sabe disso? — Eu tenho muita história com problemas, você pode dizer. — Bem, eu tenho vergonha do que acabei de dizer. Esses são meus segredos mais profundos e é humilhante. Não posso acreditar que te contei tudo isso. — Nunca diga que você está envergonhada. Algum idiota se aproveitou de você. Ele é quem deveria ter vergonha. Ele é tão inflexível; levanto a cabeça para poder olhá-lo. É estranho ouvir isso dele, mas eu vou pegar quanto conseguir. 116

— Diga-me que você entende isso, — diz ele. — Sim. OK. — Então, o que você quer fazer hoje? — Huh? — Ele acha que estamos passando o dia juntos? — Carter, você precisa ter sua audição verificada? Eu perguntei o que você quer fazer hoje. Nós vamos ter um Carter / Kestrel se conhecendo. — Oh. Então ele bate na minha bunda. — Eu tenho uma grande ideia. Por que eu não te levo às compras? — Não. Péssima ideia. — Por quê? — Duas razões. Um, sem dinheiro. E dois, eu odeio fazer compras. — Hmm. Entendo. Qual o seu tamanho? Ele é tão intrometido. — Essa é uma pergunta muito pessoal. — Eu sou um cara muito pessoal. — Eu não sei. Faz tanto tempo desde que fiz compras que não tenho ideia. — Por que você não pula no chuveiro e eu faço um pouco de café. — Tenho uma ideia melhor. Por que eu não vou para casa tomar banho e você pode me pegar em uma hora? 117

— Não. — Ele ainda não me deixa sair da cama. — Não? — Vamos tomar banho juntos. — O quê? Está maluco? — Calma! — Então suas mãos estão em toda a minha bunda, acariciando-a. — Que diabos está fazendo? — Eu acho que vou gostar de sair com você, Carter Drayton. — Então ele bate na minha bunda de novo e diz: — Vá para casa e se limpe. Ah, e use algo decente, pelo amor de Deus. Estou congelada por um segundo, olhando para ele e então saio da cama. Assim que calço meus sapatos, vou para a porta, mas depois percebo que não me lembro onde ele mora. — Onde estou? Ele ri de mim. — Espere. Só levarei quinze minutos para tomar banho e me vestir. Eu vou te levar. — Tem certeza? — Carter, uma coisa que você precisa saber sobre mim agora. Eu nunca ofereço algo se não estiver interessado. — OK. 118

Ele olha para mim. Finalmente diz: — Você vai ficar aí e me ver me despir ou vai me dar um pouco de privacidade? Eu realmente não me importo, mas acho que você pode ficar um pouco embaraçada. Ele não precisa me dizer duas vezes. Eu saio do quarto dele. Durante os poucos minutos que estou sozinha, tenho tempo para pensar em Kestrel. Ele não parece ser uma pessoa má em tudo. Na verdade, ele é exatamente o oposto e me vejo aquecendo-o. Mas no final, vou me machucar quando ele quiser desmantelar o quarto de Ells? Isso tem que acontecer. Eu não sou idiota. Como um homem solteiro manterá um quarto assim em sua casa? Talvez eu possa me livrar disso. Comece a visitá-lo uma vez por semana, depois a cada duas semanas e assim por diante. Então, quando ele decidir demolir tudo, não será tão devastador para mim. — Pensamentos profundos? — Ele me interrompe. — Na verdade, não. Isso foi rápido. — Sim. Eu sou assim para algumas coisas, mas não todas, — diz ele com uma piscadela. Eu não entendo. Devo revelar isso porque ele acrescenta: — Eu posso ver que vou ter que te ensinar muito, novata. — O quê, você é um mestre de Kung Fu ou algo assim. — Então, na Wiki11, a sua foto é ao lado de ingênua? Jesus, eu realmente preciso de um dicionário de insinuações sexuais. Eu sou patética. 11

Wikipedia

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— Muito engraçado. Nós entramos em seu carro esportivo. Fui criada em torno do afluente em Charleston e estive em muitos carros caros, mas nenhum como este. As portas se levantam, de um jeito de asa, para abrir. — Então esse carro. Como o que é um Aventador? — Não estou em carros, então não sei nada sobre eles. — Um Lamborghini. — Ah. O todo poderoso de todos os supercarros. — Assentos de couro me envolvem, me abraçando. E o delicioso cheiro é divino. — Alguns concordariam. Outros não. — Obviamente você concorda ou não possuiria um. Ele sorri. — Sim concordo. Ele é de primeira. Ele aperta um botão e o motor ruge, literalmente, para a vida. O estrondo dele envia uma emoção pela minha espinha. As ruas de Charleston não farão justiça a esse carro. — Tenho a sensação de que você fica com coceira quando dirige essa coisa. — Seu sentimento está correto. Qualquer lugar bom que você saiba onde eu possa correr? — Sim, acho que posso pensar em alguns. Mas nós temos que ir para fora da cidade. — Estou dentro se você estiver. Eu preciso de comida primeiro, no entanto. 120

— Fazemos assim. Deixe-me tomar banho e depois podemos ir tomar café em algum lugar. — É um plano. Enquanto tomo banho, tento descobrir o que vestir. Ele está de jeans e uma camisa, com mangas arregaçadas. Agora eu realmente gostaria de ter algo legal para vestir. E meu cabelo. Eu puxo um pente através da massa de ondas emaranhadas. Eu decido trançar isto. Desta forma, estará fora do meu caminho e não terei que me preocupar. Um rosto simples olha de volta para mim enquanto eu o examino no espelho. Há um punhado de sardas no meu nariz e bochechas, mas fora isso, minha pele está clara. Meus lábios não são grossos nem finos; eles são simplesmente medianos. Isso resume bastante a minha aparência: média. Vasculhando minhas gavetas, eu procuro o melhor par de jeans que posso encontrar que não me faça parecer uma tola. Leva-me seis pares para decidir, mas os que escolho estão muito desgastados. Agora uma blusa. Eu acabo com uma regata e coloco uma camisa de flanela sobre ele. Tênis são a minha escolha de sapatos e saio. Quando ele me vê, sorri. — Você parece ter dezoito anos. — Eu vou aceitar isso como um elogio. — Foi concebido como um. Isso me deixa sem palavras. 121

— Realmente? — Eu me viro para olhar para ele. — Sim. Seu cabelo trançado parece ótimo. E eu amo os tênis. O visual todo, na verdade. Muito bonitinho. Aposto que você teve muitos caras te perseguindo na faculdade. — Dificilmente. Você conhece a história. Além disso, não tive tempo. Uma criança, você sabe. Bombeando no carro. Seu rosto fica um pouco rosa. — Eu teria perseguido você. — Não, você não teria. E se você tivesse, eu não teria notado. Continuamos conversando enquanto seguimos no carro dele. — Carter, eu teria certeza que você notasse. — Agora isso, eu acredito. Dirijo-o ao meu café da manhã favorito perto da água e tomamos café e comemos as melhores panquecas de mirtilos conhecidas pela humanidade. Eu também o apresento a grits cheesy. — Eles são muito melhores do que eu pensava que seriam. — Veja, — eu sorrio. — Eu te disse. Agora, espere até eu fazer um pouco de camarão e grãos para você. Mas o tipo que eu faço não é nada parecido com o que você já comeu. — Por que não? 122

— Porque eu frito os grãos e os sirvo com um tipo de molho e o camarão por cima. Você verá. Saímos de Charleston em direção às Ilhas Wadmalaw. Existem todos os tipos de estradas rurais lá fora, onde ele será capaz de dirigir como um maníaco. Uma vez lá, eu digo a ele: — Ok, agora não fique muito louco comigo. Ele não fica. Mas gosta de ir rápido. Eu acho muito emocionante. É um dia muito quente para o início de outubro e ele está no topo. O vento corre pelo meu cabelo e é o mais livre que me senti em muito tempo. Eventualmente, ele puxa e pergunta se eu quero dirigir. — Uh, não tenho certeza. — Por que não? — Não sei. Ele está fora do carro e abrindo minha porta antes que eu possa pensar. Quando estou de pé ao lado dele, ele diz: — Eu gosto do quão rosadas são suas bochechas. Hmm. OK. Esse pensamento está comigo quando eu afundo no assento atrás do volante. — Você imagina que é assim que um piloto deve se sentir? — De modo nenhum. Eles têm muito mais espaço do que isso. 123

— Você é um piloto também? Ele ri. — Não. Mas a HTS, a empresa com a qual estou, tem jatos particulares. Eu vi vários cockpits. — Oh. — Está se tornando muito mais claro para mim que este homem tem dinheiro. Montanhas e montanhas de dinheiro. Eu puxo para o lado da estrada e acelero um pouco mais. Se dirige como nada que eu já experimentei. Apenas um pouco de gás a manda voando. — Uau, essa coisa vai voar, não vai? — De zero a cem em dois pontos nove segundos. — Emocionante! Eu olho para o pequeno velocímetro e descubro que já estou acima de cento e dez quilômetros por hora. Então eu alivio o acelerador. — Carter, você não tem que dirigir como uma avó. — E se eu quiser? — Você quer? — Não sei. — Acelere. Eu desisto e aplico um pouco mais de pressão ao pedal. Ele salta à frente e minhas mãos apertam o volante. Isso é um assunto sério. Eu não quero ir mais rápido. Isso me assusta. Estamos chegando a uma curva, então eu me preparo. Nós entramos e é lá que eu acho o quanto esse carro abraça a estrada. E então tudo 124

clica. Meu pé aperta um pouco mais forte e o ronronar do motor aumenta. Sou só eu, o carro e a estrada. Eu poderia me perder totalmente aqui. Pura harmonia. — Ei, garota maluca, alivie um pouco. Eu tiro meu pé do acelerador e ao mesmo tempo checo minha velocidade. Cento e quarenta e cinco quilômetros por hora. — Merda! Não fazia ideia. — Eu sei. Ele faz isso com você. — Estou seduzida. — O quê? — Seu carro me seduziu. — Saio da estrada quando Kestrel ri. Quando chegamos a uma parada, eu chego para dar um leve beijo no braço dele. Ele violentamente se afasta de mim. — Ei, desculpe, — eu digo. Sua reação me deixa perplexa. — Jesus. — Ele esfrega o braço primeiro e depois o rosto. — Jesus. Sinto muito. Seu rosto é uma máscara de emoções conflitantes. — Você está bem, Kestrel? — O que está acontecendo com ele? — Sim. Me dê um segundo. Nós nos sentamos em silêncio. Ele não oferece explicações. A quietude se torna uma coisa viva que respira. — Ok, eu sou do tipo que fala o que pensa. Fale. 125

— Sim. Bem, eu sou meio que um tipo de garoto problema. Ainda não estou pronto. Girando um pouco no meu assento, eu o enfrento e digo: — Então foi justo da sua parte exigir todos os meus segredos de mim, mas você não compartilhará nenhum dos seus? É isso? — Não, não é nada disso. Sua situação foi diferente. Você estava me pedindo algo enorme. Eu não estou pedindo nada a você. Sua observação é muito mais do que eu gostaria de admitir. — Entendo. — Eu saio do carro. A estrada em que estamos conduz à água. É só um passeio curto assim eu decido levar isto. Enquanto estou de pé, de frente para o rio Wadmalaw, fico pensando em pessoas. Tudo é sempre tão desarticulado quando se trata de relacionamentos. Por que tem que ser assim? Eu pensei que poderia ser amiga do Kestrel. Agora não tenho tanta certeza. Eu ouço seus passos esmagando a estrada. Ele está atrás de mim quando diz: — Você sabe alguma coisa sobre mim? — O que você quer dizer? — Você me procurou no Google? Fez alguma pesquisa de mim? — Não. Por quê? — Isso é uma coisa estranha para ele perguntar. — Então você não sabe nada sobre mim, ou sobre o nome Hart? 126

— Não! Por quê? Você é um serial killer ou algo assim? — O pânico contorce minha voz. Ele está me assustando. — Você está segura, Carter. Não tem nada com que se preocupar a esse respeito. Ele coloca minha mente à vontade, um pouco, mas por que ele me perguntou isso? — Então por que você quer saber tudo isso? — O nome Hart era bastante interessante cerca de um ano atrás. É por isso. — Oh. Bem, eu não presto muita atenção às notícias. — Você sabe alguma coisa sobre a HTS? — Não. — Droga. Você realmente deveria estar mais consciente do seu ambiente. Eu poderia ser um serial killer. Você deveria ter me investigado antes de eu entrar em sua casa para jantar e verificar seus móveis. — Bem, eu não fiz. Honestamente, nunca passou pela minha cabeça. — Merda. Isso é muito descuidado de você. — Talvez sim. Por que eu deveria conhecer a HTS? — Mais uma vez, também estava no noticiário. — Então me conte. Parece que estamos em um confronto. Quem vai bater o outro no disco? 127

Eu finalmente digo: — Você pode me dizer, ou eu vou no Google. O que você preferiria que eu fizesse? — Meu pai era um mafioso e minha mãe atirou e o matou no ano passado quando ele tentou matar minha cunhada. — Porra? — Quem diabos é esse cara? — Meu irmão é o dono da Hart Serviços de Transportes. Meu pai era dono da Hart Entretenimento. Você não reconheceria o nome, mas era composto de muitos cassinos em Atlantic City e Las Vegas. Eu trabalhei para o meu pai. Agora trabalho para o meu irmão. A razão pela qual estou em Charleston é que estou abrindo a divisão sul da HTS. Estou tentando passar a parte sobre seu pai ser um mafioso. E ele trabalhou para ele? O que isso faz dele? E por que ele praticamente pulou do carro quando eu o toquei? Minha boca não filtrada recebe o melhor de mim quando eu digo: — Então a HTS também está envolvida em atividades ilegais? Se fosse possível, sua íris de esmeralda me transformaria em um bloco de gelo permanentemente congelado. Isso é o quão frio é o seu olhar. Eu nunca fiquei arrepiada por um olhar de alguém até agora e nunca vou esquecer como se sente. Sem dizer uma palavra, ele se vira e, em passos longos e furiosos, volta para o carro.

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Quando ele chega na metade do caminho, por cima do ombro, ele me chama de volta em um tom grave: — Se você gostaria de uma carona de volta para a cidade, sugiro que pegue sua bunda no carro. Caso contrário, você está por conta própria. Correndo para alcançá-lo, eu digo: — Você não me deixaria aqui fora. — Oh, não deixaria? Se importa em me testar? Seu tom me permite acreditar que ele faria. — Ok, talvez essa pergunta seja inapropriada. Ele não para. Nem responde. Corpo rígido de raiva, ele continua andando. — Olha, me desculpe. Sem resposta. Em desespero, seguro seu braço e, quando o toco, ele reage violentamente. É quase como se minha mão o queimasse. Ele joga meu braço para longe tão violentamente que tenho medo de estar ferido. — Jesus, sinto muito. Eu te machuquei? — Ele pergunta. — Não, — eu digo, esfregando meu antebraço. — Deixa-me ver. Eu não vou te machucar. Tenho certeza de que ele pode dizer que sou cética. Meu corpo treme enquanto eu fico lá. Ele dobra meu pulso e cotovelo e não há dor.

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— Tenho certeza de que é apenas uma ligeira contusão, se alguma coisa, — digo. — Carter, sinto muito. Você está certa. Há coisas sobre mim que você precisa entender. Nós andamos o resto do caminho até o carro e quando estamos dentro, ele diz: — Sem entrar em muitos detalhes, meu pai era um monstro. Ele adotou meus irmãos e eu – éramos três – quando jovens. Mas o que ele realmente fez foi nos roubar de nossas mães. Ele escolhia mulheres que trabalhavam em seus cassinos, todas com problemas de jogo. Ele as deixava acumular dívidas enormes e então ia até elas com sua solução. — Ele balança os dedos como se fossem aspas. — Seria um pagamento de suas dívidas em troca de seus filhos. As adoções eram legais, mas não as que as mulheres realmente queriam. Nós fomos abusados e sofremos lavagem cerebral. Ele era um verdadeiro filho da puta. Então, tenho muitos problemas e o toque é um deles. Eu passei de desejo, medo, lidar com isso, vacilar entre os três. Estou num ponto agora, onde se me pega de surpresa, eu reajo um pouco maluco com isso. Eu realmente sinto muito por ter te machucado. Não foi intencional. Espero que você entenda isso. Processar o que ele acabou de me dizer é tão difícil. Eu não posso imaginar ter um pai que abusou de mim. — Quem faz merda assim? Ele ri. É um som oco. Triste. — Você não acreditaria nas histórias se eu te contasse. 130

Suas mãos estão achatadas no topo de suas coxas. Eu quero segurá-las. — Kestrel. Me dê suas mãos. — Minhas mãos estão abertas, as palmas voltadas para cima. Ele coloca a sua na minha. Eu a pego e agarro com força. — Sinto muito por tudo que você passou crescendo. Espero que um dia deixe para trás e você possa viver sem nenhum tipo de reação, como aconteceu antes. — Acredite em mim, eu também. Estou trabalhando nisso, mas às vezes parece que vou dar um passo à frente e dois passos para trás. — Ele me dá um sorriso sombrio. — Você vai chegar lá. Até agora, nunca imaginei que algo estivesse errado. Ele afasta as mãos, aperta o botão para ligar o motor e puxa o carro de volta para a estrada. Minhas tentativas de envolvê-lo em outras conversas falham. Pelo resto da viagem de volta à cidade, ele é taciturno. Quando ele estaciona na minha garagem, ele diz: — Há um coquetel que eu gostaria que você fosse comigo na semana que vem. Sábado à noite. Eu vou buscá-la às sete. Podemos ir jantar depois, se você quiser. Vista-se de acordo. E Carter, use seu cabelo em uma trança solta. Fala me falha. Ele não deu nenhuma pista disso tudo até agora. — Me passa seu telefone.

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Entrego para ele e ele digita o número dele e manda um texto para o celular. Depois que ele me devolve, sai e anda para o meu lado do carro. Quando ele me ajuda, e diz: — Ligue para mim se precisar de alguma coisa. Eu fico lá coma uma tola observando-o enquanto ele se afasta.

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— O que é Doc? — Oh, Deus, me ajude! — Harper pode dirigir uma pessoa sensata. — O quê? — Ela pergunta. — Você vai parar com isso? — Não. Você deveria estar acostumado com isso agora. O que está acontecendo? Como vai a StrongMeds? — Impressionante! Então, chica, eu preciso de um favor. Eu tenho que ir para esta função de trabalho e preciso de um vestido de cocktail. — Sim, eu tenho você coberta. Quando você precisa? — Sábado. Posso passar esta semana para pegá-lo? — Coisa certa. Por que você não vem na terça depois do trabalho e depois jantamos? — Sugere Harper. 132

— Soa perfeito. Vou ligar quando sair do laboratório. E obrigada, Harper. Você é a salva-vidas de guarda-roupa. Eu termino a ligação e me sinto culpada por mentir para ela. Mas agora, não quero o interrogatório Harper. Meu cérebro não conseguia lidar com isso. Eu tenho que assistir a essas coisas de trabalho ocasionalmente e ela não vai pensar nada disso. Eu não vou ter que a suportar me enchendo com pergunta após pergunta. Além disso, não saberia o que dizer de qualquer maneira, já que ela não sabe sobre o quarto de Ells. Posso imaginar seu rosto enquanto explico que fiz um acordo com o homem que está comprando a minha casa. Em troca de namorar com ele, tenho a chance de visitar o quarto da minha filha morta. Ela provavelmente chamaria os caras de branco com uma camisa de força e os teria me levando para o hospital psiquiátrico estadual em Columbia, Carolina do Sul. Não, é melhor manter isso tudo para mim. Ah, e quanto à reação bizarra de Kestrel e a maneira como ele me deixou? Eu nem tenho certeza de qual é o acordo entre nós agora. Minha cabeça parece explodir só de pensar nisso. Minha mente está cheia dos pedaços que ele me contou sobre seu pai e como eu queria puxá-lo em meus braços e segurá-lo. Mas sei que isso não funcionaria. Ele provavelmente teria me atirado para fora do carro e ido embora. Em que diabos eu me meti?

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CAPÍTULO OITO Kestrel

Quando eu afasto o carro da garagem, Carter ainda está lá, me observando. Eu sei que a confundi, mas tenho que me afastar dela e quanto mais rápido melhor. Minha reação ao toque dela me assusta. Ela deve pensar que sou o maior idiota do mundo, especialmente depois daquelas coisas gentis que ela disse. E vê-la lá me faz sentir um lixo maior do que eu já sou. Mas agora estou praticamente pulando para fora da minha pele. Cristo! Minhas intenções eram pedir-lhe para jantar no meio da semana, para que pudéssemos estar mais confortáveis um com o outro naquela função no sábado. É importante que eu vá. É necessário fazer conexões e ela provavelmente conhecerá muitas das pessoas lá. Agora, quando comparecermos, e isto é, se ela for comigo, será em circunstâncias menos que ideais. Eu devo ligar para ela durante a semana e pedir-lhe para jantar. Isso ajudaria a quebrar o gelo no fim de semana. Descongele as coisas um pouco. Ela é muito mais agradável de estar por perto do que eu jamais teria imaginado. Ela me lembra um pouco de Gabby – inteligente, suspeito de uma personalidade espirituosa escondida sob as camadas de tristeza. Pena que ela teve uma vida tão trágica até agora. Meus planos para encontrá-la vão por água abaixo. Eu mal tenho tempo para funções da empresa, muito menos para encontrá-la no jantar. O trabalho é abundante. Fico no escritório todas as noites até às nove ou dez horas. A nova recepcionista ocupa a maior parte do tempo de Shayla, o que me deixa enterrado 134

sob um monte de papelada. Jack, do nosso escritório em Manhattan, chega na terça-feira, e sinto que sou um cavalo no Kentucky Derby12 pelo resto da semana. Quinta-feira está aqui antes que perceba e não pensei em Carter. Então, a caminho de casa do trabalho naquela noite, aproveito a oportunidade e faço a ligação. — Drayton. — Quanta formalidade, — comentei. — Oh, desculpe. Ainda estou no trabalho. — Semana cheia? Ela suspira. — Sim. Muito. — Estou interrompendo? — Na verdade, sim. — Sinto muito. Ligo mais tarde. — Não, deixe-me ligar de volta. Estou prestes a encerrar essa modulação, — diz ela. — Claro. — Eu não tenho ideia do que diabos ela está falando. Depois que terminamos a ligação, eu me pergunto o que ela realmente faz. Eu sei que ela é uma espécie de médica. Então eu rio alto. Eu sou geralmente muito

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Competição de turfe (corrida de cavalos)

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profundo sobre qualquer pessoa que eu tenho qualquer negócio. Eu não fiz uma verificação de antecedentes nem procurei sobre ela. Por quê? Isso é altamente incomum para mim. Quando chego em casa, me sirvo um Lagavulin. Não muito tempo depois, meu telefone vibra. — Carter. — Oi. Desculpe ter que interromper a última ligação. — Não é um problema. Me diga o que você faz. Quando ela termina, estou atordoado. Seu tom é tão animado que estou sorrindo. Eu posso sentir sua excitação sobre o trabalho dela. É uma coisa viva. — Você é brilhante. Eu tenho que perguntar. Você é um membro da Mensa13? — Ela deve ser. Seu QI deve ser pelo menos 130. — Essa é uma pergunta bastante boba, você não acha? — Eu não faço perguntas bobas, Carter. — Sim. — Eu pensei tanto assim. Por curiosidade, qual é o seu QI? — É bom. — Carter. — 155. Santa foda!

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Organização mais famosa de alto QI do mundo.

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— Hmm. Você é um gênio. — Na verdade, não. — Sim. Um QI de 155 é definitivamente um nível genial. Você vai me mostrar algum dia? — Mostrar a você? — Seu trabalho? Ela faz uma pausa. — Você quer dizer que realmente gostaria de ver isso? Sua surpresa me surpreende. — Claro. Isso é incrível. Eu adoraria. Surpreende-me que você esteja surpresa. — Ninguém quer ver isso. — E os seus amigos? — De modo nenhum. Eu digo a eles e eles escutam, mas nunca pediram para ver. Até a Harper nunca perguntou e ela demonstra mais interesse. Isso me faz pensar sobre seus amigos. Não que eu esteja em posição de julgar. Eu não tenho nenhum. Tente fazer amigos quando você é um garoto cujo pai é um rei da máfia. Não funciona muito bem. Você aprende desde cedo a se tornar um solitário. — Então eu tenho uma ideia. Por que não te encontro no seu local de trabalho amanhã, e você pode me dar uma turnê? Depois, podemos comer alguma coisa. 137

— Você não vai ficar todo pateta comigo de novo, vai? — Hesitação ata sua voz. — Eu farei o meu melhor para não fazer isso. — OK. Ela me diz a hora e onde encontrá-la. Na manhã seguinte, chego cedo no escritório. Há muito que preciso cumprir e prometi encontrar Carter às cinco. Kolson chama por volta das quatro horas. Ele me conta como Jack está impressionado com as perspectivas de negócios e o potencial que temos já. — Como eu disse, precisamos de mais mão de obra. — Você vai conseguir. Eu tenho alguns potenciais escolhidos a dedo para você. Estarei aí na semana que vem. Já que Jack vai ficar nas próximas semanas, achei que seria melhor se mexer. — Quando você está chegando? — Terça. Alguma chance de eu ver a preciosidade em que você colocou um contrato? — Não sei. Posso verificar com o dono. — Bom. Vejo você na próxima semana, então. Às quatro e meia, vou até à mesa de Shayla e digo a ela que tenha um ótimo final de semana. O trânsito é terrível, então espero não chegar muito tarde.

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Estacionamento não é ruim e estou supondo que a maioria dos funcionários já terminou o dia. Carter está me esperando no saguão do hospital quando chego. Ela me guia até à divisão de pesquisa e nós subimos no elevador até o andar onde o laboratório dela está localizado. A segurança é pequena, mas é esperada. Eu não posso começar a imaginar o que eles protegem aqui. Ela me dá um casaco para usar junto com algumas luvas, mas me diz para não tocar em nada. Então entramos no seu santuário – o lugar onde tudo acontece. Há muito equipamento, sinto que estou em uma cena do CSI. Bancadas de pontos de microscópios, junto com dezenas de monitores de computador. Equipamentos de laboratório – pequenas coisas quadradas e outras grandes máquinas independentes estão por toda parte. Nas costas há gaiolas que revestem a parede. Eles estão cheios de ratos – dezenas deles. Eu sinto que estou em uma dessas lojas de animais no shopping. É tudo muito alta tecnologia e aparência estéril. Olho ao redor em fascinação por causa de todos os lugares que eu fui e todas as coisas que eu vi, eu nunca estive em qualquer lugar assim antes. — Então é aí que toda a magia acontece, hein? — Bem, eu meio que penso assim. — Ela faz o seu melhor para explicar tudo, mas eu digo a ela que é tudo grego para mim. Ela fala sobre a modulação genética e como ela está tentando fazer com que as células cancerígenas mudem seu RNA, para que elas não possam colocar obstáculos no sistema imunológico humano.

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Eu devo ter aquele olhar de veado ofuscado por faróis, porque ela pega minha mão e me leva até um dos microscópios. E não é apenas um microscópio. Essa coisa tem pelo menos um metro de altura pela minha estimativa. — Aqui, olhe. — Ela me mostra algumas coisas sob a lente de visualização e eu finjo que sei o que estou olhando, mas na realidade sou um idiota. — Ok desisto. O que estou olhando? Ela ri. — Este é o sequenciamento da modulação genética em que eu estava trabalhando. Você está olhando para uma célula cancerosa de um oncomouse. Eu tropecei no RNA. — Oh. — Eu não tenho a mínima ideia do que ela acabou de dizer. Essa garota é super brilhante. Ela fala toda essa merda científica como Kolson e eu falamos sobre investimentos. Eu devo ter um olhar estúpido no meu rosto, porque ela diz: — Eu deixei você perdido, não? — O quê? Não! Eu simplesmente admiro seu cérebro. Que tipo de microscópio é esse? — É um microscópio eletrônico. Pode fazer quase tudo. — Entendo. — Eu realmente não sei, mas ela não precisa saber disso. A coisa parece que pode voar. Eu fico de pé e olho para ela. Aquele cabelo selvagem dela está todo emaranhado e torcido em um coque bagunçado, vejo que ela colocou um 140

par de canetas dentro, alguns fios escaparam e ela colocou atrás das orelhas. Ela empurra os óculos no nariz e me dá um sorriso torto. Um desejo muito inesperado de beijar suas unhas. E isso quase me atrapalha. De onde veio isso? — É uma peça incrível de equipamento. E meu cérebro está bem, eu acho. — Carter, quantos anos você tem? — Vinte e seis. Por quê? — E você tem um Ph.D. Em quê? Genética? — Não exatamente. É uma espécie de coisa combinada. Biologia Molecular e Engenharia Genética. — Oh. Entendo. Graduação mamão com açúcar, eu imagino. Ela encolhe os ombros. — Foi algo que despertou minha imaginação. E quando isso acontece, eu vou a todo vapor. Eu rio. — Por quê a pesquisa do câncer? — Quando era criança, tinha um rapaz da minha turma que morreu de leucemia. Ficou comigo. Eu acho que crianças – não é justo que elas morram tão jovens. Então, depois de Ells, eu fiz essa promessa a ela de que faria disso minha missão. Se eu não pude salvá-la, faria o melhor para salvar outras crianças. E esperançosamente, isso irá se transformar em todos os cânceres. — Isso é muito nobre. 141

O espaço entre o nariz, logo acima de onde seus óculos descansam, enruga e ela franze a testa. — Não, eu não estou tentando ser nobre. Estou tentando salvar vidas. Fim da história. Essa é minha missão na vida. Eu vou morrer tentando também. — Tudo o que posso dizer é que você me impressionou, Dra. Drayton. — Obrigada. E agora que recebi uma grande concessão da StrongMeds, então talvez esteja mais perto do que eu pensava. — Parabéns. — Kestrel, não me parabenize até que a cura esteja aqui. — Eu farei mais que isso. Vamos celebrar. Nos preparamos para sair e ela fecha tudo. Agora que a StrongMeds tem interesse em seu trabalho, tudo tem um preço. Tenho certeza de que esse lugar é mais vulnerável a arrombamentos e roubos cibernéticos. — Você se preocupa em ficar sozinha aqui? — Não, — diz ela. — Eu tenho trabalhado sozinha por anos. — Mas agora você é uma entidade muito mais procurada. Você deve tomar cuidado aqui quando estiver sozinha. Ela encolhe os ombros. — Não importa. É o que sempre fiz. A Universidade aumentou a segurança aqui desde que a StrongMeds contratou conosco, então me sinto muito segura. Além disso, isso parece mais a minha casa do que em qualquer outro lugar. 142

E eu entendo isso. Depois que meu pai morreu e fui trabalhar na HTS, eu ficava lá até à meia-noite às vezes, perdendo-me no trabalho. — Bem, esteja ciente de seu entorno, no entanto. Você é um bem valorizado agora. Muitas pessoas adorariam colocar as mãos em sua pesquisa, tenho certeza. Esta parte do prédio é silenciosa. Vazia. Todo mundo foi para o fim de semana. Quando nos aproximamos do elevador, Carter para e diz: — Oh, merda. Deixei minha mochila. — Ela faz uma curva rápida e colide em mim. Meus braços vão ao seu redor para impedi-la de cair. Tudo o que posso ver são os olhos cinzentos e fantasmagóricos e a boca dela. Há apenas uma coisa que quero, e é provar seus lábios novamente. Eu tenho que saber se estava errado sobre eles. Eu preciso saber se há mais de Carter do que eu lhe dei crédito pela última vez. Minha boca se aproxima da dela e suas pálpebras se fecham em expectativa. Ela continua enquanto espera por mim. Quando a toco, ela suspira. Então sinto a mão dela no meu pescoço, me puxando para mais perto. Seus lábios são macios, flexíveis, e ela abre a boca em surpresa quando sente minha língua lambê-los. E quando ela o faz, eu aprofundo o beijo. Esta não é a garota que eu beijei no outro dia. Esta menina não é um pedaço frio de mármore, mas sim uma mulher calorosa e apaixonada que quero provar mais. E faço-o enquanto ando contra a parede e enrosco meus dedos em sua massa de cabelos emaranhados. Quando

finalmente

termino,

estamos

imediatamente abaixa o olhar. — Não, — eu digo. — Não desvie o olhar. 143

ofegantes

como

tolos.

Ela

— Aquilo foi... — Realmente, realmente, legal. — Minha mão descansa em seu pescoço e esfrego meu polegar para frente e para trás sobre sua pulsação. Parecem asas de beija-flor debaixo do meu polegar. — Eu não costumo fazer... — Eu sei. Mas eu tive que te beijar. Eu queria te beijar no laboratório. — Você queria? — Sim. Quando você estava falando sobre o seu trabalho. Ela aperta os lábios e diz: — Eu não sou muito boa nisso. — Eu discordo. — E a beijo de novo. E desta vez sou agressivo. Minha língua varre sua boca e descobre todo segredo que contém. E então se entrelaça com a dela até ficar sem fôlego. Sua mão aperta meu ombro, afundando em meus músculos como se ela não quisesse deixar ir. Quando paramos, seus lábios estão corados, junto com a pele em suas bochechas e pescoço. Isso me faz querer beijá-la de novo e de novo. Ela finalmente abre os olhos e não posso evitar o sorriso que se espalha pelo meu rosto. — Você está rindo de mim? — Seu tom é abafado, ainda que acusatório. — De modo nenhum. Estou sorrindo porque gostaria de continuar beijando você. — Movo minha mão para sua bochecha. — Você está corada e é sexy, Carter. 144

Ela me empurra para longe. A ação é tão imprevista que quase perco o equilíbrio. — Não diga coisas para mim que não são verdade. Eu sou tudo menos sexy. Ela se vira e vai para o elevador. — Espere um minuto. Ela continua andando. — Carter! Pare. Ela é forçada a esperar o elevador. — Carter, eu nunca digo coisas se não são verdadeiras. Sem resposta. — Carter. Eu quis dizer o que disse. Quando ela finalmente me enfrenta, sua expressão é de completa descrença. — Kestrel, eu chamo isso de besteira. Eu vi o jeito que você olhou para mim quando eu te fiz essa oferta pelo quarto. Vi a expressão em seu rosto... o jeito que você me inspecionou. Não sou tola. Eu sei o que sou. O que eu sempre fui. Sou uma daquelas garotas. Eu fui intimidada e zombada antes. — Eu também. É por isso que nunca faria isso para outra pessoa. Seus lábios se movem, como se ela fosse dizer alguma coisa, mas não diz. O elevador chega e as portas se abrem. — Você não está esquecendo alguma coisa? — Eu pergunto. 145

Sua testa franze. — Sua mochila? — Oh, caramba. — Ela corre pelo corredor, de volta para o laboratório. Eu espero por ela no elevador. No caminho para baixo, digo: — Por que você não segue até minha casa e nós podemos sair de lá? — Bem. Eu gentilmente lhe cotovelo nas costelas. — Você vai ficar mal-humorada a noite toda só porque eu te beijei? Ou eu tenho que te beijar de novo para provar a você que eu acho que você é sexy? Porque eu estou pronto para isso, se você quiser. Sua boca cai aberta. — Já vi como é. Eu a agarro e a beijo novamente. Desta vez, levo minhas mãos para baixo para segurar sua bunda. Ela suga a respiração quando faço isso, e vou para matar. Quando termino, os braços dela estão enrolados no meu pescoço e estou rindo. — Sim, não só você é sexy, você é quente pra caramba. Quando as portas se abrem, nos afastamos e coloco meu braço ao redor dos ombros dela enquanto andamos. Tenho certeza que ela não sabe o que fazer comigo. E agora, também não sei o que fazer comigo. 146

— Quem sabia que eu teria uma queda por uma médica que usa óculos? — Eu pergunto enquanto belisco sua bunda. O olhar de choque no rosto dela é inestimável. Quando chegamos à garagem, eu digo a ela para me encontrar na minha casa. Quando chego na minha garagem vejo que ela já está lá, esperando. — Então, você quer se trocar, porque eu vou, — digo. — Não, eu estou bem. — Ela já está vestindo jeans. — Ótimo. Entre. Ela me segue e pergunto: — Onde você gostaria de ir? Ela menciona alguns lugares, ambos de frutos do mar. Tomamos nossa decisão e é um lugar na ilha de John. Eu mudo rapidamente para jeans e um suéter. E pego duas jaquetas de couro. — Você quer dirigir ou você quer que eu faça? — Ela pergunta. — Eu vou dirigir, — digo quando lhe entrego um capacete e uma jaqueta de couro. — O que é isso? — Você não pode andar sem isso. Um é obviamente para a sua cabeça e o outro é para que você não fique com frio. Ela está intrigada quando caminhamos para fora, até que vamos ao lado da casa da carruagem e ela vê a Harley. 147

— Oh meu. — Você está bem com isso? — Acho que sim. Eu nunca andei de moto. — Bom. Você vai gostar. — Eu vou ter que ter sua palavra para isso, já que nunca fui muito ousada. Eu subo e digo a ela para fazer o mesmo. — Segure-se em mim e não lute contra as voltas. — O que isso significa? Checando para ter certeza de que seus pés estão colocados corretamente, viro a cabeça e digo: — Fique mais perto de mim e siga meu corpo enquanto montamos. Seus braços me seguram frouxamente. Isso precisa mudar, então os pego e os envolvo com força em torno de mim. Então digo: — Você pode me ouvir? — Os capacetes são equipados com fones de ouvido e microfones para que possamos nos comunicar e preciso ter certeza de que eles estão funcionando corretamente. — Sim. Isso é legal. — A moto é bem barulhenta. Não teremos que gritar com os capacetes. Pronta? — Sim. 148

Eu a ligo e vamos embora. Assim que deixamos a cidade, acelero e voamos como o vento. Montar a Harley é tão libertador. As restrições da minha vida e trabalho se dissolvem como a neve velha e suja no final do inverno. Toda vez que viajo, sinto uma sensação renovada de fluxo de energia em meu sangue, energizando-me. As mãos de Carter se espalham contra o meu abdômen e eu posso ouvir sua respiração. — Tudo bem aí atrás? — Eu pergunto. — Sim. — Sua voz é rouca, soando sexy. Eu me sinto responder. O que está acontecendo comigo? Por que essa garota me afeta tanto? Eu estou em uma perda para uma explicação. — Kestrel? — Sim? — Isto é fantástico. Seu corpo está completamente pressionado ao meu e quero que ele fique lá. Eu nunca andei com outra mulher, além da minha cunhada, e nunca imaginei que pudesse ser tão erótico. Quando chegamos ao restaurante, paro no estacionamento e encontro um lugar para estacionar no canto de trás, onde está escuro e deserto. Não perco tempo em desmontar da moto e me livrar do capacete. Minhas mãos a levantam e tiram o capacete, e meus lábios estão nos dela antes que eu possa me conter. O cabelo dela sai do coque e o torço na mão enquanto intensifico o beijo. Ela geme quando faço, e a vontade de sentir sua pele me empurra além dos meus limites. Minha mão livre esfrega sob a jaqueta e 149

encontra a cintura de seus jeans. Sua pele está fresca do ar da noite e minha mão se arrasta sob seus jeans. Tocar sua bunda é quase mais do que posso suportar. Isso é até que seus dentes afundam no meu lábio inferior e ela me puxa para mais perto. Minha respiração dura me força a parar o beijo e quando o faço, olho para o rosto dela enquanto a luz da lua passa sobre ele. Seus olhos estão sombreados, mas não seus lábios. Eles estão separados enquanto ela passa a língua pela parte inferior. — Não pare. Não agora, Kestrel. — Jesus Cristo, Carter. Estou desfeito aqui. Mas isso é antes. Antes de sua mão desabotoar e abrir minhas calças. E seus dedos frios moverem-se para dentro e segurarem meu pau. — Não aqui, Carter. Se vamos fazer isso, vai ser certo. E não em algum estacionamento de um restaurante. — Mas... — Coloque-o. Eu entrego-lhe o capacete e voltamos para a estrada. Leva horas, ou pelo menos parece horas, voltar para minha casa. E quando o fazemos, eu a arranco da motocicleta e a carrego para dentro de casa. Capacete e jaqueta desaparecem como se nunca existissem. E então estamos nos beijando como dois adolescentes enlouquecidos. No meio disso, eu pergunto: 150

— Você tem certeza disso? — Olhe para mim. Você acha que essa é a imagem de uma mulher hesitante? Ela está certa. Ela está tão ansiosa quanto eu. Levanta a camisa sobre a cabeça e se desfaz do sutiã. Carter é um pouco construída para uma mulher alta. Longa e magra, ela é muito delicada. E tímida. — Eu não sou exatamente... bem, eu sou muito inexperiente aqui. — Sua inexperiência me explode. Eu tiro minha camisa, então o resto das minhas roupas segue. Ela me observa com recato. Seus dedos se atrapalham com o botão em seu jeans, mas eu os ponho de lado quando termino a tarefa. Quando ela sai da roupa, estou impressionado com ela. Na roupa, ela é uma bagunça. Nua, é uma deusa. Minha boca está seca, desprovida de toda a umidade. Todo pensamento coerente fugiu, e não me resta nada além de uma visão de verdadeira beleza quando ela está diante de mim. Mas o que percebo é que não sou merecedor dela. Ela é uma doce inocência e foi tratada com a mão mais cruel de todas – a morte de sua filha. A perda de um amor que não consigo compreender. Essa criatura adorável que está diante de mim, que revelou seus segredos mais íntimos, agora está disposta a compartilhar seu corpo comigo. — Kestrel? — Sua voz tem um elemento de incerteza nela. — Meu Deus, você é linda. — Antes da minha mente poder dar uma volta pelo caminho escuro que tantas vezes faz, seu corpo cola no meu, boca contra boca, peito contra peito. Ela se agarra a mim e eu acho que não poderia deixá-la ir para

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qualquer coisa no mundo. Neste momento, tudo é limpo. Só nós dois estamos sozinhos no mundo. O que está acontecendo comigo? Eu me perguntei isso uma dúzia ou mais vezes e não consigo encontrar a resposta. Carter me afeta de uma maneira que nunca fui antes. É simpatia? Empatia? Ou ambos? Eu não tenho a resposta. Mas meu coração responde a ela não apenas fisicamente, mas emocionalmente. E isso me assusta muito. Porque sou tão fodido quanto ela. Neste momento, eu perdi esses pensamentos e foquei no aqui e agora. E o que ela está fazendo comigo. Seus lábios estão no meu pescoço e ela está chupando e me lambendo. Para alguém que é inexperiente, ela me pôs em chamas. E então sinto sua respiração quente contra a minha pele enquanto ela murmura: — Diga-me o que fazer. O que posso fazer para agradar você? — Jesus, o que diabos você pensa que está fazendo agora? Olhe para mim. — O que você quer dizer? — Quero dizer, afaste-se e olhe para mim. Suas sobrancelhas estão franzidas, mas ela faz o que eu digo. Apenas ela se concentra no meu rosto. Eu gesticulei com a minha cabeça, indicando para ela olhar para baixo. Quando ela faz, ela consegue a imagem. — Agora você entende? Estou muito satisfeito. — Eu, uh, — ela engole, em seguida, continua, — sim. — Toque-me. Lá em baixo. Como você fez no estacionamento. 152

Nossos olhos estão trancados, mas ela olha para baixo e estende a mão. Meu pau mexe em resposta. — Mais forte. — Como isso? — Sim. — Eu praticamente rosno para ela. — Você quer que eu o chupe? Não há nada que eu gostaria mais, mas se a deixar fazer isso, eu gozaria em meio segundo. Ela pensaria que sou um adolescente fodido que não faz sexo há algum tempo. Ela estaria meio certa de qualquer maneira. — Ainda não. Mas eu quero te chupar. — Isso traz a mão dela para um ponto morto. — Você quer... — Sim. — E beijo sua boca aberta. Selvagemente porque não posso evitar. Ela faz isso comigo. Ela é inocência e disposição embrulhada em um belo pacote quente. E vou fazê-la gozar como se ela nunca tivesse gozado antes. Enquanto nos beijamos, eu ando até o quarto. Quando a parte de trás de suas pernas batem na cama, nós caímos sobre ela. — Carter, eu vou lhe dizer isso porque quero dizer isso e porque é verdade. Você é absolutamente linda e extremamente sexy. — Então eu levanto suas pernas e as abro. — Agora eu quero te provar, te chupar, te comer até você gritar. — Minha língua faz um longo golpe na parte interna da coxa e eu primeiro mordo, então 153

chupo. Então passo para a outra e repito. Eu a ouço respirar profundamente. Ponto. Então eu lambo tudo, mas o que ela acha que vou, até que ela esteja se contorcendo tanto, tenho que segurar seus quadris para mantê-la no lugar. Agora direciono seu sexo e minha língua entra nela antes de começar sua longa e lenta tortura. Eu lambo, provoco, chupo antes de me mover para o clitóris dela. Até então, ela está mordendo a primeira articulação do dedo indicador. Uma vez lá, chupo aquele broto minúsculo até que a levo a um orgasmo que deixa seus dedos apertando os lençóis e sua boca chamando meu nome. Mas eu não paro de brincar com ela. Meus dedos lentamente, inexoravelmente, entram e saem dela. — Você tem a boceta mais doce e macia. E olhe como você está molhada. Você está tão pronta para mim. Me diga o que você quer. Ela ainda está respirando com dificuldade quando diz: — Não chame isso de boceta. Meus dedos estão tocando a anatomia. Quero rir, mas não faço. Não consigo tirar o sorriso do rosto quando pergunto: — E por que não? — Porque uma boceta14 é um gato. — Então, como devo chamá-la? — Uma vagina. Agora eu realmente quero rir. Forte.

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Em inglês “pussy” pode significar tanto boceta quanto gatinho.

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— Você não acha que é um pouco clínico? — Em uma voz de falsete eu digo: — Oh, Carter, você tem a vagina mais doce. Isso tira uma risadinha dela. — E suponho que você queira me dizer que gosta do meu pênis. — Bem, eu mal posso dizer, já que eu ainda tenho que experimentar. — Então, querida, acho que devemos deixar sua boceta encontrar meu pau. O que você acha disso? — Ok, sob uma condição. — Qual? — Nunca me chame por um nome de animal de estimação. Isso me parece estranho e rio. — Por quê isso? — Eu li um livro uma vez onde o cara chamou a garota de pombo. Eu não quero ser chamada de um pássaro malvado. Ou algum outro nome idiota. Eu uivo. Ela olha para mim intrigada. — O que é tão engraçado? — Meu irmão chama sua esposa 'kea15'. — Então? — Um kea é um pássaro. — Oh. Desculpe. — Ela usa uma expressão contrita. 15

Papagaio típico da Nova Zelândia

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— E você sabia que um Kestrel é na verdade um pássaro? — Oops. — Seu olhar tímido se intensifica e seu rosto fica manchado de vermelho. — Sim, é um pequeno falcão para ser preciso. Mas tudo bem. Não é como se você intencionalmente me insultasse. Mas por que a aversão a nomes de animais de estimação? — Eu corro meu dedo pela sua bochecha. — Eu acho que eles são humilhantes. Como doçura, docinho, gatinha. Eu não mio e não sou doce! Quero dizer, vamos! Se você vai me chamar por um nome de animal de estimação, é melhor que seja muito bom, é tudo o que tenho a dizer. — Tudo bem, então. Nenhum apelido para Carter. Algo mais? — Não. É isso aí. E você? — Eu vou ter que te dizer quando chegar a hora. Minha lista é muito longa. — Você pode me falar sobre suas tatuagens? — Sim. Algum dia. Não hoje, no entanto. — Eu me movo sobre ela e murmuro contra sua boca. — Agora, quero me enterrar em você e fazer você gritar. Me diga como você gosta. Seu rosto de repente fica vermelho escarlate. Eu passo meu dedo em sua bochecha novamente. Então eu beijo. Sua inexperiência é muito simpática para mim. Depois, eu me movo para o pescoço dela, depois para o ombro. Eu quero amenizar o constrangimento. — Kestrel, eu realmente não sei. 156

— Hmm. Eu tenho uma ideia. — O quê? — Que tal descobrirmos? Ela ri. — Como você propõe fazer isso? — Vamos testar algumas posições e você me diz quais você gosta mais? Enquanto eu falo, meus dedos saem dela e brincam com seu clitóris novamente. Ela emite um pequeno som choroso. — Este é o plano então? — Ela pergunta, com uma voz ofegante. — Mmm. Eu alcanço minha mesa de cabeceira e pego um preservativo. Ela me observa com olhos curiosos enquanto o coloco. Estamos deitados de lado, então eu puxo a perna dela sobre o meu quadril e acaricio sua entrada com a minha ponta. E lentamente balanço nela, pouco a pouco. Os vincos em sua testa se aprofundam enquanto eu me movo, e pergunto: — Está tudo bem? Ela é silenciosa, demasiado silenciosa, então eu paro. — Carter? — Tem sido um bom tempo para mim. — Isso não significa que deveria doer. 157

Eu puxo e a rolo de costas. Movendo-me entre as pernas dela, a penetro novamente. Desta vez, ela agarra minha bunda e me empurra enquanto ela pressiona seus quadris até que eu esteja totalmente sentado. — Por que você fez isso? — É melhor apenas acabar logo com isso. Quando eu me movo para sair, ela me interrompe. — Agora, Kestrel. Faça amor comigo. Seus olhos imploram aos meus. Movendo-me devagar a princípio, faço o que ela pede. Mas logo estou preso no ritmo e as coisas aumentam. Eu me perco nela e muito cedo estou chegando ao clímax. — Tudo bem? — Ela pergunta, timidamente. Eu olho para ela em confusão. E então isso me atinge. Eu esfrego meu rosto e me levanto. Uma vez que o preservativo é descartado, eu volto para a cama e a puxo para os meus braços. — Carter, precisamos esclarecer algo. Isso não era sobre o meu prazer. Isso deveria ser sobre prazer mútuo. — O que você quer dizer? — O sexo. Eu machuquei você? — Me incomoda profundamente pensar que fiz. — Realmente, não.

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— Realmente não é bom o suficiente. Jesus. Carter, queria ir devagar. Então você aproveitaria também. Isso é o que sexo deveria ser. Não só eu gozando. Me desculpe, me empolguei e deixei ir longe demais. Já faz um tempo para mim também. Ela me examina visualmente. — Eu acredito em você. Eu bufo. — Espero que sim. Eu não estou jogando com você. Fazer amor, fazer sexo, foder, seja o que for que você diga, é sobre prazer mútuo. Você não está aqui, suportando uma experiência desagradável. — Oh, não foi tudo desagradável. — Faça-me um favor. — O quê? — Vamos fazer isso de novo. Do meu jeito. Então você pode gozar. — Gozar? Durante o sexo, você quer dizer? — Sim, droga. — Eu corro minha mão pelo meu cabelo. — OK. — Escute-me. Eu quero fazer isso da maneira certa. — Me inclino sobre ela e lambo seu mamilo até que endurece até um pico. Então eu chupo e provoco com meus dentes. Eu verifico o outro e vejo que está duro também. Os meus dedos rolam-no e logo movo-me para um pouco de brincadeira de língua, também. Minha 159

boca atinge vários pontos em seu corpo, aqueles que acho que vão despertá-la ainda mais. Meus dentes afundam suavemente em sua carne macia e ela geme, agarrando meu cabelo. Sua doçura e calor me prendem. — Oh, Deus, Kestrel. O que você está fazendo? — Mostrando-lhe o que é o prazer mútuo. — Então eu a rolo de barriga para baixo e continuo com a minha provocação, lambendo e mordendo-a. Minha boca e minhas mãos cobrem cada centímetro dela e quando chego à bunda, ela está choramingando. Quando a solto, ela se vira para mim como uma tigresa indomada. Ela imita tudo o que fiz para ela e me deixa louco em pouco tempo. Ela é doce e picante de uma só vez. Quando sua boca quente e molhada esfrega sobre meu pau, eu realmente quero gritar. Mas não faço. Todo músculo aperta com cada lambida tentadora e redemoinho de sua língua, e me contenho até que finalmente digo a ela para parar. — Carter, eu quero sua doce boca em mim, mas o que eu realmente quero mais do que tudo é fazer amor com você de novo... o caminho certo desta vez. — Onde estão seus preservativos? — Gaveta superior. Criado mudo. Ela se arrasta para pegar um. — Como eu faço isso? — Abra a embalagem e role-o. Ela é tão hesitante que pego sua mão e digo: 160

— Apenas faça isso. Eu não vou quebrar. Isso tira um sorriso dela. Ela pega meu pau e enrola o preservativo. Então ela se move para deitar, mas eu a paro. — Não. Monte-me. — O quê? — Suba em cima de mim e monte-me. Seu olhar cai para o meu pau ereto e depois para mim. — Você vai amar. Eu prometo. Ela começa a me montar e ajudo. Quando começa a fazer com que entre nela, digo: — Devagar dessa vez, — eu a lembro. Uma vez que ela está totalmente sentada, eu estendo minhas mãos e ela as usa para alavancar. Não demora muito até que ela pegue o jeito e posso ver pelo seu rosto que isso é certo. O corpo de uma mulher muda quando está excitada. A cor de seus mamilos fica mais rosados, sua espinha se curva para dentro, seus quadris ondulam, sua respiração se aprofunda, seu aroma muda, suas pupilas se dilatam. Carter atingiu o estado máximo de excitação. Eu movo suas mãos para meus quadris e uso as minhas livres para brincar com ela. No começo eu aliso e puxo seus mamilos duros como pedra. Então eu mudo para o clitóris dela. Ela está balançando para cima e para baixo no meu pau e estou prestes a gozar, então quero acelerar as coisas para ela. Meu polegar massageia seu pequeno broto e é exatamente disso 161

que ela precisa. Seus músculos começam a apertar e ela joga a cabeça para trás, me dando uma visão do pescoço dela – o pescoço que eu quero lamber e chupar o dia todo. Sua boca se abre e ela chama meu nome quando seu orgasmo atinge. Eu posso sentir todos os seus músculos internos se contraindo, em seguida, contraindo em torno de mim, me apertando, permitindo-me liberar o meu controle. Quando meu orgasmo bate, eu deixo ir e ela sabe. Ela me observa gozar e então cai em cima de mim com um suspiro alto. Depois, ela levanta a cabeça do meu peito e diz: — Agora eu entendi o que você quer dizer. Estamos ambos escorregadios com o nosso suor combinado, mas é assim que deve ser. — Bem, nós estabelecemos uma posição que você gosta. Ela ri e diz: — Acho que as possibilidades são infinitas.

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CAPÍTULO NOVE Carter

Quando acordo, tenho que fazer xixi. Levanto minha cabeça, não querendo perturbar Kestrel, mas ele não está na cama. Não perdendo um segundo, levanto e corro para o banheiro. Depois que termino, noto um roupão grosso pendurado na parte de trás da porta. Me enroscando nele, decido me desdobrar e caçar por ele. Mas espere! O que eu vou dizer? Oh Deus! Eu sou imediatamente acometida com um milhão de arrependimentos. Não, não se arrependa. Dúvidas, e se ele não se divertiu tanto quanto eu? A noite passada foi incrível, e só espero que ele sinta o mesmo. Mas e se ele não fizer? Então o quê? Oh porra. Eu ferrei tudo dormindo com ele? Eu não sei. Eu nunca faço esse tipo de coisa. Bem, quase nunca. As duas vezes que fiz isso acabaram em catástrofes. Na primeira estava com Simon e a outra estava com algum idiota na faculdade. Bem, eu não posso ficar aqui para sempre. Vou ter que sair daqui mais cedo ou mais tarde. Pode muito bem ser mais cedo. Endurecendo minha espinha, eu vou para a porta. A sala de estar está em silêncio, então eu me viro para a cozinha e o espio sentado no balcão, uma caneca de café na mão, absorto em seu laptop. Eu não posso deixar de admirá-lo. Cabelo preto bagunçado e seu rosto pesado com a barba, ele parece um modelo posando para um anúncio de café. E não tem ideia de que estou parada aqui olhando para ele, praticamente babando. Os pés descalços espreitam por baixo de um par de velhos jeans desbotados, rasgados em vários lugares, e tatuagens nas costas, exatamente as mesmas onde minhas mãos e língua 163

estiveram a noite passada. Minha mão alcança meu pescoço quando me lembro do jeito que sua boca me beijou e chupou meus mamilos. O ar fica preso em meus pulmões quando me sinto ficar excitada. Ele deve ter me ouvido porque se vira no banco e estou colada ao chão, olhando-o como um idiota. Ele coloca a caneca na mesa e fica em pé. Então, em um par de passos largos, ele está na minha frente, com as mãos no meu rosto, me beijando, e eu mal posso ficar em pé. Estou tão excitada; tudo que quero é estar nua novamente. Ele deve ter lido minha mente. Suas mãos empurram o roupão dos meus ombros e tenho o meu desejo. Eu praticamente rasgo sua calça jeans e ficamos ali de frente um para o outro. Quando me movo para tocá-lo, ele pega minha mão. — A noite passada foi perfeita, Carter. Eu quero que você saiba disso. — Foi para mim também. Então nos beijamos novamente e acabamos na sala de estar. Ele me inclina sobre o sofá e sinto seus dedos dentro de mim. Ele não só faz amor comigo com seu corpo, mas as coisas que ele diz são inacreditáveis. Elas podem ser todas uma porcaria, mas ele me faz sentir tão viva. Não me sinto assim há tanto tempo que não me importo se são verdadeiras ou não. Seus dedos saem e eu grito. Eu os quero de volta dentro de mim. Ele se inclina e sussurra: — Eu já volto. Eu ouço ruídos do quarto e quando ele volta, posso ouvi-lo abrindo um preservativo. Eu me esqueci. Logo ele está avançando para dentro de mim por trás e 164

parece diferente da noite passada. É mais cheio, mais profundo e abafa tudo o que eu já conheci. — Ah, Kestrel. — Eu gemo. Seus dedos pressionam meus quadris enquanto se move lentamente para dentro e para fora. Então um braço me envolve e ele me puxa contra ele e se mexe em mim. Há algo tão primitivo sobre o jeito que ele me segura, o jeito que ele empurra dentro de mim, que me vejo querendo ainda mais dele. Como isso é possível? — Jesus, Carter. Diga-me que você vai gozar porque eu não vou durar. Estou perto, à beira, mas é difícil falar. — Eu... — Levante sua perna. Seu comando fica sem resposta. Estou desossada, incapaz de me mover. Eu não tenho que me preocupar, porque quando não faço como ele me diz, ele levanta minha perna para mim. Estou debruçada sobre o braço do sofá com um cotovelo apoiado nas costas. Ele coloca meu joelho no braço do sofá e começa a me foder. Então a mão dele vai para fora, espalhando minhas pernas mais largas, e sinto seus dedos encontrarem meu ponto quente. Eles primeiro tocam meu clitóris e depois massageiam. Seus quadris empurram para cima, duro e rápido. — Ahhh, sim. — Logo depois atinjo o orgasmo. Ele segue. Eu sei por que eu posso sentir seu pau latejar, e o braço que está ao meu redor me abraça ainda mais 165

apertado para ele. Um rosnado profundo emerge dele e a mão que segura meus quadris me aperta. Então ele me levanta, vira-me para encará-lo, me beija enquanto me leva até o quarto, onde me deita na cama. Ele desaparece no banheiro, onde se livra do preservativo e retorna. Eu acho que ele vai se deitar ao meu lado, mas estou errada. Garota, estou muito errada? Kestrel queria dizer o que disse sobre prazer mútuo e com certeza mantinha sua palavra. Ele abre minhas pernas e diz: — Você tem uma linda boceta. E vou me certificar de que provei cada centímetro disso. Fator choque me atinge. Seu rosto pressiona em mim e quando ele começa a me provar, seus olhos olham para mim. Ele vê a expressão chocada que estou usando. Ele para e diz: — O quê? Você achou que nossa pequena brincadeira acabou? Tenho novidades para você, querida. Isso foi apenas o aperitivo. — Então o que é isso? — Minha pequena entrada. — O que vem depois? — Oh, eu não sei. Sopa?

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Então suas pálpebras se fecham, e sua língua mergulha de volta em meus lugares mais secretos enquanto suspiro, suspiro, e então gemo. Eu tenho que saber o que está reservado para o prato principal. Eu só espero poder aguentar tanto tempo. Apoiando-me nos cotovelos, não consigo parar de observá-lo. — O que tem você tão encantada? Eu não ouso dizer a ele que é sua boca ligada ao meu sexo. — Carter, não fique com vergonha de mim agora. Eu vi todos os seus pedaços e, por acaso, amo cada um deles. Por que você está olhando assim? — Eu só quero. — Alguém já fez isso para você antes? — Não. — Bom. — Então ele volta ao meu sexo. E sou grata que ele faz. Não sei exatamente o que ele faz lá embaixo. Eu quase desejei ter um espelho para que pudesse ver, porque foda, é incrível. Ele é todo língua, lábios e dedos. E logo tenho que abandoná-lo e cair na cama, porque meus braços nem me seguram. Fogo atira em minhas veias pego um travesseiro e mordo no canto dele para parar de gritar. A outra mão acaba no cabelo do Kestrel, puxando-o, e estou empurrando e flexionando meus quadris contra sua boca como se estivesse fodendo. Porra, isso é bom. Não, é fantástico como chocolate, chantilly e uma cereja no topo. — Eu quero foder cada parte de você... o vão entre seus seios, sua bunda gostosa, sua boca doce, mas agora, eu quero me enterrar em sua boceta quente e molhada. 167

Ele pega um preservativo, coloca-o e entra em mim. Quando faz, lamento, porque parece tão bom. Sua boca abre um caminho quente pelo meu pescoço e me aquece ainda mais. — Enrole as coxas deliciosas ao meu redor. Suas pernas são tão sensuais; quero senti-las atrás de mim enquanto me movo dentro de você. Mova-se comigo, querida. Movendo minhas mãos pelas suas costas, eu pego sua bunda e começo a balançar ao seu movimento. — É isso aí. Cristo, você está excitada. Você está bem? Eu não posso falar. — Carter? — Sim. — Ele sai como um gemido. Suas mãos seguram sob minha bunda e ele empurra mais rápido. Estou prestes a explodir em outro orgasmo. — Deixe ir. — Ele mantém o ritmo constante, nunca desistindo, até que eu grito seu nome, passando minhas unhas pelas bochechas de sua bunda. Eu arqueio minhas costas e depois desmorono. Ele ainda se move, mas se ergue nas mãos e olha para mim. Então ele se inclina e beija meu pescoço e bochecha suavemente. — Tudo certo? — Oh, Deus, Kestrel. 168

— Sim? — Sim. Ele sorri, o tempo todo ainda bombeando para dentro e para fora e girando os quadris, mas depois pega um pouco o ritmo. — Você é linda quando goza. — Sua mão se move entre nós e eu sinto esfregar meu clitóris. Então ele traz à minha boca e diz: — E tão doce. — Ele empurra o dedo na minha boca para eu provar. — Agora você sabe por que eu gosto tanto. Então sua mão está de volta ao meu clitóris, me provocando novamente. — Só mais um para mim, querida. Mais um. — Eu não acho que... — Você não precisa pensar. Deixe-me fazer o trabalho aqui. — Sua mão me massageia enquanto seus quadris balançam para dentro e para fora, inclinando-se para frente e para trás. Não muito tempo, eu estou bem aí e ele sabe. — Vamos, Carter. Mais um. Para mim, querida. — Ele mergulha a cabeça, chupa e morde meu pescoço e logo meus músculos internos estão se fechando e estou chamando seu nome enquanto chego ao clímax. E é quando ele se deixa ir. Ele é duro, rápido e duro. Ele me fode como uma fera selvagem. Intensamente, com uma paixão que ele deve ter contido com moderação. O suor escorre de nós dois, quando eu o combino com movimento. Minhas mãos seguram a cabeceira enquanto ele mergulha em mim repetidamente. Olho para o rosto dele e fico momentaneamente suspensa no tempo. Sua beleza me cativa. Mas logo ele chega ao clímax com um gemido alto, e então cai ao meu lado na cama. 169

Um minuto passa antes de ele falar. — Eu acredito que foi a sobremesa. — Oh, acho que era o prato principal. Você vai ter sobremesa assim que puder. Uma risada profunda enche a sala. — Bem, eu estou certo disso. Ou eu serei se você me der algum tempo. — Então ele se vira para mim e diz: — Você é incrível. Eu puxo sua boca para a minha e digo: — Eu acho que você é incrível. Nós nos deitamos juntos por um tempo quando ele diz: — Vamos tomar banho juntos. — Sim. É um grande chuveiro, grande o suficiente para nós dois. Ele gentilmente me lava em todos os lugares, e quero dizer mesmo isso, em todos os lugares. Meu rosto queima de vergonha quando ele se move entre as minhas pernas. Eu não sei por quê. O rosto do homem esteve enterrado lá há pouco tempo, pelo amor de Deus, e o vi fazer isso. Então ele se lava e lava meu cabelo. Enquanto ele está fazendo isso, eu percebo que seu pau voltou à vida, então decido cumprir a minha oferta de sobremesa. Eu só espero que possa agradá-lo. Eu nunca chupei um homem, além do que eu fiz para ele na noite passada, e não quero parecer uma idiota. Então fico diante dele e envolvo minha mão em torno de seu pau. 170

— Eu acho que é hora de sua sobremesa. Suas sobrancelhas se levantam. — Tem certeza? — Só se você me guiar. Você é meu primeiro. Um enorme sorriso se espalha em seu rosto. — Eu fico feliz em te guiar. Ele me fala sobre a língua, dentes e coisas de sucção, então levo seu pau na minha boca e deixo ir. Algumas vezes ele me diz para ir mais forte ou mais suave. Mas ocasionalmente ele me toca na cabeça algumas vezes. Quando ele goza na minha boca, é um pouco chocante. Não posso dizer que estou apaixonada pelas coisas, mas também não é o fim do mundo. Eu me levanto e digo: — Bem, definitivamente não tem gosto de frango. Ele ri e diz: — É por isso que bati na sua cabeça. Esse é o sinal. — Que sinal? — Para você parar, aí posso sair. Você sabe, então não gozo em sua boca. — Hmm. Não sabia. — Você está bem? — Bem, sim. Não era como tomar um sundae com calda quente ou qualquer coisa, mas também não era fígado. 171

— Jesus, Carter, você é uma aberração. — Sim, eu sei. Ele me agarra e me beija. — E pensar que você engoliu. — Quem sabia? Ele ri. — Eu sinto muito. Deveria ter dito alguma coisa. — Kestrel, eu gostei. Eu gostei de fazer você se sentir bem. É uma enorme virada. Quando vejo e ouço você gozar, é a coisa mais sexy de todas. E da próxima vez que te chupar, vou engolir também. — Jesus, Carter. Não diga coisas assim ou você terá que fazer de novo. Nós saímos do chuveiro e ele me envolve em uma toalha fofa. Quando enrola meu cabelo em outra, digo: — Eu tenho hora no cabeleireiro hoje. — Você vai? — Uh Huh. Vou cortar e endireitar. — Posso ir com você? — Você quer? — Eu achei que um homem odiaria isso. — Claro. — OK. Mas você não vai ficar entediado? — Não. Eu estarei contigo. Enquanto estamos conversando, ele esfrega loção em todo o meu corpo. 172

— Você é muito gentil comigo. Ele está agachado, colocando loção nas minhas pernas. Ele olha para mim e diz: — Carter, eu não sou uma pessoa gentil. Eu escolho ignorar essa afirmação. — Acho que nunca vi olhos tão verdes quanto os seus. Eles brilham como esmeraldas. Não que eu tenha visto muitas, mas minha mãe costumava ter um par de brincos de esmeralda e eles me lembram deles. Ele aperta as pálpebras e abaixa a cabeça. — Eu sou um idiota para a maioria das pessoas. — Sim. Uh Huh. Ele termina de me hidratar, fica em pé e diz: — Vamos nos vestir, então. Preciso te alimentar. Fui terrível com você ontem à noite. Te privei do jantar que lhe prometi e aqui estou, não te dando café da manhã. As únicas roupas que tenho são as que usei na noite anterior. Ele percebe isso também. Ele vasculha sua gaveta e me entrega um suéter. É verde caçador, volumoso e macio. Eu o coloco e ele bate nas minhas coxas. Puxo meu jeans, sem calcinha. Ele sorri. Eu derreto. — Perfeito. — Meu cabelo. Eu preciso tirar os emaranhados e trançá-lo. 173

— Oh, desculpe. Ele me entrega uma escova. Isso vai levar uma eternidade. — Você tem um pente de dentes largos? — Não. Desculpa. Eu torço em um coque em vez disso. — Eu nunca vou tirar os nós com uma escova. Agora estou pronta. Nós vamos a um restaurante a alguns quarteirões de distância e Kestrel pede comida suficiente para todo o condado. Balançando a cabeça quando chega, digo: — Cara, estou com fome, mas isso dá um novo significado a muita comida. — Demais? — Omeletes, panquecas, batatas fritas, torta, biscoitos, molho e bacon? Sim, eu diria muito. — Eu acho que estava com fome. Enquanto ele come, não posso deixar de olhar para suas tatuagens. É tão única e complexa que, antes de saber o que estou fazendo, um dedo está traçando um de seus desenhos. Estou tão absorta nisso que nem percebo que ele está sorrindo para mim. — Uau. Isso é um dragão e tanto. E a lança através do coração. — Na verdade é um tridente. 174

O som de sua voz é assombrado. Eu olho para cima e seus olhos penetram minha alma. O que aconteceu aqui? Meu dedo ainda está tocando nele, então eu pego minha mão e a movo para a dele. — O que isso significa? Ele abaixa o garfo suavemente. — Carter, é uma história longa, aterrorizante e feia. Eu não quero sujar sua pureza com isso. Uau. Que coisa profunda a dizer. Seja o que for que o dragão é, deve ser horrível. — Sinto muito que algo tão terrível tenha te tocado desse jeito, mas sobre a minha pureza, eu não tenho tanta certeza. — Eu sei que você odeia nomes de animais carinhosos, mas docinho, acredite em mim, você é tão pura quanto a neve recém caída. E isso não é um coisa ruim. Ele me faz sorrir. — Docinho é um termo de carinho, não um nome de animal de estimação. Mas eu não sou pura, Kestrel. — Sim, você é. Há pessoas que andam nesta terra, pessoas que você não pode imaginar como são cruéis e vis. Você, Carter, é doce e gentil. Quando olho para você, vejo um anjo sentado diante de mim. — Não diga isso. Eu não sou melhor que ninguém.

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— Você não pode entender. Mas vamos falar de outra coisa. Esta noite. Você ainda está planejando vir comigo, não é? — Claro. Ele sorri. — Bom. A garçonete nos interrompe para limpar a mesa. Enquanto caminhamos de volta para sua casa, ele diz algo para mim que não sei o que pensar. — Carter, eu estava tão errado sobre você. — Como assim? — Lembra-se do dia em que nos conhecemos e você me perguntou se você não era boa o suficiente e eu disse que você não era ruim o suficiente? — Sim, eu me lembro. — Eu não quero que você seja ruim. — Ele para e vira-me para encará-lo. — Eu preciso do bem na minha vida. Eu preciso de um anjo, um anjo humano, como você. Estou farto de tudo de ruim. — Então ele me beija. Estamos no meio da King Street e as pessoas estão em toda parte, tendo que passar pelo obstáculo que criamos. Mas Kestrel não dá a mínima. Ele termina isso tão rapidamente quanto começou e estou andando com ele, atordoada por seu comentário. — Kestrel? — Sim? 176

— Você vai me contar sua história algum dia? — Sim. Mas pode demorar um pouco. — Ok. — Eu envolvo meu braço em torno de sua cintura enquanto andamos. — Faça-me um favor, no entanto. — O quê? — Não me machuque. Eu sou meio que frágil e não acho que posso lidar com isso. — O mesmo aqui, Carter. — Faça-me outro favor, por favor. — Certo. — Faça o que fizer, não me deixe me apaixonar por você. Ele para de andar. — Por quê isso? — Porque alguém sempre perde no amor.

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Kestrel espera por mim no salão e o sorriso que ele me oferece quando me aproximo me diz tudo o que preciso saber. — É perfeito. — Ele beija minha bochecha. 177

Eu me sinto como uma criança quando pergunto: — Você gosta? — Adoro. Estou feliz que eles o deixaram ondulado e longo. — Espero poder consertar isso. — Parece que eles apenas apararam e endireitaram um pouco. Eles te deram instruções? — Sim, mas Kestrel, esta juba tem uma mente própria. Eu verifico a hora e vejo que está perto das quatro. — Você está com fome? — Pergunta ele. — Um pouco. — Vamos fazer um lanche. — Tenho uma ideia melhor. Vamos pra minha casa. Eu tenho lanches lá, — digo. — OK. Andamos até a casa dele para que eu possa pegar meu carro. Ele segue no seu. Eu não estive em casa desde ontem de manhã, então pego o correio. Pego um pouco de queijo, biscoitos e frutas e pergunto se ele gostaria de uma bebida. Ele opta por uma cerveja. Nós nos sentamos na sala de estar e comemos. — Meu irmão está chegando na terça. Ele perguntou se podia ver a casa. Eu engulo em seco. 178

— Caramba. — Tudo bem se você não quiser. — Sua mão cobre a minha. — O quarto. — Minha barriga instantaneamente se ata. — Sim, eu pensei sobre isso. Talvez você possa tirar as flores mortas. — Eu já fiz isso. Eu comecei a pensar que era estúpido que nunca joguei fora. Elas eram sem sentido. — Então? — Eu até o limpei. — Você limpou? Se importa se eu olhar de novo? — Por quê? — Não sei. — OK. — Venha comigo. Ele se levanta e estende a mão. Eu coloco a minha na dele e lá vamos nós. Mas preciso das chaves, então nós direcionamos para a cozinha primeiro. Quando chegamos à porta, acho que não estou tão nervosa desta vez. Ele abre a porta e o perfume me sufoca. É sempre o mesmo. Isso me leva de volta aos anos de Ells. Eu ouço sua risada e seus pés tamborilando no chão. Então sua voz vem para mim. — Fale comigo, Carter. 179

— Eu posso sentir o cheiro dela. E ouvi-la rindo. E os pés dela correndo pelo chão. — O que mais? — O cabelo dela. Loiro encaracolado, sobre os ombros. Era tão macio e brilhante. Olhos azuis brilhantes. Mas a risada dela soava como música. E ela ria o tempo todo. — Assim como as fotos dela aqui. — Sim. A sala está em muito melhor forma agora. — Parece bom aqui. Como o quarto de qualquer menina. — Sim. Como se ela andasse bem aqui a qualquer momento. — Isso não foi o que eu quis dizer. — Eu sei. — Eu mergulho minha cabeça e inalo. Então eu sinto seus braços me enjaularem e é o cheiro dele que sinto. E isso me conforta. Eu enterro meu rosto contra o pescoço dele e inalo mais uma vez. — Obrigada. — Pelo quê? — Por estar aqui. Isso ajuda. Quando saímos, eu alcanço as chaves para trancar a porta e ele me para. — Eu não acho que você deveria trancar mais isso, Carter. Não há necessidade. Não há nada a esconder. 180

— Eu não sei. — O ceticismo nubla meus pensamentos. — Ouça. Se você mantiver esse quarto trancado, também manterá sua memória trancada lá dentro. — Não! Não é nada disso. Se eu deixar tudo sair, vou perdê-la. Ela vai escapar e se irá para sempre. Ele pega minhas mãos e diz: — Não consigo entender sua dor porque nunca perdi um filho. Mas parece-me que sua memória estará com você para sempre. Bem aqui – ele coloca uma mão sobre o meu coração – e aqui – ele segura minha cabeça entre as palmas das mãos. — Você não pode esquecê-la, Carter. Não é possível. — Você está certo. Mas eu vou esquecer o jeito que ela cheirou. E o jeito que ela soava. O tilintar de sua risada. O bater de seus pés quando ela corria. Essas são as coisas que me deram muita alegria. — E essas são as coisas que você sempre terá em seu coração e mente. Ele tem razão. Ele não pode entender e nunca vai entender. E não há uma maneira de eu fazê-lo. Eu me viro e vou para o meu quarto. Enquanto ando, pergunto: — A que horas você vai me buscar? Estou assustada quando a voz dele está bem atrás de mim. — Você não vai voltar lá embaixo, então? — Eu acho que preciso de um pouco de tempo sozinha. 181

— Sim. OK. Venho buscá-la por volta das seis e meia. Ele está certo sobre Ells em alguns aspectos. Mas, com o passar do tempo, sinto que ela se afasta mais e mais. E odeio isso. Eu não quero que isso aconteça. Eu quero que ela permaneça brilhante e fresca em minha mente e não alguma memória distante, ficando mais fraca e mais fraca como uma lâmpada em suas últimas pernas. Graças ao meu pai, tenho milhares de vídeos e fotos dela. Ele era um fanático sobre isso. Eles estão catalogados por mês e ano, todos em CDs e DVDs. Eles precisam ser transferidos para uma forma diferente de armazenamento de dados, mas não tenho dinheiro para isso. Após a venda da casa, essa será uma das minhas primeiras prioridades.

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Às seis e meia, Kestrel está na minha varanda da frente, parecendo escuro e sexy. Ele está vestido inteiramente de preto, incluindo sua gravata, que contrasta nitidamente com seus olhos de esmeralda. Ele ainda parece desleixado, o que só aumenta sua aparência sedutora. — Olá. — Eu abro a porta para deixá-lo entrar. Ele entra, agarra meu pulso, me puxa contra ele e me beija. Nenhum preâmbulo. Quando ele termina, estou totalmente excitada. Meus mamilos estão prestes a estourar o estúpido sutiã que estou usando, e um fino brilho de transpiração me cobre. Não só isso, estou tremendo. 182

— Cristo, Carter, você está incrível. Eu acho que estou bem. Estou usando um vestido preto sem alças que eu peguei emprestado de Harper. Quando liguei para ela, ela estava toda empolgada com o fato de que eu estava realmente marcando um encontro para a minha função de trabalho. Então ela estava muito feliz em me emprestar um vestido. — Obrigada. — Meus braços estão em seus ombros. Eu relutantemente liberto ele. — Você está maravilhoso também. — Eu sorrio timidamente para ele. Não estou acostumada a elogiar aos homens. Eu deveria mesmo? Eu não tenho certeza. — Obrigado. — Ele sorri de volta para mim. — Uau. Você é tão... bem, linda. — Agora você está me envergonhando. — Por que isso? — Só por que. Nós provavelmente deveríamos ir. Ele fica de pé e olha para mim. Eu me incomodo. — Você tem um casaco ou xale? Eu aceno e vou para recuperá-lo. Então nós partimos. Pensei que nós estaríamos indo em seu carro, mas uma limusine nos espera. Levanto minha sobrancelha. — Vamos beber e não gosto de arriscar, — explica ele. — Então você contratou uma limusine? Nós poderíamos ter tomado um táxi. 183

Ele para e olha para mim. — Carter, eu dirijo a empresa aqui. Merda. Eu esqueci. HTS Serviços de Transporte Hart. — Certo. Eu esqueci isso. O motorista me ajuda e Kestrel o apresenta para mim como Mario. Quando estamos acomodados, ele me serve uma taça de champanhe. — Oh, agora eu entendi. — É mais divertido assim. O evento é no aquário de Charleston. Kestrel pede a Mario para nos dirigir um pouco para que possamos terminar nosso champanhe. A essa altura é depois das sete e ele nos deixa. Quando entramos na festa, eu imediatamente reconheço várias pessoas. — Carter, é tão bom finalmente ver você. Eu continuo ouvindo isso mais e mais, até que eu quero gritar. Kestrel é perfeito, no entanto. Eu o apresento e ele me afasta das pessoas como se soubesse que não quero falar com elas. Estou dura e inflexível; meu sorriso é de plástico. Kestrel se inclina e diz: — Relaxe. Eu não te trouxe aqui para que você pudesse odiar cada minuto. Quando olho para ele, a culpa me inunda. — Oh, me desculpe. É só que eu não vejo algumas dessas pessoas desde... 184

— Eu sei. Eu posso dizer. Então deixe-os ver Carter. E até onde ela chegou. Porque a Carter que vi nos últimos dois dias não é nada parecida com a mulher que estou vendo agora. — O que você quer dizer? — Que você se diverte. Você está bonita. Mostre a eles que você está com o cara novo na cidade e você está vivendo de novo. — Mas... — Eu tenho que derreter seus sapatos para provar isso para você? — O que você quer dizer? — Isto. E ele me agarra, me puxa para ele e me beija. Na frente de todos. Meus sapatos não se dissolvem exatamente, mas tudo o mais quase faz. — Meu Deus, Kestrel. O que você está fazendo? O canto de um dos lados da boca levanta e ele não diz uma palavra. Seus dedos seguram os meus e nos movemos através da sala, enquanto todos nos olham. — Meu rosto está vermelho? — Como uma rosa, anjo. Ah, e eu decidi que vou chamá-la assim, quer você goste ou não. Você vê, tem um significado especial para mim. — Oh? Qual?

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— Você terá que descobrir isso por si mesma. Agora sorria e deixe que todas essas pessoas maravilhosas vejam o quanto você está se divertindo, ou serei forçado a te beijar novamente. — Você não ousaria. — Oh, eu não faria? Eu sei muito bem que ele faria, e talvez queira que ele o faça. Talvez seja por isso que eu disse o que disse. — Eu não acho que você está a ponto de manchar sua reputação. — Oh, anjo, você não me conhece bem. Você vê que não dou a mínima para a minha reputação. Por outro lado, a sua é outro assunto. Estou desapontada quando ele só leva a mão aos lábios e beija meus dedos. — Aliás, sou a inveja de todos os homens daqui. Muito provavelmente porque eles te ignoraram todo esse tempo. E então ouço sua voz. — Carter. O que você está fazendo aqui? Eu me viro para ver Simon parado ali. — Olá, Simon. Simon, este é Kestrel Hart. Kestrel, este é Simon Forrester. Kestrel estende a mão e Simon sacode. — Um prazer, — diz Kestrel. — Bem? O que você está fazendo aqui? — O tom de Simon é rude e arrogante. 186

Os olhos de Kestrel se estreitam. Seu tom é cortado quando ele responde por mim: — Ela é minha namorada. Não que seja da sua conta. Os olhos de Simon se movem entre nós dois, como se ele não acreditasse que estou em um encontro com Kestrel. Então ele diz: — Ouvi dizer que você vendeu sua casa. — Sim, vendi. — Por que você não listou com a companhia do meu pai? Eu começo a responder, mas Kestrel interrompe. — Isso não é da sua conta. — É da minha conta. Kestrel gentilmente me move, então eu estou um pouco atrás dele e ele pisa entre nós. Então ele diz: — Como assim? Simon olha para Kestrel e diz: — Eu sou o pai de sua filha. — Eu estou ciente. Ainda assim, isso não lhe dá controle sobre sua propriedade. O rosto de Simon vira um tom manchado de púrpura. — Carter, vamos discutir isso mais tarde. — Então ele pisa fora. 187

Kestrel rapidamente me puxa para o lado e diz: — Espero não ter ultrapassado meus limites. Eu não gostei do jeito que ele estava te tratando. — Está bem. Simon é um idiota arrogante. Ele sempre foi. É por isso que meus pais me convenceram a não casar com ele. — Ele queria se casar com você? — Não exatamente. Eu queria casar com ele. — Ah. Entendo. — Eu achava que Ells precisava de um pai oficial. Meus pais estavam certos. Teria sido um desastre extremo. Eles viram através dele. Eu não vi porque eu era muito ingênua. — Talvez tenha sido porque você estava tentando fazer a coisa certa para sua filha. — Ele riu de mim quando eu sugeri isso. Foi humilhante o suficiente quando tive que dizer a ele que estava grávida, mas depois dei mais um passo e sugeri que nos casássemos. Oh Deus. Que idiota eu fui. Ele aperta o braço em volta de mim. — Eu sinto muito. — Ah não. Tudo bem agora. Tudo funcionou para o melhor. Exceto. — Exceto? 188

— Eu disse a você como ele ainda me culpa pela morte de Ells. É como sal em uma ferida. Eu acho que não seria tão ruim se eu não me culpasse também. — Isso tem que parar. Você não podia controlar o tempo. Ninguém pode fazer isso. Se você soubesse, nunca teria saído. Você não era uma mãe negligente. — Eu sei. — Agora que já conquistamos a atenção de todos aqui, vamos fazer mais algumas rondas? — Bem, eu suponho que é para isso que estamos aqui. Eu apresento Kestrel para todas as pessoas que conheço e ele se conecta com muitos por conta própria. Não é difícil. Ele faz uma figura impressionante e é polido e equilibrado em seus modos. Seu conhecimento de negócios transparece em suas habilidades de conversação e é fácil ver como o sucesso será iminente para sua empresa. Algumas horas depois, voltamos para a limusine e seguimos para a reserva do jantar. — Obrigado, — diz ele. — A sério? Você não precisa de mim. Você é muito habilidoso nisso. Isso é uma segunda natureza para você. — É verdade, mas você fez muito mais um prazer. — Então ele se inclina e me beija. É um beijo leve, apenas um rápido movimento dos meus lábios. Mas isso me

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deixa querendo mais. Muito mais. Minha mão procura a dele e acho que é quente e convidativo. Seu polegar esfrega um círculo por cima do meu. Jantar com Kestrel é uma experiência deliciosa. Ele tem um gosto requintado em vinho e comida. Suas escolhas são impecáveis. Meu pai ficaria impressionado. Sorrio ao me lembrar de como meu pai examinava a lista de vinhos para sempre, enquanto mamãe e eu ríamos dele. — O que colocou esse sorriso no seu rosto? — Seu gosto em vinho. Meu pai levaria uma eternidade para escolher e mamãe e eu riríamos dele. Você o teria impressionado com suas comidas e vinhos. — Bom saber. Eu gostaria de poder conhecê-lo. — Você navega? — Eu faço. — Então ele teria amado você. Ele era um ávido marinheiro. Ele estava em uma equipe de corrida e navegou por todo o mundo. Isso é o que me intrigou tanto com o furacão. Ele rastreava essas coisas como louco. Possuía todos os tipos de equipamentos na casa de praia. Eu nunca pensei que ele corresse um risco desnecessário. Mas foi uma tempestade incomum. — Diga-me o que aconteceu. Evidentemente, não me lembro. — Você não iria a menos que você vivesse. — E eu reconto o evento aterrorizante. — Ninguém antecipou a ligação com o outro sistema de tempestades. Isso meio que surgiu do nada. 190

— Então, mesmo com todo o equipamento, seu pai nunca poderia saber. — Eu sei. Era inevitável. O garçom volta com o nosso vinho. Então o nosso aperitivo segue. Nós conversamos sobre tudo. Kestrel me conta como aprendeu sobre vinhos, nos restaurantes do cassino de seu pai. E como achava que queria ser sommelier, mas não tinha tempo para investir nisso. — Vinho e vela. Você e meu pai. — Cruzo meus dois dedos e rio. — Você precisa conhecer o tio Foster. — Tio Foster? — Sim. Ele é o melhor amigo do meu pai desde que eram crianças. Você vai amá-lo. Na verdade, você vai encontrá-lo quando finalizarmos a venda da casa. Ele é o advogado responsável. Bem, ele não será, mas o escritório dele, então ele estará lá. — Oh, ótimo. Estou ansioso para isso. A propósito, você já pensou em meu irmão vendo a casa? — Sim e está bem. Eu gostaria de conhecê-lo. Você vai dizer a ele que você e eu somos... Ele sorri. — O que somos, Carter? — Uh, eu não sei. Se divertindo muito? — Estou feliz que você pense assim, porque eu certamente acho. 191

CAPÍTULO DEZ Kestrel

A limusine fica na frente da casa de Carter. Mario anda por aí e abre a porta. Saímos e ando com Carter até a porta. Ela destrava e se vira para mim. Antes que ela possa falar, tomo-a em meus braços e a beijo. — Obrigado por ser uma companhia tão maravilhosa. — Fique. Não vá. Isso está se movendo tão rápido, eu não tenho certeza se deveria. Mas eu quero. Eu quero sentir seu corpo nu sob o meu novamente. — Eu não quero lhe dar a impressão errada. — O que isso significa? — Isso significa que isso é tudo que sempre haverá. Eu não sou um cara com quem você quer estar, Carter. — Oh, e estou cheia de sol e felicidade. Nossa, de onde veio essa porcaria? — Você realmente não se vê da mesma maneira que os outros. Ela solta um suspiro e eu rio. Ela apenas me lembrou da minha cunhada. — Eu realmente não me importo como os outros me veem. Boa noite, Kestrel. — Ela se afasta de mim e espera que eu vá embora, mas eu não solto a mão dela.

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— Eu me importo como os outros veem você. — Sob a iluminação na varanda, eu posso ver suas características instantaneamente amolecer. — Não é que eu não queira. Nós provavelmente deveríamos levar as coisas um pouco. — Eu me inclino e beijo sua bochecha. — Boa noite, Anjo. A culpa me bate por fazer isso com ela. Mas eu não posso continuar dormindo e transando com ela se meus motivos não estão no lugar certo. Eu preciso examinálos mais de perto. Eu realmente nunca quis dormir com uma mulher mais do que algumas vezes. Carter é diferente. Ela não é como nenhuma mulher que eu já estive. Sua inocência é tão potente que posso sentir o cheiro. As outras mulheres com quem me envolvi eram mais como prostitutas de alto valor. Elas fizeram até me sentir sujo às vezes – e isso é dizer alguma coisa. Talvez se desacelerar um pouco as coisas, namorá-la e fazer as coisas da maneira certa, um de nós verá as coisas do jeito que elas deveriam ser vistas e nós podemos fazer isso funcionar ou seguir caminhos separados. Uma coisa que sei é que não posso machucá-la; eu não vou machucá-la. Ela passou por muito para eu fazer isso. E isso é estranho em si mesmo. Eu normalmente não dou a mínima para isso. De repente eu me tornei Mr. Sensível? Outra imagem mental de Gabby aparece na minha cabeça esfregando as palmas das mãos juntas. Cara, minha cunhada psiquiatra não gostaria de mergulhar em minha mente agora? Mario me deixa em casa e eu me arrasto para a cama. Eu não sabia que estava tão exausto até agora. Toda essa análise me deixou muito cansado.

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O telefone me acorda de manhã cedo. A vibração na mesa de cabeceira me alerta para o fato de que dormi como um morto e alguém perturbou meu estado de coma. Não se incomodando em verificar quem é, eu rosno, — Sim. — Uau. Alguém está bem mal-humorado esta manhã. — Droga. Desculpa. — Eu acordei você? — Sim. Eu devo ter apagado. — Então sou eu que sinto muito. Pensei com certeza que você estaria de pé. São nove e meia. — Que diabos? Eu nunca durmo até tão tarde. Ela ri. — Eu ia ver se você queria correr. Eu esfrego meu rosto. — Hum, me dê um segundo. — Você quer me ligar de volta? — Não. Quero falar com você. Vem aqui? — Sim. Certo.

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Nós desligamos. Estou tão grogue. Eu sinto como se estivesse drogado ontem à noite. Eu tenho trabalhado muito duro nas últimas semanas. Mas nove e meia, porra? Isso não acontecia há séculos. A próxima coisa que sei é que meu telefone está vibrando novamente. — Você caiu no sono? — Carter pergunta. — Caramba. Eu sinto muito. Você está aqui? — Uh, sim. Tem certeza disso? — Espere. Eu vou até a porta e deixo-a entrar. — Olá. — Então seus olhos saltam para fora. — Uh... — ela faz um movimento de sobe e desce com o dedo. — Jesus. — Eu estou nu. Eu corro minha mão pelo meu cabelo e digo: — Venha conversar comigo enquanto faço o meu melhor para acordar. Eu não sei por que estou tão grogue. — Você está se sentindo bem? — Eu acho que sim. Paro no banheiro para mijar e depois escovo os dentes. Minha garganta está dolorida e minha cabeça lateja. Ela está sentada na cama quando eu chego lá. — Nós bebemos muito na noite passada? — Não, — diz ela. 195

— Minha cabeça e garganta doem. — Talvez você esteja com gripe. — Não, eu nunca adoeço. Ela passa a mão sobre a minha cabeça e depois coloca na minha testa. — Você está queimando, Kestrel. — Mmm. — Você tem um termômetro? — Não sei. Talvez no banheiro em algum lugar. — Se importa se eu olhar? — Huh uh. Ela se vira e beija minha bochecha, então me diz que estará de volta. Eu devo ter cochilado porque a próxima coisa que sei, ela está enfiando um termômetro na minha boca. — Você tem febre de trinta e nove graus. Aqui, engula isso. — Ela me entrega comprimidos. — Você pode precisar ir ao médico. Uma dessas clínicas minúsculas ou algo assim. Se você está gripado, precisa de algum medicamento antiviral imediatamente. — Sim? Eu não estou gripado. — Kestrel, qualquer um pode pegar gripe. E já é a temporada de gripe. — Porra. 196

— Você tem alguma dor no corpo? — Apenas músculos doloridos. Mas eu trabalhei no outro dia. — Sim. Coloque algumas roupas. Eu estou levando você ao médico. Ela manda em mim até que minhas objeções sejam completamente ignoradas. Eu desisto e faço o que ela diz. Nós vamos ao médico e eles confirmam suas suspeitas. Eu testei positivo para a gripe. Depois que saímos de lá, seguimos para a farmácia e recebemos minhas receitas. Por esta altura, a tosse se instalou. — Eu não sabia que poderia progredir tão rápido. Meu peito já está doendo. — Sim, e isso iria piorar até você achar que estava morrendo. — Obrigado, doutora. — Casa e cama para você. Estou de volta na cama antes que eu perceba e ela até me prepara uma sopa de galinha caseira. No meio da tarde, sinto que um trem de carga me atingiu. Essa porra é uma merda; tremendo um minuto, queimando o seguinte. Minha cabeça está explodindo e meus pulmões estão em chamas. Ela me verifica e pergunta: — Precisa de alguma coisa? — Um novo corpo. — Não você não precisa. O seu é perfeito. Sua mão fria acaricia minha bochecha quente. Eu alcanço e digo: 197

— Obrigado, anjo. — De nada. — Esta é apenas mais uma razão pela qual eu escolhi esse apelido para você. Você brilha, você é tão boa. — E ela faz. No meu estado de indução de febre, vejo o sol da tarde atravessando as venezianas, criando uma luminescência sobre ela. Ele a envolve como um halo gigante. Eu murmuro: — Você até tem uma auréola. — Kestrel, você é um maluco. Eu capturei a mão dela e a beijei. — Sobre muitas coisas, mas não isso. Minha boca está seca pela febre, então eu lambo meus lábios. Eu sussurro as palavras, não pretendendo que ela as ouça. — Eu quero estar dentro de você agora, mas duvido que valha a pena. Você é a única mulher que eu alguma quis mais do que algumas vezes. Você realmente deveria fugir de mim, como o grande lobo mau.

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O quarto é banhado na escuridão quando acordo. O que está acontecendo? Chegamos em casa do médico e tirei uma soneca. Eu dormi a tarde toda até a noite? Vou ao banheiro e, enquanto estou acordado, vou à geladeira e pego um pouco de suco de laranja. A sede me domina. 198

Porra! Carter! Ela esteve aqui a maior parte do dia. Espero que ela tenha chegado em casa bem. Porra, eu estava fora disso. Volto para a cama e as cobertas se agitam. — Você está bem? — Porra! — O que há de errado? — Carter pergunta. — Nada. Você me assustou. Eu não sabia que você estava aqui. Eu devo ter saído da minha cabeça hoje. — A gripe vai fazer isso. E todo o remédio que você tomou para a sua tosse. — Cristo. — Meu coração ressoa; quase posso ouvi-lo. Ela corre para perto de mim e sente minha testa. — Sua febre se foi. Graças a Deus. — Sim, mas agora eu tenho um problema no coração. Ela ri. Sua mão pousa automaticamente no meu peito e começa a esfregar um padrão circular ali. — Por que você me disse para fugir de você? — Eu te falei isso? — Uh Huh. Você disse para correr como se fosse o lobo mau. — Hã. Bem, talvez porque sou. — Você não espera que acredite nisso, não é? 199

— Oh, anjo, não importa o que eu espero que você acredite. O que importa é a verdade. — Eu acredito que vou ter que decidir sobre isso. Ela começa a brincar com meus dedos, correndo as pontas dos dedos para cima e para baixo, como se fossem algumas coisas preciosas que ela reverencia. Por sua vez, faço o mesmo com ela. Seus dedos são longos e esguios. Os ossos são coisas delicadas, sentimentos tão frágeis para mim. — Justo. Mas quando chegar a hora, não diga que você não foi avisada. — Aviso aceito. Rolando para o meu lado, eu a puxo contra mim e caio de volta para dormir. Quando a manhã chega, é caótico. Meu alarme dispara e eu pulo, extremamente desorientado. Carter segue o exemplo. Então nós discutimos. — Se você for trabalhar hoje, vai contaminar todos em seu escritório. Você não pode fazer isso. Isso é irresponsável de você. — Vou usar luvas e uma máscara. Nós fazemos isso quinze minutos, quando ela joga os braços para o alto, me chama de idiota teimoso e tolo, e depois culpa cada epidemia de vírus transmissível em idiotas como eu. Finalmente ela sai, me deixando muito triste, e todo bobo. Eu ligo para ela imediatamente. — Você está certa. Eu ficarei em casa. — E a imagino sorrindo.

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— Obrigada. — Então eu ouço a porta se abrindo e ela está de pé lá. — Agora, de volta na cama e eu trarei para você tudo que você precisa para o dia. Tenho algumas coisas que tenho que fazer, mas voltarei para cuidar de você. — Você não precisa fazer isso. — Eu sei. Mas se eu não fizer isso, você vai trabalhar como um idiota demente o dia todo, não descansar, e então recair. Isso não vai fazer nada. Ela me traz meu laptop, carregador e cabo, carregador de telefone e certificase de que estão todos conectados. Então ela vai buscar meu café da manhã. Logo, ela está carregando uma bandeja cheia de café, água, suco, torrada e frutas. — Obrigado, — eu digo a ela enquanto ela carrega. — Ok, isso deve segurar você até eu voltar. Depois que ela coloca tudo para baixo, eu pego sua mão e digo: — Anjo, você não precisa voltar. Sou um homem adulto e posso cuidar das coisas daqui. — Eu sei. Mas eu quero. — Não. Vá trabalhar. Se eu precisar de você, ligarei. Ela mastiga o lábio por um minuto, pensando. — OK. Mas venho para o almoço. — Você entendeu. — Não esqueça o seu remédio. 201

— Sim mãe. Ela mostra a língua para mim e vai. O lugar parece tão vazio sem ela. Mas tenho muito o que fazer para entrar no local de trabalho e seguir em frente. Minha primeira tarefa é deixar todo mundo saber que tenho gripe. Todos me agradecem por ficar em casa. Eu pego meu telefone e ligo para Kolson. — Ei. Estou gripado. — Merda. Isso não é bom. Você quer que eu adie? — Você decide. Jack já está aqui. Estou melhor hoje. Fui ao médico ontem e tenho todo o tipo de porcaria para tomar. Eu estou trabalhando em casa hoje. Talvez até amanhã. Você pode ter que vir aqui. Não quero contaminar o escritório. — Certo. Talvez eu vá na quarta-feira. — Kol, isso pode funcionar melhor. — Ok, vou alterar a minha viagem. Até quarta-feira. Acalme-se hoje. Vou ligar para Jack e avisá-lo. Podemos ter uma videoconferência amanhã. — Parece bom. Meu e-mail está lotado. Shayla está no telefone comigo por mais de duas horas, me informando tudo. Jack e eu conversamos por mais uma hora e meia e eu olho para cima para ver Carter parada ali com os braços cruzados. — Você deveria descansar. — Desculpa. A manhã voou. 202

Ela anda até mim, fecha meu computador, pega meu telefone e me diz para ir ao banheiro enquanto ela ajeita a comida. Quando estou de volta, o almoço está pronto. Depois que termino, ela me faz descansar e rapidamente durmo. Está escuro no quarto quando acordo. Verifico o relógio e vejo que são seis horas da noite. Minha casa está quieta, então eu suponho que Carter não retornou. Eu me levanto e entro no chuveiro. Estou me sentindo um pouco melhor assim que entro na cozinha e estou enchendo um copo de água gelada quando Carter entra. Mais uma vez, não estou usando uma peça de roupa. — Você faz disso um hábito? Eu sacudo minha cabeça. — Sim, eu ando nu o tempo todo. Eu realmente faço. Quando você mora sozinho, é algo que você não pensa. — Kestrel, eu moro sozinha e não ando nua. — Bem, você deveria. Você parece uma deusa nua, Carter. Sua boca está aberta. — Desculpe, anjo, é a verdade. Eu me viro e a encaro. — Acha que o meu pau ficaria duro só de pensar em você se você não o fosse? Seus olhos percorrem meu corpo, mas descem a minha pergunta. Ela sacode a cabeça. — Não, acho que não. 203

— Possua-o. É seu. — Volto para o quarto. Quando passo por ela, ela diz: — Você me desconcerta. — Eu? Por quê? — As coisas que você diz. — Não se preocupe. Também estou confuso. Estou tentando descobrir isso. — O que isso deveria significar? — Nada. Não se preocupe com isso, — eu digo. — Não. Eu quero saber. — OK. Eu não sei o que está acontecendo entre nós. — Bom, porque eu também não. — Justo o suficiente. — E começo a me mover novamente. — Só isso? — Carter, o que mais você quer que eu diga? — Eu estendo minhas mãos para fora. Ela encolhe os ombros. — Eu não sei. Alguma coisa. Como talvez possamos tentar descobrir isso. Suspirando, eu digo: — A última coisa que você quer fazer é me entender. 204

— Eu não entendo. — Eu sei. E você não quer. Eu quis dizer o que eu disse sobre o lobo mau. Eu sou ele. Então ela faz o que eu esperava que ela não fizesse. Ela anda até mim, coloca os braços em volta do meu pescoço e diz: — Sim, bem, até agora, eu não vi nada desse lobo mau. Mas o que tenho visto me faz querer mais. Ela se move para me beijar, mas eu a paro. — Eu expus você a todos os tipos de contaminantes. Não vou beijar você e piorar ainda mais. — É tarde demais para isso, você sabe. Eu estive cercada pelo vírus. Eu seguro sua bochecha e digo: — Eu sei e me desculpe. Se eu soubesse que você estava andando em um covil infestado de vírus, eu não teria permitido isso. Mas não vamos nos arriscar com o beijo ainda. — OK. — Você me disse para não fazer você se apaixonar por mim. Prometa-me que você não vai, — digo. — Eu prometo. — Eu preciso te perguntar uma coisa. Por que uma garota como você está bem só com sexo? 205

— Porque você me faz sentir viva novamente. Até conhecer você, não me sentia assim há mais de quatro anos. Então apenas sexo está bem comigo, Kestrel Hart. Seus olhos fantasmagóricos olham de volta para mim, e eu procuro em suas profundezas pela verdade, mas ela não se mexe em nada. Ela fala do coração – ou pelo menos é a minha maior esperança que é o que ela está fazendo. Ela pega minha mão e me leva de volta para a cama.

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CAPÍTULO ONZE Carter

Kestrel me enerva. Quando o coloco na cama, trago-lhe mais canja de galinha. Enquanto estou de pé, sua mão se fecha ao redor do meu pulso. — Obrigado. Se eu não te contei, eu agradeço muito você. Você não precisa fazer isso. — Eu quero. Além disso, quem mais vai lhe trazer sopa caseira? Seus olhos de esmeralda me congelam. Mesmo tão doente, cabelo todo desgrenhado, ele ainda é sublime sexy. — Não olhe para mim assim, — eu digo. Minha barriga aperta e a necessidade de apertar minhas coxas é quase esmagadora. Suas pálpebras caem e as pestanas cobertas de fuligem enchem o alto das maçãs do rosto como as franjas de uma samambaia. Ele não liberou meu pulso, mas ele começa a comer. Entre mordidas, ele diz: — Sente-se comigo, por favor. Uma coisa que notei sobre o Kestrel são suas maneiras. Elas são impecáveis. Ele é todo o cavalheiro e conhece a etiqueta como apenas alguém que foi treinado desde cedo. Como eu sei disso? Eu fui criada do mesmo jeito, então é fácil para mim reconhecer isso. Sento-me ao lado dele na cama. — Você não vai comer? — Ele pergunta. 207

Rindo, eu respondo: — Eu ia, mas você está segurando meu braço. Ele para e olha. — Oh, peço desculpas. — Ele me libera. — Está bem. — Vá e pegue sua comida. Eu vou esperar. Perdoe meu lapso de boas maneiras. Eu faço o que ele pede e retorno com a minha própria bandeja. Puxando uma cadeira ao lado da cama, começo a comer. — Você é uma ótima cozinheira, Carter. — Obrigada. — Quem é que te ensinou? — Minha mãe, principalmente. E então eu peguei algumas coisas da TV. Nós conversamos sobre culinária. Ele aparentemente não pode ferver água. — Eu posso te ensinar, se você quiser. — O quê? Cozinhando com Carter? Nós rimos um pouco. As maçãs de suas bochechas estão vermelhas e lhe pergunto como está se sentindo. Ele encolhe os ombros. — Talvez você se sinta melhor amanhã. — Acredito que sim. Esta é uma semana agitada para a HTS, — diz. 208

Depois que terminamos, eu recolho nossas bandejas e as removo. Quando volto, ele está cochilando. Eu trago-lhe o remédio. — Kestrel, aqui está o seu remédio e depois vou embora. — Não vá. Fique comigo. — Você está ficando... — Por favor, Carter. Sua voz assumiu um tom diferente. Ele está me implorando. É como se ele não quisesse ficar sozinho. — Sim. Certo. Deixe-me correr para casa e pegar minhas coisas de trabalho para amanhã. Voltarei em meia hora. Ele estende o braço e eu pego. Então ele levanta minha mão para sua boca e beija minha palma. Mas ele não a libera imediatamente. Ele enrola por um momento e mantém perto de seu coração. É um gesto curiosamente íntimo. — Obrigado. Devo-lhe. — Não você não faz. Vamos apenas dizer que é parte do nosso acordo. Seus olhos de repente escurecem, como o mar durante uma tempestade. — Carter, você está me fodendo por causa deste negócio entre nós? Seria mentira se eu dissesse sim. O negócio não entrou em minha mente até agora. Não sei por que hesito antes de responder, mas sei.

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— Deixa pra lá. Seu silêncio é a resposta que eu preciso. Não se incomode em voltar. Seu tom é gelado e isso me irrita. — Você não tem ideia do que ia dizer. — O simples fato de você ter que pensar nisso me dá uma ideia. — Por que você tem tanta certeza disso? A verdade é que nosso acordo estúpido não passou pela minha cabeça em dias, — eu bufo. — Nosso negócio estúpido? É isso que você pensa que é? Porque se bem me lembro, foi tudo ideia sua. Podemos parar a qualquer momento. — Não! Por favor, não faça isso. — Eu odeio o jeito que ele me tem sobre o barril, implorando. — Apenas vá. — Eu volto em meia hora. — Você não precisa. Eu vou ficar bem. Eu o vejo enquanto ele esfrega os braços. Ele é muito agitado. E não tenho certeza de como lidar com isso. Decidir um pouco de tempo para nós mesmos não é uma má ideia, saio correndo dali e vou para casa. Leva apenas alguns minutos para juntar minhas coisas. Assim como eu, a culpa me inunda. Por que eu não respondi imediatamente a ele? Eu queria fazê-lo se sentir culpado? Eu odeio jogos, então por que estou fazendo essa porra?

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Menos de vinte minutos se passaram em que eu voltei para a garagem dele. Sua porta está trancada, então eu bato, mas ele não responde. Quando eu ligo, ele responde. — Ei. — Sua porta está trancada. — Eu sei. — Você não vai me deixar entrar? — Eu devo? Suspirando, eu digo: — Eu odeio jogos, Kestrel. — Assim como eu. — Então abra sua porta agora, ou está acabado entre nós, acordo ou não. Eu só vou ter que aprender a viver sem o quarto de Ells. E talvez seja uma coisa boa para mim. Quem diabos sabe? Alguns segundos depois, ouço o clique da fechadura e a porta se abre. Ele está de pé lá, nu. Quero lambê-lo. Então ele se vira e volta para o quarto. Aquele homem tem uma bunda poderosa. — Pare de olhar para a minha bunda, — diz ele por cima do ombro. — Porque eu faria isso? Se você quisesse que eu parasse de olhar, você teria colocado algumas roupas. 211

Eu o sigo em seu quarto e despejo minhas coisas na cadeira enorme no canto. Depois que coloco meu pijama preferido da Hello Kitty, começo a subir na cama. — Não. Huh. Você não está dormindo com isso. — Por que não? Eu amo estes. — Um, eles são ridículos. Você deveria estar em seda. Dois, eles são grossos. Três, quero você nua para sentir sua pele contra a minha. — OK. Um, você está doente então sem sexo hoje à noite. Dois, posso decidir o que vestir para dormir. Três, a seda é cara e não posso pagar. — Então, um, não estou muito doente para fazer sexo, mas quem disse alguma coisa sobre sexo? Dois, eu vou te comprar seda. Três, você pode decidir. Eu vou comprar uma variedade de coisas para você escolher. — Você é insuportável. — Não, eu sou um idiota. — Isso também. Agora, por que você fez isso quando voltei? Ele se vira para mim. — Carter, eu estou tentando salvar você de mim. — Você está sendo um idiota. — Olhe para mim. Eu pareço com o seu cara normal? Eu tenho mais tinta do que a loja de tatuagem local. A única coisa que não perfurei é o meu pau, mas farei isso se você quiser. 212

Que porra é essa? Piercing no pau? — Do que você está falando? — Estou dizendo para você dar uma boa olhada em mim. Eu sou alguém que você traria para casa para o tio Foster? Sim, em um terno, estou bem porque toda a minha tinta está coberta, mas e se o tio Foster quisesse nos levar para velejar? Hã? Você já pensou nisso? Ele tem razão. Ele está totalmente fora da grade de alguém que eu levaria para casa para mamãe e papai. Mas, novamente, por que eu deveria me importar com o que todo mundo pensa? — Ok, então você não parece com ninguém que eu já namorei, mas sabe de uma coisa? Eu não costumo namorar. — Carter, eu não tenho cinquenta tons de fodido, eu sou um milhão de tons disso. — Talvez se você explicasse isso para mim, eu entenderia um pouco mais. — Você já sabe parte disso. Que meu pai era um monstro. Ele fez coisas para meus irmãos e para mim – coisas que você não pode imaginar. Não é algo que escolho dizer às pessoas. — Jesus, Kestrel. — Amém para isso. Agora tire esse pijama horroroso. Eu faço o que ele pede, mas só porque quero. Quando estou nua, sinto-me tímida quando seus olhos me percorrem. 213

— Não. Como eu disse anteriormente. Você é uma deusa quando está nua. Se você tivesse as roupas certas, seria vestida também. Logo vou resolver isso também. É impossível para mim sentir orgulho do meu corpo nu. Só estive com dois homens. Nunca me vi completamente nua. Foi uma noite só na faculdade. Parece que sou famosa por isso. O único homem que me viu nua foi Simon, e ele me disse que eu parecia um menino. Esse tipo de coisa fica com você para sempre. — Venha até aqui. — Ele se move para o lado da cama. Quando eu chego lá, ele me puxa, então estou sentada em cima dele. — Nós não vamos fazer sexo hoje à noite. Só para você saber. Ele ri baixinho. — Oh, Carter. Você realmente não me conhece de jeito nenhum. — Você teria uma chance de passar a gripe para mim? — Você já foi exposta. Você sabe disso. E se estivesse tão preocupada com isso, não estaria dormindo comigo. Além disso, podemos fazer coisas que não envolvem beijos. Se bem me lembro, você gostou muito quando eu te peguei por trás, não é? — Não há nada sagrado para você? — Não quando se trata do seu prazer. — Eu posso ver isso. Hoje à noite, suas tatuagens me fascinam. Talvez seja porque ele as criou. Meus dedos começam a rastreá-las. Elas estão em toda parte, mas cobrem um braço inteiro. O outro braço tem um grande número delas, e são todas lindas. 214

Algumas são apenas esboços de tinta preta, mas outras são coloridas. Seu torso tem uma multidão delas, assim como suas costas. Mas há várias em seus quadris que chamam minha atenção. Uma é uma gaiola com barras quebradas e a luz do sol brilhando. Há um monte de escrita em seu abdômen inferior. — Isso é latim? — Sim. Este aqui diz: “Auri sacra fames”. — A citação de Virgil sobre a fome amaldiçoada de ouro. — Quando eu fiz aquela tatuagem, a intenção era mais a fome amaldiçoada do meu pai por ouro. Ele era um cretino tão ganancioso. Foi uma das primeiras que fiz e ele ficou furioso comigo. Foi isso que começou tudo. — Então, o que está logo acima? — Eu pergunto. Seu peito ronca. — Ele estava realmente chateado comigo por isso. Seneca disse ‘Si vis amari ama’. Sua tradução é: Se você deseja ser amado, ame. — Parece que seu pai era um homem duro. Ele faz um som de asfixia. — Algo parecido. Eu desprezei meu pai. Todos nós três fizemos. — Eu sinto muito. — Eu também sinto. Meus dedos seguem suas tatuagens mais e então eu pergunto: — Quantos piercings? 215

— Orelhas, nariz, sobrancelhas, ambos os mamilos. Eu tirei todos eles quando me mudei para cá. — Eu notei os buracos em seus ouvidos, mas não o resto. Você estava se punindo? Ele ri. — Não. Eu estava me rebelando contra meu pai. Eu gostava deles. — Até os mamilos? — Especialmente os mamilos. — Sua voz é rouca quando ele responde. Mais uma vez, a necessidade de apertar minhas coxas é esmagadora. — Hmm. Você pode colocá-los de volta? — Sim. — Por que você não faz? — Por qualquer motivo, estou muito curiosa sobre esses piercings nos mamilos. Ele estreita os olhos. — Você quer dizer que a primorosa e adequada Dra. Drayton tem um lado selvagem nela? — Talvez. E essa coisa de piercing? — Você realmente está intrigada, não é? — Suponho que estou. — Aparentemente, pelo que ouvi, piercings dão prazer a ambos os parceiros. 216

— Interessante. — Não parece tão clínico quando você diz isso. — Desculpa. Eu estava tentando imaginar isso. A vibração do seu telefone nos interrompe. — Hart. Ele conversa por alguns minutos e termina a ligação. — Era Anne Crosby, a corretora de imóveis. A inspeção e avaliações estão prontas, ela vai definir a data de encerramento. Seu tio vai lidar com isso? — Sua firma vai. A propriedade não é dele, mas alguém da firma que faz esse tipo de lei vai. — Quanto tempo depois do encerramento você pode sair? Uau. Tudo me bate na cara. Está realmente acontecendo. Minha casa – a única casa que eu já conheci está sendo arrancada de mim. Lágrimas enchem meus olhos e minhas mãos cobrem minha boca enquanto mordo meus lábios para conter o soluço que ameaça sair. Eu me afasto porque não quero que ele veja como eu sou fraca. Eu me sinto tão exposta, tão vulnerável agora. E por que diabos eu não deveria? Eu estou sentada em seu colo, nua, pelo amor de Deus, falando sobre paus furados! O que no mundo está errado comigo? — Isso foi terrivelmente insensível da minha parte. Sinto muito. Saltando para os meus pés, digo em voz abafada: — Está tudo bem, — enquanto passo minha mão pelo rosto. Eu estou do outro lado da cama antes que 217

perceba, pegando meu pijama da Hello Kitty e colocando-o quando sinto seus braços em volta de mim. — Volte para a cama. — Sua respiração é quente no meu pescoço e ele me puxa apertado contra o peito. — Eu não sonhei com ela. Eu não sonhei com Ells desde que te conheci. Ela costumava vir para mim e me dizer para não me preocupar mais com ela, porque estava segura e feliz. E ela não vem há um tempo agora. Ele me vira e me segura contra seu peito. — Shhh. Está tudo bem. — Ele dá um tapinha na minha cabeça, me consolando enquanto choro. Estou uma bagunça. E sou a única que deveria estar cuidando dele. — Isso já está acontecendo, não é? — O quê? — Ela está indo embora. Deixando-me para sempre. Eu sabia que isso poderia acontecer. Estou perdendo ela. — Anjo, você a perdeu há quatro anos. — Sim, mas eu segurei. Eu segurei a memória dela. — Você sempre terá sua memória. Você não pode perder isso — sua voz e suas mãos me acalmam. — Então por que ela não vem a mim em meus sonhos mais? — Minha voz falha quando faço a pergunta. — Talvez ela saiba que você está seguindo em frente, como deveria. 218

Um profundo sentimento de tristeza me envolve quando me inclino para ele. Ele nos leva de volta para a cama e não protesto, mas o sigo como uma criança cega. Ele me puxa contra ele e apaga as luzes. Eu não sei, nem me importo, que horas são. Seu coração bate firme contra o meu ouvido enquanto eu deixo meus pensamentos se voltarem para Ells. Eventualmente, durmo, mas os sonhos da minha preciosa filha me evadem mais uma vez. No meio da noite eu sou acordada por alguma coisa. Não tenho certeza do que é, me deito lá e ouço. Então ouço novamente. É Kestrel gemendo. Meu primeiro pensamento é que sua febre voltou. Empurrando-me no meu cotovelo, estico minha mão e toco sua testa. Ele se afasta de mim e grita. Isso me assusta muito, eu grito em resposta. — Não me toque! — Ele grita. Está tão escuro que não consigo ver o rosto dele. — Eu sinto muito. Achei que sua febre voltou. — Não! Não! Está tão escuro. Não me deixe. — O quê? — Estou confusa. — Não! Me deixe ir! Suas mãos arranham seu pescoço e é só então que percebo que ele está sonhando. — Kestrel, acorde. Você está sonhando. Kestrel! — Eu o sacudo e ele grita antes de acordar. 219

Ele se senta, agarra o cabelo e depois geme. — Você está bem? — Eu pergunto. Ele toma algumas respirações longas antes de dizer: — Sim. Foi apenas um sonho ruim. — Demorei um pouco para descobrir isso, mas fiz. — Eu estendo minha mão e ele pega. Quando ele se deita, percebo que ele está transpirando. — Tem certeza de que você está bem? Ele esfrega o rosto e diz que sim. Então tira as cobertas. Ainda preocupada que a febre tenha voltado, saio da cama e procuro o termômetro. Quando o encontro, coloco na boca dele. Depois de apitar, fico feliz em ver que é normal. — É só o pesadelo, anjo, que me fez suar. Acontece muito. — Eu sei disso agora. Eu só queria ter certeza. Você quer que eu ligue o ventilador? — Não, eu vou ficar bem. — Quer me contar sobre isso? — Porra, não. Alcançando sua mão, começo a falar. — Depois que Ells e meus pais morreram, sonhava que eles estavam sendo sugados por aquela onda gigante e eu estava a um passo deles, mas não conseguia alcançá-los. Eu possuía todos os tipos de equipamentos ao meu lado, como corda e boias, mas nada funcionava. Toda vez que jogava algo eles não percebiam, ou era 220

muito curto. E toda vez que sonhava, assistia eles se afogarem. Foi terrível. Sonhei isso por meses e meses. — Cristo. Isso foi tortura. — Eu sei. Então comecei a terapia. Participei desta sessão de grupo para mães que perderam filhos. Depois que comecei a falar sobre isso, parei de sonhar. Era estranho como tudo terminava tão abruptamente. Talvez se você falasse sobre a sua, ajudaria. — Você parece minha psiquiatra. — Ah, entendo. Já esteve lá, fez isso, né? — Sim. Anjo, você não acreditaria onde estive e o que fiz. — Oh, eu não sei. Talvez um dia você confie em mim o suficiente para descobrir. — Eu confio em você. — Não, Kestrel. Você não faz. Eu não acho que você confia em ninguém. Mas está tudo bem. Não tenho certeza se teria contado toda essa porcaria sobre mim se a situação tivesse sido diferente. E para o registro, não se sinta mal em comprar a casa. Eu prefiro ser você do que qualquer outra pessoa. — Você diz isso agora. E se acabarmos odiando um ao outro? — É a vida, querido. Você nunca sabe o que o futuro reserva, não é? — Então, leve isso para o que vale a pena. Estou feliz que nos conhecemos, Carter. 221

— Eu também estou.

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CAPÍTULO DOZE Kestrel

Ficar doente não é para mariquinhas. Essa gripe me acertou. Para alguém que nunca adoece, ficar desanimado por três dias é ridículo. Agora é quarta-feira e Kolson está a caminho daqui. Temos muito trabalho a fazer e ainda me sinto doente. Ele fica até o final de semana e espero que até amanhã eu esteja em pé e por perto. O dia acelera e ele não está muito feliz. Por volta das duas, ele decide decolar e ir ao escritório. — Talvez eu consiga algumas coisas concretas. Sua cabeça está nas nuvens, — diz ele. — Me desculpe, cara. Eu estou fora disso. Este remédio para tosse me dopou tanto que minha cabeça está girando. — Sim, vá para a cama, cara. Você está uma bagunça. Assim que ele sai pela porta, minha bunda bate na cama e estou fora. Como se alguém tivesse desligado a luz. Eu nem sequer ouvi Carter me checar. Eu não acordo até a manhã seguinte. Ela passou a noite e disse que me deu meu remédio e que eu mesmo tomei. Não me lembro de nada. A boa notícia é que estou me sentindo muito melhor. — Não faça mais ou você estará de volta onde você estava com uma recaída. — Conte-me disso. Ficar doente é uma droga. 223

— Eu sei. Então você vai hoje? — Sim. Eu tenho que ir. — Aqui está a coisa. Não mais que oito horas, ou eu estou vindo te pegar. Estamos claros aqui? — Você é sempre tão mandona? — Só quando você está doente. Eu não estou brincando, Kestrel. Eu vou sair e arrastar sua bunda para fora de lá. — Eu ouço você, alto e claro. — Convide-os para a minha casa para jantar esta noite. Eles também podem ver a casa. — Você tem certeza? — Sim. Mas o que você vai dizer a eles sobre nós? — Que estamos namorando, é claro. O que mais eu diria a eles? — Não tenho certeza. Que eu propus a você e que sou uma nerd de primeira classe. E você estava totalmente desanimado por mim. — Sim, bem, isso foi antes de te ver nua. E te beijar. — Então a agarro, acaricio seu pescoço e digo: — E te foder. Ela me dá uma cotovelada nas costelas. — Eu preciso tomar um banho. — Ei, eu também. Que coincidência. 224

— Você é uma bagunça. — A pior que existe. Tomamos um banho, embora não tenhamos tempo para fazer o que realmente queria. E lá vamos nós para o trabalho. Quando conto a Kolson sobre o jantar na Carter, as sobrancelhas dele se erguem. — Estamos meio que namorando, — eu explico. — Meio? Ou você está ou não está. — Então eu acho que estamos. — E você está comprando a casa dela. Isso não é um conflito de interesses? — Nós não vemos assim. Ela precisa vender e eu quero comprá-la. — E se vocês acabarem se odiando? — Nós discutimos isso. Ainda não muda o fato de que ela precisa vender. Ele acena com a mão. — É o seu negócio. Você terá que administrar uma ex-namorada vingativa. — Vingativa? Uau. Isso é um pouco severo. — Bom, se isso não funcionar, não me diga que eu não avisei. — Bom. Então continuemos aqui. — Jack estará aqui em dez. Vamos esperar por ele. Nós conversamos sobre nossa mãe e sua esposa até que Jack entra. Então são bolas para as pastas. No momento em que a hora do almoço chega, estou 225

começando a me arrastar. Eles saem e fico para uma soneca. Eles me trazem algo na volta. Eu tive meu cochilo revigorante, enquanto eles falam sobre quais são os nossos próximos passos. Os contratos já estão pendentes para várias empresas, ainda que menores. Mas Kolson está enviando dois potenciais para este escritório como representantes de vendas. Eu falo sobre os contatos que fiz na festa que fui com Carter. Temos reuniões em duas semanas com empresas em Charlotte. Jack vai atender as pessoas comigo. Isso nos aproxima do Dia de Ação de Graças. — Parece que o fechamento da casa também está no horário. O corretor de imóveis ligou ontem à noite. Talvez um mês depois. Kolson diz: — Então, todos nós vamos estar comemorando as férias em Charleston, hein? — Sim talvez. A propósito, o jantar desta noite é às sete. — Dou a ambos o endereço para que eles digam aos motoristas. Então voltamos a trabalhar no acesso aos Carolina Panthers. Estamos elaborando nossas propostas para negócios quando ouço uma alta comoção fora do meu escritório. Eu olho para cima a tempo de ver a porta aberta e Shayla discutindo com alguém. Inicialmente não consigo ver quem é, mas depois ouço a voz dela. Olho para o meu relógio e balanço a cabeça. Kolson e Jack me dão um olhar. — O que é isso tudo? — Está tudo bem, Shayla. Deixe-a entrar.

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Carter entra e fica parada, com as mãos na cintura, o cabelo todo para o lado, mas para direita e aponta para mim. — Você deveria trabalhar por oito horas. Essas foram as suas ordens. Kolson olha para mim com uma sobrancelha erguida e sei que vou ter de explicar isso. — Desculpe, anjo, eu perdi a noção do tempo. — Você está doente. — Estou bem. Venha aqui e conheça meu irmão e seu braço direito. Ela atravessa o escritório e, quando chega perto de mim, agarro-a pela cintura e prendo-a no meu colo. — Senhores, gostaria que conhecessem a mulher mais brilhante do mundo, a Dra. Carter Drayton, que provavelmente será o motivo por trás da cura do câncer. Carter, este é meu irmão Kolson e seu assistente Jack McCutcheon. — É um prazer, — diz Carter, enquanto se contorce um pouco. — O mesmo. Cura de câncer, hein? – pergunta Kolson. — Bem, isso é uma explicação simplificada da minha pesquisa, mas sim. Pelo menos é para isso que estou trabalhando. Eles perguntam sobre o que ela faz e depois de elucidar, é fácil ver como eles estão impressionados. Kolson começa a bombardeá-la com todo o tipo de perguntas por que ela despertou seu interesse e ela responde algumas. Mas então ela o

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interrompe. Eu rio comigo mesmo porque ninguém faz isso com meu irmão. Bem, ninguém, exceto sua esposa e eu. — Eu não estou tentando ser rude, mas seu irmão tem estado muito doente e ele precisa descansar. Nos vemos hoje à noite na casa para o jantar. Sete e meia. Muito casual. Espero que gostem de frutos do mar. — Ela sorri e eles devolvem. Se levanta e estende a mão. Ela torna impossível que eu a recuse. — Vejo vocês dois esta noite, — digo, enquanto a sigo como um cachorrinho para fora da porta. Kolson me lança um olhar que me permite saber que estou pronto para uma série de explicações depois. Quando saímos, digo: — Bem, essa foi uma boa estratégia de saída. — Eu te avisei, então não vou me desculpar. Agora entre no carro. — Porra, você é mandona. — Só quando preciso ser. Ela está muito quieta enquanto dirijo para casa. Sua testa está franzida e ela está branca no volante. — Você vai me dizer o que está te incomodando? Ou você está com raiva de mim por não sair quando eu disse que iria? — Isso também. Mas seu irmão olhou para mim como se eu fosse de Marte. Você não contou a ele sobre nós, não foi? 228

— Na verdade, contei. Sua cabeça chicoteia para a direita. — Olhe a estrada, anjo. Ela se vira para olhar a interestadual. — Então por que ele olhou para mim como se eu fosse um alienígena? — Porque você é para ele. Ouça, eu não costumo namorar mulheres. — Então rio. Eu apenas me fiz soar gay, o que eu não sou. — Talvez eu deva reformular isso. Eu não sou do tipo namoro. Eu saio com mulheres, mas não saio com elas. Isso faz sentido? — Você as usa? — Não exatamente. Elas sabem de antemão qual é o meu negócio. Eu não jogo e não minto. Ela não responde, mas sua mente brilhante está trabalhando duro, tentando digerir o que acabo de expor para ela. — Eu te disse, eu sou o lobo, e você deveria correr. Foi por isso que ele olhou para você assim. Acredite, ele vai ter um milhão de perguntas para mim também. Saímos da interestadual quando chegamos ao centro de Charleston. — Por que você não namora? — Agora, essa é uma pergunta com uma resposta muito complicada.

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— Sou bastante astuta. Eu acho que posso entender. — Uma ponta de sarcasmo acompanha sua resposta. — A verdade? — Não, Kestrel, eu quero que você minta. Claro que eu quero a verdade! Eu não perguntaria se não quisesse a verdade. — Meu passado é tão fodido que eu nunca quis me envolver em um relacionamento porque não achei que seria justo para outra pessoa. Isso é parte disso. A outra parte é que sou praticamente um idiota a maior parte do tempo e tenho muitos problemas para colocar em alguém. Tenho muita coisa para assumir e qualquer uma que se envolva comigo estaria andando na corda bamba a maior parte do tempo. Eu vivo com medo constante de me transformar em meu pai e nunca quero colocar isso em ninguém. — Mas, Kestrel, você não sabe como será, a menos que você se dê essa chance. — Me dê sua mão. — Hã? — Sua mão. Deixe-me segurar, por favor. Ela estende a mão e eu a pego na minha. — Você sabe que o toque é algo que eu costumava desejar, certo? Como uma droga. Eu fiz qualquer coisa para conseguir isso também. O termo técnico é desordem de apego, especificamente medo-evitação / desprezo-evitação. No ano passado, trabalhei duro para tentar me concentrar em me afastar dos desejos. 230

Lembra quando lhe disse que passo por etapas agora onde eu anseio, e onde eu não aguento? Eu anseio por você, anjo, como nada que eu já tenha desejado antes. É algo que não consigo descrever. Naquela vez que você me tocou e eu me assustei, isso me perturbou porque queria o seu toque. Eu estava despreparado para isso e depois me senti horrível. Esse é apenas um exemplo. Há muito mais. Como aquele pesadelo que tive. Ela contrai seus dedos em volta dos meus e pergunta: — O que ele fez com você? — Muito para manchar você. Ele está morto agora e você está a salvo dele. — O que isso significa? — Ele era o mal encarnado. Se ele ainda estivesse vivo, eu teria que protegê-la dele. — Por que ele iria querer me machucar? — Pela mesma razão, que ele tentou matar minha cunhada. Ele iria querer destruir tudo que eu valorizasse. E é por isso que me preocupo em me tornar como ele. — Mas Kestrel, você não é nada assim. Eu fecho meus olhos, lembrando da minha vida quando criança com o demônio de um pai que tive. — Não diga coisas sobre as quais você não sabe nada. Ela encosta na minha garagem e saímos do carro. Já é depois das seis. 231

— Carter, eu aprecio você nos ter para o jantar. Eu vou me trocar. Por que você não vai desde que sei que você tem algumas coisas para preparar? Ela ri. — Tentando se livrar de mim já? Eu queria ser forte o suficiente para fazer isso, mas não sou. — Não é uma chance. Eu quero experimentar mais de suas excelentes habilidades culinárias. Ela levanta os olhos para o céu. — Ah, ele gosta de mim para cozinhar. — Ela solta uma gargalhada. — Vejo vocês logo. Não preciso de alguns minutos para trocar e, ao sair, pego algumas garrafas de vinho branco e vermelho. Estou cansado e gostaria de poder ficar aqui e dormir. Tem sido um longo dia. Como uma reflexão tardia, eu pego uma camiseta e uma escova de dentes, apenas no caso. Quando chego na Carter, o portão está aberto, então entro e estaciono na garagem. Subo os degraus da entrada e entro na cozinha. Ela já está ocupada cortando alguns legumes. — Eu trouxe um pouco de vinho, — digo enquanto coloco na geladeira. — Eu posso ver isso. Obrigada. Ela me diz que está fazendo o meu favorito – Wahoo. Estou feliz porque ambos vão adorar. 232

— Você vai cozinhar como da última vez? — Vou grelhar. E vou grelhar os vegetais, fazer uma salada de alface e já coloquei as batatas no forno. — Cozidas? — Não. Batatas gregas. Cheguei em casa para almoçar e preparei algumas coisas. — Você é inteligente? — Já me disseram isso. Você gostaria de tomar uma taça de vinho? — Não, obrigado. Um copo e eu estaria fora. O remédio para tosse. Lembra? — Certo. E você parece exausto. Você tem sombras roxas sob seus olhos. — Estou. Comemos rápido, mostramos a casa e fazemos com que saiam. — Ha. Eu tenho uma ideia. Vou cozinhar e enquanto estiver fazendo isso, mostre a eles a casa. — Você é realmente inteligente, você sabe. — Obrigada. — Ela pisca para mim. Alguns minutos passam e a campainha toca. Eu abro e Kolson e Jack estão na varanda da frente. — Lugar agradável aqui, mano. — Totalmente, — diz Jack. — Espere até ver o resto. 233

Nós caminhamos até a cozinha onde Carter está e conversamos um pouco. Kolson está empolgado com os aparelhos de última geração e tudo mais que a sala possui. Seria difícil não estar. — Agradável cozinha. Carter acena com a cabeça. — Você cozinha? — Ela pergunta. — Eu não sei cozinhar, mas minha esposa sabe. Ela ficaria louca aqui. — Você precisa apresentá-la. Quando for do Kestrel, alguém vai ter que cozinhar aqui porque ele não sabe. Nós todos rimos. Então Carter diz: — Por que você não mostra o resto do lugar enquanto eu termino aqui? — Boa ideia. — Então vamos lá. É realmente um pacote de prêmios. Mas quando chegamos ao quarto de Ells, vejo os olhos de Kolson estourarem. — Ela tem uma filha? — Teve. Ela, junto com os pais de Carter morreram no furacão que atingiu aqui há quatro anos. — Nenhuma besteira? — A sério. — Isso é horrível, — diz Jack.

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— Eu sei. Carter realmente não mudou nada aqui, para não mencionar que ela teve dificuldades financeiras. Kolson olha para mim. — Então, ela perdeu toda a sua família? — Sim. Ela estava fora em um seminário quando aconteceu. — Só não a deixe te ver como um enorme cifrão. — O que diabos isso quer dizer? — É exatamente o que parece. — Pelo amor de Deus, você olhou para a garota? Ela parece o tipo que faria isso? — Honestamente, não. Ela nem parece o tipo que namoraria. — Droga, Kolson. Ela caiu em tempos difíceis. Talvez ela não possa comprar roupas. Eu me lembro de uma vez em que a Gabby não conseguiu. Por que você está sendo tão duro com ela? — Estou apenas tentando proteger você. Ela já manda em você como nada que eu já vi. — Eu não preciso de proteção. Eu fiz isso para mim toda a minha vida e acho que fiz um ótimo trabalho, então volte para a porra da sua vida. Kolson estende a mão e diz: — Tudo bem. Eu te escuto. 235

— Bom. Sem outra palavra depreciativa sobre ela. — Nenhuma. — E só para você saber, eu me ofereci para comprar suas roupas, mas ela se recusou. — Isso soa como alguém que conheço. — Sim, eu pensei que isso. — O que aconteceu com o marido? — Ela nunca se casou com o cara. Foi uma gravidez acidental. E ela nunca o namorou. — O quê? Jack está olhando para trás e para frente entre nós como se estivesse assistindo a uma partida de tênis. — Isso soou horrível, mas foi uma daquelas coisas bêbadas. Estou te dizendo muito mais do que deveria. Ela era uma nerd – suas palavras, não minhas. O cara aproveitou seu estado intoxicado. Ele era um verdadeiro pedaço de bosta. — Que pena. Garota bonita, — diz Kolson. Jack está aqui, segurando uma foto de Ells, e diz: — Se um dos meus filhos morresse, iria absolutamente me matar. Para sempre. Eu não acho que poderia sobreviver. Pobre garota. Não sei como ela sobrevive todos os dias. 236

Nós dois olhamos para ele, porque nenhum de nós tem filhos. — Vamos, vamos terminar. Quando voltamos para a cozinha, Carter está andando para dentro com um prato de comida. — Na hora certa, eu vejo, — digo, brincando. — Assim como um homem, — ela retruca. — Ajude-me a preparar isso. Todos nós vamos para a sala de jantar para comer. Os caras ficam malucos com os peixes. É tão saboroso e Carter apenas sorri enquanto observa todos engolindo sua comida. Carter nos dá uma breve aula de história em Charleston e nos conta sobre algumas das belas casas. Kolson é fascinado por elas. Ele faz pergunta após pergunta. Quando ele termina, Kolson anuncia: — Esta comida é digna de um restaurante. — Ora, obrigada, — diz Carter. — E obrigado por todas as informações maravilhosas sobre Charleston. — Então? — eu pergunto. Kolson diz: — Então? — Quando você vai começar a procurar casa? — Assim que puder trazer minha esposa aqui. 237

Nós todos rimos. — Eu te disse que você ficaria completamente apaixonado. — Estou. Você estava certo, — diz ele. — Diga a Gabby assim que eu me mudar, todos vocês estão vindo. É melhor planejar passar o Natal aqui este ano. — É um plano. Jack e Kolson nos deram boa noite e quero me deitar. — Por que você não sobe para a cama enquanto eu limpo? — Carter sugere. — Você não se importa? Eu mal posso ficar de pé. — Vá, — diz ela e aponta. Eu não espero que ela me diga duas vezes. Escovo meus dentes e deito. Minhas pálpebras se fecham antes que eu perceba.

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O alarme do meu telefone toca às seis da manhã. Graças a Deus, tive a presença de espírito para configurá-lo porque não me lembro de ter caído no sono. Beijo Carter na bochecha, digo adeus e saio pela porta. Meu banho é rápido e estou na estrada para o escritório. Meu telefone toca no caminho. É minha cunhada. Porque isso não me surpreende? 238

— Gabby. — Kestrel. Eu ouvi que você tem uma namorada. — Kolson é como uma velhinha fofoqueira. Carter não é minha namorada. Estamos saindo. Isso é tudo. — Não de acordo com seu irmão. Ele afirma que você é muito protetor dela. E ela te leva por aí como um cão bem treinado na coleira. — Porra para Kolson. Gabby ri. — É tudo o que você tem a dizer? Suspirando, eu digo: — Não. Você sabe que eu amo meu irmão, mas caramba, isso não é da sua conta. — Ele está preocupado com você. — Vocês dois podem fazer outra coisa além de se preocupar comigo? — Eu gostaria de conhecê-la. — Gabby, estamos apenas saindo. Não é nada, realmente. — Kolson diz que ela é diferente de qualquer outra pessoa com quem ele já viu você. Agora isso me faz rir porque é a porra da verdade. — Você poderia dizer isso. 239

— Ele me contou sobre a família dela. — Sim. Muito trágico. — Não seja um ato de misericórdia para ela. Você vai acabar machucando-a e isso vai piorar as coisas para ela. Deixe para Gabby me dar um soco no estômago com uma frase. Mas, novamente, ela sempre consegue fazer isso comigo. — Obrigado, mana. Eu farei o meu melhor. Estou chegando ao escritório. Tenho que ir. Muito amor. Eu termino a ligação. Meus pensamentos estão todos errados agora. Ela tem razão. E machucar Carter é a última coisa que quero fazer. Eu a avisei, mas ela não pegou a isca. Preciso forçar esse problema? Por que diabos isso aconteceu para começar? O escritório está escuro e vazio quando entro. Isso é bom. Isso me dará tempo para resolver as coisas. Minha cabeça está muito mais clara agora que estou fora do remédio para tosse. Meu corpo se sente muito mais forte hoje também. Uma hora se passa antes que Shayla chegue aqui e seja seguida de perto por Kolson e Jack. Todos nós começamos a trabalhar e sexta-feira passa em um borrão. Eu digo aos caras que estarei aqui no sábado para me atualizar. Jack está voando para casa para o fim de semana para gastá-lo com sua família e Kolson está hospedado. Ele decide ir para casa comigo. — Quer comer alguma coisa? — Pergunta ele.

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Nós vamos para a cidade para comer. Eu sei que ele vai me interrogar esta noite e estou preparado. Enquanto nos sentamos em outro restaurante estelar, pelo qual Charleston é famosa, pedimos uma rodada de bebidas e folheamos o cardápio. — Então, quais são suas intenções em relação a Carter? Eu levanto minhas mãos no ar. — Desisto. Entre você e Gabby, não tenho chance. — O que você quer dizer? — Você sabe muito bem o que quero dizer. — Eu não quero que isso seja hostil, Kestrel. — Nem eu. Ele bloqueia olhares comigo. — Estou preocupado. — Então eu ouço. — Este é um comportamento anormal para você. — Você já pensou que talvez eu tenha mudado? Talvez eu queira ser diferente do que era antes? — Sim, mas com ela? — O quê? Só porque ela não está de acordo com os seus padrões, não significa que ela não está nos meus. — Ele está me fazendo sentir como uma criança sendo

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repreendida por seus pais. — Olha, eu não tenho que justificar com quem eu saio pra você. — Eu percebo isso. Eu acho que isso é de alguma forma confuso. — Estou confuso e sempre será confuso. — Então por que você não escolhe alguém que não tem nenhum problema? — Eu gosto da Carter. Ela é brilhante, espirituosa e interessante. É lamentável que essas coisas tenham acontecido com ela, mas eu não vou segurar isso contra ela, ao contrário do que você está fazendo. Que, a propósito, acho estranho, considerando a infeliz criação que tivemos. E se Gabby decidisse segurar a sua contra você? O canto da boca dele levanta. — Touché. Eu acho que mereci isso. — Sim, você fez. Carter é diferente. E gosto disso nela. Minha preocupação é se vou transar com ela e não o contrário. Não estou preocupado comigo nessa equação. Do nada, ele pergunta: — Você já dormiu com ela? — Agora isso não é da sua conta. — Eu suponho que não é. Este negócio de casa de alguma forma embaça as linhas embora. Tenho a impressão de que as coisas ficarão esquisitas, especialmente com ela vivendo na casa de hóspedes. 242

— Kolson, eu vou lidar com isso. — Bem. É o seu dinheiro e o seu problema. — Exatamente. Então, o que você está pedindo? — Vou pedir a recomendação do chef. O garçom para e leva o nosso pedido depois que ele oferece nossas bebidas. Kolson é detalhado sobre o negócio; ele está em êxtase em quão bem as coisas estão progredindo e com a rapidez de tudo isso. — Kestrel, eu tenho que entregar para você. Você estava morto com a escolha de edifícios de escritórios. Se tivéssemos ido com o que eu queria, nós teríamos superado tudo até o final do ano. — Eu sei. Como é, estes podem ser muito pequenos em alguns anos. — Mas há espaço para expansão. Podemos adicionar como temos muita propriedade. — Você pode estar interessado nisso. A família de Carter possuía uma casa de praia na ilha de Sullivan que foi literalmente devorada pelo furacão. A única coisa lá agora é um terreno baldio que ela quer vender. Estava pensando que, talvez, se você e Gabby estivessem interessados, talvez pudéssemos entrar juntos e construir um lugar lá. Eu não vi o lote, mas ela disse que é à beira-mar. — A sério? Isso é algo a considerar. Nós poderíamos projetar uma casa com lados separados para total privacidade.

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— Kolson, é uma ótima ideia. E poderíamos fazer uma casa para a mamãe também. — Descubra onde está e vamos dar uma olhada. Nossa comida chega e é deliciosa. Kolson comenta sobre os restaurantes aqui novamente. — Meu entendimento é que o Monte Pleasant tem ótimos também. Ainda não tive muita chance de chegar lá, já que passo a maior parte do tempo aqui. — Quando você tem restaurantes espalhados a cada quarteirão e a uma curta distância de sua casa, por que você passaria pela ponte? — Um dia, eu serei mais aventureiro. — Nós rimos como se dirigir sobre a ponte estivesse em outro estado, quando fica a apenas alguns quilômetros de distância. — Sim, quando tivermos nossa casa na praia. — Verdade! O apartamento de aluguel de Kolson fica na King Street, que fica a uma quadra do restaurante. Então, depois do jantar nos separamos. Eu digo a ele que vou buscálo de manhã por volta das oito para o trabalho. No caminho de casa, ligo para Carter. Ela não responde, então deixo uma mensagem sobre ver a propriedade no Sullivan. Às onze, quando não ouço nada dela, vou para a cama. Eu sei que preciso do descanso e amanhã será outro dia longo. 244

CAPÍTULO TREZE Carter

Tornou-se abundantemente evidente para mim que estou completamente fora do meu elemento em torno dos irmãos Hart. Eles são ricos. Extremamente ricos. Kolson é lindo. Tão alto quanto Kestrel, ele é loiro, onde Kestrel é moreno. Eles são opostos um do outro. Kestrel é mais amplo e mais musculoso que Kolson, mas Kolson parece ser muito mais reservado. Ou talvez ele simplesmente não goste de mim. Ele me deixa desconfortável, como se eu fosse um cavalo e ele estivesse me examinando em busca de falhas. Ele encontra muitas, sem dúvida. Ele é o tipo de homem que admira a beleza em todas as coisas e ele não encontra isso em mim. E tudo bem. Eu nunca pensei em mim mesma como linda. Eu sou simples e acostumada com isso. Mas quando um homem como Kolson Hart inspeciona você, isso faz você se sentir completamente autoconsciente... nua e exposta. Eu fiz o meu melhor para encobri-lo e espero que tenha funcionado, mas quem sabe? O outro homem, Jack, é quieto e despretensioso. Tenho certeza de que ele é diferente no ambiente de negócios, mas deixou os irmãos falarem mais, só fazendo uma pergunta sobre Charleston de vez em quando. Foi um enorme alívio quando eles saíram e eu estava mais do que feliz em encontrar Kestrel dormindo quando fui para a cama. Não tenho certeza do que está acontecendo entre nós, mas sei que nunca posso me encaixar no mundo dele. Eu não posso fingir ser como eles são, nem nunca vou segurar uma vela para isso. 245

Talvez Kestrel esteja certo. Talvez eu precise fugir dele, mas não pelas razões que ele diz. Quando o alarme dispara, finjo voltar a dormir, mas não sei. Ele sai em silêncio e depois eu entro no chuveiro. Há tanta coisa em mente que o único lugar em que consigo pensar é o laboratório. Eu começo a trabalhar cedo e fico lá até tarde. Kestrel me liga, mas eu escolho ignorá-lo. Quando ouço sua mensagem, não sei como reagir. Eu preciso vender, mas uma parte de mim parece que os irmãos Hart estão assumindo a minha vida. Preciso lhe dizer uma coisa, então eu mando uma mensagem para o endereço para que ele possa ir sozinho. Ele provavelmente vai pensar que isso é estranho, mas quando ele ligar, eu vou dizer que estou ocupada. Sábado de manhã, como esperado, meu telefone toca e é ele. — Oi. — Você não quer vir com a gente? — Eu não posso. Tenho trabalho a fazer. — Na verdade, estamos trabalhando hoje. Nós íamos ficar no escritório até cerca de três. Isso funcionaria para você? — Não. Por que não vão apenas vocês dois? Então você pode descobrir isso. Você sabe, sem a terceira roda. E você não se sentirá desconfortável falando sobre isso. — Você provavelmente está certa. Obrigado, Carter.

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— Kestrel, estou pedindo 2 milhões pelo lote. São quase cinco mil metros quadrados de propriedade à beira-mar. É um bom negócio. — Por quê tão barato? — Barato? — Sim. Quais são as composições? — Eu não sei. — Antes de precificar, você precisa checar. Eu vou te pagar o que for justo. — OK. Obrigada. — Eu nunca me aproveitaria de você. Eu sei o quanto isso é importante para você. Por que ele é tão legal? — Eu aprecio isso. Espero que você goste. — Eu vou te ligar. Nós terminamos a ligação e me sento lá, pensando. Esta é realmente a minha saída, mas eu quero passar por isso? Se eu vender esta casa, talvez não precise. Mas o que eu farei com a propriedade? Eu tenho que pagar esses impostos horríveis todos os anos, que quase me levam à falência. Não, não tenho escolha. É ir até ao fim com a venda. Saia desse fardo e siga em frente. Com a venda à minha frente, olho para o positivo. Eu realmente preciso fazer compras. Meu guarda-roupa é atroz. Talvez eu vá comprar alguns jeans hoje e 247

alguns tops. Eu preciso de um par de roupas para me vestir para jantar e tal. Pego o telefone e ligo para minha amiga Harper. — Ei, chica. O que há, doutora? — Você topa fazer compras? — Pergunto. — Hã? Esta é Carter Drayton? — Ha ha engraçado. Eu preciso de algumas roupas. — Eu estou sempre precisando de algumas roupas. — Eu sei, mas não posso pagar a King Street. Eu estava pensando em Mt. Pleasant16. King Street é onde todas as butiques exclusivas estão localizadas. — Sim. Legal. Que horas? — Onze? — Bom. Você está dirigindo? — Sim. Eu pego Harper e quando ela me vê, comenta meu cabelo. — Oh meu Deus! Eu amo isso! Quando você fez isso? — Eu acho que há algumas semanas atrás. Eu me cansei da porcaria frisada. Nós vamos para as lojas de roupas no Mt. Pleasant. Compro um par de jeans, algumas camisas e blusas, um vestido, duas saias e tops para ir com eles. 16

Vila localizada da Carolina do Sul, no Condado de Charleston

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— Você precisa de sapatos. Eu vejo um lindo par de botas para combinar com tudo. Uma cor neutra, — sugere Harper. — Sim? — Hmm. E algumas meias para as saias. Sim. Vamos a essa loja de sapatos que eu conheço que tem ótimos preços. Ela me direciona para lá e acabo com um par de botas cinza-amareladas, um par de botas pretas até o joelho e um par de sapatilhas acinzentadas. — Agora você está pronta, — declara Harper. — Você tem camisetas brancas e blusas? — Sim. — Você está pronta. E ficará ótima. Mas qual é a ocasião? — Nenhuma ocasião. Eu não compro roupas há anos. Só precisava de algumas. — Desista, garota. Você não está me enganando. O novo cabelo e agora todas essas roupas. Mas por favor, me diga que você não está vendo Simon. — Oh Deus, não! — Graças a Deus. Todos nós saímos na semana passada e o ouvi dizer seu nome. — O meu nome? O que ele disse? — Eu não sei. Ele estava conversando com James e ouvi ele.

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James era um dos nossos amigos em comum. Nós geralmente nos encontramos uma ou duas vezes por mês para bebidas depois do trabalho. Eu perdi o último porque as pessoas da StrongMeds estavam na cidade e eu tive que sair com eles em vez disso. — Provavelmente foi um comentário desagradável, tenho certeza. Harper ri. — Conhecendo Simon, você está certa. Então, se não é Simon, então quem é? — Bem, o cara que está comprando a minha casa me levou para jantar. Lembra quando eu peguei emprestado o seu vestido? Era por isso que eu precisava. — Mesmo? Que interessante. — Não é nada. — Você não mente para mim, Carter Drayton. Você está comprando roupas pela primeira vez em quatro anos, então é mais do que nada. — Ele é legal. Isso é tudo. — Mmm hmm. Aposto. O nome dele. — O quê? — Qual o nome dele? — Kestrel. Ela coloca as mãos em volta do meu pescoço e diz: — Eu tenho que estrangulá-la por informações? Todo o seu nome, por favor? 250

— Kestrel Hart. — Hmm. Kestrel Hart. Por que isso soa um sino? — Nenhuma ideia. — Então, como Kestrel Hart parece? — Alto, diabolicamente escuro e extremamente quente. — Cale-se! — Exatamente. Harper agarra meu braço e aperta-o. — Você já fez sexo com ele? — Harper! — Me responda! — Jesus. Ok! Sim, caramba! — Por quê, Carter Drayton, sua pequena vagabunda. Dormindo com o inimigo! Nós duas começamos a rir. Então ela diz: — Eu sabia que havia algo mais nessa viagem de compras. Vamos tomar alguns Bloody Marys para comemorar o fim do celibato! — Amém para isso! Só há uma sombra escura que cai porque posso estar entrando em outro estágio, mas não ouso compartilhar isso com Harper. Ela não tem a menor ideia 251

sobre o quarto de Ells e eu não vou contar a ela. Nem vou contar a ela sobre o acordo que fiz com Kestrel. Mais tarde naquela noite, Kestrel chama. Ele quer o lote da Ilha Sullivan. Mas disse que vai verificar antes de me oferecer um preço. De todas as coisas, ele acha que meu preço pedido é muito baixo. Eu chamo o tio Foster e ele concorda. Ele acha que pode estar mais perto de 2,75 milhões. Estou chocada. É uma coisa boa, Kestrel é um homem de negócios justo.

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Duas semanas loucas se passam. Kestrel e eu só conversamos ao telefone porque ele está fora da cidade a negócios, e eu estive mergulhada em minha pesquisa. A equipe da StrongMeds está de volta, abocanhando tudo para mim. Eles realmente não fazem isso, mas sempre que me visitam, tudo fica parado. Estou planejando encontrar meus amigos para o happy hour na quinta-feira depois do trabalho. A equipe sai na quarta-feira e trabalho como um demônio depois que eles saem. Tarde de quarta-feira, algo próximo a um milagre acontece. Em minha pesquisa, acidentalmente tropeço em um processo que não tentei antes. É um atalho de modulação que usei porque estava muito atrasada. Ao fazê-lo, isso me levou a um caminho diferente. Quinta-feira de manhã, quando peguei de onde

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parei, descobri algo que não vi antes. Os resultados foram surpreendentes. Eu os testei de novo e de novo. Eu continuei obtendo os mesmos resultados. — John, venha dar uma olhada nisso. — Meu tom era plano, então ele não estava esperando nada. Ele olhou para o microscópio e pergunta: — O que estou olhando? Eu repeti o processo e deixei ele assistir. — É isso que eu acho que é? — Exatamente. Células T humanas mastigando células cancerígenas, em vez do que costumamos ver. Veja de novo. — Repeti o processo. — O que você fez? Eu expliquei sobre o atalho que eu usei para codificar o RNA do câncer. — Você está brincando. — Não. Eu estava atrasada ontem, então fiz isso para recuperar o atraso e foi isso que aconteceu. — Eu me forço a conter minha excitação. — Carter, explique-me em detalhes exatamente como você fez isso. Eu mostro a ele, passo a passo. — Não há lise17, — diz ele com admiração.

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A lise celular é o processo de destruição ou dissolução da célula causada pela rotura da membrana plasmática.

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— Eu acho que é por causa do atalho. Não há tempo. Minha preocupação é que isso é in vitro. In vivo pode ser outra história por causa do diferencial de tempo. Seus olhos brilham e ele salta para cima e para baixo, como faz quando a excitação explode através dele. — Nós vamos lidar com isso. Agora, pelo menos, temos o processo. — Sim, um passo mais perto, certo? — Você é um gênio, minha garota. — Ele me abraça quando pula, o que me faz pular também. Como resultado, nós dois rimos. — Temos que criar algum tipo de mecanismo para proteger isso da lise. — Bem, as empresas farmacêuticas fizeram isso pelas penicilinas quando desenvolveram inibidores da beta lactamase. Lembra-se de como eles foram adicionados para proteger o anel beta-lactâmico? Talvez possamos fazer algo semelhante. — John, você está certo! Preciso ligar para o StrongMeds! — Agora a emoção corre através de mim. Isso pode ser apenas um pequeno sinal no horizonte, mas é o começo do que poderia ser um tratamento viável para doenças terríveis. Agarrando o telefone, faço uma ligação para Winston Miles. — Winston! É Carter Drayton. Eu sei que é quinta-feira e meio que tarde, mas eu preciso falar com o seu melhor engenheiro de biotecnologia. Eu tropecei em algo aqui. — O que você achou? 254

Minha explicação é demorada e ele quer voar amanhã. Eu digo a ele que estarei esperando por ele. Quando olho para o relógio, vejo que são sete e meia. — Oh droga! — O que é isso? — Eu deveria encontrar meus amigos às cinco e meia e estou sempre atrasada. Droga! John diz: — Vá. Eu vou fechar o laboratório. Vejo você amanhã cedo. Eu corro para fora do laboratório e para o meu carro na esperança de que meus amigos ainda estejam em nosso bar.

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CAPÍTULO QUATORZE Kestrel

São sete da noite quando encerro o dia. Estive fora da cidade durante toda a semana, então existia uma tonelada de papelada empilhada que precisava da minha atenção. Shayla e eu fizemos um ótimo trabalho de lidar com isso, então estou encerrando por um dia. A semana está quase acabando, mas eu quero relaxar um pouco, então desvio em um bar agradável e tranquilo para um par de bebidas. Nunca está congestionado com as pessoas, como muitos dos bares da cidade estão. Meu lugar favorito no canto é vago, então eu coloco minha bunda onde posso beber pacificamente meu Lagavulin e as pessoas assistem. Há um grupo misto sentado em algumas mesas que eles puxaram juntos, conversando animadamente. Depois de cerca de vinte minutos, Carter entra, pedindo desculpas a todos por estar atrasada. Eu estou impressionado com a aparência dela. Já faz algumas semanas desde que a vi, porque nós dois trabalhamos como cachorros, embora tenhamos falado ao telefone todos os dias. Ela parece gostosa pra caramba! Está vestindo jeans apertados, e eles são do tipo que se sentam baixo em seus quadris, um suéter verde-esmeralda justo e um par de botas curtas. Eu quero comê-la. Ela, sem dúvida, foi às compras desde que a vi pela última vez. Mas então noto que o idiota do Simon está sentado lá. Suas costas estão viradas para mim, então não percebi que era ele. Minha atenção agora está concentrada neles, embora eu não queira que pareça estar escutando. Carter parece confusa pra caramba. 256

— Eu sinto muito. Comecei a trabalhar neste projeto e peguei um pequeno atalho e fiz essa incrível descoberta com RNA. John e eu ficamos tão empolgados porque encontrei uma maneira de fazer as células T funcionarem sem ficarem hidrolisadas. Eles olham para ela com os rostos inexpressivos e, de repente, Simon diz em uma voz desagradável: — Você vai calar a boca com a porra da sua pesquisa estúpida? Nenhum de nós dá uma foda voadora sobre isso, Carter. Você está sempre atrasada para os nossos encontros, e isso se você se incomodar em aparecer. Talvez se você tirasse sua bunda do seu estúpido laboratório, nossa filha ainda estaria viva hoje. Silêncio inoperante desce sobre o grupo como uma nuvem negra. Carter parece que vai ficar doente. A excitação que iluminou seu rosto é extinta em um piscar de olhos e parece que o idiota a agrediu e arrancou seu coração. Já ouvi o suficiente de seus insultos para durar a vida toda e não permitirei que isso continue por mais um segundo. Colocando uma nota de vinte no bar, pego meu casaco e caminho até o gracioso grupo. É evidente pelo olhar de descrença em seu rosto que Simon nunca esperou me ver. — Peça desculpas a ela agora, — eu digo em voz baixa e austera. Estou furioso. Ele zomba de mim. — Você não me diz o que fazer. — Estou lhe dizendo agora. Peça desculpas à senhora.

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— Ou o quê? Você vai me dar um soco ou algo assim? — ele insulta enquanto fica de pé com um sorriso no rosto. Eu ando até ele e invado seu espaço. Ele não é tão alto quanto eu, então tenho que olhar para baixo. Ele joga um soco em mim, mas é simples e esquivo. Sou rápido; tenho experiência em me esquivar dessas coisas. Agarrando seu braço, eu o giro ao redor. Para todos na mesa, parece que estou apenas segurando as costas. O que eles não vêem é que tenho dois dedos torcidos e posso quebrá-los facilmente com um estalo. Abaixando minha cabeça em direção a sua orelha, digo apenas para ele ouvir: — Você não quer mexer comigo. Eu estive em lugares que fazem o inferno parecer uma caminhada no parque. Agora, peça desculpas ou você pode estar fazendo uma visita ao hospital hoje à noite. Sua escolha, idiota. — Desculpa. — Diga como se você quisesse dizer. Com um pouco de sinceridade. E use o nome da senhora. — Sinto muito, Carter. Eu realmente não quis dizer isso, — ele sussurra com os dentes cerrados. Ele está tentando encobrir a dor. Eu libero seus dedos, mas não o braço e sussurro em seu ouvido novamente. — Se você alguma vez insultá-la novamente, isso parecerá uma viagem à Disney World. Fui claro? Ele concorda. 258

Eu o deixo ir. Então me volto para o grupo. — Todos vocês são seus amigos? Eles respondem afirmativamente. — Bem, é melhor vocês fazerem duas coisas. Um, rezem para que ela ache aquela cura que vocês acabaram de zombar. E dois, rezem para que vocês nunca precisem disso. Com amigos como vocês, quem diabos precisa de inimigos? Virando-se para Carter, que parece um boneco de neve em uma nevasca, ela está tão pálida que eu digo: — Vamos, anjo, vamos sair daqui. Meu braço circunda sua cintura e saímos. Quando estamos a cerca de um quarteirão de distância, paro e empurro-a delicadamente para dentro de um pequeno recuo da entrada de uma loja, onde passo a enxugar suas lágrimas. — Com que tipo de pessoas você fica, anjo? — Eu sussurro. Seus olhos são enormes quando olham para mim. — Eu nunca tive amigos por causa do meu pai. Ele não permitiria isso e as crianças na escola não poderiam sair com ‘os garotos Hart’. Nós fomos marcados, você vê. Mas, caramba, eu teria escolhido mais sabiamente, acredito. Ela não fala, mas seu lábio inferior treme. E isso me faz sentir um lixo. Eu sou tão burro, como de costume. Correndo meu polegar sobre o lábio para fazê-lo parar de tremer, eu suavizo minha voz e digo:

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— Sinto muito. Insultar você não é minha intenção, mas por favor, examine as pessoas com quem você sai. Eles são odiosos. Eu queria estrangular esse idiota. — Eu sei. Mas aquele idiota me deu a criança mais linda do mundo. — Eu percebo isso. A única coisa que facilita toda essa situação é que você nunca o amou. — Assim que as palavras saem da minha boca, eu quero retratá-las. Por que digo isso? De onde elas vieram? Eu esfrego meu rosto, tentando descobrir tudo isso, quando nós dois ouvimos o nome dela. Nós olhamos para cima para ver uma das mulheres do grupo. — Carter, você deixou sua mochila. — Ela entrega para Carter. — Oh, obrigada. Harper, este é Kestrel Hart. Kestrel, Harper Welch. Minha cabeça vai para cima e para baixo uma vez. Harper é uma visão indesejada. — Sinto muito pelo que Simon disse. Eu não me sinto assim. Eu estava tão chocada com o comportamento dele que congelei. Sinto muito por não ter te defendido. — Ela estende a mão e coloca no meu braço. Eu quero me encolher. — Obrigada, Kestrel, por salvá-la. Eu não respondo, ela fica lá esperando que eu diga alguma coisa, mas não posso. Ela estava com esses cabeças ocas. Eu finalmente digo: — Sim, é uma coisa boa eu estar lá. A pobre Carter seria esmigalhada por esse idiota. 260

Carter suspira e a boca de Harper se abre. Capturando moscas, minha mãe diria. Eu cresci sendo insultado em uma base diária e não vou ficar observando uma mulher inocente levar com isso. Harper teve a chance de dizer alguma coisa, mas não disse nada. — Eu fiquei tão chocada... — Sim, eu ouvi essa parte. Da próxima vez, descongele-se e defenda sua amiga. Esta mulher já passou por mais do que você rezaria para não experimentar. O que eu realmente não entendo é por que alguns de vocês aguentam esse idiota. Ele precisa de um pé no traseiro. — Sim, precisa, só que ninguém tem coragem de fazer isso por causa de seu pai. — Eu não dou a mínima para quem é o pai dele, — zombo. Harper olha para mim e solta uma risada amarga. — Você deve. Seu pai é um político sujo e paga a todos. Eles têm muito dinheiro e se safam com tudo. — Político ou não, eu não poderia me importar menos. Não significa nada para mim. — O senador Forrester esteve por perto sempre. Ele é dono de uma empresa imobiliária também. Uma das maiores do estado, — Harper me informa. — Então ele acabou de conhecer seu adversário. — Faço uma anotação mental para ligar para nossa equipe de segurança na segunda-feira. Eu quero toda a 261

informação que puder encontrar sobre Simon e seu pai. Talvez seja hora de o senador Forrester e seu filho terem uma grande queda. Se há uma coisa que eu não suporto, é um valentão. E o Simon é enorme. — Bem, é melhor eu voltar. Eles vão se perguntar o que aconteceu e eu deixei minha bolsa lá. — Obrigada por trazer isso, — diz Carter, indicando sua mochila. Nós dois assistimos Harper ir embora. Então Carter se vira para mim e diz: — Você não tem que ser tão duro com ela. — Uh, sim eu tenho. Seu comportamento em relação a você foi inaceitável. Se seus amigos não podem te defender, você não precisa deles. — Eles podem ser idiotas, mas eu os conheço desde o ensino fundamental. — E isso deixa tudo bem? — Simon estava certo. Eu sempre faço. Eu coloco o trabalho antes de tudo. — Você não colocou trabalho antes de sua família. Esse foi um seminário importante. Até sua mãe disse isso. Ele estava dizendo coisas que não eram verdadeiras. — O que você está fazendo no laboratório é estelar, anjo. Se eles não podem esperar um par de horas, então eles que se danem. Além disso, todos estavam apenas saindo e bebendo de qualquer maneira. — Ainda assim foi desrespeitoso. Eu deveria ter ligado para dizer que me atrasaria. O tempo passou e esqueci. Isso foi errado de minha parte. 262

— Ok, eu vou te dar isso. Mas ele ainda agiu como um idiota. Então, o que é essa coisa que manteve você tão encantada? Espera. Por que você não me diz sobre bebidas e algo para comer? Mesmo que seus amigos sejam idiotas, eu gostaria de ouvir sobre isso. Ela começa a rir nervosa. — Tem certeza? Muito provavelmente te aborrecerá. — Vamos. A propósito, antes que eu esqueça, você parece incrível. — Sim? — Oh sim. Nós andamos pela rua e entramos em um lugar que tem razoavelmente boa comida de bar. Enquanto comemos, ela me conta o que aconteceu. Estou momentaneamente atordoado. — Eu acho que você é mais esperta que um cientista de foguetes. Do nada, ela diz: — Kestrel, cuidado com Simon. Ele pode ser perigoso. — Oh, anjo, você não sabe o significado de perigoso. — Por que você ficou? — O quê? — Com seu pai? Você disse que trabalhou com ele. Por que você ficou?

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Minha boca parece subitamente seca. Eu tomo um longo gole da minha cerveja. Mesmo depois de quase um ano, ainda é difícil falar sobre ele. — Ele tornou impossível sair. — Mas seu irmão saiu. — Você tem feito algumas buscas na internet, não foi? Ela abaixa a cabeça e murmura alguma coisa. — O quê? Não entendi, — eu digo. — Sim, eu pesquisei algumas coisas. Depois de outra longa bebida, eu pego a mão dela e digo: — Não é segredo. Minha família toda foi notícia no ano passado, quando toda essa bagunça aconteceu. Nossa história fez manchetes em todos os jornais. É por isso que fiquei surpreso por você não ter lido sobre isso. Kolson deixou a Hart Entreteniment porque ele e meu pai nunca viram olho no olho. Ele foi muito vocal sobre isso. Eu, por outro lado, não estava. Eu me afastei e fui o homem sim. O medo foi o fator principal por trás da minha decisão. — Paro e me inclino de volta na minha cadeira. Meus músculos do pescoço gritam de alívio, como sempre fazem quando eu falo sobre o Dragão. — Isso é impossível para mim discutir em público, então se você quiser saber a história completa, nós temos que fazer isso em outro lugar. Em particular. — Você vai me dizer? — Ela está genuinamente surpresa. — Sim, mas não aqui. 264

— Ok. Com o que eu acabei de concordar? Eu nunca discuto isso. Mas talvez seja hora de eu o fazer. Deixar minhas paredes caírem e deixar alguém entrar para uma mudança. Ela foi forçada a me permitir entrar, e fez isso mesmo que ela não quisesse. Eu devo muito a ela. Depois de pagar a conta, nós caminhamos para o meu carro e dirigimos para o meu lugar. Ela diz que prefere isso. Quando chegamos, pego duas cervejas para nós dois. Então nos sentamos. Isso vai demorar um pouco e não vai ser fácil... para qualquer um de nós. Espero que quando ela ouvir, não saia porta afora, gritando como se sua bunda estivesse pegando fogo.

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CAPÍTULO QUINZE Kestrel

Dizer a alguém sobre uma parte medonha de sua vida é difícil. Abrir velhas feridas para deixar o monstro fora é ainda mais difícil. Às vezes é difícil até mesmo o meu cérebro se envolver em torno dele, e eu passei por isso. Então eu encho meus pulmões com ar e dou o salto de fé que ela ainda estará sentada aqui quando eu terminar. — Você sabe a parte sobre meu pai e como ele praticamente nos roubou de nossas mães biológicas? O que eu não contei a você é como todos nós fomos abusados. Não vou entrar nos detalhes finitos do que ele fez com meus irmãos; só vou te dizer o que ele fez comigo. Não foi sexual, se é isso que você está pensando. Ele queria que nos esquecêssemos de onde viemos – para esquecer nossas mães. Ele queria fazer uma lavagem cerebral em nós. Kolson foi o primeiro e o mais velho. O que ele fez com ele não funcionou do jeito que Langston planejou. Uma vez que eu fui o próximo, ele acrescentou algo extra. Ele estava em privação sensorial. Nos primeiros meses depois que ele me levou para a casa, fiquei em um quarto escuro no porão, uma gaiola e não fui tocado por ninguém. Eu não estava preso a todos. O único toque que recebi foi sob a forma de punição. Mas ele nunca bateu em mim. Sempre foram coisas negligentes. Ele me deixava sozinho em completa escuridão, sem estímulos. Eu estava com frio e com medo. Quando ele vinha me ver, ele não dizia nada. Não falava nada. Às vezes, ele envolvia a mão no meu pescoço e me apertava, fazendo-me pensar que ia me matar. Essas foram as únicas vezes que ele 266

me tocou. Fora isso, nada. Apenas um enorme vazio escuro. É por isso que estou tão fodido. Por que anseio por toque, mas às vezes não posso tolerar isso. Meu diagnóstico psiquiátrico é transtorno de apego. Eu vacilo entre medo-evitação e desconsideração-evitação, mas eu já lhe disse isso. — Querido Deus. Quantos anos você tinha? — Apenas cinco anos quando ele me roubou. — Cinco! Bom Deus. Apenas um garotinho. E por quê? Eu soltei uma risada amarga. — Então eu me inclinaria para a vontade dele. Isso é o que ele queria que todos nós fizéssemos. Eu não noto que estou esfregando meus braços até que as mãos dela toquem as minhas. Ela desabotoa minha camisa e enrola minhas mangas, para que possa ver minhas tatuagens. Então suas mãos vão massageando suavemente meus braços e parece o paraíso. Eu deixo minha cabeça cair para trás e a tensão se derrete. Suas mãos se movem para os botões da minha camisa e quando ela tem todos desfeitos, ela abre e me toca em todos os lugares. Seus dedos pressionam minha pele enquanto eles penetram com carinho pelo meu torso. — Todas elas fazem sentido. Cada uma delas significa alguma coisa. Agora eu entendo o dragão com o tridente. O tridente representa os três de vocês. E a gaiola com as barras quebradas e a luz do sol brilhando. A mãe se separou da criança. A escuridão com as estrelas e a lua. As dezenas de corações despedaçados. Eu sempre achei que eles eram relacionamentos quebrados. 267

— Eu nunca estive em um relacionamento. Eu nunca me senti digno. Ele sempre disse que não significaria nada. Eu fui alimentado no chão como um cachorro, Carter. Foi muito nojento. Ela coloca a mão sobre a boca e um soluço rasga através dela. — Como alguém pode fazer isso com uma criança? Você era apenas um garotinho! Não muito mais velho que Ells. — Eu sei. — Sua mãe? Sua verdadeira mãe? O que aconteceu com ela? — Eu não sei. Eu tentei encontrá-la no ano passado e não consegui. A de Kolson e Kade morreram. A minha simplesmente desapareceu. Não me surpreenderia se ela estivesse em uma instituição mental em algum lugar. — E a esposa de Langston? Sua mãe adotiva? — Ela estava com medo de Langston. Ele a mandava embora toda vez que levava uma nova criança para casa. E então ela voltava para casa e ficava confinada em seu quarto. Eu acho que ele deve ter drogado ela. Ela não vai falar sobre isso, mesmo agora. Ela é uma mulher doce – não tem um osso ruim em seu corpo. Nunca teria feito nada disso de bom grado. Lágrimas escorrem pelas suas bochechas. — Eu sinto muito. — Não sinta. Está feito. E estou feliz agora porque ele está morto. Foi o melhor dia da minha vida quando soube que minha mãe atirou e o matou.

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Suas mãos continuam me tocando todo, então acho que vou contar a ela o resto da história. — Kolson deixou a empresa e comprou um táxi. Ele trabalhou duro e depois comprou outro e outro. Logo, ele foi capaz de se expandir para o setor de transportes de uma forma completa, principalmente limusines. Ele é bem fenomenal. Meu pai estava chateado. Oh, ele estava sempre chateado. Quando ele jogou fora Kolson sem um centavo, ele pensou que ele acabaria em algum trabalho de colarinho azul fazendo nada. Mas meu irmão sai em um membro e acaba se tornando um bilionário por conta própria, sem um centavo do meu pai. Foi tão justo. Kolson ficou atrás de mim para se juntar a ele, mas eu não consegui. Eu temia que Langston encontrasse uma maneira de nos matar. Pelo menos comigo ao seu lado, eu poderia ficar de olho nele. Mas ele me usou. Ele tentou me fazer espionar Kolson. Em vez disso, eu iria alimentá-lo com todos os tipos de informações vazias. Finalmente, ele me fez plantar uma escuta no apartamento de Kolson. Foi depois que Kol desapareceu. Ele suspeitava que Gabby sabia onde Kol estava. Não tinha uma maneira de sair disso porque ele saberia se eu não fizesse isso. Felizmente, nenhum dano veio disso. Mas Langston era um homem muito perigoso. — Depois de sua morte, o FBI entrou e removeu todos os arquivos que tinha na máfia e foi quando o anel de crime da costa leste desabou. Descobrimos exatamente o quão sujo Langston era. Drogas, tráfico humano. Ele tinha as mãos em tudo. Nós suspeitamos de alguns, mas ficamos chocados com as profundezas de sua depravação. Claro, essa foi a minha saída. Não era possível ter algo a ver com a Hart

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Entertainment depois disso. E agora estou na HTS, onde deveria estar há muito tempo. — E o seu outro irmão? Você disse que eram três de vocês. — Sim. Kade é o nome dele. Ele pegou o pior de tudo. No momento em que ele chegou, o dragão tinha aperfeiçoado seus pequenos jogos de tortura. Kade voltouse para as drogas para lidar com isso. Um dia entrei em seu quarto e o peguei usando. Eu estava tão chocado; não sabia o que fazer. Eu implorei para ele parar. Supliquei a ele. Disse que ele poderia morrer. Disse-lhe que faria qualquer coisa por ele. Mas você sabe o que ele disse? — Não, o quê? — Ele disse que preferia a morte ao modo em que vivia. Ele era apenas um adolescente na época. Isso me esmagou. Eu o peguei em meus braços e segurei ele, mas ele bombeou essa merda em suas veias de qualquer maneira. E então sorriu quando a droga assumiu. Ele parecia tão calmo, feliz mesmo. Por um minuto eu queria um pouco disso. Eu queria sentir essa felicidade que ele estava experimentando, porque sabia que apenas por esse momento, era uma fuga. Uma fuga que eu não consegui em nenhum outro lugar. Ao longo dos anos, Kolson e eu tentamos ao máximo fazer com que ele parasse, mas ele não o fez. Ele disse que era drogas ou suicídio. Nós poderíamos escolher para ele. Então deixamos ele continuar usando. E aqui está a coisa estranha. No ano passado, quando Kolson se escondeu, você leu sobre como ele estava desaparecido?

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— Sim. Ele esteva desaparecido por um bom tempo e apareceu na noite em que seu pai foi morto. — Ela ainda está me tocando em todos os lugares e eu me sento lá, braços abertos, dando-lhe acesso completo a mim. — Está certo. Ele se escondeu para se proteger e a Gabby de Langston. Ele temia que meu pai o matasse porque ele devia a Langston uma dívida que ele nunca pretendia pagar. É uma história complicada, mas tem a ver com a minha cunhada. De qualquer forma, durante esse tempo, Kolson estava andando no metrô e um dia ele sai do trem e logo ali em frente a ele está Kade. Kol mal o reconheceu. Quero dizer, nossa família tem todo tipo de dinheiro e lá estava nosso irmão vivendo nas ruas, vasculhando o lixo em busca de comida. Quando Kolson me contou sobre isso, quase gritei. Era o sentimento mais impotente do mundo, sabendo que falhei tanto com ele. Ele estava desaparecido há meses e estávamos procurando por ele, mas morando no metrô como um dos desabrigados? De qualquer forma, Kolson se ofereceu para levá-lo ao McDonald's para comer alguma coisa, nunca pensando que ele iria, mas ele o fez! E quando eles terminaram, Kolson lhe entregou um cartão. Era de um amigo dele e de Gabby. Minha cunhada trabalha com viciados e seu amigo mais próximo dirige um grupo de Narcóticos Anônimos. Kol disse a Kade sobre isso, não pensando em um milhão de anos que ele iria. Um par de dias depois, ele apareceu em uma das reuniões. Ficamos todos aturdidos. Jesus, estou divagando agora abrindo segredos de família que nunca compartilho com ninguém. Minha mão passa pelo meu cabelo enquanto penso nisso. — E então o quê? 271

— Alguns dias depois, Gabby o levou até uma excelente clínica em Denver para tratamento. Eles disseram que se ele não fosse quando foi, teria estado morto no espaço de um mês. — Porra! — Eu sei. O tempo é tudo, dizem eles. Foi com Kade. Ele está lá desde novembro passado. Um ano agora. No começo eles disseram seis meses. Depois disso, eles recomendaram outros quatro. Ele tem medo de sair. Ele acha que, se estiver de volta à sociedade, será muita tentação. Nós tentamos dizer que o maior motivo que ele começou a usar em primeiro lugar se foi. Mas ele não vê dessa maneira. E a realidade é que ele sabe melhor. Eu nunca usei drogas, então não posso me relacionar. — Nem eu posso. — Carter, Kade era um gênio musical. Você deveria ter ouvido ele tocar. Ele sentava na frente do piano, ou pegava qualquer instrumento de cordas, e fazia com ele o que quisesse. E sua voz era como nada que eu já ouvi. Até às drogas, Kolson e eu imaginávamos que ele seria grande no mundo da música, um dia. — Talvez ele ainda tenha uma chance nisso. Quantos anos tem ele? — Ele é três anos mais novo que eu. Ela ri um pouco. — Isso não me diz nada. Não tenho ideia de quantos anos você tem. — Vinte e nove. 272

— Então ele tem apenas 26 anos. O mesmo que eu. Eu me esqueci disso. — Está certa. Mas, ao vê-lo, parece de dez a quinze anos mais velho que você. — Uma vida dura de drogas faz isso com você. Mas talvez isso mude quanto mais tempo ele estiver fora delas. E talvez ele desenvolva interesse pela música novamente. — Talvez. Mas agora ele diz que quer continuar em Denver como conselheiro. — Isso é muito legal. — Eu não tenho certeza se ele não está nos evitando. Mantendo a distância de nós. Não que eu o culpe. Nós somos aqueles que falharam com ele. — Ele sabe que você se sente assim? — Não, e nunca diria a ele. — Você pode querer repensar isso. — Ela coloca a palma da mão na minha bochecha. — Kestrel, você não falhou com ele. Seu pai falhou. — É verdade, mas ainda sinto alguma responsabilidade por como ele acabou. Seus olhos cinzentos perfuram os meus e então ela diz: — Eu quero ver você nu. Eu quero tocar em você todo, Kestrel. — Eu não lhe contei tudo isso para que você sentisse pena de mim. — Não tenho certeza de que pena é a descrição correta. Meu coração está partido por aquele menino que foi privado do amor e cuidado que nunca recebeu. E 273

está desmoronando pelo jeito que você ama Kade, ainda sentindo que de alguma forma você falhou com ele. Mas o fato é que eu quero tocar em você todo. Eu quero sentir sua pele quente sob meus dedos. Eu quero traçar sua arte com minhas mãos e língua. E não posso fazer isso quando você está vestindo roupas. — Cristo, anjo. De onde veio isso e o que aconteceu com aquela garota tímida que uma vez preparou o jantar para mim? — Eu não sei. Espero que ela tenha desaparecido para sempre. Por favor, tire suas roupas? — Não. Eu quero que você tire. Seus dedos alcançam a cintura da minha calça e ela solta e abre o zíper. As mãos entram entre meus boxers e pele quando ela começa a puxar. Eu levanto minha bunda para que possa ajudá-la. Quando ela está em meus tornozelos, eu rio porque ela não tirou meus sapatos. Eu os chutos e ela completa o processo. — Saia dessa camisa. — Não até você despir para mim. Enquanto você está bem aqui na minha frente. Ela sorri enquanto se move na minha linha de visão e começa. Ela é dura e inflexível, mas eu não a quero de outra maneira. Eu amo como sua inexperiência e pureza brilham. Isso é o que a faz tão especial. Quando ela chega ao sutiã e calcinha, nunca teria pensado que o algodão azul claro poderia parecer tão perfeito para uma mulher, mas faz isso com ela. E meu pau está tão duro que está olhando direto para nós dois. Se ele pudesse sorrir e falar: ‘Olá, senhorita’, tenho certeza que diria. 274

— Carter, e se te dissesse que não quero fazer nada além de tocar hoje à noite? O que você acha? Ela está agachada entre as minhas pernas, uma mão em cada coxa e ela olha para mim. Com ela nessa posição, estou quase certo de que perdi a cabeça. Arrastando as mãos até meus quadris, ela se inclina para perto da minha boca e diz em voz baixa: — Eu farei o que quiser. — Incluindo me matar? Porque é isso que você está fazendo comigo agora. Uma risada rouca lhe escapa e penso na primeira vez em que pus os olhos nela. O que aconteceu com aquela garota? Ela deve ter feito uma caminhada porque está uma deusa sensual ajoelhada entre as minhas pernas não chega nem perto de se parecer com aquela mulher. — Anjo, eu já te disse como você é linda? Ela inclina a cabeça e ri. Uma verdadeira risadinha. Borbulha direto dela. — Eu sou uma nerd, Kestrel. Nerds não são lindas. — Oh, sim elas são. Pelo menos aquela entre minhas pernas é. E eu sou um grande juiz de beleza. Então deixe-me começar. Seus olhos são a cor mais original do cinza. Eu gosto de pensar neles como cinza fantasma. Mas na verdade eles são mais como um cinza secreto. Como se você estivesse escondendo algo que nunca vai compartilhar. E você tem uma pele tão perfeita com aquelas sardas adoráveis que pontilham a ponte do nariz e as beiradas das bochechas. Em seguida, seus 275

lábios. Não muito inchados e não muito finos. Apenas a quantidade certa de grossura. Eles foram feitos para beijar. Mas só por mim. E seus dentes são perfeitos. Eu amo o jeito que eles espreitam abaixo do seu lábio superior. Me faz querer lambê-los por algum motivo estranho e quem diabos quer fazer isso? Mas eu sim. Para você. E seu pescoço... ah, seu lindo pescoço. Chama a minha atenção porque eu quero correr minha língua para cima e para baixo toda vez que te vejo. É tão longo e gracioso. Elegante. Isso é o que é. Eu pego meu dedo e esfrego horizontalmente através da base do pescoço dela. — Acho que só descrevi daqui em diante. Mas a partir deste ponto, — Eu corro meu dedo do buraco em sua garganta até o sexo dela, — é uma outra história. É aqui que a parte da deusa começa. Escultural. Alta e magra. Linhas perfeitas com exatamente a quantidade certa de curvas. Você é uma iguaria rara e eu era cego na primeira vez que te vi. Eu não vi através do véu de roupas que você usava. Mas eu sei diferente agora. Inclinando-me para a frente, sugo seu mamilo para dentro da minha boca e puxo com meus dentes. Seu suspiro é alto, mas o gemido que se segue é ainda mais. Meus dedos afundam na carne sedosa de seus quadris enquanto a seguro firme. Ela é como uma pétala de rosa macia para tocar – aveludada e suave. Tão quente e doce que não consigo o suficiente dela – poderia passar minhas mãos por todo o corpo dela, e nunca cansar de sentir aquele cetim sob minhas mãos. Seus dedos longos e esbeltos agarram meus ombros e quando sua cabeça cai para trás, seriamente repenso essa coisa sobre apenas tocar. Mal posso acreditar que este anjo – porque ela verdadeiramente é um – está aqui comigo, nua e disposta, e tudo 276

que tenho a fazer é dizer a palavra e ela é minha. E agora, eu quero enterrar meu pau em sua boceta quente e molhada tanto que quase posso sentir o gosto dela. Envolvendo meu braço ao redor de sua cintura, eu a puxo o mais perto que posso. É o pescoço dela que preciso provar agora. Seu perfume está no meu sangue, serpenteando até o meu cérebro, marcando-me. Como isso aconteceu? Como eu fui de pensar que ela parecia uma freira para não ser capaz de manter minhas mãos longe dela? — Anjo, olhe para mim. Suas pálpebras se abrem e com os lábios entreabertos, sei que sou um homem morto. — Me beije. Como você fez no primeiro dia em que nos conhecemos. — Mas... — Sem mas, anjo. Me dê sua boca. Tudo isso. E ela faz. Timidamente a princípio. Porque ela tem medo de que eu possa rejeitá-la como fiz daquela vez? Eu vou colocar sua mente à vontade sobre isso. Eu a beijo de volta como se estivesse provando a mais perfeita delicadeza do mundo. E então percebo que estou. Ela é doce; ela é picante; ela é salgada; ela é tudo o que eu amo em um beijo. Suave e envolvente. Não controlando, mas não tímida. Suas mãos se aproximam do meu rosto, e então seus dedos mergulham em meu cabelo. Ela morde minha língua com os dentes e aprofunda o beijo até que nós dois gememos. Eu caio de volta no sofá, levando-a comigo, e nós fazemos como dois adolescentes. 277

— Você beija como um anjo também. Estou feliz por ter escolhido esse nome para você. Ela ri. — Nós acabamos de dar uns amassos? Meu peito ronca. — Sim, acho que sim. Minha barba arranhou você? — Eu amo seu pescoço. É sensual. — Seu queixo está terrivelmente rosa. Irritado, talvez? — Vou sobreviver. Eu nunca me apaixonei por um garoto antes. — Um menino? É isso que eu sou? Risadinhas saem dela. — Não, você é definitivamente um homem. Um homem muito bonito. — Sim? — Sério? Olhando para o pescoço dela novamente, principalmente para evitar que ela veja os olhos, eu digo: — Eu estive com muitas mulheres, mas nunca assim. Eu nunca disse a uma mulher as coisas que estou dizendo a você. Minha aparência é algo que eu tomo como certo. Eles são o que eu fui distribuído no nascimento. Eu olho para Kolson e acho que ele é o único com a aparência. Eu pareço muito taciturno. Muito severo. — Quer saber o que eu acho? — Claro que sim. Eu já te disse o que penso sobre você. Jogo justo, eu diria. 278

— Kolson é muito bonito. Mas você é um pouco acima dele. São seus olhos. Eles são surpreendentes. A primeira vez que te vi, senti que podiam ver tudo até à minha alma. O contraste do seu cabelo preto e olhos verdes é – como você me chama? Oh sim, perfeitamente lindo. Você sabia que às vezes eu assisto quando você dorme? Eu gosto de olhar para você, porque há tantas coisas sobre você que sinto falta quando você está acordado. Como a maneira como seus cílios roçam os topos das maçãs do rosto. Você tem os cílios mais longos que eu já vi. E a maneira como os vincos em seu rosto desaparecem, como se todos os seus problemas desaparecessem. E eu gosto de olhar para o seu corpo sexy, especialmente sua bunda, se as cobertas tiverem escorregado. Não há nada em você que eu mudaria porque você é impecável. Isso é o que você é, Kestrel. — Estou honrado que você pensa isso. Obrigado anjo. Mas estou longe de ser impecável. — Não, é a verdade. — Ela levanta minha mão e a beija. — Então, quantas garotas você teve? Rindo, digo: — Nenhuma. Bem, antes desta noite é isso. Com a minha vida do jeito que foi, isso nunca foi uma possibilidade. Ela olha para mim como se eu estivesse tentando vender a ponte do Brooklyn. — Acho isso difícil de acreditar. Você provavelmente teve garotas te perseguindo por toda parte.

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— Anjo, elas estavam com medo do meu pai. Não houve perseguição, confie em mim. — E quando você estava na faculdade? — Sim, faculdade. Eu pulei muito. Começou em Harvard. — Harvard? — Difícil de acreditar, não é? — Eu pergunto. — De modo nenhum. Eu ri. — Claro que é. Eu sou o oposto do aluno de curso preparatório para Harvard é por isso que não durou muito. — Então onde? — Rutgers18. Langston estava chateado com isso. Não era bom o suficiente para um Hart. Mas ele não precisava ficar chateado por muito tempo. Eu fui expulso depois de um semestre. Parece que não estava me integrando muito bem. Entrei em muitas lutas. E quero dizer muitas. Provavelmente algo a ver com as minhas frustrações. Infelizmente, tirei-os nos lugares errados nos momentos errados. — E não meninas? — Oh, existia garotas. Evitei-as, entretanto. Tem de lembrar-se de que fui desajeitado em volta delas. Eu nunca aprendi a interagir com elas. — Então o quê? — Como é que eu estou contando a história da minha vida de uma só vez? 18

A Rutgers, Universidade Estadual de Nova Jérsei.

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Ela encolhe os ombros. — Eu tenho esse efeito nas pessoas. — Oh, você tem um efeito ótimo. — Meu olhar desce e ela segue. Então suas bochechas ficam rosadas. Eu aliso meu polegar para frente e para trás sobre a sua bochecha, dizendo: — Eu amo quando isso acontece. Eu posso sentir o calor aqui. — É porque estou envergonhada. — Por quê? Eu sou o único com o pau duro. — Eu sei disso, mas sou um pouco tímida. — E é muito simpático. Não estou acostumado a timidez. Estou achando que gosto disso. Ela franze os lábios e faz uma breve pausa. Então deixa escapar: — Conte-me sobre as mulheres do seu passado. É preciso muito para me deixar sem palavras, mas ela conseguiu isso muito bem. — Uau. Não estava esperando isso. — Desculpa. Você não precisa me dizer nada. Eu estava curiosa porque você diz que nunca saiu com garotas no ensino médio ou na faculdade, mas me disse que esteve com dezenas de mulheres. Não soma. — Não, não seria para você. Lembra do que te disse quando te chamei anjo pela primeira vez? 281

— Eu faço. Você disse que eu era pura, meiga e gentil. — As mulheres com quem passei meu tempo foram o oposto disso. Algumas eram garotas de programa. Outras estavam tão perto disso quanto você poderia conseguir. Elas estavam comigo por apenas uma coisa. Elas conseguiam o que queriam e eu também. Depois seguimos nossos caminhos separados. Ela fica tão silenciosa quanto eu já a vi; quem pode culpá-la? Acabei de explicar a ela que fiz sexo com o mais desprezível dos desprezíveis. E aqui está ela, a pessoa mais honesta e honrada que eu já conheci. É uma pergunta que odeio fazer, mas que devo. — Você sente muito por ter perguntado ou você sente muito por ter me conhecido? — Não. Estou intrigada. Por um lado, entendo por que você tem medo de estar em um relacionamento. O medo é uma razão convincente. Por outro lado, alguém poderia pensar que você iria desejar. — Hmm. Eu faço. Muito. Eu anseio por contato humano. Eu anseio por tantas coisas que nem posso nomear todas elas. Quando eu era aquela criança trancada no escuro, eu dizia a mim mesmo que um dia minha mãe iria entrar no quarto, abrir as cortinas e deixar a luz do sol entrar. Então ela me envolveria em seus braços e me levaria para longe desse lugar terrível. Quando isso não aconteceu, minhas esperanças e sonhos começaram a diminuir até chegar ao ponto em que a única coisa que eu queria era um cobertor para me manter aquecido. Eu aprendi a

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sobreviver com muito pouco. É o que estou fazendo agora. Mesmo que eu anseie por coisas, aprendi que é mais fácil ficar sem elas. — Mas você não precisa. Isso é o que eu não entendo. Eu a puxo em cima de mim e enfio meus dedos em seus cabelos. Está mais suave agora, com ondas suaves emoldurando seu rosto. — Eu vou te contar uma história. Depois de toda aquela bagunça com meu pai, decidi me afastar por um tempo. Então, depois que a poeira baixou, fui caminhar. Sua testa franze, então eu massageio com meus polegares. — Uma caminhada? — ela pergunta. Sorrindo, eu digo: — Sim. Eu caminhei parte da Trilha dos Apalaches. Fiquei fora por mais de dois meses. Durante esse tempo, eu refleti sobre o caminho que minha vida tomou e onde iria a seguir. Foi lá que percebi que precisava de uma mudança e tomei a decisão final de vir aqui. Eu estava jogando na minha cabeça por alguns meses, mas depois de cerca de um mês no caminho de estar completamente sozinho, sabia que precisava me separar da minha família. Se não o fizesse, nunca endireitaria minha vida. Tanto quanto odiava meu pai, eu também estava amarrado a ele. E por mais estranho que isso soe, quando ele morreu, fiquei perdido. Sim, eu estava em êxtase, mas estava perdido. Ele me levou como um cachorro idiota por todos esses anos, e agora o que eu faria? O tempo na trilha me deu minhas respostas. Eu também aprendi sobre mim mesmo. Eu sou um idiota. Mas eu mudei desde que voltei. Fiz um esforço consciente para ser mais gentil com as pessoas. A única coisa que mais quero é não me tornar o homem que meu pai foi. Para fazer 283

isso, precisei fazer algumas mudanças e estou trabalhando nisso. Eu amo minha família. Eles são as pessoas mais importantes do meu mundo, mas eu nunca vou me tornar a pessoa que preciso ser se ficar dependente deles. Estar longe me ensinou muito sobre independência e o tipo de pessoa que eu quero ser, preciso ser, então é por isso que estou aqui. Não apenas para ajudar meu irmão, mas para me ajudar. Ela fica quieta o tempo todo que tenho falado. Agora ela diz muito baixinho, então eu tenho que me esforçar para ouvi-la: — Eu estava com medo de você na primeira vez que nos encontramos. — Eu não sou uma pessoa muito calorosa, então imagino que você estivesse. Mas você foi tão corajosa ao propor esse acordo. — Não foi bravura. Foi pura exigência. Eu estava no final da estrada. Todas as minhas opções estavam esgotadas. Vender era meu último recurso. Ninguém sabia do quarto de Ells. Eu nunca falei a ninguém – nem mesmo meus amigos mais próximos. Então, quando você estava lá, a ideia se formou em minha mente e quanto mais se estabelecia, eu sabia que precisava correr com ela. A bravura não teve nada a ver com isso. E então fiquei tão humilhada. — Ela cobriu o rosto com as mãos. Puxando-as para longe digo: — Me desculpe, se fiz você se sentir assim. — E estou. — Extremamente assim. E envergonhado. Eu deveria ter agido mais como um cavalheiro. Você me pegou de surpresa. — Não foi surpresa, Kestrel. Você não me queria de jeito nenhum. Não é como você faz agora. Eu posso ver a diferença. Algo mudou entre nós. 284

— Sim. Naquela noite no seu laboratório. Você era tão apaixonada pelo que faz. Era tão sexy, quase me matou para não beijar você. Mesmo em seu avental e nos óculos que você usava, fiquei excitado. — Hmm. Vou ter que lembrar disso. — Ela boceja e não se incomoda em cobrir a boca. É estranhamente encantador. Ela parece uma criança e eu rio. — Vamos lá, anjo, hora de você ir para a cama. — Sim, eu aposto que você diz isso para todas as garotas. — Talvez, mas nenhuma delas nunca ficou a noite. Um sorriso radiante se espalha em seu rosto. — Mesmo? Você não está apenas dizendo isso, está? — Porque eu faria isso? Eu nunca deixei uma mulher dormir na minha cama. Eu as encontrava em sua casa ou em um hotel. Mesmo que eu tenha dormido com muitas mulheres, não tive filhos. Eu sempre me protegi e elas nunca vieram à minha casa. — Você estava seguro? Quero dizer, acho que deveria ter perguntado isso antes de fazermos sexo, mas os preservativos não são cem por cento seguros. — Eu sei. E sim, eu era testado todo mês quando era mais ativo. Você é a primeira pessoa que eu tenho desde que fui caminhar. Eu fui testado antes de sair. O alívio a lava como uma chuva de primavera enquanto vejo as linhas desaparecerem de seu rosto. Coloco um pedaço de cabelo dela atrás da orelha. 285

— Anjo, eu não teria dormido com você se não tivesse certeza. Eu nunca teria ousado sujar sua pureza com minha escuridão. Seus lábios brevemente pressionam os meus, e então ela diz: — Me leve para a cama, Kestrel. Eu quero me envolver em torno de você.

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CAPÍTULO DEZESSEIS Carter

Complexo. Isso é o que Kestrel é. Ele é um homem que está em camadas com uma rede de malha intricada e cada vez que ele me diz algo, minha mente bobina com a informação que ele dá. Que ele resistiu tanto em seus vinte e nove anos e não é uma bagunça quebrada e em ruínas está além da minha compreensão. Sim, tive minha parcela de desgraças. Mas se eu empilhasse as minhas ao lado das dele, acho que a dele seria maior. Embora a perda de um filho seja uma coisa terrível, fui criada com o amor verdadeiro de uma família que me cercava. Ele nunca teve isso. E ele também sofreu perdas – a perda de sua mãe biológica. Deixado para suportar a tortura e o abuso em uma idade tão precoce, é uma maravilha que ele não tenha crescido para ter uma série de transtornos mentais. Toda vez que eu descubro uma camada da malha, encontro outra coisa que quebra meu coração. O desejo de confortá-lo é tão forte, mas não sei por onde começar. Ele é tão errado sobre si mesmo. Ele não vê o que os outros fazem. No centro de todas essas camadas está um homem com um coração gigante que quer fazer a coisa certa e está tentando fazer isso acontecer. A força de caráter que ele possui é fenomenal. — O que você pensa tanto? O que te incomoda tanto que sua testa está tão enrugada? — Pergunta ele. — Estou pensando em você. 287

— Ah. Entendo. Tenho certeza de que vou enrugar a sobrancelha de qualquer um. — Sim você faz, mas não do jeito que você está imaginando. Sua cabeça se inclina enquanto olha para mim. Intensamente. Ele está me analisando. Eu fico lá e não recuo. — O que você quer dizer? — Ele finalmente pergunta. — Você se vê todo errado. Você é enigmático, sim, mas você é tantas coisas que a maioria das pessoas mataria para ser. Você entra em uma sala e o mundo para de girar. Todo mundo percebe você. Você é dono da sala – você o infunde. As pessoas querem ser como você, Kestrel. Você comanda, mas você faz isso de maneira não-controladora. É um talento que a maioria das pessoas não tem. Você é um líder, e não percebe porque está trabalhando na multidão. Mas eu notei isso. Você não se dá crédito por nada disso. O silêncio total me cumprimenta. Ele só fica me encarando. — Eu não estou tentando bajular ou insultar você. E nada disso tem nada a ver com sua aparência. Você tem uma inteligência afiada e é extremamente inteligente. E não tente escapar disso. Eu posso ser ingênua em muitas coisas, mas reconheço a inteligência nos outros. Pergunta. Quantas línguas você fala, além do latim? O leve alargamento de suas pálpebras me permite saber que acertei uma marca. — Cinco. 288

— Quais? — Francês, espanhol, italiano, mandarim e inglês, é claro. — Mandarim? — Aquilo foi Langston. Ele estava certo de que os chineses se tornariam um importante participante da economia internacional, então ele exigiu que aprendêssemos mandarim. Ele estava certo sobre isso, como ele estava sobre muitas coisas de negócios. — É por isso que você tem uma tonelada de dinheiro. Ele pega minhas mãos e diz: — Carter, eu posso te ensinar. — Mandarim? Ele ri. — Isso não. Como ganhar dinheiro. Com o dinheiro que vai receber de ambas as vendas, deixe-me mostrar como investir e deixá-lo ganhar para você. Sempre foi um jogo para Kolson e eu, e nos tornamos muito bons nisso. Vou te ensinar os prós e contras e prepará-la corretamente. — Certo. Gostaria disso. — Com esse tipo de dinheiro inicial, você nunca terá que se preocupar com isso novamente. Com os quatro milhões da casa e os outros três do lote, você estará pronta para a vida. Eu estou falando como em você nunca teria que trabalhar um dia em sua vida novamente. 289

— Mas eu quero trabalhar. Ele pega minhas mãos e diz: — Esse não é o ponto. O trabalho se torna seu hobby – seu verdadeiro amor. Não é mais uma necessidade. Faz sentido? E é quando você realmente voa. E anjo, você vai voar. Eu sei que você vai. — Então você vai, Kestrel. — Eu cresci mais desde que te conheci do que em toda a minha vida. — Então ele me beija e eu quero ficar assim para sempre. Nós finalmente vamos para a cama, enrolados um no outro, e eu solto uma pequena risadinha. — O que é tão engraçado? — Nós só conversamos e nunca nos tocamos. Ou fizemos sexo. — Mmm. Mas estamos nos tocando agora. E eu amo sentir você em cima de mim. — Sim. Seus dedos se prendem aos meus e adormecemos juntos.

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Nas duas semanas seguintes eu e Kestrel nos vemos para refeições rápidas e ocasionalmente passamos a noite juntos. Ele viaja muito, fazendo negócios, e estou tão empolgada com o trabalho que me vejo no laboratório até às nove ou dez da noite. O Dia de Ação de Graças se aproxima e o StrongMeds toma conta da minha vida. Mas minha alegria é tão grande por causa do que está acontecendo com minha pesquisa que estou bem com isso. Winston Miles vem com dois dos principais cientistas, os Drs. Ling e Korchov, e completamos a documentação final para registrar as patentes sobre os processos que estou usando. O Dr. Ling também concorda que precisamos procurar uma maneira de proteger a célula projetada da lise. É nisso que estou trabalhando agora, com a ajuda de outro cientista da StrongMeds. É tudo em que posso pensar porque estamos tão perto dessa incrível descoberta. O encerramento da casa é na próxima semana e eu tenho muito o que fazer para a mudança. Kestrel me garantiu que não precisarei sair na data especificada, mas não farei isso com ele. Eu listei uma empresa de mudança e eles estão vindo na segunda-feira. Eu preciso de alguns dias para fazer as malas. Será um momento angustiante para mim e estou temendo mais do que posso dizer. Enquanto me preparo para sair do trabalho, John se aproxima de mim. — Carter, isso está se movendo muito mais rápido do que eu pensava. Ele salta para cima e para baixo em seus calcanhares. Ele nunca foi de esconder sua excitação. — Eu sei, — suspiro. 291

— O que há de errado? Este é o momento que você está sonhando. — É verdade, mas o fechamento da minha casa é na quarta-feira e a empresa de mudança chega na segunda-feira. Não esqueça, eu estarei fora segunda, terça e quarta-feira. — Oh, me desculpe. Eu esqueci tudo sobre isso com tudo acontecendo aqui. — Não é nada. Eu só tenho um prato realmente cheio agora, tentando fazer tudo. — Compreendo. Você precisa da minha ajuda? — Oh, John, obrigada, mas não. Estou bem. — Ok, então eu acho que te vejo na próxima segunda com o dia de Ação de Graças na próxima semana. Ligue se precisar de alguma coisa. Boa sorte com tudo e tenha um bom Dia de Ação de Graças. Carregando minha mochila, jaleco e bolsa, saio pela porta. Meus braços sentem que vão quebrar quando chego ao carro. Quando saio da garagem, meu telefone toca. É Kestrel. — Ei Doc. — Ei. — O que há de errado? — Ah, não é nada. Apenas sobrecarregada com tudo o que está acontecendo. — Você parece exausta. 292

— Pode dizer isso. — Você está vindo para ter companhia? Eu hesito. Adoraria vê-lo, mas agora, não estou em um lugar emocionalmente estável. — Uma vez que você não respondeu, eu tenho certeza que é um não. — Talvez seja bom não te ver. Estou em um lugar tão esquisito agora. — Como assim? — A mudança. Eu tenho tanta coisa para fazer. — Carter, eu já disse que não há uma data definida. — Existe para mim. Eu tenho caminhões chegando. — Merda. Por que diabos você fez isso? Você está queimando a vela nas duas extremidades como está. — Kestrel, venha. Eu prefiro ter essa conversa pessoalmente, não ao telefone. — Estou no carro agora. Eu vou parar em casa e me trocar primeiro. Tudo bem? — Isso é bom. Isso vai me dar tempo para trocar também. Vejo você daqui a pouco. Não demora muito para ele passar pela porta da cozinha. Minha cabeça está na geladeira e olho para cima quando ele entra. Quando dou uma olhada nele – vestindo com jeans escuros baixo em seus quadris e um suéter preto – tudo que eu 293

quero é que ele me envolva em seus braços e me leve para um lugar onde eu não tenho que pensar em nada. Ele vem direto para mim, me puxa para o seu abraço e me beija. Quando seus lábios tocam os meus e eu inalo seu cheiro, todas as minhas preocupações evaporam, ele é a única coisa em minha mente. Minhas mãos encontram o caminho sob o suéter e sua pele está lisa e quente. Os músculos firmes sob minhas mãos se contraem com o meu toque. Eu sigo a linha de sua espinha até alcançar seus ombros e meu desejo por ele se torna tão urgente, eu me afasto do seu beijo e imploro. — Faça amor comigo. Agora. Eu preciso de você. Ele desabotoa os dois primeiros botões da minha blusa, mas depois abre a blusa, arruinando-a. Estranhamente, não me importo. Sua mão alcança minhas costas e solta meu sutiã em um piscar de olhos. Em seguida, meu jeans. Ele empurra pelas minhas pernas abaixo, até que elas atinjam meus tornozelos. Então sua boca está no meu mamilo dolorido enquanto ele segura minha bunda com as duas mãos, me levantando. A bancada se torna meu assento e eu agarro seu suéter como uma criatura com garras, ansiosa para ele derramar. Ele libera meu mamilo para que possa me dar o que eu quero. — Calma, anjo. Eu não vou a lugar nenhum. — O som de sua voz rouca me faz estremecer de antecipação. Quando ele se move, noto algo brilhando em seu peito e percebo que é um anel de mamilo. Minha mão estende para isso. Assim que eu o toco, ele solta um gemido rouco. O som me faz querer colocar minha boca nele. Quando levanto os olhos, vejo-o me observando. 294

— Posso levar na minha boca? — Sim, — ele diz. Suas mãos se fecham em seus lados. — Desfaça suas calças, Kestrel. Ele faz o que eu digo. Está ereto. Totalmente. Minha mão envolve em torno dele enquanto minha boca se fecha sobre o mamilo do anel. O rosnado que ele libera é baixo e longo. E isso quase me faz gozar. Abro minhas pernas, tomo a coroa dele e esfrego ao redor do meu clitóris. É então que eu tenho que liberar o mamilo dele porque estou tão excitada que tenho medo de mordê-lo. Nossos olhos se encontram; guio seu pau e coloco na minha abertura. Com um giro de seus quadris, ele empurra para a frente e agarra minhas panturrilhas, envolvendo-as em torno de sua cintura. Ele está no fundo agora e eu me inclino para trás em meus cotovelos, observando enquanto ele empurra. Dentro e fora, dentro e fora, até que sinto que vou explodir, ele continua, mas depois massageia meu clitóris com a ponta do polegar e sinto os espasmos revirarem meu corpo, por dentro e por fora. Ele está bem ali, culminando comigo. E quando seu pau para de pulsar dentro de mim, ele deita a cabeça no meu peito e segura minhas duas mãos, porque eu desmaiei e agora estou deitada de costas. — Isso foi realmente algo, anjo. — Sua respiração sopra suavemente contra a pele do meu abdômen. — Isso foi. Obrigada. — Por que você está me agradecendo? — Porque eu precisava desestressar e isso funcionou. 295

Ele se move e percebo que estou muito molhada entre as pernas, muito mais do que o normal. Ele deve perceber ao mesmo tempo, porque ele diz: — Oh, caralho. Preservativo. Eu esqueci o preservativo! — Porra! Porra! Porra! Nós dois falamos ao mesmo tempo. Eu pulo do balcão e pulo para cima e para baixo. — O que você está fazendo? — Talvez se eu pular, haverá menos chance de eu engravidar. Seus braços se movem para os meus ombros para que eu pare. — Você é muito mais inteligente do que isso. Você sabe que isso não funciona. — Oh, Deus, o que vou fazer? — Você não vai fazer nada. Provavelmente você está bem. Quando foi seu último período? Eu tenho que pensar sobre isso porque nunca acompanho. Até que comecei a dormir com Kestrel, nunca prestei atenção. Não tinha razão para isso. — Ah caramba. Há pouco mais de duas semanas. Estou bem no meio do meu ciclo. — Isso ainda não significa nada. — Oh, sim? — Eu aponto os dois polegares para mim mesma. — Esta é a garota que engravidou a primeira vez que teve relações sexuais. 296

— Anjo, não vale de nada agora. Apoiando-me no balcão, onde acabamos de fazer sexo, eu descanso a cabeça nas minhas mãos. O que no mundo eu vou fazer se estiver grávida? Eu não tenho família dessa vez. Estou sozinha sem ninguém para me ajudar. De repente, começo a chorar. — Não chore. Está tudo bem. — Não, não está. O que eu vou fazer? Se tiver um bebê agora, estou sozinha. Eu tive meus pais na última vez. Agora sou só eu. Foi tão difícil antes. Eu simplesmente não posso fazer isso. — Pare. Você nem sabe se está grávida. Além disso, você acha que eu deixaria você fazer isso sozinha? Eu sou metade dessa equação, você sabe. — Você está certo. Estou tirando conclusões precipitadas. Eu acho que estou estressando, — digo, esfregando meu rosto. — Sim. Ao extremo. E quanto à pílula do dia seguinte? Você pode ligar para o seu médico? — Eu realmente não tenho um. Deixei meu último há alguns anos e não me estabeleci com um novo. — Ok, anjo, isso é algo que você precisa cuidar. Sua saúde é importante. — Eu sei. É que os últimos anos não foram exatamente os melhores, você sabe.

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— Eu sei. Mas na segunda-feira, quero que você ligue para algum lugar e marque uma consulta. Apenas para um check-up. Agora vamos sentar e tomar uma bebida. Podemos conversar sobre o que você precisa focar nos próximos dias. Ele nos mistura um par de bebidas de vodca e nós falamos sobre tudo que precisa ser feito. Mostro-lhe as coisas grandes, como nos armários e tal. O armário do meu pai está vazio, mas não o da minha mãe. Eu nunca poderia passar por suas coisas. Eu preciso fazer isso, junto com minhas coisas. O meu não demorará muito, porque reduzi ao longo dos anos, já que não comprei muito. A cozinha é outra coisa. E as roupas de cama. Tantos para passar. Kestrel olha em volta por um minuto e diz: — O que você precisa para funcionar confortavelmente na casa de hóspedes? — Nada realmente. Está totalmente mobiliado. Roupa de cama, coisas de cozinha e tudo. Mas quando eu sair de lá, vou querer ter coisas para levar comigo. — Aqui está o que eu sugiro. Pegue tudo o que quiser da cozinha, da roupa de cama, etc., arrume-os e coloque-os no depósito. Eu vou redecorar. Pintar, mudar a aparência dos quartos, esse tipo de coisa. Então, se você quiser a roupa de cama dos quartos, toalhas e assim por diante, sinta-se livre. Dessa forma, quando você quiser sair da casa de hóspedes, você estará pronta. Tudo o que você não quiser, ligue para uma das instituições de caridade locais e peça-lhes para pegar tudo. Use-o como uma anulação de impostos. — Ok. Um, você vai precisar dos lençóis até redecorar. O que você vai usar nesse meio tempo? Dois, você aceita o cancelamento. É seu. 298

— Bom ponto nos lençóis. Embale os extras que você pode querer. Deixe o suficiente para eu passar por todos os quartos e banheiros. Depois que o lugar for refeito, podemos descobrir o que fazer com eles então. E não. Tecnicamente, a anulação é sua. Pegue. — Concordamos com a roupa de cama e vamos fazer uma divisão de duas vias na anulação. — Estou firme sobre isso porque ele está sendo muito mais do que generoso. — Eu vou te perguntar uma coisa e você tem que me dar uma resposta honesta. Onde ele está indo com isso? — Ok. — Você precisa de ajuda com isso? Você está enfrentando uma grande tarefa aqui. — Bem, sim, eu poderia usar ajuda. Mudar-se é uma bosta. — Tudo que precisava saber. Vou mandar algumas pessoas. — Espera. Quem? — Você não precisa se preocupar com isso. — Eu não estou tomando sua caridade. — Não me insulte, anjo. Eu gostaria de pensar que sou mais do que apenas um amigo e quero ajudá-la. Eu posso pagar, então, por favor, me deixe. Quando começo a protestar, ele diz: 299

— Escute. Estou dividido aqui. Metade de mim sabe que estou fazendo a coisa certa comprando esta casa. Mas a outra metade odeia o que está fazendo com você. O mínimo que você pode fazer é me deixar ajudá-la. — Sim. Ok. Ele pisca um sorriso. Isso ilumina seu rosto. Ele é tão sexy. Minha mão vai para a minha garganta porque um caroço se forma. Não tenho certeza se é por causa da gentileza que ele demonstrou ou do desejo que sinto de novo. — Você é um homem muito bom, Kestrel. Meu comentário o surpreende. — Você traz isto em mim, anjo. Você realmente deve ter uma auréola em algum lugar acima de você. — Estou pensando que é você que deve ser o anjo depois de tudo. Você vem até o quarto de Ells comigo? — Sim. Venha. — Ele estende a mão e eu pego. Subimos os degraus e entramos no quarto dela. Não é tão difícil quanto costumava ser. Há três fotos aqui que quero levar comigo. Eu vou pegar o resto quando fechar este quarto para sempre em algum momento posterior no tempo. Há também três fotos dela pendurada no corredor do lado de fora da sala que vou arrumar depois. — Você está bem? — Ele pergunta enquanto fica ao meu lado. — Hmm. Sim. Estou, na verdade. Só de pensar em como não é tão difícil quanto costumava ser. — Eu me viro para ele e digo: — É você. 300

— Eu? — Você. Você me fez enfrentar algumas coisas e repensar as coisas. — Espero que seja uma coisa boa. Assentindo, eu respondo: — É. Nada a trará de volta, incluindo este quarto. Não vai ser fácil, mas eu sei que é melhor deixar passar. O desejo de sentir seus braços e mãos minúsculas me enche e eu vou sentar em sua cama. Seu animal de pelúcia favorito, um poodle rosa fofo, ainda está em seu travesseiro, então eu o agarro e aperto o mais forte que posso, desejando que por apenas um minuto eu pudesse tocar sua pele macia novamente. — Eu gostaria de poder conhecê-la. — Eu também. — Então eu rio. — Ela teria dito que você era muito 'Séio'. Ela viria com as coisas mais incríveis. Que criança de três anos de idade diz sério? — Carter, olhe para sua mente. Ela herdou isso de você. — Hã. Eu não disse coisas assim quando tinha três anos. Até meus pais ficaram surpresos. Ela nunca me chamou de mamãe. Foi mama. Ela iria arrastá-lo para fora. Longo e lento. Vou ter que puxar os vídeos dela para que você possa ver algum dia. — Eu adoraria isso. — Você poderia? Quero dizer, você não precisa dizer isso para me fazer sentir bem. — Não. Eu adoraria ver e ouvir ela. 301

— Ela era demais. — Onde eles estão? Os vídeos? — Andar de baixo. Você quer vê-los agora? Estou espantada. — Sim. Se não for muito inconveniente. Chegamos ao armário do computador na sala procuro pelas pilhas deles e retiro os mais recentes. Seu último Natal, Páscoa e aniversário. Nós puxamos outra cadeira na frente do computador e coloco o disco no computador. Acima aparece seu rosto e minha carne instantaneamente explode em arrepios. Calafrios correm para cima e para baixo na minha espinha e quero chegar dentro da tela e puxá-la para fora apenas para beijar seu doce rosto. Ela cambaleia pela casa como um barco sem leme, como muitas vezes as crianças fazem. Eu estou segurando a câmera e posso me ouvir rindo. Então eu digo: — Ells, o que há por trás de você? — Ela diz: — É a Ávowe de natal, Mama. — E solta uma risada longa e tilintante. Eu puxo o ar através de uma traqueia comprimida enquanto cubro minha boca. Ela tem um vestido de veludo verde com cara de Papai Noel e sapatos pretos de verniz; eu poderia comê-la ela é tão fofa. E era minha. Por aquele breve período no tempo, aquele precioso pequeno ser humano era todo meu. Faixas fortes de aço me envolvem e me puxam para o ninho de seu abraço.

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— Ela era um lindo anjo. Assim como a mãe dela. — As palavras parecem música enquanto ele fala perto do meu ouvido. — Não admira que Deus tenha precisado dela de volta ao céu. — Mas por quê tão cedo? Eu não a tive tempo suficiente. Isso não é justo. — Eu sei, querida. Eu sei. Eu gostaria de poder devolvê-la a você. Eu corro minha mão sobre o rosto para secar as lágrimas, e olho para ele. Ele me dá um sorriso torto e diz: — Vamos sair daqui por um tempo. — Onde você quer ir? — Eu não me importo. Para um passeio. Qualquer coisa. — Ok. — Colocamos nossos casacos, sapatos e saímos. Sem pensar em destino, nós dirigimos sem rumo pela cidade. Ele me envolve na conversa, mas minha mente ainda está em Ells, e ele sabe disso. — Minha família está vindo para o Natal. Toda a família. — O quê, todos os três deles? — Eu rio. — Bem, eu convidei Kade, mas ele não está pronto para deixar seu centro de tratamento ainda. E você pode achar engraçado. Mas espere. — Por que você está dizendo isso? — Porque você vai estar lá também. — Ah não. Eu não. Não conte comigo. 303

— Por quê? Você não quer conhecê-los? — Okay, certo. Primeiro, vou ser psicanalisada pela sua cunhada. Então, serei inspecionada por sua mãe. Seu irmão foi ruim o suficiente. E você acha que eu quero passar o Natal assim? — Minha família não faria isso com você. — Como eles não iriam. Conte-me algo. O que Kolson achou do quarto de Ells quando ele viu? O silêncio me cumprimenta. — Uh Huh. Assim como eu suspeitava. — Não foi assim. Ele ficou surpreso que você teve uma filha. — Kestrel, você não tem que encobrir para mim. — Eu não estou encobrindo para você. — O que vai acontecer com a gente quando eu sair da casa de hospedes? — O que você quer dizer? — Exatamente o que você acha que quero dizer. Este é um relacionamento que começou com um tipo de coisa e se transformou em um de conveniência. Eu sou muito mais forte do que quando você me conheceu. — Não de acordo com o que acabei de testemunhar há alguns minutos atrás. — Isso não é justo. Eu estava me referindo ao quarto de Ells. Vídeos são completamente diferentes. 304

— Ok. Ponto tomado. Você é mais forte quando se trata de seu quarto. Mas, na medida em que isso é uma relação de conveniência, você e eu estamos em comprimentos de onda completamente diferentes. As mulheres que lhe falei, – as que costumava ficar – eram relações de conveniência. Você é diferente. Eu pensei que me fiz claro sobre isso. E a maneira como você falou sobre nunca se envolver com homens, levei isso para significar que você não era do tipo de considerar relações de conveniência. Ele certamente me tem lá. — Você está absolutamente correto. Peço desculpas. Eu não faço relacionamentos. De qualquer tipo, então eu acho que te enganei. — O que diabos isso significa? — Ele grita. Então tira o carro da estrada. — Ah caramba. Isso não. Eu quis dizer antes de você. Eu sou terrível nisso. — Minha cabeça desce. — Por favor, olhe para mim quando você fala. É difícil falar ao lado do seu rosto e discutir durante a condução não é seguro, e é por isso que estamos do lado da estrada. — Sim, como isso é seguro. Puxa para o parque mais à frente. Não seria ótimo ser atingido aqui no escuro. Ele vê a lógica na minha sugestão e logo estamos estacionados no lote. — Assim. O que estamos fazendo, Carter? Pensei que estivéssemos namorando, como nos vermos um ao outro. 305

— Você nunca deixou isso claro. — Jesus. Então você acha que rasgo minha vida para você – que, pelo que me lembro nunca contei a ninguém – e nós somos o quê? Amigos de foda? — As duas mãos dele puxam seus cabelos e me pergunto se ele vai arrancar cada fio pela raiz. — Eu quase bato naquele idiota de rato que te insultou e você acha que é porque gosto de bater de vez em quando. Bem, estou feliz por ter feito uma impressão tão brilhante em você. Eu pensei que as coisas que você disse sobre mim naquela noite na minha casa eram reais. Mas acho que você estava soprando uma tonelada de fumaça na minha bunda, hein? — Pare! Isso não é verdade. Essas coisas que disse eram reais. — O que você quer de mim? Para fazer uma declaração de namoro para você? Ok. Como é isso. Carter, estamos oficialmente namorando. Isso é bom o suficiente? — É o bastante! — Eu quero saber o que recebo em troca. — O que você quer dizer? — Parece-me que esta é uma rua de mão única. Eu estou fazendo todo o dar e tudo que você faz é tomar. Pense nisso, Carter. Quando não digo nada, ele diz: — A única coisa que eu pedi a você foi para ir àquela festa comigo no aquário. Tudo o resto foi opcional. Parece que você conseguiu a melhor parte do negócio aqui. E eu sou aquele que é acusado de... 306

— Pare! Eu sinto muito. Eu estava errada. E eu me sinto uma merda agora por causa disso. Eu penso em tudo o que ele fez e aqui estou tratando ele como um... oh, Deus, o que eu fiz? Ele liga o carro e recua na estrada. As luzes piscaram quando passamos e logo entramos no passeio. Quando paramos, ele não desliga o carro. Eu olho para ele e ele balança a cabeça lentamente. — Eu preciso de um tempo sozinho. Boa noite. É isso. Nenhum abraço ou beijo. Nada. Mas quem pode culpá-lo? Eu apenas o fecho.

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CAPÍTULO DEZESSETE Carter

Maior erro da minha vida. Por que fiz isso? Eu ando para dentro e olho para o DVD. Ells está lá, mas desta vez não choro. O que me faz chorar é Kestrel e o que ele disse. Ele tem razão. Eu sou uma bagunça. Estava tão absorta em minha própria miséria que não consegui ver o que ele tem feito por mim. E eu sou a maior idiota por aí. Então, como posso consertar isso? Um, preciso trabalhar aqui. Há muito o que fazer e eu tenho ficado para trás no encaixotamento. Um armário de cada vez eu vou nisso. Às duas da manhã, ainda estou trabalhando. Kestrel consumiu todo pensamento. Eu o conheço há quase dois meses e parece que estou mais perto dele do que qualquer um. Quando Harper me ligou depois do incidente no bar com Simon, ela ficou louca por causa de Kestrel. Ela não iria parar com as perguntas. Eu finalmente tive que desligar. Então ela me ligou de volta e me perguntou se eu sabia o quão rico ele era. Claro que tinha uma ideia, mas não esse tipo de ideia. Ela me diz quanto dinheiro sua família tem – como zilhões – e até fico chocada. Não que isso importe. O dinheiro não faz uma pessoa. O que está dentro de uma pessoa é o importante. Mas Harper não deixaria passar. — Você precisa se casar com ele, Carter. — Casar com ele? Eu só comecei a vê-lo, por chorar alto. — Exatamente. Trave seus dedos nele e nunca mais terá que se preocupar com dinheiro, garota. 308

— Harper, é tudo o que você pode pensar? — Hum, não. Isso e sexo. — Sim. Eu tenho que ir. À medida que continuo encaixotando e classificando, olho para o meu telefone e decido gravar um texto para Kestrel. Eu sei que ele estará dormindo, mas pelo menos estará lá quando acordar. Eu realmente sinto muito. Mais do que eu posso dizer. Eu sou a burra, não você (como você sempre diz que é). Por favor, me perdoe. Como posso consertar isso? Eu estava tão errada. E você está certo. Você tem feito todo o trabalho aqui. Eu não. Dê-me outra chance? Meu dedo paira sobre enviar, mas depois eu bati e foi embora. Eu rezo para que ele não apague sem lê-lo. Quando me desloco para desligar o telefone, ele responde com uma resposta. Porque você está acordada tão tarde? É isso? Nenhuma resposta além disso. Decepção me enche. Mas outra mensagem segue rapidamente. Eu perdoo você. Mas você tem que vir para o Natal e conhecer minha família, e agir como se fosse minha namorada. E você tem que começar a pensar fora da sua caixa, anjo. Porra.

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Sim, eu estarei lá como sua namorada. E vou começar a pensar fora da minha caixa. Isso significa parar de sentir pena de mim mesma. Ele está certo. Talvez eu precise caminhar na Trilha dos Apalaches. Com a minha sorte, provavelmente seria devorada por um urso. Meu telefone toca novamente. Você nunca me respondeu. O que está fazendo acordada tão tarde? Persistente, não é? Estou arrumando armários. Eu não recebo uma resposta, então eu suponho que ele tenha voltado a dormir. Então meu telefone toca. Destranque a porta. Merda. Ele está aqui? Eu corro para baixo e ele está na varanda da frente! Os portões estavam fechados, então ele teve que estacionar na rua. — Olá, — eu digo, me sentindo um pouco tímida. — Olá você. Agora venha aqui e me beije, empacotadora do meio da noite. Ele não precisa me perguntar duas vezes. Ele tem um gosto bom, como hortelã. E cheira ainda melhor. — Você veio para me fazer companhia? — Eu pergunto. — Não, eu vim dormir com um anjo. 310

— Oh. — Minha mão cobre minha boca enquanto tento aquietar o soluço. — Sinto muito. — Você já disse isso. E está perdoada. Vamos dormir um pouco. Você pode terminar de embalar amanhã. Nós vamos para o meu quarto e está uma bagunça. Coisas do armário estão espalhadas por toda parte. Ele ri. — Você realmente foi para a arrumação aqui, não foi? — Sim. Então subimos na cama e não me lembro de adormecer.

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No domingo, quero me arrastar em um buraco e morrer. Meus braços doíam de puxar, levantar, carregar e arrastar caixas, pendurar roupas e o que quer que estivesse escondido no armário da minha mãe nas últimas duas décadas. Tenho certeza de que existiam elfos lá também. Eu provavelmente os empacotei em algum lugar e eles estão sendo doados para alguma caridade desavisada. Kestrel tem sido uma grande ajuda, embora tenha rido de mim por querer salvar algumas coisas. — Não. O que você fará com isso? — Ele pergunta. — Eu não sei. 311

— Anjo, é atroz. O único uso para isso seria uma festa de Halloween. Ou, possivelmente, uma festa de vestidos brega. — Ele está se referindo a um dos vestidos de minha mãe que ela usava para uma das muitas festas de debutante em que eu participava. É realmente feio. — Este aqui? — Eu pergunto enquanto seguro outro. — Bom Deus. Você vestiu essa coisa? — Sim! Foi o meu vestido de baile! Ele teve a decência de se desculpar. Mas então ele tem a coragem de acrescentar: — Parece um cupcake gigante coberto de merengue. Minha boca forma um enorme O quando olho para ele. — Eu vou te dizer, você sabe que foi um designer especial. — Uh, especial é a chave aqui. Você foi enganada, doçura. Eu jogo para ele. Virando, aponto meu dedo para uma pintura a óleo na parede. — Veja! Olhe para essa foto. Ele caminha até ela e inspeciona. — Porra. Isso é você? Eu pensei o tempo todo que era a Rainha Mary da Inglaterra. Mas agora posso ver que os dentes dela não são pretos. Um ataque de risos me ultrapassa e eu dobro mais. Entre risos, eu penso: 312

— Você é um idiota. — Por favor, me diga que foi uma tortura, porque com certeza parece que sim. — Não! Eu amei. Todos nós fizemos. Foi a coisa. Ele esfrega o rosto e balança a cabeça. — Jesus. Jogue essa coisa fora. — Custou uma grana alta. — Você considerará usá-lo novamente? Uivando de rir a essa hora, eu digo: — Ah, sim. Eu posso me ver nele agora. — Coloque-o. — Não! — Sim. Para mim. Faça. Eu quero ver você nisso. — Você é louco. — Totalmente louco. Eu tiro minhas roupas e passo para o cupcake coberto com merengue. Ele fecha e abotoa as dezenas de coisas cobertas de cetim nas minhas costas. Quando eu me viro, ele inclina a cabeça e, em seguida, pega a manga inchada esquerda e puxa-a para baixo. Arranca imediatamente, deixando o vestido sem mangas de um lado. — Muito melhor. Deixe-me fazer o outro. — Ele repete à direita. — Agora estamos chegando lá. Levante a camada superior. Eu faço o que ele pede. 313

— Puta merda. Que diabos é tudo isso lá embaixo? — Camadas e camadas de tule. — Cristo. Você poderia esconder uma pequena aldeia lá embaixo. — Então suas mãos pegam um punhado de cada lado dos meus quadris e puxam até que rasguem. Ele circula em volta de mim e diz: — Solte a camada superior. — Então ele me olha novamente e diz: — Isso é ainda melhor. Você se parece mais com a pequena pastora agora. — Oh meu Deus. Exatamente o que eu preciso. — Vá olhar. Isso fez a diferença. Mas eu nunca usaria isso de novo. É antigo e pouco atraente. — Nossa. Você está certo. Isso não sou eu. — Então, você está dizendo que costumava ser você? Eu estou rindo novamente. — Eu não sei, para ser honesta. — Bem, pelo menos conseguimos dar uma boa risada. Enquanto pegamos a última caixa no andar de baixo, Kestrel diz: — Eu mencionei a você que há um evento black tie que gostaria que você comparecesse comigo? 314

— Não. Quando é? Ele fica com aquele olhar tímido que o faz parecer um garotinho. — Sábado. — Oh. — Eu queria te perguntar na semana passada e isso me deixou furioso. Eu sinto muito. Isso é um problema? — Eu preciso pegar um vestido. A menos que você queira que eu use o cupcake? — Eu pisquei. — Deus me salvou. Nós podemos ir às compras. Eu te levarei amanhã quando os carregadores estiverem aqui. — Quem vai supervisionar? — Vou arranjar alguém para fazer isso. Nós rotulamos tudo, então tudo que eles precisam fazer é levar isso ao lugar certo. — OK. Mas eu odeio por você gastar dinheiro em um vestido para mim. — É minha culpa. Se eu tivesse dito a você quando deveria, você poderia ter pegado algo emprestado ou ter mais tempo para encontrar alguma coisa. — Mas ainda assim. — Carter, eu posso pagar. Não se preocupe com isso. — E só vou contar uma vez a você. Eu não quero que ninguém, você ou sua família, pensem que eu tirei vantagem de você pelo seu dinheiro. Eu percebo que 315

você é rico. Mas a verdade é que o dinheiro não pode resolver todos os seus problemas ou trazer de volta os entes queridos que você perdeu. — Eu nunca pensaria isso de você. — Mas sua família pode. E seria tão longe da verdade. — Eu sei e quando se trata disso, eu sou o único que conta quando se trata de como eu penso sobre você. — Verdade. — Então, comprando um vestido amanhã? Eu estendo minha mão para ele. — Combinado.

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O fechamento é suave. Quando recebo o cheque, parece estranho. Todo esse dinheiro. Depois que as dívidas forem pagas, ainda haverá mais de dois milhões. Então, depois da venda do lote, eu estarei em forma fabulosa. Vou precisar procurar um lugar para comprar. Estou pensando em um condomínio sem manutenção externa. — Parabéns, vocês dois, — diz o tio Foster. Enquanto ele não fez o trabalho legal real, ele estava lá desde que seu escritório lidou com o fechamento. 316

— Obrigada. Estou feliz que esteja feito. Kestrel será o dono perfeito. — Obrigado, Foster. Eu tomarei muito cuidado com o lugar. — Fico feliz em ouvir isso e é legal da sua parte deixar Carter alugar a casa de hóspedes. — Funcionou bem para nós dois. Tio Foster sorri. — Estou feliz que vocês se conheceram. — Nós também, — diz Kestrel. Paramos para comer e depois fomos para casa. Kestrel ainda está em sua locação, mas estará se mudando para casa na próxima semana. Na manhã de quinta-feira, Kestrel voa para Nova York para o Dia de Ação de Graças. Ele me convidou, mas eu recusei. Eu pretendo passar o dia me instalando. Todas as minhas coisas estão lá; é apenas uma questão de colocá-las em seu devido lugar. Eu realmente gosto do aconchego da casa de hóspedes. É um grande quarto e tem muito espaço para mim. Vai ser uma boa mudança morar aqui, em vez da casa grande, sozinha. Kestrel e eu decidimos que seria estranho estar no mesmo lugar, mas tomamos a decisão de fazer o melhor que podemos e falar sobre isso se as coisas ficarem complicadas. Quando o sábado chegou, tinha um compromisso de cabelo e maquiagem às duas. A festa é um jantar que começa às sete. São quase cinco quando eu chego em 317

casa. Por que demora tanto para você fazer o cabelo e a maquiagem? Eles fizeram essa coisa de aerógrafo na minha cara. Você não pode ver uma sarda na minha pele. Eu pareço ter sido fotografada. Eu não tenho tanta certeza sobre isso. É quase falsa demais. Meu cabelo é feito em ondas soltas que estão unidas em uma trança confusa na parte de trás da minha cabeça. Eles de alguma forma entrelaçaram flores dentro da trança enquanto ela descia pelas minhas costas. Parece muito delicado. Eu estou usando um vestido de cetim dourado que é sem costas e bastante ousado para mim. A parte traseira mergulha em um V que termina acima dos meus quadris e a frente também mergulha em um V, mostrando muito decote – não que eu seja muito dotada. Eu me sinto completamente nua, mas a balconista jurou para mim que era de muito bom gosto e elegante. Quando Kestrel viu, ele não disse nada, exceto — Compre aquele vestido. Meus sapatos são sandálias de plataforma douradas e eu tenho um colar de pérolas deixado da coleção da minha mãe. Foi a única coisa que eu não vendi porque era da mãe dela, passada de geração em geração. Tem algumas centenas de anos e me senti muito culpada por vendê-lo. As pérolas são perfeitas para este vestido. Eu os coloco com um par de aros de ouro, e isso faz a diferença. São seis e quinze e Kestrel disse que ele iria me pegar neste momento. Então a campainha toca. Abro a porta e ele fica lá me olhando. Claro, eu olho de volta porque ele está em um smoking preto e parece divino. Graças a Deus ele não se barbeou. Eu corro as costas da minha mão sobre sua bochecha e digo: 318

— Mmm, eu amo esse visual. Você parece perfeito. — E você... você é divina, anjo. Vire-se. Eu viro e ele suspira. — Cristo, você faz aquele vestido certo. E seu cabelo está perfeito. Ele se inclina para me beijar. — Quem roubou suas sardas? Rindo, eu digo: — Eles fizeram esse aerógrafo e as cobriram. — Hmm. Sinto falta delas, mas você está radiante. — Obrigada. Você me faz sentir bonita. — Você deve sentir isso por si só porque você é. Não tem nada a ver comigo. — Você sente falta dos meus babados? Um riso sincero irrompe dele. — Tanto quanto o seu cupcake. — Que tal uma bebida, ao contrário de um bolinho? — Certo. Nós temos um motorista hoje à noite, então é bom. Chegamos ao local em grande estilo, que por acaso é um Fundo de Natal para Câncer, e tenho que admitir que me sinto um milhão de dólares. Mas, novamente, é fácil se sentir assim com Kestrel como minha escolta. Os olhos nos seguem em todos os lugares. As mulheres sussurram quando passamos. Mas ele é possessivo comigo e nem sequer dá uma olhada. Eu me sinto como se estivesse em flor. Mesmo os 319

homens tomam nota, mas é a ele que eles olham. E com inveja. Um garçom com uma bandeja de taças de champanhe se aproxima e Kestrel pega duas para nós. Depois de um gole, ele sussurra para mim: — Isso é ruim. Não beba. Eu levanto uma sobrancelha. — Sério? — Uh Huh. Minha mãe é uma especialista em champanhe. Eu preciso te dar uma lição. — Qual é o favorito dela? Dom? — Ela gosta disso. Mas ela gosta de variar de vez em quando. Ela realmente ama Heidseick. Charles Heidseick e Piper Heidseick. Mas ela entrou no La Grande Dame de Veuve Clicquot recentemente. Champagne é sua bebida preferida. — Interessante. Eu nunca pensei em beber desta forma. E eu amo o seu sotaque francês. Muito sexy. — Je dois vous parler en Français mais souvent19 — ele sussurra no meu ouvido. Sua respiração envia arrepios na minha espinha. Eu lambo meus lábios repentinamente secos. — Eu quero te beijar tanto que posso provar isso. Eu tenho um abraço forte que me deixa passar.

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Eu tenho que falar francês, mais vezes.

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Seus olhos de esmeralda são tão brilhantes que quero me afogar neles. Sua boca implora para ser beijada, e tão perto da minha, apenas centímetros, mas sei que, se fizer, faremos uma cena. — Kestrel, eu... — Não diga isso. Me dê sua mão. Meu cérebro não funciona, mas minha mão, de alguma forma, acaba na dele. Ele levanta os lábios, vira e beija o interior do meu pulso. Então ele envolve meu braço e nós começamos a andar novamente. Meu corpo anseia pelo dele. Eu quero escorregar em suas roupas e estar ao lado dele. A música toca ao fundo e nós acabamos em um bar de canto, pedindo bebidas. Vinho. Ele me entrega um copo e nossos dedos se tocam. Fogo entra em erupção na minha barriga e zumbe até o meu núcleo. Ele se sente assim também? Eu olho para cima e encontro ele focado em mim. — Você... — Eu começo, mas depois perco a coragem. — Eu o quê? — Nada. É bobo, na verdade. — Me pergunte. — Quando você me toca. — Sim. Eu faço. Em meu sangue. Eu quero você. Aqui e agora. Se você pudesse me sentir, você saberia.

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Meus dentes estão no meu lábio inferior enquanto assimilo o que ele diz. É mútuo. Isso me dá algum nível de conforto. — Não morda isso, anjo. — Hã? — Seu lábio. Você vai ficar bem engraçada sem um lábio inferior. Eu sorrio para ele. — Vamos resolver tudo isso. Você não precisa parecer tão preocupada com isso, — diz ele. — É isso que você acha? — Sim. — Eu não estou preocupada. Eu estava pensando que estou feliz que não seja só eu. — Oh, não é só você. Você é muito mais inteligente do que isso. Uma voz irritante nos interrompe. — Bem, olhe quem está aqui. Se não é a Dra. Salve o Mundo e seu amante salvador. Simon. Por que ele tem que aparecer em todos os lugares? — Olá Simon. — Carter.

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Kestrel está tão tenso como uma bobina, pronto para saltar. Eu aperto sua mão e me inclino para ele. Não quero falar com o Simon. Talvez, se não disser mais nada, ele se esgueire para longe. Eu olho para Kestrel e ele está fixando Simon com a íris esmeralda dele. Sem piscar, seus olhos são como sólidos pedaços de gelo. Ele parece tão perigoso assim. Simon deve recuar agora se souber o que é bom para ele. — Então, quem convidou a ralé? — Simon pergunta. — Isso é exatamente o que eu estava pensando quando vi você, seu pequeno filho da puta. — A voz de Kestrel é fria como aço enquanto ele diz seu insulto. — Como você se atreve? — Simon pergunta. — Oh, eu ouso bem. Agora seja um bom menino e voe para longe, pequena praga. — Ele passa a mão na frente do rosto. — De todos os... Eu me endireito e digo: — Simon, se você for esperto, sairá daqui. — Se sou inteligente? — Você me ouviu. Agora vá! Sua cabeça gira entre nós dois e então ele deve pensar melhor e se esquivar. — Se aquele filho da puta fizer qualquer coisa para te insultar, eu vou derrubálo. E não me importo com quem vê. — Acalme-se. Está tudo bem. Ele se foi e vamos nos divertir muito esta noite. Você notou todas as decorações de Natal? 323

— Não. Mesmo que o lugar esteja pingando delas, eu não vejo porque não consigo tirar meus olhos de você. Você é de longe muito mais bonita do que qualquer decoração aqui. E a melhor parte de tudo é que você é minha esta noite. — Você se importaria de dançar comigo, gentil senhor? — Você pode me aguentar? — Sim, eu posso. Eu adoraria sentir você perto de mim. — Você pode dançar? — Seus olhos têm um pouco de brilho quando me provoca. Eu faço uma onda de mão exagerada. — Claro. Eu fui debutante, lembra? Ele me acompanha até a pista de dança, onde uma música lenta começa e nós começamos a balançar. Sua mão está quente sobre a pele na minha cintura e é preciso toda a minha força para não arrastar minha própria mão por baixo do casaco, o que, por qualquer motivo, agora se tornou ofensivo para mim. — Você acreditaria em mim se eu dissesse a você que todos nesta sala estão olhando para você? — Pergunta ele. — De jeito nenhum. É você que eles estão olhando. Você nem percebeu quando entramos. — Oh, como você está errada. Mas eu os notei olhando para você, não para mim. — Adulador. 324

— Anjo sexy dançarina. — Não mude de assunto, mas você sabe o que eles estão servindo para o jantar hoje à noite? Ele ri. — Espero que seja o que for, seja melhor do que o champanhe que eles tentaram nos empurrar. — Você é muito exigente. — Não, eu só acho que se você vai servir champanhe, deve ser decente. Há preços razoáveis que não te matarão se você os beber. — Kestrel, você foi criado com o melhor do melhor de tudo? — Sim, praticamente. Meu pai era um super esnobe. Minha mãe fazia tudo o que ele dizia a ela. Patético, na verdade. Eu não tenho orgulho disso. O ruim é que meu gosto é assim agora. Certamente pode ser uma maldição. — Ainda bem que você pode pagar, hein? Ele ri. — Essa foi a única coisa com que tive problemas quando mochilei. A comida. Coisas desidratadas eram horríveis. Eu perdi um monte de peso. Quando cheguei em casa, acho que comi tudo que não era desidratado. A música termina e ele me acompanha de volta para o bar para pegar outra bebida. Então nos movemos para uma mesa de coquetel.

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— Eu deveria estar me misturando, mas tudo que eu quero fazer é sair com você, — diz ele. — Deixe-me dizer. Conversamos por mais quinze minutos, depois nos misturaremos. — Ah, entendo. Você vai me manter no caminho certo aqui. — Sim. Então me diga, você viajou muito crescendo? Seus lábios finos e ele diz: — Não. Eu estava em internatos, sendo expulso de muitos deles. Então eu chegava em casa e era chutado pelo Dragão. Oh, nós viajamos, mas não tanto quanto você pensa. Eu não fiz nenhuma viagem significativa até me formar na faculdade. Fui para o exterior por alguns meses antes de ir trabalhar para o meu pai. — Você nunca me disse onde você se formou, — eu digo. — Hmm. Eu não disse, pois não? Eu finalmente terminei em Columbia e pela pele dos meus dentes. Não foi por causa do currículo. Foi por causa dos meus problemas de atitude e raiva. Eles ameaçaram me expulsar, mas Langston deu-lhes muito dinheiro para me manter dentro. — Ele abre bem os braços e diz: — Então, aqui estou eu, um graduado em Columbia. Você não está impressionada? — Eu ficaria impressionada, não importa de onde você se formou. Então, depois disso, para onde você viajou? — O habitual. Europa. E você?

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— Fizemos viagens em família. Planejava fazer um semestre no exterior durante a faculdade, mas Ells aconteceu e nunca tive a chance. Meu pai era marinheiro, então também navegamos no Caribe. — Nomeie o seu lugar favorito, — diz ele. — Não posso dizer. Eu encontrei algo especial sobre cada um deles. Mas eu gostaria de ter ido como adulta. Eu poderia ter me sentido diferente. Você? — Eu fiz o caminho fora do caminho comum, então gostei do norte da Itália, Paris – porque sempre acontecia algo muito legal em cada canto, e amei a Escócia. — Eu aposto que você teve multidões de mulheres parisienses seguindo você com esse seu sotaque. — Não exatamente. Eles pensaram que eu era um idiota estúpido. Eu era um cara rude que achava que sabia tudo e não se integrava bem com seus pares. Não é nada impressionante. — Você estava sozinho? — Sim. Eu fiz quase tudo sozinho naquela época. Eu não era uma companhia muito boa. Eu estendo minha mão e seguro sua bochecha. — Você está bem acompanhado agora, Sr. Hart. Ele cobre minha mão com a dele e diz: — Então você está. Eu solto um suspiro. 327

— Ok, hora de se misturar. Para um jovem que não interagiu bem com seus pares, ele deu um grande salto desde então. Logo ele tem todo mundo comendo em sua mão, inclusive eu. Ele exala um encanto natural, um humor agudo, e é muito inteligente. É fácil ver por que seu negócio está florescendo tão rapidamente. Quando é hora de sentar para o jantar, fico feliz em ver que Simon e seu pai não estão na nossa mesa. Isso seria muito estranho. Em vez disso, vários membros do conselho da cidade estão aqui, juntamente com o Presidente do Centro Médico da Universidade de Charleston, Dr. Tom Garner. Estou em êxtase porque estou sentada bem ao lado dele e, melhor ainda, ele reconhece meu nome. — É tão bom de você se juntar a nós hoje à noite, Dra. Drayton. — Dr. Mitchell, estou muito feliz por estar aqui, sentada ao seu lado. Ele me dá um olhar peculiar e sorri. — Nós da universidade estamos entusiasmados com sua pesquisa. Ouvimos grandes coisas acontecendo em seu laboratório. Eu vou ter que ir para uma visita em breve. — Oh, você deve. Vou ter que te mostrar no que estou trabalhando. Eu me inclino para Kestrel e digo: — Oh meu Deus. Não acredito que ele me conhece! — É melhor que ele conheça bem você. Você vai tornar este lugar famoso. 328

— Oh, dificilmente. Eu acho que eles serão mais conhecidos por seus transplantes cardíacos bem-sucedidos e tal. O jantar é servido e todos conversamos entre nós, tanto quanto as grandes mesas redondas de dez permitem. Então, quando tudo está limpo, os discursos começam. Espero que eles não se arrastem por muito tempo, como às vezes fazem. O Dr. Mitchell vai ao pódio e começa agradecendo a todos por participarem. Então ele entra em uma breve explicação do que o Centro de Câncer da Universidade está fazendo. Mas para meu choque – e horror – ele me apresenta à multidão como sendo seguidor de minha pesquisa. Ele investiga o que estou trabalhando e até me pede para ficar em pé enquanto fala. Quando termina, a sala irrompe em uma onda de aplausos. Apesar de não durar mais do que alguns minutos, quero me arrastar para debaixo da mesa. Quando me sento, estou tremendo como uma árvore em um furacão. — É bom, anjo. É tudo de bom. É o que você merece. — V-você sabia? Ele ri. — Mais ou menos. Foi mencionado que ele ia falar sobre a pesquisa, mas eu não sabia que ele chamaria você pelo nome. — Jesus. — Eu pego minha bebida e vou para baixo. — Por que acho isso tão sexy – você tomando uma bebida assim? 329

— Porque você é maluco. Eu dou uma boa olhada ao redor da sala e percebo nos cartazes pendurados em todos os lugares que a HTS é uma grande benfeitora para a fundação. — Se eu perguntar, você vai me dizer? — Depende, — ele responde. — Quanto você doou? — Um milhão. Um milhão de dólares. Vaca sagrada. — Você fez isso por minha causa? — Claro. Eu não saberia sobre nada disso se não fosse por você. É uma ótima causa, anjo. — Você não receberá nenhum argumento de mim. Obrigada. — Você é a única que não precisa agradecer. Por seu trabalho incansável. — Você trabalha duro também. — Sim, eu faço. Mas seu trabalho vai salvar milhões de vidas um dia. E será em um futuro não muito distante. Eu sei. Eu sinto isso aqui. — Ele coloca o punho sobre o coração. — Você vai pensar que sou louco. Bem, você já pensa. Mas acho que a razão pela qual tudo vai acontecer é a Ells. Agarrando seu braço, eu pergunto: — O que você quer dizer? 330

— Eu não posso explicar isso. É exatamente o que sinto na minha alma. Não há tempo para mais conversas, porque as pessoas aglomeram na nossa mesa me fazendo perguntas e querendo falar com o Kestrel sobre a HTS. Não nos afastamos de tudo até depois da meia-noite. Entramos pela porta da frente e subimos as escadas. Palavras não são necessárias. Nós dois sabemos o que queremos. Fora da porta de Ells, ele para e se vira para mim. Seus olhos penetram os meus e tudo para. Quando sinto suas mãos desabotoarem as alças do vestido atrás do meu pescoço, seus dedos queimam minha pele já aquecida. O calor corre pelas minhas veias, deixando o resto de mim queimando devagar. A parte de cima do meu vestido cai nos meus quadris, juntando-se ao redor e deixando meus seios expostos. — Você não tem ideia do quanto eu queria fazer isso a noite toda. A espera foi insuportável. — Então ele passa as costas de uma mão sobre o meu mamilo duro como uma pedra. Meu apetite sexual foi inflamado ao ponto de não ter certeza de que posso ficar aqui e tolerar as preliminares. Respirar é uma façanha em si. Estar aqui pode ser uma impossibilidade. Minha mão alcança a dele. — Eu... eu preciso de você. Nós. Agora. Em um movimento abrupto, estou em seus braços e ele me carrega pela porta. Meu vestido desaparece em um segundo e estou diante dele na minha calcinha. Então ele se despe. Eu teria preferido fazer isso, mas estou congelada... hipnotizada por sua sublime perfeição. É a maneira como ele se move, o modo como seus músculos se contraem, como sua pele é definida sobre aqueles músculos. Quando 331

ele está nu, sua ereção se ergue para mim. Eu alcanço isso, mas ele afasta a minha mão e me vira. Uma por uma, ele remove as flores do meu cabelo, e é um gesto inexplicavelmente tocante quando ele joga cada uma na cama. Quando seus lábios encontram meu pescoço, quero derreter contra ele. Suas mãos se enchem com os meus seios e eu não tenho certeza se posso suportar mais, pois meus músculos sentem que perderam a capacidade de me segurar. Eu sou geleia. Ou então eu penso. Uma de suas mãos se move para a junção das minhas coxas e me inclino para trás, suspirando. — Anjo, não tenho certeza de quanto tempo mais posso esperar por você. E você está encharcada por mim. — Eu não quero esperar. Não me faça esperar, Kestrel.

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CAPÍTULO DEZOITO Kestrel

Como posso resistir a sua demanda? Eu não posso e a verdade é que eu não podia esperar se eu tentasse. Não com ela de pé na minha frente, olhando do jeito que faz. Eu me afasto e procuro no bolso da minha calça por um preservativo. Então rasgo o pacote, grato por ter me lembrado. Carter tem um jeito de me fazer esquecer essas coisas. É mais do que difícil não apenas ficar de pé e encará-la. Suas costas brilham ao luar e sua pele parece mármore esculpido, elegantemente definido, mas artisticamente liso e imaculado. Eu me movo atrás dela, e por um breve momento, pressiono-a contra o meu corpo, deixando minha ereção se alojar em sua suavidade. Então a levo em direção à cama. — Curve-se e abra suas lindas pernas para mim. Ela é complacente, ansiosa por agradar. Logo entro nela. Mas vou muito devagar. Ela me cutuca com sua bunda. Eu tenho que rir. Eu gosto que ela não tenha medo de me mostrar o que quer. — Paciência. — Minhas mãos agarram seus quadris e eu balanço nela. Mais uma vez, estou muito devagar. Ela quer muito mais. Desta vez, ela se aproxima e agarra uma das minhas coxas, cravando suas unhas em mim. — Anjo, você quer prolongar o êxtase? 333

— Não. Eu quero gozar! — Ela insiste. Em um movimento tão rápido que a surpreende, a coloco de costas, abro suas pernas e a minha boca se afunda entre elas. Minha língua faz um caminho direto para o clitóris, quando coloco dois dedos dentro dela. Porra, ela tem um gosto bom. Doce, salgado e escorregadio. É uma combinação inebriante. Eu a provoco com minha língua um pouco enquanto lambo todo o caminho de um lado e depois desço do outro antes de retornar ao seu ponto quente. Então eu circulo sobre esse ponto de novo e de novo com a minha língua. — Não pare. Ali. O sexo dela está pronto, tão pronto, e ela quer gozar, então vou fazê-la gozar forte e rápido. Observá-la e senti-la ao redor da minha boca é tão gostoso que quase consegui gozar. Suas pernas ficam tensas, uma mão aperta os lençóis e a outra se move para o meu cabelo, puxando-o com força, como ela costuma fazer. É assim que eu posso dizer que ela está perto. Isso e os sons que ela faz. Eu levanto meus olhos para ter um vislumbre dela e que visão. Cabeça para trás, pescoço exposto, tudo que eu quero fazer é chupar. Quando ela goza, suas coxas apertam com tanta força, que tenho que segurá-las com as mãos. Deus, ela é épica quando goza. Mas o melhor é quando ela chora meu nome repetidamente. É quase mais do que posso suportar. Isso aumenta minha necessidade de estar dentro dela. Eu não dou a ela a oportunidade de descer. Eu a viro e agora faço o que ela queria mais cedo – duro e rápido. Ajoelhando atrás dela, eu a puxo para perto de mim e a sento em minha ereção. Nós batemos um contra o outro, encontrando nosso ritmo. Sua sedosidade 334

úmida e quente me embainha, agarrando meu pau perfeitamente, e eu me perco no êxtase de tudo isso. Mas eu preciso segurar um pouco antes de experimentar meu próprio clímax. — Você abre um novo mundo para mim toda vez que eu te fodo. Goze para mim de novo, anjo. Você pode? Mais uma vez? — Ah sim. Continue fazendo isso. Duro. Minha mão cai entre suas coxas e eu pressiono meu dedo em seu clitóris. Segundos depois, ela está vivendo outro orgasmo escaldante. Um brilho de transpiração me cobre e, finalmente, explodo em meu próprio clímax, chamando o nome dela. Ela choca contra o meu braço, então a deixo cair na cama e a sigo, tomando cuidado para manter meu peso longe dela. — Você estava ansiosa pequena tigresa hoje à noite, — murmuro contra o pescoço dela antes de me mover para beijá-lo. — Mmm. E você era o tigre. — Ela chega para mim e me puxa para um beijo. — Você me faz sentir tão especial. — Você deveria se sentir especial, porque você é. — Assim como você. E fico feliz que você tenha se lembrado do preservativo. Isso nunca passou pela minha cabeça. Eu acho que preciso tomar a pílula. Mais fácil. Mas só farei isso se formos exclusivos. Eu me levanto em meu cotovelo e agarro seu queixo. — Eu pensei que já éramos. 335

Seus dedos traçam a linha dos meus lábios. — Eu sei. Eu só queria que você falasse em voz alta. — Angel, estamos oficialmente namorando e exclusivos. Não tenho desejo de estar com outra. — Então, quando eu tiver uma chance, farei a consulta do médico. Não teremos que nos preocupar com a coisa do preservativo. — Eu vou deixar essa escolha para você. Não é um problema para mim. Eu nunca fiz sexo sem um, exceto aquele tempo com você. Estou bem com isso. Mas eu quero que você marque uma consulta. Para sua própria saúde. — Beijo a ponta do nariz dela. — É hora de dormir. Podemos conversar mais de manhã. — Uh, Kestrel? — Hmm? — Você não acha que devemos ficar debaixo das cobertas? — Cristo. Olha o que você faz comigo. Você me faz esquecer tudo. Fique aí. Eu me levanto e rio. — O que é tão engraçado? — Eu, uh, esqueci de tirar o preservativo agora. Eu sou uma porra. — Entro no banheiro para cuidar dos negócios e saio um minuto depois. Então puxo o edredom e lençóis para baixo e levanto-a enquanto puxo para cima de nós. — Você transformou meu cérebro em mingau.

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— Desde que eu não faça isso com o seu pau, tudo está bem. Ah, e espero que você não tenha transformado meu cérebro em mingau ou minha pesquisa vai ficar toda confusa. — Ela se aninha no meu peito e eu a puxo para perto de mim. — Boa noite, Anjo. — Noite. Ela é uma mulher incrível. E acho que ela não só me cativa, também estou orgulhoso e honrado de estar com ela. Eu me sinto muito protetor com ela. Quando deito aqui, com ela em meus braços ouvindo ela fazer aqueles roncos, sei que o que sinto é profundo. Muito mais profundo do que qualquer outra coisa que eu já senti.

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Um par de semanas após o evento, os telefones estão tocando como loucos na HTS. Missy, a recepcionista, não consegue acompanhar. Shayla vem ao meu escritório e diz: — Sr. Hart, essa criança está prestes a ter um colapso. — Contrate uma pessoa temporária até conseguirmos alguém aqui permanentemente. — Tenho uma ideia melhor. — Conte-me. — Minha filha está em casa no intervalo. Ela pode usar o dinheiro. 337

— O que você está esperando? Mande um carro para buscá-la. — Sr. Hart, ela é uma estudante universitária. Seu guarda-roupa é... — Shayla, ela pode usar seu pijama. Contanto que ela fale um inglês razoavelmente bom, você pode orientá-la sobre o que dizer e colocá-la em uma das salas vazias. Ninguém terá que a ver. Envie um carro para ela. Mas certifique-se de que ela escove os dentes, — digo com uma piscadela. — Sim, senhor. Menos de uma hora depois, a filha de Shayla, Tara, se junta à HTS para seu feriado de Natal. Shayla nos apresenta e eu faço o meu melhor para deixá-la à vontade. É fácil ver que ela é tímida. — Obrigado por nos ajudar, Tara, em tão pouco tempo. Sua mãe vai explicar tudo o que você precisa saber, mas se precisar de alguma coisa, por favor, não hesite em pedir. — Sim, senhor, — diz ela. Ela é uma garota magra, de cabelos castanhos claros e olhos cor de avelã. Sua personalidade é diminuída em torno de sua mãe, mas é provavelmente por minha causa. Shayla diz: — Tara, não precisa ser tímida com o Sr. Hart. Ele pode se aguentar ao nosso redor, as Drummonds. O rosto dela embranquece e ela diz: — Mamãe! — Então ela fica com um tom brilhante de rosa. 338

— Tara, não deixe sua mãe te envergonhar. Eu tive que ensinar uma coisa ou duas quando começamos a trabalhar juntos. — Sério? — Tara pergunta. — Oh sim. Por um lado, ela faz um café horrível. Os olhos de Tara se abrem e ela solta uma risada e soa exatamente como sua mãe. Então eu acrescento: — Não sem galanteios lá também. Shayla diz: — Eu te disse, Tara. Sr. Hart, ele é uma bagunça. — Tara, com toda a seriedade, sua mãe é a melhor. Então ouça o que ela diz e você não irá errar. Aqui ou na vida. — Sim, senhor. Shayla pisca para mim e guia a filha para fora da porta. Algumas horas depois, minha linha telefônica toca e é Tara. — Sr. Hart, há uma Sra. Hart na linha três. Ela diz que está tentando falar com você no seu celular, mas você não responde e ela diz que é urgente. — Merda. Ela indicou se era minha mãe? — Não, senhor. — Ok. Obrigado, Tara. 339

Pegando o telefone, eu digo: — Olá. — Kestrel. Por que você nunca atende seu telefone? — Eu faço, mãe, mas estou com meus ouvidos no trabalho hoje. É uma loucura e ninguém consegue acompanhar. Eu doei para um evento de arrecadação de fundos há algumas semanas atrás e me conectei com algumas pessoas chave e aparentemente isso incendiou as coisas. Então, como vai? — Bem, isso é certamente uma grande notícia, não é? — Sim, é sim. E então? — Eu amo minha mãe, mas não tenho tempo para isso. — Natal. Isso é o que está acontecendo. Eu estava pensando em descer esta semana. — Oh mãe. Normalmente eu diria ótimo, mas agora, é uma má ideia. Estou tão ocupado, você estaria sozinha. — Mas querido, eu poderia ajudá-lo a decorar. — Na verdade, mãe, eu contratei alguém e ela não vai entrar até depois das férias. — Oh. — Decepção paira no ar. Então a voz dela se ilumina novamente, acrescentando: — Que tal uma árvore? Eu posso fazer isso. — Oh mãe. Isso é tão atencioso da sua parte, mas eu já cuidei disso. — Hmm. Então esta jovem que você está vendo. É isso? 340

— Sim e não. Mãe, eu adoraria continuar essa conversa, mas meus telefones estão pegando fogo. Podemos conversar quando você chegar aqui no dia vinte e três? — Então, sem mudar sua mente, então? — Não, mãe, mas não é porque não quero. Acredite em mim. — Ok, querido. Vejo você daqui a algumas semanas. Eu desligo o telefone do escritório e respiro novamente. Mãe. Amo ela, mas às vezes... Não tenho mais tempo para pensar nela porque Kolson liga. — O que diabos está acontecendo lá embaixo? Depois que eu explico, ele ri. — É tudo culpa sua. — Ei, isso é o que você queria, não é? — Sim. Expansão. Nós vamos ter que terceirizar para alguns temporários, eu acho. — Combinado. Você não acreditaria neste lugar. Você pode vir uma semana mais cedo? Eu sei que você não quer, mas eu não posso lidar com isso. E eles não querem o terceiro ou o quarto da fila. Eles querem conversar com alguém no topo. — Sim. Eu vou. Gabriella e mamãe podem se unir. — Mamãe ligou. Ela queria vir uma semana mais cedo. — Oh porra. 341

— Sim. Eu disse a ela que não. — Então, vou enviar um representante de RH para reunir mais uma rodada de contratações para você. Às sete e meia estou me arrastando. Eu não comi o dia todo, estou malhumorado e tudo o que quero fazer é tomar uma bebida e conversar com Carter. No carro eu ligo para ela. Ela está na casa de hóspedes. — Estou chegando. Tenho que parar em casa e pegar algumas roupas. Você não vai acreditar no meu dia. — Eu percebi que algo estava acontecendo quando não recebi nenhum texto de você. — Eu vou explicar quando te ver, anjo. Menos de uma hora depois, chego a casa e a vejo na cozinha. Ela está cozinhando. E estou com fome. Não tenho certeza do que quero mais. Comida ou ela. — Alguém arrastou você pela lama? Você está horrível. — Obrigado, anjo. Ela me abraça e me diz para sentar. Sento-me no balcão e ela me entrega uma taça de vinho. — Você tem algum Lagavulin? — Não, mas você tem. — Ela se dirige para o bar e volta com um copo meio cheio, puro. 342

— Ah, apenas o que o médico pediu. Obrigado. Ela conversa um pouco sobre isso e aquilo e logo ela coloca um prato na minha frente. É uma mistura deliciosa de aparência. — O que é isso? — Minha especialidade. Bem, isso não é exatamente verdade. Eu meio que copiei de um restaurante e fiz algumas mudanças. É o camarão e grãos que eu estava falando. Prove. Estou com tanta fome que como bem. E é o paraíso. Ser um comedor me faz apreciar as melhores coisas da vida, e isso é absolutamente uma delas. — Ela parece uma deusa e me serve de ambrosia, a comida dos deuses. Esta é inegavelmente uma das melhores coisas que já comi. Ainda melhor que o Wahoo. Você tem que fazer isso para Kolson. Ele vai adorar. Isso é muito mais do que uma paixão de três minutos. Ela ri de mim. — Eu disse que você amaria. — Amei? Huh. Estou apaixonado. Estou completamente fascinado. Nunca mais serei o mesmo. Eu não digo outra palavra até que meu prato esteja limpo, além do ‘Hummm’ que tenho feito o tempo todo. — Eu realmente gosto de cozinhar para você. Você aprecia tanto a comida.

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— Eu faço. Adoro uma boa refeição e, como não cozinho, gosto especialmente dela. Obrigado por fazer isso por mim. Especialmente hoje. — Então digo a ela o que aconteceu no trabalho. Sua emoção por mim é palpável. — Kestrel, isso é tão incrível. — Certo? Kolson está chegando uma semana mais cedo. — Eu digo a ela nossos planos de contratar mais pessoas e assim por diante. Eu não quero aborrecê-la com todos os detalhes. Nós discutimos os planos para o Natal e como vamos lidar com tudo. — Você precisa se mudar para cá e sair dessa locação, — diz ela. — Sim. Eu vou entrar nisso. — Por que não arrumo suas roupas para você esta semana? É tudo o que é, certo? — Praticamente. Além da comida e outras coisas. — Eu posso fazer isso. Minha carga de trabalho se acalmou um pouco, o suficiente para que eu tenha minhas noites livres. Pelo menos você pode ter todas as suas coisas em um só lugar e já que estou na casa de hóspedes agora, será mais fácil. — Você não se importa? — De modo nenhum.

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Até o final da semana, Carter tem todos os meus pertences transferidos para a casa e agora estou morando oficialmente aqui. É muito mais conveniente, não ter que lidar com dois lugares. Kolson chega na segunda-feira e na semana seguinte estamos cobertos com reuniões com clientes. É estranho ter meu irmão aqui, mas Carter fica na casa de hóspedes e passo as noites com ela lá algumas vezes. Certa manhã, Kolson diz: — Por que ela não se muda para cá com você? Vocês dois parecem ter ficado bastante confortáveis. — Você tem algo contra a Carter? Porque se você tiver, deixe sair agora. — Eu não tenho nada contra ela. Estou apenas preocupado com você. — Pensei que nós cobrimos isso. — Nós fizemos. Estou apenas me assegurando que tudo está bem com você. — Não poderia estar melhor, irmão mais velho. Ele se cala e só me examina. Estou bem com isso. É uma das coisas dele. Bem, todos nós fazemos isso. Aprendi com o dragão. Deixo ele me examinar por um tempo, então eu digo: — Satisfeito? Ele encolhe os ombros. — O quê? — Eu insisto. 345

— Honestamente? — Sim. — Eu não ficarei satisfeito até que Gabriella fale com você. — E daí? Será esta a Inquisição Espanhola? Ele ri. — Dificilmente. Será a inquisição de Gabriella. — Ótimo. Isso vai ser muito pior. Ele me lança um olhar azedo. — Você ama minha esposa. — Eu amo. Mas ela vai encontrar falhas nesse relacionamento e eu não vou mudar nada. — Bem. É a sua vida. Mas lembre-se disso. Nós temos seus melhores interesses no coração. Olhando para ele, eu só mexo minha cabeça uma vez em reconhecimento. Um dia antes de minha mãe e Gabby chegarem, Kolson, Carter e eu estamos sentados juntos na mesa da cozinha, jantando. Esse parece ser o momento para nós quando estamos mais confortáveis juntos. Kolson gosta de conversar com Carter sobre o que ela faz. — Conte-me sobre o que está acontecendo com o seu trabalho, — diz ele. Ela dá a ele o mais recente resumo e ele sorri. 346

— Talvez eu tenha sorte de conhecer a mulher que encontrou a cura. — Dificilmente. Mas talvez você conheça alguém que estimulou isso, — ela responde. — Eu não posso esperar para você conhecer minha esposa. Já posso imaginar vocês duas juntas, planejando coisas. Sua declaração me assusta, mas eu escondo isso. Eu ajo de forma tão indiferente quanto posso. Carter se levanta para limpar nossos pratos e me movo para dar uma mão, mas ela me interrompe. — Eu vou pegar isso. Vocês dois conversam. — Não. Você fez a comida. É justo que eu faça a limpeza. — Se você insiste. — Ela ri enquanto bagunça meu cabelo. Eu rio de volta, mas quando olho para Kolson, ele tem uma expressão de espanto no rosto que eu quase engasgo. Ele ainda não consegue entender o nosso relacionamento, suponho. Talvez ele esteja começando a enxergar melhor.

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O vigésimo terceiro dia de dezembro é o caos no trabalho. Todo mundo envolve as coisas da melhor maneira possível. O escritório estará fechado de amanhã até o dia vinte e oito de dezembro. Nós estaremos reabrindo então, mas só 347

com metade de nosso pessoal e fechamos novamente para Ano Novo. Então está a todo vapor em 3 de janeiro. Gabby e minha mãe estão chegando por volta das cinco, o que significa que é hora de eu pegar a estrada às quatro e meia. Eu quero estar em casa quando elas chegarem. Mario e Kolson estão buscando-as no aeroporto. Elas estão voando em um dos jatos corporativos. Na viagem de volta para casa, marquei a lista de todos os itens que comprei para as refeições de amanhã e no dia de Natal. Carter disse que cozinharia, mas tenho certeza de que Gabby e minha mãe vão entrar e ajudar. Eu implorei a Carter para fazer seu camarão e grãos prato que eu amo, então vamos ter isso amanhã. No dia de Natal, vamos nos deliciar com filé mignon e caudas de lagosta. Carter tem uma série de pratos de café da manhã planejados. Ela me explicou como os sulistas gostam de fazer as caçarolas do café da manhã, junto com suas Mimosas e Bloody Marys pela manhã. Eu sou jogo para isso, então ela está comandando o show de comida. Acho que isso ajudará a manter sua mente em algo que não seja o medo de ser avaliada pela minha família. As férias nunca tiveram muito significado para mim, a não ser um grupo deprimente de dias agrupados onde eu deveria passar um tempo com os membros da família. Pela primeira vez na minha vida, estou ansioso por eles. Não é por causa de Kolson, Gabby ou minha mãe. Eu sei que é por Carter. Quando saio do carro, posso vê-la andando pela cozinha. A culpa entra em mim porque esta deveria ser sua cozinha... sua casa... sua família. Não minha. Mas a parte realista do meu cérebro me diz que se não fosse eu, seria outra pessoa. E se a outra pessoa a lançasse em sua bunda, deixando-a com nada além do cheque? Mas é hora de vir 348

limpo aqui. É mais que isso. Meus sentimentos são mais profundos do que isso para Carter. Há sentido por trás deles e preciso encarar isso. Eu não estou em nenhuma brincadeira aqui. Esta é uma jornada proposital para mim. Se não fosse, teria me afastado semanas atrás. — Olá. — Eu quero ficar lá e vê-la. No entanto, sei que, se o fizer, ela vai entender como temos coisas que precisam ser feitas. — Olá. — Os cantos de sua boca aparecem. Ela está vestida com uma saia preta na altura do joelho, meia-calça preta e aquelas lindas botas curtas coloridas que ela usa muito. Ela também tem um suéter marrom que abraça seu corpo. Parece um dos meus sonhos. — Você parece extraordinária. Venha aqui. — Obrigada. E não. Eu sei o que você tem na manga, senhor. — Ela mostra a língua para mim. — Oh, não você não vai. Não me insulte assim e espere ir embora sem repercussões. — Eu estou nela como cola. Minhas mãos agarram sua cintura e a puxo para perto para que possa sentir o comprimento dela contra mim. Então minhas mãos seguram sua bunda e a levanto para perto de mim. — Sinta isso? — Eu inclino minha pélvis em direção a ela. — Sim, — ela sussurra. — Você quer mais disso? — Oh sim. 349

— Que horas são? — Cinco. — Puxe sua saia e puxe as meias calças. Nós dois nos contorcemos e eu cavo no meu bolso por um preservativo. Então minha mão se abaixa e arrasta entre suas coxas. — Anjo, você tem pensado em mim? — Uh Huh. Por quê? — Porque você está tão molhada e escorregadia como sempre. — Eu a levanto e puxo uma perna livre de suas meias e pergunto: — Duro e rápido ou lento e doce? — Duro e rápido. — A voz rouca de sua voz sexy não me faz perguntar duas vezes. De um só golpe, estou dentro dela e ela está gemendo por mais. — Não seja gananciosa, — murmuro em seu ouvido. Puxando as pernas para cima e sobre os meus ombros, continuo a bombear para dentro e para fora e o som de sua voz me estimula. De repente, ela grita meu nome e sinto seus músculos internos me apertarem. Estou perdido nela. Completamente. — Me beije, Kestrel. Agora. Minha boca está na dela e nós nos consumimos. Você pensaria que não nos vimos há dias, quando são apenas horas. — Linda. Inequivocamente linda. Você, meu único anjo. — Kestrel, estou muito nervosa. 350

— Você deveria estar porque se nós não nos ajeitarmos, você será pega com sua boceta exposta para a minha família ver. Essa frase tem o efeito que pretendia. Primeiro, o rosto dela fica vermelho. Então suas mãos rapidamente começam a rearranjar o suéter, que consegui puxar até o pescoço. Mas ela não pode fazer mais do que isso, porque ainda estou firmemente encravado entre suas longas e cremosas coxas, com meu pau inserido até o punho. — Indo a algum lugar? — Eu pergunto. Ela cuspiu: — Tentando, mas um certo alguém não me deixa. Ela está mexendo em torno de mim como uma louca agora e finalmente coloco minhas mãos em seus quadris para acalmá-la. — Anjo, olhe para mim. Seus cinzas fantasmagóricos se prendem aos meus e eu acrescento: — Tudo bem. Eles vão amar você. E nós temos tempo. Agora mais um beijo e eu vou te libertar do meu pau. Ela finalmente relaxa e me beija. — Mmm, muito melhor. — Eu passo para trás e a ajudo fora do balcão. Quando eu bato na bunda dela, ouço sua inalação aguda. — Que diabos!

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— Desculpa. Eu não pude resistir. Você tem uma bunda gostosa. Melhor seguir em frente. Ela puxa suas meias de volta e puxa a saia para baixo enquanto eu cuido do meu próprio negócio. Então ela diz: — Seu cabelo. Está uma bagunça. — O seu também. Nós dois nos dirigimos para o banheiro direto da cozinha e disputamos um espaço no espelho. O meu leva apenas um segundo enquanto eu passo meus dedos por ele. O dela, por outro lado, foi completamente bagunçado por mim. — Merda. Eu preciso colocar isso em um coque ou algo assim. — Não você não precisafaz. Agite e deixe ir. Está bem. — Droga. É muito indisciplinado. A campainha toca. — Oh, porra, — ela amaldiçoa. Eu digo a ela calmamente: — Anjo. Você parece adorável e deslumbrante. Agora faça o que eu disse e me encontre na porta em um segundo. Eu a deixo para permitir minha família entrar. Eles ficam lá, amontoados, com toda a sua bagagem e tal, e enquanto estamos arrastando tudo para dentro, Carter entra na sala. 352

Eu faço as apresentações e Gabby imediatamente diz: — Estou tão animada e feliz por finalmente conhecê-la, Carter. Minha mãe acrescenta: — Como eu. Nós ouvimos muito sobre você de Kolson e Kestrel. É tão maravilhoso finalmente conhecê-la pessoalmente. Eu sinto que já te conheço. — Muito obrigada, — diz Carter. — E que lindo sotaque sulista você tem, — comenta minha mãe. Elas conversam um pouco enquanto Kolson e eu arrastamos a bagagem para o andar de cima. Então nós misturamos bebidas e Carter traz uma rodada de aperitivos. Eu levo minha mãe em uma turnê enquanto Kolson e Gabby ficam na cozinha. Eu queria um tempo sozinho com minha mãe para que ela não se sentisse negligenciada. — A casa é linda, Kestrel. Eu acho que você vai gostar de viver aqui. E Carter, por que ela é uma boa moça. — Estou feliz que você aprove. — Oh, Kestrel, você nunca precisou da minha aprovação para nada. Você sabe disso. Eu só quero que você seja feliz. Isso é tudo que eu sempre quis. — Obrigado, mãe. Eu acho que finalmente estou lá. Quando nos juntamos aos outros, todos parecem estar se divertindo. Carter carregou um monte de bandejas com aperitivos e pede aos caras que as carreguem até a sala de estar, onde podemos nos sentar e conversar. Kolson e eu seguimos 353

ordens e depois servimos vinho e misturamos bebidas para todos. Depois de comermos um pouco, Gabby pergunta a Carter se ela vai mostrá-la pela casa. Carter olha para ela e diz: — Você preferiria que seu cunhado lhe mostrasse? É a casa dele, afinal de contas. — De modo nenhum. Eu quero te conhecer, e que melhor maneira do que você me dar o grande tour para que possamos conversar ao mesmo tempo? — Gabby responde. Carter se vira para mim e digo: — Vá e leve seu tempo. Não estamos com pressa para comer. Não com tudo isso que você preparou. — Você tem certeza? — Uh Huh. Eu vejo as duas vagando e espero que Gabby tenha calma com ela. Este pode ser o maior teste de Carter na visita.

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CAPÍTULO DEZENOVE Carter

Quando Gabby me pede uma turnê, eu quero gritar: — Maldição, não. Deixe Kestrel fazer isso! — Mas não posso fazer isso. Claro que dei a ela a turnê. E quando saímos da sala, eu sei o que está prestes a acontecer. Então a levo direto para o segundo andar e começo com o quarto principal. Quando chegamos ao quarto de Ells, ela faz todos os tipos de perguntas sobre ela, e eu não respondo a todas. Nós nos movemos de sala em sala, espaço em espaço, e quando não deixamos nada de lado, ela pede para ver a casa de hóspedes. Eu a conduzo pela porta dos fundos e para o meu pequeno ninho. Uma vez lá dentro, ela finalmente quebra o gelo do silêncio. — Não o machuque. É isso aí. Nada mais. — O quê? — Kestrel. Faça o que fizer, não o machuque. Porque se você fizer, farei tudo ao meu alcance para lhe destruir. Ainda bem que há uma cadeira logo atrás de mim. Minhas pernas ficam dormentes quando minha bunda bate nela com um estalo. Uau! Ela não reteve nem um pouquinho. Leva um tempo para formular uma resposta, mas faço. — Entendo. Mesmo. Você o ama. Ele é um irmão para você. 355

— Não. Você não entende. Ele esteve no fundo do poço e voltou. Eu paro ela e levanto a minha mão. — Antes de dizer mais uma palavra, pelo menos dê-me a chance de me explicar. Como uma psiquiatra praticante, eu acho que você pode ver o mérito disso. Ela acena com a cabeça uma vez. — Kestrel me contou tudo. Sobre seu pai. Sua vida horrível quando menino. Eu sei o que ele passou. Nós discutimos tudo isso. Meu objetivo não é machucá-lo. Nunca foi minha intenção me envolver com ele. — Então por que você fez? — Por que você se envolveu com seu marido? — Isso não é da sua conta. — Nem é da sua conta porque Kestrel e eu nos envolvemos. Mas eu vou te dizer isso. Tenho grande respeito por ele e não permitirei, em nenhuma circunstância, que alguém o machuque, inclusive você. — Eu? Por que eu iria machucá-lo? — Superprotegendo-o e não permitindo que ele viva sozinho e descubra as coisas por si mesmo. Ele é um homem adulto e altamente inteligente. Ele pode escolher ter um relacionamento com quem ele quiser. — Kestrel não tem relacionamentos. — Talvez você não o conheça tão bem quanto você pensa, porque ele está em um agora. 356

Então um sorriso se espalha em seu rosto. — Isso é tudo que eu precisava ouvir. — O quê? — Estou incrédula. — Que você considera o que está acontecendo entre vocês dois um relacionamento. Não é apenas um caso. — Sério? — Sim. Como eu disse, eu não quero que ele se machuque. E se isso fosse apenas uma coisa unilateral, você e eu teríamos um grande problema. Mas obviamente não é. Você mostrou suas garras e eu gosto disso. — Você é uma mulher estranha, Gabby. — Não, eu só me importo com esses dois caras lá fora. Mais do que eu posso te dizer. Então, fale-me sobre você. Eu esfrego a parte de trás do meu pescoço. — Não temos tempo suficiente. Preciso de dias para contar sobre minhas coisas. Ela sacode a cabeça. — Todos nós temos bagagem emocional. Nosso grupo – Kolson, Kestrel, você e eu – parece ter recebido uma dose extra. Já pensou que foi assim que todos acabamos juntos? — O que você quer dizer? — Seu processo de pensamento me intriga. 357

— Bem, qualquer pessoa normal que não tenha sofrido um grande trauma na vida correria do que nós passamos. Mas você e eu sabemos o que é lidar com merdas pesadas, então olhamos para homens como Kolson e Kestrel e achamos que eles são mais especiais porque subiram acima de tudo e se tornaram ainda mais fortes. — Sim, acho que você está certa. Mas eu não sabia que você também possuía traumas. — Eu sempre tive. Fui estuprada e abusada pelo meu primo. Tudo começou quando era adolescente e meus pais sabiam sobre isso, mas enterraram-no debaixo do tapete. Então o filho da puta me perseguiu. Kolson foi quem finalmente entrou e me salvou. Minha mão agarra o braço dela enquanto fala. Então eu a abraço e digo: — Oh meu Deus. Eu sinto muitíssimo. Eu não sabia. Kestrel não disse nada e, claro, ele não disse nada. Quão traumatizante isso deve ser. — Sim, mas como nós conversamos, aqui estamos nós, mais fortes do que nunca. Nós pegamos esses pedaços de nós mesmos e criamos algo melhor, uma força maior a ser considerada, se você quiser. Tome sua situação. Você sempre terá essas lembranças de sua filha. Você constrói sobre elas e as usa para ancorar você em momentos em que você se sente à deriva. Pode parecer que não funciona, mas se você olhar para trás e refletir, você sabe disso.

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Eu peneiro minhas memórias, de quão baixo eu estava e quão miserável e triste eu me sentia depois que perdi meus pais e Ells. E então, como a cada ano nunca pareceu se tornar mais fácil até que conheci Kestrel. — Eu não sei. Não foi até que eu conheci Kestrel que o sol iluminou minha vida novamente. — Mas você não vê? Ele diz o mesmo sobre você. — Gabby diz. — Ele insiste que você ajudou a tirá-lo da escuridão. Ele te chama de anjo. — Eu sei. Mas eu não sou. Eu sou apenas eu. Gabby encosta no meu braço e diz: — E espero que você fique assim. Vamos, é melhor nós voltarmos ou eles vão mandar uma tropa para nos encontrar. Eu a paro e digo: — Obrigada. Por um minuto pensei que você fosse me odiar. — Não. Eu estava apenas testando você. Você passou. — Eita. Isso não é um pouco duro? Gabby me mostra um sorriso. — Não no meu livro. Tenho um cunhado para cuidar. Quando entrei nesta família, eles me acolheram e agora devo fazer o mesmo. — Mas espere. Eu pensei que Langston tentou te matar. — Oh, aquele cretino de rato fez. Mas o resto deles são incríveis. 359

É um momento estranho para mim. — Eu nunca tive irmãos ou irmãs, então isso é meio estranho. — Apenas vá com isto. Vai dar certo. Ouvimos risos quando voltamos para a casa principal. Gabby diz para mim: — Sylvia nunca riu assim quando Langston estava vivo. Ela é uma pessoa totalmente diferente agora. — Deus, esse homem deve ter sido horrível. — Você não tem ideia. Graças aos céus você nunca teve que lutar com ele. Ele era um cara assustador. Nenhum de nós lamentou sua morte. Em vez disso, celebramos isso. Todas as cabeças se voltam quando entramos na sala. — Bem, olá. — Kestrel está ao nosso lado. Então ele se inclina para mim e pergunta: — Tudo bem? — Claro que sim. Seus dedos fecham suavemente em volta do meu pulso e seu polegar esfrega um círculo no interior dele. Eu sinto vontade de cantarolar quando ele faz isso. Ficamos ali parados, como dois idiotas, olhando um para o outro quando ouvimos Kolson pigarrear. — Hum, vocês duas, vão se juntar a nós? — Sim, — diz Kestrel enquanto pisca para mim. 360

Nós nos movemos em direção aos outros e a conversa é retomada. Algum tempo depois me levanto para começar o jantar. Kestrel se move para vir comigo, mas Gabby o detém. — Eu vou ajudá-la. Kolson se gabou de seu talento na cozinha e eu quero ver o que ela está cozinhando. Além disso, sei que você não tem interesse nisso. Todos riem, porque é verdade. Depois que o jantar acaba, todos nós decidimos nos retirar para a noite. Kolson, Gabby e Sylvia ainda estão me cumprimentando pela excelente refeição enquanto sobem as escadas. Kestrel me leva até à casa de hóspedes. — Você vai ficar comigo aqui? — Eu pergunto. — Sim, mas preciso fechar tudo. Eu voltarei. Sua ausência me dá tempo para escovar os dentes e quando estou pronta para me despir, ele está de volta. — Eu vou fazer isso, — diz ele, puxando meu suéter. — Minha família está apaixonada por você. Assim como eu. — Eles não estão. Eles gostam de mim tudo bem. Gabby me fez passar por um teste. — Eu imagino que ela fez. Quer me contar sobre isso? — Sim. Mais tarde. Agora eu só quero você. — Isso pode ser arranjado. 361

— Kestrel, sua mãe. — O quê sobre ela? — Gabby diz que ela é muito mais brilhante agora. Mais feliz. Ele acaricia meu pescoço com sua língua e minha barriga se contrai. Sua voz é rouca quando ele responde: — Sim. Você quer falar sobre minha mãe agora? Logo antes de me preparar para te foder? Eu me dissolvo em um monte de risos. E ele se levanta ao máximo, tentando me intimidar. Claro, é uma falha épica. — Hum, sim. Isso é sempre ótimo falar no quarto, não é? Uma risada segue minha pergunta e ele então diz: — Oh, Deus, a velha Sylvia teria ficado histérica. Ela costumava levar para a cama o tempo todo. Não é novo. Tenho certeza de que ela fez isso como escapismo. — Bem, eu gostaria que uma grande parte de sua anatomia escapasse para algum lugar. — Eu espero que você queira dizer que ainda estaria ligado a mim? Agora é minha vez de rir. — Bem, maldição sim. Eu poderia usar meu velho vibrador se quisesse isso! — Seu velho vibrador? Você tem um desses? — Claro que faço. Que mulher não faz? 362

— Eu não sei. Deixe-me ver isso. — Eu não vou. É pessoal. — Eu sou pessoal. Tem estado onde eu estive? Eu solto a minha resposta: — Bem... sim. — Pode fazer o que faço? Na verdade, ele pode fazer mais porque meu vibrador tem aquela pequena geringonça que atinge todos os lugares certos e vibra exatamente certo. Mas como eu digo isso a ele? Meu silêncio o alarma. — Que diabos de tipo de vibrador você tem? Eu mostro a ele um sorriso atrevido e digo: — Um com todos os tipos de sinos e assobios. — Então me viro para o quarto e lhe dou o olhar mais sexy por cima do meu ombro. — Oh, anjo, você não sabe que está brincando com o diabo aqui? — Talvez este anjo queira ser um anjo travesso para variar. — Oh porra. Você faz, não é? Eu só sorrio de volta com os olhos semicerrados. Então eu corro minha língua pelo meu lábio inferior, lentamente. Ele passeia em minha direção, despindo-se como ele faz. Escuro, perigoso e desejável é o que ele é. E eu quero lamber cada centímetro quadrado dele. 363

Quando ele está cara a cara comigo, ele diz: — Pegue aquela maldição de vibrador. Eu quero ver o que estou enfrentando. — OK. Mas não diga que não te avisei. Eu puxo para fora da minha gaveta e entrego para ele. Ele liga e verifica a coisa, para frente e para trás, de cabeça para baixo e com o lado direito para cima. Então ele o gira na velocidade máxima e diz: — Eu entendo o que você quer dizer. Mas eu sou um concorrente disposto. Abra essa sua boca inocente. — O quê? — Ele quer que eu coloque isso na minha boca? — Você me ouviu. Eu abro e ele coloca a coisa na minha boca. — Agora chupe. Chupe como se fosse meu pau. Eu não sei se devo cuspir ou fazer o que ele diz. — Você disse que queria impertinente, não é? Eu aceno e começo a chupar. Ele se move, para dentro e para fora, e então ele tira da minha boca. Essa coisa toda me deixa intrigada. Está prestes a ficar ainda mais confuso, pelo menos é o que penso. Ele pega a palma da mão e coloca no meu peito, forçando-me a andar para trás. Quando a parte de trás dos meus joelhos bate na cama, ele me gira e diz: — Curve-se, anjo, e descanse seus braços na cama. 364

Eu faço o que ele pede, e sinto seus lábios roçarem minha espinha. Eles provocam e provam até que eu quero me contorcer. Ele firma uma perna entre as minhas coxas e abre minhas pernas ao máximo. Então sua mão encontra meu sexo e ele diz: — Já tão molhada. Quando eu terminar com você, você estará gotejando. — Dois longos dedos entram em mim, e um pressiona meu ponto G. Eu arqueio minhas costas em resposta. Eu ouço o vibrador; ele ligou. Seus dedos saem e são substituídos pelo objeto pulsante. Ele empurrava para dentro e para fora e, em seguida, acomoda-o totalmente dentro de mim. Eu gemo e quero me deitar, mas ele ainda segura meus quadris. — Não se mexa. Fique parada. Não é fácil. Tudo que eu quero fazer é balançar nele. Mas não é ele; é a porra do vibrador. Eu sinto os lábios dele em minhas nádegas e nas minhas costas, e uma das mãos dele chega e ele puxa um dos meus mamilos. O vibrador ainda está dentro de mim, mantido no lugar por seu joelho, mas eu quero que ele tire e substitua por si mesmo. — Eu quero você, Kestrel. Ele ri. — Ainda não. Qual o seu jogo aqui? Então eu sinto sua boca em meus quadris, os dentes pressionando minha carne, me marcando. Eu grito seu nome. — Mais. 365

Ele agarra minha carne entre os dentes, puxa e suga simultaneamente, e gemo. Entre isso e o vibrador, quero me contorcer, mas ele ainda me segura com firmeza. — Eu preciso gozar. — Você irá. Paciência. Pernas juntas. — Ele segura minhas pernas juntas, colocando mais pressão no meu clitóris. Mas então vira-me e me coloca nas minhas costas. — Ah! — Eu quero que ele continue fazendo isso do outro jeito, mas ele não me faz. Sua mão alcança o vibrador e desliga. — Não! — Você quer gozar? — Sim! — Quanto? — Muito. Seus dedos provocam e puxam meus mamilos enquanto eu aperto minhas coxas juntas. — Você já gozou com isso? — Ele pergunta enquanto brinca com meus mamilos. — Não, — eu gemo. — Por favor, deixe-me gozar. — Minha mão se move entre as minhas pernas. — Não se atreva a se tocar. Abra suas pernas.

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Eu faço o que ele manda e ele tira o vibrador. E substitui-o com o pau envolto em preservativo. Então ele levanta minhas pernas para os ombros e empurra para dentro e para fora até que eu quase gozo. Então ele para e eu choro. — Não, não pare. — Você quer gozar? — Sim. Por favor. — Você quer gozar duro? — Sim, caramba. — Em suas mãos e joelhos. Eu faço o que ele pede. E ele muito, muito lentamente entra em mim. — Não se mova, anjo. Nem um pouco. Eu lamento. — Por favor. — Não se mova, ou vou parar. — Ok. — Meu corpo treme com a necessidade. Estou suando profusamente; toda terminação nervosa está formigando. Ele se move tão devagar que acho que vou enlouquecer de desejo. Então ele me empurra para frente e puxa completamente para fora. Eu choro. Ele fica na beira da cama e me puxa em seu colo. Guiando seu pênis em mim, ele me empala até o punho. 367

— Enrole as pernas em volta de mim e aguente firme. Eu nem sequer penso duas vezes sobre o que ele diz. Ele começa um impulso de punir e é um alívio, mas o seu dedo toca meu clitóris e me levao ao orgasmo gritando seu nome. — Kestrel. — Meus dedos agarram seus quadris e eu só posso esperar que eu não fizesse muito dano à sua pele. Meu clímax é tão violento que eu caio em seu colo, com meus músculos apertando e contraindo, por dentro e por fora. Quando está feito, eu estou lutando por ar e completamente drenada. Eu não tenho certeza se ele me ouve porque ele ainda está se enterrando em mim. Eu olho para o rosto dele e os olhos dele estão fechados, a cabeça dele é lançada para trás e todos os seus músculos se destacam, nitidamente definidos, como um olhar de êxtase sobre ele. Mesmo que tenha acabado de chegar ao clímax, vê-lo assim me desperta de novo. Em um tom inteligente, ele finalmente pergunta: — Seu vibrador pode fazer isso? — Você é muito melhor do que qualquer dispositivo que já usei. Agora, por favor, me beije. Sua boca esfrega sobre minha orelha, fazendo cócegas no meu lóbulo. Em seguida, ele mordisca meu pescoço, acariciando-o com a língua aquecida. Quando ele toca meus lábios, eu agarro seus ombros e o puxo o mais perto que posso. Ele tem gosto de uísque e hortelã, e é inebriante. É um beijo que eu nunca quero terminar. Não me pergunte por quê, mas por alguma razão desconhecida, sinto-me 368

inexplicavelmente perto dele agora. Seu coração bate contra o meu, e é como se deveria. Duas metades se encontrando como uma. — Onde está sua mente, anjo? Eu deveria contar a ele? Não sei como ele vai se sentir sobre esses pensamentos. — Apenas me sentindo bem. — Não é isso. Eu te conheço melhor do que isso. — Ele inclina meu queixo, me forçando a olhá-lo. — Conte-me. Seus olhos vasculham os meus, cavando fundo em minha alma. Ele sabe. Ele sempre sabe. — Somos duas metades, você e eu. — Como o anjo e o diabo? — Não. Como em duas metades que estavam com defeito, inacabadas, sem o outro. Você e eu não somos opostos, como você tende a acreditar. Você não é o diabo. Nós só precisávamos de polimento e precisávamos ser colocados um ao lado do outro para que pudéssemos estar inteiros novamente. Você sabe, como um pote sem tampa. — Hmm. Talvez sim. Eu sou o pote ou a tampa? Eu esfrego minha bochecha contra a dele. — Qual você prefere? — Quero ser a tampa para que eu possa mantê-la coberta das coisas ruins. 369

— Veja, como você pode ser o diabo se tudo o que você quer fazer é me proteger? E você quer encher meu pote com todos os tipos de coisas boas. — Uh Huh, ou seja, meu pau. Eu bato em seu quadril com a palma da mão. Ele cai de volta na cama, pega minha mão e me puxa para cima dele. — Oh, então agora, além de me arranhar, você quer jogar duro? — Eu te arranhei tanto assim? — Vai ser melhor se você os beijar. Ele está me provocando agora, mas quero ver seus quadris. Eu desço para olhar e na luz fraca eu posso ver alguns arranhões vermelhos em sua pele. — Eita. Eu fiz um número em você, não fiz? Sua voz profunda vibra em meu ouvido, porque minha cabeça repousa sobre seu estômago. — Eu não me importei nem um pouco, anjo. Na verdade, acho que é muito sexy. — Ele enlaça a mão no meu cabelo. — Kestrel, você realmente acha que sou sexy? — Eu pergunto enquanto sento. — Carter, você honestamente tem que me perguntar isso? — Eu acho que não. — O que você quer dizer com você não acha? — Bem, é só que Gabby é tão... 370

— E daí? — Perfeita. — Para Kolson, ela é, mas para mim, você é a coisa mais perfeita do mundo. Olhe para você. Eu não posso imaginar alguém sendo mais bonita que você. Por dentro e por fora. — De repente, ele sai da cama. — Venha comigo, — diz ele quando estende a mão para mim. Então ele me leva até um espelho. — Preciso dizer mais? — Eu não quero me ver nua. — Talvez você deva. Você pode ver o que vejo. Mas, além disso, é a mulher que adoro. Então, ia esperar e contar no dia de Natal, porque sei que não é um momento fácil para você, mas Carter Drayton, eu amo você. Eu me apaixonei quando você parecia com aquela freira deselegante. Naquele dia que te encontrei em seu laboratório, com seus óculos e suas roupas antiquadas fora de moda, seu cabelo estava uma bagunça em um dos seus coques malucos, e levou tudo de mim para não arrancar suas roupas e beijar você. Acho que me apaixonei por você naquele dia e só ficou mais profundo desde então. Eu não reconheci exatamente o quão linda você era, mas eu não dava a mínima. Eu só sabia que existia algo mágico em você. Algo tão especial que corria fundo em suas veias e eu queria. Eu queria ser como você. Eu não queria mais o mal; eu queria o bem. Eu queria Carter, o anjo, na minha vida. Então você pode escolher acreditar em mim ou não, mas você não tem escolha sobre se deve ou não acreditar que eu te amo porque isso é irrefutável.

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Minha mão está na minha garganta, porque meu coração bate tão forte que temo que de alguma forma se romperá pela minha caixa torácica. Eu sabia que estávamos indo nessa direção, mas eu pensei que estava muito à frente dele. Inesperadamente, um sorriso se estende pelo meu rosto e sinto que o sol acabou de nascer na sala. Lágrimas de alegria me estrangulam por um momento e sou incompreensível. Kestrel observa enquanto minhas mãos se movem da minha garganta, para meu rosto, de volta para minha garganta, e então ele finalmente me puxa para seus braços enquanto eu suavemente choramingo. — Espero que estas não sejam lágrimas tristes, — ele murmura em meu cabelo. — Não, — eu digo. Eu me recomponho e digo: — Eu também te amo. Eu... ninguém disse coisas tão gentis para mim... — e depois choro um pouco mais enquanto ele me abraça. Ele me leva de volta para a cama e diz todos os tipos de coisas doces para mim, das quais eu não ouço nada, porque eu ainda estou ouvindo a parte sobre como ele me ama e é irrefutável. Finalmente eu me movo em cima dele e digo: — Como você sempre sabe as coisas certas a dizer para mim? — Isso não era sobre ser a coisa certa a dizer, Carter. Foi sobre meus sentimentos em relação a você. Passei muito tempo pensando sobre isso e finalmente descobri tudo, então decidi que o dia de Natal seria o dia para lhe contar. — Não é estranho como as coisas acabaram? — Sim. Karma, hein? 372

— Uh Huh. E agora, Karma diz que precisamos dormir porque temos café da manhã para preparar logo. Kestrel agarra minha bunda e aperta. — Não se preocupe, anjo. Teremos ajuda de Mary e Mimosa. — Delícia, mal posso esperar. Boa noite. — Boa noite Anjo.

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CAPÍTULO VINTE Kestrel

Véspera de Natal começa com um estrondo. Carter está ocupada na cozinha enquanto eu tomo conta de todas as bebidas. Mamãe está feliz porque tenho Charles Heidseick, Piper Heidseick e Veuve Clicquot Grand Dame para ela. Eu só espero que todo mundo não esteja caindo bêbado nesta tarde. Oh, bem, se forem, todos podem tirar longas sonecas antes do jantar hoje à noite. Carter serve café da manhã por volta das onze. Ela tem vários dos que ela chama de caçarolas especiais do sul. Aparentemente isso é uma grande coisa aqui embaixo. Há uma mistura de linguiça, ovo e queijo que é tão boa que tenho medo de que Kolson vá lamber o prato dele. Jesus, esse cara pode comer. Gabby parece horrorizada quando ela o observa abaixar. Então Carter também tem uma caçarola de torrada francesa que é tão boa, minha mãe baba entre mordidas delicadas. Até mesmo Gabby, que gosta de comer (mas não tanto quanto meu irmão), desabotoou o jeans. Carter acrescentou algum tipo de caçarola de batata marrom, juntamente com uma caçarola de grãos com queijo. Então, para superar tudo isso, há hambúrgueres de bacon e salsicha crocantes perfeitos para acompanhar tudo, junto com enormes biscoitos estilo do sul. É uma propagação gigantesca de comida. Minha mãe diz: — Por quê, Carter, você vai nos estragar com sua comida. Carter cora. — Obrigada, Sylvia. É bom ter alguém para cozinhar. Eu amo cozinhar. 374

— É tudo tão delicioso. Você come assim o tempo todo? — Pergunta a mãe. Carter ri. — Céus, não! Eu pesaria trezentos quilos, se eu fizesse. Sem mencionar que não tenho tempo. Kolson acrescenta: — Bem, Carter, meu irmãozinho aqui adoraria se você cozinhasse assim o tempo todo, não é mesmo, Kestrel? — Você poderia dizer isso, mas eu amo o que ela cozinha. Ela costuma fazer o jantar e isso é muito para mim. — Sim, ele é muito grato quando eu cozinho. Ele não é muito prático na cozinha. — Bem, você pode me culpar, — diz Sylvia. — Ou aquele cretino com quem fui casada. Eu solto meu garfo. Gabby ri e a boca de Kolson está aberta. Carter é bastante alheia porque ela nunca esteve por perto quando Langston estava vivo. — Oh, Kestrel, Kolson, não fiquem tão chocados. O homem era um idiota e vocês dois sabem disso, — acrescenta Sylvia. Eu digo: — É verdade, mãe, mas nunca ouvi você falar assim antes. — Demorei um pouco para sair da minha concha. Mas agora que estou fora, estou aqui para ficar. E graças a Deus o cretino está morto. Gabby levanta a taça de champanhe e diz: — Aqui, aqui! Carter me olha e eu apenas dou de ombros. 375

O brunch termina e nós vamos para a sala de estar. A amiga de Carter, Harper, liga. Ela quer passar para trocar presentes com Carter. Carter diz a ela para encontrá-la na casa de hóspedes em uma hora. Isso é algo que elas vêm fazendo desde que são crianças. — Você pode encontrá-la aqui, se quiser, — eu digo. — Eu sei, mas vamos nos encontrar um pouco e depois eu vou trazê-la. — Oh, entendi. Conversa de garotas. Ela acena com a cabeça. — Sim. Eu a agarro pela cintura e murmuro em seu ouvido: — Não dê nenhum dos nossos segredos. — Nunca. Assim que Carter sai, minha família se agita. Gabby diz: — Eu a amo. Ela é perfeita para você. Então minha mãe diz: — Ela pode cozinhar e tem um cérebro. Kolson diz: — Talvez eu estivesse errado. — Sobre o quê? — Eu pergunto. — Sobre ela querer você pelo seu dinheiro, — ele responde. — Carter não dá a mínima para essas coisas. Ela preferiria viver a vida simples. É por isso que aquele lote ainda estava no Sullivan. Se o dinheiro fosse seu objetivo, ela teria vendido tudo imediatamente. 376

— Verdade. — Gabby, ela disse que você a fez passar por um teste. — Sim. Ela passou. Isso é tudo o que tenho a dizer. — Obrigado, — eu digo amargamente. — Kestrel, você sabe o quanto você significa para mim. Não vou deixar nenhuma mulher afundar suas garras em você sem entrar em sua mente um pouco. — Carter não tem garras. — Oh, sim ela tem. Ela veio com raiva de mim lutando por você. Ela tem muitas garras quando é importante. Você está em boas mãos. — Cristo. Espero que esteja tudo terminado. — Eu gosto da garota. Eu acho que ela é perfeita para você, filho. — Obrigado, mãe. — E esta casa. Não poderia ser melhor. — Mais uma vez, obrigado, mãe. Nós largamos tudo porque acabou, no que diz respeito a eles. Eu tenho uma família superprotetora e deveria estar feliz por isso. Não muito tempo depois, Carter retorna com Harper. Após as apresentações, Harper se junta a nós para um pouco de alegria natalina. Carter me mostra a pulseira de couro que Harper lhe deu enquanto Harper mostra os brincos que Carter lhe deu. Embora eu odeie me sentir assim, ainda não confio em Harper. Algo me incomoda, mas não consigo colocar meu dedo nisso. Há um aspecto insincero sobre ela. Eu não quero trazer isso para 377

Carter porque vai estourar sua bolha de felicidade, então eu sorrio e vou sobre as coisas. Mas eu vou ter certeza de manter um olho cauteloso sobre ela. Alguma coisa está errada. Harper faz algumas perguntas sobre nossos planos para os próximos dias e, depois de cerca de uma hora, parte. Ela diz que tem uma reunião de família para participar desta noite. — Ligue para mim, Carter. Feliz Natal a todos. Enfiando Carter na cozinha, pergunto: — Então, você deu algum dos nossos segredos? — Cada um deles. — Então ela ri. Ela não percebe que estou falando sério. — Ela perguntou sobre nós? — Claro que ela fez. Ela é como um sabujo. — Por quê isso? Carter ri. — Porque Harper é intrometida, é por isso. Ela quer saber quem está fazendo o quê com quem. Ela queria saber se você era bom no sexo. — Hmm. Interessante. As garotas pedem muito isso? — Sim. Minhas sobrancelhas se levantam. 378

— A sério? — Sim. Você está brincando comigo? Todas elas querem saber. Caras não querem saber? — Eu não saberia. Você sabe que eu nunca tive amigos assim. Então, o que você disse a Harper? — Isso não é da sua conta. — Ela lambe os lábios e eu acho que quero ser o único a fazer isso. — Você fez, hein? — Eu me sinto sorrindo. — Sim, — diz ela, sua voz se tornando muito quieta. — Eu fiz. Minhas mãos alcançam seu rosto, polegares esfregando as manchas de sardas que eu amo tanto, e eu mergulho minha cabeça por um gosto dela. Depois puxo-a pela porta dos fundos e praticamente a arrasto até a casa de hóspedes. — O que você está fazendo? Eu não respondo até estarmos dentro. — Isso. — Eu a beijo. Realmente a beijo. Como se fosse o primeiro, último, sem intermediários. Eu não quero que haja um começo ou um fim para nós. Eu quero que sejamos um círculo que gira e gira para sempre. — Qual o caminho? — Eu pergunto. — Você decide. Frente, costas, lado. — De trás. Minha frente contra a parede.

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Eu empurro suas calças e calcinhas até os tornozelos e depois faço o mesmo por mim. Em seguida, coloco um preservativo. Meus dedos a acariciam e ela está molhada para mim. — Oh, anjo, você nunca decepciona. — Eu esfrego meu pau em torno de sua abertura e ela geme enquanto arqueia as costas. Eu amo quando ela faz isso. — Agora, Kestrel. Suavemente, eu a acalmo, mas ela se empurra de volta para mim e tenta controlar o ritmo. Puxando-a contra mim, eu digo em seu ouvido: — Deixe-me levar. — Rápido e duro. Por favor, — ela implora. Um braço ao redor de sua cintura para que eu possa alcançar seu clitóris, faço o que ela pede. Ela é tão quente e apertada ao meu redor. Eu me sinto querendo me desintegrar. Sua mão varre para trás e os dedos cravam em mim. Então eu entendo que Gabby está certa. Carter tem garras porque ela as usa em mim durante o sexo. Muito. E eu gosto disso. — Sim. — Sua voz assumiu aquele som gutural que me faz voar. Empurro ainda mais e meus dedos a encontram para levá-la ao orgasmo. Quando ela goza, me deixo levar. Enquanto nos vestimos, Carter diz: — É melhor voltarmos antes que percebam que sumimos. 380

— Anjo, eles já notaram. Nós caminhamos de volta para a casa e três conjuntos de olhos muito curiosos e sábios nos cumprimentam quando entramos na sala de estar. Não há como esconder o embaraço de Carter. Seu rosto está tão vermelho quanto as brasas na lareira. E tenho certeza de que suas bochechas são tão quentes também. — Divertiram-se? — Pergunta Kolson. — Uh Huh. Tão divertido quanto você e Gabby costumavam fazer quando você ia para a mansão e desaparecia por horas. Pelo menos nós fomos embora, – eu olho para o meu relógio, – por trinta minutos. — Rapidinha, hein? — Mas completa, — eu digo. — Ei, pessoal. Podem parar? — Gabby diz. Eu olho para Carter e ela tem um olhar ferido em seu rosto. Eu rapidamente a puxo para o meu abraço e digo: — Tudo bem, Anjo. Kolson e eu fazemos essa coisa de brincadeira o tempo todo. — Talvez, mas não sobre nós, você não faz. — Ela franze os lábios como se estivesse tentando resolver essa coisa. Gabby diz: — Eles são um par de cretinos, não são? — Hum, sim. Eu acho que sim, — diz Carter.

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— Como a maioria dos caras. Adultos que não deixam a adolescência, — Gabby diz, rindo. No pescoço de Carter digo: — Não, não sou eu. Eu sou apenas um cara que está totalmente apaixonado. Minha mãe sorri e bate palmas. Kolson olha de boca aberta e Gabby balança a cabeça e diz: — E o poderoso caiu. — É verdade. Não que eu seja poderoso, mas eu certamente caí. E quem poderia me culpar? — Quem, de fato? — Pergunta Kolson. Me olhando. — O que há de errado, irmão? — Eu apenas nunca pensei que iria bater em você. — Como eu nunca pensei que ira em você. — Então nós dois rimos. — Eu acho que isso pede um brinde. — Eu sirvo-nos mais uma rodada de champanhe e todos nós brindamos a nos apaixonar.

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Naquela noite, Carter trata minha família com sua especialidade de camarão e grãos. Meu irmão está sobrecarregado. Por um minuto, acho que vamos ter que ligar para a Emergência. Ele não fala, nem se move nem respira. Então um sorriso enorme surge em seu rosto e ele declara que Carter precisa abrir um restaurante. 382

— Carter, venha para casa com a gente em Manhattan. Poderíamos preparar você e ter mais clientes em seu restaurante do que você jamais sonharia. Nós todos rimos. — Eu não estou brincando. Ela é uma chef fodona. Nós poderíamos chamar O Sul no Norte. A sério. — Ela não está se mudando para Manhattan. Ela é uma cientista com um sonho. Um sonho que vai ser uma realidade. E logo. — Eu olho para Kolson como se ele tivesse perdido a cabeça. Talvez se eu soubesse que não poderia tê-la cozinhando o tempo todo, eu ficaria tão desesperado quanto ele. — Ok. Que tal agora? Eu contrato um chef e ela passa as receitas e eu abro o restaurante de qualquer maneira? — Kol, você pode fazer o que quiser, desde que você não roube o tempo da minha garota. Carter apenas ri e sugere um filme de Natal para assistir depois do jantar, então todos nós votamos em Christmas Vacation20. Sylvia é mesmo um jogo para isso. Mas no meio do caminho, todos nós estamos à deriva para dormir, então eu sugiro que todos nós encerremos a noite. Eu tranco a casa e Carter e eu vamos para a casa de hóspedes. Uma vez lá, ela pergunta: — Você quer que eu fique na casa grande com você?

20

Férias Frustradas de Natal

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— Não, eu realmente prefiro a privacidade da casa de hóspedes. Direto para a cama. Todo aquele champanhe hoje. E nós vamos fazer isso de novo amanhã. — Eu a viro e a empurro para a cama.

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É uma manhã nublada quando acordo às sete. Dormi mais do que o habitual, provavelmente devido a todo aquele champanhe. Carter faz seus pequenos roncos, então eu sei que ela ainda está dormindo. Desdobrando-me dela, decido tomar um banho rápido e a deixo dormir. Eu posso começar as coisas na casa, como café e bebidas. Ela tem outro dia extravagante de comida planejado. Hoje ela está servindo outro brunch enorme, mas este gira em torno de uma fritada especial que ela gosta de servir e, em seguida, estamos comendo filé mignon e caudas de lagosta para o jantar. Talvez todos nós precisemos sair correndo esta tarde. Eu sinto que ganhei vinte quilos desde ontem. Quando saio do banho, Carter está se mexendo. Ela se alonga e encolhe como um gato e sai da cama. Sempre me faz parar quando a vejo nua. Ela é tão impressionante. — Feliz Natal, anjo. Pensar que tenho meu próprio anjo no natal. Quem já pensou que eu seria tão sortudo? — Pensar que eu teria meu próprio deus do sexo coberto de arte. Quando ela diz isso, deixo cair as calças que estou segurando e uivo de rir. 384

— Querida, eu posso ser muitas coisas, mas deus do sexo não é uma delas. — Oh, eu não sei sobre isso, — diz ela com um sorriso e uma piscadela. Então ela desaparece no banheiro. Alguns minutos depois, sai e pergunta: — Você se lembra daquela vez em que fizemos sexo sem camisinha? — Sim. Por quê? — Estou colocando meus sapatos e olho para ela. Seu rosto é tão cinza quanto seus olhos. — Há quanto tempo foi isso? Eu tenho que parar e pensar. — Eu não me lembro realmente. Por quê? — Eu apenas pensei em algo. Eu não tenho meu período há algum tempo. Tão casual quanto eu posso, eu digo: — Oh, sim. Desde quando? Ela fecha os olhos e diz: — Talvez cinco ou seis semanas. — Então ela geme. Eu estou ao lado dela imediatamente, segurando ela. — Ei, tudo bem. — Não, eu nunca acompanho porque não preciso. Pelo menos eu não fiz até você. E sou mais esperta que isso. O que diabos está errado comigo? Abraçando-a, acaricio seus cabelos.

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— Shhh. Carter, tudo bem. Está tudo bem. Você nem sabe o quanto você está atrasada. — Eu sei, mas sei que estou atrasada. — É verdade, mas você não sabe se geralmente está atrasada ou não, por sua própria admissão. Ouça, amanhã vamos fazer um teste e você pode verificar. Mas não vamos nos preocupar com isso agora. Foi apenas uma vez. E lembre-se, você pulou depois. Você, provavelmente, tirou tudo de você. Ela meio que sorri para minha fraca tentativa de humor; mas a verdade é que não me importo se ela está grávida. Se estiver, faremos a coisa certa. Se não. Então digo a ela. — Se você está preocupada com meus sentimentos em relação a isso, não me importo se estiver grávida. Se você estiver, teremos um bebê. Se você não, então você não está. Eu te amo e eu tenho suas costas. Claro? — Você não se importa? — Talvez seja uma má escolha de palavras. Eu importo. Na verdade, eu ficaria feliz. O que estou dizendo aqui é que estou ao seu lado, não importa o que aconteça. Então não se preocupe, anjo. Eu farei a coisa certa para você. E não porque eu tenho que, mas porque eu te amo. — Então eu beijo seu rosto adorável. Seus braços me envolvem e ela diz: — Você sempre diz as coisas certas. Sempre.

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— Eu só digo o que está no meu coração. Agora entre no chuveiro. Eu estou indo para a casa para fazer café. E por favor, querida, não se preocupe. Este é o Natal e eu quero que seja o melhor que você teve desde que Ells esteve aqui. — Ok. Não se preocupe. Eu a observo enquanto ela caminha até o banheiro e estou me sentindo melhor que seu humor é levantado. Agora eu tenho que ir e ver se alguém está acordado. Quando chego à cozinha, o café está ligado e Kolson está de pé. — Desculpe, — eu digo. — Dormimos um pouco mais tarde do que o esperado. Maldição de champanhe. — Eu sei. Outro dia disso também. — Você e Gabby se interessariam por uma corrida entre o brunch e o jantar? — Pergunto. — Isso aí. Nós adoraríamos isso. — Bom. Isso ajudará com a champanhe também. Logo a cozinha é uma colmeia. Mamãe está conversando, Gabby está correndo, e Carter está tirando coisas de todos os lugares, preparando nossa refeição. — Estou me mudando para a sala de estar, onde é mais pacífico, — anuncio. — Obrigada, — diz Carter. — Mais espaço para a cozinheira! — Ela ri. As mulheres ficam na cozinha enquanto meu irmão se junta a mim. O brunch é outro banquete e depois saímos correndo, deixando minha mãe para trás para tirar um cochilo. 387

Carter lidera o grupo, nós percorremos por todo o centro de Charleston, incluindo a baia, o Lago Colonial, os Jardins White Point, o Rainbow Row21 e depois voltamos para casa. Kolson e Gabby adoram isso. Eles vêem um pouco da arquitetura antiga de Charleston, enquanto Carter nos conduz em torno de igrejas antigas, casas e até cemitérios antigos com lápides datadas de 1700. — Esta é a corrida mais legal que já tive, — Gabby declara. — Kolson, precisamos de uma casa aqui. — Eu concordo, — diz Kolson. — Além disso, estarei vindo muito a negócios, então isso faria sentido. Quando chegamos em casa, vou pegar uma muda de roupa, junto com o presente de Carter, e a encontro na casa de hóspedes. Nós tomamos banho juntos e quando estamos vestidos, ela começa a se dirigir para a porta. — Espere um minuto. Há algo que quero te dar. — Pego a caixa e entrego a ela. Não é difícil descobrir que é joia. Mas espero que ela goste. — Feliz Natal, anjo. — Obrigada. — Ela pega a caixa, desembrulha, depois a abre. É uma corrente de ouro com uma lágrima de diamante pendurada dentro de um círculo dourado. Não é extravagante, mas sua simplicidade o torna elegante; espero que ela pense assim. Sua mão instantaneamente alcança sua garganta. Ela faz muito isso quando algo a toca. É um sucesso, então sorrio.

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Rainbow Row é o nome de uma série de treze casas históricas coloridas em Charleston, Carolina do Sul. Representa o maior aglomerado de casas georgianas nos Estados Unidos

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— É perfeito. — Posso te dizer por que eu te dei isso? — Por favor. — Porque eu quero que suas últimas lágrimas sobre o quarto de Ells sejam derramadas. Hoje, quero que iniciemos nosso novo começo juntos. Neste Natal. E esta lágrima representa o começo e o fim. De agora em diante, quero que todas as suas lágrimas sejam felizes. Você é meu círculo também, anjo. Meu começo e fim. E eu quero que fiquemos para sempre. Seu corpo bate no meu como um trator. Braços e pernas me envolvem com força; realmente não há um começo ou um fim para nenhum de nós. Então sua boca procura a minha e ela me beija, respira sua vida em mim, coloca sua alma na minha e eu sei que sou para sempre dela.

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CAPÍTULO VINTE E UM Carter

O colar. Eu nunca vi nada mais bonito ou algo que representasse um significado como esse. Eu nunca vou tirá-lo novamente, enquanto viver. — Kestrel, esta é a coisa mais perfeita. — Meus dedos dançam sobre ela. O diamante é magnífico. Não tenho a menor ideia do tamanho, nem me importo. O que eu mais amo é o que ele me disse. — Eu nunca teria parado de chorar se você não tivesse entrado na minha vida. Ele sorri e toca seus lábios no meu nariz. — Eu acho que nós precisamos voltar. — Mas eu preciso te dar meu presente. Claro, eles não são nada assim. — Eu vou amar qualquer coisa de você. Eu vou e pego meus presentes para ele. Eles são todos um monte de coisas sem sentido, exceto por um. Ele abre o primeiro e é um chaveiro da Lamborghini. Ele ri enquanto balança no ar. — Eu sei que você não precisa de uma chave, mas eu achei legal. — É legal e eu amo isso. Então ele desembrulha um boné de beisebol da Lamborghini. Ele segura e diz: — Eu queria um desses e nunca cheguei a comprar um. — Você está apenas dizendo isso? 390

— Você deveria me conhecer melhor do que isso agora. Eu nunca digo por dizer. Eu ainda olho para ele com ceticismo. Mas então eu sorrio. O próximo presente é um abacaxi de ferro forjado. Ele olha estranhamente e eu rio. — É o dom da hospitalidade. Eu precisava presenteá-lo para sua nova casa. Ele concorda, mas acho que ainda está um pouco sem noção disso. Acho que é uma coisa do Sul para mim. Então eu entrego-lhe um envelope grosso em relevo. Ele abre e é para um final de semana para dois no resort Sanctuary em Kiawah. Eu levanto minhas mãos dizendo: — Eu estava realmente perdida. Parece que você tem tudo. Então pensei que isso seria divertido. Um sorriso gigante se espalha em seu rosto. Usando o envelope para dar ênfase, ele diz: — Isso é fabuloso. Eu amo isso. Muito obrigado. — Ele me beija. — Eu já posso nos ver. Champanhe, morangos, nus todo o fim de semana. — Meus pensamentos exatamente! — Quando você quer ir? — Kestrel, é seu presente, sua escolha. 391

Eu concordo. — Vamos tirar minha família daqui e depois decidiremos. Eu me envolvo em torno dele novamente, beijando-o. — Mmm. Pena que não é só nós dois. Nós poderíamos passar o Natal na cama. Ele pega um dos meus braços e coloca a mão sobre o seu pau. — Este sou eu. E se você não parar, teremos que corrigir essa situação. — Então, qual é o problema com isso? — Tempo. E um irmão que não vai deixar você esquecer. — Oh. Isso. — Sim. Isso. — Ok. Kestrel, obrigada pelo colar. Eu nunca vou tirar isso. E obrigada por tornar isso privado. Estou feliz que você não tenha me dado na frente de sua família. — Nunca. Eu não compartilharia esse tipo de coisa com eles. Apenas suéteres e bolsas. — Ha! Adoro suéteres e bolsas. Ele revira os olhos. — Venha. Ele pega minha mão e vamos embora. Eu amo este homem. Porra, eu amo esse homem.

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Nosso Natal está cheio de risos e amor. É a primeira vez que me sinto assim em mais de quatro anos, e não consegui apagar o sorriso do rosto se tentasse. O resto dos Harts trocam presentes e há alguns divertidos para piadas. Kolson dá a Kestrel um enorme livro de receitas, Gabby dá a ele um ferro de passar, e então eles lhe dão uma impressão de uma lista de pessoas locais interessadas em trabalho doméstico, isto é, empregadas domésticas. Tudo é feito com tal floreio, no momento em que eles terminam, eu estou segurando meus lados e meu rosto dói muito de tanto rir. — OK. Eu entendi o ponto. Eu sei que sou impotente, — diz Kestrel, com as mãos no ar. Então Gabby joga uma caixa grande e lindamente embrulhada para ele. Dentro estão vários pares de suas calças favoritas de seu alfaiate pessoal em Nova York. Eu levanto minhas sobrancelhas. Gabby percebe e diz: — Oh, eu vejo que ele não te contou. Kestrel é muito exigente com suas roupas. Principalmente suas calças e ternos. Ele se recusa a usar prontas. Até mesmo grifes. Nada fora da prateleira para ele. Ele tem que mandar fazer. Minha cabeça gira para ele e ele está olhando para mim com um sorriso no rosto. 393

— Eu confesso. — O que há de errado com as coisas de prateleira? — Eu pergunto curiosamente. Ele dá de ombros e diz: — Eles fazem minha bunda parecer grande demais. Por um momento, acho que ele está falando sério e digo: — Você está brincando. Ele se vira e sua bunda está de frente para mim e pergunta: — O que você acha? Agora meu rosto está mais quente que um forno no meio do verão. Eu decido, o que diabos, e eu vou com isso. — Pessoalmente, não acho que sua bunda poderia parecer melhor do que isso. — Eu me levanto e bato o máximo que posso e corro para a cozinha. Gabby e Kolson saem rindo. Kestrel chora atrás de mim rindo também. Ele finalmente me alcança. — Você não me avisou sobre sua perspicácia. Você é totalmente de alta manutenção, — digo. — Oh sim. Mas não se preocupe. Sou um deleite para os olhos. — Ha! Você é.

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CAPÍTULO VINTE E DOIS Kestrel

A refeição é divina. Carter preparou o lombo na perfeição e as caudas de lagosta são deliciosas. Mais uma vez, Kolson não respira. Eu me preocupo com esse cara. Estou sentado na cabeceira da mesa com Carter à minha direita e Kolson à minha esquerda. Gabby está ao lado de Kolson e a mãe está ao lado de Carter. Estamos todos conversando amigavelmente (com a exceção de Kolson porque ele está muito ocupado comendo) quando ouço um estalo que interrompe a conversa. A sala de jantar fica na frente da casa e as janelas quebram instantaneamente, junto com todo o resto à nossa volta. O instinto me faz pegar o braço de Carter e puxá-la para o chão. Eu grito o nome de Kolson e o de Gabby também. Então rastejo em direção a mamãe, que ainda está sentada em sua cadeira. Quando chego até ela, empurro a cadeira para que ela caia no chão. — Ligue para o 911. Alguém ligue para o 911! — Eu grito. Vidro e outros detritos estão por toda parte. Ele perfura as palmas das minhas mãos e joelhos enquanto rastejo. O tiroteio ainda cuspe então eu tenho que ficar baixo. Ouço Kolson em seu celular, gritando para o despachante do 911 que estamos sob fogo. — Fique debaixo da mesa, — eu grito. Eu puxo a mamãe para baixo também, mas depois noto que ela foi atingida. — Porra! — Sangue escoa de seu lado. Não

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jorrando, como você vê nos filmes, mas está saindo em um fluxo constante. — Mamãe foi atingida. Tem mais alguém? — Sim. É Carter. Ela está segurando seu ombro. Eu posso ver sangue saindo entre os dedos dela. — Porra! Alguém mais? Kolson ainda está no telefone, gritando. — Rápido. Temos pessoas feridas aqui! Gabby está estranhamente silenciosa. — Gabby? Nada. O tiroteio parou. — Kolson, verifique Gabby. — Não. — Faça! Ele está congelado, então rastejo até ela e ela está mortalmente pálida. Ela foi atingida no lado, como a mamãe. Levanto-me e corro para a cozinha para pegar toalhas. Trazendo o máximo que posso encontrar, entrego algumas a Kolson e digo a ele para encontrar o ferimento de Gabby e colocar compressão nele. Então eu dou um pouco para Carter para que ela possa segurá-los em suas feridas. Virando-me 396

para mamãe, não gosto do que vejo. Ela está sangrando muito agora. Eu acho o buraco nela. Mas existem vários e eu não acho que posso cobrir todos eles. Jesus Cristo, como isso aconteceu? Quem fez isto? — Mãe, espere. — Eu faço o melhor que posso com as toalhas e Carter se levanta. — Onde você vai? — Lá em cima pegar mais toalhas para ela. Ela volta com o braço bom arrastando um cobertor. Usando isso, envolvo a mamãe o mais que posso e esperamos. Parece uma eternidade, como tenho certeza que sempre acontece, mas a polícia e a Emergência chegam. Depois disso, descobri que também fui atingido. De raspão realmente. No braço. Eles nos levam para o hospital e quando chegamos, fazem perguntas. Claro que poderia ser relacionado com a máfia. Afinal, nós entregamos todas as evidências há um ano. Mas todas essas pessoas estão agora na prisão, aguardando julgamento. Talvez sejam seus lacaios. Quem sabe? Mas quero descobrir quem tentou matar minha família. Mamãe e Gabby estão críticas. Ambas estão em cirurgia agora. Kolson ainda está congelado em estado de choque. Carter vai ficar bem. Ela fará uma cirurgia para remover a bala. Minha mente correndo com o que aconteceu, chego a uma decisão. Carter precisa ficar longe disso... de mim. Ela não pode mais ser colocada nesse tipo de perigo. Ela poderia ter morrido... porra, podia ter morrido hoje por minha causa. Eu não vou deixar isso acontecer. Assim que ela estiver melhor, 397

compro-lhe um novo lugar para morar e atribuo a ela um guarda-costas para proteção. Então eu vou embora para que ela não tenha que se preocupar em ser abatida novamente. Às vezes você faz coisas que odeia, para as pessoas que você ama e essa será uma dessas coisas. Dormência permeia cada molécula de mim. Eu toco o ombro de Kolson e quando ele olha para mim, o pesar jorra de seus olhos. Com uma firmeza que não sinto, agarro seus braços e digo: — Não ouse perder a esperança. Você não pode perder a esperança agora. Sua voz é fraca com desespero quando ele responde: — Mas você a viu? Você a viu? Não existia vida nela. — Isso não é verdade, caramba. Se fosse, eles não estariam lá tirando uma bala dela. Agora você precisa se recompor, Kol, porque Gabby precisa de você agora, mais do que nunca. — Você realmente acha que ela tem uma chance? — Sim! Mas não é o que eu acho que é importante. É o que a equipe médica pensa e é o que você pensa! — E mamãe? Aqui é onde balanço minha cabeça. — Mamãe é outra história, Kol. — Minha voz racha. — Você ouviu o que os médicos disseram. Suas chances são tão pequenas. — Eu estava tão focado em Gabriella, que não conseguia entender tudo. 398

— Kolson, precisamos ligar para Kade e avisá-lo de algo. — Sim. Uma enfermeira nos aborda e pergunta por mim. — Você pode ver a Dra. Drayton agora. Virando-me para Kolson, pergunto: — Você ficará bem sozinho? — Sim. Vai. A enfermeira me acompanha e no caminho ela pergunta como está meu braço. Recusei o tratamento quando chegamos aqui. — Você precisa ter isso examinado por um médico, Sr. Hart. — Eu vou. Depois de toda essa bagunça terminar. Entramos em uma sala e Carter está sentada na cama. Seus olhos estão vidrados de medicação para a dor, eu acho. Ela me dá um sorriso débil. — Olá. — Eu me movo para o lado dela e beijo sua bochecha. — Como está o ombro? — Ok por enquanto. Eles querem que eu fique hoje à noite. — Bom. — Não! Eu quero estar com você. — Não. Estou bem. Você precisa ficar bem, anjo. — Kestrel, o que aconteceu? 399

— Nós não sabemos. A polícia está investigando, mas talvez tenha algo a ver com a máfia. Liguei para a equipe de segurança da HTS e eles vão conseguir alguém para investigar se a polícia chegar de mãos vazias. — Gabby e Sylvia? — Ainda em cirurgia. Eu vou deixar você saber assim que ouvirmos alguma coisa. Mas eu quero que você cuide do seu ombro antes que qualquer outro dano ocorra. Seu braço está em um imobilizador e ela tem IV no outro. Ela usa essa mão para coçar o nariz. Ela ainda está sangrando pelo ataque. Eu olho em volta da sala e encontro um pano. Há uma pia ao lado da cama, então eu molho o pano e, em seguida, limpo o sangue seco do rosto e dos braços dela. Tenho certeza de que está em toda parte, mas me livrar dessa parte me faz sentir melhor. Sentado ao lado dela, eu toco sua bochecha e digo: — Eu não sei como você consegue, mas mesmo assim você continua bonita. — E eu tenho um grande burburinho com os analgésicos que eles me deram. Então é melhor você cuidar, amigo — Então seus olhos ficam tão grandes quanto a lua e ela diz: — Você está sangrando! — Não se preocupe, anjo, é só um arranhão. Vou pedir para eles verem depois que mamãe e Gabby saírem da cirurgia. Eu tenho algumas outras coisas que precisam ser feitas primeiro. 400

— Oh querido. Venha aqui e me deixe beijar para melhorar. Ela realmente é louca. Inclinando-se em direção a ela para que ela possa alcançar meu braço, vejo-a pressionar o lábio na minha manga. Eu espero que ela não tenha sangue em sua boca. — Pronto. Melhor? — Sim. Obrigado, querida. — Estou com muito sono. — Então eu acho que você deveria tirar uma soneca. Vou te acordar antes da sua cirurgia. — Promete? — Prometo. — Eu beijo sua bochecha e momentos depois ela está roncando como um soldado. Como uma coisa tão delicada como ela pode produzir um barulho tão monstruoso confunde a mente, mas ela faz. Permito-me o prazer de observá-la por alguns minutos e, em seguida, volto para Kolson para ver se há alguma novidade. No caminho, ligo para Kade para lhe contar as notícias horríveis. Então eu digo a ele que ele precisa vir. Em seguida, chamo o piloto de prontidão. Mas esqueço que é Natal e que não temos um em prontidão hoje. Eu ligo de volta para Kade para lhe dizer que ele terá que vir num vôo comercial. Kolson ainda não tem novidades de Gabby. Eu preencho-o no status de Kade. Essa vai ser uma noite longa. Horas passam. Sentamos. Finalmente, um cirurgião vem nos dizer que nossa mãe conseguiu passar, mas ela está em estado crítico. Sua situação é muito grave e ele não é muito esperançoso. Menos de meia hora depois, 401

outro cirurgião vem nos dizer que Gabby está indo tão bem quanto se pode esperar. Eles encontraram três balas nela, duas das quais entraram em seus pulmões e uma que cortou seu fígado. Mas a boa notícia é que eles removeram todas elas e se tudo correr como eles esperam, ela vai ficar bem. Ela perdeu muito sangue e houve trauma significativo, mas ela puxou bem. Agora é sentar e esperar. Eu faço outra ligação para Kade para saber a que horas ele deve chegar. — Eu não posso sair até amanhã. Não há voos disponíveis. Você vai me manter informado sobre as coisas? Estou reservado para o primeiro voo, então estarei lá ao meio-dia, já que não há voos diretos, — ele me informa. — Ok. Vou ligar se aparecer alguma coisa. Eu diria que mandaríamos um jato, mas ainda é mais rápido se você vier num comercial. Agora preciso contar a Carter sobre minha mãe, então volto para o quarto dela. Ela ainda está dormindo e eu não quero incomodá-la. Enquanto estou lá, a enfermeira chega e diz que eles vão levá-la para a cirurgia agora. — Agora? — Eu pergunto. — Sim. Eles querem tirar essa bala. O cirurgião que fez a de sua mãe fará a cirurgia da Dra. Drayton. — Entendo. Acordo Carter. Ela está grogue, mas entende o que eu digo a ela. Ela sabe o nome do médico quando eu menciono. Ele é um cirurgião de trauma torácico.

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— A bala deve estar alojada no meu peito se ele estiver fazendo a cirurgia. Eu pensei que estava no meu ombro. Quase na hora certa, o cirurgião entra e se apresenta. Ele já me conhece, então apenas acena em minha direção. A bala está realmente na parede do peito. Ele diz que deve ser cortado e seco. Um tipo de coisa de dentro e fora. Essa coisa toda me deixa muito instável. Uma bala no peito de alguém nunca é uma questão simples. Mas então eu não sou o médico, ele é. Logo eles levam Carter embora, e eu fico lá sozinho, me sentindo muito desconfortável. Mais uma vez, encontro-me na sala de espera da cirurgia. Kolson se foi. Eu só posso supor que ele está com Gabby. Eu cavo no meu bolso para o meu celular e quando o encontro, ele está coberto de sangue. Porra. Como este dia... este dia perfeito... acabou tão trágico? A cadeia de eventos passa pela minha cabeça e eu pulo para os meus pés e corro para a UTI onde minha mãe está. E se ela não passar por isso? Eu tenho que ver ela. Quando chego lá, ela tem mais tubos ligados a ela do que posso contar. Eu olho para ela pela janela. O ventilador empurra o ar para dentro e para fora de seus pulmões e posso ver seu peito subir e descer de acordo. Uma enfermeira toca meu braço e pela primeira vez em semanas, eu recuo. — Eu não queria assustar você, Sr. Hart. Eu ia lhe dizer que você poderia entrar se quisesse.

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Estou tão sufocado pela emoção que não posso responder. Como um zumbi, eu entro na unidade e a equipe médica abre uma área para me deixar entrar. Eles estão ajustando as coisas nela. Medicamentos e tal, suponho. — Ela pode me ouvir? — Eu pergunto. — Realmente não sabemos com certeza, mas sempre dizemos aos familiares que é bom conversar com o paciente. Talvez eles possam ouvir, mesmo subconscientemente. — Mãe, é Kestrel. Aguente firme e lute. Você precisa dar tudo de si agora. Você é forte e eu sei que você pode fazer isso. Porra, você aguentou o Dragão por todos esses anos. Este deve ser um passeio no parque em comparação. Não desista, faça o que fizer. Eu amo você, mãe. — E isso é tudo que eu posso dizer antes de quebrar. Caindo de joelhos, eu descanso minha cabeça no lado de sua cama e choro. É a primeira vez que choro desde que me lembro. Talvez desde que eu estava trancado naquela gaiola. Eu não sei. Tudo o que sei é que não quero que minha mãe morra. Não aqui assim. Não quando ela está feliz pela primeira vez em sua vida. O mundo está desmoronando ao meu redor – girando descontroladamente fora de controle e eu quero que ele pare. Mas isso não acontece. Isso piora. Toda máquina, aparelho, o que você tem, naquela minúscula sala começa a apitar, disparando um alarme de urgência por toda a UTI. O pessoal médico invade a unidade, empurrando-me para fora do caminho. Eles não precisam me dizer o que está acontecendo. Eu não sou idiota. Eu teimosamente espero enquanto os assisto através do vidro, usando aquelas pás, vendo seu corpo sacudir quando a corrente elétrica a atravessa. Mas a linha no 404

monitor não hesita em sua insistência constante em permanecer plana. Eles repetem o processo e eu os vejo bombeando outros tipos de remédios para sua linha intravenosa. Mais gel para as pás e ela se agarra, em seguida, cai de volta na cama, uma forma flácida de carne e ossos sem vida. A linha se recusa a se mover. A equipe é persistente; vou dar isso a eles. Eu me sinto separado do meu corpo enquanto assisto a cena se desenrolar. E me pergunto se mamãe está flutuando em algum lugar, separada de seu corpo, vendo isso como eu. Demoro alguns minutos para perceber que o silêncio envolveu a sala. Minhas mãos estão esticadas na janela de vidro, meu rosto pressionado contra ela. Eu posso ver a pequena área de vapor que minha respiração deixou para trás. Duas enfermeiras estão lá fechando todo o equipamento e então eu ouço um homem limpando a garganta atrás de mim. — Sr. Hart. Eu sinto muito. Fizemos tudo o que pudemos. Eu não me viro. Por nenhuma razão em particular, sou atraído pelo processo de como tratam minha mãe. Eu sei que será com respeito, mas devo ver por mim mesmo. — Eu sei. Obrigado. — Eu continuo olhando dentro do quarto. — Você pode entrar se quiser. — Sim. Obrigado. Estou congelado na janela, ainda observando. As enfermeiras são muito meticulosas em tudo o que fazem, até o modo como removem todos os acessos da minha mãe. É tudo tão gentil, como se eles não quisessem colocá-la em mais dor. Assim que eles tiram o tubo de sua garganta, eu vou até ela. Engraçado como a sala 405

parece tranquila agora. Eles me dizem o quanto lamentam e eu aceno. Inclinandome, beijo sua testa e digo a ela que a amo. Então eu me afasto. Eu preciso chegar a Kolson. Eles dizem que Gabby está no final do corredor, então eu vou encontrá-lo. Quando o faço, ele está dormindo com a cabeça na cama dela. Eu odeio acordá-lo, mas sei que ele vai querer ver a mamãe. — Kolson? Ele levanta a cabeça, confuso. Então afunda e ele se concentra. — Ei. Carter está bem? — Sim. Bem, ela está em cirurgia agora para remover sua bala. Kol, é mamãe. Ela não conseguiu. Uma miríade de emoções passa por suas feições. Então seus olhos se enchem de lágrimas. Eu nunca vi Kolson chorar, mas vejo hoje. — Você quer vê-la? Ela está no final do corredor. Ele concorda, mas não fala. Quando chegamos ao quarto dela, ele se torna o estoico Kolson que conheço tão bem. Ele toca seu cabelo e bochecha e, em seguida, segura a mão dela. Virando-se para mim, ele diz: — Isso agora se tornou um assassinato, sabe? E eu vou descobrir quem fez isso conosco. — Então ele se afasta. Eu não tive muito tempo para pensar em outra coisa senão a vida e a morte... aqui. Mas Kol está certo. Isto é um assassinato. Minha mãe foi assassinada hoje. Dia de Natal. Volto para o quarto de Gabby e digo a Kolson que, se ele precisar de mim, 406

estarei na sala de espera da cirurgia. Uma vez lá, eu chamo Kade para avisá-lo sobre a mamãe e que não adianta vir aqui. Eu digo a ele que ligarei quando tivermos os preparativos para o funeral. O que deveria ser um estojo seco e cortado para Carter não é. Três horas depois, o cirurgião aparece. O olhar em seu rosto me assusta muito. — Ela vai ficar bem. Eu tive que perseguir a bala. Quando cheguei lá, ela se soltou e acabou viajando um pouco. Ela teve um pouco de dano pulmonar, mas está bem. Eu liguei aqui, mas ninguém respondeu, — diz ele. — Sim, eu estava com minha mãe. Ela não conseguiu. — Oh, eu sinto muito. — Posso ver Carter? — Sim, assim que ela sair da recuperação. Ela vai permanecer na UTI hoje à noite. Por que você não vai e espera com seu irmão? Vou deixá-los saber onde te encontrar. — Obrigado. Amanhece quando volto a ver Carter. Mas ela está bem. Está balbuciando, mas tem um tubo no peito, que parece absolutamente repugnante, e depois outros tubos, mas eu não me importo, desde que ela esteja bem. A polícia continua querendo fazer perguntas, então eu finalmente cedo. Vou ter que fazê-lo eventualmente, então eu devo começar agora. E é algo assim: 407

Não, eu não sei quem poderia ter feito isso. Não, nós estávamos comendo o jantar de Natal. Não, não recebemos nenhuma ameaça. Não, não tivemos nenhum arrombamento. Não, ninguém nos tem assediado. E então eles começam de novo. Depois de uma hora, olho para o detetive e digo: — Detetive, minha mãe está morta. Você se importa com isso? Eu não sei quem fez essa coisa horrível para nós. Minha cunhada quase morreu e minha namorada também, e você está agindo como se fôssemos parte disso! — Quando termino, estou gritando. — Sr. Hart. Você não tem câmeras de segurança em sua casa. Por quê? — Porque eu acabei de me mudar, pelo amor de Deus. Eu não tive tempo. Tenho estado ocupado trabalhando duro. É um crime não ter câmeras de segurança? Preciso de um advogado agora porque alguém atirou em minha casa? E então isso me atinge. Preciso ligar para Foster Haynesworth. Ele saberá o que fazer. Eu pego meu telefone e faço a ligação. — Foster? — Sim. — Kestrel Hart aqui. — Olá Kestrel, como você está? — Não tão bem quanto gostaria. Houve um tiroteio na casa. — Explico o que aconteceu e ele diz que está a caminho. Eu olho para o detetive e digo: 408

— Eu não estou dizendo outra palavra até que meu advogado chegue. O detetive Brunson está chateado. Eu não dou a mínima. Ele estava me tratando como se eu fosse o criminoso. Eu bato meus dedos no braço da cadeira. — Você realmente não tem que fazer isso. Atiro-lhe um olhar de incredulidade. — Você está brincando certo? Você me pergunta por que ainda não coloquei câmeras de segurança. Claro que eu tive que fazer isso. Minha mãe foi assassinada, droga, e você está me agindo como se eu fosse culpado. Porque eu não coloquei câmeras fodidas. Isso é besteira e você sabe disso. Agora eu não quero fazer inimigos aqui, mas parece que você já cruzou a linha. Os olhos dizem tudo. Eles sempre fazem. Eu veria na direita de Langston antes que ele atacasse. Eu vejo isso em meus oponentes de negócios, antes que eles achem que eles fizeram o acordo. E agora, o Sr. Detetive está me revelando que ele sabe que eu o tenho. Ele fodeu. Ele me apoiou contra uma parede e não achou que eu tivesse coragem de reagir. Bem, ele estava errado. Mas algo aqui não soa bem. Por que ele faria isso? Há outra coisa acontecendo e eu pretendo descobrir. Eu fico em pé e ele pergunta: — Onde você está indo? — Isso não é da sua conta, detetive. — E eu o deixo sozinho, me observando. Quando chego ao quarto de Gabby, ela está acordada. Eu não quero discutir isso na frente dela, então eu espero e puxo Kolson para fora do quarto. Eu transmito o que aconteceu e ele só diz: — Vou ligar para Drexel Wolfe. Ele vai lidar com tudo.

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— Eu estou indo para o quarto de Carter. Oh, e Kol, precisamos fazer arranjos para a mamãe. Ele sacode a cabeça. — Eu sei. Podemos fazer isso em algumas horas? Minha cabeça está nadando. — Minha também. Estou esgotado. Eu me sinto como uma bola de borracha que saltou de um lado para o outro ao redor do hospital durante toda a noite. Estou pronto para os altos e baixos que as minhas emoções acabem. Apenas pura adrenalina me manteve, mas está se esgotando, e me movo enquanto volto para o quarto de Carter. Quando chego lá, ela está dormindo. Há uma poltrona reclinável no canto, então praticamente caio nela e durmo. Um ruído barulhento me acorda e é um ajudante que arruma uma bandeja para Carter comer. O quarto é claro, então eu verifico o relógio na parede e são cinco e meia. Uma enfermeira entra e verifica Carter, depois se vira para mim. — Sr. Hart. Alguém te examinou? É a mesma enfermeira que estava de plantão na noite passada. Tenho certeza que pareço uma bagunça. Esfrego meu rosto e digo não. — Venha comigo. — Não, tenho coisas para fazer. — Você não será capaz de fazer nada disso se essa ferida ficar infectada. Agora vem comigo. 410

Quando saímos da sala, Foster está descendo o corredor. — Kestrel. Você está acordado. — Sim. Você esteve aqui antes? — Eu estive aqui o dia todo. Esse detetive arrogante não vai mais incomodar você. Também convidei alguns trabalhadores para ajeitarem sua casa. A polícia está acabando lá, coletando provas. Existia um grande número de balas na sua sala de jantar e de estar. Tudo se encaixa em mim. — Jesus. Ainda não consigo acreditar que tudo isso aconteceu. — Eu sinto muito por sua mãe. Eu estava vindo aqui para ver se você precisava de mim para lidar com qualquer coisa sobre isso. — Kolson e eu nem conversamos sobre isso. Carter estava em cirurgia e a esposa de Kolson ainda é crítica. — Entendo. A enfermeira entra, dizendo: — Com licença, senhores, mas o Sr. Hart ainda precisa ter o braço atendido. Foster olha para mim e pergunta: — Você também? — Sim, mas com toda a bagunça de ontem, eu não fui visto ainda. — Vai. Eu vou sentar com Carter. 411

— Obrigado. Fazemos uma breve parada no posto da enfermeira e ela deixa o supervisor saber que ela está me escoltando até o Departamento de Emergência. Uma vez lá, eles me colocam em uma sala e não demorou muito para que uma médica aparecesse. Ela me castiga por esperar tanto tempo. A ferida é profunda e ela faz todos os tipos de ruídos enquanto me avalia. Então pede um raio-x. — Sr. Hart, acho que você tem uma bala no deltoide. Ótimo. Exatamente o que eu preciso. O ajudante vem com uma cadeira de rodas. — Eu posso andar. — É política do hospital, senhor. Eu bato minha bunda na cadeira e ela me leva para a radiologia. Eles tiram o raio-x de meu braço e com certeza, há uma porra de bala lá. — A boa notícia é que será fácil recuperar. Balançando a cabeça, eu digo: — Ótimo. Então tire isso. — Sr. Hart. Nós não fazemos isso aqui. Você tem que ter uma cirurgia para isso. — Por quê? — Porque é profundo no músculo. Não podemos anestesiá-lo para isso aqui.

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— Certamente você pode. Apenas vá em frente e me dê uma chance e faça isso. — Sr. Hart, é um procedimento muito pequeno. — Doutor, se é menor, faça aqui. Agora. — Eu não vou arrancar o seu braço, cavando uma bala. Um cirurgião precisa entrar e fazer isso. Ele ou ela terá que fazer uma incisão e caçar a bala. — Por que você não pode fazer isso? — Eu simplesmente não posso. A médica sai. O quê agora? Isso só fica pior e pior. Como vou ajudar Carter com um braço? Cristo. Que fiasco. Eu me levanto e saio. Aquela médica está parada ali. — Onde você pensa que está indo? — Eu tenho coisas para fazer. — Sim, você faz. Ou seja, ter uma bala removida do seu braço. Você quer ganhar gangrena e ter seu braço amputado? — Porra. — Exatamente, Sr. Hart. Agora volte para lá. Estou vendo quem está disponível para fazer esse procedimento imediatamente. Você já esperou por muito tempo. Cerca de uma hora depois, um cirurgião vem me ver. O nome dela é Jane Garrison. Ela é um tipo de mulher sem tolices. Ela explica o que precisa ser feito e 413

diz que deve levar apenas uma hora. Eu vou ter um bloqueio no meu ombro e anestesia crepuscular. Logo, estou despido e sendo levado para o pré-operatório. Kolson já está lá esperando. A anestesia é uma coisa engraçada. O tempo não tem significado. As horas passam como segundos e estou em recuperação. A médica está ao meu lado e me diz que ela pegou a bala. Meu braço ficará muito dolorido, mas vou curar bem. — Você tem sorte, Sr. Hart. — Então ela sai. Kolson entra e diz que está feliz que tudo tenha corrido bem. Eu acho que ele está lá enquanto eu caio no sono.

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CAPÍTULO VINTE E TRÊS Carter

Tio Foster está no meu quarto quando acordo. — Olá docinho. — Ei. Onde está Kestrel? — Aparentemente ele tinha uma bala no braço e eles tiraram, mas ele está perfeitamente bem. — Eita. Que grande bagunça. — Eu sei. Sinto muito, querida. — Como estão todos? Gabby e Sylvia? Eu sei que elas estavam ruins. Tio Foster se contorce. — Conte-me. Ele caminha até a minha cama e pega minha mão. — Querida, Sylvia não conseguiu. — Oh Deus! Quando? — Enquanto você estava em cirurgia, eu acho. Eu me sento e empurro as cobertas. — O que você está fazendo? — Pergunta ele. 415

— Estou indo para Kestrel. — Você não pode ir para ele assim. — Por que não? Ele precisa de mim. — Olhe para você. Você está conectada a todos os tipos de fios e coisas. — E então? Vou arrastar tudo comigo. — Carter, seja razoável. Você não pode ir. Eu o prendo com um olhar. — Sim, posso. E vou. — Eu sinto um puxão no meu peito e é esse tubo. Está ligado a algo pendurado na minha cama. Tio Foster aperta o botão para a enfermeira. A voz vem pelo intercomunicador e ele me dá um tapa. Logo uma enfermeira corre para o meu quarto. Eles tentam explicar racionalmente para mim porque eu não posso ir para Kestrel e digo a todos para pararem. — Você pode me ajudar ou vou fazer isso sozinha. — Minha obstinação acaba por esgotá-los. Um pouco mais tarde, estou sentada em uma cadeira de rodas com todo tipo de porcaria pendurada enquanto eles me levam para ver Kestrel. Quando chegamos ao seu quarto, a primeira coisa que noto é a cor dele. Ele parece cinza. Não sei se é porque ele está com dor ou porque acabou de fazer uma cirurgia. Talvez seja por causa de toda a merda que ele acabou de passar. Eles giram minha cadeira ao lado de sua cama e seguro seu rosto. Quando o toco, ele acorda. 416

— Sinto muito. Não tive a intenção de acordá-lo. — Olho para a enfermeira e para o tio Foster e digo-lhes que nos deixem em paz. Então volto para o Kestrel. — Acabei de descobrir sobre Sylvia. Sinto muito. — Anjo, o que você está fazendo fora da cama? Ele tenta se sentar, mas faz uma careta. — Não, apenas se mantenha quieto. Eu queria ver você, Kestrel. Eu tinha que te ver. Sinto muito por não poder estar com você durante tudo isso. E você teve que lidar com tudo sozinho. — Estou feliz que você não tenha visto isso. Seus olhos se fecharam. Ele pega minha mão e a beija. — Eu quero rastejar em sua cama com você, mas eu não posso, porque eu tenho máquinas suficientes nesta cadeira para encher uma fábrica. Ele ri. — Estou feliz porque vai ficar bem. — Como está a Gabby? — Ela está indo bem. — Quanto tempo você ficará aqui? — Só hoje. A bala estava no meu músculo. Eu beijo sua mão. — Obrigada por me puxar da cadeira. Você salvou minha vida, você sabe. 417

— Eu posso quase ter te matado. Sua declaração me intriga. — O que você quer dizer? — Aquelas pessoas que atiraram na casa. Eles podem ter estado atrás de mim. — A polícia sabe de alguma coisa já? — Não que eu saiba. Foster está ajudando. — Eu sei. — Kolson também vai chamar um investigador particular que conhecemos. Precisamos descobrir isso. — Você está bem? — Sim. — Não, quero dizer realmente bem? — Eu pergunto. — Não. Eu não estou. Ele levanta a cabeça e é então que vejo a agonia em seu rosto, a dor escura em seus lindos olhos e a umidade em suas bochechas. — É minha culpa que ela esteja morta. Se ela não tivesse vindo aqui no Natal... e pela primeira vez em sua vida ela estava feliz. — Oh, Kestrel, isso não foi sua culpa. — Sim, foi. Eu deveria ter sido mais cauteloso. Ter mais segurança.

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— Como o quê? Paredes blindadas? Janelas à prova de balas? Como você ou alguém poderia saber? Este foi um crime terrível e ninguém poderia ter feito nada. Sua mão cobre seu rosto enquanto ele chora. É uma coisa terrível ver um homem dilacerado pela dor. E é ainda pior quando você se sente impotente e incapaz de fazer algo para ele. Eu olho para a cama e depois para tudo o que seria necessário para engatinhar e tomo uma decisão. Eu posso fazer isso. Então eu penduro o recipiente que o meu tubo torácico está preso em sua cama, e eu rolo todos os meus fios tão perto de sua cama quanto posso. E subo. Quando ele sente a cama mexer, ele abre os olhos. — Passe por cima. Eu levanto o lençol e o cobertor e me deito por baixo. Não é fácil, porque estou muito dolorida, mas não me importo. Eu deito de lado e seguro ele. Felizmente, seu braço ruim está do outro lado. — Você está confortável? — Pergunta ele. — Mais confortável do que sozinha. — Te amo, anjo. Você traz o céu para mim. — Hmm. Bem, eu não sei sobre isso. Depois de ontem, acho que você revisaria essa opinião. — Nunca. E nós dormimos juntos. Bem desse jeito.

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Mas não por muito tempo, porque minha enfermeira volta e estou com problemas. Ela me repreende por sair daquela cadeira e, novamente, por perder minha medicação. Kestrel promete vir ao meu quarto assim que for liberado. Essa é a coisa mais louca que já vi, com todos nós espalhados pelo hospital. — Você poderia, pelo menos, nos colocar juntos, — eu me queixo para a enfermeira no caminho de volta para o meu quarto. — Nós colocamos você no chão de acordo com seus procedimentos. De todas as coisas. Você está indo para a cama com ele — ela bufou. — Veja. Sua mãe acabou de morrer e eu queria consolá-lo. — Oh, sinto muito por isso. Eu não sabia. A tristeza envolve meu coração como um torno. Eu continuo vendo o rosto do Kestrel toda vez que fecho meus olhos. Ele deve ter ficado sozinho com sua mãe quando ela morreu. Kolson provavelmente estava com Gabby. Querido Deus, para enfrentar isso sozinho. A merda vai acabar?

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Kestrel é liberado na manhã seguinte e chega ao meu quarto. Ele me diz que vai à casa para checar as coisas e tomar banho. Ele veste as roupas que usava no dia de Natal e elas têm sangue por toda parte. — Sozinho? Kolson vai com você? 420

— Sim. Gabby está estável, então ele se sente confortável em deixá-la. — Bom. Eu não quero que você vá sozinho. Ele me beija diz adeus e parece tão triste. Eles têm planos de funeral para fazer e eu me pergunto quando isso acontecerá. Meu médico me verifica e diz que estou progredindo bem. Talvez eu seja liberada daqui a alguns dias. Meu dia está cheio de sonecas, mas um destaque é John. Sua visita me anima temporariamente e me tira do meu humor sombrio. Flores chegam do trabalho. StrongMeds envia um arranjo massivo que leva duas mulheres para levá-lo para o meu quarto. Eu não sei o que eles estavam pensando, mas não consigo imaginar como vou levar essa coisa para casa. Acho que vou mandá-lo para a ala das crianças para que elas possam ter. Harper voa como um jato de combate. Ela se joga em mim e de alguma forma eu consigo escapar do ferimento. — Porra, Carter. O que no mundo está acontecendo com você? — Eu gostaria de saber o mesmo. — Droga. Eu quase desmaiei quando vi no noticiário. Você pode imaginar? Por que ela está me perguntando isso? — Harper, quase fui morta. Claro que posso imaginar. — Oh sim. Que boba que sou. 421

— Sim. Boba. — Eita. Eu sinto muito. Nunca conheci ninguém cuja casa foi baleada. — Uh Huh. Bem, você conhece agora. — Então, como foi? Ela está brincando? — Harper, a mãe de Kestrel morreu. Como você acha que foi? — Oh. Isso foi meio insensível, não foi? — Você está chapada ou algo assim? — Você não precisa ficar brava. Eu não quis dizer nada com isso. — Ela faz beicinho. — Veja. Estou cansada, dolorida. Fui baleada, tenho esse tubo no meu peito. Meu namorado foi baleado, sua cunhada foi baleada e sua mãe está morta. Sua casa parece uma zona de guerra. Sim, eu tenho que ficar com raiva. Talvez você precise de algum treinamento de sensibilidade. — Ok, você está certa. Mas tenha um pouco de simpatia. — Espera. Você quer que eu tenha simpatia por você? — Talvez eu esteja sendo uma cadela aqui, mas Kestrel e sua família são o sofrimento de alguém. Não Harper. — Bem, sim. Fiquei chateada quando vi o que aconteceu.

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Eu só posso balançar a cabeça. Há tanta coisa que você pode fazer com egoísmo. — Ok, Harper, sinto muito por você. Isso parece iluminar o dia dela. Por que só agora estou vendo esse lado dela? Eu estive cega para esse egocentrismo todos esses anos? Ou talvez eu simplesmente não quisesse ver isso. Tudo o que sei é que não tenho tempo para essa porcaria agora. — Obrigada por aparecer. Eu aprecio suas preocupações. Estou tão cansada, no entanto. Você sabe, levar um tiro no peito faz isso. — Oh, eu acho que faz. — Eu acho que preciso dormir por um tempo. — Ok. Bem, se você precisar de alguma coisa, me avise. Estou por perto. — Obrigada Harper. — E eu a vejo sair do quarto. Eu me pergunto se meus pais viram através dela. Eu realmente preciso de alguns novos amigos.

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Dois dias depois, Kestrel e uma enfermeira me tiram do hospital. Uma limusine me espera e nós vamos embora. Quando o carro não toma o caminho para a casa, fico curiosa. — Onde estamos indo? 423

— Casa. — Este não é o caminho. — Sim. Eu tenho uma surpresa. Nós chegamos a uma casa. É uma linda casa Charleston de estilo único em creme na Legare Street. Kestrel se vira para mim e diz: — Bem-vinda a casa. Confusão nubla minha mente. — Eu não entendo. — Você não pode morar na outra casa. Não é seguro. Não vou arriscar ter você baleada de novo. — Oh, então vamos ficar aqui temporariamente. — Isso faz sentido. Ele não responde. Em vez disso, ele sai e me ajuda. Estou me movendo devagar. Mario lidera o caminho e abre a porta. Quando eu ando para dentro, é totalmente mobiliada e adorável. É difícil não sorrir. — É linda, Kestrel. — Eu pensei que você aprovaria. Ele me ajuda no quarto e vejo que minhas coisas já estão aqui. Mas as dele não. — Onde estão as suas coisas? 424

Mario sai e Kestrel me ajuda a sentar. — Anjo, precisamos conversar. Oh garoto. Isso não é bom. Eu o paro com a minha mão. — Esta é a parte em que você me diz que é você e não eu? — Pergunto. Seus olhos se fecham. — Não. Não é isso de jeito nenhum. — Então ele abre os olhos e a dor irradia deles. Tudo o que ele vai me dizer dói. Mau. — Diga isso, então. — Você não está segura comigo. Esse tiroteio. Nós não sabemos quem fez isso. Pode estar ligado à máfia e, se for, pode acontecer de novo. Eu não posso arriscar essa chance. Mamãe morreu. Eu não vou deixar isso acontecer com você. Minha cabeça gira e eu não consigo respirar. Um punho invisível agarrou minhas entranhas e as arrancou de dentro de mim. Eu sei que meus lábios estão se movendo, mas nenhuma palavra está saindo. — Esta é a sua casa. Eu arrumei o aluguel e, se você gostar, é sua. Eu vou comprar para você. Eu só quero você segura. Eu designei uma equipe de guardacostas para vigiar você. As câmeras de segurança estão sendo instaladas hoje e você nunca estará sozinha aqui. Eu o ouço, mas não tenho certeza do quanto estou processando. — Eu tenho que sair hoje para Manhattan. Para o funeral da mamãe. É privado. Ela não queria outra coisa senão isso. Só serão Kol, Kade e eu. 425

Ele nem quer que eu vá com ele. Meus ouvidos zumbem e sinto que vou desmaiar. Eu não vou deixar. Ele não pode ver quão fraca estou. Eu mordo meus lábios para ajudar, mas eles estão dormentes. Tudo está entorpecido. Exceto a dor excruciante no meu coração. — Você entende, certo? Você entende por que eu tenho que fazer isso? Não! Eu quero gritar e gritar com ele. Mas eu não posso nem abrir minha boca. — É porque eu te amo mais do que qualquer coisa no mundo e sua segurança é a coisa mais importante. Quando descobrirmos quem fez essa coisa terrível... quem matou minha mãe... Eu voltarei por você. Eu prometo anjo. Eu te amo. Ele beija o topo da minha cabeça e vai embora. Eu ainda não posso falar. As lágrimas vêm depois que eu ouço a porta se fechar. Soluços violentos e estridentes. E então eu lembro. Ele não sabe. Eu não os deixei dizerem a ele. Sobre o bebê. CAPÍTULO VINTE E QUATRO Kestrel

Ficar longe de Carter é a coisa mais difícil que já fiz. Eu tenho que fazer isso, no entanto. Até descobrirmos quem está por trás desse ataque, não vou colocá-la em mais perigo. Kolson e eu partimos para Nova York com o corpo de mamãe no avião. O funeral será simples, de acordo com seus desejos. Kade vai voar por apenas um dia. Atordoado é a única palavra que pode descrever sua reação. 426

Só nós três assistimos ao seu serviço. Uma casa funerária lida com a cremação e nós temos seu pastor favorito dizendo algumas orações. Kade está com uma cara de pedra enquanto ele fica entre Kolson e eu. Eu tenho tanto em mente que mal posso resolver o fato de que meu irmão está ao meu lado pela primeira vez em anos. Mas coloco meu braço sobre os ombros dele e uma coisa que eu noto é que ele está muito musculoso. Ele deve estar canalizando sua energia para malhar. Quando o ministro termina suas orações, uma coisa espantosa acontece. Kade inicia sua própria versão de Amazing Grace22. Eu não o ouvi cantar por tanto tempo, me viro para ele e sorrio. É estranho que esteja sorrindo no funeral da mamãe, mas sei que ela também estaria. A música é perfeita, assim como a voz de Kade. Clara e forte, ressoa pelo lago sobre o qual nos encontramos. Estamos em um dos lugares favoritos da mamãe no Central Park – Oak Bridge, no Upper West Side, que atravessa Bank Rock Bay no lago. É um dia tempestuoso de janeiro, com neve nos arredores, mas a música é perfeita e agradaria a mamãe sem fim. Depois que Kade termina, aspergimos as cinzas no lago e voltamos com a cabeça inclinada para a limusine que nos espera. — Eu vou para Denver de manhã com Kade, — Kolson me informa. — Oh? — Eu tenho uma reunião com Drexel Wolfe e sua empresa. Drexel Wolfe é dono de uma empresa de PI única em Denver. Ele tem conexões com o FBI e há rumores, mesmo com a CIA. Ele nos ajudou antes, ao trazer Langston

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para baixo, e tenho certeza de que ele é o homem para descobrir quem está por trás do tiroteio. — Não. Gabby precisa de você. Eu irei. Além disso, é minha casa, meu negócio, — digo. — Sim. Você está certo. Eu preciso estar com minha esposa. Ele está me esperando, então vou deixá-lo saber que você está indo em vez disso. — Bom. — E Carter? — O quê sobre ela? — Como ela levou tudo? — Como você esperaria. — Eu vou verificar ela para você. — Obrigado. Minha única esperança é que ela não me odeie. — Se é algum consolo, Gabby não me odiava quando eu a deixei. — Verdade. Mas o rosto de Carter. O jeito que ela parecia. Ela não disse uma palavra. Eu quase voltei e trouxe-a comigo. — Não. Ela está mais segura lá, sem você. Drex vai descobrir quem fez isso. Ele é rápido também. Kade finalmente pergunta: — Algum de vocês vai me preencher sobre isso? 428

Eu dou a ele a versão abreviada e ele esfrega o queixo pensativamente. — Eu sei que uma tonelada de minhas células cerebrais, foram fritas, mas eu não sei, cara. Eu acho que sua garota deveria estar com você. Se a máfia quisesse revidar, por que esperar tanto tempo? Já faz mais de um ano. Por que não disparar mais cedo? Eu acho que você está na trilha errada. Além disso, eles não iriam atrás de você em seu próprio território? Aqui em cima? Balançando a cabeça, digo: — Eu não concordo. Eu acho que eles querem atacar quando menos esperamos. Quando estamos confortáveis. E guarda baixa. Kade encolhe os ombros. — Você sabe melhor. Este Wolfe. Parece que ele é bom. Ele vai descobrir isso. Eu concordo. — Sim. E Carter está protegida. No dia seguinte, Kade e eu voamos para Denver. — Você parece muito feliz, Kade. — Eu estou. Pela primeira vez eu posso falar isso. Mas ainda não estou pronto. Você sabe. Para me juntar ao mundo. — Entendi. Sempre que você quiser, você sempre tem um lar. Só para você saber.

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Seus olhos se conectam com os meus. Eu sempre achei que seus olhos eram tão sábios. Como se eles podiam ver por trás de tudo. Íris azul-gelo prendem aos meus e ele não pisca quando me enrola com o olhar. — Pare de se culpar. Eu deixei o ar sair, eu me mantive prisioneiro em meus pulmões. — É difícil. Eu sempre senti que poderia ter feito mais por você. Que perdi alguma coisa. Que te decepcionei... deixei você cair entre as rachaduras. — Não foi sua culpa. Não foi culpa de Kolson. Foi do Dragão. Eu era muito frágil para o que ele fez comigo e precisava da fuga. Eu aprendi isso. Mas eu deveria ter escolhido um escape diferente do que eu fiz. Você e Kolson tentaram. Você fez o seu melhor. Honestamente, vocês dois são os melhores irmãos que eu poderia ter tido. E olhe para mim, estou vivo e bem agora por causa de vocês dois. Depois de toda essa merda. Então deixe ir, Kestrel. Nada disso foi sua culpa. Você era apenas uma criança, como eu era. — Eu invejei você às vezes. Eu queria atirar essas coisas nas minhas veias também. Mas eu não fui corajoso o suficiente. Kade soltou uma risada amarga. — Bem, seja grato por isso. Sair dessa bagunça é difícil. — Você parece forte. — Trabalhar fora fará isso. Quando você tenta tirar a merda de seus demônios, isso constrói músculos. Você deveria saber disso. 430

Agora é a minha vez de soltar uma risada amarga. — Oh sim. Que eu sei. Então você cantou no funeral. Você está fazendo isso de novo? — Oh, um pouco aqui e ali. — Tocando alguma música? Kade sorri. — Eu estou realmente ensinando. Voluntariado em uma igreja. Irônico, não é? O ex-viciado em drogas está dando aulas de música em uma igreja católica. Nós botamos uma risadinha. — Ei, eu acho ótimo. Você está cantando no coro? Agora ele realmente ri. — Você não vai acreditar, mas eles me pediram. Eu tive que recusar. De alguma forma, acho que é uma espécie de sacrilégio. — Por quê? Eles conhecem o seu passado? — Sim. — Então, se eles não se importam, por que você deveria? — Eu não sei. Parece apenas um pouco hipócrita. — Bem, eu posso ver porque eles querem você. Você soou incrível. E tenho certeza de que você ainda toca lindamente também.

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— Tudo voltou. Como andar de bicicleta. Pensei que talvez as drogas tivessem destruído tudo, mas não o fizeram. Nós dois estamos quietos um pouco, então eu digo: — Kade, eu não acho que você vai voltar para a costa leste. Você parece ter encontrado o seu lugar lá fora. E estou feliz por você. O melhor é que você tem o seu fundo de investimento e sabe que Kolson e eu o apoiaremos financeiramente em tudo o que você escolher fazer. — Oh, não vou tirar de você depois que eles considerarem que estou seguro para viver sozinho. Eu vou ser um conselheiro de reabilitação ou até pensei em abrir um lugar para a transição de serviços de internação para ambulatório. Você sabe, recebendo ex-viciados de volta ao mundo real, ao contrário de jogá-los para os lobos. É realmente assustador para alguém como eu, pensando que você está apenas a um passo de ter acesso a drogas novamente. — Eu penso que é uma grande ideia. Mas esses lugares já não existem? — Sim, mas não há o suficiente deles. Sua transição da internação de volta para sua vida normal é uma merda assustadora. Para muitas pessoas, tudo bem. Para mim, não em um milhão de anos isso funcionaria. Eu voltava para o meu revendedor favorito e começava a comprar novamente. A tentação é muito atraente. Eu preciso de um ambiente mais controlado. — Entendo. Eu acho que você deveria tentar.

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Falamos sobre suas ideias e como isso poderia funcionar, que tipo de instalação ele precisaria, o financiamento e, antes que percebamos, o piloto nos diz que estamos nos aproximando de Denver. Quando o jato aterrissa, dois carros estão esperando. Um é para Kade, levá-lo de volta ao seu lugar e a outra é da DWI (Drexel Wolfe Investigações). Kade e eu nos abraçamos e nos separamos. Um homem chamado Troy Huffington se apresenta. — Me chame de Huff ou não vou saber com quem você está falando. — Entendido. Entramos no centro de Denver e ele entra em um estacionamento subterrâneo. A segurança é apertada. Muito apertada. Ele passa primeiro por um ponto final. Eles pedem minha identidade. Então eles me entregam uma identificação temporária. Depois de passarmos por isso, temos que passar por outro scanner eletrônico que requer a impressão da mão dele. Há um terceiro que exige sua impressão manual com uma varredura simultânea de sua identidade. Isso finalmente nos permite acessar a área de estacionamento. Nós estacionamos e caminhamos para o elevador. Ele está na frente de uma câmera e, aparentemente, examina seu rosto para reconhecimento. Então as portas se abrem. — Você deve ter Fort Knox aqui. — Algo assim, — ele alude.

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É um passeio suave até o topo. Quando saímos, mais uma vez nos deparamos com uma tonelada de segurança para pular antes de podermos acessar o santuário interno de DWI. — Precisa de um pit stop? — Por quê, você precisa de uma amostra de DNA? Ele ri. — Não, só pensei em passar por você. — Não, eu estou bem. A recepcionista cumprimenta Huff enquanto andamos. Os olhos estão em nós. Mulheres, principalmente. Ele nos leva diretamente a uma porta de vidro e quando entramos, sinto que estou em um set de filmagem. Tem mais tecnologia do que segurança no HTS e isso é realmente algo. Drex Wolfe se levanta e me cumprimenta. — Kestrel. Eu gostaria de poder dizer que é bom te ver. — O mesmo. — Oi, Kestrel. Sinto muito por sua mãe. Eu me viro para ver Gemini, a esposa de Drex e parceira de negócios ali. Juntos, eles não apenas formam um time formidável, mas também formam um casal. Ela é exoticamente linda e ele é – bem, vamos dizer que todo mundo toma conhecimento de Drex quando ele entra em um quarto. Ele não só o possui, analisa, desmonta, depois remonta. É verdade que tenho inveja do homem. 434

— Obrigado, Gemini. Foi um dia difícil. — Fico feliz em saber que sua namorada e Gabby vão ficar bem. E você também. — Sim, obrigado. Eu estou bem. Gabby era a pior. Carter já está fora do hospital. Mas estou preocupado com ela. Temo que a associação dela comigo vá prejudicá-la novamente. — Bem, é para isso que você nos contratou, certo? Drex pergunta: — Que tipo de proteção ela tem? Eu o preencho e ele chama Huff. — Ei Huff, entre aqui. Huff está lá em segundos e Drex explica a situação. Os três murmuram entre si e finalmente Drex diz: — Traga Dane aqui. Hoje. Drex se vira para mim e diz: — Eu preciso de tudo que você tem sobre Carter. Local de trabalho, casa, carro, cada coisa que você pode. Diga a Gemini. Nomes de amigos e assim por diante. Vamos encher Dane no caminho para quando ele chegar lá, ele terá o arquivo dela. Ele estará disfarçado e ela não vai saber que ele está lá. — Disfarçado? 435

— Disfarçado. Eu não quero que ele fique ao ar livre. Ele vai ficar em segudo plano. Mas ele é o melhor e vai mantê-la segura. — Mas seus guarda-costas... Ele interrompe: — São bons, mas não tanto quanto Dane. Confie em mim. — Sim. OK. — Agora para as outras coisas. Comece do início. Nós passamos por cada detalhe repetidamente. Até eu querer gritar. Mas ele é completo. Seus homens já estão investigando coisas, fazendo buscas em conexões de negócios, conexões de Charleston, a máfia, o nome dela. — Quanto tempo até que tenhamos respostas? — Pergunto. — Eu não posso dizer. Mas meu instinto me diz que vamos descobrir isso rápido. A não ser que... — A menos que o quê? — Deixa pra lá. Uma coisa que eu preciso de você é negócios como sempre. — Eu mudei Carter para fora de lá. — Compreensível. E você? — Eles estão trabalhando na casa agora. Tornando-a habitável novamente. Toda a frente foi destruída. A janela foi destruída e assim por diante. — Ah, entendi. Minha casa foi destruída uma vez. 436

— Você está brincando comigo. — Não. Eu não iria brincar com isso. A polícia disse alguma coisa sobre as provas? — Não para mim, mas posso perguntar ao meu advogado. — Por que você tem um advogado? Eu explico o que aconteceu. Ele raspa os dentes sobre o lábio inferior e depois inclina a cabeça para a direita. — Uh oh — Gemini suspira. — O quê? — Eu pergunto a ela. — Ele está chateado. Aquele olhar. Não é bom. Eu sento em silêncio e observo. Drex chama outro cara, Nikolai, e ele transmite o que eu acabei de dizer a ele. — Nikolai, você acha que pode se espremer no banco de dados da Polícia de Charleston? Eu quero ver se eles têm alguma informação sobre a evidência lá. — Eles não vão saber? — Eu pergunto. — Não. Vai pingar da Sibéria ou algo assim, — diz Gemini. Nikolai bate o teclado por alguns minutos e diz: — A aplicação da lei está ficando mais sábia e mais sábia. Eles estão contratando pessoas para montar sua segurança. Levará alguns minutos para entrar. Estou quebrando a criptografia agora. 437

Enquanto isso, Drex continua a me perfurar para mais informações. Tenho certeza de que não estou dando a ele o suficiente, porque tudo que lhe digo parece tão básico. Então ele pergunta: — Algum encontro com alguém? Interações que podem levar você a acreditar que isso poderia ser resultado disso? No começo eu digo não. Mas então penso em Simon. Poderia ser ele? Ele me odeia o suficiente para fazer isso? Ou até mesmo odeia Carter o suficiente. Eu digo a Drex. E também falo sobre Harper. — Você tem que contar todos como uma possibilidade. Mesmo esse companheiro Simon. — Ok. Mas depois dos dois, não tenho mais ninguém. — E quanto a Carter? — Pergunta Gemini. — Se você a conhecer, essa garota não tem um osso ruim em seu corpo. Não sei como ela poderia ter inimigos. Drex diz: — Você tem que pensar fora da caixa. Estamos olhando para todas as possibilidades. Não importa que você não saiba como ela poderia ter inimigos. O fato é que alguém a queria morta. Então pense nesses termos. Se você faz, para quem você apontaria seu dedo? — Ela tem os piores amigos que eu já conheci, não que eu seja um especialista em amigos. — Eu explico. 438

— Ok, não é motivo para a morte, mas ainda assim o monstro verde da inveja já foi motivo antes. — Tem certeza de que isso não é relacionado com a máfia? — Não. Neste ponto eu só tenho certeza de uma coisa. Sua mãe está morta e não sabemos quem fez isso. Estou explorando tudo que posso. Nikolai grita: — Estou dentro. Drex grita de volta: — Evidências. Caso Hart. Bala, carcaças. Qualquer coisa que possa nos dizer o que encontrou ou suspeita. Relacionado a gangues? Crime organizado? Deixe-me saber quando você tiver. — Então sua atenção está de volta em mim. Uma jovem loira entra, carregando uma bandeja de café e todos os tipos de itens de café da manhã. — Com fome? — Pergunta Gemini. — Sim, obrigado. O café é servido e continuamos a trabalhar enquanto comemos. Nikolai anuncia que a evidência é escassa. — Eu realmente não entendo. O banco de dados não tem quase nada, o que é desconcertante. Eu me levanto e ando até ele. — O que isso significa? Eles passaram dois dias coletando. Com todo o tiroteio, deve ter toneladas disso. Talvez eles ainda não tenham terminado de testá-lo.

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— Não. O que eles coletaram deveria pelo menos ser listado. Eles devem entrar no dia em que é trazido. Drex sacode a cabeça. — Há um policial sujo. Alguém por dentro está envolvido nisso. — Mas quem e por quê? — Não posso responder isso. Mas o fato de que a evidência não está aqui é prova suficiente para mim. Huff, Dane saiu bem? — Sim. — Ele relata ainda? — Sim. O avião está a caminho. — Ligue para ele agora e diga a ele para ligar assim que estiver preparado. Precisamos enviar um back-up. Kestrel, ligue para sua equipe. Certifique-se de que Carter está vigiada vinte e quatro/sete23. Ela não deve ficar sozinha. — OK. Você está me pirando pra caralho. — Não quero fazer isso, cara. Apenas certificando-me de que sua garota esteja segura. Faça a chamada. Melhor ainda, deixe-me falar com sua equipe. Eu faço a discagem e início a chamada, depois a entrego para Drex. Eles coordenam e reconhecidamente, eu me sinto melhor sobre as coisas. — Onde está Kolson? — Pergunta ele. — Eu presumo que no hospital. 23

24 horas por dia, 7 dias por semana

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— Precisamos colocá-lo em equipe também. Pegue ele no telefone. Drex explica a situação para ele e ele é instruído a permanecer no hospital até que sua proteção chegue. Cristo, essa coisa é uma bola de neve. Qual o próximo? O dia passa e o almoço é levado. Logo, olho para a divisória de vidro e percebo que o escritório do lado de fora está vazio. Gemini olha para mim e pergunta: — Você está passando a noite, certo? Ha! — Eu não planejava. Eu pensei que seria uma viagem rápida bate e volta. — Não se preocupe. O apartamento executivo está aqui para isso mesmo. Temos tudo o que você precisa, a poucos passos de distância. — Estou muito preocupado com Carter. — Eu posso ver isso. Mas ela está em boas mãos e assim que Dane estiver no local, você terá o melhor acompanhamento dela. — Ele não pode estar lá o tempo todo. — É por isso que estamos enviando ajuda. — Drex, eu preciso te perguntar uma coisa. Você acha que Carter está mais segura longe de mim? — Decisão difícil. Se você sentir como se estivesse trazendo o perigo para ela, então eu diria sim. Mas você não sabe com certeza. — Isso não me ajuda em nada, — eu digo. 441

— Eu sei. Parece que temos tudo o que precisamos de você aqui. Eu vou lá amanhã e meter o nariz na investigação do DP de Charleston. Veja o que eles me dizem. Eu também tenho um amigo no FBI. Ele pode ajudar, se for necessário. Mas agora, o importante é manter todos vocês protegidos para que isso não aconteça novamente. Na manhã seguinte, Drex, Gemini e dois homens se juntam a mim para o meu voo para casa. Um dos homens será minha sombra. Seu nome é Turk e o outro estará ajudando Dane a assistir Carter. Seu nome é Heath. Rezo para que as coisas corram como planejam, porque não sei o que farei se algo acontecer a Carter ou a qualquer outra pessoa.

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Voltar a Charleston era a coisa mais difícil de imaginar. Eu não posso comer, dormir ou funcionar. Tudo o que posso fazer é pensar em Carter e no jeito que ela parecia quando a deixei. E então estou em uma batalha constante por sua segurança. Devo ir até ela ou deixá-la sozinha? Eu era a verdadeira causa do tiroteio? Meu instinto me diz sim, então eu sinto que esta é a coisa certa a fazer, mas isso está me deixando louco. Estar tão perto dela, e não ser capaz de tocá-la, desencadeou meus desejos por ela. Ela é tudo que eu penso. A única vez que recebo alívio é quando estou bêbado.

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Duas semanas se passam e isso é tudo que estou fazendo agora. Jameson se tornou meu melhor amigo. Eu mesmo abandonei Lagavulin em troca disso. Parece ser a única coisa que pode abafar a imagem do rosto de Carter que está embutido em minha mente. Kolson entra e tira a garrafa de Jameson da minha mão. — Cale a boca e endireite sua bagunça. Você tem uma empresa para administrar e de ajudar Wolfe a encontrar um assassino, e você não pode fazer nada no fundo de uma garrafa. Eu gemo quando ele abre as cortinas do quarto. A luz brilhante entra e meu crânio quer se abrir. Cristo, que horas são? Eu dormi com aquela porra de garrafa de uísque? — Você tem que parar essa bagunça, Kestrel. Viver assim não vai ajudar. — Você não entende. — É aí que você está errado. Eu entendo melhor que ninguém. Quando eu estava me escondendo, fiz exatamente o que você está fazendo e isso não me levou a lugar nenhum. Eu finalmente percebi que se eu não parasse, estaria exatamente onde Kade estava, apenas meu vício seria em bebidas alcoólicas e não drogas. Agora, o que vai ser? — O uísque é a única coisa mais forte que Carter. — E é verdade. É a única coisa que expulsa a imagem de seu rosto da minha mente – o último olhar que eu tenho dela quando saí de sua vida.

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— Jesus, se é isso que você pensa, então você não conhece aquela mulher. Pense no que você acabou de dizer. Eu tenho que voltar para Nova York. Gabriella foi liberada e o avião sai em quatro horas. Você não tem escolha aqui ou estou removendo você da HTS. Eu me faço claro? — Você não faria isso. — Como CEO, eu faria. Estou encarregado de proteger esta corporação e agora você é incompetente. Puxe-se para fora da sua sarjeta auto imposta, irmão. Ou você vai se encontrar desempregado. Ponha sua bunda no chuveiro e se limpe. Agora! Ele não me deixa escolha. Saio da cama e tropeço no chuveiro. Ele tem razão. A festa da pena tem que acabar. E eu preciso arrumar minha bunda. Encontrar os assassinos deve ser minha prioridade, não me deixar cair no esquecimento. O que diabos está errado comigo? Quando saio do chuveiro, Kolson fica lá. — Você está certo, — eu digo. — Bom. Agora vá buscar algo para comer. Você cheira a uísque. — Isso é ruim, hein? — Isso é ruim.

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CAPÍTULO VINTE E CINCO Carter

— O que você quer dizer com ele foi embora? — Harper pergunta. — Eu não sei como posso ser mais explícita. Minha mão automaticamente dedilha o colar que ele me deu. Eu não consigo tirar isso. — Como ele pôde fazer isso com você? Caindo de costas contra as almofadas no sofá, eu gemo. — Eu não sei, Harper. Tudo o que sei é que ele disse que estava preocupado com minha segurança. — Isso é óbvio. Pela aparência dos linebackers24 que você tem na varanda, você não precisa se preocupar com nada. Eles queriam me revistar quando cheguei aqui. — Você está brincando! — Não! Eles me perguntaram se eu estava carregando uma arma! Mostrei meu spray de pimenta. — Ai! — Eu quero rastejar de volta na minha cama e me esconder. — A propósito, você parece uma bagunça. Eu dou a ela o olhar do mal. 24

Posição de defesa no futebol americano.

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— Obrigada. Você também, se você fosse baleada e depois abandonada pelo seu namorado. — Oh, pobre bebê. — Ela se lança para mim e me aperta o mais forte que pode. — Ai! Se acalme. Meu peito ainda dói. — Oh, desculpe. — Ela me libera. Eu esfrego minha incisão. — Ei, posso ver? — Acho que sim. Eu levanto minha camisa e ela diz: — Eca! Isso é nojento. Você ainda está verde e amarelo. E o que é isso? — Sobra da fita e da cola. — Hã? Eles colaram você? — Uh Huh. — Eca. Isso é apenas desagradável, Carter. — Obrigada. Você sabe como me fazer sentir melhor. — Ei, eu tenho uma ideia. Vamos sair para almoçar. Você precisa sair daqui. — Eu não sei.

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— Vamos. Já faz mais de três semanas desde que você está em casa e tudo que você faz é sentar aqui. Você precisa de um pouco de ar fresco. Sair vai te fazer bem. Vá tomar um banho e lavar o cabelo. — Meu cabelo? — Carter, você cheira mal. — Eu faço? — Uh Huh. Agora vá. E nós vamos a algum lugar para comer. Depois de alguns estímulos, percebo que ela está certa. Eu não tomo banho há dias e preciso sair desse poço em que estou. Então tomo banho e me visto e Harper me leva para almoçar. Nós conversamos sobre tudo e qualquer coisa, mas ocasionalmente o tópico do Kestrel aparece. — Por que você não liga para ele? — Ela pergunta. — E por que diabos eu faria isso? Ele me deixou, porra! — De acordo com você, foi porque ele estava com medo por você. — Grande negócio do caralho. Se isso fosse verdade, então por que ele nem me checou? Harper fica em silêncio. Então ela diz: — Excelente ponto. Que se dane o idiota. Eu mordo meus lábios para não explodir em lágrimas. — Olha, vai ficar melhor, eu prometo. 447

— Quando? — Eu pergunto. — Porque isso parece terrível agora. — Sim, eu sei. — Ela me dá um tapinha na mão. Minha perna bate para cima e para baixo. Eu tenho que fazer algo para tirar minha mente do choro. Toda vez que penso em Kestrel, quero me decompor em um monte de lágrimas encharcadas. Nossa. Eu fui tão idiota por me deixar apaixonar por ele. — Quando você pode voltar a trabalhar? — A mão de Harper chega por baixo da mesa e agarra meu joelho para impedi-lo de bater. — Você vai chocalhar tudo da mesa. — Vou checar com meu médico sobre o trabalho. Se eu sentar, estou pensando em breve. — Bom. Você precisa sair. Sentada naquela casa está fodendo com a sua cabeça. — Eu sei. A pior parte de tudo é que eu quero ver o quarto de Ells e não posso. Isso costumava me trazer paz e agora meu acesso foi cortado. — Hey Harper, você pode me fazer um favor? — Claro, querida. O que é isso? — Depois do almoço, você pode me levar para a lápide de Ells? Eu preciso falar com ela. — Coisa certa. 448

Nós terminamos e Harper me leva ao cemitério. Ela começa a sair do carro, mas eu a paro, dizendo que quero fazer isso sozinha. Eu ando até a lápide e fico por um minuto. Está frio, mas não tão ruim para um dia final de janeiro. Caindo de joelhos, eu inclino minha testa contra o granito. Oh, Ells Eu gostaria de poder visitá-la em seu quarto, mas não posso mais. Sinto tanta falta sua. Você vai ter um irmãozinho ou irmãzinha. Ninguém sabe ainda. Estou realmente com medo. Eu não tenho Vovó ou o Vovô para me ajudar neste momento. Mas acima de tudo, eu não tenho você. Como eu estraguei tanto? Onde foi que eu errei? — Carter, você está bem? Eu olho para cima para ver Harper. — Sim. Eu sempre choro quando venho aqui. Ela estende a mão e eu a pego enquanto ela me ajuda a ficar de pé. Nós voltamos para o carro dela. — Voltar ao trabalho vai te fazer bem. Converse com seu médico. — Eu vou. Quando voltamos para casa, eu faço a ligação. Ele diz que o tempo parcial é bom, desde que eu não fique por muito tempo. Se eu for por uma semana e não me cansar, posso voltar em tempo integral depois de duas semanas.

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Na segunda-feira, volto para o laboratório. John me cumprimenta na porta com um grande sorriso e um abraço. Isso me dá um brilho quente para ver minha antiga casa. Agora é minha única casa. O lugar onde moro nunca vou me sentir em casa. Alguns dias antes, o tio Foster me apresentou a escritura. Ele disse que Kestrel comprou o lugar em meu nome e eu o possuo livre e claro. Teria sido bom se Kestrel tivesse ligado e me dito. — Eu tenho tudo exatamente como você deixou. — A voz de John me puxa para fora do meu devaneio. — Obrigada, John. — StrongMeds vai cair na próxima semana. Querem dar-lhe uma semana para recuperar o atraso antes de a visitarem. — Ha! Vou precisar de pelo menos algumas semanas. E se eu for meio período, talvez mais. — Melhor deixar Winston saber então. — Sim, você está certo. E obrigada por tudo, John. Você foi uma bênção. Seu rosto fica vermelho. — Não foi nada. É ótimo mergulhar no meu trabalho novamente. O dia se foi antes que eu perceba. John me cutuca e me lembra que preciso sair. — Eu amo muito o meu trabalho. Não acredito no quanto senti falta. — Você precisa seguir as ordens do seu médico. 450

— Mas me sinto ótima. Melhor do que eu senti o mês todo. Ele disse para deixar meu corpo ser meu guia. — Vá para casa, Carter. Eu quero você de volta inteiramente bem. Não cansada e quebrada. Ele não sabe o quanto estou quebrada. — John, eu preciso falar com você sobre algo. — Eu inclino minha cabeça porque eu não posso olhar nos olhos dele. Eu mexi com meus polegares. — Certo. O que é isso? — Estou grávida. — Eu não posso olhar para cima. Estou com muito medo do que vou ver. — Oh, Carter, isso é uma notícia maravilhosa! — É isso? Como é isso? Eu estou sozinha. O pai nem sabe. John pega minhas mãos e em voz baixa pergunta: — Por que você não contou a ele? — Porque ele me deixou. — Hmm. Eu não sabia disso. — Eu sei. — Você tem que dizer a ele. Ele tem o direito de saber. — Eu percebo isso. Mas é difícil. — Mas ele é louco por você. 451

Oh, foi o que eu pensei também. — Então por que ele me deixou? — Eu não sei. Você perguntou a ele? — Ele alega que é por razões de segurança. Ele acha que estou em perigo ao redor dele. — E você discorda. — Não é que eu discorde. É que ele não me deu escolha. — Liga para ele. — Ele não atenderá minhas ligações. — Então você fará o que qualquer outra pessoa faria. Você terá um bebê e será a melhor mãe que você pode ser. Eu desmorono e choro. Novamente. Como sempre faço quando penso em ter um bebê, sozinha. John empurra um monte de lenços na minha mão e continua me garantindo que tudo ficará bem. Ele nomeia todas as razões do mundo do por quê e meio que me convence. Quando me acalmo, ele arruma minhas coisas e me leva até o elevador, prometendo fechar o laboratório. Eu chego ao estacionamento e ouço meus saltos ecoando no concreto. Por alguma razão, tenho a estranha sensação de estar sendo observada. Eu paro e olho atrás de mim, mas estou sozinha. É escuro e sujo aqui, mas nunca me senti arrepiada antes. Todas essas coisas sobre o tiroteio me deixaram mais paranóica, então corro para o meu carro. Quando chego em casa, 452

os linebackers estão na varanda esperando por mim. Eu tenho que parar e me perguntar por que eles não me escoltam, então eu pergunto. — Ei, por que vocês não vão trabalhar comigo? — Nos disseram para cobrir a casa apenas. — Quem te contratou? — Sr. Hart. — Que outra segurança existe? — Câmeras. — Tem alguém aqui o tempo todo? — Sim, senhora. Hmm. Ok, isso deve me fazer sentir melhor, mas na verdade me preocupa mais. Talvez haja mais nisso do que me permiti considerar. Se Kestrel achou que valeria a pena contratar esses caras para patrulhar a casa continuamente, então ele devia ter suas razões. Além disso, a polícia já pegou os atiradores? Eu preciso descobrir, então eu mando uma mensagem a Kestrel. Mas parece não entregue. Então eu ligo e recebo uma gravação que o número foi desconectado. Ele fez isso para que eu não conseguisse entrar em contato com ele? Estou começando a ficar puta. Verificando a hora, vejo que são quatro da tarde. Então, tento a HTS. A recepcionista me informa que ele está fora do escritório. Há uma maneira sólida de descobrir. Eu volto para o meu carro e vou até lá. Quando vejo seu Lamborghini no seu espaço de estacionamento, sei que ele está lá. 453

A recepcionista tenta me impedir, mas ela não é páreo para mim. Shayla é outro assunto. Se ela é obstinada e vai proteger seu chefe, não importa o quê. Ela está na frente da porta do escritório dele, braços cruzados, pés estendidos, barrando a entrada. — Shayla me deixe passar. — Eu tenho instruções que ele não deve ser incomodado. — E eu não me importo com as suas instruções. Deixe-me passar. — Não. — Então isso vai ser um longo descanso da tarde para você, porque eu não vou sair. Ele tem que sair eventualmente. Olhos curiosos são atraídos para nós quando temos nosso confronto. — Isto é ridículo. Seja razoável, Shayla. — Eu sou. Eu sou sua empregada, seguindo ordens. Quando ele diz: “Ninguém” isso significa até mesmo você. Eu finalmente cheguei ao meu limite e grito: — Oh, pelo amor de Deus, deixe-me entrar na porra do escritório, agora! — Cuidado com a língua! — Não até você abrir a porra dessa porta! A porta se abre e ele fica de pé, com as mãos nos quadris.

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— O que diabos está acontecendo aqui fora? — Então sua íris de esmeralda pousa em mim e escurece. Ele dá dois passos e seus dedos correm em volta do meu pulso. — Entre aqui. Ele praticamente me arrasta para dentro e bate a porta fechada. Ela bate tão ruidosamente que todas as pinturas na parede tremulam e eu acho que elas vão cair. — O que diabos você está fazendo aqui? Tentando ressuscitar os mortos? — Estou tentando conversar com você, idiota, mas seu telefone foi desconectado e sua recepcionista está mentindo para mim. Um olhar culpado toma conta de seu rosto. — Foi por um bom motivo. — Oh? Se importa em compartilhar comigo? — Eu não posso manter o riso fora do meu tom. Ele rola os ombros para trás e não diz nada. — Nenhum comentário, eu vejo. Evitando-me como de costume, então. — Carter, não é o que você pensa. — Sua voz é suave. — E o que exatamente eu acho, Kestrel? Diga-me, porque estou interessada em saber. Antes que eu possa processar, ele agarra meu pulso novamente, me puxa contra a dureza de aço do seu peito e seus lábios esmagam os meus. Por um momento não reajo. Mas então a raiva sobe em mim, disparando meu sangue, e 455

afundo meus dentes em seu lábio. Quando ele suspira, coloco as palmas das mãos entre nós, empurro-o para longe com toda a minha força e, em seguida, dou um giro para ele. Ele desvia e evita meu braço. — Que porra é essa! Você me mordeu! Eu olho para ele e fervo. — Você não tem o direito de me beijar. Você saiu da minha vida e me abandonou. — Meu coração se emociona quando nos encaramos. Estou com tanta raiva que quero bater nele novamente, mas ele vê isso chegando e agarra meu braço. Eu puxo para longe do seu alcance. Sua voz é alta quando ele responde: — Foi por uma boa razão! — Você não pode tomar as decisões da minha vida. Só eu consigo fazer isso. Agora nós dois estamos ofegantes como dois cachorros quando olhamos para baixo. Então ele alcança meu pulso novamente, mas fujo dele. Gesticulando em direção à área de estar no canto, ele diz: — Sente-se. Não um por favor. Apenas sente-se. Eu fico lá olhando para ele, batendo no tapete grosso. Como em qualquer outro lugar que toca sua vida, o escritório de Kestrel é opulento, cheio de coisas caras. 456

Ele aponta para o sofá e diz novamente: — Sente-se. — Eu não sou um cachorro fodido. Agora ele esfrega a testa e suspira. — Eu nunca pensei que você fosse. Por favor, Carter, sente-se. Marchando para o sofá, eu sento. — Feliz agora? — Não. Felicidade não é possível para mim. Não até que o assassino ou assassinos sejam apanhados. — Sim, é por isso que tentei te mandar uma mensagem, depois liguei. Eu queria saber se eles os pegaram. Eu me assustei. Mas eu não consegui te alcançar. Estou tremendo, estou com tanta raiva. Ele inclina a cabeça e diz com urgência: — Por que você estava com medo? Aconteceu alguma coisa? — Não! É só que esses caras estão na casa e eu queria saber. — Não. Eles não os pegaram. Quando eles fizerem isso, você será a primeira a saber. Eu mergulho minha cabeça e jogo com um fio imaginário na perna da minha calça. — Então, como você está se sentindo? Você está curada? 457

— Você se importa? — Eu pergunto. — Claro que eu me importo, caramba. Eu te amo. — Você tem uma maneira estranha de mostrar isso. — Sua segurança é mais importante. É por isso que... — Sua voz se interrompe, mas ele continua a me encarar. — Por favor, não me odeie, Carter. Só não me odeie pelo que estou fazendo. — Estou tentando, mas você não está facilitando muito. Eu não entendo porque não podemos ficar juntos. Por que não podemos ser... — Eu balancei minha cabeça. — Porque se eles estão atrás de mim, eu não quero que você seja pega no fogo cruzado... para ser um dano colateral. — Então, quanto tempo? Um mês? Seis? Um ano? — Enquanto for necessário para pegá-los. — Entendo. Então, até lá, você continuará decidindo minha vida por mim. É isso? — Estendendo a mão na minha bolsa, eu puxo um pedaço de papel e entrego a ele enquanto me levanto para sair. Ele olha para isso. Tudo o que diz é 14 de agosto de 2015. — O que é isso? Aniversário de Ells? — Não exatamente. A ironia é uma cadela, papai. — E eu saio do escritório dele.

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CAPÍTULO VINTE E SEIS Kestrel

Tudo chega a um ponto insuportável. 14 de agosto de 2015. ‘A ironia é uma cadela, papai.’ Oh que porra. Carter está grávida. Ela suspeitava que poderia estar. Mas em toda a confusão, eu esqueci. E eu a deixei. Sozinha. Para lidar com isso sozinha. Então, como isso me faz sentir? Como um pedaço de sujeira. Eu explodo da minha cadeira e atravesso o escritório como se minha bunda estivesse pegando fogo. Quando chego ao estacionamento, ela está saindo do espaço. — Espera! Carter! — Corro em direção ao carro dela, os braços balançando no ar tentando chamar sua atenção. Ela pisa no freio e eu corro para a porta dela. Abrindo, tento puxá-la para fora, mas ela está com o cinto. Deixando me cair de joelhos, eu deito minha cabeça em seu colo e a abraço. Quando eu finalmente estou composto o suficiente para falar, eu olho para ela e ela enxuga minhas bochechas. — Jesus, sinto muito por ter te deixado. Foi para sua segurança, mas eu não sabia. Eu conversei com todos e eles sentiram que se eu fosse a causa seria melhor para você. — Meu discurso rápido tem a cabeça se movendo para frente e para trás em um esforço para manter-se, imagino. Eu continuo com a minha explicação e ela finalmente diz: 459

— Ei, você acha que eu deveria mover meu carro? Deslocando meu corpo de volta na minha bunda, eu olho em volta e decido que provavelmente é uma boa ideia. Os caras da DWI provavelmente acham que eu sou um idiota. — Não só isso, eu preciso levá-la de volta para dentro. — Eu me movo para permitir que ela estacione novamente, e então eu a ajudo. Quando voltamos, todos estão nos espionando, embora tentem agir como se não estivessem olhando para nós. Enquanto andamos dentro do meu escritório, digo a Shayla que não devemos ser incomodados. Uma vez que a porta está fechada, tomo Carter em meus braços e a beijo. Isso me lembra o quanto eu senti falta dela. — Promete não me morder? — Sim. — Seus dedos tocam minha bochecha. — Diga-me que você sentiu falta disso tanto quanto eu. Eu sonhei com você ao meu lado na cama todas as noites. Eu queria muito você, às vezes, doía. — Eu odiava você por me deixar. Eu não conseguia entender por que você fez isso. — Eu discuti isso com Drex. Eu não queria fazer isso. Foi a coisa mais difícil que já fiz. — Quem é Drex?

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— Ele é o investigador particular que eu contratei. Ele é baseado em Denver. Ele é o melhor e ele achou que seria melhor. Se os assassinos pretendiam me matar, então você estaria mais segura. Me preocupa que você ainda possa se machucar. E o bebê. Quando você descobriu? — No hospital antes da cirurgia. Eu não queria te contar no hospital porque você estava com muita coisa do jeito que estava. Eu ia lhe contar quando saísse, mas você saiu antes que eu tivesse a chance. — Jesus. Eu sinto muito, anjo. — Eu a beijo de novo. — E depois que eu te disse que eu te apoiaria nisso. Você deve ter pensado que eu era o maior burro. — Sim. Principalmente porque você não me deixou decidir o que eu queria. Você escolheu por mim. Eu quero tomar as decisões da minha própria vida. Merda. Agora eu tenho que me preocupar com isso também. — O que é isso? — Precisamos tirar você da cidade. — O quê? — Ela me empurra para longe. — Ouça, anjo. Alguém me quer morto. Ruim o suficiente para atirar em toda a casa. E aqui está o que é pior. A polícia tentou cobrir algumas das coisas. — O quê? — Seu rosto empalidece. — Depois que contratei Drex Wolfe, voei para Denver e ele começou sua investigação. Muito pouca evidência que coletaram foi registrada. Então ele

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começou a investigar e agora ele acha que alguém no departamento de polícia está encobrindo isso. O telefone de Carter vibra quando estou dizendo isso a ela. Ela olha e é uma mensagem de John. — Ah não! — O quê? — Eu pergunto. — Houve uma explosão no hospital. — Uma explosão? — Sim! John disse que estava na garagem quando isso aconteceu. — O quê? Ela liga para ele. Mas tudo o que ele pode dizer é que ele estava na garagem quando os alarmes começaram a soar. Ele saiu do prédio e quando chegou à rua, eles disseram que uma explosão ocorreu no prédio da pesquisa. Ele acabou de descobrir que estava no laboratório deles. — Eles não sabem o que aconteceu até que possam entrar para investigar. — Eu estou chamando Drex. Minha conversa com Drex nos convence de que é mais do que apenas uma coincidência. Ele pergunta se John saiu mais cedo. Carter verifica a hora e diz que acha que deve ter. Então Drex pergunta se ela fez. — Bem, sim, mas estou trabalhando apenas meio período esta semana. 462

Drex decide tirar Dane e Heath das sombras. — Quem são Dane e Heath? — Carter quer saber. — Você descobrirá em alguns minutos. Eu digo a Shayla que deixe Dane entrar quando ele chegar. Poucos minutos depois, há uma batida e entra um cara alto e musculoso com um ar militar. Seus cabelos escuros estão curtos e ele está vestindo jeans e uma jaqueta de camuflagem. — Você deve ser Dane, — eu digo. — Isso mesmo, senhor. — Prazer em conhecê-lo. Esta é Carter. — Estou ciente, senhor. — Ele acena para Carter. — Eu devo escoltar Dra. Drayton em todos os lugares. Heath e eu vamos trabalhar, como fomos instruídos, exceto que agora seremos visíveis para ela. — O que você quer dizer? — Carter pergunta. — Uh, sim, então Dane e Heath foram suas sombras nas últimas semanas. Para te manter segura. Em todo lugar que você esteve, eles estiveram com você. Eles são especialistas no que fazem, anjo. — Você realmente acha que isso é necessário? — Claro que sim! — Eu grito. — Se essa explosão em seu laboratório foi uma bomba destinada a matar você, então eles estão atrás de você, não de mim! — Uma bomba! Quem disse alguma coisa sobre uma bomba? 463

Dane está de pé, com as mãos cruzadas e em silêncio. — Anjo, que tipo de coisas poderia causar uma explosão em seu laboratório? Ela não responde. Eu pergunto: — Você trabalha com inflamáveis em sua pesquisa? Ela franze os lábios enquanto pensa. Mas ela balança lentamente a cabeça para lá e para cá. — Não. Nada que eu possa pensar. — O que mais pode causar uma explosão? Gás? Você usa algum tipo de queimador a gás? — Não, não no nosso laboratório. — Então, o que poderia causar uma explosão? Algum tipo de reação química? — Não. Mais uma vez, não no nosso laboratório. — Então, de volta ao meu ponto. Essa explosão pode ter sido feita para você. Dane está aqui para te proteger. — Como ele consegue fazer isso? Eu olho para Dane e ele diz: — Senhora, eu era da Operações Especiais. Sou treinado em muitas coisas. Eu posso te manter segura. Você tem que confiar em mim. E se eu te disser para fazer alguma coisa, você tem que fazer isso.

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O telefone de Carter toca. Ela atende. Eu puxo Dane para o lado e digo que ela sabe tudo agora. Quando Carter termina, ela diz: — Era Winston Miles, da StrongMeds. A polícia diz que poderia ser uma bomba. John disse a ele o mesmo. — Ok. Isso é o suficiente. Estamos tirando você de Charleston, — digo. — Não, — protesta Carter. — Onde eu iria? — Manhattan. Para Gabby e Kolson. Dane e Heath podem ir com você. Carter, você tem que pensar no bebê. — E você? — Eu não acho que eles estão atrás de mim. Agora estou convencido de que é você que eles querem. — Eu tenho que concordar, senhora, — diz Dane. — Pare de me chamar de senhora. Eu sou mais jovem do que você! — Carter diz frustrada. — Sim, senhora. Desculpe, senhora. Velhos hábitos são difíceis de mudar. — Oh, maldição! — Carter começa a andar. — Vou ligar para que eles preparem um avião. — Kestrel, venha comigo. Apenas por uma noite. Eu não tenho roupas. — Podemos cuidar disso, senhora, — diz Dane. Ele faz uma ligação e é isso. Carter me puxa de lado. 465

— É isso. Eu tenho homens estranhos passando pela minha lingerie e arrumando minhas malas? — É por uma boa razão. — Venha comigo. Eu quero dormir com você. Eu rio. — Isso é um convite. Muito sutil, anjo. — Bem, o que você espera? Eu não estou sendo sutil. Estou com medo. — Anda. — Eu ando até a porta e chamo Shayla. Quando ela entra, dou-lhe instruções para cancelar tudo no meu calendário de Charleston, porque eu estou indo para Manhattan em uma hora. Suas sobrancelhas se lançam para o céu, mas ela apenas balança a cabeça. — Sim, Sr. Hart. Algo mais? — Sim. Depois que você terminar, vá para casa e faça as malas. Planeje ficar fora por duas semanas. Diga ao seu marido que ele pode vir neste fim de semana. Vou mandar um jato corporativo para ele. Você está se juntando a mim amanhã. Um sorriso se espalha em seu rosto. — Sim, senhor. — Ah, e Shayla. Certifique-se de que a equipe saiba que estamos fora, mas não diga a eles onde estaremos. Apenas deixe-os saber que podemos ser contatados por telefone. — Sim, senhor. 466

Shayla sai e eu chamo Turk para dizer-lhe para ir e arrumar uma mala para mim. — Quem é Turk? — Carter pergunta. — Ele é a minha versão de Dane. O telefone de Carter vibra e é John. Ele diz a ela que a polícia quer falar com ela. Eu pego o telefone dela. — Oi John, aqui é Kestrel Hart. Diga-lhes se querem falar com ela, eles terão que fazer isso na HTS ou em Nova York. — Nova York? — Sim. Estamos saindo em cerca de uma hora. Uma vez que a bomba obviamente visou Carter, estou tirando ela daqui. Não é seguro para ela em Charleston. Duas tentativas em sua vida e isso é suficiente. A polícia não fez o suficiente para pegar os que mataram minha mãe e quase mataram Carter na primeira tentativa. Eu não estou me arriscando. Você pode dizer isso a eles. — Entendo. — E John, tenha cuidado. — Obrigado. Eu vou. Como esperado, o telefone da HTS toca e Shayla me diz que um detetive Brunson está na linha e quer falar com Carter. Eu aceito a ligação para ela.

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— Detetive Brunson. Kestrel Hart aqui. Dra. Drayton não está disponível. Parece que os assassinos atacaram novamente. Vocês estão fazendo um trabalho incrível lá. — Sr. Hart. Precisamos conversar com a Dra. Drayton. — Sim, sobre isso. Um, ela não sabe de nada. Dois, você pode falar com ela quando ela estiver disponível. Em Nova York. Onde a vida dela não está em perigo. Onde as pessoas não estão tentando atirar nela ou bombardear seu laboratório. Agora vá e pegue os filhos da puta. — Eu desligo. Carter diz: — Você tem certeza de que foi sábio? — Ele está encobrindo merda. Meu celular vibra. É Turk. — Eu tenho tudo embalado e estou a caminho do aeroporto. — Nós vamos encontrá-lo lá. Eu olho para Dane e pergunto: — Nenhuma notícia de Heath ainda? — Não, senhor. — Ligue para ele e veja quanto tempo antes que ele esteja a caminho. — Sim, senhor. Carter pergunta: 468

— Há um avião pronto? — Sim, há sempre um em espera. Dane diz: — Senhor, Heath estará a caminho em cerca de dez minutos. — Bom. Isso significa que podemos sair daqui por volta das dez. Enquanto isso, ligo para Kolson para lhe dar um aviso de que ele e Gabby terão companhia na próxima semana. Então nós partimos. Dane nos diz para nos sentarmos na parte de trás e pegamos a estrada de volta para o aeroporto. É apenas uma viagem de sete minutos, que é uma das razões pelas quais escolhemos esse local para nossos escritórios. Enquanto dirigimos, Dane anuncia que Heath parou atrás de nós. Eu me viro para olhar e vê-lo. Carter faz o mesmo. Exatamente nesse momento, outro SUV preto nos afunda do lado do motorista a uma alta velocidade, empurrando nosso carro contra um aterro de concreto. Carter grita, eu grito, e Dane também. Tudo acontece tão rápido que eu não posso contar tudo, a não ser airbags e eu sou jogado em Carter, mas ela é simultaneamente esmagada em mim. O barulho é horrível. Vidro quebrado, trituração de metal, pneus cantando e gritando. Os gritos, isso reverbera em meus ouvidos. Então eu ouço o som distinto de um tiroteio. Eu conheço esse som. Está impresso no meu cérebro como nada mais. Bing, bing, bing, bing. Mais e mais.

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Então um silêncio sinistro desce. Estou preso debaixo da porta e não consigo me mexer. Carter? Onde está Carter? Eu quero falar, mas não posso. Por que eu não posso falar? Eu pisco meus olhos, tentando me concentrar, mas tudo está embaçado. Então fica cinza.

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— Sr. Hart? Sr. Hart? Eu abro meus olhos e vejo Heath. — Não se mexa. Emergência está chegando. Fique parado. — Carter? — Pergunto — Ela está ao seu lado. — Carter, você pode me ouvir? — Minha voz é fraca. Eu não obtenho resposta. Heath diz: — Eu não posso alcançá-la porque o carro está contra a parede. Apenas não se mova. Eu ouço sirenes à distância. — Você os viu? — Eu pergunto. — Eu atirei neles, — diz ele. — Sr. Hart, espere aí. — É Turk falando agora. — Você os viu, Turk? 470

— Eu cheguei aqui quando Heath estava atirando. — Dane? — Vai ficar tudo bem, — diz Turk. Fecho os olhos, mas Turk diz: — Ei, Sr. Hart, fique comigo, cara. — Estou aqui. Eu ouço as sirenes se aproximando. — Eu não posso sentir nada. — Não tente se mover. Deixe os especialistas tirarem você, cara. — Quantos estavam lá? — Dois. Eu olho para o teto do Tahoe. Como diabos isso aconteceu? E o que eles queriam de Carter? Porquê ela? Ela é a coisa mais doce do mundo. Quem iria querer prejudicar esse ser humano bonito? Lágrimas caem livremente pelo meu rosto porque eu não posso, pela minha vida, ver a razão disso. Eu sim. Eu sou um otário. Eu fiz um monte de coisas erradas quando trabalhei para o meu pai que eu deveria pagar. Mas Carter? Nunca. Os bombeiros chegam e vão trabalhar. Eu insisto que eles a tirem antes de mim. Eu pego o colarinho do primeiro e digo: — Me escute. Você tem que salvá-la. Você tem que salvá-la. Você me ouve? Me esqueça. Pegue ela. 471

Ele concorda. — Não. Quero dizer. Eu não sou nada. Ela, ela vai curar o câncer um dia. Ela é um anjo e eu não me importo se você tem que sacrificar minha vida para salvar a dela. Você entende o que estou dizendo? Minha mão aperta tão forte que ele finalmente olha para mim e diz: — Eu entendo. — Outra coisa, ela está grávida. — Ok. Ele recua e começa a gritar ordens. Eles ligam o equipamento ao SUV e o movem para que possam acessar o outro lado. Então eles vão trabalhar em nós dois. Ele fala comigo o tempo todo e, por algum grande milagre, nunca perco a consciência. Ferramentas hidráulicas e airbags gigantes são utilizados para separar o veículo e extrair-me. Imobilizadores são colocados no meu pescoço, coluna e pernas. Eles não me dão nenhuma informação sobre Carter, o que me deixa tão ansioso que me injetam algo para me acalmar. Eu sou transportado de ambulância, mas chega um helicóptero e não tenho certeza se é para Dane ou Carter. Eles não vão me dizer. Tudo o que sei é que fui levado para a unidade de Trauma do Centro Médico da Universidade de Charleston. Quando acordo horas depois, sou informado de que não tenho lesões na coluna, apenas fratura de fêmur e tornozelo. Eu não poderia me importar menos. Eu quero saber sobre Carter. Kolson está lá comigo. 472

— Ela vai ficar bem, Kestrel. Foi um pouco arriscado no começo. Ela tem um ferimento na cabeça, mas tudo está apontando para uma recuperação completa. — Espera. O quê? O que você quer dizer com apontando? — Ela levou o peso do acidente. Ela estava presa de ambos os lados, na verdade. Inicialmente, eles pensaram que ela tinha um ferimento na cabeça muito ruim, mas como se vê, é apenas uma pequena fratura do crânio do osso temporal e ela terá uma recuperação completa, sem efeitos a longo prazo. O outro trauma corporal será pior. Ela teve alguns ferimentos internos. — O bebê? Kolson fecha os olhos e balança a cabeça. — Sinto muito, mano. — Ah, porra. — Esfrego meu rosto e quero chorar. — Ela sabe? — Não. Ela ainda está na cirurgia. Eles a estabilizaram, então tiveram que levála imediatamente. Ela estava sangrando muito de um baço rompido. — Você também precisa fazer uma cirurgia. Sua perna precisa de uma vara e pinos aparentemente. — Sim. Eu não me importo com isso. Eu quero ver Carter. — Deixa-me ver o que posso fazer. Não tenho certeza se posso tirar você desta cama. — Eu não me importo se você tem que separar a porra do Mar Vermelho. Faça. — Ei, eu não estou transando com Moisés, cara. 473

— Kolson. E quanto a Dane? Ele faz uma careta e balança a cabeça lentamente. — Oh, Deus. — Essa foi a minha última gota e eu desmorono. Kolson está bem ali e se agarra a mim. — Ei, eu tenho você. Você não vai arcar com isso sozinho. Ouça, Kestrel. Nós temos dois deles. Heath atirou neles, matou um deles. Deixou o outro vivo para falar. Nós sabemos quem fez isso. Essa coisa toda está caindo e Drex já está aqui. — Jesus. Carter quase morre. Gabby quase morre. Mãe morre. Dane morre. Para o quê Kol? — Sua pesquisa. Eles queriam sua pesquisa. — O quê? — Era o pai de Simon. Ele orquestrou a coisa toda para conseguir sua pesquisa. Ele queria vendê-la pelo maior lance. Ele é sujo. Seu filho, Simon, o alimentava com informações e o idiota nem sabia que estava fazendo isso. Oh, você vai amar tudo isso quando ouvir. — Eles já o prenderam? — Oh, já. E ele caiu com todos os tipos de pompa e circunstância. Foi uma merda de circo. A coisa toda me deixa doente. Carter trabalha para fazer a coisa certa toda a sua vida e então algum filho da puta tenta matá-la. De repente eu me sinto doente. 474

— Kolson, me dê essa coisa. Eu vou vomitar. Ele me entrega uma bacia e eu vomito. Penso em Carter e o que teria acontecido com ela se ela estivesse sozinha. Aquele filho da puta esperou até que ela estivesse a milímetros de uma cura, depois atacou. — Você está bem? — Acho que sim. Essa porra miserável. Ele esperou até que Carter tivesse o que queria. Kol, e se ela estivesse sozinha? E se não estivéssemos lá? Aquele filho da puta teria a matado e ninguém estaria por perto para fazer qualquer pergunta. A polícia teria coberto e terminado a história. Kolson pega minha mão e aperta. — Sorte para Carter, ela tem você, cara. — Me leve até ela. Agora. Eu tenho que a ver. Eu tenho que segurá-la, mesmo que seja apenas a mão dela. E tenho que ser eu a dizer que ela perdeu o nosso bebê. — Sim. Ok. Depois de discutir e lutar com as enfermeiras, eu faço do meu jeito. Kolson me carrega em uma cadeira de rodas chique e me leva ao quarto de Carter na UTI. Sento-me ao lado dela, segurando a mão dela. As enfermeiras me dão uma olhar suja, mas eu não me importo. Elas sabem que estarei lá até ela acordar. Seus médicos entram e me vêem.

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— Estou aqui e ficando. Eu não ligo para o que você diz. — Eu acho que eles acham que não há como discutir comigo. Carter finalmente acorda. Ela está um pouco desorientada, mas quando ela me vê, aperta minha mão. — Bem-vinda de volta, anjo.

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CAPÍTULO VINTE E SETE Carter

Kestrel está recostado em uma enorme cadeira de rodas com a perna estendida. De certa forma, ele parece um rei em seu trono. Quase me faz querer rir. Quase. Então ele me diz que sua perna está quebrada e precisa colocar uma vara nela. Sua perna está amarrada a um imobilizador. É uma coisa preta com um monte de velcro e dobradiças. Em seguida, ele me diz que eu fiz uma cirurgia. Meu baço foi rompido. Eu também fraturei meu crânio – o osso temporal para ser exato. Mas eu vou ficar bem. Então ele beija minha mão e se inclina o mais próximo que sua cadeira permitirá. — Oh, anjo, o que eu não faria para não ter que dizer estas palavras terríveis para você, mas não há nada que eu possa fazer além de lhe dizer a verdade. Quando vejo seu rosto molhado, sei o que vem a seguir. — Eu perdi o bebê, não é? Sua voz falha quando ele responde. — Sim. Eu sinto muito por isso. Eu disse aos paramédicos quando eles vieram para que eles soubessem, mas você levou o peso do acidente de ambos os lados. Eu deveria estar sentado onde você estava. — Então ele quebra e nós choramos. — Eu sabia que era bom demais para ser verdade.

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— Nada é bom demais para ser verdade. Estou tão agradecido por você estar viva. Depois que tudo parou e você não me respondeu, eu pensei o pior. E eles não me disseram nada. Eu ficava perguntando e ninguém dizia nada. — Oh, Deus, isso deve ter sido horrível. — Mas você vai ficar perfeita novamente. Meu anjo perfeito. — Não, nunca perfeita. — Era o pai de Simon. — O quê? — O que ele está dizendo? — Ele queria sua pesquisa. Ele fez alguém invadir seu sistema de computador no laboratório e roubar sua metodologia. Tudo. Todos os seus processos, procedimentos, ele conseguiu tudo. Mas a polícia chegou até ele antes que ele tivesse a chance de fazer qualquer coisa com isso. Eles o pegaram em flagrante. — Kestrel, isso é loucura. — Eu sei. Ele queria o suficiente para matar você para conseguir ou tirar você do caminho. Eu sinto muito por ter te afastado, pensando que era eu quem eles estavam atrás. Eu coloquei você em mais perigo. — Ele beija minhas mãos de novo e de novo. — Pare. Acabou. — Heath atirou e matou um deles e depois pegou o outro, então eles descobriram tudo. — E Dane? 478

Eu abaixei minha cabeça. — Ah, não. — O homem da Forrester precisa pagar caro pela vida que roubou. — Simon sabia? — Kolson diz que não. — Graças a Deus. Eu levanto minhas sobrancelhas. — Eu odiaria o pensamento de ser amiga dele todos esses anos se ele estivesse envolvido nisso. — Acho que ele era apenas um peão estúpido no jogo maligno de seu pai. Você sabe, eu acho que ele e eu temos algo em comum depois de tudo. — Hmm. — Meus olhos estão ficando pesados. — Você precisa dormir. — Você também. Não pode ficar confortável naquela cadeira. — Se eu não estiver aqui quando você acordar, estarei no meu quarto. E anjo, eu te amo mais que café. Ela me oferece um sorriso fraco. — Isso significa muito. — Anjo, nós vamos ter outro. — Outro o quê? 479

— Bebê. Minhas pálpebras se abrem. — De alguma forma, achei que esse bebê era profético por causa da data de nascimento. Eu não sei, pensei que Ells estivesse falando conosco, você sabe. — Ela está. Ela nos manteve seguros. Estamos vivos, não estamos? Talvez ela quisesse alguma companhia e decidisse que queria um irmão lá em cima com ela. Eu prendo minha respiração. Ah porra. Eu não pensei ao falar. Minhas mãos cobrem minha boca. — Não chore de novo, anjo, porque há apenas uma coisa que quero agora é te abraçar, mas essa perna não me deixa. Balançando a cabeça, digo: — Vou tentar, mas é difícil. — Eu aperto a mão dele o mais forte que posso e agradeço a Deus e Ells que ambos estamos vivos. Nós vamos superar essa perda. E nós realmente não estávamos prontos para um bebê. Ainda não. Algum dia, sim, mas ainda não.

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Quando vamos para casa, decidimos que a casa de hóspedes será o melhor lugar para morar até que o gesso de Kestrel saia, devido ao fato de que não há escadas. Minhas coisas já foram retiradas da outra casa e esse lugar será alugado. 480

Kestrel trabalha em casa e contratamos alguém para ajudar na cozinha e nas tarefas domésticas da casa grande. Eu ainda estou cansada, então não posso fazer muito nesse sentido. O laboratório está sendo reconstruído e até que seja concluído, meu trabalho está parado. A investigação sobre o acidente e o tiroteio no Natal finalmente acabou. A polícia, junto com Drex, descobriu toda a bagunça. O senador Forrester enfrentará duas acusações de assassinato, junto com o bombardeio das instalações de pesquisa, o roubo cibernético, tentativa de homicídio, conspiração para cometer assassinato, bem como uma série de outros crimes. O detetive Brunson também está enfrentando acusações por seu envolvimento no encobrimento. Depois de estarmos em casa por algumas semanas, Simon passa para nos ver. Eu o convido e ele olha ao redor da casa. — Nós estamos ficando na casa de hóspedes. A perna de Kestrel, você vê. Ele não pode percorrer nenhuma escada devido ao seu gesso. Ele fez uma cirurgia. Ele balança a cabeça e depois abaixa. De repente ele solta: — Sinto muito. Eu lhe devo uma enorme desculpa. Posso vê-lo antes de perder a coragem? Ele me sacudiu. Eu não respondo imediatamente. — Por favor, Carter. Isso é importante para mim. — Sim. Ok. Eu lidero o caminho para a casa de hóspedes. Quando entro, Kestrel sorri, mas quando ele vê Simon, ele se transforma em uma carranca. 481

— Ele queria ver você, — eu digo. Simon parece desajeitado, mas ele não recua quando diz: — Sim. Eu queria. Eu lhe devo desculpas. — Eu diria que sim. Mas não para mim. Para Carter. — Não. Para vocês dois. Pelo meu pai. Eu assisto os dois. Kestrel é cauteloso com ele, como sou eu. — Meu pai sempre foi um maníaco por controle e eu caí nessa. Eu sempre soube que ele fazia... coisas..., mas nunca imaginei que ele iria a esses extremos. — Eu não imagino que você fez, — diz Kestrel amargamente. — Sr. Hart, se eu soubesse, eu teria feito qualquer coisa que eu pudesse para detê-lo. Você não pode pensar que eu aprovo isso. Você pode pensar em mim como quiser, mas eu não sou um assassino. — Então por que você está aqui se desculpando? — Porque sinto que os pecados do pai são de alguma forma colhidos sobre o filho. Eu sou responsável de alguma forma, mesmo que não tenha feito isso. Eu só queria poder tê-lo parado. Graças a Deus, nenhum de vocês se machucou pior do que você. — Bem, muito ruim para minha mãe morta. O rosto de Simon se torna escarlate.

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— Como eu disse, sinto muito. Eu não posso trazê-la de volta, mas estou feliz que ele tenha sido preso. E graças a Deus, ele não teve sucesso em suas tentativas em Carter. — Mas infelizmente para o nosso feto, ele conseguiu lá. Carter perdeu nosso bebê por causa dele. Eu me encolho. Por que ele tem que dizer isso? Simon se vira para olhar para mim. — Oh, Carter, eu não sabia. Sinto muito por isso. Eu só posso fazer careta. O engraçado é que eu acredito que ele é sincero. — Bem, então eu acho que vou. Desejo-lhe uma rápida recuperação, Sr. Hart. Eu o sigo e quando saímos, ele pega minha mão e diz: — Carter, sinto muito pelas coisas ruins que disse a você ao longo dos anos. Você nunca as mereceu. Nunca foi sua culpa que Ells morreu. E eu sinto muito que você tenha perdido seu bebê. — Ele me solta e vai embora. Quando eu volto para dentro, Kestrel diz: — E não é que ele está arrependido? — Eu suponho que está. Seu pai nunca foi um bom homem. Ele está aceitando tudo. — Posso te perguntar uma coisa? — Certo? — Simon ou sua família alguma vez tiveram algo a ver com Ells?

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— Deus não! A senadora Forrester agiu como se ela não existisse. E Simon só agia como se importasse depois que ela morreu. Aquela família não queria que ela manchasse seu bom nome. Acho que Simon se arrependeu disso quando ela se foi. — Você pode vir aqui por favor? Eu ando até onde ele se senta em uma cadeira grande com a perna apoiada em uma otomana. — Eu realmente não mereço você. — Ele pega minha mão e passa o polegar em meus dedos. — Você é sempre tão perdoadora? — Eu não sei. Talvez. — Hmm. Meu anjo perfeito. — Dificilmente. — Oh, mas você é. Todas aquelas coisas terríveis que Simon fez e disse a você. E uma vez ele aparece e se desculpa e você o perdoa. Você sempre vê o bem nas pessoas. Eu queria ser mais como você. — Talvez eu seja apenas uma tola e uma aprendiz lenta. Parece-me que sou aquela que é queimada por amigos. — Você não é nenhum dos dois. Você está confiante e aberta. E eu te amo. Não te quero de outra maneira. Tenho muito cuidado quando subo nele e escarrancho no colo dele. Então eu tomo seu rosto entre minhas palmas e beijo seus lábios. — Não te quero de outra maneira. Você tem essa ideia de que eu sou um ser perfeito. Eu acho que você 484

também é. Imagine isso por um momento. Kestrel nunca chegou a Charleston. Carter está sentada na frente da casa, sozinha no dia de Natal, assistindo à televisão, e um jato de tiros a pega inconsciente. Fim da história. Você me salvou de mais de um jeito. Eu não posso começar a nomeá-los todos. E eu concordo com você em alguma coisa. — Oh? Com o quê? — Ells nos protegeu naquele dia no carro. Ela era o anjo, Kestrel. Não eu. Sua mão chega ao redor do meu pescoço e me puxa para perto para que ele possa me beijar. — Bem, uma coisa faz todo o sentido para mim. Um anjo deu à luz um anjo. Ele me faz sorrir. — Ei, e quanto a você tirar essas calcinhas e deixar esse demônio feliz? Eu soco o braço dele. — O quê? — Pergunta ele. — Não me diga que você não está interessada. — Sua mão alisa minha calcinha e ele diz: — Oh, anjo, você não pode se esconder de mim. Você está quase pingando. — Então ele me dá um de seus sorrisos diabólicos. — Mmm. — Eu levanto e puxo para baixo a cintura elástica de seu short. Sua ereção sai e minha mão aperta em torno dele. — Oh, Bubs25, você não pode se esconder muito.

25

Apelido dado a uma pessoa especial.

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— Não estava tentando. Agora vá pegar um preservativo, a menos que você queira tentar um bebê-anjo. Nossos olhos se encontram e ambos somos sérios. — Você quer? — Claro que faço. Eu tenho que admitir, ser pai assusta a merda fora de mim. Eu nunca pensei que chegaria a esse ponto, tive o pior modelo possível que alguém pode ter. Então a ideia de andar por essa estrada me faz questionar se sou capaz de fazer um trabalho adequado. Eu tomo seu rosto entre minhas palmas. — Escute-me. Você tem o maior coração de todos que conheço. Você vai ser o melhor pai do mundo. — Do mundo? — Ele ri. — Não ria. Veja o que você fez por mim. Eu não consigo nem imaginar o que você faria pelo nosso filho. O que está aqui, — eu descanso minha mão sobre o coração pulsante dele, — tem tanto amor que quando tivermos filhos, você vai se surpreender com a forma como isso sai de você. E eu acho que você será especialmente bom porque sabe o que é não ter amor. Apenas espere. A primeira vez que você segurar seu filho, você vai derreter. Você não conhece o amor até que esse momento te atinja. Ele cobre minhas mãos com as dele e diz: — Espero que você esteja certa. — Estou. Confie em mim. Se você alguma vez confiou em mim em qualquer coisa em sua vida, confie em mim com isso. — Eu me movo para colocá-lo para dentro de mim, mas ele me impede. — Só tem uma coisa. 486

— O que é isso? — Case comigo. — Isso não é um pouco rápido? Ele ri. — Ah, e ter um bebê anjo não é? Meu rosto se contorce. — Sim, você está certo. Deixe-me pegar o preservativo. — Opa, uau. Eu olho para ele e seu rosto está estático. Parece que acabei de matar o filhote dele. — O quê? — Você não quer se casar comigo? Eu paro. — Claro que quero casar com você. Estou apenas concordando com você que talvez precisemos fazer isso na ordem correta. — Não há ordem adequada quando você está apaixonado. Ele tem um ponto. — É verdade, mas eu quero você só para mim por um tempo. Os bebês são incríveis, mas são dependentes. Eu quero que seja apenas nós. — Então... o que você está dizendo é que você vai se casar comigo de qualquer maneira. — Sim. — Como agora? 487

— Uh Huh. — Quando eu quiser, — ele pergunta. — Você nomeia o dia e estou pronta. Ele aponta para seu gesso e diz: — Eu quero tirar essa coisa primeiro para que possa foder com você em nossa lua de mel. Agora eu rio. — Justo. Além disso, tenho todo tipo de ideias que quero que você experimente em mim. — Você faz? — Sim. Então tire o gesso e nos casaremos. — Eu estendo minha mão e ele a sacode. — Combinado. Este é o compromisso mais estranho que eu já ouvi falar. — Você começou isso. — Não, o preservativo fez. — Eu te amo, Bubs. — E de onde veio esse ‘Bubs’? Lancei lhe um olhar envergonhado. — Você vê, eu sucumbi à coisa do nome carinhoso. — Oh, foi?

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— Sim. Eu odeio querido, docinho esse tipo de coisa. Isso simplesmente não funciona para mim. Mas eu amo bubby. Então estou te chamando de bubby ou bubs. — Então deixe-me ver se entendi. Você acha que um pássaro para um nome carinhoso é humilhante, mas bubby ou bubs, não é? — Não. Bubby e bubs são adoráveis. Você é como um grande urso de pelúcia para mim. — Hmm. Urso de pelúcia. Bubs. — Ele coça a testa. Eu preciso fazer algo para desviar sua atenção, então eu pego seu pau na minha mão e começo a massageá-lo. — Eu sei o que você está fazendo. Sorrindo, eu digo: — Eu certamente espero que sim. — Eu saio dele e o pego em minha boca. Quando ele começa a gemer e seus dedos se enroscam no meu cabelo, eu sei que ele esqueceu tudo sobre bubs. Logo ele puxa minha cabeça para trás e diz duas palavras. — Em cima. Isso é algo que eu não recuso. Eu seguro suas pernas com minhas coxas e me inclino em direção a sua boca. Sorrindo, eu pergunto: — Pronto, bubs? — Você está? — Ele coloca seu pau na minha abertura e me sento nele. — Essa resposta é suficiente? As mãos apertam meus quadris e ele me move para cima e para baixo enquanto meus próprios dedos afundam em seus ombros. Kestrel toma conta do meu corpo, como sempre faz quando fazemos amor. Ele invade meu sangue, minha 489

alma e meu coração. Nossos olhares se conectam e eu não posso puxar o meu para longe dele, nem se eu tentasse o meu melhor. Ele me satura com seu ser como se cada molécula dele invade a minha. Nós definimos o verdadeiro significado de nos tornarmos um. Pequenas gotas de suor nos cobrem, fazendo-nos brilhar. Uma de suas mãos se move para o meu mamilo e passa os dedos através dele. — Incline-se em mim. Eu quero provar você. Quando faço isso, ele sai um pouco e eu gemo em decepção. — Nós não estamos com pressa, anjo. — Sua respiração é quente contra o meu peito. Minha mão pressiona sua cabeça contra mim. Seu cabelo é mais longo agora. Ele não cortou desde o Natal e minha mão pega um pedaço dele. Isso o faz parecer selvagem, indomável, como o homem que ele diz ser. Eu conheço um lado diferente dele, no entanto. Meus bubs. Eu sorrio. Só então, seus dentes me mordem e eu gemo novamente. — Ahhh! — Mmm. Você sempre tem um gosto tão doce. — Quando fala, faz cócegas. Eu me afasto e digo: — Você sempre tem gosto salgado. Ele ri e empurra para cima me fazendo ofegar. Estamos de volta ao nosso ritmo agora. — Devo fazer você gozar?

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Minha voz está trêmula quando respondo sim. Sua mão se move para o lugar certo entre as minhas pernas e ele diz: — Oh, anjo, você é como seda. — Para o seu veludo. — Goze para mim. — Estou quase lá. — E então atingi o clímax e ele segue. O que é sobre um homem ter um orgasmo que é tão sexy? Ou é apenas Kestrel? Eu só o conheço, então não posso dizer, mas o som que ele emite e o modo como o corpo dele se contrai é quase espiritual. Isso me faz querer absorver o momento. — Eu gostaria de poder me esticar em cima de você e me moldar a você. — Porra de gesso. Eu quero aquelas preciosas pernas suas ao meu redor. Deus, eu te amo, Carter. — Eu sei. Sinto-me amada. Eu te amo de volta, bubs. — Eu o beijo. Então eu lembro. — Hum, nós não usamos. — Não o quê? — Usamos camisinha. — Sim? Talvez tenhamos sorte e tenhamos um bebê-anjo, afinal. — Mas então Carter não terá tempo para Kestrel. — Oh, sim ela vai. Eu não me importo se temos que contratar uma babá. Carter terá o tempo de Kestrel. Eu vou me certificar disso. Aquela babá levará anjinho para trabalhar com você, se for preciso. — Você é um maluco. 491

— Eu estou ciente. — Então, quando é que o gesso deve sair? — Sim, precisamos subornar o médico. Talvez possamos convencê-lo a tirá-lo cedo. — Não. Não indo para isso. Sua perna é mais importante. Ele pega minha mão e diz: — Você realmente vai se casar comigo? Há tanta dúvida e incerteza em seus olhos que me dói. — Kestrel, eu te amo mais que tudo. Se você não tivesse esse gesso, eu me casaria com você amanhã. Na verdade, eu me casaria com você amanhã de qualquer maneira. O gesso não é um problema para mim. — Prometo sempre ser seu paraquedas, anjo. Sempre. Ele olha para a minha mão e esfrega círculos nos dedos com o polegar. Às vezes gostaria de poder ler sua mente. Então ele olha para mim e sorri. — Você vai me levar para a lápide de Ells? — Sim. Mas por quê? — Eu nunca fui e acho que é hora de ir. — Ok. Quando? — Hoje. É uma provação carregando-o no banco de trás do SUV que ele agora possui. É um desses gigantescos Suburbans da Chevrolet. Ele precisava disso para poder se 492

sentar no banco de trás com a perna estendida no banco. Ele pode andar bem com muletas. Chegamos ao cemitério e a lápide não está tão longe da estrada estreita. Eu estaciono de modo que o lado do carro do qual ele sai esteja voltado para a calçada. Nós tomamos isto lento e fácil. A lápide surge à distância e sinto que estou com os olhos marejados, como sempre faço quando venho aqui. — Está tudo bem, anjo. — Ele sabe. Ele sempre sabe. Chegamos lá e eu amorosamente corro meus dedos sobre o nome dela. Kestrel fica em silêncio por um momento, mas depois me surpreende quando começa a falar. — Olá, Ells. Meu nome é Kestrel, mas você provavelmente já sabe disso. Eu queria dar uma passada e me apresentar a você porque vou me casar com sua mãe. Eu quero fazer algumas promessas para você. Primeiro, vou cuidar muito bem dela. Ela nunca mais terá que temer por qualquer coisa novamente. Em segundo lugar, prometo amá-la todos os dias da minha vida até que não haja mais fôlego em meu corpo. Isso eu juro para você. Espero dar a ela muitos bebês-anjo, como você é. O que me leva à última coisa que quero te dizer. Eu sei em meu coração que você estava no carro conosco naquele dia. Então, obrigado por ser nosso anjo da guarda e cuidar de nós e nos manter seguros. Ells, eu também sei que se eu tivesse te conhecido quando você vivia em nosso mundo, eu teria te amado tanto quanto eu amo sua mãe. Jesus Cristo! Ele me puxa para seus braços enquanto eu choro silenciosamente lágrimas de alegria. Quando posso falar, digo: — E outra coisa Ells, você teria amado ele como uma louca. 493

Então nós viramos e lentamente voltamos para o carro. O sol repentinamente rompe o céu de chumbo, e faixas de ouro se inclinam na nossa frente, abrindo um caminho amarelo brilhante até o nosso carro. Eu olho para Kestrel e ele sorri para mim. Nós dois dizemos: — Ells.

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CAPÍTULO VINTE E OITO Kestrel

Um pequeno grupo está reunido na casa. Inclui Foster e sua esposa Janet, Kolson e Gabby, Harper, John e sua esposa, e depois, é claro, Carter e eu. É a primeira semana de abril e Charleston está no seu melhor. O quintal é um tesouro de flores. As glicínias estão pesadas, as videiras pingando em flores de lavanda, as azáleas explodiram por toda parte, pintando o quintal em tons de rosa e vermelho, as enormes flores das magnólias surgiram e a fragrância das gardênias permeia o ar. Por muita insistência, Carter finalmente contratou uma equipe em tempo integral. Um é cozinheiro e dois outros fazem tarefas domésticas. Eles também estão aqui, mas na verdade tivemos a comida servida do Restaurante Huck esta noite. Estamos servindo uma mistura de lagosta, tortas de caranguejo, medalhões de filé mignon, uma variedade de sushis, espetos de legumes grelhados, tomate caprese, salada de espinafre e bolo de casamento para a sobremesa. Carter não queria um casamento extravagante e nem eu. Quando disse a ela como Gabby e Kolson fizeram o casamento, ela gostou tanto da ideia, que queria copiá-lo. Então foi o que fizemos. Foster realizou a breve cerimônia e agora estamos na parte comemorativa. Harper agarra meu braço e diz: — Essa comida é incrível! — Diga a Carter. Foi tudo a sua escolha. 495

Harper sai correndo para encontrar Carter. Kolson olha para mim e diz: — Bem, mano, você fez isso. — Oh, eu fiz. — Eu só tenho olhos para uma pessoa aqui e ela sabe disso. Ela se vira para olhar para mim e eu pisco. — Estou feliz que elas se dão tão bem, — diz Kolson. — Você está de brincadeira? Gabby nunca teria me deixado casar com alguém que ela não aprovasse. Ela teria assediado, perseguido ou feito tudo em seu poder para afastar a pobre garota. — Provavelmente. — Provavelmente? — Ela estava preocupada que você fosse ficar de pé permanentemente com uma daquelas garotas do tipo prostituta que você usou para namorar. — Mesmo? Você teve que trazer isso? No meu casamento? Kolson encolhe os ombros. — Desculpe, bubs. — Então ele ri. — Ah, Cristo. Nada é sagrado na minha vida? — Aparentemente não. Balançando a cabeça, me afasto e me dirijo para minha esposa. Quando chego a ela, digo: — Então, querida esposa, tenho uma reclamação a fazer.

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— Eu sei — Ela faz careta. — Eu sinto muito. Eu fiz isso por acidente. Acabou saindo. Mas não se preocupe. Eu os recebi de volta. — Como? — Eu disse a eles o que achava dos nomes carinhosos e a coisa sobre os pássaros. Eu fingi que não sabia o que era um kea. Eu disse a eles que achei que era nojento ser chamado de um pássaro malvado. Você deveria ter visto seus rostos. Foi justo, bubs. Eu a agarro pela cintura e levanto-a no ar. — Eu te amo! — Ei, você não deveria estar fazendo isso. Não é bom para a sua perna. — Oh, sim. — Eu a coloquei no chão. — A propósito, já te disse como você está linda hoje? — Hum, vamos ver. Talvez uma dúzia ou mais vezes. — Bom. Estou dizendo a você de novo. Você é positivamente uma deusa e graças a Deus você é minha. Seu vestido é perfeito. Estou feliz que você não tenha usado cupcake. — Até parece. — E estou feliz que você não tenha usado uma mistura branca. Este ouro é a sua cor. — Eu pensei que você aprovaria. Isso me lembrou do vestido que usei para aquela arrecadação de fundos formal que nós fomos. 497

— Sim. Mas eu gosto desse ainda mais. Essas alças finas estão implorando para serem arrancadas de você com meus dentes. Isso me lembra de uma camisola justa. — É melhor não os rasgar até mais tarde. E é provocante. Por que você acha que eu adquiri? — Para me tentar? — Precisamente. Eu chego em volta e seguro sua bunda. — Ei. Nós temos companhia. — Como se eu me importasse. — Eu a puxo e a beijo. Nem leve nem gentil. — Mmm. Você tem gosto de champanhe. Eu não posso esperar para provar o resto de você. Diga-me, anjo, você está molhada? — Você honestamente tem que me perguntar isso? Olhando rapidamente, avaliando a multidão, me pergunto se temos tempo para uma rapidinha. Mas ela lê minha mente. — Nem um pouco. — Não? — Não. Não que eu não amaria isso. Meu olhar desanimado a faz rir. — Não se preocupe, bubs, eu vou fazer as pazes com você. — Vou cobrar isso. 498

Nós nos misturamos e comemos e nos misturamos e bebemos. O sol afunda sobre o porto e nossa limusine espera por nós na calçada para nos levar para o aeroporto. Logo embarcamos no jato particular e voamos para nosso destino de lua de mel – o Taiti.

499

NOVE MESES DEPOIS

— Respire, anjo. Agora empurre! — Você empurra pra caralho. Estou cansada de empurrar. — Ela está chateada e não posso dizer que a culpo. — Você está quase lá, Sra. Hart. Mais uma vez, — diz a médica. — Vamos lá, Carter, — insisto enquanto estou ao lado de seu ombro. — Você consegue. Ela pega minha mão e, caramba, ela vai quebrar todos os ossos nela. — Como se tivesse uma porra de escolha? Ai! — Ela geme, enquanto ela empurra novamente. Porra, o rosto dela está vermelho. Tão vermelho que é quase roxo. Isso é seguro? Isso não pode ser seguro. Merda, espero que ela não se mate aqui. Meu coração bate no meu peito. É um longo e difícil, mas a médica diz com muita calma: — É isso aí, Sra. Hart. Apenas mais um e pronto. — Você mentiu para mim. Foi o que você disse da última vez, — Carter acusa. Na voz mais calma que posso reunir, digo. — Vamos, anjo, foco. — Foco, minha bunda. Você se concentra, droga! Jesus Cristo, quão grande é esse bebê, afinal? — Ela grita. Desta vez, uma série inteira de palavrões voam da boca de Carter enquanto ela empurra. Ela soltou bombas-F suficientes para explodir o hospital. Sob qualquer 500

outra circunstância, posso estar envergonhado. Mas me sinto terrível por ela. Eu nunca soube o que as mulheres sofrem durante o trabalho de parto. Jesus, por que elas ainda têm filhos? Agora tenho que questionar como a raça humana sobreviveu. A voz da médica finalmente tem um elemento de excitação. Por um momento eu pensei que ela estava meio morta. — Sra. Hart, a cabeça está fora! A parte difícil acabou. — Caralho difícil da porra! — Sarcasmo sai de Carter. Esta é minha esposa conversando? Minha doce e gentil esposa? Deve ser as drogas. Tem que ser as drogas. Eu olho para a médica, mas ela não está prestando atenção, ela está segurando o bebê que está meio dentro e meio fora da vagina de Carter, e oh puta que pariu, isso pode ser nosso bebê? Essa coisa é desagradável. Está coberto de algum tipo de lodo branco-acinzentado que parece nojento. E sangue. Respiração profunda Kestrel. Puta merda, se eu desmaiar, eu nunca vou viver isso. Por que os bebês parecem merda quando nascem? Eles deveriam ser cor de rosa e bonitos. Ninguém me preparou para isso! Como eu posso olhar para a boceta de Carter novamente e não pensar nisso? Eu estou tão ferrado. O médico gira o pequeno inseto ao redor e então eu vejo. Seu rosto está esmagado e está coberto por aquela merda escorregadia. Isso é normal? Como pode respirar? Está respirando? Deus, é um menino. Agora eu realmente quero desmaiar. Como diabos eu vou ser pai? — Sra. Hart. Sr. Hart. Parabéns. Vocês tem um filho! Carter está chorando. — Bubs, nós temos um menino! 501

Eles colocam a coisa coberta de lodo em seu peito e ela está esfregando. Ela está realmente tocando com as mãos! Oh, Deus, agora estou muito assustado. Parece um alienígena. O médico aperta o cordão e pergunta se eu quero cortá-lo. Porra? Ela quer que eu faça isso? E se disser não? Isso vai me fazer parecer um bobo? Então pego a tesoura com a mão trêmula e corto o tubo de borracha. Eu realmente quero vomitar agora. Segurando o vomito, assisto amassarem a barriga de Carter e tirar os restos da placenta. Nojento! Parece uma bola de borracha cinzaarroxeada vazia. Isso é além de nojento. Porra, pode ficar pior? Não era melhor quando os pais ficavam nas salas de espera? Por que diabos eles mudaram as coisas? Quem foi o idiota que decidiu que precisávamos estar aqui para isso? Deus, me ajude. Estou suando agora e minha cabeça está zumbindo. — Bubs? Bubs? — Sim — Eu preciso respirar. Por que não consigo ar? Uma das enfermeiras diz: — Sr. Hart, respire fundo. — Ela roda um daqueles bancos atrás de mim e me empurra para ele, então empurra minha cabeça entre meus joelhos. — Respira fundo. Alguns minutos passam e eu finalmente me sinto normal novamente. Eu ouço o médico anunciar seu peso em 4 quilos e oitenta e cinco gramas e que seu Apgar é dez, o que quer que isso signifique. Graças a Deus. Agora eu preciso dar outra olhada no bebê alienígena. Ele é uma fera alienígena bebê! Quatro malditos quilos! Quando estou de pé, fico aliviado ao ver que eles envolveram a coisa em um cobertor fino. Carter diz: — Você quer segurá-lo? 502

Não! Na verdade, não. Ele ainda é viscoso? — Sim, — eu me ouço grasnar. Minhas mãos tremem quando ela o entrega para mim e, de repente, este indescritível sentimento pegajoso corre por mim. Então ele invade cada um dos meus poros e eu continuo repetindo: — Oh, Deus. Oh Deus. Oh, Deus. — Eu sinto a água pingando em minhas mãos e percebo que são minhas próprias lágrimas. Minha bunda cai de volta naquele banquinho. — Você está bem, bubs? — Carter pergunta. — Sim, — eu respiro. — Oh meu Deus. Ele é lindo. Ele é a coisa mais linda do universo. Você já viu algo tão bonito? E ele é nosso, anjo. Estou impressionado com o nosso pequeno milagre aqui. Você estava certa. — Sobre o quê? — Eu derreti. O garotinho me fez derreter. — E então eu comecei a soluçar como uma bunda grande. Não tanto porque eu estou segurando esse rapaz inacreditável, mas porque alguém me arrancou da minha mãe. Segurando meu filho – sentindo como eu faço – não consigo imaginar como minha mãe deve ter se sentido. E então o filho da puta que fez isso nunca me amou. Nunca me mostrou uma porcaria de carinho. Tudo se solta bem aqui no quarto de Carter enquanto eu abraço nosso filho pequeno carinhosamente no meu peito. E Carter está certa sobre mim. Eu nunca poderia em um milhão de anos ser um pai ruim para esse bebê. Não seria possível. Porque se alguém tentasse machucá-lo, tentasse machucar um pequenino cabelo em sua cabeça, eu aniquilaria o filho da puta.

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Eu olho para minha esposa e ela sabe. Ela vê isso. Sorrindo, ela estende a mão para nós. Eu me levanto e entrego a ela nosso bebê. O médico e as enfermeiras saíram e somos apenas nós três. Ela dá um tapinha na cama e diz: — Entre aqui bubs. Eu preciso de você perto de mim. Eu subo na cama ao lado dela e nos deitamos lá, nossa amada pequena família. Ela abre o vestido e coloca o menino em seu seio. Ele se aconchega até ela e faz esses barulhinhos. Eu estou admirado mais uma vez quando a vejo amamentar nosso filho. Então, com o outro braço, ela abraça a minha cabeça. — Você fez muito bem, anjo. Eu não sei como você fez isso, mas você foi incrível. Ela olha para mim e sorri. — Eu tive você para me ajudar. — Não. Eu nunca soube o quão difícil seria para você. E mesmo depois de todo esse trabalho, você ainda é a mulher mais linda do mundo. — Obrigada, mas eu não poderia ter feito isso sem você. Eu coloquei meu braço em volta dela e do bebê. — Então, anjo, como que vamos chamá-lo? — Podemos chamá-lo de Daniel como meu pai? — Que tal Daniel Drayton Hart? 504

— Kestrel, você sabe qual era o seu nome verdadeiro? Antes de Langston te roubar? — Sim. Era Traynor McConnell. Por quê? — Que tal Daniel Traynor Hart? — Eu preferiria Daniel Drayton e se algum dia tivermos outro menino, por que não o nomeamos Traynor? — Ok. Daniel Drayton será. Kestrel? Estou feliz que você tenha deixado tudo de lado. — Isso me bateu em um momento estranho, você não acha? — Não é estranho em tudo. Você finalmente fez um círculo completo. Eu penso nisso por um minuto, e ela está certa. O filho tem um filho. E agora ele está determinado a nunca fazer o que foi feito com ele. — Você precisa dormir, anjo. Você teve algumas horas difíceis. Ele é uma fera, não é? Quatro quilos. Uau. Ela ri. — Sim, ele é. Ele vai levar o pai dele. Eu meio que gosto do som disso. — Eu estarei bem aqui com você, se você precisar de alguma coisa, anjo. — Você sempre está, Kestrel. Você sempre está.

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EPÍLOGO CINCO ANOS DEPOIS

Nota à Imprensa – Nova York, NY A StrongMeds, Incorporated, subsidiária da Medical BioPharma, anunciou que recebeu aprovação de dois medicamentos: EX-Ells e PRO-Ells. Essas drogas irão alterar todos os protocolos atuais de tratamento do câncer. EX-Ells desativa as células cancerígenas para que elas não possam mais bloquear o sistema imunológico de destruí-las. PRO-Ells aperta o sistema imunológico para que as células cancerosas não possam destruí-lo. Em outras palavras, a parte do sistema imunológico responsável pela destruição das células cancerígenas, ou seja, as células T, será protegida pelo PRO-Ells para que possam entrar e fazer seu trabalho, que é destruir as células cancerígenas antes que qualquer célula cancerosa tenha a chance de destruí-os. A StrongMeds afirma que, juntos, esses dois produtos trabalharão lado a lado no tratamento da maioria dos cânceres, eliminando a necessidade de muitos dos tratamentos debilitantes que são comumente usados atualmente. Carter Drayton Hart, Ph.D., a engenheira genética que foi fundamental no desenvolvimento desses dois produtos, disse: — Usar EX-Ells e PRO-Ells fortalecerão o sistema imunológico e tornarão a maioria dos cânceres completamente vulneráveis à lise, dando ao paciente uma alta chance de taxas de cura inacreditável que nós não experimentamos antes disso. Foram anos de pesquisas, mas estamos satisfeitos em vê-los finalmente chegar ao 506

mercado. Nossos estudos mostraram taxas de cura surpreendentes com efeitos colaterais extremamente baixos. Este é um avanço sem precedentes para pacientes com câncer em todo o mundo. Outro porta-voz da Strong Meds disse que os produtos estarão disponíveis para uso na próxima semana.

FIM

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A. M. Hargrove - The Hart Brothers 3 - Kestrel

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