02-The Mafia And His Angel- Série Tainted Hearts#2-Lylah James

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Tradução: Adriana Revisão Inicial: Mickaely/Nai Revisão Final: Hígia Leitura Final: Mitra Formatação: Kytzia/ Cibele 07/2020

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A escuridão nunca me deixou realmente. Está sempre lá, esperando o momento certo para atacar. Faz meses desde que fugi do pesadelo que estava lentamente me matando. Eu corri pela minha vida, direto para os braços de um homem que pensei que seria pior do que o pesadelo que deixei para trás. Mal sabia eu que ele se tornaria meu salvador. Mas meu final feliz foi arrancado de mim em um piscar de olhos. Eu tinha tudo... e eu perdi.

Eu não acreditava em anjos. Mas então eu a vi. Eu a toquei. Eu a beijei. Eu fiz amor com ela. Em troca, ela salvou minha alma. Eu não era mais um cara impossível de ser amado, porque meu anjo achou em seu coração como me amar. Eu a tinha... e depois a perdi. Mas não vou parar até encontrá-la. Mesmo que isso signifique começar uma guerra e derramar o sangue de todos que estiverem no meu caminho. Eu vou encontrar meu anjo.

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PRÓLOGO Ayla Geralmente chega um momento em que a escuridão se torna demais e você sucumbe a ela. Você se afoga nela, sufoca até ficar sem fôlego. A escuridão nunca te deixa de verdade. Está sempre lá, esperando o momento certo para atacar. E assim, a escuridão nunca realmente me deixou. Há meses eu fugia do pesadelo que estava lentamente me matando. Eu corri pela minha vida. Corri pela minha liberdade. Até encontrar um homem que pensei que seria pior que o meu pesadelo. Ah, mal sabia eu... Ele se tornou meu salvador, e eu ainda estava desfrutando de nossos momentos de felicidade.

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CAPÍTULO 01

Maddie e eu estávamos voltando para o meu quarto depois do jantar, quando ela parou de repente na escada. Parando minha caminhada, olhei para ela de lado. —O que há de errado? Em vez de responder, ela gritou: —Alessio. Virei minha cabeça na direção oposta e vi Alessio de costas para nós. Ele estava caminhando em direção ao seu escritório. Ao som da voz de Maddie, ele se virou, suas sobrancelhas franzidas em questionamento. —O que foi? —Ele murmurou, se aproximando de nós. Maddie me arrastou até o último degrau e parou na frente de Alessio. —Eu estava pensando em levar Ayla para fazer compras amanhã. Ela mora conosco há algum tempo e não tem roupas, exceto os vestidos de empregada e a roupa que mamãe deu a ela no primeiro dia. Compras? Chocada, olhei para Maddie. Ela não me disse nada sobre isso. Pelo canto dos meus olhos, vi Alessio olhando para mim. Eu olhei para cima e nossos olhos se encontraram. Lambendo meus lábios nervosamente, brinquei com a bainha do meu vestido quando seu olhar penetrante fez um arrepio percorrer meu corpo. —Claro. Você pode levá-la. —Disse Alessio, mantendo seus olhos azuis em mim. —Mas por que está me perguntando? —Ele questionou, agora olhando para Maddie com desconfiança. 7

Maddie revirou os olhos. Soltando um suspiro de irritação, ela cruzou os braços sobre o peito. —Não estou lhe perguntando, estou lhe dizendo. Há uma diferença. Só estou avisando para você não enlouquecer e começar a entrar em pânico quando não vir Ayla. Não prestei atenção às palavras de Maddie porque minha mente ainda estava tentando registrar o que Alessio disse. Eu estava autorizada a sair. Alessio estava me deixando sair. Olhei para Alessio, sem palavras, meu corpo tremendo um pouco. Nunca me foi permitido deixar a propriedade de meu pai, nem mesmo um passo para fora dos portões. O mais longe que já tinha ido foi ao nosso quintal. Eu não tinha permissão para andar livremente. Nunca. Todos os meus dias e noites eram passados trancados no meu quarto ou na sala de piano. Eu não sabia muito sobre o mundo exterior. Mas agora, eu poderia ver o mundo. Eu poderia ir às compras... Algo que nunca tive chance de fazer. Alberto era quem escolhia todas as minhas roupas. Eu só tinha que usar o que ele me dava, uma boneca que ele gostava de vestir e possuir. Alessio e Maddie estavam falando, mas suas vozes pareciam vir de debaixo d'água. Eu só conseguia focar no rosto de Alessio. Ele estava lentamente me dando coisas que eu havia perdido. Alessio estava me devolvendo minha vida. Liberdade. Eu estava finalmente verdadeiramente livre. A única coisa que eu sempre quis, esperei e pela qual orei todas as noites enquanto chorava até dormir, com minha alma se despedaçando. Depois de todas as noites torturantes, era com isso que eu sonhava. 8

Os olhos de Alessio estavam em mim novamente. Eu vi sua testa enrugar em preocupação. —Ayla? Saí do meu transe e depois assenti com a cabeça. —Sim? —Você está de acordo em ir às compras amanhã? —Ele perguntou suavemente. Eu balancei a cabeça novamente, mas desta vez meus lábios se esticaram em um sorriso. —Sim. —Bom. —Ele me deu um pequeno sorriso, depois virou e se afastou. Girando, agarrei as mãos de Maddie, a emoção percorrendo meu corpo, fazendo-o vibrar. —Eu posso ir às compras? —Perguntei, olhando nos olhos dela, meu coração se sentindo esperançoso. —É claro, docinho. Por que não? Você precisa desesperadamente de roupas. —Ela riu. Continuamos nossa caminhada para o meu quarto. Eu estava tonta, como uma criança recebendo um brinquedo novo pela primeira vez. —Quando vamos? —Talvez depois do almoço? Amanhã? —Ela sugeriu. —Isso soa bem. Mal posso esperar. —Murmurei, fechando a porta atrás de nós. Maddie pulou na cama e pegou o controle remoto na mão. —Então? Que filme? Dei de ombros e me juntei a ela na cama. Apoiando-me no travesseiro, olhei para a TV enquanto ela procurava alguns filmes. —Eu não sei. Talvez algo engraçado. —Fiz uma pausa e depois olhei para Maddie pelo canto nos meus olhos. —E romântico? — Terminei. 9

Ela riu. —Entendido, querida. The Notebook1 é. —The Notebook? —Eu questionei quando ela começou o filme. —Prepare seus lenços, Ayla. Você vai amar isso.

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Acordei com um beijo atrás da orelha. A sensação de cócegas me tirou do meu sono profundo, e soltei um bocejo. Eu gemi, me esticando enquanto a luz do sol brilhava atrás de meus olhos fechados. Eu podia sentir seu calor banhando meu rosto e sorri. Meus olhos se abriram, apenas para ver Alessio sentado ao meu lado. Ele já estava vestido com o terno, o cabelo um pouco molhado com alguns fios grudados na testa. —Bom dia. —Ele murmurou, movendo suavemente meu cabelo do meu rosto. —Bom dia. —Eu sussurrei de volta, sonolenta. —Vejo você no café da manhã. —Disse Alessio quando se levantou. Assentindo, observei-o sorrir antes de sair do quarto. Quando a porta se fechou atrás dele, eu virei e me enterrei ainda mais no meu travesseiro. Hoje era o dia. Eu iria às compras. Soltando uma pequena risada animada, levantei-me e fui ao banheiro. Depois de me refrescar, mudei para o meu vestido preto de empregada. Em vez de trançar meu cabelo como costumava 1

Diário de uma Paixão – Filme de 2004

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fazer, deixei-o solto. Caiu em suaves ondas nas minhas costas, do jeito que Alessio adorava. Meu sorriso se desfez quando vi minhas cicatrizes no espelho. Engolindo em seco, olhei para os meus braços e tracei as linhas cor de rosa com os dedos. Eu pensei em Alberto. Lentamente, perdi a pequena esperança que estava florescendo no meu peito. Meu coração apertou. Eu não podia ir às compras. Isso não era possível. Não enquanto Alberto ainda estivesse me procurando. Se eu saísse, os homens dele me encontrariam e eu seria levada de volta ao inferno em que estava. Teria que viver meu pesadelo novamente. Eu não achava que seria forte o suficiente para passar por isso novamente. Depois de encontrar tanta felicidade, se tivesse que voltar, desta vez... Eu não conseguiria sair viva. Tinha acabado de encontrar meu coração; não estava pronta para perdê-lo. Respirando fundo várias vezes, tentei acalmar o pânico que crescia dentro de mim. Coloquei a mão sobre o peito e controlei a respiração, como Sam me ensinou. O mundo finalmente parou de girar, e minha visão não estava mais embaçada. Balançando a cabeça, saí do banheiro e do quarto de Alessio, fechando a porta atrás de mim. Como eu iria explicar isso para Maddie? Ela estava realmente animada para ir às compras comigo. Ela tinha tudo planejado: as compras e até planos de assistir a um filme depois, e então jantar antes de voltar para casa. 11

Eu me senti culpada em saber que teria que arruinar seu pequeno momento feliz. Depois de servir o almoço, rapidamente inventei uma desculpa de não estar me sentindo bem, esperando que isso parecesse natural. —Acho que vou me deitar. Não me sinto muito bem. —Eu disse baixinho ao lado de Maddie. Ela olhou para mim e seus lábios torceram tristemente. — Ok. Vá fazer uma pausa. —Ela respondeu antes de voltar para a mesa. Senti os olhos de Alessio nas minhas costas enquanto subia, mas não olhei para trás. No meu quarto, caí na cama com o rosto enterrado no travesseiro, sentindo-me completamente drenada emocional e fisicamente. Ambas as minhas vidas continuavam se cruzando. Meu passado e meu presente. Não havia como deixar o passado para trás. Quando ouvi a voz de Maddie, rapidamente me sentei. — Ayla, sou eu. Posso entrar? Pressionando uma mão trêmula sobre minha testa, tremi de tensão. Engoli com força contra a bola de nervosismo e me levantei, dando passos cuidadosos em direção à porta. Pense. Pense, Ayla. Pense em algo. —Estou indo. —Gritei com uma voz trêmula. Descansei uma mão na maçaneta e segurei meu estômago com a outra, mordendo meus lábios enquanto meus ombros sentiam o peso da tensão. Abrindo a porta, dei um sorriso forçado para Maddie. 12

—Ei, você está bem? —Ela perguntou preocupada, abrindo mais a porta para entrar. —Não. Eu não me sinto bem. Estou com dor de cabeça e meu estômago dói um pouco. —Murmurei, segurando meu estômago enquanto me apoiava na parede. Maddie me deu um olhar de pena antes de assentir tristemente. —É aquela época do mês, não é? Eu sei que é uma dor de cabeça. Ou vagina, eu deveria dizer. Eu assenti de volta. Pelo menos isso era verdade, então funcionou com a minha mentira fabricada. —Podemos fazer compras outra hora. Não se preocupe. Podemos fazer compras pela internet hoje, se você quiser. —Sugeriu ela. —Ok. —Eu respondi com um sorriso. Isso parecia melhor, embora eu não soubesse que poderíamos comprar pela internet. Quanto realmente eu perdi enquanto morava com meu pai e Alberto? —Eu volto já. Deixe-me pegar meu laptop. —Maddie saiu do quarto rapidamente. Voltei para minha cama e me sentei. Esfregando as mãos sobre o edredom de cetim, achei a suavidade calmante. Fechando os olhos, tentei me livrar dos pensamentos negativos e dolorosos. Eu precisava parar de pensar no passado. —Estou de volta! —Maddie anunciou quando voltou para o quarto. —Ok. Vamos às compras! —Ela colocou o laptop entre nós.

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Eu não pude deixar de rir de seu entusiasmo. Ela sabia como tornar uma situação mais leve. Mais importante, ela sabia como me fazer rir, e era exatamente isso que eu precisava. Nós fizemos compras por um tempo. Ok, definitivamente foram horas. Maddie era uma fera nas compras. Ela definitivamente estava possuída. —Nos acabamos nas compras. —Ela murmurou, finalmente fechando o laptop. —Quanto foi isso? Você pagou por mim. —Perguntei rapidamente. Maddie deu de ombros e virou de lado para olhar para mim. —Está tudo bem. Você pode usar seu salário na próxima vez que formos às compras. —Mas quanto foi? Nós compramos muito, Maddie. E aquele vestido azul era caro. —Argumentei. —Eu não sei. Eram dois mil e pouco. —Murmurou ela baixinho. —E antes de você começar, eu tenho o dinheiro. Eu posso ser uma empregada doméstica. —Ela enfatizou a palavra empregada enquanto revirava os olhos. —Mas Alessio me paga muito. Gratificação e tudo. —Benefícios de irmã? Ela assentiu com uma risada. —Porra, isso me faz parecer uma pessoa horrível. —Não. Ele te ama como uma irmã e Lena como uma mãe. É muito óbvio. Tenho certeza que os outros homens sentem o mesmo. —Falei, deitada de costas ao lado de Maddie. Todos eles respeitavam Maddie e Lena. O vínculo dessa família sempre me deixava sem palavras. Eles eram a verdadeira definição de família. Não por sangue, mas por 14

escolha. Algo que nunca tive com meu próprio sangue, mas com os Ivanshov, encontrei uma família. Maddie e eu ficamos em silêncio por algum tempo, ambas olhando para o teto, perdidas em nossos pensamentos. Quando ela finalmente quebrou o silêncio, não era algo que eu esperava que ela dissesse. —Ayla? —Hmm... Sim? —Eu sou estranha, não sou? Com a pergunta, fiquei confusa. Virando-me de lado, apoieime nos cotovelos, encarando-a enquanto ela continuava olhando para o teto. —Não. De modo nenhum. Por que você está perguntando isso? —Eu questionei. —Eles sempre dizem que eu sou esquisita. Eu deveria ser mais madura e blá blá blá. —Quem diz isso? Isso é horrível. —Fiquei indignada com o pensamento. Ela era a pessoa mais doce que eu conhecia. —Meus amigos. —Ela citou novamente, ainda encarando o teto. —Eu não tenho muitos amigos. Eu perdi muitos deles ao longo dos anos. —O que você quer dizer? —Eu perguntei, meu coração se apertando cada vez mais com a expressão distante e desamparada em seu rosto. Ela ficou em silêncio por alguns minutos, a tensão ao nosso redor ficando mais espessa, como se uma nuvem escura tivesse se estabelecido sobre nós.

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—Eu estava doente. —Ela finalmente admitiu. Foi uma admissão murmurada, e eu a encarei, confusa. —Doente? Como estar gravemente doente? —Questionei, aproximando-me dela. Maddie assentiu. —Eu tive hepatite C quando tinha dezenove anos. Depois de curada, tive leucemia um ano depois. Faz dois anos que estou livre do câncer. Sua admissão me deixou chocada. Eu não sabia o que dizer. Eu nunca teria imaginado que ela esteve mortalmente doente. —Você sabe que às vezes, quando chega perto da morte, percebe o que está perdendo e o que tem tomado como certo. E eu estava tomando minha vida como garantida. Depois de curada, decidi que iria viver minha vida como se fosse meu último dia. Eu iria ser feliz, para não ter arrependimentos mais tarde. Ela parou, uma lágrima escorrendo pelo canto dos olhos. Levantando minha mão, eu a enxuguei. Antes que eu pudesse me afastar, ela agarrou minha mão. —Mas quando saí do hospital, depois de anos lutando para permanecer viva, descobri que havia perdido meus amigos. Eles tinham ido embora. Eu tentei voltar à minha vida, tentando me encaixar novamente, mas você sabe quando alguém não te quer mais. Foi assim que me senti. Indesejada. Eu estava infeliz. Meus dedos apertaram os dela, dando-lhe força para continuar. Suas palavras trouxeram lágrimas aos meus olhos. Eu sabia o que era se sentir indesejada. Sentir-se infeliz. Então, emprestei-lhe um pouquinho da minha força. —Então eu saí da faculdade. Eu sempre quis um diploma. Queria ser advogada. Esse sempre foi meu plano, mas não aguentava mais. Eu já tinha vinte e cinco anos, perdida e sem 16

objetivo para a minha vida. Parecia sufocante. Eu me sentia fraca e não necessária. Então voltei a morar aqui com mamãe e os outros. Maddie soltou uma pequena risada antes de virar de lado para me encarar. —Eu não sabia que iria encontrar felicidade aqui, mas encontrei. —Ela deu de ombros antes de continuar. —Esta é a minha vida agora, mas não quero vivê-la com maturidade. Eu quero vivê-la livremente. —Estou feliz que você foi capaz de seguir em frente. —Eu sussurrei, limpando as lágrimas em seu rosto. —Não acho que você seja esquisita. Acho que você é a melhor. —Na verdade, você é minha primeira amiga em muito tempo. Isso parece patético, não é? Soltando uma risada, balancei minha cabeça. —Não. Porque você também é minha primeira amiga. —Uau. —Ela sussurrou. —Sim. —Sua vez agora. —Disse Maddie, apontando para o meu peito. —Hã? —Eu perguntei confusa. —Eu compartilhei algo. É sua vez. Soltei a mão dela e deitei de costas novamente. Compartilhar algo? O que eu tinha que compartilhar? Minha verdade... Elas estavam todas bagunçadas. E eu nem podia dizer a ela toda a minha verdade. Mas talvez um pouco dela... —Estou noiva. —Sussurrei para o teto. 17

Maddie ficou em silêncio ao meu lado. Então ela sentou-se rapidamente. —O quê? —Ela cuspiu. As palavras saíram da minha boca antes que eu pudesse detêlas. Eu estava atordoada, minha mente perdida no meu passado. Imagens após imagens, memórias após memórias brilhavam na frente dos meus olhos. —Ele não era um bom homem. Ele me batia. Eu fui estuprada, muitas vezes. Não sei nada sobre os outros porque ele nunca me deixava sair. Ele era realmente controlador. Quando não aguentava mais, eu fugi, e foi assim que encontrei Alessio. Eu me escondi no carro dele para escapar dele. —Ayla. —Maddie ofegou, suas mãos apertando as minhas. —Ele disse que me amava. Ele me amava demais. Seu amor se tornou sua obsessão. —Isso não era amor, Ayla. —Maddie disse, suas mãos apertando as minhas oferecendo conforto. —Eu sei. —Sussurrei. Agora que pensei nisso, sabia que Maddie estava certa. Alberto nunca me amou. Para ele, eu era apenas um item a ser possuído. Não um ser humano... Não alguém que ele amava. Alberto desempenhou um papel importante na minha ruína. Eu era a obsessão dele, e ele foi a minha destruição. Meu pesadelo. Agora, eu sabia o que o amor realmente significava. Amor significava beijos suaves, carícias gentis, palavras doces e olhos amorosos. E Alberto não era nada disso... Mas eu encontrei isso aqui. 18

—Quem é ele? Alessio vai matar esse merda de ser humano. Deus, eu nem sei como chamá-lo. Mal posso esperar para Alessio colocar as mãos nele. Ele desejará nunca ter colocado os olhos em você. —Maddie rosnou com raiva, suas mãos apertando as minhas. Quando fiquei em silêncio, Maddie se aproximou, colocando a mão sobre o meu ombro. —Ayla, Alessio sabe? Você contou a ele? Balancei minha cabeça silenciosamente, minha garganta se fechando contra minhas palavras. —Você tem que contar a ele. Ele precisa saber. —Ele sabe que fui estuprada, mas não estou pronta para contar as outras coisas. Eu vou dizer, mas não agora. Acho que nunca estarei pronta, mas sei que preciso contar a ele um dia. —Ayla... —E você também não pode contar. Por favor, Maddie. — Implorei, sentando-me rapidamente e agarrando suas mãos nas minhas. —Essa não é minha história para contar. Você mesma tem que dizer a ele. Mas você não pode esconder isso dele por muito tempo. No final, só vai machucá-lo e a você. Alessio precisa saber. —Eu vou... eu direi a ele. Mas agora não. —Eu estava adiando a verdade, esperando que isso me desse tempo. Eu só estava tentando encontrar a coragem. Não queria perder o que tinha acabado de encontrar. Ainda não.

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CAPÍTULO 02

—Ayla, tenha cuidado. Você vai cair nessas pedras. —Alessio gritou atrás de mim. Eu ri livremente, pulando de uma pedra para a outra antes de pousar na corrente fria. A água fria correu pelos meus pés descalços e subiu um pouco acima do meu tornozelo. —Tão fria. —Eu gritei. —Mas você ainda insiste em molhar os pés. —Ele murmurou, aproximando-se. —É uma sensação boa. Você deveria tentar também. — Sugeri, virando-me para ele com um sorriso. —Não, eu estou bem. —Disse Alessio, parando na beira do riacho, com as mãos enterradas nos bolsos de sua calça preta. Fazia uma semana desde a minha conversa com Maddie. Todos os dias, eu ficava tentada a contar a verdade a Alessio, mas meu medo por sua reação me impedia todas as vezes. Eu não queria ver o ódio ou nojo nos olhos dele. Queria que ele continuasse me olhando com os mesmos olhos amorosos, gentis e suaves. Queria seus sorrisos. Suas palavras suaves e carinhos gentis. Eu os queria para sempre. Todos os dias com Alessio pareciam um paraíso. Era uma lufada de ar fresco. Um brilho de felicidade. Ele era a minha felicidade. E eu tinha chegado ao ponto em que ansiava por sua atenção. Ele era como uma droga, meu vício. 20

—Você não quer entrar na água? —Perguntei com um beicinho. Alessio balançou a cabeça silenciosamente. As pequenas manchas cinzentas em seus olhos azuis brilhando intensamente à luz do sol. Sorrindo para ele, me abaixei e peguei um pouco de água nas palmas das mãos. Meus passos foram lentos enquanto eu caminhava em direção a ele, empurrando minhas mãos no seu rosto. —Aqui. —Eu ri. Antes que ele pudesse fazer alguma coisa, joguei a água fria em seu rosto. Alessio se encolheu e recuou, surpreso. —O que... — Alessio rosnou, passando as mãos sobre o rosto molhado. Escondendo uma risada atrás das minhas mãos, dei alguns passos cautelosos para trás. —Oops. —Eu mostrei minha língua para ele. Alessio levantou uma sobrancelha questionadora, um sorriso em seu rosto. Seus olhos brilharam maliciosamente quando ele inclinou a cabeça para o lado. Sem dizer nada, ele tirou o paletó e o jogou na grama. Arregaçando as mangas da camisa branca, ele balançou a cabeça. —Estou te dando uma vantagem, gatinha. —Disse ele, sua voz profunda e brincalhona. Meus olhos se arregalaram e soltei uma pequena risada. — Você não será capaz de me pegar. —Eu provoquei antes de pular fora da água e passar correndo por ele. —Vamos ver isso. —Ele gritou. Olhando atrás de mim, eu o vi vindo em minha direção a toda velocidade. Soltando um grito, corri mais rápido, seguindo em círculos em direção ao riacho novamente. Eu o senti se aproximando, e assim que eu estava na beira do riacho, ele esticou o braço e o 21

envolveu firmemente em volta da minha cintura, me puxando para trás. Alessio me pegou e me girou em círculos, minhas risadas ecoando pelo riacho. —Peguei você. —Alessio sussurrou em meus ouvidos. Ele deu um beijo na minha nuca. —Sempre vou pegar você, gatinha. — Eu derreti em seus braços, pressionando minhas costas contra sua frente. —Você tem sido muito má. Uma pequena atrevida. —Alessio. —Suspirei enquanto ele dava um beijo atrás da minha orelha. Eu estava prestes a me virar em seus braços, mas meus pés escorregaram na grama molhada. Meus olhos se arregalaram enquanto soltava um grito, minhas mãos indo para o colarinho de Alessio para me segurar. —Porra. —Ele praguejou. Tudo aconteceu muito rápido. Primeiro, eu estava caindo e depois não estava. Mas assim que me endireitei, ouvi um respingo de água e uma sequência de maldições vindo de Alessio. Girando rapidamente, olhei para o riacho, apenas para soltar uma gargalhada quando o vi. Ele estava esparramado na água, completamente molhado, seu rosto uma máscara de espanto. Eu rapidamente perdi meu sorriso quando vi seu rosto ficar sem expressão. De pé, congelada no meu lugar, mordi meus lábios nervosamente, com medo de que ele estivesse com raiva. Houve apenas silêncio por alguns momentos. Mas então uma risada repentina me assustou, e eu pulei levemente. 22

Olhei para Alessio, chocada. Ele estava rindo. Alessio Ivanshov estava rindo. Eu nunca tinha visto ou ouvido ele rir antes. Ele sempre foi um homem pensativo, com o rosto impassível e duro. Ocasionalmente, ele abria um sorriso largo no rosto, mas nunca uma risada. Era como se fosse proibido de alguma forma. Um som tão alegre vindo de Alessio parecia estranho. Sua risada era profunda e rica. Todo seu rosto estava iluminado. Enquanto todo o seu corpo tremia, tudo que eu podia fazer era encará-lo com espanto. Um som tão bonito vindo de um homem arruinado. Quando foi a última vez que ele riu tão livremente? Isso... O que quer que eu estivesse sentindo em meu coração, enquanto meu peito ficava mais repleto de emoções inomináveis... isso era o céu. Essa era a verdadeira felicidade. Um sorriso se espalhou pelos meus lábios até minhas bochechas doerem. —Eu nunca te ouvi rindo antes. —Sussurrei, ajoelhando-me na beira. Alessio rapidamente perdeu o riso, e pareceu confuso por um segundo, como se não pudesse acreditar que estava realmente rindo. Ele inclinou a cabeça para o lado, olhando para mim com uma expressão estranha no rosto. E então ele sorriu. —Acho que nunca tive um motivo para rir antes. —Sussurrou de volta. Nós estávamos perdidos nos olhos um do outro. Azul no verde. Nem uma vez desviamos o olhar, nós dois nos recusando a romper essa conexão.

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Quando finalmente pisquei, olhei para baixo, para a água correndo. —Você disse que não queria entrar na água, certo? — Provoquei. Alessio soltou uma pequena risada. —Como diabos eu caí e você não? —Ele murmurou baixinho. Dei de ombros com a pergunta dele. —Dê-me uma mão. — Disse ele, estendendo a mão. Em vez disso, revirei os olhos e balancei a cabeça. —Eu sei o que você está fazendo, Alessio. Não vou cair nessa. Ele colocou dramaticamente a mão sobre o coração. —Você me machucou, gatinha. Balançando a cabeça com sua expressão provocadora, levantei-me. —Você deveria sair da água ou ficará doente. Está fria demais. —Eu realmente preciso de ajuda, Ayla. Acho que machuquei minhas costas. Com as palavras dele, soltei um suspiro. —O quê? Com o coração cheio de pânico, corri para o riacho e me abaixei, dando-lhe uma mão. —Oh meu Deus. Eu sinto muito. Onde? Quando percebi meu erro, já era tarde demais. Sua expressão de dor se transformou em um sorriso. Alessio pegou minha mão e puxou. Quando dei por mim estava meio esparramada sobre o peito dele. —Oops. —Ele imitou minhas palavras de antes.

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Batendo gentilmente em seu braço, olhei para ele. —Alessio. —Eu repreendi. —O quê? —Ele fingiu inocência. —Você é tão mau. —Murmurei, balançando a cabeça. Senti sua mão na minha nuca, seus dedos emaranhados nos fios escuros. Ele puxou minha cabeça para baixo até nossos lábios estarem a meros centímetros de distância. —Eu nunca disse que era bom. —Respondeu ele, sua voz caindo para um tom mais rouco. E então ele reivindicou meus lábios em um beijo duro e áspero. Este beijo não foi gentil ou doce. Era possessivo. Sua língua lambeu meus lábios, me persuadindo a abrir para seus avanços exigentes. Eu prontamente cumpri, separando meus lábios para permitir que ele entrasse. Sua outra mão emoldurou meu rosto para me puxar com mais força contra ele. Havia tanto sentimento por trás deste beijo que eu queria que durasse para sempre. Ofegando por ar, afastei-me por tempo suficiente para respirar fundo antes de Alessio tomar meus lábios novamente. Sua língua dançou com a minha, tocando, lambendo, me reivindicando. Seus lábios se moveram para o canto da minha boca, e ele deu um beijo lá antes de arrastar os lábios pela minha mandíbula e pelo lado do meu pescoço. Jogando minha cabeça para trás, eu lhe dei melhor acesso, completamente perdida nele, seus beijos e toque me deixando louca. Alessio sentou-se e me puxou até minhas pernas envolverem sua cintura. Ele se levantou, seus lábios nunca deixando minha pele enquanto saia da água. 25

Então fui encostada contra uma árvore. Seus dedos afundaram em meus quadris enquanto ele trazia seus lábios aos meus novamente. Meu cabelo estava enrolado firmemente em seu punho, puxando minha cabeça para trás. Senti seu pau duro descansando entre minhas pernas, e meus dedos se apertaram ao redor de seus ombros. Alessio se afastou bruscamente. Meus olhos se abriram de surpresa. Nós dois estávamos ofegantes quando ele encostou a testa na minha. —Precisamos parar por aqui. —Disse ele asperamente, com os olhos ainda fechados. Obrigada. Minhas mãos se moveram de seus ombros para seu pescoço, e eu segurei como se ele fosse minha salvação. —Ok. —Sussurrei de volta. Ele respirou fundo e abriu os olhos. Luxúria. Foi o que vi. A necessidade dele por mim. Seus olhos azuis brilhavam com isso. —Alessio. Ele balançou a cabeça. —Eu só preciso de um minuto. — Disse ele antes de fechar os olhos novamente, sua respiração pesada. Alessio sempre se controlava. Por mim. Ele colocou sua necessidade de lado, dando o que eu precisava. Sempre pensando em mim primeiro. Depois do meu colapso, ele nunca pressionou por mais. Era a primeira vez que ele perdia o controle desta forma, mas não deixou ir longe demais. Apalpando seu rosto, eu gentilmente esfreguei meus dedos sobre suas bochechas. Dei-lhe um beijo na ponta do nariz e depois um beijo rápido nos lábios. —Obrigada. —Sussurrei contra seus lábios. 26

CAPÍTULO 03

Eu estava deitada na banheira, meus olhos fechados, minhas mãos correndo sobre a água morna. Era tarde da noite, e depois de tocar piano para Alessio, não consegui dormir. Tudo o que eu conseguia pensar era no momento do riacho naquela manhã. Todas as vezes, as mesmas imagens surgiam em minha mente. Alessio me beijando. Nossa necessidade de um pelo outro. E então eu me lembrei de como foi quando ele fez amor com meu corpo. Meu corpo se aqueceu com os pensamentos de seus lábios e mãos em mim novamente. Soltando um suspiro cansado, abri os olhos e saí da água, secando-me com a grande toalha branca. Mas em vez de vestir minha camisola, enrolei a toalha sobre meu ombro, me encarando no espelho. —O que eu estou fazendo? —Sussurrei para o meu reflexo. —Posso fazer isso? Alessio me queria... E eu também o queria. Eu ansiava por seu toque. Colocando uma mão sobre o peito, senti meu coração bater forte. —Eu não quero mais ter medo. Eu queria ser livre. Queria viver. Queria sentir... Tudo. Eu queria Alessio. 27

Abri meus olhos, fazendo contato direto com meus próprios olhos verdes no reflexo. Segurando a toalha mais apertada ao meu redor, olhei para o espelho uma última vez antes de me virar. Minha mão descansou na maçaneta por vários minutos, puxando a força e a coragem dentro de mim para abrir a porta e ir até Alessio. Eu estava em uma batalha constante em minha mente. Medo de um lado, enquanto o outro exigia liberdade e felicidade. Com a minha decisão final tomada, respirei fundo e abri a porta. Alessio estava sentado na cama, encostado contra a cabeceira, usando apenas sua calça de moletom preta. Ele estava olhando para baixo em seu telefone, mas rapidamente olhou para cima quando entrei no quarto. —Ayla? —Ele perguntou, suas sobrancelhas franzidas ao me ver. —Por que você está enrolada apenas em sua toalha? Sentado na cama, ele colocou o telefone na mesa de cabeceira. —Você está bem? —Ele perguntou preocupado, a tensão marcando os músculos de seus ombros. Meus olhos encontraram os dele, e eu segurei o olhar. Ele me deu força. —Eu não quero mais ter medo. —Eu disse a ele. —Ayla. —Ele começou com confusão clara em sua voz e expressão. Soltando rapidamente a toalha para revelar meu corpo nu, nervosamente dei um passo para frente. Minhas mãos fecharam ao meu lado enquanto eu caminhava em direção à cama, parando ao lado de Alessio. Ele deve ter entendido o que eu quis dizer, porque seus olhos suavizaram. —Ayla. —Ele suspirou. Erguendo o braço em minha 28

direção com a palma da mão para cima, ele me deu a mão. —Venha aqui. Engolindo em seco, coloquei minha mão na dele e ele agarrou a minha com força. Minha mão tremia, mas Alessio me deu um aperto suave antes de me puxar para frente. Subi na cama e ele me moveu, me puxando para seu colo, de modo que o montei, meus joelhos em cada lado de seus quadris. Levantando a outra mão, ele suavemente esfregou o polegar nos meus lábios. —Você tem certeza? Balancei a cabeça silenciosamente, achando difícil expressar qualquer coisa. —Ayla, preciso das palavras. Preciso saber que você tem cem por cento de certeza sobre isso. —Eu tenho certeza. —Respondi, minha voz quase inaudível. Apoiando a testa na minha, ele soltou outro suspiro. —Ok. Vamos fazer assim. Com você em cima. —Ele disse. Eu? Em cima? O pânico me encheu, e minha mão apertou a dele. —Eu... Mas ele rapidamente me calou. —Eu sei. Está bem. Eu não sabia como fazer nada. Eu nunca tinha feito isso. —Aqui. —Ele me levantou de seu colo e me colocou na cama ao lado dele. Alessio rapidamente tirou a calça de moletom e a cueca, jogando-as no chão para que ele também estivesse nu. Ele me puxou para seu colo novamente, na mesma posição de antes. —Alessio, eu não sei... —Murmurei. Ele sorriu e balançou a cabeça. —Você sabe. Deixe sua mente e corpo livres. Seu corpo sabe o que fazer. Você está no comando, Ayla. Faça o que quiser. 29

Eu estava no controle. Pela primeira vez. Dando a ele um sorriso trêmulo, coloquei minhas mãos sobre seu peito e empurrei até que ele estivesse reclinado na cama. Eu não tinha certeza do que fazer depois, mas quando senti seu pau se contrair entre minhas pernas, tremi e me movi levemente, fazendo com que sua ponta esfregasse contra meu núcleo sensível. Ele me tocou da última vez, mas nunca tive a chance de explorá-lo. Minhas mãos se moveram sobre seu peito e abdômen, sentindo seus músculos ondularem sob o meu toque errante. Quando minhas mãos alcançaram sua pélvis, logo acima de seu pau endurecido, parei. Virei minha cabeça em direção a Alessio procurando por ajuda, sem saber o que fazer. Sua mão agarrou a minha, e ele a colocou sobre a cabeça rígida, envolvendo meus dedos ao redor do comprimento. Nossos olhos permaneceram conectados enquanto ele movia minhas mãos para cima e para baixo. E então ele soltou. Olhando para baixo, esfreguei meu polegar sobre a ponta e apertei levemente. —Porra. —Alessio murmurou. Acreditando que fiz algo errado, rapidamente olhei para cima, apenas para encontrar seus olhos cobertos de luxúria. Sentindo-me confiante em minhas ações, movi minhas mãos novamente, apertando o comprimento ao mesmo tempo. Os dedos de Alessio afundaram nos meus quadris e ele soltou um rosnado. —Assim. —Ele murmurou, enrolando sua mão sobre a minha novamente, aumentando meu aperto. Ele trabalhou de cima para baixo, apertando e afrouxando nossas mãos até a umidade se formar na pequena fenda. Esfregando meu polegar sobre ela, cobri totalmente ponta. —Ayla, se você continuar fazendo isso, vou gozar. 30

—Isso não é uma coisa boa? —Perguntei. —Pequena atrevida. —Ele respondeu, sua voz um pouco rouca. Com minha mão ainda envolta nele, curvei-me para frente, inclinando ligeiramente meus quadris para cima, meus seios balançando para frente em direção a Alessio. Eu não tinha certeza do que fazer, me sentindo perdida. Eu estava prestes a me abaixar, mas as mãos de Alessio eram como uma tira de aço em volta dos meus quadris, parando meu movimento. —Você não está pronta para isso ainda. —Hã? —Perguntei confusa. Sorrindo, ele tirou minha mão de sua dureza e me puxou sobre seu peito. —Alessio, o que você está fazendo? —Eu perguntei, pressionando minhas mãos em seu peito enquanto o encarava com os olhos arregalados. —Estou te preparando, gatinha. Suba. Monte em meu rosto. —Ele ordenou. Montar seu rosto? Suas mãos desceram para as minhas coxas, me segurando. Nervosa, me movi lentamente para a posição que ele me disse. Com os joelhos em ambos os lados do rosto dele, me segurei na cabeceira da cama. Sua respiração pairava sobre meu núcleo apertado. Minha cabeça caiu para trás com a sensação estranha. Quando senti sua língua na minha entrada, soltei um gemido. Enquanto meu corpo respondia com uma onda de umidade, os dedos de Alessio apertaram minhas coxas. Ele passou a língua pelos meus lábios molhados, lambendo a umidade lá. Ele lambeu, provocou, chupou e me deixou louca com sua língua, até eu tremer 31

incontrolavelmente. Meu corpo tensionou, desesperado pela minha liberação. —Alessio. —Gemi, meus dedos ficando quase brancos com o quão forte eu estava segurando a cabeceira da cama. Meus quadris balançavam contra sua boca, esfregando em seu rosto. Suspirei e choraminguei contra sua ministração torturante. Eu estava muito perto, à beira do êxtase, mas ainda não caindo. Ele empurrou sua língua dentro de mim e gemeu, e meus olhos se fecharam com a sensação crescendo na minha região inferior. Ele era implacável, me empurrando para o limite várias vezes, mas se recusando a me deixar cair. Soltei um grito agudo quando ele levantou a mão e pressionou um dedo contra meu pequeno botão. —Alessio! —Quando meu orgasmo me atingiu, minhas coxas se apertaram em torno de sua cabeça. Eu ainda estava perdida no intenso êxtase que envolvia minha mente e corpo quando Alessio me levantou de seu rosto e me empurrou sobre seu pau novamente. —Espere. —Ele murmurou, inclinando-se para o lado para abrir a gaveta e pegar uma caixa. Olhei para ele quando ele retirou um preservativo e o desenrolou sobre si mesmo. Ele sorriu. —Agora você está pronta. Leve-me, Ayla. —Suas palavras eram profundas e cheias de necessidade. Minha entrada estava logo acima da ponta dele, e eu engoli nervosamente, minhas coxas ainda tremendo de meu orgasmo. Os olhos de Alessio brilharam, e ele agarrou meus quadris novamente, me levantando um pouco. Seu pau rígido estava apontando para 32

cima quando ele me colocou sobre ele e começou a me puxar para baixo. —Assim. Nós dois suspiramos quando ele afundou lentamente em mim, meus olhos quase se fechando com a sensação maravilhosa. Fiz uma pausa quando ele alcançou minha profundidade, meu corpo pulsando ao redor dele. Mas quando as repentinas lembranças sombrias começaram a me cercar, fiquei quieta. As mãos de Alessio se apertaram ao meu redor. —Ayla, abra seus olhos. —Ele exigiu rapidamente. Meus olhos se abriram ao seu comando, e eu olhei para ele em busca de ajuda, com medo de cair de novo na escuridão. —Mantenha seus olhos em mim, Ayla. Apenas em mim. Olhe para mim. Somente para mim. Sou apenas eu, Ayla. —Ele sussurrou gentilmente, seu polegar ternamente acariciando meus lados. Somente ele. Era só o Alessio. Apenas ele. —Aí está você. Continue olhando para mim. Não tire os olhos de mim. —Ele continuou com a mesma voz profunda. Alessio levantou a mão e desfez meu coque, deixando meus cabelos caírem sobre minhas costas e ombros. Ele acariciou meus cabelos suavemente, me acalmando com um sorriso suave. —Suave e devagar. Vamos devagar. Tirando as mãos do meu cabelo, ele agarrou meus quadris novamente e me ajudou com o movimento. Levantando-me, comecei a descer lentamente, meu corpo inteiro tremendo com a sensação.

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Apenas Alessio. Ele me cercou. Dominou meus sentidos até se tornar o único que eu podia sentir, ver, tocar ou ouvir. Ele era tudo. Enquanto eu acolhia seu pau dentro de mim, indo o mais profundo possível, continuei olhando para ele. Sua respiração estava irregular, quase dolorosa. Suor se formou sobre sua testa, assim como na minha. —Alessio. —Eu respirei. Seus dedos afundaram na minha pele, me dando confiança para continuar me movendo novamente. Eu rebolei hesitantemente, e ele gemeu, seus quadris arqueando para fora da cama. —Ayla. Não pude deixar de sorrir. Ele gostou. Cada vez mais tímida sob seu olhar, coloquei minhas mãos sobre seu peito, impulsionando-me para cima, sua dureza deslizando dentro do meu calor úmido. Subindo e descendo lentamente, observei todas as suas reações. Quando girei meus quadris sobre ele, seus quadris subiram para encontrar os meus, o movimento o empurrando ainda mais profundamente em mim. Eu gemi mais alto, e ele praguejou. —Porra. Alessio lentamente assumiu o controle, empurrando os quadris para cima, devagar e profundamente a cada vez. —Ayla, vou nos trocar de lugar. —Disse ele, com a voz rouca. Quando eu assenti, ele rapidamente nos rolou até que eu estivesse de costas na cama e ele posicionado entre as minhas pernas sobre mim. Quando soltei um suspiro, ele deu um beijo nos meus lábios. —Mantenha seus olhos em mim. Sou apenas eu. Ninguém mais além de mim. 34

Eu balancei a cabeça, mantendo nossos olhos conectados enquanto ele empurrava dentro de mim novamente. Seu gemido vibrou em seu peito, e eu absorvi tudo. Minhas mãos voaram freneticamente para seus ombros, segurando enquanto meu corpo tremia com a ferocidade da sensação que percorria meu corpo. Alessio fez uma pausa, nossos olhares conectados. —Tudo bem? —Tudo bem. —Segure-se em mim, Ayla. Não me deixe ir. Assentindo novamente, coloquei minhas mãos atrás da cabeça dele. Enquanto ele se retirava, meus dedos se enroscaram em seu pescoço. —Ah... Alessio. E então ele empurrou novamente, me esticando com sua plenitude. Senti minha boceta se esticar para acomodá-lo, a pressão dentro de mim aumentando mais rápido do que antes. Ele se afastou um pouco e empurrou de volta. Instintivamente, levantei meus quadris e ele empurrou com força pra dentro. Soltei um suspiro, seguido por um gemido alto e sem vergonha, e minhas unhas fincaram em suas costas. Alessio começou a se mover, encontrando um ritmo enquanto nossos olhos permaneciam fixos um no outro. Dentro e fora. Lentamente a princípio e depois um pouco mais rápido. Com mais força. Mais fundo. Meu corpo ondulou e estremeceu. Não havia espaço entre nós. Nossos corpos se moviam fluidamente como se conhecessem um ao outro há anos. Nenhuma palavra foi dita. Apenas nossos corpos falavam, movendo-se um com o outro com facilidade. Nossa respiração 35

pesada encheu o quarto, e nossos olhos ficaram um no outro durante tudo isso. Apoiando sua testa na minha, ele agarrou minhas coxas e as empurrou para cima até que eu estava aberta para ele. —Eu cuido de você. —Ele murmurou. Eu estava me equilibrando sobre a borda, pronta para cair, e implorando a Alessio silenciosamente. Meu corpo estava tenso, meus músculos endurecidos. Eu precisava de alívio. Eu precisava dele. Eu sabia que ele estava perto quando seu impulso se tornou mais rápido. Alessio estendeu a mão por baixo de mim e apoiou minhas costas, inclinando-me para cima enquanto ele mergulhava para frente novamente. Assim que ele parou profundamente dentro de mim, meu orgasmo explodiu com ferocidade. Minha visão ficou turva enquanto meu corpo relaxou sob Alessio. Meu corpo não era mais meu. Foi quebrado em pequenos pedaços. Eu estava flutuando, completamente sem forças. Ele empurrou em mim uma última vez. Mais profundo e mais forte. E o ouvi gemer alto e profundo, o rosto torcido quase dolorosamente quando ele se contraiu em cima de mim com seu orgasmo. Seus quadris empurraram contra os meus. Ele estremeceu com sua liberação enquanto estávamos unidos. Naquele momento, eu era dele. Somente dele. Nossos olhos estavam conectados, mas nossas almas se uniram também, ligando-se, segurando-se firmemente, recusando-se a deixar ir.

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Alessio se soltou e deitou em cima do meu corpo trêmulo, lutando desesperadamente para respirar, enquanto eu fazia o mesmo. Não consegui processar o que tinha acabado de acontecer. Minha mente estava confusa, meu coração cheio enquanto eu envolvia meus braços em torno dos ombros de Alessio. Era assim que se sentia? Estar com alguém... Assim? Lágrimas cegaram minha visão quando eu rapidamente as pisquei. Alessio enterrou o rosto no meu pescoço e deu um beijo lá. Finalmente, levantando a cabeça, ele olhou para mim com suaves olhos azuis. —Você está bem? —Mhm... —Certo? —Mhm. Ele soltou uma pequena risada. —Isso é tudo o que você consegue dizer? —Mhm. Eu realmente não poderia dizer mais nada. Meu corpo estava dolorido e desfalecido. Eu mal conseguia manter os olhos abertos. —Já cansei você, gatinha? —Ele sussurrou antes de tomar meus lábios em um beijo doce. —Mhm. Afastando-se, ele riu da minha falta de palavras. Ele me deu um beijo rápido no nariz antes de sair de cima de mim. Fechei os olhos, meu corpo ainda espalhado sobre a cama, cansada demais para me mexer. Ouvi a água correr no banheiro e, alguns minutos depois, senti algo quente entre as minhas pernas. 37

Abri meus olhos para ver Alessio me limpando com uma toalha morna. —Eu cuido de você. —Ele sussurrou as mesmas palavras novamente. Ele voltou ao banheiro para deixar a toalha antes de sair completamente nu novamente. Alessio se juntou a mim na cama e puxou o edredom sobre nós. Deitado de costas, ele me puxou contra si até eu ficar meio em cima dele. Minha cabeça descansava em seu peito, meus braços jogados sobre sua cintura e minhas pernas emaranhadas com as dele. Suspirei e me aconcheguei mais em seu abraço quente e seguro. Alessio deu um beijo na minha testa, apertando os braços em volta das minhas costas de uma maneira protetora. —Durma, Ayla. Com o som do seu coração batendo no meu ouvido, deixei o sono assumir, deixando minha mente e corpo desligarem. Mas antes de adormecer, um pensamento se registrou em minha mente. Eu sorri sonolenta, meu coração dançando de felicidade. Alessio não me fodeu. Ele fez amor comigo.

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CAPÍTULO 04 Alessio Ayla fez uma lenta descida sobre meu pau, e assim que eu descansei profundamente dentro dela, vi um flash de pânico brilhar em seus olhos, seu corpo congelando por um segundo. Meus dedos instintivamente apertaram seus quadris. Eu podia senti-la descendo em espiral em direção à escuridão, mas eu não a deixaria se perder novamente. —Ayla, abra seus olhos. —Eu exigi rapidamente. Seus olhos se abriram instantaneamente, o medo brilhando em seus suplicantes olhos verdes. Ela queria isso tanto quanto eu, mas estava com medo de cair de novo na escuridão. Tentei acalmá-la e, lentamente, o medo começou a desaparecer dos olhos dela. —Suave e devagar. Vamos devagar. —Eu a acalmei com minhas palavras. Devagar. Uma palavra estranha para descrever sexo. Eu nunca fiz devagar antes. Costumava ser apenas foda crua. Mas com Ayla, era diferente. Ayla pareceu aceitar minhas palavras, e seu corpo relaxou. Havia apenas ela e eu.

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Não o meu passado ou o dela. Éramos apenas nós. Alessio e Ayla. Nós dois perdidos nos olhos um do outro. Nós dois perdidos um no outro. Nunca pensei que era possível me sentir assim. Sentir-me tão profundamente conectado a uma pessoa, mas com Ayla, eu senti. Seu medo, sua dor... Eram meus. Nesse momento, senti tudo. Um gemido escapou de seus lábios, e isso foi suficiente para arruinar o pequeno fragmento de controle que eu tinha. —Ayla, vou nos trocar de lugar. —Eu gemi quando sua boceta apertou em torno do meu pau. Quando ela assentiu, eu rapidamente nos rolei e me posicionei entre suas coxas abertas antes de empurrar profundamente dentro dela. Um suspiro escapou em seus lábios abertos, e dei um beijo lá. —Mantenha seus olhos em mim. Sou apenas eu. Ninguém mais além de mim. Empurrei hesitantemente, e ela gemeu, arqueando as costas. —Segure-se em mim. Não me deixe ir. —Eu sussurrei. Ayla assentiu, e suas mãos freneticamente se moveram para os meus ombros enquanto eu empurrava dentro dela novamente. Descansando profundamente dentro de sua boceta apertada, meus músculos se contraíram com a necessidade de gozar. Recuei um pouco antes de deslizar de volta. Pegando as pernas dela, empurrei-as para cima até que as solas de seus pés descansassem na cama e ela estivesse aberta para mim. Eu peguei o ritmo, meu movimento urgente, enquanto nós dois corríamos em direção à nossa liberação. Mais rápido e mais profundo, encontramos um ritmo, nossos corpos se movendo juntos. Eu queria que isso durasse mais, mas sabia que ela estava perto. Eu também estava, meu pau engrossando dentro dela, esticando suas paredes apertadas. 40

Ela gemeu, suas unhas fincando nas minhas costas. Seu corpo retesou, seus músculos enrijecendo com tensão e intenso prazer. Seus olhos me imploraram por libertação, e eu de bom grado lhe dei. Agarrando sua bunda, inclinei seus quadris para cima, batendo dentro dela, minha pélvis pressionando contra seu clitóris. Ela ofegou, e então a senti se apertando firmemente em volta de mim enquanto gozava. Seu corpo tremeu com a liberação e seu rosto suavizou, seus olhos ficando cristalinos. Sua boceta apertada me sugou mais profundamente nela, me deixando louco. Empurrando nela uma última vez, encontrei minha liberação também. Estremeci dentro dela, meus dedos apertando suas coxas em um forte aperto. Nossos olhos permaneceram conectados quando gozamos, e esse foi o momento mais íntimo da minha vida. Isso foi mais do que apenas sexo. Foi mais do que foder. Isso significava mais. Eu não a fodi. Fiz amor com ela, algo que nunca tinha feito antes. Mas Ayla era tudo. Ela era um anjo. Ela merecia mais do que uma simples foda. Ela merecia um doce amor. Eu não achava que podia me sentir assim, mas com Ayla, não tinha controle dos meus sentimentos. Ela dominou meus sentidos, me cercando com sua alma doce e gentil. Ela me fez sentir. Desmoronando em cima de seu corpo macio, enterrei meu rosto em seu pescoço enquanto ambos chegávamos ao orgasmo, nós dois perdidos nessa felicidade crua. Nenhuma palavra foi dita. Elas não eram necessárias.

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Minha respiração era áspera até para meus próprios ouvidos enquanto meu coração batia rápido e alto contra meu peito, combinando com o de Ayla. Colocando um beijo em seu ombro nu, levantei minha cabeça e olhei para seus olhos verdes enevoados. — Você está bem? Ela murmurou. Eu a tinha desgastado. Soltando uma risada por sua falta de palavras, eu me levantei dela e seus olhos se fecharam com um suspiro, seu corpo relaxando. Sorrindo, dei-lhe um beijo rápido no nariz e rolei para fora da cama. Fui até o banheiro e retirei a camisinha, jogando-a na lixeira ao lado do balcão. Molhei uma toalha e me limpei antes de voltar para o quarto com outra toalha morna. Ayla ainda estava na mesma posição que eu a tinha deixado, e eu não pude deixar de sorrir. Eu poderia fazer isso a noite toda, mas ela não estava pronta para isso ainda. Ajoelhado na cama ao lado dela, limpei a bagunça que fizemos entre suas coxas. Ela me deu um sorriso grogue antes de fechar os olhos novamente. Balançando a cabeça com uma risada baixa, fui ao banheiro e joguei a toalha no cesto. Juntei-me a ela na cama novamente e envolvi meus braços em torno de Ayla, puxando-a contra mim. Ela aconchegou seu corpo ao meu, e meu coração bateu em um ritmo estranho. — Durma, Ayla. —Eu disse suavemente. Observei os olhos de Ayla se fecharem, e quase imediatamente ela estava dormindo, sua respiração suave e uniforme. Meu braço se apertou ao redor de sua cintura e ela se aconchegou mais contra mim, um suspiro de satisfação escapando de seus lábios.

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Passei a mão pelo cabelo dela, meus dedos deslizando suavemente por trás dela. Depois de tudo o que ela passou, ela confiou em mim. Mas havia um medo incutido dentro de mim. Eu não tinha controle sobre o que sentia por Ayla. A ideia de ter qualquer tipo de sentimento por qualquer mulher quase me paralisou. Eu não poderia permitir isso. Isso não poderia acontecer. A história não podia se repetir. Mas já era tarde demais. Ayla se tornou minha fraqueza. Minha única fraqueza. Uma fraqueza que eu não poderia ter. Mesmo que esse medo fosse constante em minha mente, era uma luta que eu não podia vencer. Eu tentei me fortalecer, construindo uma barreira entre Ayla e mim. Mas ela derrubou essa barreira. Sem fazer muito, ela entrou no meu coração. Ayla havia vencido. Não importava o quanto tentasse me segurar, estava perdido nela. Completa e profundamente perdido nela.

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CAPÍTULO 05

Entrei na cozinha na manhã seguinte e encontrei Maddie e Lena terminando o café da manhã. Assim que Maddie me viu, ela acenou. —Bom Dia. Onde está Ayla? —Ela ainda está dormindo. Vamos tomar nosso café da manhã lá em cima. —Falei, acenando com a cabeça em direção à bandeja. —Oh. —Maddie levantou uma sobrancelha para mim, seus olhos brilhando maliciosamente, mas eu apenas olhei. Ela encolheu os ombros. —Vou arrumar uma bandeja para você. —Ela murmurou, inclinando o rosto para baixo enquanto escondia o sorriso. Inclinando-me contra a parede, esperei por ela. —Aí está. —Disse ela, me dando a bandeja. Pegando-a da mão dela, me virei para sair. —Obrigado. —Eu disse antes de sair da cozinha e subir as escadas. Fechando a porta atrás de mim, entrei no quarto e encontrei a cama vazia. Franzi a testa e coloquei a bandeja sobre a mesa, procurando por Ayla ao redor. —Ayla? —Eu chamei. Quando ouvi a porta do banheiro se abrir, rapidamente me virei e vi Ayla saindo com uma toalha na mão. Ela estava vestida com sua roupa de empregada. —Alessio. —Ela ofegou ao me ver. —Pensei que tinha ido embora. 44

—Fui buscar o nosso café da manhã. —Murmurei, caminhando em sua direção. —Oh. —Ela sussurrou, olhando para baixo quase timidamente. Achei encantador que ela estivesse se sentindo tímida, mesmo depois da noite passada. Colocando um dedo sob seu queixo, inclinei sua cabeça para cima. —Por que você sempre desvia o olhar de mim? Ela mordeu os lábios nervosamente, e envolvi meus braços em torno dela, puxando-a para mais perto. Com seu corpo macio colado ao meu, senti-me endurecer ao lembrar da noite anterior. Ayla encolheu os ombros com a minha pergunta e colocou as mãos sobre o meu peito. Ela lambeu os lábios carnudos e, antes que eu pudesse me conter, meus lábios estavam sobre os dela. Seus lábios eram macios como veludo, e eu os lambi, exigindo entrada. Ela cedeu às minhas demandas e nossas línguas se moveram juntas em uma dança ardente. Ela retribuiu meu beijo com a mesma intensidade, empurrando seu corpo para mais perto do meu. Ayla me consumia. Mente, corpo e alma. Ela estava certa; ela era fogo e eu iria me queimar. Nós dois iríamos queimar. Ofegando, nos afastamos do beijo. Seus dedos apertaram ao redor do meu paletó, e ela suspirou. —Está com fome? —Perguntei, me afastando. Ela assentiu com um sorriso e colocou a mão sobre o estômago. —Faminta. Segurando a mão dela na minha, nos conduzi até a poltrona. Sentei-me e agarrei seus quadris, puxando-a para o meu colo. Ayla riu e se aconchegou no meu abraço. 45

—Você vai me alimentar? —Ela brincou, levantando uma sobrancelha para mim. —Você quer que eu te alimente? —Não. —Ela riu. Eu tive que sorrir. A expressão livre e feliz em seu rosto era algo que eu queria saborear e nunca esquecer. Sua risada fez algo no meu coração. A felicidade dela me fazia feliz. Ela me acalmava. Da mesma maneira que eu trouxe paz a ela, ela também me trouxe paz. Não sentia paz desde a morte de minha mãe. Era uma emoção estranha. Mas com Ayla, eu poderia esquecer toda a escuridão dentro de mim. Dando um beijo em sua testa, inclinei-me para frente e peguei um pedaço de biscoito e o segurei em frente aos seus lábios. Ayla olhou para mim estranhamente e hesitou por um segundo antes de dar uma mordida. Alternei entre alimentá-la com ovos, torradas e algumas frutas. —Você quer suco? —Perguntei, tirando as migalhas que caíram no canto de seus lábios. —Hmm... Eu estava prestes a pegar o copo quando Ayla me parou com uma mão no meu braço. —Você não comeu nada ainda. —Ela murmurou. Eu ri baixinho. Eu nem percebi isso. Ayla sorriu e depois se inclinou para frente, pegando um pedaço de torrada e pressionandoa suavemente sobre meus lábios. Surpresa me tomou, e eu abri minha boca, deixando-a me alimentar com o pedaço. Encorajada pela minha resposta, ela tomou sua vez de me alimentar. Era algo incomum, mas parecia íntimo. Esse momento compartilhado entre nós era algo especial. 46

Quando ela trouxe o copo de suco aos meus lábios, eu a parei. —O que você está fazendo, Ayla? —Estou te alimentando. —Respondeu ela, inclinando a cabeça para o lado. —Por quê? —Porque eu quero. —Ayla levantou a outra mão e a colocou sobre a minha bochecha, esfregando o polegar para frente e para trás. —Não sei como recompensar você por isso, Alessio. Por tudo que você fez por mim. Acho que só quero fazer as pequenas coisas que posso, para que você saiba como me sinto. —Ela acariciou levemente a minha mandíbula e, em seguida, colocou os dedos nos meus lábios. —Às vezes, as palavras não são suficientes. —Ela sussurrou. Suas palavras fizeram coisas loucas ao meu coração. Ayla aproximou o copo e eu abri meus lábios para ela. Não desviamos o olhar um do outro enquanto eu bebia do copo. Quando terminei, ela tomou um gole e depois colocou o copo na bandeja. Ela nunca deixava de me surpreender. Ayla olhou para mim por alguns segundos, sua expressão mudando de feliz para incerta. Eu a vi engolir em seco, e então se inclinou para frente, rapidamente colocando um beijo nos meus lábios antes de voltar. Senti uma sobrancelha arquear em questão, e ela abaixou a cabeça timidamente. Eu levantei o queixo dela e abaixei minha cabeça, descendo até nossos lábios estarem a poucos centímetros de distância. Os olhos de Ayla brilharam de surpresa, e ela se inclinou para frente novamente até nossos lábios se unirem. 47

O primeiro toque de nossos lábios foi eletrizante, quase como da primeira vez que eu a beijei. Toda vez que eu a beijava era como se fosse a primeira. Nosso beijo foi leve e requintadamente gentil. Ela suspirou quase sonhadora nos meus lábios quando interrompemos o beijo. Ayla fez um pequeno som de satisfação e aconchegou-se mais profundamente no meu peito. Ela deu um beijo no meu ombro e descansou a cabeça lá. Uma sensação de conforto encheu meu coração enquanto envolvi meus braços em torno dela. Eu nunca pensei que precisaria disso. Segurar alguém tão calmamente, apenas estar assim. Silenciosamente, mas ainda conectado. Não era isso que eu estava procurando, mas Ayla entrou na minha vida e me deu algo que eu nem sabia que precisava. Meu pai estava certo. Um anjo é alguém que é doce, gentil, atencioso e calmo. A mulher mais bonita do planeta. Alguém que é incrível em todos os sentidos. Um anjo é a garota que faz seu coração bater mais rápido quando ela entra na sala. A garota que você precisa onde quer que vá. A garota que faz você querer ser melhor. Um anjo é alguém que é sua rocha. Eu tinha perdido a esperança de encontrar meu anjo há muito tempo. Depois que perdi minha mãe, a única pessoa que era tudo para mim, acreditei que os anjos não existiam. Pensei que era tudo mentira. Mas Ayla... Ela realmente era um anjo.

***

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Entrando no meu escritório, vi meus homens já me esperando. Vê-los me fez lembrar quem eu realmente era. Nos últimos dias, eu estava perdido em Ayla, focado apenas nela. Mas agora era hora de ser Alessio Ivanshov. Não era fácil levar quase uma vida dupla... Um empresário experiente e conhecido durante o dia e um senhor do crime à noite. Mas esta era uma segunda natureza para mim. Fui criado para fazer isso desde o meu primeiro suspiro. —Dê-me um breve resumo de tudo. —Exigi, sentando-me atrás da minha mesa. Nikolay se afastou da parede e começou. —Eu fiz rondas pelos clubes. Quinze ao todo. Alberto tem se mantido quieto em relação a eles, e não houve muita atividade de seus homens. As mulheres estão em segurança. Tão seguras quanto podem estar em um lugar como esse. Eu balancei a cabeça e olhei para Artur. —O que aconteceu com as outras mulheres? Ele balançou a cabeça, desânimo em seu rosto. —Nós não chegamos lá a tempo. Havia crianças com elas também. Batendo com o punho na mesa, levantei-me quando uma raiva feroz me atacou. —Como diabos você não chegou lá a tempo? Sabia disso há uma semana. —Chefe, ele sabia que estávamos espionando. Seus homens seguiram uma rota diferente para entregar as mulheres e as crianças ao comprador. —Porra! —Eu praguejei, passando os dedos pelos cabelos em frustração. —Quantas? —Cerca de vinte mulheres. —Disse ele, parecendo derrotado. 49

Alberto fazia parte de uma rede de tráfico de pessoas. Por causa de sua aliança com o cartel mexicano, ele era forte demais para parar. Eu tinha falhado com vinte mulheres. Vinte mulheres e crianças que eu poderia ter salvo. —Você não está mais no controle deste trabalho. —Rosnei para Artur. Ele levantou a cabeça e olhou para mim em choque. —Nikolay está assumindo o controle. —Eu disse entredentes. —Da próxima vez, não quero um fodido erro nisso. —Chefe. —Nikolay assentiu, seu rosto cheio de convicção. —Viktor. —Eu disse em direção a ele. —Tenho acompanhado Alberto, e Mark ligou de volta com detalhes. —Ele começou calmamente e depois fez uma pausa. —Alberto é fraco sozinho, mas se tiver alianças, ele é muito mais forte. Ele está profundamente envolvido com o cartel mexicano. Quer expandir seu império. Ele sabe que a única maneira de te enfraquecer é colocar os outros do lado dele, em termos de negócios. Sentando, esfreguei a mão no rosto, meu corpo vibrando de raiva e sede pelo sangue dos meus inimigos. Apertando minhas mãos primeiro, fechei os olhos. Pensei em pedir apoio às outras famílias. Embora eu fosse o Pakhan, o chefe, a máfia russa consistia de quatro famílias no total. Eles viriam a minha ajuda se eu chamasse... Mas eu tinha que lidar com essa merda sozinho. Por enquanto. Quando ouvi a porta, meus olhos se abriram para ver Phoenix entrando. —Chefe. —Ele cumprimentou com um aceno de cabeça. 50

—O que diabos aconteceu com você? —Viktor perguntou, olhando para Phoenix com espanto. Eu estava me perguntando a mesma coisa. O lado direito do rosto de Phoenix estava vermelho, rapidamente ficando roxo e formando um hematoma, e seu nariz estava sangrando um pouco. —Maddie me deu um soco. —Ele afirmou calmamente, seu rosto sem expressão. O rosto de Artur ficou estoico com a menção do nome de Maddie, e ele se virou para Phoenix, olhando para o rosto dele. —O que você fez com ela? Phoenix se empertigou, os ombros contraindo com tensão. Seus olhos ficaram um tom mais escuro quando ele respondeu, agindo quase indiferente. —Por que você não pergunta a ela? A expressão de Artur era quase assassina, mas Nikolay rapidamente interveio. —Phoenix, o que significa isso? Em vez de responder, ele se virou para mim e relatou. — Houve uma briga em um dos clubes. Dois ficaram gravemente feridos. A bagunça foi limpa antes da polícia chegar. Tudo está limpo. Eu assenti. —E quanto aos ringues subterrâneos? —Os ringues subterrâneos estão funcionando perfeitamente. Temos mais dois lutadores. Eles são muito bons. Os melhores, eu diria. —Respondeu Phoenix. —Eles lutam por sangue. —E era exatamente disso que se tratavam os ringues subterrâneos. Sangue. Morte ou vitória. Poderíamos ganhar milhões em uma noite. Dinheiro fácil.

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Assentindo, fechei os olhos e recostei-me na minha cadeira. Eu não precisava dizer mais nada. Eles sabiam que a reunião havia terminado. Ouvi meus homens se afastando e a porta se abrindo. —Viktor. —Gritei sem abrir os olhos. —Sim? —Ligue para Lyov e Isaak. Talvez eu precisasse da ajuda deles. Viktor xingou baixinho, mas não disse mais nada. A porta se fechou e depois o silêncio. O silêncio foi quase sufocante, e minha pele formigou de tensão. Fechei minhas mãos em punhos e depois as abri novamente. Fazendo isso por algum tempo, tentei controlar o monstro dentro de mim. O rosto de Ayla surgiu de repente atrás de meus olhos fechados. Apenas pensar nela me acalmou, e eu senti a raiva diminuir lentamente. Anjo.

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CAPÍTULO 06 Maddie Meus músculos doíam enquanto eu rapidamente me despia. Eu precisava dormir. Tipo agora. Mas eu sabia que Artur deveria me visitar, então esperei. Eu estava penteando meus cabelos quando vi a porta se abrir no reflexo do espelho. Ele fechou a porta atrás de si e caminhou em minha direção. —Hmm... Isso é o que eu gosto de ver. —Ele murmurou, seus olhos luxuriosos percorrendo meu corpo nu. Artur ficou de pé atrás de mim e envolveu um braço em torno da minha cintura, me puxando até ele. —Você sabe o quanto é linda? —Ele perguntou, colocando um beijo no meu ombro. —Você me diz todos os dias, mas não estou reclamando. Eu não me importaria se dissesse mais uma vez. —Eu respondi, colocando minha mão sobre o braço dele. —Você é tão bonita que tira o meu fôlego. A mulher mais sexy que eu já vi. —Ele murmurou, abraçando minha cintura em um aperto quase doloroso. —E toda minha. —Ele rosnou possessivamente. —Sua. —Eu gemi. Sua mão vagou em direção a minha boceta já úmida, e eu me senti apertar em antecipação. Mas então ele parou. Eu gemi em protesto, minha cabeça caindo contra seu ombro. —Droga. Artur, pare de me provocar.

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Meus olhos se abriram e olhei para o nosso reflexo no espelho. Eu o vi franzindo a testa, suas sobrancelhas juntas, pensativo. —Eu estava me perguntando. Por que você deu um soco em Phoenix? Meus olhos se arregalaram com a pergunta dele, e eu congelei. Como ele sabia disso? —O-o quê? —Eu gaguejei. —O rosto de Phoenix estava horrível esta manhã. E ele disse que você lhe deu um soco. O que ele fez? Ele está te criando problemas? —Ele perguntou, colocando o queixo no meu ombro enquanto olhava nos meus olhos através do reflexo. Minha garganta ficou seca com a pergunta, minhas mãos se apertaram em punhos, minhas unhas cravando em minha pele.

Minhas pernas estavam enroladas nos quadris de Artur enquanto ele me pressionava contra a parede. Seus lábios reivindicaram os meus em um beijo possessivo. —Bom dia. —Ele murmurou. —Eu gosto de como você diz bom dia. —Ri contra seus lábios. Seus dedos apertaram meus quadris, e eu o beijei novamente. Quando me afastei, vislumbrei Phoenix em pé atrás de Artur, sua expressão quase dolorosa e assassina. —Artur, o chefe está procurando por você. —Ele disse asperamente. Artur se afastou de mim e olhou para trás para Phoenix. —Ok. — Colocando-me no chão, ele me deu um beijo rápido nos lábios. —Vou vê-la hoje à noite.

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—Ok. —Eu respondi. Sorrindo para mim ele se virou e deu um aceno a Phoenix antes de subir. Phoenix não se mexeu. Ele manteve os olhos fixos nos meus. Vi as mãos dele fechadas em punho ao lado do corpo. —Qual diabos é o seu problema? —Perguntei quase com raiva. — Toda vez que você me vê com Artur, age como um tipo de homem das cavernas. Isso está acontecendo há muito tempo. Ele silenciosamente deu um passo à frente e eu parei o meu discurso furioso. Phoenix caminhou em minha direção e parou quando nossos corpos estavam a poucos centímetros de distância e eu fui forçada contra a parede. Engolindo nervosamente por sua proximidade, respirei fundo e olhei para ele. —Afaste-se, idiota. Já ouviu falar em espaço pessoal? Quando ele não se afastou, eu coloquei minhas mãos sobre seu peito para empurrá-lo. —Qual é o seu problema, porra? —Eu assobiei, mas ele não se mexeu. Em vez disso, ele agarrou minhas mãos e as segurou em seu peito. Antes que eu pudesse piscar ou pensar, seu outro braço rapidamente serpenteou ao redor da minha cintura. Ele me puxou para junto de seu corpo, seu aperto inflexível. —O que... —Eu comecei a dizer, mas ele me interrompeu. —Cale-se. E então ele bateu seus lábios nos meus. Eu ofeguei em choque, e ele aproveitou a oportunidade para deslizar sua língua na minha boca. Eu não me movi a princípio, mas instintivamente me rendi ao seu beijo. Meus lábios se moveram sobre os dele, hesitantes no começo. Ele rosnou baixo em seu peito e aprofundou o beijo. Ele se afastou e olhou para mim. —Este. Este é meu maldito problema. —Ele disse, passando o polegar sobre meus lábios sensíveis. 55

Ofegando, eu o empurrei para longe e cambaleei de volta na parede. — Seu bastardo. —Sussurrei, limpando meus lábios com as costas da minha mão. —Como você ousa? —Você me beijou de volta. Você quer isso. —Estou com Artur. —Murmurei em choque. —Ele não importa. —Respondeu ele, seu rosto sem expressão. —Foda-se! —Eu disse entredentes, minha respiração dura até para meus próprios ouvidos. —É isso que eu estou dizendo. Avançando rapidamente, puxei minha mão para trás e dei um soco nele. Ele xingou alto e segurou o nariz. —Mantenha suas mãos longe de mim. Juro por Deus, se você se aproximar de mim de novo, e eu vou te machucar. Eu me afastei, deixando-o para trás. Mas enquanto eu saía, meus olhos arderam com lágrimas quentes. Piscando para afastá-las, eu me recusei a deixálas cair. Como ele ousa? Depois de tudo... Depois de tanto tempo... Por que agora?

O som do meu nome me trouxe de volta ao presente. Eu pisquei em choque e olhei para Artur através do espelho. Ele me deu um olhar confuso e me virou em seus braços. —Você está bem? —Sim. Estou bem. Phoenix estava apenas me provocando e sendo irritante. Eu fiquei brava e meio que dei um soco na cara dele. Você sabe como eu sou.

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—Ele não será um problema? Posso falar com ele se você quiser. —Sugeriu Artur, me dando um rápido beijo na boca. —Não, está tudo bem. Eu tenho tudo sob controle. — Respondi balançando a cabeça. Artur ainda me deu um olhar desconfiado. Sorri docemente para ele, tentando distraí-lo. Não queria que ele pensasse em Phoenix. E eu não queria pensar em Phoenix. Ele não era importante. Não mais. Somente Artur e eu. E eu queria me perder no homem que estava parado na minha frente, olhando para mim como se eu fosse tudo para ele. Correndo minhas mãos sobre seu peito e abdômen duro, eu desci até apalpar seu pau através de suas calças pretas. Dei um aperto nele, e ele assobiou, endurecendo instantaneamente sob o meu toque provocador. —Então, onde estávamos? Acredito que você me deve um orgasmo, senhor. Ou talvez vários. —Eu provoquei. —Porra. —Ele murmurou. Agarrando-me pela cintura, ele me jogou na cama antes de cair em cima de mim. Abrindo minhas coxas, ele se acomodou entre elas. —Será uma noite longa, querida. —Oh, eu esperava que fosse. —Eu respondi timidamente, movendo minhas mãos para seus ombros.

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CAPÍTULO 07 Ayla 1 semana depois Eu estava me vestindo rapidamente quando vi Alessio saindo do banheiro com apenas uma toalha enrolada na cintura. Meus olhos seguiram seu movimento através do quarto, e eu o vi sorrir quando me pegou olhando para ele. Parando na minha frente, ele arqueou uma sobrancelha de forma maliciosa. —Gosta do que vê? Soltando um suspiro, balancei minha cabeça exasperada. Alessio podia ser irritante às vezes. Ele era calmo e completamente arrogante. Para não mencionar confiante em tudo. Mas essas eram as pequenas coisas que eu gostava nele. Ele não era instável ou rude. Alessio sabia que era sexy e usava isso sempre a seu favor. —Você sabe que sim. —Murmurei baixinho com um revirar de olhos. —Mais alto. Eu não ouvi isso. —Ele disse, aproximando-se de mim. Balançando a cabeça, eu ri. —Não. Não vou dizer mais alto. Você ouviu claramente. —Gatinha. —Alessio avisou.

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Eu tremia com o apelido que ele me deu. Eu não estava mais em negação. Adorava quando ele me chamava assim. Havia algo de primitivo, intenso e sedutor na maneira como ele dizia isso. —Alessio, vou me atrasar. Preciso ajudar Maddie e Lena no café da manhã. —Eu avisei, dando um passo para longe dele. Ele cruzou os braços, olhando para mim com expectativa. Balançando a cabeça, eu sorri. Ele era tão difícil de resistir. —Não. Dando-lhe outro olhar, me virei e fui ao banheiro para arrumar meu cabelo. Eu estava prendendo meu cabelo em um rabo de cavalo quando vi Alessio entrando, já vestido com seu terno preto. Ele caminhou em minha direção e envolveu seu braço em torno da minha cintura, me puxando para seu corpo até minhas costas estarem contra sua frente. —Você não me deu um beijo de bom dia. —Ele murmurou, olhando para mim através do espelho. Oh, eu esqueci. Ele também era muito exigente. Empurrando meu cabelo para o lado, Alessio depositou beijos molhados ao longo do meu pescoço. Ele mordeu, chupou e lambeu até eu me soltar em seus braços. Derreti em seu abraço, deixando meu corpo ceder contra o dele. Ele encontrou meu ponto sensível atrás da orelha e me provocou com a língua. Roçando os dentes na pele delicada, ele riu quando eu tremi contra seu toque provocador. Minha cabeça caiu contra seu peito quando ele arrastou seus lábios para a base do meu pescoço e beliscou meu ombro antes de chupar a pele no local. Soltei um gemido, empurrando contra seu corpo duro. — Alessio... 59

Ele cantarolou contra a minha pele, seus braços se apertando ao meu redor. —Nós não podemos... Eu vou me atrasar... —Suspirei enquanto ele continuava me provocando com sua ministração torturante. Meu corpo tremeu quando senti seus dedos na barra do meu vestido, empurrando-o lentamente para cima, descobrindo minhas coxas. Ele estava me seduzindo lentamente, e eu não tinha forças para dizer não. Seus dedos se moveram para a minha calcinha, e ele pressionou contra o tecido, logo por cima do meu núcleo aquecido. Choraminguei enquanto ele me provocava através do tecido de cetim. Eu me contorci em seu abraço, sentindo seu comprimento endurecer contra minhas costas. —Posso sentir como está molhada, e eu mal toquei em você, gatinha. —Ele rosnou contra o meu ouvido. Colocando um beijo lá, ele tirou a mão de debaixo do meu vestido, me deixando estranhamente vazia. —Você vai se atrasar, certo? —Ele murmurou. —Nós não queremos que Maddie fique zangada. Soltei um suspiro e me virei em seus braços. Depois de uma semana, eu o conhecia o suficiente para saber que Alessio estava me provocando. Ele adorava me deixar no limite, balançando, implorando por liberação. Só então ele me daria o que eu queria. —Você é tão ruim para mim. —Eu murmurei, descansando minhas mãos sobre seu peito. —Eu sei. —Ele respondeu. —Você é ruim para mim também. Rindo de sua resposta, dei um beijo em seu peito. Alessio agarrou minhas mãos e as segurou sobre seu peito. Colocando um 60

dedo embaixo do meu queixo, ele levantou minha cabeça e inclinou a dele antes de reivindicar meus lábios. O beijo começou lento e gentil, mas depois ele me beijou como se estivesse faminto. O beijo foi brutal e possessivo. Ele me beijou como se eu fosse tudo para ele. O aperto de Alessio era inflexível em volta da minha cintura quando ele me puxou para mais perto. Ele soltou minhas mãos e enrolou os dedos em volta do meu cabelo, torcendo meu rabo de cavalo firmemente em seu punho, até os nós de seus dedos estarem no meu couro cabeludo. Inclinando minha cabeça para cima, ele me beijou profundamente. Em vez de recusá-lo, relaxei em seu abraço, desfrutando de seu beijo e exigindo mais em troca. —Acho que nunca terei o suficiente de você. —Ele suspirou contra os meus lábios. —Hmm... —Eu sussurrei completamente atordoada. Seu peito vibrou com uma risada baixa, e ele lentamente me soltou. —Vejo você no café da manhã. —Dando-me um beijo rápido no nariz, ele sorriu e depois saiu. Sorrindo para as costas dele, recostei-me no balcão, sentindome feliz. Eu me virei em direção ao espelho e tirei o elástico de cabelo para refazer meu rabo de cavalo. Mas algo mais chamou minha atenção. Soltando um suspiro, me inclinei para frente, me aproximando do espelho e virando levemente meu corpo para o lado. Lá estava, na base do meu pescoço. Uma mancha vermelha de onde Alessio havia mordido e sugado a pele. Ele deixou um chupão.

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Balançando a cabeça com o meu reflexo, sorri. Homem irritante. Coloquei o elástico no balcão, decidindo deixar meu cabelo solto. Era a única maneira de esconder a marca que Alessio deixou. Com o pensamento, meu sorriso aumentou. Alessio havia feito sua reivindicação. Dando-me um último olhar no espelho, saí do banheiro e do quarto de Alessio – nosso quarto. Eu costumava usar o quarto de Alessio. Ele disse que não havia sentido em ir e vir entre os quartos quando eu já estava dormindo no dele. Em outras palavras, ele estava alegando que era o nosso quarto. Ele foi o primeiro a chamálo assim. Nosso quarto. Desci as escadas e encontrei Maddie arrumando a mesa. — Você está atrasada, senhorita. Mais uma vez. —Ela resmungou ao me ver. Dei a ela um olhar envergonhado. —Desculpe. —Maddie e eu fomos de um lado para o outro entre a cozinha e a sala de jantar, colocando a louça na mesa. —Você pode dizer à Milena e Sophia que é a vez delas de servirem hoje? Elas estão no jardim. —Maddie disse enquanto colocava o último prato. Eu balancei a cabeça em resposta, andando para trás. Mas quase tropecei quando minhas costas bateram em algo. Ou alguém. Meus olhos se arregalaram de surpresa e eu rapidamente girei. A primeira coisa que me veio à mente foi que ele era alto. O topo da minha cabeça alcançava apenas seu peito. Olhando para cima, eu congelei. 62

Olhos cinzentos me encararam fixamente. Mas naqueles olhos cinzentos havia pequenas manchas azuis. Aqueles olhos quase me lembravam os de Alessio. Dando um passo para trás, fechei os olhos e rapidamente me desculpei. —Sinto muito. Eu não quis... Eu deveria estar olhando... Desculpe. Quando não ouvi uma resposta, abri os olhos. Dei alguns passos, afastando-me dele, finalmente vendo o homem claramente pela primeira vez. Tudo o que eu pude fazer foi encará-lo com total espanto. Ele se parecia com Alessio. Quase exatamente como ele. Havia algumas rugas no canto dos olhos e lábios, a única indicação de que ele era mais velho. Ele era parente de Alessio? Meus olhos ainda estavam grudados nele quando vi outro homem dar um passo à frente até ficar ao lado do sósia de Alessio. Com os dois homens juntos, tremi sob o olhar firme e tenso. Ouvi um suspiro alto ressoar atrás de mim, mas eu estava muito concentrada no que via na minha frente. Os olhos do outro homem desviaram dos meus e eu o vi olhar nas minhas costas. Ele acenou com a cabeça. —Lena. —Isaak. —Ouvi Lena dizer. O sósia de Alessio me deu uma olhada final antes de olhar para atrás de mim também. —Lena. —Ele cumprimentou, sua voz rouca e profunda. —Lyov. —Ela arfou, choque evidente em sua voz. Lyov. O nome parecia tão familiar.

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Quando me dei conta, dei um passo para trás, minhas mãos tremendo ao meu lado. Agora eu entendia por que ele se parecia tanto com Alessio. Lyov era o pai de Alessio.

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CAPÍTULO 08

Assim que percebi quem estava na minha frente, congelei. Quando senti um braço envolver meus ombros, me encolhi de susto, mas rapidamente me acalmei quando percebi que era Alessio. Ele me deu um aperto reconfortante. Os olhos de Lyov se moveram para o braço de Alessio ao redor do meu ombro, seu olhar queimando buracos na minha pele. Seu olhar se moveu para o meu, e eu quase me encolhi com o olhar que ele me enviou. Aproximando-me ainda mais de Alessio, busquei conforto com seu toque. —Isaak. —Alessio acenou com a cabeça em direção ao outro homem. Voltando-se para o pai, ele fez a mesma coisa. —Lyov. —Sua voz era fria e sem emoção, uma maneira estranha de se dirigir ao pai. —Vamos tomar o café da manhã e depois discutir o assunto. —Continuou Alessio. Lyov andou ao meu redor sem um segundo olhar, enquanto os olhos de Isaak se voltaram para os meus novamente. Ele olhou para mim por alguns segundos arrepiantes, seu olhar penetrante e quase assustador. Havia um olhar estranho em seu rosto, mas então ele balançou a cabeça, como se estivesse limpando a mente. Sem nos lançar outro olhar, ele seguiu Lyov. Assim que eles saíram, meus ombros cederam em alívio, e eu respirei fundo, tentando acalmar meu coração acelerado. Engolindo 65

nervosamente, espiei por cima do ombro para vê-los subindo as escadas. —Você não precisa se preocupar com eles. Eles não vão te machucar. —Alessio murmurou em meus ouvidos. —Eles parecem assustadores. —Sussurrei de volta. Seu peito ondulou com uma risada baixa, ao mesmo tempo que seus braços se apertaram ao meu redor. Ele deu um beijo na minha têmpora e me virei em seus braços, encarando-o. —Mais assustador que eu? —Ele brincou. —Não. Você é pior. —Eu admiti sinceramente. Todos os homens que moravam nesta casa eram perigosos e tinham uma vibração tensa e escura ao redor, mas Alessio tinha a aura mais arrepiante. —E você está com medo? De mim? —Alessio perguntou, me puxando para mais perto. Sacudindo minha cabeça, dei um beijo no meio de seu peito. —Não. Eu sei que você não vai me machucar. —Apoiando-me na ponta dos pés, dei-lhe um beijo rápido e me afastei. —Vejo você mais tarde. Alessio me deixou ir com um aceno de cabeça. Dando a ele um sorriso, fui em direção ao jardim dos fundos. O ar fresco da manhã atingiu meu rosto de uma maneira suave e eu fechei os olhos. Como eu poderia enfrentar Lyov sem me arruinar? Meu pai matou sua esposa. Sem piedade e cruelmente. Toda vez voltava a isso... Eu era uma Abandonato. A filha do homem que destruiu uma família outrora perfeita. Eu gostaria que houvesse uma maneira de apagar meu passado. Tudo teria sido mais fácil se eu não fosse uma 66

Abandonato. A culpa de mentir para todos estava lentamente me comendo viva. Meu coração doía pela minha própria traição. Quanto tempo eu poderia manter esse segredo antes que tudo desmoronasse sob meus pés?

***

Não vi Alessio nem os outros pelo resto do dia. Eu estava tensa, como se a qualquer momento tudo fosse acabar. —Nikolay e Phoenix estavam morando nas ruas quando Alessio os encontrou. —A voz de Maddie me tirou dos meus pensamentos. Certo. Estávamos conversando sobre Nikolay. —Não conheço muito a história deles, mas Alessio conhece. Tudo o que sei é que eles são primos e que têm pais irresponsáveis. —Explicou ela. —Nikolay sempre foi calado assim? —Eu perguntei. Ela assentiu antes de dar uma mordida na maçã. —Oh, sim, definitivamente. Ele não fala muito. Colocando o último prato no armário, me virei para Maddie. —E Phoenix? Sua expressão mudou um pouco, e ela deu de ombros. —Ele é quieto, mas é muito mais fácil do que Nikolay. Quando ele era um principiante, ele ficava muito com Viktor. Então você pode dizer que ele é um segundo Viktor agora. Sempre que a conversa mudava para Phoenix, Maddie desconversava e mudava de assunto. Eu estava curiosa do porquê, mas ela não dizia nada. 67

—Eles são todos muito próximos. Viktor, Artur, Phoenix, Nikolay e Alessio. A lealdade que eles têm por Alessio é realmente cativante. —Falei, encostando-me ao balcão. —Ele confia muito neles. —Maddie concordou com um aceno de cabeça. Levantando-se do banquinho, Maddie se afastou. —Vou me trocar, depois podemos assistir alguma coisa. —Ok. Vou esperar por você no meu quarto. —Assenti para ela. Eu a observei sair da cozinha. Dando uma olhada final na cozinha limpa, saí com um sorriso, mas meus passos vacilaram no primeiro degrau da escada quando vi Isaak descendo, o telefone em sua orelha. Quando ele me viu, parou no meio do caminho, seu olhar vagando pelo meu rosto. Minha garganta ficou subitamente seca de nervosismo, e olhei para baixo rapidamente antes de continuar subindo as escadas. Quando me aproximei de onde ele estava, meu corpo ficou frio, os minúsculos pelos na minha nuca se arrepiaram de medo e pânico. Enterrei minhas mãos trêmulas na saia do meu vestido enquanto passava por Isaak, meus ombros relaxando de alívio quando passei por ele. Mas meu alívio durou pouco. Sua voz me parou, meu corpo congelando com suas palavras. —Já nos encontramos antes? Fechando meus olhos horrorizada, engoli várias vezes. Será que ele descobriu minha verdade? Respirei fundo e certifiquei-me de que meu rosto fosse uma máscara de indiferença antes de me virar para encará-lo.

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Dando um olhar vazio para Isaak, balancei a cabeça, tentando parecer convincente e inocente. —Não. Isso não seria possível. Não me lembro de conhecê-lo. —Respondi. Pelo menos isso não era mentira. A verdade era mais fácil de falar. Isaak inclinou a cabeça para o lado e deu um passo para cima. Seus olhos estudaram meu rosto antes dele assentir. —Você me lembra muito alguém que eu conheci. —Ele elaborou. Suas palavras foram uma surpresa, e eu fiquei congelada quando ele parou na minha frente. Embora eu estivesse um degrau acima dele, estávamos quase na mesma altura. Isaak levou a mão ao meu rosto, seu dedo se movendo sob os meus olhos, mas ele não me tocou. Como se percebesse o que estava fazendo, seu braço caiu. Seu rosto apresentava uma expressão resignada e quase dolorosa. —Você tem os olhos da minha Leila. —Ele murmurou tão baixo que eu quase não ouvi. Suguei um fôlego profundo com o nome. Leila. Esse era o nome da minha mãe. Como isso era possível? Mas então eu percebi que ele disse minha Leila. A pessoa não podia ser minha mãe. —Ela também tinha uma filha chamada Ayla. —Continuou ele no mesmo tom sombrio. Uma coincidência como esta era impossível. Minha mãe morreu quando eu era apenas um bebê. Isaak era o inimigo, então como ele conheceria minha mãe? Ele a chamou de sua Leila, reivindicando-a como sua mulher. —Eu sinto muito. O nome da minha mãe não é Leila. —A mentira passou pelos meus lábios sem esforço, mas o pânico brotou dentro de mim. Respirando fundo, continuei. —Ela não poderia ser eu. 69

Isaak olhou para mim por mais um segundo antes de soltar uma risada dura e sem emoção. —Claro que ela não é você. —Ele concordou sem pensar duas vezes, me surpreendendo ainda mais. Meus dedos se apertaram ao redor do tecido do meu vestido, e eu dei a ele um sorriso trêmulo. Ele desceu um degrau, colocando as mãos no bolso da calça preta. Mas suas palavras seguintes foram suficientes para fazer um arrepio percorrer minha espinha. —A outra Ayla está morta. O quê? Minha mente gritou com essa nova revelação. Olhei para ele em choque, mas ele não percebeu. Isaak já estava se virando e descendo as escadas, mas não antes que eu visse um lampejo de dor em sua expressão. Olhei para as costas de Isaak se afastando, me sentindo completamente horrorizada e espantada com suas palavras. Suas últimas palavras para mim continuaram ecoando em meus ouvidos quando entrei no meu quarto. A outra Ayla está morta. Eu não sabia nada sobre minha mãe. Ninguém nunca falou sobre ela. Era como se ela nunca tivesse existido. Mas isso era possível? Isaak conhecia minha mãe? —Não, não pode ser. —Eu sussurrei. Ele disse que a outra Ayla está morta. E eu estou viva. Foi tudo um grande malentendido. Tentei me acalmar com esse pensamento. Eu gostaria de saber mais sobre o meu passado. Sobre minha própria família. Mas não sabia de nada. Vivi minha vida como um fantasma, completamente abandonada pelo meu próprio pai e por todos os outros. Apenas Alberto era uma constante na minha vida.

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Mas ele não fez nada além de me arruinar ainda mais. Todos os dias que passava com ele, perdia um pedaço de mim mesma, até não ter mais nada. Isaak poderia ser a chave do meu passado? Minha mãe era sua Leila? Eu queria saber, mas não podia me dar ao luxo de me revelar. Minha identidade precisava ficar escondida, e a única maneira de continuar essa fachada era ser indiferente. Eu não deveria me importar. Pelo que eu sabia, era apenas uma grande coincidência. Mas as palavras de Isaak estavam gravadas profundamente em minha mente. Tudo era muito incerto. Até o meu destino.

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CAPÍTULO 09 Alessio —Quem é ela? Foi a primeira coisa que Lyov perguntou quando entrou no meu escritório. Eu sabia de quem ele estava falando, mas ignorei sua pergunta. Eu estava no topo da escada quando Lyov e Isaak apareceram. De longe, vi Ayla congelar. Meu primeiro instinto foi ir até ela. E eu fui... Sem pensar duas vezes. Mas percebi tarde demais o que havia feito. —Alessio, te fiz uma pergunta —Rosnou Lyov. —E eu escolhi ignorá-la. Agora, podemos discutir por que você está aqui? Minha cabeça levantou quando ele bateu os punhos na mesa. —Você é estúpido, porra? Depois de tudo o que aconteceu, você se deixou enfraquecer por uma garota? —Isso não é da sua conta. —Eu assobiei. Empurrando minha cadeira, levantei-me e olhei para ele. Vi Isaak e Viktor de pé na porta, ambos com os braços cruzados sobre o peito, uma expressão impassível no rosto. Tal pai, tal filho. Contornando a mesa, empurrei Lyov para longe. —Fique fora disso, porra. Estou falando sério, Lyov. Não me diga o que fazer.

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—Eu te ensinei melhor que isso. Gravei na sua mente antes de sair. Sem fraqueza. Certifique-se de não ter nenhuma fraqueza, porque essa é a primeira coisa que seus inimigos irão atrás. —Ele retrucou, falando na minha cara. Agarrando seu colarinho, eu o empurrei antes de gritar: —Eu sei! Lyov riu da minha resposta. —Você sabe? —Ele zombou de mim, sua risada dura retumbando nas paredes do meu escritório e nos meus ouvidos. —Então explique aquele olhar de quando você olhou para ela. Fiz uma pausa na pergunta dele, sentindo a raiva percorrer meu corpo. Ele estava me pressionando, me forçando a pensar no que eu tentava enterrar profundamente dentro de mim. —Você sabe muito bem qual será o resultado disso, mas ainda se deixa enfraquecer. —Continuou ele no mesmo tom agitado, o rosto completamente vermelho de raiva. Meus punhos cerraram com suas palavras. Ele estava errado. A história não se repetiria. Eu não deixaria. —Eu entreguei esse império, essa família para você porque pensei que você não cometeria o mesmo erro que eu cometi. — Disse Lyov, com o peito cheio de fúria. —Eu não sou você! —Eu rugi, cambaleando na direção dele com raiva. Meu punho acertou seu rosto com um barulho alto, e ele caiu para trás, contra a mesa de centro. Pelo canto do olho, vi Isaak se movendo em nossa direção, mas Lyov levantou a mão para detê-lo. Ele se levantou e limpou os lábios feridos e ensanguentados com as mangas.

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—Foi o seu erro. A culpa é sua. Não minha. —Eu assobiei. — Você amava a mamãe. Você a trouxe a este mundo fodido, e você fez com que ela fosse morta. Seus olhos ficaram selvagens de raiva, e ele veio em minha direção com força total. Seus dedos agarraram minha camisa e me empurraram contra a parede atrás de mim. —Você está certo. O erro foi meu e você está cometendo o mesmo erro, porra. Soltando-me, ele deu um passo afastando-se. —Depois de tudo, pensei que você saberia melhor. Você vai fazer com que ela morra. Então vai se perder. E no final, vai afundar toda essa família com você. Foi o que aconteceu no passado. Lyov quase arruinou esse império, e fui eu quem o salvou. Mas eu não cometeria o mesmo erro que ele. —Pare de me comparar com você! Nós dois nos movemos um em direção ao outro ao mesmo tempo. Não tive chance de me afastar antes que ele desse um soco no meu estômago. Eu rapidamente revidei, dando um soco no ombro dele. Eu carregava uma raiva que não tinha limites. Lyov havia rompido o último fio do meu controle. Nós rolamos no chão, ambos perdidos em nossos anos de fúria retida. Seus dedos envolveram meu pescoço, apertando. Seu aperto afrouxou quando eu dei um soco em seu rosto. Senti alguém me puxando para trás, mas lutei contra. —Alessio, solte-o. Droga, Alessio. Solte! —Viktor disse, me afastando.

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Isaak ajudou Lyov a se levantar e o segurou quando ele tentou vir até mim novamente. Viktor estava me segurando também. Nossa respiração pesada encheu a sala, o ar ao nosso redor gelado e tenso. —Você está certo. Você me ensinou melhor do que isso. Não vou cometer o mesmo erro. —Rosnei, olhando fixamente para Lyov. —Você ouviu isso, Isaak? Ele não vai cometer o maldito do mesmo erro. —Lyov riu sem desviar o olhar de mim. —Você é um tolo e completamente iludido. O que você não percebe é que já cometeu o mesmo erro. Ela já é sua fraqueza. Pare de viver em negação. Eu só conseguia olhar para ele. Com minha expressão, ele se afastou de Isaak e seguiu em frente. —Volte a si antes que seja tarde demais. Afaste-se dela. Construa essa barreira em volta do seu coração novamente. Não faça a mesma coisa que eu fiz. Com um suspiro desanimado, ele balançou a cabeça. —Eu não quero que você passe pela mesma coisa, Alessio. —Ele sussurrou. —Estou salvando você de anos de sofrimento. Ele deu um passo para longe de mim e se virou, indo embora sem um segundo olhar. Isaak seguiu atrás dele sem palavras. Abrindo a porta, ele parou na porta. Suas próximas palavras foram um golpe no meu peito. Fechei os olhos e me virei, ficando de costas para ele. —Anjos não pertencem ao nosso mundo. Com isso como suas últimas palavras para mim, ouvi a porta se fechar, e então foi apenas silêncio. Um silêncio insuportável e doloroso. De repente me senti vazio, meu coração doendo ao pensar em Ayla. 75

—Alessio... —Viktor começou, mas eu rapidamente o interrompi. —Saia. Apenas... saia. Ele suspirou, mas saiu sem dizer mais nada. Andei em volta da mesa e caí na minha cadeira, olhando para o teto. As palavras de Lyov ecoaram em meus ouvidos. Eu queria dizer que ele estava errado, mas ele não estava. Eu estava vivendo em negação. Não queria pensar em Ayla como minha fraqueza, mas ela era. O medo de perdê-la foi instalado dentro de mim... Mas eu estava impotente. Em vez de afastá-la, eu a segurava cada dia mais perto. Ayla consumia cada fibra do meu ser. Ayla era tudo que eu não podia ter, mas tudo que eu precisava. Ela era minha luz. Eu a deixei entrar no meu coração, onde me banhou com seu doce veneno. Eu estava perdido nela, esquecendo que não podia sentir o que estava sentindo. Era tudo uma felicidade temporária, mas agora a realidade tinha um sabor azedo. Ayla era meu anjo, mas eu não podia tê-la.

*** Eu não sei quanto tempo fiquei assim. Talvez horas, mas não consegui me mover. Eventualmente, uma batida soou na minha porta e eu abri meus olhos. —Entre. —Eu pedi. A porta se abriu para revelar Sasha, uma das empregadas, segurando uma bandeja.

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—Sr. Ivanshov, Viktor me disse para trazer o seu jantar para o seu escritório. —Ela disse. Jantar? Olhando para o relógio na parede, vi que já passava das sete. —Coloque-o na mesa de centro. —Respondi antes de fechar os olhos novamente. Eu esperava ouvir a porta fechar, mas quando nada disso aconteceu, meus olhos se abriram. Sasha estava de pé em frente à minha mesa. Seus olhos percorreram meu peito, e ela mordeu o lábio inferior. —Alessio. — Ela começou, sua voz ficando mais sensual e suave. —Você parece realmente estressado. Posso ajudar de alguma maneira? Com um suspiro, fechei os olhos novamente. Eu costumava transar com ela. Um passatempo quando eu precisava da distração. Mas desde que Ayla entrou na minha vida, nem uma vez pensei em voltar para Sasha. Ayla tinha minha atenção absoluta. Senti algo na minha virilha, e minha mão rapidamente serpenteou ao redor dos dedos errantes de Sasha, parando seu movimento. —Dê o fora daqui, porra. —Eu repreendi, empurrando sua mão. —Eu posso fazer você se sentir bem. Como sempre. —Ela sussurrou no meu ouvido. —Não. Saia. Eu a ouvi suspirar frustrada enquanto se afastava. Mas as palavras de Lyov ecoaram em meus ouvidos, e meus punhos cerraram de raiva enquanto eu lutava pelo controle. Volte a si antes que seja tarde demais. Afaste-se dela. Construa essa barreira em volta do seu coração novamente. Não faça a mesma coisa que eu fiz. Anjos não pertencem ao nosso mundo. 77

Meus olhos se abriram e empurrei minha cadeira para trás. Levantando-me, rapidamente agarrei a mão de Sasha e a puxei em minha direção. Coloquei a mão nas costas dela e empurrei sua frente contra a mesa, dobrando-a para frente para que sua bunda estivesse empinada para trás. Eu a ouvi ofegar de surpresa, mas então ela gemeu, movendo sua bunda contra o meu pau. —Foda-me, Alessio. Peguei um punhado de seus cabelos e puxei a cabeça para trás. —Não me diga o que fazer. —Eu assobiei em seu ouvido. —Hmm, ok. Faça o que você quiser. —Ela murmurou com voz rouca. Soltando seu cabelo, eu movi seu vestido para cima até que sua calcinha de renda vermelha estivesse visível. Anjos não pertencem ao nosso mundo. Apertei meus olhos contra as palavras, meus dedos afundando nos quadris de Sasha. Movendo cegamente minha mão para sua calcinha, eu a arranquei e a deixei cair no chão. Eu a soltei para desabotoar minha calça e puxei meu pau para fora. Anjos não pertencem ao nosso mundo. Eu chutei suas pernas para afastá-las, meu corpo pressionado contra o dela. Sem tocá-la, eu já sabia que ela estava molhada e pronta para mim. A ponta do pau duro roçou contra sua parte interna da coxa. Sasha soltou um gemido e se moveu para mais perto de mim. Ao som de seu gemido, meus olhos se abriram. Porra. Não. Que porra eu estou fazendo?

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Afastando-me do corpo dela, eu cambaleei para trás, completamente horrorizado com o que estava prestes a fazer. Eu não podia fazer isso. Não com a minha Ayla. Ela confiou em mim. Ela me deu a si mesma. Eu não poderia traí-la desta maneira. A vergonha tomou meu corpo e eu inspirei dolorosamente. —Saia. Saia daqui agora. —Rosnei, fechando minhas calças novamente. —Mas... —Ela olhou por cima dos ombros, seu rosto uma máscara de confusão. Nesse momento, a porta se abriu e vi Viktor entrando. Ele pegou sua arma e apontou para Sasha. —Saia antes que eu exploda sua cabeça. —Ele avisou. Sasha ofegou em choque e medo antes de rapidamente se abaixar e agarrar sua calcinha rasgada. Ela saiu correndo da sala, fechando a porta atrás de si com um estrondo. —Sério isso? —Viktor rugiu para mim, seus olhos brilhando com raiva e nojo. —Não. —Eu levantei uma mão, mas ele falou mesmo assim. —Você ia transar com ela? —Não! —Eu respondi rapidamente. —Eu parei. Balançando a cabeça, ele caminhou em minha direção. — Você realmente vai deixar as palavras do seu pai tomarem conta de sua cabeça? Vai deixá-lo controlar sua vida? —Não. —Eu rosnei. Viktor balançou a cabeça. —O que Ayla significa para você? —Não era para ser assim, Viktor. Nada disso deveria ter acontecido. Meu plano era chegar perto de Ayla para fazê-la revelar sua verdade. Tínhamos que saber se ela era uma traidora. Esse era o 79

maldito plano. —Eu disse, correndo os dedos pelos meus cabelos em frustração. Esse era o plano desde o começo. Aproximar-me de Ayla, ganhar sua confiança e fazê-la revelar sua verdade. Mas não acabou assim. —Eu não deveria sentir nada. —Terminei desanimado. —Eu sei. —Ele concordou suavemente. —Mas esse não é mais o plano. Esse plano terminou no mesmo dia em que foi elaborado. Terminou no momento em que você deu seu paletó a ela e sentiu as lágrimas dela como se fossem suas. —Ele tem razão. Ayla será minha ruína. —Sussurrei, virando-me para encarar a janela. Estava escuro lá fora, tão parecido com a escuridão dentro de mim. Fechei os olhos e encostei a testa no vidro. —Não posso perdê-la, Viktor. Ela é tudo. —Se algo acontecer com ela por minha causa... —Comecei, mas não terminei a frase. Eu não conseguia dizer as palavras. Eu não conseguia me imaginar sem Ayla. Ela era uma parte de mim. —Concordo. Lyov estava certo. Ela é sua fraqueza. — Respondeu Viktor friamente. Eu respirei fundo, meu peito apertando de dor. —Mas ela também é sua força. —Ele terminou. Meu coração disparou com suas palavras, e abri meus olhos, virando-me para encará-lo. Ele assentiu com um suspiro, seus olhos ficando um pouco mais suaves. —Você mudou muito desde que ela entrou em nossas vidas. Ayla é sua força. É ela quem vai impedir você de tropeçar na

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escuridão toda vez. Cabe a você escolher se vai deixá-la ser sua fraqueza ou sua força. Afundando na minha cadeira, coloquei minha cabeça em minhas mãos. Como eu ia proteger Ayla? —Não a machuque, Alessio. Depois de tudo o que ela passou, ela não merece ser machucada por você. —Eu não quero, Viktor. Pela primeira vez na minha vida, não sei o que fazer. —Falei meus pensamentos angustiantes, as palavras com gosto amargo nos meus lábios. —Só você pode responder isso. Mas lembre-se de uma coisa. —Viktor fez uma pausa e eu olhei para cima, esperando ele continuar. —Ela é seu anjo. Com isso, ele me deu um aceno de cabeça e saiu da sala, fechando a porta atrás de si. Meu anjo. Esfregando as mãos na minha nuca, tentei aliviar os músculos tensos lá. Passei horas pensando no que Lyov e Viktor disseram. Eu andei de um lado para o outro, frustração crescendo dentro de mim a cada minuto que passava. Quando chequei o relógio, eram quase dez horas. Ayla estaria me esperando na sala de piano. Fechando os olhos, suspirei. O rosto sorridente de Ayla brilhou atrás das minhas pálpebras fechadas. Depois de muitas horas frustrantes, cheguei a apenas uma conclusão. Eu precisava de Ayla. Lembrando as palavras de meu pai de vinte anos atrás, eu me levantei. 81

Um anjo é a pessoa sem quem você não consegue se ver vivendo. Nunca a deixe ir. Porque se você a perder, ficará para sempre incompleto. Ele estava certo. Eu ficaria incompleto sem Ayla. Pensei em sua voz doce, toque suave e beijos, e em seus olhos amorosos. Ela era minha. Ao sair do meu escritório, rezei para que Ayla pudesse me perdoar. Eu tinha que contar a ela a verdade sobre Sasha. Eu não a fodi, mas ainda assim a toquei. Eu não ia mentir. Ayla não merecia nada menos. Também rezei para que ela me aceitasse. Eu não ia mudar. Eu ainda era o chefe e seria até meu último suspiro. Rezei para que ela estivesse pronta para essa vida fodida. Parei em frente à sala do piano e respirei fundo, tentando me acalmar. Tudo que eu queria era segurá-la em meus braços e esquecer tudo. Abrindo a porta, parei quando vi a sala vazia e escura. Que porra é essa? Rapidamente saindo da sala de piano, segui até o nosso quarto. Abri a porta e vi que ele estava apenas suavemente iluminado com a lâmpada na mesa de cabeceira. Ayla estava sentada na beira da cama, encarando a parede. O brilho suave dançava sobre seu lindo rosto enquanto ela estava sentada estoicamente. —Ayla? —Eu chamei, entrando mais no quarto e fechando a porta atrás de mim. —Frio. Cruel. Sem coração. Arrogante. Assassino. Implacável. Alessio Ivanshov não pode amar ou ser amado. Essas são todas as palavras pelas quais você é conhecido, certo? 82

As palavras de Ayla me impediram de seguir, meu coração palpitando com seu tom sombrio e distante. Ela soltou uma pequena risada, balançando a cabeça. —Ayla, do que você está falando? —Perguntei, entrando em pânico. Não gostei do tom dela ou do jeito como ela evitou olhar para mim. Ela não parecia minha Ayla. —Eu queria acreditar que você era diferente. —Ela sussurrou, desta vez sua voz falhando sobre as palavras. Eu me arrastei para frente, querendo desesperadamente envolvê-la em meus braços e apagar toda a sua tristeza. A cabeça de Ayla virou em minha direção e eu inspirei dolorosamente com a expressão dela. Seus olhos estavam cheios de lágrimas, o rosto vermelho e cheio de dor e tristeza. Ela olhou para mim como se eu a tivesse traído. O olhar em seus olhos foi suficiente para me dizer o que eu precisava saber. Não. Não. Não. Entrei em pânico. —Pensei que você era diferente. —Ela enxugou as lágrimas. —Mas eu estava errada.

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CAPÍTULO 10 Ayla —Ayla, do que você está falando? —Perguntou Alessio. Ele estava em pânico, assustado com o que minhas palavras significavam, enquanto eu estava desmoronando por dentro. —Eu queria acreditar que você era diferente. —Sussurrei com voz rouca, odiando como minha voz falhou por causa dessas palavras. Eu odiava quanto poder Alessio tinha sobre mim. Ele era minha paz, minha força, mas ele também era minha fraqueza. Ele tinha o poder de me arruinar. E foi exatamente o que ele fez. Depois de reparar meu coração, depois de me dar esperança, ele tirou tudo, me deixando vazia e destruída novamente. —Eu pensei que você era diferente. —Continuei com a mesma voz baixa. Era verdade que eu sabia que tipo de homem ele era, mas comigo, ele era diferente. O Alessio que eu conhecia era doce e gentil. Lá fora, ele era um assassino e sem coração, mas comigo ele era tudo que eu precisava. Mas era tudo mentira. Enxugando minhas lágrimas, finalmente me virei para Alessio. Mesmo na escuridão eu podia ver seu corpo tenso e ombros rígidos. Seu rosto estava torcido de pânico e pavor. 84

—Mas eu estava errada. —Engasguei com as palavras. Eu não precisava dizer mais nada. A compreensão brilhou em seus olhos azuis. Ele entendeu que eu sabia a verdade. —Por quê? —Eu perguntei, minha voz caindo em um mero sussurro. Ele deu um passo à frente, mas parou quando balancei minha cabeça. Uma súbita onda de raiva percorreu meu corpo, me levando a levantar rapidamente e encará-lo. —Ayla... —Ele ofegou, sua voz trêmula. Eu não sabia o motivo, mas sua voz me deixou mais irritada. Me fez lembrar de quando meu mundo desmoronou ao meu redor, me esmagando sem piedade.

—Onde você vai? —Maddie perguntou enquanto eu subia as escadas. Sem parar, eu disse por cima do ombro: —Vou ver Alessio. —Desde a manhã, depois que Lyov e Isaak apareceram, eu não tinha visto Alessio. Sua ausência havia deixado um buraco dolorido no meu peito, e eu só queria estar perto dele novamente, mesmo que fosse apenas por alguns minutos. Sorrindo, fui para o escritório dele. Eu estava a poucos metros de distância quando vi a porta se abrindo e Sasha saindo correndo, com o rosto em pânico. Minhas sobrancelhas se ergueram com uma careta ao vê-la. —O que há de errado? —Eu perguntei, me aproximando. Ela ofegou ao me ver, suas mãos subindo ao peito. Meus olhos se arregalaram quando vi o que ela estava segurando. Uma calcinha vermelha rasgada. Meus olhos se voltaram para os dela, e ela desviou o olhar com culpa, mordendo seus lábios nervosamente. Não. Por favor.

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—Por que você está segurando sua calcinha? —Eu perguntei secamente depois de um momento de silêncio. Antes que ela pudesse responder, a voz de Viktor, em alto e bom som, veio do escritório de Alessio. Confusa, olhei de volta para Sasha, mas ela evitou o contato visual comigo. Sem responder à minha pergunta, ela deu a volta em mim. Fiquei pasma, enquanto estava congelada no meu lugar. Minhas mãos estavam trêmulas e tremi um pouco enquanto Viktor continuava gritando. Quando ouvi a voz de Alessio, finalmente saí do meu transe e segui em frente até ficar na frente da porta. Eu não sabia o que esperar, minha mente ainda perdida no que tinha acabado de ver. Mas então meu coração parou, meu peito se contraindo dolorosamente quando ouvi suas palavras... As palavras de Alessio. Minhas pernas enfraqueceram e meu estômago torceu. De repente, senti náuseas. —Meu plano era chegar perto de Ayla para fazê-la revelar sua verdade. Tínhamos que saber se ela era uma traidora. Esse era o maldito plano. Engoli um soluço quando entendi o significado. Eles ainda pensavam que eu era uma espiã. Era tudo uma mentira. Eles nunca acreditaram em mim. Tendo ouvido o suficiente, eu me afastei da porta. Alessio e eu... O que ele disse, suas doces palavras, seus beijos, suas carícias gentis, era tudo mentira? Foi apenas um truque para se aproximar de mim? Fiquei paralisada só de pensar nisso. Trazendo uma mão trêmula para a minha boca, tentei controlar minha respiração. Mas parecia que meu mundo tinha acabado ao meu redor. Eu podia me sentir descendo em espiral em direção à escuridão novamente. Ouvi gritos, mas nenhuma das palavras fazia sentido para mim. Só conseguia pensar no que ouvi. As mesmas palavras se repetiam na minha cabeça. Meus ouvidos estavam zumbindo por sua traição dolorosa. 86

Olhando uma última vez para a porta, me virei e corri cegamente para o meu quarto. Eu precisava escapar dessa dura realidade. Não queria acreditar. Alessio não. Não o meu Alessio. A porta se fechou atrás de mim e afundei no chão, segurando os joelhos no peito enquanto soluçava. Ele não faria isso. Ele se importava... Vi nos olhos dele. Mas Alessio Ivanshov era conhecido por ser enganoso. Se ele pensasse que eu era uma traidora, ele não pararia em nada para encontrar a verdade. Mesmo que isso significasse me destruir até que eu não tivesse mais nada para dar.

Quando vi Alessio dar outro passo em minha direção, me libertei das lembranças dolorosas e dei um passo para trás. Seus olhos brilhavam de dor, e ele estendeu a mão como se quisesse me confortar. —O que você fez com Sasha? —Eu perguntei, minha voz quase sem emoção, escondendo a verdadeira turbulência dentro de mim. O rosto de Alessio se contorceu de culpa, e ele engoliu em seco. Ele desviou os olhos por alguns segundos, suas mãos se apertando em punhos. Com a reação dele, senti meu já frágil coração se partir ainda mais, aprofundando os buracos nele. Ele não precisava dizer nada. Eu já tinha recebido minha resposta. —Ayla, não é o que você pensa... —Ele começou, mas eu rapidamente o interrompi. —Você tocou nela? —Ele parou na minha pergunta, seus olhos se fechando firmemente por um segundo. Alessio andou na minha frente, seus dedos indo para os cabelos em frustração. 87

—Você tocou nela, Alessio? —Perguntei novamente. —Ayla... —Ele rosnou. —Você tocou? —Desta vez minha voz estava mais alta. Virando-se para mim, ele olhou fixamente. —Droga, Ayla. Não é o que você pensa. Soltei uma risada rouca, recostada na parede. —Então você tocou. Alessio perdeu o brilho no olhar e balançou a cabeça. Ele se moveu em minha direção, mas eu levantei a mão, parando-o novamente. —Não se aproxime de mim. —Eu ouvi você conversando com Viktor. —Admiti, minha voz estranhamente suave. Alessio se encolheu, todo o seu corpo ficando mais tenso. —É verdade? Você acha que eu sou uma traidora? No fundo, eu rezei para que ele dissesse não e que tudo fosse um mal-entendido. —Eu não sou a espiã. —Continuei suavemente, esperando desesperadamente que ele acreditasse em mim. Vi Alessio engolir visivelmente com força, e ele balançou a cabeça levemente. —Eu sei, Ayla. Ele aceitou meu apelo, mas eu ainda não conseguia esquecer as palavras. Ainda doía. Eu ainda sentia como se estivesse me despedaçando. Sob as camadas de mágoa, a raiva profunda estava pungente. Nunca tinha me sentido assim. Nem mesmo quando era torturada. Eu detestava que Alessio pudesse me fazer sentir assim. Meu corpo vibrou com a força da minha raiva, e enquanto olhava para o rosto culpado de Alessio, eu desmoronei. Eu estava 88

firmemente agarrada à corda, desesperada para não perder o controle, mas, no momento, eu o perdi. Avançando, eu bati no corpo de Alessio, segurando-o firmemente pelo colarinho. —Por quê? Por que você fez isso? Foi tudo uma mentira? Diga-me! Seus braços envolveram minha cintura, mas eu o empurrei com força. Ele tropeçou em seus pés antes de se endireitar rapidamente, o rosto uma expressão de completa perplexidade. —Você quer saber a verdade, certo? Bem. Eu vou te dizer. —Eu gritei, meu peito arfando com o esforço. Minha respiração pesada encheu o quarto, e Alessio parecia estar com dor. —Eu acredito em você... —Ele começou a dizer, mas eu falei sobre ele. —Eu tinha dezesseis anos quando fui estuprada. —A boca de Alessio se fechou, sua mandíbula tensionando enquanto seus olhos brilhavam com uma raiva repentina. Mas continuei, avançando em minha própria raiva. —O homem com quem eu deveria me casar me estuprou no meu décimo sexto aniversário, e ele continuou fazendo isso todas as noites durante sete anos. —Eu me engasguei com as últimas palavras. Lágrimas cegaram minha visão enquanto as lembranças me assombravam. Elas surgiram na frente dos meus olhos, e meu corpo tremia como se eu estivesse vivenciando todas as noites de tortura novamente. —Meu pai nunca fez nada. Ele nunca prestou atenção em mim. Eu estava sozinha, nunca tive permissão para sair de casa. E então ele me entregou a ele. Um homem cruel que me destruiu. 89

Ao revelar minha verdade, vi o rosto de Alessio mudar. Muita fúria. Eu podia sentir de onde estava. O ar ao nosso redor ficou denso à medida que minhas palavras ecoavam ao nosso redor. —Quem machucou você? —Ele rosnou, seu corpo se empurrando para mim. Sua voz era mortal, suas palavras eram tão afiadas que parecia um chicote cortando o ar. E seus olhos... O olhar que ele me deu era completamente feroz. Eu podia ver o monstro lá. Aquele que todos temiam. Senti meu peito começar a queimar com a pressão aumentando lá. Não sabia como me sentir. Ele parecia sentir minha dor... Mas ele também era a causa da minha dor. —Ele costumava me bater. Ele me acorrentava à nossa cama e depois me chicoteava se eu fizesse algo errado ou o que ele pensava ser errado. Seu rosto já era uma máscara de raiva, mas ficou ainda mais sinistro quando eu admiti outra verdade. Prendi a respiração quando o vi apertando e depois abrindo os punhos. Alessio fez isso algumas vezes, e cada vez que ele cerrava o punho, meu coração se apertava. —Eu estava fugindo de casa quando te encontrei e me escondi no seu carro. Foi assim que nos conhecemos. Eu não sou uma espiã, Alessio. Sou apenas alguém fugindo de seu pesadelo, buscando desesperadamente a paz. —Murmurei enquanto meus ombros cediam, a raiva deixando meu corpo até me sentir vazia. Minha mente estava perdida em algum lugar que eu não queria ir. —Eu não sou sua inimiga. Eu sou apenas outra vítima. — Sussurrei, esperando que ele pudesse ouvir a verdade em minhas palavras. Eu poderia ser uma Abandonato, mas não era inimiga de Alessio. Meu verdadeiro inimigo era minha própria família. 90

O rosto de Alessio era ameaçador quando ele se moveu para o meu espaço. Mesmo quando estendi minhas mãos para afastá-lo, ele não parou. Ele continuou se aproximando até estar na minha frente, meus ombros firmemente presos em suas mãos. Eu estremeci quando seus dedos afundaram na minha pele. —Quem? —Uma palavra simples, mas que dizia muito. A energia crua e brutal que saia de Alessio nos envolveu. Ele exalava perigo, seus olhos cheios de intenção assassina. Quando eu não respondi, ele me sacudiu, seus lindos olhos azuis escurecendo ainda mais. —Quem diabos te machucou, Ayla? —Alessio rugiu. —Você! —Eu gritei, empurrando-o para longe de mim. Uma súbita onda de raiva percorreu meu corpo novamente. —Você me machucou. Você está me machucando. Ele se encolheu com minhas palavras, seu corpo enrijecendo ferozmente. A dor tomou seu rosto, suas sobrancelhas se unindo tensamente. —Eu nunca tive esperanças no meu pai ou no homem a quem ele me entregou. Fiquei dormente em suas mãos, aprendendo a bloquear a dor. Mas você. —Apontei para Alessio. —Você me machucou porque eu confiei em você. Eu te dei tudo. Deixei você me tocar... —Parei com as últimas palavras. Eu te dei meu coração. Um profundo arrependimento estava estampado em seu rosto enquanto ele permanecia enraizado no local. —Ayla, por favor, deixe-me... —Quando fugi, não esperava encontrar a paz. Eu nem sabia o que queria até encontrar você. Você me trouxe paz. Eu estava desfrutando dessa luz até você tirá-la. —Eu despejei, minha voz subindo. 91

Senti algo molhado nas bochechas e levantei a mão. Eu nem percebi que estava chorando. Alessio fez um som de agonia ao ver minhas lágrimas, e avançou novamente, envolvendo os braços ao meu redor antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa. Minha cabeça estava bem sobre o seu coração acelerado. Seus braços se apertaram ao meu redor com minhas próximas palavras. —Você foi meu salvador. Meu próprio anjo da guarda. Com a palavra anjo, eu o senti respirar fundo, seus braços incrivelmente aumentando o aperto ao meu redor. —Mas parece que meu coração está se desfazendo em pedaços agora, Alessio. Afastando-se de mim, ele apalpou minhas bochechas. — Sinto muito, Ayla. Sinto muito. Apenas deixe-me explicar. —Ele implorou. —O que você quer explicar, Alessio? Eu ouvi em alto e bom som. A verdade estava ali. Sasha saiu do seu escritório. Você a tocou. E então admitiu ter se aproximado de mim porque pensou que eu era uma traidora. O que resta a dizer? —Eu murmurei baixinho, perdendo toda a batalha em mim. —Você não... —Eu preciso que você saia. Nós dois falamos ao mesmo tempo, nossas palavras se chocando. Alessio se encolheu e meu coração se apertou. —Não. Não vou embora até que você me escute. —Ele disse com firmeza. —Eu não posso fazer isso agora. Apenas saia, Alessio. —Não.

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—Saia! —Eu gritei, empurrando-o para longe. Deus, por que ele não conseguia entender? Se ele não fosse embora, eu iria desmoronar bem ali na frente dele. Meus pensamentos e sentimentos estavam tumultuados. Vi Viktor aparecer na porta. Ele entrou e parou atrás de Alessio. —Alessio, vamos lá. Dê algum tempo a ela. —Ele disse suavemente. —Não. Fique fora disso, Viktor. —Ele retrucou, sua voz dura. Seu olhar ainda estava colado no meu, e eu desviei o olhar. —Eu quero que você saia. —Esbravejei. Ele balançou a cabeça teimosamente. —Eu não vou embora até que você me ouça. —Eu não quero ouvir você! Apenas saia. —Retruquei. Ele se moveu em minha direção, mas Viktor o segurou. —Vamos, Alessio. Afastando-me deles, encarei a parede, desligando-me deles. Eu os ouvi discutindo, e a porta se fechou após alguns minutos. Então, completo e absoluto silêncio. Eu fiquei na escuridão enquanto o silêncio me cercava. As lágrimas escorreram pelas minhas bochechas, e não fiz nenhum esforço para afastá-las. Com um suspiro resignado, deitei em nossa cama e puxei as cobertas sobre mim. A cama parecia grande e vazia sem Alessio. Era a primeira vez que eu estaria dormindo sem ele desde que ele me trouxe para o seu quarto. Minhas lágrimas encharcaram seu travesseiro enquanto eu ficava deitada no seu lado da cama. O cheiro dele me envolveu, e meu coração doeu, por saber que ele não estava aqui comigo. Eu o afastei, mas agora sentia falta da presença dele. 93

Eu disse a ele a verdade sobre o meu passado. Parte dela. Ainda deixei de fora a parte que eu era uma Abandonato. Durante a nossa discussão, a verdade estava na ponta da minha língua. Eu gostaria de poder ter dito a ele, mas o medo de sua reação me impediu. A ironia dessa situação era quase risível. Eu o acusei de me trair. Mas eu o estava traindo também. Ao esconder essa verdade dele, estava traindo sua confiança. Eu estava com raiva de Alessio, mas um pouco dessa raiva era direcionada a mim também. E foi exatamente por isso que eu precisei que ele fosse embora. Com Alessio, eu era fraca. Minhas emoções eram incontroláveis quando ele estava por perto. Fechando meus olhos que ardiam, eu abracei seu travesseiro no meu peito. Rezei para que o sono viesse rápido. Mas isso não aconteceu. Meu peito ainda estava insuportavelmente apertado.

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CAPÍTULO 11

A manhã seguinte estava cheia de tensão e ansiedade. Meu estômago revirava perigosamente, e meu coração estava constantemente doendo. Saindo do nosso quarto, vi Viktor virando o corredor. Seus passos vacilaram ao me ver. Dando-me um aceno de cabeça, ele se aproximou. —Você deveria ter deixado Alessio explicar. —Afirmou ele secamente, sem qualquer cumprimento. —Ouvi o que precisava saber. Nada do que ele dissesse poderia mudar a verdade. —Respondi, segurando seus olhos frios, e eles queimaram nos meus. Ele balançou a cabeça. —E é aí que você está errada. Deixe-o explicar e você entenderá. —Ele me machucou. —Eu sussurrei. Os olhos de Viktor se suavizaram e ele deu um passo se aproximando, até que estivéssemos apenas alguns centímetros de distância. —Ele é um homem confuso, mas se importa com você profundamente. —Se ele se importasse, não teria tocado em Sasha. —Minha voz era apenas um sussurro quando as palavras de Viktor se registraram em minha mente. Eu queria tanto acreditar nele. Alessio se importava. Eu sabia disso. Vi nos olhos dele. Mas sua traição ainda deixou um buraco em mim.

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A mão de Viktor veio até meu rosto e ele pressionou o polegar levemente sobre minha bochecha, enxugando a única gota de lágrima que havia escapado. Olhei para cima e o vi olhando brevemente por cima da minha cabeça. Algo brilhou em seus olhos. Foi tão rápido que não tive chance de compreender. E então tudo aconteceu rápido. Num minuto, Viktor estava parado na minha frente, me confortando de alguma forma, e então seus lábios estavam sobre os meus. Eu pisquei rapidamente e soltei um suspiro, minhas mãos indo para o peito dele. Ele não me beijou. Seus lábios estavam ali, pressionando os meus gentilmente e praticamente leves como pluma. Quando ouvi um rugido atrás de mim, eu me encolhi e rapidamente me afastei, Viktor me liberando sem qualquer dificuldade. Foi quase um borrão. Viktor foi arrancado e bateu contra a parede; Alessio o segurou firmemente contra a parede enquanto dava alguns socos furiosos em seu rosto. —Oh meu Deus. —Eu gemi, minhas mãos indo para minha boca em choque. —Pare! —Eu gritei. O rosto de Alessio estava tomado de intenções assassinas. Viktor deu um soco de volta, mas isso apenas o irritou. —Se você tocar nela de novo, eu vou te matar. —Ele gritou no rosto de Viktor. Correndo para eles, tentei tirar Alessio de Viktor. Mas ele era impossível de mover. Segurando seu braço, puxei com força, finalmente trazendo sua atenção para mim. Alessio olhou para cima, seu olhar intenso e feroz. 96

—Pare! Deixe-o ir, Alessio. Senti seus músculos tensos relaxarem sob meus dedos. Foi quando notei minha mão em suas costas, e sem pensar, eu estava esfregando seus ombros, quase suavemente. Removendo rapidamente minha mão, dei um passo para trás, e ele se afastou de Viktor. Alessio tentou me abraçar, mas eu o contornei, me afastando de seu toque. —O que há de errado com você? —Sem esperar por sua resposta, me virei para Viktor. —E você? Nunca mais faça isso. —Olhando para Alessio, continuei. —Não desça ao nível dele. Você é melhor que isso. —Falei, minhas palavras referindo-se a Viktor. Eu assisti Alessio se encolher com as minhas palavras, a mágoa brilhando em seus olhos. Eu queria que ele se magoasse. Queria que ele sentisse o que eu estava sentindo. Dando uma olhada final ao homem que segurava meu coração na palma de suas mãos, eu me afastei. Eu o ouvi chamar meu nome, mas continuei andando. Eu precisava de Maddie. Chegando na cozinha, eu a encontrei vazia. Ainda era de manhã cedo. Ela provavelmente nem estava acordada ainda. Subi as escadas, onde sabia que era o quarto dela. Ouvi uma resposta sonolenta e, alguns segundos depois, a porta se abriu para revelar uma Maddie meio sonolenta. —Ayla? — Ela questionou. —Está tudo bem? Eu ouvi gritos. —Não. Nada está bem. —Respondi, entrando e fechando a porta atrás de mim. Seus olhos se arregalaram e ela rapidamente agarrou minha mão, me puxando para a cama.

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—O que há de errado? Alessio fez alguma coisa? —Ela perguntou, sua voz subindo com alarme. Respirando fundo, deixei tudo sair. Seus olhos brilhavam de raiva com minhas palavras, e finalmente ela soltou um suspiro cansado quando eu terminei. Ela colocou uma mão reconfortante sobre o meu joelho. —Isso é uma bagunça. —Eu concordei. —Por que você não o deixou explicar? —Ela questionou. —Eu não sei, Maddie. Eu estava tão brava e magoada. Se eu o tivesse deixado explicar, provavelmente não teria acreditado em nada que ele teria dito. —Murmurei, olhando para o meu colo. —Não acredito que ele faria algo assim. —Maddie resmungou baixinho. —O que você vai fazer agora? Fechei os olhos com um suspiro. —Eu não sei. Eu não sabia como me sentir. Então eu iria apenas recuar e lamber minhas feridas, precisando de tempo para pensar e entender. Eu precisava ficar longe de Alessio. Até que essa dor desaparecesse e pudesse respirar normalmente novamente, sem sentir que meu peito estava sendo apertado com força.

***

Eu estava sentada na minha cama quando ouvi uma batida na porta. —Entre. —Eu gritei, colocando meu livro no chão. A porta se abriu e Viktor entrou, segurando uma bandeja de comida. Eu estremeci ao vê-lo. Seu rosto tinha vários tons de 98

vermelho e roxo. Quando levantei uma sobrancelha para ele em questionamento, ele resmungou algo baixinho. —O que é isso? —Eu perguntei quando ele colocou a bandeja na mesa de cabeceira e sentou-se na cama ao meu lado. —Trouxe o jantar para você. Soube pela Maddie que você não comeu nada desde esta manhã. —Ele respondeu rapidamente. —Oh. —Eu olhei para a bandeja e depois de volta para ele novamente. —Obrigada. —Você falou com Alessio? Meus ombros ficaram rígidos com o nome dele. Não nos víamos desde a manhã, quando ele brigou com Viktor. Não foi por causa de sua falta de esforço. Alessio tentou falar comigo em várias ocasiões, mas eu me afastei todas as vezes. —Não. Eu não falei com ele. —Respondi antes de pegar o livro em minhas mãos novamente. Olhei fixamente para as páginas, mas não consegui ler. Minha concentração estava em outro lugar. Viktor e eu ficamos em silêncio por alguns minutos. —Sobre esta manhã, peço desculpas. Olhando para ele, esperei que ele continuasse. Ele estava olhando para a parede, e vi seus lábios se levantarem em um pequeno sorriso. —Risque isso. Não estou me desculpando por beijar você. —Ele se virou para mim antes de continuar. —Eu nunca peço desculpas por beijar uma moça bonita. Eu zombei mentalmente e olhei para o livro novamente. — Mas eu tinha minhas razões para fazer o que fiz. Eu precisava fazer entender o meu ponto de vista. Curiosa para onde ele ia com isso, olhei para cima novamente, desta vez dando-lhe toda a minha atenção. —Para você, 99

eu precisava que você visse a reação dele. Se ele não se importasse, não teria reagido como reagiu. Ele não dá a mínima se eu fodo com as outras mulheres com quem ele dormiu. Mas você... Só você pode conseguir aquele tipo de reação dele. Meu estômago aqueceu com as palavras dele. —E foi apenas um beijo. Ele se importa profundamente, Ayla. Meus dedos se apertaram na borda do meu livro enquanto ele continuava. —E para ele. Ele é um filho da puta teimoso. Ele precisava voltar a si, e essa era a maneira perfeita de fazer isso. Senti meu coração apertar e meus olhos arderam com lágrimas não derramadas. Piscando para afastá-las, eu me recusei a chorar novamente. Quando eu não respondi, ele se levantou e me deu um aceno antes de ir embora. Quando ele se aproximou da porta, eu chamei, interrompendo seu movimento. Meu olhar foi para a bandeja na minha mesa de cabeceira. Mantendo meus olhos nela, fiz a pergunta para a qual eu já sabia a resposta. —Foi Alessio quem te enviou aqui, certo? Pelo canto dos meus olhos, vi Viktor se virando para me encarar. —Ele sabe que você não comeu. Alessio estava trazendo a bandeja para você, mas percebeu que não seria bem-vindo. Ele não queria lhe causar mais dor. Suas palavras fizeram meu coração doer. Não de um jeito bom. Um sentimento de culpa me dominou, mas eu rapidamente o afastei. Uma coisa que eu tinha certeza era que Alessio também não tinha comido. 100

—Você pode, por favor, se certificar que ele vai comer? — Eu perguntei suavemente. Viktor suspirou e depois assentiu antes de sair do quarto. Assim que a porta foi fechada, empurrei meu livro e deitei de costas, olhando para o teto, pensativa. Talvez eu estivesse sendo muito teimosa, mas tinha chegado a um ponto em que eu não sabia como enfrentá-lo. Toda a minha vida eu nunca tive escolha. O que quer que tenha sido feito comigo, eu tive que aceitar sem queixas. Não queria que Alessio pensasse que tudo era aceitável, porque não era. Eu tinha uma escolha agora. Não sei quanto tempo fiquei ali deitada, perdida em meus pensamentos, mas quando verifiquei a hora, eram quase dez da noite. Era a nossa hora. Só nós. Alessio estaria me esperando na sala de piano. Meus dedos estavam ansiosos para tocar. Eu queria estar lá, mas uma pequena parte irritante me impediu.

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CAPÍTULO 12 Alessio Meu coração disparou enquanto eu ia para a sala de piano. Suor se formou na minha testa e na minha nuca. Parando na frente da sala, coloquei minha mão na maçaneta. Respirei fundo, sentindo minha garganta se contrair. Eu me senti tão incerto. Preocupado. Assustado. O pânico subiu como bílis no meu corpo, e meus nervos estavam formigando. Cada minuto que eu passava sem Ayla, parecia me deixar louco. Meu coração doía sem ela. Eu precisava dela. Meu anjo. Gostaria que ela me desse uma chance de explicar. Por tudo que ocorreu esta manhã, eu nem tinha certeza de que ela estaria na sala de piano. Mas eu ainda esperava. Minha pulsação retumbou em meus ouvidos e meu pulso disparou quando abri a porta. Um mar de ansiedade tomou meu estômago quando encontrei a sala escura e vazia. Meu anjo não estava aqui. Uma onda de dor me percorreu quando tropecei de volta para fora. Como eu errei tanto? Eu deveria ter aceitado meus sentimentos em vez de tentar lutar contra isso. Agora... Agora eu posso ter perdido meu anjo.

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Meu coração palpitou, meus olhos se arregalaram. Não. Ela era minha. Meu tudo. Eu a faria me ouvir, mesmo que tivesse que amarrá-la na cama. Mas ela me ouviria. Ao pensar em amarrá-la à cama, as palavras de Ayla ressoavam em meus ouvidos. Ele costumava me bater. Ele me acorrentava à nossa cama e depois me chicoteava se eu fizesse algo errado ou o que ele pensava ser errado. Eu fiquei parado, meu peito ficando apertado. Fechando os olhos, uma nova onda de dor me atingiu com uma intensidade feroz. Cada uma das palavras de Ayla parecia uma ponta serrilhada sobre o meu coração. Nunca pensei que Ayla tivesse passado por tudo isso. O pensamento de ela passando por tanta dor fez meu sangue ferver, até o monstro dentro de mim estar furioso para derramar sangue. O sangue dele. Quando eu colocar as mãos no bastardo, ele já era. Abrindo os olhos novamente, olhei para o corredor vazio. Ayla precisava saber o que ela significava para mim, o quão importante ela era para mim. Indo para o nosso quarto com uma nova confiança, abri a porta, mas franzi a testa quando o encontrei vazio. Ela devia estar no quarto dela. A noite passada foi pura tortura. Eu descobri que não conseguia dormir sem ela. Mas esta noite, isso ia mudar. Seguindo para o quarto dela, bati na porta, mas não obtive resposta. Meu punho se moveu sobre a porta algumas vezes, mas houve apenas silêncio. Confuso, eu abri a porta, mas encontrei o quarto vazio e escuro também. 103

Que porra é essa? Onde ela estava? Saindo, o pânico brotou dentro de mim. Meu coração bateu mais forte enquanto meu estômago revirou com tensão. Eu rapidamente caminhei pelo corredor, minhas mãos subindo até meu cabelo em frustração, meus dedos arranhando meu couro cabeludo. —Ayla? —Eu chamei. Vi Viktor saindo de seu quarto e ele olhou para mim confuso. —Onde está Ayla? —Perguntei. —Ela estava em seu quarto na última vez que a vi. —Ele respondeu, o alarme brilhando em seus olhos. —Ela não está lá! Meus pés rapidamente desceram as escadas enquanto olhava ao redor da casa em pânico. Meu corpo tremia com o pensamento de perder Ayla. Parando no último degrau, vi Maddie vindo em minha direção. Seu olhar era duro, e ela fez uma careta antes de virar o rosto, ignorar-me. —Onde está Ayla? —Eu rosnei baixo, olhando para a mulher teimosa na minha frente. Se havia alguém que poderia responder a essa pergunta, era Maddie. Seu queixo desceu em um movimento desafiador, e ela bufou, cruzando os braços sobre o peito. Porra! A raiva percorreu meu corpo, e eu rugi, não me importando de estar acordando todo mundo. —Onde ela está?

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Os olhos de Maddie ficaram frios e ela me deu um olhar vazio antes de dar um passo à frente. Olhando para mim, ela sussurrou: —Vá se foder. Com isso, ela me contornou e subiu as escadas. Meu corpo inteiro estava vibrando com fúria. E pavor. Passando os dedos pelos cabelos, apertei-os com força enquanto os músculos da minha mandíbula tensionavam pelo modo como eu estava cerrando os dentes. —Eu a vi entrando no quarto de Maddie. A voz de Nikolay me tirou dos meus pensamentos terríveis, e eu me virei para vê-lo em pé ao lado de Viktor no topo da escada. Ele assentiu e eu soltei uma respiração instável, alívio tomando o meu corpo. Sem um segundo olhar para eles, eu rapidamente subi as escadas e bati na porta de Maddie. Ouvi passos silenciosos se aproximando do lado oposto, e meu ombro cedeu em alívio. Ela estava lá. Eu podia sentir isso. A porta se abriu alguns segundos depois, e lá estava ela, vestindo sua camisola rosa claro. Meu coração apertou ao ver Ayla, e eu só queria abraçá-la. Só queria tê-la em meus braços, senti-la. Seus olhos se arregalaram ao me ver, e ela fez um movimento para fechar a porta, mas eu parei seu movimento com o pé. —Ayla. Pare. —Eu rosnei. Os lábios dela se retorceram, e o fogo brilhou em seus olhos furiosos. —Alessio, eu te disse... —Eu sei o que você disse, mas desta vez você vai me ouvir. —Continuei, interrompendo seu discurso.

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—Não. —Ela retrucou, seus ombros teimosamente inclinados para trás. —Por que você está fazendo isso? —Eu disse com um suspiro, uma sensação de derrota tomando conta de mim. Ayla olhou para mim por alguns segundos. Eu vi a dor lá dentro. Dor, culpa, raiva, tristeza. Meu anjo estava sofrendo, e ela nem me deixou confortá-la. —Você me ensinou a ser forte. —Ela começou, sua voz suave. Eu pisquei para ela, confuso. Mas suas próximas palavras foram como uma faca cravando em meu coração. —Esta sou eu sendo forte. Com isso, ela fechou a porta na minha cara. Não tive chance de detê-la. Fiquei chocado olhando para a porta. Apoiando minha testa na porta, fechei os olhos. Como vou consertar isso?

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CAPÍTULO 13 Ayla Eu estava com medo de abrir os olhos. Adormecer na noite passada sem Alessio foi doloroso. Tive que tomar minhas pílulas para dormir, para o caso de meus pesadelos voltarem. No fundo da minha mente, eu tinha uma voz irritante sussurrando para mim que a culpa era minha. Mas a outra voz reagiu, dizendo que eu precisava de tempo para pensar. Segurando o outro travesseiro no meu peito, eu me afundei mais sob o edredom com um suspiro antes de abrir os olhos. Mas rapidamente cobri minha boca com a mão para reprimir o arfar que ameaçava escapar ao olhar a minha frente. —Alessio. —Eu suspirei, meus olhos fixos em seu corpo adormecido. Empurrando o edredom roxo do meu corpo, saí da cama e caminhei até ele. Ele estava dormindo na poltrona ao lado da cama, as pernas esticadas a sua frente, a cabeça virada para o lado no que parecia ser uma posição desconfortável. Seu paletó estava descuidadamente jogado no chão, enquanto sua camisa preta estava desabotoada no topo, as mangas arregaçadas até os cotovelos, mostrando apenas um pouco de suas tatuagens que terminavam ali. Parei na frente dele, meu coração palpitando ao ver seu rosto. Suas sobrancelhas estavam franzidas, a testa enrugada em tensão, 107

mesmo durante o sono. Ele parecia cansado, seus lábios virados para baixo. Inclinando-me para frente, meus dedos roçaram levemente sua testa, suavemente alisando as linhas tensas. Alessio se mexeu um pouco sob o meu toque, e rapidamente afastei minhas mãos. Ele sempre parecia tranquilo durante o sono... Mas desta vez, ele parecia quase com dor. E eu odiava isso. Odiava ainda mais saber que eu poderia ser a causa de sua dor. Fechando meus olhos, eu ainda podia ver sua expressão atormentada da noite passada, quando fechei a porta em seu rosto. Abri meus olhos novamente e lentamente movi meus dedos sobre o rosto de Alessio, acariciando-o, mas sem tocá-lo. Tracei seus lábios, seus olhos, seu nariz, suas sobrancelhas, meus dedos a apenas um centímetro de sua pele. —Eu não sei o que fazer, Alessio. Não sei o que sentir. Estou tão confusa. —Sussurrei antes de afastar minha mão. Quando vi sua testa sulcar com o som da minha voz, eu rapidamente dei um passo para trás. Dando um último olhar em Alessio dormindo, eu me virei e fui para o banheiro. Assim que a porta se fechou atrás de mim, eu me inclinei contra ela e fechei os olhos. Alessio era tanto minha força quanto minha fraqueza. Com ele, meu coração disparava de felicidade. Sem ele, me sentia vazia. Abrindo meus olhos novamente, balancei minha cabeça. — Pare de pensar nisso, Ayla. —Eu disse para mim mesma, de frente para o espelho. Meu reflexo me olhava de volta, meu rosto parecendo tão abatido quanto eu me sentia.

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Depois de me refrescar e me vestir, segui para a porta, mas hesitei. Ele ainda estava lá? Ele já tinha acordado? Não achei que tivesse coragem de vê-lo novamente. Se eu o visse novamente, sabia que o perdoaria em um instante e imploraria para que ele me abraçasse. Finalmente, meus dedos envolveram a maçaneta e eu abri a porta. Respirei fundo e saí. O quarto estava vazio. Alessio tinha ido embora. Meu ombro caiu quando olhei para a poltrona em que ele estava dormindo antes. Não sabia se estava triste ou aliviada. Enquanto meus olhos ficavam colados na poltrona, percebi que secretamente esperava que ele ainda estivesse aqui. Esses sentimentos eram confusos. Frustrantes e definitivamente irritantes. Olhei para a poltrona, meus lábios se retorcendo. Balançando a cabeça, saí do quarto sem um último olhar. Maddie estava me esperando na cozinha, e assim que entrei, ela levantou uma sobrancelha em minha direção. —Vi Alessio saindo do seu quarto. —Comentou ela, cruzando os braços sobre o peito. —Sim. —Eu suspirei. —Ele provavelmente passou a noite lá. Acordei e o vi dormindo na poltrona. —Você falou com ele? —Lena perguntou. Olhei para ela pelo canto dos meus olhos, e a vi me encarando com expectativa.

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Quando balancei minha cabeça silenciosamente, seus ombros caíram tristemente. —Quanto tempo você vai evitá-lo? Não estou dizendo para perdoá-lo, porque ele não merece ser perdoado tão facilmente depois daquele ato estúpido, mas acho que você precisa deixá-lo se explicar. Não por ele, mas por você. —Maddie explicou, sua expressão um pouco esperançosa. Eu sabia que ela estava certa, mas só tinha que encontrar a coragem de enfrentar Alessio agora.

***

Eu tinha evitado Alessio com sucesso durante toda a manhã e o almoço. Doeu-me fazê-lo, mas passei a maior parte do dia pensando. Sobre ele, nós, e o que tinha acontecido. Mas todas as vezes eu chegava à mesma conclusão. Eu estava com medo. Eu estava com medo de o que ele sentia por mim fosse uma mentira. Estava com medo de que ele pudesse seguir em frente facilmente, esquecendo-se de mim. Afinal, ele tinha muitas mulheres fazendo fila por ele. Eu estava sempre em segundo lugar... Mesmo com Alberto. Mesmo que ele alegasse que eu era dele, ele nunca foi meu. Eu tive que compartilhá-lo com outras mulheres. Ele as fodia na minha frente, me forçando a assistir. E então ele me fodia logo depois. Fechando meus olhos contra as lembranças dolorosas, meus dedos se apertaram ao redor do edredom. Por trás das minhas 110

pálpebras fechadas, tudo o que vi foi Sasha saindo do escritório de Alessio, segurando sua calcinha rasgada. Era doloroso pensar que Alessio a tinha tocado tão facilmente. Perdi a noção de quanto tempo fiquei ali sentada, perdida em meus pensamentos, mas quando finalmente olhei para a hora, estava na hora de preparar o jantar. Levantando-me da cama, saí do meu antigo quarto. Eu estava descendo as escadas quando meus passos vacilaram ao ver Alessio subindo. Sua cabeça estava abaixada enquanto ele olhava atentamente para seu telefone. Minha garganta ficou subitamente seca e minha mão apertou o corrimão. Ele continuou subindo, completamente alheio de que eu estava em seu caminho. Mas quando ele estava alguns passos abaixo de mim, ele congelou, sua cabeça lentamente subindo para me encarar. Eu respirei fundo ao ver seu rosto bonito e cansado. Seu rosto se suavizou e ele subiu as escadas lentamente até estar um degrau abaixo de mim. Nesta posição, estávamos quase da mesma altura. Seus olhos azuis, cheios de dor e saudade, percorreram meu rosto enquanto ele me olhava com uma expressão triste. Seus olhos falavam muito. Pela primeira vez, ele estava me deixando ver o que estava sentindo. Estava bem ali, seus olhos brilhando de vulnerabilidade, algo que eu tinha certeza que ele nunca havia mostrado a ninguém antes. Mas aqui estava ele, me dando mais uma parte de si mesmo. Sua mão subiu lentamente até seu dedo traçar uma linha na minha bochecha. Seu toque era suave, leve como uma pluma. 111

—Ayla. —Ele sussurrou, meu nome soando de seus lábios como se estivesse sussurrando uma oração. Seu polegar roçou meus lábios enquanto seus olhos permaneciam nos meus. Com Alessio tão perto, eu estava perdida em seus olhos cativantes e cheios de dor. Meu corpo foi instintivamente atraído por ele antes que eu pudesse pensar. —Alessio. —Respirei, me aproximando um pouco mais. Ao som da minha voz, ele colocou a mão sobre minha bochecha, segurando meu rosto gentilmente. Mas então a conexão foi interrompida. O feitiço que nos unia naquele momento desapareceu no ar, deixando-nos atordoados e completamente desanimados. —Chefe. Senti o toque quente de Alessio desaparecer do meu rosto quando ele se afastou e virou-se para a voz que o chamava. Phoenix olhou entre nós e depois olhou fixamente para Alessio. Olhando rapidamente para baixo, soltei o fôlego que nem percebi que estava segurando. Phoenix estava dizendo alguma coisa, mas eu desliguei-me dele. Sentindo-me decepcionada por meu momento com Alessio ter sido interrompido, evitei o contato visual com ele e Phoenix e continuei meu caminho. Senti os olhos de Alessio em mim o tempo todo, seu olhar queimando um buraco nas minhas costas. Meu corpo estava tenso com a situação, e esfreguei minhas mãos suadas sobre o vestido, tentando controlar minha respiração e meu coração acelerado.

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Entrando na cozinha, dei um sorriso rápido à Maddie, agindo como se tudo estivesse bem quando eu estava me sentindo tudo, menos bem. Eu não poderia continuar fazendo isso por mais tempo. Só estava me machucando. Mas, no processo, também estava afetando Alessio. E o pensamento dele ser ferido parecia uma faca cravando no meu peito. Ele era um homem confiante. Arrogante e muito seguro de si, mas o Alessio parado naquela escada, era um homem completamente diferente. Pelo nosso bem, desejei ser forte. Uma mão no meu braço me tirou dos meus pensamentos. Maddie olhou para mim, uma sobrancelha levantada em questão. Engolindo nervosamente, olhei para os meus pés e olhei para cima novamente, finalmente falando o que estava pensando. —Preciso da sua ajuda.

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CAPÍTULO 14

Minhas pernas sacudiam para cima e para baixo quase freneticamente. No movimento nervoso, foi encontrado um ritmo aleatório. Correspondia às batidas do meu coração palpitante e acelerado. Se o movimento das minhas pernas não fosse suficiente para mostrar minha ansiedade, então minhas mãos mostravam claramente. Minhas mãos trêmulas descansavam no meu colo, meus dedos apertando com força e depois soltando o tecido do meu vestido. Não era uma surpresa que eu estivesse lentamente enlouquecendo com a tensão. Afinal, eu estava sentada ao piano, esperando Alessio aparecer. Fazia duas noites que eu não tocava piano. Nas últimas duas noites, era Alessio que esperava que eu fosse à sala de piano e tocasse para ele. E agora, era eu esperando por ele. Ele viria? Ou ele estava com raiva de mim? Ele ia me fazer esperar, como fiz com ele? A cada segundo que passava, fiquei cada vez mais alarmada com o pensamento de que Alessio não viria. O que ele estava fazendo agora? Ele recebeu meu bilhete? A flor? 114

Ele sorriu enquanto lia? Ele ficou feliz? Ou ele os ignorou? Meus lábios se inclinaram para baixo ao pensar nele recusando meus presentes. Mas então eu balancei minha cabeça. — Pare com isso, Ayla. —Murmurei. Assim que as palavras saíram da minha boca, ouvi um som na porta e minha cabeça virou na direção dela. Lá estava ele. Alessio. Ele estava de pé, com as mãos apoiadas na porta enquanto lutava para respirar. Parecia que ele tinha corrido até aqui. Havia gotículas de suor pontilhando sua testa, alguns fios de cabelo grudados em sua pele enquanto seus olhos se fixavam nos meus. Sua respiração estava quase frenética, seus olhos mostravam um olhar selvagem enquanto ele caminhava mais para dentro. Eu o vi engolir nervosamente várias vezes, sua garganta subindo e descendo com o movimento. Alessio caminhou até sua poltrona, que ficava em frente ao piano. Tomando seu assento habitual, ele estendeu as pernas para frente exatamente na mesma posição que ocupava todas as noites enquanto eu tocava piano. Nós não dissemos nada. Houve apenas silêncio. Mas o silêncio entre nós era suficiente. Sempre foi o suficiente. Nós só precisávamos da presença um do outro, dos nossos olhos um no outro. Nunca foram necessárias palavras para expressar o que estávamos sentindo. Então eu mantive meus olhos nele, e ele fez o mesmo. Azul no verde. 115

Respirando fundo, tentei relaxar meus ombros tensos e coloquei minhas mãos trêmulas nas teclas do piano. Meu toque era leve, quase nem tocando. Meus dedos se moveram suavemente sobre as teclas e minha boca se curvou em um pequeno sorriso. Eu senti falta disso. Não apenas do piano, mas deste momento apenas entre nós. Eu sentia falta dele. Sua presença, seu sorriso, seus cintilantes olhos cor de aço azulado. Sentia falta de tudo sobre nós. Então eu toquei. Embora nunca tirássemos os olhos um do outro, toquei para ele como fazia todas as noites. Eu toquei para nós. A música fluiu, nos abrigando em seu calor. Uma melodia doce e suave. Algo que aprendi enquanto tentava escapar da escuridão em que Alberto sempre me jogava. Sempre me trouxe paz, mas neste momento, eu não estava fazendo isso por mim. Eu estava fazendo isso por Alessio, esperando que ela lhe trouxesse paz e aliviasse a dor que eu causei a ele. Eu não tinha muito o que dar, então dei a única coisa que tinha. A única coisa que eu sabia que tinha. Um tesouro que eu mantinha guardado comigo há anos. Depois de tocar a música uma vez, toquei uma segunda vez. Meus olhos observaram os ombros de Alessio caindo quando ele começou a relaxar na poltrona. Um suspiro escapou de seus lábios, e a expressão de dor em seu rosto lentamente começou a desaparecer, até que ele estava me encarando com olhos suaves.

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Eu derreti em seu olhar, meu coração acelerando enquanto o acolhia. Quando a música terminou pela segunda vez, parei, meus dedos pousando suavemente sobre as teclas enquanto eu respirava. Alessio ficou parado e esperou meu próximo movimento. Empurrando lentamente o banco, levantei-me e dei a volta no piano até estar do outro lado, de frente para Alessio. Não havia nada entre nós. Eu só tinha que dar alguns passos e estaria nos braços dele. E foi exatamente o que eu fiz. Em um segundo eu estava longe de Alessio e no outro, eu estava bem na frente dele, parada entre suas pernas abertas. Meus joelhos tocaram sua poltrona enquanto olhava para ele. Meu olhar percorreu sobre o peito musculoso e duro e depois desceu pelos braços até pousar em sua mão direita. Ele ainda estava segurando a flor que eu havia lhe dado. Uma única peônia branca. Seus dedos seguravam o caule como se ele nunca quisesse soltá-lo. Mas, mesmo assim, seu aperto parecia quase suave, como se estivesse com medo de estragar a flor delicada. Contive um soluço quando meus olhos se moveram para a outra mão. Ele estava segurando o bilhete que eu havia lhe enviado antes de vir para a sala de piano. Eu sabia o que ele dizia. Eu olhei para ele durante horas antes de finalmente ter a coragem de enviá-lo.

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Por favor, venha para a sala de piano. Eu quero tocar para você.

Era o que dizia. Palavras simples, mas que significavam muito para nós dois. Desviando o olhar de suas mãos, olhei em seus olhos novamente. Sem pensar mais, sentei-me no colo dele, acomodandome de lado e encostando-me no peito dele. Senti a respiração ofegante de Alessio, e então seus braços estavam ao meu redor, tão rápido que me pegou de surpresa. Ele me esmagou e enterrou o rosto no meu pescoço. Meu nome mal era um sussurro em seus lábios, mas eu o ouvi. Eu senti. Colocando minha cabeça em seu ombro, envolvi um braço em torno de sua cintura. Nós dois ficamos em silêncio por alguns momentos. Alessio manteve o rosto enterrado no meu pescoço, e eu o senti dar um beijo suave lá antes de apertar os braços em volta de mim. —Ayla. —Ele começou, mas eu apertei sua cintura, parandoo. —Apenas deixe-me falar, ok? Preciso dizer uma coisa. — Respondi. —Ok. —Ele prontamente concordou. —O que você quiser, Ayla. Levantei minha cabeça de seu ombro, forçando-o a se afastar do meu pescoço também. Endireitei-me no colo dele, nossos rostos a alguns centímetros de distância. Minhas mãos subiram para cobrir 118

suas bochechas, meus dedos esfregando suavemente sobre a leve barba por fazer. —Sinto muito. —Eu sussurrei. Os olhos de Alessio se arregalaram e ele rapidamente balançou a cabeça. —Não. Não... —Mas suas palavras foram interrompidas pelo meu dedo pressionado sobre seus lábios. —Não, me escute, Alessio. Por favor, deixe-me tirar isso daqui, ok? Ele suspirou e me deu um aceno agudo, seus dedos afundando nos meus quadris. —Sinto muito por machucá-lo. Eu estava com raiva e magoada, e queria que você sofresse também. Ainda estou brava e magoada com o que você fez, mas não posso te machucar. Atormenta-me pensar que você estava sofrendo por minha causa. Alessio fez um som sufocante. Ele levou a mão ao rosto e a colocou sobre a minha. Olhei para o seu rosto deslumbrante, meu coração batendo forte com o quão bonito ele era, mesmo quando parecia tão cansado e desamparado. —Eu entendo por que você fez isso. —Continuei. — Entendo por que você pensou que eu era a espiã. Faz sentido, então eu não o culpo por não confiar em mim antes. Nos últimos dois dias, fiquei pensando se era possível que tudo o que tínhamos fosse mentira. Eu estava e ainda estou com medo. Esfregando meus dedos sobre seus lábios e em seguida traçando seu nariz, meus dedos continuaram subindo sob seus olhos. —Eu posso te perdoar por isso. Fiz uma pausa e depois engoli em seco antes de pronunciar as próximas palavras. —Mas eu não acho que posso te perdoar tão facilmente pelo que aconteceu com Sasha. 119

Alessio abriu a boca, mas eu o silenciei novamente. —Mesmo que você não tenha feito sexo com ela, você ainda a tocou. — Engasguei com as últimas palavras. O pensamento de Alessio tocando em outra mulher era doloroso. Eu poderia estar mentindo também. Eu estava escondendo um grande segredo de Alessio, era igualmente culpada, mas não podia aceitar o fato de Alessio ter tocado outra mulher. —O pensamento de você tocar em outra mulher, o pensamento de você estar com alguém tão facilmente, é doloroso, Alessio. Não acho que vou superar isso tão cedo. Posso perdoá-lo pelo resto, mas levarei um tempo para perdoá-lo por tocar em Sasha. —Ayla. —Ele sussurrou derrotado, os olhos cheios de culpa. —Eu sinto muito. —Não conheço a história toda. A única coisa que sei é que você a tocou. Tenho minhas razões para não querer que você explique. —Murmurei, meus dedos roçando suas sobrancelhas, meu corpo todo formigando como sempre fazia quando eu o tocava. —Por que se você explicar agora, vou duvidar de você e de suas intenções. Meus julgamentos serão influenciados pela minha raiva e mágoa. E eu nunca quero duvidar de você. Segurei sua mandíbula novamente, e ele se inclinou na minha palma, se aninhando no meu toque. Senti meu coração se partir e depois lentamente se recompor com sua demonstração de afeto. Inclinando-me para frente, dei um beijo doce na ponta do nariz. Senti Alessio suspirar quase contente. —Penso nisso há tanto tempo. Você já me mostrou tantas vezes que se importa, Alessio. Você me ajudou, ficou do meu lado e me fortaleceu. Você nunca desistiu de mim e nunca me deixou na 120

escuridão, mesmo quando eu era tão estupidamente teimosa. Quando penso em tudo o que passamos e tudo o que você fez por mim, acho que posso perdoá-lo. Acabarei por perdoá-lo. —E é tudo que eu preciso. Eu só preciso do seu perdão, Ayla. —As palavras foram pronunciadas baixo e quase ferozmente. Dando-lhe um sorriso hesitante, continuei. —Quando for a hora de você explicar, quero estar pronta para acreditar em você. E para isso eu só preciso de um tempo para superar essa raiva e mágoa estúpida que está enchendo meu coração agora. —Quanto tempo? Quanto tempo você precisa, Ayla? —Ele perguntou com seus olhos arregalados, camadas de desespero nublando sua expressão. —Apenas alguns dias. É tudo o que estou pedindo. Depois que essas palavras foram ditas, ficamos em silêncio. Inclinei minha testa contra a dele e respiramos. Minhas mãos foram para sua nuca, minhas unhas se arrastaram suavemente por sua pele, do jeito que eu sabia que ele amava. Ele lentamente começou a se soltar, seus músculos tensos relaxando sob o meu toque. —Ficar longe de você dói, Ayla. É doloroso. Meus olhos se abriram com as suas palavras, e eu rapidamente pisquei minhas lágrimas não derramadas. —Sinto muito. —Mas eu não quero que você se desculpe. —Ele interrompeu rapidamente. —Você tem todo o direito de ficar com raiva e magoada. Eu estraguei tudo. Essa bagunça em que estamos agora é minha culpa. Então eu entendo. Se eu visse outro homem tocando em você, provavelmente o mataria sem pensar duas vezes.

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Com suas palavras, lembrei-me da cena que ocorreu ontem, quando Viktor me beijou. Alessio tinha estourado e ficou enlouquecido ao ver Viktor me tocando. —Então eu não culpo você, Ayla. —Ele disse. —Vou lhe dar o tempo que quiser. Só por favor, não demore muito. Acho que não posso esperar muito tempo. Alessio parou antes de confessar baixinho, suas próximas palavras me tirando o fôlego. —Eu preciso de você. Eu também preciso de você, eu queria dizer. —Ok. —Eu concordei antes de colocar minha cabeça em seu ombro novamente. Alessio envolveu os braços ao meu redor, me abraçando. —Onde você vai dormir? —Ele quebrou repentinamente o silêncio que nós dois estávamos desfrutando. —No meu quarto. Acho que não consigo dormir no nosso quarto sem tocar em você. Não suporto ter nenhum tipo de distância entre nós. —Respondi desanimada, odiando a ideia de dormir sem ele. —Acho que também não consigo dormir no nosso quarto sem você. —Confessou, traçando os dedos em padrões aleatórios no comprimento dos meus braços nus. Erguendo minha cabeça, olhei para Alessio, meu olhar procurando o dele em questionamento. —Nosso quarto ficará vazio até que você esteja pronta para me ouvir. Quando você estiver pronta, nos encontraremos em nosso quarto. —Ele explicou, seus olhos azulados me mantendo cativa.

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Isso parecia perfeito. —Ok. —Eu concordei novamente. Alessio me deu um pequeno sorriso e rapidamente me deu um selinho nos lábios. Pressionei minha testa contra a dele e fechei meus olhos novamente, deixando-me sentir seus braços ao meu redor. Eu deixei esse momento entrar no meu coração, guardando-o intimamente. Absorvi seu calor por uma última vez, sabendo que estava quase na hora de eu ir. Depois de alguns minutos, inclinei-me para trás e os olhos de Alessio ficaram tristes. —Tenho que ir agora. —Sussurrei. Alessio assentiu e eu lentamente desci do colo dele. Suas mãos caíram no colo, e um suspiro deixou seu corpo, uma expressão agonizante passando por seu rosto. Dando-lhe um último olhar, me virei para ir embora, mas um aperto no meu pulso me parou. Olhando para baixo, vi que a mão de Alessio segurava meu pulso, recusando-se a me soltar. Eu o encarei novamente, e ele olhou para mim, seus olhos brilhando na luz. —Não demore muito. —Ele ordenou bruscamente de uma maneira rouca e autoritária que fez meus dedos dos pés se enrolarem. Sua voz era dura, exigente e continha um aviso claro. Não pude deixar de sorrir antes de assentir. Ainda assim ele não me largou. Então, desta vez, eu respondi verbalmente. —Ok. Quando ele ficou satisfeito com a minha resposta falada, seus dedos se abriram em volta do meu pulso enquanto ele me soltava. Andei para trás alguns passos antes de me virar e sair.

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Entrando no meu quarto, fechei a porta e fui direto para a cama. Depois de tomar minha pílula para dormir, aconcheguei-me profundamente sob o edredom macio e fechei os olhos. Mas o sono não veio tão rápido quanto eu esperava. Em vez disso, tudo que eu conseguia pensar era em Alessio. Meu corpo estava formigando e aquecido sob o edredom. Mesmo que Alessio não estivesse mais me segurando, eu ainda o sentia na minha pele. Era como se ele tivesse me marcado, me dizendo que eu era dele. E não havia como negar. Eu era dele.

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CAPÍTULO 15

—Você está falando sério? —Maddie rosnou enquanto entrava no quarto, batendo a porta atrás dela. Minha cabeça levantou com o tom dela, e eu abaixei meu livro, dando-lhe um olhar interrogativo. —Hã? —Eu perguntei. —Três dias, porra. Não, risque isso – cinco dias, Ayla! Quanto tempo isso vai durar? —Ela olhou para mim. Eu sabia exatamente do que ela estava falando, e enquanto ela expressava sua frustração, olhei para baixo com culpa. —Eu não sei o que fazer com você, e isso não pode mais continuar assim. —Ela choramingou, sua impaciência evidente em seu tom e expressão. Suspirando, balancei a cabeça. —Eu sei. Mas ela me interrompeu, não me dando chance de falar. — Alessio está praticamente enlouquecendo. Ele não está comendo e mal dorme. Você o viu? Ele parece horrível! E não vamos esquecer a raiva. Oh Deus, estou tremendo só de pensar nisso. Ele está brigando com todo mundo e está ameaçando atirar nas pessoas a torto e a direito. Eu vou admitir isso apenas uma vez, mas até eu estou com medo dele agora. —Ela fez uma pausa e respirou fundo antes de continuar com sua reclamação. —Eu nunca o vi assim. Ele é como um dragão cuspindo fogo, e todo mundo tem medo de se aproximar dele. Cada membro de sua casa está mantendo distância dele, até Viktor e Nikolay. E 125

mamãe também. Estamos cansados dessa situação e queremos isso consertado agora mesmo! E só você pode consertar isso. —Maddie esbravejou, apontando um dedo para mim. Nos últimos três dias, as únicas vezes em que o vi foi à noite, quando tocava piano. Mas foi só isso. Depois de tocar, eu me levantava e ia embora. Foi torturante e deixou uma dor profunda dentro de mim. Pior ainda, eu sabia que estava machucando Alessio também. Maddie estava certa. Eu mantive isso por muito tempo. O problema era que eu já o havia perdoado, mas simplesmente não sabia como dizer. Ou talvez não tivesse coragem de dizer. De qualquer maneira, agora tudo repousava sobre meus ombros, e eu tinha de pedir perdão a ele também. Antes que eu pudesse abrir minha boca para dizer algo, Maddie continuou enquanto cruzava os braços sobre o peito, tentando parecer muito intimidadora. Mas com a maneira como seu olhar estava centrado em mim, ela não precisava se esforçar muito. Ela era assustadora quando estava com raiva. —Você também está se machucando, Ayla. Isso está machucando vocês dois. Você também não está comendo direito, e vejo que não está dormindo. Essas olheiras não parecem bonitas em você. Você pode, por favor, pelo bem de todos, chamá-lo e deixar o pobre homem se explicar! Sim. Ela era infinitamente assustadora. Também cruzando os braços sobre o peito, eu a nivelei com um olhar. —Eu sei. Maddie zombou, mas então sua expressão suavizou. —Eu sei que ele te machucou. 126

Balançando a cabeça, ela murmurou algo baixinho antes de falar em voz alta. —E é por isso que você precisa deixá-lo explicar, para que vocês possam descobrir isso juntos. Vocês precisam um do outro. Eu também sei que você já o perdoou, mas está com muito medo de dizer isso. Apenas deixe-o explicar, porra! —De que lado você está, afinal? —Eu atirei de volta. Maddie fez uma pausa, sua boca abriu, mas depois fechou novamente. Ela bufou e inclinou os lábios em um beicinho. —O lado de Aylessio. Aylessio? O quê? Ela olhou para mim com expectativa, balançando as sobrancelhas provocativamente. Ayla e Alessio. Aylessio. O nome shippado2 dela para nós. Soltei uma risada quando me dei conta. Ela realmente não desistiria. —Não ria. Este navio3 não vai afundar, você me ouviu? Ele navegou e continuará navegando! Não irá afundar sob a minha vigilância. —Ela estreitou os olhos para mim, mas seu tom agora continha uma nota de provocação —Eu estraguei tudo, não foi? —Perguntei, pensando em Alessio. —Na verdade não. Você só precisa falar com ele e resolver esse mal-entendido. —Ela respondeu, sentando-se ao meu lado. — 2

Trata-se do ato de torcer pelo relacionamento amoroso de alguém, normalmente personagens de filmes, seriados, desenhos animados, histórias em quadrinhos, mangás e etc. ... A pessoa que pratica o ato de shippar é conhecida por shipper, enquanto que as pessoas envolvidas no ship (o casal), são chamados de shippados. 3

Aqui ela faz um trocadilho com o termo ship (navio, em inglês) com Shipping, cuja origem é a palavra da língua inglesa relationship, "relacionamento" é o desejo de que duas pessoas, sejam da vida real ou ficcionais, estabeleçam um relacionamento romântico

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Eu entendo por que você reagiu dessa maneira. Eu teria feito a mesma coisa. Mas agora é hora de consertar a mágoa que vocês dois causaram um ao outro. —Eu sei. Vou falar com ele hoje à noite. —Respondi. Era hora de consertar essa relação rompida. Eu tinha que dizer a Alessio que eu o havia perdoado e, em troca, tinha que pedir o perdão dele. Maddie deu um suspiro de alívio ao meu lado. —Oh! Graças a Deus. Certifique-se de que Alessio esteja de volta ao seu estado normal, por favor. Ele nos assusta muito no momento. Embora eu esteja feliz que ele esteja descontando em todo mundo, menos em você. Eu não acho que seria capaz de suportar se a raiva dele fosse dirigida a mim. Maddie deu de ombros e depois me encorajou com uma voz doce: —Vá buscar seu homem. Ele precisa de você. Só não desista dele. Ela estava certa. Alessio estava sempre lutando por todos, até por mim. Ele lutou para me manter. Ele lutou para me livrar da minha escuridão e nunca desistiu de mim. E agora era minha vez de lutar por ele. Maddie levantou-se da cama e sorriu. —Enquanto isso, vou pegar meu homem. —Ela me deu uma piscadela e depois saiu do quarto. Assim que a porta se fechou atrás dela, fui rapidamente para o banheiro. Depois de lavar o rosto, penteei o cabelo e decidi deixálo solto. Descia lindamente pelas minhas costas, do jeito que Alessio adorava.

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Saí do banheiro, mas parei abruptamente quando vi Alessio parado no meio do quarto. Ele estava virado de lado, de frente para a parede. Ele parecia ainda pior do que na noite passada. Sua barba por fazer tinha crescido mais um centímetro e era óbvio que ele não se barbeava há dias. Seu terno estava enrugado, como se ele tivesse dormido com ele. Seus lábios estavam curvados para baixo. Mesmo parecendo completamente desgastado, Alessio ainda era o homem mais bonito para mim. Meus pensamentos foram interrompidos quando ele se virou para mim. Meus olhos se arregalaram quando vi a mudança em sua expressão. Alessio cruzou os braços sobre o peito; suas pernas afastadas enquanto ele olhava para mim. Ele estava olhando para mim tão ferozmente que quase dei um passo para trás. —Alessio... —Eu comecei, mas ele me interrompeu. —Eu não vou mais fazer isso. Ah não. Por favor não. Eu nos destruí além do reparo? Alessio se aproximou de mim caminhando lentamente. Não, ele andou furtivamente em minha direção, parecendo perigosamente um predador caçando sua presa. Levantei uma mão para explicar, mas minha boca se fechou quando um rosnado profundo e irritado vibrou de seu peito. Maddie estava errada sobre uma coisa. Desta vez, Alessio estava definitivamente descarregando sua raiva em mim.

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—Eu te disse que não vou esperar por muito tempo. Eu não sou um homem paciente, Ayla. —Disse Alessio em uma voz baixa e mortal. —Alessio, por favor -—Eu murmurei trêmula. Enquanto ele avançava, eu recuava, mas depois esbarrei na parede. Droga, a parede sempre me atrapalhava. Todas as vezes. Alessio levantou o queixo enquanto me olhava com olhos azuis furiosos. Meu peito se apertou dolorosamente, e eu engoli nervosamente sob seu olhar penetrante e intenso. —Eu estava prestes a ir falar com você. —Tentei explicar, esperando que isso o acalmasse um pouco. Mas isso não aconteceu. —Sério? —Ele retrucou. Eu balancei a cabeça silenciosamente, implorando a ele com meus olhos. Alessio parou a centímetros de mim enquanto me encurralava contra a parede. —Sério. —Eu murmurei. —Eu pensei que você disse que não demoraria muito. —Ele sussurrou em meus ouvidos. Meu coração bateu mais rápido com suas palavras, e eu coloquei uma mão trêmula sobre seu peito, tentando empurrá-lo para longe de mim. Jogada ruim. Isso só o irritou mais. Ele segurou meu pulso e apertou em aviso. —Não me teste, Ayla. —Ele rosnou baixo.

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—Você me machucou e eu precisava de tempo. —Eu disparei repentinamente. Outra jogada ruim. Desta vez ele ficou furioso. Alessio inclinou a cabeça para o lado e olhou para mim, seus olhos me avaliando. Ele deu um passo à frente até seu corpo estar colado ao meu. Suas mãos envolveram minha cintura, seus dedos afundando em meus quadris. —Isso era muito mais fácil quando você estava com medo de mim. —Ele retrucou. Meus olhos se arregalaram e eu ofeguei. Lutando contra seu aperto, vi seus olhos azuis brilhando com uma intensidade feroz. Alessio me puxou para longe da parede e vi o canto de seus lábios dele se erguerem em um pequeno sorriso. Isso deveria ter sido aviso suficiente. —Vamos fazer isso do meu jeito agora, gatinha. —Disse ele, rispidamente, sua voz profunda e grave. Mas não tive tempo para pensar. Em um segundo, me vi sobre seus ombros, pendurada de cabeça para baixo. —Alessio, me solte. —Eu exigi, lutando contra seu aperto. Alessio não ouviu. Em vez disso, ele saiu do quarto e caminhou pelo corredor que levava à escada. —Alessio! Pare com isso! —Eu gritei. —Solte-me. Quando senti um tapa na minha bunda, arregalei os olhos e fechei a boca. Ele tinha acabado de me bater?

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Da minha posição no ombro de Alessio, vi Viktor, Nikolay, Maddie e Lena em pé na sala de estar, olhando para nós com grandes sorrisos no rosto. Bem, Nikolay não estava sorrindo muito. Seus lábios estavam levantados em um pequeno sorriso malvado. Viktor estava meio sorrindo enquanto Maddie e Lena tinham grandes sorrisos em seus rostos. Maddie parecia extremamente orgulhosa de si mesma e balançou as sobrancelhas para mim. Eu não podia acreditar que eles estavam vendo isso. Belisquei a bunda de Alessio em troca, e isso me rendeu outro tapa na bunda. O tapa que ele deu queimou um pouco, embora não tenha doído. Eu me debati e lutei contra o seu aperto. Isso me rendeu outra palmada. E outra. Quatro, na verdade. Duas em cada nádega. Elas desceram com força e rapidez e me deixaram sem palavras. —Balançar sua linda bunda na minha cara não está ajudando no seu caso, gatinha. Então sugiro que você pare de se debater. Ou não. Você pode continuar lutando. Isso está me deixando muito duro neste momento. Sentindo-me completamente mortificada e chocada por ele dizer isso na frente de todos, fechei os olhos e parei de me mover, ficando imóvel sobre os ombros de Alessio. Eu estava pendurada de cabeça para baixo por muito mais tempo do que eu queria, e minha cabeça começou a ficar pesada enquanto ele subia a escada. Ele caminhou até o nosso quarto e entrou, chutando a porta para fechá-la atrás de si e seguindo para a nossa cama.

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Ele me jogou nela, e eu pulei no colchão. Abrindo os olhos, fiquei boquiaberta quando Alessio subiu em mim. Com os joelhos em ambos os lados dos meus quadris, ele me segurou imóvel. Meu coração parou por um segundo antes de bater mais rápido novamente. —Alessio, ouça... —Cale-se. Seus lábios encontraram os meus, me calando com sucesso. Ele tomou meus lábios possessivamente e me beijou sem fôlego. Ahhh, sim, ele definitivamente me calou. Ele sabia exatamente como me calar. Quando ele se afastou, tentei mover minhas mãos e percebi que elas estavam presas. Enquanto me beijava, Alessio levantou meus braços acima da minha cabeça, e agora ele estava me mantendo presa. Eu estava completamente imóvel e à mercê de Alessio sob seu corpo. Seus lábios estavam a poucos centímetros dos meus quando ele falou. —Desta vez vou falar e você vai ouvir. Nem uma palavra, gatinha. Não até eu terminar de falar.

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CAPÍTULO 16

Alessio me deixou sem fôlego e completamente atordoada com seu beijo, e então suas palavras fizeram meu coração palpitar. Meu corpo derreteu sob o dele, e olhei em seus olhos furiosos, mas dolorosos. Eu deveria estar com medo, mas não estava. Não de Alessio. Ele podia estar com raiva de mim, mas ainda assim ele era gentil. Mesmo olhando-me furiosamente, seus dedos estavam acariciando minha bochecha suavemente. Alessio estava fazendo isso quase inconscientemente, como se ele precisasse me tocar, me sentir. Nós nos encaramos por alguns segundos, Alessio subitamente parecendo procurar as palavras. Lentamente, a raiva em seus olhos desapareceu até eles se suavizarem com emoções não ditas. Ainda segurando minhas mãos cativas acima da minha cabeça e meu corpo sob o dele, ele se inclinou lentamente até nossas testas tocarem suavemente. —Vou lhe contar uma história. —Ele disse. Confusa, eu apenas pisquei para ele. Uma história? Foi por isso que ele me arrastou até aqui... Para uma história? —Alessio... —Eu comecei, lutando debaixo dele, contorcendo meu corpo com esperança de que ele me soltasse. Mas ele não soltou. Em vez disso, ele me segurou com mais força, e seu olhar furioso estava de volta. —Pare de se mexer e ouça. Nem uma palavra, Ayla. 134

Com um suspiro, fiquei quieta e esperei que ele começasse sua história. Na verdade, eu estava curiosa para saber o que ele tinha a dizer. Então eu ouviria a história dele. E depois eu diria que eu o perdoei. Alessio suavizou o olhar novamente e seus lábios tocaram a ponta do meu nariz em um pequeno beijo leve. —Era uma vez uma mulher com olhos azuis e lindos cabelos longos e pretos. Ela era muito bonita e a pessoa mais gentil do mundo. Seus sorrisos e risadas eram contagiantes. Um homem a viu e ela o viu. Foi amor à primeira vista, disseram eles. Eles se apaixonaram irrevogavelmente um pelo outro. Uma história de amor? Mais confusa do que nunca, ouvi silenciosamente, meu coração acelerando um pouco. —Eles tiveram um menino. —Alessio fez uma pausa e respirou fundo antes de continuar. —Ele era seu doce e gentil garoto. —Sua voz falhou com as últimas palavras, seus dedos apertando ao redor dos meus pulsos. —Eles eram uma família feliz. Meu corpo formigou de nervosismo. Tive a sensação de que isso não teria um final feliz. —O homem sempre chamava sua esposa de anjo. O menino estava curioso para saber o porquê. Então eles lhe disseram o que eram os anjos e por que ela era um anjo. Anjo. Durma, anjo. Eu cuidarei de você. Uma lembrança repentina surgiu na minha mente. Estava embaçada, a voz quase um sussurro na minha memória, mas eu ouvi. A voz de Alessio, sussurrando nos meus ouvidos uma vez. Durma, anjo. Eu cuidarei de você. 135

Eu nem tive chance de reagir porque Alessio continuou falando. —O pai respondeu que um anjo é alguém que é doce, gentil, atencioso e calmo. A mulher mais bonita do planeta. Alguém que é incrível em todos os sentidos. Um anjo é a garota que faz seu coração bater mais rápido quando ela entra na sala. A garota que você precisa onde quer que vá. A garota que faz você querer ser melhor. Um anjo é alguém que é sua rocha. A pessoa que você ama com todo o seu coração. A pessoa sem quem você não pode se ver vivendo. Suas palavras foram quase monótonas, como se ele as tivesse repetido. Como se estivessem gravadas em sua mente há muito tempo e ele as soubesse de cor. Eu tive a sensação de que essa história, a definição de anjo, Alessio sabia de cor. Pela maneira como sua voz falhou um pouco sobre as palavras e a maneira como seus músculos estavam tensos, eu sabia que essa história não era uma história qualquer. —Eles também disseram que se você encontrar seu anjo, nunca deve deixá-lo ir. Por que você seria para sempre incompleto. —Sua voz suavizou um pouco, apenas um sussurro agora. Seus dedos no meu pulso não estavam mais apertados, então torci um pouco as mãos para ver sua reação. Em vez de lutar para me libertar dele, minhas mãos foram para seus ombros. Meus dedos se apertaram ao redor deles enquanto eu o segurava. Quando Alessio estremeceu de alívio, não me arrependi de segurá-lo. Meu corpo estava chamando o dele; a necessidade de segurar e ser segurada era algo impossível de recusar. Então eu não lutei. Cedi e segurei este homem destruído enquanto ele continuava a me contar sua história. 136

—O garotinho ficou feliz com a explicação e mal podia esperar para encontrar seu anjo um dia, embora estivesse determinado a acreditar que sua mãe era seu anjo. —Um pequeno sorriso apareceu em seus lábios quando ele disse essas últimas palavras. Quando seu sorriso se desfez e seu rosto se contorceu com uma onda de dor, meu coração parou antes de recomeçar com uma batida dolorosa. Minha mão apertou Alessio, meus dedos acariciando suavemente seus ombros. Eu queria oferecer a ele qualquer tipo de conforto. —Mas então a mãe morreu. Uma morte lenta e dolorosa. Uma morte cruel que deixou todos com o coração partido, especialmente o garotinho. Eu respirei profundamente, e eu sabia... Só sabia... Isso não era uma história. Era a realidade. —Tudo o que ele sentiu foi escuridão e dor. Ele ficou cego por isso, mas com o passar dos anos aprendeu a ficar entorpecido. A não sentir. Ele se tornou escuridão. Ele se tornou um monstro. —Alessio fez uma pausa e depois me deu um pequeno sorriso triste. —Frio. Cruel. Sem coração. Arrogante. Assassino. Implacável. Estas são todas as palavras que o garotinho se tornou. Ele é respeitado e temido por todos. Ele não pode amar ou ser amado. Eu me encolhi, meus olhos se fechando por um segundo com tristeza. Essas palavras foram as mesmas que eu havia dito a Alessio na minha tentativa de machucá-lo. —O garoto há muito tempo perdeu a esperança de encontrar o seu anjo. Ele pensou que era uma ideia estúpida. Ele se recusava a acreditar em anjos, pois acreditava que um monstro nunca poderia 137

ter um anjo. E ele era um monstro. —Sua voz era baixa e rouca, quase dolorida. Ele não deixou de me tocar enquanto falava. E eu não o soltei. —Alessio, não. —Balancei minha cabeça, tentando parar sua história agonizante. Mas era impossível detê-lo depois que ele começou. Ele suavemente continuou a acariciar minhas bochechas. —Mas então tudo mudou quando ele encontrou uma garota destruída escondida embaixo de sua cama. Ela estava suja e com muito medo dele. Mas ele se sentiu instantaneamente atraído por ela. Havia algo nela que o chamava e o fazia... Sentir. Ele odiava isso. Ele detestava a ideia de sentir. Ele rejeitou até não conseguir mais. Ele não podia mais negar a verdade. Enquanto falava, ele deu outro beijo na ponta do meu nariz e continuou com a história, me tirando o fôlego mais uma vez. Lágrimas surgiram nos meus olhos, e uma única gota deslizou pelo canto e desapareceu no meu cabelo, deixando uma trilha molhada. —Ela era a mais doce, a mais gentil e a mais amável. Tão bonita que ele não conseguia tirar os olhos dela. Ela era a verdadeira definição de beleza, por dentro e por fora. Ela era amor, enquanto ele era ódio. Ela era gentil, enquanto ele era detestável. Ela era doce e suave, enquanto ele matava a sangue frio e não sentia remorso. Ela era luz, enquanto ele era escuridão. Ele percebeu que havia encontrado seu anjo. Não podia mais negar isso. Porque ele precisava dela. Ele não conseguia viver sem ela. Ele não queria imaginar um mundo onde ela não estivesse. Alessio fez uma pausa pelo que pareceu ser um tempo mais longo, deixando as palavras flutuando ao nosso redor, nossos olhos 138

conectados. Nós respiramos juntos, nosso coração disparado em uníssono. Outra lágrima caiu do meu olho e correu pela minha bochecha. Alessio rapidamente a pegou com os lábios, beijando-a. Quando outra escorreu por meu rosto, ele fez a mesma coisa. Fechando os olhos, soltei um soluço. —Aquele menino era eu, Ayla. —Alessio sussurrou em meu ouvido, sua respiração me fazendo cócegas lá. —E a garota destruída que ele encontrou debaixo da cama, seu anjo, é você. Você é meu anjo. —Eu... —Eu comecei, mas rapidamente fechei minha boca. Eu não sabia o que dizer. Sua confissão realmente me deixou com uma mistura de emoções. Eu me senti leve, quase como se estivesse flutuando. Meu coração estava batendo tão rápido quanto as asas de um beija-flor, e parecia ser um. Irradiando felicidade e muito... Amor. Eu estava cheia de pura alegria. Os lábios de Alessio permaneceram nas minhas bochechas antes que ele se afastasse um pouco, olhando para mim com seus lindos olhos azuis. Sua expressão era suave, mas determinada. — Você está certa. Eu toquei Sasha. Eu pisquei as lágrimas, meus dedos apertando seus ombros dolorosamente. Ele não se encolheu, não que eu esperasse que ele fizesse isso. Ele instantaneamente notou minha mudança de comportamento. Ele me acalmou, acariciando minhas bochechas mais uma vez. —Eu a toquei, mas não a beijei. Eu a toquei, mas não a fodi. Eu não fiz nada com Sasha.

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Eu apenas pisquei para ele, confusa e me sentindo um pouco frustrada. —Serei franco e honesto. Sim, eu estava muito perto de transar com ela. Sim, eu rasguei sua calcinha e a inclinei sobre minha mesa, mas não, eu não a fodi. Não consegui, Ayla. Você era tudo em que eu conseguia pensar. Você. A cada minuto. Tudo que eu podia ver eram seus olhos, seus lindos sorrisos, a expressão serena enquanto você tocava piano e caminhava até o riacho. Tudo que eu podia ouvir eram suas risadas e sua voz doce. Alessio puxou uma respiração dura e profunda, antes de soltá-la com um suspiro cansado. Sua expressão era abatida, sua voz cheia de incerteza e tanta dor que meu coração doía. Doía por sua dor. —Eu estava louco. Pelo meu pai e tudo. Meus sentimentos. Minha fraqueza por você. E eu estava com tanto medo. Minha mãe morreu porque meu pai a amava. Um anjo vivendo no mundo dos demônios e, no final, ela foi morta por causa disso. Estou com muito medo de também te perder. A simples ideia de perder você me deixa louco. —Eu não fiz nada com Sasha. —Ele disse novamente, sua voz cheia de ferocidade, enquanto ele me mostrava toda sua verdade através dos olhos. Eles me imploraram para ver a verdade. —Digame que você acredita em mim, Ayla. Minhas mãos deixaram seus ombros, mas em vez de me afastar, eu coloquei as mãos sobre suas bochechas. —Eu acredito em você. —Sussurrei. Eu realmente acreditava. Seu semblante e voz demonstravam honestidade. Estava ali para eu acreditar. Nem uma vez tive dúvidas quando ele disse que não tocou em Sasha. Se eu tinha dúvidas antes, agora elas foram apagadas. —Eu acredito em você, Alessio. —Disse novamente, meus dedos pressionando suavemente em suas bochechas. Alessio 140

estremeceu de alívio em cima de mim, seus olhos se fechando quando ele finalmente relaxou no meu abraço. Ficamos assim por alguns segundos, enquanto eu o acalmava. Quando ele abriu os olhos novamente, as esferas azuladas estavam brilhando com intensidade. —O plano era me aproximar de você para descobrir se você era uma traidora. —Ele começou. Recuando, comecei a me soltar, mas ele rapidamente agarrou minhas mãos, segurando-as firmemente em suas bochechas. —Mas era apenas uma desculpa. —Ele acrescentou rapidamente. —Eu estava usando isso como uma desculpa para me aproximar de você. Desde a primeira vez que te vi, eu tinha esse desejo de estar perto de você. De abraçá-la. Mas seria uma demonstração de fraqueza. Então, tentei encontrar todas as desculpas para me aproximar de você. O plano terminou no mesmo dia em que foi feito, porque não importava o motivo, eu não podia mentir para mim mesmo. Eu ficava dizendo a mim mesmo que era o que eu tinha que fazer para a segurança de todos, mas lá no fundo, eu sabia que estava fazendo isso por mim mesmo. Eu precisava de você, desde o começo. —Ele olhou nos meus olhos. —Eu errei. —Alessio suspirou tristemente. —Eu sei que sim, mas estou pedindo perdão a você. Para me dar outra chance de me provar. Por favor, deixe-me entrar em seu coração novamente. Dême essa chance e nunca mais vou te deixar ir. Nunca mais vou te machucar. Ele fez uma pausa e respirou fundo antes de continuar na mesma voz suave. —Nunca serei o homem que você merece, mas serei o homem que você precisa. Serei o homem que te faz sorrir, aquele que afugenta todos os seus pesadelos, aquele que te dá um beijo de bom dia e boa noite e muitos beijos no meio. Eu serei seu salvador. Agora e pelo resto da minha vida. 141

Lágrimas brotaram nos meus olhos com sua confissão, e dei a ele um sorriso vacilante. —Você definitivamente tem jeito com as palavras. —Respondi. Alessio soltou uma pequena risada e balançou a cabeça, erguendo os lábios em um pequeno sorriso. —Só para você, anjo. Meus olhos se arregalaram quando ele me chamou de anjo, as lágrimas caindo antes que eu pudesse detê-las. —Você está me fazendo chorar. —Murmurei enquanto Alessio enxugava as lágrimas. —São lágrimas de felicidade? —Ele perguntou, parecendo um pouco incerto. Eu assenti, sem palavras, e ele me presenteou com um de seus sorrisos de tirar o fôlego. —Bom. A partir de agora, as únicas lágrimas que você vai chorar serão lágrimas de felicidade. —Você é doce. Alessio pareceu ofendido com a minha admissão e me deu um olhar engraçado. Eu não pude deixar de rir. Parecia que o chefe da máfia não gostava de ser chamado de doce, embora ele realmente fosse... Doce. —Eu sou um assassino, Ayla. Definitivamente não sou doce. —Ele disse, olhando profundamente nos meus olhos. Sorrindo, me inclinei e dei um beijo em seu nariz, como ele havia feito comigo. —Você pode ser um assassino lá fora, um monstro, como você disse, mas aqui dentro. —Eu pressionei minha mão sobre seu coração. —Aqui, você é doce. Para mim, você é doce. Alessio deu outro sorriso de tirar o fôlego. Desta vez, o sorriso iluminou seu rosto e olhos com tanta felicidade que fez meu 142

coração doer... De uma maneira boa. Ele palpitou, e eu derreti em seu abraço. Finalmente, a dor que eu tinha visto antes não estava mais lá. Ele parecia esperançoso. Respirando fundo, Alessio continuou. —Quando estou com você, parece que posso finalmente respirar. Eu vivo na escuridão há muito tempo, mas você me traz luz e paz. Você me faz rir, algo que eu não faço há muito tempo. Quando estou longe de você, me sinto vazio, como se estivesse faltando um pedaço de mim mesmo. Eu nunca quero ficar sem você, Anjo. Acho que não sobreviveria. Quando estou com você, sinto que sou o rei do mundo. Posso realizar qualquer coisa com você ao meu lado. Eu costumava acreditar que você era minha fraqueza. Você é. Você sempre será minha fraqueza, mas você também é minha força. Oh, uau. Minha garganta se apertou com a confissão dele até que parecia impossível respirar. —Alessio. —Murmurei, um sorriso constante nos meus lábios. —Eu não sei o que é amor. —Alessio murmurou, roçando seus lábios nos meus no beijo mais leve. —Mas se o que sinto por você é amor, que assim seja. —Eu também não sei o que é amor. —Admiti, meus dedos se movendo suavemente sobre suas bochechas e depois seus lábios. Beijando-me novamente nos lábios com a menor pressão, como se estivesse com medo de me quebrar, Alessio sorriu. — Vamos aprender juntos então, Anjo. Anjo. Eu nunca vou me cansar de ouvir Alessio me chamar assim. —Você me chamou de Anjo uma vez. Quando tive meu colapso. —Murmurei. 143

Alessio sorriu. —Sim. Sempre soube que você era meu anjo, mas era teimoso demais para admitir isso. Não importava mais se ele era teimoso ou não. —Você é meu Anjo. Sim, eu era. Eu era dele. Eu era seu Anjo. E ele era meu. Meu Made Man4. Meu Monstro. Quem quer que ele fosse, o assassino ou o homem doce que estava comigo, eu o aceitei. Eu o inspirei. Fechando os olhos, deixei meus sentidos dominarem, sentindo Alessio, saboreando seu toque e voz. Eu não poderia viver sem ele. Este belo homem arruinado tinha me dado seu coração e, em troca, eu havia colocado o meu em suas mãos. Nós éramos dois corações partidos. Duas metades quebradas formando um todo. —Não posso prometer que tudo será perfeito. —Meus olhos se abriram com a voz de Alessio, e eu esperei que ele continuasse. —Minha vida não é perfeita. O mundo está ferrado e perigoso. A vida não vai ser cor-de-rosa. Mas posso prometer torná-la tão perfeita quanto possível. Tudo o que sei é que preciso de você. Isso faz de mim um homem egoísta, Ayla. Eu deveria te deixar ir. Você ficaria melhor sem mim, mas sou egoísta quando se trata de você. Meus dedos foram para seus lábios para silenciá-lo. —Está tudo bem. Era tudo o que eu precisava ouvir, Alessio. Também não posso viver sem você. Isso é o suficiente para mim. É mais que suficiente. Não preciso nem quero mais nada. Eu só quero você.

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Made Man- um associado da máfia ou outro grupo do crime organizado que mata uma pessoa, passando a ter o status de "homem feito"

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Antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa, Alessio me esmagou contra seu peito, me abraçando com força. Minhas costelas pareciam estar prestes a quebrar. —Não consigo respirar. —Eu chiei, mas ainda envolvi meus braços ao redor dele, devolvendo o abraço com a mesma força. Ele beijou o topo da minha testa, seus lábios permanecendo lá. —Você é meu anjo. Lá estavam elas. Aquelas palavras novamente. Suspirei de contentamento. Eu te amo não era necessário. Nós éramos mais do que isso. As palavras que Alessio tinha sussurrado para mim significavam mais do que aquelas três palavras comuns. Você é meu anjo. Estas detinham mais poder. —E você é o homem que me traz paz. —Eu sussurrei as palavras muito suavemente. —O homem que faz meu coração palpitar e enche meu estômago de borboletas. Apenas um olhar seu, uma simples palavra, apenas um beijo doce ou uma carícia suave, é o suficiente para me fazer a mulher mais feliz. Você é minha força, Alessio. Seus braços se apertaram ao meu redor, e eu sorri. Ah, sim, minhas palavras tiveram o mesmo efeito sobre ele que suas palavras tiveram em mim. Alessio era um homem de poucas palavras, mas conseguiu dizer muito para mim. Eu gostaria de ter mais a dizer. Eu gostaria de ter mais palavras para mostrar o que meu coração... O que eu realmente sentia. Mas não disse. Preferia apenas mostrar a ele. Trazendo seus lábios aos meus, eu o beijei. Suave e gentilmente. O beijo não foi rápido ou intenso. Foi doce e lento. Levamos nosso tempo, nossos lábios se movendo em sincronia e nos saboreando. Alessio me deixou comandar o 145

beijo. Ele não pressionou por mais. Ele me deixou beijá-lo. Então eu beijei, por muito tempo. Nossas línguas deslizaram em um amor lento e doce. Nós nos beijamos até ficarmos sem fôlego. E quando nos separamos, meu coração parecia ter sido restaurado. Pelo olhar que Alessio estava me dando, eu podia dizer que ele sentia o mesmo. Meus lábios ainda formigavam com o beijo. Eu ainda podia senti-lo lá, e um sorriso sonhador surgiu em meus lábios. —Sonhei com você antes de entrar na minha vida. Quando eu ainda era garotinho, sonhava com você. Cabelos pretos e olhos verdes, com um sorriso lindo. —Disse Alessio, roucamente, a voz cheia de emoções. Eu gaguejei, e ele sorriu. —Você sempre foi para mim, Ayla. —Eu sou. —Balancei a cabeça em concordância. —Eu só queria ter te encontrado antes, Alessio. Então você não precisaria esperar por mim por tanto tempo. —Não importa. Você me encontrou agora e nunca vou te deixar ir embora. —Eu não quero nunca que você me deixe ir. Mesmo se você tentar, eu voltarei. —Provoquei, embora as palavras ditas soassem com a verdade. —Bom. —Dessa vez, foi Alessio quem capturou meus lábios. O beijo não foi doce como antes. Ele me devorou. Ele me beijou como um louco. Como um animal desejando sua companheira. Ele tomou meus lábios profundamente e possessivamente. Alessio me beijou com tudo o que tinha.

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Sua língua passou pelos meus lábios, me beijando com um desespero frenético. Eu gemi contra seus lábios, minhas mãos indo para seus cabelos, meus dedos apertando. Ele mordeu meu lábio inferior, e eu me inclinei mais em seu beijo, exigindo mais. Quando ele se afastou, pude sentir seu coração batendo contra o meu. Alessio olhou para mim com olhos suaves, embora a luxúria estivesse ardendo ali com intensidade feroz. Eu tremia de antecipação por ele. —Você me perdoa? —Ele perguntou, sua voz rouca de desejo. Sorrindo, passei os dedos por seus cabelos, roçando delicadamente minhas unhas em sua nuca, do jeito que ele amava. —Eu perdoo. Eu já tinha te perdoado antes mesmo de você me arrastar até aqui. Na verdade, eu estava subindo para falar com você, mas você me antecipou. —Sim? —Ele perguntou, seus olhos vagando pelo meu rosto e depois olhando profundamente nos meus, procurando por confirmação. —Sim, Alessio. —Assenti. —Eu perdoo você. E então seus lábios bateram nos meus novamente. Dandome um beijo forte e contundente, ele me deixou sem fôlego. Quando ele se afastou, eu gemi um pouco. Eu podia sentir seu pau duro entre minhas coxas separadas. Eu estava excitada. Precisava dele. Eu o perdoei. —Eu te perdoo, mas ainda estou um pouco brava por você ter tocado em Sasha. —Murmurei quando seus lábios começaram a descer em direção aos meus novamente.

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Alessio congelou, seus lábios a meros centímetros dos meus. —Eu sei. —Ele murmurou de volta. E então, lá estava. Aquele sorriso que eu tanto amava. Os cantos de seus lábios se inclinaram um pouco e eu não tive que reprimir meu gemido. Antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa, ele nos rolou rapidamente, me fazendo suspirar em choque. Alessio estava deitado de costas, com a cabeça no travesseiro enquanto eu o montava, meus joelhos em cada lado de seus quadris. Alessio me presenteou com seu sorriso perfeito antes de empurrar levemente para cima e mexer seus quadris contra os meus. Desta vez, um gemido escapou sem vergonha dos meus lábios quando seu pau duro pressionou em mim. —Eu sei. —Ele disse novamente. E então outro movimento de seus quadris. Ele me provocou, esfregando deliciosamente seu pau rígido e duro contra a minha virilha coberta. Mesmo através de suas calças e minha calcinha, eu o senti. Duro, quente e pronto. —Você pode me dar o castigo que quiser. —Respondeu Alessio, com a voz áspera. Olhei para ele com os olhos nebulosos, e ele me deu uma piscadela, levantando uma sobrancelha em sugestão. Alessio moveu lentamente a barra do meu vestido para cima, seus dedos se movendo sobre minhas coxas nuas. Ele me deixou louca com seu toque provocador. Quando finalmente entendi o que ele quis dizer, soltei uma pequena risada. Ele era impossível. Insaciável.

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Eu cantarolei, mexendo meus quadris um pouco hesitante. Alessio gemeu, inclinando-se ligeiramente para cima. Enfiei minhas mãos entre nós, e eu o peguei em suas calças. —Porra. —Ele assobiou. Dei-lhe um pequeno aperto, provocando-o em troca. Eu quase soltei outro gemido ao senti-lo, a dureza dele, pressionando minha palma. Esfreguei-o por cima da calça, meus olhos nublados e luxuriosos. —Algum castigo? Algo que eu queira? —Perguntei, continuando meu toque lento de provocação. —Sim. —Ele gemeu. —Qualquer coisa. Inclinando-me para frente até meu rosto ficar centímetros acima do dele, nossos lábios quase se tocando, eu sussurrei, minha voz soando rouca. —Qualquer coisa? —Qualquer coisa, gatinha. —Ele prontamente concordou, empurrando os quadris para cima novamente, pressionando a palma da minha mão. Sorrindo, dei-lhe um beijo rápido nos lábios e depois me inclinei para trás. Soltando seu pau, levantei uma sobrancelha. —Bem. Você não pode me tocar por três dias. Os olhos de Alessio se arregalaram quando ele congelou, seu queixo caindo em choque. —O quê? —Ele cuspiu. Antes que ele pudesse me parar, eu me soltei dele e sai da cama. Ele sentou-se, ainda me olhando com total perplexidade. — Você me ouviu. Você não pode me tocar por três dias.

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—Não. —Alessio retrucou. —Nós não vamos fazer isso. Uma maldita semana longe de você, sem te tocar. E agora mais três dias? Nenhuma. Fodida. Chance. —Sim. —Eu respondi calmamente. —Esse é o seu castigo. Esfregando a mão em seu rosto em frustração, ele rosnou. — Eu tinha outro tipo de punição em mente. Ah, sim, ele definitivamente tinha. Eu também não teria me importado, mas, dessa vez, era a minha vez de provocá-lo. Eu estava gostando. Alessio olhou inexpressivamente para mim por alguns segundos antes de sorrir, seus olhos ficando escuros de luxúria novamente. —Gatinha. —Ele disse com voz rouca. Ah, não. Não. Eu sabia o que ele estava fazendo. Eu dei um passo para longe da cama quando ele saiu, seguindo em minha direção. —Não, Alessio. —Eu sei que você me quer. —Ele continuou, sua mão descendo pelo próprio corpo. Ele ainda estava duro. Eu estava com problemas. Eu não podia negar, especialmente quando ele estava assim. Estendendo a mão, tentei encará-lo, embora eu já pudesse me sentir ficando molhada. Ah! Recomponha-se, Ayla. —Não. Fique. —Eu pedi. Ele parou, inclinando a cabeça para o lado. —Eu não sou um cachorro, Ayla.

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—Sua voz sexy e seu corpo pecaminosamente delicioso e bonito não vão funcionar comigo desta vez. —Murmurei. Eu queria que fosse em um tom baixo, mas ele ouviu as palavras. Querendo me bater, eu apenas olhei para Alessio quando ele riu baixo. —Hmm...Então você gosta do meu corpo pecaminosamente delicioso e bonito? Revirando os olhos, cruzei os braços. —Pare com isso. Alessio caminhou em minha direção até que ele estava parado na minha frente, nossos corpos quase se tocando. —Não há nada de errado com isso. Você é minha mulher. Tem todo o direito de apreciar meu corpo e chamá-lo como quiser. —Ele murmurou no meu ouvido, sua respiração me fazendo cócegas lá. —E se você parar de ser teimosa, poderá fazer o que quiser com ele também. —Ele deu um beijo na minha orelha, sua língua se movendo para baixo no meu pescoço, deixando um rastro molhado. Ele beijou, lambeu e chupou até que era quase impossível recusá-lo. —Alessio. —Eu suspirei. —Você quer meu pau dentro de você, não é? Sei que está molhada agora, pingando para mim. Ele estava certo. Este homem irritante. —Alessio. —Colocando minha mão sobre seu peito, eu o empurrei. —Comporte-se. São apenas três dias. —Exatamente! Três malditos dias de tortura! —Ele rosnou, cruzando os braços sobre o peito. —Um dia. —Ele tentou barganhar. Não iria acontecer. —Não. Três dias. 151

—Um dia, gatinha. É tudo o que você está conseguindo. —Não. —Bem! Um dia e meio. —Não. Três dias. —Ayla, pare de ser teimosa. —Alessio olhou. —Pare você de ser teimoso. Você disse qualquer punição. — Eu olhei de volta. —Dois dias! É isso aí. Chega. —Alessio retrucou. —Não. —Dois dias, Ayla. Quer você goste ou não, eu vou buscá-la em dois dias. —Ele disse, a promessa clara em seus olhos e voz. Jogando minhas mãos no ar, eu bufei. —Está bem! Dois dias sem tocar. —Você pode esperar por tanto tempo? —Ele perguntou, aproximando-se novamente. Não. Seria uma tortura. —Não. —Eu respondi honestamente. —Você está certo. Será uma tortura. Alessio suspirou antes de me abraçar. —Então por quê? —Talvez eu ainda esteja um pouco brava? —Retornando seu abraço, dei um beijo em seu peito. —Eu te perdoo. Mas isso não significa que eu ainda não esteja um pouco machucada. —Ok. Dois dias. —Ele murmurou no meu ouvido.

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Alessio se afastou e eu me apoiei na ponta dos pés, beijandoo profundamente nos lábios. Afastando-me, pressionei minha palma sobre seu peito. —Eu preciso voltar ao trabalho. Ele levantou a mão e passou um dedo pela minha bochecha. —Vejo você no jantar.

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CAPÍTULO 17

Deixei Alessio em nosso quarto e me juntei à Maddie na cozinha. Sem lhe dar nenhum aviso, eu a puxei para longe do forno e nos rodopiei. Ela pareceu surpresa a princípio, mas rapidamente soltou uma risada. Parando, abracei-a com força antes de soltá-la. —Vejo que tudo correu bem. —Ela comentou. —Sim. Foi perfeito. Maddie, ele é simplesmente incrível. — Eu disse em total satisfação. —Às vezes sinto que não o mereço. Mas sou egoísta. Não quero ficar sem ele. Maddie sorriu, seu rosto brilhando de felicidade. —Estou tão feliz por vocês dois. Não desista dele, ok? Balançando a cabeça, prometi: —Nunca. Era uma promessa que eu manteria em meu coração. Ele era meu, e eu ia lutar por ele todos os dias. —Estou surpresa que você tenha descido tão rápido. — Maddie levantou uma sobrancelha para mim antes de voltar ao forno para retirar o frango assado. —Umm... Sim sobre isso. Eudissequeelenãopodemetocarnospróximostrêsdias. —Eu disse as palavras tão rápido que elas se embolaram antes que eu fechasse a boca, envergonhada. —Hã? —Maddie perguntou, confusa.

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Sentada no banquinho, limpei a garganta antes de falar novamente. —Eu disse a ele que ele não pode me tocar por três dias porque eu ainda estou brava. Maddie olhou para mim por um segundo antes de cair na gargalhada. —Você está negando sexo? Oh meu Deus, isso não tem preço. Dei de ombros. —Mas são dois dias agora. Ele tentou barganhar comigo. —Claro. Estamos falando do Alessio. Estou surpresa que ele tenha aceitado dois dias. —Foi uma negociação difícil. —Eu concordei. —Estou orgulhosa de você, garota. —Maddie disse, seu peito inchando com orgulho. —Alessio precisa saber que o que ele fez foi errado e não será facilmente esquecido. Eu balancei a cabeça e a ajudei. Maddie e eu começamos a conversar sobre assuntos diversos quando ouvi uma voz muito familiar. Minhas costas se endireitaram e vi Maddie congelar. A voz se aproximou, e eu segurei minha faca com mais força. Nina. O que ela estava fazendo aqui? Vi Maddie olhando para a porta e respirei fundo. E então eu a ouvi. —Maddie. —Ela cumprimentou. —Eu só preciso de um copo de água.

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Maddie não respondeu. Virando-me no banquinho, eu a enfrentei. Ela estava usando um vestido preto bem apertado que mal chegava ao meio da coxa. Seus sapatos vermelhos eram bonitos, mas tão altos que eu me perguntei como ela conseguia andar neles. Seu cabelo loiro descia lindamente encaracolado ao redor dos ombros. O rosto dela estava brilhando, os lábios com um batom vermelho. Em outras palavras, ela estava absolutamente linda. Nina olhou para mim de cima a baixo, me avaliando antes de zombar, revirando os olhos. —Estou surpresa que você ainda esteja aqui. —Ela murmurou. —O quê? —Eu perguntei, colocando a faca em cima do balcão. —Depois do que viu, pensei que você ficaria magoada e infeliz e que fugiria com vergonha. —Ela respondeu com franqueza. —Eu ainda estou aqui. —Eu disse. —Eu posso ver isso. Mas por quanto tempo? Nenhuma das amigas de foda dele durou muito tempo. —Ela retrucou. —Exceto eu. —Nina jogou o cabelo por cima do ombro e me nivelou com um olhar. Ela estava falando sério? Vi Maddie olhando furiosamente para Nina pelo canto dos meus olhos. Oh, ela é definitivamente assustadora quando está com raiva. —Oh, bem, não se pode dizer que ele ainda estará interessado em você daqui a algumas semanas. —Ela encolheu os ombros. —Por que você diz isso? —Eu perguntei com a maior calma possível. No fundo, eu me senti um pouco envergonhada, mas não

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era isso que eu estava tentando controlar. Era a raiva fervendo dentro de mim que eu estava tentando conter. Dando a ela o meu melhor sorriso, esperei sua resposta. Ela zombou, balançando a cabeça. —Você já se viu? Confusa, olhei para mim mesma. —Eu me vejo todos os dias no espelho. —Murmurei. —Você é tão... frígida. —Disse ela entredentes. —Você realmente acha que pode manter Alessio interessado por muito tempo? —Já chega, cadela! —Maddie rosnou para o lado. —Oh, por favor. Eu só estou falando a verdade. A verdade dói, não é? —Nina retrucou. Virando-se para mim novamente, ela continuou a lançar seus insultos. —Você é tão simples. Frígida. Olhando para você, eu já posso dizer que você provavelmente é péssima na cama. Alessio precisa de alguém que se aventura. Alguém que possa acompanhálo. Não alguém que seja tão frígida quanto você. Acalme-se, Ayla. Respire fundo. Está tudo bem. Ela só está tentando te machucar. Não a deixe vencer. —Sua pequena... —Maddie começou a dizer, mas Nina se antecipou a ela. Aproximando-se de mim, ela continuou. —Você realmente acha que ele me deixaria por você, alguém que ele acabou de conhecer? Minhas mãos se fecharam em punhos, e eu olhei fixamente para ela.

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—Eu sou mais como ele. Sempre fomos compatíveis. Na cama e fora dela. Se ele está me fodendo ou se estamos apenas trabalhando. O ciúme era uma névoa vermelha na frente dos meus olhos. E muita raiva. Ela lambeu os lábios vermelhos e depois sorriu. O sorriso não foi nada amigável. Estava zombando de mim, me desafiando a provar que ela estava errada. —Eu o conheço há anos, e ele sempre volta para mim. Alessio sempre volta para mais. E quando ele acabar com você, estará de volta na minha cama. Você será esquecida, como qualquer outra mulher estúpida em sua vida. É isso aí. Já foi o suficiente! Erguendo-me rapidamente, peguei Nina de surpresa, e ela deu um passo para trás, as sobrancelhas franzindo em confusão. Sem pensar, estiquei a mão para o balcão, cegamente procurando algo. Qualquer coisa. Que pena, minha mão alcançou o bolo que Lena tinha assado pela manhã. Tudo aconteceu tão rápido então. Em um segundo eu estava na frente de Nina enquanto ela olhava para mim e, no outro, o bolo foi plantado em seu rosto. Ela gritou e deu vários passos para trás, o bolo caindo de seu rosto para o chão. Nina passou as mãos furiosamente pelo rosto. — Sua puta de merda. Você vai pagar por isso. Não lhe dei a chance de reagir. Inclinando-me, peguei os restos do bolo e o esmaguei em seu rosto novamente, espalhando-o por todo o seu lindo cabelo loiro e rosto perfeito. —Sua puta feia e estúpida! —Eu rosnei. 158

CAPÍTULO 18

Minha voz alta ressoou nos meus ouvidos e ecoou ao redor da cozinha. Eu nunca tinha xingado assim. E nunca tinha estado tão brava antes. Eu estava fervendo, meu coração batendo ferozmente com a necessidade de me vingar da mulher que estava na minha frente. Como ela ousa? Ela não só me insultou, mas insultou Alessio também. Ela insultou o que Alessio e eu tínhamos. Nosso relacionamento não era perfeito, mas nossos sentimentos um pelo outro eram puros. Eu não iria ficar ali e assistir alguém maculá-lo. O rosto de Nina estava coberto de bolo de chocolate... Meu bolo favorito, na verdade. Lena tinha feito para mim e, por um momento, senti uma pontada de tristeza por ter sido estragado, mas a raiva - meu corpo estava tremendo com ela. Eu estava cega. Tudo o que eu conseguia ouvir eram as horrendas palavras de Nina. Ela tentou me alcançar, mas eu rapidamente saí do caminho e peguei seu cabelo, envolvendo meus dedos em torno dos fios que não estavam cobertos pelo bolo. —Solte-me! —Ela gritou. Meus dedos apenas apertaram mais. —Nunca mais fale assim sobre meu relacionamento com Alessio. —Eu assobiei na cara dela. —Você está completamente errada e muito cega em seu ódio para ver o que Alessio e eu temos. 159

Talvez se você abrir seu coração apenas um pouquinho então entenda o que é o amor e como ele é puro. —O amor é estúpido. E você é estúpida ao pensar que Alessio te ama. Ele não pode amar. Ele não sabe amar. —Ela retrucou. —Você está errada de novo. —Meus dedos agarraram mais seus cabelos e eu puxei seu rosto para mais perto do meu. —Todos dizem que ele não tem coração, mas eu vi o homem por trás do monstro cruel. Ele pode ser duro e impiedoso... —Fiz uma pausa, pensando em Alessio e suas confissões. Pensei em todas as suas doces palavras, beijos e carícias gentis. Olhando de volta para os olhos furiosos de Nina, continuei: —Mas ele pode amar. Eu acredito nele. —E esse será o seu primeiro e último erro. —Respondeu ela, sua risada áspera ecoando nos meus ouvidos cruelmente. Minha paciência estava pendurada por um fio, então simplesmente se rompeu. Fiquei cega por uma raiva repentina que tinha um gosto amargo, mas surpreendentemente gratificante. —Meu erro seria ouvir suas palavras odiosas. —Antes que ela pudesse dizer mais alguma coisa, eu a estava arrastando para fora da cozinha, puxando-a pelos cabelos. —Solte-me! —Nina gritou, sua voz alta na propriedade. Os dedos de Nina enrolaram no meu pulso, suas unhas fincando quase dolorosamente na minha pele. Estremeci, mas não a deixei ir. Ela me arranhou e, quando uma ardência se espalhou por meu pulso e braço, eu sabia que ela havia tirado sangue. Ignorando a sensação de dor, finalmente cheguei às portas principais, que felizmente já estavam abertas. Eu a arrastei e empurrei Nina para fora, soltando seu cabelo. 160

Ela tropeçou e caiu de joelhos antes de rapidamente se levantar novamente. Virando-se para mim, ela estava fervendo de raiva. Seu corpo estava tremendo. —Não volte mais e pare de projetar seu ódio e inseguranças nos outros. Você não apenas insultou a mim e Alessio, mas também insultou a si mesma no processo. Esteja com um homem que possa amar e fazer amor com você. Não com alguém que só vai te foder e depois te deixar para dormir com outras mulheres. Isso não é motivo de orgulho. Com minhas palavras, vi Nina ficar um pouco mais sombria, apenas um pouco. Foi apenas por um momento fugaz. Seus lábios se curvaram com tristeza, e mesmo que seu rosto estivesse coberto de bolo, eu ainda vi o olhar que ela estava me enviando. —Oh, por favor, eu não preciso de seus sermões. O que você é? Uma santa? Balançando a cabeça tristemente, soltei uma risada pequena e arrependida. Ela não tinha jeito. —Não, eu não sou uma santa. —Fiz uma pausa, minhas próprias palavras me pegando de surpresa. Era verdade. Eu não era santa. Eu era uma mentirosa, traindo a confiança do único homem que me fez sentir alguma coisa. Estava traindo a confiança da família, que de várias maneiras me adotou. A culpa era quase insuportável, meu coração doía com isso. Eu quase corri para dentro para contar tudo a Alessio, mas meus pés estavam enraizados no mesmo local. O medo do desconhecido era algo amargo e assustador. —Não, eu não sou santa. —Eu repeti, olhando para Nina. — Mas eu sei a diferença entre amor e ódio. Dor e amor. Bondade e 161

crueldade. Mas você não entende. Você escolheu o ódio acima do amor e da bondade. Dando-lhe um último olhar, dei um passo para que eu estivesse dentro de casa novamente. —Não volte. E fique. Longe. De. Alessio. —Pontuei cada palavra, tentando fazê-la entender que eu estava falando sério. —O que você vai fazer se eu não ficar? —Ela provocou. Dando-lhe um olhar, cruzei os braços sobre o peito. —Farei pior do que jogar um bolo na sua cara e arrastá-la para fora. Não me teste. Não conheço minha própria raiva e o que posso fazer. Você não quer ser um experimento. —Você é inútil. Marque minhas palavras. Alessio voltará para mim. —Nina rosnou, esperando que suas palavras fossem um tapa na minha cara. Mas elas não machucaram. Eu sabia a verdade. Eu confiava em Alessio. —Alessio não quer você. Ele me escolheu. —Respirando fundo, meus lábios se inclinaram em um pequeno sorriso ao pensar nele. Sem ver sua reação, fechei a porta na cara dela. Um suspiro escapou dos meus lábios quando me virei, mas parei ao ver todos parados ali. Viktor, Nikolay e Maddie estavam de pé na sala de estar, olhando para mim em choque absoluto. Maddie tinha um sorriso enorme no rosto e estava praticamente pulando na ponta dos pés. Viktor balançou a cabeça, um sorriso no lugar, e era óbvio que ele estava se esforçando para não rir. —Lembre-me de nunca a

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irritar. —Disse ele com uma tosse falsa. —Porra, a gatinha tem garras. Nikolay simplesmente assentiu, seu rosto sem expressão, como sempre. —Isso foi épico! —Maddie gritou. —Oh meu Deus. Sim! Eu me sinto como uma mãe orgulhosa. Minha garota está tão crescida. Enquanto Maddie vibrava com orgulho, olhei para minhas mãos com espanto quando finalmente percebi o que tinha feito. Eu ainda estava me recuperando do meu encontro com Nina quando Maddie se aproximou e me abraçou. —Você foi incrível e definitivamente mostrou a Nina o lugar dela. O que eu deveria dizer? —Umm... Obrigada? Maddie riu, balançando a cabeça com a minha óbvia perplexidade. Viktor acenou para mim com a cabeça antes de se afastar, Nikolay seguindo atrás dele. Maddie começou a me puxar em direção à cozinha, e foi quando notei Lyov e Isaak de pé na escada. Os olhos de Lyov estavam focados intensamente em mim, seguindo todos os meus movimentos. Estremeci sob seu olhar intenso. Lyov e Isaak não estavam hospedados na propriedade, e eu mal os vi. Mas sempre que eles estavam aqui e nos encontrávamos, eu sentia seus olhos em mim, me observando. Às vezes, parecia que eles podiam ver meu verdadeiro eu, como se soubessem quem eu realmente era. Eu podia ver e sentir o desgosto no olhar de Lyov. Ele me odiava, embora eu não entendesse o porquê.

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Olhando rapidamente para baixo, evitei olhar nos olhos deles e corri para a cozinha. Sempre que eles estavam em casa, eu ficava longe. O mais longe possível, sem chamar atenção para mim. —Pobre bolo, no entanto. Foi estragado no rosto feio dela. O bolo não merecia. —A voz de Maddie me tirou dos meus pensamentos, e eu olhei para a bagunça. —Você acha que Lena vai ficar brava? —Eu perguntei, afastando o pensamento de Lyov para o fundo da minha mente. —Oh, eu não acho. Eu sei que mamãe ficará brava. Ah, oh.

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CAPÍTULO 19

Meus olhos estavam fixamente voltados para a porta do banheiro. Alessio estava lá dentro, tomando banho. Alguns minutos depois, ouvi o chuveiro desligar. E então houve silêncio. O silêncio só fez minhas mãos suarem, e eu as esfreguei sobre minha camisola. A porta se abriu alguns segundos depois, e Alessio saiu, vestindo apenas calças de moletom pretas. Seus olhos instantaneamente foram para mim, e quando ele notou que eu estava olhando, eles brilharam quase de forma provocadora. Aproximando-se, ele parou ao lado da cama, seu grande corpo pairando sobre mim. Meu olhar seguiu um caminho por seu peito, seu abdômen definido e depois um pouco abaixo, mas rapidamente levantei a cabeça quando vi a protuberância perceptível. Alessio riu enquanto eu olhava para o peito dele, recusandome a olhar em seus olhos quando minhas bochechas queimaram de vergonha. —Então, como isso vai funcionar? —Sua voz era baixa e profunda. Segurei o edredom para me impedir de alcançá-lo. —O quê? —Olhei para cima e o vi acenando em direção à cama. —Não devemos nos tocar. Como vamos dormir? —Ele perguntou, levantando uma sobrancelha em questionamento. 165

Oh. Certo. Olhei para a poltrona no canto do quarto e sorri. —Você pode dormir na poltrona. Alessio olhou para ela, depois para mim novamente, sua expressão cheia de surpresa. —Você está realmente me expulsando da minha própria cama? —Você disse que é a nossa cama. Então eu também posso decidir, certo? —Eu bati meus cílios para ele inocentemente, tentando fazer a expressão mais angelical que conseguia. Alessio simplesmente me olhou enquanto caminhava para a poltrona, jogando sua toalha na mesa de centro, contrariado. Observei seus ombros tensos, e o sorriso no meu rosto se desfez. Eu estava sendo injusta. Não importava se o chamávamos de nosso quarto; este ainda era o quarto dele. Fazê-lo dormir na poltrona não era razoável. Ou legal. Com um suspiro, comecei a sair da cama. —Eu deveria ir para o meu quarto. —Sugeri baixinho. Os olhos de Alessio se arregalaram e ele disse rapidamente: —Não. Ele apontou para a cama, olhando para mim. —Volte para lá. —Ele ordenou. —Prefiro tê-la no mesmo quarto e não tocá-la a têla no outro quarto, tão longe de mim. —Alessio... —Comecei, mas não tive a chance de explicar antes que ele me interrompesse. —Não. Não há meu quarto ou o seu. Esta cama é tanto sua quanto minha. É nossa. Este é o seu quarto agora. Entendeu? —Ele respondeu, suas palavras pontuadas como se ele quisesse que eu entendesse e nunca duvidasse do que ele estava dizendo. —Então 166

coloque essa sua linda bunda de volta na cama e vá dormir. Desisti de discutir e me sentei na beira da cama, ainda me sentindo um pouco culpada. Meus olhos estavam olhando para baixo, mas ouvi o suspiro audível de Alessio e ele rapidamente se aproximou da cama. Ele parou na minha frente, e olhei para seus pés. Quando suas mãos pousaram no colchão, em ambos os lados dos meus quadris, me encarcerando, eu não tive escolha a não ser olhar em seus olhos. —Pare de pensar tanto, Anjo. —Ele disse calmamente. Anjo. Meu coração derreteu com a palavra e eu sorri. Alessio se inclinou para frente, sua testa a apenas alguns centímetros da minha, mas não nos tocamos. Estávamos muito perto, mas sem nos tocar. Tudo o que eu precisava fazer era me inclinar um pouco mais para frente e estaríamos nos tocando. Mas nenhum de nós se moveu. —Boa noite. —Ele sussurrou. —Boa noite. —Respondi com a mesma delicadeza. Ainda assim ele não se mexeu, nem eu. E quando ele finalmente o fez, pude ver a decepção em seus olhos, e senti a minha própria, meu peito doendo quando ele se afastou. Aquele pequeno momento entre nós durou menos do que queríamos. —Eu quero tanto te beijar agora, Ayla. —Confessou. Suas palavras fizeram um arrepio percorrer meu corpo. Eu também queria isso. Mas nós dois sabíamos que não podíamos simplesmente nos beijar. Isso levaria a mais, e não seríamos capazes de parar. —Mas eu vou esperar. Por você, vou esperar. 167

Ele era perfeito e dizia as palavras mais doces. Era difícil resistir a ele. Eu podia me sentir escorregando, esquecendo sua punição. Podia me sentir alcançando-o, mas ele já estava se afastando. —Vá dormir, Anjo. Assentindo, deitei-me sob o edredom enquanto ele apagava as luzes, apenas a lâmpada ao meu lado lançando um brilho suave ao redor do quarto. Olhei para a poltrona e vi Alessio deitado, cruzando os braços sobre o peito. No escuro, eu não conseguia ver se seus olhos estavam fechados ou não. Talvez ele fosse grande demais para a poltrona. Ele realmente era. A poltrona parecia pequena com Alessio deitado. Aconcheguei-me mais sob o edredom e me afundei mais no colchão macio, desejando parar de me preocupar e apenas dormir. Horas depois, eu ainda não estava dormindo. Olhei para Alessio e me perguntei se ele já estava dormindo. Sem pensar muito, saí da cama em silêncio, indo até ele. Meus pés pararam na frente dele para ver seus olhos fechados, seu rosto calmo com o sono. Ele era tão bonito assim. Quando olhei para Alessio, não vi o homem cruel, o assassino ou o monstro. Tudo o que vi foi ele, o homem que me chamava de anjo. Vi seu verdadeiro eu. Puxei o lençol sobre seu corpo, meu coração acelerando um pouco. Eu esperava que ele não acordasse. Quando ele não acordou, minhas mãos se moveram para sua cabeça, meus dedos levemente roçaram sua testa enquanto eu empurrava os fios de cabelo. Acariciei-o quase suavemente, desejando que ele estivesse acordado para sentir meu toque. 168

—Eu pensei que não deveríamos nós tocar. Ao ouvir sua voz, puxei minha mão. Alessio abriu um olho, enviando-me um sorriso. Zombando de seu olhar provocador, cruzei os braços sobre o peito. —Você estava acordado esse tempo todo? —Sim. —Ele respondeu, olhando para o lençol que cobria seu corpo. —Por que não disse nada? —Eu murmurei baixinho. —E perder a oportunidade de você me tocar? —Ele disse de volta. —Bem, isso é trapaça. —Respondi. —Foi você quem me tocou. —Ele levantou uma sobrancelha antes de fechar os olhos novamente. —Vá dormir. —Dessa vez fui eu que o ordenei. Seu peito vibrou com uma risada baixa, e eu sorri de volta. Dois dias. Nós poderíamos fazer isso. Com confiança renovada, voltei para a cama. Assim que minha cabeça bateu no travesseiro, fechei os olhos e esperei o sono chegar.

Estava escuro. Havia chuva e nevoeiro. Meu corpo tremia com cada trovão. O vento soprava violentamente ao meu redor. Estava escuro. Muito escuro. Por que estava escuro? Onde eu estava? Eu não conseguia ver nada. Apenas escuridão. Meus olhos estavam fechados? Eu tentei abri-los... Mas eles já estavam abertos. Socorro. Eu tentei gritar, mas nenhuma palavra saiu. 169

E então eu ouvi a voz dele. Sua voz sinistra. Minha pele se arrepiou, minhas costas enrijeceram e um arrepio percorreu minha espinha. Não. Não. Eu queria gritar. Agora eu entendi por que era apenas escuridão. Eu estava de volta ao inferno. Ele me pegou. O diabo me pegou e não me deixaria ir dessa vez. Eu queria gritar novamente, mas minha voz tinha desaparecido. —Você realmente achou que poderia escapar? Sua voz estava bem perto do meu ouvido, mas eu não conseguia ver nada. Eu apenas o senti. Uma pequena parte de mim morreu quando senti sua respiração no meu pescoço. —Eu sempre vou te encontrar. Eu me afastei dele, mas ele apertou dolorosamente meus braços, e eu gritei. Desta vez, eu ouvi. Minha voz ficou rouca e meu grito ecoou nos meus ouvidos. —Grite. Grite o quanto quiser. Ninguém vai te salvar dessa vez. Nem mesmo ele. Nem mesmo ele. Alessio. Não. Alessio, onde você está? Eu queria gritar, mas minha voz tinha desaparecido novamente. E então eu o vi. Mesmo através da escuridão, eu o vi. Ele estava caminhando em minha direção. Meu Salvador. Minha paz. Ele estava aqui. Ele me salvaria. Ele me salvaria do diabo e desse pesadelo. Mas tudo o que vi foi raiva nos olhos dele. Eles brilhavam com isso. Muita raiva. Muito ódio. Ofeguei quando percebi que tudo estava direcionado para mim. Eu tentei balançar a cabeça, tentei explicar, mas estava entorpecida. 170

Ele parou na minha frente, seu grande corpo pairando perigosamente sobre o meu. Em vez de me sentir segura, tudo o que senti foi medo. Eu podia sentir toda a sua fúria e ódio por mim. Eles estavam vibrando em seu corpo, deixando-me saber exatamente como ele se sentia. Eu o traí. E agora eu tinha que pagar o preço. —Eu te odeio. —Ele assobiou as palavras, partindo meu coração em mil pedaços. —Você merece o que tem. Sua alma pertence ao diabo. Não. Não. Não. Por favor. Acredite em mim. Ele estava indo embora. Para longe de mim, me deixando para trás com o diabo. Não, volte. Por favor volte. Não me deixe. Ele começou a desaparecer. Eu gritei e berrei, mas nenhum som foi ouvido. Somente a risada do diabo podia ser ouvida. —Eu te odeio. —Essas palavras ressoavam nos meus ouvidos. —Ela é sua. —Disse ele ao diabo. Não! Sou sua! Apenas sua. Por favor, volte. —Nunca apareça na minha frente novamente. Você está morta para mim. Eu sinto muito. Por favor, me perdoe. Por favor. Por favor, me perdoe. Então ele se foi, desaparecendo no escuro, deixando-me para trás com o diabo que torturava minha mente, corpo e alma. Eu me estilhacei quando perdi de vista meu salvador.

—NÃO! Eu levantei na cama, meu corpo encharcado de suor. Meus 171

ouvidos zumbindo com meu grito. A luz acendeu instantaneamente e Alessio estava ao meu lado em questão de segundos, mas eu hesitei. Tudo que eu podia ver era ele se afastando de mim, desaparecendo na escuridão e me deixando para trás. Não. Movendo-me para frente na cama, envolvi meus braços em torno do pescoço dele, segurando-o com força contra mim. Meu abraço foi inflexível. Recusei-me a deixá-lo ir. Ele rapidamente envolveu os braços em torno da minha cintura, me puxando para seu colo, me segurando com a mesma força. —Não me abandone. Por favor não me deixe. Nunca me deixe. Não posso. Por favor, por favor. Não me deixe, Alessio. — Murmurei em seu peito, meu coração disparado ao pensar em ficar sem ele. Meu corpo sacudia com soluços silenciosos e eu tremia nos braços dele. Lágrimas escorreram pelas minhas bochechas em um fluxo sem fim. Eu continuei a implorar a ele. —Shhh... Eu estou aqui. Eu não vou embora. Estou bem aqui, Anjo. Suas palavras foram calmantes, mas o medo dentro de mim não diminuiu. Alessio continuou a me acalmar enquanto eu chorava em seu peito. Ele nunca me soltou, seus braços permanecendo apertados ao meu redor. Senti seus dedos suavemente acariciando meus quadris. —Não vou embora. Eu nunca te deixarei. Não chore, Anjo. Eu não posso suportar suas lágrimas. Estou bem aqui. Estou com você. —Alessio continuou docemente em meus ouvidos, querendo que eu acreditasse nele. Eu gostaria de poder. Queria acreditar nele. Foi apenas um 172

sonho, apenas um pesadelo, tentei me convencer. Mas era mesmo? Talvez estivesse apenas mostrando a verdade, minha realidade quando Alessio soubesse a verdade. Afinal, ele me odiava. Minha verdadeira eu. Ele odiava os Abandonatos, e não importava o quanto eu desejasse que não fosse minha realidade, era... E eu era sua inimiga. Meus dedos apertaram ao redor de seu pescoço com o pensamento de perdê-lo. Minha culpa tinha um gosto amargo. Meu coração doía e minha mente estava entorpecida. Eu queria esquecer. Eu só queria viver nessa bolha feliz com Alessio, mas por quanto tempo? Minhas lágrimas finalmente pararam, meus soluços se transformando em pequenos choramingos. As palavras suaves de Alessio finalmente penetraram em minha mente enevoada, e relaxei contra ele. Ainda estávamos abraçados, nos recusando a soltar. Eu não poderia mesmo se tentasse. Parecia que se eu o soltasse, desmoronaria. —Por favor, não me deixe. —Sussurrei uma última vez. —Eu não vou. —Ele respondeu. —Prometa-me. —Eu prometo a você, Anjo. —Você disse que não quebra suas promessas. —Minha voz ficou abafada quando enterrei meu rosto em seu peito duro. —E eu não as quebro. Eu nunca vou quebrar minha promessa para você, Ayla. Eu sou seu tanto quanto você é minha. Nunca vou te deixar ir. —Ele acariciou meus cabelos, colocando um beijo no topo da minha cabeça. 173

Suas palavras eram o que eu queria ouvir. Elas eram mais do que eu queria. Exceto que as promessas que ele fez para mim, não significariam nada se ele descobrisse minha verdade. Mas eu ainda o fiz prometer. Era egoísta da minha parte. Talvez... Apenas talvez, se ele fizesse essa promessa, ele não me deixaria? Alessio era o tipo de homem que nunca quebrava seu voto, não importa o que acontecesse. Então eu tentei ligá-lo a mim de qualquer maneira possível. Minhas mãos foram para o peito dele, logo acima do coração. Eu senti o batimento contra minha palma. Estava batendo tão forte quanto o meu. Ele estava preocupado. Assustado até. Meus dedos acariciaram suavemente seu peito quando eu respirei fundo e confessei uma coisa. —Meu nome não é Ayla Blinov. Foram as palavras mais difíceis já ditas por mim. Partiram um pequeno pedaço do meu coração. Naquele momento, eu desejei ser Ayla Blinov. Não uma Abandonato. Eu não estava pronta para perdê-lo ainda. Mas poderia confessar alguma coisa. Qualquer coisa. Um passo de cada vez. Mas suas palavras seguintes me pegaram de surpresa. —Eu sei. Minha cabeça se levantou e eu olhei para ele, o medo deslizando pela minha espinha. Seu rosto estava quase ilegível, mas seus olhos eram suaves, olhando para mim como se eu fosse alguém precioso. 174

—Você sabe? —Questionei. —Fiz uma verificação de antecedentes no dia que você apareceu aqui. —Ele respondeu simplesmente. —E não encontrei nada. Pesquisamos cada Ayla no país. Até fiz algumas checagens de nomes que pareciam semelhantes aos seus. Mas ainda não consegui nada. Era como se você nunca tivesse existido. Então eu sabia que você estava mentindo sobre o seu nome. —Você sabia que eu estava mentindo esse tempo todo? — Perguntei, completamente surpresa com esta nova revelação. —Sim. —Uma palavra simples, uma sílaba, mas foi o suficiente para virar meu mundo de cabeça para baixo. —Mas por quê? Por que você me deixou ficar? —Fiquei curioso no começo, mas depois percebi que não podia te deixar ir. Não importava mais que você estivesse mentindo para mim. Às vezes, até esqueço que você está mentindo. — Explicou ele calmamente. —Mas e se eu fosse a espiã? Ou a inimiga? —Engasguei com as palavras, minha garganta se fechando quando de repente me senti enjoada. —O que você teria feito? Alessio olhou para mim por um segundo, seus olhos azuis penetrando na minha alma. —Eu teria que matar você. Trazendo minha mão à minha boca para parar o grito repentino, enterrei meu rosto em seu peito novamente. —Eu não sou sua inimiga. —Sussurrei. —Eu sei. —Ele respondeu com a mesma suavidade. Suas mãos estavam acariciando meus braços, e eu derreti em seu abraço. —Por que você está mentindo, Ayla? Ayla é mesmo o seu nome? —Alessio perguntou de repente. 175

—Sim, Ayla é meu nome. Eu não menti sobre isso. —Então por que você mentiu sobre seu sobrenome? O que você está tentando esconder? —Ele pressionou por mais. —Você está em perigo? Alguém está atrás de você? Dei-lhe um aceno duro. Apenas um simples aceno de cabeça, e então ficamos em silêncio. Alessio não perguntou mais nada. Eu sabia que ele estava esperando que eu respondesse. —O homem com quem devo me casar. —Eu sussurrei, e Alessio congelou, seu corpo ficando tenso, seus braços se apertando ao meu redor como tiras de aço. —O quê? —Ele perguntou, sua voz calma e baixa, mas eu sabia que ele estava sentindo tudo, menos calma. Eu sabia que quando ele falava nesse tom, estava mais irritado. —Ele me quer, Alessio. Não importa que eu tenha fugido; ele não descansará até me encontrar, viva ou morta. —Respirando fundo, funguei, tentando manter minhas lágrimas sob controle. — Eu sou sua obsessão, sua posse premiada, e ele não vai parar de me procurar até que eu esteja na cama dele novamente. Os dedos de Alessio afundaram nos meus quadris e eu estremeci. —Quem é ele? Eu balancei minha cabeça. —Ayla, quem é ele? —Ele perguntou, sua voz mortal. —Não. —Droga! —Ele rosnou. —Por que você está o protegendo? Ergui minha cabeça e a balancei descontroladamente. —Não! Estou te protegendo! E a mim. Ele é um homem perigoso, Alessio. 176

Um homem louco. Ele estreitou os olhos. —Mais perigoso que eu? —Eu não sei. —Respondi honestamente. Eu sabia que Alberto estava obcecado por mim, mas até que ponto ele iria, eu não sabia. —Ele é um homem morto, Ayla. —Prometeu. —Diga-me o nome dele. A fúria em seus olhos era inconfundível. Mas não era para mim. Era por mim. Era direcionada ao homem que me machucou. Eu fiquei quieta. Pensei que ele ficaria louco, mas ele não ficou. Em vez disso, ele apoiou a testa na minha. —Por que você é tão teimosa? —Porque eu quero continuar viva. Quero viver com você. E não quero te perder. —Anjo. —Ele murmurou. —Você não vai me perder. —Posso estar mentindo sobre o meu nome, sobre quem sou, mas é a única coisa que estou mentindo. O que sinto por você é de verdade. —Confessei, esperando que quando chegasse a hora, ele se lembrasse daquelas palavras. —Você nunca vai me dizer a verdade? —Alessio questionou. Gostaria de nunca ter que dizer a verdade, Alessio. Pois a verdade te fará sofrer. E eu não suporto partir seu coração. Mas eu tenho que suportar. Um dia, terei que lhe contar. E esse dia pode ser o dia em que vou perder tudo. —Eu vou. Quando estiver pronta. Agora, eu quero esquecer. Não quero viver no passado. Compreensão transpareceu em seus olhos, e ele suspirou. — Eu vou protegê-la, Anjo. —Lá estava. Outra promessa. 177

Eu não disse mais nada. Colocando minha cabeça em seu ombro, exalei longamente, deixando meu corpo relaxar em seu abraço. Alessio nos deitou na cama e puxou a coberta em cima de nossos corpos. Nem uma vez ele me soltou. —Eu sei que não devo tocar em você, mas nós dois sabemos que não podemos dormir um sem o outro. Vou te abraçar esta noite e amanhã, e vou manter minha promessa. —Disse Alessio em meu ouvido antes de dar um beijo ali. Um de seus braços estava em torno da minha cintura, minhas costas na frente dele. Ele me abraçou com força, me prendendo em seu corpo. Coloquei minha mão sobre a dele e fechei meus olhos. —Eu sei que você cumprirá sua promessa. —Durma, Anjo. Eu cuidarei de você. Guardando sua promessa no meu coração, deixei o sono tomar conta de mim. Desta vez eu estava cheia de paz. Afinal, eu estava nos braços do meu salvador.

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CAPÍTULO 20

Deslizei pelo quarto, seguindo o ritmo da música enquanto dobrava as roupas de Alessio. Eu cantarolava junto, meu corpo leve. Já fazia dois dias desde o meu pesadelo. Alessio e eu não conversamos sobre isso novamente. Ele não me pressionou ou fez mais perguntas. Estava me dando o tempo que eu precisava, e fiquei eternamente grata por isso. Eu deveria estar contando meus dias. Eu deveria dizer a verdade. Mas eu logo diria. Eu só queria viver esse momento por mais algum tempo antes de deixar minha vida nas mãos do destino. Uma vez que eu contasse a verdade a Alessio, ele seria o juiz, o júri e o executor. Eu não teria escolha a não ser aceitar sua decisão, mesmo que isso significasse minha morte. Eu só queria aproveitar essa felicidade por mais algum tempo. Talvez eu fosse uma pessoa horrível por isso. Eu não sabia... Mas também não me importava. Eu só queria continuar sendo feliz. Depois de dobrar a última roupa de Alessio, eu rapidamente amarrei meu cabelo em um rabo de cavalo. Sorrindo, pensei em Alessio soltando-o novamente. Já havia passado dois dias. O castigo de Alessio tinha terminado. Ele viria atrás de mim em breve. Antecipação e desejo dominavam meu corpo, e eu tremi, pressionando minhas coxas 179

juntas. Eu estava prestes a me afastar da cama quando notei meu livro no chão. Balançando a cabeça, me abaixei, pegando o livro. Eu fui me levantar. Minhas costas estavam quase endireitadas, mas não tive chance. Um corpo duro me envolveu. Soltei um grito e uma mão cobriu minha boca, me calando. Lutei enquanto as lágrimas ardiam nos meus olhos, mas o corpo forte me manteve no lugar. O medo deslizou para dentro do meu corpo, e minha mente começou a acelerar, meu coração batendo forte. Fui empurrada para a frente e caí na cama, meus olhos se fechando com o impacto. Meu corpo foi virado para que eu estivesse de costas, e o corpo subiu sobre o meu. Fechei os olhos com força, recusando-me a olhar para o homem. E se o diabo tivesse me encontrado?

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CAPÍTULO 21

Meus pensamentos correram loucamente. O homem sentouse em cima do meu corpo, e eu congelei, temendo o que viria a seguir. Puxando uma respiração trêmula, eu me obriguei a me acalmar e pensar. Minha mente se recusou a cooperar. Tudo o que eu conseguia pensar era nas risadas sinistras de Alberto. Um segundo se passou e depois outro. Ele não se mexeu, nem eu. Enquanto os segundos corriam, o medo que estava me sufocando lentamente começou a diminuir. Mesmo em meio aos meus pensamentos confusos e o alarme, parecia que eu conhecia a pessoa. A maneira como seu corpo pressionou o meu, cada centímetro dele, eu conhecia. Tinha passado noites explorando-o, sentindo-o. Seu cheiro me envolveu, e eu senti meus músculos começarem a relaxar. Meu corpo o conhecia e reagiu de acordo. Eu sabia que era ele. E ele não era o diabo. Minhas mãos instintivamente foram para seus ombros, e eu segurei quase desesperadamente. Meus olhos se abriram para encontrar os de cor de aço azulado. Eu olhei em seus olhos endurecidos. Eles eram duros, mas cheios de desejo e luxúria. Outro segundo passou, e meu corpo derreteu sob o dele, o medo se dissipando, meus músculos relaxando enquanto lhe dava o controle. E então ele sorriu, parecendo pecaminosamente bonito e 181

diabolicamente sexy. —Alessio. —Eu disse, meus dedos afundando em seus ombros em aviso. —Você me assustou! Ele cantarolou, seus olhos ficando mais aquecidos, se possível. Alessio se inclinou até seu rosto estar no meu pescoço, seu corpo pressionando o meu na cama. Ele passou o nariz ao longo do meu pescoço, dando pequenos beijos enquanto o percorria. —Você tem sido uma gatinha muito má. —Ele murmurou, sua voz rouca e mais profunda. Oh Deus. —Flertando com meus homens. Oh, aquilo! Fechei os olhos com força quando compreendi. Eu estava em grandes apuros. Na minha tentativa de provocar Alessio, fui atrevida. Maddie estava certa. Eu estava brincando com fogo. Alessio deu outro beijo, e então gentilmente mordeu em aviso. —Tentando me deixar com ciúmes. Uma gatinha tão má. Ele beijou ao longo da minha clavícula e depois subiu novamente, deixando rastros molhados de seus beijos, lambendo, chupando e mordiscando a pele até que eu ficasse entregue em seus braços. —Oh. —Eu gemi sem vergonha. Seus dentes roçaram na pele sensível logo acima da minha clavícula, e minhas costas arquearam da cama enquanto eu pressionava contra ele. Senti seu pau duro entre as minhas pernas, e ele gemeu. —Alessio. —Eu suspirei. O medo substituído pelo desejo e antecipação. Já não estava com medo. Tudo que eu precisava era dele. Ele se afastou levemente para olhar para mim. —Estou me 182

segurando por um fio agora, Ayla. Não serei gentil. Alessio se inclinou novamente até que seus lábios estavam perto da minha orelha, suas palavras seguintes me fazendo tremer de excitação. —Eu vou te foder. Isso vai ser duro e rápido. Tentei apertar minhas pernas juntas quando senti um formigamento entre elas por causa de suas palavras, misturado com a aspereza em sua voz. Mas os quadris de Alessio se estabeleceram entre elas, parando meu movimento. Através dos olhos nebulosos e lascivos, Alessio olhou para mim. —Diga-me se for demais, porque estou prestes a forçar seus limites. —Sua voz continha um aviso, mas também desespero, quase como se ele não pudesse mais se controlar. Eu só conseguia acenar com a cabeça, meu corpo hiper consciente de cada movimento dele. Assim que ele viu meu aceno, não tive chance de piscar ou pensar antes que ele se afastasse abruptamente. Então ouvi um som de rasgo, ecoando alto no quarto silencioso. Meus olhos se arregalaram e olhei para mim mesma para ver a parte de cima do meu vestido rasgada. E então Alessio estava em cima de mim de novo, não me dando a chance de reagir. Seus lábios bateram nos meus, me beijando possessivamente. Minha mente e meu corpo ficaram fora de controle com seu beijo contundente. Estava claro que seu controle havia se rompido. Em vez de ter medo, tudo o que senti foi prazer. Eu me rendi a ele, confiando nele para me dar o prazer que eu precisava, que nós dois precisávamos. Seus lábios nunca deixaram os meus, mesmo quando ele se deslocou levemente para puxar meu vestido para baixo. Eu lutei para ajudá-lo, nós dois nos recusando a interromper o beijo. 183

Quando meu vestido finalmente chegou à minha cintura, suas mãos voltaram a subir e ele puxou os bojos do meu sutiã para baixo. Gemi em seus lábios quando seus dedos encontraram meus mamilos. Eles se endureceram em botões perfeitos na direção dele, implorando por seu toque e atenção. Sua língua deslizou na minha boca, e o beijo se aprofundou, sua boca devorando a minha, provando e mordiscando meus lábios. Seus dedos acariciaram meus mamilos, e eu tremi em seu abraço, empurrando em seu toque, querendo mais. E ele me deu mais. Seus lábios deixaram os meus, mas não deixaram minha pele. Alessio arrastou beijos pelo meu pescoço até chegar aos meus mamilos. Eu já estava molhada e pingando entre as minhas pernas. Estava aflita, querendo ser preenchida. Alessio girou a língua sobre a ponta, minhas costas arqueando por mais. —Uhh... —Você gosta disso? —Ele provocou. Eu não respondi. Mas ele me deu o que eu queria. Ele lambeu, chupou e brincou com meus mamilos, deixando-me quente e fria ao mesmo tempo. Minha pele formigava, mas eu me sentia estranhamente vazia. Meus dedos enrolaram em seus cabelos, puxando-o contra mim, implorando por mais sem palavras. Seus lábios deixaram minha pele e eu gemi de pesar. —Não. Alessio se afastou e me deu um olhar aquecido. —Você está implorando, gatinha? Olhei para ele e ele riu. —Não? Ok, não se preocupe. Você estará implorando em breve. O corpo dele deixou o meu. Alessio rapidamente tirou suas 184

roupas. Ele puxou a gravata quase com raiva e depois a jogou no chão com o paletó e a camisa descartada. —Você está tomando as pílulas anticoncepcionais que Maddie lhe deu? —Ele perguntou. Eu só consegui acenar, dando a resposta que ele queria. Suas calças e boxers foram as próximas. E então ele estava parado na minha frente em toda a sua glória nua. Sua dureza saltou para cima em direção ao abdômen, e eu gemi com a visão. Outra risada veio dele, e ele envolveu os dedos ao longo de seu pau duro. —Tire o seu vestido. —Ele ordenou rispidamente enquanto se esfregava. Olhei para sua mão, mordendo meus lábios em antecipação. —Ayla. —Ele rosnou. Sentei-me ao seu tom e rapidamente tirei meu vestido rasgado e o joguei no chão, ao lado das roupas descartadas de Alessio. Meu corpo arrepiou quando o ar frio beijou minha pele nua. Tirei meu sutiã, meus olhos ainda no comprimento grosso, duro e longo de Alessio. —Tire tudo. Quero você nua aos meus olhos. —Ele exigiu. Engolindo em seco e subitamente nervosa, puxei lentamente minha calcinha rendada pelas pernas e a joguei no chão. Ajoelhei-me, olhando para Alessio, esperando seu próximo comando. Seus olhos brilharam, e ele mordeu os lábios, me dando outro sorriso sexy. —Seu corpo é feito para ser adorado. Eu queria ser adorada por ele. O olhar em seus olhos, eu queria apenas para mim. E, em troca, eu queria dar a ele tudo o que ele precisava ou queria. Eu queria ser dele, de todo o coração. 185

—Abra as pernas. —Disse Alessio. Eu abri, quase instantaneamente. Ele olhou fixamente entre as minhas pernas, e soltou uma série de maldições. Antes que eu pudesse piscar, ele estava sobre mim novamente. Alessio me virou até eu ficar de quatro, de costas para ele. Eu ofeguei de surpresa, mas não reclamei. Seu corpo se moldou sobre o meu, e com os joelhos, ele afastou minhas coxas ainda mais para acomodá-lo. Eu não conseguia vê-lo dessa maneira. Fui forçada a me concentrar na minha audição e em cada toque dele. Com minha bochecha pressionada contra o travesseiro, esperei com expectativa. Pensei que ele me levaria rapidamente, mas, em vez disso, seu pau estava entre as minhas pernas, não empurrando para frente. Ele se esfregou contra mim, cobrindo sua ponta com a minha umidade, e eu gemi com a sensação. Movi meus quadris com ele, querendo mais atrito, mas seus dedos se apertaram em volta da minha cintura, me mantendo imóvel. —Você está molhada para mim? —Ele perguntou, sua voz profunda e quente contra o meu pescoço. —Sim. —Eu gemi quando senti a cabeça do seu comprimento duro na minha entrada. —Então me mostre. Lambi meus lábios nervosamente, sem saber o que fazer. —Eu... —Eu comecei, mas Alessio me interrompeu. —Coloque a mão entre as pernas, brinque com você mesma. —Ele ordenou. Alcancei entre minhas pernas com dedos hesitantes e, assim 186

que toquei minha umidade, congelei. —Mostre-me, Ayla. Puxando minha mão, mostrei a ele, minhas bochechas queimando quando ele agarrou meus dedos e os levou aos lábios, provando-me, lambendo a umidade dos meus dedos. Ele cantarolou sua aprovação ao meu gosto, seus quadris balançando contra os meus. —Alessio... —Eu gemi novamente. —O que você quer, gatinha? —Você. Ele riu baixo, seu peito vibrando nas minhas costas. —Você precisa ser mais específica. Ah! Por que ele estava fazendo isso? —Por favor. —Implorei. Seus lábios estavam ao lado da minha orelha, sua respiração fazendo cócegas na pele lá. —Você quer meus dedos? Meus lábios? —Ele parou por um segundo enquanto meus quadris empurravam contra ele, implorando sem palavras. —Hmm... Ou você quer meu pau? Que eu foda você profundamente e com força até você ficar sem fôlego e implorando por mais? —Sim. Alessio, por favor! —Sim para quê? Meus dedos? Minha boca? —Não! —Eu gritei. —O quê? —Ele provocou descaradamente. —Diga. Estou esperando. —Eu quero... —Eu ofeguei e parei quando ele empurrou 187

apenas um centímetro dentro de mim. Mas então ele saiu, me deixando vazia novamente. —Estou esperando, gatinha. Ele estendeu a mão e provocou meus mamilos com os dedos. —Droga! Eu quero você! Eu quero que você me foda! —Eu disse, seu toque e meu desejo por ele me deixando louca. Isso foi o suficiente para ele. Assim que as palavras saíram dos meus lábios, Alessio deslizou dentro de mim em um golpe implacável. O ar deixou meus pulmões em um grito áspero, e eu me curvei debaixo dele. Sua espessura dura me encheu quase dolorosamente. Sem o preservativo, senti cada centímetro dele pulsando dentro do meu calor úmido. Pressionando meu rosto contra o travesseiro, eu gemi alto. Alessio recuou quase completamente, apenas para voltar para dentro de mim com tanta força que lutei para respirar. Ele me fodeu implacavelmente, e eu encontrei cada impulso com uma necessidade bruta. —Porra. —Ele praguejou no meu pescoço. —É bom pra caralho. Eu me apertava ao redor dele toda vez que ele batia de volta em mim. Mais forte. Mais rápido. Mais profundo. Seus golpes controlados perdendo o controle. —Você é minha! —Ele rosnou em meu ouvido, sua respiração ofegante. —Sim! —Eu estava dolorosamente ciente de sua necessidade porque sentia o mesmo. A sensação foi demais. Meu corpo estava formigando e fora de controle. Apenas Alessio poderia me livrar dessa sensação, mas 188

ele não estava me dando o que eu queria. O desejo se acumulou no meu estômago, e eu apertei, a necessidade de gozar tomando meu corpo, me levando ao limite. Alessio saiu de mim, me deixando vazia e no limite. — Alessio. —Protestei. —Não, você não pode gozar. Ainda não, estou longe de terminar com você, gatinha. —Ele rosnou antes de empurrar dentro de mim novamente. —Amanhã, quando você estiver sensível, latejando e dolorida, lembrará que eu te fiz se sentir assim. Você se lembrará de que eu fui o único te fodendo. Ele me encheu completamente com seu pau duro. —Vou arruiná-la para todos os outros homens. Alessio bateu em mim repetidamente em golpes furiosos, mostrando-me que ele quis dizer cada palavra. Seus dedos afundaram nos meus quadris, e eu sabia que eles deixariam hematomas amanhã. Meus dedos se apertaram ao redor do travesseiro enquanto eu segurava meus gemidos e gritos. Ele estava me deixando louca, mas eu não podia fazer nada, exceto me render aos seus impulsos profundos e me submeter sob seu corpo duro. Meus quadris empurravam contra ele, querendo mais, exigindo mais, mas ele se conteve. Ele segurou meu prazer e me levou para o limite todas as vezes antes de se afastar, me deixando vazia repetidamente. Minha umidade se acumulou entre minhas coxas e mordi meus lábios para não gritar de frustração. Meus músculos estavam tensos com a necessidade de gozar. Ouvia seus gemidos a cada vez que ele empurrava em mim, e ouvia meus gemidos desesperados a cada vez que ele se afastava. 189

Tão perto. Tão perto. Eu podia me sentir perto do limite, quase explodindo. —Alessio... —Eu gritei no travesseiro quando ele puxou de novo. Os dedos de Alessio envolveram meu cabelo e puxaram minha cabeça para trás quase com força. —Grite meu nome. Eu quero ouvir seus gritos. Quero que todos saibam que estou te fodendo, que meu pau está dentro de você agora. Seu rosnado possessivo e ele deslizando completamente dentro de mim, enterrado até a base, me fazendo chegar ao êxtase. O ar deixou meus pulmões com o impacto brutal quando ele chegou ao fundo, bem dentro de mim. Meus gritos encheram o quarto, seu nome ecoando na parede. —Alessio! Eu enlouqueci. Chorei, pedi e implorei por mais. Eu precisava dele com fervor, e só ele poderia me dar. Finalmente, ele me deu. Alessio bateu de volta em mim, puxando meus cabelos, forçando-me a encontrar cada um de seus impulsos duros. E, como ele disse, eu não parei de implorar. Ele me levou como um animal faminto por sua companheira. Ele me fodeu brutalmente. Mais forte. Mais rápido. Mais profundo. Eu implorei, seu nome sempre nos meus lábios, até que finalmente explodi. Meu orgasmo me tomou com tanta ferocidade que meus joelhos cederam, mas as mãos de Alessio me apoiaram, continuando a me levantar para encontrar seus impulsos. Estilhacei em um milhão de pedaços, meu corpo tremendo com a força do meu orgasmo. Enquanto flutuava, senti Alessio bombear em mim mais duas vezes antes de parar no fundo. Ele gozou com um rugido, meu nome em seus lábios. 190

Eu o senti... Dentro de mim. Em toda parte. Na minha mente e no meu coração. Era uma sensação tão boa. Dentro de mim, em cima de mim, seu corpo se moldando sobre o meu. Eu era dele, e ele era meu. Nossa respiração pesada encheu o quarto, e eu podia sentir seu coração acelerado nas minhas costas. Alessio soltou meus quadris e caí na cama com ele caindo sobre mim, seu corpo cobrindo o meu como um cobertor quente. Assim que minha cabeça bateu no travesseiro, fechei os olhos e senti Alessio rolando de cima de mim. Gemi em protesto e ouvi sua risada profunda. Senti um tapa na minha bunda e meus olhos se abriram. Virando a cabeça para encará-lo, olhei fixamente para o rosto bonito e intenso. —Ai. —Eu sussurrei. Ele sorriu, mostrando-me suas covinhas, e meu coração apertou. —Eu machuquei você? —Ele perguntou, subitamente sério. Balancei minha cabeça. Eu estava definitivamente dolorida e sensível por toda parte, mas ele não me machucou. Em vez disso, ele me deu um prazer que eu nunca havia experimentado antes. —Bom, porque ainda não terminei com você. Meus olhos se arregalaram. Alessio me rolou de costas e se estabeleceu entre minhas pernas abertas. —Aquele pequeno truque que você fez... Tentando me deixar com ciúmes. Deixe-me dizer, estou muito chateado. Vou levá-la a noite toda... Para lhe ensinar uma lição. Eu gemi com sua promessa. E ele a cumpriu. Ele me levou de novo e de novo. Às vezes 191

rápido, às vezes lento. Ele me fodeu até eu ficar completamente cansada e dolorida. Perdi a conta de quantas vezes gozamos, mas quando ele desmaiou em cima de mim, envolvi meus braços em torno de seus ombros, acariciando seu pescoço. —Acho que aprendi minha lição. —Suspirei através da minha respiração ofegante.

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CAPÍTULO 22

Eu mal conseguia manter os olhos abertos. Alessio riu antes de dar um beijo no meu pescoço, onde seu rosto estava enterrado. —Você está dolorida? —Sim. —Bom. —Alessio se afastou e caiu de bruços ao meu lado, me deixando de costas. Eu rolei de lado para encará-lo. Alessio sorriu quase sonolento, seus olhos atraídos para o meu pescoço. Ele estendeu a mão e gentilmente acariciou um dedo na pele. —Eu te marquei. —Ele sussurrou, parecendo extremamente orgulhoso de si mesmo. Seus olhos demonstravam um brilho possessivo. Balançando a cabeça, sorri. Eu nunca tinha visto Alessio perder o controle assim. Pela primeira vez, eu tinha visto a extensão de sua possessividade. Eu deveria estar com medo, mas não estava. Em vez disso, senti-me excitada e desejada. E, finalmente, me senti amada. Cheguei mais perto de Alessio e olhei para suas costas. Deitando minha cabeça em seu braço, suspirei sonhadora. Eu sabia que ele nunca me machucaria. Alessio só me daria prazer. Minha mão se moveu para as costas dele, e meu dedo traçou a tatuagem de pássaro que cobria metade das costas e ao redor de suas omoplatas. O pássaro parecia estar subindo do fogo, mas o design foi maravilhosamente executado. Toda vez que eu olhava, ficava completamente hipnotizada. 193

Os músculos de Alessio se flexionaram sob o meu toque errante e explorador. —Que tipo de pássaro é esse? —Perguntei curiosamente, meus dedos traçando suas asas abertas. —É uma fênix. —Ele murmurou em resposta. —Fiz no dia em que assumi o cargo de chefe. —Oh. —Meus dedos continuaram tocando o pássaro enquanto eu fazia minha próxima pergunta. —É do fogo que ela está subindo? Eu o senti assentindo. —Fogo e cinzas. —Cinzas? —Eu questionei. —Quando assumi, as famílias estavam quase destruídas. Após a morte de minha mãe, Lyov se perdeu completamente. Ele estava bêbado o tempo todo e mal cuidava das famílias. Estávamos quase arruinados e muito perto de perder tudo. Ele não estava mais apto a ser o chefe. Ele não era forte o suficiente. Quando completei dezenove anos, ele me entregou o título e eu me tornei o chefe. — Explicou Alessio. Com a menção da morte de sua mãe e o nome do pai, minha mão errante congelou e eu parei de respirar. Alessio não pareceu notar a princípio, enquanto continuava com sua história. —As cinzas representam as famílias quando eu assumi. Tudo e todos foram destruídos. Perdemos muito e tive que começar de novo, construindo nosso império novamente. Eu construí um exército maior e mais forte, meu império das cinzas. Às vezes eu esquecia quem ele era. Ele controlava e governava a cidade de New York e todas as outras partes que lhe pertenciam com punho de ferro. Ele era o chefe. Um dos mais poderosos. Ainda mais que os italianos. —A Fênix é você. — Engasguei com minhas palavras. Eu senti seu aceno de novo. —Por que você parou de me 194

tocar? —Ele perguntou, flexionando seus músculos como se exigisse meu toque. —Desculpe. —Murmurei e continuei com minha carícia gentil, apesar de estar tremendo com um repentino pavor. —E o fogo? —O fogo é o que eu possuo agora. Eu me elevo acima de tudo e de todos. Sou o mestre, o juiz, o júri e o executor. Todos os outros se curvam diante de mim. —Sua voz era forte e cheia de poder. Engolindo em seco contra o meu nervosismo, fechei os olhos. Como eu ia contar a ele a minha verdade? Eu confiava nele, mas de muitas maneiras, eu ainda temia... Sua reação. —Você parou de novo. Meus olhos se abriram novamente e eu murmurei outro pedido de desculpas rápido. Quando minha mão se moveu sobre suas costas, ouvi Alessio suspirar de alívio e satisfação. —Eu amo suas mãos em mim. —Eu amo tocar em você. —Admiti suavemente. —Você me acalma, Ayla. Você acalma o fogo furioso dentro de mim. —Ele confessou. Dei um beijo em seu ombro quando meus dedos começaram a traçar a tatuagem de corrente em seu braço. Começava pelo pescoço e curvava-se ao redor da Fênix antes de continuar descendo pelo comprimento do braço, parando logo acima do cotovelo. —E esta? O que significa? —Eu perguntei, passando a mão sobre as pesadas correntes negras. Alessio congelou sob o meu toque. 195

Eu congelei também. Comecei a desviar a conversa quando ele respondeu, sua voz baixa e profunda. —Isso significa que estou acorrentado ao meu passado. Respirei fundo, tentando acalmar meu coração acelerado. Não gostei do rumo que essa conversa estava tomando, mas isso não me impediu. —O que você quer dizer? —Representa minha vingança. Suas palavras foram um golpe no meu peito, e senti um estalo no meu coração. Foi quase tão doloroso quanto o pensamento de perder tudo o que eu tinha acabado de encontrar. Olhei para a corrente que marcava o corpo de Alessio, e as lágrimas encheram meus olhos, mas eu rapidamente as pisquei. —Toda vez que a vejo no espelho, ela serve como um lembrete. Um lembrete de que preciso me vingar dos italianos. Toda vez que olho para a corrente, isso alimenta minha raiva e ódio. Oh, sua voz, estava cheia de ódio e repugnância. Suas palavras foram atadas com anos de fúria. Seu corpo estava tenso, os músculos enrijecidos enquanto suas palavras soavam pelo quarto, sua confissão pesando ao nosso redor. Ele odiava tanto os italianos – os Abandonatos – que havia marcado seu corpo como um lembrete. —Toda vez que olho para a corrente, vejo os olhos sem vida de minha mãe, seu sangue ao meu redor. —A voz de Alessio falhou nas últimas palavras, mas então eu o senti respirar fundo. Ele estremeceu sob o meu toque, e eu pressionei meus lábios para impedir que um grito agonizante escapasse. —Estou consumido por isso. É o que me fez continuar, todos esses anos e agora. Minha necessidade de vingança me 196

manteve vivo. —Continuou Alessio com a mesma voz tensa. Fiquei perturbada com o pensamento dele sofrendo por tanto tempo. Eu gostaria de poder tirar tudo isso, apagar toda a sua dor e os anos de sofrimento. Não ousei levantar a cabeça do braço dele. Mantive meu rosto escondido de Alessio enquanto o acalmava com meu toque gentil. —Alfredo já está morto. O que você vai fazer? Com os italianos? —Eu perguntei suavemente. —Alberto ainda está vivo. Ele é o chamado chefe deles. Alfredo pode estar morto, mas aquele filho da puta assumiu o controle e ele precisa morrer. —Alessio parou por um momento enquanto meu coração acelerava, suor se formando na minha testa em tensão. Quando ele continuou, tive que me impedir de me afastar dele. —Cada um deles. Eu matarei qualquer um que entrar no meu caminho. Vou massacrá-los até ser o maldito chefe deles. Não vou parar até tê-los sob meus pés. Alessio riu sem humor, seu corpo tremendo sob a minha mão. —Essa é a melhor vingança. Fazer seu império, seu exército se curvar diante de mim, me adorando como seu Deus. Eu tinha visto o doce e gentil Alessio. Eu tinha visto Alessio zangado. Mas este... Aquele que estava cheio de tanto ódio e vingança, era a primeira vez que eu o via ou o ouvia falar. E de todos os tons diferentes de Alessio, esse foi o que mais me assustou. Mas mesmo em meio ao meu medo, senti um alívio repentino e seguro nos braços de Alessio. Durante sua confissão, não deixei de perceber a única 197

promessa que ele fez. Alessio prometeu matar Alberto, meu carrasco. Ele não sabia o quanto isso significava para mim, saber que um dia eu me veria livre desse homem – o diabo na minha vida. —Alessio. —Eu sussurrei. —Sim? Meus dedos traçaram a corrente e depois a fênix. —Você disse que mataria qualquer um no seu caminho. Mas e os inocentes? Alessio ficou tenso. —O quê? —Ele disse devagar. Oh não, eu conhecia esse tom. Mas continuei pressionando. Eu precisava saber. Minha voz tremia enquanto eu falava. —E aqueles que são inocentes? Eles também perecerão? Só por que estavam condenados a ser um italiano – um Abandonato? Como eu. As palavras estavam na ponta da minha língua, mas eu as parei bem a tempo. Ele não falou pelo que pareceu o maior tempo da minha vida. Então ele falou. E quando ele fez, eu sabia que não importava a razão... Meu final seria sempre o mesmo. —Não há inocência naquela família. Eles são todos sementes do diabo. Estão manchados com o sangue de minha mãe e irmã. Trazendo uma mão para minha boca, sufoquei um soluço. Não importava que eu era vítima e inocente, porque no final das contas eu era uma Abandonato. —Diga-me uma coisa, Alessio. —Eu disse com voz rouca. —Você disse que não há inocência naquela família. Você os odeia. Mas... —Fiz uma pausa e respirei fundo. —O que você teria feito se 198

eu fosse um deles? E se eu te disser que sou uma Abandonato? Minha pergunta foi respondida com silêncio. Rapidamente enxuguei minhas lágrimas e esperei. E esperei. E esperei. Segundos se passaram... E depois minutos. Eu ainda esperei enquanto o silêncio nos envolvia. Alessio de repente se moveu debaixo de mim, e então eu estava de costas, e ele pairava sobre mim, seu olhar intenso, suas sobrancelhas franzidas em questionamento. —Do que você está falando? —Ele rosnou. Com as mãos sobre suas bochechas, sussurrei: —É apenas uma pergunta, Alessio. Estava só pensando. —Ayla, essa é uma pergunta estúpida. Por que você perguntaria isso? —Ele olhou para mim. —Não diga isso nunca mais. Ele se inclinou e deu um beijo no meu nariz. —Eu não quero que você se associe com aqueles filhos da puta novamente. Nem mesmo como uma brincadeira. Você me ouviu? Meu coração palpitou com suas palavras, e antes que eu pudesse me conter, puxei-o para baixo até que nossos lábios se encontrassem. Eu o beijei com tudo que eu tinha. Eu o beijei até ficar sem fôlego. Eu o beijei com fervor, como se fosse meu último beijo. Alessio rosnou em meus lábios e se afastou lentamente, nós dois respirando com dificuldade, nossos corações batendo forte, cantando um para o outro com o mesmo ritmo. —Você é muito inocente, doce e gentil para ser uma Abandonato. Seu coração é puro. Um anjo não pode pertencer ao Abandonato. —Ele sussurrou contra os meus lábios. 199

Minha respiração parou e meus dedos se apertaram em seus cabelos. —Alessio... —Eu disse suavemente. Ele olhou para mim com olhos amorosos. E eu sabia que ele podia ver a mesma coisa nos meus olhos, pois eu tinha me entregado a ele. Meu coração, meu corpo, minha alma e meu amor. Mesmo com a dor lancinante no meu peito, sorri. E então ele sorriu também. Nossos sorrisos iluminaram o coração um do outro. Eu podia ver a dor desaparecendo de seus olhos até eles ficarem suaves. —Chega disso agora. Nós deveríamos dormir. Já é tarde. — Ele advertiu em voz baixa. Saindo da cama, ele apagou as luzes, deixando apenas a lâmpada da mesa da cabeceira antes de se juntar a mim na cama novamente. Alessio nos rolou até que ele estava de costas e eu estava meio deitada em cima dele. Envolvi meus braços em torno da cintura dele e deitei minha cabeça em seu peito, bem em cima de seu coração palpitante. Ele envolveu um braço em torno dos meus quadris, me segurando perto dele, e puxou o edredom sobre nós. Fechei os olhos com um suspiro. A vingança de Alessio pesava muito sobre seus ombros. Eu sabia que ele mataria Alberto em breve. Estava chegando. Sua morte foi assinada no momento em que ele assumiu o controle. Pela primeira vez na minha vida, rezei para que a morte de alguém viesse mais rápido. Orei pelo dia em que Alessio acabaria com a vida de meu carrasco e nos libertaria das correntes de nossos passados. O momento em que Alessio se recusou a acreditar que eu era 200

uma Abandonato foi o mesmo momento em que tomei uma decisão. Foi um pensamento ingênuo. Estúpido até. Talvez minha ingenuidade me matasse no final. Mas, naquele momento, decidi que não era mais Ayla Abandonato. Eu era apenas Ayla. Ayla de Alessio. O anjo de Alessio. Com isso como meu pensamento final, os batimentos cardíacos de Alessio me embalaram para um sono tranquilo. Sonhei conosco no riacho, beijando e fazendo amor enquanto a felicidade irradiava ao nosso redor.

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CAPÍTULO 23 2 meses depois Gemi enquanto olhava para o espelho. Alessio tinha deixado chupões – mordidas de amor, por todo o meu corpo novamente. Ele deixou sua marca no meu pescoço à vista de todos. Para que todos soubessem a quem eu pertencia. Essas foram as palavras dele. Ao longo das semanas, finalmente tive um vislumbre do verdadeiro homem possessivo por trás do doce e gentil Alessio. Ele era um homem ciumento, e eu propositadamente o deixava louco de ciúmes. Às vezes, apenas um beijo rápido e inocente nas bochechas de seus homens, apenas para irritá-lo. Eu admito que só fiz isso pelo sexo depois. Como na noite passada. Com o pensamento, apertei minhas pernas juntas quando a sensação de formigamento se intensificou. Ele me tomou repetidamente. Na cama, contra a parede, no chão, na mesa de cabeceira e no sofá. Consumamos nosso amor em todas as superfícies do quarto. Ele era uma fera, pensei, sacudindo a cabeça, embora não conseguisse desfazer o sorriso que estava em meus lábios vermelhos e inchados. Vestindo-me rapidamente, penteei meu cabelo para que as marcas ficassem escondidas. Bem, tentei escondê-las da melhor maneira possível. Quando eu estava pronta, desci as escadas para me juntar à 202

Maddie. —Bom dia, Lena. Maddie. —Bom dia, bebê. —Bom dia, querida. Amarrei o avental na cintura e comecei a ajudá-las com o café da manhã. Finalmente tinha aprendido a cozinhar, e descobri que gostava. Depois de arrumar a mesa para o café da manhã, Lena foi descansar enquanto Maddie e eu limpávamos tudo. —Sabe, acho que precisamos de paredes à prova de som. —Disse ela casualmente. Engasguei com a minha maçã, meus olhos lacrimejando. Sentindo-me completamente mortificada, olhei para a minha maçã. —Eu fui barulhenta? Novamente? —Sim. —Ela riu. —Bem, você foi barulhenta na noite anterior! —Atirei de volta. Sua risada morreu. —Você ouviu aquilo? —Sim. —Desta vez, foi a minha vez de rir. —De jeito nenhum! —Ela ofegou, mas depois parou. Maddie olhou para mim com curiosidade, encostando um quadril contra o balcão. —Por que parece que os caras estão fazendo um concurso com isso? Como quem consegue fazer sua mulher gritar mais alto. Meus olhos se arregalaram e eu balancei minha cabeça vigorosamente. —Não! Ela apenas assentiu. —Confie em mim, eles fariam algo assim. Eles são homens das cavernas quando se trata de nós. 203

—Uau. Olhamos uma para a outra por um segundo antes de cairmos na gargalhada. —Eles são impossíveis. —E insaciáveis. —Acrescentou. Isso era verdade. Alessio tinha uma resistência como nenhum outro. Às vezes, eu não conseguia acompanhá-lo. Nas últimas noites, eu adormecia quase que instantaneamente no momento em que ele escorregava fora de mim. Meu corpo estava quase sempre dolorido e cansado. Mas Alessio era um cavalheiro por completo. Ele sempre se certificava de que eu estivesse bem cuidada. Banhos quentes e relaxantes após nossas sessões de sexo frenéticas. Às vezes ele me fazia uma massagem. Apenas pequenas coisas para mostrar que ele se importava. Nunca houve um dia que não me sentisse querida e completamente amada por ele. —Vou tirar uma soneca. Artur mal me deixou dormir ontem à noite. —Ela murmurou atrás de um bocejo. Afastei-me dos meus pensamentos e acenei para ela.

*** Eu estava tão completamente perdida na leitura que não ouvi a porta se abrir. —Anjo. —Alessio chamou. Ergui a cabeça e fechei o livro com um sorriso. —Alessio. —Respondi, estendendo minhas mãos para ele, silenciosamente chamando-o para mim. Ele entrou e fechou a porta atrás de si. Chegando a mim, ele agarrou minhas mãos e deu um 204

beijo na minha testa antes de se endireitar. —Eu tenho que ir. —Ele anunciou abruptamente. Meu coração falhou uma batida até voltar a bater normalmente. —Você tem que sair? Alessio fez um som de lamento, seus olhos tristes quando ele assentiu. —Tenho que cuidar de alguns negócios. Fora do estado. Então ficarei fora por alguns dias. —Quando? —Eu perguntei, meus dedos se mexendo nervosamente sobre o edredom. Eu odiava a ideia de ficar sem ele. —Vamos sair hoje à noite. —Ele disse suavemente, olhando nos meus olhos. Meus ombros caíram, e um suspiro resignado escapou dos meus lábios. —Eu quero que você venha comigo. Minha boca se abriu em choque, e eu olhei para cima com surpresa. Os olhos azuis de Alessio brilhavam com os raios de sol que banhava o quarto, e um pequeno sorriso apareceu em seus lábios, mostrando a pequena covinha em sua bochecha. —O quê? —Eu perguntei. —Você já esteve na praia? —Ele perguntou, inclinando a cabeça para o lado em questionamento. Eu balancei minha cabeça silenciosamente. —Nós estamos indo para a Flórida. Há algumas belas praias lá. —Ele murmurou. Eu não podia sair. Alberto ainda estava lá fora. O pensamento fez calafrios percorrerem minha espinha e eu balancei a 205

cabeça. —Mas... Alessio não me deu a chance de dar nenhuma desculpa. — Você estará segura. Eu não respondi. Eu queria desesperadamente ir com ele, ver a praia. Estar com Alessio. Alessio tomou a decisão por mim. Ele se inclinou para frente e me beijou profundamente nos lábios, me deixando sem fôlego. — Eu quero você comigo. Eu preciso do meu anjo. Eu só tinha uma resposta. —Ok. —Sussurrei contra seus lábios. Alessio me deu um de seus lindos sorrisos antes de se endireitar. Ele me puxou da cama até eu ficar de pé na frente dele. —Bom. Você não precisa fazer as malas. Confusa, comecei a protestar, mas ele colocou um dedo nos meus lábios. —Está tudo bem, Anjo. Tudo será cuidado. Depois de me dar outro beijo, ele saiu do quarto, me deixando sozinha com meus pensamentos errantes. Eu estava saindo da propriedade pela primeira vez desde que tinha escapado de Alberto. O medo tomou meu corpo, e lutei para respirar. As palavras de Alessio ressoaram na minha mente, alto e claro, me acalmando um pouco. Você estará segura. Eu preciso do meu anjo. Era perigoso, mas eu estava disposta a correr um risco tão 206

grande. Só porque confiava em Alessio... Só porque não suportava ficar sem ele. E eu sabia que ele se sentia da mesma maneira. Ao longo do dia, desejei ser forte. Disse a mim mesma repetidamente que tudo ficaria bem. Eu estava segura. Maddie veio ao meu quarto, e eu disse a ela. Ela estava animada, delirantemente feliz por mim. Ela falou animadamente sobre a praia e o quanto eu adoraria, mas ainda assim o pânico nunca me deixou. E então, finalmente a noite caiu, e era hora de partirmos. Alessio entrou no quarto e eu pulei da cama, engolindo nervosamente. Ele aproximou-se de mim, suas sobrancelhas franzidas com a minha expressão tensa. —Ei. —Ele segurou meu rosto, inclinandoo para cima para que meus olhos estivessem nos dele. —O que há de errado, Anjo? —Eu... —As palavras me falharam, e eu parei com um suspiro trêmulo. Alessio rapidamente me envolveu em seus braços, me segurando firmemente contra seu corpo. Respirei fundo e meus músculos lentamente começaram a relaxar. Eu o segurei como se minha vida dependesse disso e pressionei meu ouvido em seu peito, ouvindo seu coração batendo. —Ayla, se você não quiser ir, não precisa. Não quero te forçar. —Ele sussurrou gentilmente no meu ouvido, sua mão esfregando minhas costas suavemente. Meus dedos se apertaram em torno de seu paletó e eu balancei minha cabeça. —Não. —O que foi? Fale comigo, Anjo. 207

—Eu quero ir. —Murmurei. —Tem certeza? —Ele questionou, sua voz um pouco rouca. Eu assenti. —Sim. Leve-me com você, Alessio. —Dessa vez, foi minha escolha, não a exigência de Alessio. Alessio se afastou e olhou para mim com olhos orgulhosos. —Essa é minha garota. Você sempre me deixa admirado com a sua força. Fechei os olhos, me sentindo um pouco aliviada. Seus lábios suavemente roçaram sobre minhas pálpebras. Ele beijou cada uma e deu um beijo também na ponta do meu nariz. Depois seguiu para minhas bochechas com os beijos mais suaves, e então seus lábios estavam nos meus, me beijando lenta e profundamente. Afastando-se, ele envolveu os dedos na minha nuca, acariciando suavemente, e depois deu um aperto tranquilizador. — Pronta? Eu simplesmente assenti. Descemos as escadas, minha mão apertando a dele com força. Ele era minha força. Mas quando chegamos à porta principal, meus passos vacilaram. Vi Nikolay, Viktor, Phoenix, Artur e outros dois homens ali, esperando por mim e Alessio. Quando nos aproximamos das portas, comecei a suar muito, o pânico se instalando na minha garganta. Fiquei com medo de que isso acabasse em uma hiperventilação e muitas lágrimas. Lancei um olhar de medo para a porta e minhas mãos se apertaram em torno das de Alessio. Ele me deu um aperto e diminuiu os passos para combinar com os meus, me dando o tempo que eu precisava. Meu estômago revirou e apertou. Minha cabeça estava 208

latejando, o barulho da minha pulsação soando em meus ouvidos parecia ensurdecedor. Eu queria isso... Mas ainda estava assustada. Alessio apertou minha mão novamente. Lá estava. Seu apoio silencioso enquanto ele me enviava sua força. Eu podia fazer isso. Eu tinha que fazer isso. Tinha que superar esse medo. Assim que saímos pela porta para a noite, minha respiração falhou e minhas pernas quase cederam, mas Alessio rapidamente envolveu o braço em torno da minha cintura, me apoiando. —Eu seguro você, Anjo. Eu posso fazer isso. Eu posso fazer isso. Eu posso fazer isso. Eu tenho que fazer isso. Por Alessio. Por mim. Não posso mais viver com medo. Tenho que ser forte. Tenho que ser destemida. Fomos até o carro e Viktor abriu a porta. Eu deslizei no banco de trás primeiro, e Alessio se juntou a mim segundos depois. A porta se fechou e a escuridão nos envolveu. Alessio me puxou para seu colo e deu um beijo na minha testa. —Eu seguro você. —Ele repetiu novamente. Colocando minha cabeça sobre seus ombros, soltei um suspiro de alívio. —Obrigada. —Nunca me agradeça por cuidar de você. —Ele murmurou em meu ouvido. Alessio deslizou a mão pela minha nuca, por baixo dos cabelos, e apertou suavemente. Ouvi a porta do motorista bater e então a voz de Viktor soou no carro. —Tudo pronto? Alessio não respondeu. Aos poucos me dei conta que eles estavam esperando minha resposta. 209

Eu posso fazer isso. Respirando fundo, eu lhes dei a palavra que eles precisavam. —Pronta. O carro começou a se mover e eu abri os olhos, olhando pela janela. Vi quando saímos da propriedade e os portões se fecharam atrás de nós. Eu estava fora. O pânico começou a tomar meu corpo novamente, mas a mão firme de Alessio em volta do meu pescoço me acalmou. Enterrei meu rosto em seu pescoço e fechei os olhos. Seria uma longa viagem. —Durma, Anjo. —Alessio sussurrou. E eu dormi. Dormi profundamente por horas, e quando acordei, já era de manhã, a luz do sol iluminando o interior do carro. —Quanto tempo até chegarmos lá? —Perguntei no peito de Alessio. Eu não estava mais no colo dele; em vez disso, estava sentada ao seu lado. Ainda assim, eu estava enrolada a ele como um torno. Estava usando o peito dele como um travesseiro, e meus braços estavam em volta de sua cintura. —Oito horas mais ou menos. —Ele respondeu, seu peito retumbando com sua voz. —Temos que fazer algumas paradas ao longo do caminho. —Eu devo ter dormido por algum tempo. Ele riu baixo. —Você deve estar cansada, e o estresse que passou na noite passada pesou muito em sua mente e corpo. —Alessio? —Sim? —Eu preciso ir ao banheiro. —Eu disse o mais discretamente que pude. —Nikolay, pegue a próxima saída. Precisamos parar para o 210

café da manhã. —Ele ordenou. —Chefe. —Nikolay respondeu ao pedido de Alessio. Quando o carro parou, Viktor e Nikolay saíram primeiro. Eles guardaram a nossa porta, e então Alessio saiu, me puxando atrás dele. Entramos em uma cafeteria e, depois que Alessio me entregou uma sacola, fui rapidamente ao banheiro para me refrescar. Depois de me considerar apresentável novamente, saí e quase esbarrei nas costas de Nikolay. Ele se virou. —O chefe está esperando por você lá. —Ele acenou com a cabeça em direção à entrada. Juntamo-nos a Alessio e Viktor e voltamos para o carro. —Viktor comprou rosquinhas e muffins. —Disse Alessio, entregando-me um saco marrom. —Obrigada, Viktor. —De nada, bebê. Eu ri com o apelido enquanto Alessio rosnava ao meu lado. —Não a chame assim. Fazia algumas semanas que Viktor tinha me dado o novo apelido. Depois de várias tentativas de flertar com ele, ele também se juntou à diversão para deixar o homem que estava sentado ao meu lado com ciúmes. Viktor encontrou a melhor maneira de irritar Alessio. Seu novo apelido para mim: bebê. Alessio odiava e parecia que ele estava assassinando Viktor de várias maneiras em sua mente toda vez que o nome era pronunciado. —Que tipo de nome é bebê, afinal? —Ele perguntou. Viktor riu e piscou para mim. —Olha quem está falando. Aquele que chama sua mulher de gatinha. 211

—Vá se foder! Ela adora. —Alessio disse, levantando uma sobrancelha para mim. —Ayla, você gosta quando eu te chamo de bebê, certo? — Viktor perguntou, apenas para provocar Alessio. —Eu amo. —Eu disse, escondendo minha risada atrás da mão. A mão de Alessio pousou na minha coxa, pressionando os dedos na minha pele em aviso. Ele se inclinou para mim e sussurrou no meu ouvido, sua voz tomando um tom mais rouco. —Você vai pagar por isso, gatinha. Oh, eu sei. Sorrindo inocentemente para ele, dei-lhe um beijo rápido nos lábios. Os olhos de Alessio ficaram inebriados de desejo, e eu mordi meus lábios. Balancei minha cabeça, dando-lhe um olhar de aviso. Eu devo ter adormecido no ombro de Alessio, porque, quando dei por mim, alguém estava me sacudindo para acordar. Meus olhos se abriram para encontrar os sorridentes azuis de Alessio. —Chegamos. Ergui a cabeça e olhei para fora da janela. Nós estávamos aqui. Eu fiz isso sem um colapso nervoso ou ataque de pânico. Alessio abriu a porta e saiu primeiro. Ele pegou minha mão e me puxou para fora do carro. A primeira coisa que ouvi foi o som das ondas. E então senti o vento na minha pele. Tudo estava calmo, exceto as ondas do oceano. O cheiro do oceano encheu meu nariz e eu sorri. Paz. Parecia paz. Eu olhei para Alessio e vi que ele já estava olhando para mim, 212

seu olhar cheio de adoração. —Onde estamos? —Perguntei. —Comprei esta casa de praia ontem. Este lugar é nosso. E a praia também é nossa. É uma praia particular. Não é permitida a entrada de ninguém aqui, exceto nós. —Explicou. —Nós somos os únicos aqui? —Perguntei espantada. Ele assentiu e começou a me puxar para longe do carro. Mas, em vez de nos levar em direção à casa, seguimos pelo caminho oposto. O som do oceano se aproximou e o cheiro dele me atingiu com mais força. Excitação e expectativa encheram meu peito. Assim que vi o primeiro vislumbre do oceano, minha respiração saiu em um sopro. Sua beleza roubou meu fôlego. Parecia irreal. Alessio soltou minha mão. —Vá. —Ele insistiu. —Sinta a areia sob seus pés descalços. Eu rapidamente tirei meus sapatos e dei meu primeiro passo na areia. A suavidade fez um pouco de cócegas nos meus pés, e eu balancei meus dedos, meus pés afundando mais na areia. Olhei para Alessio e ele sorriu me encorajando. Dei outro passo... E depois outro. A cada passo, meu coração ficava mais cheio de amor pelo homem que me deu isso. Inclinei-me e peguei um punhado de areia antes de deixá-la escorregar entre meus dedos. Uma onda de emoções bateu em mim e meus olhos arderam. Era possível ser tão feliz? Levantei minha cabeça para o céu e fechei os olhos, deixando o sol beijar meu rosto. Depois de algum tempo, levantei-me e 213

caminhei em direção à água. Senti Alessio atrás de mim. Ele não estava longe, mas ele também não estava me impedindo. Alessio estava me deixando explorar... Sozinha. Ele estava me dando liberdade para fazer o que eu queria, enquanto mantinha os olhos atentos em mim. A areia estava molhada quando me aproximei da maré. No primeiro passo que dei e a água passou por meus pés, soltei um pequeno suspiro. Eu fiquei lá, deixando a água lavar sobre meus pés. Quando senti um braço em volta da minha cintura, sorri. Alessio me puxou para seu corpo, e eu coloquei uma mão sobre o braço que repousava possessivo e protetor sobre meu abdômen. Enquanto a maré batia suavemente ao nosso redor e um sorriso se espalhava pelos meus lábios, eu só conseguia pensar em uma coisa. As palavras correram pela minha mente, mas eu não as disse. As palavras eram um mero sussurro em meus pensamentos. Palavras destinadas apenas a Alessio. Eu te amo.

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CAPÍTULO 24 Alessio Eu a observei vagar em direção ao oceano, experimentar a sensação da areia pela primeira vez. Os passos de Ayla eram quase leves como se ela estivesse flutuando em direção à paz. Quando ela se aproximou e a água correu em torno de seus pés, vi seus ombros relaxarem ainda mais, e ela inclinou a cabeça em direção ao céu. Já estive em muitos lugares com praias, mas nunca me importei com isso. Nunca pensei em reservar um tempo para sentir a areia ou o oceano. Mas ver Ayla experimentar isso, me mostrou que às vezes precisávamos ser gratos pelo que temos. E eu estava grato por ela. Meu anjo. Enrolando minha calça acima dos tornozelos, fui até Ayla. Quando eu estava perto dela, meus braços instintivamente contornaram sua cintura, puxando seu pequeno corpo para o meu até que suas costas estavam pressionadas contra a minha frente. Ela colocou a mão no meu braço e eu sorri. Isso... Era disso que eu precisava. Dela. Nós. Enquanto as ondas batiam suavemente ao nosso redor, eu só conseguia pensar em uma coisa. Eu nunca a deixaria ir. Agora que eu tinha experimentado a verdadeira felicidade, não achava que poderia viver sem Ayla. Ela era tudo e muito mais. Dando um beijo ao lado de sua orelha, deixei meus lábios 215

permanecerem lá. Ayla suspirou e se virou nos meus braços. Suas mãos foram para minha cintura e ela inclinou a cabeça para cima. Ayla sorriu para mim, seu sorriso largo, seus olhos verdes iluminados... Na verdade, todo seu rosto estava iluminado. Foi o suficiente para me fazer recuperar o fôlego enquanto olhava para ela, admirando sua beleza. —Obrigada por me trazer aqui. —Disse ela, seus olhos fixos nos meus. —Você gosta daqui? —Eu perguntei, meus dedos roçando sua bochecha levemente. —Sim. E você ainda tem que me mostrar a casa. —Ela murmurou. Inclinando-se para frente, ela deu um beijo no meio do meu peito e depois deitou a cabeça lá. Segundos se transformaram em minutos, e eu não tinha vontade de me mover. Finalmente, eu gentilmente me afastei. —Vamos lá. Vou te mostrar a casa. E então tenho que cuidar de alguns negócios. —Ok! —Ela deu um passo para trás e agarrou minha mão, me puxando em direção à casa com entusiasmo. Caminhamos até a varanda com vista para o oceano, mas em vez de entrar, parei nos degraus. — Certo. Preciso fazer algo primeiro. —Murmurei, olhando para o rosto confuso de Ayla. Sem dar a ela uma chance, eu me abaixei e a ergui, embalando-a no meu peito. —Ei. O que você está fazendo? —Seus braços contornaram meu pescoço, mas eu apenas sorri, entrando na casa com ela nos meus braços. —Carregando você pela entrada —Anunciei, quase com muito orgulho. Graças a Deus, os caras não estavam presentes ou eu 216

nunca mais pararia de ouvir sobre isso. —Por quê? —Maddie disse que eu tinha que fazer isso. Não sei por que. Ela disse que é importante. —Revirei os olhos, lembrando-me de sua ordem e olhar assassino se eu não fizesse o que ela me disse. —Isso é estranho. Concordo. Também não sabia por que tínhamos que fazer isso, embora não estivesse reclamando. Eu carregaria Ayla para qualquer lugar, e tê-la em meus braços era o suficiente para me fazer um homem feliz. Porra, eu realmente tinha me tornado um mariquinha. Colocando Ayla de volta no chão, andamos pela casa, mostrando a ela todos os lugares. Ayla adorou. Se não me engano, ela gostou mais do que da propriedade. Era uma simples casa de praia. Nossa parada final foi nosso quarto. Ayla abriu a porta. — Uau. Podemos ver a praia daqui. Ela correu em direção à varanda e riu. —Alessio, isso é lindo. Eu amo isso! —Que bom que você ama. —Eu assisti Ayla saltar na ponta dos pés enquanto eu caminhava para o armário. —Ayla. —Eu chamei, trazendo sua atenção de volta para mim. Ela girou e seus olhos se arregalaram. — O quê? —Ela caminhou em minha direção, estupefata. —Contratei uma empregada quando comprei a casa. Ela se certificou de que estivesse limpa, e eu disse a ela para comprar algumas roupas para você. —Isso não são apenas algumas roupas. Isso é muito! — Ayla 217

murmurou, olhando para o armário e depois de volta para mim. Dei de ombros, de repente me sentindo agitado sob seu olhar intenso. Ayla deu um passo à frente e deslizou a mão na minha. Um sorriso de tirar o fôlego apareceu em seu rosto. —Você é tão doce. Ótimo. Agora eu era doce. —Já falamos sobre isso antes, gatinha. Ela acenou com a cabeça furiosamente. —E eu tenho certeza que chegamos à conclusão de que você é doce. —Não. Você chegou à conclusão de que eu era doce. —E o que há de tão errado em ser doce? —Ela argumentou, seu sorriso agora uma carranca enquanto ela olhava para mim. Senti meus lábios erguerem em um pequeno sorriso. Agarrando sua cintura, eu a puxei para mim, seu corpo moldando ao meu. Macio contra duro. Ela mordeu os lábios nervosamente. — Você quer que eu mostre porque não sou doce? —Você está me provocando agora. —Ela murmurou. —Eu retiro o que disse. Você é uma fera. —Oh, gatinha, vou mostrar o quanto sou uma fera quando voltar para casa. —Prometi antes de me afastar. Depois de beijá-la profundamente nos lábios, saí do nosso quarto. Ao sair, vi Nikolay, Viktor, Artur e Phoenix de pé ao lado do carro. —Viktor, eu quero que você fique com Ayla. Não quero deixá-la sozinha. Viktor assentiu e entrou. Sem dizer uma palavra aos outros, entrei no carro. Eu não precisava dizer nada. Eles já sabiam a rotina. Eu tinha vários ringues de luta subterrâneos operando em vários estados. Várias disputas foram realizadas ao longo do ano, e 218

este mês era na Flórida. Estava na hora de recrutar mais membros. Somente os melhores lutadores – assassinos – tinham a honra de trabalhar para mim. Agora que Ayla estava na minha vida, era necessário ter mais proteção. Eu não queria arriscar nada. Eu a protegeria com tudo o que eu tinha. Quando o carro parou, eu já estava animado. Fui em direção à porta, Nikolay, Artur e Phoenix bem atrás de mim. Os homens inclinaram a cabeça quando entrei. Entrando no ambiente, ouvi os gritos da multidão. As pessoas estavam torcendo, pressionando por mais, cantando pela morte. Subi as escadas até a sala VIP, onde tínhamos a melhor vista da luta. Meu olhar ficou na janela de vidro quando me sentei. Meu sangue fervia enquanto eu assistia à luta. O ringue parecia mais uma masmorra. Era uma gaiola, e apenas uma pessoa sairia depois da luta. Somente o vencedor. Os lutadores cortavam, esfaqueavam, sangravam e lutavam para viver. Eles eram brutais, quase animalescos em seus ataques. Depois de assistir por alguns minutos, eu já tinha o meu favorito e sabia que ele seria o vencedor. Afinal, ele era implacável. Eu o assisti lutar com seu oponente, transformando-o em um fantoche com seus movimentos. —Qual o nome dele? —Perguntei. —Ele é conhecido como KILLER. Tem 23 anos e luta desde os 13 anos. Ele é um dos melhores e nunca perde uma luta. Ganha cerca de cinco milhões de dólares por cada luta. —Relatou Nikolay rapidamente. 219

—Hmm... Contrate-o. —Chefe, ele também faz o trabalho sujo de Alberto. Acho que você poderia dizer que ele é um mercenário. —Contrate-o. Vou dar a ele três vezes o que Alberto está lhe dando. —E se ele te trair? —Perguntou Phoenix atrás de mim. — Ele não pode ser confiável. —Ele não vai me trair. Se ele o fizer, é simples - vou colocar uma bala entre seus olhos. Se ele é homem de Alberto, é importante tê-lo do nosso lado. Ele nos levará ao filho da puta. E também, não recusará o dinheiro que estou lhe dando. Neste mundo, quando se tratava de negócios - era apenas dinheiro. O que quer que funcionasse em sua vantagem, você ia em frente. Eu não precisava ir muito longe para saber que KILLER não era um homem leal. Ele poderia estar trabalhando para Alberto, mas não havia como ele ser leal. Homens como ele não se curvavam aos outros. Todos temiam assassinos como ele. Eu não assisti ao resto da luta. Não precisava. Era óbvio quem ganharia. Após me levantar, a multidão explodiu, o volume ensurdecedor quando o vencedor foi anunciado. Os gritos ainda ecoavam em meus ouvidos enquanto eu caminhava para o carro. O fim de Alberto estava chegando em breve. Eu podia sentir o gosto da minha necessidade de vingança. Os italianos se curvariam a mim. Cada um deles. Eu teria certeza disso.

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CAPÍTULO 25

Quando cheguei à casa de praia, o sol já estava desaparecendo no horizonte. Entrei e vi Viktor sentado no sofá, polindo suas armas e facas. O bastardo adorava manter seus brinquedos brilhantes. —Ayla está lá em cima. —Ele murmurou sem tirar os olhos da adaga que estava segurando. Nosso quarto estava vazio, mas eu podia ouvir um canto suave da sala ao lado. Claro, ela estava lá. Eu deveria saber melhor. Aproximando-me, eu silenciosamente empurrei a porta, apenas para ter meu coração apertado com a visão na minha frente. Ayla estava se movendo pela sala. Uma música lenta tocando ao fundo enquanto ela rodopiava, um sorriso presente em seu lindo rosto. Ela estava alheia à minha presença, e aproveitei a oportunidade para admirá-la. Encostado na porta, eu não tirei meus olhos do meu anjo. Ayla estava usando um vestido rosa claro que ia até seus joelhos. Seus cabelos pretos estavam soltos nas costas enquanto ela dançava descalça. Ela parecia angelical. Impossivelmente linda. Quando ela se virou e me viu, um pequeno suspiro escapou de seus lábios carnudos e vermelhos. Ayla congelou e olhou fixamente para mim por um segundo. Fui em direção a ela até estarmos a um pé de distância. Ela 221

olhou para mim, a cabeça inclinada para o lado, esperando o meu próximo movimento, o que nos surpreendeu. Estendendo minha mão para ela, pronunciei as palavras que nunca pensei que diria. —Posso ter a honra desta dança, Anjo? Sua boca se abriu e depois fechou. Eu vi uma pitada de cor subir em suas bochechas quando ela baixou a cabeça timidamente, um pequeno sorriso brincando em seus lábios. Achei absolutamente cativante que depois de todo o tempo que estávamos juntos e de todas as coisas que havíamos feito, ela ainda era tímida ao meu redor. Oh, ela também era definitivamente ousada e havia se tornado um pouco atrevida sob a influência de Maddie, mas havia momentos em que ela era tímida e hesitante. A doçura em suas ações quase fazendo meu peito apertar. —Eu não sei dançar. —Ayla sussurrou. Agarrando sua cintura, dei um beijo em sua testa. —Nem eu. Ayla sorriu, e quando eu ri baixinho, ela abaixou a cabeça novamente, escondendo o rosto no meu peito. Meus braços se apertaram em torno de seus quadris enquanto ela envolveu os dela em torno da minha cintura. E então nos movemos. Lentamente, combinando o ritmo da música. Ayla suspirou satisfeita enquanto nos abraçávamos. Eu não diria que dançamos. Só nos movemos em pequenos círculos, mas isso era o suficiente para nós. Aquele momento silencioso dizia centenas de palavras entre nós. Quando nossa dança terminou, levantei Ayla pela cintura e a girei. Sua risada ecoou ao nosso redor. Meu coração se apertou 222

enquanto o rosto dela brilhava com completa felicidade. Ayla era preciosa. A necessidade de protegê-la era esmagadora. Eu não podia imaginar jamais perdê-la. Colocando-a no chão, nós olhamos nos olhos um do outro. —Você é tão linda. —Eu sussurrei. Novamente. Lá estava. Aquele sorriso tímido e doce. Quando nossos lábios fizeram contato, foi um beijo doce. Leve, suave e muito doce. Nós nos beijamos até ficarmos sem fôlego. Nós nos separamos apenas para recuperar o fôlego, e então nossos lábios estavam um no outro novamente. Desta vez, eram firmes e exigentes, ambos perdendo lentamente o controle. Eu a tinha contra a parede em questão de segundos, com suas pernas em volta da minha cintura. —Do que você gosta? —Ayla perguntou, sua voz um pouco rouca. —Hmm...Você. —Eu disse contra seu pescoço, beijando-o. —Não...Quero dizer...Comer. O que você gosta de comer? —Você. Eu vou te comer. —Mordi a pele em sua clavícula e a ouvi gemer. —Comida. —Ela ofegou. Que porra é essa? Por que ela estava falando sobre comida em um momento como este? Os dedos de Ayla enrolaram no meu cabelo e ela afastou minha cabeça. —Qual sua comida favorita? Como sobremesa? 223

—Por quê? —Eu perguntei, completamente confuso com a mudança repentina de eventos. Ela encolheu os ombros. —Eu quero cuidar de você. Cozinhar sua comida favorita e tudo. Você faz muito por mim, Alessio, mas eu dou tão pouco em troca. Seu sorriso se desfez, sua felicidade substituída por tristeza. Dei um beijo em seus lábios antes de responder. —Você já cuida de mim, Anjo. Você faz mais do que pensa. —Mas... —Ela começou a discutir. —Não. —Eu a interrompi. —Eu ainda quero saber, porém. Qual é o seu bolo favorito? —Ela perguntou de novo. Nas últimas semanas, eu também descobri que Ayla era muito teimosa. Não fazia sentido discutir, porque ela sempre ganhava no final. Embora apenas porque eu a deixava vencer. —Chocolate. —Eu respondi. Na verdade, eu não me importava. Eu não como bolo, mas se ela quisesse assar para mim... Se isso trouxesse de volta seu doce sorriso, então eu não a impediria. E lá estava. Seu doce sorriso de tirar o fôlego. —Ok! —Ela anunciou animadamente. Suas pernas se desenrolaram ao meu redor e ela empurrou meu peito. Não tive escolha a não ser deixá-la ir. Ayla se apoiou na ponta dos pés e me deu um beijo. —Vou fazer o melhor bolo de chocolate para você. Antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa, ela já estava correndo para fora da sala. Balançando a cabeça, não pude deixar de rir. Saí atrás dela, 224

mas não antes de vislumbrar o piano no canto da sala. Fiz questão de ter um antes de chegarmos. O piano era uma parte de nós. Eu sabia o quanto ele significava para Ayla. Mesmo que não estivéssemos na propriedade, ela ainda tocaria para nós. Entrei na cozinha e vi Ayla conversando animadamente no telefone enquanto colocava os ingredientes no balcão. —Eu tenho tudo. Maddie, pare com isso. Não é engraçado. Ela ouviu Maddie falar por um segundo e depois rosnou em frustração. —Eu vou acertar desta vez. Vou fazer o melhor bolo... Você é tão má. Eu não sei quanto tempo fiquei lá e assisti Ayla falar enquanto tentava cozinhar. Eu escutei, observei e sorri. E então sua voz angelical me tirou do momento. —Alessio, você pode provar isso para mim? Ayla me mostrou a colher cheia de massa de chocolate. Ela mergulhou o dedo e acenou para mim. Aproximando-me, peguei sua mão na minha e chupei o dedo. Ouvi Ayla ofegar, e então ela lambeu os lábios. —Hmm... Doce. —Murmurei, lambendo seu dedo. —Como você. —Umm... Ok. —Ela respondeu atordoada. —Olá, Alessio! —Ouvi a voz de Maddie pelo alto-falante. Empata foda do caralho. —Oi. —Eu murmurei, olhando para o telefone estúpido. Ayla soltou uma pequena risada antes de se virar novamente. Fui até as costas dela e envolvi o braço em torno de sua cintura, 225

segurando-a enquanto ela continuava cozinhando. Ayla olhou por cima do ombro, seus olhos verdes encontrando os meus enquanto eles brilhavam alegremente. Eu tinha razão. Ela era preciosa demais.

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CAPÍTULO 26 Ayla —Onde estamos indo? —Perguntei provavelmente pela décima vez quando Alessio e eu entramos no carro. —Em algum lugar. —Ele murmurou em resposta. —Isso não é uma resposta. —Olhei para ele, mas ele apenas sorriu, me dando aquele olhar diabolicamente sexy ao qual eu não conseguia resistir. —É uma surpresa, gatinha. Recolha suas garras. —Mas eu quero saber. —É uma surpresa, mulher. Dê um tempo ao cachorrinho apaixonado, bebê. —Disse Viktor da frente. Phoenix soltou uma risada. Eu tive que impedir minha própria risada de escapar quando Alessio lhe deu um olhar mortal. —Vá se foder. —Alessio retrucou. —Dirija. —Oh, ele está nervoso esta manhã. Será que não namorou ontem à noite? Viktor realmente tinha um desejo de morrer. —Eu vou atirar em você. Não me teste. —Alessio avisou em tom mortal. —Dê um tempo ao chefe. Se ele atirar em você, terei que 227

limpar a bagunça depois. —Murmurou Phoenix. —Tanto faz. Só vou parar por causa da minha menina. Não queremos manchar seus olhos inocentes. —Viktor piscou para mim através do espelho retrovisor. Vi as mãos de Alessio apertarem os punhos e rapidamente coloquei minhas mãos sobre as dele. Soltando meu cinto de segurança, me movi até me sentar de lado no colo dele. Com meus lábios perto de sua orelha, eu sussurrei para que apenas ele pudesse ouvir. —Você não tem nada pelo que sentir ciúmes, Alessio. Sou sua. De todo o coração. Você me tem. Mente, corpo e alma. Nada e ninguém nunca vai mudar isso. Seu corpo relaxou instantaneamente. —Você sempre sabe quando dizer a coisa certa. —Ele murmurou de volta. —É a verdade, Alessio. —Eu sei, Anjo. —Ele deu um beijo na minha testa e deitei minha cabeça em seu ombro. Ficamos assim até o carro parar completamente. —Chegamos. —Anunciou Alessio. —Feche os olhos. Eu fiz como me foi dito, confiando nele. A porta se abriu e eu estava sendo puxada para fora. Fui erguida do chão quando Alessio me segurou contra seu peito. —Posso abrir meus olhos agora? —Perguntei, sentindo-me subitamente tonta, meu coração pulando de excitação. —Não. Eu vou te dizer quando. —Ele respondeu com aspereza. Caminhamos por alguns minutos, e então Alessio me colocou no chão até eu ficar ao lado dele novamente. —Ontem à noite, você 228

disse que sentia falta do riacho. Abra seus olhos, Anjo. Eu abri, e então meu coração palpitou. Oh, meu Deus. A beleza na minha frente me deixou sem fôlego. Um campo cheio de flores. Muitas delas e todas de cores diferentes. —Não é o riacho, mas é perto disso. —Isso é lindo. —Eu suspirei em completo espanto. —Não tenho palavras, Alessio. Lágrimas arderam nos meus olhos enquanto eu olhava para a paisagem à minha frente. Eu estava no meio de um campo, onde milhares de flores coloridas desabrochavam. A brisa leve tocou meu rosto e eu sorri. Tão pacífico. Virando-me, olhei para Alessio e corri para seus braços, abraçando-o o mais forte que pude. Cobri seu rosto com beijos antes de me afastar e rir alegremente. —Obrigada por isso. Eu amo... —você. Meus lábios se fecharam antes que eu pudesse pronunciar a última palavra. As palavras estavam sempre nos meus lábios, implorando para serem ditas. Mas ainda não conseguia dizer a Alessio como realmente me sentia. Algo no meu coração estava me impedindo. Toda vez que eu queria dizer a ele, meu peito ficava apertado e meu coração doía. Então essas três palavras não eram ditas. Engolindo nervosamente enquanto Alessio me encarava, quase em expectativa, dei a ele o melhor sorriso que pude. —Eu amo isso. —Eu disse em vez disso. Ele envolveu os braços em torno da minha cintura, me puxando para seu corpo novamente. Nós nos olhamos nos olhos 229

um do outro quando ele falou. —Eu sei, Anjo. Eu sei. Eu também amo. Lá estava. A afirmação dele. Não precisamos das palavras entre nós. Estava lá sem sequer ser dito. Através de nossas ações e dos nossos olhos. Eu sabia como ele se sentia, e ele sabia a quem meu coração pertencia. Isso era o suficiente para nós. Ele não sorriu, mas seus olhos suaves diziam tudo. Oh, como eu o amava. Ele era tudo que eu precisava e queria. Ele era perfeito... Para mim. Mas eu não era... Para ele. Com o pensamento, meu peito ficou apertado. Eu não podia mais mentir. Isso tinha durado muito tempo, e eu não podia mais traí-lo. Todos os dias, eu tinha que viver com o conhecimento de que estava traindo o homem que amo. Não apenas ele, mas minha nova família. Todas as noites, eu rezava para encontrar coragem para lhe dizer, enquanto todos os dias eu me torturava com o conhecimento de que eu era fraca e traidora. Para ele e seu coração. Eu era uma traidora para nós. Para o nosso amor. Eu machuquei... Meu coração e minha alma. Eu me sentia vazia. Era oca por dentro. Eu tinha que dizer a verdade. Mesmo que isso significasse minha morte. Eu estava pronta para receber qualquer punição que Alessio tivesse que me dar. Suportaria sua ira e deixaria que ele se vingasse, mas não mentiria mais. 230

Vi Alessio franzindo a testa e sabia o porquê. Eu tinha perdido o meu sorriso. Apalpei sua bochecha e disse suavemente: — Podemos voltar para a casa de praia? Eu não podia contar para ele aqui. Não no lugar cheio de serenidade. Não iria manchá-lo com a nossa dura realidade. —Eu tenho que te dizer uma coisa. O rosto de Alessio ficou preocupado. —Ayla, o que há de errado? —Por favor, Alessio. —Murmurei. Eu pude ouvir a derrota em minhas palavras. Meu lábio inferior tremeu enquanto tentava manter minhas lágrimas sob controle, e meu estômago se apertou. —É algo importante. Mas não quero dizer aqui. — Finalmente consegui dizer através da minha respiração difícil. Não tenha um ataque de pânico. Agora não, Ayla. Você tem que fazer isso. O olhar de Alessio se moveu sobre o meu rosto e, quando viu a angústia ali, seu corpo ficou em pânico e o medo brilhou em seus olhos, mas desapareceu rapidamente. Ele envolveu os braços em torno de mim e me puxou para o peito. —Seja o que for, vai ficar tudo bem. —Ele sussurrou trêmulo. Eu levemente saí do seu abraço para que eu pudesse ver seu rosto. Meus dedos traçaram seus lábios e nariz até que pousaram em suas bochechas. —Meus sentimentos por você são reais, Alessio. Tudo o que há entre nós é real. Por favor, não esqueça disso. Alessio engoliu em seco, apertando os braços ao meu redor. Ele parecia confuso, preocupado, mas ainda assim assentiu. Pressionando contra seu corpo, rocei meus lábios contra os 231

dele. —Você é tudo para mim, Alessio. O motivo pelo qual ainda estou viva. A razão pela qual eu sorrio todos os dias. —Ayla, por que... —Ele começou a perguntar, mas eu o interrompi com um beijo contundente. Ele rosnou e retornou meu beijo da mesma maneira feroz, possessivamente assumindo. —Quando eu te contar a minha verdade, lembre-se dessas palavras. —Sussurrei. Alessio não disse nada, mas me beijou novamente. Ele me beijou até que nós dois estávamos ofegantes. E eu o beijei em troca, como se fosse o meu último beijo. Talvez fosse. E eu queria me lembrar disso. Voltamos ao carro de mãos dadas, e a viagem foi feita em silêncio. Ninguém disse uma palavra. Minha cabeça estava deitada no ombro de Alessio enquanto ele brincava com meu cabelo. O silêncio entre nós estava sempre cheio de paz. Adorávamos o silêncio, e talvez fosse a última vez que eu experimentaria isso. Meus olhos se encheram de lágrimas e eu rapidamente as pisquei. Eu não posso – não devo chorar. Afinal, pela primeira vez eu estava prestes a fazer a coisa certa. Algo que eu deveria ter feito antes, mas agora eu estava pronta. Depois de receber o pedacinho de felicidade e ser amada de todo o coração por Alessio, eu estava pronta para enfrentar o que precisava. Meu coração doeu com o pensamento de machucá-lo, nos machucar. Alessio me deu tudo. Ele me deu uma parte dele que ninguém mais conhecia além de mim. Ele me amava, mesmo que as 232

palavras nunca fossem pronunciadas. Ele me deu paz e felicidade. Ele era a minha felicidade. E agora... Eu estava prestes a tirar sua felicidade. Eu poderia suportar a dor, qualquer coisa que ele infringisse em mim, mas não poderia assistir Alessio em dor, sabendo que eu seria a causa disso. Isso me mataria... Lenta e dolorosamente. Mas mesmo quando eu estava me preparando para enfrentar sua ira, eu ainda tinha esperança. Talvez, apenas talvez, Alessio me perdoasse. Talvez ele entendesse por que eu fiz isso, por que eu menti para ele. Talvez ele ainda me aceitasse como seu anjo. Talvez vivêssemos nosso felizes para sempre. Eram pensamentos infantis. Mas eu ainda esperava que seu amor fosse mais forte que sua raiva e necessidade de vingança. Fui tirada dos meus pensamentos quando o carro parou. Eu temia esse momento, mas estava aqui e agora tinha que enfrentá-lo. —Porra. —Viktor xingou alto na frente e deu um soco no volante. —Que porra ele está fazendo aqui? —Phoenix rosnou. Alessio congelou ao meu lado, seu corpo retesado, seus músculos tensos endurecendo debaixo da minha cabeça. Eu parei também, meu coração pulando na garganta. Vi as mãos de Alessio apertando em punhos em suas coxas, e o ar ao nosso redor ficou frio. Quando ele se moveu, levantei minha cabeça de seus ombros. De repente, senti náusea e a tontura tomou conta. Minha visão nadou na minha frente como ondas enquanto minha garganta se fechava. 233

Alessio olhou para frente, seus lábios afinados em uma linha reta. Ele havia perdido o olhar suave em seus olhos. Agora, ele parecia um assassino de sangue frio. Sem emoção, cruel e sanguinário. —Alessio. —Eu respirei, meu coração acelerando ao ver Alessio mudar de um homem amoroso para o monstro como ele era conhecido, bem na frente dos meus olhos. Viktor saiu do carro primeiro e depois Phoenix. Vi as mãos deles indo para a parte de trás da cintura, logo acima das armas. Alessio agarrou meu braço, quase com força demais, e eu estremeci quando ele me puxou para fora do carro. Eu estava escondida atrás das costas grandes dele, Alessio cobrindo meu corpo com o dele enquanto Viktor, Phoenix e Artur vieram para ficar ao nosso lado, formando um círculo, enquanto eu estava no meio. Tendo quatro homens grandes e musculosos em pé ao meu redor, em suas posturas protetoras, eu não conseguia ver nada de onde eu estava. Eu não entendi do que eles estavam me protegendo. De repente, minha garganta ficou seca e tremi de medo. O ar ao nosso redor estava tenso e frio... Muito frio. Eu podia sentir o ódio e a raiva fluindo como ondas dos homens que me protegiam. Viktor se aproximou do meu lado e vi seu queixo tremer, seu rosto tão sem emoção e frio quanto o de Alessio. —O que você está fazendo aqui? Na minha propriedade? — Alessio rosnou baixo, as costas tensas, a voz cheia de raiva. —Estou aqui apenas para recuperar o que é meu, o que me pertence.

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CAPÍTULO 27

Eu congelei, meu corpo inteiro ficando dormente. Essa voz. A mesma voz que assombrava não apenas o meu sono todas as noites, mas toda a minha vida. Essa voz me arruinou – a ponto de eu pensar que estava irreparável. Essa voz pertencia ao diabo. Alberto, minha mente gritou. Não. Não. Não. Por favor, não. Agora não. Eu queria chorar e gritar com essa injustiça. Eu queria cair e me desfazer em pó até não ter mais nada. Dessa forma, Alberto não me alcançaria. Minha cabeça girou até que eu me senti quase desmaiando. Respire. Respire, Ayla. Puxei um fôlego rápido e dei um passo à frente, espreitando pelos ombros de Alessio. Eu ainda estava escondida atrás dele; apenas o topo da minha cabeça estava visível quando olhei para o homem na minha frente. Ele olhou nos meus olhos e sorriu. Uma vez eu pensei que ele era bonito e charmoso. Estava até um pouco apaixonada por ele quando nos conhecemos. Quando finalmente descobri sua verdade real, percebi que era apenas um rosto bonito, mas seu coração era sombrio. Ele não sabia amar. Ele era a verdadeira definição do mal. 235

E aquele sorriso em seu rosto, algumas mulheres se apaixonariam por ele. Mas eu conhecia aquele sorriso. Era sádico e cheio de promessa de dor. —Amor, é hora de você voltar para casa agora. —Disse Alberto, olhando para mim enquanto estendia a mão como se esperasse que eu a pegasse. Estremeci e me escondi atrás de Alessio, minha mão indo para as costas dele, meus dedos apertando em torno de seu paletó enquanto eu me segurava por minha vida. Isso não podia estar acontecendo. Eu deveria estar segura. Minha respiração ficou ofegante enquanto meu peito ficava mais apertado. Eu estava perdendo – me perdendo de novo. Alessio. Ah não. Não. Não era para acontecer assim. Ele não deveria descobrir minha verdade dessa maneira. Todos congelaram ao meu redor. Viktor, Phoenix, Artur e Alessio. Silêncio. Silêncio absoluto. Viktor olhou para mim de relance, suas sobrancelhas franzidas. Quando ele me viu encolhida nas costas de Alessio, deu um passo em minha direção, me protegendo. Phoenix e Artur pareciam confusos enquanto Alessio ficava congelado. Seus músculos estavam tensos sob meus dedos, e eu gostaria de poder olhar naqueles olhos para que ele pudesse ver minha verdadeira verdade. Que eu o amava e nunca quis traí-lo. O ar passou de frio a mortal. Cheirava a morte, embora ninguém tivesse morrido ainda. Isso me arrepiou até os ossos, e eu tremi, o medo deslizando pela minha espinha. Meus joelhos cederam, mas eu me agarrei a Alessio, recusando-me a cair. Ninguém tinha morrido ainda. 236

Mas haveria apenas um fim. Derramamento de sangue. Guerra. Todos nós iríamos nos banhar em sangue até que somente uma família ficasse de pé. E naquele momento, eu não tinha certeza de qual. Os Ivanshov ou os Abandonatos. —Tire os fodidos olhos de cima dela. —Alessio vociferou. —E saia da porra da minha propriedade. Você não quer começar uma guerra. —Não estou aqui para fazer guerra. Assim que eu pegar o que vim buscar, vou embora. Isso não precisa terminar em derramamento de sangue, Alessio. Dê-me o que quero e irei embora sem nenhuma perturbação. —Disse Alberto calmamente, como se estivesse discutindo um acordo comercial. E foi aí que aconteceu. Armas foram sacadas e eu fui empurrada para trás. Viktor, Phoenix e Artur apontaram suas armas para Alberto e seus homens. —Saiam. —Viktor rosnou. —Ou farei seu fodido cérebro ser espalhado no chão. Eu tremi como se a ameaça fosse dita para mim. Isso ia acabar mal e, com tudo isso, eu deixaria Alessio arruinado. Eu não poderia deixá-lo. Eu era seu anjo. Ele precisava de mim. Do meu lugar atrás das costas deles, vi Alberto levantar as mãos e soltar uma risada baixa. —Você está vendo meus homens apontando armas para você? Não. Como eu disse, só estou aqui para recuperar Ayla, minha futura esposa. Ela vem comigo, e nenhum sangue precisa ser derramado. Não! Eu queria gritar, mas minha voz tinha desaparecido. 237

Fiquei paralisada de medo. Muita dor e medo. Meu coração estava se partindo sob a pressão. —Sua o quê? —Viktor cuspiu enquanto piscava para mim. Alessio ainda não tinha dito nada. Ele estava quieto – muito quieto. Por que ele não estava dizendo nada? Por que ele não estava gritando? Diga alguma coisa, Alessio. Por favor. Diga algo. —Oh, vejo que ela ainda não te contou. Que vergonha. — Alberto riu. —Bem, deixe-me contar então. A mulher que você está protegendo atrás de você agora é Ayla Abandonato. A única filha do falecido Alfredo. E também, minha futura esposa. A rainha dos italianos. Sua inimiga. —Não. —Eu choraminguei. Não. Pare com isso! Levei as mãos aos ouvidos e balancei a cabeça, mas não consegui bloquear suas palavras, sua voz. Phoenix olhou para mim em choque, Artur olhou furioso e Viktor apenas olhou com seus olhos sem emoção. Enquanto Alessio – nada. Ele não me deu nada. Suas costas ainda estavam a minha frente enquanto ele mantinha os olhos em Alberto. Ele não tinha sacado a arma. Não, ele apenas ficou ali parado. Olhando fixamente. Imóvel. Mas eu podia sentir... A fúria fluindo dele. Eu sabia que ele estava implorando por controle. Ele estava tentando conter o monstro. De quem? Eu não sabia —Vamos agora, amor. Não seja tímida. Está na hora de você voltar para casa. Você se afastou por muito tempo. —Disse Alberto, sua voz quase reconfortante, mas eu sabia que ele estava zombando. 238

Olhei para Viktor, implorando com o olhar, dizendo as palavras que eu não conseguia falar. Por favor, não deixe que ele me leve. Por favor. Não deixe que ele me leve. Viktor sacudiu a cabeça e depois olhou para Alessio. Seus olhos voltaram para Alberto, olhando furiosamente. —Somente sobre o meu cadáver você levará Ayla embora. —Ele finalmente rosnou ameaçadoramente. —Isso não precisa ser difícil. Alessio, como chefe, tenho certeza de que seu pessoal é mais importante do que apenas uma mísera prostituta que mantém sua cama quente. —Alberto riu. Sua risada ressoou no ar e meu sangue rugiu. Parecia que meus ouvidos estavam sangrando. Sua voz, sua presença, sua risada sádica, tudo era demais para mim. Suas últimas palavras finalmente conseguiram uma reação de Alessio. Mas não a que eu esperava. —Viktor, leve-a para dentro. —Disse Alessio, sua voz calma, porém fria e mortal. Viktor assentiu e pegou meu braço, me puxando em direção aos portões. Vi Alessio, Artur e Phoenix ainda de pé, de frente para Alberto. Mas os olhos de Alberto estavam em mim, fixos no meu corpo e em todos os movimentos que eu estava fazendo. Viktor parou nos portões, e eu me escondi mais perto dele, buscando proteção. —Dê o fora daqui, Alberto. Esta é a última vez que vou dizer isso. É preciso apenas que uma bala seja disparada e a guerra estará iniciada. Deixe minha propriedade ou meus homens serão forçados a atirar. Alberto levantou uma sobrancelha e começou a se afastar 239

lentamente. —Você está certo. Vamos deixar Ayla decidir. Os punhos de Alessio se apertaram ainda mais, seu rosto assassino. Alberto me enviou uma piscadela. —Eu estarei esperando, amor. —Com isso, ele entrou no carro, seus homens seguindo atrás enquanto se afastavam. E então estávamos sozinhos. Alberto se foi, mas meu coração batia ferozmente, o medo ainda percorrendo meu corpo, deixando meus joelhos fracos. Eu iria passar mal. Inclinei-me para frente enquanto meu estômago revirava e eu vomitava na entrada da garagem. Alessio passou por mim, me deixando lá. Artur e Phoenix seguiram logo atrás. —Alessio. —Ofeguei em meio às minhas ânsias de vômito, minha garganta se fechando, lágrimas ardendo nos meus olhos enquanto sentia o gosto amargo na minha língua. —Alessio... Mas ele não se virou. Viktor deu um tapinha nas minhas costas sem jeito, até meu estômago se acalmar. Ele agarrou meus braços novamente e me puxou para dentro, fechando os portões atrás de nós antes de trancá-los. Encolhi os ombros me desvencilhando dele e corri atrás de Alessio. —Alessio! Por favor, me escute. Por favor. Mas minhas pernas fraquejaram. Caí no chão, mas me movi com dificuldade atrás de Alessio. —Dê-me uma chance de explicar, por favor. Eu ia lhe dizer a verdade. Por isso eu queria voltar. Deixe-me explicar. Alessio! Mas ele não olhou para mim. Nem uma vez. Nenhum dos homens se virou. Fui deixada no chão, chorando por Alessio, implorando para que ele me escutasse. 240

—Alessio. Por favor. —Eu choraminguei. —Apenas deixeme explicar. Viktor parou e virou-se para mim. —Deixe para lá, bebê. —Não. Viktor, deixe-me explicar, por favor. —Mas ele também seguiu Alessio até a casa. E então eu fui deixada sozinha. Afundei no chão e chorei. Envolvendo meus braços em volta dos joelhos, eu balancei para frente e para trás, minha mente rapidamente entorpecendo, meu corpo ficando mais frio a cada segundo que passava. Você é meu anjo. O riacho. O piano. Flores. Os sorrisos de Alessio. Beijos doces, carícias delicadas e palavras ditas suavemente. Enchi minha mente com o bom e tentei esquecer o ruim. Está tudo bem, Ayla. Você está bem. Está tudo bem. Perfeito. Felicidade completa. Risadas, amor e sorrisos lindos. Flutuei e fui para o meu lugar feliz. Eu me embalei gentilmente e sorri. Deitei no chão. Feliz. Eu estava feliz. Alessio estava me beijando. Ele estava fazendo amor comigo. Nós estávamos felizes. Estávamos no riacho, brincando lá. Alessio estava correndo atrás de mim. Risadas. Felicidade. Nós estávamos felizes. Estávamos dançando. Alessio me rodopiou pela sala. Nós somos felizes. Eu era o anjo dele. Eu era amada. Nós éramos amados. Feliz. Feliz. Feliz. Eu sorri, puxando minhas pernas para o meu peito. Está tudo bem, Ayla. Você está feliz. Está tudo bem. Nada está errado. 241

E então, de repente, fui empurrada de volta à realidade. Não senti nada por um minuto. Senti muito frio. Mas então minha pele estava em chamas. Eu estava queimando. Minha pele formigou como se milhares de pequenos insetos estivessem rastejando sob ela. Eu arranhei e esfreguei. Estava chorando de novo, meu peito apertando com tanta dor que era impossível respirar. Eu tinha que explicar e fazer Alessio me ouvir. Mesmo que eu tivesse que implorar de joelhos, eu imploraria. Mas ele precisava saber a verdade – vinda de mim. Limpando minhas lágrimas, fui me levantar, mas caí novamente. Minhas pernas não me sustentavam. Meu corpo estava fraco devido ao meu ataque de pânico, e minha visão ainda estava embaçada e com vertigens. Então eu rastejei. Eu tinha que ir até Alessio, não importava como. Quando cheguei aos degraus, engoli e limpei o suor no rosto meu rosto. Segurando o corrimão, levantei-me e subi os três degraus. Fiquei em frente à varanda e fui dar um passo à frente. Mas não tive a chance. Artur estava na minha frente, bloqueando o meu caminho. Soltei um suspiro de alívio. —Eu preciso falar com Alessio. Por favor, me deixe entrar. Deixe-me falar com ele e explicar. — Implorei, segurando seu braço. Mas ele me enviou um olhar tão frio que me encolhi. Artur agarrou meu braço com força e eu chiei quando a dor disparou através dos meus músculos. Ele me arrastou e meus joelhos se 242

dobraram debaixo de mim. Mas mesmo assim ele não parou. Ele me puxou escada abaixo e eu balancei minha cabeça descontroladamente. —Não, deixe-me ir. Artur, deixe-me ir! Eu preciso falar com Alessio. Mas ele não parou. Em vez disso, ele me puxou em direção aos portões, minhas pernas se arrastando atrás de mim enquanto eu tentava forçá-lo a soltar. Ele era mais forte. Eu estava tonta, doente e fraca por causa do meu colapso. Não era uma luta justa. —Não. Deixe-me ir. Artur! Pare! Ele parou. Eu bati nas costas dele, e ele girou, seu rosto cheio de raiva e fúria. —Cadela! Você realmente acha que Alessio quer vê-la? Depois do que você fez? —Ele gritou, seus lábios se curvando em desgosto. —Você é mais delirante do que eu pensava. —Não. Deixe-me ir! —Eu disse, frustração e desespero tomando conta de mim. —Eu não me importo. Tenho que fazê-lo entender por que eu fiz isso. Ele riu, balançando a cabeça. —Você está realmente delirando. —Disse ele, em tom de desprezo. Eu fiquei lá, completamente chocada com sua ação. Ele estava me arrastando novamente. Eu implorei para ele parar. Sufoquei um grito. —Sua putinha. Ele não quer ver sua cara. Nunca mais. Ele quer você fora de sua vida e longe dele. —Ele proferiu, partindo meu coração ainda mais. Isso não poderia estar acontecendo. 243

Enfiei minhas unhas em seus braços e arranhei, esperando que Artur me soltasse. —Não! Ele não faria isso. Alessio não faria isso. Artur se virou e me jogou sobre seus ombros. —Não! —Eu soquei suas costas repetidamente. —Deixe-me ir. Eu não acredito em você! Alessio não diria isso. Ele não faria isso. —Alessio! —Eu gritei, minha voz rouca. Foi inútil. Minha voz estava arranhada. Eu soava como um gatinho recém-nascido. —Artur, deixe-me ir. Alessio vai te matar. Não me toque. Ele não diria uma coisa dessas. Ele nunca me expulsaria de sua vida assim. Eu queria acreditar nas palavras que joguei em Artur. Mas no fundo dos meus pensamentos, talvez ele estivesse certo. Eu mentalmente gritei em negação. Eu tinha que acreditar em Alessio. Mesmo que ele me odiasse, eu tinha certeza que ele falaria comigo. Não enviaria um de seus homens. Mas, e se? E se ele me odiasse tanto que não suportasse ver meu rosto? Não. Alessio – o Alessio que eu conhecia nunca faria isso. —Você está mentindo. Deixe-me ir. —Chutei Artur. —Seu pai matou sua mãe e irmã. Ele te odeia, Ayla. Odeia profundamente. Se você aparecer na frente dele, ele a matará sem pensar duas vezes. Você nunca teria a chance de falar. Ele não é o homem que você pensa que é. Ele é um assassino. E você é inimiga dele. —Disse Artur, rindo com as últimas palavras. —Alessio! —Eu gritei, mas minha voz estava baixa e rouca por causa de minhas lágrimas. Ele nunca me ouviria. 244

—Faça um favor a todos nós e dê o fora daqui. —Disse Artur, me colocando no chão. Estávamos fora dos portões agora, e senti uma onda de pânico. Eu empurrei Artur. —Se Alessio me odeia e realmente quer me tirar da vida dele, ele terá que dizer isso na minha cara. Só então eu vou acreditar nele. Se ele me matar, que assim seja. Tentei entrar, mas Artur agarrou meu braço, me afastando. —Vá se foder, vadia. —Eu lutei, não desistindo sem lutar. Eu tinha que lutar – por mim, por Alessio e por nós. Artur me empurrou, e eu teria caído se não fosse por outro par de braços. NÃO! Seu toque... Minha pele queimou sob ele. Minha voz sumiu novamente quando me refugiei em minha mente. Eu gritei internamente, até parecer que meu interior entraria em combustão. Só o toque dele foi suficiente para me deixar louca. Meus olhos se arregalaram e eu ofeguei alto, minha respiração ficando mais pesada quando senti uma garra de pânico na minha garganta. O medo se apoderou do meu corpo e mente até que minha alma não sentiu nada além de medo e dor. Seu aperto era forte, e eu não conseguia me afastar dele. Fiquei paralisada ao ver Artur se afastando, me deixando sozinha com o diabo. Eu tentei lutar, mas meu corpo não se mexia. Eu me submeti ao domínio do diabo porque meu corpo não sabia mais o que fazer. Estava tão acostumado a se submeter àquele homem que era a única coisa que era capaz de fazer. Meus músculos ficaram tensos e se contraíram até doer. O 245

pânico se espalhou por mim quando eu lentamente comecei a ficar dormente, insensível. —Ela é toda sua. —Disse Artur antes de fechar os portões. E então eu estava sozinha. Com Alberto. Eu estava dominada pelo medo e pela dor. Minha cabeça parecia que ia explodir em duas. Meu coração já estava partido. Como alguém vive sem seu coração? Por que o meu tinha se despedaçado em milhares de pedaços. Eu o senti estilhaçar. Todo o meu corpo e alma sentiram. E desta vez, eu sabia que era irreparável. O aperto de Alberto aumentou e meu estômago embrulhou. Eu reprimi o desejo de vomitar quando a tontura tomou conta de novo. Uma escuridão completa me cercou, e eu queria gritar. Alessio! Mas nenhuma palavra foi pronunciada. Alberto me puxou e, quando ele me empurrou para dentro do carro, eu gritei. —Alessio! Mas era tarde demais. A porta se fechou e Alberto sentou-se ao meu lado. Eu me arrastei para longe dele, ficando colada contra a porta quando o carro começou a se mover. Não. Não. Não. Eu puxei a porta, tentando abri-la, mas Alberto enrolou a mão em volta do meu cabelo, puxando-me bruscamente até meu couro cabeludo queimar sob seu ataque. Ele bateu minha cabeça na porta. Uma vez. Duas vezes. A dor se espalhou em meu crânio e minha bochecha doeu. Eu podia sentir o gosto de sangue na minha boca. 246

—Você tem sido muito má, amor. Mas é hora de voltar para casa agora. —Disse Alberto, mantendo minha bochecha pressionada firmemente contra a porta. Estremeci quando lágrimas escorriam pelo meu rosto. Ele me puxou para que eu estivesse de frente para ele. Alberto sorriu, mas seus olhos estavam em chamas. Meu sangue gelou. Minha morte tinha chegado mais cedo do que o esperado. —Hora de você dormir. Minhas sobrancelhas franziram, e então eu gritei quando senti uma picada na minha coxa. Olhei para baixo e vi uma seringa na mão dele e a agulha na minha coxa. —Não. —Eu murmurei. Seu olhar era frio e insensível, assim como ele. A palma da mão dele bateu no meu rosto e eu voei novamente contra a porta, minha cabeça estalando com a pressão. Eu estava me perdendo enquanto a escuridão nublava minha visão. —Alessio. —Eu choraminguei. Alberto rugiu e pressionou meu rosto com mais força contra a janela. —Você aprenderá a nunca mais dizer o nome dele. Acho que você esqueceu que ele a entregou para mim. Eu tentei balançar a cabeça, forçando meus olhos a abrir, mesmo que eu estivesse lentamente me perdendo. —Eu acho que fui muito suave com você antes. Agora, você sentirá o que é a verdadeira dor. —Alberto sussurrou sua promessa em meus ouvidos, suas unhas afundando dolorosamente em minhas bochechas. 247

Uma onda de dormência me tomou, e eu estremeci violentamente, meu corpo desmoronando e enfraquecendo sob seu aperto e a droga que ele me deu. Meus olhos reviraram. Era isso. Minha realidade. Meu destino. Tudo o que eu podia fazer era chorar e ficar parada enquanto a droga agia e a tontura me jogava em uma nuvem de escuridão e desespero. Eu me submeti à pesada força que estava me puxando para baixo e meus olhos se fecharam. Meu pensamento final quando a escuridão tomou conta foi Alessio. Desculpe, Alessio. Eu te amo. Seu nome era um mero sussurro na minha cabeça quando eu perdi a consciência. Alessio.

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CAPÍTULO 28 Alessio A visão de Alberto causou uma erupção de raiva que percorreu meu corpo. Mas tentei ficar o mais calmo possível. Meu único pensamento era manter Ayla segura. Longe de Alberto. Ele não podia saber que ela era minha fraqueza. Mas então ele olhou para Ayla como se a conhecesse. Como se ela fosse algo para possuir. Eu queria arrancar os olhos dele, colocar uma bala bem no meio de seus olhos. Só porque ele estava olhando para Ayla. Meu anjo. O que eu nunca esperava foi o choque que veio a seguir. E a dor da traição. Ouvi Ayla choramingar atrás de mim e senti suas unhas afundando na minha pele. Eu senti seu pânico. Estava vibrando fora dela. O ar que nos rodeava ficou mais denso com seu medo. Mas apenas as palavras de Alberto ecoaram nos meus ouvidos. Todo o resto foi um borrão. A mulher que você está protegendo atrás de você agora é Ayla Abandonato. A única filha do falecido Alfredo. E também, minha futura esposa. A rainha dos italianos. Sua inimiga. Ayla Abandonato. Uma maldita Abandonato. Ela mentiu para mim. Todo esse tempo tinha sido uma 249

mentira. Meu ombro doía com a tensão, mas mantive meu rosto o mais vazio possível. Nenhuma fraqueza. Alberto não precisava saber como suas palavras me afetaram. Ayla não precisava saber o que sua traição estava fazendo comigo. Eu confiei nela. Eu a deixei entrar. Ela era a porra do meu anjo. Engoli a pedra de emoções que entupia minha garganta e olhei diretamente nos olhos de Alberto. —Viktor, leve-a para dentro. —Eu disse, minha voz calma, mas a frieza e o aviso mortal estavam lá. As palavras saíram instintivamente. Ela era a inimiga, mas minha necessidade de protegê-la não diminuiu. Não importava o quanto minha mente estivesse furiosa, eu ainda tinha sentimentos por ela. Ela me traiu, mas ainda era meu anjo. Pelo canto dos meus olhos, vi Viktor puxando Ayla em direção aos portões. Ela estava olhando para mim, seus olhos nunca deixando os meus, me implorando para lhe dar uma chance. Eu vi tudo lá. A dor dela. O medo. O pânico. E, finalmente, o amor. Meu estúpido coração traiçoeiro se apegou a isso. Eu queria acreditar naquele olhar. Minha decisão podia ser estúpida, mas era a única que fazia sentido. 250

Dando a Alberto toda minha atenção, dei a ele um olhar arrepiante. —Dê o fora daqui, Alberto. Esta é a última vez que vou dizer isso. É preciso apenas que uma bala seja disparada e a guerra estará iniciada. Deixe minha propriedade ou meus homens serão forçados a atirar. Alberto levantou uma sobrancelha e começou a se afastar lentamente. —Você está certo. Vamos deixar Ayla decidir. Fui tentado a atirar nele naquele momento. Colocar uma bala bem nos olhos dele. Mas isso só traria guerra contra nós mesmos. E Ayla estaria bem no meio. A segurança dela não podia ser comprometida. Minha intenção assassina deve ter aparecido no meu rosto, por que Alberto sorriu e depois olhou para Ayla, seu olhar lascivo. —Eu estarei esperando, amor. Senti a mão de Phoenix no meu braço, me fazendo perceber que eu tinha pegado minha arma. Eu estava vibrando com a necessidade de acabar com a vida do bastardo. Lenta e dolorosamente. Esse dia chegaria. Não agora. Mas logo. Observei os carros se afastarem antes de finalmente ter coragem de me virar para Ayla. Eu a vi se inclinar para frente e ela começou a vomitar, hiperventilando ali mesmo na entrada da garagem. Seu pequeno corpo estava tremendo violentamente, seus soluços fazendo meu coração apertar com força. Eu queria abraçá-la, segurá-la em segurança e dizer a ela que tudo ficaria bem. Mas eu me detive. Eu sabia que iria atacá-la e machucá-la. E a última coisa que eu queria fazer era machucá-la... Mesmo que ela fosse a razão da 251

minha dor agora. Então eu me afastei. Dela. Fiz isso para protegê-la. Eu já havia sido baleado antes. Várias vezes. Mas a traição de Ayla foi mais dolorosa do que balas perfurando meu corpo. Ela chamou por mim, meu nome em seus lábios. Ela me pediu para ouvir, mas eu estava entorpecido. Entorpecido demais para me importar. Para entender suas mentiras, sua traição. Eu confiei nela, mas ela não me deu nada em troca. Depois de me dar e abrir meu coração para ela, ela ainda mentia. Mas mesmo através das ondas de raiva, eu entendi o porquê. Eu odiava os Abandonatos. E ela era um deles. A filha do homem que matou minha mãe e irmã. —Porra! —Eu praguejei, socando a parede ao lado da porta. Ela deve ter ficado assustada. Muito assustada. Não é de se admirar que ela nunca tenha dito a nenhum de nós. E aqueles que são inocentes? Eles também perecerão? Só por que estavam condenados a ser italianos – um Abandonato? A pergunta de Ayla ecoou nos meus ouvidos, e eu puxei meus cabelos em frustração, meus dedos cravando no meu couro cabeludo. Ela quis me dizer. Muitas vezes, ela quis dizer isso, mas meu ódio pelos Abandonatos sempre a impediu. Ainda me lembro claramente das minhas palavras, como se tivessem sido ditas no dia anterior. 252

Não há inocência naquela família. Eles são todos sementes do diabo. Estão manchados com o sangue de minha mãe e irmã. Como eu poderia esperar que Ayla me dissesse a verdade quando essas foram as palavras que lhe dei? Você disse que mataria qualquer um no seu caminho. Mas e os inocentes? Quando me dei conta, fiquei enjoado. Ela estava falando de si mesma. Ela era inocente. Eu estava fugindo de casa quando te encontrei e me escondi no seu carro. Foi assim que nos conhecemos. Eu não sou uma espiã, Alessio. Sou apenas alguém fugindo de seu pesadelo, buscando desesperadamente a paz. Tudo o que ela disse veio correndo de volta para mim, até meus pensamentos enlouquecerem. E foi aí que eu perdi o controle. Com um rugido, peguei a mesa de centro e a virei, jogando-a contra a parede. Centenas de cacos de vidro voaram por toda parte. Minhas mãos se fecharam em punhos, e eu bati na parede novamente, com mais força do que antes. Minha pele sobre os nós dos dedos ficou ferida, mas isso não foi suficiente. Eu estava ofegante, lutando para respirar, lutando contra o monstro que queria ser libertado. A repentina compreensão fez minha cabeça girar. Meus pulmões se apertaram. —Porra! —Eu gritei. O homem que eu odiava, o homem que prometi matar... Meu inimigo, foi ele quem machucou meu anjo. Foi ele quem lhe causou dor. A razão de seus pesadelos. Alberto. Ele arruinou minha Ayla. Meu sangue rugiu com o desejo de matá-lo. De terminar com 253

sua vida. De acabar com o pesadelo de Ayla. Virando-me, vi Artur, Viktor e Phoenix parados lá. Seus rostos estavam impassíveis enquanto olhavam para mim, esperando que eu lhes desse ordens. Mas outra coisa chamou minha atenção. Alguém estava faltando. Meu coração acelerou em pânico enquanto olhava ao redor da sala quase furiosamente. —Onde está Ayla? —Eu rosnei, meus dedos doendo enquanto eu apertava meus punhos. As sobrancelhas de Viktor levantam em questionamento, e ele olhou para trás. —Ela estava logo atrás de mim. —Ele resmungou, seu rosto se contorcendo com um leve pânico. —Você a deixou sozinha! Eu lancei meu punho, e ele acertou o rosto dele. Um estalo abafado ressoou pela sala, mas eu não me importei. —Eu a deixei com você. Você deveria trazê-la para dentro. Confiei em Viktor para trazê-la para dentro, para mantê-la segura enquanto eu tentava me controlar. —Eu pensei que ela iria seguir. Ela provavelmente está do lado de fora. Acalme-se, porra. —Disse Viktor, segurando sua boca sangrando. Artur veio ficar ao meu lado. —Eu vou buscá-la, chefe. Eu assenti, me afastando de Viktor. —Traga-a para dentro. —Eu pedi. Artur assentiu e saiu sem olhar. A necessidade de protegê-la, protegê-la de qualquer sofrimento, era esmagadora. Alberto não iria chegar nem perto dela. Minha cabeça inclinou-se para o lado e lancei a Viktor um 254

olhar. Ele olhou de volta. —Você terminou? Porque não pode agir assim quando Ayla entrar. Você vai assustá-la pra caralho. Eu não disse nada. Só porque eu sabia que ele estava certo. Eu tinha que sair daqui, pensar claramente, longe de Ayla, para não machucá-la. Mesmo que ela fosse meu anjo, ela ainda me traiu. Meu coração e minha mente estavam em uma batalha constante. Naquele momento, percebi que estava mais magoado por ela ter mentido para mim do que pelo fato de ela ser uma Abandonato. Ayla poderia ter sido uma Abandonato, mas ela era inocente. Ela era outra vítima. E eu não poderia machucá-la por isso. Balancei minha cabeça com esse pensamento. Era exatamente por isso que eu tinha que ser sem coração. Cruel. Foi por isso que eu nunca quis me aproximar dela em primeiro lugar. O coração humano era uma coisa estranha. Era traiçoeiro e fraco. Isso nos tornava fracos. Era fácil para mim esquecer minha vingança, apenas porque o que eu sentia por Ayla era mais poderoso. O que tínhamos era mais poderoso do que minha necessidade de vingança. Afundei no sofá e esfreguei minha testa cansadamente. Como isso aconteceu? Num minuto tudo estava perfeito, e agora... Estava arruinado. O que mais me preocupava eram os sentimentos de Ayla. Quão assustada e preocupada ela deve ter ficado. —O que você vai fazer? —Viktor perguntou, sentando no sofá de frente para mim. Ele me olhou com olhos curiosos, mas 255

desconfiados. —Com Ayla? Inclinei-me para frente, colocando os cotovelos nos joelhos. —Isso é mesmo uma pergunta? —Eu assobiei. —Você realmente acha que eu vou machucá-la? Viktor olhou para mim em silêncio e depois balançou a cabeça. —Eu sei que você não vai machucá-la. —E se eu machucasse? Eu precisava saber a resposta dele. Eu precisava saber onde Ayla estava com meus homens, o quanto ela significava para todos. Eu precisava saber que quando chegasse a hora, todos estariam na frente dela, protegendo-a. —Eu teria que ir contra você. —Ele respondeu simplesmente, encolhendo os ombros como se isso não significasse nada. Mas seus olhos eram intensos e me disseram tudo o que eu precisava saber. Minha cabeça virou-se para Phoenix enquanto esperava sua resposta. Ele balançou sua cabeça. —Não podemos deixar que você a machuque, chefe. Eu senti uma sensação de alívio. Eles eram os defensores de Ayla. Se algo acontecesse, eles a protegeriam. Mas o alívio durou pouco. Vi Artur parado na porta. Sozinho. Seu rosto estava triste, e quando ele encontrou meus olhos, ele olhou para baixo, balançando a cabeça. —Onde está Ayla? —Eu perguntei, levantando-me. —Chefe, me desculpe. —Respondeu ele, mantendo a cabeça baixa. 256

—Onde. Está. Ayla? Perguntei entredentes, pontuando cada palavra enquanto meu coração acelerava quase dolorosamente. —Chefe, eu tentei pará-la. Eu realmente tentei. Mas ela foi embora. Com aquele maldito bastardo. Também não pude acreditar nos meus olhos. —Não! —Eu berrei, passando correndo por ele. O pânico me percorreu enquanto eu descia correndo as escadas e seguia para a entrada da garagem. Os portões estavam fechados e eu os abri, mas era tarde demais. Não havia sinal de Alberto. Nenhum sinal de Ayla. Meu anjo. Ela não estava em lugar algum. Ouvi Viktor, Phoenix e Artur atrás de mim. O ar crepitava com a tensão. —Ayla estava apenas brincando com você esse tempo todo. Ela mentiu para nós. Aquela putinha. —Disse Artur com repulsa. Virando-me, agarrei Artur pelo colarinho. —Você está mentindo! Era impossível. Ayla não podia me trair. Ela não me trairia... Não desse jeito. Artur estremeceu enquanto eu pressionava meus dedos ao redor de seu pescoço. —Nunca a chame de puta! Onde ela está? —Chefe, eu vi Ayla indo até ele. Ela estava nos braços dele. —Ele ofegou enquanto eu apertava meus dedos com mais força ao redor de sua garganta. Eu queria gritar. Raiva. Bater em alguém. Eu queria matar... Eu precisava matar. —Ela te traiu, chefe. —Disse Artur, com a voz rouca. 257

E foi quando eu explodi. Eu perdi a cabeça. —Cale-se! Cale a boca, porra! Tirando minha arma da cintura, apontei-a sob o queixo de Artur. Sua cabeça inclinou-se de surpresa e seus olhos brilharam com súbito medo. —Você está mentindo! —Eu rosnei, empurrando o cano em seu pescoço. Meus dedos coçaram para puxar o gatilho e acabar com sua vida. Ele engoliu em seco e balançou a cabeça levemente. Eu quase puxei o gatilho então. Se não fosse Viktor me afastando, Artur estaria morto. —Alessio! Droga! —Viktor assobiou nos meus ouvidos. Eu olhei para Artur enquanto ele tossia buscando ar. —Você perdeu o juízo? Apontando uma arma para o seu homem. Somos uma irmandade, Alessio. —Ele tentou argumentar comigo. Mas eu mal ouvi Viktor. As únicas palavras que ecoaram em meus ouvidos foram as de Artur.

Ela te traiu, chefe. Ela foi embora. Com aquele maldito bastardo. Também não pude acreditar nos meus olhos. Ela estava apenas brincando com você esse tempo todo.

—Não! —Agarrei meu cabelo em frustração, em negação. — Ayla não estava mentindo!

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Era mentira. Ayla não me trairia. Eu não acreditava nisso. Eu não podia acreditar.

Eu tinha dezesseis anos quando fui estuprada. Ele me estuprou no meu décimo sexto aniversário, e ele continuou fazendo isso todas as noites durante sete anos. Meu pai nunca fez nada. Ele nunca prestou atenção em mim. Eu estava sozinha, nunca tive permissão para sair de casa. E então ele me entregou a ele. Um homem cruel que me destruiu. Ele costumava me bater. Ele me acorrentava à nossa cama e depois me chicoteava se eu fizesse algo errado ou o que ele pensava ser errado.

Cada palavra, cada momento corria de volta para mim até que eu estava cego de dor. Meus pulmões se apertaram enquanto eu lutava para respirar, meu coração doía da maneira mais dolorosa. Quando Ayla estava contando seu passado, ouvi a verdade em suas palavras. Seus olhos cheios de dor, seus pesadelos, não eram mentiras. Eles eram reais. O sofrimento dela era real. Mas por que ela iria embora? Com ele... O mesmo monstro que a destruiu? Não fazia sentido. Nada disso fazia sentido. Eu me recusava a acreditar nisso. Porque eu acreditava nela. Eu acreditava em nós. —Ela não foi embora. —Eu disse, olhando para os portões. —Ela não voltaria para Alberto.

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—Eu concordo. —Disse Viktor ao meu lado. —Não tem como ela ter ido por vontade própria. Vi como Ayla estava assustada com ele. Havia apenas uma conclusão. Alberto a levou. A arrebatou bem debaixo do meu nariz. Meus olhos se arregalaram, e uma dor repentina atravessou meu peito e eu quase me curvei. Meu estômago revirou e minhas mãos tremiam ao meu lado. Estremeci ao pensar nas coisas que Alberto tinha feito com ela. E agora ela estava com ele novamente. À sua mercê. Ela foi empurrada de volta para a escuridão da qual estava fugindo. E foi tudo culpa minha. Eu tinha um trabalho simples a fazer. Protegê-la. Mas falhei. Eu falhei com o meu anjo. —Você tem certeza que a viu sair com Alberto? —Ouvi Phoenix perguntar atrás de mim. —Eu a vi entrando no carro dele. —Respondeu Artur. —Então é possível que Alberto a tenha ameaçado. — Acrescentou Viktor. Isso não importava. Nada disso importava. Como ou por que aconteceu. A única coisa que importava era recuperar Ayla em segurança. E garantir que Alberto não fosse mais uma ameaça. Naquele momento, minha vingança foi esquecida. A razão pela qual eu precisava acabar com os Abandonato foi esquecida.

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Foi substituída por outro propósito. Livrar-me de todas as pessoas que machucaram meu anjo. Lenta e dolorosamente. Até que eles desejassem nunca a terem visto.

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CAPÍTULO 29

Eu girei e voltei para dentro. Meus homens seguiram atrás de mim. —Chefe, sinto muito. Eu não sabia. Eu pensei... —Artur começou, mas logo se interrompeu. Eu fiquei de frente para ele e ele se ajoelhou, curvando a cabeça, a arma colocada à sua frente. Uma postura de submissão. —Eu falhei com você e Ayla. Você tem todo o direito de tirar a minha vida. Inclinando-me, peguei a arma dele. —Você está certo. Eu posso tirar sua vida agora. Só porque você chamou minha mulher de puta. Você cometeu um erro, mas esse será o seu último erro. Endireitei-me, ficando completamente de pé, mas em vez de apontar minha arma para a cabeça dele, dei-lhe uma ordem. — Levante-se. Ele se levantou, de frente para mim, com a cabeça ainda abaixada. —Você tem mais uma chance. Proteja Ayla com sua vida e será perdoado. Não poderia condená-lo por pensar o que qualquer um de nós teria pensado. Era mais fácil pensar que Ayla havia nos traído. Mas eu sabia... Meu anjo nunca faria isso. —Viktor, rastreie o telefone dela. —Pedi. Ele assentiu e pegou o telefone. 262

Esfreguei uma mão no rosto enquanto olhava ao redor da sala. —Phoenix, chame os outros homens. Vamos sair assim que tivermos a localização de Ayla. Eu ainda estava falando quando vi o bolo que Ayla tinha assado para mim na noite anterior. Caminhando até a mesa de jantar, meu peito se apertou com uma pressão inflexível. Tudo que eu podia ver eram seus doces sorrisos. Ouvi sua risada, sua voz melodiosa. E eu senti seus beijos suaves. Quando cheguei à mesa, congelei, meus olhos indo para o item ao lado do bolo. Ouvi Viktor xingar atrás de mim antes de falar. —Alessio, o telefone dela... Tentei puxar o ar, mas não conseguia respirar. Cerrei meus punhos enquanto meu coração apertava. Gritando de raiva, peguei o telefone de Ayla e o joguei na parede. Sem pensar, eu também joguei o bolo. Ele se espalhou contra a parede. Não consegui parar. Minha raiva foi ainda mais alimentada com o pensamento de meu anjo estar com Alberto e não ter como encontrá-la. A ideia de ele machucar Ayla me deixou louco. Minha visão estava coberta com uma camada vermelha enquanto eu fervia. Eu destruí tudo ao meu redor. Ninguém me parou, porque eles sabiam que eu os destruiria também. Meu corpo tremia com a necessidade de matar. Eu tinha sede de sangue. Haveria derramamento de sangue. As pessoas iriam morrer, mesmo aquelas que eram inocentes. Só haveria morte para aqueles que estivessem no meu caminho. 263

—Isso é guerra. —Eu rosnei, minha voz tão afiada quanto uma navalha. Meu peito estava ofegante, minha respiração irregular enquanto eu imaginava sangue ao meu redor. Eu queria ver o sangue de Alberto derramar de seu corpo quando ele desse seu último suspiro. Eu precisava disso. Meu sangue ferveu sob a minha pele, queimando ardentemente, me fazendo desejar matar. Morte. O monstro rugiu, e desta vez eu o soltei. Abracei a escuridão dentro de mim. Porque isso era guerra. Alberto começou. E eu ia acabar com isso.

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CAPÍTULO 30 Nikolay Meu carro parou em frente à casa de praia de Alberto. Fiquei em silêncio por um segundo, contemplando o que fazer e o que estava acontecendo. Sempre que tínhamos uma reunião, ele me chamava para seus clubes, mas nunca para suas propriedades. Mas agora eu estava sentado do lado de fora de uma de suas casas. Ele me ligou, pedindo que eu o viesse urgentemente. E eu vim sem pensar duas vezes. Não porque eu queria. Era porque eu tinha que fazer. Eu não suportava sua cara feia. Toda vez que eu o via, tinha que reprimir o desejo de cortar a porra do seu corpo em pedaços e jogá-los para os cachorros. Meu ódio por Alberto não tinha limites. Ficava enojado com o próprio ar que ele respirava. E desejava, toda vez que o via, que tivesse o poder de matá-lo e ver a vida lentamente deixar seus olhos enquanto arrancava seu maldito coração negro. Mas não podia fazer nada disso. Inclinei-me no meu assento com um suspiro. Respirando fundo, tentei acalmar meus pensamentos furiosos e a necessidade de sede de sangue. Eu estava aqui, e tinha que fazer meu trabalho. Embora uma pergunta queimasse em meus pensamentos. 265

O que ele estava fazendo na Flórida? Não contei a ele sobre a viagem do chefe. Era uma porra de uma grande coincidência que ele estivesse aqui no mesmo tempo que o chefe. Balançando a cabeça, limpei meus pensamentos e saí do carro. A porta já estava aberta, então entrei sem bater. Eu não precisava bater. Os homens dele já sabiam que eu tinha chegado. Vi uma empregada limpando a cozinha, de costas para mim. —Onde está o Alberto? —Eu perguntei, minha voz irritada. Ela deu um grande salto no ar antes de se virar, com a mão sobre o peito. —Umm... Ele estava em seu escritório na última vez em que o vi. —Ela disse sem fôlego, seus olhos cheios de alarme. —Onde fica o escritório dele? —Ela apontou silenciosamente para o fim do corredor. Sem um segundo olhar, segui a direção. Quando cheguei ao final do corredor, vi um homem parado na frente da porta, guardando-a. Acenei com a cabeça em direção à porta antes de falar. —Preciso ver o Alberto. Ele me ligou. —Quem é você? —Ele perguntou, sua mão sobre sua arma. —Nikolay. O reconhecimento brilhou em seus olhos. —Ele não está aqui. O chefe saiu há cerca de uma hora. Ele tinha algo para cuidar. —Vou esperar por ele. —Anunciei, enviando-lhe um olhar frio, desafiando-o a me recusar. O homem bufou e abriu a porta para mim. —Ele deve voltar em breve. —Disse ele, apontando para a sala. Entrei e ele me seguiu, fechando a porta atrás de si. Claro que 266

ele me seguiria. De jeito nenhum ele me deixaria sozinho no escritório de Alberto. Para ele, eu era um estranho. O que ele não percebeu era que eu também era o infiltrado. Eu não me sentei. Em vez disso, caminhei pelo escritório. Algo parecia errado. Alberto nunca me chamaria para sua casa, especialmente se ele não estivesse aqui. E o mais importante, o que ele estava fazendo aqui? Ao mesmo tempo que nós. Ele tinha mais espiões do que pensávamos? Esfreguei minha mão sobre minha cabeça em frustração e tentei reprimir o rosnado que ameaçava escapar. Eu ainda estava andando quando algo me chamou a atenção. Foi apenas um pequeno vislumbre, mas foi o suficiente para eu parar minha caminhada. De jeito nenhum. Porra, não. Aproximei-me da mesa de Alberto e peguei o porta-retrato na minha mão. Pensei que eram meus olhos me pregando uma peça. Talvez fosse. Pisquei várias vezes, mas a foto ainda estava lá. Ela ainda estava lá. Eu estava olhando nos olhos verdes dela. Ayla. Meu queixo caiu, mas eu fechei a boca rapidamente, meu maxilar apertando com força. Eu olhei para a foto, minha mente ficando em branco por um segundo. —Quem é ela? —Perguntei em voz alta, embora eu já tivesse minha resposta. —A mulher do chefe. —O homem simplesmente respondeu. 267

Meus dedos se apertaram ao redor da moldura da foto. — Qual é o nome dela? —Ayla Abandonato. A cadela fugiu meses atrás. Mas o chefe acabou de encontrá-la. Ele foi buscá-la. Ela estava escondida com a porra dos russos todo esse tempo. Você acredita nisso? —Ele disse enojado. Meu estômago apertou e eu congelei, meus músculos tensionando com suas palavras. Isso não poderia estar acontecendo. Ela era uma Abandonato. E mulher de Alberto. Ela era a traidora? Meu peito apertou com esse pensamento. Não. Eu não acreditava. Não havia como ela nos trair. Fiquei olhando para a foto. Ayla parecia tão diferente aqui. Os olhos dela não brilhavam, como brilhavam agora. Eles eram sombrios, quase sem vida. Ela não sorria. Seu rosto e postura eram rígidos. Esta Ayla parecia com a que eu tinha encontrado pela primeira vez. Quando ela estava suja, ferida e assustada. Aquela que estava arruinada. Alberto foi quem a destruiu. Ele era o carrasco de Ayla. A voz do homem soava como se ele estivesse debaixo d'água enquanto ele continuava falando. —Provavelmente fodeu com todos os homens lá também. É para isso que ela serve. Embora eu não vá reclamar. Sua boceta é uma das melhores. Ela se encaixa no meu pau como uma luva. Minha mente se enfureceu e eu enxerguei vermelho. Colocando a foto na mesa, peguei minha arma. Ele não teve chance de reagir ou pegar sua arma. Vi seus olhos brilharem de surpresa 268

quando apontei minha arma para ele. E então eu apertei o gatilho. Um tiro. Uma bala, bem no meio da garganta. Foi tudo o que eu precisei para matá-lo. Ele afundou no chão sem emitir nenhum som, seu sangue se espalhou ao redor de seu corpo. Havia sangue por todo o escritório e na parede atrás dele, onde um pouco de sua carne havia atingido. Ninguém falava sobre a mulher do chefe assim. Eu nunca teria piedade de homens como ele. Sem poupá-lo outro olhar, saí do escritório e entrei no meu carro. Minha visão estava cega com a foto de Ayla. O olhar derrotado em seu rosto. E então suas palavras ecoaram nos meus ouvidos. A cadela fugiu meses atrás. Mas o chefe acabou de encontrá-la. Ele foi buscá-la. Ela estava escondida com a porra dos russos todo esse tempo. —Porra! —Eu gritei, apertando meu volante. Eu tinha que avisar Alessio. Saí da garagem e liguei para o celular dele ao mesmo tempo. Mas ele não atendeu. O que nunca tinha acontecido. Ele sempre atendia. Meus ombros doíam com a tensão e minha garganta subitamente secou. Mantive meus olhos na estrada e dirigi sem pensar enquanto tentava ligar para os outros. Mas ninguém atendia seus telefones. Eu praguejei alto, jogando meu telefone no banco ao meu lado. A estrada estava lotada. Eu nunca chegaria lá a tempo. Alberto saiu há uma hora. Ele já deveria ter chegado. Ou talvez ele estivesse esperando para atacar? 269

Seria o momento perfeito. Não havia homens suficientes para proteger Ayla ou o chefe. Porra, não. Eu não podia deixar isso acontecer. O chefe não podia perder Ayla. Não agora. Nunca. Ele não sobreviveria a isso. Por que eu sabia que se Ayla se perdesse, o chefe também se perderia. —Ele ficaria destruído. E eu não podia deixar isso acontecer. Dei um soco no volante, e a dor disparou em meus dedos. Rapidamente dando marcha a ré, mudei meu percurso. Durante os trinta minutos seguintes, infringi todas as regras de trânsito. Quando cheguei à casa de praia, saí rapidamente. A entrada de automóveis estava estranhamente tranquila. Mas a morte pairava no ar. Foi quase arrepiante. Subi as escadas correndo e entrei na casa, mas congelei nos degraus com a visão à minha frente. A casa estava uma bagunça. Completamente destruída. Phoenix e Artur estavam sentados no sofá, com a cabeça nas mãos e a postura derrotada. Viktor estava encostado na parede, os olhos fechados, o rosto contorcido de dor. As duas mãos do chefe estavam apoiadas contra a parede. Seu rosto estava virado para o lado oposto de onde eu estava, mas eu podia ver seus ombros tensos. Todo o seu corpo estava rígido. E notei outra coisa também. Ayla não estava em lugar algum. 270

A realização quase me deixou de joelhos. Eu cheguei tarde demais.

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CAPÍTULO 31 Ayla Meus olhos se abriram enquanto eu lentamente voltava à consciência. Minha cabeça latejava e meus músculos doíam. Meu corpo inteiro estava doendo. Quando minha visão finalmente ficou focada, soltei um suspiro. Meu corpo congelou e de repente uma náusea me atacou. Tive que engolir a bile que estava subindo do meu estômago para minha garganta. Não conseguia mover meus braços ou pernas. Eu me senti presa. Eu estava presa. Alberto me pegou. Eu estava completamente à sua mercê. Meu peito apertou e engasguei em meio a um soluço. Como isso aconteceu? Tudo estava perfeito, mas eu tinha sido jogada de volta na escuridão. Lágrimas escorreram silenciosamente pelas minhas bochechas enquanto eu pensava em Alessio. Eu o amava tanto que meu coração doía só de pensar em nunca mais vê-lo. Ele era tudo para mim, e agora eu estava sozinha de novo, sem meu salvador. Eu estava vivendo meu pesadelo novamente. Tentei levantar o braço, mas fiquei horrorizada ao descobrir que não podia. Tentei mover minhas pernas, mas não consegui. Elas estavam pesadas, e não havia como confundir a frieza do 272

aço em volta dos meus pulsos e tornozelos. Eu me movi novamente, e o som de metal sacudindo soou na escuridão. Eu estava acorrentada. Em pânico, tentei me mexer. Puxei meus braços e pernas, mas gritei de dor quando o metal apertou minha pele. Inclinei-me contra a parede e fechei os olhos em desespero. Minhas mãos e pernas estavam presas a uma parede de pedra úmida. Eu estava acorrentada à parede como um escravo. Minha garganta se contraiu enquanto eu lutava para respirar. Minha visão embaralhou com a tontura e minha cabeça inclinou-se contra a parede enquanto tentava manter meus olhos abertos. Ouvi passos se aproximando e meu estômago se apertou. Eu choraminguei de medo. Minha pulsação batia dolorosamente contra minha têmpora e garganta. Meu peito estava pesado sob a pressão do meu pânico e medo. Eu tremi contra a parede, esperando meu destino iminente. E então, de repente, eu não estava mais na escuridão. A luz foi acesa e meus olhos se fecharam instantaneamente com o brilho repentino. Eu recuei e me empurrei com mais força contra a parede, como se ela pudesse me proteger. Tentei cobrir meu rosto com as mãos, mas elas foram puxadas com força. Meus olhos se abriram e eu estava olhando diretamente nos olhos de Alberto. Eu gritei de dor quando ele apertou os dedos em volta do meu braço. Quando ele sorriu, eu me encolhi. —Shhh, amor. —Disse ele no meu ouvido, sua língua lambendo meu pescoço. 273

O medo me deixou imóvel. Seus dedos envolveram meu cabelo, e ele puxou minha cabeça para trás para que eu olhasse para ele. —Você realmente achou que eu não te encontraria? —Ele sibilou, seu rosto vermelho de raiva. —Você pode escapar, mas eu sempre vou te encontrar. Meu coração apertou. Eu sabia que esse dia chegaria. Fui infantil por pensar que estava segura. Alberto parecia enlouquecido enquanto sua mão torcia meu cabelo. Me encolhi quando meu couro cabeludo queimou como fogo. —Você deixou ele te foder? —Ele perguntou, agarrando meu queixo. Seus dedos afundaram na minha pele, e tive que morder meus lábios para me impedir de gritar. —Claro que você deixou. Ele te tocou, porra. Você esqueceu que é minha? —Alberto rosnou na minha cara. Eu me encolhi e balancei minha cabeça. Como eu poderia esquecer? Eu estava, afinal de contas, acorrentada ao meu passado. Mas por um breve momento, eu me deixei acreditar que pertencia a Alessio. Alberto olhou para mim fixamente por um segundo. Ele viu minhas lágrimas deslizarem pelo meu rosto e vi seus olhos brilhando de prazer. Ele me soltou e se levantou. Eu caí contra a parede, meu corpo subitamente fraco. Alberto caminhou para trás e sentou-se na cadeira colocada no meio da sala. Ele se recostou e cruzou os braços sobre o peito, parecendo perigosamente intimidador. Eu rapidamente olhei ao redor da sala, mas estava vazia. Não havia janelas, e a sala parecia inacabada. 274

Quando a compreensão me atingiu, puxei um fôlego profundo. Não era um quarto. Era uma masmorra. Meus olhos se levantaram. Os lábios de Alberto se curvaram enquanto ele me lançava um olhar arrepiante. Eu tremi contra o seu olhar e olhei para baixo. Não conseguia olhar para ele. Seu rosto era um lembrete de todas as coisas ruins pelas quais eu havia passado. —Você estragou o plano do seu pai. —Começou Alberto. Minhas sobrancelhas franziram, mas eu não olhei para cima. — Todo esse tempo, ele manteve você escondida para que os russos não descobrissem sobre você. E agora, eles sabem sobre sua existência. Olhei para ele através do meu cabelo que estava cobrindo meu rosto. Alberto balançou a cabeça. —Você era uma merda de responsabilidade. Uma fraqueza. Se eles soubessem quem você era, teriam vindo atrás de você. Você já se perguntou por que nunca pôde sair da propriedade? Eu não respondi. Não importava qual era minha resposta. Alberto diria o que quisesse. —Por que você é uma mulher morta. Você morreu em um incêndio há vinte e um anos. Minha cabeça levantou, meu coração palpitando com essa nova revelação. Alberto riu da minha expressão, seu rosto sinistro. —Mas isso é o que o mundo pensa. Sua morte foi forjada, para que o inimigo de seu pai não viesse atrás de você. De repente, seu rosto mudou. A raiva voltou com força total. —Mas você estragou tudo. Você tinha que escapar. E tinha que acabar com aqueles malditos russos. Agora, eles sabem a verdade. Balançando a cabeça, ele sorriu. Foi malicioso, e eu estremeci. —Mas acho que tudo correu bem. 275

Não entendi o que ele quis dizer. Só vi o sorriso dele. O mesmo que assombrava minhas memórias. Eu nunca esqueceria aquele sorriso. Alessio. Onde está você? Eu silenciosamente implorei. Eu precisava dele. Sentia como se não pudesse respirar sem ele. Vi Alberto se levantar da cadeira e caminhar até mim. Ajoelhando-se, ele agarrou meu rosto. —Em que você está pensando, amor? Ele fez um som de desdém quando eu não respondi. —Não me diga que você está pensando em Alessio? —Ele zombou na minha cara. Engoli em seco quando suas palavras me atingiram diretamente no coração. Ele riu, seu rosto bem perto do meu ouvido. —Você esqueceu? Ele te deu para mim. Não. Ele não me entregou. Ele me amava. Eu sabia disso. Alessio viria atrás de mim. —Ele te entregou como se você não fosse nada. Você realmente acha que ele está vindo salvá-la? —Ele sussurrou nos meus ouvidos. Fechei meus olhos com força, tentando bloquear suas palavras torturantes. Eu não acreditava nele. Não acreditava. Eu acreditava em Alessio. Em nós. —Amor, olhe para mim. —Exigiu Alberto. Não tive outra escolha senão olhar para o diabo. Ele tinha todo o controle. Quando finalmente abri os olhos, vi o rosto de Alberto suavizar. Seus olhos mudaram para um tom mais claro 276

enquanto ele olhava quase amorosamente para mim. —Você não vê? Sou eu quem se importa com você. —Ele disse, passando um dedo gentilmente pela minha bochecha. O medo disparou pelo meu peito, apertando-me até que eu não conseguia respirar. Eu sabia o que ele estava fazendo. Alberto sempre fazia isso. Ele mudava bem na frente dos meus olhos. Indo de um monstro para um homem gentil. Ele fazia isso para brincar com a minha mente. Para me enganar e me fazer acreditar no que ele queria. Para me fazer acreditar que ele realmente se importava. No começo, funcionou. Mas agora eu sabia a verdade. Era tudo um jogo para ele. Não havia nem um pingo de humanidade nele. Ele era um monstro. —Tudo o que fiz foi por nós. Por você. Sempre te protegi e te mantive em segurança para que meus inimigos não te machucassem. —Continuou ele. Eu tentei não ouvi-lo. Eu realmente tentei, mas suas palavras provocadoras soaram nos meus ouvidos, recusando-se a sair. —Alessio não se importa com você. Ele nunca se importou. Mas eu me importo. Estou aqui por você. —Alberto se inclinou para frente e deu um beijo na minha bochecha. Seus lábios se moveram para os meus e ele me beijou. Quase docemente e se desculpando. —Você é minha rainha. Eu choraminguei e me afastei. Pensei que ele iria me bater, mas ele não bateu. Alberto roçou um dedo na minha bochecha. — Você verá que ele nunca se importou. Ele não vem atrás de você, Ayla. Eu queria gritar. Pare com isso! Por favor, pare com isso. 277

Ele estava mentindo. Alessio se importava. Eu era o anjo dele. Ele viria atrás de mim. Eu confiava nele. Alberto continuou a sussurrar nos meus ouvidos enquanto sua mão subia pelas minhas coxas nuas. Elas foram por baixo do meu vestido, seu toque suave. Mas a suavidade era enganosa. A suavidade apenas continha as promessas de dor. —Está tudo bem. Vai ficar tudo bem. Agora que você está em casa, você está segura. Ele não pode machucá-la. Apertei meus olhos com força quando senti um dedo me sondar através da minha calcinha de renda. Dor. Tudo que eu sentia era dor. Isso não poderia estar acontecendo novamente. Talvez fosse apenas um sonho. Um pesadelo. Mas eu sabia que era real. Esse pesadelo era a minha realidade. Ele agarrou minha coxa possessivamente, seus dedos afundando na minha pele, deixando suas marcas. Funguei enquanto minhas lágrimas continuavam escorrendo pelo meu rosto. Eu não disse nada. Sabia como funcionava com o Alberto. Enquanto eu ficasse quieta, não seria tão ruim. E então, de repente, a gentileza desapareceu. As costas da mão dele acertou meu rosto e minha cabeça bateu na parede. Eu gritei quando a dor atravessou minha cabeça e pescoço. Alberto agarrou meu cabelo e me sacudiu. Ele me puxou para frente até que os grilhões apertaram minha pele dolorosamente. Eu gritei novamente, a dor muito intensa para eu suportar. Não doeu apenas fisicamente. Meu coração também estava doendo. Eu estava desmoronando internamente, lentamente me perdendo na escuridão que me cercava. —Você realmente achou que eu seria gentil com você, amor? 278

—Ele disse na minha cara. Balancei minha cabeça, meu estômago revirando violentamente diante da promessa não dita em suas palavras. Meu coração palpitava, e fiquei paralisada. Seu punho acertou meu rosto, ferindo meus lábios. Desta vez não gritei. Eu apenas esperei, porque sabia o que estava por vir. —Você me traiu, Ayla. Você está me obrigando a fazer isso. Tudo isso é tudo culpa sua. —Ele disse contra o meu pescoço enquanto rasgava meu vestido. Estremeci quando suas mãos apalpavam meu corpo. Enquanto me tocava, Alberto dava beijos no meu rosto. Uma mistura de gentileza e dor. Ele estava me dando os dois, tentando me confundir, tentando enganar minha mente. —Eu vou te foder e mostrar exatamente a quem você pertence. —Ele rosnou em meus ouvidos. Meu coração afundou e minha mente ficou em branco. Eu resisti no começo. Algo que nunca tinha feito antes. Mas isso só o irritou mais. Eu não o queria. Eu só queria Alessio. Queria o toque do meu Alessio. Em vez disso, fui forçada a sentir o toque do monstro. Tentei ser forte, mas no final, eu era fraca. Alberto me girou até eu ficar de joelhos, minhas costas contra a frente dele. Ele forçou meu rosto contra a parede até eu ficar presa. Eu não podia fazer nada, não com as correntes enroladas em torno de mim tão apertadas. Ele afastou minhas coxas e senti sua ponta na minha entrada. —Você é minha! Nunca se esqueça disso, Ayla. Minha! 279

Ele afundou em mim, dolorosamente e sem piedade. Eu não consegui impedir o grito que escapou dos meus lábios. Senti sua respiração na minha nuca enquanto ele me fodia de forma rude e dolorosa. Ele bateu seu pau dentro de mim repetidamente, seus dedos em torno do meu pescoço o tempo todo, certificando-se de que eu soubesse que era ele que estava no controle. Eu estava sendo cortada por dentro. Parecia que estava sendo picada com estilhaços de vidro. Estava sangrando por dentro. Meu coração estava sangrando. Minha alma estava sangrando, implorando por misericórdia. A dor era demais. Fiquei em silêncio quando meu corpo e coração se partiam em pedaços. Eu me senti desconectada. Parecia que esse castigo cruel nunca terminava. Ele me levou repetidamente até que eu escorreguei na escuridão. E sabia que desta vez não seria capaz de voltar. Quando ele gozou com um rugido, minha cabeça girou. Alberto saiu de dentro de mim e senti seu esperma deslizar pelo interior das minhas coxas, me marcando da maneira mais humilhante. Meu corpo inteiro estava doendo por causa de sua agressão. Não conseguia me mexer, então fiquei jogada ali, minha cabeça pendendo frouxa contra a parede fria. Senti os lábios de Alberto perto dos meus ouvidos. —Ele não virá atrás de você. Não importa o quanto você implore, ele não virá. Ele nunca te encontrará. Ninguém virá por você. Fechei os olhos, recusando-me a aceitar suas palavras. —Você é um fantasma, Ayla. Um fantasma esquecido. Você 280

sempre viveu nas sombras. Suas palavras empalaram meu coração da maneira mais horrenda e dolorosa. Por que eu sabia que elas eram a verdade. Mas o que piorou a dor foi a constatação de que eu sempre viveria assim. Na escuridão. Escondida e sem escapatória. Eu era realmente um fantasma. Uma esquecida. Meus olhos reviraram enquanto eu lentamente sucumbia à agonia que percorria meu corpo. Mas mesmo em meio ao entorpecimento, eu ainda pensava em Alessio. Por mais impossível que fosse, eu ainda desejava poder sentilo novamente e ouvir seu coração batendo. Só mais uma vez. Apenas uma última vez, eu queria sentir seu coração batendo.

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CAPÍTULO 32 Alessio Senti-me entorpecido ao sair do carro. Parado na entrada, olhei para a propriedade. As portas da frente estavam abertas, mas meus pés estavam enraizados no lugar, recusando-me a me mover. Havia uma dor no meu peito. Saí com Ayla, mas estava voltando sem ela. Ao pensar em voltar para casa sem meu anjo e saber que ela não estaria lá para me cumprimentar ou me beijar, a dor no meu peito se intensificou. Viktor chegou para ficar ao meu lado e esperou. Senti Nikolay no meu lado esquerdo. E então Phoenix e Artur. Ninguém deu um passo à frente. Todos eles esperaram por mim. Não importava o quanto eu estivesse sofrendo, eu ainda era o chefe – o rei. Não podia me deixar enfraquecer em um momento como este. Engolindo o nó na minha garganta, dei um passo à frente e caminhei em direção à porta. Cada passo que dava era pesado, um lembrete do meu fracasso. Entrei e assim que passei pelas portas, Maddie estava em cima de mim. Ela agarrou meu colarinho, seu rosto uma máscara de raiva e descrença. —Onde ela está? —Sua voz estava assustadora enquanto ela gritava. —Como você pôde ter deixado isso acontecer? Seus olhos estavam desfocados com lágrimas quando ela sufocou um soluço, o peito arfando com o esforço. —Você 282

prometeu protegê-la, Alessio. Eu não disse nada. Ela estava certa. Jurei proteger Ayla, mas não fui capaz. Meu pai também estava certo. Pensei que não deixaria isso acontecer. Pensei que era forte, mas a história estava se repetindo. O aperto no meu peito estava de volta. Maddie soltou meu colarinho e caiu de joelhos, seus gritos angustiados ecoando nos meus ouvidos. —Você prometeu. —Ela chorou nos meus joelhos. —Você prometeu. Ouvi outro grito e minha cabeça se levantou em direção a Lena. Ela estava segurando o peito, os olhos arregalados enquanto ofegava. —Lena! —Viktor correu para ela, puxando-a para o sofá antes que ela caísse. —Chame o Sam. —Ele ordenou, enquanto Lena continuava a ofegar por ar, o rosto contorcido em agonia. —Minha doce criança. —Ela sussurrou com a voz embargada. Isso era demais. Todas as emoções delas se derramaram sobre mim; decepção, dor, tristeza tão profunda que meu coração doeu com isso. Passei uma mão trêmula pelo rosto, tentando manter a calma. Tentando ser forte para todos. Por Ayla. Ela precisava que eu fosse forte. Artur puxou Maddie para seus braços. Ela enterrou o rosto no peito dele enquanto chorava. Engolindo contra o nó de emoções em volta da minha garganta, balancei minha cabeça e segui em frente. 283

Maddie parou na minha frente. —Ayla pode ser uma Abandonato, mas ela é inocente. Sua voz era um mero sussurro, mas chegou a mim. E as palavras foram um golpe direto no meu coração. —Eu sei. —Murmurei, olhando reto enquanto passava por ela. —Alessio, você tem... —Ela parou, sua voz embargada. — Eu não posso nem imaginar o que ela está passando agora. Meus olhos se fecharam, meus dedos se apertando em punhos com o pensamento de Ayla sentindo dor. —Vou encontrá-la. —Eu disse, minha voz rouca do esforço de manter minhas emoções sob controle. Eu a encontrarei. Foi uma promessa proferida em voz alta. Maddie parou na minha frente, uma única lágrima escorrendo por sua bochecha. —Você promete? Eu quebrei minha promessa antes, mas não desta vez. Então assenti. Maddie parecia bastante satisfeita com a minha resposta, e seus olhos não tinham dúvida. Eles apenas brilhavam com confiança absoluta. Ela saiu da minha frente e eu continuei indo para o andar de cima. Caminhando pelo corredor em direção ao meu escritório, só ouvia a bela risada e a voz doce de Ayla. Ela estava em todo lugar, mas em lugar nenhum. Uma súbita onda de raiva percorreu meu corpo. Alberto tinha que morrer. Mas primeiro eu tinha que encontrá-lo. E o filho da puta era inteligente. Um covarde, mas inteligente. No momento em que Ayla 284

caiu em suas garras, ele sumiu. Desapareceu. Fazia apenas horas desde que Ayla tinha sido levada, mas pareciam anos. —Porra. —Eu praguejei, abrindo a porta do meu escritório, apenas para parar de repente. Lyov estava olhando pela janela, enquanto Isaak estava inclinado contra o sofá, a cabeça nas mãos como se toda a sua energia tivesse se exaurido de seu corpo. Entrei, analisando os dois homens de perto. Eles odiavam os Abandonatos com fervor, mas eu não os deixaria ficar no meu caminho para encontrar Ayla. Fodam-se as consequências. Pelo canto dos meus olhos, vi meus homens me seguindo para dentro. Minha expressão permaneceu fria e sem emoção enquanto eu encarava meu pai e Isaak. —Eu deveria saber. —Disse Isaak, deixando-nos confusos. As costas de Lyov tensionaram com a voz de Isaak, seus olhos se fechando com força. —Ela parecia tanto com a Leila, mas eu não queria acreditar. Eu me recusei a acreditar. —Isaak continuou, sua voz falhando nas últimas palavras. A esposa do Alfredo? —O quê? —Eu disse rispidamente, avançando. Isaak olhou para cima e fiquei chocado ao ver seus olhos vermelhos. Não, ele não estava chorando. Mas a agonia em seu rosto dizia mais do que as lágrimas teriam dito. —Você conheceu Leila? —Eu perguntei quando nossos olhos se encontraram. Ele vacilou e olhou para Lyov, que ainda não 285

havia se virado para nossa direção. —Sim. Eu conhecia Leila. Eu mais do que apenas a conhecia. —Ele murmurou. Inclinando a cabeça para o lado, olhei e esperei. Eu poderia ter adivinhado a resposta, mas precisava ouvir dele. A verdade. Meus pensamentos ficaram frenéticos enquanto eu esperava Isaak explicar. —Para entender, você terá que saber desde o começo. Meus olhos se arregalaram quando ouvi a voz gutural de Lyov. —Diga a ele. —Ele ordenou sem se virar. Isaak levantou-se e caminhou pela sala. —Após a morte de sua mãe, nosso único objetivo era derrubar os Abandonatos. Fui enviado para encontrar a fraqueza de Alfredo. Ele fez uma pausa, respirando fundo, como se lhe doesse continuar. —Nós pensamos que Leila era sua fraqueza, então por meses eu fiquei de olho nela. De muito longe. Eu observava cada movimento dela e esperava. Depois de semanas vigiando, comecei a ver sinais de abuso. Às vezes, ela tinha um lábio machucado. Suas bochechas estavam vermelhas ou um tom de roxo. Uma vez ela estava mancando. Por que isso parecia tão familiar? Ayla. O nome dela era um sussurro na minha cabeça, e eu apertei minha mandíbula, meus dentes rangendo. —Todos os dias, na mesma hora exata, Leila ia a uma cafeteria. Eu a observava atravessar a rua. Eu a observei até não conseguir mais ficar longe. Ela era tão triste. Tão arruinada. — Continuou Isaak. Ele havia parado de caminhar. Seus olhos estavam agora fixos na parede. Ele estava perdido em suas memórias. 286

—Mas ela nunca estava sozinha. Ela sempre tinha um bebê nos braços. A única vez que a via sorrir era quando ela brincava com o pequeno embrulho. Eu me aproximei delas, desesperado para conhecer a mulher arruinada que estava na minha frente. Eu sabia onde isso estava indo, mas não parei Isaak. Então ele continuou falando. E ao fazer isso, suas palavras apunhalaram meu já frágil coração. —O nome do bebê era Ayla. Ayla Abandonato. Ela era o bebê mais lindo que já tinha visto. Tinha apenas três meses quando a conheci. —A voz de Isaak falhou ligeiramente ao dizer o nome de Ayla. Meus olhos se fecharam quando eu afundei no sofá. —Leila e eu nos conhecemos, mas ela não sabia quem eu era. Não meu nome verdadeiro. Nós... Começamos um caso. Era proibido, e nós dois sabíamos disso. Mas isso não nos impediu. Durou vários meses. Eu vi Ayla crescer. Ela deu seu primeiro passo na minha frente e veio em minha direção. Ouvi Viktor praguejar e Isaak fez uma pausa. A sala ficou subitamente cheia de silêncio, e o silêncio foi sufocante. —O que aconteceu? —Eu perguntei, minha voz dura contra a sala silenciosa. Isaak respirou fundo antes de continuar. —Leila ficou enlouquecida quando descobriu a verdade sobre mim, mas entendeu por que eu fiz isso. Naquela noite, planejamos sua fuga. Era a única maneira de protegê-la e proteger Ayla. Mas eu cheguei um pouco atrasado. —Leila morreu em um incêndio. —Eu disse. —Não. —Isaak rosnou de repente. —Ela não morreu. 287

Minha cabeça inclinou em direção a ele quando ele se virou de frente para mim. —Eu a ouvi morrer. Eu a ouvi gritar quando Alfredo a matou. Atirando nela. O bastardo me chamou e me fez ouvir. Três tiros e depois houve o silêncio. Balançando a cabeça, ele passou a mão no rosto, o corpo tremendo. Com raiva. E profunda tristeza. —Leila morreu, e eu não pude fazer nada. Mas eu sabia que tinha que chegar até Ayla. Prometi a Leila que Ayla não viveria a vida que ela viveu. Ayla seria livre e feliz. Jurei protegê-la e tirá-la daquele inferno. —Isaak finalizou com uma risada áspera e sem emoção. Ele balançou a cabeça, ainda rindo. —Eu cheguei tarde demais. Novamente. Ayla... —Morreu em um incêndio. —Eu terminei. Todos conheciam essa história. Metade da propriedade de Alfredo pegou fogo. Muitas vidas foram tiradas, incluindo as de sua esposa e filha. Essa era a história, mas claramente não aconteceu dessa maneira. —Ayla tinha apenas um ano de idade. Eu não acreditei no começo. Mas vi o caixão dela. Era tão pequeno. Ela era tão pequena. Ela parecia tão frágil quando foi enterrada ao lado de sua mãe. —A voz de Isaak era um mero sussurro. Eu conhecia Isaak há muitos anos, mas nunca o tinha visto tão desolado. Esfreguei minha nuca, tentando liberar a tensão lá. Tudo fazia sentido agora. Por que nunca conseguimos nada sobre Ayla... Por mais intensa que tenha sido nossa pesquisa. Por que nem sequer pensei por um momento que Ayla poderia ser uma Abandonato. 288

Ela era um fantasma. Alfredo tinha se certificado disso. —Aquele filho da puta. —Isaak sibilou, seus olhos de repente flamejantes. —Ele sabia. Ele sabia que eu iria atrás de Ayla, porra. Ela podia não ter meu sangue, mas eu a amava como se fosse minha. —Ele nos fez acreditar que Ayla tinha morrido. Era a única maneira de manter Isaak longe. Todos esses anos, pensamos que ela estava morta. —Lyov finalmente falou, quando ficou claro que Isaak não podia dizer mais nada. Houve apenas silêncio por alguns segundos, até Isaak explodir. Ele estendeu a mão e me agarrou, quase frenético em suas ações. —Você tem que encontrá-la. Por favor, Alessio. Ela não vai sobreviver lá. De novo não. Temos que salvá-la. Temos que encontrá-la. Ela... Ela...Você... —Isaak me implorou, sua respiração em pânico. Meu peito ficou apertado, tão apertado que era quase impossível respirar. E a raiva tomou meu corpo, rindo, provocando, me sacudindo, implorando por libertação. Meus punhos tremiam quando Isaak se afastou quando eu não respondi. Era um ciclo vicioso. Dor, sofrimento e ódio. Isso nos nublou até ficarmos cegos. Mas, apesar de tudo, havia apenas uma luz. Ayla. Levantando-me, caminhei até a grande janela. Lyov ficou ao meu lado, onde estivera durante todo o confronto. E então Viktor estava ao meu lado. Isaak ao lado de Lyov. 289

Nikolay ao lado de Viktor. Phoenix ao lado de Nikolay e Artur bem ao lado de Phoenix. Uma irmandade. Respirando fundo, soltei o ar lentamente. Quando falei, minhas palavras soaram com finalidade. —Eu vou trazer Ayla para casa. Alberto não sabia o que estava por vir. Ele podia ter levado meu anjo, mas eu iria atrás dela. Eu podia ser um monstro. Um assassino. Sem coração. Cruel. Mas o pior para Alberto era que eu era o monstro de Ayla. Não pararia até entregar todos os cadáveres aos pés dela. Meu sangue rugiu com a necessidade de buscar vingança contra os homens que causaram dor em Ayla. Eu queimaria tudo no meu caminho para encontrá-la. Seria o começo da destruição. Um banho de sangue. E eu não ia parar de procurar. Não até encontrar meu anjo.

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CAPÍTULO 33

Os nós dos meus dedos estalaram quando meu punho atingiu o rosto dele. O som foi alto na sala silenciosa. Eu não senti nada, e o pobre bastardo que foi golpeado por meu punho furioso estava chorando de dor. Quando me afastei e sentei na cadeira, ele olhou para mim com os olhos inchados. Seus lábios feridos estavam sangrando profusamente, e suas bochechas estavam vermelhas e com sangue escorrendo de vários cortes. Eles não eram profundos, mas eram suficientes para causar-lhe uma dor ofuscante. Sua boca se abriu, mas os sons que saíram de seus lábios eram quase fracos demais para serem ouvidos. —Se vai me matar, apenas faça isso. Não sei onde ele está. Fazia duas horas que ele estava amarrado à cadeira. Um dos homens de Alberto. Mas ele não sabia nada sobre o paradeiro de Alberto. Fazia uma semana desde que Ayla tinha sido levada. Não importava que eu já tivesse matado oito dos homens de Alberto. Torturando-os até que eles implorassem pela morte. Ninguém sabia onde ele estava. Esticando a mão, agarrei o dedo indicador da mão direita dele. Olhei-o nos olhos enquanto dobrava o dedo para trás. Seu corpo tremia enquanto ele tentava escapar da minha cruel ministração. Mas ele não tinha para onde ir. Ele estava à minha mercê. 291

Ouvi um som de estalo; seu dedo virou, seu osso quebrou. Soltei o dedo quebrado enquanto ele chorava. Seus gritos ainda ressoavam pela sala quando agarrei mais dois dedos, dobrando-os em um ângulo impossível até ouvir outro estalo. Ou vários, eu deveria dizer. Desta vez, os ossos romperam a pele. Eles ficaram à vista, zombando dele. —Onde ele está? —Eu disse entredentes. —Eu não... não... sei... não... —Ele soluçou, olhando para os dedos mutilados. Viktor enrolou a mão nos cabelos do homem e puxou sua cabeça para trás, o pescoço pressionando dolorosamente contra o encosto da cadeira. Um pano molhado bateu em seu rosto antes que ele pudesse protestar. Viktor segurou o pano, pesado e molhado com água gelada, sobre o rosto do filho da puta. Ele arfou e lutou contra, enquanto Viktor pressionava com mais força, sufocando-o. Então o pano se foi. Ele ofegava por ar, mas mal conseguia respirar pelo nariz inchado. —Vou perguntar uma última vez. Onde está Alberto? —Eu gritei, empurrando a cadeira para longe enquanto me levantava. Ele balançou a cabeça várias vezes. —Ele... não me disse... po... por favor... não... me disse. Meu punho bateu em seu estômago quando Viktor colocou o pano sobre o rosto novamente. Desta vez estava mais molhado e eu sabia que a água estava enchendo sua boca e nariz, asfixiando-o. Quando vi o corpo dele desistindo lentamente da vida, acenei para Viktor tirar o pano molhado. Pairei sobre o corpo do homem, 292

olhando para ele com todo o ódio que eu sentia. Meus dedos envolveram sua mão e eu pressionei com força, torcendo até que seu pulso estalou sob o meu aperto. Seus olhos se arregalaram enquanto um grito saía de sua garganta. —Por favor... Mate-me... —Ele implorou, se debatendo, mas fraco demais para lutar. Ele sabia que sua morte estava chegando. E implorou por ela. Que covarde de merda. Meus olhos se estreitaram sobre ele. Sempre chegava a isso, os homens de Alberto me implorando pela morte sem me dar a resposta que eu queria... Precisava. Alberto era esperto. Ele se escondeu sem contar a ninguém. Fui atrás de seus homens de confiança, e mesmo eles não sabiam. Mas devia haver alguém ajudando-o a ficar escondido por tanto tempo. Quem quer que fosse, eu não iria parar até encontrá-lo. Puxando minha arma, apontei para o joelho dele. Um tiro foi disparado, uma bala perfurando seu joelho. Ele gritou de agonia e eu ri. Eu apenas ri por fora e por dentro, meu monstro estava rugindo com gargalhadas. Exigindo que mais sangue fosse derramado. Mais sangue dos carrascos do meu anjo. Outro tiro. Outra bala. Bem no outro joelho. Seu grito penetrou em meus ouvidos, mas não foi suficiente. Nunca era suficiente. Enfiei a mão no bolso e puxei minha faca espiral. Os olhos do homem se arregalaram e ele balançou a cabeça, seus gemidos ficando mais altos. Ele pensou que eu ia acabar com sua vida facilmente. 293

Que ingênuo da parte dele. Viktor sorriu e puxou sua faca também. Uma lâmina atravessou seu pescoço. Rápida e cruel. Tão profunda que seu sangue derramou ao nosso redor e seus ossos apareceram. O homem emitiu um som estridente, sangue escorrendo do corte rapidamente. Mas ainda não tinha acabado. Ainda não. Segurando minha faca com força, eu me afastei e a afundei em seu peito, bem em seu coração. Sua boca se abriu em um grito silencioso, seu sangue esguichando ao nosso redor. O chão estava coberto com ele. O ar cheirava a morte, cobre e sangue. Eu sorri quando ele convulsionou e depois desabou no chão, os olhos bem abertos. Eles estavam cheios de medo mesmo que ele estivesse sem vida. Apenas outro cadáver. Outro passo para encontrar meu anjo. —E agora? —Viktor perguntou, seus lábios se curvando em um sorriso sádico. Ele esfregou as mãos enluvadas com expectativa. —O próximo homem da lista. —Eu respondi, minha voz gelada. Qualquer outra pessoa teria mijado nas calças naquele tom, mas não meus homens. Afinal, desejávamos a mesma coisa. O sangue e a morte de nossos inimigos. Virando as costas para o cadáver na minha frente, saí da sala. Mas não antes de ver Nikolay tirando o isqueiro. No final do dia, o cadáver não seria mais que cinzas. Quando saí na luz do sol, respirei fundo e fechei os olhos. Como sempre, vi o sorriso de Ayla e os brilhantes olhos verdes. Ela irradiava beleza. 294

Senti meus lábios se inclinarem ao pensar nela. Eu estou indo, Anjo. Espere por mim.

***

1 semana depois Entrei na sala, e o homem tremeu ao me ver. Ele estava de joelhos e Nikolay estava torcendo seus braços nas costas. Outro prisioneiro. Outro dos homens de confiança de Alberto. —Vamos ver o que você tem a dizer. —Disse Phoenix ao meu lado. —Por favor... Eu não sei de nada. —Ele implorou. Meu peito retumbou com uma risada. O que mais eu poderia ter feito? Eu ainda não tinha feito nada, e ele já estava implorando. Eu me perguntava o que ele faria quando eu começasse. —Eu... tenho... uma esposa. —Ele gaguejou, me implorando com os olhos. —E uma filha. Por favor, elas precisam de mim. Zombando, aproximei-me e o puxei pelos cabelos. —Você deveria ter pensado nisso antes de mexer com os Ivanshov. Nikolay se afastou e eu empurrei o homem contra a parede. A cabeça dele bateu com um estalo e ele se encolheu. —Onde você acha que Alberto se esconderia? —Eu rosnei, 295

meus dedos envolvendo seu pescoço. Eu pressionei contra sua traqueia, meu polegar se movendo para cima e para baixo. Ele lutou para respirar, seu rosto ficando um tom de roxo. Seus dedos agarraram minha mão, puxando, arranhando com a tentativa de me fazer soltá-lo, mas foi em vão. Ouvi um suspiro atrás de mim e, em seguida, um choro. Olhando por cima do ombro, vi uma mulher horrorizada em pé na porta; em seus braços havia um bebê adormecido. Ah. Esposa e filha. Voltei-me para o meu prisioneiro, e seus olhos temerosos encontraram os meus. Ele tentou olhar para sua esposa, mas meu corpo estava escondendo sua visão. Seu corpo começou a tremer devido à falta de oxigênio. Mas não era só por isso. Também era por medo. Por sua esposa e filha. Eu não pude deixar de sorrir. Interessante. —Entre, senhora. Tenho certeza que você gostaria de ficar com seu marido enquanto ele dá seu último suspiro. Não queremos que ele morra sozinho. Faça companhia a ele. —Eu provoquei sem desviar o olhar do homem. Soltando sua garganta, me afastei. Ele caiu de joelhos e meu coração disparou. Mais um dos homens de Alberto de joelhos, curvando-se diante de mim. Eu me virei para ver Phoenix escoltando a mulher e seu bebê para uma cadeira. Ela sentou-se, mas todo o seu corpo tremia como uma vara verde. —Quem é você? —Ela sussurrou. —Eu sou o carrasco do seu marido. —Respondi, minha voz 296

mortal. Ela se encolheu e segurou o bebê com mais força contra o peito. —Mas... ele... —Ela gaguejou, mas eu a interrompi rapidamente. —Ele merece. Lágrimas escorreram por seu rosto enquanto ela balançava a cabeça. —Por favor, não o machuque. —Seu pedido só me faz querer machucá-lo mais. —Eu ri, apontando uma mão enluvada para o marido, que ainda estava ofegante. Viktor riu, cruzando os braços sobre o peito enquanto olhava para a mulher com grande interesse. —Por favor, continue implorando. Só será mais divertido. —Ele provocou. —Você é maligno. Todos vocês. Monstros. Como podem fazer isso? —Ela chorou. —Ah, eu nunca disse que não era mau. —Dei de ombros quando ela se encolheu em sua cadeira. Phoenix colocou a mão em seus ombros e ela estremeceu. —Eu não sou tão repugnante assim. —Ele murmurou baixinho. Balançando a cabeça para a pobre mulher assustada, volteime para o marido. Vi Nikolay segurando um bastão de beisebol. Ele encolheu os ombros. —Às vezes, precisamos ser criativos. E então ele bateu o bastão nas costas do homem. —Aqui está, chefe. —Disse Nikolay, dando-me o bastão quando deu um passo atrás. —Você vai falar ou não? —Eu perguntei, olhando para o 297

homem aos meus pés. —Eu estou dizendo a verdade. Alberto... não... me disse... nada. —Ele ofegou em meio ao sangue escorrendo de sua boca e nariz. Minha paciência tinha acabado, e eu agi. Bati o bastão em suas pernas até ouvir ossos estalando. Ele gritou. A esposa dele gritou. O bebê chorou. Mas isso não me impediu. Isso me estimulou. Acertei o bastão em seu estômago. Suas costelas quebraram sob a madeira sólida e seu corpo convulsionou com a dor. —Por favor pare. Pare! —A esposa lamentou. Pare! Por favor, pare! A voz de Ayla ressoou em meus ouvidos, e eu cambaleei para trás em choque. Meu peito ficou apertado enquanto a voz dela soava na minha mente. Anjo. Meu anjo. Olhei para o homem enquanto ele se contorcia em agonia, seu corpo espancado e inchado devido aos golpes. Eu me afastei e encarei a mulher. Ela estava chorando muito, e o bebê mais ainda. Phoenix chamou minha atenção e assentiu. Eu nem precisava dizer nada. Ele entendeu o que eu queria. Ele agarrou a mulher pelo braço e começou a puxá-la para fora da sala. A esposa e o bebê teriam um lugar seguro para ficar. Os inocentes estariam a salvo, enquanto o mal seria acorrentado. —Uma última chance. Qualquer coisa que você possa saber. Diga-me e talvez eu deixe você voltar para sua esposa e filha. —Eu assobiei na cara dele. 298

Era mentira. Ele não sairia desta casa vivo. Ele sabia que era mentira. Todos nós sabíamos. —Eu não... sei... ai... eu realmente... não sei. Mas... por favor. Não... machuque... minha esposa... e... filha. Suspirei e balancei minha cabeça. Levantei-me e encarei meus homens. Viktor parecia chateado. Nikolay estava pronto para matar alguém. Artur estava olhando para o homem cheio de veneno. Phoenix voltou para a sala e esfregou a mão no rosto, um sinal de fadiga. Estávamos todos cansados. Completamente exaustos. Mas ainda não estávamos desistindo. Não até encontrarmos Ayla. Vi os olhos de Viktor se arregalando e depois os de Nikolay. —Alessio! Armas foram sacadas, e eu girei, minha arma apontada para o homem em uma fração de segundo. Cinco tiros soaram no ar e o som ressoou pelas paredes da casa. Cinco balas. E todas cinco tinham perfurado o corpo do homem. Uma no peito, duas na barriga, uma no pescoço e a última entre os olhos. Uma bala de cada um dos meus homens. E uma minha. Ele afundou no chão silenciosamente, a arma que ele tinha puxado para mim caindo frouxamente entre os dedos. —Outro homem estúpido morto. —Viktor cuspiu. Sem um segundo olhar para o cadáver, saí da sala. Meu telefone tocou no meu bolso, minhas sobrancelhas se erguendo de surpresa. 299

Quando vi que o identificador de chamadas era desconhecido, atendi, já sabendo quem era. —Deixei outro presente para você. —Falei antes que Alberto pudesse dizer qualquer coisa. —Matar meus homens não vai te trazer até mim. —Ele zombou. —Talvez você devesse parar de ser tão covarde e me encarar. —Eu assobiei entredentes. Todos os dias eu recebia uma ligação dele. Todos os dias ele me provocava. E todos os dias eu ficava desamparado ao ouvir os gritos de Ayla. Se ao menos o telefone dele fosse rastreável. O bastardo gostava de brincar comigo todos os dias. Era um jogo. Nós dois estávamos jogando. Era um jogo perigoso, e um de nós perderia no final. E eu me certificaria de que não fosse eu. —Ah, por que eu faria isso? Estou aproveitando meu tempo com minha mulher aqui. Estamos compensando o tempo perdido. —Ele riu cruelmente. Meu sangue esfriou enquanto minha raiva queimava como lava. Queimou sob minha pele, e meu corpo tremeu com isso. —Eu não vou deixar você destrui-la. —Eu disse, meus dedos se fechando em punho ao meu lado. —Ah. —Alberto fez um som de desdém e depois riu. — Você está muito atrasado. Eu já a destruí. Arranquei cada uma das penas de suas asas. Tomei até ela não ter mais nada para dar e, mesmo assim, continuei tomando. 300

Meu coração doeu, meu estômago revirou e eu quase me dobrei de dor. Ayla. Ayla. Meu doce anjo. —Então veja, no final, eu venci. Eu me recusava a acreditar nisso. Eu só tinha que chegar até Ayla. Eu acabaria com todos os seus pesadelos. Tiraria todas as más lembranças. Eu já tinha feito isso antes. Faria isso de novo até que ela estivesse inteira novamente. —Não. —Eu retruquei. —Você não ganhou ainda. Sua morte está chegando, Alberto. Comece a contar seus dias. Desliguei antes que ele pudesse dizer mais alguma coisa. Jogando meu telefone no carro, fechei os olhos.

Eu sinto muito. Sinto muito, Anjo. Sinto muito por te fazer esperar, mas estou chegando.

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CAPÍTULO 34 3 semanas depois Eu olhei para o piano. Ayla estava sentada lá, como sempre. Seu cabelo estava solto, fluindo em belas ondas suaves nas costas. Seus olhos estavam fechados, um pequeno sorriso nos lábios enquanto ela cantarolava e tocava piano. Para mim. Para nós. Eu também sorri. Ela era tão linda. Meu anjo. Ayla olhou lentamente para cima, e seus cativantes olhos verdes encontraram os meus. Ela me mandou um beijo, e eu alcancei para agarrá-lo. Ela riu e eu sorri novamente. De repente, a risada parou. Ayla olhou para baixo e lágrimas escorreram por suas bochechas. Não. Não chore, eu queria dizer. Estendi a mão e num instante minha Ayla desapareceu. Fechei meus olhos com força, meus dedos apertando a garrafa de uísque. Minha cabeça girou, e a dor no coração aumentou. Eu estava bêbado, como em todas as outras noites. Eu queria esquecer. Mas me sentia culpado e envergonhado. Não conseguia esquecer. Mesmo que ela tenha ido embora, Ayla nunca me deixou. Mesmo quando eu estava bêbado demais para lembrar o meu nome, nunca esquecia Ayla. Ela estava sempre lá. Eu podia senti-la. Às 302

vezes eu também a via. Fazia cinco semanas desde que Alberto tirou Ayla de mim. Cinco semanas procurando meu anjo como um louco. Mas ela não estava em lugar algum. Eu só queria tocá-la. Abraçá-la. Beijá-la. Abri meus olhos novamente e olhei fixamente para o piano. O banco estava vazio. Meu anjo não estava lá. Doeu. Doía tanto que eu não conseguia respirar algumas vezes. Ela tinha ido embora. E eu estava sozinho. Sozinho. Eu a desejava. Eu ansiava pela paz que só ela poderia me dar. Ansiava pelo amor dela. Mas meu anjo tinha ido embora. E sem ela, eu estava perdido. Uma concha quebrada e vazia. Ayla disse uma vez que eu era a paz dela. Mas ela era a minha também. Ela era a luz da minha escuridão. Mas a luz se foi, e apenas a escuridão me cercou. Eu estava acostumado com a escuridão, mas agora ela só me sufocava. Só me deixava arruinado. Levantando-me, cambaleei em direção ao piano. Toquei as teclas e pensei em Ayla estar ali no momento. Eu não posso viver sem você, Anjo. Não posso.

***

303

Viktor 2 semanas depois Abri a porta da sala de piano e respirei fundo com o que vi. Era a mesma visão de todas as noites desde que Ayla tinha ido embora, mas ainda me chocou profundamente. Alessio deitado no chão ao lado do piano, seu corpo encolhido em uma bola. Esfreguei a mão na boca e no rosto, tentando segurar as emoções. Eu nunca tinha visto Alessio tão arruinado. Tão desconectado do mundo. Tão perdido. Aproximando-me, me ajoelhei e passei um braço debaixo dos braços dele, puxando-o para cima. Ele cambaleou, seus olhos fechados. —Vamos, grandalhão. Vamos te colocar na cama. — Murmurei quando seu peso caiu pesadamente sobre mim. Eu o arrastei para seu quarto e o empurrei na cama. Alessio não acordou. Claro que não. Ele bebeu até cair no esquecimento. Depois de tirar o paletó, tirei seus sapatos e joguei-os no chão. Suor escorria na minha testa com o esforço de arrastar Alessio e cuidar dele. Quando terminei, puxei o edredom sobre o corpo. Suas sobrancelhas franziram em tensão, e ele murmurou algo baixinho. Aproximando-me, meu coração falhou quando ouvi o que ele estava dizendo. Esfreguei meu peito, tentando me livrar da dor ali. 304

—Anjo. —Ele sussurrou. Suspirei e pressionei a nuca, rolando o ombro, aliviando meus músculos rígidos. Que confusão do caralho. Alessio era o homem mais forte que eu conhecia, o mais cruel, mas aqui estava ele... Arruinado por causa da mulher que ele tanto amava. Eu não o culpava, no entanto. Era impossível não amar Ayla. Ela trouxe luz para as trevas do nosso mundo. Ela era a luz. Afastei-me de Alessio, mas parei quando vi meu pai parado na porta. Ele olhou fixamente para Alessio e depois olhou para mim. —Eu fiz isso tantas vezes. —Ele murmurou. Inclinei minha cabeça para o lado, esperando que ele esclarecesse. —Por Lyov. Quando perdeu Maria, ele ficou exatamente assim, e assim como você, eu tinha que cuidar dele. Tive que ajudálo a juntar seus pedaços. Mas o problema é que eram muitos pedaços. Lyov ainda é um homem despedaçado... —Ele fez uma pausa, apontando para Alessio antes de continuar. —E agora Alessio. Olhei para a cama e vi Alessio ofegando, como se estivesse lutando enquanto dormia. Pesadelos atormentavam seu sono todas as noites. —Foi por isso que Lyov o avisou. Não se apaixone. Não se deixe enfraquecer. Essa era exatamente a razão. Eu já havia passado por isso. Lyov já havia passado por isso e tudo o que ele queria era salvar Alessio do mesmo sofrimento. —Nós vamos encontrar Ayla. —Eu respondi, recusando-me 305

a acreditar em qualquer outra coisa. Ele assentiu. —Espero que sim. Pelo bem de todos nós. Ela precisa ser salva, e Alessio precisa dela. Ele se virou para ir embora, mas depois parou. Olhando por cima do ombro, ele me deixou com palavras que eu não queria ouvir. —Não cometa o mesmo erro que cometemos. Com isso, ele foi embora. E eu afundei na cama. Olhei para a moldura da foto na mesa de cabeceira. Peguei-a e olhei para o rosto de Ayla. Ela estava rindo, seus olhos brilhando com amor. Esfregando o polegar sobre a bochecha dela, olhei para Alessio e depois olhei para o rosto dela novamente. —Às vezes, eu gostaria que você nunca tivesse se escondido debaixo da cama dele. —Eu sussurrei. —E que nós nunca tivéssemos te conhecido. Meu pai chegou tarde demais para me avisar. Porque eu já tinha cometido o mesmo erro.

306

CAPÍTULO 35 Ayla Meu corpo estava estranhamente quente. Eu estava flutuando, e uma sensação de paz me cercou. Meus olhos se abriram e eu pisquei várias vezes, tentando me acostumar com o meu ambiente. Quando meus olhos finalmente se ajustaram à luz, soltei um suspiro, meu coração palpitando como as asas de um beija-flor. Eu não estava na masmorra. Não, eu estava em um lindo quarto. Sentei-me e meus olhos se arregalaram quando vi Alessio sentado ao meu lado. Alessio! Ele estava ali. Ao meu lado. Ele me encontrou! Ele veio... Ele realmente veio por mim. Assim como eu sabia que ele faria. Meu coração disparou e pulei em seus braços com um grito. Alessio. — Eu te amo. Eu te amo. Eu te amo muito. Por favor não me deixe. Por favor. —Eu chorei em seu peito. —Shh... Eu estou com você, Anjo. Oh, a voz dele. Aquelas palavras. Elas eram exatamente o que eu queria ouvir. O que eu estava tão desesperada para ouvir. Seus braços me envolveram, me segurando em seu corpo. Ele acariciou meus cabelos e depositou beijos suaves no meu rosto, aliviando toda a dor. —Alessio, você... me encontrou. —Solucei enquanto ele olhava para 307

mim com seus cativantes olhos azuis, aqueles que eu tanto amava. —Eu sempre vou te encontrar. —Dando um beijo na minha testa, ele deixou seus lábios permanecerem lá por um momento. —Sinto muito por tê-la feito esperar tanto tempo. Meus dedos se apertaram ao redor de seu paletó, e balancei minha cabeça. —Você veio atrás de mim. Isso é tudo que importa. Alessio me abraçou com mais força. —Vou tirar todas as coisas que Alberto fez com você. Estremeci em seus braços com a menção do nome do diabo. —Ele me machucou, Alessio. —Admiti com lágrimas escorrendo pelo meu rosto em um fluxo interminável. —Eu sei. Mas ele nunca mais vai machucá-la. —Disse Alessio, afastando-se de mim. Ele me empurrou de costas e pairou sobre mim. —Onde ele te tocou, Anjo? —Ele murmurou, beijando meus lábios de forma gentil e suave. —Em toda parte. —Choraminguei ao pensar em Alberto me tocando, me contaminando e me humilhando da pior maneira possível. —Eu vou levar tudo embora. —Alessio prometeu antes de tomar meus lábios. O beijo foi lento e gentil. Ele me beijou com cuidado, como se eu fosse um tesouro, uma joia preciosa, alguém que merecia ser amada. E lentamente Alessio substituiu o toque de Alberto pelo dele. Ele percorreu meu corpo com seus dedos e lábios. Lenta, suave e gentilmente. Ele explorou meu corpo com cuidado e amor. Muito amor.

Mas meu céu não durou por muito tempo. Porque de repente fui empurrada de volta ao inferno. 308

Meus olhos se abriram quando senti um dedo sondando minha entrada. —Não! —Eu gritei, minha voz cheia de horror. —Hmmm... Isso é para mim, amor? Você está molhada para mim? Horrorizada, eu congelei, e a dormência tomou conta de mim. Alberto me segurou dobrando minhas pernas, pressionando a palma da mão com força contra mim. Eu estremeci e me contorci de medo e repugnância. Ele estava chupando meu mamilo, mordendo e torturando a pele. Alberto se afastou levemente até olhar para mim de cima. O sorriso em seu rosto fez meu estômago revirar até eu pensar que vomitaria. Ele cumpriu tantas promessas. Promessas sombrias. Todos os dias eram dolorosos. Meu corpo era abusado. Meu coração se partia um pouco mais. Todos os dias eu desejava estar de volta nos braços de Alessio. E todos os dias eu esperava que Alessio me encontrasse. Mas ele não tinha vindo atrás de mim. Ainda. Eu ainda esperava. Eu ainda acreditava. Nele. Alberto se afastou e empurrou meus joelhos até eu estar completamente aberta para ele. Mordi meus lábios para não chorar ou gritar. Tinha aprendido rapidamente que lutar só piorava as coisas. As lágrimas escorreram em minhas bochechas, e eu não me dei ao trabalho de enxugá-las. Alberto sorriu ao vê-las, e meu coração doeu. Fraca. Eu estava tão fraca. Alessio teria vergonha de mim. Eu tinha vergonha de mim mesma. 309

Eu estava suja. Usada. Uma prostituta. Eu não era um anjo. Não mais. Em vez de se mover por cima do meu corpo e me levar como sempre fazia, Alberto pegou o telefone. Seus joelhos estavam segurando minhas coxas separadas no lugar. Seu tronco mantendo meus quadris contra a cama. Não conseguia me mexer. Não, eu estava completamente impotente debaixo dele. Ele segurou o telefone sobre mim, bem entre as minhas pernas. Suas palavras seguintes me fizeram ultrapassar o limite, e eu estava caindo. Uma queda rápida no abismo escuro. —Por que não mando uma foto para Alessio, hein? Para que ele saiba que sua mulher está molhada e pingando para outro homem. O fôlego deixou meu corpo em um sibilar estridente, e lutei para respirar. Não. Não. Não. Por favor, não. Qualquer coisa menos isso. Balancei minha cabeça, ou pensei que sim. Eu me senti muito desconectada. Paralisada pelo medo e humilhação. Minha respiração estava ficando muito rápida e meu sangue gelou. —Não. —Protestei fracamente, minha voz mal era um sussurro. Meu coração batia contra meu peito quase dolorosamente, e minha boca tinha um gosto amargo de bile. Eu iria vomitar. Meu estômago revirou e apertou. Lágrimas embaçaram minha visão e meus lábios tremeram com o esforço de conter meus gritos. Alberto apenas riu. Quando vi o flash do telefone, de 310

repente, fui tirada da minha névoa e lutei sob seu corpo. As narinas de Alberto se alargaram e seus lábios se abriram com um rosnado. Ele me deu um tapa forte no rosto e eu choraminguei. Meu corpo já estava doendo por dias de abuso. Há quanto tempo Alberto tinha me levado embora? Alguns dias? Semanas? Eu não sabia. Afinal, eu estava presa na masmorra todos os dias. Eu só conhecia a escuridão. Exceto hoje. Hoje, eu estava em um quarto. Esse era o plano de Alberto o tempo todo? Eu empurrei seu peito, mas ele estava imóvel. Deixe-me ir, gritei na minha cabeça. Minha voz tinha desaparecido. Minha garganta doía, e me sentia tonta. Alberto jogou o telefone em algum lugar na cama, e então ele estava em mim. Eu o senti perto da minha entrada e fechei os olhos. Meu corpo se encheu de pavor e minha garganta estava muito apertada. Meu peito doía por saber o que estava por vir. Ele brutalmente agarrou meu corpo enquanto se alinhava comigo. —Você é minha. —Ele assobiou na minha cara. Eu desviei o olhar dele, movendo meu rosto para o lado. Pensei em Alessio e nos nossos momentos felizes. Ouvi a voz dele na minha cabeça e sorri.

Eu só quero que você saiba que é amada... Você é importante. Você traz felicidade para os outros. Você traz luz, Ayla. Você tem pessoas que se importam com você. 311

Você vale mais do que pensa. Você é uma lutadora, Ayla. Portanto, continue lutando. Não desista agora. Ayla... Você sabe o quão forte é? Você é a mulher mais forte que eu já conheci. Sua força brilha mais do que qualquer outra.

Forte. Alessio pensava que eu era forte. Até Nikolay e Maddie pensavam que eu era forte. Mas eles estavam errados. Eu não era. Eu era fraca. Meus olhos se fixaram na lâmpada ao lado e, por um breve momento, ouvi Alessio gritando para eu lutar. Alberto empurrou dentro de mim, e minha alma já despedaçada se estilhaçou ainda mais. Mas ainda assim ouvi Alessio me dizendo para lutar. Empurrando-me para lutar. Eu olhei para a lâmpada quando Alberto começou a se mover dentro de mim. Ele estava mais lento que o normal, levando seu tempo. Estremeci, meu corpo ansiando com a necessidade de me esconder e desaparecer. Lute, Ayla. Sem pensar, peguei a lâmpada. Tudo aconteceu rapidamente. Num minuto Alberto estava dentro de mim, e no outro eu estava batendo com a lâmpada na cabeça dele. Eu bati na cabeça dele duas vezes, forte o suficiente para fazê-lo sangrar. Ele rugiu de dor e se afastou de mim. Meu corpo ficou leve assim que ele se afastou, e sem desperdiçar um segundo, eu estava rolando da cama. Minhas pernas cederam sob mim, e eu caí. 312

Eu mal conseguia ficar de pé. Meu corpo inteiro estava tremendo. Eu me arrastei em direção à porta e finalmente consegui me levantar. Tropeçando para frente, cheguei à porta. Mas eu fui muito devagar. Alberto estava em cima de novo. Ele agarrou meu cabelo e o enrolou em seu pulso antes de bater meu rosto na porta, logo acima da maçaneta. A dor se espalhou em minha cabeça e meu crânio. Meu pescoço doeu com o impacto e minha visão ficou turva. Minha mandíbula estava quebrada? O osso do rosto? Todo o meu rosto doía, queimando como se estivesse pegando fogo. A dor percorreu minha espinha até pontos pretos aparecerem na frente dos meus olhos. Eu pisquei, tentando afastá-los, mas a dor era demais. Ele bateu minha cabeça contra a porta novamente, segurando minha bochecha lá. Apertou os nós dos dedos no meu crânio, e eu gritei quando a agonia ofuscante se espalhou pelo meu corpo. Pontos dançavam na frente dos meus olhos com a dor lancinante. Gotas vermelhas caíram na frente dos meus olhos. Meu sangue. —Pensei que você tivesse aprendido sua lição, mas claramente não aprendeu. —Disse Alberto. —Quantas vezes tenho que dizer que você não pode fugir de mim? Ele riu, seu peito se movendo contra as minhas costas. —E por que você está correndo? Para quem? Alessio? Você esqueceu que ele te deu para mim? Ele te deixou aqui à minha mercê. —Ele zombou em meus ouvidos. 313

Essas eram as palavras com que ele me alimentava todos os dias. Mas eu não acreditei nele. Não importava quantas vezes ele as tenha dito, eu nunca acreditaria nele. —Por que você está correndo para ele, hein? Ele não quer saber de você, Ayla. —Continuou Alberto, apertando cada vez mais os dedos em volta do meu cabelo. Fechei os olhos e tentei bloqueá-lo. Mas Alberto era um homem impossível de ser bloqueado. Ele era uma doença que se infiltrava em toda parte. —Ele provavelmente está enterrado profundamente dentro de outra boceta agora. É o quanto você significa para ele, amor. Pare com isso! Eu chorei contra a porta. Meu coração se partiu e os pedaços voaram por toda parte. Vazia. Foi assim que me senti. —Oh, o pensamento de Alessio transando com outra mulher dói? —Ele provocou, acariciando um dedo no meu pescoço. —Ele pode conseguir a boceta que quiser. Você não é nada de especial, Ayla. Chorei mais forte, minha cabeça e corpo muito pesados para fazer qualquer outra coisa. —Você está imaginando isso agora? As pernas de outra mulher enroladas na cintura dele enquanto ele a fode? Pela primeira vez, implorei. —Pare com isso. Por favor... Por favor... Pare... Por... Por favor. —Implorei. Tudo doía. Até minha alma estava doendo, gritando de dor. Alberto ofegou, mas era falso. —Você está implorando, amor? Bem, é a primeira vez. Eu nunca te ouvi implorar antes. Então implore. Vamos, implore para eu parar. 314

—Por favor... —Alessio não se importa com você. —Ele sussurrou. —Ele não se importa. Porque se ele se importasse, já teria vindo atrás de você. Eu tentei balançar a cabeça, mas não consegui. —Claro, ele não vem. Ele provavelmente esqueceu você. — Ele riu, e eu chorei. —Ele não está vindo atrás de você. Esqueça-o. Quaisquer que sejam as suas esperanças, não importa. Porque ele não se importa. Já faz mais de um mês. Mais de um mês? Não. Isso não podia ser verdade. Mais de um mês e Alessio ainda não tinha vindo. Ele não se importa com você. Ele não está vindo atrás de você. As palavras de Alberto ecoaram em minha mente, e as lágrimas me cegaram. E se eu estivesse me agarrando a uma esperança que nem existia? —Você é um fantasma, amor. —Ele sussurrou antes de puxar meu corpo para longe da porta. Ele me arrastou pelos cabelos e me empurrou na cama de cara no colchão. Não lutei com ele. Meu corpo tinha desistido enquanto eu lentamente começava a perder a consciência, a dor era insuportável. Alberto montou meu corpo, e quando ele penetrou em mim, eu não fiz barulho. Nenhum som. Eu pensei em Alessio.

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Enquanto entrava em mim mais rápido, Alberto zombava em meus ouvidos. Mas eu não ouvi. Enquanto me afundava mais no esquecimento, pensei apenas em Alessio. Meu Alessio. Meu salvador. Você é meu anjo. Sua voz era um mero sussurro na minha mente, mas eu ouvi. Era a única coisa que me mantinha sã. Que me mantinha viva. Eu vivia por ele. Por que eu sabia que ele estava vindo atrás de mim. Onde você está, Alessio?

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CAPÍTULO 36 Alessio 2 semanas depois Olhei para as fotos na minha mão. Eu olhava para elas por mais tempo do que eu deveria. As fotos tremiam apenas porque minhas mãos estavam tremendo. A raiva era uma emoção constante dentro de mim desde que Ayla tinha sido levada. Eu vivia com a raiva dentro de mim. Isso me manteve vivo. Me manteve focado o suficiente para encontrar meu anjo. Mas agora, eu estava furioso. Há uma grande diferença entre raiva e fúria. A raiva é suficiente para fazer alguém enlouquecer. Mas a fúria torna as pessoas psicóticas. E era exatamente assim que me sentia. Eu já não fazia sentido. Não sentia mais nada, exceto ódio profundo e fúria. Nada mais importava. A pouca humanidade que restava dentro de mim desapareceu no instante em que coloquei os olhos nas fotos em minhas mãos. A fúria ferveu dentro de mim quando imaginei as várias maneiras de mutilar o corpo de Alberto. Meus dedos apertaram as fotos até que elas amassaram no meu punho. Fechando os olhos, joguei-as do outro lado da sala, não 317

me importando onde pousaram. Eu só precisava delas fora da minha vista. Meu queixo tremeu com o esforço de me manter sob controle. O rosto de Ayla brilhou atrás das minhas pálpebras fechadas, e meu corpo tensionou quando uma onda de dor me percorreu. Sob as camadas de fúria, meu coração estava doendo. Doía tanto que eu estava sufocando sob a pressão. Mas a dor não era nada comparada à que Ayla estava passando. O pensamento era suficiente para me deixar louco. Em meio à minha fúria, ouvi a porta se abrir. Meus olhos se abriram, fazendo contato com os de Viktor quando ele entrou no meu escritório. Ele parou em frente à porta, seu olhar indo para seus pés. Suas sobrancelhas franziram em confusão, e ele se abaixou. Viktor pegou a foto com firmeza e olhou para ela fixamente. Eu sabia o que ele estava vendo. A imagem de Ayla nua, suas pernas abertas, os olhos assustados, cheios de lágrimas, estava gravada para sempre em minha memória. Um segundo se passou. E depois outro. Um minuto inteiro se passou antes de Viktor finalmente reagir. Seu rosto estava vermelho de raiva. —O que é isso? —Ele rosnou. —Alberto nos enviou um presente. —Respondi entorpecidamente, minha voz um pouco rouca por causa das emoções acumuladas. 318

—Eu vou cortar o maldito pau dele e fazê-lo comer. — Viktor disse furiosamente, levantando-se. Sentei-me na minha cadeira e nivelei-o com um olhar. —Ele é meu para matar. Dando um passo à frente, ele parou em frente à minha mesa, seu olhar firme. —Você não é o único que se importa com ela. —Ele. É. Meu. Para. Matar. —Eu sibilei, ficando de pé. Viktor balançou a cabeça com um suspiro. —Eu nunca tirarei esse direito de você. Quando o encontrarmos, ele é seu para matar. Mas nós também teremos uma mão nisso. Nós nos encaramos. Nenhuma palavra foi dita. O ar ao nosso redor estava cheio de tensão. Tornou-se mais frio e pesado sob nossa necessidade de vingança. —É justo. —Eu respondi. Viktor assentiu e sentou-se no sofá, colocando o arquivo pesado que estava segurando na minha mesa. —Todos os nomes que estão conectados a Alberto. Seus homens de confiança. Suas famílias também estão listadas. Tudo o que há para saber sobre eles. —Disse Viktor, apontando para o arquivo. Sentei-me e puxei-o em minha direção. —Nós já apanhamos tantos homens dele. Ninguém sabe de nada. Ele foi esperto o suficiente para manter seu esconderijo em segredo. Seus homens são um bando de covardes. Se soubessem a verdade, teriam me dito para ter uma chance de viver. —E o Enzo? —A mesma pergunta estava se formando em meus pensamentos, mas era outro beco sem saída. —A partir das informações de Nikolay, ele também se 319

escondeu. Ele é o segundo no comando de Alberto. Ele sabia que seria nosso alvo. —Falei, recostando-me na minha cadeira. Os músculos do meu pescoço estavam doendo. Pressionando meus dedos na parte de trás do meu pescoço, eu massageei os músculos, na esperança de aliviar a tensão. Meu corpo estava fraco por causa da fadiga. Se eu continuasse assim, não seria útil para Ayla quando ela fosse encontrada. —Se encontrarmos Enzo, é mais um passo para encontrar Alberto. —Viktor murmurou, um olhar pensativo no rosto. — Alberto desapareceu e seu segundo no comando não está em lugar algum. Seu império está vulnerável, e ele sabe disso. Mesmo que Alberto não tenha dito nada a Enzo sobre seu esconderijo, ele terá que entrar em contato com ele. —Sua única comunicação com seu império é através de Enzo. —Acrescentei, sentando-me para frente em expectativa. —Mas temos que encontrar Enzo primeiro. —Disse Viktor entredentes. Se não conseguíssemos encontrar Enzo, havia apenas uma pessoa que nos levaria até ele. Ou o traria para nós. —A esposa dele. —Sugeri. Viktor balançou a cabeça. —Ela está fora do país. —Quando ela irá voltar? —Eu me perguntei em voz alta. —Não sei. Ela saiu no mesmo dia em que Ayla foi levada. Provavelmente foi para a proteção dela. Ao som do nome de Ayla, meu coração disparou, e outra onda de dor me atravessou. Minhas mãos se apertaram em punhos até os nós dos meus dedos ficarem brancos. 320

Olhei para o arquivo na minha frente. —Um desses homens, pelo menos um deles, deveria saber sobre o paradeiro de Enzo. Ou até o de Alberto. Era nossa única opção. —Nós chegaremos até eles. Todos eles. Todos nesta lista serão questionados. Não vamos parar até que Ayla seja encontrada. —Prometeu Viktor. Não. Não havia como pararmos. Ayla seria encontrada. Hoje ou amanhã. Ou no dia seguinte. Mas ela seria encontrada. —O que você quer fazer depois que eles forem interrogados? —Viktor perguntou. Mas ele já sabia a resposta. Ele só perguntou porque precisava de confirmação. Ele precisava de um empurrão, um novo propósito. Olhei para a moldura da minha mesa. Era uma foto de Ayla. Maddie tirou a foto alguns dias antes de Ayla ser tirada de mim. Ela estava rindo, seu rosto iluminado e seus olhos verdes brilhavam intensamente. Sua beleza, seus sorrisos, suas risadas, todos eram fascinantes. —Matem todos eles. —Eu sussurrei, ainda olhando para a foto de Ayla. Nenhum deles era inocente. Não havia inocência quando se tratava dos homens de Alberto. Ainda me lembrava de quando Ayla estava me falando sobre seus abusos. Como os homens de Alberto a estupraram enquanto o bastardo doente observava. Eu ia vingar meu anjo da única maneira que sabia. Eu ia destruir os italianos. Um por um, até que eles se curvassem diante de mim. Por Ayla. Estendendo a mão, toquei a bochecha de Ayla na foto. Espere por mim, Anjo. 321

Fui tirado dos meus pensamentos quando a porta se abriu. Desviei o olhar de Ayla e encontrei meu pai e Isaak entrando. Lyov estava furioso, seu peito arfando a cada respiração. — As famílias estão questionando sua capacidade como chefe. Viktor virou-se para encará-los. —O quê? —Ele rosnou, ficando de pé. Lyov ignorou a explosão de Viktor. Em vez disso, ele me nivelou com um olhar, me desafiando a responder. Mas eu não tinha resposta. Eu sabia que chegaria a isso. —Enquanto procura por Ayla, você esqueceu que é o chefe de quatro famílias. Você não está cuidando dos negócios ou de qualquer outra coisa. Quando há um problema, você os envia para Viktor. As famílias têm todo o direito de questioná-lo como chefe. —Acrescentou Isaak, se colocando ao lado de Lyov. —Você é o Pakhan. O chefe dos chefes. Se continuar assim, eles perderão a fé em você. —Lyov murmurou. —Como há onze anos? Quando eles perderam a fé em você? Quando você não teve outra escolha senão fazer de mim o chefe, para que os Ivanshov não perdessem o título? —Eu respondi com um aceno de cabeça. Seus olhos ficaram selvagens com a menção de sua queda, quando quase perdemos tudo. —Eu te ensinei melhor do que isso, Alessio. —Ele rosnou, dando um passo à frente. —Se você falhar, como eu falhei, perderemos tudo. —Lyov acrescentou. Ele avançou, parando em frente à minha mesa. Ele se inclinou para frente até seu rosto estar a meros centímetros do meu. —Se você continuar essa espiral descendente, Solonik poderá assumir o papel de Pakhan. Você sabe disso, porra. 322

Ele está procurando todas as oportunidades para fazer isso, e agora você está fazendo um convite para ele. A máfia russa era composta por quatro famílias. Os Ivanshov, Soloniks, Agrons e Gavrikovs. Cada família tinha seu próprio chefe, mas eu era o chefe de todos eles. O Pakhan. As outras famílias estavam embaixo dos Ivanshov. Mas Solonik queria assumir o controle. Se Lyov não tivesse entregado esse império para mim, ele teria sido o Pakhan há muito tempo. E agora ele estava procurando outra oportunidade, apenas por que eu tinha me mostrado fraco. Lyov agarrou meu colarinho, me puxando para frente. —Eu disse para você não se apaixonar. E agora você se tornou inútil. Pensei que você era mais forte do que eu. Claramente eu estava enganado. Soltando meu colarinho, ele se levantou, seu olhar firme enquanto olhava fixamente para mim. —Eu estou assumindo. Não fiquei surpreso quando as palavras foram pronunciadas. Não, eu sabia que isso estava vindo. Eu esperava, e estava preparado para isso. Mas Viktor não estava. —O quê? —Ele explodiu, avançando, mas Isaak o deteve com uma mão no braço. —Você é inútil enquanto procura Ayla. Então é melhor você se concentrar em encontrá-la. Eu vou cuidar das famílias. Quando você a encontrar e ela estiver segura, terá sua posição de volta. — Anunciou Lyov. Ele não esperou por minha resposta. Não que ele se importasse. Ele saiu do meu escritório, Isaak logo atrás dele. 323

—Por que você não disse nada? —Viktor exigiu assim que a porta se fechou atrás deles. —É melhor assim. Não quero me preocupar com as famílias enquanto procuro por Ayla. Ela é minha prioridade. —Murmurei, meu olhar atraído para sua foto novamente. Houve alguns minutos de silêncio entre mim e Viktor antes de eu finalmente me levantar. —Ligue para os outros. Temos negócios para cuidar. O próximo homem da lista. Outro passo em direção ao meu anjo. Eram pequenos passos, mas eu sabia que no final, eles me levariam para onde eu queria. Eles tinham que levar. Eu não iria parar até ter o que queria, o que precisava. Saí do escritório com Viktor me seguindo de perto. Quando meus passos vacilaram em frente à sala ao lado do escritório, Viktor se afastou sem dizer mais nada. Ele sempre sabia o que eu precisava, mesmo sem eu dizer. E no momento, eu precisava de privacidade. Abrindo a porta da sala, entrei antes de fechá-la suavemente. A luz já estava acesa, embora não surpreendentemente. Apenas duas pessoas estavam autorizadas a entrar nesta sala. Se não era eu, então era meu pai. Por acaso, estávamos na sala ao mesmo tempo. Ele ficou de frente para a parede, a mão atrás das costas, as pernas afastadas, em uma posição defensiva. Lyov parecia muito com o homem poderoso pelo qual era conhecido. Mas ele estava sofrendo por dentro. Eu sabia disso porque ele ficou olhando para o retrato de minha mãe. Era um retrato de família, na verdade. A moldura era 324

grande, ocupando quase metade da parede. Minha mãe estava sentada em uma poltrona, feita para uma rainha, usando um lindo vestido dourado. Meu pai estava ao lado dela, enquanto uma versão mais nova de mim estava no colo dela. Sua barriga estava arredondada pela gravidez da minha irmãzinha. Ao lado do retrato havia outra foto de minha mãe com meu pai ao lado dela. Mas isso foi antes de eu nascer, logo após meus pais se casarem. Era uma tradição. E eu quase podia ver outro retrato naquela parede. De Ayla e eu, enquanto ela estava sentada na mesma cadeira que minha mãe, parecendo muito com a rainha que ela seria. Mas a imagem foi subitamente destruída pela voz de Lyov. —Sinto falta da sua mãe todos os dias. Todos os dias, me pergunto por que ainda estou vivo enquanto ela se foi. Eu a amava mais do que deveria. —Ele fez uma pausa e depois riu secamente. —A quem estou enganando? Eu ainda a amo tanto quanto antes. Esse tipo de amor nunca morre, Alessio. Ele estava certo. Nunca iria morrer. Vários meses atrás, eu teria rido na cara dele, mas não agora. Porque eu sabia como ele se sentia. A dor de perder a mulher que você ama com cada fibra do seu ser. —Quanto você a ama? —Ele perguntou de repente. Eu me encolhi com a pergunta e olhei fixamente para a parede. —Eu vou matar por ela. —Respondi. —E vou morrer por ela. Isso responde à sua pergunta? Nenhuma palavra foi dita no começo. Apenas o silêncio entre nós antes que Lyov finalmente continuasse com a mesma voz 325

monótona, ainda de costas para mim. Meu coração apertou com as palavras dele, e eu esfreguei meu peito, tentando me livrar da sensação de queimação. —Você tem esse tipo de amor. Se eu for honesto, direi que nunca quis que você se sentisse assim. Quando vi Ayla pela primeira vez, vi sua mãe. E eu apenas sabia que seria impossível que você não caísse de amor. Agora que você caiu, não há nada que possamos fazer. Fiquei em silêncio, muito emocionado para falar. Mas meu pai falou o suficiente por nós dois. —Apenas recupere-a, proteja-a com sua vida e ame-a do jeito que ela precisa e merece. —Eu vou. —Disse com firmeza, olhando para o retrato de minha mãe e meu pai. Com um olhar final, me virei para sair da sala, mas a voz de Lyov me parou novamente. —Sua mãe ficaria orgulhosa de você. Soltando uma risada trêmula e sem emoção, balancei minha cabeça. —Não minta. Eu o ouvi bufar. Quando ele falou desta vez, sua voz estava pesada, cheia de tanta emoção que fez meu coração doer. —Se ela achou em seu coração o amor por mim, um monstro, então ela teria amado você tanto quanto me amou, se não mais. O coração de sua mãe era puro e cheio de amor. Ela gostaria que você fosse feliz. Nada mais importava. Não quem você é ou o que faz. Lembre-se sempre disso. Meu peito apertou com suas palavras. Sem dizer nada, saí da sala. Meu coração estava pesado e doía. Doía por muitas razões diferentes. Mas todas se uniram até que tudo o que senti foi uma dor ofuscante. Doía por não ter Ayla. Doía mais saber que eu estava desamparado. Mas também doía por que eu sempre quis ouvir essas 326

palavras do meu pai. Eu ansiava por essas palavras e seu apoio. E agora que eu as tinha, não sabia o que fazer com elas. Balançando a cabeça para limpar minha mente nebulosa, caminhei pelo corredor com apenas um propósito em mente. Encontrar meu anjo. Isso era tudo o que importava. Mas mesmo com meu passo e mente determinados, eu não conseguia afastar um pensamento. Naquela sala, foi o máximo que meu pai e eu tínhamos conversado em vinte e dois anos.

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CAPÍTULO 37 3 semanas depois Minha cabeça estava enterrada no travesseiro de Ayla. Ainda cheirava a ela. Eu me recusei a mandar lavá-lo. Eu precisava de algo dela, e seu doce cheiro de baunilha era a única coisa que restava. Inalei e senti meus olhos queimarem. Eu me senti patético. Mas eu já estava longe demais. Quase três meses sem Ayla e eu estava me perdendo lentamente. Cada dia era pior. A cada dia ficava mais difícil, até que eu não sabia mais como viver. Eu esquecia de comer. Às vezes até me esquecia de dormir. Apenas olhava para a parede, perdido nas lembranças do meu anjo. Eu nunca parei de procurar. Nem um único dia. Mas por mais que eu procurasse, por mais longe que eu fosse, ela não estava em lugar algum. Era como se ela nunca tivesse existido. Nunca tivesse estado aqui. Às vezes eu me perguntava se tudo tinha sido um sonho. Eu me perguntava se ela realmente tinha estado aqui. Comigo. Mas ela estava aqui. Eu ainda podia senti-la. Vê-la às vezes. Ouvir suas risadas e doce voz. Ela estava em todo lugar, mas ainda assim não estava. E eu estava vazio sem ela. Era assim que meu pai e Isaak se sentiam? A casa inteira estava em um clima de desespero. Ninguém 328

realmente falava. Todos paramos de nos importar com todo o resto. A única com quem nos preocupávamos e em quem pensávamos era Ayla. Maddie perdeu uma amiga que era mais como uma irmã. Para Lena, Ayla era uma filha. Outra filha para cuidar e amar. Meus homens pareciam um fracasso. Enquanto eu perdi a mulher que era tudo para mim. Com um suspiro, rolei de costas e olhei fixamente para o teto. Em meio a minha dor, pensei no que Ayla estava passando. A dor dela não era comparável à minha. Doía mais saber que ela estava sofrendo. Minha dor não importava, mas a dela importava. Senti sua dor e foi o suficiente para me destruir. Alberto costumava ligar, mas fazia três semanas desde a última ligação. Três semanas de nada além de silêncio do outro lado. Percebi que estava um pouco agradecido por sua ligação diária. Pelo menos eu sabia que Ayla estava viva. Agora, eu não sabia. Eu não sabia nada, e tudo que eu podia fazer era ter esperança. Mas a esperança era uma emoção tão tola. Como eu poderia ter esperança quando me sentia tão impotente e sem vida? Era tudo uma espera desesperada. Em vez de ter esperança, escolhi acreditar em nosso amor. Talvez fosse forte o suficiente para manter Ayla viva. Eu sabia que quando a encontrasse, Ayla nunca mais seria a mesma. Mas eu também sabia que quando chegasse a hora, eu não iria 329

desistir dela. Eu a curaria novamente, como fiz antes. Eu a ensinaria como viver de novo, como sorrir, rir e amar novamente. Alberto podia ter cortado suas asas, mas eu ia fazer com que ela voltasse a voar.

***

2 semanas depois Eu fiquei na entrada da garagem e vi Nikolay mexendo na fechadura, e então a porta se abriu. Entrei na casa, meus homens seguindo atrás de mim. A casa estava silenciosa, quase parecendo vazia. Mas a mulher na sala traiu a percepção de que a casa estava vazia. Ela estava de costas para nós, e ao som de nossos passos, ela girou rapidamente, com a mão no peito em pânico. Os olhos dela brilharam de medo e ela deu vários passos para trás, batendo na parede atrás dela. —Olá, Anna. —Comecei, adentrando mais na casa, fazendo o ar parecer mais perigoso e mortal. Anna tremia contra a parede, todo o corpo tremendo de terror. Dizer que fiquei surpreso por ela ter voltado seria um eufemismo. Ela deveria saber o que esperar no momento em que pisasse de volta em New York, mas ainda assim voltou. E agora ela nos levaria direto para Enzo.

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—Como foi sua viagem? —Eu perguntei, sentando no sofá na frente dela. Recostei-me e cruzei o tornozelo no joelho oposto, observando a reação dela como um falcão. —Você... O que... Está...? —Ela gaguejou, olhando loucamente ao redor da sala e para os meus homens. Ela procurou uma fuga, mas não havia nenhuma. Não desta vez. Isso não a impediu de tentar, no entanto. Ela correu para a cozinha e eu suspirei de frustração. —Eu não tenho tempo para um jogo de gato e rato, Anna. —Gritei alto o suficiente para que minha voz ecoasse pelas paredes. Eu a ouvi gritar, e ela falou com alguém para deixá-la ir. Esfregando o rosto em frustração, esperei que ela voltasse para a sala de estar. Eu me virei para ver Nikolay a arrastando de volta enquanto ela se debatia. Anna jogou o corpo para o chão, tentando parar Nikolay. Em vez de parar, ele apenas agarrou o braço dela, arrastando seu corpo pelo chão. —Não. Deixe-me ir! Não me machuque, por favor. —Ela choramingou quando Nikolay a jogou na minha frente. —Se você cooperar, não vou machucá-la. —Eu respondi estoicamente, nivelando-a com um olhar. Ela se encolheu e recuou. Balançando a cabeça, ela sussurrou: —Não sei nada sobre Ayla. Minhas sobrancelhas se ergueram de surpresa, e uma risada maligna vibrou do meu peito. —Como você sabe que estou aqui por Ayla? Seus olhos se arregalaram e ela fechou a boca. Tarde demais. Ela já tinha sido pega. 331

—Onde está seu marido? Diga-me onde Enzo está e eu a deixarei ir. —Rosnei, sentando-me para frente, de modo que meu rosto estava a meros centímetros do dela. Ela balançou a cabeça repetidamente. —Eu não sei. Eu realmente não sei. Por favor, estou dizendo a verdade. —Eu realmente odeio quando as pessoas mentem. —Eu disse antes de me afastar, dando à mulher assustada algum espaço para respirar. —Eu não estou mentindo. —Ela implorou, os olhos arregalados de medo. Ela olhou para os meus homens, seus olhos implorando, como se estivesse pedindo a alguém para ajudá-la. Mas ninguém iria ajudá-la. Ela estava à minha mercê. —Eu sei as coisas em que você participou. Cada detalhe. Você pode ter uma cara de inocente, mas está longe de ser. —Eu assobiei, minha voz ficando mais alta a cada palavra. Enzo fazia parte do negócio de tráfico de pessoas com Alberto. O que me surpreendeu foi quando descobri que a esposa dele também fazia parte. Ela treinava as vítimas para se tornarem escravas. Fiquei enjoado ao pensar que uma mulher faria isso com outra. Meu coração doeu ao saber que Ayla poderia ter sido uma dessas vítimas. Seu tremor aumentou, seu rosto enrugou quando as lágrimas deslizaram por suas bochechas. Isso não me incomodou nem um pouco. Seu medo era inútil, e ela estava indefesa. —Comece a falar! —Eu berrei. Suas costas se endireitaram quando ela se achatou contra a parede, encolhida no canto. Quando ela não disse nada, Nikolay deu um passo à frente e a puxou para 332

cima. Viktor trouxe uma cadeira e a colocou na minha frente. Ela lutou com Nikolay enquanto ele a fazia sentar-se na cadeira. Ela gritou e chorou quando Viktor amarrou seu corpo à cadeira, deixando-a impotente e à nossa mercê. —Por favor, não me machuque. —Ela choramingou horrorizada quando tirei minha arma. —Por favor. Acredite, eu não sei de nada. —Não vou te machucar. —Eu simplesmente respondi, minha voz tão sem emoção quanto antes. —Tenha piedade. —Ela implorou quando me levantei, elevando-me sobre seu corpo muito menor. —Como eu disse, não vou te machucar. —Zombei de sua tentativa de implorar. Se ao menos ela falasse. Inclinando-me para frente até nossos rostos estarem próximos, continuei. —Eu nunca vou machucar uma mulher. Era a verdade. Eu nunca machucaria uma mulher ou mesmo colocaria uma mão sobre elas para matá-las. Não era assim que eu e meus homens trabalhávamos. Seu corpo relaxou contra as cordas, e uma expressão de alívio brilhou em seus olhos. —Você não vai me machucar? Você vai me libertar? Por favor, não sei de nada. Dessa vez eu sorri. Um sorriso frio e sem coração. Os olhos dela se arregalaram. O olhar de angústia em seu rosto quase me fez rir. Que ingenuidade a dela. Pânico e horror transpareceram em seu rosto enquanto ela tremia com a incerteza de seu destino. 333

Eu esperei. Um segundo. Dois. Três. Quatro. A cada segundo que passava, seu pânico aumentava. Cinco. Seis. Sete. Oito. Ela chorou silenciosamente. Eu apenas sorri, ou foi um meio sorriso sádico? Provavelmente. Nove. Dez. Onze. Doze. Ouvi a porta atrás de nós se abrir. Ela se fechou com um estrondo. Ouvi o som de saltos altos clicando contra o piso. —Alguém me ligou? —A intrusa disse nas minhas costas. Senti o sorriso na voz da intrusa. Eu não respondi. Meu olhar permaneceu inabalável em Anna. Embora ela estivesse olhando para trás de mim agora. Seus olhos já arregalados se abriram mais. —Eu disse que não ia te machucar. Mas isso não significa que outra pessoa não possa. —Murmurei para que apenas ela pudesse ouvir. —Não, não, não. —Ela sussurrou em alarme quando eu me afastei, endireitando minhas costas enquanto me levantava. —Quem é você? —Sua voz tremia, mas as palavras foram ditas com clareza suficiente para que todos pudessem ouvir. —Meu nome não é importante. As palavras foram ditas suavemente, mas a voz continha promessas sombrias. Dei um passo para trás e vi Anna tremer de medo. O medo tomou sua expressão, e seus lábios tremeram com o esforço de manter as lágrimas sob controle. 334

Eu me virei e encarei a intrusa. Os lados dos meus lábios se inclinaram em um pequeno sorriso. Só ela se arrumaria para um trabalho como este. Jaqueta de couro preta. Calças justas de couro preto. Saltos vermelhos. O capuz da jaqueta estava sobre sua cabeça, cobrindo metade do rosto. Era usado para camuflar sua aparência. Um segundo se passou. Outro. Ela levantou as mãos e puxou o capuz para baixo, mostrando o rosto. Seu rosto estava impecável como sempre, com os lábios pintados de vermelho. Só que desta vez, ela parecia diferente. Sua expressão não mostrava emoção. Seu cabelo loiro caiu pelas costas enquanto olhava diretamente para a mulher amarrada atrás de mim. Um sorriso se espalhou por seus lábios, embora não fosse nada perto de ser acolhedor ou gentil. Não, foi um sorriso sádico. Era um predador pronto para caçar sua presa. A mulher em pé na minha frente parecia muito com a assassina que ela era. Nina. Ela trabalhava disfarçada para mim, mas também era uma assassina. Uma assassina treinada. Alguém que fazia o meu trabalho sujo. E por trabalho sujo eu queria dizer torturar as mulheres que se recusavam a cooperar a nos fornecer informações. Ela deu um passo à frente. Outro. Mais alguns passos até que ela passou por mim e ficou na frente de Anna. —O que você precisa saber é que quando eu terminar, você 335

não se lembrará do seu nome. Ou a diferença entre vivos e mortos. —Ela começou, sua voz baixa e mortal. Inclinando-se para frente até que seus rostos estivessem próximos, os narizes quase se tocando, os lábios de Nina se curvaram. —Eu sou seu pior pesadelo, querida. Eu sou o que você chama de... morte. Essas eram as mesmas palavras com que ela aterrorizava seus prisioneiros. Eles tremiam de medo e às vezes imploravam perdão. A reação que ela recebeu de Anna não foi diferente. Nina era boa em seu trabalho. Melhor que a maioria. Ela fazia seu trabalho com paixão. Nina tinha a mesma escuridão que meus homens e eu tínhamos. Ela ansiava por sangue. Ela tinha a necessidade de matar. —Suas ferramentas e tudo que você precisa estão na bolsa ao lado de seus pés. —Anunciou Viktor, finalmente falando. —Obrigada. —Ela respondeu, sem desviar o olhar de sua prisioneira. Balançando a cabeça, rolei meus ombros, tentando aliviar a tensão lá. —Ela é toda sua. —Murmurei antes de me virar e me afastar. Saí da casa com meus homens seguindo logo atrás. Nina trabalhava sozinha, não que ela precisasse de ajuda. Nikolay fechou a porta enquanto eu me apoiava na parede. —Então? —Viktor perguntou. Minha resposta foi simples. —Vamos esperar. Foi exatamente o que fizemos. Nós esperamos. 336

Estava quase tudo silencioso, mas se eu escutasse atentamente, os gritos abafados poderiam ser ouvidos. Eles encheram nossos ouvidos enquanto ficávamos perto da porta. Não deveria ter levado horas para destruir Anna – mas conhecendo Nina, ela só estava demorando um pouco e curtindo isso. Eu podia imaginar o que estava acontecendo lá dentro, mas parei de pensar depois de alguns minutos. Nina gostava de ser criativa. Ela sempre nos surpreendia, mas o que ela fazia era sempre eficaz. No final das contas, obtínhamos as respostas que precisávamos, e isso era tudo o que importava. Como conseguíamos? Não importava. Depois de três horas, embora eu estivesse surpreso por Anna durar tanto tempo, a porta finalmente se abriu. Nina saiu, com um ar fresco e surpreendentemente decente pelo que tinha acabado de ocorrer lá dentro. Mas, novamente, Nina era uma assassina limpa. Tão limpa quanto um assassino poderia ser. Ela parou ao meu lado, seu rosto impassível enquanto olhava para frente. Seu sorriso sádico se desfez e foi substituído por um sorriso mais contente e descontraído. Nina tirou as luvas de couro pretas. Elas estavam definitivamente manchadas de sangue, mas na cor preta o sangue que derramávamos nunca aparecia. Ela passou as luvas para Phoenix, que estava de pé ao lado dela, olhando para as mãos enquanto inspecionava as unhas. —Eu preciso de outra manicure. —Ela murmurou e zombou. Balançando a cabeça, olhei para a porta. 337

Ela percebeu onde estava minha atenção e suspirou. —Enzo está escondido no Black Club. Minhas sobrancelhas franziram em questionamento. —O MC? —O primeiro e único. Eles trabalham para o Alberto. Disfarçados. Não é à toa que eles estão ajudando a esconder Enzo. —Respondeu Nina com uma bufada exagerada. —Anna finalmente admitiu? —Eu perguntei baixinho. Nina assentiu. —Demorei um pouco mais para acabar com ela. —Ela deu de ombros antes de continuar. —Mas não importa quanto tempo leve, quando eu termino com alguém, eles sempre ficam destruídos. Isso era verdade. Nina era boa no que fazia. Ela gostava de se chamar de Morte. Ela conquistou esse nome, no entanto. —Ela é muito leal. —Acrescentou Nina. Infelizmente, quando se tratava de vida e morte, sua lealdade desaparecia. —Ela está viva? —Eu perguntei, embora já soubesse a resposta. —Bem, ela estava quando eu saí... Achei que seria bom deixála pensar sobre sua vida. Eu estava de bom humor, sorte a dela. Mas ela parou de respirar cerca de dois minutos atrás. —Respondeu Nina secamente, olhando para seu relógio. Viktor zombou. —Bom humor. —Ele murmurou baixinho. Nina ouviu e lançou-lhe um olhar. —De repente, não estou mais de bom humor. Não me teste, Viktor. Ela voltou-se para mim e suavizou o olhar. Seu rosto ainda estava frio, mas havia uma pitada de simpatia em seus olhos, se era 338

possível para ela sentir alguma coisa. —Sobre Ayla, sinto muito. —Disse ela com pesar. —Eu sei que tipo de homem Alberto é. Vi como ele trata as mulheres nos clubes e não consigo imaginar o que Ayla está passando. Meu peito se apertou com as palavras dela e meu corpo ficou frio. Balançando a cabeça, Nina olhou para baixo antes de continuar. —Eu também devo um pedido de desculpas a ela. Pelo que eu disse. Embora eu não tenha realmente falado sério. Eu a estava testando. Para ver se ela era forte o suficiente. Viktor balançou a cabeça e bufou. Os outros reviraram os olhos. Nina olhou para eles de relance, seus olhos disparando veneno. —Oh, por favor, todos vocês sabem que eu poderia ter quebrado o corpo dela ao meio antes que ela sequer tivesse a chance de colocar um dedo em mim. —Ela sussurrou, sua raiva evidente. —Isso é suficiente para provar que eu não quis dizer aquilo. Fechei os olhos com um suspiro cansado. —Você pode pedir desculpas a ela quando ela for encontrada. Quando abri meus olhos, vi Nina assentindo. Quando caímos em silêncio, ela saiu da varanda. —Se você precisar de ajuda para qualquer coisa, basta ligar. —Disse ela, as costas retas, um olhar de determinação e verdadeira lealdade no rosto. —Espero que você a encontre logo. —Murmurou Nina antes de ir embora. —Ela merece uma vida melhor do que a que teve. Eu me esforcei para respirar, meu peito arfando com o esforço de estar no controle. Olhei para Nina se afastando e depois de alguns minutos, finalmente me acalmei. Embora meu sangue ainda rugisse com a necessidade de 339

matar, mantive a raiva contida. Olhei de volta para a porta. Eu deveria ter ido embora e deixado Phoenix cuidar da limpeza, mas a curiosidade levou a melhor sobre mim. Voltei para dentro da casa e fui agredido com o cheiro de sangue. Olhei para a mulher amarrada à cadeira. Ou o que restou da mulher. Não senti dor. Nem remorso. Nenhuma emoção. Aproximei-me dela lentamente e parei a alguns metros de distância. Viktor praguejou atrás de mim. —Porra, sim. Isso é o que eu chamo de arte. —Criatividade no seu melhor. —Nikolay acrescentou calmamente. Phoenix e Artur riram. Eu apenas olhei. Sua cabeça pendia frouxamente contra o encosto da cadeira, seu corpo inerte enquanto o sangue se espalhava ao seu redor. Faltavam-lhe todos os dedos em sua mão direita. Todas as unhas da mão esquerda. Seus dedos que faltavam estavam no chão em uma poça de sangue. Ela estava sem um olho. Parecia ter sido esculpida da maneira mais dolorosa e horrível. Não que eu estivesse surpreso. O outro olho dela olhava para frente, sem vida. A luz a havia deixado. O rosto dela estava coberto de sangue; suas roupas estavam encharcadas com ele. O cheiro da morte pairava no ar. Uma morte infeliz por uma situação infeliz. Emoções conflitantes correram violentamente pela minha 340

mente, mas eu as domei rapidamente. Não era hora de ficar fraco por causa de uma morte. —Phoenix. Artur. Limpem. —Ordenei, afastando-me da mulher sem vida. Saí de casa e respirei fundo assim que cheguei ao ar fresco. Eu senti Nikolay e Viktor ao meu lado. —O que vem a seguir? —Viktor perguntou. —O Black Club. —Foi a minha única resposta.

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CAPÍTULO 38

Não demorou muito para encontrarmos Enzo depois de conseguirmos sua localização. Foi mais tranquilo do que eu pensava. Uma pequena luta, algumas armas apontadas. Algumas balas disparadas ao nosso redor, e então eu estava arrastando Enzo para fora do clube. E agora ele estava amarrado a uma cadeira, trancado no meu porão. Ele foi interrogado por horas, mas eu ainda não tinha conseguido as respostas que precisava. Ele não sabia onde Alberto estava. Eu pensei que ele estava mentindo, mas a verdade estava escrita em todo o seu rosto. Ele realmente não sabia. Seu medo traiu sua armadura resistente. Ele estava assustado. Alberto era um homem inteligente, mas por quanto tempo ele ficaria escondido? Sentei-me na frente de Enzo enquanto ele tossia novamente, cuspindo um dente quebrado. O sangue escorria por seu queixo. Ele respirou pesadamente, seu peito arfando quase dolorosamente. Cada inspiração parecia difícil para ele. Ele soltou uma pequena risada e minhas sobrancelhas se ergueram de surpresa. Sua risada parecia engraçada, quase forçada. Inclinando-me para frente, esperei que ele falasse. —Por que você não pergunta ao Nikolay? —Ele chiou. 342

Minha coluna se endireitou e meus músculos tensionaram com as palavras dele. —Você está tão certo... De si mesmo, mas seu homem mais... Confiável... É um traidor. Pergunte a ele... A cabeça dele caiu, como se falar aquelas poucas palavras o tivesse cansado. Nikolay, que estava parado atrás dele, envolveu os dedos em volta de sua garganta e apertou. Enzo lutou para respirar, seu rosto ficando vermelho e roxo. Eu até vi os vasos sanguíneos se destacarem sob sua pele. Quando seus olhos começaram a perder o foco, levantei minha mão e Nikolay imediatamente o soltou. Uma risada subitamente ecoou no meu peito. Era uma risada baixa, mas soou mortal e fria. Perigosa até. Dei a Enzo um tempo para lutar por sua respiração antes de falar. —Ele não é o traidor. —Respondi calmamente, sentando-me na minha cadeira. A cabeça de Enzo levantou-se enquanto ele tossia repetidamente. Seus olhos brilharam de surpresa. —Ele... está... está... espionando... você... para Alberto. —Errado. —Eu murmurei de volta. —Ele não está. Pena que Alberto acha isso. —O quê...? —Enzo gaguejou, confusão escrita em todo o seu rosto ensanguentado. Em vez de responder, levantei-me. Frustração se acumulando dentro de mim quando eu saí da sala. Se os homens de Alberto pensavam que Nikolay era o traidor, não sabiam quem era o verdadeiro traidor. Outra jogada inteligente de Alberto. Alguém da minha 343

propriedade trabalhava para Alberto, mas ninguém mais sabia disso, exceto Alberto. —Porra! —Eu gritei, socando a parede. Ouvi meus dedos estalarem, mas a dor não me incomodou. Apenas me irritou mais. —O que você quer fazer? —Nikolay perguntou calmamente. Ele estava sempre calmo, sempre pronto para o próximo passo. —Não o mate. Ainda não. Enzo era o segundo no comando de Alberto. Alberto iria precisar dele. Afinal, seu império estava atualmente nas mãos de Enzo. Alberto precisaria entrar em contato com Enzo em breve. E quando ele entrasse, estaríamos prontos. Fechei os olhos e encostei a testa na parede. O rosto de Ayla surgiu atrás das minhas pálpebras fechadas. O mesmo sorriso doce. O som de sua risada. Só que desta vez eu a ouvi sussurrar. Três palavras proibidas. Eu te amo. As palavras nunca foram pronunciadas entre nós, mas estavam lá. Pela primeira vez, desejei que ela as tivesse dito. Eu gostaria de ter essas palavras para me agarrar enquanto meu anjo estivesse fora.

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CAPÍTULO 39 Ayla 1 semana depois Qual é o meu nome? Eu tentei lembrar. Tentei sussurrar meu nome, mas meus lábios não se mexiam. Qual é o meu nome? Eu me fiz essa pergunta algumas vezes, tentando me lembrar. Mas tudo era um borrão. Nada fazia sentido. Eu não conseguia lembrar o meu nome... Minha vida... Ou qualquer coisa. Eu estava apenas entorpecida. Perdida. Não sentia nada. Eu não sabia onde estava. Estava sempre escuro, com apenas uma luz fraca. O frio penetrou no meu corpo até eu tremer incontrolavelmente. O meu nome. Eu tinha que me lembrar do meu nome. Ay... A... Começava com A. Al... Ay... Ay... Fechando os olhos, deitei-me no chão frio e puxei meus joelhos contra o peito. Minhas lembranças estavam todas fragmentadas, espalhadas por todo o lugar. 345

Ay... Ayla... Ayla. Parecia correto. Familiar. Soava como meu. Ayla. Meu nome é Ayla. Eu me apeguei a essa nova revelação. Ayla. Meu nome era Ayla, e eu tinha que lembrar. Não podia esquecer de novo. Era uma rotina. Eu me lembrava, mas depois esquecia novamente. Meu nome é Ayla. Ao repetir a frase em minha cabeça, ouvi um sussurro. Tudo estava na minha cabeça, mas o sussurro continuou. Era uma palavra. Duas sílabas. Não era o meu nome. Mas parecia tão certo. Como se eu precisasse saber. Toda vez que eu tentava me lembrar do meu nome, a palavra Anjo era sempre um sussurro na minha cabeça. Ayla. Anjo. Ayla. Anjo. Eu não fazia sentido, mas repetia isso várias vezes na minha cabeça. Quem era eu? Eu não sabia. De onde eu vim? Eu não sabia. Eu estava vivendo em um borrão. Em um mundo escuro como breu. Eu não era nada. Não sentia nada. Era apenas um corpo vazio. 346

Há quanto tempo eu estava trancada nesta masmorra? Os dias e as noites se misturaram até eu perder a conta. Dias, semanas, meses? Eu gostaria de saber, mas o diabo fez questão de me deixar na escuridão. Ele tinha me despido de tudo, até mesmo de minhas memórias. Encostada contra a parede, com os grilhões ao redor dos tornozelos e pulsos, balancei para frente e para trás. Meus olhos se fecharam quando eu lentamente caí no esquecimento, outro abismo escuro onde não havia escapatória. Acordei com o som da porta se abrindo. Ela se fechou e eu abri meus olhos para ver o diabo se aproximando de mim. Esperei por seu comando, meu corpo e minha mente prontos para cumprir suas ordens. Ele segurava uma tigela na mão e o cheiro de comida encheu minhas narinas. Meu estômago apertou quando a fome de repente me atacou. Ele não me alimentava regularmente. Às vezes, passava dias sem comida, até meu estômago se contrair com tanta dor que eu achava difícil respirar. Ele me deixava no chão frio até eu tremer tanto que parecia que eu estava tremendo internamente. A tigela foi colocada no chão entre nós. Ele a chutou alguns metros de distância. —Coma. Ele manteve os olhos em mim quando o comando de uma única palavra foi dado. O tom de sua voz continha um indício de 347

raiva, mas também não dava espaço para perguntas. Sentei-me e olhei para a tigela a alguns metros de mim. Sem perder mais um segundo, fiquei de joelhos obedientemente. Era isso que ele queria. E dei a ele. Só porque eu precisava da comida que ele estava me oferecendo. Senti o chão frio e duro sob meus joelhos e mãos enquanto me arrastava em direção à tigela. Minha dignidade estava há muito tempo perdida. Minha alma estava esmagada, e meu coração estilhaçado. Eu não tinha mais nada. Eu era a definição de uma concha vazia. O diabo se certificou disso. Quando me abaixei para comer, ele a chutou alguns metros novamente. Eu rastejei novamente. Ele chutou a tigela novamente. Esse processo foi repetido mais uma vez até que eu tinha usado todo o comprimento das minhas correntes, e estava me esforçando para alcançar a tigela. Ainda de joelhos, me curvei e lambi a sopa. Tentando colocar o máximo possível no meu corpo frágil. Meu estômago revirou quando o líquido quente encheu minha boca. Não tinha gosto, mas eu ainda comi. Era a única coisa que eu podia fazer. Meu corpo tremia toda vez que eu engolia. Quando ouvi o diabo abrir o zíper da calça, minha mente ficou vazia e esperei o que estava por vir. Continuei a comer enquanto o sentia atrás de mim. Eu ainda comia quando ele se inclinou sobre mim, moldando seu corpo em cima do meu. Se eu parasse de comer, ele me machucaria mais. 348

Senti seu comprimento pesado na minha entrada e fechei os olhos. Ele empurrou para dentro, penetrando apenas um pouco. Era tudo um jogo para ele. Continuei comendo, sorvendo o máximo de líquido que podia em meu corpo. Ele empurrou em mim lentamente até estar enterrado profundamente. Pressionei minhas mãos com mais força no chão, tentando me segurar. Seus dedos afundaram nos meus quadris, e eu quase estremeci de dor. Meus grilhões sacudiram quando ele começou a empurrar dentro de mim, indo mais fundo e mais rápido a cada vez. Um rosnado quase selvagem saiu de seus lábios quando ele curvou meu corpo à sua vontade. Ele empurrou dentro de mim com força e dor. Parecia que meu corpo estava se partindo ao meio enquanto ele me levava de novo e de novo. Fiquei olhando a sopa, meus olhos embaçados, minha mente entorpecida, meu corpo vazio. Meu estômago revirou dolorosamente. Minha garganta ficou apertada quando senti o gosto da bile na minha língua. Minha boca estava cheia de um gosto amargo, e a sopa já estava na minha boca. Quando ele terminou dentro de mim, eu não pude evitar. Eu vomitei, meu corpo arfando quando vomitei. O vômito desceu por meu queixo e pescoço. A masmorra já cheirava mal, mas o vômito só aumentou o cheiro horrendo. Foi o suficiente para me fazer vomitar novamente. O diabo riu. Sua risada ecoou nos meus ouvidos. Meu corpo doía. Tudo doía. 349

Quando ele saiu de mim, eu caí no chão ao lado da minha tigela. Deitei minha bochecha no chão, exatamente onde estava o vômito. Eu tentei respirar, mas era muito difícil. Eu me senti aleijada pela dor. O diabo riu quando saiu da sala. Mesmo quando ele não estava mais lá, eu ainda ouvia sua risada. Meus ouvidos ecoavam com ela. Eu nunca esqueceria a risada dele. Eu não sei quanto tempo fiquei nessa posição. Quando meus olhos começaram se fechar, fiquei de joelhos e me arrastei de volta para o meu lugar próximo à parede. Deitei-me e me encolhi, fechando os olhos. Tentei ir a algum lugar em minha mente, um lugar onde pudesse escapar desse pesadelo. Mas eu não conseguia lembrar de nada. Não, isso era mentira. Eu lembrava de algo. Mesmo quando eu esquecia meu nome. Mesmo quando eu tinha esquecido tudo, havia algo que eu não esquecia. Olhos azuis. Olho cor aço azulado. Um rosto com aqueles olhos azuis sempre surgia atrás dos meus olhos fechados. Embora o rosto estivesse embaçado, eu sempre via os olhos. Era a única coisa constante neste pesadelo. Às vezes, eu via um toque de sorriso no rosto. Muitas vezes, tentei me concentrar mais e, ocasionalmente, quase conseguia ver o homem por trás dos olhos azuis. 350

Quando todo o resto era apenas lembranças fragmentadas, o homem com olhos azuis era meu salvador. Eu o chamava de meu salvador porque ele me impedia de me perder completamente. Eu não sabia quem ele era, mas embora tivesse esquecido todo o resto, havia algo que me impedia de esquecê-lo. Aqueles olhos azuis. Minha mente não me deixava esquecê-lo. Quem quer que ele fosse, onde quer que estivesse, ele provavelmente não sabia, mas ele era meu salvador. Era estranho que, embora eu não soubesse de nada, ele estava lá. Sempre em meus pensamentos. Quem ele era para mim? Eu me perguntei. Com os olhos fechados, ouvi uma voz me chamando. O homem de olhos azuis estava me chamando. Fiquei surpresa quando o ouvi dizer Anjo. Ele estava me chamando de anjo. Esse era o meu nome? Anjo? Não, meu nome era Ayla. Confusa, minha cabeça começou a doer, mas eu ainda me forcei a lembrar. O piano. Flores brancas. A floresta. Um rio. Todas eram apenas imagens embaçadas na minha mente. Elas piscavam atrás das minhas pálpebras fechadas antes que eu tivesse a chance de entendê-las. Alessio. O nome era um sussurro em minha mente. Eu ouvia risadas. 351

E o nome Alessio. Alessio. Eu sentia isso no meu coração. Doces beijos. Carícias gentis. Olhos amorosos. As memórias eram todas peças de um quebra-cabeças que não fazia sentido. Mas uma coisa era certa, em todas as memórias estilhaçadas que me assaltaram, o homem de olhos azuis estava sempre lá. Em cada pedaço de memória, ele estava lá. Alessio. Esse era o nome dele? Parecia... Certo. Parecia... Ele. Meu salvador finalmente tinha um nome. Alessio. Com os olhos ainda fechados, afundei lentamente em outro poço de escuridão. O sono tomou conta do meu corpo enquanto eu lentamente sucumbia ao meu cansaço e dor. E como toda vez que adormecia, o homem de olhos azuis me encontrava nos meus sonhos. Alessio. Com o nome dele em um mero sussurro em minha mente, adormeci no chão frio e duro com os grilhões em volta dos pulsos e tornozelos.

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CAPÍTULO 40 Maddie Olhei para o relógio na sala de estar. Eram 21h30min. Os homens ainda não estavam em casa. Eu ficava mais preocupada a cada minuto que passava. Eu esperava que essa noite fosse a noite em que eles trariam Ayla para casa. Então sentei no sofá do meu quarto com minha camisola e roupão ao meu redor. Eu esperei. Orei para que, por algum milagre, Ayla aparecesse na minha frente, sã e salva. Mas, novamente, não foi esta noite. Os homens entraram pela porta e eu pulei, ficando de pé, olhando loucamente ao redor deles para ver qualquer sinal de Ayla. Quando vi suas cabeças abaixadas, seus ombros caídos por mais uma noite de derrota, minha garganta se fechou. Meu peito apertou e eu quase caí no chão. O desespero me atingiu, e minhas bochechas já estavam molhadas com minhas lágrimas. Chorei quando Alessio passou por mim sem dizer uma palavra. Alguns minutos depois, quando seu rugido de dor ecoou pela casa, eu chorei. Nikolay foi embora. E então Viktor. Ninguém disse uma palavra. 353

Phoenix ficou na porta, com o rosto cheio de tristeza. Foi quando eu notei o sangue nele. Meus olhos se arregalaram e eu me arrastei para ele em pânico. —Phoenix! —Eu ofeguei, meus braços se movendo sobre seu corpo, procurando a ferida. —O que aconteceu com você? Minhas lágrimas deixaram minha visão turva. Com o pensamento de Ayla sofrendo e agora Phoenix sendo machucado, eu estava lentamente enlouquecendo. Ele agarrou minha mão, segurando-a sobre seu peito. — Shhh... Eu estou bem, Maddie. Não é o meu sangue. Ele colocou a mão sobre minha bochecha, esfregando suavemente o polegar sobre a pele. Eu deveria ter me afastado. Era errado ele me tocar assim. Era mais errado eu me importar com ele do jeito que eu me importava. Mas descobri que não podia me afastar. —Você não está machucado? —Eu sussurrei, olhando para seu terno coberto de sangue. Ele balançou a cabeça. —Não. Exalei ruidosamente, e suspirei de alívio. Mas o alívio durou pouco quando ouvi a voz de Artur atrás de mim. Meus olhos se arregalaram e eu rapidamente me afastei de Phoenix. Ele não soltou meu rosto. Virei minha cabeça para ver Artur olhando para nós. Seus olhos mostraram o que ele sentia. Ele olhou para mim como se eu o tivesse traído. Meu coração doeu ao pensar em machucar Artur. Olhando para Phoenix, nossos olhares se encontraram. Ele me implorou com 354

os olhos. Mas eu não podia dar a ele o que ele queria. Olhei para as nossas mãos entrelaçadas e me afastei lentamente. Ele me agarrou com mais firmeza, mas torci minha mão até ficar livre. Sem olhar para ele, dei um passo para trás e me virei para Artur. Fui diretamente para o braço de Artur e enterrei meu rosto em seu peito. Respirando fundo, eu inalei seu perfume familiar. Era disso que eu precisava. Ele me pegou em seus braços e me levou para seu quarto. Assim que a porta se fechou atrás de nós, ele me colocou contra a parede, seus lábios nos meus. Artur me beijou furiosamente quando ele nos empurrava em direção à cama. Caí no colchão macio quando ele montava em cima de mim. Antes que eu pudesse pensar, ele tirou minha camisola antes de me deitar debaixo dele. Seu beijo foi contundente, suas mãos duras contra a minha pele. Seu toque não estava acariciando. Ele não me tocou para me trazer prazer. Artur parecia quase perdido em sua mente. —Artur? —Eu questionei. Ele não respondeu. Em vez disso, ele continuou a dar beijos no meu pescoço. Eu deveria ter me sentido bem, mas desta vez, apenas sentia frio. Quase desconectada. —Artur? O que você está fazendo? Quando ele me ignorou, meu pânico aumentou e eu empurrei seus ombros. —Artur, pare. 355

Ele não parou. Ele continuou beijando meu abdômen até que seu rosto estava entre as minhas pernas. O Artur tocando meu corpo não era o meu Artur. Minhas unhas afundaram em seu ombro enquanto eu o empurrava com força. —Artur, pare! —Eu gritei mais alto. Ele levantou a cabeça, os olhos atados com uma mistura de luxúria e raiva. Ele pareceu confuso por um segundo e depois inclinou a cabeça para o lado, me dando um olhar aquecido. —Você está me assustando. O que há de errado com você? —Eu disse, me afastando dele. Peguei o edredom e o puxei para cobrir meu corpo. Sua expressão mudou para uma de remorso, seus olhos brilhando de arrependimento. Artur passou os dedos pelos cabelos quase com raiva, embora desta vez ele parecesse zangado consigo mesmo. —Fale comigo. —Eu implorei, olhando para o homem que eu amava lutando com algo dentro de sua cabeça. Ele caiu na cama ao meu lado, olhando para o teto. Esfregando a mão no rosto, um pequeno rosnado vibrou em seu peito. —Porra! Eu sinto muito. Sinto muito, Maddie. Não sei o que há de errado comigo. Fiquei louco, quando eu o vi tocar em você. — Ele respondeu com os dentes cerrados. —As mãos dele estavam em você, e eu queria cortá-las do corpo dele. A imagem me fez gelar. —Artur. —Eu disse assustada. Ele se virou para mim. Nós olhamos um para o outro em silêncio antes que ele finalmente levantasse a mão. Ele apalpou minha bochecha suavemente, um olhar suave em seus olhos. 356

—Eu odeio que ele te teve primeiro. —Ele sussurrou. Eu me encolhi com a lembrança e me afastei dele. —Você prometeu que nunca mencionaria isso. Está no passado. Deixe lá, Artur. Você me tem agora. Eu escolhi você. —Eu sei. —Ele murmurou. —Então pare de pensar tanto. Por favor, Artur. Não deixe Phoenix ficar entre nós. Eu o deixei no passado e você precisa fazer a mesma coisa. —Implorei. Mesmo quando eu disse as palavras, minha mente gritava que era mentira. Eu realmente deixei Phoenix no passado? Eu realmente o tinha superado? Eu amava Artur. Eu o escolhi. Mas quando eu pensei que Phoenix estava machucado esta noite, parecia que meu coração ia se dividir em dois. Como era possível ainda me sentir assim depois de tantos anos? —Sinto muito, Maddie. Eu olhei para Artur e senti meu coração se expandir um pouco mais. Este homem ficou ao meu lado quando eu mais precisei dele – quando Phoenix não estava lá para mim. Artur estava lá para mim quando Phoenix me deixou despedaçada. Inclinando-me para frente, beijei Artur lentamente. Ele gemeu nos meus lábios e retornou o beijo com o mesmo fervor. Quando me afastei, um pequeno sorriso apareceu em meus lábios. Meu coração não parecia mais tão pesado. Movendo meus dedos através de seus cabelos, sorri para ele. —Eu preciso ir ao banheiro. Volto já. —Murmurei antes de pular da 357

cama. Fechei a porta atrás de mim e fui para a pia. Olhando para o meu reflexo, eu rapidamente penteei meu cabelo. E então lavei meu rosto. Enrolei o robe branco em volta de mim e respirei fundo. Empurrei com força... Mais força do que antes. Empurrei Phoenix para fora da minha cabeça e coração. Eu me recusei a pensar nele. Em nós. Artur era o que eu precisava. O homem que eu amava. Agora eu só precisava de coragem para dizer a ele. Eu tinha arrastado isso por muito tempo. Ele precisava saber como eu realmente me sentia. Desde o sequestro de Ayla, tínhamos nos afastado, mas eu precisava de nós novamente. Aprendi também que o amor não deve ser mantido para nós mesmos. Alessio e Ayla se amavam, mas nunca tiveram a chance de dizer isso. Meu coração doía por eles, pelo que os dois estavam passando. Não queria o mesmo entre mim e Artur. Nós não precisávamos das palavras, mas eu queria dizer. Não queria que Artur pensasse que eu não o amava o suficiente. Ele tinha que saber o quanto significava para mim. De qualquer forma, estávamos prestes a dar outro passo na vida. Juntos. Fechando os olhos, respirei fundo. Quando senti meu coração acelerado começar a se acalmar, abri meus olhos e sorri para meu reflexo. Sem um segundo olhar, abri a porta, mas parei de repente. 358

Meu coração falhou até parar de bater. —Não se preocupe. Eles não vão encontrar Ayla. Meus olhos se arregalaram e fiquei completamente em silêncio. Eu estava até com medo de respirar. Artur estava de costas para mim enquanto olhava para as janelas, seu telefone próximo ao ouvido. Meu peito apertou quando ele continuou a falar. —Já se passaram quase quatro meses e eles ainda não a encontraram. Tudo graças a mim. Meus punhos se apertaram. Não. Isso não poderia estar acontecendo. Não Artur. Ele ouviu a outra pessoa e respondeu: —Eu sei como fazer meu trabalho. Vou me certificar que eles não encontrem você. Mesmo que ele estivesse sussurrando, as palavras ecoaram nos meus ouvidos em voz alta. Meu coração disparou e bateu como um tambor. As veias do meu pescoço latejavam enquanto meu corpo gelou de pânico. E raiva. Muita raiva. A fúria cresceu dentro de mim como lava quente até que eu estava pronta para explodir. —Eu tenho que ir. Não me ligue de novo. É arriscado demais. —Ele murmurou antes de desligar. Fiquei parcialmente escondida atrás da porta, minhas pernas subitamente fracas. Artur era o traidor? Eu não queria acreditar. Minha mente lutava violentamente contra mim. Não podia ser verdade. Eu tentei afastar o pensamento da minha mente, mas como eu poderia quando a verdade estava 359

bem na minha frente? Eu o ouvi falar. Ele admitiu isso claramente. Como eu não vi isso antes? Como eu não vi isso? Lágrimas de raiva e frustração embaçaram minha visão. Mas eu também estava sofrendo com o pensamento de Ayla estar sofrendo por causa do homem que eu amava. O bastardo. Como ele podia? Alessio nunca o deixaria viver. Inferno, eu não o deixaria viver. Dando um passo à frente, caminhei em direção a Artur. Ele ouviu meus passos e rapidamente girou, surpresa evidente em seu rosto. —Maddie? —Ele engoliu em seco, mas rapidamente disfarçou com um sorriso sedutor. Quando parei na frente dele, eu puxei meu punho para trás antes de bater em seu nariz. —Seu desgraçado. Ele recuou surpreso antes de se endireitar rapidamente. Os olhos dele se arregalaram. —Que porra é essa, Maddie? —Eu ouvi você. —Eu assobiei. Havia um lampejo de horror em seu rosto, mas desapareceu rapidamente, e ele recuperou a compostura. —Do que você está falando? —Ele perguntou, fingindo inocência. Essa merda. Não ia funcionar em mim. Fiquei furiosa por dentro. Minha pele formigando, como chamas dançando sob ela. Meu corpo tremia com minha fúria. —Não finja que é inocente, Artur. Você é louco! 360

A fachada da inocência desapareceu de repente, e ele olhou para mim. —Fale baixo. Eu zombei e dei um passo em frente. —Você nos traiu. — Eu disse a ele. Quando ele nem me convenceu do contrário, eu ri sem humor, apesar das lágrimas escorrendo pelo meu rosto. —Como você pode? —Eu engasguei. —Depois de tudo o que Alessio fez por você, é assim que você o paga? Seu rosto se transformou em uma máscara de fúria. —Ele não fez nada por mim! Eu cambaleei com sua explosão. —Você é tão estúpido. Por quê? Por que você fez isso? —Isso é realmente uma pergunta, Maddie? Você está agindo como a idiota aqui. —Ele sussurrou. Meus olhos se arregalaram quando compreendi. —Deus, eu estou tão enjoada agora. Seu pai era um traidor, e você também! —Ele matou meu pai! —Por que ele era um traidor! E Alessio teve pena de você. Você foi deixado nas ruas para morrer, e ele lhe deu um lar. Ele pensou que você era diferente. Ele confiou em você. —Argumentei sentindo um nó na garganta. Balançando a cabeça, dei vários passos para trás. —Você o fez confiar em você. Esse era o seu plano o tempo todo? Quando ele não disse nada em resposta, eu tive minha resposta. —Você me enoja! —Eu disse. Eu girei para sair do quarto, mas a voz de Artur me parou. — 361

Onde você está indo? Virando-me de volta, eu o nivelei com um olhar. —Para longe de você! Eu não consigo nem olhar para você agora. Ele era um traidor, mas eu não era. Se ele pensou que eu ficaria quieta, então ele estava totalmente errado. Eu estava sofrendo pela traição de Artur. Era difícil respirar, mas só ficou mais difícil quando ele esticou a mão atrás das costas e puxou a arma. Ele apontou para mim. —Mais um passo e eu vou atirar em você. O medo deslizou por meu corpo e o suor se espalhou pela minha pele. Fiquei paralisada, debatendo se deveria correr. Artur olhou entre nós, e sua expressão suavizou um pouco. —Maddie, eu não quero te machucar. Um soluço escapou dos meus lábios. —Trair minha família me machuca, Artur. Isso está me machucando mais do que você pode imaginar. O arrependimento transpareceu em seu rosto. —Maddie... Meus fungados encheram o quarto. Esfreguei meu peito, tentando me livrar da dor ali. —E Ayla? O que ela fez com você? Como você pôde fazer isso com ela? Artur balançou a cabeça. —Ela só estava no meio. Alberto a queria e eu queria minha vingança contra Alessio. Ele era invencível, mas então Ayla entrou em sua vida. Ela é a fraqueza dele. Que melhor maneira de destruir Alessio do que destruir sua única fraqueza? Eu ofeguei com suas palavras cruéis. Nunca esperava ouvir 362

essas palavras de Artur. Onde estava o doce homem que eu conhecia? Meu tremor recomeçou, só que desta vez foi uma mistura de medo e raiva. Raiva de Artur por ser tão insensível. —Ayla é inocente. Você a condenou ao próprio monstro que a destruiu. Você sabia as coisas que foram feitas a ela, mas ainda a mandou para lá. Artur deu de ombros. —Foram dois coelhos com uma cajadada só. —Ela não merece isso. O que você fez com ela é suficiente para me fazer odiá-lo com todo meu ser. —Minha voz estava cheia de ódio e total desespero. Minha pele parecia em carne viva quando o pânico percorreu meu corpo. De repente, fiquei tonta quando o mundo se girou ao meu redor. Eu tinha que chegar a Alessio. Dei um passo atrás, mas Artur percebeu. Os olhos dele se arregalaram. —Maddie, não me obrigue a fazer isso. —Ele avisou, seus olhos me implorando. Naquele momento, eu me perguntei se ele realmente iria atirar em mim. Os pensamentos aceleraram na minha cabeça. Meu coração bateu forte no peito e meu estômago revirou. Enquanto meu estômago se apertava dolorosamente, eu sabia que iria vomitar. Olhei ao meu lado em direção à cômoda. Minha arma. Apenas alguns passos e eu poderia pegar minha arma. Olhei de volta para Artur e pensei em maneiras de desviar sua atenção. Lambendo meus lábios secos, engoli o caroço pesado na minha garganta. —E nós? Você já me amou, Artur, ou isso também era falso? 363

Ele rapidamente balançou a cabeça. Eu vi o braço dele cair um pouco. —Não. Nós somos reais, Maddie. —Ele admitiu em voz baixa. Dei um passo em direção à cômoda. Ele não pareceu notar, então eu continuei falando. —O que vai acontecer agora? Conosco? Comigo? As lágrimas escorreram pela minha bochecha enquanto eu esperava sua resposta. —Venha comigo. Fuja comigo, Maddie. —Ele respondeu. Sua voz era suave, doce até, como se ele estivesse fazendo amor comigo. Outro passo em direção à cômoda. Mas desta vez ele percebeu, e a arma estava apontada diretamente para mim novamente. —Não se mexa, Maddie. Não me faça machucá-la. Eu estava a apenas dois passos da cômoda – da minha arma. Minhas mãos tremiam ao meu lado enquanto meu estômago apertava com tensão. —Você realmente vai atirar em mim? —Eu perguntei, meu corpo lentamente começando a ficar dormente. Eu dei outro passo. Artur não respondeu. Mas quando um tiro soou pelo quarto, eu tive minha resposta. Eu não senti a princípio. Cambaleei quando a bala atingiu meu corpo. Mas fiquei surpresa demais para sentir. Um segundo se passou. Dois. Três. E então eu estava sentindo dor por todo o lado. Meu ombro 364

queimava como se estivesse pegando fogo. Minha pele parecia em carne viva e eu quase vomitei quando a dor passou pelo meu ombro e percorreu toda a extensão da minha espinha. Olhei para o lado esquerdo do meu ombro, onde o sangue jorrava através do meu robe e a bala tinha perfurado minha pele. Artur soltou um gemido arrependido. Eu olhei para cima e o vi caminhando em direção à janela aberta. Sabendo o que ele pretendia fazer, entrei em ação. A adrenalina percorreu meu corpo, então eu alcancei a gaveta, puxando minha arma. Eu a apontei para ele ao mesmo tempo em que outro tiro ecoou pelo quarto. Quando uma segunda bala perfurou meu corpo, caí de joelhos. Muita dor. Era uma sensação de ardor excruciante, e desta vez a senti no estômago. Olhei para baixo e vi meu robe ficando encharcado rapidamente com meu sangue. Não. Por favor não. Eu estava congelada no local, e meu corpo continuava a pulsar em agonia. Eu estava rapidamente perdendo sangue. Não era apenas meu corpo doendo. Meu coração e alma haviam se despedaçado naquele momento. Eu gritei quando meu corpo convulsionou de dor. Eu me senti quente. Muito quente. Estava queimando. Minha visão ficou turva na minha frente e eu gritei. —Alessio! Vi Artur se movendo rapidamente em direção à janela. Agindo por reflexo, apontei minha arma e puxei o gatilho. Eu falhei. 365

A bala atingiu a janela e o vidro estilhaçou, jogando cacos por toda parte no quarto. Artur saiu pela janela, e quando caí no chão, me encolhendo na posição fetal, gritei novamente. —Alessio! Meu coração falhou algumas vezes. Quando vi Alessio correndo para dentro do quarto, seguido pelos outros, não sabia se deveria chorar ou ficar aliviada. Houve suspiros de surpresa e olhares de choque. Alessio se ajoelhou ao meu lado e me puxou para seus braços. —Maddie? — Ele engasgou. —Artur... —Eu ofeguei em meio a dor. —Ele... É... o... o... Traidor... Espião... A expressão de Alessio fulminou de fúria. Continuei falando, sabendo que não me restava muito tempo. —Ele... Sabe. —Parei quando uma dor ardente percorreu meu corpo. Eu senti o sangue escorrer no canto dos meus lábios. Eu ia morrer. Lágrimas deslizaram pelo meu rosto enquanto eu tentava falar. —Ele... Sabe... Onde... Ayla...Está... Alessio berrou alguma coisa. Vi Viktor correndo para fora do quarto. Nikolay pulou pela janela. Eu olhei de volta para Alessio, desta vez meu corpo tremendo com o peso dos meus soluços. Colocando a mão sobre meu estômago, bem por cima de onde a bala atravessou, fechei os olhos. —Meu... bebê... Meu coração partiu no momento em que percebi que nunca 366

veria meu bebê. Eu só tinha descoberto no dia anterior. Mas agora, eu o tinha perdido antes mesmo de ter a chance de vê-lo. Eu nem sabia se teria uma menina ou um menino. Era muito cedo. Abrindo os olhos novamente, vi Alessio me encarando com uma expressão horrorizada. —Bebê...Meu... Bebê... —Eu chorei em seus braços. Atrás das costas dele, vi Phoenix entrando correndo no quarto, seguido por minha mãe. Seu rosto era uma máscara de horror quando ele correu para mim, ajoelhando-se ao lado de Alessio. Ele me puxou para fora do braço de Alessio, que ficou congelado, com os olhos vazios e sem alma. Ele estava em estado de choque. Desviei o olhar de Alessio e olhei para Phoenix. Quando vi lágrimas nos olhos dele, meu coração já partido se despedaçou um pouco mais. Eu nunca tinha visto Phoenix chorar. Nunca. Mas bem na frente dos meus olhos, eu o vi desmoronar. —Maddie. —Ele engasgou, me puxando para seu peito. — Onde está o Sam? —Ele berrou. —Maddie, aguente aí. Ok? Estou bem aqui. —Ele disse contra minha bochecha. Meus dedos se apertaram em volta do meu estômago à medida que dor se intensificava, eu sentia cada vez mais dificuldade para respirar. Phoenix deu vários beijos no meu rosto, e eu chorei silenciosamente. 367

Eu fui burra...Tão estúpida. —Não me deixe, Maddie. —Phoenix sussurrou, beijando meus lábios suavemente. Por que fiquei longe dele por tanto tempo? Por que nos separamos? Meu coração continuou doendo enquanto a escuridão me cercava lentamente, me puxando ainda mais para baixo. Levantei minha mão e segurei sua bochecha. Tentei sorrir. Eu queria lhe dar meu sorriso. Ele amava o meu sorriso. Mas meus lábios estavam rígidos. Eu não conseguia falar, para dizer a ele a verdade. Olhando-o nos olhos, pressionei minha palma contra sua bochecha, desejando que ele entendesse o que eu não podia dizer. Eu amo... Minha mão caiu, fraca demais para sustentá-la por mais tempo. Perdi Phoenix e todo o resto de vista quando fui lançada na escuridão total. Eu fiquei entorpecida. Todos os sentimentos se foram. Nada doía... Eu não sentia nada. Ao sucumbir ao esquecimento, desejei ter a chance de dizer essas palavras ao homem que realmente amava. Eu te amo.

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CAPÍTULO 41 Alessio O som de um tiro foi um choque atravessando meu corpo. Tudo estava silencioso, frio, enquanto eu olhava para o piano pensando em Ayla. E então o silêncio se foi. Substituído pelo som de um outro tiro. Eu ouvi um grito. Depois outro tiro. Todo o resto aconteceu em um borrão. Meus pés agiram por vontade própria, e eu estava correndo para fora da sala de piano sem pensar duas vezes. Outro grito doloroso. A voz de Maddie. Era a voz de Maddie. Eu segui o grito até o final do corredor, meu coração disparado loucamente no meu peito. Ouvi passos atrás de mim e, sem olhar, sabia que eram de Viktor e Nikolay. Eles estavam a alguns quartos de distância do meu. Sem dúvida, eles deviam ter ouvido o tiro também. Meus pés vacilaram um pouco quando percebi que o grito vinha do quarto de Artur. Senti meus olhos se arregalaram em pânico e peguei meu ritmo. A propriedade estava sob ataque? Porra, não! De novo não! Minhas mãos se apertaram em punhos enquanto meu corpo ficava tenso em alarme. Corri para abrir a porta, meus olhos procurando loucamente ao redor do quarto, procurando a ameaça. 369

A primeira coisa que vi foi a janela quebrada e, por um breve momento, o rosto de minha mãe brilhou na frente dos meus olhos. Este momento. O tiro. Os gritos. Parecia tão familiar. Meus olhos seguiram para o chão quando ouvi um gemido de dor. Meus músculos tensionaram quando meu corpo ficou rígido com a visão na minha frente. Eu quase cambaleei para trás em choque, mas me detive a tempo enquanto olhava para Maddie completamente horrorizado. Meus olhos seguiram a poça de sangue ao redor dela e meu estômago revirou. Sangue não era algo novo para mim. Eu estava acostumado ao sangue e ao horror que o acompanhava. Eu fazia as pessoas sangrarem. Eu ria quando elas sangravam. Inferno, eu tinha prazer em vê-los implorando por suas vidas enquanto sangravam até morrer. Não, eu não tinha medo de sangue. Não era por isso que meu estômago estava revirando e meus joelhos estavam fracos. Era esse momento, esse sentimento de déjà vu, que me deixou doente. Vi isso quando tinha sete anos, quando minha mãe deu seu último suspiro. E agora eu estava vendo de novo. Corri para o lado de Maddie e me ajoelhei ao lado dela antes de puxá-la para meus braços. —Maddie? —Eu engasguei. Suas palavras seguintes foram cheias de dor, mas eu as ouvi. Claras como o dia. Elas trouxeram outro tipo de dor no meu peito. Dor e depois raiva. Muita raiva. —Artur... —Ela engasgou com a dor. —Ele... É... o... o... Traidor... Espião... 370

Maddie estremeceu quando seu corpo convulsionou. Ela olhou para mim com olhos assustados, me implorando. Não precisava ver meu rosto para saber que minha expressão estava repleta de fúria. Eu a senti vibrar através dos meus ossos. Maddie continuou falando, mesmo através de sua respiração difícil. —Ele... Sabe. —Ela parou e seu rosto se contorceu, suor brotando em sua testa. Sangue escorria no canto de seus lábios. Lágrimas deslizavam por suas bochechas enquanto ela tentava falar. —Ele... Sabe... Onde... Ayla... Está... Ayla. Ao som do nome dela, meu coração acelerou. Meus braços se apertaram ao redor de Maddie. A dormência tinha desaparecido. Minha mente estava clara mais uma vez. Em vez da frieza que penetrava em meu corpo, tudo o que sentia era raiva. —Pegue-o! —Eu berrei. Vi Viktor correndo para fora do quarto. Nikolay pulou pela janela. Senti calor, minha pele com comichão com a necessidade de matar. De fazê-lo sangrar. Artur, um dos meus homens mais confiáveis. Como eu não vi isso? Eu confiava nele, mas ele me traiu. Por quanto tempo? Ele estava morrendo, com frio, sem-teto, faminto. Mas eu o peguei, dei-lhe um lar. Uma família. Mesmo quando seu pai era um traidor, eu acreditei nele. Estúpido. Estúpido pra caralho. Nunca confiei nas pessoas com facilidade, mas confiar em Artur foi um erro. Um grande erro, porra. 371

Balançando a cabeça, olhei para Maddie. Ela teve que pagar o preço. Ayla teve que pagar o preço da minha estupidez. Maddie chorou nos meus braços, seu corpo inteiro tremendo com o peso de seus soluços. Ela colocou a mão sobre o estômago, exatamente onde a bala atravessou. Fechando os olhos, ela sussurrou. Sua voz era baixa, suas palavras suavemente ditas. —Meu bebê... O quê...? Eu olhei para ela, completamente horrorizado. Eu a tinha ouvido mal. Minha mente estava brincando comigo. Eu queria perguntar a ela, tentar esclarecer essa confusão, mas minha língua parecia pesada. Ela abriu os olhos novamente. —Bebê... Meu... Bebê... —Ela chorou nos meus braços. Não houve erro. Sem confusão. Minha mente não estava pregando uma peça em mim. Eu ouvi claramente, e doeu. As palavras doíam, e eu não podia imaginar o quanto isso estava doendo em Maddie. Meus lábios não se mexeram. Eu apenas fiquei olhando. Mesmo quando Maddie foi tirada dos meus braços, Phoenix gritando, chorando, implorando para ela não o deixar, eu não me mexi. Meus olhos lentamente foram para a barriga de Maddie, onde ela estava sangrando profusamente. Não havia como o bebê conseguir. Era impossível. Maddie sobreviveria? Eu não sabia de nada, porra. 372

Fui tirado dos meus pensamentos quando Sam entrou correndo no quarto. Phoenix carregou Maddie para a cama e eu rapidamente me levantei. Meu sangue rugiu com a injustiça. Não, rugiu de raiva, com a necessidade de respostas. Eu estava furioso, meu corpo tremendo com a força da minha fúria. Meus olhos se moveram pelo quarto, fazendo contato com Viktor enquanto ele entrava correndo no quarto novamente. Vi a fúria, impaciência e preocupação em sua expressão. Eu também sabia que ele estava lutando para se controlar. Eu também estava. Todos nós estávamos. Artur não conseguiria sair vivo. Viktor olhou para mim e me deu um único aceno de cabeça antes de sair novamente. Foi o suficiente para me levar ao ponto da insanidade. Artur havia sido capturado, e meu controle explodiu. Olhando uma última vez para Maddie, eu saí do quarto. Eu não chamei Phoenix. Não havia sentido. Ele não sairia do lado de Maddie agora. Seguindo para o porão, deixei a fúria ferver. Eu me deixei sentir a raiva, sabendo que isso me serviria bem mais tarde. Somente a raiva me faria continuar. Não havia tempo para fraqueza. Afastei a imagem de Ayla assustada e machucada e de Maddie sangrando e perto da morte, para o fundo da minha mente. Viktor estava me esperando na frente da porta, sua expressão feroz. Ele não disse nada. Não havia nada a dizer. Um dos nossos nos traiu. Alguém em quem confiamos e tratamos como um irmão. 373

Mas não podíamos nos deter nessa traição agora. Não havia tempo para isso. Nosso único objetivo era obter respostas e encontrar Ayla. Viktor abriu a porta e eu entrei, meu passo confiante e proposital. Lento mesmo em meio à minha raiva. Artur estava amarrado a uma cadeira, de frente para mim. Sua cabeça estava abaixada, mas eu sabia que ele me ouviu entrar. A maneira como seu corpo se contraiu o denunciou. Nikolay estava parado atrás dele, com um olhar assassino no rosto. Fui em frente, parando a apenas um metro de Artur. A sala estava cheia de silêncio. Nenhuma palavra foi proferida, mas o ar estava pesado e tenso. Quase sufocante. Deixei o silêncio se arrastar por mais alguns minutos. Artur ficou mais tenso. Era tudo um jogo, um jogo de domínio e, naquele momento, eu tinha o poder e Artur era apenas um peão. Quando me senti mal segurando o fio fino de controle, segui em frente. Eu dei crédito a ele. Ele não se mexeu ou se encolheu. Agarrando seu queixo, levantei sua cabeça. Ele olhou para mim com a expressão vazia, sem demonstrar qualquer emoção. Alimentado por profundo ódio e raiva, eu puxei meu braço e dei um soco nele. Ouvi o nariz dele quebrar sob a força dos meus dedos. Eu ansiava por seu grito, seu sangue. Quando ele não emitiu nenhum som, eu o soquei novamente, mais forte do que antes. Houve um som muito satisfatório. Outro osso quebrado. Desta vez, ele estremeceu, fechando os olhos com dor. Eu agarrei sua garganta e apertei, observando-o lutar por sua respiração. Seu rosto ficou um tom de vermelho e depois roxo. O 374

sangue se acumulando sob sua pele, pequenos pontos vermelhos se tornando visíveis enquanto seus olhos arregalados me encaravam em pânico. Os brancos dos seus olhos ficaram vermelhos enquanto ele sufocava ao meu aperto. Suas pupilas dilataram e eu sorri, vendo-o lutar por sua vida, por um fôlego de ar. O canto de sua boca estava inchado e havia uma laceração sobre sua bochecha. Seu nariz já estava inchando, ficando com um tom feio de verde. Apertei meus dedos um pouco mais forte, sentindo sua traqueia. Ele se engasgou com a pressão que aumentava em sua garganta enquanto ela subia por seu rosto. Eu lutei contra o desejo de rir de seu sofrimento. Ayla estava sofrendo por causa dele. Ela era inocente, mas pagava por algo que não merecia. Tudo por causa desse homem na minha frente. O que quer que fosse feito a ele nunca seria suficiente. Eu nunca ficaria satisfeito. Quando vi os olhos de Artur revirando, pressionei mais uma vez antes de soltá-lo. Sua cabeça caiu para frente e ele tossiu profusamente, ofegando desesperadamente pelo próximo suspiro. Todo o seu corpo tremia com o esforço de respirar o máximo de ar possível. Quando eu o notei controlando sua respiração fatigada, agarrei seu cabelo e puxei sua cabeça para trás. Segurei seu pescoço contra o encosto da cadeira e olhei. —Por quê? —Eu simplesmente perguntei. Duas palavras. Uma pergunta. Artur era um dos meus homens. Ele entendia como eu trabalhava. Ele entendia o que eu 375

queria sem sequer precisar perguntar. Eu pensei que a traição doeria. Doeu, mas fui consumido principalmente pela raiva. A fúria nublou minha visão e todas as outras emoções. Eu tinha que encontrar Ayla, e Artur era minha única esperança. O pensamento dela estar em perigo e machucada por causa de alguém em quem eu confiava fez uma onda de dor percorrer meu corpo. Foi minha culpa? Era um pensamento constante em minha mente, algo que lentamente me matava todos os dias desde que ela foi tirada de mim. —Por que diabos você fez isso? —Eu rosnei em seu rosto. Ele não vacilou, mas a maneira como seus olhos dispararam para o lado traiu seu medo e dor. Eu sabia que meu olhar prometia violência e vingança. Minha voz tremia com isso. Quando ele não respondeu, eu o soquei novamente, perdendo rapidamente minha paciência. —Responda! Havia um corte perto de seu olho, e ele estremeceu quando meu soco acertou sobre nele. Parecia que Nikolay já tinha dado um trato nele. Olhei para minha mão e vi seu sangue. Eu não estava usando minhas luvas e, naquele momento, não queria. Eu queria ver o sangue dele em minhas mãos, sabendo que ele estava sofrendo e pagando o preço. Ao pensar em Ayla, dei outro soco furioso no rosto dele. Senti minha mandíbula apertar e ouvi meus dentes rangerem. Se eu pudesse, eu o enforcaria com seus intestinos, pelo que ele havia feito. 376

Artur tossiu e engasgou, cuspindo o sangue que se acumulava em sua boca. Ele olhou para mim com os olhos inchados. —Você matou meu pai. Oh, eu sabia que isso estava por vir. Só havia um motivo para ele me trair. O pai dele traiu meu pai, e quando eu assumi o cargo de chefe, eu o matei. Sem nenhum remorso ou mesmo um pingo de culpa. Eu o deixei no chão frio, sangrando até a morte. Quando voltei à noite, seu corpo já havia sido enterrado. Artur fora expulso de casa. Ele tinha dezessete anos. Quando o encontrei alguns dias depois, ele estava morrendo de fome. Sem casa. E sozinho. Eu o trouxe de volta para minha casa. Nós éramos amigos, irmãos, não do mesmo sangue, mas ainda irmãos. Eu nunca pensei que chegaria a isso. Mas todo esse tempo eu estava sendo traído. Por dez anos, ele me traiu. Balançando a cabeça, eu me afastei. Com as mãos atrás das costas, olhei fixamente para Artur. Ele finalmente se encolheu sob o peso do meu olhar assassino. Senti o canto dos meus lábios se erguerem em um sorriso satisfatório. —Você era o traidor esse tempo todo? —Viktor rosnou atrás de mim. Artur olhou para ele e depois riu. Ele parou e choramingou de dor antes de responder. —Sim. Todo esse tempo... Fui eu... Mas... Você estava muito... Cego... Para ver isso. O rosto de Nikolay se enfureceu, e ele avançou, socando Artur no estômago. Ele se dobrou de agonia e chiou pelo nariz quebrado. 377

—Porra. —Ele murmurou baixinho. Esfregando o rosto em frustração, respirei fundo. Eu não podia matá-lo. Agora não. Não até eu encontrar Ayla. E sabia que ele não iria me dizer facilmente. Meus dedos coçaram com a necessidade de matá-lo. Mas, por enquanto, eu o machucaria até que ele sentisse o peso da dor que causou ao meu anjo. —Por que Ayla? Seu ódio era em relação a nós... Não a ela. —Perguntou Viktor, ficando ao meu lado. Artur balançou a cabeça. —Você está certo. Meu ódio era por vocês. —Ele parou e ofegou. Puxando uma respiração profunda, ele continuou em um tom baixo e doloroso. —Eu nem sabia quem ela era até o dia em que fomos à praia. Alberto pode ter confiado em mim, mas ele era inteligente. Nunca me permitiram entrar na casa dele. Apenas nos clubes dele. Mas naquele dia, ele me chamou para sua casa. Vi a foto de Ayla lá. Eu juntei dois e dois, e cheguei à conclusão. Ela era uma Abandonato. —Isso não explica por que você a entregou. —Viktor retrucou. Quando o vi avançando com raiva, agarrei seu braço, parando-o. Artur continuou falando. —Alberto a queria de volta, e eu queria fazer você pagar. Foi fácil. Dois coelhos com uma cajadada só. A melhor maneira de derrubar você era atingindo-o em sua fraqueza. E ela era sua única fraqueza. Fiquei em silêncio, me forçando a manter minha raiva em controle. Se eu me movesse, o mataria. —Durante anos esperei, planejei. Procurei sua fraqueza. Você era um filho da puta forte. Seu lema era matar ou ser morto. E então Ayla entrou em sua vida. Foi quase fácil demais. —Disse Artur, com 378

a respiração ofegante. Eu vi seu lábio se erguer em um pequeno sorriso enquanto ele soltava uma pequena risada seca. —Você cometeu apenas dois erros. O primeiro foi confiar em mim. Ele respirou fundo antes de dar o golpe final. —O segundo foi se apaixonar por Ayla. Então, veja bem, no final... Foi sua... Culpa. Você a deixou... Se tornar sua fraqueza. Viktor avançou e golpeou Artur com três socos furiosos. — Seu filho da puta! —Ele rugiu. Ele tomou impulso para outro soco, mas Nikolay foi mais rápido. Fechei os olhos, respirando fundo. Quando ouvi a voz de Nikolay, meus olhos se abriram. —Alberto sabia que eu não estava traindo o chefe? —Ele sussurrou nos ouvidos de Artur. Artur riu em meio a sua dor. —Porra... Sim... Ele sabia de tudo. Era o nosso plano. Nós fazíamos você pensar que ele acreditava em você, enquanto eu estava por trás, dando a ele as informações corretas. Como você acha que ele sempre soube seus movimentos quando Nikolay estava lhe fornecendo informações falsas? —Então foi tudo em vão? —Viktor rosnou, afastando-se frustrado. Artur assentiu. —Era óbvio. Nikolay era... muito... leal. Mesmo quando ele estava... perto da... morte... Ele nunca disse... nada. Ele fez uma pausa, puxando desesperadamente o ar para seus pulmões comprimidos. —Ele... Sabia que você... nunca trairia Alessio. —Olhando de volta para Nikolay, ele sorriu por entre os 379

lábios feridos. —Você é... como... um... fodido cachorro leal. Os olhos de Nikolay brilhavam ferozmente de fúria. —Seu merdinha. —Ele xingou. —Não importa mais. —Eu finalmente falei. —Onde está Ayla? Nada importava. Por que Artur me traiu ou como... Somente Ayla importava. Eu odiava que dependesse de Artur para encontrála, mas não havia outro jeito. Ele levantou uma sobrancelha para mim. —Você... realmente... pensou... que isso seria... tão fácil? Desta vez, um sorriso apareceu em meus lábios. De forma alguma foi um sorriso gentil. Não, ele prometia apenas dor. —Não, eu não achei que seria fácil. —Dei de ombros, inclinando-me para frente até que nossos rostos estivessem a meros centímetros de distância. —Não vai ser fácil para você. De modo nenhum. Endireitei-me e acenei para Nikolay. Ele empurrou um pano branco na boca de Artur e deu um passo para trás, olhando para o seu trabalho. Viktor foi até a mesa dos fundos e voltou com seu equipamento favorito. Clippers. Eles geralmente cortam os dedos com precisão e sem muito esforço. Nikolay também voltou com uma faca em espiral. Minha favorita. Ele me entregou enquanto eu assistia Viktor começar a trabalhar. Começou devagar. Alguns socos, sufocando Artur, e quando ele ainda não falou, Viktor foi até as unhas. 380

Isso doeu para o filho da puta. Os gritos de Artur foram abafados pelo pano, mas pela maneira como seu corpo tremia, era óbvio que ele estava com uma dor terrível. Ele não havia perdido nenhum dedo ainda. Apenas três unhas. Eu levantei minha mão e Viktor parou imediatamente. Nikolay arrancou o pano da boca de Artur, e ele gritou enquanto a dor percorria seus dedos e seu corpo. Sua mão estava presa ao apoio de braço, e eu vi o jeito que seus dedos tremiam. Eles estavam cobertos de sangue, e eu ri com a visão. —Você quer falar agora? —Eu perguntei, olhando sua bagunça sangrenta. —Foda-se... você... —Ele ofegou. —Não? Você não quer? —Eu zombei. —Está bem, então. Aproveite. Viktor segurou o clipper sobre o dedo indicador de Artur, logo abaixo da primeira articulação. Ele esperou. Esperar era uma forma de tortura mental. A melhor maneira de destruir alguém. Esperar os deixava tensos, mais alarmados, e seu medo não teria limites. Contei os segundos na minha cabeça. Um. Dois. Três. Quatro. Cinco. Artur gritou. Ele berrou tão alto que meus ouvidos doeram. Sua dor era música para os meus ouvidos, e me sentei na cadeira atrás de mim. —Isso não passou de um dedo. —Viktor murmurou 381

enquanto olhava para o pedaço ensanguentado no chão. —Certifique-se de que ele não sangre até a morte. —Eu disse. —Ainda não tínhamos terminado com ele. Não até termos nossas respostas e Ayla a salvo em nosso quarto. Alguns minutos se passaram, outro dedo perdido. Um em cada mão. Esperei para ver se ele falava, mas Artur ficou teimosamente quieto. Balançando a cabeça para reprimir meu rosnado frustrado, levantei-me e Viktor saiu do caminho. Inclinando-me para frente, agarrei o queixo de Artur. —Se você falar, isso vai ser fácil para você. —Eu avisei. —Eu... conheço... você... —Ele ofegou. —Não importa... se eu falar... ou não... Não vou... conseguir... sair vivo... de qualquer maneira. Inclinei minha cabeça para o lado, olhando-o com curiosidade. —Inteligente. Você está certo. Não conseguirá sair vivo de qualquer maneira. Mas tornarei sua morte mais rápida se você falar. Outra mentira e ele sabia disso. Quando ele não falou, suspirei brevemente. Tomando meu tempo, passei pela cadeira dele, dando-lhe algum tempo para recuperar o fôlego. Eu parei na frente dele novamente. Ele estava olhando para seus pés, seus lábios inchados em uma linha firme e teimosa. Arrastei levemente a faca em espiral em sua bochecha, não o suficiente para cortar sua pele. Mas o suficiente para que ele soubesse o que estava prestes a acontecer em seguida. 382

Quando a faca atingiu sua outra bochecha, eu a pressionei com mais força, e o sangue escorreu pela pele já machucada. Ele estremeceu, mas ficou quieto, mordendo o lábio para conter o grito. Eu sabia que a faca espiral ardia onde cortava e Artur provavelmente estava em agonia. Eu arrastei a faca para o pescoço dele, deixando um rastro de sangue. A pele ficou vermelha e eu me afastei. Sua respiração era ofegante e áspera. Cada respiração parecia difícil de inspirar e expirar. Movi a faca para suas coxas, fazendo cortes finos pelo caminho. Os cortes não eram muito profundos, apenas o suficiente para causar uma dor que seria insuportável depois de alguns minutos. —Você está pronto para falar agora? —Eu perguntei depois que seus gritos se acalmaram. Ele assobiou e olhou para mim. Balancei minha cabeça. Nikolay andava de um lado para o outro enquanto Viktor voltava ao trabalho. Mais duas unhas e dois dedos. E então eu fiz cortes sobre o corpo dele. Às vezes saíamos da sala, deixando Artur sozinho para respirar através de sua dor. E então voltávamos. Continuou assim... por horas. Até que comecei a me sentir impotente e completamente sem esperança. Quando entramos na sala novamente, a cabeça de Artur estava baixa. Já era de manhã. Por uma hora, eu tinha ficado do lado de fora do quarto de Maddie, debatendo-me se eu deveria entrar ou não. 383

Mas a culpa pesava muito no meu coração. Em vez disso, fiquei do lado de fora. Então, eu estava na sala de piano, desejando que Ayla estivesse lá. Outra pontada de culpa. Outra onda de dor. Depois de uma hora chafurdando em autopiedade, fui embora e segui para o porão. A fúria estava de volta com força total. O ar cheirava a sangue. Parecia pesar com morte e incerteza. Eu olhei para Artur, esperando uma reação dele. Quando eu comecei a me aproximar dele, ele lentamente levantou a cabeça. Seu rosto estava quase irreconhecível. Inchado, vermelho, uma mistura de verde e roxo. Vários cortes. Alguns profundos, outros nem tanto. Ele olhou para mim com os olhos inchados, e eu vi sua mandíbula trabalhar. Ele abriu a boca, mas nenhuma palavra saiu. Ele tentou novamente, mas parecia um barulho borbulhante. Artur tentou pigarrear e tossiu algumas vezes antes de respirar fundo. Eu vi sua garganta se movendo enquanto ele engolia e tentava novamente. —Ela... Meus olhos se arregalaram e dei um passo à frente. —Onde ela está? —Eu exigi, meu coração acelerando e batendo tão selvagemente quanto um pássaro enjaulado. —Ela... está... —Ele engasgou antes de continuar devagar. — Está... em... minha casa. —Sua casa? —Viktor rosnou. Artur assentiu lentamente. —É... onde... Alberto... está se escondendo... Minha casa... ele usa... como... esconderijo. 384

Passei os dedos pelos meus cabelos e girei, socando a parede. Todo esse tempo. Ela estava bem embaixo do nosso fodido nariz. —Saiam daqui. —Pedi a Viktor e Nikolay. —Pelo seu bem, eu realmente espero que ela esteja lá. — Disse a Artur. Ele olhou para mim inexpressivamente, mas vi algo em seus olhos. Quase parecia arrependimento. —Ela... está... lá. —Por que você está nos dizendo isso agora? Por que esperar até que você esteja meio morto? —Nikolay questionou. Eu me perguntava a mesma coisa. Artur não respondeu. Ele olhou para baixo e vi seus lábios se moverem. Nenhum som foi emitido, mas seus lábios me disseram o que eu precisava saber. Maddie. Respirando fundo, acenei com a cabeça em direção aos meus homens. Eles saíram e, com um olhar final para Artur, eu saí também. Nós nos encontramos com Phoenix no corredor. Ele olhou para a porta fechada, seus olhos assassinos. —Ele está vivo? —Ele está. Não o mate ainda. —Eu pedi. —Apenas para garantir que ele não estivesse mentindo. Quando Ayla fosse encontrada, sua morte estaria assinada. Dei um passo à frente, mas parei. —Como está Maddie? Phoenix soltou um gemido de dor, com o rosto contorcido. —Sam extraiu as balas. Ela... está bem. Respirando fundo, ele olhou para a parede, seus olhos cheios de dor. —Mas... mas o bebê não conseguiu. 385

Mesmo sabendo que o bebê não iria sobreviver, ouvir as palavras ainda foi um golpe no meu peito. Olhei para baixo, desejando que isso não fosse real. Eu queria despedaçar Artur, pedaço por pedaço. —Era seu? —Eu perguntei baixinho. Eles pensaram que não era óbvio. Mas era. Durante anos, mesmo depois do que aconteceu entre eles, eles ainda se importavam. Talvez ainda se amassem. Phoenix apertou os punhos e eu olhei para cima novamente. Fechando os olhos com força, ele balançou a cabeça. —Não. —Ele engasgou. —Não... Maddie... ela nunca... —Ele fez uma pausa, respirando fundo. —Maddie nunca o traiu. Ela nunca faria isso. O bebê era de Artur. Com o coração pesado, assenti para Phoenix. — Encontramos o paradeiro de Ayla. Ele olhou para a porta. —Eu não posso deixar Maddie. —Eu nunca pediria para você deixar Maddie. Nós iremos. Ele me enviou um olhar agradecido, e eu fui embora. Subindo as escadas, parei na sala quando vi Nina entrando na propriedade. Ela correu até nós. —Nikolay ligou. —O que você está fazendo aqui? —Eu perguntei, limpando minhas mãos com a toalha que Viktor me entregou. —Ele me disse que Artur é o traidor. Aquele merda. —Ela rosnou, seus olhos brilhando fogo. —Ele nos disse onde Ayla está. —Viktor murmurou. Os olhos de Nina se arregalaram. —Ele disse? Onde ela está? —Na casa de Artur. —Respondeu Viktor. Não havia emoção 386

em sua voz. Nenhuma luz. Nenhuma raiva. Nada. Eu me sentia da mesma forma. —Estou indo. —Ela anunciou. —Sério? Vestindo isso? —Viktor respondeu, apontando para a roupa de Nina. Ela olhou para si mesma. —Esses saltos são saltos assassinos. Eles podem ser úteis. Quem sabe? —Você será um empecilho. —Argumentou Nikolay. —Não temos tempo para salvar sua pele. Nina inclinou a cabeça para o lado. —Sério? Aconteceu rápido. Mas antes de percebermos, Viktor estava no chão com as pernas de Nina em volta do pescoço. —Que porra foi essa? Eu não disse nada. —Viktor reclamou. —Ainda acha que sou um empecilho? —Ela retrucou, sua voz atada de veneno. Ela se levantou e olhou para mim. —Outro corpo para proteger Ayla. —Acrescentou ela, levantando uma sobrancelha para mim. Ela sabia que eu não podia recusar isso. —Eu acho que você precisará de uma mulher com você quando a encontrar. Viktor levantou-se e olhou para as costas de Nina. —Puta. — Ele murmurou. Olhando para Nina, eu vi sua determinação e, finalmente, concordei. Quanto mais corpos para proteger Ayla, melhor. E Nina estava longe de ser um empecilho. Ela era mais um trunfo. Uma assassina que poderia facilmente matar qualquer um. Saí, seguido por Nikolay, Viktor e Nina. Alguns dos meus homens já estavam esperando ao lado dos carros. Entrei sem dizer 387

uma palavra enquanto Viktor sentava-se no banco do motorista. O caminho para a casa de Artur foi tenso. Quando o carro parou, eu rapidamente sai. Desta vez, Nikolay e Viktor assumiram a liderança, enquanto Nina e eu ficamos na retaguarda. Nikolay abriu a porta e nós entramos em poucos segundos. Assim que entramos, armas dispararam e balas voaram. O filho da puta! Ele estava esperando e não estava sozinho. Seus homens cercaram a casa, e eu rapidamente me abaixei, evitando uma bala que poderia ter perfurado minha cabeça. Rosnei de frustração e atirei no homem na minha frente, minha bala atravessando seu coração. Não tinha tempo para brincadeira de criança. Ao me virar, atirei em qualquer homem que entrasse no meu caminho. Balas nas pernas, algumas no pescoço e algumas na cabeça. Em meio a tudo isso, Alberto não estava em lugar algum. Um covarde. Claro, ele não estava em lugar nenhum para ser encontrado. Quando a maioria de seus homens estava no chão, acenei para Viktor e Nikolay. Eles procuraram pela casa enquanto eu continuava atirando no resto dos homens, Nina ao meu lado fazendo o mesmo. Ela foi implacável em seus ataques. Suas balas perfuraram os corpos com uma ferocidade surpreendente. Eu vi um homem parado na minha frente, apontando a arma para o meu peito. Apertei meu gatilho, mas nada aconteceu. Um tiro ecoou através da parede. Eu esperava uma dor 388

ardente no peito, mas quando vi o homem cair morto, olhei para Nina ao meu lado. Ela esfregou sua arma na calça de couro e me deu uma piscadela. —De nada. Viktor desceu as escadas correndo, sua expressão frenética. —Ayla não está lá. Nikolay veio ficar ao meu lado. —Eu procurei no primeiro andar. Ela também não está lá. —O quê? —Eu berrei, meu corpo tremendo com pânico, medo e, por último, raiva. —Procurem por todo lado! Ela tem que estar aqui! Olhei loucamente pela sala, passando da cozinha para a sala de jantar. Então os quartos no andar de cima. Eu procurei em todos os cantos da casa. Quando não a encontrei, procurei novamente. Freneticamente. Desesperadamente. Eu procurei de novo e novamente. Ela tinha que estar aqui. Meu anjo não estava em lugar nenhum. Novamente. Eu estava parado no meio da sala, minha cabeça latejando, meu peito doendo. Ela não estava aqui, mas eu a sentia. Era um sentimento inexplicável, assim que entrei na casa, meu coração acelerou. Quase como se soubesse que Ayla estava aqui. Eu a sentia. Minha pele formigou com uma sensação estranha e fechei os olhos. Não, ela não estava aqui. Nós procuramos em todos os lugares, mas ela não estava aqui. Meu coração estava pesado no meu peito comprimido, meus pulmões doendo enquanto eu respirava através da agonia de falhar 389

mais uma vez. Ayla. Ayla. Onde você está? Eu ouvi um grito. —Chefe! —Alessio! Meus olhos se abriram e eu olhei para um homem apontando uma arma para mim. Eu não tive a chance de levantar minha arma ou mesmo sair do caminho. Tentei me abaixar, caindo no chão, e então o tiro ecoou nos meus ouvidos. Alguns segundos depois, senti uma dor lancinante percorrer minha perna direita. —Porra! —Eu berrei. Ouvi um grito e depois um grito de dor atrás de mim. Olhei para a minha perna e vi sangrar por onde a bala havia passado. Ainda no chão, me virei para ver Nina puxando seu salto do peito do homem. —Porra! São saltos de Louboutin. Agora está coberto de seu sangue sujo. Ela olhou de volta para nós. —Você está bem, Alessio? —Apenas de raspão. —Eu murmurei de volta. Era mentira. A bala passou pela minha perna e agora estava alojada dentro. Nina nos notou olhando, e olhou de volta para os saltos ensanguentados. —O quê? Eu te disse que isso era útil. Eu estava sem balas. —Então você apenas acerta seus saltos em um homem, esperando que isso o mate? —Nikolay perguntou quando me levantei, ignorando a queimação na minha perna. —Praticamente. —Ela respondeu, tirando o outro salto e 390

levantando-se descalça. —O que nós fazemos? —Viktor me perguntou, sua expressão desolada. Eu ignorei sua pergunta, meus olhos vagando pela casa uma última vez. Nós procuramos em todos os lugares. Será que Artur mentiu? Ou talvez Alberto já tivesse levado Ayla? Eu nunca quis tanto matar alguém em toda a minha vida como queria no momento. Eu soltei uma risada áspera e insana. Era vazia, sem qualquer emoção. Eu ia perder a cabeça se não encontrasse Ayla logo. Dei um passo, mancando, mas meus pés torceram no tapete e quase caí. Eu me endireitei rapidamente e olhei para a merda do tapete, querendo rasgá-lo com minhas próprias mãos. Mas outra coisa chamou minha atenção, e todo pensamento de rasgar o tapete se foi. O tapete estava enrolado em volta dos meus pés e embaixo havia uma porta de madeira. Minhas sobrancelhas franziram em confusão, e empurrei o tapete completamente. Eu ouvi Nina ofegar. O tapete não estava lá para decoração. Estava lá para cobrir alguma coisa – para esconder uma fodida porta no chão. Viktor praguejou baixinho, olhando para a porta fechada. —Não há porão. Nós verificamos. —Nikolay acrescentou, os olhos arregalados. —Que porra é essa porta então? —Eu rosnei. Sem esperar por uma resposta, me abaixei e abri a trava pesada. Quando ela se soltou, abri a porta e ela bateu no chão com um estrondo alto. 391

—Escadas. —Nina murmurou. —Que diabos? Isso leva a um porão. Eu não disse nada. Não poderia mesmo se tentasse. Minha língua estava pesada, meu corpo entorpecido. Ela estava lá dentro. Eu sabia. Eu sentia. Nikolay parou na minha frente e ligou o telefone, acendendo a lanterna. Eu dei o primeiro passo, meu coração disparado, batendo forte. Descemos as escadas no escuro, apenas os telefones de Nikolay e Viktor usados como lanternas. Assim que chegamos ao patamar, Nina pressionou a mão contra a parede, procurando um interruptor de luz. Alguns segundos depois, o porão estava iluminado. O porão estava inacabado. Sem parede ou azulejos. Parecia mais uma masmorra do caralho. Minhas pernas tremiam quando dei um passo adiante. Mais um passo. Mais alguns e eu parei. Um cheiro horrível alcançou minhas narinas e eu estremeci. O cheiro era péssimo. Era quase impossível respirar. Cheirava a dias de urina e vômito. Ayla. Meu anjo estava aqui? Neste lugar? Meu coração se apertou dolorosamente, e eu dei um passo adiante com as pernas trêmulas. Quanto mais adentrávamos, pior ficava o cheiro. Eu ouvi Nina engulhar atrás de mim. —Acho que vou vomitar. —Ela ofegou. —Porra, o que é isso? —Viktor rosnou. Eu não estava morrendo. Eu estava muito vivo, mas naquele 392

momento, realmente parecia que estava morrendo. O pensamento de Ayla estar em um lugar como esse era quase insuportável. Quando finalmente cheguei ao outro lado do porão, parei repentinamente, meu estômago revirando dolorosamente. —Não. —Eu choraminguei, meus olhos se arregalando com a visão na minha frente. Quando os ouvi praguejar atrás de mim, eu sabia que eles estavam vendo o mesmo que eu. Ela estava afastada de nós, de frente para a parede. Não vi o rosto dela, mas sabia que era ela. Eu senti isso no meu coração. Ela estava lá. Minha Ayla. Ela estava bem na minha frente. Estava deitada no chão frio e duro, empurrada contra a parede. Havia correntes ao redor dos tornozelos e pulsos. E ela mal estava coberta, seu vestido branco estava rasgado até nada cobrir seu corpo. —Não. Não. Não! —Eu corri para frente, ignorando a dor ardente na minha perna. Caindo ao lado dela, eu estava com muito medo de tocar seu corpo. Ayla parecia tão frágil. Tão pequena. Tão arruinada. Ela tinha perdido peso, alguns de seus ossos praticamente aparecendo. Estendi a mão e empurrei gentilmente os cabelos oleosos do rosto. Seu rosto estava coberto de sujeira e parecia um pouco machucado. —Ayla? —Eu sussurrei, tocando levemente sua bochecha. Tão fria. Ela estava muito fria, gelada. Meu coração disparou e eu olhei freneticamente para trás de mim. Seus rostos eram máscaras de horror. —Ela está fria. Ela está 393

muito fria. —Repeti. Olhei para Ayla, minha mente e coração ficando loucos. A agonia percorreu meu corpo. Doeu. Tudo doía. Não era a minha perna, mas sim o meu coração que mais doía. Minha Ayla. Meu doce anjo. Ela ficou parada, quieta. Muito quieta. Eu senti meu coração partir. Quando a perdi, pensei que tinha doído. Mas agora... Agora eu sabia como era a dor de verdade. E meu anjo passou por pior que isso. —Anjo. —Eu sussurrei, inclinando-me ao lado de sua orelha. —Sou eu. Alessio. Estou aqui agora. Um pequeno grito gutural escapou dos meus lábios quando ela não respondeu. Eu estava desesperado para ver seus lindos olhos verdes. Ouvir sua doce voz. Eu precisava dela. E eu sabia que ela precisava de mim tanto quanto, se não mais. Eu não pude protegê-la. Falhei com ela, e o pensamento parecia uma bala no meu coração. Fui descuidado, e ela teve que pagar o preço. Meus olhos arderam com lágrimas não derramadas, e eu lentamente me inclinei para frente. Tão gentilmente quanto pude, passei meus braços embaixo de Ayla. Peguei meu anjo nos braços e a puxei para junto do meu peito. Seu cabelo estava emaranhado de vômito e outras coisas que eu nem queria pensar. 394

Balancei para frente e para trás, segurando-a comigo, implorando que ela abrisse os olhos. Eu gentilmente pressionei meus braços sobre seu corpo, procurando outros ferimentos. Minha visão ficou turva quando tudo me veio ao mesmo tempo. Toda a sua dor e sofrimento. Seu rosto estava virado para o meu peito, e eu dei um beijo em seu nariz. — Anjo. —Eu choraminguei. Meus olhos seguiram minhas mãos. Oh, porra, não. Porra, não! Não! Meu coração descompassou dolorosamente. Eu me forcei a respirar. Eu tremia enquanto meus olhos absorviam o que eu estava vendo. Meu estômago apertou e eu segurei Ayla mais forte contra meu peito. Isso não poderia estar acontecendo. Não com meu anjo. Meus olhos ficaram fixos em seu corpo, sua barriga. —Não. —Eu choraminguei, balançando a cabeça loucamente. Meus olhos foram para o rosto dela novamente. Ela ainda estava inconsciente. Meu anjo. Meu lindo anjo. Meus olhos foram para a barriga dela novamente. Sua barriga redonda e protuberante. Desta vez, soltei um rugido enfurecido que ecoou pelas paredes de pedra.

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02-The Mafia And His Angel- Série Tainted Hearts#2-Lylah James

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