Monica McCarty - Highland Guard 08 - O Invasor (rev) R&A

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Argumento

De todos os guerreiros de elite de Bruce, Robert "Raider" Boyd é o mais formidável. Um verdadeiro patriota cujas mãos nuas são uma arma mortal, Robbie é o executor mais feroz da Guarda. Seu ódio pelos ingleses foi aperfeiçoado por uma navalha de lâmina afiada. Mas a vingança se prova agridoce quando a bela irmã de seu inimigo cai em suas mãos, e ele se vê lutando contra a tentação; uma batalha que quer muito perder. Lady Rosalin Clifford mal reconhece o prisioneiro rebelde que salvou da execução seis anos antes. Embora seus ideais de justiça de menina tenham maturado para uma paixão pela justiça, Rosalin acredita que traiu seu irmão quando ajudou este homem perigoso a fugir. Agora, seu ato de traição está de volta para assombrá-la. Mas ela não pode negar o desejo que este guerreiro atormentado inflama dentro dela, ou negar a paixão que transforma inimigos jurados em amantes. Mas será o amor suave de uma verdadeira Rosa Inglesa suficiente para libertar o guerreiro mais brutal da Escócia de sua obsessão pela vingança, antes que seja tarde demais?

Seus olhos se encontraram. Algo se passou entre eles. Algo que parou sua respiração, parou seu coração, e fez o chão tremer sob seus pés. Ele estava quente, duro, se equilibrando na beira de um precipício, lutando para se segurar. Lutando para não tocá-la. Mas esta era uma batalha que ele não podia ganhar. Seu coração batia forte, seus músculos tremiam. O peso do inevitável o esmagava, uma carga muito pesada até mesmo para ele aguentar. Ele a queria tão intensamente que podia sentir o gosto dela em sua boca. Seus olhos caíram sob sua boca. Seus lábios se separaram. Ela se inclinou mais perto. O convite foi sutil demais para resistir; a batalha estava perdida. Sua boca caiu sobre a dela com um gemido profundo. Por um momento, foi como a primeira vez que ele a beijara. Sentiu a mesma onda inesperada de choque com o quão deliciosa ela era. Como os seus lábios eram macios. Como o tremor inocente de sua boca sob a sua o fez feliz em saber que seria o único a ensiná-la sobre a paixão. Mas agora foi diferente, porque desta vez ele não se afastou. Desta vez, não lutou contra o impulso para aprofundar o beijo. Desta vez, ele deslizou o braço em volta de sua cintura, arrastou-a contra ele, e deixou-se afundar na suavidade doce de sua boca para saboreá-la totalmente. Desta vez, ele pegou o tremor de seus lábios com o seu e mostrou-lhe como abrir-se para ele, como tirar a língua em sua boca e deixá-lo acariciá-la com a sua. Sim, ele acariciou-lhe. Com longos e lentos beijos, explorando sua boca com a sua. O primeiro movimento de sua língua contra a dele o fez gemer. Seus joelhos quase dobraram. Foi incrível. Corpos amolecidos. Sangue quente. Surpreendente...

Prefácio O ano de nosso senhor mil trezentos e doze. Desde que Robert Bruce fez sua primeira tentativa a coroa seis anos atrás, ele não só derrotou os ingleses, mas também os poderosos nobres escoceses que permaneceram contra ele. Depois de um indulto muito necessário de guerra para Bruce e seus homens, no último verão de 1310 os ingleses marcharam ao norte para invadir a Escócia, desta vez sob a liderança de Edward II. Mas Edward II não era nada como seu pai o “Martelo Escocês”, e a campanha inglesa foi um desastre. Bruce se recusou a entrar no campo na batalha. Em vez disso, com ajuda dos guerreiros de elite da legendária Guarda Highland, Bruce travou uma “guerra secreta”, usando as táticas de pirata que ele tinha aperfeiçoado, saqueando os ingleses com ataques surpresas e escaramuças, e causando estragos na moral dos soldados. Depois de tentar sem sucesso perseguir Bruce, Edward e seu exército se retiraram com as tropas inglesas para esperar o inverno em Berwick-UponTweed antes de marchar até os rebeldes novamente. Mas a segunda campanha do rei inglês foi adiada quando no verão de 1311, depois de dez meses nas fronteiras da Escócia, problemas com seus barões exigiram que retornasse a Londres. Bruce aproveitou-se imediatamente da retirada de Edward e partiu para a ofensiva, pela primeira vez tendo sua guerra no fundo da zona rural inglesa. Como os vikings antes deles, os ferozes guerreiros escoceses espalharam terror no coração do inimigo. Os nomes de seus líderes entraram na história. Homens como Thomas Randolph, James “O Negro” Douglas, Edward Bruce, e Robbie Boyd ganharão fama e fortuna, começando a campanha feroz que acabará por trazer o fim da guerra.

Morto? Rosalin quase se engasgou com um pedaço de carne. — Você está bem? — seu irmão perguntou, inclinando-se para dar um tapinha em suas costas. Depois de um acesso de tosse, ela bebeu um gole do vinho adocicado e assentiu. — Estou bem. — Ao ver sua preocupação, ela fingiu um sorriso. — De verdade. Sinto muito pela interrupção. Você dizia alguma coisa sobre os prisioneiros? Sua tentativa de indiferença não conseguiu enganá-lo. Ele franziu a testa. Estava falando em voz baixa com o guardião dela, Sir Humphrey, do outro lado dele, e a conversa, obviamente, não era destinada aos ouvidos dela. Ela piscou para ele inocentemente, mas Robert, o primeiro barão de Clifford, não se tornara um dos comandantes mais importantes na guerra contra os rebeldes escoceses por causa de sua posição e rosto bonito – embora ele, certamente, possuísse ambos. Pelo contrário, ele contava com a alta estima do Rei Edward porque ele era inteligente, leal e determinado. Ele também era um dos maiores cavaleiros da Inglaterra e ela se orgulhava muitíssimo dele. Mesmo quando era bastante perceptivo. Como agora. — Apenas um acidente infeliz. Parte do muro desabou quando os prisioneiros estavam-no derrubando. Dois rebeldes foram esmagados pelas pedras e acabaram mortos. O coração dela veio em sua garganta e um pequeno gemido de angústia escapou antes que ela pudesse segurá-lo. Oh Deus, por favor, permita que não seja ele. Consciente do olhar atento de seu irmão, ela tentou encobrir sua preocupada reação como uma donzela, — Que horror!

Mas ela estava angustiada. Profundamente angustiada. Ainda que ela certamente não pudesse dizer ao seu irmão qual o motivo. Se ele soubesse de seu fascínio por um dos prisioneiros rebeldes, a mandaria de volta para Londres no primeiro navio, como ameaçara fazer desde quando chegara inesperadamente há uma semana, com seu novo guardião, Sir Humphrey de Bohun, Conde de Hereford. — Pelo amor de Cristo, Rosalin! Este é o último lugar no mundo adequado para uma senhorita. Mas a oportunidade de ver Cliff tinha sido muito tentadora para resistir. Com ela em Londres e seu irmão lutando contra os rebeldes escoceses no norte, passaram quase dois anos desde que ela o vira, e sentia sua falta desesperadamente. Ele, Maud (a esposa de Cliff de dezoito anos de idade), e as crianças eram toda a família que lhe restava, e se tivesse que se aventurar até o inferno para vê-los, ela o faria. Maud faria a viagem com Rosalin e com o grupo do Conde, mas ela tinha acabado de descobrir que estava novamente grávida. — Antes de tudo, eu não entendo o porquê do muro está sendo derrubado, — disse Rosalin. — Eu pensei que nós tínhamos vencido a guerra? Sua distração funcionou. Não tinha nada que Cliff amasse mais do que falar sobre a grande vitória da Inglaterra. A oferta de Robert Bruce para a coroa tinha falhado. O rei usurpador fora forçado a fugir para a Escócia, e os ingleses estavam, agora, ocupando a maioria dos castelos mais importantes da Escócia, incluindo este, antigo reduto do escocês Conde de Mar. — Nós vencemos. A curta rebelião de Robert Bruce está no fim. Ele pode ter escapado da corda preparada para ele no Castelo de Dunaverty, mas ele não irá encontrar refúgio nas Ilhas Ocidentais por muito tempo. Nossa frota vai encontrá-lo. —Ele deu de ombros. — Ainda que não o encontremos, ele tem apenas um punhado de homens sob seu comando. Ela baixou sua voz quase que como um sussurro. — Mas eles não são Highlands?

Seu irmão riu e beliscou seu nariz. Embora estivesse com dezesseis anos – quase dezessete – e fosse muito velha para reprimendas, ela não se importava. Sabia o quão feliz ela era por ter um irmão que cuidasse dela tão profundamente. Nem todos os meninos de quatorze anos de idade, teriam se incomodado com uma irmã de quatro anos quando seus pais faleceram, mas Cliff sempre olhou por ela. Mesmo quando ambos ficaram sob a proteção do rei, ele sempre fez com que soubesse que ela não estava sozinha. Se por vezes ele agiu mais como um pai superprotetor do que um irmão, ela não se importou. Para ela, ele fora os dois ao mesmo tempo. — Eles não são bichos-papões, querida. Ou super-homens, não importa o que você tenha ouvido na corte. Eles podem lutar como bárbaros, mas quando eles encontram a lâmina de uma espada de um cavaleiro Inglês, o seu sangue escorre vermelho como qualquer outro. Como ela não deveria vigiar os prisioneiros se absteve de perguntar por que então eles eram mantidos tão fortemente vigiados. Seu irmão se virou para Sir Humphrey e Rosalin aproveitou a oportunidade, esperando que a longa refeição do meio-dia chegasse ao fim antes de correr até seu quarto, na Torre. Normalmente ela retardava a volta para seu quarto o máximo possível. Cliff havia permitido que ela ficasse na Escócia, em Kildrummy, somente sob a condição de que ela permanecesse em seu quarto, exceto durante as refeições e para ir à capela (ele não queria que houvesse qualquer chance dela entrar em contato com um deles) e o pequeno quarto começou a parecer uma prisão. Quando ela protestou que aquilo não era justo, que outras ladies do grupo de Sir Humphrey não ficavam confinadas, ele respondeu que as outras ladies não eram sua irmã de dezesseis anos de idade! Mas agora tudo o que podia pensar era na janela que dava para o pátio e na cortina da parede em forma de escudo. A mesma parede que havia desmoronado e matado os dois prisioneiros.

Seu coração disparou tão rápido quanto seus pés, enquanto ela subia sete – sete! – lances de escadas para o nível superior da torre de luxo. Os escoceses poderiam ser “rebeldes bastardos”, mas eles certamente sabiam como construir castelos e foi esta uma das razões pela qual o Rei Edward estava tão ansioso para destruir Kildrummy. O “Martelo dos Escoceses,” como o rei Edward era conhecido, para garantir que nenhum outro rebelde pudesse usar a formidável fortaleza como um refúgio no futuro. A brilhante luz solar encheu o quarto enquanto ela abria a pesada porta dos aposentos dos senhores e passava pela enorme cama de madeira, pelo baú meio desarrumado que acomodava seus pertences, e pela pequena mesa que sustentava um jarro e uma bacia para se lavar. Com seu coração na garganta, ela se ajoelhou no banco sob a janela, inclinou-se sobre o peitoril de pedra grossa, e olhou pela janela envidraçada para o pátio abaixo. Ela sabia que era errado, e que seu irmão ficaria furioso se descobrisse seu fascínio pelo prisioneiro rebelde, mas ela não podia evitar. Havia algo nele que se destacava. E não era apenas o seu porte formidável ou seu belo rosto, embora ela tivesse que admitir que fora o que a atraíra inicialmente. Não, ele era... amável. E nobre. Mesmo que ele fosse um rebelde. Quantas vezes ela o viu assumir a culpa (e, portanto, a punição) no lugar de um dos homens mais fracos? Ou assumir mais do que sua parte do pesado trabalho? Ele não poderia... Ela se recusou a terminar seu pensamento e examinou o pátio pavimentado e a área do muro entre a torre sudeste e a portaria recémconstruída onde os presos estavam trabalhando.

No meio da multidão perto da parede não havia mais do que um punhado de rebeldes, mas eles estavam sendo vigiados por, pelo menos, duas dezenas de homens de seu irmão. Levando-se em conta o estado dos prisioneiros, isso parecia um excesso de cautela. Talvez quando o castelo tivesse sido tomado, há mais de um mês, essa demonstração de força pudesse ter sido necessária, mas despojados de suas roupas de guerra em couro bruto e armas, depois de semanas na prisão com comida e água suficientes apenas para mantê-los vivos, e o fato de estarem trabalhando quase até à morte o dia todo, a áspera aparência dos prisioneiros parecia mal preparada para a formação de um motim. À exceção de um. Ela olhou, e olhou, e o pânico cresceu em seu peito. Onde ele estava? Teria sido ele um dos homens esmagados? Lágrimas quentes picaram seus olhos e ela disse a si mesma que estava sendo ridícula. Ele era um prisioneiro. Um escocês. Um dos rebeldes de Robert de Bruce. Mas ele também era... Seu coração bateu, e ela soltou um pequeno grito de alívio, quando o forte guerreiro saiu de trás da parede. Obrigada Deus! Ele estava bem. Mais do que bem, na verdade – ele estava espetacular. Ela suspirou com cada pedacinho de seu coração de quase dezessete anos de idade. As mulheres da corte brincavam com ela sem piedade sobre sua ingenuidade e inocência. “Você é tão criança, Rosie-lin,” elas diziam revirando os olhos, quando ela se atrevia a aventurar-se em suas conversas (o apelido soava muito melhor vindo de seu irmão do que delas).

Bem, ela certamente não estava se sentindo como uma criança agora. Pela primeira vez em sua vida, ela estava se sentindo como uma mulher totalmente encantada por um homem. E que homem! Ele era a matéria-prima das lendas e dos contos de fadas. Alto e de ombros largos, o cabelo longo escuro caindo como ondas emaranhadas em torno de um rosto brutalmente bonito, ele era um dos mais fortes, uma das mais imponentes aparências de guerreiros que ela já tinha visto. E como que para provar sua teoria, ele se abaixou para pegar uma pedra enorme. Sua respiração ficou presa e seu coração começou a bater disparado no seu peito. Apesar da frieza no quarto, sua pele se aquecia com seu rubor. A camisa de linho úmida esticada pelo esforço em seu peito largo, revelava cada elevação, cada protuberância, todos os músculos bem definidos estavam esticados por baixo – do que havia em abundância. Mesmo enfraquecido pela prisão, ele parecia forte o suficiente para rasgar uma guarnição de soldados com as próprias mãos. Ela corrigiu sua opinião anterior: talvez o grande número de soldados que os vigiava fosse prudente afinal de contas. Só quando ele desapareceu ao redor do outro lado do muro foi que ela se lembrou de respirar novamente. Alguns minutos depois, ele reapareceu e, então, iria começar tudo de novo. De vez em quando, ele trocava uma ou duas palavras com um dos prisioneiros, antes que um dos guardas acabasse com a conversa, geralmente com o barulho do chicote. Ele falava com mais frequência com um homem alto, loiro, embora ele não fosse amigável com ele como era com um terceiro homem de cabelos vermelhos. Ele também era alto, mas era aí que as semelhanças terminavam. Mais do que qualquer um dos outros prisioneiros, o homem ruivo demonstrava os efeitos do trabalho duro. Ele era magro e pálido, e todos os dias ele parecia estar mais encurvado.

O Escocês – era assim que ela chamava aquele guerreiro impressionante – fazia o que podia para ajudá-lo, quando os guardas não estavam olhando, ao carregar algumas de suas rochas ou tomando seu lugar na fila para empunhar o martelo. Ela até tinha visto o escocês passar para o outro homem suas preciosas e poucas conchas de água que eram autorizadas durante as breves pausas. Mas o homem estava enfraquecendo diante de seus olhos. Ela tinha que sair da janela. Ela tinha que parar. Ela não podia fazer isso. Ele a fazia sentir-se tão impotente. Ela sabia que eles eram rebeldes e mereciam ser punidos, mas aquele homem ia morrer. Não tinha importância, de qualquer maneira, porque provavelmente ele seria executado quando o trabalho estivesse concluído. Mas ninguém deveria sofrer assim. Ela pegou seu bordado, mas o colocou de lado poucos minutos depois e voltou a encarar a janela. Ela não conseguia desviar o olhar. Ela tinha que fazer alguma coisa. Mas o quê? Seu irmão tinha avisado para não interferir. A resposta veio até ela na manhã seguinte, depois da igreja. Quando ela estava deixando as orações da manhã, avistou uma serviçal que carregava uma tigela grande e alguns pedaços de pão na direção dos prisioneiros – uma quantidade irrisória para tantos homens. Era isso! Ela iria deixar-lhes comida extra. Levou alguns dias para elaborar um plano, mas eventualmente ela estava pronta para colocá-lo em ação. Esgueirar pedaços extras de carne bovina foi à parte fácil. Ela os envolveu no pano que mantinha em seu colo enquanto comia, e depois enfiou o pacote na bolsa em sua cintura antes dela sair. Entregar a comida aos presos, no entanto, era o desafio.

Ela os observou suficientemente bem para saber sua rotina. Todas as manhãs, os guardas os conduziam para fora por meio de um pequeno pátio entre a capela e o danificado Salão para o pátio principal. Eles eram alinhados e as instruções eram dadas antes de serem autorizados a recolher os carrinhos, que eram armazenados ao lado da padaria. Os carrinhos eram o que ela estava buscando. Naquela noite, quando o castelo estava quieto, ela vestiu um manto escuro e escapou da torre. Mantendo-se nas sombras, caminhou em torno do jardim, com cuidado para evitar quaisquer guardas que pudessem estar em patrulha. Estava incrivelmente tranquilo. Com as forças rebeldes esmagadas, havia pouca ameaça de um ataque. Ela rapidamente depositou seu pacote em um dos carrinhos e caminhou de volta para seu quarto. Na manhã seguinte, ela viu, de sua janela, quando um dos homens que voltava com o carrinho, foi imediatamente ao Escocês, passou-lhe o pacote clandestinamente. O Escocês olhou em volta, como se suspeitasse de um truque, mas quando um dos guardas gritou uma ordem para ele, possivelmente, para que voltasse ao trabalho – ela viu a torção leve de um sorriso. Aquele sorriso era todo o incentivo que precisava. Seus passeios noturnos continuaram por uma semana, e ela jurava que o homem de cabelo ruivo escuro ficava mais forte. Muitos dos homens pareciam caminhar um pouco melhor. Ela sabia que seu irmão ficaria furioso se descobrisse o que estava fazendo, e odiava a ideia de existir um segredo entre eles, mas disse a si mesma que era apenas um pequeno gesto e que não poderia fazer mal nenhum. Mas ela estava errada. Terrivelmente errada.

Rosalin bocejou enquanto uma das donzelas, que a acompanhava desde Londres, terminava de torcer as longas tranças sob o véu e a tiara. — Você parece cansada, milady, — disse a mulher mais velha, com uma expressão preocupada em seu olhar. — Você está se sentindo bem? Depois de oito noites mal dormidas o sono ia se aproximando dela, mas Rosalin conseguiu dar um sorriso. — Bem o suficiente, Lenore. Nada que algumas horas extras de sono não me cure. Eu receio que tenha ficado até tarde com meu irmão e o Conde. Um grito no pátio abaixo a fez parar o que estava prestes a dizer. — Eu me pergunto o que vem a ser tudo isso, — disse Lenore. Mas Rosalin já tinha pulado da cadeira e corrido para a janela. Seu coração parou, um grito estrangulado escapou por entre seus lábios antes que ela pudesse abafá-lo com a mão. O rebelde de cabelos vermelhos estava ajoelhado no chão, segurando o lado onde um dos soldados deve tê-lo atingido. O pano e pedaços de carne e pão que ela tinha contrabandeado para eles ontem à noite estavam espalhados no chão na frente dele. O soldado estava gritando com ele, usando os punhos e as costas da mão para pontuarem suas palavras. Não era difícil adivinhar o que ele estava pedindo. O homem ruivo balançou a cabeça e o soldado bateu nele de novo, desta vez com tanta força, que sua cabeça foi para trás e o sangue espalhou-se em torno dele, como uma bolha que tinha estourado. Ele caiu no chão. Ela gritou de horror e Lenore tentou afastá-la. — Vamos embora, milady. Essas bestas ordinárias não são adequadas para os seus olhos. Bandidos e bárbaros é isso o que eles são. Espero que seu irmão arraste e prenda cada um deles.

Rosalin mal ouviu suas palavras. Ela se sacudia, clamando novamente como ela sentia, ela sabia – o que o escocês faria. Ele rugiu adiante, desprezando os dois soldados que o estavam segurando como se fossem bonecos. Seu punho bateu no queixo do soldado que tinha batido em seu amigo. O soldado mal bateu no chão e o escocês já estava sobre ele, conduzindo seu punho poderoso para ele uma e outra vez como um aríete até que o soldado ficou imóvel no chão. Pareceu haver uma assombrosa pausa antes que o pátio explodisse em um caos. Lenore engasgou em horror por trás dela. — Os prisioneiros estão nos atacando! — Não. Oh Deus, não, — Rosalin gemeu com o tumulto que se seguiu. —O que foi que eu fiz? O escocês lutou como um homem possuído, como um daqueles membros das lendas nórdicas. Usando nada além de suas mãos, ele se defendeu de meia dúzia dos homens de seu irmão. Cada vez que um deles tentava se apossar dele, ele fazia algum tipo de manobra rápida e escapava do alcance do homem. Normalmente, os soldados acabavam em suas costas. O prisioneiro de cabelos loiros tinha conseguido agarrar um dos martelos usados para derrubar o muro e tinha tomado uma posição ao lado do escocês. Juntos, eles formavam um exército de dois homens. Um por um, os outros prisioneiros foram subjugados, mas os dois homens pareciam como se pudessem adiar suas capturas para sempre. Mas é claro que eles não podiam. Sem armaduras e armas adequadas, bastou uma lança bem colocada no lado do guerreiro de cabelos loiros e um golpe poderoso de martelo sobre as costelas do escocês, e os ingleses recuperaram o controle da situação.

Seu coração estava batendo. Lágrimas escorriam de seus olhos quando os soldados de seu irmão renderam os dois homens. Deus do céu, eles vão matá-los! Sem pensar no que estava fazendo, só tendo a certeza de que ela teria que pôr um fim aos combates, ela desceu correndo as escadas, sem se importar com os gritos preocupados de Lenore atrás dela. Ela chegou ao pátio apenas momentos depois de seu irmão e seus homens, dois dos quais a impediam de ir mais longe do que alguns passos para além da porta da torre. — Você não deveria estar aqui, minha senhora, — um dos homens disse. — Volte para a torre. Isso tudo vai acabar logo. Isso era exatamente o que ela temia. — Eu preciso ver meu irmão. — Ela tentou olhar ao redor de um dos homens, mas com a multidão de pessoas que tinha invadido o pátio ela não podia ver nada. Ela ouviu a voz de seu irmão mais a frente. — Qual o significado disso? Uma série de vozes em inglês respondeu com “roubar comida”, “descobrir” e “ataques escoceses”. — Seu guarda estava batendo em um homem até a morte por algo que ele não podia responder. Ele o teria matado se não o tivesse impedido. O som da voz profunda e poderosa reverberou através dela como um trovão, sacudindo-a com sua intensidade. Era o seu escocês; ela sabia disso. Seu irmão disse algo que ela não podia ouvir e mais algumas vozes inglesas iam e voltavam.

Em seguida, seu irmão falou de novo. — Leve-o para o calabouço, onde não vai incitar mais nenhum maldito motim. — É esta a sua justiça inglesa, Clifford? — Aquela voz profunda zombou. — Matar um homem que defendia alguém que não podia lutar de volta? Eu poderia ter levado uma dúzia de seus homens comigo. Da próxima vez eu exatamente farei isso. Rosalin tentou empurrar para frente outra vez, mas um dos homens – um cavaleiro que ela acreditava se chamar Thomas – a deteve à força. —Seu irmão não vai gostar de encontrá-la por aqui, milady. A senhorita precisa voltar para a torre. —Mas o que vai acontecer com eles? Ele lhe deu um olhar interrogativo. — Ora, eles vão ser executados, é óbvio. O sangue drenou de seu rosto. Ela deve ter parecido que ela ia desmaiar, porque ele chamou mais um dos outros soldados e juntos eles a conduziram de volta para a torre.

Rosalin esperou pelo que pareceram horas para que seu irmão voltasse ao seu quarto. Suas mãos estavam torcidas ansiosamente em seu colo. O copo de vinho que ela tinha bebido para dar coragem revolveu em seu estômago. Ela temia a conversa que teria pela frente, mas sabia que não poderia ser evitada. Não podia deixar esses homens serem mortos por conta do que fizera. Já estava escuro quando seu irmão finalmente entrou no quarto. Ele pareceu surpreso ao vê-la. —O que está fazendo aqui, Rosie-lin? Achei que você estivesse se preparando para o jantar. — Ele franziu a testa, vendo a angústia em seu rosto. —Algo errado?

Ela piscou para ele, sentindo um calor juntando em sua garganta e atrás de seus olhos. —É tudo culpa minha! — Incapaz de conter que as lágrimas e emoção viessem à tona. —Fui eu quem lhes deu a comida. Não achei que haveria mal algum e eles pareciam famintos. Eu só estava tentando ajudar. — Ela agarrou seu braço, com lágrimas escorrendo pelo seu rosto. —Você não pode puni-los. A confissão perturbadora levou dele um momento para compreendê-la, mas quando o fez, seu rosto ficou sombrio. Não era sempre que seu irmão ficava zangado com ela, e ela odiava quando isso acontecia. —Droga, Rosalin, eu lhe disse para ficar longe deles! Você tem alguma ideia de como esses homens são perigosos? —Eu fiquei. Eu juro que não fui a nenhum lugar perto deles. — Ela explicou como pegara os restos de comida e levara para o carrinho à noite. Ele pareceu relaxar um pouco, e sua expressão não era tão estrondosa. —Só queria aliviar o sofrimento deles. Eu não queria que isso acontecesse. Ele lhe deu um longo e firme olhar. —Você nunca quis que coisas assim acontecessem e é exatamente por isso que você não pertence a este lugar. Seu coração é mole demais para a guerra. Estes homens não são como uma de suas criadas com as mãos empoladas ou uma empregada que precisa passar mais tempo com seu bebê doente, em vez de cumprir com suas obrigações. —Mas as mãos de Katie estavam tão rachadas que sangravam, e não era justo que Meggie perdesse uma semana de salário porque ela perdeu algumas horas. Seu irmão levantou a mão, fazendo-a parar. —Isso é o que estou tentando dizer. Estes homens são assassinos brutais, eles não são merecedores de sua bondade. Ela inclinou a cabeça, incapaz de encontrar seu olhar. —Eu tinha que fazer alguma coisa.

Ela o ouviu suspirar e um momento depois, ele colocou seu braço ao redor dela e puxou-a para o seu lado. Aliviou-se por ele tê-la perdoado e só a fez chorar ainda mais. —Eu sinto muito. Ele murmurou palavras de conforto e a embalou contra ele, até que se acalmou. Ela se lembrou da noite em que seu pai tinha morrido, e a noite, menos de um ano depois, quando sua mãe o seguiu. —Você não pode ficar aqui, pequena. Eu deveria ter mandado você para casa imediatamente, mas eu sou egoísta. Eu senti sua falta, e vendo o seu rosto era como uma lufada de ar da primavera nesta fossa. Ela olhou para ele, os olhos ardendo. —Você está me mandando embora? Por favor, isso não. Tudo menos isso. Ele balançou a cabeça solenemente. —Sim, mas apenas por um tempo. Eu vou vê-la em Londres assim que terminar por aqui. O Rei vai querer um relatório, e eu posso dar isso a ele pessoalmente. Trarei Maud e as crianças. Você gostaria disso, não é. Ela assentiu com a cabeça; ele sabia que ela faria. Ele sorriu de forma provocante. —Além disso, eu quero ver todos esses pretendentes sobre os quais Hereford esteve me contando. Um calor arrastou sobre suas bochechas. Essa foi uma das razões pela qual ela viera. A atenção na corte havia se tornado impossível e ela não se interessou por nenhum dos homens. Nenhum homem tinha provocado seu interesse até... —Isso significa que você vai poupá-los? Ele levou um momento para seguir o salto que ela deu à conversa. Sua boca apertou-se – se de raiva ou desagrado pelo tema, ela não soube dizer. —Sua caridade equivocada não muda nada.

—Mas isso não é justo. Ele a cortou com uma voz que quebrava qualquer argumento. —Esta é uma guerra, Rosalin. O justo não entra aqui. Eles quase mataram três dos meus homens. Qualquer que seja a provocação, os prisioneiros não podem ser autorizados a lutar de volta. Nunca. Especialmente esses prisioneiros. Eles não valem suas lágrimas. —Mas... Ele a cortou novamente, seu rosto mostrando aquele implacável olhar, nós-já-terminamos-de-falar-sobre-isso. —Eu não vou ouvir mais nada sobre o assunto. Estes homens receberam apenas um alívio temporário do machadocarrasco. Mas eles têm se revelado muito perigoso até mesmo para isso. Eles são bandidos que lutam sem cavalheirismo e honra. Seu líder é um bruto vingativo que cortaria seu lindo pescoço sem pensar duas vezes. Você entende isso? Seus olhos se arregalaram. Seu irmão falou com tanta convicção, mas suas palavras não combinavam com o homem que ela tinha visto nas duas últimas semanas. Sabendo que Cliff não era mentiroso, tudo o que podia fazer era acenar com a cabeça. Ele sorriu. —Bom, então não vamos ouvir falar sobre isso. O que é isso que ouço falar sobre você ser comparada a nossa ilustre ancestral? Rosalin corou com a provocação gentil sobre seu apelido constrangedor. Sua infame tatara-tatara-tatara-tia Rosamund Clifford tinha capturado o coração do Rei Henrique II e tinha ido para a história como —A Bela Rosamund—. Aparentemente, os homens da corte passariam a chamá-la de “A Justa Rosalin”.

Ela tentou brincar junto com as provocações do irmão, mas não conseguia esquecer o terrível destino que aguardava os homens na prisão, especialmente aquele jogado no calabouço da prisão, que tinha sido forçado a defender seu amigo por causa dela.

Durante todo o jantar e as longas horas da noite, ele ficou com ela. Ela não podia pensar em mais nada. Estava errado. A palavra ecoou repetidamente em sua cabeça, não importava o que ela tentasse fazer. Eventualmente, a voz tornou-se muito alta para ignorar. Em algum momento nas primeiras horas da noite, ela se levantou da cama, vestiu um par de chinelos e uma capa com capuz escuro e saiu de seu quarto. Ela não sabia se poderia fazer alguma coisa, mas sabia que tinha de tentar. Isso era parcialmente sua culpa, e com ou sem razão, se não fizesse alguma coisa, ela se sentiria responsável pelas mortes daqueles homens para o resto de sua vida. Mas era a morte de um homem que iria assombrá-la. O homem que vira por mais de duas semanas, o homem que se sacrificou, que incondicionalmente, dava a sua comida e carregava mais carga em favor de seu amigo, não merecia morrer. Ela sabia disso no fundo de sua alma, com uma certeza que não poderia ser ignorada. Guerra ou não, isso estava errado, e ela tinha que tentar fazer a coisa certa, mesmo se... mesmo que isso significasse deixá-lo livre. Uma vez que o pensamento traiçoeiro estava descartado, era como se um enorme peso tivesse sido tirado de seus ombros. Ela sabia o que tinha de fazer, ou tentar fazer, se fosse possível.

Saindo da Torre, ela fez uma pausa nas sombras para se orientar. Não tinha nenhum plano. Tudo o que sabia era que o escocês tinha sido transferido para o calabouço que era localizado abaixo da antiga fortaleza que fora incendiada juntamente com o Grande Salão. Ela passou por ele a cada noite para fazer suas entregas - rapidamente, pois o proibido edifício de pedras velhas não era utilizado já há algum tempo e parecia muito escuro. Mas havia uma tocha lá agora, queimando em sua vara de ferro ao lado da porta. Esgueirando-se um pouco mais para perto, ela se manteve colada nas sombras da parede e observou. —Querido Deus, o que estou fazendo?— Ela não podia deixar de sentir a angustia daquela situação. Como uma garota de dezesseis anos de idade, iria tirar alguém do calabouço sem ajuda? Sem um plano? Ela não poderia simplesmente andar por aí, abrir a porta e puxá-lo para fora. Poderia? E os guardas? Mesmo que ela não visse ninguém agora, e o calabouço oferecesse pouca chance de escapar, tinha que haver pelo menos uma. Havia. Um soldado apareceu vindo da direção do guardião da torre, onde os prisioneiros estavam detidos, caminhou de um lado para o outro algumas vezes em frente à entrada do antigo castelo e depois desapareceu. Cerca de cinco minutos mais tarde, ele fez isso de novo. Depois de mais duas vezes, ela teve que esperar até que fosse um padrão. A próxima vez que ele saiu, ela esperou até que ele virou a esquina e, em seguida, correu para a entrada do castelo. Estava muito escuro e frio. Um arrepio subiu pela sua espinha. Fantasmas não existem... —Nada dessas coisas de fantasmas. Mas, se os mortos pudessem andar na terra, este seria o lugar perfeito para fazê-lo.

Depois de alguns momentos para que seus olhos se acostumassem à escuridão, ela se moveu ao redor da sala, olhando para a entrada do calabouço, encontrando-o em uma pequena antessala de pedra fora da entrada principal. O quarto não tinha mais do que três ou quatro pés de largura, com uma pequena porta de madeira sobre um canto do chão de pedra. Ela soltou um suspiro de alívio, vendo que a porta tinha um trinco simples em vez de uma tranca. Quantos minutos se passaram? Dois talvez três? Com muito cuidado, ela deslizou a tranca de ferro, seu coração parou mais do que algumas batidas quando ele guinchou – alto. Ela congelou, mas como ninguém veio correndo com uma espada desembainhada, ela deslizou o fecho totalmente e agarrou a borda da porta de madeira para levantar. Era mais pesada do que parecia, e ela lutou, mas finalmente conseguiu abri-la. Uma onda de ar frio úmido empurrou-a para trás por um momento, mas, em seguida, se ajoelhou em cima do buraco e olhou para baixo na escuridão. Era um silêncio mortal. No início, ela não viu nada, mas então viu o brilho inconfundível do branco olhando para ela. Ela se assustou. —Já é de manhã? — ele zombou. —Eu estava ficando confortável. Deus, que voz! Profunda e poderosa, ela parecia reverberar através de seus ossos. —Shhh, — ela sussurrou. — O guarda vai voltar. Embora soubesse que era impossível, ela jurou que podia vê-lo endurecer com a surpresa. —Quem é você? —Shhh, — ela implorou novamente. — Por favor. O guarda pode ouvilo.

Deixando a porta aberta, ela correu para fora da pequena antessala e endureceu suas costas na parede ao lado da entrada. Prendendo a respiração pelo que pareceu uma eternidade, ela esperou que o guarda se aproximasse. A cada passo seu coração parou, recomeçando apenas quando ela ouviu a queda do seguinte. Quando os passos finalmente se afastaram, ela correu de volta para o quarto. —Temos que nos apressar, — ela sussurrou. — O guarda voltará em poucos minutos. O escocês não perdeu tempo em interrogá-la, assumindo o controle de maneira fria e eficiente de como um homem acostumado aos perigos. —Eles me colocaram aqui embaixo com uma corda presa a uma trava na parede. Veja se ela ainda está aí. Sua voz estava mais perto agora, e ela percebeu que ele deveria estar bem embaixo dela. Provavelmente apenas uns poucos metros separados. Ela estremeceu ou tremeu, não sabia qual deles, mas virou-se para fazer o que ele mandou. Ela encontrou o pino de ferro na parede de pedra e, com certeza, um velho e desgastado pedaço de corda foi amarrado em torno dele. Quando pegou o fim da corda, ela voltou até a abertura. Ao ver seu retorno através de sua sombra, ele perguntou: —Você a encontrou? —Sim. —Jogue aqui para baixo. Ela hesitou. De repente, a gravidade de tudo que estava fazendo mexeu com ela. Depois de uma longa pausa, ele falou. Sua voz estava mais carregada, como se estivesse decepcionado, talvez? —Mudou de ideia?

Teria mudado? Não. Ela não estava errada sobre ele. Mas, ainda assim, uma coisa era olhar um homem por uma janela e admirá-lo e outra era tê-lo exatamente ao seu lado. —Se eu ajudar você, você tem que me prometer partir sem ferir ninguém? —Eu não vou deixar meus amigos para trás para morrer. Ela tinha previsto isso. Essa era uma das razões para que ele estivesse aqui, um líder nobre não deixaria seus homens. —Mas você vai me dar sua palavra de que não irá ferir qualquer um dos guardas? Ele emitiu um som agudo, que poderia ser considerado como uma risada. —Minha palavra é boa o suficiente para você? —É. Ele fez uma pausa como se a resposta dela o surpreendesse. —Muito bem, você tem minha palavra, de que eu farei o meu melhor para que ninguém seja morto. Ele falou as palavras com a solenidade de um juramento. Ela não tinha motivos para confiar nele, mas mesmo assim o fez. O suficiente para soltar a corda. Ela se moveu para trás, e em impressionante poucos segundos, ele estava em pé na frente dela. Surgiu na frente dela, na verdade. Seu corpo alto e musculoso parecia encher a sala inteira. Jesus, ele era ainda mais alto e mais admiravelmente formado do que ela tinha imaginado! Instintivamente, ela se encolheu, cada um dos avisos de seu irmão de repente passou por sua cabeça. Cortaria sua garganta... Besta ordinária... Bruto vingativo... Ele a acalmou. —Você não tem nada a temer, moça. Eu não vou prejudicá-la. Eu lhe devo minha vida.

Alguns de seus medos se dissiparam. Ele podia ter a constituição de um bruto, mas o homem dentro dele era nobre de coração. Ela só queria que não estivesse tão escuro. Queria ver seu rosto de perto, mas não podia avaliar mais do que sombras. Seus outros sentidos funcionaram perfeitamente, no entanto, e misturado com o ar úmido do calabouço, ela sentiu a parte almiscarada de um corpo bem trabalhado, que não era tão desagradável como supôs esperar. —Quem é você? — ele perguntou. Ela balançou a cabeça. —Isso não importa. —Por que você está fazendo isso? Ela não tinha certeza se conhecia a si mesma, mas de pé ali com ele, sabia que estava certa. —A culpa foi minha. Eu não queria que ninguém se machucasse, eu só estava tentando ajudar. —Você trouxe a comida. — Ele disse como se a última peça de um quebra-cabeça tivesse acabado de se encaixar no lugar, e isso ainda não fazia sentido. Ela assentiu com a cabeça. Quantos anos você tem, moça? Algo em sua voz a fez levantar o queixo e endireitar sua coluna vertebral. —Dezoito, — ela mentiu. Ela quase podia ouvi-lo sorrir. Ele não poderia ser mais do que alguns anos mais velho que ela, mas ele a fez se sentir tão jovem. Mesmo na escuridão, parecia que ele podia ver através dela. Como se ele soubesse a razão pela qual ela o ajudava. Ele provavelmente estava acostumado a ter mulheres que o admiravam. Acostumado a ter jovens e sonhadoras —moças— que faziam papel de tolas por ele.

Mas não era por isso. Ela estava corrigindo um erro. Principalmente. —Não importa qual a sua idade, o que você está fazendo é uma gentileza e lhe agradeço por isso. O que aconteceu não é culpa sua, embora eu não vá dizer que lamente por você pensar assim, pois caso contrário eu ainda estaria nesse buraco. Ele parou, alguma coisa podia ser ouvida. Oh Deus, o guarda! Ela estava tão distraída com ele, que tinha se esquecido do guarda. O soldado deve ter ouvido alguma coisa e estava vindo para investigar. Antes que ela percebesse o que estava acontecendo, o escocês a agarrou, puxando-a contra ele, e colocou a mão sobre sua boca. Ela suspirou silenciosamente, primeiro em choque, e, em seguida, com um medo gelado. Ela sentiu como se estivesse sendo envolvida em aço. Cada centímetro dele era duro e inflexível, desde aquele peito grudado contra as costas dela até o braço rigidamente forte enlaçado sob seus seios. Ela tentou se contorcer para se libertar, mas ele apertou seu abraço como uma braçadeira, imobilizando-a. Quando ele a envolveu com sua grande e calejada mão, um calor estranho tomou conta dela. Não percebendo o que ele estava tentando fazer, ela se assustou, pelo menos ela pensou que o tremor que a percorria fosse um sobressalto. Ao capturar os dedos dela, ele suavemente fez um sinal com quatro dedos e, em seguida, três. De repente, ela entendeu. Ela apontou um dedo. Um guarda. Ele balançou a cabeça e lentamente soltou a mão em volta de sua boca. Ela percebeu que ele a agarrou apenas para impedi-la de fazer qualquer som assustado.

Sua razão deveria saber disso, mas seu coração ainda estava batendo contra o peito pelos efeitos colaterais. No entanto, ela sabia que não era a única razão. De repente, ela tinha consciência dele. Consciência dele por algo como —uma mulher que estava sendo abraçada pela primeira vez por um homem—. Ele podia ser feito de aço, mas era quente. Muito quente. E nenhum homem jamais a abraçou tão intimamente. Ela tinha a sensação de estar moldada contra ele, cada parte de seus corpos se encaixavam confortável e apertadamente. Ela tinha certeza que era absolutamente impróprio, e ela ficaria chocada depois, mas agora tudo o que ela podia pensar era em quão incrível ela se sentia. Como se ela estivesse quente e segura e nada jamais fosse machucá-la. Ele avançou com ela voltada para a parede, deixando-a naquela direção para protegê-la com seu corpo. Ela podia sentir os músculos tensos do corpo dele quando as luzes da tocha inundaram a câmara principal do torreão. A luz iluminava cada vez mais perto. O guarda estava vindo nesta direção! Ela não conseguia respirar. Tanto pelo medo como por ser pressionada contra uma parede de pedra com um aço atrás dela. —Que diabos? O soldado tinha notado a cela aberta. Ele entrou no recinto e segurou a tocha sobre a cela. O escocês entrou em ação. Ele se moveu tão rápido que o soldado não chegou a ter nenhuma chance. Um duro golpe sobre a garganta do guarda e um soco no estômago jogou-o para trás. Ele esboçou um grito de surpresa, antes de cair no buraco. A tocha ficou preta e um momento depois, a porta estava totalmente fechada. O escocês girou-a para encará-lo. —Eu tenho que ir. Eles virão à procura dele. Ela assentiu com a cabeça, sem dizer nada, ainda atordoada pela rapidez com que tudo tinha acontecido.

—Você vai ficar bem? — ele perguntou. —Eu vou fazer o que puder para deixar transparecer que nós não tivemos nenhuma ajuda. —Eu vou ficar bem. — Ela fez uma pausa, querendo dizer alguma coisa, mas não soube o que. —Por favor, é melhor que vá rápido. Mas ela não queria que ele fosse. Ela desejou que... desejou ter tido uma chance de conhecer este homem que tinha roubado seu coração. Talvez ele tivesse ouvido sua hesitação e imaginado a razão dela. Ele se virou para fazer o que ela oferecia, mas, em seguida, ele, também, hesitou. Antes que ela percebesse o que ele ia fazer, ele segurou seu queixo em sua enorme mão, inclinou a cabeça dela para trás e tocou seus lábios nos dela. Teve a fugaz sensação de calor e a surpreendente maciez, antes que fosse embora. —Obrigado, moça. Um dia eu espero que nos encontremos de novo, para que eu possa recompensá-la por tudo. Ela observou com o coração na garganta quando ele desapareceu na escuridão. Levou sua mão à boca, como se pudesse manter aquele momento lá, para sempre. Tinha sido um beijo de gratidão. O leve roçar de lábios, sem a intenção de paixão. Até mesmo fraternal, da parte dele, pelo menos. Mas naquele instante, ela sentiu uma faísca de algo grande, poderoso e mágico. Algo extraordinário. Algo maravilhoso. Ela poderia ter ficado assim até de manhã, mas um som no fosso da prisão, lá embaixo, despertou-a de seu estado sonhador. Rosalin correu para fora da torre e subiu as escadas para seu quarto, sabendo que poderia viver com as repercussões desta noite para sempre, mas nunca se arrependeria disso.

Um Hannibal está nos portões. Cranshaws, fronteiras escocesas, Fevereiro de 1312. O inglês iria pagar. Robbie Boyd, braço direito do rei Robert nas fronteiras, encarou o celeiro queimado e jurou vingança. Sua boca tornou-se uma linha sinistra, o gosto amargo da lembrança era tão ácido como a fumaça em sua garganta. Ele nunca seria capaz de ver um celeiro destruído sem pensar naquele que servira de fogueira para o seu pai. Essa foi sua primeira lição, aos dezessete anos, sobre injustiça e traição inglesa. Nos quinze anos seguintes ele teve muito mais. Mas isso terminaria. Por tudo que era mais sagrado, ele tinha certeza disso. Custe o que custar, ele veria a Escócia livre desses soberanos ingleses. Nunca mais um filho veria seu pai ser queimado e pendurado nas grades, nenhum irmão veria sua irmã ser estuprada ou seu irmão ser assassinado e nenhum agricultor veria suas terras destruídas e seu gado roubado. Ele não se importava se tivesse de lutar mais quinze anos, ele não descansaria até que o último ocupante inglês fosse expulso da Escócia e o leão (símbolo da realeza Escocesa) rugisse livre. Liberdade era a única coisa que importava. Nada mais importava desde o primeiro dia em que levantou sua espada para lutar ao lado de seu amigo de infância, William Wallace.

Ao relembrar as causas da morte de seu amigo, Robbie serrou a mandíbula com a determinação de aço nascida do ódio. Ele virou-se para as toras de madeiras queimadas — o último exemplo da “justiça” inglesa — para enfrentar os moradores que cautelosamente se aproximaram da mansão. —Quem fez isso? — ele perguntou, a serenidade de seu tom não mascarava completamente o aviso ameaçador disfarçado. Mas ele já sabia a resposta. Apenas um homem seria corajoso o suficiente para desafiá-lo. Apenas um homem recusará-se a renovar a trégua. Somente um homem enviaria uma missiva a Robbie para solicitar uma nova negociação em brasas. Alguns dos moradores olharam ao redor, mas o chefe da aldeia, um fazendeiro chamado Murdock, se aproximou cautelosamente. A ansiedade entre os aldeões não era incomum. Como um dos homens mais temidos na fronteira – inferno, em todo o universo – Robbie era usado pra isso. Apesar de sua notoriedade ter atingindo seu propósito que era causar medo no inimigo, isso não era sem complicações. Tinha a certeza que manter sua identidade secreta como um dos membros da Guarda Highland era um desafio. Eventualmente, ele sabia que alguém poderia reconhecê-lo, mesmo com suas feições escondidas. Ele tornou-se muito conhecido. —Homens de Clifford, milorde, — explicou Murdock. —Eles levaram tudo. O gado, o grão – até mesmo as sementes – antes de atearem fogo no celeiro. Clifford. Valha-me Deus, eu sabia! Robbie cerrou seus punhos enluvados com a raiva consumindo-o rapidamente.

Não era sempre que ele perdia a paciência. Com o seu tamanho e reputação sozinhos ele causava temor nos guerreiros que tremiam em suas botas, mas ela não servia de nada. Mas havia duas coisas que testavam sua paciência: uma era o cavaleiro inglês que estava atrás dele, Alex “Dragon” Seton, seu parceiro improvável na Guarda Higlander, e a outra era o cavaleiro inglês que o prendera há seis anos e parecia estar frustrando-o desde então, Lord Robert Clifford, novo guardião do Rei Edward na Escócia, em outras palavras, o soberano mais sangrento da Escócia. O diabo que carregasse o filho da puta inglês, Clifford pagaria – por isto e pelo velho acerto de contas pendente. Era um acerto de contas muito esperado. Por seis anos, o filho da mãe lhe escapara das mãos, e agora, a rebeldia de Clifford – sua recusa em saber o quanto ele fora espancado – estava ameaçando arruinar tudo. —Cuide dela, Raider, — o rei dissera. Robbie tinha um trabalho a fazer, caramba! Bruce o tinha encarregado de trazer a paz para as fronteiras sem lei, devastadas pela guerra. “Raider”, seu nome de guerra, atestara sua experiência na área. O rei estava contando com ele para trazer os barões ingleses sobre os calcanhares e ninguém ficaria em seu caminho. Quando o rei Edward deixou o castelo de Berwick no verão passado, forçado a abandonar a guerra contra os escoceses para atender aos problemas das fábricas de cervejas de seus barões, Bruce fora para ofensiva, conduzindo uma série de incursões bem-executadas no norte da Inglaterra. Pela primeira vez, os ingleses provaram o gosto da devastação trazida pela guerra que os escoceses já experimentavam por anos. Os ataques não só mudaram a guerra no campo escocês sobrecarregando-a para a Inglaterra, mas também serviu para reabastecer os cofres reais drenados por exigir pagamento dos barões do norte da Inglaterra em troca de uma trégua.

Outros barões renovaram suas tréguas, mas Clifford, o novo governador do castelo de Berwick, recusou sua oferta de paz e continuava a resistir. Sua resistência poderia encorajar outros a fazer o mesmo e Robbie, com toda a certeza, não deixaria isso acontecer. Bruce teria sua trégua e cooperação de Clifford; Robbie cuidaria disso. James Douglas, um dos outros três guerreiros que acompanharam Robbie e Seton nessa missão —simples e direta— (como se isto fosse possível) para coletar os impostos feudais devidos ao rei, murmurou um palavrão, ecoando seus pensamentos de uma forma um pouco mais grosseira. Se alguém odiava o —novo guardião— do Rei Edward mais do que Robbie, esse alguém era Douglas. Clifford fez seu nome e fortuna na guerra da Escócia e em parte reivindicando as terras de Douglas. —Não há mais nada? — Douglas perguntou ao fazendeiro, o rosto endurecido de raiva. Douglas “O Negro” não tinha ganhado seu apelido apenas pela cor de seus cabelos, mas também por sua terrível reputação. Confuso com a fonte de sua raiva, as mãos de Murdock começaram a tremer quando ele tentou explicar. —Não, milorde. Levaram tudo. Alegaram que era o custo por ter de ‘lidar com rebeldes’. Eles queimariam toda a aldeia se nos recusássemos. Não tivemos escolha senão dar tudo a eles. É o mesmo em todos os lugares. Os soldados de Clifford invadiram o leste da fronteira inteira daqui até Berwick. O magistrado em Duns enviou um aviso esta manhã, mas já era tarde. Robbie praguejou. Merda! O bastardo iria para o inferno! —Alguém se feriu? – Seton perguntou.

O agricultor sacudiu a cabeça. —Não, graças a Deus. Somente o celeiro foi destruído - desta vez. Mas o fogo foi um aviso. Eles sabiam que estávamos negociando com Bruce, aí vieram. —Bruce é seu rei, – Robbie o relembrou incisivamente. Nessa parte da Escócia, tão próximo das fronteiras com a Inglaterra, as pessoas frequentemente precisavam se lembrar disto. Embora Bruce tenha estabelecido seu reino ao norte de Tay, houve muitos no sul que relutavam em aceitar Bruce como rei e cuja simpatia ainda estava com os ingleses. Falando de escoceses que agiam como os ingleses, Seton, cujas terras na Escócia estavam aqui perto, pulou em defesa do fazendeiro. —Tenho certeza de que Murdock não quis ofender ao rei. Ele estava apenas apontando a dificuldade para quem vive cercado por tropas inglesas sem ninguém para defendê-los. Boyd olhou-o bruscamente, percebendo a crítica implícita. Seton, muitas vezes, lamentava a situação do povo que morava próximo da Inglaterra. Mas todo mundo tinha de fazer uma escolha: pela Inglaterra ou pela Escócia; não havia opção que abrangesse ambos os lados. Seton ainda não entendia que não poderia viver nos dois mundos. —Maldição! – Douglas praguejou frustado. —O rei contava com esses grãos e com esse gado. Com que diabos ele vai alimentar seus homens? Bruce e uma boa parte do exército (e a Guarda Highlander quando não estavam em outras missões) tinham acampado próximo ao castelo de Dundee nos últimos três meses. Com Edward em Londres e a ameaça de guerra diminuindo, o foco de Bruce mudara para tirar as tropas que estavam nas trincheiras dos Castelos escoceses. Era a única maneira que poderiam vencer a guerra. Todas as vitórias e impulsos dos últimos anos não significariam nada se os ingleses continuassem a ocupar seus castelos.

E eles estavam progredindo. Linlithgow caíra após os ataques no ano passado, e Dundee seria o próximo. Mas em breve tudo isso teria um fim rápido se Robbie não fizesse seu trabalho. O rei estava sem suprimentos e, com aproximadamente mais cem dias de trabalho feudal voluntário de muitos soldados, se o cerco continuasse, eles teriam de encontrar dinheiro para pagálos e comida para alimentá-los. Não seria exagero dizer que o futuro da guerra repousava sobre os ombros de Robbie. E se o caminho para a vitória dependia de negociar tréguas com os barões ingleses que invadiram a Escócia por anos, ele ficaria desgraçadamente feliz em fazer isso. —O rei terá sua comida, — Robbie disse categoricamente. — E sua maldita trégua com Clifford. Douglas adivinhou que ele queria dizer, um sorriso lento se espalhando em seu rosto escuro. Seton fez o mesmo, mas sua reação foi cerrar a mandíbula como se quisesse argumentar, mas sabia que não iria fazer nenhum bem. Talvez ele aprendesse algo nos últimos sete anos depois de tudo. Clifford lançara o desafio e Robbie com toda a certeza não o deixaria sem resposta. Murdock, no entanto, não entendeu. —Mas como? Não há mais nada e eles voltarão outra vez. Você tem de fazer alguma coisa! Robbie ergueu seus olhos ao fazendeiro. —Eu pretendo. —O que? — o fazendeiro perguntou. Ele combateria fogo com fogo e atacaria num lugar que seu inimigo não pudesse ignorar. Algo raro apareceu em seu rosto quando os cantos de seus lábios se curvaram num sorriso. —Pegaremos de volta.

Castelo Berwick, fronteiras inglesas, um ano depois. —Não é justo, tia Rosalin. Rosalin olhou para o rosto pequeno e arrebitado de anjo, com características de dor, decepção e descrença, e sentiu seu interior se derreter. A filha de sete anos de Cliff, Margaret, chegou ao solar de Rosalin alguns minutos atrás, quase explodindo em lágrimas. Rosalin tentou esconder o choque pelos trajes de sua sobrinha. A pobrezinha estava lutando tanto para não chorar que ela não quis empurrá-la ladeira abaixo. Sentando-se na beira da cama, ela deu um tapinha no espaço ao seu lado. —Venha sentar-se, Margaret, e diga-me o que aconteceu. Sentindo que encontrara um ombro amigo, Margaret fez o que ela pediu, pulando e se acomodando sobre o colchão de penas macias próximo a ela. —É Meg, – ela corrigiu, enrugando o nariz em sinal de desaprovação. — Ninguém me chama de Margaret, além de papai. Rosalin mordeu seus lábios, tentando não sorrir. Em vez disso ela assentiu solenemente. —Perdoe-me, Meg. A garotinha a recompensou com um sorriso trêmulo e Rosalin se derreteu mais ainda. —Tudo bem. – Meg assegurou-lhe, acariciando-lhe as mãos, como se tivessem trocado de idades. —Você apenas acabou de chegar e não me vê desde que eu era pequenina. Rosalin fingiu que tossia. As sobrancelhas arqueadas da pequena Meg uniram-se ao nariz igualmente minúsculo. —Você está doente?

Rosalin não conseguia esconder-lhe o sorriso. — Não Meg, estou perfeitamente bem. A garotinha a estudou. —Bom. Andrew sempre está sorrindo e ele não pode brincar lá fora. Ele não é divertido. Rosalin sentiu um aperto no peito, mas tentou não deixá-la ver o medo. Andrew, o filho de três anos de Cliff sempre fora frágil. Embora ninguém falasse disso, ninguém esperava que ele sobrevivesse sua infância. Feliz pela garota não estar mais próxima das lágrimas, mesmo que ela não pudesse dizer o mesmo, Rosalin perguntou: — Então, por que não me diz o motivo de estar vestindo bermudas e um casaco de menino? Meg olhou para baixo como se tivesse esquecido. —John disse que eu ficaria no caminho... Rosalin não entendeu. —No caminho...? Meg lançou-lhe uma careta impaciente como se ela não tivesse prestado a atenção devida. —Das aulas de equitação. Papai deu a John um cavalo pelo dia do seu Santo na semana passada e hoje ele começou seu treinamento com Roger e Simon. Isso não é justo. John é somente dois anos mais novo do que eu. Eu também quero treinar como um cavalheiro. Ele mal pode pegar a espada de madeira que papai deu pra ele. Como ele supõe matar escoceses sangrentos se ele não consegue levantar uma espada? – Rosalin fez uma nota para dizer a Cliff que tivesse cuidado com sua língua quando estivesse próximo de Meg. — Ele não deveria ter me dedurado a papai, quando eu peguei emprestado. Ninguém gosta de dedo-duro. Rosalin estava com dificuldades para manter a conversa então apenas acenou a cabeça.

O rosto da garotinha estava franzido. —Roger não me deixou ficar, como você pode ver minhas saias não ficarão no caminho. Eu não quero bordar com Idonia e mamãe. Por que eles não me deixam treinar com eles? Porque você é uma garota. Mas não parecia o momento certo para explicar-lhe a dura realidade entre os sexos, Rosalin abraçou a menina que soluçava em seus braços e suspirou. Ela entendia sua dor. Ela também quis estar com seu irmão, provavelmente ainda mais, desde que ele tinha tudo o que ela queria. Compreender que ela simplesmente não podia porque era uma garota tinha sido difícil de engolir. Cavalgar, praticar esgrima, correr ao redor lá fora parecia muito mais preferíveis a ficar sentada dentro de casa com agulhas e linhas. Claro que era uma visão muito simplista das perspectivas deles, mas na idade de Meg ela ficara do mesmo jeito. Depois de um momento, a garotinha olhou para ela, com seus longos cílios escuros emoldurando grandes olhos azuis úmidos de lágrimas. Ela podia se parecer com sua linda mãe de cabelos escuros, mas Rosalin enxergava a teimosia de Cliff em seu queixo firme. —Você falará com ele? —Falar com quem? — Com papai. Ele escutará você. Todo mundo diz que ele nunca lhe recusa nada. Rosalin riu. —Eu lhe asseguro que ele me disse muitos não. Eu também queria cavalgar e praticar esgrima. Os olhos de Margaret se arregalaram a proporções quase cômicas. — Você quis? —Sim! E eu pensei que era injusto, como você, quando ele me dizia não.

O sorriso que se espalhou pelo rosto da menina era quase ofuscante. —O que você fez? Ele deixou? Rosalin balançou a cabeça e, em seguida, parou por um momento para pensar. —O que você diria se eu te levasse para um passeio amanhã e te deixasse segurar as rédeas? Não era claramente o que Meg esperava ouvir, mas depois de um momento de desapontamento, ela decidiu aceitar a oferta e negociar melhores condições. Talvez a menininha fosse como a tia a esse respeito. —Por quanto tempo? — Meg perguntou. —Pelo tempo que quiser. —Onde podemos ir? Rosalin fez uma pausa, considerando. Ela não queria se aventurar muito longe. —Sua mãe disse que há uma feira em Norham amanhã. Você gostaria de ir até lá? Meg assentiu com entusiasmo e logo depois ela estava correndo pelo quarto, ansiosa em contar sua nova aventura pra seus irmãos. Rosalin a chamou novamente. —Meg! A menina virou interrogativamente. —Mas você deve usar um vestido. – Rosalin disse com um sorriso. Meg deu um largo sorriso para ela e assentiu com a cabeça, pulando para fora do quarto.

Algumas horas mais tarde, Rosalin foi atrás de seu irmão para informá-lo de seus planos. Ela estava do lado de fora da porta do solar, quando ele terminou com seus homens. Como governador recém-nomeado no Castelo de Berwick, Cliff tinha assumido as instalações reais e estava usando uma das salas para atender seus conselheiros. Ela estava tão orgulhosa dele. O rei não só o tinha deixado responsável pela guerra, fazendo-o Guardião da Escócia, mas também o nomeou o governador de um dos castelos mais importantes das fronteiras. O castelo de Berwick, no leste, Carlisle, no oeste, e Roxburgh, no meio, formavam uma chave defensiva pela fronteira para impedir que os escoceses invadissem a Inglaterra. Ela mordeu seus lábios. Pelo menos, os castelos fizeram isso até o último verão. Robert Bruce invadiu de surpresa Cumbria e Northumberland e devastou a área rural, espalhando terror nos corações dos ingleses que ainda estavam se recuperando do golpe. O medo pairava no ar e os nomes de seus corsários ferozes eram lembrados em sussurros aterrorizados, como se falar em voz alta invocaria o próprio diabo. Douglas. Randolph. Boyd. Um sentimento doentio a inundou. Não pense nisso... —Duas mil libras? – ela escutou Cliff dizer claramente furioso. —Ele deve estar louco. Enviar um homem afastado. Eu não ouvirei mais nada de suas solicitações. Rosalin esperou até os homens saírem e depois entrou. Vendo quem era Cliff a olhou e sorriu com o rosto cansado. —Ah, Rosie, eu sinto muito tê-la deixado esperando.

—Está tudo bem? – Claramente não estava. Seu irmão mudou muito desde que ela o tinha visto a última vez. A guerra tinha cobrado um preço alto demais. Ele ainda era bonito, mas parecia mais velho do que seus 30 anos. E mais duro. Ele acenou, apesar de sua preocupação. —Nada que não possa resolver. – Ele indicou que se sentasse. —Então, o que posso fazer por você? Ela podia vê-lo tentando não sorrir quando ela explicou. Mas no fim, ele estava balançando a cabeça. —Eu sei que você disse que ela é jovem demais para cavalgar, mas de verdade Cliff, ela tem sete anos. Eu não vejo nenhuma razão que justifique que uma garota de sete anos seja muito jovem e um garoto de cinco anos não seja. Recostado na cadeira, Cliff a estudou ao longo da grande mesa de madeira que usava como escrivaninha. —Você está aqui há dois dias e ela já encontrou sua defensora? Eu me perguntava quanto tempo levaria para que ela encontrasse sua alma gêmea. Rosalin franziu a testa sem entender. —Alma gêmea? —Você não vê? – Ele riu. —Pelo amor de Deus, ela é igual você, Rosie, sempre correndo em defesa de alguém sempre tentando resolver as injustiças. Ela franziu a testa surpresa. —Eu não faço isso. Isso só o fez rir mais forte. —Deus, é bom tê-la aqui. Estava com saudades de você. Eu sinto muito que não pude visitá-la mais em Londres. —Você estava ocupado. — Era um eufemismo. Nos últimos cinco anos, desde que Robert Bruce retornara do túmulo para renascer como uma fênix das cinzas, seu irmão teve apenas um momento livre. Tinham se visto apenas duas vezes nos últimos seis anos desde aquela fatídica viagem para Escócia.

—Eu não tinha certeza que o Senhor Humphrey deixaria você nos visitar. –Ele disse secamente. Ela não tinha certeza nenhuma. O Conde tinha insistido que era muito perigoso e... O calor subiu pelas suas bochechas. —Eu acho que ele esperava que eu... ah... decidisse. A expressão de Cliff mudou. —E você decidiu? É com ele que deseja se casar? Eu não deixarei que Hereford a force. Eu não me importo se você está com 30 anos. Eu não deixarei que se amarre com um homem que não se importa. —22 anos não é assim tão velha. — Ela sorriu. —Não, você não precisa se preocupar, o Senhor Humphrey não me forçou a nada. Ele foi muito paciente. Embora entre você e eu, eu penso que ambos, ele e o rei, temem que eu nunca escolha ninguém. —E você acha que o Sr. Henry seja o único? Alguma coisa em sua voz lhe chamou a atenção. Ela estudou seu rosto, mas seu irmão escondeu bem seus pensamentos. —Você não gosta dele, Cliff? —A questão não é se eu gosto dele, mas se você gosta, um pouco. —Eu gosto, – ela disse com um sorriso doce, — muito mesmo. Embora ela soubesse que o Sr. Henry de Spenser por apenas alguns meses, a envolveu com seu charme e bravura. Se o cavalheiro inglês, ela enalteceu, também fosse alto, moreno e musculoso, ela teria certeza que a semelhança com certo rebelde escocês era coincidência.

—Então isso é o que importa, – disse Cliff com firmeza. Ela franziu a testa e ia falar, mas ele acrescentou. —Eu devo admitir como estou feliz em ver-te, como eu estou aliviado em saber que retornará com Maud e as crianças para Brougham no fim do mês para os preparativos para o casamento. Sua cunhada formidável havia insistido para que eles retornassem à fortaleza de Clifford em Cumbria (onde Rosalin tinha nascido e era a coisa mais próxima de um lar para ela), que ficava mais para o sul e, portanto, mais segura dos bárbaros. Era a pouca distância de Berwick, mas Cliff conseguiria visitá-los ocasionalmente. —As coisas estão tão ruins assim? — ela perguntou. Ele hesitou, mas então aparentemente decidiu dizer a ela a verdade. — Sim. Os escoceses ficaram mais corajosos com a saída de Edward e alguém precisa detê-los ou então... Ele parou, serrando sua mandíbula. —Ou o que? — ela perguntou. —Ou eles não pararão. Ela encarou os seus olhos. Parecia inconcebível que os rebeldes pudessem realmente vencer. Ela mordeu seus lábios. Seu irmão tentou mantê-la isolada da guerra e da política, mas alguma coisa a fez começar a perguntar, Você já se perguntou se...? Constrangida pelo que ela estava a ponto de dizer ela não terminou a pergunta. Mas Cliff adivinhou. —Eu não pergunto, Rosalin. Meu trabalho é seguir as ordens e fazer o meu dever para com o Rei.

Sentindo-se de repente desleal, ela sentiu uma onda feroz de orgulho por seu irmão. Ele era obediente e leal – um dos maiores cavalheiros da Inglaterra – e ela o amava. Claro que ele estava fazendo o que era certo. —Vá ao seu passeio na feira, Rosalin e leve sua pequena cruz com você. Roger está cavalgando com alguns dos meus cavalheiros; você pode ir com eles. Eu acho que ele ficará orgulhoso de mostrar a sua tia as habilidades de sua tropa. Norham é tão segura quanto Berwick. Nem mesmo o fantasma de Bruce se atreveria fazer qualquer coisa próximo a dos castelos mais preparados, a plena luz do dia.

Dois Apesar da advertência de seu irmão, Rosalin nunca sonhou que seria tão ruim. Apenas três milhas separavam Berwick de Norham, mas no momento em que eles deixaram os arredores da grande cidade, eles podem também ter entrado em um mundo diferente. A paisagem bucólica da época em que passou por Berwick em sua viagem ao sul do Castelo de Kildrummy estava quase irreconhecível. Cada árvore, cada folha de grama, cada construção tinha a cicatriz escura carbonizada de demolição. Mas não foi somente a terra que estava devastada, mas as pessoas também. Ela podia ver o medo nos rostos dos camponeses, rostos desesperados enquanto eles trabalhavam para assistir a grande festa de cavaleiros, damas e do exército da cavalaria. Isto partiu seu coração. —Meu Deus, quem fez isso? Ela não percebeu que tinha falado seus pensamentos em voz alta até seu sobrinho, Roger, de treze anos, que estava caminhando ao seu lado, responder: — O próprio rei Hood. O usurpador trouxe seus homens aqui setembro passado. Ele começou com o condado de Earl de Dunbar, então foi até as colinas de Cheviot em Northumberland, invadindo e devastando até o sul de Harbottle e Holystone por quase duas semanas entre as festas de nascimento de Maria e o dia de Santa Cissa, depois se apressando de volta para as trincheiras de seus bandos.

Rosalin ouviu falar sobre os ataques de Robert Bruce enquanto ela estava na corte em Whitehall, no último verão, não muito tempo depois que o rei Edward retornou para Londres. Cumberland sofreu um destino parecido no mês anterior, ela lembrou. Mas ela nunca tinha imaginado... Isso. Cliff estava seguro em Brougham no momento, com Lady Maud, então Rosalin não procurava cada detalhe como ela normalmente faria. Ela não queria ter a chance de ouvir seu nome. —Essas pobres pessoas, – ela disse, —Ninguém estava lá para defendêlas? A boca de Roger se endureceu e o coração dela se apertou. Ele parecia tanto com Cliff naquela idade: alto e com cabelos dourados, a magreza da juventude já insinuava o cavaleiro formidável que se tornaria. Também como Cliff, Roger era teimoso, determinado e ferozmente orgulhoso, com uma boa dose de confiança. Ele tinha aquele ar de invencibilidade visto na maioria dos rapazes que estavam treinando para a cavalaria, mas ainda tinha que ver a batalha. —A maior parte da guarnição de Berwick e Norhan havia partido com o Rei Edward no mês anterior. Ninguém esperava que Bruce fosse invadir ou fazer isto tão rapidamente. O Papai ainda seria nomeado governador do castelo. Roger era demasiado político para criticar o antecessor de Cliff, Sir John Spark, mas Meg não era. —Não se preocupe tia, — disse Meg, virando-se para olhar para ela. — Os rebeldes amaldiçoados não mostrarão seus rostos aqui novamente. Não com o Papai no comando. Roger e Rosalin trocaram um olhar, tentando não rir. Mas, obviamente ele não era o único que herdou o orgulho de Cliff.

Roger se inclinou e bagunçou o cabelo de sua irmã com carinho. —Você tem direito a isto, pirralha. O Papai tem essa área muito bem defendida. Bruce não ousaria atacar. Diabo, eu apostaria até mesmo que Douglas “O Negro” e Boyd, o executor do diabo, virariam as costas e fugiriam antes de enfrentar os homens do Papai. O coração de Rosalin disparou a menção desse nome. Não era uma ocorrência comum, como o nome do executor implacável de Bruce parecia ser mencionado com tanta frequência quanto Robert Bruce, ou Douglas, o Negro. Todo mundo tinha ouvido falar de Robbie Boyd. Ele era um dos mais odiados, ultrajados e temidos homens da Inglaterra. A culpa familiar corria em seu interior, revirando seu estômago. Ela não tinha conhecido... Ela não percebera que o homem que ela libertou era Robbie Boyd. Mesmo naquela época, ele já tinha uma reputação, tendo lutado ao lado de William Wallace nos primeiros dias da guerra. Dizia-se que Wallace confiava nele tão implicitamente que ele deixou Boyd como responsável por seu exército, mesmo que Boyd não tivesse 20 anos naquela época. Colocar um dos principais comandantes de Wallace em liberdade era péssimo o suficiente, mas nos seis anos seguintes tornara-se muito pior. Enquanto lutava por Bruce, a reputação de Boyd cresceu em proporções assombrosas. Em Londres, mesmo longe da guerra, falavam dele com uma estranha mistura de terror, temor e repulsa. Inconscientemente, ela ajudou a libertar um dos rebeldes mais notórios da Escócia. Cada história que ela escutava, e havia um monte delas, pesava sobre ela, fazendo-a se questionar se o que ela fizera fora certo. Primeiro, ela não adivinharia por si mesma. O homem que ela observou por semanas não poderia ser tão ruim como eles diziam. Havia coisa boa nele, ele tinha um nobre coração, ela estava certa disso. Mas ao longo dos anos, como as histórias tomaram proporções mais sinistras, a convicção dela vacilou. Teria sua atração por ele a cegado para a verdade? Será que sua paixão por ele a fez enxergar coisas que não existiam?

Ela não quis pensar sobre isso, mas a certeza que uma vez tinha existido, havia há muito desaparecido. Seu único consolo era que seu irmão nunca suspeitaria que ela tivesse se envolvido na fuga de um prisioneiro infame. Boyd manteria sua palavra em ambas às acusações. Ele fez parecer como se ele tivesse vencido os soldados e então se libertado e não matara nenhum dos homens do irmão dela. Ironicamente, aquilo foi o que mais intrigou seu irmão: Por que um dos mais ferozes guerreiros da Escócia não matara nenhum homem quando teve a chance? Especialmente pela falta de paciência de Boyd em assassinar não fora levada em conta antes. Cliff não gostava de inconsistências ou mistérios, e por anos ela viveu com medo de que ele descobrisse sua participação na fuga. Capturar Boyd tinha se tornado pessoal para Cliff. Ele havia capturado um dos bandidos mais ferozes de Bruce e o deixou escapar entre os dedos, isto era a única mancha na sua carreira militar sem mácula. Cliff ficaria furioso se soubesse a verdade. E o pior, ele ficaria desapontado, algo que ela não poderia suportar. Seu irmão era uma constante na sua vida e sua aprovação, seu amor, significava tudo para ela. Ele nunca poderia saber o que ela fez. —Eu espero que eles tentem, – Meg disse. —Então o nosso Pai irá matálos e tirar-lhes as cabeças e colocá-las nos portões do castelo e todo o verão quando passarem por lá saberão que o nosso Pai é o melhor cavaleiro da Inglaterra. Nãooo, – ela se virou para que Rosalin pudesse ver seu pequeno rosto feroz, — do mundo. Roger riu e bagunçou o cabelo de Meg novamente, antes de andar para frente e se juntar aos seus amigos. Rosalin esperava que fosse o fim disto, mas infelizmente os homens passaram a contar algumas das histórias mais horríveis e atos atribuídos a Douglas “O Negro” e Robbie Boyd. A história que ficou conhecida como a ‘Fuga de Douglas’ foi a pior. Todos aqueles homens mortos, jogados da torre, e depois queimados? Ela estremeceu.

Como um homem, com um apelido como Robbie, pode fazer coisas tão horríveis? Isso não poderia ser verdade. Às vezes ela pedia para Roger parar com os comentários, pois ele estava chateando sua irmã, mas a verdade era ela quem estava ficando chateada. Meg, que devorava cada palavra, reclamou, mas Rosalin a distraiu e deixou que ela segurasse as rédeas dos cavalos por um tempo, ensinando-a como fazer pequenos movimentos para guiar os cavalos. Levou menos de uma hora e meia para chegarem ao vilarejo. Enquanto Rosalin, Meg e dois empregados, que os acompanhavam, pararam para explorar as barracas da feira livre que se encontravam ao longo da rua principal, Roger e o restante dos empregados de seu irmão, partiram em direção à colina para o Castelo onde se encontrariam com o comandante das tropas, a fim de discutir o que os homens sempre discutiam: guerra e Robert Bruce. Era uma manhã fria, e com o fim do dia, ficou ainda mais frio, principalmente depois do pôr-do-sol. Embora elas usassem casacos encapuzados, Rosalin decidiu comprar um par extra de mantas de lã para a viagem de volta a Berwick. Consciente do horário que se aproximava para se encontrarem com Roger e os outros soldados, ela rapidamente pegou duas mantas xadrez nas cores azuis, verdes e cinzas. Ela mal terminou de empacotá-las quando ouviu um grito. Normalmente ela não prestaria muita atenção ao barulho, visto que as feiras livres eram muito barulhentas, mas algo naquele grito arrepiou sua espinha. Meg provavelmente sentiu a mesma sensação. —O que foi aquilo? — Ela perguntou.

Elas estavam em pé ao fim da rua, perto de onde se encontrariam com o Roger, mas era difícil enxergar, tendo em vista a multidão de barracas, do outro lado da aldeia onde o barulho surgira. —Não sei querida. Provavelmente não foi nada. Mas não era nada. Mal disse isso e mais gritos surgiram. Num instante a feira, já caótica e lotada, se transformou num pandemônio. Ela agarrou o braço de uma mulher que estava correndo em sua direção e perguntou: — O que está acontecendo? O rosto da mulher estava branco de tanto pavor. —Um ataque, milady. Os rebeldes estão invadindo tudo. Atordoada, Rosalin imediatamente liberou o braço da mulher que desapareceu na multidão de pessoas que inundavam a rua e seguiam na direção delas. Isto não poderia ser um ataque. Não no meio do dia. Não em Norham. Nem mesmo os escoceses se atreveriam a desrespeitar a autoridade de seu irmão não dessa forma. Mas eles se atreveram. Oh Deus, o que ela faria? Ela congelou, nunca sentira tanto pavor em sua vida. Um grito de “fogo” agravou ainda mais o seu medo. De repente, sentiu um puxão em sua mão. —Tia Rosalin? Olhando para baixo para a garotinha, tentando não demonstrar o seu medo, mas obviamente assustada, o rosto aterrorizado de sua sobrinha fez com que Rosalin esquecesse todo medo que estava sentindo. Ela escondeu suas feições, não demostrando o pavor que sentia. Meg precisava dela. —Não há nada com o que se preocupar, querida, o homem mal não vai nos machucar.

Ela parou. Sua boca ficou boquiaberta. Meu Deus do Céu! Atrás da multidão de pessoas que tentavam se deslocar, ela conseguiu ver os invasores e tudo o que ela estava prestes a dizer, tudo o que ela pensava que sabia sobre os guerreiros, cavaleiros e soldados, fracassou como uma tocha mergulhada na água. Ela deveria ter feito o sinal da cruz se pensasse que isto poderia protegêla. Mas nada as protegeriam daqueles homens. Bandidos, piratas, bárbaros. Ela pensara que chamá-los dessa forma era um exagero. Mas não era. Os atacantes não pareciam em nada com os cavaleiros ingleses com seus uniformes e bandeiras coloridos. Eles vestiam capacetes escuros e casacos de couro preto, alguns com pedaços de aços. Alguns usavam toucas, mas essas também eram pretas. Mas o pior disso tudo eram as armas que pareciam amarradas a cada polegada de seus peitos enormes. Ela nunca tinha visto tantos machados, espadas, martelos e lanças em sua vida. Se os cavaleiros eram personagens de contos de fadas, os escoceses eram criaturas dos infernos. Eles pareciam ásperos, violentos e absolutamente mortais. Não se admira que os guerrilheiros escoceses fossem comparados com Vikings. O medo de seus ancestrais quando observaram a aproximação dos navios vikings nas margens, fora o mesmo que ela estava sentindo agora vendo os selvagens escoceses atravessando do outro lado da fronteira. Ela podia ver apenas um punhado deles, mas era suficiente. Todos os pensamentos de sair do caminho ou de se esconder apagaram de sua mente. —Temos de chegar ao castelo, – ela disse para a Meg e para os servos aterrorizados. Eles ficariam protegidos atrás das muralhas do castelo. O castelo de Norhan era um dos redutos mais impenetráveis de Borders, quase tão impenetrável quanto o castelo de Berwick. —Nós ficaremos seguras lá, – ela assegurou para a menina de olhos arregalados. —Com Roger e o restante dos homens. Mas, infelizmente, Roger não estava no castelo.

Rosalin agarrou a mão de Meg e encarou a multidão juntamente com os dois criados, quando ela ouviu o barulho de cascos de cavalos feroz a sua frente. Oh Deus, não, por favor, não deixe isto ser... Mas sua prece não foi respondida. No borrão de cavaleiros e homens armados a cavalo, ela avistou seu sobrinho na retaguarda do bando. Eles já estavam se aproximado para encontrar-se com ela e Meg, quando eles perceberam o que estava acontecendo. Quantos homens do Cliff os acompanharam? Ela não contou antes. Vinte? Talvez um pouco mais? Contra quantos dos inimigos? Ela não sabia, ela só rezava para que fossem suficientes. O barulho de espada contra espada era ensurdecedora e estava muito mais perto do que ela antecipara. Algumas mulheres na multidão gritavam aterrorizadas. Uma das mulheres que estava trabalhando na feira começou a chorar atrás dela. A fumaça era grossa e transformava o céu em noite. Rosalin olhou para a rua e na distância de quarenta pés, os cavaleiros de seu irmão lutavam com os meliantes. Ela soltou um suspiro de alívio ao verificar que os escoceses estavam em menor número, cerca de dois para um. E, felizmente, Roger, na retaguarda, não estava perto da luta. Mas seu alívio não durou muito. Num instante, dois dos cavaleiros de seu irmão caíram sobre as espadas dos inimigos. Ela gritou de horror. Alguns dos melhores soldados de seu irmão foram cortados como se fosse manteiga. Ela se esforçou para olhar para o outro lado. Embora quisesse desesperadamente olhar e ter certeza que Roger estava bem, ela tinha que manter Meg segura.

Rosalin tentou passar através da multidão que tinha dispersado quando as pessoas se voltaram para observar, assim como ela, o desdobramento da batalha que acontecia próximo a eles. Algumas vozes soaram em sua volta, oferecendo palavras de incentivo, um pouco forçadas para os soldados ingleses. Ela se forçou para desviar o olhar enquanto mantinha Meg em segurança. Meg, no entanto, ainda estava assistindo. Elas tinham acabo de chegar ao lugar onde a estrada se afunilava para a aldeia e se dirigiam rumo à colina para o castelo quando Meg gritou e tentou se afastar. Rosalin virou para ela. —O que é isto, Meg? O que foi? A garotinha apontou na direção do vilarejo. — O bandido pegou Roger. O coração de Rosalin se apertou. Através do enxame de pessoas que tentavam sair da aldeia, por trás da poeira da batalha e das fumaças escuras e o fogo tragando todo o vilarejo, Rosalin viu que Meg dissera a verdade. Roger foi arrancado de seu cavalo e estava sendo sustentado pela nuca de seu pescoço, como um filhote de cachorro, pelos rebeldes. Olho por olho. Clifford perderia sua cabeça. Robbie sorria atrás do aço frio de sua espada enquanto observava uma das mais importantes aldeias do norte da Inglaterra ficar em chamas. Ele não sentia nada além da satisfação de um trabalho bem feito. Pitty havia sido queimada há muito tempo atrás.

Talvez fosse devido ao estupro de sua irmã, ou a execução de seu irmão, ou as milhas e milhas de terras escocesas queimadas que haviam sido deixadas no rastro de um exército Inglês, ou os corpos de pessoas que se atreveram discordar de seus senhores ingleses, ou das cabeças de seus amigos que foram dilaceradas por cavalos e colocadas nos portões, ou quaisquer outras atrocidades que ele tinha testemunhado desde a primeira que ele viu: quando ele viu o corpo de seu pai queimado e pendurado nas vigas de madeira. Mas em algum lugar nos últimos quinze anos, seu ódio por todas as coisas inglesas se completara. E, para ele, ninguém simbolizava a Inglaterra melhor do que Robert Clifford. Lord Robert Clifford, ele corrigiu. Clifford era apenas mais um bastardo Inglês numa longa linha que usava o título de cavaleiro como um manto de hipocrisia, como se ele pudesse esconder a injustiça da tirania atrás de um escudo cintilante da cavalaria. Não era apenas a tentativa oportunista para conquistar-lhe as terras e usurpar-lhe o trono de uma nação soberana, embora isso fosse suficiente. Não saía da mente de Robbie que seu amigo que tinha perdido a sua vida sob as ordens de Clifford. Thomas Keith, seu parente e amigo de infância, havia escapado da prisão Kildrummy só para morrer dois dias depois. Para Thomas, seu socorro havia chegado tarde demais. A surra que ele sofreu nas mãos de um dos soldados de Clifford tinha sido demais. Robbie franziu a testa enquanto outra lembrança surgia. Ele lembrou que tinha uma exceção para o seu ódio por todos os ingleses. Ainda se lembrava do seu choque ao erguer os olhos naquele inferno onde pensou que passaria o restante da sua vida e percebeu que —seu salvador— não só era uma mulher, como também inglesa. Ele imaginava que seu —anjo da guarda— (nome dado para as pessoas que traziam comidas aos prisioneiros) era uma das moças que trabalhavam no castelo quando o mesmo foi invadido.

Outra lembrança surgiu em sua mente. Aquele era um dos lábios mais doces e suaves, que ele já tinha experimentado. Lábios esses proibidos para ele provar, a propósito. Devido à escuridão ele só viu o rosto da moça pelas sombras, mas se ela tivesse mais de dezoito anos, ele beberia vorazmente o conhaque por uma semana. Mesmo após seis anos, ele ainda não podia dizer o porquê tinha feito aquilo. Talvez porque ela fosse tão jovem e inocente, e por ele estar vivendo no inferno por tanto tempo. Talvez porque ele percebeu que ela o ajudara e ficara profundamente tocado. Não era a primeira vez que uma mocinha ficava apaixonada por ele, mas com certeza tinha sido a mais oportuna. Ele queria agradecê-la. Ele ainda queria. Mas depois de todos esses anos tentando descobrir quem ela era, ele quase se perguntou se não fora fruto de sua imaginação. Estranho que ele ainda pensasse nela, especialmente quando suas lembranças retornavam aos dias mais sombrios de sua vida. Graças a Clifford. Mas no fim Robbie traria o barão inglês para o inferno, no qual ele seria condenado com certeza. O bastardo arrogante não iria ser capaz de ignorar isto. Cada ataque ousado ao coração de seu “reino” seria um afronta direto à autoridade de Clifford e provaria que ele não tinha nada que os detivesse. Isso o traria para a mesa. Ele assinaria a trégua e seria condenado a pagar duas mil libras, assim como todos os outros. Ter sucesso num ataque dessa magnitude, na fronteira de uma das maiores tropas inglesas, era uma proposta um tanto ousada, até mesmo para um dos membros de elite da Guarda Highlander. Mas Robbie tinha planejado tudo até ao mais ínfimo detalhe. Ele sempre fazia isso. Era uma das razões que a guerra de Bruce tinha sido tão bem sucedida. Eles aprenderam com as vitórias de Wallace, não só se basearam nelas, mas as melhoraram. Os terríveis ataques selvagens “piratas”, como os ingleses os acusavam, tinha se tornado um dos ataques mais disciplinados e bem-organizados já travados.

E até agora tudo acontecia exatamente como ele havia planejado. Bem, exceto para os soldados. Mas os seus homens haviam lidado com muita resistência. Rapidamente, pareceu-lhe que estavam lutando na proporção menos de dois para um. Ele sorriu novamente. Isto pode não ser uma missão perigosa o suficiente para a Guarda Highlander, mas os homens que Robbie tinha trazido consigo foram muito bem treinados. Embora quisesse se juntar a diversão, como ele estava no comando, teve de ficar para trás e ter certeza que nada desse errado. Com os olhos na batalha que ocorria no final da rua, ele assistiu quando dois de seus homens carregaram os cavalos com os grãos, bens e moeda que serviria para financiar o exército do rei para os próximos meses. Com exceção de algumas galinhas, eles não se preocuparam com o gado. Isso só iria atrasálos, e por tratar-se de um de seus ataques típicos realizados bem longe de qualquer castelo, eles precisariam desaparecer rapidamente. Ele endureceu quando Seton, que estava supervisionando os homens incendiarem tudo, se aproximou. De seu passo com raiva, Robbie adivinhou o que ele ia dizer. —Eu pensei que você tivesse dito que ninguém se feriria. Robbie apertou sua mandíbula. —Eu disse as mesmas palavras ao rei: ninguém será ferido ao menos que resista. Isto é um ato de misericórdia, quero apontar, visto que nem sempre é recíproco pelos seus compatriotas ingleses. Mas como você pode ver – ele apontou para os soldados — eles estão resistindo. O rosto de Seton estava escondido atrás de seu comando, mas Robbie viu seus olhos estreitos com a palavra compatriotas. Embora fosse criado na Escócia, Seton tinha nascido na Inglaterra, onde ficavam a maioria das terras de sua família, e Robbie nunca mais o deixaria se esquecer.

Mas eles eram parceiros há muito tempo para Seton ser tão facilmente sincero. —Eu disse que isso era uma má ideia. É muito perigoso. Clifford ajustou o seu orgulho, então agora você também deveria ajustar o seu. Antes que todos nós acabemos na forca. Robbie cerrou sua mandíbula. Ele sabia dos sentimentos de Seton sobre o assunto. O que começou como uma parceria ruim na Guarda Highlander, nunca se confirmou. Eles aprenderam a se tolerar, trabalhar juntos e confiar um no outro quando fosse preciso, mas eles nunca se olhariam nos olhos. Se alguma coisa, a tensão entre eles, tivesse piorado desde que infelizmente se tornaram parceiros, não foi nos primeiros anos da guerra. A insatisfação de Seton com a forma que essa guerra estava sendo conduzida e vencida estava crescendo já fazia algum tempo. Mas se eles tivessem feito da forma que Seton queria, eles ainda estariam fora da lei —perdidos— nas ilhas malditas. —Isto não é sobre orgulho, – disse Robbie, irritado, apesar de sua promessa de não deixar Seton o irritar. —Eu estou fazendo o meu trabalho. Bruce precisa da comida e da trégua. Se você tiver algum problema com isso, informe ao rei. —Eu informarei. Os dois homens se enfrentavam, como já tinha acontecido outras vezes. Finalmente, Seton deu um passo para trás, como também já tinha acontecido antes. Seton poderia ter nascido na Inglaterra, mas ter sido criado na Escócia lhe deu bom senso. Ele sabia melhor do que ninguém o significado de desafiar Robbie. Sua reputação foi bem merecida. Seton balançou a cabeça, olhando para toda a destruição ao seu redor. — Onde diabos está a justiça nisso?

A questão não tinha sido dirigida a ele, mas ele respondeu de qualquer maneira. —Olho por olho é a única justiça que os ingleses entendem. Você é ingênuo por tentar acreditar em outra coisa. —Melhor ser ingênuo do que morto. – Seton sustentou o olhar de Robbie. —Ou seria tão bom quanto morrer?! Os olhos de Robbie se estreitaram. O que diabos ele quis dizer com isso? Antes que ele pudesse perguntar, Seton disse: —Nós temos o que precisamos. Devemos ir antes que algum dos homens de Clifford descubra. Robbie demorou um pouco para entender o que dizia Seton, mas quando ele voltou a olhar para a rua para os seus soldados que estavam lutando, ele reconheceu que algo que não tinha percebido antes: os braços de alguns dos cavaleiros de Clifford. Meu Deus! Isso foi melhor do que ele esperava! A derrota de seus guerreiros mais corajosos seria uma facada direta no coração de Clifford? Ele sorriu. —Não se preocupe. Partiremos o mais rápido possível. Os homens estão quase prontos. Ele informou os dois homens que carregavam os cavalos para terminarem de ajudá-lo a prender os últimos sacos. Seton tinha deixado de recolher o resto dos homens, quando um dos homens de Robbie veio correndo em sua direção. Apesar do capacete, Robbie o reconheceu instantaneamente devido a sua estrutura física. Malcolm Stewart, um parente distante, poderia ter apenas dezessete anos e ter a metade do tamanho da maioria dos homens ao seu redor, mas ele lutava com a coragem de um leão. —Capitão, – disse ele, ansioso. —Nós temos um problema.

—Que tipo de problema? —Sir Alexander tem o filho de Clifford. Robbie parou. Devido ao barulho da batalha que ocorria ao redor, ele pensou que não tivesse escutado direito. —O que você disse? —O senhor Fraser capturou o filho de Clifford. Robbie praguejou como se fizesse uma oração. Ele não podia acreditar. Seria possível? A sorte estava batendo na sua porta tão facilmente? —E isso lá é um problema? Pegue-o! Ter o filho de Clifford como refém deixaria o comandante inglês sem alternativas. Clifford teria que aceitar todas as suas exigências. Robbie não poderia ter planejado nada mais perfeito. —O problema não é esse. O problema é a senhora, capitão. Ela não vai deixar que levem o menino e Sir Alexander não quer machucá-la. Por mais que ele gostasse do jovem irmão de criação de MacLeod, Alexander Fraser era um cavaleiro e como os ingleses, o cavalheirismo era uma falha. Robbie olhava em direção à batalha. Não conseguia enxergá-los, ele percebeu que eles deveriam estar longe do centro da batalha. —Leve-me até eles. Eles deram apenas alguns passos antes de Robbie ouvir um som que lhe informava que sua sorte havia mudado. —O portão! — Seton gritou em advertência.

Robbie jurou. —Eu estou vendo isso. A tropa inglesa, aparentemente, decidiu deixar o conforto e a proteção de seus muros e foi ao auxílio de seus compatriotas, provavelmente por causa do garoto. Robbie e seus homens permaneceram tempo demais além das “boas vindas”. Mas ele não tinha a intenção de deixar o garoto para trás. Ele podia vê-lo agora, bem como o “problema” com um manto xadrez. A mulher estava de costas para ele, mas ela estava segurando o menino, tentando puxá-lo longe de um Fraser, um tanto desconfortável, que estava fazendo o seu melhor para tentar separá-la do menino, sem ser demasiado áspero e, obviamente, tendo um momento difícil. A mulher era tenaz; Robbie mostraria isso a ela. Ela não deixaria que o levassem. Ele lembrou um pouco da sorte nos jogos das montanhas. Ele amaldiçoou novamente, olhando para o morro. Os soldados do castelo estavam se aproximando rapidamente. Ele apertou sua mandíbula. Eles não tinham tempo para isso. Ele mesmo cuidaria do problema.

Três Rosalin precisava fazer alguma coisa, pois era evidente que ninguém mais faria. Um cavaleiro que estava perto o suficiente para ir ao auxílio de Roger estava entretido em uma luta por sua própria vida. Os homens de seu irmão — cavaleiros experientes em combates e homens de armas — estavam sendo aniquilados como se fossem guerreiros inexperientes. Roger era inexperiente. Ele não iria durar mais tempo do que levaria ao guerreiro para balançar sua enorme espada de dois gumes. Ela ajoelhou-se e tomou Meg pelos ombros. — Eu irei buscar Roger. — Eu quero ir junto. Antecipando os instintos da menina, provavelmente porque eles eram como os dela, Rosalin a cortou. — Eu preciso de sua ajuda. Eu preciso que você corra tão rápido quanto você puder até aquela colina e diga-lhes que devem enviar soldados. Diga-lhes que o filho de Lord Clifford está em perigo. Você pode fazer isso? Meg assentiu incerta. Não estando disposta a contar com a criança para manter sua promessa, Rosalin a deixou nos braços dos dois servos mais resistentes, com um aviso severo para não soltá-la até que tenham chegado em segurança aos portões do castelo. Rosalin não achou que ela já tivesse corrido tão rápido. Ela rezou a cada segundo que levou para correr através da multidão e diminuir a distância até seu sobrinho. Que não seja tarde demais... — Meu pai vai matá-lo por isso! Ele vai se assegurar de que as cabeças de todos os seus chefes rebeldes estejam em estacas!

Ela quase suspirou de alívio, ouvindo a voz de Roger, embora desejasse que o inapagável orgulho Clifford fosse mais sutil quando fizesse ameaças aos grandes, bárbaros ameaçadores, olhando com espadas afiadas. Seu muito confiante sobrinho, de treze anos de idade, tentando amedrontar o temível cavaleiro, ia acabar se matando. Abrindo espaço entre os últimos moradores que fugiam, ela finalmente foi capaz de enxergá-lo. O escocês ainda estava segurando-o pelo pescoço, com a espada de Roger a seus pés, tendo despojado o jovem, em vez de matálo. Obrigada Deus! — Deixe-me ir, maldição! — Roger se debatia, puxando a mão do homem segurando-o. — Deixe-o ir! — gritou Rosalin, ecoando as demandas de seu sobrinho. Correndo para frente, ela se jogou entre eles. Ela não sabia qual deles parecia mais surpreso. Sob os capacetes de aço ela pôde ver dois olhos azuis se arregalarem. O rebelde recuperou-se primeiro. — Para trás, milady — disse ele, com o mesmo sotaque francês do norte surpreendentemente refinado que, ela tinha usado instintivamente. Embora fosse fluente em inglês que era a língua tipicamente mais usada pelas pessoas do Norte e das fronteiras, o francês era a língua dos nobres e da corte. — Eu não quero lhe machucar. — Então, deixe-o ir! — ela disse impetuosamente, aproximando-se ao seu sobrinho e tentando livrá-lo das garras do guerreiro. Sua aparição incitou um frenesi renovado no esforço de seu sobrinho para se libertar. Juntos, eles lutaram contra o guerreiro muito maior e lutaram para libertar Roger de suas garras.

Eles quase conseguiram. Roger viu assim como ela que o guerreiro não iria pegar sua arma, não com ela lá (aparentemente, havia algum vestígio de cavalheirismo mesmo em bárbaros), e usaram isso para conseguir uma vantagem. Um feroz jogo Viking de cabo-de-guerra se seguiu, com Rosalin tentando se encaixar entre Roger e o guerreiro. Se sua frustração fosse qualquer indicação — pelo menos ela assumiu que, pelo seu tom, ele estava xingando, pois ele falou em gaélico — os seus esforços estavam tendo resultados. Finalmente, ela libertou o colete de malha de Roger do aperto do guerreiro (que estava segurando seu colete de malha e não o pescoço de Roger como ela pensava) e estava prestes a puxá-lo, quando ouviu um cavalo galopando atrás dela. Ela se virou e avistou, num flash de gelar o sangue e parar o coração, uma enorme sombra pairando sobre a sua antes da escuridão envolvê-la. Instintivamente, ela gritou e ergueu as mãos para agarrar a coisa que cobria sua cabeça. Era grosseiro e áspero e cheirava a grama. Não, a grão, ela percebeu. Cevada. A besta vil tinha colocado um saco sobre sua cabeça! Ela lutou para arrancá-lo, percebendo o seu erro tarde demais. Ela soltou Roger. Só por um instante, mas foi o suficiente. A sombra aterrorizante gritou algum tipo de ordem em escocês, presumivelmente para o guerreiro que estava segurando Roger, e um braço circulou em torno de sua cintura. Pelo menos ela pensou que era um braço, embora parecesse mais um gancho de aço. Com ela como o peixe! Ela engasgou, chocada demais para gritar, e em um movimento suave, ele levantou-a do chão e, não muito gentilmente, a pendurou sobre seu colo. Suas costelas e estômago encontraram os músculos duros de suas coxas com força suficiente para sacudir o ar de seus pulmões em uma lufada.

De uma vez a realidade bateu nela. Ela estava sendo sequestrada. O medo correu por suas veias, desencadeando todo instinto primitivo dentro dela. Brigar. Fugir. Viver... Ela gritou e começou a se debater violentamente em seu colo, tentando se libertar, sem se importar que eles estivessem cavalgando mais rápido do que ela já cavalgara em sua vida. Ela teria mais chances de escapar quando estivesse no chão. Seria mais fácil. Seu captor praguejou, o xingamento bruto reconhecível em qualquer idioma, e uma grande mão cobriu sua parte inferior para mantê-la mais firmemente contra ele. O choque da mão de um homem em uma parte tão íntima de seu corpo fez com que todos os músculos de seu corpo se paralisarem. Ela se esqueceu de respirar. Ela podia sentir o tamanho da palma da mão, sentir o comprimento de cada dedo, conforme a mão enluvada segurava a carne macia. Seu aperto era firme, não áspero ou ameaçador de qualquer forma, mas ainda assim seu sangue gelou de terror. — Não se mova — ele avisou em voz baixa, o som rouco do sotaque escocês ao lhe dar uma ordem causou-lhe uma onda de arrepio no seu sotaque inglês. — Você não será de muita utilidade para o menino se sua cabeça estiver salpicada nas rochas. Roger! Oh Deus, ele estava certo. Estava tão desesperada para ir embora, mas ela não fugiria sem Roger. Mas não foram apenas as palavras do bárbaro que a conteve de resistir. Foi também a súbita consciência da parte dele entalada contra seu estômago. Uma parte muito grande, muito dura dele que a fez se lembrar de que, para uma mulher, havia destinos muito piores do que o sequestro.

Cada história assustadora que já ouvira ser contada sobre os escoceses escolheu esse momento — um momento muito ruim— para virem à tona. Estupro, tortura, e Deus sabe-se lá mais que outras formas horríveis de morte eles poderiam conceber, encheram sua cabeça com imagens chocantes e a fizeram fazer o que ele pedira. Pelo menos por agora.

O que diabos estava errado com ele? Obviamente, Robbie tinha negligenciado certas áreas ultimamente, pois, o movimentar frenético de uma mulher, até mesmo de uma mulher inglesa, era suficiente para ter certo lugar dele levantado. Era extremamente embaraçoso. Vergonhoso mesmo. Ele estremeceu ao pensar nas besteiras que ouviria de MacSorley se descobrisse. Sempre podia contar com Erik “Falcão” MacSorley para aliviar o clima durante as tensas, missões perigosas da Guarda Highland, mas Robbie preferia quando não fossem as suas custas. E Robbie, que odiava todas as coisas inglesas, endurecendo-se como um rapaz por uma inglesa certamente se qualificava para isso. Com tantas mulheres escocesas dispostas se jogando em seu colo, ele nunca considerara olhar ao sul da fronteira. Sua reputação como o homem mais forte da Escócia, promovida nos jogos das montanhas ao longo dos anos, não ficou sem seus benefícios. Com a exceção de Gregor MacGregor, cujo nome de guerra de “Arqueiro” atestava a sua habilidade com o arco ao invés de sua reputação como o homem mais bonito da Escócia, Robbie tinha admiradoras femininas mais do que ninguém. Além disso, se ele já viu uma atraente inglesa (e agora ele não conseguia se lembrar de uma), assim que ela abrisse a boca qualquer faísca de luxúria certamente morreria, uma rápida morte fria. Inferno, a mulher espalhada sobre seu colo estava, provavelmente, com idade para ser sua mãe se, como ele inicialmente suspeitou pela manta simples, ela era uma das servas de Clifford.

Seu olhar caiu para a mão que ainda segurava a parte inferior coberta de xadrez surpreendentemente curvilíneo e firme, que espreitava para fora debaixo da borda do saco que ele tinha pegado a partir de alguns de seus despojos para cobrir sua cabeça. Ele franziu a testa, reconsiderando. Talvez não tão velha, afinal. Adivinhando o motivo pelo qual ela tinha parado de se contorcer, ele retirou a mão. Ele foi tentado a dizer-lhe que seus receios eram infundados. Ele não tolerava a violação das mulheres, e Deus ajudasse o homem em seu comando que pensasse o contrário. Mas ele duvidava que ela acreditasse nele. E como aprendera ao lutar nesta guerra, o medo pode ser uma arma poderosa. Se ele a mantivesse quieta até que pudesse se livrar dela, valeria a pena. E ele planejava fazer exatamente isso, se livrar dela, assim que estivesse seguro. Arriscando um olhar para trás, viu que os soldados ingleses da aldeia em chamas que o perseguiam não estavam muito atrás. Mas isso não iria durar. Com a mulher segura, ele incitou seu cavalo mais rápido por todo o vale fértil do rio Tweed. Não demorou muito para que o caminho começasse a ficar íngreme e eles entraram num terreno completamente diferente das colinas de Lammermuir. As colinas e florestas das fronteiras, assim como os das Terras Altas da Escócia, eram território de Bruce. Os ingleses poderiam controlar os castelos, mas os escoceses controlavam o campo. Os leves, ágeis e resistentes cavalos de Robbie e os que seus homens utilizavam tinham sido criados para este tipo de terreno, e não demorou muito para que seus perseguidores ingleses desaparecerem na distância atrás deles. Ele diminuiu, mas não foi até que uma hora tinha passado, e estivessem profundamente nas montanhas arborizadas, que ele finalmente sinalizou a seus homens de que era seguro parar.

Eles precisavam de água para os cavalos, e apesar do fato de que ela não se moveu uma polegada desde o seu aviso, ele estava totalmente desconfortável e ansioso para livrar-se da protetora feroz do rapaz. Fraser poderia levar a mulher por um tempo, pois foi ele quem tinha negligenciado a forma de lidar corretamente com ela em primeiro lugar. Não que Robbie tinha se saído muito melhor, ele teve de admitir. Por mais que ele desdenhasse toda a cavalaria, ele nunca tinha atingido uma mulher antes. Ele supôs que poderia tê-la deixado ali de pé quando ela finalmente separou-se do rapaz, mas pareceu mais conveniente apenas levá-la. Inferno, se ela fosse próxima ao garoto, ela poderia até ser de alguma utilidade. Se o olho de Robbie tinha se perdido algumas vezes para esse traseiro surpreendentemente tenso, disse a si mesmo que era apenas por causa da privação. Privação essa que seria tratada tão logo retornasse ao acampamento. Ele tinha negligenciado Deirdre anteriormente, mas gostaria de fazer as pazes com ela. Deus sabia que ele tinha razões para comemorar. O filho de Clifford... Não, não apenas seu filho. Pelo seu tamanho e idade, o menino tinha que ser seu herdeiro. Ele ainda não podia acreditar que o trunfo que faria Clifford se curvar tinha caído diretamente em seu colo. Seu olhar caiu para aquele traseiro novamente. Bem, pelo menos algo havia caído em seu colo. Desmontando, Robbie teria puxado-a para trás dele, mas Seton agarrou-o pelo braço e o fez virar para encará-lo. — O que diabos pensa que está fazendo? Estamos em guerra contra mulheres e crianças agora? Robbie lhe lançou um olhar de advertência, e não apenas para a mão em seu braço (que foi retirada rapidamente), mas também por falar em inglês. — Não aqui — ele respondeu em escocês. Ele acenou para Malcolm, que tinha montado ao lado deles. — Vigie a mulher e o menino.

Ele foi em direção ao lago, cerrando os punhos com força. Ele deveria saber que o seu parceiro se oporia. Mas se Seton queria uma briga, Robbie ficaria feliz em dar-lhe uma. Depois de ser revolvida ao redor em um cavalo pelo que pareceram horas, ao mesmo tempo, tentando manter seu corpo de bater contra o seu captor (que era tão forte como uma parede de pedra), Rosalin poderia ter chorado de alívio quando o animal finalmente entendeu ao que assumiu ter sido “pare” em escocês.

Todos os ossos do seu corpo doíam, até mesmo os dentes que ainda estavam chacoalhando do galopar constante. Suas costelas tinham tomado o peso do abuso, e se elas não estavam quebradas elas certamente pareciam assim. E seu pobre estômago parecia ter sido ligado permanentemente de cabeça para baixo. Ela estava feliz que não tinha comido nada na feira, ou o saco sobre sua cabeça poderia ter sido muito pior. Era sufocante o suficiente sem compartilhá-lo com o conteúdo de seu estômago. Rolando-a para tirá-la de seu colo com toda a consideração de um saco de farinha, seu captor desmontou. Rosalin queria oferecer algum tipo de resistência. Ela nunca tinha sido tratada de forma tão ignóbil em sua vida. Mas ela estava brutalmente ciente de que algo muito pior ainda estaria por vir. Então, manteve os protestos para si mesma e ficou imóvel, esperando. O que ele faria com ela, com eles? Medo e apreensão tencionaram seus já machucados e maltratados membros. Mas, em vez de mais maus-tratos, ela ouviu a voz com raiva de um homem que falou em um limpo, claro, inglês e que parecia estar desafiando a decisão de seu captor de levá-los.

Ela não precisava entender a resposta dura para saber que o desafio não era bem-vindo. Algo arrepiou sua nuca, e não foi um fio áspero do saco. Sem o som do vento e do bater de cascos, ela foi capaz de ouvir a voz de seu raptor claramente pela primeira vez. Havia algo sobre o profundo, tom rouco que fez suas orelhas picarem e sua espinha formigar. Algo que fez soar uma pequena campainha de aviso dentro de sua cabeça. Algo que fez cócegas à margem de uma memória. Mas então ele se foi, e ela percebeu que era provavelmente apenas um senso inato de autopreservação. O instinto primitivo de uma lebre que ouve a aba da asa do falcão pela primeira vez e sente o perigo. E não havia dúvida de que um homem com uma voz como aquela era perigoso. Ela endureceu quando mãos a agarraram novamente. Mas ficou claro que elas não eram as mãos do mesmo homem que a tinha levado. O aperto era muito menos firme e confiante, e o homem parecia lutar com seu peso quando ele ergueu-a pela metade, metade dela deslizou do cavalo. O saco deveria ter sido amarrado na parte da sela, porque ele não veio com ela. Assim que seus pés tocaram a solidez abençoada de terra firma ela sentiu a passagem de boas-vindas do ar fresco em seus pulmões. Ela piscou quando a escuridão do saco deu lugar à luz do dia, ou pelo menos o que restou dela. Os curtos dias de inverno não foram beneficiados pela pesada névoa cinza, e, embora provavelmente apenas algumas horas para o meio do dia se passaram, a luz tinha diminuído a um crepúsculo assustador. Ainda de frente para o cavalo, as pernas de Rosalin quase caíam para fora quando o homem a soltou. — Desculpe-me, milady — disse ele, pegando o braço dela para firmála.

Ela se virou ao som surpreendente de sua voz e se encontrou olhando para um rosto sardento e corado de um jovem de não mais do que oito e dez anos. Em comparação com os brutos de aparência aterrorizantes que ela tinha visto antes, seu amigável, rosto infantil bonito e magro, uma combinação nada ameaçadora, dissipou alguns de seus temores imediatos de estupro, morte e desmembramento. De debaixo de seu capacete, seus olhos se arregalaram em choque, e ele deu um passo para trás. Levou um momento para ela perceber o porquê. Rosalin nunca tinha amaldiçoado seu rosto, mas ela fez isso agora. Apressadamente, ela colocou o capuz que deveria ter escorregado na luta com o saco e afundou em suas dobras de lã escura. Mas o menino ainda estava olhando para o rosto sombreado, de queixo caído. — Malcolm, inferno rapaz qual o problema com você? O capitão lhe disse para tomar conta dos reféns. Debaixo da segurança de seu capuz, Rosalin olhou para o recémchegado. Mas ela mal tinha examinado o guerreiro feroz antes dele empurrar seu sobrinho para frente e toda a sua atenção se voltar para o menino. — Roger! — exclamou ela, correndo para pegá-lo nos braços. — Graças a Deus! Você está bem? Depois de um abraço aliviado, ela o segurou para olhá-lo, teve de inclinar a cabeça para trás para encontrar seu olhar. Embora tivesse apenas treze anos, ele já era mais alto do que ela. Ela escrutinou cada polegada de seu rosto sujo e de seu amarrotado cabelo dourado. Ele havia perdido seu elmo e sua túnica rasgada estava suja com lama, mas ele parecia ileso. — Eu estou bem — garantiu-lhe. — Você está bem?

Ela assentiu com a cabeça, lágrimas de alívio apertando-lhe a garganta com emoção. Felizmente, o guerreiro tinha se retirado durante a sua reunião, mas ela estava consciente do jovem observando-os. Sua boca estava fechada agora, mas ele ainda estava olhando para ela com um pouco de aturdimento expresso em seu rosto. Em outras circunstâncias, poderia ter sido um pouco doce, mas agora tudo no que podia pensar era que se esta foi à reação do menino, o que os homens fariam quando a vissem? Rufiões. Proscritos. Homens que viviam fora da lei não hesitariam em... Ela estremeceu. Meu Deus do céu, ela tinha que fazer alguma coisa! Olhando em volta, viu que eles estavam de pé em uma pequena clareira perto de um riacho a algumas dezenas de quilômetros de quaisquer guerreiros. Para seu choque profundo, mas grata, ninguém prestava qualquer atenção enquanto eles cuidavam de seus cavalos. Obviamente, ninguém pensava que eles eram uma ameaça. Tinha certeza de que Roger estava muito ofendido, mas ela estava emocionada com a sua boa sorte. Sabendo que eles não teriam outra oportunidade como esta, e que quanto mais cedo eles escapassem melhor (os homens de seu irmão não poderiam estar muito atrás), ela não perdeu tempo. — Apanhe-me — ela murmurou baixinho para seu sobrinho. Ela começou a se balançar dramaticamente. — Oh! — ela engasgou. — Eu não me sinto... Ela deixou suas palavras desaparecerem e prontamente desmaiou, caindo como um monte de trapos. Seu sobrinho assustado mal a pegou antes que ela batesse no chão.

O jovem guerreiro correu em sua direção. — O que há de errado com ela? — disse ele, ansioso. — Eu não sei — respondeu Roger. — Eu acho que ela desmaiou. Rosalin gemeu dramaticamente e estremeceu com os olhos bem abertos. — Água — ela resmungou lamentavelmente, olhando para a direita por causa do olhar do jovem guerreiro. — Por favor. — Aqui, tenho um pouco de uísque — disse ele, estendendo a pele que ele tirou de seus ombros. O tremor que ela deu não foi fingido. Aquilo cheirava horrivelmente, como turfa amarga. Ela balançou a cabeça e agarrou seu braço. — Por favor. Sentindo-se ridícula, ela piscou as pálpebras algumas vezes. Funcionou. — Eu já volto — disse o jovem guerreiro, correndo em direção à margem do córrego apenas visível através das árvores. Rosalin tomou seu sobrinho pela mão e rapidamente se levantou. — Vamos lá. Sem olhar para trás, eles mergulharam através das árvores na direção oposta e correram como se o diabo estivesse em seus calcanhares. Ele estava.

Quatro Robbie se moveu longe o suficiente para garantir que eles não fossem ouvidos, antes de parar pela beirada do córrego e lidar com seu parceiro irritado. Seton removeu seu capacete e Robbie fez o mesmo, jogando-o no chão para poder passar suas mãos nas ondas de seus cabelos que estavam úmidas em razão do suor e da sujeira. Ignorando o fato de que seu irritado parceiro o olhava como se estivesse segurando seus últimos resquícios de controle, e que isso somente iria aumentar sua irritação, Robbie se ajoelhou ao lado do córrego. Com ambas as mãos, ele segurou a água gelada, molhando seu rosto e sua cabeça algumas vezes. Inferno, isso era bom. Odiava os capacetes sufocantes que cobriam todo o rosto que usava durante as missões regulares, preferindo muito mais os capacetes nasais que usava com a Guarda Highlander. Mas esse estilo tinha se tornado associado aos “Fantasmas de Bruce”, e ele não queria abusar da sua sorte. Sacudindo a água do seu cabelo, ele se levantou e encarou Seton, cuja expressão tinha apenas se tornado mais sombria durante a aparente indiferença de Robbie. Cruzando os braços, ele encarou Seton intensamente. —Você tinha alguma coisa pra falar? Os olhos de Seton se estreitaram e sua boca se comprimiu em uma linha branca. Sete anos de guerra Highlander deveriam ter endurecido o jovem cavaleiro, mas ele ainda tinha dificuldades em manter o controle de seu temperamento – ou, ao menos, em não demonstrá-lo. —Você está malditamente certo, eu tenho algo a dizer. Tenho absoluta certeza de que eu não me alistei para lutar contra mulheres e crianças.

Robbie absteve-se de perguntar por que ele tinha se alistado – além do fato que seu falecido irmão tinha sido o companheiro mais próximo de Bruce. —Aquele 'garoto' é o herdeiro de Clifford, e um escudeiro velho o suficiente para manejar a espada de Fraser. A mulher estava no caminho e será libertada assim que for possível. Quanto ao porquê, acho que seria bastante óbvio. Pegar reféns é bastante comum em ambos os lados. — Ele fez uma pausa, incapaz de resistir, acrescentando, —Mesmo para cavaleiros ingleses. Isso era verdade. Sequestro de reféns, particularmente o de um herdeiro para servir como garantia, era uma prática estabelecida por toda a humanidade por séculos. Ambos os lados faziam isso. Nem mesmo Seton poderia contra argumentar. —Reféns são dados, não tomados, — disse Seton teimosamente. —Como eu não pretendia ficar esperando para perguntar a alguém, eu diria que essa distinção não tem sentido. Mas sinta-se livre para retornar a Norham e esperar por Clifford para você poder negociar. Embora eu ache, devido a experiências anteriores, que você poderia não gostar do caminho que essas negociações tomariam. Seton sabia disso melhor do que ninguém. A forma da sua captura em Kildrummy ainda era um ponto sensível mesmo após todos esses anos. Seus dentes cerraram até que o músculo de sua mandíbula se contraísse... —Eu não gosto disto. —Você não tem de gostar, — Boyd respondeu sem rodeios. —O rei quer uma trégua com Clifford e o garoto irá garantir que dessa vez Clifford negociará com boa vontade. Seu parceiro não disse mais nada, embora fosse evidente que ele quisesse.

De repente, Robbie entendeu o que isso se tratava, e, apesar da atual tensão entre eles, teve um surpreendente estalo. —Infernos, dragão, depois de tudo o que passamos juntos, você acha que eu iria machucar o rapaz? Seton fixou seus olhos nos dele, sua boca franzindo em uma linha dura. — Não quero pensar assim, mas eu sei o quanto você odeia o pai dele. Os punhos de Robbie apertaram ao seu lado. —Sim, eu quero vingança, mas contra Clifford, não a um jovem guerreiro. Apesar de a minha reputação dizer o contrário, eu não massacro inocentes ou faço guerra contra aqueles mais fracos que eu. Seu parceiro deveria saber disso. Talvez Seton tenha percebido isso também. —Qualquer pessoa é mais fraca que você,— ele disse secamente. Robbie conseguiu dar um pequeno sorriso pela brincadeira, e o que ele suspeitou que fosse uma desculpa. —Você sabe o que eu quis dizer. —Ele não tolerava valentões. Talvez por culpa de sua própria força, ele era ainda mais consciente de lutar contra oponentes tão fortes quanto a si próprio. Seton se abaixou, pegando seu capacete e entregando a ele. —Você pretende libertar a mulher? Robbie enfiou o capacete debaixo de seus braços. —Eu não a teria levado, em primeiro lugar, mas ela se agarrou ao menino e Fraser estava tendo dificuldade em separá-los. Eu presumi que o garoto iria dar menos trabalho caso eu a levasse. —Quem é ela? Robbie deu de ombros. —Eu não sei. Provavelmente uma serva, talvez uma babá.

—Ela não é uma babá, — disse Fraser, aproximando-se das árvores onde tinham deixado os cavalos. Por ser o irmão mais novo de MacLeod através do casamento, Sir Alexander Fraser tinha se tornado um de seus companheiros regulares na guerra ao longo das fronteiras. Robbie franziu a testa. —Como você sabe disso? —Só olhar para o rosto dela. — Ele balançou sua cabeça. —Se eu tivesse uma babá parecida como ela, eu nunca deixaria o berçário. Visto de longe, seu traseiro muito bem em forma não era uma aberração. Todavia, Robbie tinha certeza que Fraser havia exagerado. —Eu não sabia que beleza impedia o trabalho, mas algum dia eu terei uma empregada escocesa como essa rosa inglesa. — disse Robbie. —Meu parceiro aqui está convencido que nada de qualquer valor cresce abaixo da muralha romana,— acrescentou Seton. —Sim, bem, esteja preparado para mudar de ideia, — disse Fraser. De repente curioso, Robbie olhou entre as árvores onde ele deixara os reféns. As árvores densas e a espessa neblina impediram que visse qualquer coisa. Ele examinou a área ao seu redor, franzindo a testa quando avistou Malcolm ajoelhando-se no riacho, aparentemente refrescando sua pele com água. O jovem guerreiro se levantou e começou a subir a colina. —Quem está vigiando o garoto e a mulher?— ele perguntou a Fraser. —Pensei que você disse para Malcom fazer isso. Eu deixei o filho de Clifford com ele antes de vir procurá-lo. —Robbie praguejou. —O que está errado?— perguntou Seton.

Mas Robbie já estava caminhando em direção aos cavalos. Ele estendeu os únicos momentos de compensação após Malcolm, que estava parado lá atordoado, procurando ao redor. —Onde eles estão? — exigiu Robbie. O rosto de Malcolm empalideceu. —A Milady desmaiou. Eu fui pegar um pouco de água pra ela. Apenas sai por alguns minutos. Robbie xingou novamente. Ele estava realmente começando a se arrepender por não ser o tipo de homem que não bateria em uma moça que entrasse em seu caminho. O jovem guerreiro recuou a visão de sua ira. Robbie não precisava dizer a ele que cometera um terrível engano. E ele iria ser repreendido - só que mais tarde. Nesse exato momento, tudo o que Robbie estava focado era recuperar seus reféns. Ele rapidamente organizou seus homens em um grupo de busca. Em uma voz baixa que não admitia nenhum outro resultado, ele ordenou: —Encontremnos. —Depressa! — Rosalin agarrou a mão de Roger, puxando-o para dentro do rio atrás dela. —Eles estão se aproximando. A água gelada espirrava pelos seus joelhos enquanto ambos corriam em direção à árvore caída. Ela estava quase apavorada demais para notar quão gelada a água estava – quase. Com o coração acelerado, em todos os poucos metros ela olhava ao redor, na expectativa de ver as bestas em seus calcanhares...

Sabendo que não seria capaz de correr mais rápido que a dúzia de guerreiros a cavalo, Rosalin ignorou seu instinto de correr e, em vez disso, usou os minutos preciosos de vantagem que tinha para procurar um lugar para se esconderem. Não era uma tarefa fácil encontrar um esconderijo em um campo invernal e estéril, mas levando em consideração a falta de opções para se esconderem, a árvore caída era muito melhor do que ela tinha ousado esperar. Apoiada em um lado por uma rocha, à árvore deveria estar lá há algum tempo, pois seu interior estava parcialmente oco. Musgos e samambaias tinham crescido pela superfície da árvore como um cobertor, criando um espaço embaixo que era grande o suficiente para que ela rastejasse debaixo. Roger não precisava de instruções sobre o que fazer. Ele praticamente mergulhou dentro da árvore oca assim como ela fez embaixo da cortina de samambaias. Eles tiveram apenas tempo o suficiente para se esconderem. Mal eles haviam se posicionado e ela escudou o som de vozes. —Eles não podem ter ido muito longe. Seu coração parou, reconhecendo a voz profunda do seu raptor. Tremendo, e não apenas por causa do frio, ela esperou que eles se aproximassem. —Maldição, eu gostaria que Hunter estivesse conosco, — disse outro homem. Ela poderia não estar certa, mas acreditava tratar-se do homem que se opôs ao rapto deles. —O terreno está muito difícil e há algumas pegadas, — disse uma voz profunda. —Não posso afirmar quais são deles. Aquela voz... Um arrepio percorreu sua espinha. Havia algo familiar sobre ela.

Ela rapidamente afastou esse pensamento. Não poderia ser. A voz do seu raptor era profunda, mas dura e sem nenhum humor, com uma cortante, cadência autoritária. O prisioneiro – Boyd - era suave. Gentil. Ele parecia ser um homem que sabia como sorrir e não um duro e implacável bruto. —Vocês acham que eles atravessaram o rio? — perguntou um segundo homem. —Eu não acho que tenham, — respondeu seu raptor. — Nós veríamos alguma umidade no chão onde eles saíssem. —A menos que eles tenham decidido nadar rio abaixo. —Se tiverem feito isso, não terão ido muito longe, a menos que eles queiram congelar até a morte. Chame alguns homens e vá para o outro lado do rio. Eu irei continuar procurando por esse lado. —Capitão, aqui! — ela escutou alguém gritar, possivelmente o jovem cavaleiro a quem ela havia enganado. —Pegadas! —Vá, — disse seu raptor. —Eu irei ver o que Malcolm encontrou. Ele se afastou de seu alcance de voz por um momento, e tudo o que Rosalin era capaz de escutar eram as fortes vibrações de seu coração e o som dos dentes de Roger batendo. —Você acha que eles foram embora? — ele sussurrou. —Ainda não, — respondeu ela. Ela sentia que seu raptor com voz dura e inflexível não iria desistir tão facilmente. Pouco tempo depois, ela escutou o som de passos e congelou. Melhor dizendo, como ela atualmente já estava congelada, ela apenas parou de respirar.

—Você encontrou alguma coisa? Agora seu coração havia parado de bater. Essa voz era do jovem guerreiro, e, pelo volume, ele estava de pé bem ao lado da árvore caída. —Continue procurando, — gritou seu raptor de um lugar distante. — Eles estão aqui, droga. Eu posso sentir isso. A raiva e a frustração em sua voz deram a ela uma inesperada faísca de esperança. Bom Deus, seu plano poderia realmente funcionar! De seu lugar amassado sob o tronco, Rosalin observou através do manto de musgos como um dos bárbaros caminhava em direção à árvore no lado oposto do oco. Felizmente, ele não parou, provavelmente supondo que ninguém poderia ter se escondido ali dentro. —Eu não encontrei nada. Eles provavelmente ainda devem estar fugindo. Essa voz era do jovem guerreiro. Malcolm, como seu raptor o havia chamado. Seu raptor praguejou e, embora essas fossem palavras que raramente haviam sido pronunciadas em sua presença, ela ficou entusiasmada ao escutálas, uma vez que apenas aumentavam suas esperanças. —Vamos voltar para onde deixamos os cavalos, — ele respondeu de um lugar mais próximo a ela do que estava antes. —Nós iremos voltar um pouco e ver se conseguimos encontrar algum outro vestígio de pegadas. Eles não podem simplesmente terem desaparecido. Eles conseguiram! Ela não podia acreditar que eles realmente haviam conseguido!

Ela escutou um som de passos frenéticos acima, seguido por um forte “Ai”, de Roger, que colocou fim a sua celebração. Um pouco depois, Roger correu para fora da árvore e foi seguido por uma criatura marrom do mesmo tamanho que um gato, porém com uma cauda espessa. Aparentemente, seu esconderijo já era ocupado por uma fuinha. Ela rolou para fora do seu próprio esconderijo e correu atrás de Roger, rezando para que os homens que os estavam perseguindo não tivessem escutado. Mas uma espiada por cima do tronco apagou aquela fantasia particular. —Encontrei! — O jovem guerreiro gritou através de uma distância de quarenta quilômetros. — Eles estão aqui. Ela sentiu o pânico correr por suas veias. Agarrando a mão de Roger, ela seguiu em direção à floresta em frente. — Corra! Correndo pelo terreno irregular, ela teve que soltar a mão do seu sobrinho para não levá-lo junto com quando tropeçou colina abaixo. Os passos atrás deles se aproximaram. Qualquer chance que eles tinham de escapar havia desaparecido com uma fuinha raivosa, mas ela tinha ao menos de tentar. —As rochas, — ela disse arfando, enquanto já estava respirando com dificuldade. —Rápido. Roger correu na direção onde ela havia apontado. Ao invés de segui-lo, ela parou na esperança de atrasar seus perseguidores tempo o suficiente para dar a seu sobrinho tempo de se esconder. Porém não havia antecipado o homem que estava bem atrás dela. Ele se atirou sobre eles, capturando-os de volta para a terra e lama. Ela gritou devido ao impacto de suas costas no chão, e em seguida, um instante depois, proveniente de uma grande laje vestida de couro sólido de granito que caiu por cima dela – uma muito enorme e muito sólida placa de granito.

O ar saiu de seus pulmões devido ao tremendo choque. Ela não conseguia respirar. Mas naquele atordoante instante seu olhar se encontrou com o do seu raptor e ela sentiu um tipo completamente diferente de choque. Um choque de reconhecimento. Ela engasgou com todo o ar que havia restado em seus pulmões. Querido Deus, era ele! Robbie Boyd. O escocês que ela libertara da prisão anos atrás. O atraente, bonito jovem rebelde que havia capturado seu jovem coração quando ela era uma moça. Ela estava tão certa disso. Mesmo olhando-o da distância da janela da torre, as linhas fortes de seu rosto gravara indelevelmente em seus pensamentos. Seu cabelo escuro estava mais curto e seus olhos eram azuis, não marrons como ela havia assumido pelo seu tom escuro, mas Deus do céu, era ele. Seu coração pulou. Naquele instante de reconhecimento, todas as suas fantasias juvenis vieram correndo para ela em uma forte onda romântica. Se ela havia secretamente sonhado em reencontrá-lo, parecia que seus sonhos haviam se tornado realidade. —É você, — ela sussurrou. Suas gentis palavras pareceram quebrar o estranho feitiço que tinha momentaneamente fascinado os dois. O reconhecimento foi claramente unilateral. O olhar dele endureceu e sua boca comprimiu-se em uma linha apertada, com raiva. De repente, o véu que havia em suas memórias clareou-se rompeu, revelando não o jovem guerreiro de suas memórias, mas sim um frio e impiedoso homem que estava diante dela agora. Seu romantismo caiu levando seu coração ao chão junto com ela. Se ela tinha duvidado das histórias que ouvira sobre Robbie Boyd, bastou um olhar para lhe dizer que todas elas eram verdadeiras. Cada pedaço dele parecia o executor implacável. Cada polegada de um dos homens mais temidos na Inglaterra. Cada pedaço do coração duro que colocara medo através das fronteiras.

Ele tinha mudado. Ela não teria pensado que era possível, mas ele parecia ainda mais imponente. O tipo distinto e a estatura muscular eram as mesmas, mas seis anos de guerra apagaram quaisquer vestígios de sua juventude. Havia uma dureza, uma solidez, uma impermeabilidade nele que não estava lá antes. Ele parecia como um homem que não fez outra coisa além de lutar. Suas feições permaneciam as mesmas, embora ela deixasse de chamá-lo de bonito Essa era uma palavra muito gentil e civilizada. E não havia nada de gentil ou civilizado sobre o terrível atraente bárbaro olhando para ela. De seus olhos azuis de gelar os ossos para a linha de barba escura que cobria sua mandíbula, ele exalava ameaça selvagem e indomável. Terrivelmente atraente – talvez fosse mais apropriado. Ele era mais velho do que ela tinha inicialmente pensado – provavelmente próximo dos trinte e dois anos de Cliff – e ele aparentava anos de batalhas em cada linha e cicatriz de seu rosto. E no furor de sua expressão. Era como se cada pedacinho de humor tivesse escorrido dele. Seus olhos deslizaram para a boca que estava apenas a algumas polegadas acima dela. Parecia impossível de acreditar que aqueles selvagens e sensuais lábios haviam tocado brevemente os dela em seu primeiro beijo, se tornaria uma linha tão fria e dura. Mas ela se lembrava, e, apesar das circunstâncias, uma onda de consciência caiu sobre ela. Uma onda que se transformou em um calafrio na medida em que se lembrava do aconchego de seus braços e, principalmente da parte dele que ficava entre suas pernas. Ao longo dos anos de batalhas, Robbie tinha sido atingido na cabeça algumas vezes por um martelo de guerra. O sentimento atordoado e confuso, era o mesmo quando ele viu pela primeira vez o rosto da mulher abaixo dele.

—Linda— parecia uma palavra demasiadamente trivial para a magistral perfeição de seus traços delicados. Grandes olhos verde-escuros, emoldurados por cílios longos, pele tão branca como porcelana tão imaculada como neve recém-caída, maçãs do rosto salientes tingidas num tom delicado de rosa, um nariz pequeno e um queixo suavemente pontudo e uma boca tão doce e avermelhada que ele precisou se controlar para não prová-la. Cabelos longos, com ondas sedosas, foram espalhados para fora, numa aureola dourada atrás de sua cabeça. Ele nunca havia feito uma alusão poética em sua vida, mas essa mulher poderia inspirar mesmo o mais simplório dos homens a pensar em anjos e deusas descendo dos céus. Quando seus olhos se encontraram, ele realmente se assustou. A força da conexão entre eles tinha toda a sutileza de um para-raios na base de sua espinha. Havia alguma coisa na forma como ela estava olhando para ele que o fez sentir como se ela o conhecesse. Mas o seu rosto era um ao qual ele se lembraria, mesmo no meio de uma multidão de mulheres que se aglomeraram sobre ele durante os Jogos Highland. Então ela falou, e ele lembrou-se do por que não a reconhecia: ela era inglesa. Sua mente clareou o suficiente para torná-lo consciente de outras coisas. Tais como a morna suavidade do corpo debaixo dele, o formato dos seios esmagados contra o seu tórax e, mais significantemente, a oportuna posição de seu pênis aninhado no doce e pequeno espaço entre suas pernas. Infernos. Agora que ele havia pensado nisso, ele não poderia parar de pensar a respeito. De quão bom isso era. De quão bom era senti-la embaixo dele. De como tinha se passado mais de uma semana desde que estivera com uma mulher.

A onda de desejo que o atingiu era tão ardente, tão poderosa, tão intensa que o pegou de surpresa. Apressou-se entre suas pernas, alongando uma parte dele que era demasiado grande para se esconder. Aparentemente, sua prévia reação em relação à moça não havia sido uma anomalia. Droga, Fraser estava certo. Essa mulher o fez reconsiderar algumas de suas opiniões preconcebidas sobre estar atraído por uma inglesa. Ele ficou rígido. Ele ficou muito duro e muito espessamente rígido. Ela fez um som – um suspiro de choque que o lembrou das circunstâncias completamente inapropriadas para ele estar excitado, como um rapaz com sua primeira namorada. Ele não queria aterrorizar o rapaz. E a repentina palidez de seu rosto, bem como o arregalar dos olhos o informaram que ela estava aterrorizada. Mas ele podia jurar que também tinha vislumbrado uma centelha de desejo da parte dela que refletiam a dele. Antes que ele conseguisse se separar da moça e assegurá-la que não estava em nenhum perigo – especialmente esse tipo de perigo de sua parte – ele sentiu um puxão duro nas costas que o fez deslizar para o lado. —Saia de cima da minha tia, seu bárbaro maldito! — Diabos, ele percebeu, sua mente clareando. Aquilo não fora um puxão, mas sim a lâmina de uma faca! Robbie mal conseguiu sair do caminho antes que o menino o atacasse novamente. — Se você tocar nela eu te mato! Robbie ficou de pé assim que Malcolm puxou o rapaz de cima dele. — Desculpe-me, — disse o jovem guerreiro. —Ele conseguiu alcançá-lo antes que pudesse detê-lo.

Robbie não iria castigar Malcolm por seu próprio erro. Um erro que poderia ter custado sua própria vida. Era bastante oportuno que Robbie estivesse usando sua armadura de couro e o rapaz não fosse tão ágil com a adaga. Cristo, o homem mais forte da Escócia seria assassinado por um pivete! Se Falcão soubesse disso, Robbie jamais iria escutar o fim de suas brincadeiras. Mas ele esteve tão atordoado com a moça que um exército poderia ter aparecido a galope atrás dele que ele não teria percebido. Vislumbrando que Seton e seus homens estavam apenas há alguns passos de distância, ele percebeu que eles tinham praticamente... A moça Então toda a verdade recaiu sobre ele de uma só vez. Tia. Inferno sangrento. Qualquer lampejo de desejo que ele pudesse ter experimentado foi rapidamente destruído quando ele percebeu que não havia apenas sequestrado o herdeiro de Cliff, mas também sua irmã. Sua boca se comprimiu enquanto ele encarava a mulher que estava sob seus pés e sacudia lentamente a sujeira de folhas de suas saias. —Tia? — ele perguntou, como se ela o tivesse enganado de alguma forma. —Lady Rosalin? — Seton perguntou com uma voz atordoada que disse a Robbie que ele também tinha visto o rosto dela e também tinha sido igualmente afetado. Ignorando o questionamento de Robbie, ela olhou para Seton e assentiu. É obvio. Robbie deveria ter imaginado. A beleza da irmã de Clifford era bem conhecida. Os ingleses a chamavam de a bela Rosalin, fazendo alusões aos ilustres antepassados de Clifford.

Pela primeira vez, Robbie foi forçado a admitir que as histórias inglesas que ele assumira serem exageradas, eram verdadeiras – talvez até mesmo atenuadas. A moça era uma das criaturas mais belas que ele já vira. A quinta essência da rosa inglesa. Sua mandíbula apertou. Mas ainda havia semelhança suficiente com Clifford para recordá-lo exatamente quem ela era: a irmã do homem que estava determinado a destruí-los, conquistando suas terras e os observando serem condenados. A irmã de Clifford, inferno! Ele sentiu seu rosto escurecer na medida em que o sangue de suas veias começou a correr. De alguma forma sua atração pela moça fez a situação ainda pior. Isso parecia como uma maldita traição. Neste caso, uma traição sua. Deus sabia que ela provavelmente era tão arrogante e condescendente como seu irmão. Sim, sem dúvidas ela era uma pirralha minada e superprotegida que nunca passara por um momento de privação ou conflito em sua vida. Linda ou não, como ele poderia ter esquecido – mesmo que por um instante — ela era inglesa? Poderia parecer doce por fora, mas ela certamente era tão feia por dentro quanto seu irmão. A beleza, nesse caso, era certamente enganosa. Ele a encarou friamente, calculadamente, obrigando-se a não notar a perfeição de suas feições, mas a semelhança com seu inimigo e os benefícios que lhe traria. Seu ataque colhera recompensas muito maiores do que jamais poderia ter imaginado.

—Parece que a sorte sorriu para nós duas vezes hoje, — ele disse, tanto para seu benefício como para os homens que se reuniram ao seu redor. —Nós não apenas capturamos o herdeiro de Clifford como também capturamos sua adorada irmã. —A afeição de Clifford por sua única irmã era bem conhecida. Aparentemente o bastardo tinha uma fraqueza pelas mulheres de sua vida. Uma vez Robbie também teve. Mas, ao contrário da irmã de Clifford, sua irmã não havia conseguido escapar da brutalidade da guerra. Sua boca se transformou em uma dura e implacável linha na medida em que a familiar raiva se agitava em seu interior. —Eu aposto que nós dobramos a chance de assegurar nossa trégua, não é mesmo, rapazes? — Ele foi recompensado com uma enxurrada de “sim” por todos os seus homens exceto por Seton, que conseguiu sair de seu atordoado transe rápido o suficiente para se virar para ele. —Eu pensei... —A situação mudou, — disse Robbie, interrompendo-o com um olhar de advertência. Se Seton insistisse em expressar suas objeções – não que isso fosse fazer alguma diferença – isso não aconteceria naquela hora. Ele não desistiria de uma vantagem dessas, como a irmã de Clifford, sem fazer algumas considerações. Um inferno inteiro de muitas considerações. —O que você pretende fazer conosco? — ela perguntou. Sua voz tremeu, embora ele notasse a forma como ela se inclinou em frente ao rapaz como se estivesse o protegendo. Algo naquela voz o incomodava. Não era apenas a voz de uma mulher – mesmo se fosse à irmã de Clifford – com medo dele não lhe caia bem, mas isso era outra coisa. Alguma coisa fez sentir como se aquela voz fantasmagórica lhe sussurrasse algum coisa em seus ouvidos, mas não conseguia distinguir as palavras. Ele colocou a estranha sensação de lado e respondeu sua pergunta. — Você e o rapaz serão levados para um lugar seguro onde esperarão enquanto enviamos um mensageiro para seu irmão. —Ele deu de ombros. —O que quer que aconteça depois disso é responsabilidade dele. Os olhos dela se arregalaram, mas apesar do seu medo óbvio ela conseguiu dizer, —Você não pode fazer isso!

Ele admiraria sua coragem mais tarde, mas naquele momento tudo o que conseguia enxergar era o ligeiro endurecimento de sua espinha e o ofendido queixo elevado que o lembrou muito seu irmão condescendente. Ele se inclinou ameaçadoramente para ela. Estava tentando dar ênfase ao seu ponto. Não porque ela cheira tão malditamente bem. Embora tenha sido isso que atingiu seus sentidos, envolvendo-o em sua suave fragrância floral. Rosas, é claro. Um enorme, pesado, florescente buquê de rosas. Ele apenas controlou-se o suficiente para não inalá-lo. —Eu lhe asseguro, milady, que eu posso. A autoridade do seu irmão não tem nenhuma importância aqui. Se eu fosse você, me lembraria disso. —Seus olhos se arregalaram ainda mais e ele teve que forçar-se a permanecer firme. A irmã de Clifford... Ele eliminou qualquer impulso estúpido que estivesse sentindo em seu interior. Mas inferno, ele desejava que ela parasse de olhar para ele assim. —Considere-se afortunada por não ser punida por tentar escapar. Os olhos dela percorreram seu rosto com uma intensidade que o deixou inquieto. Ela parecia estar quase à beira das lágrimas. —O que aconteceu com você? Sua testa franziu em uma carranca. Esse era um comentário estranho para se dizer, mas de qualquer forma ele nunca entendeu os ingleses. —É a guerra, — ele respondeu simplesmente, afastando-se dela. Ele já desperdiçara o suficiente do seu tempo. —Amarre o rapaz e separe esses dois, — ele disse para Malcolm, que continuava segurando o filho de Clifford. Isso deveria evitar quaisquer futuros problemas. —Não! — gritou ela, agarrando seu braço e puxando-o de volta para encará-la. Ele ignorou a batida em seu peito e o calor causado pelo seu toque. Sua pele se arrepiou. Na verdade, todo o seu corpo tremeu. Com o medo esquecido, seus olhos brilhavam com raiva. —Você não pode fazer isso. Ele é apenas um garoto. Eu não irei deixar você machucá-lo.

A raiva no seu tom de voz o fez sorrir. Isso era mais do jeito dele. Ele a preferia mais quando agia desse jeito. Isso tornava mais fácil de recordar seu irmão. A fonte de sua apaixonada defesa, no entanto, não parecia estar tão satisfeita. O menino estava velho demais para ter uma mulher o defendendo, e suas bochechas coradas diziam que ele sabia disso. —Deixe que me amarrem, tia Rosalin. Eu não me importo. Eles não irão me machucar. Meu pai ira matálos se ousarem machucar qualquer um de nós. Então o rapaz não era um completo filhote, ao menos. Após observá-lo manusear a espada em Fraser, anteriormente, e a forma como tinha defendido sua tia com um punhal, embora desperdiçasse sua oportunidade, como Robbie tinha suposto. Mas ele não tinha mais paciência para a valentia do rapaz do que tinha pela da sua tia. —Seu pai quer nos matar de qualquer forma. Eu lhe asseguro que não é a ameaça de Clifford que irá mantê-lo seguro. —Então o que irá?— ela perguntou. Lançando a si mesmo, ele encontrou seu olhar novamente. Não que isso tenha ajudado. Cada músculo em seu corpo continuava apertado. Que inferno estava de errado com ele? Não era como se ele nunca tivesse visto uma mulher bonita antes. Seus olhos baixaram. E notara um conjunto espetacular de... Ele forçou seu olhar para cima e instruiu o desejo por seu corpo. Esta falta de foco não era algo usual dele. —Meu bom humor, — ele replicou. —Então eu sugiro que você não tente fugir novamente. — As mãos dela caíram e ele sentiu os batimentos do seu pulso voltarem ao normal. —Mais uma palavra de precaução caso você tente escapar. Os ataques de seu irmão não o tornaram particularmente querido entre as pessoas que estão por aqui, e você pode não gostar de quem te encontrar. Mas enquanto estiver sobre minha proteção, ninguém a prejudicará. —E isso, supostamente, deveria me deixar tranquila?

Sarcasmo. Ele também gostava disso. Ela realmente estava vendo Clifford agora. —Eu não dou à mínima se isso irá tranquilizá-la ou não. —Você não tem nada a temer, — interrompeu Seton galantemente. — Você e o garoto estarão seguros pelo curto período de tempo que estiverem conosco. Eu me certificarei disso pessoalmente. Seton poderia muito bem ter se colocado entre eles e levantado seu escudo brilhante – o efeito teria sido o mesmo. Ele simplesmente se declarou o defensor deles e transformou Robbie no inimigo. Esse era um papel no qual ele já havia ocupado antes, portanto não havia nenhuma razão pela qual isso poderia incomodá-lo. Não havia nenhuma razão pela qual ele poderia querer tirar essa armadura brilhante de seu parceiro e usála ele mesmo. Não havia nenhuma razão pela qual ele deveria se importar se ela tivesse olhado para Seton com gratidão. Exceto que ela não estava olhando para Seton, ela estava olhando para ele - com uma expressão bem estranha em seu rosto. —Por favor, – ela disse suavemente. —Não faça isso. Eu estou pedindo para nos libertar. O olhar que ela lhe deu o fez sentir-se desconfortável. Era aquela mesma sensação de que ela o conhecia. Que procurava por alguma coisa em seu rosto, mas não estava conseguindo encontrar o que queria. Que esperava por alguma coisa. —E por que diabos eu faria isso? Os olhos dela nunca deixaram os seus. —Porque você me deve. Ele tentou rir, mas isso não aliviou a tensão em seu interior. A sensação de que algo estava muito errado, e o que quer que fosse isso, ele não iria gostar. —O que eu posso dever para a irmã de Clifford?

Ela baixou sua voz, mas ele escutou a única palavra que modificou tudo. —Kildrummy.

Cinco O sangue sumiu do rosto de Robbie. Kildrummy. A memória se agitava. Seu coração começou a disparar. Não, não era possível. Não podia ser... Mas ele sentiu uma queimação no estômago. Sabia que a voz do seu subconsciente tentava lhe dizer. Por que ela o olhava como se o conhecesse e esperasse que ele também a reconhecesse? Ele praguejou e fechou a distância entre eles com um longo passo. Passou as costas de suas mãos no rosto dela, mas como a luva de sua armadura fora projetada para protegê-lo das espadas em combate, não sentiu o toque macio de sua pele, mas sabia que a sentiria mais tarde, e inclinou seu rosto para trás na noite nublada. Ela não se esquivou de seu toque ou o repeliu, apenas sustentou seu rosto de traços delicados, ao seu olhar minucioso, quase o desafiando a negar a verdade. O pavor se agitava como uma premonição em suas entranhas. Mas ele sabia. O contorno do seu queixo e nariz não deixaram dúvidas: ela era a inglesa que ajudou libertá-lo da prisão há muito tempo atrás. A moça vestida com capa e capuz que ele confundiu com uma serva. A jovem que ele tentara encontrar durante anos para que pudesse devolver-lhe o favor. Embora parecesse inconcebível, a adorável jovem, cujos doces lábios tremeram sob o seu toque, com um beijo, era a irmã de Clifford. A verdade foi como um soco no peito, golpe poderoso o suficiente para derrubar até mesmo o homem mais forte na Escócia.

De repente, tudo se encaixava. Ele se lembrou de ouvir alguns dos guardas discutirem a chegada inesperada da menina com a tropa de Hereford, e como ela fora trancada em uma das torres como se fosse alguma princesa sagrada e que ficaria arruinada por apenas respirar o mesmo ar que os desprezíveis escoceses. Nunca lhe passara pela cabeça que o seu anjo da guarda pudesse ser a irmã preciosa de Clifford. Não, não era de se admirar que suas buscas não tivessem efeito. Ele perguntou sobre a meia dúzia de moças que trabalhavam no condado de Earls, mas não perguntou sobre as Miladies. Seus olhos se encontraram. —Você disse que me devolveria o favor se algum dia nós nos encontrássemos, — disse ela. Seton era a única pessoa perto o suficiente para ouvir, e o único que entenderia sobre o que ela falava, proferiu um palavrão em voz baixa. Pela primeira vez seu parceiro e ele estavam de acordo. Robbie tirou a mão do rosto dela e deu um passo para trás, não confiando em si mesmo. Algo estava crescendo dentro dele que não reconheceu. Um diferente tipo de raiva. Um redemoinho frenético selvagem aproveitou para despi-lo de todas as amarras. Não era certo, caramba! Por que tinha de ser ela? A única memória agradável que ele tinha do tempo que foi esquecido por Deus agora estava destruída só por saber que seu anjo, a jovem moça doce que o tirou daquele inferno, era irmã do homem que o colocaria lá outra vez. —Solte-nos, — ela suplicou sua voz suave relembrando uma parte nele há muito esquecido. A sua consciência, droga!

Maldita seja por fazer isso a ele! Por estragar tudo. Para deixá-lo em dívida com o bastardo do Clifford. Sua boca e punhos cerrados contra a confusão de sentimentos que surgiam dentro ele. Precisava pensar. Mas não podia fazê-lo aqui, em pé, com ela o encarando. Precisava fugir daquele olhar repleto de esperança. Foi até seu cavalo. —Arranje um cavalo para eles, — disse a Seton. —Vamos precisar cavalgar rápido, se quisermos chegar ao local do encontro a tempo. Norham não foi o único ataque neste dia. Douglas e Randolph estavam esperando por eles perto de Channelkirk. Ele não precisou olhar para ela. Seu suspiro desesperançoso dissera tudo. Seton estava muito surpreso, mas não intimidado. —Quer dizer que não irá libertá-los? Robbie o deteve com um olhar que era provavelmente tão perigoso como ele sentia por dentro. Só por uma vez ele desejava que seu parceiro não questionasse tudo o que fizesse. —Droga, não agora. Os homens de Clifford provavelmente estão próximos. Se não sairmos daqui agora mesmo, nós seremos os únicos que precisaremos de libertação. Como eu pude ser tão estupida? Rosalin ouvia a conversa à distância e sentiu sua última gota de esperança se dissipar. Todas as dúvidas e rumores que escutara por anos eram verdadeiras. A expressão fria em seu rosto quando percebeu quem ela era, e sua recusa em libertá-los, não deixou nenhuma dúvida de que tudo de bom que ela imaginou que uma vez pudesse existir em Robbie Boyd, não existia. Seu pior pesadelo se concretizou. Ela errara ao libertá-lo e se arrependeu do que fez.

Ela não suportava pensar que muitos de seus compatriotas poderiam ter morrido por causa de sua equivocada compaixão. Porque ela achou que estivesse corrigindo uma injustiça e não podia desviar o olhar. O nobre rebelde que ela imaginara não era nada além de um bandido sem piedade, sem palavra. Depois do que fez e tudo o que arriscou, ele literalmente lhe virou as costas. Qualquer vestígio que permanecia em seu insensato coração de mocinha apaixonada virara pó. Ela realmente imaginara que um momento de paixão entre eles traria algum tipo de ligação? Ela acreditou que ele os libertaria por causa de alguma dívida que jamais pensou pagar? Ela esperou. Nunca acreditou que o homem que conheceu pudesse ser tão cruel. —O que você conversava com aquele rebelde, tia Rosalin? Quase podia jurar que você o conhecesse. Malcolm havia libertado Roger que se sentou ao lado dela como um guerreiro de cabelos loiro escolhido pelos seus companheiros de equitação. Rosalin odiava mentir para ele, mas ela mal conseguia explicar. —Como eu posso conhecê-lo? — Como, de fato. —Eu simplesmente lhe pedi para nos libertar. —Mas você não sabe quem ele é? Ele é o “Executor do Diabo”, Robbie Boyd. Um dos homens mais cruéis da Escócia, dizem que é o mais forte guerreiro. O Papai mandou prendê-lo uma vez, e ele seria executado se não conseguisse escapar. Ele e papai se odeiam. O Executor do Diabo não vai nos libertar sem exigir algum pagamento de Pai. —Eu compreendo isso agora, — disse ela calmamente. —Mas eu tinha de tentar.

Eles não tiveram a oportunidade de conversar mais, já que os bandidos decidiram sobre as montarias e disposições dos cavalos, então eles foram separados. As mãos de Roger foram amarradas e ele foi forçado a montar com o guerreiro que o tinha capturado pela primeira vez em Norham. Fraser, ela ouviu alguém o chamar assim. Se ele era parte dessa grande família patriota ela sabia que não encontraria qualquer simpatia dele. Ela foi colocada sob o comando de um impassível, idoso guerreiro de barba ruiva, aparentemente chamado Callum, embora ele não falasse uma única palavra com ela, e se parecia muitíssimo com o jovem Malcolm. Se fosse seu pai, como ela suspeitava, ele aparentemente esganaria Malcolm pessoalmente. Em instantes, ela foi jogada sobre a sela diante dele e partiram rumo ao seu destino, onde ela sequer podia imaginar. Quem dera ter prestado mais atenção na viagem ao sul de Kildrummy com Sir Humphrey. Sua cabeça estava cheia de fantasias românticas (que parecia especialmente cruéis em vista do que acabara de acontecer), e ela não registou muito a paisagem. Ela vira tantas igrejas e castelos que todos pareciam os mesmos. Sabia da localização das principais vilas e cidades, mas duvidava que os rebeldes fossem a qualquer lugar perto de alguma delas. Deduziu que eles iriam a noroeste das colinas e florestas de Norham e Berwick, indo em direção, mais ou menos, do oeste. Ela sabia que Bruce e seus homens controlavam o campo e operavam de sua base na Floresta Ettrick. Seu coração parou. Meu Deus será que era para onde eles iriam? Rosalin não acreditava em assombrações, mas as histórias dos fantasmas de Bruce que supostamente tiveram seu covil na grande floresta Royal eram lendárias. Os Soldados de seu irmão seriam duramente pressionados para segui-los em tal terreno hostil e perigoso. Ela sentiu um desejo de escapar o mais rápido possível. Mas ela não poderia fugir sem Roger, teria de esperar uma chance. Eles não podiam andar até metade do caminho além das fronteiras para Ettrick sem descansar.

Ela esperaria. Mas esses homens pareciam resistentes e fortes e estavam acostumados a cavalgar até lhe doerem os ossos. Eles provavelmente iriam cavalgar até quando ficassem exaustos. Embora ela estivesse mais confortável do que estivera quando fora jogada sobre o colo de Boyd, num saco, com o pôr-do-sol o caminho foi tomado por uma neblina, e cada vez mais ela sofria os efeitos da jornada através do rio. Seus sapatos molhados se transformaram em gelo e congelaram seus pés. Logo, ela tremia incontrolavelmente. Não que alguém pudesse perceber. O velho rude guerreiro atrás dela mal percebera sua presença. Com os olhos firmes e fixos à frente, ele a ignorou completamente Os demais guerreiros fizeram o mesmo. Boyd e o guerreiro loiro e bonito, que também parecia familiar, tinham ficado para trás inicialmente (provavelmente para despistar quaisquer soldados que os estivessem perseguindo) acabavam de reaparecer. Não que ela esperasse gentileza dele. Ele não olhara em sua direção nenhuma vez. Nada mal para uma ligação especial. Se ela precisasse de mais alguma prova que o sentimento era unilateral, isso acabara de morrer. O que ela esperava? Um simples olhar e ele, instantaneamente, saberia quem era ela? Que caísse de joelhos e jurasse amor eterno só por ela ter o libertado? Só porque não vira seu rosto significava que não poderia reconhecê-la? E ele não era um príncipe de conto de fadas; era um rebelde. Um bandido. Um flagelado. Um homem que lutava sem regras ou honra. Ela era uma idiota. Rosalin cobriu a manta em torno de si bem apertado e tentou não pensar no quanto estava cansada, com frio, ou quão miserável era. Sem sucesso. Sua voz embargada e um brilho quente de lágrimas queimavam atrás de seus olhos. Mas ela não iria chorar. Não faria isso.

Não importava o quanto ela queria. Não importava que tivesse sido raptada, maltratada, caçada, quase esmagada até a morte, que descobrisse um homem que ela pensava que era um herói não era mais que um bandido sem piedade, e provavelmente, seria levada para o lugar mais aterrorizante do universo. Ela tinha que ser forte por Roger. Talvez ela não tivesse totalmente sem sua afeição. O guerreiro de cabelos loiros olhou para ela, mas com cuidado para não encontrar-lhe o olhar. Ouviu uma tensa discussão entre os guerreiros, e se perguntou se era sobre ela. Qualquer que fosse o assunto que os dois homens falavam, ficou claro que eles não concordavam. Ela estava com muito frio e prestes a suplicar ao velho guerreiro rebelde por algo quente para cobrir seus pés, quando Boyd virou seu cavalo e olhou furiosamente em sua direção. Arrancando sua manta de seus ombros e jogou em direção a eles. —Droga, Callum, cubra ela nisto. Ela vai trazer todo o exército inglês pra cima de nós com todo esse falatório. Callum pegou a manta e a cobriu, colocando sob seus pés que foram pendurados para um lado. Rosalin se aconchegou em seu calor com um suspiro profundo. Aparentemente, Boyd não quis nem esperar seus agradecimentos, pois já tinha se virado. Bem mais confortável, disse para si mesma não criar falsas ilusões naquela gentileza. Mas houve uma intimidade estranha ao estar enrolada em sua manta. O tecido ainda mantinha o calor de seu corpo, e ela podia sentir o seu cheiro suave amadeirado e tabaco ou alguma coisa bem masculina. Parecia que ele a abraçava e ficou difícil não pensar bobagens.

Ela tentou pensar em Sir Henry. Em breve ele chegaria a Berwick. Ela estremeceu ao pensar no que ele faria quando descobrisse sobre o seu sequestro. Esperava que ele não fizesse nada precipitado. Ela torceu o nariz. Estranho que, embora ela não o conhecesse muito bem, fora a primeira pessoa em que pensou. O céu estava sombrio pela tempestade que finalmente cessou. Embora estivessem montando por algumas horas, em terreno áspero, e ter que diminuir a velocidade dos cavalos sobre as colinas, ela imaginou que não percorreram nem dez ou quinze milhas. Callum desmontou e a ajudou a descer sem olhar para ela. Apesar de sua expressão pouco amigável, ela perguntou: —Onde estamos? —Pergunte ao capitão, — respondeu ele, já se retirando. Ela pretendia. Logo depois ela procurou por Roger. Mas ao ver que seu sobrinho estava com —o capitão— a poucos passos de distância, ela caminhou na direção de ambos. Após checar e se assegurar que Roger estava bem, se voltou para Boyd. Não sem relutância, ela retirou a manta de seus ombros e entregou a ele. —Obrigada, — ela disse. —Fique com ela, disse ele com indiferença. —Você vai precisar disto hoje à noite. —Você não vai ficar com frio? Deu-lhe um longo olhar. —Não fui eu quem foi nadar no rio.

Não fora nadar, e sim tentara fugir dele. Resolveu não discutir. Olhou ao redor na escuridão iluminada por tochas, e viu o que parecia ser um pequeno abrigo na floresta com um riacho que corria entre duas montanhas cobertas de neblina. Acharia esse cenário belíssimo se não estivesse com tanto frio, sequestrada e poderia servir como seu quarto para a noite. —Onde estamos? perguntou a ele. Ele esperou um longo momento antes de responder. —St. Colinas de Cuthbert. —Nunca ouvi falar disto. A maneira como ele encolheu os ombros demonstrou que estava bem ciente disso, e certamente foi por isso que disse a ela. Provavelmente era uma forma local de falar sobre um lugar que não teria sentido a uma pessoa que não fosse da região. —Isso é perto de Edimburgo? Seus intensos olhos azuis se estreitaram. Ainda não conseguia se acostumar com o forte contraste de seus olhos claros com os cabelos escuros. Ela sentiu arrepios sobre sua pele. Era inquietante. Ele era inquietante. —Se você está pensando em fugir outra vez, eu não faria isso se fosse você. Esses montes são perigosos, milady. Você nunca saberia com o que você pode se deparar. Como se estivesse aguardando seu sinal, um grupo de cavaleiros se aproximou pelo outro lado. —Ah, aqui estão eles, — disse Boyd.

Ao que parecia os recém-chegados eram esperados. Alguns minutos depois, um homem saltou de seu cavalo, tirou o capacete, e caminhou na direção deles. Era um homem corpulento. Talvez até uma polegada mais alto do que Boyd, embora não tão musculoso. Ela duvidava que poucos homens fossem tão musculosos como Boyd. Não que Boyd era volumoso. Apenas forte. Não que ela tivesse reparando nele. Afinal ela era uma mulher de vinte e dois anos, e não alguma garotinha emotiva de dezesseis anos de idade, que ficava impressionada por uma aparência física. Mesmo que fosse o mais impressionante físico que já tinha visto. Tinha que haver um pingo de gordura sobre ele em algum lugar, embora ela não pudesse ver. Ela voltou seu olhar para o outro homem. Ele usava a mesma armadura de couro preto como os demais. Elas eram tão finas quanto qualquer coisa que Cliff pudesse usar. Incrivelmente barbeado e limpo de poeira e sujeira, ele aparentava ser muito mais civilizado do que Boyd e seus guerreiros bárbaros. —Você está atrasado, — disse Boyd. —Algum problema? O recém-chegado balançou a cabeça. —Nada que não pudesse ser corrigido. — Ao notá-la, ele escondeu sua surpresa. Lentamente arqueou uma sobrancelha e se voltou para Boyd. —E quanto a você? Seu percurso foi muito mais interessante do que o meu. Você finalmente decidiu tomar uma esposa? Seus métodos podem ser um pouco antiquados, mas os resultados parecem ter valido a pena. —Ele soltou um assobio. —Você tem sorte que eu sou um homem feliz no casamento, mas não deixe Randolph vê-la, você sabe como ele adora as loiras. —Acorde Sir James. A moça é uma refém, igual ao rapaz. —Sir? — Obrigada Senhor! Até que enfim, um cavaleiro! Talvez ela tenha encontrado alguém que pudesse defendê-la. Embora algo sobre o jeito sarcástico que Boyd havia frisado “sir” a fez pensar que havia mais do que isso. —Isso soa muito mais interessante, — disse Sir James. —Quem são eles?

—A irmã e o herdeiro de Clifford. A expressão de Sir James se transformou após as apresentações e foi como se um terrível temporal tivesse caído sobre eles. Ela deu um passo para trás, sentindo o vento quente de ameaça dirigida a eles. —Lady Rosalin. Jovem Roger, — disse Boyd com formalidade fingida. — Conheçam Sir James Douglas. Talvez vocês já tenham ouvido falar dele? Ele é o legítimo proprietário da terra que Clifford passou 15 anos tentando ocupá-la. Rosalin engasgou. O sangue dela se transformou em gelo, e seu coração disparou quando o medo se apoderou dela. Instintivamente, ela pegou a mão de Roger e puxou-o de volta para ela e Boyd, que ela tinha acabado de procurar instintivamente. Apenas momentos atrás ele parecia ser seu pior pesadelo. Mas agora eles sabiam que não. Seu pior pesadelo estava bem diante deles. Douglas “O Negro”. Pior inimigo de seu irmão, e era o homem que mais o odiava. Com um olhar, Robbie disse a Douglas que recuasse. Ele experimentara um golpe esquisito no peito quando ela inconscientemente se mudou para se proteger, e teve de lutar contra um impulso-incontrolável e inesperado de abraçá-la. Quando Seton lhe lançou um olhar duro, no entanto, Robbie se perguntava se ele lutou contra o mesmo desejo, assim como achava que tinha. Se tinha sido o choque ou o seu olhar de advertência, ele não sabia, mas a expressão de Douglas mudou. Uma curva astuta saiu de sua boca. —Por Deus, isso é perfeito. Que benção! Finalmente temos os meios para deixar aquele bastardo inglês de joelhos. Com sua irmã e seu o herdeiro em nosso poder, ele vai dançar em cima dos parapeitos de Berwick, se desejarmos. Foi a mesma reação que Robbie teve, mas, por alguma razão, vindo de Douglas soou diferente. Talvez fosse por causa do efeito que as palavras tiveram sobre a moça e o rapaz. Ambos empalideceram e se aproximaram alguns passos mais perto dele. Que golpe estranho bateu em seu peito.

Ele se virou para Seton, e com um olhar disse a ele o que ele queria que ele fizesse. —Vem, minha senhora — disse Seton, levando-a para longe. —Você deve estar com fome. Vamos procurar algo para você e o garoto comerem. O olhar de gratidão que ela deu a seu parceiro fez com que Robbie quase quisesse que ele mesmo tivesse exprimido aquela ordem. Ele fez uma careta para a estranha reação. O papel de cavaleiro andante era de Seton, não dele. Mas a moça parecia estar provocando todos os tipos de reações estranhas nele. Quando voltou mais cedo da patrulha, parecia que sua pele se rasgava toda vez que ela tremia. —Seton, — ele gritou. Seu parceiro virou confuso. —Peça a Malcolm para fazer uma fogueira. Seton não disse nada, mas Robbie leu a dúvida em seu olhar e rapidamente colocou um fim a isso com um olhar duro. Não era incomum este tipo de pedido. Era uma noite fria e nublada. Mesmo que se expusessem um pouco a um incêndio, os ingleses não iriam acompanhá-los para as montanhas e florestas à noite, ou ao dia. Era perto das vilas e provisões dos castelos onde eles deveriam ter cuidado. —Como desejar, Capitão. Boyd não perdeu o sarcasmo na voz de Seton. Seu parceiro ainda estava sofrendo com o fato de que Bruce tinha colocado Robbie responsável. Esta era sua missão, e, portanto, como ele disse a seu parceiro inúmeras vezes ao longo das últimas horas, ele não tem que ouvir a opinião de Seton sobre o que devia fazer. Ele não estava com humor para ouvir sobre o maldito código de honra de Seton, e como eles “deviam” parar e libertar ela e o menino. Como isso era o certo a fazer depois do que ela fizera por eles.

A única coisa “certa” era ganhar esta maldita guerra. Isso era tudo que Robbie deveria pensar. Seu único foco deveria ser fazer o necessário para garantir um acordo com Clifford e, em seguida, recolher o dinheiro. E se a moça e o rapaz iriam ajudá-lo nisso ou não, o resto não importava. Honra não ganharia a guerra. Mas não importava quantas vezes ele dissesse a si mesmo, ele não conseguia parar de ouvir a voz dela. Você me deve. Ele fez, caramba. Ele honraria a promessa, pois cumpriria com o seu dever. Ele tinha uma dívida com ela, mas ele não poderia simplesmente dar munição a Clifford. Ele olhou para ela enquanto se afastava com Seton, tentando não ouvir o que eles estavam falando. Ou porque ela, do nada, se virou do nada e deu um sorriso tentador a Seton. Caramba! Cerrou seus punhos. Será que ela tinha que olhar assim? Se ele já vira uma mulher mais linda, ele não conseguia imaginar uma senhorita Rosalin Clifford mais maravilhosa. Esplêndida, atraente. Por direito, a irmã de Clifford deveria ter uma língua dividida, chifres, e todas as outras formas de diabrura. Ou, talvez, verrugas e rugas, como um ogro ou bruxa. Na verdade, ela tinha uma mancha. Uma pequena que parecia uma sarda. Ficava próximo do lábio superior muito sensual, e não fazia pensar naquelas bruxas ou ogros, mas em algo completamente diferente. Sentiu um calor indesejável em sua virilha. Gostaria de ter seu pênis chupado assim como qualquer outro homem, mas nunca só de pensar nisso o tinha deixado duro.

A irmã de Clifford. Ele ainda não podia acreditar. Ele não conseguia conciliar a moça doce que o tinha salvado, com a mimada e bela Inglesa, tinha de ser outra. Ele estava certo que quando seus medos desaparecessem, e ela percebesse o porquê eles estavam lá sem nenhum dano, começaria a fazer exigências e dar ordens. Seu olhar mudaria, para abusada e tolerante, como se ele rasgasse as páginas de seu conto de fadas favorito e os queimasse diante de seus olhos. Ele iria olhar para baixo, naquele adorável nariz, não com decepção e desilusão, mas com ódio e frieza. Ela não poderia ser tão doce como parecia. Não tendo um irmão assim. Ele franziu a testa enquanto Seton arrancava sua manta para cobrir uma rocha baixa para ela se sentar. Dragão e suas malditas sensibilidades cavalheirescas. Mesmo depois de sete anos de luta como um “pirata”, ele ainda achava que ele era o Lancelot. Foi como ele ganhou o seu nome de guerra. Dragão era uma brincadeira, referindo-se ao dragão (Wyvern) nos braços de Seton que ele insistia em usar no começo de seu treinamento, antes que ele fosse forçado a admitir o quão ridículo que era usar um tipo de túnica enquanto eles estivessem lutando. —Inferno, o que há de errado com você? Demorou um minuto para Robbie perceber que Douglas estava falando com ele. Droga, quanto tempo ele estava sendo observado? Muito tempo, o olhar estreito do homem era uma indicação. —Eu achei que você fosse ficar mais animado, — acrescentou Douglas. —Pegamos Clifford pelos culhões. —Eu estou, — ele assegurou-lhe, forçando a expressão sombria de seu rosto. —Vocês receberam o dinheiro do bispo? — Douglas fora para o castelo de Bewley encontrar-se com o bispo de Cumbria.

Mas Douglas não seria tão facilmente enrolado. —Você quase parece o protetor da moça. Admito, ela é uma beleza, mas eu não pensei que você seria tão facilmente iludido. A cadela Inglesa é a irmã de Clifford, pelo amor de Deus. Robbie devia estar muito mais cansado do que percebera, porque ele agora se sentia menos cavalheiresco que Seton, como também com a súbita vontade de esmurrar seu amigo. Por quê? Chamá-la de puta? Não era nada que Robbie não tivesse dito várias vezes antes sobre o seu inimigo: Cadela Inglesa, Puta inglesa que era tão comum como dizendo que faça chuva ou faça sol. Não explicou porque contraíram seus dentes, —Eu não preciso que você me lembre de quem é ela – ele pensaria nisso mais tarde, caramba, — mas a moça está sob minha proteção e será assim até que eu a liberte. —Por que diabos você vai soltá-la? O Rei Edward ainda detém a esposa, filha e irmã de Bruce. Por que você não faz o mesmo com esta família? Robbie não estava tão interessado em ouvir a opinião de Douglas sobre o assunto quanto a de Seton. Nem ele sabia se explicar. Ele olhou para Seton e a moça em questão apenas a tempo para ouvir sua risada. Cada músculo em seu corpo se contraiu. Roger, o rapaz, também estava rindo. Ambos esticavam seus pés na fogueira que parecia bastante acolhedora. —Boyd, precisamos apenas do moleque, por que você não fica com ela? Pense em como Clifford ficaria furioso ao saber que sua preciosa irmã está na cama de Robbie Boyd.

A imagem foi mais acentuada do que Robbie desejou, imaginou seus corpos suados, despido e enrolados em lençóis bem amassados. Ele contraiu a mandíbula até trincar. —Eu não a quero, e com certeza não quero uma esposa. Douglas sorriu maliciosamente. —Eu não estava pensando nela como sua esposa. Você não pode se casar com uma inglesa. Ele estremeceu dramaticamente. —Faça-lhe sua amante. —Eu disse que não a quero, droga! —Sim, eu acredito, — disse Douglas com sarcasmo. — É por isso que você continua olhando para Seton como quisesse matá-lo mais do que o normal, não é. — Ele arqueou uma sobrancelha. —Olha só quem apareceu! Não demorou nada para encontrá-la. Eu disse que ele tem uma queda por loiras. Robbie olhou a tempo de ver Sir Thomas Randolph, o sobrinho de Bruce e sentiu um desejo de dar um chute em seu traseiro e no de Seton, ao vê-lo se debruçar sobre a mão da moça como um elegante cavalheiro e não como o implacável guerreiro que ele e todos ali eram. —Minha esposa me disse que as mulheres o acham bastante atraente. Eu não consigo entender porque, — disse Douglas com desgosto. Era evidente que, Joanna Douglas mantinha seu marido inseguro provocando com o seu rival. Robbie estava realmente começando a gostar da esposa de seu amigo. Ela era mais difícil do que parecia. —Talvez não seja você quem vai levá-la para a cama, afinal, — acrescentou Douglas. Robbie pensou que sua cabeça fosse explodir. —Ninguém vai levá-la para a cama, caramba. Ela não ficará aqui por tempo suficiente.

Seis Rosalin demorou um pouco para descobrir isso. Uma vez que ela o fez, teve que esperar por Sir Thomas engajar Roger na conversa para que não fossem ouvidos. Ela conheceu Sir Thomas, o sobrinho de Robert Bruce, ao vê-lo inúmeras vezes na corte quando ele se mudou há alguns anos atrás. O galante e belo cavaleiro não tinha mudado em tudo, ele ainda era um charmoso malandro. Sua presença amiga tinha aliviado um pouco a tensão do encontro com Douglas “O negro”. Mas não era Sir Thomas, com quem ela desejava falar em privado. — Você estava lá, também—, disse ela baixinho para o guerreiro de cabelos louros que tinha defendido-os mais cedo. Ela não tinha percebido isso antes porque ele tinha mudado muito. O alto, magro, bonito jovem com o cabelo loiro descolorido tinha acrescentado dureza suficiente para sua construção, de forma a parecer quase irreconhecível. Ele não era mais um jovem, mas sim um homem adulto, bastante impressionante, ela poderia acrescentar. Com seus olhos azuis, de cabelos dourados e boa aparência, ele parecia à fantasia de toda menina que sonha com um cavaleiro de armadura brilhante. Só que ele era um bandido. Ele pareceu surpreso, mas balançou a cabeça. —Sim, eu estava lá.

Ele entregou-lhe outra aveia ou “cintura”, como ele a chamava, cozinhada sobre a fogueira. Embora ela estivesse morrendo de fome e não ter comido nada, a comida simples estava surpreendentemente saborosa. Suspeitava que a aveia havia sido misturada com parte da gordura retirada das tiras de porco, as quais também lhe foi oferecido. —Eu me lembro de você. — Na verdade, ela tinha visto primeiro Boyd, ela provavelmente teria encontrado a si mesma observando-o. —Eu costumava ver você e Boyd falando o tempo todo. Você eram amigos até então. —Sua boca se apertou um pouco como se discordasse. —Havia um outro homem também. Ele tinha cabelo vermelho. —Thomas—, disse ele. —Um amigo de infância de Boyd. —O que aconteceu com ele? Ele lhe deu um olhar triste. —Ele morreu dois dias depois que escapou. O coração de Rosalin se espremeu, ficou mais atingida pela sua resposta do que ela teria acreditado. Saber que seus esforços para salvar-lhes não tinham sido o suficiente tinha feito parecer muito pior o que ela tinha feito. —Sinto muito. Ele assentiu. —Ele era um bom homem. Ela não duvidava disso. —Posso saber o seu nome? —Sir Alexander “Alex” Seton, minha senhora. Ele era um cavaleiro? Ela deve ter mostrado sua surpresa. Um lado de sua boca levantou em um sorriso irônico que finalizou com uma pitada de tristeza. —Eu sei que não parece, não somos todos bandidos.

Havia mais do que um pouco de amargura em seu tom de voz, que ela achou melhor não explorar. Não por enquanto. Mas ficou claro que se ela esperava encontrar um amigo entre os rebeldes, este homem seria a sua melhor perspectiva. De repente, ela percebeu o que mais ele disse. Seus olhos se arregalaram. —Seton? Você está relacionado com Sir Christopher? Ele olhou para o fogo, cutucando-o com um pedaço de pau. —Ele era meu irmão. Ele disse com naturalidade, mas ela sentiu a profunda emoção subjacente às palavras simples. O choque foi completo. Como Wallace, Sir Christopher Seton tinha sido um dos grandes heróis escoceses nos primeiros dias da guerra. Perder o irmão de Sir Christopher teria sido quase tão grande como perder Robbie Boyd para Cliff. —Meu irmão não sabia? Sir Alex balançou a cabeça. —Circunstâncias... Bem, basta dizer que eu tinha razões para não fazer o meu nome bem conhecido no momento. No caos e confusão da rendição, ninguém fez a conexão. Eu tive sorte. Outros não. A sensação de mal estar no estômago cresceu junto com sua culpa. Agora ela não tinha apenas a liberação de Robbie Boyd em sua lista de traições graves a seu irmão e país, mas o irmão de Sir Christopher Seton também. Ele deve ter adivinhado seus pensamentos. —Obrigado pelo que você fez por nós, minha senhora. Devo-lhe a vida. Todos nós devemos. Sua gratidão foi tão graciosamente dada, que ela não podia recusar. Ela inclinou a cabeça. —Você é bem-vindo. — Seu olhar se deslizou sobre Boyd, que ainda estava preso em uma conversa com Douglas “O negro”, e ela estremeceu reflexivamente. —Eu gostaria que todos se sentissem como você sente.

Voltou-se para Sir Alex a tempo de ver sua boca endurecer. —Eu tentei, minha senhora. Se fosse meu comando, você e o rapaz nunca teriam sido tomados. — Ele fez uma pausa, um tom de ressentimento em sua voz. —Mas não é meu comando. —Obrigado por tentar. Não há nada mais que pudesse fazer. Ela parou, enrijecendo, quando uma sombra escura caiu sobre ela. Meu Deus, como ele tinha chegado lá tão rapidamente? Ela não precisava olhar para saber quem era. O zumbido estranho ao longo de sua pele e aumento no seu pulso o identificou. Ela resistiu ao impulso de olhar para cima e confirmá-lo, supondo que se ela mostrasse desinteresse incomodaria-o. Se a nitidez da voz dele fosse qualquer indicação disso, ela conseguiu. —Hora de dormir, minha senhora. Não havia nada em seu tom sugestivo, mas seu estômago deu um pequeno salto de qualquer maneira. Ela sufocou uma ingestão aguda da respiração, mas não foi capaz de impedir a palidez do rosto. Ela olhou para ele e sabia pelo brilho em seus olhos que ele tinha adivinhado seus pensamentos e estava deleitando-se de prazer diabólico dela. Por que ele estava tão zangado com ela? O olhar escuro dele dirigido a Sir Alex a fez se perguntar se ele tinha algo a ver com ele. —Eu não estou cansada ainda. — Não poderia ser muito mais de sete horas. Ela esticou os pés perto do fogo. —E meus sapatos não estão secos. —Se você deseja ser devolvida para ver seu irmão pela manhã, você vai para a cama agora.

Ela ficou chocada. —O quê?— Foi abafada pelos barulhos mais altos provenientes dos homens em torno dela. Ela não sabia quem estava mais atordoado: ela, Sir Alex, ou Douglas “O Negro”. —Você está nos libertando?—, Ela perguntou, incrédula. —Não é 'nós', você. Douglas “O Negro” explodiu. —Você não pode libertá-la! Clifford vai dar o braço esquerdo pelo pivete. O olhar de Rosalin imediatamente deslizou para seu sobrinho depois do pronunciamento de Boyd. Apesar de Roger estar tentando bravamente não mostrar o medo entre os guerreiros inimigos, ela viu o rosto pálido. O coração dela acelelerou. Apesar da altura e armadura, ele ainda era apenas um menino. Tão apavorado quanto ela, ela não iria deixá-lo. —Não!— Ela não percebeu o quão alto tinha falado até que todos os homens se voltaram em sua direção. Com tantos olhos em cima dela, o calor subiu para suas bochechas. —Eu não vou—, disse ela em um tom mais moderado. —Não sem Roger. Robbie lutou para controlar seu temperamento. Algo que ele parecia estar fazendo muito na presença de Lady Rosalin Clifford. A moça era tão má como Seton. Embora ele tivesse ouvido apenas as últimas palavras, não foi difícil descobrir o que eles estavam falando. Ele poderia ficar impressionado com a rapidez com que tinha desenvolvido um ouvido tão eficiente, se ele não estivesse tão furioso sobre isso. A última coisa que ele precisava era de Seton e mais discórdia entre eles; era uma razão a mais para a moça sair do seu caminho.

Ele deveria ter adivinhado depois da maneira como ela se recusou a deixar o menino ser capturado em Norham que ela faria isso difícil. Seu protecionismo em direção ao rapaz era louvável, mas por Deus, ela não fazia ideia da concessão que ele estava fazendo em deixá-la ir sem nada em troca? Douglas não era o único que estava furioso, o rei também, teria muitas perguntas. Perguntas que Robbie seria duramente pressionado para responder sem revelar o que tinha feito por ele. Algo que ele suspeitava que ela não queria conhecida. Mas a moça estava certa. Ele devia a ela. E Robbie Boyd sempre pagava suas dívidas. Isso era uma coisa que o Inglês poderia muito bem aprender. Ele ainda teria o rapaz. Clifford pagaria com ou sem a moça. Ele segurou o desejo de dizer-lhe que o assunto não era aberto para debate e em vez disso virou-se para Seton. —Leve o rapaz para a caverna e deixe-o pronto para a noite. Eu quero dois homens postados à entrada em todos os momentos em turnos de quatro horas por dia. Robbie viu a troca de olhares assustados entre a moça e o rapaz que não era tão imune ao medo como ele queria ser. —Mas... Ele não a deixou terminar. —Sua tia não demorará a chegar—, disse ele ao menino, aliviando os dois. —Lady Rosalin e eu temos algo para discutir. — Ele olhou para Douglas e Randolph. —Sozinho. O menino olhou para ela, e ela balançou a cabeça. —Vá. Eu vou ficar bem. O capitão nos deu sua palavra de que nada nos acontecerá. Do jeito que seu olhar cintilou para Douglas, Robbie suspeitava que ela tivesse dito apenas para tranquilizá-lo.

Com evidente relutância do garoto fez o que ele pediu, dando olhares preocupados sobre seu ombro até que ele desapareceu na escuridão enevoada. Randolph e Douglas o seguiram com a mesma relutância. —Você e eu vamos conversar mais tarde—, Este último disse em uma voz que prometia um acerto de contas. Havia talvez um punhado de homens neste mundo que não se deixaria intimidar por uma ameaça de Douglas “O negro”; Robbie era um deles. Ele encontrou o olhar de seu amigo com firmeza. Douglas pode não ter gostado, mas ele não iria impedi-lo de deixar a moça ir. A troca, no entanto, teve um efeito diferente sobre Lady Rosalin. O medo que ela vinha tentando conter com esforço voltou com força total. Ela observou Douglas de pé como se fosse uma cobra enrolada e pronta para atacar. Assim que ele se foi, ela se virou para Robbie. —O que ele vai fazer conosco? Ele se sentou em frente a ela no lugar desocupado por Seton. —Nada. Você está sob minha proteção. Vocês não tem nada a temer de Douglas. Ela fez um som agudo que estava a meio caminho entre uma risada e um estrangulamento. —Será que ele sabe disso? Robbie quase sorriu, mas se conteve. —Não se preocupe com Douglas. Eu vou cuidar dele. Ela o olhou com cautela, claramente não tendo certeza se acreditava nele. Ele teve que lutar contra o impulso de tranquilizá-la, o que era certo como o inferno, pois ele nunca havia se sentido compelido a tratar com um refém antes. Claro, ele nunca tinha tido uma mulher como refém antes. Uma mulher que era tão bonita que era difícil olhar para ela sem o seu sangue ferver.

O que diabos estava errado com ele? Ela era Inglesa, caramba. A irmã de Clifford. O inimigo. Sua boca se apertou. —Vá para casa, Lady Rosalin. Eu lhe dei o que você pediu. Eu te sugiro que aceite. —Eu pedi para você liberar nós dois. Eu não vou deixar Roger aqui sozinho. —Com você, ela não precisa adicionar. Seu olhar se voltou implorando. —Por favor, você não vai apenas deixar-nos ir? Ele não poderia, mesmo que quisesse. Isto era muito importante. Ele tinha sido presenteado com uma maneira de trazer Clifford na linha, e ele com certeza não ia jogá-la de volta para ela, pelo menos. O rei estava contando com ele. —Você ouviu Douglas. Você deve considerar-se feliz que eu decidi deixá-la ir. Seu irmão está causando problemas. Seu sobrinho vai garantir que ele pare. —Então, mantenha-me e deixe-o ir. —Não. —Por que não? —O menino é mais valioso. Você pode ser sua irmã, mas Roger é o seu herdeiro. —Para a maioria dos homens, talvez, mas não meu irmão. Ele me ama. Ele vai fazer algo. Ela parou, provavelmente percebendo que ela não deveria estar dizendo isso.

—O rapaz fica. Ela olhou para ele, seus grandes olhos verdes luminosos à luz da lua enevoada. —Você não vai ter piedade? Ele é apenas um garoto. Fez apenas treze no mês passado. Ele preparou-se contra o brilho de lágrimas nos olhos dela. Um ataque que ele nunca tinha enfrentado na batalha, e um que estava a revelar mais eficaz do que qualquer espada. Por Deus! Ele apertou os punhos. —Esse 'garoto' teria colocado uma lâmina através de minhas costas ou morto qualquer um dos meus homens se tivesse a chance. Eu vou lembrá-la que eu não era o único a colocá-lo na batalha. —Foi difícil como o inferno ser frio com o fato de tê-la olhando para ele assim. Ele cedeu um pouco. Sua devoção a seu sobrinho e tentar protegê-lo eram admiráveis. —Seus medos pelo rapaz são infundados. Ele não precisa de você aqui para defendê-lo. Ele estará perfeitamente seguro. —E porque eu acreditaria em você?— Seus olhos se encontraram. —Sua reputação é bem conhecida, meu senhor. Havia altivez Inglesa suficiente em seu tom para definir o seu temperamento explosivo. —Talvez você devesse ter pensado nisso antes. Ela levou um momento para perceber a que ele estava se referindo. Quando ela se encolheu, ele quase desejou voltar atrás no que disse. —Eu não sabia quem você era. — Os olhos dela procuraram os dele com uma intensidade beirando o desespero que o fez querer desviar o olhar. Ela queria algo dele que nunca tinha estado lá. —Na época, eu pensei que vi alguma coisa que valia a pena salvar. Algo nobre e honroso. Aparentemente, eu estava errada. Um homem que usa uma mulher e uma criança a seu favor, como uma arma em uma guerra é sem honra. Um cavaleiro não faria isso.

—Maldição! Vocês Ingleses e seus cavaleiros malditos! —Por um momento, olhando para aqueles insondáveis olhos verdes, ele tinha estado em perigo de esquecer quem ela era. —Você não precisa me dizer o que um cavaleiro faria. Eu sei tudo sobre cavalheirismo Inglês. Se você acha que seus compatriotas são como heróis em algum conto de trovador, você está absolutamente errada. Seu rei colocou uma espada em minha mão quando eu não era muito mais velho do que o seu sobrinho, e ele convidou meu pai e alguns outros chefes locais a trégua e então traiçoeiramente abateu todos eles. Ela arregalou os olhos e piscou os olhos, lentamente. —Tudo o que eu fiz—, ele continuou, —Eu lhe asseguro, seus conterrâneos têm feito muito pior. Devo lembrá-la das duas mulheres que foram penduradas em gaiolas de castelos ingleses por mais de dois anos? Onde diabos está a cavalaria? Rainha, irmãs e a filha de Bruce ainda estão presas por seu rei. Os Ingleses tem feito tudo o que podem para destruir e empobrecernos: arrasando nossos campos, invadindo os nossos castelos, estuprando nossas mulheres, e matando nosso povo há mais de quinze anos. Então se para ganhar esta guerra e ver meu país livre da ocupação e subjugação dos Ingleses significa que eu tenho que te usar como escudo, você pode ter a maldita certeza que vou fazer isso. Há muito pouco que eu não faria para ganhar, por isso, talvez você se lembre disso antes de começar a falar de regras e códigos dos quais você sabe nada. Ela recuou no ataque, mas não se acovardou. —Meu Deus, você não é nada mais do que eles dizem: Executor do Diabo. Músculo contratado de Bruce. Um bandido é um bandido. Ele havia sido chamado de muito pior, mas de alguma forma suas palavras foram como pedras mais pesadas e mais acentuadas do que ele teria pensado possível. Furioso, ele se levantou e puxou-a para o seu lado. Foi um erro. Estando perto dela era como ser pego em uma correnteza feroz. Seus sentidos queimavam como um incêndio inflamado pelo seu sangue.

Seus olhos brilhavam. Ele jurou que podia ver a pequena vibração de seu pulso em seu pescoço e teve que lutar contra o impulso de estender a mão e acariciá-lo com o polegar. Ele não podia dizer se ela estava com medo ou excitada. Ela prendeu a respiração a tensão crepitava entre eles. A partida suave de seus lábios respondeu a sua pergunta: despertado. Quente. Macio. Maduro. Seus olhos fixos em sua boca. Um desejo tão feroz e forte levantou-se dentro dele, cada músculo de seu corpo ficou rígido. Ele queria baixar a boca sobre a dela. Que diabos ele estava fazendo? Ele a soltou e deu um passo para trás. —Se eu fosse você, eu estaria esperando uma atitude errada em sua estimativa do meu caráter. Um homem menos do que honroso poderia pensar em aceitar seu convite. Seus olhos se arregalaram, as esmeraldas vívidas faíscavam de indignação. Lady Rosalin Clifford pode parecer doce e dócil por fora, mas como ele tinha visto com sua defesa de seu jovem sobrinho, era um pequeno gatinho com as garras de um tigre. Normalmente, ele preferia as mulheres experientes que sabiam o que queriam. Ele tinha assumido que mulheres doces significavam mulheres chatas. Foi um erro que ele não cometeria novamente. Sua combinação de doce e feroz era estranhamente excitante. Irritantemente excitante. —Um convite? Por Deus, você deve estar louco! Eu não sei o que você pensa que viu, mas eu lhe asseguro, eu não sou mais uma donzela sonhadora ingênua suscetível a um generoso flexionar de músculos. —Ela sorriu docemente, seu olhar deslizando sobre alguns desses flexionados músculos. — Eu superei minha atração por bárbaros quando completei dezessete anos.

Garras e uma língua afiada para ir junto com ele. Parte dele admirava seu espírito, enquanto a outra parte dele se perguntou se ela falava a verdade. Se ele tinha imaginado isso? Seus olhos se estreitaram em outra coisa. Dezessete. Cristo, como os jovens diabos ela tinha sido? O beijo que nenhum deles queria mencionar pendurou entre eles. —Você não tinha dezoito anos—, disse ele categoricamente. Seu pequeno sorriso tinha um brilho diabólico distinto, como se ela soubesse o quanto a resposta incomodaria a ele. —Não, apenas dezesseis anos. Ele fez uma careta e amaldiçoou. O que significava que ela tinha apenas vinte e dois agora. Em comparação com seus trinta e dois, ela era uma criança. Deus sabia que, nesses dez anos de diferença ele tinha visto uma vida de dor e sofrimento. De repente, aos olhos desta menina bonita cheia de inocência juvenil e radiância, sentiu-se muito cansado e muito velho. —Você tem até a manhã para reconsiderar. Mas se eu fosse você, Lady Rosalin, eu aceitaria a oferta. Eu não acho que você vai encontrar as agruras da guerra ao seu gosto. Ela ficou. Não que não tinha sido sempre uma questão da parte dela. Rosalin não deixaria Roger para enfrentar os brutos e bandidos em seu próprio país. Eles estavam nessa juntos, e juntos eles iriam até o fim. De preferência sem ter que passar outra noite dormindo miserávelvelmente em uma caverna com piso de terra com pouco mais de uma manta para se proteger.

Boyd estava certo. Ela não gostava das “dificuldades” da guerra, especialmente vivendo como um fora da lei, sem mesmo o mais básico das necessidades. Ela já tinha feito viagens difíceis, mas os longos trechos de equitação tinham sido quebrados por paradas em castelos, ou na pior das hipóteses uma pousada, com a sua própria roupa de cama e abundância de funcionários para atendê-la em cada necessidade. Aqui, ela não tinha sequer um jarro para lavar o rosto ou uma escova para pentear seu cabelo. Ela supôs que deveria ser grata que ela não estava dormindo fora cercada por um bando de bárbaros brutais, mas sim em uma caverna sozinha com Roger. Mas era difícil ser grata para as pequenas misericórdias, quando foram impostas com tanta dureza. A frieza de Boyd em direção a ela queimava. Ela não sabia o que esperava que ele fosse, mas não brutal, horrível e insensível. Ele tinha endurecido como pedra assim como aquele corpo musculoso dele. Ele parecia uma sombra do homem que tinha sido uma vez, consumido por vingança e com a intenção de derrotar o inimigo a qualquer custo. Descobrir que ela era irmã de Cliff tinha aparentemente apagado tudo de bom que ela poderia ter a favor para libertá-la. Ela não estava surpresa que ele odiava seu irmão ou os Ingleses; ela estava apenas surpresa com a profundidade do ódio e que a incluía. Como ele ousa agir assim depois do que ela tinha feito! Para o inferno com as boas ações. Ela supôs que uma boa coisa tinha saído de tudo isso: ela certamente tinha se curado de quaisquer fantasias românticas. Ela iria se casar com Sir Henry quando este calvário passasse. Como ficou claro que ele não tinha a intenção de libetar Roger, seus pensamentos se voltaram para a fuga.

Embora ela e Roger tivessem sido autorizados a ficar juntos na caverna, no momento em que acordou e tentou ir ao riacho se lavar, eles foram separados. Roger foi levado para se juntar ao restante do grupo, enquanto ela era permitida alguns momentos muito poucos momentos de privacidade em que atendia a suas necessidades, lavar o rosto e os dentes na água gelada, e correr os dedos pelo cabelo antes de trançá-lo com uma fita desgastada que lhe restava. Pensando bem, ela deixou o cabelo solto e enfiou a fita em sua bolsa, que pendia do cinto de couro fino em volta da cintura. Ela teve uma ideia. A melhor parte da manhã, no entanto, foi quando ela foi levada de volta ao acampamento e descobriu que mais da metade dos homens partiram, incluindo para ela e grande alívio de Roger, Douglas “O negro”. Aparentemente, eles estavam pegando toda a pilhagem pirata adquirida com os ataques de Robert Bruce no North. Ela e Roger estavam sendo levados para outros lugares. Seu captor era muito menos próximo de tudo isso, mas a partir da direção sudoeste, a assustadora Floresta Ettrick ainda parecia um provável destino. O segundo melhor momento da manhã foi descobrir que os cavalos haviam sido arranjados para ela e Roger, então ela não seria forçada a montar junto com o Callum estóico e taciturno. Ele também deu a ela uma oportunidade para começar a implementar seu plano. Trabalhando com cuidado, para garantir que ninguém visse o que estava fazendo, Rosalin deslizou a desgastada fita rosa de sua bolsa e começou a puxar fios livre, soltando-os a cada duzentos metros mais ou menos. Se seu irmão e seus homens fossem segui-los, os fios deixaria um rastro para eles seguirem. Mas sem os cavalos Sumpter e bens extras, eles estavam viajando em um ritmo muito mais rápido. Ela iria ter que tentar encontrar uma maneira de atrasá-los. Seu primeiro esforço teve o benefício inesperado de irritar seu captor. — Outra vez?—, Ele perguntou, olhando para ela como se ela fosse uma criança. —Você acabou de passar antes de nós trinta minutos atrás.

O rubor manchando suas bochechas não era fingido. Como ele podia ser grosso o suficiente para interrogá-la! Ela ergueu o queixo. —Eu devo ter bebido muita cerveja ao quebrar o meu jejum. Resmungando o tempo todo, ele chamou para uma parada. Depois que Sir Alex a ajudou a descer, ela gastou seu tempo para encontrar um pouco de privacidade em que fingia se aliviar. No momento em que ela voltou, Boyd estava irritado e sem paciência. Ele não disse nada, apenas olhou para ela. Ela sorriu docemente. —Obrigado. Ele resmungou algo ininteligível sobre “moças”, e montaram novamente. Ela se perguntou se seria capaz de seguir com a manobra antes de se tornar suspeito e colocar um fim a seu plano. Se ela pudesse superar o embaraço, a próxima vez que ele a questionasse, planejava falar sobre sua maldição de mulher. Certamente isso iria mortificá-lo. Talvez ela ainda por cima, pediria-lhe para ir encontrar alguns trapos para ela usar? Ela sorriu, pensando que o constrangimento quase valia a pena para ver o formidável semblante pálido de horror masculino. Apesar de todos os direitos que lhe era aterrorizada com o homem, certamente não pensava em maneiras de irritá-lo, mesmo se fosse por uma boa causa, para atrasá-los. Mas por alguma razão, apesar de sua reputação, sua aspereza em sua direção, e sua fisionomia intimidadora, ela sentiu que ele não iria machucá-la. Suas tentativas de conversa com os outros homens foram bruscamente cortadas por todos, exceto Sir Alex. Ele não era mais próximo do que Boyd, mas pelo menos ele respondia suas perguntas com um sorriso.

Ela passou a maior parte de seu tempo mantendo um olho em Roger, e quando surgiu a oportunidade, na tentativa de manter seu ânimo. —Basta pensar nas histórias que você terá que dizer quando tudo isso acabar—, disse ela. —Eu tenho certeza que os outros escudeiros estarão pendurados em cada detalhe. Seu sobrinho pareceu considerar isso, e depois de um momento seus ombros caídos levantaram um pouco. —Eu Não tinha pensado nisso. Você acha que eles vão ficar impressionados? Rosalin tentou não sorrir, sabendo o quanto era importante para os meninos de sua idade impressionar seus pares. De qualquer idade, ela poderia acrescentar. —Acho que sim. Não foram muitos os escudeiros ingleses que ficaram cara-a-cara com Douglas “O negro” e o “Executor” do Diabo. Para não falar que quase atravessa seu punhal em suas costas e puxou sua espada contra um cavaleiro da estatura de Sir Alexander Fraser. Sim, você terá bastante histórias para contar. Eu ouso dizer, você vai ter as jovens moças do castelo bem interessadas. —Ela lhe deu um olhar de esguelha. —Embora você provavelmente não esteja interessados nas moças? Seu rosto vermelho respondeu a ela de forma diferente. Ele hesitou, olhando como se sua túnica estivesse amarrada muito apertada. —Na verdade, há uma moça em Norham que possa estar interessado. Ela arqueou uma sobrancelha. —Eu pensei que poderia haver. Cliff não era muito mais velho do que você quando ele conheceu sua mãe. Roger olhou para ela com surpresa. —Realmente?

Ela assentiu com a cabeça. —Lembro-me de pensar que era tão romântico. — Depois acrescentou para Boyd, como ela suspeitava que ele estava ouvindo cada palavra, —É claro que eu era jovem e propensa a bobagens românticas, fantasias do momento. Seu pai e sua mãe tiveram muita sorte; a maioria dos romances juvenis só leva à decepção. — Ela viu Boyd endurecer e sabia que sua farpa atingira. De repente, lembrando-se que ela estava realmente falando, ela voltou-se para o sobrinho com um sorriso. —Mas você deve ter a abundância de tempo para isso, e a menos que eu tenha perdido a minha intuição você é muito parecido com o meu irmão de outra maneira. Ele parecia ter cada jovem ao redor de Marches apaixonada por ele. Roger corou, e a oportunidade para mais conversa foi perdido quando Boyd não coincidentemente, suspeitava-se acelerou seu ritmo. De vez em quando, Boyd ou um de seus homens ia para frente ou para trás para se certificar de que eles não estavam sendo rastreados. Rosalin estava fazendo mais um esforço para se lembrar de identificar pontos de referência para a sua próxima oportunidade de escapar, mas como eles pareciam preferir as florestas e montanhas e evitar qualquer aldeia, só uma igreja ocasionalmente ou uma casa na distância para quebrar a monotonia de encostas e florestas fantasmagóricas e urzes cinza. Na primavera seria sem dúvida bonito, mas agora ele só parecia frio e ameaçador. Deus do céu, ela queria ir para casa! Ela estava prestes a exigir outra parada para tender as necessidades dela quando vislumbrou ondas negras de fumaça nas árvores ao leste mais a frente. —Pare—, disse ela, puxando para trás em suas rédeas. Boyd, que estava andando bem na frente dela na hora, girou o cavalo e olhou para ela. —Eu não sei o é esse seu jogo, minha senhora, mas se este é mais um dos seus intervalos, você vai tem que esperar.

Apesar do fato de que ele estava encarando-a de novo, e ela estava tão zangada com ele, algo mexeu em seu peito quando ela olhou para ele. Ele poderia ter tentado colocar a culpa sobre ela, mas convite ou não, ele estava prestes a beijá-la na noite passada, e cada vez que seus olhos se encontravam, ela não podia esquecer isto. Não havia um osso a mais nele, mas ele era lindo o suficiente para fazê-la cair de estômago. Seu apelo masculino era inegável. Olhar para ele fezia seu coração vibrar tão freneticamente como tinha quando tinha dezesseis anos. Aparentemente, ela ainda era atraída por bárbaros de grandes dimensões. Normalmente ela preferia os homens bem barbeados, mas homens ásperos e rudes estava começando a execer uma atração sobre ela. Havia algo sobre a sombra da barba escurecendo o maxilar já formidável que fez ela se sentir cheia de calafrios e um pouco nervosa. Percebendo que ele estava esperando que ela respondesse, ela teve de sacudir o torpor. —Eu não tenho que parar mais uma vez. É só que eu vi fumaça. — Ela apontou. —Bem ali. Ele nem sequer olhou. —Eu vi. —E você não vai investigar?—, Ela disse, incrédula. —Parece que uma cabana está queimando. Sua expressão escureceu. —Provavelmente mais do que uma. Não há necessidade de investigar. Considerando a proximidade com a guarnição de Thirlestane, eu diria que foi mais Ingleses engordando seus cofres invadindo os moradores locais. Ela empalideceu, compreendendo agora por que a pergunta dela o havia irritado. Mas ela não deixou que ele a dissuadisse. —Não deveríamos ir e ver se eles precisam de ajuda?

—É tarde demais para isso. Dada à cor e espessura da fumaça, os Ingleses estão muito longe agora. —Talvez sim, mas os Ingleses não são a única razão para parar, eles ainda podem precisar de nossa ajuda. Nós não podemos simplesmente montar e não fazer nada. Deu-lhe um longo olhar. —Por que você se importa? Este não é seu povo. Inferno, a ordem para o ataque provavelmente veio de seu irmão. Ela corou, indignada. —Com toda a certeza não. — Ela esperava. —E eles podem não ser meu povo, como você diz, mas eles são pessoas e, portanto, merecedores de compaixão. — Ela baixou a voz e encontrou seu olhar, desafiando-o a negar-lhe. —Eu não iria dar as costas a quem precisa, mesmo morrendo de fome, sendo rebeldes ou presos. Ele não ousou respondê-la. —Muito bem, mas não me culpe se você não gostar do que encontrar.

Sete Rosalin não gostou nada do que encontrou. Era horrível – tudo tão devastado quanto o que havia testemunhado em Norham. Como as pessoas poderiam fazer isso umas com as outras? Mas a guerra e os horrores cometidos em seu nome eram algo que ela nunca entendeu. Seu irmão estava certo. Seu coração era suave demais para isso. Talvez fosse diferente se não tivesse sido levada tão longe. Em Londres, não havia ataques, devastação e sofrimento para confrontar. O tipo de ódio que Boyd sentia era estranho para ela, mas talvez também justificado se o que ele disse era verdade. Realmente seu pai foi assassinado tão traiçoeiramente? Embora Cliff tenha tentado mantê-la afastada da guerra, ela se lembrava de ouvir uma história sobre Os Barns de Ayr, que soava muito parecida com o que Robbie descreveu. Ela também recordou a retaliação brutal de Wallace e os escoceses. Mas foi a sua lembrança do destino da Condessa de Buchan e de Mary Bruce, que haviam sido aprisionadas e penduradas em gaiolas nos Castelos de Berwick e Roxburgh, que a fez perceber a visão ingênua que ela tinha do cavalheirismo. Atos bárbaros haviam sido perpetrados por ambos os lados cavalheiros e bandidos. Do topo da colina com vista para o pequeno vale abaixo, ela podia ver os escombros queimados de duas casas de pedra, e uma terceira ainda queimando. Quatro anexos de madeira haviam sido reduzidos a um esqueleto negro de postes carbonizados e vigas caídas. Um quinto estava queimando, com mais dois em perigo de pegar fogo. Pelo menos trinta pessoas – a maioria mulheres e crianças — estavam correndo em direção ao rio, freneticamente enchendo baldes para apagar as chamas crepitantes no que parecia ser uma tarefa de proporções hercúleas.

Boyd já estava gritando ordens em gaélico enquanto avançavam pela encosta. Pelo que podia discernir, metade dos homens foram encarregados de ajudar os aldeões a apagar o fogo, enquanto ele e a outra metade iriam trabalhar limpando as gramíneas mortas e arbustos ao redor dos edifícios, supostamente para evitar que as chamas se espalhassem ainda mais. Ela e Roger não foram esquecidos. Em inglês, o que ela suspeitava ser em seu benefício, Boyd ordenou a Malcolm para levá-los até o rio onde era seguro e para não deixá-los fora de sua maldita vista. Ao contrário de seu pai, Malcolm não parecia sentir rancor por ela. Ela havia se desculpado por ter se aproveitado de sua galanteria, o que pareceu surpreendê-lo tanto quanto constrangê-lo. Pelo que pareceram horas, mas provavelmente foi apenas uma fração disso, eles assistiram a uma distância segura, mas frustrante, como os homens trabalhavam incansavelmente e de forma eficiente para apagar o fogo e impedir que avançasse. Era uma visão impressionante de se ver. A mesma intensidade feroz que havia notado nos guerreiros escoceses foi exibida em seu ataque bem coordenado e estratégico sobre as chamas. Espontaneamente, seus olhos continuavam desviando para o capitão deste grupo de heróis improváveis. Era evidente a determinação obstinada que ela havia notado antes de ganhar-a-guerra-a-qualquer-custo ajudaram a tornálo um líder excepcional. Estava concentrado, decidido, e confiante. Vendo-o assim, quase podia acreditar que ele não havia mudado tanto quanto ela pensava. Que ainda havia vestígios do nobre guerreiro por quem ela havia arriscado tanto. Que talvez ela não estivesse completamente errada sobre ele. Os escoceses pareciam estar indo bem em ganhar a batalha quando o desastre aconteceu. O vento, que até o momento havia sido uma leve brisa, se transformou em ventania, chicoteando as chamas com renovado frenesi. Um punhado de aldeões gritou quando uma das paredes do que parecia ser um celeiro começou a cair sobre eles. Eles foram salvos apenas quando alguns dos homens de Boyd correram para segurá-la o tempo suficiente para que eles ficassem fora do caminho.

— Devemos fazer algo para ajudar. — disse Rosalin. — O capitão disse para ficar aqui. — Malcolm respondeu obedientemente, embora fosse claro que concordava com ela e que seria muito melhor estar com os outros homens do que os protegendo — aparentemente como punição por ter permitido que escapassem. O som de outro desmoronamento, desta vez muito mais perto, fez Rosalin pular. — O que foi isso? — Perguntou Roger. Malcolm apontou para a casa de pedra queimada mais próxima a eles. Como era o maior dos edifícios, provavelmente pertenceu ao homem mais importante da pequena aldeia. — A última parte de telhado desmoronou. Uma das vigas de sustentação deve ter caído. Ela estava prestes a se virar quando ouviu alguma coisa. — Você ouviu isso? — O quê? — Disse Malcolm. — Ouça. Eles ficaram em silêncio por um momento, mas com o vento, o barulho do fogo, os gritos dos moradores e dos homens que lutavam contra as chamas, ficou difícil perceber algo. Malcolm franziu a testa. — Se este for mais um de seus truques...

— Não! — Ela disse. — Você ouviu isso? Alguém está pedindo ajuda. — Eu não ouvi nada. Mas Rosalin já estava correndo para a cabana queimada onde o teto tinha acabado de cair. — Espere, minha senhora! Você não pode ir lá. O capitão disse para esperar aqui. — Depressa! — Disse ela, sem dar ouvidos. — Parece que alguém está ferido. Sem esperar para ver se eles estavam atrás dela, Rosalin correu para dentro da cabana. O que parecia ser uma casca oca de pedra pelo lado de fora era um escuro labirinto cheio de vigas, postes, treliças do telhado, sapé, e móveis. Ela teve que cobrir a boca com a lã de sua manta para impedir que a fumaça a sufocasse. — Olá! — Ela gritou. — Aqui! — Uma voz fraca respondeu. Ela seguiu a direção do som e no canto mais distante do edifício havia uma pilha confusa de madeira na frente de uma parede de pedra parcialmente desmoronada. Encravado no que parecia ser um espaço na parede estava um homem preso pelas pedras e madeiras ainda fumegantes. Era difícil ver através de toda a fumaça escura, mas ele parecia estar quase morto sob o entulho. — Aqui! — Ela gritou de volta para Malcolm e Roger, que chamavam por ela. — Ele está aqui. Os dois se aproximaram dela, tossindo cada vez mais alto à medida que se aproximavam. Estavam ambos olhando para ela como se fosse louca.

— Ele precisa da nossa ajuda. Está preso. — O que ele estava fazendo aqui em primeiro lugar? — Perguntou Roger. Era uma boa pergunta — e eles poderiam perguntar a ele quando o libertassem. — Eu não sei, — disse ela. — Aqui, me ajudem com esse pos... — Ela gritou de dor quando suas mãos tocaram a madeira quente. — Nós vamos fazer isso, — disse Roger. — Você não tem manoplas. Tente mover algumas das pedras fora do caminho. Rosalin assentiu com a cabeça e passou a trabalhar em algumas das pedras menores. Recordando um homem que havia levantado rochas muito mais facilmente, não podia deixar de desejar que Boyd estivesse aqui para ajudá-los. Ele iria fazer o trabalho rápido... Ela ouviu um rangido alto quando os rapazes moveram um dos pedaços maiores da estrutura de madeira carbonizada. Ela olhou para cima no momento em que o que restava do telhado desabava sobre eles, juntamente com a coluna principal. Ela gritou em advertência, mas já era tarde demais. Malcolm não foi capaz de sair do caminho a tempo e a viga caiu diante dele. — Malcolm! Ela tentou avançar em direção a ele, mas foi impedida por um muro virtual de escombros posicionados entre eles. E também não podia mais ver o primeiro homem.

Temendo o pior, ela ficou aliviada quando as cinzas e a poeira baixaram o suficiente para ela ver Malcolm se movimentando. — Você está bem? — Eu acho que sim, — disse ele, grogue. — Ajude-me a tirar isso de cima. Protegendo as mãos da melhor forma que podia com a lã de sua manta, ela e Roger tentaram levantar a enorme viga, mas ela não se moveu. Provavelmente foi necessária uma meia dúzia de homens para movê-la para sua posição original quando o edifício foi construído. — Não adianta, — ela disse para Roger. — Nós vamos ter que buscar ajuda. Seus olhos se encontraram. Ela podia ver o que ele estava pensando, provavelmente porque o mesmo pensamento tinha rapidamente cruzado sua mente também. Ela balançou a cabeça. Poderiam não ter outra chance de escapar, mas ela não queria deixar Malcolm e o aldeão desse jeito. Roger assentiu. — Eu volto logo. Com o canto do olho, ela viu algo que fez seu pulso acelerar e cada terminação nervosa de seu corpo entrar em pânico. O fogo já não estava extinto. As vigas e o teto caindo tinham remexido as brasas e reacendido o fogo. — Roger! — Ela gritou. Ele virou-se para trás. Ela olhou na direção das chamas, que não estavam mais do que a um metro de distância. — Depressa! ***

Os pulmões de Robbie estavam queimando. Ele estava quente e cansado, e cada centímetro de sua pele estava pegajosa da fuligem e fumaça, mas ele enfrentou o fogo com a mesma determinação vitória-a-todo-custo com o qual enfrentou os ingleses. Ficou surpreso ao sentir que podia ser bom fazer algo para ajudar em vez de lutar. Fazia muito tempo desde que ele havia levantado outra coisa além de sua espada em defesa de seus compatriotas. Mas Os Ingleses não conseguiriam destruir esta aldeia hoje. Não se tinha algo a dizer sobre isso. Com a pequena pausa encerrada, ele estava prestes a começar a ajudar Seton a carregar água quando olhou para o rio e parou. Malcolm, Roger e Lady Rosalin haviam desaparecido. Soltou uma série de juramentos e correu. Se ela tivesse enganado o rapaz novamente e tentado escapar, ele iria amarrá-la pelo resto da viagem e jogá-la de volta naquele saco. Ele estava no meio do caminho quando viu Roger Clifford sair da casa queimada. Os olhos do menino estavam salientes como dois círculos brancos em seu rosto coberto de fuligem, e seu cabelo dourado, que era tão parecido com o de sua tia, estava embaraçado. Tossia forte enquanto cambaleava em direção a ele. — Depressa! — Ele conseguiu falar com a voz trêmula. — P... Precisamos de ajuda. Robbie agarrou-o pelo braço, mais para segurá-lo do que com raiva. — O que aconteceu? Onde estão sua tia e Malcolm? Estão lá dentro? O garoto balançou a cabeça e Robbie seguiu em direção à cabana em chamas, uma enxurrada de palavrões ateava fogo em sua mente. Seus ouvidos estavam latejando com um som que ele não reconhecia. Levou um momento para perceber que era seu coração.

Que diabos poderia tê-la possuído para entrar naquele prédio? Ele estava furioso. Mais que furioso. Fora-de-controle-furioso. Mas acima de tudo estava terrivelmente apavorado. O suficiente para admitir isso. Ele se abaixou através da entrada da caverna fumegante. Cobrindo a boca com o braço, piscou através da névoa preta, os olhos imediatamente lacrimejaram. — Rosalin! Malcolm! — Ele ofegou, tentando enxergar através do labirinto de combustão de lenta destruição. Parecia que uma das explosões de pólvora negra de Sutherland havia acontecido ali. — Aqui! — Uma voz distintamente feminina respondeu. — Estamos aqui atrás. Passando através dos escombros e vigas que pareciam galhos, ele fez seu caminho em direção a eles. Não foi difícil. Tudo o que tinha a fazer era seguir a trajeto das chamas que pareciam estar vindo diretamente deles. Apesar de seu coração estar bombeando com força, sua voz saiu notavelmente calma quando olhou para ela, seu rosto coberto de fuligem e manchado de lágrimas. — O que aconteceu? Sua voz não soava como de costume. Ele não sabia que era possível para ele falar assim... Com ternura. Seu pequeno queixo tremia e por um comovente instante, ele pensou que ela poderia desmoronar. Se acontecesse, sabia que a seguraria em seus braços. Ele não seria capaz de parar a si mesmo. Mas ela respirou fundo e controlou suas emoções.

— Eu ouvi um homem pedindo ajuda, e quando viemos socorrê-lo, Malcolm ficou preso quando uma viga caiu sobre nós. Era estranho como um coração que batia tão rápido podia parar subitamente. Ele esperou um segundo ou dois até que começasse a bater de novo. Ele não pensaria nela deitada sob essa viga caída. Não faria isso. Mas começou a se sentir doente, sentimentos confusos em suas entranhas. Ele sentiu algo que nunca havia sentido antes: fraqueza nos joelhos. — Capitão? É você? A voz de Malcolm o trouxe de volta. — Aye, rapaz. Vou libertá-lo em um minuto. Ela olhou para trás. — Não veio mais ninguém com você? — A voz dela disparou em pânico. — Nós não seremos capazes de mover isso a tempo. Obviamente, ela estava tentando fazer exatamente isso. — Vá para trás. — Ele rapidamente analisou a situação e percebeu que precisava ter cuidado. Um movimento errado e toda a pilha de pedras e vigas desceria sobre Malcolm, esmagando-o instantaneamente. Virando as costas para a viga, ele agarrou a borda quadrada e usando as pernas, começou a levantá-la. Mas maldição, a coisa era pesada, até mesmo para ele. — Veja se você já pode escapar. — disse ele com os dentes cerrados, cada músculo esticando. — Quase, — disse Malcolm. — Mais alguns centímetros.

Robbie apertou mais e levantou. Seus braços queimavam pelo peso. Mas Malcolm foi capaz de deslizar para fora. Com muito cuidado, Robbie baixou a viga de volta no lugar. E bem em cima da hora. As chamas estavam apenas a poucos pés agora. — Vamos lá, — disse ele. — Vamos sair daqui. — Mas e o homem? — Disse Rosalin. — Nós não podemos deixá-lo. Robbie cerrou os punhos, lutando contra a raiva e o medo que o faziam querer atacar. — Onde? — Disse ele com firmeza. — Atrás dessa parede. — Ela apontou para um espaço que, obviamente, havia sido construído como um esconderijo. Suspeitando para que, e também o motivo do homem estar ali, Robbie ficou tentado a deixá-lo por ser tão imprudente. Mas poucos momentos depois, ele afastou os detritos para fora do caminho o suficiente para arrastá-lo para fora. Não querendo dizer a ela que era tarde demais, ele levantou o homem morto por cima do ombro com um braço e com o outro envolveu a cintura dela apertando-a firmemente contra ele — e tentando não notar o quão deliciosa ela parecia — ele os conduziu para fora dessa armadilha queimada. Assim que sentiram o ar fresco, Malcolm desabou no chão tossindo. Rosalin ficou em pé, mas inclinou-se para fazer o mesmo, enquanto Robbie deixou seu braço escorregar da cintura dela e deixou cair o corpo do aldeão, em seguida, o encostou na árvore mais próxima para que ele não tombasse. Seus pulmões e braços estavam em chamas. Seton, Fraser, Callum, e mais dois de seus homens estavam quase sobre eles. O rapaz tinha obviamente conseguido alertá-los sobre o perigo. Seton imediatamente correu a frente para ajudar Lady Rosalin, como fez Callum com Malcolm.

— O que aconteceu? — Perguntou seu parceiro. Pela primeira vez, Robbie não ficou irritado com sua solicitude. A moça precisava de cuidados, e ele mal podia ficar em pé. *** Demorou algumas paradas e recomeços para que a história viesse à tona. Através de Malcolm, Roger, e Rosalin, os detalhes começaram a surgir. Foi bastante difícil acreditar que ela correu para tentar ajudar alguém que não conhecia, mas quando Lady Rosalin alcançou o ponto onde Malcolm ficou preso atrás dos escombros, os homens se entreolharam com espanto. Robbie expressou o que todos estavam pensando. — Você poderia tê-lo deixado lá e escapado. Ela encontrou seu olhar. — Ele teria morrido. — disse ela, como se a explicação fosse óbvia. Para ela, ele percebeu que era. Ela não iria deixar um homem para trás para morrer, nem mesmo um inimigo. Ele devia saber disso melhor do que ninguém. Alguma coisa dentro de seu peito se moveu. Era como se uma grande pedra fosse empurrada para fora do caminho, revelando uma pequena abertura. Callum olhou para ele como se o mundo tivesse acabado de ser declarado redondo. — Mas ela é Inglesa. — disse ele em gaélico. — Eu sei. — Robbie concordou na falta de uma explicação. Não fazia qualquer sentido para ele também. Esta pequena moça parecia ter mais honra nela do que todo o exército inglês junto.

Contudo, quanto mais a olhava, mais acreditava que não era uma atuação. Ela era tão doce e gentil como parecia. Ele notou como ela tinha distraído seu sobrinho antes para manter seu ânimo e sua natural simpatia em relação a seus homens, mesmo em face de sua brusquidão (na maioria dos casos, franca grosseria). Quando ela pediu para ver o que poderia ser feito na aldeia, ele pensou que era um truque. Mas não era. Isso, obviamente, havia sido motivado pela preocupação sincera. Pelos escoceses. Ela correu para dentro de uma cabana em chamas para ajudar alguém que era seu inimigo. Ele desafiou a crença. Mas era mais do que isso. Sob a doçura que ele detectou havia um forte senso de certo e errado que o lembrava de alguém, embora não pudesse apontar quem. Quando chegou à parte em que ele chegou, ele tentou fazê-la calar, mas ela não permitiu. — Nunca vi nada parecido, — disse ela. — Não sei como você levantou aquilo sozinho. Não era a primeira vez que ele ouvia admiração e respeito na voz de uma moça, mas foi a primeira vez que ele sentiu seu rosto esquentar. Maldição, ele estava corando! — Você devia vê-lo nos Torneios das Terras Altas, minha senhora, — Malcolm informou. — O capitão pode atirar uma pedra três vezes mais pesada do que qualquer outra pessoa. Ninguém jamais chegou perto de ganhar dele. Ora, ele pode derrotar dez ingleses usando apenas suas mãos. — Já chega Malcolm, — disse ele bruscamente. — A senhora não quer ouvir falar dessas coisas. Parecia que ela estava prestes a discordar, quando olhou para o homem deitado no chão a seus pés. Seus olhos se encheram de lágrimas.

— Ele está morto, não está? Ele assentiu. Ela olhou para ele. — Por que ele teria feito algo tão perigoso? Robbie se abaixou e puxou uma bolsa dos dedos cerrados do homem. — Por isso. Ele havia escondido na abertura da parede, junto com alguns grãos e outras mercadorias. Provavelmente colocou isso lá quando os ingleses chegaram e, em seguida, tentou resgatar assim que pensou que era seguro. — Tudo isso por algumas moedas e alguns grãos? — Ela perguntou, incrédula. A mandíbula de Robbie endureceu. — Aye, foi uma tolice, mas provavelmente era tudo o que tinha para alimentar sua família. Essas pessoas não terão mais nada. A informação a afetou. Não havia como negar a verdadeira compaixão e tristeza naqueles olhos muito expressivos dela. — Mas vocês salvaram alguns deles, — disse ela. — O fogo está quase extinto. O jeito que ela estava olhando para ele... Por um minuto, ele se sentiu como se tivesse usando uma das armaduras brilhantes de Seton. Diabos.

Robbie olhou para onde o resto dos seus homens e aldeões estavam jogando os baldes de água finais. Mas ela estava certa. Eles tinham. Algo havia mudado. Rosalin não sabia o que, mas durante a hora seguinte, enquanto Robbie e seus homens ajudavam os moradores a extinguir o último dos incêndios e ver o que poderia ser recuperado a partir do resto, ela detectou uma diferença de atitude dos homens em relação a ela. Pela primeira vez eles tinham parado de olhar para ela como se ela tivesse, de repente, desenvolvido uma segunda cabeça, e eles realmente estavam falando com ela. E não apenas com grunhidos e palavras ininteligíveis em gaélico. Os homens que ela achava que não sabiam uma palavra de inglês começaram subitamente a se dirigirem a ela como “minha senhora”. Até mesmo Callum. Bem, talvez especialmente Callum. Assim como, pessoalmente, ele a deixou a cargo de Malcolm, parecia que ele havia encarado sua recusa em deixar seu filho no prédio em chamas como o começo de algum tipo de vínculo entre eles. Ela não podia dizer se ele estava satisfeito com isso ou não, mas havia tomado o lugar de seu filho na guarda dela e parecia ter se nomeado seu protetor. Quando algumas das crianças da aldeia cautelosamente se aproximaram e começaram a tocar seu vestido sujo, mas muito fino, ele as espantou e disselhes para não tocarem o vestido sujo da senhora com as mãos sujas. Considerando como deselegante ela esteve nas últimas vinte e quatro horas e o quanto imunda estava, essas advertências eram bastante ridículas. Mas ciente de quão sério ele parecia ser, e de seu orgulho escocês, ela abafou seu sorriso e disse-lhe que não se importava só desta vez. As crianças se encantaram com ela e perguntaram algumas das questões mais engraçadas, pelas quais ela se esforçou para não rir. Elas devem ter perguntado ao menos dez vezes se ela era verdadeiramente inglesa. Já que ela não tinha o rosto de um gorgon, ou chifres e cauda do diabo, era aparentemente incompreensível.

Foi quando estava conversando com as crianças — algumas das quais haviam perdido tudo - que ela teve uma ideia. Callum hesitou, dando-lhe aquele estranho olhar novamente. — Você quer dar nossa comida a eles? — Aye, você acha que um pouco do que for encontrado poderia ser doado? Ele olhou para ela por um longo tempo, seus traços avermelhados inescrutáveis. — Vou perguntar ao capitão. De seu posto junto ao rio, Rosalin observou o homem mais velho caminhar até onde Boyd estava com alguns dos moradores. A cabeça de Boyd virou em sua direção, e apesar da distância a intensidade do olhar dele a fez estremecer. Alguns momentos depois, ele acenou com a cabeça, e Callum caminhou na direção das árvores onde os cavalos foram amarrados e começou a mexer nas sacolas. Com Callum ocupado e Roger recrutado para ajudar os outros homens com a limpeza, Rosalin manteve-se ocupada respondendo as perguntas das crianças, enquanto tentava não deixar que seus olhos se desviassem para o homem que parecia ser o centro das atenções na aldeia. Ela franziu a testa. Para uma pequena aldeia, havia certamente um número desproporcionalmente grande de mulheres jovens. E cada uma deles parecia estar perambulando atrás de Robbie Boyd como se ele fosse algum tipo de herói. Para eles, ele era, percebeu com um sobressalto. Este homem considerado um diabo de um lado da fronteira era louvado como herói no outro. Era estranho o que uma diferente perspectiva fazia.

As mulheres estavam praticamente tropeçando umas nas outras tentando fazer com que ele as notasse. Meu Deus, será que nunca haviam visto um homem bonito antes? Ela podia ver as estrelas brilhando nos olhos delas de onde estava. Por que ela se importava, de qualquer maneira? Ela já tinha superado os bárbaros, não tinha? Além disso, ele deixou seus sentimentos em relação a ela perfeitamente claros: eles eram inimigos. Ela não iria esquecer. Em fugir era no que ela deveria estar pensando. Não em brutos altos, de ombros largos com corpos excessivamente musculosos. Desviando seu olhar do homem demandando tanta admiração feminina, ela concentrou sua atenção nas crianças. Quando elas se afastaram, ela perguntou a Callum se podia se lavar antes que partissem. Depois de um rápido olhar para onde Roger estava com Malcolm e outro jovem guerreiro (ele sabia que ela não iria tentar escapar sem seu sobrinho), ele balançou a cabeça e disse-lhe para ser rápida. Ela correu para o rio, e virou à esquerda, onde depois da curva havia um bosque de árvores que iria protegê-la e proporcionar a privacidade que ela precisava. Ela não havia mentido. Queria lavar e mergulhar as mãos na água fria, mas também precisava reabastecer seu suprimento de fitas para a trilha que estava deixando para Cliff. Os últimos fios de rosa estavam em sua bolsa, mas sua camisa estava enfeitada no colarinho e nas mangas com pequenos laços azuis em fitas de cetim. A peça cara importada da França havia levantado ainda mais a sobrancelha de seu irmão indulgente, mas ela não achava que ele se importaria com sua destruição sob tais circunstâncias.

Na verdade, a maior parte de suas roupas uma vez luxuosas estava em ruínas. Removeu a manta e o casaco, sacudiu-os da melhor maneira possível, deitou as peças em um tronco, e depois limpou a sujeira e fuligem de sua vestimenta azul escura de lã, na bainha, decote, e cortou os lados da fita dourada bordada. Mas ela não acreditava que até mesmo uma boa lavagem e secagem pudessem salvar a bela roupa depois de tal abuso. Ela fez uma careta, levantando a saia para examinar o resto. O vestido interior de lã azul estava em melhores condições, exceto pela bainha enlameada onde ficava pendurada abaixo da cotehardie. Mas ela não pensou em retirar a vestimenta; ela precisava de cada camada de calor. A moda para ambos os vestidos era apertado na manga e corpete, e não foi sem dificuldade que ela foi capaz de afrouxar os laços do corpete para chegar a camisa interior. Depois de retirar o maior número de fitas que podia alcançar, ela as enfiou na bolsa ainda em sua cintura. Então, ajoelhando-se ao lado do rio, mergulhou as mãos na água gelada e levou-as para seu rosto. Fazia frio, mas era revigorante. Ela lavou e esfregou até que a água voltou clara e não cinza de fuligem. Era tão bom estar limpa que ela considerou mergulhar a cabeça e lavar seu cabelo, mas não quis arriscar a friagem no cabelo molhado enquanto estavam andando. No entanto, aproveitou a oportunidade para lavar a parte superior do corpo o melhor que podia com as roupas soltas. Estava tão absorta em sua tarefa, que não ouviu a abordagem. — É hora de ir. Os homens estão... Sua voz caiu. Ela levou um momento para perceber o motivo. Ela saltou quando ele a assustou e se virou sem pensar. Seu olhar caiu sobre seus seios e parecia ter ficado paralisado, juntamente com a língua.

Uma rápida olhada para baixo disse a ela o motivo. Sua camisa estava encharcada. A peça muito fina, muito transparente e reveladora, estava agora moldada a seus seios, revelando cada curva, cada contorno, cada ponto com detalhes perfeitos. Ela poderia muito bem estar nua. Ela prendeu a respiração, o que foi um erro, uma vez que evidenciou ainda mais os seios proeminentes. Ele emitiu um som baixo em sua garganta que era quase de dor, mas isso fez toda a extensão de sua pele arder. Ela fez um movimento para cobrir-se, mas ele agarrou seu pulso. — Não faça isso. Deus, por favor, não. O calor a invadiu novamente. Emanava dele em uma onda quente, fazendo seus mamilos endurecerem. Ele gemeu, um gemido profundo, intensamente masculino que enviou uma onda de algo quente e úmido entre as pernas. Ficou concentrado ali, crescendo quente e dolorido. Seu rosto estava mais duro do que ela já havia visto – acentuado - de alguma forma, mais perigoso. Era como se toda a sua civilidade houvesse sido arrancada, nada deixando, apenas o feroz homem primitivo interior. Ele olhou fixamente para seus seios como se nunca tivesse visto nada mais desejável. Como se mal conseguisse evitar tocá-los. De se deleitar com eles. Seus olhos se encontraram, e ela sentiu o choque de como isso irradiava como um relâmpago por sua espinha. Ninguém nunca havia olhado para ela com tanta luxúria crua, posse e calor.

O ar estava carregado com algo que ela não entendia. A ferocidade das emoções crepitando entre eles era muito grande. Outros homens a quiseram antes, mas nunca como este. Este era diferente. Este era selvagem, perigoso e incontrolável. Este era o desejo diferente de tudo que já tinha experimentado antes e, por um momento, isso a assustou. Ele a assustou. Ela poderia ter pensado que o conhecia, mas Robbie Boyd, guerreiro endurecido, não era o rebelde nobre que ela observou quando menina. Ela estava sozinha com um dos homens mais temidos da Escócia. Um homem que afinal de contas era um flagelo, bandido, e bárbaro. Ela estava completamente à sua mercê, e a precariedade da situação, e da sua vulnerabilidade, lançou um calafrio de medo por sua coluna.

Oito Robbie demorou um minuto para perceber que ele a estava assustando. Antes disso ele estava perdido. A partir do momento que ela se virou com a roupa úmida moldando cada centímetro de seus seios ele não tinha tido um pensamento racional em sua cabeça. Com tantos pensamentos lascivos em torno dele, não havia espaço para mais nada. Infernos, não houve espaço para mais nada desde o momento em que ele colocou os olhos nela. Mesmo seus sonhos tinham sido preenchidos por ela. Imagens que o fizera acordar duro e agitado nesta manhã. Imagens que voltaram muitas vezes durante o dia. A imagem que criou não era nem de longe tão espetacular quanto a realidade.

Esta imagem iria assombrá-lo para o resto de sua vida. Cada par de seios que ele visse a partir de agora iria sofrer com a comparação. A parte engraçada é que ela nem se quer se encaixava no que ele achava como seu tipo ideal. Para ser franco, ele gostava deles grandes e exuberantes, com doces e suculentos mamilos. Ele gostava de enterrar a cabeça entre os montes suaves de carne e vê-los saltar e balançar enquanto ele dirigia dentro e fora. Ele gostava que eles derramassem sobre suas mãos quando os agarrava

por trás (sim, ele gostava especialmente disso), sugar o bico duro em sua boca e puxa-lo entre os dentes e a língua. Não que se opusesse a variedade. Mas se ele tivesse um tipo ideal teria sido este. Até agora. Os dois montes perfeitamente arredondados diante dele, não foram generosamente proporcionados de qualquer maneira. Eles se encaixariam em suas mãos com apenas um pouco de carne transbordando, mas o formato era de um requinte magistral, que deixaria qualquer escultor grego com

vergonha.

Eles eram altos, redondos, firmes e perfeitamente proporcionais a sua caixa torácica e cintura fina. Seus mamilos eram pequenos com um tom escuro de rosa. Quando endureciam sob o calor do seu olhar, não eram muito maiores que duas pérolas. Não havia muito para agarrar com os dentes, mas ele poderia praticamente saborear os pequenos pontos em sua língua, e levou tudo que tinha para não estender a mão e esfregar um sob seu polegar. Para circular a borda enrugada e apertar suavemente a ponta delicada entre os dedos e ver se era tão perfeito. E seria. Deus ele sabia que seria. Ele se sentia como uma criança que acabou de abrir uma porta e encontrou uma sala cheia de confeitos açucarados esperando para serem devorados. Deus, e ela era doce. Doce e tão malditamente madura que o deixou sem fôlego. Sua pele era como creme recém-derramado e suave como veludo branco. Deus a criou de forma perfeita para a tortura de um homem, Ele combinou com

poucas sardas atrevidas logo acima do seu seio esquerdo. Ele não sabia onde queria colocar sua boca primeiro. Mas era tudo no que podia pensar. Sangue martelava em suas veias. Ele pulsava duro com a necessidade. Vê-la assim, havia arrancado qualquer pretensão de controle. Sua atração pela moça ia além da racionalidade. Seu corpo não se importava se ela era inglesa, se era irmã de Clifford, se tocá-la seria o maior erro da sua vida. Todo seu corpo queria passar as mãos sobre cada centímetro de sua pele macia até que estivesse tão quente como a sua, até que suas bochechas estivessem coradas e os lábios entreabertos com sussurros de prazer, até que seus quadris pressionassem contra o seu suplicando em silêncio, até que ele a abrisse com os dedos e talvez mesmo com a boca deixando sua entrada lisa e molhada. E até que ele entrasse dentro dela com um impulso duro e a fizesse sua. Ele não pararia de empurrar até que ela gozasse, até que ela gritasse seu nome com o último estremecimento de liberação do seu corpo exausto. Ele nunca sentiu nada assim, e a força que o dominou, anulou tudo mais ao seu redor. Até que ele viu seus olhos arregalados. O efeito foi como uma ducha de água fria e ele foi trazido de volta a realidade com um duro solavanco. — Cristo, sinto muito, — ele deu um passo atrás. — Não sei o que... — ele parou e limpou a garganta, tentando acalmar o estranho emaranhado de emoções antes que dissesse algo que não devia. — Não queria assustá-la. Ele se virou dando-lhe uma chance de ajeitar o vestido e de seu sangue esfriar. Só então ele se permitiu olhar para ela novamente.

Ela não conseguia se cobrir com rapidez suficiente. Ela vestiu não só seu vestido como também sua manta xadrez e ainda estava olhando para ele com cautela. Ele não a culpava. Que diabos havia acontecido com ele? Ele nunca esteve tão completamente perdido. Nunca se permitiu perder o foco do que estava acontecendo ao seu redor. Nunca se permitiu ficar distraído por uma mulher. Nunca. Ele estava sempre no controle. Mas algo tinha acontecido com ele e ela tinha visto. Mas dane-se o que havia acontecido, ele jamais iria forçar uma mulher, e precisava que ela soubesse disso. — Sou muitas coisas, mas estuprador não é uma delas Rosalin. Acredite no que quiser sobre o que dizem de mim, mas tenha certeza. Eu nunca vou forçá-la e mataria qualquer homem que tentasse. O final saiu com uma ferocidade que o surpreendeu, provocando perguntas que não queria fazer. Tais como por que diabos se sentia tão protetor em relação a ela? Ela ergueu o olhar por um momento e depois baixou novamente. — Tudo bem. — Falo sério. Ela olhou para ele novamente, desta vez encontrando seu olhar. Ele pode ver que alguns de seus medos se foram, mas não todos.

Sua boca se apertou com raiva. Não com ela, mas com o assunto que ele estava prestes a abordar. Ele odiava falar sobre o passado. Odiava pensar sobre o que havia acontecido com sua irmã. Ele não se lembrava de falar sobre isso até mesmo com seus irmãos da Highland Guard que sabiam o que havia acontecido. Mas ele iria levantar este fantasma desta vez para fazê-la entender. — Minha única irmã foi violentada. Ela ofegou. Seus olhos fixos nele. Como se soubesse que o tom de voz monótono e natural escondia uma dor profunda e angustiante, uma ferida que não se curaria. Ela colocou a mão em seu braço, e ele olhou para ela, sentindo o peito apertar. — Sinto muito. Isso deve ter sido horrível. Mas ela tem sorte por ter um irmão que cuida dela tão fortemente. Cuidei. Ela quis dizer isso como uma gentileza, mas não sabia quanta dor causava suas palavras. Ele amava sua irmã mais que qualquer outra coisa no mundo. Bonita, vivaz e tinha sempre um sorriso no rosto, ela não era muito mais velha que Rosalin na última vez que a tinha visto. — Ela passou por um grande inferno. Eu não estava lá para protegê-la quando a guarnição inglesa do castelo King’s Inch em Renfrewshire invadiu nossa aldeia. Quando o capitão soube que ela era irmã dos rebeldes Robbie e Duncan Boyd, decidiu fazer dela um exemplo. Ele a usou não uma vez apenas, mas mais e mais. Ele a fez sua prostituta e a violou até que ela não aguentou mais e se jogou de um penhasco no mar para acabar com seu sofrimento.

Ela cobriu sua boca com a mão horrorizada. — Oh Deus Robbie, sinto muito. Mas a culpa é do soldado não sua. Se você pudesse a teria a ajudado. Sua confiança nele não nada fez para aliviar sua culpa. Sua ajuda tinha chegado tarde demais para Marian. Mas o soldado tinha pagado por seus atos. Lenta e dolorosamente finalmente pagou com sua vida. Os punhos de Robbie se apertaram com a lembrança. — Digo isso não para ganhar sua piedade, — disse ele. — Mas, para que você entenda que eu jamais faria mal assim a uma mulher. Seus olhos se encontraram, desta vez sem um traço de cautela. — Entendo isso agora. Obrigada por me dizer. Não me admira... — a voz dela baixou. — Você perdeu muito. Sinto muito sobre seu pai e sua irmã. E sobre seu amigo. Seu irmão Duncan e sua mãe também. Ela morreu de tristeza, não muito tempo depois da morte de sua irmã. Ele franziu a testa. — Meu amigo. — Thomas, — ela deve ter notado sua rigidez, por que se apressou a se explicar, torcendo as mãos. — Sir Alex me disse que ele morreu não muito tempo depois que você saiu de Kildrummy. Entendo que você me culpe por isso, a culpa foi minha, ele foi espancado pela comida que eu deixei.

Ele a agarrou pelo braço para por fim a torção ansiosa de suas mãos. — Eu não culpo você. Como disse, naquela noite o que você fez foi uma gentileza. A comida deu-lhe uma chance. Sua respiração ficou presa com seu toque. Ele não deveria tocá-la. Homens simplesmente não saem por aí tocando as damas sempre que sentem vontade. Mas seus impulsos com ela nunca tinham sido normais. Ele deixou cair sua mão estranhamente perturbado. — Então por que você está fazendo isso? O que fiz para merecer seu ódio? Ele franziu a testa. Isto não era sobre ela, era sobre seu irmão. — Não odeio você. Ele não a odiava, ele percebeu. Isso era parte do problema. A guerra era preto e branco para ele. Os ingleses eram o inimigo, e mereciam seu ódio, mas ela... Ela o fez ver cinza. — Bem, certamente você está fazendo um trabalho maravilhoso agindo como tal. Todos esses anos e eu me perguntei como seria se alguma vez nos encontrássemos novamente, e nunca imaginei que seria assim. O toque de sarcasmo em sua voz despertou um pouco de seu próprio. — Você acha que fiquei feliz de saber que minha salvadora era a irmã do meu pior inimigo? O homem que desprezo acima de todos os outros? O homem, que foi responsável pela nossa captura e execução de muitos dos meus

amigos? Não foi até que seus olhos se arregalaram que ele percebeu que estava gritando. Ele praguejou e passou os dedos pelo cabelo. Sabia que não devia jogar sua frustação e raiva em cima dela, mas ele parecia não poder ajudar a si mesmo. Algo sobre esta moça o fazia querer puxá-la em seus braços em um momento, e chicoteá-la como a um leão na jaula no próximo. — Meu irmão estava apenas cumprindo seu dever. Ele... Ele interrompeu novamente segurando-a pelos braços, e virando-a para encará-lo. — Não Rosalin. Não tente defender o bastardo do seu irmão para mim. Ele é um assunto sobre o qual nós nunca iremos concordar. — Em vez de colocar pra fora sua raiva, ela parecia divertida. — Você sabe que ele diz a mesma coisa sobre você? — Ele deixou que sua raiva se dissipasse um pouco. — Posso imaginar, — Robbie tinha certeza que Clifford tinha muitas coisas a escolher, a dizer sobre ele. Ele olhou-a especulativamente. — Ele não sabe o que você fez? Ela balançou a cabeça. — A comida sim, mas não o resto. Se ele descobrisse... — a voz dela baixou e ele pode ver a sua angústia. — Eu não poderia suportar sua decepção.

A opinião de seu irmão obviamente significava muito para ela. Aparentemente a bem conhecida afeição de Clifford por sua única irmã não era unilateral. — Ele nunca vai saber por mim, — ele supunha que era o mínimo que podia fazer. Mas se a opinião de Clifford importava tanto, por que ela teria arriscado tanto para ajudá-lo? Ela o admirava, ele sabia. Mas, havia algo mais? — Por que você fez isso? — Era errado, — disse simplesmente. — E eu não podia ficar parada e assistir meu irmão conduzir homens a morte por algo que não era certo. Ele riu; não conseguiu evitar. — Clifford nunca deixaria algo como certo ou errado em seu caminho para conseguir matar escoceses. Foi a vez de ela enrijecer, aquela nobre beleza inglesa tornou-se cortante e fria. — Você está acusando meu irmão de ser um assassino? Seu olhar se voltou duro. — Suponho que depende da sua definição. Ele atua de acordo com as leis inglesas, que eu garanto a você serem pouco justas com os escoceses, — antes que ela tentasse defender o irmão novamente, ele disse. — Venham, eles estão esperando por nós.

Ela ficou em silêncio por um momento enquanto caminhavam por entre as árvores. Quando finalmente falou, ele desejou que não tivesse feito. — Alguma vez você pensou em mim? Sua voz soou baixa e incerta. Ele deveria ter dito não, mas se encontrou falando honestamente. — Gostaria de saber quem era você, — ele pensou no beijo com uma careta. — E me perguntava qual sua idade. Ele olhou para cima a tempo de ver um suave rubor se espalhar por suas bochechas. Mas então ela mordeu o lábio, e ele sentiu uma onda de calor em sua virilha e teve que desviar o olhar. — Por que você me beijou? Robbie parou em seco, mas se recuperou rapidamente e aumentou seu ritmo.

Cristo,

de

todas

as

perguntas

a

fazer.

Ela correu ao lado dele lançando olhares de expectativa. Ele suspirou e respondeu ligeiramente exasperado: — Não tenho a menor maldita ideia. A resposta pareceu agradá-la. Um pequeno sorriso apareceu em sua boca e ele percebeu que podia olhar aquele sorriso por horas. Um sorriso como esse poderia ser uma distração. Mas desapareceu rapidamente enquanto atravessavam a vila onde os homens estavam esperando, e ele retribuiu o aceno de uma das mulheres. — Você é casado?

A pergunta o pegou de surpresa. — Inferno... — ele parou. — Não. — disse ele com mais calma. — Por que não? — Sua boca franziu. — Se as mulheres são algum tipo de indicação, certamente não pode ser por falta de oportunidade, — ela parecia estranhamente irritada com a observação. — E você deve ter mais de trinta anos. — Por todos os santos, — ele esclareceu. — Não sou casado porque não quero. Não há lugar na minha vida para esposa e filhos. Ele não quis dizer como um aviso, mas saiu como um. Eles estavam a uma curta distância dos homens que os esperavam, mas ela perguntou. — Você não quer ter uma família? Na verdade ele não pensou muito sobre isto. Essa parte de sua vida nunca havia sido importante para ele. Estava muito focado na tarefa que tinha nas mãos. Além disso, veja o que tinha acontecido com sua irmã. Uma mulher sua estaria em perigo. Além da ameaça caso fosse conhecido seu lugar na Highland Guard, ele era bem conhecido. — Talvez quando a guerra acabar. Mas até então, nada mais importa. — Ele parou e sustentou o olhar dela de modo a não haver erro. Ele não ia se distrair por alguém. Ninguém.

*** O tempo estava se esgotando. O coração de Rosalin batia ansiosamente sabendo que cada milha cavalgada se aproximavam da floresta, ela pensou que chegariam a um lugar sem volta. Embora ninguém ainda houvesse confirmado seu destino, sua direção ao sudoeste não deixava dúvidas. Ela e Roger tinham que escapar antes que fossem engolidos pela impenetrável floresta Ettrick, o covil escuro e aterrorizante de ladrões e fantasmas. Depois de emergir mais uma floresta montanhosa em uma trilha que quase poderia passar por uma estrada pelos padrões da Escócia, ela deixou outro laço de fita azul claro deslizar de seus dedos e teve que resistir ao impulso de olhar por cima do ombro. Clifford os estaria seguindo? Era por isso que Boyd estava pressionando-os duramente? Parecia que sua urgência para chegar ao seu destino equivalia ao dela de não alcançá-lo. Ela olhou de volta para o poderoso forjado homem que alternava entre sentinela e guia à frente do bando de guerreiros. Será que ele ficou tão instável quanto ela pelo que quase havia acontecido no rio? Seu desejo esteve bem escondido, ela nunca teria imaginado tal intensidade. Parecia ter surpreendido até ele próprio. É evidente que ele a queria, mas era igualmente claro que a atração não iria mudar nada. Ela era sua refém, um meio para um fim, isso era tudo. Sua própria atração por ele era muito confusa. O vislumbre do nobre guerreiro que ela tinha visto nele e considerando o que ele havia revelado sobre sua irmã, não mudava nada. Ele podia não ser o demônio de coração frio que ela pensou primeiro, mas ele estava focado e determinado a ganhar a guerra excluindo todo o resto. Dedicava sua vida à luta pela liberdade. Senhor amado,

ele era da mesma idade que seu irmão, que estava casado desde que tinha dezoito anos e tinha seis filhos. Nada mais importa. — Boyd havia dito. Ela acreditou. Mas não foi apenas sua inquietação sobre o que tinha acontecido mais cedo e a percepção de que ainda estava ridiculamente atraída por ele que motivou sua urgência em escapar. Embora não acreditasse que ele iria machucá-la ou a Roger, sabia que ele não hesitaria em usá-los como arma contra Cliff, o que ela não permitiria. Também não arriscaria a vida de seu sobrinho desnecessariamente. Só de olha-lo! Pobre Roger parecia que estava prestes a cair do cavalo. Estava exausto após árduas e infindáveis horas cavalgando sobre o terreno áspero e brutal da vila. Ele não estava sozinho, ela também estava exausta. Eles não eram guerreiros endurecidos. Mas cada vez que tentou falar a respeito com Boyd em uma de suas raras paradas, ele ignorou seus apelos e parecia crescer ainda mais sua irritação. Eles estavam andando por horas quando ela avistou o que parecia ser o parapeito de um castelo e uma aldeia ao redor, antes de Boyd mais uma vez levá-los para árvores e colinas (que ela tinha quase certeza de abranger noventa por cento desta região esquecida por Deus). O que não daria por uma boa estrada inglesa! Seu traseiro estaria moído por semanas após o abuso. Felizmente a dor em suas mãos havia diminuído. Um pouco mais tarde, perto do crepúsculo, Boyd os chamou para uma parada. Ela assistiu ele desmontar com um dos outros guerreiros,

presumidamente para mais vigilância. Sua diligência a fez se perguntar se Cliff estaria perto. Depois que Callun a ajudou a descer, ela se aproximou de Sir Alex que estava falando com Malcolm e Roger. Embora os dois meninos fossem altos e magros com apenas alguns anos os separando, as diferenças entre eles não poderia ser mais gritantes. Malcolm era firme, de resistente força e a perseverança de um guerreiro. Parecia que podia andar por mais um dia ou dois enquanto Roger aparentava que suas pernas poderiam desabar a qualquer momento apesar da luta para esconder isso. Seu coração doía por ele, sabendo quanto o orgulhoso jovem odiaria a ideia de parecer fraco na frente de seu inimigo. — Será que vamos acampar aqui esta noite? — Perguntou esperançosa. Sir Alex deu um sorriso simpático. — Receio que não. Nós só paramos para dar água aos cavalos. Rosalin tentou ignorar a decepção no rosto de Roger, não querendo chamar a atenção dos homens para ele. — Mas vai escurecer em breve. Certamente devemos ter tempo para comer alguma coisa? — Mas você deu toda nossa comida. — disse Malcon, com óbvia surpresa. Rosalin virou-se para ele.

— Eu dei? O menino assentiu. — Sim, lá atrás na aldeia. Ela não tinha percebido que ficaram com tão pouco após Douglas “O Negro” ter tomado a pilhagem do ataque. Não admira que Boyd tenha olhado de forma estranha quando Callun levara seu pedido. — Nós queríamos viajar rapidamente e não antecipamos o atraso na aldeia. — disse gentilmente tentando aliviar sua culpa. — Nós já deveríamos estar no acampamento agora. Mas Rosalin não se arrependia de suas ações. Os aldeões queimados teriam mais necessidade da comida do que eles. Ela poderia ficar uma noite sem alimento. Sua barriga roncava. Mesmo seu estômago protestou. — Se tivéssemos mais tempo, poderíamos caçar alguma coisa. — parecia que Sir Alex não era o único bandido propenso a galhardia; Malcom também estava preocupado por ela se sentir culpada. Ela lhe deu um sorriso agradecido que fez o rapaz ficar tão vermelho quanto seu cabelo antes de se voltar para Sir Alex. — Vamos chegar ao acampamento em breve? — Não por algumas horas. Talvez mais tempo no escuro.

Ela não conteve um gemido. Roger também parecia um filhote de cachorro que tinha acabado de ser expulso. — Sir Alex, caso tenha um minuto há algo que eu gostaria de falar com você em particular. Ele balançou a cabeça e enviou Malcolm e Roger para cuidar dos cavalos. Ele fez sinal para ela se sentar em uma rocha próxima, mas ela balançou a cabeça. Tão cansada como estava, a perspectiva de sentar na rocha dura não a atraia. — Você se importa de andar um pouco. Gostaria de esticar as pernas. Eles seguiram em direção ao riacho, mas ao invés de se juntarem aos homens, ele a levou na direção oposta. Quando chegaram à beira da água, pararam. Além de florestas e montanhas havia riachos ou cursos de água como eram chamados pelos escoceses em toda parte. Eles eram lindos, ela percebeu. Mesmo no profundo e rigoroso inverno, as águas escuras que cortavam através de pequenos vales de charneca avermelhada ladeada por colinas cobertas de árvores evocavam uma tranquilidade em desacordo com uma região devastada pela guerra selvagem. — Eu não queria dizer nada na frente de Malcolm, mas você tem que ver o quão cansado meu sobrinho está e que ele morreria antes de admitir isso. Ele não está acostumado a cavalgar por todo esse tempo sobre este tipo de terreno. —Não sei quanto tempo ele aguentará. — Ela olhou para ele suplicante. — Não sei quanto tempo eu poderei aguentar. Não existe um lugar nas proximidades onde se possa passar a noite? Uma pousada talvez?

Sua boca afinou. — Me desculpe minha senhora. Eu não a teria forçado a suportar nada disso. Estas não são condições para uma senhora ou um rapaz, — ele sorriu sem humor. — Mas você viu o pouco peso que tem minha opinião por aqui. A amargura em seu tom era inegável. Ela não tinha se enganado em identificar Sir Alex um aliado em potencial. Ela tinha, no entanto, subestimado o nível de seu desafeto. O que quer que haja de discordante entre ele e Boyd, era mais profundo do que ela havia percebido. Ela não entendia. Ao que tudo indicava os homens eram companheiros próximos que tinham lutado juntos durante anos. A metade do tempo eles nem sequer usavam palavras para se comunicar, apenas olhares. Então por que a animosidade e o ressentimento? Ela odiava se aproveitar da simpatia de Sir Alex, mas tinha que fazer algo para atrasá-los. Algo que ajudasse Cliff a alcançá-los ou para que escapassem. A vila e o castelo que tinha visto não eram tão longe. Se eles pudessem parar... — Por favor, Sir Alex? — O brilho em seus olhos não era completamente falso. Ela realmente estava exausta. — Não há nada que você possa fazer? — Seton. A voz profunda atrás dela a assustou. Ela baixou a mão do braço de Sir Alex e nem percebeu que tinha colocado lá, e virou-se para encontrar Boyd em pé bem atrás deles.

— Como você faz isso? — Ela estalou com culpa, o que era ridículo, ela não fez nada para se sentir culpada. Ele recusou seu apelo, assim ela teve que recorrer a uma fonte mais simpática. — Fazer o quê? — Esgueirar-se atrás das pessoas. — Prática, — disse ele, seus olhos escuros com algo que ela não reconheceu. — Volte para o seu sobrinho. Preciso falar com Sir Alex. — a maneira com que ele enfatizou o sir soou como um insulto. Ela ia tentar argumentar, mas algo em sua expressão mudou sua intenção, ela olhou para Sir Alex interrogativamente, e ele concordou. Por alguma razão, seu apelo pareceu fazer Boyd ainda mais irado. Do jeito que seus olhos escureceram e suas narinas inflaram, parecia um touro pronto para atacar Sir Alex. Ela não gostaria de estar no lugar do jovem cavaleiro neste momento. Esperava que o que tinha provocado sua raiva contra o outro homem não tivesse nada a ver com ela. Ela deu a sir Alex um olhar de desculpas e começou a sair, mas ele a deteve. — Lady Rosalin. Ela se virou. — Você deixou cair alguma coisa.

Instintivamente ela olhou para o chão, mas ele se aproximou, pegou sua mão com a palma virada pra cima. Um momento depois, estava cheia de laços azuis e fios de cetim rosa. Ela ofegou e seu olhar encontrou o dele, mas sua expressão era tão dura como granito e totalmente ilegível. — Tenha mais cuidado onde você deixa suas coisas. Nós não queremos ninguém nos seguindo. Ela engoliu lentamente com a boca seca e acenou com a cabeça. Robbie mal conseguiu esperar tempo suficiente para ela estar longe do alcance de sua voz antes de se virar para seu parceiro. Ele se inclinou em direção a ele, seus músculos prontos para a batalha. — Fique bem longe dela, Dragão. Ele sabia que estava exagerando, mas a escura emoção que foi surgindo através de seu sangue, no momento, não era racional ou controlável. Parecia vir sobre ele toda vez que via Lady Rosalin conversando com seu parceiro. Em outras palavras cada vez que ele se virava. Mas ele realmente tinha ido como um selvagem, a raiva quase o cegando, quando voltou após pegar mais de suas malditas fitas, e ver suas cabeças douradas encurvadas e sua mão no braço de Seton. Seton não moveu um músculo, não dando nenhuma indicação de que percebeu a ameaça. Em vez disso, deu um longo e firme olhar a Robbie.

— Não. Não acho que deva. Gosto bastante de Lady Rosalin. — O que você quer dizer com gosta dela, — Robbie explodiu. — Você se esqueceu de quem ela é? Seton encolheu os ombros com indiferença. — Temos muito em comum, como você esta sempre apontando. Ou você se esqueceu? — Então agora você é inglês? — Você não esteve me dizendo isso por sete anos? Talvez eu tenha decidido começar a ouvir você. — Que diabos isso significa? — Significa que estou farto de tentar defender minha lealdade a você. Estou cansado de tentar provar que o sangue que derramei ao longo dos últimos sete anos é tão escocês como o seu. Isso significa que se vejo uma dama que foi arrancada de sua família e de tudo que já conheceu, que está assustada e precisa de ajuda, vou tentar colocá-la à vontade, mesmo sendo inglesa. Robbie estava tão atordoado que por um minuto não soube o que dizer. — O que é realmente isso, Raider? — Seton fez uma pausa explorando o rosto irado de Robbie, os ombros juntos e punhos apertados. — Você sabe o que eu penso? Acho que você está com ciúmes. Acho que você a quer e não poderia suportar que ela possa me preferir a você.

Robbie nunca havia atingido seu parceiro antes, embora Deus fosse testemunha que foi tentado mais de uma vez, mas estava a um milímetro de fazê-lo. Ele queria afundar seu punho através daquele esperto sorriso, então desesperadamente seus braços se contraíram. Principalmente porque sabia que era verdade. Ele estava com ciúmes. Pela primeira vez em sua vida, essa desagradável emoção o remoía por dentro e ele não podia parar. Estava atraído por ela. Inferno, atraído era dizer pouco. Tudo que tinha que fazer era olhar para ela e já estava imaginando-a nua embaixo dele novamente. Retratando seu rosto corado e os lábios entreabertos, como a faria clamar... Não... Gritar de prazer. Sim, a séria Rosalin... A perfeita Rosa Inglesa, gritando seu nome, como ele a faria gozar inúmeras vezes era algo que simplesmente não saia de sua cabeça. Mas ele seria um condenado se admitisse isso para Selton. — Cai fora, Dragão. A moça obviamente acha você um alvo fácil, e estou apenas tentando me certificar que você não faça nada tolo. — Se ser simpático a sua situação me faz um alvo fácil, então acho que você está certo. A moça precisa de alguém para protegê-la. Um novo pico de raiva cerrou seus dentes. — Não, não precisa. Ela tem a mim. Vou protegê-la.

— Então sugiro que comece a fazer isso. Você já deu uma olhada nela e no rapaz? Estão tão exaustos que mal podem ficar de pé. Você os arrastou por metade do caminho através de toda Escócia em menos de um dia e meio com pouca comida. — De quem é a culpa? — Robbie rebateu. Seton lançou um olhar que dizia saber muito bem que Robbie ficou tocado por sua bondade e não invejava a perda de uma refeição. — E se um deles adoecer? O que você vai dizer a Clifford então? Droga, ele não era cego. Seton não estava dizendo qualquer coisa que ele não pudesse ver por si mesmo. A consciência que, infelizmente, ele havia encontrado, pesava cada vez que ele olhava para um deles. — Não dou a mínima para o que Clifford pensa, mas eu estava vindo para dizer-lhe que Fraser foi à frente com Keith e Barclay para Kirkton Manor para arranjar um quarto para a noite. O velho proprietário das terras era de inquestionável lealdade, e o alojamento estava localizado de forma a garantir que ela não fizesse outra tentativa de fuga. Embora ainda não estivessem na floresta, estavam suficientemente perto e firme em território de Bruce, apesar da guarnição no castelo Peebles algumas milhas atrás. Seton sorriu. — É bom saber que você não é um completo e insensível bastardo.

Os olhos de Robbie se estreitaram, tendo a nítida impressão que havia sido manobrado. — Sim, bem eu podia ter avisado você sobre meus planos mais cedo se não tivesse sido forçado a recuar pelas fitas. O sorriso de Selton se aprofundou. — Você tem que admitir foi bastante inteligente da parte dela. Um sorriso irônico levantou um canto de sua boca. — Sim, bem, uma coisa boa foi Fraser ter notado ou teria levado Clifford direto para nós. Eu deveria puni-la por isso. — Mas você não vai. Não era uma pergunta. Talvez Seton o conhecesse melhor do que ele pensava. Deus sabia que eles tinham sido parceiros por um longo tempo. Seton sabia mais sobre ele do que qualquer um. Ele franziu a testa. Mais ainda que seu irmão Duncan. — Talvez não, — ele concordou. — Mas vou deixá-la pensar isso. Seton riu. — Não acho que vá funcionar. Com todos esses sombrios olhares que você tem lançado a ela, estranhamente a moça não se sente intimidada por você. Talvez ela saiba algo que o resto de nós não?

— Não sei, Dragão. Acho que parei de intimidar você há muito tempo, ou você não seria uma dor na minha bunda. Era um tipo de reconhecimento. Um reconhecimento que apesar da desigualdade entre eles no início, as escalas haviam começado igual. Eles poderiam nunca concordar sobre a guerra e como ela deveria ser conquistada, mas como um guerreiro e parceiro, Seton tinha seu respeito. Seton assentiu. Apesar de ser um pequeno reconhecimento, Robbie podia ver que significava algo para ele. Depois de um momento seu parceiro perguntou. — Você quer dar a boa notícia ou eu dou? Ambos sabiam que havia mais na questão do que parecia a primeira vista. Ele podia deixar Seton continuar no papel de campeão ou... Robbie sustentou o olhar de seu parceiro. — Deixe comigo. Ele não sabia que tipo de reivindicação ele tinha acabado de fazer, mas sabia que tinha feito uma.

Nove A visão de um travesseiro quase a fez chorar. O fato de que um pequeno, irregular travesseiro coberto de linho poderia trazê-la às lágrimas era uma prova de como estava cansada. Rosalin ficou grata e surpresa que Boyd tivesse concordado em deixá-los parar durante a noite. Embora, uma vez que viu o lugar, ela compreendeu. A torre de madeira velha que virou uma fazenda fortificada estava minuciosamente situada à beira de uma ravina íngreme. Com a única entrada bem guardada, escapar seria quase impossível. Quase. Mas ela estava determinada a tentar. Com seu plano das fitas frustrado, isso dependia dela. Ela e Roger tinham devorado a pequena tigela de guisado de carne macia e uma crosta de pão amanhecido oferecido pelo fazendeiro como se fosse ambrosia, antes de serem escoltados por Boyd pelos dois lances de escadas até sua câmara no sótão. Era como havia antecipado quando tinha visto pela primeira vez o prédio: eles estavam no quarto no topo da casa com vista para a ravina. Se a altura e a posição do quarto não fossem suficientes como um elemento de dissuasão adicionado para escapar, Boyd estaria dormindo do lado do outro lado da porta. O anfitrião tem sido surpreendentemente prestativo, fornecendo não só água para lavar, mas cola para limpar os dentes e — ela rezou uma oração de gratidão — um pente para desembaraçar seu cabelo. Um pequeno braseiro no canto proporcionava um calor agradável ao quarto que tornava mais fácil ignorar o cheiro de turfa.

Havia uma pequena cama dobrada sob a única janela fechada no quarto, e através de uma porta ao lado, alguns colchões foram dobrados para os criados. Foi a cama e a janela que lhe deram a ideia. Depois que tinham se lavado para ir para a cama, ela compartilhou com seu sobrinho. Roger olhou para ela com os olhos cada vez mais arregalados. — Você quer fazer o quê? Ciente do homem do outro lado da porta, ela colocou o dedo na boca para avisá-lo para manter a voz baixa, enquanto continuava a explicar seu plano. — Como a Rainha Matilda — ela sussurrou. — Você se lembra como ela escapou do Castelo de Oxford? Se amarrarmos os lençóis de cama em conjunto para fazer uma corda, poderemos amarrar uma ponta ao pé da cama, — ela esperava que fosse forte o suficiente para segurá-los. — e sair pela janela. Quando a rainha — ou Imperatriz — Matilda, estava sitiada pelo rei Stephen em Oxford, ela escapou de forma semelhante ao ser baixada pela parede por seus homens, e saiu vestindo branco para se misturar com os arredores cobertos de neve. — Você não viu a ravina? Deve ter doze metros daqui até o chão. — Então vamos ter que usar muitos lençóis. — Ela pegou o candelabro solitário no quarto e quebrou a persiana o suficiente para olhar para fora, ignorando a explosão de ar frio que parecia para lembrá-la do calor e segurança

da sala que ela planejava deixar. Olhando para baixo na escuridão insondável, ela tentou, sem sucesso, não tremer. — Veja, não parece tão ruim. Não vejo ninguém de guarda. — Por uma boa razão, — Roger apontou. — Quem no seu perfeito juízo iria sair por esta janela? Rosalin sabia que ele estava certo e estava tão assustada quanto ele, mas tinham que pelo menos tentar. Poderia ser a única chance deles. Ela não deixaria Boyd usá-los contra Cliff. — Não vai ser tão ruim assim. Você vai ver. E uma vez que estivermos em baixo, não é tão longe do castelo que passamos mais cedo. Roger assentiu. — Eu o vi também. Gostaria de saber onde estamos. Mas se você tem certeza que estão nos levando para a floresta Ettrick, provavelmente aqui é Melrose, Selkirk, ou até mesmo Peebles, todos esses lugares estão dominados pelos ingleses. Ela assentiu com a cabeça. — Seu pai está provavelmente correndo para um deles agora. Roger parecia estar gostando da ideia. — Talvez você tenha razão. Temos que pelo menos tentar. Vai ser muito mais difícil tentar encontrar o caminho para fora da floresta. Se fizermos isso, porém, tenho uma condição. Ela tentou não sorrir diante de sua postura autoritária. — Eu vou primeiro.

— Absolutamente não. — Ela começou a protestar, mas ele a interrompeu. — Se algo der errado, posso saltar mais longe do que você. — Se alguma coisa der errado, pular era a última coisa que precisavam se preocupar. Ela queria recusar, mas podia ver o olhar teimoso de Cliff no rosto de Roger. Ela considerou por um momento. — Muito bem, mas você vai me fazer uma promessa também. Se algo der errado, você não vai parar e esperar por mim, em vez disso, vai buscar ajuda. Ele segurou seu olhar e assentiu. Nenhum dos dois estava satisfeito com as condições, o que a fez supor que era a indicação de uma boa negociação. Tirando uma mecha rebelde da testa dele, ela lhe deu um sorriso terno. — Durma um pouco. Vamos precisar disso. Eu vou acordá-lo quando estiver tudo tranquilo. Roger balançou a cabeça, cansado demais para discutir. — Eu vou dormir lá, — ele apontou para o sótão. —Você dorme na cama, — ele franziu a testa, inquieto. — Ou talvez eu devesse dormir no pé da sua cama. Não gosto do jeito que ele olha para você. Rosalin não tinha certeza, mas o olhar no rosto de Roger era tão preocupado e o instinto de protegê-la tão doce, que seu coração se apertou. No entanto, era sua obrigação protegê-lo. — Não acho que seja necessário, — ciente de seu orgulho, ela acrescentou: — Embora agradeça sua oferta. Mas ele não vai me machucar desse jeito.

Depois do que ela soube hoje, sabia que estupro era única coisa que não precisava ter medo de Robbie Boyd. Sua confiança nele havia impressionado Roger ou ele havia chegado a uma conclusão semelhante por si mesmo. Ele olhou para ela, pensativo. — Você gosta dele, não é, tia Rosie-lin? Ela esperava que seu choque por sua perspicácia não fosse evidente. — Eu... — ela mordeu o lábio. — Não sei o que pensar. — terminou com honestidade. Roger franziu a testa como se ele também estivesse indeciso. — Ele não é como eu esperava. Não age como um bandido, pelo menos, não o tempo todo. Mas meu pai odeia até mesmo ouvir seu nome ser mencionado. Por isso, tenho certeza que ele deve ter feito um monte de coisas ruins. Rosalin pensou por um momento, ponderando tudo o que Boyd havia confidenciado a ela. — Tenho certeza que sim, mas muitas coisas ruins têm sido feitas em nome da guerra por ambos os lados. É difícil encontrar alguém completamente bom ou ruim. As pessoas geralmente ficam no meio disso. Roger parecia perturbado com o que ela disse, mas acenou com a cabeça. Como a maioria das pessoas, ele queria ver em preto ou branco, não em tons de cinza. Mas Rosalin estava começando a ver que Robbie Boyd era muito cinza, de fato. Atrás da concha implacável demorou algum tempo para aparecer o homem que ela lembrava. Talvez ele não fosse o bandido sem piedade de coração negro, mas não era o nobre cavaleiro no cavalo branco também. Provavelmente, o mesmo poderia ser dito de Cliff.

Como não conseguia fechar os olhos, Rosalin manteve-se ocupada durante as próximas horas preparando as tiras dos lençóis que ela e Roger haviam feito antes de irem para a cama. Trabalhando com a pouca luz do luar que entrava através da persiana quebrada, ela fez tranças e amarrou as pontas. Quando terminou, havia elaborado uma corda forte de doze metros de comprimento. Felizmente, a cama de madeira foi feita para ser resistente. Amarrando uma ponta da corda no poste grossa da cama, ela deixou a outra ponta pender fora da janela. Eles poderiam ter que saltar no fim, mas a corda parecia longa o suficiente. Quando os sons abaixo acabaram completamente e ela teve certeza que todos dormiam, acordou Roger. Movendo-se sobre o quarto como fantasmas, eles subiram em cima da cama e retiraram cuidadosamente as persianas da janela. Dando um puxão forte na corda, Roger subiu no parapeito e olhou para baixo. Seu rosto empalideceu, e seu pomo de Adão balançou, mas ele não hesitou. Trocaram um olhar, e ele começou a descer. Ela prendeu a respiração querendo estender a mão e agarrálo. Ele deve ter percebido sua confusão. — Lembre-se de sua promessa. — ele sussurrou. Ela se acalmou. — Você também. E então ele se foi. Por cinco minutos de agonia ela assistiu a tensão da corda contra o seu peso. Algumas vezes a cama rangeu e seu coração se apertou. Mas estava dando certo. Estava funcionando! E, finalmente — finalmente — a corda ficou frouxa. Ele havia chegado ao final.

Ela olhou para baixo, incapaz de vê-lo, mas não hesitou. Puxando a corda como tinha feito para testar sua força, ela começou a subir no parapeito. Mas antes de seu pé tocar a madeira, o desastre aconteceu. A janela não havia sido aberta completamente, e ela bateu nela acidentalmente com o cotovelo, fazendo-a bater contra a parede ruidosamente. Ela congelou com o som que parecia reverberar através da noite tranquila como um sino de igreja. Talvez ele não fosse ouvir o movimento e o som alto da porta. Graças a Deus, ela teve o cuidado de trancar a porta. — Rosalin. Abra a porta. Ela olhou para fora e seu coração balançou, quase como se estivesse a tentar dizer-lhe para saltar. Para ir atrás de seu sobrinho e fazer tudo o que podia para escapar. Mas ela tinha que dar uma chance a Roger. Desamarrou rapidamente a corda, deixou-a cair e fechou as persianas. Suas mãos ainda estavam na trava quando a porta se abriu. ***

Inquieto e na borda, Robbie não se preocupou em tentar dormir. Em vez disso, sentou-se com as costas apoiadas contra a porta e tentou se concentrar no uísque ardente de Kirkton, em vez da mulher que fazia seu sangue ferver. Não estava funcionando. Ele estava tão em sintonia com ela no aposento atrás dele que seu pulso saltava toda vez que ouvia um barulho. Mas esse ruído era diferente. Não eram passos ou vozes sussurradas ou o som da cama que rangia enquanto ela rolava; era um som alto que estava fora do lugar no meio da noite. Então, quando ela não respondeu de imediato, ele

não hesitou em arrebentar a trava do trinco com um empurrão forte de ombro contra a porta até conseguir entrar. Uma rajada de ar frio bateu nele. A janela havia sido aberta. Um fato aparentemente confirmado pela sua posição atual; ajoelhada na cama com as mãos sobre as persianas. Ela se virou para ele com um suspiro assustado. Ele pensou ter detectado um lampejo de pânico em seus olhos, mas poderia ter sido apenas surpresa. — O que você está fazendo aqui? Ele fechou a porta atrás dele e caminhou em direção a ela. — Eu poderia te perguntar a mesma coisa. Ele estava perto o suficiente para ver o resplendor quente de sua pele e a pulsação em seu pescoço começar a acelerar. Ela estava nervosa. Mas se era por causa da presença dele no quarto, ou o fato de que estava perto o suficiente para sentir o cheiro da hortelã que ela havia usado para limpar os dentes, ou qualquer outra coisa, ele não sabia. — Por que as persianas estão abertas? Ele estava olhando para ela de perto, perto o suficiente para ver a agitação que acelerou seu pulso antes que ela respondesse. — A sala estava quente, então quebrei uma das persianas. Deve ter batido enquanto eu dormia. Lamento ter acordado você, mas como pode ver, não há motivo para preocupação. Uma olhada rápida na sala parecia confirmar suas palavras. O braseiro de ferro foi abastecido com turfa e queimava no canto mais distante da sala, a mesa pequena com os itens que ele pediu que Kirkton conseguisse para ela estavam ao lado dela, a vela na mesa de cabeceira e a cama contra a janela...

Tudo estava onde deveria estar. Mas algo não estava certo. Ele estendeu a mão para o fecho das persianas atrás dela. Ela prendeu a respiração enquanto sua mão direita atravessou na frente dela, raspando em seu peito. Ele estremeceu com o contato, cada terminação nervosa pedindo atenção, mas ele não olhou para ela. Inclinando-se, ele olhou para fora. Foi um erro. Seu feminino aroma suave, que até então havia sido uma provocação delicada, tornou-se profundo e penetrante, envolvendo seus sentidos e fazendo-o se sentir como se estivesse se afogando. Como alguém podia cheirar tão bem depois de dois dias em uma sela e depois de ficar presa em uma construção em chamas, ele não sabia. Provavelmente, uma magia secreta de algumas mulheres para conduzir os homens à loucura. Seu corpo estava tão tenso como uma das cordas do arco de MacGregor quando rapidamente esquadrinhou a escuridão. Embora não visse nada, seus instintos lhe diziam que algo estava errado, e esses instintos o haviam salvado muitas vezes para serem ignorados agora. O garoto. — Onde está Roger? Embora estivesse escuro, ele pôde ver seus olhos cintilarem antes de lançar um olhar para o sótão. — Dormindo. Ele começou a se mover em direção à porta, mas ela o deteve com uma suave pressão de sua mão em seu braço. Jesus! Seu sangue martelou. Ela estava muito perto. Tocando nele.

— Por favor, não o acorde. Ele está muito cansado e precisa descansar. Seus olhos se encontraram. Algo se passou entre eles. Algo que parou a respiração dele, seu coração parou, e fez o chão tremer sob seus pés. Ele ficou excitado, duro, na beira de um precipício, lutando para se segurar. Lutando para não tocá-la. Mas isso poderia ser uma batalha que não podia ganhar. Seu coração batia forte fazendo seus músculos flexíveis. O peso da inevitabilidade desabou em cima dele, um peso muito pesado para conter. Ele a queria tão intensamente e queria também sentir o gosto dela em sua língua. Seus olhos caíram para a boca dela. Seus lábios se separaram. Ela se inclinou mais perto. O convite foi sutil demais para resistir; a batalha estava perdida. Sua boca caiu sobre a dela com um gemido profundo. Por um momento, foi como a primeira vez que ele a beijou. Ele sentiu a mesma onda inesperada de choque por ela ser tão gostosa. Como seus lábios eram macios. Como o tremor inocente de sua boca sob a dele o fazia desejar a ser o único a ensiná-la sobre a paixão. Mas então tudo mudou, porque desta vez ele não voltou atrás. Desta vez, não lutou contra o impulso de aprofundar o beijo. Desta vez, deslizou o braço em volta da cintura dela, puxou-a contra ele, e deixou-se afundar no mel suave de sua boca para saboreá-la totalmente. Desta vez, usou o tremor de sua boca na dele e mostrou-lhe como se abrir, como deixar a língua dele entrar em sua boca e deixá-lo acariciar. Sim, ele acariciou longamente com toques lentos de sua língua até que ela retribuiu. O primeiro movimento de sua língua contra a dele o fez gemer. Seus joelhos quase dobraram.

Foi incrível. Ossos derretidos. Aquecimento do sangue. Estonteante. A melhor maldita coisa que ele jamais sentiu. E com cada toque ainda ficava melhor. Quente. Ainda mais incrível. Robbie nunca havia assumido o papel de tutor antes, preferindo mulheres experientes em sua cama, mas ele se encontrou deleitando-se nisso, apreciando seus gemidos suaves de despertar, como se fossem seus próprios. Ele gostava de saber que isso era novo para ela. Que ela nunca deixara um homem beijá-la assim antes. Que seria o único a inflamar sua paixão pela primeira vez. Ele sentiu uma inesperada onda de ternura que lhe deu força — mesmo quando outras partes do seu corpo se inflamavam — para ir devagar. Apenas um beijo, ele disse a si mesmo. Nada que não tenha feito inúmeras vezes antes. Mas ele estava lutando contra suas novas próprias sensações. Beijá-la era... Diferente. Não era apenas porque ela tinha um gosto incrível, ou porque seus lábios eram a coisa mais macia que jamais havia sentido, e o primeiro toque da língua dela contra a dele o deixou tão duro como se ela tivesse lambido seu pênis, ou porque se sentia como se estivesse queimando e se afogando ao mesmo tempo, era também a sensação de paz que caiu sobre ele. A verdadeira paz. Pela primeira vez — inferno, ele não podia se lembrar da última vez — a inquietação dentro dele aliviou. Naquele momento, ele soube que estava exatamente onde queria estar.

Ele sentiu um prazer tão avassalador que parecia abafar todo o resto. Tudo em que podia pensar era como sua bochecha parecia macia em sua mão, como ela cheirava a água de rosas, como era boa a sensação dela pressionada contra ele, e como poderia beijá-la assim para sempre. Se ele não estivesse tão excitado. Se apenas o seu sangue não estivesse rugindo em suas veias e seu coração não estivesse martelando em seu peito. Se apenas os pequenos gemidos suaves de prazer não fossem descendo para agarrá-lo e dando-lhe puxões. Se apenas suas mãos não estivessem em seus ombros, suas unhas se cravando em seus músculos, uma visceral marcação de seu prazer crescente. Se apenas os seios não estivessem esmagados contra seu peito e seu pênis não estivesse pulsando com força contra seu estômago. E se os quadris dela não começassem a se mover. Sim, especialmente isso. A pressão tentadora, o doce atrito, o lento circular de seus quadris contra essa parte dele que ele estava se esforçando por ignorar antes que detonasse algo dentro dele. A voz fraca na parte de trás de sua cabeça que queria que ele a tomasse, tornou-se um rugido alto. O conhecimento que ela o queria tanto quanto ela a queria fez com que ele colocasse rédea sobre seu controle. Rosalin não queria que isso acontecesse, mas quando aconteceu, pareceu tão inevitável — tão fatídico — que ela se perguntou por que demorou tanto. O encantamento e a maravilhosa sensação de choque que sentiu na primeira vez em que seus lábios tocaram os dele, não foi nada perto da miríade perfeita de sensações que recaíram sobre ela quando ele a beijou, quando a beijou realmente. Ela sentiu-se envolta em calor, se afogando no gosto inebriante de uísque, e possuída por emoções que não entendia totalmente. Emoções ferozes. Emoções pungentes. Emoções intensas que fizeram sua respiração parar, seu

coração saltar, e seu corpo se sentir como se estivesse derretendo em uma piscina de calor. Ela havia sido beijada desde a primeira vez, mas nunca desse jeito. Nunca tão completamente, de uma forma que lhe tirou o fôlego. Nunca com tal necessidade abrangente, tal posse, tal sedução e tanta ternura. Essa era a maior surpresa de todas. Que este guerreiro feroz, este executor implacável, este homem que invadiu e pilhou seu caminho através do campo, pudesse beijar tão ternamente. Que os traços suaves de sua boca e língua pudessem suplicar e não comandar. Que este homem de uma força incrível pudesse ser tão suave. Ela nunca teria acreditado. Mas aqui estava ela, meio ajoelhada na cama, embalada contra seu peito, sendo beijada como se fosse a coisa mais preciosa do mundo. Sua mão embalou seu queixo, os grandes dedos calejados que poderiam segurar o cabo de uma espada com finalidade mortal, acariciavam seu rosto com um toque tão suave quanto o de uma mãe com um bebê recém-nascido, com ele mantinha sua boca aberta para os mergulhos hábeis de sua língua. Hábil e lento, uma doce sensação de abandono. O choque que ela poderia ter sentido pela invasão íntima foi anulado pela sensação de acerto total. Não havia nada mais natural ou perfeito que o toque quente de sua língua contra a dela. Cada toque parecia calculado para atingi-la mais profundamente. Para fazê-la estremecer e gemer. Para fazê-la querer mais. Ela não podia suportar. Mas claramente, ele não estava com pressa. Parecia irritantemente no controle, com disposição para beijá-la assim durante horas.

Mas algo estava evoluindo dentro dela. Algo que não entendia. Algo quente, poderoso e ansioso. Algo que a cada toque perverso de sua língua tornava-se mais imperativo. Seus gemidos tornaram-se mais insistentes. Os círculos preliminares de sua língua ficaram mais ousados e exigentes. Ela se afundou nele, pressionando os seios contra o escudo quente do seu peito forte. E, Bom Senhor, era um peito impressionante. Podia sentir cada cume duro, cada gomo de aço, e cada protuberância do seu peito forte. Ela sempre admirou seu corpo, mas havia algo muito diferente em admirar de longe e ser embriagada por tal força. Ele era grande e poderoso, e com todos aqueles músculos em torno dela, sentia-se quente e pesada, e querendo chegar mais perto. Especialmente — pela excitação entre suas coxas — daquela longa parte grossa que podia sentir contra seu estômago. Ela gemeu e apertou. Pressionou e esfregou. E ainda não foi suficiente. Essa sensação que a dominava não passava. Parecia apenas aumentar. Quanto mais ele a tocava, quanto mais tempo ele a beijava, mais ela o sentia contra ela, mais a necessidade aumentava. Pelo menos não estava sozinha. Ele a estava beijando forte — profundamente — sem tanto controle suave. A sua barba por fazer roçava a pele macia de seu queixo enquanto sua boca se movia sobre a dela, saqueando com intensidade crua. Seus gemidos acompanhavam os dela. Sua respiração estava tão difícil, o pulsar de seu coração rápido, sua pele quente, como tudo nela. Ela sentiu uma explosão de orgulho feminino e prazer inebriante por saber que podia fazer isso com ele. Que ele estava tão afetado quanto ela.

Sua boca caiu para sua mandíbula, e depois para o pescoço; o calor úmido de sua respiração fazendo-a tremer quando ele deixou uma trilha quente e longa de beijos em sua pele febril. A mão que havia envolvido sua cintura deslizou até seu seio, e o alívio da pressão foi tão aguda que tudo que pôde fazer foi gemer e se apertar mais profundamente dentro daquela mão grande e quente que parecia impressa em seu corpo. Ele a virou de costas, pressionando-a contra ele, beijando-a de novo enquanto apertava seus seios com seu toque perverso. Acariciando e apertando, beliscando seu mamilo suavemente entre os dedos até que chegou ao mamilo endurecido. O estado de excitação explodiu dentro dela. Oh Deus, como ele estava fazendo isso? Como algo assim poderia ser tão bom? Como mãos tão grandes e brutais podiam exercer tal prazer? Ela pensou que tinha morrido e ido para o céu. E então soube que não quando ele substituiu a mão pela boca. De alguma forma, ele afrouxou os laços de seu vestido o bastante para deslizar a boca pelo decote. A sensação de sua língua quente circulando, antes de tomar um mamilo delicadamente entre os dentes, puxando, chupando... Ela gritou, sentindo um estranho calor pulsante entre suas pernas. Seu grito pareceu fazer algo a ele. Ele praguejou e os movimentos suaves e lentos se tornaram mais insistentes, mais calculados. Ela não soube como aconteceu, se ela o puxou ou se ela mesma deslizou para baixo, mas de alguma forma, viu-se deitada de costas contra os travesseiros, e ele estava deitado em cima dela, ou metade em cima dela. Para alguém tão grande e pesado, ela certamente estava gostando. Gostava de ter todo esse peso sólido pressionando-a para baixo, proporcionava uma estranha sensação de segurança e proximidade.

Ela abriu os olhos tempo suficiente para olhar para baixo e ver a sua cabeça escura curvada em seu seio enquanto continuava chupando. Mas, em seguida, a agulhada de prazer foi tão intensa que ela teve que fechar os olhos novamente quando outro grito escapou de seus lábios. Ele estava dizendo coisas, murmurando contra sua pele em gaélico. Ela não precisava entender as palavras para saber que estava dizendo a ela todas as coisas que queria fazer com ela. Seu corpo tremeu em perversa antecipação quando sua boca cobriu a dela novamente. Ele recuou uma vez, o suficiente para olhar em seus olhos. Estava escuro; apenas uma pequena parte da luz da lua entrava na sala pelas persianas, mas ela podia ver a emoção feroz em seu olhar. Emoção que fez seu coração saltar e sua respiração falhar. Seus olhos estavam ardendo. Ele a queria. Ela podia ver isso. Mas era mais do que desejo. Era um olhar de posse, um olhar sombrio de intensidade primitiva que a fez se sentir como se ele tivesse acabado de fazer uma reivindicação através de seu coração. Todas as expressões dele deveriam assustá-la. Ela sabia o que ele queria fazer. Sabia que deveria dizer algo para detê-lo. Sabia que o que ela queria agora era impossível. Mas o olhar esse olhar a extasiou. Ela não podia se afastar. Mesmo quando sentiu uma mão correr por baixo de sua saia e adivinhou o que ele ia fazer. Mesmo quando ele a tocou e seu corpo inteiro reagiu como se tivesse sido atingido por um raio. Ela ofegou, todos seus nervos estremeceram com o leve toque do dedo dele sobre o lugar macio entre suas pernas. Oh céus! Uma onda de calor e umidade se juntou lá. Se tivesse sido capaz de pensar, poderia ter ficado constrangida com essa estranheza latejante.

Mas então ele a tocou novamente e tudo o que podia pensar era em como era bom e que queria que ele a tocasse mais. O toque de seu dedo calejado não foi suficiente. Um som suave escapou de entre seus lábios — um misto de suspiro e súplica. Seu corpo tremia com uma inquietação estranha, como se quisesse se mover, mas sem saber como. Ele a tocou de novo e finalmente, ela não conseguiu mais se segurar. Levantou os quadris contra sua mão, procurando inconscientemente a pressão que o corpo dela desejava. Ele fez um som feroz que era quase um rosnado. Seu rosto estava escuro e tenso, a mandíbula apertada com força, como se os toques calculados de seus dedos estivessem custando-lhe a última gota de seu controle. Seu olhar parecia queimar através dela, chamuscando-a com sua intensidade. — Deus, você é linda, — disse ele com firmeza. — Não posso esperar para fazer você gozar. Rosalin não entendeu o que ele quis dizer, mas não se importava, porque, finalmente, ele estava dando a ela o que queria. Estava tocando-a com a mão, esfregando, e — finalmente, Oh Deus do Céu! — enfiando um dedo dentro dela. Ele a acariciou da mesma maneira que havia feito com a língua, mergulhando e circulando até que o prazer a subjugou. Até que o desejo tinha para onde ir. A pulsação suave tornou-se duros espasmos. — Robbie! Oh Deus, por favor! Ela arqueou debaixo dele, gritando, quando a sensação atravessou seu corpo com uma pressão de ferro, e finalmente deixando uma onda celestial de prazer tão intenso, tão agudo, tão mágico, que ela se sentiu como se vislumbrasse um pedaço do céu.

Robbie Assistindo sua liberação, ouvindo-a gritar seu nome, assistir o prazer tomar conta dela, mexeu em algo dentro dele. Não era apenas a resposta primitiva de seu corpo — que tinha sido alimentado e preparado para a quebra do seu corpo — era um sentimento centralizado em seu peito. Um sentimento de que se ele não pudesse tê-la, se não pudesse fazê-la sua, morreria. Deus sabia que ela era bonita, com um corpo flexível e sensual que faria qualquer homem enfraquecer de luxúria. Mas ele sentiu a luxúria antes e este desejo cru, este anseio profundo, esta necessidade abrangente era como nada que já tivesse experimentado antes. Vinha de um lugar profundo, enterrado até agora dentro dele, e que ele não sabia que existia. O sentimento se sobrepôs a tudo. Ele não se importava quem ela era ou por que estava aqui. Nada disso importava. Tudo o que importava era que quando ela estava em seus braços ele sentia... Ele sentia alguma coisa. Algo forte e poderoso e certo. Os gritos suaves de seu prazer ainda ecoavam em seus ouvidos quando ele começou a trabalhar nos laços de seu vestido. O suor se reuniu em sua testa enquanto ele se equilibrou com firmeza para o lado, tentando não esmagá-la com todo o peso de seu corpo. Ela estava deitada debaixo dele, suave e dolorosamente doce, seu corpo fraco e flexível da sua libertação. Pronta. Os dedos dele ainda estavam úmidos, prova suficiente que ela estava pronta para ele. Ele teve de cerrar os dentes contra o desejo de afundar dentro dela quando sua ereção ficou livre e a explosão de ar frio da noite bateu na pele quente.

Ele não tinha necessidade de colocar na mão para testar sua ereção, ele estava tão próximo que poderia explodir. Ele subiu sobre ela, acomodando-se entre suas coxas. Cada instinto exigindo que jogasse a cabeça para trás e mergulhasse dentro. Ela não iria impedi-lo. Ela queria isso tanto quanto ele. Ele podia ver isso em seus olhos. Ele se acalmou. E através do bater do seu coração, da neblina vermelha de luxúria rugindo pelo seu sangue e do desejo pulsando duro entre as pernas dele, ouviu alguma coisa. Uma pequena voz que deveria ter sido abafada pelo rugido primitivo. Uma voz que ele disse a si mesmo para ignorar e que o fez querer gritar de dor e frustração. Uma voz que lhe disse que isso era errado. Que não importava o quanto ela queria isso, ou mesmo ele, ele não poderia tomar sua inocência. Mas Deus, ele queria. Ele queria tanto que seu corpo tremia com o esforço para não fazê-la sua. Ela não era dele e nunca poderia ser. E Robbie aparentemente tinha mais honra dentro dele do que imaginava. A pequena inclinação de questionamento de cabeça que ela deu a ele foi o último empurrão. Ele pulou fora uma maldição vil e se afastou dela, como se isso pudesse limpar sua cabeça e deixá-lo pensar. Mas ele não estava pensando. Seu corpo estava com muita dor. Cada polegada dele estava pulsando com raiva e desejo frustrado. Seu coração batia tão forte que não conseguia respirar. — Qual é o problema? — Perguntou ela. — Eu fiz algo errado?

Ela tentou colocar uma mão reconfortante em seu ombro, mas ele preferiu a distância, mesmo o pequeno toque era muito para resistir em seu estado atual. Sentado na beira da cama, ele abaixou a cabeça, desejando que o fogo parasse de rugir em seu sangue. Mas isso não iria parar. Pulsava e martelava, necessitando liberação. Ele precisava sair dali. De pé, apressadamente arrumou sua roupa. Ele não se atreveu a olhar para ela reclinada na cama quase violada em desordem, sabendo que o cabelo despenteado, as bochechas coradas e lábios inchados seriam demais para ele resistir. — Sinto muito, — ele conseguiu dizer secamente. — Isso nunca deveria ter acontecido.

Dez Aquilo nunca deveria ter acontecido, Robbie repetiu isso para si mesmo mais do que uma vez durante a longa noite. A pergunta mais difícil, e aquela que ele não queria perguntar, era como tinha acontecido. Ele nunca se tinha perdido daquela maneira a fazer amor. Nunca havia acontecido. Jamais. Ele estava sempre no controle. Sempre consciente. Diabos, ele podia ser sugado pela boca de uma moça, gozar forte, e ainda estar pensando sobre a sua próxima missão. Mas em um minuto ele estava beijando Rosalin Clifford e no outro, estava quase dentro dela. Ele não estava pensando em qualquer outra coisa. Robbie... Ele se obrigou a esquecer da lembrança. Mas nunca esqueceria o som do seu nome nos lábios dela, quando ela alcançou o orgasmo. Esse apelo suave, sensual, iria assombrá-lo pelo resto da sua vida. Diabos, o que estava errado com ele? Como poderia ter se esquecido de quem ela era? Era sua refém, estava sob a sua proteção, e "Destruidor de Inocentes" não era um título que estava ansioso para adicionar à sua longa lista de pecados. Mesmo que ela fosse irmã de Clifford. Depois de acordar Seton e o instruir a ficar de guarda na porta dela, Robbie procurou o abraço frio da noite de inverno, tanto para esfriar o sangue, quanto para limpar seus pensamentos. Ele passou pelos dois homens que havia deixado para guardar o portão principal e foi para a floresta.

A expressão do Robbie afastou qualquer conversa e eles não lhe perguntaram aonde ia. Ele não sabia. Mas a névoa densa e arrepiante que havia descido entre as árvores ofereceu um estranho conforto. O abraço afiado do ar frio infiltrou-se, penetrou-o, e eventualmente aliviou um pouco da tensão que dominava seu corpo. Luxúria, ele sabia como resolver. Um guerreiro passava muito tempo longe das mulheres para se preocupar em ser tímido sobre a melhor forma de tratar disso, quando surgia o tesão, por assim dizer. Eram as outras emoções, igualmente ferozes e intensas, que não podiam ser saciadas pelo seu punho bombeando seu pau, que o dominavam. Seu desejo por essa mulher era mais do que luxúria. Era forte o suficiente para fazê-lo esquecer de quem ela era — cacete, ele provavelmente teria esquecido o seu próprio nome se ela não tivesse gritado — e perdido completamente o controle. Havia penetrado na névoa de desprendimento que geralmente o rodeava quando estava com uma moça e o fez sentir coisas que nunca havia sentido antes. Mas isso não era o que realmente o preocupava. Ele podia ser cruel e impiedoso no campo de batalha, mas sempre foi um companheiro de cama atencioso. Ainda mesmo em seus flertes, quando era mais jovem, antes de Wallace ter levantado a sua espada e Robbie ter dedicado a sua vida à luta pela liberdade da Escócia, ele não se lembrava de ter sido tão gentil ou carinhoso com uma moça. A reverência, o cuidado e o sentimento de proteção que o tinham dominado quando ele a beijou – isso o assustou muito. Ele não queria que ninguém que levasse para a cama fosse diferente ou especial. E com certeza não uma inglesa — especialmente aquela inglesa em particular. Ele não tinha intenção de desempenhar um papel em uma tragédia romântica, e isso era tudo o que poderia acontecer entre eles.

Sem ter um destino específico em mente e sentindo-se ainda muito inquieto para voltar para a mansão e tentar dormir, Robbie começou a subir as colinas Manor em direção ao pico chamado “lei do dólar”. Embora a sombra escura da montanha se perdesse na névoa, ela pairava sobre o vale como um cão de guarda vigilante. Pelos padrões das terras altas, as colinas suaves da Cordilheira que dominava grande parte das fronteiras, eram relativamente fáceis de subir. A “lei do dólar” era um dos picos mais altos da região, provavelmente ficando a cerca de 160 metros ou mais de Cuillins, onde a Guarda Highland "treinou" (mais apropriadamente, sofreu), porém bem menor do que a grande Ben Nevis. Ainda assim, quando alcançou o topo, ele estava sem fôlego e sentindo ardência nas pernas. A medida que o pico ficou livre da névoa, ele se sentou em um monte de pedras e assistiu a escuridão da noite se desvanecer com o amanhecer. Quando que o primeiro vislumbre de luz solar apareceu à sua esquerda, lançando um suave brilho laranja em todo o vale abaixo dele, Robbie sabia o que tinha de fazer. Rosalin Clifford não podia ficar. Ela podia desejar não deixar o sobrinho, mas depois do que havia acontecido — ou quase aconteceu — os desejos dela já não importavam. Ele tinha que fazer o melhor para sua missão e neste momento, afastá-la dele, era o melhor. Ele olhou para o castelo visível entre as árvores diante dele. Ele iria levá-la para Peebles assim que ela acordasse, e... Ele parou, olhando ao longe. O Castelo de Peebles estava a menos de 16 quilômetros de distância e com a neblina baixa era difícil de ver, mas ele tinha vislumbrado algum tipo de movimento. Pouco tempo depois, ele viu novamente, só que desta vez, viu as bandeiras e o inconfundível brilho prateado que lhe disse do que se tratava.

Ele desceu a colina correndo e atravessou a floresta em direção à mansão. Vendo os homens que ele havia deixado algumas horas antes, gritou ordens para que eles prepararem o resto dos homens. Subiu as escadas para a câmara onde havia deixado a moça e o rapaz, e viu Seton empoleirado no mesmo lugar que Robbie havia estado, antes dele ter ouvido o ruído que o tinha levado para a sala. Seu parceiro se levantou imediatamente. — O que está errado? — Soldados ingleses estão saindo do castelo e vindo nesta direção. Nós precisamos ir. Seton praguejou. — Tem certeza de que estão nos procurando? — Não, mas tenho a maldita certeza que não vou ficar aqui para descobrir. Ele bateu na porta, ficando surpreso quando ela imediatamente disse para ele entrar. Aparentemente, ele não foi o único a não dormir muito na noite passada. Ele abriu a porta, e a viu sentada em um banquinho perto do braseiro, as mãos cruzadas no colo. Ela olhou para ele e seus olhos se encontraram. Ele viu a dúvida, viu a dor, a confusão, e sentiu um aperto indesejável no peito. Sua pele estava pálida, sua expressão serena, e o seu cabelo dourado brilhava na luz da manhã. Ela estava tão dolorosamente linda que ele sabia que iria se lembrar dela desta forma para sempre. Por que aqui seria o local onde diriam adeus. Ele não precisava levá-la ao castelo Peebles com os ingleses vindo para cá.

— Acorde o seu sobrinho — ele disse. — Precisamos partir. Ela ficou perfeitamente quieta, mal reagindo ao que disse. — Não posso fazer isso. Ele atravessou a sala, levantou-a pelo cotovelo e a ergueu. — Não foi um pedido, minha senhora. Há um bando de soldados ingleses vindo nesta direção, e embora eu não me oponha a matar ingleses, prefiro não ter você e Roger no meio de uma batalha. Ela não estava olhando para ele e desviava o seu olhar. Não parecia ela, e isso o deixava inquieto. Ele a soltou, passando os dedos pelo seu cabelo. — Peço desculpas pelo que aconteceu ontem à noite. Eu nunca deveria ter... — ele parou. — Cristo, ele se sentia como se tivesse a idade de Roger, se desculpando por ter roubado um beijo com sua primeira moça. Só que não tinha sido só um beijo que ele quase havia roubado. — Não acontecerá de novo. — Não posso acordar Roger por que ele não está aqui. Levou um momento para perceber o que ela tinha dito. — O que você quer dizer com isso? Ela levantou o queixo, encontrando seu olhar. — Fiz uma corda com a roupa da cama, e ele pulou pela janela. Robbie ficou completamente paralisado. Os olhos dele percorreram o rosto dela. Certamente, ela não podia estar falando sério. Essa parede dava para

um desfiladeiro rochoso com doze metros de altura. A ideia de que o menino correria tal risco era tão ridícula, tão ridícula, que ele não podia acreditar. Mas era verdade. Ele podia vê-la na fria e imperturbável expressão do rosto dela. — Você está louca? — Ele explodiu. — Você tem ideia do quão perigoso foi isso? O menino poderia ter encontrado a morte, — Não foi antes de o próximo pensamento o atingir que ele percebeu que a estava sacudindo. — Você podia ter caído para a morte. Maldito inferno. É isso, não é? Foi esse o barulho que ouvi. Você também estava procurando sair pela janela? Enquanto ela dava um aceno curto de cabeça, outra verdade ficava clara para ele. Raiva caiu sobre ele como um martelo negro e quente, com um golpe esmagador. Seus dedos apertaram o braço dela. — Você fez de propósito, — ele rosnou entre os dentes cerrados. — Sua cadela inglesa ardilosa, você se jogou para mim para que eu não descobrisse que o rapaz havia partido. Ela estremeceu, tomada de surpresa pelo veneno dele. — Não, não foi assim. Eu estava tentando te impedir, mas não tinha intenção que isso acontecesse. — Não tinha? O que mais você poderia achar que aconteceria quando deixa um homem beijá-la assim? Quando esfrega seu corpo contra o dele como uma prostituta experiente. Seus olhos se arregalaram. — Como —

ousa dizer algo assim para mim! Você sabe que não sou...

Sei que abriu as pernas rapidamente e eu hesitei em aceitar sua oferta.

Um erro de minha parte que pretendo corrigir.

Seu rosto empalideceu, o pulsar delicado em seu pescoço acelerou. — Você

não faria isso! Você jurou que não me tomaria à força.

Um sorriso escuro e perverso apareceu no seu rosto. — Quem falou em forçar? Quente do jeito que você é, duvido que eu tenha que usar de muita persuasão. Ele a afastou para não ser tentado a provar isso agora. Um rubor manchou o rosto pálido dela quando se apercebeu da frieza dele. — Você não foi o único a cometer um erro. Mas asseguro-lhe que nunca foi minha intenção me entregar a você para impedir que percebesse a fuga do meu sobrinho. Ele ficou ali fervendo, tentando controlar a raiva que corria em suas veias. Não podia acreditar que tinha se deixado enganar por um rosto bonito e um corpo de sereia. Foi isso que recebeu por tentar ser atencioso e não pressionar no acampamento. Por não mantê-los separados. Ele deveria ter antecipado a traição — ela era inglesa, não era? E agora, por causa dela, a sua arma — a sua segurança — contra Clifford havia escorregado por entre seus dedos. Seu olhar endureceu. Ele podia não ter o herdeiro de Clifford, mas ainda tinha a irmã dele. Já não havia qualquer possibilidade de deixá-la partir. Rosalin Clifford iria com ele, e depois do que havia feito, o irmão dela teria sorte se Robbie a devolvesse. ***

Por mais que o confronto com Boyd fora horrível, e apesar do desconforto das últimas horas causado pela fuga através do campo brutal para escapar de seus perseguidores, Rosalin não podia lamentar o que tinha feito. Roger certamente alcançou o Castelo Peebles e foi capaz de reunir os soldados para virem atrás dela. Talvez até mesmo Cliff. Seja lá o que aconteceu, seu sobrinho estava seguro. Ela estava muito grata por isso, mesmo que temesse por sua própria segurança. Mas se Boyd estava tentando assustá-la, estava funcionando. Ela nunca o tinha visto tão bravo. Era por isso que ele estava sendo tão mau e havia dito todas aquelas coisas odiosas, não era? Ele realmente não ia forçá-la a ser a puta dele. E isso é o que seria: uso de força. Apesar do que ele tinha dito, ela não se daria a ele dessa maneira de novo. Não depois do que ele disse e depois de saber o que pretendia. Ela não era assim tão tola. Ela esperava não ser assim tão tola. Ela não sabia o que era pior, o quão rápido havia se rendido a ele ou como equivocadamente ele havia entendido os motivos dela. Ela tinha tentado impedi-lo de verificar onde Roger estava, mas não tinha planejado oferecer a si mesma como uma distração. Apenas havia acontecido dessa forma. Ela havia ficado envolvida no calor da situação e surpreendida do quão rápido as coisas tinham ficado fora de controle, tanto quanto ele. Ele realmente pensou que ela tinha ideia de que um beijo pudesse levar a isso tão rapidamente? Ela nem sabia o que era isso. Ela não sabia que o toque de um homem poderia despertar sentimentos tão incríveis nela. Não tinha ideia de que podia estar tão dominada pela paixão a ponto de esquecer todo o resto: sua virtude, sua posição... Bom Deus, o fato de que estava prometida a outro homem!

Rosalin sentia vergonha da rapidez com que havia sucumbido e estava grata por ele ter parado antes de fazer algo que não pudesse ser desfeito. Ela ainda tinha sua virtude, se não sua inocência. Ela tinha sido ingênua e tola, mas agora que sabia como era fácil ser pega pela correnteza, ela iria se manter afastada da água. Não importa o quão "quente", ela podia ser. As palavras duras dele ainda magoavam. Como podia um homem que a tinha tocado tão ternamente tratá-la tão friamente logo em seguida? Ela quase se convenceu de que ele podia gostar um pouco dela. Que talvez tivesse sentido a mesma conexão estranha que ela sentiu. Que talvez aquele seu coração de dezesseis anos de idade não estivesse errado. Mas suas palavras duras e frias tinham curado aquelas ilusões. Ela era uma “cadela inglesa." O inimigo. Uma refém. E se esquecesse disso, poderia muito bem acabar sendo sua puta. Ainda assim, não suportava a ideia dele pensar o pior dela, e tinha toda a intenção de reiterar sua inocência quando a raiva dele esfriasse. Mas depois de ter passado metade de um dia, após horas da cavalgada mais perigosa que já havia feito, passando pelas montanhas mais íngremes, pelas ladeiras mais estreitas, e pela floresta mais densa, mais escura, mais impenetrável, a mandíbula dele continuava dura, a boca permanecia apertada e seus olhos estavam tão estreitos como quando ele saiu do quarto. Não que sua máscara negra tenha se virado na direção dela. Não, ela achava que ele não tinha olhado para ela desde que tinham partido. Nenhum dos homens tinha. Mesmo Malcolm, Callum e Alex evitavam o olhar dela. Qualquer simpatia que tivesse ganhado após o incêndio na aldeia tinha desaparecido. Os escoceses seguiam o seu Capitão e a raiva de Boyd não

podia ser mais evidente. Apesar da forma como tinha acontecido, ela tinha superado o herói deles, conseguindo que o sobrinho escapasse, e isso não podia ser perdoado. Ela era uma refém inglesa. Uma mulher inglesa refém. O nível mais baixo. O orgulho masculino feroz escocês não podia suportar tal golpe. Mas o silêncio era opressivo. Ela nunca se sentiu tão sozinha. Quando os primeiros sinais do acampamento ficaram visíveis, ela sentia-se tão miserável — sem mencionar imunda e exausta — que ficaria contente com um casebre, se isso significasse que podia sair do cavalo e escapar da indiferença opressiva deles. Rosalin não sabia o que esperar do acampamento rebelde — talvez trincheiras e mantas espalhadas sobre o campo? — Mas certamente não era a linha direita de tendas em estilo de legionário romano que levavam a uma grande e longa casa de madeira resistente construída em estilo Viking que surgia da floresta espessa ao longo de um leito rochoso como uma pitoresca aldeia faerie de sonho – parecendo uma aldeia pitoresca feita no meio das árvores. Não era exatamente luxuosa, mas estava muito longe da imagem que ela tinha dos fora da lei que tinha levado Robert Bruce a ganhar o apelido de “Rei dos Bosques”. A floresta em si, no entanto, fazia jus à sua reputação de assustadora. Desde que tinham entrado na obscura copa das árvores, ela estava esperando que um dos fantasmas de Bruce pulasse de uma árvore e gritasse "boo". Era fácil ver por que os ingleses tinham cedido a floresta, primeiro para Wallace, e depois para os homens de Bruce. Os rebeldes podiam fazer uma emboscada em praticamente qualquer lugar, e os caminhos estreitos que percorriam a floresta forçariam os soldados ingleses a andar em fila, deixando-os ainda mais vulneráveis. Os homens da floresta de Ettrick, como as lendas dos fora da lei, também eram conhecidos por sua habilidade com um arco, uma habilidade

particularmente mortal neste tipo de ambiente com muitas árvores para se esconder. Ela assumiu que eles deviam ter homens vigiando, porque alguns homens — e mulheres — saíram para saudar os guerreiros que estavam retornando. Pelas saudações e o tom alegre das conversas, ela percebeu que eles estavam aplaudindo a missão bem sucedida. Rosalin não esperava ver mulheres. Mas quando pararam e os homens desmontaram, compreendeu o propósito delas no acampamento, quando viu as mulheres correrem para cumprimentar alguns dos homens de uma forma particularmente amigável. Como ninguém parecia inclinado a ajudá-la a desmontar, Rosalin estava prestes a tentar desmontar quando olhou para Boyd. Uma das mulheres tinha se lançado em seus braços e estava colada ao peito dele. Um longo e ondulado cabelo escuro pendia solto, enquanto ela inclinava a cabeça para trás, de forma convidativa. Rosalin deve ter feito algum tipo de som, porque os olhos de Boyd encontraram os dela, antes dele aceitar receber o beijo de boas vindas da mulher. Um beijo de boas-vindas bastante minucioso. Rosalin sentiu como se um cavalo tivesse chutado o seu peito. Não! Ela queria gritar. Não. Você não pode. Mas ele podia. Ela não tinha qualquer direito sobre ele, um fato que ele estava fazendo perfeitamente claro. Seu braço estava enrolado em volta da cintura da mulher de forma relaxada, como se tivesse estado lá muitas vezes antes. O beijo também tinha uma familiaridade preguiçosa que parecia...

Ah Deus! O fundo do estômago de Rosalin caiu. Ela soube. Eles eram amantes. Ela virou-se, lutando contra as sufocantes punhaladas de dor no coração que a fez querer fazer algo ridículo como chorar. Uma bola quente pressionou seu caminho até a garganta e à parte de trás dos olhos dela. Mas ela piscou para impedir as lágrimas, enquanto deslizava o pé no estribo e tentava descer sem as saias se enrolarem em torno de seus pés. Ela teria caído se alguém não a tivesse pegado por trás, colocando as mãos na sua cintura. Não, não alguém. Ela endureceu com o seu toque, sabendo exatamente quem era. Suas grandes mãos quase rodearam toda a sua cintura, fechando-se ao seu redor como uma prensa quente, quando a colocou no chão sem esforço. Mesmo sem os seus corpos se tocando, ela podia sentir o amplo escudo do peito atrás dela e sentir o cheiro quente de couro e especiarias que se tornou tão familiar. — Obrigada, — ela disse, sem ousar olhar para ele, com medo de que ele pudesse ver o quanto a afetara a cena com a mulher de cabelos longos. — Estou surpresa por não ter me deixado cair. — Como você é nossa única refém agora, isso está fora de questão. Os olhos dela se estreitaram, encontrando o olhar de gelo azul dele. — Sim, meu irmão não vai pagar sua chantagem se eu estiver ferida — não se esqueça disso. Sua boca se apertou perante a-não-tão-sutil referência à sua ameaça anterior. — Acho que ele vai pagar para você voltar independentemente do estado em que esteja. Não se esqueça disso, minha senhora. Ele arrastou a última palavra com óbvio sarcasmo.

Ela se irritou. — Você está errado sobre o que aconteceu. Com todo o seu conhecimento sobre mulheres experientes, você deve saber a diferença entre prática e inexperiência. Ele sorriu, e Rosalin imediatamente se arrependeu de suas palavras grosseiras. Por ter feito um comentário sobre a mulher que tinha beijado, ela o deixou saber que isso a incomodava. — Por aqui, minha princesa, — ele disse com um floreio zombeteiro. — Seu palácio a aguarda. Ele começou a andar, e sem nenhuma escolha a não ser segui-lo, Rosalin ignorou os olhares curiosos sobre si e correu atrás dele. No início, pensou que ele queria levá-la para a grande casa, que ela assumiu que servia como o salão deles, mas ele levou-a para a parte de trás do prédio onde havia algumas barracas montadas. Um pouco maiores que as outras, ela percebeu que estas provavelmente alojavam os tenentes do rei — talvez até o próprio rei, quando estava presente. Ele parou na primeira tenda. Tinha, talvez, quatro metros quadrados, com o meio do telhado com cerca de quatro metros de altura. Embora a lã natural original tivesse um tom branco-acastanhado, uma camada protetora de óleo ou cera para manter o teto impermeabilizado tinha-a manchado de amarelo e, em certos lugares, de um preto escuro-acastanhado. Mais de uma dúzia de cordas de cânhamo suportavam a tenda do lado de fora, presas ao chão com estacas grandes de madeira. Passando as abas que tinham sido amarradas para cima, ela viu os numerosos postes de madeira que davam à tenda a sua estrutura.

Apesar da luz da tarde, estava bastante escuro lá dentro. Mas depois que Boyd acendeu as tochas altas que ladeavam a entrada, ela pode ver melhor o interior. César tinha a fama de ter viajado com seu próprio assoalho de mosaico em seções, e reis ingleses tinham sido conhecidos por equipar as suas tendas como se fosse o quarto de um palácio, com tapetes, móveis finos e talheres de prata e ouro. Esta barraca não era tão boa, mas também não era um casebre pobre. A primeira impressão era de estar bem cuidada e organizada. Parecia estar dividida ao meio, com os dois lados espelhando um ao outro. Eles continham camas de madeira com algum tipo de colchão, provavelmente feito de palha, numerosos cobertores de lã e algumas peles, dois troncos de madeira para armazenamento e assento extra, duas mesas, duas cadeiras e dois pequenos braseiros para o calor. O piso estava coberto de junco. Além do escudo com fundo azul e peças de xadrez vermelhas e brancas em cima dele, algumas velas, uma jarra e uma bacia para lavar, não parecia existir quaisquer itens pessoais que pudessem dar uma dica sobre os seus ocupantes. Mas ela sabia. Era a tenda de um guerreiro, e o interior espartano, sem frescura, nada-adistrair-da-guerra encaixava-se perfeitamente em Boyd. — Você pode dormir lá. — ele disse, apontando para a cama à esquerda. Como ele jogou a sua manta e elmo em cima da cama, ela assumiu que era dele. Bom Deus, isso significava que ele ia dormir no mesmo quarto que ela? — Não há outro lugar que eu possa ficar?

— Não. Como você deve ter notado, estamos no meio da floresta. Lamento, mas o alojamento é limitado. Não foi o que ela quis dizer, e ele sabia disso. Ele só gostava de fazê-la se sentir como uma princesa mimada e birrenta. Era como ele a tinha chamado. Ela levantou o queixo, encarando-o desafiadoramente. — Só não quero deslocar ninguém da sua cama. — Se você está preocupada, sempre pode compartilhar a minha. Ela ficou parada, olhando o seu rosto como se a fachada de granito pudesse lhe dar uma pista sobre a seriedade de seu comentário. Seu sorriso era frio e desprovido de humor. — Eu achei que não. Não tenha medo, minha senhora — Seton não se importa. Ele vive para esse tipo de merda galante. Agora, se não há mais nada, tenho passatempos mais agradáveis para procurar, — Seu rosto endureceu. — Mas aconselho contra outra tentativa de fuga. Embora você mereça estar numa prisão de poço pelo que fez, consigo encontrar acomodações muito menos luxuosas para você. Não existem paredes de doze metros aqui, mas mesmo que você consiga passar pelos dois homens que estão vigiando você — dois parentes de Douglas — a propósito, não se incomode em tentar exercer a sua astúcia feminina nessa direção — a floresta não é um lugar que você vai querer estar sozinha. A menos que goste de javalis, — os olhos deles se encontraram. — E fantasmas. Um calafrio percorreu a pele dela. Seu aviso foi bem entendido. Ela estava presa e sabia disso. Homens de Douglas... Ela estremeceu. De repente, não queria que ele partisse. Mesmo com raiva e cruel, confiava nele. Pelo menos, mais do que confiava em Douglas.

— Espere! — Ela o parou antes que ele puxasse as abas para baixo. — Aonde você vai? — Celebrar um ataque bem sucedido. Ao contrário de você, não pude gozar ontem à noite. Então, a menos que você queira chupar o meu pau como Deirdre se ofereceu para fazer, desejo-lhe boa noite. Rosalin prendeu a respiração, choque permeando cada fibra do seu ser. Mesmo sabendo que era o que ele tinha pretendido, não pode evitar ficar de boca aberta para ele. Era possível uma coisa dessas? O olhar experiente e desafiador dele respondeu sua pergunta. O choque se tornou um pulsar de esfaqueamento. Ela queria se opor. Dizer-lhe para não ir. Dizer a ele que se permitisse que aquela mulher o tocasse tudo estaria terminado entre eles para sempre. Mas como pode algo terminar se nunca tinha começado? Em vez disso, ela deixou cair o olhar e se afastou dele. O belo e nobre guerreiro que ela viu da janela havia desaparecido, e ela descobriu que já não queria olhar para o homem que ficou em seu lugar.

Onze Os sons da folia continuaram pela noite. O que eles estavam fazendo? O que ele estava fazendo? A mulher realmente... O buraco negro no peito de Rosalin parecia crescer cada vez mais. Por que se importava? Os sons provocantes encheram sua imaginação e a mantiveram acordada até a exaustão - tanto física quanto emocional - e finalmente ela foi arrastada para o sono. Boyd não voltou. Rosalin acordou e renunciou a tudo que não fosse o tempo presente. Ela teria que fazer o melhor que podia até que seu irmão pagasse o que quer que eles peçam de resgate. O que mais poderia fazer? Logo tudo isso seria uma memória distante. Uma desagradável e dolorosa memória distante. Ela mordiscou o restante do pão, queijo, carne seca de carneiro que tinham trazido para ela, não muito tempo depois que Boyd a deixou. Aparentemente, ele não tinha esquecido completamente dela e ela começou a explorar os arredores. Infelizmente, não havia qualquer água na jarra, então não podia se lavar. O pente e a barra de sabão descansando nas proximidades zombavam dela.

A sujeira era um poderoso motivador, e isso apenas reforçou sua coragem o suficiente para enfrentar seus carcereiros Douglas, quando um dos homens entrou com outro prato de comida. Este trazia, para seu deleite, o que parecia ser uma maçã. Ele entrou marchando na sala com a coluna dura, reta, esticada e colocou uma bandeja em cima do baú de madeira com fechadura de Sir Alex. Ele era, provavelmente, somente alguns anos mais velho do que Malcolm, mas sua face e barba escuras, faziam ela se lembrar muito bem do seu parente “negro”. — Você precisa de mais alguma coisa? Ele falou com a parede atrás dela com a voz mais relutante que ela já ouvira. Suas bochechas coraram, mas algumas necessidades não podiam ser ignoradas. A ideia de usar o urinol em uma área tão pequena, decididamente não privada, chegou até ela. — Eu suponho que você não tenha próximo um lugar privado? Ele ainda evitou os olhos dela, mas ela podia ver que a sua pergunta tinha lhe desconcertado tanto quanto ela. — Eu vou acompanhá-la até um lugar privado quando você precisar. Ela precisava. Seus pés estavam dançando. A manhã estava fria e nublada, mas o sopro de ar fresco era bem-vindo quando ele a levou para fora e esperou a uma curta distância, enquanto ela cuidava de suas necessidades. O restante dos ocupantes do acampamento ainda devia estar dormindo após a celebração, então tudo estava muito calmo e tranquilo. Ela olhou em volta, vendo algumas coisas que não tinha notado antes. Alguns pequenos edifícios exteriores, o que parecia ser um jardim perto de um deles, o cacarejar

das galinhas, algumas ovelhas na encosta, ferramentas agrícolas e uma carroça encostada em um celeiro. Ela queria ficar, mas ele a levou de volta para dentro. Antes que ele pudesse sair, no entanto, ela perguntou: — Eu gostaria de um pouco de água para me lavar — e um banho se fosse possível. Sua boca se apertou como se ele quisesse recusar. — Vou ver o que pode ser arranjado. Um pouco mais tarde, Rosalin estava no céu. Uma grande banheira de madeira forrada com lençóis havia sido trazida por dois jovens guerreiros, cujo trabalho devia ser cuidar do trabalho mais braçal. Ela foi preenchida com água fria, mas ela não se importou. Assim que os homens saíram, ela retirou a roupa, pegou o sabão e o pente, e deleitou-se com a sensação de estar limpa de novo. Pelo bem da modéstia, tinha ficado com a camisa interior, e depois de se esfregar como tinha visto as camareiras fazerem, ela emergiu da água se sentindo refrescada, mas com frio. Tremendo e pingando, ela percebeu tarde demais, que tinha se esquecido de pedir um pano para se secar. Estando ao alcance do baú de Boyd, que era o mais próximo, ela o abriu para encontrar uma pilha de roupas dobradas. Ela tomou um pano, e envolveu-o em torno de seu corpo tremendo. Mas com a camisa encharcada e nada para se transformar em uma, o pano fornecido pouco adiantou como forma de alívio. Ela tinha duas opções. Podia remover a camisa e vestir seus fumarentos vestidos manchados de viagem novamente ou podia emprestar uma das túnicas recém-lavadas que tinha visto no baú. Não foi uma decisão difícil. Um pouco mais tarde, ela descartou seu vestido e camisa molhados em algumas estacas que pareciam ser para esse fim sobre o baú de Sir Alex, e passou a pentear seu cabelo molhado, sentindo-se limpa e confortável, vestida

não apenas com uma das túnicas de Boyd, mas também com uma manta que tinha encontrado escondida na parte de baixo do baú. No início, pensou que era preta, mas tinha realmente tons de azul escuro e cinza. Ela envolveu-a em torno dela de uma maneira romana, atando-a em um dos ombros e mantendo-a no lugar com uma das cintas de prata que usava em volta da cintura. Quando Sir Alex entrou na tenda, alguns minutos depois, porém, ele parecia tão chocado ao vê-la, que ela se perguntou se tinha feito algo errado. Uma vez que o choque passou, ele sorriu. — Vejo que você encontrou algumas roupas limpas. Ela corou. — Quando pedi um banho, esqueci que não tinha nada limpo para trocar, Ela também tirou suas próprias roupas, a primeira vez em anos, sem a ajuda de uma criada, mas não queria mencionar. — Você acha que ele vai se importar? Sir Alex deu-lhe um olhar longo e estável. — Se sim, diga que eu disse que você poderia usar o meu. Por alguma razão, a perspectiva de ela fazer isso parecia diverti-lo. — Sinto muito incomodá-la, eu só vim para pegar algumas coisas. — ele sorriu. — Mas você está sentada sobre elas. Ela ofegou, pulando de cima da sua arca. — Eu que deveria pedir desculpas a você por desalojá-lo de seu... Hum... Quarto. Ele fingiu não perceber seu embaraço sobre estar dormindo em sua cama.

— É um lugar para dormir, nada mais. Enquanto Douglas não roncar muito alto quando retornar, não vou notar a diferença. — sua expressão mudou para uma de preocupação. — Você está bem? — Tão bem como pode ser. — Ele não... — a voz dele titubeou como se estivesse procurando as palavras certas. — Machucou você? Uma quentura invadiu suas bochechas, adivinhando o que ele suspeitava. Era isso o que todos suspeitavam? Será que todo mundo achava que ela tinha se entregado a ele para seu sobrinho escapar? Não, eles não podiam. Mas Sir Alex deve ter sentido alguma coisa e adivinhado. — Estou bem, — disse ela com firmeza. — Seu amigo está com raiva porque meu sobrinho foi capaz de fugir, mas ele não me machucou. De qualquer maneira, — acrescentou significativamente. — Ainda sou exatamente como era quando cheguei. Embora talvez um pouco mais sábia. Ele assentiu. — Fico feliz em ouvir isso. Sua inventividade pegou todos nós de surpresa. Não tenho certeza, se teria escapado por aquela janela, — ele balançou a cabeça. — Nunca vi Boyd tão irritado. — Ele sorriu. — Mesmo comigo. E além do seu irmão, duvido que haja alguém que o irrite mais. — Mas vocês são amigos. Por que ele estaria com raiva de você? — Cometi um pecado imperdoável, a única coisa que nunca pode ser perdoada. — E o que é? — Eu nasci na Inglaterra. — disse ele secamente.

— Mas suas terras não estão na Escócia? — A maioria delas, embora meu irmão tenha anexado algumas terras em Cumberland e Northumberland. Fui criado na Escócia e lutei no lado escocês em todas as batalhas da guerra, mas isso não importa. Aos olhos de Boyd, vou ser sempre inglês. Não acho que mesmo Wallace odiasse tanto seus compatriotas quanto ele. Não sem motivo, talvez, mas isso o cega. Ele nunca vai confiar completamente em um inglês. Ele segurou seu olhar, e ela entendeu que ele estava dando um aviso. Ela assentiu com a cabeça, dizendo que havia entendido. Ela lamentou por si mesma. Ele deve ter visto algo em sua expressão. — Não se preocupe moça, você não vai ficar por aqui muito tempo. Um mensageiro foi enviado para o seu irmão. Em poucos dias, tudo isso vai ser passado. *** Foi com muito esforço que Robbie se arrastou fora do chão coberto do Hall, onde finalmente encontrou o sono nas primeiras horas da noite, e se aventurou na manhã (ou meio da manhã) à luz do dia. A luz do sol clivava seu crânio como um machado de batalha. Seu estômago, que podia resistir até mesmo a pior das tempestades no barco de Hawk, revirava perigosamente, ameaçando lembrá-lo que a última taça de uísque provavelmente tinha sido uma má ideia. Na verdade, as últimas cinco taças de uísque provavelmente tinham sido uma má ideia. Como qualquer escocês que valoriza seu patrimônio, Robbie adorava uísque escocês. Mas ele não se lembrava de ter gostado tanto. Ou com tal

propósito. Se ele fosse um homem mais fraco, podia até pensar que estava tentando afogar sua culpa na bebida. Mas ele não tinha nenhuma razão para se sentir culpado. Rosalin Clifford merecia sua raiva. Ela merecia muito mais depois do que tinha feito.

E então ele ameaçou fazê-la sua prostituta? E depois ele chocou a perfeita lady inglesa com a sugestão grosseira de ela chupar seu pau? E daí? Robbie raramente desferia o primeiro golpe, mas se alguém batia nele, ele tinha certeza como o inferno de que ia contra-atacar. Não daria a outra face. Olho por olho, dente por dente, era essa era a sua religião. Ele estava fazendo a única coisa que sabia fazer: retribuir implacavelmente quando injustiçado. A inglesa tinha aprendido isso da pior maneira. Como não podia usar seus punhos ou a espada com ela, estava usando a única arma que lhe restava: suas palavras. Ainda não podia acreditar que deixou uma mulher enganá-lo assim. Ele não seria uma vítima das manobras ou artifícios femininos. Ele se achava imune a tais fraquezas terrenas. Indestrutível. Droga, ainda sentia que algo estava errado, mas tudo o que ela precisava fazer era tocá-lo e olhar para ele com aquela boca-me-tome, e ele perdia a maldita cabeça. É claro que ela sabia o que estava fazendo... Mas e se não estivesse? E se ele estava apenas sendo um idiota? Ela tinha picado seu orgulho, e ele se perguntou o quanto de sua raiva era realmente porque ela conseguiu ajudar seu sobrinho a escapar debaixo de suas vistas.

Ele xingou e passou os dedos pelo cabelo, franzindo o nariz com o fedor das festividades da noite passada e dias de cavalgada exalando de sua pele. Ele precisava de um bom mergulho no lago. Talvez limpasse um pouco da nebulosidade de sua cabeça. A sujeira de sua maldade, ele suspeitava, não seria tão facilmente lavada. Com um pouco mais de vigor, ele dobrou a curva do Hall no caminho para a sua tenda e parou bruscamente. Maldição! Seus punhos se apertaram em seus lados. Ele disse a Seton para ficar longe dela. Mas lá estava seu parceiro, abaixando-se para sair da tenda com um largo sorriso no rosto. Assoviando, a menos que Robbie estivesse enganado, enquanto perambulava para a próxima barraca. Nuvens negras escureceram ainda mais o mau humor de Robbie. Nuvens negras de tempestade. Ele caminhou em direção a sua tenda. Lidaria com Seton mais tarde, depois que descobrisse o que estava acontecendo. Mas se ela pensava que enganaria seu parceiro como fez com ele... Ele parou. Pelos ossos de Cristo, era isso que ela estava fazendo? Era por isso que Seton parecia tão feliz e relaxado? Robbie não conseguia pensar. Mal podia respirar. Seu coração estava martelando em sua cabeça fazendo sua mente girar fora de controle. Iain Douglas começou a dizer algo, mas fechou a boca, obviamente, pensando melhor. Robbie passou pelos dois guerreiros, empurrou entre as abas, e preparouse para o que podia encontrar. Seu estômago se rasgou quando a viu. Não havia nada em sua aparência que contrariasse suas suspeitas. Na verdade, era o oposto. Ela estava sentada na

cama de Seton penteando seu cabelo longo úmido, suas bochechas ainda rosadas pelo banho — ou por fazer amor — usando... Cristo, ela estava usando o manto que ele usava em missões dos Guardas das Highlands e a menos que estivesse enganado, uma de suas túnicas! Quando ele entrou, ela levantou o olhar com um suspiro de surpresa. Seus olhos encontraram os seus cautelosamente. Ele ignorou a pontada de consciência. — O que Seton estava fazendo aqui? Sua voz saiu mais alta e com mais raiva do que pretendia e mais acusadora. Seus olhos se arregalaram e depois se estreitaram com um brilho de malícia. — O que você acha que ele estava fazendo? — Ela perguntou com um movimento rápido de sua cabeça. — Eu precisava de ajuda com o meu banho. Ele cruzou a tenda em dois passos e puxou-a contra ele. — Você acha que isso é uma brincadeira, minha senhora? Eu lhe garanto que não é. O que você fez; se “ofereceu” para Seton? Ele foi mais receptivo do que eu? Ela virou-se com desgosto. — Você é um idiota. — Ele se sentia como um. Um idiota ciumento. — Se você quer saber, ele estava aqui para buscar alguns itens, provavelmente para se banhar como eu, — ela torceu o nariz. — Você deveria considerar fazer o mesmo. Você exala o cheiro de sua comemoração.

Sua fria descompostura chocando-se contra os seus nervos já alterados, queimavam como areia em uma ferida aberta. Robbie olhou para a banheira, uma ideia perigosa tomando forma. Ele deu um passo atrás, um sorriso lento curvando sua boca. — Que ideia brilhante. Ele empurrou a touca da armadura — uma concessão que ele fez para o metal pesado — de sua cabeça e jogou-a em sua cama. Em seguida, tirou a vestimenta de couro grosso. Ele estava tão ansioso para sair de lá ontem à noite, que não teve tempo de retirar sua armadura. No momento em que chegou até a camisa interior de linho, seus olhos eram duas luas cheias. — O que você está f-fazendo? — O que você sugeriu, — Ele terminou de puxar a camisa sobre a cabeça e jogou-a em cima do monte. — Tomando um banho. Seria uma pena desperdiçar a água. Ela prendeu a respiração, elevando seu olhar para cada centímetro de seu peito nu. Seus músculos se tensionaram por vontade própria, uma reação natural de ser o destinatário de muito estudo. Olhos abertos para dizer o mínimo. Melhor, saciando-se. E, apesar de sua raiva, ele sentiu-se esquentar sob o calor de tanto apreço feminino. Quem no inferno ele estava enganando? Não era admiração feminina, era a admiração dela. Ele nunca quis se exibir como um maldito pavão em toda a sua vida. Só quando ele começou a abrir os laços de suas calças, ela desviou o olhar. O delicado rubor que havia aparecido em suas bochechas tornou-se pálido.

— Comigo aqui? — Ela estava boquiaberta. — Você não pode. — Garanto que posso. E você irá me ajudar. — O que você quer dizer com "ajudar"? — Eu pensei que você estivesse familiarizada com a tradição da senhora do castelo banhando seus convidados importantes. — Isso é uma tradição ultrapassada. Ninguém mais faz isso. Seus olhos nos dela. — Nós aqui na Escócia somos um pouco atrasados, como tenho certeza que seu irmão lhe disse. Ela não protestou mais, porque nessa hora ele foi em direção às suas calças. E com um rápido puxar dos laços, elas foram diretas para baixo, e ele estava nu diante dela. Ela ficou completamente imóvel. Exceto os olhos, que ficaram definitivamente em movimento. Sim, ele estava ciente da lenta viagem de seu olhar sombrio. Era quase como se seus olhos estivessem tocando-o, acariciando, chamuscando um rastro de fogo em sua pele, descendo pelo seu peito, sobre todos os gomos de músculo do estômago, para o caminho estreito de cabelo escuro que levava a... Seus olhos se arregalaram quando ela se demorou ali. Todo ele. Isso levou algum tempo. Manchas coloridas cobriram seu rosto, mas ela não desviou o olhar. A sensualidade latente de seu olhar, a curiosidade virginal ousada, encheu-o de calor. Ele começou a inchar e a engrossar, mas afundou no banho frio, antes que tivesse uma ereção completa.

A banheira era grande o suficiente apenas para ele ser capaz de afundar a cabeça. Ele voltou com o cabelo penteado para trás, já se sentindo melhor. Sentando de volta, ele atirou os braços sobre a borda da banheira como um sultão de Ultramar e olhou para ela. Ela parecia ter congelado no lugar, olhando para ele como se não pudesse acreditar no que ele tinha acabado de fazer, e não soubesse se deveria olhar ou se virar. Ela olhou, e parecia particularmente fascinada com as gotas de água escorrendo pelos seus braços e peito. A água fria não foi suficiente para impedi-lo de endurecer. Se não estivesse tão irritado, poderia ter debatido a sabedoria de pressionar ainda mais. Mas ele ainda estava com bastante raiva para brincar com o fogo. Ele arqueou uma sobrancelha. — Bem? Você vai buscar o sabão? Há um pano para esfregar no baú. — seus olhos percorreram as roupas dela. Caramba, ele teria que ter mais cuidado se não quisesse que ela descobrisse o seu papel na Guarda Highland. — O que você já deve saber. Ela hesitou, e ele podia ver sua indecisão. Ele nunca tinha esperado que ela o fizesse. Ele pensou que ela iria se recusar e mandá-lo para o inferno. Ele deveria ter sabido melhor. Ela era uma Clifford. Tinha mais orgulho teimoso do que bom senso e não recuaria diante de um desafio. Caramba, como poderiam as coisas que ele odiava em seu irmão, serem admiráveis nela? Com os dentes cerrados e os olhos apertados com determinação, ela andou até o baú para buscar o pano, e, em seguida, até a mesa onde havia deixado o sabão. Ela se ajoelhou ao lado da banheira, mergulhou a mão na água (muito perto de uma parte dele que estava doendo por atenção) para

Percebendo que ela estava olhando, suas bochechas quentes, ela voltou a esfregar. Não havia nada sensual em seu toque, nada erótico, mas ainda o afetava. Inferno, afetar era dizer o mínimo. Apenas a ideia de suas mãos sobre ele o deixava louco. Não era a primeira vez que uma mulher o banhava, mas era a primeira vez que ele estava dolorosamente ciente disso. Pense na Inglaterra, disse a si mesmo. Ele jogou a cabeça para trás, fechou os olhos e tentou se concentrar em tudo que odiava sobre o inimigo com quem lutava por quase metade de sua vida. Seus reis exagerados, sua superioridade pomposa, seus cavalheirismos hipócrita, sua traição, seus malditos sotaques irritantes... Mas não estava ajudando. Fechar os olhos, só fez seus outros sentidos trabalharem mais. Ele podia sentir seu calor, o cheiro fresco do sabão de urze, a hortelã no hálito dela, a impressão de cada um de seus dedos macios e finos em sua pele. Cristo. Ele quase gemeu. Ele abriu os olhos. Sua cabeça dourada se curvou para frente quando ela passou o pano sobre seu estômago, perigosamente perto da cabeça pesada de seu pênis, que estava pouco abaixo da borda da água. Ele estava prestes a colocar um fim a isso, quando ela ergueu o olhar para ele. Um olhar mais próximo do que ele teria gostado. — Isso lhe agrada, meu senhor? — Ela zombou com um sorriso malicioso. — Temo que não tenha muita experiência banhando homens. Mas não é muito diferente do que lavar um porco antes do mercado. Robbie estava jogando um jogo perigoso e sabia disso. O calor que surgiu entre eles tinha acabado de subir mais alguns graus. Mas o comentário sobre o porco tinha atingido muito de perto e exigia retaliação.

— Acho que você esqueceu um ponto no meu braço. Seus olhos se encontraram. Ele pôde ver o clarão verde de raiva e pensou que havia ganhado. Mas então sua boca franziu, e ela enfiou o pano de volta na água com determinação renovada. Ele soube no exato momento que ele tinha cometido um erro. Seus movimentos desaceleraram, e sua mão começou a deslizar suavemente o pano sobre a protuberância do músculo em uma carícia suave. Ele viu como sua respiração engatou e, em seguida, acelerou. Como os lábios entreabertos e o brilho de seus olhos se suavizaram com a excitação. Seus olhos se encontraram, e toda a raiva que tinha começado esse jogo perigoso fracassou. Um tipo diferente de tensão surgia agora entre eles. Seu coração fez um baque violento em seu peito. Um baque de consciência. Um baque da questão. Um baque de expectativa. Com a raiva arrancada, ele sentiu-se nu. Mais nu do que ele se sentiu quando de desnudou diante dela. Não havia como esconder o quanto ele a queria. Nenhuma forma de esconder o quanto ela o afetava. Impossível esconder que a atração entre eles era tão forte que ele nem mesmo podia lutar contra isso.

Doze Rosalin sabia que estava em apuros. Por um tempo ela esteve tão furiosa, que foi capaz de manter sua mente fora de certas partes do corpo – partes magníficas – que estava esfregando. O estômago parecia como se tivesse sido forjado a partir do aço como uma couraça de todos e cada músculo desenhado e entalhado com perfeita precisão; os ombros largos, peito sólido, cintura estreita, braços musculosos e fortes. Não havia um pedaço de carne sobrando e cada centímetro do corpo de seu guerreiro tinha sido esculpido e trabalhado para a batalha. O homem mais forte na Escócia. Sim, ele certamente parecia ser. Ela achava que nenhum outro homem poderia se comparar. Ele a arruinou - se não de fato, porém de todas as maneiras que importavam. E depois havia essa outra parte dele. A espessa coluna longa de sua masculinidade que deveria tê-la feito dar meia volta e correr. Ele não foi o primeiro homem nu que ela viu - havia pouca privacidade no maior e mais luxuoso dos castelos, mas ele era de longe o mais impressionante. E ele era o único que ela já quis ver. O único que ela tinha e sempre quis explorar com as mãos... E com a boca. Um rubor subiu em seu rosto enquanto pensava em sua provocação na noite anterior. Quando ela levantou a cabeça para vê-lo olhando para ela, tudo pareceu mudar. Ambos sabiam disso. Era como se o rugido da batalha, o barulho das espadas, a tempestade de vontades, de repente ficasse em silêncio. Em seu

lugar ficou o crepitar da consciência, o magnetismo da atração, e o martelar da luxúria que crescia de forma ensurdecedora. Não havia nenhuma pretensão de indiferença. Ele não estava olhando para ela com desconfiança. Não estava pensando nela como o inimigo ou como a irmã de Clifford. Estava olhando para ela como se a quisesse. Como se ela fosse a única coisa que importava. A mão dela tinha deslizado para o estômago, mesmo sem estar ciente disso. Mas ele estava. A linha de músculos em seu estômago se contraiu. Sua respiração tornou-se superficial, quase dolorosa. Seus olhos azuis de aço a observando como um de seus falcões. Ele queria algo dela, mas ela não sabia o quê. Em seguida, seus quadris se levantaram ainda que levemente, e ela compreendeu. Ele queria que ela o tocasse. Seus olhos se prenderam. Ela se sentiu dominada pela indecisão, o coração dela oscilando em um precipício. Era um momento de decisão. O ponto de não retorno. Mas ela não podia seguir em frente sem saber. — Ela fez... O que você...? — Ela não conseguia formar as palavras. Mas tinha que saber se ele tinha feito o que havia dito que iria fazer com a mulher de cabelos escuros — Deirdre, como ele a nomeou. Ele não disse nada por um longo momento. Era quase como se quisesse mentir, como se soubesse que o que falasse seria importante. Se ele dissesse sim, estaria tudo acabado. Ela encontraria forças para se levantar e ir embora. Ela saberia que não era importante para ele.

Mas ele disse a verdade a ela. — Não Rosalin, — ele disse em uma voz baixa e macia. — Ela não fez. Seu coração pareceu aumentar no peito. Sem mais hesitar, Rosalin abaixou a mão. Os músculos de Robbie tensionaram enquanto esperava o momento do contato, pelo primeiro toque hesitante de sua mão. A antecipação era quase tão doce... Cristo! A palma de sua mão roçou a ponta pesada, e ele quase pulou para fora de sua pele. Ele gemeu quando a sensação explodiu de cada terminação nervosa. Antecipação, oh inferno! Não havia nada mais doce do que a sensação de sua mão a tocá-lo. E quando ela o cobriu com a palma da mão... Ele deu graças a todos os deuses que já tinha ouvido falar, e para outros mais que não conhecia, só para garantir. Controlando o prazer, ele teve que lutar contra o desejo de empurrar em sua mão. Ele quase perdeu a luta quando ela começou a explorá-lo, passando a mão ao longo do comprimento de seu pênis em uma carícia suave, acariciandoo como se ele fosse um animal selvagem. Uma analogia que não estava tão longe da realidade atual. Era tão bom que quase não podia suportar. Os tímidos toques virginais eram mais excitantes do que a mais experiente das carícias. Sua curiosidade inocente ameaçou acabar com ele. — Oh Deus, querida, você está me matando. — As palavras carinhosas escaparam de sua língua tão facilmente que era difícil acreditar que ele nunca tivesse usado antes. Seus olhos se encontraram, e ela sorriu timidamente. Ele sentiu algo doce em seu peito. Algo grande, poderoso e importante. Algo que deveria tê-lo feito hesitar, mas em vez disso só o fez sentir...

Maldição! Ele praguejou, reconhecendo o sentimento. Sentia-se feliz. Fazia tanto tempo que não se sentia assim, que quase havia esquecido como era. — Diga-me o que fazer. — disse ela. Ele não sabia se podia; cada músculo de seu corpo se apertou com muita força. Inferno, ele poderia quebrar rochas em seu traseiro e estômago. — Envolva-me com a mão. — ele conseguiu dizer com os dentes cerrados, agarrando-se a beira da banheira de metal. Seus dedos ficaram brancos. Ele gemeu, crescendo na mão dela no primeiro momento em que pressionou os dedos fechados em torno dele. O sangue pulsava — não, explodia — em suas veias. Ele poderia ter chorado, a explosão de prazer era tão intensa que se estivesse de pé, teria caído de joelhos. — Não posso, — disse ela. — Você é muito grande. Seu tom descontente o teria feito rir se não estivesse tão concentrado em tentar não explodir. — Aperte um pouco. Não vou quebrar. Ainda não — ele esperava. Ela fez como instruído, e ele quase perdeu o controle ali mesmo quando a sensação atravessou sua coluna vertebral, reunindo-se na base e martelando com tanta força que doía apenas por tentar controlá-la. Isso não ia durar muito. — Me masturbe, querida. — ele sussurrou, cobrindo a mão dela com a dele para ensiná-la.

Sim, me masturbe. E ela fez. De forma bastante eficaz. A pressão delicada de seus dedos suaves e finos em torno dele, apertando, ordenhando, era perfeito demais. A pressão era muito intensa. Alguns golpes mais duros e ele não conseguiria se segurar por mais tempo. — Isso, amor. Oh Deus, sim, ai... Eu vou... Ele deveria ter fechado os olhos e jogado a cabeça para trás. Normalmente, seria exatamente isso que teria feito. Mas queria ver o rosto dela. Não queria perder um maldito minuto de sua introdução ao mundo da paixão. Seus olhos se encontraram no mesmo momento em que ela o levou até o ápice do prazer. Quando estava em seu momento mais débil. Quando não podia lutar contra isso, mesmo se quisesse. Um duro grito de prazer saiu de seus pulmões. Ele endureceu. Não podia se afastar, nem mesmo quando os tremores o sacudiram e ele começou a gozar. Não, especialmente depois. O prazer que ela tirou de seu corpo parecia se intensificar, afiado de alguma forma pela conexão. Por uma proximidade que nunca havia sentido antes. Pelos sentimentos ternos apertando seu peito. Pela primeira vez em sua vida quando Robbie conseguiu sua liberação, não era apenas dele, mas compartilhada com outra pessoa, e a experiência foi diferente de qualquer outra. Era maior, mais poderosa e mais significativa. O momento era muito pungente e o olhar trocado entre eles, muito significativo. Ele a deixou entrar, e quando tudo acabou e a realidade do que havia feito, finalmente, se abateu sobre ele, não sabia como expulsá-la. Ele abaixou a cabeça e xingou, furioso consigo mesmo.

Me diga que não acabei de fazer isso. Me diga que não acabei de gozar na mão da irmã de Clifford. Mas tinha, e ao fazê-lo, baixou a guarda para ela. Ele a deixou saber que havia dispensado sua amante, que não queria outra mulher. Apenas a ela. E como a caixa de Pandora, temia que esse conhecimento agora liberado, pudesse fazer a ambos. Ele olhou para cima. Ela estava um pouco atrás da banheira e ainda estava de joelhos, olhando para ele, incerta. Ele sustentou seu olhar com firmeza e disse: — Acho que estamos quites agora. Ela levou um momento para perceber o que ele queria dizer. Quando o fez, se encolheu como se tivesse sido esbofeteada. O olhar de dor no rosto dela era tão aguda, que ele teve que se virar para não ceder à vontade de puxá-la para seus braços. Fingindo que não sentia seus olhos nele, ele se levantou da banheira, caminhou até seu baú, e começou a secar-se e a se vestir com uma túnica de linho e calças de couro com uma eficiência fria que não sentia. Quando terminou, ele recuperou a compostura o suficiente para enfrentála. Ela voltou estava sentada na beirada da cama de Seton, mas ainda estava olhando para ele. — Eu não merecia isso, — disse ela em voz baixa, a desaprovação em seus belos olhos verde não lhe dava trégua. — Se deseja que eu te odeie e pense que você é tão frio e insensível como parece, está fazendo um bom trabalho. Pela primeira vez em sua vida, Robbie sentiu suas entranhas se contorcerem. Ela estava certa. Ela não merecia isso. Ele arrastou os dedos pelo

cabelo úmido em frustração. Finalmente, se endireitou e levantou a cabeça encontrando seu olhar. — Seria melhor para nós dois se você me odiasse. Ela olhou boquiaberta para ele, incrédula. — Você está falando sério? Acha que me sentirei melhor se você disser coisas que me levam a odiá-lo? Essa é a coisa mais ridícula que já ouvi. A mais insensata... — seus olhos brilharam com raiva enquanto picava para ele. — Seu besta arrogante! Você faz isso com todas as suas mulheres para que elas não se apaixonem por você, ou sou a única que precisa de tal proteção de seus encantos avassaladores? Bem, você não precisa tentar me proteger de mim mesma. Eu sou bem capaz de não gostar de você por minha conta. Agora, ele se sentia como um idiota. Ela estava certa, mas apenas parcialmente. Não era só a ela que ele estava tentando proteger. — O que você quer que eu faça, Rosalin? Você sabe tão bem quanto eu que nada de bom pode vir disso. Você é minha refém, a garantia de trégua e confiança com seu irmão. — Isso não significa que devemos ser inimigos. Não podemos ser civilizados um com o outro? Você foi amigável o suficiente com Roger — não pode me tratar da mesma forma? Como um rapaz de treze anos de idade? Deus, ela era jovem. — Não sei se isso é possível. — Por quê? Você me despreza tanto assim?

O olhar de decepção no rosto dela fez com que ele falasse mais claramente do que pretendia. — Não, eu quero muito você. Sua honestidade pareceu surpreendê-la e, em seguida, inegavelmente agradá-la. Um lento sorriso curvou seus lábios e um suave tom rosa propagou sobre suas bochechas. Ela parecia suficientemente doce para comer. E Deus, ele queria devorála – o que só provou seu maldito ponto! Ela inclinou a cabeça para um lado. — Você nunca foi simpático com uma mulher que queria? Ele nunca quis uma mulher do jeito que ele a queria, mas ele achou melhor não mencionar isso. — Não. — Por que não? Ele deu de ombros. — As mulheres são para... — Ele não terminou, supondo que ela não apreciaria o que estava prestes a dizer. No entanto, sua boca franziu sugerindo que ela havia adivinhado. — As mulheres são para o quarto de dormir, é isso? Mas não valem seu tempo para qualquer outra coisa? Essa era a essência, mas não tinha soado tão mal quando ele pensou.

Ela fez um som afiado e murmurou algo que parecia como bruto-bonitodemais-para-seu-próprio-bem que quase o fez sorrir. Ela pisou duro até onde ele estava ao lado da cama e colocou as mãos nos quadris. — Bem, se não for demais, gostaria que você tentasse. Ele olhou para ela e desejou tanto puxá-la para seus braços que seus músculos doeram pela restrição. — Você pode fazer isso? — Ela perguntou. Quando tudo o que precisava era sentir o cheiro dela e querer jogá-la sobre a cama por trás deles? — Não sei se sou forte o suficiente. Um canto de sua boca levantou em um sorriso irônico. — Pelo que vi, você é muito forte. Ele lançou-lhe um olhar penetrante. Moça impertinente! Isso não era o que queria dizer. E não ajudava em sua contenção. — Não quando se trata de você. Nós não podemos, — ele parou, tentando pensar em uma maneira de falar de uma forma menos rude. — Eu não deveria ter tocado você do jeito que fiz ou deixado você me tocar do jeito que acabou de fazer. É perigoso. Da próxima vez, posso não conseguir parar. Não tenho muito controle quando se trata de você. Nem desejo dar ao seu irmão uma razão para me matar com razão. Ela estremeceu, mas se era de medo ou qualquer outra coisa, ele não quis adivinhar. — Isso significa que você não vai tentar?

Ela parecia tão desanimada, que ele não podia recusar. — Eu vou tentar — disse ele, mesmo suspeitando que isso fosse matá-lo. O largo sorriso que iluminou seu rosto o fez reconsiderar. Ele não suspeitava nada, maldição, já estava matando. — Trégua. — disse ela, estendendo a mão. Relutantemente, ele agarrou sua mão macia em sua própria. — Trégua. — repetiu ele. Robbie teve sua trégua com uma Clifford, embora se perguntasse o quanto isto lhe custaria.

Treze Durante os dois dias seguintes, Rosalin quase não o viu. Aparentemente, a ideia que Robbie tinha de uma trégua era aparecer tempo suficiente para pegar algumas roupas, balbuciar algumas palavras, e depois desaparecer. Ele dormia na tenda com ela, mas esperava ela adormecer para entrar sorrateiramente e acordava antes dela para rastejar para fora da tenda. Durante esse período, ela tentou manter-se ocupada e fazer o seu melhor (sem muito sucesso) para não morrer de tédio. Durante as longas horas que passava sozinha, com apenas os guardas pouco amigáveis de Douglas, trocou com eles poucas palavras, o que era considerado como "conversa" (provavelmente pensaram que algo estava errado com ela, pois pediu muitas vezes para ir ao banheiro só para poder ir lá fora), Rosalin estava seriamente pensando em um motim. Ou, como eles não estavam em um navio, começar uma rebelião. No primeiro dia, tinha dedicado seu tempo a tratar de si e da sua roupa muito estragada. Não tinha penteado o seu cabelo até que estava livre de todos os nós e emaranhados e caia sobre os seus ombros em ondas longas, limpou e escovou os seus vestidos de lã, até que ficaram sem a maior parte da sujeira. Eles ainda cheiravam a fumo, então perguntou a um dos sisudos irmãos Douglas (ela tinha aprendido os nomes deles, pelo menos: Iain e Archie) se podiam ir buscar alguma urze seca e colocou os vestidos dentro de sacos com ela. Na manhã seguinte, a camisa estava completamente seca e os seus vestidos cheiravam bem o suficiente para poder usá-los novamente. Ela nunca havia limpado em sua vida, mas no segundo dia, já havia limpado todas as superfícies, arrumado cada peça de mobiliário e feito as camas vezes suficientes para rivalizar com qualquer uma das criadas do Palácio de Whitehall. Havia até misturado urze seca com alguns dos juncos para disfarçar o cheiro de turfa que parecia estar colado em tudo. Enquanto estava guardando a roupa de cama e a manta que havia emprestado, Rosalin decidiu dar uma olhada no resto das coisas que havia no baú. Normalmente, não era tão intrometida ou demonstrava falta de respeito para com a privacidade de alguém, mas realmente a sua curiosidade era culpa

de Robbie. Se ele não lhe contava nada sobre si mesmo, então teria que ver o que poderia descobrir por conta própria. Nunca estava longe da sua mente a admissão que ele fez, que se parecia mais como uma confissão: não sei se sou forte o suficiente. Sabia que ele havia dito isto como um aviso — e ela tomou atenção a ele. Ele estava certo: o irmão dela iria matá-lo. Mas a ideia de que ela poderia enfraquecê-lo a aqueceu e enviou uma pequena — bem, não tão pequena — emoção através dela. Esse aviso também lhe provocou uma necessidade para cavar mais fundo, para ver se ele quis dizer algo mais. O destino os juntou de novo, e não conseguia evitar achar que havia uma razão para isso. Não sabia o que esperava encontrar, talvez algumas lembranças — um raminho de flores secas ou uma mecha de cabelo de um amor passado, um broche ou anel, algo que lhe desse uma dica sobre o seu passado — mas não era o tesouro que descobriu quando cavou através da pilha de linhos cuidadosamente dobrados, roupas e armaduras, até o fundo do baú. Um por um, Rosalin puxou códice após códice encadernado em couro. Eram sete ao todo, a maior parte deles contendo várias obras. Era uma pequena fortuna em manuscritos que iam desde Sócrates e Platão a Agostinho, e continham o trabalho relativamente novo de Tomás de Aquino, que falavam que seria santificado. Eram trabalhos acadêmicos que não pertenciam a um baú de guerra de um... Bárbaro. Bom Deus, ele podia rivalizar com o irmão em seu aprendizado filosófico! Havia também algumas histórias. Ela pegou um dos volumes intitulado História Romana, por alguém chamado Apiano de Alexandria. Ela vasculhou os pedaços grossos de pergaminho, observando as palavras cuidadosamente coloridas em latim. Pegando outro, ficou chocada ao ver que foi escrito em grego. Robbie realmente leu isto? Se as marcas nos livros podiam nos dar alguma indicação sobre o seu uso, parecia que ele o tinha lido — com bastante frequência. Ela estava tão encantada com sua descoberta que não o ouviu entrar até que ele estava bem atrás dela. — O que você está fazendo?

Ela olhou culposamente da sua posição de pernas cruzadas no chão em frente ao baú. Era óbvio o que estava fazendo, e a expressão dele carrancuda refletia que sabia o que ela estava fazendo, mas ela respondeu. — Eu estava entediada. Seus olhos se estreitaram. — Então você decidiu ir até aos meus pertences? — Estava guardando a túnica e a manta xadrez que peguei emprestadas e reparei nisto. Deu-lhe um olhar que sugeriu que ele pensava que ela estava mentindo. Ele olhou ao redor da tenda, percebendo as mudanças que ela tinha feito. — Você não é uma criada, Rosalin. — Não, sou uma refém, — ela disse descaradamente. Vendo a sua cara feia, ela acrescentou rapidamente. — É algo para passar o tempo. Ele ignorou a dica. — Sim, bem, apenas se certifique de deixar isso bem claro para o seu irmão, quando você voltar com as mãos calejadas. Ela pegou um dos livros e começou a folhear novamente. — Por que você deseja esconder isto? Eles são maravilhosos. — Não estou escondendo nada. Só preferia que você me perguntasse antes de mexer nas minhas coisas. — Eu teria perguntado se estivesse por perto. Mas como me evitou nos últimos... — Não evitei. Tenho andado ocupado. Ela piscou para ele inocentemente. — É mesmo? Hmm. Você deve estar muito ocupado se não consegue vir para a tenda antes da meia-noite e está acordando antes do amanhecer. — Podia ver que ele estava fervendo e decidiu falar de outra coisa antes que ela

começasse a rir. Provocá-lo era surpreendentemente divertido. Segurando o códice que havia folheado, perguntou: — Você realmente lê grego? — Sim, um pouco, — ele praticamente o arrancou da mão dela. — Tenha cuidado com isso. É um raro manuscrito da história romana por Políbio. Ela enrugou seu nariz. — Nunca ouvi dele. Cuidadosamente, ele colocou o livro no baú e começou a pegar os outros e a fazer o mesmo. — Sim, bem, duvido que muitas moças estejam bem versadas na história militar. — E eu duvido que muitos guerreiros escoceses estejam bem versados na filosofia grega e na antiga filosofia. — Você ficaria surpresa, — ele disse secamente. — Não somos todos bárbaros, — ela desviou o olhar para que ele não a visse corar. Como é que ele tinha adivinhado que ela tinha tido esse pensamento? — Até temos escolas na Escócia, igual ao que acontece na Inglaterra. Ela ignorou o sarcasmo, concentrando-se no que ele disse e na oportunidade de aprender mais sobre ele. Ela se levantou do chão, sacudiu a saia e se sentou no banquinho que estava próximo. — Então, você foi para a escola quando era mais jovem? Ele tinha arrumado todos os livros e parecia estar olhando para algo no baú. Mas ele teve tempo de lhe atirar um olhar que disse que sabia o que ela estava fazendo. — Sim. Em Dundee. — Isso é perto de onde você cresceu? Ele suspirou e se virou para encará-la. — Não é, — Quando parecia que isso era tudo o que pretendia dizer sobre o assunto, a decepção dela deve ter aparecido no seu rosto. Ele continuou com pouco entusiasmo. — Eu nasci no baronato de meu pai em Noddsdale, perto de Renfrew em Ayr, na costa oeste da Escócia, perto das fronteiras.

Dundee fica no leste da Escócia no lado norte do Tay. Aproximadamente quarenta e oito quilômetros ao sul de Kildrummy. — Essa é uma grande distância para ir à escola. — É uma escola bem conhecida, frequentada por lairds jovens e chefes de toda a Escócia. O vigário que me ensinou — um homem chamado William Mydford — entre outras coisas, foi um ardoroso estrategista militar. A estratégia “pirata” pela qual seus compatriotas muitas vezes nos desprezam, tem origem em alguns desses livros. O cepticismo dela deve ter transparecido. — Tanto Apiano como Políbio escreveram acerca de Aníbal, o general cartaginês famoso por ser um dos maiores estrategistas militares de todos os tempos. Ele era famoso, não só por usar emboscadas, terra queimada, e por apanhar os romanos desprevenidos por cruzar os Alpes, mas também por ensinar os romanos a ter medo. Rosalin tinha ouvido algo de Aníbal. — Ele também tinha fama de ser indescritivelmente cruel. Ele segurou o seu olhar. — Por quem? Pelos descendentes dos romanos que derrotou? Até mesmo Políbio, grego de nascimento, mas romano por afiliação, admitiu que tal como a maioria das pessoas, ele foi provavelmente bom e mau. Ela sorriu. — Então, você foi para a escola para aprender a ser um bandido? Ele atirou-lhe um olhar, e ao ver que ela o estava provocando, balançou a cabeça. — Não, nasci sabendo como fazer isso. Ela olhou a sua armadura de couro e o peito dele. — Sim, não duvido. Parece que você nasceu com uma espada na mão. — Eu nunca precisei de uma espada até o inglês colocar uma lá. Nunca desejei ser um guerreiro. Eu teria ficado contente... — ele parou de repente,

olhando para longe, como se as memórias o tivessem dominado por um momento, mas ele tivesse conseguido controlá-las de novo. Quando ele se voltou para ela, o humor bem-humorado e provocativo que eles compartilharam alguns minutos atrás estava de novo cuidadosamente contido por trás de uma fachada séria e dura. — Escola é onde aprendi a ser um 'rebelde'. É onde aprendi sobre justiça — justiça real, não a versão inglesa — a tirania da opressão e os princípios da legitimidade e da liberdade que dão à Escócia e à Comunidade do Reino o direito ancestral e a responsabilidade para ungir o seu próprio rei e recusaremse a serem governadas por um estrangeiro. Involuntariamente, Rosalin, ao descobrir os livros, tinha levantado o espectro de tudo o que estava entre eles. Os ensinamentos nestes manuscritos tinham promovido o patriotismo feroz que lhe deu a determinação obstinada de lutar pela independência da Escócia contra os seus compatriotas. Ela estava envergonhada ao perceber que nunca tinha dado muita atenção ao lado dos escoceses nestas coisas ou que eles poderiam ter as suas fundações, as suas razões, em algo tão... Acadêmico. Na verdade, usavam provavelmente os mesmos fundamentos filosóficos que os seus compatriotas para justificar a guerra. Ela achava que os escoceses eram bandidos cruéis; bárbaros atrasados. Mas e se... E se eles tivessem motivos para lutar? E se tivessem a justiça do lado deles? Só de pensar nisso, ela se sentiu desleal para com o seu irmão, para não falar de traição ao seu rei. Mas como poderia ignorar tudo o que Robbie tinha contado que lhe aconteceu? Era desconcertante pensar que o inimigo não eram rebeldes incivilizados que precisavam ser castigados, mas educados guerreiros lutando por liberdade e justiça. Mas ela queria saber o que ele estava prestes a dizer. — O que contentaria você? Ele pegou o que andava à procura no seu baú e o colocou no cinturão de couro que tinha na sua cintura. Ela apenas conseguiu pegar um relance rápido do que ele tinha agarrado, mas parecia ser um pedaço curvado de metal fino com um punho curto.

Apesar da sua pergunta parecer tê-lo feito sentir-se desconfortável, ele respondeu. — Meu irmão Duncan amava a batalha tal como o meu pai. Eu teria ficado contente em tratar da nossa terra e criar o nosso gado. Antes de tudo ser arrasado, claro. Ela levou um momento para processar o que ele disse. — Queria ser um agricultor? Este homem que parecia viver para a guerra? Sua boca endureceu, como se a sua descrença o tivesse ofendido. — Sim. Bem, a decisão foi tomada de minhas mãos, quando o meu pai foi assassinado por seus compatriotas. Eu deixei a escola aos sete anos e aos dez anos juntei-me às revoltas com o meu amigo, o meu companheiro de infância e de escola, William Wallace, e nunca olhei para trás, — ele olhou para o baú. — Esses livros lhe pertenciam. Ela empalideceu. William Wallace, meu Deus! Muitos ingleses ficaram muito horrorizados com o que tinha acontecido com ele, tal como os escoceses. — Peço desculpa. — Por quê? Não o matou. — Ele falou com naturalidade, mas ela sentiu a emoção profunda subjacente às palavras descuidadas. — Talvez não, mas sinto muito por tudo o que perdeu. A vida que você descreveu... Soa boa. Não devia ter dito aquelas coisas para você mais cedo — chama-lo de bandido e pirata. Não sabia, — ela parou e olhou para ele. — Sei pouco sobre a guerra ou sobre a história entre nossos dois países, mas com o que me disse, acho que entendo agora por que você luta, — ela fez uma pausa. Você tinha um irmão? — Sim. Duncan foi capturado após a batalha de Methven, não muito tempo antes de eu ser capturado em Kildrummy. Infelizmente, ele não tinha um anjo da guarda para resgatá-lo e foi executado antes que eu pudesse alcançá-lo. Ela colocou a mão em seu braço, seu coração sofrendo por ele. Seu pai, sua irmã, seu irmão, seus amigos mais próximos, sua casa e futuro. Ela não ousou perguntar sobre sua mãe.

— Sinto muito. Ele olhou para a mão dela, como se ninguém jamais o tivesse tocado com compaixão assim antes, e ele não sabia bem o que fazer com isso. Ele encolheu os ombros. — Foi há muito tempo, Rosalin. Agora, se você me der licença, devo ir a um lugar. Ela levantou-se. — Espere! — Ela não podia deixá-lo ir sem tentar. — Quero fazer um pedido. Uma rebelião minha, por assim dizer. Ele olhou para ela sem entender. Ela mordeu o lábio. — É possível… Poderia ser permitido... — ela deu um suspiro profundo, exasperado, e jogou tudo para fora. — Estou morrendo de tédio aqui sem nada para fazer. Pode ser autorizado que eu tenha alguma liberdade para me deslocar por aqui? Você já me explicou o perigo inerente a uma tentativa de fuga. Ele deu-lhe um longo olhar. — Você me dá a sua palavra que não vai tentar fugir? Ele estava recordando o que ela lhe disse anteriormente? Ela repetiu as palavras que ele lhe disse a ela na prisão. — Minha palavra é boa o suficiente para você? — É. Ela sorriu. — Então você tem a minha palavra. Juro que não tentarei escapar enquanto estiver aqui. Ele assentiu. — Não se desvie do acampamento sem mim ou um dos meus homens. Pode ser perigoso. E não espere muito das pessoas no acampamento — como

eu disse, seu irmão não é um homem popular por estas bandas. Você não encontrará muitos rostos amigáveis. Rosalin estava tão entusiasmada com a possibilidade de ar fresco, que não se importava. — Você irá remover os seus cães de guarda? Eu já tive bastante dos sisudos irmãos Douglas. Não gosto de como eles olham para mim. Ele deu um passo na direção dela, os músculos nos ombros se agitando. — Eles fizeram algo que a ofendeu? Se eles a machucaram... — Não, não. Nada disso. Eles cumpriram o seu dever admiravelmente, considerando às circunstâncias. Você não pode culpá-los por franzirem a testa o tempo todo — tendo em conta quem é o meu irmão. Ele relaxou, deixando de parecer um deus da guerra se preparando para a destruição. — Bom. Eu mataria qualquer homem que tentasse machucá-la. A veemência de suas palavras a assustou— tal como o instinto. O instinto primitivo de um homem para proteger uma mulher. Ou melhor, não apenas uma mulher, mas a sua mulher. — Eu sei. — ela disse. E sabia. Robbie Boyd iria protegê-la com a sua vida. Estava segura com ele. Mas estava a salvo dele? Ele poderia protegê-la de si mesmo? Quanto mais tempo ela ficava aqui, e quanto mais o conhecia e o compreendia, mais difícil era partir. Ele a olhou por um momento. — Muito bem. Vou retirar os guardas. Ela se iluminou com a concessão inesperada. — Obrigada. Os olhos deles ficaram presos por um breve instante, mas foi o suficiente para encher o peito com um calor estranho. Ele deu-lhe um aceno lacônico e partiu.

Robbie estremeceu quando a lâmina lhe cortou o pescoço. — Raios, Malcolm, cuidado com o que está fazendo. Tenho necessidade de fazer a barba, não de cortar o pescoço. O rapaz fez uma careta enquanto ele raspava cuidadosamente a lâmina em forma de meia lua ao longo do maxilar do Robbie. — Desculpe, Capitão. Meu irmão é o barbeiro. Robbie passou a mão sobre a área depilada, alguns dedos voltando com sangue. — Sim, bem, é bom eu só estar fazendo a barba e não pedindo para retirar uma flecha do meu braço. O rapaz franziu a testa. — Você poderia ter esperado por Angus retornar com Douglas. Não sei por que está com tanta pressa — eles devem estar de volta qualquer dia. Você já teve barba antes. — Como eu disse, isso coça. — Robbie disse, parecendo muito defensivo, até para os seus próprios ouvidos. E pelo Hades, o que ele estava fazendo? O rapaz tinha razão. Ele estava acostumado a ter barba. Gostava de ter barba. Mas não mal cuidada, e toda a vez que ele olhava para Rosalin, sentia-se o maldito bárbaro que ela pensava que ele era. Ela não pertence a este lugar. Ele sabia disso, tal como todos ao redor dele. Cada vez que ela pisava fora da tenda, era como se um silêncio descesse sobre o acampamento. Todo mundo parava e se virava para ela, era vista como se fosse algum tipo de criatura etérea de outro mundo. Com as suas finas — mesmo que ligeiramente manchadas — roupas, as suas maneiras refinadas de inglesa, e a sua coloração louro-gelo imaculada, parecia que ela deveria estar dançando sob o candelabro do Palácio de Whitehall, não arrumando a sua tenda no meio da floresta de Ettrick. E depois de viver meses com todas as comodidades "rústicas" da sua sede no campo,

Robbie e os seus homens pareciam merecer serem atirados na Torre de Londres só por ousarem olhar para ela. Os seus homens podiam vê-la com graus variados de animosidade, mas não havia nenhum que pudesse negar a sua beleza, nobreza e inocência. Bem, talvez ela não fosse assim tão inocente, mas ele, com certeza, não devia pensar sobre isso. No entanto, parecia que tudo o que ele podia fazer era pensar sobre isso. Robbie... Ah, inferno... Ele deve ter xingado em voz alta. — Há algo de errado? — Não, só se apresse rapaz. Ele devia estar se dizendo a mesma coisa. Robbie sabia que estava brincando com fogo. Quanto mais cedo se fosse a “Fada Rosalin”, melhor. Ela havia revirado a vida dele. Ele tinha medo de dormir na sua própria tenda, estava irritado e mal-humorado por falta de sono, fazia a barba no meio do dia, encontrou-se gritando com Iain e Archie Douglas por franzirem a testa e concordou em deixar uma refém — a sua maneira de perturbar Clifford — vaguear livremente pelo acampamento. Ele também tinha concordado em tentar ser agradável — amigável. Cristo, em que diabos ele se meteu? Ele já gostava muito dela, maldita. Se sua conversa mais cedo na tenda foi alguma indicação, ela saberia a sua história de vida, antes de partir. Sua escolaridade? Wallace? Um fazendeiro? Por um momento, ele imaginou-se com uma mulher e crianças correndo ao redor dele. Muito em breve, ele iria lhe confidenciar como tinha se juntado à guarda. Mas o problema era a reação dela. Compaixão, compreensão e um profundo sentimento de justiça eram as últimas coisas que ele esperava encontrar em uma inglesa, muito menos na irmã do modelo da injustiça. Mas Rosalin ainda era a mesma menina doce que, há seis anos, arriscou tudo para corrigir um erro de percepção. Embrulhado em um pacote mais sofisticado, talvez, mas de todas as maneiras que importavam, inalterada.

Ele desejou poder dizer o mesmo. Mas, seis anos de guerra tinham-no endurecido. O tornaram determinado. Não deixaram espaço para mais nada. Para o seu bem, quanto mais cedo o irmão dela concordasse com a trégua, melhor. Malcolm terminou e entregou a Robbie um pano úmido para se secar e limpar quaisquer fios de cabelo. — Isso é uma lâmina incomum, — disse o rapaz, entregando-a de volta a ele. — Onde você conseguiu isso? Robbie a pegou e a colocou de novo no seu cinturão. — Um amigo fez para mim. Magnus MacKay, conhecido pelo nome de guerra Santo da Guarda de Highland, não era apenas o sacana mais difícil que Boyd conhecia, com mais conhecimento do terreno perigoso das terras altas do que qualquer outro homem, era igualmente hábil em forjar armas incomuns e, ocasionalmente, melhorar ferramentas comuns, usadas todos os dias, tal como uma navalha. Ironicamente, também estava em pé na frente dele, alguns minutos mais tarde, junto com Kenneth Sutherland, o mais novo membro da guarda, Ewen Lamont, Eoin MacLean, Arthur Campbell e Gregor MacGregor. Os seis membros da guarda Highland tinham chegado com Douglas de Dundee. Douglas era um dos poucos conselheiros mais próximos do rei que sabia do bando secreto dos guerreiros — e as suas identidades. Robbie soube logo duas coisas: Bruce tinha uma missão para eles, e devia ser importante se exigia quase toda a sua guarda de elite. Só Tor MacLeod, Erik MacSorley e MacRuairi de Lachlan estavam ausentes. Eles estavam nos limites do acampamento, na clareira que usavam para praticar os exercícios de guerra, onde Robbie os tinha cumprimentado quando tinha sido informado pelos seus vigias da sua chegada. — Qual é a ocasião? — MacKay disse com um olho na mandíbula de Robbie, trocando apertos de antebraço como saudação. — Não me lembro da última vez que o vi sem barba. Robbie praguejou interiormente, amaldiçoando o impulso que daria a seus irmãos uma dica para seguirem. Eles eram tenazes, cada um deles. Se

conectarem o seu barbear com a presença de Rosalin, seria importunado para sempre. — Foi no seu casamento, Santo. — MacGregor disse amavelmente. Robbie atirou-lhe um olhar. — A única razão por que você sabe disso é por que ainda está bravo sobre a moça. Sei que é difícil de acreditar, mas nem todas as mulheres preferem um rosto bonito. Mesmo depois de sete anos, MacGregor odiava ser lembrado pela sua dúbia distinção de ser conhecido como o homem mais bonito da Escócia. Para um guerreiro tão hábil com um arco como ele era, era particularmente irritante ser conhecido por algo tão embaraçosamente anti-guerreiro. MacGregor atirou-lhe um olhar. — Cai fora, Raider. Seton pareceu querer dizer algo, mas reconsiderou depois de Robbie lhe dar um olhar que prometeu vingança se falasse. Douglas não era tão circunspecto. — Espero que isso não tenha nada a ver com os nossos reféns. O rei estava preocupado com o sequestro da moça. Eu disse a ele que não foi intencional e que você pretende soltá-la. Mas ele fez você pessoalmente responsável pelos dois. — Que pena, também, — MacGregor adicionou. — Eu gostaria de ver a Fada Rosalin. Se mesmo Douglas aqui admitiu a sua beleza, a moça deve ser sensacional. Por que diabos Robbie, de repente, sentiu vontade de fazer essa cara dele menos bonita? Mascarando o aborrecimento que sentiu com MacGregor, ele se voltou para Douglas. — Sim, bem, houve uma mudança de planos. O rosto de Douglas escureceu. — Que tipo de mudança de planos?

— O rapaz fugiu. Houve um momento de silêncio, enquanto os homens olhavam para ele. Robbie Boyd não comete esse tipo de erros. — Você deixou o filho de Clifford escapar? — Douglas cuspiu para fora, dando voz ao que todos estavam pensando. — Não o deixei fazer nada. O rapaz desceu por uma corda os doze metros desde o sótão da mansão Kirkton, no meio da noite, e chegou ao castelo Peebles antes que eu percebesse que fugiu. Douglas ficou furioso. — Não havia um guarda vigiando? Como diabos você deixou isso acontecer? Ele é herdeiro de Clifford, pelo amor de Deus! Robbie não estava acostumado a ser repreendido como se fosse uma criança — mesmo se, neste caso, esses gritos fossem bem merecidos. — Eu estava montando guarda, e se você tem um problema com as minhas habilidades, podemos colocá-las à prova no pátio da prática. Douglas não aceitou o desafio e se acalmou. — Mas você ainda tem a moça? — perguntou ele. — Sim. Douglas estava olhando para ele como se soubesse que havia mais, mas sentiu que havia empurrado Robbie o suficiente. Desculpando-se, Douglas saiu para se juntar aos seus homens, que tinham ido para o grande salão para encontrar comida e bebida depois da longa viagem. Assim que ele saiu, Robbie virou-se para MacKay. — Suponho que você esteja aqui por uma razão? O Highlander grande assentiu com a cabeça. — Sim. Você e o Dragão precisam recolher as suas coisas. Nós precisamos partir logo que possível, se queremos sair ao anoitecer.

— Aonde vamos? — Lochmaben. Nós fomos informados sobre um carregamento de prata de Carlisle indo para o norte para pagar a guarnição de Stirling. A moeda vai ser fortemente guardada — o inglês está protegendo bem a sua carga. — Essa informação é confiável? — Extremamente. — Lamont interrompeu. A nova esposa de Hunter, a antiga Janet do Mar, havia trabalhado com uma fonte dentro do Castelo de Roxburgh, que nunca havia se enganado, e Robbie assumiu pela confiança de Lamont que era daí que vieram as informações. Eles chamavam esse informante “O Fantasma”. — Os ingleses levaram algumas das nossas lições a sério, — Sutherland adicionou. — E criaram um carregamento para despistar que vai para Caerlaverloch. Chief, Hawk e Viper estão vigiando a costa, para prevenir, mas temos a intenção de interceptá-los antes que atinjam Lochmaben de noite. — Quantos? — Seton perguntou. — Não temos certeza. — disse Lamont. — Possivelmente quase cinquenta. — MacLean disse com um dar de ombros. Robbie levantou uma sobrancelha, a antecipação para a batalha já surgindo em suas veias. — O que o resto de vocês vai fazer? Ele conseguiu uma risada de Arthur Campbell com isso. O famoso vigia era um dos membros mais silenciosos da guarda. Robbie estava prestes a enviar seus irmãos para o salão para comerem algo, enquanto ele e Seton se dirigiam para a tenda de Douglas (onde ele tinha removido de olhos curiosos a armadura específica que usava em missões da Guarda Highland), quando MacGregor soltou um assobio baixo. — Deus Todo-Poderoso, se essa é a sua refém, acho que vou começar a me juntar a você em suas incursões.

Robbie seguiu a direção do seu olhar, vendo Rosalin sair correndo do salão, parecendo como se o diabo estivesse em seus calcanhares. Ela deve ter visto Douglas. Se o desgraçado a tinha assustado... Ele parou, pensando em outro bastardo. — Fique longe dela, Arrow. Ele pode ter rosnado. MacGregor não foi o único a olhar para ele. Os outros guardas o olharam com graus variados de sobrancelha levantada e compreensão. — Então é isso? — MacGregor disse lentamente, considerando. — A irmã de Clifford? De todas as mulheres no mundo que podiam chamar a sua atenção! Mal posso esperar até Hawk ouvir isto. Robbie, silenciosamente, proferiu cada palavra suja que podia pensar. Desde quando se tornou tão transparente? Ele apertou a mandíbula. Desde o momento em que Rosalin Clifford havia caído em seu colo. — A moça é minha refém, nada mais. Minha refém temporária. Mas o seu rosto não é do tipo que a maioria das moças esquece. Acho que você provavelmente prefere que o irmão dela não saiba da sua presença no acampamento. Era uma boa desculpa, mas ninguém acreditou. MacKay ficou para trás, enquanto os outros continuaram a avançar. Ele olhou Robbie com pena. — Já estive na sua posição, — ele disse. — E também a maioria dos outros. Acho que só Chief e Hawk escaparam da maldição. — Que maldição? A boca de MacKay endureceu. — A maldição daquele maldito rosto. Diabos, minha esposa ameaçou querer que Arrow tomasse conta dela, se eu não o fizesse, quando veio em nossa missão. Robbie sentiu um arrepio involuntário. Nenhum homem iria querer sua esposa nesse tipo de proximidade com MacGregor.

— É um milagre você não tê-lo matado. MacKay sorriu. — O fiz pagar no pátio da prática e gostei de cada maldito minuto. — Você poderia ter feito algo sobre o rosto. MacKay abanou a cabeça. — Eu tentei, droga, eu tentei. Mas acho que a mãe de Arrow o mergulhou na mesma água que a mãe de Aquiles usou. Ele se cura sem um arranhão. Robbie riu e saiu para buscar as coisas dele. Uma missão era exatamente o que precisava para lembrá-lo do que era importante. Rosalin Clifford podia tê-lo distraído, mas isso não ia atrapalhar o que tinha de fazer.

Catorze Rosalin conseguiu sua liberdade, mas estava com muito medo de usá-la. Após ficar frente-a-frente com Douglas “O Negro”, ela voltou para sua tenda como um rato assustado. Depois de três horas de espera, sem nenhum sinal de Robbie para tranquilizá-la, percebeu que estava sendo ridícula. Robbie lhe dissera que Douglas não faria nenhum mal e ela acreditava nele. Estava com fome. A retirada das tropas significava que ela mesma teria que buscar sua própria comida. Reunindo coragem, ela envolveu a manta em seus ombros e saiu da tenda para a noite fria e nublada. Da sua experiência na Escócia, até agora, parecia ser sempre a mesma coisa: névoa matutina, névoa ao meio-dia e névoa à noite. Hoje a noite era mais densa do que o habitual, quase sem mudança entre o vai e vem de uma garoa e uma chuva monótona. Lembrando qual reação e desconforto sua chegada ao salão causara anteriormente, Rosalin decidiu se desviar dos olhares curiosos, vigilantes e zangados, e seguiu em direção à cozinha do acampamento. Os telhados de madeira protegiam as panelas e o fogo da chuva e da neve, mas as paredes do local eram apenas em três lados, oferecendo pouco abrigo ao frio e ao vento. Era uma instalação precária, mas eficiente. Além das panelas penduradas sob as chamas, havia algumas mesas para preparar as refeições e um forno de pão grande construído de pedra. Aparentemente, as mulheres no acampamento só estavam aqui para serem acompanhantes dos homens. Elas também exerciam a função de

empregadas para as refeições. Uma mulher olhou para cima quando ela se aproximou e sussurrou algo para a mulher de cabelos escuros em pé ao seu lado. Os joelhos de Rosalin fraquejaram e ela quase tropeçou. Era a mulher que beijara Robbie. Deirdre. Sentiu uma angustia profunda no seu interior e sua coragem vacilou. A última coisa que queria era ser confrontada por uma amante ciumenta. Depois de anos na corte, Rosalin não tinha nenhuma ilusão sobre as mulheres. Poderiam ser tão cruéis e impiedosas como os homens. Talvez ainda mais. Mas ela forçou seus pés para frente e ergueu o queixo. Ela era lady Rosalin Clifford, irmã de um dos barões mais importantes da Inglaterra. Ela não precisava se encolher ou se acovardar. Normalmente. Mas ela estava ciente de que nada disso importava aqui. Sua posição social pouco pagaria por sua proteção com estas mulheres. Elas não se importavam quem fosse e só sabiam que era inglesa, uma refém e a irmã do homem mais odiado da Escócia. Uma terceira mulher juntou-se às demais ao mesmo tempo em que Rosalin aproximou-se para ouvi-las. Claro que estavam falando em gaélico, então não entendeu nenhuma palavra. No entanto, da forma como as duas outras mulheres se submetiam à Deirdre, Rosalin imaginou que ela fosse a líder. Ela era mais velha do que parecera à primeira vista. Pelo menos, bem mais velha que Rosalin e que as outras duas garotas, que pareciam mais próximas da sua idade de vinte e dois anos. Ela também era mais bonita do que

havia notado, possuindo o tipo de sensualidade ousada que Rosalin nunca esperaria ter. Com seus olhos e cabelo escuros, maçãs do rosto salientes e lábios carnudos, as feições de Deirdre eram marcantes — quase uma aparência exótica — fazendo com que Rosalin, de repente, se sentisse sem graça e desinteressante em comparação. E depois havia sua aparência física. Rosalin envolveu a manta ao redor de seu peito inconscientemente. Ela nunca poderia se comparar com Deirdre naquela área. Seios fartos e corpo curvilíneo eram o mínimo a se dizer. As duas mulheres mais jovens também tinham cabelos castanhos, embora com a cor de pele e olhos mais claros, mas não tão claro no rosto. Possuíam um olhar carrancudo, oprimido que falava de dificuldades. Deirdre também tinha, mas o dela estava mais oculto por trás da máscara da maturidade. Havia pouca coisa que essas mulheres não tinham passado e Rosalin não sabia se deveria sentir pena ou inveja delas por isso. As três mulheres deveriam estar lavando a louça, visto que havia uma pilha de bandejas usadas, facas, taças e jarras espalhadas nas mesas de trabalho. Dois grandes baldes de água estabelecidos ao lado delas demostrava que estavam prestes a começar a lavar. Rosalin parou próximo à mesa na frente delas. Olhou para baixo para os pratos sujos, um sorriso irônico surgiu em sua boca. — Parece que perdi a refeição. Ela supôs que elas falassem inglês, mas as expressões de pânico e o silêncio constrangedor que se seguiu a fizeram reconsiderar.

Finalmente, Deirdre respondeu: — A senhora busca algo para comer. Mor, — ela disse para uma das meninas ao seu lado. Em seguida, virou-se para Rosalin e disse: — O cozinheiro acabou de fazer mais algumas bandejas. Se você quiser, pedirei a Mor para trazê-las para você. Seu tom não era amigável ou simpático, mas não havia ironia ou o ressentimento que Rosalin tanto temia. Rosalin balançou a cabeça. — Se não der muito trabalho, acho que vou retornar a minha tenda. — uma voz alta surgiu no corredor atrás delas. — Eu não atrapalharia a comemoração deles. — Eles estão celebrando — não mais do que qualquer outra noite quando há cerveja e uísque em abundância. — ela estudou o rosto de Rosalin com um escrutínio que a fizera questionar se poderia ler mentes. — Mas você provavelmente está certa. Eles não são os mais razoáveis neste estado. — Rosalin achou que isso significava que sua procedência não seria apreciada — ou melhor, seria menos apreciada do que o normal. Deirdre a olhou de soslaio. — Iain não buscava suas refeições? Rosalin abanou a cabeça.

— Robb, — ela corou, e rapidamente corrigiu. — O Capitão me deu permissão para me movimentar pelo acampamento. Deirdre levantou uma sobrancelha. — Ele deu? Humm. Rosalin não sabia o que aquele "humm" significava, mas parecia que não concordava com a decisão de Robbie. Rosalin tentou explicar: — Eu lhe disse que morreria de tédio e, portanto, seria inútil como refém. O leve toque de um sorriso levantou um canto da boca da outra mulher. —Você não precisa defendê-lo para mim, milady; o Capitão toma suas próprias decisões. Eu não ousaria questioná-lo. Rosalin percebeu o tom hostil de Deirdre, provavelmente se referindo a outras decisões, como àquela que a levara para a cama dele. Rosalin sentiu um aperto no peito, de repente, sentiu vontade de sair. Apesar da serenidade inesperada da mulher, infelizmente era consciente que havia um homem entre elas. O homem que Deirdre tinha na sua cama, mas Rosalin nunca teria. A verdade a acertou com um golpe. Ela entendeu que Deirdre o conhecera primeiro. Deirdre não se ressentia da sua presença ali porque não tinha porque temer. Não sou uma ameaça para ela, pensou. Rosalin podia distrai-lo por um tempo, mas cedo ou tarde ela iria embora e quando fosse...

Rosalin viu seus pensamentos refletidos nos olhos da mulher. Quando ela fosse, ele voltaria para a cama de Deirdre. O estômago dela se revirou e ela teve de se esforçar para segurar as lágrimas que insistiam em saltar de seus olhos. Precisou que a amante de Robbie a fizesse ver aquilo que era tão óbvio. Nunca existiria nada entre eles. Ela era temporária. Um meio para um fim. Quando ele exigisse o pagamento de seu irmão, ela seria mandada de volta e, sem dúvida, nunca o veria novamente. Felizmente, a garota — Mor — escolheu aquele momento para retornar com uma pequena bandeja de comida. Rosalin recebeu a bandeja e recuperou a compostura suficiente para agradecer. — Devolverei a bandeja assim que terminar. — Amanhã está bom. — Deirdre disse distraidamente, já virando sua atenção de volta para a pilha de pratos na frente dela. Rosalin começou a se afastar com a bandeja, mas depois voltou. — Gostaria de ajudar enquanto estiver aqui. Se souber de algo que eu possa fazer. A menina que estava em silêncio enquanto Rosalin falava com Deirdre disse algo para as outras mulheres em gaélico. Pelo seu tom, Rosalin imaginou que não era algo bom. Mor cobriu o sorriso com a mão, mas Deirdre disse algo rispidamente e ambas se recompuseram rapidamente.

Novamente, Rosalin estava ciente que estava sendo observada e avaliada. —Imagino que você seja boa com a agulha. Rosalin assentiu com a cabeça. A maioria das mulheres nobres poderia contar com essa habilidade. — Bem, não são mantos ou tapeçarias, mas há sempre uma pilha de roupa para ser consertada. Rosalin sorriu pela primeira vez desde que saiu de sua tenda. — Isso seria perfeito. Obrigada. Seu sorriso ou gratidão pareceu tornar Deidre desconfortável. Ela rebateu o seu agradecimento. — Sim, mas o Capitão terá de concordar com isso quando voltar. O sorriso desapareceu do rosto do Rosalin. As moças se calaram. — O Capitão se foi? Sua aflição era óbvia, Deirdre não sentia pena dela como as outras. — Sim, ele saiu há algumas horas. — Quando vai voltar? Para onde ele foi?

A outra mulher deu de ombros. —Eu não sei. Acho que por um ou dois dias. — Sir Alex está aqui? — Não, ele também partiu. O pânico começou a rastejar em seu interior. O cálice na bandeja começou a balançar. Ele não a teria deixado sozinha com... — Então quem está no comando? — Ela perguntou, seu estomago embrulhava enquanto adivinhava a resposta. — Douglas. *** O sangue já não estava mais escorrendo pelo braço de Robbie, mas cada galope de seu cavalo sacudia suas costelas e enviava uma explosão de dor pela lateral de seu corpo, servindo como um lembrete visceral dos perigos da distração. Nada poderia explicar os erros grotescos que ele cometera ao ponto de permitir que os inimigos entrassem e o atingissem com dois golpes limpos: o primeiro, uma lâmina através do ombro que o tinha golpeado com força suficiente para cortar sua armadura e atingir sua pele, e o segundo, o golpe esmagador de um bastão em toda a lateral de seu corpo que tinha quebrado uma costela.

Ele gostaria de dizer que isso se deu porque a missão fora mais difícil do que qualquer uma que recebera — os cinquenta homens que eles enfrentaram foram uma mistura altamente qualificada entre soldados ingleses e mercenários enfurecidos que não desistiam de sua prata tão facilmente — mas sabia que não era essa a razão. Era Rosalin. Ela era a distração. Ele não conseguia afastar a sensação de que algo estava errado. Ele disse a si mesmo que não havia nada com que se preocupar. Deixara Douglas no comando e deixou muitíssimo claro que nada poderia acontecer com ela e se houvesse alguma reclamação da parte dela, fosse um simples tremor de medo, ele seria responsabilizado. Tinha quase certeza de que tinha ameaçado Douglas com danos corporais suficientes para não ser capaz de proporcionar a sua nova esposa quaisquer prazeres na cama conjugal, removendo certas partes necessárias com golpes de machado, mas Robbie não lembrava exatamente de suas palavras. Rosalin estava bem, ele disse a si mesmo. Ele tinha se afastado apenas meio dia. O que não explicava porque Seton e ele saíram cavalgando para a floresta no meio da noite e não estavam celebrando a vitória da missão com o resto da tropa, dormindo e cuidando de seus ferimentos em uma caverna não muito longe de onde conquistaram sua árdua vitória. Eu deveria tê-la avisado que estava saindo. Ele não sabia por que não fez isso exceto que tentara convencer a si mesmo, após a conversa desagradável que teve com seus irmãos, que ela não significava nada para ele. Que não estava em dívida com ela.

Seton resmungou atrás dele. Robbie ouviu o som de um galho estalando quando se virou com a tocha. — Cristo, quase arrancou minha cabeça, — disse Seton. — Ou vai mais devagar, ou me passa a maldita tocha. — Ou você poderia tentar acompanhar. Seton lançou-lhe um olhar sombrio. — Está um breu aqui, e já passa da meia-noite. Depois de quase doze horas de cavalgada, com apenas algumas horas de pausa para lutar uma batalha amaldiçoada, meu cavalo está um pouco cansado. Diabos, eu estou um pouco cansado. Você vai me dizer por que está nos matando para voltar ao acampamento esta noite, em vez de desfrutar de um descanso merecido como os outros? Robbie cerrou sua boca em uma linha dura. — Quero voltar. — Isso é óbvio; a questão aqui é por quê? Está preocupado com a moça? — Douglas não vai deixar nada acontecer a ela. — Ele disse isso quase para si mesmo quanto para Seton. Robbie confiava em Douglas com a sua vida — e tinha feito isso mais de uma vez. Mas era responsabilidade de Robbie manter Rosalin em segurança, e ele não gostava de delegar isso a mais ninguém. Até mesmo a um amigo confiável.

— Mas? Seton o conhecia tão bem, desgraçado. — Mas o inferno se eu soubesse. Alguma coisa não me soa bem. Era uma prova da longa parceria que tinham, pois a explicação não só satisfez sua curiosidade, mas também fez Seton quase tão ansioso para retornar quanto ele. Robbie não era como Campbell. Ele não tinha premonições sobre as coisas. A confiança implícita na reação de Seton o surpreendeu. Provavelmente não devia, mas o fez. Quanto mais se aproximavam do acampamento, mais a sensação piorava. Quando passaram a primeira sentinela era provavelmente duas ou três da manhã, e Robbie estava no limite. Cada balançar das folhas, cada rajada de vento, cada som de uma coruja ou da vida noturna mexia com seus nervos que já estavam desgastados e no limite. — Tudo parece bem. — Seton disse em voz baixa. Parecia. Os guardas estavam em seus postos. O acampamento estava escuro e silencioso. O ligeiro aroma de turfa das fogueiras flutuava pelo ar. Então por que diabos ele sentia que estava prestes a saltar para fora de sua maldita pele? Por que tinha que lutar contra o desejo de correr através do acampamento como um louco e abrir as abas da tenda para ter certeza de que ela estava bem?

Quando viraram a esquina no grande salão e a segunda fila de tendas apareceu, ele estava prestes a soltar um suspiro de alívio quando pegou um lampejo de algo nas árvores. — O que é isso? — Disse Seton. Robbie não teve tempo para responder. Agarrou as rédeas e lançou sua montaria para frente, mergulhando na escuridão em direção à luz. Um momento depois, ouviu o som de um grito suave que congelou suas veias. *** O homem surgiu do nada. Depois de horas se revirando na cama, dizendo a si mesma que não havia nenhuma razão para ter medo e, certamente, nenhuma razão para prender a respiração como uma criança apavorada toda vez que alguém passasse por sua tenda, Rosalin finalmente encontrou o sono apenas para acordar algumas horas mais tarde com uma necessidade urgente que não podia ser ignorada. Todo mundo está na cama. Não há nenhuma razão para se preocupar. Ninguém vai prejudicá-la. Mas só de saber que Robbie não estava aqui, trazia uma nova vulnerabilidade à sua situação. Ela não percebera o quanto sua presença a tranquilizava. Instintivamente sabia que ele iria protegê-la. Sem ele, sentia-se que estava sentada em uma cova de leões famintos, sem uma espada e escudo.

Depois de olhar em volta do acampamento, muito mais tranquila, estava voltando para a barraca quando um homem saiu detrás da árvore e bloqueou o seu caminho. Seu coração saltou, e ela soltou um grito assustado que estava preso em sua garganta. A vela caiu a seus pés. Ele se aproximava dela, no escuro, escondendo sua sombra. Não era excepcionalmente alto, mas era grande e tinha um físico forte. O cheiro pungente de bebida a atingiu quando ele se curvou e pegou a vela. — O que nós 'temos' aqui, — ele arrastava as palavras, levantando a vela até seu rosto — Uma nova puta? — O seu sotaque era tão profundo que ela levou um momento para perceber que ele falava em inglês — o inglês do norte, muito comum nas fronteiras. Seu sangue gelou. Ela abriu a boca para protestar, mas ele já tinha deslizado o braço em volta de sua cintura, empurrando-a contra ele. — Largue-me. — ela disse, tentando se afastar. — O que ‘diabos’? — Ele a empurrou contra uma árvore e colocou seu antebraço contra a garganta dela. — Você é uma maldita inglesa. Segurando a vela perto de seu rosto, ele proporcionou a ela a primeira visão dele e de seus olhos frios e escuros que a olhavam fatalmente. Aquele rosto era um pesadelo. Uma cicatriz grossa cortava sua sobrancelha, seguia por um nariz achatado que desaparecia sob uma barba espessa. A ponta de uma lâmina de espada ou de um machado contribuiu com um aspecto ameaçador

para uma aparência já terrível. Quando ele abriu a boca e zombou, seus dentes grandes e amarelos a fizeram lembrar-se das presas de um javali. Isso era o que ele parecia — um grande e feio javali, com cabelos pretos e duros e um nariz achatado plano. Mas foram as suas pálpebras e o jeito intenso com que estava olhando para ela que enviou calafrios por todos os cantos de seu corpo. Ela lutava para se libertar, mas só o fez agarrá-la com mais força, pressionando o antebraço em seu pescoço e cortando-lhe a respiração. Seu rosto estava tão perto que ela podia sentir o cheiro azedo de uísque no hálito. — Quem diabos é você? — Refém, — ela conseguiu dizer num sussurro. — Boyd. Ela não tinha certeza se suas palavras tinham penetrado na cabeça do bêbado. Elas tinham, mas não da forma que ela esperara. Sua boca se curvou em um sorriso sarcástico. — Uma cadela inglesa como refém? Ou melhor, uma puta. — sua mão cobriu o seio dela que tentou gritar, mas o medo paralisou cada centímetro de seu corpo. — Espero que o Capitão tenha lhe ensinado algo. Vamos ver se vale a pena. Ela podia ver a intenção em seus olhos e isso renovou suas forças. Ela passou o braço pelo pescoço.

— Ele vai te matar. — ela conseguiu dizer. Ele pegou suas mãos e colocou-as sobre a cabeça, a pele macia de seus pulsos apertada por essas mãos ásperas. Mas não era nada comparado à dor e ao horror de ter seu corpo pressionado contra o dela. Ela se contorceu contra ele, tentando se libertar, querendo vomitar tanto quanto queria respirar. — Boyd? — Ele riu. — Ele odeia os ingleses tanto quanto eu. Um ruído atrás dele o fez se virar. Uma figura negra emergiu das sombras montada em um cavalo. Quando ele saltou com sua capa voando como as asas de um demônio, Rosalin teve um vislumbre de seu rosto e quase desmaiou. Atrás de seu elmo nasal parecia haver apenas vazio. Seu grito foi abafado, mesmo que o braço dele não estivesse mais em sua garganta. Ele havia virado para se defender, mas mal conseguiu colocar suas mãos antes que um soco de aço sob o maxilar chegou com força suficiente para enviá-lo voando pelos ares alguns pés antes da cair com um baque em suas costas. A figura escura encapuzada estava em pé sobre ele, logo depois, batendo-o no chão com poderosos golpes atrás de golpes. Ela tinha visto algo parecido com isto antes. — Robbie! A palavra escapou de seus lábios, como em resposta a uma oração.

Ele parou o tempo suficiente para olhar para ela. Sob a sombra da máscara assustadora, ela só podia distinguir suas feições familiares. Mas sua expressão era uma que nunca tinha visto antes. Ele era feroz e ameaçador, sem um pingo de misericórdia. Era o rosto de um guerreiro no calor da batalha, o rosto de um dos homens mais temidos na Escócia. Ele voltou para terminar o que havia começado. Ele vai matá-lo! Apesar de que o homem estava prestes a lhe fazer, Rosalin não queria a morte do bruto em sua alma — ou na de Robbie. Ela sabia que deveria impedi-lo, mas alguém fez isso por ela. Outra figura encapuzada emergiu das trevas a cavalo. Como não estava usando um elmo, seu cabelo loiro o identificou. Sir Alex saltou e praguejou. Atravessando a distância até os homens, ele puxou Robbie. — Cristo, Raider, você vai matá-lo. Ele é um dos nossos. Sir Alex segurou os braços de Robbie nas costas. Robbie se contorcia tentando se libertar com um rápido movimento de braço capaz de derrubar Sir Alex, se este não tivesse conseguido bloqueá-lo. Robby disse algo a Sir Alex em gaélico, mas Rosalin não precisou traduzir essa maldição particular. — Ele merece, — ele disse ofegante. — Ele iria machucá-la.

Sir Alex olhou para ela e quando seus olhos se encontraram, ela sabia que não era preciso perguntar como é que o homem iria machucá-la. A gravidade da expressão de Sir Alex a fez pensar que ele também sabia da irmã de Robbie. O barulho havia alertado os ocupantes das tendas mais próximas e Rosalin não precisava ver seu rosto para saber que o Douglas “O Negro” era um deles. — O que está acontecendo aqui? — Douglas disse, dois de seus homens vindo atrás dele com uma tocha. Se sir Alex não estivesse o segurando, Rosalin sabia que Robbie iria pra cima de seu amigo. — Esta é a forma como você toma conta dela? Seu maldito, eu devia te matar por ter deixado isso acontecer. O homem com o coração mais negro da Escócia parecia surpreso pelo tamanho da raiva de Robbie. Seu olhar deslocou-se para ela, ainda agachada contra a árvore e, sem dúvida, pálida e aterrorizada, e em seguida, para o homem deitado ainda no chão, atrás de Robbie. A expressão dele mudou para uma compreensão sombria. Douglas “O Negro” praguejou, repetindo uma das palavras que Robbie tinha usado e passou a mão pelos cabelos amarrotados de sono. — William acabou de chegar com uma carta da minha esposa. Não pensei em dizer-lhe sobre a moça. Ele não sabia quem ela era. — virou-se para

lidar com ela. — Me desculpe milady. Isso nunca deveria ter acontecido. Se você está ferida, a culpa é minha, e assumirei toda a responsabilidade pelo erro. Ela estava tão atordoada por Douglas “O Negro” estar lhe pedindo desculpas que levou um tempo para responder. Ela balançou a cabeça. — Ele não me machucou. — a voz saiu rouca, e ela esfregou seu pescoço machucado inconscientemente. Robbie rosnou como um lobo feroz e avançou com tanta energia e força que Sir Alex não pôde detê-lo. Instintivamente, Douglas “O Negro” se preparou para enfrentar o ataque, mas nesse momento, Rosalin tinha se apressado para intervir. Ela correu para interceptar Robbie, colocando uma mão gentilmente em seu braço. Ela engoliu em seco a dor para limpar a garganta. — Realmente, estou bem, — ele olhou para ela e a profunda emoção queimando em seu olhar fez seu coração bater mais alto em seu peito. — Por favor, — ela sussurrou. — Foi um engano. Embora seu irmão, sem dúvida, gostaria que esses dois homens se enfrentassem até virarem polpa, Rosalin só queria por fim ao engano. Queria se enrolar contra seu peito revestido em couro e enterrar a cabeça em seu ombro e se sentir segura novamente. Ela não sabia quem se moveu primeiro, mas num minuto ela estava se inclinando contra ele e no outro ele a segurava em seus braços e começou a carregá-la de volta para a tenda.

— Você e eu conversaremos amanhã. — ele disse para Douglas enquanto passavam. O homem assentiu tristemente. — Eu vou cuidar de William — e de seu cavalo. A conversa parecia distante. Rosalin já tinha enterrado sua cabeça contra ele, fechou os olhos e deixou que o alívio de estar segura em seus braços a acalmasse. Robbie não queria deixá-la ir. Nunca mais. Embalando-a em seus braços, seu corpo macio quente contra seu peito, era diferente de tudo o que ele havia imaginado. A onda de emoção que subiu de seu interior, caiu sobre ele e ameaçava arrastá-lo numa onda de ternura, mas era algo muito maior e mais poderoso. Era culpa dele. Ele nunca deveria tê-la trazido aqui. Era seu trabalho protegê-la e se ela tivesse sido ferida, ele nunca se perdoaria. Deus, quando pensava no que poderia ter acontecido, seu estômago embrulhava. Sua bílis subia até o fundo da sua garganta. O rosto de sua irmã passava diante de seus olhos. Ele apertou Rosalin mais perto, a dor da sua costela quebrada não era nada comparada com a dor da aflição em seu peito. Deus, ela tinha um cheiro bom. Ele apertou sua boca contra a suavidade sedosa de seus cabelos, inalando o aroma fraco de lavanda.

Não estava pronto para renunciar a ela ainda, no entanto, ele entrou na tenda e carregou-a em direção a sua cama. Sentado com as costas contra a parede, ele segurou-a até que a cabeça dela estivesse descansando sobre seu peito como um travesseiro. Ele tirou seu elmo e jogou-o ao pé da cama. O movimento fez com que ela abrisse os olhos. Ele observou suas sobrancelhas enquanto ela tocava seu rosto. —Você estava brigando, — ela disse, estendendo a mão para acariciar um corte na bochecha. Seu corpo reagiu ao toque macio, enrijecendo. Ela tentou limpar as manchas do rosto. — Como você conseguiu todas esta fuligem em seu rosto? Quando te vi, pensei que fosse um fantasma, — ela olhou para o elmo e estremeceu. — Ou um demônio. Sabendo que estava pisando em águas perigosas, ele segurou seus dedos gelados e os levou aos lábios. — Durma, Rosalin. Foi um dia longo. Vamos nos falar amanhã. Seus olhos encaravam os deles de um jeito que cortava o coração. — Você não vai me deixar? Ele balançou a cabeça. A palavra "nunca" ficou presa na garganta. Era uma promessa que não podia fazer. — Não esta noite. Agora durma querida.

Ela fez como ele pediu e adormeceu com um sorriso satisfeito no rosto que o fez se sentir não como o homem mais forte, mas sim como o homem mais sortudo da Escócia. Lentamente, controlou a raiva que queimava dentro dele desde o momento em que a viu pressionada contra aquela árvore, até que ele também dormiu.

Quinze Rosalin passou a agulha através do linho pela última vez, fez um nó, e usou a tesoura que tinha pedido emprestada a Deirdre para cortar o fio. Segurando a túnica à luz do sol (que ela tinha começado a perder a esperança de voltar a ver de novo) que passava através da janela da sala, ela admirou o seu trabalho. Embora não estivesse tão bom como se fosse novo, já não havia um grande rasgo na manga superior. As manchas cor de ferrugem, próximas do rasgo, permaneceram mesmo após a lavagem, e ela suspeitava que estas manchas tivessem vindo de uma lâmina de espada. — Fez um bom trabalho. — disse a mulher sentada ao seu lado. Rosalin sorriu, satisfeita com o elogio. — Obrigado, Jean. A luz aqui é uma grande melhoria em relação à tenda. Ironicamente, apesar da proximidade que tinha compartilhado com Robbie algumas noites atrás, quando tinha adormecido em seus braços, ela estava mais próxima das mulheres do campo do que estava do seu líder. Robbie já tinha partido quando ela acordou na manhã seguinte, e desde então, suas conversas tinham sido breves e esporádicas. As mulheres, no entanto, lentamente começaram a incluí-la nas conversas. A costura ajudou. Ela tinha tentado coser na tenda o primeiro pacote de roupas que tinham chegado de Deirdre. Mas, depois de um longo dia à luz de velas, no dia seguinte, ela tinha procurado a luz natural — e companhia.

Rosalin tinha entrado na sala há três dias, se sentado em um banco no canto perto de uma janela e, silenciosamente, começou a trabalhar no cesto com roupas para remendar. No primeiro dia, as mulheres ignoraram-na, mas no segundo dia, a curiosidade de algumas mulheres foi grande demais. No terceiro dia, ela também tinha começado a aprender algo sobre elas. Embora não as considerasse amigáveis, elas eram, na maioria, educadas, e uma ou duas delas tinham-se levantado para se sentarem ao lado dela, enquanto trabalhava — como fez Jean. A garota não poderia ter mais do que 10 ou 12 anos, mas a sua beleza natural de loura escuro já tinha começado a desvanecer sob o peso da luta e dos conflitos devastadores. Tal como Rosalin, a maioria dessas mulheres tinha perdido os seus pais em uma idade jovem. No entanto, ao contrário dela, elas não tinham tido a sorte de terem um guardião generoso para cuidar delas. Com os homens em sua vida partindo para a guerra ou sendo mortos pela destruição causada pela guerra, estavam sozinhas e tinham de se defender por conta própria. Como as mulheres de moral duvidosa não eram exatamente um assunto de conversa educada, Rosalin nunca tinha pensado muito em como, ou por que, alguém escolheria uma vida de pecado. Foi profundamente angustiante saber que, para muitas delas, não houve escolha. Quando os homens de sua família tinham sido mortos, quando as suas aldeias foram arrasadas e havia pouco trabalho (e ainda menos se você fosse uma mulher), fazia-se o quer que fosse necessário para sobreviver. O pior eram as garotas como Jean, que foram forçadas a essa vida por estupro. Na verdade, as suas histórias eram de partir o coração. Como foi dito, a injustiça não só era esperada como aceita. Não importa o que a igreja possa dizer, em seu coração, Rosalin não conseguia condená-las. Na verdade, não pôde deixar de sentir-se grata pelo destino não a ter forçado a fazer uma escolha "semelhante". Nascimento, posição social, e um irmão carinhoso

tinham lhe proporcionado a proteção que estas mulheres não tinham. Era perturbador pensar como facilmente o destino delas poderia ter sido o seu. Era uma vida difícil. Pelo que Rosalin conseguia ver, as mulheres trabalhavam o dia todo, mantendo o campo funcionando sem problemas, e ficavam acordadas a noite toda para agradar aos homens. Homens diferentes. Algumas felizardas como Deirdre e Mor foram “reclamadas” por um dos líderes, mas as outras mulheres, como Jean, saltavam de cama em cama todas as noites. — Não sei o que faremos quando você se for embora, minha senhora, — Jean disse com um sorriso tímido. — Em poucos dias, remendou tantas roupas que nos salvou de duas semanas de costura. Rosalin sentiu uma pontada estranha no peito ao pensar em partir, mas ela sabia que qualquer dia teria que partir. Desde que tinham chegado à floresta, já se passara mais de uma semana, e o mensageiro que tinha sido enviado até o seu irmão para negociar a sua libertação podia voltar a qualquer momento. — Estou feliz em fazê-lo, — disse Rosalin. — Deu-me uma maneira de passar o tempo. — Bem, suspeito que você terá muito para mantê-la ocupada enquanto estiver aqui. De repente, o sorriso desapareceu do rosto da garota e um olhar preocupado cruzou o seu semblante. Rosalin virou-se para ver o que tinha causado a reação e reparou que duas das outras mulheres acabavam de entrar na sala para começar a preparar o almoço. Agnes era uma das mulheres mais velhas e mais experientes e, pelo que Rosalin poderia dizer, tinha uma posição muito semelhante a de Deirdre. A segunda mulher, Mary, tinha um olhar triste, um vazio em seus olhos, e bebia bastante cerveja e uísque para colocar um homem do tamanho de Robbie desmaiado, mas nunca parecia estar bêbada. Com exceção de Agnes, as outras

mulheres no acampamento pareciam evitá-la. Se houvesse uma classificação entre as mulheres, Rosalin colocaria Mary na parte inferior da pilha. Foi só quando ela se virou em sua direção que Rosalin percebeu o que tinha causado a reação de Jean. Um hematoma grande e feroz cobria a bochecha direita de Mary. Suspeitando o que poderia ter sido a causa do hematoma, Rosalin sentiu a faísca do ultraje disparar dentro dela. Ela virou-se para Jean. — Quem fez isso com ela? Um dos homens a feriu? Jean abanou a cabeça e colocou o seu dedo na boca para acalmá-la. — Por favor, minha senhora, não diga nada. Você só vai trazer mais problemas para ela. É culpa de Mary. Nós tentamos avisá-la. Fergal fica um pouco bruto quando está bêbado, mas ela não me ouviu e foi com ele mesmo assim. Agora, ele é o único que fica com ela. — O que você quer dizer? A boca de Jean se endureceu com aversão. — A última vez que fomos à vila de Corehead para nos abastecermos, Mary chamou a atenção de um dos soldados da guarnição das proximidades. Imaginou-se apaixonada pelo inglês, e foi com ele. Até que engravidou e ele a chutou da cama. Rosalin se engasgou, seus olhos se alargando com o alarme. — Ela está grávida? Jean negou com a cabeça. — Não, não muito tempo depois, ela perdeu a criança. Olhando para ela agora, é difícil de acreditar, mas ela costumava ser uma das meninas preferidas dos homens, — ela deu de ombros. — Mas ninguém quer uma prostituta inglesa, — ela corou. — Sem ofensa, minha senhora. Rosalin não se importava com isso. — Isso não é desculpa para alguém bater nela.

Jean olhou para ela como se ela fosse a pessoa mais ingênua do mundo ou a mais estúpida. — Fergal não é tão ruim assim, minha senhora. Quando está sóbrio, pelo menos, não é ruim. Tenho certeza de que ele vai compensá-la — por isso é que ela não vai agradecer por sua interferência. Relutantemente, Rosalin seguiu o conselho de Jean e retornou à sua costura. Ela entendeu a precariedade da posição de Mary e não queria fazer nada para piorar as coisas para ela, mas a injustiça de tudo isto a corroeu. A mulher tinha perdido um filho. Ela agora devia suportar uma surra em silêncio? Quanto tempo devia se penitenciar pelo erro de se apaixonar pelo homem errado? Se a pergunta ressoou muito alto, Rosalin não queria ouvi-la. Uma hora mais tarde, Rosalin ainda estava furiosa enquanto carregava a pilha de roupa de volta para a sua tenda, para se preparar para o almoço. Era errado bater numa mulher —qualquer mulher — e Mary precisava de alguém que a defendesse, mesmo que ela não se defendesse. O bruto devia ser punido, e era contra a natureza de Rosalin afastar-se e não fazer nada — não dizer nada — quando via alguém ser tratado tão injustamente. Ela não estava prestando atenção ao que se passava à sua volta, por isso assustou-se com o som de um rugido vindo do outro lado do prédio onde os homens se exercitavam. Curiosa, ela recuou um pouco, seguindo o som dos aplausos e gritos. Quando virou a esquina, viu um grande grupo de homens — o que parecia englobar quase todos os homens dos quarenta ou mais que havia no campo — em uma pequena clareira. Eles estavam em um círculo assistindo algo. Ela olhou a área procurando por Robbie... Mas não o viu. De repente, começou a questionar a sabedoria da sua conduta e começou a se virar, quando pegou um vislumbre dos dois homens que estavam no círculo.

Ela congelou. Tudo congelou — o coração dela, a sua respiração, os seus passos. Na verdade, estava enraizada no chão com... Choque? Não tinha certeza, mas fosse o que fosse, não conseguia afastar os olhos do que se passava à sua frente. Não era apenas por Robbie estar nu na zona da cintura — embora isso provavelmente tivesse sido o suficiente — ele também estava sendo atacado por uma dúzia de homens empunhando espadas, vindo para ele de diferentes direções. E ele estava ganhando sem uma arma, ou até mesmo um escudo para se defender — só com as mãos. Ela deve ter avançado, porque se encontrou entre dois homens para conseguir ver mais de perto. Doce céu, ela nunca tinha visto nada assim! Tinha ouvido falar das lutas das Terras Altas, mas isto era diferente. Ela não sabia como descrever, exceto que ele estava atirando homens adultos — experientes guerreiros todos eles — pelo ar como se fossem mosquitos traquinas. Eles não podiam chegar perto dele. Assim que se mexiam, ele os evitava com um toque do seu corpo, um soco, um golpe de joelho, e até com um chute. Eles acabavam dobrados com dor ou em suas costas. Até que os homens começaram a gritar por "Seton", ninguém conseguiu lhe fazer frente. Sir Alex, obviamente, tinha sido treinado no mesmo estilo de luta, porque acompanhava os movimentos estranhos dele com uma precisão quase igual. Era brutal, mas estranhamente fascinante de se ver — quase como uma dança cruel e violenta. Rosalin sentiu como se o seu coração estivesse na garganta, como se ela fosse incapaz de gritar para fazê-los parar de trocaram golpes e socos, empurrões e torções, chutes e flips pelo ar. Parecia como se isto pudesse continuar para sempre, apesar de ambos os homens estarem obviamente cansados. Finalmente, Sir Alex fez um movimento rápido em direção a Robbie, tentando acertar com o cotovelo as costelas de Robbie. Ela ofegou quando

percebeu o motivo: uma grande parte do lado esquerdo de Robbie estava preto e salpicado com hematomas. Mas Robbie tinha antecipado o movimento. Ele torceu, levando o golpe com o lado direito, espetou o cotovelo com força debaixo do queixo de Sir Alex e empurrou para derrubá-lo. A multidão irrompeu em um rugido. Robbie sorriu e abaixou a mão para ajudar seu amigo a se levantar. Sir Alex olhou para ela por um minuto, praguejou prodigiosamente, mas eventualmente a agarrou. A interação deles era tão parecida com a de irmãos que ela quase riu. — Você é muito impaciente, — Robbie disse de uma forma que fez Rosalin pensar que esta não era a primeira vez que lutavam. — E previsível. Eu sabia que as costelas seriam demais para você resistir. — É o seu único maldito ponto fraco. — Sir Alex murmurou com frustração. Robbie apenas sorriu. Mas olhando aquele peito amplo, cinzelado, Rosalin teve que discordar. Mesmo com a contusão, não havia um ponto fraco nele. Quase como se ele pudesse ler os pensamentos dela, ele se virou e a viu ali. Parecia que todos a tinham visto também porque, de repente, o riso estridente parou com toda a sutileza do troar de um trovão. Uma mancha rosa coloriu as bochechas dela. Robbie franziu a testa, mas caminhou até ela. — Precisa de algo? Ser confrontada por mais de um metro e oitenta e quatro de homem seminu pareceu congelar a sua língua. Depois de um momento agitado olhando para o seu peito, que parecia cobrir a maior parte do seu campo de visão, ela forçou o seu olhar até o pescoço. Mas não antes de notar o corte em seu braço. — Você está ferido!

— Não é nada. De repente, ciente de que todo mundo estava olhando — e ouvindo — ela disse: — Preciso falar com você. Ele franziu a testa. — Aconteceu alguma coisa? Ela olhou ao redor, inconscientemente deslocando a pilha de roupa nos seus braços. — Por favor, é importante. Ele segurou o seu olhar por um momento, antes de se virar para os seus homens. — Vamos retomar após a refeição do meio-dia, — ele olhou para alguns dos homens, cuja roupa estava suja de lama por terem caído no chão. — Alguns de vocês parecem que precisam de tempo para tomar banho. Os homens riram e começaram a se insultarem uns aos outros enquanto dispersavam. Pegando a sua camisa e o seu manto, que estavam em cima de uma rocha, Robbie vestiu a camisa e jogou o manto sobre o braço. Apesar de Rosalin estar relutante em ver esse espetacular e lindo peito coberto, isso esfriou a sua cabeça. Ele se ofereceu para levar a pilha de roupa que tinha nos braços. Ela pensou sobre isso antes de entregar. — Acho bom. Na verdade, acredito que a roupa que está em cima da pilha é sua. Ele ignorou este comentário e lançou um rápido olhar sobre o trabalho dela. Uma sobrancelha se levantou quando ele examinou os pontos. — Meu Deus, como você fez isso? Parece que o pano foi refeito no tear. Não dá para ver os pontos; são tão pequenos. Recordando o que ele uma vez lhe disse quando ela o questionou sobre a habilidade dele em surpreendê-la, ela disse: — Prática, — um lado da boca

dele se levantou, então caiu quando ela acrescentou: — E também sou bastante boa tratando feridas e fazendo cataplasmas. Ele atirou-lhe um olhar. — Não é nada, Rosalin. Apenas um arranhão. Ela apertou a mandíbula. Isso não era nenhum arranhão. Pelos Céus, todos os homens eram tão teimosos? O irmão dela também era assim quando estava ferido. — Até um arranhão pode infeccionar e causar a morte se não for tratado. — Não privaria Clifford desse prazer tão facilmente. Tinham quase chegado à tenda, mas ela parou no caminho e se virou para encará-lo. — Isso não é engraçado. O pensamento de seu irmão matando-o — ou dele mantando seu irmão — lhe fez mal. — Não era para ser engraçado. Simplesmente queria dizer que a minha morte seria para um Clifford — seu compatriota — um grande prazer. Ela sabia o que ele estava tentando fazer, estava lembrando a eles mesmos das circunstâncias em que estavam, forçando uma distância, mas ela não ia deixá-lo fazer isso. — Não seria um prazer para mim. Ela segurou o seu olhar desafiadoramente, desafiando-o a negar a conexão que existia entre eles. Uma conexão que nem a guerra, nem o seu irmão poderiam romper. Ele suspirou e balançou a cabeça. — Já fui tratado. — Por quem? Deu-lhe um olhar que a fez desejar que não tivesse perguntado. — Oh! — Ela disse, fechando a boca. Deirdre.

Ele segurou a aba da tenda enquanto ela entrava, e entrou na tenda logo atrás dela. Colocou a pilha de roupa no baú de Sir Alex, depois foi até o seu baú e pegou um pano e sabão. Obviamente, ele, também, queria se lavar antes da refeição do meio-dia. — O que é que você queria falar comigo? — Você alguma vez machucou uma mulher? — Diabos, claro que não! Por que me pergunta uma coisa dessas? — Ele parecia ofendido. — Não é incomum. Ele franziu a testa. — Talvez não, mas só homens fracos é que machucam aqueles que são incapazes de se defenderem. Eu não sou fraco. Ela não iria contestar isso. — E os homens sob o seu comando? Seus olhos se estreitaram, um olhar escuro vindo de suas belas feições — tal como tinha visto na noite em que ele lutou com William. — De onde vem isso, Rosalin? Alguém te machucou? Ela balançou a cabeça. — A mim não. Sua raiva se dissipou e a compreensão do que se estava acontecendo apareceu nas suas feições. — Uma das outras mulheres? Ela assentiu com a cabeça, toda a sua frustração explodindo. — Não é justo. A embriaguez não é uma desculpa para a brutalidade. Me ensinaram que os homens devem proteger as senhoras, não machucá-las. Ele manteve o olhar no seu. — Você sabe por que estas mulheres estão no acampamento, Rosalin? Elas não são senhoras. Ela ergueu o queixo. Ele pensava que ela era assim tão inocente?

— Sim, mas um pecado não justifica outro. O que as mulheres fazem não torna aceitável que possam ser machucadas. Ou você acha que uma mulher que leva para a sua cama para o prazer não é digna de consideração? Ele ergueu a mão, como se precisasse se defender do seu ataque. — Eu não penso dessa forma; é só que eu estou surpreso que você pense assim. Putas são geralmente desprezadas pela maioria das mulheres nobres. — Bem, não por mim. Ele a estudou de forma calorosa, fazendo-a desejar que pudesse saber o que ele estava pensando. — Entendo. — Então, você aprova homens que estão sob o seu comando e que batem em mulheres? — Eu não aprovo. Quem é? Ela mordeu o lábio. — Não posso dizer. — Por que não? — A mulher será prejudicada se ele for punido, — ele parecia tão confuso que ela acrescentou: Seu lugar aqui é... Precário. — Ah, a puta do inglês. — ele parou ao ver a expressão dela. — Não a chame assim! Ela não tem culpa de ter se apaixonado pelo homem errado. O coração não vê as linhas de batalha. Ele segurou o seu olhar por apenas um momento, quase como se ele também, quisesse evitar pensar sobre o assunto com muito cuidado. — Talvez não, mas também não pode culpar os homens por não quererem dormir com ela. Devo pedir-lhes para fazê-lo? Ela franziu a testa. — Claro que não. — Então, o que você quer que eu faça?

— Eu não sei, mas não é justo. Ela perdeu o filho — isso não é castigo suficiente? E agora ela é forçada a submeter-se ao temperamento de um bruto bêbado e não pode levantar a voz para reclamar de nada por medo de perder o seu lugar no campo? — Às vezes, a espada da justiça não cai da forma mais correta e adequada, Rosalin. Acredite em alguém que sabe. Ela olhou para ele, seus grandes e luminosos olhos verdes brilhantes com indignação e frustração, e Robbie sentiu algo em seu peito virar e depois puxar. Com força e com muita persistência para ignorar. Ele estava com problemas, e cada dia que passava ia piorando. Ele a queria tão intensamente, bastava apenas sentir o cheiro do seu perfume e ele logo endurecia como um rapaz prestes a cobrir a sua primeira dama. A sua proximidade estava deixando-o louco. Tudo nela o deixava louco. Ele nem ousava olhar para as suas mãos, pois se o fizesse, iria se lembrar daqueles dedos brancos macios envolvidos em torno do... Inferno, poucos minutos de prazer se transformaram em dias de tortura. Não que ele se arrependesse. Como podia se arrepender do que tinha sido um dos momentos mais eróticos, sensuais e íntimos de sua vida? Ela parecia ser a única no campo que não sabia do seu tormento. Douglas olhava para ele como se ele estivesse louco, Fraser com diversão, Deirdre com acusação e Seton com aviso. Ele tinha ameaçado deslizar o seu punhal entre as costelas de Robbie se ele a tocasse. Seu parceiro quis dizer isso e apesar de Robbie não costumar se intimidar (ter que pegar dez lanças apontadas à sua cabeça durante o treino de MacLeod apropriadamente chamado de "perdição" veio à sua mente como uma exceção) ele tinha visto a habilidade de Seton com um punhal vezes suficientes para ponderar a ameaça que lhe foi feita. No início, o lugar de Seton no grupo podia ter sido um gesto de simpatia devido à amizade de Bruce com o irmão de Alex - Christopher - mas Boyd teve

de admitir que a habilidade do seu parceiro o fazia merecedor de estar no grupo. Ele podia empunhar um punhal com mortal precisão e com uma rapidez que era incomparável com qualquer um da Guarda. Diabos, entre quaisquer dos guerreiros que Robbie já tinha visto. Ele franziu a testa, pensando em sua competição mais cedo. Seton também tinha se tornado muito mais adepto do combate corpo a corpo do que Robbie acreditava ser possível. Ele não era tão forte quanto Robbie, mas era mais rápido. E mais jovem. Se aprendesse a controlar a sua paciência, ele poderia realmente, ser um verdadeiro desafio para Robbie. Mas não era a ameaça de Seton que o preocupava agora. Era este outro sentimento. Um sentimento intenso que parecia estar crescendo em seu peito e ultrapassando todo o resto. O sentimento que o fazia querer matar cada dragão por ela para que não tivesse que ver esse olhar em seu rosto novamente. Rosalin Clifford sentia tudo muito profundamente. Esse era o seu problema. E isso só lhe traria desapontamento e frustração. Ele devia saber. Um dia, ela aprenderá a dura verdade que não conseguirá corrigir cada erro no mundo. Ele estava quase feliz por que não estaria perto dela para ver isso. Quase. Mas isso não significa que não foi tocado por sua indignação em nome da mulher. E não conseguiu evitar pensar em sua irmã. Se alguém como Rosalin estivesse lá para defender Marian, talvez ela não sentisse que não havia nenhuma outra estrada a não ser aquela que a levou a um penhasco. — Peço desculpas, — ela disse, colocando uma mão no braço dele. Ele forçou-se a não olhar para ela. — Não quis suscitar lembranças amargas. Claro que você sabe do que falo. A cabeça dela estava inclinada para trás para olhar para ele. O suave aroma de lavanda atravessou os seus sentidos. Ela estava tão perto, tudo o que tinha que fazer era baixar a cabeça e poderia tocar os lábios dela.

Fogo rugiu no seu sangue em antecipação. Seus olhos piscaram diante de seus belos traços, os olhos bem verdes, os cílios escuros, longos, lábios vermelhos e pele aveludada e macia e tudo no que ele conseguia pensar era em olhar aqueles lábios, ver esses cílios palpitarem sobre os olhos com as pálpebras semicerradas, aquelas bochechas cremosas se acenderem enquanto ele a trazia para o pico do prazer com as mãos — e a boca dele. Deus, ele queria prová-la. Ele queria deslizar a língua entre suas pernas e devorá-la até que ela se contraísse e arqueasse. Até que ela se quebrasse e gozasse na sua boca com um calor quente. Ele quase podia senti-la nos lábios. Sentir a seda quente de seu mel deslizando contra a sua língua. Ele quase gemeu. Desejo apoderou-se de cada veia de seu corpo, reverberando como um tambor. E ela ouviu. Sentiu. Os olhos dela se alargaram nebulosos. Sua boca abriu em um suave suspiro de antecipação. Ele se inclinou para ela, sentindo o suave estremecimento que ondulou através dela como se fosse ele. Seu coração batia. Os músculos tensionaram. Os punhos cerrados contra a tentação. A tentação a que ele teve que resistir. Com uma maldição murmurada, ele recuou. — Preciso tomar banho antes da refeição. — ele não esperou pela resposta dela antes de sair da tenda. Ele não estava fugindo, droga. Era autopreservação. Mas ele não sabia quanto mais conseguiria aguentar. Não podia ser muito mais tempo, disse a si mesmo. O enviado que mandou para Clifford retornaria a qualquer momento, Clifford concordaria com a trégua — o que mais ele poderia fazer? — Rosalin iria embora, e Robbie estaria um passo mais perto de alcançar a única coisa que importava: vencer a guerra e a liberdade do jugo inglês. Liberdade de homens como o irmão dela.

Seu maxilar endureceu. Alguns mergulhos frios iriam ajudá-lo a superar isto. Se apenas as memórias fossem tão fáceis de lavar de seu corpo como a luxúria.

Dezesseis Robbie entrou na sala pouco depois, limpo, porém não tão relaxado, e ficou surpreso ao ver Rosalin sentada em uma das extremidades da mesa de cavalete, ao lado de Seton. Douglas, não surpreendentemente, se encontrava na extremidade oposta. Ele sabia que ela ainda se sentia inquieta ao ficar próxima de Douglas, mesmo que seu amigo tenha parado de olhar para ela como se ela fosse a desova de Satanás (ou neste caso, sua irmã). Ele sentou-se do outro lado de Seton para que o mesmo agisse como uma barreira. Não porque não achasse que poderia ficar sentado ao lado dela por um par de horas. Ele não podia ser tão fraco. Diabos!

Ele passou a maior parte da refeição conversando com Fraser e tentando ignorar a conversa fácil entre seu parceiro e a mulher que o estava distraindo. O que diabos eles estavam falando? Por que estavam sussurrando? Por que ela estava rindo tanto? E por que ele se importava? Porque Seton estava certo. Robbie estava com ciúmes. Profundamente e irracionalmente ciumento. Ele podia não ser capaz de tê-la, mas ele não podia suportar a ideia de outro tê-la, e com certeza não o parceiro que tinha sido um espinho no seu sapato. Ele foi salvo de fazer algo constrangedor, como gritar para eles pararem de fazer tanto barulho, pelo aparecimento diante dele de uma das criadas. Quando a moça se inclinou para encher sua caneca de cerveja, ele avistou sua bochecha. Uma onda reflexiva de raiva correu através dele com a visão da grande contusão em seu rosto. Imediatamente, ele entendeu a indignação de Rosalin. A moça tinha derramado um par de gotas que corriam sobre a borda da mesa em seu colo, e olhando para sua expressão, entendeu mal a fonte de sua raiva. Ela parecia apavorada. — Sinto muito, meu senhor. Vou buscar um pano para limpá-lo. Ele agarrou com força o seu pulso, antes que ela pudesse se afastar. Ela estava muito magra como Rosalin, e sua fragilidade só o fez mais furioso. Mas sentindo-a tremer de medo forçou uma gentileza em seu tom.

— A cerveja não tem importância. Minha preocupação é com a sua lesão. Quem fez isso com você, moça? Embora não estivesse falando em voz alta, poucos dos ocupantes da sala tinham tomado conhecimento da conversa, incluindo o homem que ele suspeitava ser o causador dos golpes. Fergal Halliday era um lorde menor das proximidades, e bom com uma espada, mas também tinha um temperamento vicioso quando bêbado. Suas suspeitas foram confirmadas quando seu olhar correu nervosamente e inconscientemente para o homem em questão no outro lado da sala. — Ninguém, meu senhor. Fui eu. Eu... — Ela tentava pensar em algo que pudesse explicar a contusão, que havia sido claramente causada por uma mão. — Não foi nada, — ela disse com uma risada forçada. — Eu tropecei numa noite dessas no caminho de volta para o meu catre e bati na borda da mesa. Isso chamou a atenção de Rosalin. Era uma desculpa pobre. E se não fosse pelo gesto de Rosalin e o olhar suplicante da própria moça, ele teria falado e exigido a verdade. Mas Rosalin estava certa, ela tinha sido punida o suficiente. Ele não tiraria o sustento dela. Fergal não seria bem tratado. O Capitão Robbie poderia tornar sua vida um inferno, ao menos na próxima semana. Ele soltou o braço dela. — Um acidente infeliz na verdade, — disse ele lentamente. — Espero que isso não se repita. Você virá a mim se acontecer. — Ele sustentou seu

olhar para deixar claro sua intenção. — Nenhuma mulher deve sofrer tais abusos, e você pode ter certeza que isso não será tolerado. Você é bem-vinda aqui moça, e eu não admito que ninguém a faça pensar de outra forma. Seus olhos se arregalaram com o choque. Estava claro que ela estava tão desacostumada à bondade que não sabia como reagir. Lentamente, os cantos de sua boca começaram a curvar, e um sorriso alcançou seus olhos, que brilharam de gratidão. — Sim, meu senhor. Obrigada, meu senhor. Ela saiu correndo, obviamente desconfortável com a atenção. Robbie olhou para Rosalin. Foi um erro. Ele recebera muitos olhares de admiração das mulheres, sua reputação e popularidade nos Jogos lhe valera muito mais do que merecia, mas ninguém jamais o fez se sentir assim. Ninguém jamais tinha feito o ar em seus pulmões se expandir e seu peito inchar. Ninguém jamais tinha feito ele se sentir o homem mais importante do salão. E certamente, ninguém jamais o fez querer manter esse olhar brilhando em seus olhos para sempre. Um homem poderia se acostumar com esse olhar. Um homem podia aprender a almejar esse olhar. Um homem poderia fazer algo estúpido por esse olhar.

Mas caramba, Bruce necessitava do acordo com Clifford, e Robbie não podia fazer nada para prejudicá-lo. E o que ele queria de Rosalin Clifford, iria com certeza colocar isso em perigo. Agora eles tinham a vantagem, e a resistência de Clifford poderia facilmente mudar isso. Essa situação poderia encorajar outros a segui-lo, como poderia parar o progresso que Bruce estava fazendo para retomar seus castelos. Robbie forçou seu olhar. Sangue de Deus, onde estava esse mensageiro? Ele já deveria estar aqui agora. Engolindo o restante da bebida, ele ficou de pé. Ele tinha que sair. Antes que pudesse caminhar do corredor até a porta, ela foi lançada para trás e o homem que ele queria ver veio caminhando em sua direção. O homem que ele pensou que queria ver. Mas a pedra de pavor que afundou em seu peito quando reconheceu o enviado, disse-lhe o contrário. O acordo de Clifford com a trégua havia chegado. O olhar de Robbie deslizou para Rosalin, e o peso em seu peito começou a queimar. Ele ia ter que lhe dar as costas. O Salão havia sido esvaziado, enquanto Robbie, Sir Alex, Douglas, “O Negro”, e um punhado de outros homens conversavam com o enviado. Rosalin andava nervosamente do lado de fora para saber o seu destino. Ela não tinha dúvida de que seu irmão faria o que fosse necessário para libertá-la, mas em breve ela seria forçada a sair?

Ela parou de andar. Sangue drenando de seu rosto. Forçada? Era isso no que havia se tornado? Será que realmente queria ficar com os rebeldes, vivendo em uma tenda nos confins esquecidos por Deus no campo mais inóspito que já tinha visto, com um dos homens mais odiados da Inglaterra? Um homem cujo nome conjurou sussurros dos demônios? O homem cuja cabeça seu irmão desejava ver em uma estaca sobre as portas do seu castelo? Era tão inconcebível, tão impossível, que não podia ser verdade. É claro que ela queria voltar para a Inglaterra. Para seus bonitos e limpos vestidos, seus castelos luxuosos, sua vida confortável com a família que a amava. A família de seu irmão. Não dela. Embora ela o amasse de todo o coração, nunca seria a dela. Ela teria uma vida com... A realidade bateu com tanta força que quase a derrubou. Sir Henry. Deus do Céu, como poderia ter esquecido o homem com quem deveria se casar? Mas havia esquecido. Total e completamente. Seu estômago começou a se revolver tão violentamente, que ela teve que se sentar em uma das escadas. Envolvendo os braços ao redor da cintura, ela tentou acalmar o turbilhão de súbita fúria dentro dela. O que ela ia fazer? A porta atrás dela se abriu e os homens começaram a sair. Ela olhou para cima e viu Robbie na porta. A partir de sua mandíbula apertada, a boca apertada, e olhar escuro, ela sabia que algo estava errado. Ela chegou a seus pés, ansiosa. — O que houve?

— Seu irmão é um maldito bastardo! Seu coração começou a bater forte, e seus dentes prenderam o seu lábio inferior nervosamente. — O que dizia a mensagem? Gelados olhos azuis atingiram os dela, como se ela fosse de algum modo culpada. — Ele está jogando. Eu estive do outro lado antes. Nunca pensei que ele fosse jogar com a sua preciosa irmã, — Seus olhos se estreitaram. — Ou há algo que você não está me dizendo? Ou talvez você não seja tão chegada a ele como nos tem levado a acreditar? Sua testa estava franzida. — Nós somos muito próximos. O que você quer dizer com jogar? E o que foi que ele fez antes? Sua mandíbula apertou ainda mais. Estava claro que ele queria dizer a ela, mas algo o segurava. A vontade de contar a ela aparentemente venceu. — Quando fomos levados para Kildrummy foi sob uma trégua. Seu irmão tinha dado sua palavra de que estaríamos negociando uma rendição. Eu não queria concordar, mas Nigel Bruce e Seton insistiram que seu irmão poderia ser confiável. Assim que levantamos o portão e saímos para encontrá-

los, os ingleses atacaram. Nós fomos presos, Nigel Bruce foi levado para Berwick e executado, e o resto de nós foi colocado nos ferros. Você sabe o resto. — Você deve estar enganado. Meu irmão nunca faria algo tão desonroso. — Você realmente tem certeza disso? É a guerra, e tenho certeza que ele justificou sua perfídia assim. Nosso erro foi confiar na palavra de um inglês, qualquer inglês. O olhar em seus olhos enviou um frio por sua espinha. Era um aviso. Seja qual tenha sido a resposta de Cliff, o tinha lembrado de quem ela era e de tudo o que existia entre eles. Ela endireitou as costas e ergueu o queixo para ele. — Se o que você diz é verdade, meu irmão não sabia de nada. — Ele disse o mesmo — deu sua palavra. Tanto é assim que me abstive de matar seus homens quando tive a chance, acreditando nele quando disse que meus homens seriam tratados de forma justa. Você viu o resultado disso. Seu irmão não merece sua forte defesa. — Você não o conhece da maneira que eu o conheço. Seu olhar cravou fixamente nos dela. — Eu poderia dizer o mesmo para você.

Rosalin teve que desviar o olhar, a turbulência em seu estômago voltando. Ele estava certo. Ela não conhecia o comportamento de Cliff como um inimigo, mas ela se recusou a acreditar que ele teria se envolvido em algo tão desonroso. Seu irmão era um cavaleiro, e ele tinha grande orgulho do código da Cavalaria. Tinha que haver uma explicação. Ela olhou de volta para ele. O sol tinha baixado, passando por trás do salão, lançando seus raios nas sombras angulares. Ele parecia duro e inflexível, cada centímetro de uma firmeza formidável. — O que mais disse o mensageiro? Será que o meu irmão concorda com a trégua? A boca de Boyd ficou apertada. — Sim e não. Ele vai concordar, mas apenas se eu falar com ele pessoalmente. Rosalin empalideceu. Pela segunda vez nessa curta tarde, seu batimento cardíaco sofreu um sobressalto. — Não! Você não pode fazer isso. É muito perigoso. — Eu pensei que você confiasse no seu irmão. Um cavaleiro, certamente não faria algo tão traiçoeiro como montar uma armadilha para mim? Suas bochechas ficaram vermelhas de raiva com seu desafio sarcástico. — Não é meu irmão que me preocupa. Haverá outros homens ao redor. Eles poderiam capturar você quando sair. Ou segui-lo.

Ele arqueou uma sobrancelha. — Se não a conhecesse, eu acharia que você está preocupada comigo. Ela sentiu uma estranha vontade de colocar o dedo contra esse peito de aço e talvez dar um bom empurrão. — É claro que eu estou preocupada com você, embora agora esteja querendo saber o porquê. Você torna difícil para alguém... — ela parou de repente. Ele inclinou o queixo dela para trás para olhar seus olhos. — Para que, Rosalin? — Sua voz apresentando uma rouquidão estranha. Ela examinou as profundezas de seu olhar, procurando alguma coisa. — Se preocupar com você. Ela o sentiu endurecer. Ele olhou para ela tão atentamente por um momento que ela pensou estar se afogando nele, girando em um redemoinho de emoções. Ela pensou que ele iria tomá-la em seus braços. Em vez disso, ele tirou a mão de seu rosto. — Seria insensato de sua parte. Decepção cortou através dela, como um caco de vidro irregular. O que ela esperava? Uma declaração em retribuição? Algum tipo de indicação de que ela não estava sozinha em seus sentimentos? Tudo o que importava era a guerra e derrotar os ingleses. Não havia espaço para mais nada, nem para ninguém em sua vida. Ele estava consumido

por uma coisa e apenas uma coisa: ver os ingleses pagarem pelo que tinham tirado dele. E ela o ouviu — no começo. Mas algo havia mudado. Algo a fez pensar que podia haver espaço para outra coisa em seu coração. Lugar para ela. Agora não tinha tanta certeza. — Quando você vai partir? — Ela perguntou, com um aperto na garganta. — Imediatamente. Quero resolver isso o mais rápido possível. Ela se encolheu, as palavras afundando entre suas costelas como um punhal. Ela precisou se esforçar muito para não deixá-lo ver quanta dor ele causou. Uma boa dose de orgulho Clifford segurou-a na posição vertical. — Deus o abençoe, então. Vou aguardar ansiosamente seu retorno. — Rosalin, inferno! Não foi isso que eu quis dizer. Ele tentou alcançá-la, mas ela se afastou, mantendo a coluna ereta para esconder o tremor em seus ombros, e se afastou tão regiamente como a princesa que uma vez ele a acusou de ser.

Dezessete Robbie estava esperando por esse momento há seis anos. Mas o longo corredor de Melrose Abbey não era o campo de batalha que ele imaginava para enfrentar seu inimigo. Clifford estava esperando com três de seus homens perto da tela de madeira entalhada e do altar, além dos quais apenas os monges eram autorizados. Robbie começou a descer o corredor sul com três de seus próprios homens ladeando-o. Ele trouxera uma dúzia de homens com ele, mas apenas Fraser, Barclay, e Keith o acompanharam ao interior da abadia. Alguns mais esperavam do lado de fora, enquanto o restante estava espalhado ao redor da aldeia mantendo um olho aberto para qualquer sinal de armadilha, e preparados para uma fuga, caso fosse necessário. Robbie não esperava nada, mas com os ingleses ele havia aprendido a ser cauteloso. Em concordância, ambas as partes haviam deixado suas armas na porta. Afinal, empunhar espadas em um lugar santo seria um sacrilégio, Clifford havia insistido, com uma não-tão-sutil referência a morte de Red Comyn por Bruce seis anos antes em uma igreja. O ato "bárbaro" impulsionou a candidatura de Bruce pelo trono e também serviu para excomungá-lo. Robbie não se opôs. Ele não seria o único a precisar de uma arma se a negociação tomasse um péssimo rumo. Além disso, enquanto Robbie detivesse Rosalin, ele tinha tudo o que precisava para vencer esta batalha particular. A situação havia mudado. Robbie já não era um prisioneiro a mercê de seu carcereiro ou um rebelde apoiando um rei foragido. Desta vez, Robbie detinha o poder, e ambos sabiam disso.

Ele havia sonhado com o dia em que teria o bastardo pomposo sob seu calcanhar. Os ingleses e sua maldita superioridade! Há muitos anos que estavam tratando os escoceses como escravos em seu próprio reino, como indivíduos recalcitrantes e rebeldes indecentes. Ver um pouco de humildade no rosto de um lorde Inglês — especialmente Clifford — era algo que Robbie ansiava há muito tempo. Em breve o Rei Inglês seria forçado a reconhecer a Escócia como uma nação independente, mas por enquanto, a aquiescência de Clifford seria suficiente. O som dos passos deles no chão de ladrilhos ecoava na nave cavernosa de uma das maiores abadias da Escócia. Construída no formato da cruz de São João, os pilares de pedra grossa e paredes da Abadia se elevavam a mais de doze metros acima dele, decorados com pinturas coloridas que eram compostas de milhares de pequenos pedaços de vidro meticulosamente cortados e montados dentro de suportes de chumbo para preencher as enormes janelas arqueadas, que eram cerca de cinquenta. Era impressionante. Inspirador. Uma maravilha moderna da arquitetura. O tipo de lugar que você queria jogar a cabeça para trás e olhar ao redor, apreciando os diferentes santos e cenas da Bíblia. Mas o olhar de Robbie estava fixo diante dele. No homem. Lorde Robert Clifford parecia quase o mesmo desde a última vez que se encontraram cara-a-cara. Seu cabelo estava mais escuro, havia novas cicatrizes em seu rosto, e ele parecia alguns quilos mais musculoso, mas as características; olhos frios, a brilhante cota de malha e o tabardo impecável com a faixa vermelha e as listras amarelo-azuis nos braços de Clifford, eram as mesmas. Uma coisa era diferente. Desta vez, Robbie notou a semelhança com sua irmã.

Quando seus olhos se encontraram, Robbie sentiu como se alguém tivesse enfiado o punho em seu estômago. Cristo! Eram da mesma cor. Ele poderia estar olhando nos olhos de Rosalin. Merda. Teve que desviar o olhar. Com a boca cerrada, ele parou a poucos metros de distância. Os dois homens se encararam em silêncio. Esse momento havia demorado muito a chegar. Muitas coisas haviam mudado, e havia seis anos de luta entre eles, mas ambos estavam profundamente conscientes do que havia acontecido na última vez que se encontraram. Robbie ainda podia ouvir as palavras condenatórias. Leve-o para a prisão poço. Ele foi surpreendido. Talvez fosse isso que mais o irritou. Ele, na verdade, deixou-se acreditar em Clifford. Poderia ter matado os homens de Clifford enquanto defendia seu amigo, mas não matou. Esperava por justiça ou, pelo menos, a pretensão dela. O sangue correu através dele com as lembranças, e raiva ardente queimou em suas veias. Raiva, mas não o ódio que geralmente rugia através dele com a menção de Clifford. O ódio que se tornou um companheiro para Robbie tanto quanto a armadura que usava. Por tudo que era sagrado, ele deveria querer esmagar o punho através desse conjunto de dentes perfeitamente retos e enrolar as mãos em torno da garganta do bastardo até que uma respiração estrangulada saísse de seus pulmões. A traição de Clifford havia causado a morte de muitos dos companheiros de Robbie, incluindo Thomas, e havia estado apenas a poucas horas de acabar com o resto deles. Clifford havia sido o espinho em um flanco de Robbie, um símbolo de seu ódio pelos ingleses por muito tempo. Mas ele não sentia tal vontade. O que diabos estava errado com ele? Ainda assim, eles não trocaram apertos de mão, e a tensão no ar era palpável.

Boyd percebeu que estava sendo objeto de um grande escrutínio, mas os olhos verdes — os malditos olhos verdes — não revelavam nenhuma pista dos pensamentos de Clifford. Isso era uma coisa que ele não compartilhava com sua irmã, embora, neste caso, Robbie desejasse que sim. Os olhos expressivos de Rosalin revelavam seus pensamentos. Droga, ele tinha que parar de pensar nela. Mas parecia que isso era tudo que podia fazer. "... Preocupada com você”. Cristo! Por que diabos ela disse isso? Ele não queria que ela se preocupasse com ele, e ouvir essas palavras o forçaram a reconhecer algo que queria ignorar. Ele reagiu mal e se arrependeu de suas palavras duras. Mas ela o pegou desprevenido. O que diabos deveria fazer? Ela conhecia as circunstâncias, assim como ele. Havia poucas coisas menos intransponíveis do que a irmã de um Barão Inglês — um Suserano Inglês, nada menos — e um "rebelde" escocês lutando por Bruce. Inferno, escalar o pico mais alto dos poderosos Cuillins no inverno com as mãos amarradas atrás das costas seria mais fácil. A melhor coisa para os dois seria acabar com isso o mais rápido possível. Para esse fim, ele rompeu o impasse. — Clifford, — disse ele com um aceno. — Como você insistiu nesse encontro, suponho que tenha algo a dizer. A atitude gelada de Clifford rachou. — Maldição, é claro que tenho algo a dizer. Como se queimar pessoas fora de suas casas e roubar seus bens não fosse suficiente, você sequestrou meu filho e minha irmã? Que raio de bárbaro é você? Robbie sentiu uma familiar faísca de raiva. — O tipo que prende sua irmã, por isso, se eu fosse você seria mais cauteloso com minhas palavras. Preciso lembrá-lo das gaiolas onde a Condessa de Buchan e uma menina de quatorze anos de idade passaram anos de suas vidas graças ao seu rei? Se você quiser falar de bárbaros, talvez deva olhar mais perto de sua casa.

O rubor no rosto do cavaleiro disse-lhe que sua farpa havia sido bem direcionada. — Sua irmã e seu filho eram meus reféns e foram tratados com toda a consideração. Consideração demais, ao que parece, uma vez que isso permitiu que seu filho escapasse. Quanto às invasões, você deve culpar a si mesmo. Meu emissário foi ao seu encontro com meus termos e você os recusou. — Eu não chamaria duas mil libras de termos. Chamo de maldito roubo. — Chame do que diabos quiser, mas é o custo da paz e de obter sua irmã de volta. Duas mil libras é uma ninharia em comparação com a riqueza que os ingleses pilharam, saquearam e roubaram do meu país. A boca de Clifford se tornou uma linha dura. Robbie podia ver a raiva que ele estava se forçando a conter, a frustração e, finalmente, o reconhecimento que Robbie esperava ver a muito tempo. Ele não tinha escolha a não ser se submeter. — Você terá sua trégua. — disse Clifford, cada palavra raspando através de dentes cerrados. Embora o resultado fosse uma conclusão inevitável, ouvir as palavras era bom. Deveria ser, mas por alguma razão Robbie não sentia a satisfação ou a sensação de vitória que queria. Porque sob a ira de Clifford, sob sua frustração, sob seu reconhecimento, Robbie também viu algo mais: sua impotência. O desamparo proveniente do amor que sentia pela irmã e o medo que não conseguia esconder. Isso fez Robbie se sentir desconfortável. Inquieto. Insatisfeito. Ele também sabia o isso significava, e o pensamento — saber que tinha que devolvê-la — o fez sentir que temia estar perigosamente perto do que Clifford estava sentindo. O olhar dele não era mais frio, era de dor. — Rosalin está em segurança? Ela não está ferida?

Robbie deveria torturar o filho da puta e deixá-lo pensar o pior. Deus sabia, ele merecia. Mas ele encontrou-se dizendo a verdade. — Ela será devolvida a você exatamente como eu a encontrei — sem um arranhão. Dou-lhe minha palavra. — Roger disse isso, mas maldição, ela é uma senhora bem nascida, não está familiarizada com tais condições adversas. Robbie não gostava de pensar nisso tanto quanto Clifford. — Quando? — Assim que... Mas as palavras de Robbie foram cortadas quando outro homem — um cavaleiro, pela aparência — abriu caminho para frente. — Sua palavra? Que tipo de garantia é essa? — Ele olhou de nariz torto para Robbie com uma expressão que pingava tanta condescendência e desdém que poderia encher um balde. — Por que deveríamos acreditar na palavra de um homem que não é melhor que um bandido? Como poderemos saber que ele não colocou suas mãos vis sobre ela? Clifford parecia mais irritado com a interrupção do homem do que com Robbie. — Eu disse que vou lidar com isso. O cavaleiro persistiu. — Preciso ter garantias... — Sir Henry, — disse Clifford. — Cale a boca. Robbie olhou para o homem que Clifford havia identificado como Sir Henry com frieza. Embora as palavras e a atitude do cavaleiro o tivessem enfurecido, Robbie já tinha recebido muito disso antes para se permitir demonstrar. Mas havia algo sobre este homem que fez seus dentes cerrarem. Ele era quase da altura de Robbie e apenas um pouco mais magro, embora fosse, pelo menos, um punhado de anos mais jovem. Ele o lembrava de alguém. Mas, com seu cabelo escuro e olhos claros, poderia ser como a metade dos

membros da Guarda das Highlands — inclusive ele próprio. O pensamento deveria tê-lo divertido, mas por algum motivo só o fez franzir o cenho. — Já nos conhecemos? — Robbie falou arrastado com uma indiferença que sabia que ofenderia. E ofendeu. O cavaleiro ficou vermelho de raiva. — Se fosse assim, você não estaria aqui de pé, mas apodrecendo em uma sepultura em algum lugar. Robbie arqueou uma sobrancelha. — Palavras ousadas. Gostaria de prová-las? Sir Henry deu um passo em direção a ele. — Sim, a qualquer hora. Assim que você devolver a minha noiva. Levou um momento para as palavras fazerem efeito, e quando fizeram, nenhuma quantidade de treinamento poderia ter escondido o choque de Robbie. Ele provavelmente exibia o olhar de um homem que havia sido atingido pelas costas com uma seta. E poderia muito bem ter sido. Isso deu vantagem ao outro homem — uma vantagem momentânea. Ele zombou com conhecimento de causa. — Não estou surpreso por ela não ter contado a você. Provavelmente, pensou que você iria tentar exigir seus pagamentos de mim também. Vamos nos casar no final do mês, e quero garantias que você não a tocou. Robbie não conseguiria conter sua raiva por mais tempo. Isso estava estalando através dele perigosamente, pronta para explodir. Ela mentiu para ele, como também deitou com ele. Prometida? Maldição! Enquanto estava deitada em seus braços, deixando que ele colocasse as mãos nela — e colocava as mãos nele — ela ia se casar com outro homem. Preocupada com você. Deus, ele se sentia como um tolo. Ele ficou tentado a dizer a sir Henry exatamente o que tinha feito e exatamente onde suas mãos estiveram.

— E se minhas mãos estiveram sobre ela? — Robbie não resistiu à zombaria. — O que você vai fazer? Os olhos do outro homem brilharam de raiva. — Seu filho da puta, eu vou te matar. Ele teria se lançado sobre Robbie, mas Clifford sabiamente o segurou. — Estes homens estão aqui em trégua, de Spenser. Você não vai quebrála. — Qual é a diferença desta vez, Clifford? — Disse Robbie. — A idade proporcionou senso de honra a você? O leve rubor no rosto do outro homem era o único sinal de que a farpa sobre o que havia acontecido em Kildrummy tinha atingido o alvo. — Concordei com seus termos. Sua palavra de que Rosalin está ilesa será suficiente. Robert Bruce terá sua trégua e as duas mil libras. — E assim que eu receber, você terá a sua irmã. O rosto de Clifford ficou branco. — Mas isso pode levar semanas. Vou precisar de tempo para reunir esse valor. Você disse que assim que eu concordasse... — Isso foi antes de você insistir nesta pequena reunião, — disse Robbie. — Agora, acho que vou precisar de mais garantias para ter certeza que você vai manter os termos do nosso acordo. Clifford se lançou em direção a ele, mas recuperou o controle por um fio. — Eu sei porque você está fazendo isso, e se você machucá-la, juro por Deus que vou matá-lo. — Você já tentou fazer isso uma vez. O que o faz pensar que será mais bem sucedido desta vez? O rosto de Clifford ficou tão vermelho que Robbie achou que iria explodir. Mas o cavaleiro tinha mais controle do que Robbie provavelmente teria sob as mesmas circunstâncias e engoliu tudo o que queria dizer.

— Vá. Você terá a sua trégua e seu dinheiro assim que puder ser arranjado. Você me deu sua palavra que minha irmã não será machucada. Espero que você cumpra sua promessa. — Isso não é bom o suficiente, — Sir Henry de Spenser estalou. — Exijo garantias de que ele não tocou nela. Clifford voltou-se para o cavaleiro mais jovem. — Mais uma palavra e você não vai precisar de garantias para qualquer coisa. Seja o que for que de Spenser viu nos olhos de Clifford o fez ficar sério e refrear a língua. Clifford virou-se para Robbie. — Você me dá sua palavra? — Sim. Ele não iria forçar Rosalin. Isso ele podia prometer. Mas com o tumulto de emoções rugindo dentro dele nesse momento, era tudo que podia fazer. *** Rosalin sentou-se em uma rocha, saboreando o simples prazer do calor do sol em seu cabelo e rosto. Pássaros cantavam ao longe e os aromas refrescantes da horta flutuavam em seu nariz com a brisa suave. Um leve, leve toque de primavera estava no ar. Pela primeira vez desde que ela havia chegado ao norte, estava quente o suficiente para estar no exterior sem duas camadas de lã, e ela usava apenas seu um-pouco-menos-manchado vestido azul-claro sobre sua camisa. Ela inclinou-se para uma das plantas a seus pés — um pé de couve-defolhas muito saudável — e limpou algumas folhas cobertas com a terra meticulosamente cultivada em torno dele. Havia também rúcula, cebola, nabos, rabanetes, cenouras, e um punhado de ervas saudáveis que haviam conseguido suportar o frio do inverno.

A horta tinha sido uma surpresa. Ela tropeçou nela um dia depois que Robbie apareceu em seu caminho depois de devolver a pilha de roupa para Deirdre. Era um pequeno pedaço de terra, não mais do que cinco metros quadrados, escondido atrás da última tenda nos arredores do acampamento. Uma cerca de acácia surpreendentemente sofisticada havia sido erguida para evitar que as lebres, gatos selvagens, lobos, javalis, e outros animais que habitam a floresta a perturbassem. Bem cuidada, ordenada e pacífica, este lugar parecia um pequeno oásis no selvagem campo hostil ao seu redor. Ela adorava apenas sentar ali, cercando-se a... Ele. Ela soube imediatamente a quem pertencia o lugar. Robbie Boyd não havia esquecido tanto assim de seu passado como queria acreditar, e para Rosalin, este pequeno jardim além das trincheiras parecia uma prova de que ainda havia uma batalha a ser vencida dentro dele. Um fazendeiro? Quem teria pensado que o homem mais forte da Escócia e um dos guerreiros mais temidos e violentos da cristandade não era apenas um estudioso, mas também um aspirante a agricultor. Talvez ela não devesse ter se surpreendido. O trabalho físico, tipo colocar-a-mão-na-massa, combinava com ele. Embora ele fosse um laird com um baronato em Noddsdale e outras terras em Renfrew e Ayr, administrar propriedades e inquilinos não era a forma como ela o via. Se a guerra não tivesse vindo, ele teria feito seu dever como laird, é claro, mas ela o imaginava com menos trabalho administrativo, e sim percorrendo o campo a pé, com as mangas arregaçadas em torno desses antebraços curtidos e musculosos, dando uma mão aos seus inquilinos, com um arado ou um martelo. Talvez com um filho ou dois ao lado dele, ele subiria a colina até a casa fortificada da fazenda depois de um longo dia para cumprimentar sua esposa e o resto de seus filhos com um sorriso e um beijo duro. E se ela fosse essa esposa?

A imagem causou uma pontada de ansiedade. Para alguém que nunca havia tido uma casa própria e que havia marcado a passagem do tempo pelas poucas oportunidades que tivera de ver seu irmão, o simples prazer de uma vida assim parecia um conto de fadas. Era um conto de fadas. A guerra havia chegado, e não havia volta. Não havia “e se”. Havia apenas o futuro. No entanto, esta horta — e a bondade dele para com Mary naquele dia no Hall — deu esperança a ela de que alguns deles podiam se tornar realidade. Ela queria amá-lo. Ela temia que já o amasse. A questão era se ele poderia amá-la também. — Achei que poderia encontrá-la aqui. A voz a pegou desprevenida, e ela pulou. Depois do reconhecimento, ela se virou com uma risada ao ver Sir Alex em pé no portão. — Acho que você me pegou sonhando. Ele sorriu. — Eu só queria ter certeza de que você não vai perder a refeição do meio-dia por adormecer aqui novamente, — o sorriso dele murchou, sua boca torceu ligeiramente. — Com o humor que Boyd esteve ultimamente, acho que se você perder um quilo, ele provavelmente vai me acusar de abandono do dever e dizer que estou deixando-a morrer de fome. Rosalin se levantou da rocha e atravessou a horta até o portão agora aberto. Ela queria minimizar o que ele disse, mas havia uma amargura no tom de Sir Alex que não podia ignorar. Ela colocou a mão em seu braço e olhou em seus olhos. Ele era tão gentil com ela, e ela realmente gostava do belo jovem cavaleiro que se tornou rebelde. De muitas maneiras, teria sido muito mais fácil se ele tivesse sido aquele a chamar sua atenção. Eles eram muito parecidos. — A situação está assim tão ruim entre vocês? A pergunta pareceu pegá-lo de surpresa. Ele considerou por um minuto, e depois deu de ombros.

— Nem sempre. Em uma missão ou no calor da batalha, não parece importar tanto. Mas uma vez que a batalha se acaba, nossas diferenças não são tão fáceis de esconder. Ele não me respeita — como guerreiro, como compatriota, como amigo — e nunca respeitará. Ele tomou sua mão, colocando-a galantemente na curva do cotovelo como se estivessem na Corte, e começou a levá-la de volta para o Hall. — Não é assim que eu vejo essa situação, — disse ela com um olhar de soslaio. — Ele confia em você, mais do que ele próprio imagina. Observei vocês dois lutando juntos em Kildrummy, e mesmo assim eu vi. Agora é ainda mais evidente. Na verdade vocês parecem mais como irmãos. Não há uma maneira de você tentar colocar suas diferenças de lado? Sir Alex pareceu considerar seriamente suas palavras. Depois, balançou a cabeça. — É tarde demais para isso. Isso costumava me incomodar, mas agora percebo que não importa o que eu faça; isso nunca vai mudar. Ele está muito além. A única coisa com que ele se preocupa é fazer os ingleses pagarem pelo que fizeram com ele. Eu estou parado no caminho disso. — Porque você nasceu na Inglaterra? — É mais do que isso. É por causa do que represento. Eu o faço se lembrar de coisas que quer esquecer, — um sorriso torto curvou sua boca. — Sou uma consciência em um momento em que não é conveniente ter uma. — O que você quer dizer? — Não vou fechar os olhos para a invasão, a pilhagem, e a guerra de terror que está sendo travada ao longo da fronteira por ambos os lados. Acho que tudo se resume ao fato de que não temos o mesmo pensamento. Ele está disposto a fazer o que for preciso, e eu não. Boyd nunca vai respeitar alguém que não está disposto a dar tudo pela luta da independência. Ele acha que sou ingênuo e encara minhas maneiras “cavalheirescas” como uma relíquia do passado no melhor dos casos e no pior, como hipocrisia. Talvez seja assim para

alguns, mas não é para mim. Preciso ser capaz de me olhar no espelho quando tudo isso acabar. Costumava ser sobre o que era certo, mas Boyd perdeu isso de vista. Agora é apenas sobre como punir o inimigo e cobrar retribuição por tudo o que eles nos têm tirado. — Não acredito nisso. Sei que ele é determinado... — Determinado? — Sir Alex fez um som agudo de risada. — Essa é uma maneira de colocar. Essa é única coisa que importa para ele. A única coisa. Se ele estava enfatizando para o benefício dela, Rosalin não quis ouvi-lo. — Isso não é verdade. Acho que muitas coisas importam para ele. Você, as pessoas aqui, e aposto que os outros fantasmas. Eu, se ele admitir isso para si mesmo. O rosto de Sir Alex ficou completamente imóvel. Ele parou e tomou seu cotovelo. — O que você disse? Ela mordeu o lábio, olhando para ele, incerta. — Robbie faz parte dos Fantasmas de Bruce. Sua voz era muito baixa e deliberada. — Ele te disse isso? Ela balançou a cabeça e deu de ombros. Fazia sentido. Se ela estivesse selecionando homens para formar um grupo de guerreiros extraordinários, certamente incluiria o homem com fama de ser o mais forte. — Não foi muito difícil descobrir depois da noite na floresta quando ele emergiu da escuridão com que aquele elmo horrível e o rosto enegrecido para me salvar do soldado de Douglas. Suspeito que você seja um também, — ela olhou para ele esperando confirmação, mas o semblante de pedra não revelou nada. — Será Douglas “O Negro” também? Sir Alex olhou para ela atentamente. — Você comentou com alguém sobre suas suspeitas? — Claro que não!

— Então me prometa que não vai expressá-las novamente para qualquer um, até mesmo Boyd. Especialmente Boyd. Seus dedos apertaram e seu rosto escureceu de tal maneira que ela quase não o reconheceu. Ela assentiu com a cabeça, um pouco amedrontada. — Por quê? — Porque é perigoso. Os olhos de Rosalin se arregalaram. Eles continuaram andando. Ela estava mais perturbada com os comentários de Sir Alex do que queria demonstrar. Não sobre os Fantasmas, mas sobre a determinação de Robbie em vencer a qualquer custo. Sir Alex estava certo, era difícil conciliar o Executor do Diabo com o nobre guerreiro que ela se lembrava. Mas talvez eles não estivessem tão distantes afinal. Embora ela amasse seu irmão e entendesse que ele estava cumprindo seu dever, ela veio a simpatizar com a causa de Robbie, mas não com seus métodos. Na busca de vencer a qualquer custo, ele havia perdido de vista o motivo de sua luta. Mas, recentemente, ela pensou que poderia ajudá-lo a se lembrar. Ele poderia não ser o cavaleiro de armadura brilhante montando em um cavalo branco que ela havia criado em sua mente, mas também se recusava a acreditar que ele era a casca preta e vazia cheia de vingança que Sir Alex sugeriu. Assim que estavam prestes a entrar no Salão ela se virou para ele. — Você está errado, Sir Alex. Acho que ele ainda está muito afetado pelo certo e errado. Acho que é por isso que ele luta tão duro. Ele pode agir sem piedade e asperamente quando é necessário, mas não vai fazer nada verdadeiramente desonroso. Alex segurou seu olhar de forma constante. Sua defesa apaixonada talvez tivesse revelado mais do que queria. — Não crie falsas esperanças para si mesma, minha senhora. — O que você quer dizer?

— Conheço Robbie Boyd há muito tempo, e ele não vai deixar nada ficar no caminho de ganhar esta guerra. Nada. Quando chegar a hora, ele vai mandar você de volta. Ele precisa da cooperação de Clifford, e esta é a única maneira de consegui-la. Você acha que seu irmão iria concordar com uma trégua e com o pagamento de duas mil libras se Boyd não tivesse você como garantia? Ele não concordaria, embora ela não quisesse pensar nisso. Seu irmão era tão teimoso e obstinado quanto Robbie. Se não fosse por ela, ele nunca concordaria. Se ela tivesse a secreta esperança de que, quando chegasse o momento, Robbie não seria capaz de enviá-la de volta, que iria parar de vê-la como uma arma a usar contra Cliff, que ele gostaria de apenas abraçá-la fortemente como ela queria abraça-lo, sabia que estaria enganando a si mesma. Ele a mandaria de volta, e depois? Será que esqueceria tudo sobre ela? Lutaria por ela? Ou pior, não faria nada? Rosalin não teve muito tempo para refletir sobre a questão, pois assim que se sentaram para comer, a porta se abriu e Robbie e os homens que tinham ido ao encontro de seu irmão invadiram o Salão. Ela teve que agarrar a borda da mesa de cavalete para evitar saltar por cima de seu assento. Mas o momento de alívio que sentiu ao vê-lo retornar são e salvo morreu quando seus olhos se encontraram. O olhar dele ardia com uma raiva diabólica que transformou em gelo o sangue correndo em suas veias. Inconscientemente, ela inclinou-se para Sir Alex que estava sentado ao lado dela. De algum modo, o movimento só serviu para fazer os olhos de Robbie queimarem ainda mais. Ele cruzou a distância em poucos passos. — Você voltou. — disse ela baixinho. Seu coração se apertou enquanto seus olhos fulminaram os dela. Algo estava errado. Muito errado. — Venha comigo. — ele ordenou.

Ela nunca havia visto linhas brancas ao redor de sua boca. Seu pulso acelerou descontroladamente. — Não terminei minha refeição. — Que história é essa, Boyd? — Disse Sir Alex, levantando-se de forma protetora ao seu lado. Foi a coisa errada a fazer. Robbie parecia que poderia acertar seu amigo com o punho em vez de apenas com o olhar. Em vez disso, ele se aproximou da mesa e arrancou Rosalin de seu assento. Ela estava tão assustada que tudo que podia fazer era ficar de boca aberta enquanto a levava para fora do Salão repentinamente silencioso.

Dezoito Ela o transformou mesmo no bárbaro que alguns o acusavam de ser, mas Robbie não dava a mínima. Ele tinha controlado sua fúria durante a longa jornada de volta à floresta, mas no momento em que ele a viu lá sentada com Seton – tão linda que fez seu coração apertar – ele perdeu seu autocontrole. Sua mandíbula cerrou e o sangue ferveu em suas veias enquanto saiu pisando duro do vestíbulo, passando pela floresta para sua tenda. Ele evitou olhar para baixo, para ela. Sua delicada fragrância era tortura o suficiente. Assim como o jeito em que ela envolveu as mãos ao redor do seu pescoço e pareceu se acomodar contra seu tórax, aconchegando a bochecha em seu ombro. Ela não disse nada. Só foi com ele calmamente. Maldição, ela não via o quão furioso ele estava? Ela não podia perceber que sua paciência estava por um tênue fio? Ela não deveria estar tremendo de medo e implorando para saber o que estava errado? Obviamente ela confiava nele demais. A tola garota achava que ele não iria machucá-la. Maldita por me conhecer tão bem. Aninhando-a contra seu corpo, ele se agachou entre as abas da tenda e permaneceu na entrada, esperando seus olhos se ajustarem da luz solar. – Você vai me baixar e me dizer o que aconteceu? – Ela perguntou gentilmente. Ele olhou para baixo, pela primeira vez, vendo aquela linda face o encarando. A dor em seu peito quase cortou sua respiração. Ela parecia tão inocente – tão ingênua – mas ela o enganou desde o início. Maxilar apertado, ele a abaixou e a colocou firmemente longe dele.

— O que aconteceu? Que tal o fato de que você mentiu para mim? A testa dela franziu em confusão. — Nunca menti para você. Isso tem algo a ver com meu irmão? Ele recusou sua trégua? — Não, Clifford concordou com tudo. A expressão dela se tornou triste. O que estava errado com ela? Por que inferno ela parecia desapontada? Ela se afastou dele. — Então porque você está com raiva? Você conseguiu tudo que desejava. Você pode me enviar de volta e continuar com sua guerra. Isso é exatamente o que ele deveria fazer, maldição. Porém, pela primeira vez em muito tempo, ele estava pensando em algo além da guerra. Quando fez sua demanda à Clifford para mantê-la até que recebesse o dinheiro, estava pensando em uma coisa e somente em uma única coisa. – Seu irmão concordou prontamente o suficiente, menos o seu noivo, – ele disse ao dar um passo em sua direção – Seu noivo precisou de algumas garantias. Ele teve a satisfação de ver cada gota de sangue deixar seu rosto. Culpa congelou os traços não mais tão inocentes. — L-lord Henry estava lá? Ele não soube se foi o desejo de pôr um fim ao estremecimento ou se foi raiva que o fez agarrá-la pelo cotovelo e a puxar abruptamente contra si. — Sim, ele estava, – disse em uma voz quase ameaçadora – E ele não pareceu nem um pouco feliz ao saber que sua noiva talvez tenha passado algum tempo na minha cama. Ela arregalou os olhos, mas não disse nada. Nenhum protesto. Nenhum Como você pôde ter dito uma coisa dessas a ele. Nada. – Por que você mentiu para mim, Rosalin? Por que não me disse que vai se casar?

Algo transpareceu em sua voz. Algo que ia além da raiva. Um tipo de emoção que ele não queria reconhecer. O que quer que fosse, ela ouviu. Seus olhos abrandaram e sua voz suavizou. O tipo de voz calmante que a mãe dele usava quando ele tomava um tombo quando garoto. — Não menti para você. Nem tive a intenção de esconder isso de você, — um rosa corado tingiu suas bochechas. — Eu simplesmente não pensei nisso… ou em lorde Henry. Robbie não era nenhum estúpido. Ele podia não ser um especialista em tais assuntos, mas apostaria que lorde Henry poderia competir com MacGregor... E não com o arco. — Lorde Henry pode ser um babaca estourado, mas não é o tipo de homem que uma moça provavelmente esquece. Ela inclinou a cabeça, o estudando. — Ele é muito bonito sim, mas, na verdade, ele é um pálido substituto para outro. O despertar de fúria à menção de “bonito” morreu quando a verdade o atingiu. Cristo. Não admira que o cavaleiro o incomodasse tanto. Ele o lembrava de alguém, tudo bem… Ele próprio. Uma versão mais jovem, mais bonita de si mesmo, isto é. Ela deu um passo em sua direção. — Você não percebeu? Ele não disse nada, simplesmente apenas a observou como um cervo observa o arco do caçador. Ela estava se aproximando, empunhando uma arma bem mais perigosa que um arco e flecha: desejo. Ele a desejava com cada fibra de seu ser e sua proximidade, sua suavidade, estava estimulando cada instinto primitivo de seu corpo. – Estou envergonhada em admitir isso, – ela disse, colocando a palma da mão em seu peito e inclinando a cabeça para trás para olhar para ele. Queimava

esse lugar sob sua mão, seu tórax, tudo. – Mas eu não pensei nele de jeito nenhum. Ela estava passando por suas defesas, marcando-o sob sua pele. De alguma forma, ele precisava encontrar a força para afastá-la. — Caramba, Rosalin, ele é o homem com quem você vai se casar! Um pequeno sulco apareceu entre suas sobrancelhas delicadamente arqueadas, e então ela balançou a cabeça. — Eu já não posso me casar com lorde Henry. Amargura o invadiu. — Eu não disse nada a ele, Rosalin. Seu cavaleiro não terá motivo algum para desfazer o noivado. Eu te dei prazer, mas não tomei sua virgindade. Ela pareceu não perceber sua linguagem, intencionalmente crua. — Não é porque acho que ele vai desfazer o noivado. Não vou casar com lorde Henry porque estou apaixonada por outra pessoa. Robbie viu tudo vermelho. — Quem? – Ele demandou, puxando-a pelo braço para levá-la de encontro a ele mais uma vez. — Maldição, quem? Mas ele não precisava perguntar. Tudo o que precisou fazer foi buscar seus olhos e a resposta estava bem na sua frente. Eu. Ela quer dizer eu. Anseio surgiu dentro dele com uma ferocidade que não teria acreditado ser capaz. Ele queria acreditar nela, queria possuir o que ela oferecia; tomá-la em seus braços e fazer amor com ela, sussurrando promessas que não poderia cumprir. Mas era impossível, droga! Por que ela não podia enxergar isso? Por que tinha que tornar isso tão mais difícil? Ela estava errada sobre o que sentia, cometendo o erro de uma jovem em confundir luxúria com emoção.

Ele a apoiou contra a espessa viga com uma batida que balançou a tenda, a imobilizando com seu corpo. Ele prendeu suas pernas entre as dele, deixando-a sentir a prova de suas palavras. — Isso não é amor, Rosalin. É luxúria. — Ele circulou seus quadris, pressionando seu corpo contra ela grosseiramente, mas de forma muito eficaz. Um estremecimento de desejo desceu para o pesado e latejante cume. Ela ofegou, mas não pelo choque, mas com algo a mais que fez com que cada centímetro de sua pele quente e pulsante queimasse ainda mais. Deus, ela queria isso. Queria ele. Envolvendo os braços em volta do seu pescoço, ela se moveu contra ele erguendo a boca para ele ao mesmo tempo em que ele se curvava para tomar seus lábios em um beijo voraz. Ele gemeu ao contato. Sentiu seu corpo bramir com prazer quando abriu a boca para ele. Penetrou sua língua sem nenhuma pretensão, nenhum cuidado, acariciando-a com força em sua boca e pressionando seu corpo ao dela enquanto a deixava sentir a força de seu desejo martelando entre eles. E ela estava retribuindo o seu beijo. Beijando-o de um jeito que fez sua cabeça zumbir e seu sangue pulsar. Retribuindo de uma forma que o fez desejar ir mais devagar, perdurar, sobre cada doce carícia. Usar seu tempo e mostrar a ela... Amor, ele ouviu sua voz zombando dele. Porra, não! Ele afastou os lábios com um grunhido. Erguendo uma das pernas dela para envolver em torno de seu quadril, ele se pôs em posição. — Consegue sentir o que quero fazer com você, Rosalin? – Ele se moveu novamente, girando seus quadris bruscamente e tentando não pensar no quão bom era. Como a pesada ponta de seu pau estava encaixada em sua fenda. Como a pressão estava se acumulando na base de sua espinha. Como somente algumas camadas de tecido o impediam de torná-la dele. Não é minha, maldição.

Ele encarou seus olhos. — Eu quero tanto te foder que não consigo pensar direito, mas isso é o tudo que quero. O que existe entre nós é apenas desejo, não confunda com outra coisa. Rosalin sabia o que ele estava fazendo, mas isso não diminuía a dor. As palavras grosseiras dele, em face à sua declaração de amor, machucavam; machucavam muito. Ela quase acreditou nele. – É mesmo? – Ela fitou seus olhos e viu o calor, não só da luxúria, mas de algo a mais. Uma emoção que estava se avultando e que ele não reconheceria, mas que ela sabia que estava lá. Ela podia sentir em cada toque de seu corpo, em cada movimento de sua língua, em cada contato e carícia dolorosamente ternos. Ele se importava com ela. – Então me mostre, – ela apertou a perna em volta de sua cintura e os aproximou, retornando o movimento íntimo – Me mostre que isso é tudo o que você deseja. Que isso é somente sobre… Do que você chamou, fo...? Ele a interrompeu com um forte aperto, sua voz baixa e perigosa. — Não diga. Ela arqueou uma sobrancelha. — Por quê? Você está tentando me convencer ou a si mesmo? Muito lentamente ela pronunciou a palavra proibida. O rosto dele se fechou assustadoramente conforme ele se pressionou com mais força nela. A presença, o peso dele, fez seu estômago dar um saltinho engraçado e seu pulso acelerar. Ela se lembrou de como foi senti-lo em sua mão e queria senti-lo… Dentro dela. Não só para provar algo. Ela desejava a conexão. A proximidade. A intimidade de unir seu corpo ao dele. – Maldita seja, você não sabe o que está dizendo.

– Eu sei exatamente do que estou falando. Se tudo o que você quer é o meu corpo, então o possua. Estou me oferecendo a você. Sem condições incluídas. Vá embora quando estiver tudo acabado. Seus olhos se estreitaram como se isso fosse algum tipo de truque, mas ela podia ver as flamas do desejo estalando selvagemente. — Você não sabe do que merda está falando. Seu irmão me mataria. — Eu sei exatamente o que estou dizendo. Eu sinto essa… luxúria também. Meu irmão não tem nada a ver com isso. Além disso, desde quando o Executor do Diabo começou a se preocupar com a ira de um inglês? Tensão estalou entre eles como um incêndio. Ela podia sentir os ferozes batimentos de seu coração e o tenso flexionar de mal contido músculo, enquanto suas mãos deslizavam sobre as duras elevações de seu tórax e braços. Ela nunca se cansaria de tocá-lo. De sentir a dura, inflexível força crepitando sob suas palmas. Pois mesmo embaixo do couro e linho, o calor irradiava. – Me mostre, Robbie, – ele estava se mantendo imóvel, Rosalin sabia têlo levado ao limite – Ou talvez não seja tão fácil ir embora, afinal? Sabe o que eu acho? Acho que você se importa comigo. Seu toque gentil não mente. Rosalin deveria saber que Robbie Boyd não era um homem de recuar diante de um desafio. Ele lutaria até o amargo final. Com suas mãos. E, doce céu, que mãos! – Gentil? – ele riu sem alegria – O que eu sinto por você está bem longe de gentil. É rude, primitivo e imoral. Muito, muito imoral. Rosalin engasgou quando ele alcançou a barra da sua saia e a levantou. Um momento depois, sua mão estava entre suas pernas, cobrindo-a possessivamente. Calor a inundou quando um dedo deslizou para dentro. Ela gritou a inesperada onda de prazer, enquanto calor e umidade se acumularam ao seu toque. Então ele fez algo que a chocou. Algo muito imoral, realmente. Ele a girou, levantando suas mãos sobre sua cabeça até a viga de madeira. Subindo

suas saias, ele se acomodou entre suas pernas por trás e deslizou sua mão direita ao redor, para enterrar seus dedos entre suas pernas novamente. Um pensamento passou por sua cabeça. Seria possível… Um forte rubor encheu suas bochechas. Os quadris dele estavam se movendo contra os dela de um jeito que não deixava dúvidas sobre o que seria possível. A pressão, a fricção, era incrível. Ela se apertou contra sua mão, contra a grossa saliência deslizando contra seu corpo e à feroz sensação crescendo dentro dela. Ele se curvou, sua voz tensa e rouca, e respirando perto de sua orelha, enquanto continuava com seus toques hábeis. — E se eu entrasse em você assim, por trás, minha Fada Rosalin? Você gostaria disso? Se a irregularidade de sua respiração e a pulsação frenética entre suas pernas eram qualquer indicação, ela temia que sim. Bastante. Ele gemou quando seu prazer foi passado a ele de uma forma bastante quente e sedosa. — Isso é gentil? — Ele disse. Ela sentiu outro dedo brusco deslizar dentro dela, esticando-a. Então outro. — Que tal isso? Liberando seu poder sobre suas mãos, fixadas acima dela, a mão esquerda dele começou a explorar seu corpo. A sensação de uma das suas mãos grandes segurando seu seio, apertando, beliscando seu mamilo entre os dedos, ao mesmo tempo em que os outros mergulhavam dentro e fora de seu corpo era demais. Ela gemeu, se arqueando contra ele, pressionando seus quadris de encontro aos seus impulsos simulados. —

Sim.



Ela

suspirou

entre

respirações

ofegantes.

Surpreendentemente era. Não importava o quão duro e áspero ele tentava ser, havia uma ternura inerente em seu toque que ele não podia esconder.

Ele praguejou iradamente, como se ele também soubesse a verdade. Seus movimentos ficaram mais lentos, seus toques se tornando mais suaves e prolongados, como se ele, também, tivesse sucumbido ao prazer do contato íntimo. — Deus, é tão bom te tocar, – ele gemeu, massageando um pouco da sua umidade com pequenos e suaves movimentos circulares do seu polegar. — Tão quente e molhada para mim. Mas eu vou te deixar ainda mais quente e molhada. Qualquer constrangimento que ela pudesse ter sentido se perdeu na cacofonia de outras emoções turbilhando dentro dela. Sua respiração – seus gemidos choramingados – aceleraram a um ritmo frenético com a penetração de seus dedos. Ela sentiu seu corpo se arquear em expectativa quando a paixão tomou conta. Enquanto seu desejo e amor por esse homem se entrelaçaram no perfeito vórtice de sensação. Sua mão levou-a cada vez mais alto. Uma febre se espalhou sobre sua pele. — Oh Deus, Robbie. — ela implorou, impotente. Ele a manteve lá. Exatamente naquele lugar perfeito, até que ela não aguentou mais e gozou. — Isso mesmo, mo ghrá. Deixe-me sentir seu prazer. Os espasmos a balançaram, pulsando através de seu corpo em ondas agudas, uma após a outra. A mão dele ainda a segurava quando os últimos estremecimentos deixaram seu corpo. Ela olhou por cima do ombro e ergueu seu olhar turvo olhar até o dele. Os olhos azuis dele eram quentes e penetrantes, seu rosto uma máscara rígida. — O que significa mo ghrá? Ele a estava segurando tão de perto, que ela jurou que pôde sentir seu coração parar. Por um momento, achou que ele realmente parecia doente, mas em seguida, seus traços foram, mais uma vez, contidos em severa impassibilidade.

— Significa “minha linda”. Para sua surpresa, ele a soltou. Para sua surpresa ainda maior, ela não caiu no chão em exausto abandono. — E sobre… Você não vai…? – Suas bochechas ruborizaram. O rosto dele estava tão tenso, que ele quase parecia estar com dor. — O que você deseja é impossível, Rosalin e eu não tirarei sua virgindade para provar. Você queria prazer, eu dei a você. Não transforme isso em algo a mais. Rosalin o encarou, aturdida e mais magoada do que teria achado possível. Por um momento sentiu uma centelha de dúvida. Tudo isso era realmente só luxúria para ele? Ela estava imaginando coisas que não existiam? Ou ele estava sendo somente obstinado e intencionalmente cruel para afastá-la? Talvez ela devesse deixá-lo. Deus sabia que seria mais fácil. Ela não se iludia; um futuro para eles parecia improvável, mesmo que ambos quisessem. Mas ela não o deixaria ir sem lutar. Não desta vez. – Eu entendo, – ela disse suavemente — Obrigada por esclarecer para mim. Agora eu saberei a diferença. As mãos dele apertaram. — Que diferença? — Para comparar. Quando eu voltar para casa. O pulso abaixo de sua bochecha baixou. Ele estava furioso, mas determinado a não demonstrar. Ela sorriu, como se não tivesse notado. — Quando partirei? — Assim que seu irmão entregar a prata. Uma semana, talvez duas. Ela fingiu preocupação, um pequeno franzido entre suas sobrancelhas. — E se eu sentir esse desejo novamente antes de ir, o que acontece? – O que diabos você quer dizer com o que acontece?

Rosalin sabia que ela realmente, não deveria ter tal prazer em irritá-lo, mas, novamente, ele a tinha a magoado. — Eu devo procurar por você ou alguém diferente? Ele enrijeceu. Seu olhar sombrio repousou sobre ela por uma longa e raivosa pausa, antes de oscilar para a cama. Rosalin suspeitava que estivesse a um passo de ser jogada naquela cama e ser completamente arrebatada. Uma apropriada e bem-nascida dama não deveria, realmente, estar sentindo uma excitação tão perversa com a perspectiva. Mas quando o olhar dele pousou sobre o dela novamente, estava cheio de compreensão. — Não vai funcionar, Rosalin. Você não vai me incitar a mudar de ideia. Ele se virou e se abaixou, saindo da tenda antes que ela pudesse replicar. Vamos ver, Rosalin pensou presunçosamente. Ela pretendia incitá-lo bastante a isso. Parecia que ela também podia ser bastante implacável ao lutar pela causa certa. Robbie se afastou enquanto ainda podia. Antes que fizesse algo precipitado como jogá-la naquela cama e lhe dar exatamente o que pediu. A moça confiava em sua honra mais do que devia. Ele não era um de seus malditos cavalheiros. Alguém diferente. Maldição! As palavras provocadoras ainda lançavam fogo primitivo através de seu sangue. Ele empurrou um galho da sua frente, o estalando, enquanto caminhava através da floresta para o que estava se tornando, rapidamente, seu novo refúgio favorito: o congelante riacho que corria por trás do acampamento. Ele precisava se acalmar. Uma parte dele em particular. Ele estava furioso não com ela, mas consigo mesmo. Em seu esforço para provar que ela não significava nada, que tudo o que ele sentia era desejo, ele só conseguiu comprovar seu ponto de vista.

Ele não conseguiu, porra. Ele não conseguiu nem fingir. Tentou ser bruto e áspero, mas no momento em que a tocou algo aconteceu com ele. Um sentimento poderoso que drogou seus sentidos e o arrastou em uma espécie de nevoeiro sensual, onde tudo o que podia pensar era em lhe proporcionar prazer. As reações dela não tinham ajudado em nada. Porra, ela era uma dama inglesa inocente e respeitável. Ela deveria ter ficado chocada com a sua performance por trás. Chocada de um jeito horrorizado, não chocada como se despertada por curiosidade total, menos virginal. Ela não deveria se dissolver contra ele, se arqueando em sua mão, pressionando seu doce traseirinho contra seu pau extremamente maltratado e fazendo suaves, ofegantes gemidos de prazer que o incitaram a continuar. Ela não deveria ser tão, incrivelmente, desejosa. Ele tinha estado a um passo de gozar junto com ela, desmoralizando a si mesmo, naquelas nádegas bem-feitas. Jovem, inocente, e inglesa aparentemente não significavam mansa e fácil de manipular. Nem pareciam impedir a satisfação dos prazeres mais baixos. Alguém deveria tê-lo advertido. A situação toda o tinha deixado na posição incomum de se sentir distintamente superado. Como se ele tivesse aparecido para a batalha com uma lança para descobrir que estava enfrentando uma arma de cerco. Ele esperava que ela tivesse aceitado sua palavra, não que o pressionasse. Ele, com certeza, não esperava um contra-ataque perfeitamente executado e que teria feito Striker orgulhoso. A moça tinha desenvolvido uma inquietante habilidade para identificar e tirar proveito de suas fraquezas. E todas pareciam ser relacionadas a ela. Não deveria ela ser a inexperiente? Ainda assim, ele parecia ser o único deixado se debatendo no escuro, mal equipado para navegar pelos meandros da mente de uma dama. Verdade seja dita, ele nunca tinha chegado tão longe antes. Ele teve muitas relações com mulheres, mas nunca um relacionamento.

Ele parou de repente, como se tivesse batido em uma parede. Era isso que eles tinham? Como diabos isso tinha acontecido? Ele não sabia, mas tinha. Ela insinuou-se em sua tenda, seus pensamentos, sua vida, e de alguma forma, ao longo do caminho, ela tinha começado a importar. Não, ele percebeu. Ela sempre foi importante. Ele havia sido condenado desde o momento em que ela abriu a porta da prisão. Não que isso mudaria qualquer coisa. Já que ele estava apenas a alguns passos do riacho, rapidamente se despojou de sua armadura e roupas e mergulhou. Ele tentou não gritar como uma garota de cinco anos quando a água fria o rodeou, enviando agulhas congelantes por sua pele. Robbie podia ser da costa oeste da Escócia, mas não parecia possuir a habilidade inumana que seus irmãos das Ilhas tinham de se acostumar à água gelada. MacSorley, MacRuairi, e MacLeod conseguiam nadar nessa merda por horas. Robbie fazia o necessário e, então, saía o mais rápido possível. Tendo efetivamente controlado a luxúria não saciada de seu corpo, ele se lavou rapidamente e subiu nas margens rochosas. Com o rugido em seus ouvidos silenciado, ele podia finalmente ouvir a outra voz, a muito mais calma, sussurrando em seu ouvido. Aquela que lhe dizia que ele tinha agido mal. Que ela não merecia ter sido tratada como uma prostituta. Nem tinha merecido as duras palavras proferidas na tentativa de afastá-la. Ela disse que o amava, pelo amor de Cristo. Ele podia não ter querido ouvi-lo, mas deveria ter demonstrado alguma consideração por seus sentimentos. Moças eram criaturas frágeis e emotivas. Não bastardos frios e insensíveis como ele. Ele lhe devia um pedido de desculpas.

Ele tinha acabado de afivelar o cinturão de sua espada, que usava sobre seu ombro, quando ouviu um som. Ficou tenso, imediatamente preparado para a batalha. Mas então, reconhecendo os passos, removeu a mão do punho da espada. – Você deveria assobiar, – disse Robbie com aborrecimento quando seu parceiro apareceu. — Eu poderia ter cortado sua maldita cabeça fora. Seton deu de ombros. — Você sabia que era eu. Além disso, queria ter certeza de que você estava sozinho, — ele lhe deu um olhar penetrante. — Sobre o que diabos foi aquele escândalo no salão? Fraser disse que Clifford concordou com a trégua. — Ele concordou. — Então por que você estava tão irritado com lady Rosalin? – Robbie não disse nada. — Isso tem a ver com Lorde Henry de Spenser, por acaso? Robbie lhe lançou um olhar de advertência. — Esqueça isso, Dragão. Mas o jovem cavaleiro nunca tinha se importado com a prudência. Isso era parte do problema. — Não desta vez. Não vou deixar você machucar aquela pobre garota. O que você está fazendo com ela não está certo. Ela é jovem e acredita estar apaixonada por você e você a está confundindo com seu… O que diabos você quiser chamá-lo. Quando você a mandar embora, vai quebrar seu coração. Então, deixe-a em paz. Robbie queria ficar com raiva. Queria mandar Seton cair fora, mas não podia. Seu parceiro não estava dizendo nada que ele já não soubesse. Seu peito estava apertando com tanta força que seus pulmões estavam queimando. Ele mal conseguiu falar. — E caso eu me importe com ela?

Seton sustentou seu olhar, e pela primeira vez parecia que suas posições estavam invertidas. Não foi sem simpatia que seu parceiro lhe deu a fria, inabalável verdade. — Se você se importa com ela, vai deixá-la em paz. A menos que você esteja preparado para jogar fora sua chance de uma trégua e as duas mil libras do rei? A boca de Robbie cerrou em resposta. Nunca. — Mesmo se estivesse, você está preparado para o que aconteceria depois? Se você acha que Clifford quer sua cabeça agora, como você acha que será se você tentar tomar sua amada irmã? Ele nunca deixará você tê-la. Cristo, Raider, você deveria saber melhor do que eu que o que você quer é impossível. Ele sabia, e foi por isso que nunca se permitiu considerar a possibilidade. Mesmo que ele pudesse deixar de lado o fato de que ela era inglesa e irmã de Clifford, coisa que ele não tinha certeza ser possível, uma conexão com ele seria muito perigosa. Qualquer pessoa próxima a ele era um alvo. Inferno, olhe o que havia acontecido com sua irmã. Ele não colocaria Rosalin nesse tipo de perigo. – Se isso puder significar algo, eu sinto muito. — disse Seton. Surpreendentemente, significava. Robbie anuiu em reconhecimento. – Você tem certeza que é sábio mantê-la aqui até Clifford organizar o pagamento? Sábio? Não, mas ele não podia soltá-la. Ainda não. — Eu não confio em Clifford. O que irá impedi-lo de voltar atrás em nosso acordo assim que nós a devolvermos? – Robbie interrompeu seu parceiro antes que ele pudesse falar – E não diga “honra”, nós dois sabemos até onde isso chega com Clifford. Seton não argumentou. Ele tinha discutido o suficiente nos anos anteriores, e isso era o resultado dos problemas entre eles.

Eles começaram a voltar e tinham acabado de chegar à tenda mais distante, quando viram Malcolm correndo em sua direção. O olhar de Robbie foi imediatamente para sua tenda, mas parecia imperturbável. — O que foi, rapaz? — Ele perguntou. — Douglas disse para virem rapidamente. Há algo de errado com um dos cavalos. Mesmo não entendendo a urgência, Robbie e Seton foram apressados para a velha cabana, do lado oposto do acampamento, que servia de celeiro para seus poucos cavalos e gado. Assim que eles entraram no antigo edifício de pedra e relva, Douglas se virou para Robbie. Ele estava ajoelhado no chão perto do cavalo de Fraser, que parecia estar com dor. — Vocês alimentaram os cavalos com aveia quando estiveram em Melrose? Robbie franziu a testa. — Claro que não. – disse ele. Eles mal tinham grãos o suficiente para alimentar seu povo, muito menos os cavalos. Suas montarias eram mantidas à base de ervas secas, em sua maior parte. — Bem, alguém alimentou. – disse Douglas, apontando para uma pilha de esterco. Robbie se aproximou e viu que ele estava certo. Misturado ao estrume normal, ele podia ver o revelador brilho do grão castanho claro, do tamanho e forma de uma larva. Não eram muitos, somente alguns, mas o suficiente para... Ah inferno. O suficiente para rastrear. Alguns cavalos, geralmente os velhos como o de Fraser, tinham problemas para digerir grãos inteiros de aveia. Neste caso, eles tiveram sorte ou poderiam não ter descoberto o estratagema. Ele praguejou e encontrou o olhar de Douglas. — Prepare os homens.

— Onde você está indo? — Douglas gritou atrás dele. Robbie não perdeu tempo em responder. Um minuto mais tarde, quando estava de pé em sua tenda vazia, o seu coração, que estava em algum lugar perto de sua garganta, caiu agudamente. Rosalin havia desaparecido.

Dezenove Rosalin mal sufocou o grito que subiu por sua garganta quando o cavaleiro armado apareceu na frente dela. Não muito depois de Robbie partir, ela foi para o jardim para pensar. Tinha que haver alguma maneira de fazer isso funcionar, supondo que ela pudesse fazer com que Robbie admitisse haver um "isso". Também supondo que ele pudesse aceitá-la, por ser inglesa. E por ser a irmã de seu maior inimigo. E por ser inglesa. Ela sabia que ela já tinha dito isso, mas provavelmente se convencesse se mencionasse isso duas vezes. E depois havia seu irmão e o rei. Edward gostava dela, mas ele não iria aprovar um casamento entre uma galante moça e Robbie Boyd, muito menos com a irmã de um de seus principais barões. Não havia esperança para isso. Robbie só poderia se casar com ela à força. Pelo menos, assim teria que ser sua história. Mas ela poderia convencer Cliff? Sim, não seria fácil, mas sabia que ele a amava mais do que odiava Boyd. Ela só teria que ter certeza de que Robbie não lhe desse outro motivo. A invasão e guerra pessoal entre eles teria que parar. Ela não iria fazer amigos de inimigos, mas certamente eles poderiam chegar a algum tipo de acordo com ela servindo como garantia? Foi em meio a esse planejamento - ou provavelmente mais realisticamente, a essa fantasia - que o soldado apareceu. Ele deslizou silenciosamente por trás da folhagem para estar diante dela, e sua armadura refletiu na luz do sol que desvanecia atrás dele. Felizmente, ele levantou o elmo, e seu rosto (e um momento depois o xadrez vermelho e branco que ele levava em sua túnica) identificou-o, impedindo-a de alertar o resto do

acampamento sobre a presença do cavaleiro guardião mais graduado da casa de Sir Henry de Spenser. — Sir Stephen! — Ela ofegou. — O que você está fazendo aqui? Era uma pergunta tola. Ela podia adivinhar exatamente o que ele estava fazendo ali, mas o choque ainda não tinha passado, e foi tudo que ela conseguiu articular, dadas as circunstâncias. — Nós viemos para salvá-la, milady. — Nós? — Ela olhou em volta. — Sir Henry e o resto do exército não estão muito longe daqui. Fui enviado na frente para explorar, mas quando eu vi você... — Sua voz diminuiu como se não pudesse acreditar na sua sorte. — Eu não posso acreditar que os rebeldes tenham-na deixado assim sozinha! Sua boca ficou seca. Querido Deus, ela não podia deixar isso acontecer! Homens morreriam. Homens como Sir Stephen. Sir Stephen de Vrain era um dos amigos mais próximos de Sir Henry, e o favorito dela dentre todos os seus homens. Ele era alguns anos mais velho do que ela, mais próximo de idade de Sir Henry — e embora não fosse de uma beleza clássica, tinha um semblante agradável com cabelo castanho claro, ricos olhos castanhos e um sorriso fácil. Foi o sorriso dele que a encantou. Robbie o mataria se descobrisse que ele estava ali. Ela não poderia deixar que isso acontecesse. — Você precisa ir embora. Se eles o descobrirem aqui, eles o matarão. Ele olhou em volta de maneira desconfortável. — É, você tem razão. Vamos embora. — Mas eu... — A voz dela falhou. Ela não queria ir. — Eu ainda não posso ir embora, — Ele olhou para ela como se ela fosse mais ou menos louca, tanto quanto ela se estava se sentindo. — Dei a minha palavra que não fugiria quando eles me permitiram andar livremente pelo acampamento. Ele sorriu então.

— Isto foi louvável de sua parte, milady. Mas não há desonra quando se quebra a palavra diante de um rebelde. Rosalin se encolheu. A declaração foi tão em sintonia com o que Robbie havia dito a ela, ela tinha vergonha de seus compatriotas. O som de vozes altas colocou um fim rápido naquela conversa. — Venha, milady, — disse ele, pegando-a pelo braço. — Precisamos nos afastar. Ela tentou puxar o braço para trás. — Espere! Eu não quero ir. Mas Sir Stephen não estava ouvindo seus protestos. O som de passos se aproximando estimulou-o em sua ação. Ele a puxou contra ele e começou a arrastá-la por entre as árvores. Rosalin tentou fincar-se em seus calcanhares e empurrá-lo para longe, mas foi inútil. Ele não era tão alto e musculoso como Robbie, aliás, poucos homens o eram, mas ele era forte. Ela lutou o máximo que conseguiu sem gritar, sabendo que se o fizesse seria uma sentença de morte para o cavaleiro. Assim que eles estivessem fora do perigo imediato, ela tinha certeza de que poderia convencê-lo a deixá-la ir. O que ela não contava era com os cavalos esperando há alguns metros de distância. *** Ela estava indo embora, deixando-o. Robbie não estava pensando em perder sua refém ou nos meios para trazer Clifford aos seus pés, ou no fato de o Inglês ter conseguido vencê-lo e descoberto sua localização, ou que Deus-saiba-quantos-muitos homens provavelmente estivessem tentando cercá-los agora. Tudo o que ele podia pensar era que a mulher que disse que o amava há menos de duas horas, estava deixando-o para trás. Indo embora, exatamente como ela zombou dele, como se o que tivesse acontecido entre eles não significasse nada.

Era o que ele queria. Ele só não esperava sentir como se uma garra de ferro estivesse rasgando um buraco em seu peito. Como se suas entranhas estivessem sendo arrancadas e torcidas sob tortura. Como se o último lampejo de luz tivesse acabado de sair dentro dele. Sua mandíbula endureceu com a pontada afiada de amargura. De uma traição que ele não tinha o direito de sentir. Mas pelo sangue de Deus, se ela achava que podia escapar tão facilmente dele, ela iria aprender de forma diferente. Seus homens já tinham sido alertados e estavam se preparando para a batalha. Ele pediu um cavalo, e um minuto depois mergulhou por entre as árvores e arbustos atrás dele. O outro cavaleiro teve um bom começo, mas Robbie tinha consigo uma vantagem muito maior: ele conhecia o terreno. Em sua pressa de fugir, o inglês tinha feito a curva errada, que terminou em um barranco e ele teve que recuar, permitindo que Robbie o alcançasse. Ele parou ao lado deles a todo galope. Uma nova onda de raiva surgiu dentro dele ao ver o quão duro Rosalin lutava para se manter em seu lugar, atrás do cavaleiro. Se ela caísse nessa velocidade... Maldição! O olhar que ele conhecia estava cheio de terror, mas também algo mais. Um apelo desesperado que ecoou nas palavras que ela lhe gritou entre o barulho dos cascos dos cavalos. — Não... m-machuque... Por favor! Era muito tarde para sua misericórdia, se é que alguma vez ele teve isso. Ele levantou sua espada. O cavaleiro estava se concentrando em tentar fugir, mas deve ter percebido o brilho da lâmina com o canto do olho. Ele virou. Sob o elmo, seus

olhos se arregalaram com medo. O cavaleiro pegou sua própria espada, quase derrubando Rosalin do cavalo, mas já era tarde demais. Robbie começou a trazer sua mão para baixo, e teria cortado o bastardo em dois se Rosalin não tivesse feito algo, que levou dez anos de sua vida embora. No mínimo. Sua lâmina mal tinha começado sua descida quando ela gritou: — Não! — E lançou-se na direção dele. Ele teve uma fração de segundo para tomar uma decisão: matar o cavaleiro ou deixá-la cair e ser pisoteada sob os cascos do cavalo. Ela caiu contra ele, envolvendo seus braços ao redor dos ombros dele e escondendo o rosto em seu peito revestido de couro. Do jeito que estava tremendo em volta dele, soube que ela devia estar chorando. Se de terror ou alívio, ele não sabia. Provavelmente por ambos. Inferno, ele não a culpava. Sua mão foi para as costas dela. Ele esfregou e murmurou palavras suaves durante o tempo em que guiava seu cavalo para um local tranquilo, e enquanto o soldado partia a galope. Ele foi forçado a deixá-lo ir. Por enquanto. Esmagando-a contra ele, ele a cheirou, sentindo-a e tentando assegurar ao seu coração que ainda trovejava, de que ela estava bem. Não demorou muito, no entanto, antes que a lembrança dela partindo se fizesse presente. O martelar em seu peito veio em uma parada abrupta. Ele desgrudou-a de seu peito, puxando-a para trás para olhar para ela. Inchados, seus olhos manchados de lágrimas olharam para ele, e ele sentiu seus pulmões se apertarem. Sim, seus pulmões, caramba. Mas, então, ele afastou aquela sensação, endurecendo sua expressão, bem como o que diabos tivesse sido aquele aperto. — Você estava tão ansiosa para ficar longe de mim que se mataria para fazer isso? Os olhos dela se arregalaram um pouco com aquele tom.

— Eu não estava tentando fugir. Eu só não queria que você o machucasse. Ele intensificou a forma de segurá-la, a raiva dele tornava-se negra. Quem ela estava protegendo? — Por Deus, aquele era de Spenser? Ela balançou a cabeça. — Não, um de seus cavaleiros. Sir Stephen sempre foi gentil comigo. — Chega, — ele a cortou, movendo o cavalo ao redor para recuperar sua espada. — Você me deu sua palavra, embora eu não devesse ficar surpreso por um Clifford não poder mantê-la, bem sei. Não tenho tempo para pensar nisso. Tenho certeza de que Sir Stephen não veio sozinho. Ela mordeu o lábio e assentiu. — Ele me disse que os outros não ficaram muito para trás. Isso colocou um fim rápido à conversa. Ele cavalgou de volta para o acampamento em uma velocidade pouca coisa mais lenta que quando havia partido. O acampamento estava em um organizado estado de agitação. Douglas, Seton, e Fraser já tinham se encarregado de tudo, reunindo toda sorte de suprimentos e pertences que puderam e organizando os homens e as poucas mulheres. Robbie imediatamente começou a trabalhar ao lado deles, o dever e a experiência temporariamente acalmaram a tempestade de emoções divergentes que duelavam dentro dele. Raiva. Dor. Traição. Ele se concentrou na raiva. Era mais fácil de entender. Fraser se encarregou da segurança das mulheres, enquanto Douglas e Robbie lideravam o ataque contra os ingleses. Seton tomava conta de Rosalin. Robbie deu suas instruções em gaélico para prevenir quaisquer protestos de Rosalin, que o observava ansiosamente com seus grandes e acusadores olhos, que o fizeram se sentir como se ele fosse o único culpado. Surpreendentemente

seu parceiro não discutiu, mas apenas deu um aceno de cabeça desagradável em resposta. Ele deixou Rosalin sob a vigilância de Seton, enquanto retornava a sua tenda para reunir o que pudesse. As tendas não poderiam ser salvas, pois não havia tempo suficiente para isso, mas ele empacotou seus livros e assim como muitas peças de roupa que tirou de seu baú e colocou em uma bolsa de couro. Eles ficariam escondidos ali por perto e recuperados mais tarde. Seton já tinha recolhido tudo que pudesse ligá-lo à Guarda dos Highlands, incluindo sua armadura. Não mais do que cinco minutos depois que chegaram, Robbie estava pronto para partir. Ele já não podia evitar aqueles olhos feridos. — Seton vai vê-la a uma distância segura. A cor desapareceu do rosto de Rosalin. — Você esta me deixando? — Irônico, não? Ela franziu a testa. Levou um momento para compreender. — Eu lhe disse que não estava tentando deixar... — Não se preocupe. — Sua boca se curvou em um arremedo de sorriso. — Não imaginei que isso fosse tão longe. Ela olhou para ele, e a apreensão transformou seu rosto que estava assustado. Ele se forçou a ficar imune. Ela já tinha feito ele de bobo por tempo demais. — O que você vai fazer? — Dar-lhes a batalha que eles vieram procurar. Medo saltou dos olhos dela. — Não! Você não deve... — Leve-a. — ele disse a Seton, os apelos pelos compatriotas dela caíram em ouvidos surdos. Ou talvez não tão surdos. Eles haviam travado uma batalha

entre eles novamente. Como ele poderia ter se esquecido de que lado ela tinha ficado? Ele não olhou para trás enquanto cavalgavam, afastando-se dali. Toda a sua atenção estava, mais uma vez, focada onde deveria estar: na guerra e em matar qualquer inglês que entrasse em seu caminho. Rosalin ficou em silencio a maior parte da viagem. A velocidade em que estavam viajando não deixou muito espaço para perguntas. Além de Sir Alex, Callum, Malcolm, e um dos seus antigos carcereiros, Archie (o sisudo irmão número dois de Douglas), formavam o grupo de homens que havia sido encarregado da tarefa de levar sua refém em segurança. O máximo que ela podia dizer a partir do momento do sol poente, seria que eles cavalgaram para o leste pelas primeiras milhas, atravessaram uma profunda trilha em uma encosta com árvores grossas e arbustos que pareciam intransponíveis, até que um caminho estreito foi revelado e, em seguida, rumaram ao norte por horas na escuridão. Pela primeira vez ela deu as boas vindas à velocidade que arrepiava seus cabelos, ao terreno que embrulhava seu estômago, e à exaustão da jornada que batia fundo em seus ossos, porque durante toda a noite eles mantiveram afastado de dentro de sua mente, o semblante sombrio que ela tinha deixado para trás. A maneira como ele olhou para ela, a mudança em sua expressão, a mudança nele tinha sido dramática. Frio, implacável, impenetrável. Era um vislumbre do líder implacável, um predador sem coração, o homem que tinha posto flagelo através das fronteiras. O homem que ela se convenceu não existir mais. Seus apelos, suas tentativas de alcançá-lo, escorreram dele como água em aço. O contato e as emoções mais profundas, que ela tanto tentou guardar, tinham sido incapazes de penetrar no escudo que ele construiu ao seu redor.

Ele tinha ficado furioso. Ele se recusou a acreditar que ela não tivesse deixado o acampamento por vontade própria. Da maneira com que foi vista, talvez pudesse entender. Ela tentou explicar, mas ficou evidente que ele não estava com nenhum humor para ouvi-la. O que incomodava era a rapidez com que ele a culpou e como ele foi incapaz de pensar na honra dela. Ele não deveria ter confiado nela, ao menos um pouco? Pelo menos o suficiente para não desprezar imediatamente sua explicação? O aviso de Sir Alex que ele nunca iria confiar em um inglês, ou em uma mulher, voltou a sua mente. Ela esperava que Robbie a considerasse diferente. Ela só disse a ele que o amava, como ele podia pensar que ela iria deixá-lo tão facilmente? Era óbvio que ele também não acreditava nisso. Que outra prova a mais ela poderia lhe dar? O emaranhado de mágoa e decepção foi agravado pelo medo. Ela estava aterrorizada com o que estava acontecendo, da batalha que estava sendo travada pelos homens que havia deixado para trás na floresta Ettrick. Não importava como ele parecia, Robbie não era invencível. Magoada como estava, diante da frieza dele antes dela partir, o simples pensamento dele ser ferido, que Deus o livrasse, ou morto, a fez sentir como se uma garra de gelo estivesse enrolada em seu peito e que, de vez em quando, a espremia. Mas, por mais que temesse por ele, a maior parte de seu medo estava nos homens que lutariam contra ele. Embora pretendesse romper o noivado com Sir Henry quando voltasse, não queria vê-lo ou qualquer um de seus homens mortos. E o rosto de Robbie enquanto ela partia, não tinha deixado nenhuma dúvida de suas intenções. Seu estômago revirou com medo e ansiedade durante aquela longa noite. E isso estava relevado em seu rosto, não muito tempo depois de ter amanhecido Sir Alex montou ao lado dela.

— Tente não pensar sobre isso, senhora. Vamos descobrir o que aconteceu em breve. Ela assentiu com a cabeça, um caroço crescia em sua garganta enquanto as emoções que tinha mantido sufocadas dentro dela durante toda a noite, ameaçavam entrar em erupção com a demonstração de compaixão que ele mostrava. — Não tenho certeza se quero saber. Aconteça o que acontecer, eu temo o resultado. Seu olhar encontrou o dela com compreensão. — É frequentemente como me sinto. Não é fácil ter amigos em ambos os lados e estar constantemente duelando entre os dois. Com minhas terras tão próximas da fronteira, é uma posição que eu mesmo já enfrentei muitas vezes. — Como você lida com isso? — Eu não lido. Não muito bem, pelo menos. — Não posso suportar a ideia de alguém ser ferido. O que você acha que aconteceu? Ele lhe deu um olhar triste, como se soubesse o que ela queria ouvir, mas não mentiria para ela. — Se Boyd os alcançar, os homens de seu irmão serão mortos. Ela empalideceu, sentindo-se mal, sabendo que ele estava certo. E se Robbie os matasse, seria muito mais difícil para ela convencer Cliff a concordar com um casamento entre eles. Mas Sir Alex estava errado sobre uma coisa. — Aqueles não eram homens do meu irmão, eram de Sir Henry. — Eu pensei que você só tivesse visto um. Como pode ter tanta certeza de que Clifford não tem parte nisso? Ela não sabia, mas estava certa disso. — Cliff não faria algo tão arriscado. Tão imprudente. Algo que me colocasse em perigo assim.

Sir Alex estudou-a por um longo tempo. — Espero que você esteja certa, senhora. Se Boyd acreditar que seu irmão quebrou a trégua... — Ele deixou sua voz fraquejar. Um calafrio sinistro tomou conta dela fazendo sua pele formigar. Ela não queria perguntar. — O quê? A boca de Sir Alex formou uma linha dura. Por um momento, ele parecia tão sombrio e ameaçador como Robbie antes de sair. Nesse instante, ela não viu o cavaleiro dourado, mas a dura frieza que tinha feito de Sir Alex parte do grupo de rebeldes. — Eu não sei. Mas ele vai usar qualquer arma que tenha à sua disposição para se certificar de que isso não aconteça novamente. Eu. Ele se refere a mim. Rosalin balançou sua cabeça. — Ele não vai me machucar. — Não, não fisicamente, mas receio... — ele parou. — Tenha cuidado, milady. Isso é tudo que estou dizendo. Se você se colocar no meio desta batalha, pode não sair vencedora. Ele falou como um homem que sabia o que estava dizendo. Rosalin ficou surpresa que ele tivesse adivinhado o rumo de seus pensamentos com tanta facilidade, seriam suas esperanças para o futuro tão transparentes? Se o olhar solidário que Sir Alex estava dando a ela fosse qualquer indicação sobre isso, eles deveriam ser. Envergonhada, mas nem um pouco desanimada, estava contente quando um dos homens no cavalo à frente virou-se e disse alguma coisa para Sir Alex em gaélico, apontando na direção de uma pequena aldeia que acabava de aparecer na distância. À luz suave da manhã, com os redemoinhos de névoa se dissipando suavemente como a fumaça de um cachimbo, a aldeia na borda da montanha

gramínea abaixo deles parecia quase encantada, como alguma coisa mística em um conto do bardo. As pedras e cabanas de colmo pareciam calmas e tranquilas, ocupando os dois lados de um amplo e sinuoso rio. O telhado de ardósia de uma igreja de tamanho razoável, equipada com torres no centro da cidade, destacava-se por sua altura sobre as outras construções. Ela examinou os prédios novamente. Para uma aldeia daquele tamanho, deveria haver um castelo. Ela sentiu o primeiro sussurro de premonição, quando seu olhar se deteve em uma grande área vazia não muito longe da igreja, nas margens do rio. Só que não estava vazia, ela percebeu. À distância, ela podia distinguir grandes montes de pedra espalhadas a esmo sobre o local. — O que é isso? — Ela perguntou. Sir Alex virou-se para ela, sua expressão estranhamente vazia. — Estamos quase lá. — Onde? Ele pausou. — Douglas. Seus olhos se arregalaram de terror enquanto seu estômago dava um mergulho afiado. Ele poderia muito bem ter dito inferno. Para um Clifford, a aldeia de Douglas era o mesmo que estar no inferno. Seu irmão tinha tentado, durante anos, manter esta terra e seu castelo, granjeando muitos inimigos ao longo do caminho. “Castelo Perigoso”, assim tinha sido chamado pelas guarnições enviadas por Cliff para manter a fortaleza Douglas, e por boas razões. Três vezes Douglas “O Negro” atacou e queimou seu próprio castelo, incluindo o episódio infame conhecido como "Despensa de Douglas" que ela sabia que Robbie esteve envolvido. A última tinha ocorrido cerca de um ano atrás, e o castelo

tinha sido destruído pelo próprio Douglas. Como Robbie poderia mandá-la para cá, no próprio coração e domínio do maior inimigo de sua família? — Você não tem nada a temer, milady, — Sir Alex disse, tentando aliviar seu crescente pânico. — Você estará segura aqui. — Segura? Cercada por pessoas que provavelmente gostariam nada mais do que a afundar um punhal nas minhas costas? — Ela deu uma áspera, quase histérica risada. — Eu não tentei escapar, mas parece que Robbie tem certeza disso. Estou a ponto de ser jogada na prisão poço afinal? — Você vai ser tratada com toda a consideração. Sei que parece difícil de acreditar, mas confie em mim, você não tem nada a temer. Joanna Douglas não é como seu marido. Um pouco mais tarde, quando Rosalin foi recebida em Park Castle como uma parenta há muito desaparecida (repleto de suspiros de horror pelo que ela tinha percebido e tapinhas em suas mãos) por uma mulher que era tão bonita e doce, como seu marido era sombrio e assustador, Rosalin foi forçada a admitir que Sir Alex estava certo: Joanna Douglas não era nada parecida com o marido. Na verdade, ela parecia mais com um querubim do que com a consorte do diabo. Talvez ele a tivesse raptado? Porém, quando ela, acidentalmente, deixou escapar suas suspeitas, Joanna riu e deu um tapinha em sua inchada e arredondada barriga de grávida, assegurando-lhe que, apesar do namoro ter sido complicado, não, isso não tinha sido necessário. James não era realmente tão terrível, ela insistiu. Quando Rosalin o conhecesse melhor, ela perceberia isso. Rosalin não conseguia pensar no que dizer que não fosse rude, então não respondeu. Como um pintinho bebê, Rosalin deslizou sob a asa cuidadosa de sua anfitriã, que providenciou um banho, roupas limpas, uma refeição quente, e um quarto de dormir acolhedor para descansar. Na verdade, se não fosse por ter sido instalada em um quarto na parte mais alta da torre e pelo guarda

estacionado na parte inferior da escada, Rosalin poderia ser uma convidada querida. Apesar de sua exaustão, no entanto, ela descobriu que não podia descansar. Ela tinha que ver Robbie. Deixou uma mensagem com lady Joanna, que era importante para ela vê-lo o mais rapidamente possível, Rosalin observou sua chegada pela janela de seu quarto na torre.

Vinte Passava do meio-dia quando Robbie e seus homens entraram no pátio de Park Castle. Depois de horas de cavalgada com estômago vazio e as costas doloridas para lembrá-lo, ele estava de mau humor. O calor da batalha foi reprimido dentro dele, ávido por uma tomada. Os bastardos ingleses tinham virado as costas e fugido. Com o elemento surpresa desaparecido, eles aparentemente decidiram não dar chance para um ataque. Como lebres assustadas, correram de volta para a tropa de Peebles, com Robbie e os seus homens duramente em seus calcanhares. Qualquer pensamento de que Clifford não pudesse ter tomado parte dela foi erradicada quando o portão se abriu. Mesmo à distância, ele reconheceu a listra vermelha e o xadrez azul-e-amarelo de um dos soldados no pátio. Furioso por ter sido negada a batalha que ele lhe prometeu, Robbie tinha considerado uma emboscada para quando o Inglês emergisse. Mas ele não tinha homens ou suprimentos. Uma vez que reunisse tudo isso, iria exigir sua retribuição com Clifford pela quebra da trégua que ele tinha acabado de acordar. Robbie tinha antecipado um truque, e tinha conseguido um. Clifford o tinha trazido até Melrose e adulterado a alimentação de seus cavalos para segui-lo de volta ao acampamento e tentar resgatar Rosalin. Robbie teve que admitir que havia sido um plano astuto, mas também foi imprudente. Se falhasse, como falhou, Clifford estaria colocando sua irmã em risco. A menos que...

A mandíbula de Robbie apertou. A menos que Clifford pensasse que não havia nenhum risco. A menos que ele estivesse certo de que Robbie não iria machucá-la. Algumas de suas raivas agitaram-se dentro dele. Era isso? Clifford tinha visto demais? Ou tinha sido o rapaz a contar a seu pai? De qualquer maneira, Robbie tinha conhecimento de que seus sentimentos por Rosalin enfraqueciam sua posição. Como se negar sua refém e possivelmente dar a Clifford uma vantagem não fosse tão ruim assim, Robbie ainda teve que ouvir as ideias de Douglas sobre o assunto pelo restante do percurso. — Clifford não vai conseguir acabar com isso. Eu sabia que nada de bom viria em ter essa moça no acampamento. Você deveria ter me deixado mandá-la para Douglas imediatamente como eu queria. Robbie tentou controlar seu temperamento. Douglas poderia ser tão ruim quanto Seton, embora eles argumentassem de lados opostos. — E como isso teria mudado alguma coisa? Eles ainda teriam encontrado o nosso acampamento quando voltamos de Melrose. Seu amigo lhe deu um olhar duro. — Sim, mas não teriam encontrado a moça. Sangue de Deus, Boyd, eles quase a pegaram, e nós teríamos deixado escapulir um meio de fazer Clifford ficar de joelhos a nossa frente. Perder o rapaz já foi ruim o suficiente, mas dar a liberdade para a mocinha se mover livremente pelo acampamento? O que diabos ela fez com você para levá-lo a concordar com isso? Chupou seu... Robbie estendeu a mão e agarrou-o pelo pescoço, quase levantando o cavaleiro, poderosamente constituído, de seu cavalo com uma mão apenas. A neblina vermelha de pura raiva rodou diante de seus olhos. — Diga isso de novo e vou quebrar seus malditos dentes. — Os cavalos tinham feito uma parada. Douglas poderia ter tentado se libertar, mas parecia ter também a intenção de encarar Robbie.

— Você pode me fazer quantas críticas quiser, algumas das quais até são merecidas, mas não menospreze a moça. Apesar de seus parentes infelizes, ela é uma inocente nisso tudo, e uma dama. Ao perceber que os outros homens pararam, embasbacados com eles, Robbie soltou seu amigo. — Então, assim são as coisas, — disse Douglas, sua voz atordoada. — Que inferno, quase sinto pena de você. Robbie lançou-lhe um olhar feroz. — Você não sabe merda nenhuma. — Sei que você mudou. Algumas semanas atrás, você teria aproveitado a oportunidade para retaliar contra Clifford, não tentar encontrar razões para não fazê-lo. Os dedos de Robbie apertaram as rédeas com tanta força, que os nós dos seus dedos ficaram brancos. — Que diabos você está insinuando, Douglas? Você está questionando o meu compromisso com a causa? — Não, estou questionando seu compromisso com a moça. — Eu a quero. Mas posso controlar meu maldito pau. — Você tem certeza disso? Acho que isso é mais do que sexo. Ele não estava certo sobre isso, mas ao inferno se iria falar sobre isso com Douglas. — Ela é inglesa. Acho que não preciso explicar isso para você. Inferno, o que aconteceria se Joanna fosse inglesa? Douglas demorou um longo tempo para responder, e quando o fez, não era a resposta que Robbie esperava. — Não teria feito porra de diferença nenhuma. Em razão da fonte que admitia isso, era surpreendente, para dizer o mínimo. Era semelhante à heresia, e Robbie não sabia o que diabos fazer. Ao

perceber que a conversa tinha ido longe o suficiente, incitou sua montaria para frente com um movimento das rédeas e uma pressão de seus calcanhares. Mas Douglas não iria deixá-lo ir. — Apesar de seus sentimentos em relação a essa moça, ela pode não ser confiável. Você não pode deixar isso passar sem retaliação. Robbie não precisava lembrar sobre os votos quebrados por Rosalin. Ela tinha ido embora de boa vontade... Não tinha? Ele franziu a testa. — Eu não pretendo. A moça e Clifford serão retaliados. Mas como faço isso, cabe a mim. O rei me encarregou. Douglas lançou-lhe um olhar duro. — Sim, você não precisa me lembrar. Apenas tenha certeza que seus sentimentos por essa moça não interfiram. Não preciso lhe dizer o quanto está em jogo. Robbie manteve sua boca fechada. Não, ele não deixaria. Robbie estava bem ciente de que o rei precisava não só da trégua com Clifford, mas também da moeda que lhe permitiria expulsar os ingleses dos castelos da Escócia e fortificar seu controle no trono. Desnecessário mencionar que a visão de Park Castle foi um alívio de boas-vindas das últimas longas e frustrantes quase vinte e quatro horas de ira contida. Após desmontar e seguir Douglas pelo pátio para a velha casa da torre, Robbie estava ansioso por uma refeição quente, um substancial gole de cerveja, um banho, e um lugar — de preferência silencioso e escuro — onde pudesse conseguir pelo menos algumas horas de sono antes de andar novamente. Joanna Douglas havia organizado os três primeiros com uma pequena ordem, mas o quarto teria que esperar. Assim como o pedido de Rosalin. Joanna assegurou que Rosalin havia sido bem cuidada, então, ele se dirigiu ao Salão para saber de Seton e dos outros, sobre os últimos acontecimentos, assim como fazer planos para um ataque de retaliação.

Mas depois de horas escutando o vai e vem de Seton pedindo cautela e de Douglas exigindo a destruição generalizada que faria o "Harrying de Buchan" 2 de Bruce, de alguns anos atrás uma vergonha, o humor de Robbie estava ainda pior do que quando ele chegou. Amaldiçoou Clifford ao inferno! Era uma maldição que desejava ao bastardo por anos, mas desta vez havia um fervor maior pelo que ele havia feito para sua irmã. Instintivamente, Robbie sabia o quanto isso magoaria Rosalin quando ele fizesse o que tinha que fazer. Talvez tenha sido com isso em mente que ele se recusou a atender ao pedido dela. A última coisa que queria ouvir era uma defesa apaixonada de lorde Robert Clifford, não com seu atual estado de espírito. *** Rosalin viu Robbie cavalgando com os outros, mas seu suspiro de alívio se misturou ao receio do que isso poderia significar para Sir Henry e seus homens. Ela esperou e esperou, aguardando ansiosamente do outro da sala, como o raio de sol que recuava lentamente, centímetro a centímetro pelo piso até desaparecer pela janela. Pela criada que havia trazido a bandeja de comida, ela soube que os homens estavam reunidos no Salão. Lady Joanna não a deixou confinada em seu quarto, mas Rosalin sabia que não seria bem-vinda lá embaixo. Depois de horas de expectativa, finalmente, ela ouviu a profunda voz familiar e os pesados passos com que Robbie subia as escadas da torre. A voz feminina, ela reconheceu como sendo a de sua anfitriã. Ela esperou, torcendo as mãos, pela abertura da porta. Em vez disso, as vozes se afastaram, e poucos minutos depois uma porta se fechou abaixo dela. Ela pôde perceber passos suaves descendo as escadas. Lady Joanna deve mostrado o quarto dele, não o dela. 2

O Harrying de Buchan, também conhecido como Herschip (Dificuldades) ou Violação de Buchan, ocorreu em 1308 durante as guerras da independência escocesa. Várias vastas áreas de Buchan no nordeste da Escócia, então governados por Clan Comyn, foram queimadas até o chão por Robert the Bruce e seu irmão Edward, imediatamente após seu sucesso de maio 1308 na Batalha de Barra.

Rosalin prendeu a respiração, seu peito ardia. Aparentemente, ele não iria mesmo fazer a gentileza de atender seu pedido e ir vê-la. Sabia que ele devia estar exausto, ela também estava, mas ela não merecia alguns minutos de seu tempo? Antes que pudesse pensar melhor sobre o que ia fazer, ela correu para fora de seu quarto e desceu um lance de escadas. Parou diante da porta, bateu — no caso de estar errada sobre o que ouviu — então escutou a voz familiar responder, — Eu disse que não precisa... Ele parou quando ela abriu a porta. Ela pensou tê-lo ouvido praguejar, mas estava muito distraída para notar. Ele estava, obviamente, no processo de se despir, porque estava nu da cintura para cima, com os pés descalços, e suas mãos estavam sobre os laços da sua calça de couro. Ela engoliu em seco. Duro. Um rubor quente invadiu seu corpo. Forçou seus olhos a desviarem da vasta extensão dura de aço, e deu a sua língua uma oportunidade para desatar. Felizmente, o choque parecia ser mútuo. — Você não deveria estar aqui. — disse ele, recuperando-se em primeiro lugar. Ela soltou uma risada aguda, percebendo o que ele queria dizer. — Acho que é um pouco tarde para começar a se preocupar com as convenções já que compartilhei sua tenda por duas semanas. Eu precisava ver você. Suas mãos começaram a trabalhar, reatando os laços que ele tinha afrouxado momentos antes. A calça pendia em seus quadris, e ela não podia deixar de seguir a trilha de pelos escuros que desapareciam sob o couro da cintura. Seu estômago estava tão plano e duro como o resto dele, com gomos tensos de músculo por todo ele. — Joanna me informou sobre seu pedido. Sua voz tirou-a de seu estupor temporário. Seus olhos se encontraram com os de seu acusador.

— E você não pôde me conceder um momento de seu tempo? — Sua boca se apertou, e agora ela podia ver as linhas duras em seu rosto que não tinha percebido antes. Ele parecia cansado e agitado, nervoso de uma maneira que ela nunca tinha visto antes. — Não, decidi exercer um mínimo de discrição pelo menos uma vez. Não sou uma boa companhia para uma dama agora, Rosalin, e em vez de dizer algo atravessado, achei melhor esperar até que o meu humor volte ao normal. Ela sentiu um arrepio de medo pela ênfase na palavra dama, compreendendo para que tipo de mulher ele pudesse estar apto. Apesar de toda a preleção dele sobre ser proibido e inacessível, ela deu um passo na direção dele. — Eu estava preocupada com você. Sua preocupação mal foi registrada. — Como pode ver, não havia motivo. Os homens do seu irmão se recusaram a entrar em campo contra nós. — Graças a Deus, — ela não se preocupou em esconder o alívio. — Mas não eram os homens de Cliff, eram os do meu noi... — ela parou, vendo quão sombria era sua expressão. — Foi Sir Henry. Sua boca se apertou, e seus olhos queimaram os dela. — Não quero falar sobre isso com você, Rosalin, mas basta dizer que seu irmão estava envolvido, a menos que haja outro barão com uma faixa vermelha e braços com xadrez azul-e-amarelo? Eu mesmo vi um de seus homens quando perseguimos seu noivo de volta para Peebles. Os olhos de Rosalin se arregalaram um pouco diante de suas afirmações, mas ela ignorou a pontada de incerteza. Ela balançou a cabeça. — Cliff poderia estar lá, mas ele não tem nada a ver com isso. Ele não me colocaria em qualquer tipo de perigo. — Mas seu noivo faria?

Ela sentiu o calor subindo ao seu rosto. Parecia desleal para com Sir Henry, mas ela tinha que fazê-lo entender. — Sir Henry é um grande cavaleiro, mas é jovem, orgulhoso, e acho que às vezes, é excessivamente ousado, — o que soava melhor do que imprudente. — Acredito que tenha agido movido pela preocupação por mim e não refletiu sobre as consequências, — ele pareceu considerar suas palavras, e ela pressionou. — Não faltei com minha palavra com você, Robbie. Eu não estava tentando fugir. — Então por que você estava indo embora com ele? — Eu não estava indo embora. Ele estava me arrastando. Você não pôde perceber a diferença? Sua carranca lhe dizia que ele estava relembrando. — Se você estava sendo forçada, por que não gritou por socorro? — Porque não queria vê-lo morto por você. Esperava ser capaz de convencê-lo a me libertar, logo que estivéssemos a uma curta distância dali. Eu não contava com o cavalo. O homem era meu amigo. Você não pode entender o dilema que enfrentei? Você teria parado para lhe fazer perguntas antes de levantar sua espada contra ele? Seu silêncio era resposta suficiente. Não era certo que ela fosse forçada a se defender desta forma, e um pouco de sua raiva começou a sair. — Eu havia acabado de confessar os meus sentimentos por você. Isso pode não ter significado nada para você, mas significou para mim. — Você é jovem, Rosalin. Isso tudo vai parecer muito diferente assim que você voltar para a Inglaterra. Ela não podia acreditar que ele estava tentando convencê-la sobre seus próprios sentimentos. — Eu sou velha o bastante para conhecer meus próprios sentimentos, e se você precisa de provas posso dar seis anos disso. Eu nunca esqueci você, e

nós nos encontramos por apenas alguns minutos. Por que você acha que vou esquecer agora? Eu amo você, Robert Boyd, e por mim nós nunca nos afastaríamos. Por um momento ela pensou que suas palavras tinham penetrado nele e que ele pudesse alcançá-la. Mas ele deixou suas mãos caírem, e fixou a abrindo-as e fechando-as. — Você pode conseguir o que quer, — ele rosnou. — Pelo menos, por enquanto. — O que você quer dizer? — Quero dizer que seu irmão quebrou a trégua, e não pretendo deixar isso passar em branco. Sua calma e a abordagem racional caíram no esquecimento. Ela correu em direção a ele e colocou a mão em seu braço. — Não! Você não pode fazer isso! Você não ouviu o que eu disse? Cliff não fez isso, e se você retaliar com um ataque ou algum outro tipo de vingança contra ele, não haverá chance. Ele olhou para ela, as bonitas linhas de seu rosto mostraram-se tensas. Ele a agarrou pelos ombros, como se fosse para afastá-la. — Sem chance para quê? As lágrimas nublaram seus olhos; sua garganta queimou. Ela mal conseguiu pronunciar as palavras. — Para nós. Seus rostos estavam muito próximos, o olhar dele para baixo, o dela, inclinado para trás. Ele estava barbeado, mas a sombra de uma barba incipiente escurecia sua mandíbula. Seu peito parecia irradiar calor e um fraco aroma de sabão de pinho. Seu desejo por ele a alcançou, agarrando-a pelo pescoço, apertando-a. Ela não era a única afetada. Robbie parecia tão tenso quanto a corda de arco, os músculos de aço de seu corpo, flexionados e tensos.

— Não existe um 'nós'. Ela arqueou uma sobrancelha para ele. Ele não podia sentir o quão próximo ele a estava segurando? Seus seios estavam esmagados contra seu peito e o quadril estava encaixado solidamente contra o dele. — Então o que é isto, Robbie? Diga-me por que você está tão irritado se isso não significa nada. Diga-me por que seu coração está batendo tão rápido quanto o meu. Diga-me porque você está lutando arduamente para se controlar. — Você sabe por que, maldição. — Sim, você quer, e como afasta isso de forma tão eloquente? Foda-me tão duramente até que não possa ver mais nada na sua frente. Pelo que me lembro, eu ofereci isso a você também, e você recusou. Sua voz caiu para um rosnado baixo, que ela ignorou. — Porque eu estava tentando protegê-lo, porra. Sua testa delicada arqueou-se novamente. — Que nobre da sua parte. Tenho certeza de que meu futuro marido vai ficar muito contente. Suas mãos a apertaram. — Rosalin... Mas ela não prestou atenção à advertência. — Pensei que você estivesse se protegendo. Acho que você não faz amor comigo porque sabe que será diferente. Você irá sentir isso aqui, — ela bateu seu dedo contra o peito dele — E então não será tão fácil para você me deixar partir. Finalmente, o firme controle ruiu. — Fácil? Como você pode pensar que isso seria fácil? Eu não penso em nada além do quanto será difícil assistir você partir praticamente desde o primeiro momento que peguei você. Você não tem ideia do quanto eu gostaria que as circunstâncias fossem diferentes, mas elas não são, e eu vivo no mundo real, Rosalin. Não em alguma maldita fantasia onde a guerra é uma mera

inconveniência ou o ódio que existe entre seu irmão e eu possa ser superado por um aperto de mão. E não vou deixar meus sentimentos por você interferirem no que tenho que fazer. Apesar de sua raiva, Rosalin sentiu uma pontinha ridícula de felicidade. Ela sabia! Ele admitiu que tinha sentimentos por ela. Sentimentos que ela suspeitava serem muito mais profundos do que ele imaginava. Isso deu a ela ainda mais certeza de que deveria impedi-lo de fazer algo que seu irmão não pudesse ignorar. Mas como chegaria até ele? — Tudo o que peço é que você não aja precipitadamente. Certifique-se de meu irmão quebrou a trégua antes de retaliar, — ela colocou a mão sobre o peito dele, saboreando as batidas de seu coração feroz. — Por favor, Robbie, por apenas alguns dias. Robbie manteve-se perfeitamente imóvel, mas a emoção foi se espalhando dentro dele como uma tempestade violenta. Pelo sangue de Deus, ela não sabia o que estava pedindo! Ele não iria comprometer o seu dever e tudo pelo que havia lutado por mais da metade de sua vida por ninguém. A morte de sua família tinha que significar alguma coisa. Cada instinto gritava para contra-atacar Clifford. Revidar duramente, da única maneira que os ingleses compreendiam. E o que ela oferecia em troca? Um sonho? Uma esperança? Um maldito conto de fadas? Ele nunca pediu isso. Mas por um momento, ele quis o que ela havia oferecido com tanta intensidade que o chocou. — Por favor. — disse ela, inclinando-se mais perto. O sonho acenou na tentação melosa de sua boca. Beije-a. Tome-a. Faça-a sua. Ele a agarrou pelos ombros, principalmente para mantê-la a uma distância segura, mas também porque não podia ficar mais um minuto sem tocá-la. A partir do momento em que ela entrou naquele quarto, inferno, a

partir do momento em que ele a jogou sobre seu colo, tudo o que podia pensar era em colocar as mãos sobre ela. Mas isso não era o que ela estava pedindo. Nós. Um futuro. O que ela queria, ele não podia dar. Ele a soltou e deu um passo para trás. — Eu tomei a minha decisão. — Mas... Ele a cortou. — Não faça isso. Não tente se colocar entre mim e meu dever. Os olhos dela brilharam com raiva. — Isto não é sobre o seu dever. Seja honesto pelo menos. Seu dever é o de garantir a trégua, uma trégua que você tem controlada, mas que será posta em jogo se você atacar sem razão. Se você tem um dever aqui, é o de se certificar que está certo. Isto é sobre vingança e a batalha pessoal que você tem com o meu irmão — um caminho direto para o inferno que ambos parecem ter a intenção de percorrer. Ele bate, você devolve, ele contra-ataca com mais força. Certo, errado, todo o resto é irrelevante. Os punhos dele se fecharam. Que diabos ela sabia sobre disso? Ele não esperava que ela entendesse. Ela era inglesa. — Nós tentamos do seu jeito há anos, e olhe onde isso nos levou. Um fantoche Inglês no trono, lordes ingleses em nossos castelos, e inocentes escoceses pendurados em celeiros. Os ingleses ignoraram nossos pedidos de justiça por anos, — Ele se inclinou mais perto. — Mas você sabe, Rosalin? Eles estão nos ouvindo agora. Os olhos dela percorreram o rosto dele. Ela deve ter percebido que ele não mudaria de ideia, porque recorreu a última arma de seu arsenal — e era uma arma poderosa. Lágrimas brilhavam em seus olhos e ela agarrou o braço dele, como se fosse a última tábua de salvação em um navio afundando.

— Por favor, Robbie, estou implorando que reconsidere. É apenas por alguns dias. Você não vai fazer isso por mim, por nós? A pressão suave de seus seios contra o braço dele, o inebriante perfume de rosas do sabão que permeou o ar ao seu redor, os lábios entreabertos gentilmente que estavam levantados como um doce convite, eram um assalto em larga escala em sua resolução. As paredes estavam se aproximando. A cama apareceu no canto do olho. Ela não deveria ter vindo aqui dessa forma, maldição. Ele advertiu. Ele estava quente e inquieto, com uma desesperada necessidade de se aliviar naquilo que ela tão inocentemente oferecia. Seria mesmo inocente? Ele endureceu, lembrando-se da ocasião em que o sobrinho dela escapou. — Isso não vai funcionar desta vez, Rosalin, — uma linha de confusão apareceu entre as sobrancelhas dela. — Primeiro você se oferece para salvar seu sobrinho e agora seu irmão? Isso é uma barganha? — Ela soltou um suspiro agudo de indignação, seus olhos fulminando os dele. Mas ele ainda não tinha acabado. Ele moveu seus quadris contra os dela sugestivamente, cruamente. — Devo aceitar desta vez? Ela olhou para ele como se ele fosse o ser mais desprezível, e naquele momento ele se sentiu assim mesmo. Instintivamente, ficou tenso, esperando o tapa que, sem dúvida, merecia. Mas ela não iria deixá-lo escapar tão facilmente. Friamente, bem friamente, ela se afastou dele. — O que ofereci, foi oferecido livremente e sem condições. Você está apenas malditamente cego para poder enxergar. Vá em frente e tenha sua guerra, Robbie. Se isso é tudo que quer, você vai conseguir. Estou cansada de lutar com você. Estou cansada de lutar por você. Ela falava sério. Ele podia ver isso em seus olhos. Deixe-a ir.

O coração dele pulsava em seus ouvidos. Músculos que ele nem sabia que tinha tensionavam contra a vontade de alcançá-la. Ela esperou pelo que pareceu uma eternidade, seus olhos no rosto dele, esperando por algum tipo de sinal. Se isso é tudo o que você quer... O músculo de sua mandíbula se mexia. O sangue rugia em suas veias, pulsando forte. Mas ele ficou perfeitamente imóvel contra a tempestade. Ela se virou. Para o inferno com isso. Não era tudo o que ele queria. Ele pegou o pulso dela antes que pudesse se virar. Seus olhos se encontraram. — Droga, Rosalin, eu quero você. — ele não sabia exatamente o que isso significava, exceto que queria dizer alguma coisa. Ela ergueu o queixo e lançou um desafio direto. — Então me tome. Ele não podia deixar isso como estava. Agora não. Cada homem tinha o seu ponto de ruptura, e a bela mulher que olhava para ele com o coração em seus olhos, o desafiou a recusar o que ela oferecia. Robbie não se quebrou ou perdeu o controle; ele simplesmente jogou as rédeas no ar e deixou-as caírem onde pudessem. Ele tinha o suficiente. Ele a teria e o resto que se danasse.

Vinte e um Robbie puxou-a em seus braços e fez o que ele estava louco para fazer desde o momento em que ela entrou em seu quarto. Sua boca caiu sobre a dela com um gemido profundo. Era como se uma represa tivesse quebrado e toda a paixão, toda a emoção, todo o desejo que havia sufocado dentro dele fosse posto em liberdade no instante em que seus lábios se tocaram. Deus, eles eram macios. E tão malditamente doces que ele não sabia como podia ter resistido por tanto tempo. Por que havia resistido? Se houvesse vozes falando em sua cabeça na tentativa de lembrá-lo do motivo, ele não podia mais ouvi-las. Estava muito ocupado, beijando-a. Provando-a. Sua língua deslizava profundamente na boca da moça com longos e lentos golpes, que ela duelava com os próprios golpes de sua língua. Era inacreditável. Que Deus o ajudasse, porque a moça aprendia rápido. Ele poderia beijá-la assim para sempre. Mas quanto mais a beijava, mais profundo o beijo se tornava, quanto mais crescia a feroz resposta dela, mais quente seu sangue fervia. O calor exalava dele. E então havia aquele outro pulsando, aquele contra seu próprio estômago que crescia duramente a cada duelo. Ele podia provar sua necessidade, seu gosto, sua fome, sentir a urgência sendo construída e que enviava chamas que lambiam por todos os cantos do seu corpo. Os suspiros, pequenos gemidos ecoaram em seus ouvidos, rasgando cada controle que ele possuía, deixando-o em pedaços. Ela estava segurando seus braços, os ombros, tentando puxá-lo mais perto, mas seus corpos já estavam tão colados quanto seria possível se eles estivessem sem...

Ele praguejou contra sua boca. Uma vez que a imagem estava ali, não poderia ser descartada. Pele com pele. Membros nus emaranhados. Lençóis suados. Ele afundando dentro dela. A proximidade final. Ela queria isso. E Deus, ele queria isso também. Ao balançá-la em seus braços, ele a levou para a cama. Ele interrompeu o beijo apenas pelo tempo suficiente de colocá-la para baixo e deslizar ao lado dela. Ele não ia dar, a nenhum dos dois, tempo para pensar. Talvez ela tivesse o mesmo pensamento, porque no momento em que sua cabeça tocou o travesseiro, ela já estava procurando por ele outra vez. Ela circundou suas mãos em volta do pescoço dele, para trazer aquela boca para a sua. Derrubou-o em cima dela. Ele deixou que ela sentisse seu peso, enquanto saboreava a incrível sensação daquele corpo macio, curvilíneo sob o seu. Mas não era o suficiente. Não agora. Não com aquela imagem passando em sua cabeça. Ele estava se movendo mais rápido agora. Seus lábios deslizaram para o queixo dela, para seu pescoço, para aquele macio lugar abaixo da orelha, que a fez estremecer, para sua garganta, e, finalmente, para seus seios. A rápida batida de seu coração e sua respiração descontrolada, martelavam nos ouvidos dele, incitando-o mais rápido e mais rápido. Muito rápido. Mas ela não pareceu se importar. Ela estava bem ali com ele. Suas mãos estavam em seu cabelo enquanto ele trabalhava os laços de seu vestido e, em seguida, sua camisa de baixo, ele nunca tinha visto nenhuma das peças de roupa que ela usava. Apenas o pensamento de ter que explicar a Joanna como elas tinham se rasgado, o impediu de rasgar as duas peças. — Depressa. — ela respirou, combinando sua impaciência com a dele. Ele murmurou um palavrão. Cristo, ela o estava matando. Seus dedos normalmente ágeis pareciam duas vezes maiores e estavam praticamente tremendo. Inferno, estavam tremendo. Era muito para aquela experiência. Com Rosalin tudo isso era novo.

Jamais outra pele pareceu tão suave, jamais outros lábios tiveram um gosto tão doce, jamais alguém teve um maldito cheiro tão bom, e jamais outra mulher o fez ficar tão quente. Mas era mais do que isso, e sabia disso. Mesmo que não quisesse pensar sobre isso. Pela primeira vez em sua vida, ele estava fazendo amor com uma mulher com mais do que seu pênis. Finalmente, ele tinha soltado tanto o vestido como a camisa de baixo, o suficiente para levar seus belos seios a sua boca. Ele a segurou, apertando-a suavemente enquanto seus lábios se fechavam sobre um mamilo duro. Sugou-o suavemente, circulando-o com sua língua e puxando-o entre os dentes. Ela soltou um grito suave e arqueou em sua boca, os dedos apertando como garras em seu cabelo. Todo o seu couro cabeludo formigava com o prazer derramado sobre ele em uma onda quente, arrastando-o para baixo. Ele queria despi-la para adorar cada centímetro daquela pele branca cremosa. Mas ele não ia durar cinco minutos. Assim não. Embora devesse ao menos que tentar. — Oh Deus, Robbie... Aquele apelo suave acabou com suas intenções de ir devagar e reduziuas a pó. Ele deu a ela o que queria e a chupou com força em sua boca. Ela era tão linda, e respondia tão bem a ele, que o deixou selvagem. Ele não conseguia ter o suficiente dela. Ele forçou seus seios com os lábios e língua. Provocou-a, lambeu-a, chupou-a até que sentiu seu corpo tremer com a promessa de prazer. Ele não ia fazê-la esperar. *** Rosalin sabia o que estava fazendo, ou pelo menos assim esperava. Era a maior jogada da sua vida. Mas a recompensa... A recompensa seria uma vida de felicidade. Ele a amava. Ela tinha certeza disso. Estava exatamente ali no beijo dele. Ela o pressionou bastante com muito mais confiança do que sentia. Ela nunca o

tinha visto tão perto de seu limite. No entanto, quando ele a beijou, em vez de grosseria e punição, seus lábios tinham sido suaves e gentis. Será que ele percebeu como a embalou contra ele? Como suas mãos grandes e endurecidas pela batalha acariciaram sua pele, como se ela fosse uma delicada peça de porcelana? Ela tinha que fazê-lo ver a verdade antes que fosse tarde demais. Ela já tinha oferecido seu coração a ele, então ela jogou com a única coisa que lhe restava: o próprio corpo. De alguma maneira, sabia que era uma aposta tola, que deveria valorizar sua virtude mais firmemente, e que se ele realmente se importasse com ela, ela não precisaria provar seu amor. Mas, por outro lado, nada jamais pareceu tão natural, ou certo. E um pouco descaradamente, ela admitiu que queria aquela experiência para si mesma. Sem importar qual fosse o resultado, ela queria saber o que sentiria ao se unir ao homem que amava. A partir do momento em que sua boca sentiu a dela, com fome e com disposição, sabia que não haveria como voltar atrás. O conhecimento era um pouco esmagador, assustador mesmo. Ela era virgem, e, embora soubesse o básico — ela tinha visto mais do que um casal copulando sob um cobertor em um lotado salão escuro — ela também sabia que haveria dor. Mas Robbie teria cuidado com sua inocência. Ela confiava nele sem reservas. Ele iria fazer com que fosse bom para ela. E esperava que ela fosse boa para ele. Ela queria desesperadamente agradá-lo. Mas como ela havia se esquecido de tirar proveito das potenciais tutoras que teve à sua disposição no acampamento, ela tinha pouco conhecimento de como fazê-lo. Tudo o que tinha era instinto. Ela se entregou ao desejo, não prendendo nada, e devolveu o beijo com toda a paixão que ele tinha despertado dentro dela. Ela passou suas mãos sobre os braços, ombros e costas dele, do jeito que ela tinha sonhado em fazer tantas vezes. Ele rosnou ao seu toque, flexionando

os músculos sob a ponta de seus dedos. Seu corpo era imensamente belo. Pura perfeição masculina. A pele lisa bem apertada sobre o músculo duro como uma pedra, magra e bem talhada. Não havia um centímetro de carne adicional sobre ele, apenas camada após camada de músculo perfeitamente delineado. Seus braços estavam definidos com sua força, seu estômago plano, e sua cintura fina. Ele era tão duro. Tão sólido. E tão quente. Sua pele estava praticamente queimando sob as pontas de seus dedos. Febril. E a febre consumia os dois com seu calor escaldante. Ela sentiu a mudança que veio sobre ele quando a levantou em direção à cama. Seu beijo se tornou mais áspero e mais carnal, sem deixar nenhuma dúvida sobre suas intenções. Suas mãos grandes cobriam seu corpo e seus seios. E então sua boca... Sua boca estava lhe chupando, e ela pensou que tivesse morrido e ido para o céu. Minúsculas agulhadas de prazer picavam seus pés e um calor corria entre suas pernas. Ela sentiu a mesma inquietação quente que sentiu da última vez, bem antes que ele a tocasse com os dedos. Ela desesperadamente queria que ele fizesse isso de novo, para que ela arqueasse o seio contra sua boca, levantando seus quadris com uma ligeira pressão. Ele fez um tipo de som torturado. Poderia ter sido um juramento, mas ela estava muito perdida na neblina do prazer para perceber. O ar frio percorreu a pele de suas pernas quando ele levantou suas saias. Sua boca forçou seus seios, a aspereza de sua barba a queimou, marcando uma trilha em sua pele sensível. Ele levantou a cabeça de seu seio. Quando afundou o dedo dentro dela, ela gritou. A pele úmida de seu seio se arrepiou no ar fresco. — Deus, você é gostosa.

Seus olhos semicerrados vibraram. Mas então ele a acariciou novamente, e qualquer resposta que ela pudesse dar se perdeu na onda de sensações que caiu sobre ela. Sua voz estava apertada e tensa. — Droga, — ele rosnou ferozmente. — Não posso esperar muito tempo mais. Nem ela podia. Ela se curvou sob sua mão com um grito, enquanto ele a acariciava outra vez. E de novo. Então, de repente sua mão tinha ido embora e ele a estava segurando pelos quadris. Se ela tivesse alguma ideia do que ele pretendia fazer, tinha certeza de que seria contra. Ela teria trancado suas coxas bem juntas e recusado aqueles beijos maliciosos. Ela ficou devidamente chocada e estarrecida por pelo menos um minuto. Pelo menos. Certamente mais do que os dois segundos de rigidez atordoada em que havia conseguido permanecer antes de se desmanchar como uma devassa total e absoluta, contra a sua boca. Sua boca gloriosa. Ali. Entre suas pernas, beijando-a. Com seus lábios quentes e macios e sua língua. Sim, com sua língua. Sua incrível língua talentosa que fez com que ela se curvasse e gemesse, e então tremesse e gritasse de puro deleite pecaminoso. O prazer caiu sobre ela como uma onda atrás de outra onda, fundido e inundando seu corpo de calor. Quando o prazer acabou, ela era uma poça de sensações, quente, macia, e pronta. Ela abriu os olhos enquanto ele se movia para posicionar-se sobre ela. Seu belo rosto estava tenso e desenhado com alguma coisa que se assemelhava a dor. Um brilho fino de suor tinha se reunido em sua testa. Ela olhou para baixo. De alguma forma, ele conseguiu se desfazer de sua calça e de sua cueca, e sua virilidade mexia-se dura entre eles. Sua masculinidade era bastante considerável. Alguns dos rubores de suas bochechas empalideceram. — Não quero machucá-la. — disse ele com os dentes cerrados.

Ela ergueu seu olhar de volta para o dele. — Eu sei. A confiança nos olhos dela quase o derrubou. Robbie queria merecer essa confiança, mas se o tamanho da ereção, batendo contra seu estômago, fosse qualquer indicação, foi seriamente equivocada. A maneira como ele se sentia agora, em que sua pele era dois tamanhos menores e que todo o seu corpo estava à beira de explodir, a única coisa que ele queria fazer, enquanto ela estava gozando contra sua boca, era mergulhar e juntar-se a ela, porque ela era a coisa mais linda que ele já tinha visto em sua maldita vida, e se não entrasse dentro dela em cerca de dois segundos, iria fazer algo que nunca tinha feito antes. Nunca. Mesmo quando era um rapaz. — Eu não tenho certeza... — Ele não conseguiu terminar. Seu rosto ficou sério. — Sem promessas, Robbie, eu sei disso. Ele franziu a testa. — Não foi isso que eu quis dizer. — Se isso era uma boa ideia já não importava. — É só que eu quero você demais, e isso pode ser doloroso para uma moça na sua primeira vez. Um sorriso adorável curvou sua boca e um suave tom rosado rastejou de volta até seu rosto. Ela deu a ele um olhar tímido por baixo de seus cílios que lhe atingiram em algum lugar próximo as costelas. Acima de suas costelas, na verdade. E talvez um pouco à esquerda. — Bem, então talvez devêssemos começar logo com isso e chegar à segunda vez. E então ela fez uma coisa que pôs fim à conversa, e sobre tudo mais também. Ela deslizou a mão na frente do peito dele, arrastando os dedos sobre os músculos flexionados de seu estômago, e o tocou. Ela o tomou em sua mão, pequena e doce, colocando seus dedos macios em torno dele, e deu-lhe um

aperto perfeito que o fez prender a respiração, enquanto o prazer o percorreu desde a base de sua espinha. Ele soltou um gemido de dor, rangendo os dentes contra as ferozes sensações e a necessidade quase irresistível de deixar que seu prazer viesse. Mas ele não o fez. Que Deus o ajudasse, porque de alguma forma ele conseguiu manter seu corpo sob controle. Mas por quanto tempo, com ela tocando-o assim? Ela se lembrou muito bem de como ele a ensinou a acariciá-lo. Lembrouse de como espremer e bombear o leite, com longas e duras pressões que iam da base à ponta. Ele tinha que fazer com que ela parasse. Ele não queria que ela parasse nunca. O coração dele martelava. Os músculos de seus braços quase dobraram, enquanto lutava para manter-se apoiado sobre ela, ao tempo em que ela o torturava com sua doce carícia. Era tão bom, ele só queria... Ele se sentiu pulsar e sabia que não poderia deixá-la seguir em frente. A primeira vez não era o momento de testar os limites de seu controle. — Agora, querida, — disse ele com firmeza. — Preciso estar dentro de você. Seus olhos se encontraram. Ela retirou sua mão dele e deixou que ele guiasse a posição. Ele abriu suas pernas, deixando a pele suave de suas coxas descansar contra as dele. Ambos ainda estavam meio vestidos, e suas saias foram enroladas em torno de sua cintura. Ele ficou tentado a rasgá-las fora dela, mais uma vez, mas não achou que pudesse demorar nem mais um segundo. Da próxima vez, ele jurou. Da próxima vez ele tomaria seu tempo para fazê-lo lento e fácil. Mas agora, tudo o que podia pensar era em estar dentro dela. Ela prendeu a respiração quando sua ponta grossa encontrou a carne sedosa dela. Ou talvez aquele som viesse dele, uma vez que todo o seu corpo

parecia ter sido atingido por um raio naquele primeiro contato incrível. Ele controlou tudo o que pode para não se afundar nela. Para deixar apenas a sensação rolar sobre ele como onda após outra trêmula onda. Seus olhos se encontraram, e ele podia ver a pontada de medo rastejando atrás da névoa da saciedade. Uma nova onda de ternura levantou-se em seu peito. Inclinando-se, ele a beijou. Gentilmente, e com toda a emoção crescendo de dentro dele. A partir de um lugar que ele não sabia que existia. Ele murmurou palavras suaves contra sua pele. Disse-lhe que tudo ficaria bem, que ele cuidaria dela e que ela confiasse nele. Ele iria fazer com que fosse bom. Mesmo que aquela certeza o matasse. Isso ele disse em gaélico. Ele balançou os quadris contra ela lentamente, deixando que ela se acostumasse com a sensação dele entre suas coxas. Deixou que a espessa ponta a provocasse e girou até que ela começou a se contorcer contra ele. Até que ela ficasse macia e molhada, respirando com dificuldade e seus quadris começassem a se levantar, buscando maior atrito. E cada segundo era uma tortura requintada. De alguma forma, ele encontrou forças para se segurar quando cada instinto em seu corpo estava clamando para afundar-se naquela luva de seda apertada. Em vez disso, ele mudou o balanço em um lento empurrão. Apertada. Oh Deus, ela era tão apertada. Esse foi seu primeiro pensamento. O segundo foi que ela estava quente e úmida. O terceiro foi que sua cabeça ia explodir — ele estava tão fora de sua mente com aquele prazer. Ele nunca tinha sentido nada tão bom em sua vida. A cada centímetro, a cada suspiro, a cada minuto que seus olhos ficaram presos juntos, estava voando cada vez mais perto do céu. Parou apenas uma vez. Olhou para os grandes e belos olhos verdes dela que estavam cravados nos dele. Um último vestígio de consciência conseguiu se infiltrar através dele, e ele lhe lançou um olhar com uma pergunta silenciosa.

Ele teria encontrado força para puxar de volta, se ela assim lhe pedisse. Mas ela não pediu. — Por favor, Robbie. — ela sussurrou baixinho. Ele não hesitou novamente. Com um duro impulso, ele a tomou. Minha. O conhecimento era feroz, primitivo, e muito grande para negar. Um raio de prazer disparou por sua coluna, agarrando-o da cabeça aos pés. Seu grito de dor rasgou através de seu prazer como uma faca afiada. Ele a acalmou o melhor que pôde, salpicando beijos suaves em seu rosto e lábios e segurando-se completamente, ainda que pudesse ter sido a coisa mais difícil que ele já tivesse feito, até que seu choque diminuiu. Ela olhou para ele, tentando piscar as lágrimas. — Sinto muito, mo ghrá, — ele disse, beijando a umidade salgada de seus olhos e cílios. — Gostaria de tirar a dor de você, se pudesse. Seu sorriso era trêmulo na melhor das hipóteses. — Não foi tão ruim. — disse ela bravamente, ele quase riu. — Dificilmente comento sobre minhas habilidades em fazer amor, mas prometo que vai ficar melhor. — Logo a qualquer momento? — Ela chiou, sua voz estridente. Ele afastou uma mecha sedosa de cabelo dourado que havia se emaranhado em seus cílios. — Sim. — disse com voz rouca, pouco antes de sua boca cobrir a dela. Se isso o matasse, ele traria prazer para ela. Ele nunca precisou seduzir uma mulher antes, mas fazia isso agora. Ele beijou seu prazer de volta em seu corpo com movimentos suaves e longos de sua língua e boca. Ele brincou, seduziu, e disse-lhe sem palavras exatamente como ele iria amá-la com seu corpo. Lentamente, podia sentir sua tensão se amenizando. Seus dedos já não estavam mais segurando os lençóis ao seu lado, mas vieram ao redor de seus

ombros. E então eles passaram a segurá-lo. Delicadamente no início, e depois com mais intensidade. Ele gostava de sentir aqueles dedos delicados pegando em seus braços. A sensação visceral de seu prazer intensificava o seu próprio. Ele tentou não pensar em como estava gostoso. Como ela era gostosa. Como seu corpo o agarrou como uma luva quente, apertada. Ou quão incrível seria quando ele pudesse se mover. Quando pudesse deslizar dentro e fora, duro e profundo. Mas ela estava tornando isso malditamente difícil. Seu corpo era tão suave, doce e quente. E acolhedor. Sim, ele podia sentir a sua abertura para ele. Sentiu o grampo apertado de seus músculos começarem a amolecer e suavizar em torno dele. Quando ela começou a pressionar seus quadris contra os dele, ele soube que tinha de se mover. Lentamente no início, e depois mais rápido, e ela respondeu, levantando seus quadris para satisfazer seus impulsos. O beijo acabou quando gemidos e suspiros deles aumentaram com a urgência, quando a respiração dele tornou-se mais errática e ficou em segundo plano em função de uma necessidade muito maior em sua virilha. Mas não era apenas em sua virilha. Não, a necessidade por ela era elementar. Ele penetrava sua carne, seus ossos e sua alma. Não havia uma parte dele que ela não havia reclamado. Ele a queria com tudo que tinha, inclusive com o que não tinha. Seus impulsos se alongaram, aprofundaram-se e se aceleraram, ecoando os pequenos suspiros ofegantes de surpresa que ela estava fazendo, toda vez que seus corpos chocavam-se intimamente. Apesar da imagem erótica que apresentava, ele não conseguia tirar os olhos do rosto dela. Ela era a coisa mais linda que já tinha visto em sua vida. Suas bochechas estavam rosadas com a excitação, os lábios entreabertos delicadamente, e seus olhos suaves com uma ternura dolorida que os unia de forma que ele nunca tinha imaginado. De certa forma, ele não pensou ser capaz.

Ele teve bom sexo antes. Inferno, até mesmo grande quantidade de sexo. Mas nunca tivera uma relação sexual perfeita. E era assim que esta era: perfeita. Era o jeito com que ela se movia com ele. A maneira como eles se moviam juntos, como um só. Era um ritmo sensual diferente de qualquer outro. Mas ele sabia que era mais do que isso. Ele nunca se sentiu tão conectado a uma mulher. Nunca teve o prazer dela como seu próprio. Podia sentir o prazer crescendo nela. Sentiu quando o calor e a sensação começaram a se reunir e o envolver. Sentiu a pressão em espiral e sabia exatamente quando estava prestes a explodir. Ele se afundou profundamente dentro dela e se acalmou. Os olhos dela se arregalaram em um choque sensual, um momento antes de seus suaves gritos de prazer saírem de seus pulmões e seu corpo começou a tremer debaixo dele. E, em seguida, através dele quando o prazer dela se tornou o dele. Mas foram as palavras que ela sussurrou que o empurraram ao limite. — Eu te amo. Seu peito apertou e depois se expandiu. Com um grito feroz entre os dentes cerrados, ele agarrou as curvas suaves do traseiro dela, segurando-se profundamente enquanto montava seus quadris, gozando cada pulsação, cada espasmo, cada movimento brusco de prazer que caiu sobre ele em ondas cegas de incríveis sensações. Sua mente ficou em branco. Se não soubesse que era impossível, ele poderia ter pensado que havia morrido durante um minuto de tão intensa que foi a explosão de sensações que havia alcançado. O rugido em sua cabeça era tão alto que quando finalmente se acalmou, quando a última gota de prazer tinha sido arrancada de seu corpo, o som do quarto ainda lhe pareceu estranho. Tudo o que ele podia ouvir eram os sons pesados de seus batimentos cardíacos e da respiração irregular deles. Percebeu que caiu em cima dela, e que, provavelmente a esmagava, então, rolou para o lado e colocou-a sob seu

braço. Ela descansou a bochecha em seu peito, com sua pequena palma pressionado diretamente sobre o coração dele, enquanto ele deixava descansar sua bochecha sobre a cabeça sedosa dela. Nenhum dos dois disse nada. O que mais havia para ser dito? Ele não tinha certeza se sabia o que diabos havia acontecido. Um cataclismo. Mudança de vida. Inspiração. Eram termos muito comuns para descrever a experiência. Havia sido muito melhor do que havia imaginado — e o que ele havia imaginado era mais do que espetacular. Instintivamente, sabia que seria bom entre eles, a atração tinha sido muito intensa desde o início para que não fosse bom, ele simplesmente não tinha antecipado o resto. Os sentimentos de ternura que lhe tinham agarrado. Os sentimentos que não vieram de qualquer lugar perto dos arredores de sua virilha. Eram muito mais profundos e muito mais poderosos. Vinham de uma parte dele que não tinha certeza se ainda existia. Mas ele não sabia o que isso significava. Ou, mais importante, o que diabos ele ia fazer com isso. *** Quando Rosalin era uma menina, não muito tempo depois que seus pais morreram, ela tinha ido correndo atrás de Cliff e alguns de seus amigos em uma caçada. Ela correu atrás deles por quilômetros, sobre montes e vales, tão rapidamente quanto seus pequenos pés podiam levá-la. No momento em que ela os alcançou, estava exausta. Cada membro, cada osso, cada músculo de seu corpo parecia como se tivesse sido tensionado e esticado até o ponto de ruptura. Cliff ficou furioso porque ela os seguiu, e ela ficou dolorida durante semanas, mas o sentimento de realização tinha feito tudo valer a pena. Essa fora a coisa mais fisicamente extenuante que já havia sentido. Até agora. Mas, como antes, tinha valido a pena. Cada minuto. Bem, talvez não um determinado minuto.

Como estava espalhada sobre o peito dele, tentando encontrar energia para respirar — mas podendo pensar — Rosalin estremeceu com a lembrança. Esse minuto tinha doído muito. Mas a forte pontada havia desaparecido rapidamente, felizmente, e tinha sido substituída pela maravilhosa sensação de ser preenchida. Possuída. Reivindicada. Palavras primitivas talvez, mas isso não as tornava menos significativas ou relevantes. O que eles tinham acabado de fazer deixou-os unidos de uma maneira que ela nunca poderia ter imaginado. De uma forma que não poderia ser desfeita. Se ela pensava que o amava antes, sabia agora com toda a certeza e com cada fibra do seu dolorido, exausto e machucado corpo. Ela não precisava se preocupar sobre ter sido perfeito. Isso foi perfeito. Ela pertencia a ele, não porque ele tivesse tomado sua virgindade, mas por causa da conexão que tinham forjado juntos. Ela nunca iria esquecer o olhar em seus olhos quando ele enfiou profundamente dentro dela e gozou. A importância desse momento estava marcada em seu coração para sempre. Um homem não olhava daquela maneira para uma mulher com a qual ele não se importava, ele se importava profundamente. Uma mulher com a qual ele não amava. Por um momento, a máscara caiu duramente e revelou o homem vulnerável por baixo dela. O homem que queria amar, mas não sabia como. O homem que tanto havia sido tirado dele, que acabou por dizer a si mesmo que não precisava de mais nada. O homem que precisava dela, mesmo que ainda não soubesse disso. Perdida em seus pensamentos e apanhada no sentimento de euforia que a tinha ultrapassado, demorou alguns minutos para Rosalin perceber como estava silencioso. Como ele estava silencioso. Uma pontada de desconforto penetrou através de sua felicidade, mas ela não iria permitir que isso acontecesse. Nada iria interferir neste momento. Ele

provavelmente estava tão comovido quanto ela com o que havia acontecido. E, provavelmente, tão cansado. Com esse pensamento, Rosalin aconchegou-se mais perto do peito quente nu, deixou seu picante perfume masculino derramar sobre ela, fechou seus olhos, e sucumbiu à exaustão. *** Muito tempo depois de Rosalin adormecer, Robbie ficou acordado na escuridão. Parte dele queria saborear cada minuto que tinha para segurá-la em seus braços. A outra parte precisava de tempo para pensar. Não antes de decidir o que fazer se permitiu descansar. Pouco antes do amanhecer, cuidadosamente se arrastou para fora da cama, vestiu-se e desceu as escadas para colocar seu plano em ação. Quando terminou, voltou para o quarto para esperar que ela acordasse, então, poderia dizer a ela o que havia feito.

Vinte e Dois Rosalin ainda estava dormindo. Ao invés de se aconchegar nele, ela pegou um dos travesseiros e o abraçava contra o peito. Ela parecia tão doce e contente como uma criança, seu belo rosto suave adormecido, suas pequenas mãos descansavam perto de sua boca avermelhada como morango e seu cabelo loiro dourado caia em cascata, desalinhado no travesseiro. Robbie a tinha coberto ontem à noite enquanto dormia, mas sabia que sua pele seminua sob os lençóis era tão aveludada e macia como a de um bebê. Incapaz de resistir — e se sentindo trocado pelo maldito travesseiro — ele retirou as botas, a armadura e a camisa e se arrastou de volta para cama ao lado dela. Cuidadosamente, retirou o travesseiro de seu peito e sentiu seu peito inchar quando, depois de um resmungo de desagrado, ela deslizou seus braços em volta dele com suspiro de satisfação. Deus, ele poderia se acostumar com isso. Ela era tão quente e macia e cheirava a um mar de rosas – um mar de rosas bem violadas. Seu peito doía pelo simples prazer de segurá-la. Ele não se sentia assim em paz há muito tempo. Talvez nunca. Acariciando seus cabelos, ele assistiria a respiração em seu peito pelo tempo que pudesse — até os primeiros raios de sol capturasse os seus cabelos dourados. Então, sabia que não poderia esperar mais. Ele a sacudiu suavemente. — Rosalin. Seus longos cílios se abriram. Ainda sonolenta, seu olhar encontrou o dele. Lentamente, a confusão foi se afastando e um largo sorriso brotou de seus inchados lábios sensuais. — Bom dia.

Seu peito se apertou. Ela parecia tão malditamente feliz. Ele faria qualquer coisa para mantê-la assim. Mas ele temia “qualquer coisa” não seria suficiente. A moça era muito sensitiva. Antes que pudesse responder, seu sorriso se apagou. Ela apoiou-se em seu peito. — Há algo errado? — Você precisa retornar ao seu quarto. Ela prendeu a respiração, arregalando os olhos como se suas palavras de alguma forma a tivessem machucado. — Você está me mandando embora? Havia algo pequeno e vulnerável em sua voz que o fez franzir a testa. Sem querer, atingiu um ponto sensível. Ela fora mandada embora antes, ele percebeu. Se a dor em seus olhos, talvez fosse alguma indicação. Ele conhecia um pouco da sua infância, além do que, foi capaz de juntar os pontos. Ela era órfã e foi enviada para morar com o Conde de Hereford. Pelo que ele sabia, Clifford era seu único irmão. Por causa de sua posição e fortuna, a estima de seu tutor e a posição de seu irmão, ele supôs que sua vida fosse fácil. Mas uma vida de privilégios e favores não substituía uma família. Mais uma coisa que a guerra fez. Mas era a única forma que conhecia, a única maneira de fazer as mortes das pessoas que amava ter algum significado. Ele a apertou com mais força. — Não, — ele disse, querendo aliviar seus medos o mais rápido possível com um beijo em sua cabeça. — Pelo menos temporariamente. É quase de manhã e se você não quiser que todo o castelo saiba o que fizemos, deve retornar para seus aposentos antes que alguém vá procurá-la. Seu alivio foi visceral. Podia sentir seus músculos relaxarem enquanto seu polegar deslizava por suas costas. Ela deitou seu rosto contra seu peito novamente. — Eu não me importo.

— Bem, mas eu sim, — ele ergueu o queixo para olhá-la nos olhos. — Eu não quero ver você difamada ou sujeita a insultos pelo que fiz. — Pelo que fizemos, — ela o corrigiu. — Eu sabia muito bem as consequências, Robbie. Você não precisa me proteger delas. Não tenho vergonha do que fizemos. Sem promessas, lembra? Sua boca endureceu. Sim, ele disse. Mas isso não diminui a frustração por não fazê-las — ou ameniza sua culpa por ter tirado sua inocência. Culpa, para um homem que suspostamente não se preocupava com honra, lhe corroía pesadamente. Que merda de confusão! Ele disse a si mesmo que ao menos não colocara a trégua em perigo. Tecnicamente ele manteve sua palavra. Ele não a forçou. Embora duvidasse que Clifford fizesse qualquer distinção. Nem ele faria se os papeis fossem invertidos. Por que diabos ele se importava? Clifford queria matá-lo antes. Se Clifford mantivesse sua parte no acordo, Robbie manteria a sua: Rosalin retornaria ilesa para ele. Nada tinha mudado. Tudo isso faria sua despedida mais difícil. De repente sua expressão mudou. Ela sentou-se, com os olhos rapidamente pulando de suas calças para as roupas que ele jogara na cadeira na pressa de voltar para a cama com ela. — Você se levantou. Não era uma pergunta, mas ele balançou a cabeça de qualquer forma. — Sim. Ela esperou, observando-o silenciosamente, mas ele sabia que ela estava perguntando. — Enviei Seton e Douglas com uma mensagem ao seu irmão, exigindo uma explicação. Dado seus interesses divergentes, enviando a ambos ele esperava receber uma resposta precisa. Isso também significava que nenhum deles adivinharia o

que aconteceu e ele estaria livre do julgamento deles por um tempo. Seton ficaria furioso. Por que temia que seu parceiro descobrisse? Desde quando a opinião de Seton importava? Eles nunca concordavam em nada. Mas talvez dessa vez, estava justificado. Seus olhos se arregalaram em proporções insultantes. — Você fez isso? Um lado de sua boca se curvou. Ele supôs que merecia seu choque. — Sim, você terá seus dias. Ela olhou para ele como se lhe tivesse dado o céu. — Você fez isso por mim? Por nós? Será que isso significa... Robbie não sabia o que significava. Ele fez isso em parte por ela, e em parte para aliviar a sua culpa. Droga, o que ele fizera com ela na noite passada poderia ser considerado retaliação suficiente. Mas ele sabia o que ela estava fazendo, e não lhe daria uma falsa esperança. Ela já estava estendida contra ele, e ele a puxou bem apertado e confortável. Seus olhos se encontraram. — Isso significa que teremos alguns dias até que eles voltem isso é tudo. Mas, além disso... — Ele olhou para ela atentamente. — Tenho que fazer o meu trabalho, Rosalin. Não importa o que isso implique. Ela assentiu com a cabeça. — Compreendo. Ela compreendia? Ele não tinha certeza. Muita coisa dependia disso. Seu dever sempre viria em primeiro lugar. E ele não tinha ideia de como poderia conciliar os sentimentos que tinha por ela e a determinação de ganhar a liberdade da Escócia e punir os opressores, metas que o incentivara por anos. Por muito tempo nada importou em sua vida, somente a guerra. Ele ainda não tinha certeza se havia espaço para algo mais. Como poderia uma inglesa — mesmo uma simpatizante da causa dele — se encaixar nesse cenário?

— Não sei se posso dar o que você quer. Ela piscou para ele. — Mas você se importa comigo. Ele não negaria. Mas ser importante para ele não era tudo que ela queria. Ela queria um futuro. — Então isso é sobre meu irmão? Sobre eu ser inglesa? — Sim. Não, — ele passou os dedos pelo cabelo. — Céus! Isso não é o suficiente? — Não precisa ser. Pode dar certo, Robbie. Sei que pode. Basta dar uma chance. Quando ela olhou para ele assim, quase pode convencê-lo. — Vou tentar. Ela sorriu para ele, e ele sentiu a garganta quente e apertada. Seu peito inchou tão forte que parecia que ia explodir. Fazia tanto tempo que não sentia nada parecido, levou um momento para perceber que era felicidade. Felicidade que era tão grande e poderosa que quase se sentia ameaçado. Tudo o que ele podia fazer era beijá-la, e como ela já estava na metade de seu peito, era necessário apenas levantar seus braços e arrastá-la até a outra metade. Ele gemeu em contato com o sabor quente, a disposição dela e a sensação de tê-la esticada em cima dele. Sim, ele gostava disso. Gostou pra cacete disso. Sua mão deslizou pelas costas, vindo a descansar na ondulação suave de suas nádegas. Ele a segurou contra ele, permitindo que sentisse como engrossava enquanto sua língua lambia cada vez mais fundo em sua boca. Ela era como um doce delicioso e ele não provara o suficiente. Mas quando ela gemeu e começou a se contorcer, ele teve que se afastar. — Cristo, querida, você não teve tempo suficiente para se recuperar.

Ela lhe deu um sorriso travesso, mas foi o brilho nos olhos que o alarmou. O brilho que era muito malvado para uma moça que tinha acabado de perder sua virgindade. — Tem certeza? — Ela ainda estava por cima dele, e ele praguejou enquanto a mocinha girava seus quadris contra os dele de propósito. — Eu estava meio que esperando que você fosse me compensar. Seus olhos se estreitaram. — O que quer dizer com me compensar? Ela deu de ombros. — Você sabe, sobre a segunda vez sendo melhor do que a primeira. Ele a girou de costas tão rápido e caiu sobre ela para fixá-la com seu corpo, tudo o que podia fazer era ofegar em choque. — Como você fez isso? — Ela perguntou meio indignada e meio maravilhada. Ele sorriu lentamente. — Prática, — suas habilidades de combate estavam sendo colocadas em prática por uma boa causa. Ele a olhou nos olhos. — O que quer dizer com melhor? Eu não sei o que você estava esperando, mas que incrivelmente espetacular. Ela teve o descaramento de fingir surpresa. — Foi? Como vou saber se não tenho como comparar? Mas se você não estiver disposto a enfrentar o desafio, eu entendo. Ela tentou sair debaixo dele, mas ele não estava disposto a permitir. Não se subestima um homem escocês assim impunemente. Pegando seus pulsos, ele os prendeu acima de sua cabeça e começou a beijar, lamber, e passar os seus dentes suavemente contra seu pescoço até que ela começou a estremecer. — Oh, eu estou disposto, — ele sussurrou com voz rouca em seu ouvido. — Muito disposto, — ele deslizou seu membro acima e abaixo entre suas

pernas até que ela não estava apenas estremecendo, mas tremendo. — Talvez tenhamos tempo para uma lição afinal de contas. — Muito bem, mas não demore muito. Seu olhar com um brilho malicioso encontrou o dela. — Sim, bem, nesse caso, suspeito que você ficará desapontada. Ele pretendia puni-la com a tortura da antecipação. Só quando percebeu uma ponta de diversão nos olhos dela, percebeu que havia sido enrolado. Mas nesse momento, já estava circulando um mamilo muito rosa e muito duro com o polegar, e ela estava emitindo esses pequenos suspiros ofegantes, que o deixavam louco de desejo. Rosalin estava perto. A sensação dele, grande e profundo dentro dela — enchendo-a — enquanto ela o cavalgava como a um garanhão era diferente de tudo que já tinha imaginado. Era selvagem, libertador, e estranhamente capacitante saber que estava no controle daquele poderoso guerreiro debaixo dela. Ele segurou seus quadris, guiando-a enquanto ela montava a longitude de sua ereção para cima e para baixo, envolvendo-o profundo e forte, para encontrar o ritmo perfeito de seu prazer. Havia começado devagar. Vagarosamente e lento como se ela quisesse saborear cada sensação, cada centímetro de espessura de seu corpo e extensão preenchendo-a. Mas então ele acelerou o ritmo, até que ela estava se movendo sobre ele num galope frenético. Quando seu ritmo atingiu o ponto de explosão, ela arqueou as costas e gritou quando seu corpo começou a voar de prazer. Ela estava tremendo, gozando e gritando seu nome em um gemido suave quando sentiu a inundação de calor. Ela pensou que a sensação não poderia ser mais doce, mas deveria ter previsto melhor. As mãos que seguravam seus quadris trouxeram-na com força

em cima dele. Ele a segurou lá, movendo-a contra ele até que ela gozou novamente. Foi mais profundo desta vez, e ainda mais poderoso. — Sim, oh Deus, sim, Robbie...! — Ela estava perplexa com a paixão, consumida pelo prazer surreal. Ele também estava. Podia senti-lo crescer debaixo dela, o grande corpo lutando pelo controle. — É isso aí, mo ghrá. Cristo, posso sentir você me apertar. Ele parou, enrijecendo antes que soltasse um rugido e seu prazer jorrou profundamente quente dentro dela, em espasmos quentes e pulsantes. Ela caiu em cima de seu peito nu ardente e ligeiramente úmido, mole como gelatina. Não tinha forças para se mover mesmo se o próprio Diabo estivesse batendo no portão do inferno. Ela sorriu, pensando se Robbie iria apreciar a analogia. Ela ficou extasiada, saboreando o simples prazer do subir e descer de seu peito sob sua bochecha. Os últimos dois dias tinham sido os mais felizes de sua vida, mas este era o seu favorito de todos. Era como se lembraria para sempre. Estando enrolada em cima dele, cada polegada de seu corpo cansado e satisfeito após fazerem amor, o braço de aço enrolado em seu corpo como se ele nunca fosse deixá-la, com a pesada batida de seu coração como se fosse um tambor através dela. Sentia-se totalmente conectada e totalmente satisfeita. — E? — A voz profunda e poderosa tinha uma nota de expectativa, e outra coisa que ela guardava como um presente era: provocação. Ela estudava sua expressão em branco e conseguiu encontrar a força para inclinar o rosto para encará-lo. — Correção. Foi possível. — Quando ele a rolou para o seu colo e disselhe que ela deveria fazer, ela não teve tanta certeza. — E? Ela assentiu com a cabeça, parecendo considerar.

— Sim, definitivamente muito melhor. Ele arqueou uma sobrancelha, desafiando sua avaliação. Seu estômago virou. Deus, ele era lindo. Ele parecia a cada centímetro o guerreiro que era com seu cabelo despenteado sobre a cama, olhos azuis penetrantes, barba escura incipiente, e um machucado na bochecha direita adquirido em algum tipo de conflito quando ele esteve fora ontem. Havia um pequeno corte, também, e ela suspeitava que ele tivesse levado um golpe nas costelas ainda feridas, porém ele se recusou a deixá-la — alvoroçar-se — sobre ele. Bruto teimoso. Ele disse a ela um pouco do que fizera nos últimos dois dias e porque estivera ausente do castelo. Ele saiu todos os dias, ela deduziu que fosse para explorar e fazer o que ele fazia para impor a autoridade do rei nas fronteiras. Na parte da tarde, ele e seus homens treinavam no quintal. Só à noite é que ele vinha para ela. Ela fingiu ambivalência. — Quantas vezes são agora? Três? Quatro? Cinco? Seus olhos se estreitaram, mas ela viu o brilho de diversão. — Acho que depende do ponto de vista. Pela minha última contagem, oito. Rosalin não conseguiu evitar o rubor em suas bochechas. O malandro! Ele estava contando quantas vezes ele a fez gozar! Ela pigarreou e apertou a boca meticulosamente. — Ah sim, bem, talvez quando você chegar a dez será, como posso dizer, agradável? — Espetacular, mocinha, — Ele deu uma palmada em seu traseiro. — Você faz maravilhas para a autoconfiança de um homem. Sua boca se curvou para conter um sorriso.

— Não sabia que você precisava de melhorias nessa área. Pelo que posso ver da janela quando você está praticando, você tem muita injeção de autoconfiança lá fora. Ele franziu a testa até que percebeu ao que ela estava se referindo, em seguida, um largo sorriso curvou sua boca. O sorriso de menino atingiu direto o seu coração. Se ela ainda precisasse de uma prova do quanto ele precisava dela, estava bem ali. Por um momento, quase pôde ver o que ele poderia ter sido se a guerra não tivesse roubado tudo dele. Feliz, relaxado, provocante. — Você está com ciúmes. — disse ele, parecendo muito satisfeito consigo mesmo. — Não seja ridículo. Ela tentou erguer o nariz para cima, mas ele pegou o queixo dela. A diversão desapareceu de sua expressão. — Você não tem motivo para isso, Rosalin. Era verdade que ele havia dado pouca atenção ao constante batalhão de mulheres que parecia encontrar qualquer tipo de tarefas para atender no quintal sempre que o infame Robbie Boyd estava treinando com seus homens. Mas ainda era difícil para ela quando as outras mulheres estavam lá fora, e ela só podia vê-lo da janela. Só a noite ele a pertencia — Eu sei, — disse ela. — Mas você pode me culpar? Elas são livres para assisti-lo, enquanto eu sou... — ela encolheu os ombros. — Sinto-me em Kildrummy novamente. Ela poderia dizer que ele não gostou da comparação. — Estou tentando protegê-la. É mais seguro para você aqui quando não posso estar com você. — Isso é exatamente o que Cliff costumava dizer. Ele definitivamente não gostou da comparação.

Mas ele a surpreendeu com sua resposta. Na verdade, ele a deixou sem palavras. — Bem, ele provavelmente estava certo. Você não tinha nada que estar na Escócia nesse momento. No que ele estava pensando quando a deixou vir? Devia estar nevando no inferno: Robbie Boyd estava de acordo com lorde Robert Clifford. Seria motivo de comemoração se o assunto dessa concordância não fosse trancá-la em uma torre. Ele estava olhando para ela, esperando por sua resposta. Ela apertou sua boca. — Na verdade ele não concordou exatamente em me deixar visitá-lo. Ele tinha uma forma extremamente desconcertante de permanecer inexpressivo, ainda continuava transmitir perigo. — O que você quer dizer? — Meu tutor, o conde de Hereford, foi convocado à Escócia pelo rei, e eu o convenci a me trazer com ele. — No meio de uma guerra? — Ele gritou, sua expressão já não era tão inexpressiva. — A guerra acabara naquele momento, como você deve se lembrar. Ou pelo menos ele pensara que sim. Os homens de Bruce estavam espalhados. O próprio Bruce tinha fugido da Escócia. — Sim, eu me lembro desse período. — disse ele secamente. Ela mordeu o lábio, envergonhada. Claro que ele lembrava. — A condessa e outras senhoras estavam indo; não vi nenhuma razão para não me juntar a eles. Eu não via Cliff há quase dois, e sentia sua falta desesperadamente. Sabia que ele iria me manter segura. Assim como sei que você também vai me manter segura. Ele segurou seu olhar, e ela sabia que ele estava pensando no que havia acontecido — ou quase acontecido — naquela noite no acampamento com William. E sem dúvida em sua irmã. — Nem sempre. — Sua voz soou estranhamente grossa.

— Não, nem sempre. Mas ninguém está a salvo para sempre. Mesmo trancada em uma torre, — ela acrescentou com um sorriso irônico. — E essa não é uma maneira de viver. Ele não disse nada por um minuto, e depois mudou de assunto. — Quantos anos você tinha quando seus pais morreram? Ela apoiou o queixo em seu peito largo e olhou para ele. Parecia uma pergunta inocente, mas ela teve a sensação de que não era. — Eu tinha quatro anos quando meu pai morreu. Minha mãe morreu no fim do mesmo ano. Ele apareceu surpreso e incomodado. — Eu não sabia que você era tão jovem quando aconteceu. Eram apenas você e seu irmão? Ela assentiu com a cabeça. — Eles tiveram outros bebês, mas todos, exceto um morreram ainda no útero ou na infância. Eu tive um irmão que era um ano mais velho do que eu, mas ele morreu cerca de um ano antes de meu pai. Cada morte levou um pouco de coração da minha mãe e, depois que meu pai morreu, acho que ela perdeu a vontade de seguir em frente, — ela sorriu. — Eu sentia falta dela, ou talvez da ideia de tê-la por um longo tempo. Mas, na verdade, Cliff era mais como uma mãe para mim. Mãe, pai, irmão e todas as coisas misturadas em uma só. Eu o seguia por toda parte; não sei como ele tolerava isso. — Mas vocês não estavam separados? Ela assentiu com a cabeça, o rosto triste com a lembrança. — Eles tiveram que me arrastar chorando e gritando de seus braços quando fui enviada para morar com o conde. Eu não entendia porque não poderia estar com Cliff enquanto ele estivesse na guerra. Eu era muito jovem para entender sobre os direitos de custódia e de união. Mas os de Bohuns foram gentis comigo, e Cliff me visitava ou me trazia quando podia. Distraidamente, ele torceu uma mecha de cabelo em torno de seu dedo.

— Você estava sozinha, apesar de tudo. Ela franziu a testa, um pouco surpresa com a observação. Mas, em seguida, deu de ombros. — Talvez um pouco. Mas eu o visitava, especialmente depois que ele se casou com Maud e tiveram as crianças. Mas com Cliff no norte e eu em Londres, passara algum tempo desde a última vez que nos vimos. Eu só fui autorizada a viajar por causa do casam... Ela parou, sentindo seus músculos tensos, e mordeu seu lábio inferior, amaldiçoando o lembrete inadvertido. — Por causa de seu casamento? — Ele terminou surpreendentemente calmo. Ela assentiu com a cabeça, e olhou em seus olhos atentamente. — Eu quis dizer o que disse, Robbie. Não vou me casar com ele. Não importa o que aconteça. Seus olhos se encontraram. Essa foi uma das raras vezes nos últimos dois dias que ela se referia à incerteza do futuro deles — ou se ainda teriam um. Por acordo mútuo, evitaram qualquer discussão sobre o que iria acontecer quando Douglas “O Negro” e Sir Alex retornassem. Era como se nenhum deles quisesse perturbar a frágil paz que haviam construído ao seu redor sem conversas sobre represália, tréguas, seu irmão, ou a guerra. Será que ele queria um futuro com ela? Ele havia demonstrado a ela de várias maneiras, com sua ternura e bondade, que a amava. Mas ele nunca realmente disse as palavras. Nem, ela estava dolorosamente consciente, tinha proposto casamento. Quaisquer que fossem suas intenções, Rosalin não queria pressionar. Ela sabia que precisava dar-lhe tempo. Ele ainda não sabia o que queria. O que ela tentou fazer nos últimos dois dias foi mostrar-lhe como maravilhoso poderia ser envolvê-lo com amor e fazê-lo enxergar tudo que estava perdendo. Que havia mais na vida do que a guerra. Que ele ainda poderia cumprir seu dever de

lutar pela independência da Escócia e obter um pouco de felicidade para si mesmo. E como ela poderia ser parte disso. Havia mais para ele do que a máquina de guerra brutal da vingança, golpeando sem pensar. O indulto que ele deu a ela havia provado que o homem de quem ela se lembrava ainda existia. Mas estava dolorosamente ciente de que esse alívio era apenas temporário. Os homens podiam voltar a qualquer momento. Será que ele a mandaria de volta ou ele a amava o bastante para lutar por ela, mesmo que fosse inglesa e irmã de Robert Clifford? Seu maior medo era que ele nunca fosse capaz de conciliar os dois. E o pior, talvez não a mantivesse nessa torre só para protegê-la, mas sim porque tinha vergonha dela. Que um relacionamento com uma mulher inglesa de alguma forma diminuída sua reputação como o combatente da liberdade que desprezava todas as coisas inglesas. Ela tentou ignorar a pontada de decepção quando ele não respondeu a sua promessa de não se casar com Sir Henry. Em vez disso, ele começou a rolar para fora da cama. — Preciso voltar para o meu quarto. — Depois da primeira noite, ele veio para ela. — Já? — Ela perguntou, tentando esconder seu desapontamento com um sorriso. Ele viu através dele de qualquer maneira. — Estou de partida ao amanhecer. Além disso, não quero dar a lady Joanna qualquer motivo para suspeitar que eu não esteja gostando da cama do quarto de sua sogra. Rosalin suspeitava que fosse tarde demais para isso. Ela suspeitava que Lady Joanna soubesse exatamente qual leito ele estava gostando. Ela o observou se vestir em silêncio, desejando que seus mundos não fossem tão distantes. O que eles compartilhavam aqui e o que ele

compartilhava lá fora com todos os outros, requeria cintas em armaduras e espadas. Os olhos dela se desviaram dos hematomas em suas costelas para seu rosto. — Espero que você não volte com mais um dos seus “arranhões”? Um canto de sua boca se elevou. — Hoje não, a menos que sejam exercidos por implementos agrícolas. Ela olhou para ele interrogativamente. Ele fez uma careta. — Um dos meus deveres para com o rei é resolver as disputas entre o povo quando ele não puder, o que significa uma longa manhã ouvindo um monte de confusões entre agricultores vizinhos. — O Executor do Diabo fazendo justiça? Sua incredulidade pareceu diverti-lo em vez de ofendê-lo. — Sim, bem, é apenas uma das minhas funções — uma parte muito pequena. Minha reputação não está em perigo. Ela se sentou na cama para observá-lo, e percebeu que seu olhar caiu para a regata muito fina. Embora ele não possuísse um grama de recato em seu corpo (com toda razão) e vinha para a cama dela completamente nu (não que ela estivesse reclamando), sentindo sua modéstia, ele não a pressionou para remover sua camisola. Mas, se o seu olhar quente em seus seios mal cobertos era alguma indicação, ela suspeitava que a sua paciência estivesse quase no fim. — Você já ouviu falar do termo legal quid pro quo3? Ela traduziu do latim em sua cabeça: isso por aquilo. Ela torceu o nariz. — Não. Ele sorriu. Talvez se ela não ficasse tão animada pelas próximas palavras dele, teria notado sua malícia. — Você gostaria de dar uma curta caminhada mais tarde? 3

Quid pro quo é uma expressão latina que significa "tomar uma coisa por outra". Refere, no uso do português e de todas as línguas latinas, uma confusão ou engano. Tem origem medieval, tendo sido usada, na sua origem, para referir um engano no uso de termos latinos num texto. Também podendo significar "Isso por aquilo".

Ela praticamente pulou para fora da cama. — Sério? Aquele sorriso se aprofundou. — Esteja pronta por volta das três. Ela assentiu animadamente. — Estarei. Ele começou a sair pela porta, mas no último minuto se virou. — E Rosalin, — seus olhos se encontraram. — Certifique-se de não usar qualquer coisa com muitos laços. Ela ficou refletindo sobre isso pelo o resto do dia. *** Rosalin girou sobre ele com raiva, olhos piscando e as mãos nos quadris. — Você deveria ter vergonha, Robert Boyd. Você me enganou e me trouxe até aqui sob falsos pretextos. Robbie tentou não rir, mas ela parecia tão adorável e indignada que não foi fácil. Ele apontou para o vale abaixo deles. ‒ Eu prometi uma curta caminhada e uma bela vista. Não cumpri os dois? Se olhar pudesse matar, ele estaria morto agora. — É de tirar o fôlego. Mas você sabe muito bem que não é a vista. Mas o problema é o pagamento que você exigiu em troca. Ele balançou a cabeça. — Eu não usaria o termo ‒ pagamento ‒ parece muito... — Dissimulado? Intimidante? Sem escrúpulos? Ele sorriu. — Eu ia dizer formal. Prefiro quid pro quo. Eu lhe uma coisinha, você me outra coisinha. Todo mundo fica feliz. — Eu dificilmente diria que ficar nua no meio do dia no alto de uma colina, onde qualquer um pode nos ver — não é uma coisinha.

— Estamos em uma colina cercada por árvores, sem ninguém por perto à quilômetros, ‒ isso era um pouco exagerado, mas ele ouviria alguém se aproximando. ‒ Achei que seria divertido. — Divertido? — Exclamou ela, irritada. — Divertido para você, você quer dizer. Ele teve que sorrir. Certamente disse que seria divertido para ele. Só de pensar no que eles fariam, sua pele nua exposta somente para a luz do sol, o deixou duro. Ele deu de ombros como se isso não importasse. — Tudo bem. Pensei que você fosse mais aventureira, mas se você está muito envergonhada e tem a intenção de se manter escondida embaixo dessas roupas, podemos voltar para o castelo. Sim, e ele estaria estirado e morto com dois punhais muito verdes em seu peito. — Você é um homem horrível que merece cada pedacinho de sua má reputação. Ele sorriu mais ainda. Quando ela estivesse nua, provavelmente estaria certa. Ele esperou com paciência surpreendente, quando tudo o que queria fazer era rasgar as roupas dela e provar cada centímetro de pele nua. Ele foi recompensado. Um momento depois, ela começou a trabalhar furiosamente nos laços de seu vestido. Ela estava chamando-o de todos os tipos de nomes sob sua respiração, mas ele não se importou. Seu pulso tinha parado e sua respiração parecia falhar em seus pulmões quando peça após peça caia a seus pés. Ele estava arrebatado. Ele estava em êxtase. Ele estava em... Oh inferno, ele estava em apuros. Os últimos dias tinham sido como um sonho. Ele sentiu-se preso na teia mágica que ela criou em torno dele e não sabia como sairia. Não sabia se queria sair. Embora soubesse que não deveria

estar encorajando a fantasia de um futuro entre eles, como Ícaro e o Sol, ele não tinha forças para ficar longe do calor dos seus olhos. E o prazer. Isso, com certeza não podia ficar longe. Ela parou quando chegou na camisa interior. Seus olhos se encontraram. A raiva com que ele havia contado para fazê-la se esquecer de seu embaraço havia desaparecido. Ela olhou para ele, incerta. Mas ele fora longe demais e estava muito excitado. — Tire isso, querida. Quero ver cada pedacinho seu. — Sua voz estava rouca e sombria e cheia de promessa sensual. — E você? Ela estava enrolando, mas como ficar nu fazia parte do plano dele, ele concordou. Removeu suas armas em primeiro lugar, em seguida, sua armadura de couro e botas, e, finalmente, sua camisa e calças. Como sempre, ele estava consciente de seus olhos sobre ele enquanto se despia o que só aumentou sua excitação. No momento em que ficou pelado de pé na frente dela, seu pau estava tão duro que praticamente fazia um buraco em suas costelas. Ela podia ter sido uma virgem há alguns dias, mas o calor em seu olhar enquanto seus olhos percorriam seu corpo nu era tudo menos inocente. Quando chegou ao seu pau e parou, e inconscientemente, lambeu o lábio inferior, ele teve de apertar os dentes contra a onda de luxúria que pulsava através dele. Se ela já percebera o poder sensual que exercia sobre ele, temia que pudesse fazê-lo persegui-la como um filhote de cachorro com um simples aceno de seu dedo. — Está melhor? — Ele desafiou, seus olhos deslizaram sobre ele novamente, exibindo aquele olhar suave de pálpebras pesadas de excitação que ele viria a desejar. Ela acenou rapidamente e com um suspiro, levantou a camisa de linho sobre a cabeça deixando-a cair em uma poça a seus pés. Ele prendeu a respiração, os olhos lentamente gravavam as curvas femininas delicadas da beleza ágil diante dele. Cristo, ela era ainda mais bonita

do que ele tinha imaginado sob a luz do sol. Suas pernas eram longas, cintura fina, seus quadris firme e perfeitamente redondos. E sua pele... Era incrível. Tão lisa e sem falhas como creme recém-batido. Ele conhecia essa suavidadebebê, o toque aveludado, e quando se atreveu a correr a parte de trás do seu dedo sobre o seio dela, ele gemeu. Percebendo que sua face estava corada e seus olhos baixos, ele segurou seu queixo e a forçou a olhar para ele. — Você é perfeita, mo ghrá. Não há nada do que se envergonhar. Mas ela estava. E tão nervosa como uma potranca antes de uma tempestade. Não era analogia ruim para o que estava por vir. — Faça amor comigo, Robbie. — ela sussurrou. Esse era o pedido mais doce que ele tinha ouvido e um que com certeza não recusaria. — Sim, senhora. Eu pretendo. — com um movimento suave, ele a pegou em seus braços, embalando-a como uma criança. Embora a sensação desencadeada pelo contato da nudez pele com dele, não deixou nenhuma dúvida de sua feminilidade. Ela riu de surpresa e olhou para ele com tanta emoção em seus olhos que fez seu peito doer. Ele abaixou-se para pegar a manta que usara ao redor de seus ombros e levou-a para a grande árvore. Ela cruzou seus braços em volta do pescoço dele. — Você vai machucar suas costelas me carregando assim. — Minhas costelas estão bem. E no dia em que eu não puder carregar uma moça como você será o dia que irei desistir do meu título nos Torneios para sempre. Ela sorriu. — Suponho que haja alguns benefícios nesse seu título — além dos mais óbvios.

Ele não tinha ideia do que ela estava falando. Suas sobrancelhas estavam unidas em interrogação. Ela revirou os olhos e balançou a cabeça. — Você não vai receber mais nenhum elogio meu. Tenho certeza que você está bem ciente de como as damas se impressionam com o seu físico. Ele sorriu maliciosamente. — Oh, isso. — Sim, isso, seu malandro. — Ela bateu nele, mas como ele decidiu deitá-la no manto xadrez que ele esticou sob uma cama de folhas, ela se rendeu. Ele sorriu para ela. — Você bate como uma moça. — Eu sou uma 'moça', caso não tenha percebido. Ele olhou para ela longamente de cima a baixo. — Oh, eu percebi. Ele se inclinou sob um joelho e se inclinou sobre ela. Ela era bonita de tirar o fôlego. Nua, em uma cama de folhas com o cabelo espalhado, parecia uma ninfa do bosque em algum tipo de sonho erótico. Só que não era um sonho. Era realidade. O momento de brincadeira havia passado. — Há apenas uma dama cuja opinião importa para mim. — ele disse a verdade, trazendo sua mão aos lábios. Ela sorriu do gesto cavalheiresco dele, obviamente surpreendendo a ela tanto quanto a ele. Beijou-a então. Suavemente. Com ternura. Dando rédea solta não apenas a paixão, mas também aos sentimentos poderosos que pareciam muito mais fortes. Ele adorava seu corpo com a boca e a língua, sem esquecer um centímetro. Sua pele era como creme doce e ele bebia como um homem

morrendo de sede. Como um homem agonizante. Ela era isso — ambrosia para sua alma. Ele se banqueteava nela, enterrando seu rosto entre suas coxas aveludadas e lambendo sua suavidade cremosa. Ele lambeu e esfregou, brincou e chupou até seus belos seios arquearem para o sol e as coxas se apertaram ao redor de seu pescoço. Ele segurou-a em sua enquanto ela gozava, gritando seu nome. Quando conseguiu abrir os olhos, ele lhe deu um sorriso perverso. — Eu disse que seria divertido. Ela lançou um olhar que o fez se sentir como um moleque travesso de cinco anos. Mas então surgiu um brilho decididamente perverso. — E certamente será divertido, — seus olhos se encontraram. — Devo avisá-lo que posso ser bastante implacável também. Ele sorriu genuinamente divertido. — Pode? Ela assentiu com a cabeça lentamente e começou a deslizar as pontas dos dedos delicadamente sobre os músculos fortes de seu estômago, seu pulso passando perigosamente perto da cabeça poderosa de sua ereção. Ela estava brincando com ele, e ele não achou que fosse gostar. Ou melhor, ele adorou. Ela o fez deitar de costas com um empurrão suave e subiu em cima dele, montada nele. A princípio, pensou que ela iria cavalgar nele mais uma vez, mas em vez disso, ela começou depositar beijinhos por todo seu peito. No peito e sobre os mesmos músculos que havia provocado. Seu estômago se contraiu. Ela tinha a intenção de... — Você se lembra do que me disse na primeira noite no acampamento? Ele praguejou. Seu coração começou a bater descompassado. — Não. O olhar que ela lançou com a boca dolorosamente perto de seu pau, o chamava de mentiroso.

— Você me disse que eu poderia chupar seu... — Ela corou, incapaz de pronunciar a palavra. Oh Cristo! Cada músculo de seu corpo saltou. Inferno, sua pele saltou — ou ele pulou fora dela. Ele teve que lutar para não agarrá-la. Tudo o que conseguiu fazer foi soltar um gemido. — Acho que eu gostaria de... ‒ ela sussurrou. E então ela o beijou. Ela moveu os lábios macios sobre a cabeça rosada de seu pau grande e grosso e escorregou sua boca lentamente. Isso o fez saltar para fora de sua pele. Cada gota de sangue sumiu de seu corpo. Ele nunca tinha se sentido tão excitado em toda sua vida. Ele não se mexeria mesmo se todo o exército inglês subisse aquela colina. Ele orou por força. Mas Deus não estava lhe dando nenhuma. E ela estava se mostrando tão impiedosa como havia prometido. Ela estava conseguindo colocá-lo de joelhos. — Mostre-me. — ela sussurrou, segurando-o na mão. E ele fez. Ele levantou a cabeça dela sobre ele e mostrou-lhe como fazer. Como lamber com a língua e engolir até o fundo de sua garganta, bombeando a longitude que não caberia em sua mão. Ele a observava tomá-lo em sua boca quente e úmida, como esses lábios rosados e bonitos se esticavam em torno dele, até que sentiu a primeira onda do prazer. E então ele a tomou com seu corpo, fazendo amor com ela sob as árvores como se pudesse guardar este dia para sempre.

Vinte e Três “Sempre” foi uma porra muito breve. Ao anoitecer, quando voltaram para o castelo, Robbie foi informado por um dos guardas que Seton e Douglas o esperavam no corredor. Ele deveria ter levado Rosalin para o quarto, mas ela correu à frente dele tão animada que não teve coragem de chamá-la de volta. Ele estava apenas um ou dois passos atrás dela quando entraram no salão e ela correu em direção a Seton. — Foi como eu disse Sir Alex? Meu irmão explicou que não teve nada a ver com o ataque na floresta? — Robbie já sabia a resposta. Olhou a fisionomia de Douglas O Negro enquanto ele dizia: — Sim, senhora, — respondeu Seton. — Exatamente assim, — ele se virou para Robbie. — Lorde Clifford não sabia nada sobre os planos de Spencer de atacar o acampamento. Na verdade, ele estava furioso. Antes de chegarmos, Sir Henry fora repreendido e mandado de volta para a Inglaterra, — ele olhou para Rosalin. — Seu noivado foi desfeito. Rosalin lançou lhe um olhar de vitória. — Eu disse! Seton franziu a testa, olhava para Rosalin e Robbie. Robbie jurava que seu parceiro era muito perspicaz. Uma característica que vinha a calhar em missões, mas não agora. Robbie voltou-se para Douglas. — Você tem certeza?

— Qual o motivo de Clifford? Não sei, não confio no bastardo, — seu olhar se voltou para Rosalin, e sua boca se estreitos quando as seguintes palavras escapavam de sua boca. — Mas ele parecia sério. Está preocupado com sua irmã. Ele a quer de volta. Ele me pediu para lembrá-lo de sua promessa. A mandíbula de Robbie apertou. Ele não percebeu que os olhos de Seton se fixaram nele. Felizmente, Joanna Douglas, que estava visitando sua família naquela tarde (uma das razões dele ter decidido escapar com Rosalin), escolheu esse momento oportuno para chegar. — Você voltou! — Ela correu para os braços de seu marido. Ele a ergueu em seus braços e girou (tomando cuidado com sua barriga) a beijou e sorriu — esse último fez Rosalin arregalar os olhos de surpresa. — Sentiu minha falta, mo grhá? — Perguntou Douglas. Joanna riu. — Talvez um pouco. Como foi a sua viagem a Peebles? Douglas restaurou sua expressão sombria com uma careta. — Nada bem. Seton foi apenas o mandante de Boyd e de... — Lady Rosalin. — Joanna respondeu, enviando a Rosalin um sorriso de desculpas pela grosseria do marido. Mas Rosalin estava tão feliz que nem percebera. — Há mais uma boa notícia, — disse Seton com um duro olhar para Boyd. — Clifford terá a prata até o final desta semana, — seu olhar se voltou para Rosalin. — Você voltará para casa em breve, senhora.

Robbie esperava que fosse o único a perceber o desespero que surgiu no brilho animado de seus olhos. — De fato é uma boa notícia. — ela conseguiu dar um sorriso e Robbie sabia que lutava para não olhar para ele. Ele ficou feliz por ela não olhar, pois ele não tinha uma resposta a dar para o olhar dela. Depois que Lady Joanna deixou o salão para se preparar para a refeição da noite, Rosalin pediu licença para voltar ao seu quarto. Robbie queria seguila, mas ela precisava de algum tempo para pensar. Ele a olhou sair da sala, mas quando olhou para trás, viu que Seton os observava. Robbie tentou ignorá-lo, mas sabia que mais cedo ou mais tarde seria questionado por ele. Foi mais cedo. O jantar mal havia começado quando Seton encurralou Robbie em seu caminho para se aliviar de alguma das cervejas de Douglas. Ele tinha ido lá fora ao invés de ir até a latrina do terceiro andar, decisão que agora lamentava. Mais distraído com seus pensamentos do que imaginada sob a luz sombreada das tochas, Robbie achou que o homem que apareceu na frente dele era um dos guardas da patrulha. No entanto, quando se viu contra a parede de pedra do castelo com um antebraço na garganta, ele percebeu seu erro. — Diga-me que você não fez o que acho que fez, — Seton apertou mais o braço para dar ênfase. — Fale. — a boca de Seton rosnava ferozmente e olhava Robbie com uma fúria assassina. Robbie o vira mais vezes com raiva do que podia contar. Droga, metade das vezes ele mesmo, propositadamente, estimulou sua raiva, mas nunca desse jeito. O que poderia explicar Robbie mais

lento do que o normal, e o fato de que não quebrou o braço que o prendia quando o empurrou contra a parede e girou de lado para se libertar. Embora devesse admitir que não foi muito fácil. Ele esfregou a garganta, olhando para o outro homem na escuridão. Seton não usava manoplas desde os primeiros dias de treinamento, mas seu braço paria estar coberto por elas. Droga, feitos de aço. Seton podia não ser tão musculoso como Robbie, mas era maior e mais forte do que a maioria, com anos de treinamento pesado sobre ele. Robbie percebera isso, mas não com tanta força. Irritado, ele encarou seu parceiro. — Você pode pensar a merda que quiser, mas eu não te devo explicações. — Você está certo. Você não deve. E já sei a verdade. Só não consigo acreditar. Achei que até mesmo você não seria tão desonroso, destruindo a reputação de uma moça inocente. Mas você provou que eu estava errado, seu maldito bastardo. Desta vez, Robbie estava pronto para ele. Mas encurralado como estava entre a escadaria e o rio, com o castelo à suas costas e Seton à sua frente, não havia espaço suficiente para manobrar e desviador do soco poderoso que veio em direção aos seus dentes, ou aquele outro soco que chegou rápido em seu maxilar esquerdo. Robbie revidou com um duro golpe no intestino e uma joelhada nas costelas de Seton empurrando-o para longe tempo suficiente para que ficasse em melhor posição. Um dos guardas veio correndo, mas Robbie gritou com ele — com todos eles — para voltarem aos seus deveres. A distração deu um tempo para seu sangue se acalmar.

— Você não quer fazer isso, — advertiu Robbie a Seton. — Você não vai ganhar. — O inferno que não. Alguém tem que lutar pela honra da moça. Eu não vou deixar você escapar disso. Você pode ser o homem mais forte da Escócia, mas isso não faz de você certo ou invencível. Robbie estava acostumado com o jeito cavalheiresco de Seton, mas desta vez, isso o irritou talvez porque soubesse que era verdade. — Você sempre tem que ser o cavaleiro honrado, não é Seton? Mesmo quando não tem nada a ver com você. — Tem tudo a ver comigo. Você envergonhou a todos nós com o que fez. Você nos tornou os bandidos e bárbaros que eles nos acusam de ser. Ela era nossa refém, não sua forma de alívio. Você odeia Clifford tanto que precisa arruinar sua irmã? — Seton estava fervendo agora, com os punhos cerrados ao lado do corpo, circulando e esperando por uma abertura. — A mesma irmã que salvou nossas vidas? O que há de errado com você? Robbie não era tão imune às ofensas que seu parceiro dizia. Toda a culpa que estava tentando enterrar nos últimos dias borbulhou para a superfície. — Não, — ele gritou. Seu peito apertou desconfortavelmente. — Isso não tem nada a ver com Clifford. — Duvido que não. É sempre sobre Clifford ou os ingleses, — a certeza de Seton plantou uma semente de dúvida em sua própria mente. Mas não, caramba, não tinha nada a ver com vingança. — Eu disse a você que cuidaria dela. — Se você realmente estivesse cuidando dela, teria mantido suas mãos imundas longe dela e a devolveria. Você sabia que isso não tem futuro, mas

ainda assim tomou sua inocência. Isso não é cuidar, é egoísmo. Talvez se fosse desejo eu entenderia. Mas eu o conheço muito bem e sei que você nunca foi consumido por outra coisa além de vingança. A única coisa que lhe interessa, a única coisa com que se preocupa é em destruir os ingleses. Eu só não achei que você usaria uma moça inocente para isso. Você ainda tem uma maldita consciência? A questão parecia pairar desconfortavelmente no ar, embora estivesse claro que Seton não esperava uma resposta. Em vez disso, ele atacou, girando e lançando uma perna preparada para um chute que teria levado Robbie ao chão, se não tivesse sido ele quem ensinou o movimento a ele. No entanto, o golpe conseguiu desequilibrá-lo o bastante para que Seton conseguisse dar um duro golpe em um lado de sua cabeça. Um golpe que lançou a cabeça de Robbie para trás e fez sangue escorrer de sua orelha. Um golpe que não deixou dúvidas sobre as intenções de Seton. Isso não era treinamento, nem pugilismo entre parceiros. Era guerra total. A adrenalina da batalha correu por ele. Na próxima vez que Seton atacou, Robbie estava pronto. Ele bloqueou o golpe que veio em direção a sua cabeça com o braço, virou-se e usou o movimento de Seton para jogá-lo no chão. Ele desferiu mais golpes enquanto tentava colocar um joelho no peito de Seton. Mas Robbie havia ensinado seu parceiro também. Seton foi capaz de girar seu corpo longe o suficiente para evitar o contato, enquanto ao mesmo tempo enganchava o pé ao redor da perna de Robbie para derrubá-lo para o lado. Robbie girou o corpo com um rolo e saltou, ficando novamente em pé. Seton fez o mesmo e veio para cima dele de novo. Eles trocaram chutes, socos e golpes duros até que ambos estavam de joelhos, respirando com dificuldade, sangrando e machucados.

Foi à luta mais longa que Robbie tivera em anos. Ele tentou acabar com ela deixando seu lado ferido em evidência, mas Seton se recusou a pegar a isca. Ele usava sua força, rapidez e juventude contra Robbie, e pela primeira vez, mostrava paciência. Seton provava ser um adversário formidável, e em outras circunstâncias, Robbie teria sentido orgulho dele. Mas agora tudo o que queria fazer era acalmá-lo. Os golpes verbais que Seton desferia entre os socos, eram ainda mais duros. — Que diabos ela fez para merecer isso? Ela nos ajudou, e é assim que você retribui? — Seton completou a pergunta com um soco nas costelas de Robbie que teria quebrado mais alguns ossos se ele não tivesse girado o corpo. Conectando-se aos pés de Seton, ele tentou passar o braço atrás das costas dele, mas Seton virou-se e usando o braço livre desferiu primeiro uma cotovelada em seu estômago e, em seguida, no olho. Em resposta, Robbie levantou o joelho direto no rosto de Seton e ouviu o estalo inconfundível. — Valeu a pena, Raider? — Seton provocou, com sangue escorrendo de seu nariz agora quebrado. — Vingança contra uma mulher fazia parte do seu plano? Os músculos de Robbie queimavam, adivinhando o que ele estava prestes a dizer. — Não diga isso. Apesar de estar com o rosto machucado, o nariz quebrado e a boca ensanguentada, Seton sorriu. — O quê? A verdade é feia, não é? Arruinar essa moça amenizou o que fizeram com a sua irmã?

Robbie ficou furioso. A raiva se transformou em fúria louca em um instante. Ele parou de querer tranquilizar Seton para querer matá-lo. Ele perdeu o controle e foi atrás de Seton com tudo o que tinha, perdendo toda a paciência no esforço para destruir o seu oponente. Foi à lição que transmitira a Seton centenas de vezes sobre o que não fazer, mas que ignorou, confiante de que sua força física venceria no final, como sempre. Ninguém poderia vencê-lo. Ninguém. Ele estava provando isso, esmurrando Seton com golpe após golpe vindo de todas as direções, fazendo dele uma pasta de sangue. Mas ainda assim, seu parceiro não admitiria a derrota. Finalmente, dobrando sua perna em uma poderosa rasteira, ele enviou Seton ao chão de joelhos. Robbie passou o braço direito pelo pescoço dele por trás e colocou a mão esquerda na parte de trás de sua cabeça. Alguns segundos de aperto e pressão e Seton perderia a consciência. Era um dos movimentos mais poderosos de Robbie. Ninguém conseguia se defender. Ele era muito forte. Uma vez que os braços estavam imobilizados e a outra mão na posição, não havia nada que o adversário pudesse fazer. Ou assim ele pensou. Ele tinha a mão esquerda posicionada na parte de trás da cabeça de Seton e estava prestes a começar a pressionar para frente, quando Seton estendeu a mão, pegou os dois dedos menores de Robbie, e os empurrou para trás. Com força suficiente para quebrá-los. Robbie soltou um grito de dor — havia uma razão para que os métodos mais dolorosos e eficazes de tortura fossem usados nos dedos. Ele aliviou seu braço esquerdo apenas o suficiente para Seton puxá-lo para baixo. Com a pressão adicional de sua outra mão, Seton fez um movimento para girar Robbie completamente e derrubá-lo com um gancho de perna. Ele pressionou as costas de Robbie com o joelho,

puxando seu braço para trás com força suficiente para quase arrancá-lo das articulações. A dor era indescritível. Preso, o braço de Robbie estava totalmente estendido e Seton tinha elevado seu corpo de modo que todo seu peso estava travado contra ele. Se Robbie se movesse, seu braço iria quebrar. — Desista. Robbie rangeu os dentes até que apareceram lágrimas em seus olhos. Raiva e descrença se misturaram em sua recusa obstinada. Seton estendeu suas pernas para esticar o braço ainda mais, mas apenas o suficiente para fazer Robbie gemer. — Não me faça quebrá-lo. Os sete anos em que Robbie tentava triturá-lo, deram às palavras de Seton um tom cortante e Robbie não teve dúvidas de que ele faria isso. Ainda assim, ele resistiu até manchas pretas aparecerem em seus olhos, suor escorrer pelo rosto, e seus dentes quase quebrarem por estarem tão cerrados. Mas, ele pronunciou as palavras que não falara por mais de 15 anos. Uma vez que o homem que lhe ensinou tudo o que sabia sobre luta, o ex braçodireito de seu pai, Cormal, o tinha superado. — Eu desisto. Seton o soltou e Robbie sentiu a lufada de ar voltar aos seus pulmões. Ele rolou para o lado, segurando o ombro e braço até que a dor diminuiu para um pulsar suportável. Ele ouviu Seton lutando para ficar em pés, mas o estado igualmente maltratado do seu parceiro não fez com que Robbie se sentisse melhor. A raiva que havia impulsionado Seton ainda estalava dentro e fora dele. Ele havia perdido. Para Seton. Ele não conseguia acreditar nessa merda.

Com todo o direito, Seton devia estar exultante, mas o que Robbie pôde ver quando ele se levantou e o encarou foi condenação fria. — Estou cansado de inventar desculpas para você. Não posso mais fazer isso. Encontre outro parceiro. Por sete anos Robbie ansiou ouvir essas palavras. A parceira deles na Guarda das Highland fora um fiasco desde o início. Ainda assim, ele estava surpreso com o quanto as palavras o magoaram. — Eu cometi um erro. É isso que você quer que eu diga? Porra, eu me caso com ela, se isso for amenizar suas sensibilidades cavalheirescas. Deus sabe que seria vingança suficiente contra Clifford. *** O grito chocado que subiu para seus lábios quando Rosalin viu os dois homens ensanguentados, fugiram de sua garganta e, em seguida, de seu coração. Ela congelou quando as palavras de Robbie caíram sobre ela como um véu gelado de mágoa e descrença. Não sabia o que era pior, ouvir as palavras sobre casamento que tanto ansiava ouvir ditas de forma tão cruel, ou ouvir que o casamento estava ligado à vingança contra seu irmão. Ele não quis dizer isso, disse a si mesma. Ele não podia dizer isso. — Como você planeja fazer isso? — Disse Seton. — Ela é uma refém, lembra? Clifford nunca deixaria você tê-la, e se você tentar ficar com ela, ele virá para cima de você com tudo — ela faria isso de qualquer maneira, se descobrisse o que você fez. Você acha que ele vai manter a trégua se souber que você violou sua irmã? Você sabe o quão importante é esta missão. Você deveria estar mantendo as fronteiras sob controle e, em vez disso, você vai

desencadear uma tempestade de fogo. Agora que o rei está conseguindo uma posição em Tayside, ele terá que vir limpar sua maldita bagunça. — Ele não me violou, — Rosalin falou num sussurro, mas os dois homens se viraram para ela como se tivesse anunciado sua presença com o boom de uma sentença de morte. — E como eu disse a Robbie, não tenho intenção de dizer nada meu irmão. Sua trégua está perfeitamente segura. Ela ergueu o queixo, tentou controlar o tremor que ameaçava consumir seus membros, e desceu as escadas como uma princesa Ambos os homens observavam a sua chegada com diferentes níveis de desconforto — Sir Alex estava constrangido e Robbie com duas coisas que ela nunca havia pensado em ver em seu rosto: vergonha e medo. Ele devia estar se sentindo péssimo pelo que acabara de dizer. — Eu decidi descer para a refeição noturna, — ela olhou para Robbie e apesar de sua dor, sentiu o coração saltar com a visão de seu rosto. — Quando não o vi lá dentro, mudei de ideia. No caminho de volta, ouvi gritos, — ela olhou para os dois, observandos os machucados ensanguentados neles. Eles pareciam horríveis. Percebendo a posição não natural dos dedos de Robbie em sua mão esquerda, ela teve que fincar os pés para não caminhar até. — Não preciso perguntar por que vocês estavam brigando. Eu ouvi. Sir Alex se recuperou primeiro e deu um passo a frente. — Lamento que você tenha visto isso, minha senhora. Desculpe por tudo isso. Você nunca deveria estar aqui em primeiro lugar. Se você quiser voltar para a Inglaterra agora, eu mesmo a levarei. A respiração de Rosalin ficou suspensa pela surpresa. Ela olhou para Robbie, esperando que ele argumentasse, mas sua boca estava fechada com grampos. Ele não parecia querer encontrar seu olhar. O que isso significava? O

que aconteceu aqui? Por que não tentava tranquilizá-la? E por que parecia culpado? Ele se preocupava com ela — a amava — não poderia ser algum tipo de vingança contra seu irmão. Ele não quis dizer isso. Duas horas antes, ele estava brincando com ela enquanto faziam amor à luz do sol. Ela se virou para Alex e balançou a cabeça. — Obrigada, Sir Alex, mas isso não será necessário. Não quero voltar para a Inglaterra, — com o canto do olho, ela viu Robbie relaxar. O alívio no rosto dele lhe disse que ela tinha razão: ele se importava. A questão era o quanto. A pergunta que não podia ser respondida com Sir Alex presente. — Você poderia nos dar alguns instantes, por favor? — Perguntou a ele. — Acho que existem algumas coisas que Robbie e eu precisamos discutir. Sir Alex parecia querer discordar, mas depois de um longo olhar para Robbie, ele caminhou em direção ao rio, provavelmente para se limpar. Assim que ele se foi, Rosalin não pôde esperar mais. Cruzou a distância até Robbie em poucos passos e colocou a mão em seu rosto machucado. — Você está bem? Ele se afastou, pulou na verdade. — Eu estou bem, Rosalin. Não sou criança, não preciso de consolo. Ela se encolheu. Suas palavras não foram suficientes, agora ele precisava rejeitar a sua preocupação? Ele praguejou e passou os dedos — não os feridos — pelos cabelos.

— Merda. Sinto muito. Não é culpa sua. Nada disso é culpa sua. É minha. Não tenho certeza do quanto você viu ou ouviu. Nós lutamos. Eu perdi e disse algumas coisas que não queria dizer. O que não ele queria dizer, que ele ia se casar com ela, ou o motivo? De repente, seu queixo caiu quando percebeu o que mais ele disse. — Você perdeu? Ela desejou engolir as palavras de volta quando o rosto dele escureceu. Dizer que isso foi um golpe duro em seu orgulho seria um eufemismo, e o estrago em seu orgulho era, obviamente, equivalente as feridas do seu corpo. Seus ombros estavam tensos. — Sim. Ele disse algumas coisas que me deixaram irritado, perdi o controle, e ele se aproveitou do meu erro, mas isso não é desculpa. Ele me bateu. Porra, ele me bateu. — Certamente você já perdeu antes? — Nesse tipo de disputa? Não em muito tempo. Rosalin ficou em silêncio por um momento, observando a guerra de emoções em seu rosto. — O que está realmente o incomoda, o fato de que você foi espancado ou ter sido espancado por Sir Alex? — Ele lançou-lhe um olhar duro que demonstrava que a pergunta havia atingido um nervo. — De qualquer forma, não acho que se fosse Douglas O Negro você estaria tão irritado. — sua mandíbula endureceu até que o músculo se contraiu — o que ela encarou como concordância.

Ela deu um passo mais perto dele e colocou uma mão em seu braço, aliviada por ele não se afastar desta vez. — Eu ouvi quando ele disse que não quer mais ser seu parceiro. — tarde demais, ela se lembrou de que ele não sabia que ela sabia sobre os Fantasmas de Bruce, mas ele não pareceu notar. — Vai ser melhor. — Eu me sinto culpada. Sei que Sir Alex estava tentando defender a minha honra, mas eu nunca quis ficar entre vocês. — Você não nada. Isto não tem nada a ver com você, não realmente. Os problemas entre mim e Seton são antigos. — Mas ele é seu amigo. Eu sei como é difícil... — Ele não é meu amigo, — ele olhou para ela como se ela fosse louca. —Ele é maldito ingl... Ele parou tão de repente, o silêncio que se seguiu parecia tão alto como um trovão. — Inglês. — ela terminou suavemente. Ele praguejou e levantou o queixo para encontrar o seu olhar de novo. — Não foi isso que eu quis dizer, Rosalin. Só estou com raiva. Falo um monte de coisas que não quero dizer quando estou com raiva. — Como se casar comigo para se vingar do meu irmão? Ele fez uma careta, que devido às lesões no rosto deve ter-lhe causado alguma dor. — Sim, como isso. Eu não quis dizer isso.

— Qual parte? Casar comigo ou fazê-lo por vingança? Tudo pareceu parar: a brisa fresca no ar da noite, o brilho da luz das tochas sombreando seu rosto, o som de sua respiração, mesmo o pulsar de seu coração. Seus olhos percorreram sua expressão rígida, procurando algum tipo de fenda, algum tipo de ternura. Ela estava fazendo exatamente o que esperava não ter que fazer — pressionar — mas com Cliff prestes a cumprir o seu lado da trégua, o tempo estava se esgotando. Ele segurou seu rosto com a mão. Havia sangue apenas nos seus dedos e a olhou nos olhos. Sua expressão se abrandou em seguida e ela sentiu a esperança crescer em seu peito. — Deus sabe que não tenho direito, e seria uma tolice, por muitas razões, mas sim, se fosse possível, eu me casaria com você. A ideia de devolvê-la... — sua voz ficou quase sumiu. — Está me matando. Eu adoraria simplesmente dizer ao seu irmão para ir para o diabo, mas há muita coisa em jogo. Estamos perto da trégua, Rosalin. Posso sentir. Não posso fazer nada que comprometa isso. É muito importante, — ele fez uma pausa. — Não posso deixar que as mortes deles percam o significado. Não posso decepcioná-los. Claro que não podia. Ela entendia provavelmente mais do que ele percebera. Mas foi o que ele disse que causou a enorme felicidade crescer dentro dela como uma grande bola de luz do sol. Um largo sorriso em seus lábios. — Você está falando sério? Seus olhos piscaram com cautela. — Espere querida, não se empolgue. Você ouviu o que eu disse? Se fosse possível.

— Eu ouvi o que você disse, — ele queria se casar com ela. Ele a amava. Cheia de necessidade de estar em seus braços, ela enterrou a cabeça contra o peito vestido de couro dele e esperou que seus braços a envolvessem. Ele o fez. Mesmo sujo e com o fedor da batalha, ela saboreou o calor e a força masculina. Mas percebendo que ele estava confuso, ela se afastou. — É possível, você não vê? Vou escrever para o meu irmão. Pela segunda vez em menos de cinco minutos, ele olhou para ela como se ela estivesse louca. — Simples assim, e você acha que ele vai me receber na família? — Ele riu sem humor. — Faria um dia frio no inferno antes de Clifford aceitar o casamento de sua irmã com um rebelde Escocês. Ela balançou a cabeça. — Você está errado. Meu irmão me ama e fará tudo para me ver feliz. — Mas ele me despreza. Nunca concordaria com um casamento entre nós. Só consigo pensar em outra pessoa na Cristandade com menos chances de desposar sua amada irmã — mas Douglas já é casado. Você não entende Rosalin, você não é parte disso. — É você que não entende. Não nego a verdade do que você diz. No início, ele vai ficar com raiva, recusar e provavelmente tentar tudo o que for possível para me convencer do contrário. Mas assim que entender que eu amo você, e que você — hum — se preocupa comigo, ele vai concordar. Se ele notou seu deslize na língua, ele não demonstrou. — Como você pode ter tanta certeza? — Porque sei de uma coisa: o amor que ele tem por mim é maior do que o ódio que ele tem de você.

— Eu não teria tanta certeza. Seu coração se apertou. Ela olhou para ele e por um momento sentiu uma centelha de dúvida. O amor era mais forte do que o ódio. Se ele a amava, saberia disso — não saberia? Ela olhou para ele e disse solenemente: — Mas eu tenho certeza. Deixe-me escrever para Cliff e você vai ver. Ele estudou seu rosto e ela pôde senti-lo ceder. — Que mal há? — Ela pressionou. — O pior que ele pode dizer é não. Ele não fará nada enquanto você me tiver. Ele não parecia tão convencido. A ponta do polegar dele correu sobre seu lábio inferior. — Não quero que você se decepcione. Ela se iluminou, sentindo a vitória. — Não vai acontecer. Talvez eu tenha que ir até ele quando a trégua estiver estabelecida e persuadi-lo, mas, eventualmente, ele vai concordar. Do jeito que seus braços a apertavam, ela poderia dizer que ele não gostou da ideia. Abaixou sua boca para a dela em uma breve carícia que seguiu a trilha de seu polegar. Ela suspeitava que apenas os cortes e as contusões o impedisse de aprofundar o beijo. Quando ele levantou a cabeça, seus olhos se encontraram. — Escreva a carta, Rosalin, e vamos ver o que seu irmão tem a dizer.

Vinte e Quatro A espera pela resposta de Cliff parecia interminável. Rosalin sabia que em parte era porque Robbie não tinha ido ao seu quarto desde a noite da horrível luta com Sir Alex. Havia dormido em seus braços depois de ele ter sido lavado e de ter suas feridas cuidadas, mas não tinham feito amor. Ela assumiu que era devido aos seus ferimentos, mas agora, dois dias depois, suspeitava que tivesse mais a ver com Sir Alex e sua desaprovação não tão sutil. Robbie admitindo ou não, o que quer que tenha acontecido no pátio naquela noite o manteve longe de sua cama. Ele usou como desculpa sua retirada da torre e alguns problemas com seus homens, e, mais tarde, o retorno da idosa Lady Douglas (madrasta de James) e da irmã de Douglas, Elizabeth, mas Rosalin sabia que era mais do que isso. A realidade que ele havia sido capaz de ignorar — enquanto Sir Alex e Douglas estavam fora — estava agora diante dele com força total. Nenhum deles escondeu seus sentimentos sobre o assunto. Rosalin entendia que a desaprovação de seus amigos pesava sobre ele, e isso só a fez mais ansiosa pela resposta de seu irmão. Mesmo que Robbie passasse tanto tempo com ela quanto podia, quando não estava ocupado com seus deveres, ela perdera a proximidade e a garantia de dormir em seus braços. O único consolo era que ele parecia tão miserável quanto ela. A saudade em seus olhos, quando olhava para ela, quase conseguia acalmar as dúvidas que haviam surgido das palavras duras dele para Sir Alex. Quase. Com o retorno das senhoras Douglas, o confinamento de Rosalin na torre já não era tão solitário. Elizabeth Douglas era encantadora, bonita, e tão refinada quanto qualquer senhora das relações de Rosalin na Inglaterra, em

outras palavras, ela não podia ser mais diferente de seu irmão aterrorizante. Aos vinte e um anos, Elizabeth era sofisticada para sua idade, e Rosalin não ficou surpresa ao saber que ela havia passado grande parte da última década na França. De certa forma, isso também a tornava uma forasteira como Rosalin. Elizabeth havia sido arrancada de seus amigos — incluindo Joanna — muito jovem, e retornado para uma Escócia estranha. Considerando como Rosalin ansiava pela tranquila vida simples do campo, ela poderia dizer que Elizabeth sentia falta da sua vida emocionante na corte francesa. Mas Rosalin se perguntava se havia algo que a perturbava. Elizabeth passava muito tempo olhando para fora da janela, como se esperasse ver alguém chegar cavalgando pelo jardim. Lady Douglas era educada, mas parecia compartilhar os sentimentos de seu filho, se não sua animosidade em relação aos Cliffords. No entanto, como passava a maior parte do tempo na cama se recuperando de uma doença que havia adquirido durante a viagem, sua enteada estava livre para passar quanto tempo quisesse junto a "refém." Joanna costumava se reunir com elas após a refeição do meio-dia para bordar por uma ou duas horas antes que precisasse retornar aos seus deveres. Hoje, elas estavam no espaço que Joanna dividia com o marido no segundo andar acima do Salão. Era a câmara mais espaçosa, com uma enorme cama de dossel, uma grande lareira, duas grandes cadeiras estofadas, mesa de trabalho, um banco e duas pequenas janelas que davam para o pátio. Como nos outros ambientes, os móveis eram surpreendentemente refinados e confortáveis para o castelo da família de um homem que supostamente era um fora da lei. Desde que a guarnição de Cliff havia destruído o Castelo Douglas e depois enviada para casa no ano anterior, ele não havia tentado preenchê-lo novamente. As guarnições inglesas nas áreas circundantes faziam varreduras periódicas em Douglas, mas Elizabeth lhe disse que isso era mais para marcar

presença do que qualquer outra coisa. Os rebeldes partiam quando avisados e retornavam assim que os soldados ingleses tinham ido embora. Cliff e o Rei Edward podiam não concordar, mas a terra efetivamente havia sido concedida aos escoceses. Elizabeth estava perguntando sobre a viagem anterior de Rosalin para a Escócia, quando a porta se abriu de repente e Douglas O Negro invadiu o quarto. Como Robbie, ele tinha um jeito de fazer uma grande sala, de repente, se tornar pequena. Ao contrário de Robbie, no entanto, ele fazia sua pele formigar de medo, não de emoção. Ela fez o que pôde para afundar em sua cadeira e desaparecer. Mas não foi necessário, Sir James Douglas só tinha olhos para sua esposa. Ele andou a passos largos e se inclinou para roçar um beijo sobre sua bochecha. — Sinto muito por perturbar seu descanso, mas queria que você soubesse que vou me ausentar por algumas horas. Do jeito que ele disse descanso, Rosalin poderia dizer que ele estava descontente por encontrar sua esposa fora da cama. A terna afeição de Douglas por sua esposa ainda era uma coisa a se acostumar. Perto de Joanna, ele parecia quase humano. Joanna desconsiderou a reprimenda com um rolar de olhos. — Algo errado? Rosalin não deixou escapar a maneira como seu olhar deslizou na direção dela. — Não, apenas uma curta viagem de vistoria. Estarei de volta antes do anoitecer. Joanna franziu o cenho parecendo como se quisesse interrogá-lo ainda mais. Mas deve ter percebido que ele não falaria com Rosalin no quarto e deixou o assunto morrer.

— Não fique em pé por muito tempo hoje, mo ghrá, — disse Douglas com firmeza, mas com algo em sua voz que denotava preocupação real. — Você não deve se cansar. Precisa de descanso. Joanna estendeu a mão e a colocou no rosto carrancudo de seu marido. — Estou bem, James. E o bebê também. Seus olhos se encontraram, e algo tão forte e poderoso passou entre eles que Rosalin teve que se virar, sentindo-se como uma intrusa. Um momento depois, o guerreiro terrível saiu do quarto e Rosalin pôde respirar novamente. Joanna deve ter notado a reação dela. Ela sorriu. — Você sabe que não tem nada a temer do meu marido. Ele nunca a machucaria. Ele nunca faria mal a mulher nenhuma. Embora ela sentisse que Joanna falava a verdade, Rosalin ouvira muitas histórias terríveis e estava muito consciente do ódio dele em relação a seu irmão para estar completamente relaxada na presença de Sir James Douglas. O mesmo podia ser dito de Robbie, ela percebeu, mas ele era diferente. Ela havia conhecido o lado nobre antes que ouvisse suas histórias. — Jamie sempre teve esse lado cavalheiresco, — disse Elizabeth. — Lembra quando ficamos presas do outro lado da margem perto de Boradleeholm, e as ondas ficaram muito altas para atravessar, e ele e Thommy decidiram nos carregar... Ela parou tão bruscamente que Rosalin olhou para cima de seu bordado. O rosto de bela-princesa-de-contos-de-fadas de Elizabeth parecia feito de gelo e prestes a rachar. Joanna preencheu a pausa constrangedora. — Sim, eles nos carregaram. Eu me lembro. Elizabeth se recuperou e conseguiu dar um pequeno sorriso. — Foi há muito tempo. Nós éramos crianças. — Ela parecia estar dizendo isso a si mesma.

— Sim, mas as coisas importantes não mudam. — disse Joanna suavemente. Elizabeth encontrou o olhar de sua cunhada por um instante, e então se virou como se não quisesse ouvir o que ela estava tentando dizer. Ela se virou para Rosalin. — Jo está certa. Você não tem nada a temer de meu irmão apesar de sua reputação, — Ela sorriu descaradamente. — Além disso, do jeito que Boyd olha para você, suspeito que ele mataria James se ele olhasse torto para você. Rosalin tentou não corar, mas não podia deixar de ficar satisfeita por Elizabeth ter notado. Elizabeth estava de pé perto da janela olhando para fora. — Seu Boyd é tão bonito quanto feroz e um tipo imponente. Toda vez que ele chega com James, causa uma grande comoção. Todas as jovens mulheres da aldeia enlouquecem, você sabe. Tem havido muita conversa. — Fofoca, você quer dizer, — disse Joanna severamente. — Você não deveria ouvir as criadas, Lizzie. Rosalin morria de vontade de perguntar o que estavam dizendo, mas conseguiu se controlar. Elizabeth se afastou da janela, e Rosalin teve que resistir ao impulso de saltar e trocar de lugar com ela, percebendo que Robbie provavelmente estava ali fora. — De que outra forma eu aprenderia alguma coisa? — Elizabeth sorriu. Elas conversaram sobre outros assuntos por um tempo, mas Rosalin conseguiu encontrar uma maneira de perguntar a Joanna algo que havia despertado sua curiosidade na primeira vez que ouviu James Douglas cumprimentar sua esposa, e depois novamente hoje. — Joanna, o que mo ghrá quer dizer? Joanna sorriu. — É um termo carinhoso. Significa meu amor.

Rosalin sentiu o coração subir em seu peito e bloquear sua garganta, cortando a respiração. Meu amor. Não "minha linda." O diabo sorrateiro! Ele mentiu para ela! Mentiu! E ela nunca havia sido mais feliz em sua vida. Ele a amava. Sua inquietação sobre suas razões para o casamento desapareceu, e tudo o que restava era felicidade e emoção. Ela não podia esperar pela resposta de Cliff. *** Robbie sentia como se sua alma estivesse presa a meio caminho entre o céu e o inferno, e como se Deus e o diabo estivessem lutando pelo seu destino. A espera pela resposta de Clifford era agonizante. A separação de Rosalin era insuportável. Literalmente. E ele não podia aguentar muito mais. Para o inferno com Seton! Para o inferno com Douglas! Ele não ia perder mais nenhum tempo do que ele e Rosalin pudessem ter juntos. Se Deus quiser, seria mais do que um dia ou dois. Por mais que Robbie dissesse a si mesmo que deveria estar meio louco ao se deixar empolgar com a inútil carta dela para Clifford, ele não podia deixar de ser motivado pela certeza e convicção absoluta dela no irmão. Robbie queria acreditar nela. Queria acreditar que era possível. Tanto era assim que tinha ido contra seus instintos e feito algo que nunca pensou que faria nesta vida: confiar em um inglês, ou melhor, em uma mulher inglesa. Casado? Cristo, ele ainda não podia acreditar. Três semanas antes, o pensamento nunca teria passado pela sua cabeça. Mesmo depois do que tinha acontecido entre eles, nunca havia imaginado que fosse possível. Mas Seton estava certo. Ele agiu de forma egoísta. Ele queria fazê-la sua, quando sabia malditamente bem que ela não podia ser. Ele tinha que pelo menos tentar fazer isso direito. Apenas esperava que não estivesse cometendo um maldito grande erro.

Seton estava certo sobre um monte de coisas, tudo havia mudado. E agora o futuro de Robbie dependia das boas graças de Sir Robert Clifford. O mundo inteiro parecia ter virado de cabeça para baixo. Com um plano em prática, ou pelo menos parte dele, Robbie esperou sua oportunidade. Encontrá-la sozinha não era fácil com Elizabeth Douglas aparentemente ligada a seu quadril, mas no momento em que Joanna e Elizabeth apareceram no salão preparado para a refeição da noite, ele deslizou pelas escadas direto para o quarto de Rosalin. Ela raramente se aventurava no salão, a menos que tivesse certeza que ele estaria lá. Ela estava de costas para a porta, olhando pela janela, quando o mandou entrar. — Basta colocar a bandeja sobre a mesa. — disse ela. Em vez disso, ele deslizou o braço ao redor da cintura dela e baixou sua boca para sussurrar em seu ouvido: — Procurando alguém? Ela gritou e se virou. — Você me assustou! — Ele sorriu, e ela colocou as mãos nos quadris. — De fato, eu estava procurando alguém. Lady Joanna disse que Sir Thomas é esperado nos próximos dias. Ele estava começando a entender por que Douglas ficava tão irritadiço cada vez que Joanna mencionava o nome de Randolph. Ele teria que mantê-la longe de MacGregor. Ele puxou-a com força contra ele e disse sombriamente: — Isso não é engraçado, Rosalin. Seu tom de advertência não teve efeito sobre seu sorriso e seus olhos brilhando com malícia. — Discordo. Acho que é bastante engraçado. O que tem Sir Thomas que faz todo o resto de vocês se exaltarem como ursos nervosos? Seu belo rosto? Aqueles lindos olhos azuis? O cavalheirismo... Ele a parou com um beijo. Um beijo longo e ardente que deixou ambos corados e respirando pesadamente.

— Deus, como senti sua falta. — ele gemeu, deslizando a boca em torno de seu pescoço. Ele segurou seus seios e começou a trabalhar nos laços de seu vestido. — Espere, — disse ela, olhando para ele. — Será que a resposta do meu irmão chegou? É por isso que você está aqui? Ele balançou a cabeça, lamentando por desapontá-la. — Não. Estou aqui porque não podia mais ficar longe. — A sensação de seu corpo pressionado contra o dele estava deixando-o louco. Mas ela o empurrou de volta. — Por que você ficou longe? Ele a havia ferido, percebeu — involuntariamente. — Estava tentando fazer a coisa certa. — Por causa de Sir Alex? Ele endureceu. — Não. Ela não acreditou nele. — Você tem que falar com ele. Ele cerrou a mandíbula. — Não há nada para falar. Mas ela estava certa. A distância entre ele e Seton nunca havia sido tão grande; a tensão entre eles era tão espessa que parecia prestes a explodir. Ele sabia que provavelmente lhe devia algum tipo de desculpas, mas continuou esperando a raiva de Seton morrer como sempre acontecia. Só que desta vez não aconteceu. O que realmente o confundiu, porém, era que Seton não havia contado a ninguém que ele o tinha vencido. Robbie pensou que ele sairia gritando isso pelos malditos parapeitos. Deus sabia que ele tinha todo o direito. Robbie havia sido duro com ele ao longo dos anos. Talvez demasiado duro, reconheceu severamente. — Jesus, você é teimoso!

Ela parecia tão brava que ele teve que sorrir. — Sim. É uma das minhas qualidades mais cativantes. Ela soltou uma risada aguda e balançou a cabeça. — É mesmo? Eu odiaria ver as menos cativantes. Ele empurrou suas costas contra a parede de pedra, prendendo as mãos nos lados de sua cabeça. — Você quer continuar falando sobre todas as minhas boas qualidades ou devo mostrar algumas? Seus olhos queimavam com calor. — O que você tem em mente? Ele moveu seus quadris contra os dela, deixando-a sentir exatamente o que ele tinha em mente. — Esta, por exemplo. Calor emanava do corpo dela e ele gemeu. Fazia muito tempo. Ela soltou um pequeno suspiro doce, e ele estava prestes a se inclinar e beijar seu pescoço de novo quando ouviu um som que o fez olhar para fora da janela à sua direita. Ele franziu a testa. — O que houve? — Seton e Douglas. Maldição, pensei que teríamos mais tempo. Eles deveriam demorar mais algumas horas. Ele olhou com mais atenção quando eles se aproximaram, e ficou tenso. Estavam cavalgando muito rápido. Algo estava errado. Ele se voltou para ela, a decepção, provavelmente, tão evidente em seu rosto quanto no dela. Inclinando-se mais uma vez, ele lhe deu um beijo rápido. — Nós vamos ter que retomar isso mais tarde. Ela assentiu com a cabeça. Ele estava quase na porta quando ela disse: — Espere! Você acha que pode ser algo sobre o meu irmão? Ele parou, voltando-se para olhar para ela. — Possivelmente.

Poucos minutos depois, quando ele encontrou Seton e Douglas argumentando enquanto cavalgavam para o pátio, ele soube que era uma resposta de Clifford — apenas não a que ele havia imaginado. Robbie cerrou os punhos, aumentando a dor de seus dedos quebrados em pura fúria animalesca. Por Deus, Clifford iria pagar por isso! *** Robbie tinha ouvido o tipo de história relatada pelo jovem tantas malditas vezes que isso deixou de afetá-lo. Um dia normal. Os felizes moradores desavisados do vilarejo cuidando de suas vidas. A primeira pontada de alarme quando os soldados são avistados. O terror e o caos que se segue quando a primeira espada começa a baixar. Mas o horror de sempre o golpeou de novo. E desta vez foi pior. Muito pior. Desta vez, ele era o culpado. O rapaz tinha a idade de Malcolm e estava lutando para conter as lágrimas enquanto descrevia o que tinha visto. — Eles estavam matando todo mundo, meu senhor. Mulheres, crianças — não parecia fazer diferença. Eles nos culparam por ajudá-lo. Disseram que nós éramos todos rebeldes por manter seu acampamento na floresta abastecido. Alguém contou sobre as suas, uh... Mulheres. Os homens estavam puxando-nos para a rua quando minha mãe me colocou sobre o cavalo e disse-me para cavalgar e tentar encontrar Douglas. Eu não queria olhar para trás. — Mas você olhou? O garoto balançou a cabeça e desviou o olhar. Ele disse a eles tudo que tinha visto, e as imagens ainda estavam ardendo claramente na mente de Robbie. Deirdre e as outras mulheres do acampamento sendo... Seu estômago se revirou quando a bile subiu até sua garganta. Estupradas e mortas provavelmente por culpa dele. Como ele pôde deixar isso acontecer? Como pôde ter sido tão estúpido?

— Foi quando vi outros soldados que cavalgavam em minha direção e pensei que nunca iria escapar. Havia centenas deles, por toda parte. Nunca vi tantas armas. — Homens de Clifford. — Douglas informou, mesmo quando Robbie já havia ouvido antes. A descrição do rapaz sobre as armas não deixava nenhuma dúvida. Como a descrição de Sir Henry e seus homens. Aparentemente, o noivo de Rosalin não havia retornado para a Inglaterra afinal. Mas em breve ele lamentaria não ter retornado. — Isso aconteceu ontem? — Robbie perguntou ao rapaz. Ele assentiu. Provavelmente logo depois de receber a carta de Rosalin. Ela tinha razão. A primeira reação de Clifford tinha sido raiva. E veja o que tinha custado. O rapaz obviamente havia atingido o limite de suas forças. Ele esteve no inferno e o encarou. Mas disse tudo o que precisavam saber. Robbie agradeceu ao menino e o liberou para se alimentar e descansar. — Cheguei aqui logo que pude, meu senhor, — disse o menino. — Você acha que… Robbie queria mentir, mas o menino merecia a verdade. Ele havia deixado sua mãe e irmãos mais jovens para trás a fim de buscar ajuda. Robbie balançou a cabeça. Não havia chance de salvá-los. Os aldeões estavam mortos e Corehead, sem dúvida queimada até o chão. As lágrimas estavam caindo despercebidas agora. — Mas você vai fazer alguma coisa, não vai? — Perguntou o rapaz. — Sim, rapaz, eu vou. — Ele iria revidar e atacar duro em um lugar que machucava. Ele trocou olhares com Douglas e o outro homem assentiu. Eles tinham passado por isso tantas vezes antes que ele sabia exatamente o que fazer. Douglas deixou o salão para começar a preparar os homens. Robbie estava

prestes a seguir quando Seton o deteve. Era a primeira vez que o outro homem falava com ele diretamente desde a luta. — O que você vai fazer? Como seu parceiro — ex-parceiro — fazia para transmitir sua desaprovação em um tom tão baixo, Robbie não sabia. Mas ele conseguia. — O que diabos você acha que vou fazer? Você ouviu o que eles fizeram. — Mas isso não faz sentido. Por que Clifford faria algo assim? A mandíbula de Robbie travou. Porque Robbie tinha acreditado em Rosalin quando ela disse que seu irmão faria qualquer coisa por ela, e a deixou escrever a carta. — Ele tinha um motivo. — Que diabos você fez? A acusação estalou o último fio de controle de Robbie. — Porra, eu escutei você, foi isso que fiz! Tentei fazer a coisa certa, e veja o que aconteceu. Deixei que Rosalin escrevesse para Clifford para abrir as discussões — não é isso que você está sempre querendo fazer? Bem, isso é o que se recebe quando se negocia com os ingleses. Bem, se você tem algo mais a dizer, diga, ou saia do meu caminho. — Eu diria a você para não fazer nada precipitado, mas estaria gastando saliva. Então, qual aldeia inglesa vai sentir sua espada em retribuição desta vez? Robbie endureceu seu olhar, imaginando qual seria a reação dele. — Brougham. Seton se encolheu, chocado. — Por Deus, pensei que você se importava com ela. Essa é sua casa. Robbie rangeu os dentes. — Não é a casa de Rosalin, é a casa dele. Isto não tem nada a ver com ela.

— Tem tudo a ver com ela. Ela pode ter passado a maior parte da vida em Londres, mas é onde nasceu. Ela nunca vai te perdoar. Espero que saiba a porra que está fazendo. — Eu sei. Estamos partindo dentro de uma hora, esteja pronto. Seton balançou a cabeça. — Eu disse a você que para mim acabou. Não serei parte disso. O desafio tinha sido lançado. — Posso ordenar sua ida. — Sim, e eu posso recusar. Eles olharam um para o outro, se encarando como haviam feito tantas vezes antes. Mas Robbie sabia que agora era diferente. Desta vez, Seton não ia recuar. Robbie deveria jogá-lo na prisão poço. — Certo. Você pode ficar aqui e guardar Rosalin. — Você quer dizer juntar os pedaços do coração que você está prestes a quebrar. Os olhos de Robbie se estreitaram, recusando-se a ser instigado. — Haverá tempo de sobra para eu consertá-lo novamente. — O que você quer dizer? — Isso significa que ela terá o que quer. Ela não vai voltar. Vou me casar com ela assim que voltar. Vamos ver como Clifford engole isso. *** Pela segunda vez, Rosalin pegou o final de uma conversa que desejou não ter ouvido. Elizabeth havia subido e dito que os homens estavam saindo. Rosalin tinha corrido ao térreo ao lado dela e tropeçado neste... Pesadelo. Não vai voltar... Casar com ela assim que voltar. Palavras que esperava ouvir, mas não assim. Ela não entendeu. O que poderia ter acontecido? Robbie olhou e as viu ali de pé. Seu rosto era uma máscara escura de raiva, e quando seus olhos se encontraram com os delas eram tão duros como

ônix. Ele parecia frio e inflexível, e tão distante que poderia estar em uma ilha remota. — Você está indo embora? — Perguntou ela. Seus olhos transmitiam raiva...? Culpa? Ressentimento? Deus, não, ela devia estar imaginando. — Sim. Ela deu um passo em direção a ele. — Mas por quê? Ele não disse nada, apenas continuou ali com aquele horrível olhar no rosto. O olhar dela deslizou para Sir Alex. Ele parecia furioso. — Diga a ela, Boyd. Você deve isso a ela, pelo menos. — Ele estendeu a mão para Elizabeth. — Venha, Lady Elizabeth. Lady Rosalin vai querer ouvir isso em particular. Deixados sozinhos, pelo menos tão sozinhos quanto poderiam estar em um canto do caótico Salão, Rosalin se aproximou dele com cautela. — Diga-me o que aconteceu. — O que aconteceu? — Repetiu ele. — Ela podia ver os músculos se moverem em seus ombros e soube que ele estava lutando pelo controle. — O que diabos você escreveu ao seu irmão? Ela recuou diante da explosão de raiva. — Exatamente o que nós discutimos. Que eu queria ficar na Escócia. Que era feliz aqui. Que tinha me apaixonado e pedi que ele concordasse com um encontro em pessoa sob a bandeira da trégua. — Sim, bem, ele recusou. Ela franziu a testa. — Eu disse que era possível. Mas serei capaz de convencê-lo. — É tarde demais para isso. Deus! Não posso acreditar que deixei você me convencer a isso.

Ela estendeu a mão e colocou uma mão no braço dele, mas ele estava imune ao seu toque. — Por favor, você não vai me dizer o que aconteceu? E então ele disse. Com todos os detalhes brutais até que a cor abandonou seu rosto, seu estômago se revolveu, e seus joelhos se transformaram em geleia. — Não. — ela sussurrou. Era horrível demais até para imaginar. Ela chegou a considerar algumas dessas mulheres como amigas. Jean. Oh Deus, pobre Jean! Não podia ser verdade... Podia? Por um momento, ela sentiu uma ponta de incerteza. Ela conhecia seu irmão, mas não o comandante militar, o homem que desprezava Robbie Boyd e tinha feito sua missão capturá-lo. Cliff teria ficado com raiva, mas fazer algo assim? Não. Ela se recusou a acreditar. Rosalin não tinha ilusões sobre a crueldade de seu irmão na guerra, mas ele não iria sancionar o assassinato de crianças e a violação de mulheres. Não importa o nível de ódio. E acima de tudo, ela estava absolutamente certa de que ele não faria algo que pudesse prejudicá-la. Tinha que haver uma explicação. — Deve haver algum engano. Cliff não faria isso. — Não diga isso! — Ele puxou o braço para longe. — Não quero ouvir mais uma maldita palavra sobre o que o seu santo irmão iria ou não fazer. Se eu tivesse dado ouvidos aos meus instintos, nada disto teria acontecido. Eu sabia. Não posso acreditar que deixei você me convencer. Eu disse que nunca iria funcionar. Não se pode raciocinar com cães ingleses. Rosalin tentou controlar seus frenéticos batimentos cardíacos. Tentou dizer a si mesma que ele estava zangado e não quis dizer isso. Mas foi ficando mais e mais difícil arranjar desculpas para ele. Cada vez mais difícil ser compreensiva diante da fria desconfiança dele. — Tem que haver alguma explicação. Envie alguém que...

— Não! — A voz dele veio como o estalo de um chicote. — Não há explicações, nem enviados, nem nenhuma maldita mensagem. Seu irmão terá minha resposta. A única resposta que ele vai entender. Rosalin nunca o tinha visto assim e não sabia o que fazer. Como acalmálo. Como alcançá-lo. — Por favor, Robbie, não faça nada precipitado. Não faça nada com raiva que não possa ser desfeito. Atacando assim... É errado. — Cristo, você fala exatamente como Seton. Não preciso de nenhum de vocês para ser minha maldita consciência. Como Seton. Rosalin cambaleou diante da verdade. Por que ela nunca enxergou isso antes? Ela era como Sir Alex e é assim que Robbie sempre a veria. Como uma inglesa. Como alguém incapaz de ser totalmente confiável. Robbie e Sir Alex haviam lutado juntos durante sete anos e ele ainda se recusava a vê-lo como um amigo. Em sete anos ainda estaria esperando que ele percebesse que a amava? E se nunca acontecesse? Uma sensação de peso se estabeleceu em seu estômago. Ela sentiu o futuro feliz que havia imaginado escorregando para longe dela como um sonho obscuro. Ela tinha que chegar até ele. — Você não vai? Não vai nem mesmo se perguntar se é certo ou errado? Ou talvez não importe mais. Talvez seja apenas sobre quem pode infligir mais dor. O que aconteceu com todos os princípios naqueles livros que você ama? Sua boca se apertou. — Eu não vou me defender para você. — Então se defenda para si mesmo. Seu silêncio era resposta suficiente. Rosalin escrutinou seu rosto, procurando uma brecha. À procura de qualquer coisa para garantir que não estava errada. Onde estava o homem que lia filosofia, que manteve um jardim

porque o lembrava de um tempo de paz, que ajudou a salvar uma aldeia do fogo, e que defendeu uma mulher que a maioria dos homens consideraria abaixo de sua consideração? Ela se convenceu de que, apesar do escudo cruel, em sua essência, ele ainda era um homem honrado, ainda um homem capaz de distinguir o certo do errado. Mas estava errada. Tudo o que importava era a vingança e a determinação obstinada de vencer a qualquer custo, justificada ou não. — Então, você vai retaliar com uma incursão na Inglaterra? Você vai matar crianças e estuprar mulheres também? A boca que tinha beijado há menos de uma hora se tornou dura e ameaçadora. Ele a pegou pelo cotovelo e puxou-a contra ele. — Não me provoque, Rosalin. Já fui provocado hoje além do que posso suportar. Ao contrário de seus compatriotas, não mato inocentes, mas seu irmão vai sentir dor perto de casa. Não tenho nenhuma dúvida disso. Ela levou um momento para perceber o que ele queria dizer. Mas ela o conhecia muito bem, conhecia a maneira como ele pensava, e seu estômago se contorceu de horror. Ela olhou para ele, incrédula. — Não Brougham. Querido Deus, por favor, não me diga que você está indo atacar o único lugar no mundo que foi um lar para mim. Como você pode me machucar desse jeito? Ele a soltou e se afastou. — Isto não tem nada a ver com você. Cada palavra soava como traição. Era traição. Deus, que tola havia sido! Ela pensou que se o amasse o suficiente, poderia puxá-lo de volta do abismo negro em que estava afundando. Ela se convenceu de que havia mais para ele do que o invasor implacável. Mas e se não houvesse? E se ele fosse apenas isso? — Isso tem tudo a ver comigo, e se você não enxerga isso agora nunca enxergará. Quando você machucá-los, vai me machucar. Sei que quer vingança

para seus amigos e para o povo da aldeia, mas este não é o caminho. Isso é errado. Estou implorando para não fazer isso. Dê a Cliff uma chance de se explicar. Nada. Nenhuma reação. Nenhum vislumbre de suavização no olhar. Sem remissão. Suas palavras nem sequer arranharam sua determinação férrea. Ele estava quebrando seu coração e não se importava. — Você não vai me influenciar, Rosalin. Não agora. — Então, eu significo assim tão pouco para você? Deus! Pensei que você me amasse. Mo ghrá. — sua voz se quebrou, a emoção enviando uma bola quente em sua garganta. — Você me chamou de meu amor. Ele pareceu surpreso, e talvez até um pouco envergonhado por sua descoberta. Mas se ela estava esperando uma declaração, ficou decepcionada. Brutalmente decepcionada. — Meus sentimentos por você são irrelevantes. Irrelevantes. Quão pouco importava para ele. Ele poderia muito bem ter jogado seu coração no chão e sapateado sobre ele. — Pare de tentar me forçar a escolher entre você e seu irmão. Se você quiser uma chance de que isso funcione, já lhe disse para não se colocar no meio disso. Lágrimas de frustração invadiram seus olhos. — Eu estou no meio, você não vê? — Assim como Sir Alex, ela estava presa entre dois lados. — Estarei sempre no meio. — Você está errada. Quando nos casarmos sua lealdade pertencerá a mim, só a mim. — Nesse caso o que você espera que eu faça, tatue seu nome no meu coração? Renuncie ao meu país, rei, e família? Nada disso vai mudar o fato de que sempre serei inglesa e uma Clifford. — Não me lembre disso.

Ele não tinha ideia do quanto seu comentário impensado feriu. Como parecia resumir a própria inutilidade de um futuro entre eles. — Eu sabia o quão difícil seria fazer essa relação funcionar, mas pensei que os desafios valeriam a pena. Ao contrário do que você possa pensar, não sou uma tola romântica vivendo em um mundo de fantasia. Eu sabia o que estava pedindo a você. Sabia o quão difícil seria para você superar o meu passado sendo inglesa e irmã de Robert Clifford. Mas nunca passou pela sua mente analisar tudo o que eu estava desistindo para estar com você? Você acha que quero deixar meus amigos, família, o homem que sempre esteve presente e que me protegeu por toda a minha vida, e a vida que eu tinha na Inglaterra para viver em uma situação hostil, em um país em guerra onde não conheço ninguém? Onde devo ficar trancada em uma torre para minha própria segurança? Onde no momento em que abro minha boca sou encarada com ódio e suspeita — até mesmo pelo homem que estou desistindo de tudo para estar junto? — Ela fez uma pausa, tão surpresa por sua explosão quanto ele. Percebendo que estava gritando, ela baixou a voz. — E os nossos filhos, Robbie? O que vai dizer a eles? Você vai virá-los contra o próprio tio? Obviamente, o pensamento nunca tinha ocorrido a ele, e ele parecia estar tendo dificuldades para considerar a ideia. — Nossos filhos serão escoceses. — E meio-ingleses. Sua mandíbula se apertou como se a pura força de sua vontade pudesse tornar isso falso. — Não vou discutir isso com você agora. — Se não for agora, então será tarde demais, — Ela se moveu em direção a ele, dando-lhe uma última chance para fazer a coisa certa. — Por favor, Robbie, não estou pedindo que você confie no meu irmão, estou pedindo que confie em mim.

Ele olhou longamente para ela. Algumas de suas palavras devem tê-lo alcançado, porque por um momento ele pareceu hesitar. Mas então, sua expressão mais uma vez se fechou. Ele balançou a cabeça. — Confiei, e veja o que aconteceu. Rosalin olhou para ele, incrédula. — Então, tudo isso é culpa minha? — A raiva subiu dentro dela. Raiva e indignação. — Eu disse a mim mesma para ser paciente, porque sei o que você passou. Entendo porque você encara meus compatriotas com tal ódio e desconfiança e Deus sabe que tem bons motivos, mas estou cansada de tentar provar a você que sou digna de sua confiança. Nunca lhe dei motivos para não confiar em mim, mas toda vez que acho que finalmente o convenci, algo acontece e você assume o pior. Quer se trate de supostamente eu enganar você para libertar Roger, supostamente mentir para você sobre ser noiva, ou quebrar minha palavra para escapar com os homens de Sir Henry. Bem, não vou mais fazer isso. Ou você confia em mim ou não. Meu irmão não fez isso. Estou pedindo para você esperar até ouvi-lo antes de procurar sua vingança. Ele se virou, frio e implacável. — Você pede demais. Ele cravou o último prego em seu coração. Este não era o homem que ela amava. Ela se perguntou se aquele homem já existiu. — Não, é você quem pede demais. Você espera que eu fique sentada assistindo como você destrói minha casa, minha família? Não vou fazer isso, — ela foi mais longe. — Sir Alex tentou me avisar que apenas uma coisa importa para você, você tentou me avisar também, mas eu não quis escutar. Eu me convenci de que você precisava de mim. Disse a mim mesma que você me amava. Que poderia fazê-lo feliz. — Você pode. — ele fez soar quase como uma concessão. Ela respirou fundo.

— Mas você não vai me fazer feliz. Você não é o homem para mim. Quando eu tinha dezesseis anos, me apaixonei por um jovem nobre guerreiro que vi fazer tudo que podia para salvar seus amigos nas piores condições. Eu me convenci de que ele ainda existia. Mas você estava certo. Ele não existe mais. A guerra mudou você. Você já viu muito. Você nunca vai voltar. Você está muito cego pelo ódio para enxergar o presente que está sendo oferecido, e estou cansada de tentar fazê-lo enxergar. Vá. Obtenha sua vingança, Robbie. Mas saiba que está matando qualquer chance de um futuro entre nós. — Pensei que você tinha escutado. Você não vai voltar, Rosalin. Nos casaremos assim que eu voltar. — Não vou me casar com você. Não, se você fizer isso. Não serei uma arma a ser usada contra meu irmão sempre que ele fizer algo que o desagrade. Seus olhos se estreitaram. Sem perceber, ele pegou-a pelo braço e puxou-a contra ele. — Não gosto de ameaças, Rosalin, nem de ultimatos. Você vai se casar comigo, maldição! Ela olhou para ele, vendo a fúria fria impressa nas belas feições. — Pensei que você não forçasse mulheres. Sua expressão fria rachou. De uma vez, ele pareceu perceber o que estava fazendo. Deixou cair seu braço. — Você está exagerando, — disse ele, talvez tentando convencer a si mesmo. —Eventualmente, você vai entender que fiz o que tinha que fazer. Assim como, eventualmente, ele veria que ela tinha feito o que tinha que fazer. Ela virou as costas, não querendo vê-lo se afastar dela. — Adeus, Robbie. Seu coração se apertou como se um espremedor retirasse a última gota de seu amor e lançasse em uma piscina a seus pés.

Ele hesitou. Ela queria pensar nele em guerra consigo mesmo. Queria pensar que ele finalmente entendeu a verdade que estava tentando dizer a ele. Mas sua determinação — e seu ódio — eram fortes demais. Ele se afastou, e com ele as últimas centelhas de esperança. Parecia como se ele estivesse cortando membro por membro dela. A dor e o desgosto eram insuportáveis. Ela ficou parada até que o som de cascos desapareceu na distância. Talvez ela tenha sido ingênua, e foi demais esperar que o amor pudesse curar feridas tão profundas quanto as dele. Robbie tinha razões para odiar e desconfiar. Mas ele deixou que isso o consumisse até o ponto de revidar sem questionar, e com uma crueldade que permitia não se importar com quem machucava no processo. Até mesmo ela. Rosalin já tinha o suficiente. Chega de Escócia. Chega de guerra. Chega de amar um homem que não tem capacidade de retribuir. Era o momento de deixá-lo. Ela iria encontrar Sir Alex.

Vinte e Cinco Robbie e uma força de quase cinquenta guerreiros, incluindo Douglas e vinte de seus melhores homens, atravessaram para a Inglaterra perto de Gretna. Eles contornaram a fortaleza fortemente defendida de Carlisle para oeste, aproveitando a cobertura que a zona rural arborizada oferecia, e passaram pela antiga muralha romana em Burgh by Sands perto de Solway Firth — o lugar onde o rei Edward I havia encontrado seu fim oportuno cinco anos antes. Eles cavalgaram quase um dia para chegar até ali, e ainda faltavam trinta e dois quilômetros até Brougham. Uma invasão tão ao sul da fronteira teria sido uma jogada de tolos há alguns anos. Mas a maré virou, e no ano passado grupos atacantes de Bruce tinham viajado através de boa parte desse mesmo campo. No entanto, o ataque era arriscado. Mas Robbie teve tempo para considerar todos os detalhes e planos para qualquer eventualidade. Ele estava pronto. Ou pelo menos deveria ser. Mas cada hora que o afastava do Castelo de Douglas aumentava sua inquietação e a crescente sensação de desgraça pairando sobre ele. Ele não conseguia apagar a imagem do rosto triste de Rosalin, ou o som de sua voz de sua mente. É errado... Você não é o homem para mim... Mataria qualquer chance de um futuro entre nós. Ele dizia a si mesmo que ela havia falado essas coisas em um momento de raiva e desespero, para fazê-lo mudar de ideia. Que ela não quis dizer isso. Quanto mais se afastava do Castelo de Douglas, mais temia que ela tivesse falado sério. Era como um peso pressionando para baixo em seu peito, tornando difícil respirar.

Maldita por fazer isso com ele. Maldita por fazê-lo questionar sua decisão! Não podia deixar que um ataque tão violento ficasse sem resposta. Clifford tinha que pagar. Olho por olho… Mas ela parecia ter tanta certeza, merda. Robbie repassou todo o relato do rapaz várias vezes em sua mente, analisando-o por todos os ângulos. O rapaz havia identificado os símbolos nos soldados, os homens de Clifford estavam lá — não havia qualquer dúvida disso — mas outros detalhes eram menos explícitos. O rapaz estava aterrorizado. Tinha sido caótico. Ele havia escapado nos primeiros minutos. O suficiente para ver o que estava acontecendo, mas ele teria visto todo o cenário? Robbie fez uma careta de raiva. Que diabos ele estava fazendo? Estava procurando qualquer desculpa para desviar de seu caminho? Ela o estava enfraquecendo, fazendo com que perdesse o foco. Se ela ia ser sua esposa, precisava saber que não podia interferir. E ela se casaria com ele. Não casaria? Minha casa... Como você pode me machucar assim...? Achei que você me amava. Amor? O que diabos ele sabe sabia sobre o amor? Mas uma coisa ele podia adivinhar. Ele achava que iria perdê-la. E o pensamento estava fazendo sua pulsação acelerar como algo semelhante a um ataque de pânico. — Diabos. Ele não sabia que havia falado em voz alta até que Douglas se virou para ele. Se havia alguém cujo rosto estava mais sombrio do que o de Robbie neste exato momento, era Douglas. Robbie não tinha perdido a discussão que ele tivera com Joanna enquanto se preparavam para partir e adivinhou que ela não aprovava a decisão que eles haviam tomado. — O que foi isso? — Disse Douglas, olhando ao redor. Eles haviam parado ao sul da muralha para dar água aos cavalos em um dos muitos braços

de mar — ou lagos, como os ingleses os chamavam — nesta área. Estava escuro, e eles planejavam dormir um pouco antes de retomar a jornada pela manhã. O ataque seria ao entardecer, dando-lhes a cobertura da escuridão para fugir. Pelo menos esse era o plano. — Nós precisamos voltar. — disse Robbie. Douglas parecia incrédulo. — Você está desistindo do ataque? Droga, Boyd! Que diabos está errado com você? O que ela te disse? — Não estou desistindo do ataque, — disse Robbie. — Pelo menos, não ainda. Mas preciso ter certeza que o rapaz estava certo sobre o que aconteceu. Precisamos ir até a aldeia e ver a verdade por nós mesmos. Douglas olhou para ele com ceticismo. — Isso é por causa da moça, não é? Ele não iria negar. Mas isso era apenas uma parte. — Bruce está contando com esta trégua com Clifford, e se há alguma chance de mantê-la, é meu dever fazê-lo. Não importa o quanto nós pessoalmente detestamos o bastardo. — E se você descobrir que Clifford foi o responsável? — Nós voltaremos. Houve alguns resmungos. Os homens não ficaram felizes por ser negada a oportunidade de exigir vingança pelo que havia sido feito para as mulheres e os aldeões, mas Robbie era o comandante, e eles confiavam que ele não faria isso sem um bom motivo. Maldição, ele esperava ter um. Foi algumas horas após o anoitecer do dia seguinte, quando se aproximaram de Corehead, a pequena aldeia escondida no fundo do coração das colinas e florestas de Ettrick, de onde Wallace havia reunido homens para lançar seu primeiro ataque aos ingleses dezesseis anos antes. Do topo da colina, Robbie teve a sua primeira visão da devastação. Ele esperava ver a aldeia

arrasada, com nada mais que brasas e as provas do massacre horrível que havia ocorrido. Não era isso que ele estava vendo. Douglas praguejou, e eles trocaram um olhar. Dessa posição estratégica, nada parecia estar errado. Não havia escombros negros de casebres queimados ou corpos empilhados ao longo da rua. Na verdade, embora mais tranquilo que o normal, ele podia ver algumas pessoas perambulando. O coração de Robbie começou a martelar. Ao se aproximarem, ele pôde ver alguns sinais de um ataque. Janelas quebradas, cercas tombadas, alguns potes quebrados e jardins pisoteados, mas essa era toda a devastação que parecia ter ocorrido e não a que o rapaz havia relatado. A notícia da chegada deles se espalhou rapidamente, e os moradores começaram a se reunir ao longo da rua enquanto eles se aproximaram. Para sua surpresa e alívio, viu Deirdre e as outras mulheres saírem de uma das cabanas. — Eu não entendo. — disse Douglas. — Nem eu. — Robbie respondeu severamente, mas teve a primeira suspeita de que quase cometeu um grande erro. Através de Deirdre e dos aldeões, ele soube o quão horrível foi o ataque. O rapaz estava certo sobre o que assistira; ele simplesmente não soube explicar corretamente. O primeiro grupo de soldados — de Spenser e seus homens — haviam chegado antes dos soldados de Clifford. Sir Henry e seus soldados tinham derrubado alguns dos aldeões e estavam puxando Deirdre e as outras mulheres para fora da cabana onde haviam se refugiado, para amarrá-las e estuprá-las pelo crime de se prostituirem com os rebeldes. Eles teriam sido mortos e o vilarejo incendiado — não havia dúvida disso, disse Deirdre — mas Clifford e seus homens chegaram e acabaram com a carnificina. No início, todos deduziram que ele estava ali para atacar também. Alguns aldeões tentaram resistir antes que entendessem que Clifford estava ali realmente para

salvá-los. Clifford prendeu de Spenser e seus homens e os levou de volta para Berwick para a punição. Robbie ouvia os fatos sobre o ataque com um crescente sentimento de vergonha, percebendo a magnitude do erro que quase cometeu e o que isso poderia ter-lhe custado. Se ele tivesse realmente destruído o único lugar que tinha sido um lar para Rosalin? Arrasado um vilarejo inteiro sem motivo? Cristo, ele se sentiu doente. Ela nunca o teria perdoado. Com razão. O que diabos ele estava pensando? Graças a Deus, ele percebeu a verdade antes que fosse tarde demais. Antes que tivesse feito algo que não poderia ser desfeito. De repente, ele estava ansioso para voltar. Mais do que ansioso. Havia uma voz na parte de trás de sua cabeça gritando "rápido." Ele precisava voltar e pedir desculpas a ela, e sim, provavelmente para Seton também. Parecia que ele precisava de uma consciência. Hoje, havia percebido quão longe ele havia se desviado do jovem guerreiro que levantara a espada ao lado de William Wallace para lutar contra a injustiça. *** Na terceira noite depois de partirem de Park Castle, Rosalind e Sir Alex pararam na margem sul do rio Tweed, olhando através da ponte de madeira para o muro branco e íngreme na margem oposta e apropriadamente chamado de "Breakneck Stairs", que serpenteava pela colina até Berwick Castle. Ela se virou para olhar para o homem que arriscou muito para trazê-la aqui. Ele se mostrou um amigo melhor do que ela jamais teria imaginado, levando-a de forma segura através do campo devastado pela guerra angustiante. — Você tem certeza? — Perguntou ela. — Você ainda pode me deixar aqui e voltar. O queixo de Sir Alex estava enquadrado em firme determinação, como tinha sido desde o momento em que ela pediu a ele para levá-la de volta para

seu irmão. Ela havia tentado conversar com ele sobre seus planos desde a primeira noite quando pararam para dormir algumas horas e ela assistiu com horror quando ele usou uma faca em seu próprio braço. O braço onde ele tinha — ou costumava ter — uma marca muito parecida com a que Robbie tinha. Agora, a tatuagem do Lion Rampant estava apagada por dezenas de cortes profundos através de sua carne. Como suspeitava, Sir Alex fazia parte dos Fantasmas de Bruce. As marcas iriam identificá-lo como tal, e sabia o que os ingleses fariam com ele para que entregasse os outros membros do grupo secreto de guerreiros. Ela suspeitava que arrancar as marcas de sua carne seria muito mais fácil do que expulsar seus companheiros de suas lembranças. Ela sabia o quão difícil isso seria para ele. Podia constatar isso em sua expressão cada vez mais sombria a cada quilômetro que avançavam. Ele era determinado, e de muitas maneiras tão teimoso quanto Robbie. Ela só rezava para que Sir Alex não viesse a lamentar o que estava prestes a fazer. Não haveria como voltar atrás. Para qualquer um deles. Ele balançou a cabeça. — Eu tomei uma decisão. Já tive o bastante de guerra secretas e ataques piratas. Deus sabe que tentei, mas já não tenho mais estômago para isso. Metade do tempo, me sinto como se estivesse lutando contra o meu próprio lado. Talvez desse jeito eu faça algo de bom. — O que você quer dizer? — Como se voltar contra seus amigos poderia trazer algo de bom? — Talvez eu possa ajudar a acabar com esta guerra trabalhando de outra forma. Em vez de lutar contra os ingleses, posso lutar por todos — através da razão e negociação. Era um objetivo nobre e penoso para Rosalin argumentar contra, ela mesma estava partindo por motivos semelhantes. Mas, embora pudesse compreender a decisão de Alex, sabia que Robbie e os outros não entenderiam.

Independentemente dos motivos, Robbie encararia a deserção de Sir Alex como uma traição pessoal. E sobre a partida dela, suspeitava que seria um duro golpe para ele engolir — admitindo ou não. Por que estava tão preocupada com os sentimentos de Robbie quando ele a tinha tratado com tão pouco respeito? Mesmo sabendo que estava fazendo a coisa certa isso não aliviava sua mágoa. Se apenas o seu amor pudesse ser facilmente arrancando de seu coração como uma tatuagem. Ela ficaria feliz em tomar a dor física temporária pela desolação permanente da desesperança. Ela se recuperaria dos ferimentos de uma faca. Mas sabia que nunca iria se recuperar completamente disso, e as cicatrizes, temia, seriam duradouras e profundas. — Você tem certeza que quer fazer isso? — Perguntou Sir Alex suavemente. Ela não certeza total. Mas precisava fazer. Rosalin olhou através do rio negro para a luz bruxuleante da tocha do outro lado. Ela respirou fundo, sentindo uma onda quente de emoção apertar seu peito. Deus, por que isso doía tanto? Ela assentiu com a cabeça, e sem mais hesitações, eles atravessavam a ponte. *** Era de manhã quando Robbie invadiu o pátio do Park Castle. Ele tinha cavalgado como se o diabo beliscasse seus calcanhares, incapaz de calar a voz dentro dele. Rápido! Mas no momento em que olhou para a janela da torre, soube que era tarde demais. Seu coração afundou como uma pedra em um poço sem fundo. A escuridão caiu sobre ele. Ela não estava olhando para ele da janela. Ela não estava lá. Um medo que foi confirmado momentos mais tarde, quando Joanna Douglas encontrou com eles no Salão. — Onde está Rosalin? — Ele perguntou, o medo já cortando sua voz.

— Cuidado, Boyd, — disse Douglas. — Eu sei que você está com raiva, mas não desconte na minha esposa. Mas Joanna não se encolheu diante de sua ira. — Não preciso que você me defenda de brutos arrogantes, James. Estou bastante acostumada com suas exibições de temperamento negro. Robbie se encolheu. Ele havia realmente pensando que ela era doce? Ela se virou para responder. — Acredito que em Berwick Castle agora. Ela e Sir Alex partiram não muito depois de você. Embora parte dele já soubesse, a notícia ainda o sacudiu. Como ela poderia ter ido embora? Merda. Ele tinha que se explicar. Tinha que se desculpar. Tinha que dizer a ela o quanto estava errado. Você a fez ir embora. Douglas praguejou. — E você simplesmente os deixou partir? Os doces olhos azuis de Joanna se tornaram frios enquanto seu olhar encontrava o de seu marido. — Sim. Douglas fechou a boca. Aparentemente, após o erro que eles evitaram por pouco, ele decidiu minimizar suas perdas para a esposa. Joanna tinha razão. Rosalin e Seton tinham razão. E todos sabiam disso. Robbie cerrou os punhos, a crua emoção açoitando dentro dele como um chicote. Raiva. Descrença. Desespero. Ele precisava descarregar, e escolheu a única pessoa que podia culpar além de si mesmo. Como o homem que foi seu parceiro por sete anos pôde traí-lo assim? — Eu vou matá-lo. Joanna ergueu uma sobrancelha delicada. — Sir Alex? — Ela balançou a cabeça. — Acho que pode ser difícil. — O que você quer dizer?

— Ele deixou uma coisa, — ela apontou para a pequena sala que Douglas usava para administrar seus negócios. Está lá dentro. Robbie fechou a porta quando entrou na sala — grato pelo momento de privacidade quando abriu o saco de estopa e viu o escuro elmo nasal e a manta xadrez. Ele se encolheu. Pela segunda vez no espaço de poucos minutos, sentiu a bofetada do choque — que ardia amargamente. Seton finalmente havia terminado. Ele deixou a Guarda e desertou para o os ingleses. Robbie não sabia por que estava surpreso. Ele não tinha esperado que Seton os traísse durante anos? Ele era um maldito inglês. Como poderia Robbie ter confiado nele, até mesmo um pouco? Ah inferno. Mal antes que terminasse o pensamento, a verdade o golpeou com força. Isso era exatamente o que a levou para longe. Ela disse que ele sempre a veria como uma inglesa — a irmã de Clifford — e nunca seria capaz de confiar nela plenamente. Ela o tinha acusado de estar cego pela vingança. Ela estava certa. Sua incapacidade de enxergar a mulher doce que estava lhe oferecendo seu coração tinha feito com que perdesse a melhor coisa que havia acontecido a ele. Pensei que você precisava de mim. Ele precisava dela. Só não tinha percebido o quanto até agora. Ela tinha visto algo nele que ele quase havia esquecido que existia. Pensou que seu senso feroz de justiça o lembrava de alguém, e agora ele percebeu quem era: ele mesmo. Um dia, ele havia lutado pelas razões certas. Um dia, havia parado para perguntar se algo estava certo ou errado. Vencer não precisava ser a custas da honra, e de alguma forma ao longo do caminho, ele havia se esquecido disso. Mas ela recuperou tudo isso para ele. É claro que ela havia partido. Ele não havia dado nenhum motivo para que ela ficasse. Quando pensava em quantas vezes ela ofereceu seu coração e ele não ofereceu nada em troca, queria vomitar. Ela estava disposta a desistir

de tudo por ele, e a única coisa que ela pediu em troca — sua confiança — ele havia recusado. Ela o amava, e... Ele caiu em si quando a verdade tomou conta dele. Ele a amava. Claro que amava. Ele sempre soube, mas não queria aceitar. Ele havia sentido muito medo do que isso poderia significar e com muito medo de ter que mandá-la de volta. E ao se recusar a admitir, tinha conseguido o que mais temia: perdê-la. Ele nunca teria desistido dela. Se seu irmão não concordasse ele teria encontrado um jeito. Ele sabia agora. Mas ela não. E ele tinha perdido a chance de dizer a ela. Seton o acusou uma vez de estar morto por dentro. Ele desejava que fosse verdade para que não tivesse que sentir o vazio negro se infiltrando nele. Ele colocou a cabeça entre as mãos e tentou pensar, tentou se segurar na beira do penhasco para impedir de deslizar para o abismo escuro que era seu futuro. O que diabos ele faria para trazê-la de volta?

Vinte e Seis O súbito aparecimento de Rosalin e Sir Alex nos portões do castelo havia causado uma espécie de tumulto — para dizer o mínimo. Ela foi esmagada pelo abraço do irmão, enquanto Sir Alex era cercado por soldados e quase jogado na prisão poço que ela ameaçou ficar lá com ele. Em vez disso, ele foi levado para a cadeia. Após dias de interrogatório, ele foi despachado para Londres a fim de tratar do seu caso com o rei em pessoa. Dizer adeus a ele, e depois vê-lo cavalgar com um pequeno exército de homens de seu irmão, foi a coisa mais difícil que havia feito desde que deixara o castelo de Douglas. Sir Alex era a sua última ligação com Robbie, e assistir sua partida era como uma ruptura final. O sentimento de perda era profundo, e Deus sabia que Robbie não merecia seu desgosto ou lágrimas. Ela deveria odiá-lo pelo que tinha feito. Todas as manhãs, esperava ser chamada por seu irmão para receber a horrível notícia. Mas dois dias se passaram, e em seguida, três. Tempo suficiente para um mensageiro chegar de Brougham trazendo a notícia do ataque. Não foi antes do quinto dia, quando um soldado de seu irmão que foi enviado depois que ela contou sobre o ataque voltou, que ela foi chamada a presença de Cliff para ouvir a hedionda verdade. Seu irmão estava de costas para a porta e olhando para a pequena lareira quando ela entrou. Ele parecia profundamente pensativo. Ela se preparou, esperando o pior. Ele se virou, com as mãos cruzadas atrás das costas. — Não houve nenhum ataque. Ela poderia ter caído no chão. Ela balançou, se encolheu, ou fez alguma estranha combinação dos dois.

— O quê? Cliff encontrou o olhar dela, e ela pôde ver a preocupação nos olhos verdes que eram tão parecidos com os seus. Desde sua volta, seu irmão vinha tratando-a como algo semelhante a uma delicada peça de porcelana, constantemente evitando qualquer menção a assuntos que podiam causar aflição, como o rapto, Robbie Boyd, ou a carta que ela havia escrito. Ele sabia que algo estava terrivelmente errado, mas estava esperando que ela se explicasse. — Brougham não foi atacada. Boyd deve ter descoberto a tempo o que realmente aconteceu no vilarejo. Cliff havia explicado tudo sobre o ataque, validando sua confiança nele. Não que isso importasse. Ou importava? Por que Robbie mudou de ideia? O que acontecera para mudar seus planos? E o mais importante, o que isso significava? Ela deve ter empalidecido ou pareceu a ponto de desmaiar, porque Cliff atravessou a sala, pegou-a pelo cotovelo, e ajudou-a a se sentar em um dos bancos almofadados perto da lareira. Ela não conseguia pensar. — Você tem certeza? Ele assentiu. — Mas por quê? Seu irmão a olhou longamente. — Suspeito que você possa responder essa pergunta melhor do que eu. Antes de trazer Sir Henry e os outros prisioneiros de volta para Berwick, Cliff havia enviado uma mensagem para Robbie explicando o que havia acontecido na aldeia e concordando em se encontrar no prazo de uma semana (para discutir o conteúdo da carta e a entrega do dinheiro), mas a mensagem deve ter chegado depois que ambos partiram.

— Não tenho certeza se posso. Robbie estava tão determinado. Eu tentei — implorei — para que ele mudasse seus planos, mas ele se recusou, — lágrimas se acumularam em seus olhos enquanto olhava para o rosto sombrio de seu irmão. — Foi horrível. Ele praguejou e sentou-se ao lado dela, abraçando-a enquanto ela soluçava, da maneira como costumava fazer quando ela era criança. — O bastardo não merece suas lágrimas, pequena. E com certeza não a merece. Isso só a fez chorar ainda mais. — Me conte o que aconteceu. E ela contou. Bem, a maior parte pelo menos, deixando de fora os detalhes mais íntimos, embora suspeitasse que Cliff preenchesse as lacunas bem o suficiente. Quando terminou, sua boca estava esticada em uma linha dura. — Eu vou matá-lo. — Não! Por favor. Eu só quero esquecer que tudo isso aconteceu. Ela pegou a pequena peça de linho que ele estendia e limpou o nariz e os olhos. A expressão de Cliff não era menos feroz agora, mas sua voz suavizou. — Você tem certeza disso, Rosie-lin? — Ele parou. — Tenho lutado contra Boyd por um longo tempo, e nunca soube que ele hesitou. Mas algo o levou a retroceder, e suspeito que esse algo seja você. Rosalin fungou e respirou fundo. Ela balançou a cabeça. — Mesmo que tenha mudado de ideia sobre o ataque, isso não importa. Isso não vai funcionar. Quem eu sou estará sempre entre nós. Não posso estar com um homem que não confia em mim e nem me ama. Ele a apertou com mais força e suspirou, como se um grande peso tivesse sido tirado de cima dele.

— Odeio vê-la sofrer, mas não vou dizer que sinto muito por ouvir isso. Você não pode entender isso agora, mas é o melhor para você. Qualquer coisa entre vocês teria sido quase impossível. Rosalin piscou para ele. — Mas não totalmente impossível? Ele desviou o olhar, sua boca franzida como se tivesse provado algo desagradável. Era a mesma expressão de Robbie quando o nome de seu irmão era mencionado. — Quero que você seja feliz, mas entregar minha irmã para aquele bárbaro seria pedir muito. E eu nunca faria isso se não tivesse certeza de que ele pode fazer você feliz. O bandido teria sido duramente pressionado para provar isso a mim, — ele apertou-a mais uma vez e beijou o topo de sua cabeça. — Esqueça-o, Rosie-lin. Ele não merece você. — Eu vou tentar, — prometeu. — E Cliff? — Ele olhou para ela. — Obrigada por não tentar me fazer odiá-lo. Sua boca se curvou. — Inferno, se achasse que iria funcionar, eu faria. Mas suspeito que a batalha foi perdida há anos. — O que você quer dizer? — Ele levantou uma sobrancelha e manteve seu olhar. O sangue lentamente sumiu de seu rosto enquanto a verdade aparecia. — Você sabia? Ele deu de ombros. — Não de imediato. Foi por causa dos guardas. Eu sabia que tinha que haver uma razão para Boyd não matá-los. Deus sabe, que ele tinha todos os motivos para isso, então suspeitei que alguém o ajudou. Como você parava de respirar e empalidecia toda vez que o nome dele era mencionado, não demorou muito tempo para eu perceber quem poderia ser. — Por que você nunca me disse nada? Você deve ter ficado com muita raiva de mim por traí-lo.

— Na verdade, fiquei um pouco aliviado, — sua mandíbula endureceu como se estivesse diante de algo desagradável. — Isso igualou o placar. Rosalin ficou chocada quando percebeu o que ele estava dizendo. — Você quis enganá-los a se render, Cliff? Recusei-me a acreditar nisso vindo de você. — Não, pelo menos não intencionalmente. O rei não me disse quais eram seus planos. Dei minha palavra que a reunião seria realizada sob trégua sem saber que eles seriam presos. Eles não teriam sido capazes de aguentar muito mais tempo e o resultado teria sido o mesmo, mas não gostei que isso fosse feito à custa da minha honra. Eu sentia vergonha, mas tinha que cumprir o meu dever, — Ele deu um sorriso torto. — Você me salvou de ter que tomar uma decisão que não queria tomar. Rosalin estava atordoada. — Não posso acreditar que você sabia todos esses anos e nunca disse nada. — Suspeitei do motivo que fez você fazer isso e esperei que esquecesse, — ele sorriu com tristeza. — Acho que não funcionou muito bem, não é? Ela balançou a cabeça, a emoção subindo em sua garganta novamente. — O que vou fazer, Cliff? — Não sei pequena, mas nós vamos pensar em algo. As coisas vão melhorar. Se ela pudesse acreditar nele. *** Quando as duas mil libras de Clifford chegaram uma semana após Rosalin e Seton partirem, Robbie se perguntou se seu plano desesperado poderia realmente ter uma chance de funcionar. Clifford poderia ter descumprido a trégua, mas não era o caso. Isso e a carta concordando em se encontrar, que havia chegado um dia atrasada, tinha que significar alguma coisa.

Robbie cavalgou para Dundee, ao norte, com Fraser e um punhado de outros homens para entregar a moeda muito necessária para Bruce, mas também para falar com MacLeod. Para seu plano funcionar, ele ia precisar da ajuda de seus irmãos. Ele não informou ao rei suas intenções, suspeitando que Bruce não concordasse. Mas missões não autorizadas envolvendo esposas (ou se Deus quiser, futuras esposas) não eram incomuns para a Guarda. Como MacLeod havia comandado uma para resgatar sua esposa no início da guerra, então Robbie esperava encontrar um ouvido simpático. Ainda assim, ele levou alguns dias para convencer o líder da Guarda das Highland a concordar. Mas uma semana depois que chegou a Dundee, Robbie e outros nove guardas estavam de pé na floresta perto do Castelo Berwick analisando os detalhes finais de seu plano. Na verdade, ele estava analisando os detalhes, e os outros estavam fazendo o possível para falar com ele sobre isso. — É um maldito suicídio, Raider, — disse Lachlan MacRuairi. — Só porque nós conseguimos sair de lá antes não significa que seremos capazes de fazê-lo novamente. Levei mais de dois anos para libertar minha esposa daquele inferno, qualquer falha e nos seremos capturados. Se você está preso lá não há garantia de resgate. Estive naquela prisão, e acredite em mim, você não quer passar muito tempo lá. Robbie se lembrava, se havia alguém na Guarda que sabia sobre entrar e sair de lugares perigosos era MacRuairi. — Isso não vai chegar a esse ponto. Espero. Eoin MacLean, o estrategista do grupo, olhou para ele. — Portanto, este é o seu plano: andar até o Castelo Berwick, pedir para ver Clifford, dizer a ele que quer se casar com sua irmã, e esperar que ele não o jogue na prisão poço ou o enforque com a corda mais próxima? — É isso mesmo.

— Você deve ter enlouquecido. — disse MacLean com desagrado. — Bem, você já disse isso antes, — disse Robbie. — Todos vocês. Mas eu sei o que estou fazendo. Ele estava fazendo a única coisa que podia pensar para ter Rosalin de volta. Ele chegando para provar a ela que confiava nela. Meu irmão me ama e fará qualquer coisa para me ver feliz. Robbie esperava que ela não tivesse exagerado, porque suspeitava que colocaria essa qualquer coisa em teste. Pela segunda vez, sua vida estaria nas mãos de Clifford. Embora desta vez, ele mesmo a estava entregando. Inferno, talvez ele estivesse mesmo louco. Erik MacSorley, que estivera provocando-o na maior parte da semana, sorriu. — Eu não encaro você como um tipo de gestos grandiosos, Raider. Mas se isso não der certo, vou embarcar você para Londres. Ouvi dizer que o Rei Edward tem um par de irmãs, e com a sua propensão para as inglesas... Robbie disse a ele o que ele poderia fazer com seu navio, e o grande Chefe do Clã West Island que mais parecia um viking do que um escocês riu. Mas, pela primeira vez, Robbie não se importava de ser o alvo de suas piadas. Os gracejos leves de MacSorley aliviavam um pouco o peso que todos carregavam por causa da traição de Seton. Ao contrário de Robbie, os outros guardas tinham ficado chocados. Inferno, ele também ficou chocado, apenas não queria admitir. Todos sabiam que Seton lutou muitas vezes, com a guerra secreta e os aspectos menos cavalheirescos dela. Eles também sabiam que ele e Robbie nunca tinham se dado bem, mas ninguém havia percebido o quão ruim a relação deles havia se tornado. Todos eles haviam recebido o golpe pessoalmente. A perda de William Gordon ainda era uma ferida aberta. Embora as circunstâncias fossem muito diferentes (Gordon havia morrido em uma explosão durante uma missão) o

sentimento de perda era o mesmo. As circunstâncias fizeram deles íntimos como irmãos e todos estavam sentindo a ausência de um dos seus. Ninguém disse nada, mas Robbie sentiu que alguns dos outros, Sutherland, MacKay, MacLean, e Lamont, que eram mais próximos de Seton, imputavam parte da culpa nele. Provavelmente com razão. Mas isso não mudava o fato de que Seton os traíra. — E se ela não estiver lá? — Perguntou Sutherland. Robbie não queria pensar nisso. Era um (dos muitos) pontos fracos do seu plano. Havia muita probabilidade de Clifford tê-la embarcado no primeiro navio com destino a Londres. — Ela vai estar, — disse Robbie com mais certeza do que sentia. — E se não estiver, espero que você tenha pólvora em abundância. Apesar de não ser tão experiente como Gordon era com pólvora negra, Sutherland havia se tornado bom o bastante para fornecer distrações quando a Guarda precisava. O mais novo membro da Guarda das Highland lançou-lhe um olhar penetrante. — Sim, embora prefira não ter de usá-la. — Eu também. — Robbie disse secamente. Era hora de ir. — Nós vamos te dar vinte e quatro horas Raider, — disse MacLeod. — Se você não estiver fora antes de amanhã à noite, vamos atrás de você. Robbie assentiu. Ele tentou dissuadi-los de um resgate, mas essa foi a condição sob a qual MacLeod havia concordado. MacRuairi, que tivera quase tantos problemas com Seton como Robbie, lançou-lhe um olhar duro. — Se você vir Seton diga-lhe para ir para o inferno, antes de enfiar um dos malditos punhais dele em suas costas como ele fez conosco.

Robbie não sabia o que faria se ficasse cara a cara com seu ex-parceiro, mas não seria bonito. — Eu vou passar a mensagem. Ele deixou a floresta a pé e sem sua armadura e armas, esperando que não precisasse delas para lutar por seu caminho de volta mais tarde. Trinta minutos depois, assim que deu seu nome ao guarda no portão, a confiança de Robbie em Rosalin foi posta à prova.

Vinte e Sete A ironia do destino funciona de formas misteriosas. Dois dias depois de sua conversa com Cliff em seu solar, Rosalin havia decidido manter-se ocupada ajudando as freiras no hospital em St. Mary’s Priory. No primeiro dia, ela encontrou não uma, mas duas jovens grávidas. Uma havia sido abandonada pelo homem que ela pensava ter intenção de se casar com ela, e a outra havia sido estuprada quando os rebeldes invadiram sua aldeia. Rosalin discutiu com a abadessa a possibilidade da criação de um abrigo especial para mulheres que se encontravam em tais circunstâncias. A abadessa foi imediatamente receptiva à ideia. A necessidade era grande, mas o hospital estava equipado para atender os viajantes e os enfermos, e não como um santuário para mulheres grávidas. Com o patrocínio de Rosalin e apoio financeiro de seu irmão, o priorado teria um lugar para enviá-las. A ironia surgiu alguns dias depois, quando Rosalin percebeu que sua menstruação falhara pela primeira vez nos oito anos desde que havia começado. Se não fosse por seu irmão, ela poderia precisar de um desses leitos. Não que apreciasse informar Cliff de sua condição. Não haveria mais qualquer pergunta — se é que ele tinha alguma — sobre o que acontecera entre ela e Robbie. Assim que conseguiu superar o choque imediato e o medo do que isso significava — ela seria desonrada e se tornaria uma prostituta aos olhos da Igreja — sentiu um pequeno vislumbre de felicidade brilhando na escuridão de seu desespero por ter perdido Robbie. Um bebê. Seu filho. Ele havia dado uma família a ela afinal. Alguém que precisava do seu amor e proteção. Podia não ser a família que havia sonhado, mas sabia melhor que ninguém que eles fariam funcionar. Ela iria amar este bebê com todo seu coração e ser feliz.

Quase duas semanas depois que ela chegou a Berwick, Rosalin estava no hospital finalizando os detalhes com a abadessa e tentando descobrir como iria contar a Cliff sobre sua situação sem que ele enviasse um exército para matar Robbie, quando ouviu o primeiro sussurro. “Capturado” Ela não deu importância até cerca de uma hora depois, quando ouviu: "Executor do Diabo" — uma das enfermeiras dizendo. Rosalin congelou. Tentando manter o máximo de dignidade possível, apesar de estar espionando claramente, ela perguntou à mulher: — Você disse algo sobre o Executor do Diabo? — Você não está sabendo, senhora? — Disse a jovem noviça. — Eles capturaram Robbie Boyd. Seu coração parou e afundou ao mesmo tempo. — Quem o capturou? A moça lançou-lhe um olhar estranho. — Quem? Seu irmão, minha senhora. Rosalin mal ouviu a última palavra. Já estava fora a caminho do castelo. No momento em que explodiu no solar de seu irmão, estava sem fôlego, corada e com a testa úmida de suor. — Diga-me que não é verdade. Cliff levantou a cabeça do documento que estava estudando e suspirou. — Acho que você já soube. — Então é verdade? Você o capturou? — Não exatamente. — O que quer dizer com não exatamente? Ele está aqui ou não? — Ele está aqui, mas eu não o capturei. O bast... O homem, — ele corrigiu. — Entrou aqui de livre e espontânea vontade. — Ele fez o quê? — Ela gritou, incrédula. Seu irmão sacudiu a cabeça.

— Ele entrou aqui querendo me ver. — E o que foi que ele disse? — Não sei. Pensei em dar-lhe tempo para pensar sobre isso por enquanto. Rosalin estreitou os olhos. — E onde ele está exercendo esse pensamento? Como se ela já não soubesse. Cliff poderia ser tão cruel como os "bandidos" de quem ele reclamava. — Na prisão poço. — Cliff! Como você pôde? Sua boca endureceu. — Ele tem sorte de eu não amarrá-lo pelas bolas pelo que fez com você. Uma noite na prisão não vai matá-lo. Infelizmente. — Eu quero vê-lo, — ao ver sua expressão, ela acrescentou: — E não pense em recusar. — Eu nem sonharia com isso, — ele disse com sarcasmo. — Por que eu quereria minha irmã caçula ao alcance do braço de um dos homens mais perigosos da Escócia? Ela olhou para ele até que ele cedeu. — Muito bem, vou mandar levá-lo até a guarita. Mas estou avisando, Rosalin, não estou fazendo nenhuma promessa. Esperei muito tempo por este dia. *** Que horas seriam? Robbie piscou na escuridão, perguntando-se sobre a sabedoria de seu plano. Ele havia antecipado a possibilidade de passar algum tempo na prisão de Berwick; apenas esperava falar com Clifford antes de ser enviado sem cerimônia para o buraco.

Como estava sozinho, assumiu que isso significava que Seton os tinha convencido de sua sinceridade. Sua boca endureceu, não querendo pensar no ex-parceiro. Há quanto tempo estava ali? Não tinha nenhuma forma de saber com precisão sem a ajuda da luz do dia, mas suspeitava que apenas uma hora ou duas, no máximo. Se a curiosidade de Clifford não levasse a melhor sobre ele em breve, os irmãos da Guarda das Highland estariam aqui para resgatá-lo antes mesmo que tivesse uma chance de defender seu caso. Supondo que eles conseguissem resgatá-lo. Pelo menos eles sabem onde encontrá-lo, ele pensou ironicamente. MacRuairi estava intimamente familiarizado com o lugar, depois de ter passado algum tempo aqui há alguns anos, depois que ajudou a libertar sua esposa do cativeiro. Robbie ficou mais aliviado do que queria admitir quando ouviu alguém mexendo na tranca. Alguns momentos depois, a tampa foi empurrada para trás e uma corda baixou. Por causa dos seus ferimentos, levou mais tempo do que deveria para subir os três metros até o topo. Algemas foram colocadas em torno de seus pulsos por dois soldados silenciosos e de expressão sombria, no momento em que ele apareceu na abertura. Sem explicações, ele foi arrastado para fora da pequena antessala e empurrado através de uma porta em arco para o que parecia ser a guarita do portão principal. Ele ouviu um suspiro familiar no momento em que cambaleou para dentro e então levantou a cabeça com surpresa. Rosalin! Seus olhos se encontraram e todo o medo, todo o desejo, todo o amor que sentia por ela o atingiu com a força de um raio. Um momento depois, quando ela olhou para a direita com uma carranca, a expressão de Robbie endureceu quando se tornou consciente da outra pessoa na sala.

— O que você fez com ele? — Ela perguntou ao irmão. Clifford — o bastardo — com um sorriso que não se preocupou em esconder, deu de ombros. — Alguns dos meus homens usaram um pouco de excesso de zelo quando ele se identificou no portão ontem à noite. Depois do que ele fez, deveria se considerar um homem de sorte. — Vá para o inferno, Clifford. — Se alguém está indo para lá em breve não serei eu. Eu não sou o algemado. Rosalin franziu o cenho. — Tire isso dele, Cliff. Eu disse que ele não vai me machucar. Clifford encontrou seu olhar; ambos sabiam que as correntes não eram para sua proteção. — Eu não penso assim, — disse o outro homem. — Vamos ouvir o que ele tem a dizer em primeiro lugar. Rosalin deu um passo em direção a ele. Ela parecia tão malditamente linda que tirou seu fôlego. Mas havia uma fragilidade na palidez de suas bochechas e nas sombras escuras sob os olhos que não existia antes, e qualquer punição que Clifford poderia utilizar contra ele não poderia se comparar com a culpa que sentia sabendo que havia sido ele a colocá-la ali. Ele meio que esperava que ela se jogasse em seus braços e dissesse que sentia saudades. Mas ela não o fez, e ele não tinha direito de esperar isso. Não depois da última despedida. Pela primeira vez, os olhos expressivos que sempre pareceram uma janela para seus pensamentos estavam fechadas para ele. Ele não podia tê-la perdido. Ele não iria tolerar isso. Ela havia dado seu coração a ele, e ele não iria devolvê-lo. — O que você quer, Robbie? — Ela perguntou. — Você.

Clifford soltou um rosnado baixo e deu um passo ameaçador em direção a ele, mas Rosalin pegou-o pelo braço. — Por favor, Cliff. Quero ouvir o que ele tem a dizer. Clifford a olhou longamente antes de retroceder. — É melhor que seja bom. Robbie o ignorou e olhou para Rosalin. Ele teria preferido dizer isso sem público, mas supôs que deveria estar feliz por ter a chance de falar com ela afinal. Ele esperava ter que defender seu caso para Clifford. — Sinto muito. Eu deveria ter confiado em você. Cometi um erro, e estou aqui para tentar fazer a coisa certa. Ele se virou para Clifford e levantou o queixo. — Quero me casar com sua irmã. — Não. Robbie rangeu os dentes. O bastardo estava gostando. — Rosalin disse que você faria qualquer coisa para fazê-la feliz. Ela me pediu para confiar nela. Eu confio. É por isso que estou aqui. Ela fez um som, e ele virou-se para ver seus olhos se arregalarem de surpresa, e então lentamente começarem a brilhar com o que ele esperava ser o primeiro vislumbre de perdão. Ele se voltou para Clifford. — Ela estava errada? Clifford se virou para Rosalin. — Pela Cruz de Cristo, Rosie-lin, por que diabos você disse isso a ele? — Nunca pensei que ele faria algo tão imprudente. — Ou romântico. — Robbie colocou. Ele não tinha certeza se ela o ouviu. — Dei minha palavra a ele. — disse ela a seu irmão. Clifford fez uma careta, e então olhou para Robbie. — Ela não estava errada. Apenas acho que você não pode fazê-la feliz.

Ele cruzou os braços e deu um sorriso presunçoso para Robbie, como se o desafiasse a convencê-lo. Os punhos de Robbie se fecharam. Ele sentiu as correntes se apertando em torno de seus pulsos e pensou que provavelmente foi muito inteligente da parte de Clifford mantê-lo acorrentado. Mas um olhar para Rosalin e sua vontade de lutar se esvaiu. Se ele quisesse ter alguma chance, ele e o irmão teriam que encontrar uma maneira de deixar anos de ódio para trás. Ele respirou fundo. — Não sei se posso, mas eu a amo, e juro a você que vou passar cada minuto da minha vida tentando — mesmo que isso signifique deixar de lado a nossa inimizade. Ela ama você, e não vou fazer nada para ficar no meio disso. Você a protegeu e cuidou dela quando outros na sua posição não o fariam, e por isso merece crédito, — seu olhar encontrou o de Rosalin. — Quero que você seja minha esposa porque a amo — e isso não tem nada a ver com ele ou com vingança. Nunca teve. Eu apenas estava cego demais para enxergar. Se você quiser passar os próximos cinquenta anos cantando malditos louvores sobre ele, eu vou ouvir. Posso não concordar, mas vou ouvir. Nossos filhos vão chamá-lo de tio. — Oh Robbie. Alguma coisa aguda e terna despertou nos olhos dela, e no momento seguinte, estava em seus braços, ou pelo menos, tanto nos braços quanto podia com as correntes. A sensação dela macia e quente pressionada contra seu peito lançou algo dentro dele. Ele sentiu como se uma barreira houvesse desmoronado, e todo o medo, todo o desejo, todo o amor que ele sentia por ela extravasou. Ele encaixou a cabeça macia sob o queixo, apertou os lábios em seu cabelo, e deixou o aroma quente de rosas tomar conta dele. Havia tanta coisa que queria dizer, mas a emoção bloqueou sua garganta. Clifford fez um som agudo de escárnio. — Ainda não estou convencido.

Rosalin desvencilhou-se de seu peito para olhar para o irmão. — Cliff, o que mais você quer dele? Ele colocou a vida em suas mãos, porque confiou em mim, e não vou permitir que você... Clifford ergueu a mão, cortando-a. — Tenho algumas condições. Os olhos de Rosalin se estreitaram com desconfiança. — Que tipo de condições? O olhar de Clifford suavizou. E naquele momento Robbie soube que havia ganhado. Ela estava certa: o irmão a amava mais do que odiava Robbie. Ele queria sua felicidade, mesmo que estivesse com o homem que vinha tentando capturar a anos. — Que ele prometa trazer você para a Inglaterra tão frequentemente quanto você quiser. Quero que meus filhos conheçam a tia, e preciso ver por mim mesmo que ele mantém a promessa. Rosalin virou-se para Robbie. — Concordo. Isso pode ser feito sem colocar Rosalin em perigo. Clifford assentiu. — O que mais? — Disse Robbie. — Você vai dar o nome de Clifford ao seu primogênito. Robbie congelou. Ele olhou para o outro homem como se ele fosse louco. Rosalin riu e lhe deu uma cotovelada nas costelas. — Ele está brincando com você, Robbie. Cristo, ele provavelmente havia danificado permanentemente seu coração, pois havia parado por muito tempo. Clifford sorriu. — Como parece que vou ter de sofrer a humilhação de deixá-lo escapar novamente, sua reputação vai sofrer também. Seja qual for história que eu conte a Edward, você não vai discutir isso. — Devo supor que serei o vilão covarde neste conto?

O outro homem sorriu. — Claro. Robbie praguejou. — Concordo. Duvido que minha reputação possa ficar mais negra. — Eu não apostaria nisso. Rosalin fez uma careta para o irmão. — Rapto de noiva deve ser suficiente, Cliff. Não exagere. Ele fez uma careta, mas não discutiu. — Devo supor que você pode encontrar o caminho de volta? Robbie assentiu. Ele deveria ter alguma ajuda em breve. — Sim. — Então, faça bom uso do tempo que estou prestes a conceder, — Ele se virou para Rosalin. — Dê-me um abraço, querida. Rosalin correu para seus braços, e Robbie sentiu um aperto no peito enquanto os observava. A ligação entre os dois irmãos era forte, e ele jurou que faria o seu melhor para nunca interferir entre eles novamente. Não importa o quanto isso o matasse. Depois de um longo momento, Clifford a largou. Ele lançou mais um olhar a Robbie. — Se você a magoar de novo nem mesmo os Fantasmas de Bruce serão capazes de protegê-lo. Apesar da ironia dessa ameaça em particular, Robbie acreditou nele. Um momento depois, a porta se fechou atrás dele. Rosalin havia sido dominada pela emoção desde o primeiro momento em que ele foi empurrado para o interior da sala. Havia sido muito difícil não correr para ele, especialmente quando viu os danos infligidos nele pelos soldados de seu irmão. Em seguida, percebendo que ele havia se rendido para demonstrar sua confiança nela... Foi demais. Mas o ápice de tudo, o ponto em que ela soube

que ele realmente a amava, foi quando ele havia jurado deixá-la falar sobre Cliff — e também se referindo aos filhos que ele ainda não sabia que em breve teria. Ela atravessou a sala, colocando a mão em seu rosto. — Seu pobre rosto. Ele sorriu. — Eu vou deixar você tocar em mim quanto quiser assim que estivermos fora daqui. Mas primeiro… Ele deslizou as mãos em seus quadris e trouxe-a contra ele. No momento seguinte, sua boca estava sobre a dela e ele estava beijando com uma paixão que beirava o desespero. Ela rodeou o pescoço dele com os braços e esmagou seu corpo ao dele, precisando sentir seu calor e força. Ele gemeu, beijando-a mais profundamente, varrendo sua língua em sua boca com impulsos longos e vorazes. O corpo dela inflamou com o calor, a pele se arrepiou, seus mamilos endureceram, e a umidade entre suas pernas era como uma piscina de necessidade. Ele segurou seu traseiro, apertando-a contra sua dureza. O desejo tornouse avassalador. Seu corpo começou a se mover contra o dele, buscando o doce alívio do contato. Ele se afastou praguejando. — Deus, você está me matando. Mas precisamos estar prontos, e duvido que seu irmão nos deixou aqui para que eu pudesse tê-la nessa guarita com isto. — Ele ergueu os pulsos acorrentados. — Prontos para que? — Você saberá quando ouvir. Que horas são? Ela olhou para ele com curiosidade.

— Não sei. Estava perto do pôr do sol quando entrei. Eles irão chamar para as orações em breve, imagino. Esqueci sobre as algemas. Como sairemos daqui com suas mãos acorrentadas? Ele sorriu, pisou na corrente com os pés, e puxou até que seus músculos pareciam tão tensos a ponto de romper — mas foi o ferro que rompeu. Ele havia quebrado a corrente em duas. Ele riu de sua expressão. — É um pequeno truque que aprendi para impressionar as moças. Rosalin nem se deu ao trabalho de comentar. — Teremos ajuda. — Dos outros Fantasmas? Sua expressão ficou completamente imóvel. Ele apenas olhou para ela. — Você não achou que eu iria descobrir? — Ela balançou a cabeça. — Realmente, Robbie, eu não sou cega. Vi você lutar. Vi as marcas e o elmo de aparência demoníaca. Uma vez ouvi Sir Alex chamá-lo de Raider. Percebi que era seu nome de guerra. Bem apropriado, por sinal. Ele ainda estava atordoado. — Há quanto tempo você sabe? — Algum tempo. Sir Alex me disse que eu não deveria dizer a você que sabia. Sua expressão se tornou sombria. — O bastardo traidor provavelmente esperava que você dissesse ao seu irmão. Deus sabe que isso não vai ser um segredo por muito mais tempo. Pela sua expressão, ela poderia dizer que ele havia encarado a deserção de Sir Alex de forma ainda pior do que havia previsto. — Ele não traiu você, Robbie. Ele só deixou de acreditar nas mesmas coisas. Ele vai manter seus segredos, assim como eu teria mantido. — Há outras maneiras... — Você quer dizer a tatuagem? Você não precisa temer por isso. Ele removeu — ou apagou, realmente.

A informação não surtiu o efeito que ela esperava. Em vez de dissipar seus temores de traição, pareceu aumentar a traição ainda mais. Como se as marcas fossem algum tipo de vínculo sagrado que Sir Alex havia simplesmente eliminado com uma faca. — Ele está em Londres. — disse ela, sabendo que ele era orgulhoso demais para perguntar. A ferida era muito recente, mas ela esperava que o passar do tempo pudesse ajudá-lo a compreender e aceitar as atitudes de Sir Alex. Anos... — Você quis dizer mesmo aquilo, Robbie? — Que parte, mo ghrá? — Ele deslizou as mãos em volta da cintura dela novamente e puxou-a firmemente. Sua voz ficou rouca. — Que eu te amo? Sim, eu quis dizer isso. E pretendo fazer tudo que posso para provar isso para você até que nunca tenha que me perguntar novamente. Você estava certa; preciso de você. Não percebi o quanto até que cheguei naquela aldeia e soube o quão perto estava de cometer um erro terrível, e entendi o quão longe me desviei do homem que costumava ser. Serei aquele homem de novo, Rosalin. E se eu esquecer, você vai estar lá para me lembrar. Ela sorriu com lágrimas de felicidade enchendo seus olhos. — Acredito em você. Você deve me amar se concordou em me deixar cantar louvores sobre Cliff. Eu posso ser lenta e enfadonha, você sabe. Ele estremeceu, exibindo um olhar de gosto amargo na boca. — E quando você o elogiou, não tive dúvida disso. — O inferno que eu fiz! Ela riu. — Gostaria que você pudesse ter visto seu rosto quando ele disse que você teria de dar o nome dele ao nosso filho. Embora o nome seja bonito. Ele revirou os olhos com um gemido. — Cristo, Rosalin, nem sequer brinque com isso. Ainda não me recuperei.

Ela tomou sua mão e colocou-a em seu estômago. — Suponho que temos perto de nove meses para decidir. Robbie era um homem excepcionalmente inteligente, mas levou um minuto para perceber o que ela queria dizer. Seu rosto perdeu todo traço de cor. Ele olhou para ela com algo parecido a horror em seus olhos. Então seu rosto franziu. Se ela havia duvidado da capacidade dele de sentir emoção, nunca mais faria isso. Ele parecia um homem despedaçado. Ele a abraçou forte, e ela pôde sentir seu peito tremer. — Sinto muito. Oh Cristo, sinto muito. Eu nunca pensei... Deveria ter pensado. Você teria pagado o preço, e eu poderia ter perdido a ambos. Ela sabia de que forma sua mente trabalhava, e ele provavelmente estava torcendo os fatos de alguma forma para que pudesse pensar em sua irmã. Ela colocou os dedos em sua boca para impedi-lo de dizer algo mais. — Eu amo você, Robbie. Não é a mesma coisa. E você veio a mim em tempo. De uma forma bastante dramática, posso acrescentar. Ela pulou quando ouviu um som como um trovão. — É o nosso sinal, — disse ele, tomando-lhe a mão. — Hora de ir. Cliff havia se encarregado dos soldados na porta. Fumaça flutuava por todos os lugares e as pessoas corriam por todo o pátio. Foi incrivelmente fácil deslizar ao redor dos edifícios sem serem notados em meio ao caos. Perto da prisão, Robbie soltou um assobio afiado, e dois homens apareceram um momento depois. Embora tenha visto Robbie em seu traje Fantasma antes, a visão de dois guerreiros gigantes usando aqueles elmos a assustou. — Está tudo bem, mo ghrá. Eles são amigos. — Já vi que seu plano idiota funcionou, — um dos homens disse secamente, e depois se inclinou para ela. — Minha senhora. Robbie puxou-a para mais perto dele possessivamente. — Sim, Chefe.

Rosalin deu-lhe um sorriso secreto. — Achei que foi muito romântico. — Moça inteligente. — disse Robbie com um sorriso. — É melhor irmos, — disse o segundo guerreiro. — Esta não é a primeira vez que usamos essa distração em particular, e nós não queremos abusar da sorte. Foi bom você não me fazer entrar nesse maldito buraco novamente, afinal. Robbie se encolheu. — Sim, bem, tive a oportunidade de provar as melhores acomodações de Berwick pela maior parte das últimas vinte e quatro horas. Posso entender porque você não está ansioso para voltar para lá. Vou precisar de ajuda com isto. — disse ele, levantando as mãos. O segundo homem removeu algo da bolsa que usava na cintura, e em segundos, as correntes de ferro caíram no chão. Eles se dirigiram para o portão traseiro, onde outros quatro Fantasmas estavam esperando. Os homens trocaram alguns gestos e Robbie balançou a cabeça. Poucos minutos depois, Rosalin percebeu o porquê, quando os dois homens que estavam guardando o portão foram nocauteados com o punho de uma espada em seus elmos em vez de mortos. Alguns momentos depois, ela foi levada para um barco que esperava. Ela foi ajudada por outro homem que usava um arco em seu ombro. — Então essa é a sua inglesa. — disse ele com um assobio de apreciação. Robbie arrancou os dedos dela à força da mão enluvada do outro homem. — Fique bem longe dela, Arrow. Falo sério. Esse seu rosto bonito não vai ser mais tão bonito quando eu terminar com ele. Rosalin ficou surpresa quando o outro homem respondeu baixinho: — Eu devo ser muito sortudo.

Eles se sentaram em uma das tábuas de madeira perto da parte traseira do barco. Ao todo, incluindo Robbie, ela contou dez figuras sombrias. Todos eles eram grandes, musculosos e com uma aparência ameaçadora. Na verdade, se não fosse por Robbie segurando firmemente sua cintura, ela estaria aterrorizada. O homem que segurava as cordas que controlavam a vela olhou para Robbie. Ele sorriu; seus dentes brancos brilhando ao luar. — Que bom que você conseguiu se juntar a nós, Sir Robert. — Cai fora, Falcão, e navegue. Tire-nos daqui. — disse Robbie, mas havia algo em sua voz que soava como constrangimento. Ela olhou para ele, suas sobrancelhas se juntando. — Sir Robert? Sim,

ele

parecia

claramente

desconfortável.

Infantilmente

desconfortável, como Roger quando discutia com a menina de Norham. — Não é nada. Ela esperou pacientemente. — Foi uma ideia estúpida. Ela continuou a esperar. Como suspeitava que tivesse um longo passeio de barco pela frente, ela tinha toda a noite. Ele suspirou. — Eu estava tentando pensar em maneiras de provar a você como eu me sentia, — seus olhos se encontraram na escuridão. — O rei vinha querendo me tornar cavalheiro há anos. Eu finalmente aceitei. Por ela. Ele havia feito isso por ela. Ela sabia como ele se sentia sobre códigos cavalheirescos e a cavalaria, mas queria mostrar que ainda era o jovem guerreiro de quem ela se lembrava. Ele não precisava das esporas de um cavaleiro para provar isso a ela, mas ela estava tocada. — Oh Robbie, isso foi doce.

Ele segurou seu queixo, inclinou a cabeça para trás, e deu um terno, quase reverente beijo em seus lábios. Apesar do ar frio do mar, uma onda de calor subiu dentro dela. Mas, aparentemente, ela havia falado demasiado alto. — Ah, — disse o capitão atrás deles. — Isso foi doce, Raider. Robbie praguejou. — O que há de errado? — Perguntou ela. — Ele nunca vai me deixar ouvir o fim disso. — E isso é tão ruim assim? — Você não tem ideia, — ele balançou a cabeça. — Mas vale a pena. Você merece. Se eu posso fazer as pazes com o seu irmão, também posso fazer papel de bobo por algumas horas. Não há nada que eu não faça por você. Nada. Rosalin não pôde resistir a provocá-lo mais uma vez. — Clifford Boyd. Soa muito bem, você não acha? Ele estremeceu, e depois beijou as palavras provocantes direito de sua boca.

Epílogo Kilmarnock, Ayrshire, Dean Castle, Dia de Todos os Santos, 1º de Novembro, 1312. Rosalin havia prometido que não iria gritar, mas as cólicas, com uma dor aguda a pegou de surpresa. Como poderia algo tão maravilhoso doer com tanta intensidade? O som saiu de seus pulmões, e não havia nada que ela pudesse fazer para detê-lo. Estava acontecendo muito mais rápido do que ela esperava. Muito rápido. Ela queria desesperadamente que Robbie estivesse aqui. Mas ele estava fora em uma missão, e "Cliffy", como ela chamou seu filho por nascer, tinha decidido fazer a sua aparição algumas semanas mais cedo. Um mensageiro tinha sido enviado para o Castelo de Douglas, quando suas primeiras cólicas começaram na noite anterior, mas Rosalin não sabia se seu marido seria alcançado a tempo. Os últimos meses de casamento trouxeram para ela mais alegria do que poderia ter imaginado. O rei tinha dado a Robbie um terreno e com uma antiga casa na torre de Kilmarnock por seu fiel serviço, e eles ficavam ali o máximo que podiam, quando não estavam em um dos castelos reais com Bruce e os outros fantasmas. Ela ainda os chamou assim, embora soubesse que eles se referiam a si mesmos com a Guarda das Highlands. Ela se tornou próxima das outras esposas. Havia algo sobre sigilo e perigo nas missões que seus maridos empreendiam que criava um vínculo especial entre elas. Elas estavam unidas pelo medo quando eles partiam, e pelo alívio quando voltavam.

Mas a mulher com quem ela havia se tornado mais próxima era Helen MacKay,

anteriormente

Sutherland.

Quando

"Angel"

não

estava

acompanhando os Fantasmas em uma missão, ela passava a maior parte de seu tempo na abadia próxima em Ayrshire com Rosalin, ajudando a colocar em ordem o refúgio que elas tinham estabelecido para as mulheres solteiras que estavam grávidas. A habilidade de Helen como um curandeira tornou-as uma equipe natural. Era Helen, que tomava conta dela agora. E foi para Helen que ela expressou seus temores. — Será que ele virá a tempo? A outra mulher apertou a mão dela. — O bebê vai chegar quando estiver pronto. Se seu pai vai chegar a tempo ou não, eu não sei. Mas vai ficar tudo bem; apenas continue respirando. Lágrimas brotaram de seus olhos. — Eu queria que ele estivesse aqui. — Ela soava como uma criança mimada, mas ela não podia ajudá-la. Egoisticamente, ela precisava dele. Ela precisava de sua força para ajudá-la nisso. A parte mais difícil de ser casada com um guerreiro era o tempo que ele passava longe. Não que ela fosse mudar o mundo dele. Ela estava tão orgulhosa de Robbie. Ele ainda era mais bandido do que cavaleiro, mas o ódio e a vingança não o guiavam mais. — Sei que você gostaria que ele estivesse aqui. Ele estará aqui se for humanamente possível, ou sobre-humanamente possível, conhecendo-o bem. Mas ele me pediu para ficar aqui e cuidar de você. — Helen sorriu. — Embora pedir, provavelmente, não seja a palavra certa. — Ordenou? — Rosalin sugeriu entre dolorosas respirações. — Sim, isso está melhor. O rosto de Rosalin ficou sombrio de preocupação. — Você deveria estar lá com eles.

E se alguma coisa acontecesse com um dos guardas e Helen não estivesse lá? Rosalin nunca iria perdoar a si mesma. Helen levantou uma sobrancelha. — Você acha que seu marido seria de alguma utilidade para eles se eu não estivesse com você? Ele teria matado todos eles, e é por isso que todos insistiram para que eu ficasse aqui com você. Além disso, tenho um segredo, — ela sorriu de maneira conspiratória. — Eu não vou poder ir a muitas missões nos próximos nove meses mais ou menos. Os olhos de Rosalin se arregalaram. — Oh Helen, uma criança? Isso é maravilhoso! — Ela conseguiu abraçar sua amiga por um momento antes de outra cólica. Ela ainda estava respirando com dificuldade quando perguntou: — Então Magnus finalmente convenceu você? Helen sorriu. — Ele tem sido paciente. Mais paciente do que a maioria dos homens teria sido. Estamos casados há mais de três anos. Mas, não, não foi Magnus. Foram as crianças em Dunstaffnage durante Beltane, — ela encolheu os ombros. — Eu percebi que estava pronta. Eu amo meu trabalho, mas quero ser mãe, também. Espero poder fazer as duas coisas. Se eu esperasse a guerra acabar, poderia estar velha. Bruce ia aumentando lentamente sua permanência no trono, mas eles ainda estavam esperando por uma batalha decisiva. — Claro que você pode fazer as duas coisas, — disse Rosalin. — Estou tão feliz por você, — Mas, em seguida, veio outra dor e seu rosto se contorceu em uma careta. Quando a dor finalmente passou, ela acrescentou: — Depois de ver isso tantas vezes, é difícil acreditar que você iria se colocar, algum dia, nesta situação. — A recompensa pela dor vale a pena.

— Diz isso a mulher que não grita como um demônio com suor escorrendo pelo rosto. Helen riu. — E você ainda continua bonita. Rosalin nem sequer se dignou a responder. Durante a hora seguinte, as dores tomavam conta de seu ventre e se mantinham. Tornaram-se cada vez mais frequentes e de longa duração. Ela estava exausta, mas animada, sabendo que após a longa espera seu bebê logo estaria ali. — Você tem que começar a fazer força. — disse Helen. — Não, por favor, não ainda. Robbie queria estar aqui. — Confie em mim, será melhor para você se ele não estiver aqui. Os homens não têm nenhuma utilidade em um quarto de parto. De repente, ouviram um som do lado de fora. Helen correu para a janela da torre e sorriu. — Parece que você vai ter seu desejo realizado, afinal de contas. Rosalin devolveu-lhe o sorriso até que outra dor tomou conta dela, e ela gritou. Um momento depois, seu marido entrou na sala. Ele parecia horrível e maravilhado ao mesmo tempo. Ele estava coberto de sujeira, seu cotun salpicado de Deus-sabe-com-quê, seus olhos estavam selvagens, e seu rosto parecia tenso de medo. Mas ela nunca esteve tão feliz por vê-lo em sua vida. Ele correu para o lado dela, ajoelhando-se na beirada da cama. — Deus, Rosalin, você está bem? — Estou tendo o nosso bebê. Um pouco de medo passeou pelo rosto dele, e ele esboçou um pequeno sorriso. — Sim, mo ghrá, posso ver isso. Melhor dizendo, posso ouvir. — Isso dói. Ele olhou para Helen.

— Ela está bem, — a outra mulher lhe assegurou. — Agora que você está aqui... Mas ela não teve chance de terminar. Robbie olhou para o chão, para a pilha de roupas de cama que tinha sido removida quando a bolsa d’água se rompeu, e ficou pálido. Ele começou a oscilar, e Rosalin agarrou seu braço. — Se você desmaiar, Robbie Boyd, eu juro que contarei a Hawk, e você nunca mais terá um minuto de paz. E então contarei ao meu irmão. Como você acha que vai soar na Inglaterra se souberem que o homem mais forte da Escócia desmaia com a visão de um pouco de sangue? — Seu sangue. É o seu sangue, — Mas a ameaça surtiu efeito. Ele parecia mais forte e um pouco da cor voltava ao seu rosto. — E eu não ia desmaiar. Rosalin e Helen se entreolharam e riram. — Eu disse que eles eram inúteis em uma sala de parto, — Helen disse, e então olhou para Robbie. — Se eu tiver de arrumar uma cama para você, não vou ficar nada feliz. Robbie fez uma careta para ela. — Eu posso passar por isso. Por favor, quero ficar com ela. Ele segurou a mão de Rosalin quando a próxima contração chegou, e na próxima. De algum modo, tê-lo por perto a ajudou. Ainda doía como o inferno, mas a pontada já não parecia tão afiada. Quando chegou a hora de empurrar, Helen disse a ele para ser útil, e ele apoiou Rosalin por trás, quando ela se cansava. Ela perdeu a noção do tempo. Parecia durar para sempre. Ela não achava que ficaria tão aliviada quando Helen disse: — Quase lá. Só mais um grande empurrão.

Rosalin cerrou os dentes, com seu marido sussurrando palavras encorajadoras em seu ouvido, e apelou para seu último fio de força para entregar o filho deles nos braços de sua amiga. O pequeno grito furioso, um momento depois, foi o som mais bonito que Rosalin já tinha ouvido. Lágrimas brotaram em seus olhos. Havia lágrimas nos olhos de Helen também. — É um menino, e ele é perfeito. Rosalin sentiu o alívio no corpo de seu marido, bem como em seu próprio. Eles olharam um para o outro sem palavras, completamente perdidos. Depois de retirar o bebê da placenta e amarrar o cordão umbilical, Helen abrigou a criança em uma manta de lã macia e entregou a rosada criança aos berros, para Rosalin. Ele tinha um tufo de cabelo escuro e macio, mas não foi isso que a fez dizer: — Ele se parece com você. — Ela olhou para o marido, que olhava para a criança como se nunca tivesse visto nada tão magnífico. — Ele certamente tem o seu temperamento. Robbie acariciou a cabecinha do bebê com a parte traseira de seu dedo. Sua voz estava embargada, quando disse: — Como devemos chamá-lo? Ela sorriu. — Eu pensei... — Ele lhe deu um olhar que dizia "não diga isso." Mas ela sempre soube exatamente como eles iriam chamá-lo. — Eu pensei em Thomas. Robbie segurou seu olhar, e a emoção que passou entre eles era nítida e pungente em suas memórias. Seu filho iria carregar o nome do amigo que, sem saber, tinha unido os dois. Cada vez que olhassem para o filho, ele faria com que se lembrassem do amor que tinha sido duramente batalhado e vencido. A todo custo.

Nota da Autora Sir Robert Boyd é, provavelmente, a figura histórica mais conhecida da Guarda sobre quem vou escrever. Ele desempenhou um papel importante nas Guerras da Independência, lutando ao lado de ambos, William Wallace e Robert The Bruce, com seu nome mencionado várias vezes pelos cronistas importantes, incluindo tanto Barbour como Blind Harry. Blind Harry se refere a Boyd mais de vinte vezes e o chama de "sábio e forte", que inspirou o seu lugar entre a minha Guarda das Highlands, como o homem mais forte na Escócia. Eu hesitei sobre fazer Boyd um membro da Guarda porque muito se conhece sobre ele (exceto, convenientemente, com quem ele foi casado), mas ele é uma figura tão convincente que não pude resistir. Para mim, ele é o tipo William Wallace de combatente da liberdade e serve como um importante elo de ligação conectando a causa de Bruce à causa de Wallace. Boyd, provavelmente, nasceu antes do que eu sugeri, por volta de 1275. Seu pai (ou possivelmente seu avô) foi um herói da Batalha de Largs de 1263, e a família foi recompensada com a terra e um baronato em Noddsdale, em Ayrshire. O pai de Boyd, também Robert Boyd, dizem ter sido um dos nobres escoceses que foram chamados para uma reunião pelos ingleses e traiçoeiramente assassinados em Barns of Ayr (um evento imortalizado no filme Braveheart). Em represália, Wallace prendeu a guarnição inglesa nos celeiros e mandou atear fogo. Eu combinei os eventos no romance como a morte do pai de Boyd. Wallace disse ter deixado Boyd no comando de seu exército durante o tempo em que estava fora, ajudando o clã Boyd a ganhar seu lema de "Eu confio", bem como o seu apelido de "Boyds de Confiança" por sua lealdade à

causa escocesa pela independência. Boyd lutou fielmente ao lado de Wallace, seu companheiro de infância, e alguns sugerem ser seu compatriota, até a morte deste último em 1305. Boyd também foi um dos primeiros partidários de Robert the Bruce e lutou (lealmente) ao lado dele durante o tempo em que durou a guerra, mesmo servindo como um dos seus comandantes na solução da Batalha de Bannockburn, que será contado em um futuro livro. Como Blind Harry diz de Boyd em Bannockburn (História dos Condados de Ayr e Wigton, Vol III, por James Paterson, Edimburgo, 1866): "À Distância à direita das legiões sulistas levantou-se, e sobre a frente ardente Edward dirigiu, Com ele a experiência de Boyd dividiu o brandir, Enviado pelo rei para guiá-lo através dia." Boyd também pode ter estado com Bruce e Sir Roger de Kirkpatrick no Mosteiro de Greyfriars, em Dumfries, em 1306, quando Bruce esfaqueou John "The Red" Comyn diante do altar, lançando sua oferta para a coroa. A escolaridade e tendências da história militar que dei a Boyd no romance são realmente baseadas no início da vida de Wallace. Wallace tinha a reputação de ter citado Hannibal e frequentou a escola pela primeira vez na área de Stirling na Abadia de Stirling, onde seu tio era um clérigo, e, em seguida, em uma escola popular em Dundee, ministrado por William Mydford, que se acredita ter fomentado o fervor em Wallace pela liberdade. Curiosamente, Wallace encontrou Duncan (MacDougall) de Lorn e Neil Campbell (irmão Arthur "Ranger" de Campbell) na escola em Dundee. Ambos viriam a se juntar a ele em sua rebelião. As obras de Políbio e Apiano provavelmente não fizeram seu caminho para o oeste até o século XV. A tradução latina da Apiano não ocorreu antes de 1477. A irmã de Boyd, Marian, no romance é ficção, mas seu irmão Duncan foi capturado e executado em 1306. Por volta desta mesma época, Boyd foi

feito prisioneiro em Kildrummy, mas conseguiu escapar. Como ele conseguiu fazer isso, se perdeu nas brumas do tempo, mas foi o que instigou a ideia de Rosalin. Rosalin é a irmã fictícia de Sir Robert (de) Clifford, primeiro barão (de) Clifford, que é um dos comandantes ingleses mais importantes na guerra contra a Escócia. A mãe de Clifford foi uma grande herdeira, e enquanto as árvores genealógicas não são consistentes (e nunca são), a maioria sugere que ele era apenas uma criança. O pai de Clifford morreu lutando no País de Gales quando Clifford tinha sete ou oito anos, e sua tutela foi realizada pelo irmão do rei Edmund da Cornualha, o Conde de Gloucester, e, eventualmente, o rei Eduardo I. A carreira militar de Clifford, na Escócia, começou em 1296 com incursões em Annandale (terras de Bruce) e Annan, e ele aparece em muitas batalhas ao longo dos anos até sua morte em Bannockburn, em 1314. Mas ele é provavelmente mais lembrado por sua inimizade com Sir James "The Black” Douglas. A luta sobre as terras Douglas iria lançar uma briga entre os Cliffords e os Douglas que duraria mais de cem anos. Embora Clifford estivesse lutando contra os "rebeldes" de Bruce, na Escócia, no momento do prólogo em “The Raider”, seu nome não aparece no cerco de Kildrummy. Kildrummy provavelmente não foi guarnecida, mas foi imediatamente desmantelada depois que Edward, o príncipe de Gales (o futuro Edward II) e Aymer de Valence (o futuro Conde de Pembroke) sitiaram o lugar. Foi a traição do ferreiro Osborne (ver The Viper) que foi responsável pela queda do castelo, a prisão de Boyd, e a posterior execução de Nigel Bruce. Clifford foi, no entanto, em Berwick Castelo durante o tempo de ataques de Bruce em 1311 e 1312, tendo sido nomeado Keeper of Scotland South of the Forth em 4 de Abril, 1311, o que fez dele o irmão perfeito para minha heroína fictícia.

Não há realmente nenhuma maneira cavalheiresca para girar as incursões de Bruce em 1311 e 1312. Elas eram basicamente uma campanha de chantagem (às vezes com reféns) para apoiar a sua realeza e financiar uma guerra cara. Se o dinheiro não fosse pago, o Inglês seria ameaçado a "ferro e fogo". No entanto, com exceção do ataque em Durham em 1312, que foi liderada por Edward Bruce e o Douglas “The Black”, os invasores de Bruce praticamente não mataram ninguém a não ser aqueles que resistiram. Mesmo os monges ingleses em Lanercost Abbey fizeram notas do feito em seus registros do período. A enorme quantia de dois mil libras para a trégua entre Boyd e Clifford foi baseada no valor efetivamente pago pela Northumberland, em agosto de 1311. No momento de “The Raider”, Bruce fez um cerco ao castelo em Dundee, que acabaria por cair e ser destruído em maio de 1312. A chave para entender a razão para os ataques é lembrar que, embora Bruce tivesse um poder sobre a Escócia, no norte de Tay naquele momento, o sul ainda era ocupado por guarnições inglesas. Ele estava limpando estas guarnições de importantes castelos da Escócia (e geralmente com a destruição do castelo depois) que marca o período entre 1311 e 1314. Mas o cerco aos castelos e pagar homens além de seus cem dias de serviço era caro, os cofres reais estavam vazios, e a Escócia foi devastada depois de anos de guerra. Sem os ataques, Bruce não teria sido capaz de obter um ponto de apoio no sul e expulsar os ingleses, que estavam tão profundamente enraizados lá. Boyd, James Douglas, Thomas Randolph, e Edward Bruce eram tenentes-chave do rei no sul e os homens que mais frequentemente não lideravam as invasões na Inglaterra. Como pode ser visto (se herói ou terrorista) foi em grande parte uma questão de perspectiva, ou seja, de que lado da fronteira (chamado as Marchas na época) se vivia. Por exemplo, Douglas

era conhecido como "Good Sir James" na Escócia, mas na Inglaterra, ele era insultado como "The Black Douglas." Da mesma forma, a partir de nossa perspectiva moderna não há nada de heroico na tomada de reféns. Mas nos tempos medievais, era basicamente institucionalizada e uma parte aceita da guerra. Nós já vimos isso com David, o jovem conde de Atholl, em The Recruit, que foi mantido como refém a maior parte de sua vida jovem pelo rei Inglês, como garantia para o bom comportamento de seu pai. Que David chegou a simpatizar com seus sequestradores que também era muito comum e, na verdade, serviu a um propósito como uma ponte entre os dois lados, quando o refém era devolvido. Parece incomum que algo de ruim acontecesse com o refém, mesmo quando um acordo era descumprido. David é um bom exemplo dessa bondade. Mesmo quando um pai rebelde fosse, eventualmente, executado, seu menino não era prejudicado. O exemplo mais famoso é provavelmente o grande cavaleiro inglês William Marshall. Ele foi preso pelo rei Stephen como um jovem e sua morte foi notoriamente evitada quando seu pai quebrou sua promessa, insultado o rei porque ele ainda tinha "o martelo e bigorna para ainda forjar mais e melhores filhos." Homens, com certeza, eram os mais preferidos, mas houve alguns exemplos de mulheres que serviram como reféns. Eu não pude resistir à tentação de nomear Rosalin depois de sua ilustre parente. A famosa e bonita "Rosamund Fair", que capturou o coração do rei Henrique II e se tornou sua amante, teria sido três vezes tia-avó de Rosalin. Finalmente, apesar de eu ter feito Rosalin dar à luz em Dean Castle, em Kilmarnock, no epílogo, as antigas terras de Balliol não foram formalmente dadas a Boyd até depois de Bannockburn. Dean Castle seria construído por seu filho, Thomas, e seus descendentes seriam os futuros Condes de Kilmarnock.
Monica McCarty - Highland Guard 08 - O Invasor (rev) R&A

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