1- Crow\'s Row

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Julie Hockley

Julie Hockley

Disponibilizado: Eva bold Tradução: Gilmara Revisão: Adriana Leitura Final: Letícia K. Formatação: Niquevenen

Julie Hockley

P

ara a estudante universitária Emily Sheppard, a ideia de passar o verão sozinha em Nova York era de longe muito mais preferível que passá-lo na França com seus pais. Tendo acabado o seu primeiro

ano na Universidade Callister, Emily tem um verão tranquilo nos subúrbios da cidade trabalhando na biblioteca do Campus. Durante uma de suas visitas ao túmulo de seu irmão Bill, Emily testemunha um brutal assassinato, e em seguida desmaia. Quando Emily recupera a consciência, descobre que foi sequestrada por um jovem criminoso e sua gangue. Ela mergulha em um submundo secreto perguntando-se o que vem a seguir, e por quanto tempo ainda estará viva. Ela está agora prisioneira na área rural de Vermont, tentando entender a sua situação e seu significado. Ao descobrir segredos sobre seu irmão e sua morte repentina, Emily se apaixona por seu muito bonito e muito perigoso captor de vinte e seis anos Cameron. Ela compreende que é um amor proibido e que não irá permitir que ela retorne à sua vida anterior. Mas o amor pode não ser suficiente para salvar Emily quando ninguém sabe que ela está desaparecida.

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Para o meu marido, Obrigada por seu amor, suporte e entusiasmo... e por finalmente me convencer a deixa-lo ler isto antes que eu o destruísse. Eu não poderia ter escrito isso sem você.

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“Não temos como desejar aquilo que não temos. Essa inquietação na origem de uma procura, visando uma paixão ou um saber, faz do amor um objetivo irreal. Não possuímos, mas desejamos.” Platão, Symposium

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O motor do meu Chevrolet Capri 1989 estava batendo contra o capô, fazendo o carro inteiro sacudir. Ficamos em silêncio, presos em outro semáforo vermelho, enquanto o motor borbulhava. Pela sexta vez, nos últimos cinco minutos, olhei para o relógio e suspirei, consciente de que minha perna esquerda estava impaciente, agitada, como o resto do carro. Eu pisei no acelerador cerca de meio segundo antes da luz ficar verde, tentando coagir a velha senhora na minha frente a ir um pouco mais rápido, buzinando e xingando, enquanto ela não reagia. A velha senhora acordou e finalmente pisou no acelerador. Meu para-choque, praticamente, roçou o dela, mas eu só tinha uma coisa em minha mente. Cores. Hoje seria verde ou azul? Talvez branco — Meu favorito. A voz sombria na parte de trás da minha mente não ofereceu nenhuma cor como alternativa. Eu sufoco a voz. Os dias sem nenhuma cor eram simplesmente muito difíceis de suportar. Eu precisava de cor hoje. Meu cachorro, meu companheiro no banco de trás, ecoa o meu nervosismo com um gemido. Quando o tráfego chegou a Finch Road, a velha senhora desviou, assim como todos os outros. Finch Road era a linha que separava a vida do povo da cidade, da terra de ninguém. Essa boa gente, como a velha senhora à minha frente, fingia que ali não existia, e desviava o mais rapidamente possível, para que não fossem absorvidos para o ponto onde eles teriam sido forçados a reconhecer sua existência. Eu não poderia culpá-los, eu não gostaria que meus entes queridos chegassem perto deste inferno. Este pensamento fez meus dedos estrangular o volante.

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Assim que passei entre o limiar Finch, eu mudei a música e aumentei o volume até que os vidros escurecidos da minha Capri estavam vibrando. Eu estava, definitivamente, nos projetos agora. Enferrujadas, turbinas de motocicletas estavam alinhadas na rua, algumas meio estacionadas nas calçadas caídas, outras apoiadas em blocos de cimento. Homens e meninos acumulados nas portas dos prédios decrépitos, observando enquanto eu passava. Um lugar que mesmo a polícia evitava, e uma das nossas melhores fábricas de dinheiro. Eu não tinha nada a temer aqui, desde que tenho a certeza de prestar meus cumprimentos antes de desaparecer na multidão. Eu dirigi até o último edifício no final da rua, onde um pequeno grupo de membros de uma gangue me esperava — um lembrete de que eu estava em seu território. Este último edifício é a sua sede, proporcionando-lhes

uma

visão

completa

do

ir

e

vir

da

rua. Estacionando ilegalmente ao lado de um hidrante, pego meu boné de beisebol, e puxo meu capuz. Alcanço o revólver do porta-luvas e o coloco na parte de trás da minha calça jeans, certificando-me de que, apenas o suficiente do cabo, poderia ser visto por aqueles que estariam olhando para ele. Eu saio do carro e Meatball pula do banco de trás, seguindo-me. Em um movimento que se tornou uma segunda natureza, faço a varredura da área e reúno uma quantidade infinita de informações em poucos segundos: entradas sombreadas, pontos de saída rápidos, quantos bandidos com armas estavam olhando para mim, quantos estavam evitando olhar para mim. Basicamente, eu passei a minha vida com o meu estômago apertado e meus dentes cerrados como se eu já estivesse trancado, olhando para o mundo através das barras de aço de minha cela.

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Mas tudo estava bem nos projetos de hoje, bem como os projetos poderiam ser. O líder do bando desfilou para mim. Ele ordenou que seus homens se retirassem, indo para longe de nós, antes dele se inclinar com uma voz que só ele e eu podíamos ouvir. — Boa tarde, senhor. Ele era conhecido como Grill 1 — homenagem ao seu sorriso totalmente banhado a ouro, financiado com suas fortunas ilegais. Eu balancei a cabeça para Grill. Embora ele fosse muito inferior na hierarquia, foi necessário demonstrar apreço antes de entrar em seu território. Isto garantia a minha segurança, e lhe assegurava que a minha presença não significa que os líderes estavam tentando derrubálo. — Dando um passeio? — Ele perguntou, e, em seguida, pulou para trás quando Meatball avançou. Eu puxei Meatball de volta, e então olhei em torno de nós... Eu não precisava de nenhum problema hoje. Grill finalmente relaxado inclinou a cabeça para o lado: — Está sozinho novamente hoje, senhor? Olhei para o relógio outra vez. Em seguida, acenei para ele, afastando-me. O olhar de indignação em seu rosto me disse que ele não gostou de ser dispensado desta forma na frente de seus soldados. Mas eu não tinha tempo para acariciar seu ego. Meatball nos guiou através das hordas de famílias que tinham se reunido na clareira próxima para desfrutar o resto da tarde ensolarada de Maio. Ele trotou para frente, e nós rapidamente caminhamos à nossa 1

As joias usadas pelas celebridades pop na arcada dentária é uma evolução dos antigos

piercings dentais.

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maneira para a parte mais profunda na clareira. Eu reconheci alguns dos rostos. A partir de seus olhares, eles me reconheceram também. Não havia simpatia lá. Eu era o rosto dos seus problemas; Eu não conseguia esconder o sangue que manchou minhas mãos. Mas eu não estava tentando também. Tudo o que eu queria e precisava, hoje, eram alguns segundos de paz. Encontramos uma mesa de piquenique desocupada que nos escondia no meio da multidão, esperando. Eu puxei minha camisa sobre a minha arma. Depois de alguns minutos, a cabeça de Meatball disparou para cima, e as suas orelhas ergueram. Minha respiração acelerou, o punho dentro de mim soltou um quarto de uma polegada, e a voz sombria dentro da minha cabeça se tornou nula, finalmente.

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No momento em que o Professor deu o aviso de “Tempo esgotado”, eu já tinha relido e conferindo, meticulosamente, minha prova cinco vezes. Devia estar pelo menos duas centenas de graus naquele auditório, como se a escola precisasse ter certeza de que absolutamente ninguém seria poupado do suor durante a semana de provas. A fenda, escavada na parte de trás do meu pescoço, pelo fluxo constante de suor, era a prova de que eu também não tinha sido poupada. Os poucos estudantes que ficaram para trás em suas notas, deixaram

o

auditório

A Universidade

que

Callister

os não

fazia

sentir

mais

sufocantes.

era

uma

escola

da

Ivy

League. Provavelmente nunca sequer esteve na corrida para um top cem, superior ou, qualquer lista de todas as escolas do país. Mas eu ainda precisava de um “A” para manter uma média e manter a minha bolsa integral. Então, eu levei um segundo extra para verificar a linha pontilhada no canto direito do meu gabarito, pela possibilidade de que o Professor Vernon fosse um daqueles professores que dava aos estudantes

um

ponto

extra

apenas

por

escrever

seus

nomes

corretamente. Emily Sheppard. Meu nome foi escrito certo, embora eu ainda me encolhesse, só um pouco. Então, eu coloquei meu lápis para baixo, virei minha prova, e deixei um pequeno suspiro escapar de mim. No mínimo, eu tinha sobrevivido um ano de faculdade, o que significava que eu estava temporariamente livre de estudar para as provas, de ouvir palestras intermináveis... A escola foi uma excelente forma de matar o tempo. Eu iria perder isso.

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Corri de volta para a casa e entro no verdadeiro caos, completo novamente, quando você compartilha um buraco de três quartos com seis outros companheiros de quarto, todos os dias é caótico. Você acabou de aprender a medir em graus o caos. Em nossa casa, o caos variava em qualquer lugar, desde manhã correndo da pista de obstáculos de latas de cerveja vazias para entrar em um banheiro... E manter sua cabeça abaixada, e esperar que nada com bordas afiadas esteja no sofá. Tornando-o sair porta a fora, a tempo, para a sua próxima aula um desafio, para dizer o mínimo. Apressei-me em voltar para casa e me vi em um completo caos. Todos os meus colegas de quarto estavam fazendo as malas para o verão. Havia cestos e sacos de lixo amontoados nas portas, a maioria deles cheios até a borda com a roupa suja de presente para os pais. Tudo estava sendo embalado, jogado realmente em qualquer recipiente que poderiam encontrar, enquanto seus pais estavam gritando ordens, tentando sair do nosso buraco tão rapidamente quanto possível. Todo mundo que poderia escapar de Callister fazia em sua primeira oportunidade. Eu era a única dos meus companheiros de quarto que não estava indo para casa para as férias de verão. Burt e Isabelle, meus pais, foram passar o verão na França, onde Isabelle nasceu. Europa era um retiro regular para a família Sheppard. Eu tinha posto um fim a isso também, até mesmo um verão quente em uma cidade morta foi melhor do que a tortura. Meus companheiros de quarto foram levados às pressas com despedidas e desejos de ter um grande verão. E então eles se foram, e eu fiquei de pé na sala, sozinha com os livros escolares abandonados e caixas de pizza vazias. A casa tinha sido apelidada por alguns alunos, principalmente no idioma dos seus pais, de lixeira. Eu gostei. Novas e interessantes manchas apareceriam no tapete da sala, cheiro irreconhecível emanava

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do sótão, a cozinha abrigava uma família de formigas, o único banheiro com banheira, que muitas vezes transbordou como um balde de cerveja tornou-se uma armadilha com o apodrecimento da madeira do piso. Estas eram apenas algumas das maravilhas deste alojamento de estudantes. E eu gostaria de tê-lo só para mim durante quatro meses gloriosos. Desfrutei do silêncio mais alguns minutos e, em seguida, corri para cima para o meu quarto antes de ficar sem a luz do dia. Meu quarto ficava no final do corredor. Só que não era realmente um quarto, mas um armário de vassouras que tinha sido convertido em um espaço "rentável". Em outras palavras, era grande o suficiente para uma pessoa semiadulta, para o senhorio poder cobrar dos estudantes o aluguel por ele. Não tinha janelas, sem luz, sem tomadas elétricas e uma cortina pendurada no lugar de uma porta, porque minha cama de solteiro tomou todo o espaço. Eu tive que puxar um cabo elétrico de um dos quarto dos meus companheiros de quarto para o meu apenas ser capaz de ligar uma lâmpada e um despertador. O

que

meu

quarto

faltava

em

metragem

tinha

em

personalidade. Minha cama ficava espremida entre três paredes, estava no alto de três pés feitos de caixas de leite que haviam sido secretamente emprestados da loja da esquina. Minhas roupas, meus sapatos, e os meus livros escolares estavam organizados empilhados em caixas Rubbermaid 2 debaixo da cama, e por dois dólares alguns Van Goghs3 esconderam a maioria dos buracos nas paredes. A melhor parte: só me custava cem dólares por mês com tudo incluído. Fechei a cortina, trocando meu jeans por calças esportivas e voltei escadas a baixo. Depois de esconder a chave debaixo do tapete da frente, eu arranquei correndo, literalmente, pelas ruas. Desviei das pessoas e dos 2 3

Empresa distribuidora Americana. Famoso pintor.

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montes de lixo que se acumulavam nas calçadas — remanescentes de todos os alunos que estavam abandonando gradualmente a cidade. Até amanhã, neste horário, a cidade estaria livre dos estudantes que lhe deram vida, o lixo acumulado teria sido recolhido, e apenas o lixo verdadeiro permaneceria. Esta parte de Callister era considerada o subúrbio da cidade — um forte contraste com os gramados bem cuidados que eu havia crescido – ou o que poderia ter sido – provavelmente há um milhão de anos atrás, um lindo bairro de classe média, agora era outro, em estado de ruínas, embora perfeitamente acessível, o bairro estava em boa posição da cidade. Com a sua proximidade com a universidade, ele acomodava esta mistura estranha de estudantes universitários, famílias carentes, e traficantes de drogas. Tinha um charme, a maioria das casas era pequenas, feitas de madeira construídas nos tempos de guerra, a um metro da rua e cerca de apenas dois metros afastados umas da outras. Eu tinha certeza de que o bairro devia ter sido muito bonito em algum momento. Agora, a maior parte da tinta das varandas estava descascando, camadas multicoloridas começavam a aparecer, olhando através de pontos de rachaduras como cicatrizes deixadas pelos proprietários anteriores antes de ser abandonada para sempre. Eu corri por uma das ruas mais movimentadas — A parte que menos gostava da corrida. Muitos carros passavam por ali, com praticamente todo mundo voltando os olhos na minha direção, como se fosse a primeira vez que tinham visto alguém correndo. Eu dizia a mim mesma que era por causa do local onde eu estava, nesta cidade, alguém que corria era porque geralmente estava fugindo de alguma coisa, ou da polícia ou do cano da arma de um comerciante. Mas de alguma forma, eu sabia que não tinha nada a ver com a má vizinhança, e tudo a ver comigo, eu era o foco para os olhares curiosos. Meu cabelo era da cor de molho de espaguete. Não o tipo

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gourmet caro, mas o tipo que era geralmente vendido em lata, a granel, e principalmente feito de cenouras. A pele pálida. E as sardas marrons, avermelhadas

que

salpicam

cada

polegada

de

minha

pele

fantasmagórica, eram suficientes para o meu gosto. Meu corpo magro. Não é o tipo "Você devia ser modelo", mas um tipo estranho, de esqueleto. Eu tinha esperança de que um dia iria acrescentar algo, qualquer coisa, para meus ossos, mas dado que eu ainda era cópia de minha mãe magra, a esperança desvaneceu-se a cada ano que passava. Eu não estava paranoica... Mas ainda assim, eu subi o som do meu Walkman. É mais fácil ignorar os olhares das pessoas quando você tem música arruinando seus ouvidos. Então, eu corri até a colina e virei à direita em uma viela quase escondida. Atrás de dois edifícios de tijolos, havia uma pequena parcela de árvores que se elevaram sobre a viela, derramando um tapete de pequenos grãos brancos por toda a rua. Era uma das poucas áreas no gueto que tinha qualquer coisa verde e com vida. Desviei para o caminho que levava para o cemitério. Tal como o resto do bairro, o cemitério tinha sido deixado de lado, com ervas daninhas que cresceram em todos os lugares ao redor, e dentro das rachaduras das lápides. Grafites de gangues pintadas com spray cobria quase toda a superfície do cemitério, incluindo algumas das lápides. Foi entre garrafas de cerveja quebradas, pontas de cigarro e embalagens de fast-food que estava a única lapide que tinha sido mantida pelo zelador. Ele deve ter sido muito bem pago pelos meus pais para manter as ervas daninhas e lixo longe da sepultura do meu irmão, Bill. Corri

esta

mesma

rota

quase

todos

os

dias

depois

da

escola. Alguns dias eu me sentava para conversar com Bill ou apenas, simplesmente, olhar para sua lápide. Hoje eu continuei correndo, tentando tirar o máximo proveito da luz do dia, não porque eu estava atrasada, e sim porque um cemitério

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definitivamente não era onde eu queria estar depois de escurecer. Eu tinha visto muitos filmes para isso. O caminho serpenteava o cemitério e, eventualmente, levava através de uma cerca de exuberantes árvores. Corri para a abertura do campo de ervas daninhas e para os Projetos. Os Projetos eram uma cidade dentro da cidade, um conjunto de edifícios de apartamentos para habitação pública construída pelas pessoas boas de Callister. Eles estavam realmente feios e, tanto quanto eu

poderia

dizer,

mal

habitados. Foram

construídos

muito

apressadamente pela cidade, no meio de um grande pedaço de terra. Eram extraordinariamente grandes. O plano da cidade foi de manter os pobres e pedintes, longe da vista do resto da cidade. Entrar nos Projetos era como entrar em outro mundo. Enquanto o cemitério havia sido praticamente abandonado, o campo em torno dos edifícios estava rodeado por pessoas. Havia sido o primeiro dia realmente quente do ano. O sol estava brilhando na cidade, inclusive

a

cidade

dentro

da

cidade

estava

saindo

da

hibernação. Crianças correndo apressadas, jogando e gritando na grama, famílias agrupadas em torno de pequenos churrascos, música rap estava tocando, o vai e vem congestionado nas passagens de pedestre. Então eu fiz o meu caminho através da multidão, tecendo dentro e fora do tráfego de pedestres ao ritmo da minha respiração e Bob Marley em meus fones de ouvido. Ao contrário da teoria de um dos meus companheiros de quarto, eu não estava tentando ser retrô com o meu Walkman. Eu o achei em nosso porão, quando nos mudamos para a casa. Era grátis, e tudo que eu podia pagar. E a fita do Bob Marley, que já estava lá, havia se fundido ao Walkman. E sim, eu fui forçada a ouvir a mesma fita toda vez. Mas isso não importava, era tudo que eu precisava para acalmar a voz na minha cabeça tempo suficiente para colocar um pé na frente do outro sem tropeçar.

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Mas hoje, quando eu corria por entre a multidão, eu comecei a perceber que havia algo diferente, de alguma forma. As pessoas estavam olhando para mim, talvez até mais do que o habitual. Olhei em frente e tentei manter minha mente no meu ritmo, em minha respiração, longe dos meus delírios. Só

que

eu

não

estava

sendo

paranoica;

as

pessoas

definitivamente estavam me olhando. E então se movendo, longe de mim. Desviando para os lados enquanto eu corria passando, como o mar vermelho se abrindo como na bíblia. Havia algo no meu rosto? Eu trouxe a minha mão ao meu rosto suado, tão friamente quanto pude, passando rapidamente os dedos sobre a minha pele. Tanto quanto eu poderia perceber, não houve sangramento nasal ou qualquer outra coisa que era anormal para mim. Foi quando notei uma senhora na minha frente, poucos metros de distância. O fato de que ela estava usando um chapéu amarelo, e tinha uma bolsa de plástico amarelo me fez notá-la mais do que o fato de que ela estava olhando diretamente para mim. Ela estava murmurando alguma coisa, mas tudo que eu podia ouvir era a voz de Bob. Antes que eu pudesse entender que ela estava me dizendo para tomar cuidado, uma grande sombra escura tinha acelerado para mim. Eu nunca tive tempo para reagir. Algo duro e pesado bateu em mim por trás, e me derrubou ao chão. Cai de bruços, fui de cara no cascalho com tempo suficiente apenas para colocar as minhas mãos na minha frente para amortecer um pouco minha queda. E foi aí que eu estava imobilizada. Então, algo saltou fora das minhas costas, e eu senti algo quente, úmido e pegajoso no meu rosto. Não era sangue. Vislumbrando atordoada, vi uma cabeça do tamanho de vaca de um cachorro muito perto de meu rosto, dentes muito grandes, a coleira pendurada livremente de seu pescoço. Eu ouvi uma voz ofegante, mas eu não achei que eu poderia responder. Inclusive, mesmo se eu

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pudesse, eu não faria isso. O medo de que a língua do cachorro iria cair na minha boca se eu tentasse abri-la para falar era real. Um homem tinha vindo para pegar a coleira do animal enorme e puxou-o para longe do meu rosto na hora que recebi uma lambida. Senti uma mão forte no meu braço, e fui levantada sobre meus pés instáveis. Enquanto voltava à vida, eu investiguei minhas mãos. Elas estavam bastante esfoladas. E embora não pudesse ver nenhum rasgo na minha calça, eu sabia que teria hematomas do tamanho de uma ameixa em meus joelhos amanhã. No chão, eu vi o meu Walkman premiado, quebrado em pedaços por todo caminho pela rua. Tirei os fones de ouvido, agora inúteis, longe de meus ouvidos e deixei cair no chão. — Eu estou bem, — eu finalmente respondi, embora eu não tivesse certeza se alguém tivesse me perguntado. Olhando para cima, de frente para o sol poente, eu trouxe a minha mão na minha testa à borda de meus olhos, protegendo da luz ofuscante. O que eu podia ver era o dono do cachorro, a sombra de um menino ou de um homem em um capuz cinza. Ele era alto, e seu rosto estava escondido pela escuridão de seu capuz e um boné de beisebol que estava acima de suas sobrancelhas. Ficamos ali, estudando um ao outro, como fazem pugilistas antes de entrar no ringue. Eu estava esperando o que, em geral, vem depois do ataque de um cachorro, como um pedido de desculpas ou uma oferta para pagar minhas roupas lavadas à seco ou o nome do seu advogado para que os nossos advogados pudessem conectar-se facilmente quando eu entrar com uma ação. Mas o menino ficou em silêncio, tocando seu relógio e, rapidamente, analisando o cenário antes de voltar seus olhos escuros para mim.

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— Eu sou Emily. — Eu estendi a mão aproximando mais para ver seu rosto. Nomes, eu pensei, era um bom começo. Mas ele deu um passo para trás e olhou para baixo. — Seu cadarço está desamarrado, — ele me disse, quase com raiva. Eu puxei minha mão de volta, me sentindo um pouco como uma idiota, e segui seu olhar para os meus pés. Eu me agachei para amarrar meu cadarço; isso provocou o cachorro a latir e dar um bote esticando até o final de sua coleira. Eu não poderia dizer se ele estava feliz ou com raiva. Não importava. Saltei para trás, caindo sobre meu traseiro, imaginando quanto tempo levaria até que a coleira quebrasse e o cachorro estaria de volta em mim novamente. — Ele não vai te machucar. — O dono tinha dito isso com irritação, como se ele estivesse chateado com o meu medo da besta que me atacou há alguns segundos antes. Bufei e puxei meu cadarço que, para a minha surpresa, se rompeu. — Você precisa de sapatos novos, — ele comentou novamente irritado. — Meus tênis estavam perfeitos até seu cachorro me usar como um trampolim. Enquanto eu lutava para amarrar o que restava do meu cadarço em um nó e tentar dar sentido a falta de jeito do cara, eu olhei para cima e vi como suas mãos estavam fechadas em um punho e sua mandíbula apertada. Fomos interrompidos antes que os cabelos em meus braços tivessem tempo para se arrepiar completamente. — Ei moça, — disse uma voz atrás de mim. — Você deixou cair isso.

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Pus-me de pé e virei. Um homem em um agasalho folgado me entregou minha fita Bob Marley: tinha finalmente soltado do meu Walkman, trazendo peças do Walkman com ele. Eu sabia o suficiente sobre as cores de gangues locais e tatuagens de lágrima, e este homem estava mostrando para eu saber que deveria ficar o mais longe possível. Ficou claro para mim que eu estava lentamente sendo rodeada, em menor número. — Obrigada, — eu murmurei. — O que é isso, afinal? — Ele me perguntou. Quando eu estendi minha mão para pegar a fita rapidamente, o Rottweiler foi à loucura novamente, latindo, rosnando, quase rompendo a coleira. Eu fiquei quieta. A gangue recuou, mas seu olhar assustado não foi direcionado para o cachorro hostil, mas para o proprietário do cachorro. — Desculpe cara, — ele gaguejou, dando alguns passos curtos para trás antes de se virar. Eu assisti ele ir e notei que todos ao nosso redor estavam

fazendo

o

direção. Acidentes,

seu

como

melhor esse,

para

evitar

geralmente

olhar

atraem

em

nossa

multidões

de

curiosos... E benfeitores — Não? — No entanto, ninguém se atreveu a chegar perto de nós. Confusa, virei de volta para o menino e confirmei que ele parecia bastante normal, sem sinais de qualquer filiação de gangues. Embora seu cachorro se acalmasse novamente, o menino segurava a coleira com um

olhar,

como

se

ele

estivesse

prestes

à

combustão

espontânea. Quando ele falou, eu percebi que era comigo que estava zangado. — Você realmente não deveria estar correndo sozinha neste bairro. É uma coisa realmente estúpida para se fazer.

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Com essa declaração, eu levei um momento, e esperei por uma declaração adicional. Mas nada veio dele. — Você está falando sério? — Tentei, sondando após alguns segundos. Ele ficou em silêncio, tenso. Ataquei. — Devo lembrá-lo que o seu cachorro me atacou e seu cachorro quebrou meu Walkman? Você não está me culpando? Sério? O menino, mais uma vez verificou ao redor e parou sem qualquer réplica. Eu podia sentir minhas orelhas ficando vermelhas, o que significava que eu, provavelmente, parecia um tomate que estava prestes a explodir no microondas. — Eu o estou atrapalhando de algo mais importante? — Perguntei. Ele continuou a olhar para mim da escuridão do seu capuz. Eu estava sem palavras, que era uma estranha e nova sensação para mim. Finalmente, empurrei minha fita quebrada contra o seu peito, deixando cair na sua frente. Ele a agarrou antes que ela caísse no chão. Não poderia pensar em uma boa saída como "Vejo você no inferno", ou "Tenha uma grande vida", ou "Hasta La vista, baby" — nada legal me veio à mente com rapidez suficiente. Então eu girei sobre os calcanhares e comecei a correr de novo, antes que as lágrimas furiosas quebrassem na superfície. Eu não olhei para trás de novo, mas eu podia sentir que ele ainda estava de pé ali, olhando de sua escuridão, observando-me fugir. Eu esperei até que eu tinha certeza que ele não podia mais me ver

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e desacelerei para uma caminhada, mancando o resto do caminho para casa. Eu desejei passar por ele, de volta através do cemitério, o que teria sido um caminho para casa muito mais curto. Mas isso também teria lhe dado o benefício de me ver mancar à distância e chorar. Eu não lhe daria essa satisfação. Quando voltei para casa estava escurecendo. As luzes da rua estavam acesas, e Skylar estava sentado nos degraus da frente. — Onde você estava? Estive esperando por quase meia hora. — disse ele com seu sorriso casual, ignorando o fato de que eu estava mancando em direção a ele. — Desculpa. Fiquei presa. — Eu disse rigidamente. No meu caminho para a porta, quando eu passei por ele, eu tinha pegado um cheiro de alguma coisa, uma colônia barata. Skylar era um menino bonito da Austrália, o tipo de cara bronzeado, loiro. Mas ele

também

fazia

o

estilo

hippie

liberal; ele

usava

sandálias

Birkenstock4 com meias e calças de veludo durante todo o ano. Ele era vegetariano radical e se recusava a colocar qualquer coisa em seu corpo que não fosse natural; O que não o impediu de usar uma substância química

para

disfarçar

o

mau

cheiro

em

seu

corpo...

Algo

definitivamente estava errado. E eu tinha um palpite do que isso poderia ser. Evitei seu olhar e levantei o tapete de borracha, revelando a chave escondida. — Desde quando vocês se preocupam em fechar a porta? — Ele perguntou, de pé perto de mim, enquanto eu balançava a chave na fechadura.

4

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— Eu estou sozinha durante o verão, — disse com a voz trêmula. De minha visão periférica, eu podia ver seu sorriso se alargar tornando mais amplo, quando eu disse isso, confirmando minhas suspeitas, meus medos. Deixei Skylar no sofá e subi as escadas para o chuveiro. Isso não é uma grande coisa, eu dizia a mim mesma, enquanto a água quente caia sobre mim. Mas minha garganta estava inchada, fechada e minha pele ficou rígida; meu corpo estava rejeitando a mera ideia de estar com Skylar, sozinha, sem qualquer torturante distração de meus companheiros de quarto. Normalmente, teria entrado e saído do banheiro em dez minutos, no máximo. Nosso banheiro coletivo era o mais repugnante local na casa, havia quase sempre alguém batendo na porta, gritando para você se apressar. Hoje, porém, eu estava indo no ritmo de um caracol, tomando o meu tempo doce em desembaraçar o cabelo molhado e escovar os dentes. Eu me vesti e enrolei meu cabelo molhado com uma toalha até que nem uma gota caiu das extremidades. Examinei cuidadosamente os joelhos; eles já estavam virando um tom escuro de roxo. Então, eu olhei para o meu reflexo no espelho por meio segundo a mais do que o habitual ou necessário. Se eu tivesse maquiagem ou um secador de cabelo, eu poderia ter aumentado meu tempo no banheiro por mais cinco, talvez até dez minutos; mas, mesmo depois de procurar algo no banheiro, eu percebi que não havia mais nada a fazer. Então eu coloquei meu cabelo em um coque para cima molhado, e com um suspiro longo, eu abri a porta e saí do meu esconderijo. Quando voltei para o meu quarto, Skylar estava deitado na minha colcha amarelo-canário com as pernas balançando sobre a borda. Era uma coisa boa que eu não tinha um hábito de sair do banheiro apenas de toalha. Joguei minhas roupas da corrida no cesto transbordando. Eu teria que lavar roupa em breve, ou sair para correr novamente de meias.

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Enquanto minha mente estava distraindo-se, Skylar tinha virado para o lado. — Então, o que você quer fazer hoje à noite, E? Esse apelido me foi dado pela minha avó, a mãe de Burt, a mesma avó que poderia, até hoje, ainda nunca lembrar do meu nome. Desde que eu nasci não-um-menino, que poderia ter continuado o bom nome da família —

esse era o pensamento de Isabelle, uma

forma para legitimar seu caso com Burt. Meu irmão mais velho Bill costumava me chamar de Emmy ... Principalmente porque ele irritava muito Isabelle, sua madrasta. Eu gostei, principalmente, pela mesma razão. Eu realmente não me importo de Skylar me chamar de E. Qualquer coisa era melhor do que Emily. Mas eu tinha a sensação de que suas razões para fazê-lo, não tinha nada a ver com qualquer tipo de sentimento especial que ele poderia sentir por mim; foi apenas mais fácil de lembrar os nomes das meninas — ele só tinha que lembrar as primeiras iniciais. Talvez eu pudesse ensinar esse truque para a minha avó. Eu tomei meu tempo arrastando uma das caixas Rubbermaid debaixo da minha cama e puxar as roupas para o trabalho. — Umm... Poderíamos ir ver um filme, — eu finalmente ofereci. — Aquele que você estava falando outro dia. Ele sentou-se, cruzou as mãos entre os joelhos. — Ou podemos ficar aqui e passar uma noite tranquila. Prendi a respiração... E o ronco do meu estômago me salvou. — Você está com fome? Estou faminta! — Não, eu não estou... Mas vá em frente. Ele parecia completamente decepcionado, e eu já tinha feito o meu caminho através da porta de cortina antes mesmo dele terminar a frase.

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A cozinha era uma zona de desastre. Os acendedores tinham uma crosta de gordura de anos, e sempre havia pratos sujos, empilhados e em torno da pia. A única maneira de obter um prato limpo era lavando antes de usá-lo, que eu fiz antes de colocar a panela com água fresca e limpa no fogão para ferver. Preparei uma pia de água e sabão e comecei a lavar os pratos, quase animada pelo fato de que os pratos limpos iriam, realmente, ficar limpos por mais de um minuto. Skylar apenas me rondava da geladeira. — Você sabe que vou embora em poucos dias, — Ele me lembrou, pela milésima vez. — Eu nem sei ainda se o meu visto de estudante será renovado no próximo ano. — Sim, eu me lembro de você me dizendo isso. Espero que eles deixem você voltar, — Eu disse, derramando o conteúdo da caixa de Kraft Dinner5 na panela de água fervente. — Ew. Eu não sei como você pode comer essas coisas. Eu apenas sorri e agitei, grata que eu não tinha que cozinhar para nós dois. Caso contrário, eu teria ido comer galhos e folhas de grama para o jantar. Skylar vagou de volta à televisão na sala enquanto eu terminava de cozinhar. Sentei-me ao lado dele no sofá, mais alegre do que eu deveria em ter de assistir seu rosto virar um tom de verde enquanto eu derramava ketchup sobre minha pasta laranja. Infelizmente, sua aversão não durou tanto, assim que eu descansei minha tigela vazia na mesa de café, seu braço estava em volta nos meus ombros. Sair com um cara por dois meses na faculdade era como uma vida para o resto do mundo, ou assim meus companheiros de quarto tinham me ensinado. Havia coisas que, supostamente, deveríamos experimentar na faculdade. As “experiências”. Tudo muda tão rápido 5

Kraft Dinner é uma marca americana de Macarrão com Queijo vendido em caixa.

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aqui... E Skylar movia-se ainda mais rápido. Em pouco tempo, a mão livre tinha me atravessado e fez o seu caminho para a minha coxa. E ele continuou virando o rosto para o meu, tentando chamar minha atenção. — Você acha que não foi bem em suas provas? — Perguntei-lhe, encontrando interesse na reprise Seinfeld que estava passando. — Por que não? — Perguntou me estudando. —

Então

por

que

você

acha

que

seu

visto

não

será

renovado? Pensei que a única condição era que você mantivesse suas notas boas? Ele pareceu pensar sobre isso. — Nada é garantido, eu acho. Há sempre uma chance de que eles poderiam negar o visto. Pequena chance, mas uma boa possibilidade. — Eu vou estar fora, definitivamente, durante todo o verão, — acrescentou. Isso era algo que eu não podia discutir. Então eu me levantei para pegar um copo de água que estava na pia da cozinha. Fiz uma lista na minha cabeça de tudo o que estava certo sobre Skylar. Para todos os efeitos, ele era perfeito para ter a “experiência” necessária da faculdade. Ele era um cara bastante agradável. Ele era muito inteligente. Tomava banho um pouco regularmente. Estas coisas devem ter significado alguma coisa, certo? E então minha mente vagava, e fez o seu caminho para o topo da lista, o fato de que a testa de Skylar era muito grande, algo que eu tinha acabado de notar a apenas um minuto. Seu nariz era demasiadamente muito reto, ele deve ter feito uma plástica no nariz, eu decidi. Eu não poderia estar com alguém que tinha tido uma plástica no nariz. Corri de volta para o sofá antes que eu começasse a falar alto comigo mesma.

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Como ele podia sentir a minha inconstância, Skylar não perdeu tempo. — Vai ser difícil ficar longe de você por quatro meses, eu vou sentir sua falta como um louco. Seus olhos azuis — azuis opacos que eu tinha notado naquele momento — agora nem piscavam. Ele pegou meu leve sorriso como uma luz verde, e seus lábios estavam nos meus antes que eu pudesse pensar em mais alguma coisa para dizer para distraí-lo. Ele tinha gosto de bala de morango. Eu me perguntava qual era o meu gosto para ele, provavelmente, queijo em pó fluorescente laranja. Em seguida, houve mãos e braços ásperos desajeitadamente — em toda parte sobre mim. Skylar parecia saber o que estava fazendo. Suas mãos tinham feito o caminho para a minha cintura e com uma vibração rápida, quase imperceptível, de seus dedos sobre minha camisa, meu sutiã se soltou. Ele, então, sem a menor cerimônia, se equilibrou em cima de mim. E foi então quando isso aconteceu, como sempre acontecia em momentos como este... Eu entrei em pânico. A adrenalina correu para os meu braços ossudos, os braços o empurraram para fora, e Skylar caiu para o tapete, batendo com a cabeça loura contra a mesa de café em seu caminho para o chão. Skylar ficou no chão tempo suficiente até que o choque desapareceu de seu rosto, tempo suficiente para me dizer — um monte de vezes — que ele não estava chateado, que poderia esperar enquanto ele esfregava o hematoma na cabeça, que era tão grande quanto o seu ego. A coisa que mais me incomodou foi que ia permanecer virgem... Mesmo depois de um ano na faculdade. Eu estava agora passando a ser uma minoria e entrando no reino de figura histórica. Imaginei uma

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classe da escola primária no futuro, enquanto o professor na frente deles contava a historia da eternamente virgem Emily. Mais um ano e eu me tornaria um mito grego. Eu não era tonta o suficiente para pensar que você tinha que estar apaixonada para estar com alguém dessa forma... Então, por que eu não posso experimentar, como qualquer outro calouro da faculdade com os hormônios de primeiro ano? O problema era que não havia nada de normal em meu DNA. Eu estava destinada a ser para sempre bizarra. No final da noite, sentei-me na escada e observei Skylar ir embora, sem dar maiores importância.

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Eu estava tão inacreditavelmente atrasada. Saí do chuveiro, meus pés pegajosos guinchavam nas sandálias, pelo corredor até o meu quarto. E então eu só fiquei lá por um longo tempo, considerando seriamente faltar ao trabalho e correr de volta para a cama para me esconder debaixo das cobertas... Alguém notaria se eu não aparecesse hoje? Havia

dias

em

que

desejei

que

minha

conta

bancária

simplesmente ficasse positiva sem qualquer esforço da minha parte. Hoje foi um daqueles dias. Meu pão ficou preso na torradeira e queimado; Eu bati meu copo contra a pia da cozinha, que quebrou em um milhão de pedaços irregulares; e o único par de meias limpas que eu pude encontrar eram incompatíveis, e um deles tinha um buraco que manteve a circulação de ar no meu dedão do pé. Eu não tinha pregado um olho, nem mesmo um pouco. Eu poderia dormir com música estridente no quarto ao lado do meu. Eu poderia até mesmo dormir em um jogo de futebol em erupção no outro lado da minha cortina, mas eu não podia bloquear o som das sirenes da polícia que se apagam na noite da cidade distante. Vai saber. Corri dos blocos para a escola. Meus joelhos ainda estavam pulsando, e me atrasando — que era a minha desculpa de qualquer maneira. Você não saberia que era uma universidade, se você passasse diante dela. A partir da estrada, parecia mais como um centro de detenção, exceto sem o arame farpado e os guardas. Mas, se você conseguisse passar pelas paredes sem janelas, sentia menos como uma prisão; havia árvores reais, grama, terra com flores reais aqui. Às vezes

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você pode até ouvir os pássaros cantando sobre o tráfego buzinando fora do recinto. Eu segui o caminho de paralelepípedos até a biblioteca da escola. Todos os edifícios da escola eram de, alguma forma, ligados através de túneis subterrâneos ou em passarelas; você nunca precisava sair do recinto, a menos que você realmente quisesse. A biblioteca ainda era, de longe, o maior e mais bonito edifício, embora eu não conseguisse entender por que eles iriam gastar mais dinheiro em algo que eles estavam tentando se livrar. O campus estava geralmente repleto de estudantes, professores e funcionários. Agora era mais como se um buraco negro tivesse sugado para fora todos os sinais de vida humana durante a noite. Seria um verão longo e vazio. Tentei recuperar o fôlego antes de empurrar através das portas giratórias da biblioteca. Dentro, o ar condicionado era um luxo. Eu fui através dos detectores de metais e peguei minha mochila fora da correia de transporte. Um longo balcão ladeado a um lado do chão e fileiras de estações de computadores vagos, e cadeiras de metal com imitação de couro na cor Borgonha na sala principal da biblioteca pegava o resto do espaço. Mas não havia livros e eu era uma conspiradora a esta tragédia. Meu trabalho era digitalizar todas as obras literárias de arte, seções 341 a 471, quarto andar dos arquivos de biblioteca. O que aconteceu com os livros depois disso... O horror da era digital foi demais para suportar. Eu estava vendendo minha alma para um salário mínimo. A senhora no balcão olhou para o relógio grande na parede e olhou para mim por cima da borda de seus óculos quando corri para os elevadores. Meu tipo, de vendedor de almas, não era exatamente apreciado por estas bandas. Apertei o botão do elevador para ir para baixo, enquanto a transpiração estava se formando na minha testa.

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Os estudantes tinham cinco elevadores que levava entre os sete andares da biblioteca, mas apenas um descia aos arquivos do porão. Aquele era lento e temperamental. Eu sabia que deveria ter ido para a cama quando vi Jeremy passar pelas portas giratórias. Eu sabia com certeza que eu deveria ter ido para a cama quando o vi andando com outra garota. Eu tinha saído com Jeremy por aproximadamente um mês no início do ano escolar e, por pouco mais de duas semanas de autotortura, durante as férias de Natal. Ele me ajudou a conseguir um emprego na biblioteca; Eu precisava de toda a ajuda que eu poderia obter. Havia certa criatividade que eu poderia escrever no meu currículo sem ter que admitir que eu realmente nunca tivesse realizado um trabalho na minha vida. Apertei o botão do elevador estúpido mais duas vezes, tarde demais. — Oi, Emily, — Jeremy disse, num tom neutro. Colei um sorriso no meu rosto virando. — Hey, Jeremy, como você está? — Tudo bem. — respondeu rapidamente, lançando seu braço ao redor da garota. Ela era tudo o que eu não era: bonita, loira, peituda, e mais baixa do que ele. — Isso é bom, — eu disse secamente. Eu apertei o botão mais uma vez e as portas se abriram em fim. Nós entramos no elevador e deixamos os dings dos números dos pisos iluminados fazer a fala. Jeremy e a menina saíram no segundo andar. Ele tinha olhado para trás uma vez antes de as portas se fecharam, seu braço nunca deixando os ombros. Jeremy era cerca de uma polegada mais baixo do que eu, e brutalmente competitivo — um complexo de Napoleão, eu supunha. Eu tinha ganhado dele no Poker uma vez, e ele tinha me acusado de trapacear,

dei-lhe

os

seus

dois

dólares

de

volta. Quando

nós

Julie Hockley

terminamos, ele saiu com o mesmo olhar de frustração que Skylar tivera na noite anterior, mas sem o hematoma na cabeça, que eu saiba. Pelo

menos

eu

consegui

manter

o

trabalho. Mas

eu

definitivamente tenho que me lembrar de usar o assustador, mas vazio, caminho das escadas para o arquivo da próxima vez. Por sorte, eu tinha o quarto andar só para mim, o que era encorajador, mas nada de novo. Às vezes, semanas se passariam até que alguém caminhasse entre as filas de estantes de livros do quarto andar. Matemática e estatística obsoletas nunca foram os mais fascinantes dos assuntos. Passava meus dias sozinha, folheando páginas úmidas, embaixo do zumbido das luzes que foram trancadas nos muros de cimento grosso. Pus minha bolsa no chão ao lado de uma mesa que parecia, ou melhor, que poderia ter sido uma antiguidade, mas tinha sido rabiscada demais, para uma reforma. Aparentemente, Stacey H. estava aqui, Jessica & Naomi eram BFFs de Eva, e alguém desejava à KP uma morte horrível. Eu bocejei um daqueles bocejos de indução lacrimais e peguei onde eu havia parado há algumas semanas, antes das provas finais ter tomado

conta

da

minha

vida. Minha

estação

de

trabalho:

um

computador e um scanner de grandes dimensões que ocupava metade da mesa. Peguei o próximo livro na prateleira, abri a primeira página, e coloquei virado para baixo no scanner. Eu digito o título, autor e data da publicação do livro no computador e aperto o botão verde para scanear. A luz verde limão corre de um lado do scanner para o outro, e meu dia de trabalho tinha começado oficialmente. Era um trabalho monótono e sem sentido, digitalizar cada livro, uma página de cada vez; mas considerando todas as coisas, era um trabalho temporário muito doce para um estudante. Dos poucos estudantes que tinham sido contratados, um por andar, para fazer este

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mesmo trabalho, a maioria passou suas horas pagas dormindo na parte inferior de uma prateleira vazia ou beijando atrás dos carrinhos de livro, o que Jeremy estava provavelmente fazendo agora. Não havia nenhuma supervisão de um adulto para os estudantes quase adultos. Na primeira semana que eu tinha começado a trabalhar lá, eu tive problemas com os outros estudantes por digitalizar os livros muito rapidamente, aparentemente, isso não só fez o resto deles ficar mal, mas significava que o projeto de biblioteca eletrônica seria feito mais rápido, tomando o emprego

dos

estudantes

pobres. Eu

certamente

não

quero

ser

responsável por isso, então diminui o ritmo e usei o meu tempo livre para estudar e fazer o meu dever de casa. Como eu disse, um trabalho temporário doce. Mas com as férias de Verão, eu não tinha qualquer dever de casa para fazer, e ali era muito calmo para dormir. Eu poderia ter trazido um livro para ler, mas meus olhos ardiam de insônia. Com nada além de minhas ondas cerebrais para me distrair, eu tive que quebrar a regra de ouro, e eu comecei febrilmente a digitalizar livros. Sabe quando você está ali, contemplado entre as 800 páginas de Algoritmo, quando uma história vem à mente: Você, simplesmente, se levantou numa manhã, serviu de um copo de suco sem quebrá-lo, comeu uma torrada bem crocante e ... Boom! Ali, olhando na sua cara, está aquele momento em que você percebe que todo o seu trabalho, finalmente encontra-se totalmente cumprido. O que acontece depois disso? Você vai para o novo mundo? De “O que mais”? Ou você termina sua torrada e vive feliz para sempre? Não era o que eu pensava que seria. Para algumas pessoas; a maioria das pessoas, o objetivo final vinha com sinais de cifrões anexados a ele. Trabalhar toda a vida para conseguir seu dinheiro. Eu era excêntrica; o maior segredo que eu tinha guardado de todos na minha nova vida foi o fato de que eu tinha dinheiro, um monte dele. Eu vim de um mundo de privilégio e de

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excesso, de uma casa cheia de pessoas que foram pagas para serem amáveis e boas para mim, de ser forçada a ir para escolas privadas estúpidas onde eu tinha que usar os uniformes idiotas e ir para as festas estúpidas. Burt estava em seus sessenta anos, Isabelle na casa dos cinquenta, e eles ainda estavam trabalhando em seu dinheiro. Eu estava envergonhada pelo fato de que os meus pais tinham dinheiro. Isso só foi pior quando ouvi o quanto meus companheiros de quarto se divertiam sobre estudantes com dinheiro, aqueles que pagavam por vagas de estacionamento, os que compravam cafés de cinco dólares. De alguma forma, eu sabia que as pessoas normais não iriam entender minha decisão de deixar tudo para trás. Alguns dias, como hoje, eu mesma me questionava. Normalmente, podia scanear até três livros em um dia sem me meter em encrencas. Hoje, eu estava em um ritmo e fiz mais do trabalho de algumas semanas. Felizmente, isso fez o dia passar voando — eu teria que descobrir como esconder a evidência mais tarde. Quando o meu dia de trabalho pago terminou, eu escondi meu carrinho cheio com provas para o fundo da sala, atrás da última estante, e arrastei meu corpo para casa. Então, eu fiz o que deveria ter feito primeiramente naquela manhã: Entrei debaixo das cobertas e me escondi. Rolei na cama por mais de uma hora. A casa era irritantemente calma. Frustrada, joguei as cobertas e procurei alguma roupa no cesto de roupa suja. Descartei qualquer uma que passou no teste de cheiro e corri para fora da casa para o mundo povoado. Era outra noite bonita. Os dias já foram ficando mais e mais quentes. Um verão dormindo em um quarto sem janelas, sem ar-condicionado seria... Interessante. Notei a ausência do meu Walkman, logo que cheguei à calçada, mas não pensei sobre isso por muito tempo. Depois de estar presa dentro de casa sozinha e no porão da biblioteca durante todo o dia, era

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agradável escutar os sons da cidade, com vida. Corri o caminho para o cemitério em um tempo bastante bom e tranquilo, disse um Olá para Bill enquanto passava por sua sepultura. Quando cheguei à área dos Projetos, imediatamente, notei o rapaz sentado sozinho no topo da mesa de piquenique que estava mais próximo ao cemitério. Eu o reconheci pela sua camisa com capuz cinza, a mesma que ele usava no dia anterior, quando seu cachorro tinha me atacado. Mas ele não estava usando o boné de beisebol, desta vez, e seu rosto, ao sol baixando, era claramente visível. Quando ele me viu, levantou-se rapidamente me encontrando no meio do caminho. Ele puxou o capuz da sua camisa de sua cabeça, despenteando seu cabelo castanho no processo. Sim, eu definitivamente podia vê-lo agora, e minhas bochechas já quentes estavam tornando-se um novo tom de vermelho. Ele era um menino-homem bonito, não poderia decidir quantos anos tinha. Muito velho para mim? Seus olhos eram chamativos, quase pretos. Fiquei, imediatamente, ciente de que eu estava suada e suja. Lembrei-me, também, que havia uma mancha de mostarda enorme na parte inferior da minha camiseta. — Olá, — disse ele, em uma voz baixa, com as mãos nos bolsos. Ele parecia ser uma pessoa diferente hoje. Eu ainda estava tentando recuperar o fôlego. Seus olhos percorreram o terreno e parou em mim. — Está ficando tarde. Eu estava começando a pensar que não ia vir hoje. — Meus joelhos machucados me atrasaram, — disse, uma reação automática, sempre preparada para uma batalha, esperando a rejeição

ou

repulsão. Quando

minhas

bochechas

arderam

mais

quentes, algo do que ele disse de repente me ocorreu. — Você estava... Esperando por mim? — Sim, — ele lentamente admitiu. — Isso te surpreende?

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— Você não foi realmente gentil comigo ontem. — Eu disse. Eu não consegui encontrar nada melhor, menos inteligente, que dizer. Uma preocupação inexplicável caiu sobre seu rosto, como se as palavras o tivessem machucado de alguma forma. — Me desculpe, eu não queria te machucar. O que eu fiz, — disse... — Foi totalmente desnecessário. — Você não me machucou, realmente. Seu cachorro fez, no entanto. Ele olhou em torno de nós novamente. Em seguida, um sorriso deslizou cuidadosamente em seu rosto, enquanto seus olhos fizeram o seu caminho de volta para o meu rosto. — Meatball sente muito também. —Meatball? Ele parou e um sorriso apareceu. — Meatball é o nome do meu cachorro. Sua súbita mudança de comportamento me fez lembrar a enorme besta cuja mandíbula e dentes eram indícios seguros de que podia facilmente torna-me o lanche da tarde. Eu estava olhando em torno de nós, esperando para ser abordada a qualquer momento. — Não se preocupe, eu não o trouxe. — ele disse, lendo minha mente. Não devo ter parecido muito convencida — Ele gosta de você, realmente, — ele insistiu. — Eu não acho que ele me conheça bem o suficiente para fazer tal decisão crucial em fração de segundos. — Era uma piada, mas seus olhos se estreitaram. — Certo, — disse. — De qualquer forma, eu queria ter certeza de que estava tudo bem e pedir desculpas por ontem. — Eu estou bem, e desculpas aceitas.

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Coloquei um cabelo errante atrás da minha orelha. No minuto em que toquei a minha cabeça, eu percebi que a maioria dos meus cabelos do meu rabo de cavalo havia caído em uma confusão suado. Eu imediatamente arrumei meu cabelo louco para trás em um rabo de cavalo confortável. Seus lábios se moveram como se estivesse reprimindo um sorriso. — Eu a deixo nervosa? — Não, — respondi rapidamente com uma careta. Claro que era uma mentira. Ele riu levemente e desta vez eu desviei o olhar para longe dele. Os projetos estavam repleto de pessoas hoje, de novo, mas ninguém pareceu se dar conta da nossa existência e seguiam nos evitando. — Então, você mora por aqui? — Perguntei numa tentativa de mudar de assunto. — Na realidade, não, — ele respondeu com seu olhar vagando novamente. Isso foi um sim ou um não? — Eu vivo a poucas quadras de distância daqui, — eu ofereci, propondo um exemplo, era assim que as pessoas normais conversavam. Seus olhos dispararam de volta para o meu rosto. — Você não deveria dizer às pessoas onde você vive. E se eu fosse algum tipo de psicopata? As características de seu rosto tinham instantaneamente escurecido e um arrepio percorreu minhas pernas nuas. — Bem, você é? — Eu perguntei minha voz um pouco trêmula. — É um pouco tarde para me perguntar isso, não é? — Ele retrucou. Seus olhos castanhos procuraram meu rosto. Eu não sabia o que ele estava procurando, mas eu apertei os lábios, apenas no caso de

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ele encontrar a salada de espinafre que eu tinha almoçado ainda presa entre meus dentes. Ele forçou um sorriso. — Você precisa ter mais cuidado, é tudo que eu estou tentando dizer. Dei de ombros friamente. — Eu posso correr muito rápido... Eu consegui me manter fora de problemas até agora. — Este não é um bom lugar para você testar sua coragem. Você não deve vir aqui. Encontre outro lugar para correr, — advertiu olhando para longe. — É um país livre. Eu posso ir para onde eu quero ir, quer você goste ou não, — disse, sentindo algo que não tinha nada a ver com ele, amadurecer dentro de mim. — O que lhe dá o direito de me dizer o que fazer? Seu rosto escureceu novamente. Nós olhamos um para o outro durante o que pareceu uma hora; na realidade, era mais como cinco segundos e cinco realmente longos segundos. Uma bolha de tensão parecia ter nos engolido. Chupei uma respiração através de meus dentes. — Está ficando tarde, — eu disse, dando um passo para trás. — É melhor eu ir. Quando me virei de lado para sair, seu braço estendeu e sua mão me deteve. — Espere, — ele meio que gritou: — Eu esqueci alguma coisa. Ele puxou a mão abruptamente. O calor no meu braço ainda formigava enquanto ele cavou uma pequena caixa do bolso e empurroua para mim, evitando tocar em mim novamente. — Para substituir o que eu quebrei, — explicou. Peguei, quase o soltando no processo. Abri a caixa de plástico transparente e uma placa de prata retangular caiu. Tinha um círculo no

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meio e uma tela quadrada no topo. — Humm... — Eu disse sem jeito — Obrigada. Seus olhos se arregalaram. — Ele toca música, — disse ele, como se eu fosse mentalmente lenta. Claro que eu sabia o que era, qualquer um com dinheiro de sobra tinha um desses. Mas por que tenho que saber como usar se nunca poderia ter um? Eu olhei, girando a coisa de música em minhas mãos. Sua risada me pegou desprevenida. Olhei para cima. Ele pegou o pedaço de metal da minha mão, mais suavemente do que eu esperava e ergueu-o para eu ver. Pressionando sobre o círculo, a tela quadrada se iluminou. Ele moveu o dedo ao longo da linha do círculo e me mostrou onde clicar para encontrar as listas de músicas. — Você não tinha que fazer isso. Meu Walkman era bastante útil. — Sim, era. — Ele rapidamente concordou. — Mas este é novo e realmente cabe no seu bolso. — Ele parecia um pouco presunçoso quando disse isso. — Eu até já baixei Bob Marley para você. — Como você sabia que eu gosto de Bob Marley? — Perguntei, inclinando a cabeça. Ele levantou uma sobrancelha. — Você me deu a fita quebrada, lembra? — Ele trouxe o punho em seu peito para me lembrar de que eu o tinha golpeado com a fita ali. — Oh... Bem, — era tudo que eu poderia dizer mais uma vez, com meu rosto em chamas. Ele me devolveu o retângulo de música. — Eu posso te conseguir novos tênis de corrida também, se quiser. Melhor do que você está

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usando. — Ele sorriu, mas então seus olhos se moveram em torno de nós novamente. Olhei para os meus pés. — O que há de errado com meu tênis? Quando o ouvi murmurar alguma coisa, eu olhei de volta para cima. Seu rosto de repente empalideceu e ele estava se afastando de mim. Ele voltou a ser o cara ameaçador que tinha encontrado no dia anterior. — Eu tenho que ir, — disse ele. Só assim, ele se virou e saiu. Eu estava parada no lugar confusa por um segundo a mais, tomando algumas respirações. Então eu continuei virando-me. — Emily, — ouvi chamar. Meu coração deu um pulo e olhei para trás para ver que ele tinha parado em pouca distância. — Eu quis dizer o que eu disse. Não volte aqui. Eu quis dizer o que eu disse também, — era o que eu queria responder, mas ele já tinha desaparecido e eu estava muito surpresa que ele tinha recordado meu nome — mas nada mais que respirações rápidas saíram da minha boca. Enfiei o seu presente dentro do meu bolso, que se encaixou lá muito bem, me dei conta um pouco ressentida, e virei em meus calcanhares. Terminei minha corrida, mais confusa do que nunca... E com a constatação de que eu ainda não tinha ideia de qual era seu nome. Ele era a pessoa mais estranha que eu tinha encontrado, até agora. Quando cheguei em casa, fiz um sanduíche de manteiga de amendoim — o pão estava envelhecido, mas, pelo menos, preencheu o buraco no meu estômago. Comi em mordidas enormes enquanto eu limpava os vidro quebrado na pia que eu não tinha tido tempo de limpar essa manhã. Eu encontrei um par de calças de moletom que não tinha visto a luz do dia desde a nona série, joguei uma caixa de sabão em pó em cima da minha roupa suja, recheada com várias moedas em meu

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bolso e arrastei a cesta de roupas sujas transbordando pelas escadas, saindo pela porta. A lavanderia estava a umas boas quadras de casa, descendo a rua. Por isso, carregar a pesada carga de roupa não era uma opção. Mas os meus colegas de quarto e eu já tínhamos inventado um sistema de primeira linha. Abri o cadeado que mantinha o nosso carrinho de supermercado, permanentemente emprestado, acorrentado à varanda da frente; o carro roubado era constantemente roubado de nós, então, tivemos que mantê-lo preso. Eu soltei a cesta no carrinho e o empurrei rua a baixo, conveniente com o resto do bairro. Era notável para mim o quão longe eu tinha vindo em menos de um ano, desde que eu tinha escapado para Callister. Eu não tinha ideia de como fazer nada sem a ajuda de um empregado para ser completamente autossuficiente — bem, na maioria dos dias, de qualquer maneira, havia sinais de minha anormalidade, é claro! Como na vez que tentei fazer ovos cozidos. Aprendi da maneira mais difícil que tinha que adicionar água à panela, e a casa cheirou a ovos queimados por uma semana. Eu aprendi através de observação e um monte de tentativa e erro. O interior da lavanderia era iluminado, com cadeiras de plástico azuis alinhadas contra as paredes emaranhadas de penugem branca que rolava pelo chão quadriculado. Eu adorava o cheiro da lavanderia, para mim, cheirava a novos recomeços, possibilidades, independência. Comecei a verificar todos os meus bolsos, boa coisa que eu fiz, ou eu teria levado o meu novo brinquedo de música direto para a máquina de lavar. Enchi duas máquinas com tantas roupas que poderia passar metade do trimestre. Liguei as máquinas com as moedas. Logo que me sentei em uma das máquinas, joguei meus pés sobre a tampa da outra máquina, e esperei. A regra mais importante da lavanderia: nunca deixe as suas roupas sem vigilância, nem mesmo por um segundo, mesmo quando o lugar parece estar completamente

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deserto. Caso contrário, você vai ter um pouco do sabor local andando por aí no dia seguinte com suas calças como lenço, e suas calcinhas como um chapéu... Outra lição que eu tinha aprendido da maneira mais difícil. Passei

meu

tempo

ocioso

mexendo

no

meu

novo

brinquedo. Levei uns bons cinco minutos para me lembrar de como ligá-lo, e depois outra meia hora para navegar através dos diferentes recursos para encontrar as músicas. Bob Marley estava lá, junto com cada um de seus álbuns que já foi feito ou refeito. Quem sabia que havia tantas regravações de "One Love"? Rolei as músicas para baixo para o próximo nome na lista: esta banda sombria chamada Purple Faced Ragamuffins, eu nem sequer sabia que tinha um álbum gravado. Eu o tinha visto tocar uma vez em um bar sujo em Soho, quando eu ainda era menor de idade. Tinha cabulado aula com uma menina do meu time de futebol. Ela estava obcecada perseguindo o baterista. A coisinha musical devia ter mais de mil canções, a maioria dos quais eu reconheci, surpreendente, dado o meu conhecimento de música limitada. Mas, no final, eu estabeleci-me com o que era seguro e familiar e terminei minha noite na lavanderia com Bob. Quando voltei da lavanderia, um ponto vermelho piscava no meu celular. Skylar tinha me deixado uma mensagem do aeroporto do telefone celular. Estava falando rápido, como se ele tivesse medo de que eu poderia atender a ligação e ele seria forçado a realmente falar comigo. Eu podia ouvir o voo ser chamado no fundo, nada como esperar até o último minuto. Ele disse todas as coisas certas: que ele não estava chateado, que ele não iria me perder, que ele iria me ligar assim que ele chegasse em casa. E então a linha ficou muda. Eu me perguntava se era normal que eu não estava triste.

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No segundo dia dos meus quatro meses de fuga da civilização, e outra noite sem dormir, a insônia estava se tornando um mau hábito. Meu cérebro estava cheio de coisas que eu não preciso: o medo do tédio, de estar sozinha com meus pensamentos, sem distração, pelo fácil abandono de Skylar... O cara de camisa cinza. Passava mais tempo pensando sobre esse último. Não havia dúvida em minha mente que este cara era estranho e lindo. Uma bela combinação perigosa, e havia algo em seu olhar, era a maneira como os outros caras nos Projetos o tinham olhado, com medo. Isso me fez pensar que eu provavelmente deveria correr para o outro lado da próxima vez e me concentrar em não pensar nele. Havia passado a noite tentando descobrir por que eu tinha sido o alvo de sua ira por seus estranhos momentos de raiva. E depois havia a advertência ou foi uma ameaça? Quando amanheceu, ainda não tinha respostas às minhas perguntas. Ele era uma montanha russa de emoções incompreensíveis, e eu no limite da obcessão. À meia-noite eu tinha desistido de tentar dormir, enfiei os novos fones de ouvido, e limpei a casa. Por volta das cinco horas da manhã, a casa estava um museu impecável, mas eu tinha esgotado a única fonte de entretenimento que havia reservado para o solitário fim de semana que estava se aproximando. No trabalho, eu era um demônio da velocidade com a minha nova música estridente em meus ouvidos. Quando a hora do almoço chegou, eu olhei para o carrinho de livros digitalizados, com horror, já que estava cheio. Eu teria um tempo difícil tentando explicar toda

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aquela evidência e decidi alongar o almoço para pensar sobre o que eu tinha feito. Com a lancheira na mão, eu saí da biblioteca, tomando o cuidado de usar as escadas e fazer uma varredura rápida do perímetro, por que eu não iria correr o risco de outro momento embaraçoso com Jeremy... E sua linda loura. O céu estava nublado lá fora. O sol já estava se pondo nos terrenos da universidade abandonada; as pessoas inteligentes estavam escondidas no refeitório climatizado. Eu considerei fazer isso, também, mas estaria tentando o destino a encontrar com Jeremy e sua estranheza. Eu me estabeleci em uma mesa e me sentei sob a sombra de uma árvore, peguei meu sanduiche de manteiga de amendoim, e abri o livro que

tinha

tomado

emprestado da minha

pilha

de livros

digitalizados: Exemplos de Variáveis por Stata — acabou não ser tão interessante quanto parecia. Minha vida estava marcada por acontecimentos turbulentos e de automutilação. Quando eu tinha cinco anos, eu brincava de cabeleireira com a minha Barbie antes de virar a tesoura em meus cabelos. Quando terminei parecia ser uma modelo que entrava na reabilitação após meses de noitadas. Eu parecia o topo de um muffin de cenoura desequilibrada. Na terceira série, Tyler Brown me convenceu de que todos tinham sardas, mas que eles o tinham escondidas com Wite-Out6, o que fez todo o sentido para uma menina de oito anos de idade. Então, eu apliquei antes de ir para a cama e deixei durante a noite, para me certificar de que a pintura foi bem absorvida antes da minha grande revelação na escola na manhã seguinte. Pelo menos, eu fiquei em casa por uma semana enquanto minha pele se recuperava do solvente de tinta que a empregada teve que esfregar. 6

Wite-Out: Corretivo de caneta.

Julie Hockley

Era duro ser a menina que só queria se perder no meio da multidão quando a minha cabeça era como uma chama em um oceano de loiras e morenas. As pessoas sempre foram atraídas para a menina com o cabelo de fogo, da mesma forma que eles não poderiam evitar diminuir a velocidade para olhar um acidente de trânsito ao lado da estrada. Esperava que fosse tão ruim quanto parecia, querendo testemunhar algo chocante que apenas poucos haviam presenciado. Tampouco estava cega para a atenção que conseguia do sexo oposto. Havia começado com os meninos na escola primária que se desafiaram uns aos outros para correr até mim e puxar meu cabelo; aqueles

meninos

cresceriam

para

serem

os

caras

da

fraternidade que estavam à procura de fazer mais do que puxar meu cabelo. Eu era um rito de passagem para a maioria das espécies do sexo masculino, em qualquer idade. Mas, como adulta, eu estava ficando um pouco melhor em destacar os caras que estavam olhando para a experiência ruiva. Assim, quando um homem com óculos avermelhados se aproximou de mim, meu radar-ruivo o capturou de imediato. — Desculpe-me, — disse ele, parado ao lado da mesa. Suspirei através do meu nariz, olhando para cima. Ele era magríssimo e alto. Seus poucos cabelos espetados, tornou mais óbvio que ele estava tentando esconder isso. — Você se importaria se eu sentar aqui? — Ele perguntou apontando para o banco em frente a mim. — Não há outras mesas na sombra. Eu dei um aceno de cabeça e voltei para minhas variáveis, muda, enquanto ele se sentava. Mas ele não captou os sinais de indiferença. — Sou Anthony Francesco, — ele começou, embora tivesse soado mais como uma pergunta.

Julie Hockley

Olhei por cima da borda do meu livro. Ele estava olhando com expectativa para mim, obviamente esperando por uma resposta. — Emily, — eu disse sem emoção e tentei voltar para o meu livro; mas eu, de alguma forma, sabia que ele não havia terminado. Eu imediatamente me arrependi de não trazer os meus fones de ouvido. — Não tem apelido, Emily? — Ele disse, nervosamente, rindo. — Como Madonna ou algo assim? — Virei uma página do meu livro, mesmo que eu não tinha terminado de lê-lo. — Então... Estuda aqui, Emily? — Uh-huh, — eu disse. — Você é daqui? — Perguntou. Comecei a mastigar meu sanduíche mais rápido, apenas no caso de eu precisar de uma saída rápida, e pensei em uma boa resposta vaga que eu tinha ouvido recentemente. — Não, na verdade, — eu disse, escondendo o meu sorriso. —... Sim, eu na verdade não sou daqui realmente. — Houve outro momento de feliz silêncio, e então ele continuou, — Você mora perto da universidade? — Algo assim, — eu respondi, meus olhos nunca deixando a página, os meus lábios nunca mais do que uma polegada de distância do meu sanduíche. — Eu tenho um apartamento há algumas quadras daqui, — disse ele. — Você ainda mora com seus pais? — Sim, — eu menti. —

Você

tem

irmãos?



Ele

perguntou

às

pressas,

provavelmente, percebendo que eu estava enfiando a comida na minha boca o mais rápido possível. Mas era tarde demais. Eu havia terminado de comer, e pela primeira vez, de bom grado, oferecido mais do que algumas sílabas.

Julie Hockley

— Desculpe, minha pausa para o almoço acabou. Eu tenho que ir antes que meu chefe enlouqueça. Recolhi minhas coisas e sai correndo antes que ele tivesse a chance de encontrar outra coisa para me questionar. Eu teria corrido para fora de lá, mas teria sido um pouco óbvio demais. — Aberração, — eu sussurrei para mim mesma, enquanto caminhava de volta para a biblioteca, embora, ele provavelmente estivesse pensando a mesma coisa sobre mim. Eu estava de volta ao trabalho, meia hora mais cedo, do meu almoço. E meu chefe falso não enlouqueceu. Quando sai da biblioteca no final do meu dia de trabalho, o tempo tinha mudado dramaticamente; o céu estava escuro, e nuvens negras estavam rolando como um tsunami. Com toda a umidade dos últimos dias, eu imaginei que não teria muito tempo antes que a chuva desabasse. De volta em casa, passei mais tempo do que eu tinha pensando olhando

no

espelho,

tentando

ajeitar

o

meu

cabelo

frisado

devastadoramente, e tentando encontrar algo para vestir. Quando cheguei à entrada do cemitério, nuvens negras já estavam ameaçando em cima da minha cabeça. Com apenas duas ou três pessoas caminhando lentamente sob as sombras das árvores, o cemitério estava quase desolado e pessoas inteligentes estavam dentro de casa novamente. Mas quando eu me dirigia através das decadentes tumbas, parei na que me era familiar. Alguém havia jogado uma lata de refrigerante e papel de bala na parte superior do túmulo de meu irmão. Eu sabia que era injusto da minha parte ficar chateada com o lixo na sepultura do meu irmão Bill, especialmente,

quando

o

resto

do

cemitério

nunca

tinha

sido

Julie Hockley

respeitado, mas eu tinha senso de justiça, quando se tratava do meu irmão mais velho. Levei alguns passos para lápide de Bill e agachei para empurrar o lixo fora. Peguei o fundo da minha camiseta e limpei o refrigerante que tinha sido vomitado sobre a pedra. E então parei, esquecendo o meu propósito, traçando minha mão ao longo das linhas gravadas de seu nome. Supõe que se deveria prender a respiração quando passar em um cemitério, diz a superstição, que você vai respirar o espírito do morto. Também se supõe que você deve perder os polegares de seus punhos para proteger os seus pais. Mas nada disso acontece. Nem quando corro através do cemitério quase todos os dias, só isso foi o suficiente para explicar por que eu estava tão assombrada, e porque meus pais eram... A maneira como eles eram. Eu perdi Bill — a cada segundo de cada dia. Eu tinha pouca lembrança de minha vida antes que as coisas começaram a ir tão mal à minha família. Burt e Isabelle tinham tido um caso quando Burt ainda estava casado com outra pessoa e Bill era apenas um bebê. Quando Burt deixou a mãe de Bill e se casou com minha mãe, a mãe de Bill cometeu suicídio. E eu nasci no meio de tudo isso, uma novela que meu irmão mais velho tinha tentado me proteger. Através de tudo isso, apesar de como eu vim a este mundo, ele foi o meu maior, o meu único, aliado. A maioria das minhas recordações de família era das discussões acaloradas entre Burt e meu irmão. Bill entrando em brigas, Bill vendendo drogas, Bill sendo expulso de oito diferentes escolas particulares — Bill, a vergonha da família Sheppard. O último argumento foi na noite em que Bill foi trazido para casa em um carro da polícia quando meus pais estavam tendo um jantar, e havia muitas testemunhas da vergonha. Burt enviou meu irmão para fora, para Callister, para viver com seu tio Victor, que era irmão de sua mãe

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biológica, e um policial. Alguns meses mais tarde, Victor ligou para Burt — Bill tinha fugido. Mas Bill ainda vinha me visitar, secretamente. Ele subia para o meu quarto no meio da noite no meu aniversário, no Natal, sempre que sentia que precisava me checar e ter certeza de que eu estava fazendo o que ele pensou que eu deveria fazer: indo para a escola, não usar drogas... De acordo com o meu irmão, o que era bom para ele era suficientemente bom para mim. Então, quando eu tinha treze anos, um policial veio à nossa porta. O corpo de Bill tinha sido encontrado em um apartamento vazio em Callister, com a agulha ainda pendurada no braço. A autópsia dizia que Bill tinha morrido de uma overdose de drogas, heroína, eu tinha ouvido. Fui despertada de meu torpor por um forte estrondo do trovão rugindo acima das árvores espalhando pelo cemitério. Eu pressionei minha mão com força contra a pedra fria e tomei um último olhar para o túmulo antes de sair satisfeita, acelerando a velocidade e voltando para o meu propósito. Eu rapidamente contornei a árvore de castanha para ganhar tempo chegando ao bosque perto da entrada dos projetos, o céu estava escuro como breu e os trovões estavam agora ressoando de forma constante. Ao contrário dos dias anteriores, o bosque estava completamente vazio. Meus ombros afundaram quando eu vi que ele não estava lá esperando por mim, na mesa de piquenique, embora, logicamente, eu sabia que ele não estaria lá e que eu não deveria estar procurando por ele. Eu relutantemente continuei correndo até que ouvi o latido do cachorro chamado Meatball. Diminui o ritmo para quase andar e olhei para trás. Ele estava lá em sua camisa cinza, inclinando-se contra o muro no ponto mais

Julie Hockley

distante de onde o cemitério e projetos se encontravam, cerca de 60 metros da entrada do cemitério por onde acabei de passar. Seguindo o aviso do seu cachorro, ele trouxe os olhos para mim. Mas ele não estava sozinho neste momento. Havia outro homem ao seu lado, um homem com a cabeça raspada e muitas tatuagens. Enquanto o cara da camisa cinza estava lutando com a coleira, para manter Meatball de correr para saudar ou me atacar, o outro homem olhou confusamente para o amigo e seu cachorro, de repente, se comportando mal e, eventualmente, seguindo relances rápidos de seu amigo para mim. Ele olhou de mim para seu amigo mais duas vezes, sua confusão parecia ter se transformado em raiva. O cara na camisa cinza virou seu corpo para longe de mim, em direção ao homem tatuado. Nesse instante, decidi que hoje não foi um bom dia para conversar com a minha obsessão. Fingindo ter abrandado para um trecho, eu estendi meus braços, dobrando-os sobre minha cabeça, muito rapidamente, agarrando cada cotovelo. E então eu peguei o meu ritmo de corrida novamente. Segui o caminho através do campo que rodeava os projetos, e, lentamente, desviei para a direita, quando eu finalmente senti que era seguro o suficiente para eu olhar para trás. A uma distância muito longe, eu ainda podia vê-lo ali com o outro homem. Eles pareciam envolvidos na conversa, possivelmente, discutindo. Outro corredor veio através do bosque do cemitério, e eu vi Meatball febrilmente puxando sua coleira, mais uma vez. Eu fiz meu caminho descendo a colina fora da vista, e eu sorri para mim mesmo, contente que eu não era o único que Meatball tanto gostava. Eu estava terminando de completar o primeiro terço da minha corrida quando um raio dividiu o céu algumas distancias à frente de mim,

o

trovão

explodiu,

e

a

chuva

de

repente

começou

a

derramar. Guardei meus fones de ouvido no meu bolso, já havia

Julie Hockley

desligado o meu novo brinquedo, pois não queria que molhasse e segui adiante. As gotas de chuva rapidamente se transformaram em cubos de água, e eu estava ficando encharcada. O céu negro se iluminava com os relâmpagos. Os jardins logo foram encharcados. Eu me equilibrava pelo meio fio das vielas. Voltando meus passos de volta através dos projetos. A chuva não me incomodava, mas os raios estavam me deixando muito nervosa. Eu corri mais rápido, ansiosa, para o abrigo das árvores no cemitério, um refúgio momentâneo. Corri de volta até a pequena colina nos campos dos projetos, vendo através das gotas do tamanho de pedregulhos o rapaz de camisa cinza, o outro homem assustador já tinham ido embora. Finalmente

passei

através

da

entrada

de

volta

para

o

cemitério. Assim como eu pensei, as altas árvores conseguiram manter a maior parte da chuva. Eu diminuí o ritmo um pouco para recuperar o fôlego e sacudir um pouco de água. Meus tênis viraram canoas submersa. Com o sol fora de vista, o cemitério estava escuro. Eu mal conseguia distinguir os contornos do caminho sinuoso. Apertei um pouco da água da minha camiseta. Eu tinha corrido por esta via tantas vezes, eu conhecia cada curva, cada solavanco na estrada. Peguei um ritmo de caminhada, dando a volta no grande castanheiro... Então, ouvi um grito de gelar os ossos, como se um animal estivesse sendo torturado. Eu estava acostumada à voz de Bob Marley aqui, não esta. Parei imediatamente, querendo saber se meu cérebro infectado de filmes de terror estava pregando peças em mim. Depois, houve outro grito, ainda mais forte dessa vez. Com muito medo de me mover, e me batendo internamente por estupidamente decidir correr através de um cemitério escuro sozinha,

Julie Hockley

eu estava lá como uma das lápides. Eu podia ouvir vozes abafadas, e, em seguida, mais gritos de dor. Não sabendo de onde os sons estavam vindo ou o que estava fazendo esse som, eu não sabia se deveria fugir ou ficar parada ou até mesmo de que lado era o caminho seguro. Meu corpo decidiu por mim, e eu comecei a me mover em silêncio na calçada irregular. Algo, o instinto ou impulsividade, estava me levando para o caminho mais rápido para casa. Passei por uma grande árvore-familiar de que me lembrava que não faltaria muito para chegar à rua novamente. Avancei mais alguns passos... E ouvi o grito novamente, mas desta vez foi muito mais perto. Eu tinha escolhido o caminho errado. Quando ouvi o latido que eu reconheci, dei uma olhada ao redor da árvore, sem pensar. Foi quando eu o vi parado ali com o seu cachorro, o camisa cinza, escondido e afastado entre as sombras. Ele estava de costas para mim, e o homem tatuado que tinha visto com ele antes estava ao lado dele, eu podia ver uma teia de aranha tatuada nas costas de seu pescoço. Havia

dois

outros

homens

que

ladeavam

ambos,

não

reconhecei nenhum deles. Meatball era um cachorro diferente. Ele parecia cruel e raivoso, babando loucamente e tentava mastigar algo que eu não podia ver. Quando um dos homens mudou sua postura um pouco, eu vi o que todos os quatro deles estavam olhando e no que Meatball vinha tentando cravar os dentes. Lá, agachado no chão, era um homem; ele estava gemendo. Suas calças estavam rasgadas e respingadas de sangue. Das feridas sangrentas em seus braços e pernas, eu poderia dizer que Meatball já tinha um gosto. O rapaz que eu estava obcecada estava murmurando ao homem agachado. Eu não podia ouvir o que ele disse, mas o que quer que seja, o que o homem agachado disse em resposta desagradou o grupo. O homem tatuado começou a socar e chutar ele.

Julie Hockley

Os outros ficaram em volta, silenciosamente, calmamente, olhando para ele fazer isso, enquanto o homem no chão estava enrolado em uma bola, com a cabeça escondida nos braços, chorando. Com cada soco e pontapé veio um barulho ensurdecedor repugnante, como a carne que está sendo pulverizada. Meu ouvido tamborilava, e eu pensei que ia ficar doente, mas eu não podia me mover, não conseguia desviar o olhar. Eu queria gritar, pedir-lhes para parar, mas mesmo se eu tivesse tido a coragem de dizer algo, os músculos da minha boca estavam paralisado. Por fim, os golpes pararam. O homem lentamente olhou para cima de entre a proteção dos seus braços, e eu estava muito chocada. Embora ele estivesse sangrando muito, eu ainda o reconheci, ele era o corredor que tinha saído do cemitério logo após eu, bem antes de eu ter desaparecido, descendo a colina. Minha mão veio à minha boca, tentando suprimir o grito que estava construindo na borda da minha garganta. E o homem no chão imediatamente virou seus olhos ensanguentados para mim. Ele deve ter visto o meu movimento brusco nas sombras, eu pensei... E como uma covarde, me escondi ainda mais nas sombras por medo de que ele iria delatar a minha presença e apresentar aos atacantes uma presa alternativa. Quando ele se virou para seus agressores e disse algo que eu não podia ouvir, meu coração caiu. Eu me senti impotente. Eu ainda estava respirando? O que quer seja que o homem agachado tinha sussurrado ao rapaz da camisa cinza, lhe enviou sobre a borda. Seus braços começaram a tremer. Ele levou a mão às costas, puxou uma arma da cintura da calça jeans e tiros soaram no ar.

Julie Hockley

Quando meus olhos se reorientaram, o homem no chão parou de se mover. Sangue respingado no chão, e os outros três homens que estavam flanqueando o atirador tinham girado ao redor. Eles me olharam com surpresa em seus rostos. Sem perceber, eu tinha gritado e eu ainda estava gritando e tremendo. Eu não conseguia mover qualquer outra parte do meu corpo... Como minhas pernas, para fugir deles. — Cameron, — gritou sem fôlego o homem tatuado, agarrando o atirador pelo ombro e forçando-o a virar. O rapaz na camisa cinza virou. Nossos olhos se encontraram novamente, e seu rosto ficou pálido. Um galho estalou atrás de mim. O trovão rugiu uma última vez... Antes de tudo ficar escuro.

Julie Hockley

Houve um flash de luz e ruídos distantes. Minha cabeça parecia que alguém estava desmontando meu crânio com um picador de gelo a golpes sádicos. Eu decidi que a morte não poderia ser tão dolorosa, então, eu provavelmente não estava morta... Ou era isso que se sentia no inferno. Meus

olhos

foram

abertos,

e

uma

luz

veio

a

piscar

novamente. Isto foi seguido por um gemido animalesco, como um urso. Isso era eu? Eu consegui vibrar meus olhos abertos, sem a ajuda de ninguém. Polegadas longe do meu rosto, alguém estava segurando uma lanterna do tamanho de uma caneta. Eu não conseguia me concentrar o suficiente para vê-lo, mas eu definitivamente poderia sentir o cheiro dele: cigarros, bebidas, sujeira. O teto estava rodando. Eu pensei que ia vomitar, e tive que deixar minhas pálpebras cair para parar a vertigem. Lentamente, o som abafado tornou-se palavras. — Qual o seu nome, querida? — Perguntou o homem com a lanterna. Sua voz estava rouca, e eu podia sentir o cheiro da nicotina fora da sua respiração. — Não é da sua conta, — eu consegui dizer, minha voz saltando como uma rocha contra as paredes do meu crânio. Eu podia ouvir risadas ao fundo. Tentei me levantar, mas mal consegui tirar a minha cabeça do travesseiro antes de cair para trás com um baque. — Whoa! Calma lá, querida! Não tão rápido! Você tem um galo muito grande nessa cabeça pequena, — disse a voz rouca.

Julie Hockley

Isso

explicaria

a

dor

cegante. —

Meu

nome

não

é,

definitivamente, querida, — Eu desafiei, havia mais risadas ao fundo. — É claro que não é, querida. Mas isso é tudo o que tenho para trabalhar agora, — ele me disse. Não sou uma “querida” qualquer, também, pensei, mas estava com muita dor para discutir com ele sobre seu uso de comentários sexistas. — Provavelmente tem uma leve concussão cerebral, — avaliou o homem com o bafo de nicotina. — Apenas certifique-se que ela descanse o suficiente e a acorde a cada poucas horas durante a noite. Dê-me uma chamada, se ela fica pior. — Parece que ela está com dor, ela pode tomar alguma coisa? — perguntou

uma

voz

profunda

que

eu

instantaneamente

reconheci. Forcei meus olhos abertos. O rapaz da camisa cinza — Cameron — estava de pé no final da cama, e cor ainda não tinha retornado a seu rosto. — Não durante as próximas doze horas. Mas vou deixar uma coisa para amanhã, — respondeu o bafo de nicotina, como se estivesse com pressa. O fedor do médico combinava com a sua aparência, como se tivesse acabado de se arrastar para fora de uma caixa de papelão em um beco. Sua camisa, o que pode ter sido uma vez branco, estava para fora

da

calça

e tinha

manchas

amarelas

e

marrons

escuros,

especialmente nas axilas e ao redor do colarinho. Suas calças eram grosseiramente enrugada e igualmente manchadas. — Obrigado, Doutor. — Cameron, furtivamente, olhou na minha direção e virou-se para o homem tatuado assustador que estava de pé atrás dele, em uma posição similar a de um soldado. Havia outro rapaz encostado na parede branca. Por seu sorriso no rosto, ele deve ter se divertido rindo às minhas custas. Ele era uma criança grande, pelo menos um e oitenta de altura, e com músculos

Julie Hockley

construídos como se ele devesse estar jogando fardos de feno ao redor. Ele me lembrou do boneco Chucky de grandes dimensões, exceto com a cor do cabelo desgrenhado. Com um aceno de Cameron, o homem tatuado enfiou a mão no bolso e tirou um maço de notas enroladas. Sem perder um segundo, o médico pegou o dinheiro e saiu correndo sem tomar mais uma olhada em sua paciente. Tanto cuidado com uma moribunda. O homem tatuado seguiu o médico para fora da porta, atirandome um olhar gelado no seu caminho. Cameron virou seu foco para o outro menino. — Saia daqui, Kid, — ele ordenou. Eu vi quando o garoto saiu pela porta sem dizer uma palavra, mas com o mesmo sorriso estúpido em seu rosto. E então estávamos sozinhos. Corri meus dedos pelo meu cabelo, golpeando o nódulo da minha cabeça. — Ouch, — eu disse em um quase sussurro. Mas Cameron me ouviu e olhou para trás. Assim que nossos olhos se encontraram, ele desviou o olhar. Eu tentei ler seu rosto, mas sua expressão estava em branco. — Descanse um pouco, — disse ele, áspero, marchando e fechando a porta atrás de si. Fiquei ali, circulando meus dedos em minhas têmporas e me esforçando para lembrar o que tinha acontecido: a última coisa que eu lembrava era o olhar vazio de Cameron depois que eu tinha o visto matar um homem inocente a sangue-frio. Isso seria difícil de esquecer. Eu ainda estava viva, e o nome do rapaz de camisa cinza era Cameron. Destas duas coisas eu tinha quase certeza. Todo o resto era um borrão, incluindo onde eu estava e como eu tinha chegado lá.

Julie Hockley

Lutei para sentar e virar minhas pernas sobre a borda da cama. Minhas pálpebras estavam pesadas; tudo que eu queria fazer era dormir. Meus pés tocaram o chão frio de madeira e, de repente, eu percebi que eu não tinha meu tênis mais. Ligeiramente em pânico, eu olhei para ver se mais alguma coisa estava faltando ou diferente. Eu não sabia o que esperava encontrar, mas o que quer que fosse, eu não encontrei. Exceto as manchas de grama nos joelhos, e a falta do elástico que prendia meu cabelo, e a imensa dor latejante contra o meu crânio, tudo no meu corpo estava do jeito que eu tinha deixado. Com uma rigidez no pescoço, examinei meu redor; não havia muito para decifrar. Eu estava em um pequeno quarto, iluminado apenas pela luz da cabeceira que estava na mesa ao lado da cama. Havia uma poltrona com uma almofada rosa de veludo em um canto. Três das paredes eram de um branco imaculado e sem moldura. A outra parede era composta de quatro janelas do chão ao teto sem cortinas. Depois de esperar outro ataque de náusea passar, fui até a janela, segurando a pequena mesa de apoio para manter meu quadro instável. Lá fora, o céu de pôr do sol era uma mistura de cores laranja, vermelho e rosa, eu estava olhando sobre as sombras de telhados intermináveis. Onde quer que fosse, era alto, acima da cidade, pelo menos trinta andares. Lá embaixo, um táxi amarelo estava esperando no semáforo vermelho em uma rua vazia. Eu não conseguia decidir se eu ainda estava em Callister, achei que reconheci a torre do relógio que estava no centro da praça da cidade, mas era muito distante e estava muito cansada para ter certeza. Minha mão pressionada contra o vidro; fechei os olhos até que a tontura passou. Lenta e dolorosamente eu caminhei até a porta do quarto e coloquei meu ouvido contra a sua superfície branca e lisa. Eu podia ouvir uma televisão ecoando, mas nada mais. Eu torci a maçaneta da porta, esperando que ela estivesse trancada, mas não estava. Sem fazer

Julie Hockley

ruído, eu abri a porta. Inicialmente, fiquei surpresa ao descobrir que ninguém estava mantendo guarda à porta, e em seguida um som me assustou. O cachorro, Meatball, que aparentemente havia mantido a guarda, de repente me viu rapidamente e se levantou sobre as quatro patas, com rabo abanando animadamente. Eu poderia dizer que ele estava se preparando para atacar. Eu rapidamente fechei a porta, ouvindo seu gemido desapontado. Arrastei-me de volta para a cama, debaixo das cobertas quentes, e deixei minhas pálpebras cair mais uma vez. Eu tinha gasto qualquer pequena reserva de energia que tinha em mim. Teria que ficar ali — ali onde estava — até que meu cérebro quebrado se curasse e poderia obter um plano de sobrevivência. Poucos minutos depois eu estava dormindo. Eu

ouvi

alguém

limpando

a

garganta,

e

me

despertei

assustada. O quarto estava escuro, exceto para a luz que jorrava do corredor. Cameron estava junto à porta aberta, como se estivesse esperando por eu acordar. Eu olhei para ele através de uma névoa sonolenta, confusa. Ele parecia cansado, mas satisfeito, e ele deslizou para fora, fechando a porta atrás de si. Eu caí no sono quase imediatamente. A mesma coisa aconteceu muitas vezes. Cameron entrava no quarto, fazendo algum ruído pequeno, me acordando. Então eu olhava para cima e ele tranquilamente saia do quarto, sua expressão sempre em branco. Ele tinha, aparentemente, assumido a tarefa de assegurar que eu não ia morrer em meu sono, até agora, ele decidiu me manter viva, por alguma razão. Na parte da manhã, eu acordei ao som de Meatball lamentandose na porta do quarto fechado e a dor intermitente localizada no topo da minha cabeça. A luz acinzentada do amanhecer entrava pelas janelas. Sentei-me na cama, deixando a minha cabeça cair cansada contra a parede fria atrás de mim. Não foi até que eu vi Cameron que

Julie Hockley

me lembrei de onde eu estava, bem, pelo menos eu me lembrei do quarto em que estava. Ele estava dormindo, desconfortavelmente, esparramado na pequena poltrona. Ele ainda estava completamente vestido, mas, obviamente, tinha mudado sua ensanguentada camisa cinza. Não conseguia me lembrar dele, ainda com ela, quando eu tinha acordado pela primeira vez nesse quarto. Sua cabeça jogada para trás descansava na parede com uma mão meio caída sobre os olhos, um esforço inconsciente para bloquear o sol nascente. Seu cabelo castanho estava desalinhado, como se ele tivesse passado a mão através dele mil vezes. Os círculos escuros sob seus olhos contou a história de alguém que não tinha dormido muito, provavelmente não por muitos dias. Eu o observei assim por um tempo memorizando suas feições. E então o relógio soou, e ele saltou acordado, momentaneamente desorientado. Seus olhos rapidamente me encontraram. — Há quanto tempo você está acordada? — Ele perguntou com a voz rouca, olhando para o relógio. — Um tempo, eu acho, — respondi cuidadosamente, puxando as cobertas até o queixo. Ele passou as duas mãos sobre todo o rosto, esfregando a pele, acordando. — Como se sente? — Tudo bem, — respondi rapidamente, sem realmente pensar sobre a questão. Cameron

mudou-se

para

o

lado

da

cama

e

parou,

deliberando. Ele estava pensando?Atirava em mim agora ou mais tarde? Procurei sinais de problemas, como um cachorro para o ataque, como uma arma sendo retirada da parte de trás da calça jeans. Com um movimento que foi rápido demais para o meu cérebro machucado analisar, Cameron sentou ao meu lado e correu sua mão no meu rosto. Em instinto, dei um grito abafado e me encolhi. Seus olhos se arregalaram, e ele retirou a mão dele como se ele tivesse sido queimado. As feições de seu rosto estavam com...

Julie Hockley

Culpa? Preocupação? Raiva? Desapontamento? Eu não podia ter certeza. — Sinto muito, — sua voz notavelmente mais suave. — Eu estava verificando o galo na sua cabeça. Eu não vou te machucar. Sua preocupação era genuína, o que fez minha garganta imediatamente espremer fechada. Era tarde demais, lágrimas brotaram por meus olhos. — Eu estou bem... De verdade, — expressei em resposta à crescente preocupação em seu rosto. — Você não parece bem. Limpei as lágrimas assim que elas escaparam dos meus olhos. — Isso é estúpido. Eu não sei por que estou chorando. — Sim, — murmurou ressentido, sua mandíbula apertada. — Posso verificar a sua cabeça... Mesmo se você diz que está bem? Assenti através dos meus soluços e inclinei a cabeça para frente como uma oferta de paz. Meu coração batia forte no meu peito, enquanto seus dedos separaram os cabelos no alto da minha cabeça, apertando levemente na colisão. Meu rosto estremeceu de dor sob o manto do meu cabelo. — Isso dói? — Perguntou. — Não, — menti. A tensão na minha voz me traindo. — Eu não penso assim, — disse ele. — Eu vou te dar algo para a dor. Antes que eu pudesse recusar, ele saiu pela porta e Meatball encontrou seu caminho para dentro. Em um instante, ele estava na cama, arrastou-se e colocou a cabeça no meu peito. Eu esfreguei suas orelhas; e ele gemeu. Para uma besta grande, ele poderia ser bonito, contanto que ele não estava tentando morder sua cabeça.

Julie Hockley

— Meatball. Fora. Agora. — A voz autoritária de Cameron assustou tanto Meatball quanto a mim. Igual ao rapaz da noite anterior, Meatball imediatamente obedeceu, mas não antes de me dar uma lambida com a língua pegajosa contra a minha mão. — Uau! Todo mundo simplesmente salta quando você dá ordens? — Soltei enquanto observava o cachorro correr para fora. — Nem todo mundo, — disse secamente. Ele andou até minha cama e me entregou duas pequenas pílulas brancas e um copo grande de água. A água era ouro líquido para os olhos; a minha boca tinha o gosto como se eu estivesse lambendo um giz, fora de um quadro-negro durante toda a noite. Enquanto tomava as pílulas misteriosas, eu hesitei e, timidamente, olhei para cima. Cameron cruzou os braços. — Ainda é muito cedo e você precisa descansar mais. Os comprimidos vão ajudar com a dor para que você possa dormir mais um pouco. — Ele ficou ali, me olhando como se eu fosse um doente mental, garantindo que a garota louca tomou suas pílulas. Eu precisava obter algumas respostas; começando com o que eu achava que sabia, parecia uma boa ideia. — Seu nome é Cameron, — pensei, minha voz ecoando dentro do vidro. O corpo de Cameron endureceu. — Uh-huh. Nós assistimos um ao outro enquanto eu levei dois grandes goles de água para me certificar de que minha garganta estava aberta para engolir as drogas. Ele deliberou novamente antes de se sentar ao meu lado. — O que mais você se lembra? — Ele me perguntou. Cor correu do meu rosto. — É aqui que eu te digo que eu não me lembro de coisa alguma? — Eu soltei novamente. Assim que as palavras saíram da minha boca, eu gostaria de ter passado mais tempo

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pensando sobre o peso da sua pergunta e dar uma resposta que não ele não iria me matar. — Não, — ele disse, sem pestanejar. — Aqui é onde você me diz a verdade. Eu tomei meu tempo de engolir a primeira pílula e minhas lágrimas. — Aquele homem no cemitério, o que ele fez para merecer o que você fez com ele? Eu precisava que ele me falasse que o homem não tinha sido apenas algum corredor aleatório que estava no lugar errado e na hora errada, que apenas pessoas más morriam, que garotas como eu não morriam apenas porque testemunharam um assassinato. Seu rosto endureceu. — Você assume que aquele homem era inocente. — não era uma pergunta, ele tinha lido o que tinha sido persistente em minha mente. — E se eu lhe disser que a justiça foi feita? — Ele está morto, não está? — O que importa? — Disse. — Não é como se você o conhecesse. Fechei os olhos, o que obrigou as lágrimas a cair pelo meu rosto. Então as palavras vieram gaguejadas para fora antes que eu tivesse tempo para processá-las. — Sua família... Nunca vai saber o que aconteceu com ele, e eles vão passar... O resto de suas vidas perguntando o que eles poderiam ter feito para mudar as coisas. Não parece haver muita justiça nisso. Com

medo,

me

preparei

para

os

golpes

que

viriam

a

seguir. Quando senti seus dedos rapidamente escovar meu rosto úmido, eu abri meus olhos. Não havia raiva no rosto de Cameron, mas seus olhos estavam me avaliando.

Julie Hockley

Limpei a garganta para cortar a dor no meu peito, e engoli minha segunda pílula. Meus dedos formigavam — a primeira pílula já estava trabalhando a sua magia. O que quer que eu esteja tomando, era potente. — Cameron, — disse — O que estou fazendo aqui? — Você está descansando. — Quem eram todas aquelas pessoas no quarto ontem? — Sondei de novo, minha cabeça caiu no travesseiro. — Os meus amigos, — Seu olhar era inabalável, enquanto minhas pálpebras estavam ficando pesadas. Eu estava apagando rapidamente. — Quanto tempo você vai me manter aqui? — Continuei sonolenta. Cameron puxou o copo de minhas mãos dormentes e pôs sobre a mesa perto de mim. — Durante o tempo que for preciso. — E o que você vai fazer comigo? — Saiu como um sussurro. Meus olhos mal estavam abertos. Cameron fez uma pausa sobre esta questão. Ele examinou meu rosto, como se a resposta estivesse escrita em algum lugar entre minhas sardas. — Eu não sei, — foi a última coisa que eu o ouvi dizer antes de eu cair no sono. A próxima vez que eu acordei o sol já estava se pondo. Eu estava me sentindo melhor, descansada, embora minhas articulações e músculos doessem com a falta de movimento. Quanto ao galo na minha cabeça, era apenas sensível ao toque dos meus dedos, não havia mais a dor pulsante. Meu cabelo, por outro lado, era um emaranhado; sentia minha cabeça nua quando o meu cabelo estava solto. Eu procurei meus bolsos e, em seguida, no quarto estéril,

Julie Hockley

qualquer coisa que eu poderia usar para amarrá-lo de volta. A única coisa que eu encontrei foi o copo de água que tinha sido reabastecido, e que eu avidamente engoli. A porta do quarto tinha sido deixada aberta, e os sons ocos de uma televisão ainda podiam ser ouvidos. Assim que o cheiro de comida fez cócegas no meu nariz, meu estômago roncou. A última refeição que eu tinha comido era o velho sanduíche de manteiga de amendoim que eu tinha engolido em meu horário de almoço do trabalho; há quanto tempo foi isso? Meu cérebro ainda estava muito nebuloso para contar para trás as horas, ou dias. Deixando meu estômago fazer o pensamento, eu saí da cama arrastando até a porta em meus pés e minhas meias brancas. O corredor escuro tinha muitas portas, todas iguais a que eu tinha acabado de entrar, e todas fechadas. A única fonte de luz veio do outro lado do corredor. Passei por um pequeno hall de entrada, de azulejos brancos... E que parecia ser uma porta de entrada, ou uma maneira de escapar. A porta tinha cinco fechaduras diferentes sobre ela: eu continuei, enquanto eu tentava calcular quanto tempo me levaria

para

passar

por

todos

esses

bloqueios

antes

de

ser

descoberta. Um pequeno nó soltou dentro de mim, quando eu observei meus gastos tênis ordenadamente colocados ao lado da pilha de grandes sapatos que estavam no chão. Na sala de estar, a criança grande, o que parecia o boneco Chucky, estava deitado em um dos sofás, controle remoto na mão, parecendo completamente entediado. O homem tatuado estava sentado ereto na borda de uma poltrona. Ele atirou um olhar venenoso para mim me observando. O garoto seguiu o olhar de seu colega e estreitou os olhos, me digitalizando da cabeça aos pés.

Julie Hockley

— Você parece uma porcaria. — Observou ele, seu olhar letárgico

voltando

para

a

TV. Nós

tínhamos

acabado

de

nos

conhecer; até onde ele sabia, eu poderia ter esta terrível aparência todos os dias. Fiz uma careta. — Obrigada, — minha voz ainda estava rouca. — Com fome? — Perguntou a única voz que eu reconheci. Virei para ver Cameron passear para fora da cozinha, uma caixa de papelão com símbolos vermelhos em uma mão, a outra com pauzinhos recheado de Chow Mein em sua boca. Havia algo decididamente diferente sobre ele. Os vincos preocupados sobre sua testa e o redor dos olhos foram diminuídos. Não pude evitar meu coração de bater com força. Ele era bonito... Para um sequestrador. Meatball estava aos pés de Cameron, babando e olhando com expectativa a cada bocado de comida, na esperança de que alguns cairiam em seu caminho. Sentindo o peso do olhar do homem tatuado, eu dobrei meu cabelo atrás das orelhas. O sorriso de Cameron quase atingiu seus olhos. Colocando seus pauzinhos para dentro da caixa, ele tirou algo do bolso e entregou-me. Um elástico para cabelo. Meu rosto corou enquanto ele me observava prender meu cabelo, mas eu me senti melhor, menos exposta, assim que meus cabelos de cenoura foram puxados para trás. Com um aceno de cabeça, Cameron me indicou para segui-lo através da pequena cozinha para a mesa. Ele puxou uma cadeira e pegou o prato. Eu tinha a esperança de fugir do olhar do homem tatuado; Infelizmente, eu estava sentada na visão clara da sala de estar. Eu mantive meus olhos para baixo para a mesa. Quando olhei para cima novamente, o homem tatuado estava à beira do seu assento

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novamente e virou a metade de sua atenção para a TV. A teia de aranha na parte de trás do seu pescoço era tudo que eu tinha de enfrentar. Cameron colocou um prato cheio de comida chinesa na minha frente; não havia nenhuma maneira que eu seria capaz de terminar isso. Mas eu comecei a carregar a comida em minha boca de qualquer maneira, enquanto Cameron observava da porta da cozinha. Toda vez que eu olhei para cima do meu prato, seus olhos estavam em mim. Havia

algo

inquietante

sobre

comer

com

pauzinhos



desajeitados na vigilância de outra pessoa. — Você se sente melhor hoje? — Perguntou. Engoli em seco Ele fez uma pausa lendo meu rosto. Seus olhos se estreitaram insatisfeitos com o que encontrou. — Como está sua cabeça? Duvidava que ele soubesse o que era uma pergunta capciosa. — Minha cabeça está bem. — Você se sente tonta? — Perguntou rapidamente. Trouxe os pauzinhos para minha boca. — Não mais. Ele esperou, e então continuou: — Qualquer dor latejante? — Só um pouquinho, — respondi com sinceridade, rapidamente, antes que ele decida cutucar a minha cabeça para me pegar em uma mentira novamente. Ele fez uma pausa e observou. — Bom, — disse ele, finalmente, com satisfação. Eu soltei um suspiro aliviado; Eu tinha passado em sua avaliação. Olhei para o meu prato com surpresa, só sobraram os pauzinhos. — Mais? — Cameron perguntou com diversão quando eu levei a minha última mordida.

Julie Hockley

Eu pensei sobre isso, mas balancei a cabeça. Ele pegou o prato vazio e levou a pia. Com humor fácil de Cameron e comida no meu estômago, um monte de comida — meus ombros estavam começando a afrouxar. Não me ocorreu porque Cameron estava tão relaxado até que ele saiu da cozinha e anunciou sua decisão: — Kid vai te levar para dar uma volta. Meu estômago cheio caiu e a cabeça de Kid levantou, com interesse, enfim, do ultimo descobrimento longe da TV. —

Eu

vou?



Perguntou

ele,

ecoando

o

meu

próprio

pensamento, embora o meu fosse mais um grito horrorizado do que uma pergunta. O homem tatuado também pareceu surpreso por este anúncio; aparentemente, Cameron não tinha compartilhado seu plano com mais ninguém. — Sim, — Cameron disse com confiança, voltando-se para Kid. — Você está levando Emily para a fazenda esta noite. Neste anúncio, o grande garoto deixou cair à cabeça para trás em aborrecimento, como uma criança de dez anos de idade, sendo convidado

a

limpar

seu

quarto. —

Esta

noite? Você

está

de

brincadeira? Já está ficando escuro! Vai demorar uma eternidade! Eu ainda tinha esperança: Kid, com seu tamanho notável, era muito preguiçoso para me matar hoje. Mas Cameron ofereceu incentivo, ele pegou um molho de chaves do balcão da cozinha e jogou através da sala para Kid, que com habilidade os pegou com as mãos de monstro, que eram ligadas a seus braços gigantescos. Seus olhos se iluminaram. — É sério? Você está me deixando levar o seu carro? — Ele disse, sua voz guinchando de alegria. O homem tatuado olhou para Cameron em desaprovação, mas se manteve em silêncio.

Julie Hockley

Não necessitando de qualquer outro incentivo adicional, Kid rapidamente levantou-se, olhou em minha direção e se dirigiu para a porta. — Vamos, Red. Meu estômago estava agora nos dedos do pé. Era levar alguém "para a fazenda" algum tipo de palavra código das mesmas que ter alguém que “dorme com os peixes”? As lágrimas saltaram aos meus olhos. Eu não conseguia respirar. Virei focando minhas suplicas a Cameron. — Cameron, por favor, não faça isso. Eu não vou falar... Eu vou fazer o que quiser. Não tem que ser assim. Mas o humor fácil do meu lindo sequestrador se transformou em gelo, e seus lábios se espalharam numa linha fina. — Seus sapatos estão na porta, — disse ele bruscamente. Olhei

para

baixo,

os

dentes

mordendo

o

lábio

inferior

tremendo. Fui até a porta da frente e deslizei para o meu tênis, não me incomodando em amarrá-los. No momento que eu saio do apartamento, Kid já estava no corredor,

pressionando

o

botão

do

elevador,

com

impaciência

repetidamente. Olhei para trás uma vez, Cameron estava com seus braços cruzados fechando a porta. O corredor era iluminado, com paredes de tijolos pintados de branco e tapetes macios, não os tipos de tapetes que eu esperava encontrar no corredor de um prédio de apartamentos, mas o tipo caro que seus pés afundam e deixam pegadas para trás quando você anda sobre ele com os pés descalços. Havia apenas duas portas neste piso, o que eu tinha acabado de sair, e a porta do elevador que eu estava prestes a entrar. O apartamento, notei, deve ser a cobertura. Descendo o elevador, Kid ficou em silêncio, se contorcendo, ansiosamente girando o anel de chave em torno de seu dedo indicador,

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claramente indiferente que eu não gostaria de me juntar a ele, mesmo que isso só seria por pouco tempo, até que eu estivesse morta. As portas do elevador se abriram, e nós saímos para uma garagem fechada, com uma porta de garagem na frente e uma viela grande o suficiente apenas para que os carros entrassem e saíssem. Havia quatro veículos na garagem: um era um modelo de caminhonete preta mais recente, e dois estavam batidos, e enferrujados. O quarto carro era um Audi, elegante, preto com vidros escuros. O Audi apitou quando chegamos mais perto. Kid saltou para o lado do motorista e soltou a marcha. Eu hesitei, lançando os olhos em busca de uma saída que eu poderia ter perdido. Ele abriu a janela e colocou a cabeça para fora. — Você está vindo ou não? Eu não era burra o suficiente para supor que ele realmente estava me dando uma escolha. Meu coração bombeava em minhas orelhas, eu subi no lado do passageiro. O Audi clicou indicando assim, que todas as portas estavam travadas. Kid, com entusiasmo, agarrou o volante me olhando de lado. — Coloque o cinto de segurança isso vai ser divertido. Eu fiz como me foi dito, e ele bateu no botão vermelho no espelho retrovisor, o que fez a porta da garagem deslizar para abrir. Nós dirigimos para a rua escura. Kid não deixou o pedal do acelerador até que nós estávamos dirigindo bem acima do limite de velocidade. Sinais na rua escura brilhavam. Ele acelerou através de um semáforo vermelho, desviando em torno de um carro que estava esperando pacientemente sua vez. Qual foi o ponto de me fazer usar o meu cinto de segurança se ele estava planejando matar a nós dois ao bater o carro? Com um sorriso ampliado, ele teceu-nos dentro e fora do tráfego.

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Eventualmente, nos afastamos das ruas da cidade e entramos em uma estrada secundária. Correndo ainda mais, mas pelo menos não havia outros carros para jogar A Chicken Crossing The Road.7 Fui capaz de afrouxar os dedos do meu domínio sobre a barra de segurança contra a porta, usando a mão livre para limpar meu rosto recém-umedecido. Com pouca novidade e depois de haver desaparecido a distração dos outros carros, Kid lembrou que eu estava sentada ao lado dele. — Desculpe por bater na sua cabeça ontem, — disse ele, com os olhos ainda na estrada. — Eu não achei que tinha batido tão forte. Despreparada por essa informação, fiquei calada. O que eu deveria dizer? Ser atingido na cabeça parecia insignificante comparado com o que estava por vir. — Como você conseguiu esgueirar-se por mim? — Ele perguntou como se ele estivesse nervoso com o meu silêncio — Eu não me esgueirei por qualquer pessoa, — Eu assobiei, meus olhos atirando punhais para ele. — Eu estava apenas tentando chegar em casa. — Quem corre sozinho em um cemitério escuro, em direção ao perigo? É a coisa mais estúpida que eu já ouvi. Eu tive que desviar o olhar para manter meu temperamento sob controle o tempo suficiente para bolar um plano. Quando eu estava na oitava série, a professora ficou doente depois de consumir a cola que tinha misteriosamente encontrado seu caminho para seu café da manhã. Passamos o resto do dia sentados em frente à TV, enquanto o diretor corria para encontrar um professor substituto no último minuto. Fomos forçados a assistir dois milhões de filmes educativos nesse dia, um tinha sido uma má reconstituição de uma tentativa de sequestro. Eu não tive que quebrar meu cérebro muito 7

Jogo onde um frango tenta atravessar a rua.

Julie Hockley

tempo para me lembrar da primeira regra: nunca ficar no carro com um estranho que lhe oferece doces. Comecei a entrar em pânico quando notei as placas de trânsito amarelas com imagens de rochas passando por nós. Estávamos indo para

as

montanhas...

As

montanhas

em

grande

parte

eram

desabitadas. E então, meu pânico desencadeado lembrou-me de algumas coisas, uma dica de sobrevivência nebulosa de um desses programas de crime: fazer o atacante ver que você é uma pessoa real, e não apenas uma testemunha sem nome a um assassinato, ou algo parecido. — Meu nome é Emily, — eu anunciei. Ele olhou para mim como se eu fosse louca. Certo. Eu tinha esquecido que Cameron já havia mencionado o meu nome. — Qual é seu nome? — Perguntei. Meu estômago cheio balançando quando o Audi acelerou em uma curva. Considerando isso, eu engoli a comida de volta para baixo da minha garganta. — Você pode me chamar de Bull Sexy. Minha cabeça estava zumbindo, e uma gota de suor escorria da minha testa. Nós estávamos indo para ele me desovar. — O nome da minha mãe é Isabelle e o nome do meu pai é Burt; é um apelido para Bernard. E eu tinha um ursinho de pelúcia chamado Booger, quando eu era criança, ele perdeu um olho depois que tentei pranchar seu pelo. E o meu dedo do meio no meu pé esquerdo é maior e mais gordo. E quando eu tinha quatro... — Jesus, o que há de errado com você? Você ainda está drogada? — Havia incredulidade misturada com uma ponta de preocupação em sua voz.

Julie Hockley

— E quando eu tinha quatro... — continuei, mas o Audi estava correndo através das curvas, subindo e descendo colinas. A paisagem sombria

estava

piscando

por

nós. De

repente,

o

carro

entrou

agressivamente em torno de um penhasco, senti um nó na garganta; o meu coração começou a correr, e minha temperatura corporal subiu mil graus. — Oh Deus! — Eu gritei. — E agora o quê? — Ele suspirou, irritado. — Você precisa parar! Vou vomitar! — Parar? Estamos no meio das montanhas! Não há lugar para parar! Comecei a agitar minha mão na frente da minha boca. — Aguente! Segure! — Advertiu, agitando em pânico, cegamente, mexendo no banco de trás com a mão livre, seus olhos nunca deixando a estrada. Ele tirou um saco plástico, esvaziando o seu conteúdo antes de jogá-lo para mim. Eu puxei o saco aberto e vomitei imediatamente. — Isso é tão nojento! — Ele engasgou, abrindo a janela e enfiando a cabeça para fora. — Ainda cheira como chow mein8. O ar fresco correndo de sua janela aberta me fez sentir melhor, e eu não tinha mais nada no meu estômago para vomitar, de qualquer maneira. Depois de alguns minutos, eu puxei meu rosto longe do saco e olhei para cima. Ele estava olhando para mim, segurando o nariz e fazendo uma careta. Seu rosto tinha ido de rosa pálido para doente. — Jogue o saco para fora da janela, — ele ordenou.

8

O Chow Mein é um prato típico chinês. Trata-se de um noodle, aquele macarrão típico das comidinhas orientais meio frito, meio salteado com carnes e legumes.

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— Eu não posso fazer isso! — disse. — É um saco plástico. Vai levar mais de cem anos para se desintegrar. Eu não quero poluir. — Emily, — ele disse, enunciando cuidadosamente cada sílaba — Se você não jogar esse saco para fora da janela no segundo seguinte, eu vou vomitar também. — Suspirei e relutante joguei o saco para fora da minha janela. Mas eu não me senti nem um pouco culpada enquanto assistia ele respirar através de sua náusea. — Desculpe, — eu disse, tentando não zombar dele — Eu acho que minha cabeça ainda não está bem. Ele me olhou com repulsa. — Essa é a coisa mais nojenta que eu já vi. Agora eu estou meio feliz por não a levar no meu carro. Quem diria que uma garota poderia ser uma dor... — Sua voz se perdeu em sua cabeça. — Ugh! — Ele gemeu dramaticamente alguns segundos mais tarde, — Realmente fede aqui dentro. — Ele colocou a cabeça para fora da janela novamente. Eu nunca tive um estômago de ferro. Uma vez um cara caiu da sua bicicleta ao meu lado, e um osso quebrado em sua panturrilha direita perfurou através de sua pele. Como qualquer bom samaritano faria, eu insisti em esperar com ele até os paramédicos aparecer. Ele passou os próximos vinte minutos segurando o meu cabelo para trás, enquanto eu vomitava ao lado da estrada. Não conseguia me lembrar se alguma vez ele me agradeceu por ter esperando com ele. Pensei em contar a Kid sobre este evento de vida para solidificar ainda mais nossa ligação sequestrador-refém, mas eu estava esgotada. Deixei minha cabeça cair para trás no encosto do banco e fechei os olhos.

Julie Hockley

Fui despertada pelo som de cascalhos esmagando contra os pneus do Audi. Kid olhava para mim por trás do volante. — Bem-vinda de volta à terra dos vivos, — murmurou. Havíamos saído por um caminho estreito de cascalho, para uma estrada lateral estreita onde os ramos escurecidos de árvores pairaram muito perto, tentando agarrar o Audi, tentando nos consumir. Kid foi distraidamente batendo os dedos contra o volante para uma música de Britney Spears que estava tocando através do rádio em ondas quebradas. Na escuridão mais alta, somente as luzes dos faróis... Situava-nos. Ele estava errado. Esta não era a terra dos vivos. Era uma zona morta. — Onde estamos? — Eu resmunguei. Kid esticou os braços, empurrando contra o volante, e suspirou — Quase lá, graças a Deus. Cam totalmente me deve por isso. Minha

garganta

estava

emocionalmente esgotado.

em

carne

viva,

e

meu

corpo

Podia sentir o isolamento escuro que

escoava para dentro do carro como uma depressão profunda. Só queria que isso terminasse, mas ele parecia que estava se esforçando para prolongar o inevitável. Talvez quebrar meu espírito primeiro era parte da preparação. Depois de um tempo dos pneus passear ao redor na estrada, as árvores se afastaram, e Kid foi mais lento. Meus olhos estavam além de

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cansados; Estavam começando a ver a sombra de um homem caminhando através da estrada aberta à frente. Concentrei-me na partícula de luz que brilhou. Não poderia imaginar o que era, mas quanto mais nos aproximávamos maior ia ficando. O carro parou. Kid desligou o motor e foi para fora em um flash, respirando o ar fresco dramaticamente repetidamente. Eu esperei, esfregando os olhos, forçando-os a ajustar-se à luz que havia no interior do Audi. Kid finalmente veio descansar a mão contra a porta do carro aberta. — Não sei como você pode suportar estar mais um segundo nesse carro. Realmente fede aqui dentro. Olhei para cima com os olhos cansados. — Eu tenho que sair do carro? Seu rosto enrugou. — Você é tão... Estranha, — ele murmurou, balançando a cabeça, se afastando. Seus métodos de sequestro eram confusos para mim; ou, eventualmente, a maioria das pessoas sabia o que fazer nestes tipos de situações. Entendi sua resposta obscura como um sim e sai do carro. O ar fora do carro estava fresco e limpo, muito limpo; Não tinha certeza que meus pulmões infectados pela cidade poderiam lidar com coisas puras. O céu noturno era incrivelmente claro, e eu imaginei que ele deve ser sempre assim, quando as luzes da cidade não estavam lá para distorcê-lo. É claro que eu tinha visto estrelas antes, mas não como estas. Era como se cada constelação imaginável estava brilhando lá em cima. Levei um tempo para encontrar a Ursa maior e a Ursa menor, eram as únicas que eu conhecia; mas neste céu perfeito, não eram às únicas estrelas. O som de uma porta abrindo e a inundação de luz que se seguiu me fez sair do meu devaneio. Um homem caminhou através da luz que vazava da porta com uma janela de vidro esculpido.

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Minhas pernas ficaram dormentes quando notei que ele estava carregando uma espingarda de cano longo por cima do ombro. Kid cumprimentou o homem armado com indiferença quando se encontraram. — Por que você está de volta tão cedo? — Perguntou o pistoleiro. Kid encolheu os ombros com a cabeça na minha direção e explicou, — Entregando a dor-na-bunda. O pistoleiro olhou na minha direção. Então se separou de Kid e abriu caminho em direção a mim. Prendi a respiração e fechei os olhos, ouvindo o arrastar de seus pés contra o cascalho, — não queria ver a bala vindo. Os passos se aproximaram e ele se arrastou passando diante de mim. Abri um olho a tempo

para

vê-lo

desaparecer

na

escuridão

dos

bosques

nos

arredores. Ouvi seus passos contra a grama, até que eu não podia ouvi mais nada, além do vento correndo por entre as árvores escuras. Virei meus olhos para o céu novamente. Eu estava procurando por, minhas estrelas da sorte, mas era cedo ainda e havia muitas estrelas para encontrar as minhas. Kid estava observando-me através da minha corrida de emoções da porta aberta. Com o mesmo olhar de perplexidade em seu rosto, ele gritou: — Ei, anormal, você vai ficar aí durante toda a noite, ou você está pensando em entrar? A porta de entrada estava anexada a uma grande casa que, a partir da escuridão, parecia um celeiro. Havia arbustos altos que ladeavam a frente da casa, com a porta sendo o único espaço livre de arbusto. O brilho da lua refletia o telhado de zinco, e eu não poderia dizer se a casa tinha todas as janelas por causa dos cedros que escondiam suas paredes exteriores. No interior, havia um hall de entrada com o teto curvado. O piso bege, pavimentado em mosaico do vestíbulo se fundiu com o chão

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escuro de aparência antiga. As escadas conduziam a um corredor no segundo nível com uma parede branca. Por uma porta lateral, outro conjunto de escadas descia para um andar abaixo. Eu podia ver a cintilação de imagens de uma TV no andar de baixo. Kid tirou os sapatos na pilha enorme de sapatos de homens que foram espalhados pela porta da frente e desapareceu através de uma porta em arco que estava na outra extremidade do hall de entrada, ao lado da escadaria. Acostumada a suas ordens não ditas, eu fiz o mesmo e o segui através da porta. No momento em que eu o segui para baixo das escadas que levaram a uma sala de estar, ele já estava esparramado na frente da TV em um dos dois sofás, controle remoto na mão, era como se nunca tivesse deixado o apartamento na cidade. Sentei-me na borda do outro sofá e esperei, examinando cuidadosamente o meu redor. Era um grande espaço aberto que ligava a sala de estar para uma cozinha com uma grande mesa de jantar, cor de pinho. Eu podia ver agora que o celeiro foi transformado em uma casa. A sala tinha móveis de couro marrom, tipo suave, que parecia se ajustar em torno de seu corpo, enquanto você afundava nela. Havia uma lareira feita de pedras empilhadas até o teto, com uma televisão de tela plana de grandes dimensões que pairava acima da lareira, que Kid não tinha tirado os olhos. Uma cozinha gigante separava a sala da mesa de jantar, e tinha dois de quase todos os aparelhos: duas geladeiras de grande porte, dois microondas, duas torradeiras, dois lava-louças, mas apenas um forno. E a mesa de jantar parecia grande o suficiente para acomodar vinte pessoas. Para o outro lado da sala havia um pequeno corredor. Enquanto Kid estabelecia um canal em desenhos animados, eu, nervosamente, mantive meus olhos sobre ele. Eu estava tentando decidir o que era pior: não saber como eu ia morrer, ou não saber quando iria acontecer. Eu estava cansada e impaciente.

Julie Hockley

Depois de alguns minutos sobre meu olhar, Kid desviou sua atenção da TV e suspirou alto — Você é sempre tão tensa, ou só quando está comigo? — Não, sou muito mais divertida quando me sequestram e sou levada para o meio do nada contra a minha vontade, — esperar sua indiferença para a minha situação era enlouquecedor para mim. Suas

sobrancelhas

franziram. —

Ei,

não

fique

chateada

comigo. Eu estou apenas seguindo ordens. — Quais são as suas ordens, exatamente? — tomei a oportunidade de perguntar, apenas no caso dele me dar uma resposta real. — Não estava lá quando eu as recebi? — questionou em resposta à minha pergunta. — Tudo o que eu ouvi foi que você estava me levando para dar uma volta na fazenda. Eu não sei o que isso significa, mas este lugar não se parece muito com uma fazenda para mim. — Se parece quando você descobre que animais vivem aqui, — disse ele, rindo. Meus olhos percorreram o local novamente e descansei minhas costas de volta no sofá — Este lugar é o que Cameron entende por me levar para a fazenda? — Eu tinha notado seu rosto quando eu disse o nome de Cameron, mas ele não disse nada sobre isso. — O que mais poderia ser? Engoli em seco. — Morte, — admiti. E então eu esclareci: — Minha morte. Kid parecia considerar isso. — Quer dizer que você pensou que Cameron me mandaria matá-la?

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Concordei, embora eu pensasse que já tinha deixado isso claro o suficiente para ele. — Sério? — Ele insistiu, sua voz lançando na última sílaba. Eu balancei a cabeça novamente, mas com menos certeza neste momento. — Uau! — sorriu de orelha a orelha. — Obrigado! — Então você não vai me matar? Ele balançou sua cabeça. — Não que eu saiba. — Por que estou aqui, então? Kid encolheu os ombros com desinteresse. — Não tenho ideia. Ninguém nunca me diz nada por aqui. — Ele inclinou seu corpo para frente, seu sorriso aparecendo novamente. — Você estava com medo de mim quando pensou que eu estava indo para matá-la? — continuou. Deixei meus ombros relaxar e me acomodei de volta para o sofá confortável. — Eu acho que sim. Ele estava me observando com entusiasmo. — O que te assustou mais? Foi a minha voz? — Ele perguntou, seu tom visivelmente diminuindo quando ele disse isso. — Suas habilidades de condução, — eu respondi. Minha boca ainda tinha o sabor para me lembrar disso. Seu sorriso virou decepção. — Eu acho que isso explica porque você estava agindo como uma aberração. Eu estava começando a pensar que Cameron estava levando para casa os doentes mentais. — Seu olhar se desviou de volta à TV. Agora que eu tinha aberto os olhos para ver por que o garoto era chamado Kid, porque ele era, na verdade, apenas uma criança, eu me

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senti um pouco mais corajosa. Poderia ser um menino grande e, sem dúvida, um menino grande que provavelmente poderia esmagar-me com uma mão, mas ele não estava indo me matar. Quando eu acordei me dei conta que Kid estava roncando no sofá. Com a ameaça de morte iminente temporariamente fora de minha mente, os restos dos meus sentidos haviam voltado igual ao sabor da comida que havia vomitado e tinha a sensação de que as lágrimas tinham secado em meu rosto como uma crosta. De repente, encontrar um banheiro foi o primeiro lugar na minha lista de sobrevivência mental. Com meus pés pisando levemente no chão de tábuas largas, eu fiz

meu

caminho

pelo

corredor

que

estava

fora

da

sala

e,

imediatamente, encontrei o banheiro e me senti em casa, logo que eu entrei. Notei os respingos de sabão secos no espelho, restos de barba na pia, as pilhas de roupa suja e toalhas que cobriam toda a superfície do banheiro e da lavanderia adjacente, que também tinha duas lavadoras e secadoras. Fosse o que fosse isso me fez sentir um pouco menos fora do lugar. Eu tomei meu tempo fazendo gargarejos e bochechos com antissépticos que encontrei embaixo da pia e lavei meu rosto pálido. Meu cabelo parecia que eu tinha metido um dedo em uma tomada elétrica; Eu o molhei para melhor poder controlar os frizz. Depois de um tempo, eu saí do banheiro e me surpreendi quando entrei para a direita e encontrei uma garota de pijama de flanela vermelha. A menina ficou parada por um longo segundo, seus olhos se recusando a liberar meu rosto. Então, com um movimento rápido, ela agarrou meu braço e puxou com força, arrastando-me de volta para a sala de estar, seu cabelo escuro voando descontroladamente ao redor de seus ombros. Ela era definitivamente mais forte do que parecia.

Julie Hockley

— Rocco! — gritou ela, com os olhos em chamas. — O que ela está fazendo aqui? — me arrastou para frente da sala e soltou meu braço. Kid foi forçado a sair do seu sono e olhou para cima. — Ei! Você não deveria usar meu nome real perto de outras pessoas, — Carly! — Eu não me importo, Rocco! — disse Carly. Ela bufou e perguntou novamente: — O que ela está fazendo aqui? — Ah, certo. — Kid/Rocco sentou e coçou a cabeça. — Esta é Emily, — disse ele, acenando com indiferença em minha direção. — Eu não perguntei quem ela é, eu perguntei o que ela está fazendo aqui, — corrigindo com a voz aguda e seu minúsculo dedo apontando para o chão para uma amplificação adicional. — Neste momento, eu aposto que ela está desejando não ter ido vaguear e encontrado com você. Ele estava certo. — Pare de brincar, Rocco, e responda a minha pergunta. O queela-está-fazendo-aqui? — Ela perguntou devagar. Rocco a fulminou com o olhar. — Por que todo mundo fica me perguntando isso? — ele lamentou. — Eu não sei o que ela está fazendo aqui. — Onde está Cameron? — Ela perguntou, olhando em volta. — Ele sabe que você fez isso? — Cameron é quem a enviou aqui, — ele presunçosamente respondeu. Seu rosto perdeu a cor. — Que? — Ele é o único que... — repetiu Rocco, mas Carly o cortou. — Eu ouvi você, mas eu não acredito em você.

Julie Hockley

Ela

tomou

outra

respiração,

e

então

levantou

uma

sobrancelha. — O que aconteceu? — Alguém, — ele explicou, apontando acusadoramente para mim — Pensou que seria uma boa ideia correr em direção onde havia caras irritados com armas. Não foi um dos meus melhores momentos, eu mentalmente admiti. — E onde você estava quando isso aconteceu? — ela perguntou, com os olhos estreitando para ele. — Você não deveria estar vigiando? Rocco imediatamente se pós na defensiva. — Eu estava lá, mas eu não a vi! Ela é como um rato. Estava tão escuro lá. Ela passou direito por mim. Ia interromper para me defender, mas pensei que poderia ser mais seguro manter o silêncio desta vez. — De qualquer forma, — ele amuou, — Eu estou farto de ser um estúpido vigilante. Não é nem mesmo uma posição real no ranking. — É uma posição real quando você realmente está vigiando, como você deveria, — disse ela, sua voz ganhando velocidade novamente. — Acredita que Cam te deixará subir no ranking se não pode concentrar-se em uma simples tarefa por mais de três segundos? — Cam quer que eu suba! — Ele disse. Sua voz rangendo. — Spider é que está me mantendo para trás, já que não me deixa fazer nada importante! Ela ficou ali, por alguns segundos, sacudindo a cabeça. — Seu irmão é o chefe, Rocco. Se ele quisesse que você subisse, acredite em mim, já teria acontecido. — E então ela olhou para mim, e estremeceu. — Ainda assim, porém, ele deve estar perdendo sua mente... — Tão rapidamente quanto ela tinha vindo, Carly virou sobre os

Julie Hockley

calcanhares e pisou longe, balançando a cabeça, urgentemente, sacando algo de seu pijama de flanela. Depois que ela tinha desaparecido através da porta, Rocco voltou a cair no sofá, de mau humor. Deixei-me cair no outro sofá. Neste curto encontro, eu tinha ganhado mais informações do que eu tive nos últimos dias, desde que eu havia conhecido o rapaz da camisa cinza. Por um lado, Cameron e Rocco eram irmãos, e o homem tatuado provavelmente era chamado de Spider, o que explicaria a teia de aranha tatuada em seu pescoço. Eu também entendi que Cameron era o chefe; do que ou de quem, eu não sabia. E Carly era muito provavelmente a namorada de Cameron, namorada — irritada, e muito temível. Obriguei-me a arquivar o tom de ciúme que saltou contra a parede do meu peito enquanto eu considerava que fosse o último. Em vez disso eu voltava para os fatos que devem me aterrorizar: eu havia testemunhado um assassinato; Eu tinha sido levada contra a minha vontade; Eu estava sendo mantida nesta fazenda com um homem armado andando por aí; e, até poucos minutos atrás, eu acreditava que Cameron estava me enviando para a morte. Estas foram às coisas que eu tinha que lembrar para sobreviver. Escutei portas de carros batendo. Devo ter adormecido, porque a escuridão lá fora foi substituída pela luz do sol que jorrava através das grandes janelas da sala. Rocco ainda estava dormindo no sofá em frente de mim. A porta da frente se abriu, e a casa rapidamente ganhou vida com as pessoas. Aterrorizantes homens enormes entraram com sacos e caixas, colocando itens no balcão da cozinha, e dispersando em todos os lugares ao redor da casa. Caminharam pisando forte, rindo e dando outras ordens entre eles. Alguns deles rapidamente me olhavam à medida que passavam perto de mim, mas ninguém disse nada. O sono

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de Rocco não foi incomodado pelo tumulto que eles estavam fazendo. Ele estava fazendo seu próprio escândalo através de suas narinas. Quando Meatball voou para encontrar-me no sofá, eu me preparei para o que certamente viria em seguida: a entrada de Cameron. Enquanto eu esfregava a cabeça grande de Meatball, o homem tatuado, Spider, entrou, sussurrando ordens a um homem obeso que se elevou sobre ele. Quando olharam na minha direção, exatamente ao mesmo tempo, eu imaginei que eles não estavam discutindo o resultado do placar de futebol; e o olhar amargo subsequente no rosto de Spider me disse que ele ainda não simpatizava comigo. — Kid! — gritou com autoridade. — Levante-se e guarde a comida! Rocco abriu os olhos, momentaneamente, levantou a cabeça, e depois colocou uma almofada sobre sua face. Quando tranquilamente,

Cameron seus

olhos

finalmente

entrou,

encontraram-me

caminhando

imediatamente. Para

minha derrota, ele estava vestindo calça jeans e uma camiseta vermelha que deve ter servido apenas para acentuar as características escuras do seu rosto. Para adicionar insulto à injúria, ele passou a mão pelo cabelo perfeitamente desarrumado. Era por desgraça deslumbrante. Demorou cada polegada do meu ser para parar meu coração de fazer cambalhotas; no final eu desisti — pelo menos vou me repreender depois de ter falhado miseravelmente. Olhei para longe para acalmar a minha respiração, enquanto ele esperou até que a fila de homens tinha passado antes de se aproximar de mim. Sentei-me para que ele pudesse se sentar ao meu lado; mas ele simplesmente permaneceu de pé.

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— Como você está se sentindo hoje? — Ele limpou a garganta. — Você está bem? Nós não havíamos nos separados exatamente no melhor dos termos, lembrei-me. Eu sorri envergonhada, enquanto eu tentava encontrar as palavras certas para responder, para tornar as coisas menos incômodas. Mas ele não me deu a chance de organizar meus pensamentos. Seus olhos corriam de mim para o sofá e de volta para mim; seu meio-sorriso se transformou em uma careta. — Você dormiu aqui, no sofá? — Perguntou. Assenti com a cabeça, mas ele já tinha virado para Rocco. — Kid! — gritou quando ele pegou uma almofada do sofá e atirou para seu irmão, atingindo na cabeça. Rocco abruptamente se sentou. — Sim, eu estou de pé. — Ele olhou em volta, passando a mão pelo cabelo enlouquecido, muito parecido com o que seu irmão tinha feito há alguns segundos antes dele. — Você a fez dormir no sofá? — Cameron acusou. — O quê! — Rocco respondeu na defensiva. — Eu não sabia o que fazer com ela. Cameron deu um longo suspiro. — Bem. Faça o que Spider lhe disse para fazer e guarde as compras. Rocco imediatamente seguiu as ordens de seu irmão e fez o seu caminho para a cozinha enorme, que agora estava fervilhando com uma incrível quantidade de sacolas de supermercado, e, para desgosto de Rocco,

mais

sacos

e

caixas

estavam

sendo

carregadas

pelos

homens. Meatball estava ocupado investigando o conteúdo dos sacos que tinham sido deixados no chão. Cameron trouxe sua atenção de volta para mim e estendeu a mão para me ajudar a levantar. Rapidamente peguei.

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Percebendo que eu estava quebrando a minha promessa a mim mesma por não deixar que ele tenha poder sobre mim, eu lhe disse: — Só para você saber, eu posso levantar, sem qualquer ajuda. — Meu rosto corou assim que eu disse isso, as palavras tinham saído todas erradas, como de costume. Ele inclinou a cabeça e virou o rosto. — Entendido. Vou tentar me lembrar disso na próxima vez. Enquanto nos dirigimos pelo hall até a escada, eu ainda podia sentir a minha pele pulsando onde sua mão tinha tocado, era extremamente frustrante que meu corpo estava se recusando a respeitar as ordens do meu cérebro. Chegamos ao final das escadas e caminhamos por um corredor até chegar a duas pesadas portas de madeira. Cameron segurou a porta, e nos apoiamos contra uma parede, enquanto os homens entravam e saíam. Eu mantive meus olhos nos meus pés, com medo de que eles me traíssem novamente. Olhei através dos meus cílios. Ele estava observando o vai e vem em nossa frente. Entrelacei meus dedos atrás das costas. — Hum, você mora nesta casa? Seu rosto se virou para mim. — Às vezes. Houve um silêncio constrangedor. — Então, você gosta desta casa? — Me perguntou. Sua pergunta tinha, estranhamente, certo ar de nervosismo. Com tanta coisa em minha mente, eu realmente não tinha considerado se eu gostava da casa. Depois de passar alguns momentos pensando sobre isso, eu decidi que eu gostava, muito. — É muito agradável. Eu gosto... Dos pisos, — murmurei. Pensei que eu vi uma curva de seus lábios quando eu disse isso, mas meus olhos ainda estavam no chão, então eu não podia ter certeza.

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Cameron deu um passo adiante. — Isto é tudo? — Perguntou. Sua voz era diferente, fria, dominante. Quando olhei para cima, um homem corpulento tinha vindo através das portas. — Sim, senhor. Isso é tudo, — o homem respondeu com um tom uniforme, evitando olhar na minha direção antes de escapulir para longe. Com roçar em meu ombro, Cameron levou-me à frente. Nós caminhamos para um espaço que era ou um quarto muito grande ou um pequeno apartamento. Havia uma cama muito grande com quatro postes contra a parede mais próxima à porta e uma pequena sala de estar. Com suas janelas do chão ao teto, que tinha a mesma claridade que o piso principal, mas as paredes aqui eram muito mais escuras, com painéis de madeira manchado de mogno e cinza escuro que iam do meu ombro até o teto. Este quarto, definitivamente, tinha um toque masculino. — Você pode ficar aqui, — disse Cameron, olhando para as características de meu rosto. — Este é o seu quarto? — Perguntei com os olhos arregalados. Ele assentiu um pouco nervoso, mas logo depois, pensei que talvez suas bochechas tivessem ficado um pouco vermelhas, embora sua expressão permanecesse ilegível. — Mas eu não vou estar aqui, com você, é claro. Você pode ter este espaço para si mesma. Ele me observou enquanto eu dei alguns passos para avaliar a minha nova prisão. Era bonita e acolhedora, sem barras de metal. A visão familiar das caixas Rubbermaid azuis empilhadas contra a parede imediatamente chamou minha atenção. Quando me virei de

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volta para Cameron, eu percebi que ele estava me esperando para ver que eu as notara. Ele enfiou as mãos nos bolsos. — Eu peguei suas coisas para que você se sinta mais confortável, enquanto você estiver aqui. Eu não estava louca, afinal. Eram as minhas caixas, as que ainda deviam estar escondido debaixo da minha cama, no meu quarto sem janelas, na minha casa trancada, em Callister. Pisquei. — Como você... Ele estava preparado para a minha pergunta e tirou um cartão do bolso, minha carteira de motorista. — Eu fui ao endereço listado em sua identidade. Ele me entregou, com a horrível imagem que parecia que eu tinha acabado de ser presa após uma briga de bar. — Onde você conseguiu isso? — Você tinha em seu bolso quando... Eu encontrei você. — Ele disse com relutância. — Não, eu não tinha, — eu rapidamente contestei. Seu rosto escureceu. — Sim, você tinha. Eu estava quebrando a cabeça, tentando lembrar a última vez que eu tinha saído de casa. Eu sabia que a coisa segura a fazer era manter minha identidade comigo quando eu corria sozinha, de modo que a polícia poderia identificar mais facilmente o corpo morto na vala, mas eu normalmente esquecia de trazê-la. Não conseguia me lembrar se eu tinha trazido a última vez. — Como você chegou e entrou na minha casa? Estava trancada. — Perguntei. Ele revirou os olhos. — A chave debaixo do capacho da porta, muito original.

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— Você invadiu a minha casa? — Não, eu usei a chave, — ele corrigiu. Suas feições se estreitaram — Você nunca deve deixar sua chave em qualquer lugar perto da porta da frente. Esse é o primeiro lugar que os ladrões iram olhar. Cruzei os braços desafiadoramente. — Essa é uma dica de segurança interessante vindo do cara que já invadiu a minha casa. Talvez da próxima vez que você entrar, você pode me deixar uma lista de todo o resto que eu fiz de errado. Ele suspirou. — Ok, eu invadi sua casa, mas eu trouxe suas coisas aqui para você. Podemos dizer que estamos quites? — Sorriu, mas seu rosto estava apertado. — Além disso, não teria importado mesmo se você não tivesse deixado a chave debaixo do tapete. A porta da frente estava praticamente caindo fora de suas dobradiças. Qualquer um poderia ter entrado naquela casa sem uma chave. Estranhamente, isso não me faz sentir melhor. Seus olhos seguraram o meu olhar, mas seu rosto era indecifrável. Torci um cabelo errante atrás da minha orelha e olhei para longe. — Qual o problema? — Ele rapidamente perguntou. Tentei colar um sorriso no meu rosto antes de virar meus olhos para ele. — Nada. Ele avaliou a minha tentativa. — Eu a deixo nervosa? Eu pensei sobre isso por um momento. Não havia nós em meus ombros, só no meu estômago. — Não, eu não estou nervosa em torno de você, — respondi com sinceridade.

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— Então você ainda está com medo de mim, não é? — perguntou ressentido. — Provavelmente não ajudou que eu confessei invadir sua casa. — Isso não ajudou, — eu concordei. Eu levei um longo suspiro, dei um passo para longe dele, e olhei para os meus dedos antes de responder. — Eu tenho medo do que você poderia fazer. Quer dizer, eu vi o que você poderia fazer, mas, para responder à sua pergunta, não, eu não tenho medo de você. — Isto também era a verdade, estranho, completamente ridículo, totalmente perigoso, mas era verdade. Ele se aproximou de mim e levantou meu queixo com o dedo, forçando-me a olhar para ele. Não me acovardei ou recuei dele neste momento, mas o meu ritmo cardíaco disparou enquanto ele julgava a minha expressão. Mantive os olhos, mas prendi a respiração, o que provavelmente era uma coisa boa, considerando que eu não tinha escovado os dentes uns dias. Depois de meio segundo, ele estava contente com o que viu no meu rosto e me liberou. — Então, o que é? Obriguei-me a caminhar para longe dele novamente antes que eu desmaiasse. — Não é nada. — Diga-me, — suplicou. Apoiei-me contra um dos postes da cama e engoli em seco. — Por favor? — Acrescentou. — Eu não posso lê-lo. É... Inquietante. Seus olhos eram duvidosos. — Eu não entendo. Minhas bochechas estavam ficando quente. — Seu rosto nunca muda. Eu não sei quando você está irritado ou feliz, ou...

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— Ou se eu vou matar você, — ele terminou, sua voz triste. — Ou se vai me matar, — acrescentei. — Por que você não me disse que você não ia me matar quando eu me apavorei no apartamento? — Você teria acreditado em mim? — perguntou amargamente. Mordi o interior do meu lábio e assenti. Seu rosto escureceu e eu o ouvi respirar. — Você não tinha razão para acreditar em mim. Na verdade, você não deve acreditar em mim. Você mesmo disse que você viu o que eu sou capaz. Levou toda a minha força para manter as lágrimas de escapar dos meus olhos; era doloroso para eu reproduzir o momento em que eu pensei que tinha sido condenada a morte. — Mas não teria sido uma melhor alternativa? Melhor do que ter que me sentar em um carro durante algumas horas, com um cara que eu pensei que ia me matar e enterrar meu corpo no meio do nada... — Eu sinto muito por isso, — disse ele com sinceridade. — Você me pegou de surpresa; Eu não sabia o que fazer, eu não estou acostumado a isso. O choro eu quero dizer. Ele fez uma pausa. Um sorriso tímido atravessou seu rosto. — Embora eu achei que você tinha certeza de que você estaria segura, logo que o garoto abriu a boca. — Bem, na realidade não, — respirei — Não é como se eu fosse sequestrada todos os dias. Seu rosto se irritou. Uma parede tinha fechado as características de seu rosto, e ele desviou o olhar. — Eu vou deixar um espaço no meu armário de modo que você possa colocar suas coisas, — disse ele, com a voz robótica. — Está bem... Obrigada.

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Ele apontou para uma porta que estava na outra extremidade do quarto. — É o banheiro. Tenho certeza que você vai querer tomar banho e mudar todas as outras coisas. Eu balancei a cabeça. Mais tarde eu iria saborear a ideia de ter meu próprio banheiro de novo, mesmo que fosse em uma prisão. — Tome um banho e volte para o andar de baixo quando estiver pronta, — disse ele. Ficamos parados por um minuto, olhando ao redor em um silêncio desconfortável, não olhando para o outro. Então, sem dizer mais nada, ele se virou, fechando a porta atrás de si.

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Via-se um oceano de verde através das janelas do quarto de Cameron. Era umas dessas vistas que se encontravam em páginas de um calendário, imagens que as pessoas colocavam como papel de parede para o desktop do seu computador, como se eles precisam ser lembrados de algo, talvez uma memória primordial. Meu nariz estava quase pressionado contra as portas do pátio que levaram a uma pequena varanda fora do quarto de Cameron. Eu estava a dois andares acima, com a vista de uma piscina em forma de ovo no chão e um quintal de grama com um campo de golfe de qualidade. No final da área da piscina, onde as pedras de passeio tocavam o gramado, havia uma casa de piscina rosa com flores vermelhas agrupadas dentro das janelas. A cinquenta metros da casa, a grama terminava e dava a um bosque com bastantes árvores com muitas folhas, colinas de jade no horizonte que dividia as copas das árvores da extensão do céu azul. Pelo que eu pude ver, estávamos em algum lugar, dentro de um vale

densamente

florestal. A

vista

do

segundo

andar

era

impressionantemente bela e assustadora ao mesmo tempo. Não tinha ideia de onde eu estava, e o fato de que eu não podia ver quaisquer estradas ou sinais de vida humana, para além da fronteira de árvores, não

tinha

me

escapado. O

problema:

isso

realmente

não

me

assustava. Havia uma parte de mim, uma grande parte, que queria respirar tudo isso, tirar uma foto mental, e moldá-la em minha mente para

eu

nunca

esquecer; a

outra

parte

estava

silenciosamente

aterrorizada pela primeira parte. Finalmente, me afastei do vidro e passei por minhas caixas Rubbermaid.

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Tudo estava lá; roupas, livros, artigos de higiene... Até meu abajur de bailarina de luz azul que estava ao lado da minha cama e a cópia já gasta de Rumble Fish9, que eu mantinha sob meu travesseiro. Abrir as tampas das caixas, uma atrás da outra, era como manhã de Natal; e ter todas minhas coisas novamente neste lugar novo havia uma emoção surreal. Tentei imaginar meu quarto em Callister, como ele estaria vazio, mas isso frustrou a estranha sensação de saber que alguém tinha tido o cuidado de trazer minhas coisas para mim. Eu estava incrivelmente agradecida por ter tudo comigo; era nisso que eu estava concentrada. Encontrei algo rápido para vestir. Depois de usar minhas roupas de corrida por muitos dias, até mesmo um saco de batata teria funcionado.

Fui

ao

banheiro

para

tomar

banho

e

escovar

os

dentes. Como o resto da casa, o banheiro era uma obra prima que poderia facilmente aparecer na capa de uma dessas revistas de arquitetura. Estava mais limpo do que o banheiro do térreo; na verdade. Saí

do

quarto

de

Cameron

olhando,

sentindo

e

cheirando

novamente. Mas quando ouvi gargalhadas provenientes da cozinha no andar de baixo, eu dei uma parada abrupta no topo da escada, meus instintos paranoicos piscaram... Apenas para ser confirmado pela voz aguda animada de Rocco que ecoou pela casa. — Cheirava a chow mein! — foi o que eu ouvi dizer. Isto foi rapidamente seguido por outra onda de risos. Ele tinha um público. Eu estava pensando em voltar escondida para o conforto do quarto de Cameron ou encarar agora, sabendo que eu teria de enfrentar tudo isso eventualmente. Minha barriga resmungou, respondendo o meu dilema: comida antes do orgulho.

Selvagem da Motocicleta, escrito por Susan Eloise Hinton livro sobre um garoto que resolve seus problemas com força bruta. 9

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Respirei fundo antes de caminhar lentamente através da porta. Com todos os homens fortes que estavam sentados, ombro a ombro apertados, em torno dela, a mesa de jantar extragrande parecia mesa de brinquedo de uma criança. Rocco estava sentado na ponta, dando a multidão uma reapresentação dos meus momentos com ele, enquanto os outros comiam. Carly e Spider tinham suas cabeças inclinadas em conjunto na outra extremidade, envolvidos em uma conversa sussurrada e fingindo interesse nos papéis que foram empilhados na frente deles. Cameron não estava lá. Pensei que isto era algo bom: pelo menos eu não teria de estar na mesma sala que ele, tentando esconder meus olhares neuróticos, enquanto sua namorada com raiva estava sentada a alguns míseros metros de mim, e com o homem tatuado que olhava para mim como se eu fosse a mosca que voou do seu matamoscas e levaria apenas um pequeno movimento da mão para me aniquilar. — A menina pensou que o chefe tinha me enviado para matá-la. — Rocco orgulhosamente contou para a multidão. Outro estrondo se seguiu. Rocco fugazmente estava me insultado desta vez. Cameron também estava perdendo o grande relato de seu pequeno irmão com bônus adicionais pensei. Irritada e terrivelmente envergonhada, me dirigi com minha desafiante cara para a mesa. Rocco foi o primeiro a me ver e se encarregou de anunciar a minha chegada. — Hey! Bafo de vômito, suas orelhas devem estar ardendo. — todas as cabeças seguiram o olhar de Rocco. A cabeça de Spider e Carly voltaram para mim também: Carly fez uma careta quando ela me viu; Spider me deu sua olhada habitual desagradável como de costume. A sala inteira ficou em silêncio. Mas minhas orelhas estavam queimando, como se eu estivesse usando brasas como protetores de ouvido.

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Em um instante, Carly e Spider estavam fora de seus assentos. Com um ligeiro assobio fraco, adicionado com um aceno de cabeça de Spider, todos os homens levantaram-se com eles, agarrando apressadamente os últimos pedaços de seus pratos. Todos, exceto Rocco, caminharam para fora com Carly e Spider. Eu estava oficialmente de volta ao meu primeiro dia na escola quando eu tinha, erradamente, sentado à mesa dos veteranos no refeitório. Rocco assobiou. — Isso foi rápido. Você com certeza sabe como limpar o ambiente. Você tem raiva ou algum outro tipo de doença contagiosa que eu não saiba? Encolhi os ombros e mordi o canto do meu lábio, enquanto ele começou a empilhar os pratos sujos. — Eu não me preocuparia muito sobre isso, — disse ele, com a cabeça inclinada sobre a sua tarefa. — Eles são um grupo difícil de romper. Levou um tempo para se acostumarem comigo também. Peguei algumas xícaras e copos sujos entre meus dedos e o segui até a cozinha. — Há quanto tempo você está aqui? — Eu cheguei aqui há mais de um ano, eu acho. Eu não tenho certeza. O tempo parece ter parado por aqui. — Onde estão seus pais? — Eu perguntei. Seus olhos se ergueram. — Meus pais? Eu não sei. Eles estão em algum lugar no mundo, eu acho. Quem se importa? — Esta casa não é de seus pais? — Isso é engraçado, — disse ele, balançando a cabeça. Ele pegou uma frigideira do fogão cheio com o que parecia feijões enlatados fritos em ketchup. — Você vai querer isso? — Neguei com a cabeça. — Como

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quiser. Ele raspou os restos no lixo e jogou a panela na máquina de lavar sem enxaguar primeiro. — Sirva-se de um pouco de comida se estiver com fome. Essa é a forma como funciona por aqui. Você pega o que você quer, — disse ele. — Mas só não espere para ser servida. Eu posso ter que limpar depois, mas eu não sirvo ninguém. Por alguma razão, ele estava tentando fazer um ponto. Peguei uma tigela do armário aberto e derramei cereal da caixa que estava no balcão. Tomei a jarra de leite e reguei sobre meu Captain Crunch.10 — Onde está Cameron? — Eu tentei manter minha voz indiferente. — Eu não sei. A mão de Rocco parou o que estava fazendo na máquina de lavar louça. — Por quê? — Ele é seu irmão, não é? — Não significa que eu esteja preso a ele. — Disse ele, descontando suas frustrações nos pratos que se recusaram a se encaixar na máquina de lavar, totalmente carregada. Nesse meio tempo, eu estava puxando bolinhas invisíveis. — Você deixou seus pais e veio para cá... Por que quis? — Deixei minha mãe; Nunca conheci meu pai. Não havia muito para deixar para trás. Minha mãe tem um novo namorado, — disse ele, como se explicasse tudo. — Então... Você veio morar com o seu irmão? — Não, — corrigiu indignado: — Eu vim para trabalhar para o meu irmão.

10

Cereal desenvolvido para recordar uma receita com açúcar mascavo e manteiga sobre o arroz.

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Nós estávamos chegando a algum lugar. — Que tipo de trabalho que você faz para o seu irmão? — Neste momento, me ocupo da administração da casa. — Ele disse enquanto olhava para mim, como se adivinhasse o que eu ia perguntar em seguida. — Significa que faço tudo o que Spider me diz para fazer, como limpar a cozinha estúpida. — E guardar as compras, — acrescentei. — E Conduzir a Miss Daisy.11 Lembrei-me da discussão entre ele e Carly na noite anterior. — Este não é o trabalho que você quer fazer? — Você conhece alguém que quer gastar o seu tempo limpando para um bando de idiotas? Não é trabalho que um homem deveria estar fazendo... Sem ofensa. — Não ofendeu. Eu fechei a porta da máquina e procurei o botão de inicio, deixando-o desabafar. — Quero dizer, isto era suposto ser temporário para que eu pudesse provar a mim mesmo, — continuou ele, sem o meu encorajamento. — Eu tenho provado a mim mesmo e deveria estar trabalhando para Cam agora. — Ele me empurrou de lado assim que a máquina começou a lavar louça. — Que tipo de trabalho é esse que Cameron faz? — Eu perguntei a ele, mas o chamado de Spider entrou pela cozinha e nos interrompeu. — Kid, se você já terminou aqui, vá ventilar o carro do chefe. Cheira a morte lá dentro, — Spider ordenou.

11

Referência ao filme estudantil Conduzindo Miss Daisy, sobre o chofer do filme.

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Rocco piscou para mim, e com uma saudação "as ordens, senhor" a Spider, saiu da cozinha. Spider ignorou a mosca na cozinha e saiu também. Quando terminei a minha segunda tigela de cereal, eu lavei a tigela e coloquei na segunda máquina de lavar louça. Eu tinha esquecido o quão grande era ter uma máquina de lavar louça, em vez de uma pia cheia de pratos. Então, sai para o sol quente de Maio, à procura de mais respostas. O carro de Cameron estava estacionado na parte superior da garagem circular. Todas as quatro portas do Audi estavam abertas e Rocco estava agachado sobre o assento do lado do passageiro com uma garrafa de spray. Havia tanta coisa acontecendo lá fora e muitas pessoas caminhando ao redor, demorou um pouco para o meu cérebro considerar plenamente o que os meus olhos estavam vendo. Quatro brancas minivans com janelas escurecidas foram alinhadas na extremidade da entrada. Homens estavam zumbindo em torno da propriedade, alguns encostado nas vans, aquecendo-se ao sol, e outros andando, com a intenção de alguma tarefa misteriosa. Em seguida, houve os homens que estavam longe da estrada, passando a clareira de grama todo o caminho até a borda da floresta; estes homens estiveram em uma fileira ao longo da linha da propriedade, cerca de 20 pés um do outro, e observava algum lugar das sombras das árvores — as armas de cano longo, em mão ou no coldre sobre seus ombros grandes. Fui até Rocco que estava resmungando e balançando a cabeça, absorvido intensamente em uma discussão com ele mesmo. — Precisa de ajuda? — Me ofereci, retendo o alarme na minha garganta. Ele olhou para cima e considerou minha proposta um minuto. — Melhor não, — disse suspirando. — Eu não quero ficar em apuros novamente por falar com a prisioneira.

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— É isso que eu sou? — perguntei, mantendo um canto do meu olho nos portadores de arma. Rocco deu de ombros. — Aparentemente. Enquanto ele pulverizava algum tipo de desinfetante no banco do passageiro da frente, eu estava sentada no banco de trás, com as pernas balançando para fora. Eu inclinei meu rosto para fora porque realmente fedia dentro do carro. — Quem são todas essas pessoas? — Perguntei. Ele não olhou para cima. — Quais pessoas? Apontei meu polegar na direção dos artilheiros. — Os homens com as armas, — disse, para começar. — Guardas, — constatou Cameron, quando ele se aproximou do carro com Meatball em seus calcanhares. Notei que ele tinha tomado banho. Seu cabelo ainda estava pingando, e ele tinha mudado de jeans e a camisa vermelha para jeans e camiseta cinza. — O que eles estão guardando? — Eu consegui perguntar. — Carga preciosa, — respondeu rapidamente antes de mudar de assunto, começando com um sorriso cruelmente encantador. — Ouvi dizer que o meu irmão mais novo pôs um galo na sua cabeça. — Que seja, — Rocco murmurou sem levantar a cabeça para ver o seu irmão. Ainda sorrindo, Cameron olhou para mim, apontando com a cabeça para Rocco, silenciosamente, me perguntando qual era o problema de Rocco. Dei de ombros em resposta; pensando que era por que Rocco, provavelmente, tinha sido repreendido por Spider por baterpapo com a prisioneira mais cedo. Cameron não se incomodou pelo mau humor de seu irmão. — Vamos. Vou lhe mostrar os arredores.

Julie Hockley

No momento em que me dei conta de que sua mão tinha roçado a parte baixa de minhas costas para me levar de volta para a casa, ele já tinha retirado. Meatball felizmente nos seguiu. — Onde nós estamos... Exatamente? — sondei. — Vermont. — Não estamos no estado de Nova York mais? — Disse antes que eu tivesse tempo para tomar o controle da minha voz. Ele me olhou do canto do olho. — Vermont é um estado diferente, sim. — Ok, — disse devagar e suspirei enquanto mantive seus olhos na minha expressão. — E o que é esse lugar? Ele apontou para a casa. — Costumava ser um abrigo para os bombeiros florestais. Eu comprei alguns anos atrás. Eu estava atordoada. — Esta é a sua casa? Ele assentiu. — Era basicamente apenas um celeiro, mas eu fiz algumas reformas. Eu mantive o telhado de zinco e restaurei a fachada. Todo o resto é novo. Ele me conduziu através da porta da frente, passando pelo arco e pela cozinha, agora familiar, em direção ao corredor onde eu tinha sido abordada por Carly na noite anterior. Paramos em frente ao banheiro. — Nunca me dei conta o quão sujo estava até que eu tomei banho nele, — ele murmurou e seus lábios se curvaram em desgosto. Ele rapidamente fechou a porta e seguimos caminhando. — Spider... Tiny... Rocco... — ele apontou ao passamos a cada uma das três portas do lado esquerdo. O quarto de Spider parecia intacto. A cama estava muito bem arrumada. O quarto de Rocco era um chiqueiro: a cama desfeita, roupas empilhadas no chão.

Julie Hockley

— Quem é Tiny?12 —

Impossível

não

notá-lo.

Ele

é

o

cara

gordo

que normalmente está em torno de Spider ou de mim. Minhas sobrancelhas se juntaram. — Isso não faz qualquer sentido. Por que chamá-lo minúsculo... Se ele, obviamente, não é? — Isso é o que torna tão engraçado, — disse ele, mas eu o peguei revirando os olhos quando ele disse isso. — Além disso, — acrescentou enquanto ele abria uma das portas duplas no final do corredor — Você estaria disposta a chamá-lo de gordo na cara dele? Cameron tinha razão. Quando entramos através das portas duplas, Cameron observou enquanto meu queixo caiu. Era uma sala de estantes altas e cadeiras de camurça pálidas e sofá. O teto alto havia vigas de madeira escura que corria através dele. Havia uma lareira entre as duas grandes janelas que davam para a parte de trás da propriedade, e a parede oposta estava pintada em camadas de cinza suave e pedras rosa. — É magnífico. — Eu sussurrei, instintivamente, deixando minha mão deslizar sobre as pedras enquanto passeava mais fundo da sala. — Ninguém nunca usa esta sala, — disse ele depois de um, quase, inaudível limpar de garganta. Eu cruzei os braços e investiguei os títulos dos livros nas prateleiras, subindo e descendo na ponta dos pés, enquanto Cameron esperava. — Há um piano no canto. Você pode vir aqui e tocar sempre que quiser. — Eu não vou fazer ninguém passar por esse tipo de tortura.

12

Tiny: Minúsculo, em Inglês.

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— Você não toca? — Havia acusação em seu tom e eu podia me sentir vermelha. — Tenho sido submetida a aulas de piano toda a minha vida, — eu expliquei lentamente. — Minha última professora de piano fugiu chorando

depois

de

acusar-me

de,

propositadamente,

deixá-la

surda. Ela teve um colapso nervoso. Os olhos de Cameron se arregalaram e, de repente, uma risada alta escapou dele. Foi tão inesperado, que eu dei um passo para trás. Notei algo diferente sobre Cameron, algo que tinha estado lá desde que ele tinha chegado naquela manhã, algo que se intensificou desde que ele tinha vindo para encontrar Rocco e eu no seu carro. Suas bochechas estavam levemente coradas. O cansaço e a inquietação em torno de seus olhos tinham desaparecido. Ele parecia decididamente mais jovem. Era como se uma máscara tinha sido tirada... Ou colocada, eu não podia ter certeza... Mas eu gostei mais do que eu deveria. Voltamos através da sala de estar descendo as escadas para o nível mais baixo. — Quantos anos você tem, Cameron? — Eu perguntei em voz alta a medida que nós caminhávamos para um outro cômodo da casa. — Aqui é onde os rapazes passam o tempo quando não estão trabalhando, — explicou. O espaço tinha tudo para manter as crianças crescidas entretidas: uma cozinha equipada, ping-pong, mesa de bilhar, uma TV de tela grande, e uma parede de filmes e jogos de game. Também tinha portas que se abriram para a piscina exterior. — Você está evitando minha pergunta de propósito? — Eu o enfrentei. — O quê? Oh, eu tenho vinte e seis anos. — Ele respondeu, distraído. Enquanto meus pensamentos estavam tentando processar como meu guia turístico de vinte e seis anos de idade barra sequestrador

Julie Hockley

podia dar-se ao luxo de possuir uma mansão, que eu passeava, nós estávamos fazendo o nosso caminho para outro corredor. — Alguns dos guardas noturnos dormem aqui, — sussurrou, apontando para as portas dos quartos que estavam fechadas. Eu podia ouvir ronco e respiração ofegante através da porta. No fim do corredor abóbora alaranjado, havia um ginásio totalmente equipado com janelas que davam para a piscina. Havia dois homens no meio do ginásio com uma grande caixa aberta ao lado deles. — É uma esteira de alta velocidade, — anunciou Cameron orgulhosamente. — Você sabe, para que você ainda possa fazer as mesmas coisas que você normalmente faz. Nós detivemos para olhar os homens confusos discutindo sobre o manual de instruções, cercado por pedaços de alguma coisa. — Bem, — ele acrescentou — Acabará por ser uma esteira. Quando me dei conta que esse presente era para mim, para usar enquanto eu cumpria a minha sentença indefinida, eu disse obrigada, pondo um sorriso no meu rosto, e seguindo-o para a piscina. Nesse momento, eu tinha muitas perguntas para Cameron que eu nem sabia por onde começar. Meus pensamentos eram confusos e só foi agravado pelos sorrisos luminosos que ele me dava. Eu não entendia nada e apenas foi uma luta justa. Enrolamos nossas calças e mergulhamos nossos pés na água fria. Cameron olhou por cima do meu joelho com um sorriso enorme no rosto. — O quê? — Eu gaguejei. — Eu estou olhando para o dedo do pé estranho que você estava dizendo ao meu irmão, — ele riu e olhou para o meu rosto. — As notícias voam rápido por aqui, — eu murmurei sentindo minhas bochechas vermelhas.

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— Rocco pensou que era muito engraçado, — ele disse com um encolher de ombros. — Por que você deu o nome Booger a seu ursinho? — Não é uma história muito boa, — eu desconversei. — Tente, — ele pressionou. Eu suspirei, — Booger era o urso do meu irmão Bill antes que fosse meu. Bill já tinha chamado ele de Booger antes de lhe dar a mim. Sem pestanejar, Cameron passou de minha história chata para outra. — E o seu livro favorito é Rumble Fish. Não é um pouco infantil para você? — ele riu de leve — Eu não sei. Eu nunca o li. — Parecia usado, — desafiou. Olhei para cima. — Se refere à cópia que você encontrou escondido debaixo do meu travesseiro no meu quarto? Ele assentiu e sorriu descaradamente. — Eu continuo tentando lê-lo, mas nunca passo da capa. — Expliquei. Quando eu levantei minha cabeça, vi o olhar confuso em seu rosto e suspirei de novo. — Eu tinha acabado de ler o primeiro capítulo, quando meu irmão morreu. Agora me parece que não posso continuar de onde eu parei e passar para o próximo capítulo. — Podia sentir a bola de golfe rolando na minha garganta quando eu disse isso. O olhar de desconforto no rosto de Cameron foi uma das razões que eu evitava falar sobre Bill. Havia sempre esse ponto quando as pessoas tratavam de tentar encontrar a coisa certa a dizer, apenas para perceber que não havia nada que eles poderiam dizer para tornar isso melhor. Cameron simplesmente voltou para a história segura, mas chata. — Será que Booger se recuperou do incidente com a prancha de cabelo?

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Olhei seu sorriso malicioso. — Minha babá, Maria, costurou um botão na parte superior do olho derretido, mas era muito grande e a cor errada. Booger nunca olhou para mim da mesma forma novamente. Eu percebi o meu erro, logo que ele estava fora da minha boca. Eu nunca usei a palavra babá; as pessoas automaticamente associava a palavra babá com dinheiro. Mas Cameron felizmente não pareceu notar, embora eu ainda não conseguisse entender por que ele quer ouvir sobre um urso chamado Booger. — Onde está Booger agora? — Perguntou, se divertindo. — Em minha cama, na casa dos meus pais. Ele franziu a testa. — Por que você não o trouxe para a faculdade? — Não queria ser a garota estranha que ainda dorme com ursos de pelúcia, — eu respondi rapidamente. Então, algo me ocorreu, — Como você sabe que eu estou na faculdade? — Algumas de suas caixas estavam empilhadas com os livros escolares. Eu presumi que você era uma menina da faculdade, — respondeu rapidamente. — Você parece presumir um monte. Ele me olhou nos olhos. — Eu estou errado? — Não. — Bufei. — Explique-me mais uma coisa, — disse ele, com os olhos implacáveis. — Por que você disse a Rocco todas essas coisas sobre si mesma? — Eu estava tentando formar um vínculo entre nós, para que ele não quisesse me matar mais. — Eu admiti com embaraço. Ele riu. — De onde você tirou isso? — Televisão, — eu acho.

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Um momento de silêncio veio, e nós balançávamos os pés na água quente. Ele cheirava a creme de barbear — tomei um longo suspiro, e eu, cuidadosamente, comecei a olhar e ficar de boca aberta para ele da minha visão periférica. Quando pressionou suas mãos contra o chão para reajustar ligeiramente o seu assento, os músculos de seu antebraço firme moveram-se junto com ele. Notei também uma marcação que espreitava para fora abaixo da manga de sua camiseta. Sem aviso, ele virou a cabeça e me pegou olhando. — O quê? As palavras me escaparam brevemente. Como uma idiota, eu alcancei o peito impedindo de se mover e toquei a pele de seu braço. Isto parecia ter o pego desprevenido. Ele não se afastou, mas ele não se mexeu uma polegada também. — Isso é uma tatuagem? — Perguntei timidamente. Ele finalmente compreendeu e levantou a manga. Tinha uma cruz tatuada em seu bíceps. — Você tem uma cicatriz no meio da cruz, — comentei. Ele viu minha expressão e explicou: — Ferida de bala. Eu tentei esconder minha surpresa. — A tatuagem vem antes ou depois da... Bala? — Depois, — ele respondeu, sem tirar os olhos do meu rosto. Ele parecia debater algo antes de puxar para baixo o colarinho da camisa. No meio de sua parte superior do tórax, tinha outra cruz, com outra cicatriz — de bala — no meio. — Esta chegou perto, — explicou ele, com a voz cautelosa. Eu tomei meu tempo com esta nova informação. — Você tatua os lugares onde foi baleado, — rapidamente levantei a vista para ler seu rosto. — Por quê? Seus lábios finos falaram. — Lembra-me a ser grato que eu estou vivo.

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— Você precisa ser lembrado? — Alguns dias são mais fáceis do que outros. — Disse ele sombriamente. — Isso acontece muito... Você levar um tiro? — Empurrei. Eu estava tentando reunir pensamentos racionais e empurrar para fora as imagens horripilantes que se aglomerava no meu cérebro. — De vez em quando, — respondeu com cautela. — Mas as balas raramente atingem seu alvo. Mantive os olhos nele. — Que alvo você quer dizer? Ele forçou um sorriso. — Você quer saber quantas dessa cruz eu tenho? — Há mais? — Minha voz estava tremendo. — Três mais. — Ele levantou a camisa e mostrou-me a cruz tatuada em seu estômago. — Eu tenho outra na minha perna e nas costas. A porta da casa da piscina abriu de repente, e eu pulei. Carly saiu, carregando uma pilha de papéis. Ela estava usando um vestido bonito, seu cabelo preto de seda caindo pelas costas. Ela lançou um olhar de desaprovação em nossa direção, mas seguiu seu caminho, do outro lado da piscina e entrou na casa sem uma palavra, batendo a porta atrás dela. De repente eu estava consciente de que eu estava inclinada para Cameron e que a namorada de Cameron tinha me pego olhando para o estômago de seu namorado. Minhas bochechas queimaram. — Você está corando, — disse Cameron, rindo. — Eu não acho que sua namorada gosta muito de mim, — eu disse, tentando baixar mentalmente a cor que foi subindo minhas bochechas. Seus olhos se arregalaram. — Minha o quê?

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— Sua namorada, Carly, — Eu esclareci. — Oh! Certo! Carly, minha... Namorada! — Ele começou a rir. — Não posso esperar para lhe dizer isso. Realmente podia fazê-la se sentir melhor, ou pelo menos fazê-la rir um pouco. Ele finalmente se acalmou e balançou a cabeça em espanto. — Carly não é minha namorada, — ele explicou. — Na verdade, você provavelmente não deve contar a ninguém sobre sua teoria, ou vou precisar de outra cruz para esconder uma nova ferida de bala. Tentei

ficar

indiferente

sobre

esta

notícia

emocionante.

Enquanto me recompus, Cameron me disse que Carly morava na casa da piscina. Como era a única menina, ele explicou, ela precisava de sua privacidade. — Bem, ela costumava ser a única menina aqui, — acrescentou com uma piscadela. — Ela trabalha para você, então? — Eu soltei. — De onde você tirou isso? Contei para ele o meu primeiro encontro com Carly e sua discussão com Rocco sobre trabalhar para Cameron, o chefe. Ele suspirou claramente descontente. — Sim, Carly trabalha para mim, — respondeu ele, desanimado. — O que ela faz? — Ela é um gênio com números. Ela mantém o controle de todo o dinheiro, entrando e saindo. — Então... Ela é sua contadora? — Deduzi. Ele olhou para mim, sorrindo. — Sim, eu acho que ela é minha contadora.

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Eu podia ouvir a pulsação ressoante de sistema de som de algum carro à distância. O som foi se tornando cada vez mais alto. Tentei ignorá-lo. — E Spider? Também trabalha para você? — Eu continuei. Ele balançou a cabeça em afirmação e, antecipando minha próxima pergunta, acrescentou: — Spider lida com todas as questões de segurança. — E os... Guardas? — Sim, Emily, todos eles trabalham para mim, — ele respondeu com uma ligeira impaciência. — Todo mundo aqui trabalha para mim. — O Rocco não trabalha para você, — observei. — Não, eu acho que você tem razão. Rocco é uma exceção. Ele é meu irmão. Ele pode viver aqui o tempo que ele quiser, mas ele não precisa trabalhar para mim. — Mas ele quer trabalhar para você. O sorriso de Cameron desapareceu. — Rocco é jovem e tem a chance de fazer qualquer coisa que ele quiser. — Ele enfatizou e me olhou nos olhos. — Eu não vou deixá-lo cometer os mesmos erros que eu. O desespero em seu rosto me fez lembrar aquele dia, no cemitério... Quando ele se virou para encontrar-me como testemunha do seu crime. — Cameron, — eu tomei uma respiração — Eu não sei o que aconteceu no cemitério ou por que você matou aquele homem... mas, eu tenho certeza que você teve suas razões. — Seus olhos castanhos ainda estavam

presos

nos

meus. Eu

estava

sentindo

meus

nervos

desaparecer. — Você tem que saber que eu nunca iria contar a ninguém o que vi. Você não precisa me manter aqui para me controlar porque eu não vou falar.

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— As coisas são muito mais complicadas do que isso. Não se trata só de mim. Há outras pessoas que têm um interesse nisso. — Spider? — Perguntei, lembrando-me de seus olhares furiosos na minha direção. Ele sorriu. — Não, não é Spider. Não devo ter parecido convencida porque ele acrescentou: — Eu sei que Spider é um pouco... Intimidante, mas ele é um cara bom, que só está tentando fazer o seu trabalho de nos manter seguros. E acredite em mim, às vezes eu faço o seu trabalho muito difícil. Como se seus ouvidos estivessem queimando, Spider entrou através das portas do andar principal e foi até a beira da varanda, olhando para baixo nos encarando. — Temos que ir, — ele se dirigiu a Cameron, lançando um olhar duro em minha direção. — Eu estarei lá, — respondeu Cameron, acenando para Spider, que se virou e voltou para a casa. Cameron se levantou, desenrolou sua calça para baixo, enfiou os pés de volta para suas sandálias e olhou para mim. — Eu sei que isso é difícil para você entender, mas eu prometo a você que esta casa é o lugar mais seguro para você agora. — Eu não sei o que isso significa, Cameron. — Eu sei, — disse ele, em voz baixa. — Você vai ter que confiar em mim. — Quanto tempo eu vou ficar aqui? — finalmente fiz a pergunta, uma das pergunta que eu realmente necessitava respostas. — Por um tempo, — admitiu e um sorriso malicioso cruzou seus lábios. — Ao menos você finalmente terá espaço para desempacotar suas coisas e não terá que viver com essas caixas nunca mais.

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Ele deu alguns passos, antes de olhar para trás. — Eu preciso te pedir um favor. Olhei para cima. — Não use meu nome verdadeiro quando há outras pessoas ao redor... Quero dizer, quando há outras que não Rocco, Carly e Spider em torno. Isso, então, trouxe um sorriso aos meus lábios. — Como devo chamá-lo, então? — Como quiser, só não o real. — Claro, chefe. — Eu disse. Ele revirou os olhos. — Você não pode me chamar assim. É muito estranho... Nós vamos ter que pensar em algo melhor logo. O chefe se afastou, com Meatball em seus calcanhares, seguindo o caminho de paralelepípedos ao redor da casa. Ambos desapareceram quando eles viraram o seu caminho até a frente da casa.

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O que eu lembrava era que os castelos de areia de Bill foram sempre maiores e melhores que os meus. Eu tinha seis anos de idade e nós estávamos sentados em uma praia na Ilha Martha’s Vineyard13. Nossa babá, Maria, estava de pé, batendo os cílios para o salvavidas bronzeado que se sentou em sua cadeira alta, saboreando a atenção. Bill já tinha empilhado três baldes de areia, perfeitamente, um sobre o outro, e colocou um ramo de flores em cima como um mastro. Não havia competição: a minha primeira tentativa tinha desintegrado assim que eu tinha virado o balde; a segunda tentativa foi desintegrada e arrastada por uma onda importuna. Bill tinha um dom especial que aparecia quando eu estava pronta para desistir, ou fazer uma birra. Deixando seu castelo, sem vigilância, correu

para o meu resgate e construiu um palácio da

princesa, de acordo com as especificações de sua irmãzinha. No final, o meu castelo de areia tinha estradas, pontes sobre um rio circular de água salgada e uma princesa feita de embalagens de doces que esperava na torre. Seu castelo tinha desaparecido, esmagado pelas ondas. Um casal de cabelos grisalhos que passeavam se atreveu a cumprimentar o seu talento para a construção do castelo. Os olhos de Bill imediatamente dispararam para Maria. A última coisa que ele precisava era ficar em apuros de novo por fazer tudo por mim; ele já tinha perdido duas noites consecutivas sem TV por causa disso. Martha's Vineyard é uma ilha na costa nordeste dos Estados Unidos da América, ao sul de Cape Cod, no estado de Massachusetts, no Condado de Dukes. 13

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— Não é meu, é da minha irmã. Ela fez sozinha, — ele bufou para o casal. Maria não o pegou... Naquele dia. Quando Bill morreu, toda a minha vida desmoronou em um instante. Era

como

se

minhas muletas de

repente

tinham

sido

arrancadas de mim e eu tive que correr uma maratona, sem antes sequer ter aprendido a andar sozinha. Graças ao meu irmão mais velho, que eu amava mais do que tudo, eu não tinha ideia de como fazer qualquer coisa para mim mesma. Nada poderia preencher o espaço esmagador que meu irmão autoritário havia deixado em minha vida, e apenas o pensamento de deixar qualquer outra pessoa fazer qualquer coisa por mim, era para mim uma traição para Bill. Minhas pernas sem muleta finalmente aumentaram a massa muscular, e eu descobri como cuidar de mim mesma. Mas eu nunca descobri como construir o meu próprio castelo de areia. Enquanto meus pés pendiam nas águas cristalinas da piscina, eu me perguntava como seria minha vida se Bill não tivesse morrido. Será que eu teria deixado meus pais, seu dinheiro, seus grandes planos, e me mudado para Callister? Estaria eu em uma mansão com guardas armados, que era propriedade de um rapaz tatuado com cicatrizes de bala de vinte e tantos anos que me fazia sentir... Diferente? Apenas sobre o cadáver de Bill isso poderia ter acontecido. Disso eu tinha certeza. Ele acabou por se levantar e caminhar de volta para a casa. Cameron tinha muita pressa e desapareceu ao virar da esquina. Finalmente me pus de pé e caminhei de volta a mansão. Cameron já havia desaparecido há um tempo. Na cozinha, Rocco estava preparando seu almoço: mortadela e um pouco de mostarda entre dois pedaços de pão branco, empilhados em um prato. Ele brincava com um cara que estava sentado na mesa.

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Eu mantive minha cabeça baixa e peguei uma lata de refrigerante de umas das geladeiras. As bolhas de gás explodindo na minha garganta fizeram meus olhos lacrimejarem. Quando olhei para cima, vi uns olhos azuis brilhantes e um cabelo laranja cenoura espetado num corte curto estilo Moicano — ansiosamente — esperando por mim. Seu corpo parecia de um jogador de futebol americano e tinha tatuagens em seus bíceps e um piercing em seu lábio inferior. Ele deslizou para fora da cadeira de madeira maciça que estava ao lado dele. — Por que você não vem e se senta ao meu lado um pouco para que eu possa dar uma olhada melhor em você? — Ele era Inglês; o sotaque o delatava. Olhei para Rocco, mas ele estava muito preocupado em não sufocar com suas mordidas de tamanho de urso para ser de alguma ajuda. Segurei minha lata em ambas às mãos, e sentei inclinando os cotovelos sobre a mesa. Os braços do cara pareciam um tronco de árvore, e logo estava em torno do meu ombro, logo que o meu traseiro tocou a cadeira. Eu estremeci um pouco. Na maior parte, ele foi estranhamente...

Agradável,

era

extremamente

quente,

e

eu

estava sempre fria. O que eu me sentia incomodada, no entanto, foi com seu olhar a centímetros do meu rosto. Ninguém deve ser examinado de tal proximidade. — Bem! — finalmente disse com satisfação: — Você é um verdadeiro gengibre! 14 Assim como eu. — Tocou seu cabelo ruivo espetado

e

se

virou

para

Rocco. —

Isto

estava

destinado

a

acontecer. Este é o melhor erro que você cometeu, Kid.

Os ingleses – em particular os britânicos, tem essa maneira de se referir a um ruivo. Graças à invasão celta, um em cada dez cidadãos britânicos são ruivos. Ou “ginger”, conforme eles dizem. 14

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Rocco já havia, surpreendentemente, chegado ao fim de sua pilha de sanduíche. — Não cometi nenhum erro, — respondeu com a boca cheia. — Emily é realmente muito sorrateira. Eu estava pensando em intervir na subjetiva descrição de Rocco, mas fui interrompida pelo meu cobertor humano. — Sim, — ele concordou com Rocco e piscou para mim. — Definitivamente nós, os gengibres, temos que ser vigiados. Nós vamos ser sorrateiros o tempo todo. Rocco resmungou e caminhou de volta para a cozinha. — Emily, — disse o cobertor humano. — Esse é o seu nome? Eu sorri fracamente. Ele estendeu a mão livre e apertou a minha. — Sou Griff. Depois de um bom aperto, ele tirou a mão para trás e vislumbrou o relógio. — Nossa! Eu tenho que voltar ao trabalho. Ele se afastou da mesa; todo o piso principal balançou com ele. Caminhou em volta de mim, colocou a mão grande na parte de trás da minha cadeira, e estendeu a outra para mim. — Venha me fazer companhia? Rocco tinha trazido um novo pedaço de pão, faca de manteiga, e um frasco fechado de manteiga de amendoim... Sobremesa. Peguei a mão de Griff, enquanto ele puxou minha cadeira. Ele estava radiante. Quando chegamos à porta da frente, Griff colocou sobre seu ombro a espingarda que estava encostada na parede esperando por ele. — Está carregada? — Eu resmunguei. Ele levantou uma sobrancelha. — O que você acha?

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Atravessamos o gramado chegando à linha das árvores. Griff permaneceu arrogante enquanto nos aproximávamos do guarda armado que estava de pé ao lado de uma árvore. Eu reconheci este guarda; ele estava sentado, e, em seguida, saiu junto com a massa, como o resto da multidão naquela manhã. Pelo olhar de desdém em seu rosto, ele me reconheceu também. Griff trocou de lugar com o guarda incomodado e arrastou um tronco de árvore para eu me sentar. O outro guarda olhou para Griff e parecia que ele estava prestes a dizer alguma coisa; decidindo se contrariava a decisão dele, ele sacudiu a cabeça e se afastou. Griff acendeu um cigarro e soprou algumas tragadas, ainda radiante. Estávamos a meio metro em pé dentro da linha das árvores, meio escondidos pelo material verde denso. Mas, a floresta estava quieta, escura, e eu não podia ver mais do que alguns metros adentro, árvores bloqueavam qualquer outra coisa de vista. Havia outros guardas alinhados nas árvores; Vi cabeças aparecendo através da mata de vez em quando. — É isso que você faz todos os dias? Fica aqui? — Perguntei, golpeando os mosquitos para longe e esfregando meus braços. Estava ficando um pouco frio e havia muitos insetos na sombra. Olhei para a casa quente, livre de insetos com nostalgia. — Oh, não! — Exclamou e apontou para uma cabeça que apareceu cerca de 30 metros de distância. — Às vezes tenho que estar por ali também. Na minha cabeça, eu estava tentando fazer uma longa divisão: aproximando o tamanho da propriedade dividido por trinta pés que separavam cada guarda, seria igual ao número de homens com armas que eu tinha que me preocupar e, em seguida, lembrei-me que a minha habilidade matemática era uma mentira. — Quanto de vocês tem?

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— Há apenas um de mim, amor, — ele me disse, balançando as sobrancelhas. — Mas se você se refere a outros guardas, eu não sei. Varia de um dia para o outro, de semana para semana. Desde esta manhã, provavelmente trinta ou quarenta, talvez mais. Isso é mais que eu vi aqui até agora. — Não seria... Melhor ficar no sol? — Eu sugeri, casualmente, depois que outro inseto fez cócegas no cabelo da parte de trás do meu pescoço. Ele encolheu os ombros. — Claro que seria, mas não devemos. — apontou para o céu. — Muitos caras, muitas armas, atrai muita atenção se alguém estivesse sobrevoando acima de nós. Você nunca sabe

quem

pode

estar

observando. Esses

caras

são

realmente

paranoicos sobre essas coisas. — Para o que exatamente são as armas? — Manter as pessoas longe, manter as coisas seguras. Não tenho certeza. Eu só sei que devo apontar e atirar quando me mandam. — tomou outra baforada de seu cigarro. — Você não sabe o que está protegendo? Ele olhou para baixo da linha das árvores. — Não. E eu não quero saber. Eu tinha dificuldade em acreditar nisso. — Não está curioso para saber por que você tem que ficar aqui o dia todo com uma arma sobre seu ombro? — Perguntei. Griff me lançou um olhar inquieto. — Amor, — disse enquanto se inclinava mais perto de mim, — não faça qualquer pergunta sobre o que se passa por aqui. Eu recebi alguns olhares bastante desagradáveis por fazer exatamente isso. O que quer que esses caras estejam fazendo, não é correto, e eles não reagem bem quando as pessoas se intrometem em seus negócios.

Julie Hockley

Ele se inclinou ainda mais, sua voz arrepiante era quase inaudível. — Escute, pelo o que me disse Kid, você tem muita sorte de ainda estar

viva. Eles

poderiam

ter

acabado

com

você

quando

perceberam o que viu. Conte suas bênçãos, faça o que você precisa fazer para se manter viva, siga o jogo, mantenha-se calada, e finja que não vê nada. Engoli em seco. Ele tomou um segundo e finalmente forçou os lábios em um sorriso. — Basta ficar comigo, e você vai ficar bem. — Obrigada, — eu respondi em um sussurro. De certa forma, eu estava aliviada por Griff, mas eu tive a reação que uma pessoa normal deveria ter: medo. Estava tomando respirações prolongadas para acalmar a pulsação em minhas veias. Griff terminou o cigarro com um sorriso, eventualmente relaxado. — Como é que você veio parar aqui? — Perguntei com cuidado, mantendo minha voz baixa. — Conhecia um cara, que conhecia um cara, — ele respondeu, piscando para mim. — E agora você trabalha para Cameron, — pensei. Um olhar perplexo apoderou-se dele. — Cameron? Quem é Cameron? — Uhh... desculpe... Eu pensei ter ouvido alguém mencionar esse nome. Devo ter me enganado. — Eu realmente odiava mentir para Griff, mas decepcionar Cameron parecia ser uma alternativa ainda pior. Griff encolheu os ombros e não pareceu notar o meu erro. — Não, eu trabalho para Tiny.

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— Realmente te pagam para estar de pé o dia todo? — Eu brinquei, tentando manter longe temas que eu não podia falar e que eu não queria ouvir falar. Ele riu entre dentes. — Eu não faria isso a menos que me pagassem. Eu nunca estive sem bebida ou mulheres durante tanto tempo. Andar com esses idiotas todos os dias só faz este trabalho pior, e eu pensei que eu ia ficar louco até que eu vi seu rosto esta manhã. — Ele sorriu calorosamente. — Você está fazendo esse... Trabalho durante muito tempo? — Perguntei. — Um par de meses. — O que você estava fazendo antes disso? Ele sorriu de orelha a orelha. — Eu... sou ... um lutador de artes marciais. Griff e eu passamos o resto da tarde falando, mantivemos longe dos temas tabu. Descobri que ele cresceu em Londres, abriu caminho em lutas profissionais em gaiola. Ele fez dinheiro por ficar trancado em uma jaula pulverizando cada cara que entrou na frente dele até que um deles, geralmente o outro cara, pelo que ele me disse, se rendia desmaiado ou pior. A melhor coisa sobre Griff foi que ele falou o suficiente por nós dois. Foi ótimo ouvi-lo e bloquear todas as outras coisas. Eu não percebi o quão frio estava até que o sol baixou e fomos abordados por outro guarda que tinha vindo render o posto de Griff e me ignorou. — Uau! — Griff berrou enquanto caminhávamos de volta para a casa, — Esse foi o turno mais rápido que eu passei até o momento. Você deve me fazer companhia mais vezes. — Não tinha feito muito mais do que sentar lá enquanto ele falava. Nós tiramos nossos sapatos na porta.

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— Jantar? — Eu ofereci, sinalizando a cabeça em direção à cozinha. Mas Griff hesitou. — Não... vou me juntar com os rapazes no andar de baixo. Eles vão ficar com ciúmes se eu não passar tempo com eles. Ele parou perto da escada do porão, seus olhos esperançosos. — Te vejo amanhã? Dei-lhe um sorriso duvidoso. — Talvez. Mais

guardas

começaram

a

entrar

pela

porta

da

frente, sapatos rapidamente se acumulando no chão em mosaico e armas acumulando contra a parede. Os guardas que entravam não se permitiam mais que um vislumbre furtivo em minha direção. Griff já havia desaparecido pelas escadas. Eu fui para a sala de estar. Ninguém estava lá. Cameron não estava lá. Explorei a cozinha. O que eu encontrei foram armários repletos com fáceis soluções: enlatados, refeição congelada, massas laranja fluorescente. Era como estar de volta à moradia estudantil. Peguei uma lata de ervilhas e uma lata de tomates inteiros. Descobri uma prateleira de temperos totalmente abastecida escondida atrás de um George Foreman Grill no fundo do armário e coloquei sobre o balcão. Embora as geladeiras estivessem cheias, principalmente, com suco e refrigerante, fui capaz de encontrar algumas cebolas e pimentões verdes e vermelhos. Também encontrei um pacote de coxas de frango congelados, ligeiramente queimados do congelador. Em questão de minutos, eu tinha um pote de arroz fervendo e uma rápida paella de frango cozida no vapor em uma panela. Carly apareceu, em silencio, como um demônio, ao virar do corredor. Enquanto eu mexia a comida, ela abriu e fechou as portas dos armários, remexeu na geladeira, vindo de mãos vazias. Mantendo meus olhos no fogão quente, senti-a parar e olhar por cima do meu ombro.

Julie Hockley

— Cheira incrível, Emily, — ela disse em um quase sussurro. Olhei para cima e sorri uma bandeira branca de paz. Ela sorriu de volta, levantando sua própria bandeira branca. Ela era muito bonita quando não estava gritando ou olhando ferozmente para mim. — Minha mãe costumava fazer paella o tempo todo, — me disse. — Minha mãe não sabe onde fica a cozinha. Ela sorriu de novo, e eu me senti aliviada. Então Carly começou a puxar diversos temperos fora da prateleira. — Posso? — Perguntou ela. Com bom grado me afastei. Quando ela terminou, a paella estava extrapicante e com sabor absolutamente incrível. Com

um

pouco

de

relutância,

Carly

virou-se

sobre

os

calcanhares e começou a ir em direção ao caminho de onde tinha entrado. —

Hum...



mais

do

que

posso

comer...

Você

quer

compartilhar? — Ofereci. Um enorme sorriso cruzou seu rosto e ela rapidamente pegou dois pratos. Antes que tínhamos posto nossos pratos sobre a mesa, Rocco veio fungando. — Ei, o que é isso? — perguntou enquanto seguia seu nariz para a cozinha. Sem esperar por uma resposta, ele serviu-se do resto da paella e veio para a mesa com uma tigela do tamanho de uma saladeira. Carly lançou-lhe um olhar desagradável. — Vocês não estavam planejando comer tudo isso? De verdade? — perguntou enquanto colocava um enorme bocado na boca e se sentou.

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— Nós não estamos acostumados a comer comida de verdade por aqui, — disse Carly para mim. Finalmente, o resto da tripulação que eu tinha encontrado brevemente naquela manhã fez o seu caminho para dentro, com exceção do Spider. Cameron não voltou também. Notei que Carly acenou

a

Tiny

quando

ele

me

encontrou

sentada

ali

e

momentaneamente interrompeu a entrada dos guardas no limiar da cozinha. Satisfeito com o sinal de Carly, Tiny marchou até a mesa, e o resto dos guardas seguiram-no. Ninguém saiu por causa de mim, e não havia olhares desagradáveis lançados em minha direção. Eu estava confortável com a parte de ser ignorada. Depois de terminarem sua janta, os homens dispararam fora para o piso térreo. Carly e eu ajudamos Rocco a limpar a bagunça. E logo com um silencioso boa noite, Carly se foi tão silenciosamente como tinha chegado, e Rocco começou sua demonstração interminável de mudança de canal. Olhei para o relógio a cada dois minutos. Torci uma mecha de cabelo em volta do meu dedo até que ele ficou azul. Eu remexia no meu lugar e saltava a cada vez que a porta da frente era aberta, apenas para ouvir lamentavelmente uns dos guardas entrar e sair. — Cameron não vai estar de volta até tarde, — Rocco gemeu, sem tirar o dedo do controle remoto. — Então, pare de se remexer por aí, é irritante. Ele me pegou com a guarda baixa. — Não estava... — Comecei a protestar, mas o rápido olhar que ele atirou em mim me disse que ele não iria comprar qualquer desculpa que me ocorreu de qualquer maneira. Saltei escadas acima antes que ele pudesse notar algo mais.

Julie Hockley

Cameron tinha uma cômoda em seu quarto. Estava contra a parede perto da porta. Apenas duas das gavetas tinham roupas nelas. A primeira gaveta continha suas meias e cuecas boxers — roupa de baixo — tomei nota mentalmente observando e, simultaneamente, corando. A segunda estava cheia com camisetas e jeans. Então enrolada, entre as duas pilhas dobradas, havia uma camiseta extrapequena, rosa, muito pequena, muito rosa para Cameron. Uma a uma, arrastei minhas caixas, cuidadosamente, colocando minhas roupas nas gavetas que estavam vazias. Então fiz uma viagem para o banheiro para arrumar o resto de meus artigos de higiene. Eu coloquei minha esfarrapada cópia Rumble Fish de volta debaixo do meu travesseiro e deixei meu abajur de bailarina brega encostado de lado, em cima das caixas vazias. Mais tarde, escolhi um filme da seleção de Cameron — O Poderoso Chefão, de alguma maneira, parecia se encaixar. Entrei debaixo do cobertor de lã que havia sido jogado sobre o sofá e me instalei ali. No momento em que Vito Corleone via a Estátua da Liberdade, pela primeira vez, eu já estava dormindo.

Quando acordei de manhã, eu estava na cama de Cameron, com Meatball roncando aos meus pés. Meu abajur de bailarina estava na mesa ao meu lado, me parecia ainda ser o quarto de Cameron. Abri as gavetas para pegar minhas roupas para o dia; as roupas de Cameron tinham desaparecido. Eram apenas sete horas da manhã e eu estava cheia de energia. Me vesti, peguei meu brinquedo de música portátil e deslizei fora da minha cela. Meatball voltou a dormir, e eu fui para o porão.

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A casa ecoou com a respiração pesada e ronco de todos os rapazes que preencheram os quartos. Eu, na ponta dos pés, passei pelo corredor do porão para o ginásio. E aqui estava Cameron, levantando halteres. Meu coração vibrou e pulou. Ele sorriu, mas parecia cansado. — Você acordou cedo, — disse. — Eu poderia dizer o mesmo de você, — eu respondi caminhando nervosamente. — Eu não durmo muito, — admitiu. Seus olhos mirando meu rosto. — Você dormiu bem? Encolhi os ombros. — Eu dormi por quase dez horas seguidas. — emendei — Também não durmo muito. A esteira agora estava sozinha de frente às janelas que davam em direção à piscina. Cameron e eu abrimos todas as janelas, e um vento quente encheu a sala. Logo, cada um de nós foi para os nossos cantos separados. Lá fora, o sol estava brilhando. Corri e observei que os guardas da noite estavam em pé marchando aos arredores sobre a linha de árvore na parte de trás da propriedade. Eu podia sentir Cameron espiando meu reflexo correndo através do espelho. Mas eu mantive meus olhos à frente; a última coisa que eu precisava era tropeçar e ir voando contra a parede atrás de mim. De muitas maneiras, correr em uma esteira era muito mais fácil do que as ruas de Callister, não tinha que me preocupar em tropeçar meus pés nas calçadas rachadas, ou desviar do lixo, ou de manter um olho sobre o esquisitão que gostava de ficar no arbusto. Em outros aspectos, correr em uma esteira era muito mais difícil; não tinha rachaduras, lixo, ou voyeur para me distrair de mim mesma.

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Finalmente, acabamos nossos exercícios cobertos de suor. Ele caminhou

até

onde

eu

estava,

enquanto

eu

estava

fazendo

alongamento. — Nadar? — Sugeriu. — Claro, — eu concordei com entusiasmo... Antes de eu ter considerado o que eu tinha acabado de concordar. Não foi até que eu cheguei ao meu quarto e abri a gaveta que o horror se estabeleceu em mim: natação significava traje de banho. A ideia de ser vista por ele, por qualquer pessoa, meio-vestida me petrificava por que a pele debaixo da minha roupa era tão sardenta e fantasmagórica como meu rosto, porque os ossos tendem a se projetar em torno de minha clavícula e meus ombros, porque eu mal tinha um sutiã para nadar. Solução: Uma camiseta enorme que eu joguei por cima do meu traje de banho. Encontrei-o na piscina, saltando rapidamente nela. Meatball tinha me seguido e estava deitado ao meu lado. Cameron estava sem camisa. Ele era mais magro do que eu imaginava, do que eu pensava que fosse, e ele tinha um bronzeado de um fazendeiro; seu bronzeado terminou onde a sua camisa iria começar. Eu evitava olhar em sua direção, tanto quanto possível, enquanto nós nadamos ao redor. — Aonde você foi ontem? — Perguntei, trazendo Cameron fora de seu torpor. — Só coisas de trabalho, — ele respondeu com imprecisão. — Coisas de chefe? Um sorriso alcançou seus olhos. — Coisas de chefe. — Você parecia muito cansado esta manhã, — observei, notando mentalmente que ele estava começando a parecer menos cansado. — Foi um longo dia, — admitiu distantemente.

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— Deveria dormir mais. Se quiser pode ter seu quarto de volta, eu posso dormir no sofá. —

Se



isso

fosse

o

que

necessito

para

fazer

uma

diferença. Você vai fazer mais uso do quarto que eu já fiz. — Ele fez uma pausa — Como foi seu dia ontem? — Um pouco chato, — soltei. Sua testa franziu preocupada. — Você não gosta daqui? — Foi apenas um pouco solitário, isso é tudo, — disse. — Este lugar é um palácio em comparação de onde eu vim. — Você quer dizer sua casa em Callister. Revirei os olhos. — Onde mais. — Por que você vive naquela lixeira? — Ele estava nadando de costas olhando para o céu. — Eu não sei, — defendi, encolhendo os ombros. — É barato e perto da escola. A casa tem toneladas de personalidade, e os meus companheiros de quarto são decentes, em sua maior parte. É realmente um ótimo lugar. Ele não parecia convencido. Não era a primeira vez que alguém tinha criticado a minha escolha de habitação. Eu sorri para mim, lembrando o dia que Isabelle estava em Callister para um evento beneficente e decidiu parar para uma visita surpresa. Ela ficou menos de um minuto, tempo suficiente para obter um chiclete nos saltos de seu Manolo Blahniks. — Eu acho que gosto de manter meus pais especulando, — eu disse em voz alta. — Seus pais não aprovam, — ele resumiu. — Oh! Eles odeiam!

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— Você não se dava bem com seus pais. — Me dei conta que suas perguntas tinham se tornado declarações de fato. — Não, não é que eu não me dava bem com eles, não é realmente de qualquer maneira. É mais que eles não me conhecem... ou talvez seja que eu não os conheço, ou eu não entendo eles. Eu não tenho certeza... nós somos muito diferentes. Ele parecia perplexo. Quebrei a cabeça, tentando encontrar uma maneira de explicar algo que eu ainda não tinha descoberto. — Meus pais gostam de se concentrar no que eu faço ou não faço, como viver em um bairro ruim ou ir para uma escola ruim. Coisas como essa são o que caracteriza em decidir se eu sou a filha que podem se orgulhar. Meu irmão Bill e eu nunca estivemos a sua altura. — Quando eu era criança, — divagava porque ele estava olhando para mim, — Eu estava no carro com minha mãe, meu pai e meu irmão — deixei de fora nossa babá Maria que também estava no carro. — Meu pai parou em um posto de gasolina, e pedi à minha mãe para me deixar pegar um refrigerante, mas ela não quis. Bill entrou e roubou um para mim, mas ele foi pego e o balconista começou a ir ao redor dos carros, arrastando-o pela camisa, perguntando se alguém o conhecia. Meu pai foi embora e deixou Bill no meio do nada. Durante três dias, não enviaram nada por ele. Só depois que Bill tinha passado uma noite em uma cela de prisão, ele foi colocado em um alojamento pela polícia. — Desta forma, meus pais enviaram uma das empregadas para buscálo. — Depois que voltou para casa Bill nunca sequer chorou, gritou ou disse uma palavra sobre isso. Cameron permaneceu em silêncio, olhando para mim. Juntei os pés, um ao lado do outro, e dei impulso em direção à parte rasa da piscina, os nossos corpos brilhando com água. De

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repente, senti que eu precisava dizer a ele algo que eu nunca tinha dito em voz alta, ou para qualquer outra pessoa além de mim mesmo. — Bill morreu de uma overdose de drogas quando eu tinha treze anos. Culpei meus pais por isso. — Eu soltei. Essa era toda a verdade e uma revelação para mim, quando disse isso. Cameron não tinha movido um músculo enquanto eu falava. Tentei encerrar a minha história triste sem fim. — Bill está enterrado no mesmo cemitério onde... — Olhei para cima através dos meus cílios. — Bem, você sabe qual. Eu acho que essa é a verdadeira razão de eu viver naquela lixeira, como você chamou, foi o melhor lugar que eu poderia pagar, que estava perto da escola e de Bill. Cameron olhou para mim tão intensamente que era como se ele estivesse olhando através de mim. Eu lhe tinha dado muito mais informações do que ele provavelmente queria ouvir. Eu não sei por que eu acabara de lhe dizer tudo isso, embora eu pudesse me deter com apenas "eu não sei" quando ele primeiro me perguntou por que eu vivia em uma lixeira. Cameron levou o seu tempo. — Eu posso ver que a morte de seu irmão foi... difícil para você. — Ele era meu melhor amigo. Perto do fim, eu só o vi algumas vezes por ano. Ele mudou tão rapidamente. Em seguida, ele se foi. — Abaixei minha cabeça na água para esconder qualquer evidência salgada que podia cobrir meu rosto e nadei para longe. Eu podia sentir o olhar de Cameron na parte de trás do meu pescoço enquanto eu nadava ao redor. — Hey! — Chamou uma voz de cima. Rocco estava em pé na varanda do andar principal. Pelas marcas de travesseiro ainda em seu rosto, ele tinha claramente acabado de sair da cama. — Não se movam! Vou pegar meu traje de banho!

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Depois que ele correu de volta para o interior da casa, eu me virei para Cameron. — Quantos anos têm o seu irmão? — Eu penso que tenha cerca de dezesseis anos. Realmente não sei, ele não vai me dizer, — disse ele, sorrindo, finalmente, balançando a cabeça maravilhado, — Rocco e eu não crescemos juntos. Inferno, até cerca de um ano atrás, quando ele bateu na minha porta, eu nem sabia que ele existia... embora, eu acho que ele me perdoou por isso agora. Rocco veio correndo, lançando-se como uma bala de canhão na água e pulverizou um Meatball descontente. Saí da piscina, afastandome da linha de fogo, e sentei em uma cadeira longa, enrolando meu corpo sob a toalha. Meatball tinha fugido, procurando um lugar mais calmo para dormir. Eu assisti os dois irmãos que espirravam e lutavam na água. Quando eles estavam ao lado um do outro, era fácil ver as semelhanças. Como Cameron, Rocco tinha escuros e desgrenhados cachos que pendiam em torno de seu rosto e parecia que nunca tinha visto um pente. Ambos fizeram esta coisa onde eles iriam agitar sua mão através de seu cabelo, e depois balançar a cabeça como cães para tirar o resto da água para fora. Os irmãos também tinham o mesmo sorriso cheio de dentes e uma risada, contagiante, algo que eu não tinha ouvido muito, mas que agora parecia natural. Ambos os rapazes eram altos e magros, embora Rocco ainda tivesse um pouco de gordura de bebê em suas bochechas rosadas e estômago. Cameron era mais sólido. Rocco era quase tão alto quanto Cameron agora, eu supus que dentro de um ano ele, provavelmente, ia crescer mais um pouco e ficar mais alto do que o seu irmão mais velho.

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Quando Carly saiu da casa da piscina equilibrando uma pilha de papéis em uma mão e com a outra fechou a porta atrás dela. Eles sorriram friamente, enquanto Carly caminhava distraída perto do campo

de

batalha. Utilizando

seus

braços

como

remos,

ambos

levantaram e molharam Carly com a água na piscina. Com um grito seguido de maldições longas, Carly, que estava completamente molhada, sacudiu a, agora encharcada, papelada que estava arruinada. Estremeci e, de repente, me lembrei do meu primeiro encontro com a ira de Carly. Rocco e Cameron bateram os punhos entre si e riram dissimuladamente quando ela pisou longe se afastando, ainda xingando baixinho. Ela era impotente contra o seu lapso na maturidade. Carly

tinha

desaparecido

momentaneamente

dentro

da

casa. Mas, para minha total surpresa, ela caminhou de volta para fora depois de alguns minutos e veio para compartilhar minha longa cadeira. Eu não tinha notado até aquele momento que Spider estava de pé no parapeito da porta do porão, olhando para todos nós com um olhar confuso em seu rosto. E então, ele praticamente veio na ponta dos pés e sentou-se ao lado de Carly. Desci da cadeira para dar-lhes algum espaço, com certa distância de mim para Spider. Como de costume, ele nervosamente sentou-se na borda de seu assento, incapaz de simplesmente sentar e relaxar. Após provocação significativa de Rocco e Cameron, ele foi se juntar a eles na piscina. Era estranho ver todos eles juntos, brincando. Era como se eles estivessem agindo de acordo com sua própria idade, e eu não me senti como se eu fosse uma criança entre os adultos. Finalmente, Cameron olhou para suas mãos enrugadas da água, subiu para fora da piscina e veio sentar-se ao meu lado, deixando Rocco cuidar de si mesmo na piscina. — Como é que você e seu irmão acabaram de se conhecer? — perguntei.

Julie Hockley

— Tecnicamente, ele é meu meio-irmão, mesma mãe, pai diferente. Meu

pai

e

minha

mãe

me

tiveram

quando

eram

adolescentes. Quando eu tinha seis anos, fui enviado para viver com meu pai. Pelo que me conta Rocco nossa mãe tinha um bando de crianças com caras diferentes. As únicas vezes que a vi foi quando ela o procurava para conseguir algum dinheiro. — Por que você não ficou com a sua mãe? — Ela é uma bêbada e tinha problemas suficientes para se preocupar com mais uma boca para alimentar, — disse ele. — Meu pai foi forçado a me levar quando a assistente social ameaçou me colocar em um lar adotivo. — Então você viveu com seu pai. — Refleti sobre isso. — Onde você cresceu? — Em todos os lugares, suponho. Nós mudávamos muito. — Ele continuou a observar Spider e Rocco brincando na piscina, mas ele não estava prestando atenção. Sua mente estava em outro lugar. E então ele estalou fora dele e olhou para mim com seu largo sorriso esmagador. — Mais alguma pergunta? — Pelo menos mais mil, — ofeguei. Ele calorosamente colocou o braço em volta do meu ombro e me apertou em um meio-abraço. — Você está se esgotando, você sabe. Antes que eu tivesse tempo para recuperar o fôlego, pulei. Um menino pequeno loiro encaracolado tinha vindo saltando para a piscina. A pessoa que o seguiu me surpreendeu ainda mais.

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Ela era bronzeada, vivaz, loira charmosa. Como uma menina daqueles comerciais de creme de depilação: pernas longas, shorts de corte, saltos, eu estava esperando que ela cantasse uma canção sobre seu curto short a qualquer minuto. Nos poucos segundos que a levou a deslizar alguns passos, ao redor da piscina, o clima passou de quente e acolhedor para abaixo de zero. Vi o sorriso de Carly torturado. Observei os olhos de Spider para Carly, seu rosto virou gelo; ele se lançou para fora da piscina e juntou-se a loira. Eu assisti Rocco embasbacar

com

ar

sonhador

para

ela. Ele

foi

aparentemente

responsável por manter a água da piscina de não se converter em neve. Observei-a enquanto ela me observava; seu olhar caiu sobre Cameron e depois de volta para mim. Notei todas essas coisas, mas não antes de notar que o braço de Cameron tinha atirado para longe de mim, logo que ela havia se materializado. Sua mandíbula se apertou, tirando as belas características jovens de seu rosto fechado. Quando eu o olhei nos seus olhos, fiquei assustada com o homem frio que tinha tomado seu lugar mais uma vez. Spider — pouco delicadamente — agarrou a moça menina pelo braço, levando-a de volta para a casa. Cameron foi atrás deles, sem uma palavra ou olhar para trás. Quando eles tinham desaparecido, Carly se acalmou. Sua cabeça estava inclinada para frente, os cabelos escondendo o rosto. Dei de ombros para fora da minha toalha ensopada e me envolvi na que Cameron tinha deixado para trás. Sentei-me na beira da minha cadeira longa com as costas para cima e levou um momento para obter a minha voz de volta.

Julie Hockley

— O que foi isso? — consegui dizer. Houve pânico na minha voz, e eu não sabia por quê. —

Isso,



Rocco

disse



era

Frances.



explicou

com admiração. Ele disse isso como se fosse o suficiente para saciar todas as perguntas que davam voltas pela minha cabeça. Rocco apertou os olhos, enquanto o menino jogou água para ele. — Superman, — Sua vozinha ordenou pernas e braços abertos. Rocco o pegou pelo torso e voou-lhe sobre a cabeça com um assobio. O garoto loiro encaracolado mais parecia um querubim de asas que um Clark Kent. Havia algo familiar em seu triunfante sorriso, diabólico. — E quem é este? — Tentei não parecer assustadora e dirigi meu sorriso forçado na direção da criança. Mas eu era sempre estranha em torno de crianças, especialmente quando eu tinha sido um deles. A única criança que eu já tinha sido relaxada foi com o meu irmão, que tinha sete anos quando eu nasci e já era mais de um adulto do que qualquer outra pessoa que eu conhecia. Eu tendia a me isolar de outras crianças quando eu fui forçada a me socializar, tinha certeza que eles sentiam o cheiro de medo. Eles se aproveitavam zombando do meu excêntrico cabelo cenoura o tempo todo. — Esse é o pequeno Danny, — Rocco me disse. Ele caiu para trás, deixando o Superman submergir na água. A cabeça de Danny apareceu de volta, e ele riu enquanto Rocco permaneceu submerso. —

Quantos

anos

você

tem,

Danny?



Havia

aquele

constrangimento novamente. O garoto fez a outra coisa que as crianças tendem a fazer em torno de mim: ele me ignorou completamente. Ocupou-se nadando ao redor da piscina, tentando afundar o corpo de Rocco. Reajustei a minha toalha e olhei para Carly. Ela não se moveu um músculo. — Ele tem seis, — ela transmitiu categoricamente. Ela, então, se levantou e entrou na casa da piscina. Alguns segundos depois, Spider

Julie Hockley

emergiu das portas do pátio, deu uma olhada rápida ao redor da piscina, logo entrou para a casa da piscina, batendo a porta com tanta violência que uma das caixas de flores no peitoril da janela caiu no chão de pedra, pétalas, terra e raízes se derramaram. Rocco foi fortemente envolvido em um novo jogo de luta livre na água, tendo finalmente encontrado um adversário que pudesse vencer. Esperei

dois

longos

segundos

para

Cameron

reaparecer

também. Ele não o fez. A curiosidade superou minha impaciência, mas o ciúme o fez transbordar. Cameron estava na casa vazia com o manequim loiro, sem seu amigo, o aracnídeo, de acompanhante. Era tolo ter ciúmes. Eu não conhecia a moça. Eu mal sabia quem era Cameron. Não podia ter nenhuma reivindicação ou esperança. Eu estava sendo boba. Eu estava sendo boba e completamente ridícula. Então eu escapei para dentro da casa quando Rocco afundou, armada com uma desculpa de precisar de uma toalha nova se me descobrissem. No interior, a casa estava silenciosa. Eu podia ouvir a respiração ofegante dos guardas noturnos que estavam dormindo em um dos quartos do subsolo. Tábuas ligeiramente rangiam no andar de cima, e tinham vozes vindas através da cozinha, pelo corredor no andar de cima, as vozes tensas tornaram-se palavras tensas. A porta da biblioteca estava entreaberta. Arrastei-me em direção a elas, meus pés descalços no piso de madeira. —

Quanto

é

desta

vez?



ouvi

Cameron

friamente

perguntar. Olhei e o vi de frente para as prateleiras altas contra a parede. Livros estavam empilhados a seus pés. Ele estava agachado em frente à terceira prateleira vazia e mexendo com a roda preta de uma pequena porta de metal. A porta do cofre se abriu, revelando uma pilha de notas dentro. A mulher — Frances — esperava atrás dele.

Julie Hockley

— Humm, cinco mil deve servir, — A voz de Frances era sedutora — O aluguel é na próxima semana. Cameron pegou uma pilha de dinheiro e muito rapidamente folheou as notas. Ele parou no meio da pilha, e colocou as incontáveis notas de volta no cofre. Ele bateu a porta de metal e, de repente, virouse com as notas restantes na mão. Eu corri ao estilo, Indiana Jones para o quarto de Rocco, aterrissando em uma pilha de roupa suja. Eu abaixei atrás de sua porta e sentei em uma massa de meias, cuecas, camisas, e revistas da Victoria Secret. — Parece que os montantes ficam maiores a cada vez que te vejo, — Cameron apontou para Frances. — Eu tenho uma criança em crescimento para criar. Ou você se esqueceu disso? Houve um suspiro profundo. — Você vai me dizer por que está realmente aqui? — O que quer dizer? — Questionou Frances — Dinheiro. Como eu disse. Como sempre. — Você poderia ter apenas chamado Spider. Ele teria feito arranjos para tê-lo entregue a você. Teria sido mais conveniente. — Mais conveniente para quem? — replicou — Não podia esperar por Spider para fazer seus arranjos. Preciso do dinheiro agora. — Você não parece que precisa de dinheiro, — Cameron observou. Eu me perguntei se ele estava se referindo à bolsa de design caro que ela tinha pendurada em seu braço. — Como você ousa! — Fale baixo, — Cameron assobiou. E a voz de Frances baixou. — Danny é e sempre será minha prioridade. Você, de todas as pessoas, não está em posição de me julgar.

Julie Hockley

— Este não é um lugar para crianças. Você não deveria estar trazendo-o aqui. — Eu não diria isso, — riu. — Você parece estar rodeado de crianças hoje. —

Você

tem

o

seu

dinheiro. Pegue

o

menino

e

saia

imediatamente. — A voz de Cameron estava calma e formal. — Qual é a pressa? — Ela gargalhou. — Danny e eu vamos atrapalhar sua mais recente aventura sexual? — É hora de ir, Frances. — Eu vi o jeito que você estava olhando para aquela menina. Pelo amor de Deus, Cameron, ela mal parece ter 14 anos de idade. — Frances... Frances ignorou a advertência em sua voz. — Então, mais uma vez, raças puras como ela tendem a ser bem preservadas. Eu acho que é o que acontece quando você passa a vida sendo mantida longe de gente como você. Ela está um pouco fora do lugar, você não acha? — Tiny vai escoltá-la. — Cameron se manteve sem se alterar. — Não me toque! — Você tem o que veio buscar. O resto não é da sua conta. — Isto é da minha conta e muito! — gritou. — Você vai prejudicar aquela pobre garota. Boas meninas como Emily não estão preparadas para lidar com caras como você. Um grave silêncio pairou na biblioteca e na sala ao lado. Um leve gemido escapou dos meus lábios. Eu acabara de ser lançada em um mergulho de uma montanha-russa.

Julie Hockley

— Você realmente acha que eu não iria reconhecer o cabelo vermelho?



Frances

empurrou. —

Quantos

anos

ela

tem

agora? Dezessete, dezoito anos? — Você pode sair, ou eu posso fazer você sair. A escolha é sua. — A voz de Cameron estava tensa agora. — Você não me assusta, Cameron, apesar de eu saber o que você é capaz. A pergunta é... Ela sabe do que você é capaz? Será que a pequena Emily sabe o monstro que você é? Cameron finalmente se abalou. — Chega, Frances! — Sim, é o suficiente, não é? — cuspiu — Bill teria o pegado pelo pescoço se a visse aqui, se visse a forma que você olha para ela. Eu



tinha ouvido o

suficiente

até

esse

ponto.

Meus ouvidos incharam, como se meu corpo tivesse mudado para o piloto automático, ligado para parar o pouso forçado que teria vindo se eu

tivesse

continuado

a

ouvir.

Dobrei

meus

joelhos

em

meu

peito. Minha mão apertou a corrente que estava em torno de meu pescoço com tanta força que o pingente de anjo estava deixando uma sangrenta marca na palma da minha mão. Senti como se eu estivesse presa, sendo sufocada no quarto de Rocco, respirei o ar e soltei sentindo o rastro de essência de adolescente. Frances conhecia Bill. Cameron conhecia Bill. Depois de anos de ânsia por respostas, buscando quaisquer vislumbres dessa outra vida inteira que meu irmão tinha levado para longe de mim; depois de desesperadamente dar-me conta que as pegadas de meu irmão lentamente desapareceriam a cada momento, dia, mês, ano que passava até

começar

a

sentir

como

se

ele

nunca

tivesse

realmente existido; alguém que não era eu, conhecia Bill e sabia quem eu era. Como eu poderia ter perdido isto? Tentei voltar através de todos os acontecimentos dos últimos dias, mas tudo que eu conseguia

Julie Hockley

lembrar era a minha conversa com Cameron naquela manhã. Ele havia me escutado, enquanto eu lhe contava sobre a morte prematura de meu irmão mais velho, algo que eu nunca tinha contado a ninguém porque era muito doloroso. No entanto, ele nunca disse uma palavra. Não tinha certeza quanto tempo eu estava no quarto de Rocco. Frances e Danny já deviam ter ido. Eu tirei a capa da revista que tinha presa na minha parte de trás e deixei que meus membros levantassem, me levando de volta para o corredor da frente. Mas Cameron me encontrou quando estava correndo pelas escadas. Seus olhos sondaram meu rosto, e ele parou um segundo. Meu rosto estava quente e molhado. — O que aconteceu...? — ele perguntou lentamente, com cuidado. Considerei desviar e continuar o meu caminho até seu quarto. Mas ele estava bloqueando minha passagem. Algo em sua expressão me disse que ele não ia me deixar passar sem uma explicação. Tinha uma bola de beisebol subindo na minha garganta. Eu não poderia dizer se eram lágrimas ou palavras. Acabou por ser ambos. — Bill... — Foi assim que começou. O rosto de Cameron ficou branco... — você me conhecia também... preciso de uma toalha limpa... como você pôde? — Na minha cabeça, essas frases foram totalmente estruturadas com substantivos, verbos conjugados, e todas essas coisas que faziam sentido para outras pessoas. Cameron e eu só olhávamos para o outro. Olhei para ele através de um véu de lágrimas. Cameron piscou, mas seu rosto permaneceu inexpressivo. Isso me fez furiosa. — Sim, — admitiu, lentamente. — Sim, você conhecia Bill, ou sim, você mentiu para mim?

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— Eu não menti. — Omitiu informações vitais. — Isso não é o mesmo que mentir. — Poupe-me da lição de gramática, — Rosnei. Ele se sentou na escada e cruzou as mãos. — Não é o que você pensa. — Oh? Diga-me o que eu estou pensando? — Porque eu não tinha ideia, palavras desordenadas — era tudo que eu conseguia pensar. — Parece que você tem todas as respostas. — Em... — começou, mas parou antes de terminar. — Alguma vez pensou em me dizer? — Não, — admitiu. Não houve pausa, e ele olhou diretamente para mim. — Há algumas coisas que é melhor não saber. — Não tome decisões por mim! Você pode saber quem eu sou, mas você não me conhece bem o suficiente para saber o que é bom para mim. Ele suspirou e esfregou as têmporas. — Ouça, Emmy, eu sei que você está zangada comigo. — Zangada não é a palavra. — Estava furiosa, irada, indignada, e quase ficando louca. — Tudo bem, — interrompeu. — Você está além de zangada, mas eu juro que eu estou apenas tentando mantê-la segura. — Não, obrigada, — rapidamente, mas educadamente rejeitei. — Eu vi o que você faz com as pessoas que você deve manter seguras. Dar-me dinheiro não vai fazer isso melhor ou manter qualquer um mais seguro. Além disso, não posso ser comprada.

Julie Hockley

Cameron abriu a boca como se fosse dizer alguma coisa, mas parou. Em seguida, sua testa se enrugou. Eu podia vê-lo tentando digerir o que eu estava dizendo. — Espere... o que? — Atirar dinheiro para os seus filhos; ao seu filho, não vai tornálo mais seguro. Só vai fazê-lo se ressentir mais. — Eu tive experiência íntima com isso. Ele olhou para mim e balançou a cabeça uma vez. — Ah. Agora entendo o que você está dizendo. Você está falando de Danny. — Observei um tremor quase inaudível em sua voz. Obviamente, atingi um nervo lá e decidi persegui-lo. — Que tipo de homem iria deixar uma criança crescer sem um pai? Dar dinheiro a mãe do seu filho não o torna menos negligente. Cameron se encolheu levemente. Então se levantou, deslizando a mão para baixo do corrimão, ele desceu, e com calma, muito calma, saiu pela porta da frente. Havia mais do que o ofendido com as minhas palavras, eu o feri. Cameron,

gentilmente,

fechou

a

porta

atrás

dele,

e

eu ouvi alguém sussurrar das escadas. Quando me virei, Carly e Spider estavam no topo das escadas do porão, e Rocco estava chegando correndo atrás deles. O olhar sombrio no rosto de Carly e Spider me disse que tinham visto o suficiente do show. — Vocês sabiam o tempo todo também? — acusei. — Saber o quê? — Rocco respondeu, movendo a cabeça entre Carly e Spider, enquanto pingava água em todos os lugares. Carly e Spider simplesmente me olharam em resposta. Isso foi o suficiente para eu entender o quão profundamente a traição tinha ocorrido. Eu fiz o que eu sabia fazer de melhor: Eu corri para me esconder. — O que está acontecendo? — Eu ouvi Rocco perguntar num sussurro falido quando cheguei ao segundo andar. Foi seguido pelo som de bater pele molhada.

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— Ai! Carly! Isso dói! O que foi isso? — Rocco reclamou. Bati a porta do quarto de Cameron, bloqueei o resto e imediatamente cai em uma rotina — algo habitual — que precisava desesperadamente. Tomei banho, escovei os dentes com força, penteei os cabelos tirando os nós, considerei cortá-lo um pouco, mas pensei que agir como uma menina de catorze anos não iria resolver nada. Eu me vesti com calças de moletom e uma camisa fora do clima quente, mas necessário para o drama. Fui para a cama de grandes dimensões e vigorosamente afofei os travesseiros. Puxei as cortinas pesadas fechando e decidi me jogar no pequeno sofá, escondendo-me na minha caverna. Então eu decidi ver um filme. Durante tudo isso, eu não estava pensando sobre o quanto eu perdi de Bill, ou pensava sobre mim mesma. Eu não estava pensando sobre como me senti traída ou como estava irritada. Eu particularmente estava pensando sobre a dor no rosto de Cameron quando ele saiu de perto de mim. Quando meus pensamentos começaram a desviar da trama do filme,

eu

subi

o

volume

da

televisão. Quando

eu ouvi Meatball

lamentando na porta, implorando para ser deixado entrar para a noite, eu aumentei mais o volume. Quando meu estômago roncou e resmungou em protesto contra o meu protesto, subi o volume outra vez. Até o momento eu estava no quinto filme — um filme realmente desastroso com um monte de explosões e tremores de terra e pessoas gritando por suas vidas, — estava tão escuro lá fora como dentro do quarto,

e

os

meus

ouvidos

zumbiam

das

detonações

ensurdecedoras. Mas durante uma pausa de cenas de ação, houve um choque ao meu lado e um "ouch!" A lâmpada foi ligada. Cameron estava parado em um pé. — Desculpe, — gritou através das revitalizadas explosões, — Eu bati, mas você não respondeu. — Ele mancou para o sofá, pegou o controle remoto com a mão que não estava esfregando o dedo grande do pé, e baixou o volume.

Julie Hockley

Cameron estava na cozinha; potes, armários, portas e gavetas da cozinha foram tilintando em seu caminho. Eu estava sentada na mesa da cozinha, onde ele tinha me convidado a sentar após ter enxotando Rocco longe da televisão para seu quarto. Eu estava piscando, tentando bloquear a dor que as luzes brilhantes do teto causavam aos meus olhos. — Quanto te contou o seu irmão sobre o que ele estava fazendo, quando ele estava longe de você? — Cameron perguntou. — Ele não precisava dizer muito, — respondi, esfregando minhas têmporas com dois dedos. — Os relatórios policiais e registros escolares falam por si. — Também existiam todos os rumores, as coisas que se sussurravam, as coisas que eu tinha ouvido meu pai gritar com meu irmão por trás da porta de mogno fechada de seu escritório. Eu não senti a necessidade de dizer a Cameron isso. — E quando os relatórios policiais pararam depois que ele deixou a escola? Ele alguma vez falou com você sobre o que ele estava fazendo? — Não muito, — eu admiti. — Eu não o vi muito, depois que ele fugiu. Ele costumava esgueirar-se para dentro de casa na maior parte apenas para dar-me ordens, me dizer o que não fazer. — Exalei. — Discutimos muito, perto do fim. — Isso era o que mais lamentava. — Hmmm, — Cameron ponderou sobre o chiar da frigideira. Ele trouxe dois copos grandes de leite com chocolate e voltou com sanduíches de queijo grelhado — abençoado seja — e um pote de ketchup.

Julie Hockley

— Antes, você me chamou, Emmy? Você sabe? — mencionei enquanto eu apertei o material vermelho no lado do meu prato. Ele se sentou de frente para mim e ergueu as sobrancelhas. — Eu fiz? Eu balancei a cabeça e entreguei-lhe o pote de ketchup, o que ele recusou. — Seu irmão costumava chamar-lhe assim, — disse, me olhando com cuidado. —

Você

supunha. Ele

o

deu

conhecia uma

suficiente

mordida

em

para seu

saber

isso,

sanduiche

de



eu

queijo

grelhado. Embora o meu estômago roncasse, eu deixei o meu sanduíche lá e esperando. — E bem? Ele se mexeu na cadeira. — Eu não tenho certeza por onde começar. — Comece do início, parece funcionar para a maioria das pessoas. — O início levaria um tempo muito longo. Isso me fez quase tonta, mas eu tentei manter-me tranquila e encolhi os ombros. — Aparentemente, eu não vou a nenhum lugar por um tempo, então fale o quanto você precisa. Seus lábios se curvaram nos cantos. — Eu não preciso falar. Eu estou fazendo isso por você. — Ele parou. Cruzei os braços sobre o peito, não lhe dando qualquer outra oportunidade para atrasar o que eu precisava ouvir. — Tudo bem, — disse ele, balançando a cabeça. — Se você comer, eu vou falar.

Julie Hockley

Peguei uma metade do queijo grelhado e mergulhei em minha lagoa de ketchup. Eu trouxe para minha boca e esperei para ver se ele iria manter a sua parte no trato. — Vamos ver, — disse ele com os olhos voltados para o teto. Seu olhar, em seguida, voltou para mim, acompanhado com um sorriso torto. — A primeira vez que eu conheci Bill Sheppard, ele bateu me bateu muito. Eu levei uma mordida do meu sanduíche e quase engasgo. — Seu irmão tinha acabado de ser transferido para a minha escola. — Qual escola? — Eu o testei com a boca cheia. — Saint Emmanuel. Saint Emmanuel foi a última escola particular que meu irmão tinha frequentado antes de ser enviado para viver com seu tio. — Essa é uma das escolas mais caras do leste dos Estados Unidos. O olhar de Cameron me atravessou. — O que te surpreende mais, o fato de que eu fui para uma escola particular, ou que eu fui para a escola, afinal? — Nenhum, — eu disse a ele. — Eu só não vejo você o tipo esnobe. Seu sorriso voltou. — Eu não sou. Qual é o seu problema com as pessoas ricas de qualquer maneira? Isto foi obviamente outra tática para não continuar a historia, se não fosse, eu não estava indo para lá. — Então você conheceu meu irmão em Saint Emmanuel, e ele bateu em você. Por quê?

Julie Hockley

— Bill tinha decidido que ele iria começar a vender para as crianças na escola. Um dia, ele me pegou vendendo sobre o que ele pensava que era seu território, então ele me bateu para me ensinar uma lição. Eu era apenas uma criança naquela época, — esclareceu ele — e eu tinha certeza de que Spider ia matá-lo por me dar um olho roxo. — Há quanto tempo você conhece Spider? — Interrompi. — Há muito tempo, — ele respondeu. Ele hesitou antes de acrescentar: — Nós fomos companheiros de quarto na detenção juvenil... Spider havia chegado com o mesmo plano como seu irmão, um par de anos antes. — Esteve em uma detenção juvenil? — Sim, por pouco tempo. — Seu rosto ligeiramente corou, e ele rapidamente continuou, — Quando seu irmão chegou, eu e Spider tínhamos a escola como nosso território e passamos muito tempo construindo negócios com os outros estudantes ricos. — O que vocês vendiam, exatamente? — Perguntei. Cameron suspirou. — Emmy, a única maneira que eu vou dizer-lhe isto é, se chegarmos a uma única direção com esta conversa. Isso significa não mais perguntas. — Ele esperou para o meu consentimento, então eu balancei a cabeça e fechei a fechadura imaginária nos meus lábios. Não tinha me escapado de que ele havia me chamado Emmy, ou que eu realmente gostei quando ele disse. — Os clientes de Bill eram na realidade meus clientes. E os meus clientes eram um bando paranoicos que estavam sempre olhando por cima do seu ombro, com medo de que as pessoas que conheciam os seus segredos sujos, pudessem revelá-los e envergonhar suas famílias. Jamais comprariam nada que não conheciam ou não confiavam, mesmo um sangue novo convincente como o seu irmão. — Eu sorri,

Julie Hockley

imaginando o meu irmão teimoso. Este era o mundo que Bill e eu conhecíamos muito bem: a ocultação, a mentira, a farsa. — Quando Bill finalmente se deu conta de porque não negociar, ele decidiu que iria se tornar meu parceiro. No início, eu disse-lhe para sumir. — Cameron sorriu mais amplo. — Mas, quando ele me contou sobre seu novo plano, fez sentido. Assim, finalmente convenci Spider, o que não foi fácil. Spider, eu e seu irmão, nos tornamos sócios. Spider manteve o produto entrando, eu mantive as crianças da escola bem abastecidas, Bill expandiu o negócio para os pais, tias, tios, primos, etc... — Ele fez uma pausa para tomar outra mordida. — Você sabe, Bill tinha um jeito de fazer as pessoas se sentirem como se fossem intocáveis. Spider dizia que era o cheiro do dinheiro que foi impregnado em sua pele. Fosse o que fosse, o seu irmão era um grande vendedor, e, por um tempo, com os bolsos profundos dos nossos clientes, tivemos tanto trabalho que ficava difícil manter o ritmo. — Mas o seu irmão tinha uma grande fraqueza: as mulheres, do tipo que vinham com um monte de bagagem. Sempre tinha que ir a socorro de uma garota. — Cameron sorriu maliciosamente para mim, e eu prestei muita atenção para esconder o vermelho do meu rosto comendo a segunda parte do meu sanduiche e tentando deixar meu rosto em sua palidez normal. — Parecia que ele tinha uma garota diferente pendurada em seu braço a cada duas semanas. Mas uma vez que a emoção tinha acabado ele decidia que já estava cansado de salvá-las, e ele passava para o próximo desastre feminino, deixando uma destruição maior por trás. Ele foi ao resgate de uma menina... Garota... — se corrigiu para meu benefício. —... Cujo namorado gostava de usá-la como um saco de pancadas. Bill veio em seu socorro e deu uma surra no seu namorado. — Acabou que o namorado não era apenas um dos meus clientes regulares, ele também era sobrinho do reitor. Uma sequência de má sorte, — disse ele, balançando a cabeça. — O dormitório de Bill foi inspecionado, e encontraram o esconderijo sob o assoalho. Bill foi preso

Julie Hockley

e expulso da escola. — Me lembrei disso. Bill tinha sido enviado para casa em um carro da polícia. Claro que nenhuma acusação foi apresentada Os Sheppards eram muito bem influentes para algo como isso acontecer. Mas nem mesmo o nome Sheppard poderia parar a fofoca. Bill foi enviado para viver com um parente distante, separado da família, pelo bem do nome Sheppard. Cameron segurou o meu olhar. — Sabe, eu tinha muito mais no meu quarto, então Bill poderia ter me usado como bode expiatório para se salvar. Mas ele nunca fez. — Spider e eu mantivemos os negócios depois que seu irmão foi expulso. Mantivemos em menor demanda, porém, vendendo apenas para os alunos que já conhecíamos. Quando eu terminei o ensino médio, seu irmão veio me encontrar. Ele tinha planos enormes para expandir o negócio, além de crianças ricas e suas famílias, e precisava de um parceiro. Eu trouxe Spider comigo, e passamos o próximo par de anos conseguindo novos fornecedores e agregando mais contatos. Seu irmão tinha grandes almejos, e o negócio foi crescendo tanto que tivemos dificuldade em manter o controle de todo o dinheiro que entrava. Então Spider trouxe Carly, e logo tivemos a sua competência trabalhando para nós. Ninguém fazia um movimento a menos que seu irmão aprovasse. Cameron fez uma pausa. O sorriso deixou seu rosto, substituído pela escuridão. — Quando você está no topo assim, as coisas ficam muito mais... complicadas, — me disse com cuidado. — Onde quer que você olhe, há alguém que quer levá-lo para baixo para que ele possa obter um pedaço de sua ação. Você começa a ter que olhar por cima do ombro o tempo todo porque seus amigos podem se tornar seus inimigos durante a noite. Tentar manter-se... — Ele olhou para longe. —... Tentar manter as pessoas que você ama viva torna-se um trabalho de 24 horas. É cansativo.

Julie Hockley

— Seu irmão tinha começado a... mudar. Ele tornou-se... — ele estava tentando encontrar a palavra certa e logo continuou... — nervoso. Ele começou a guardar segredos, desaparecendo da vista de Spider, Carly, e minha. — Cameron respirou. — As coisas começaram a realmente desmoronar quando nossos clientes e outros parceiros notaram a mudança e começaram a duvidar de suas decisões. Antes que suspeitássemos o que estava realmente acontecendo, Bill estava morto. Comemos nossos últimos pedaços em silêncio. Cameron, logo levantou o olhar e examinou meu rosto. — Para responder à sua pergunta, sim, eu conhecia seu irmão muito bem, e sim, eu o conhecia bem o suficiente para saber quem você é, Emmy. Seu irmão era o meu melhor amigo, e ele falava sobre você o tempo todo. — Ele parou e esperou ansiosamente. — Por que você não me disse isso antes? Por que você disse que você nunca ia me contar sobre meu irmão? Ele apertou os lábios. — Porque o seu irmão não queria que você soubesse. — Como você saberia o que estava acontecendo em sua mente? — Ele teria dito a você, não teria? — Ele apontou. — Talvez ele apenas não tivesse tempo. — Acredite em mim, Emmy, — insistiu sombriamente — Bill não queria que você soubesse disso que cercava sobre sua vida. — Cameron pegou nossos pratos vazios e copos e caminhou de volta para a pia. — Tudo bem... — Eu decidi deixá-lo continuar. — Por que você está me dizendo isso agora? Ele voltou da pia e recostou-se no balcão, procurando o meu rosto novamente. — Eu não tinha outra escolha. Eu sei o quão próximos você e Bill foram e que foi difícil para você quando ele morreu.

Julie Hockley

— Ele forçou um sorriso. — Eu também sei que você não deixaria de insistir até ouvir a verdade. Eu queria que você ouvisse isso de mim... e para parar que você

assediasse o meu irmão mais novo por

informações que ele não tem. Ele não tinha ideia de quem Bill era ou quem você era. Você está tornando muito difícil manter o garoto longe de tudo isso. — Rocco quer ser parte de tudo isso, — eu o lembrei. — Isso não depende dele. — Ele era inflexível sobre isso. Eu não iria pressioná-lo sobre isso. — Spider e Carly sabiam quem eu era. — Sim. Eles sabiam, — confessou rapidamente. Vindo se sentar ao meu lado. Eu podia sentir o calor de seu braço. Eu me perguntei se ele fez isso de propósito, para me confundir. — Tenho que deixar você por um tempo, — ele me disse em voz baixa. — Sei que você tem um monte de perguntas, mas eu quis dizer o que eu disse: quanto menos você souber, mais seguro é para você. — Ele sorriu seu sorriso torto. — Por favor, não comece mais nenhuma greve de fome enquanto eu estiver fora. Rocco não vai alimentá-la, e pelo odor que sai de seu quarto, acredito que não iria nem perceber o cheiro de um corpo em decomposição. Seus olhos castanhos estavam fixos nos meus. Eu queria tocálo, apenas um pouco para ver se ele era real, mas eu só bocejei grosseiramente. Ele riu e estendeu a mão para apertar suavemente meu ombro. Meu coração me disse que ele era muito real. — Está tarde. Você precisa ir para a cama. Eu joguei uma olhava para o relógio na sala de estar. Embora meus olhos ardessem e meu pescoço parecia que estava segurando uma bola de boliche, eu não queria ir para a cama. — Quando você vai voltar? — Perguntei, estupidamente bocejando novamente.

Julie Hockley

— Eu não sei, — ele me disse. — Pode ser um par de dias, pode ser uma semana. Depende de como as coisas progridem. Eu tenho um monte de coisas para por em dia. — Ele piscou para mim — Eu tenho que terminar o negócio que foi interrompido da última vez que estive na cidade. Desta vez o meu bocejo se alargou e encheu os meus olhos de lágrimas. Isso o fez rir. — Vá para a cama, Emmy. Prometo que falaremos quando eu voltar. Ele se levantou e hesitou antes de estender a mão para me ajudar a levantar. Tomei sem qualquer comentário desta vez. Sua mão estava quente e despertou algo. Ele me acompanhou à porta do seu quarto e depois houve uma pausa constrangedora entre nós, virou-se nos calcanhares e começou a se afastar. — O que fez você pensar que Danny era meu filho? — Ele perguntou quando eu estava segurando a maçaneta da porta. Dei de ombros timidamente. — Por que mais você estaria dando dinheiro a Frances? Cameron considerou isso por um momento. — Ele não é meu, — ele me disse, e meu coração bateu quente, fechei a porta do quarto e Meatball entrou empurrando antes de cair na cama, ainda totalmente vestida. Havia uma esmagadora desolação. Eu tinha percebido isso logo que meus olhos se abriram; mesmo antes de eu ter notado o flash de luz que estava cutucando através das fronteiras da cortina e antes de Meatball começar a lamentar-se na porta para ser deixado sair de nossa caverna. Seja o que for, o lugar que Cameron tinha vindo ocupar dentro de mim agora estava sendo arrancado pela distância. Estranhamente, senti-lo longe é a única maneira que eu poderia explicar isso para mim, ele havia se tornado rapidamente o único laço real que me restava entre

Julie Hockley

mim e meu irmão. Ele foi o mais próximo que eu havia estado de conhecer sobre a outra vida do meu irmão e eu estava faminta por mais. O

fato

de

que

Bill

tinha

sido

envolvido

em

algo

mais

provavelmente altamente ilegal não foi tão surpreendente para mim, eu estava até um pouco orgulhosa disso. Ele estava tão fundo nisso, nestas atividades extracurriculares que Cameron tinha me contado e ainda poderia ter vindo a desempenhar outros esforços, eu não sabia. Parte de mim se perguntou se essa era toda a verdade e eu estava começando a ter uma ideia de que essa verdade poderia

perturbar-me, mudar a

forma como eu me sentia. Meu sexto sentido foi validado quando eu fui lá fora para deixar Meatball cuidar de seus assuntos e vi que o carro de Cameron tinha ido embora. Rocco e Griff estavam na escadaria da frente, então contive o suspiro profundo que inflou meu peito e relaxei meus lábios apertados. — Ginger! — Griff exclamou através da nuvem de sua fumaça do seu cigarro. — Onde você estava se escondendo, amor? O lugar parecia abandonado. Todas as vans e carros não estavam mais ali, e havia apenas alguns guardas circulando sobre a propriedade. Eu sorri timidamente para Griff, enquanto Rocco observou o pobre Meatball dirigir-se ao primeiro espaço verde que pudesse encontrar. — O que Meatball está fazendo aqui? Ele devia estar com o chefe. Eu podia sentir minhas bochechas pegando fogo. — Eu acho que ele se esqueceu de levá-lo — eu disse, sentindome culpada por ter esquecido de deixá-lo sair em um tempo decente. — Duvido, — Rocco murmurou. Ele tossiu sinais de fumaça, seus pulmões se recusaram a inalar as toxinas do cigarro que ele estava

Julie Hockley

tentando fumar. Ele rapidamente abandonou o hábito e apagou o cigarro com apenas um sopro. Griff já tinha terminado o seu e esmagou a bituca com o seu tênis. Ele manteve os olhos cintilantes em mim. — Todo mundo se foi? — Perguntei, mudando de assunto e segurando em um lampejo minúsculo de esperança de que a minha intuição foi falha. — Sim, — Rocco confirmou tristemente. — Todo mundo se foi. O sol estava escaldante. Mas eu me sentia gelada. A melancolia tinha me seguido e me engolido, Rocco também. Griff, que era alegre o suficiente por nós dois, colocou a mão sobre a cabeça de Rocco e sacudiu-a bagunçando seu cabelo desordenado. — Ow, ânimo amigo. Você terá a sua chance de correr com os meninos grandes em breve. Rocco empurrou a mão de Griff e olhou desanimado à frente. Griff riu. — Eu não sei por que você quer ir, Kid. Este lugar é ótimo quando não tem ninguém para ficar dando ordens. — É chato aqui, e eu não sou uma maldita babá. — Rocco amuou. Imaginei que ele estava se referindo a mim como o bebê que ele tinha que cuidar. Eu não levei como algo pessoal. — Eu posso fazer muito mais do que isso, mas eles não vão me deixar, — disse Rocco. — Vou te dizer uma coisa, Kid, — ofereceu Griff, estreitando os olhos — Eu vou te ensinar como lutar, ser durão. E eu vou falar com Tiny quando ele voltar. Talvez ele possa deixá-lo ir junto com eles na próxima vez que saírem. O rosto de Rocco iluminou.

Julie Hockley

— Sério? Você vai me ensinar algumas coisas? Você acha que eles vão me deixar ir com eles? — Claro que sim. — Griff levantou-se, usando seu rifle como uma barra de alongamento sobre a sua cabeça. Ele então balançou a correia da arma por cima do ombro e suspirou. — É melhor eu voltar para o meu lugar, antes que outra mosca escape através da linha das árvores. — Houve uma piscadela à minha direção e ele se afastou. Rocco entrou na casa, e eu me sentei na varanda fechando os olhos, pronta para desfrutar um pouco do calor. Griff não tinha dado dois passos antes de ouvir o esmagamento das suas pisadas no caminho de cascalho. — O que você está fazendo hoje? — me perguntou. Abri os olhos e encolhi os ombros em resposta. Minhas opções pareciam bastante sombrias. Griff tinha um sorriso malicioso. — Quer me ajudar a faltar ao trabalho? Eu não pude deixar de sorrir de volta. Ele deu uns passos para trás e agarrou a minha mão, me puxando para cima como um fantoche. — Você não vai ficar em apuros se você não for ao trabalho? — Perguntei enquanto caminhamos até a entrada. Griff exageradamente digitalizou a paisagem que nos rodeava. — Tiny e Spider se foram. Não há ninguém aqui para me dizer o que fazer. Isso me fez rir. — Não poderiam simplesmente ligar para Tiny para começar os problemas? — Eu observei, os meus olhos fixos sobre os outros guardas que estavam franzindo o cenho em nossa direção.

Julie Hockley

— Você já viu telefones por aqui? Porque eu não. Todas nossas coisas, como nossos celulares foram confiscados antes de chegarmos aqui. — E se algo acontecer, como alguém se machucar, ou houver algum tipo de emergência? — Também assumi que 911 não era uma opção no meio do nada. — Olhe para os caras com as grandes armas, — disse ele, apontando para um dos guardas. — Você acha que qualquer outra pessoa pode simplesmente entrar aqui? Se alguém se machucar aqui, ou ficar doente... eles desaparecem. Eu podia sentir o sangue fugindo do meu rosto. — Não se preocupe, — disse ele, forçando um sorriso. — Eu não vou deixar nada acontecer com você. — Griff pôs o braço em volta dos meus ombros e me apertou em um abraço de esmagamento de um braço só. Continuamos andando pelo caminho até chegar à entrada da linha das árvores, onde o caminho se transformava em um caminho de cascalho que conduziam ao bosque, o mesmo caminho que Rocco e eu havíamos

percorrido

fazenda. Haviam

na

primeira

vez,

dois corpulentos homens

quando com

chegamos

metralhadoras

à nas

mãos parados a cada lado do perímetro. Eles pareciam gêmeos, vestindo camisetas pretas idênticas, jeans e óculos espelhados. Quando

nós tentamos passar

por

eles,

os

dois

homens

rapidamente se aproximaram de nós bloqueando o nosso caminho. — A menina não pode deixar a propriedade, — disse o maior dos dois homens. — Vamos lá, cara! Nós não vamos longe. Não vou deixar nada acontecer com ela. Eu tenho a minha arma, se algo acontecer, — disse Griff. — Desculpe Griff. Ordens do chefe. A menina fica aqui.

Julie Hockley

— Ninguém está por perto. Não vou contar a ninguém se você não contar. — Griff era denso mostrando charme. O tom de voz do homem tornou-se duro. — Escuta, cara, se você não quer seguir as regras e mexer com a menina, depois que foi dito a você para não fazer, esse é o seu funeral. Mas eu não vou receber um tiro por você. Agora, você pode virar-se e vamos esquecer tudo isso, ou você pode continuar e eu vou fazer disso a sua morte. Prendi a respiração quando Griff parou de frente para os dois homens em um impasse, enquanto ele considerava o seu próximo movimento. Eu me sentia como um anão entre gigantes. Ele se virou para mim, ligeiramente sorridente. — Eu acho que nós não vamos chegar a lugar nenhum desse lado. — Ele enganchou meu braço em torno dele e me levou para longe. Nós

caminhamos

ao

longo

da

linha

da

propriedade,

passando por alguns guardas armados de vez em quando. Nenhum falou tanto com Griff ou comigo. Griff permaneceu em silêncio, de mau humor. Quando eu tinha certeza de que estavam fora do alcance dos ouvidos de qualquer um dos guardas, perguntei: — Quem pediu a você para não mexer comigo? — Spider, quem mais? — disse. Eu não podia imaginar por que Spider se importaria com quem eu conversava. — Por quê? — Quem sabe por que, não podemos fazer nada aqui. Eu acho que eles mesmos nem se conhecem. Olhei em volta.

Julie Hockley

— O que há ali fora? Quero dizer, nós estamos no meio do nada. O que poderia ser tão perigoso para a estrada que não podemos dar uma volta? Griff gargalhou. — Você está certa, não há nada lá fora. Na realidade nada que tenham que protegê-la de se machucar. É mais sobre eles querendo mantê-la aqui dentro. — Por quê? — Perguntei novamente. — Não sei, — Griff deu de ombros. — Uma coisa que eu sei, porém, eventualmente, tudo leva a dinheiro para eles. Assim, quaisquer que sejam suas razões para mantê-la viva aqui provavelmente têm algo a ver com dinheiro. Um arrepio desceu a parte de trás das minhas pernas. — Olhe ao seu redor, Ginger, — disse ele. — Uma grande casa no meio do nada, homens com as armas. Isto não é uma colônia de férias, e esses homens definitivamente não são guias turísticos. Eles são criminosos. Todos eles. Exceto o garoto, talvez, eu acho que Kid é jovem demais para entender, mas ele vai, com o tempo, tornar-se como o resto deles. Ele não tem nenhuma chance de sair. — Uma luz parecia sair da cabeça de Griff. — Vamos, tenho que mostrar uma coisa. Nós aceleramos nossa caminhada a quase uma corrida e fizermos o caminho de volta. Passamos pela frente da casa e seguimos o caminho

para

baixo,

indo

na

direção

oposta

ao

local

da

entrada. Quando nos aproximamos de uns arbustos, descobri que a entrada continuava por entre as árvores e para baixo onde dava a uma pequena colina. No fundo, havia uma grande garagem com outro guarda andando para lá e para cá pela linha de árvore. — O que é isso? — perguntei quando nos aproximamos. — Aqui é onde dormem os pandilleros. — Ele estava orgulhoso disso.

Julie Hockley

Nós caminhamos através da porta lateral e na garagem. A garagem mais era como um showroom. Lado a lado estava estacionada uma série de carros. Eu não tinha ideia de que tipo de carros

era,

mas

eles

pareciam

realmente

brilhantes. Enquanto

caminhávamos, passando por cada carro, Griff nomeou com paixão as marcas dos diferentes automóveis e explicou em grande detalhe as particularidades de cada um; marca, modelo, potência, torque, o motor. Foi tudo além da minha compreensão, mas parecia bom. Ele me disse que o carro estacionado mais perto da porta era uma Ferrari. Prateada; brilhava sob

as luzes fluorescentes que

pairavam acima dela. Ao lado um Lamborghini, verde limão, seguido de um Porsche vermelho, e Rolls-Royce, Borgonha, um Aston Martin preto, um Maserati amarelo — um arco-íris de carros caros. Em alguns aspectos, Griff me fez lembrar meu irmão. Bill também tinha sido um aficionado por carro. Quando adolescente, as paredes do seu quarto tinha sido cobertas com fotos de carros que tinha arrancado das revistas. Claro, ele também tinha imagens de mulheres seminuas, embora estas mulheres, geralmente, estavam ocupando um carro. Chegamos

ao

final

do

showroom

e

entramos

por

uma

porta. Pendurado em pregos na parede, havia placas de carros de todos os estados e até mesmo algumas do Canadá e do México. — É isso que eu quero dizer. Esses caras são muito bons em se esconder, e eu me arrisco a apostar que nenhum desses carros foram comprados em uma concessionária de carro, — disse Griff. Algo pendurado na parede chamou a minha atenção. E me aproximei. Em um saco plástico transparente que pendia de uma das paredes havia centenas de carteiras de motorista. Fiquei sem reação. Imediatamente reconheci o rosto sorridente que estava sobre a carteira

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de motorista que estava no topo da pilha. Era o rosto de Bill, embora o documento indicasse que o homem da foto era 'Buzz Killington' do Arkansas. Eu puxei o saco fora e abri o zíper. Havia mais carteiras de motoristas que tinham o rosto de meu irmão. Eu também achei cartões, documentos de outros estados e países com Cameron, Spider e de Carly sobre eles. Como os documentos de meu irmão, eles tinham nomes diferentes, mas as mesmas fotos. Puxei uma das carteiras de motorista de Bill fora do saco e me esforcei para engolir. Não tinha muitas fotos do meu irmão. A última imagem que eu tinha visto era uma tirada quando ele tinha quatorze anos de idade; uma dessas fotos falsas de escola, sorriso desajeitado, cabelo bem penteado com gel, casaco de lã verde que só se usava por cinco segundos. Esta foto estava empilhada junto com o resto das coisas de família que meu pai, estrategicamente, mantém em uma prateleira em seu escritório atrás de sua mesa: os clientes então poderiam ver a pretensão de um homem de família, mas meu pai dava as costas para a prateleira. A pior coisa de tudo isso era que eu não poderia lembrar o Bill como adulto. Na minha mente, ele tinha sido sempre aquele garoto de quatorze anos. Agora eu tinha uma foto do meu irmão... como um homem. Ele parecia mais cansado como um adulto, mas pelo menos, ele não tinha perdido seus cachos loiros encaracolados. Griff olhou por cima do meu ombro para a carteira de motorista em minhas mãos. — Me pergunto quem é esse? Eu não o vi por aqui. — Ele se afastou e acrescentou andando, — Um bandido como o resto deles, tenho certeza. Poderia ter defendido o meu irmão, mas havia um balão de água na minha garganta ameaçando explodir a qualquer segundo. E no fundo, eu sabia que Griff provavelmente estava certo.

Julie Hockley

Griff se dirigiu ao fundo da garagem e desapareceu atrás de outra porta, onde uma escada levou a um segundo andar. Enfiei a carteira de motorista de Bill — ou melhor, de Buzz Killington's — no bolso, coloquei a bolsa de volta no lugar, e corri atrás de Griff, que já tinha subido as escadas e esperou por mim na parte superior no segundo andar. Enquanto eu subia para encontrá-lo, ele sorriu e, com um dedo sobre os lábios, acenou-me para ficar quieta. O segundo andar era um grande espaço aberto, abrangendo toda a extensão da garagem. O espaço era escuro, com cortinas de sacos de lixo pretos e lençóis que cobriam as janelas que ladeavam ambos os lados do alongado espaço. Cerca de uma dúzia de camas estavam alinhadas em fileiras, uma linha de cada lado. Quatro das camas eram ocupadas por homens que dormiam, um dos quais eu reconheci como um

guarda

da

noite. O

som

do

ronco

e

respiração

pesada

estranhamente ecoou pelas paredes. Nos dirigimos nas pontas dos pés a uma das camas no meio do espaço. — Esta é a minha, — ele sussurrou, cor aparecendo em suas bochechas. Griff tinha coisas espalhadas por toda a parte de baixo e em torno de sua cama. Sentei-me na cama vazia que estava ao lado da cama de Griff, enquanto ele vasculhava debaixo da cama, e eu notei uma caixa de revistas no chão. A capa estava em destaque Fighters Ring Semanal com uma legenda em grandes letras vermelhas que diziam Griffin ‘o lutador’ Conan: O Melhor lutador de luta livre de peso do mundo. Abaixo da legenda tinha uma imagem de Griff com um olho roxo, e muitas contusões em seu rosto, ameaçador, tirada da cintura para cima. Ele tinha seus punhos enluvados e os músculos pareciam sobressair de cada parte de seu corpo, incluindo o pescoço, que parecia que era do tamanho de um touro. Um por um, eu peguei as outras revistas que foram empilhadas, a maioria das quais tinha Griff

Julie Hockley

representado na capa, em posições semelhantes como a primeira revista, ou com ele segurando cinturões de ouro. Griff finalmente saiu debaixo da cama, tirando as luvas de combate, semelhantes às que ele tinha sido fotografado nas capas. — Este é você, — murmurei, segurando uma das revistas para cima. Griff sentou ao meu lado na cama e olhou para a revista em minhas mãos. — Sim. Este era eu, — disse ele sombriamente. — Vai ser novamente uma vez que conseguir me estabilizar economicamente. — Você precisa estar aqui se você quer voltar a lutar? Griff apertou os lábios. — Há um monte de pessoas pouco confiáveis que estão esperando por mim para pagá-los. Eu tenho que pagar toda a dívida antes que eu possa fazer qualquer outra coisa, caso contrário, eu vou aparecer morto antes de eu ter a chance de chegar ao ginásio. — Os lutadores não fazem um monte de dinheiro, especialmente aqueles que ganham? — Perguntei, batendo na capa da revista onde ele estava segurando o cinturão de campeão. — Eles fazem e eu definitivamente fiz, — ele me disse. — Mas eu também cometi um monte de erros estúpidos, enquanto eu estava no topo. Me acostumei às pessoas me servindo onde quer que eu fosse. Você

deveria

ter

visto

isso,

Ginger.

Podia

entrar

em

qualquer hotel junto com amigos e nos hospedávamos somente em suítes executivas. Jogos. Bebidas ilimitadas. Mulheres. Qualquer coisa que eu pedisse. Eu pensei que eu poderia fazer qualquer coisa e que o dinheiro nunca iria acabar. Isso foi verdade, por um tempo, — disse ele, com os olhos distantes — Gastei muito tempo em festas e esqueci tudo sobre a luta... especialmente de treinar para as lutas. Comecei

a

aparecer no ringue inapropriado ou de ressaca. Logo comecei a pedir

Julie Hockley

dinheiro emprestado para manter-me com o estilo de vida. Eu perdi tudo isso. Ele tomou a revista das minhas mãos, jogando-a em cima das outras e chutando a caixa de volta debaixo da cama. Ele levantou a cabeça e esforçou um sorriso. — Trabalhar para esses bandidos me dará o dinheiro que preciso para pagar o que devo. Pelo menos ninguém pode vir me encontrar aqui, e eu posso ficar vivo tempo suficiente para conseguir o dinheiro. Nos levantamos na ponta dos pés, passando pelos guardas que dormiam, fazendo o nosso caminho de volta para baixo e para a luz do sol brilhante. Nós caminhamos até a casa e para a cozinha. Rocco estava sentado à mesa, no meio de um pedaço de pão e manteiga de amendoim. Peguei alguma comida para Griff e eu enquanto Griff entregou a um emocionado Rocco as luvas pretas que tinham sido cavados debaixo de sua cama. Rocco tentou pôr as luvas, mas elas eram um tamanho muito grande. — Você vai crescer dentro delas, — assegurou Griff. Não foi tão ruim no começo. Passar um tempo com Rocco e Griff. Nós íamos passando o tempo entre o ginásio, piscina, cozinha para a TV. Eu observava ao lado, enquanto Griff ensinava a Rocco como lutar. Griff até mesmo deixou que Rocco praticasse golpes em seu rosto. Griff ria toda vez que o punho de Rocco conectava com o seu rosto, e eu escondia meu rosto em minhas mãos. — Mandíbula de Ferro, — disse a Rocco e a mim, batendo o seu próprio rosto. — Assim que eu mantive meu titulo por tanto tempo. Eu os deixava me bater até que eles estivessem muito cansados ou confiantes. Quando eles cometiam um erro, eu atacava e acabava com eles, os contos de combate de Griff. Uma tarde, nós começamos um jogo de futebol com alguns dos outros guardas. Griff encontrou uma maneira de jogar na posição

Julie Hockley

oposta da minha para que ele pudesse me atacar; embora eu fosse capaz de correr mais que ele e a maioria dos outros caras. Rocco achou hilário. — Você não corre como uma menina, — elogiou. Foi uma das coisas mais agradáveis que haviam me dito. Eu

estava

sendo bem

entretida, e

funcionou...

por um

tempo. Mas eu não estava dormindo. Passei minhas noites rolando na cama, irritando Meatball ou vagando sem rumo no quarto de Cameron, olhando para fora das janelas nas noites escuras ou olhando a carteira de motorista falsa do meu irmão, que eu tinha encostado ao lado do meu abajur de bailarina. Todos os dias eu esperava, ansiosamente, e quanto mais o tempo passava, mais eu comecei a afastar-me de Griff e Rocco e todos os outros. Eu não queria ser entretida mais. Comecei a sair sozinha, tentando encontrar um pequeno espaço onde eu poderia estar sozinha; que era o que eu estava fazendo quando Rocco me encontrou na biblioteca enrolada com um livro. Ele se arrastou com um saco de Cheetos e estatelou-se no outro sofá. Ficamos em silêncio enquanto ele enrugou o saco e triturou. Ele se levantou, pegou um livro e folheou-o, deixando impressões digitais laranja para trás. Ele jogou ao lado dele, colocou os pés sobre a mesa de café, suspirou, voltou a pegar o livro várias vezes de volta, repetidamente jogou um travesseiro no ar e pegou — deixando mais impressões digitais, laranja. Em seguida, todo o barulho parou. Quando eu olhei por cima do livro, ele estava olhando para mim. — O que está acontecendo entre você e meu irmão? — Me perguntou. Calor subiu pelo meu pescoço. — Nada, — eu gaguejei, pega de surpresa. — Por que pergunta? — Tenho minhas razões... e parece que você está prestes a cortar os pulsos, — observou.

Julie Hockley

— Onde está Griff? — Perguntei, buscando mudar de assunto. Ele encolheu os ombros. — Não sei. Ainda dormindo, eu acho. Não fiquei surpresa. Griff tinha se tornado um homem de lazer, desfrutando bem a vida na fazenda sem os chefes. — Ele não é velho demais para você... — Rocco opinou. — Quem? Griff? — Griff também tinha começado a me seguir, que fez a minha busca para ficar sozinha muito difícil. — Não. Meu irmão. — Cameron não é muito velho para mim! — Quase gritei muito rápido. Tentei me recuperar, acrescentando: — Não tem apenas vinte e seis? Ele levantou uma sobrancelha. — Sim, e quantos anos você tem? Dezoito. Não,

dezenove

anos. Quando

havia

sido

meu

aniversário? Tratei de lembrar-me meses atrás para o dia que eu havia recebido um cartão de aniversário pelo correio, no dia exato do meu aniversário — alguém tinha planejado bem. O cartão foi assinado "Amor, mamãe e papai," com a letra de Maria, e tinha um cheque no mesmo. O cheque foi endossado por meu pai, que era alguma coisa, certo? Só que os números foram escritos com a letra de Maria de novo: os corações nos is a delataram. Maria tinha sido muito generosa com os zeros depois dos dois dígitos. Não importava, afinal. Eu rasguei o cheque e joguei fora. — Dezenove, — confirmei. — Oh. — Rocco parecia desinflado. — Quantos anos você tem? Ele pareceu pensar sobre isso.

Julie Hockley

— Dezoito. — Em que ano você nasceu? Ele estava parado e quando ele não pode responder rápido o suficiente, respondeu, — Está bem. Eu tenho dezesseis anos. Eu não podia dizer se isso era verdade ou não. Isso realmente não importava muito. — Você não deveria estar na escola agora? — Eu parecia a mãe de alguém. Não como a minha, embora. Rocco deu de ombros. — Eu não posso voltar. — Por que não? — Me meti em uma briga por causa de uma garota. Isto estava começando a soar familiar. — Eu pensei que você não soubesse lutar? — Eu não ganhei, — me disse. — Eu não vou voltar até que eu possa bater no outro cara, de uma forma ou de outra. De repente eu entendi por que Rocco estava tão empenhado em crescer tão rápido. — O que aconteceu com a menina? Ele riu ligeiramente entre dentes. — Ela sentiu pena de mim, então ela ficou um tempo na minha casa. — Isso foi legal da parte dela. Ele balançou sua cabeça. — Na verdade não, ela se envolveu com o namorado da minha mãe. Eles roubaram nossa TV antes de fugirem.

Julie Hockley

Eu não conseguia esconder o meu choque. Ele riu novamente. — Eu não podia esperar para me livrar do namorado da minha mãe. Só não pensei que perderia a TV também. Voltamos

a

cair

no

silêncio. Tentei

voltar

para

o

meu

livro. Houve outro longo suspiro. — O que está lendo? Baixei o livro. — Filosofia. — Eu tinha encontrado uma prateleira inteira dedicada aos antigos filósofos, livros usados, muitos dos quais eu já tinha lido na minha aula de filosofia do primeiro ano. — O que é isso? — Filosofia? Aristóteles. Platão. René. Descartes. Rousseau. Ética. “Penso, logo existo”. Seu rosto estava neutro. — É a investigação racional da existência, a verdade, crenças, todas essas coisas. Ele parecia ainda mais confuso. — Se supõe que ajuda a entender por que somos do jeito que somos... por que fazemos as coisas que fazemos... Porque nós pensamos como pensamos. — A quem se refere com “somos”? — A Humanidade. — Oh, — disse e voltou para o seu saco de Cheetos. Mais dias se passaram. Alguns dias pareciam como se atender às necessidades do Meatball era a única razão pela qual eu saía do quarto de Cameron. Outros dias, eu apenas vagueava ao redor da casa de pijama o dia todo. A insônia foi se apoderando de mim.

Julie Hockley

No meio da noite, ouvi minha porta abrir, em seguida, fechar lentamente novamente. Eu abri meus olhos para ver uma figura alta na luz do luar que estava saindo do quarto e fechando a porta atrás de si.

Julie Hockley

— Cameron? — Sentia-me tão confusa e tão cansada. Eu tinha certeza que meus olhos estavam pregando peças em mim, fazendo-me ver o que eu mais queria ver. Depois de um segundo atordoada, eu virei para acender a lâmpada da minha bailarina e confirmar a aparição. — Eu não queria te acordar, — sussurrou. — Eu não estava dormindo, — confessei. Uma onda de alegria — e alivio — me encheu. De repente eu estava bem acordada e energizada, mas mantive minha compostura, tanto quanto eu sabia. Cameron ficou de pé no batente da porta, debatendo. Quando tomou uma decisão, avançou na minha cabeceira. Parecia que ele tinha sido arrastado pelo inferno e tinha voltado. Suas roupas estavam amarrotadas e ele tinha olheiras sob seus olhos; era seu outro eu, mais velho. Olhamos

um

para

o

outro

durante

um

momento

incômodo. Olhei para cima, ele olhou para baixo. Seus lábios estavam apertados com força, e seu rosto estava duro, ilegível. Chateou-me vê-lo assim. O que quer que ele viu no meu rosto, o desagradou também. — Você não tem dormido, — acusou. Dei de ombros inocentemente e afastei meu cabelo longe do meu rosto. Um salpico de calor atingiu seus olhos.

Julie Hockley

Ele levou as mãos ao rosto e esfregou-o com exaustão. Quando ele reapareceu, o calor se espalhou para suas bochechas, e seus ombros

pareceram

relaxar

um

pouco,

como

se

ele

estivesse

descongelando lentamente. Exalei. — Está todo mundo de volta? — Perguntei a ele, ouvindo pés arrastando e o bater de portas. A casa estava em total silêncio. — Não. Voltei cedo. — Admitiu. — Só eu, — Ele me deu um sorriso cansado. Sua mandíbula e seus olhos escuros se destacaram sob a luz sombreada da minha bailarina. Um sorriso radiante me escapou antes que eu tivesse tempo para medi-lo e reduzi-lo a normal, então eu tomei o risco... e deslizei para o lado de modo que ele pudesse se sentar. Cansado,

ele

levou

minha

oferta

sem

hesitação. Silêncio

embaraçoso caiu sobre nós. Apoiei minha cabeça no meu cotovelo, meus olhos observandoo; Cameron estava sentado de costas para mim, sua cabeça virando de um lado para o outro do quarto, parou com interesse sobre a mesa de cabeceira. Quando ele se aproximou, eu segui seu movimento. Meu olhar atingiu a carteira de motorista do meu irmão antes de sua mão chegar a ela. Era tarde demais para tentar escondê-la, então eu tive que aguardar ansiosamente sua reação. Eu estava esperando para ficar em apuros por bisbilhotar. Ele olhou por cima do documento, riu e sacudiu a cabeça como se ele se lembrasse de alguma piada particular. Exalei novamente. — Vejo que você se manteve ocupada enquanto eu estava fora. — Sua voz era calma. Ele colocou o documento de volta onde ele tinha encontrado e se virou para mim.

Julie Hockley

— Você demorou muito tempo, — eu o lembrei. — Sim. As coisas tomaram mais tempo do que eu pensava que seria. Meu

braço

estava

cansado

demais

para

segurar

minha

cabeça. Peguei um travesseiro do outro lado da cama e dobrei debaixo da minha cabeça. — Que tipo de coisas? — Só coisa de negócios, — disse ele com um bocejo. — Como o quê? — Inventário, ordens, negociação de preços... — suspirou. — Você sabe... coisas normais de negócios. — Sei que qualquer coisa que você esteja envolvido, não há nada de normal nisso, — soltei. — Quero dizer, eu sei sobre seus negócios, — emendei com ênfase, — envolve alguns ou talvez um monte de coisas ilegais. — Não soou nada bem da segunda vez. — Oh! — Ele arqueou as sobrancelhas e se interessou. — Como você sabe disso? Na minha mente, eu repeti que Griff tinha apontado para mim, e tentei fazer soar como se fosse algo que eu tinha deduzido tudo por minha conta. — Não sou cega. Vejo os homens armados andando por aí. — Isso só prova que eu estou tomando todas as medidas possíveis para manter todos a salvo. — De que? Leões? Tigres? —... E ursos, — terminou para mim. — E sobre a sua coleção de carros de luxo na garagem? — sondei. — Imagino que a maioria desses carros foram provavelmente roubados. — Mais uma vez, foi Griff falando através de mim.

Julie Hockley

— Na verdade, nenhuns desses carros são meus. — Sorriu, mas seus olhos estavam tensos. — De quem são, então? Ele parecia considerar isso. — Bem, eu acho que eles são os seus carros, agora. — Meus? — Talvez eu tivesse ouvido mal. —

Como

parente

mais

próximo,



confirmou. —

Eles

pertenciam a seu irmão. Todos são seus agora. — Ele sorriu e acrescentou friamente: — Bill os comprou em uma encomenda especial. Nada aqui é roubado. Corei, percebendo que a minha insinuação o havia insultado, mais do que ele demonstrava. — Então, você está dizendo que você não está envolvido em qualquer negócio ilegal. Seu rosto tornou-se sombrio. — Não é isso que estou dizendo. — Você lida com drogas, armas... — sugeri. — Emmy, — ele implorou antes que eu pudesse continuar — Por favor, não se ofenda. Mas eu realmente não quero falar sobre isso com você. — Seus olhos encontraram com os meus, implorando. — Está bem, — eu concordei gentilmente. Não me ofendi. Eu estava feliz que ele tinha colocado um limite a isso, e não a tudo. — Como alguém entra nisso... Nessa... Profissão? Pisava suavemente, sem ter claro quanto eu estava fora dos limites. Ele fechou os olhos e rolou seu pescoço e ombros. — Quer dizer, porque não se tornar um advogado ou um médico? — Ou um astronauta, ou um filósofo, — adicionei. Seus olhos avermelhados brilharam para mim. — Filósofo? Mordi o lábio e desviei o olhar. — Por exemplo.

Julie Hockley

— A filosofia é uma profissão? Eu fiz uma careta e o encarei. — Muitas pessoas importantes fizeram da filosofia o trabalho da sua vida. — Sim, dez mil anos atrás, — ele riu, então parou. — Você não está estudando pré-leis? Não me lembrava de dizer-lhe isso, embora eu não tendesse a ser excessivamente consciente de mim mesma em torno dele para lembrar tudo que eu disse a ele. — Foi apenas um exemplo, — insisti. — Não se consegue muito dinheiro nisso, — me disse de uma maneira protetora. — Você vai responder a minha pergunta? — Eu soltava fumaça. — Não é verdade que os filósofos passam os dias sentados pensando sobre a vida, enquanto eles morrem de fome? Suspirei com irritação, à espera do discurso prolongado ter acabado. Não poderia esperar que ele entendesse. Eu estudava pré-lei, porque era a única bolsa integral que consegui na Universidade de Callister. Não me importava com minhas aulas de direito, minhas notas eram boas, mas meu pai era um advogado, e antes dele o seu pai, e também o pai do seu pai. De uma forma ou de outra, eu seria forçada a seguir o caminho da retidão Sheppard. Isso não significa que eu gostava. Cameron tirou os sapatos, levantou seus pés na cama e deslizou ao meu lado. Apoiou sua cabeça no travesseiro, entrelaçando suas mãos atrás da cabeça e olhou para o teto. — Filósofo, — ele meditou a si mesmo com uma risada. Sua

proximidade

minha irritação. Tomei

era

uma

suficiente

respiração

para

profunda,

eu seu

esquecer

a

aroma

se

Julie Hockley

tornando

familiar

para

mim. —

Escolhe

sua

profissão

baseado

exclusivamente em dinheiro? Isso o trouxe de volta à realidade. — Sim. Eu fiz. — Seu rosto era sombrio. Oh. Eu corei. — Você gosta do que faz? — O que você acha? Eu não tinha certeza do que eu estava pensando, mas eu estava muito feliz que ele estava tomando parte no interrogatório. — Bem, suponho que você faz um monte de dinheiro fazendo isso. — Dinheiro não é tudo. Ele estava cheio de contradições, eu estava confusa. — Pensei que você disse que escolheu isso pelo dinheiro? — Disse e fiz, — repetiu — Acho que você e eu sabemos que tenho mais dinheiro do que eu sei o que fazer com ele. Se fosse apenas sobre o dinheiro, eu teria saído há muito tempo. — Então por que você não apenas para de fazer isso? Pegar o dinheiro e sair? Ele hesitou e olhou para mim com preocupação. Eu respirei. — Eu só estou curiosa, — sussurrei. — Eu sei. Ele suspirou e olhou para o teto. — Não se pode simplesmente escapar disso. Uma vez que você está dentro, você está nisso por toda a vida. Se você tentar sair, torna-se suspeito. Eles pensam que você está falando com a polícia e que está mudando de lado. — Quem se importa com que as pessoas pensam?

Julie Hockley

— As pessoas que falo, caçam e matam. Eu tentei o melhor que pude para esconder o tremor que estava fermentando na minha nuca. Cameron

bocejou

e

passou

a

mão

sobre

o

rosto

novamente. Gostaria de saber se o seu cansaço tornou-o mais tolerante com minhas perguntas, o fazendo respondê-las sem edição, sendo completamente honesto. Eu senti como se estivesse tirando proveito dele, um pequeno traço de culpa persistia, mas a minha sede de informação predominava. — Por que você apenas não foge? Você tem dinheiro suficiente para esconder-se, proteger-se, não é? — Porque eles não vão simplesmente te matar. Eles vão matar a sua família, seus amigos, todos que você conhece... então, eles te matam. Não há como fugir. Engoli em seco. — Quem são eles? — As pessoas com quem trabalho. — Ele virou a cabeça e olhou para mim, suplicante. — Mudança de assunto? Eu o deixei ir sem culpa, mas também aliviada por deixar esta linha de questionamento. Mesmo eu tinha que admitir que era informação demais, mais do que eu poderia suportar. Eu levei um segundo e continuei a entrevista, — Diga-me sobre sua família. Ele sorriu, mas seus olhos eram cautelosos. — O que você quer saber? Tudo. — Para começar, o que é que a sua mãe faz? — Ela bebe, — respondeu prontamente. OK. — E o seu pai?

Julie Hockley

Ele se encolheu e se esquivou, — Eu não gosto de falar sobre meu pai. — Por que não? — Porque ele... não é uma pessoa muito legal, — disse ele, cansado. — Nem os meus, — disse eu. — Não é a mesma coisa. Meu pai é um vigarista. — Pode me dizer sobre ele? — Murmurei. — Por favor? Ele fechou os olhos. — Quando eu morava com minha mãe, meu pai vinha a cada dois meses com seus ternos caros e carros grandes, enquanto minha mãe e eu vivíamos em buracos. A pequena quantidade de dinheiro que meu pai dava a minha mãe, ela bebia. Quando fui morar com meu pai, eu pensei que as coisas estavam finalmente ficando melhor. Mas meu pai era... ele não era quem eu pensava que ele fosse. Seu dinheiro não era seu. Ele passava muito tempo com pessoas ricas, fingindo que tinha dinheiro para que ele pudesse enganar senhoras e roubá-las... Sua voz cansada tinha começado a arrastar as palavras. — Ele devia ter tido algum dinheiro para colocá-lo em uma escola particular, — eu pressionei por mais. — Quando vim pela primeira vez para viver com ele, ele não sabia o que fazer comigo. Eventualmente, porém, ele descobriu que ele poderia me usar também. Ele me colocou naquela escola particular e de vez em quando se apresentava a alguma mulher que tinha dinheiro, mas sem marido. Logo em seguida, ele tornava-se o pai rico-doano. Funcionava a mil maravilhas; elas confiavam nele... ele roubava todo o seu dinheiro e desaparecia. Os pagamentos para a escola paravam depois disso.

Julie Hockley

Sua voz era tão fraca, eu mal podia ouvi-lo. — O que aconteceu, então? — A escola me enviou para viver em um abrigo. — Uau. — Isso me deixou com raiva. Cameron afundou a cabeça mais fundo no travesseiro. — Ele sempre voltava mais cedo ou mais tarde, geralmente quando ele estava ficando com pouco dinheiro. Ele me colocou de volta na escola para que ele pudesse começar o show mais uma vez. Quando fiquei mais velho, a polícia assumiu que eu era seu parceiro no crime, porque ele continuava a voltar para me encontrar, e eu era o único que as mulheres podiam identificar. Cumpri quatro anos, meu pai desapareceu novamente, e eu fui enviado para a prisão juvenil já que eu não podia dizer aos policiais onde ele estava escondido. Foi quando eu conheci Spider, e nós preparamos um plano para vender drogas aos filhos ricos com quem estudávamos. Um mês depois de sair da prisão juvenil, eu estava fazendo meus próprios pagamentos para a escola e nunca mais tive que depender do dinheiro roubado do meu pai de novo. — O que aconteceu com seu pai? — Eu não sei. Ele se envolveu com uma mulher mais uma vez. Eu não queria ser associado com ele e voltar para a prisão. Eu disse a ele para ficar longe; E nunca mais o vi depois disso. Sua respiração tornou-se mais lenta, mais profunda. Tomei outro segundo. — Cameron? — chamei suavemente. — Hmm...? — Meu irmão era feliz? Ele considerou isso. — Na maioria dos dias… Prendi a respiração. — Você acha que ele sabia que ia morrer?

Julie Hockley

Houve uma longa pausa. — Cameron? —... Eu realmente gostaria de saber, Emmy... — ele disse com um longo suspiro. Depois de um minuto, ele estava dormindo. Ele roncava, um pouco, como um Darth Vader. Cuidadosamente estendi a mão, sentindo o calor que irradiava de sua pele, e desliguei a lâmpada. Fiquei ali por um tempo, ao lado dele, ouvindo sua calma respiração, observando seu peito subir e descer nas sombras. Sentiame exausta. Tê-lo ali, tão perto, era estranhamente tranquilizador, mas não me ajudou a relaxar. Eu podia sentir cada músculo do meu corpo cansado formigando. Quando meia hora havia se passado, eu comecei a lutar com os lençóis novamente. Eu estava com medo de acordá-lo. Considerei... Decidi. O ouvi atentamente. Quando eu tinha certeza que ele estava em um sono profundo, eu estendi minha mão... e muito lentamente deslizei debaixo na sua. Entrelacei nossos dedos. Em um reflexo inconsciente, sua mão apertou a minha. Eu inalei e exalei, e finalmente, finalmente adormeci. Fomos despertados de manhã pela agitação dos guardas na entrada do andar de baixo. Eu tinha acordado alguns segundos antes de Cameron, cuidadosamente tirando minha mão da dele antes de ele perceber o que eu tinha feito. Minha mão de repente sentiu frio, não natural, como se estivesse faltando um dedo. A porta da frente se fechou com um golpe. Cameron saiu em disparada para fora da cama como uma bala e se levantou, desorientado, ofegante, cada músculo do seu corpo fortemente apertado, como o corpo de armadura. — Está tudo bem, Cameron, — Engoli em seco. Eu estava com medo dele, por ele.

Julie Hockley

Ele se virou abruptamente em direção a minha voz. Seu rosto era ameaçador. Eu sorri suavemente e esperei que ele voltasse. Ele manteve os olhos em mim. Ele piscou. Seus punhos se afrouxaram. Então ele se sentou na beirada da cama, correu os dedos pelo cabelo e coçou a cabeça, respirando com um propósito. Depois de um longo segundo, ele se virou. Um sorriso forçado tinha rastejado em seu rosto. — Bom dia. — Minha voz resmungou um pouco. Engoli a tristeza por ele. — Bom dia. — Ele respondeu rispidamente. Seu rosto corado, e seu cabelo em todas as direções. Ele era bonito novamente. Suspirei com gratidão. — Pensei que disse que não dormia? — Eu não... normalmente. — Ele respondeu com um sorriso tímido. A porta do quarto ainda estava entreaberta, a maneira como Cameron tinha deixado durante a noite. Meatball já estava lá embaixo, provavelmente, tendo sua rotina das suas funções de inspeção de alimentos. Cameron

e

eu

descemos

as

escadas

juntos.

Spider e Carly estavam andando pela porta da frente. Spider fez uma careta assim que ele nos viu. Carly virou-se para ele. — Eu disse que ele estaria aqui, — ela murmurou alto o suficiente para ouvir-nos. Spider não estava rindo quando se virou para Cameron. — Existe alguma razão pela qual você não estava respondendo o seu telefone? Você poderia ter, pelo menos, nos deixado uma nota, cara. Não tínhamos ideia de onde você estava.

Julie Hockley

Cameron limpou a garganta, parecia que ele estava prestes a responder, espiou para mim, e corou um pouco mais. Guardas carregando caixas estavam fazendo fila na porta, sendo interrompidos por Spider e Carly, que estavam bloqueando a procissão. Carly avançou para deixá-los passar. Spider a seguiu, garantindo lançar um olhar feroz para mim antes de desaparecer através da cozinha. Alguns olhares dos guardas passavam em nossa direção enquanto atravessavam caminho adentro. Cameron provocou um pequeno discreto sorriso em minha direção e desceu o resto da escada. Ele saiu pela porta, passando por Griff em seu caminho para fora. — Hey, Ginger, — cumprimentou Griff alegre. Ele olhou para mim

por

cima

da

caixa

de

alimentos

congelados

que

estava

carregando. Ele parou na porta para tirar os sapatos, equilibrando a caixa, ao mesmo tempo. Cameron estava caminhando para fora da varanda da frente. Sua cabeça momentaneamente virou-se para Griff, mas ele continuou andando para as vans paradas. Griff me olhou de cima a baixo. — Acabou de se levantar? — Ele perguntou de passagem e continuou até a cozinha. Eu percebi com mortificação que eu ainda estava usando meu pijama — meus pijamas de flanela do Mickey Mouse. De volta ao quarto de Cameron, eu estava andando no ar, estabelecendo um novo recorde para a minha rotina matinal. Logo desci as escadas, e entrei na cozinha, onde Rocco estava ocupado guardando as compras. Cameron, Carly, e Spider estavam sentados à mesa da cozinha, murmurando sobre um documento. Cameron, que também estava de banho tomado e vestido, sorrateiramente olhou quando eu entrei na cozinha. Ele sorriu muito rapidamente, e inclinou a cabeça para trás ao longo dos documentos na frente dele antes de Spider e Carly notarem o lapso momentâneo de atenção. Eu sorri para mim e

Julie Hockley

fui ajudar Rocco a guardar as compras, colocando em qualquer espaço livre que poderíamos encontrar. Preparei-me uma tigela de cereais, mesmo que já fosse hora do almoço. Não querendo perturbar a reunião de negócios e sentir a irritação de Spider, eu dei uma volta saindo à varanda, onde eu me sentei para comer o meu café da manhã sozinha. O céu estava cinza. O ar estava pesado e abafado. Uma tempestade estava se formando. Observei as nuvens negras ondulando acima, ameaçando cair chuva durante o dia. Debaixo delas, a floresta enorme estava duramente calma, e uma fina camada de névoa envolvia as copas das árvores. Fechei os olhos e tomei uma inalação profunda; o cheiro da umidade, do musgo da floresta que me rodeava era um alivio recém descoberto, como se o cobertor de vegetação estava mantendo a tempestade de nunca realmente me atingir. Uma reação estranha para uma menina da cidade, pensei. Quando Cameron veio sentar-se ao meu lado, ele colocou os pés sobre a mesa, e nós assistimos o céu escuro, enquanto as nuvens debatiam sobre acalmar-se ou manter-se em movimento. Ele estava ao meu lado, mas ele estava longe. Movi-me para vislumbrá-lo quando uma gota salpicou contra seu rosto. — Por que você não me escutou? — perguntou a voz distante. Girou a cabeça e encontrou meus olhos. — Quando eu lhe disse para ficar longe dos Projetos? Por que você ainda voltou? Seus olhos ainda estavam fixos com os meus, meu cérebro parava de trabalhar quando ele estava perto de mim, se eu era capaz de mentir para ele, eu poderia ter dado um milhão de desculpas plausíveis. Só que eu não podia mentir para ele, mas eu não poderia dizer-lhe a verdade também. Eu estava mesmo certa de qual era a

Julie Hockley

verdade, exatamente? Eu quebrei o deslumbramento e tratei de puxar os fios que se soltam da minha calça, enquanto meu rosto virou uma máscara profunda de vermelho vivo. Quando olhei para cima, Cameron voltou sua atenção de volta para o céu. Ele estava longe novamente. Minha falta de resposta tinha sido suficiente de uma resposta para ele? Depois de um curto período de tempo, as gotas de chuva começaram a cair.

Julie Hockley

Cameron anunciou-me que ele queria fazer algo divertido. Nós dirigimos para a entrada de automóveis, com Tiny caminhando. A chuva caía em cima de nós, e nós começamos a caminhar mais rápido. Quando chegamos à curva do caminho, algo na parte de trás da propriedade me chamou a atenção. Griff e Spider estavam de pé perto da linha de árvore no local habitual de Griff. O rosto e o dedo trêmulo de Spider estavam muito perto do rosto de Griff. Seu peito bombeava, seu rosto estava na cor de beterraba vermelha. Seus lábios estavam se movendo rapidamente, com raiva. Griff estava de costas para mim, com a cabeça inclinada em submissão. Enquanto situação,

não

eu

estava

tinha

rapidamente

percebido

que

processando o

meu

toda

ritmo

essa tinha

abrandado. Cameron tinha voltado para me pegar. — Você não tem que esperar por Tiny, — ele me disse, sorrindo. Tiny nos tinha alcançado, todo ofegante. Ele olhou a parte de trás da propriedade consciente de que eu estava olhando, mas permaneceu em silêncio. Quando chegamos à garagem, Cameron tinha um sorriso ainda maior no rosto. Ingenuamente, eu sorri de volta. — O quê? — Qual deles? — perguntou, acenando com a mão para trás e para frente ao longo da linha de carros como show de demonstração. O sorriso desapareceu do meu rosto. Eu balancei a cabeça em descrença. — Esta era a sua ideia de "diversão"?

Julie Hockley

Cameron assentiu como se ele ouvisse meus pensamentos. — Estes são seus carros. Você deve saber como conduzir alguns deles. Eu

tinha

minha

carteira

de

motorista





alguns

meses. Conseguir uma carteira de motorista foi uma daquelas coisas do mundo real

que

eu queria

ter. Comemorei a minha

conquista

comprando o carro do nosso senhorio por pouco menos de duzentos dólares. Era um Buick Roadmaster station wagon 1991 azul bebê, com lados do painel de madeira e um teto solar que foi coberto com um saco de lixo porque vazava quando chovia. Às vezes eu até poderia dar-me ao luxo de colocar um pouco de gasolina nele. O carro foi feito de aço realmente, o que foi crucial. Os semáforos amassados, latas de lixo esmagadas na minha rua testemunharam minhas habilidades de condução. Despertei abobalhada lembrando a minha recentemente adição de meu Buick e olhei para os carros brilhantes, frágeis, alinhados ao meu lado. Imaginei o tipo de dano que alguém como eu poderia fazer para eles... perdi minha respiração e me apoiei em um dos brinquedos coloridos para me equilibrar. —

Ah!



Disse

Cameron

despertando

do

meu

transe

descomunal. — O Maserati! Escolha ousada. Ele sorriu com aprovação e foi pegar as chaves da parede ao fundo. — Cameron, eu não posso... Não tenho nenhuma ideia de como dirigir... Esta... Coisa... — É incrivelmente fácil, — tranquilizou. — Eu vou te mostrar. Nem mesmo Cameron poderia tranquilizar-me neste momento. Cameron subiu no banco do motorista. Tiny se sentou no banco de trás, colocando sua arma ao lado dele. E eu relutante me sentei do lado do passageiro. Cameron passou os próximos minutos divertindo-se com as minhas tentativas frustradas de fechar a porta. Quando eu

Julie Hockley

desisti, cruzando os braços e bufando como uma criança de cinco anos de idade, ele voltou para fora do carro e fechou a porta para mim. Meu humor estava escurecendo com a desgraça iminente. Isso pareceu divertir Cameron ainda mais. Tiny estava se divertindo também. Eu tinha certeza de que eles estavam fazendo caretas quando minha cabeça estava voltada a lutar com o cinto de segurança estúpido. Cameron acabou inclinando-se sobre mim para me ajudar com isso também. Enquanto ele puxou a alça para o meu colo e nossos olhos se encontraram brevemente, deixei o meu sorriso alcançar meus olhos. Suas bochechas se coloriram um pouco; ele olhou para baixo e depois para longe e se atrapalhou para fixar a correia o mais rapidamente possível. Dirigindo para fora da garagem, Cameron olhou para tudo e qualquer coisa menos em minha direção. No final do caminho, ele desacelerou apenas tempo suficiente para o encharcado guarda armado espiar dentro do carro e rapidamente se afastar. Em poucos segundos, o carro estava correndo a uma velocidade incrível na estrada de cascalho. Agarrei-me à maçaneta da porta e o console para salvar minha vida enquanto Cameron explicou algo sobre o motor e como as engrenagens funcionavam. Mas não ouvi nada. As árvores na beira da estrada era um grande borrão esmeralda, e eu estava sentada tão perto do chão, era como deslizar em um trenó. A chuva golpeava forte no para-brisa. Corremos através das curvas acentuadas, nunca diminuindo. Cameron estava completamente, frustrantemente calmo. E então ele passou a olhar para mim. Ele abrandou um pouco, e eu era capaz de engolir novamente. Havíamos dirigido durante bastante tempo, pelo menos, vinte e quatro quilômetros, pensei. Embora eu não tinha certeza, eu não acho que eu tinha visto quaisquer outras saídas fora da estrada de

Julie Hockley

cascalho. Eu definitivamente não tinha visto nenhuma outra casa. Nós estávamos no meio do nada. Quando o caminho de cascalho virou uma estrada pavimentada, Cameron girou o carro e parou. — Pronta? — Não, — murmurei, mas ele já estava fora do carro, fazendo o seu caminho de volta para o lado do passageiro. Ele abriu a porta e ficou na chuva. Me deslizei para o lado do motorista e capturei o reflexo de Tiny quando eu ajustei o espelho retrovisor. Ele estava apavorado... Igual a mim. Ainda que Cameron me orientasse todo momento, o carro continuava sacudindo e morrendo. A cabeça de Tiny se chocava contra o

assento

na

frente

dele

cada

vez

que

o

carro

parava

em

solavancos. Depois de um tempo longo, eu era capaz de fazer o carro mover-se mais do que algumas polegadas de cada vez, em pouco tempo, estávamos costeando a estrada enlameada. O carro fez curvas sem esforço. Era quase emocionante. Os dedos de Tiny estavam brancos, nunca afrouxando seu aperto na maçaneta da porta. Cameron parecia estar olhando com orgulho, apreciando o passeio. E então tudo foi muito mal. Cheguei a uma poça enganosamente rasa e a uma curva mais rápido do que eu esperava. Virei à roda, mas nada aconteceu. Travei duro, o carro derrapou. Cameron estava olhando para frente, uma mão no painel. — Espere... vamos bater, — disse ele sem alterar-se. Todos nós prendemos a respiração.

Julie Hockley

Pisei no freio novamente como um reflexo. O carro fez um círculo completo na lama e deslizou, ganhando velocidade no processo. A última coisa que eu lembrava era Cameron ordenando-me para cobrir meu rosto, o que fiz sem pensar. Em seguida, veio um estrondo alto, rapidamente seguido pelo barulho de madeira contra o metal e vidro quebrando. O som do motor. E então tudo estava silencioso apenas o som da chuva contra o capô, que soava como nossa respiração. — Em... está ferida? — A voz de Cameron urgente, finalmente. — Não, — respondi por trás das minhas mãos. — Vamos ver. — Puxou minhas mãos para longe e virou meu o rosto para ele. Quando meus olhos se abriram, ele estava rindo. — Acabou de destruir um carro de trezentos mil dólares! Na parte de trás, Tiny estava rindo também, a sua barriga grande subia e descia. Ele estava coberto de cacos de vidro da pequena janela de trás que tinha sido quebrada por galhos de uma árvore. O carro estava do seu lado, a metade dentro de uma vala, metade na floresta. Fora da minha janela, vi um monte de lama. Nada sobre isso era engraçado, ou tinha "diversão" para mim. Depois de tentar empurrar o carro para fora, ficamos todos na chuva observando o Maserati afundar na lama. Então a realização chegou, Tiny tirou um radio e pediu para que alguém viesse desenterrar o carro. Reconheci a voz aguda de Spider no outro extremo do rádio. Meu estado de ânimo havia melhorado após a chuva ter cessado, Cameron e eu decidimos voltar andando o resto do caminho de volta a casa. A estrada foi inundada em algumas partes, e meus tênis venerados se afogaram com a lama. Tiny tinha ficado para trás, olhando inquieto quando o chefe o deixou sem sua arma para defender-se.

Julie Hockley

A ajuda chegou a nós sob a forma de uma picape preta, com Spider e quatro guardas que se seguravam fortemente nas portas de trás da caminhonete. Após a nossa quase diversão, Cameron estava em um excelente humor. Assim, quando Spider lançou seu olhar furioso para mim, eu decidi aproveitar o momento. — Spider não... gosta muito de mim, — murmurei. — Ele está apenas sendo superprotetor. Levantei um pouco o queixo e franzi a testa. Ao lado de Cameron, me parecia um engano. — Eu sou uma grande ameaça para você? Ele fez uma careta e olhou para a estrada à frente. — Mais do que você sabe, — ele murmurou, enquanto pulou sobre uma poça. — Quis dizer Carly, não eu. Spider está tentando proteger Carly. — Ele virou-se, estendendo a mão para me ajudar a saltar sobre uma grande poça. Eu ainda não entendia, e pulamos a poça juntos. — Por que eu iria querer machucar Carly? — Não é uma questão de você querer machucá-la. É que você o lembra a cada vez que ela vê você. — Cameron tinha um olhar atento sobre o meu rosto, incitando-me para fazer a conexão. — Meu irmão? — Bill e Carly saíram, — explicou. — Mas eu não pareço nada com ele. — Outra reviravolta injusta do destino. — Seu cabelo pode não ser loiro, — disse ele, — mas você é muito parecida com Bill. Isso me fez sorrir, apesar do comentário do cabelo. — Quanto tempo eles saíram?

Julie Hockley

— Um tempo... mais tempo do que qualquer garota que ele saía. — Ele esperou até que nossos olhos se encontrassem. — Antes de Carly, Bill nunca deixou uma menina ficar em torno tempo suficiente para ela conhecê-lo. Parte de mim se perguntou se isso tinha sido adicionado para meu benefício, ou se Cameron estava se referindo a si mesmo... ou se eu estava lendo mais nele do que havia. A outra parte de mim estava tentando não comê-lo com os olhos; A encharcada camisa de Cameron se agarrava a ele... era muito difícil não cobiçar. Desviei o olhar e me concentrei em sair do pântano com vida. — Quando Carly chegou, Bill estava diferente, — disse com dificuldade. — Ele disse-lhe tudo... não importa o quão ruim era... e havia um monte de coisa ruim... Eu rapidamente fiz uma careta. — Eu tenho certeza que não era tão ruim como você diz que é, Cameron. Ele forçou um sorriso. — Você quer dizer tão ruim como Bill fez. Dei de ombros. — Ele deve ter a amado muito, — eu disse, virando para ele. — Para sentir como ele poderia contar-lhe tudo, sem ter medo do que ela poderia pensar. Tem que ter um monte de coragem e confiança. Ele

parecia considerar isso

enquanto

ele

examinava

meu

rosto. — Carly é um osso duro de roer. Ela pode lidar com muito mais do que a maioria das meninas. — Como você saberia? — Antes de Carly, seu irmão tinha muitas meninas, e ele deixou um rastro de destruição atrás de si. Spider tentou avisar Carly sobre seus... maus hábitos. Ela não deu ouvidos, — A voz de Cameron voltou afiada. — Spider estava certo.

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A próxima coisa que saiu da minha boca eu esperava com cada fibra do meu ser que ele negasse. — Ele a traiu, não foi? — Sim, — confirmou solenemente. — Só que era muito pior do que isso. Eu não podia imaginar o que era pior do que enganar alguém que você amava e que te ama... até Cameron me dizer: — Ele deixou a outra menina grávida. Ele estava certo: era muito pior. — Quem era ela? — exigi. — A outra mulher? Assenti. Ele olhou à frente. — Você já a conheceu e seu filho. O garoto é imagem viva do Bill. De um canto da minha mente, chegou à imagem que eu tinha do meu irmão quando criança: cabelo loiro, encaracolado, pele beijada pelo sol, olhos cinzentos. Ele tinha mantido esses traços como um adulto... e eu tinha visto essas mesmas características muito recentemente. — Danny, — engasguei. — Bill teve um filho com Frances. — Spider o confrontou uma vez, — ele me disse. — Quando seu irmão estava agindo... estranho, Spider acusou-o de enganar Carly e eu. Bill negou, e Carly acreditava nele. Inferno, eu mesmo acreditava nele, não que isso tivesse alguma coisa a ver comigo. — Sorriu sombriamente. — Bill poderia ser bastante convincente quando ele precisava ser. Começou a chuviscar novamente, mas mantivemos um ritmo muito lento. — Depois que ele morreu, nós descobrimos sobre Frances quando ela veio à procura de dinheiro. — Será que Bill sabia que ela estava grávida? — Perguntei.

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— Ele devia saber. Sua barriga já estava evidente quando ele morreu, — disse ele, revirando os braços na frente de seu estômago. — Spider deve ter se sentido vingado, — eu deduzi incapaz de manter a irritação fora da minha voz. — Na realidade não, ele estava muito ocupado com Carly para se preocupar em ter razão, — respondeu com sua voz mais grave. — Quando Bill morreu, Carly estava devastada. Então, quando Frances chegou, ela ainda não acreditava que Bill a traía. Mas quando o bebê nasceu e ele parecia tanto com Bill, Carly estava... — Ele tomou um segundo e passou a mão sobre o rosto. — Nós acreditávamos que ela não podia suportar mais nada. Enquanto meu cérebro parou um momento para recuperar-se, minha boca perguntou, Spider e Carly estavam juntos? Cameron explodiu em gargalhadas. — O quê? Deus não! Seria muito doente se fossem! Seus olhos se estreitaram. — Por que você pergunta? — Ele parece muito protetor com ela. Eu apenas pensei… — Não há nada platônico sobre a necessidade de Spider proteger Carly, — Sua risada foi suave, e ele explicou: — Spider tem sido apaixonado por Carly, por pelo menos todo o tempo que eu o conheço, provavelmente mais. Eles não gostam de falar sobre sua infância, então eu não sei muita coisa. Só algumas partes que eu ouvi, eles cresceram juntos, Carly tinha um pai assustador e Spider a protegeu por toda vida. Ele se inclinou e baixou a voz, no caso das árvores nos ouvir. — Quando Bill e Carly começaram a sair e eles ficaram realmente sérios, pensei que Spider ia estalar. Eu imaginei que ele estava indo querer matar Bill ou a si mesmo. Em vez disso, ele passou seu tempo tentando provar para Carly que Bill não era suficientemente bom para ela.

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Algo não se encaixava. — Bill está morto há um tempo, e Carly parece

estar

bem

agora,



avaliei. Minhas

interações

com Carly tinham passado de seus olhares mortais e seus palavrões que me gritava para, agora, algo civilizado, quase amigável. Ele sorriu orgulhoso. — Spider e eu estamos tão surpresos quanto você, ambos achamos que ela se voltaria louca. Minha cabeça disparou. — Você conversa com Spider sobre mim? Com a testa franzida, ele olhou para frente. Um trovão rugiu no céu, e uma linha de nuvens negras se acumulou sobre nossas cabeças. A névoa havia rodeado o topo das árvores fazendo o caminho de cascalho pouco discernível além de dois palmos à frente. Cameron e eu ficamos em silêncio por algum tempo. Questões ainda colorindo meus pensamentos. Por um lado, era um erro estúpido e idiota do meu irmão que não tinha nada a ver comigo. Segundo, se Carly não estava tão perturbada por minha presença, por que Spider ainda sentia a necessidade de fechar a cara feia cada vez que ele me via? — Há mais que isto, o que Bill fez para Carly, — eu disse e observei atentamente. — Há outra razão pela qual Spider não gosta de mim. Ele reduziu a velocidade do nosso ritmo, já lento, enquanto ele pensava. Quando olhou para cima, eu podia ver a luta. — Ele não confia em você, e ele definitivamente não confia em mim com você. — Por quê? — Desafiei. — Pelas mesmas razões que ele nunca confiou no seu irmão, antes mesmo de Bill e Carly se conhecerem. De repente, eu tinha essa sensação de mal estar no fundo do meu estômago, eu, de alguma forma, sabia que não gostaria do que

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Cameron estava prestes a me dizer... e ele levou o seu tempo para dizerme, prolongando a agonia. — Pessoas como você, como seu irmão, pessoas que tem dinheiro como vocês... sempre terá o dinheiro da família, seu nome de família, o seu poder familiar para que quando cair, possa protegê-lo, cobri-lo quando as coisas ficarem ruins. Tentei manter minha voz normal, embora a tempestade estivesse em pleno apogeu dentro de mim. — Ruim como ser pego, preso. — Entre outras coisas, — continuou, recusando-se a olhar para mim. — Quando pessoas como Carly, Spider e eu, entramos em apuros, a única coisa que essa gente vê é que viemos das ruas. Eles estão felizes quando somos apanhados, porque merecemos tudo o que vem a nós. Não

existem

grupos

de

busca

quando

um

de

nós

desaparece. Ninguém se importa se um de nós aparecermos mortos, apenas outra estatística de crime. Se o barco começa a afundar, nós vamos para baixo com ele. Ninguém estará lá para nos lançar um bote salva-vidas. Eu não poderia imaginar algum dia estar com meus pais em qualquer tipo de barco. Minha família estava mais apta a ficar a bordo de um navio cruzeiro de luxo ao lado do naufrágio do barco, divertindose com entretenimentos, os outros hóspedes desviando a atenção para ninguém perceber que um de nós estava se afogando. — Você pensa da mesma forma que Spider? Vê-me como uma pessoa que foge das coisas quando ficam difíceis? — Eu disse, com meu temperamento queimando. — Penso que você tem muito mais opções do que qualquer outra pessoa que eu conheço. — Você está me julgando por causa da quantidade de dinheiro que meus pais têm em sua conta bancária?

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Cameron finalmente olhou para mim com os olhos apertados. — Fui julgado toda a minha vida, pelo dinheiro que meus pais não tiveram. — Eu não escolhi o lugar onde nasci, e nem meu irmão. Não escolhi quem seriam meus pais e onde cresci. — Nem eu, — ele retrucou. — Pode fugir da sua casa grande, escolher estudar em uma escola pobre, pode viver em uma casa feia no pior bairro... nada disso muda de onde você vem, Emmy. Para o resto do mundo, você e seu irmão sempre serão como duas crianças ricas e confusas que estão tentando mostrar que a causa de seus problemas são seus pais. Mas quando quiserem, podem voltar a casa grande e para as contas bancárias. Eu não tenho esse consolo. Isto, — disse ele amargamente, estendendo os braços para fora — É para mim. Eu tenho outro lugar para ir. Escolas na França, amigos ricos não mudam o fato de que eu sou apenas outro menino de rua. O céu explodiu e baldes de chuva vieram caindo. Eu não tinha percebido que Cameron e eu tínhamos parado no meio da estrada, e que estávamos olhando um para o outro, ficando encharcados. — Então você não confia em mim... só porque meus pais têm dinheiro. — Eu não disse isso, — disse emburrado. — O que você está dizendo, Cameron? — Segui olhando com raiva para ele através da água. — Por que você disse que o Spider não confia em você comigo? — Porque ele é mais esperto do que eu, — desabafou, com a voz rugindo, digno de ser um rival para o trovão que soou nesse instante. — Ele sabe que eu gosto demais de ter você por perto, quando você não deveria estar aqui em primeiro lugar. E, eu não sei se você percebeu, mas eu derramo minhas tripas quando estou perto de você. E eu estou em um tipo de negócio em que as pessoas que falam demais

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desaparecem. Permanentemente. E pessoas como você somem antes mesmo que possam ter a oportunidade de dar informações sobre pessoas como eu. Seus olhos eram ferozes, e os músculos do seu rosto estavam tensos. Parecia que ele quis dizer cada palavra do que ele me tinha dito. Tudo isso foi o suficiente para o meu queixo começar a tremer. Não importa o quão duro eu mordi meu lábio, eu não podia parar. Cameron de repente baixou a cabeça em suas mãos. — Emmy... Deus, eu sinto muito... Eu não sei o que há de errado comigo. — Quando ele olhou para cima, estava desolado, — Emmy, eu não queria te assustar. É tão confuso para eu tê-la aqui, — Resignado, sacudia a cabeça. A chuva escorria de seu cabelo desordenado em seus olhos. Ele parecia triste e bonito, tudo de uma vez. Eu encontrei-me querendo nada mais do que fazê-lo feliz novamente. Isso me assustou mais do que as palavras que saíram de sua boca. Eu sorri para ele. Levou um tempo, mas ele sorriu de volta. Eu desejei que nunca tivesse decidido falar sobre Spider. — Podemos começar de novo? — Eu não sei, — disse com consciência. — Nós podemos? Eu considerei e sorri mais amplo. — Qual é o seu último nome, Cameron? Ele sorriu um pouco mais também. — Você sabe, ninguém se atreveu a me fazer essa pergunta em um tempo muito longo. Eu não acho que alguém aqui sabe o meu último nome verdadeiro, exceto Rocco e Spider. Esperei, batendo o pé na poça que estava a centímetros do meu pé. Pensei que devia ser estranho ser cercado por pessoas que não tinham ideia de quem você era. E então eu percebi que isso não era muito diferente da minha própria vida em Callister.

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Cameron olhou pensativo, participando de outro de seus debates privados. Ele balançou a cabeça em derrota. — Eu não posso acreditar que estou dizendo isso... meu último nome é Hillard. Enquanto meus pensamentos estavam gravando seu nome dentro das paredes da minha cabeça, eu estendi minha mão com uma trégua. — Prazer em conhecê-lo, Cameron Hillard. Eu sou Emily Sheppard. Desta vez, Cameron pegou minha mão e apertou calidamente com um sorriso inocente em seu rosto. — Prazer em conhecê-la, Emily Sheppard. — Aqui, — eu disse com satisfação. — Agora podemos começar oficialmente de novo. Cameron riu levemente, pouco a pouco, recobrando seu bom humor. Me senti aliviada. Trovões e relâmpagos estouraram em cima de nós. Corremos o resto do caminho para a casa. A névoa era ofuscante, então Cameron teve que me guiar o resto do caminho. Estava assustada com os dois guardas encharcados que apareceram fora da névoa à medida que nos aproximávamos da entrada da propriedade. Eles rapidamente recuaram quando viram Cameron. Havíamos chegado de volta a casa, sem fôlego, cobertos de lama e encharcados. Poças foram rapidamente formadas em torno de nossos pés no chão de mármore. Eu estava parada, com grande constrangimento, enquanto Cameron tirou seus shorts de pugilista. — Espere aqui, — ordenou com energia renovada e saiu correndo pela cozinha. Ele voltou com uma toalha de banho na mão e outra na cintura. Colocou a toalha ao redor dos meus ombros e segurou-a para que eu pudesse tirar a roupa sob ela. — Eu prometo que não vou olhar, — ele me disse com um brilhante sorriso.

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Tremendo, tirei minhas roupas enquanto Cameron desviou o olhar com um grande sorriso no rosto. Envolvi a toalha firmemente em torno do meu tronco. Meus dentes batiam, subi velozmente as escadas e fui sob a água escaldante do chuveiro até que eu tinha certeza que tinha realizado a minha missão de obter uma queimadura de primeiro grau. Vestida e aquecida, eu voltei escadas a baixo e encontrei cinco homens seminus em pé na entrada da frente. Pilhas de roupas molhadas e sujas tinham sido jogadas no chão. Parecia que, como Cameron e eu, todos haviam pensado em tirar suas roupas na porta, em vez de manchar a casa de água e lama. O piso do foyer era agora um lago marrom. Esperei que eles se mexessem para fora do caminho para que eu pudesse ir adiante. Vestidos com suas roupas íntimas encharcadas, os homens trêmulos, em grande parte, me ignoraram e discutiram sobre quem

era

o

eleito

a

ter

sua

vez

primeiro

no

chuveiro

quente. Mantiveram a discussão, enquanto eles fizeram o seu caminho para o porão. Griff de peito nu foi deixado para trás no foyer, ainda lutando para torcer suas meias molhadas fora de seus pés. Ele tinha uma expressão amarga em seu rosto, seu humor combinando com clima de tempestade. — Ei, Griff, — eu disse com alegria. Griff levantou a cabeça, me reconheceu com um grunhido. Ele finalmente conseguiu puxar uma de suas meias e começou a jogá-la em uma das pilhas de roupas molhadas, mas escorregou e quase caiu sobre seu traseiro. — Eu vi você com Spider antes, ele parecia muito chateado, — comentei — Teve problemas por faltar ao trabalho enquanto eles estavam fora?

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— Isso e outras coisas, — Depois de um tempo, Griff tirou as calças de brim molhadas e ficou descaradamente em sua cueca. Eu imediatamente desviei o olhar. O cheiro incomum de uma refeição caseira vinha da cozinha. A perspectiva de comida me animou. — Está pronto para o jantar? — ofereci, apontando para a cozinha. — Não, obrigado. Eu acho que já me meti em problemas o suficiente. Terei sorte se eu viver para ver outro dia, — resmungou. — O que você quer dizer? Os olhos de Griff dispararam por cima do meu ombro. — Não importa. Eu tenho que ir, — disse ele, com uma voz baixa e assustada. Se apressou e desapareceu no caminho do porão. Eu girei em meus calcanhares. Cameron estava atrás de mim, apoiado contra a porta da cozinha, com os braços casualmente cruzados sobre o peito. Eu pulei em direção a ele. Carly estava em pé junto ao fogão, mexendo com veemência uma frigideira grande, enquanto dava ordens a Spider, que obedientemente cortava os legumes. Cameron levou-me para a mesa, uma mesa para cinco esperava por nós. Rocco já estava sentado à mesa, ansiosamente segurando o prato sobre o coração com as duas mãos. — Onde está todo mundo? — perguntei. — É apenas a família esta noite, — Cameron me disse. Rocco olhou para seu irmão mais velho, com interesse momentâneo, afrouxando o aperto em seu prato, enquanto Carly e Spider traziam montes de comida. Burritos, Fajitas, Guacamole, suco de maçã em copos de vinho de plástico... Pareceu-me que havia muita comida para apenas cinco pessoas.

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Rocco seguia beliscando a comida na mesa quando o primeiro prato foi repartido. Depois de muito debate entre Carly e Cameron, estávamos

jogando

Poker



Texas

Hold'em. As

apostas

eram

extremamente altas: uma semana de serviços de lavanderia. Bill tinha me ensinado a jogar Poker quando eu tinha oito anos, e eu sempre pensei que tinha um bom blefe, mas depois de apenas algumas mãos, eu já estava sem fichas. Eu não me senti muito mal, até por que Carly e Rocco estavam no mesmo barco. Estava ficando tarde. Cameron estava sentado atrás de uma fortaleza de fichas e Spider apenas estava esperando. Rocco tinha a cabeça sobre a mesa, e eu tinha apoiado em meu punho. — É sempre assim? — Sussurrei para Carly. — Quer dizer se Cameron sempre ganha? Eu pensei sobre isso e assenti. Ela olhou na direção de Cameron. — Ele ganha, mas ele trapaceia. Ouvi um resmungo vindo da direção de Cameron . — Como? — A minha atenção totalmente em Carly. — Ele conta as cartas e ele lê as pessoas. — Ela fez uma pausa e observou minha expressão perplexa com prazer. — Ele sabe o que as pessoas estão pensando só de olhar para elas. Cameron não se gabou sobre isso com você? Neguei com minha cabeça. Carly encolheu os ombros. — Isso é surpreendente. Virei meus olhos para Cameron. — Isso é verdade? Você pode realmente dizer o que as pessoas estão pensando? — Não exatamente, — ele respondeu com um olhar penetrante na direção de Carly. — Carly gosta de fantasiar.

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Spider empurrou o resto das suas fichas no pote e murmurou, — Tudo, — Cameron imediatamente voltou sua atenção. Eles viraram as

suas cartas na

mesa

esperando

para

revelá-las. As

três

primeiras cartas deu a Cameron um Flush. Spider esperou os dois seguintes, esperando que algo iria salvá-lo. Mas o jogo já não era de nenhum interesse para mim. — Que parte é fantasia? — Eu não sei o que as pessoas estão pensando, — ele esclareceu. — Tudo o que posso dizer é que, se alguém está nervoso, ou louco, ou feliz, ou mentindo... — Ele piscou para mim sorridente. A quarta carta era um nove de ouro. Spider pulou um pouco. Outra de nove ou um rei iria dar-lhe uma mão cheia para vencer Cameron. Isso me fez pensar. — Algumas pessoas são mais fáceis de ler do que outras? — Todo mundo tem suas próprias peculiaridades, — disse. — Embora, sim, algumas pessoas são definitivamente mais fáceis de ler do que outras. — Bem, você conta cartas também? Isso é trapaça! — Eu o repreendi. — Poker é mais sobre saber sobre o seu adversário do que contar cartas, — disse ele, encontrando os olhos de Carly novamente. — Eu conto as probabilidades em minha cabeça. Não é uma coisa certa, mas... — Ele sorriu para Spider, —... Por exemplo, eu sei que Spider não tem nenhuma chance de ganhar essa mão. — Vamos ver, — Spider reclamou em voz baixa. Carly virou uma rainha. Spider inclinou a cabeça em derrota.

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Choveu por dias e dias. O hall de entrada se encontrava na maioria dos dias inundado — só tinha notado isso porque eu tive que caminhar através de uma parte onde a água se juntava, enquanto eu dava saltos por ver Cameron na cozinha de manhã. Caso contrário, a chuva seria despercebida por mim. As manhãs eram minhas favoritas. Era o único momento que eu tinha a sós com Cameron, antes que o resto da casa acordasse, antes de Rocco começar a sua peregrinação em torno da sala, do sofá para a cozinha. Eu notei coisas. Passar cada minuto da manhã com Cameron tinha me aberto os olhos. Primeiro Cameron era tímido, quase tanto quanto eu. Quando estávamos a sós, havia momentos em que estávamos sentados à mesa, em silêncio, comendo nosso cereal, e ele, de repente, olhava para baixo, ou me dava um pequeno sorriso e suas bochechas ficavam vermelhas, por nenhuma razão. Eu estava resignada a ter minhas bochechas e pescoço permanentemente tatuados de tons escarlates. Quando não era apenas nós dois — e esses momentos eram muito numerosos — ele era muito calado e observador, como se estivesse tentando desaparecer na parede. Logo ele estava em algum lugar escuro, momentos fugazes quando ele se tornava distante. Um manto tomava o seu rosto e as rugas prematuras ao redor dos olhos ressurgiam. Eu odiava esses momentos.

Eventualmente,

seus

olhos

me

encontravam,

e

ele

voltava. Me perguntava onde ele foi? De que lugar escuro que ele tinha voltado?

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A segunda coisa que eu notei foi incomensurável, o apego de Rocco a seu irmão mais velho. Onde quer que Cameron fosse, Rocco ia também, fielmente, com entusiasmo. Cameron, secretamente, sorriu para mim enquanto seu irmão tentava impressiona-lo com suas habilidades de luta recém-descoberta, ou tentava levantar a mesma quantidade de peso que Cameron estava levantando no ginásio. E vimos um monte de TV, passando nossos dias comendo, indo da cozinha para a mesa e para o sofá. Carly e Spider se juntavam a nós de vez em quando. Um nunca foi sem o outro. Na maioria juntos. Eu realmente gostava de Carly e Spider era tolerável. Com o tempo torrencial, eu esperava que a casa estivesse cheia, com pessoas tentando sair da chuva. No entanto, a casa era mais silenciosa do que o habitual. A casa se mantinha mais silenciosa que de costume. Os guardas só entravam para as refeições e dormir. A terceira coisa que notei foi que, inclusive, os guardas que comiam na cozinha passaram a fazer suas refeições no porão. Parecia que, quando Cameron estava por perto, os guardas ficavam longe e as refeições eram em família. Adorei isso. Eu vi brevemente Griff algumas vezes, entrando e saindo rapidamente molhado para as suas refeições. Ele tinha um olhar para mim, vago, mas por diversas vezes me ignorou, como se eu não estivesse

ali. Eu

me

senti

culpada,

como

se

eu

tivesse abandonado ele. Ele estava obviamente chateado... Eu não podia confrontá-lo sem fazer com que Cameron ou Spider desnecessariamente ficassem desconfiados. Embora Spider tivesse começado a relaxar um pouco em torno de mim, o que pareceu agradar Cameron e Carly, eu não queria dar a Spider qualquer munição para falar contra mim. A última coisa que notei foi que eu dormia — sem sonhos e em paz. Todas as noites, eu temia deixar Cameron ao fechar os olhos; ele praticamente tinha que me arrastar para fora do sofá. Tal ponto que,

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assim que minha cabeça batia no travesseiro, eu me perdia. Nem mesmo o ronco do Meatball poderia me acordar. Talvez fosse a suave maneira que a chuva golpeava contra o telhado de zinco, como as gotas que golpeavam uma taça de champanhe. Talvez fosse outra coisa. Uma noite, Rocco tinha adormecido no sofá com o controle remoto firmemente apertado em sua mão no canal do tempo. Cameron tinha desaparecido. Eu estava pensando em retomar a perseguição quando ele reapareceu encharcado. — Meu Deus! O que aconteceu com você? — Eu tive que correr até o meu carro, — ele me disse sem fôlego. — Tenho uma surpresa para você. Meu coração parou. A última vez que ele tinha uma surpresa para mim, acabou custando, para ele ou para mim, trezentos mil dólares. A Maserati ainda estava presa na lama. — Não se preocupe, — me incentivou. — Você não pode bater este. Embora Cameron tivesse me dito que ele não podia ler pensamentos, eu tinha começado a me perguntar se isso era verdade. Ele puxou uma caixa para fora e entregou para mim. — Coppola, — disse como se isso significasse algo para mim. Olhei para baixo, depois para cima. — Fizeram um filme sobre Rumble Fish? — Agora você pode finalmente descobrir como a história se passa. Cameron pôs um dedo em seus lábios e me levou para fora da sala de estar. Estar com Rocco era genial, mas encontrar tempo para estar a sós tornou-se uma arte.

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— Não fique muito animada, — ele avisou enquanto subíamos as escadas para o quarto dele e ele leu minha mente novamente. — O garoto na loja de vídeo disse que é bastante antigo e totalmente filmado em preto e branco. O ruído no meu peito não tinha nada a ver com o filme. Nós nos sentamos após Cameron colocar o CD no aparelho de DVD, jogando os pés na mesa de café. Quando os créditos de abertura rolavam, Cameron fez algo que eu não tinha sido preparada para fazer. Sua mão se arrastou até a minha. Seus dedos deslizaram entre os meus. Ele apertou. Olhei para frente, sentindo o guindaste de demolição batendo contra o meu peito. Olhei para ele com o canto do meu olho, que era o que ele estava esperando. —

Isso

é

bom?



perguntou

timidamente,

levantando

ligeiramente nossas mãos entrelaçadas. Imaginei que meu rosto estava um vermelho brilhante. Minha língua estava fora de ordem. Eu concedi a um aceno tonto da minha cabeça e um novo fluxo de calor sangue ao meu rosto. Segurar a mão de Cameron era muito mais desesperador quando ele estava acordado para testemunhar isso. Então meus olhos foram atraídos para um movimento sobre o ombro de Cameron. Além da parede de janelas, vi Carly e Spider à beira da piscina. Eles estavam caminhando juntos muito perto, mas nunca realmente tocando-se — outra coisa que eu tinha percebido que eles fazem. Eles fecharam a porta para a casa da piscina por trás deles. — Você acha que Carly e Spider estão namorando agora? — Eu perguntei em voz alta enquanto eu tentava convencer meu coração a aliviar o fluxo de sangue para que a minha cabeça e mão deixassem de palpitar tão selvagenmente.

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— Sei que estão, — disse ele rindo. — Eles tentam esconder isso, mas todo mundo aqui sabe, nós apenas deixamos pensar que nós não percebemos. Eu não conseguia entender por que Spider passaria a esconder algo que havia esperado toda sua vida. Eu sabia que não podia. — Por que eles tentam esconder? — Eles não querem que o fato de que eles estão... juntos, seja usado contra eles. — Eu não entendo, — eu confessei como sempre fazia ao seu redor. Ele tomou um longo suspiro. — Em nossa linha de negócios, se alguém vê que você se preocupa com alguém, é uma fraqueza, algo que as pessoas vão usar contra você, para tentar controlá-lo. — Como? — Perguntei. Olhei fixamente para Cameron enquanto ele mexia em seu assento. — Bem, pense nisso. E se alguém ameaçar machucar alguém que você se preocupa... como seus pais ou seu irmão, por exemplo? O que você faria para mantê-los seguros ou impedi-los de se machucar? — Qualquer coisa, — eu sussurrei com concentração. Eu tinha muitas vezes deitado na cama à noite, me perguntando o que eu teria feito de diferente se eu tivesse tido uma segunda chance de salvar a vida do meu irmão mais velho. A resposta era sempre a mesma — tudo e qualquer coisa. — Correto, — ele concordou com relutância. — Então, se alguém que sabe isso... — Alguém como quem? — Interrompi. Seu rosto endurecido. — Uma pessoa má. — Quão mau?

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— A pior, — ele murmurou. Eu sabia que deveria ter medo, mas esse nunca foi o sentimento que tive ao redor de Cameron. — Você quer dizer? Ele me olhou fixamente. — Que uma pessoa má que sabe a quem você ama... — incitei. — O quanto seria ruim que essa pessoa usasse isso para manipular, — ele terminou com crescente relutância. Ele apertou os olhos. — Podemos parar aqui? — Não. Nós não podemos. — Eu era firme. O mundo de Cameron já tinha sido o mundo do meu irmão e eu precisava saber, ainda que fosse terrível. Eu precisava saber aonde Bill tinha estado, e onde Cameron estava. Ele suspirou e parou o filme. Ele soltou a minha mão e girou o corpo em direção a mim, descansando o cotovelo na parte de trás do sofá e encostando a cabeça com o punho levantado. — Imagine o que Spider faria se alguém ameaçar ou machucar Carly. Se Spider não fizer o que eles querem, — me disse. A imagem de um enlouquecido Al Pacino brandindo uma metralhadora na Scarface me veio à mente. — Ok… — Alguém... Uma má pessoa, que sabe que Spider faria qualquer coisa para manter Carly segura irá usá-lo para controlá-lo, ameaçando ferir Carly e forçar Spider para fazer algo que ele não quer fazer ou não pode fazer. — Então essas pessoas usam outras pessoas como um meio para conseguir o que querem. Cameron limpou um pouco a garganta. — Correto. — As pessoas fazem isso o tempo todo, Cameron, — informei a ele. — Não é o fim do mundo. As pessoas podem superar. — Eu tinha a

Julie Hockley

esperança de ser a prova disso... um dia. — Não vale a pena esconder o amor, — acrescentei, artisticamente. — É por isso que eu não quero falar sobre isso com você, — disse ele, exasperado. — Você tem esse ponto de vista bonito do mundo. Tomei uma rápida inalação para afrontá-lo e estreitei os olhos. Seu sorriso era quente, mas o seu olhar estava duro. — Você é lindamente ingênua, Emmy... não quero mudar isso. — Eu não sou ingênua, — Eu bufei. — O que eu disse para parecer ingênua? — No meu mundo, — compartilhou, olhando no meu rosto — quando pegam... um ente querido... ele não sai ileso... se tiver a sorte de sair. — Você quer dizer que as pessoas perdem suas vidas no processo? — Eu tentei manter minha voz profissional, não com medo, não ingênua. — Às vezes... — ele admitiu com um murmúrio. — Quantas vezes? — Eu perguntei rapidamente. Ele não precisa responder. O olhar em seu rosto era a resposta suficiente. — Por que, — Eu tive que perguntar novamente. — Por que eles não apenas deixam as pessoas irem de uma vez quando conseguem o que querem? Por que alguém precisa... — É mais complicado que isso. Às vezes, você não pode fazer o que eles querem que você faça sem ter um monte de outras pessoas mortas. E às vezes a pessoa que você ama é morto... só porque você os ama. — Isso não faz qualquer sentido, — eu disse.

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Ele se inclinou, e seus olhos perto dos meus. — O que você faria se a pessoa que você ama fosse ferida? O que você faria para a pessoa que eles machucaram? — Eu iria caçá-los, feri-los, matá-los. — Eu estava muito chocada com a violência na minha própria voz. — E então você teria uma guerra de gangues, que provavelmente era o que eles queriam em primeiro lugar. — Como tiroteios de rua e coisas assim? — Essa é a coisa que você vê na televisão, as guerras de gangues desorganizadas. No mundo real, ninguém vê guerras de gangues. Você não

ouve

sobre

chacinas...

o

que

você

pode

ouvir

é

sobre

desaparecimentos estranhos ou incêndios de casas ou acidentes de carro ou roubos indo mal. Coisas normais que poderiam acontecer a qualquer um em qualquer dia. Ele fez uma pausa. Seu rosto era impenetrável. — O que você está pensando? — Ele questionou. — Você me diz. Você não pode simplesmente ler minha mente? — Eu zombei, embora minha voz falhasse. Ele revirou os olhos. — Eu não sei o que você está pensando, mas eu sei que cada vez que eu abro minha boca você começa a ficar um pouco mais nervosa e ansiosa, tudo de uma vez... Eu não entendo isso, — Ele balançou a cabeça e esperou. Eu não tinha percebido que eu estava segurando a minha respiração. Ele era muito observador. Exalei e engoli. — Por que alguém iria querer uma guerra de gangues? Ele deu de ombros levemente. — Pelas mesmas razões que o resto do mundo começa guerras, porque eles querem algo. Território,

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poder, dinheiro, intimidação... há uma série de razões que as pessoas começam guerras. Mas no nosso negócio, são geralmente uma má ideia eventualmente, atraem muita atenção. — Como quando muitas coisas estranhas começam a acontecer para muitas pessoas, — pensei. — Precisamente, — seu rosto estava ficando cada vez mais tenso. — Nós não iríamos começar uma guerra a menos que todos concordassem. Isso despertou meu interesse ainda mais. — Quem são todos? — Vamos apenas dizer que é um monte de chefes que sentam e tomam todas as decisões para o melhor dos negócios. — Como um conselho de administração? Escutou isso e sorriu. — Certo. Vamos chamá-los do conselho de administração. — Carly e Spider estão nessa junta? — Não, eles trabalham diretamente para mim. — Mas você está? — eu disse. Ele sorriu ironicamente. — Mais ou menos. — O que acontece se os administradores não estão de acordo? — Não posso imaginar que uma votação seria colocada aos acionistas. — O desejo da maioria vence normalmente, — ele me disse. — Caso contrário, há uma pessoa que dirige o conselho e que tem o direito de tomar a decisão final. Fiquei espantada com a forma como tudo parecia anormalmente normal. — Como uma espécie de CEO? — Chefe Executivo? Essa é uma boa maneira de colocá-lo. — Seus olhos brilharam um pouco. — Você parece saber muito sobre essas coisas.

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— Parece que eu nasci para fazer isso. Talvez eu pudesse começar a trabalhar para você também, — brinquei, embora parte de mim falava sério. O rosto de Cameron se tornou grave. — Nunca brinque com isso, Emmy. Isso nunca acontecerá. Meu coração estava fazendo beicinho. Eu decidi abandonar a busca de emprego e continuar a inquisição. — O que acontece se alguém não seguir as regras? E se eles não seguem a decisão do conselho ou apenas fazem o que eles querem, sem passar pelo conselho de administração? — Quer dizer, o que acontece quando alguém trapaceia? — Ele esclareceu com intensidade. — Então você tem um grande problema. O conselho tem que decidir o que quer fazer sobre isso. — Eles podem decidir matar essa pessoa? — Minha voz era quase inaudível. Cameron havia começado a se mexer novamente. — Sim. Eles podem, — ele respondeu, também sussurrando. — Alguma vez você já teve que tomar esse tipo de decisão quando estava no conselho? Cameron olhou para mim e apertou os lábios. — Eu não quero mentir para você. — Então não minta, apenas me diga a verdade, — eu pedi. — Eu não posso. Há algumas coisas que eu não posso falar com você. — Eu preciso saber, — admiti. E eu admiti mais: — Eu preciso entender, Cameron. — Esse é o problema, Emmy. Você está tentando me entender, mas o que eu faço não é quem eu sou. — O poder total de seus olhos estava em mim agora. — O pensamento de você me vendo dessa forma,

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de conhecer esse outro lado da minha vida que é tão... me faz sentir doente. — Cameron levou ambas as minhas mãos. — Eu confio em você, e você pode me perguntar o que quiser. Mas, por favor, não me pergunte isso. Um momento sem palavras passou entre nós. Olhei para ele, e eu percebi que já sabia a resposta, e que eu desejei não saber. — Na noite em que cheguei aqui, Rocco disse a Carly que ela não deveria usar nomes reais. — O temperamento de Carly a mete em apuros. — Cameron soltou um curto suspiro. — Apelidos são seguros. Entramos em contato com um monte de pessoas todos os dias. Qualquer um deles poderia dar informações sobre nós, vender-nos. É muito mais difícil para os policiais reduzir suas investigações para um cara chamado Bubba, Tiny ou Kid. Eu pensei sobre isso. — Qual é o seu apelido? Ele encolheu os ombros. — Eu nunca tive a chance de ter um... mas o seu irmão costumava me chamar de Kid. Isto tocou uma das cordas do meu coração, anexadas aos meus dutos

lacrimais. Olhei

negras nuvens. Junto

para com

longe. O o

sol

resplendor

se

pôs

misterioso

atrás

das

da

tela

azul brilhante da TV, o quarto ficou bastante escuro. Cameron começou o filme de novo, e em outro movimento inesperado, colocou o braço em volta de mim. Na quase escuridão, não foi tão difícil, eu não estava tão nervosa mais. Mas eu não estava prestando atenção no filme também. Ele tinha matado alguém antes. Eu tinha testemunhado com meus próprios olhos. Nunca me ocorreu realmente que o homem no cemitério, não tinha sido o primeiro que Cameron... matou. Eu comecei a pensar sobre essas pessoas. Quem eram, como que eles se pareciam ...

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então eu parei. Era muito perturbador pensar em Cameron dessa forma. Fechei meus olhos e aninhei minha cabeça, inalando o meu perfume favorito. Eu podia ouvir seu coração bater, batidas rápidas em primeiro lugar; depois de um tempo, a expansão no peito estabilizou e soou mais como uma canção de ninar. A próxima vez que eu abri meus olhos, tudo estava escuro. Eu não conseguia ver nada, mas senti-me rodeada. Lentamente, enquanto meus olhos se ajustaram à escuridão, as formas de lápides apareceram em torno de mim. Eu estava em um cemitério, e Cameron estava em pé na minha frente, de costas. Ele estava olhando para algo no chão. Aproximei-me, colocando minhas mãos em seus ombros e subi na ponta dos pés. Olhei por cima dele para ver o que ele estava olhando. Não havia nada lá. Cameron virou e me encarou. Ele sorriu. Quando nós sorrimos estendemos a mão, seu rosto começou a mudar. Tornou-se deformado, monstruoso. Uma arma se materializou na mão do monstro. Eu podia ouvir alguém gritando atrás de mim. Corra, Emily! Eu não podia me mover. Meus pés estavam presos na lama. Eu ouvi tiros e quase cai do sofá. Eu acordei, ofegando por ar. Cameron estava me segurando pelos ombros, tentando me impedir de cair de cara na mesa de café. Lágrimas ardentes corriam pelo meu rosto. Me virei; não havia monstros, apenas o olhar de pânico de Cameron. — Emmy... Jesus! Você estava gritando. Aparentemente, a pessoa gritando atrás de mim no meu sonho tinha sido eu. Olhei para Cameron, e,enquanto o torpor do meu pesadelo

se

desgastou,

eu

podia

sentir

o

fluxo

de

lágrimas

involuntariamente aumentando. Cameron apertou os braços em volta de mim e me segurou enquanto eu enterrei minha cabeça.

Julie Hockley

— Foi apenas um sonho, — me acalmou quase desgastado. Me

recuperei

e,

lentamente,

levantei

a

cabeça.

O

constrangimento colorindo minhas bochechas, e Cameron parecia doente. — Desculpe, — Eu fungava. — Eu não queria assustá-lo assim. Os lábios de Cameron foram pressionados juntos em um sorriso pouco convincente. — Bem, parece que nós somos bons em assustar um ao outro. — Não havia humor em sua voz. — Não vamos mais falar sobre o que eu faço, caso contrário, você nunca mais vai dormir de novo, e você vai dar a Meatball um ataque cardíaco. Meatball encontrava-se perto da mesa de café com as orelhas planas em sua cabeça. Eu o chamei, batendo no meu joelho. Eu o acalmei com uma massagem nas orelhas. — Cameron, isso não teve nada a ver com você... Eu sonhei que eu estava caindo de um avião, — eu menti em vão. — Não se preocupe com isso, — me assegurou enquanto o véu escuro estava se expandindo em seu rosto. Ele tocou seu relógio, mas não olhou para ele. — Está ficando tarde. Ele se pôs de pé, hesitou, e roçou no meu ombro. — Vá dormir um pouco, — ordenou. Sem dizer boa noite, ele saiu do quarto. Ouvi a porta se fechar suavemente atrás dele. Eu esfreguei as orelhas do Meatball até que ele estava bem recuperado e me sentei na escuridão do quarto de Cameron.

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Eu vi um avião hoje. Caminhei até a janela, olhei para cima, e lá estava, um pequeno ponto branco através das nuvens. Ele desencadeou algo que tinha sido enterrado dentro de mim: uma memória de desvanecimento do outro mundo, o que ainda deve ter existido além da floresta, além da fazenda escondida, além de Cameron. A casa no subúrbio de Callister, o quarto do tamanho de um armário, as aulas e trabalho e sobreviver... Gostaria de saber em que ponto da vida eu tinha começado a me sentir como outra pessoa. Eu me perguntava quanto tempo tinha sido desde que eu tinha deixado àquela outra vida — os dias, as semanas foram se tornando obscuro para mim. Eu me perguntei se alguém do lado de fora até mesmo percebeu que eu tinha ido embora. Lentamente, muito lentamente, desci as escadas, tentando alongar

o

inevitável. Eu

ainda

estava

horrivelmente,

totalmente

mortificada pelo meu episódio de gritos da noite anterior. Desistindo de dormir, eu tinha passado uma boa parte das horas na escuridão inventando histórias que melhor explicavam a minha reação covarde das revelações de Cameron. O resto da noite, eu passei buscando maneiras de me fazer parecer e soar convincente quando tivesse que mentir para o rosto de Cameron. Tudo o que eu podia esperar era que Cameron tivesse esquecido; mas com a expressão ferida no rosto dele antes de sair — uma imagem que agora enraizava no meu cérebro — a esperança foi infrutífera. Deixei Meatball sair da casa. Ele correu a toda velocidade para longe

da

minha

miséria,

enquanto

uma

música

pulsava

à

Julie Hockley

distância. Griff, que estava de guarda em seu lugar habitual na propriedade, parecia tão miserável como eu. Eu considerei atrasar ainda mais o inevitável, ir lá e unir nossa melancolia. Mas não o fiz. Estava muito quente lá fora, e eu estava presa em turbulência suficiente, e Griff tinha emburrado ainda mais no segundo que ele tinha me notado em pé na porta. O drama fervendo na cozinha só reforçou a minha decisão de não lidar com Griff, adiando outra coisa inevitável. Fechei a porta e segui a voz alta e agitada de Rocco na cozinha. — Isso é estúpido. Eu não vou fazer isso! — ouvi Rocco gritar. — Se quer ficar aqui, você vai fazer o que eu disser. — Ele tinha soado como Cameron, exceto que o tom era implacável. Eu estremeci e entrei justo quando Rocco passava correndo, quase batendo em mim. Ele parou na minha frente, com os olhos em fenda. — Você deu essa ideia. — Ele me acusou. Embora a lista de coisas que eu poderia ter feito de errado para Rocco,

passaram

pela

minha

cabeça,

meus

olhos

procuraram

assistência silenciosa de Cameron, que estava sentado à mesa grande, absorvido na papelada na frente dele. Ele olhou para cima, mal olhando na minha direção, e voltou para seus papéis. — Emily não tem nada a ver com isso, Rocco. Você vai fazer isso. Fim de discussão. Rocco ficou ofendido e bufou. Eu estava me recuperando do uso de Cameron de Emily contra Emmy.

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Rocco caminhou pisoteando no corredor, batendo a porta do quarto. Juntei

os

papéis

espalhados

do

assento

recentemente

desocupado de Rocco, era algum tipo de formulário. — Eu perdi alguma coisa? — Fiquei surpresa com o quão tranquila minha voz soou, como se minhas cordas vocais estivessem caminhando sobre cacos de vidros. — Investiguei enquanto estava fora, Rocco tem quinze anos e abandonou a escola um mês antes de vir para cá, — Cameron me disse, sua voz, sua expressão era branda. — Caramba! Quer dizer que ele ainda não terminou sua fase de crescimento? Ele vai ser um monstro até quando chegar aos dezoito anos. Tem certeza de que pode se dar ao luxo de manter a alimentação dele? — Me esforcei um pouco mais. Eu pensei que tinha visto os lábios de Cameron dobrandose; mas qualquer coisa parecida como um sorriso que poderia ter vindo, foi pelo mesmo tempo que ele ergueu os olhos; em seu lugar havia um olhar frio. — Ele tem que terminar a escola se quiser ficar aqui. Eu não vou tê-lo passando seus dias apodrecendo na frente da TV e não fazer nada de bom com sua vida. Engoli em seco enquanto ele recolheu seus papéis — Eu poderia ajudá-lo, — eu ofereci inquieta. — Com as tarefas e essas coisas. Ele empurrou sua cadeira para trás. — Qualquer coisa que te mantenha ocupada.

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Eu senti a picada. — Cameron, sobre ontem à noite, — Comecei, tomando uma decisão de meio segundo em que história ia decidir contar, mas seus olhos fulminantes me interromperam. Perdi minha voz; ele olhou por cima do meu ombro. Spider e Carly estavam na porta da cozinha com arquivos em seus braços. — O que é? — Cameron retrucou. — Estamos prontos — disse Spider completamente imune ao humor de Cameron, ao contrário de Carly e eu. Seus olhos oscilavam entre Cameron e eu, e ela me deu um sorriso ponderado. Eu não conseguia dar-lhe qualquer coisa. — Tenho um monte de trabalho a fazer. Isso vai ter que esperar, — disse Cameron para mim, enquanto saía, nunca realmente olhando para mim. Deixaram-me em pé, no meio da cozinha. Depois de uma intensa sessão de olhar a minha tigela de cereal, eu ferozmente a empurrei para longe

da

mesa

derrubando. Fui

até

a

lavanderia

pegar

um

pano. Quando cheguei lá, eu continuei andando. Lá fora, o sol da manhã já estava cozinhando o gramado encharcado, tornando sufocante o ar. Nenhum vento soprava através das árvores. Nenhum pássaro piava. Eu podia ver a forma do Griff piscando nas ondas de calor, como uma miragem, e eu estava suando antes de eu mesmo chegar ao ponto a meio caminho entre nós. A careta em seu rosto não tinha melhorado desde que eu o vi pela última vez. — Você está tornando muito difícil para eu ignorá-la, — ele resmungou.

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— Oh? Você estava tentando me ignorar? Eu não tinha notado, — retruquei com sarcasmo. Griff revirou os olhos e examinou ao redor, um grande esforço para continuar a me ignorar. Ele parecia indiferente. Isso me irritou ainda mais. — Você sabe que não tem o direito de estar com raiva de mim por ficar em apuros com Spider por não fazer o seu trabalho enquanto eles estavam fora, — disse a ele. — Quem disse que eu estava com raiva de você? — Você acabou de admitir que está tentando me ignorar. — Ignorar, sim. Irritado, nunca com você. — Ele disse com sinceridade. — É o mesmo, — Eu bati. — Enorme diferença. Eu estou apenas tentando protegê-la. — Esta parecia ser a explicação comum de todos. — Me disseram para ficar longe de você, ou vão me chutar daqui. — Griff pôs a mão em sua garganta e fingiu cortar o pescoço de orelha a orelha. — Eu acho que eu não posso mantê-la segura se eu estou morto. Então, eu vou ficar longe e manter um olho em você daqui. — Penso que a única maneira de Spider convencê-lo a fazer o seu trabalho é ameaçando você, — eu raciocinei, mais uma razão para eu me irritar, — De qualquer forma, eu posso me proteger. Você não precisa me proteger de qualquer um, e você definitivamente não precisa me usar como desculpa para não trabalhar. Não há necessidade de ser dramático sobre isso.

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— Spider está apenas fazendo seu trabalho. — As palavras de Cameron ecoaram pela minha voz. — Eu estou sendo dramático? — Repetiu incrédulo. — Que mundo você vive? Esses caras mataram pessoas melhores do que eu, sem sequer piscar. Até agora, eles parecem gostar de ter você por perto. Mas, acredite em mim, uma vez que eles têm o que eles querem ou eles se cansem de você, você estará em apuros também. — Griff olhou ao redor e levemente agarrou meu braço, me puxando e sussurrando: — Eu não vou deixá-los fazer nada com você. Todos vão morrer antes que te machuquem. Ele soltou meu braço e deu um passo para trás, seus olhos passando rapidamente sobre o terreno. Dos poucos guardas que eu podia ver através das ondas de calor, todos pareciam tão preocupados de como ficar na sombra. — Então você vai apenas seguir me ignorando? E depois? — Perguntei.

Minha

irritação

evaporando. Griff

estava

realmente

assustado. Eu não poderia ficar zangada com ele por isso, embora eu estivesse um pouco decepcionada porque não iria ter a oportunidade de expor as minhas frustrações. — Eu não sei, — confessou cansado. — Não pensei nisso ainda. Você sabe por que eles a estão mantendo viva? Perguntei-me se Griff havia notado que eu não vacilei enquanto discutimos a minha vida ou minha morte. Eu não tinha nenhuma razão para ter medo. Eu queria dizer a Griff sobre Cameron, mas eu não podia. Eu queria dizer a Griff sobre Bill, mas não o fiz. De repente eu estava com medo de que ele iria me ver de forma diferente. Então, eu simplesmente balancei a cabeça em resposta. — Os seus pais têm muito dinheiro? — Ele me perguntou.

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— O que isso tem a ver? — Disse, minha irritação vindo a tona mais uma vez, por diferentes razões. Ele encolheu os ombros. — Eu pensei que talvez estivessem tentando pedir um resgate em troca de você. Ele arrastou as palavras, de repente, distraído. Uma Mercedes prata tinha conduzido até a estrada e foi parada. Um dos guardas teve seu braço apoiado tranquilamente em cima do carro e conversou através da janela abaixada. O outro guarda que estava logo atrás dele subiu na ponta dos pés, tentando pegar um vislumbre do ocupante do carro. Pelo sorriso estúpido nos rostos dos guardas, deduzi quem estava no carro — um palpite que foi confirmado com o vislumbrei de um cabelo loiro do ocupante. Frances finalmente atravessou as barreiras humana e saiu de seu carro. — Parece que o belo par de pernas está de volta. — Griff exalou. — Belo par de pernas? — Apenas um toque de ciúme colorido meu tom. Frances caminhou em direção a Griff e eu. Ela estava usando um short de verão de algodão branco e botas estilo cowboy. O ar estava sufocante e estagnado. Seu cabelo dourado parecia ter encontrado um vento imaginário, juntamente com outras partes visíveis, rebolando a cada passo. Parecia que ela estava andando em um vídeo da música country. Outra mecha do meu cabelo cor cenoura saiu do meu rabo de cavalo apertado. — Nós não tivemos a oportunidade de nos conhecer da última vez que estive aqui. Sou Frances. Você é Emily, certo?

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Eu sorri fracamente. Griff praticamente me derrubou estendendo sua própria mão para Frances. — Sou Griffin. Griff-in? Articulei para mim mesmo. Frances apertou sua mão. — Onde está todo mundo? Griff tinha esquecido como falar. — Trabalho, — eu respondi para os dois. — Bem, eu acho que somos apenas nós, então. Griffin se importa se eu roubar Emily um pouco? — Perguntou Frances enquanto entrelaçava seu braço ao redor do meu. Griff apenas sorriu e balançou a cabeça. — Vejo você mais tarde, Griff-in, — eu enfatizei e lancei um olhar furioso. Ele timidamente sorriu de volta, seu rosto vermelho brilhante, não por causa do sol. A Mercedes de Frances vazia brilhava no sol. — Onde está meu sobrinho? — soltei. Ela estava um pouco chocada. — Cameron me disse sobre você e Bill, — expliquei. Ela me olhou e balançou a cabeça em descrença. — Estou muito surpresa que ele te disse isso. — Escutei vocês dois falando, — eu admiti.

Julie Hockley

— Ah, — ela compreendeu e respondeu: — Minha mãe está cuidando do Danny. Acabamos sentadas na beira da piscina. Alguns dos guardas que deveriam vigiar a clareira atrás da casa da piscina se revezaram passeando mais perto para o interior. O surto de sorrisos estúpido tinha

se

espalhado

por

eles

também,

uma

epidemia

foi

surgindo. Enquanto eles tentavam chamar a atenção de Frances, seus olhos eram fixos parcialmente em mim. — É estranho, finalmente conhecê-la. Eu ouvi muito sobre você de Bill, — ela disse com ardor. Eu estava quase sorrindo até que ela acrescentou: — Você não parece nada como eu pensei que seria. — Enquanto eu me ocupava em olhar a água da piscina passar pelas minhas pernas brancas e magras, imaginei os seus olhos azuis olhando para o meu cabelo. — Você simplesmente não se parece em nada com o seu irmão é o que eu quis dizer... — Ela estava tentando fazer uma pequena plástica para reparar o dano. Sua voz era abafada e doce, como um arrulho de uma pomba pela manhã. — Como você conheceu Bill? — Eu perguntei a ela, ainda olhando para os meus pés molhados. — Deus, isso foi há muito tempo. — Do canto do meu olho, eu podia ver um sorriso formando-se aos seus lábios. — Nós nos conhecemos no colégio depois que ele se mudou para Callister. — Quanto tempo vocês ficaram juntos... Namorando? — A primeira vez, apenas alguns meses. Meus olhos dispararam. — A primeira vez?

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Ela enrijeceu. — Nós terminamos na escola. Ele sumiu, e eu não o vi por um longo tempo. Então eu encontrei com ele na rua um par de anos mais tarde... — Ela parou e respirou. — Eu não sabia sobre Carly. Bill nunca me disse que tinha uma namorada... nunca a conheci... eu pensei... ele me disse que eles eram apenas amigos. Embora houvesse outro flash de decepção por meu irmão, eu sabia que este não era realmente assunto meu. — Ele lhe disse que estava usando drogas? — Uma das questões que estava mais me incomodando. — Ele não precisava me dizer — ressaltou. — Seu irmão estava sempre usando, Emily. Ele estava usando, inclusive quando ainda estávamos no colégio. Todo mundo que o conhecia bem o suficiente sabia disso. — Cameron não, — disse. Não era que eu não acreditava nela... Eu só não queria acreditar nela. — É isso que ele te disse? — Ela sussurrou baixinho, os nós dos dedos cerrados firmemente ao lado da piscina. Notei que ela manteve um olhar distante sobre os guardas que vagavam por ali. Ela sorriu para um deles, artificialmente; ele eufórico com sua atenção. — Eu acho que Cameron está apenas tentando protegê-la. A verdade é difícil de engolir. — Sua voz era doce novamente. — Deve ser difícil para você ter que manter proximidade com Cameron por dinheiro, — disse. Frances zombou. — Eu não preciso vir aqui e eu certamente não preciso do seu dinheiro... Bill tinha aberto uma conta bancária para Danny e eu, antes de morrer. — Ela meio que virou a cabeça para mim, sem tirar plenamente os olhos dos guardas.

Julie Hockley

— Você sabe quanto dinheiro o seu irmão tinha antes de morrer, — disse de passagem. Quando eu dei de ombros, ela levantou as sobrancelhas. — Você não recebeu o dinheiro do Bill depois que ele morreu? Neguei com a cabeça em resposta. Frances

tornou-se

sombria

e

pensativa. Os

guardas

tinham finalmente começado a cansar de ir e vim ver-nos e voltaram a descansar à sombra das árvores atrás da linha da propriedade. — Por que você vem aqui se não precisa... Ela interrompeu-me pondo sua atenção completamente em mim e inclinando-se muito perto. — Não temos muito tempo, — ela sussurrou. — Você está bem? Eles machucaram você? — Eu estou bem, — eu respondi sem jeito. — Quem me machucaria? — Cameron, por dizer... — Claro que não! — disse imediatamente. Com um dedo sobre a boca, ela me silenciou e olhou ao redor de forma irregular. Quando ela se tranquilizou da nossa reclusão, ela trouxe seus olhos azuis de volta para mim. — Cameron é... muito bom, — eu sussurrei, tentando encontrar uma descrição que não me faria corar. Era inútil. O sangue já estava subindo por meu pescoço em uma escada de manchas vermelhas. Ela fez uma pausa longa o suficiente para vislumbrar o meu rubor.

Julie Hockley

— Cameron é bonito... — ela se atreveu consciente, vendo minha expressão. Voltei para assistir os meus pés na água. Ela

exalou

profundamente. —

Emily,

você

precisa

ser

extremamente cuidadosa em torno de Cameron. Ele é jovem... jovem demais para ser um chefe, muito jovem para estar fazendo o que está fazendo. — Havia uma borda de ressentimento em sua voz. — Ele é charmoso e muito inteligente, que é por isso que ele conseguiu manterse vivo por tanto tempo, mas ele é imaturo. Quando ele fica entediado, ou quando as coisas começam a ficar muito difícil para ele... coisas ruins começam a acontecer. — Ela parecia urgente. — Eu estou fazendo algum sentido? Neguei com a cabeça. — Ele não é assim, — eu assegurei-lhe com confiança, mesmo que minha voz soasse como um guincho de um rato. Ela colocou a mão no meu ombro, querendo que eu olhasse para ela. — Seu irmão era um chefe fantástico, — sussurrou, — Cameron sempre o admirou. Eles eram como irmãos. Spider tinha muito ciúmes de Bill por causa disso. Quando Bill morreu, ele tentou assumir o negócio. Mas os outros patrões não queriam isso. Eles não confiavam nele, não o achavam inteligente o suficiente para gerir o negócio para eles e fazer-lhes dinheiro. Eles escolheram Cameron. — Sua voz era amarga, e ela se moveu em seu assento. — Spider sabe que Cameron é muito jovem para tomar decisões difíceis, e ele usa isso para conseguir o que quer... para controlar o negócio... para controlar Cameron.

Julie Hockley

Neguei com a cabeça, tentando encontrar as palavras para explicar a ela que Cameron não era o monstro inconstante que ela estava dizendo, mas ela ainda não tinha terminado. — Pelo o que eu vi da última vez que estive aqui, Cameron parece estar atraído por você. Você é como um novo e caro brinquedo para ele... mas isso não vai durar. Vou ajudá-la a sair daqui, mas eu tenho que encontrar um lugar seguro para Danny e minha mãe, algum lugar onde eles não podem encontrá-los. Você precisa manter Cameron feliz até que eu possa vir buscá-la. — Frances, realmente, eu estou bem, — eu insisti. — Todo mundo tem sido nada mais do que agradável comigo. — Não há nada de agradável sobre estas pessoas. —

Frances,



interrompeu

uma

voz

grave

atrás

de

nós. Simultaneamente viramos. Spider estava de pé junto à porta, olhando. Frances pareceu momentaneamente aterrorizada, mas ela rapidamente recuperou a sua autoconfiança e seu sorriso alegre para substituir o medo no seu rosto. Ela se levantou e caminhou em direção a Spider. Ao contrário dos guardas, o humor de Spider não melhorou quando ela se aproximou dele. — Foi muito bom conhecer você, Emily. — Frances desapareceu dentro da casa, seguida de perto por Spider. Frances estava errada. Griff estava errado. Eles não viram o que estava sob a superfície. Eu sabia o que Cameron parecia a todos os outros, — frio, assustador. Eu já tinha visto, a contragosto, esse lado dele, esta manhã, por exemplo, e eu não gostava disso. Mas quando essa superfície dura se derretia e Cameron reaparecia, ele era

Julie Hockley

magnífico. Enfurecia-me que eu não poderia deixar ninguém mais ver este segredo. Todos estavam errados. No momento em que eu entrei de volta para a casa, Frances caminhava com pressa com um saco de papel em sua mão. — Cuide-se, Emily, — ela sussurrou atentamente, enquanto ela passava ao meu lado e caminhava rapidamente até seu carro. Spider seguiu-a ate lá fora e parou na entrada até que sua Mercedes acelerou fora de vista. Depois de um olhar feroz para mim, ele fez o seu caminho em direção à garagem. Griff

ainda

estava

de



perto

das

árvores. Eu,

propositadamente, o ignorei e presunçosamente entrei para a fresca casa, com ar condicionado. Rocco estava com a cabeça abaixada na mesa da cozinha com duas embalagens de comida congelada na frente dele e uma terceira em seu caminho. Eu coloquei uma embalagem para mim no micro-ondas. Fora tudo e todos, chateados comigo, Rocco parecia ser o pior mesmo que fosse absolutamente sem nenhuma razão. — Não disse nada a Cameron sobre sua idade. Eu nem sabia que ele estava indo investigar isso, — eu disse a ele enquanto o microondas iniciava a contagem regressiva. — Eu sei. Eu não estava bravo com você. Não de verdade, de qualquer maneira. Eu realmente odeio a escola, — disse ele colocando um pedaço de carne na boca. — Por quê? — Eu não sei. É difícil e muito chato e é um desperdício de tempo. Eu não preciso da escola para trabalhar para Cameron.

Julie Hockley

— Hmmm... — pensei em voz alta: — Você sabe, pode usar isso a seu favor. — Com seu interesse despertado, Rocco olhou para cima e escutou. Eu continuei minha linha de pensamento. — Você poderia dizer a Cameron que você vai retomar a escola e fazer o dever de casa, se ele levar você quando sair para o trabalho. — Como chantagem? — Ele perguntou com hesitação. — Chame de tática de negociação. Rocco entusiasticamente considerou e sorriu de orelha a orelha. — Tática de negociação... eu gosto. — Eu ainda vou ajudá-lo a fazer a lição de casa, se quiser. Vai ser fácil, você vai ver. Antes que você perceba, terá terminado a escola e nunca terá que pensar sobre isso de novo, — eu propus, para selar o negócio. Rocco me deu um sorriso reconfortante. — Obrigado, Emmy. Eu tirei a tampa da minha refeição fumegante e queimei dois dedos. Rocco olhou interrogativamente. — Você e Cameron tiveram uma briga ou algo assim? — Na verdade, não, — disse com meus dedos queimados em minha boca. Eu não tinha certeza se Cameron pensava que eu era uma covarde que contava toda briga que houvesse entre nós. Então eu me perguntei se Cameron disse algo a seu irmão mais novo. — Por que a pergunta? Rocco deu de ombros. — Ele estava de muito mau humor esta manhã. Eu não o vi em um clima assim desde que você chegou aqui.

Julie Hockley

— Como ele estava antes de eu chegar aqui? — Eu era toda ouvidos. — Eu não sei. Irritado, eu acho. — Ele então decidiu deter-se um pouco

para

defender

seu

irmão. —

Eu

raramente

o

via. Ele

trabalhava. O tempo todo. — Fazendo o quê? — Não tenho ideia, — ele murmurou. — Nunca pude ir com ele, lembra? Rocco levou as embalagens vazias para a pia e sentou-se novamente à mesa, observando-me terminar a minha refeição e suspirando ruidosamente. — Estou entediado, — ele finalmente admitiu. — Você quer assistir a um filme ou algo assim? Olhei para os formulários que ainda estavam sobre a mesa onde eu tinha empilhado ordenadamente mais cedo naquela manhã. Rocco deixou cair a cabeça para trás em desespero, quando ele entendeu o que eu queria dizer. — Não há tempo como o presente, — eu disse alegremente. E, para irritá-lo um pouco mais, acrescentei: — Nós provavelmente deveríamos começar a lavar a roupa também... já que ambos perdemos no Poker. — Tecnicamente, ele tinha perdido dois segundos antes de mim, mas quem estava olhando? Pensei que Rocco ia começar a chorar depois da minha última sugestão. Tinha sido uma agradável tarde preenchendo formulários, lutando através das tarefas de casa e as intermináveis pilhas de roupas para lavar e dobrar. Mal tínhamos terminado com as roupas de cama

Julie Hockley

quando o relógio se aproximava da hora do jantar. Uma música vibrou a distância novamente. No momento em que as tropas começaram a fazer o seu caminho para baixo para o jantar, Rocco e eu estávamos terminando uma carga de toalhas de banho. Ele manteve-se olhando a porta da cozinha, ansioso para mostrar ao seu irmão mais velho o trabalho que ele tinha feito e começar a rodada de negociação. O jantar veio e se foi. Cameron nunca entrou através da porta. Desapontado, Rocco foi para o sofá. Nós dois descansávamos em frente da TV pelo o resto da noite e finalmente caímos no sono no sofá. Fomos acordados à meia-noite, quando Cameron finalmente arrastou a si mesmo para dentro, buscando algo pelos armários da cozinha. Rocco esperou impaciente até Cameron fazer o seu caminho para a mesa e

se levantou, pegando a obra que

ele havia,

estrategicamente, deitado ao lado dele. Ele deixou cair os papéis sobre a mesa na frente de Cameron. Eu sorri atrás dele, sua excitação desenfreada me deixou animada por ele. Cameron suspirou, seus olhos pequenos e sem vida. — Esta noite não, Rocco. Rocco parecia nervoso quando ele quis que seu irmão olhasse para os documentos. — Mas eu quero falar com você sobre isso. Olha, eu fiz tudo isso... — Eu disse que esta noite não, — Cameron retrucou. Rocco e eu pulamos. Ele me olhou com desespero. Eu não sabia o que dizer.

Julie Hockley

Ele olhou para Cameron e depois atirou os papéis sobre a mesa. Ele pisou de volta ao seu quarto e fechou a porta atrás de si. Era um déjà vu desta manhã. Cameron continuou distraidamente comendo sua comida. Fiz uma careta, mas ele não notou. Levantei-me e decidi deixá-lo em paz. — Você estava falando com Frances hoje? — Perguntou quando cheguei à porta. — Sim, — respondi, recusando-me a olhar para ele. — Sobre o que vocês falaram? — Perguntou, calmo. Eu girei em meus calcanhares. — Por quê? — Eu disse, tentando imitar sua frieza. — Porque eu tenho o direito de saber o que se passa debaixo do meu teto. — Nós estávamos fora, — disse cortando. Cameron fixou seu olhar, à espera de uma resposta. — Nós conversamos sobre Bill, — eu finalmente cedi. — Mais alguma coisa? — Ele sondou — Não. O que tem a mais? — Eu soltava fumaça. Isso foi uma mentira, mas eu imaginei que a minha raiva ia ocultar quaisquer vestígios de que Frances disse mais. Cameron não respondeu e deu uma mordida em sua comida quando ele me olhou.

Julie Hockley

O fato de que ele ainda estava com raiva de mim, e que ele tinha descontado a sua raiva em seu irmão mais novo, de repente fez-me furiosa. Meu sangue ferveu, e minha respiração parecia que ia vomitar fogo. Eu não ia segurar nada desta vez. — Cameron Hillard, eu sei que você ainda está com raiva de mim por causa de ontem à noite, mas você não tem direito de descontar sobre o Rocco. Rocco trabalhou muito hoje, e ele estava animado para mostrar-lhe o que ele fez. Você apenas o dispensou como se ele fosse um de seus guardas. Ele é seu irmão, — quase que soletro para ele. — Seu irmão é realmente um grande garoto, que merece mais do que ser ordenado como um empregado. E Frances e eu não falamos muito, mas se eu quiser falar com ela um pouco mais, eu o falarei. Esta pode ser a sua casa, mas você não me controla nem me controlará. Eu vou falar com quem eu quiser, quando quiser. Ao final do meu discurso, eu estava fervendo e ofegante. Cameron estava congelado na mesa, os olhos do tamanho de um copo de tequila. Eu me virei e calmamente subi as escadas. Eu, gentilmente, fechei a porta atrás de mim e subi meu nariz um pouco, mas não chorei. Lá embaixo, ouvi a cadeira de Cameron ferozmente ser arrastada no chão e um som de algo sendo lançado na pia. Eu estava com medo dele vir correndo atrás de mim e eu teria que pensar em um novo discurso. Ele nunca veio. Depois de alguns passos sendo pisoteada, a casa estava tranquila mais uma vez. A liberação de fúria deve ser terapêutica, porque dormi muito bem naquela noite. Só despertei uma vez pelo som habitual de arranhar e lamentar na porta do quarto. Levantei-me e deixei Meatball entrar para dormir.

Julie Hockley

Eu nunca tive um cachorro, e era definitivamente estranho ter Meatball dormindo ao meu lado, a principio. Mas fiquei surpresa com a rapidez com que me acostumei a estar aqui. Era apaziguador, mesmo que, no fundo, eu sabia que qualquer que seja a razão pela qual ele dormia na mesma cama, era um senso de dever por mim.

Julie Hockley

Na parte da manhã, uma batida leve na minha porta trouxe Rocco no meu quarto. Ele descansava na minha cama enquanto eu tomava banho. — Eu ouvi você e Cameron discutindo na noite passada, — disse. — Até onde eu sei, é preciso pelo menos duas pessoas para ter uma discussão. Era mais como eu falar em voz alta mesmo enquanto Cameron observava, — eu gritei de volta através da porta. — Sim, assim é como age normalmente Cameron. É preciso muito para ele perder a calma, que é realmente irritante quando tudo que você quer é apenas uma reação. Às vezes eu desejo que ele fosse apenas como todos os outros e se defendesse, em vez de agir como um adulto. Colei um sorriso no meu rosto e sai do banheiro com uma toalha enrolada na cabeça. Rocco estava deitado de lado assistindo enquanto eu enxugava meu cabelo. — Eu ouvi todas as coisas que você disse sobre mim a Cameron... Foi muito gentil da sua parte, — disse ele, apertando os olhos. — Mas você deve saber que você não é realmente o meu tipo. Isso me fez sorrir, genuinamente. — Eu não acho que aos quinze anos alguém poderia mesmo ter um tipo. Não basta qualquer coisa com seios?

Julie Hockley

— Talvez seja por isso que você não é meu tipo, — disse ele. — Além disso, sou muito mais maduro do que a maioria dos jovens de quinze anos. — Sim, eu esqueci que somente os homens de verdade têm acessos de birra e correm para seus quartos quando eles não conseguem o que querem. Ele encolheu os ombros. — Bem, obrigado por me defender. Eu nunca ouvi qualquer um falar com o meu irmão daquele jeito. — Não foi nada, — eu disse. — Não que ele ouviu qualquer um de nós. Eu não tive que brigar, e você não conseguiu o que queria. — Na verdade, depois que você saiu ontem à noite, Cameron entrou

no

meu

quarto,



Rocco

me

disse

com

um

grande

sorriso. Alguma coisa estava acontecendo, ele estava ficando ansioso e inquieto. Eu esperei pacientemente, animada com seu entusiasmo. — Nosso plano funcionou, — finalmente declarou. — Cameron disse que eu poderia ir com ele na próxima vez. Que eu poderia ser mais do que apenas um vigia. Eu não sabia o que queria dizer ser mais do que um vigia significava, mas eu estava contente de ver Rocco tão feliz novamente. — Quando vocês vão? Rocco fez uma careta para o teto. — Eu não sei. Eu me esqueci de perguntar. Contentemente encolhendo os ombros, ele caiu ao redor da cama e olhou para fora. Quando me virei para ir pendurar a toalha no banheiro, vi Cameron em pé na porta do quarto. Eu congelei e Cameron formou um sorriso cauteloso em seus lábios. Eu me perguntei quanto tempo ele tinha estado ali, e o quanto ele tinha ouvido.

Julie Hockley

— Posso entrar? — Ele perguntou com sua voz aveludada. Ele estava

vestindo

uma

camiseta

vermelha,

fazendo

suas

belas

características ainda mais perceptíveis para mim. Eu tinha certeza de que ele fazia essas coisas de propósito. Rocco olhou para mim, esperando minha resposta, mas eu fui para o banheiro para pendurar a toalha. — Junte-se à festa. — Respondeu pelos dois. Voltei para fora e enrolei meu cabelo em um coque molhado, enquanto Cameron sentou-se na beira da cama. Ele ergueu as sobrancelhas para seu irmão mais novo. Rocco rodou sobre a cama e limpou a garganta. — É melhor eu ir. Mas em seu caminho para fora, ele me apertou em um abraço de urso até que meus pés não estavam mais tocando o chão. — Obrigado, Emmy, — ele murmurou em meu ouvido e me deixou ir, para que meus pulmões pudessem sugar o ar mais uma vez. Cameron

estava

balançando

a

cabeça

assombrado

com

Rocco enquanto ele fechava a porta. — Kid é engraçado, — disse ele, rindo, inquieto. Eu tinha decidido que naquele exato momento era o momento perfeito para eu guardar a roupa limpa que estava dobrada em cestas da lavanderia. Eu também tinha decidido que esta tarefa precisava da minha atenção completa e indivisível. O quarto estava um silêncio tenso enquanto eu dobrava as roupas e abria e fechava gavetas. —

Você

ainda

está

zangada

comigo,



Cameron finalmente notou depois de alguns minutos.

Julie Hockley

Eu levantei brevemente os olhos, mas continuei a ignorá-lo e continuei a minha tarefa imperativa. Derrotado, ele caiu de costas na cama, com as mãos passando sobre seu rosto e bagunçando seu cabelo. — Isto é muito mais complicado do que eu jamais pensei que seria. — Sinto muito por ser tão inconveniente para você, — rosnei. Então me lembrei de que eu não estava falando com ele e voltei para a roupa. Ele riu e balançou a cabeça para o teto. — Eu deveria estar com raiva de você, você sabe, — disse ele. — Não há nenhuma maneira que Rocco pudesse traçar um plano para me chantagear a deixá-lo trabalhar para mim. — Você queria alguma coisa, ele queria algo. Isso é chamado de negociação, negociação não é chantagear. De qualquer forma, você não dá a Rocco o crédito suficiente. Ele é um garoto muito inteligente. — Você está dizendo que você não colocou a ideia na cabeça dele? — Ele teria, eventualmente, encontrado uma maneira de conseguir o que queria, eu o ajudando com isso ou não, — Eu respondi, evitando a pergunta acusadora. Ele virou a cabeça para olhar para mim. — Tendo Rocco em meus passos poderiam matá-lo. Isso não é algo que eu poderia viver. — Sabe, — eu disse com um suspiro, — para alguém tão inteligente, você pode ser muito estúpido. Nada disto tem a ver com trabalhar para você. Rocco está apenas procurando uma maneira de passar mais tempo com você, seu irmão mais velho. Desde que você

Julie Hockley

trabalha o tempo todo e não vai falar com ele sobre a sua vida, ele provavelmente pensa que trabalhar para você dará mais tempo juntos. Eu podia sentir os olhos de Cameron em mim enquanto ele considerava isso. — Você acha? — Ele finalmente perguntou. — Eu sei que sim, — eu disse, enquanto enrolavas meias. — Isto tem tudo a ver com você e Rocco e nada a ver comigo. Eu só estou tentando dar a Rocco algo para ele olhar a frente pela primeira vez. Algo além da televisão. — Este lugar não é tão ruim, não é? — Ele me perguntou com uma ponta de preocupação em sua voz. — É definitivamente uma das prisões mais agradáveis que já estive, — eu murmurei. — Você pode ficar aborrecido de tudo que você quiser por eu não seguir suas regras, mas Rocco está entediado e solitário. Você

realmente

precisa

manter

sua

mente ocupada.

Lavando pratos e sendo babá não é uma boa maneira. — Rocco gosta de estar perto de você, — disse ele. — Eu não acho que ele se sente como se estivesse cuidando de você. — Talvez, — eu disse. — Mas sou um substituto muito pobre de você. Cameron sentou-se, apoiando os cotovelos sobre os joelhos e apertando as mãos. Eu podia sentir que ele estava me estudando, e eu tentei ignorar isso. — Emmy, você pode olhar para mim? — Ele perguntou. — Por favor? Finalmente olhei para ele, uma vez que ele tinha dito por favor.

Julie Hockley

Seus lábios se curvaram um pouco maior, mas seus olhos ainda estavam muito apertados. — Eu não vim aqui porque estava bravo com você, — ele me disse. — Eu vim aqui para pedir desculpas. Não reagi muito bem depois que você teve um pesadelo, porque é difícil para eu vê-la ter medo de mim. A última coisa que eu queria era fazer você me temer. Isso me fez sentir doente, mas eu não culpo você por ter a reação de uma pessoa normal. Exalei dramaticamente. — Cameron, eu tive um sonho ruim. As pessoas têm sonhos ruins o tempo todo. E eu definitivamente não tenho medo de você. Se isso me faz anormal, então isso não é nada de novo. — Você precisa ter medo de pessoas como eu, Emmy. Nós podemos te machucar. Cruzei os braços como uma criança de cinco anos de idade. — Se você veio aqui para me pedir para ter medo de você, então você pode muito bem ir, porque eu não me sinto bem em receber ordens novamente hoje. — Nunca te dei ordens, — disse Cameron. — E ontem quando me interrogou por falar com Frances? — Eu não fiz nada de errado. — Eu estou tentando protegê-la, — ele me lembrou, como um disco quebrado. — Você usa as palavras proteger e controlar de forma incabível, — eu respondi e apressadamente guardei uma pilha de minhas meias na gaveta de cima, bati a gaveta fechada com mais força do que o necessário. — Você só precisa confiar em meu julgamento, — disse ele, em voz baixa. — Acredite em mim, eu sei que é melhor do que tentar controlá-la. Você pode fazer o que quiser aqui. Basta pensar neste lugar

Julie Hockley

como um longo descanso merecido, como um spa ou um daqueles lugares de garotas que você paga um monte de dinheiro a ser forçada a relaxar. Senti meus ouvidos queimarem, plenamente conscientes de que ele tinha me posto numa caixa que eu odiava. — Se eu não posso ir a qualquer lugar ou falar com ninguém, então eu estou em uma prisão. Este não é um spa que garotas como eu pagam um monte de dinheiro para ir. — Eu apontei a ele com dureza adicionada à minha voz. Ele ficou surpreso com a minha mudança de comportamento. — Eu não disse que você não podia falar com ninguém e você pode caminhar ao redor tanto quanto você quer. Eu só estou pedindo para você ficar longe de Frances. — Mas eu não posso deixar a propriedade, e eu tenho que ficar longe de Griff também. — Quem é Griff? — O rosto de Cameron era impenetrável. — Griff... é um de seus guardas... o que foi dito para ficar longe de mim, ou então... — Eu o lembrei, com tanta paciência como eu pude. — Quer dizer o alto grande com o cabelo vermelho que continua olhando para você com os olhos patetas? — Ele zombou, mas sua expressão tinha ficado grave. — Então você o conhece, — eu disse com sarcasmo. — Eu não disse nada a ele. Por que, eu deveria? — Talvez não, mas Spider com certeza. Spider trabalha para você, não é?

Julie Hockley

— A segurança é o trabalho do Spider. Eu não me meto com o seu negócio e eu, certamente, não questiono como ele consegue os cães de guarda, — ele zombou. Em seguida, ele se inclinou para frente ligeiramente. — Qual é o seu interesse por este cara, Griff, afinal? — Somos apenas amigos, — eu suspirei. — A menos que você me tranque aqui, você não pode esperar que eu fique enclausurada em seu quarto, enquanto você vai o tempo todo. Cameron sorriu com tristeza. — Por que não? Pode sentar-se aqui, contando os minutos até que eu chegue em casa depois de um dia de trabalho duro e faço sua espera valer a pena. Eu joguei uma camiseta para ele. Ele pegou-a no ar, tentou dobrá-la, e atirou-a de volta para a pilha. — Bem. Entendi. Você precisa de um pouco de diversão. Mas isso tem que ser com aquele cara? Quero dizer, você não pode simplesmente passar o tempo com Rocco? — Eu não posso assistir tanta televisão em um dia, — dobrei corretamente a camisa e pus em cima das outras. — Bem, — ele disse, sorrindo — Eu acho que vou ter que ficar aqui o tempo todo e assegurar de mantê-la muito ocupada. — Isso é um grande esforço, — eu respondi, mal conseguindo recuperar o fôlego. E então um respingo estrondoso atingiu a janela e outro, e outro. Podíamos ouvir vaias vindo de fora. Eu não tinha que me levantar para saber que Rocco, e talvez alguns seguidores, estavam jogando balões com água em minha janela. — Quando você tem que ir? — Perguntei, tentando soar indiferente. — Amanhã. Meus ombros caíram um pouco. — O bastante para ficar aqui e me manter ocupada.

Julie Hockley

— Eu gostaria de poder ficar, — ele começou suavemente, pareceu recompor-se e continuou num tom mais desinteressado. — Eu gostaria de poder fazer todo o meu trabalho daqui, mas eu não posso. Há algumas coisas que eu tenho que estar lá para fazer. Outro

balão

de

água

atingiu

minha

janela,

e

Cameron

suspirou. — É melhor ir até lá antes que quebrem uma janela ou se matem tentando. O dia valeu a pena jogando na piscina com o resto da família. Cameron riu nos momentos adequados e tinha um sorriso quase constante em seu rosto, mas havia algo diferente, especialmente quando ele estava perto de mim. Estava separado — como se alguém estivesse artisticamente desempenhando o papel de Cameron Hillard — e ele definitivamente em nenhum momento chegou perto de mim mais que alguns metros. Isso eu notei mais do que qualquer outra coisa. À noite, depois do jantar, Cameron, Spider e Carly foram para a mesa para falar de negócios. Rocco e eu fomos para a nossa estação em frente à TV. Mas antes que nós tivéssemos a chance de sentarmos, Cameron deteve-se no limiar e chamou Rocco. — Bem, você quer aprender o negócio, não é? — Disse a Rocco. Rocco pulou do sofá e a família desapareceu pela porta da cozinha.

Era o início da manhã quando ouvi o barulho no andar de baixo. A casa sendo esvaziada muito rápido mais uma vez. Desta vez, deixei Meatball sair, de modo que ele, pelo menos, poderia se juntar a Cameron. Então eu voltei para a cama para debaixo das cobertas. Quando a casa estava em silêncio de novo, Meatball veio implorando

para

ser

deixado

entrar

em

nosso

quarto

compartilhado. Ambos tínhamos sidos deixados para trás, de propósito.

Julie Hockley

Eu tentei voltar a dormir, rolando debaixo das cobertas durante uma boa hora. Desisti, vesti em uma camiseta e shorts, e fui para fora para deixar Meatball encontrar sua diversão. Mas Griff não estava em seu posto da parte inferior da propriedade. Eu deveria saber que, com os chefes fora, Griff iria começar a faltar ao seu trabalho, imediatamente. Considerei ir para arrastá-lo para fora da cama, mas decidi não ir e um dos guardas estava me observando, com persistência. Fazendo uma cena no primeiro dia que Cameron estava longe foi provavelmente uma má ideia. Depois de convencer a mim mesma, eu amargamente voltei para a casa e passei na ponta dos pés sob o guarda da noite que roncava no meu caminho para o ginásio. Eu nunca corri em uma esteira. Algo sobre correr quilômetros e nunca

chegar

a

lugar

nenhum

costumava

me

fazer

sentir

desconfortável, eu tinha esquecido isso, mas a memória estava voltando à superfície; correr em uma casa vazia, olhar para a água imóvel da piscina, as grandes janelas... Eu estava me sentindo claustrofóbica, como um rato preso em uma gaiola, chegando a lugar nenhum em uma roda de giro. Com esforço significativo, consegui executar algumas milhas, em seguida, voltei para cima para tomar banho e me vestir. Eu tinha dado a Griff tempo suficiente para dormir. Se ele não estava levantando eu estava indo para acordá-lo, não importa o quê. Abri a porta da frente justo quando o guarda que estava olhando para mim anteriormente estava entrando. O guarda seguiu o meu olhar com prazer enquanto eu buscava Griff lá fora. — Você está desperdiçando seu tempo, — ele zombou. — Griff se foi.

Julie Hockley

Vi outro guarda em seu posto habitual de Griff. — Onde ele foi? — Não sei. Ele saiu com o resto da equipe, esta manhã. — O quê? Por quê? — Perguntei com um ligeiro pânico. — Por alguma razão, o chefe de repente decidiu que ele não poderia sair sem Griff. Acordaram na noite passada e disseram para ficar pronto para sair esta manhã. Nós ficamos de frente para o outro por um momento, e eu, imediatamente, me arrependi de estar sozinha com ele. De repente, eu estava com muito medo e me senti muito sozinha. O guarda fechou a porta, e Meatball entrou correndo antes que ele a fechasse totalmente. Meatball ficou entre nós enquanto o guarda tirou os sapatos e fez o seu caminho para baixo, murmurando para si mesmo: — Vai entender. O cara que tem um parafuso a menos e é promovido de primeira. Eu respirava com dificuldade e mantive a minha mão sobre a cabeça de Meatball, mas nenhum de nós se moveu por um tempo. E então, minha mente começou a trabalhar novamente, e eu comecei a pensar.

No

repentino

interesse

de

Cameron

em

Griff...

uma

coincidência? A sensação de mal estar na boca do meu estômago me disse o contrário. Em seguida, outra realidade se formou: Cameron, Rocco e Griff tinham ido; Eu não tinha absolutamente nenhum refúgio humano até que todos eles voltassem. Olhei para Meatball e decidi ficar muito perto dele a partir de agora. Quando Meatball e eu tínhamos tomado algumas respirações profundas e nossos membros haviam se descongelado, fomos para a cozinha. Comecei

a

cuidar

da

carga

de

roupa

e

alimentei

o

cachorro. Dando a ele um pouco de bacon e me alimentado com isso também. Agarrei tudo o que eu poderia encontrar na geladeira e nos armários e comecei a medir, misturar, fritar e assar. Eu arrumei até a mesa da cozinha e o balcão, empilhando panquecas, torradas francesas,

Julie Hockley

muffins, biscoitos e um par de pães. Eu sabia que havia terminado quando se acabaram o espaço para os suprimentos. Eu trouxe toda a comida para baixo para cozinha dos guardas com Meatball guardando estreitamente meus calcanhares. Ninguém estava lá felizmente. Deixei a comida e sai, de volta até as escadas, esperando que talvez com a comida os guardas fossem manter-me em seus bons olhos. Pelo menos ninguém iria passar fome, enquanto eu ainda estivesse viva. Dentro de minutos, eu podia ouvir aplausos dos guardas noturnos que tinham sido acordados pelo cheiro da comida, ou pelo barulho dos tachos e panelas da minha sessão de cozinhar. De qualquer maneira, sons felizes encheu a casa, de muitas maneiras, foi um pequeno alívio. Mas quando eu olhei para o relógio, me golpeou novamente, porque eu só tinha conseguido matar algumas horas. Tomando uma caixa de biscoitos para cachorro da despensa de alimentos, tentei atrair Meatball para mim para que eu pudesse me entreter ao ensinar um cachorro de guarda a rolar. Mas Meatball mesmo havia estacionado pelo limiar e não se moveu dali não importa o quanto eu implorei. Então, eu joguei mais roupas na secadora e uma nova carga na máquina de lavar e esperei, andando sem objetivo da cozinha para as janelas

da

sala. Estendia

até

a

TV

e

depois

passeava

pelo

corredor. Parei na frente do caótico quarto do Rocco. Por um segundo, pensei que estava suficientemente desesperada para limpar seu quarto; ou seja, até múltiplas imagens, nauseantes do que eu poderia descobrir no quarto de um adolescente, de repente surgiu na minha cabeça. Eu gentilmente chutei as roupas para fora do caminho para que eu pudesse fechar a porta e rastejar para longe como se o pensamento nunca passou pela minha cabeça. Eu finalmente cheguei ao final do corredor da casa, e entrei na biblioteca. O piano atraiu meu olhar. Bill tinha um talento natural em

Julie Hockley

tudo o que tocava e a música não foi exceção. Qualquer coisa que eu fazia em sua sombra foi um fracasso em comparação com o que meu irmão poderia fazer. Mais cedo ou mais tarde, com a ajuda de Bill, como sempre, eu tinha sido capaz de memorizar a sequências de teclas, o suficiente para enganar os meus pais e pensar que eu poderia tocar o suficiente para eles pararem as aulas de piano pela casa. Aproveitando-me do fato de que não havia ninguém na casa para ridicularizar meu retorno musical triunfante, eu me sentei ao piano e comecei a tocar as teclas. Enquanto tratava de tentar lembrar a canção de Cheers, eu quase cai para trás do banco quando algo se moveu a partir do canto. — Isso soa realmente horrível, — disse Carly, apontando o óbvio, de pé ao lado do sofá. Eu nunca estive mais feliz em vê-la. — Eu pensei que você tinha ido com o resto deles? — Decidi ter alguns dias de folga e ficar aqui em vez disso. — Ela se aproximou e sentou ao meu lado no banco. — Quer dizer que disseram a você para ficar e cuidar de mim, — eu corrigi. — Algo assim, — disse ela, sorrindo, deslizando os dedos sobre as teclas do piano. — Eu não acho que alguém tenha tocado essa coisa desde que Bill morreu. Ele era realmente um bom músico. Surpreendeu-me ouvir Carly falar sobre meu irmão dessa maneira. — Não odeia o meu irmão pelo que ele fez? Ainda não tinha certeza de como Carly reagiria à minha pergunta, ou e se eu deveria procurar abrigo atrás de um sofá ou apenas me enrolar em posição fetal imediatamente para evitar que me golpeasse em quaisquer órgãos vitais. Mas Carly estava bastante calma. — Não. Eu sei que eu deveria e provavelmente seria muito mais fácil se eu o odiasse, mas eu não.

Julie Hockley

— Então me odeia, — Perguntei quase sussurrando. — Não, eu não odeio você, — disse ela, rindo. — Mas é definitivamente um choque vê-la aqui, depois de tantos anos. — Ela levantou os olhos. — Quando você chegou aqui, era quase como ter Bill aqui novamente. Vê-la, só trouxe de volta um monte de raiva que

eu

tinha

quando Bill morreu. E

eu

não

podia

acreditar

que Cameron te trouxe aqui, que ele fez isso comigo. Eu entendo por que agora. — O que quer dizer, que você entende, por quê? — pressionei. Carly sorriu amplamente. — Isso é algo que você precisa falar com Cameron, não comigo. Eu fiz uma nota mental para me lembrar de perguntar a Cameron. — Por que você acha que ele fez isso para você? Quero dizer Bill, e toda a coisa sobre Frances. Eu sei que ele amou muito você. Dada a história da minha família, como irritado ele estava, não faz qualquer sentido para mim que ele teria feito isso. Carly suspirou e fez uma pausa, o rosto um pouco tenso. — Eu não sei. Eu nunca vi isso acontecer, para dizer a verdade. Mesmo quando Bill começou a ficar estranho e reservado, eu nunca pensei que ele iria fazer isso. De todas as coisas que eu imaginava essa nunca foi uma alternativa. — Você sabia que ele estava usando drogas? — Perguntei ciente de que eu estava procurando por desculpas agora. — Não... eu não sabia... Talvez, — disse Carly sacudindo a cabeça. — Se você tivesse me perguntado esta pergunta um ano antes dele morrer, eu teria dito absolutamente não. Bill odiava drogas, o que era muito engraçado dado a nossa linha de negócios. Mas então ele começou a mudar.

Julie Hockley

Ela olhou para baixo, enquanto a tristeza passou pelo rosto de porcelana. — Poucos meses antes de morrer, ele começou a acordar no meio da noite, com suores frios, gritando, não fazendo qualquer sentido. Ele estava perdendo muito peso, e a maneira como ele estava lidando com o negócio... ele ia acabar matando todos nós. — Seus olhos se voltaram para mim, e ela segurou lá. — Emmy, esta vida que levamos, não é para qualquer um. A maioria das pessoas não pode lidar com isso. Seu irmão era muito sensível... ele simplesmente não conseguia lidar com tudo isso mais... isto o estava matando. Eu acho que ele queria sair antes que o matassem. As drogas, Frances, eram sua maneira de escapar de tudo.

— Ela arrastou a respiração. —

Quando ele morreu, o negócio vinha caindo aos pedaços há algum tempo. Cameron trouxe tudo de volta. Se não fosse por ele... nós poderíamos... nós definitivamente não teríamos sobrevivido. Ela tomou outro fôlego. Eu não conseguia tirar os olhos e os ouvidos dela. Em seguida, os lábios deslizaram para cima. Eu percebi que era para o meu benefício. — Sabe, Cameron é realmente brilhante. Ele entrou na MIT depois que ele se formou no colegial. Não estava realmente muito surpresa. Eu já sabia de seu brilhantismo. — Por que ele não foi? — Seu irmão o chamou com uma oferta melhor. Me perguntei se ele já havia lamentado essa decisão e, em seguida, percebi que eu já sabia a resposta. — Como era Cameron e meu irmão quando estavam juntos? — Suponho que eles pareciam muito como Cameron e Rocco, exceto que o seu irmão era como o irmão mais novo, mesmo que ele era mais velho que Cameron. Às vezes era divertido vê-los. Seu irmão veio com a receita de dinheiro rápido, como ele o chamava, e Cameron a voz da

razão,

aquele

que

o trouxe de

volta

à

realidade. Eu

acho

Julie Hockley

que Cameron não mudou muito nesse sentido. Eu acho que se não fosse por Cameron, seu irmão teria sido preso milhares de vezes. — E quanto a Spider e Bill? Eles se davam bem juntos? —

Opostos

extrovertido.

exatos. Fogo

Spider

é

muito

e

água. Bill era

mais

encantador

tranquilo. Eles

e

discutiam

constantemente, às vezes na frente de clientes. Era embaraçoso. — Spider odiava meu irmão pelo o que ele fez com você, — pensei. — Spider odiava Bill por ter me traído, mas ele tinha suas próprias

razões

para

odiar Bill também,



ela

concordou,

me

olhando. — Sabe, não importa os quão legal alguns caras pensam que são, quando se trata de algumas meninas, é como se eles perdessem a sua mente. Eles começam a dizer e a fazer coisas realmente estúpidas. Eu sabia que esta observação foi dirigida a mim. — Eu não gosto de receber ordens, e eu definitivamente não gosto de ser dito com quem posso e não posso falar. E se Spider dissesse que você não podia falar com alguém, sem uma boa razão? — Exigi. — Ele fez... então comecei a namorar Bill apenas por despeito, — disse ela sorrindo. — De qualquer forma, você não deve ser tão dura com Cameron. Ele tem um monte em seus ombros agora. Esta vida não é fácil para qualquer um de nós. Alguns dias parece que suga toda a vida fora de você, tudo o que resta é sentir como se fosse inumano às vezes. — Meu irmão era feliz? Carly não estava mais sorrindo e hesitou antes de responder. — Sim, em algum momento, ele estava realmente feliz. Todos nós estávamos no início. Era difícil não estar. — Bill era suicida? Você acha que ele queria a overdose?

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— Eu não sei. Como eu disse, ele não era a mesma pessoa no final. — Carly olhou para mim penetrante, e depois exalou e riu. — Cameron estava certo. Você é desgastante. Meu coração deu um salto, um grande sorriso dividiu o meu rosto, e algumas manchas vermelhas apareceram. — O que mais ele disse sobre mim? Carly sorriu, colocou a mão no meu ombro, sugerindo que fossemos descer antes que a comida toda acabasse. Chamamos o nosso cachorro de guarda no caminho para baixo, mas já era tarde e não sobrou um bocado do que eu tinha preparado. Dois dos guardas noturno estavam saciados de açúcar caídos no sofá, distraidamente olhando para o teto com as mãos em suas barrigas cheias, presos em uma ofuscação gulosa. O guarda assustador não estava lá. — Animais, — Carly resmungou enquanto passeamos por eles. Ela fez sinal para eu segui-la para a pequena casa da piscina. No interior do refugio de Carly era aconchegante, distintamente feminino e muito festivo. As cores azuis, vermelhos, laranjas e amarelos profundos brilhantes foram salpicado em todos os lugares a partir das paredes para as cortinas para os móveis variados. Divisores de madeira de flores roxas e amarelas pintadas separava o pequeno apartamento em três cômodos: o quarto, a sala de estar e cozinha. Tudo ofuscava um pouco meus olhos. Enquanto Carly preparava algo para comer, eu perguntei a ela sobre sua escolha ousada na decoração. — Isso me lembra de casa, — explicou ela calorosamente. Ela me contou sobre sua mãe, que tinha emigrado do México quando jovem. Ela me contou sobre suas cinco irmãs e sobre a casa que ela cresceu, uma casa que tinha sido decorada de uma forma brilhante semelhante, e que tinha sido quase tão pequena como a casa de Carly agora. Ela riu e me contou sobre como era difícil viver em uma

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casa com apenas um quarto, e partilhar um pequeno banheiro para banho com seis outras mulheres. Ela me contou sobre todas essas coisas com um sorriso constante nos lábios e uma lágrima em seu olho. Ela nunca mencionou seu pai. E eu não toquei no assunto. — Você os vê muito? — perguntei. — Não mais, — respondeu ela, uma lágrima quase quebrando a superfície. — É muito perigoso. Eu não os quero ligados em tudo isso. Minhas irmãs tem filhos. Eu não sei o que eu faria se um deles se machucar por minha causa. Ela olhou para mim e seus olhos se iluminaram, um pouco. Ela correu para o seu quarto. Depois de procurar através da gaveta da penteadeira, ela voltou. — Spider teve que roubar isto da casa da minha mãe para mim no Natal passado, — ela me disse, entregando-me uma foto de sua família. Eles estavam de pé na frente de uma brilhante e enfeitada árvore de Natal, um grupo de rostos sorridentes felizes, jovens e velhos. — São todos eles, a minha família. As festas são sempre mais difíceis para mim. — Você nunca se arrependeu de escolher esta vida? Carly olhou para mim estranhamente, como se eu tivesse perguntado a ela se ela se arrependia de respirar. —

Eu

não

tenho

escolha,

Emmy. Pessoas

como

Spider, Cameron, e eu tivemos sorte apenas por sobreviver por tanto tempo. Se não estivéssemos fazendo isso aqui, estaríamos fazendo na rua, onde as coisas são ainda mais perigosas. Todos nós já tivemos que fazer grandes sacrifícios para chegar aqui, mas pelo menos temos algum controle sobre nossas vidas agora. Eu envio dinheiro a minha família. Posso mantê-los seguros disso aqui. — Sinto muito, — eu disse. — Eu não queria sugerir que você não deveria estar fazendo isso.

Julie Hockley

Carly admitiu um suspiro. — Eu sei. É difícil de entender quando você não vem das ruas, quando você sempre teve tudo o que você sempre quis. Seu irmão sempre teve esse problema também. Eu podia sentir que Carly estava ficando chateada por nossa conversa. Eu decidi não empurrar minha sorte ainda mais. Passamos o resto do dia juntas, Carly e eu, me dei conta que eu gostava dela cada vez mais. Em alguns aspectos, ela era muito reservada,

mas

seu

temperamento

parecia

incendiar-se

facilmente. Pensei que éramos muito semelhantes, desta forma; no entanto, era claro para mim que, em seus olhos, éramos muito diferentes. À noite, nós estouramos um pouco de pipoca para ver alguns filmes,

uma

noite

para

meninas,

embora

o

filme

escolhido

provavelmente tivesse mais explosões e tiroteio do que um filme que a maioria das meninas "normais" teria escolhido. Carly até mesmo trouxe uma garrafa de vinho. — Tive a oportunidade de esconder isso de Spider na última vez em que voltamos à cidade, — ela me disse um pouco envergonhada. — Por que você teria que esconder? — Namorar o chefe da segurança deve vir com algumas vantagens. — Spider não permite álcool em nenhuma parte da propriedade, — explicou ela. — Isso é... um pouco ortodoxo, — eu disse, embora "maníaco por controle" veio à mente. Ela foi um pouco desdenhosa. — Você gostaria que esses meninos carregassem metralhadoras depois de terem bebido? Touché.

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Dois sacos de pipoca depois, com taças de plástico e uma quase vazia garrafa de vinho... Carly e eu estávamos bem em nosso caminho para ter um grande momento. Mas quando o protagonista masculino foi atropelado por um ônibus, Carly de repente baixou o volume. O bater de uma porta de carro confirmou suas suspeitas de que ela tinha ouvido alguma coisa. Me virei para Carly com uma pergunta. Seu rosto tinha empalidecido. — Oh Deus, — ela suspirou, trazendo a mão à boca. — Eles voltaram cedo. Aconteceu alguma coisa. Enquanto ela pulou para fora do sofá, a porta da frente se abriu num golpe. O que ouvimos depois nos surpreendeu. — Alguém está cantando? — Perguntamos simultaneamente.

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Cameron e Spider entraram juntos e foram seguidos por Griff e Tiny, que estavam arrastando Rocco pela cintura. O pé de Rocco estava fortemente enfaixado, mas ele estava muito feliz. Carly

estava

tão

chocada

quanto

eu. Mas

Spider

negou

significativamente com a cabeça para ela; agora não era o momento de fazer perguntas. Rocco ainda estava cantando como um marinheiro bêbado, enquanto Griff e Tiny ajudavam a chegar ao sofá. Griff estava pálido. Ele olhou para mim a partir do canto de seu olho, e então ele olhou para Cameron. Parecia que ele estava prestes a dizer algo para Cameron, mas Tiny agarrou-o pelo braço e levou-o de volta para fora. Enquanto Carly e eu nos perguntávamos sobre o show de Rocco, Spider avistou a quase vazia garrafa de vinho na mesa de café. Ele levantou o olhar acusador vislumbrando Carly e eu. Nossas bochechas queimaram vermelhas vivo. Carly sorriu, com ar culpada, enquanto ela examinava as unhas; Eu fui imediatamente procurar o controle remoto, para desligar a televisão. Cameron sorriu, mas seus olhos estavam estreitos. — Interrompemos a festa? Encontrei o controle remoto e muito rapidamente mudei de assunto: — O que há de errado com Rocco?

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— Ele está fortemente sedado, — Cameron disse. Rocco, de repente teve interesse. — Não estou drogado, Dr. Lorne só me deu algumas pílulas da felicidade, — chiou, agitando uma bolsa de plástico transparente do tamanho de um sanduiche com pílulas multicoloridas. E então ferozmente agarrou a tigela de pipoca quase vazia, e todos nós observamos ele tentar morder os grãos que não estouraram. Carly falou então em meio a pressão crescendo no ambiente. — Então, se supõe que adivinhemos o que aconteceu? Houve um momento tenso de silêncio entre Cameron e Spider, entre os sons dos dentes de Rocco mastigando. — Rocco atirou no próprio pé, — Spider finalmente derramou, mantendo seu olho em Cameron. O estado de ânimo sombrio de Cameron explodiu como um vulcão. — Ele não teria se acertado um tiro, se as minhas ordens tivessem sido seguidas. — Foi um acidente, Cameron, — Spider lembrou, de forma rápida, com paciência. — Eu disse nada de armas! Que parte da minha ordem não estava clara? Rocco se levantou do sofá e mancou em direção às portas do pátio. — Onde você está indo? — Cameron exigiu, a raiva de sua voz ricocheteando nas paredes da sala. — Para a cama. Está muito barulhento aqui, — ele respondeu, grogue. Abriu a porta do pátio, e saiu mancando, e desapareceu na

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escuridão lá fora. Carly e eu observamos Spider e Cameron olhar um ao outro. A tensão na sala era agora espessa e desconcertante. Carly inteligentemente se desculpou e saiu pela porta da cozinha. Seguindo seu exemplo eu fui para o pátio verificar o paciente. Lá fora estava escuro. No começo, eu não conseguia ver onde Rocco tinha ido, mas quando meus olhos se ajustaram à escuridão, vi sua sombra alongada deitada em uma espreguiçadeira. Não havia lua; o céu estava suavemente iluminado por um milhão de cintilantes estrelas. Foi

incrível

a

rapidez

com

que

veio

meu

senso

de

insignificância no grande esquema das coisas. Sentei-me ao lado dele e contemplei o céu. Cheirava a verão agora,

como

o

bosque

cheirava

muito

vivo

para

dormir

na

escuridão. Rocco sonolento murmurou e remexeu em sua cama improvisada. Depois de alguns minutos, ele ficou em silêncio. Presumi que ele finalmente tinha adormecido. — Ele ama você, — murmurou ele ilegível. A princípio pensei que ele ainda estava murmurando para si mesmo, mas quando me virei para olhar para ele, eu vi que ele tinha virado para o lado e estava olhando para mim. Seu cabelo estava desgrenhado, com um lado completamente achatado enquanto o outro ficou em linha reta acima em suas extremidades. — De quem está falando? — Perguntei, julgando seu estado de estupor drogado. — Quem você acha? Sua tonta, — resmungou e virou-se de costas e apertou os olhos, como se ele estivesse tentando descobrir o que essas coisas cintilantes estavam fazendo no teto de seu quarto. Ele desistiu de tentar se concentrar em qualquer coisa e suspirou, — Acho que Cameron sente isso por um tempo.

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Eu não conseguia lembrar como era: as pessoas embriagadas sempre dizem como as coisas são, ou nunca confiar no que alguém diz sob essa influência? Talvez a verdade se encontrasse no meio, em algum lugar. De qualquer forma, meu coração bateu. Ele coçou o nariz e, em seguida, seu ouvido. — Naquela noite, quando eu lhe bati na cabeça, eu pensei seriamente que Cameron ia me matar... eu estrago coisas o tempo todo... então, achei que não era muito estranho... Só que ele me fez trazê-la aqui, você era mais do que apenas uma garota que ele pegou na rua. Creio que ficou louco por ter você aqui. Ele deve ter me chamado umas mil vezes no meio da noite para checar você, na última vez que ele saiu para ir trabalhar. — Deveria dormir um pouco, Rocco, — sugeri a contragosto. — Antes de você vir para cá, — continuou, me ignorando, seu único público, — Cameron costumava trabalhar o tempo todo e, em seguida, sumir, sempre que ele não estava trabalhando. Achávamos que ele só queria ficar sozinho. Desde que você está aqui, ele não desaparece mais. — Não acha estranho que de todas as pessoas no parque naquele dia, Meatball iria correr atrás de você? — Me perguntou. — Quer dizer, eu não sou realmente bom em matemática, mas parece que as probabilidades de que o cachorro saltaria na garota, cujo único irmão era o melhor amigo do proprietário do cachorro. Acho que Meatball sabia quem você era muito antes de você realmente o conhecer. Ele gosta de você mais do que todos os outros, isso é certo. — Ele ainda estava falando sobre o cachorro, quando virou para mim, meus nervos tensos. — Sabe o que mais? Dei de ombros, porque eu não sabia o que mais poderia haver, porque eu estava segurando muito apertado meu lábio inferior para escutar todo o mais.

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— Ouvi Tiny dizer a Spider que alguém disse a Tiny... — Eu estava tendo problemas para manter-me atualizando com o meu estado de espírito e me perguntei como ele conseguia dado o seu estado de ânimo... — que Cameron estava muito nos Projetos, mesmo quando ele não estava trabalhando. Depois que você veio para cá, tudo parou... e, — acrescentou como se ele estivesse esperando um rufar de tambores, — Tiny me disse que quando foi buscar as suas coisas na sua casa, Cameron sabia exatamente onde você morava e onde o seu quarto era na casa. Tiny foi o único que Cameron permitiu na casa. Mas ninguém

estava

autorizado

a

aproximar-se

das

suas

coisas. Cameron embalou tudo sozinho. As imagens correram pela minha cabeça — imagens do que tinha, o que poderia ter e o que aconteceu; imagens do que poderia ser... levou um tempo para eu lembrar de como falar. Rocco estava absurdamente fazendo sentido, ou pelo menos era o que meu coração queria, muito, acreditar. Minha cabeça, por outro lado,

estava

protegendo

o

resto

de

mim,

desafiando

a

mera

possibilidade. Que Cameron —eu tinha dificuldade em dizer isso, mesmo em silêncio para mim mesma — me amava, como Rocco tinha falado

as

probabilidades. Cameron era

tudo; e

eu,

não

era

suficiente. Minha mente estava procurando maneiras de me proteger da realidade dos meus defeitos. — Por que Cameron mandou Meatball atrás de mim? — Contradisse, mas não houve resposta. Enquanto minhas entranhas tinham estado lutando, eu não tinha notado que Rocco estava em silêncio. Eu olhei, e ele estava dormindo. Uma voz serena na escuridão me respondeu. — Eu não fiz. Cameron havia estado parado na porta com os braços cruzados, ouvindo Rocco e eu.

Julie Hockley

— Meatball escapou depois de te ver correndo. — Sua sombra passou por mim no final da plataforma. Eu só podia assistir. — Tomando vantagem do estado do meu irmão para extorquir informações? — Enquanto ele falava da escuridão, eu tentava escutar vestígios de raiva, mas não decifrei nada disso. Exalei só um pouco. — Ele ofereceu, — corrigi e fui investigar ele na escuridão. Pelo que pude ver, ele estava de pé, com os braços casualmente descansando sobre a grade, olhando para as sombras das árvores. Às únicas luzes vinham da casa de Carly, a paisagem estava escura, e eu mal podia distinguir Cameron com seus olhos escuros que brilhavam sob as estrelas. — Então, o que você estava fazendo lá em primeiro lugar? Nos Projetos, quero dizer, — sondei, tentando manter minha voz casual. — Verificando você. Certificando de que estava a salvo, — respondeu sua voz dominada de indiferença. — Você fez isso... Muitas vezes? — perguntei a ele. Cameron não respondeu. — Há quanto tempo você vem fazendo isso? —

Desde

que

Bill

morreu.



Seu

tom

ainda

era

insuportavelmente imperturbável. Engoli em seco. — Isso foi há seis anos, Cameron! Você tem feito isso por tanto tempo? Cameron levou o seu tempo. — Bill me fez prometer muito tempo antes de morrer que eu iria cuidar de você se alguma coisa acontecesse com ele. Mantive minha promessa.

Julie Hockley

Eu estava tentando analisar sua entonação novamente. Foi ainda mais difícil quando eu não tinha nada mais que um rosto escurecido para coincidir com a voz. — Essa é a única razão? Cameron ficou em silêncio novamente e manteve seus olhos escuros fixos na paisagem imperceptível. — Se Meatball não tivesse escapado de você naquele dia... você falaria comigo... se apresentaria a mim? Cameron voltou a me olhar. Ainda não podia ver seus olhos. — Não, — disse ele, sem uma polegada de dúvida. — Você tinha sua própria vida. — Não havia muita vida, — eu murmurei e fechei a cara. — Melhor do que esta. — Assim, então só decidiu tudo isso por conta própria, sem consultar a mim. Não tinha o direito de tomar essa decisão por mim. Cameron riu entre dentes, mas eu peguei um vislumbre de sua inquietação. — Emmy, nunca teria conhecido a diferença. Sua vida teria ido em frente sem nunca saber que eu estava lá ou que esta... vida sequer existia. Não foi fácil de fazer, especialmente depois que você se mudou para esse inferno em Callister. — Deve ter sido inconveniente para você ter que me espionar em uma parte suja da cidade, — brinquei. — Não foi isso que eu quis dizer, — disse. — Pelo menos você teria feito o que devia e ido para uma boa faculdade, viver em um lugar agradável, e, eventualmente, conhecido um cara bom, eu teria me sentido muito melhor deixando você viver sua vida. Mas imagine como era difícil para eu vê-la tão miserável e não ser capaz de fazer nada sobre isso. — Então, por que não fez nada sobre isso?

Julie Hockley

Senti a mão de Cameron mover suavemente sobre minha bochecha, afastando uma mecha de cabelo que tinha caído fora do meu rabo de cavalo. — Você e eu somos muito diferentes. Eu não sei se foi o vinho que eu tinha compartilhado com Carly ou o fato de que Cameron e eu estávamos no escuro, escondidos do mundo e de nós mesmos, mas de repente eu me senti muito valente. — Então Rocco tem razão? Você me ama? — Eu lancei para a noite, embora a descrença ainda envolta na minha voz. Cameron escolheu o silêncio. — Responda-me, — exigi. Mas Cameron não recebia ordens. Foi certamente o vinho, porque eu fiquei na ponta dos pés e procurei na escuridão e encontrei seu rosto. Ele moveu sua cabeça para frente por instinto, e seu rosto de repente emergiu da escuridão. Ele parecia tão nervoso quanto eu me sentia. Era a maneira como ele olhou para mim, como se estivesse procurando por algo — como se tivesse acabado de encontrar, isso fez meus dedos formigar. Com seu rosto a centímetros do meu, Cameron parou por um instante, e seus olhos escuros ficaram fixos nos meus. Ele fechou seus olhos, e separou meus lábios com os seus. Ele me beijou muito suavemente a princípio, como se estivesse esperando que eu não quebrasse em pedaços. Mas eu estava de repente forte e me aproximei mais a ele. Senti sua mão ao redor das minhas costas, enquanto a outra empurrou suavemente minha cabeça perto da sua. Eu estava muito sobrecarregada, para notar a porta do pátio ser aberta — mas Cameron notou. Passos se aproximaram; ele agarrou meus ombros e me empurrou. Ele passou rápido por mim. Me deixando tonta.

Julie Hockley

Griff estava de pé junto a Rocco. Ele se assustou quando Cameron emergiu da escuridão e fugazmente olhou para mim quando eu segui Cameron, tentando corrigir rapidamente meu rabo de cavalo desgrenhado. — Afaste-se dele! — Cameron ordenou. Rocco, que tinha sido acordado pela voz de Cameron, se sentou e olhou confusamente para Griff, Cameron e eu. Griff parecia aterrorizado e com raiva. — Sinto muito, senhor. Não o vi... de pé ali. Só vim verificar o Kid. — Você já fez o suficiente por um dia. Vá, — Cameron ordenou. — Senhor... Eu queria pedir desculpas pelo que aconteceu hoje cedo... — Griff gaguejou. Os olhos de Cameron se voltaram enlouquecido. — Eu disse para que vá! Agora! Rocco e eu pulamos quando Cameron perdeu a calma. Griff vislumbrou para mim com fúria e rapidamente virou-se, indo justo quando Tiny e Spider vieram correndo pelas portas. — O que está acontecendo? — Perguntou Rocco atordoado. Olhei através da multidão de homens ofegantes furiosos. Meu instinto me disse que eu precisava sair de lá — com rapidez. Então eu virei para Rocco — Você precisa ir para a cama. Não pode dormir aqui fora. — Aqui fora? — Ele perguntou. Ajudei Rocco a levantar-se e com muito esforço nós nos arrastamos de volta para casa. Fiz questão de fechar a porta do pátio atrás de nós, sentindo que a bolha de tensão entre Cameron, Spider, e Tiny estava prestes a estourar.

Julie Hockley

Depois que Rocco deitou em sua cama, eu corri de volta para o meu quarto para ficar sozinha e deixar os homens arejar suas diferenças. Eu ainda me sentia eufórica, embora eu não tivesse certeza se dançava em volta do quarto ou bloqueava a porta. Cai de costas sobre a cama, traçando meus dedos sobre os lábios mais e mais até cair no sono, antes que eu pudesse estar de volta à realidade. Naquela noite, o monstro desfigurado voltou para meus pesadelos. Eu acordei gritando, mas nenhum som saiu da minha boca — de fato, o ar pouco entrava também. Uma grande mão cobriu tanto a minha

boca

e

nariz. Lutei,

chutando

e

socando

meu

agressor

invisível. O intruso se esforçou para acender minha pequena lâmpada, derrubando-a no processo. A luz se acendeu, e Griff estava de pé em cima de mim com a mão sobre a minha boca agora, explorando ansiosamente o quarto e me calando de forma irregular. — Emily! Sou eu! Calma! — Disse com a voz baixa. Quando pude tomar algumas respirações através do nariz, meu coração finalmente desacelerou para um ritmo quase normal, Griff deixou-me empurrar a sua mão do meu rosto. — Griff, o que está fazendo aqui? Estamos no meio da noite! — Falei em um meio sussurro e meio sonolenta. Griff levantou-se e começou a andar para trás e para frente, olhando para o chão enquanto ele reunia seus pensamentos. — Como você pôde fazer isso comigo? — Ele olhou para cima, miserável. — Eu deveria ter sabido quando o chefe me pediu para ir com eles hoje, e então ele se manteve olhando para mim o tempo todo, isso queria dizer alguma coisa. Eu sou um idiota. Estive quebrando a cabeça há semanas, tentando descobrir o que esses bastardos queriam com você e como ia tirar você deste lugar, quando você é a amante do chefe. Me levantei em seguida da cama. — Do que você me chamou?

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Seu rosto havia um olhar de desgosto. — Eu tenho estado pondo minha vida em perigo, enquanto você está se esfregando com o chefe como uma sem vergonha. Antes que eu percebesse o que estava acontecendo, minha mão foi levantada, e me escutei golpear a bochecha de Griff. — Eu não estou me esfregando com ninguém, Griffin! Não que isso seja da sua conta. Eu já te disse, não preciso ser salva, e eu certamente não lhe pedi para fazer qualquer coisa para mim. Não finja que sua escolha de fugir desse trabalho tenha sido inteiramente por meu benefício. Griff esfregou o rosto e olhou para longe. Eu tentei o meu melhor para me acalmar. — Que diabo aconteceu lá hoje? Ele se sentou na cama, ainda esfregando a bochecha como uma criança, como alguém que estava acostumado a ser golpeado por pessoas maiores que eu. — É como eu disse. Dissera-me ontem à noite que

o

seu

namorado

insistiu

para

que

eu

fosse

com

eles

hoje. Aparentemente, eu deveria manter um olho sobre Kid enquanto ele aprendia o ofício. Spider quase explodiu minha cabeça quando eu disse que não queria ir. Então, eu segui as ordens e fui como um bom soldado. Seu namorado olhou para mim todo o caminho. Estava ficando assustador. Logo que chegamos a uma casa, todos os meninos foram orientados a ficar para trás na rua, enquanto Spider, Tiny, e o chefe entravam para falar de negócios. Eles estavam lá por quase uma hora... O garoto estava ficando entediado e pediu para ver minha arma. — Ele deu de ombros defensivamente. — Eu dei a ele. Eu não vi mal nenhum nisso, não era como se ele fosse atirar em alguém. Mas um dos rapazes pensou que ia ser engraçado detonar fogos de artifício para assustálo. O Kid pulou e deu um tiro no próprio pé. Spider saiu da casa, gritando para mim, algo sobre nada de armas. Como eu ia saber que o Kid iria atirar em si mesmo?

Julie Hockley

— Roc...

Kid está bem. Então por que o drama? — disse,

mergulhando de volta no meu travesseiro e respirando com cuidado. — Você não entende, não é? Esses caras estão à procura de uma desculpa para me matar, desde que você chegou aqui. Agora eu sei o que é, porque o chefe quer você para si mesmo. Com o Kid atirando-se hoje e o aviso do Spider da última vez, eu estou morto com certeza. Eles vão se livrar de mim. — Griff, não seja ridículo. Ninguém vai fazer nada para você. Vou falar com eles amanhã, se quiser. — Eu esfreguei meus olhos cansados, ardentes e bocejei. Griff ficou furioso e se inclinou. — Eu não sou cego. Até eu posso ver que o chefe é um tipo muito atrativo. Provavelmente imagina passar seus dias em sua inteira disposição, e tenho certeza de que uma garota bonita como você poderia definitivamente mantê-lo ocupado por um tempo. Você provavelmente pensa que, porque o chefe quer um pedaço de você, você tem algum tipo de poder sobre ele e que você está segura. Acorde, Emily! O cara não te ama e nunca amará. No minuto em que ele conseguir o que quer, acabará de uma vez. E eu não vou estar aqui para te salvar quando isso acontecer. Seus olhos estavam vermelhos e parecia que eles estavam prestes a saltar fora de sua cabeça. Ele estava ofegante acaloradamente, e cada músculo do seu corpo estava firmemente atado e ele estava muito perto de mim. — Griff , você está me assustando, —

admiti, minha voz

tremendo. Ele se afastou da cama e começou a andar para trás e para frente novamente. — Temos que ir esta noite, — pensou em voz alta.

Julie Hockley

Puxei os cobertores quentes até o queixo. — Nós não estamos indo a qualquer lugar... — Você precisa fazer uma mala. Nós vamos esta noite. Um dos guardas noturnos normalmente adormece contra a árvore. Vamos nos esgueirar por ele e seguir pela floresta, assim, ninguém vai nos apanhar pela estrada principal. Nós vamos ter que pegar uma carona quando estivermos longe daqui. — Nós não estamos indo a lugar algum... esta noite. Isto é ridículo. Você está chateado e paranoico. Tudo vai estar melhor na parte da manhã. Você vai ver. — Eu assegurei a ele. Griff se sentou na cama e olhou para mim de perto. — Emily, se você não for hoje à noite, eles vão te matar. Talvez não amanhã, mas eles irão, eventualmente. Há uma razão para eles não quererem que ninguém fale com você, querem menos testemunhas quando você, de repente, desaparecer da face da terra. Eu estive procurando no noticiário para ver se alguém está procurando você, não houve absolutamente nada sobre você. Eu não acho que ninguém sequer sabe que está desaparecida. Eu não lhe disse isso porque eu não queria assustá-la. De repente, percebi que Griff estava certo. Eu tinha

visto

televisão o suficiente com Rocco para saber que meu rosto nunca apareceu em qualquer noticiário. Isso me perturbou por razões além do alcance de Griff. Ele pegou minhas mãos na dele. — Eu vou voltar em três horas. Pegue suas coisas. Apenas o essencial. Temos uma longa caminhada pela frente. Eu não sabia o que dizer a ele, exceto que eu não estava indo com ele. Olhei em volta em busca de inspiração e notei que algo grande estava faltando.

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— Onde está Meatball? — Perguntei a ele, quando o que eu realmente queria dizer era: Como é que você entrou aqui sem Meatball arrancar seu braço fora? Ele apontou para a porta do pátio. Meu cachorro de guarda reluzia feliz satisfeito deitado no deck externo roendo um osso de carne gigantesca que foi aninhado entre suas patas. Griff se levantou. — Lembre-se, três horas, — sussurrou de novo, enquanto saia para a varanda e escalava para baixo até que ele estava fora de vista. Eu fiz definir o relógio para disparar em três horas. Em três horas, eu teria outra chance de convencer Griff que fugir em uma floresta escura era uma péssima ideia. Eu tinha mais três horas para dormir. Três horas mais tarde, o relógio tocou. Eu esperei e deixei Meatball entrar de volta. Mas Griff nunca veio

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A casa estava cheia de pessoas de maneira pouco natural, densamente tranquila, como os bosques estavam antes de uma tempestade. Eu podia jurar que Cameron tinha me visto descendo às escadas, mas ele continuou andando como se não tivesse. Quando o chamei, ele fez uma pausa na porta da frente sem olhar para trás. Carly se virou, e ela olhou para mim...? Cameron murmurou para Carly e Spider que iria alcançálos. Eles saíram, e ele finalmente se virou, e eu estava quase em lágrimas. Seu rosto era impenetrável, robótico. Ele forçou um sorriso, débil e pálido. Isso só fez piorar. — O que há de errado? — Eu consegui perguntar, enquanto eu caminhava lentamente em direção a ele, eu tinha certeza que ele tinha dado um passo atrás quando eu o alcancei. — Nada... apenas trabalho, — disse ele com o mesmo sorriso tenso. — Estarei fora a maior parte do dia. Você pode manter um olho em Rocco por mim? — Claro, — eu suavemente concordei. — Tem certeza que está tudo bem? — Está tudo bem, — ele respondeu em um tom automatizado. — Tenha um bom dia.

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Rapidamente girou e saiu da casa. Eu estava na entrada, confusa como de costume. Fiquei imaginando o quão ruim as coisas tinham chegado na noite anterior entre Spider, Tiny, e Cameron para Cameron ainda estar tão chateado. Eu me encontrei com raiva de Griff por ter se recusado a seguir as ordens, por arruinar o meu sono e meu momento perfeito com Cameron, por causar uma fenda na família. Rocco estava em seu quarto, deitado na cama, olhando para o teto. Seu rosto retorcido era de dor. — Como está se sentindo? — Eu perguntei a ele. — Eu vou ficar bem, uma vez que estes comprimidos verdes entrarem em jogo para chutar a dor, — disse ele com os dentes cerrados. Notei o saco de comprimidos do arco-íris ao lado de sua cama. — O que a sua prescrição diz? Rocco riu, com dificuldade. — Dr. Lorne não é o tipo de médico que dá prescrições. Quem sabe o que essas pílulas são, eu só sei que me faz sentir muito melhor... uma vez que elas funcionam. — Posso pegar alguma coisa? — Como um dicionário de droga ou uma lavagem de estômago... — Você pode me fazer companhia, — ele sugeriu ainda focado no teto. — Eu estou ficando realmente entediado deitado aqui sozinho. Deslizei-me ao lado de Rocco, e nós assistimos o teto juntos.

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— Você não tem que atirar no próprio pé, apenas para se livrar das tarefas. Ele riu entre dentes, e depois exalou ruidosamente enquanto a dor o atingiu novamente. Peguei a mão dele e ele apertou com força. — Eu acho que lhe disse algumas coisas sobre Cameron que eu não deveria dizer-lhe ontem à noite, — disse. — Você não estava fazendo muito sentido. Eu não prestei atenção. — Só não diga a Cameron o que eu te disse, está bem? — Pediu. — Ele vai ficar muito chateado se ele descobrir. Eu odiava ser o portador de más notícias. — Na verdade, você não foi exatamente discreto sobre isso. — Joguei um pouco mais baixo, — Eu acho que Cameron pode ter ouvido você. Amaldiçoou sob sua respiração. — Ele está louco? — Eu não penso assim. — Lutei para manter a queimação localizada na parte de trás de meus ouvidos. — O que ele disse? Minhas bochechas estavam ficando quente. Eu estava tentando encontrar algo para responder sem contar nada a Rocco. — Não muito. Um sorriso cheio de dentes se formou em seu rosto. — Eu acho que ele teve um tempo difícil tentando falar, enquanto ele estava enfiando a língua em sua garganta.

Julie Hockley

— Você viu? — Engoli em seco, horrorizada. — Eu pensei que você estava dormindo! — Na verdade, eu pensei que tinha sonhado a coisa toda, — Ele estreitou os olhos, — que teria sido realmente estranho se eu sonhasse com meu irmão beijando uma garota... Eca! Mas você acaba de confirmar que eu não estou ficando louco. Obrigado. Estendi a mão e dei um soco forte no seu braço. — Quanto você viu pervertido? — Não se preocupe, — ele disse levemente — Eu só vi um par de braços debatendo no escuro. E depois, claro, havia os sons de beijo. Ele franziu os lábios e fez ruídos de beijos exagerados perto do meu rosto para me lembrar de que ele, definitivamente, tinha apenas quinze anos de idade. Eu empurrei o seu rosto. — Você tem Griff em um monte de problemas, por acerta-se um tiro. O sorriso de Rocco foi substituído com um torcer de nariz. Eu estava sendo um pouco petulante. — Cameron me prometeu uma posição do ranking. Eu era o único que não tinha uma arma. Como é que eu vou conseguir qualquer respeito dos caras se ele continuar me tratando como se eu fosse uma criança? Eu estava indo para lembrá-lo de que ele era uma criança, mas mudei de ideia. — Eu acho que Cameron estava apenas tentando mantê-lo seguro. — Eu posso cuidar de mim mesmo.

Julie Hockley

— Talvez. Mas você, obviamente, não pode cuidar de si mesmo quando você tem uma arma em suas mãos. Ele amuou um pouco... E então ele perguntou: — Quantos problemas eu arrumei para Griff? — Eu não sei. Cameron estava muito irado ontem à noite. Ele ainda parecia realmente furioso, esta manhã. — Minha voz tremeu um pouco. — Aposto que Griff está bastante furioso comigo também. — Eu não acredito. Mas ele definitivamente está com medo. — Medo? Por quê? — ele parecia tão incrédulo quanto eu. — Eu não sei. Ele entrou no meu quarto ontem à noite e ficava dizendo que eles iam matá-lo. — Eu editei, decidindo que era melhor não dizer a Rocco tudo o que Griff tinha me falado. Era muito doloroso. — Ele foi ao seu quarto! — Ele subiu no meio da noite, — eu disse. — Uau! Ele deve ter sido realmente assustador. Você já falou com Cameron sobre isso? Quer dizer, Griff está sendo bastante ridículo sobre isso. Ele não vai ser morto apenas porque eu mesmo atirei no meu pé. Fiquei contente em saber que eu não era a única que pensava que Griff estava sendo paranoico, mas ao mesmo tempo, eu não queria contar a Rocco sobre a noção de que Griff achava por que ia ser morto... por causa de mim. Será que eu o fiz pensar que tinha havido algo mais do que amizade entre nós? — Eu não disse nada a Cameron sobre isso ainda... ele não estava de muito bom humor esta manhã.

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— Eu vou falar com Cameron, — ele se aproximou. — Isto é minha culpa. Griff não deve ficar em apuros por causa de mim. O momento de maturidade foi de curta duração... Rocco começou a rir. — Então, você finalmente sugou o rosto do meu irmão mais velho. Aleluia! Acho que mereço um prêmio por isso. — Eu não iria anunciar o fato para você, já que não pode manter sua boca fechada, Rocco, — rebati. — Parece que temos algo em comum, então, — ele disse, repugnantemente sacudindo sua língua para mim. Eu dei um soco no seu braço, ainda mais forte dessa vez, mas ele estava muito insensível agora e não sentiu nada. — Você é nojento, — murmurei. Irritada, me levantei e pisei em algo pegajoso no chão. — E o seu quarto é nojento. — Pensei sobre isso e anunciei: — Eu acho que vou limpá-lo hoje. — Você não ousaria, — disse ele, com os olhos redondos. Comecei a pegar as roupas sujas do chão e jogá-las para fora no corredor. — Você vai passar um tempo aqui, e você não pode passar muito tempo neste cheiro nojento durante todo o dia, — falei um sermão e dei-lhe um ultimato: — Você pode me ver passar por todas as suas coisas, ou você pode me dizer onde eu posso e não posso ir, mas de qualquer forma, eu estou limpando seu quarto hoje. Trouxe alguns sanduíches. Com a barriga cheia e seu estado incapacitado, Rocco concordou em me guiar através do seu labirinto de confusão. Levou um longo tempo para cavar a nossa maneira de sair. No final, eu tinha empilhado três grandes sacos de lixo na varanda da frente, tinha enchido as máquinas de lavar louça até a borda com

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pratos sujos recém-descobertos, e tivemos mais cinco cargas de roupa para lavar. A hora do jantar chegou. E seu quarto era quase impecável, e eu o ajudei a coxear para a sala para comer e assistir TV, que como ele explicou, era seu deleite por trabalhar tão duro durante todo o dia, falar enquanto eu trabalhava tinha sido uma tarefa desgastante para ele. Sabia que Rocco estava se sentindo melhor quando as suas necessidades se tornaram mais extravagante. Em um momento, ele se queixou de que sua voz estava ficando cansada de ter que fazer tantas demandas e sugeriu que eu arrumasse um sino para que ele pudesse tocá-lo em vez de mover a boca. Eu, respeitosamente, neguei. E tornei a encher o seu copo de suco pela última vez, antes que ele fosse para a cama. Eu ainda não tinha falado com Griff desde a noite, quando ele havia entrado no meu quarto. Eu vesti um jeans e uma camiseta e fui verificar Rocco antes de descer para enfrentar Griff. A cozinha estava vazia. A casa ainda seguia silenciosa. Fui ao quarto de Rocco que estava roncando. Eu gemi baixinho quando notei roupas já empilhadas no chão. Lá fora, pela manhã, estava quieto e os guardas estavam de um lado para o outro, mas Griff não. Eu podia sentir seus olhares enquanto eu caminhava em direção à garagem, mas eu não me importei se eles me viram. Eu estava determinada a esclarecer as coisas. Abri a porta lateral para a garagem quente e sufocante e passei pela linha de carros. O Maserati tinha sido resgatado da lama e arrastado de volta, era difícil dizer por causa da quantidade extrema de lama, mas parecia muito ruim: Capim foram presos sob as rodas da frente tortas, o para-choque dianteiro foi também dobrado e riscado, o espelho do lado do motorista estava faltando.

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Eu, na ponta dos pés, fui até as escadas e pude sentir o ar úmido piorar enquanto eu subia. No andar de cima, havia meia dúzia de ventiladores funcionando em conjunto, o que fez as cortinas improvisadas lançar raios de luz para o cômodo de forma esporádica. Alguns guardas noturnos estavam deitados em cima de suas camas, desconfortavelmente, dormindo no calor. Ao fundo, eu não podia ver Griff em sua cama. Eu fui na ponta dos pés para ter certeza. O que eu encontrei quando cheguei a sua cama me surpreendeu, não apenas por que ele não estava lá, mas sua cama estava completamente vazia, desprovido de qualquer travesseiro, lençóis ou cobertores. Havia apenas um colchão nu. As áreas em torno e sob a cama de Griff também tinham sido limpas dos seus bens pessoais. Griff já havia ido, percebi horrorizada, mas ele não tinha levado tudo com ele, ainda escondido debaixo da sua cama estava sua caixa de revistas de luta. Eu não me importava tanto com o que ele tinha deixado para trás ou que ele tinha quebrado a sua promessa de vir e me pegar antes de sair, mas o pensamento dele andando sozinho na floresta me preocupava muito. Sentei-me em sua cama, abatida, e olhei através de uma revista, procurando

uma

explicação,

até

que

a

minha

visão

periférica

interrompeu minha linha de pensamento. A cortina de saco de lixo ao lado da cama de Griff havia se mexido. Mudado com o vento do ventilador oscilante. Da janela do segundo andar, vi alguém andando na grama pela linha da floresta. Olhei mais perto e vi Carly andando sozinha, levando a pilha usual de arquivos. Ela caminhou em direção ao bosque, virando para um caminho de terra batida e desaparecendo no meio das arvores.

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Uma potente voz, de repente, me acordou da minha meditação. — O que você pensa que está fazendo aqui, garota? Era um dos guardas da linha, o mesmo que tinha me informado que Griff tinha ido com Cameron alguns dias antes, o mesmo assustador que gostava de olhar para mim intensamente. Ele estava junto ao topo da escada, um homem alto e grosseiramente magro. Seu cabelo estava oleoso, como se ele não tivesse lavado em dias. Somando-se a minha sorte, todos os guardas da noite tinham sido despertados pelo rugido do homem. No momento em que o guarda irado começou a vir na minha direção, me ocorreu que vir aqui sozinha, sem Griff, tinha sido uma péssima ideia. — Eu estava procurando por Griff, — gaguejei. O homem se aproximou da cama. — Seu namorado está muito longe, querida, — zombou. — Finalmente teve o que merecia. Agindo como se ele fosse melhor do que nós... Talvez se ele não tivesse sido tão arrogante teríamos dito para ele ficar longe da nova menina do chefe. Jogar esse jogo será sempre perigoso. — Griff fugiu, — eu insisti, minha voz tremendo não conseguia convencer a qualquer um de nós. — O único lugar que o cara está agora é no inferno. Ele me agarrou pelo braço e tentou me puxar para fora da cama. — Menina, como você vem e vai por aqui o tempo todo, você não tem nada de especial, e eu não vou ser morto por alguma menina do

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nariz empinado. — Ele torceu meu braço e me puxou do meu assento. — Agora dê o fora daqui antes que consiga outro de nós morto. — Você está me machucando! — eu disse a ele. Ele torceu mais forte. Gritei. — Roach! Deixe-a ir! — Ordenou um dos guardas noturnos maiores. — Cuide da sua vida, Brick. Volte para a cama. — Roach estava me arrastando para longe da cama. Com rapidez, dois guardas noturnos saltaram de suas camas e vieram em direção a nós. Roach imediatamente se acovardou e me deixou ir. — Vai, — ordenou um guarda enquanto ele empurrava Roach fora do meu caminho e mantinha os olhos sobre ele. Corri da garagem, sem protestar, sem olhar para trás. Do lado de fora, nada era diferente. O sol ainda estava brilhando. Os guardas armados ainda estavam vagando pela propriedade, ainda fazendo o seu melhor para me ignorar. Mas, para mim, era tudo um pouco diferente, com a ausência de Griff, tinha sombreado tudo em vários tons de cinza. Eu

amava Cameron. E Cameron me

amava. Disso

eu

estava

certa. Mas eu não poderia ter imaginado esse sentimento. Todo o resto era agora cinza. Eu não parei de correr até que eu estava de volta a casa. Meu coração estava batendo no meu peito com força, e Rocco vinha pulando sobre um pé pelas escadas. — Eu estava procurando por você. Onde você estava? — Me perguntou.

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— Só andando por aí, — menti. Eu sabia que não devia estar rondando nem procurando por Griff. Minha cabeça estava cheia demais para dar a Rocco uma desculpa melhor. Tive que admitir que Rocco estava engraçado em sua sunga com um saco plástico sobre o pé lesionado. — Eu estou indo para um mergulho, — anunciou. — Vem? — Você realmente não deveria molhar o pé ferido assim. Pode ficar infeccionado. — Não, — chiou e apontou para o pé de plástico embrulhado — Meu pé vai ficar seco com isso. Minha expressão estava carregada de dúvida, mas ele me ignorou. — Então, você vem ou não? —

Dei

minhas roupas e

de

ombros meu

e

não

estado

perdi de

tempo

espírito. Eu

para

mudar

precisava

desesperadamente estar com um rosto amigável enquanto clareava minha cabeça. Quando cheguei à piscina, Rocco estava na água, e o saco de plástico já havia sido jogado para o lado. —

Não funcionou,



ele explicou antes que eu pudesse

perguntar a ele. Eu levantei minhas sobrancelhas em um “eu-te-disse" caminhei e mergulhei na piscina. Quando voltei para a superfície, ele estava me olhando de forma estranha. — O que é isso em seu braço? Segui seu olhar e olhei para o meu braço, uma contusões do formato de cinco dedos foram surgindo onde Roach tinha me agarrado.

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— Eu acho que é alguma irritação, — disse eu. Ele nadou para longe de mim. Tentei esquecer Roach, contar minhas bênçãos, e me concentrar no que Roach tinha dito, não o que ele tinha feito. Eu poderia dizer que ele não era a fonte mais confiável... mas ele parecia tão seguro de si que Griff estava... não tinha forças acreditar. — Você falou com Cameron sobre Griff? — perguntei a Rocco, tentando parecer o mais tranquila possível. — Sim. Eu falei com ele sobre isso na noite passada. — E? — E nada. Cameron disse a mesma coisa que eu. Griff está sendo estúpido, ninguém vai matá-lo ou qualquer coisa assim. Eu sou o único que fiz asneira, não Griff. — Sua voz era ligeiramente amarga. — Um dos guardas me disse que ele foi embora, — eu mencionei inocentemente de passagem. — Eu sei, — admitiu. — Griff foi transferido ontem. Gostaria de saber se mandado embora era um código para... outra coisa. — Por que ele iria ser transferido, se a culpa foi sua de atirar no próprio pé? — Porque ele não seguia as ordens de ninguém. Eu acho que ele invadir seu quarto foi à gota d'água. Eu estava mortificada. — Você contou a Cameron que Griff subiu no meu quarto!

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— Não, eu não! — Rocco choramingou. — Eles já sabiam. Spider pegou Griff quando descia. Eu sabia que isso não podia ser bom. — Para onde foi enviado Griff? — Perguntei, atuando tão casual como eu poderia. — Cameron encontrou outro trabalho para ele com um de seus distribuidores. — E você acredita nele? Eu questionei, muito rapidamente, o que eu estava insinuando? Ele olhou para mim de forma estranha. — Por que eu não acreditaria? Essa é uma pergunta estúpida. Deixei-o sozinho. Rocco estava ficando chateado, e eu também. Depois de um tempo, a porta do pátio se abriu. Spider e Carly caminharam para a casa da piscina, ignorando completamente Rocco e eu. Um pouco mais tarde, Cameron também apareceu. Tenso, se sentou na beirada da cadeira. Examinando-me. — O que tem em seu braço? — Havia soado como uma acusação. — Uma irritação, — Rocco explicou por mim, Graças a Deus. Cameron continuou a olhar para o meu braço com suspeita. Eu nadei para longe, pegando o pedaço de atadura que flutuava e joguei em Rocco.

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Ele murmurou uma maldição, tropeçou fora da piscina, e pulou em um pé de volta para a casa para ir refazer o curativo do pé. Do lado oposto da piscina, de repente, eu estava brava. — Por que você não me disse que Spider viu Griff sair do meu quarto? — Por que você não me disse que Griff subiu ao seu quarto? — Você não estava em um bom humor, e eu não queria colocá-lo em apuros. Ele já estava muito assustado, — respondi de imediato. — Ele não seguia ordens. Tinha razão para ter medo. Sua voz me gelou e estava menos brava agora. — Você ainda não respondeu à minha pergunta. Cameron considerou sua resposta. — Você e esse amigo, Griff, pareciam ter muita intimidade, ao longo das últimas semanas. O que você e ele fizeram no seu quarto não é da minha conta. Eu não vou impedi-la de estar com quem você quiser. O que não podemos ter é um funcionário que se recusa a seguir as minhas ordens. Tudo tinha soado muito ensaiado. — Você acha que Griff e eu estávamos fazendo algo no meu quarto? — Como eu disse, você pode estar com quem quiser, e eu tenho certeza que vocês dois provavelmente têm muito em comum. Eu ainda tenho um trabalho a fazer e que inclui mantê-la segura. Temos regras por um motivo por aqui e alguém que não segue regras é um perigo para você e para o resto de nós.

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Tentei empurrar a história da minha família de adultério fora da minha cabeça. — Você realmente acha que eu te beijaria, e a outra pessoa na mesma noite? Que tipo de pessoa você acha que sou? — Essa coisa ontem à noite... — Essa coisa? — deveria ter me preparado, mas eu nunca tive a chance. — O beijo foi apenas um beijo. Não significou nada. Eu estava muito

cansado

e

você

estava

bebendo...

nunca

deveria

ter

acontecido. Vamos esquecer isso. Eu não poderia dizer se ele queria dizer essas palavras; sua expressão, seu tom, estava tão bem escondido por trás da máscara. Ele não se importava. As palavras já tinham feito o seu dano, deixando um corte profundo em seu caminho. Tomei uma respiração longa e irregular. — Mas... você disse que me amava, — argumentei, minha voz quase um sussurro. — Não. Eu nunca disse isso. — Me lembrou com frieza. Meu coração já estava cicatrizado com tantos ferimentos; a maioria se foi e estava emendado, o resto eram cicatrizes bem calejadas. Eu duvidava que aquele que Cameron tinha recém esculpido iria cicatrizar completamente. Ele tinha alcançado o meu coração. O que eu ainda não sabia era que tudo tinha começado a endurecer em torno e meu coração tinha quebrado novamente, um reflexo de algo bem praticado.

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Eu mal podia respirar, mal podia segurar. Sai fora da piscina e enrolei uma toalha firmemente em torno de mim. — Só para você saber, — disse a ele, tremendo minha voz — Griff e eu não fizemos nada. Nós conversamos. Bem, ele falou na maior parte, e eu escutei. — O que ele falou? — Ele pensou que você ia matá-lo, — me calei, olhando-o para ver se eu seria capaz de descobrir a verdade em seu rosto. Ele não vacilou. — Também me disse que eu deveria estar com medo. Que você ia me matar também, — disparei de volta, na esperança de que isso pudesse prejudicar alguém pela primeira vez. Cruelmente, Cameron manteve-se inalterado. — E você acredita nisso? Eu não tinha uma resposta para lhe dar. Eu fui embora. Mantive-me inteira enquanto subia a primeira escada. Segui sem me render à segunda escada. Quando eu estava escondida em segurança atrás da porta do quarto de Cameron, eu deixei ir, me deixei desmoronar. Cameron... Griff... Cameron... foi demais. Eu não tinha mais certeza de nada.

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Não queria abrir os olhos. Eu podia sentir o calor do sol no meu rosto, o que era a última coisa que eu queria. Por que não poderia simplesmente chover hoje? Parte de mim queria poder abrir meus olhos e encontrar-me de volta no meu quarto minúsculo em Callister, vivendo uma vida normal, onde pessoas como Cameron permaneciam invisível e definitivamente imperceptível. Mas a outra parte, a parte maior, sabia que eu não queria voltar para a minha antiga vida, não importa quantas coisas grosseiras que Cameron Hillard poderia me dizer. Eu joguei o cobertor sobre a cabeça com as esperanças que se eu esperasse na escuridão por muito tempo, nuvens viriam para se igualar com o meu humor. Mas eu podia sentir a vibração da cama com Meatball abanando

o

rabo

descontroladamente. Ele

sabia

que

eu

estava

acordada agora. — Ainda não, Meatball, por favor... — gemi. — Você vai ter que levantar em algum momento. — Não tinha que puxar o cobertor longe para saber que era Cameron. Eu não o tinha ouvido entrar, ainda assim lá estava ele. — De qualquer forma, Meatball não vai voltar a dormir, se ele sabe que você está acordada. Seu tom frio não tinha melhorado. Este ia ser mais um daqueles dias. Fiquei escondida. — Você não tem nada melhor para fazer do que me ver dormir? —reclamei debaixo do cobertor, tentando manter minha voz tão fria

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como a sua, embora meu coração estivesse sobressaltado me traindo silenciosamente. Eu odiava que ele tinha esse tipo de poder sobre mim. Algo bateu ao meu lado. Eu dei uma espiada, — Cameron tinha jogado um objeto prateado brilhante para mim. Era um telefone celular... meu telefone celular. — Ligue para sua mãe, — ordenou. Ligar para a minha mãe? Essa foi provavelmente a última coisa que eu tinha vontade de fazer naquele momento. Não foi definitivamente o que eu esperava de Cameron. — Por quê? — Ela te deixou três mensagens. Soou urgente. — Sua voz parecia desnecessariamente na defensiva. — Você está escutando as minhas mensagens de telefone? — Eu não sabia o que me deixou mais chateada: o fato de que ele havia violado totalmente a minha privacidade, ou o fato de que eu tinha, provavelmente, apenas só três apelos da minha mãe, no entanto. Desde que desapareci da face da terra, agora Cameron sabia o quão patético minha outra vida era. Ele levantou uma sobrancelha e me cutucou para pegar o telefone. Em outras palavras, ele não estava me pedindo para ligar para minha mãe. Suspirando, sai da hibernação e peguei o telefone. Eu fui para as últimas chamadas não atendidas e descobri que minha mãe não tinha sido a única que tinha me ligado. Eu não poderia evitar pensar que isso foi, na verdade, o que trouxe a atenção de Cameron. — Parece que Jeremy ligou um monte de vezes também. Ele deixou alguma mensagem? — Fingi inocência. Grunhiu uma resposta afirmativa. O fato de que o meu coração saltou nesse preciso momento não tinha nada a ver com esse cara Jeremy.

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— E? — continuei cada vez mais me divertindo por sua careta. — E nada. Ele deixou um monte de mensagens perguntando por que você estava brava com ele... o cara soa como uma cabra, se você me perguntar. — Eu não sabia que cabras podiam falar. — Não podem. Só chiam e giram em círculo. Tentei

não

achar

significado

a

sua

resposta,

mas

eu

simplesmente não conseguia me conter. — Então, eu deveria ligar para ele, de volta também. Pode ser urgente. Ele sorriu ainda mais amplo; como se eu tivesse caído na armadilha. — Não se preocupe. Ele nunca vai te ligar novamente. Subitamente

pela

minha

mente

correram

pensamentos

horríveis. — Oh meu Deus, Cameron! O que você fez com ele! Cameron me olhou, e seu rosto se contorceu enquanto ele entendeu o meu significado. — Definitivamente o que aparentemente pensa que eu sou capaz de fazer. — Ele estava ofendido. Tinha medo de que eu tinha arruinado seu bom humor, mas ele rapidamente recuperou o sorriso, impaciente para terminar sua história. — Ontem à noite eu pedi para Rocco ligar para esse cara Jeremy e fingir ser de um hospital na... Suécia ou a Suíça, eu esqueci... — ele estava rindo tanto... — Rocco disse algo sobre você ter uma irritação erupção cutânea altamente contagiosa que fez seus ouvidos inchar... e que ele deve correr para um hospital imediatamente para ter seus ouvidos verificados. Não poderia imaginar Rocco falando com qualquer sotaque, mas, novamente, Jeremy tinha sido provavelmente o cara mais vaidoso que eu já conheci e a mera possibilidade de que seus ouvidos poderiam ampliar, certamente, teria distraído, e devastado ele.

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— E Jeremy acreditou? Cameron deu de ombros. — Como eu disse, o seu namorado é uma cabra. Não sei o que você vê nesse cara. — Ele é um cara legal e normal, — eu enfatizei, para seu benefício. Ele fez uma careta. — De qualquer forma, ele não é meu namorado. — Bem, ele era, não era? — Insistiu secamente. Apertei os olhos. — Que diferença faz? — Nenhuma, — Cameron respondeu abruptamente. — Ligue para sua mãe. — Rapidamente recuperou o controle sobre si mesmo. Apertei no número do celular da minha mãe, e a linha tocou mais e mais. Tive esperança... e fiz uma careta quando ela finalmente atendeu. Todas as esperanças foram frustradas. — Emily? É você, querida? — Minha mãe quase docemente perguntou. — Querida? Havia tantas coisas erradas com essa afirmação que eu não poderia mesmo começar a analisar. — Oi, mãe. — Querida, onde você esteve? Eu estive tentando falar com você durante as últimas duas semanas. A minha mente traçou o fato de eu ter sido sequestrada e estar sendo vigiada contra a minha vontade por uma gangue de traficantes de drogas em seu esconderijo de milhões de dólares no meio do nada veio à mente. —

Er,

desculpe. Eu

estive

muito

ocupada. O

que

está

acontecendo? — Foi o que eu realmente disse. Eu podia ouvir os pratos e talheres ao fundo. Era a hora do jantar na França.

Julie Hockley

— Bem, você nunca vai adivinhar quem nós encontramos. — Na minha mente se escutava os rufar de tambores, houve uma pausa, esperando a incrível revelação — Senhor e Sra. Jacobsons. Você se lembra deles não é? Não. — Uh-huh, — menti para manter as coisas simples e rápidas. — Bem, imagine a coincidência de nos encontrar... aqui! E adivinhe o que mais, — tambores — Eles trouxeram seu maravilhoso filho Damien com eles, — disse emocionada. — É isso que você queria falar comigo? — Sim, querida. O que mais seria? — Nada, — eu resmunguei. — Então, o que você estava dizendo sobre os Jacobsons? Cameron tinha se acomodado no sofá, apoiado contra a parede, me olhando com alegria, enquanto minha mãe falava sobre os Jacobson e seu filho: dizia que eram uma boa família e tal, e Damien era absolutamente bem educado e encantador e... para não mencionar que ele estava intencionando a suceder seu pai em assumir o império da família. Eu estava mordendo a minha língua. — Eu estive conversando com Damien, e ele está morrendo de vontade de vê-la. O quão rápido você pode pegar um avião para vir juntar-se a nós? Ali estava, o motivo para as sutilezas. A única vez que minha mãe atuava "maternal" era quando ela queria algo. Era o único momento que minha mãe falava Inglês comigo e não me forçava a responder em francês para ela, era quando ela estava tentando impressionar alguém que estava ouvindo. Desta vez, eu achava que era ambos. Eu não podia imaginar os exageros que minha mãe tinha dito a

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Damien para ele estar morrendo de vontade de me conhecer. A verdade era que eu me lembrava de Damien Jacobson perfeitamente. Tínhamos sete anos de idade, e eu tinha sido forçada a ir para um daqueles piqueniques em família estúpidos de um dos clientes do meu pai. Damien decidiu que seria uma boa diversão, jogar de conectar os pontos com as minhas sardas, quando me atrevi a protestar, ele apunhalou as costas do braço com um lápis. Eu ainda tinha a cicatriz para provar isso. Eu duvidava que alguém como Damien Jacobson fosse lembrar-se desse pequeno fato, mas, infelizmente para ele, eu nunca esqueci e eu era muito boa em guardar rancor. — Mãe, ir a Europa nesse momento não é uma opção e... — Cameron levantou uma sobrancelha com curiosidade. Mas minha mãe não me deixou terminar com minhas tentativas de encontrar mais desculpas. — Oh, aqui ele agora. Ele quer falar com você. — Não. Mamãe! Eu não quero falar com esse Damien... — Olá? Emily? — Uma voz grossa soou através do telefone. Eu me encolhi. — Sim. Oi. Damien. — O interesse de Cameron aumentou quando eu disse o nome de Damien. Os ruídos de conversas tornou-se mais distante do outro lado da linha. Damien tinha claramente se afastado do resto do grupo. — Então, desapareceram suas sardas com o tempo? — Disse. Assim

ele

se

lembrava

de

mim,

e

aparentemente,

não

amadureceu após os sete anos. — Não. Não desapareceram e acho que na verdade, piorou. Muito pior. E quanto a você? Você ainda está comendo suas melecas quando pensa que ninguém está olhando? — Perguntei em voz alta.

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Cameron praticamente engasgou com a própria saliva. Houve um silêncio constrangedor na outra extremidade do telefone. Damien, em seguida, limpou a garganta e continuou a conversa, infelizmente. — Então... você deve totalmente vir nos encontrar aqui. Um grupo de nós estão passando o verão na Riviera. O grupo inteiro está aqui, Chuck, Jimmy, Lance, Chrissy, Angela... Imagens do "todo o grupo" saltaram a minha mente, todos eles tinham, em um momento ou outro, puxado meu cabelo ou zombado de mim de alguma forma horrível quando eu era criança. — Desculpe, eu realmente estou bastante ocupada no momento. Damien não estava escutando. — Meu pai tem seu iate navegando para o porto de Mônaco. Vou levá-la para navegar só você e eu. Vamos lá... vai ser ótimo! Nada sobre ficar sozinha com ele, em um lugar onde a única maneira de escapar era me afogando tentando nadar até a costa parecia ótimo. Eu teria escolhido o afogamento em vez de ir com ele. — Damien, desculpe, meu telefone está prestes a morrer. Eu vou voltar a ligar para uma resposta. Diga... Tchau... a... mamãe... por mim... — Eu desliguei e joguei o telefone ao pé da cama. Eu caí para trás exausta no meu travesseiro. — Emergência resolvida. Feliz? — disse a Cameron. — Sim. Eu estou, — disse ele com um sorriso que quase atingiu seus olhos. — Isso foi mais divertido do que eu pensava que seria. Eu não sabia que a Europa poderia ser uma emergência. Quando você tinha tudo entregue a você numa bandeja de prata, eram surpreendentes as coisas que se tornava uma crise. — Não estava com medo de que eu diria a minha mãe onde eu estava? — Não que eu tivesse alguma ideia de onde eu estava.

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— Será que ela teria acreditado em você? Ele tinha um ponto. Eu ouvi uma música retumbando a distância. — Você está trabalhando hoje, — pensei surpresa com a minha conexão automática. Ele acenou que sim, mas não parecia que ele estava com muita pressa para ir. — Então, quem era esse tal de Damien que você estava falando? — pensei que eu tinha vislumbrado ciúme, ou talvez fosse apenas uma ilusão. — O dinheiro de seus pais, é amigo do dinheiro dos meus pais, —

eu

expliquei

ironicamente,

mas

Cameron

parecia

perdido. Suspirei. — Apenas um cara que meus pais gostariam de me ver sentada à mesa. — Enquanto dizia isso, outro pensamento me ocorreu. — Sabe, você e meus pais provavelmente se dariam muito bem. — Oh? — Cameron caiu na minha emboscada desta vez. — Vocês querem tentar controlar a minha vida, e parecem pensar que eu estou melhor perto da própria espécie, o que quer que seja isso. — Joguei o cobertor sobre minha cabeça antes que ele tivesse tempo para responder. — Você tem mais ordens, ou eu posso voltar a dormir? — Eu não estava ordenando-lhe. Eu estava apenas preocupado de que... — Que seja, — interrompi com frieza. Agora eu estava realmente de mau humor, um efeito colateral secundário comum da minha mãe. — Pode deixar Meatball sair quando você for?

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Suspirei alto, indicando que a conversa estava encerrada. O quarto ficou em silêncio. Ele permaneceu. Imaginei que ele estava olhando para a grande protuberância que estava debaixo do cobertor, considerando a sua próxima jogada. Depois de um minuto, o ouvi andar se afastando com insistência, e ele saiu do quarto, chamando Meatball para segui-lo. Assim que ouvi o ruído da porta fechando e confirmei os sons de seus passos descendo as escadas, eu arranquei o cobertor de cima de mim. Eu tinha uma ideia de onde Cameron estava indo, e eu tinha um plano. Com velocidade recorde, eu estava vestida e pronta para executar. Agachei-me ao lado da porta do quarto e escutei. Depois do que pareceu uma eternidade, eu ouvi o que eu estava esperando: as vozes abafadas de Cameron, Spider, e Carly enquanto saíam pela porta da frente. Esperei mais alguns minutos depois ouvi a porta fechar e logo depois fui para segui-los. Suavemente abri a porta da frente, olhando para me certificar de que eles estavam fora de vista. Meu encontro com Roach tinha me ensinado que passear pelos jardins era uma coisa perigosa, especialmente agora que Griff tinha ido embora. Olhei em volta e não vi Roach; Eu estava suficientemente segura por um tempo de qualquer maneira. Eu fiz meu caminho até a garagem, parando quando me aproximei da esquina. Havia um guarda na entrada onde eu tinha visto Carly caminhando ao longo do dia anterior. Então eu esperei pela minha oportunidade. O guarda ia e vinha; rapidamente pela entrada do caminho; ele ficou aborrecido depois de alguns minutos de não ter nada a fazer, naquela parte de trás da garagem e continuou caminhando, até que ele desapareceu

na

esquina. Esta

era

a

minha

chance. Com

tanta

velocidade quanto eu poderia reunir, eu corri direto para o percurso e não olhei para trás até que eu tinha certeza de estar escondida entre as árvores.

Julie Hockley

Parei e escutei o farfalhar das folhas e ranger de ramos acima da minha cabeça. Eu respirei novamente quando eu tinha certeza de que ninguém estava correndo atrás de mim. Cautelosamente, continuei no caminho batido. Eu não tinha ideia o quão longe eu fui, ou quão longe eu seria capaz de ir antes de ser descoberta, ou o que iria acontecer. Tentei não pensar sobre isso, e foquei em me mover pelo caminho. O caminho de terra parecia durar para sempre. Com cada passo que eu dava, eu estava perdendo meus nervos. Eu estava começando a considerar voltar, quando eu cheguei a uma parede verde de tijolos. Estranhamente erguido entre as árvores, estava na parte de trás de um edifício de um andar que não tinha janelas e o caminho batido de terra terminava justo diretamente sob a sua porta de metal que havia sido deixada entreaberta. Parei perto da porta e tentei ouvir, mas não ouvi nada. Engoli em seco e, com a velocidade de um caracol, suavemente pus um pé para o interior. Dentro, havia um pequeno escritório, ou pelo menos parecia que era suposto ser um escritório. No final mais distante da sala, uma mesa de madeira de grandes dimensões, com cadeiras de couro pretas, meio escondido por trás da mesa. No meio havia um sofá cor de vinho de couro cru e uma manta cobertor em cima dele. Havia dois fogões a lenha em um canto, mas não havia madeira. O chão e a mesa estavam transbordando de pilhas desordenadas de

roupas. Reconhecendo

algumas

das

enrugadas

camisetas

de

Cameron, eu percebi que este era o lugar onde ele estava dormindo desde que eu estava em seu quarto. Olhei para o sofá de aparência dura e travesseiro amarelado e me senti um pouco culpada, eu não poderia imaginar ter que dormir ali todas as noites.

Julie Hockley

Entrei para o grande escritório. A parte do quarto improvisado de Cameron havia outra coisa que fez este quarto parecer apenas uma casca vazia. Do chão ao teto, estantes eram, em sua maior parte, vazias de material de escritório normal. Não havia fotos, papéis, canetas, computador, arquivos ou qualquer outra coisa que faria este escritório um escritório. Quando ouvi passos rápidos, eu congelei. Ao lado do quarto improvisado de Cameron tinha uma porta fechada. Os passos pareciam estar se aproximando do outro lado dela, e se aproximando rápido. Eu empurrei a cadeira de couro de lado e me escondi debaixo da mesa, olhando através das fissuras entre as pranchas de madeira à frente. Lá eu prendi a respiração e vi Carly apressada atravessar a sala e sair, fechando a pesada porta atrás dela. Meu coração estava batendo descontroladamente. Demorou alguns

segundos

para

me

acalmar. Este

foi

por

pouco. Muito

pouco. Pensamentos horríveis do que Carly teria feito se ela me descobrisse passou pela minha cabeça. De alguma forma, eu sabia que eu não era bem-vinda a bisbilhotar aqui. Saí debaixo da mesa e segui para a porta de metal. Seja o que for esse local, não valia a pena ficar em apuros... ou pior. Mas quando eu empurrei a pesada porta nada aconteceu. Puxei, e depois empurrei, usando todo o meu corpo, mas a porta ainda não se moveu. Estava presa e eu também.

Julie Hockley

Quando eu ouvi vozes irreconhecíveis através da outra porta, eu congelei no lugar novamente, com medo, escutando. Houve várias vozes ecoando à distância, mas nenhuma parecia estar se aproximando. Eu, na ponta dos pés, segui para esta nova, possível, alternativa de saída e espiei para fora. Era aberta para um pequeno corredor, que levava a lugar nenhum. Um beco sem saída. E, estranhamente, não havia ninguém lá, embora eu ainda pudesse ouvir as vozes das pessoas. Eu fui para o beco sem saída e notei uma divisão em forma de porta na parede. No chão, havia um pequeno pedal, que eu assumi que abriria o caminho secreto. No meio da divisão tinha uma brecha de fina espessura. Eu, lentamente, trouxe o meu rosto para frente e olhei através. Mais de uma dúzia de pessoas falavam uns sobre os outros em uma sala iluminada. Havia janelas escuras na parede oposta, e eu podia ver carros, SUVs e motocicletas do lado de fora. No meio da sala havia

uma

grande

mesa

de

vidro

retangular. Cameron

estava

calmamente sentado à cabeceira, absortos em papelada, enquanto os outros lentamente encontravam seus assentos. Era uma variedade alucinante. Sentados uns ao lado dos outros em torno da mesa, mais de uma dúzia de homens e uma mulher, que se pareciam extremos contrários uns de outros — pessoas de todas as formas, tamanhos, e idade. Alguns estavam vestidos com ternos de três peças, enquanto outros tinham gorros e bonés de beisebol, correntes de ouro ou roupas de couro... chefes de gangues rivais, juntos, em uma sala, agindo como pessoas normais. Os membros sentados com os chefes, falavam ruidosamente entre si e cada um tinha um homem de guarda atrás deles, cada um mais feroz do que o outro. Spider ficou atrás de Cameron.

Julie Hockley

Quando Cameron levantou a cabeça, a mesa imediatamente ficou em silêncio. — Temos vários itens na agenda hoje. Agradeço mais uma vez por fazerem essa viagem para comparecer a esta reunião. Posso assegurar-vos que voltaremos as nossas reuniões na cidade, logo que possível para mim. — O quarto ficou muito silencioso. — Vamos tentar manter o tema de hoje para que todos possam sair daqui a um tempo decente de uma vez. A voz de Cameron era intimidante e muito profissional. Todos que estavam dentro e, fora, da sala permaneceram calados. — O tema mais urgente é uma aparente violação das linhas de território, que têm levado hostilidades entre duas das nossas filiais e a perda de alguns de seus membros. Esse conflito também trouxe a cobertura dos noticiários, e os nossos fornecedores têm manifestado preocupação com a atenção da mídia. Cameron olhou para um dos homens adequadamente sentado à mesa. — Johnny, eu entendo que isso começou depois que alguns de seus rapazes tentaram distribuir o produto na Califórnia. Um homem que usava um terno azul balançou a cabeça e elevou na voz. — Eles não apenas tentaram distribuir. Eles estavam tentando me minar e assumir o meu território. Cameron calmamente levantou a mão em um movimento para silêncio. — Viper, você terá a sua chance de falar. Johnny, minhas fontes confirmaram o que Viper acaba de dizer. Você pode explicar? Johnny com gel no cabelo parecia nervoso. — Ouçam, alguns dos meus meninos foram em uma viagem e levaram um pouco. Foi um mal-entendido. Sem desrespeito.

Julie Hockley

Cameron

virou-se

para

Viper. —

Viper,

você

ouviu

a

explicação. Você tem algo a dizer? Viper murmurou. — Só que é uma total mentira. Cameron

continuou:



Johnny,

eu

acredito

que

uma

contribuição de dez por cento dos lucros da sua filial no mês passado deve ser suficiente para resolver os danos ao Viper. Você concorda? Johnny concordou, a contragosto. Cameron virou-se para Viper. — Viper? Viper assentiu, alegremente. Cameron olhou ao redor da mesa. — Qualquer objeção? Todos permaneceram em silêncio. Cameron escreveu algo em um pedaço de papel e entregou a Spider. — Johnny, da próxima vez que seus rapazes quiserem uma viagem de carro de Chicago a Los Angeles, certifique-se que deixem os negócios em casa, tudo bem? Johnny fechou a cara em resposta. Eu estava em transe como Cameron, em modo profissional, conduzia a reunião e metodicamente passou por uma lista de itens da agenda: novos produtos que entram no mercado, concorrentes, lista de preços, relatórios do FBI sobre investigação e outras queixas que se desenvolveram entre outras gangues e seus membros. Spider ficou atrás e recolhia a papelada que Cameron entregava, assim que os tópicos iam sendo discutidos. Não demorou muito tempo para eu perceber que Cameron não apenas fazia parte do conselho de administração, mas era um dos CEO da diretoria dos chefes do crime.

Julie Hockley

Depois de duas horas, minhas pernas eram como geleia, e Cameron finalmente parou a reunião para uma pausa. Todos se alongaram e caminharam lentamente fora, enquanto Cameron e Spider revisaram a papelada recolhida. Quando o ambiente estava vazio, Spider tomou as pilhas de papel e vinha direto pra a minha direção, atrás da porta falsa. Lutei para acordar minhas pernas, e corri de volta para o escritório como um cervo bebê em seus primeiros passos. Eu mal tinha tido tempo de abaixar minha cabeça sob a mesa quando o Spider passou pela porta. Carly, seguindo ele, continuou andando através da sala para a porta de metal. Quando chegou ali, ele percebeu, assim como eu, que a porta estava presa. Ele recuou e forçou todo o seu corpo para ela. A porta finalmente abriu, e, amaldiçoando baixinho, ele desapareceu, deixando-a entreaberta. Meu coração pulou de alegria quando eu percebi que iria finalmente ser livre. Esperei mais alguns minutos para certificar de que Spider não estava vindo de volta, e me arrastei para fora. E então eu ouvi vozes se aproximando novamente. Eu bati minha testa na mesa enquanto eu corria para rastejar de volta para baixo. — Parece uma eternidade desde a última vez que estive aqui, — relembrou uma voz feminina. Vi

Cameron

se

aproximando

através

das

pernas

das

cadeiras. Eu reconheci a mulher ao lado dele, era a única mulher que estava na sala de reuniões, sentada com os outros chefes do crime. Ela era alta e magra, com cabelo curto e escuro que estava atrás das orelhas. Parecia uma daquelas meninas que eu tinha visto em revistas de carros do meu irmão, meninas que faziam qualquer carro fabuloso, só por estar de pé ao lado dele.

Julie Hockley

Enquanto Cameron remexia uma mochila que estava no chão, a mulher olhou em volta sobre as roupas empilhadas pelo local. — Você está dormindo aqui? — Perguntou. — Às vezes, — respondeu ele, distraído. Ele encontrou o que estava procurando e entregou a ela uma camisa cor de rosa que eu tinha encontrado em sua gaveta no primeiro dia em que cheguei à fazenda. — Você esqueceu isso aqui, — ele disse a ela enquanto entregava a camiseta. A mulher manteve os olhos no seu rosto. — Ela ainda está aqui, não é? — Quem? — Aquela garota que viu você matando um dos meninos do Shield nos Projetos, — ela respondeu. Cameron estreitou os olhos, cruzando os braços. — O que faz você pensar que eu a trouxe aqui? — Eu ouvi de um dos meus caras que você a trouxe para cá com você, — ela admitiu tranquilamente. — O conselho já se pronunciou sobre isso, Manny. A garota não será um problema para qualquer um de nós. Não tenho a intenção de discutir esta questão com você. — O conselho foi forçado a tomar uma decisão sem ter todos os fatos. Eu acho que eles poderiam estar interessados em saber que a garota está viva e que você está mantendo-a aqui. — Sua voz tinha subido uma oitava. — O que está dizendo exatamente? — Rosnou.

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Manny imediatamente se acalmou. — Nada. Eu não quis dizer nada. — Levantou a mão e acariciou seu rosto. Eu me contorci. — Eu estou apenas querendo saber qual o seu interesse nela. Ele tirou a mão dela. — Sabe que não podemos ter contato como este, quando existem outros líderes ao redor. — Você a ama? — Perguntou sem rodeios. — Claro que não a amo, — Cameron disse a ela sem perder o ritmo. Eu senti o corte no meu coração rasgar novamente. — Então por que ela está aqui? — Exigiu. — Eu pensei que era a única que você trazia aqui. Cameron suspirou como ele fazia tantas vezes comigo. — Eu estou apenas entediado, Manny. Eu preciso de algo para brincar, para me manter ocupado. Quando terminar, vou me livrar dela. — Bem, apresse-se e acabe logo com ela. Eu sinto falta de você. E quero estar com você de novo, — ela reclamou. Manny se inclinou e o beijou na boca. Seu corpo estava tenso, e ele deixou-a beijá-lo. Eu não conseguia respirar, mesmo depois de ele ter finalmente se afastado dela. Sua voz era mais suave agora. — Foi um erro, uma única vez, que nunca vai acontecer novamente. Eu não posso mostrar que me inclino diante de outro chefe. Spider voltou para dentro, de mãos vazias e esperando pacientemente por Cameron ao lado da porta falsa fechada. Com um aceno de cabeça indiferente, Cameron fez um sinal para Manny sair. Resignada, Manny seguiu a ordem de Cameron. Depois, Spider se aproximou da porta e espiou pelo olho mágico, todos os três voltaram através da passagem e eu fui deixada sozinha escondida debaixo da mesa, me sentido golpeada.

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Eu lutei contra as lágrimas. Então eu corri para a porta. Segui o caminho de terra de volta através das arvores, caindo pelo menos duas vezes. Eu corri para fora na outra extremidade sem parar ou olhar para ver se o guarda estava de volta ao seu posto. Por uma fração de segundo, eu pensei que ele provavelmente não iria delatar que me viu, caso contrário, ele teria que admitir a Spider que ele tinha me deixado passar em primeiro lugar. Mesmo que ele me delatasse, eu não me importava de qualquer forma, eu estava morta. Cameron tinha confirmado isso mesmo. O que eu fiz ou não fiz, não importava mais. Nunca tinha importado. Eu era apenas um brinquedo para distrair Cameron. Corri direto para o meu quarto e me atirei sobre a cama. Meus dentes e os punhos estavam cerrados e algumas lágrimas começaram a escapar.

Julie Hockley

Quando Rocco veio bater na minha porta, enxuguei as lágrimas com as costas da minha mão antes que ele entrasse mancando. Eu estava encostada na parede com os joelhos dobrados em meu peito, ficamos em um silêncio desconfortável. Ele me olhou e, finalmente, fez a pergunta que o estava incomodando. — Em, está tudo bem? Você parece realmente horrível. Apenas Rocco poderia encontrar uma maneira de criticar a minha aparência no pior dia da minha vida. — Estou bem, — menti. — Você tem certeza? Porque você parece muito mais pálida que o

normal.



Ele

pensou

sobre

isso,

de

repente,

parecia mortalmente com medo e empurrou-se até o pé da cama, o mais longe possível de mim. — Você não vai vomitar vai? Sentia-me como se eu fosse vomitar, mas eu não lhe disse isso. — De verdade, eu estou bem. Eu estou apenas um pouco cansada, isso é tudo. Ele exalou. — Bom, porque se vai vomitar novamente, eu estou indo daqui. Ele me convenceu a assistir a um filme com ele. Devo ter parecido realmente horrível, porque ele me deixou escolher o filme. Mesmo que Rocco passasse a maior parte do tempo sob a influência de sua medicação de arco-íris, dormindo com a cabeça inclinada para trás e a boca aberta, encolhida no sofá no quarto de Cameron, com os pés grandes de Rocco empurrando minhas costas, era

Julie Hockley

fácil me sentir segura. Embora a dor no meu coração ainda estivesse muito

latejante,

os

sentimentos

de

impotência,

de

isolamento, dissipada com cada gota da baba de Rocco que atingia a almofada. Ele não tinha ideia da turbulência que borbulhava dentro de mim, e eu estava grata por isso. Seu ouvido, pelo menos, permaneceria inocente. Eu imaginei que teria gostado de ter um irmãozinho como Rocco, mesmo que ele fosse maior do que eu e um pateta total. Quando minha mente se aquietou e eu pude pensar sem interrupções, eu me obriguei a concentrar-me em ver o sentido de tudo isso. Cameron não era apenas um traficante de droga ou um chefe do crime; ele era um dos grandes chefes e dirigia a maioria, se não todos, os chefes do crime nos Estados Unidos. E não havia nenhuma dúvida em minha mente que eu o amava, não importa quem ou o que ele era, não importava o que ele dizia. Isso se tornou ainda mais doloroso. Por último, eu ainda estava viva, porque Cameron quis assim, porque ele estava entediado, porque ele estava à procura de diversão. Se Griff ainda estava vivo... Tive minhas dúvidas, mas eu não podia ter certeza... as teorias eram muito aterradoras. Como é que eu fui me meter nessa situação? Lembrei-me

da

pessoa

que

Callister. Cautelosa. Precavida. Distante.

eu Invisível.

tinha Partes

sido

em

de

uma

armadura que eu tinha levado anos para erguer; partes de uma armadura que tinha muito rapidamente caído no dia que havia conhecido Cameron... Não havia nenhum ponto na tentativa de encontrar uma resposta para a pergunta, o estrago já estava feito. Isto me levou a minha próxima pergunta. Poderia fazer algo sobre isso? Eu poderia lutar? Cameron não tinha abaixado a guarda, tudo o que ele fez foi com um propósito. Mais cedo naquele dia, eu tinha o acusado de ser como meus pais. Esta comparação havia sido mais exata do que eu pensava que tinha sido, mesmo que Cameron e Carly, pareciam ter alguma noção pré-concebida de que seu mundo era tão diferente do meu. Mas os nossos mundos não eram tão diferentes

Julie Hockley

assim. Sim, eu poderia lutar... depois de anos de prática com os meus pais, eu sabia como lidar com esse tipo. Eu não sabia se era a presença aliada de Rocco, a dor de cabeça que tinha crescido lentamente em uma enxaqueca maciça, ou apenas o fato de que eu não tinha comido durante todo o dia, mas a minha dor se transformou em raiva, e eu estava ficando mais irritada à medida que as horas iam passando. No momento em que o sol se pôs e o som dos carros do Conselho de Administração estéreos se dissiparam na distância, o vapor estava praticamente saindo dos meus ouvidos. Passei os próximos minutos escutando ansiosamente, meio esperando que Cameron fosse mostrar a sua cara, meio que esperando que eu fosse acordar e descobrir que tudo isso tinha sido um sonho... alguns bons, alguns deles um pesadelo. Um dos meus desejos foi realizado quando ouvi a porta da frente se fechar e passos acelerando subirem as escadas. Meu coração e minha cabeça latejavam. Imediatamente me levantei, e fui para cama, sentando

rigidamente.

Encarei

a

porta,

preparada

para

o

combate. Cameron empurrou a porta aberta e entrou no campo de batalha. Seus olhos estavam feroz e selvagem, como um animal enjaulado a solta, seu rosto para a guerra parecia muito mais assustador do que o meu. Encolhi-me,

percebendo

que

meu

plano

para

uma emboscada havia sido esmagado. Tentei me tranquilizar, enquanto Cameron furiosamente olhou para mim, em seguida, olhou ao redor do quarto. Distinguiu Rocco, que estava dormindo no sofá. — Rocco, sai, — ordenou loucamente. Rocco não se mexeu. — Rocco! — Cameron gritou como eu nunca tinha ouvido gritar antes.

Julie Hockley

O corpo de Rocco reagiu instintivamente. — O quê? — Gritou de volta com irritação. — Levante-se e saia, — repetiu Cameron, recuperando sua voz calma. Ele estava olhando para mim, respirando através de suas narinas. — Por quê? O que está acontecendo? — Rocco olhou para mim interrogativamente. Meu coração estava batendo por meus ouvidos, tornando a dor de cabeça mil vezes pior. Eu queria dizer a ele que eu estava bem, que ele poderia sair sem se preocupar, mas isso teria sido uma mentira colossal. — Agora! — Cameron ordenou novamente. Pela segunda vez no espaço de alguns segundos, ele tinha perdido a compostura. Sabia que isso não era bom, me perguntava que desculpa o guarda tinha dado para sua própria falta de atenção quando ele gritou para mim. — Nossa! Ok! Eu estou saindo, — disse Rocco. — Você não precisa gritar. Estou ficando muito cansado de ninguém me dizer o que diabos está acontecendo por aqui. Ele saiu mancando, e Cameron fechou a porta tão rapidamente que ele quase bateu em Rocco. Cameron, em seguida, virou-se e veio na minha direção. Eu vacilei como uma covarde, quando ele agarrou meu braço, estava preparada para uma batalha... mas não o derramamento de sangue que viria com ele. Nunca estive em qualquer guerra física quando eu brigava com os meus pais, apenas um monte de gritos e choros. Cameron levantou a manga da minha camisa com tanta força que eu pensei que iria rasgar. — Jesus, — ele engasgou. — Porque mentiu para mim? Eu não sabia por onde começar. Eu não esperava que nosso combate fosse começar desta forma. O discurso que eu tinha preparado

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na minha cabeça começava comigo acusando-o de ser um mentiroso, e não o contrário. Minha boca se congelou fechada. O que veio a seguir não era o que eu esperava que ele dissesse. — Um dos guardas te atacou ontem, — disse com agonia. — Por que você não me contou? — Segurou o meu braço com a evidência e esperou. Olhei para baixo e percebi que ele estava olhando para o hematoma que os dedos de Roach tinham deixado no meu bíceps. O hematoma agora tinha uma cor roxa esverdeada. Embora isto não fosse o que eu pensei, estava sendo atacada por ele e me deu a munição que eu precisava para brigar. Mentalmente descartei meu discurso pré-planejado e decidi improvisar. — Por que você se importa? — Perguntei friamente, puxando meu braço para longe dele. — Você vai se livrar de mim quando estiver terminado. Por que isso importa se um de seus guardas me atacou antes de você me machucar? Cameron parecia confuso. Eu tinha recuperado o elemento surpresa. — Do que você está falando? Eu nunca iria machucá-la ou deixar alguém te machucar. Eu definitivamente não deixei um dos meus homens fazer... Alguma coisa para você. — Não seja condescendente comigo! — Interrompi. — Se preocupa

comigo

como

as

pessoas

se

preocupam

com

suas

mascotes. Eu sou apenas uma coisa para você brincar quando você chegar em casa. Então você terá que se livrar de mim. — Emmy, se isso é pelo beijo, eu não deveria ter...

Julie Hockley

— Cameron, por favor, não insulte minha inteligência ao finja que se preocupa com o que acontece comigo. O jogo acabou. Eu ouvi você falar com aquela mulher Manny em seu escritório. O sangue correu do rosto de Cameron, e seus olhos se arregalaram. Ele virou as costas e caminhou alguns passos. Eu estava abrasadoramente quente. Mas enquanto eu estava bufando, ele levou um momento para o choque da minha revelação desaparecer, e ele voltou, seu rosto totalmente composto. — Você não deveria ter ido lá, — Seu tom era amargo. Ele sentou ao meu lado e me encarou. Eu estava ficando extremamente mareada, mas não me calei, de qualquer maneira. — Eu não posso acreditar que cai nisso... tudo isso, — Disse, incapaz de esconder a minha dor. — Eu realmente pensei que você me amava. Eu pensei... — estava balançando minha cabeça, lentamente, sem fôlego, lutando com as lágrimas e o calor. Eu não sabia mais o que pensar. Quando um Cameron muito calmo se inclinou para pegar minha mão, e eu senti como eu queria que ele a tomasse mais do que qualquer coisa, eu entrei em pânico e saltei fora de seu alcance. Ele se encolheu, e eu peguei um vislumbre de algo em seus olhos. De repente, lembrei-me como lutar novamente. Parei e estreitei os olhos para ele. — Eu acho que eu deveria me desculpar com você porque eu não tenho sido muito divertida desde que eu estive aqui. Então, vou fazer este processo realmente fácil para você...

Julie Hockley

Por um impulso calculado, eu furiosamente tirei minha camisa e desabotoei minhas calças. Cameron rapidamente desviou o olhar. — Jesus! Emmy, o que está fazendo? — Gritou, em estado de choque e constrangimento. Chutei meu jeans e me pus na frente dele de calcinha e sutiã. — Você ficou completamente louca? — Guinchou mantendo os olhos para baixo. Meus olhos estavam jogando punhais. Pisei mais a sua frente, corajosa, mas senti como se estivesse indo vomitar. — Isto é o que você disse a Manny que você queria, não é? Bem, vá em frente, divirta-se comigo. Eu não sei por que você passou por todo este problema, em primeiro lugar, não é como se eu tivesse para onde ir. Inferno, você poderia ter feito isso no primeiro dia e se livrado de mim, em seguida, em vez de atravessar o esforço de me fazer te amar. Ou será que isso era a sua diversão? Brincar com minha mente antes... de tudo isso, — disse, acenando rapidamente com minhas mãos sobre o meu peito quase nu. Cameron se levantou. Ele parecia doente, mas sua expressão permaneceu contrariada. Ele deu um passo em minha direção. Por medo de que eu iria deixar-me levar em um ato de carinho, eu me joguei na cama de costas, meu corpo tenso como um soldado. Quando olhei para cima, vi que ele tinha cruzado os braços e estava esperando. Sua tentativa de paciência era ultrajante. — O que você está esperando? — Minha voz estava implorando, quase suplicando.

Julie Hockley

Ele não se moveu uma polegada e continuou a me olhar, seus olhos se concentrando no meu rosto. Uma gota de lágrimas saía dos meus olhos. Eu não sabia o que era pior: o fato de que eu tinha me despido, sem muito efeito, ou o fato de que ele não estava nem um pouco interessado na minha oferta. Eu respirei. Olhei-o nos olhos enquanto as lágrimas esculpiam um rio pelo meu rosto. — Eu te amo. Eu tenho... Admito isso. Agora você pode eliminar um item de sua lista de coisas para fazer. Só que eu não tenho nenhuma experiência com a próxima parte... mas eu estou ficando muito boa em receber ordens de você. O rosto de Cameron permaneceu impenetrável, embora seu olhar nunca deixasse meu rosto. — Na verdade, você não é. Se você fosse boa em seguir as minhas ordens, não estaríamos aqui. Agora, por favor, coloque suas roupas para que possamos falar sobre isso... Racionalmente. Eu balancei a cabeça em desafio e comecei a falar para mim mesma. — Eu tenho estado presa em sua casa, lentamente ficando louca, tentando entender você... mas você acabou me usando. Todo esse tempo. As lágrimas estavam chegando com força. Cameron tinha ido pegar o cobertor que estava sobre o sofá, caminhou de volta, e colocou-o em cima de mim como se eu fosse uma criança com birra. Isso só me deixou mais irritada. Sentei-me. — Você trata as pessoas como se fosse sua propriedade pessoal. Nem sequer pode sentir a diferença entre o bem e o mal. O que é de

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bem e correto. Tudo está errado. Teve que matar Griff só por que pensava que podíamos ter algo mais do que amizade... ou talvez por que éramos só amigos... Eu estava me acalmando, ou eu estava ficando sem energia. — Eu não matei esse cara Griffin. Não sei por que você pensa que eu fiz, — Foi tudo o que ele respondeu. — O guarda, Roach, me disse. Cameron se encolheu. Seus lábios se apertaram até que todo o sangue desapareceu deles. — Você acredita em um idiota que leva sua raiva em uma garota, em vez de acreditar em mim? — Esse idiota não tinha motivos para mentir para mim. Mas você não parou de mentir desde que cheguei aqui. Eu só não sabia ainda, que você estava mentindo até que eu ouvi você falar com aquela mulher hoje. — O que você me ouviu dizer para Manny não era verdade, Emmy. Se eu contasse a verdade... Eu estou apenas tentando protegêla, — gaguejou. — Me proteger? Você me trouxe aqui contra a minha vontade, ordena a seus guardas para não falarem comigo ou deixe-me ir a qualquer lugar e, inclusive, deixa o seu cachorro aqui para se certificar de que eu não fuja quando você não está olhando. Você não está me protegendo, você está me mantendo prisioneira. A dor era agora totalmente visível em seu rosto. — Meatball dorme aqui porque quer, e eu pensei que você gostava da sua companhia durante a noite.

Julie Hockley

— Não me faça mais favores, — cuspi. Cameron ficou congelado no lugar. Eu perguntei se ele estava vacilante ou apenas lutando para chegar a sua próxima mentira. — Você tem que saber que eu nunca iria machucá-la... — Quase parecia sincero, mas isso não era novidade e eu estava preparada para isso. — Eu não acredito em você. Você é um mentiroso e eu não estou comprando mais. — Eu estava chorando agora. Todo o meu corpo estava doendo e tremendo e eu estava realmente quente e fria, de uma só vez. Olhei para cima através dos meus cílios saturados. — Vai aceitar a minha oferta? — Eu perguntei a ele em desespero final, minha voz um sussurro. — Em... — ele começou de novo, lentamente recuperando o controle. Minhas mãos cobriram o meu rosto e eu chorei, enquanto ele, calmamente, se levantou e assistiu. Não podia suportar mais. — Vá embora! — Eu pedi pelas minhas mãos e virei o rosto. Quando ele apenas ficou lá, eu pedi-lhe para sair novamente, mas eu parecia mais convincente desta vez. Cameron saiu, batendo a porta atrás de si. Eu ouvi um golpe de punho que perfurava um buraco através da parede da escada. Em seguida, a casa inteira tremeu quando a porta da frente se fechou também.

Julie Hockley

A sala estava girando incontrolavelmente. Minha respiração era difícil, e eu estava espumando pela boca. E então meu estômago embrulhou. Lutei para sair da cama o mais rápido que pude e corri para o banheiro. Cheguei ao banheiro na hora. Pena que a tampa estava fechada. Quando

eu

acordei,

eu

ainda

estava

deitada

sobre

os

frios azulejos do banheiro. Eu me arrastei para a cama e estremeci debaixo dos cobertores, apertando os olhos fechados. Dormi muito mal, houve vozes sem sentido falando uma sobre a outra na minha cabeça. A próxima vez que eu acordei, o quarto era extremamente brilhante, e Carly estava de pé em cima de mim com as costas da mão no meu rosto. Tentei puxá-la para fora, mas nenhum dos meus músculos estava respondendo a ordens do meu cérebro. — Está ardendo. Vá buscar Cameron, — ouvi seu comando. — Eu fiz. Ele me disse para ir buscar você, — Rocco gemeu. Carly amaldiçoou sob sua respiração. — Nenhum de nós pode carregá-la. — Suspirou. — Vai encher a banheira com água fria, eu vou chamá-lo. Minha garganta parecia que estava pegando fogo. Fechei os olhos quando se tornou muito trabalhoso mantê-los abertos. Quando eu os abri de novo, eu vi o rosto alarmado de Cameron. E eu estava flutuando, e nós estávamos no banheiro. Ele me deixou cair na banheira, e eu gritei quando o meu corpo bateu na água gelada. Eu agitava os braços, tentando sair, tentando agarrá-lo, mas ele caminhou para Carly. — Ela não me quer aqui, — ele disse a ela com uma voz baixa.

Julie Hockley

— Tudo bem! — Anunciou. — Saia. Você esta no caminho de qualquer maneira. Ela falou, ou amaldiçoou, em espanhol, enquanto despejava baldes de água gelada sobre a minha cabeça. Meu corpo tremia, e meu queixo tremia tão forte que eu tinha certeza de que meus dentes iam quebrar. Rocco entrou pela porta com a mão cobrindo os olhos. — Aqui, — disse ele cegamente enquanto oferecia mais gelo a Carly. — Nossa, Rocco! Você nunca viu uma menina de calcinha antes? — Carly foi pegar o balde e derramou o conteúdo na banheira. Estava gelada, e eu tremi miseravelmente quando o frio atingiu a minha pele mais uma vez. — Por favor... para... — Consegui expressar através de meus dentes. Carly riu. — E ela finalmente fala. Deve ser um bom sinal. — Jogou outro balde sobre a minha cabeça. — Venho de uma família de seis filhos, lembra? Muito ruim para você, um banho é a única coisa que vai baixar a febre. Temo que você vá ter que sofrer com o banho até que sua pele pare de ferver. Meu corpo estava tremendo por completo, em convulsões. Carly parecia preocupada, mas ela continuou a me jogar baldes e baldes sobre minha cabeça, mais e mais. Depois de algum tempo, ela mergulhou a mão na água do banho para verificar a temperatura. Ela amaldiçoou novamente. O gelo estava derretendo rapidamente sob o calor da minha pele. Rocco seguiu suas ordens gritadas e correu de volta com outro balde cheio de gelo.

Julie Hockley

— Ainda estou ofendida com você, sabe, — ela finalmente disse suavemente. Eu estava carrancuda enrolada em uma bola e apenas olhei para ela, enquanto ela continuava a me regar, — Spider disse a Cameron que você iria decepcioná-lo, algo sobre traição estar em seu sangue. Mas eu defendi você... o tempo todo, eu fiquei ao seu lado. Por que você decidiu se meter com aquele cara, Griffin, isto eu não entendo. Quer dizer, o cara não tinha nada a ver com você. Ele olhava para nós como se fôssemos lixo, mesmo que nós fôssemos os únicos que colocava o dinheiro em seu bolso. — Só... Amigos, — foi tudo que eu pude gaguejar entre arrepios de me defender. — Certo. Como se eu nunca ouvi isso antes. — Carly zombou. — Eu juro, pessoas como você são muito mais problemas do que vale a pena. Agora parece que eu estou presa brincando de enfermeira Carly só porque você e Cameron não podem se dar bem. — Posso... cuidar... de mim mesma. Ela revirou os olhos. — Sim, eu posso ver isso. — Ela jogou outro balde de água em cima de mim e colocou as costas da palma da mão sobre a testa e bochechas. Ela cantarolava contente quando puxou o plugue de borracha. Eu assisti o escoamento da água para fora da banheira, enquanto ela enrolava uma toalha grossa em torno de mim. Ela saiu, e Cameron voltou para me levar de volta para a cama. Eu olhei para ele. Ele manteve os olhos na frente e saiu do quarto como um fantasma. Carly me ajudou a por o meu pijama e jogou todos os cobertores que Cameron tinha trazido em cima de mim. Eu engoli os comprimidos e alguns goles do copo de água que ela me deu. Cada osso e músculo do meu corpo doíam. Fechei os olhos e cai em um sono profundo.

Julie Hockley

O cheiro de comida atingiu minhas narinas, e eu pensei que ia ficar doente novamente. Abri os olhos. Carly tinha trazido uma tigela de sopa. Estava escuro lá fora, e o quarto estava iluminado apenas pela luz de cabeceira. Afastei-me em repulsa quando Carly empurrou a tigela debaixo do meu nariz. — Eu não vou embora até você comer tudo, — ela anunciou. Minha mão lutou para trazer a colher à boca. Meu estômago se revirou. Larguei a colher de volta na tigela. Carly resmungou e pegou a colher. — É tarde, e eu estou ficando muito cansada dessa coisa de babá. Esta não será uma visita bonita se você não se apressar. Ela me alimentou, e eu comi tão rápido quanto meu estômago poderia suportar. Ela me deu uma nova rodada de comprimidos, que eu tomei sem argumento, e logo depois ela se foi. Eu coloquei minha cabeça no travesseiro e fechei os olhos, focada em manter a sopa em meu estômago. A porta se abriu e um clique indicou que foi fechada. Abri os olhos e confirmei minha intuição. Cameron ficou ao lado da cama com os braços cruzados. Minha cabeça latejava com força vendo ele parado lá. Eu não conseguia me concentrar nele e na minha barriga ao mesmo tempo. Apertei os olhos fechados um pouco e o senti sentar-se ao meu lado na cama. Ele respirou fundo — Eu sei que não está se sentindo bem, então eu vou tentar ser breve. — Parecia que ele estava falando com o tapete. — Eu não tenho nenhuma desculpa pelo o que você me ouviu dizer a Manny, exceto que você não deveria ouvir ou ver nada disso. Foi muito perigoso o que você

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fez... ir lá. Eu não sei o que eu teria feito se algum deles vissem você, te encontrado lá... — Balançou a cabeça com desespero. — Eu sei que você não vai acreditar em qualquer coisa que eu digo, então não há nenhum sentido, tentar me defender, mas me mata vê-la tão irritada comigo. Mas há uma coisa que eu preciso que você saiba: Eu te amo, Emmy. Eu tenho te amado por um tempo muito longo. — Ele voltou os olhos para mim por um breve momento, e eu senti um estalo na minha armadura recentemente erguida. — Ter você aqui, comigo... Eu achei que de alguma maneira, por um tempo, eu pensei que essa coisa entre nós poderia funcionar. Machucar você era a última coisa que eu queria fazer, mas parece que eu consegui fazer isso de qualquer maneira. — Cameron tomou outro fôlego. — Este é o lugar onde eu tenho que estar, mas não é um lugar onde você pode ou deveria estar. Não há nada que eu possa fazer para mudar isso. Não vou impor essa vida a você. Ele olhou para mim, como se estivesse esperando algum tipo de resposta. Mas eu não estava lúcida o suficiente para ser capaz de chegar a qualquer resposta ao que ele tinha acabado de me dizer. Sem nenhuma reação de minha parte, Cameron suspirou e continuou a sua conversa com o tapete. — Eu estou saindo para o trabalho em um par de dias. Vou falar com Spider e fazer arranjos para que, enquanto estou na cidade, ter um guarda armado vigiando você da sua casa em vez de aqui. Quando eu voltar, vamos planejar para que você possa voltar para casa. Vou me certificar de ficar fora do seu caminho até eu sair. Ele se levantou e hesitou em cima de mim. Apertei meus olhos fechados. Ele beijou minha testa ardente antes de sair do quarto.

Julie Hockley

Eu

queria

chorar. Eu

caí no

sono em

vez

disso,

meus

pensamentos em um estado de choque. À noite, ouvi Meatball choramingando na minha porta... Cameron gritou para ele descer... mas acabou tendo que vir até a porta para

arrastar

Meatball

pela

coleira

quando

o

cachorro

o

desafiou. Infelizmente, na minha batalha com Cameron, eu também tinha perdido o meu companheiro de cama. Eu caí no sono novamente. O rosto de Cameron cruelmente encheu meus sonhos. Mas o monstro nunca mais voltou.

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Ao longo dos próximos dias, Cameron não teve muito esforço para tentar me evitar, porque eu não saia do quarto ou da cama. Rocco veio visitar-me regularmente, mas ele rapidamente se cansava de só me ver lá deitada. Ele caia na cama ao meu lado e, em seguida, se aventurava

para

o

completamente. Carly

sofá

para

continuou,

assistir

TV

amargamente,

ou

desaparecia

trazendo

minhas

refeições, e eu lentamente me sentia mais forte com o passar dos dias. No terceiro dia, eu era capaz de caminhar ao redor do quarto sem sentir que estava indo vomitar ou desmaiar, tomei um banho longo. Depois que eu me vesti, fui para a porta da sacada aberta para sentir o ar fresco no meu rosto. Havia vozes abaixo no pátio. Olhei através da cortina e vi Spider e Carly sentados em cadeiras do pátio, enquanto Cameron estava encostado à grade de costas para eles. — Carly e eu não podemos continuar com isso por muito mais tempo, — disse Spider. — Carly e você? É serio que está, simplesmente, admitindo isso em voz alta? — A voz de Cameron era muito amarga. — Nós sabemos que você está cansado, mas precisamos de uma decisão tomada sobre isso, antes de as coisas ficarem fora de controle, — Carly acrescentou em um quase sussurro. — Tenho o suficiente para lidar agora sem ter que pensar sobre isso, — gritou Cameron em resposta. Spider levantou a voz. — Nós já esperamos tempo suficiente, durante todo esse tempo e as coisas continuam piorando. Ela circula

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por aqui como se ela possuísse o lugar. Ela trás os guardas ao seu apoio e eles dizem a ela o que ela quer ouvir. Eu não posso controlá-los quando ela está por perto. — Por que não podemos apenas mandar que fique longe daqui, longe de nós? — Cameron ofereceu como uma alternativa. — Ela sabe demais, Cameron. Além disso, todos nós sabemos que ela não vai seguir quaisquer ordens de você ou qualquer outra pessoa. Já provou isso. Cameron se virou e os olhou. Havia linhas profundas esculpidas na sua testa e seus olhos eram de um carvão preto. — E como fica Bill? Você já pensou sobre o que isso faria com ele se ele nos ouvisse falar sobre ela dessa maneira? — Bill está morto. — A voz de Spider era fria e direta ao ponto. — Estamos aqui por culpa dele. Cameron se afastou deles. — Você está deixando o seu ressentimento por Bill afetar sua perspectiva sobre isso. Carly se levantou e pôs a mão no ombro de Cameron. — Spider tem razão. Bill se foi há muito tempo, e nós temos que nos proteger agora. Não podemos deixar que alguém que tem essa quantidade de informações correr solto assim. Se fosse qualquer outra pessoa, ela teria sido morta agora. Nós já esperamos tempo suficiente para fazer este trabalho, mas não temos mais tempo. É hora de se livrar dela para sempre. Cameron ficou em silêncio e observou através do bosque. Depois de um tempo, ele deixou cair a cabeça e suspirou. — Está bem. Apenas tomem cuidado com ela. Eu não quero saber nada a respeito.

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Spider se pôs de pé. — Nós vamos cuidar dela. Está feito, — disse ele sombriamente. Assim, finalmente, tinha sido determinado o meu destino. Carly e Spider voltaram para a casa, Cameron foi deixado para refletir sobre a sua decisão sozinho, e eu me afundei no chão. Eu sabia o que viria, eu sabia que eu deveria estar fazendo um plano rápido, mas tudo que eu conseguia pensar era que eu não queria deixar Cameron. Para onde eu iria? Não havia nada para mim em Callister ou em qualquer outro lugar. Minha vida estava com Cameron e Rocco e Carly, Spider poderia ficar também se ele ficasse calado. Amava Cameron; isso não tinha mudado. Quando Cameron me olhou e me disse que me amava, eu acreditei nele, sem dúvida; o fato de que ele tinha me dito isso logo depois de dizer para a Manny que ele não me amava, eu tinha decidido que era verdade, como ele me disse que era. Mas ele também tinha prometido que eu iria viver, que ele iria me mandar para casa com um guarda armado. Mesmo eu não querendo isso, o pensamento de ser separada dele me fez sentir enjoada, e eu tinha planejado convencê-lo do contrario, isto tinha provado ser mais uma mentira. Eu estava tão confusa. Havia um capítulo em um dos meus livros de criminologia, que foi dedicado à história de uma menina rica da Califórnia que havia sido sequestrada por um grupo com objetivos políticos. Dois meses depois, ela entrou em um banco com uma arma e ajudou seus sequestradores a roubá-lo. Quando ela foi presa, ela disse que tinha sofrido uma lavagem cerebral por eles, ela disse que ela sofria de síndrome de Estocolmo, uma condição em que reféns começam a ter sentimentos, como lealdade e amor, por seus captores. A menina foi condenada, mas foi perdoada alguns anos mais tarde. Aparentemente, havia a tal coisa como síndrome de Estocolmo.

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Tudo era diferente entre Cameron e eu. O que senti não foram apenas jogos de mente ou alguma síndrome. O que eu sentia por ele, havia visto, e sentido, que ele sentia por mim também. Eu tinha certeza disso... mas então, havia todas as outras provas que eu não poderia ignorar: ele era um assassino, um traficante de drogas, um chefe do crime, um esperto gerenciador. Ele era muito inteligente e bonito demais para se apaixonar por alguém como eu. Frances, Griff, e até mesmo Roach tinham me avisado sobre ele. Embora, eu não podia negar a existência de qualquer uma dessas coisas, nenhuma delas mudou minha mente. Havia dois lados para Cameron, o lado real foi o único que pegou minha mão e respondeu as minhas perguntas incessantes sobre sua vida secreta, enquanto eu tentava evitar assistir o filme que ele havia pego apenas para mim. O verdadeiro Cameron foi o único que me beijou na escuridão, aquele que sentou na minha cama e admitiu que ele me amava... e me amado por um tempo muito longo. O golpe final de que Cameron decidiu colocar fim à minha vida, eu tentei atribuir à Spider e às habilidades astutas de Carly para influenciar Cameron. Eu o amava e ele me amava... mas eu ainda precisava de uma prova que eu não tinha imaginado tudo isso, que eu não estava ficando louca. Quando cheguei lá embaixo, não vi Cameron e, imediatamente, eu segui para a cozinha. Minha barriga estava resmungando em voz alta, e depois de dias de refeições líquidas, eu estava pronta para algum sustento real. Comecei a tirar alimentos diversos fora dos armários e consegui uma vaga alegria quando Carly e Spider passavam por ali. — Bom dia ,— cumprimentei. Spider olhou para o relógio e graciosamente apontou, — É o meio da tarde. Carly apareceu atrás dele e parecia quase verdadeiramente interessada.

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— Se sentindo melhor? Eu balancei a cabeça, enchendo minha boca com um punhado de biscoitos, e fui até a mesa, meus braços cheios com cereais, leite, tigela, colher, cookies, biscoitos. Notei que Carly e Spider ambos pareciam estar em melhor estado de ânimo; eles estavam felizes em me ver, finalmente, de pé, ou o pensamento de matar alguém só trouxe melhor animação para eles. — Você sabe que contaminou metade dos meus guardas com sua gripe, — Spider me acusou. Não tinha percebido que, juntamente com tudo mais, eu estava também sendo responsabilizada por ficar doente em primeiro lugar. — Desculpe, — eu murmurei através dos meus Oreos. Quando Cameron atravessou as portas do pátio, eu fiquei imóvel na minha cadeira. Seus olhos escuros vieram automaticamente para encontrar os meus, e ele diminuiu o ritmo do passo. Surpreso com ele mesmo, ele rapidamente desviou o olhar, pegou o ritmo novamente, e manteve seu caminho saindo pela porta da frente. Carly e Spider seguiram para fora, e eu ouvi a porta da frente se fechar atrás deles. Naquele breve momento, eu sabia o que tinha que fazer e imediatamente comecei a planejar sobre minha tigela de cereal. Rocco apareceu mancando e agarrou minha tigela para me ajudar com a minha refeição. Ele se serviu me analisando. — Qual é o problema com você? — Me perguntou com um tom acusatório. Eu não tinha certeza do que ele estava se referindo. Quando eu olhei no espelho esta manhã, eu pensei que parecia melhor, pelo menos, eu não parecia caminhar como um zumbi mais. — Nada. Por quê?

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— Você está olhando para a parede. Sorrindo, sem motivo. Dei de ombros, tentei apagar meu sorriso, e enchi minha boca de cereal. Eu não ia mais ficar pirada. — Eu fiz um monte de tarefas da escola enquanto você estava no seu modo preguiça, — anunciou. — Embora eu esteja tendo problemas com a lição de matemática. Eu tinha oferecido ajuda, mas a matemática foi a minha pior matéria, sempre achei que era inquietante que, não importa o que fizesse ou como era calculado um problema, só pode haver uma resposta certa no final. — Eu estava pensando que poderíamos fazer um monte de lição, quando todos saírem, — continuou enquanto eu não disse nada. — Dessa forma, na próxima vez que eles saírem, e o meu pé estiver melhor, eu vou ser capaz de ir com eles novamente. Perguntei-me se ele tinha discutido isso com o seu irmão. — Quando eles estão saindo? — Amanhã de manhã, — disse ele, desanimado. — Com a maioria dos guardas doentes com gripe, vai ser bastante calmo por aqui. E o plano foi rapidamente tomando forma. No momento em que as tropas reduzidas começaram a entrar para o almoço, Rocco e eu tínhamos devorado uma segunda caixa de cereais, e os bicoitos haviam desaparecido. No minuto em que me levantei, me arrependi de ter engolido tanta comida sentada. Eu deitei no sofá e passei a maior parte do tempo focada em não vomitar a quantidade absurda de cereal que comi. Rocco desfrutou de outra rodada de comida, com Spider, Tiny e Carly. Cameron não voltou o

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resto da noite. Quando passou das oito horas, Rocco estava abrindo um saco de batatas fritas para o seu lanche da noite. Eu já havia tido o suficiente da maratona excessiva de comida, pedi licença para ir para a cama. Fui colocar meu plano em andamento, logo que cheguei ao quarto de Cameron. Com Cameron e o resto dos guardas fora, e com a maioria

dos

outros

guardas

fora

de

serviço,

não

havia

nenhuma oportunidade melhor para eu escapulir na noite. Em seu armário quase vazio, eu encontrei uma mochila verde velha e comecei a arrumar. A mochila parecia maior do que realmente era; Eu mal tinha esvaziado três gavetas e já estava cheio. Eu ainda tinha duas gavetas para embalar, além de todas as minhas coisas de higiene que cobriam o banheiro. Eu tinha duas opções: correr a pé e chegar à estrada, como Griff tinha planejado, ou tentar roubar um dos carros do meu irmão, e tentar dirigir sem bater, tentar dirigir rápido o suficiente para desviar das balas voando... até onde podia ver, só tinha uma opção, mas ainda não tinha qualquer ideia de como ia correr através do bosque por mim mesma no escuro. E ainda, eu percebi que não tinha ideia do que eu precisaria para acampar na floresta, e de quanto tempo eu levaria para chegar à estrada, ou para que lado realmente levaria a estrada. Mais uma vez, minha educação confortável tinha voltado a me atrapalhar... Eu estava cheia de desculpas. Eu não queria ir, mas não podia ficar. Talvez eu pudesse convencê-lo, mudar sua mente, fazê-lo ver o que eu vi. Mas o que aconteceria se eu não pudesse convencêlo?

Arrastei a mochila para a porta do pátio e escondi atrás da

pesada cortina. E então eu fui para a pequena mesa, encontrei uma caneta, e um pedaço de papel. — Cameron, — Rabisquei.

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— Eu te amo. E acredito quando disse que me amava. É por isso que eu tenho que ir. Se não fizer isso, você vai mudar para sempre. Eu não posso deixar isso acontecer. Eu respirei, engoli em seco, e terminei. — Eu gostaria que as coisas pudessem ter sido diferentes. Eu prometo vir encontrá-lo um dia, quando as coisas melhorarem. Por favor, não se preocupe. — Então eu assinei com amor. Eu não queria correr o risco de deixar a carta à vista até que eu tivesse pronta para sair. Peguei meu livro Rumble Fish debaixo do meu travesseiro, Peguei o filme Rumble Fish da prateleira e enrolei em um jeans, juntamente com a carta. Arrumei o jeans em cima das minhas coisas na mochila. Spider cumpriria sua palavra a Cameron — disso eu tinha certeza. Eu só esperava que não fosse naquela noite. Passei a noite atenta a qualquer barulho que surgia. Tentando me manter acordada, eu estava sentada em frente à TV, com o som quase inaudível. Pouco depois das duas horas da manhã, eu pulei quando a porta da frente bateu. Quando ouvi os barulhos de pratos e portas dos armários da cozinha, eu relaxei. Poucos minutos depois, Meatball veio arranhando a minha porta. Com uma voz quase imperceptível, Cameron ordenou-lhe para descer várias vezes. Mas ele teve que subir as escadas novamente para buscar o cachorro. Sentada ali, sabendo que ele estava tão perto, apenas uma porta entre nós, sabendo que eu não iria vê-lo novamente, foi muito difícil não correr para ele. Mas eu tinha que ficar no lugar para o nosso bem. Perto do amanhecer, eu assisti Carly e Spider sonolentos marchar para fora da casa da piscina com as suas mochilas. Às cinco

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horas, as tropas haviam deixado o local mais uma vez, e eu finalmente fui para a cama. Fiquei triste quando me dei conta que Meatball não voltou, implorando para entrar. Ele tinha ido com o resto deles. Eu não teria a chance de dizer adeus. Sabendo que este seria meu último dia na fazenda, eu não dormi por muito tempo depois que todos se foram. Desci para esperar Rocco para se levantar. Como aconteceu isso do menino se tornar o meu melhor amigo no mundo inteiro? Iria perder Rocco. Parecia que eu estava deixando minha família para trás. Meus esforços para gastar tanto tempo com Rocco quanto possível foi um pouco perdido; ele não se levantou até bem depois do meio-dia. Ele se arrastou para a sala, grunhiu e caiu no outro sofá. Dormindo até o meio da tarde. Disse-me que, pelo menos, passei nossas últimas horas fazendo uma de suas coisas favoritas: dormir. Quanto à sua outra coisa favorita, comer, comemoramos comigo fazendo uma grande lasanha. Sentamos à mesa. Ele devorou a maior parte da lasanha. Eu comi sem apetite. — Você sabe que pode vir me visitar a qualquer momento, — eu disse a ele, espetando minha lasanha fria. Ele me olhou por cima do garfo. — Eu já faço. — Eu não me refiro às visitas no quarto, no andar de cima. Não quero dizer aqui... Quero dizer, quando eu voltar para Callister. Algum dia. — Quando eu disse isso, eu percebi que eu não seria capaz de voltar para a cidade, ou voltar para minha antiga vida. — Está tudo bem? — Rocco me observava com desconfiança.

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Deixei cair o assunto. Eu estava ficando emocional. E ele estava ficando desconfiado. A noite chegou, e me tornei mais apreensiva sobre minha fuga. Tive que me lembrar várias vezes que eu não tinha outra escolha. Era hora de ir, antes que fosse tarde demais. Tinha decidido que eu iria seguir o plano de Griff e fugir do meu quarto no meio da noite, descendo os dois níveis da varanda para fora da casa, a porta da frente teria sido muito mais fácil, mas um pouco óbvio demais, mesmo com poucos guardas. Descer sem quebrar meu pescoço ia ser o primeiro desafio do meu plano. Esperei

Rocco

ir

para

a

cama,

mas

depois

de

ter

dormido durante todo o dia, ele estava bem desperto por um tempo. Fechei os olhos para descansar antes da grande fuga.

Julie Hockley

Havia fogos de artifício ressoando na noite. Rocco estava de pé antes mesmo de abrir o olho. Ele correu para a porta da frente, assim como os guardas da ronda do dia, que tinham vindo correndo do porão, passando rápido junto a ele, gritando ordens para que ficasse longe da porta atrás deles. Rocco fez como lhe foi dito e mancou de volta para a sala, o rosto branco de terror. Ele tinha um telefone celular ao ouvido. — Cam... — Gritou sem fôlego, — temos um grande problema. A casa está sendo atacada. — Eu ouvi uma voz calma responder ao telefone, mas não conseguia entender o que estava sendo dito. Rocco contestou, — Eu não sei quem ou quantos são! Está escuro lá fora! Uma nova rodada de tiros estralou à distância e parecia estar se aproximando rapidamente. A voz do outro lado da linha, agora, falava rapidamente. — Eu não vou fugir, Cameron. Eu não sou um covarde. Eu vou ficar e lutar com os guardas, — disse a ele. Cameron estava gritando, na linha. Rocco retirou o telefone longe de sua orelha e entregou para mim. — Aqui, — ele disse, — Cameron quer falar com você. Peguei o telefone. — Camer...

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Cameron não me deu a oportunidade de cumprimentá-lo. — Emmy... Vá com Rocco. Saia da casa. Corra para a floresta. — Ele estava em pânico. Eu podia ouvir barulho atrás dele. Spider estava latindo

ordens,

e

as

pessoas

estavam

gritando

e

movendo-se

rapidamente. Rocco cambaleou até o armário e tirou uma arma da gaveta. Ele entregou-me. Constantes golpes podiam ser ouvidos na porta da frente. — Oh Deus! Cameron, eles estão na porta. Eu acho que eles estão tentando derrubar! — Respirei no telefone. Cameron amaldiçoou sucessivamente e implorou: — Emmy, saia... — e a linha ficou muda. Olhei para o telefone e entreguei para Rocco. Ele examinou. — Está quase sem bateria. Esqueci de carregar, — confessou e colocou o telefone inútil de volta em seu bolso. Rocco, em seguida, começou a me apressar em direção à porta do pátio, mas eu resisti. — Você precisa sair daqui, Em. —

Eu

não

vou

sem

você,



chorei. —

Vamos

correr

juntos. Cameron disse... Ele estava incrédulo. — Correr? Em, eu mal posso andar! Apenas iria atrasá-la. Além disso, eu não vou deixá-los tomar a casa do meu irmão sem uma luta. — Não é o momento para você provar a sua coragem para o seu irmão... Houve um forte golpe na porta — o batente da porta estava cedendo ao ataque. Os invasores estavam perto de entrar.

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— Você pode, simplesmente, me escutar uma vez? Eu não vou com você, e eu vou estar morto se algo acontecer com você, porque Cameron vai me matar ele mesmo. — Rocco parecia estar ficando mais calmo, enquanto eu estava ficando mais perto de perder minha mente. — Rocco, não posso deixar você! Por favo… Crack! O batente

da

porta tinha

finalmente

cedido.

Eu

pulei. Rocco amaldiçoou. Olhou ao redor da sala e, com toda sua força, me empurrou para o canto mais distante da sala de estar, onde havia um grande baú de vime. Abriu-a, e jogou os cobertores que estavam dentro dele no sofá e me forçou para dentro. Quando ele fechou a tampa, ouvi a porta da frente violentamente se abrir e uma marcha de passos correndo em direção à sala de estar. Através dos tecidos que sobrou no baú, eu podia ver Rocco de guarda no meio da sala de estar com os braços cruzados bravamente. Um homem corpulento guiou vários outros homens para a sala. Com o dedo no gatilho da metralhadora, ele olhou ao redor da sala e parou para olhar Rocco de cima a baixo. Rocco não se encolheu. — Limpo! — Gritou o homem. E os restos dos seus homens ligeiramente relaxaram o controle sobre as armas e se separaram para os lados. Um homem magro, com a expressão monótona usando óculos de lentes avermelhadas, caminhou de trás dos homens, parando na frente de Rocco. Ao contrário dos outros homens que estavam agitados e suados, esse homem era tranquilo, indiferente. Havia algo familiar nele. Meu coração batia tão rápido que eu estava tremendo. — Onde está a garota? — Ele perguntou à Rocco. Ele tinha um tom quase afeminado em sua voz.

Julie Hockley

Rocco inclinou a cabeça para o lado. — É Norestrom, não é? Eu já ouvi muito sobre você. — Onde está a garota, vira lata? — Norestrom repetiu com mais força. — Que garota? Aqui não tem nenhuma. Norestrom

olhou

para

Rocco

através

dos

óculos

avermelhados. — Olha garoto, sabemos que a garota está aqui. Todos os seus homens estão mortos. Agora, você pode nos dizer onde ela está e você vai viver, ou você pode morrer e nós ainda vamos encontrála. Qual escolhe? Tiros de repente soaram na parte de trás da casa, e eu vi dois homens de Norestrom ir para baixo após um sinal dele com os dedos. Um dos guardas de Cameron que parecia estar doente se arrastou para fora da cama do porão e, sorrateiramente, chegou por trás deles, matando dois homens antes de ser atingido com vários tiros. Enquanto os homens de Norestrom tinham sido distraídos com o guarda, Rocco armou o punho para trás e deu um soco em Norestrom direto no nariz. Norestrom caiu como uma boneca de pano. Ele caiu no chão e sua cabeça bateu forte com o baque. Um dos homens de Norestrom correu para seu lado, mas Norestrom o empurrou. Desorientado, Norestrom cambaleou, sentandose. Seu nariz sangrado, e seus óculos quebrados. Ele ficou furioso. — Mate ele, — ordenou beliscando o nariz com dois dedos finos. Os homens fortes imediatamente levantaram sua arma. Tiros foram disparados. Rocco caiu mole ao chão.

Julie Hockley

Naquele momento, eu senti como se tivesse sido golpeada forte em

meu

corpo. O

que

eu

tinha

visto...

Não

poderia

ter

acontecido. Minha visão ficou turva, mas meus olhos ficaram em Rocco. Eu queria que ele levantasse, para lutar, para correr. Mas ele não estava se movendo. Manchas vermelhas encharcaram a frente da sua camiseta cinza, e uma poça de sangue estava se espalhando ao redor dele. Um espesso nevoeiro começou a rastejar em meu cérebro. Norestrom levantou-se e passou as mãos sobre as calças cáqui. — Encontre-a e traga para mim, viva ou morta, — ele ordenou e pensou sobre isso, — Preferivelmente viva. Os homens correram e se espalharam lá fora, deixando Norestrom para trás na sala de estar. Norestrom se aproximou Rocco e chutou seu corpo sem vida. Rocco não reagiu. Ciente de que Rocco não iria atacá-lo novamente, Norestrom se inclinou sobre ele e procurou seus bolsos. Ele tirou pedaços do mundo do meu Rocco: parafusos e um prego, um guardanapo, alguns amendoins, embalagens de doces, e o telefone celular. Norestrom mexeu no telefone celular e rapidamente olhou a tela antes de a bateria acabar completamente. Então ele gritou, e o pesado assistente correu de volta para ele. — Ele teve tempo para chamá-los. Nós não temos muito tempo, — disse Norestrom. — Arraste o corpo para fora, assegure que seja a primeira coisa que vejam quando chegarem. — O homem corpulento saltou e pediu ajuda. Eles carregavam Rocco para fora da sala, deixando um rastro atrás.

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Norestrom se levantou e examinou a poça de sangue com um sorriso presunçoso. Quando o homem corpulento voltou e ficou ao lado dele, Norestrom virou com raiva. — Vá encontrar a garota! Os dois homens saíram correndo pela porta da cozinha, e ouvi seus passos subindo as escadas até o quarto de Cameron. O som das coisas sendo jogadas ao redor e quebrando ecoou pela casa, os homens procurando de cima a baixo por mim. Mas a sala ficou vazia. Eu não tinha muito tempo antes de começarem a vasculhar a sala para me encontrar. Atordoada, abri a tampa do baú, e arrastei-me todo o caminho até a porta do pátio, deslizando-a aberta. Eu rastejei para a noite e corri para o escuro, o local do meu primeiro beijo escondido com Cameron. Eu podia ouvir os homens pisando dentro da sala de estar e na cozinha agora. Eu rolei para baixo das grades do pátio, enfiando a pistola no cós do meu short e agarrando mais forte quando ela escorregou do meu corpo. Pendurei em meus dedos, e imediatamente deslizei para longe da luz do porão, apertando meu corpo contra a parede fria de tijolo. A porta do pátio que levava ao porão se abriu, e um homem saiu, olhando ao redor. Meu coração batia freneticamente enquanto seu olhar lentamente vinha na minha direção. Houve um tiroteio novamente, e flashes de luz estavam vindo através das janelas dos quartos do porão. Algum dos guardas doente, que devia estar muito mal para levantar-se, com certeza, tinham sido mortos. O homem correu para dentro da casa para ver a ação. Sombras estavam se movendo rapidamente dentro da casa da piscina. O mundo de Carly agora estava sendo destroçado. Logo, os homens começariam a procurar em volta por mim. Com a lua e as

Julie Hockley

estrelas que iluminam a paisagem, eu sabia que estaria exposta se eu saísse da sombra da casa. Tomando um fôlego grande, eu atravessei os jardins, rezando para que ninguém estivesse olhando. Eu consegui chegar perto das árvores sem ser notada. Esperança começou a avançar dentro de mim, até que eu tropecei. Meu pé tinha engatado numa raiz alta. Eu olhei para cima através da grama, e olhando para mim havia um par de olhos mortos, — olhos que eu tinha uma vez conhecido, os olhos de um dos guardas que tinha sido assassinado pelos homens de Norestrom. Um grito involuntário deixou meus lábios, e eu chutei, me debatendo para conseguir soltar meu pé. Ao longe, ouvi uma voz retumbante gritar. — Ela está aqui! — Gritou um homem saindo da casa da piscina. De repente, todos os homens olharam para fora das janelas dos fundos da casa e começou a pastorear em minha direção como uma matilha de hienas. Depois que conseguiu liberar meu pé e desviar do guarda morto, eu entrei no bosque escuro. Galhos rapavam no meu rosto, e eu esbarrei a toda velocidade em alguns troncos de árvores. Eu não podia ver mais do que dois pés na minha frente, mas eu podia ouvir gritos de guerra dos homens e passos — pisando na terra perto e ao meu redor, então eu não parai. Continuei correndo, muitas vezes tropeçando em troncos e arbustos caídos. Minhas pernas estavam ficando muito arranhada e machucada. Minhas mãos esfoladas. A adrenalina estava bombeando muito rápido para eu sentir muito, mas depois de um tempo, meus pulmões queimando também estavam começando a conspirar contra mim. Embora minha mente continuasse a acelerar, meu corpo estava lentamente desistindo.

Julie Hockley

Quando meu ombro bateu um galho de árvore não visível, caí para trás, para o chão, a parte de trás da minha cabeça bateu no chão duro. Obriguei-me a levantar, mas apenas para cair para frente em minhas mãos. Eu não podia mais continuar. A floresta era escura, com a única luz proveniente da lua imperceptível que refletia as copas das árvores. Eu não podia ver os homens que vasculharam a floresta procurando por mim, mas eu podia ouvi-los, todos ao redor. Vozes gritaram por toda parte, e dentro da minha cabeça. Eu deslizei meu corpo ao lado de um tronco de árvore e trêmula, peguei a arma em minhas mãos. Eu nunca tinha segurado uma arma antes. Era fria e mais pesada do que eu imaginava que seria. Minhas mãos não se encaixaram bem em torno do punho. Eu apontei a arma na minha frente com ambas as mãos trêmulas, descansando os cotovelos sobre os joelhos, e me enrolei em uma bola contra a árvore. Fechei os olhos e esperei que as vozes fossem embora. Em uma meia-resposta às minhas orações, o vento pegou por entre as árvores e folhas sussurrantes abafaram algumas das vozes. Mas os gritos na minha cabeça continuaram sem piedade. Eu balancei meu corpo para trás e para frente, em um esforço para manter minha mente focada em ficar quente. Eu estava vestida com uma camiseta e short, e os meus pés descalços estavam cobertos de lama fria. Ficou muito mais frio. No início, eu podia sentir o frio fluir através do meu corpo, estremecia incontrolavelmente. Eventualmente, porém, meu corpo continuou a tremer, e eu não sentia nada. Em algumas ocasiões, ouvi ramos quebrando nas proximidades, os homens continuavam a procurar-me na escuridão. Eu só apertava os olhos mais apertados, rezando para que eles fossem embora. Cada vez que escutava um barulho.

Julie Hockley

Depois do que pareceu ser dias, de estar enrolada contra a árvore,

o

amanhecer

infiltrou

através

das

arvores.

Tornou-se

terrivelmente consciente de que eu não estava mais escondida deles pela escuridão, mas eu não conseguia ver nada, além da densa vegetação em volta de mim, talvez isso seria suficiente para me manter invisível? Mas então, escutei passos rápidos e galhos quebrando. Ouvi com todos os meus sentidos e percebi que os ruídos estavam indo na minha direção. Eu tinha sido descoberta... De

alguma

forma,

eu

sempre

soube

que

eu

ia morrer sozinha. Talvez eu nem soubesse que eu ia morrer jovem — ou talvez o que eu tivesse era apenas um desejo de morrer jovem para acabar logo com isso — mas eu nunca tinha pensado que, em enfrentar a face da morte, eu teria algo, alguém para quem lutar. À medida que os passos se aproximaram mais rápido, eu me esforcei para que minhas mãos parassem de tremer tempo suficiente para destravar a pistola, como eu tinha visto em tantos filmes antes. Agora, eu podia ouvir claramente passos correndo, justo para a direção que me tinha mantido oculta até então. Ainda que minhas mãos estivessem tremendo incontrolavelmente, mais uma vez, eu segurei a arma tão firmemente quanto eu podia, e esperava descobrir como disparar essa coisa antes de ser descoberta. Quando as folhas do meu lado crepitaram, virei e fechei os olhos, firmando-me contra o tronco da árvore e puxei o gatilho. Com um estrondo ensurdecedor, a arma disparou. Pedaços de casca de árvore saíram voando por toda parte. Meus ouvidos zumbiram. Mesmo assim, mais passos estavam agora correndo em minha direção. O tiro tinha alertado os homens para o meu refúgio.

Julie Hockley

Eu puxei o gatilho novamente. Nada aconteceu desta vez. Meu corpo

começou

a

tremer

violentamente

e

eu

podia

sentir

as frias lágrimas no meu rosto enquanto eu puxava o gatilho mais e mais, mas nada aconteceu; a arma estava travada ou só tinha uma bala ou eu tinha quebrado. Um homem saltou meio à vegetação e apertou os braços em volta de mim para me impedir de atirar. Ele tentou arrancar a arma de mim. Lutei, me defendi com tudo o que eu tinha. Mas eu não podia competir contra a sua força e ele finalmente conseguiu pegar a arma de mim. Ele colocou as mãos em volta do meu rosto e me forçou a olhar para ele. Era Cameron. Seus lábios estavam se movendo rapidamente, mas eu não conseguia ouvir nada, apenas os gritos na minha cabeça e o zumbido nos meus ouvidos. Seus lábios quentes queimaram minha pele congelada quando ele beijou minha testa, meu nariz, meus lábios. O

arbusto

ao

lado

dele

mexeu

e

eu

pulei

para

trás,

petrificada. Cameron jogou os braços em volta de mim, me agarrou em um abraço de urso, enquanto Meatball lentamente apareceu em nossa direção e lambeu meus dedos congelados. Cameron me olhava mortalmente em pânico. Ele estava me segurando pelos ombros e falando comigo, possivelmente gritando, mas eu ouvi e não senti nada. Depois de várias tentativas fracassadas de se comunicar comigo, ele tirou um radio de ondas curtas e apressadamente falou para ele. Com um último olhar assustado para mim, ele virou as costas para mim, agarrou meus braços, jogou-os sobre seus ombros e no pescoço. Ele me içou de costas e começou a correr. Meatball estava à frente de nós, guiando o caminho de volta à casa. Caminhamos

pelo

que

parecia

quilômetros. Eu

não

tinha

percebido que eu tinha corrido tão longe para dentro da floresta.

Julie Hockley

Lentamente, comecei a ouvir de novo, começando com as rápidas

respirações

frio através

do

de

meu

Cameron. Eu

corpo. No

também

momento

em

comecei que

a

sentir

chegamos

à

propriedade, meus dentes batiam, e os meus dedos e pés descalços ardiam. Cameron me levou para dentro da casa. Estava um caos em toda a parte. Alguns dos homens de Spider carregavam corpos para os veículos estacionados, enquanto outros freneticamente caminhavam em volta, observando, à procura de um inimigo. — Não olhe, — Cameron suavemente me avisou, assim que entramos, enquanto dois dos seus homens que havia voltado, colocava um corpo na parte traseira de uma caminhonete. Concentrei-me em como era bom ouvir a voz de Cameron novamente. Cameron guiou-me imediatamente para as escadas, não dando tempo para eu pensar em olhar em direção à porta da cozinha. O quarto estava em completa desordem. Gavetas, minhas roupas, minhas coisas estavam espalhadas no chão, o colchão havia sido virado para fora da cama, e meu abajur de bailarina quebrado ao chão. Cameron me fez sentar no colchão no chão. — Precisamos fazer as malas rapidamente, — ele explicou, enquanto ele começou a pegar as roupas do chão e empilhá-las nos meus pés. Em uma névoa de pesadelo, levantei-me e fui até as cortinas. A mochila ainda estava escondida lá, intocada. Arrastei para fora algumas polegadas. Cameron me olhou com curiosidade por um segundo. Agarrou a mochila, e atirou a alça sobre seu ombro e, simultaneamente, pegou um cobertor da cama bagunçada. Ele enrolou o cobertor grosso em volta de mim, me pegou em seus braços novamente. Nós descemos as escadas e saímos pela porta. Cameron colocou-me no assento do passageiro de seu carro, ajoelhando-se para colocar o cinto de segurança em volta de mim e fechar a porta.

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Ele foi até Spider, que estava parado de pé junto à varanda da frente, absorto em uma conversa com Tiny. Eu vi quando Carly saiu da casa com os olhos inchados, e uma mochila grande. Ela jogou suas coisas na parte de trás da caminhonete de Spider, e subiu. Cameron, Spider e Tiny falaram com pressa, então eles todos se dispersaram. Spider subiu em sua caminhonete e pisou fundo — seus pneus cuspiram pedras enquanto corria. Meatball subiu na parte de trás, enquanto Cameron pegou outra camisa de sua própria mochila no banco de trás. Eu não tinha notado até então que a sua tinha sido encharcada de sangue. Em seguida, Cameron e eu fugimos da fazenda também. Ele nos levou por um caminho de cascalho, mais rápido do que naquele dia, quando dirigimos a Maserati. Quando entramos na estrada principal, ele agarrou minha mão. Embora eu estivesse envolto em um cobertor grosso, meus dentes não tinham parado de tremer. Olhei para a estrada à frente, semiconsciente de que Cameron estava preocupado olhando para mim a cada minuto. Nós dirigimos por horas, nenhum de nós falando, e eu com o olhar fixo na estrada. Cameron não largou da minha mão. Eventualmente, eu reconheci os limites da cidade, passando através de Callister, mas nós continuamos a conduzir. Cameron, finalmente, se desviou para uma estrada de terra através de um bosque. Chegamos a uma pequena cabana, que tinha uma varanda um nível mais baixo. Ele parou o carro e suspirou. Nós saímos, e Meatball com entusiasmo nos levou até a porta. No interior, a casa era decorada com simplicidade. Havia uma pequena mesa de cozinha com duas cadeiras no meio da sala, uma pequena cozinha de um lado, e um fogão a lenha preto do outro. Uma estreita escada de madeira que levava a um pequeno loft quadrado na

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parte superior. Através da grade que cercava o loft, havia uma cama de solteiro. Todas as paredes eram feitas de madeira exposta. Cheirava a Cameron. Tudo me fez sentir um pouco mais quente. Cameron tomou-me pela mão e me levou até o banheiro minúsculo que estava fora da cozinha. Ele puxou o cobertor longe de meus ombros, me firmou na frente do espelho e abriu o chuveiro. Eu não reconheci a pessoa que estava olhando para mim através do espelho. Esta menina tinha um olhar terrível, petrificado com ela. Havia arranhões por todo o rosto, seu cabelo e pele estavam turvos e vermelhos. Seus olhos estavam selvagens e chocados. Isso não poderia ser eu, eu disse a mim mesma. O reflexo de Cameron apareceu atrás de mim. Tampouco ele se parecia com ele mesmo. Notei que seu rosto estava tão arranhado quanto o meu e observei através do espelho, enquanto ele puxava folhas e galhos secos do meu cabelo. Seu olhar encontrou o meu, mas desta vez, ele não desviou o olhar. O vapor do chuveiro começou a embaçar o espelho. Cameron foi pegar uma toalha e me disse para tirar a roupa. — Eu prometo que não vou olhar, — disse ele com um sorriso cansado, tentando lembrar um momento mais despreocupado, quando tínhamos retirados nossas roupas molhadas pela chuva na fazenda. Tirei a roupa e entrei no chuveiro, enquanto Cameron saia. Por um tempo, eu só fiquei lá enquanto a água queimou minha pele congelada. A água bateu na minha cabeça, e eu assisti os resíduos restantes do meu cabelo sendo levado pelo ralo. Lentamente, a sensibilidade voltou, por dentro e por fora. Eu podia sentir o pulsar nas minhas pernas machucadas e sangrando. Eu também podia sentir o medo e a dor que foram persistente e profunda, subindo lentamente à superfície.

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Eu me enrolei na toalha que Cameron tinha deixado para mim e saí para a cozinha, onde Cameron estava esperando na pequena mesa. — Aqui, — disse, enquanto ele gentilmente me entregou uma pilha de suas roupas. — Isso vai mantê-la aquecida. Como um robô, eu me vestia, enquanto Cameron entrou no banheiro. As roupas que ele tinha me dado cheirava a ele. Até o momento que eu estava vestida, Cameron já estava fora do chuveiro, vestido de jeans e sem camisa. Eu o observei e seus ferimentos de bala tatuados. Eu podia sentir minhas emoções borbulhando. Sempre mantendo um olho em mim, ele foi para o fogão onde a chaleira estava agora fervente e derramou água quente em dois copos. Ele caminhou de volta, colocou os copos sobre a mesa, e sentouse na cadeira ao lado da minha. Eu peguei a caneca, segurando minhas mãos em torno dela, e olhei para ele. Ele manteve os olhos. Quando eu tentei sorrir de maneira tranquilizadora, a minha visão ficou borrada pelas lágrimas que haviam sido reprimidas por muito tempo. Eu tinha dificuldade para respirar, e eu podia sentir algo em erupção dentro de mim. A caneca começou a sacudir em minhas mãos. Cameron puxoua para longe como se ele estivesse esperando o que estava acontecendo comigo. Eu comecei a tremer. — Rocco estava lá... — Eu sussurrei. — Eu não sabia o que fazer... Eu perdi... — Eu cai. Ele pulou da cadeira e me tomou em seus braços, enquanto longos soluços duros me escaparam. Cameron me segurou com força enquanto imagens do rosto sorridente de Rocco e seu corpo morto deitado no chão passaram pela minha cabeça em um redemoinho. Meu

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coração parecia que estava sendo espremido em um punho duro como pedra. Inclinando-me para Cameron, eu chorei até o chá esfriar e o lugar ficar escuro. Eu chorei até meus ombros, meus braços, e meus pulmões doer, até que as lágrimas tinham secado. Quando eu terminei, e tudo que eu podia fazer era um gemido, Cameron me levou para a cama. Minha cabeça em seu peito, ele acariciou meu cabelo até que eu caí em um sono sem sonhos.

Era o meio da noite. Minha garganta estava pulsando, e Cameron não estava ao meu lado. A dor que sentia no meu coração era insuportável. A casa estava em silêncio, e eu podia ouvir os grilos lamentando sua canção de ninar lá. Ouvi o ranger de uma cadeira no andar de baixo na cozinha, e eu na ponta do pé me aproximei até a borda do loft. Através do beiral eu vi Cameron sentado à mesa, com a cabeça entre as mãos e os dedos correndo dentro e fora de seu cabelo. Seus ombros estavam levantando em sequências rápidas. Levei um momento para perceber que ele estava chorando, em silêncio, sozinho. Eu sabia que estava testemunhando algo nunca visto. Pensei em ir lá embaixo. Mas então eu decidi deixar Cameron lamentar a perda de seu irmão mais novo em paz. Depois de um tempo, a cadeira se afastou da mesa, e as escadas de madeira gemeram. Cameron se arrastou de volta para a cama de solteiro e se deitou ao meu lado. Fingindo dormir, suspirei, tomei seu braço, e trouxe-o debaixo do meu braço para o meu outro ombro, encaixando-me nele. Cameron não me afastou. Ele apertou seus dedos nos meus e me puxou ainda mais perto dele. Ele enfiou o rosto no meu cabelo e suspirou, e nós adormecemos como se fossemos uma só pele.

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Eu não tinha ideia de onde estava ou que horas eram quando acordei novamente. Desorientada, olhei ao redor do quarto deserto, à procura de um relógio e, de repente, me lembro. Imagens desordenadas do que tinha acontecido começou a filtrar através de pedaços — tiros, um baú de vime, os olhos do guarda morto, Rocco... Engoli em seco para forçar para baixo o nó que estava crescendo em minha garganta e levantei. Da janela pequena, eu podia ver que o sol estava alto e que Cameron tinha saído. Desci as escadas rangentes quando ele estava entrando pela porta, com sacos de supermercado na mão. — Há uma loja aqui perto, não tinha muito, mas vai servir por um tempo, — ele anunciou, sem fôlego. Ele colocou as sacolas sobre a mesa e correu ao meu encontro nas escadas. Ele embalou meu rosto em suas mãos e me examinou com preocupação, passando os polegares sobre a minha inchada bochecha arranhada. Forcei um sorriso animado. — Bom dia, — ele sussurrou, beijando-me na testa sem reservas. Ele foi guardar as compras, enquanto eu trabalhava para me orientar de novo. Dirigi-me até a mesa, segurando firmemente a cintura de suas calças caindo e quase tropeçando nas bainhas que foram arrastando no chão. Cameron riu com a visão e acenou com a cabeça na direção da porta do banheiro, — Eu trouxe a sua mala se você quiser

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mudar, — disse ele, ao mesmo tempo olhando para mim com olhos curiosos. Nós nos sentamos para o café da manhã. Mesmo após a insistência de Cameron, eu não podia comer nada, mas eu consegui empurrar um copo de leite, o que acalmou minha garganta em carne viva. O

silêncio

na

mesa

estava

me

tornando

autoconsciente,

particularmente, quando Cameron se manteve atento, olhando para mim o tempo todo. Eu poderia dizer que algo estava o incomodando, com meu rosto danificado, e meu cabelo selvagem, devo ter parecido que saí de um safári. Engoli o resto do meu leite e fui para o chuveiro. Quando saí do banheiro, Cameron estava sentado na escada, esperando por mim. Seja o que fosse que o estava incomodando, não tinha sido saciado com a minha aparência ligeiramente melhorada. Sentei-me alguns degraus abaixo dele, e me esforcei para conseguir um rabo de cavalo em meu cabelo molhado. Cameron não esperou mais um segundo, antes de descer os degraus da escada atrás de mim, e com as pernas ao meu lado, envolveu os braços em volta dos meus ombros, me puxando. Alguma coisa tinha mudado. Suas emoções se tornaram... Desenfreadas. Eu não poderia explicar. Seja qual for a razão para a mudança, o novo Cameron desinibido me desarmou. A dor em meu coração, ainda pulsante, eu achei que era o que eu mais precisava. Fechei os olhos e deixei minha cabeça cair para trás. — Emmy, — ele murmurou em meu ouvido. — Hmmm... — Posso te fazer uma pergunta?

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— Uh-uh... — Ontem, quando fomos para dentro da casa, para embalar suas coisas e ir embora, como é que você já tinha uma mochila pronta? Meus olhos se abriram. Com tudo o que tinha acontecido, eu tinha esquecido completamente a conversa que escutei escondida entre Cameron, Carly, e Spider. — O que é? — Ele perguntou quando eu não estava respondendo. — Seu corpo está tenso. Não estava escutando ele falar. — Eu não quero que você fique com raiva. — Por que eu iria ficar com raiva? — Seu corpo tinha ficado tenso também. Hesitei em dizer qualquer outra coisa. — Prometo que não vou ficar com raiva, — ele me disse, por fim. — Você pode me dizer o que está acontecendo? Enquanto eu estava brincando com minhas mãos, tentando encontrar uma maneira de não estragar o momento ou a mudança nele, ele estava ficando impaciente. — Emmy, você está me deixando nervoso... — Eu sei que você ia deixar Spider me matar, — eu soltei. — O quê? — Saltou tão alto que quase nos enviou caindo pelas escadas… — Do que você está falando? Cameron olhou para mim com descrença, como se ele realmente não sabia o que eu estava falando. Era fácil para eu esquecer todas as coisas ruins quando eu estava rodeada em seus braços, talvez eu tivesse o mesmo efeito sobre ele?

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Virando o rosto para o dele e respirando fundo, eu disse a Cameron tudo o que eu tinha ouvido, palavra por palavra, sem emoção. Tudo isso parecia um sonho agora. Enquanto a história progredia, eu assisti suas expressões faciais mudar de confuso para incrédulo para profundamente perturbado. — Não posso acreditar que você realmente acha que eu sou capaz

de

fazer

isso,



disse

Cameron,

sacudindo

a

cabeça

com assombro. Ele me mudou para o lado para que ele pudesse me ver claramente. — Emmy, não importa o que você fez ou disse, não importa o quão ruim as coisas fiquem, isso nunca vai acontecer. Ninguém jamais seria capaz de me convencer de que me livrar de você é a solução. Nem Carly ou Spider. Nem mesmo você. — Eu não imaginava isso, — rapidamente me defendi, sentindo o calor crescendo atrás das orelhas. — O que você ouviu não tinha nada a ver com você. — Eu bisbilhotei por aí... Eu falei com os guardas... Eu não segui as ordens... — Não tinha certeza por que eu continuei discutindo com ele. Eu estava tentando, na verdade, tentar convencê-lo de que se livrar de mim era um bom plano? — Sim. Você fez todas essas coisas, — ele riu entre dentes. — Você e Frances tem isso em comum. Ele ainda estava me segurando. Quando eu havia notado que ele não ia me soltar, eu relaxei e falei, — Frances? Ele levou os lábios ao meu ouvido novamente. — Spider pensa que Frances tem estado nos espionando e vendendo os nossos segredos para membros de gangues rivais. Ela circula ao redor da fazenda e faz perguntas aos guardas, um monte de perguntas estranhas sobre nós, sobre nossos negócios.

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— Então você mandou matá-la? Ela é mãe! Ela é a mãe de meu sobrinho! Cameron me calou. — Ela não é quem você pensa que é, Emmy. Daniel vive com sua mãe em tempo integral, enquanto Frances vive em um grande apartamento no centro. Ela desaparece por dias. Fui levar dinheiro à mãe de Frances a cada mês apenas para manter comida na mesa e um teto sobre a cabeça de Daniel. Frances torra todo o dinheiro que nós damos diretamente a ela. Embora isso mudasse um pouco a minha perspectiva sobre Frances,

não

fez

a

decisão

de

Cameron

mais

fácil

para

eu

entender. Depois de ver meu irmão crescer sem sua mãe, eu sabia o quanto as crianças precisavam de sua mãe, não importa o que ela era. Olhei-o nos olhos. — Cameron, ela ainda é mãe dele. — Não se preocupe, — ele silenciou depois de ler meu rosto. — Eu não acho que ela é inteligente o suficiente para tramar algo assim sem ser pega. Eu estava muito cansado quando concordei com ele, mas o chamei na manhã seguinte para cancelar toda essa coisa. — Ele me puxou para mais perto. — Depois de passar três noites, preocupando, perguntando-me se sua febre nunca iria baixar, e se eu deveria dar a localização do nosso esconderijo para obter um helicóptero para levá-la a um hospital, eu estava pronto para concordar com qualquer coisa por esse ponto. Spider usou minha fraqueza para conseguir o que queria. — Ele deve ter ficado chateado, — disse consciente de quão perto o seu rosto estava, e feliz que eu tinha escovado os dentes. — Ele quer Frances fora de nossas vidas há muito tempo. Ele a odeia assim como Carly. — Ele deu de ombros. — Ele vai superar isso. Depois de tudo o que aconteceu, eu precisava dele mais do que nunca. Pensei em trazer meu rosto mais alguns centímetros para frente

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para preencher a lacuna, enquanto Cameron continuou a sacudir a cabeça em descrença. — Então, como você ia fugir exatamente? Eu disse a ele sobre o meu plano de descer a varanda e caminhar pela floresta. Isso fez com que ele caísse na gargalhada. — Você ia descer com aquela enorme mochila, e arrastá-la através das arvores com você! A mochila pesa mais do que você! Você tem roupas suficientes lá para durar três semanas... Mas sem água, sem comida. Como exatamente você estava planejando sobreviver lá fora? Eu podia sentir meu rosto ficando vermelho. — Nunca disse que era um bom plano. — Eu preciso levá-la para acampar um dia. Seria interessante ver você tentar sobreviver sem um banho quente ou eletricidade, — brincou, — De qualquer forma, não prometi a você que eu estava indo levá-la para casa em segurança? — Estava ficando difícil para eu decifrar a verdade e a mentira. Ele ficou sério novamente. — Talvez eu não tenha sempre lhe dito tudo, mas eu nunca menti para você. — Oh? — Foi feito de uma maneira desajeitada, quando eu trouxe meus lábios nos dele. Quando eu me aproximei, ele me puxou de lado e nossas testas quase esmagaram juntas. Mas eu não deixei isso me dissuadir. Pressionei meus lábios com força contra o seu. Então eu me forcei a afastar para ver o efeito. As bochechas de Cameron estavam coradas e ele estava um pouco sem fôlego. — Significa alguma coisa para você ou eu ainda estou apenas desperdiçando o meu tempo? — Perguntei-lhe.

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Ele sorriu maliciosamente. — Isso não significa nada. Apenas um beijo, nada mais. Inclinei-me novamente. Desta vez, ele inclinou-se também para nos encontramos no meio. Era suave, não tão desajeitado agora. Depois de um tempo, ele gentilmente puxou meu rosto e segurou a centímetros longe dele. — Eu menti sobre isso, — admitiu. — Eu me perguntava por um longo tempo como seria... mas quando eu finalmente te beijei naquela noite, eu sabia que estava realmente em apuros. E então eu ouvi sobre aquele cara, Griff, estar em seu quarto, sozinho com você, eu senti como se alguém tivesse me esfaqueado no estômago. Eu entrei em pânico. Eu não deveria ter dito o que disse. Eu entendi o que Cameron estava dizendo. Havia me sentido exatamente da mesma maneira quando ele tinha me dito que o beijo não significava nada para ele. Estremeci com essa memória, mas me recuperei rapidamente. — Na verdade, eu o beijei, — eu corrigi. — E da próxima vez que você se sentir em pânico dessa maneira, você fala comigo, em vez de se transformar em um idiota? — Somente a verdade a partir de agora, — disse ele. — Promete? Ele riu. — Sim, eu prometo. Beijei-o novamente. Mas quando eu tentei selar o espaço entre nossos corpos, Cameron paralisou e se afastou. — Eu tenho que verificar Meatball, — anunciou ele, enquanto meus lábios estavam ainda no seu. Então ele se lançou por mim e praticamente correu até a porta, onde ficou esperando. Forçou um sorriso tranquilizador, mas o olhar enlouquecido em seu rosto me confundiu.

Julie Hockley

Fui ao seu encontro e tratei de mascarar a dor na minha voz. — Onde está Meatball? Ele encolheu os ombros. — Nadando. Isso é tudo que ele faz quando estamos aqui. — Nadando? — Eu não me lembro de ter visto uma piscina. Os olhos de Cameron brilharam. Ele pegou minha mão e fomos para fora. Nós caminhamos para a parte de trás da casa seguindo o caminho batido para a floresta. Sendo na mata, me fez lembrar algo que eu estava tentando esquecer. Se ele não estivesse segurando a minha mão, eu teria me virado, correndo. — Como você me encontrou ontem? Corri muito longe dentro da floresta, mas você ainda me encontrou? — Me arrependi de fazer a pergunta

assim

horripilantes

que

daquela

saiu noite

dos

meus

lábios. Todas

começaram

a

correr

as pela

imagens minha

mente. Contive as lágrimas e me concentrei em colocar um pé na frente do outro. — Meatball pegou o seu cheiro na piscina. Ele começou a cheirar ao redor e correu para a floresta. Eu sabia que ele tinha encontrado você, e eu corri atrás dele. — Ele levou minha mão aos seus lábios enquanto continuamos a fazer o nosso caminho entre as árvores. — Você realmente assustou Meatball quando você atirou nele. Eu não acho que ele estava esperando esse tipo de boas-vindas depois de correr todo o caminho. Ainda bem que você não tem coordenação, — disse ele. Em seguida, ele considerou com mais seriedade, — Vou ter que te ensinar como atirar. Você deve saber como proteger-se melhor do que isso. — Cameron, — chamei — Eu estava muito longe. Ele não poderia ter seguido o cheiro tão longe.

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— Meatball passou toda a sua vida aprendendo a seguir seu cheiro. Encontrar você é o seu jogo favorito. Ele te encontrou através de uma enorme multidão de pessoas no primeiro dia em que nos conhecemos nos Projetos, lembra? Você é como o “Wally” real. A via conduzia a um píer e um lago. Havia árvores e arbustos que vieram até a beira da água e grandes lírios flutuavam na superfície com flores rosa e amarelas ligadas à sua haste debaixo d'água. O sol estava espiando pela ruptura nas árvores, e o feixe de luz brilhou sobre a água. Foi mágico. Meatball estava nadando em círculo; sua cabeça era a única coisa que poderia ser visto fora da água. Ele parecia um grande rato Almiscarado. Nós deitamos no píer com as mãos cruzadas sobre nossos estômagos, desfrutando do sol que aparecia, enquanto Meatball continuou seu mergulho incansável em círculos. Olhei para o céu azul através das folhas de uma árvore pendendo. — Que é esse lugar? — É o meu lugar, — disse ele com ênfase. — Venho aqui sempre que eu preciso fugir e ficar sozinho. É o único lugar que ninguém mais sabe, só Meatball e você, também, agora. — Spider e Carly não sabem sobre esse lugar? — Não. Fiz uma pausa, debatendo se eu deveria fazer a próxima pergunta que eu realmente queria perguntar. Saiu bem antes que eu tivesse tempo de pensar sobre ela. — E aquela mulher Manny? Alguma vez você a trouxe aqui?

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De minha visão periférica, eu podia ver Cameron quebrar um sorriso. — Não, Emmy. Ninguém. — Continuou a sorrir para o céu e, depois de alguns minutos, ele girou o corpo em direção a mim, descansando a cabeça em seu punho. — Bem? — Ele perguntou olhando para mim com diversão. — Bem, o quê? — Eu tentei fazer minha voz soar o mais inocente possível. — Eu sei que você está morrendo de vontade de me perguntar sobre Manny. Então, vá em frente. Pergunte à vontade. Nada além da verdade. — Você a ama? — Quando a pergunta saiu da minha boca, percebi que eu tinha feito a mesma pergunta que ela tinha feito a Cameron sobre mim. — Em algum momento, eu acho que eu posso ter gostado muito dela, mas não, eu não a amava. — Mas ela passou a noite com você? — Eu virei para ele e confessei: — Eu a vi blusa em sua gaveta. — Sim, ela passou a noite, — ele respondeu, alerta. — Com você? — Minha voz soou mais ciumenta do que eu tinha planejado deixar transparecer. — Sim, comigo. — Mais de uma vez? Cameron permaneceu em silêncio. — Nada mais que verdade, lembra? — Eu lembrei.

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Ele suspirou. — Sim, mais de uma vez. — Havia outras como ela? — Eu nunca trouxe ninguém mais para a fazenda, — respondeu. — Mas você tem estado com outras mulheres, — disse com naturalidade. — Sim, — ele admitiu. Ele me olhou com cuidado. — Isso a incomoda, não é? Incomodava-me tanto como um nariz quebrado ou um prego na cabeça que incomoda. — Um pouco, — minimizei. — Isso faz você pensar que eu realmente não te amo? — perguntou com preocupação. Isso também. — Eu não entendo como você poderia estar com alguém dessa maneira e não amá-las. Cameron voltou os olhos para o céu. Quando eu pensei que ele não ia me responder, sua voz voltou para mim. — Foi fácil para eu vigiar você quando Bill morreu. Havia ido te ver jogar futebol na escola ou observá-la enquanto fazia compras no shopping. Quando eu tinha certeza de que você estava bem, eu poderia ir, sem pensar duas vezes sobre isso. Mas então eu comecei a querer vê-la mais e mais. Foi quando as coisas ficaram realmente estranhas. Eu vi você ir a festas de pessoas ricas... Eu queria que você tivesse todas essas coisas em sua vida... Uma sombra havia deslizado sobre o rosto de Cameron. Ele deu um longo suspiro antes de voltar os olhos de volta para mim. — Os momentos mais difíceis para mim foram, definitivamente, quando um novo cara se apaixonava por você. Cada vez eu tinha certeza de que esse cara ou aquele cara estava indo para ficar e ser o cara que você se

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apaixonaria. Era quando eu decidia sair e viver a minha própria vida, anormal. Encontrar uma garota para me fazer companhia. — Ele tomou outro momento, então ele riu. — Talvez eu não as jogado fora da minha cama como algumas pessoas, mas as meninas não duraram. — Mas você tinha que fazer isso com elas? — Perguntei meio provocando, tentando mudar o humor. Eu estava agradecida quando ele riu. — Emmy, eu sou um líder de gangue. As pessoas que fazem negócios comigo pensaria que havia algo de errado, se eu não fizesse isso. Seu rosto estava perto do meu e ele estava sorrindo. Aproveitei e o beijei. Foi estranho para eu querer alguém tanto que doía. Ele me deixou beijá-lo por um segundo, mas então ele se retirou e rolou de costas voltando os olhos para o céu. Eu senti como se tivesse acabado de levar um tapa na cara. — Eu não entendo o que você está fazendo, Cameron. Cameron se virou para mim em estado de choque. — O quê? — Eu sei que não sou tão bonita como Manny, — disse a ele, segurando as lágrimas. — É isso que você acha? — bufou. — Eu não sei o que pensar. Em um minuto, você está me abraçando, no outro minuto você está fugindo. Eu não entendo o que você está tentando fazer. Suspirou. — Emmy, eu gostaria que você pudesse ver a si mesma, ver o que eu vejo, ver como você é linda. Nunca reparou como a cabeça de todo mundo se vira para ver você entrar em uma sala?

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— Tenho certeza que os cabelos da cor de fogo, e as manchas marrons não têm nada a ver com isso, — murmurei, filtrando o sarcasmo. — De onde você tirou essa visão de si mesma? — Seu temperamento incendiou um pouco. — Você é linda, Emmy. Por que você não pode ver isso? Eu não sabia como responder a isso. Cameron não havia estado lá quando as crianças estavam tentando superar uns aos outros em encontrar novos apelidos para mim ou quando eles estavam fazendo apostas na escola sobre se eu tinha o cabelo ruivo, em todos os lugares. Ele respirou, estendeu a mão e varreu um fio de cabelo persistente longe do meu rosto. — Para mim, não há mais ninguém além de você. Uma lágrima escapou do canto do meu olho e deslizou para o lado do meu nariz. — Então, por que você não me beija? Seus olhos eram penetrantes. — Você sabe como isso é difícil para mim? Eu quero beijar você. Eu quero envolver meus braços em torno de você e nunca deixá-la ir. — Você está me deixando tão confusa, — Desta vez eu deitei e rolei sobre minhas costas. Algo bloqueou meu sol. Eu abri meus olhos para ver Cameron inclinando-se sobre mim. Ele estava infeliz. Todas as características do seu rosto foram puxadas de dor. — Eu pensei que havia te perdido, — me disse em um murmúrio. — Quando voltei para casa, quando eu encontrei Rocco... Emmy, eu comecei a procurar o seu corpo também, e quando eu não te encontrei... Eu tinha certeza de que haviam te levado, o que teria sido

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ruim. Eu não tinha ideia por onde começar a procurar ou como eu ia trazê-la de volta, como ia encontrá-la... — Mas você me encontrou. Você me trouxe de volta. — Eu encontrei, — concordou. — Mas olhe para o que eu fiz para você. Tudo o que você passou, que você já viu... Você nunca teria tido que passar por isso se não fosse por mim. O fato de que você está aqui é pura sorte. Eu não vou fazer isso pior para você, fazendo mais complicado. Eu não mudei minha mente, Emmy. Uma vez que tudo se acalme, você está indo para casa. — Não havia nenhum indício de dúvida em sua voz. — Quando? — perguntei, minha voz tremendo. — Eu não sei. Assim que seja seguro para você. Deixei-o tranquilo, por agora, mas eu não ia desistir. Desde que Cameron tinha reconhecido que havia algo entre nós, eu ainda tinha esperança.

Julie Hockley

Lembrei-me. Rocco estava estendido sobre o solo. Eu gritei para ele se levantar, mas ele se recusou a se mover. Eu estava frenética. Ele estava deitado na grama bem em frente de mim, e eu curvada, tentando chegar a ele, mas alguém estava me segurando. Eu lutei contra a mão que estava agarrando a parte de trás da minha camisa e me virei para ver Norestrom sentado à minha frente na mesa de piquenique. Eu estava de volta ao ar livre da Universidade Callister. Agora eu sabia que o homem que havia me acompanhado durante meu horário de almoço todo esse tempo era chamado de Norestrom. Eu acordei em um suor frio. Cameron me sustentava contra ele. Eu estava gritando o nome de Rocco. Seu rosto tinha se implantado em meu cérebro enquanto eu estava dormindo, e ele não ia a lugar nenhum neste momento. Cameron me balançava para frente e para trás enquanto as lágrimas começaram a cair novamente. Mas algo estava diferente desta vez. Eu não queria seguir descontrolada mais. Depois de alguns minutos, eu me acalmei, e eu virei para Cameron. Ele parecia doente de preocupação. — Emmy, você está... — Norestrom, quem é? — Perguntei diretamente, limpando a umidade do meu rosto. Ele se surpreendeu. — Por que você pergunta? — Porque Norestrom é como Rocco chamou o homem naquela noite, — disse a ele.

Julie Hockley

— Emmy, você se lembra de tudo o que aconteceu naquela noite? Concordei. — Você acha que pode me dizer tudo o que você lembra? — Perguntou com cautela. Eu balancei a cabeça novamente. Eu não esperei por mais incentivo e comecei o meu discurso de imediato. O tiroteio a distância, o telefonema com Cameron, a visão a partir do baú de vime... As palavras, simplesmente,

derramado

da

minha

boca. Eu

não

conseguia

parar. Enquanto as lágrimas continuavam a correr pelo meu rosto, o rosto de Cameron manteve-se inalterado. Ele ouviu cada palavra minha, sem perguntas ou interrupção. Quando eu tinha acabado com a parte aonde Cameron chegou a me encontrar na floresta, Cameron já estava cavando através de seu jeans que estavam dobrados sobre o corrimão e encontrou seu telefone celular. Ele apertou uma tecla, e ouvi Spider resmungar um Olá na outra extremidade. — Foi Norestrom, — Cameron disse friamente. — Eu o quero, — Ele, então, desligou o telefone e voltou para mim, enquanto eu chorava todas as lágrimas que havia restado em mim. Ele me segurou firme. Eu poderia dizer pela falta de sua respiração e a tensão de seu corpo que ele estava furioso. Mas ele continuou a abraçar-me sem vacilar. Na parte da manhã, eu acordei com o som de sua voz que vinha do lado de fora. Desci as escadas e olhei para fora da janela. Cameron andando para lá e para cá, falando rapidamente em seu telefone celular. Eu podia ouvi-lo com raiva recontar a minha história para quem estava escutando do outro lado. Ele estava fora de si e uma série de palavrões precedia seguindo o nome de Norestrom.

Julie Hockley

Aproveitei a oportunidade para lavar meu rosto e tomar uma ducha com água quente fervente. À medida que a sujeira era lavada do meu corpo, os meus pensamentos desordenados também foram sumindo. Tudo na minha cabeça estava claro de novo, e, embora meu coração ainda parecesse que estava sendo espremido a cada vez que eu pensava em Rocco, eu não deixei meu cérebro fugir mais. Deixei-me sentir a dor e lembrar tudo como aconteceu. Quando saí do banheiro, Cameron ainda estava lá fora. Eu não podia ouvir sua voz mais, então eu fui à procura dele. Ele estava sentado na cadeira da varanda balançando, olhando a distância. Desta vez, fui até ele. Beijei-o na bochecha e passei meus braços em volta do seu pescoço. Cameron seguiu meu exemplo e me segurou em um abraço de urso. Seu corpo lentamente começou a relaxar, e ele cavou sua cabeça no meu pescoço. Depois de um tempo, ele me olhou com seus olhos escuros cansados. — Há algo que eu preciso fazer hoje, — anunciou. — Você vai ter que vir comigo. Eu não posso deixá-la aqui sozinha. Enquanto Cameron tomou banho, eu segui para o café da manhã. Ele saiu do banheiro vestindo jeans e nada mais. Eu não pude evitar comê-lo com os olhos, enquanto ele caminhava por ali com seu peito nu. Eu nunca gostei de tatuagens — mas tudo sobre Cameron, especialmente

suas

tatuagens,

faziam

dele

irresistível. Quando

Cameron me pegou olhando para ele, rapidamente desviei o olhar, quase deixando cair a xícara de chá no processo. — Então, onde estamos indo? — Perguntei, obviamente, tentando mudar de assunto. — Minha mãe, — respondeu ele, enfiando um pedaço de pão na boca. Eu não poderia esconder a minha surpresa ao ouvir isso. Nós dirigimos para longe da casa de campo e de volta para a cidade. Cameron dirigia muito rápido, e eu notei que sua mão começou a apertar a minha com força.

Julie Hockley

— Você precisa se preparar para isso, — ele me avisou. — Minha mãe pode ser bastante chocante quando você conhecê-la. Eu sorri para ele com confiança. Eu não poderia imaginar qualquer mãe mais assustadora do que a minha. Entramos

em

um

dos

bairros

da

periferia

do

Callister. Estávamos no meio da semana. As ruas estavam vazias, exceto para os homens e meninos que rondavam pelas esquinas, olhando quem passava por ali. A maioria das lojas estava fechada com tábuas. Aquelas que estavam abertas eram protegidas com grades de aço, com luzes de néon que mal brilhavam através do vidro sujo. As ruas estavam cheias de sacos de lixo e caixas de papelão vazias, e empilhadas ao lado na calçada. Garrafas e outros tipos de lixo estavam espalhados pelas calçadas e ao pé das entradas dos edifícios. Enquanto eu olhava em frente, eu podia sentir Cameron ansiosamente olhando para mim, observando qualquer sinal de revolta. Tentei permanecer inalterada e continuei a observar a cena. Viramos para uma das ruas laterais e chegamos a fileiras de habitação de baixa renda. A maioria dos lotes foi completamente pavimentada ao redor das casas; algumas das casas tinham um musgo na frente, de manchas verdes, em sua maior parte, ervas daninha na altura do joelho, crescendo entre os móveis danificados, sofás velhos e outros pertences esquecidos. Vi uma senhora passear lentamente na calçada, puxando seu gato atrás dela com uma coleira. Havia uma dessa em cada bairro? Cameron estacionou em frente a uma casa geminada e desligou o

motor. Ele

sentou-se

em

silêncio

por

alguns

segundos,

desconfortavelmente olhando para frente. — É a casa da sua mãe? — Perguntei, quebrando o silêncio. — Sim, — disse ele.

Julie Hockley

— Este é o lugar onde você cresceu, — pensei olhando de volta para a casa. A casa de sua mãe tinha uma fachada de ladrilho vermelho e uma porta de alumínio com uma tela rasgada. A janela da frente era de uma porta marrom sem janelas. O telhado da varanda parecia que ia desabar no alpendre de cimento a qualquer segundo. O jardim da frente tinha cadeiras espalhadas, quebrada ou deitadas de lado, e garrafas apareciam entre a grama crescida. — Não. A casa onde minha mãe e eu vivíamos era muito pior do que isso, — disse ele. — A cidade a derrubou um par de anos atrás. Cameron estava me olhando nervosamente. — Bem, — Eu incentivei — Vamos entrar ou estamos apenas indo sentar aqui? Cameron suspirou, soltou a minha mão, e saiu do Audi. Eu o encontrei na calçada, onde ele rapidamente pegou minha mão mais uma vez. Passamos juntos pelo jardim para baixo da passarela, passando por cima do lixo, e, finalmente, parando na porta da frente. Com uma imensa inalação e um último olhar ansioso para mim, Cameron bateu na porta. Podíamos ouvir a televisão tocando no fundo. Quando ninguém veio, ele bateu novamente. Esperamos

por

um

minuto,

mas

ainda

nada

aconteceu. Cameron suspirou novamente, abriu a porta de alumínio, que guinchou e empurrou a porta da frente sem janelas. Ele olhou para dentro em primeiro lugar e, com a mão protetora na parte inferior das minhas costas, me guiou para dentro. O cheiro de mofo e cigarro bateu no meu nariz, logo que entrei, mas continuei a manter o meu sangue frio. Havia hordas de lixo empilhadas no corredor e nas escadas que conduziam a um segundo piso. O papel de parede cor de rosa no hall estava amarelado e descascando em alguns pontos, e o tapete esverdeado sujo foi salpicado

Julie Hockley

com queimaduras de cigarro. Eu pulei quando um gato pulou de trás da pilha de roupa que estava no chão. Cameron colocou o braço em volta dos meus ombros. Eu podia ver que ele estava envergonhado por ter-me lá. Sorri o meu sorriso mais favorável para ele, mas eu não tinha certeza se o convenci. Entramos na sala, onde duas meninas e um menino estavam sentados lado a lado no sofá, assistindo desenhos animados na TV. Eles pareciam tão pequenos naquele grande sofá. Uma das meninas louras tinha seus cabelos embaraçados. Seus pés descalços estavam sujos e os seus olhos pareciam quase selvagem enquanto eles nos observavam entrar. Notei que o menino tinha os mesmos olhos escuros de Cameron. — Onde está sua mãe? — Cameron perguntou abruptamente. A maior das meninas, sem expressão, apontou para a porta. Passamos as crianças e entramos na cozinha, onde uma nuvem de fumaça de cigarro pairava no ar. Metade das portas do armário ou foram pendurado em uma dobradiça ou em falta. Havia uma pilha de pratos empilhados dentro e ao redor da pia e panelas sujas em cima do fogão. O chão rangia a medida que entramos. Uma senhora estava sentada sozinha à mesa da cozinha, com um grande copo de plástico semi cheio de cerveja na frente dela, duas garrafas de cerveja vazia junto a isso, e um cigarro deixado queimando em um cinzeiro transbordante. Ela levantou a cabeça e olhou para Cameron assim que entramos. O som da televisão em segundo plano foi recebido pela água da torneira da cozinha pingando. Nós calmamente ficamos lá, enquanto a senhora tomou uma baforada de seu cigarro e parecia perdida em pensamentos.

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Ela zombou quando finalmente reconheceu Cameron. — Que diabos você está fazendo aqui? — resmungou para ele. — E quem diabos é você? — Ela disse, virando-se para mim. — Mãe, está é Emmy... Emily — corrigiu-se nervosamente. Eu sorri para ela. — Você trouxe uma menina com você. Essa é a primeira vez. — Com o cigarro pendurado em seu lábio inferior, a mãe de Cameron colocou a mão no meu ombro, dirigindo-me a sentar à mesa. — Deve ser muito sério para o meu menino para trazê-la aqui. Ele é geralmente muito orgulhoso de me apresentar a qualquer um de seus amigos, aparentemente, ele é muito bom para a sua própria mãe. A mãe de Cameron sentou-se novamente, e Cameron puxou uma cadeira para si mesmo. — O que posso servir a vocês, crianças, algo para comer? — Perguntou ela, docemente. — Não, nós estamos bem, — Cameron respondeu rapidamente por ambos. Ela tinha o cabelo loiro ondulado na altura dos ombros, embora, a sua raiz crescida revelava sua cor natural, era provável mais perto das mechas escuras de Cameron. Ela vestia uma blusa apertada, sem mangas

com

decote

em

V

que

mostrava

seu

decote

bem-

dotado. Infelizmente, ele também enfatizou a barriga de cerveja que pairava sobre seus jeans apertados. A sombra azul em suas pálpebras chamava a atenção para os seus belos olhos escuros, e quase todas as bitucas no cinzeiro ainda tinha traços de seu brilhante batom vermelho sobre eles. Sua pele era translúcida, como papel de embrulho de seda, do tipo que saía de sacos do presente.

Julie Hockley

Ficamos em silêncio, enquanto a mãe de Cameron engoliu a outra metade de sua cerveja e olhou para mim por cima da borda do copo. — Você é muito magra e você está muito pálida. Você precisa colocar um pouco de maquiagem, — ela anunciou à mesa, — mas eu duvido que haja qualquer coisa que você possa fazer para que a cor do seu cabelo melhore. Você já tentou tingi-lo? A vizinha vende perucas, são feitas de cabelo natural. Posso conseguir um bom preço. Eu podia sentir o sangue correndo das minhas bochechas. Cameron estava furioso. — Eu não vim aqui para você insultar a minha namorada. Eu vim aqui para falar com você sobre Rocco. — Rocco? — Perguntou entre baforadas. — Onde está esse bastardo? — Ela se inclinou sobre a mesa, sorrindo para mim. — Você sabe que meu filho ingrato me deixou sozinha, sem despedidas ou qualquer coisa. — Acrescentou: — Eu estava preocupada, doente e quase chamando a polícia até Cammy me ligar algumas semanas mais tarde para me dizer que Rocco estava com ele. — Cameron revirou os olhos quando sua mãe se virou para ele. — Parece que todos os meus filhos, eventualmente, deixam-me para cuidar de mim mesma. Ficamos em um silêncio desconfortável novamente. A mãe de Cameron levantou-se para puxar outra garrafa de cerveja para fora da geladeira. Cameron estava balançando a perna, nervoso, mentalmente se preparando para dar a notícia a sua mãe. — Você veio falar comigo sobre Rocco, então fale, — ela insistiu. Ela sentou-se e encheu o copo. Cameron

limpou

a

garganta

e

olhou

para

suas

mãos

entrelaçadas sobre a mesa. — Rocco... Ele está morto.

Julie Hockley

Sua mãe imediatamente olhou para cima e olhou de Cameron para mim. As lágrimas rolaram de meus olhos, e o nó na minha garganta aumentou. Eu tive que desviar o olhar. — O quê? — Ela perguntou incrédula. — Ele foi baleado e morto alguns dias atrás, — disse Cameron, com sua voz tremendo. Sua mãe se levantou e começou a andar em torno da cozinha e balançando a cabeça. Eu podia ouvi-la resmungando e xingando baixinho. Finalmente, ela parou e dirigiu um sorriso largo a Cameron. — Você é apenas um pária, — grunhiu a ele. — Eu não coloquei a polícia atrás de Rocco para trazê-lo de volta para mim quando eu descobri que ele estava com você, porque ele era igual a você. Agora você vem aqui com seu carro caro e sua pequena namorada e você acha que isso te faz melhor do que o resto de nós. Todo o seu dinheiro conseguiu meu pequeno Rocco morto. Você não passa de um bastardo, tal como o seu pai. Você arruinou a minha vida, e agora você arruinou a vida do meu filho Rocco. Eu amaldiçoo o dia em que você nasceu. Minhas mãos estavam fechadas em punhos, meu queixo estava cerrado. Eu assisti Cameron. Ele era muito calmo, como se esperasse isso de sua mãe. Levantou-se e enfiou a mão no bolso, tirou uma grande pilha de cem dólares. — Alguém irá entrar em contato com os detalhes do funeral, — disse ele, enquanto colocava o dinheiro sobre a mesa. — Certifique-se de que isso dê para comprar comida para as crianças. — Ele se aproximou de mim e gentilmente puxou minha cadeira para me ajudar a levantar. Enquanto saímos da cozinha, vi a mãe de Cameron pegar o dinheiro da mesa e enfiá-lo entre o seu decote.

Julie Hockley

Nenhum de nós falou no carro. Os olhos de Cameron olharam vagamente para a estrada à medida que acelerou pela rua. Passamos por um cruzamento na rua, e, em vez de virar na estrada que nós tínhamos vindo Cameron continuou dirigindo até chegar a uma viela estreita. Há apenas uma polegada entre os retrovisores da lateral do carro e as paredes dos armazéns que ladeavam a viela. Ele continuou a conduzir, perigosamente, rápido até que chegamos ao fim, onde a cadeia de armazéns parou e a pista aberta para um cais improvisado de cascalho e rochas com vista para o rio Callister. Cameron desabotoou o cinto de segurança e saiu do carro. Ele enfiou as mãos nos bolsos e rigidamente inclinou-se contra o capô. Saí, subi no capô e passei meus braços em torno dele. Seu corpo estava rígido, e ele estava respirando irritado. Quando eu puxei para mais perto, senti seus músculos lentamente relaxar novamente. — Eu costumava vir aqui muito quando eu era uma criança e precisava ficar longe da minha mãe, — ele me disse. Olhei em volta. Nós estávamos na baía de uma parte comercial do rio. As fábricas e as pilhas de fumo limitado às margens e as grandes barcaças que transportam aço, flutuaram para trás e para frente através do porto. Alguns peixes mortos flutuando na água de lama marrom pelas rochas. — É lindo, — comentei. Ele riu. — Eu não tinha muito para trabalhar naquela época. — Ele se virou para me encarar. — Então, você conheceu minha mãe, — disse ele amargamente, — O que você acha? Eu sorri timidamente. — Ela é adorável também, Cammy. Ele estremeceu. — Por favor, não me chame assim. Eu odeio isso.

Julie Hockley

Inclinei-me e beijou-o levemente, de modo a não afugentá-lo. Deitamos-nos sobre o capô do carro ouvindo os assobios dos vapores dos barcos soprando pela outra margem. Eu pensei sobre Rocco

e,

finalmente,

tão desesperado para

fazer

entendi uma

por vida

que longe

ele de

sua

tinha

sido

mãe. Outro

pensamento ocorreu-me, e eu virei para Cameron. — Naquela noite, quando os homens entraram, Norestrom ficava perguntando a Rocco onde eu estava. Eles estavam procurando por mim. — É? — Cameron respondeu com cautela. — Esta não foi a primeira vez que eu o conheci, — confessei. O interesse de Cameron foi aguçado. — Quem? Norestrom? Assenti, balançando a cabeça e lhe contei sobre o dia que Norestrom se juntou a mim na mesa de piquenique nas dependências da escola. Cameron ficou furioso e foi até a beira da água, xingando baixinho. — Eu preciso que você me diga, — implorei — Rocco foi morto por causa de mim? — Ele não foi morto por sua causa. Rocco foi morto por causa da ganância de um homem. — Eu não entendo o que isso tem a ver comigo, — disse. Ele se sentou no capô e puxou minhas pernas, deslizando-me para mais perto dele. — Antes de seu irmão e eu começarmos o negócio, um cara chamado Shield já controlava quase todo o mercado clandestino. Ele controlava as transferências, vendas, negócios, e todo o dinheiro que vinha com ele. Ele tinha conexões em todos os lugares, e

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os líderes de gangues deixaram controlar tudo porque tinham medo dele e de suas conexões. Quando seu irmão, Spider, e eu entramos e começamos a fazer contatos com os líderes de gangues, todos eles começaram a juntar forças com a gente em vez disso. Mesmo que Bill fosse um negociador muito suave, os líderes de gangues não precisavam de muito convencimento, nenhum deles confiava em Shield, e eles estavam procurando uma saída. O negócio prosperou sob a nossa gestão. Os líderes de gangues estavam felizes; Shield perdeu tudo, mas alguns pequenos negócios ele manteve. Ele tentou nos ameaçar e aos outros líderes com suas

conexões, mas com todos

os líderes

pacificamente unidos, não havia nada que ele poderia fazer. Embora fosse difícil para eu imaginar meu irmão ser qualquer outra coisa, do que um grande cara carinhoso, eu ainda não entendi. — O que isso tem a ver comigo? — Shield sente que foi roubado nos negócio dele e que devemos pagar por isso. Depois que Bill morreu, ele apelou aos líderes, pedindo que o dinheiro de Bill fosse repassado a ele. Os líderes apenas riram na cara dele. Agora Shield está vindo atrás de você, ele quer o dinheiro. — Eu não tenho dinheiro, Cameron. Meus pais deixaram de enviar-me dinheiro depois que ficaram irados por eu enviá-lo de volta para eles. Cameron levantou as sobrancelhas. — Eu nunca entendi isso. Por que você escolheu tornar a vida mais difícil para si quando o dinheiro dos seus pais abre portas para você que estão fechadas para o resto do mundo? Você pode fazer o que quiser com o dinheiro que te enviaram. — Eu posso fazer o que quiser com o dinheiro dos meus pais, contanto que eu escolha fazer o que eles querem que eu faça, — eu resmunguei. Cameron parecia confuso. Eu balancei a cabeça, nervosa

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— É complicado. Não mude de assunto. O ponto é: eu não tenho dinheiro, e esse cara Shield está desperdiçando o seu tempo. — Na verdade, você tem. Você tem a herança de Bill, que é bastante generosa, eu poderia acrescentar. — Eu acho que teria lembrado de Bill ter me deixado algo. Ele não fez. — Sim, ele fez, — Cameron argumentou, enquanto sua mão deslizou para baixo no meio do meu peito. Eu estava congelada no lugar. Ele puxou sua mão para fora, com o pingente de anjo que meu irmão tinha me dado entre dois dedos. Eu ri, sacudindo o nervosismo que permaneceu após seu toque. — Eu odeio ter que dizer isso para você, Cameron, mas essa coisa vale algumas centenas de dólares na melhor das hipóteses. Eu não acho que Shield ficará satisfeito se eu penhorar isso e lhe der o dinheiro. — Olhe mais de perto, — insistiu ele — O que você vê? Segui a corrente e baixei o olhar. Não havia nada de incomum nisso. Era lindo para mim. Um anjo sobre um pedestal com uma gemade-rosa no meio. E encolhi os ombros. — Olhe mais de perto. — Ele segurou o pingente de cabeça para baixo para que o pedestal me encarasse. — Brilhante e códigos de barras. — Eles não são códigos de barras, são números de contas bancárias. Bill abriu contas bancárias no exterior, nas Ilhas Cayman, para você antes de morrer, com outra promessa minha de mover todo o seu dinheiro para elas se algo acontecesse com ele. Eu mantive essa promessa também, — ele disse, piscando.

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Pela primeira vez, percebi que os números significavam algo, mas isso ainda não explica tudo. A última vez que eu tinha me olhado no espelho, eu não via nada ameaçador. — Por que esta pessoa, Shield, não enviou um de seus soldados para vir pegar o colar de mim? — Porque eles não têm ideia de que as informações que estão procurando está pendurada em seu pescoço durante anos, e, até o dia que me viram com você, eles não tinham ideia de que você tinha o dinheiro. Eles devem ter assumido que Carly, Spider, e eu tínhamos ficado para nós mesmos. — O que vê-lo comigo tem a ver com isso? — Eu acho que os caras do Shield estavam me seguindo por um tempo. Alguém deve ter notado que eu estava gastando muito tempo nos Projetos, quando eu não tinha nada o que fazer lá, — disse ele sorrindo para mim. — Quando Meatball te perseguiu... e nós nos conhecemos oficialmente, eu me apavorei porque eu tinha medo que eles iriam descobrir quem você era. Em retrospectiva, se eu a tivesse deixado sozinha e não voltasse mais uma vez, eu não acho que eles teriam qualquer coisa além do meu cachorro estúpido atacar uma garota. — Ele segurou meus olhos. — Mas eu realmente odiava vê-la tão chateada comigo naquele dia, e Meatball quebrou o seu Walkman antigo... Eu simplesmente não podia deixá-la sozinha. Eu tive que voltar atrás e corrigir isso. — Estou feliz que você voltou, — eu disse. Ele deu um sorriso apertado. — Bem, eu não deveria ter, porque a segunda vez que nos encontramos, confirmei minhas suspeita de que algo estava acontecendo. Shield tinha enviado um de seus principais soldados para fazer backup da história do seu observador. Quando eu o vi correndo por nós nos Projetos, eu sabia que algo estava tramado.

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As

coisas

de

repente

começaram

a

fazer

sentido. —

O

corredor? Do cemitério? Ele balançou a cabeça sombriamente. — Ele é o pior de sua espécie. Ele não teria apenas sequestrado você, ele teria feito coisas muito

mais

desagradáveis

para

você,

antes

de

levá-la

para

Shield. Quando o ouvi dizer no cemitério o que ele tinha planejado fazer com você, isso me deixou louco... Perdi completamente o controle. Lembrei-me daquela noite no cemitério e a raiva incontrolável no rosto de Cameron quando ele disparou contra o homem repetidamente. — Shield deve ter enviado Norestrom para tentar obter informações sobre você, — ele argumentou. — Como Norestrom é relacionado com Shield? — Norestrom é o braço direito do Shield, é algo como Spider é comigo. — Mas eu não disse nada a Norestrom. Ele deu um sorriso tranquilizador. — Eu acho que eles já suspeitavam quem você pudesse ser por causa de seu cabelo. Eu acho que alguém deve ter-lhes dito que Bill tinha uma irmã mais nova com cabelo vermelho flamejante. — Eu teria normalmente sido um pouco ofendida com esse comentário, mas Cameron tinha um sorriso carinhoso no rosto, então eu deixei... Por hora — É por isso que eles plantaram uma armadilha para ver se era realmente você. Mas eu não entendi a tempo. — Uma armadilha? — Não me lembro de cair em um buraco coberto de folhas ou ser pega em uma rede. — Normalmente pagamos algum garoto da gangue local para manter o túmulo de Bill limpo, — explicou. — Mas os bastardos

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jogaram lixo em torno da sepultura de Bill logo antes de você chegar. Claro, que você não poderia resistir a limpar a bagunça, não é? — Ele brincou. — Quando você parou, eles sabiam, sem dúvida, quem você era, e nós tivemos que parar o homem de Shield de vir atrás de você. Spider e eu o pegamos justo quando ele estava correndo para fora do cemitério atrás de você. — Spider sabia quem eu era? — Ele sabia que Bill tinha uma irmã, só isso. — Cameron passou os dedos pelo cabelo. — Acredite em mim, não foi uma conversa pacífica, quando eu tive de admitir a ele que eu tinha secretamente vigiado você e que, por isso, teríamos de matar um dos melhores soldados do Shield e, possivelmente, iniciar uma guerra. — Você deve ter ficado em um monte de problemas por minha culpa, — pensei com resentimento. Ele assentiu. — Tivemos que recorrer a um dos líderes das gangues locais, porque os líderes não estão autorizados a caçar em território do outro sem permissão. Mas, em sua maior parte, eu tentei manter tudo tão silencioso quanto possível, de modo que ninguém iria saber sobre você. É por isso que eu trouxe Rocco junto, para manter o olho em você, e, bem, você sabe como isso acabou. — Ele sorriu com dor ao lembrar seu irmão mais novo. — Quando voltei para a fazenda, eu tive uma reunião de emergência com todos os líderes e dei-lhes a minha versão dos acontecimentos antes de Shield poder falar com eles. Eu deixei votarem meu destino. Todos eles odeiam Shield, então eu tive a unanimidade do apoio de imediato. Virei-me para ele. — Qual foi a sua versão, exatamente? Ele

sorriu

maliciosamente. —

Estritamente

o

que

eles

precisavam saber, era que Shield ainda estava tentando ir atrás do dinheiro, mesmo depois de ter sido dito por todos os líderes que não

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pertence a ele, e que o seu soldado atacou o beneficiário da herança de Bill. A recordação do dia em que eu tinha ouvido Cameron friamente falar com Manny sobre mim em seu escritório ressurgiu. — E por isso você estava mantendo a garota, insignificante, que testemunhara tudo, — eu adicionei. Não conseguia esconder a dor na minha voz. Cameron segurou meu rosto entre suas mãos. — Emmy, se eu falasse a verdade sobre meus sentimentos por você, a informação iria se espalhar muito rapidamente, e você se tornaria um alvo, não apenas por causa de seu dinheiro, mas porque eles saberiam como me controlar ameaçando você. Ele pressionou seus lábios contra os meus, mas então ele parou e se afastou. Fomos almoçar em um pequeno restaurante que Cameron conhecia. Em seguida, fizemos o nosso caminho de volta para a cabana onde Meatball estava esperando por nós, seu pelo ainda molhado de um banho recente. Cameron convenceu-me para acompanhá-lo para um mergulho na lagoa. Embora eu não goste de ficar com plantas viscosas presas entre os dedos dos pés, estar sozinha na água com Cameron valia a pena todas as ervas daninhas. Quando o sol se pôs, nos arrastamos para a cama, e eu busquei uma distração. O que eu encontrei me surpreendeu. — Por que você não pode simplesmente matar Shield? — Eu perguntei a ele, antes de notar que eu tinha apenas sugerido para que alguém fosse morto. Cameron não estava surpreso com minha pergunta. — Eu gostaria de poder apenas me livrar dele tão facilmente, mas ele tem muitas conexões. Quando alguém, como ele, some ou aparece morto, as

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pessoas

começam a

fazer

perguntas e

a

remexer

em

nossos

negócios. De qualquer forma, qualquer uma decisão como essa precisa ser feita por todos os líderes, não só eu. Eles jamais se arriscariam a ter atenção dos Federais apenas para que eu possa proteger a garota que eu amo. Sua voz foi sumindo e ele adormeceu.

Julie Hockley

O rosto de Rocco voltou a assombrar meus sonhos. Eu acordei, mas não havia lágrimas ou suores frios desta vez — apenas um grande sentimento de perda. O quarto estava quase completamente escuro, com a única luz que vinha do luar que brilhava através das pequenas janelas da casa de campo. Eu sabia que Cameron ainda estava dormindo, sua respiração pesada estava fazendo cócegas na minha nuca. Virei-me sem fazer barulho para certificar de que ele estava realmente ali, e não apenas algo mais que minha mente doente tinha inventado. Ele definitivamente ainda estava lá. Observei-o

por

um

tempo

e

tentei respirar o

mais

silenciosamente possível. Eu estava com medo de acordá-lo. Esta foi à única vez que eu pude olhá-lo tanto quanto eu queria, sem ter que desviar o olhar, envergonhada, quando ele me descobriu. Eu percorri com o olhar em seu estômago de cima a baixo, com o seu punho cerrados, enquanto ele dormia. Mas o sistema de alerta de Cameron estava muito mais em sintonia do que o meu. Seus olhos se abriram como se ele pudesse ouvir o meu olhar. — O que foi? Você está bem? — Ele ofegava. Lançou um olhar ao redor e parou de volta a mim, pronto para saltar e agarrar a arma que ele deixou ao lado dele.

Julie Hockley

Fui pega de surpresa. O sangue veio correndo, através do meu rosto, fervendo quente, eu parei de respirar. Já era tarde, assim que seus olhos se abriram, meu cérebro desligou-se. Não fui capaz de falar nada coerente, e muito menos evocar alguma desculpa esfarrapada por que eu estava olhando para ele no meio da noite. Segui um impulso e, sem uma polegada de reserva, eu o beijei... com mais força do que eu pensava ser capaz. Cameron foi surpreendido pelo meu ataque e permaneceu imóvel. Ele, pacientemente, me deixou beijá-lo, como se ele estivesse esperando o final da piada. Depois de alguns segundos, seu corpo relaxou. E então logo voltou a ficar tenso novamente, suas mãos agarraram meu rosto. De repente, ele se afastou, mantendo-me no comprimento do braço. — Emmy... Por favor, pare... Neguei com a cabeça. — Não, — disse a ele, sem renúncia. — Eu te amo, Cameron. Eu não vou parar. Isso foi o suficiente. Tudo aconteceu rápido e em câmera lenta. Nossas roupas indescritivelmente fizeram o seu caminho para o chão — eu podia sentir o cheiro de cada polegada de sua pele, ouvir a cada respiração, e sentir cada parte dele que tocou minha pele como se o tempo tivesse parado. A luz cinzenta da madrugada trouxe um sorriso natural para o meu rosto. Secretamente me culpando, havia imaginado este momento no instante em que eu conheci Cameron, como seria estar com ele dessa forma. Resultou que a realidade era um milhão de vezes melhor. Eu me sentia feliz.

Julie Hockley

Ainda era muito cedo. Nem mesmo os pássaros haviam se levantado. A cabana estava tão quieta que eu pensei que poderia ouvir Cameron piscar. Ele também estava acordado. Eu me virei. Suas bochechas estavam rosadas, mas não de uma boa maneira, não como as minhas. Ele encarava o teto. — Fui tão ruim assim? — brinquei, embora eu estivesse com medo da resposta. Ele sobressaltou do canto escuro de onde sua mente estava. — Eu te amo, — disse ele. — Eu também te amo, — eu disse com voz trêmula, com cuidado, esperando que o mau agouro em sua voz fosse apenas uma sensação. Um pressentimento do velho ditado: uma coisa boa anuncia tragédia. — Eu me aproveitei de você. Hã? Eu tinha certeza de que eu o tinha atacado. — Então você pode fazer novamente? Porque eu estou começando a ficar com frio aqui, — disse, confusa. Quis dizer isso com todo sentimento em cada palavra. Seu humor estranho estava me fazendo tremer. Cameron procurou meu rosto com preocupação, procurando evidências de qualquer crime que ele pensou que havia cometido. — Você está bem? Eu te machuquei? Ele estava muito perto para eu tentar mentir. — Um pouco. No começo, — eu admiti. — Foi maravilhoso. Mas ele realmente não estava me ouvindo. — Não deveria ter deixado isso acontecer. Eu realmente estraguei tudo. — Se você está pensando em me dizer que sou apenas mais um dos seus erros, não se incomode. Eu prefiro viver na ignorância.

Julie Hockley

— Não, você não entende, — disse com a frustração. — É exatamente isso. Tudo é diferente porque eu te amo. Agora eu sou o seu primeiro. Eu não acho que eu poderia ter ferrado isso mais do que eu já tenho. — Lamento por eu não deixar um garoto de fraternidade me montar antes de eu chegar aqui, — murmurei acaloradamente. — Isso não é engraçado, — disse ele. — Eu não estou rindo. Seus olhos se voltaram para o teto e sua voz sumiu. — Eu adverti a mim mesmo que isso poderia acontecer se nós estávamos sozinhos por muito tempo. Definitivamente me estabeleci a falhar desta vez. — Você está agindo como se fosse o único lá a tomar a decisão. Até onde eu me lembro, eu estava participando de toda a coisa também. Cameron, eu queria isso. Eu fiz a minha própria escolha há muito tempo. — Meus olhos estavam lacrimejando. — Emmy, eu estou preocupado que não seremos capazes de voltar para o modo como as coisas costumavam ser. — Boa. — Você está sendo impossível sobre isso, — argumentou. — Por que eu ia querer que as coisas voltassem a ser como eram? Até alguns minutos atrás, eu estava sorrindo tanto que os músculos das minhas bochechas estavam queimando. — Quando olhei para longe, uma gota caiu dos meus olhos.

Julie Hockley

Cameron

envolvia-me

em

seus

braços

nus. —

Eu

sinto

muito. Eu arruinei completamente o momento, como de costume. Eu só não sei como consertar isso. — Você pode começar por não falar mais sobre isso. — Não, quero dizer, eu não sei o que vamos fazer quando tivermos que voltar. Não podemos ficar escondidos aqui para sempre. Eu lutei fora de seus braços e olhei para ele. — Por que você pensa tanto? Você não pode simplesmente desligar o seu cérebro, mesmo que seja por pouco tempo? Em mim isso funciona o tempo todo. Ele riu. — Eu não acho que posso fazer isso. Meu cérebro teve muitos anos de prática de malabarismo constante. Me inclinei para ele e o beijei na bochecha. — Que tal agora? Ainda malabarismos? Seus olhos me sufocaram. — Ainda manipulando a mil por hora. Eu o beijei nos lábios. — E agora? — Uh-huh, — disse ele, sua voz ligeiramente rouca. Dei de ombros e comecei a me levantar. Ele havia me abordado de volta para a cama antes de meus dedos tocarem o chão. Seja qual for o dilema que crescia dentro dele, ficou deixado de lado, por um tempo. Eu estava grata por isso, mesmo que seja por pouco tempo.

Julie Hockley

No final da manhã, Cameron, a contragosto, levantou-se para deixar Meatball impaciente sair. Seu celular começou a tocar assim que ele voltou para a cama. Ele se aninhou perto de mim e suspirou. Depois de um minuto de toque incessante, o telefone ficou em silêncio. Em seguida, o toque começou novamente. Cameron não se mexeu. — Umm, você não vai atender? — Perguntei. — Não, — ele disse, sonolento. O toque parou... e recomeçou novamente alguns minutos depois. Ele bufou, chicoteou os cobertores fora do caminho aborrecido, e pisou na direção de seus jeans. Cavou o celular, olhou, e jogou-o de volta no bolso e voltou para a cama, fechando os olhos. Esperei. Nem uma palavra dele. O suspense estava me matando. — Você não tem que ligar de volta? — Eu desliguei, assim, isso vai parar de nos incomodar, — disse. — Você não vai ficar em apuros por fazer isso? — Perguntei ingenuamente, evitando a pergunta real. — Eu sou o chefe, lembra? Se eu não quero atender ao telefone, eu não preciso. — Oh, — eu disse, desapontada.

Julie Hockley

Cameron riu e finalmente apagou minha curiosidade. — Era Spider, não é grande coisa. O que quer que esteja acontecendo, ele vai ter que lidar com isso sozinho. — Onde ele está? — Não sei. Em algum lugar com Carly, suponho. Estão fazendo a mesma coisa que nós, — explicou. Eu levantei minhas sobrancelhas e ele corou. — Isso não. Eu quis dizer que eles estão escondendo-se também. Todo mundo está. Temos um rato na gangue. Ninguém está seguro até descobrimos quem é o traidor. — O que faz você pensar que alguém o traiu? — Alguém disse a Shield onde você estava, quando fomos para a cidade, e que metade dos nossos guardas estava fora de serviço por causa da gripe. Foi tudo um pouco demasiado conveniente para ele decidir atacar naquela noite. Alguém de dentro avisou. — Você tem dúvidas sobre Spider e Carly, — disse com naturalidade. — Não, claro que não. — Cameron parecia confuso. — Por que você diria isso? — Eles estão se escondendo de nós, e estamos nos escondendo deles. Por que precisamos nos esconder deles, a menos que você suspeite deles, ou eles suspeitam de você? Suas bochechas ficaram um vermelho profundo. — Eu estava procurando uma desculpa para ficar sozinho com você, por uma vez. Esta foi a melhor desculpa que consegui. Eu disse a Spider que você precisava de algum tempo para recuperar-se.

Julie Hockley

— Ele acreditou! Ele sorriu timidamente. — Nem um pouco, mas eu não estava pedindo a permissão dele também. Pensei no que Frances tinha me dito sobre Spider tentando assumir os negócios após o meu irmão morrer. — Você gosta de ser o chefe? Ele me olhou com curiosidade. — Eu não sei. Realmente nunca pensei sobre isso. — Ele ponderou por um momento, e então disse — Na maioria das vezes, é apenas um incômodo. Todo mundo quer que você faça todas as decisões para que eles tenham alguém para culpar se algo der errado. — Por que Spider apenas não toma as decisões, então? — Eu gostaria que ele o fizesse. Ele fez por um tempo, depois que Bill morreu. Mas os chefes decidiram que eu estava indo para gerenciar tudo, e nós tivemos que ir com o que eles queriam. Se eles não

gostam

ou

não

confiam

no

grande

chefe,

tudo cai muito

rapidamente e as guerras territoriais começam de novo. — Cameron estava rolando uma mecha do meu cabelo em torno de seu dedo. — Não importa muito, porque Spider não quer ser o grande chefe de qualquer maneira. — Me parece que ele gostaria de ter o poder, — eu murmurei. — Você está sob um escrutínio muito maior quando você é o chefe, — disse. — Qualquer decisão que você toma é feita para o bem dos negócios, não importa o quê. Você não pode ter quaisquer deficiências que possam afetar a sua capacidade para gerir os negócios e tomar as decisões certas. Para alguns chefes, são coisas como drogas, vícios ou jogos de azar. Para Spider, é Carly. Ele sabe que Carly é a sua fraqueza, se ele tivesse que escolher, ele iria colocá-la antes do

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negócio, o que seria ruim para todos nós. Os patrões só se preocupam com o dinheiro que vai para seus bolsos. Qualquer coisa que ameace a sua linha de fundos será morto e substituído. Desviei o olhar e perguntei: — Seu relacionamento com Manny não iria colocá-lo em risco de tomar decisões ruins? Ele riu da falta de tato da minha insinuação. — Se ela tivesse significado algo para mim, e se os chefes tivessem descoberto, então poderia ter sido um problema. Mas nada disso aconteceu. E nunca será. Os líderes não se importam com o que você faz no seu tempo livre, desde que isso não afete seu juízo. — Você já teve alguma fraqueza, então? — Não. Nunca. E eu não planejo isso, — disse friamente. Eu olhei para ele em choque. Ele riu e me puxou para os seus braços. —

Meu

vício

é

definitivamente

por

você,

uma

fraqueza

catastrófica, — ele disse suavemente. — Oh céus! O que você vai fazer? Seu rosto ficou triste por um segundo. — Eu ainda não descobri essa parte. — Com um sorriso, ele acrescentou, — Agora eu estou planejando apenas mantê-la aqui como minha prisioneira. Vamos fingir que o resto do mundo não existe e que ninguém se importa que eu te ame. Meu coração se agitou. Isso soou como o melhor plano que eu já tinha ouvido. — Então, Sherlock, você tem algum suspeito em mente como potenciais traidores?

Julie Hockley

— Poderia ser qualquer um. Temos um grande número de pessoas que trabalham para nós. Uma pessoa suspeita veio à minha mente. — E Roach? — Sem chance. — Você parece muito seguro sobre isso. Cameron se mexeu desconfortavelmente. — Acha que eu iria deixá-lo viver depois do que ele fez com você? — Perguntou com a voz amarga que eu odiava. — Ele sumiu antes que pudesse nos trair. Fiquei surpresa. Não era que eu estava triste ao saber que havia um maníaco a menos como Roach rondando a terra, mas eu estava chocada que alguém tinha perdido sua vida por causa de mim. — Cameron, você pode tentar não matar ninguém mais em meu nome? Ninguém vai querer sequer chegar perto de mim mais, se eles acham que um olhar errado na minha direção irá levá-los à sepultura. — Bem. Ninguém deve chegar perto de você de qualquer maneira, — disse ele e me olhou atentamente. — Ele estava morto, não importa o que, Emmy. Eu não posso ter um animal como aquele pendurado em torno da minha equipe. Ele era muito descontrolado. Ele afastou meu cabelo de lado e começou a beijar meu pescoço. Eu estava um pouco sem fôlego. — Como é fazer o que você faz? — perguntei. — O que quer dizer? — perguntou, com sua voz de veludo. — Me refiro a ter que tomar decisões como você fez para Roach e ter que agir como uma pessoa diferente.

Julie Hockley

— Eu não sei. Suponho que eu venho fazendo isso há tanto tempo que eu realmente não noto a diferença, — seu interesse foi despertado. — Como eu ajo? — Você é apenas diferente. Você não sorri, você não ri; você se torna distante e às vezes você é, bem, assustador. — Meu rosto ficou vermelho. Sua testa ficou franzida. — Eu esqueço às vezes, que o que eu faço é assustador para as pessoas normais como você. — Nunca ouvi ninguém chamar-me de normal. Aparentemente, eu estava condenada a ser anormal no mundo de todos. Ele riu, sem graça, então me olhou. — Você está com medo de mim agora? Olhei em seus olhos castanhos. Meu rosto ainda estava queimando, meus dedos ainda estavam formigando, e meu coração ainda não tinha recuperado seu ritmo normal, desde que eu o tinha atacado

naquela

noite. —

Estou

apavorada,



respondi

com

sinceridade. Ele sorriu.

Quando saí do banho, ele estava sentado na mesa da cozinha, envolvido em uma papelada espalhada na frente dele e murmurando em seu telefone. Eu comi o meu cereal e ouvi enquanto ele ditava números para a voz de Spider. — Quarenta, dez, oitenta... — Estes não pareciam grandes

números,

mas

eu

esperava

que

vários

zeros

provavelmente seguia os dígitos.

Julie Hockley

Cameron sorriu quando ele me pegou espiando seus papéis. Eu não podia entender qualquer coisa de qualquer maneira. Achei estranho que eles teriam qualquer tipo de registros. Eu não sabia muito sobre empresas criminosas, mas eu tinha visto o suficiente de televisão para saber que deixar qualquer tipo de evidência para trás era uma péssima ideia. — Você não tem medo de que esses papéis possam cair em mãos erradas? — Perguntei quando ele finalmente saiu do telefone. Ele deslizou os papéis sobre a mesa para mim. — Aqui. Você pode olhar se quiser. Embora os papéis estivessem agora bem na minha frente, eu ainda não poderia ver

nada. Tudo

o que eu podia

ver eram

desordenadas letras, números e símbolos, nada que fizesse sentido. — Temos um sistema de criptografia, — ele explicou. — Foi ideia de Carly. Cada letra, símbolo, significa outra coisa. — Eventualmente, alguém não pode descobrir se você lhe der tempo suficiente? Como o FBI? Ele encolheu os ombros. — Claro que sim. Mas nós tomamos precauções extras, como mudar o significado dos códigos a cada duas semanas e só escrever o que é absolutamente preciso. Uma vez que terminamos com a papelada, nós destruímos imediatamente. — Então, como você mantém o controle de tudo, se você não mantém nenhum registro? Ele sorriu maliciosamente e bateu na cabeça dele com um dedo. — Eu tenho tudo o que preciso aqui. Um sorriso de Cameron, e eu já tinha esquecido o que eu tinha comido no café da manhã alguns segundos atrás.

Julie Hockley

Eu empurrei os papéis de volta sobre a mesa. — Suponho que está de volta ao trabalho hoje. — Eu nem estava tentando mascarar a tristeza na minha voz. — Se eu não trabalhar um pouco, Spider vai ter um ataque cardíaco. — Você teve problemas por faltar, — provoquei. — Sim, Spider estava muito irritado. Ele achou que algo tinha acontecido com a gente. — sorriu. — Mas eu simplesmente culpei você, então estamos bem. — Obrigada. Sem TV e nenhum lugar para ir, eu me perguntava o que eu ia fazer para ocupar meu tempo. Ocorreu-me que eu teria de ficar sozinha, que de repente me fez hiperventilar. — Quanto tempo você vai ficar fora desta vez? — Minha voz ligeiramente rouca, mas eu estava tentando manter a calma e ser corajosa pelo amor a Cameron. — Um dia, se sairmos nos próximos cinco minutos. — Nós? — Eu não vou te deixar aqui sozinha. Você está vindo comigo. — Onde estamos indo? — Eu tenho que ir ver um dos meus distribuidores e verificar a nova remessa. — Traficantes de drogas? — De repente, o pensamento de ficar sozinha por um dia parecia ser uma alternativa melhor.

Julie Hockley

— Distribuidores, — corrigiu. — Cameron, eu não acho que é uma boa ideia. Eu estava quase adicionando, que eu não era como ele, mas já tínhamos estabelecido isso, mais de uma vez. — Eu não tenho escolha. Eu não sei quanto tempo vai demorar até que as coisas se acalmem. Os negócios não podem esperar mais, — disse ele. — O que eu tenho que fazer? — Tem que dar medo, como eu, por um dia. — Ele parecia satisfeito consigo mesmo com o pensamento de nossa inversão de papéis. — Eu não acho que poderia fazer. — Na verdade, você já é muito boa com isso, — disse tristemente. — Finja que eu estou de pé na sua frente depois de ouvirme dizer à Manny que eu não te amo, porque essa reação foi bastante assustadora..., exceto, sem chorar... E não comece a arrancar suas roupas apenas para provar seu ponto. Eu não acho que vai ter o mesmo efeito sobre eles. Corei ao me lembrar daquela noite. — Eu estava febril. Não era eu mesma. — Certo. — Eu pensei que eu o vi revirar os olhos quando ele se virou para guardar os papéis. — É melhor você se vestir. Nós precisamos ir se queremos estar de volta em um tempo decente, — ele me disse.

Julie Hockley

Eu estava vestindo shorts e uma blusa. — Eu me esqueci de trazer o meu vestido de cocktail. Eu não sabia que traficantes de drogas eram tão formais. — Distribuidores, — corrigiu novamente. — Você vai ficar com frio, se não trocar de roupa. Era o início de agosto. Mesmo que ainda estivesse no início da manhã, a casa já se encontrava aquecida dos raios do sol. Ele se dirigiu à minha mochila e agarrou o par de jeans que estava em cima. Quando ele puxou para fora, eles desenrolaram e caiu meu livro, e meu filme Rumble Fish, e a carta que havia escrito. Peguei o jeans e ele pegou a carta. Enquanto eu observava ansiosamente, ele cuidadosamente desdobrou, e leu e releu. Então ele dobrou o papel várias vezes até que era do tamanho de um cartão de crédito, deslizou no bolso da frente da calça jeans, e tomou posse dela. Quando ele voltou sua atenção para mim, seu sorriso era perturbado, mas genuíno. Saímos juntos. Do lado de fora, o sorriso de Cameron virou suspeito. E só crescia à medida que comecei a caminhar em direção à Audi. — Nós não vamos de carro, — ele finalmente anunciou quando eu puxei a maçaneta do carro. Ele me entregou uma mochila e caminhou até o barracão que ficava ao lado da casa de campo. Abriu a porta; meu coração mergulhou.

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Cameron manobrou a moto Ninja, verde, de corrida fluorescente fora do galpão. Eu olhava com medo, quieta, enquanto as estatísticas para acidentes de moto corriam através do meu cérebro. Cameron entrou de novo para o barracão e voltou com um saco plástico. Ele remexeu dentro dele, e tirou uma placa falsa que estava com uma carteira de habilitação. — Então, quem é você hoje? — provoquei, embora meu cérebro estivesse agora em dados estatísticos para acidentes de moto fatais. Peguei a habilitação enquanto ele prendia a placa na parte traseira da moto. — Melvin Longhorn de Nova York, — anunciei. — Combina com você. Cameron riu e continuou a preparar tudo para a viagem. Ele me entregou um capacete preto do tamanho da cabeça de uma criança. — É o capacete que eu usava quando eu tinha minha primeira moto. Deve caber na sua pequena cabeça. — Lembre-me, novamente, por que nós não estamos indo de carro? — Nunca uso qualquer coisa que possa ser rastreada de volta para mim quando estou trabalhando. Você nunca sabe quem está

Julie Hockley

olhando. Além disso, — ele disse com um sorriso cheio de dentes, — isso é muito mais divertido. Diversão não era uma das palavras que rondava por minha mente. Eu

apertei

a

minha

cabeça

dentro

do

capacete. Minhas

bochechas estavam comprimidas tanto que meus lábios foram forçados a uma boquinha de peixe. Cameron riu e aproveitou meu estado incapacitado para dar um tapinha no meu capacete e roubar um beijo. — Este é o último por um tempo, — ele me lembrou. Eu teria assentido ou rosnado, mas eu estava com medo que o pesado capacete me derrubasse fora de equilíbrio. Ele subiu na moto, e eu, com extrema inépcia, subi por trás dele. Nós fomos pelo caminho de cascalho, deixando Meatball comer seu café da manhã na varanda. Eu mantive meus olhos fechados, enquanto a poeira batia no meu rosto. Não parou até que nós alcançamos a estrada livre do solo batido e eu ainda estava sentido as pequenas

batidas,

até

que

eu

percebi

que

a

poeira

era

na

verdade mosquitos, fazendo como um camicase contra a minha pele exposta. Eu fiz questão de manter a boca fechada depois disso. Cameron, habilmente, tecida dentro e fora do tráfego. Em algum momento, ele reclamou que não conseguia respirar. E eu fui forçada a relaxar o meu aperto de morte em torno de seu torso. Eu mesma, eventualmente, abri os olhos e vi como a paisagem passava em frente a meus olhos rapidamente. Conduzimos pela periferia da cidade e tomamos o caminho por uma estrada de terra que serpenteava o rio Callister. O rio divide o estado de Nova York a partir da província de Ontário, servindo como

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uma fronteira natural entre os Estados Unidos e Canadá. Ainda que das montanhas Canadenses corresse água doce, havia no rio, em sua maior parte, originária com água salgada do Atlântico que derramou dentro em sua bacia. Devido à sua proximidade com o oceano e sua profundidade praticamente sem fundo, o rio estava quase sempre congestionado com escunas comerciais que navegavam de uma margem do país para outro sem ter que dar a volta no oceano. Pouco a pouco, os bosques se transformaram em campos de milho e campos agrícolas. Havia algo emocionante sobre estar exposta e aberta aos elementos, e sobre eu segurando Cameron com todas minhas forças. Depois de um par de horas, Cameron se virou para uma estrada de fazenda. Meus quadris, pernas e braços estavam começando a ter cãibra e eu tive que fechar meus olhos quando os caminhos de milho, hipnoticamente, chicoteavam por nós. Quando finalmente ele parou e eu abri meus olhos novamente, e o que eu vi não era o que eu esperava ver. Lá, no meio do campo, havia um celeiro de madeira inclinado... e nada mais. Não havia cercas elétricas de cinco metros de altura, com metralhadoras, ou homens ou cachorros — apenas um velho celeiro, grande o suficiente para caber um trator. E havia uma grande quantidade de milho em torno de nós. A minha primeira experiência com o mundo da droga era, até agora, extremamente decepcionante. Quase cai de cara, quando desci da moto e tentei colocar o meu peso sobre as pernas congeladas. — Pronta? — Cameron sussurrou ansiosamente. Eu não tinha certeza se ele estava verificando comigo ou com ele mesmo. Eu arranquei o capacete da minha cabeça — era como aspirar um morango com uma palha — lutei para colocar as mechas que escaparam de volta para o meu rabo de cavalo.

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— Deixe seu cabelo solto, — ele ordenou. — Eu odeio meu cabelo solto, — gemi. — Esse é o ponto. Fará que saia da sua zona de conforto. Vai fazer você olhar as coisas de forma diferente. Como a maioria das coisas, o que ele disse não fazia sentido para mim. Eu não acho que agora era o momento certo para discutir com Cameron sobre as minhas inseguranças foliculares. Obedeci de má vontade e puxei meu cabelo com as marcas do capacete fora da sua zona de conforto. Cameron me inspecionou rapidamente mais uma vez. Definitivamente pensei ter visto um sorriso escondido em seus olhos e eu não pude evitar, mas senti como se eu tivesse sido enganada. Com um aceno de cabeça, ele indicou que era a hora. Eu vi seu rosto habilmente se transformar em pedra. Ele se afastou de mim como se eu já não existisse. Mesmo que eu soubesse que isso era apenas uma atuação de sua atitude me doeu. Cameron, com calma, caminhou em direção ao celeiro, e eu não tão calmamente segui, não tão de perto, por trás dele. Ele abriu a porta do celeiro, e uma sombra escura se moveu lá dentro. Ansiosamente meus olhos tentaram ajustar-se ao celeiro escuro assim que entramos através da porta. — Gengibre! Meu coração pulou. A voz que havia me chamado assim, eu tinha assumido que... Nunca ouviria novamente. — Deus, você é um colírio para os olhos, — me disse. Finalmente pude ver Griff; ele tinha saltado para fora da mesa em que estava sentado e sorriu de orelha a orelha, enquanto marchava em direção a mim, ignorando Cameron.

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Cameron virou-se para olhar para mim apenas quando Griff passou por ele. A partir do olhar ácido em seu rosto, eu sabia que ele estava extremamente ciumento, e avisando-me para ficar em meu personagem. Com extrema dificuldade, olhei para longe de Griff e mantive o passo movendo-me com Cameron. Foi doloroso assistir o estremecer no rosto de Griff, o meu desprezo. — Abra a escotilha, — Cameron ordenou-lhe, impaciente. — Sim, senhor, — Griff amargamente obedecia. Ele caminhou até um fardo de feno que foi vagamente espalhado no meio do piso de tábuas de madeira e moveu para o lado, revelando uma porta quadrada no meio do piso. Ele puxou as cordas expostas na escotilha e ela se abriu. Dentro havia escadas que levavam para baixo do buraco descoberto para outro buraco escuro sob o assoalho. Cameron caminhou ao lado de Griff e começou a descer as escadas. Griff,

desconfortavelmente,

hesitou

deslocado,

pensando. Quando ele decidiu, ele falou diretamente com Cameron. — Eu ouvi o que aconteceu com seu irmão, — disse suavemente, genuinamente. — Sinto muito pela sua perda. Ele era um grande garoto. — Obrigado. — Cameron parecia quase surpreso, mas sua voz ainda áspera não o traiu. Segui, descendo as escadas, e esperei até que eu tinha certeza que estava fora de vista, antes de virar rapidamente para Griff. Sorri para ele, só por um momento. O efeito foi instantâneo, Griff, rapidamente, se iluminou. Ele entendeu o jogo.

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A escotilha foi fechada acima de nós, e nós caminhamos através de uma porta que tinha sido esculpida no chão. Tábuas do celeiro acima foram logo substituídos por rocha e sujeira, assim que entramos ainda mais na caverna. A poucos passos à frente havia uma porta de aço inoxidável. Cameron pressionou o botão amarelo próximo a ele, e esperamos em silêncio. Um milhão de perguntas aceleravam pela minha cabeça. A maioria das quais envolvia o novo local de trabalho de Griff. Com cada polegada

do

meu

autocontrole,

eu

resisti

à

vontade

de

perguntar qualquer coisa. Cameron pigarreou para ter minha atenção, como se ele pudesse sentir o meu desgaste na compostura, e seus olhos castanhos rapidamente miraram acima. Havia globos de vidro acima de nós com câmeras de monitoramento de um lugar a outro. Estávamos sendo observados. A porta, finalmente, se abriu para revelar um elevador transparente. Entramos e imediatamente começamos a descer cada vez mais. Meus ouvidos tamparam, devido a crescente pressão. Eu tive que engolir várias vezes para evitar que a pressão que estava empurrando contra o meu crânio não forçasse o meu cérebro a sair pelo nariz. Quando a porta do elevador se abriu, dois homens se levantaram para

nos

cumprimentar. O

homem

na

frente

era

alto

e

robusto. Suponho que estava em media de trinta anos, devido às rugas que começavam a adornar sua pele cor de oliva. Seu semblante era obscuro. Seu cabelo negro e sombrio só resaltavam sua severidade. O homem que estava atrás dele era mais velho. Apesar de ter características semelhantes era poucos centímetros mais baixo e seu rosto

era

desgastado. Exceto

pelos

poucos

fios

negros

que

permaneceram em sua cabeça, seu cabelo estava acinzentado e caía em seus ombros, como palha morta. Seus olhos cansados brilhavam — e

Julie Hockley

ele olhou para mim, sem desviar, a partir do momento em que saímos do elevador. — Novo guarda-costas? — Disse o jovem com uma careta. Cameron não recuou. — Eu trouxe minha contadora. Eu quase engasguei e esperava com cada fibra do meu ser, que eu não seria convidada a testar minhas habilidades matemáticas de ficção. — Antes não havia a necessidade de trazer um contador. Por que agora? — O jovem continuou a sondar. — As coisas mudam, — Expressou Cameron claramente. E então, em um tom sombrio, ele disse — Eu sou um homem ocupado, Hawk. Se você não quer falar de negócios, eu vou ter o meu negócio em outro lugar. Eu não gosto de perder meu tempo. Enquanto Cameron e Hawk se encaravam, o homem mais velho continuou a olhar fixamente para mim, como se ele estivesse esperando que eu cometesse um erro. Eu estava tentando ignorar seu olhar e manter meu rosto tenso e sem expressão. Mas eu podia sentir o canto da minha boca começando a se contorcer como os músculos do meu rosto, que estavam lentamente se rendendo. Eu não tinha ideia de que ser propositadamente tensa dava tanto trabalho. Finalmente, Hawk assentiu vacilante e girou indicando que seguíssemos a ele, e seu companheiro mais velho. Ele nos levou através de um túnel de mármore branco e devido à estreiteza do túnel, Cameron e eu fomos forçados a caminhar ombro a ombro, o que tornou ainda mais difícil para eu negligenciar a ele. Eu me concentrei em olhar para frente. A diferença desse túnel, ao contrário da caverna, era de que o túnel sinuoso era brilhante, limpo e adaptado com lanternas de prata

Julie Hockley

nas paredes e câmeras de aparência cara no teto. A cada metro, passávamos lado a lado, desajeitadamente, por guardas armados que me olhavam de cima a baixo. Hawk e o velho continuaram a andar na nossa frente. Eu podia ouvir as suas vozes ecoando, quando eles começaram a conversar em francês. Embora o dialeto dos homens definitivamente fosse muito refinado, com um pouco de concentração, eu pude entender a maioria do que eles estavam dizendo. Minha mãe tinha crescido em Marselha na França e era, sem nenhuma dúvida, uma orgulhosa mulher francesa. Das poucas memórias de infância que tive da minha mãe, quase todas elas incluiu-a corrigir o meu francês. De repente, consciente de que eu havia estado intensamente olhando para a parte de trás da cabeça dos homens, desviei meus olhos,

assim

quando

Hawk

ansiosamente

olhou

para

trás. Ele

felizmente não percebeu, ou pelo menos eu não acho que ele tinha. Ele se virou para seu parceiro, enquanto eu continuava a escutar com os olhos nos meus pés. — Por que diabos eles trazem uma garota como essa aqui? — Hawk exclamou em francês para o velho, — Os corvos estão escondendo alguma coisa, Papa. Eu posso sentir isso. — Eu não sei sobre o rapaz, mas acho que você está certo sobre a

garota. Ela,

sem

dúvida,

está

escondendo

alguma

coisa,



resmungou o velho. — Como o quê? — Hawk perguntou nervosamente. — Eu não tenho certeza ainda, mas eu sinto algo estranho nela. — Você acha que ela poderia nos prejudicar?

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— Quanto dano poderia uma jovem fazer? — O velho disse pensativo, como se estivesse falando para si mesmo, em vez de seu parceiro. — Eu não sei. Há, definitivamente, algo de estranho com ela, — o jovem continuou. — Há algo estranho com todos os corvos, filho, — disse o velho. Ele riu com a voz rouca. — Pelo menos a garota é mais simpática para os olhos do que o corvo careca desagradável que eles chamam de Spider. Hawk gemeu em aborrecimento e se perguntou — O que devemos fazer? O velho fez uma pausa antes de responder. — Chame os guardas. Diga-lhes para estar em alerta máximo. Vamos ver aonde isso vai. Hawk sacou seu rádio, e sua voz inquieta reverberou dentro do túnel de mármore através do rádio que estavam no coldre nos cintos dos guardas pelo túnel. Enquanto eu estava começando a ficar nervosa, Cameron manteve-se inalterado. Eu duvidava que ele tivesse entendido qualquer palavra da discussão dos homens e desejava que eu pudesse avisá-lo. Mas eu sabia que se eu o a divertisse, os homens facilmente ouviriam. Eu fiquei em silêncio, por enquanto. Um cheiro forte começou a infiltrar-se do túnel. No momento em que

tínhamos

chegado

ao

fim,

o

mau

cheiro

era

insuportável. Compreendi o odor quando saímos da passagem e em uma grande estufa. Lâmpadas fluorescentes estavam penduradas abaixo do teto, agindo como luz solar artificial para as plantas ilegais. Pessoas em jalecos brancos estavam se movendo sobre o local. Alinhados contra as paredes havia mais guardas armados, os quais estavam olhando na nossa direção, agora em alerta máximo.

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Cameron e Hawk reuniram-se e caminharam à frente entre as mesas, enquanto o velho se juntou a mim por trás. Cameron inspecionou as plantas e as reprovou. Sua cor, seu tamanho e sua qualidade foram, aparentemente, não adequados. Isto, naturalmente, provocou um alvoroço a Hawk, e os dois homens de negócios começaram a discutir sobre a qualidade adequada das plantas. Enquanto eu prestava a atenção na discussão, eu podia sentir o velho estudando cada movimento meu. Foi quando eu percebi que, em uma resposta inconsciente do odor desagradável, meu rosto tinha recuado em uma careta. Eu o corrigi, imediatamente, mas não antes que o velho tivesse notado e sorriu para a sua detecção de minha repulsão. Eu estava começando a sentir-me doente do cheiro das plantas. Eventualmente, Cameron e Hawk foram capazes de concordar com um preço que nenhum parecia satisfeito. Fiquei muito feliz quando nós continuamos a caminhar. O velho tinha voltado a se unir com Hawk à frente, e Cameron estava de volta ao meu lado, continuando a ignorar-me artisticamente. Hawk voltou-se para o velho, seu rosto estava vermelho e suando. — Isso é um insulto... Como ele ousa atacar a qualidade do nosso trabalho? Temos crescido a qualidade da planta por gerações, muito antes desse garoto nascer. O velho estava calmo. — Você sabe tão bem quanto eu que é uma colheita ruim. O menino é inteligente, e um bom homem de negócios. Você não deve ser tão severo com ele por fazer o seu trabalho. Hawk bufou. — Bem, seja qual forem suas razões, eu vou me certificar de dar-lhe a pior de todas as plantas. Talvez da próxima vez ele vá pensar duas vezes antes de nos insultar.

Julie Hockley

O velho, rapidamente, espreitou para trás e me pegou olhando para ele. Desviei meu olhar e senti minhas bochechas queimando. Ele apenas sorriu e continuou andando. Passamos por intermináveis mesas com plantas e nos dirigimos para outro túnel de mármore. Grandes ventiladores traziam ar fresco sobre nossas cabeças. Eu, alegremente, respirei fundo vária vezes. Eu podia ver a boca do velho se movendo, mas não podia ouvir o que diziam, pois o ruído dos ventiladores era alto. Esta foi a oportunidade que eu estava esperando. Eu esperei até que tinha certeza de que eles não estavam observando, em seguida, me virei para Cameron com urgência, sem saber quanto tempo eu teria antes que eles notassem nossa conversa. — Eles acham que eu estou escondendo alguma coisa...

Não

confiam em nós... Eles colocaram os guardas em alerta máximo... Você está certo, a Planta é ruim... O cara Hawk está pensando em dar-lhe todas as piores plantas... Oh e, por que eles continuam chamando você de corvo? — Eu terminei, sem fôlego. Cameron primeiro olhou para mim com espanto, e então seu rosto logo se transformou em fúria. Ele me empurrou para trás dele tão rapidamente, tão ferozmente que quase cai no chão. Hawk veio a passos largos em minha direção, olhou furioso, sua raiva igual à de Cameron. — Que jogo você está jogando? Você trouxe a garota para que você pudesse nos espionar? — Hawk gritou. Eu tinha sido levada a pensar que eles não podiam me ouvir. Hawk e o velho já tinham ouvido tudo. Cameron empurrou Hawk afastando, e parecia que ele estava pronto para matá-lo. — Afaste-se. Agora. — Sua voz era aguda, não deixando nenhuma dúvida de que ele o mataria se chegasse mais perto.

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O velho se colocou entre os dois rapazes e os exortou a se acalmar. Ele então se virou para mim com um sorriso animado. — Eu sabia que conhecia esses olhos verdes, — disse ele em francês. — Você parecia entender o que estávamos dizendo, mas eu tinha que ter certeza. Não há muitas pessoas nessa parte que falam francês. Seu irmão Billy era o único que eu conhecia fora da minha gangue. O velho começou a se mover em direção a mim, mas Cameron tentou barra-lo e olhou para mim em confusão absoluta em seu rosto. Eu traduzi com pressa. — Ele sabe que eu sou a irmã de Bill. — Essa foi a essência do que ele disse de qualquer maneira. Cameron continuou firme, olhando de mim para o velho, tentando descobrir o que fazer. Na minha mente, havia apenas duas opções: lutar com um exército de guardas armados e tentar escapar sem muitos ferimentos de bala, ou deixar que o velho indefeso se aproxime de mim. Decidi por nós dois, eu segurei o olhar de Cameron e puxei seu braço para baixo. Ele deixou com grande relutância. O velho alegremente enrolou seus braços em volta dos meus ombros, Cameron se encolheu quando ele fez isso. — Nas lendas tribais Manuuk, o “corvo” — explicou em francês à medida que avançamos alguns passos à frente de Cameron e Hawk, e continuou nosso caminho pelo túnel ventilado, — dizem que são espíritos de grande poder que se movem entre os mundos dos vivos e dos mortos. São criaturas altamente inteligentes. Aprendem e adaptarse rapidamente. — Os Corvos também são gananciosos e complicados, — acrescentou amargamente Hawk, em Inglês para o benefício de Cameron. A frase foi perdida em Cameron, única parte da conversa que ele tinha entendido.

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— Sim, os corvos são travessos, eles gostam de pregar peças em nós, mas eles também são extremamente leais à sua espécie. Quando um corvo está lutando, ele vai buscar sua espécie para sobreviver. Eles cuidam um do outro como uma família, laços de sangue ou não. Seu irmão e este, — disse ele apontando para um Cameron alheio, — Eram muito parecidos com os corvos das lendas da minha tribo quando eu os conheci. Chegamos a outro elevador, e nós quatro nos esprememos. Hawk puxou a grade do elevador e fechou. — Eu sou Emily, — soltei. Pelo olhar no rosto de Cameron quando eu disse isso, eu pensei que seus olhos fossem pular fora de sua pele. — Seu irmão te chamava de Emmy, sim? — Perguntou o velho, seus olhos curiosos persistentes. Eu percebi que não seria capaz de mentir para ele, então eu escolhi não fazer isso. — Quando eu era jovem. — E você não é mais jovem, — disse. Isso foi engraçado para ele. — Eu sou Jerry, mas pode chamar-me Pops. O motor do elevador zumbia. Pops ainda tinha o braço enrolado em mim. Ele acariciou minha mão como se ele pudesse sentir meu coração batendo a mil por hora. Sua pele era fria e elástica, e eu podia sentir o cheiro do tabaco de cachimbo fora de sua roupa. Eu normalmente não gostava de ser tocada por homens velhos estranhos. Mas eu decidi que eu gostava dele, mesmo que ele fosse um traficante de drogas... distribuidor. Nós saímos do elevador em uma gruta escura. As paredes de pedra e o teto estavam brilhando com água pingando, e um fluxo de

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água fluía junto a uma das paredes através de um buraco, de um lado da caverna para o outro. O local era mal iluminado por lanternas que foram desajeitadamente penduradas nas paredes. Eu não conseguia ver meus pés na escuridão e tive que confiar o velho para me guiar para um pequeno banco que estava ao lado do córrego fluindo. Nós sentamos, enquanto

Cameron

e

Hawk,

silenciosamente,

ficaram

atrás

de

nós. Homens com armas contra as paredes completavam a cena. Nós esperamos. Por que, eu não sabia. — Fiquei muito triste quando ouvi que seu irmão tinha falecido. Ele era um bom garoto. Jovem demais para morrer. — Pops foi sincero. — Obrigada, — disse em Inglês. A água borbulhava. Estava muito escuro, eu não podia ver, então, eu me inclinei para olhar melhor. Um peixe grande de repente veio à superfície, e eu gritei, quase caindo do banco. Cameron me pegou antes que eu batesse o meu crânio no chão de pedra. Todos riram menos eu. Cameron riu, entre dentes, só um pouco. Os homens, rapidamente, se puseram a trabalhar enquanto mais peixes apareceram na superfície. Pops e eu observamos do lado de fora. Um por um, os peixes grandes como baleias foram retirados da água pelos guardas e eviscerados, tripas em formas de sacos de plástico caíram do seu interior. — Parecem reais, Não é? — Pops disse com orgulho. Eu balancei a cabeça, ainda em choque. — Eles são robôs cobertos de látex, — explicou. — De onde eles vêm? — De todas as partes, barcos, submarinos, Estados vizinhos, Canadá. Este lote veio de um barco alemão duas milhas da costa oeste.

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— Você não tem medo de que eles se percam? Ou que os pesquem? — Ainda não aconteceu. — Parecia se divertir com minhas perguntas. — Eles podem ser rastreados de volta para nós, de qualquer maneira. Uma

série

de

palavrões

interrompeu

entre

Hawk

e

Cameron. Eles tinham retomado a discussão anterior sobre o valor da mercadoria. Tive que tapar meus ouvidos quando os palavrões ricochetearam nas paredes de pedra. — Eles são sempre assim? — Eu perguntei em voz alta. — Isto é o mais educado que eu já tinha visto. Por este ponto, eu geralmente tenho que pedir-lhes para guardar suas armas ou ter um dos guardas para separá-los, — disse ele. — Ambos tão teimosos como mulas. Pops pegou Cameron nervosamente olhando para mim pela centésima vez. Eu rapidamente o distraí. — Como era meu irmão? Pelo sorriso em seu rosto, ele sabia que era uma distração, mas seguiu o ritmo da minha conversa de qualquer maneira. — Seu irmão era apenas um menino quando eu o conheci, — lembrou. — Um dia ele apareceu sem aviso prévio e pediu para falar comigo. A primeira coisa que ele me disse: você precisa mudar suas alianças. Eu não sabia o que fazer com aquele garoto. Ou ele era um tolo ou muito valente para vir aqui assim.

Decidi escutá-lo. O

garoto falava bem. Tinha um bom argumento. Ele me convenceu. E estamos fazendo negócios com este corvo desde então.

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Sorriu para esta visão de meu irmão. Aparentemente, seu charme também havia trabalhado bem em traficantes de drogas, não apenas nas calcinhas das meninas. A voz de Pops me trouxe de volta à realidade. — Este, por outro lado, — disse ele acenando com a cabeça na direção de Cameron, — era muito jovem. Muito jovem para estar neste negócio. Seu irmão confiava nele bastante. É um garoto inteligente, mas eu sempre pensei que era muito jovem para lidar com isso. Pops me olhou, como se estivesse à espera de um sinal de que esta parte do seu discurso tivesse importância para mim. Ele não precisou esperar muito tempo para me ver vacilar. Cameron olhou para mim novamente, e nossos olhos se encontraram por uma fração de segundo. Eu sinalizei que eu estava bem. Eu estava começando a reconhecer mudanças sutis no comportamento de Cameron, e ele estava definitivamente aborrecido comigo. Eu teria que lidar com isso mais tarde. Eu tinha peixe maior para fritar agora. Ele estava satisfeito pelo velho notar nossa comunicação silenciosamente. — Ele é um rapaz silencioso. Impossível de ler. Ele parece perdido, como se já estivesse no mundo espiritual. Nós não gostamos de fazer negócios com o corvo, que não têm qualquer raiz neste mundo, — reconheceu. — Mas ele é um bom homem de negócios e sempre foi justo para nós. Fico feliz em ver que ele é humano, afinal. — Seu sorriso dizia tudo. Eu não estava sendo ameaçada por Pops, mas isso não significava que eu queria falar com ele sobre o meu relacionamento com Cameron, inclusive tinha entendido algo sobre o nosso relacionamento. — O que tem nos sacos plásticos? — deixei escapar novamente.

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Pops não se ofendeu com meu atrevimento. — O que você acha que há neles? — perguntou com diversão. Ele não tinha sido enganado por minha ignorância fingida. — Drogas? — disse, dando outro olhar sobre os sacos de plástico com pílulas multicoloridas e pós. Ele não confirmou nem negou — O que você acha disso? Estou bem com isso, parecia ser a resposta adequada. A verdade é que, por mais que eu ame Cameron, o que ele fazia para viver me incomodava. Não diminuía meu amor por ele de forma alguma. Eu tinha sido capaz de manter essa pequena perturbação em um compartimento trancado dentro da minha cabeça. Mas eu encontrei-me incapaz de mentir a este completo estranho. — Parece horrível pensar que estas drogas podem acabar nas mãos de crianças, — tentei colocar minha opinião de forma amável. — Eu não vendo para crianças, — ele rapidamente respondeu, franzindo a testa. — Mas você não pode controlar o que acontece... O produto uma vez que sair daqui, — disse me desculpando. — Quero dizer, em algum momento, em alguma rua, vão oferecer as drogas a crianças. Pops cruzou os braços sobre o ventre e cruzou uma perna sobre a outra. — As crianças não decidem começar a usar drogas por que algum traficante que eles não conhecem oferece a eles na rua. São convencidos através da pressão dos pais, através da família e amigos. Você sabe, as crianças são mais propensas a começar

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vasculhando no gabinete de medicamentos de seus pais que não irá custar-lhes qualquer coisa. Soou um pouco ensaiado. Eu rapidamente percebi que Pops estava procurando discutir o tema com alguém de forma cordial. Eu não sabia se eu poderia responder. Desejei ter prestado mais atenção na minha aula de ciência políticas, quando o tema provavelmente foi debatido. — Sim, mas as drogas levam à violência, — argumentei. — A violência na mídia tem sido a principal causa da violência. Drogas ilegais podem levar as pessoas a fazer coisas ruins, mas o mesmo acontece com o álcool e drogas lícitas, — o velho argumentou de volta. — Mas as drogas aumentam o crime. — Eu não tinha ideia se estava certa, mas definitivamente soou bem. — A maioria dos crimes por drogas são relacionadas com a venda de drogas. Se a venda de drogas não fosse ilegal, então o sistema judiciário e as prisões estariam livres. Pops esperou com prazer para o meu próximo argumento. Eu procurei por algo, qualquer coisa. — As drogas são realmente ruins. As pessoas podem morrer se usá-las. — As pessoas usam todo tipo de coisas que são ruins para elas, como comer Fast-food e fumar, — disse com satisfação. — Você sabe que doenças cardíacas são a principal causa de morte nos Estados Unidos. Mais pessoas morrem por causa dos Fast-food e dos cigarros do que qualquer outra coisa. Cameron e Hawk pareciam que estavam prestes a trocarem socos. Seja o que for que Cameron disse, tinha posto Hawk em outra

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dissertação vulgar, e ambos estavam frente a frente. Olhei para Pops para que interferisse, mas ele apenas sorriu para mim. — Meu filho tem um temperamento quente, — explicou. — Ele não confia nos corvos. Embora... Acho que sua opinião pode mudar sobre este depois de hoje. — Ele piscou para mim e então ele olhou para os homens de negócios e se levantou. — Temo que não haja nada que eu possa fazer com aquele que chamam Spider. Há algo falso sobre aquele rapaz. Pops se dirigiu para os homens que ladravam um com o outro, e calmamente colocou a mão no ombro do seu filho. — Dê a ele o que ele quer, Hawk, — ele ordenou em Inglês. Hawk estava incrédulo. — O que? Porque eu faria isso? — Porque assim eu disse, — Pops respondeu com autoridade. Cameron estava tão surpreso quanto o seu parceiro de discussão, mas levou vantagem. — E as plantas? — Ele perguntou a Pops, olhando para mim a partir do canto do olho. — Somente as melhores. Cameron e Hawk se calaram. Imaginei que suas mandíbulas estariam abertas, se fossem como pessoas normais. Todos na gruta estavam em silêncio com esta ordem. Tudo o que podia ouvir era o farfalhar da corrente do rio. Pops quebrou a tensão e se virou para Cameron. — Se não há mais nada, então eu sugiro que você leve essa jovem para casa. Tenho medo de ter tomado o suficiente de seu tempo, e ela em breve se cansará de mim.

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De braços dados, Pops e eu fizemos o nosso caminho de volta através do labirinto subterrâneo, com Cameron e Hawk agora em silêncio, pensativos atrás de mim. Eu podia sentir os olhos de Cameron martelando em mim. Nós caminhamos através da estufa fedida, e eu me permiti fazer um comentário casual. — Suas contas de energia elétrica devem ser altíssimas, — disse, olhando as lâmpadas de luzes fluorescentes substituindo a luz solar. Pops entendeu o que eu quis dizer — Painéis solares ocultos na superfície, — esclareceu com um sorriso quente. Deixamos Hawk e Pops na porta do elevador, mas não antes de Pops sussurrar no meu ouvido: — Eu espero que possamos ver você de novo, jovem Emily. Não olhei para o rosto de Cameron enquanto estávamos no elevador. Eu já sabia que estava realmente em apuros. Nos dirigimos de volta de onde tínhamos vindo e encontramos Griff no topo das escadas do celeiro. — Tenha um bom dia, senhor. E senhora, — Griff acrescentou com ênfase, curvando-se com um sorriso no rosto. Cameron andou em um ritmo mais rápido, com os ombros tensos e eretos. Eu percebi que não poderia entrar em mais problemas do que já estava. E cordialmente sorri de volta para Griff antes de correr para me juntar a Cameron na moto. Ele me entregou meu capacete sem olhar para mim. Aconcheguei-me atrás dele na moto, mas o truque não funcionou sua magia desta vez. Ele permaneceu imóvel enquanto saíamos em disparada em uma nuvem de poeira.

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Conduzimos sem dizer uma palavra, e eu estava em conflito: Tinha um Cameron muito aborrecido comigo; mas eu me sentia feliz, — inclusive um pouco orgulhosa — por que me sai bem em minha primeira reunião de negócios com os distribuidores, sem conseguir que nos matassem. Paramos em um pequeno estacionamento onde um ônibus escolar estacionado tinha sido convertido em um ponto de Fastfood. Era o meio da tarde. Eu estava morrendo de fome. O cheiro engordurado de batata frita foi a melhor coisa que eu já tinha cheirado na vida. Cameron mal olhou para mim enquanto esperamos na fila. Nossa conversa se limitou a "O que você quer comer" e “hambúrguer de frango com batatas fritas.” Cameron pediu molho para as minhas batatas fritas. Eu não precisava dizer nada. Segui-o ao redor da parte de trás do ônibus, através de algumas árvores. Eu

podia

ouvir

a

água

caindo

à

medida

que

nós

aproximávamos no fim da trilha. A uns cinquenta metros do solo, uma cachoeira mergulhava em uma linha quase perfeita para baixo das rochas,

salpicando

espalhadas

sobre as

água

em

árvores

volta. e

sobre

Pessoas, a

grama,

esporadicamente observavam

a

impressionante paisagem de tirar o fôlego. Cameron puxou um cobertor para fora da mochila e o esticou em um pequeno pedaço da grama, como se ele já tivesse estado lá antes. Estávamos quase ocultos entre os arbustos.

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Enquanto comia e meditava, tratei de prender meu cabelo para trás em um rabo de cavalo acolhedor. Isso fez com que Cameron sorrisse, ainda que ele tentasse esconder de mim. Eu não tinha certeza o que, exatamente, eu tinha feito para aborrecê-lo. Não havia nenhuma dúvida em minha mente que a reunião tinha saído de acordo com seus planos, e que eu não fiz nada que eu deveria fazê-lo ficar quieto. Com um pouco de comida na minha barriga e o humor de Cameron aparentemente melhor, pensei que deveria falar com ele sobre o que estava o incomodando. — Você está aborrecido comigo, — fui realmente boa em afirmar o óbvio. — Uh-huh. — Cameron estava deitado de costas, com as pernas cruzadas uma sobre a outra. Aparentemente, eu devia adivinhar o que eu tinha feito de errado, — como um assassino em série que confessa todos os crimes que ele já cometeu, para com o policial novato que tinha acabado de para-lo por causa de uma lanterna traseira quebrada. — Você pode me dizer por quê? — Perguntei. — As coisas poderiam ter ido muito ruins lá dentro. — Mas não foi assim, — eu respondi. — Mas poderiam ser, — reiterou, com ênfase, — Eu não tinha ideia do que estava acontecendo. — Bem-vindo ao meu mundo, — eu murmurei, rodando minha batata no molho, levando meu copo de plástico a boca.

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Cameron deu um meio sorriso. — Emmy, quando eu não sei o que está acontecendo e não posso entender o que você está dizendo, não posso reagir. — Você não tem nenhuma fé em mim. — Não tem nada a ver com minha fé em você e tudo a ver com a minha desconfiança deles. Essas pessoas não são anjos. Isto não é um jogo. Até onde eu sabia, o velho estava ameaçando colocar uma faca em sua garganta, logo que eu não estivesse olhando. — Ele nunca me ameaçou. — Eu não tinha nenhuma maneira de saber isso, — reclamou. — Considerando as circunstâncias, acho que tomei a decisão certa. — Eu estava convencida disso. Cameron exageradamente revirou os olhos para a minha arrogância. — Deveria saber que estaria encantada com você mesma por sair bem do problema. Deve estar em seus genes. Eu não tinha certeza se ele queria dizer que eu tinha me encantado fora do problema com os distribuidores ou com ele. Não importava afinal. Eu tinha tomado sua mudança de comportamento como um sinal de que eu estava no meu caminho para ser perdoada. Decidi arriscar e aconchegar-me contra ele. Ele não recuou. — Acredito que tem tudo o que você queria, não é? — Eu disse com um suspiro. — Sim, Emmy, — admitiu, também com um suspiro. — Você me fez um monte de dinheiro hoje. Mas é só dinheiro. Eu preferia que você tivesse ficado fora do alcance deles.

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Algo se moveu entre as árvores. Cameron abruptamente se afastou e saltou para cima. Uma velha senhora caminhou, trêmula, apoiada em sua bengala. Ela tinha cerca de noventa anos de idade ou talvez oitenta, estava molhada. — Desculpe, — Cameron disse sem jeito. Ele voltou a relaxar e sentou-se novamente. Se eu não soubesse da sua paranoia, eu teria ficado insultada por seu medo de ser visto em público comigo. Apoiei-me em meus cotovelos e olhei para Cameron. — O que vai acontecer quando as coisas se acalmarem? — perguntei. — O que você quer dizer? — O que acontece comigo quando o perigo se for? — Você vai para casa, — disse instintivamente. Ele não tinha mudado de ideia, depois de tudo. Tentei manter-me tranquila. — E depois? — E depois nada. Você voltará a viver o felizes para sempre, — disse ele, recusando-se a olhar para mim. — E o que acontece com nós? — Minha voz estava tremendo. Cameron ficou em silêncio. — Eu poderia ficar com você, — eu ofereci. Ele riu, mas seu tom era duro. — Em, você conseguiria mais problemas. Você realmente acha que poderia simplesmente ficar em casa e esperar por mim enquanto eu vou trabalhar? Quero dizer, não me interprete mal, é uma boa fantasia, mas já tentei isso e não funcionou.

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Estava nervosa. — Poderia ir trabalhar com você. Acontece que eu sou muito boa nisso. Você mesmo disse isso. — Absolutamente, não! Eu não vou permitir isso. — Por que não? — exclamei com a voz débil. — Carly faz isso. — Carly não pode fazer mais nada. Você... — Ele respirou fundo para acalmar-se. — Você tem uma vida, escola, família, amigos. E estaria muito mais em risco do que Carly por causa da minha posição. — Vou ser cuidadosa, — resmunguei. — Mas, eu não estou disposto a correr nenhum risco. Não com você. — Sua voz era gelada. — Além disso, não é só por mim. Você se tornaria um risco para toda a organização se você for pega por rivais. Os líderes teriam nossas cabeças antes de deixar que isso aconteça. — Então, prometo que você não precisa fazer nada se algo acontecer a mim. Que você vai me deixar morrer se eu fizer algo suficientemente problemático. Cameron olhou para mim vagamente. — Essa é a coisa mais estúpida que já ouvi. Nunca diga isso de novo. — Ele rapidamente se levantou e começou a arrumar tudo. — Precisamos ir antes que comece a escurecer. Mantive-me em silencio enquanto segui seu ritmo de volta para a moto. Começou a chover cerca de uma hora antes de chegarmos à cabana. Quando chegamos ao caminho de cascalho, estava escuro, e estávamos encharcados, e Meatball estava ansiosamente esperando na porta da cabana, querendo sair para a chuva. Cameron, imediatamente, acendeu o fogo no fogão de ferro fundido, enquanto ele digitava em seu

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telefone celular, o número de Spider. Ele sorriu para mim de vez em quando, especialmente quando ele repetiu o preço de sua compra do dia para um Spider pasmo. Se mantendo ocupado, jogando papéis no fogo enquanto passava os detalhes para Spider. Ele ficou no telefone o tempo todo enquanto estávamos comendo, falando sobre o que eu supus ser

um

negócio,

embora

eu

não

entendesse

nada

disso. Eventualmente, seu telefone descarregou, e ele teve que colocá-lo para recarregar. Ele insistiu para que eu descansasse, ou melhor ainda, ir para a cama, enquanto ele lavava os pratos. Eu não queria acreditar. Mas, enquanto eu continuava a observá-lo, enquanto ele tentou o seu melhor para fingir que tudo estava bem, alguma coisa estava rastejando dentro de mim. A lembrança de minha vida anterior — uma que eu nunca poderia voltar. Eu estava ciente da pontada no meu coração, como os pontos sobre uma velha ferida estavam se desfazendo. Coisas

dentro

de

mim

estavam

quebrando,

caindo

aos

pedaços. Era o olhar em seu rosto que ele deu a mim. Eu já tinha visto esse olhar mil vezes. Era o olhar que meu irmão tinha me dado na última vez que o vi. Era o sorriso forçado da minha mãe no dia em que ela tinha vindo para uma visita surpresa em Callister, logo antes de ela vir com uma desculpa esfarrapada de que precisava ir, rapidamente. Era a falta de contato visual que os garotos tinham quando eles estavam ficando irritado com a minha falta de afeto... Cameron estava me preparando para me deixar. Eu queria ficar presa a ele, tão forte, para que nunca pudéssemos ser separados. Ao mesmo tempo, eu queria fugir, assim talvez não sentisse a dor quando ele encontrasse uma desculpa para me deixar. Quem disse que o amor não fere estava errado. O amor é doloroso, especialmente quando você pode senti-lo escorregar por entre os dedos e não há nada que você possa fazer sobre isso. Como se

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alguém estivesse brincando de cabo-de-guerra com os meus membros, rasgando em pedaços. Qual seria a sensação quando se perde o amor... Eu não iria sobreviver a isso. Fechei os olhos, desejando que as lágrimas

ficassem

escondidas

atrás

de

minhas

pálpebras

e

concentrando-me em respirar para dentro e para fora em vez da dor que estava batendo no meu coração. Cameron terminou os pratos e apagou a luz da pequena cozinha. Com a única luz que vinha das chamas brilhantes que brilhavam através do quadrado da janela do fogão, minhas lágrimas estavam em segurança, fora da vista. — Devemos dormir um pouco. Tem sido um longo dia, — disse com um bocejo falso e um alongamento de braços. Eu

silenciosamente

segui. Não

importava

que

as

lágrimas borrassem minha visão. Eu não seria capaz de ver nada de qualquer

maneira. Mas

Cameron

pegou

meu

braço

enquanto

nós subimos as escadas. — Você está chorando? — Perguntou com total surpresa. — Emmy, o que está errado? — Você vai me deixar, não importa o que eu faça, não vai? — Eu soluçava. — Eu não quero voltar sem você, Cameron. Eu não posso. Você é tudo que eu tenho. Cameron

riu

suavemente. —

É

por

isso

que

você

está

chorando? Por que tem que voltar para casa? Ele passou os braços em volta de mim, sussurrando através de meus soluços. — Em, eu não vou a lugar nenhum. Vamos fazer isso funcionar, eu prometo. O que for preciso. Por favor, não chore. Fiquei

em

diminuíram. Ele

seus

me

braços

soltou

e

até

que

gentilmente

os

soluços

levantou

finalmente

meu

queixo

Julie Hockley

tremendo. Ele manteve seus olhos em mim enquanto a tristeza inchou suas feições escuras. — Nunca pensei que estivesse tão quebrada. — Só quando você não está comigo. — Ofeguei e deixei secar as minhas lágrimas restantes. — Você provavelmente vai morrer se ficar comigo, — me alertou. — Então eu estou morta de qualquer forma, porque eu não vou sobreviver sem você. — Não havia nada que ele me pudesse dizer que iria me convencer de que sem ele era a melhor opção. Ele suspirou e balançou a cabeça. — Tudo o que faço apenas faz tudo mais difícil. E pior para você. Foi na luz bruxuleante do fogo que eu notei o brilho familiarizado em seus olhos e de repente entendi. A pressa em fazer tudo, o bocejo falso, a tentativa de me ter na cama, cedo... Cameron estava certo. Eu estava quebrada. Provavelmente, além do reparo. Mas, naquele momento, e todos os outros momentos, quando éramos apenas nós, e especialmente quando ele olhava para mim assim, ardendo, como se eu fosse tudo o que ele precisava, eu não me sentia quebrada. Como uma caneca de café que tinha sido colada de volta junto — eu mal podia sentir as rachaduras. Sentia-me completa. Apertei-me contra ele. Ele me beijou e me levou para a cama. As outras coisas — da vida — foram deixadas para trás para outra noite.

Julie Hockley

Cameron estava sentado na beira da cama. O dia tinha chegado. Àquele que tanto temíamos. Hoje era o funeral de Rocco. Cameron tinha tentado evitá-lo tanto quanto foi possível, esperando até mesmo encontrar uma fuga, pelo menos até que as coisas ficassem um pouco melhor. Mas não poderia ser adiado por mais tempo. Rocco precisava descansar, e era necessário seguir em frente. A maneira que Cameron estava curvado sobre os ombros, carregando a culpa da morte de seu irmão mais novo, este dia ia ser difícil, angustiante para ele. Em um movimento que se tornou familiar a nós, eu me movi atrás dele e passei meus braços ao redor de seus ombros. Lá nós nos sentamos, preparando mentalmente para o que estava por vir, tornando-se uma pele mais uma vez. Vestidos

de

preto,

subimos

ao

carro. Cameron

havia

se

barbeado. Tirando a pouca barba em seu rosto. Ele estava vestido em um terno preto e uma gravata, mais bonito do que nunca. Eu consegui encontrar um vestido enrugado que eu tinha, nunca usado, e saltos pretos. Minhas opções na mochila eram limitadas. À medida que nos afastávamos, a mão de Cameron apertava a minha tão apertada que meus dedos estavam ficando dormentes. — Diga-me sobre o que você e o velho conversavam no túnel, — perguntou. Sua voz era instável e seus olhos nunca saíram da estrada na frente dele. Eu estava contente por fornecer sua distração.

Julie Hockley

— Seu nome é Jerry, mas ele gosta de ser chamado Pops, — comecei. Enquanto falava, Cameron ouviu, ou parecia que ele estava ouvindo. Talvez ele só precisasse do ruído. Embora sua mão nunca deixasse a minha, seu aperto era ligeiramente solto depois de um tempo, e eu era capaz de sentir os meus dedos novamente. Contei-lhe tudo, até mesmo a percepção de Pops sobre Cameron, mas eu deixei a sua opinião sobre a impressão anterior de Cameron da sua desumanidade. Isso, eu sabia, iria machucá-lo muito. Cameron escutou sobre o nosso debate sobre os prós e contras das drogas, foi particularmente interessante. — O que eu faço incomoda você? — perguntou. Eu não podia mentir para ele, mas eu definitivamente não queria lhe dizer a verdade. — Não é... Ideal, — disse, com muito cuidado. — Está tudo bem se sentir incomodada pelo o que eu faço, — disse rapidamente. — Na verdade, você deve se incomodar. Seria anormal você pensar que está tudo bem. Cameron fez uma pausa na esperança de uma resposta, mas eu apenas dei de ombros e permaneci em silêncio. Eu não ia cair nessa armadilha: “que está tudo bem você me dizer a verdade, desde que seja o que eu quero ouvir.” — O que o velho sussurrou para você quando nós saímos, — continuou com curiosidade. — O que ele disse? — Pops, — corrigi, — ele disse que esperava me ver de novo. — Absolutamente, não!

Julie Hockley

— Eu sei, — fechei a cara — Mas você perguntou, então eu disse a você. Cameron olhou para mim e silenciosamente riu da minha falta de maturidade. Depois de ter uma pequena amostra do trabalho de Cameron, eu ainda estava convencida de que eu seria capaz de fazer um pouco do que Cameron fazia. Mas eu não podia imaginar como seria para tomar outras decisões. Minha mente voltou-se para Griff. — Como é que Griff acabou trabalhando para Pops? — Mantive meus olhos na estrada, e tentei manter minha voz tão despreocupada quanto possível. — Eu precisava me livrar dele, e eles precisavam de um guarda. Eles

me

deviam

um

favor

de

qualquer

maneira,



explicou. Então, me olhou. — Você pensou que eu o tinha matado, não é? Mesmo depois de eu lhe dizer que não fiz. — O pensamento passou pela minha cabeça, — admiti. Eu olhei para ele, tentando decifrar seu humor. Ele não parecia chateado. — Eu não iria mentir para você, — me lembrou. — Mas você também estava muito irritado na noite em que ele foi pego descendo do meu quarto. Talvez até um pouco ciumento? — Eu levantei uma sobrancelha, testando. — Talvez muito ciumento. — Riu, envergonhado. — Mas eu sabia que teria machucado muito você se tivesse feito qualquer coisa para ele. — Você o mataria se não fosse por mim? Cameron olhou para mim significativamente em resposta. Um arrepio percorreu minha espinha. Eu não queria pensar sobre o final alternativo e necessitava mudar a atmosfera.

Julie Hockley

— Você é rico, certo? — deixei escapar, tentando surpreende-lo de propósito. Pelo seu olhar de espanto, havia funcionado. Eu continuei — De onde vem todo o dinheiro? — Muitos lugares, — respondeu vagamente. — Como? Cameron parecia desconfortável com a minha franqueza, mas, com um suspiro alongado, ele foi ao rumo da conversa. — Ações, títulos, propriedades. Eu tenho um monte de contas bancárias em diferentes lugares ao redor do mundo. — Então... Você não esconde o dinheiro debaixo do colchão como eles fazem nos filmes? Ele riu. — Na verdade, eu tenho algum dinheiro enterrado em diferentes pontos, mas nenhum debaixo do colchão. Suas respostas só me fizeram mais curiosa. — As pessoas não ficam desconfiadas quando você entra em um banco com pilhas de dinheiro? Cameron olhou para mim como se eu fosse de outro planeta. — Eu nunca realmente entrei em um banco, Emmy. Tudo é feito eletronicamente. Eu levo pouco dinheiro comigo. O tom de voz que Cameron tinha escolhido, eu poderia dizer que a explicação dele tinha sido feita para explicar tudo. Mas eu não entendia. De alguma forma eu não podia ver os usuários de drogas usando

seus cartões

de

credito

para

comprar

o

que

eles

queriam. Quando Cameron procurou meu rosto, ele deve ter encontrado

Julie Hockley

uma completa confusão. Ele parou ao lado da estrada e se virou para mim. Ele estava adiando as coisas, principalmente para seu próprio propósito, eu imaginei. — Não vamos nos atrasar? — Perguntei. — Não vão começar sem nós, — disse. — Você quer saber como funciona, não é? Eu balancei a cabeça, e eu podia sentir meu rosto ficando quente. — Quando recebemos o produto, — começou — é dividido entre todos os líderes. Eles distribuem dentro de seus grupos, e são novamente divididas várias vezes assim até que realmente chegue às ruas. Quando é vendido, o dinheiro é passado aos distribuidores através de pequenos depósitos em dinheiro em suas contas bancárias. Às vezes, os distribuidores também abrem contas bancárias em nomes de seus amigos e familiares e fazem depósitos pequenos lá também. E aonde o dinheiro possa ir sem muitas complicações: propriedades, ações, e outras coisas são compradas e vendidas. O dinheiro muda de mãos tantas vezes que, no momento em que chega a nós, é virtualmente impossível de rastrear o produto. — Você não tem medo de ser pego? Ele olhou para longe. — Eu vou ser morto antes de ser pego. Eu imediatamente me arrependi de fazer a pergunta. Voltamos

para

a

estrada. Cameron

não

ofereceu

mais

informações e eu definitivamente não fiz mais perguntas. A ignorância teria sido melhor nesse último ponto.

Julie Hockley

Quando entramos no estacionamento da igreja, havia apenas um

punhado

de

carros

estacionados. Perguntei

à

Cameron

se

estávamos muito adiantados ou muito atrasados. Ele explicou que esses eventos tem que ser mantido íntimo de modo a não atrair muita atenção. A igreja era pequena e simples, com um exterior branco e um caminho de ladrilhos quebrado. Era localizado fora da estrada de terra no meio do nada. Árvores maduras cercada do lote e um cemitério tão bem cuidado ao lado. Era um belo dia de verão. De alguma forma, esta igreja, este dia foi, para mim, o último adeus a Rocco. Antes que as lágrimas pudessem substituir a dormência protetora dentro de mim. Fiquei surpresa ao sentir Cameron agarrar a minha mão enquanto caminhávamos até o punhado de pessoas que se reuniram do lado de fora, alguns dos quais, como Tiny, reconheci alguns dos guardas de alto escalão da fazenda. A maioria de seus nomes me escapou naquele momento. Todos respeitosamente acenaram a Cameron em seguida me olharam de lado com curiosidade quando passamos por eles, de mãos dadas, e entramos na igreja. Uma vez que passamos pela porta, entramos e os guardas nos seguiram e os meus dedos estavam ficando dormentes novamente a partir do aperto de Cameron. Eu cerrei os dentes, tentando manter a calma por nós dois. No interior, flores de cor azuis e brancas transbordaram no meio do corredor e na frente da igreja. Entre as pétalas, havia uma foto grande

de

Rocco

sorrindo

para

nós. Eu

tive

que

desviar

o

olhar. Cameron evitou olhar em frente também. Havia música tocando em algum lugar na igreja. Entre as fileiras de bancos de madeira, Carly e Spider caminharam lentamente até nós. Spider apertou a mão de Cameron sombriamente. Os olhos de Carly estavam vermelhos e inchados.

Julie Hockley

— Tudo parece muito bom, Carly. Obrigado por fazer todos os arranjos, — Cameron disse suavemente, carinhosamente, colocando a mão em seu ombro, como o meu irmão tinha feito muitas vezes comigo. Carly sorriu fracamente de volta para nós, parecia perder as palavras. Ela pegou o braço no meu, enquanto Cameron e Spider nos levaram a nossos assentos na parte de trás da igreja. Nós deslizamos para o banco, Carly e eu sentamos ao lado da outra, e Cameron e Spider

protetoramente

sentaram-se

em

nossos

lados. O

resto

dos bancos foi preenchido com os guardas restantes. O silêncio caiu entre nós, cada um perdido em pensamentos, tentando dar sentido a algo que era sem sentido. A igreja estava praticamente vazia, exceto o banco da frente. Eu reconheci a nuca descolorida loira de uma cabeça, como a mãe de Cameron. Ela estava soluçando alto ao mesmo tempo gritando com três crianças que corriam entre os bancos. Tudo parecia surreal. E então Spider de repente levantou a vista e saltou. —

O

que

ela

está

fazendo

aqui?



murmurou

amargamente. Carly, Cameron, e eu viramos a cabeça e seguimos seu olhar. Frances

tinha

chegado

passando

pelo corredor e

desajeitadamente parou junto ao banco da nossa frente. Carly puxou a manga de Spider e o obrigou a sentar-se. — Eu a convidei, — ela meio que sussurrou. E então, em resposta às nossos rostos surpresos, acrescentou — Rocco realmente gostava de Frances. Ele teria gostado de tê-la aqui, com a gente. Frances continuou a olhar inquieta para nós, até que Cameron finalmente fez sinal para ela se sentar. Ela calmamente deslizou no banco na nossa frente e olhou para frente, enquanto Spider bufou e Carly lançou-lhe um olhar de desaprovação. Eu me senti horrível por

Julie Hockley

Frances. Lembrei-me de como era estranho querer ser nada mais do que aceita por eles. Um homem grande apareceu na igreja. Seu cabelo estava em um corte redondo, e ele parecia perdido em suas roupas. Ele era muito jovem, como se ainda estivesse na puberdade. Ele parecia muito jovem para ser um padre, ou um pastor, ou o que ele era. O homem em suas grandes roupas iniciou seu sermão. Embora ele

falasse

Inglês,

eu

não

tinha

ideia

do

que

ele

estava

falando. Capítulos, versos, mandamentos — eram tão enigmáticos para mim como documentos de negócios de Cameron. Eu tinha certeza de que a água benta estava fervendo em uma bacia em algum lugar na igreja quando estes pensamentos passaram pela minha cabeça. Eu estava tentando ser forte por Cameron e consegui engolir a maioria das minhas lágrimas de volta para baixo. Mas isso foi se tornando mais e mais difícil, pois eu fui forçada a sentar-me ali com nenhuma distração dos meus pensamentos. Havia algo inquietante na voz daquele grande homem... E eu estava sendo forçada a voltar para o baú de vime. Eu podia ouvir sua voz de anjo sussurrando em meu ouvido. A imagem de Rocco caindo no chão. Repetia incansavelmente em minha mente. As imagens vinham para mim em uma corrida, não só Rocco havia ido, mas ele não ia voltar jamais. Sua imagem na parte da frente da igreja havia se tornado apenas mais uma imagem de um menino que nunca iria crescer. Fermentando dentro de mim havia um ódio intenso por aqueles que o tinham tomado sua vida. Eu queria vê-los mortos, mas primeiro eu queria que eles pagassem, sofrendo pelo que haviam feito. Eu não era uma pessoa vingativa, mas eu estava fortemente decidida que eles deviam ser torturados. As lágrimas estavam agora jorrando para baixo, eu não podia impedi-las mais. Eram lágrimas de dor e raiva, do tipo que queimou minha pele quando elas deslizaram

Julie Hockley

pelo meu rosto e caiam no meu colo. Sem olhar para mim, Cameron entrelaçou seus dedos nos meus e trouxe a minha mão em seu colo, apertando. Minha

tentativa

de

ser

o

seu

forte

tinha

falhado,

miseravelmente. Mais uma vez, e Cameron tinha que cuidar de mim. Enquanto o homem na igreja que estava perdido em suas roupas, começou um hino ritualístico, um dos guardas se aproximou lentamente e parou ao lado de Spider. Ele sussurrou algo no ouvido de Spider e esperou enquanto Spider se inclinou sobre Carly e se dirigiu a Cameron em um murmúrio. — Os homens de Shield estão aqui. Eles querem falar sobre uma trégua e uma fusão. Dizem que há muito dinheiro neste acordo. Cameron amaldiçoou sob sua respiração quando ele se virou para Spider para cuspir as suas palavras. — Estou no funeral do meu irmão. O que eles quiserem pode esperar até amanhã. Spider pareceu ofendido pela forma que Cameron falou com ele, mas com um aceno de cabeça, fez sinal para o guarda para seguir as ordens do chefe. O guarda caminhou para fora da igreja, mas voltou alguns minutos depois. O que quer que ele tenha sussurrado no ouvido de Spider o fez franzir sua testa. — Eles vieram aqui sem Shield saber. Eles querem mudar a sua aliança e trabalhar para nós. Eles estão dispostos a trair Shield e fazer isso acontecer. Spider olhou para Cameron, à espera de uma resposta, mas Cameron permaneceu em silêncio e continuou a olhar em frente. Suas bochechas estavam vermelhas de raiva. Spider falou um pouco mais alto.

Julie Hockley

— Cameron? — Eu ouvi você, — Cameron resmungou. Bateu o pé e considerou. Ele se virou para Carly. — De quanto dinheiro estaríamos falando? Carly

voltou

seus

olhos

para

o

teto

enquanto

ela calculava números invisíveis no ar. — Eu não sei, — ela respondeu distraidamente. — Depende de que tipo de fusão que está propondo. Preciso de mais detalhes antes que eu possa dar-lhe uma cifra razoável. — Ponderou mais alguns segundos e, em seguida, olhou para Cameron. — Se fizermos esse acordo, nos daria o controle sobre todas as facções do Nordeste. E até trazer a paz, pondo fim à guerra. Isso seria de grande valor para os patrões. Esta poderia ser a maneira que estávamos procurando para fazê-los esquecer de tudo o que aconteceu. — Carly rapidamente olhou para mim quando disse isso. Cameron ficou em silêncio novamente e distraidamente olhou para frente. Eu podia ver sua mente trabalhando a toda velocidade. Mas Spider ficou impaciente novamente. — Não temos muito tempo. Há mais de trinta deles lá fora. Eles estão armados. Nós não podemos segurar eles por mais tempo. — Spider inclinou-se ainda mais na direção de Cameron, sua voz preocupada agora era audível apenas para nós quatro. — Cameron, se não vamos falar com eles, eles não vão deixar-nos viver para contar a Shield sobre suas traições. Não temos homens suficientes para nos cobrir.

Julie Hockley

Cameron virou e rapidamente sussurrou algo para Tiny, que estava sentado atrás dele. Tiny seguiu arrastando os pés atrás do banco, Tiny sacou dois rádios de ondas curtas que ele entregou a Cameron. Cameron se virou para mim. Ele parecia doente. — Toma, — disse ele, entregando-me um dos rádios. Pôs o outro em seu cinto. — Você me chama se acontecer alguma coisa. Eu vou estar junto à porta. Eu podia ouvir os guardas destravando suas armas pouco a pouco enquanto passavam lentamente pelo corredor. Ao comando baixo de Spider, eles esconderam suas armas sob suas camisas, colocando no cós das suas calças. Esperando por Cameron. Ele olhou para mim por um longo minuto e então voltou seus olhos para Frances. Com um sussurro urgente, ele chamou seu nome. Ela saltou e virou-se. Ela parecia apavorada. Eu percebi que devia parecer a mesma coisa, exceto sem o cabelo vermelho e as muitas sardas. Cameron ordenou a Frances vir sentar-se ao meu lado, ela imediatamente aceitou. Quando ela deslizou para o banco atrás dela, Cameron se virou para mim, seus olhos inflexíveis. Ele se inclinou. — Estou junto à porta, — repetiu, embora eu não soubesse se isso tivesse sido para o meu benefício ou se o seu próprio. Ele me beijou forte na testa. Frances calorosamente sorriu para mim enquanto ela nos observava, mas seus olhos estavam tristes. Cameron entrou na linha reta, formada pelos guardas, e eles rapidamente o rodearam em um casulo de proteção humana. Quando vi Carly sair com o resto deles, eu queria gritar para exigir que ele me levasse com ele, mas eu sabia que agora não era o momento e que sua mente já tinha sido feita. Nada que eu dissesse iria mudar isso. Eu definitivamente não tinha argumentos para convencê-lo. A única coisa

Julie Hockley

que

eu

iria

fazer

era

distrair

Cameron

e

fazê-lo

ter

mais

problemas. Tristemente, assisti ele me deixar. O diácono, que mal tinha olhado na nossa direção durante o tumulto e as saídas em massa, continuou seu sermão sem perder o ritmo. Eu era um turbilhão de emoções; medo por Cameron estar lá fora, devastada com a perda de Rocco, com raiva que eu tinha sido deixado de fora, mais uma vez, e perplexa a respeito de que Cameron iria querer fazer um acordo com aqueles que podem ter contribuído até a morte de seu irmão. Como se tivesse sentido as minhas emoções, Frances deslizou para perto de mim e tomou minha mão. Ela parecia contente por ter sido dado um propósito. Inclusive por ter sido atribuído uma tarefa, que me aborrecia e silenciosamente reclamava. Eu, então, sorri para mim mesma. Rocco e eu tínhamos muito em comum. Durante meu devaneio, alguém tinha deslizado no banco de trás. — Emily, — Sussurrou uma voz rouca. Lentamente virei meu corpo, e quase não acreditava no que estava vendo. Ele era mais velho, rugas agora profundas mapeavam sua testa e seu cabelo loiro havia esmaecido para os lados, como se ele tivesse ganhado asas.

Julie Hockley

— Tio Victor? — Ele não era realmente meu tio. Não de sangue. Ele era tio do meu irmão, mas eu sempre tinha o chamado de tio Victor, e embora eu fosse uma espécie de uma adulta agora, parecia estranho e talvez um pouco desrespeitoso dizer o seu nome, sem a palavra tio antes. — O que você está fazendo aqui? — Perguntei, quase o acusando. Ele olhava nervosamente ao redor da igreja, e sua voz apressada. — Eu vim tirá-la daqui. — Como você me encontrou? — Mesmo eu não sabia onde estava. — Seus pais, — Ele saltou quando uma das crianças indisciplinadas deixou cair ou jogou uma Bíblia no chão a nossa frente. — É uma longa história. Precisamos sair agora. — O que? Não, eu não vou sair, — eu falei, mais alto do que eu pretendia. O diácono parou

seu

sermão. E

então,

com

um

olhar

de aborrecimento, ele continuou. Victor estava fora de si. — O que quer dizer com você não vai sair? Eu estou arriscando meu distintivo para vir resgatar você! — Não há nada para resgatar. Eu quero ficar aqui.

Julie Hockley

Ele

agarrou

o

meu

ombro,

enquanto

se

inclinava

e

apressadamente sussurrou: — Jovenzinha, em cinco minutos a DEA vai entrar aqui e atirar em qualquer um que fica em seu caminho. Eles não vão fazer qualquer pergunta em primeiro lugar. Se você tiver sorte, eles simplesmente vão prendê-la, mas eu não serei capaz de ajudá-la em seguida. Parecia que alguém tinha acabado de tirar todo o ar dos pulmões de Frances. — Vão levar Daniel para longe de mim se eu for presa, — ela distraidamente sussurrou. Seu rosto estava pálido e aterrorizado quando ela se virou para mim. — Em, eu não posso ser presa. Eu vou perder meu filho. Victor olhou para nós dois e impaciente suspirou. — Vou levá-la também, — ele admitiu — mas temos que sair agora. — Leve Frances com você, — eu pedi. — Eu não vou sair. Eles podem me prender se quiserem. Eu não me importo. — Eu prometi a sua mãe que iria tirá-la daqui a salvo. Se eu voltar sem você, ela vai ter a minha cabeça e meu distintivo. Ou você vem, ou todos nós seremos presos ou mortos. Os olhos de Frances estavam implorando. Meus pensamentos estavam uma bagunça, tomar uma decisão rápida não era meu forte. Olhei para a porta que Cameron tinha saído, esperando que se eu olhasse para ela duro o suficiente, ele iria vir até mim. Mas eu sabia como fazê-lo voltar. Sem olhar para baixo, eu pressionei o botão vermelho do rádio e calmamente olhei para Victor.

Julie Hockley

— Tio Victor, deixe-me falar com eles, — disse com a minha voz alta o suficiente para que Cameron, com sorte, me ouvisse, mas não o suficiente para levantar suspeitas de Victor. — Quem? — Victor parecia confuso. — O FBI... ou a DEA, — quase gritei, mas me recompus. — Eu vou dizer-lhes a verdade. Que eu estou bem. Não há nenhuma necessidade para que eles venham aqui. Eu era uma atriz horrível. Mas, felizmente, por trás do banco, ele não poderia ver as minhas mãos ou o fato de que eu estava tentando enviar uma mensagem para Cameron. Disso eu tinha certeza. O que eu não tinha planejado era que Frances, ingenuamente, olhava para minhas mãos com curiosamente e Victor seguiu o seu olhar. Eu pensei que a veia pulsando na testa de Victor ia explodir quando ele me descobriu. — Que diabos você está fazendo? Eu poderia ir para a cadeia por ter vindo aqui, e você está alertando-os? — Gritou quando ele tirou o rádio fora das minhas mãos. Ele se espatifou no chão, e desta vez todos na igreja estavam olhando para nós. A mãe de Cameron notou nossa presença, pela primeira vez. Eu estava pensando, em reajustar a minha estratégia quando um pop alto veio do lado de fora. A janela de vidro colorido na frente da igreja explodiu, e o diácono caiu de joelhos e cobriu o rosto para proteger-se dos cacos de vidro que tinham chegado voando em torno dele como uma nevasca cruel. Um tiroteio, em seguida, entrou em erupção lá fora, e todo mundo na frente da igreja estava gritando.

Julie Hockley

— Todos para o chão! — Victor gritou com experiência e autoridade. Ele agilmente saltou sobre o banco. — Emily, mantenha a cabeça baixa e não pare de correr. — Ele me agarrou pelo ombro da minha camisa e me obrigou a correr com ele. Frances tinha agarrado minha outra mão e seguimos para uma saída de emergência ao lado da igreja. Lá fora, um sedan branco vazio estava esperando. Victor me forçou a entrar no banco da frente, e ordenou Frances entrar atrás, e subiu no assento do motorista. À medida que nós nos afastávamos fugindo pela estrada do cemitério, eu estava freneticamente olhando para trás, tentando localizar Cameron. Eu não podia ver ninguém, mas ainda podia ouvir o tiroteio que estava estourando no outro lado da igreja. Meu coração estava batendo tão forte que a minha visão embaçada, fez com que as sepulturas passassem por nós como vultos sobrevoando ao chão. Eu estava tentando falar, gritar, mas não consegui recuperar o fôlego. Girando o carro em um cavalo de pau, em uma estrada de terra, Victor pisou no acelerador do carro em alta velocidade. — Dê a volta, — finalmente gritei, usando a minúscula quantidade de ar que eu tinha conseguido acumular. — Não há nada que você pode fazer por eles agora, — ele disse friamente. Minhas bochechas estavam molhadas. Eu podia ouvir Frances choramingando no banco de atrás. Victor olhou para mim, e seu rosto levemente amolecido. — Se isso vai fazê-la se sentir melhor, eu prometo que te levarei para a DEA,

Julie Hockley

logo que seus pais virem que você está bem. Você pode dizer à polícia o que você quer que eles ouçam. Não irei interferir. Isso não me fez sentir melhor. Não havia nenhuma dúvida em minha mente que eu havia abandonado Cameron, em um dos piores dias da sua vida. Falar com a polícia nunca iria mudar isso. Tentei dizer a mim mesma que talvez o meu aviso tivesse chegado a tempo. Talvez ele tivesse sido capaz de escapar a tempo. Mas então os tiros... De repente eu me vi realmente esperando ficar presa. Parecia a alternativa mais segura. A mera possibilidade da outra alternativa me fez querer vomitar. Eu coloquei minha cabeça entre os joelhos, desejando me concentrar em manter o vômito para baixo, e descobrir como eu poderia ajudar Cameron. O carro parou. Eu olhei para cima. Victor tinha estacionado o carro junto à calçada. Nós estávamos em um pequeno bar fora da cidade. A cidade consistia de um semáforo em um cruzamento, e um conjunto de pequenas casas com grandes quintais, o tipo de lugar agradável onde pais queriam que seus filhos crescessem. Victor olhou para Frances através do espelho retrovisor. — Há uma loja de conveniência na esquina. Um ônibus vem a cada hora. Vai te levar de volta para a cidade. Frances parecia envergonhada. — Larguei minha bolsa na igreja. Eu não tenho nenhum dinheiro. Victor estava ficando impaciente. Ele bufou e agressivamente pegou sua carteira. Ele esvaziou o seu conteúdo em dinheiro e deu a ela. Frances tinha muito mais do que necessário para uma viagem de ônibus. Assim que ela fechou a porta, Victor saiu em disparada, sem esperar para garantir que ela saiba para onde estava indo.

Julie Hockley

— Para onde estamos indo? — Perguntei — Meu lugar, — explicou. — Seus pais estão esperando lá. Eu não tinha ideia de onde o tio Victor vivia, embora tivéssemos vivido na mesma área há mais de um ano. Viramos uma esquina e chegamos a um farol vermelho de Pare. Eu estava errada sobre a sinalização da cidade, aparentemente, havia dois semáforos. Victor, com impaciência, bateu em seu volante enquanto um homem atravessava lentamente na nossa frente. O homem estava vestindo um terno que era dois tamanhos maiores para ele e andava com uma bengala. Eu não podia ver seu rosto, mas eu estava em alerta máximo. Não só porque ele não se encaixava nesta cidade para pessoas agradáveis, mas ele foi propositadamente evitando o contato visual. Por favor, continue andando, eu implorei internamente. Ele estava tomando uma quantidade ridícula de tempo para atravessar a rua, ou eu estava apenas imaginando? O tempo parecia parar. Eu comecei a tremer... Eu sabia. Mas o que eu não sabia era que ele tinha sido apenas uma distração, enquanto seus companheiros se aproximaram do carro por trás. As portas traseiras se abriram, e eu gritei... Não era certo? Um braço me agarrou por trás e segurou meu corpo contra o assento enquanto um enfiava um saco sobre minha cabeça. Eu não conseguia respirar, e eu comecei a me debater, arranhando a pele fora do braço que estava me sufocando. Algo picou meu pescoço. Houve uma onda de calor. Meus batimentos cardíacos diminuíram. Eu ainda estava respirando? Um gemido borbulhava na minha garganta, e depois veio o nada.

Julie Hockley

Certamente eu estava morta. Meus olhos estavam abertos, eu tive que trazer meus dedos na minha cara para confirmar isso. Sim, eles estavam abertos. Mas eu não conseguia ver nada. Eu gemi, mas o som que saiu não era meu. Era o som de uma pessoa de sessenta anos de idade, fumante inveterado. Minha cabeça estava latejando contra o meu crânio. Minhas roupas estavam encharcadas com o que eu supus ser o meu próprio suor. Saliva tinha vazado do canto da minha boca e secado na minha bochecha. Eu estava deitada em algo macio. Havia uma fenda de luz que fluía de alguns metros à frente. Bom. Eu não estava cega também. Eu lutei para virar o meu corpo de lado, tudo estava dormente. Eu era uma marionete, com meu cérebro puxando as cordas para fazer o meu corpo se mover. Cai no chão em um baque. Havia um tapete, mas era muito áspero e barato. Eu podia sentir a frieza do cimento que escoava através dele. De repente eu estava grata pela dormência, o tombo teria me ferido, do contrário. Eu me arrastei pelo chão como um cachorro raivoso na direção da luz. Minha respiração era superficial. Demorou alguns minutos para que os meus olhos se ajustassem na luz. Meus cotovelos estavam muito fracos para me segurar. Eu tive que rastejar com o meu rosto contra o tapete malcheiroso. Tudo o que eu podia ouvir eram sons de pratos que foram conflitantes entre meus ouvidos. Através da fenda da porta, não havia nada para ver, mas uma parede branca e uma extensão de mais tapetes. Eu quis voltar para meus cotovelos e usar a porta para manter o meu peso, enquanto eu

Julie Hockley

lutava para sentar-me. O sangue subiu à minha cabeça. Com uma dúzia de respirações profundas e com minhas costas contra a porta, inspirei e expirei, tentando manter a náusea à distância, enquanto desajeitadamente dedilhava acima para a maçaneta da porta. Bati em algo frio a porta estava trancada. Eu estava me concentrando na respiração... mas o pânico foi lentamente se instalando. Eu precisava me mover. Rastejando em minhas mãos e joelhos, eu deslizei minha mão contra a parede e senti o meu caminho de volta. Onde quer que eu estivesse não havia muito: uma sala quadrada, talvez de dez metros quadrados, com uma cama e nada mais. O quarto estava tão quente. Não havia saída. Eu estava tendo dificuldade para respirar, e eu estava suando baldes. Comecei a ofegar e, finalmente, vomitei no chão ao meu lado. Eu descansei minha cabeça em meus joelhos vacilantes. Devo ter adormecido ou desmaiado. Quando acordei, eu estava enrolada em uma bola no chão frio. Alguém tinha aberto a porta e puxou a corda que pendia do teto para ligar a única lâmpada no local. Ainda estava balançando para trás e para frente quando olhei para cima. A luz feriu meus olhos, mas um pouco de ar tinha se espalhado a partir da porta aberta. Um homem ficou na minha frente, olhando com os braços cruzados e as pernas espalhadas em uma postura cautelosa. Sua cabeça raspada, e uma pistola pendurada em um coldre no peito, como um soldado aguardando suas ordens. — Há uma cama ao seu lado. Você não precisa dormir no chão, — disse ele, com uma voz robótica. Sentei-me no ritmo de um caracol, descansando os cotovelos sobre os joelhos, e segurando a minha cabeça em minhas mãos. Meu lábio estava tremendo incontrolavelmente.

Julie Hockley

— Coma, — o homem ordenou. Ele chutou em minha direção uma bandeja de comida que estava no chão: uma caixa de suco e um sanduíche com o que parecia ser Mortadela. A náusea me atingiu novamente. Eu trouxe minhas mãos trêmulas para a minha boca. — Eu sou vegetariana, — eu disse grosseiramente pelos meus dedos. Uma mentira. — Coma o pão, então, — ele resmungou com impaciência. — É a única coisa que vai fazer a náusea parar. — O que me injetaram? — Apenas um sedativo leve. Eu puxei minha mão direita longe da minha boca em frente do meu rosto. Ela ainda estava tremendo, mas um sedativo leve devia me fazer tremer. Fiz uma careta para ele. Ele não vacilou. Eu observei as marcas de arranhões em seus braços. Isso me fez sorrir, pelo menos eu tinha conseguido um pedaço dele. — Você é Shield, certo? — perguntei com um tom de certeza. — Eu não vou sair daqui até que você coma. — Seu olhar era incessante. — Onde está o meu tio? Ele olhou para mim de forma estranha. — Você quer dizer o cara que estava no carro com você? Olhei fixo para ele em resposta. — Ele está bem. Agora coma, — disse. Eu não poderia dizer se ele estava mentindo, mas assumi que ele estava.

Julie Hockley

— Eu quero vê-lo, — disse com dificuldade. A sala estava girando, e uma gota de suor estava se formando na minha testa. — Coma, — ele comandou novamente. — Não vou... comer até que eu... veja... meu... tio. — Eu me inclinei e vomitei. O

soldado

lançou

uma

maldição. As

paredes

do

quarto

sacudiram quando ele bateu a porta atrás dele. Eu ouvi a fechadura da maçaneta. Seus

passos

ecoaram

pelo

corredor

e,

eventualmente

dissiparam em silêncio. Por medo de desmaiar no meu próprio vômito, subi no colchão, virei de lado, e trouxe meus joelhos ao meu peito. Eu estava desgastada. A porta se abriu. A lâmpada pendurada ainda estava ligada. Eu não tinha ideia de quanto tempo eu estava dispersa. O soldado estava segurando o tio Victor pelo colarinho e, com a frustração e impaciência no rosto, empurrou-o para o quarto. A porta bateu e trancou quando saiu novamente, deixando Victor e eu sozinhos. Victor correu para o meu lado e me segurou no comprimento do braço. — Você parece horrível, Jovenzinha, — disse ele, examinando meu rosto. — Eu sinto muito, por coloca-lo nisso, tio Victor — Eu soluçava. Eu trazia má-sorte a todos. Victor me acalmou, enquanto eu chorava em seu ombro. Mas eu não tinha energia suficiente para chorar mais do que um minuto. — Eles te machucaram? — Ele sussurrou e olhou rápido por todo quarto.

Julie Hockley

— Eu acho que estou bem. Eles me drogaram. E você? — Eu estou bem, — disse ele distraidamente. Victor olhou para a bandeja no chão. — É isso que eles lhe trouxeram para comer? — Ele perguntou com desdém. Eu balancei a cabeça. Ele pegou da bandeja, a caixa de suco, e entregou-a para mim. — Aqui, — disse — você precisa de algum líquido. — Enquanto eu bebia o suco, ele investigou o sanduíche, cheirando primeiro e puxando para o conteúdo de dentro. Satisfeito, ele rasgou o pão em pedaços e entregou-me um por um, como se eu fosse uma criança ou um pássaro. — Você já comeu? — Perguntei. — Estou bem. Eu não preciso comer. Olhei por cima do seu rosto. Ele parecia bem. Muito melhor do que eu, supus. — Você sabe onde estamos? — Ele perguntou. Eu estava prestes a fazer essa mesma pergunta. Pelo menos ele tinha visto fora do quarto. Dei de ombros. — Não, mas eu tenho uma boa ideia de quem está por trás disso. Ele procurou meu rosto. — Quem? Baixei a voz de modo que era quase inaudível. — Um homem chamado Shield. Um traficante de drogas. — Traficante de drogas? Como você sabe disso? — A voz de Victor ficou alarmada.

Julie Hockley

Percebi o quanto a vida havia mudado para mim na questão de poucos meses. A velha Emily nunca teria conhecido traficantes de drogas chamados Shield. — Cam... A pessoas que eu estava me disse. — O que mais eles disseram? Eu hesitei. Cameron tinha me dito coisas com confiança e certamente não gostaria que eu compartilhasse com um policial, mesmo que ele fosse meu quase tio. Victor, sentindo minha hesitação, inclinou-se. — Emily, eu preciso saber tudo, se eu vou nos tirar daqui. Eu sabia que ele estava certo, mas eu decidi manter Cameron fora disso. — Bill tinha se envolvido em tráfico de drogas. Shield acha que Billy roubou seu negócio. Ele está atrás de mim, porque ele quer o dinheiro que Billy deixou quando ele morreu. — Você acha que tudo isso é sobre dinheiro? — Eu sei que isso é sobre dinheiro. Victor parecia interessado por isso. — Onde está o dinheiro? Eu não podia ver como eu diria a Victor sobre o dinheiro sem falar em Cameron. Eu tive que improvisar. — Eu realmente não sei. Eu não vi nenhum. — Esta era, tecnicamente, a verdade, números em um pingente eram tudo que eu tinha visto. Victor parecia um pouco desapontado, mas continuou: — E sobre as pessoas que você estava? — Eles não têm nada a ver com o fato da gente estar aqui. — Eu disse isso muito rapidamente. Victor pegou o perfume que algo não estava certo.

Julie Hockley

Ele levantou uma sobrancelha. — Como você se envolveu com essas pessoas, Emily? A maneira como ele me olhou fixamente me fez sentir como se estivesse em sua sala de interrogatório na delegacia de polícia. Eu podia sentir a gota de suor se formar na minha testa novamente. — Apenas os conheci, — eu menti. A partir do olhar no rosto de Victor, ele não acreditou. — Eles estavam envolvidos com drogas? — Eu não sei. Nunca conversamos sobre isso, — eu menti novamente. Tio Victor estava ficando com raiva. — Vamos! Você pode fazer melhor do que isso! — Ele não estava sussurrando mais. Ele era o interrogador. Eu era o criminoso. — Tio Victor, eu não sei o que você está me perguntando. Você saberia mais do que eu poderia falar com a DEA. — Eu podia sentir as lágrimas surgindo. Seu rosto ficou pálido. — Eu sinto muito. Eu não queria assustá-la. Sim, você está certa. Eu sei o que eles são capazes. Eu estava com medo do que eles poderiam ter feito com você. Isso é tudo. — Eles não são pessoas más, tio Victor. Isso o deixou irritado. — Como você pode dizer isso? Eles são delinquentes. Mataram uma criança. — Sua voz era dura e alta. Fiquei surpresa. Ele, então, se recompôs e sorriu. — Essas pessoas não têm classe, Emily. Não como você e eu. Somos de um mundo diferente. —

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Ele estendeu a mão e acariciou minha bochecha com o polegar. — Você parece tanto com Isabelle. A forma, ao contrário de mim, sua cabeça não tinha um cabelo fora do lugar e suas roupas pareciam recém-passadas a ferro. E foi a forma que ele olhou através de mim, como se visse outra pessoa, que fez algo se apertar no fundo do meu intestino. — Como estava minha mãe quando você a viu? Sorriu com ar sonhador. — Ela estava muito preocupada com você. Ela chorou quando descobriu que tinha sido levada por bandidos. Esta foi a minha primeira pista. Minha mãe não era do tipo de chorar. E arruinar a maquiagem. — Como você sabia que eu estava desaparecida? — Sua mãe me ligou depois que ela tinha ido para te fazer uma visita. Todas as suas coisas havia sumido, e você não estava lá. Segunda pista: minha mãe nunca iria me visitar a menos que ela fosse arrastada chutando e gritando, e ela, definitivamente, não tinha ideia de onde minhas coisas estavam, ou que os meus pertences sequer estavam desaparecido. — Há quanto tempo você estava procurando por mim? — Há alguns meses agora. Não, ela ainda estava na França, e apenas pensando em mim. Meu querido tio Victor estava mentindo através de seus dentes amarelados. Cameron tinha me dito que Shield não poderia ser morto por causa de suas ligações, porque alguém como ele não podia aparecer morto ou desaparecer, que muitas perguntas seriam feitas, como seria o

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caso de um oficial de polícia. E, então, eu compreendi que Shield era apenas um apelido para o emblema da polícia, que ele usava para se proteger dos seus crimes. Eu olhei de volta para o meu tio Victor, que tinha abusado de nossos laços de família para me atrair longe de Cameron, e que agora eu entendia também, era chamado de Shield. Lágrimas estavam se acumulando em meus olhos. Limpei a garganta, em um esforço para mantê-las longe de transbordar e não despertar a suspeita de que o jogo havia terminado. — Como vamos sair daqui? — Minha voz rouca me traía. Os olhos de Shield brilharam. Sua mão se moveu para o topo da minha cabeça e ele acariciou o meu cabelo, amorosamente. — Você sabia que eu vi Isabelle primeiro? Antes de Burt sequer saber que ela existia? Eu estava tremendo. Ele sorriu. — Estávamos todos na mesma festa. Uma dessas festas de trabalho que seu pai costumava arrastar a minha irmã. Isabelle entrou pela porta, e todos os olhos estavam sobre ela. Ela era uma mulher deslumbrante. Ainda é. Mas, de todas aquelas pessoas, ela sorriu para mim em primeiro lugar. — Seu rosto, em seguida, tornou-se sombrio. — Naquela época, seu pai tinha muito mais dinheiro do que eu. Eu era apenas um policial derrotado. Eu não podia competir. Mas as coisas são diferentes agora. Ele saiu de seu devaneio e piscou para mim. Um calafrio percorreu minha espinha. Eu puxei a mão. As lágrimas rolavam pelo meu rosto, mas meu olhar era inflexível. — Você ainda é um policial, — eu o lembrei com rancor.

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— Sim, — disse, como se sua traição tivesse sido um grande espetáculo. — E você vai me fazer rico novamente. Eu sabia que era a hora de admitir que o dinheiro não estava indo ser dele. — Eu não tenho o dinheiro do meu irmão. Seus olhos estavam em chamas. — Esse dinheiro era meu, e não de Bill. Ele deveria ter sido devolvido de volta para mim quando ele morreu, — disse asperamente. — Eu ensinei a Bill o negócio, tratei como meu próprio filho. Juntos, nós estávamos indo governar o submundo. Então aquele bastardo ingrato roubou tudo de mim e juntou forças com as crianças de rua sem mãe. Bill me devia muito mais do que os dólares que ele deixou para trás. E então ele deu um meio sorriso. — Mas nada disso importa agora. Com você aqui, vou ter tudo de volta e muito mais. Nós vamos fazer grandes coisas juntos. — Eu não estou fazendo nada com você, — cuspi de volta. Isso o divertiu. — Eu pensei que você tinha uma atração por traficantes de drogas? Não? Bem, parece que eles gostam muito de você. — Ele riu e balançou a cabeça em descrença. — Eu não poderia ter planejado isso melhor eu mesmo. Podemos usar isso a nosso favor. Com o poder que você tem sobre esse menino, vamos controlar os líderes, os distribuidores, os embarques, tudo. — Ele acrescentou com um sorriso doentio: — Ainda que eu tivesse gostado de ter ficado por perto e vê-la florescer como sua mãe antes que o menino tenha a oportunidade de tomá-la. Nós poderíamos estar muito mais longe agora. Ele estendeu a mão para acariciar meu rosto. A náusea estava voltando, mas não tinha nada a ver com os sedativos. Levantei-me e, virei de costas para ele, olhei ao redor do

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quarto à procura de uma saída ou uma arma. Além de uma bandeja de plástico e uma caixa de suco, eu não tinha muito para trabalhar. Fui até a parede e me virei, deslizando para baixo, sentando na superfície fria do chão com os joelhos curvados em meu peito. Pela primeira vez, notei que ele tinha uma arma enfiada na parte de trás de sua calça. Eu me senti como um idiota por não ter notado isso antes, mas não havia tempo para me recriminar. Algo que Victor tinha dito, tinha despertado o meu interesse. — Então, ele está vivo. — Minha voz era firme e indiferente, como eu tinha ouvido Cameron falar muitas vezes. — Quem? Aquele menino Cameron? Sim, ele está bem. — Ele procurou meu rosto. E eu era uma estátua, embora minhas entranhas estivessem agitadas ao som do nome de Cameron unido à palavra bem. Os olhos de Victor ardiam. Eu precisava mantê-lo falando... E longe de mim. — O que eu preciso fazer para que a nossa sociedade funcione? — Perguntei com um tom profissional. Ele estava animado. — Bem, agora eu tenho certeza que o garoto descobriu que eu o enganei e que tenho você. Vamos deixá-lo pensar sobre isso por alguns dias, em seguida, iniciar as negociações para enviá-la de volta. Vai demorar um pouco para convencer os líderes a deixar-me assumir o controle novamente, então eu vou controlar os negócios por trás de Cameron até que a mudança de gestão seja feita oficial. — E se os chefes não concordarem com você assumindo? — Você vai ter certeza de que Cameron vai fazer um bom trabalho em convencê-los quando eu mandar você de volta para ele.

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Meu coração pulou com o pensamento de ver Cameron novamente, mas meu rosto manteve-se inalterado. — E a minha parte nos lucros? Ele riu. — A maçã não cai longe da árvore. Estou impressionado, garota. Eu pensei que você era suave. Mas seus pais lhe ensinaram bem, eu vejo. Pessoas como nós temos que ficar juntos. O fato de que ele estava me colocando na mesma cesta com ele e meus pais me fez querer gritar. Victor continuou — Depois que eu ganhar o controle completo novamente e me livrar do menino, você e eu podemos viver felizes para sempre juntos. A sociedade estava começando a soar mais como um negócio unilateral que o levaria a liderar o submundo, e eu tendo que virar sua concubina com a aparência de Isabelle. Estremeci e alegremente respondi: — Parece ótimo. Victor caminhou até mim e me puxando pelos ombros, me fez ficar na frente dele. Com as mãos ásperas, ele puxou meu rosto no seu, sussurrou o nome da minha mãe e forçou os lábios semelhantes a couro contra os meus. Mas eu não podia beijá-lo de volta. Meus lábios automaticamente fecharam-se espremidos. Victor se afastou e me olhou. Ele foi menosprezado. —

Beije-me,

novamente. Sem



sorte,

ordenou, meus

enquanto

lábios

estavam

tentava

me

beijar

incontrolavelmente

apertados novamente. Perdi rapidamente a sua confiança e tinha que pensar em algo antes que ele percebesse meu jogo e minha repulsa completa e absoluta dele. — Preciso usar o banheiro, — eu disse, e inclinando para ele, eu

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sussurrei em seu ouvido: — Eu vomitei mais cedo. Eu realmente gostaria de enxaguar a boca antes de beijá-lo. Ele examinou meu rosto, e eu dei-lhe o meu sorriso mais doce, que eu tinha aprendido com minha mãe. Fiquei aliviada ao ver que ele me sorriu de volta. — Oh sim, é claro — disse. Eufórico caminhou até a porta e bateu três vezes. O trinco foi desbloqueado e a porta se abriu. Um guarda cautelosamente olhou para dentro. — Acompanhe a jovem até o banheiro, — Victor ordenou. Bati meus olhos para Victor. — Eu realmente não preciso de uma escolta. Eu acho que sou grande o suficiente agora para encontrar o banheiro sozinha. — Minha voz escorria como o mel. Victor parecia encantado com a minha atenção. — Sim, você certamente não é mais uma criança, — disse ele, e acrescentou enquanto gentilmente acariciou meu braço, — Mas eu quero mantê-la segura, então, por favor, deixe Mickey levá-la até o banheiro? — Tudo bem, — concordei com a voz suave. Mickey e eu andamos por um corredor branco. Mais à frente, estava um amplo espaço aberto. Estávamos em um armazém, eu percebi. O tapete barato chegou ao fim e foi substituído por piso e paredes de concreto. O armazém vazio estava mal iluminado, com a luz do dia vindo de vidraças sujas na parte alta das paredes. Havia mais guardas armados em pé junto às saídas, e mais estavam jogando cartas, com caixas vazias como mesa de jogo. Nossos passos ecoavam enquanto fizemos o nosso caminho para o banheiro. A imagem da porta indicou que era o banheiro dos homens. Olhei ao longo da parede de cimento, não havia banheiro das mulheres.

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Mickey confirmou minha suspeita quando ele abriu a porta para o banheiro dos homens. — Saia, — ele ordenou a um guarda que estava junto ao mictório. O guarda rapidamente puxou seu zíper e correu para fora. O banheiro era tudo o que eu esperava de um banheiro de homens: asqueroso, imundo e com cheiro de urina, entre outras coisas. Mickey me seguiu, enquanto eu fui rapidamente a uma das cabines. Não havia nenhum sentido em pedir um tempo sozinha para pensar, isto era toda a privacidade que eu ia conseguir. Até aquele momento, eu tinha uma leve esperança de que o banheiro teria uma janela e que eu seria capaz de enganar o guarda tempo suficiente para escapar. Isso era o que normalmente acontecia nos filmes, certo? Mas não havia janelas, apenas um mosaico amarelado e rabiscos de escalas de trabalho, alguém para ligar para ter sexo. Se Victor tomar seu caminho, meu nome logo seria adicionado à parede do banheiro da fama. Eu estava fora das opções, e eu tinha que me preparar para o que

teria

que

fazer

a

seguir. Eu

deixei

algumas

lágrimas

silenciosamente cair dos meus olhos enquanto eu orava aos deuses no teto concreto manchado. O guarda pediu para eu me apressar, limpei as lágrimas, coloquei um sorriso no rosto, e sai. Eu não podia olhar para mim mesma no espelho rachado. Eu estava com muito medo do que eu poderia encontrar lá me encarando, eu teria que ser outra pessoa. Joguei água no meu rosto e lavei a minha boca, como eu havia me comprometido a fazer. Quando saí do banheiro, meus dentes estavam cerrados em um sorriso, e eu estava respirando curto pouco profundo, o suficiente para me manter em pé. Na minha cabeça eu estava cantando uma melodia da Noviça Rebelde para me impedir de chorar.

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Dó, um cervo, um cervo fêmea. Nós caminhamos passando os jogadores de cartas com os olhos fixos. Ré, uma gota de sol dourado. Nós atingimos o limiar de tapete feio. Mi, um nome que eu me chamo a mim mesmo. Estávamos de volta ao quarto que tinha sido convertido em minha prisão onde Victor estava esperando ansiosamente. Quando ele se aproximou de mim, ordenou a Mickey para fechar a porta e nos dar alguma privacidade. Meu único meio de escapar bateu atrás de mim, levando a melodia alegre com ele. Não havia nada na minha cabeça agora, só o inevitável medo. Eu queria que Victor apagasse a lâmpada. Assim, pensei que seria mais fácil para eu imaginar que eu estava em qualquer lugar, menos aqui. Victor estava sorrindo com benevolência. Eu estava tremendo incontrolavelmente. — Você não precisa ter medo. Eu não vou te machucar, — sussurrou enquanto ele passou a mão em volta do meu rabo de cavalo, puxando minha cabeça para trás, forçando-me a olhar para ele. Ele parecia uma versão enrugada muito mais velha do meu irmão. Esse pensamento só piorou as coisas. Eu comecei a chorar. Eu sabia que não seria capaz, sob qualquer pretexto de boa vontade ou de outra forma, para chegar ao final. Seu rosto estava chegando mais perto do meu. — Tio Victor, — eu implorei — não posso... Isso o fez sorrir. — Eu não sou realmente seu tio. Você sabe disso,

certo? Isso

seria

errado

se

estivéssemos

realmente

relacionados. Mas não estamos. Então, está tudo bem. Apenas relaxe. Ele

apertou

seus

lábios

contra

os

meus,

mas

eu

não

correspondi. Seu sorriso foi desaparecendo.

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— Beije-me, — ele ordenou friamente. Comecei a soluçar. — Por favor, não. Eu não quero fazer isso. Vou fazer o que você quer que eu faça, mas não isso. Ele riu assustadoramente e sacudiu a cabeça. — Você é uma provocação, não é? Você acha que eu vou deixar você voltar para aquele menino sem algum tipo de garantia de que você vai fazer o que eu disser para você fazer? Você vai ser minha antes de volta para terminar o trabalho. Ele me empurrou contra a parede e segurou a mão dele na minha garganta enquanto tentava empurrar sua língua em minha boca. — Abra a boca, — ele ordenou. Eu estava paralisada de medo. Meus lábios permaneceram selados. Ele apertou a mão contra a minha garganta mais forte desta vez, até que a minha boca, finalmente, abriu para respirar. Ele me beijou, e eu continuava a lutar. Sua mão livre estava em todos os lugares, no meu rosto, no meu cabelo, mas quando ele começou a avançar pouco a pouco no meu pescoço e mais perto do meu seio, eu entrei em pânico absoluto. Instintivamente, chutei meu joelho entre as suas pernas. O efeito foi imediato. Ele caiu no chão de joelhos, agarrando-se. Mas ele ficou furioso e, em meio segundo, estava de volta em seus pés. Ele parou de novo na minha frente, puxando o punho para trás. Fechei os olhos e esperei o golpe.

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Quando acordei, eu estava deitada entre a parede e o chão com os meus membros se agitando em todas as direções. Eu lutei em uma posição sentada; meu rosto estava pulsando com dor. Eu escovei meus dedos contra ele e senti o sangue seco debaixo do meu nariz, e um endurecido na forma de circulo quente do tamanho de um punho na maior parte da minha bochecha. Havia algo salgado, sangue, contra os meus dentes. O restante estava intacto e eu estava imensamente grata por isso. Eu tinha escapado do Victor, mas por quanto tempo? Eu rastejei para trás em minha bola defensiva e descansei minha cabeça dolorida nos joelhos, chorando, soluçando. As lágrimas haviam secado há muito tempo no momento em que Mickey deslizou minha bandeja de comida até mim com o pé. Eu não olhei para cima, e ele não perguntou como eu estava. Tivemos um entendimento tranquilo. Ele fechou a porta e me deixou sozinha novamente. Desta vez a minha refeição consistiu de queijos processados entre dois pedaços de pão e duas caixas de suco. Eu estava determinada para o mundo. Eu fiquei de pé e comecei a andar pelo quarto,

bebendo

minha

caixa

de

suco.

Parei

em

frente

da

porta; ridiculamente desesperada, eu tentei a maçaneta da porta... Porque nunca se sabe. — Nem pense nisso, menina, — uma voz fria do outro lado respondeu a minha tentativa. — A porta está trancada, e eu estou aqui esperando por você, se não ele está.

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Eu decidi quebrar o código de silêncio. — Mickey, é você? — sussurrei. Pude escutar ele se mexer, mas não houve resposta. — Mickey, você precisa me ajudar a sair daqui. Ele vai me matar. — adicionei após o outro lapso de silêncio, — Há um monte de dinheiro para quem me ajudar a escapar. — Coma sua comida e cale-se, — Mickey finalmente respondeu. Eu não tinha aliado aqui. Eu terminei minha caixa de suco, e peguei o pão, sentada na cama, ouvi passos do meu Carrasco. Eu não tive que esperar muito tempo, Victor entrou pela porta recém banhado, rosto barbeado e sentou-se na cama. — Sente-se melhor agora? — Perguntou. Eu o fulminei com o olhar. Ele fingiu examinar meu rosto. O que ele encontrou o fez balançar a cabeça em desaprovação para mim. — Eu não teria que fazer isso se você se comportasse. Não queria dizer nada além do meu silêncio. Victor continuou seu monólogo. — Eu trouxe algumas roupas limpas. Você pode ter um chuveiro também. Você gostaria disso? Eu não queria nada que ele queria me dar, mas eu também precisava ganhar algum tempo. Assenti com a cabeça e me encolhi quando vi que a minha concordância lhe agradara. Mickey me escoltou de volta ao banheiro dos homens. Eu tinha notado um ligeiro estremecimento quando ele olhou para minha cara

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quando saí do quarto. Eu me perguntei se seria capaz de usar isso, a sua humanidade, em minha vantagem. Uma das cabines tinha um chuveiro; no entanto, olhando o azulejo no chão amarelado, parecia que ele também foi usado como um mictório extra. Enquanto Mickey estava do outro lado da cabine, eu me despi e pus minha roupa por cima da porta. Liguei a água, tão quente como podia, e comecei meu banho. Em menos de um minuto, a água começou a ficar fria. Quando me virei, vi um vestido rosa pendurado ao lado das roupas sujas que eu tinha jogado em cima da porta. Eu resmunguei, agarrando o meu vestido preto. Mickey riu quando eu saí. — O rosa não é sua cor, não é? Eu o ignorei e fiquei ao lado da pia. Uma

batida

na

porta

trouxe

um

dos

guardas

para

o

banheiro. Ele entregou uma bolsa de gelo para Mickey; e Mickey entregou para mim. — Vai melhorar o inchaço, — ele me disse. Eu olhei furiosa para ele, tomei a bolsa em minhas mãos, marchando para o chuveiro, e esvaziei a bolsa no chão de azulejos e entreguei a bolsa vazia. Girei sobre os calcanhares para voltar a minha cela escutando enquanto a porta foi fechada atrás de mim. O banho de água fria tinha me energizado, e eu me sentei no colchão, determinada a traçar minha vingança ou a minha fuga, o que viesse primeiro. Mas, enquanto ouvi a porta sendo bloqueada após Mickey ter me trancado, eu sabia que não tinha mais nada. Então eu esperei por Victor e me preparei para o meu ataque. As horas pareciam rolar por este quarto que se assemelhava a uma caixa de papelão, e Victor nunca veio. O armazém estava

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mortalmente silencioso. Talvez fosse noite agora. Eventualmente, eu desliguei a lâmpada oscilante, e me arrastei para a cama, caindo no sono. Não houve pesadelos enquanto eu dormia — eu já estava em um.

Victor

estava

me

olhando

no

escuro

fixamente

quando

acordei. Saltei e pressionei meu corpo contra a parede, tão longe dele quanto eu podia. Nas sombras, Victor sorriu doentio e se sentou na cama, ao meu lado. — Você é tão bonita, — ele sussurrou. Senti sua mão acariciar meu cabelo, empurrando de lado, longe do meu rosto, como Cameron tinha amorosamente feito antes dele. Eu estava cansada de chorar, de ser fraca. Mas as lágrimas caíram de qualquer maneira. Victor passou os dedos sobre meus lábios indicando para me calar. — Deite-se. Eu não me movi. Hipnotizada pelo medo. — Deite-se, — ele gritou. E eu gritei de medo. Com cada músculo do meu corpo tremendo, eu deitei de costas. Victor levantou-se e puxou a corda da lâmpada. Fechei os olhos quando a luz se acendeu. As lágrimas já tinham encharcado o travesseiro no momento em que Victor tinha subido em cima de mim. Ele começou a me beijar e não se importou desta vez que eu não estava beijando de volta. Seu hálito cheirava a álcool ou antisséptico bucal. Eu não poderia dizer a diferença. Fosse o que fosse, isso fez embrulhar o meu estômago. Seus beijos se tornaram mais fortes, e as suas mãos mais agressivas. Eu comecei a lutar. Ele agarrou meus pulsos com uma mão e manteve sobre a minha cabeça. Eu comecei a chutar gritando.

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Ele colocou a mão sobre minha boca e me segurou para baixo com o peso de seu corpo. — Se você não se comportar, eu vou ter que servi-la, por um tempo, em um dos meus prostíbulos. Ou talvez eu só vá te matar. Eu não preciso de você viva para fazer aquele menino perder o controle. — Ele me olhou fixamente. — Agora, você vai se comportar? Eu balancei a cabeça que sim. Assim que ele a soltou da minha boca, eu cuspi em seu rosto. — Vá em frente e me mate então, porque eu nunca vou fazer o que você quer que eu faça. Eu não vou traí-lo, não importa o que você faça para mim. Ele

deu

um

já machucada, bochecha. Lágrimas

bofetão de

dor

na escaparam

minha, dos

meus

olhos. Eu estremeci, mas eu tinha parado de chorar. Eu continuei tentando me afastar para longe dele, mas isso só pareceu excitá-lo. Ele começou a apalpar a fivela do seu cinto; Eu comecei a chutar e gritar tão forte quanto podia. Consegui soltar uma das minhas mãos e arranhei seu rosto. Ele gritou de raiva e de dor e me deu outro tapa no rosto. A porta se abriu. Victor olhou para cima. Eu usei sua distração momentânea para empurrá-lo longe e correr para me esconder em um canto do quarto. Mickey estava na porta. — Eu disse para ficar longe, — Victor gritou para ele. Mickey rapidamente me olhou e se virou para Victor. — Sinto muito, senhor. Eu o ouvi gritar. Pensei... — Você não pensou em nada. Saia daqui e não volte a entrar! Mickey me olhou novamente. — Senhor, há alguém aqui que quer vê-lo.

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Ouvi passos curtos, e um homem que reconheci como o assassino de Rocco entrou pela porta. Levou tudo que eu tinha para não saltar para a garganta de Norestrom e sufocá-lo. Mas, por sua aparência, alguém já tinha batido nele por mim. Um de seus olhos estava inchado fechado, seu nariz estava sangrando e torto, e estava faltando vários dentes. — O que aconteceu com você? — Victor perguntou. Norestrom voltou toda a sua atenção para Victor. — Eu fui pego por um dos meninos de Spider. Eles tentaram fazer que eu desse a localização daqui. Mas eu não lhes dei nada e fugi antes que eles pudessem me matar. Victor deu um meio sorriso e, distraidamente, disse enquanto me olhava de novo, — Bem, é bom ter você de volta, filho. Vamos precisar de você por perto para o controle. Vá se limpar e certifique-se de que a jovem e eu tenhamos privacidade. — Claro, Shield. — Norestrom tinha um olhar petulante no rosto quando se virou para o guarda. — Pensei que você podia seguir ordens, Mickey, ou tenho que desenhar? Mickey

parecia

furioso,

mas

acenou

com

a

cabeça

em

obediência. Os homens saíram e trancaram a porta atrás deles. Deramnos a nossa privacidade. Victor imediatamente se levantou e veio na minha direção como se já havia vencido. Levantei-me ao seu encontro e com os punhos para cima. O golpeei com um soco que ele se desviou. Ele achou isso hilário. — Você e seu irmão sempre foram ariscos. Nunca entendi o que deixava Bill tão irritado. Eu acho que ele tinha razões para estar chateado, com o seu pai por deixá-lo comigo. Mas não se pode culpar o seu

pai

embora. Sua

mãe

era

bastante

cativante.



Ele

riu

novamente. — Pobre Billy. Ele veio até mim, pensando que iria

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encontrar um aliado contra o pai. Mas minha irmã não era nada mais que uma mulher de mente fraca. Eu estava com vergonha de estar relacionado a ela. Ela não merecia ter sua honra defendida por mim ou Bill. Victor empurrou meus punhos para baixo e trouxe seu rosto sorridente ao meu. — Você ainda é virgem? — Não. Cameron se encarregou disso, — disse maldosamente. Seu sorriso se foi. Isso me deu um pouco de conforto. Ele me agarrou pelos ombros e me arrastou para a cama, enquanto minhas pernas se agitaram no ar. Ele rapidamente retomou a sua posição em cima de mim e começou a se atrapalhar com a fivela do cinto. Comecei a me debater enquanto ele afrouxou as calças e eu desejei ter usado calças em vez de um vestido do funeral, pelo menos teria atrasado ele um pouco mais. Victor lutou comigo e suas calças, eu senti alguma coisa fria cair perto da minha coxa. De repente, tudo mudou para mim. Acalmei-me e parei de me debater, o que deixou Victor moderadamente satisfeito. — Assim. Agora está melhor, — disse ele suavemente. Seu aperto em minhas mãos afrouxou enquanto ele se aproveitou da minha mudança de humor para puxar o resto de suas calças para baixo. Com minha mão livre, puxei o revólver que tinha deslizado ao lado da minha coxa. Mirei para a sua cabeça. Com a sensação de um cano frio contra seu crânio, eu tinha a atenção total e indivisível de Victor. Mas ele apenas riu. — Você sabe mesmo como usar essa coisa? — brincou. Eu puxei a trava, eliminando qualquer dúvida. Ele se encolheu quando o clique ecoou na sua pele. Seus olhos cresceram tão grandes quanto o fundo de um copo.

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— Saia de cima de mim, — pedi. Ele, desajeitadamente, rolou para fora da cama e ficou na minha frente de cueca, com os braços estendido para cima e as calças em torno de seus tornozelos. — Relaxe, — disse ele abanando as mãos. — Não faça nada tolo. Um grito meu e vinte guardas estarão aqui. — E você vai estar morto, — acrescentei. Levantei-me e exigi que ele se virasse. Eu coloquei a arma contra a parte de trás de sua cabeça e o empurrei em direção à porta. Ele era muito mais alto do que eu, então, eu tinha que me esticar na ponta dos pés para manter a arma encostada em sua cabeça, enquanto ele andava. Chegamos até a porta e, não confiando que ele daria o sinal certo, eu alcancei a minha mão livre em torno dele para bater na porta, três vezes. Depois de alguns segundos, eu ouvi alguém se atrapalhar com a fechadura e abrir a porta. Mickey pegou sua arma quando viu Victor com as mãos atadas atrás da cabeça me espiando atrás dele. — Nem sequer pense nisso. Toque nessa coisa e seu chefe morre, — gritei, surpresa com a força da minha própria voz. Eu estava completamente calma. Eu disse a ele para remover lentamente a arma do coldre usando a mão oposta, — vi isso em um filme uma vez — e entregar para mim. Mickey soltou uma espécie de riso quando ele seguiu minhas ordens. Agora com duas armas, eu pedi para Mickey andar na frente ao lado de Victor com as mãos para cima. Victor foi andando e tropeçando em suas calças caídas, e eu os segui. Com os dois homens grandes na minha frente, eu não conseguia ver nada à frente. Eu olhei para o chão e vi que tínhamos chegado ao fim do tapete no armazém.

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Eu ouvi vozes abafadas quando entramos. — O que está acontecendo aqui? — Exclamou Victor. Eu tentei espreitar em torno dele, mas Mickey bloqueava minha visão. — Mickey, abaixe. Não posso ver nada, — reclamei. Então lembrei que eu era a única que estava segurando as armas. Mickey riu e ficou de joelhos com os dedos ainda atrás da cabeça. Victor fez o mesmo, sem a minha ordem. Minha visão finalmente foi descoberta, e meus joelhos quase dobraram debaixo de mim. Eu estava tentando confirmar o que eu pensei que tinha visto, mas a minha visão estava sendo borrada de lágrimas. Eu não podia limpar as lágrimas, porque minhas mãos trêmulas ainda estavam segurando as duas armas. — Emmy! — Ouvi Cameron dizer com desespero. Eu não precisava ver que era realmente ele. Ouvi passos apressados e através do manto de minhas lágrimas vi Mickey e Victor sendo retirados do chão por um grupo de grandes figuras. Não podia me mover, além do tremor incontrolável das minhas mãos. Minhas pernas estavam tão tensas como uma tábua agora, e minha cabeça estava flutuando. Eu ainda estava apontando as armas à minha frente, os soldados de Cameron

estavam encolhidos longe do meu trêmulo

objetivo, enquanto tratavam de arrastar Mickey e Victor. Mas eu estava olhando para Cameron, que estava de pé ao meu lado. — Os pegamos. Está tudo bem, — disse baixinho no meu ouvido enquanto ele abaixou meus braços para baixo e tomou as armas mim. Ele me envolveu em seus braços, e eu comecei a chorar. Eu

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estava trazendo minhas mãos aos meus olhos, tentando manter as lágrimas para que eu pudesse ver seu rosto. Ele era alegre e, ao mesmo tempo, triste, rindo no meu ouvido. — Eu vim para salvá-la, mas eu acho que você não precisa de mim para salvá-la depois de tudo. Eu queria dizer a ele que eu sempre preciso dele, sempre, mas nada mais que lágrimas saíram. Eu desisti de tentar e trouxe o meu rosto para ele e pressionei meus lábios contra os dele, fazendo uma careta quando seus lábios roçaram o corte na minha boca. Cameron me afastou e examinou o meu rosto, passando a mão sobre meu lábio e bochecha machucada. Seu leve sorriso foi substituído por raiva. — Shield fez isso com você? — gritou, atirando o braço apontando para Victor, que estava com seu rosto voltado para o chão. De repente Cameron notou as calças em torno dos tornozelos de Shield. Seu rosto ficou pálido. — Jesus, ele... — Ele me bateu. Isso é tudo. Eu o parei antes... — Eu não consegui terminar. Antes de quê? Eu não podia falar, era muito difícil admitir para mim. Cameron estava furioso. Ele se lançou para Victor, girando seu corpo para frente, Cameron o montou e o socou repetidamente no rosto, uma e outra vez. Victor se encolheu em uma bola, cobrindo o rosto ensanguentado com as mãos. Spider veio correndo atrás deles, gritando. — Cameron, pare! Você vai matá-lo! — Bom! — Cameron gritou de volta. Com a ordem de Spider, os soldados puxaram Cameron de cima de Victor. Precisou de quatro deles para finalmente conseguir afastar Cameron de Victor. Spider deu ordem para arrastarem Victor longe da

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vista de Cameron, enquanto Cameron fervendo observava. Corri até ele e joguei meus braços em volta do seu pescoço. Eu sussurrei que estava bem, mais e mais, enquanto eu o segurei. Ele se acalmou depois de um tempo e me apertou em seus braços. — Como me encontrou? — Perguntei, tentando mexer o suficiente para olhar para ele. O sorriso que ele me deu, quase chegou até seus olhos. Seu rosto estava com a expressão cansada como se não dormisse há dias, ele parecia vinte anos mais velho. — Os soldados pegaram Norestrom um par de dias antes do funeral de Rocco. Íamos envia-lo de volta a Shield em pedaços pelo que fez a meu irmão, mas quando você desapareceu, eu tentei arrancar sua localização dele... Antes de matalo. Ele não quis falar rápido o suficiente. Eu o deixei escapar, sabendo que ele seria estúpido o suficiente para vir encontrar Shield e nos levar até você. Seus olhos estavam presos nos meus, mas meus olhos começaram a vazar novamente. — Cameron, eu não tive a intenção de abandonar você na igreja. Tio Victor me convenceu para ir com ele. Eles começaram a atirar lá fora. A janela explodiu. Eu pensei... — Um dos homens do Shield atirou na janela da igreja quando ouviu você me avisar pelo rádio. Eles não estavam atirando em nós. Eles não podiam. Se eles nos matassem em uma emboscada assim, os líderes teriam caçado todos eles. Demorou um pouco de tempo para descobrir que eles estavam atirando em qualquer coisa, menos em nós. Shield os advertiu. Eu deveria saber que era uma armadilha e nunca ter saído do seu lado. Estou totalmente ferrado.

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Ele me abraçou, e depois me empurrou, segurando meus ombros em suas mãos. — Eu não tinha ideia que Shield era seu tio. Se eu soubesse, teria avisado. — Ele era tio do meu irmão. — Realmente não senti vontade de explicar a história da minha família naquele momento em particular, mas Cameron não insistiu mais. — Isso explica muita coisa. Onde Bill tirava todas as suas ideias e de sua aversão extrema por Shield, — disse ele. — Embora, eu queria que Bill tivesse me contado. Eu sorri para ele, e ele gentilmente beijou o lado bom da minha boca. Quando nós viramos, o armazém estava praticamente vazio, com exceção de Spider e Tiny, que estavam parados junto de Victor. Tiny estava segurando Victor pelos ombros, enquanto Spider estava acenando o dedo para Victor e falando com ele com uma voz baixa. Victor parecia aterrorizado. Fomos em direção a eles. Victor olhou para mim, e eu olhei para longe. — Deixe-o ir, — Spider, que estava de costas para nós, disse a Tiny. — O quê? — Cameron gritou. Tiny continuou a segurar Victor. Tiny olhou confusamente de Spider para Cameron. — Estamos o deixando ir, Cameron, — Spider disse enquanto girava nos calcanhares para nos enfrentar. — Depois de tudo que ele fez? Não, ele é um homem morto.

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— Estamos o deixando ir, Cameron, — Spider repetiu com mais força. Cameron arrastou Spider longe de nós, e discutindo aos sussurros, eles decidiram o destino de Victor. Vi o rosto de Cameron tornar pálido no meio de seu argumento. Depois de um tempo, Spider era o único que falava, e Cameron estava escutando com a cabeça inclinada em derrota. — Deixe-o ir, — Cameron disse desanimado para Tiny quando voltou. Ele estava pálido. Engoli em seco. Tiny manteve seu aperto em Victor por alguns segundos, para ver se Cameron iria mudar sua mente. Quando ele não o fez, Tiny largou Victor. Os joelhos de Victor dobraram debaixo dele quando ele caiu de volta para o chão, e correu para fora do armazém. Spider, significativamente, olhou para mim e Cameron, e então ele saiu com Tiny ao seu lado. — Por que você o deixou ir? — Perguntei em tom acusador quando me virei para Cameron. O que eu vi em Cameron me assustou mais do que qualquer coisa que Shield, jamais poderia ter feito para mim... Lágrimas brotaram nos olhos de Cameron. — Cameron... — Eu tinha perdido a minha respiração. Ele me agarrou em um abraço e cochichou: — Emmy, você precisa ir. Agora. Eu o empurrei. — O quê? Não. Eu não vou a lugar nenhum sem você. Ele estava em agonia. Dor tinha esculpido profundas fissuras na sua testa.

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— Me diga o que esta acontecendo. Agora, — eu exigi mordendo meu lábio, tentando não chorar, tentando lutar contra o medo que estava formigando dentro de mim. — Por favor, — ele implorou — você precisa ir. Não olhe para trás. Eu te amo. Dei um passo em direção a ele, com meus braços estendidos. Ele deu um passo para trás e virou o rosto para longe de mim. — Cameron, não. Você está me assustando, — não só estava assustada; Eu

estava

petrificada. —

Diga-me

o

que

está

acontecendo. Por favor. — Me lancei em seus braços antes que ele pudesse reagir e enganchei meus braços em volta do seu pescoço. Eu o ouvi suspirar, e ele me segurou por alguns segundos. Passos vieram atrás de nós. Ele se soltou dos meus braços e me empurrou. Segui seu olhar assustada. Spider e Tiny estavam de pé a poucos metros de distância. Spider tinha sua arma apontada para nós. — O que está acontecendo? — Perguntei, minha voz tremendo com o resto do meu corpo. Spider estava olhando friamente para Cameron. — Você teve seu adeus, agora vamos acabar com isto. Cameron virou-se para Tiny. — Tire-a daqui. Tiny assentiu com a cabeça e começou a caminhar em direção a mim. Implorei para Spider. — Por favor, não faça isso, Spider. Nós iremos sair. Você pode ter tudo, e você nunca vai ter que nos ver novamente. Você não precisa fazer isso. Por favor…

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Spider manteve os olhos em Cameron. Tiny veio me pegar por trás e começou a me arrastar para longe. Eu gritei através das minhas lágrimas a Cameron. — Cameron, faça alguma coisa! Não deixe eles fazerem isso. Por favor. Cameron olhou para mim com olhos de dor, e então ele respirou, sua mandíbula se apertando e ele desviou o olhar. Seu rosto tornou-se perfeitamente inexpressivo quando ele olhou para a arma de Spider, esperando. Eu estava em um pesadelo. Eu precisava acordar. Mas a palpitação no meu peito era muito real para que isso fosse um sonho. Enquanto Tiny me arrastava até a porta eu chutava e gritava, ouvi o primeiro disparo. Eu assisti com horror quando Cameron caiu no chão. Tiny tinha se distraído e momentaneamente me soltou. Corri de volta para Cameron ajoelhando ao seu lado no chão, colocando-me entre ele e a arma de Spider. Olhei para baixo. O ombro da camisa de Cameron já estava encharcado de sangue. Seus olhos me encontraram, mas eles estavam apagados. A vida estava sendo minada dele e me arrastando com ele. — Saia daqui, Emmy, — pediu muito calmamente, como se ele não sentisse a ferida jorrando em seu ombro. — Eu não vou permitir que façam isso com você. Não vou deixar. Por que você está permitindo fazerem isso? — Eu não tenho outra escolha, — disse ele. — Tem que terminar desta forma. — Eu não vou dizer adeus a você, — resolvi. — Você pode lutar. Por que você não está lutando? — Eu estava furiosa que ele estava se dando por vencido tão facilmente. — Não os deixem ganhar, Cameron.

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Eu podia senti-lo desaparecendo. Eu coloquei minha mão sobre a ferida e virei o seu rosto, obrigando-o a me reconhecer. Lágrimas estavam queimando minhas bochechas. —

Eu

te

amo,



eu

disse

a

ele

em

um

sussurro

desesperado. Meus olhos se detiveram sobre os seus, mas Cameron fechou os olhos. O amor já não era suficiente. Cameron puxou minhas mãos e gritou: — Tire-a daqui! Tiny havia voltado e, desta vez, me levantou do chão, e me jogou por cima do ombro, e ele me levou para fora. A última vez que vi Cameron, ele estava olhando para o teto e uma lágrima rolou para fora do canto do seu olho. Eu ainda estava gritando e chorando incontrolavelmente quando Tiny finalmente me pôs de pé. Ele limpou o suor da testa e segurou-me com um braço enquanto eu continuei a lutar com ele. — Não há nada que você possa fazer, Emmy, — disse a voz trêmula de Carly. Ela estava de pé ao lado de nós. Mais três tiros sucessivamente foram disparados dentro do armazém e, em seguida, tudo estava quieto. Carly pôs as mãos no rosto. Me perdi e caí de joelhos.

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No momento, que escutei o ultimo disparo, eu senti Cameron me deixar. Eu

quebrei,

como

um

vaso. Cameron

teve

a

sua

sorte

perdida; Havia tanta dor em mim. Era como se alguém estivesse me apunhalando e cortando minha pele aberta. Eu queria ser morta. De certa forma, eu já estava... Sem Cameron, não havia mais nada. Meu rosto estava úmido. Meu cabelo estava grudado no meu rosto. Eu ainda estava gritando, chorando. Mas por dentro não sentia e ouvia nada. Minha voz não era minha. Na minha cabeça, tudo tinha ido silencioso e negro, um buraco escuro que eu nunca iria rastejar para fora. A velha Emily tinha morrido com Cameron; o que emergiu do buraco era alguma coisa sinistra. Quando olhei para cima, quando a sombra de Emily levantou a vista, vi Carly. Ela estava olhando para mim, seus olhos encharcados, apavorada. Ela tinha razão para ter medo... Eu estava indo para matála, e o resto deles. Ódio e vingança se espalhou pelas minhas veias, meu coração, meu cérebro, minha pele, como um câncer. Corri para Carly. Tiny estava me segurando para trás, com dificuldade. Carly

ficou

parada

em

um

estupor.

Eu

era

um

animal enjaulado a espera de qualquer oportunidade, e ela era a presa que estava junto às barras, em transe. — Como você pôde fazer isso? — A voz que escapou da minha boca era dura e violenta. — Como você pode traí-lo assim?

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Carly estava pálida. Ela tremia em meio às lágrimas. — Esta não foi uma decisão minha. Eu não queria que isso acontecesse. Não assim. — Spider te adora. Uma palavra sua e ele teria mudado de ideia, — gritei. Ela começou a chorar, e eu a odiava mais por isso. Ela não tinha o direito de chorar por Cameron. Ela tinha causado sua morte. Eu queria que ela sofresse. — É isso que você fez com o meu irmão? Você mandou matá-lo quando ele encontrou outra pessoa? Alguém mais bonita e mais agradável do que você? Ele se apaixonou por Frances, e você e Spider não podiam controlá-lo mais, então tiveram que sacrificá-lo como um cachorro doente. O rosto de Carly virou-se para desespero. — Emmy, por favor, não... — Não me chame assim! Você não tem o direito! — cuspi. Spider calmamente caminhou de volta para nós. Ele olhou para Carly que estava soluçando incontrolavelmente e com raiva virou-se para mim. — Carly não tem nada a ver com isso. Nada disto é culpa dela. O homem que estava segurando a arma tinha convenientemente decidido que eu era a culpada pela morte de Cameron. A fúria e adrenalina se alastraram pelo meu corpo, e eu pulei para frente, fugindo do aperto de Tiny. Meu punho conectou com a cara de Spider, e ele cambaleou para trás do golpe. Eu consegui jogar outro soco, embora com menos força, antes que Tiny me agarrasse pelos ombros e me levantasse do chão. Chutei minhas pernas, e uma delas pegou o ombro de Spider. Ele amaldiçoou. Carly ficou ao seu lado, entre nós, em pânico.

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— Coloque-a no carro! — Ele ordenou a Tiny. Enquanto eu continuei a lutar contra Tiny, Spider virou-se para Carly, apertando o nariz sangrando e fazendo círculos com o ombro ferido. —

Volte

para

dentro. Certifique-se

que

a

confusão

seja

completamente limpa. — Eles olharam um para o outro por meio segundo, e Carly fez seu caminho de volta para o armazém. Nesse meio tempo, Tiny tinha chamado reforços, e três homens me empurraram para a parte traseira de um carro preto. Foi feito para eu me sentar no meio, com o cinto de segurança firmemente amarrado na minha cintura com

um

aperto

extra,

enquanto

Tiny

e

outro

soldado

me

ladeavam. Spider se sentou na frente, no lado do passageiro, e o terceiro soldado saltou para o assento do motorista. — Eu quero ver Cameron, — eu exigi limpando as lágrimas intermináveis. — Você não está em posição de fazer nenhum pedido, — Spider disse nasalmente, sua cabeça se inclinou para trás no assento e um lenço de papel sangrento recheava seu nariz. Ele estava certo. Eu estava espremida no assento entre dois homens

muito

grandes,

armados

que

estavam

nervosamente

observando cada movimento meu. Não tinha nenhuma energia para brigar com eles e a adrenalina tinha evaporado fora de mim. Saímos do armazém. Estávamos em algum lugar em uma zona industrial

fora

de

abandonada, tratores

Callister. Havia abandonados. O

escavadeiras carro

foi

oxidadas

perigosamente

acelerando em uma estrada de areia, os amortecedores com os choques parecia que iam se romper a cada vez que atingia um buraco na estrada irregular. Tanta areia estava sendo levantada a partir da velocidade que foi fechando uma névoa em volta de nós, de nossa própria poeira. Virei para o armazém, onde eu imaginava o corpo de Cameron ainda deitado no chão frio, de cimento; Eu podia ver nada além de uma nuvem de

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poeira marrom. Minha garganta estava em colapso em si mesmo, como um compactador de lixo espremendo o ar para fora de cada extremidade. Eu mal podia respirar, mas, novamente, a respiração era por esse ponto avaliado em excesso, apenas mais um luxo que eu não queria. — Onde você está me levando? — Eu consegui coaxar. Nenhuma resposta. — Onde você está me levando? — Perguntei novamente com mais força. — Cale a boca, — Spider disse com irritação. Ele havia retirado o tecido de sua narina, e seu nariz começou a jorrar sangue novamente. — Você vai me matar? — Você não pode manter sua boca fechada por dois segundos? — Eu não me importo se você me matar, — soltei. Spider jurou. — Se você não calar a boca eu vou te matar, com minhas próprias mãos, neste carro. Fique quieta. Comecei a soluçar. Queria que isso terminasse. Ele suspirou. — Eu não vou te matar, tudo bem? — Por que não? — Eu perguntei a ele, à procura de uma resposta diferente. — Porque não posso matar pessoas como você, sem que outras pessoas como você notem, — disse ele, irritado. As palavras de Spider tinham me atingido como um tiro no coração. Cameron morreu, enquanto eu cruelmente tive que sobreviver,

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por nenhuma outra razão, senão as circunstâncias em que eu tinha nascido, em um mundo diferente do que ele. No entanto, Spider, que pertencia ao mundo de ninguém, ainda estava sentado lá, vivo e principalmente ileso. Havia algo desesperado e injusto sobre isso. O ódio ferveu nas veias. — Você deve estar feliz agora que Cameron não está em seu caminho, — eu supunha. Spider me fulminou com o olhar fugazmente, antes de voltar seus olhos para a estrada à sua frente, sem oferecer resposta. Todos no carro estavam sufocados. Eu tinha um público cativo, por isso continuei: — Parece que convenientemente, não deixou ninguém mais vivo, para que assuma as rédeas. Primeiro meu irmão, agora Cameron. Quantas pessoas você tem que matar antes que entenda que não é inteligente o suficiente para comandar qualquer coisa ou alguém? A mandíbula de Spider se projetava quando ele apertou os dentes juntos. Mesmo que ele, friamente, tentava me ignorar, eu sabia que ele estava ouvindo cada palavra minha. Eu estava em um caminho de autodestruição, se ele não estava pensando em me matar, eu o faria mudar de ideia ou o faria se arrepender de sua decisão de me deixar viva. — O que você fez não vai mudar nada. Você nunca será qualquer coisa como Cameron ou o meu irmão. Você é apenas mais um bandido de rua sedento de poder, com mais pólvora do que cérebro. — Minha voz era ácida. Os lábios de Spider formaram uma linha reta. — Você tem uma boca bastante grande para uma menina presa em um carro com quatro caras que não têm medo de usar suas armas.

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— Eu não tenho medo, — Não havia mais nada que Spider pudessem fazer para mim que iria mudar isso. — Eu não vou deixar você me controlar como você fez com Cameron. Spider bufou, irritado. — Controlar Cameron? Ninguém controla Cameron, exceto você. Você é um parasita. Se não fosse por você, nada disso teria acontecido. As coisas começaram a dar errado a partir do dia em que você chegou. Você tirou o foco de Cameron e os negócios começaram a ser afetados por causa disso. Se eu não fizesse isso, você teria conseguido a todos nós mortos. — Nós? — Perguntei incrédula. — Eu só vi uma pessoa segurando a arma. Spider se virou e apontou o dedo para mim. — Você não viu nada. E se você sabe o que é bom para você, vai manter a boca fechada e ficar bem longe de nós. Ou eu juro por Deus, eu vou te caçar e apertar a vida fora de você, menina rica ou não. Vou levar a sua família certinha toda para baixo também. Nada disso aconteceu. Esqueça que existimos. Eu não estava com medo. Havia um buraco no plano de Spider, e eu estava feliz para trazer isto a sua atenção. — O que eu devo fazer quando Victor vier bater na minha porta? Fingir que eu nunca o vi antes? — Não me importa o que você faz, — ele cuspiu de volta friamente. — Além disso, Shield não vai voltar. Você não é mais útil para ele agora que Cameron... — Ele não terminou a frase. Olhei para ele com cuidado. Eu tinha notado mudar algo em seu rosto quando ele tinha dito isso. Ele estava escondendo algo. — Você e Victor estavam juntos esse tempo todo, — disse eu.

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Quando Spider, inquieto, se mexeu no assento e virou o rosto o mais longe possível de mim, eu sabia que estava no caminho certo. Lembrei-me, naquele dia, na igreja, quando Spider, finalmente, convenceu Cameron a me deixar para trás. Ele tinha fornecido a Victor a oportunidade perfeita para me levar. A sombra de Emily atacou. — Você estava preparando uma falha para Cameron de modo que você teria o suficiente para se livrar dele sem ficar em apuros com os líderes. Este era o seu plano, não era? Obrigá-lo a vir atrás de mim e mostrar a ele que eu era um risco. É por isso que você deixou Victor ir hoje. Spider riu nervosamente, mas recusou-se a olhar para mim. — Você não sabe de nada, menina. Isso é a coisa mais estúpida que eu já ouvi. Cameron estava se tornando um risco, mas isso não tinha nada a ver comigo e tudo a ver com você. Tivemos que recrutar outras gangues, porque você foi estúpida o suficiente para ser apanhada pelo Shield. Com metade dos nossos mortos, era a única maneira que nós seríamos capazes de vencer os guardas de Shield e tirá-la de lá. — Depois de um momento, acrescentou, — Tanto quanto eu sei, você e Shield eram os que estavam jogando com nós. Ele é seu tio, não meu. Eu não tenho nada a ver com Shield. Eu estava longe de ser convencida. Spider estaria em êxtase de ter Cameron mostrando sua fraqueza, e indo a outras gangues e implorar por ajuda para salvar uma menina. Isso só tinha melhorado as chances de Spider no sentido de conseguir Cameron fora do quadro e tomando seu lugar à cabeceira da mesa sem muitos aborrecimentos dos outros líderes. Eu olhei para a parte de trás da cabeça de Spider. Se olhares pudessem matar, Spider teria tido uma estaca em seu pescoço agora.

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— Eu vou matar você, — eu prometi. A frieza na minha voz não deixou nenhuma dúvida de que eu quis dizer isso com todas as fibras do meu ser. Spider não olhou para trás. — Eu gostaria de ver você tentar. Levei um tempo para perceber que o carro tinha parado. O terceiro guarda tinha estacionado junto da calçada desnivelada na frente da minha casa. Eu não tinha ideia de como tinha chegado lá, tudo tinha sido um borrão até esse ponto. Mas olhar para a minha casa era como um pesadelo, de repente, derramado em minha realidade, ou pelo menos a realidade da velha Emily. O novo sendo conectado agora com o familiar só tinha aumentado à dor, Cameron não tinha sido apenas um sonho. Ele tinha sido uma pessoa real que eu amava e que tinha, inexplicavelmente, me amado. Agora ele se foi, por causa do seu amor por mim. Eu era a única que deveria morrer. Ele não. Não havia ninguém para me acordar desse sentimento, de pesadelo de dor e desespero total. Tiny deslizou pelo assento, agarrando o meu braço e me arrastando para fora no processo. A brisa quando saí do carro me gelou até os ossos. Meu rosto, cabelo e roupas ainda estavam encharcados com as minhas lágrimas. Spider abriu a porta e olhou para mim sem sair do seu assento. — Nós vamos ter suas coisas entregues a você, — disse ele de uma maneira profissional, como se nada tivesse acontecido. — Mantenha a boca fechada e fique longe de nós. Eu esperava que ele me ameaçasse profundamente, como talvez arrastando o dedo indicador ao longo de sua garganta ou com seus dedos indicando uma arma apontada para sua cabeça, e puxando o gatilho. Mas não havia nada disso. Eles me deixaram sem outra grande ameaça. Eu estava tremendo na calçada, observando o carro se afastar.

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Passou um tempo antes que eu pudesse reunir a coragem para caminhar até a passarela que levava para casa. Durante muito tempo, eu era uma estátua na calçada, com medo do que eu estava indo encontrar ali. Depois de ter sido arrancada da minha vida anterior e jogada na realidade de outra pessoa, e logo depois ser devolvida à minha

realidade,

voltar

à

normalidade

impossível. Embora eu ainda não

era

tivesse ideia do

uma

opção

que

normal

significava. Havia uma velha senhora em nosso bairro, que passava os dias empurrando, seu andador para frente enquanto resmungava para si mesma dando voltas em torno da mesma quadra. Ela fazia isso todos os dias, como um relógio. Ela tornou-se uma lenda local entre os meus companheiros de quarto. Rumores sobre seu passado foram contados sobre garrafas e caixas de cerveja e pizza. A melhor história era que ela caçava gatos vadios e escondia sob seu vestido florido. Ela iria levá-los para casa e treiná-los para o dia em que tomasse o bairro, mas primeiro os mandava de volta ao mundo para aguardar o silvo de suas ordens. Os gatos engordam enquanto isso revirando o nosso lixo. Quando a senhora louca passou por mim hoje, ela olhou para mim como se eu fosse a louca. Ela não estava muito fora do alvo. Fiquei imaginando as histórias para explicar a minha loucura. Quaisquer que sejam estava certa que o cabelo vermelho se tornaria mais ainda estranho. O olhar da velha senhora à minha direção foi rápido, mas significativo. Ela voltou para o seu passeio e fingiu que nunca me viu ali. As pessoas nesse bairro estavam enraizados em manter as coisas

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para si mesmos, para não serem arrastados para a miséria de seu vizinho. Eles já tinham o suficiente de seus próprios problemas. No momento em que eu decidi seguir em frente, a senhora já tinha avançado o seu caminho na minha rua e desapareceu na esquina. Prendendo a respiração com medo, eu virei a maçaneta e empurrei a porta da frente, quase desejando que ela estivesse trancada. Não estava. Entrar na casa era como se estivesse andando em um sarcófago. As

cortinas

empoeiradas

estavam

puxadas

fechadas,

formando uma sombra sinistra sobre os móveis, que não combinavam e o ar era sufocante. A casa estava tão morta quanto eu me sentia. Este foi um pequeno consolo para mim. Quando ouvi o som de crianças brincando em algum lugar lá fora, eu bati a porta atrás de mim, deixando de fora todos os sinais de vida. Parei na entrada escura, sem saber se eu ia cair chorando, ou começar a gritar no topo dos meus pulmões, ou ambos. Eu não fiz nenhuma. A única coisa que eu queria fazer era lavar a saliva do Victor da minha pele, o seu toque tinha deixado para trás seus insetos microscópicos rastreando para encontrar refúgio dentro dos meus poros. Eu, roboticamente, subi as escadas para um banho, sem sequer tocar na torneira de água fria. Eu queria queimar eles fora de cima de mim. O banheiro foi rapidamente preenchido com vapor. Ás gotas do vapor me rodeava apegando-se em todas as superfícies, como a primeira nevasca da temporada. Eu estava agora livre para vaguear sobre o banheiro sem medo de pegar um vislumbre de mim mesmo no embaciado espelho. Quando eu me despi, o que vi foi sangue. Minhas mãos e antebraços, de quando me agarrei a ele quando havia, com todas as minhas forças, pedido para lutar por nós. Estava coberta de sangue de Cameron. E enquanto eu tinha me inclinado sobre ele, ele

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olhou para o teto com derrota, os meus joelhos também tinham seu sangue. A banheira estava cheia até a borda. Com minhas mãos tremendo, eu rapidamente tirei minhas roupas e entrei na banheira antes que eu pudesse desmoronar. Senteime na água, mal sentindo a queimadura contra a minha pele. Tive o cuidado de dobrar meus joelhos no meu peito, para que minhas mãos e joelhos ficassem fora da água. As manchas vermelhas na minha pele eram um lembrete de tudo que eu tinha perdido. Estava balançando para frente e para trás, anestesiada, olhando para as palmas das minhas mãos enquanto as lágrimas lavavam o rosto. Seu sangue, foi tudo que me restava... Eu funguei, com cada músculo do meu corpo resistindo às ordens do meu cérebro, lutei para trazer os meus joelhos para baixo na água. Eu estava chorando, com profundos soluços. Eu trouxe meus braços e mãos para baixo ao meu lado e vi o redemoinho de sangue em uma neblina, dissipando-se na água do banho. Deitei-me abaixando a cabeça debaixo d'água, silenciando meus gritos. Com minha pele enrugada e uma toalha enrolada no meu tronco, eu caminhei como um zumbi até o meu quarto. De pé, atordoada na porta, levou alguns minutos para dar-me conta que o meu quarto estava completamente vazio. Além dos lençóis na minha cama, não havia nenhum vestígio de mim ali. Lembrei-me de que minhas coisas estavam em algum lugar lá fora, sendo apressadamente embaladas de forma que não houvesse provas do meu sonho e pesadelo.

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Eu puxei a cortina que servia de porta para mim, e me afastei. Eu levaria um tempo antes de eu ser capaz de voltar aonde era meu quarto novamente. Busquei entre os quartos dos meus colegas, o quarto de Cassie. No meio do ano passado, Cassie tinha decidido que ela era uma vampira. Das poucas roupas que ela tinha deixado para trás, todas eram escuras boas, o suficiente para caminhar ao redor no meu caixão. Vestida de luto, eu desci as escadas, liguei a televisão, e me deitei no sofá. Eu me escondi debaixo do cobertor que eu tinha arrastado para fora da cama de Cassie e fechei os olhos. Gostaria de ficar naquele local, à espera, até alguém vir identificar o corpo.

A dor se localizava na minha mão direita, a qual tinha golpeado com meu punho o rosto de Spider. Eu passei meu tempo assistindo os dois dedos médio crescerem, lentamente, de pretos a azuis. Eu não conseguia dobrá-los mais. Na segunda manhã, eles estavam tão inchados que a inflamação estava começando a se espalhar para os outros dedos. Tudo que eu queria fazer era dormir e esquecer. Mas o pulsar latejante estava me mantendo acordada. A contragosto, eu usei umas das maquiagens gótica de Cassie para encobrir a desagradável contusão que Victor tinha deixado no meu rosto e pescoço e fui para a Clínica Médica da Universidade. Os raios-X confirmaram que um dedo foi deslocado e o outro tinha uma fratura. — Como isso aconteceu? — Perguntou o médico, examinando meu rosto sobre a borda de seus óculos, como se ele pudesse ver os hematomas por baixo da montanha de maquiagem. — Kickboxing, — eu disse sem pestanejar. Eu tinha planejado minha desculpa antes de chegar ali.

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— Hmmm, — ele disse, com descrença em seu tom. — Mais um dia e a gangrena teria te custado um dedo ou dois. Ele agarrou o meu dedo deslocado e, sem aviso, o pôs de volta no lugar. Não doeu tanto quanto eu pensei que seria, mas o som horrível de ossos estalando no lugar me trouxe uma onda de náusea. Eu empurrei o médico longe no tempo de vomitar em sua lata de lixo. Ele correu para fora da sala. Um estudante de medicina do primeiro ano veio para terminar o trabalho. Embora eu tivesse que sentar dolorosamente reta, enquanto o estudante nervoso tentava encaixar meus dedos latejantes em uma tala, pelo menos, não havia mais perguntas. Ele precisava colocar toda a sua atenção sobre seu paciente... seu primeiro paciente, aparentemente. Ele provavelmente iria se lembrar disso para o resto de sua vida, e eu gostaria de tentar muito esquecer. Eu marchei de volta para a casa, olhando para baixo, evitando o contato visual com os que passavam na rua semelhante a esses estranhos que desconfiavam de tudo, como se estivessem me julgando por ter sobrevivido a Cameron. Meu ritmo acelerava com cada pessoa que passava. Quando voltei para casa, quase me choquei com Tiny na passarela. Ele me ignorou e voltou para a caminhonete para pegar mais caixas. Carly estava em pé ao lado da caminhonete de Spider, olhando o tráfego de pedestres. Ela, cautelosamente, se aproximou de mim e me puxou para o lado para que os guardas pudessem terminar seu trabalho e sair de lá. — Como você está? — Ela perguntou, seus olhos digitalizando meu rosto. Sua voz quase parecia realmente preocupada. Eu a encarei de volta e apertei minha mão boa, fechando em um punho, mas um latido me acordou das sombras. Meatball estava

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puxando a coleira, que havia sido amarrada a um dos pilares da varanda da frente. A visão dele me fez começar a chorar. Fiquei espantada que eu tivesse lágrimas em mim, tudo dentro de mim parecia secar. — Trouxemos Meatball. Ele deve estar com você, — ela disse suavemente. Limpei meu rosto com a manga da minha camisa. Ela notou meus dedos engessados. — Sua mão! Está quebrada? — Valeu a pena. Ela apertou os lábios. — Eu não sei o que você disse a Spider no carro, mas ele estava furioso quando voltou. Eu nunca o vi tão alterado antes. Ele parecia que... — O quê? Como se tivesse acabado de matar alguém? Carly ficou congelada, como se eu tivesse acabado de lhe dar um tapa no rosto. De certa forma, as minhas palavras tinham feito exatamente isso. Tiny e o resto dos guardas terminaram de trazer minhas caixas e estavam à espera de Carly ao lado da caminhonete. — Você pode ir agora, — eu disse com amargura. Ela saltou, de repente, acordando. — Não, eu não posso. Eu tenho algo para você. — Ela puxou um pedaço de papel dobrado do bolso de trás da calça jeans e entregou-o para mim. Eu desdobrei, e um cartão de visita caiu fora no processo. Rabiscado no papel havia umas quarenta linhas de letras misturadas, números e traços. Olhei para cima com uma expressão vazia.

Julie Hockley

— Isso é tudo deles. Os números das contas bancárias de Cameron, — ela disse com confiança. — Há um monte de dinheiro também, mas vai levar um tempo para te entregar tudo. — Eu estava vendo vermelho, mas ela não percebeu e apontou para o cartão que tinha caído no chão. — Isso é o número do nosso contador. As contas estão em lugares diferentes ao redor do mundo. Pode ser complicado. O contador irá te ajuda a sacar o dinheiro. Você pode confiar nele. Se os meus dois dedos não tivessem em uma tala, eu teria rasgado o papel em pedaços. Mas eu resolvi jogá-lo de volta em seu rosto. Carly pegou com habilidade. — Eu não quero o seu dinheiro de sangue. Tiny tinha começado a fazer o seu caminho para nós quando a minha temperatura subiu, mas Carly bravamente o deteve com a palma da sua mão. — Não é dinheiro de sangue, Emmy. Cameron... queria que você ficasse com isso. Você precisa do dinheiro. — Eu não preciso e não quero nada de vocês. — Meu olhar estava demente, mas o efeito foi perdido com as lágrimas de raiva que me tornaram lamentável. — Em, por favor, basta pegar o dinheiro. — Ela tentou me entregar o pedaço de papel, mas eu bati na sua mão. — Você acha que me dar o dinheiro vai fazer isso melhor? — Eu estava

soluçando

agora. —

Você o

traiu,

Carly,

todos

vocês

fizeram. Vocês eram a sua única família. Ele confiava em vocês. Mas como todos os outros em sua vida, vocês viraram as costas para ele no momento em que mostrou que era humano. Eu o amava e ele me amava. Você destruiu isso. — Minha voz estava falhando, afogando.

Julie Hockley

Seus lábios tremiam, mas as lágrimas nunca vieram. — Não se engane, Emmy; Nunca vou me perdoar por deixar isso acontecer. Vou ter que viver com isso o resto da minha vida. Ela olhou por cima do meu rosto por um longo segundo. Eu podia ver a dor em seus olhos. — Quando Bill morreu, eu pensei que eu ia morrer. Mesmo depois de todas as mentiras, eu não queria viver sem ele. Mas, eventualmente, as coisas começaram a ficar um pouco mais brilhantes novamente. — Carly gentilmente estendeu a mão no meu braço e eu a deixei. — Eu sei que você odeia minhas entranhas e não acredita em uma palavra que eu digo, mas as coisas vão melhorar para você também. Eu prometo. A vida continua. Você precisa seguir em frente com isso. — Ela forçou um sorriso e, em seguida, virou-se para ir embora. As lágrimas tinham finalmente rompido. Percebi que Carly e eu agora tínhamos mais em comum do que nunca, com Bill e Cameron mortos, ambas havíamos perdido nosso irmão e o amor de nossa vida. Ambas havíamos perdido a luz de Rocco. Tínhamos perdido tanto. Mas, naquele momento, eu senti mais por ela, do que eu mesmo. Para o resto de sua vida, ela estaria presa com Spider e com a culpa da morte de Cameron. Por isso, eu tinha pena dela. Sem olhar para trás, Carly falou mais alto enquanto caminhava, para a caminhonete — Mantenha-se a salvo, Emmy, e, por favor, fique fora de problemas. Ela começou a subir na caminhonete. — Eu estou preocupada com você, Carly, — eu soltei atrás dela. Ela virou. A cabeça inclinada para o lado. — Você está preocupada comigo?

Julie Hockley

— Spider é perigoso. Ele não vai parar, até conseguir o que quer. Isso fez com que ela sorrisse. — Eu sou uma sobrevivente, Em. Você não precisa se preocupar comigo. Apenas cuide-se. Ela fechou a porta do lado do passageiro, e todos eles foram embora. Limpei meu rosto. Não haveria mais lágrimas, prometi a mim mesma, mesmo que eu não tivesse controle sobre elas. Caminhei até o meu novo companheiro de quarto e enrolei meus braços ao redor de seu grosso pescoço peludo. Ele lutou para sair do meu abraço de urso para lamber meu rosto. Depois de alguns minutos, eu suspirei, e o soltei, o levando à nossa nova vida. Como você sabe quando você está lá, eu uma vez me perguntei. Talvez você tivesse sorte o suficiente para perceber o momento em que está acontecendo com você. Talvez você seja capaz de bloquear todas as outras coisas, e afinal, há apenas um ruído de fundo. Mas, na maioria das vezes, você não sabe que você estava lá, até você perdê-lo, ou até que seja levado para longe de você. Quando você olhar para trás, você vê claramente este momento, esse lugar, quando todas as peças que você tinha, finalmente, se encaixam para fazer você muito feliz, tornando todo o seu ser. Como um daqueles enigmas jumbo que ocupam sua mesa da cozinha inteira por semanas, os pequenos pedaços são formas apenas de papelão com cores espirradas sobre eles, e eles não fazem qualquer sentido até você encontrar o seu lugar de direito entre as outras peças. Quando você coloca a última peça no lugar e as peças agora formam um quadro completo, é quando você está lá. Mas, enquanto você estava ocupada pensando sobre a colagem do quebra-cabeça, de modo que as peças nunca seriam distantes outra vez, alguém vem por atrás de você, e destrói a última peça e joga o resto das peças longe. Mesmo que você consiga reunir coragem suficiente para colocar os pedaços juntos novamente, a imagem nunca seria

Julie Hockley

completa novamente, porque a última peça que faltava... estava no meio, ou no coração da imagem. Minha vida antes de Cameron era uma bagunça confusa: algumas peças estavam esporadicamente ligadas entre si, enquanto outras, como a morte de Bill, não se encaixavam. O dia em que conheci Cameron, as peças começaram a ir para seus lugares, e na noite em que Cameron me beijou, o dia em que ele se sentou ao meu lado e me disse que me amava, ali foi quando a última peças de mim foi encaixada no lugar. Cada segundo, minuto, hora que eu passei com Cameron, depois desse momento, fez o último pedaço do meu quebra-cabeça unindo-se mais forte, de modo que meus pedaços danificados tornaram-se insignificantes — meros ruídos de fundo. Mas Cameron tinha levado essa última peça do quebra-cabeça com ele, e um buraco negro era tudo o que restava em seu lugar. Como você se recupera disso? Como você sobrevive? Não há como fazer. Não há volta a partir desse vazio permanente deixado dentro de você. Você se fecha em um escudo, vendo através de movimentos sem emoção, como um robô, enquanto o resto de mim estará sempre onde quer que Cameron esteja. Em poucos dias, os meus outros colegas de quarto voltariam para a casa, e a rotina recomeçaria novamente. Jurei a mim mesma que faria o meu papel até o momento surgir, quando eu poderia executar minha vingança sobre as pessoas que tomaram Rocco e Cameron de mim. Então, talvez eu pudesse encontrar Cameron novamente...

Julie Hockley

Eu era um tipo de garoto que saiu do útero pronto para lutar, com os punhos fechados e tudo. Eu estava deitado na cama me lembrando disso, enquanto eu respirava através da dor. Mas ferimentos de bala não eram nada comparados com o buraco que tinha sido aberto através do meu coração, deixando um grande espaço sangrento vazio. Não havia nada que o Dr. Lorne poderia fazer para corrigir esse buraco. Nenhuma quantidade de pontos poderia preencher o espaço que estava agora desocupado. Não, pessoas como eu não foram feitas para lidar com assuntos do coração. Inferno, por que para o mundo, um cara como eu não tinha um coração para começar. Eu vivi minha vida tentando provar que eles tinham razão — até recentemente. Como você luta contra algo que você não pode ver, eu me perguntava. Como você se livra do cara que está mexendo com o seu negócio, quando esse cara é você? Você vira a arma para si mesmo, decidi — era a única maneira de separar o humano do gangster. — Parece que a bala atravessou, — Dr.Lorne anunciou. Ele estava

segurando

uma

imagem

de

raio-X

em

direção

à

luz fluorescente, luz do teto. Nós havíamos lhe equipado com uma completa sala de emergência em sua casa há alguns anos, com tudo o que ele precisaria para nos concertar, incluindo uma máquina de raioX. Isso valeu cada centavo. Nós o tínhamos sempre ocupado. Depois de Spider atirar no meu ombro, deixei Carly arrastar-me para a casa do Dr. Lorne. Este foi mais para seu benefício que o meu. Se ela não tem alguém ou algo para se preocupar, ela

Julie Hockley

enlouquece. Dr. Lorne era o melhor em seu campo, Médico de Harvard, um dos melhores cirurgiões do país, que tinha jogado tudo fora para seguir sua verdadeira paixão: a bebida. Mas a melhor coisa sobre o Dr. Lorne era que ele ficava sóbrio rápido, aceitava o dinheiro, e mantinha sua boca fechada. — Você é um homem de sorte, — disse ele. Eu

não me

sinto

com

sorte. Na

verdade,

eu

estava

amaldiçoado. Mas entendi o que ele queria dizer e não havia nada de sorte sobre isso. Spider era um grande atirador, mesmo com os olhos fechados

e

um

braço

amarrado

nas

costas. Isto

tinha

sido

metodicamente planejado. Vinte pontos mais tarde e eu como novo — bem, meu ombro de qualquer maneira. Dr. Lorne tirou sua bolsa mágica de comprimidos, que também fornecíamos a ele, e me entregou dois amarelos. Eu agarrei a bolsa e peguei mais dois. Drogas são geniais dessa forma: corrige tudo o que dói, por dentro e por fora. O bom médico não estava em posição para me repreender sobre isso. Ele me deixou com a bolsa e saiu. Carly, que estava choramingando em uma cadeira de madeira no canto, enquanto o médico fazia o seu trabalho, falou: — Não acho que eu posso fazer isso, Cameron. Você deveria ter visto Emmy quando ela ouviu os tiros. Era como se alguém estivesse sugando a vida fora dela. Foi horrível. —

Não

precisava

ter

visto,

Carly. Eu

a

ouvi,



disse

secamente. Sabia que esse dia tinha sido difícil para Carly. Escutei algumas das coisas que Emmy estava gritando com ela. E, Spider, seu rosto parecia que ia explodir. Mas Carly entendeu o que Emmy estava passando. Ela tinha estado ali há alguns anos. Ela não tomou as palavras rancorosas de Emmy contra ela, e eu a amava mais por

Julie Hockley

isso. Mas eu também não precisava de Carly para me lembrar deste dia. Quando ouvi os gritos de Emmy vindo de fora, foi de partir o coração, como se alguém estivesse me apunhalando com uma chave de fenda. Foi muito difícil de suportar, mais do que eu nunca teria pensado em suportar. Sabendo que eu estava causando a ela toda aquela

dor...

Nunca

tinha

me

sentido

tão

mal

como

naquele

momento. Eu tinha implorado para Spider apenas terminar com aquilo, depois de ter disparado os últimos tiros no ar. — Não seja estúpido, — ele me respondeu de forma brusca, e então ele virou rapidamente e saiu. Eu já tinha visto as lágrimas que ele tinha em seus olhos. Emmy tinha uma forma de humanizar o pior de nós. Spider não podia me matar. Ninguém podia, a menos que os líderes decidissem assim. Comigo morto, não importa o que Spider e Carly fizessem, eles seriam os próximos. Os líderes não deixariam espaço para testemunhas, não há espaço para a vingança. Não havia nenhuma maneira que Spider ia deixar isso acontecer com Carly. E não havia nenhuma maneira que eu deixaria isso acontecer com qualquer um deles. Tanto como eles eram por vezes um incômodo, eles eram meus irmãos, de laços de sangue ou não. — Por que não podemos esquecer tudo isso e trazê-la de volta? — Carly disse com lágrimas nos olhos. — Eu prometo que vou vigiá-la como um falcão. Nada vai acontecer com ela novamente. Eu nunca deveria ter deixado você e Spider seguir com isso em primeiro lugar. — Ela se lembrou de como a conversa tinha sido, — Eu queria que você tivesse me escutado, quando eu disse a você e Spider que o que você estava fazendo, realmente, era um grande erro. — Está feito, Carly. Lide com isso, — eu suspirei. Houve um momento em que Emmy olhou para mim no armazém, como se estivesse sendo torturada, como se estivessem a matando, quando eu pensei sobre esquecer o nosso plano e mantê-la comigo para sempre. Mas

isso

nunca

poderia

acontecer. Eu

não

poderia

Julie Hockley

manter Emmy enjaulada como um animal como o resto de nós. Ela era muito bonita, muito livre para isso. Mesmo se eu pudesse prendê-la atrás de muros de cimento de três metros de espessura, dez metros abaixo do solo — um pensamento que passou pela minha cabeça mais de uma vez — alguém sempre iria encontrá-la. Mesmo Shield não estando mais por perto, seguia a ameaça de uma maneira de fazer isso acontecer, havia mil a mais por trás dele, que teriam facilmente assumido o seu lugar. Enquanto eu estava vivo, Emmy nunca estaria segura. Eu não podia morrer, mas eu também não podia lutar contra todos os bandidos que enchiam o submundo. Emmy teve que ser forçada a ficar longe de mim. Por causa de sua teimosia absurda, a única maneira que nós poderíamos fazer isso acontecer era fingindo minha morte, convencê-la que eu tinha ido embora para sempre, forçála a me deixar ir e seguir em frente. Por um longo segundo, Carly digitalizou meu rosto de uma maneira que eu imaginava como uma mãe faria. Eu já sabia o que ela estava pensando. — Cameron, você não vai fazer isso. Eu vi o jeito que você é com ela. Você não é mais o mesmo. Você não pode, simplesmente, voltar para o modo como as coisas eram. Essa coisa toda vai matá-lo... a ambos, — disse ela. Deixei Carly, e fechei os olhos. As pílulas estúpidas estavam levando uma eternidade para trabalhar sua mágica. Eu ouvi Carly suspirar e levantar. Ela deu alguns passos e parou. — Você está louco por deixar os dois sozinhos, sem supervisão de um adulto, — murmurou. Forcei um sorriso. Spider estava tão encantado com Emmy como ela era com ele. Era uma viagem ao inferno. Mas, além de Carly, não havia mais ninguém neste mundo que eu confiava mais que Spider para levar minha menina para casa com segurança. Um arrepio ainda desceu pela minha espinha quando eu me perguntava como o bate-papo no carro estava indo.

Julie Hockley

Carly estava saindo pela porta. — Faça-me um favor? — eu disse. — Qualquer coisa. — Dê o meu dinheiro para Emmy, — eu disse, e acrescentei antes que ela perguntasse: — Todo ele. — Isso é um monte de dinheiro, — disse ela. — Por favor? — Você sabe que ela não vai aceitar, Cameron. — Você pode convencer a qualquer um a fazer tudo. É a sua especialidade. — Eu estou perdendo meu toque, — disse acidamente. Carly saiu. O silêncio cresceu em torno de mim. Eu sabia que deveria estar pensando em como eu estava indo para explicar aos líderes tudo o que tinha acontecido naquele armazém, explicar todos os favores que

devia

manter

as

nossas

cabeças

fora

da

guilhotina. Minha mente tinha que voltar a ser completamente focada nos negócio novamente. Mas

tudo

que

eu

podia

ver

na

minha

cabeça

era

Emmy machucada, com o seu rosto encharcado de lágrimas, enquanto ela se ajoelhou ao meu lado, me implorando com dor e sofrimento para eu ficar; em vez disso, eu a forcei a me assistir deixá-la ir... Ela está melhor preparada para lidar com isso, eu disse a mim mesmo mais e mais. Ela vai se esquecer de mim, seguir em frente, casar, ter filhos, e viver até os cem anos de idade. Nenhuma bala nunca vai tocar sua pele. Emmy iria superar.

Julie Hockley

O fato de que eu não iria sobreviver a ela não importava. Eu já tinha perdido o meu irmão mais novo. Eu não a perderia também. Sabendo que Emmy estava lá fora segura, vivendo sua vida, mesmo que fosse sem mim, foi suficiente... tinha que ser.

Julie Hockley
1- Crow\'s Row

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