Donna Grant - Rogues of Scotland 01. The Craving

84 Pages • 20,955 Words • PDF • 1.2 MB
Uploaded at 2021-09-24 06:34

This document was submitted by our user and they confirm that they have the consent to share it. Assuming that you are writer or own the copyright of this document, report to us by using this DMCA report button.


DISPONIBILIZAÇÃO: MERLIN CAT TRADUÇÃO: FANTASMINHA DO COVEN REVISÃO INICIAL: COVEN REVISÃO FINAL: NIX LEITURA FINAL: HÉCATE FORMATAÇÃO: CIRCE

D ON NA GRAN T

RESIGNADA A UMA VIDA SOLITÁRIA DEPOIS DE UMA TRAIÇÃO FEROZ DO HOMEM QUE ROMPEU SEU ESPÍRITO, MEG ALPIN SE RETIRA AO CASTELO DE SUA TIA -AVÓ. TENTANDO SEGUIR COM SUA VIDA, DESCOBRE SEGREDOS ENTERRADOS E ALGO MÁGICO EM MEIO DOS MÓVEIS DA TORRE. EM UM INSTANTE, SEU MUNDO ABORRECIDO TEM UM NOVO SIGNIFICADO BRILHANTE EM FORMA DE UM HIGHLANDER MAGNÍFICO, BONITO DEMAIS PARA SER REAL.

MALDITO E ENJAULADO EM UM ESPELHO POR UMA CIGANA, A EXISTÊNCIA DE RONAN GALT É ESCURIDÃO COMPLETA E DESEJ O INEXTINGU ÍVEL. QUANDO RETORNA À LUZ, SUA DESCONFIANÇA COM AS MULHERES SE OP ÕE A SUA ATRAÇÃO INSTANTÂ NEA PELA LINDA E FORTE MEG. EM SUA BUSCA POR ESTAR LIVRE DE SUA PRISÃO, APRENDERÁ O VERDADEIRO SIGNIFICADO DO AMOR, MAS SERÁ MUITO TARDE PARA RECLAMAR À MULHER QUE ESTAVA DESTINADA A SER DELE?

Contém

Beijos de Cavaleiro Medieval Apaixone-se sem medo

Prologo

Highlanders da Escócia Verão, 1427

Ronan Galt fez seu cavalo fazer uma parada no topo da montanha, seu olhar vasculhando a vista majestosa das selvagens Terras Altas. Baixou o olhar para o vale e um sorriso se desenhou em seu rosto quando viu seus três amigos no vale. Um pequeno empurrão de seu joelho, e seu cavalo corria pela montanha, galopando habilmente pelas rochas que se sobressaíam do chão. — Já era tempo — resmungou Stefan uma vez que Ronan os alcançou. Ronan levantou a sobrancelha enquanto olhava nos olhos avelã de Stefan. — Possivelmente queira reinar meu amigo tentador. Vamos estar com mulheres lindas esta noite. As mulheres requerem sorrisos e palavras doces. Não sobrancelhas franzidas. Houve risadas de todos, menos de Stefan, que deu a Ronan um olhar zombador. — Sim, já escutamos o suficiente sobre esta Ana — disse Daman enquanto girava seu cavalo junto de Ronan. — Me leve a esta beleza cigana para poder vê-la por mim mesmo. Ronan olhou seu amigo com severidade. — Acredita que me tirará ela? O sorriso confiante de Daman cresceu enquanto seus olhos brilhavam de alegria.

— É tão linda? — Só tente — Ronan se atreveu dizer a Daman, meio brincando. Morcant tirou de seus olhos seu comprido cabelo loiro escuro com a mão. — Tome cuidado, Ronan. Se tentar enganar um cigano, eles lhe amaldiçoarão. Não tenho tanta certeza de que devemos nos envolver com essas pessoas Ronan se pôs a rir e reteve seu cavalo nervoso. — Ah, mas com um corpo tão disposto, como vou rechaçar a Ana? Venham, meus amigos, e desfrutemos da recompensa que nos espera. Deu um breve assobio e seu cavalo avançou em uma corrida. Ronan não esperou seus três companheiros, porque sabia que eles o seguiriam — não importava para onde. Começou uma década antes quando se enfrentaram durante os jogos dos Highlanders, entre seus quatro clãs. Depois disso, se asseguraram de se encontrarem regularmente até que eram tão inseparáveis como se fossem irmãos. Os quatro formaram uma amizade cada vez mais estreita a cada ano que passava. Ronan olhou por cima do ombro para encontrar os outros três correndo um ao lado do outro tratando de acompanhá-lo. Esporeou seu cavalo mais rápido, o vento roçando seu rosto e no chão um brilho sob os cascos de seu cavalo. Um a um, os três o acompanharam. Ronan se deteve, empurrando seu garanhão em um galope até que os quatro galopavam, com seus cavalos um ao lado do outro. Um olhar mostrou que até o rosto de Stefan tinha cedido a algo que quase podia considerar um sorriso. Ronan grunhiu ao ver dois cavaleiros no alto de uma colina. Inclusive a essa distância reconhecia o plaid de seu clã. Não foi uma surpresa que seu senhor o fizesse fixar o olhar nele. Depois de tudo, ele era o tio de Ronan. Ele e seus amigos cavalgaram de um vale a outro até que Ronan finalmente desacelerou seu cavalo para dar um passeio. Com seus amigos a

seu lado, detiveram-se no alto da próxima colina e olharam o círculo de vagões ciganos escondidos no bosque mais abaixo. — Tenho um mau pressentimento — Daman disse enquanto se movia incomodamente sobre seu cavalo. — Não deveríamos estar aqui. O cavalo do Morcant levantou a cabeça, mas ele facilmente deixou seu cavalo sob controle com suaves palavras. — Tenho a necessidade de afundar meu pau entre umas coxas dispostas. Se não quiser participar, Daman, então fique aqui, mas não vai me deter. — Nem eu — Ronan disse. Normalmente teria escutado Daman, mas esteve no acampamento cigano durante quatro dias seguidos e tinha saído sem nenhuma dificuldade. Stefan permaneceu em silêncio durante vários momentos antes que Ronan assentisse com a cabeça. Ronan foi o primeiro em descer a colina para o acampamento. Uma jovem beleza com comprido cabelo negro saiu correndo para saudá-lo com suas saias de cores brilhantes. Ele rodeou o cavalo e saiu com um sorriso, enquanto Ana se jogava em seus braços. Apanhou-a e aproximou seus lábios aos dela. Ah, mas tinha os lábios sedutores. Poderiam levá-lo até o êxtase. — Senti sua falta — disse com seu sotaque romeno. — Isso é verdade? — Perguntou com uma piscadela. Ele a voltou para os outros que tinham descido atrás dele. — Ana, estes são meus amigos, Daman, Morcant e Stefan — disse, apontando a cada um deles. Seu sorriso era amplo enquanto lhe estendia o braço. — Bem-vindos ao nosso acampamento. Morcant foi o primeiro a desmontar. Deixou cair às rédeas para permitir que seu cavalo pastasse e caminhou entre dois vagões até o centro do acampamento. Stefan não demorou em segui-lo. Ronan viu a indecisão na cara de Daman. Demorou um pouco até que Daman deslizou de seu cavalo e recolheu as rédeas dos quatro cavalos para atá-los juntos.

— Vou vigiar — disse Daman enquanto se sentava fora do acampamento perto de uma árvore. Ronan envolveu um braço ao redor de Ana, se perguntando brevemente por que Daman estava repentinamente desconfiado dos ciganos. Então Ana esfregou seus abundantes seios contra ele, e Ronan se esqueceu de tudo exceto de seu membro dolorido. Não deu a nenhum de seus amigos um segundo pensamento enquanto Ana o levava a sua carroça. Ronan não perdeu tempo em despila. Seu corpo estava faminto, e a cigana era uma parceira entusiástica e disposta. Ronan bocejou, seu corpo completamente satisfeito depois de horas nos braços de Ana. Maldita seja, mas a pequena cigana sabia extrair prazer dele. Teve sorte de havê-la encontrado. Fechou os olhos e se deixou levar pela melodia dos violinos que se escutava em torno da fogueira do acampamento. Estava adormecendo quando Ana se aconchegou contra ele, com uma perna sobre a sua. Era insaciável. — Quando nos casaremos? — Perguntou. Sua mente sonolenta foi despertada rapidamente. Certamente não a ouviu mencionar matrimônio. O que ocorria entre eles era só um encontro mútuo de prazer. Assegurou-se de lhe dar vários orgasmos. Não era suficiente? O matrimônio — ou qualquer compromisso a longo prazo — nunca tinha sido pronunciado. Ela sabia disso. — Um matrimônio, Ronan — disse, rodando o R em seu nome ao pronunciar. Agora estava completamente acordado, ela em torno de seu peito. Seu coração pulsava, seu sangue lhe golpeava nos ouvidos. O matrimônio era uma palavra que nunca quis associar a ele, muito menos mencioná-lo. Era algo que não tinha intenção de tomar. Nunca. Ele fingiu estar dormindo esperando que Ana deixasse o assunto. Fez um grande esforço para ficar onde estava, e não saltar e montar para longe, muito longe dali.

Tudo o que tinha que fazer era convencê-la de que matrimônio era uma má ideia. Então esperaria até que ela dormisse e partiria. Para nunca voltar. Talvez devesse ter escutado Daman e não ter visitado Ana esta noite. Ela o empurrou com uma leve risada. — Acorda, Ronan. Veio para ver-me durante cinco noites. Compartilhou minha cama. Comeste a refeição que cozinhei. É hora de falar com minha família sobre o que planeja fazer. Fazer? O que planejava fazer era levantar-se e partir. Sim. Rápido. Como tinha se metido nesta confusão? Pensou que estaria a salvo de qualquer menção da palavra — matrimônio — mesclando-se com os ciganos. Aparentemente, tinha se equivocado. — Ronan — ela disse mais alto. Abri um olho, fingindo dormir. — Sim? — Sairemos pela manhã e conheceremos sua família? — Não, doce Ana — disse e fechou os olhos com um bocejo falso. Ela tinha lhe dado tanto prazer nos últimos dias, ele a deixou cair brandamente, e logo a regozijou antes sair. Talvez uma mentira fosse melhor. Sim, uma mentira. Algo que não tinha que explicar sobre sua família ou seu passado, nem seu aborrecimento pelo matrimônio. — Prometeram-me a outra. A cama se moveu quando ela se deixou cair sobre suas costas e logo se sentou. Tinha escapado do assunto do matrimônio com essa pequena mentira? Ronan esperava que sim. Ouviu-a mover-se pela pequena carroça. Um breve olhar mostrou que estava recolhendo sua roupa. Ficaria até que saísse da carreta, e depois escaparia. Pelo menos isso era seu plano até que ela se afundou na borda da estreita cama depois de vestir-se e começou a chorar. Como odiava quando as mulheres usavam lágrimas. Sua mãe e sua irmã o faziam com bastante frequência, e era imune a tais maquinações por isso. Seu desejo por Ana se desvaneceu e logo rapidamente se converteu em repugnância.

Uma vez mais uma fêmea tinha tentado usá-lo. Tinha conseguido apanhá-lo com seu corpo, mas não com o matrimônio. Quando isso não funcionou, recorreu às lágrimas como fizeram todas. — Amo-te, Ronan — murmurou Ana. Fechou os olhos com força. Uma parte dele, uma parte cruel e viciosa, queria lhe dizer que não havia tal coisa como o amor. O amor era uma ferramenta utilizada pelas mulheres para apanhar aos homens. Seu pai tinha caído em uma armadilha assim, como também tinha feito seu cunhado. Ronan tinha tratado de dizer a seu cunhado, mas o louco pensou que a irmã de Ronan o amava. O que ela amava era o dinheiro que seu marido tinha. Uma lembrança de quando Ronan era só um moço encheu sua mente. Foi testemunha de uma briga entre seus pais, onde seu pai prometeu seu amor, e sua mãe riu em seu rosto. Então, ali, Ronan sabia que o amor era só uma palavra. Não havia nenhum significado para a emoção que os poetas escreviam e os trovadores cantavam ao redor. Soprou uma respiração áspera e se levantou da cama enquanto agarrava seu kilt. — Acredito que é hora de partir. — Nenhum matrimônio? — perguntou Ana, as lágrimas caindo despreocupadamente por seu rosto. Ronan deu um rápido puxão em sua cabeça, movendo de lado a lado e segurou seu kilt. Ana chorava ainda mais quando ela saiu correndo da carroça. Ronan deixou escapar uma profunda respiração e calçou as botas. Depois de colocar a espada em seu lugar, encontrou sua camisa de açafrão. Justo quando estava vestindo, ouviu um grito angustiado, um pranto profundo, insondável, que era como algo vindo das profundezas da alma de alguém.

Ronan se esqueceu da camisa enquanto saltava do vagão, com a mão no punho de sua espada, preparado para combater o que tivesse irrompido no acampamento. Olhou a um lado e logo ao outro tentando ver à ameaça, mas só encontrou Daman parado fora dos vagões. Estava olhando para Ronan com uma expressão resignada em seu rosto. Ronan se voltou e olhou à anciã Ilinca, que frequentemente estava com Ana, olhando algo na grama. Ronan deu um passo para ela e imediatamente se deteve quando viu as brilhantes saias rosadas e azuis de Ana. Inclusive na tênue luz da noite não havia dúvida de que a mancha escura sobre a grama não era nada além de sangue. — Que diabos acontece aqui? — Exclamou Morcant enquanto saía de um vagão segurando seu kilt. A noite de prazer e risada que Ronan tinha imaginado com seus amigos parecia tão longínqua como as estrelas no céu. Queria ir até Ana, mas com a adaga que saía de seu estômago — e sua mão ainda ao seu redor — o último lugar que precisava estar era no acampamento cigano. Culpar-lhe-iam de seu suicídio, tudo porque se negava a tomá-la como sua esposa. — Ronan, — disse Stefan urgente, enquanto se achava em meio de um grupo de ciganos. Não haveria saída. Se Ronan quisesse sair com vida, ele e seus amigos teriam que lutar através do grupo de ciganos que estavam com várias armas. Antes que pudesse tirar a espada, Ilinca deixou escapar um grito e lhe apontou com o dedo nodoso. Ronan estava congelado, incapaz de mover-se ou inclusive de falar. As palavras saíram da boca de Ilinca, seu rosto enrugado era uma máscara de dor e fúria. Pode ser que não compreendesse as palavras, mas sabia que não podiam ser nada boas. Especialmente porque estava de algum jeito segurando-o imóvel. Morcant, entretanto, não estava em tal situação. Correu para Ilinca com a espada levantada, mas em um instante a anciã o congelou também.

Um rugido de ira se elevou de Ronan, mas não pôde soltá-lo. Só pôde mover os olhos. Tentou desesperadamente dizer em silêncio a Stefan e Daman que fugissem, mas deveria ter sabido que seus amigos não partiriam. A fúria sempre presente explodiu em Stefan e deixou escapar um grito de batalha digno de seu clã enquanto saltava sobre a fogueira para Ilinca. Mais uma vez, a velha cigana utilizou sua magia para detê-lo. Seu olhar se moveu, e Ronan percebeu que se fixava em Daman. Daman olhou o chão e inalou profundamente. Logo, com passos propositados, cruzou alguma barreira invisível no acampamento. Imediatamente, a cabeça de Ronan explodiu de dor. Fechou os olhos, mas não passou. Parecia que continuava pela eternidade. Assim como chegou, foi-se. Quando abriu os olhos, não havia nada mais que escuridão. Não havia som, nem movimento. — Isto é por minha Ana — disse repentinamente a voz imaterial de Ilinca com seu grosso sotaque romeno. — A matou com tanta segurança como se sustentasse você mesmo a adaga. Por isso te amaldiçoo, Ronan Galt. Estará preso aqui até que ganhe sua liberdade. Ronan se voltou para um lado e depois para o outro. Correu até que não pôde mais, e logo foi para outra direção e correu quilômetros. E ainda era sempre o mesmo. Negrume. Onde estavam Daman, Morcant e Stefan? Como ia ganhar sua liberdade? Odiava a quietude, odiava o silêncio. Mas mais que qualquer outra coisa, odiava estar sozinho.

Capitulo Um

Castelo do Ravensclyde Escócia do Norte 1609

— Não! — Gritou Meg Alpin quando dois cães lobos rodearam seu corpo. Derrubaram-na de seus pés fazendo-a aterrissar em um emaranhado de saias, embora não fizeram nada para amortecer sua queda. — Que grandes tolos! Nenhuma quantidade de repreensão podia controlar os cães agora que estavam dentro do quarto. Os lençóis brancos cobrindo os móveis eram só algo para que eles pudessem sair e brincar. Meg negou com a cabeça e ficou de pé enquanto se limpava. Depois colocou as mãos nos quadris e revirou os olhos. Como se já não tivesse suficiente em suas mãos. Tão louca quanto queria estar com os lobos, não podia conduzi-los. Ela entendia o que era ser deixada para trás. Os cães tinham sido quase esquecidos até que chegou três meses antes. Tinha-os adestrado com afeto e atenção. Em troca, se converteram nos animais que deveriam ter sido: leais, protetores, inteligentes. E com suas palhaçadas, obviamente, estavam compensando o tempo perdido. — Suficiente! — Gritou e juntou as mãos. Os dois cães lobo imediatamente soltaram o que tinham estado atirando entre eles e se inclinaram para ela. Deu-lhes um roce na cabeça e apontou a porta. — Vão caçar coelhos.

Com as línguas para fora, os cães lobo se separaram em uma carreira, passando roçando ao redor de um canto, antes de desaparecerem pelas escadas. Houve um chiado longínquo, deixando que Meg soubesse que os cães tinham assustado a uma das criadas de novo. Ela estava sorrindo enquanto sacudia a cabeça. Os lobos podiam pensar que ela era sua salvadora, mas os cães a tinham ajudado também. A maioria das noites tinha um a cada lado de sua cama. De algum jeito, sempre sabiam quando cederia a suas lágrimas. Deixavam suas mantas diante do fogo e saltavam sobre a cama para deitarem-se com ela, como se a protegessem das lembranças que não a deixavam. Meg enquadrou os ombros e deu uma olhada ao redor da grande sala, olhando cada peça coberta. Sua tia-avó tinha lhe oferecido refúgio em Ravensclyde. Ao fazê-lo, tia Tilly lhe deu permissão para reorganizar o castelo como Meg considerasse conveniente. Depois de quase um mês de se sentar com o olhar apagado, fixo em nada, com um livro em seu colo, revivendo o último meio ano de sua vida, ela finalmente percebeu que se não fizesse algo se perderia no nada. Já que ela precisava ocupar seus dias — e sua mente — decidiu organizar os móveis antigos que se armazenavam no piso superior da torre, este parecia ser um bom lugar para começar. Meg tirou o primeiro lençol do qual fez surgir um grande armário e rapidamente começou a tossir com o pó. Sacudiu as partículas que podia ver na luz do sol que se infiltrava pelas janelas. Girou a cabeça antes de tirar o lençol do segundo móvel, era uma mesa auxiliar. Um a um, Meg expôs os móveis esquecidos há muito tempo, seu sorriso crescia a cada minuto. Durante um breve espaço de tempo, pôde pensar em Ravensclyde como dela. Todas as preocupações, todas as dores de cabeça do ano passado poderiam ser rechaçadas — e esperar que fossem esquecidos. Mesmo que não fosse assim, Ravensclyde lhe estava dando o tempo que necessitava para corrigir seu mundo desmoronado. Fez a refeição do meio-dia no quarto da torre para poder seguir olhando suas descobertas. Alguns se desintegravam em pó, e outros estavam muito estilhaçados ou prontos para se extinguir. Meg sabia onde

ia pôr o armário, três mesas de noite, uma pintura de paisagem, duas tapeçarias e um banco. Havia um jogo sofá com três cadeiras que ela considerava poder ser recuperado para pôr no salão e iluminar a sala. Com o último bocado em sua boca, Meg sacudiu as mãos e começou a passear por entre as peças. Ela tinha esperado encontrar mais — tia Tilly a tinha levado a acreditar que havia muito mais — mas se conformaria com os poucos artigos que encontrou. Ela tinha reparado nos outros móveis imediatamente. Havia história em todas as peças, e ela queria vê-los todos os dias. Meg caminhou ao redor de uma mesa de buffet que precisava ser lixada e pintada. Deu um passo para trás para ver melhor o lado e bateu contra a parede. E ouviu o estalo de uma fechadura de porta. Ela se voltou imediatamente e viu que uma porta se abrira. Uma porta que ela tinha estado muito ocupada olhando os móveis para notá-la. Meg abriu a porta e inclinou a cabeça em seu interior. Um lento sorriso se estendeu por seu rosto quando viu outra sala, duas vezes o tamanho da que ela estava agora, e cheia de mais móveis cobertos. Imediatamente começou a se mover de uma peça a outra descobrindo-os. Foi ao se aproximar do canto esquerdo que viu uma grande peça coberta à parte, como que separado do restante. Curiosa, Meg caminhou para ela. Com cada passo, uma coceira se assomou sobre sua pele que era uma peculiar e emocionante mescla de pressentimento e antecipação. Quando levantou a mão para agarrar o lençol, encontrou-a tremendo. De repente, a torre estava muito tranquila, a sala muito quieta. Forçou uma risada, esperando que o som de sua própria voz a ajudasse a acalmá-la. Não o fez. — Que tola sou — disse em voz alta e engoliu saliva. — Estou aqui sozinha.

Meg respirou fundo uma vez mais e percebeu quão estúpida estava sendo. E com um puxão, desceu o lençol. Encontrou um enorme espelho. Parecia ser um espelho, mas não podia ser porque não refletia seu entorno. Não havia nada mais que escuridão no cristal. Ficou boquiaberta, parecia aspirar toda a luz do quarto. Meg estremeceu e arrojou rapidamente o lençol no espelho antes que saísse correndo da torre como se as chamas lhe lambessem os calcanhares.

Ronan abriu os olhos. Por um momento podia ter jurado que viu luz. Quando só a escuridão seu olhar encontrou, deu-se conta de que devia estar sonhando com o sol. De novo. Quanto tempo tinha passado? Não havia forma se saber, e provavelmente não queria sabê-lo. Ao que parecia, há várias semanas, ele tinha se metido com seus amigos em um acampamento cigano ansioso por aliviar a dor de seu membro entre as lindas coxas de Ana. Por duas vezes, antes, tentou sair do espelho. A primeira vez ficou tão surpreso, que não percebeu o que estava acontecendo. A mulher se assustou por sua repentina aparição e correu gritando do quarto. Ronan tinha se aproveitado e saiu pela janela, escalou a parede do castelo e começou a correr pelo campo. Escapou. Ou isso ele pensou. Dois dias mais tarde, despertou de novo nesse quarto com a fêmea olhando-o furiosamente. Junto a ela havia uma anciã que tinha os olhos escuros de uma cigana. Ronan tinha estendido a mão, para lhes suplicar que o deixassem sair, quando o espelho o absorveu de novo. A segunda vez, estava mais preparado. Depois que o arrojaram do espelho, deu a jovem um sorriso encantador.

Era uma mulher bastante singela, mas a sedução que sempre lhe tinha sido fácil tinha falhado, já que ela o havia devolvido a toda pressa ao espelho. Assim foi como descobriu que era um espelho onde estava. E que o espelho pertencia à família Alpin. Ambas às vezes estava na Escócia, mas um rápido olhar à roupa das mulheres lhe dizia que passou um considerável espaço de tempo em ambas às incidências. Ronan deu um forte suspiro e voltou a fechar os olhos. Perguntavase onde estavam seus amigos, o que estavam fazendo e como tinham vivido suas vidas. Estavam mortos? Encontraram esposas? Tinham filhos? Tentaram encontrá-lo? Conhecia a resposta a sua última pergunta. É obvio que sim. Morcant, Daman e Stefan eram seus irmãos. Nenhuma vez qualquer um deles tinha deixado de estar ao lado do outro. Ronan desejava poder lhes fazer saber que estava bem. Talvez poderiam averiguar como libertá-lo. Magia poderia havê-lo posto aqui, mas a velha cigana havia lhe dito que existia uma maneira de ganhar sua liberdade. Ele não percebeu até que fosse muito tarde que lhe tinham tomado tudo. A luz do sol, o sabor da refeição, olhando à lua, nadando as águas frias do lago, fazendo amor com uma moça bonita, a emoção da batalha, ou simplesmente compartilhando um copo de whisky com seus amigos. A escuridão a que estava destinado tinha trazido luz a uma coisa: deveria ter lidado melhor com Ana. Tantas vezes, repassou aquela noite em sua cabeça, se houvesse dito algo diferente, feito algo diferente. Sua aversão a querer uma esposa não era culpa de Ana. Ela poderia tê-lo atormentado com sua pergunta de matrimônio, mas ele não devia ter sido tão insensível. Nunca passou pela sua cabeça que ela se mataria. Era jovem e bela, sustentando um atrativo que só uma cigana podia ter. Ela afirmou amá-lo, e uma vez que ele havia dito não ao matrimônio, ela tomou sua vida. Todas as suas relações com o amor tinham demonstrado que não valia a pena persegui-lo.

Outra lição aprendida, e uma que aprendeu antes de Ana. Sua mãe e sua irmã lhe tinham ensinado muito bem. Ronan esfregou a mão pelo rosto. Pelo menos no espelho amaldiçoado, ele não tinha que preocupar-se em barbear-se, comer ou envelhecer. Era como se tudo isso tivesse sido silenciado. A única coisa que não foi silenciada? Seu desejo sexual. Era agonizante, excruciante estar em um estado de excitação constante sem nada que o aliviasse. Tentou muitas vezes, sem êxito, aliviarse. Sempre ficava com vontade, necessitado. Não sabia o que era pior: a solidão, ou o desejo sempre presente de aliviar sua carne quente. Se alguma vez tivesse a oportunidade de sair do espelho de novo, faria todo o possível para permanecer fora e libertar-se do maldito espelho de uma vez por todas. Ronan ficou quieto. Era isso... poderia ser...? Abriu os olhos e ofegou quando viu a luz que brilhava através do espelho. Sentou-se e levantou, com a luz lhe acenando. Ronan era impotente para ignorá-lo, não que ele quisesse. Seu único pensamento era sair do espelho de uma vez por todas. A velha cigana conseguiu o que queria. Tinha expiado o que aconteceu com Ana. Agora era o momento de viver sua vida. Quando Ronan alcançou a luz, tratou de passar pelo espelho, mas não pôde. Não sabia o que tinha que acontecer para tirá-lo. Tudo o que sabia, era que não estava acontecendo agora. Estava vendo a luz e um quarto que não reconhecia. Não havia ninguém à vista, nenhuma mulher Alpin que o tivesse convocando. Pelo menos isso era o que ele assumia que ocorria. Por outra parte, não sabia quase nada sobre o que estava acontecendo com o espelho ou como estava conectado com ele. Ronan pôs sua mão contra a barreira invisível que o mantinha em sua escura prisão. A luz tocou sua pele, o calor dela afundando-se em seus poros e correndo ao longo de sua mão para seu braço e depois sobre seu corpo.

Como desejava sentir o sol, ficar sob a lua, sentir a chuva sobre sua pele. Um suspiro suave, muito feminino, rompeu seus pensamentos. A respiração de Ronan prendeu-se a seus pulmões. Ele silenciosamente orava e rogava a qualquer divindade que o escutasse para deixá-lo sair do espelho. Procurou à mulher em vão. Não podia vê-la, mas estava perto. O que cobria o espelho se deslizou a meio caminho. — Não posso — disse uma voz feminina entristecida com sotaque escocês. — Não posso olhar nesse espelho outra vez. A barreira que sustentava Ronan se evaporou, enviando-o de frente para as tábuas de madeira de um chão. Seus braços se elevaram antes que seu rosto pudesse ser golpeado. Levantou-se, afastando-se do espelho e olhando ao redor. Imediatamente foi à janela. Ronan respirou fundo e fechou os olhos quando a luz do sol atingiu seu rosto. Livre finalmente. E ia assegurar-se de que continuasse assim.

Capitulo Dois

Meg olhou com assombro silencioso o homem de pé diante da janela, imerso no sol como se nunca houvesse sentido seu calor antes. Seu cabelo era longo, caindo por cima de seus ombros, e a cor era de um marrom escuro que bordeava o negro. Inclusive de perfil podia ver a dura linha de sua mandíbula. Seus olhos desceram e seu coração bateu contra sua caixa torácica. O homem não usava uma camisa cobrindo o peito, mostrando uma abundância de músculos grossos e seus tendões. Meg afastou os olhos para longe, mas em um instante voltou a olhar. Seus braços pendiam casualmente aos seus lados, mas não havia nada cavalheiresco no homem. Era um guerreiro, um homem que procurava tudo o que queria... e conseguia. Viu as cicatrizes que cobriam seu torso, demonstrando que tinha visto sua parte das batalhas. Entretanto, não faziam nada para menosprezar seu atrativo. De fato, suas proezas inflamaram seu sangue. Meg não reconheceu à mulher respondendo tão... Acaloradamente a um estranho. Nenhum homem tinha feito que seu estômago revoasse ou orvalhasse sua pele apenas pensando nele. Seu sangue pulsava com força em seus ouvidos, seu coração batendo rápido e furioso enquanto suas mãos picavam para correr sobre seu corpo e aprender cada contorno. De repente, os olhos do homem se abriram. Por vários batimentos cardíacos, ele olhou pela janela. Então, lentamente, virou a cabeça para ela. A respiração de Meg se fechou em seus pulmões e seus joelhos ameaçaram se curvar. Se ela pensava que o estranho era atraente antes, ela estava completamente despreparada quando ele a enfrentou.

Era um Adônis, tão deslumbrantemente bonito que não podia compreender o que estava fazendo em sua torre. Era o tipo de homem por quem as mulheres lutavam e matavam. Era o tipo de homem que olhava a qualquer uma, exceto a Meg. E, no entanto, seus belos olhos verdes pálidos estavam focados diretamente nela. As sobrancelhas castanhas escuras cortavam ferozmente sobre os olhos e o nariz estava ligeiramente torto por haver se quebrado uma ou duas vezes. Sua mandíbula e queixo quadrados só aumentavam sua sensualidade. Entretanto, eram seus lábios grossos — com a parte de baixo mais cheia que a parte superior — que faziam correr o sangue em suas veias. Ele encarnava a virilidade e a masculinidade, quase como se tivesse criado os dois simplesmente por ter nascido. — Olá, moça. O som de uma voz tão suave e profunda fez algo estranho e glorioso para Meg. Não havia nada sobre o homem que ela não gostava? — Quem é você? — Ela conseguiu perguntar por cima de seu coração batendo. O desconhecido deu um leve arqueamento de cabeça, sem afastar o olhar do dela. — Ronan Galt, a seu serviço. E você quem é? E ela era quem? Demorou um momento para Meg perceber que ele estava perguntando o nome dela. Ela poderia fazer uma idiota maior de si mesma? — Eu sou Meg. Meg Alpin. — Meg. — Ele disse seu nome lentamente, deixando-o sair de seus lábios como se fosse uma oração. A essa altura, ela seria uma poça de nada. Que Deus a ajudasse se ele se aproximava dela.

Ronan não conseguia tirar os olhos de Meg. Poderia ser porque passou tanto tempo só em sua escura prisão, mas ele a achou... Refrescante. Seu cabelo castanho-avermelhado, ao desprender-se de seus grampos, caíam sobre seu rosto em tentadoras ondas. Ele queria saber qual o comprimento de seu cabelo. E queria senti-lo deslizar entre seus dedos. Por mais que seu cabelo o tentasse, a mulher era simplesmente gostosa. Tinha curvas para fazer que um santo se enchesse de desejo. Os seios cheios, uma cintura fina, e os quadris largos que imploravam seu toque. Seus grandes e expressivos olhos cinzentos o observavam como uma águia. Com seu nariz impertinente, a testa larga, as sobrancelhas castanhas delicadamente arqueadas, ela seria um convite para qualquer homem. Mas eram suas maçãs do rosto altas e seus lábios carnudos e beijáveis que realmente a convertiam em uma tentação que ninguém podia deixar passar. Meg. O nome lhe convinha. Parte imponente, parte sedutora. Ela poderia ter um homem de joelhos em questão de segundos se assim o desejasse. Mas conhecia seu poder? Com a cautela que o olhava, Ronan percebeu de que não o conhecia. Isso era uma sorte para ele. — Como você entrou aqui? — Perguntou nervosa. Podia escutá-la durante todo o dia. Ela era a tentação no pacote mais bonito, e a constante e dolorosa necessidade que tinha tido durante tanto tempo era difícil de controlar. Tudo o que Ronan queria fazer era empurrá-la contra a parede e beijar seus lábios convidativos enquanto tirava o vestido para que ele pudesse se perder em suas curvas femininas. — Não tenho certeza de que você acreditaria em mim se eu lhe dissesse. Ela levantou uma sobrancelha castanha, a ansiedade substituída pela força. — Me teste.

Ronan olhou para o odiado espelho. Tudo dependia de fazer com que essa mulher sedutora e linda acreditasse nele e o deixasse permanecer em seu mundo. Se ele não pudesse, seria forçado a retornar ao odiado espelho mais uma vez. Tinha que ganhar sua liberdade. Ele lentamente soltou uma respiração profunda e fez um gesto para o espelho com a mão. — Dali. — A incredulidade na cara de Meg era exatamente o que ele esperava. — Do espelho? — Não tirou o lençol, moça? Não havia nada para ver lá, verdade? Só a escuridão, um vazio que se estendia sem cessar. Ela deu um passo para trás, medo e confusão se misturando em seu lindo rosto. — Não entendo. — Eu tampouco. — Ele nunca teve a chance de se explicar antes, e se preocupava que dissesse algo de errado. Tanto por dizer e contar em tão pouco tempo. — A primeira mulher Alpin que me libertou me enviou de volta a minha prisão antes que eu pudesse lhe dizer algo. A segunda me deu um pouco mais de tempo, mas não muito. Esta é minha terceira vez. — Alpin? — Ela perguntou com um leve cenho franzido, enquanto olhava para o espelho e de volta para ele. — Meus ancestrais? Isso não é possível. — Há muito que é possível com magia. — Magia? — Ela repetiu, como se estivesse testando a palavra em seus lábios. Por longos momentos ela olhou para ele como se estivesse tentando decidir se ele era tolo ou não. Ronan reprimiu as palavras que queriam sair de sua boca. Estava preparado para cair sobre seus joelhos e suplicar ter pelo menos um dia inteiro para que pudesse ver o sol e a lua, degustar da refeição e da cerveja, e talvez aliviar a dor de seu membro. Em troca, ficou olhando-a, silenciosamente, desejando que ela lhe desse uma chance. O alívio atravessou-o quando ela disse:

— Não estou dizendo que eu acredito em você, mas há quanto tempo está no espelho? — Que ano é? — Perguntou, quase assustado de escutar a resposta. — 1609. A decepção marcou Ronan. Era como ele temia. Não tinha passado décadas nesse espantoso espelho. Tinha passado séculos. — Ronan? Ele encontrou-se com seu olhar, surpreso de observar lástima em suas tormentosas profundidades. — Quase duzentos anos. O silêncio encheu o quarto enquanto seus olhares se fecharam — o dela não tinha certeza, mas esperava que aceitando. Ronan não sabia se estava tentando acreditar nele, mas não importava. Ele ficou surpreso com o fato de que seus amigos, os homens que ele considerava irmãos, estivessem mortos há muito tempo. Nunca voltaria a vê-los, nunca compartilhariam um barril de whisky, nunca cavalgariam em batalha juntos. A tristeza que caiu sobre ele era debilitante, devastadora. Insuportável. O que ele faria agora? Meg mordeu o lábio enquanto estudava o rosto de Ronan. Ele estava visivelmente abalado pela percepção de que dois séculos se passaram. Ela queria jogá-lo sob seu traseiro pelo mentiroso que ele era, mas quanto mais ela o observava, mais começava a acreditar nele. Ninguém poderia fingir tal fato. Era difícil olhar a dor, a tristeza, o sofrimento que enchia seus olhos verdes claros que lhe rompiam o coração. — Você deixou uma esposa para trás? — Perguntou vacilante. Ronan sacudiu a cabeça enquanto se voltava para olhar pela janela mais uma vez. — Não. Só meus amigos pelos quais choro. Nós éramos irmãos em todos os sentidos da palavra. A desolação em sua voz fez que sua garganta se fechasse de emoção. O que dizer em resposta? Não podia pensar em nada que pudesse ajudar.

Meg olhou ao seu redor, seu olhar se dirigiu ao espelho. Não era nada além de escuridão quando ela o olhou antes. Se... a magia... tivesse sido usada, e ele tinha ficado preso nessa coisa horrível durante dois séculos, ela não podia imaginar como ele estava se sentindo. Ela murmurou um resmungo. Tampouco podia compreender porque considerava suas palavras como verdade. Ele poderia muito bem estar brincando com ela, mas o simples fato era que, em um momento ele não tinha estado ali, e no próximo estava. Magia ou não, truque ou não, ele era um homem que estava profundamente atormentado. — Tem fome? Um pequeno sorriso apareceu sobre seus lábios. — Não como em tanto tempo que já não recordo o sabor da comida. — Isso eu posso remediar — disse Meg com um movimento de cabeça. Ela tinha um propósito agora. Alimentar Ronan. Algo que ela podia fazer com bastante facilidade. Ela se virou e correu para fora da sala até a escada. Na metade do caminho percebeu que não tinha lhe pedido que esperasse. Mas então, aonde iria? De volta ao espelho? Meg ordenou que trouxessem uma bandeja de comida até a torre e retrocedeu tão rapidamente como pôde. Estava sem respiração quando entrou no quarto. Seu olhar se dirigiu imediatamente à janela, mas Ronan não se encontrava em nenhuma parte. Uma rápida exploração não mostrou nada. De verdade tinha voltado para espelho? Justo quando estava caminhando para o objeto em questão, Ronan saiu de trás do espelho, sua atenção se concentrou inteiramente na grande peça. — Há quanto tempo isso acontece em sua família? Meg encolheu os ombros e se deteve quando percebeu como tinha chegado perto dele. Vê-lo a distância era bastante difícil, mas de perto lhe roubou sua vontade de respirar. — Esta não é minha casa. É de minha tia-avó. Ficarei pouco tempo.

Com suas palavras, o olhar verde de Ronan se moveu para ela. — Por que não está casada? Eu esperava que algum homem já tivesse roubado seu coração. Meg engoliu saliva e se voltou para a porta enquanto as lembranças ameaçavam explodir. — A refeição estará pronta logo. De fato, acredito que ouço Mary na escada. Ela fugiu de Ronan e suas perguntas, como a covarde que era. Por um momento, esqueceu porque tinha vindo para Ravensclyde. Aqueles preciosos momentos tinham sido incríveis. — Deixe-o aqui, Mary — disse Meg dirigindo à donzela a uma mesa pequena, mais adequada para xícaras de chá do que uma grande bandeja cheia até a borda com comida. — Você mal comeu seu almoço, milady, — Mary disse olhando a bandeja. Meg sorriu. — Exatamente. Encontrei meu apetite. — É bom saber disso — disse Mary com um suspiro. — Estávamos preocupados com você. Necessita mais carne nesse corpo magro, milady. Com essas palavras, Mary foi embora, deixando Meg a sós com Ronan. Meg não tinha certeza por que não queria que mais alguém soubesse sobre Ronan. Talvez porque ele poderia ser apenas um produto de sua imaginação. Ou poderia ser que ela não queria explicar como ele chegou. Principalmente, percebeu que era porque não queria compartilhá-lo ainda. — Por que eles estão preocupados com você, doce Meg? Suas palavras, ditas tão perto dela, fizeram seu estômago vibrar. Meg se moveu para um lado com dois passos para poder vê-lo. — Estava doente. — Doente? E eles deixaram você aqui para ordenar sozinha esses quartos? — Perguntou com desconfiança, quase com raiva.

Meg puxou um banquinho que parecia capaz de segurar Ronan e apontou para a bandeja. — Por favor, coma. Felizmente sua atenção foi desviada para a refeição. Ele inalou profundamente, um sorriso em seu rosto enquanto se sentava. Ele olhou para cada item por sua vez antes de alcançar a caneca de cerveja. Em poucos minutos, limpou toda a bandeja. Meg se sentou e observou-o saborear cada mordida como se nunca mais voltaria a comer. Uma vez que terminou a última perna de frango, ela perguntou: — Como você entrou no espelho? Houve a mais leve pausa em seus movimentos enquanto ele limpava as mãos e a boca. — Não tenho certeza de que é uma história que você queira saber. — Asseguro-lhe que sim. Quanto mais eu sei, melhor posso tomar minha decisão. — E o que você fará comigo se não me acredita, doce Meg? — Ele perguntou suavemente, aqueles olhos deslumbrantes e aturdidos fixos na cadeira. — Enviar-me-á de volta só para ver se pode? — Não sou tão cruel. Ele a olhou e balançou a cabeça. — Não, não acredito que você seja. — É tudo tão difícil de acreditar. Com isso, ele resmungou. — É difícil acreditar que há magia? Na Escócia? Moça, deveria saber que as montanhas estão cheias dela. — Nunca vi magia — admitiu, odiando o tremor de sua voz. Sua cabeça se inclinou para um lado. — Você olhou no meu espelho hoje? — Sim. — Viu seu reflexo? — Eu não vi.

— Isso é porque a magia foi usada para dar um vislumbre da minha prisão. — Esse lugar me assusta. Ele suspirou e pegou a cerveja. Pouco antes de levar a caneca aos lábios, disse: — É bom que tenha medo.

Capitulo Tres

Ronan não queria falar do que tinha acontecido naquela fatídica noite, há duzentos anos, mais do que queria pensar sobre isso. Mas se queria estar livre do maldito espelho, tinha que convencer Meg para nunca mais mandá-lo de volta. Podia tentar mentir, mas tinha a sensação de que a mulher saberia imediatamente. Isso só deixava a verdade, por mais difícil que fosse reconhecer. — Eu estava com meus amigos, Daman, Morcant e Stefan — disse. — Embora fossemos de diferentes clãs, estávamos juntos mais do que estávamos separados. Se um de nós necessitava algo, os outros três estariam ali. Os lábios de Meg arquearam em um pequeno sorriso. — Isso soa bem. Nunca tive algo assim. — Tomei por certo, assim como fiz com todo o resto. — Maldição. Essas palavras eram mais verdade do que tinha reconhecido, inclusive para si mesmo. — Eu adorava me divertir e aproveitar todas as oportunidades que se apresentavam. Quando um grupo de ciganos chegou à terra do clã de Daman, fui o primeiro em visitá-los. — Por quê? — Meg perguntou, franzindo o sobrecenho, confusa. — Queria que te contasse sobre sua sorte? Ronan drenou o último gole da cerveja da caneca e a deixou brandamente.

— Uma mulher chamou minha atenção. Com seu cabelo e olhos negros, sua pele escura e as cores vibrantes que usava, ela era deslumbrante. — Ah. Entendo. — Eu não era um homem para tomar a inocência de uma mulher — Ronan disse quando viu a condenação no rosto de Meg. — Ana não era inocente. Eu tampouco a obriguei. — Não, eu não imagino que você precisava. Tenho certeza de que estava tão apaixonada por sua aparência como você estava com ela. Ronan encolheu os ombros. — Independentemente disso, encontramos prazer nos braços um do outro. Eu ia até ela de noite e partia antes da alvorada. Supus que nossa relação era de prazer mútuo e nada mais. — Mas ela queria mais — Meg adivinhou. — O que ela fez? Ronan passou as mãos sobre as pernas e suspirou. — Na última noite, trouxe meus amigos comigo para participar do que os ciganos ofereciam livremente. Nunca tinha me ocorrido pensar que Ana pensaria que a queria como minha esposa. O rosto de Meg se enrugou, algo assombrado em seus olhos cinza. — Rompeu-lhe o coração. Ronan se levantou e caminhou ao redor do quarto em meio dos móveis. — Disse-lhe que não haveria matrimônio entre nós. Quando isso não parou suas palavras, pensei que uma pequena mentira o faria. Eu disse a ela que eu já havia sido prometido à outra. Ela correu chorando do vagão. — Suponho que os ciganos não ficaram felizes? —Eu penso que nunca vou saber. Estava me preparando para sair do acampamento quando ouvi um grito. Saltei do vagão pronto para defender os ciganos quando vi Ana. Ela tomou sua própria vida. Porque não me casaria com ela. Meg afastou uma mecha de cabelo que fazia cócegas na bochecha. — Os ciganos lhe amaldiçoaram, verdade?

— A velha o fez. Acredito que poderia ter sido a avó de Ana. Enviou-me para um vazio negro. Não percebi que era um espelho até a segunda vez que fui posto em liberdade. — Você está amaldiçoado para permanecer no espelho para sempre? Ronan se voltou e a olhou. — A velha me disse que estaria ali até que ganhasse minha liberdade. — O que significa isso? — Perguntou Meg enquanto se inclinava para diante. — Significa, doce Meg, que se você não me enviar de volta, estarei livre. Suas costas se endireitaram. — Oh. Isso é tudo? Então não te enviarei de volta. Ronan quase gritou de alegria. Não tinha tomado quase tanto esforço de sua parte para convencer Meg como ele pensava que poderia. Havia sentido o sol, tomou uma refeição deliciosa e já não tinha o espelho para se preocupar. O melhor de tudo, ele tinha conversado com uma mulher extremamente atrativa. E se encontrou faminto de algo mais. — Por que está aqui, Meg? De repente, nervosa, ela se levantou e encolheu os ombros. — Necessitava um lugar para pensar. Tia Tilly ofereceu Ravensclyde e aceitei o convite. Agora, de volta para você. O que você vai fazer? Ronan não tinha pensado nisso. Sua atenção tinha sido focada em ficar livre, e não no que aconteceria uma vez que o fizesse. Esperava que levasse dias, inclusive semanas, para convencer Meg de que o libertasse. Tinha sido assustadoramente fácil. Isso enviou uma queixa da preocupação abaixo de sua espinha dorsal. Nada que viesse tão fácil podia ser bom. Ronan empurrou essa preocupação para o lado por um momento. Com o Stefan, Daman e Morcant mortos, não havia ninguém a quem encontrar. E em nenhuma parte para onde ele pudesse ir.

Estava sem lar, sem dinheiro e sem amigos. Um inferno de problemas para se encontrar. Então olhou de novo para Meg, uma ideia se arraigando. — Necessita ajuda no castelo? Sua boca se retorceu quando balançou a cabeça. — Na verdade não. — Ela fez uma pausa como se considerasse suas palavras. — Então, outra vez, não conhece ninguém ou ao século que estamos. Não tenho a certeza de que eu deveria deixar você sair sozinho. — Estarei bem, asseguro-lhe. — As coisas são diferentes de quando você as conhecia. Ronan sorriu. — Então você acredita na minha história, doce Meg. — Não estou dizendo isso — ela respondeu aspera. — Mas me inclino nessa direção. Muitas coisas não se encaixam. Seu tartan é uma malha muito antiga para ser de hoje em dia. Ele fechou a distância entre eles e sorriu quando percebeu que a tinha apoiada contra a cadeira com nenhum lugar para correr. — Onde está seu homem, doce Meg? Seu olhar se afastou antes de voltar para o dele. Ele a deixou nervosa, com o pulso rápido na base do pescoço e a forma como seus olhos escureceram quando ela o olhou, seu corpo teve uma reação a ele. — Não tenho um homem — disse ela com um sussurro rouco. O olhar de Ronan posou em seus lábios. Eles seriam tão doces como o vinho. — Que pena. Meg deslizou para o lado e afastou-se de Ronan. Ele era mais do que tentação. Ele era pecado, implorando-lhe para provar o que oferecia. E alguma vez quereria prová-lo? — Se você precisa de uma mulher, tenho certeza que encontrará muitas dispostas a acomodá-lo em todo o castelo.

O sorriso de Ronan era predatório, como se ele soubesse que queria ceder aos desejos que esquentavam seu corpo. Se ele soubesse apenas o quanto desejava fazer exatamente isso. — Como você vai explicar meu aspecto? — Perguntou. Meg fez uma careta. — Não sei ainda. Não pode vir comigo. — Porque não? Por que não, na verdade? Ela estava no comando do castelo no momento. Já estava formando uma história sobre Ronan, esclarecendo sua posição como alguém que acabava de chegar procurando trabalho. Não era uma mentira. Simplesmente não diria a ninguém que ele veio de um espelho. — Você pode ficar todo o tempo que necessite. Durante esse tempo, você pode ajudar ao redor do castelo. Siga-me, e o apresentarei a todos. Ela girou sobre seus calcanhares e saiu do quarto para às escadas. Ronan estava um passo atrás dela. Sua presença era reconfortante, mesmo quando ele a colocava no limite.

Os dias se converteram em semanas, e durante esse tempo Ronan pensava em Meg, inclinando-se sobre ela, suas suaves curvas amortecendo seu corpo antes de penetrar dentro dela. Havia algo muito atraente e convincente nela. Ronan não podia identificar exatamente o que era, mas sabia que era mais sobre a mulher do que do fato de estarem sozinho durante tanto tempo. Tinha fome de comida e dos prazeres da carne. Ansiava sentir a chuva sobre sua pele. Desejava o sol e o vento. Mas a presença de Meg atenuou todo o resto. Havia dor em seus olhos cinza, mas a luz dentro dela iluminava tudo. Ela era tentadora, excitante e feroz, sem sequer sabê-lo.

Ronan tinha feito trabalhos estranhos em todo o castelo. O fato de que não havia muito o que fazer demonstrava quão bem organizado estava o castelo. Frequentemente se encontrava perto de Meg, e aproveitava todas as oportunidades para falar com ela com a esperança de aprender mais sobre ela. Cada vez que a fazia rir era um pequeno triunfo. À medida que passavam os dias, ele se encontrou procurando por ela para se certificar de que estava ao seu alcance e segura. Quando ele não estava olhando para Meg, estava trabalhando fora aproveitando qualquer oportunidade que tivesse para poder sentir o sol. Havia se sentido bem em usar seus músculos e sua mente. Como ele costumava se queixar sobre o trabalho humilde que seu tio o fazia realizar. Não estaria seu tio rindo agora se pudesse ver que Ronan estava procurando trabalho para se ocupar? Um mês depois de ter sido libertado de sua prisão, esperou por Meg. Três noites seguidas tinha despertado com a sensação de que tinha que ir ao espelho, e cada noite essa sensação aumentava. Isso o perturbou, porque temia que não tivesse a escolha de permanecer aqui e fazer uma vida. Poderia estar de volta no odiado espelho independentemente do que Meg dissesse. Ele afastou-se da parede e sorriu quando a viu andando do castelo com uma cesta carregada de comida. Rapidamente caminhou ao lado dela. — Precisa de alguma ajuda? Não lhe deu tempo para responder enquanto pegava a cesta. Seus passos eram largos e decididos enquanto seu olhar se lançava para as nuvens ameaçadoras que enchiam o céu. — Você dormiu bem? — Ela perguntou enquanto acenava de passagem para um homem que cuida dos cavalos. — Eu não dormi. — Inclusive na noite foi golpeado pelos sons e as visões ao seu redor. Era tão diferente da escuridão silenciosa que conhecera por tanto tempo. Quando ele mergulhou no nada, o sono era o mais distante de sua mente. Sua câmara — em um lado oposto da câmara de Meg no castelo — tinha uma vista encantadora. No entanto, ele se encontrou do lado de fora

de sua porta a maioria das noites lutando com seu desejo de provar seus lábios e pele. Ele não iria sem ser convidado ao quarto dela enquanto lhe oferecesse um teto sobre a cabeça, comida no estômago e, sobretudo, a liberdade do espelho. Mas como ele a desejava. Tanto é assim que, quando tinha encontrado uma mulher disposta, ele se afastou. Ele afastou-se! É inaudito. Especialmente quando seu membro doía por alívio. Os beijos da donzela tinham sido experientes, seu corpo suave, mas ela não era Meg. Mesmo agora, ele não podia acreditar que tinha deixado uma mulher disposta para, em vez disso, ficar de guarda fora da porta de Meg com o desejo ardendo através dele. Ela franziu o cenho enquanto o olhava nos olhos. — Não está cansado? — Quando há apenas escuridão à sua volta, não há necessidade de abrir os olhos. Sinto como se eu tivesse dormido anos. Eu quero aproveitar tudo enquanto tenho a chance. — Você ainda pensa que vou te mandar de volta — disse, consternada. — Eu disse que não o faria. Ele encolheu os ombros. Não era como se Ronan pudesse lhe dizer que não confiava nas mulheres. Sabia que eram criaturas manipuladoras e tortuosas que não queriam nada além que seus próprios prazeres. Meg se deteve. Demorou um momento para Ronan perceber que ela parara, então, ele estava a poucos passos antes de fazer uma pausa e virouse para olhá-la. Seus olhos cinza resplandeciam de fúria quando o vento açoitou as mechas de seu cabelo castanho que se desprendeu da trança. — Acredita que estou mentindo. Eu!? Ronan moveu a cesta para a outra mão e se preparou. Primeiro haveria ira, e depois as mulheres choravam. Ele esperava que Meg não derramasse lágrimas. Isso arruinaria tudo. — Duas outras mulheres me enviaram de volta.

— Não sei como te chamei para fora do espelho, então isso só mostra que não sei como te devolver. Além disso, te disse que não o faria. Obviamente, você toma a palavra de uma mulher como nada. — Foi uma mulher que me pôs no espelho. Os olhos de Meg se arregalaram com irritação. — Oh, bem, não importa que você se recusasse a casar com sua neta depois de deitar-se com ela. — Eu não matei a Ana — disse Ronan em voz baixa. Surpreendeu-se da ira que se elevou tão rapidamente. Ele era muitas coisas, mas não era um assassino. A ira evaporou-se instantaneamente do rosto de Meg. — Tem razão. Não o fez. Ana era débil. Os homens normalmente traem seus votos e seduzem às mulheres com falsas promessas, e nós sobrevivemos. Ana também deveria ter sobrevivido. Os homens não valem a pena, e certamente não valem nossas almas. Ronan só podia olhar para Meg enquanto passava junto a ele no desgastado caminho do castelo. Havia algo em sua voz, uma nota de pesar e desolação que era como uma espada através de seu intestino. Ele queria saber o que tinha acontecido com ela, mas mais do que isso, queria saber quem a tinha machucado. Ela era um espírito gentil, mas ele tinha vislumbrado o fogo e a paixão em seu olhar. Ela era uma beleza esperando para romper as correntes que estavam segurando-a ás suas costas. Com pouco esforço, Ronan alcançou Meg. Caminharam em silêncio durante um momento. Ele continuou examinando o que tinha dito em sua mente. Não havia dúvida de que algum homem a abandonara. Ele roubou sua inocência e se recusou a se casar com ela? A ideia fez com que Ronan apertasse o punho da cesta com tanta força que ela rangeu em protesto. Gradualmente, afrouxou a mão até ter sua raiva sob controle. — Você não confia nos homens — disse no silêncio. — Por que confia em mim, moça? Ela o olhou com grandes olhos cinza e sorriu com força.

— Oh, não o faço. — Eu não entendo. Por que então me deixa ter minha liberdade? Por que me permite dormir no castelo, trabalhar e comer ali? Chegaram a uma cabana pequena e Meg se deteve e colocou a mão na cesta. — Não me machucou, Ronan, e todo mundo necessita uma segunda oportunidade para reconstruir sua vida. —É isso que você está fazendo? Construindo sua vida? Ela riu, mas o som foi forçado. — Não. A minha terminou antes que começasse. Ele só podia ver como golpeava a porta da cabana e entregava o queijo e um pedaço de pão para uma mulher tão dobrada com a idade que ela não conseguia se endireitar. Não houve mais palavras enquanto caminhava junto a ela a próxima cabana onde cinco crianças pequenas se reuniram a seu redor antes que ela pudesse chegar à porta. O prazer em seu rosto enquanto ela interagia com eles era evidente. Meg era uma mulher feita para ser mãe. Ela alimentava e encorajava como se fosse uma segunda natureza. E as crianças respondiam a ela. Pela primeira uma vez, ele estava olhando a uma mulher como algo mais que uma fonte de prazer. Ele estava vendo Meg, realmente a estava vendo. Era algo novo, e parecia como se a terra tivesse sido arrancada de debaixo dele. As mulheres eram todas iguais. Não eram? Semanas atrás, ele teria dito sim, mas depois de conhecer Meg, conhecê-la realmente, ele estava reavaliando suas ideias. Ela não o tinha manipulado para lhe dar nada. Não tinha chorado nem utilizado seu corpo. Ela, entretanto, tinha-lhe dado o que queria sobre tudo: a liberdade. Enquanto não pedia nada em troca. Por isso se sentia obrigado a permanecer perto dela? Era por isso que a desejava tão profundamente?

Ela pode ter agido de forma diferente de qualquer outra mulher que conhecesse, mas ainda não estava convencido de que não se converteria no que tinha aprendido que as mulheres realmente eram. Entretanto... Não podia deixar de pensar em Meg. Ronan apoiou um quadril contra o muro de pedra que rodeava a cabana. O telhado estava necessitando desesperadamente de reparo, e a pilha de lenha para o fogo só tinha uns poucos troncos à esquerda. Enquanto catalogava o que precisava ser feito, ele tomou nota de como Meg deu um presente a cada criança e os enviou correndo pelo pátio com sorrisos e risadas brilhantes. Quando Meg se juntou a ele, um sorriso sereno estava em seu lugar. — O quê? — Perguntou quando o viu olhando-a. —Você deveria ter seus próprios filhos. Ela lambeu os lábios e passou por ele para continuar na estrada sem responder. — Nega que quer filhos? — Perguntou, sem saber por que isso parecia tão importante para ele. — Não. Essa palavra continha uma grande quantidade de significado: medo, dor. Mas mais que isso, havia resignação.

Capitulo Quatro

Meg se surpreendeu de que Ronan se juntasse a ela enquanto visitava os inquilinos doentes. Odiava a maneira como seu corpo lhe respondia, odiando como tentava roçar-se contra ele em qualquer esforço por senti-lo. Ela era patética em sua necessidade de estar perto dele e, entretanto, se recusava a mandá-lo embora. Como se ele fizesse o que ela queria. Ronan era obstinado e cabeça dura. Ele faria tudo o que desejasse. Ela estava emocionada de que no momento fosse uma espécie de fascinação para ele. Não duraria, por isso ela iria aproveitar. Seu braço aqueceu onde ela sabia que seu olhar pousou. O calor percorreu seu pescoço e depois para o peito. Seus seios incharam e seus mamilos se apertaram. Saber que ele estava a observando fez que seu coração acelerasse. — Onde estão os pais da última casa que visitamos? — Perguntou. Meg engoliu em seco duas vezes, tratando de recuperar a umidade de sua boca. Ela estava agradecida pela mudança de assunto. Não queria pensar em sua vida sem marido ou filhos. Tudo o que ela sempre quis era uma família própria para apreciar. — Sua mãe morreu no inverno passado tentando trazer outro bebê para ao mundo. O bebê também não conseguiu. O pai ficou desolado depois que sua esposa morreu, o que é compreensível. Passava suas noites bebendo em sua dor. Isso o fez quebrar o tornozelo quando estava tratando de conduzir algumas ovelhas. — Quanto tempo precisa até que volte a ficar de pé?

Meg encolheu os ombros. — Mais algumas semanas. Eu sei que há uma jovem de uma casa vizinha que vem quando pode para cozinhar e cuidar das crianças. Ronan assentiu com a cabeça enquanto escutava, com o olhar fixo no caminho diante deles. Ela lançou seu olhar para ele. Poderia estar disposto a fazer o trabalho simples, mas não havia nada de simples em Ronan. Se manteve erguido e poderoso, comandante e contundente. Era óbvio que estava acostumado a ter o controle. — Quem era você? — Meg perguntou. — Antes da maldição. O que fazia? Ele riu e olhou para ela. — Eu fiz o que qualquer bom Highlander faz, moça. Lutei com meus inimigos e protegi a meu clã. — Mas quem era você? Você anda como um homem acostumado a estar no comando, um homem que fazia suas próprias regras. — Isso é porque eu fazia. — Ele deu um sorriso torto para aliviar a dureza de suas palavras. Meg estava mais curiosa que nunca. Ela não reconhecia o tartan que ele usava, mas os clãs mudavam sutilmente seus xadrezes por razões como desterros, matrimônios, e outras coisas. Ela observou Ronan pelo canto do olho. Não havia como negar sua confiança, seu ar de autoridade. Nenhum homem, nem sequer um Highlander, conseguia isso sem ter nascido com ele. — Você não era filho de um artesão — Meg disse. — Você era filho do Laird. Se ela não estivesse procurando alguma reação, Meg perderia o ligeiro retesamento de seus músculos. — Uma boa hipótese, mas não muito certa. — Faz sentido — afirmou. Ronan a atravessou com seus pálidos olhos verdes. — Por isso parece. — Por que você quer esconder esse fato?

— Eu não era o filho do Laird. Eu era seu sobrinho. E era bom que meu pai não fosse um Laird. Minha mãe o tinha retorcido ao redor de seu dedo tão fortemente que tudo o que ele poderia ver era ela. Meg ouviu o ódio na voz de Ronan, embora não tivesse certeza se era com a mãe ou o pai. Supunha que era por sua mãe. — Por isso despreza tanto às mulheres? Sua pergunta o fez jogar a cabeça para trás e rir. — Desprezo? Está brincando? Lass1, eu amo as mulheres. Por que você acha que eu fui amaldiçoado? Meg tomou o caminho ramificado fora da estrada e, não se deteve com suas palavras. Sua risada era muito alta, muito longa. — Despreza as mulheres. Você nos considera um meio para aliviar seu corpo, e não encontra outra necessidade para nós. Ela o deteve com uma mão em seu braço antes que ele pudesse responder. Depois de tomar um pedaço de pão e carne envolta em uma toalha, Meg se dirigiu à porta da cabana. Este era o único lugar que tia Tilly lhe tinha pedido que visitasse todos os dias. Não é que a anciã que vivia ali houvesse dito muito a Meg, mas era uma petição tão pequena. Meg deu um forte golpe, só para que a porta se abrisse imediatamente. Ela sorriu, notando como os olhos negros da mulher a olharam por longos momentos antes de olhar por cima do ombro para Ronan. — Isto te bastará até amanhã, Ina — Meg disse enquanto entregava os artigos. — Cook está fazendo sopa, e tenho certeza que ela trará algo para você. O olhar da Ina se voltou para ela antes de fechar prontamente a porta no rosto de Meg. Com um encolhimento de ombros, Meg se voltou e retornou para Ronan. — Quem é essa mulher? — Ele perguntou.

1

Lass: moça em gaélico.

Meg olhou por cima de seu ombro para a cabana para encontrar a Ina olhando-os de sua janela. — Realmente não sei. Ela é importante para tia Tilly. Por quê? — Ela tem a aparência de uma cigana. Passaram o resto da manhã em um silêncio amigável visitando as cabanas restantes. No momento em que a cesta estava vazia, o trovão retumbava a um ritmo constante. — Não acredito que vamos voltar ao castelo antes que chova. Meg suspirou em voz alta. — Esperava que o fizéssemos, mas temos pelo menos três milhas a pé antes de chegar ao castelo. — Por que não montamos um cavalo? Seria mais rápido. — Seria, mas eu gosto de caminhar. Houve outro estrondo de trovão antes que um relâmpago fizesse Meg saltar. Pouco tempo depois, começou a chover. — Há refúgio perto? — Ronan perguntou. Meg só conhecia uma. A cabana abandonada no fundo da floresta. — Sim. Eu vou te mostrar. Ela saiu correndo. Para sua surpresa, Ronan agarrou sua mão enquanto ela levantava suas saias empapadas e correu para a floresta. Ela deslizou em folhas úmidas e terra, mas Ronan facilmente a manteve em pé. Uma risada lhe escapou. Pela primeira vez em... Anos... Sentiu-se alegre e... Livre. Foi uma sensação gloriosa. Meg olhava através das árvores a chuva caindo e não viu a rocha. Ela tropeçou. Um grito brotou em sua garganta, e de repente, foi arrastada contra um peito duro como uma rocha. Não sabia quanto tempo passou enquanto olhava para o peito nu de Ronan. Quando olhou nos olhos dele, havia um fogo ardendo ali. Isso fez com que seu coração perdesse uma batida e algo sedutor e erótico se desprendesse baixinho em seu ventre. Mas também a assustava.

O forte desejo estava ali para que ela o visse. Ronan não reteve nada. Não havia palavras falsas, nem mentiras, nem promessas vazias. Havia apenas ele. Sua mão se instalou em seu peito acima de seus seios, e então ele lentamente acariciou seu pescoço e sua bochecha. Enquanto isso, sua cabeça baixava para a dela. Meg deveria afastar-se. Sabia, mas seu corpo não escutava. Ronan só queria aliviar seus próprios desejos. Ele não se importava com ela. E qual é o problema? Por que não posso ter prazer em minha vida miserável? Assim que o pensamento passou por sua mente, os últimos vestígios de sua restrição desapareceram. Meg observou a água correr pelo rosto de Ronan. Ela separou seus lábios e deixou que seus olhos se fechassem. O primeiro roce de sua boca contra a dela não era mais que um toque. O segundo foi mais proposital, enquanto ele pressionava seus lábios contra os dela. Meg podia se sentir derreter contra ele. Então sua língua deslizou ao longo da união de seus lábios. Ela ofegou, seus dedos cavaram em seus ombros. Era o gemido, o duro e necessitado gemido, tirado do fundo dele, que a deixou tremendo por mais. Quando ele a virou ligeiramente em seus braços e abriu os lábios mais amplamente, Meg seguiu seu exemplo. Ela suspirou quando as línguas se encontraram, emaranhadas. A atração entre eles explodiu em chamas quentes de desejo. Ele aprofundou o beijo, puxando-a contra ele até que ela pudesse sentir sua excitação. O beijo era abrasador, escaldante. Ele a queimou de dentro para fora. E ela não podia ter suficiente. Era difícil para ela ocultar a decepção quando Ronan terminou o beijo e a olhou fixamente. Sem dizer uma palavra, ele pegou sua mão e a conduziu até a cabana abandonada. Assim que entrou na estrutura, ele a puxou para dentro e fechou a porta. No instante seguinte, ele a pressionou contra a porta, sua boca sobre a dela novamente, mais voraz que antes.

Meg deslizou seus braços ao redor de seu pescoço e afundou seus dedos nas grossas mechas de seu cabelo molhado. O beijo agitou seu sangue já quente. Ela ofegou quando ele se apertou contra ela, seu pau grosso pressionando contra seu sexo. — Sim — ele murmurou enquanto lhe beijava o pescoço. — Me sinta, doce Meg. Ela sentiu o ar fresco em sua pele, e percebeu de que ele estava despindo-a, mas já não se importava. Tudo o que queria era mais do prazer que Ronan estava lhe dando. Pensaria em suas ações e nas consequências mais tarde. Agora era tudo o que ela queria. Era uma sensação nova para ela. Nunca tinha pensado em si mesma antes que mais ninguém, e descobriu que gostava muito disso. Seu vestido caiu em torno de seus pés em uma enxurrada de material. Ronan não deixou de beijá-la durante todo o tempo em que ele a estava despindo. Quando Meg estava completamente nua, Ronan puxou-a contra ele e olhou-a nos olhos por longos momentos. Ela desejava saber o que ele estava pensando, ter algum indício do que ocorria em sua mente. — Não menti, doce Meg. Nunca tomei uma inocente antes. Podia haver se ruborizado antes, mas agora não. Não quando seu corpo doía por ele. Suas grandes mãos estavam vagando sobre ela, agarrando seu traseiro e provocando a parte de baixo de seus seios. — Não se deita com as virgens, recorda. O que te faz pensar que sou inocente? — Perguntou, sua voz tremia quando ele se aproximou de seu duro mamilo. — Um homem como eu sempre sabe. Suas pálpebras se fecharam quando se apoiou contra ele. — Não preciso ser seduzida. Estou mais que disposta. — Eu deveria me afastar de você — disse. Os olhos de Meg se abriram para vê-lo olhando para seus seios. Ele a inclinou para trás, expondo seus seios. Ela não podia imaginar que ele a deixasse em tal estado de necessidade. Além disso, ela sabia que ele precisava de liberação também.

— Não o faça. — Meg não se importou que ele ouvisse o pedido em sua voz. — Por favor. — Ele ergueu o olhar para o dela. — Não sabe o que está me pedindo. Mas ela sabia. Para provar isso, ela deslizou sua mão entre eles e envolveu-a em torno de seu pênis. — Eu sei. Com suas palavras, Ronan desamarrou seu kilt e o deixou cair ao chão. Ajoelhou-se diante de Meg e tomou seus seios em suas mãos antes que fechasse a boca sobre um pico turgente. Ronan nunca quis uma mulher como ele queria Meg. Ele provocou seus mamilos sem piedade até que seus quadris se projetavam contra ele. Então levou preciosos segundos para estender seu kilt sobre o chão de terra e deitá-la sobre ele. Foi quando ele finalmente conseguiu deleitar seus olhos em todo o glorioso esplendor que era Meg. Seus mamilos eram de um rosa pálido, seus seios grandes e cheios. Tinha uma cintura estreita e quadris cheios. Ele olhou a suas pernas flexíveis, mas era o triângulo de pelos castanhos entre elas que o mantinham paralisado. — É uma beleza, doce Meg. O sorriso dela era suave, sedutor, e causou um desejo visceral em Ronan. Ela não tinha ideia de como era atrativa. Ele se ajoelhou entre suas pernas e se inclinou sobre ela para beijá-la novamente. Seus membros se enroscaram enquanto rolavam, tocando-se e aprendendo um com o outro, enquanto seus suaves gemidos e lamentos enchiam a cabana. Ronan não podia ter o suficiente dela. Ele acariciou seus seios antes de aventurar uma mão por seu ventre até seu sexo. Ele gemeu quando a encontrou já molhada e pronta. Deslizando um dedo dentro dela, foi recompensado quando ela gemeu e se arqueou contra ele. Enquanto ele continuava empurrando seu dedo dentro e fora de sua vagina apertada, ele esfregou seu polegar ao redor de seu clitóris inchado. Seus gemidos se converteram em gritos de prazer. Cada vez que um relâmpago iluminava o céu lhe mostrava uma visão de puro erotismo.

Ronan sentiu que seu corpo endurecer e soube que ela estava a ponto de alcançar o máximo do prazer. Ele continuou seu ataque, acrescentando um segundo dedo ao primeiro. Então, se inclinou e gentilmente mordeu um mamilo antes de roçar sua língua sobre ele. Ela se separou com um grito, as paredes de seu sexo apertando seu dedo. E era a visão mais linda que Ronan já viu.

Capitulo Cinco

Meg não sabia que seu corpo podia se sentir tão bem ou ser tomado de fortes espasmos. Ela abriu os olhos quando Ronan puxou os dedos de seu corpo. Ele estava inclinado sobre ela, a cabeça de seu pênis na entrada de seu sexo. Ela sabia por que ele hesitava, e isso a fez sorrir. Meg apoiou as mãos nos seus lados e o puxou para ela. Seus olhos verdes pálidos se arregalaram de surpresa. E então ele estava empurrando dentro dela, esticando-a, enchendoa. Meg levantou as pernas e se surpreendeu quando ele deslizou mais profundo. Ele fez uma pausa e se retirou. Voltou a penetrar até que a ponta dele estivesse dentro dela. Com um impulso, ele empurrou seu pênis através de sua virgindade, enterrando-se completamente. Meg ficou rígida ante a dor, mas não passou muito tempo até que diminuiu. Então o instinto a fez se mover contra ele. Assim que sentiu que ele deslizava dentro e fora dela, o prazer, quando retornou, foi amplificado. Ela se entregou ao ritmo que Ronan tinha imposto. O ritmo aumentou à medida que ia mais profundo, empurrando mais forte. E cada vez mais o prazer em seu ventre se apertava. Seu segundo clímax foi tão feroz quanto o primeiro, levando-a em uma viagem de êxtase. Ela soube nesse instante que seu corpo pertencia a Ronan. Tinha a marcado sem sequer saber. Ele jogou a cabeça para trás e lançou um grito no momento em que se separava dela. Meg o sustentou quando ele desabou em cima dela, seu

corpo tremendo. Foi quando percebeu que ele derramou sua semente sobre seu ventre. Meg afastou o cabelo do rosto e fechou os olhos enquanto desfrutava da sensação de seu peso em cima dela. Ninguém a havia tocado tão profundamente como Ronan. Desta vez não era a garota ingênua. Desta vez, ela sabia exatamente o que ele oferecia: nada. Ronan se levantou sobre um cotovelo e deu um suave beijo na sua boca antes de levantar-se completamente. Arrancou um pedaço de sua camisa antes de rasgá-la em outras duas partes. Quando retornou, ajoelhou-se e limpou seu sangue de entre suas pernas e depois sua semente de seu ventre. Com a tempestade ainda em fúria, Ronan deitou-se ao lado dela e puxou-a para dentro de seus braços. Meg acolheu o descanso e se aconchegou contra ele com a cabeça sobre o peito. — Você vai me dizer o que aconteceu para enviá-la para Ravensclyde, doce Meg? Sua voz era um sussurro, mal se ouvia por cima da chuva. Mas ouviu que o tinha perguntado. Abriu os olhos e olhou para a parede da cabana. — Você vai me dizer por que odeia mulheres? — Eu não acho que seja uma história digna de falar, mas se você quiser saber, vou te contar. Ela moveu a cabeça até olhar para ele. — Eu quero saber. — Tudo bem— ele disse com um encolher de ombros. Ele enfiou a mão livre atrás da cabeça e olhou para o teto. —Meu pai se apaixonou loucamente por minha mãe a primeira vez que a viu. O que ele não sabia é que ela estava tentando ganhar a atenção do meu tio. Meu tio já se casara e não estava interessado. Meu pai trabalhou duas vezes mais para ganhar seu favor. — Acredito que ele fez — disse Meg.

— Infelizmente. Minha mãe o usava. Ela contou-lhe que o amava, mas era só para fazê-lo casar-se com ela. Ela fez da sua vida um inferno. Nada que ele fizesse era bom o suficiente. Ela transformou um homem orgulhoso em uma concha vazia. Meg engoliu saliva, porque tudo ficou claro para ela. Não era que Ronan odiasse às mulheres. Não acreditava no amor. Acrescentando isso à maneira ardilosa que sua mãe enganou seu pai e arruinou sua vida, não era de admirar que Ronan tivesse rechaçado o matrimônio com a cigana. — Minha irmã aprendeu com nossa mãe — continuou Ronan. —Ela era intrigante e sem escrúpulos quando estava tratando de conseguir o que queria. Tratei de advertir seu marido, mas ele estava muito apaixonado para escutar. Ele aprendeu a lição, no entanto. Mas, então, já era muito tarde. Estava na mesma armadilha que meu pai. Meg apoiou a cabeça em seu peito. — Sinto muito, Ronan. — Está no passado. — Mas segue governando sua vida — ela apontou. Ela fechou os olhos quando o silêncio se estendia entre eles só quebrado pela chuva e o trovão. Meg estava quase adormecida quando seus dedos roçaram sua bochecha para afastar seu cabelo. — Compartilhei minha história. Onde está a tua? — Perguntou com uma voz baixa e rouca que enviou calafrios correndo pela pele dela. Meg respirou profundamente e soltou o ar lentamente. — Não há nada realmente para contar. Fizeram-me uma promessa. A promessa se rompeu, me deixando traída e sozinha. Ronan sabia que havia muito mais na história. Talvez não conhecesse o passado de Meg, mas sabia o suficiente dela para saber que era uma alma boa e doce. Quem a magoou deveria ser pendurado por seu culhões. De repente, Ronan quis olhar seus olhos cinza. Rolou-a sobre suas costas para que ele se apoiasse em um antebraço a lado dela. Seu olhar a encontrou sem vacilar. — Diga-me— ele exortou.

Ela desviou o olhar, toda a emoção escorria de seu rosto. — Conheci um homem que eu pensava que se importava comigo. Ele me disse que queria que eu fosse dele. Ele mesmo me pediu para me casar com ele. Fiquei muito feliz. Ele era muito bonito e encantador. A minha família também gostava dele. Eu pensei que tudo estava certo. Quando ela ficou em silêncio mais uma vez, Ronan passou um dedo entre seus seios até o umbigo. —O que ele fez? — Deixou-me. Abandonou-me no dia de nossas bodas para fugir com outra pessoa. Nunca senti tanta vergonha. — Você não tem motivos para ter vergonha, doce Meg. Ele foi o tolo que te deixou ir. Deveria estar feliz de não estar desposada de um homem assim. Seu olhar se voltou para ele. — Tem razão. Se não tivesse acontecido, a tia Tilly não teria me oferecido Ravensclyde, e eu não teria encontrado você. — Libertou-me. — O impacto do que ela fez por ele, bateu em seu peito como um aríete. — E despertou meu corpo — disse com um sorriso malicioso. Se ao menos ela soubesse o quão maravilhoso era seu corpo. Poderia ter sido há muito tempo que ele teve uma mulher, mas sabia que o prazer que encontrou com Meg era profundo. O suficiente para lhe fazer pensar em correr o mais longe que pudesse. O que o deteve foi dar-se conta de que Meg não era como sua mãe ou irmã. Tinha sido abandonada por um homem. Ela estava ferida, seu coração dolorido. E, entretanto, ela lhe deu seu mais precioso presente: sua inocência. Nenhum outro homem a havia tocado, beijado, amado como ele. Ronan fora o primeiro, e gostou muito de como se sentiu. — Que casal somos — disse Meg com uma pequena gargalhada. Ronan rolou até suas costas.

— Sim. Um casal com certeza. Meg voltou para seu lugar em seu peito. — Por quanto tempo você vai ficar em Ravensclyde? — Não pensei muito nisso. Por quê? Quer que eu vá agora? — Justamente o contrário. Quero que fique todo o tempo que queira. Ronan brincou distraidamente com as mechas secas que se desprenderam de sua trança. — Não entendo por que você se entregou para mim. Esse homem era um asno pode ter certeza, você será uma boa esposa e mãe. — Sou a segunda de quatro filhas. Meu pai lhe deu meu dote antes das bodas. — E o bastardo fugiu com o dote. — Sim. Minhas irmãs também precisam encontrar maridos. Não há mais nada para mim que pudesse encontrar outro marido. Ronan mergulhou naquela notícia. — E a sua tia? Ela não pode ajudar? — Ela o fez. Ela me permitiu vir aqui e convertê-lo em meu lar. Pelo menos tenho um lugar onde ir, além do convento. — Então você se resignou a estar sozinha? — Eu não tenho outra opção. Ronan não entendia por que o pensamento de Meg com outro homem o fazia querer golpear algo, mas também sabia que Meg não deveria estar sozinha. Meg se perguntou se todo mundo seria capaz de dizer que já não era mais uma donzela, quando ela e Ronan voltassem para o castelo, uma vez que a tempestade passasse. Quando ninguém olhou duas vezes para ela, relaxou. Não importa quão equivocada estivesse, não podia repreender-se pelo que tinha feito. Durante esses poucos momentos, tinha sido adorada, necessária e amada. Foi uma reparação para sua falta de autoestima.

Pouco antes de chegarem ao castelo, Ronan a deteve com uma mão em seu braço. — Está tudo bem? — Sim — ela disse com um sorriso. — Está brilhando, moça. — Havia um sorriso muito masculino puxando seus lábios. —Eu fiz isso com você. Ela revirou os olhos. — Sim, você fez. Suponho que eu deveria agradecer. — Oh, mas você fez. Com um presente muito precioso — disse em um sussurro. Meg estremeceu como sempre quando ele falava com essa voz rouca e sedutora. — Eu preciso ir. Há coisas que eu preciso resolver. Vai jantar? — Sim. Ronan a observou entrar no castelo antes de entrar nos estábulos e reunir as ferramentas que necessitaria. Com os braços cheios, estava a ponto de sair a pé quando o chefe do estábulo se colocou diante dele. — Aonde vai com isso? — Perguntou o homem. Ronan assentiu com a cabeça em sinal de aprovação para o homem. — Vou a uma das cabanas para fazer alguns reparos. O homem olhou-o por alguns instantes antes de soltar um assobio e um cavalo branco correu até a cerca. — Tome um cavalo. Chegará mais rápido. — Obrigado. — Quanto tempo ficará em Ravensclyde? Ronan se deteve em seu caminho perto do homem. — Não sei. — De onde você vem? Ronan não poderia ficar zangado com o homem. Ele estava cuidando de Meg e do castelo.

— De algum lugar longínquo. Meg me ofereceu para descansar no castelo por um tempo. Quero devolver o favor ajudando-a onde possa. O olhar azul do ancião foi para o castelo. — Ela veio aqui há vários meses, o coração ferido. Eu não via um verdadeiro sorriso nela até hoje. — Não tenho intenção de machucar Meg se isso for o que está perguntando — Ronan disse. — Ela deve ser protegida. É bom que tenha a alguém como você que cuide dela. O chefe do estábulo fez um gesto com a cabeça e desapareceu de novo nas baias. Ronan rapidamente agarrou um arreio e preparou o cavalo. Com suas ferramentas na mão, montou e saiu do castelo. Pela primeira vez, ele sabia exatamente o que tinha que fazer.

Capitulo Seis

Meg se achou procurando um vislumbre de Ronan durante o resto do dia. A decepção a encheu quando não pôde encontrá-lo. E uma parte dela estava preocupada se ele partira. — Não é como se ele tivesse prometido que ficaria — ela disse. Ronan não tinha feito promessas, nem o faria jamais. Depois que ele lhe contou o que lhe aconteceu, ela sabia, sem nenhuma dúvida, que ele permaneceria pelo tempo que quisesse. Depois, nunca voltaria a vê-lo. A mente de Meg estava tão cheia de Ronan que não podia concentrar-se nas tarefas que precisava fazer. Seu corpo tinha, ainda, mais fome dele, mas havia algo mais em sua mente, algo que tinha medo de deixar sair. Ronan tinha assegurado de não plantar sua semente dentro dela. Ela não pensou muito nisso até esse momento, mas agora ... agora sabia que ele poderia ser a única maneira que poderia ter a família que ela queria. Meg passou a mão em sua testa enquanto ajudava a mexer a água fervente para a lavagem. Seu tempo em Ravensclyde estava limitado ao restante da vida da tia Tilly. Uma vez que ela morresse, o castelo passaria para o filho mais velho. Embora ele tivesse seu próprio castelo para gerenciar, Meg tinha certeza de que ele não ficaria muito feliz com sua permanência para sempre. Eventualmente, Meg teria que sair, e mesmo que pudesse convencer Ronan a lhe dar um filho, não havia para onde ir. Meg era totalmente dependente de sua família, e sem dote, ela poderia muito bem acabar em um convento.

O pensamento a gelou. Sempre a gelava, mas agora, mais que nunca, a realidade de seu futuro pesava sobre seus ombros. Se ao menos pudesse decidir seu próprio destino. Meg terminou com a roupa e entrou no castelo. Estava em sua câmara quando olhou pela janela e viu Ronan falando com o chefe do estábulo. Seu coração imediatamente começou a golpear somente por olhar para ele, um homem que ela sabia que tinha as mãos suaves e carinhosas, que lhe davam muito prazer. Depois da conversa, Ronan se voltou para um barril de água e mergulhou a cabeça. Ele virou a cabeça para trás, a água voando por toda parte, enquanto um enorme sorriso adornava seu lindo rosto. Meg olhou seu vestido manchado e suado e imediatamente começou a se despir. Lavou cuidadosamente sua pele com um pano e uma tigela de água. Então escovou o cabelo comprido até que ele brilhou, antes de vestir um vestido limpo. A antecipação de possivelmente ver Ronan exortou-a a descer as escadas bem antes da refeição da noite. Mais uma vez ficou desapontada, já que ele não estava mais a vista. Com nada mais a fazer, Meg entrou na cozinha para ajudar.

Ronan sorriu quando viu a camisa de açafrão posta na cama junto com outro kilt. O tartan de Galt era tudo o que tinha usado, mas estava sujo. Já não estava em um mundo que conhecia. Tinham passado dois séculos, e muito mudou na Escócia. Talvez fosse hora dele também mudar. A única reivindicação que ele tinha para o clã Galt era seu nome, e mesmo isso não lhe deu o desejo de procurá-los. Ele não tinha moedas, nem lar... nada. Ele estava bem e verdadeiramente sozinho. Poderia ter saído de Ravensclyde se Stefan, Daman e Morcant estivessem com ele. Sozinho, bem, essa era uma história completamente diferente.

Meg ofereceu para ele permanecer em Ravensclyde enquanto ele quisesse. Curiosamente, não sentiu vontade de sair. Meg estava conquistando-o? Certamente não. Sabia que não devia deixar que uma mulher se aproximasse. Tinha que ser o fato de que ele estava sozinho. Essa era uma explicação sólida, e a única que ele consideraria. Apesar do fato de que seu pênis já estava endurecendo no mero pensamento de Meg. Ronan tirou seu kilt e dobrou cuidadosamente o tartan antes de colocá-lo em cima do baú contra a parede. Continuando, puxou a camisa sobre sua cabeça e deixou que ela se assentasse contra sua pele. Em seguida, ele pegou o kilt Alpin e fez um rápido trabalho de colocá-lo. Ele parou antes de sair da câmara para passar os dedos por seu cabelo. Não foi até que se arranhou a mandíbula que sentiu os brotos da barba. Passou tanto tempo desde que precisou se barbear que Ronan se esquecera disso. Era óbvio que outra pessoa pensara nisso quando ele se virou e encontrou tudo o que precisava para barbear-se em uma pequena mesa perto da janela. Com uma risada, Ronan começou a trabalhar. Demorou mais do que o habitual, pois ele precisava se acostumar a segurar a lâmina na mão mais uma vez. Pelo menos ele não cortou o rosto. Quando terminou, passou a mão por sua mandíbula, agradado de não sentir nenhum restolho. Ele correu para fora da câmara, e só tardiamente percebeu a meio caminho das escadas que era o entusiasmo que o impulsionou para frente — a emoção de ver Meg de novo. Ele parou no grande salão quando seus olhos pousaram nela. Ela era uma visão com seus cabelos castanhos que fluíam ao seu redor, a cor como um farol para ele. Estava falando com os criados quando olhou para cima e o viu. Um suave e acolhedor sorriso se inclinou nos lábios cheios quando ela parou no meio da frase. Ronan se dirigiu para ela. Com uma palavra rápida para os criados, Meg encontrou-o no meio do grande salão. Ela olhou para o kilt e deu um aceno de aprovação. — Você parece muito bonito.

Ele deu uma piscadela. — Foi uma boa maneira de me dizer que meu kilt precisava ser limpo. — O kilt dos Alpin lhe fica bem. — Fez um gesto para a mesa. — É hora de jantar. Eles mal haviam tomado seus assentos quando o vestíbulo começou a encher-se de gente. A comida foi trazida e colocada nas mesas. Ronan olhou ao redor do grande salão observando a facilidade com que todos comiam. Havia muita tensão entre seus pais, seu tio e sua tia para que tivesse havido um jantar agradável — ou qualquer outra refeição. — O que fez hoje? — Perguntou Meg. Ronan engoliu sua mordida e encolheu os ombros. — Comecei a arrumar um teto. Meg fez uma pausa enquanto comia para olhá-lo. — Retornou à cabana. Ele não tinha certeza se ela estava feliz ou não, uma vez que nenhuma emoção se mostrava em seu rosto. — Eu quero ganhar meu sustento. — E a discussão com o chefe do estábulo? — Ofereceu dois de seus filhos para que me ajudassem amanhã. Por longos momentos, ela olhou fixamente para ele. — Obrigada. Estive tratando de encontrar tempo para ajudar à família, mas há poucos homens de sobra. — É para isso que estou aqui — disse, subitamente feliz pelo deleite de seus olhos cinza. — Teria sido um bom Laird, Ronan. Ele afastou o olhar. — Nunca foi minha posição para ter sido. — Sim, mas está em seu sangue.

Ronan queria mudar de assunto. Ele odiava pensar em seu passado. — E quanto tempo estará por aqui? — Quem sabe? — ela respondeu com cautela. Mas Ronan imediatamente soube que ela estava escondendo algo dele. — Acreditei que você disse que sua tia lhe deu licença para permanecer aqui. — Ela fez. Tomou um gole de sua cerveja e examinou a grande sala antes de voltar sua cabeça para ela. — O que não está me dizendo, moça? — Nada — ela foi rápida para lhe assegurar. Ronan a deixou fugir. No momento. Era difícil para ele se concentrar com seu corpo dolorido de desejo por ela. Estava sentada ao seu lado, mas não podia tocá-la. Em todos os seus anos, nenhuma só vez ele se absteve de tomar o que quisesse. Por que se detinha agora? Especialmente depois de já ter tido Meg. E a resposta era a própria mulher. Ele queria protegê-la. Viu a honestidade e a paixão em seus olhos. Ela o olhou como se ele fosse digno dela, e ele descobriu que queria desesperadamente ser digno. Quando terminou a refeição, Ronan relaxou por um tempo antes de retirar a cadeira e segurou sua mão. — Caminhe comigo, doce Meg. Seus olhos cinza escureceram pela atração e a intimidade compartilhada. Como ele queria puxá-la contra ele e beijá-la na frente de todos. Para reivindicar o que era dele. Com a mão na sua, Ronan a escoltou para subir as escadas até as ameias e sair para a noite. — Há muitas nuvens para ver as estrelas — disse Meg. — Eu não a trouxe aqui para ver as estrelas. Eu a trouxe aqui para isso, — ele disse enquanto a puxava contra si e cobria sua boca com a dele. A explosão de desejo foi instantânea, urgente.

Chamas. Suas mãos deslizaram nas mechas de seu cabelo e a mantiveram cativa quando ele devastou sua boca. Ela era beleza, inocência, tentação e força. Ela era sua debilidade e seu poder. Dele. Ronan terminou o beijo, sua respiração forte quando tratou de controlar seu corpo furioso. Meg apoiou a cabeça em seu peito enquanto se abraçavam. — Isto é como um sonho, — ela sussurrou na noite. Um sonho que era inquietante. Ronan não entendeu os sentimentos ferozes que o atravessavam. Talvez se o fizesse, ele poderia simplesmente aceitá-los. Não eram apenas as emoções estranhas, também havia a necessidade ardente de reivindicá-la novamente e que golpeava suas veias com um ritmo constante. Ele arrumou o cabelo do seu rosto e descansou o queixo sobre a cabeça. — Se você não falar de alguma coisa, eu vou levantar suas saias aqui mesmo e tomá-la. — Isso soa... emocionante. Ronan fechou os olhos e gemeu. — Moça não me tente. — Do que eu devo falar? — Você pode me contar o que não me disse no grande salão. Por quanto tempo você pretende permanecer no castelo? Ele a sentiu respirar fundo antes de dizer. — Até que tia Tilly mora, suspeito. — É tão velha? — É uma velha. Muitos estão surpreendidos de que tenha vivido tanto tempo. — E o castelo é dela?

— Em certo modo — respondeu Meg. — Era de seu irmão que não tinha herdeiros. Ele deixou o castelo para o filho mais velho de tia Tilly, que é Laird de seu próprio castelo. Agora Ronan entendia tudo. — Acredita que seu primo a fará partir? — Eu tenho certeza que ele fará. — Por quê? Você está cuidando de seu castelo. Eu vejo isso como uma razão para ele querer te manter. Se não o fizer, terá que contratar a um mordomo para fazê-lo. Meg levantou a cabeça enquanto o olhava. — Eu não tinha pensado nisso. Você realmente acha que ele iria considerá-lo? — Não vejo por que você não pode defender seu caso se tem feito um trabalho bastante bom. Quem esteve aqui antes? — Tia Tilly durante vários anos, mas agora é levada para visitar a família. Até que cheguei, não havia ninguém aqui. Ronan riu entre dentes. — Quase soa como destino. — Quase. Os olhares ficaram trancados, e a paixão fervente voltou a brilhar. Ronan a girou para a porta para levá-la a seu quarto quando uma forma solitária na escuridão apanhou seu olhar. Mesmo de longe reconheceu à mulher cigana da cabana, e uma onda de inquietação ondulava por sua espinha dorsal.

Capitulo Sete

Meg sabia que algo estava errado, pelo jeito que o corpo de Ronan ficou rígido. Ela olhou e descobriu Ina pouco antes que a anciã voltasse a entrar nas sombras. — Isso foi estranho — disse Meg ao entrar no castelo. — Não recordo a última vez que Ina saiu de sua casa. Ronan não disse nenhuma palavra enquanto a acompanhava pelo corredor. Um olhar para ele mostrou a Meg que a ira e a preocupação começaram a ferver logo abaixo da superfície. —Ela não vai incomodá-lo — disse Meg. — Haverá pouco que você possa fazer para parar uma cigana. — Como você sabe que ela é uma cigana? Ninguém nunca disse nada sobre Ina. Especialmente a tia Tilly. — Em um curto período de tempo, Meg tinha começado a pensar que realmente havia algo como magia na Escócia. E alguém tinha que ser capaz de usar essa magia. — Eu sei o que ela é — declarou Ronan friamente. — Está em seus olhos, e a maneira como ela olhou para mim. Um cigano reconhece aquele que foi amaldiçoado. Meg parou e encarou Ronan, obrigando-o a parar também. — Você ganhou sua liberdade. — Eu realmente ganhei? Eu não tenho tanta certeza. Conhecendo Ilinca, não seria tão fácil encontrar uma mulher que dissesse que eu não tinha que voltar ao espelho. Ilinca tornaria as coisas muito mais difíceis.

— O que poderia fazer para se assegurar de que o espelho nunca mais volte a ser sua prisão? — A ideia de que Ronan desaparecesse a deixava... gelada. — Essa sabedoria ela não repartiu, e eu suspeito que fez de propósito. Meg poderia não estar no controle de sua própria vida, mas poderia ajudar na de Ronan. Ela cobriu sua boca enquanto fingia um enorme bocejo. — Foi um longo dia. — Sim — ele disse e franziu o cenho. — Me deixe acompanhá-la a seu quarto. Quão profundamente sua mente estava concentrada com a maldição era evidente pela forma como ele a depositou na porta de sua câmara com um boa noite tranquilo e se voltou sobre seus calcanhares para caminhar em direção a sua câmara. Meg soltou um comprido suspiro. Magia. Ciganos. Espelhos como prisões. Tudo era ridículo, ou deveria ser. Se Ina realmente fosse uma cigana, então ela poderia responder as perguntas de Meg. Ela se apressou a descer as escadas para o grande salão e se deteve quando viu tia Tilly de pé na porta. A tia Tilly era um tipo forte e turbulenta que nem sequer a velhice podia atenuar. Ela estava rindo de algo que uma das criadas dizia, sua voz facilmente sendo levada pelo corredor enquanto ela se inclinava pesadamente sobre sua bengala. Meg sorriu assim que o olhar azul de Tilly aterrissou diretamente nela. Sua tia abriu os braços, e Meg correu para eles para ser envolta em um abraço feroz que era algo inesperado de mulher magra e frágil. — Você parece mais a si mesma — disse a tia Tilly, e logo se afastou. Examinou o rosto de Meg com olhos ardilosos durante vários minutos em silêncio. — Meg, se não soubesse melhor, diria que você se encontrou com um homem. Meg podia sentir a cor escorrer de seu rosto. Ninguém devia sabê-lo. Como sua tia havia descoberto?

— Pelo tempo — disse a tia Tilly e a atraiu para outro abraço. Uma vez liberada, Meg se virou para que Tilly pudesse apoiar-se nela enquanto caminhavam para o solar. — Eu não tinha ideia de que você estava vindo para cá. — Eu tampouco, minha querida. Só um sentimento que me dizia que tinha que vir te ver. Parece que seu tempo em Ravensclyde te fez bem. —Muito Meg pensou em Ronan e em como a havia tocado tão brandamente. — E o homem? Meg engoliu saliva, insegura do quanto contar a Tilly. — Ele chegou recentemente e necessitava trabalho. Está ajudando com trabalhos comuns. Tia Tilly emitiu um estranho som na parte posterior de sua garganta. — E os móveis no sótão. Você encontrou algo que a atraiu? — Várias peças. — Ela ajudou Tilly sentar em uma cadeira e se colocou ao seu lado. — Alguns estão sendo polidos ou recuperados. Alguns já foram dispersos em todo o castelo depois de uma boa limpeza a. — Isso é bom de ouvir, mas havia algo ali que a atraia? Talvez fosse a forma como os olhos azuis afiados de Tilly a observavam com tanta atenção, ou talvez fosse o tom usado por sua tia, mas Meg tinha a sensação de que tia Tilly sabia tudo sobre o espelho no sótão. Sua tia de repente sorriu e recostou-se para trás, ambas as mãos apoiadas no alto de sua bengala. — Ah. Vejo que o encontrou. Suspeito que seu novo trabalhador é Ronan. — Você o conhece? — Meg sentiu como se a cadeira tivesse sido arrancada debaixo dela enquanto o mundo se inclinava precariamente. — Conheço-o. Ele foi aquele que colocou esse brilho nas suas bochechas, não é?

Meg assentiu com a cabeça, tentando entender o que estava acontecendo. — Se conhece Ronan, então o deixou sair do espelho? — Era eu, sim. Recém-casada com um membro da família Alpin, acabei por achar o espelho escondido no sótão. — Você o colocou de volta naquela prisão. Por quê? — Meg não podia acreditar que sua tia pudesse ser tão cruel. Tia Tilly jogou um olhar ao chão. — Eu não queria, mas Ina disse que devia fazê-lo. — Que estranha coincidência. Eu estava a caminho para ver Ina quando você chegou. — Ela não lhe dirá nada, Meg. Verá, ela me disse para colocar Ronan de volta à prisão até que fosse hora dele ser libertado novamente. Meg ficou de pé, consternada e zangada. — Então, Ina é uma cigana? Acaso todos os ciganos odeiam tanto Ronan que querem que ele sofra pela eternidade? Ilinca disse que ele podia ganhar sua liberdade. Eu entreguei a ele essa liberdade. — Não é tão simples — disse Tilly brandamente. Ela soltou um comprido suspiro, seu olhar forte e imóvel. — Sente-se, Meg. Por favor. Queria correr para Ronan, ou para Ina, e exigir conhecer a verdade. Em troca, Meg voltou a sentar-se e esperou. Tilly esfregou os nódulos inchados. — Sim, Ina é uma cigana. Como tenho certeza de que você descobriu, existe uma coisa mágica em nossa maravilhosa terra. Os ciganos têm um jeito com maldições que os tornam tão inquebráveis que nem mesmo outro cigano pode destruí-lo. Ina sabia do espelho. Sua família permaneceu na terra de Alpin para vigiar os tempos em que Ronan seria libertado. Os ombros de Meg caíram. — A primeira vez que ele foi libertado do espelho, fugiu. — Foi um cigano que o enviou de volta, não foi?

O rosto de Tilly se enrugou. — De certa forma. Foi também a prisão que o puxou de volta. Eu queria ajudar Ronan. — Então, por que você não fez? — Ina disse que haveria outra mulher Alpin que o libertaria. Havia uma possibilidade de que ele pudesse ganhar sua liberdade nesse momento. Meg lambeu os lábios. — Como ele ganhará sua liberdade? — Ina não me falou. Nem vai te contar, — Tilly disse rapidamente quando Meg começou a levantar-se. Meg respirou fundo enquanto ela ficava sentada. — Eu quero ajudá-lo. Ele cometeu um erro, mas não matou Ana. Ela se suicidou porque não podia aceitar o rechaço. Por que ele deveria ser punido por isso? Tilly se aproximou e pôs sua mão nodosa na de Meg. — Nem todo mundo é tão forte como você, querida. Inclusive em sua hora mais escura, depois daquele bastardo fugir com seu dote e te deixar esperando no altar, sabia que tudo passaria. — As possibilidades de encontrar outro homem para me casar são inexistentes, tia. Não tenho dote. — Para alguns, não terá que tê-lo. Meg elevou a vista para o teto enquanto pensava uma vez mais em Ronan. — Melhor pensar nas duas partes. — Meg odiou a dor que sentia em seu coração ao dar-se conta da verdade de suas palavras. — Ronan rejeita o matrimônio, e ele tem todo o direito a fazê-lo depois do que sua mãe fez a seu pai. Ele não confia nas mulheres. — Você... se importa com ele? Meg se encontrou com o olhar de sua tia.

— Não pensei que alguma vez seria capaz de ter sentimentos como estes de novo. Ronan entrou em minha vida, mas tem aberto meu coração e minha mente à possibilidade de que a felicidade possa ser minha. Se me atrevesse a procurá-la. — Está disposta a lutar por ele? — Lutar por um homem que fará qualquer coisa para não se casar? — Meg perguntou com descrença. A resposta inchou dentro dela. — Se houver uma chance, mesmo que pequena, que eu poderia ter um futuro com Ronan, teria que fazê-lo honestamente. Sem manipulação, sem mentiras e sem engano. Eu teria que ganhar com meus sentimentos. Tilly assentiu com aprovação. — Se alguém pode fazê-lo, seria você. Segue dizendo que se preocupa por ele, e que tem sentimentos, mas é amor? Era amor? Meg recordou como a tinha tomado em seus braços e a tinha beijado com tal abandono, havia-a tocado sem restrições. Fez amor com ela como se não houvesse amanhã. Seu estômago estremeceu quando recordou o desejo que brilhou em seus olhos justo antes de beijá-la. Ele não passara todo seu tempo com ela, e as mulheres do castelo certamente tinham tomado conhecimento dele, no entanto, ele não se aliviou com nenhuma delas. Somente com ela. Era porque tinha a chave para libertá-lo do espelho ou não? A euforia que floresceu dentro dela desapareceu no pensamento. — Meg? — Tia Tilly chamou. Meg ficou de pé, seu estômago uma bola de nós. — Eu tive um dia muito longo. — É obvio — disse sua tia com olhos agudos. — Por que você não manda Ronan para baixo? Para mim? Meg assentiu com a cabeça enquanto se afastava do solar e subia as escadas. Cada passo a empurrava até que se sentia como se levasse o mundo sobre seus ombros. Sua mão tremeu quando a levantou para golpear a porta de Ronan. A porta se abriu e Ronan ficou de pé ante ela, com os olhos tão preocupados como antes.

— Você não parece bem. Aconteceu alguma coisa? — Perguntou. Meg não pôde acalmar seu coração que golpeava muito rápido. — A tia Tilly acaba de chegar. E gostaria de te ver no solar. — Está bem. Primeiro, me diga o que está errado. Ela odiava a preocupação em seu olhar. Isso a fez se sentir especial, e ela sabia melhor do que ninguém com que facilidade poderia ser enganada. Tinha medo de perguntar a Ronan se ele estava realmente preocupado com ela, porque ela estava aterrorizada com a verdade. Meg tratou de afastar-se, mas Ronan a atraiu contra ele, com seus fortes braços envolvendo-a. Ele a sustentou contra seu peito, lhe dando consolo. — Eu não sei o que fiz, mas não foi de propósito, seja lá o que for. Ele estava se desculpando sem saber se ele tinha feito alguma coisa. Seria tão fácil amar esse homem, dar-lhe todo o seu coração e planejar uma vida com ele. Tudo ficou claro, dando a ela um vislumbre do que poderia ter. Meg saiu de seus braços e encontrou seu olhar. — Obrigada por hoje. Não pensei que poderia deixar um homem se aproximar de novo, mas me demonstrou que estava equivocada. Terei uma boa lembrança para acabar com as más. O coração de Ronan perdeu uma batida. O discurso de Meg soou suspeitosamente como um adeus. Seu rosto estava tão pálido quanto a morte, e seus olhos cinzentos se encheram de tanta tristeza que ele procurou em sua mente um modo de fazê-la desaparecer. — O que você está dizendo? — Ele perguntou. — Estou dizendo que você não me deve nada por te deixar sair do espelho. Não se sinta obrigado a me cortejar porque pensa que posso me irritar e te enviar de volta. Ronan deu um passo para trás, ele estava chocado. Nunca tinha pensado que Meg faria isso, o que era mais que estranho, já que era exatamente o que ele tinha planejado ao se aproximar dela. — Não era isso o que estava fazendo.

Ela recuou, um sorriso que não alcançava seus olhos. — Tudo bem. Eu te disse. Compreendo. Minha tia está esperando você. Ronan saiu de seu quarto enquanto Meg se afastava rapidamente. Estava tão desconcertado que a olhou se afastar até que desapareceu em um canto. Tinha a sensação de que Meg não queria mais nada com ele. A cólera substituiu sua perplexidade. Havia apenas uma pessoa que poderia ter transformado Meg contra ele: Tia Tilly.

Capitulo Oito

Ronan não pôde conter sua fúria enquanto dobrava no canto e entrava no solar. Só para parar quando ele reconheceu os olhos azuis olhando para ele. Eles eram mais velhos, mas não havia dúvida da bondade que recordava tão bem. — Matilda. Tilly sorriu. — Olá, Ronan. Faz muitos anos desde a última vez que vi você. Enquanto você parece o mesmo, a idade me mudou. Ele caminhou em torno de Tilly observando a bengala, a pele enrugada e os cabelos brancos. — Eu não pensava em te ver novamente. — Eu tenho certeza que você preferiria não ter me visto novamente. — Isso é verdade. Você me mandou de volta. — Ina disse que eu devia fazê-lo. Ela me disse que você seria libertado novamente. Ele sentou, suas palavras confundiam sua mente já perplexa. — Você não tem nem ideia do que é estar nessa prisão. Só há escuridão. — Eu sei. — Sua voz era baixa, arrependimento em todas as sílabas. — Sinto muito, Ronan, e embora você não acredite, eu fiz isso para salvar você.

As ações duplicadas de sua mãe e sua irmã encheram sua mente. Elas também sempre estavam arrependidas quando eram descobertas. No entanto, nunca durava por muito tempo. — Isso é verdade? Diga-me como. — Ina disse que havia uma oportunidade para que obtivesse sua liberdade para sempre. Isto o fez sentar-se reto. Ele segurou o olhar de Tilly e se inclinou para a frente. — Como? — Isso eu não sei. Ina não me disse. Acredito que é porque ela não sabe. — Então, como pode saber que isto poderia ser minha oportunidade? — Ele gritou. Ronan ficou de pé e caminhou pelo solar, as palavras de Tilly golpeando-o como uma feroz tempestade de inverno. Tudo dentro dele exigia que ele fosse para Meg. Não era algo que ele alguma vez tivesse feito. Nem sequer sabia o que lhe dizer. Só sabia que tinha que corrigir o que estava errado. — Por que você virou Meg contra mim? — Ele perguntou de costas para Tilly. Não podia suportar ver o triunfo em seu olhar. — Não tenho ideia do que você está falando. Perguntei-lhe se ela se preocupava com você. Isso foi tudo antes de mandá-la para o andar de cima. Ronan apoiou as mãos sobre a lareira de pedra e deixou cair seu queixo contra seu peito. — Ela disse que estava doente quando veio para aqui. — Ela lhe disse por quê? — Sim. Houve um momento de silêncio antes que Tilly dissesse: — Esse homem a magoou. Meg sempre foi uma alma confiada e aceita. Não há um osso ruim em seu corpo e, entretanto, a pior classe de homem se ofereceu para ela.

— Vocês não podiam vê-lo pelo que ele era? — Ele enganou a todos. Incluindo sua própria família, que desde então o rejeitaram. Nada disso pode mudar o que aconteceu. Meg recebeu uma dura lição de vida, e por isso, ela passará o resto de sua vida aqui. Ronan levantou a cabeça e encarou Tilly. — Você vai permitir que ela permaneça aqui? — Já falei com meu filho. Sua principal preocupação é seu clã, como deveria ser, mas esta é uma herdade dos Alpins. Não queremos que caia em mãos equivocadas. — Você precisa contar a Meg. — Isso é parte da razão pela qual estou aqui. A outra parte era ter certeza de que ela encontrou seu espelho. Ronan passou uma mão pelo cabelo. — Ela pensa que estou acorrentado a ela por me libertar. Ela pensa que é por isso que... passo meu tempo com ela. — Eu sei exatamente o que vocês dois fizeram. Eu não deveria tolerar isso, mas Meg precisava do que você lhe deu, Ronan. E acho que você precisava do que ela lhe deu. Ele não tinha certeza do que dizer, então ficou em silêncio. Enquanto sua prisão o havia mudado, não mudou sua visão das mulheres. Meg tinha feito isso. Ela também tinha penetrado em sua alma, incorporando-se ali para que nenhuma outra mulher pudesse se comparar. — Você disse a Meg sua opinião sobre as mulheres. Eu também sabia disso, porque lhe disse que eu iria mantê-lo livre e depois te devolvi. Você vê Meg com a mesma luz que às outras mulheres? — Perguntou Tilly. — Nunca. Meg é... diferente. Ela poderia ter exigido que eu fizesse muitas coisas se quisesse ficar fora do espelho. Mas não o fez. — Você está em dívida com ela? — Ela me deixou sair. Libertou-me, me alimentou, conversou comigo e me disse que nunca me enviaria de volta. É claro que eu tenho uma dívida com ela. Apenas não na forma como ela pensa. Os ardilosos olhos azuis de Tilly se estreitaram sobre ele.

— E tomou sua inocência? Foi à sua maneira de agradecê-la? Se ele respondia honestamente, Ronan poderia muito bem encontrar-se de volta ao espelho porque ele estava falando com a tia de Meg. No entanto, não havia outra escolha. — Parte do meu castigo de Ilinca era uma necessidade constante e dolorosa de que apenas o toque de outra pessoa poderia aliviar. Quando eu sai desse espelho queria três coisas. O sol, uma taça de cerveja e uma mulher. E não necessariamente nessa ordem. — Então você usou minha sobrinha? — Eu a queria, sim. Era um desejo que me agarrava, persistente e sempre presente. Seu sorriso fácil, seus inocentes olhos cinza e sua doce voz. Naquela primeira noite, procurei me aliviar com uma mulher disposta. Encontrei uma, mas não podia continuar com isso. Continuei pensando em Meg. O que aconteceu entre nós não foi planejado. Talvez eu a desejasse, mas não usaria Meg desse jeito. A cabeça branca de Tilly se inclinou para um lado. — Interessante. Você diria que se importa com ela? O pânico se instalou. Tilly estava encurralando-o em um casamento? Tanto quanto não queria machucar Meg, ele não seria forçado. — Importa-me minha liberdade. — Não estou falando de matrimônio — Tilly disse zangada. — Estou apenas perguntando se você se importa com minha sobrinha. Mesmo que eu quisesse que estivessem juntos, essa não é minha decisão. Ronan engoliu saliva. Ele se preocupava com Meg? Se importar significava que a mulher tinha certo controle sobre ele. Ele se recusava a ser como seu pai. Mesmo quando abriu a boca para dizer que não, recordou sua última conversa com Meg. Não tinha chorado nem lamentado, nem tentou lhe arrancar promessas. Simplesmente tinha se afastado. O sentimento era... esmagador. Ele queria ir até ela e sacudi-la. Pouco antes que a beijasse. — Conheço esse olhar, — disse Tilly com um leve sorriso que normalmente o poria nervoso. — Você se preocupa por ela, mas não quer

admiti-lo. Está pronto para renunciar a ela, Ronan. Está preparado para deixá-la ir embora? — Não. A palavra explodiu dele. Ele não terminou com Meg — não tinha lhe beijado, tocado o suficiente... Não a conhecia inteiramente, corpo e alma. Pela vida dos santos, como ele havia chegado a isso? Como ele tinha caído por uma beleza de cabelo castanho avermelhado mesmo sem saber? Mais importante ainda, o que ele ia fazer a respeito? — Você já amou, Ronan? Ele olhou para Tilly e franziu o cenho. — Meus três amigos. Eu os amei como irmãos. — Então você sabe o que significa se importar profundamente com alguém. É o suficiente, entretanto? — Suficiente para quê? — Para ganhar Meg. Ela não se conformará com nada além disso. Ronan sabia que isso significava matrimônio. Ele tinha sido tão adverso a isso por tanto tempo que ele não tinha certeza de que poderia passar por isso. — Eu tive um casamento longo e feliz — Tilly disse. — Oh, nós brigamos. Todos têm suas brigas, mas não há nada melhor do que uma longa noite de reconciliação. Ele sorriu. — Poderia estar mentindo. — Eu poderia fazê-lo, se... Olhe ao seu redor, Ronan. Você esteve em Ravensclyde por um mês. Você viu pessoas infelizes, bem como as mais felizes. Isso é a vida. Cabe a cada indivíduo aproveitar ao máximo o que tem. Você — disse enquanto ficava de pé com a ajuda de sua bengala — tem uma segunda oportunidade. O mesmo que Meg. É melhor que os dois não estraguem as coisas. Ela caminhou lentamente para a porta antes que se voltasse para ele.

— Porque se você fizer isso, voltará para espelho e ela terá uma vida muito solitária, igual a sua.

Capitulo Nove

Meg sentou-se em sua cama sem acender as velas e escutou os sons do castelo. Nunca lhe tinha importado a escuridão. Protegia-a de olhares indiscretos e ocultava o pior de suas lágrimas. Ela poderia receber a escuridão, mas Ronan não. Não podia deixar de pensar nele, por muito que tentasse. Agora, na escuridão, perguntava-se como ele sobreviveu a duzentos anos preso no espelho sem ficar louco. Ele não envelhecia, estava com fome de comida ou precisava de água. Qualquer que fosse a magia usada deve ter se assegurado de que ele tampouco ficasse louco. Deixou que sua mente vagasse pelas conversas que ela teve com Ronan durante todo o mês. Ele sempre foi rápido com um sorriso e seu encanto. Na maioria das vezes, ele a fazia rir. Pouco a pouco, ele se tornou algo constante em sua vida até encontrar-se querendo-o com ela. Essa vontade, de alguma forma, inexplicavelmente tornou-se necessidade. Ele havia mostrado seu verdadeiro desejo. Ela lembrou a história de sua mãe, e como ele foi amaldiçoado para o espelho. Sempre retornava a esse maldito espelho. Sem ele, ela nunca teria conhecido Ronan e, enquanto a ameaça dele ter que voltar para o espelho pendesse sobre sua cabeça, nunca saberia se ele estava com ela porque realmente queria estar.

Quando o castelo ficou quieto, Meg se levantou e, silenciosamente, saiu do quarto para a escada que levava ao sótão. Ela caminhou até a sala de trás que sustentava o espelho. Era tão alto como um pilar e tão misterioso como um abismo. E, entretanto, Meg caminhou até ele. Olhou dentro do cristal, mas nada do quarto detrás dela se refletiu. Levantou a mão para o cristal, pronta para tocá-lo, quando de repente alguém a afastou. Meg olhou para os olhos verdes que conhecia tão bem. — Não o ponha a prova — sussurrou. — A maldição não era para mim. — Não é algo que eu quero provar. O que faz aqui? Ela encolheu os ombros, confortável demais em seus braços. Quando tentou se afastar de seu abraço, ele apertou seus braços, impedindo-a. — Quando não consigo dormir, eu ando pelo castelo. O que você está fazendo aqui em cima? — Eu vim ver algumas coisas. — Você encontrou o que estava procurando? — Ainda não estou certo. Meg achatou as palmas das mãos sobre seu peito. —É melhor eu voltar para o meu quarto. — Espere — ele disse apressadamente, quase nervoso. —Apenas alguns momentos mais. Ela hesitou antes de dar um aceno de cabeça. Este era um lado de Ronan que ela não tinha visto antes, e isso a intrigava. — Meg — ele disse, e depois limpou a garganta. — Você já conversou com sua tia? — Não. — Tenho certeza de que ela irá contar-lhe pela manhã, mas seu primo te permitirá permanecer indefinidamente em Ravensclyde.

Meg piscou. Ela não precisava partir? Poderia chamar Ravensclyde de sua casa? Parecia muito bom para ser verdade. — Você tem certeza? — É parte da razão pela qual sua tia veio te visitar. Meg deixou cair sua cabeça contra seu peito e sentiu como se uma enorme carga tivesse sido tirada de seus ombros. — Não terei que ir a um convento nem me preocupar em encontrar parentes que me permitam ficar com eles. Ficou rígida e lentamente elevou a cabeça. Se ela pudesse encontrar um homem que a aceitasse sem um dote, então sim, haveria uma oportunidade. Mas nenhum deles seria Ronan. Ele a arruinou para qualquer outro homem. Ninguém poderia lhe dar aquele sorriso malicioso, perverso, pícaro, travesso como ele. Ninguém poderia fazer seus dedos do pé curvar com um único beijo. Ninguém poderia fazer que seu coração se acelerasse incontrolavelmente por estar perto dela como ele fazia. — Eu não consigo acreditar. Era abatimento que ela viu no rosto dele? Certamente não. — Entendo. Ela franziu o cenho, perguntando-se porque do estranho tom de sua voz. — O que está acontecendo com você? Quer deixar o castelo? — Eu não poderia, mesmo que quisesse. Meg ignorou a pequena emoção que a atravessou. — O que você quer dizer com isso? É o espelho, não é? Ronan não lhe disse que estava sendo atraindo para o espelho há mais de uma semana. Tinha-o estado ignorando, mas então ele se encontrou no sótão naquela noite. Imagine sua surpresa quando Meg se aproximou do espelho. O medo o atravessou, e ele reagiu instantaneamente tentando afastála. Mesmo agora, olhando o odiado espelho, bendizia a sorte de que Meg fosse atraída para ele.

Quanto tempo tinha antes que o espelho voltasse ao retê-lo? Um dia? Uma hora? Menos? Não queria voltar para essa escura prisão sem pelo menos deixar que Meg soubesse que tinha mudado sua vida. Se tão somente ele tivesse percebido a oportunidade que tinha e não ignorasse os sentimentos que surgiam. Mas já era muito tarde para ele e para Meg. Ela já não confiava nele. — Eu estou ficando porque eu quero. Estou ficando por sua causa, porque eu... Amo você, doce Meg. Ronan não sabia o que ele pensava que aconteceria, mas seu silêncio era ensurdecedor. Era o que ele merecia. Tinha estado repassando as últimas semanas e se sua vida fosse sua para controlar mais uma vez, faria diferente. Todas aquelas horas desperdiçadas que ele poderia estar cortejando Meg para amá-lo. Tinham sido dias gloriosos, e ele estava agradecido de que pudesse levar de lembrança através de mais séculos na escuridão até — se — alguém o soltasse de sua prisão novamente. Saber que amava Meg e que ela não compartilhava seus sentimentos era doloroso. Deve ter sido o que Ana experimentou e pelo qual ela tomou sua própria vida. — Você me ama? — Perguntou Meg com voz suave. Ronan não conseguiu parar de tocá-la. Suas mãos reverenciaram seu rosto. — Eu não percebi até esta noite quando você estava começando a colocar uma parede entre nós. Tinha que te deixar sabê-lo antes... — Antes do quê? — Ela pressionou. Ele sorriu, seu coração rompendo dentro de seu peito. — Meu tempo aqui está acabando, doce Meg. Seu olhar se dirigiu ao espelho. — Eu disse que você poderia permanecer. Eu não vou mandar você de volta.

— Eu sei. É a maldição. Quando me soltam, suponho que devo passar por uma espécie de prova. Pelo menos agora sabia o que necessitava para ganhar sua liberdade: o amor. Ele poderia ter tido isso com Meg, sabia disso nas profundezas de sua alma. Se ao menos ele tivesse percebido pelo que precisaria lutar. Mas era muito pouco, muito tarde. — Você não pode partir — ela disse, sua voz ficando estridente. — Não estou pronta para que você se vá. — Nem eu. Ronan tentou dizer-lhe que a amaria para sempre quando as bordas de sua visão ficaram pretas. Ele podia ouvir Meg gritando seu nome, mas parecia muito longe, e estava ficando cada vez mais fraco. Ele piscou e imediatamente estava de volta ao espelho. A desolação foi severa, o desespero intenso. A angústia feroz. Sua doce Meg havia sido tirada dele para sempre. Ele jogou a cabeça para trás e gritou, colocando cada pingo de arrependimento no rugido. Meg bateu as mãos contra o espelho, o cristal impassível por seu ataque. Ela gritou para Ronan uma e outra vez, mas ele não respondeu. Ela se recusava a deixá-lo ir, mesmo quando o medo pelo amor que crescia dentro dela a dominava. Meg caiu de joelhos suas mãos deslizando pelo espelho quando as lágrimas chegaram. — Ronan. Eu também te amo. De repente, Meg foi jogada para trás quando uma luz branca e intensa surgiu do espelho. Algo foi arrojado antes que a luz desaparecesse novamente. Meg olhou em volta e viu Ronan ao seu lado imóvel. Ela rapidamente se arrastou para ele e o girou para si. — Ronan — o chamou enquanto tocava seu rosto e se alisava seu cabelo. — Ronan, abra os olhos e me olhe.

Uma risada aliviada brotou dela quando suas pálpebras se abriram para segurá-la com seu olhar verde. — O que você disse? —Sim. Eu amo você — ela disse enquanto rompia em lágrimas. — Estou aterrorizada com o que vai acontecer agora, mas não podia negar a verdade, especialmente quando você estava de volta no espelho. Ele a puxou sobre ele e a beijou profundamente, apaixonadamente. Ronan então rolou até que se inclinou sobre ela. — Eu não quero perder mais nenhum momento. Fica comigo por toda a eternidade, Meg. Seja minha esposa. — Eu adoraria.

Epilogo

Duas semanas depois...

Ronan não podia acreditar que ele realmente se casaria. A quinzena parecia uma eternidade enquanto esperava com impaciência para fazer Meg sua. Tilly permaneceu em Ravensclyde pondo tudo em ordem para as bodas. Todo o castelo tinha vindo para o evento. Ronan olhou ao redor do bailey2 em todos os rostos sorridentes, incluindo o filho de Tilly, Angus e sua esposa. Angus o chamou de lado e ofereceu Ravensclyde como a casa dele e Meg, enquanto o administravam para ele. Ele havia encontrado uma casa em Ravensclyde, uma vida que parecia mais brilhante do que ele poderia ter esperado. A única coisa que faltava eram os amigos dele. Ronan faria qualquer coisa se pudesse ter Daman, Morcant e Stefan junto a ele. Foi um momento agridoce já que faltava seus amigos e isso era terrível, enquanto ele estava tão feliz. A melancolia, entretanto, diminuiu quando ele viu Meg de pé nos degraus do castelo. Parecia encantadora com um vestido verde intenso. Seus cabelos castanhos caiam livremente por suas costas com um simples círculo de flores brancas e amarelas ao redor de sua cabeça. Seu sorriso era amplo enquanto se dirigia para ele. Ronan tomou sua mão assim que ela estava perto. Ele temia que ela fugisse ou mudasse de ideia de se casar com ele — se ele não fizesse isso. 2

Bailey: pátio interno de castelo.

— Sou tua — ela sussurrou com uma piscadela. Ronan sentiu que as batidas de seu coração se aliviavam. Eles ficaram de frente para o sacerdote quando a cerimônia começou. Ronan não podia acreditar que a magia o levara de sua casa para uma prisão, mas também o entregara a Meg. Mais magia tinha ocorrido quando o amor floresceu, e agora ele a teria para o resto de sua vida. Os aplausos estalaram quando a cerimônia terminou, e Meg encarou-o mais uma vez. — Você é oficialmente minha — ele disse a ela. — Você não vai se afastar de mim agora. — Você me tem para sempre. — Isso não será suficiente — ele sussurrou antes de selar seus votos com um beijo.

FIM

Então Poisoncats, gostaram do livro? Para participar do quiz de hoje, basta responder nos comentários do post de lançamento desse livro no Poison qual o nome da cigana que impede Tilly de libertar Ronan, além de indicar qual foi o objeto mágico que o Merlin perdeu entre as páginas. A primeira a acertar ganhará nosso próximo lançamento antecipado! E não se esqueça de marcar o Merlin Cat junto com a resposta, para validar o comentário. BOA SORTE!
Donna Grant - Rogues of Scotland 01. The Craving

Related documents

84 Pages • 20,955 Words • PDF • 1.2 MB

242 Pages • 106,986 Words • PDF • 893.2 KB

203 Pages • PDF • 65.7 MB

413 Pages • 126,372 Words • PDF • 1.7 MB

226 Pages • 142,660 Words • PDF • 43.3 MB

655 Pages • 163,901 Words • PDF • 2.6 MB

15 Pages • 4 Words • PDF • 7.7 MB

515 Pages • 203,794 Words • PDF • 2.3 MB

122 Pages • 49,576 Words • PDF • 1.8 MB

285 Pages • 83,736 Words • PDF • 1.4 MB

247 Pages • 67,486 Words • PDF • 1.9 MB