The Five Stages of Falling in L - Rachel Higginson 1

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Prólogo — Ei, aqui está ela. — Grady olhou para mim da cama, seus olhos sorridentes, mesmo que sua boca mal demonstrasse emoção. — Ei, você. — falei de volta. As luzes tinham sido diminuídas depois que a última enfermeira verificou os sinais vitais e a TV estava ligada, mas sem som. — Onde estão os pequenos? Eu só fiquei na cantina por dez minutos. Grady piscou para mim de brincadeira. — Minha mãe os levou. — eu derreti um pouco com a sua expressão travessa. Era o mesmo olhar que me convenceu a ir a um encontro com ele no nosso primeiro ano de faculdade, o mesmo olhar que me fez apaixonar por ele, concordar em ter o nosso segundo menino quando eu ficaria muito bem em parar depois de Blake, Abby e Lucy. — Ah, é? — fui até a cama de hospital e sentei-me ao lado dele. Imediatamente, ele estendeu a mão para mim e me puxou na sua direção com os braços fracos. Eu aconcheguei no seu peito, de modo que minha cabeça descansou no seu ombro magro e nossos corpos se encaixaram na cama estreita. Uma das minhas pernas não coube e ficou pendurada de um modo desajeitado. Mas eu não me importava. Era perfeito deitar ao lado do amor da minha vida, o meu marido. — Oh, sim. — ele rosnou sugestivamente. — Você sabe o que isso significa? — ele passou a mão livre pelo meu braço e apalpou o meu seio. — Quando as crianças estão fora, os adultos podem brincar... — Você é tão mau. — eu golpeei-o, ou pelo menos imitei o movimento, uma vez que tinha muito medo de machucá-lo. — Deus, eu não me lembro da última vez que transei. — ele gemeu perto de mim e eu senti o estrondo das suas palavras na minha lateral.

— Conte-me sobre isso, amigo. — eu suspirei. — Algo legal, duro poderia ser útil... — Elizabeth Carlson. — ele me interrompeu com uma risada surpresa. — Onde você arranjou uma boca tão suja? — Eu acho que você conhece a minha boca suja há algum tempo, Grady. — eu flertei de volta. Estávamos agindo com seriedade há tanto tempo, que era bom flertar com ele, lembrar que não só nos amávamos, mas também apreciávamos a companhia um do outro também. Ele grunhiu de satisfação. — Isso é verdade. Acho que a sua boca suja teve algo a ver com a concepção de Lucy. Eu corei. Mesmo depois de todos esses anos, ele sabia exatamente o que dizer para mim. — Talvez. — eu concordei. — Provavelmente. — ele riu, sua respiração quente na minha orelha. Ficamos ali em silêncio por um tempo, apreciando a sensação do outro, observando a tela de TV cintilando em silêncio na frente dos nossos olhos. Foi perfeito, ou o mais próximo da perfeição que chegamos há um longo tempo. — Dance comigo, Lizzy. — Grady sussurrou depois de um momento. Eu achei que ele tivesse cochilado; as drogas eram tão fortes em seu sistema que ele oscilava normalmente entre a consciência e inconsciência. Na verdade, era o mais coerente dele em um mês. — Ok. — eu concordei. — É a primeira coisa que vamos fazer quando você sair. Vamos pedir para sua mãe tomar conta das crianças, você pode me levar para jantar no Pazio´s e vamos dançar depois. — Mmm, isso parece bom. — ele concordou. — Você ama o Pazio´s. É uma noite em que me darei bem com certeza. — Baby. — eu cantarolei. — Assim que chegar em casa, você vai ter muitas noites garantidas, por pelo menos um mês, talvez dois.

— Eu não quero esperar. Estou cansado de esperar. Dance comigo agora, Lizzy, — Grady pressionou, desta vez parecendo sério. — Baby, você mal pode se levantar por causa do tratamento desta manhã. Honestamente, como você vai conseguir se mover comigo? — eu me perguntava de onde esta vontade súbita de dançar estava vindo. — Lizzy, eu sou um homem doente. Não durmo na minha própria cama há quatro meses e não vejo minha mulher nua tanto tempo quanto, estou cansado de ficar deitado nesta cama. Eu quero dançar com você. Você poderia, por favor, por favor, dançar comigo? Eu balancei a cabeça primeiro, porque fui incapaz de falar. Ele estava certo. Eu odiava que ele estivesse certo, mas eu odiava ainda mais que ele estivesse doente. — Tudo bem, Grady, eu danço com você. — eu finalmente sussurrei. — Eu sabia que conseguiria. — ele resmungou presunçosamente. Eu escorreguei para fora da cama e virei para encarar o meu marido e ajudá-lo a se levantar. A cabeça, uma vez cheia de cabelo ruivo, agora estava careca, refletindo a cor pálida da sua pele. Seu rosto estava desfigurado mostrando círculos pretos escuros sob os olhos, lábios e bochechas pálidas. Ele ainda era tão alto quanto antes, mas ao invés dos músculos tonificados e grossos que ele tinha, estava deprimentemente magro e fraco, com os ombros caídos perpetuamente. A única coisa que permanecia igual eram os seus olhos; eram os mesmos olhos verdes pelos quais tinha me apaixonado dez anos atrás. Eles ainda eram cheios de vida, de malícia, mesmo que o corpo não fosse. Eles mantiveram a vida, enquanto o resto do corpo afogou em exaustão por causa da luta contra esta doença estúpida. — Você sempre consegue o que quer. — eu resmunguei enquanto o ajudava a levantar da cama.

— Só com você. — ele disparou de volta em um ofego depois de levantar com sucesso. — E só porque você me ama. — Amo mesmo. — eu concordei. As mãos de Grady deslizaram em volta da minha cintura e ele me agarrou na lateral em um esforço para ficar de pé. Eu passei meus braços em volta do pescoço dele, mas não permiti que qualquer peso caísse sobre ele. Nós ajeitamos os corpos em torno da sua IV e monitores. Foi estranho, mas conseguimos. — O que devemos ouvir? — perguntei, peguei meu celular e abri o iTunes. — Você sabe qual música. Não há outra canção quando nós estamos dançando. — ele me lembrou com um leve sorriso. — Você deve estar com tesão. — eu ri. — Está ficando terrivelmente romântico. — Só estou tentando manter este fogo vivo, Baby. — ele me puxou para mais perto e eu segurei a inundação de lágrimas que ameaçava transbordar. Liguei The Way You Look Tonight, na versão do Frank Sinatra e nos balançamos lentamente para frente e para trás. Frank cantava a letra bonita e suave com a ajuda de uma banda completa, enquanto a música flutuava em torno de nós, sobre o bipe e zumbido constantes das máquinas. Era a canção que considerávamos como nossa, a primeira música que dançamos no nosso casamento, a música que ele ainda fazia a banda no Pazio´s tocar em todos os nossos aniversários. — Este fogo está muito vivo. — eu informei severamente. Coloquei minha cabeça no seu ombro e o cheirei. Não era mais o cheiro dele, ele estava cheio de drogas da quimio e cheirava a sabão e detergente hospitalar, mas ainda era Grady. E mesmo que ele mal parecesse o

homem por quem eu tinha me apaixonado tão irrevogavelmente, ainda era a sensação do Grady. Ainda era o meu Grady. — Está, não é? — ele sussurrou. Eu podia sentir o quão fraco ele estava ficando, cansado, mas ainda assim ele se agarrou a mim e me segurou perto. Quando meu verso favorito veio, ele inclinou a cabeça para baixo e sussurrou em uma voz trêmula, juntamente com Frank: — There is nothing for me, but to love you. And the way you look tonight1. Lágrimas silenciosas escorriam pelo meu rosto por causa das verdades que eu não estava pronta para admitir para mim mesma e medos que eram horríveis demais para sequer pensar. Este era o homem que eu amava com cada fibra do meu ser - o único homem que já amei. O único homem que eu amarei. Ele fez me apaixonar por ele antes de eu ser velha o suficiente para beber legalmente, então ele me convenceu a casar com ele antes mesmo de me graduar. Ele me engravidou um ano depois, e não parou até que tivemos quatro pestinhas, todos herdaram seu cabelo vermelho e os olhos verde-esmeralda. Ele me incentivou a terminar a graduação, e depois fazer a pós enquanto estava grávida, enfermagem e, em seguida, grávida de novo. Ele ia para a cama todas as noites usando meias e depois as tirava em algum momento no meio da noite, deixando-as escondidas detestavelmente no meio dos lençóis. Ele nunca conseguia encontrar a carteira ou as chaves, e quando havia cabelo para crescer ele sempre se esquecia de fazer a barba. E ele me deixava brava a maior parte do tempo. Mas era meu. Ele era meu marido.

1

Não há nada para mim, exceto o seu amor. E a sua aparência esta noite.

E agora ele estava doente. — Eu amo você, Lizzy. — ele murmurou no meu cabelo. — Eu sempre vou te amar, mesmo quando eu estiver morto. — O que não acontecerá por pelo menos cinquenta anos, ou mais. — eu o lembrei em um soluço. Ele me ignorou. — Você me ama também, não é? — Sim, eu amo. — eu sussurrei com tanta emoção, que as palavras ficaram presas na garganta. — Mas você já sabia disso. — Talvez. — admitiu suavemente. — Mas eu nunca, nunca me canso de ouvir. Eu funguei, manchando a veste hospitalar com meu rímel e delineador. — Isso é bom, porque você vai ouvir por muito tempo, muito tempo ainda. Ele não respondeu, apenas continuou me balançando até que a música terminou. Ele me pediu para colocar novamente e eu coloquei, mais três vezes. Até o final da quarta, ele estava cansado demais para ficar de pé. Eu coloquei-o de volta na cama e ajudei a ajustar o IV e o monitor novamente para que não o incomodasse, em seguida, puxei o lençol sobre os dedos frios dos pés. Seus olhos estavam fechados e eu pensei que ele tivesse adormecido, então me abaixei para beijar sua testa. Ele mexeu ao meu toque e estendeu a mão para o meu rosto com o braço sem agulhas. Eu olhei para baixo, para os seus olhos verdes profundos e me apaixonei tudo de novo. Era tão simples assim. Era sempre simples desse jeito me apaixonar por ele.

— Você é a coisa mais linda que já aconteceu comigo, Lizzy. — sua voz estava trêmula e rouca e uma lágrima deslizou no canto de cada um dos seus olhos. Meu queixo tremeu com as suas palavras, porque eu sabia o que ele estava fazendo e eu odiava, odiava cada parte disso. Eu balancei a cabeça, tentando fazê-lo parar, mas ele segurou meu olhar e apenas continuou. — Você é. E você tornou a minha vida boa e digna de ser vivida. Você me ensinou a amar mais do que qualquer homem já soube. Eu não sabia que esse tipo de felicidade existia na vida real, Liz, e foi você que me deu isso. Eu não poderia ser mais grato pela vida que compartilhamos. Eu não poderia ser mais grato a você. — Oh, Grady, por favor... — Lizzy. — disse ele com a voz mais dura, que ele só usava quando eu estourava o limite do cartão de crédito. — Aconteça o que acontecer, aconteça o que acontecer comigo, eu quero que você continue dando este presente para outras pessoas. — eu abri minha boca para protestar veementemente por tudo o que ele estava dizendo, mas ele me silenciou com um dedo frio nos lábios. — Eu não disse para se casar com o primeiro homem que encontrar. Merda, não estou nem falando de outro homem. Mas eu não quero que essa luz morra comigo. Eu não quero que você esqueça o quão feliz você faz as outras pessoas, só porque você pode não se sentir feliz. Mesmo se eu não conseguir, Lizzy, eu quero que você continue a viver. Prometa-me. Mas eu balancei a cabeça. — Não. — eu não ia prometer isso. Eu não conseguia. E era injusto da parte dele me pedir isso. — Por favor, querida, por mim? — seus olhos verdes profundos estavam cobertos com emoção e eu podia sentir fisicamente o quão doloroso era para ele me pedir. Ele não queria tanto quanto eu. Eu encontrei-me acenando com a cabeça, enquanto segurava uma torrente de lágrimas. — Ok. — eu sussurrei. — Eu prometo.

Ele irrompeu em um sorriso genuíno, então, seu polegar esfregou meu queixo para frente e para trás. — Agora me diga que você me ama, mais uma vez. — Eu amo você, Grady. — eu murmurei, apoiando-me no seu toque e saboreando este momento com ele. — E eu vou sempre, sempre te amar, Lizzy. Seus olhos finalmente se fecharam e sua mão caiu do meu rosto. Seus sinais vitais permaneceram iguais, então eu sabia que ele estava apenas dormindo. Eu me arrastei para a cama com ele, gentilmente movendo-o para que eu pudesse deitar de lado, no aconchego de seu braço e colocar minha mão em seu peito. Eu fiz isso muitas vezes; gostava de sentir a batida do seu coração debaixo da minha mão. Ele tinha parado tantas vezes antes para que eu confiasse. Meu marido era um homem muito doente, e fazia muito tempo. Porém, esta noite foi diferente. Hoje à noite, Grady estava lúcido e coerente e ele encontrou energia suficiente para se levantar e dançar comigo, para dizer que me amava. Esta noite poderia ter sido uma virada para uma melhora. Mas não foi - porque apenas algumas horas mais tarde, o coração de Grady parou pela terceira vez durante a sua vida adulta, e desta vez ele não reiniciou.

Primeira Fase: Negação

Nem toda história tem um final feliz. Algumas só têm um começo feliz. Esta é a minha história. Eu já encontrei a minha alma gêmea, me apaixonei por ela e vivi o nosso felizes para sempre.

Esta história não é sobre me apaixonar. Esta história é sobre aprender a viver novamente depois que o amor deixou a minha vida. A pesquisa mostra que há cinco fases do luto. Eu não sei o que isso significa para mim, porque eu estava presa, firme e forte, na primeira fase. Negação. Eu sabia, de forma aguda, que ainda estava no primeiro estágio. Eu sabia porque toda vez que eu entrava na casa, eu vagava sem rumo procurando o Grady. Até pegava o telefone para verificar se ele tinha mandado mensagem ou ligado durante o dia. Eu procurava por ele em uma sala lotada, tinha ímpeto de ligar para ele do supermercado só para ter certeza que tinha comprado tudo o que precisava, e estendia a mão para ele no meio da noite. Aceitação - a última fase do luto - estava firme e para sempre fora do meu alcance, e muitas vezes eu ansiava por ela com saudade. Por quê? Porque a negação era uma filha da puta, e doía mais do que qualquer coisa quando eu percebia que ele não estava em casa, não me ligaria, não estava onde eu queria que ele estivesse, não precisava de qualquer coisa do supermercado e nunca deitaria ao meu lado na cama novamente. A dor, fresca e sufocante, caía como cascata sobre mim e eu era forçada a sofrer com a dor insuportável de perder meu marido mais uma vez. Negação era foda. Mas era onde eu estava agora. Eu estava vivendo em negação.

Capítulo Um Seis meses após Grady morrer.

Eu aconcheguei de volta no seu corpo e seus braços me envolveram com força. Ele enterrou o rosto com barba por fazer na minha nuca e eu suspirei contente. Nós nos encaixávamos perfeitamente, sempre de conchinha. — É a sua vez. — ele retumbou na minha pele com aquela voz profunda da manhã que eu sempre admirei. — Não. — eu meio que argumentei. — É sempre a minha vez. — Mas você é tão boa no que faz. — ele brincou. Eu ri. — É um dos meus muitos talentos, derramar cereal em tigelas, fazer copos de suco. Eu poderia até sair em turnê. Ele

riu

atrás

de

mim

e

seu

peito

tremeu

com

o

movimento. Empurrei contra ele, amando a sensação do seu peito duro, firme nas minhas costas. Ele era tão quente logo pela manhã, todo o seu corpo irradiava calor. Sua mão espalmada na minha barriga possessivamente e ele deu um beijo logo abaixo da minha orelha. Eu podia sentir os lábios através do emaranhado do meu cabelo e as cócegas da sua respiração, que não era tão agradável na primeira parte da manhã, mas era Grady, era familiar. — Provavelmente é hora de termos mais um você não acha? — sua mão fez um círculo no meu estômago e eu podia senti-lo vibrando feliz com o pensamento. — Grady, já temos três. — eu o lembrei com uma risada. — Se tivermos outro, as pessoas vão começar a achar estranho.

— Não, não vão. — ele falou calmo. — Eles podem ter uma ideia do tanto que você é fértil, mas não vão achar estranho. Eu soltei uma risada. — Eles já acham que é estranho. — Então, nós não queremos decepcioná-los. — ele murmurou. Sua mão deslizou até meu peito e segurou, dando um aperto suave. — Você é obcecado com essas coisas. — sorri. — Definitivamente. — ele concordou rapidamente, enquanto continuava a me acariciar. — O que você acha, Lizzy? Você vai me dar outro bebê? Eu estava ficando envolvida com a forma que ele estava me tocando, o jeito que estava me acariciando, com tanto amor que eu pensei que estouraria. — Eu vou pensar sobre isso. — eu, finalmente, admiti, sabendo que seria do jeito dele - sabendo que ele sempre me convencia. — Enquanto você está pensando sobre isso, provavelmente devíamos praticar. Quero dizer, nós queremos acertar quando chegar a hora. — Grady arrastou beijos na minha garganta e eu gemi o meu consentimento. Eu virei para beijá-lo na boca. Mas ele não estava lá. Meu braço se abriu e acertou o colchão frio, vazio. Abri os olhos e olhei para o ventilador de teto em movimento lento sobre a minha cabeça. A luz da manhã entrava pelas fissuras das cortinas fechadas e deixei as lágrimas silenciosas caírem. Eu odiava acordar assim; pensando que ele estava ali, ao meu lado, ainda capaz de me apoiar, me amar e me segurar. E, infelizmente, isso acontecia mais vezes do que não.

A dor fresca arranhava e cortava o meu coração e eu pensava que morreria de pura mágoa. Meu queixo tremeu e eu funguei, lutando desesperadamente para colocar as minhas emoções sob controle. Mas a dor me consumia muito, demais. — Mãe! — Blake chamou da cozinha, arrancando-me da minha dor pacífica. — Mãeeeeeeeeeeeeeeee! Aquele era um grito angustiado, e eu saí da cama e corri lá embaixo imediatamente. Peguei meu robe de seda no caminho e joguei-o sobre a camiseta preta e calças de pijama xadrez. Quando as crianças eram mais jovens, eu não teria me incomodado, mas agora Blake tinha oito anos e já teve trauma suficiente na vida. Eu não acrescentaria andar sem sutiã logo pela manhã. Ele continuava a gritar por mim e eu entrei na cozinha ainda enxugando as lágrimas. Encontrei-o na janela, olhando com horror. — Mãe, Abby foi nadar. — explicou em uma corrida de palavras. A sensação de mal estar envolveu o meu estômago e eu procurei ao redor de olhos arregalados o significado das palavras dele. — O que você quer dizer, Abby foi nadar? — engasguei, um pouco sem fôlego. — Lá. — ele apontou para o quintal do vizinho com um dedo trêmulo. Segui a direção da sua mão estendida, e da parte alta da cozinha eu pude ver que a piscina do vizinho estava cheia de água, e minha filha de seis anos de idade estava nadando como se estivesse em uma rotina de exercícios regulares da manhã. — Que por... — eu comecei e depois parei, lançando um olhar para Blake, que olhou para mim mais chocado do que com a sua irmã. Observei-a mais um segundo e corri para a porta da frente. — Fique de olho nos outros. — eu gritei para Blake enquanto ao abria a porta vermelha pesada.

Era apenas o início do outono na parte rural de Connecticut. A grama ainda estava verde; todas as manhãs eram de nevoeiro, mas na maior parte ainda eram quentes. A casa ao lado ficou vazia durante quase um ano. O proprietário estava pedindo demais nesta economia, mas eu entendia o porquê. Era bonita, limpa e moderna com revestimento lateral de estuque2 na cor creme e venezianas pretas. Carvalhos grandes ofereciam sombra e as caraterísticas do jardim da frente era a mesma dos fundos, uma piscina era a inveja digna de babar dos meus filhos. Corri pelo meu quintal e para o do novo vizinho. Eu não tinha notado que tinham vendido a casa, mas isso não me surpreendeu. Eu não era a pessoa mais atenta atualmente. Notei um caminhão de mudança estacionado ao longo da rua. O portão do quintal deve ter ficado aberto. Mesmo que Abby tenha aprendido a nadar sozinha com quatro anos - o resultado final me deu vários cabelos brancos – ela jamais conseguiria alcançar a tranca que ficava na parte alta do muro branco. Dei a volta e pulei / corri para a borda da piscina, o cascalho do pátio cortou meus pés descalços. Respirei firme e foquei minha mente inundada pelo pânico tempo suficiente para avaliar se Abby ainda estava respirando ou não. Ela estava, e, felizmente, nadando em círculos na parte funda da piscina. Medo e pavor rapidamente se transformaram em raiva e eu dei um passo mais perto da borda da piscina e joguei meu robe de seda no chão. — Abigail Elizabeth, saia daí neste minuto! — eu gritei alto o suficiente para acordar toda a vizinhança.

2 Espécie de argamassa preparada com pó de mármore, cal, gesso, areia fina e cola, com a que se revestem paredes e tetos ou se fazem ornamentos.

Ela tirou a cabeça da água, demonstrando que me viu ao mostrar a língua, e prontamente voltou para a natação. Essa pirralha. — Abigail, não estou brincando. Saia da piscina. Agora! — eu gritei novamente. E fui ignorada - novamente. — Abby, se eu tiver que entrar aí pra tirá-la, você vai lamentar o dia em que nasceu! Ela enfiou a cabeça de novo na água, atirando-me um olhar confuso. Suas sobrancelhas castanho-claro se uniram, como seu pai costumava fazer, e seu pequeno nariz sardento enrugou com algo que eu disse. Eu era inteligente, ou experiente o suficiente para saber que ela não estava nem perto de obedecer só porque a ameacei. — Mamãe? — perguntou ela, de alguma forma, fazendo seu pequeno corpo nadar em um biquíni de bolinhas vermelhas que minha irmã comprou na Gap no verão passado. Era muito pequeno, o que, por algum motivo me enfureceu ainda mais. — O que significa lamentar? — Significa que você está de castigo do iPad, do Leapster3 e do Wii durantes próximos dois anos da sua vida. — eu ameacei. — Agora, saia dessa piscina antes que entre para pegá-la. Ela riu em resposta, sem acreditar em mim por um segundo, e retomou a brincadeira. — Droga, Abigail. — rosnei sob a minha respiração, mas não estava surpresa com o seu comportamento. Ela era uma criança naturalmente aventureira. Desde que andou, tinha subido no ponto mais alto de qualquer coisa que podia, balançando precariamente em galhos, luminárias e estantes altas no supermercado. Ela era atrevida e havia momentos em que eu absolutamente adorava a sua atitude o mundo é meu playground. Mas então havia momentos como este, quando cada instinto de mãe em mim gritava que ela estava em perigo e a sua pequena vida arruinada passava diante dos meus olhos. 3 Marca de jogo portátil.

Esses momentos aconteciam mais e mais frequentemente. Ela me testava, empurrava todos os limites e fronteiras que eu definia. Ela era imprudente antes do Grady morrer, agora ela era simplesmente selvagem. E eu não sabia o que fazer sobre isso. Eu não sabia como domar a minha filha incontrolável ou como ser ambos

os

pais

para

uma

menina

que

sentia

falta

do

pai

desesperadamente. Eu me concentrei na minha indignação, empurrando aqueles pensamentos trágicos para baixo, para o abismo da minha alma. Eu estava chateada; não tinha tempo para isso logo de manhã cedo e sem dúvida nos atrasaríamos para escola novamente. Tirei minha calça de pijama, esperando que quem quer que tivesse se mudado para a casa e tivesse assistindo, estivesse mais preocupado com a menina à beira do afogamento do que com a exibição da minha calcinha preta durante o café da manhã. Xinguei mais algumas vezes e mergulhei na água morna atrás da minha segunda filha. Eu subi à tona, cuspindo água e tremendo quando ar fresco da manhã atingiu a minha pele. — Abigail, quando eu tirá-la desta piscina, você vai estar com tantos problemas. — Ok. — ela concordou alegremente. — Mas primeiro você tem que me pegar. Ela começou a nadar em círculos enquanto eu estendia a mão sem conseguir alcançá-la. A primeira coisa que eu faria quando saísse da piscina seria jogar fora todos os dispositivos eletrônicos da nossa casa apenas para lhe ensinar uma lição. Então eu a matricularia em uma equipe de natação, porque a endiabrada estava um pouco rápida demais para o seu próprio bem. Nós ficamos assim por mais alguns minutos. Bem, eu me esforcei. Ela espirrava água em mim e ria dos meus esforços para pegá-la.

Eu estava ciente de uma presença pairando na beira da piscina, mas estava igualmente muito envergonhada e preocupada demais para dar conta dela. Imagens de levar os meus filhos atrasados para a escola outra vez continuavam girando na minha cabeça e eu me encolhia com os olhares de reprovação que era obrigada a suportar dos professores e outros pais. — Você está com fome? — uma voz masculina profunda anunciou acima de mim. Eu virei a cabeça e encontrei um homem de pé incrivelmente alto perto da minha calça de pijama descartada segurando duas toalhas de praia e uma caixa de Pop-Tarts4 em um braço, enquanto ele mastigava casualmente o referido Pop-Tarts com a outra. — Eu pareço com fome? — eu gritei histérica de raiva. Seu olhar se direcionou para mim por apenas um segundo. — Não, você parece brava. — ele apontou para Abby, que estava parada ao meu lado, batendo os pés na água outra vez com suas curtas pernas do tamanho de crianças acenando freneticamente. — Ela parece com fome. — com a boca cheia de comida ele sorriu para mim, e olhou para Abby. — Quer um Pop-Tart? São de açúcar mascavo. Abby assentiu animadamente e nadou até a borda da piscina. Nem mesmo usou a escada, ela levantou-se para fora da água e correu para o estranho estendendo o café da manhã para ela. Ele entregou-lhe uma toalha e ela rapidamente colocou-a em volta dos ombros e pegou o PopTarts oferecido. Um milhão de avisos sobre ingerir alimentos de estranhos passaram pela minha cabeça, mas no final eu decidi que sairmos da piscina provavelmente era mais importante para ele do que oferecer sua marca envenenada de Pop Tarts aos novos vizinhos.

4

Marca de cereal.

Com um suspiro derrotado, eu nadei até a escada mais próxima da minha calça e levantei-me. Eu estava pingando, mole e congelada até os ossos depois que o meu corpo se ajustou à temperatura da água. Abby pegou o Pop-Tart e se sentou em uma das espreguiçadeiras que ainda estavam empilhadas em cima de duas outras e embrulhadas em plástico. Ela começou a mastigar alegremente, sorrindo para mim como se tivesse acabado de ganhar na loteria. Ela estava em tantos problemas. Fui até o estranho, olhando-o com desconfiança. Ele estendeu a toalha que sobrou para mim e depois de perceber que eu estava diante dele apenas com um top molhado e calcinha, eu peguei-a rapidamente e envolvi no meu corpo. Eu tremia violentamente com meu cabelo loiro escuro escorrendo pelo meu rosto e costas. Mas não me atrevi a arrumar a toalha, com medo de fazer um show maior do que o que ele tinha pagado. — Bom dia. — ele riu de mim. — Bom dia. — eu respondi lentamente, com cuidado. De perto, ele não era o gigante que eu tinha considerado originalmente. Agora que nós dois estávamos no nível do solo, pude ver que por mais que fosse alto, pelo menos quinze centímetros mais alto que eu, ele não era assustadoramente alto, o que aliviou um pouco as minhas preocupações. Ele ainda usava pijama: calça azul de algodão e uma camiseta branca amarrotada. Seu cabelo quase preto estava ainda bagunçado e despenteado, mas jogado de lado no que poderia ser um estilo moderno, se ele o escovasse. Ele parecia ser alguns anos mais velho do que eu, eu supunha trinta e cinco ou trinta e seis, e ele tinha olhos escuros, inteligentes que se enrugavam divertidos nos cantos. Ele era bronzeado, musculoso, e imponente. E eu odiava que ele estivesse rindo de mim. — Desculpe pelo portão. — ele deu de ombros. — Eu não sabia que havia crianças ao redor.

— Você se mudou para um bairro. — eu apontei secamente. — Certamente há crianças ao redor. Seus olhos se estreitaram com o insulto, mas ele engoliu o Pop-Tart e concordou: — É justo. Eu vou mantê-lo trancado a partir de agora. Mas eu não tinha terminado de repreendê-lo. Sua piscina causou todos os tipos de problemas para mim esta manhã e já que eu não poderia descontar tanta raiva na minha menina de seis anos de idade, eu tinha que desabafar o resto em algum lugar. — Quem enche a piscina na primeira semana de setembro, afinal? Você já veio para a Nova Inglaterra no inverno, não é? Ele limpou a garganta e as últimas rugas de riso ao redor dos olhos desapareceram. — Meu agente imobiliário. — explicou. — Foi como um presente de agradecimento pela compra da casa. Ele achava que estava fazendo algo legal para mim. Eu bufei com aquilo, pensando que a minha menina poderia ter... não, eu não poderia ir até lá; eu não era capaz de cogitar esse pensamento emocionalmente. — Eu realmente sinto muito. — ele ofereceu verdadeiramente, seus olhos escuros piscando com verdadeira emoção. — Eu cheguei ontem à noite, e desmaiei no sofá. Eu nem sabia que a piscina estava cheia ou o portão estava aberto até que ouvi você gritando aqui fora. Culpa estabeleceu-se no meu estômago como ácido, e eu lamentei meu tom duro com ele. Isso não era culpa dele. Eu só queria culpar alguém, além de mim. — Olha, eu sinto muito, eu fui mal-humorada sobre a piscina. Eu só... eu só fiquei preocupada com a Abby. Descarreguei em você. — eu cedi, mas não o olhei nos olhos. Eu sempre fui terrível em desculpas. Quando Grady e eu discutíamos, eu nunca conseguia pedir desculpa. Eventualmente, ele apenas olhava para mim e dizia: — Eu te perdoo, Lizzy. Agora venha aqui e me recompense. — com qualquer outra

pessoa meu orgulho teria se recusado a ceder, mas com Grady, o jeito que ele tratava com suavidade a minha teimosia e me deixava escapar, mantinha a minha dignidade intacta toda vez. — Está tudo bem, eu entendo. — meu novo vizinho concordou. Ficamos ali sem jeito por mais alguns momentos, antes que abaixei para pegar minha calça xadrez e robe descartados. — Tudo bem, bem, eu preciso preparar as crianças para a escola. Obrigado por convencê-la a sair. Quem sabe quanto tempo teríamos ficado presas lá brincando de Procurando Nemo. Ele riu, mas seus olhos estavam confusos. — Isso é tipo Marco Polo? Eu atirei-lhe um olhar interrogativo, perguntando se ele estava falando sério ou não. — Não tem filhos? — perguntei. Ele riu novamente. — Não, despedida de solteiro eterna. — ele acenou com a caixa de Pop-Tarts e realização ocorreu-me. Ele realmente não pareceu um pai antes de agora, mas no meu mundo... meus quatro filhos, dona de casa, secretária vigilante do bairro, membro ativo mundial do trabalho não remunerado - era quase incompreensível admitir que alguém de sua idade não tivesse filhos. Limpei a garganta. — É uh, um filme de criança. Disney. — eu expliquei e a compreensão iluminou sua expressão. — É, obrigada novamente. — eu virei para Abby que estava terminando seu café da manhã. — Vamos, Abs, você está nos fazendo atrasar para a escola. — Eu sou Ben, a propósito. — ele gritou nas minhas costas. — Ben Tyler. Eu suspirei para mim mesma com os dois primeiros nomes; de alguma forma pareceu apropriado para o bonito solteiro eterno, mas ridículo ao mesmo tempo. — Liz Carlson. — eu gritei por cima do ombro. — Bem-vindo ao bairro.

— Uh, as toalhas? — ele gritou atrás de mim quando chegamos ao portão. Virei-me com a boca aberta, pensando cem diferentes coisas terríveis sobre o meu novo vizinho. — Não podemos... eu... — olhei desamparadamente para as minhas pernas nuas aparecendo na parte inferior da toalha que ele tinha acabado de me emprestar. — Liz. — ele riu familiarmente, e eu tentei não ressentir-me dele. — Estou apenas brincando. Devolva quando quiser. Rosnei algo ininteligível que eu esperei que soasse como — obrigada — e virei, enxotando Abby para o gramado entre as nossas casas. — Prazer em conhecê-la, vizinha. — ele gritou por cima da cerca. — Você também. — eu murmurei, nem mesmo virei a cabeça para olhar para ele. Obviamente, ele era solteiro e independente. Ele era muito convencido para o seu próprio bem. Eu só esperava que ele mantivesse o portão fechado e desse poucas festas barulhentas. Ele parecia ser o tipo que oferecia festas de fraternidade - curtia e contratava strippers para o fim de semana. Eu tinha uma família para criar, uma família que estava desmoronando rapidamente enquanto eu me debatia para manter-nos inteiros com os braços cansados e um espírito quebrado. Eu não precisava de um vizinho intrometido entregador de Pop-Tarts e sarcasmo interferindo na minha vida.

Capítulo Dois — Hey-O! — Emma gritou ao entrar. — Onde está você, Lizbeth? — Aqui. — eu chamei atrás da minha segunda xícara de café. Esta manhã tinha sido um fracasso, e as crianças chegaram, como previsto, atrasadas na escola. — Você quer uma xícara de café? Minha irmã deu a volta no canto, perturbada, como de costume. Este era possivelmente um traço genético, uma vez que sofríamos com o mesmo cabelo loiro selvagem e ar geral de confusão. Ela sorriu para mim, seus lábios cheios esticados com inquietação. Eu reconheci seu olhar de avaliação imediatamente. Ela estava medindo o meu humor, decidindo se optaria pelo meu quase-colapso-emocionalvolátil ou, meu lado aguentando firme. Hoje, eu não estava em com vontade de aguentar. — Eu adoraria. — ela suspirou um pouco sem fôlego. Colocou sua enorme bolsa laranja brilhante no balcão da cozinha e deslizou sobre a banqueta ao lado de Lucy. — Ei, menina, o que você está fazendo? — Colorindo um desenho. — Lucy respondeu com sua voz doce de quatro anos de idade. — Posso ajudar? — perguntou Emma, já pegando um lápis. — Só não use o verde. Nós odiamos a cor verde. — Lucy enfatizou. Limpei a garganta e virei as costas para elas. Essa era a minha terrível influência e obsessão com os olhos do seu pai. Era injusto jogar o meu trauma nas crianças, mas não sabia como parar. — Por enquanto. — Emma concordou. — Mas eu aposto que você vai aprender a gostar de novo.

— Não comece com esse papo psicológico esta manhã, por favor! — implorei. Eu coloquei café em sua xícara e entreguei a ela junto com o creme. Ela gostava do café insanamente doce, e eu não ia nem tentar adivinhar o seu nível de creme-no-café. — O que aconteceu? — ela perguntou com seu tom de voz sábio, um tom adulto que eu ainda tinha dificuldade para levar a sério. Ela era minha irmã mais nova, mais ou menos seis anos mais jovem do que eu, e completamente instável. Mas desde Grady, ela tinha realmente se envolvido e estava dando um apoio enorme para mim. Eu não estaria funcionando hoje se não fosse por ela. — Eu não abracei Abby quando a deixei. — admiti e as lágrimas já estavam caindo. Um desastre nem começava a descrever o acidente de trem que eu tinha me tornado. — Tudo bem, comece pelo começo. — ela pegou seu cachecol gigante, dobrou e se sentou para escutar o meu conto. Ela ainda estava terminando o mestrado em aconselhamento, de modo que sua agenda lhe permitia parar durante o dia e me ajudar. Ela era a minha alma salvadora de tantas maneiras, mas conversa adulta estava no topo da lista. — Abby saiu de casa esta manhã sem me dizer. Encontrei-a nadando na piscina do novo vizinho. — minha raiva ainda fervia sob a superfície, mas mais do que isso, o medo de quase perdê-la estava me sufocando e eu mal podia respirar por causa do pânico. — Sua irmã é um pequeno peixinho. — Emma olhou para Lucy e riu. — Não faça piadas, Em. Ela tem apenas seis anos. Qualquer coisa poderia ter acontecido com ela e eu nem sabia que ela tinha saído de casa! — olhei para as profundezas negras do meu café e funguei as lágrimas mais frustradas.

— Liz, você não pode culpar a si mesma por não ser ambos os pais. Você é o suficiente. Você é tudo que estas crianças precisam. — ela sorriu para mim com simpatia e estendeu a mão para dar um tapinha na minha. Eram técnicas de enfrentamento e conforto que ela aprendeu na faculdade e eu fiquei levemente irritada. Eu puxei minha mão do aperto compassivo da minha irmã e olhei para Lucy. Ela coloria feliz na hora, mas sabia que esta seria outra imagem adicionada à pilha que deveria “manter para o papai”. Ela estava convencida que o pai estava apenas de férias no céu. O pai que ela tinha certeza que não deixaria sua família para sempre. O pai que deveria entrar pela porta da frente a qualquer momento. Eu não era a única lutando com a negação. A verdade fria e dura era que eu não era o suficiente. Eu nunca fui suficiente. Meu casamento era uma parceria construída com amor mútuo e responsabilidade compartilhada. A casa funcionava tão bem quanto o caos de quatro pequenos permitia, mas administrávamos juntos. Grady sempre foi um pai amoroso. Levantava-se cedo com as crianças, fazia das férias, de dias importantes na escola e aniversários tão incrivelmente especiais para eles, e acima de tudo, ele me encontrava no meio do caminho com a disciplina. Ele não era um homem perfeito, o nosso casamento tinha sido tudo menos isso. Eu sabia. Eu disse para mim, muitas vezes, porque era muito fácil idealizar o nosso relacionamento para a perfeição utópica. E imaginar a nossa vida tão perfeita era um espiral direto para o abismo sombrio do desespero. Mas a vida tinha sido boa - realmente, realmente boa, e mais fácil e feliz. E agora estávamos apenas sobrevivendo. — Então, o que aconteceu com Abby? — Emma perguntou.

— Eu não consegui tirá-la da piscina. Ela estava sendo difícil, como de costume. Finalmente o cara ao lado nos encontrou e atraiu-a para fora com um Pop-Tart. Até então, estávamos atrasadas para a escola. Eu tive que caminhar com todas as crianças para dentro e parar na secretaria para assinar a entrada deles. Eu estava tão brava com ela. Louca porque ela saiu de casa sem me dizer, louca porque ela foi nadar sozinha e não posso sequer pensar no pior cenário lá, e louca, porque ela tornou essa manhã ainda mais difícil para mim. Eu estava com tanta raiva quando a deixei na sala de aula que nem sequer a abracei ou disse a ela que a amava. — eu era incapaz de parar as lágrimas que fluíam livremente pelo meu rosto corado e pingavam teimosamente pelo queixo. — Agora eu tenho que esperar até depois da escola para vê-la. Ela vai ter que passar o dia todo na escola pensando que estou brava com ela e que não a amo mais. E estou ficando doente com isso. Os olhos azuis da minha irmã Emma fixaram nos meus, suas próprias lágrimas transbordando nos cantos. Com partes iguais de convicção e preocupação, ela prometeu: — Liz, você vai ver Abby novamente. Você vai poder abraçá-la e dizer-lhe que você a ama. Ela vai ficar bem. Ela sabe que você a ama. Não há uma dúvida naquela cabeça ruiva bonita. Eu balancei a cabeça, o queixo trêmulo e mais lágrimas caindo. Eu estive tentando me convencer dessas coisas a manhã toda, mas ajudava quando vinha de outra pessoa. Só porque perdi uma das pessoas que mais amava na vida, não significava que perderia todas. Pelo menos eu queria acreditar nisso. O buraco no meu peito argumentava de forma diferente. — Liz. — minha irmã se levantou da banqueta e caminhou para trás da ilha, ficou ao meu lado para me dar um abraço apertado. — Você vai passar por isso. Eu sei que é difícil, mas você é a pessoa mais forte que

conheço. Grady não teria deixado você, se ele não achasse que você poderia lidar com isso. Eu solucei forte, feio, inclinei meu rosto em seu pescoço. Ela cheirava a lilás e baunilha e como minha irmã. Nós compartilhávamos abraços como este desde que ela nasceu. — Em. — foi tudo que pude fungar. A dor era muito aguda, muito destruidora agora. Olhei ao redor da cozinha com olhos lacrimejantes observando todos os detalhes que Grady fez cuidadosamente com as próprias mãos ásperas. Antes do câncer, ele era um homem esperto, capaz e forte, que começou a sua própria empresa de construção e transformou-a em uma espécie de império local. Ele deixou de trabalhar sozinho para ter várias equipes e funcionários. Ele construiu a nossa casa, tijolo por tijolo, tinha projetado todo o interior sozinho quando finalmente teve dinheiro suficiente e um bom crédito para deixar o pequeno apartamento que compartilhamos durante os primeiros anos do nosso casamento. Moramos aqui pouco mais de seis anos. Exceto por Blake, todos os nossos filhos nasceram nessa casa. Conhecemos os vizinhos enquanto cada um deles construía em torno de nós e conseguimos a casa dos sonhos, a nossa casa do para sempre, quando tínhamos apenas vinte e seis anos. Nós nos sentíamos incrivelmente abençoados aqui quando Grady ainda era saudável. Agora me sentia afogada em memórias dele. Seu fantasma assombrava-me de todos os quartos, e pairava sobre cada peça de mobiliário e detalhes que sua mão tocou. Este lugar, esta ilha era onde ele me beijava todas as manhãs e tomava a sua xícara de café comigo antes de sair para trabalhar. O sofá longo, resistente, de canto na sala era onde ficávamos toda noite e brigávamos entre os meus realitys shows e o Sports Center dele. Nosso quintal estava devastado por memórias dele

grelhando, ensinando as crianças a jogar bola e desfrutando agradáveis noites em família ao redor da fogueira. Uma dor que consumia se agarrou no centro do meu ser e quebrou a minha alma bem no meio. Senti-me estraçalhar intensamente como se cada parte minha estivesse fissurada, quebrando meu espírito já em vários pedaços. Mais uma vez. — O que vou fazer? — eu sussurrei, ignorando o olhar preocupado de Lucy. — Como é que vou sobreviver a isso, Em? Emma estava berrando também agora. Meu cabelo estava molhado e emaranhado onde suas lágrimas bagunçadas tinham caído. Mas as minhas perguntas a endireitaram, ela limpou a garganta. Usando sua voz madura de novo, ela disse: — Em primeiro lugar, você vai fazer a sua corrida. Eu tenho que voltar à cafeteria ao meio-dia para encontrar o meu grupo de estudo, então não tenho muito tempo. E então... vamos achar um jeito de fazer isso juntas, Lizbeth. Você não está sozinha. — Ok. — concordei com um aceno patético. Eu podia fazer isso. Eu podia correr. Isso ajudaria a me sentir melhor de qualquer maneira. Um tempo sozinha podia ser útil, para me concentrar em pelo menos um pensamento coerente. — Mamãe está triste com o papai de novo? — perguntou Lucy, inocente, como qualquer criança de quatro anos faria. Eu balancei a cabeça, incapaz e sem vontade de mostrar a ela exatamente o quanto a tristeza estava enraizada profundamente. — Não há problema em ficar triste, mamãe. — Lucy prometeu em um sussurro sabichão. — Mas não fique triste o dia todo. Ele só entrou de férias. Ele não nos deixaria para sempre. Ele nos ama muito. As lágrimas imediatamente começaram novamente e nesse momento, instintivamente, soube que esse dia só ia piorar.

Emma aproveitou esse momento para perguntar: — Onde está Jace? Escutei por um segundo e ouvi apenas o silêncio. Então, imediatamente, entrei em pânico. Ao contrário de Abby, Jace com certeza não sairia de casa sem soar campainhas ou deixar pistas para o que ele estivesse tentando fazer. Jace, com todos os seus dois anos de idade gloriosos, ainda não tinha dominado a arte de girar uma maçaneta. Mas ele estava perigosamente tranquilo e isso nunca sinalizava coisas boas. Emma e eu corremos pela cozinha e subimos as escadas. — Ele estava brincando em seu quarto. — eu ofegava quando nós paramos no corredor em busca dele. Seu quarto estava vazio, assim como o do seu irmão. Havia uma chance de que ele estivesse no quarto de Lucy e fomos para lá em seguida. Então ouvimos a descarga do banheiro. Mudamos o nosso caminho e recuamos em direção ao banheiro das crianças, pavor gelado e ansiedade em cada parte minha. Lá, estava ele, de pé sobre o vaso sanitário olhando para a bacia cheia até a borda com todos os rolos de papel higiênico. Um sorriso malicioso brincava em seus lábios e ele olhou para nós com uma risadinha. Seu dedo apoiando no botão da descarga, como se estivesse se preparando para apertá-lo novamente. Pânico obscureceu minha visão. — Jace, nem sequer pense nisso. — ameacei em voz baixa. Emma e eu paramos na porta, as mãos levantadas como se ele fosse um animal selvagem que estávamos tendo cuidado para não assustar. Ele soltou outra risada diabólica, com entusiasmo e apertou o botão com toda velocidade. Emma e eu saltamos na direção dele, olhando com horror enquanto a bacia cheia de água e todos os rolos que eram sacrificados patinavam

encharcados. Estremeci com a confusão e comecei a chorar novamente quando a água atingiu a borda da bacia branca de porcelana e transbordou no chão de azulejo. Minha irmã pegou Jace para que ele não ficasse encharcado e todos nós pulamos para fora do caminho. Jace só ficava rindo e a água continuava jorrando no chão. Minha cabeça caiu em minhas mãos e eu gemi. — Simplesmente, não é o meu dia. Eu pensei que Emma fosse concordar comigo, em vez disso ela disse: — Vá, Lizzy. Está na hora. Vou limpar isso. — Emma, eu não posso deixá-la com esta confusão. Você está de brincadeira? — Você precisa de tempo. — ela deu de ombros, mas seu rosto estava contorcido em desgosto com a bagunça que o banheiro tornou-se em apenas alguns segundos curtos. — Eu limpo tudo até a hora que você voltar. — Eu te amo. — sussurrei, ainda não conseguia me apoderar das minhas emoções, mas estava ansiosa pela oportunidade de escapar desse mais recente fardo de catástrofe. Se eu não tivesse que limpar apenas uma das muitas tragédias na minha vida, pode ser que faria diferença entre a minha sanidade e um colapso mental. — Vá! — ela ordenou. — Antes que eu mude de ideia. E eu obedeci. Enquanto ela calmamente castigava Jace pelas suas técnicas de destruição, calcei o tênis e saí correndo pela porta da frente. Eu fugi da confusão no banheiro, das crianças que não conseguia controlar sozinha e de uma casa tão saturada com as memórias do homem que eu amava que não conseguia respirar com elas tão perto.

Capítulo Três Dobrei a esquina e a casa voltou à vista. Nós moramos em uma rua sem saída na periferia da cidade. As casas eram todas relativamente novas. As árvores tinham algum tempo ainda para crescer, mas não estava sobre as casas como no resto da cidade. Ainda assim, eu amava o nosso pequeno bairro. As famílias eram todas doces e amáveis e tomávamos conta uns dos outros. Eu não conseguia me mudar, ou tirar os meus filhos da casa deles. Mesmo que houvesse momentos em que eu quisesse. Como agora. Olhando para o teto branco manchado com pontos pretos e com uma porta vermelha brilhante, via a minha casa dos sonhos. E via uma vida de dor que eu nunca iria me recuperar. Grady, onde está você? Eu diminuí o ritmo para uma caminhada. Eu disse a mim mesma que isso era apenas o esfriamento, mas a verdade sussurrou e ecoou dentro de mim. Eu podia levar o meu corpo ao limite enquanto corria, quando fugia de tudo e de todos que precisavam de mim. Mas, agora, que era confrontada com as mesmas coisas, eu não conseguia enfrentá-las novamente. Como mãe, eu sempre me sentia fracassada. Eu tinha quatro filhos. Quatro. A vida sempre foi louca para nós e eu nunca senti que fosse o suficiente para todos os meus filhos. Caos governava meu estilo parental, tinha cada um dois anos de diferença, e com isso estavam sempre em diferentes estágios de necessidades e demandas.

Agora, sem Grady ao meu lado, eu me sentia mais fracassada do que qualquer coisa. Não era apenas uma pequena falha; era uma catástrofe que entrava em combustão e queimava em milhões de pedaços irreconhecíveis. Era isso que eu estava fazendo com os meus filhos. Eu era o piloto dos seus planos de vida e estava prestes a cair como uma bomba no meio do oceano. — Você está bem? — uma voz me tirou do silêncio. Olhei para cima para encontrar Ben Tyler em sua caixa de correio. Eu não sabia como me sentir sobre encontrá-lo novamente, especialmente quando eu estava assim. A maior parte de mim ainda estava com raiva da nossa discussão da manhã. Mas havia aquela pequena parte que estava muito envergonhada que as únicas vezes que ele tinha me visto foram quando eu estava de calcinha e camiseta sem sutiã e, agora, assim, suada, com o rosto vermelho e ofegante. Esse cara com certeza achava que eu era uma maluca completa. Eu tentei sorrir, mas as minhas preocupações, exaustão e mau humor transformou mais em uma careta do que em uma expressão feliz. — Estou bem. Acabei de terminar uma corrida. — Percebi. — seu sorriso era irritante. — Você não tem emprego? — as palavras saíram da minha boca antes que eu pudesse contê-las. Oh, Deus, o que havia de errado comigo? Ele riu da minha pergunta rude. Provavelmente deve me rebater e jurar para si mesmo nunca mais falar comigo de novo, mas algo me dizia que esse cara não sabia odiar as pessoas. Nem mesmo sua vizinha mal-humorada. — Sim. — disse ele. — Eu tirei uns dias de folga para me mudar. — Oh. — bem, obviamente. Eu era uma idiota.

— E você, não tem emprego? Eu não sabia se era sarcasmo ou se ele estava realmente curioso. Quando ele levantou as sobrancelhas com expectativa, dei-lhe uma resposta. — Eu sou uma dona de casa. — Abby? — E seus três irmãos. — Uau. — ele assobiou. — Quatro deles? Você não parece que tem quatro filhos. Hum... — Obrigada. — Eu soube do seu marido. — ele soltou de repente. — O quê? — minha voz era um sussurro. Senti meus ossos se tornarem quebradiços e frágeis quando ele fez uma careta diante do conhecimento da minha dor. — Sinto muito. — ele falou. — Eu não sei por que eu disse assim. Eu só... eu não sabia como falar. E eu não quero que você sinta como se tivesse que explicar isso para mim. Depois de olhar para ele por alguns segundos em silêncio, eu disse: — Eu não sentiria necessidade de explicar algo para você. Ele fez uma careta. — Liz, eu sinto muito. A vizinha do outro lado da rua contou a sua história e eu só... eu, obviamente, não tive tato. — ele riu amargamente para si mesmo e eu quis mudar de assunto. Eu precisava mudar de assunto. — Sra. Mitchum. Ela tem problemas em cuidar da própria vida. Seus olhos escuros suavizaram um pouco. — Eu percebi. — ele se balançou sobre os calcanhares, pensando claramente em sua próxima frase antes de falar. Olhei para a minha casa e quis escapar para lá desesperadamente. Claro, há cinco minutos, eu temia passar pela

porta. Agora, graças a Ben Tyler, eu mal podia esperar para chegar dentro da segurança do meu próprio lar. — Bem, eu acho que a gente se vê depois... — Se você precisar de alguma coisa, você sempre pode bater. — ele deu um passo para frente e me interrompeu. Nós ficamos apenas três passos afastados, mas eu juro que eu podia sentir a sua aura ou algo assim. Ele irradiava uma energia que arranhava a minha pele. Eu não tinha dúvida de que ele era uma pessoa bem sucedida, e não só pelo tamanho da casa que tinha comprado. Ele tinha aquele carisma que extravasava. Isso me irritava pra caramba, mas eu sabia que na vida real isso encantava quem colocava os olhos sobre ele. — Obrigada. — eu respondi simplesmente. — Sério. — enfatizou. — Se você precisar de alguma coisa, não hesite em pedir. — Ok. —

E

a

minha

piscina!



suas

palavras

saíram

quase

desesperadamente. Eu não sabia se era culpa ou queria ser meu amigo ou o quê, mas estava começando a ser um pouco demais. — Toda vez que você ou seus filhos quiserem nadar, a piscina é de vocês. Limpei a garganta. — Vai ficar frio em breve. — Bem, até então. — Honestamente, eu tenho muitas crianças para cuidar. Eu não posso olhar todos. É muito estressante. — Oh. — seus ombros ficaram tensos e eu percebi que ele ficou desapontado com a minha resposta. É evidente que ele nunca teve filhos menores de seis anos em uma piscina. Claro, Abby era uma aberração da natureza quando se tratava de esportes aquáticos, mas Lucy e Jace não chegavam nem perto de estarem

prontos para a água. Se eu tivesse alguém para ir comigo, não seria tão ruim. Eu poderia ficar com os dois pequenos e Grady poderia ter me ajudado a manter um olho sobre os dois mais velhos. Mas eu não tinha Grady mais, e eu não confiava em um completo estranho para me ajudar a manter os meus filhos vivos. Além disso, era apenas estranho. Nós não nos conhecíamos nem há vinte e quatro horas. Eu queria que ele parasse de forçar a amizade. — Liz, eu tenho que sair logo! Traga sua bunda para o chuveiro agora ou você vai ter que esperar até quinta-feira antes que você possa tomar um! — a voz de Emma chamou da varanda da frente. Ela segurava Jace no quadril e Lucy agarrava-se à sua perna. Seu cabelo loiro selvagem caía no seu rosto. Ela parecia a mãe ajustada que eu nunca seria. Claro, ela não era uma mãe solteira em tempo integral e, portanto, tinha tempo para coisas como cabelereiro e manicure. Além disso, o corpo dela não tinha empurrado quatro bolas de boliche para fora da vagina. Eu dei uma olhada para Ben e encontrei-o observando a minha irmã atentamente. Sim, ela faz com que todos os homens a olhem. Pobre rapaz. — Estou indo! — gritei de volta. Era tarde demais; ela notou Ben e agora sua curiosidade surgiu. — Vejo você por aí. — eu disse rapidamente a ele na esperança de que eu pudesse escapar antes que a minha irmã chegasse para uma apresentação formal. — Mamãe! — Lucy bateu em minhas coxas e colocou os braços curtos em torno de mim. — Você está com um cheiro nojento. Meu rosto corou de vergonha. Sem dúvida, eu cheirava mal. Ben jogou a cabeça para trás e soltou uma gargalhada.

— Obrigada, Baby. — eu resmunguei. — Você esta com cheiro nojento, irmã. — Emma riu ao chegar. — É por isso que eu preciso de um banho. Ela me ignorou, seus olhos brilhantes já estavam no meu novo vizinho. — Eu sou Emma. — ela sorriu largamente para ele. Jace fez um mergulho para mim e eu o peguei antes que ele caísse dos braços distraídos de Emma. Ben estendeu a mão e cumprimentou uma agora vazia. — Ben Tyler. — Você é o cara da piscina? Ele estremeceu novamente. — Todo mundo vai usar isso contra mim? Olhei para os meus filhos e pensei sim dentro da minha cabeça, mas eu deixei minha irmã dar um fora. — Só até você se redimir. — Ei. — ele brincou. — Meu Pop-Tarts salvou o dia esta manhã. Eu me ressenti disso no início. — Eu a pegaria eventualmente. Ele me lançou um sorriso indulgente. — Certo. — Certo? — eu levantei uma sobrancelha para ele. — Mamãe, eu quero um Pop-Tart! — Lucy gritou. — Pop-Tart! — Jace repetiu. Eu abafei um suspiro cansado. — Posso ter apenas mais vinte minutos, Em? Eu prometo que vou ser rápida. — Vinte. — disse ela com firmeza. — Então eu tenho que ir. Meu grupo de estudo vai me matar se eu me atrasar de novo. — Vinte, eu prometo. — eu dei um beijo molhado na bochecha do Jace e devolvi-o à minha irmã. Eu disse a Lucy que esperasse com a tia Emma enquanto fui em direção à casa novamente.

Deixei meus filhos e irmã conversando com o meu novo vizinho na esperança de que eles pudessem reparar alguns dos danos que eu tivesse criado com apenas duas interações. Parte de mim se sentia extremamente triste por Ben por ter que me aturar. Eu não sabia o que tinha acontecido comigo. Claro, tristeza e depressão governavam a maior parte dos meus humores nos dias de hoje, mas eu, pelo menos, tentava dar um show para o resto do mundo. Eu tinha conseguido ser educada e cordial com quase todo mundo na minha vida, exceto um grupo seleto, e essas pessoas tinham merecido a última gota da minha ira. Ben Tyler não merecia a ira, raiva ou qualquer outra coisa desagradável. Ele tinha sido nada, exceto legal desde que invadi a sua piscina de manhã. Ainda assim, havia algo nele que me incomodava. Eu dei uma espiada através do vidro fosco da porta da frente, quando entrei. Emma ria histericamente de algo que Ben disse e ele parecia absolutamente cativado pelo seu sorriso. Eu queria ficar feliz que eles tivessem se dado bem. Eu deveria ser grata que ela pudesse representar a minha família com seu próprio tipo de charme, mas eu não estava. Irritação e frustração borbulharam dentro do meu estômago e se espalharam pelos meus braços e pernas com veemência. Eu não entendia toda essa animosidade por um homem que acabara de conhecer. E eu odiava que tivesse deixado isso afetar o que poderia ser uma relação perfeitamente confortável com o vizinho. Emma ainda estava sorrindo quando disse adeus a Ben na caixa de correio e voltou para a casa. Ele observou-a se afastar, segurando uma carta distraidamente entre os dedos longos. Eu não pude deixar de rir quando ele obviamente encarou o rebolado dela. Minha irmã sabia usar o corpo.

Mas, em seguida, olhos dele fitaram a casa e eu percebi que estava ali espionando. Eu pulei para longe da janela e corri até as escadas. Agora eu tinha apenas quinze minutos para chegar ao chuveiro e fazer algo decente com o meu cabelo na altura dos ombros. Eu não podia furar com a Emma novamente. Ela fazia muito por mim. Deixá-la chegar ao seu grupo de estudo a tempo era o mínimo que eu podia fazer. Além disso, eu precisava desesperadamente de um banho. Precisava lavar o suor e sujeira de minha corrida e os sentimentos estranhos e angustiados que Ben Tyler parecia fazer brotar em mim. Eu tentei me convencer de que ter um vizinho naquela casa seria uma coisa boa. Ele tinha oferecido ajuda e eu sabia, sem dúvida, que em algum momento no futuro, espero que muito no futuro, eu precisaria dele. Eu precisava de muita esse dias. Eu só esperava que quando eu precisasse dele, eu pudesse superar qualquer que fosse a hostilidade que sentia por ele e o tratasse com o respeito que um adulto deve, naturalmente, ter. Ou, pelo menos, não rosnar cada vez que eu estivesse a dois metros dele.

Capítulo Quatro Eu terminei de afivelar Jace em seu cinto e apontei o dedo para Lucy. — Pare de gritar. Ela não parou. Eu empurrei meu cabelo para fora do rosto e soltei um suspiro de frustração. Nós estávamos atrasados. Mais uma vez. Só que desta vez foi pior do que o habitual. Empurrei o cobertor de Jace para ele e limpei algumas de suas lágrimas antes de pressionar o botão para fechar a porta na minha minivan superelegante. Atirei-me no banco da frente e coloquei o cinto de segurança no lugar. As duas crianças gritaram seus protestos em um show sério de falta de flexibilidade e força de vontade. Minha cabeça latejava com uma dor desagradável e meu estômago se agitou com a tarefa à minha frente. Eu dirigi para fora da garagem, tomando cuidado com os espelhos laterais na entrada longa e inclinada. Uma vez na rua, eu empurrei a alavanca de câmbio para guiar e o motor deu um solavanco de protesto. Eu não tinha tempo para me importar. E eu, realmente, não tinha tempo para pacificar minhas crianças gritando. Com os olhos na estrada, eu empurrei os botões certos e dei um suspiro lento de alívio quando ouvi o deslizar da tela no lugar atrás de mim. O filme que eu ouvia, aproximadamente, há 77 dias direto e os gritos endiabrados cessaram. Eu dei uma olhada de avaliação na casa do novo vizinho antes de me concentrar em sair do bairro. Eu não via Ben Tyler, praticamente, há uma semana, desde que devolvi suas toalhas. Ele ficou na sua após o dia que nos conhecemos e eu estive muito ocupada para notar. Durante o fim de semana eu pensei que poderíamos nos encontrar, mas ele não fez

nenhuma aparição e eu decidi ser grata por não ter outra oportunidade para me fazer de idiota. O caminho para a escola primária levou apenas quinze minutos, mas já eram quinze minutos atrasados. Era para eu estar lá agora. Merda. Eu tinha uma reunião com a conselheira da escola. Eu tinha certeza que ela esperava que eu fosse me atrasar, mas isso não me deixou menos estressada. Eu não era a melhor a chegar aos lugares na hora antes de Grady morrer. Agora, que eu não tinha nenhuma ajuda para sair da casa ou no carro, a minha pontualidade havia se tornado uma piada. Algumas vezes tentava analisar por que era muito mais difícil agora do que antes. Mesmo quando Grady estava vivo, ele não me ajudava a levar as crianças para a escola. Ele tinha que sair para o trabalho quase uma hora antes de as crianças se levantarem. E eu sempre as busquei também. De alguma forma, a ausência de sua ausência normal, tornou tudo pior e meu atraso ocasional tinha evoluído para uma incapacidade permanente de chegar a qualquer lugar a tempo. Mesmo que Grady não me ajudasse antes, tudo era mais difícil agora. Não importava o quê. Passar máscara nos olhos era mil vezes mais difícil do que já foi, ou vestir-se, ou o inferno, mesmo se levantar. Eu conseguia administrar como antes. Ficava esperando pelo dia que tudo voltaria para o lugar para mim. Claro, havia coisas que seriam sempre difíceis, sempre requereriam mais esforço da minha parte, sem o meu marido ao meu lado. Mas sair de casa de manhã ou fazer aquelas pequenas coisas que sempre foram minha responsabilidade, simplesmente, deveriam acontecer como antes.

Por que a morte de Grady se espalhou por todos os aspectos da minha vida? Por que algumas coisas não podiam permanecer intocadas pela dor? Até o momento que eu pisei no freio e desliguei o motor na frente da escola primária, os meus dois pequeninos tinham parado de fungar e lutar contra os cintos de segurança. Dois segundos reais de silêncio feliz se passaram antes que Lucy começasse a lutar contra as restrições e Jace começasse a chorar novamente. O fim das aulas coincidia com o fim de sua sesta. O acesso de raiva era algo que eu estava acostumada, mas isso não tornava mais fácil. Peguei minha bolsa, recheada com fraldas e lenços, verifiquei que eu coloquei as minhas chaves e telefone lá dentro, então lutei com Jace em seu assento. Em seguida peguei Lucy com uma mão, enquanto Jace soluçava alto na minha blusa. Era preta, e eu esperava que mantivesse a umidade escondida, mas nunca conseguia disfarçar a meleca que eu sabia que ele tinha deixado para trás. A porta se fechou com uma lentidão excruciante. Tranquei a van com o impulso do polegar e puxei as crianças comigo para dentro do prédio escolar. A aula terminaria em dez minutos. A conselheira queria trinta minutos comigo, mas ela teria que se contentar com sete. Sentia-me quase em lágrimas no momento em que empurrei a porta do escritório e entrei no lugar frígido. A fila de secretárias olhou para mim com o sorriso conhecido e simpático. Evitei a pena em seus olhos e me arrastei até a mesa. — Eu tenho uma reunião com Srta. Conway. — eu disse a elas.

A secretária mais próxima deslizou a folha de registro para mim e entregou uma caneta. — Ela está esperando por você. Você pode entrar à direita. Eu terminei de preencher as informações necessárias e virei-me para a porta apropriada. Eu puxei Lucy comigo e reajustei Jace em meus braços. Lancei um sorriso de desculpas a Srta. Conway e esperava que eu pudesse encantá-la para longe de pensar que eu era a pior mãe solteira viva. Sem sorte. — Oi, Liz, como você está? — Tudo bem. — eu peguei a parte de trás do colarinho de Lucy antes que ela pudesse fazer ir direto para as figuras de animais frágeis que revestiam a mesa de Conway. Harriet Conway era dez anos mais velha do que eu e sempre foi solteira. Eu não soube de qualquer homem que tivesse sido aprovado nos padrões impossíveis dela mais do que o primeiro encontro. Ela me intimidava antes, mas agora, agora que eu era uma mãe inútil, me afogando em um mar de expectativas impossíveis, ela me aterrorizava. Muitas vezes eu dei a mim mesma o discurso eu-sou-uma-adultatambém. Aquele em que eu tentava me convencer de que eu era igual a ela em todas as coisas e que ela não tinha autoridade sobre mim, apenas sobre os meus filhos. Jurei a mim mesma que não havia necessidade de medo dela, porque, honestamente, o que ela poderia fazer comigo? Mas cada vez que eu estava na frente dela, sentia-me recuar e esconder. Eu não conseguia evitar. Talvez se eu sentisse que estava fazendo algo certo, ou pudesse levar as crianças para a escola apenas uma vez no horário, eu teria me sentido mais no controle. Mas esse não era o caso. Em vez disso, ela parecia refletir todos os meus fracassos e exigir mais de mim como mãe do que eu sabia que poderia oferecer.

— Sente-se. — ela apontou para as cadeiras laranja antigas na frente de sua mesa e eu sentei. Eu coloquei Lucy para cima e lembrei para que ela ficasse quieta e depois eu deixei um Jace fungando confortável no meu colo. Ela esperou pacientemente que nos sentássemos. — Desculpe pelo atraso. — eu disse a ela. Ela me deu um sorriso tenso. — Essa é uma das razões pelas quais eu te chamei hoje. Eu sei que é difícil para você agora, mas Abby e Blake chegaram atrasados mais vezes este ano, do que no horário. Não chegamos nem até o primeiro trimestre, Liz. Eu tentei se benevolente com a sua família enquanto você se ajustava com a nova situação, mas eu não posso deixar isso continuar sem me manifestar. Blake e Abby é que estão sofrendo com o seu atraso. Eles correm para a aula e perturbam o ensino já em andamento e isso encoraja maus hábitos. Eu sei que você está passando por um momento difícil agora, mas acho que encontrar alguma rotina consistente seria bom para todos vocês. Engoli as lágrimas, raiva leve e um monte de indignidade. Minha nova situação? Um momento difícil? Esta mulher não tinha ideia. Ela não tinha ideia de como era perder o amor de sua vida, e muito menos conseguir arrumar se sair com quatro filhos em um tempo razoável. Se eu não achasse que meus filhos nunca aprenderiam a ler, eu os tirava da escola hoje e ensinaria em casa. Então, nós nunca teríamos que sair de nossos pijamas. Exceto que suas palavras não eram apenas irritantes e dolorosas, eram também verdadeiras. Eram como punhais em todos os meus pontos fracos. E elas gritavam argumentos ao lado de tudo o que eu já sabia. — Nós estamos tentando. — eu odiei o tremor na minha voz. Eu odiei estar cair nessa novamente. Meu pesar e nossa perda não significavam nada para ela e eu, honestamente, não poderia esperar

isso. — Estamos trabalhando muito duro para encontrar o nosso ritmo; apenas tem sido difícil. Seu rosto suavizou com compaixão. — Eu entendo. Mas eu não posso continuar de olhos fechados. As crianças precisam estar aqui na hora certa. Eu balancei a cabeça. — Bem. Vamos tentar com mais afinco. Ela me ofereceu outro sorriso tenso. Acho que ela não acreditou em mim. A explosão de vozes das crianças nos alcançou através da porta do escritório aberta. Deixei escapar um suspiro lento de alívio. A aula tinha acabado; a reunião tinha que terminar agora. Srta. Conway olhou para a porta e de volta para mim. — Há algo mais. Engoli em seco. — Sim? — Abby está aprontando novamente. As palavras me atingiram com força. Eu não consegui nem responder. Lágrimas frustradas brotaram nos meus cílios inferiores e desejei não desmoronar na frente desta senhora. Eu poderia segurálas. Eu poderia segurá-las por apenas mais cinco minutos. — Ela está muito falante. — Conway continuou depois que ficou óbvio que eu não ia falar. — Ela foi pega intimidando alguns dos meninos no pátio durante o recreio. E suspeitamos que ela esteja roubando borrachas. — Borrachas? — minha surpresa deu-me a capacidade de falar através da minha emoção. —Borrachas brancas. — Srta. Conway esclarece.

Oh, Jesus. — Você acha que Abby está roubando borrachas brancas? — tagarela, falante, intimidadora sim, tudo bem. Todas essas coisas se aplicavam a Abby recentemente. Mas roubar? Borrachas? Isso simplesmente não fazia sentido. Não que eu não achasse que ela não era capaz disso... Mas, sério? — Não temos prova de que é ela ainda. É apenas uma sensação que seu professor, Sr. Hoya, tem. Ele queria uma reunião de pais e professores com você, mas eu disse que falaria com você primeiro. Disse-lhe que você iria falar com Abby. — Eu vou. — assegurou. — Eu vou falar com ela. — E tentar chegar a tempo? Engoli a pílula amarga da necessidade de me humilhar na frente desta mulher que eu nem sequer gostava. Humildade nunca foi uma característica forte minha, mas eu sabia que estava errada aqui, o que tornava pior. — Sim, e nós vamos fazer um esforço maior para chegar aqui a tempo. Ela sorriu pacientemente para mim. — Eu te faço prometer chegar a tempo, mas depois que eu faço você se atrasar para pegar as crianças. Muito imprudente da minha parte. Eu não disse nada. A essa altura a inquietação de Lucy tinha ficado fora de controle e Jace tinha finalmente acordado e crescido sua curiosidade. Um Jace sonolento era fácil de tirar dos lugares. Um curioso Jace era tão aterrorizante como qualquer criança de dois anos de idade em um espaço com objetos quebráveis poderia ser. — Obrigada, Srta. Conway. — eu disse ficando de pé. — Se houver mais problemas, por favor, não hesite em chamar. — Eu tenho certeza que vamos falar novamente em breve. — ela respondeu calmamente.

Significava que ela esperava mais problemas, muito mais problemas. Eu me contive, enquanto fiz a minha fuga do seu escritório e do escritório da diretoria. Eu me contive ao arrastar Lucy ao meu lado e equilibrar Jace e minha bolsa no outro braço. Contive-me tempo suficiente para pegar Abby e Blake com seus professores e classes que estavam em grupos ao longo da calçada da escola. Eu me contive enquanto empurrava crianças e mochilas nos assentos do carro e afivelava e verificava os cintos das crianças mais velhas. Eu me contive enquanto acenava para outras mães que pegavam seus filhos e esperava na fila para sair do estacionamento. Enfim, me contive por aproximadamente mais cinco minutos enquanto lutava para manter a van na estrada e minha mente girava e girava e o coração parecia esmagado dentro do peito. Finalmente, eu tive que encostar. As lágrimas começaram a cair bagunçadas, baldes ofuscantes e eu sabia que era perigoso demais para continuar. Eu encontrei um estacionamento do McDonalds e parei em uma vaga vazia no canto do estacionamento. Eu joguei a alavanca de câmbio no estacionar e minha testa caiu sobre o volante. Eu podia ouvir as crianças me chamando na parte de trás, mas a minha dor tinha me consumido por agora. Eu era inútil. Eu era uma concha vazia. Eu era patética e indefesa e tão completamente perdida. Eu nem sabia para onde ir. O pensamento de conseguir levar os meus filhos para a escola na hora parecia impossível. Lidar com Abby me fez sentir ainda pior. Como eu poderia chegar até a minha menina, que tinha perdido o seu herói? O pai dela? Seu parceiro no crime? Eu sabia que precisava fazer um trabalho melhor com ela, mas eu não sabia como!

Parecia injusto eles esperarem tanto de mim. Eles não sabiam o quanto eu estava machucada? Eles não sabiam que me esgotava levantar de manhã e enfrentar o dia? A dor dentro de mim me afogava; ela me rasgava cada segundo do dia até que eu achava que me quebraria em um milhão de pedaços inúteis só com a pressão absoluta dela. Eu não podia fazer isso. Eu não podia. E eu não sabia o que fazer porque não havia mais ninguém para dividir esta carga impossível comigo. Eu estava sozinha. E eu nunca estive tão sozinha antes. Eu só não sabia o que fazer. Mãozinhas pousaram em meus braços e em volta do meu pescoço por trás. Senti as lágrimas quentes dos meus dois filhos mais velhos e terra em meus ombros e pescoço. Eu imediatamente soltei e virei no assento para pegá-los. Abby e Blake caíram em cima de mim, enredando-se uns aos outros e em mim. Nós soluçamos juntos, partilhando a angústia e a confusão do que nossas vidas tinham se tornado. Eu senti a dor mais agudamente enquanto eles me agarravam, a única pessoa com quem eles deveriam contar, era aquela que estava deixando-os para baixo em todos os sentidos. Ao mesmo tempo, eu senti a pressão sobre o meu coração se intensificar. Também senti o conforto que veio com o amor e compreensão incondicional deles. Eu absorvi seus abraços e lágrimas porque eram as únicas outras pessoas neste planeta que tinham qualquer tipo de ideia do que eu estava passando. Eram as únicas outras pessoas que sabiam o quanto nós tínhamos perdido quando o pai deles morreu.

Eles podiam ser a fonte de alguns dos meus problemas atuais, mas também eram a única razão que eu tinha para continuar. Eram minhas cores. Minha esperança. Minha razão para respirar. — Eu amo vocês. — eu disse a eles através de um sussurro quebrado. Eles gemeram e murmuraram de volta o mesmo sentimento. — Por que a escola te fez chorar, mãe? — Blake piscou para mim com os olhos verdes brilhantes. Eu sabia que ele tentava ser forte por mim. Eu sabia que ele tentava segurar as lágrimas. Mas ele tinha apenas oito anos. Vê-lo lutar para ser o homem da casa quase me quebrava em uma base diária. Mas Deus, eu amava muito esse garoto. Meu queixo tremeu quando forcei as palavras. — Eu tive uma reunião com a Srta. Conway. — ambas as crianças fizeram uma careta e eu ri, mesmo que mais lágrimas caíssem. — Nós temos que chegar na escola no horário a partir de agora. Ambos assentiram. — Ok, Mama. — Abby concordou. — Estou falando sério, garotos. Nós vamos estar em apuros se nos atrasarmos novamente. — Até você? — perguntou Abby. — Até eu. Especialmente eu. — Ok, vamos ajudá-la no período da manhã. — Blake disse sério. Eu não pude deixar de sentir algum orgulho na responsabilidade que ele estava disposto a assumir. Mas eu odiava ao mesmo tempo. Eu odiava que ele tivesse que crescer tão rápido. E eu odiava ainda mais que eu tinha que confiar nele tão fortemente. — Obrigada, pequenos. — abracei-os novamente e segurei-os contra mim. Eles cheiravam a suor de criança e escola. Eu inalei o aroma picante, desagradável e me senti abençoada por serem saudáveis e estarem aqui comigo. A vida era difícil agora, mas pelo menos tínhamos um ao outro.

Eu

me

afastei

e

deixei-os

caminharem

para

os

seus

lugares. Permaneci virada e estreitei os olhos mais claros na minha filha mais velha. — Abigail. — eu comecei. Eu assisti os ombros endurecerem ao som de seu nome completo. Ela se virou e afundou no lugar, os olhos arregalados e desconfiadamente inocentes. — Você está roubando borrachas? — Borrachas? — ela repetiu. — Sim. Borrachas brancas. Você está roubando-as? Ela bufou uma risada. — Por que eu iria roubar borrachas brancas? Olhei fixamente para ela e tentei ver através de suas palavras. Ela estava mentindo? Por que ela mentiria sobre algo assim? Por que ela roubaria as borrachas para começar? Deixei escapar um suspiro exasperado. — Eu não faço ideia. Mas se você está roubando-as, você precisa parar. Falo sério. — Mãe! — ela gemeu. — Eu não estou roubando nada! Eu prometo! — Mmm. — eu não podia dizer se eu acreditava nela ou não. — Talvez não, mas vamos falar sobre algumas outras coisas quando chegarmos em casa. Você está em apuros, menina. Eu vi seu rosto cair, mas desta vez eu pude ver a culpa escrita em todo o seu rosto bonito. Ela pode não ter roubado, mas sabia que havia outras coisas que ela andava fazendo. Afastei-me para a estrada principal e fomos para casa. Hoje tinha sido duro o suficiente, mas esta noite seria pior. Eu não sabia como disciplinaria a Abby. Ou jantar. Ou deitar. Tudo aquilo me parecia impossível. Mas eu teria que encontrar um jeito. As coisas aconteceriam, querendo eu ou não. Estando pronta para elas ou não.

Meu coração apertou de novo, mas desta vez eu lutei contra as lágrimas. Eu tinha que me segurar, pelo menos até que os colocasse para dormir. Então eu poderia me afogar em lágrimas se eu quisesse. Eu só precisava colocá-los para dormir primeiro.

Capítulo Cinco — Fique longe da rua! — olhei de novo para frente a tempo de evitar atropelar uma bola de tênis e cortá-la em pedacinhos. Eu dei a volta nela com o cortador de grama, me abaixei para pegar a bola e, em seguida, continuei a cortar em linhas pouco regulares que teriam feito Grady estremecer. Parei completamente para gritar sobre o barulho alto do pequeno motor. — Blake, fique de olho em Lucy e Jace! Ele levantou o polegar e continuou a jogar basquete. Fiquei ali em marcha lenta por tempo suficiente para me certificar que todos os meus filhos estivessem contabilizados e vivos, antes de voltar para a tarefa em mãos. Apenas mais um mês de cuidado com o gramado antes do inverno. Só que isso significava remover a neve e colocar o sal e... tinha mais alguma coisa que precisava fazer? Grady sempre cuidou da manutenção do quintal e do gramado. Ele adorava ficar do lado de fora e tinha muito orgulho da aparência da frente de nossa casa. Eu deixava tudo por conta dele. Eu nunca quis saber o que tudo isso implicava. E agora, eu me sentia completamente sem rumo. Essa era apenas mais uma tarefa na qual eu precisava de Grady, mais uma razão que devastava a família com a sua ausência. Durante os meses de verão, eu paguei o filho do vizinho para cortar para mim. Mas, egoistamente, ele tinha se matriculado em uma universidade fora do estado e, eventualmente, teve que começar seu ano de calouro. Parecia bobagem contratar alguém quando faltava apenas quatro ou cinco semanas antes que ficasse muito frio para a grama crescer.

Mas, com apenas um quarto do quintal aparado, eu estava começando a questionar a minha decisão. Pelo menos, finalmente, era sábado. Eu podia desfrutar dos meus filhos em casa sem me preocupar com olhares penetrantes dos professores, ou com o olhar de pena dos outros pais. Eu poderia reunir os meus filhos à minha volta e poderíamos hibernar em nossa casa aconchegante sem me preocupar com o mundo exterior até segunda-feira. — Blake, deixe a Abby jogar também! Abby, pare de chutar o Blake! — claro, existem imprevistos mínimos com todas as crianças em casa. Eu lancei a bola de tênis sobre o meu ombro, enxuguei a testa suada e voltei a trabalhar. Quanto mais cedo eu terminasse o jardim da frente, mais cedo eu poderia levar as crianças para os fundos, para longe da rua. Tinha sido uma semana longa. E eu não queria nada além de dormir até meio-dia, ficar de pijama por quarenta e oito horas seguidas e comer a todo o meu peso em chocolate. Infelizmente, as crianças não se importavam com o que eu queria. Exceto, talvez o chocolate. Aposto que concordariam com o chocolate. Então, essa manhã, eu me forcei a sair da cama, fiz um esforço para vestir as roupas de ginástica e deixar as crianças livres para um belo dia. O sol resplandeceu quente no céu, mas a brisa fria de outono impediu que ficasse insuportável. As crianças precisavam queimar um pouco a energia selvagem e enquanto corriam em torno da garagem e do quintal, gritando e rindo e até mesmo brigando, eu ficava feliz por ter feito este esforço, afinal de contas. Eu empurrei o cortador de grama para a direita, notando um pedaço alto na grama que eu desviei e depois fiz uma curva para ficar de frente para ele. Eu coloquei força demais por trás do cortador e acidentalmente o enviei-o à minha esquerda. Um par de tênis saltou do

caminho um pouco antes de eu transformá-los na próxima refeição do cortador de grama. Os tênis estavam ligados a pernas e eu deixei o cortador de lado para que pudesse gritar no topo dos meus pulmões. De onde ele veio? O cortador engasgou e morreu sem a barra pressionada para mantê-lo em movimento. — Desculpe, Liz! Eu gritei seu nome. — Ben Tyler acenou timidamente. Suas bochechas estavam vermelhas por causa da sua experiência de quase morte com meu cortador frenético. Eu não sabia se o rubor era por causa do esforço surpreendente de fugir para salvar sua vida, ou vergonha por chegar sorrateiramente. Mais uma vez. — Não, eu sinto muito. — eu disse a ele. — Eu não ouvi você chegar. — Isso é óbvio. — ele riu um som barítono profundo que forçou um sorriso em mim. Olhei por cima do ombro e contei meus filhos rapidamente antes de voltar para ele. Ele ficou parado me encarando. Em troca, olhei também. Eu não sabia o que dizer ou por que ele tinha vindo. Depois de mais alguns instantes, senti-me muito estranha para deixar o silêncio continuar. — Belo dia! — eu quis me estapear. Havia algo mais clichê do que quebrar o gelo com o tempo? — É. — ele concordou. Ele sorria daquele jeito arrogante que não conseguia impedir. Eu não gostava daquele sorriso. E por causa daquilo, era difícil gostar dele. Era muito arrogante, muito travesso. Eu tinha a sensação de que ele sabia um grande segredo sobre mim que até eu desconhecia. — Você está cortando a grama. Era uma afirmação, não uma pergunta, e tão óbvia que eu não consegui entender por que ele falou. — Eu estou. — admiti. Olhei para o meu progresso e me encolhi. Eu estava cortando, mas não muito bem. — Parece, er, bom. — Ben limpou a garganta.

Cerrei os olhos sobre ele. — Você não tem que mentir. Eu sou uma menina grande. Ele passou a mão pelo cabelo escuro e sorriu para mim. — Está terrível. Eu nunca vi alguém cortar assim antes. É a sua primeira vez? — Não! Não é a minha primeira vez. Eu cortei todo o outono. — Eu acho que você deve desistir. Contratar alguém. Você está desvalorizando minha propriedade e eu acabei de me mudar. Eu ri antes que pudesse impedir. Eu não conseguia acreditar na ousadia! Obviamente, eu sou nova nisso. Obviamente, meu marido acabou de morrer, talvez por isso ele devesse me dar um tempo. Meu interior agitou com uma mistura confusa de ressentimento e humor. Eu estava chocada demais para estar realmente brava com ele. — Eu contratei uma pessoa durante o verão. — eu me defendi. — Mas ele foi para a faculdade e me deixou na mão. Bastardo egoísta. Foi a vez de Ben parecer chocado. Rapidamente se transformou em uma gargalhada. — Que idiota insensível. — Obrigada! — olhei para as crianças. Blake tinha organizado equipes, meninos contra meninas. As meninas estavam vencendo porque ele tinha que ficar perseguindo o Jace. — Eles estão todos lá. — Ben me assegurou. Voltei minha atenção para ele. — Quatro, certo? — Sim. Quatro. — Eles parecem bons. Dei um passo para trás, surpresa com o elogio. — Obrigada. Eles são na maior parte do tempo. — Você deveria me deixar assumir. — O quê?

— O corte. — Ben riu novamente. — Você deveria me deixar assumir o corte. — Oh! — eu me mexi na frente dele. Normalmente, eu correria da estranheza desta conversa, mas havia uma leveza sobre Ben que me impedia de sentir insegurança. Eu gostava que ele não levasse nada a sério. Pela primeira vez em semanas, eu não queria banir todos os outros seres humanos de minha vida para sempre. — Não, tudo bem. Não me importo de fazer isso, mesmo não sendo muito boa. Ele se aproximou do cortador e segurou o cabo. — Eu não me importo também. E eu sou realmente bom no que faço. Vá aproveitar os seus filhos. — Ben, sério, é muita gentileza sua, mas eu posso lidar com isso. — fui até o cortador também e segurei o cabo em uma demonstração de autoridade e intenção. — Liz, eu sei que você pode. Nunca existiu dúvida. Agora, vá apreciar este belo dia com seus filhos lindos. — ele abaixou-se e como um profissional e ligou o motor. Precisei de vinte minutos apenas para ligar essa coisa estúpida mais cedo! Então ele colocou a mão por cima da minha, removendo-a do cabo. — Vá. — ele sorriu para mim. Eu tropecei um passo para trás e, em seguida, fiz o que ele pediu, ou melhor, ordenou. Fui para os meus filhos e Blake me passou a bola como se ele já soubesse que eu ia jogar. O cortador de grama rosnou no fundo, criando uma trilha sonora ruidosa para nosso jogo. Eu rebati uma jogada e ri com os meus filhos quando a bola voou por cima da tabela e rolou para o quintal do nosso outro vizinho, os Kents. Blake e Abby correram atrás dela, enquanto Jace se pendurou na minha perna e Lucy ignorava o que acontecia.

Eu respirei fundo e aproveitei o momento. Quando foi a última vez que eu tinha feito isso? Quando foi a última vez que eu deixei todo o meu estresse e a minha dor de lado, apenas para apreciar estar com os meus filhos? Eu

tinha

vergonha

de

admitir,

eu

não

conseguia

me

lembrar. Mesmo antes de Grady morrer, ele esteve doente. Eu fiquei tensa por tanto tempo quanto conseguia lembrar. Meus pulmões pareciam cobertos com ferrugem e desuso quando eu tentava deixar de lado a sensação incômoda de que eu deveria estar fazendo outra coisa, que eu deveria estar trabalhando de alguma forma. Levou alguns minutos de luta mental, antes que eu pudesse relaxar completamente com as crianças. Até eles pareciam um pouco confusos por eu parar o que estava fazendo para brincar com eles. Assim que a dor declinava, a culpa preenchia o espaço. Se não era uma coisa, era outra. Eu não conseguia encontrar a normalidade. Ou equilíbrio. Ou concentração. Eu era um navio à deriva no meio de uma tempestade perfeita. Eu balançava de um jeito, apenas para ser virada para outra direção. O jogo de basquete retomou e os risos das crianças e seus rostos sorridentes ajudaram a aliviar a culpa eventualmente. Eu não tinha sido boa nisso recentemente, mas não era tarde demais. Eu poderia começar a tentar fazer isso mais vezes. Eu era o único pai dessas crianças agora. Se eu não fizesse isso direito, elas nunca me perdoariam. Eu nunca me perdoaria. — Mãe, quem é esse cara cortando a grana do nosso quintal? — Blake apoiou a bola de basquete no quadril. Eu ri da maneira como ele observava Ben. Era difícil de acreditar que o meu Blake era o homem da

casa agora. Aos oito anos de idade, ele não era um adulto, mas levava o seu papel muito a sério. Baguncei seu cabelo e puxei-o para mim. Homem da casa ou não, ele ainda era jovem o suficiente para me abraçar e não me afastar. — Este é o nosso novo vizinho. Seu nome é Ben. — Ele é o cara que tem a piscina? Olhei para os olhos verdes do meu filho e tentei não chorar. Ele parecia tanto com o pai, até o punhado de sardas sobre a ponta do nariz. — Ele é o cara que tem a piscina. Ele prometeu fechar o portão a partir de agora, mas você deve me ajudar a manter um olho nas crianças, tá? Blake olhou para os irmãos que tinham mudado para outras atividades ao ar livre. Lucy estava empurrando Jace no carrinho de bebê e Abby tinha pegado seu patinete. — Capacete, Abs! Ela revirou os olhos, mas não discutiu. Isso era um avanço. — Sim, mãe. — Blake concordou. — Mas Abby provavelmente vai descobrir uma maneira de escalar o muro. Eu tentei não sorrir; ele era esperto demais para seu próprio bem. — Apenas me diga se ela fizer, ok? — Ok. — ele abaixou o braço e começou a driblar a bola enquanto via Ben fazer progressos em todo o nosso quintal. Eu pude ver a desconfiança na sua expressão e a tensão nos ombros. Blake nunca gostou de estranhos; ele sempre foi o tímido dos meus filhos. Mas isso era diferente, eu podia sentir uma ligeira animosidade que sentia por Ben Tyler. Necessariamente, não o culpo porque tive muitas vezes esse mesmo tipo de sentimento, mas eu não gostei de ver no Blake. — Ah, e Blake? — ele olhou para mim, os ombros ainda rígidos. — Ele disse que poderíamos usar a piscina a qualquer momento.

Ele relaxou imediatamente e seu rosto se iluminou com um novo brilho, uma luz, como se ele estivesse brilhando de dentro para fora. Eu adorava quando meus filhos sorriam assim. Acontecia tão pouco esses dias. — Sério? — Sério. — Hoje? — Provavelmente, não hoje. Eu não posso levar todos para nadar sozinha. Nós vamos ter que esperar até que a tia Emma possa vir com a gente. Uma parte dessa linda luz diminuiu em Blake, mas ele continuou calmo e relaxado. — Ok. Eu saí do caminho para que ele pudesse voltar para as cestas de basquete. Abby ainda lutava para colocar o capacete, então eu dei a volta no carrinho de bebê com Jace e fui ajudá-la. Passamos o resto da manhã na garagem, andando em várias bicicletas e patinetes, brincando e rindo. Era a manhã mais relaxante que tínhamos em um longo tempo. E ao mesmo tempo o som do cortador nos fez companhia. Eventualmente, Ben mudou-se para o seu quintal. Ele desapareceu de vista, mas podia ouvi-lo o tempo todo. O som era surpreendentemente reconfortante. Depois de estar sozinha por seis meses, eu estava bastante confiante que nunca conseguiria. Havia apenas muitas coisas para fazer, muitas responsabilidades para driblar. Ben entrou em cena quando eu precisava desesperadamente de ajuda, o que significou mais para mim do que eu poderia compartilhar com ele. Perguntava-me de onde toda essa gratidão estava vindo. Eu nunca me senti assim quando o universitário cortava a grama do nosso quintal...

Mas, ele tinha feito isso por dinheiro. Ben fez isso porque ele realmente queria nos ajudar. Havia uma diferença. — Com fome! — Jace puxou a minha calça jeans e sorriu para mim com o rosto manchado de sujeira. Abaixei-me para esfregar suas bochechas rechonchudas. — Você está com fome? — ele levantou os braços e balançou os pulsos. Pendurou em meus braços e segurei com força contra o peito. — Você começou a comer os canteiros de flores? Você está imundo. — Ele caiu do carrinho de bebê. — Lucy contou com naturalidade. — Ele caiu? Ou ele foi empurrado para fora? Ela tentou não sorrir. — Foi um acidente! — Claro que foi. — mas desde que Jace não estava chorando, eu não briguei com ela. Crianças de quatro anos provavelmente não deviam ser colocadas no comando de carrinhos de bebê de qualquer maneira. — Eu estou com fome também! — Lucy puxou meu braço. – Morrendo de fome na verdade! — Oh, gente. Nós não podemos deixar isso assim. Guardem seus brinquedos e vamos entrar e comer um pouco de manteiga de amendoim e geleia! Lucy saiu correndo e gritando entusiasmada com a manteiga de amendoim, enquanto eu chamava as outras crianças e ameaçava-as, até que finalmente começaram a entrar. Eu não tinha notado o cortador desligado até que Ben virou no canto de casa, empurrando a máquina agora em silêncio. Ele não parecia suado nem cansado, mas eu ainda corri para a garagem para pegar uma garrafa de água para ele. Era o mínimo que eu podia fazer. Quando me virei, ele estava de pé ali e eu quase gritei de novo.

— Você tem que parar com isso! Você é um ninja! — Jace gritou no meu ouvido e puxou meu rabo de cavalo. Isso pode ter sido a razão pela qual eu não ouvi Ben se aproximando. Ben sorriu para mim e olhou para a garrafa de água, — Isso é para mim? Eu entreguei para ele. — Eu achei que você poderia estar com sede. — Obrigado. — Não, obrigada. Sério. Você me salvou de uma dor de cabeça. Ele me olhou atentamente enquanto tirou a tampa e tomou um grande gole. Eu desviei o olhar, fingindo supervisionar as crianças enquanto elas traziam seus brinquedos para a garagem. Embora eu pudesse senti-lo me observando e eu quisesse me contorcer. Eu não sei por que me incomodou, mas eu fiquei completamente nervosa. Talvez fosse porque ele era completamente másculo. Ele parecia irradiar

virilidade. Suas

pernas

bronzeadas

tinham



músculos

tonificados por baixo do short e os antebraços eram muito torneados e bronzeados. Seu cabelo escuro era jogado para trás de seu rosto e davalhe uma aparência ousada e totalmente desalinhada. Suas bochechas tinham escurecido por causa do sol e do esforço e seus lábios carnudos estavam agora molhados da água. Ele era injustamente lindo. E isso me incomodou. Eu preferiria que o nosso novo vizinho fosse um velho desagradável que gritasse conosco para nos manter fora do seu gramado. Ben Tyler era o tipo de beleza que as pessoas admiravam. E eu não queria ser uma dessas pessoas. Eu não achava que estava em risco de enviar os sinais errados, com o marido falecido e quatro filhos. Mas eu também não queria agir como uma adolescente empolgada ao seu redor.

Geralmente não era intimidada por causa de boa aparência. Não sabia por que tinha que começar justo com ele. — Existe alguma coisa que eu possa fazer? — ele perguntou depois de um longo momento de silêncio constrangedor. Meu foco voltou para ele. — O que você quer dizer? — Ao redor da casa? — Ao redor da casa? — eu repeti em silêncio. — Não, obrigada. Nós estamos, é... aparar a grama foi ótimo, obrigada. Mas eu não posso pedir mais de você. Sobrancelhas escuras foram para baixo sobre os olhos também escuros e os seus lábios normalmente brincalhões se juntaram em uma carranca. — Você não pediu. Eu ofereci. — Não, eu sei. Eu apenas... Nós vamos comer um lanche. Então, obrigada de qualquer maneira. Sério, obrigada. Você me salvou de um dia agitado. — Você já disse isso. — sua boca voltou para o jeito arrogante que eu não suportava. — Bem, falo sério. — eu surtei e então odiei meu tom. — Quero dizer, obrigada, Ben. Obrigada. Ele riu do meu comportamento perturbado. — Não costuma aceitar ajuda? Não de perfeitos estranhos que insistem em se intrometer na minha vida quando deveriam simplesmente ficar de fora. — Uma das minhas muitas falhas. — eu mostrei-lhe um sorriso brilhante e levei meus filhos para a porta. — Bem, vejo você mais tarde. — Tenha um bom resto de dia, Liz. — ele gritou. — E não se esqueça a minha oferta para a p...

— Shh! — virei e levantei a mão pedindo-o para parar. — Eu me lembro, só... — fiz um gesto para as crianças pequenas reunidas em torno de mim. Blake tinha sido maduro o suficiente para deixar a promessa da piscina de lado, o resto das crianças não esqueceriam. Eu não ouviria sobre outra coisa por dias. — Eu estou esperando até que minha irmã tenha um dia de folga. Depois, você pode contar com a gente batendo em sua porta. Seus olhos praticamente brilharam com diversão. — Emma, certo? — Certo. Ele colocou dois dedos na testa e deu uma pequena saudação. — Tenha um bom resto do dia, vizinha. — Você também... Vizinho. Eu não esperei-o sair; virei e praticamente empurrei meus filhos pela porta da cozinha que era ligada à garagem. Larguei Jace, tomando cuidado para colocá-lo de pé e, em seguida, bati a porta atrás de mim. Eu caí para trás contra ela e deixei escapar um longo suspiro. Ben Tyler era melhor em pequenas doses. Eu odiava a maneira como ele conseguia me perturbar tão completamente sem parecer tentar, só falando comigo. E tudo sobre as nossas interações era tão dolorosamente estranho. Eu duvidava que ele fosse repetir a oferta de cortar a grama depois deste desastre. O que estava tudo bem para mim. Eu não precisava que ele substituísse o Grady. Eu nem sequer precisava que ele fosse um amigo. Eu só precisava não agir de modo estranho ao redor dele uma vez. E encontrá-lo o mínimo possível... Deus, eu queria que Grady estivesse aqui para lidar com ele. Grady era tão bom com as pessoas; ele teria feito Ben se sentir bem-vindo facilmente. E Ben parecia o tipo de cara que Grady teria gostado de ficar por perto.

Apenas mais um motivo para sentir falta do meu marido. A tristeza e desespero que vieram com esse pensamento despejaram em cima de mim como se eu estivesse de pé debaixo de uma cascata. Meus joelhos se dobraram e eu quase entrei em colapso. — Mãe, quando é que você vai fazer o lanche? — Abby gritou do outro lado da cozinha. Forcei meus olhos a abrirem e empurrei as lágrimas. Eu não tinha tempo para desmoronar agora. Aqueles sanduíches não seriam feitos sozinhos. — Agora mesmo. Vou começar a fazer agora.

Capítulo Seis No dia seguinte, domingo, eu tinha abandonado os planos de tomar um superbanho e me vestir, eu decidi concentrar-me no interior da casa. Eu coloquei shorts, uma camiseta velha e prendi meu cabelo em um rabo de cavalo. As crianças e eu tínhamos sintonizado a estação de rádio nos clássicos após o café da manhã e atacamos a louça. Bem, eu ataquei a louça; eles dançaram nas minhas pernas e como sempre corriam selvagemente. Exceto Blake, que pegou um tablet e sentou calmamente para jogar. Ele observava o caos na cozinha com terror suave. Quando a campainha tocou, todos nós ficamos atordoados. Olhei para as crianças como se elas pudessem saber quem apareceria em um domingo. Elas estavam tão ignorantes quanto eu. Eu sequei minhas mãos num pano de prato no caminho para a porta e orei que não fosse um vendedor. Eu não tinha paciência para vendedores no momento. Através dos painéis de vidro nublados, eu vi que era, na verdade, pior do que um vendedor. Era a minha sogra. E meu cunhado. Ótimo. Tirei a longa franja dos meus olhos e abri a porta para receber os olhos cinzentos de aço de Katherine Carlson. Gritos de Vovó! podiam ser ouvidos quando o rumor de que a avó estava ali passou pela cozinha e antes que eu pudesse cumprimentar a mulher, meus filhos tinham se lançado sobre ela. Ela se abaixou para pegá-los todos em um abraço gigante. Eles enterraram seus rostinhos em seu pescoço e ela fechou os olhos, saboreando o momento.

Era uma imagem estranha para mim. Desde quando a conheci, Katherine tinha sido uma figura intimidante na minha vida. Ela raramente era algo, além de séria e amava os dois filhos ferozmente, tão ferozmente que às vezes parecia que eu tinha decepcionado suas expectativas como cônjuge de seu filho mais velho. Até Grady ficar doente, eu nunca a tinha visto mostrar qualquer tipo de emoção, boa ou má. Ela era estoica. Exceto com as crianças. Com eles, ela transformava-se nesta mulher muito doce que usava o afeto

na

manga. Era

assim

com

Grady

também. Ela

o

amava

profundamente. Sua morte havia a destruído tão profundamente quanto a mim. Ela já havia enterrado seu marido. O pai de Grady faleceu enquanto Grady estava no colégio, vítima de um bêbado dirigindo embriagado. E agora, seu filho mais velho. Esta mulher era um pilar de força e controle, mas eu não consegui ignorar sua atitude gelada tempo suficiente para ter um relacionamento real com ela. No início, eu pensei que a morte de Grady nos deixaria mais próximas. Nós o amávamos mais do que tudo no mundo. Certamente, poderíamos nos unir na nossa perda mútua. Mas ela se afastou ainda mais. E assim nós nos tolerávamos mutuamente para o bem das crianças, mas era só isso. Se Grady e eu não tivéssemos tido filhos, eu tinha certeza que

Katherine

e

eu

teríamos

nos

separado

após

o

funeral

permanentemente. A visão dela esta manhã só me estressou. Por que ela não tinha, pelo menos, ligado primeiro para nos informar que planejava passar? — Oi, Katherine. — eu sorri para ela. — Eu queria que você tivesse ligado primeiro. Minha casa está uma bagunça agora.

Seu olhar indiferente flutuava sobre minha sala de estar desgrenhada e a escada com montes de coisas empilhadas e que precisavam ser levadas para o andar superior. — Não se preocupe com isso. Nós só queríamos parar e ver as crianças. — ela deu um passo atrás e se moveu para dentro da casa. — Oi, Trevor. — eu cumprimentei o irmão mais novo de Grady que se parecia claramente com o lado da família da mãe. Seu cabelo castanho brilhava e seus olhos eram de um azul sombrio. Grady era a cara de seu falecido pai, do que eu percebi pelas fotos. Trevor não tinha herdado o cabelo vermelho ou sardas. Mas seu rosto ainda me fazia lembrar de Grady. Eles faziam expressões similares e ambos tinham uma atração para eles, uma aura de algo real e genuíno. As pessoas sempre eram atraídas para Grady. Trevor tinha o mesmo carisma. Só que ele era imperdoavelmente menos maduro do que Grady. Ele tinha vinte e nove agora, sem uma namorada séria ou crianças. Isso, aparentemente, colocou-o há anos-luz de onde Grady e eu quando tínhamos a mesma idade. — Ei, Lizzy. — ele bateu de leve no meu rosto quando passou e eu tentei não quebrar. Grady me chamava de Lizzy e Trevor pegou o apelido dele. Quase me matava ouvir o apelido carinhoso de alguém tão parecido com Grady, mas eu não tinha força para corrigi-lo. Fechei a porta da frente e encostei-me nela. Katherine e Trevor seguiram as crianças para a cozinha, mas eu não conseguia encontrar a motivação. Desde que essas pessoas apareceram três minutos atrás, minhas

emoções

não

pararam

de

ganhar

velocidade. Sentia-me

selvagem. Fora de controle. Sentia os fios frágeis que seguravam minha sanidade puxar e rasgar. Tinha havido progresso na semana passada. Eu tinha pensado que talvez estivesse finalmente me erguendo. Mas apenas alguns minutos com essas pessoas acabaram com cada pedaço de progresso.

— Mamãe, estou com sede! — Lucy chamou da cozinha. Fechei os olhos e deixei uma lágrima solitária deslizar. Limpando-a, eu inclinei meus ombros e contive o resto da minha emoção de volta. Eles não ficariam para sempre. Eu poderia sobreviver a isso. Eu me juntei com o resto da família na cozinha e passei a arrumar bebidas para todos. Katherine se sentou à pequena mesa de arte com as crianças que eu mantinha perto das janelas com painéis. Trevor deslizou sobre um banco e olhou para as mãos. Seu cabelo estava mais arrumado do que o habitual e ele usava algo além de uma camiseta. O look polo era novo nele. Mas assim eram as rugas ao redor dos olhos e as bolsas debaixo deles. Sua dor me atingiu com força, como um soco no estômago. Eu amava Trevor como a um irmão, e ele tinha perdido alguém que amava também. Ao contrário de sua mãe, eu poderia preencher a lacuna entre nós com a dor compartilhada. Grady era a minha vida, mas ele também era o sol que brilhava na vida de seu irmão. Era Grady que tirava Trevor dos problemas e o apoiava sempre que alguém duvidava do valor dele. Grady tinha sido o herói constante de Trevor. Ele acreditava no irmão mais novo como ninguém mais. Ele acreditava tanto em Trevor, que no testamento, deixou a sua empresa de construção para ele. Apesar das minhas preocupações. Apesar das minhas objeções. Eu recebia um cheque de pagamento do Trevor como se eu fosse sócia, mas Carlson Construção agora era responsabilidade exclusiva e permanente de Trevor. — Como vão os negócios? — perguntei, enquanto entregava-lhe um copo de chá gelado.

Ele o pegou sem olhar para mim. — Tudo bem. — ele murmurou. — Está bem. Um nervosismo me atravessou. Não só por que eu dependia dela para alimentar meus filhos, mas também por que esta empresa era o bebê de Grady. Se Trevor permitisse que este negócio falhasse, eu nunca iria perdoá-lo. Eu abri a boca para lhe perguntar exatamente o que “bem” significava, mas ele falou antes que eu pudesse dizer as palavras. — Eu não sei como ele fazia isso, Lizzy. — ele finalmente ergueu os olhos azuis escuros para encontrar os meus. Eu respirei fundo e me forcei a não desviar o olhar. O olhar perdido em sua expressão machucava meu coração. Meu queixo tremia e eu comecei a chorar antes que pudesse me convencer do contrário. — Não sabe como ele fazia o quê, Trev? As lágrimas brilharam em seus olhos, fazendo-os iluminar. — Eu não sei como ele equilibrava tudo. Eu não sei como ele sabia qual era a decisão certa a tomar o tempo todo e quais os projetos aceitar ou não. É muito. Trevor trabalhava para Grady desde que se formou no colegial e Grady sempre o tratou como seu segundo em comando. Quando Grady ficou doente e não pôde gerir o dia-a-dia, ou mesmo quando ele ficou muito doente e deixou de ser uma parte da empresa completamente, Trevor intervinha e gerenciava tudo. Quando Grady estava vivo, Trevor não tinha tido nenhum problema em lidar com a responsabilidade. Mas, nos últimos meses, eu tinha visto um espiral decrescente de Trevor e eu sabia que a empresa sofria por causa disso. Eu esperava que fosse apenas a tristeza inibindo-o de ser um homem de negócios inteligente, mas também podia ser sua falta de capacidade de liderança e sua visão pobre.

Grady tinha um talento natural para a execução de um negócio bem-sucedido. Até agora, eu estava plenamente convencida de que Trevor não tinha herdado nada disso. Havia uma possibilidade muito real de que Trevor levasse o legado de meu marido à falência. Fui até o balcão e enxuguei as lágrimas com as costas da mão. Debrucei-me nos cotovelos para que pudesse olhá-lo nos olhos e ele pudesse ver o quão séria eu estava. — Sim, você sabe, Trev. Você sabe exatamente como ele fez isso e o que você precisa fazer também. Você trabalhou ao seu lado durante uma década. — Lizzy, é... — Trevor, me escute. Talvez a verdade é que você não saiba o que você deve fazer. Poderia ser isso? Ele quebrou o meu olhar e passou as mãos sobre o rosto. — Sim, talvez. — Mas você sabe o que Grady faria. Basta fazer isso. Até você descobrir sozinho, basta fazer o que Grady faria. Ele continuou a esfregar as costas da mão sobre a boca, mas um pouco da desolação em sua expressão sombria se esvaiu. — Ok, sim. Eu posso fazer isso. Talvez possa fazer isso. Eu levantei e tentei relaxar. O pânico, misturado com frustração e altas doses de sofrimento, me preencheu. Eu queria que o negócio do meu marido tivesse sucesso. Eu precisava disso. Eu precisava de algo de Grady para viver, mesmo que não fosse ele. Mas eu estava impotente. O negócio era de Trevor e eu faria um trabalho ainda pior do que ele. Não era sequer uma opção considerar administrar o negócio. Grady tinha me deixado com as mãos amarradas nas costas. Eu não podia fazer nada além de assistir à queda de Trevor. Eu não podia nem

dar-lhe conselhos que valessem a pena, porque eu não sabia nada sobre construção! Se pelo menos Grady estivesse aqui. Ele poderia arrumar essa bagunça. Não, isso não é verdade. Ele nunca teria chegado a este ponto. Ele não teria necessidade de arrumar qualquer coisa. — Vai ficar tudo bem, Liz. Eu vou dar um jeito. — Grady deixou você no comando, porque ele acreditava em você, Trevor. Claro, que você vai. — a voz de Katherine atravessou a cozinha como uma faca. Suas palavras pareciam querer animar o filho, mas tiveram o efeito oposto em mim. — Posso pegar algo para beber, Katherine? — forcei a mudança de assunto. Eu não queria falar sobre a falência da empresa, não mais. Eu queria fingir que não era um problema, ou eu tinha um pressentimento de que conseguiria aproveitar a visita agradável dos parentes do meu marido. — Não, obrigada. — ela levantou-se da mesa das crianças e caminhou até a ilha. — As crianças parecem bem, Liz. Saudáveis. Ela fez parecer que havia uma possibilidade de que eles pudessem não parecer bem ou saudáveis. — Obrigada. — Tem o... como eles estão... eles ainda estão se ajustando? Dei um passo para trás, surpresa com a pergunta. Era simplesmente tão... tão desnecessária. Olhei em volta para as crianças para ver se elas entenderam o que ela queria dizer. Pela maneira que Blake recusou-se a olhar para mim e suas bochechas aqueceram para um vermelho rosado, eu sabia que ele tinha entendido o significado. Eu engoli o ressentimento e frustração e consegui dar uma resposta. — Eles estão indo bem, Katherine. Obrigada por perguntar.

— Eu sei o quão difícil é para eles, Liz. Eu tinha dois jovens quando Thomas faleceu. Eles nem sempre sabem como lidar com a dor quando são tão jovens. Eles podem atacar ou comportar-se mal enquanto tentam se entender com o seu mundo em mudança. Meus pensamentos imediatamente piscaram para Abby e seu comportamento recente. Eu sabia que era por isso que ela estava se comportando mal e agia diferente, mas eu não tinha vontade de compartilhar isso com Katherine. Era mais uma coisa que deveria ter conseguido nos unir mais, mas não conseguia ir além das nossas diferenças de personalidade. Trevor me salvou de tentar formular uma resposta. — Ah, mãe, não éramos tão ruins! Ela lhe deu um sorriso indulgente. — Você, Trevor William, foi o pior. E sua sobrinha está ficando exatamente como você. Estou preocupada pela sua mãe. — ela colocou a mão na cabeça de Abby carinhosamente e cada um de seus traços suavizaram. — Quem, eu? — perguntou Abby, com um sorriso malicioso. — Sim você. Seu tio Trevor é só problema. Eu ficaria longe dele se fosse você. — De jeito nenhum! — Abby gritou e, em seguida, atacou o tio. As crianças pequenas seguiram o exemplo e logo Trevor estava com todas as quatro crianças penduradas em seus braços e pernas. Ele fez sons de monstros e os arrastou para a sala de estar onde poderiam lutar. Havia muito sobre Trevor que me frustrava, mas eu não podia negar que ele era um bom tio. As crianças o amavam. E ele conseguia gastar parte da energia deles. — Ele sente tanto a falta de Grady. — Katherine disse suavemente depois que eles desapareceram da nossa vista.

Eu mantive meus olhos focados na porta quando eu disse: — Eu também. A mão fria pousou no meu braço nu. — Vai ficar mais fácil. Tentei dar-lhe um sorriso confiante, mas vacilei. A verdade era que eu não queria que ficasse melhor. Eu não queria parar de sentir a falta de Grady. Eu não queria que essa dor recuasse, porque isso significaria que eu tinha superado tudo. Superado ele. E eu nunca quis isso. Ele era o grande amor da minha vida e eu estava apavorada de esquecer um pequeno detalhe sobre ele. Mesmo agora o toque de suas mãos ásperas e o doce aroma de sua pele eram apenas memórias sensoriais. Eu não poderia capturar essas coisas intangíveis em fotos ou em vídeo. Isso me aterrorizava. Percebendo minha luta para não perdê-lo, Katherine baixou a voz. — Será, Liz. Você vai aprender a respirar novamente. Você vai aprender a viver de novo. As lágrimas começaram a cair, mas ela não ofereceu um abraço ou mais palavras encorajadoras. Ela tinha dito o suficiente. E eu ainda estava tentando decidir se ela tinha ajudado ou me machucado mais. Limpei-as de novo, grata que eu não tivesse me incomodado com a maquiagem esta manhã. — Eu gostaria de levar as crianças para uma festa do pijama na próxima semana, tudo bem para você? Eu estava pensando em pegar Jace e Lucy na sua casa antes do horário de saída da escola e então passaríamos e pegaríamos as crianças mais velhas antes de irmos para a minha casa. Trevor vai ficar comigo para ajudar a gerenciá-los. — Eles adorariam, Katherine.

Ela sorriu para mim. — Bom. Você pode ter uma pequena pausa e eu consigo estragá-los mimando-os. Eu encontrei-me sorrindo também. Esse foi o momento mais agradável entre nós que eu conseguia me lembrar. Os sons de gritos de crianças e rugidos enchiam a casa. — Você gostaria de ajuda com o almoço? Escutei as crianças durante mais um momento e pensei nas palavras acusadoras de Ben. Talvez ele estivesse certo. Talvez eu tenha dificuldade em aceitar ajuda. — Eu adoraria. Obrigada.

Capítulo Sete Quando chegou a quarta-feira, qualquer sensação boa do fim de semana estava quebrada em pedaços. Todas as manhãs era uma batalha colocar as crianças para fora da porta e entrar no carro antes do início das aulas. Ficamos sem leite no meio do café da manhã da segunda e tudo foi por água abaixo depois disso. Esqueci o primeiro treino de futebol de Blake segunda à noite e ele chegou da escola na terça-feira completamente devastado, porque foi o único dos amigos que faltou. Eu não me dava bem com a Abby há dias. Ela estava incontrolável, desobediente e, simplesmente, difícil. Jace, bem, Jace tinha dois anos. Assim, ele era sempre um desafio. E Lucy tinha tirado todas as coisas verdes do quarto e arrastado para o porão mais cedo esta noite. Seu comportamento era o que mais machucava. Percebi que acabar com o verde foi minha culpa. Eu não tinha a intenção de machucar a sua pequena vida tão drasticamente. Eu estava irritada e chateada e eu tinha incluído a minha filha de quatro em algo que eu deveria protegê-la. Mas o meu parceiro tinha ido embora. O homem para quem eu deveria correr quando precisasse de conselho, encorajamento e apoio. O homem que devia me escutar quando eu precisasse falar, quando eu só precisava tirar as palavras do meu peito. O homem que devia me puxar para o seu peito e prometer que tudo ficaria bem. Que eu ficaria bem. Ele se foi. Ele tinha me deixado. E eu não sabia o que fazer agora.

Tomava más decisões. Gritava com os meus filhos mais do que devia. Eu esquecia tudo. E não conseguia ajudar esta família a voltar para o centro. Antes de dormir, deixei as crianças com um filme na minha cama e levei Lucy para o seu quarto, para que pudéssemos conversar. Sentei-a na cama dela com tudo o que ela tinha levado até o porão no chão na nossa frente e expliquei por que a cor verde me perturbava tanto agora. Falei para ela que me fazia lembrar do seu pai, e seus lindos olhos verdes. Disse o quanto amava seus olhos e o quanto eu o amava. Falei que quando via essa cor, não podia deixar de pensar nele e quando eu pensava nele, eu sentia falta dele. Eu disse a ela o quanto era difícil para mim sentir falta dele e que eu desejava que ele não tivesse nos deixado. Disse a ela que eu não odiava a cor verde, afinal, mas que adorava. Falei que era a minha cor favorita. Lembrei-lhe que os olhos dela também eram verdes, assim como os do seu pai e que eu amava olhar para eles também. Eu prometi para ela que o verde não me deixaria mais triste, porque me ajudaria a lembrar o quanto eu amava o papai e o quanto ele amava sua família, o quanto ele a amava. Nós nos abraçamos por um longo tempo e ela me disse o quanto sentia falta dele também. Passamos tempo juntas colocando cada item de volta no lugar e arrumando seu quarto. Ela precisava de um tempo sozinha com a mamãe e eu precisava consertar as coisas com ela. Até o momento que coloquei as crianças na cama e beijei-os, Lucy se sentia melhor, mas eu nunca senti tanta falta do Grady. A minha dor machucava. Eu a sentia nos ossos. Nem conseguia pensar por causa do peso dela. Tudo me lembrava ele. Tudo. A casa. A mobília. Meu quarto. A cama. Os meus filhos. Minha própria pele. Eu não podia escapar desta dor. E mesmo que eu não quisesse, não realmente... Eu precisava de uma pausa. Eu precisava de apenas um pequeno alívio dessa pressão sem fim.

Então, esperei as crianças dormirem, peguei o monitor do bebê e fui me certificar que a porta da frente da casa estava trancada. Saí pela porta do pátio dos fundos e respirei na noite quente. Grady tinha construído uma braseira no quintal e colocado algumas cadeiras em torno dela. Ele e eu nunca passamos muito tempo sozinhos aqui atrás, foi por isso que escolhi este lugar esta noite. Eu precisava escapar da sua memória por um tempo e este foi o único lugar que pude pensar, sem abandonar as crianças completamente. Com quatro filhos sempre estávamos muito exaustos para vir aqui, quando finalmente caíam no sono, após o caos de colocá-los na cama. Nós passávamos as noites aninhados no sofá assistindo nossos seriados favoritos. Ou, se ele tivesse trabalho a fazer, eu leria ao lado dele enquanto ele digitava no laptop. Nós sempre queríamos vir aqui, mas nunca dava certo. Relaxei na cadeira e olhei para o quintal escuro. Um holofote acendeu quando cheguei aqui, mas não oferecia luz além do limite da nossa propriedade. Nenhuma casa ficava atrás da nossa para fornecer qualquer luz. Além do nosso muro tinha uma pequena reserva natural com algumas árvores e o menor dos riachos. A terra era selvagem por alguns quilômetros, evitando que construtores adquirissem o terreno e o transformassem em algo habitável. Eu tinha adorado isso neste bairro quando decidimos construir aqui, mas agora parecia solitário. Eu queria atividade para observar e encher meus pensamentos. Eu queria espionar os meus vizinhos e ocupar a cabeça com suposições sobre a vida deles e esquecer da minha. As luzes de paisagismo do quintal de Ben acenderam e ouvi sua porta de vidro deslizante abrir antes da sua figura alta aparecer na paisagem. — Liz! — a voz de Ben soou alta durante a noite tranquila e os colocou os meus pensamentos em espiral.

— Oi, Ben. — eu xinguei o holofote por destruir qualquer esperança de invisibilidade. Provavelmente, ele queria dar um mergulho, mas agora eu me sentia estranha sobre isso. Meu quintal tinha uma inclinação significativa. A parte mais próxima da casa era maior do que a dele e isso me dava uma excelente vista do seu quintal, mesmo que houvesse uma cerca. — Eu não queria assustá-lo de novo. — ele sorriu para mim. — Achei melhor dar-lhe algum aviso. — Obrigada. — eu tentei rir. Saiu sem graça. — Quer companhia? Eu poderia dizer honestamente que essa era a última coisa que eu esperava

que

ele

dissesse. Mas

como declinar

educadamente? Eu não queria companhia. Eu sequer sabia por que ele ofereceu. — Eu tenho vinho! Bem, isso mudava as coisas. — Tudo bem. — eu aceitei. — Traga o vinho! Ele desapareceu dentro da casa e eu tive dois minutos para me arrepender severamente da minha decisão. Eu não queria passar minha noite pacífica dividindo vinho ao lado do vizinho estranho! Eu nem queria passar a noite comigo. Eu tinha vindo aqui para escapar. E agora isso... Não parecia com escapar. Parecia uma punição para a minha relutância em ser legal com o cara. No

entanto...

eu

estava

desejando

vinho. Desesperadamente. Droga, por que eu estava tão deslumbrada?

um

copo

de

Eu ouvi o portão abrir e o barulho dos seus pés enquanto ele fazia o caminho para cá. Ele fez uma pausa ao me alcançar, pairando alto e escuro, esperando que eu o convidasse. Olhei para cima, para o seu rosto sorridente, e senti-me relaxar um pouco. Eu não entendia a minha reação. Normalmente, ele me deixava tão desconfortável que minha grosseria era imperdoável. Mas esta noite, ele parecia um alívio. Parecia como... uma lufada de ar fresco. Talvez eu tivesse mais medo de passar tempo com os meus pensamentos, do que com o homem inofensivo que morava ao lado. Ele estendeu a taça. O holofote brilhou sobre a superfície brilhante. Eu girava a taça nos dedos, enquanto Ben pegava um sacarolhas do bolso e começava a abrir a garrafa. O glu-glu-glu de vinho derramando na minha taça era o único som que quebrava o nosso silêncio. Eventualmente, ele puxou a garrafa de volta, depois de uma dose muito generosa, encheu a própria taça e sentou graciosamente ao meu lado. Ficou com as longas pernas estendidas na frente dele e envolveu os braços sobre a cadeira, como se tivesse se sentado aqui centenas de vezes antes. Olhei duas vezes para ele antes de me permitir entender a sua presença. Ele era o garoto legal da escola, o garoto legal onde quer que fosse. Tinha a capacidade natural de se sentir em casa onde quer que estivesse. Eu podia ver isso nele. E agora o sorriso arrogante fazia sentido. — Obrigada pelo vinho. — eu quebrei, finalmente, o silêncio que ele não parecia ter pressa para terminar. Ele olhou para mim e sorriu. — Pareceu que alguma companhia seria útil para você. — Sim, eu acho. Precisava principalmente do vinho. — eu sorri de volta para ele e tomei um gole de um tinto muito bom. Eu não sabia qual

era e estava escuro demais para ler o rótulo a esta distância, mas Ben tinha um gosto ótimo para bebida. — Os armários estão vazios? Eu balancei a cabeça e ri levemente. — Você já levou quatro filhos em uma loja de bebidas? — Eu não posso dizer que tenha. Só posso imaginar o estresse para todas as partes envolvidas. — Exatamente. Felizmente o meu novo vizinho é muito generoso. — eu tomei outro gole e recostei na cadeira confortável. — Felizmente. Ficamos em silêncio confortável por mais alguns minutos antes de eu não aguentar mais. Eu não era muito boa em sentar e contemplar, especialmente quando havia outra pessoa por perto. Tinha necessidade de preencher o espaço entre nós. Precisava colocar algo no ar e acrescentar à noite tranquila. — Então, o que você faz, Ben? Eu não sei nada sobre você, exceto que tem bom gosto para casas, para vinho e que você come Pop-Tarts no café da manhã. — Nem todas as manhãs! — seu pé escorregou e me chutou de brincadeira. Eu puxei minhas pernas para trás e enfiei debaixo de mim para que ele não fizesse isso novamente. Se ele percebeu, não pareceu incomodá-lo. — Você me pegou em uma manhã ruim. — Claro que sim. Ele riu. — Aqueles eram os primeiros dias. Era Pop-Tarts ou pizza fria. Sua filha precisava ser atraída. Achei que me sairia melhor com biscoito açucarado. Virei-me para encará-lo e me permiti humilhar pela sua confissão. — Obrigada por aquilo, a propósito. Acho que nunca agradeci

de verdade por tirá-la da piscina. Poderíamos ter ficado lá durante toda a manhã. — Ela é rápida. Foi a minha vez de rir. — Ela está agora na equipe de natação. Eu decidi usar seus poderes para o bem. — Ela tem o quê? Cinco? Eles fazem equipes de natação com crianças de cinco anos? — Ela tem seis. E ela é um pouco jovem, mas uma das equipes do ensino médio ajuda a cuidar de uma equipe mais jovem. Eles a deixam experimentar. Ficaram excitados ao ver o pequeno peixe estranho que ela é na água. — Huh. — Ben cruzou os pés nos tornozelos e olhou para o vinho. Ele parecia estar raciocinando as minhas palavras com algum grau de reflexão, mas eu não consegui descobrir o que eu disse para fazê-lo pensar tanto. Finalmente, depois de eu ter voltado a desfrutar o meu vinho e assistir o balanço suave das folhas flutuando sobre os longos ramos dobrados, ele disse: — Foi uma boa coisa de mãe para se fazer. — O quê? — Eu não o acompanhei. — Colocá-la em uma equipe de natação. Se tivesse sido eu, quando eu tinha a idade dela, minha mãe teria ameaçado a minha vida se eu alguma vez tentasse novamente. Você deu-lhe uma saída para usar um talento que ela, obviamente, se destaca. Eu acho isso ótimo. Seja qual for a resposta fácil que eu queria dar-lhe, ficou presa no meu peito. O elogio, mesmo que parecesse vir de lugar nenhum, significava mais para mim do que eu poderia dizer a ele. Eu não ouvia algo positivo sobre a maternidade desde que Grady morreu. Não havia ninguém por perto para me dizer que eu era uma boa mãe. Quando meus pais ligavam, conversávamos muito, mas nunca

isso. E quando eu era forçada a interagir com Katherine, tentava falar o mínimo de palavras possível. Eu nunca esperei este incentivo muito necessário de Ben Tyler. — Obrigada. — eu sussurrei, lutando para esconder as emoções. — Advogado. — ele desabafou de repente. — Hmm? — Advogado. — repetiu ele. — Você perguntou o que eu faço... Eu sou um advogado. — Uau. — isso explicava como ele podia pagar a casa ao meu lado. — Impressionante. — Não realmente. — o tom depreciativo que ele usou não pareceu combinar. — É a empresa do meu pai. Na verdade, estou apenas herdando a prática. — Você parece entusiasmadíssimo com isso. — o vinho zumbia na minha cabeça. Eu não bebia há muito tempo. Desde a noite depois do funeral de Grady, eu percebi. Meus pais ficaram comigo por algumas semanas para ajudar com as crianças. Emma trouxe uma garrafa de tequila e nós decidimos beber em vez de chorar. Acabamos fazendo as duas coisas. Ele resmungou. — Eu estou. Virei-me para encará-lo, deslizando os joelhos em direção ao meu peito e ficando muito confortável na cadeira de ripas. Provavelmente não estaria tão relaxada perto dele sem o vinho, mas agora eu estava curiosa. Não pude deixar de me intrometer. — Não, sério! O que há com o mau humor? — Mau humor? — ele girou na cadeira para que pudesse me encarar também.

Revirei os olhos. — Vamos, eu sou uma mãe! Eu posso ouvir mau humor a um quilômetro de distância. O holofote revelou um pequeno sorriso em seus lábios. — Certo! Bem. Eu vou compartilhar meus segredos mais profundos e obscuros. Eu ri de novo. — Você odeia seu trabalho. Isso é dificilmente um segredo. — Isso vem da mulher que fica em casa o dia todo. Você basicamente vive uma vida de lazer. Meu queixo caiu. Eu não podia acreditar que ele tinha acabado de dizer isso! — Eu não posso acreditar que você acabou de dizer isso! Ele jogou a cabeça para trás e riu. — Eu estou brincando. — ele prometeu. — E, além disso, você começou! — Meu Deus. Você é tão ruim quanto os meus filhos. — Não, não sou assim tão ruim! Eu tenho vinho, lembra? — Sim, sim, sim. Agora derrame suas tripas, Tyler. Eu tenho que ir para a cama cedo. — eu ignorei a onda de decepção que senti com a necessidade de acabar com a noite. Eu realmente tinha que ir para a cama. Eu só não esperava gostar tanto de Ben. — Você sabe que eu raramente chego ao tribunal? A maioria do meu trabalho envolve papelada e assentamentos. Imaginei algo mais... Law and Order quando me inscrevi. — Hmm. — eu olhei para o pouco de vinho que sobrou na minha taça. Girei e segurei minha objeção. As palavras de Ben soaram como desvio e nem um pouco com verdade. Mas deixaria isso de lado agora. Mal nos conhecíamos. Não era meu papel intrometer na sua vida. — Nós devíamos fazer isso de novo.

Eu olhei para cima com a sua sugestão e não soube o que dizer. — Certo. Devíamos fazer isso de novo... em algum momento. — Vai ter que ser amanhã à noite. Eu ri, surpresa com o seu entusiasmo. — Por quê? — Eu tenho um encontro sexta-feira. — Oooh, um encontro. Quem é a sortuda? — Amiga de um amigo. É apenas o segundo encontro. — Então, você está nervoso? Quero dizer, obviamente. — apoiei o queixo na mão e fiquei um pouco mais confortável. Ele balançou a cabeça para mim como se não tivesse me entendido. — Por que eu estaria nervoso? — Porque você quer impressioná-la! — Por que ela não ficaria impressionada comigo? Que coisa de homem para se dizer. — Honestamente, não tenho ideia. Ele sorriu para o meu tom sarcástico. — Devo ficar nervoso? — Basta não oferecer Pop-Tarts. — Anotado. Nós ficamos lá por mais alguns minutos enquanto eu terminava o meu vinho. O silêncio tornou-se fácil e não forçado. Eu não sabia se era o vinho, ou Ben, mas finalmente me senti mais contente comigo mesma. Algumas das corridas na minha mente e do espírito acomodaram, os pulmões respiraram com mais facilidade e o coração bateu mais leve também. Eu temi a vinda de Ben aqui, mas agora que a noite acabou, estava feliz que ele tivesse vindo. — Obrigada pelo vinho, Ben. Eu gostei da nossa pequena conversa.

— Ei, eu também. Nós dois levantamos e eu o acompanhei até o portão. Ele fez uma pausa para dizer adeus e eu empurrei desajeitadamente a taça na direção a ele. — Ou eu deveria ficar e lavá-la? — lamentei a pergunta logo que fiz. Por que eu tenho que fazer um grande negócio de uma taça estúpida? Eu não deveria ter dito nada. — Não, tudo bem. Eu levo. — Obrigada novamente. — Claro. — ele hesitou um pouco mais e eu comecei a perder qualquer paz que tinha ganhado. — Então, amanhã à noite? — Amanhã à noite? — Para o vinho. Eu pensei... eu pensei que você quisesse fazer isso de novo? — Oh, eu não... — Só pensei nisso porque a garrafa já estava aberta e assim poderíamos terminá-la. Se você já tem planos... — Ben, pare! — eu levantei a mão e ri da virada ridícula que a nossa conversa tinha tomado. — Amanhã à noite está ótimo. Estarei aqui. Traga o vinho! Vou fornecer as taças da próxima vez. Seu sorriso fácil voltou. — Estava na hora de você começar a colaborar por aqui. Olhei para ele com espanto. Eu estava realmente considerando isso? — Mesma hora, mesmo lugar, não é? — Sim. Nós finalmente nos separamos. Não foi até que eu pisei dentro de casa que eu percebi que estava sorrindo. Tranquei a porta e fui para a cama, pensando em Ben o tempo todo.

Ele era realmente adorável. Provavelmente, julguei-o injustamente de início. E aquele sorriso dele. Ele era muito bonito para seu próprio bem. E solteiro! Claro, ele tinha um encontro na sexta-feira, mas um segundo encontro ainda não era território exclusivo. Havia, obviamente, apenas uma coisa a fazer: ajeitá-lo com a minha irmã.

Capítulo Oito — Eu trouxe a bebida! — Emma chamou da porta da frente. — Como foi o grupo de estudo? — debrucei-me sobre a ilha da cozinha para pegar um vislumbre da minha irmã quando ela bateu a porta atrás dela. — Longo. — ela suspirou. — Eu achei que não fosse terminar nunca! É noite de sexta-feira. Essas pessoas não têm nada melhor para fazer com as suas vidas? Peguei o homus5 da geladeira e terminei de fazer o nosso jantar, enquanto Em se arrastava pela cozinha com todo o seu cabelo selvagem, em sua glória de aluna de graduação e boêmia. Ela jogou duas garrafas de Sangria barata na bancada e me deu um sorriso brilhante. — Isso é ressaca em forma de garrafa. — Quando você se tornou tão esnobe? — ela mostrou a língua para mim e fui pegar dois copos de vinho do escorredor de pratos. Desde que Ben Tyler me apresentou para todo o seu vinho fabuloso. Eu mantive esse pensamento em segredo. Eu não me sentia confortável contando para a Emma sobre as últimas duas noites, ou como Ben e eu tínhamos construído uma amizade com conversas tarde da noite e bom vinho. Parecia errado dizer essas palavras em voz alta. Eu não podia deixar de me sentir culpada por passar o tempo com ele. Durante todo o meu casamento eu tinha mantido distância do sexo oposto. Eu nunca fui tentada a ser nada menos do que fiel ao Grady e eu nunca quis dar a impressão errada.

5

Homus (‫ ) ُحمُّص‬é um alimento típico do mundo árabe feito a partir de grão-de-bico cozido e espremido, taíne, azeite, suco de limão, sal e alho.

Parecia um pouco estranho que ao longo dos últimos dez anos, eu nunca tenha ficado sozinha com outro homem por longos períodos de tempo. A menos que fosse Trevor, mas ele não contava. Era estranho admitir a nova amizade com Ben à minha irmã. Não, errado. Eu não me sentia estranha... Eu me sentia culpada. Essa amizade parecia uma traição ao Grady. Náusea tomou conta de mim e eu tentei ignorar a decepção que borbulhava no meu estômago. Decepção porque eu ia deixar Grady triste. E decepção porque eu teria que desistir de Ben e seu bom vinho. Embora

não

devesse

ser

difícil. Passamos

duas

noites

conversando; não havia um monte de fundação lá. — Liz! — Emma gritou e eu voltei subitamente ao presente. — Você está bem? Olhei para cima e encontrei os seus olhos azuis tempestuosos. Eu sorri fracamente e tentei tranquilizá-la com uma expressão confiante. — Estou bem. Só pensando. — Sobre Grady? Na verdade, pela primeira vez em muito tempo, não se tratava de Grady. E era mais uma razão para acabar com o que quer que fosse isso com Ben. Não que fosse qualquer coisa. Deus, por que eu continuo fazendo isso? — Devemos comer? — eu sabia que era uma fuga, mas eu também sabia que minha irmã psicóloga permitiria. — Sim, eu estou morrendo de fome! — ela gemeu. Nós nos acomodamos em torno da ilha e comemos os aperitivos aleatórios que eu preparei. Nossa mãe nunca foi uma boa cozinheira,

então Emma e eu aprendemos a pegar os alimentos, em vez de sentar para refeições completas. Com meus filhos, eu tentei ser melhor servindo jantares completos. Mas quando Em e eu ficávamos juntas caíamos de volta na rotina da nossa infância. — Eu também. — eu carreguei o meu prato com homus, bolachas, cobertura pronta para bruschetta e um pouco de pão. Tomei um gole da sangria e decidi que não era muito esnobe. — Então, Katherine levou todos os pequenos? Eu balancei a cabeça no meio de uma mordida. — Ela pegou Luce e Jace logo após a hora da soneca. Ela pretende ficar com eles até o almoço de amanhã. — Legal da parte dela. — As crianças estavam muito animadas. — É meio estranho, porém, não é? Quero dizer, está tão tranquilo aqui. — Sim! Eu mal podia esperar para ter uma noite de folga, mas agora que eles se foram, eu não consigo parar de sentir falta deles! Há algo de errado comigo. Emma riu e balançou os cabelos. — Não há nada de errado com você, Elizabeth. Você só está viciada em crianças. Ok... talvez isso não seja exatamente normal. Mas eu tenho certeza que com um pouco de terapia e talvez possamos conseguir algum Xanax e ... — Ok, pare! Você é uma grande pirralha. — eu dei-lhe um olhar sujo e tentei não sorrir. — Nós simplesmente não nos separamos nos últimos meses. Eu não estou acostumada a ter a casa para mim. — Bem, é melhor aproveitar ao máximo! — seus olhos azuis brilharam com as possibilidades. — Devemos ligar uma música de rap e dançar ao redor só de calcinha? Ou ooh! Poderíamos estourar um pouco

de pipoca e assistir o canal da TV que você nunca colocaria quando seus filhos estão em casa! — Uau, Em, suas ideias são verdadeiramente inspiradoras. Ela não gostou do meu sarcasmo. — Tudo bem, querida irmã, qual é o seu plano brilhante para a noite? Um pensamento me ocorreu. — Vamos nadar! — Natação? — Meu novo vizinho tem uma piscina aquecida! E ele disse que eu poderia usá-la sempre que eu quisesse. — O novo vizinho? — suas sobrancelhas se ergueram com interesse. — O vizinho novo sexy? — Ben. — eu ofereci. Seu interesse morreu e ela enrugou o nariz. — Certo, Ben. Mas não vai ser estranho se nós simplesmente formos lá e entrarmos? E se ele tiver com pessoas lá? — Ele não está lá. Ele tem um encontro hoje à noite. — Um encontro? — ela balançou a cabeça lentamente como se ela tivesse problemas para entender. — Como você sabe tanto sobre sua vida social? — Estou sendo legal. — eu disse a ela. A culpa me invadiu novamente e eu me perguntava se dizer as palavras em voz alta as faria ir embora. Agora, parecia que eu estava escondendo algo ilícito dela. O que era ridículo. Eu precisava arrancar esse Band-Aid e ver o seu julgamento. — Ele me ajudou a cortar a grama uma vez e eu o vi algumas vezes desde então. — Oh. — ela pareceu sinceramente surpresa. — Isso é legal da sua parte. — Eu posso ser boa.

Ela não disse nada. — Então você quer ir nadar? Você pode pegar emprestado um dos meus biquínis. — É aquecida? — Sim! Eu já estive lá uma vez, lembra? — Claro, parece divertido! Vamos levar o nosso vinho lá. Na verdade, está começando a soar maravilhoso. No momento em que terminamos de comer o jantar e colocamos os restos no lixo, tínhamos terminado a primeira garrafa de sangria. Nós deixamos os pratos e fomos ao andar de cima para escolher as roupas de banho da minha oferta limitada. Emma não ficou impressionada com as minhas ofertas, mas ela achou algo que ela considerava que poderia funcionar. Eu vacilei na minha escolha, um preto de duas peças simples, e não pude deixar de me sentir extremamente nua. Olhei para o meu corpo no espelho do banheiro e passei meus braços em volta da minha cintura. Eu não era tímida sobre a minha imagem desde o ensino médio. Quando eu fui para a faculdade eu realmente era confortável comigo mesma e decidi começar a amar quem eu era. Então eu conheci Grady. Mesmo que eu tivesse bem como eu parecia antes, sua adoração para o meu corpo me deu um novo sentido de confiança. Ao longo de nosso casamento, quaisquer que fossem as inseguranças que eu tivesse nunca duraram muito tempo com seu olhar apreciativo e doces palavras sussurradas. Ele me fazia sentir bonita. Ele construiu uma confiança em mim que eu esperava que fosse inabalável. Eu não queria ser o tipo de garota que encontrava seu valor nas palavras de outras pessoas, e eu não achava que era. Mas a lembrança constante dele facilitava.

Eu ainda tinha o mesmo corpo; na verdade, eu estava muito mais magra agora do que no meu casamento. Eu passei suavemente e feliz por quatro gestações. Eu não fiquei gorda, apenas flácida. Agora, depois de meses de corrida, meus músculos estavam tonificados e a barriga tinha alguma definição. E, no entanto, olhando para mim mesma no espelho, eu senti falta da admiração de Grady para me fazer sentir sexy. Eu senti falta do jeito que ele olhava para mim como se não pudesse acreditar que eu fosse real. Eu poderia manter essas memórias por perto, mas elas nunca poderiam fazer por mim o que sua presença fazia. — Você está sexy! Vamos! — Emma deu um tapa na minha bunda, puxando-me de volta à realidade. — Eu não uso biquíni há muito tempo. — Percebe-se. — Emma circulou a área do seu biquíni e eu tive um breve ataque de pânico embaraçoso. Mas eu estava bem. Ufa. Ela gargalhou à minha custa e, em seguida, puxou meu braço. — Vamos, “pé grande”, somos só nós duas. Saímos de casa seminuas, descalças e com as nossas toalhas pelo gramado. A casa de Ben estava completamente escura e sem sinais de vida. Uma pontada de nervosismo comprimida dentro de mim dizia que ele poderia vir para casa mais cedo. Mas eu a empurrei para o lado; foi ele que fez a oferta. Depois de conhecê-lo nas últimas duas noites, eu sabia que ele não se importaria. Nós atravessamos a porta de trás e passamos um pouco de tempo procurando uma luz. — Todos os interruptores devem estar dentro. — disse Emma, finalmente desistindo. — Então eu vou entrar! Estou congelando! — ela andou para o lado e mergulhou graciosamente. Eu coloquei a toalha em uma das

espreguiçadeiras de Ben e caminhei até a borda. Ela saiu da água e jogou água quente em minhas pernas. — Está bom aqui. Não seja um bebê. Mergulhei no fundo da piscina e senti a água morna envolver a minha pele. Meu cabelo flutuava ao redor do meu rosto e eu me senti sem peso. Subi para respirar e, em seguida, mergulhei novamente. Fechei os olhos e bebi da escuridão absoluta. Eu não conseguia ouvir nada. Eu não conseguia ver nada. Eu não tinha filhos para me preocupar essa noite. E eu realmente estava passando um tempo de qualidade com a minha irmã. Não passamos a noite chorando a minha perda e o futuro incerto. Apenas curtimos companhia uma da outra. Agora submersa na água, eu bebi do isolamento e deixei meu coração aproveitar a dor mais uma vez. Não parecia justo que eu continuasse vivendo e Grady não. Não parecia possível. Fiquei esperando que Grady voltasse. Fiquei esperando que ele entrasse pela porta, me envolvesse em seus braços e me prometesse que tudo ficaria bem agora. Eu não podia deixá-lo ir. Eu não queria deixá-lo ir. Deixá-lo ir significava reconhecer que ele nunca voltaria. E eu simplesmente não conseguia. Eu precisava muito dele. Eu o amava muito. Fui para a superfície mais uma vez, desesperada por ar e fuga. Eu não podia afundar nesses pensamentos novamente. Eu não podia ir para lá agora ou desejaria me afogar neles. A água da piscina parecia especialmente pungente enquanto eu corria para longe daquele lugar escuro. Emma estava reclinada na lateral, com ambos os braços estendidos para manter seu corpo ancorado. Nadei para frente dela e chutei na água para permanecer à tona.

— Isso é muito bom. — ela murmurou sua aprovação, inclinando a cabeça para trás e apoiando-a contra o pátio. — Precisamos aceitar a oferta de Ben mais vezes. — Podemos torcer que ele vá para um monte de encontros. Ela levantou a cabeça e olhou para mim. — Ele vai para um monte de encontros? — Como eu saberia? Eu só sei que ele está em um hoje à noite. — Namorada? — Acho que não. Ele disse que este era apenas o segundo. — Então, ele ainda está tecnicamente solteiro? — Eu tenho certeza. — Casa grande para um único indivíduo. Eu ri do inquérito não tão sutil da minha irmã. — Ele é um advogado. — Oooh, solteiro e estável. Eu gosto disso. — Fico feliz que ele atenda às suas normas. — Você o viu? Ele poderia estar desempregado e morando com os pais e ele atenderia os meus padrões. Joguei água no seu rosto. — Por favor, não diga isso! Vocês dois acabariam indo morar comigo e então eu teria que cuidar de seis filhos! — Mentirosa. Você gostaria de ter uma babá livre. — Ok, isso é verdade. Ela sorriu para mim, mas desapareceu alguns segundos quando ela disse. — Você e Grady foram pobres no começo. Ainda assim eram felizes. Não é sobre o dinheiro comigo.

Limpei a garganta e tentei não ficar excessivamente emocional. — Fomos felizes. — eu sussurrei. Afastei um pouco a tristeza e sorri. — Mas você é mais materialista do que eu. Foi a vez de ela me espirrar água na cara. — Não sou! Eu puxei meu braço para trás para jogar novamente quando as luzes do pátio piscaram sobre Emma e eu que estávamos de repente destacadas no meio da piscina de Ben. A porta do pátio se abriu e ele saiu, falando em voz baixa com uma linda morena com pernas desumanamente longas. Humilhada e me sentindo ofensivamente desleixada, eu fiz um som estridente e afundei da superfície. Então eu me senti boba por tentar me esconder na piscina, que era obviamente impossível e nadei para o lado e ressurgi. — Liz? — Ben soou incrivelmente surpreso por encontrar-nos na sua piscina. — Ei, Ben. — minha pele queimando com embaraço. — Desculpe, estávamos, hum, dando um mergulho. — Percebi. — a ligeira irritação em seu tom não poderia ser mal interpretada. Eu golpeei coxa da minha irmã para fazê-la agir. Ela ficou momentaneamente sem fala e tão envergonhada quanto eu. Nós nadamos para a escada e saímos da água. Simplesmente não havia nenhuma maneira sutil de sair da piscina. Eu senti os olhos de Ben em mim o tempo todo e não pude deixar de me sentir como uma adolescente pega em flagrante. Emma e eu pegamos as nossas toalhas rapidamente, nenhuma de nós fez contato visual com Ben ou o seu encontro. — Liz, você não tem que ir. Você e sua irmã são bem-vindas para ficar e nadar. Só íamos beber copo de vinho. Podemos fazer isso lá dentro.

Eu virei e olhei para Ben em suas calças pretas e camisa azul de botão, segurando uma garrafa de vinho e dois cálices. Uma onda de irritação me atravessou. Afastei-a e me forcei a sentir vergonha novamente. — Não, eu sinto muito. Eu não esperava que você chegasse em casa tão cedo. — foi a vez da companhia dele corar. Ela deu um passo para longe dele e olhou para seus sapatos de salto alto muito pretos. — Eu não quis dizer que você não deveria ter vindo mais cedo. Ou que você não poderia voltar para casa mais cedo. Eu só, o que eu quis dizer, que eu esperava seu encontro durasse mais tempo. — oh, Deus. Bati a mão sobre os olhos. — Não, não foi isso que eu quis dizer. Obviamente, o seu encontro ainda está em curso. Eu... eu... eu vou parar de falar agora. — Provavelmente é melhor. — eu pude ouvir o sorriso na voz de Ben mesmo que eu me recusasse a olhar para ele. — Oi, eu sou Liz. — eu disse ao seu encontro. Ela, possivelmente, já me odiava, mas eu senti a necessidade de explicar a minha presença. Esperava que ajudasse Ben a recuperar tudo o que eu o tinha feito perder. — Eu moro ao lado. — Oi, Liz. Sou Megan. — ela estendeu a mão educadamente para pegar a minha. A toalha pendurada sem jeito na minha frente e quando Megan afastou a mão dela percebi que estava molhada. — Eu sou Emma. — minha irmã disse brilhantemente quando ela apertou a mão de Megan logo depois. — Oi, Emma. — Ben falou em seu tom suave. — Oi, Ben. — minha irmã riu adicionando mais à minha humilhação. Nós quatro ficamos ali balançando em nossos calcanhares por mais um minuto e a tensão era dolorosa. Finalmente, encontrei o olhar escuro de Ben e apertei os lábios para evitar de me encolher com a força dele. Um lento sorriso se espalhou pela sua boca cheia e eu sabia que estava

perdoada, mas eu ainda me sentia mal sobre esta pequena interrupção do seu encontro. — Bem, vamos sair! — eu anunciei em uma corrida. — Ben, eu sinto muito! Eu deveria ter pensado melhor. Ele dispensou meu pedido de desculpas com um gesto. — Está tudo bem, Liz. Eu que ofereci a piscina. Use a qualquer momento. — Obrigada. — eu comecei a andar para trás. — Obrigada. — Emma foi comigo. Estávamos quase no portão. — Vejo você amanhã à noite? — ele me chamou. O quê? Eu poderia estar em pânico quando eu respondi: — Eu não posso amanhã! Conversaremos. Falo com você depois. — Então eu me virei e, basicamente, fugi para a minha casa. Emma correu para me acompanhar. — Oh, Deus. — ela gemeu miseravelmente. — Isso foi tão estranho! — Eu sei! — eu assobiei. — Eu não esperava que ele fosse trazê-la para casa com ele! Emma jogou a cabeça para trás e riu. — Isso é porque você não vai em um segundo encontro em quinze anos! — Não faz quinze anos! — apenas doze. A diferença entre Ben Tyler e eu deu um soco na minha lateral e eu perdi o fôlego. Ele estava em um segundo encontro e esperando ter sorte. Eu nunca estaria nessa posição novamente. Ele estava no início de sua vida amorosa e eu tinha visto a minha murchar e morrer. Ele era livre para namorar quem ele queria e eu tinha enterrado o maior amor da minha vida. Eu tropecei na grama fresca, quase aleijada pelo peso da realização. Emma estava no mesmo lugar que Ben, mas por alguma razão ela nunca tinha me incomodado quando eu pensava sobre sua vida amorosa ou futuro com um homem.

As diferenças da vida de Ben destacaram-se dolorosamente da minha. Ele destacou a finalidade da morte do meu marido e a solidão deprimente que eu teria que suportar a partir de agora. Ben acabaria por encontrar uma menina, talvez Megan, se apaixonar, casar e passar a viver em matrimônio feliz. Eu lamentaria por Grady, nunca haveria qualquer outra coisa para mim. — Liz, do que estava Ben falando? Por que ele queria vê-la amanhã à noite? Olhei para a minha linda irmã mais nova, despreocupada e desejei desesperadamente que eu pudesse trocar de lugar com ela por apenas algumas horas. Fechei os olhos contra a agonia da minha dor por um momento antes de eu encará-la parecendo curiosa. — Não há razão. — eu disse a ela com voz rouca. — Só coisas de vizinhos. — Claro, coisas de vizinhos. Porque isso é uma coisa. Eu não disse nada e ela não me forçou. Emma sempre soube quando não me empurrar. Nós nos secamos e colocamos nossas roupas normais novamente. O resto da noite foi gasto bebendo a segunda garrafa de sangria e assistindo reality shows. E eu tentei não pensar em Ben Tyler e o encontro que eu quase arruinei.

Segunda Fase: Raiva

A negação veio primeiro. Em seguida a raiva. Achei que passar pela negação fosse a coisa mais difícil que eu faria. Tinha sido incapacitante. Mas o problema com chegar a um acordo

com algo tão devastador quanto perder o amor da minha vida é que agora eu tinha que viver com isso. Esta é a minha realidade. Esta. Esta é quem eu sou. A morte de Grady me transformou nisso. Em uma viúva. Uma mãe solteira. Desolada, solitária, frustrada, oprimida e eviscerada. E, acima de tudo, com raiva. Eu tenho apenas 32 anos de idade. Eu não deveria ter que passar por isso aos trinta e dois. Eu não deveria ter de enfrentar a doença de Grady ou o horror do seu tratamento ou a experiência traumatizante de ver meu marido desaparecer. Eu não deveria ter que descobrir como criar quatro filhos sozinha, sem um parceiro, sem o pai que eles amavam e admiravam. Eu não deveria ter de confortar os meus filhos que perderam o seu herói ou minhas filhas que perderam o homem que elas deveriam comparar a todos os outros. Eu não deveria ter que sofrer assim. Chorar assim. Sentir assim. Mas eu não tinha outra escolha e isso me deixava muito irritada. Enquanto meu coração e mente continuavam a trabalhar com a perda, a vida em torno de mim continuava a seguir em frente. Ela se movia sem a minha permissão. Impulsionava-me para a frente sem o meu consentimento. Preciso de tempo para processar tudo, trabalhar com estas cinco fases e lidar com cada uma. Mas não é possível. O tempo não parava e os dias continuavam terminando e começando, e eu parei de negar que meu marido não voltaria, e passei a me sentir absolutamente furiosa por que nunca mais vou o veria. Nunca

mais estaria com ele. Nunca mais o tocaria ou olharia para ele ou respiraria com ele. Eu nem conseguia ficar satisfeita por ter saído da negação. Estava com raiva demais para me importar.

Capítulo Nove — Abby, apresse-se! O seu cereal está ficando encharcado! — eu me virei, estendendo um suco de laranja e uma colher para Lucy. Havia uma possibilidade de chegarmos na escola no horário hoje. — Mãe, eu tenho um jogo hoje à noite, não se esqueça. — Chuck! — Jace gritou. Eu empurrei a torrada de volta para ele. — Por favor, não se esqueça. — Blake implorou. Olhei para o meu filho mais velho e senti dores no peito. Quando ele tinha crescido tanto? Ficado tão maduro? Seu cabelo vermelho precisava de um corte, mas o cabelo despenteado lhe convinha. Seus olhos verdes brilhantes ainda estavam sonolentos e eu podia jurar que ele tinha crescido cinco centímetros no último mês. Meu coração doía ao observálo tornar-se uma criança maior e lentamente se transformar em um adolescente. — Vou me lembrar. — prometi a ele. — Está no calendário. Ele grunhiu em sua tigela de cereal. — Eu vou embalar todas as minhas coisas, para que possamos ir direto depois da escola. — Blake, o jogo não é até às 16h30. — Bem, vamos comprar sorvete ou algo em primeiro lugar. Este é importante. Eu senti uma mistura de irritação e diversão. — Eu não vou comprar sorvete antes de um jogo importante. Mas provavelmente é uma boa ideia ir direto da escola. Vamos pensar em algo para fazer. — Chuck! — Jace gritou.

Abby correu para a cozinha enquanto ouvia um furacão de energia e travessuras. — Este lixo fede! — ela apertou o nariz com dois dedos e caminhou até a mesa. — Chash Chuck! — Jace gritou. Uma sensação incômoda pesou no meu estômago. Oh, não. — Que dia é hoje? — perguntei em voz alta. As crianças apenas olharam para mim. Eles não tinham ideia. O gemido de um caminhão de lixo guinchando parou na frente da nossa casa. Oh, não! Pulei para a lixeira, peguei-o e corri para a porta da garagem. As lixeiras podem ser ridiculamente pesadas, uma coisa estúpida de madeira que eu quis porque parecia legal, poderia resultar um monte de lixo de merda. Eu tive que arrastá-lo para descer as escadas. Até o momento que abri a garagem e arrastei a coisa para as latas de lixo que já estavam transbordando, o caminhão já estava saindo do nosso quarteirão. — Não! — eu gritei. — Não, não, não! Eu não podia acreditar que aquilo tinha acontecido de novo! A raiva borbulhou dentro de mim e lágrimas quentes ameaçaram derramar. Na minha frustração chutei a lata de lixo monstruosa com o meu pé descalço e depois fiquei furiosa mais uma vez quando esmaguei os dedos dos pés. Eu pulava xingando o lixo e os homens do lixo e Grady por me deixarem essa responsabilidade terrível. O lixo sempre foi coisa de Grady. No que me dizia respeito, Grady podia muito bem ter sido uma fada mágica que fazia meus sacos de lixo cheios desaparecerem e reaparecer com novos. Mesmo quando ele estava doente, ele ainda conseguiu cuidar do lixo para mim. Eu fazia isso algumas vezes, se ele tivesse que ficar no hospital, mas ele sempre me lembrava quando o lixo precisava ser movido para o meio-fio.

Agora ele se foi e eu não tinha ninguém para me ajudar com esta tarefa monumental. Parecia tão bobo que não eu conseguisse me lembrar desse detalhe. Tínhamos muito lixo para eu me concentrar. Eu tinha que levar o lixo até a garagem, pelo menos uma vez por dia, às vezes duas. Era realmente incrível o quanto de lixo que cinco pessoas podiam acumular. Mas não conseguia me lembrar. E isso me enfureceu. Eu tinha esquecido na semana passada, também, então agora ambos os nossos grandes recipientes ao ar livre transbordavam. O lixo interior parecia zombar dos meus esforços ao meu lado. Como poderíamos passar mais uma semana com esta quantidade de lixo por aqui? Felizmente, no início de novembro, finalmente, estaria frio o suficiente para que não precisasse me preocupar em deixar todo o bairro fedido. Apenas a minha casa. Eu chutei a lata de lixo de novo, cega com a minha frustração. Eu nunca tinha sentido tanta raiva antes. Geralmente, eu era uma pessoa calma e racional. Mas não conseguia impedir que a onda de fúria aumentasse. Ela levantou-se sobre a minha cabeça e depois caiu em cima de mim com uma força desconcertante. — Deus, você é uma idiota! — eu gritei para ela. — Eu te odeio! — Você está falando comigo? Ou com a lata de lixo? — uma voz calma me tirou da escuridão. Olhei para cima para encontrar Ben Tyler me observando. Ele encostou-se casualmente ao batente da garagem em um agradável terno azul-marinho. Eu

nunca

o

tinha

visto

vestido

para

o

trabalho. Provavelmente, saíamos para o trabalho em horários diferentes pela manhã, ou eu estava muito ocupada com as crianças para observá-lo. Seu cabelo estava penteado para trás, mais profissional do que ele normalmente usava. Os sapatos eram polidos e a camisa bem

engomada. Ele parecia um advogado esta manhã. Eu pensei que esta imagem dele pudesse ser difícil de reconciliar com a versão geralmente descontraída que conhecia dele, mas esta manhã, apesar da minha frustração, eu achei fácil colocar esse rótulo nele. Agora podia imaginá-lo em um escritório de canto, dando ordens a uma secretária bonita e cobrando quantias ímpias de dinheiro por hora pelo seu tempo. Ele, realmente, era um advogado. E se a roupa mostrava qualquer tipo de sucesso, ele era, provavelmente, muito bom. — A lata de lixo. — finalmente respondi à sua pergunta. — Eu á odeio. — essa admissão inútil me fez perceber o quanto eu estava sendo ridícula. Eu empurrei meu cabelo para fora do rosto e olhei para os meus pés. Percebi pela primeira vez como o chão da garagem estava gelado. — Eu á odeio também. — disse ele sério. — Deus, você ouviu que imbecil ela tem sido ultimamente? Ergui os olhos para encontrar os seus muitos escuros. Eles brilhavam para mim, perdoando minha explosão louca. Ele deveria estar me julgando agora. Eu estava agindo como louca. Mas, em vez disso, vi só havia compreensão gentil. — Eu esqueci de colocar o lixo para fora. — confessei, embora estivesse certa de que era óbvio. — E também esqueci na semana passada. Estou frustrada. — Percebi. — ele andou para frente até ficarmos trinta centímetros de distância. — Eu não te vi por aqui ultimamente. Sua mudança de tema me assustou. Eu encontrei-me olhando para longe novamente. Era verdade, nós realmente não tínhamos nos visto muito desde que Emma e eu interrompemos o seu encontro há algumas semanas. Nós tínhamos dito olá de passagem e falei com ele brevemente na caixa de correio uma vez. Mas estava tentando manter distância.

Vê-lo em um encontro com uma mulher jovem, bonita me fez perceber o quanto éramos diferentes. Amizade entre nós nunca seria nada, além de estranha e complicada. Eu decidi naquela noite que não precisava de mais complicações. Ben Tyler e eu ficávamos melhores à distância. — Estivemos muito ocupados. — disse suavemente. — As crianças andam ocupadas com a escola e suas atividades. Parece que corri sem parar durante semanas. — Você devia fazer uma pausa de vez em quando. Eu coloquei a mão na minha testa: — Esse é um pensamento agradável. Mas, provavelmente, não vai acontecer. — Não há tempo para um vinho tarde da noite? Há sempre tempo para um vinho tarde da noite. Sorri para a sua confiança. — Como foi seu encontro na outra noite? — se ele não podia mudar de assunto, eu mudaria. — Encontro? — sua testa enrugou com a confusão. — Megan? Ele deu uma risada tão surpresa que até balançou os ombros. — Megan? É por isso que você está me evitando? Liz, eu disse que a piscina era sua, a qualquer momento que você quisesse. — Eu não estava evitando você! Eu lhe disse que estive ocupada. Veja! Eu não consigo nem colocar o lixo para fora no dia certo. Isso é o quanto andamos ocupados. Ele me deu um olhar severo que dizia que sabia que o lixo não tinha nada a ver com a nossa agenda. — Meu encontro foi bem. Mesmo com penetras arruinando meu jogo. — Me desculpe sobre isso.

— E eu estou brincando, Liz. Eu juro. Megan e eu percebemos que não temos muito em comum. Nós não nos encontramos desde então, mas não tinha nada a ver com você e com a piscina. — Oh. — minha mente girou um pouco com as palavras dele. — Então, você está namorando alguém? Suas sobrancelhas abaixaram. — Não. Não estou vendo ninguém. — Então eu deveria arranjá-lo! — Desculpe-me? — ele olhou assustado. Eu não tinha a intenção de assustá-lo. Eu coloquei um pouco de emoção no meu tom, tentando vender a ideia. — Com a minha irmã! Se possível, ele parecia mais surpreso do que nunca. — Liz, eu não acho que seja uma boa ideia. — Por que não? — eu perguntei. Eu pensei em ligar para o médico. Minhas

mudanças

de

humor

estavam

um

pouco

assustadoras. Fiquei triste por Ben. Ele sempre parecia receber o pior de mim. Ele sugou um suspiro exasperado: — Bem, você não acha que pode ser um pouco estranho? E se Emma perceber a pessoa terrível que eu sou e lhe dizer. Você vai estar presa conhecendo todos os meus hábitos embaraçosos. — Você não é uma pessoa terrível. — Como você sabe? Sorri suavemente. — Eu sei. Ben, posso não conhecer você bem, mas sei o suficiente para ver que você é uma boa pessoa. Eu acho que você realmente gostaria da Emma. — Liz...

— Por favor? Apenas um encontro? — eu pisquei para ele com olhos arregalados e esperançosos. — E se ela não quiser ir a um encontro comigo? Eu brinquei com meus cabelos em uma tentativa de esconder o sorriso. — É sempre uma possibilidade. Mas não vai machucar perguntar. — Acho que não. — ele concordou. — Então, isso é um sim? Ele

sorriu

lentamente

para

mim.



Eu

suponho

que

sim. Aparentemente, não consigo dizer não para você. — Isso é uma coisa boa, no entanto. Você vai adorar a Em. Eu prometo. — ele não disse mais nada, então senti que tinha que continuar a vender a ideia. — Vou ligar hoje e ver o que ela pensa. Tenho certeza que ela vai concordar. Ela adora quando eu arranjo encontros. — ela odiava quando eu fazia isso. Mas esperava que ela não se importasse de um encontro com Ben. Obviamente, ela o achava atraente. Ele tirou o celular do bolso. — Se você me der o seu número, mando uma mensagem para você. Em seguida, você pode passar o meu número para a sua irmã. Se ela estiver realmente interessada, ela pode me mandar uma mensagem ou ligar para mim. — Parece bom! — recitei meu número de celular e o observei salvar em seu telefone. Quando levantou os olhos para encontrar os meus novamente, ele estava com um sorriso cauteloso. — Você vai se divertir muito. — Tenho certeza que iremos. Desconfortável com seu olhar intenso, voltei para lutar com saco de lixo dentro da lixeira. — Aqui, deixe-me fazer isso. — Ben cortou. Suas mãos roçaram as minhas quando ele se mexeu para pegar o saco.

— Oh, não, está tudo bem. Você não vai querer sujar o seu terno todo. — eu olhei para as minhas calças de treino e camisa preta de manga comprida, que eu usava para esconder todas as manchas úmidas que aconteciam durante todo o dia. — Liz, sério, este saco pesa mais do que você. Volte para os seus filhos. — Meus filhos! — engoli em seco. — Eu tenho que aprontá-los para a escola! Nós vamos atrasar novamente. Sua expressão se tornou divertida novamente e ele me dispensou. — Vá, Liz! Eu cuido disso. — Você é um santo, Ben Tyler. — Vá! — ele apontou para a porta, desta vez obedeci. Corri de volta para dentro e fui lavar as mãos e rostos dos pequenos, escovando seus cabelos e me certificando que as roupas estavam decentes o suficiente para a escola. No momento em que as mochilas e lanches estavam prontos e empilhados na van, Ben já tinha ido. Eu não prestei atenção no lixo porque tinha problemas mais importantes em mente, como chegar à escola nos próximos três minutos, mas a garagem parecia maior por algum motivo. Não foi até mais tarde no dia que percebi porque minha garagem parecia muito maior do que o habitual. Eu tinha entrado e saído da garagem durante todo o dia com as crianças menores. Entre sair e pegar Lucy na pré-escola, compras de supermercado e fazer algumas coisas na cidade, não tinha percebido que as latas de lixo estavam ausentes. Jace, Lucy e eu pegamos as crianças maiores depois da escola e compramos alguns smoothies antes do jogo de Blake e, em seguida, aplaudimos a vitória. Ele marcou um gol e tudo! Eu fiquei tão orgulhosa.

No momento em que chegamos em casa, as crianças estavam com fome de novo e eu tinha pelo menos uma hora de lição de casa para conferir antes de deitar. O dia, como a maioria dos outros, tinha sido desgastante. E, no entanto, quando parei na calçada, eu não pude deixar de sentir alívio. Na frente da minha garagem fechada estavam minhas duas latas de lixo ao ar livre. As tampas fechadas, não estavam mais abertas com os muitos sacos e meu esquecimento. Eu estacionei o carro, e corri para verificar as latas. Ambas estavam vazias. Ben tinha se livrado do meu problema de lixo! Eu não sabia como ele tinha feito, ou mesmo considerado a quantidade de trabalho que levou para resolver este problema. Deve ter sido nojento todos aqueles sacos cheios de sobras mofadas e fraldas sujas. Mas ele tinha feito isso para mim de qualquer maneira. O cara era muito bom. Eu recoloquei as latas no lugar certo contra a parede da garagem e sorri para elas. Eu me lembraria na próxima semana. Eu não deixaria a bondade de Ben ser em vão. Ajudei as crianças saírem do carro e me certifiquei que levássemos todas as mochilas escolares, lancheiras e equipamentos de futebol. Mas eu fiz com um espírito mais leve. O jantar foi mais fácil também naquela noite. E na hora de dormir não pareceu tão caótico. Até o momento que me arrastei para a cama, não muito tempo depois que as crianças, ainda estava surpresa com o tanto que o pequeno ato de generosidade de Ben havia impactado o meu dia. Eu era realmente tão fácil de agradar? Pensamentos escuros seguidos de bons.

Eu sentei na cama enorme, vazia e estendi a mão para alcançar o lado de Grady. Não devia ser tão difícil para mim. Eu deveria ter Grady aqui para me ajudar. As lágrimas começaram a cair em simples menção de seu nome dentro da minha cabeça. — Por que você me deixou, Grady? — sussurrei para a escuridão. — Eu não posso fazer isso sem você. — a raiva borbulhou com a dor e me fez passar mal. Isso era impossível sem ele. Essas crianças, esta casa, minha vida era impossível sem a sua ajuda. Virei-me para o meu lado e abracei um de seus travesseiros. Deixei minhas lágrimas embeberem o algodão que já não cheirava a meu marido ou o continha a sua marca. A ajuda do Ben foi boa, mas o eu que realmente queria, era que não precisasse da ajuda de Ben. O que eu realmente queria era o meu marido aqui comigo para ajudar a cada dia.

Capítulo Dez Emma atendeu no terceiro toque. — Olá, querida irmã. — Você está pronta? Eu ouvi seu suspiro abafado na outra extremidade do telefone. — Este não é meu primeiro encontro, Liz. Estou pronta. Eu tinha convencido Emma a dar uma chance para o Ben quando ela veio me ajudar a levar as crianças para pedir doces há algumas semanas. Nós tínhamos passeado pela vizinhança com Blake como o Hulk, Abby como a irmãzinha de Michael Phelps, Lucy como princesa e Jace com fantasia de pirata. Emma preencheu o espaço de Grady. Depois que colocamos as crianças na cama, passamos a noite chorando juntas sobre baldes de doces de Halloween, enquanto filmes de terror passavam ao fundo. Não tinha sido um dos meus melhores momentos. Mas depois de pararmos na casa de Ben e ele distribuir barras de Twix em tamanho real a todas as crianças, Emma finalmente concordou em enviar uma mensagem de texto para saírem juntos. Eles haviam flertado na porta, enquanto eu olhava para as barras de chocolate e pensando o que move um solteiro. Quem dá quinze gramas de açúcar para uma criança de dois anos de idade? Homens solteiros na casa dos trinta. Eles fazem isso. As barras de Twix nunca chegaram até de manhã. Faziam parte de minha terapia Grady. Algo em torno da meia-noite, eu retirei meus sentimentos negativos sobre a generosidade ingênua de Ben. E então voltaram depois que eu subi na balança na manhã seguinte. — Eu sei, eu estou apenas nervosa. — confessei.

— Você está nervosa? Eu ri do seu tom cínico. — Por você! Eu só quero que dê certo. Ela riu comigo. — E se Ben for um esquisitão? Tipo, se ele tiver uma coleção de cabeças de boneca ou levar a mãe para o jantar? Você vai ter que vir me resgatar no restaurante. Depois, vai ter que se afastar dele. Mesmo a menção de sair desta casa machuca meu peito. — Ele não vai levar a mãe para o jantar. Tivemos sorte de vê-lo em um encontro anterior, lembra? — Não há defesa para as cabeças das bonecas? — Bem, eu nunca entrei na casa dele, na verdade. Não tem como saber com certeza. — Liz! — Eu só estou brincando, Em. Ele é tão bom. Você vai ter um grande momento. — Ele, pelo menos, é bom de olhar. — eu balancei a cabeça, mesmo que ela não pudesse me ver. Isso era verdade. — Quais são seus planos emocionantes para a noite? — ela perguntou, e parecia genuinamente interessada. — Em uma sexta-feira à noite? O que mais há para fazer além de estourar um saco de pipoca para cada um de nós e aconchegar-se no sofá? — Oooh, o que está na fila? — A Espada Era a Lei. É um dos poucos filmes que todas as crianças concordam. — Eu amo esse filme. — Emma suspirou. — Queria ficar com vocês esta noite. — O quê? De jeito nenhum! Você vai se divertir muito. — Você está sendo muito insistente sobre este encontro.

Eu me irritei um pouco com o seu comentário. — Eu não estou. — Você está. — Eu só quero que você seja feliz. — Eu estou feliz. Eu não preciso de um homem para isso. — Você sabe o que eu quis dizer. Por que você está lutando contra isso? Ele é um bom rapaz! Você mesmo disse, solteiro e estável. — Emma e eu costumávamos discutir antes de Grady morrer. Apenas sobre coisas pequenas, pequenas desavenças ou observações imprestáveis. Nada de longa duração. Éramos irmãs, geralmente encontrávamos algo para discordar. Mas não tivemos uma única discussão desde que Grady ficou muito doente mais de um ano atrás. Eu sabia que minha irmã pisava em ovos em torno de mim e que a nossa relação não era tão evoluída que nunca íamos brigar novamente. Mas esta noite, sua irritação comigo só me deixou mais irritada com ela. — Eu só acho que, se isso não acabar bem, vai ser um pouco estranho para você. Eu estou tentando protegê-la. — ela insistiu. — Eu não preciso de você para me proteger, Emma. — eu respirei e fechei os olhos, tentando dissipar a minha frustração. — Escute, se você não quer sair com Ben, então não saia. Mas não deixe que a sua preocupação comigo te incomode. Ben e eu mal somos amigos, então não há muito com que se preocupar entre nós. E se as coisas não derem certo entre vocês dois, existem outras opções além de riscar o carro dele e acertar um taco de beisebol no seu para-brisa. Ela riu de novo, parecendo infinitamente mais relaxada. — Sim? Como o quê? — Sendo adultos, por exemplo. Agindo de forma madura. Ela suspirou para fazer efeito. — Você, simplesmente, tem todas as respostas, não é. — Eu sou mais velha. — eu a lembrei. — E infinitamente mais sábia.

— Com certeza, você é. Ok, ele está aqui. Te ligo depois! — Divirta-se! — Te amo. — Amo você também. Eu desliguei a conversa com Emma e virei para derramar a pipoca em sacos. Abri uma caixa de Capri Suns6, comprado especialmente para a noite de cinema em família e coloquei na bandeja. A memória me bateu com tanta força que meus joelhos quase dobraram. Eu agarrei o balcão de apoio e abaixei a cabeça. Eu estava neste mesmo lugar, fazendo esta mesma tarefa. Os braços de Grady enrolados em torno da minha cintura e ele me puxou para o seu peito firme. Seu rosto se aninhou na curva do meu pescoço e ele inalou minha pele. — Noites de sexta costumavam serem noites de encontros. — eu o lembrei. As crianças foram esmagadoras essa semana. Jace era apenas um bebê e não dormia à noite. Abby e Lucy estavam constantemente brigando por brinquedos. Blake não quis me abraçar naquela manhã quando eu o deixei na escola. Meu mundo estava difícil e desgastante, era fácil sonhar como os primeiros anos com Grady, como eram simples. — Isso é verdade. — ele sussurrou contra a minha pele. — Agora são as noites da família. — Eu preciso de uma pausa, Grady. Estou exausta. — Eu estou aqui para ajudar, Baby. Hoje à noite vai ser fácil. Eu bocejei em desafio. Ele apertou-me mais e deu um beijo quente contra a minha pele. — Se você diz.

6

Marca de suco concentrado de propriedade da empresa alemã WILD e vendido em sacos de folha laminada.

— Nós vamos passar algum tempo com as crianças, colocá-los na cama juntos e então eu vou passar o resto da noite te ajudando a relaxar. — suas palavras rudes vibraram sobre a minha pele e enviaram formigamentos espirais para a minha barriga. Eu amava quando ele fazia isso comigo, como sua voz me acalmava e melhorava a minha perspectiva. — Nós vamos ver algo mais tarde, apenas nós dois. Você escolhe. Vou esfregar seus pés. — Mmm. — eu gemi quando seus beijos arrastaram até o meu pescoço para saborear o lóbulo da minha orelha. — Você me seduziu. Com a risada ele roçou a barba por fazer na minha orelha. — Isso é geralmente o objetivo. Virei-me em seus braços e deixei-o continuar a me cortejar. Nós nos beijamos longa e desesperadamente até que Blake apareceu na cozinha olhando para nós. — Eca! — ele gemeu. — Isso é nojento! Grady se afastou de mim e olhou para seu filho mais velho. — Tome notas, Blake. Isto será útil um dia. Eu golpeei seu peito, mas ri, incapaz de encontrar a minha frustração de mais cedo. Grady limpava e preenchia todas as minhas falhas com as melhores partes dele. — Mãe, eu posso pegar um? Olhei para cima para ver Blake alcançando uma tigela de pipoca. O choque da memória de Grady e a realidade de um Blake mais velho na minha frente me fez sentir um choque físico. Meu peito apertou em agonia e meu estômago virou com tristes náuseas. — Por favor? — eu lembrei Blake com uma voz quebrada. — Por favor. — ele sussurrou de volta. Em vez de pegar a tigela de pipoca, ele caminhou ao redor da ilha e passou os braços em volta de mim. Beijei o topo de sua cabeça e inalei seu cheiro de menino.

Ele estava crescendo tão rápido. Estava mais alto do que nunca e seu corpo tinha começado a se preencher com músculos. Ele não era mais o meu bebê. Enquanto isso fazia uma parte de mim gritar de protesto, a maior parte estava muito orgulhosa do jovem que ele estava se tornando. — Noite de cinema em família é difícil para mim também, mãe. — ele fungou em minha camisa. Eu empalideci com a nova dor. Eu nunca tinha parado para pensar sobre como a noite de cinema em família poderia prejudicar meus filhos. Eu queria manter a rotina e ajudar a manter a memória do Grady. Eu tinha nadado através da minha própria dor de cabeça e me forçado a suportar uma noite que eu temia durante toda a semana. E por quê? Portanto, podíamos ficar triste juntos? Que simplesmente não parecia valer a pena. Eu me afastei para que pudesse olhar Blake nos olhos. Ele piscou rapidamente e tentou evitar o meu olhar. Meu coração quebrou em um milhão de pedaços. — Vamos fazer algo diferente, então. — O quê? — ele finalmente olhou para mim e a tristeza começou a se dissipar. — O que você quer dizer? — Eu não sei, parece que essa coisa noite de cinema está deixando todos nós tristes, devíamos tentar algo diferente, algo que nos faria felizes. — Mãe, você está vindo? — Abby saltou para a cozinha com Lucy sobre os calcanhares. Jace titubeando atrás deles e me abraçou também. Seus pequenos braços em volta de minha perna e ele olhou para mim, balbuciando sobre o suco. — Eu não sei, Abs. Blake e eu estávamos falando sobre mudar as noites de sexta.

Ela inclinou a cabeça, — O que significa isso? — E se, em vez de assistir a um filme esta noite, jogarmos jogos no lugar. — Como Candy Land? — perguntou Abby. — Não Candy Land! — Blake lamentou. Eu sorri para ele novamente. — Que tal jogar alguns jogos? Você pode escolher um também. — E eu também! — Lucy exigiu. — Claro, Lucy. Você também. — Eu! Eu! Eu! — Jace juntou-se. Eu levei as crianças para a mesa da cozinha e entreguei pipoca e suco. Eu corri até o porão e tirei alguns jogos que estavam encostados em uma prateleira por muito tempo. Uma hora e meio mais tarde, nós riamos o nosso caminho através de Candy Land, Chutes and Ladders7, UNO e Mico. A noite não tinha sido fácil. Jace tinha sido difícil e destruiu mais de uma de nossas tentativas de jogar. Abby tinha muita atitude e nem sempre ficava satisfeita com o resultado do jogo. Ok, honestamente, ela era uma perdedora terrível. Eu teria que trabalhar isso com ela. A noite testou a minha paciência, o que me fez questionar se pegar todos esses jogos foi muito melhor do que apenas carinhos no sofá durante um filme. Filmes eram muito mais fáceis, mas infinitamente mais dolorosos. Até o momento que eu os tinha colocado na cama, eu decidi que faria desta a nossa nova tradição. Eu fiquei indecisa até deitar. Estava exausta da noite, mas as crianças também. Eles foram para a cama

7

Jogos de tabuleiro.

felizes. Escovaram os dentes com calma e pularam na cama, prontas para terminar o dia. Eu sabia que o bom comportamento não se devia ao seu nível de exaustão. Eles se sentiram satisfeitos pela primeira vez em um longo tempo. Eu não seria sempre capaz de preencher o papel de ambos os pais, mas esta noite eu tinha-lhes dado a atenção que eles precisavam e o foco que ansiavam. Eu não os puni pelo comportamento indisciplinado, desistindo dos jogos. Eu tinha trabalhado para reorientar sua energia em uma competição amistosa, em vez disso. E eles precisavam disso. A queimadura afiada de humilhação queimou sobre a minha pele. Eu não podia acreditar que tinha levado tanto tempo para perceber o quão difícil nossa tradição noite de cinema era para eles. Estive muito ocupada chafurdando na minha própria dor para notar a deles. Que mãe egoísta eu fui. Voltei lá embaixo de pijama, querendo guardar os jogos e arrumar a cozinha e, em seguida, entrar em colapso de cara na cama. E eu sabia que estava tão cansada como eu me sentia. Os feriados estavam chegando. Tínhamos, de alguma forma, passado pelos primeiros meses de escola e agora havia Ação de Graças para esperar ansiosamente na próxima semana. Olhei para cartas de UNO dispersas e sabia que tinha que fazer algo assim para nós durante os próximos feriados. Nós não iríamos sobreviver a Ação de Graças e ao Natal se tivéssemos que reviver toda a tradição que Grady tinha nos ajudado a construir. No ano passado, neste momento, Grady estava internado no hospital. Nós passamos a nossa temporada de feriados empilhados em sua cama estreita, prometendo um ao outro que ele iria ficar melhor e estar conosco no próximo ano. Essas memórias cortavam como uma faca, cavando meu esterno e esfolando-me. Eu não podia sequer pensar sobre

aqueles dias finais sem um excesso de lágrimas e dor de cabeça instantânea. Nós ainda tínhamos esperança. Nós ainda acreditávamos que o tratamento iria funcionar e que teríamos Grady de volta como ele costumava ser. Tivemos confiança de que as crianças teriam seu pai em casa com eles de novo, que eu teria o meu marido de volta. Talvez fosse porque essa esperança, que agora parecia uma traição terrível, ou talvez porque eu desesperadamente ansiava pela esperança novamente, mas aquelas semanas, quando ainda acreditava que poderia ficar melhor, deixaram-me furiosa. Minhas mãos tremiam enquanto puxava as pilhas de cartas espalhadas para mim e tentava endireitá-las. Lágrimas estatelaram em minhas mãos e na mesa como um poço de tristeza e a frustração transbordou. Meu peito doía, meus ossos doíam... minha alma ferida. Como ele pôde me deixar? Como ele pôde deixar-me acreditar que ele iria sair dessa? Como eu pude ter pensado que havia esperança, oração e determinação suficiente no mundo para melhorar o meu marido? Eu era tão impotente na época como agora. Eu afundei em uma cadeira antes das minhas pernas cederem e eu desabar no chão. Larguei as cartas de volta na mesa e enterrei meu rosto nas mãos. Um soluço estrangulado explodiu do meu peito e eu cedi à agonia. Deitei-me em cima dos jogos como se fosse uma oferta para curar minha alma. Deixei-me sangrar naquela mesa e abracei a raiva que agora maculava cada pensamento e emoção. Eu balancei com a raiva que parecia ferver dentro de mim e ameaçava assumir. Nunca abandonada.

me

senti

tão

completamente

sozinha

antes.

Tão

O lado racional do meu cérebro argumentava que Grady não me abandonaria, que ele nunca faria isso. Ele tinha lutado o máximo possível para sobreviver. Infelizmente, minhas emoções não eram governadas pela lógica e compreensão. Elas só podiam sentir. Elas só podiam projetar o que meu coração sentia. E agora eu estava mais irritada do que nunca. Eu não sabia se essa raiva algum dia se esvairia. Ela me consumia. Fiquei ali sentada, quieta e imóvel, enquanto ela queimava no meu interior derramando ácido que comia minha alma, lentamente, centímetro por centímetro. Meu telefone tocou no meu bolso. Provavelmente era Emma enviando mensagens de texto sobre o encontro. A última coisa que eu queria fazer era encarar a felicidade de outra pessoa, mas é por isso que eu forcei os meus dedos a puxarem o telefone do meu bolso e lê-la. Eu precisava sair do poço do desespero que eu tinha afundado e deixar alguma luz entrar no meu mundo despedaçado. Eu tinha que ter alguma perspectiva e rápido, ou isso poderia nunca acabar. Eu funguei e tive que enxugar os olhos várias vezes antes que eu pudesse ler as palavras na tela. A mensagem não era de Emma, afinal. Era de Ben. Eu sei que você está morrendo de curiosidade. Emma é uma garota divertida. Como ele sabia? Obviamente, era verdade, mas eu não achava que estivesse tão óbvio. Eu pensei em não responder, mas ele estava certo, a curiosidade estava me matando. Melhor encontro da sua vida? É melhor tê-la tratado bem.

Ele respondeu imediatamente: Eu a levei para um show de sexo ao vivo e, em seguida, roubamos um carro. É o suficiente? Meu rosto aqueceu quando eu li “sexo”, foi estúpido da minha parte. Mas eu não tinha esse tipo de relacionamento com um homem desde Grady. A maioria dos homens era mais séria perto de mim. Eu tinha um marido há dez anos e quatro filhos. Eu era mantida à distância. Bem, por todos, exceto Ben Tyler. Ele, aparentemente, não sentia necessidade de lidar comigo com luvas de pelica. Demorou alguns minutos para finalmente decidir sobre a resposta certa, mas, eventualmente, eu disse: Provavelmente Emma adorou. Não minta, você teria adorado também. Pisquei para o texto sem nenhuma ideia de como interpretálo. Quase parecia flerte... mas ele não flertaria comigo, logo depois de chegar em casa do encontro com a minha irmã. Além disso, ele acabou de dizer que eles se divertiram. Eu não queria responder, no caso de ele pensar que eu estava flertando com ele. Mas eu não queria que ele achasse que me deixou desconfortável o suficiente para não responder. Por que enviar SMS para outras pessoas era tão difícil? Senti minha personalidade enferrujada e mal utilizada quando, finalmente, escrevi a resposta. Algo despertou em meu peito deixando meus músculos laterais doloridos. Eu não conseguia definir o sentimento, ou dizer exatamente o que era, mas eu sabia que era libertador. Parecia relaxante. Isso é o melhor que você pode fazer? Meio chato na minha opinião.

Eu fechei a tela e terminei de arrumar os jogos. Eu apaguei as luzes do primeiro andar da minha casa bonita, que representava Grady quase tanto quanto seus filhos e subi as escadas com os pés lentos. Rastejar para a minha cama era algo que eu temia a cada noite. Até o momento que eu escovei os dentes e lavei meu rosto, meu telefone tinha tocado duas vezes. Eu não verifiquei-o novamente até que estava na cama e aconchegada sob mantas quentes. Você, Liz Carlson, é uma surpresa. Como não respondi logo, ele mandou mais uma mensagem: Boa noite. — Boa noite, Ben. — eu sussurrei para o telefone que desliguei e me virei. Depois de meu colapso anterior, eu temia ir dormir esta noite. Eu nunca conseguia adormecer após esse tipo de trauma emocional. Havia um frasco de pílulas para dormir no meu armário de remédios que me foi dado logo após Grady morrer. Eu tinha tomado algumas vezes quando meus pais ficaram com a gente, porque eu me sentia mais segura com eles aqui para vigiar as crianças. Eu os mantinha apenas no caso de estar desesperada. E durante o meu colapso eu tinha contemplado usá-los. Só por essa noite. Mas a mensagem de texto de Ben ajudou a acalmar o meu espírito frenético. Ele conseguiu me tirar da escuridão e fez brilhar um pouco de luz sobre mim. Fechei os olhos e entrei facilmente no sono, grata por minha irmã me tolerar e pelo meu vizinho que conseguia me fazer sorrir quando eu achava que nunca mais sorriria.

Capítulo Onze Ação de Graças. Já existiu algum feriado mais terrível? Na verdade, o dia inteiro me deixou no limite. Eu não queria acordar grata pelas coisas que eu ainda tinha, ou passar o tempo contando minhas bênçãos. Eu não queria me lembrar de por que eu era tão abençoada ou ensinar meus filhos a considerar cada pequena coisa como um presente. Eu queria ficar de pijama e chafurdar na autopiedade. Eu queria beber durante o dia e comer o meu peso em Ben e Jerry8. Eu queria levar todos os meus filhos para a minha grande cama e preenchê-la, para variar, e então mantê-los por perto e chorar. Eu não chorava desde a última sexta-feira à noite. A semana tinha passado rapidamente e as crianças ficaram de folga da escola apenas ontem. Eu os chamei para ajudar a assar algumas guloseimas de feriado e nós ligamos o Top Quarenta e dançamos ao redor da cozinha - qualquer coisa para manter a sombra do nosso primeiro grande feriado sem Grady fora de suas cabeças. Esta manhã eu acordei cedo com Abby tendo um pesadelo terrível. Ela gritou no topo de seus pulmões. Corri para ela, aterrorizada que algo estivesse errado. Ela ainda não tinha acordado quando me arrastei para a cama dela e passei meus braços em torno de sua cintura fina. Ela se aninhou contra mim e se acalmou imediatamente. Eu sussurrei palavras calmantes por uma hora antes que ela acordasse por si.

8

Sorvete

— Mamãe? — Ela estava tão confusa e sonolenta que eu não pude deixar de sorrir. Seu cabelo encaracolado estava desordenado em torno do rosto sardento e seus olhos verdes tinham dificuldade para se concentrar. Ela podia ser uma mão cheia, mas ela era a minha mão cheia. Eu amava essa coisinha. — Você teve um pesadelo. — eu disse a ela. — Eu sei. — ela sussurrou de volta. — Você quer falar sobre isso? Ela balançou a cabeça e me abraçou mais apertado. — Vai deixar você triste. Eu não a pressionei. Talvez eu devesse. Talvez eu devesse tê-la encorajado a falar sobre isso, tirá-lo da cabeça dela e ajudá-la no processo. Mas eu estava com medo de que ela estivesse certa. Eu não queria ficar ainda mais deprimida. A ideia de que Abby teve um pesadelo sobre a perda do pai me paralisou de dor. Eu não podia fazer nada além de abraçá-la e prometer-lhe que ia ficar bem, mesmo que eu não acreditasse naquela promessa feia, vazia. Eu não podia mentir para ela sobre qualquer outra coisa, embora. Então, eu não me incomodei em dizer que ela não teria outro pesadelo ou que se sentiria melhor em breve. Eu só me certifiquei que ela soubesse que eu estava lá para ela, que ela podia dormir comigo a qualquer momento em que ela ficasse com medo e que eu sempre estaria aqui para ela se ela não conseguisse dormir. Eu não sabia se as minhas palavras ajudariam ou a machucariam em longo prazo, mas, sinceramente, eu não me importava. Era o melhor que eu podia fazer. Abby e eu ficamos na cama um longo tempo, apenas segurando uma a outra. Eventualmente, as outras crianças começaram a aparecer, à medida que acordaram, e nós os adicionamos à nossa pilha.

Nós não tínhamos que almoçar até às onze e por isso não foi até que Jace não pôde mais aguentar a fome que nós nos arrastamos do calor da cama para o sustento na cozinha. Agora, estávamos parados na varanda da pitoresca casa de tijolos de Katherine e eu comecei a contemplar a ideia de jogar as crianças de volta no carro e dirigir até o restaurante mais próximo. — Por que estamos de pé aqui? — Blake estendeu a mão para a campainha. — Eu só quero ter certeza de que estamos prontos. — eu suspirei. Meus filhos me olharam como a mulher louca que eu era. Jace tentou saltar dos meus braços e mergulhar para a casa de sua nana. Blake empurrou a campainha para nos tirar do frio. Trevor abriu a porta e caos se seguiu. As crianças o atacaram e ele lutou com elas para a sala de estar. Eu guardei a minha bolsa e voltei para o carro para pegar as tortas que as crianças tinham me ajudado a fazer. Eu levei a de maçã em uma mão e a de cereja na outra, enquanto passava por cima de pés pequenos que chutavam e pelo braço do Trevor, que brincava de zumbi com as crianças. Katherine estava no fogão, verificando as várias caçarolas no forno. Ela olhou por cima do ombro quando eu a cumprimentei e me deu um sorriso suave. — Feliz Dia de Ação de Graças. — disse ela. — Feliz Dia de Ação de Graças para você também. Ela examinou as minhas tortas e imediatamente meus arrepios aumentaram, talvez injustamente, mas isso não importava. — As crianças ajudaram a fazer? — Sim.

— Eu admiro você por assar com tantas crianças. Eu só tinha os dois rapazes, mas eu não conseguia controlá-los na cozinha. Dei-lhe um sorriso tenso, enquanto a raiva irracional queimava no meu estômago. Eu não tinha escolha. Eu não tive dois filhos e eu não tenho o luxo de ajuda. Ela sabia disso. Eu não sei por que ela sentia a necessidade de apontar. Eu decidi que mudar de assunto seria melhor para nós duas. — Você precisa de alguma ajuda? — Obrigada, Liz. Você poderia encher os copos de água sobre a mesa; estamos quase prontos para comer. E nós comemos. Katherine era uma excelente cozinheira e ela serviu uma refeição espetacular. Normalmente, ela convidava primos e tias e tios para celebrar o feriado também, mas ela se ofereceu para mantê-lo pequeno nesse Ação de Graças. Foi a única razão pela qual eu concordei em vir. Honestamente, a ideia de enfrentar toda a família de Grady sem ele ao meu lado parecia o círculo íntimo do inferno. Eles eram esmagadores para começar, mas depois da morte de Grady o dia seria composto por perguntas sem parar sobre como eu estava, ou como as crianças estavam lidando, ou como estávamos gerenciando, ou como eu pensava que Trevor estava lidando com os negócios. Eu teria arrastado Emma junto, mas ela tinha voado para a Flórida para passar o feriado com nossos pais aposentados. Ela ficou hesitante em ir, mas eu a encorajei, pensando que seria bom para os meus pais. O jantar foi tão caótico como sempre com quatro filhos para servir e controlar, mas relativamente tranquilo uma vez que havia tantos adultos para ajudar.

— Vamos agradecer? — a voz alegre de Katherine irritou os meus nervos. Eu tentei sorrir para Abby, encorajando-a com a minha expressão, mas eu não fui crível. — Precisamos? — Abby gemeu. — Eu não sou grata por qualquer coisa. — Abigail. — eu assobiei para ela. Eu podia ver o sofrimento na sua face, mas a mãe em mim não pôde deixar de repreender. — Pelo que você é grata, mamãe? — seu sarcasmo seco não passou despercebido. — Eu sou grata por você. — eu disse a ela honestamente. — Por quão divertida e aventureira você é. — isso pareceu acalmá-la, então eu segui em frente. — E eu sou grata por Blake também. — eu olhei para o meu filho mais velho. — Grata para o quão útil você é e por sempre lembrar tudo o que eu esqueço. — ele me deu um sorriso tímido e voltou a empurrar seu feijão verde em torno do prato. — E eu? — Lucy gritou. — Eu sou grata por você também, Luce. Eu sou grata por todos os seus abraços e beijos. E eu sou grata por todos os desenhos que você faz para mim. — eu despenteei o cabelo vermelho desleixado de Jace e beijei a bochecha pintada com purê de batatas. — Eu sou grata por você também, J. Eu sou grata por você dormir a noite toda novamente e por sempre saber como me fazer rir. Minha sogra enxugou os olhos com um guardanapo de pano. — Isso foi lindo, Liz. Eu me mexi no lugar e desviei o olhar. Era chocantemente enervante vê-la chorar no meio do jantar. Isso também teve um efeito intenso sobre mim. Eu queria chorar também apenas de olhar para ela, mas pensar que foram minhas palavras que a emocionou realmente me chocou.

Trevor suspirou com adoração. — Ah, mãe. Você está deixando a Liz desconfortável. Ela me deu um sorriso sem graça. Estendeu a mão trêmula e descansou sobre a toalha branca. — Eu sempre achei que as crianças tinham sorte de ter um pai como Grady. — ela admitiu. — Mas eu estou percebendo que eles são realmente sortudos por ter uma mãe como você. Eu deveria ter ouvido o elogio em suas palavras. Eu realmente deveria ter. Mas tudo que eu podia ouvir era o desapontamento que ela sentia por mim, até este ponto. Precisou seu filho morrer para ela ver que eu não era tão decepcionante, afinal. Eu podia sentir o lugar ruim em que estava presa. Podia sentir o veneno desses sentimentos na minha mente e alma. Esta raiva que comia meu interior e espalhava toxina através do meu sangue era perigosa e terrível. Eu queria que se fosse, mas eu não conseguia fazê-la ir, o que só me deixava mais irritada. — Obrigada. — eu consegui dizer, embora minhas palavras tivessem soado frias e falsas na minha língua. Não foi até Katherine desaparecer na cozinha para trazer o bolo que eu finalmente encontrei um momento a sós com Trevor. Eu odiava a ideia de outras pessoas fazendo a pergunta, mas eu precisava saber. Este negócio era a minha vida também. — Como estão as coisas, Trevor? Com a empresa? Ele deu de ombros e se mexeu na cadeira. — Devagar com o inverno. — ele não me olhou nos olhos. Saltou nervosamente e pegou um pouco de água para engoli-la rapidamente. Minha mão se contraiu. Pela primeira vez na vida, eu quis levantar e dar um tapa em alguém. — Quão ruim está? — minha voz tinha se tornado baixa e grossa com a frustração.

Seus olhos levantaram e ele finalmente encontrou o meu olhar. — Ruim. Eu senti essa palavra pequena como um soco no estômago. O quarto inclinou-se de forma acentuada e, em seguida, começou a girar. — Eu não sei o que vamos fazer. As coisas estão ruins. — ele continuou. Senti meu pesado jantar de ação de graças agitar no meu estômago. Como ele pôde fazer isso comigo? Como ele pôde pegar o presente de Grady e destruí-lo tão levianamente? Ele não se importava? Eu tinha crianças para alimentar! Contas a pagar! Ele não se importava comigo? — Como você irá consertar isso? — minhas palavras saíram medidas e controladas, traindo a fúria que me queimava. Eu queria levantar e gritar com ele. Eu senti como se tivesse finalmente virado sobre o limite da insanidade com o grande volume de raiva em espiral através de mim. Com a voz embargada, ele admitiu: — Eu não sei se podemos. — ele passou a mão pelo cabelo escuro e voltou a cabeça para Blake. — Como você ousa. — minha voz assustou até a mim. Eu não esperava reagir de forma tão violenta, mas não pude evitar. — Como se atreve a assumir a empresa do meu marido, o presente dele para você e destruí-la? Trevor Se sobressaltou na cadeira, chocado com a minha acusação. Ele estendeu uma mão tímida. — Liz, espere... — Ele confiou em você. — eu cuspi. — Ele não morreu de repente. Ele morreu lentamente! Ele teve tempo para refletir sobre a companhia. Ele poderia tê-la vendido e feito um monte de dinheiro, Trevor! Mas não! Grady queria dar a você! Ele queria dar-lhe um

futuro. Ele queria dar-lhe um emprego! E você destruiu! Esse era o seu sonho. Sabe o que isso significava para ele? Você sabe o quão duro ele trabalhou para construir a empresa e fazer um nome para si mesmo? — Eu sei o que ele fez, Liz. Ele era meu irmão. — Então aja como se desse a mínima! Katherine escolheu aquele momento para caminhar de volta para a sala, embora possa ter tido algo a ver com meus gritos histéricos. Jace e Lucy começaram a chorar. Lucy saltou da cadeira e correu para o meu lado. Ela colocou os braços em volta da minha cintura e segurou-me firmemente. Eu estava muito envergonhada para olhar para Blake ou Abby. Meus filhos nunca tinham visto eu me comportar dessa maneira. Eles tinham tido suficiente; eu não tinha necessidade de colocar isso sobre eles também. E, no entanto, eu não podia parar. — Eu me importo! — Trevor atirou de volta, tão enfurecido quanto eu. — Você não pode nem imaginar como isso está me matando! O quanto me sinto fracassado por não fazer essa única coisa funcionar. A única coisa em que eu mais quis trabalhar no mundo! Você não acha que eu sei o quanto Grady amava esta empresa? Você está errada! Eu trabalhei com ele todos os dias por quase uma década. Eu o vi construí-la do zero! Eu sei que a única coisa que ele amava mais do que aquele lugar era você e seus filhos. Portanto, não pense por um segundo que eu intencionalmente a arruinei. Mas eu não sou Grady, Liz. Não sou nem metade do homem que ele era. — Trevor passou a mão áspera sobre os olhos, mas não conseguiu impedir as lágrimas raivosas e magoadas de caírem. Eu me sentia a pior pessoa do mundo por fazê-lo sentir-se assim, por fazê-lo admitir coisas que eu nem sequer pensava que eram verdadeiras.

Katherine entrou em colapso em seu assento. Lágrimas silenciosas corriam pelo seu rosto, mas ela não tentou limpá-las. Quando Trevor voltou a falar, sua voz estava quebrada, um retrato do que eu sabia que tinha acontecido com o seu espírito também. — Eu quero tentar, Liz. Eu quero fazer este negócio funcionar com tanto sucesso quanto na época que Grady estava vivo. Mas eu mal posso me tirar da cama pela manhã. Eu sei que você perdeu o seu marido. Eu sei o quão difícil é para você. Mas você tem que saber que eu perdi o meu irmão mais velho. Ele era meu melhor amigo e agora ele se foi. Eu mal posso andar em seu escritório sem quebrar e enlouquecer. Eu quero fazer isso direito, Liz, mas eu estou tão triste. Suas últimas palavras foram o que finalmente me quebrou. Eu tinha o suficiente. Eu não aguentava mais. Eu não conseguia aguentar a mãe de Grady olhando para mim com pena. Eu sentia os olhos de Katherine em mim constantemente. Eu sentia esperando que eu quebrasse. Eu podia senti-la apenas esperando que eu enlouquecesse. Bem, talvez eu finalmente tivesse. E Trevor estava muito pior. Ele não apenas parecia com seu irmão mais velho, ele agia como Grady também. E Trevor estava no meio da sua própria dor. Eu podia vê-lo sofrendo. Ele era uma casca, comparado ao homem que costumava ser. Eu amava Trevor como um irmão, mas vê-lo assim fez a minha dor duplicar. Eu não poderia sofrer tanto por Trevor e eu. Eu não poderia sofrer por todos nós e esperar ser capaz de respirar através dessa dor. Eu empurrei para longe da mesa, levando meus pegajosos filhos comigo. — Trevor, estamos todos tristes. Todos nós perdemos Grady. Mas você está matando-o mais uma vez, matando sua companhia. E a primeira vez já foi bastante difícil. Não vou lamentar duas vezes. Resolva isso, ou eu vou vendê-la.

O rosto dele ficou branco e Katherine ficou de pé, derrubando um copo de água com o movimento. — Liz, você não quer dizer isso. Girei para ela. — Eu não posso assistir essa empresa implodir, Katherine. Eu não vou. Grady confiava em Trevor, mas ele não queria isso. — virei para meus outros dois filhos. — Coloquem seus sapatos, crianças. É hora de ir. — Mas nós não comemos a sobremesa! — Abby reclamou. — Abs, teremos alguma coisa quando chegarmos em casa. Vamos. Katherine parecia absolutamente perturbada. — Liz... — Sinto muito, Katherine. — eu me sentia mal do estômago. Eu não era uma pessoa de confronto, mas eu não consegui ficar quieta. — Eu realmente sinto. Eu não quis que chegasse a... Ou dizer... Eu acho que seria melhor se nós saíssemos agora. — Ok. — ela sussurrou. Trevor abaixou o rosto nas mãos e eu tive que virar quando seus ombros começaram a tremer. Eu não podia vê-lo chorar. Eu não podia assistir a um homem adulto ter um colapso por minha causa e das minhas palavras estúpidas. Mas eu não podia fazer-me pedir desculpas também. Eu quis dizer aquilo. Cada palavra. Entrar no carro levou mais tempo do que eu queria. As crianças não estavam motivadas a deixar a casa da nana. Katherine insistiu em mandar as tortas de volta para casa com a gente e eu não tinha nenhuma energia para lutar contra ela. Ela me ajudou a acomodar as crianças no carro e carregar algumas sobras. Nós dissemos adeus sem emoção e prometemos ligar.

Ela beijou todas as crianças e, em seguida, assim que eu tinha me acomodado no banco do motorista e ela se pôs à porta lateral dizendo suas últimas despedidas: — Os adultos brigam às vezes. — virei-me para vê-la suavizar as coisas com os meus filhos abalados. — Isso não significa que eles não se amem. Sua mãe e tio Trevor amam muito um ao outro, mas também amavam seu pai. É difícil para eles sem ele aqui. Vocês vão perdoá-la por ter gritado com o tio Trevor, não vão? — eles devem ter assentido. — Eu amo todos vocês. Vejo vocês em breve. Ela deu um passo para trás e fechei a porta antes que ela pudesse dizer outra palavra. Não foi até entrar na garagem de casa que, finalmente, me acalmei o suficiente para oferecer-lhes o pedido de desculpas que mereciam. Desliguei o carro e me virei para eles. — Me desculpem, eu arruinei a Ação de Graças. Todos olharam para mim e deixaram minhas palavras se estabelecer sobre eles. Jace e Lucy já tinham esquecido, mas as crianças mais velhas lembrariam. Finalmente, Blake soltou o cinto e andou até mim. Ele jogou os braços em volta do meu pescoço e disse: — Mamãe, isso já estava arruinado sem o papai aqui. As lágrimas começaram a fluir novamente. Ele nunca me chamou de mamãe. Olhei por cima do ombro para Abby e perguntei: — Me perdoa? — O tio Trevor realmente vai arruinar o trabalho do papai? — perguntou ela, pensativa. — Não mais. — eu prometi a ela. — Ok. — ela pulou e abriu a porta para saltar para fora. Aparentemente, era toda a afirmação de que precisava.

Blake me soltou e ajudou a tirar os menores para que eu pudesse levar as tortas para dentro. Passamos o resto do dia aconchegados no sofá, comendo torta e sorvete. Até o momento em que os coloquei na cama, as duas tortas foram embora e eu deveria me sentir muito mais culpada do que estava. Eles me beijaram com sorrisos sonolentos e não falaram na minha briga com Trevor novamente. Eu não sabia se lembrariam dela na idade adulta; talvez fosse uma das razões que os mandaria para a terapia, ou talvez eles fossem esquecêla antes da manhã chegar. Mas eu sabia que eu tinha me comportado inadequadamente hoje e que mereciam mais do que isso. Melhor do que essa versão de mim. Assim como Trevor e Katherine. Senti-me desmoronando, desmoronando em pedaços irreparáveis que seriam esmagados

em cinzas. Eu não conseguia mais me

reconhecer. Eu tinha me tornado alguma criatura raivosa, feia, e não sabia como voltar. Isso não era verdade. Eu sabia como voltar para quem eu costumava ser, mas eu não podia. Eu não poderia voltar para a pessoa que eu era antes de Grady morrer e eu não poderia trazer Grady de volta para mim. Eu tinha arruinado a Ação de Graças, mas a morte de Grady tinha me arruinado.

Capítulo Doze Abri a despensa e, em seguida, bati a porta com força. Não havia nada lá! Droga. Onde tinha ido toda a comida? — Mãe! — Blake e Abby chamaram da porta de entrada ao mesmo tempo. — O quê? — eu ataquei a geladeira procurando em cada gaveta. — Tem um cara na porta da frente! — Blake gritou novamente. Levantei e me virei. Olhei para o fogão. Se eu olhasse tempo suficiente algo apareceria magicamente? — Quem é? — o truque de encarar não estava funcionando. Eu precisava descobrir algo rápido para o jantar ou os meus filhos fariam um motim. Queijo grelhado? — O cara com a piscina! — Abby gritou como uma explicação. — Ben? — Sim. — Blake confirmou. — Ben! — Deixe-o entrar! — pobre Ben provavelmente tinha ouvido cada palavra trocada entre nós, mas não havia nada que pudesse fazer sobre isso agora. O jantar precisava ser feito o mais rápido possível. Eu ouvi a porta da frente abrir e uma voz baixa cumprimentar os meus filhos. Jace correu para os meus pés, escondendo-se entre as minhas pernas. Abri a geladeira novamente. Tinha que haver alguma coisa aqui. — Eu estou aqui! — gritei com pena de Ben. Lucy e Abby começaram a brigar por algo. Gritos de menina irromperam da mesa de artesanato das crianças.

— Simplesmente segui os sons ensurdecedores. E encontrei você. Eu me virei para cumprimentar Ben cara a cara. Parecia que ele tinha vindo direto do trabalho. A gravata estava puxada para fora, o botão de cima desfeito e seus punhos enrolados nos antebraços. Seu cabelo escuro estava mais despenteado do que o habitual, como se ele tivesse bagunçado com as mãos recentemente. — Oi. — sorri para ele. Ele olhou para mim por alguns longos segundos. — Oi. Seu olhar me deixava nervosa, então voltei para a pesquisa nos armários. Não, nenhum jantar esperando por mim nos potes de Tupperware. — É sempre assim por aqui? — ele perguntou com uma risada divertida. — Sempre. — disse com a minha cabeça de volta na despensa. — Eu gosto disso. — pelo tom de sua voz, percebi que ele realmente acreditava que gostava muito. — Dê-lhe algum tempo. — avisei. Blake e Abby começaram a brigar sobre qual lápis deveriam usar para trabalhos de casa. — Blake tem a tartaruga ninja laranja, Abby você fica com Raphael! — O que você está fazendo? — Ben perguntou em um tom genuinamente interessado. Olhei por cima do ombro para encontrá-lo apoiado na ilha da cozinha. — Tentando parar a briga. Mas só vai durar um segundo. Apenas espere. Ele sorriu para mim. — Não, eu quis dizer lá dentro. O que estava fazendo na cozinha? — Oh! Eu estou, er, tentando preparar o jantar. Eu preciso ir ao mercado, mas eu só... não tive tempo. Então, agora eu estou tentando

descobrir que tipo de refeição posso fazer com uma garrafa de ketchup, queijo parmesão e ervilhas congeladas. Ben fez um som na parte de trás de sua garganta e disse: — Por favor, não tente fazer qualquer coisa com esses três ingredientes. — O que tem então em sua geladeira, Sr. Solteirão? — Uma garrafa de Ranch9 e um pacote de seis cervejas. — Sem julgamento. — virei o dedo para o seu sorriso de satisfação. — Pelo menos eu tenho ervilhas. Os três filhos mais velhos começaram a brigar outra vez sobre lápis e lição de casa e tive que abandonar a minha conversa com Ben para terminar a confusão. Então, Jace decidiu que preferia ficar na mesa de artesanato, em seguida, sentar-se e colorir e tive que lidar com ele. Quando voltei para Ben, ele estava acabando de terminar um telefonema. — Tudo bem. — provoquei. — Vamos unir nossos recursos. O que podemos fazer se combinarmos a sua garrafa de Ranch com a minha garrafa de ketchup? — Não preciso tentar descobrir esse enigma desconcertante. Eu apenas pedi pizza. Meu cérebro se recusou a aceitar suas palavras. — Desculpa, o quê? — Seus filhos parecem estar com fome. — ele acenou para os arruaceiros que tinham acabado de partir para uma briga sobre uma borracha. — Você parece com fome. — Mas eu... — E eu realmente estou com fome. Tenho medo de um jantar que consiste apenas de condimentos. Pensei em resolver ambos os problemas.

9

Molho com alho.

Eu estava muito sobrecarregada com a sua generosidade para protestar mais. — Obrigada, Ben. Seu sorriso suavizou com carinho amigável. — O prazer é meu, Liz. Estou feliz em ajudá-la. — Você não me ajudou, você salvou minha vida esta noite. Ele se inclinou para frente, apenas alguns centímetros de distância, e olhou diretamente nos meus olhos. — Elizabeth, a qualquer momento eu posso salvar sua vida pedindo uma pizza, por favor, me avise. É um sacrifício que estou mais do que disposto a fazer. — Eu, er, hum, obrigada. — minhas palavras eram um sussurro apressado. Virei-me de novo para ocupar-me com alguma coisa, qualquer coisa, na cozinha. — Então o que você realmente veio fazer aqui? A menos que nós estávamos falando tão alto que você pôde ouvir-nos da sua casa? — Eu trouxe algumas das suas correspondências. Algumas se confundiram com as minhas. Pensei que você pudesse precisar de sua conta de água. — ele acenou para um par de envelopes na frente dele antes de colocá-los no balcão. — Oh, uau, obrigada! Isso teria sido ruim. Meus filhos podem comer ervilhas e ketchup para o jantar de vez em quando, mas não podem ficar sem banhos. Eles são surpreendentemente fedidos. — Eu não acho que seja surpreendente. — ele respondeu sério. Eu ri e vi Abby tentar fazer bigode no rosto contorcido de Jace. Provavelmente, ele estava certo sobre isso. — Abby, tenha cuidado com os olhos! Ela desenhou cuidadosamente no lábio superior de Jace. — Eu sei, mãe!

Voltando-me para Ben, eu o peguei olhando para mim, não para Abby. — Eu pensei que você tinha vindo aqui falar sobre Emma! — eu soltei quando o pânico irrompeu dentro de mim. — Ah não. Uh, eu não vim aqui para falar sobre isso, ou, uh, ela. — Ela disse que você não ligou para ela. Eu pensei que você tivesse dito que foi divertido. Suas sobrancelhas se levantaram em conjunto. — Eu liguei para ela. Ela me ligou também. — O quê? Ela me disse que vocês dois realmente não tinham se falado desde o primeiro encontro. — Oh, certo. Bem, não marcamos um segundo encontro. Talvez isso seja o que ela quis dizer. Cerrei os olhos para o menino-homem gigante na minha cozinha e percebi que ele era um péssimo mentiroso. — Por que não? Você disse que vocês se divertiram! — eu sabia que estava repetindo, mas eu não consegui evitar. Qual era o seu negócio com a minha irmã? Ele quebrou em um sorriso divertido. — Sim, ela foi muito divertida. Mas foi isso. Nós nos divertimos. Eu sabia que naquela noite eu não ia convidá-la novamente e eu sei que ela não esperava ir mais longe. — Como você sabe disso? — meu tom atacou, um chicote mordendo o ar em torno de mim. O monstro da raiva tinha a sua residência sob a minha pele novamente. Eu não pude impedir a minha reação exagerada, mesmo que quisesse desesperadamente. — Porque ela me disse. — Ela não disse. — minhas mãos agarraram o tampo do balcão com tanta força que meus dedos ficaram brancos.

— Liz, ela disse. — sua voz suavizou. — Sua irmã é inteligente, engraçada e totalmente linda. Mas ela não está a fim de mim como você quer que ela esteja. Eu me virei, incapaz de encará-lo. Suas palavras se viravam na minha cabeça, tentando pousar em um só lugar tempo suficiente para eu dar sentido a elas. Mas eu não podia. Emma e Ben eram perfeitos um para o outro. E mesmo que ele jogasse isso para cima dela, como se fosse a decisão dela, não consegui deixar de culpá-lo. Abri a geladeira novamente e arranquei a última caixa de leite. — Droga. — xinguei enquanto servi apenas o suficiente em quatro copos pequenos. — Qual é o problema? — ele se adiantou e tomou a caixa de leite vazia da minha mão. — Eu preciso ir até o mercado. — Eu posso ver que você está irritada. Suas palavras só me chatearam mais. — Você sabe o que é ir a um supermercado com filhos jovens, Ben? Eu não tenho o tempo todo! E eu realmente não tenho paciência para essa dor de cabeça. E minha irmã é perfeita para você! Sua grande mão pousou no meu ombro e me virou para ele. Sua outra mão veio a seguir e dirigiu meu queixo para cima para que eu pudesse

olhar

para

ele. Seu

toque

me

confundiu

das

piores

formas. Nenhum homem além de Grady tinha me tocado assim. Não com este tipo de comando e intimidade. Eu não consegui escolher um sentimento na minha cabeça tumultuada que fizesse sentido. Eu não podia nem entender por que o toque de Ben parecia íntimo ou invasivo. Mas o calor de sua pele atravessou minha blusa fina e acondicionou em torno de meus ossos.

Eu não tinha sido tocada por outro homem além de Grady, mas eu também não tinha sido tocada por outro homem desde Grady. Eu sentia falta da afeição humana, o toque de um homem forte. Meu corpo acordou de onde estava adormecido há muito tempo, mesmo antes de Grady ter falecido. Minhas sobrancelhas franziram e pressionei meus lábios em uma careta. Esses sentimentos não podiam ser mais inconvenientes ou inoportunos. Eu precisava desesperadamente obter o controle do meu corpo e pensamento. Mas, em seguida, Ben falou com uma voz rouca baixa com autoridade e eu sabia que não tinha defesa contra ele naquele momento. Meu único pensamento era que não sabia nada o que viria dele, porque Ben era Ben, e eu estava em uma confusão quente. Éramos amigos e estávamos nos tornando bons amigos, mas isso era tudo o que havia entre nós. — Liz, eu admiro o quanto você gosta de sua irmã. Acho que ela é uma pessoa muito boa. Mas você tem que entender que nós nos divertimos muito, e, simplesmente, não teve química entre nós. Podemos ser grandes amigos, embora. E nós planejamos continuar amigos. Ela até vai me ajudar a escolher alguns móveis neste fim de semana. Eu não quebrei seu coração ou a tratei mal. E eu juro a você, ela não está sentada esperando meu telefonema para chamar-lhe para sair. Por favor, acredite em mim. Engoli além do nó na garganta. — Ok. — sussurrei. Sua mão que gentilmente segurava o meu queixo caiu para o meu outro ombro. Ele se levantou em toda sua altura, mas deu um passo em minha direção. Ele olhou para mim com aqueles olhos profundos e escuros e por um momento me perdi lá. Eu caí por ele de uma forma que me

assustou. Ele segurou o meu olhar e baixou a cabeça. Por um segundo louco pensei que ele queria me beijar. Após longos segundos, ele finalmente falou, quebrando o feitiço que se instalara sobre nós dois. — Você é uma mulher muito irritada. — A campainha tocou, logo que abri minha boca para me defender. — Eu vou abrir. — disse ele. — Eles vão precisar da minha assinatura para a pizza. Ele tirou as mãos de cima de mim e saiu da cozinha. Caí contra a geladeira com joelhos fracos. Quem era esse cara? Olhei para os meus filhos, mas eles estavam alegremente inconscientes. Tinham resolvido seus projetos de desenho, sem prestar atenção em mim. — Vão lavar-se crianças. — disse a eles. Eles finalmente olharam para mim. — Ben pediu algumas pizzas, vão se lavar e vamos jantar. — Quem é Ben? — perguntou Abby. — O rapaz da piscina. — Disse a ela. As crianças assistiram com fascínio e olhos arregalados quando Ben reapareceu com quatro pizzas grandes e duas caixas de breadsticks10. Ele colocou a comida no balcão e sorriu timidamente para mim. — Eu não sabia o quanto seria o suficiente. — Isso é... um... muito. — eu respondi a ele, tentando processar essa quantidade de alimentos. Ele se inclinou e, em voz baixa, como se pudesse ofender as crianças e disse: — Você tem um monte de crianças. Eu reprimi um sorriso; ele estava tentando ajudar. — Vão lavar-se! — eu lembrei as crianças. — E então venham comer pizza! — Pizza! — eles gritaram, apressando-se no lavado do corredor.

10

Tiras de pão recheada.

Ben me ajudou a arrumar os pratos de papel e os copos de leite. Eu decidi deixar este jantar o mais fácil possível. Abri as caixas e descobri que ele tinha escolhido uma de queijo, uma de pepperoni, uma supremo e uma Thai11 da nossa pizzaria favorita. De alguma maneira ele conseguiu entrar aqui esta noite e não só salvar o jantar, mas pedir perfeitamente para nós. Eu comecei a me perguntar se ele era real. Talvez ele fosse apenas uma invenção da minha imaginação. As crianças monopolizaram a atenção no jantar, fazendo-lhe uma centena de perguntas sobre o seu trabalho e casa, se ele tinha uma esposa, porque ele não tinha uma esposa, se ele tinha animais de estimação, por que ele não tinha animais de estimação e quando ele iria encher a piscina novamente. Ele não tinha encontrado a garota certa ainda. Muitas meninas que ele gostava, nenhuma menina que ele amava. Ainda. A minha curiosidade foi saciada. Ele permaneceu por alguns minutos depois que terminamos me ajudando a arrumar e até mesmo limpar a mesa. Eu enxotei as crianças para o andar superior para se prepararem para os banhos e caminhamos até a porta. — Obrigada. Por esta noite e pela pizza. Ele olhou para mim com um calor ardente. Eu senti por todo o caminho, até os dedos dos pés. — Fico feliz em ajudar. — respondeu. — Obrigado por me perdoar por realmente gostar da sua irmã. — Você é um homem muito corajoso para trazer isso à tona. — eu avisei com pouca raiva de verdade.

11

Pizza com recheio tailandês (geralmente de frango picante com temperos típicos)

— Eu realmente gosto de você também. — suas palavras me chocaram pra caramba. — Mas eu acho que de uma forma completamente diferente do que da Emma. — Eu não sei o que isso significa. Ele sorriu para mim. — Está tudo bem para mim. — Adeus, Ben. — Tchau, Liz. Eu o vi atravessar o meu quintal até o seu. Seu modo de andar, a marcha confiante venceu a distância rapidamente. Ele se virou apenas mais uma vez para acenar para mim e desapareceu na sua casa escura. Fechei a porta da frente e fui para o andar superior para colocar as crianças na cama. Eu sorri com durante o banho e durante a história, pensando em como Ben nunca esperou passar a noite com a gente. Seus planos para o jantar provavelmente eram muito diferentes do que sentar em uma mesa cheia, partilhando pizza com quatro miúdos selvagens. Logo que cobri Jace e beijei-o uma última vez, houve outra batida na porta. — E agora? — eu murmurei para mim mesma enquanto saltei para as escadas. Eu podia ver a figura alta de Ben através do vidro manchado. Olhei na direção da cozinha me perguntando se ele esqueceu algo. — Hey. — Sorri suavemente quando abri a porta para ele. Ele estendeu um saco de papel de supermercado. — O que é isso? — Eu liguei para Emma, como você queria que eu fizesse. — eu revirei os olhos para o seu tom acusador. — Ela vai vir amanhã de manhã por volta das dez, para que você possa ir fazer compra sozinha. Se você precisar de algumas coisas, eu posso sempre parar no meu caminho para casa do trabalho.

— Ben, eu não posso... — Liz. — ele me interrompeu: — Você tem pessoas que se preocupam com você, que querem ajudar. Vamos. — ele me empurrou a bolsa de papel, então peguei dele. Olhei para o saco para ver um galão de leite, uma caixa de açúcar mascavo, Pop-Tarts e meus K-cups12 favoritos. Emma deve ter-lhe dito os meus preferidos. Lágrimas brilharam nos meus olhos, quando levantei a cabeça para encontrar seu olhar intenso. — Obrigada. — Você vai me ligar se precisar de alguma coisa? Eu balancei a cabeça. Sim, eu iria. Ben tinha provado ser alguém que eu poderia confiar. Alguém que eu poderia confiar. — Tenha uma boa noite, Liz. — Você também. Desta vez eu não o vi ir embora, estava muito absorvida no pequeno milagre que ele tinha deixado em meus braços. Um galão de leite pode não parecer muito para alguém, mas para mim, era a diferença entre obter o café da manhã de amanhã e quebrar e queimar em uma chama de fracasso. Ele me salvou esta noite. E eu não conseguia entender a razão.

12

Capsulas utilizadas em máquinas de bebidas quentes ou frias.

Capítulo Treze Eu entrei em casa, os braços carregados de mantimentos. Emma sentou-se na ilha de cozinha com Lucy e Jace fazendo algum tipo de estrutura de Duplos13. A cozinha sempre foi o nosso cômodo mais amado. Era aberta e espaçosa, com muito espaço para a cozinha dos sonhos, uma ilha para as crianças se sentarem, uma mesa para jantares informais e um recanto perto da janela para a mesa de diversão das crianças. Grady projetou com todas as minhas esperanças e sonhos em mente. O quarto da bagunça foi direto para a garagem e tinha muito espaço para colocar casacos, sapatos, mochilas e o que mais precisasse. A cozinha abria para a sala de jantar de um lado e a entrada, que leva à porta e à sala da frente, do outro lado. Eu

amava

entrar

em

casa,

mesmo

após

o

estresse

do

supermercado. Simplesmente me acalmava. Era apenas uma das razões para eu nunca vender este lugar, mesmo que ele me lembrasse muito o Grady. Ele a construiu para mim. Eu não conseguia me imaginar morando em qualquer outro lugar. A visão de Emma no balcão com os meus dois pequenos aqueceu meu

coração.

Sempre

que

estava

com

eles,

ela

ocupava-os

completamente. Eles devoravam toda a atenção que ela focava neles. — Ook, mama! — Jace mostrou a torre de Legos. — Eu que fiz! — Uau, J! Eu amei!

13

Duplo (marca registrada como DUPLO) é uma linha de produtos da Lego, projetado para crianças de 1 ½ a 5 anos de idade. Tijolos duplo são duas vezes o comprimento, altura e largura de tijolos tradicionais Lego, tornando-os mais fáceis de manusear e menos provável de ser engolido por crianças mais jovens.

— Tia Emma e eu estamos construindo um castelo. — Luce me disse animadamente. — É apenas para princesas. — Parece um palácio de uma única princesa. Lucy sorriu para mim e voltou para o seu projeto. Emma continuou a observar as crianças enquanto eu pegava todos os mantimentos e os colocava na mesa. Fiquei espantada com a paz que mantivemos durante todo o processo. Eu também estava surpresa com o tanto que relaxei depois de apenas uma hora para mim. O supermercado foi abençoadamente tranquilizador. Eu andei para cima e para baixo em cada corredor devagar, saboreando a liberdade que eu tinha para procurar e comparar os preços. Era o sonho de uma mãe se tornando realidade. Comparável apenas com a pedicure ilusória e anual. — Você já está morrendo de fome? — perguntei a Emma depois que o último dos mantimentos foi guardado e os sacos de plástico foram amarrados bem e armazenados para que eu os encontrasse mais tarde. — Eu não sei. Estamos morrendo de fome? — Sim! — os dois pequenos aplaudiram. Eu retirei ingredientes para sanduíches enquanto eles guardavam o Lego. Finalmente, as crianças ficaram satisfeitas com o almoço e Emma e eu tivemos um minuto para conversar. — Obrigada mais uma vez, Em. Eu precisava sair. Ela se inclinou para frente e apoiou os cotovelos sobre o balcão de azulejos brancos. — Você podia ter me ligado. Você sabe que eu quero ajudar o máximo que posso.

— Eu sei. — eu soltei um suspiro cansado. — Mas eu já pedi muito de você. Eu sei que você está se preparando para o final do semestre. Eu não quero adicionar qualquer estresse. — limpei a garganta e continuei. — Qualquer estresse extra na sua vida ocupada. Ela estendeu a mão e colocou-a sobre a minha. — Pare de pensar que você é um fardo. Eu te amo. Eu sempre vou fazer o que puder para ajudá-la. E eu amo seus filhos como fossem meus. Vocês não são estresse extra. Vocês são a minha família. Virei a mão e apertei seus dedos. — Então, eu sinto muito que Ben tenha ligado. Eu não pedi isso para ele. Ela puxou a mão para trás e acenou com desdém no ar. — Eu sei. Ele me contou. — Quando ele ligou para você. Ela pegou o sanduíche. — Obviamente. — Mesmo que você tenha me dito que ele não tinha ligado ainda! Por que isso? Suas bochechas aquecerem com embaraço. — Eu não menti para você! — ela disse rapidamente. — Na verdade, ele não me ligou no sentido que você queria! — Por que você não me disse que vocês dois queriam ser amigos? — Emma podia ser escorregadia quando queria, mas, mesmo assim, a mentira dela me incomodava. Parecia que ela queria esconder algo, mas eu não entendia o quê ou por quê. Ela deixou escapar um pequeno sopro de indecisão. — Eu não sei... Eu acho que foi um pouco humilhante. E você tinha tantas esperanças para nós. Eu não queria decepcioná-la. — Por que foi humilhante? — o sangue subiu à cabeça, quente e pronto para defender a minha irmãzinha.

— Porque foi tão óbvio que ele não estava a fim de mim. Desde o início, eu percebi que os sentimentos dele por mim eram neutros. Mexeu com a minha vaidade. Eu sorri para Emma. Ela era absolutamente linda com seu cabelo loiro ondulado e selvagem, penetrantes olhos azuis que se ajustavam perfeitamente com a pele cremosa e lábios carnudos. E o nariz, o nariz estupidamente bonito e adorável era muito menor do que o meu. Ela não tinha experimentado um monte de rejeição na vida. — Eu tenho certeza que sua vaidade vai ficar bem. Ela sorriu para mim. — Eu conheci alguém na biblioteca no fim de semana. Ele vai me levar para sair amanhã à noite. Revirei os olhos. — Estou feliz que você esteja definindo a sua autoestima pelo número de caras que te convidam para sair. Ela bufou em seu sanduíche. — Minha autoestima está bem. Mas um pouco de atenção do sexo oposto não faz mal. — Então, o que há com Ben? Você acha que há algo de errado com ele? — inclinei-me e apoiei o queixo na mão. Tinha que haver algo de errado com ele se ele não gostou da minha irmã. Certo? Emma inclinou a cabeça para trás e riu antes de se inclinar mais para colocar o rosto no topo da cabeça de Jace. — Não há nada de errado com ele! Mas eu amo a sua lealdade. — Ok, mas ele tem trinta e cinco anos de idade e não tem sequer uma namorada séria. Além disso, você disse que ele não estava interessado em você desde o início. Ele come as unhas ou algo assim. Eu sei que há algo de errado com ele. — Foi isso que achei. Ele tem trinta e cinco. Eu estou com vinte e seis. Essa lacuna entre nós é muito grande. Pode funcionar para algumas pessoas, mas agora ele e eu somos muito diferentes. Ele olha para mim como uma irmã mais nova.

Eu fiz uma careta. — Eu não tinha pensado nisso, na diferença de idade, quero dizer. Eu acho que vocês estão em diferentes fases da vida. — deixei escapar um longo suspiro e forcei minha lealdade a aceitar esse motivo. — Mas ainda assim, ele é um bom partido. Ele deveria ter encontrado alguém até agora. — Ele é um partidão. — disse ela, pensativa. — Nós nos divertimos quando saímos. Definitivamente, gostei dele. — Tem de haver alguma coisa. E tiques estranhos? Ele mastiga com a boca aberta? Não dá boas gorjetas? Ele olhou para outras mulheres durante toda a noite? — quando ela franziu o nariz para mim, eu choraminguei. — Vamos! Eu preciso de detalhes sujos. — eu me incomodei por ter tantas coisas sobre Ben. Mas também me incomodei por Emma ter ido a um encontro com ele e visto esse lado dele que eu nunca vi. Nós só nos conhecíamos há alguns meses, mas havia algo nele que me deixava confortável para contá-lo como um dos meus amigos. E desde que Grady morreu, tinham sido muito poucos e distantes entre si. Bem, basicamente, apenas Emma. Eu tinha outros amigos antes de Grady falecer, mas ao longo dos últimos dez anos do nosso casamento minhas amizades mais ou menos se dissolveram em mais casuais. Todos nós tínhamos famílias para cuidar agora e o tempo que destinávamos para o outro diminuiu ano após ano. Claro, ainda havia meninas que eu podia falar, mas desde o funeral de Grady, eu era praticamente uma bagunça chorosa de ser humano. Ninguém queria lidar com isso ou ouvir como as coisas eram difíceis para mim agora. Eu sabia que a maioria dos meus amigos ficava com medo até de mencionar Grady na conversa. E eu estava muito apática em relação a essas amizades superficiais para me importar. Mas, se eu não tivesse Emma...

Eu não podia nem pensar nisso. — Honestamente, eu acho que ele está interessado em outra pessoa. — Emma pareceu completamente perplexa. — Ele nunca mencionou qualquer uma para mim. — eu disse a ela. Fiquei um pouco surpresa também. Se ele estava de olho em outra pessoa, por que ele concordou em ir a um encontro com Emma? Seus

olhos

se

estreitaram

um

pouco

e

as

sobrancelhas

agruparam. — Eu acho que é você, Lizbeth. Eu acho que ele gosta de você. Uma risada incrédula borbulhou dentro de mim. — Agora, quem acabou de ser leal? — Estou falando sério! Ele fez cerca de três mil perguntas sobre você durante o jantar. Ele sorri sempre que fala o seu nome. Ele está claramente apaixonado. Eu

me

senti

mal

de

repente. O

sanduíche

bateu

desconfortavelmente no meu estômago. — Ele acha que eu sou louca. Ele sorri porque ele está tentando não rir de mim. — Eu acho que ele tem uma queda. Eu apertei os lábios para não exigir que Emma retirasse o que disse. Como ela poderia pensar isso? — Emma, fala sério. Eu não sou o tipo de menina por quem homens têm paixões. Ele viu o caos da minha vida e ele sabe sobre Grady. A última coisa que ele tem é uma queda por mim. Ele sente pena de mim. É isso. — assim que eu disse as palavras, eu me odiei. A coisa que eu mais gostava em Ben era que ele não sentia pena de mim. Ou, pelo menos, ele não agia como se sentisse. — Ele não sente pena de você, Elizabeth. Ele gosta de você. — Como amigo.

Um minuto inteiro se passou, onde nenhuma de nós disse uma palavra. Olhamos uma para a outra, à espera que a outra admitisse que estava errada. A minha determinação cresceu. Ela estava errada sobre isso. Finalmente, ela deu um suspiro de derrota e disse: — Me desculpe por dizer isso. — Me desculpe, eu me apavorei. Ela olhou para o relógio no meu fogão. — Eu tenho que ir de qualquer maneira. Preciso me aprontar para a aula. Eu desmoronei imediatamente. Passei meus braços em volta da cintura e encolhi os ombros. Eu não queria que ela saísse assim. E por causa de algo tão estúpido! Por que eu não podia parar de brigar com todas as pessoas que me importava? Eu odiava desabafar das formas mais feias possíveis. Eu andei até a porta e me vi perto das lágrimas. Eu joguei meus braços em torno dela antes que ela pudesse ir muito longe. — Me desculpe por ser grossa com você. Ela devolveu o abraço e me apertou com força. — Me desculpe, eu sugeri que você é mais sexy do que eu. Eu ri em seu pescoço e funguei as lágrimas. — Eu não sabia que era isso que você estava fazendo. Ela se afastou e me empurrou com os quadris. — Lizzy, você tem trinta e dois anos e é sexy. É um elogio, se você consegue chamar a atenção de um cara com seus filhos selvagens correndo por aí. — Eu gosto de Ben. Ele tem sido muito legal. — E daí que ele tem uma quedinha por você? É inofensivo. — Porque isso significaria que ele é louco. Você sabe como meus filhos são! Você sabe como eu sou. E ele nos viu no nosso pior. Ele teria

que ser completamente louco para achar qualquer coisa remotamente atraente nisso. — eu gesticulei para o comprimento do meu corpo e tentei não fazer uma careta. Foi a vez da minha irmã para estourar em risos. — Você não se vê, Liz. Você nunca se viu. — esse foi o seu adeus. Ela beijou minha testa, virou-se e saltou para o seu pequeno Jetta. Acenei para ela, sentindo-me mais perdida do que nunca. Não era que eu não me visse. Eu me via até demais. Muito claramente. Era por isso que eu sabia que ela estava errada sobre Ben. Ele não estava interessado em mim. Ele não podia estar. Eu acreditava com absoluta certeza que estava há anos-luz de atrair o olhar de alguém. Se não fossem os quatro filhos, seria o marido morto. E se os dois não fossem suficientes para me colocar completamente na categoria intocável, eu estava meio louca de dor e mais do que sobrecarregada com a vida. Eu tinha me tornado o tipo de mulher de que os homens corriam. E os homens deviam fugir. Ben era inteligente e engraçado. Ele tinha um grande trabalho e uma casa linda. Ele talvez fosse a pessoa mais legal que conheci. E, ainda, ele era ótimo de olhar. Basicamente, Ben poderia escolher a mulher. A última em quem ele colocaria seus olhos escuros seria eu. As palavras de Emma saltaram em minha cabeça o resto do dia. Entre a hora da soneca, alternando em levar as crianças até a escola, a Abby na equipe de natação, Blake para o basquete, correr de volta para casa para alimentá-los com algo parecido com um jantar saudável, terminar a lição de casa e levá-los todos para a cama, meus pensamentos tinham sido frustrantes procurando a verdadeira motivação de Ben por me ajudar.

Até o momento que eu desci as escadas novamente às oito e meia, eu tinha chegado à conclusão de que a insanidade corria em minha família e Emma estava louca. Essa era a única coisa que fazia sentido. Eu estava quase na cozinha, quando alguém bateu na minha porta. Virei-me e nem consegui ficar surpresa quando vi a figura de Ben borrada através do vidro, como se meus pensamentos o tivessem conjurado. Abri a porta e cumprimentei-o com um sorriso. — Oi. Ele ergueu uma garrafa de vinho. — Oi. — O que é isso? — Bem, eu percebi que já que você não teve tempo para comprar o leite esta semana, as chances eram que você não tivesse tido tempo para comprar o vinho também. — Eu fui ao supermercado sozinha hoje, lembra? Alguém chamou uma babá de emergência para mim. Eu comprei quatro garrafas. Seu sorriso largo fez seus olhos brilharem. — Bom. Você me deve. Ele empurrou a porta e entrou antes que eu pudesse convidá-lo. Eu o segui até a cozinha, refletindo sobre a rapidez com que ele se sentiu em casa. — Então, seu plano é entrar e beber todo o meu vinho? Que vizinho bom. Ele deu um sorriso por cima do ombro e começou a remexer nos meus armários. — Eu vou compartilhar. Está muito frio para sentar lá fora agora, mesmo se eu acender uma fogueira. Taças? — Ao lado da geladeira.

Ele se moveu e, finalmente, encontrou o que estava procurando. Ele examinou a minha pequena adega que ficava no armário lateral. Os lábios formavam uma careta ao pegar cada garrafa e ler o rótulo. — Nós vamos beber o meu. — ele finalmente decidiu. — Esnobe! Não há nada de errado com os meus vinhos. Ele me deu um olhar que contradizia minha opinião. — Eu vou te ensinar. Você sai de casa tão pouco, você precisa da minha ajuda. — Você conseguiu invadir minha privacidade, insultar o meu gosto em

vinho

e

me

chamar

de

reclusa

no

espaço

de

três

minutos. Sinceramente, estou impressionada. Ele começou a abrir e fechar gavetas, procurando o sacarolha. Peguei na gaveta da direita e entreguei para ele. — Eu não acho que você é reclusa. — ele me disse com a concentração fixa na garrafa de vinho. — Eu acho que você está ocupada. E acho que tenho melhor gosto para vinho. — Ambas as coisas são verdadeiras. — eu finalmente admiti. Eu deslizei para o banco do bar e tentei não ficar encantada com o seu sorriso maroto. Ele me entregou um copo meio cheio e fitou meu rosto enquanto eu tomava o primeiro gole. Então, ele serviu a sua própria taça. — Como foi seu dia? — ele perguntou depois de alguns minutos de silêncio confortável. Suas

palavras

flutuaram sobre a

minha pele, quentes

e

suavemente. Senti meu coração inchar com carinho por este homem que mal me conhecia, mas se importava o suficiente para perguntar sobre o meu dia - meu dia que foi cheio de crianças, confusão e loucura.

— Na verdade, muito bom. — coloquei uma mecha de cabelo atrás da orelha e tomei outro gole de vinho. — Eu gostei da minha ida ao supermercado. Mais uma vez, obrigada por chamar Emma. — O prazer é meu. — seu olhar ficou concentrado no meu rosto. — Meu dia foi muito bom, obrigado por perguntar. Eu balancei a cabeça para ele. — Colocou todos os bandidos na cadeia? Sua risada quente encheu a sala com uma graça fácil. — Hoje não. Vamos ver, eu tive uma mediação, um contrato de casamento e uma última vontade e testamento. Eu te disse, nada de Law and Order para mim. É tudo sobre papelada. — Você é realmente muito chato, não é? — eu apoiei o queixo na mão. — Não me admira que você tenha dificuldade para arrumar encontros. Seus olhos se estreitaram de brincadeira. — Eu não tenho dificuldade para arrumar encontros. — Oh, só em mantê-los? — Eu vou levar meu vinho de volta. Tomei um gole grande e depois sorri para ele. — Vamos ouvir os detalhes, Ben. Onde está a Sra. Tyler? Emma disse que você foi perfeitamente normal. Não fez quaisquer ruídos repugnantes com a boca ou tentou sair sem pagar a conta. Como é que você ainda está solteiro? Ele girou a taça e olhou para o vinho contemplativamente. — Não há um grande mistério aqui, se é isso que você está procurando. Eu tive namoradas ao longo dos anos, mas ninguém com quem eu realmente sentisse uma profunda conexão. Para ser justo, porém, estou muito focado na minha carreira ultimamente e, antes disso, na faculdade. Não foi até recentemente que a ideia de encontrar alguém para me estabelecer entrou em minha mente.

— Oh. — bem, isso foi uma resposta bastante normal. — Você é um workaholic, então? — eu provoquei. — Meu pai é um workaholic. — Ben explicou sem qualquer indício de humor. — Eu passei uma grande quantidade da minha vida perseguindo suas expectativas. — Oh. — eu repeti. Esta era a verdadeira razão para ele não gostar de trabalhar para o pai. — Você não parece que ainda se esforça isso? — Há um ano, ele teve um ataque cardíaco muito grave. Realmente sacudiu-o, ajudou a realinhar algumas de suas prioridades. Ele também me ajudou a perceber como a vida pode ser curta. Passei a maior parte da vida perseguindo esta meta impossível depois que ele tinha estabelecido para mim. Ele era um homem miserável a maioria do tempo, sempre focado no trabalho e em construir o seu nome. E ele queria que eu fosse igual e dedicasse minha vida às mesmas atividades. Então, ele teve o ataque cardíaco. Entrei no quarto de hospital, vi-o deitado na cama, ligado a máquinas e monitores, quase sem respirar por conta própria e eu percebi que eu não queria ser ele. Eu vi uma concha vazia de homem que não tinha nada além do trabalho na vida. Pelo menos nada que importasse. Ele tinha um filho que não podia suportar a visão dele e uma esposa que mal tolerava sua existência. Sem amigos, sem colegas de trabalho que se importavam o suficiente para aparecer. Ele estava sozinho. Decidi, então, que eu não gastaria cada minuto da vida perseguindo coisas que nunca se importariam comigo também, que nunca me amariam de volta. Parecia que cada vez que Ben falava, eu o admirava ainda mais. — Como ele está hoje? — Ele está melhor. — Ben respondeu suavemente. — Sua saúde está melhor, e eu acho que ele percebeu um monte das mesmas coisas que eu. Nós estamos trabalhando em nosso relacionamento. Não é perfeito. E

não tem sido fácil para ele mudar. Mas, lentamente... estamos chegando lá devagar. Não é a causa perdida que um dia pensei que fosse. — E sua mãe? — Ela é ótima. Você iria amá-la, realmente. Ela é cheia de vida, muito engraçada, praticamente o oposto do meu pai. Eles estão trabalhando as coisas entre eles também. Eu acho que eles viveram juntos miseravelmente por tanto tempo, que não têm certeza de como mudar. Mas eles estão tentando. É parte da razão para eu aprender a respeitá-lo agora. Eu não conseguia suportar o modo como ele a negligenciava... ignorava. Ele anulou aquela mulher efervescente, até que ela se tornou uma sombra ao seu lado. Eu só... Eu não podia tolerar isso. — Mas as coisas estão melhores agora? — parecia que ele precisava ser lembrado. Eu podia ver como era difícil para ele aceitar essa mudança e eu não o culpava. Seu pai parecia dar muito trabalho. — As coisas estão melhores. — ele concordou. Ele respirou fundo e me encarou com outro olhar intenso. — Tudo bem, sua vez. — Minha vez de quê? — Perguntas sérias. Você chegou ao fundo de mim, agora eu quero saber sobre você. Eu me fortifiquei com outro gole de vinho. Ele estava certo. Era justo, mesmo se eu não quisesse entrar em detalhes. Se eu realmente quisesse uma amizade com Ben, eu lhe devia isso. Ele começou com uma pergunta relativamente fácil, embora. — Eu trabalhava em um testamento hoje e isso me levou a pensar, você está bem nesta casa? Vou receber um novo vizinho a qualquer momento em breve? — Uau, começando com finanças. Como você é elegante.

Ele rosnou e exigiu: — Responda à pergunta, Liz. Eu gosto de ter você como vizinha. Eu vou ficar muito perturbado se chegar em casa um dia e vir um sinal de venda em seu quintal. Meu coração saltou no meu peito. — Eu tenho certeza que você vai sobreviver. — Responda à pergunta, mulher provocadora. Eu lhe dei um suspiro dramático, mas admiti: — A casa está paga. Nós não vamos nos mudar, de modo que você pode descansar a cabeça. Grady era dono de uma construtora e usou seus recursos infinitos para construir tão economicamente quanto pôde. Ele também teve a herança de seu pai, que morreu quando ele estava na escola e eu tenho o dinheiro do meu avô. Nós não queríamos nos preocupar com uma hipoteca, mais as dívidas de negócios, portanto, pagamos a casa. — E o seu seguro de vida é o suficiente para você ficar em casa tempo integral? Eu me senti um pouco estranha em me abrir para alguém de fora da família, mas eu não vi mal algum em responder suas perguntas. — Ele tinha uma grande apólice. Eu também. Com quatro filhos, não há outra maneira de fazer seguro de vida. Há mais do que suficiente para me manter pelos próximos anos, enquanto as crianças são pequenas. Mas eu tenho uma graduação. Eu quero voltar ao trabalho depois que Jace for para a escola. — Que bom que as coisas foram assim para você. — ele disse suavemente. Ele deve ter visto minha expressão desmoronar com suas palavras, porque ele rapidamente acrescentou: — Não é bom, obviamente. Mas estou feliz por que você estava preparada. — com um toque triste de seus lábios, acrescentou. — Estou feliz que você esteja amparada, para sorte minha. — Sorte sua?

— Consigo manter meus vizinhos. É bom para mim, porque eu gosto deles. — Espere até eu começar dar festas keggers14. E Blake e Abby atirarem nas suas janelas com armas BB15. Ele caminhou ao redor da ilha e ficou em cima de mim. Eu pude sentir sua colônia masculina agradável e o calor de seu corpo. Ele invadiu completamente o meu espaço pessoal e parecia muito confortável com isso. O polegar esfregou o meu lábio superior. — Vinho. — explicou. — Se você começar com as keggers, espero que eu seja convidado. E se você decidir comprar armas BB para Blake e Abby, deixe-me ensiná-los como usá-las corretamente. — Grady tinha um tumor cerebral! Quer dizer, tecnicamente tumores, plural. — as palavras explodiram da minha boca. Ele estava muito doce, muito perto. As palavras de Emma gritaram na minha cabeça e seu toque vibrou na minha pele. Eu tinha que fazer alguma coisa. Ben deu um passo rápido para trás e praticamente caiu sobre as banquetas mais próximas. — Foi o que o matou. Ou, uma parada cardíaca, na verdade, o matou. Mas isso o deixou doente. Ele lutou durante dois anos. Passamos por tantos tratamentos quanto pudemos. Cirurgia não era uma

opção. Nós

tentamos

as

drogas

regulares,

medicamentos

experimentais, quimioterapia, radiação. Fizemos tudo o que podíamos, mas não importou. Ele... ele não conseguiu... — as lágrimas escorreram pelo meu rosto enquanto eu tentava explicar a doença de meu marido para este homem. — Liz. — ele sussurrou. — Março. — eu resmunguei. — Ele se foi em março. — eu enterrei meu rosto nas mãos, incapaz de olhar para Ben mais. 14 15

Festa selvagem, geralmente em irmandades de faculdade, com cerveja à vontade em barris. Arma a ar, parecida com arma de chumbinho.

— Oh, Liz. Seus braços me envolveram, me puxando com força para ele. Seu calor me encheu completamente, completamente imersa nele. Sua proximidade foi mais reconfortante do que qualquer coisa em muito tempo, o que me confundiu. Eu chorei mais ainda, lutando dentro de mim se o deixava me abraçar ou me afastava e pedia-lhe para sair. Eventualmente, eu cedi e afundei em seu abraço. Eu mantive minhas mãos sobre o meu rosto em uma tentativa tola de impedir a maquiagem de escorrer por toda sua camiseta cinza. Ele me segurou perto de seu peito, minha orelha encostada nas pesadas batidas de seu coração. Ele sussurrou palavras de conforto que eu não pude ouvir por causa do barulho da minha guerra interna e nunca se afastou de mim, não até que eu tivesse me acalmado o suficiente para me afastar. — Sinto muito. — eu disse, envergonhada com a minha explosão. — Eu não queria chorar em cima de você. Ele não tinha paciência para minha atitude irreverente. Suas mãos deslizaram dos meus ombros, a linha do meu pescoço até que segurou meu rosto. Ele inclinou meu rosto para cima para olhar para ele e passou os polegares sob os meus olhos, enxugando o dilúvio de lágrimas. — Nunca se desculpe por isso, Liz. Você pode chorar em mim a hora que você precisar. — Por que você é tão bom para mim? Você mal me conhece. Um leve sorriso brincou em seus lábios: — Mas eu gosto do que eu conheço até agora. E estou animado para o que mais há para descobrir. — ele deu um passo atrás para encher a nossa taça enquanto eu girava com as suas palavras. Ele se acomodou no banco de novo e começou a conversar sobre a nossa vizinha intrometida, Sra. Mitchum, que tinha trazido um pão para ele outro dia e o fez mostrar a casa dele para ela.

Conversamos por mais duas horas, apreciando o vinho e descobrindo mais sobre o outro, pequenos pedaços de cada vez. No momento em que eu andei até a porta da frente, tinha passado da hora habitual de dormir e eu sabia que estaria mais cansada do que o normal na parte da manhã. Mas eu adormeci facilmente e sem lágrimas. Ben foi uma terapia das boas. E eu não podia ficar me lamentando pelo tempo que passávamos juntos. Eu decidi ignorar as palavras de Emma completamente. Eu conhecia Ben melhor do que ela, e eu não estava pronta para desistir dessa nova amizade que eu tinha acabado de começar.

Terceira Fase: Negociação

Eu sobrevivi à negação. Eu me arrastei através da raiva. E agora eu lutaria com a negociação. Antes que isso acontecesse comigo e de me tornar um estudo clínico sobre como é perder alguém, eu sempre achei que a negociação fosse a fase mais fácil. É muito mais fácil desejar alguém de volta do que admitir que ele se foi. Não parecia ser um processo difícil antes de ter que passar por isso sozinha. Mas eu não conhecia a dor de verdade antes, então eu não podia me imaginar pedindo o retorno de meu marido, ou, pedindo a Deus desesperadamente para trazê-lo de volta para mim. E

esse é

o

ponto crucial.

Desesperada. Desespero. Desesperadamente disposta a desistir de tudo se

eu pudesse vê-lo mais uma vez, falar com ele mais uma vez. Beijá-lo uma última vez. Eu tornei-me tão desesperada com a minha dor que não conseguia ser racional. A dor continua a cortar o meu peito como uma faca mortal, cavando fundo e fazendo feridas que estou convencida que nunca poderiam ser curadas. A intensidade pura que só piora à medida que os dias passam. Não há fim à vista. Nenhum adiamento ou respiração rápida de alívio. Há apenas tristeza e lágrimas. No meio desta agonia, eu comecei a pensar em Grady cada vez menos. Minha vida seguiu em frente. As crianças me mantinham ocupada. Dias de escola preenchiam o meu tempo e tarefas ocupavam minhas noites. Estou me tornando mais autossuficiente a cada dia e para as coisas que não podia fazer, agora tenho um sistema de suporte resistente que é lançado antes de eu precisar pedir. À noite eu deito na cama e me forço a pensar muito sobre o que eu puder sobre Grady. Eu sempre me preocupo em perder todas as memórias dele, de não poder me lembrar das coisas como elas eram. Eu faço o que posso para empurrar os pensamentos de todo mundo para fora da minha cabeça e pensar apenas em Grady. Porque ele não é a única pessoa que eu quero pensar. E eu me odeio por isso. Eu odeio que meu pensamento não vá permanecer fiel ao meu marido. Eu farei qualquer coisa para aliviar essa culpa e miséria, para enfaixar meu coração quebrado. Eu farei qualquer coisa para pensar em Grady como meu marido. Mesmo agora. Mesmo para além da sua morte. E pensar em Ben apenas como um amigo.

Capítulo Quatorze — Vocês não deveriam ter me deixado dormir! Eu poderia ter me levantado! — eu entrei na cozinha, seguindo meu nariz e o cheiro de café fresco. Meus pais tinham chegado da Flórida no dia anterior. Eles eram daqui e tinham criado Emma e eu aqui, mas queriam sua aposentadoria em algum lugar quente. Depois da tempestade de neve de dez centímetros que tivemos ontem à noite, eu não os culpava. Tiveram sorte que ela não tivesse começado até depois de chegarmos em casa do aeroporto. Foi um outono muito leve. New England tinha um dos invernos mais bonitos do país e eu estava animada para finalmente ter neve no chão. Foi realmente a primeira neve da temporada e justamente a tempo para o Natal. As crianças estavam de folga desde a sexta-feira passada e apreciava a neve para eles e para os meus pais. O Natal seria bastante difícil este ano, o que ajudava é que seria, pelo menos, bonito. — Não, supostamente, os avós acordam cedo, Lizbeth. É por isso que nós viemos. — Meu pai estava sentado debruçado sobre a mesa das crianças com os joelhos pressionados no peito e uma coroa de princesa na cabeça. Meu pai, Matthew Ferris, parecia com o banqueiro que ele costumava ser, mesmo no final de seus sessenta, com exceção da tiara empoleirada na cabeça. Seu nariz forte e queixo angular davam-lhe o rosto de um homem no comando. Até seus netos chegarem. Então ele se transformava em um grande vovô babão que os mimava e estragava.

Minha mãe, Julia, estava ao lado da cafeteira, já me servindo um copo. Ela parecia sonolenta ainda, abraçando uma caneca de café e vestida com calça de pijama cor-de-rosa. — Eu sabia que íamos acordá-la. — ela passou o café quente para mim e eu respirei fundo. — Nós fizemos muito barulho aqui. Você tomou um comprimido para dormir? — Não. — eu disse a ela. — Não tomo há muito tempo. Eu comecei a dormir melhor ultimamente. — Oh. — sua voz suave apertou meu coração. Minha mãe era a mulher mais doce que eu conhecia e ela tinha sido incrível durante este tempo. Ambos os meus pais eram maravilhosos, na verdade. Eles se amavam profundamente. Uma das coisas mais difíceis para eles sobre a morte de Grady era que eu não poderia envelhecer com ele. Eles sentiam que tinham algo único e muito especial. Eles queriam a mesma coisa para mim. Eu olhei a janela que dava para o quintal coberto de neve. — Eu deveria ir lá limpar a entrada antes que precisemos ir a qualquer lugar. — Você não contratou alguém? — meu pai perguntou enquanto puxava Jace para suas longas pernas. — Não, mas isso é uma boa ideia. — eu me perguntava se Dillan, o garoto que contratei para fazer a poda durante o verão, estava de volta para a pausa de Natal. Eu poderia ligar para ele... — Então, quem está lá fora usando a pá? Achei que você tivesse contratado alguém ou eu mesmo teria feito. — O que você quer dizer? — Liz, há um homem lá fora, usando a pá na entrada, no momento. Meu estômago virou enquanto eu corria para a porta da frente. Minha sala tinha uma bela vista do jardim da frente e parte do quintal de Ben, mas eu tinha que ir para a porta da frente para ver a

entrada de automóveis. Eu segurei o café com cuidado nas mãos para não derramá-lo, mas eu tinha que confirmar as minhas suspeitas. Abri a porta e saí para a varanda já limpa apenas de chinelo. O frio, o ar gelado bateu na minha pele e atravessou meu pijama fino. Eu tremi no ar da manhã enquanto observava Ben trabalhando para cima e para baixo na entrada. — Hey! — eu o chamei. Ele levantou a cabeça para me encarar, e mesmo que ele usasse um gorro e um cachecol que cobriam metade de seu rosto, eu pude ver seus olhos iluminarem com um sorriso. — Eu espero que você não esteja esperando uma gorjeta! Seus ombros tremeram quando ele riu da minha piada. Ele enfiou a pá em um banco de neve e se aproximou de mim, puxando o cachecol para baixo no caminhou. — Sem gorjeta? Eu me demito. — Você não pode parar! — eu disse. — Você já está na metade. Ele sorriu para mim. — E não parece que você vai sair daqui tão cedo, ossos preguiçosos. As crianças a deixaram dormir esta manhã? Entreguei o meu café sem pensar. Ele pegou e segurou-o na frente do rosto durante um minuto antes de tomar um longo gole. — Meus pais chegaram ontem. — eu o lembrei. — Eles me deixam ter um pouco de paz. Bem, depois de Jace, Abby e Lucy acordarem e saírem da minha cama. — Oh, está certo. Foram eles que arruinaram a noite do vinho. Eu balancei a cabeça para ele. — Eu tenho certeza que você sobreviveu. — Bem, eu bebi o vinho, se é isso que você está insinuando. — Todo?

Ele riu no meu café. — Estou brincando. Guardei um pouco para você. — Claro que sim! Sou muito mais divertida do que beber sozinho. — Sim, nossas duas taças de vinho uma vez por semana, realmente me impressionam. — Você está tão cheio de si hoje. Deve ser a neve. Foi diretamente para a sua cabeça. Estendi a mão e coloquei uma mecha de cabelo para trás no seu gorro. Estava sobre os seus olhos e era, sem dúvida adorável, mas eu sabia estava incomodando-o enquanto ele tentava trabalhar. Sua pele estava tão fria ao meu toque. Pressionei minha mão no seu rosto, na esperança de ajudar a aquecê-lo. Vi seus olhos escurecerem com o gesto e meu estômago virou novamente. — Eu senti sua falta noite passada, Liz. Suas palavras estrondosas me bateram direto na barriga e causaram arrepios. Respirei fundo e tentei banir os meus hormônios. Isso vinha acontecendo cada vez mais recentemente. De alguma forma, ele tinha se infiltrado na minha vida de todas as maneiras possíveis. Ele jantava em nossa casa muitas vezes e vinha depois que as crianças estavam na cama para conversar, acompanhado de vinho ou pipoca. Ele me ajudava em casa e no quintal e até mesmo ajudava Blake com seu dever de matemática ocasionalmente. Eu tinha me acostumado a vê-lo quase todos os dias e quando nossos horários não combinavam ou passávamos nossas noites separados, sempre havia troca de mensagens de texto ou telefonemas curtos para falar oi.

Não fiquei surpresa ao vê-lo tirar limpar a minha entrada sem eu precisa pedir, mas eu estava tão grata que ele tivesse escolhido me ajudar. Eu era como um caso de caridade sem fim para ele e ele era meu Bom Samaritano sexy pra caramba. Eu sabia que nossa relação era pouco convencional, mas eu não conseguia me impedir de sentir atraída por ele. Ele me salvou mais do que uma vez. E mais do que isso, eu realmente gostava de passar o tempo com ele. — Liz, está tudo bem? — a voz da minha mãe me salvou de responder a palavras doces de Ben. — Oi, mãe. — eu parecia ridiculamente ofegante. Minhas bochechas aquecidas com uma mistura de vergonha e embaraço. — Eu, hum, eu só estou falando com Ben. Ben esta é a minha mãe, Julia. Mãe, este é Ben, meu vizinho. É ele trabalhando com a pá. — Oi, Ben. — minha mãe estendeu a mão magra, apenas para ser engolida pela grande e enluvada de Ben. — Oi, Julia. É um prazer te conhecer. — Obrigada por limpar para nós. Isso é muito generoso. — eu vi minha mãe avaliar Ben da cabeça aos pés e eu senti culpa mais uma vez. Eu não sabia o que isso parecia para ela, mas eu só podia imaginar os pensamentos passando por sua cabeça. Especialmente porque Ben ainda segurava minha xícara de café. — Ele está apenas fazendo papel da boa vizinhança. — eu expliquei rapidamente. — Ben é o melhor vizinho. Ele ajuda muito. O rosto de Ben brilhou com irritação e me arrependi imediatamente das minhas palavras, mas era tarde demais. Eu deveria ser capaz de explicar Ben para a minha mãe sem sentir este mal do estômago. Ben e eu não éramos nada além de amigos. Eu não entendia de onde vinha esse sentimento ácido de indignidade.

— Apenas fazendo o papel da boa vizinhança. — ele repetiu com uma voz muito sem séria — Nós somos amigos também. — eu desabafei. — Nós nos tornamos amigos. Bons amigos. As crianças o amam. — oh, Deus, eu precisava parar. — Então eu deveria agradecer por isso também. — minha mãe ofereceu. — O pai de Liz e eu temos ficado tão frustrados por morarmos tão longe. Fico mais tranquila sabendo que há alguém por perto que ela possa contar. — Liz definitivamente pode contar comigo. — Ben disse a ela. — Como ela disse, eu sou o melhor vizinho. Oh, meu Deus. As crianças começaram a gritar no fundo, brigando por uma coisa ou outra, provavelmente, o meu pai. Minha mãe pediu licença para ir vêlos. — Sinto muito. — eu sussurrei, logo que ela desapareceu. Eu nem sabia o porquê de pedir desculpas; eu só sabia que devia a Ben algum tipo de explicação. — O que há para se desculpar, vizinha? — ele me entregou de volta a caneca que tinha esfriado consideravelmente por causa do vento do inverno. Eu tremi no degrau da porta, sem saber como agir com Ben. — Eu sou uma idiota. Você é obviamente mais do que o meu vizinho. — Um amigo, certo? — mas suas palavras tinham um gosto amargo. — Ben, eu não tenho certeza do que... Sua expressão feroz suavizou e os ombros relaxaram. — Eu sou seu amigo, Liz. Nós somos bons amigos.

— Certo. — eu sussurrei contra a sensação de aperto no peito. — Bons amigos. Meu pai apareceu atrás de mim de repente. — Matthew Ferris. — ele quase gritou. Ele enfiou a mão no rosto de Ben e impôs sua autoridade distinta de sempre. — Ouvi dizer que é você que devemos agradecer pela entrada de automóveis. Ben apertou graciosamente a mão do meu pai. — Ben Tyler. É bom conhecê-lo, Matthew. — E o que você faz para viver, Ben? — Sério, pai? — Ben não ia falar comigo novamente depois desta manhã. Se ele não achasse que eu era um caso perdido antes deste momento, então ele não teria escolha a partir de agora. Mas Ben, aparentemente, estava acostumado com pessoas loucas. Ele deu ao meu pai um sorriso encantador e disse: — Eu sou um advogado. Isso acalmou um pouco o meu pai. Mas eu ainda senti necessidade de explicar. — O pai de Ben vai se aposentar em alguns anos, então Ben está em transição para assumir a empresa. — Oh. — meu pai murmurou, incapaz de chegar a uma razão legítima para odiar Ben baseada apenas na sua profissão. — Bem, isso é...bom para você, filho. Eu vou atrás da sua mãe agora, Elizabeth, e ver o que ela está fazendo. — Boa ideia, pai. — Prazer em conhecê-lo, Ben. — meu pai praticamente correu para a cozinha. — Seus pais estão me avaliando? — sua irritação anterior tinha desaparecido e foi substituída por seu divertimento habitual.

Eu tremi e olhei para a cozinha. — Algo parecido. Eu não mencionei você antes; acho que eles estão além de curiosos. Ele soltou um suspiro de frustração que me fez virar para encontrar o seu olhar escuro. — Eu já te disse alguma vez que você pode ser irritante? — Uma ou duas vezes. — Vou te ver alguma vez esta semana? Eu balancei a cabeça e olhei para o meu café, ignorando o sentimento de ruim no estômago. — Meus pais ficarão comigo até o Ano Novo. — Mmm. — reconheceu. — É melhor eu voltar a usar a pá. E você devia sair deste frio. Olhei para cima e enfrentei seu olhar quente. — Eu vou sentir falta da noite do vinho. — eu sussurrei. Seus olhos aqueceram e qualquer que fosse a tensão que sobrou do início estranho flutuou para longe. — Me ligue ou mande uma mensagem. Eu, pelo menos, quero saber que você se lembrou de comprar leite. Meu coração pulou no peito. — Sente a minha falta tanto assim? — Sinto sua falta mais do que tanto assim. Meus lábios se separaram em surpresa, mas como de costume ele me deixou para olhar as costas dele. Ele reajustou o cachecol para cobrir a boca e voltou para a pá. Corri para dentro, de repente, consciente de quão frio estava. Eu carreguei meu café de volta para a cozinha e joguei-o fora na pia. Eu tinha acabado de começar a servir uma nova caneca, quando senti a presença dos meus pais preenchendo o espaço atrás de mim.

— Ele é seu vizinho? — a voz da minha mãe soou incrivelmente suspeita. Eu me virei para enfrentar o inquérito. O que eles estavam pensando de mim? Imaginei imediatamente o pior. Que tipo de mulher fazia amizade com outros homens nove meses depois que seu marido morreu? Que tipo de mulher flertava com outro homem nove meses após a morte do marido? Estremeci internamente. Não era uma boa mulher. Eu sabia muito bem. — Sim, meu vizinho. Ele se mudou há poucos meses. Ele tem sido... honestamente, ele tem sido ótimo. As crianças o adoram. Ele ajudou muito. Eu só... ele é apenas um cara muito legal. — Ele parece ser um cara legal. — minha mãe admitiu suavemente. — Ele também parece muito interessado em você. Meu pai olhou entre nós duas, absorvendo cuidadosamente a nossa tensão. Seu braço pesado envolvendo os meus ombros e ele me puxou para o santuário do seu abraço. Era o lugar mais seguro que eu conhecia agora que Grady estava morto e eu não podia deixar de me sentir pequena e infantil envolta nos braços do meu pai. Mas era uma sensação boa. — Ele seria louco de não estar interessado em você. Eu sorri através das lágrimas borradas. — Somos apenas amigos. — eu tinha repetido essa frase simples tantas vezes que tinha começado a irritar minha garganta sempre que forçava as palavras. Minha mãe estendeu a mão para apertar meu braço. Sua voz nunca acima de um sussurro: — Está tudo bem seguir em frente, Lizzy. — Não, não está. — eu disse em um soluço quebrado. — Está. — meu pai retumbou contra o meu templo. — Grady nunca ia querer que você ficasse sozinha para o resto de sua vida. Você tem muito com o que lidar. Eu não estou dizendo que é para seguir em frente

com este homem. Eu só quero que você se abra para a possibilidade. Você não tem que fazer isso sozinha. Todos nós entendemos. Eu amava meu pai, mas eu odiei as suas palavras. Ele não sabia o quanto eu amava Grady? Eu fiz votos que durariam para sempre. Prometi amar um homem para o resto da minha vida. E não foram promessas vazias. Eu quis fazê-las no dia em que me casei e eu ainda queria fazê-las hoje. Ninguém podia competir com o homem que Grady era. Eu não queria nem tentar encontrar um homem tão bom como o único homem que eu já amei. Ben era um grande cara e eu gostava de passar o tempo com ele. Eu posso admitir, mesmo que eu não queira, que eu até gostava de flertar com ele ocasionalmente. Mas eu nunca tinha pensado a sério assim. Éramos vizinhos. Nós também ficamos amigos. Mas não havia outros sentimentos entre nós. — É muito cedo. — eu gritei para os meus pais. — É muito cedo para pensar nisso. Eu não posso... eu não poderia... Eu nunca poderia fazer isso com Grady. — Oh, querida. — os braços de minha mãe envolveram as minhas costas e eu senti as lágrimas quentes caírem no meu ombro. — Grady se foi, Lizzy. Ele se foi para sempre. Você não está fazendo qualquer coisa com ele. Ele nunca te censuraria se você se apaixonasse por alguém. Você tem que se dar a chance de esquecer. Não se amarre na memória dele para o resto da vida e perca o que tem lá fora. — Você está me dizendo para encontrar alguém? — a descrença na minha voz ecoou pela sala. — Não. — meu pai bufou rapidamente. — Nós não estamos dizendo para você sair agora e começar a procurar. Mas nós queremos que você seja feliz novamente, menina. Nós queremos que você encontre a

felicidade de alguma forma. E queremos que essas crianças encontrem a felicidade novamente. Não se feche para as possibilidades, mesmo que vá contra o seu sofrimento. Eu chorei mais ainda no seu peito por longos momentos. As crianças corriam loucamente ao redor da casa, mas nós três não nos separamos. Eu era uma mulher de trinta e dois anos de idade, com minha própria família, mas não havia nenhum lugar que eu sentia mais conforto e aceitação do que nos braços dos meus pais. Mesmo agora. Emma irrompeu na cozinha com uma rajada de ar exterior. — Hey! — ela chamou, completamente alheia ao nosso momento. — Vi Ben usando a pá. Ele está congelando. Liz, você precisa levar um café para ele, ou algo assim... — a voz dela sumiu e depois mudou completamente quando ela perguntou: — O que eu perdi? — Eles conheceram Ben. — funguei. — Ah, então vocês viram como ele está apaixonado por ela e como ela está tentando negar seus sentimentos por ele. — Emma! Nada disso é verdade! — Emma! — minha mãe engasgou. Ela começou a tirar o agasalho e acessórios. O chapéu caiu como um tapa na ilha, depois, o cachecol e luvas. Seu casaco seguiu em uma pilha confusa. — O quê? Vocês o conheceram? Ele é tão óbvio! Às vezes era muito difícil imaginar a minha irmã como a futura conselheira que ela aspirava ser. Às vezes era difícil imaginá-la como qualquer coisa, além da malcriada de seis anos de idade, que era como ela estava agindo. — Ele não está apaixonado por mim. Pare.

Emma revirou os olhos grandes. — Ele é um dos meus amigos mais próximos, Liz. Eu acho que eu saberia. — Não, ele é um dos meus amigos mais próximos, eu acho que eu saberia! Emma bufou. — Não diga isso a ele. Eu duvido que ele aprecie o fato de que ele esteja na zona de amigos. A irritação anterior de Ben ecoou na minha cabeça. Eu afastei a memória imediatamente. Não importava o que a minha irmã achava ou suspeitava, eu tinha dito a verdade para os meus pais. Era cedo demais para sequer considerar a possibilidade de seguir além de Grady. Eu não podia suportar a ideia de estar com outro homem fora dos limites da amizade. E eu confiava em Ben o suficiente para acreditar que ele nunca tentaria. — Somos apenas amigos, Emma. Eu preciso que você entenda isso. Ela abriu a boca para argumentar, mas Blake e Abby correram para a cozinha com uma enxurrada de movimento e pânico. — Jace encontrou o creme de barbear do Papa! — Abby gritou. — Ele está pintando seu quarto com ele! — Blake gritou sobre ela. A corrida até as escadas colocou fim na conversa adulta por um longo tempo. Pela primeira vez na minha vida, eu fiquei grata com a destruição de Jace.

Capítulo Quinze Véspera de Natal, e eu convidei Katherine e Trevor para passar o feriado com a gente. Minha mãe, Emma e eu preparamos um banquete elaborado e Katherine levou as sobremesas desta vez. Meus pais já eram familiarizados com a família de Grady, então o único constrangimento que existia naquela noite era entre mim e eles. Trevor e eu não falávamos desde o Ação de Graças. Eu suspeitava que

ambos

mantivemos

a

distância,

porque

estávamos

muito

envergonhados para nos enfrentar. Meu peito doía quando eu me lembrava do quanto agi terrivelmente naquele dia, o tanto que fui rude com ele. Eu conhecia a profundidade da minha própria dor; sabia como era debilitante. Eu deveria ter sido mais paciente com Trevor. Eu nunca deveria ter dito aquelas coisas para ele. Eu consegui evitá-lo no último mês, mas agora que estávamos cara a cara eu sabia que precisava me desculpar. Pela simples razão que Grady teria ficado completamente decepcionado comigo se ele ainda estivesse vivo. Ele não teria tolerado esse comportamento de Trevor ou de mim. — Ei, Trev, posso falar com você por um segundo na cozinha? — perguntei delicadamente depois de servir o cheesecake. Ele hesitou por alguns segundos, olhando para todos os lugares, menos para mim. Justo quando comecei a ficar nervosa, ele deu de ombros e disse casualmente: — Claro. — ele se levantou e caminhou até a cozinha sem olhar para mim. Uma vez que nós dois estávamos na cozinha, eu comecei a olhar ao redor procurando um lugar melhor para conversar. Todos podiam ouvir-

nos daqui e eu queria bastante privacidade para que pudéssemos dizer o que precisava ser dito. Fui até o hall de entrada e acenei para ele me seguir. Uma vez que estávamos sozinhos na garagem, eu acendi a luz e fiquei tremendo no ar frio. Trevor fechou a porta, desceu os três degraus e olhou para o meu carro sem dizer nada. Ok, então ele não ia facilitar para mim. Eu merecia. Limpei a garganta e reuni um pouco de coragem. — Trev... Trevor, eu sinto muito pelo que eu disse no Ação de Graças. Eu não era eu mesma e me odiei por acabar descarregando em você daquele jeito. Estive sob muito estresse desde que Grady. Bem, você sabe. Eu acho que, eu estou apenas... Eu estou com o coração partido. Acho que não tive um único pensamento claro em mais de um ano. Eu fui rude e insensível e o que eu disse foi desnecessário. Por favor, me perdoe. Eu odeio que exista esta distância entre nós. Ele não disse nada por um longo minuto. Prendi a respiração, esperando que ele explodisse, ou concordar comigo... ou, eu não sabia o quê. Mas, eu me preparei para a sua retaliação. Eu escolhi seus defeitos e o ponto fraco que foram ampliados com a morte de Grady, mas eu sabia que tinha muitos também. Ele poderia me rasgar se quisesse, jogar todas as minhas deficiências na minha rosto e me lembrar que eu tinha sido uma mãe terrível na ausência de Grady. Mas ele era uma pessoa melhor do que eu. Em vez de fazer isso, ele respirou fundo e me puxou para um abraço apertado. — Eu entendo, Liz. — prometeu. — Você está certa. Eu estava... Eu estava atrapalhando as coisas. E eu sinto muito. É que às vezes eu sinto muita falta dele... você sabe? Eu nem sei como sair da cama alguns dias ou como vou sobreviver mais um dia naquele escritório. Dói até meus ossos. Perder meu pai foi outra coisa, mas eu nunca conheci nada como perder meu irmão.

Suas palavras rasgaram e dilaceraram o meu peito, perfurando meu coração com a agonia que ouvi nelas. — Eu sei, Trev. Eu sei. — nós dois fungamos, tentando desesperadamente nos manter inteiros. Não era só o Natal que estava me deixando emocionalmente crua e fresca de tristeza. Eu odiava ter qualquer coisa entre Trevor e eu. Além dos meus filhos, Trevor era a coisa mais próxima de Grady que me sobrava. Às vezes, isso doía mais do que ajudava, mas eu sabia que não me sentiria sempre dessa maneira. Um dia, a minha dor enfraqueceria e eu poderia gostar de Trevor porque ele me lembrava muito o meu marido. Eu não conseguia imaginar não tê-lo como uma grande parte da minha vida. Após longos momentos, nós nos afastamos. Senti seu perdão deslizar entre nós. A maioria do meu espírito e coração ainda estava em convulsão completa, mas com o encerramento desta conversa, eu senti algumas dessas peças importantes voltarem para casa. — Eu consegui uma nova contratação. — ele me disse em tom de conversa. — E parece muito bom também. É para um novo shopping perto de Hartford. Bom trabalho, com um ótimo pagamento. — Isso é ótimo, Trevor! É realmente excitante. O sorriso de Trevor desvaneceu quando ele disse: — Você sabe, ele realmente me ensinou tudo o que sabia. Eu gosto de fingir que eu não sei o que estou fazendo, porque então não tenho que pensar sobre ele, pensar no tempo que ele gastou me preparando para assumir. Mas estou preparado, Liz. Eu posso fazer isso e fazer bem. — Eu nunca duvidei de você, Trevor. Grady acreditava em você e ele tinha toda a razão. Você é um dos homens mais inteligentes que eu conheço. — Eu sempre me senti da mesma forma sobre você, Lizzy. Desde a primeira vez que te conheci, eu sabia que se Grady escolhesse você, então você seria alguém que valia a pena conhecer.

Lágrimas quentes agruparam nos meus cílios e eu não consegui engolir por causa do caroço na minha garganta. — Ele era o melhor cara. Eu só sinto tanta falta dele. Trevor me puxou para outro abraço. — Eu também. Mas vamos passar por isso. Sei que vamos. Nós temos um ao outro. Ele não só nos preparou para gerir o seu negócio ou criar seus filhos; ele nos preparou para continuar a viver sem ele. Não podemos decepcioná-lo em qualquer coisa. Eu balancei a cabeça contra seu peito largo, mas eu não tive coragem de dizer nada. Eu tinha atacado Trevor por desapontar Grady, mas e eu? Como era como mãe? Como uma viúva de luto? Fracassada. Eu senti a marca da própria palavra na minha pele. Queimava quente e determinada. Trevor deu um passo para trás, batendo no meu ombro uma última vez. — Devemos voltar, sim? Eu balancei a cabeça. — Obrigada por não me odiar. Ele riu bem-humorado. — Nunca, Lizzy. Ele liderou o caminho de volta para a casa. Juntamo-nos ao resto da família sem problemas. Havia um zumbido suave de emoção no ar. A emoção da época estava conosco, mas contida, por respeito ao Grady. Abby e Blake tiveram mais dificuldade. Eles não podiam deixar de ansiar pela manhã, mas a dor pelo pai os continha. Quando fomos para a sala de estar para a abertura tradicional de presentes dos avós, Abby começou a tremer, lutando para não chorar. — Abs. — eu sussurrei apenas alto o suficiente para ela ouvir. Ela olhou para mim e eu acenei para ela se espremer no sofá comigo.

Ela saltou para o convite. Ela se aconchegou no meu lado e colocou os braços em volta da minha cintura. Eu beijei o topo de sua cabeça e fiquei ali por um momento, respirando em seus cachos vermelhos selvagens. Suas lágrimas quentes começaram a cair no meu antebraço e, em seguida, ela soluçou ofegante. Blake estava olhando fixamente para a árvore, mas assim que o grito de Abby quebrou o silêncio, ele se virou e pulou para se juntar a nós no sofá. Seu rosto estava assombrado com a dor. Eu podia ver a batalha dentro dele para não chorar, para não estragar esta noite feliz. Mas foi inútil. Lucy foi a próxima a se juntar a nós, as lágrimas escorrendo pelo rosto sardento. Jace se arrastou para o meu colo também, ficando confortável no topo da pilha. Seus braços gordinhos enrolaram no meu pescoço e apertaram. Ele não chorava por Grady como nós. Ele era muito jovem quando Grady morreu para lembrar muito do pai. Eu odiava isso por ele. Eu odiava que ele não tivesse memórias como o resto de nós. Foi um pouco estranho, quebrar assim na frente dos meus pais, sogra, cunhado e irmã. Nós tivemos um belo jantar e, embora a minha reconciliação com Trevor tenha sido emocional, não foi nada parecida com isso. Era a nossa tristeza e dor da forma mais profunda. Eram nossos corações e almas cruas e arranhadas. Era um desespero tão intenso que eu sentia nos meus ossos, nos lugares quebrados da minha alma. E quando meus filhos compartilhavam essa tristeza ficava muito pior. Eu não sabia como lidar com a dor deles. Seus corpos pequenos tremiam contra mim e eu estava encharcada com as suas lágrimas. A pior parte era que eu não podia fazer nada para acabar com esse sofrimento. Naquele momento eu teria feito qualquer coisa para parar o momento. Eu teria desistido de tudo e qualquer coisa para ter Grady de

volta conosco. Eu teria trocado de lugar com ele num piscar de olhos se eu pudesse dar o pai de volta aos meus filhos. — Eu tenho uma ideia. — eu finalmente anunciei quando o pior do choro diminuiu. — Antes de abrir os presentes, por que não compartilhamos algo que sentimos falta do papai? É difícil não tê-lo aqui conosco, mas talvez se nós compartilhássemos nossas memórias, teríamos a sensação que ele não está tão longe. — Essa é uma ideia adorável, Liz. — Katherine concordou com uma voz suave. Olhei para cima e vi seu rosto molhado de lágrimas. Ela acenou para mim graciosamente. — Eu vou começar. — limpei meu rosto com as costas das mãos e tentei falar palavras que machucariam como golpes físicos. — Eu sinto falta de como ele costumava vir para casa do trabalho com comidas natalinas, cozidos ou enfeites que ele viu e teve de comprar. Ele sempre queria acrescentar coisas à nossa casa. Ele começava uma tradição nova todo ano. Ele simplesmente amava tanto o Natal que queria que as crianças experimentassem todas as coisas possíveis. No ano passado, tivemos que desistir da maioria delas, porque ele estava tão doente, então ele ficou com as crianças e eu assei cerca de trezentos biscoitos açucarados e ele nos levou de quarto em quarto para distribuir e dar para os enfermeiros. Queimei metade deles. Eu era uma bagunça no ano passado. Não que eu esteja melhor este ano... — limpei o rosto e esfreguei o nariz na manga. Minha mãe levantou-se e me entregou um lenço de papel. — Eu fiquei tão brava com ele. Eu não queria pensar sobre outras pessoas. Estávamos sofrendo muito, eu simplesmente não podia aguentar mais. Mas, no final da noite, ele me fez rir tantas vezes que eu tinha esquecido por que estávamos ali. Ele transformou aquele momento horrível em uma semana cheia de lembranças felizes. Memórias que vamos manter para sempre conosco.

Blake levantou a cabeça e riu. — Lembra quando aquele cara velho nos fez cantar para ele. Eu ri também, lembrando do homem idoso moribundo que queria uma canção de Natal. — Acho que ele se arrependeu de pedir. Seu pai não conseguia manter o tom em qualquer música. Lucy e Abby começaram a rir também, lembrando da execução terrível de We Wish You a Merry Christmas que Grady nos obrigou a cantar. — Eu não sabia que tinham feito isso. — minha mãe soluçou. Eu balancei a cabeça, era apenas uma das muitas coisas que Grady tinha feito para tornar o Natal do ano passado especial. — Foi na semana antes de você vir. — Lembra quando nós construímos aquele forte de neve monstruoso? — Blake se sentou com entusiasmo. Seus olhos verdes estavam brilhantes de lágrimas e memórias. — Era tão grande! Ele fez túneis e tinha diferentes quartos! Demorou, mas foi tão legal quando nós terminamos. — Demoramos. Vocês trabalharam naquilo por dias. Você era só uma coisinha, Luce. Você podia se levantar e atravessá-lo inteiro. — ela sorriu para mim, sem se lembrar de verdade do forte, mas amando que ela tenha sido incluída. — Ele ficou preso na porta. — acrescentou Abby. — Ele não fez o buraco grande o suficiente! Nós rimos novamente. A coisa toda quase desmoronou com ele tentando sair dela. — Um ano, na época que éramos crianças. — Trevor começou. — Ele queria construir o maior boneco de neve do quarteirão. Ele sempre foi assim, sempre construindo coisas, sempre querendo ser maior e melhor do que todos. Então, ele convocou a minha ajuda e a de dois caras com

que costumavam andar, Johnny Gillette e Bryan Fall. Passamos o dia todo trabalhando naquela coisa, construindo a base e, em seguida, o meio. Era enorme. Falo sério... — Trevor estendeu os braços. — Enorme. Mas, no momento em que chegamos à cabeça, estávamos todos cansados e com frio demais para fazer muito esforço. Assim, a cabeça acabou com o tamanho de uma bola de beisebol, acomodada em cima daquele corpo monstruoso. Nem sequer parecia um boneco de neve. Era apenas uma grande gota de neve. E as memórias seguiram. Nós não conseguíamos parar. Todos tinham uma grande memória de Grady, mesmo os meus pais. No momento em que abrimos os presentes, todos tivemos que secar os olhos, mas havia sorrisos nos nossos rostos. Eu ainda não tinha lembrado de Grady desse jeito. Sempre que pensei sobre ele ao longo dos últimos meses, eu estava muito abalada com a dor para permitir que meus pensamentos fossem bons. E eu não podia lembrar de uma época em que qualquer um de nós tinha falado tão abertamente sobre ele, lembrando o grande homem que ele era, em vez do homem que todos nós desejávamos ainda estar vivo. Meus filhos sorriram e gargalharam e gritaram de alegria quando abriram presentes. A maioria ainda estava escondida no meu armário, comprada on-line e enviada direto para minha casa. Em todos os anos anteriores, Grady e eu tínhamos encontros especiais para compras para escolher presentes para as crianças. Este ano quase desisti antes mesmo de começar. Eu estava muito sobrecarregada com a responsabilidade de tornar este feriado feliz para os meus filhos. Eu não sentia o desejo de celebrar qualquer coisa. Porém, como em todos os anos anteriores, não fui eu que tornei este feriado especial. Foi Grady. Sempre era o Grady. Mesmo na morte, ele colocou sorrisos nos nossos rostos e amor em nossos corações.

Este feriado foi especialmente difícil porque ele não estava aqui para celebrar conosco e, ainda assim, conseguimos passar pelo hoje e pelo amanhã e todos os dias depois por causa das memórias que ele tinha nos dado e que ficariam com a gente para sempre. Fechei os olhos, completamente consumida por devoção por um homem que eu amaria para sempre e além. Pensar em Ben nesse mesmo contexto parecia bobo. Como alguém poderia se comparar ao marido que eu tinha amado e perdido? Como eu poderia sequer entreter esses sentimentos ridículos? Eram tão incomparáveis com o que eu sentia por Grady. Depois dos presentes e mais cheesecake, meus pais subiram com os meus filhos para ajudá-los a se preparar para dormir e eu acompanhei Katherine e Trevor até a porta. Trevor jogou os braços em volta de mim e me apertou em um abraço antes de correr para o carro para aquecê-lo para a sua mãe. — Foi realmente uma noite encantadora. — Katherine me disse enquanto colocava o casaco e luvas. — Eu temi por hoje por tanto tempo, eu só... Não esperava gostar tanto. — Sei exatamente o que você quer dizer. Quais são seus planos para amanhã? Ela hesitou com a mão na porta da tela fosca. — Trevor vai passar aqui pela manhã e depois vamos para a casa do meu irmão. Clay tem cinco filhos e dezesseis netos. Deve ser movimentado o suficiente para nos manter entretidos. — Obrigado por passar esta noite com a gente, Katherine. Sei que as coisas têm sido tensas ultimamente... Eu só queria pedir desculpas pelo meu comportamento na Ação de Graças. Eu nunca deveria ter dito aquelas coisas para Trevor. E eu me sinto terrível por arruinar o seu... — Liz, por favor, não se incomode me pedindo desculpas. — sua mão enluvada pousou no meu ombro. Ergui os olhos para encontrar os

dela molhado com novas lágrimas. — Eu sei como é difícil agora que Grady se foi e eu sei o tanto que você deve estar frustrada com o comportamento do meu filho. Mas você sabe o que eu vi na Ação de Graças? Eu balancei a cabeça; eu não podia sequer imaginar o que ela viu. Uma mulher enlouquecida pela dor? Uma confusão total que devia considerar seriamente a terapia? Eu não tinha certeza se queria saber a resposta. — Eu vi você tratar Trevor como família. E mesmo que você estivesse furiosa com ele, vi que você ainda o ama. Ele não tem Grady mais, mas ele ainda tem você. — Katherine, claro. Vocês ainda são a minha família, mesmo que Grady não esteja aqui para nos unir legalmente. Ela sorriu calorosamente para mim. — Quando meu marido morreu... bem, eu não encontrei muito a família dele depois. Todos nós ficamos muito ocupados ou seguimos em frente, ou eu não sei o quê, mas me machucava que os pais dele não se aproximaram ou passaram um tempo com seus netos. Agora, eu posso ver que, provavelmente, ele estavam muito dilacerados pela própria dor. Além disso, os meus meninos eram

muito mais velhos. Eram adolescentes e difíceis de se

conectar. Acho que fiquei esperando que você me afastasse também. — ela segurou meu rosto com carinho. — Eu não conseguiria suportar, Liz. A ideia de perder não só Grady, mas você e as crianças seriam demais para mim. Então, sim, por favor, grite com Trevor com a frequência que você quiser. Arruíne quantos feriados precisar. Só não nos exclua da vida de vocês, por favor. Eu joguei meus braços em torno dela e a abracei com força. — Eu não vou. — prometi. — Vocês são minha família. Grady nos aproximou, mas eu vou nos manter unidos.

Nós nos abraçamos por longos minutos e então separamos. Foi mais fácil esta noite do que no passado. Nós duas estávamos sofrendo, mas ela estava certa, éramos família também. E nos ajudaríamos a passar por isso juntos.

Capítulo Dezesseis Na hora do almoço no dia seguinte, eu já tinha jogado fora pelo menos um quilômetro de papel de embrulho, guardado aproximadamente seiscentas baterias, e chorado muitas vezes para contar. Mas nós sobrevivemos à manhã de Natal. Ajudou que o meus pais e Emma tenham vindo compartilhar o feriado. Eu não acho que conseguiria sem eles. Meus filhos sofreram uma grande parte da sua dor na noite passada e a emoção da manhã de Natal cancelou a tristeza, com o que eu era eternamente grata. A manhã foi uma loucura, como de costume. Mas as coisas tinham acalmado depois que tomamos um excelente café da manhã de Natal e todos eles tinham novos presentes para ocupar o tempo. Terminei de limpar a louça e, em seguida, verifiquei meu telefone pela primeira vez durante todo o dia. Eu tinha muitas mensagens de vários parentes que nos desejavam boas festas, mas uma se destacou acima de todas as outras, uma mensagem de Ben. Feliz Natal. Ele mandou uma mensagem cerca de uma hora atrás. Feliz Natal pra você também. Espero que você tenha um grande dia! Eu respondi. Fui para o sofá na frente da árvore e coloquei meus pés debaixo de mim. Havia um monte de coisas que deveria estar fazendo, mas não conseguia encontrar motivação. E desta vez não era porque a dor tinha me dominado.

Pela primeira vez em muito tempo, meus filhos estavam felizes e ocupados, eu tinha alguns minutos para mim na minha própria casa. Decidi aproveitar ao máximo e desfrutar deste momento tranquilo na frente da minha bela árvore antes de ter que desmontar tudo. Era artificial, mas muito bonita com todas as luzes e ornamentos pendurados. Quando Grady era saudável, ele planejava uma grande noite fora para escolher uma árvore natural, a árvore perfeita. Então eu passava o mês seguinte aspirando espinhos. Claro, ele não se importava. Ele adorava o cheiro de pinho fresco e o deslumbramento de olhos arregalados que as crianças sentiam à noite quando montávamos a árvore. E para ser honesta, adorava por esses motivos também. No último Natal, quando ele estava doente demais para sair do hospital, Emma e meus pais me surpreenderam decorando a minha casa inteira, enquanto eu estava no hospital. Eles pediram a ajuda dos meus filhos e se superaram, deixando cada ambiente decorado. Eles compraram uma árvore artificial, porque nós todos estávamos muito ocupados indo e voltando do hospital para encontrar uma de verdade. Eu fiquei grata por isso este ano, quando aconteceu a mesma coisa, mas por razões diferentes. Meu telefone tocou na almofada ao meu lado. Apanhei-o E encontrei uma nova mensagem de Ben. Vou comemorar com meus pais esta noite, então a minha manhã foi muito preguiçosa até agora. Eu sorri quando mandei uma mensagem de volta: Pop-Tarts? Você me pegou. Mas eram do tipo açucarados, então são festivos, certo? Você devia ter vindo tomar café da manhã com a gente.

Meu estômago mergulhou depois que pressionei enviar. Por que disse isso? Como foi inapropriado! Meus dedos começaram a tremer. Eu precisava parar de enviar-lhe mensagens erradas. Pelo menos não precisava me preocupar em seguir com a oferta, por que já tinha acabado. Felizmente, ele não reconheceu o convite. Em vez disso, ele escreveu algo ainda mais desconcertante. Você está ocupada agora? Ou acha que pode ter alguns minutos? Eu debati como responder, mas a curiosidade levou o melhor de mim. As crianças estão bem tranquilas agora. Um monte de brinquedo novo para distrair. O que você precisa? Você. Sua resposta de uma palavra fez meu coração ir a mil. Meu rosto corou instantaneamente e um arrepio subiu pela minha espinha. Mas depois o resto da mensagem chegou e me forcei a me acalmar. Você vem? Eu tenho algo para você. O que é? Eu não tenho certeza se você entende como funciona o Natal. Eu sorri para suas palavras provocantes. Você quer que eu vá até sua casa? Sim… — Com quem você está trocando mensagens? — Emma se sentou ao meu lado e puxou os joelhos contra o peito. Olhei para cima e imediatamente me senti culpada. — Ben.

Eu esperava que ela saltasse e fizesse algum tipo de dança da vitória, mas manteve a expressão neutra. — Ele está tendo um bom Natal? — Eu não acho que o dele realmente começou ainda. Ele vai encontrar os pais esta noite. — Entendi. — ela pegou uma almofada e abraçou-a contra o peito. — Ele quer que eu vá até lá. — confessei em uma corrida de palavras. — Ele falou que tem uma coisa para mim. Ele te deu alguma coisa? — Sim, ele me deu. — O que foi? — Um lenço que eu escolhi e ele me enviou. — ela sorriu descaradamente. Deus, eu amava a minha irmã. — Bem, eu não escolhi algo para ele comprar para mim. Não posso imaginar o que é. — Vá descobrir. Mordi meu lábio inferior indecisa. — Eu não comprei nada para ele. — meu olhar saltou ao redor da sala enquanto tentava descobrir algo que pudesse embrulhar rapidamente para fazer a troca. — Eu duvido que ele esteja esperando alguma coisa, Lizbeth. — O que você deu para ele? — a curiosidade sobre a amizade de Emma e Ben queimava estranhamente no meu estômago. Eu não conseguia

descobrir

por

que

me

incomodava

eles

serem

tão

próximos. Ben e eu éramos próximos também. Eu não deveria sentir ciúmes do que eles tinham. Ciúmes? Eu realmente senti ciúmes?

— Uma carteira. — ela me disse. — Ele escolheu e me mandou os links. Eu ri da troca boba de presentes. — Talvez ele comprou o mesmo lenço para mim. Em uma cor diferente? — Talvez. — minha irmã deu de ombros. — É um lenço muito bonito. Acho que só há uma maneira de descobrir... Eu não mexi um músculo. Minha tela do telefone tinha escurecido, então não podia mais ver o convite de Bem, mas o sentia por toda a minha pele e na barriga. — Vá! — Emma incentivou. — Eu vou cuidar para que a casa não queime. — Eu não vou demorar. — prometi, saltando do sofá. — Não se preocupe com isso. — Ok, mas eu não vou. — Seja como for, apenas vá! Guardei meu telefone no bolso do jeans skinny preto e coloquei as botas. Eu tinha me arrumado um pouco para o Natal com uma túnica de seda vermelha e joias douradas. Era o maior esforço que eu tinha feito desde o feriado de Ação de Graças. Coloquei o casaco quando saí pela porta da frente. Corri da minha casa para a dele, dando passadas longas na neve em nossos gramados. Estava frio lá fora e eu estava ansiosa para ver o presente. Eu levantei a mão para bater na sua porta, mas ela se abriu para mim em vez disso. Minha mão ficou pendurada, enquanto ele demorou passando os olhos dos meus dedos dos pés até o topo da minha cabeça. Ele abriu a porta de tela e eu entrei na casa dele. Ben nunca tinha me convidado para sua casa antes. Ele sempre ia para a minha, por razões óbvias.

Ele tinha bom gosto, embora. Os cômodos que eu podia ver eram decorados com marrons ricos com poltronas de madeira envelhecida. Eu podia imaginá-lo estirado no sofá de couro robusto, prestando atenção a algo em sua enorme TV fixada na parede. Havia uma pequena árvore enfeitada

em

uma

mesa

com

alguns

presentes

embrulhados

profissionalmente embaixo. O único defeito era que sua bela casa parecia um pouco vazia. Era um grande espaço somente para ele. — Eu gosto mais da sua casa. — sua voz baixa soou atrás de mim. Seus dedos pousaram sobre os meus ombros e puxaram meu casaco. Deixei que ele me ajudasse a tirar. — A sua é linda. — disse a ele um pouco sem fôlego. As pontas de seus dedos percorreram meus braços quando ele tirou meu casaco. Tirei as botas rapidamente para colocar algum espaço entre nós. — A minha é solitária. — disse ele. — A sua é cheia de vida. Virei-me para encará-lo. Eu nunca teria descrito a minha casa assim. Para mim, parecia que a minha casa era cheia de morte. Cheia de fantasmas. Cheia de memórias que me comiam dia e noite. — Por que você comprou uma casa tão grande apenas para você? — mudar de assunto pareceu ser uma decisão mais sensata. Ele deu um passo na minha direção e eu fiz o mesmo rapidamente para trás. Ele sorriu um pouco, divertido com o meu comportamento nervoso. Eu não conseguia evitar! Esta era a primeira vez que estávamos sozinhos, verdadeiramente sozinhos. As crianças não estavam dormindo no outro quarto ou correndo ao redor dos nossos pés. Éramos apenas eu e ele e essa casa grande. O nervosismo deslizava sobre a minha pele e acumulava no meu estômago. Eu não sabia como lidar com todos esses sentimentos e sensações, especialmente porque a minha reação era muito boba.

Ben via-me como amiga, nada mais, mas também, nada menos. — Bem, eu não achei que moraria aqui sozinho. — admitiu. — Oh. — eu evitei seu sofá e olhei para a cozinha. Com certeza, uma caixa de Pop-Tarts natalina estava no balcão. — Senhora Tyler e as crianças, você quis dizer? Eu me virei e o vi dar de ombros. — Eu não sei. Talvez, logo que comprei, achei que sim. Mas, não tenho certeza se este é o lugar certo para começar uma família. — Você pensa em se mudar? — eu odiei a sensação que tomou conta de mim, uma onda pesada que ameaçava arrastar-me sob uma nova superfície de tristeza. Ele me olhou com cuidado ao dizer: — Eu me mudaria pela mulher certa. Suas palavras me feriram de uma maneira que nunca esperei. Falar sobre Ben encontrar a mulher com quem queria se casar era uma coisa, mas encarar a realidade de que eu poderia perdê-lo completamente um dia nunca tinha me ocorrido. Meu coração se apertou com confusão e resistência. Eu não queria que isso acontecesse. Eu queria manter Ben para mim. Egoisticamente, eu não me importava com a sua felicidade ou desejo de se casar e ter filhos. Eu queria que ele ficasse sempre aqui conosco. — Liz, eu... eu quero... Eu tenho um presente para você. — ele andou até a pequena árvore e pegou um embrulhado perfeitamente abaixo dela. Um cartão marfim estava apoiado no o papel macio vermelho, com fita dourada. Meu nome escrito delicadamente. — Você vai me dizer o que é? — eu olhei para ele com as mãos trêmulas, quase com medo de ver o que ele comprou.

Não parecia com um lenço. — Que tal eu assistir você abrindo primeiro? — Eu não comprei nada, Ben. Eu sinto muito; eu mal tive tempo para comprar para as crianças... — Liz. — disse ele com uma voz suave, cortando minhas divagações. Sua mão quente em volta da minha trêmula. — Eu nunca esperei nada em troca. Eu comprei este presente porque me lembrei de você. Você se tornou alguém que significa muito para mim e eu queria... mostrar o quanto eu gosto de você. Olhei para o presente lindamente embrulhado em minhas mãos e debati sobre entregá-lo de volta para ele. Eu não queria saber o quanto ele gostava de mim. — Não vai morder. — ele provocou delicadamente. Olhei em seus olhos castanhos escuros e percebi. Eu poderia estar com medo do que o presente representava para ele, mas eu abriria de qualquer maneira porque me importava com ele. Eu não poderia machucá-lo por me recusar a isso. Eu não iria machucá-lo. Desamarrei cuidadosamente o laço e deslizei o dedo debaixo da costura do papel. Ele a tirou de mim para que pudesse segurar uma caixa preta, sem etiqueta. Meu coração saltou para a garganta. Eu só podia imaginar um tipo de presente em uma caixa como esta e não queria isso. Eu não queria joias de Ben. Eu não sabia o que essa joia queria dizer! Eu engoli meu medo e abri a caixa. Engasguei com o cuidado por trás dessa surpresa. Alívio me preencheu e eu quase tropecei com a força dele. Na caixa, embrulhado em papel de seda vermelho brilhante, estava um ornamento de floco de neve feito de cortiça, reaproveitando rolhas de

vinho. Uma fita azul brilhante tinha sido presa à borda externa para dar um pouco de cor. Era um presente perfeito. Eu amei. — Eu amei. — disse a ele em um sussurro. Apanhei-o e segurei delicadamente nas mãos. — São as nossas. Eu olhei para ele, confusa com o que ele queria dizer. Ele olhou para mim atentamente, observando minha reação. — O que você quer dizer? — Foi um acidente no início. Sempre colocava as rolhas no bolso depois que abria uma garrafa em sua casa e nunca as jogava no lixo. Elas empilharam em meu armário. Então eu vi um ornamento que uma colega de trabalho tinha comprado, feito de rolhas. Ela me disse que comprou em uma feira de artesanato. Eu rastreei a pessoa que os fez e pedi para fazer isso para você. Temor e uma agradável surpresa me aqueceram inteira. — Você teve um monte de trabalho. — Eu gostei do resultado. — ele estendeu a mão para ele, correndo as mãos sobre as rolhas. — Nós bebemos um monte de vinho. Ele sorriu para mim. — Nós nem sempre terminamos uma garrafa em uma noite. — ele deu um passo para mais perto de mim, fechando o espaço confuso que nos separava. — Estas rolhas representam um monte de momentos bons. É difícil de acreditar que nos conhecemos apenas há alguns meses. — Você está dizendo que parece mais tempo? — eu provoquei.

— Eu estou dizendo que parece que levou muito tempo para conhecê-la. — ele deu mais um passo mais perto. Eu podia sentir o calor de seu corpo e a suavidade de seu suéter cinza em minhas mãos. — Alguns dias eu não sei o que eu faria sem você. — sussurrei surpresa com a minha coragem. Mas essas palavras eram verdadeiras e no isolamento de sua casa tranquila eu me senti segura o suficiente para falar. — Então fico feliz que você me tenha. Olhei para o ornamento de floco de neve, muito perturbada por suas palavras, só o tempo para ele para recuperar a minha atenção quando disse: — Liz, olhe para cima. — Por quê? — mas eu olhei. — Visco. — ele murmurou. Então ele me beijou. Seus lábios macios pressionaram os meus em um beijo suave que durou apenas um segundo. Mal tive a chance de deixar meus olhos fecharem antes dele recuar. Pisquei, mas não havia nada lá. A única coisa que pendia do teto abobadado era o ventilador. Sem visco. Minhas bochechas queimaram e meu estômago embrulhou. Ele me beijou. Ben tinha acabado de me beijar. Como poderia? Eu ainda era casada! Não, isso era errado. Tecnicamente, agora estava sozinha, mas não o tipo de mulher que merece ser beijada. Ainda assim, não foi um beijo de boca aberta ou mesmo íntimo. Um amigo poderia dar um beijo como aquele. Certo?

Pressionei meus lábios, tentando entender todas as sensações entraram em erupção dentro de mim. Nervosismo formigava debaixo da minha pele e aquecia meu corpo todo. Eu queria esquecer que isso tinha acontecido, mas eu não conseguia parar de reproduzir a proximidade de seu corpo ou o cheiro do seu perfume. Eu ainda sentia seus lábios contra os meus e meu coração ainda corria com a emoção da sua ousadia. — Eu deveria ir. — resmunguei. Ele olhou para mim com carinho, como se aquelas palavras fossem a coisa mais adorável que ele tinha ouvido, e disse: — Imaginei. — O que você quer dizer com isso? — Que você tem uma família que precisa de você. Imaginei que você teria que voltar para eles. Estreitei os olhos sobre ele. Eu não acreditava que era o que ele queria dizer. — Mais uma vez, obrigada pelo presente. — eu guardei o ornamento de volta na caixa e recoloquei a tampa. — Eu mal posso esperar para pendurá-lo na árvore. — Se você precisar ficar longe de seus pais, sempre pode voltar. O desejo de aceitar sua oferta me queimou sem minha permissão. Eu não deveria querer voltar para sua casa. Eu não deveria querer passar mais tempo com ele. Eu não deveria ainda estar pensando em seu beijo. — Provavelmente não vou vê-lo até eles irem embora. Seu sorriso vacilou, — Eu me esqueci de que nem todo mundo teme passar um tempo com os pais. — Você ama seus pais. — eu o lembrei. — Eles estão me cativando.

— Um dia eu gostaria de conhecê-los. Seus olhos escureceram e ele falou em um ruído baixo. — Você provavelmente devia deixar-me levá-la para um encontro primeiro. — Como? — eu praticamente me engasguei com as palavras. Mas, então, sua sobrancelha levantou daquela forma arrogante e percebi que estava brincando. Só eu pensava muito sobre isso. — Não é isso o que geralmente acontece? Eu estava apenas brincando. Limpei a garganta e tentei um sorriso. — Feliz Natal, Ben. — Feliz Natal, Liz. Eu calcei minhas botas, agarrei meu casaco e praticamente fugi da sua casa. Até o momento que tinha entrado em casa de novo já estava convencida que o beijo e o flerte não significaram nada. Ele era um amigo. E ele pensava em mim como uma amiga. Olhei para a caixa na minha mão, em seguida, agarrei-a contra meu coração batendo. Ele era apenas um amigo, decidi concretamente. E porque eu voluntariamente cheguei a essa conclusão, eu não me incomodei em examinar minhas ações quando guardei o ornamento dentro do meu criado-mudo, em vez de pendurar na árvore onde seria guardado com todas as outras decorações de Natal em apenas alguns dias.

Capítulo Dezessete — Senhora. Conway irá vê-la agora. — a secretária da escola me informou. Levantei-me de uma cadeira forrada encostada na parede e caminhei em direção ao escritório da Sra. Conway. Desta vez eu pensei com antecedência e chamei Emma para tomar conta dos dois filhos menores enquanto eu tinha o meu encontro com a conselheira da escola. Quando ela ligou na sexta para perguntar se podia me encontrar na segunda-feira, ela deixou claro que era uma reunião muito séria e que eu deveria levar a sério. Imaginei que a chamada foi feita para me assustar e deixar meu bando de crianças em casa. Eu entrei em seu escritório e me preparei com a frieza imediata. Eu odiava ser chamada aqui. Eu odiava que ela tivesse a capacidade de me reduzir e me fazer temer ter ataques de pânico. Antes de Grady morrer, eu era a mãe do pôster para o voluntariado e espírito da escola. Agora eu era uma história de alerta sussurrada nas reuniões de pais e mestres. É isso que acontece quando você tem muitas crianças e fica louca. Essas mulheres confiaram em mim durante uma época. Agora mal me olhavam nos olhos, porque não sabiam o que dizer para mim. Talvez fosse injusto colocar todas no mesmo patamar, mas além de alguns quitutes iniciais após o funeral de Grady, eu não tinha ouvido falar de nenhuma delas. — Como vai você, Liz? — a conselheira me perguntou da sua mesa. — Eu estou bem, obrigada.

— Por favor, sente-se. — eu segui a ordem. — Você sabe por que eu chamei aqui hoje? Tentei não me sentir como uma criança de dez anos novamente. — Não, as crianças não me disseram nada. Ela apertou os lábios finos e olhou para alguns papéis na frente dela. — Mas você sabe que Abby tem tido problemas em quase todas as aulas? Ela está fazendo bagunça, interrompendo aulas e não faz seu dever de casa? — Estamos trabalhando com tudo isso. — eu suprimi o desejo de correr minhas mãos sobre o rosto por causa da frustração. — Ela teve algumas dificuldades desde o Natal. — O que aconteceu no Natal? — Sra. Conway suspirou como se estivesse esperando por alguma peça desse quebra-cabeça insolúvel. — Comemoramos sem o pai pela primeira vez. Tem sido difícil para todos, mas Abby é a única que reage perturbadoramente com o luto. Ela não está processando muito bem. Sra. Conway soltou um suspiro curto, aborrecido, como se a dor da minha filha a irritasse. — Bem, é início de fevereiro agora, Liz. Eu sei que Abby está passando por algo difícil, mas ela está causando grandes problemas para todos os professores. Se ela não mudar o comportamento em breve, vamos ter que tomar medidas disciplinares. Eu balancei a cabeça, tentando fazer com que as palavras dela desaparecessem. — Senhora Conway, eu sei que ela pode ser um problema, mas ela já passou por tanta coisa. Ela não é uma má garota; ela é apenas uma menina que perdeu o pai. Estamos trabalhando a sua dor, mas isso leva tempo. — Eu sei que você acha que eu sou a pessoa má aqui, mas eu só estou tentando ajudá-la. Ela tem que aprender que, mesmo em tempos difíceis, ainda tem que seguir as regras na escola e na sociedade.

— Ela vai aprender. — eu prometi. — Eu estou trabalhando com ela em casa e ela está se abrindo mais. Ela está processando a morte de Grady, está mais madura agora. Ela acabou de fazer sete, há algumas semanas. Isso pode ser parte do problema e parte da solução. — O que você quer dizer? Eu apertei as mãos no colo para não ficar remexendo. — O aniversário de Abby é em janeiro, então entre a temporada de férias e seu aniversário, ela teve que enfrentar uma série de eventos familiares importantes e especiais que seu pai não esteve presente. Foi muito duro pra ela. Para todos nós. Mas ela tem sete anos agora. Ela vai crescer um pouco nos próximos meses, vai amadurecer. Foi um ano difícil para ela, mas eu sei que ela está melhorando. Basta dar-lhe um pouco mais de tempo. — Liz, estamos quase no final do ano escolar. — Nós também estamos quase chegando no aniversário de um ano de morte de Grady. Pode estar relacionado com o comportamento dela também. — Quando é? — Meio de Março. Ela deixou escapar um longo suspiro. — Tudo bem, eu entendo. Eu sei que é difícil para a sua família. Entendo. — Obrigada. Seus olhos frios levantaram para encontrar os meus. — Mas ela não pode continuar perturbando a aula e a hora do almoço. Ontem ela fez todas as crianças no refeitório gritarem “Tum” em plenos pulmões. Minhas sobrancelhas arquearam. — Tum? Sra. Conway começou a bater os punhos levemente em sua mesa no tempo para ilustrar: — Tum! Tum! Tum!

— Percebo como isso causou tantos problemas. — Senhora Carlson, eles eram extremamente altos. Os professores não conseguiram acalmá-los. — Dê-lhe apenas um pouco mais de tempo. Eu prometo que vou ter uma conversa com ela e ela vai comportar-se bem durante resto do ano escolar. — Nós só temos mais alguns meses. — ela disse com simpatia. — Nós vamos conseguir, Sra. Conway. Vou conversar com ela ao longo deste ano e depois, próximo ao outono, você vai ver uma criança diferente. Uma criança saudável. — Tudo bem, Liz. Certo. O sino da escola tocou finalizando mais um dia letivo e ambas nos levantamos. Eu disse adeus e saí para pegar os meus filhos. — Abby, vamos conversar quando chegarmos em casa. — eu disse a ela. Eu não agi de forma tão irracional quanto no começo do ano, mas eu sabia que a minha filha precisava de disciplina. Eu só podia me culpar por isso e a morte de Grady era uma realidade com a qual tínhamos que aprender a conviver. Ela não podia continuar se metendo em problemas como este e a Sra. Conway estava certa sobre seu trabalho da escola. Embora ela estivesse apenas na primeira série ela tinha desistido de fazer qualquer coisa direito. — Estou com problemas? — ela falou nervosamente. Eu dei-lhe um olhar, meu olhar de mãe. Eu tinha aperfeiçoado ao longo dos anos. Ela encolheu. Ela conhecia o olhar muito bem.

A volta para casa foi silenciosa. Eu deixei Abby com seus medos do que estava por vir, mas eu não sabia exatamente o que diria. Eu precisava resolver isso. Eu não tinha ideia por onde começar com a minha filha quando toda a sua vida tinha sido quebrada. Ela era minha flor selvagem, o meu espírito livre. Abby não seguia regras antes de Grady morrer. Como eu poderia esperar algo diferente dela agora? — Ei! — Emma cumprimentou alegremente. — Como foi na escola? — Pergunte a Abby. — Blake murmurou e depois desceu para fazer um lanche. — O que há de errado? — Emma me perguntou. — Ei, você pode ficar por um pouco mais de tempo? Mais uma hora? — O que está acontecendo? — Emma se aproximou enquanto Abby saía. — Eu vou levar Abbys para tomar um sorvete. — eu sussurrei para que as outras crianças não ouvissem. — Eu preciso falar com ela. — Uma hora. — ela levantou o dedo para enfatizar. — Eu posso darlhe uma hora, mas não mais. — Você é uma santa, Emma. — eu beijei seu rosto e, em seguida levei minha filha rebelde pela porta. Nós dirigimos até o McDonalds onde eu comprei para ambas os milk-shakes baunilha e estacionei no canto do estacionamento. Convideia a sentar-se no banco da frente comigo antes de ligar o rádio e começar a falar. Uma vez que ela se arrastou para frente e se acomodou com o sorvete na mão, comecei: — Abbys, você não pode continuar agindo assim. Não está funcionando.

— O que você quer dizer? Eu dei-lhe um olhar. — Na escola. No refeitório. Com a sua tarefa de casa. Querida, você não pode mais se comportar assim. Este comportamento e esta atitude não são legais. Você não está agindo como a Abby que eu conheço. Ela abriu a boca para se defender, mas não conseguiu encontrar as palavras certas. Seus ombros caíram e ela olhou para seu copo. — Não é justo. — ela murmurou. — Não é justo que as outras pessoas têm pai e eu não. Eu sabia que isso ia acontecer... Eu sabia todas as razões para os seus problemas de comportamento e problemas na escola. Ainda assim, nada poderia ter me preparado para isso. — Abby. — eu chorei e, em seguida, a puxei do seu banco para o meu colo. Eu enterrei meu rosto em seu cabelo selvagem e deixei escapar um soluço sufocado. — Eu não acho que seja justo também. — Por que ele teve que nos deixar mamãe? Por que ele teve que morrer? — Eu não sei, querida. Ele não queria morrer. Ele tentou seu melhor para ficar com a gente, mas sua doença era muito ruim. — Por que ele teve que ficar doente? Meus amigos na escola têm pais e nenhum deles ficou doente e morreu. — lágrimas desciam pelo seu rosto bonito e seu pequeno nariz escorreu. Ela fungou e limpou os rios de ranho com as costas da mão. Eu segurei seu rosto com as mãos e beijei algumas de suas sardas. Eu não podia dar respostas para essas perguntas, pelo menos nenhuma que ela entenderia. — Abigail, seu pai ficou doente e porque ele ficou doente, ele morreu. E agora onde ele está? — No céu. — ela sussurrou. — E ele te amou quando estava vivo?

Ela assentiu. — Sim. — Ele te amou com todo o seu coração? Ela assentiu com a cabeça novamente e soluçou. — Sim. — E ele parou de te amar quando ele subiu para o céu? — Ele parou? — perguntou ela com a voz mais assustada e inocente que eu já tinha ouvido. — Não. — eu prometi imediatamente. — Não, claro que não. Ele te ama tanto agora como quando estava vivo. Apenas em um lugar diferente. — Eu vou vê-lo de novo? — Claro que sim. É claro. Um dia você vai vê-lo novamente, mas deve demorar muito. Seu queixo tremia enquanto ela lutava para segurar mais lágrimas. Eu respirei e a pressionei. — Abby você não pode continuar se metendo em encrencas na escola. Eu sei que você perdeu o seu pai. Eu sei disso. Eu sinto falta dele também. Mas, querida, você é uma boa garota. É hora de você começar a agir como uma. — Sr. Hoya não acha que sou uma boa garota. Sr. Hoya era seu professor e sem noção do que fazer. — Mostre a ele, querida. Você deu-lhe uma dor de cabeça o ano todo. Prove para ele que sabe como ouvir e prestar atenção. Mostre que você sabe ler e escrever. Ele não sabe se você sabe seu próprio nome! Abby riu como há tempos não via. — Ele sabe que eu sei o meu nome! Ele está sempre gritando ele! Eu não pude deixar de sorrir para ela. — Eu preciso que você tente Abby. Ok? Eu realmente preciso que você seja a boa menina que eu sei que você é. Ela soltou um suspiro longo sofrido — Certo. Vou tentar.

— E se você não tentar? — Eu não sei. — ela deu de ombros. — Você vai ter um grande problema. Esta é a última vez que eu vou pedir. Entendeu? Ela deslizou de volta para o seu lugar. Eu pude sentir sua luta para não revirar os olhos. — Ok. Entendi. — Eu te amo, Abbys. Eu te amo mais do que o mundo todo. Eu sei que você pode fazer isso. — Eu também te amo, mãe. Eu perguntei para ela sobre seu dia de ontem e nós rimos sobre o incidente no refeitório. Talvez isso me torne uma mãe ruim, mas eu ainda não conseguia acreditar que aquilo tinha acontecido. Demorou uma hora e meia para voltarmos para casa e o carro de Emma não estava. Eu fechei o carro e saltei, correndo para dentro e verifiquei ao mesmo tempo meu telefone, que tinha uma mensagem perdida. Encontrei Ben sentado na ilha e Blake com ele. Lucy estava colorindo na mesa de artesanato e Jace estava sentado no colo de Ben comendo uma banana. — Ei. — ele me cumprimentou calmamente, como se tivesse feito isso uma centena de vezes antes. — Ei. — Ben! — Abby gritou e correu para lhe dar um abraço. — Você me ajuda com a lição de casa? Mamãe diz que tenho que começar a fazer. E você sempre ajuda Blake. Você pode me ajudar também? — Claro, garota. Mas você tem que escrever todas as respostas para que o seu professor não saiba que fui eu. — ele olhou para mim e piscou.

— Onde está Emma? — minha mente girava com sentimentos conflitantes. Eu devia estar chateada por Ben estar aqui? Sozinho com os meus filhos? Ou eu podia confiar nele o suficiente para deixá-lo sem supervisão e no comando? — Ela precisou ir. Ela ligou e disse um monte de coisas muito rapidamente. O que eu entendi foi que você falou para ela que voltaria em uma hora? E foi mais do que isso? Ela perguntou se eu podia ficar aqui até você chegar em casa. Eu estou aqui... talvez, há vinte minutos? Eu coloquei nuggets no forno. As crianças estavam ficando com fome. Tudo bem? E bem assim meus pensamentos confusos acalmaram. Eu confiava em Ben. Eu confiava nele completamente. — Tudo ótimo. — eu disse para ele. — Você está bem? — ele perguntou em seguida. — Abby? — Estamos bem. Nós fomos apenas ter uma pequena conversa. Ele balançou a cabeça como se a minha resposta fosse importante para ele. — Se as crianças comerem os nuggets, eu posso pedir comida tailandesa para nós. — Isso é bom. — Você tem certeza que está bem? Você parece um pouco aérea. — e o vi se contorcer como se quisesse vir até mim, mas ele tinha muitas crianças ao redor dele. Eu ri disso. Eu ri, porque me relaxava ver que meus filhos confiavam nele e que ele parecia realmente confortável com eles também. — Eu estou bem, Ben. Eu estou realmente bem.

Não foi até depois do jantar, quando eu mandei as crianças para a sala de estar para assistir um pouco de TV antes de dormir que Ben e eu tivemos outra oportunidade de falar. Ele ficou depois do jantar e ajudou a limpar as caixas de comida tailandesa e os poucos pratos. Ele encheu a máquina de lavar louça enquanto eu limpava a mesa e então ele encheu o meu cantil para amanhã. — Isso vai me poupar algum aborrecimento na parte da manhã. — eu disse a ele, agradecida. Eu me inclinei na pia e sorri para ele. Ele se moveu para ficar ao meu lado. — Nós devíamos fazer isso de novo. — sua voz era quase um sussurro. Inclinei a cabeça para olhar para ele. — Jantar? — Sim, mas não aqui. — O que você quer dizer? — Devíamos sair para jantar. — ele esclareceu. — Com as crianças? Ele balançou a cabeça lentamente, como se não conseguisse me entender. — Apenas nós dois. Você e eu deveríamos sair para jantar. Eu levantei e praticamente pulei para o outro lado da sala. — Tipo um encontro? — engoli em seco. Ele balançou a cabeça, e deu um dos seus sorrisos lentos. — Sim. Eu comecei a balançar a cabeça rapidamente. — Ben, você está falando sério? Você não pode estar falando sério. A dúvida cintilou no seu rosto. — Dia dos Namorados está chegando. Nenhum de nós tem um encontro. Eu não sei, eu pensei que seria... divertido.

— Isso é doce, realmente. Mas, eu não posso. Eu não posso ir a um encontro com você. Eu não posso. Eu... não posso. — Foi apenas um pensamento. — ele deu de ombros casualmente. Eu ignorei a expressão em seu rosto. Eu não poderia lê-lo agora e, sinceramente, eu não queria saber o que significava. — Você não quer ir a um encontro comigo mesmo. Você não. Eu... Eu estou quebrada, Ben. O meu marido morreu a menos de um ano. Eu não vou namorar de novo. Nunca mais. Eu sinto muito; Eu não queria este clima estranho entre nós. Eu só me preocupo com você. Eu não achei que você pensasse em mim desse jeito. Ele colocou suas mãos nos meus ombros e me segurou parada para que pudesse olhar nos meus olhos assustados. — Liz, você não deixou as coisas estranhas entre nós. Este não é o momento certo, eu entendo. Não se sinta mal. Não estou com pressa. Está tudo bem. Eu posso esperar. — Não, Ben, não é isso que eu... Ele se inclinou e deu um beijo na minha bochecha. Eu tremi com o contato e tudo o que eu queria dizer a ele se dissolveu no ar. Quando ele deu um passo atrás, meu corpo balançava em direção a ele. — Boa noite, Liz. — ele me disse docemente. — Amanhã a gente se fala. — Obrigada pelo o jantar. — gritei. — E por ficar com as crianças. Ele me deu mais um sorriso encantador, e entrei para não vê-lo caminhar para a sua casa ou esperar que ele entrasse. Fechei a porta e tranquei assim que ele passou por ela. Eu tinha que expulsá-lo, excluí-lo da minha casa, dos meus pensamentos e do meu coração. Eu subi na cama naquela noite mais chateada do que estive há um longo tempo. Estendi a mão e agarrei o travesseiro do lado de Grady, desesperada para ele estar aqui.

— Eu não sei o que está acontecendo comigo, Grady. — as palavras saíram da minha boca como uma oração frenética. Como eu poderia amar meu marido, e ao mesmo tempo ter esses sentimentos por Ben? Não fazia sentido para mim. — Eu preciso de você, Grady. Eu preciso que você volte para mim. Eu odeio que você tenha me deixado, porque eu não sei o que fazer. Volte para mim. Eu faria qualquer coisa para ter você de volta para mim.

Capítulo Dezoito 15 março. Aniversário de um ano da morte de Grady. Acordei naquela manhã antes das crianças e olhei para mim mesma no espelho por um longo tempo. Eu não consegui encontrar-me através da névoa da dor e sofrimento. No espelho, vi uma estranha, uma pessoa que eu não conhecia e não podia tolerar. De vez em quando eu vislumbrava um lampejo de meu antigo eu, mas era apenas um lampejo, um eco de vida e luz. Parte de mim aceitava que esta era a pessoa que eu era agora. Eu nunca poderia voltar. Eu nunca encontraria o meu eu perdido. Essa parte de mim sabia que eu só poderia avançar e teria que descobrir essa desconhecida conforme o tempo passava. E essa mesma parte estava bem em conhecer esta nova versão. Eu não poderia voltar, mas eu também não sabia se eu queria voltar. A outra Liz foi casada com Grady. Ela era uma boa mãe que tinha as coisas sob controle porque ela tinha a ajuda de um bom homem. Ela construiu uma vida que girava em torno de seu marido e seus filhos, e era suficiente para ela. Mas eu nunca poderia ter essas coisas novamente. E então para seguir em frente eu precisava deixá-los ir. Sim, eu ainda tinha os meus filhos e eu sempre faria tudo o que pudesse para dar-lhes a melhor vida possível. Mas eu não era a mãe que se voluntariava duas vezes por semana em suas salas de aula agora. Eu não era a mãe que assava uma montanha de comida para arrecadar na semana da valorização do professor. Eu não era a mãe que se lembrava de todos os treinos e colocava refeições saudáveis na mesa todas as noites.

Era apenas eu. Uma viúva lutando para mantê-los banhados e vestidos. E sabe de uma coisa? Funcionava para nós. Nós sobrevivemos um ano sem Grady. Um ano inteiro. Talvez não fosse bonito. Talvez nossas vidas não estivessem em perfeita ordem. Mas, ainda assim, nos amávamos. E nós ainda estávamos vivos. Houve momentos escuros ao longo do último ano, mas não foi tudo escuridão. Houve dias que eu achei que não sobreviveria e momentos em que estive convencida que seriam o nosso fim. Mas nós desatamos os nos mantemos vivos. O melhor de tudo, não foi só depressão e momentos difíceis. De alguma forma, não só conseguimos continuar vivendo, mas conseguimos sorrir com algumas coisas também. Machucava nossos corações e feria nossas almas, mas havia uma abundância de amor e felicidade sobrando para nós. Eu empurrei o meu cabelo loiro do rosto e fiz uma nota mental para marcar

cabeleireiro. As

linhas

perto

dos

meus

olhos

estavam

definitivamente mais pronunciadas e minha pele jovem não era mais tão jovem. Com quase trinta e três anos de idade, eu poderia dizer que estava feliz com o jeito que envelheci. Eu não encontrei muito tempo para correr durante o inverno. Eu esperava resolver isso na primavera. Ainda assim, eu estava na minha melhor forma. O que mais me importava na minha aparência é que eu, finalmente, podia reconhecer algumas das coisas que Ben via em mim. Eu sabia Grady me amava. Eu sabia, sem dúvida, que ele me achava sexy. Ele me falava que eu era linda quase todos os dias. Mas ele era casado comigo. Nós passamos dez anos juntos. Em algum momento ele tomou uma decisão consciente de me ver assim e continuar me vendo

dessa maneira. Eu não tinha dúvida de que ele acreditava em todas essas coisas, mas parte da razão era porque ele nunca olhava para qualquer outra direção. Eu era para ele, assim como ele para mim, o fim de tudo. Ben tinha começado como um completo estranho, sem obrigação nenhuma comigo. Nosso relacionamento se desenvolveu para uma amizade forte e eu estava feliz com isso. Embora, eu soubesse que ele queria mais. Ele me disse isso mais de uma vez. Eu achei que ficaria um pouco estranho entre nós depois que ele me chamou para sair e eu recusei. Eu nunca devia ter me preocupado. Ben nunca deixaria algo pequeno como uma negativa isso atrapalhar a nossa relação. Nem mais negativas. Ele continuou me chamando para sair no mês passado. Ele nunca era contundente. Tinha aquele jeito gentil que sempre me deixava sentir confortável o suficiente para dizer não. E eu sempre dizia que não. Eu deveria ter terminado as coisas com ele em todos os sentidos. Eu não queria estimulá-lo. Eu me importava muito com ele para brincar com os sentimentos dele. Mas eu também era muito egoísta para deixá-lo ir e ele parecia não ter pressa para escapar de mim. Ele significava mais para mim do que quase qualquer outra pessoa. E se eu fosse honesta comigo mesma, eu sabia que tinha sentimentos por ele. Só não conseguia explorá-los. Eu ainda amava o meu marido tão ferozmente como no dia em que ele morreu. Não seria justo com Grady, meus filhos ou Ben eu dizer sim. Além disso, eu sabia que Ben e eu não duraríamos muito tempo depois de um primeiro encontro. Onde isso poderia dar? Casamento estava fora de questão. Uma relação séria estava fora de questão. sexo

estava tão fora de questão que me fazia rir, e, depois me encher imediatamente com medo e ansiedade. Nós não tínhamos futuro como um casal. Eu não queria estragar a nossa amizade. Era muito importante para mim. Eu decidi deixar as crianças em casa hoje. Era uma terça-feira, para que o resto do mundo tudo continuava normal. Eu, simplesmente, não consegui mandá-los para a escola. Nosso mundo tinha parado de ser normal há um ano. Não, mais do que isso. Após o primeiro diagnóstico de Grady, as coisas tomaram um rumo abrupto para o anormal. E nós, praticamente, criamos raízes lá. Eu me vesti e coloquei um pouco de maquiagem leve. Eu desci em uma casa ainda tranquila e fui fazer o café da manhã. As crianças apareceram na cozinha, de olhos sonolentos e discutindo. Eu amava esta imagem deles. Eu amava os pijamas amarrotados e os sorrisos preguiçosos. Eu amava quando iam até mim e me envolviam com os braços assim que me viam, como se a primeira coisa que eles precisassem todos os dias fosse meu toque. Eu beijei os cabelos selvagens e liguei alguns desenhos animados para que pudesse me concentrar em um grande café da manhã - com panquecas, bacon, ovos mexidos e roscas de canela. Este dia vai ser difícil, não importava como passássemos; achei que deveria começar nos alimentando. Comemos em silêncio, exceto Jace, que não entendia o significado deste dia. Ele estava simplesmente animado por ter todos seus irmãos em casa com ele.

Depois do café, eu dei banho e os vesti com roupas bonitas, arcos para as meninas e sapatos brilhantes para os meninos. E então eu os levei de volta para baixo e eu dei um presente para cada um. Eu dei algo de Grady. Eu dei a bola de basquete do pai para o Blake. Grady costumava jogar bola na manhã de sábado com os amigos na quadra local. Ele a deixava em uma bolsa de academia no nosso armário e eu não tinha mexido até que pensei em dar para o Blake. Cheirava a couro e suor. Cheirava a Grady quando ele voltava para casa depois de algumas horas de jogo, todo molhado e exausto, mas vivo e com uma energia que ele só encontrava com bons amigos e jogos duros. Para Abby, eu encontrei um box de The Hardy Boys16 em capa dura. Era da época de criança do Grady. Sua mãe trouxe quando nos mudamos para essa casa e ele os deixava em uma prateleira na sala. Abby agora conseguia ler bem sozinha e achei que ela amaria os mistérios e as aventuras, e ainda mais, lendo algo que seu pai amava na sua idade. Encontrar algo de Grady que tivesse significado para Lucy foi o mais difícil. Mas dando uma olhada na sala, eu encontrei uma caixa que ele tinha feito na escola de marcenaria. Ele tinha gravado suas iniciais na parte superior de depois anexado a tampa com dobradiças. Foi difícil me separar de algo tão significativo para ele. Ele tinha guardado todos aqueles anos e eu sabia que ele tinha orgulho do seu trabalho, mesmo naquela época. Meu coração tinha gritado para mantê-lo para mim, mas eu sabia que Lucy passaria a amar e trataria com tanto cuidado quanto ele. Eu falei para ela colocar em algum lugar seguro e quando quisesse olhar, eu a ajudaria a pegar.

16

The Hardy Boys é como são chamados os irmãos adolescentes detetives amadores Frank e Joe Hardy, personagens fictícios americanos de histórias de mistério que apareceram em várias séries de livros para crianças e adolescentes.

Eu queria encontrar algo simbólico de Grady, de modo que quando Jace fosse mais velho, ele soubesse que era do seu pai mesmo sem conseguir relacionar a uma memória. Mas não consegui encontrar nada que representasse Grady sem relacionar uma imagem dele. Então veio a solução. Jace precisava de uma foto do pai. Peguei uma das minhas fotos favoritas revelei e emoldurei. Ben disse que iria pendurá-la para mim mais tarde no quarto de Jace. Na foto Grady estava sentado em um banco no trabalho alguns anos atrás. Seu queixo estava inclinado para cima, enquanto ele ria de algo em um vídeo. Os olhos verdes brilhantes com vida e ele estava descabelado por causa do vento. Era impressionante para mim. Eu que tirei a foto. Eu tinha ido com algumas crianças muito mais jovens para ver onde o pai trabalhava e levei o almoço. Lembrei-me que corri para capturar a foto e de me apaixonar por ele novamente naquele momento. Era uma imagem de Grady que eu sempre lembrava porque era tão genuinamente ele. Jace precisava ver o pai assim. Eu sabia que os pequeninos não entenderiam o significado ainda, mas um dia eles aprenderiam a apreciar o valor do que eu lhes dei. Eu já tinha embrulhos para cada um deles, junto com os presentes de Grady que eu planejava dar todo ano. Os embrulhos me deram uma sensação de paz que eu não esperava. Eu deixei esta casa completamente intacta após a morte de Grady. Suas roupas ainda pairavam nos armários e as botas de trabalho ainda estavam no hall de entrada. Não eram simplesmente suas posses terrenas, eram pedaços dele que eu não conseguia imaginar me despedindo. Bem, até agora. Agora que suas memórias mais importantes foram embaladas e esperavam pelos meus filhos, eu achei que talvez fosse hora. Talvez eu pudesse arrumar suas roupas e dar para alguém que necessitava. Talvez

fosse hora de levar os sapatos para longe e esvaziar o banheiro dos seus produtos de higiene pessoal. Talvez. Uma coisa de cada vez. As crianças olharam para os seus presentes por um tempo, todos eles, exceto Jace, que com seu andar de criança foi para a caixa de brinquedos que mantínhamos na sala de estar. Abby e Blake choraram com os novos presentes e logo Lucy juntou-se. Jace voltou para ver qual era a comoção, então eu o peguei e chorei com ele também. Eu levei meus filhos para o sofá e aconcheguei-os perto. Sim, as coisas estavam melhores, mas ainda eram difíceis. Uma batida na porta me forçou a mover. Olhando para o relógio na parede, de qualquer maneira, eu sabia que era hora. Eu dei beijos em todos os pequenos e um último abraço. Ben estava do outro lado da porta, segurando um grande buquê de orquídeas pálidas cor-de-rosa. Antes que eu pudesse cumprimentá-lo, ele entrou pela porta aberta e me esmagou em um abraço. Ele cheirava como ele, como o perfume que eu tinha me acostumado ao longo dos últimos meses, e como as flores que ele segurava nas minhas costas. Meus braços envolveram sua cintura e eu segurei. Eu tinha sido uma rocha toda a manhã, estável, o que nos mantinha juntos. Mas agora eu precisava que alguém fosse a minha rocha. Senti-me desmoronar, em pedaços, areia lavada cada vez que uma nova onda rolava, ou como cinzas espalhadas ao vento. — Como está indo? — ele sussurrou. — Nós sobrevivemos até agora. — eu dei um passo para trás, percebendo que abraçar Ben podia não ser apropriado na frente das crianças. Ele estendeu as flores e peguei-as, mergulhando a cabeça para desfrutar a fragrância. — São lindas. Obrigada. Orquídeas?

Ele me deu um pequeno sorriso. — Rosas pareciam... inadequadas. Eu não soube o que responder, então eu me ocupei colocando-as na água. Emma apareceu alguns minutos depois e todos nós empilhamos na minha minivan. A viagem para o cemitério não demorou o suficiente. Ben dirigiu para mim porque eu não achava que teria forças. Eu não estive lá desde que colocaram a lápide. E as únicas outras vezes que visitei o túmulo foi logo antes do funeral, quando eu escolhi o local, e, claro, durante o funeral. Simplesmente não parecia certo. Seu corpo descansava aqui, mas a sua alma tinha ido. Este era um lugar vazio para mim. Não era habitado pelo Grady que eu amava e só representava sua morte. Eu não queria me lembrar dele morto. Eu queria estar com ele em vida. O cemitério que eu escolhi era um belo pedaço de terra com enormes árvores e colinas. Seu túmulo ficava no topo de uma colina, que tinha uma vista do pôr do sol no momento certo do dia e virado para o restante da propriedade. Em algum ponto durante a preparação do funeral, eu havia projetado sua lápide. Eu mal lembrava do que eu tinha escolhido, mas era simples, imponente na medida, mas com um pouco de capricho. Como Grady. Katherine e Trevor nos encontraram lá. Tínhamos combinado de passar o tempo ao redor da sepultura, lembrando deste dia juntos. Depois que Ben estacionou o carro e saímos para a manhã molhada de março, eu percebi o quão inadequado era Ben estar aqui. Olhei para minha irmã em pânico, mas ela estava ocupada falando com Abby.

Respirei com calma e tentei entender os meus sentimentos. Não devia ser difícil. Nós éramos apenas amigos. Eu não devia sentir necessidade de justificar a sua presença para a minha sogra ou para o corpo vazio do meu marido. Mas eu sentia. O fôlego deixou meus pulmões. Por que eu não tinha pensado nisso antes? Eu pedi para o Ben estar comigo hoje, porque eu sabia que eu precisava dele. Mas agora parecia... errado. Eu não conseguia evitar os sentimentos de culpa e vergonha que borbulhavam em mim. Eu tinha cometido um erro enorme. E não havia nada que eu pudesse fazer sobre isso agora. A mão de Ben caiu entre as minhas omoplatas, que ele esfregou suavemente. Eu relaxei um pouco, mas isso só me irritou mais. — Quem é o seu amigo, Liz? — Trevor perguntou com os olhos duros e uma boca firme. Um enjoo tomou conta de mim. Fechei os olhos e aumentei a minha coragem. — Este é Ben, Trevor. Ele é um bom amigo. Ben, este é meu cunhado Trevor, e minha sogra, Katherine. Ben estendeu a mão e cumprimentou educadamente. Eles não pareceram encantados. Após uma hora de pé na garoa, em sua maioria silenciosa com nossos próprios pensamentos, nós decidimos ir almoçar. Eu escolhi um lugar apropriado para crianças, que os adultos podiam desfrutar também. A refeição foi gasta lembrando Grady, compartilhando nossas memórias e lágrimas mais uma vez. Nós conversamos pela primeira vez de detalhes sobre o funeral. Percebi que todos nós ficamos em transe durante aquele período, acompanhando os movimentos, mas sem estarmos mentalmente presentes. Nós conseguimos reunir um monte de detalhes e alguns momentos realmente importantes da época. As crianças

estavam selvagens, agitadas depois de uma manhã calma, mas nós não nos importamos com o caos. Na verdade, quebrou a última tensão por causa da visita ao cemitério. A paz só durou até Ben se retirar para o banheiro. Ele havia ficado em silêncio durante toda a refeição, observando nossa conversa com atenção pensativa. Sua mão repousou na parte de trás da minha cadeira durante todo o almoço e quando ele saiu, eu senti sua falta mais do que eu deveria. —

Como

você

conheceu

Ben?



Katherine

perguntou

suavemente. — Eu nunca tinha ouvido falar dele antes. Trevor olhou para mim enquanto eu respondia: — Ele é meu vizinho. Ele se mudou no início de setembro e ao longo dos últimos seis meses nos tornamos muito bons amigos. Trevor resmungou com desdém. Dei-lhe um olhar suplicante, implorando-lhe para entender que minhas atitudes não significavam desrespeito ou falta de amor pelo seu irmão. Eu tinha necessidades também. Eu tinha lugares solitários dentro de mim que precisavam de um amigo, que precisavam de alguém para cuidar de mim. — Ele é muito bom, Liz. — Katherine sorriu para mim. — Estou feliz que você tenha alguém em quem pode se apoiar. Eu recuei surpresa com sua resposta agradável. — Eu também. — eu sussurrei. Katherine pagou pelo almoço, embora eu tenha tentado convencê-la a me deixar. Ela me dispensou com um aceno, sem se importar que eu tivesse mais direito do que ela nisso. Nós nos separamos no estacionamento. Abracei tanto Katherine, quanto Trevor, alertando-o para ser agradável. Ele rosnou para mim. Eu não pude deixar de rir. Isso era tão Trevor. E como Katherine disse no Natal, ele estava me tratando como família, como se eu fosse sua

irmã e ele fosse meu irmão mais velho superprotetor. Ou como o irmão de meu marido morto. De qualquer maneira, a sua preocupação me fez sentir amada. Emma ajudou as crianças a entrarem em casa enquanto eu caminhava com Ben até a saída da garagem. Eu tive muito para pensar hoje e mais tempo do que o habitual com Ben. Ele se aproximou de mim, me protegendo das gotas geladas da chuva fria. Eu deixei-o invadir meu espaço pessoal, completamente acostumada com isso agora. Quando ele se virou para mim e disse: — Saia comigo, Liz. Está tudo bem você seguir em frente agora. Eu finalmente concordei com ele. Eu não sabia se foi por ter visitado o túmulo e mais uma vez percebido o quão vazia eu estava, quão longe Grady estava de mim, ou se foi por que eu percebi hoje que não queria ficar sem Ben. Eu não sabia o que significavam meus sentimentos por ele, ou a profundidade, mas eu sabia que eles me importavam de uma maneira profunda. Ele era importante para mim de uma forma que eu não podia ignorar mais. — Ok. — eu sussurrei. O sorriso que irrompeu em seu rosto fez meu estômago vibrar e minha pele agitar com a ansiedade. — Ok? Eu balancei a cabeça. — Sim. Ele colocou uma mecha de cabelo atrás da minha orelha, se inclinou e beijou minha bochecha. — Arrume uma babá para sexta-feira. Eu assisti-o ir embora, perplexa com as suas palavras e sua atitude. Eu sempre esperava que ele me tratasse como se eu fosse frágil... vidro fino que quebraria com a mínima pressão, mas nunca aconteceu. Ele me empurrou além sendo delicado, para um lugar que eu

nunca tinha pensado que iria novamente. Ele me fortaleceu. Ele exigiu que eu fosse qualquer coisa, exceto fraca e quebrada. O que podia ser a razão pela qual eu finalmente disse sim. Mas, oh, Deus. Eu disse sim. Os sentimentos felizes foram substituídos pelo pânico absoluto. Eu tinha um encontro. Na sexta-feira. Com alguém que não era meu marido.

Capítulo Dezenove Eu ataquei Emma, logo que ela entrou pela porta. — Oh, meu Deus, ele é um psicopata não é? Ele tem que ser. Essa é a única explicação! — Elizabeth Grace, do que você está falando? — minha irmã ficou branca diante do meu ataque de pânico. — Você está bem? Está todo mundo bem? — as crianças se jogavam nas pernas dela e exigiam que ela as pegasse no colo. — Ben! — eu gritei por cima deles. — Ben é um psicopata! Ele tem que ser! — Espere. O quê? — ela pegou Jace nos braços e olhou para mim desesperada. — Do que você está falando? — Emma, eu tive quatro filhos! Quatro deles! Você entende o estado da minha vagina? Que tipo de homem vai a um encontro com uma mulher que tem quatro filhos? — Oh. — ela suspirou. — Você só está entrando em pânico. — Claro que estou entrando em pânico! O que mais eu estaria fazendo? — eu levei um segundo para recuperar o fôlego. — O que eu fiz? Eu não posso sair com ele. Ele tem que ter como um... um... fetiche ou algo assim. Ou talvez ele não seja nem advogado. Talvez ele seja um vigarista tentando roubar todo o dinheiro do seguro de vida de Grady. Ou talvez ... Emma me cortou. — Eu vou pará-la aí mesmo. Primeiro: você sabe que ele é um advogado. E você sabe que ele não é um mentiroso. Bem, na verdade não é um mentiroso na maior parte do tempo, porque você sabe, é duvidoso quando você é um advogado e... De qualquer forma, eu fui ao seu escritório! Posso garantir para você. Ele realmente não parece ser do

tipo que tem fetiche. Mas ei, se ele tiver, basta seguir o fluxo. Pode ser divertido! — Emma! — Elizabeth, é um encontro. Você pode não falar com ele nunca mais depois, se você não quiser. Ou vocês podem voltar a ser amigos. Realmente, como isso é diferente de uma das suas noites de vinho? Ele vem para jantar o tempo todo. Apenas pense nisso como vocês passando tempo juntos casualmente. Ele vai lhe trazer de volta para casa antes de se transformar em uma abóbora e vocês vão dormir em camas separadas. Isso não é grande coisa. As palavras de Emma me acalmaram consideravelmente. Respirei lentamente e peguei Lucy no colo. Afagá-la sempre me dava conforto. — Um encontro? — perguntou Blake com uma sobrancelha levantada. Merda. — Não. — eu disse, ao mesmo tempo em que Emma disse: — Sim. — eu olhei assustada para ela de novo. — Não minta para eles, Liz! Seja honesta. Minha irmã, a conselheira da escola de graduação. Mas ela estava certa. Eu não queria mentir para Blake ou Abby. E eu realmente não queria me explicar depois. —Emma está certa, Blake. Eu vou a um encontro. Ben me pediu para ir jantar com ele e eu disse sim. Ele absorveu a informação e, em seguida, com a maturidade que eu não sabia que ele tinha, disse. — Legal. — olhei para sua cabeça já de volta para a sala para pegar o joystick. Meu olhar se voltou para Emma. — Está vendo? — disse ela. — Eu te disse.

— Mamãe? — Abby perguntou e seu rosto revelou mais reação do que eu esperava. Eu fiquei de joelhos na frente dela, ignorando o piso frio e duro de madeira contra as minhas pernas nuas e o peso nos meus braços. — É só um jantar, Abs. Ben perguntou se a mamãe poderia ir com ele a sós. Ele, hum, ele quer passar um tempo comigo. Tudo bem? — Eu gosto de Ben. — ela murmurou. — Mas… Eu encontrei-me usando as palavras de Emma com a minha filha. — É só um jantar, querida. Se eu voltar para casa e você não quiser que eu faça isso de novo, eu não vou. Ok? — essa foi provavelmente a pior desculpa que poderia ter usado, mas não consegui evitar. Eu não colocaria meus filhos em outra experiência traumática porque era muito egoísta para ignorar meus sentimentos voláteis. — Você vai voltar para casa hoje à noite? Eu tremi diante da sua pergunta. — Sim, estarei em casa em poucas horas. Prometo. Ela jogou os braços em volta do meu pescoço e beijou meu rosto. — Ok! Levantei-me e enfrentei minha irmã novamente. — Eu estou bem? — Você está sexy, gracinha. — quando eu revirei os olhos, ela deu um pequeno empurrão no meu ombro. — Você está linda, eu juro. Mas quanto tempo você pretende ficar nesses saltos? Quando foi a última vez que você usou salto? Olhei para o que foi um dia o meu par de sapatos de salto alto preto favorito e franzi a testa. — No funeral. — Bem, não quero pensar sobre isso agora! — Emma resmungou. — Foi você que perguntou!

— Liz, olhe para mim. — eu olhei. Ela agarrou meus ombros e me balançou com força, franzindo a seda do meu vestido rendado preto de coquetel. — Ben é a melhor coisa que já aconteceu para você. — ela fez uma careta. — Depois de Grady. Não estrague isso. — Eu já estraguei tudo, pelo menos uma centena de vezes. Eu não tenho noção por que ele acha que isso é uma boa ideia. Eu nem tenho certeza por que disse sim! Eu deveria ligar para ele e cancelar agora. Eu deveria... A campainha tocou. Ele estava aqui. Filho da puta. — Emma, eu não posso fazer isso. Sua expressão se suavizou e ela sussurrou: — Sim, você pode. Você pode, porque você quer fazer isso, porque você vai se arrepender se não fizer isso. Você se importa com ele, Elizabeth. — Não importa, Em. Não importa como me sinto sobre ele. Isso não pode ir a qualquer lugar. — Apenas se preocupe com esta noite. Então decida sobre o restante amanhã. — Você vai ser uma grande psicóloga um dia. — ela olhou apressada em meus olhos, eu estava à beira das lágrimas. Emma abanou o rosto. — Elizabeth! — Eu posso ver que você esta aí! — Ben chamou através da porta. Isso dissolveu o nosso momento emocional. Emma correu para a porta e abriu-a. Eu tive um meio segundo para sugar uma respiração firme antes do Ben entrar em casa e tirar o meu fôlego. A luz fraca da noite queimava atrás dele, destacando seu cabelo e olhos escuros. Ele estava no batente da porta usando calças cinzentas com

um colete cinza combinando, uma camisa branca com as mangas arregaçadas e gravata preta. Ele estava com um relógio elegante e o cabelo tinha umas mechas caindo em seu rosto. Ele parecia... incrível. Eu fiquei perdida olhando para ele, completamente aérea e tão além dos sentimentos casuais que sentia por ele que não consegui respirar direito. E quando seus olhos viajaram sobre o meu corpo para finalmente encontrar o meu olhar, eu me achei. Seu olhar me aqueceu com tanto carinho, mas consegui respirar corajosamente e limpei a mente do pânico que tinha me feito surtar. Eu consegui colocar toda a minha dor, sofrimento e loucura de lado neste momento e me concentrar apenas nele e em como ele me fazia sentir. — Liz. — Ben sussurrou. — Eu não vou conseguir parar de olhar para você. Corei ferozmente com o elogio. Eu nunca tinha sido admirada de forma tão aberta por alguém que não fosse Grady. Eu não sabia como reagir ou até mesmo aceitar o elogio. — Obrigada. — eu mal sussurrei. As crianças atacaram Ben, perguntando-lhe para onde íamos e quando iríamos voltar. Blake queria mostrar ao Ben seu jogo e as meninas queriam brincar com ele. Ele olhou para mim pedindo ajuda, sorrindo carinhosamente para os braços travados nas suas pernas. — Eu posso vir amanhã para ver o jogo? — ele perguntou ao Blake. — Eu prometi levar sua mãe para jantar e acho que não posso deixá-la esperando por muito mais tempo.

— Por que não? — Blake perguntou como se ele não se importasse se eu tivesse que esperar ou não. A resposta típica do meu filho mais velho. — Olhe para ela, Blake. — e isso foi tudo que ele disse. Blake não tinha ideia do que ele estava falando. Ben fechou a distância entre nós e pegou minha mão. — Você está bem? — ele perguntou delicadamente. Eu balancei a cabeça. Como eu poderia estar qualquer coisa, exceto bem com este homem? — Sim. — Pronta para ir? — eu balancei a cabeça novamente. — Então, dê um beijo nos pequenos e vamos. Eu fiz exatamente como ele disse. Eu dei grandes abraços e beijos em todas as crianças, uma de cada vez. Eles me abraçaram de volta, mas me deixaram ir, animados pela noite com Emma. Deixei que ele me levasse para o carro. Ele me ajudou a sentar no banco do passageiro e, em seguida, tomou o seu lugar ao volante. Ele já havia me dito que planejava me levar para jantar, então eu sabia o que esperar. — Nós não vamos ficar fora até tarde hoje. — disse ele enquanto estávamos passando pela cidade. — Ok. — eu tentei não parecer muito decepcionada. Sua mão estendeu e pegou a minha, dando um aperto suave. — Quero facilitar as coisas para você. Eu não quero assustá-la afastando-a. Algo vibrou na minha espinha. Eu não conseguia nomear os sentimentos. Havia

muitos

se

misturando

para

algum

se

destacar. Medo? Talvez. Irritação? Possivelmente. Ansiedade? Definitivamente. — Você parece muito confiante. Como você sabe que ainda não me assustou?

Ele parou em um sinal vermelho e virou-se para me olhar muito sério, muito carinhoso. — Não há problema em estar um pouco assustada, Liz. Estamos apenas começando. Eu quase machuquei o meu pescoço virando-me para olhar pela janela. — Você é tão cheio de si. — eu resmunguei. Sua risada encheu o carro e a minha pele. Oh, cara. Eu respirei fundo e me permiti ficar presente no momento. Se eu pensasse demais sobre isso iria desmoronar. Mas aqui, neste momento, com Ben, eu me sentia mais viva do que há muito tempo. Ele estacionou em um dos restaurantes mais agradáveis da cidade e entregou as chaves para o manobrista. Nós deixamos que a garçonete nos levasse à nossa mesa. Quando estávamos sentados, ele olhou o cardápio calmamente. Os nervos pulavam dentro do meu corpo. Na verdade, eu só tinha realmente me encontrado com um homem na minha vida. Houve caras na escola, mas nunca foi assim. E quando Grady e eu começamos a namorar nós éramos tão jovens. Deus, parecia uma vida atrás. Então, agora, neste encontro, com este homem mais velho, eu não tinha ideia do que fazer, ou dizer, ou pensar. Eu senti a tensão começar a rastejar de volta e meus músculos travarem. Minha respiração parou de funcionar corretamente. Eu estava uma bagunça. Eu tentei me esconder atrás do cardápio, olhando para ele, mas sem ver uma maldita coisa. Seus dedos apareceram no topo dele e o empurrou para baixo para que pudesse me ver novamente. — Liz. — disse ele em um tom profundo. — Sou só eu. Nada mudou. — Ok. — eu rangi.

Ele pegou minha mão novamente e esfregou o polegar sobre a palma da minha mão. — Vinho esta noite, certo? Somos só você e eu e uma garrafa de vinho. Estamos apenas conversando. Você só vai ser você e eu serei apenas eu e nós vamos só ter uma conversa que vai nos fazer rir muito. Vai ser a melhor parte do meu dia, assim como todos os nossos outros momentos. E eu estou realmente esperando que você classifique lá em cima no seu dia também. Talvez? Logo após as crianças? — ele fechou um de seus olhos, franziu o rosto e fez uma expressão adoravelmente esperançosa. — Talvez. — concordei em uma risada trêmula. Seu rosto relaxou e ele abriu um sorriso. — Eu gosto de você, Liz. Eu gosto de você por quase tanto tempo quanto a conheço. E cada vez que passo um tempo com você, eu só gosto mais de você. Você é uma mulher incrível que não posso imaginar não vê-la todos os dias, ouvir suas histórias, ouvir você rir... ouvir as coisas ruins e as coisas boas. Eu sei que isso a assusta. E, provavelmente, deveria me assustar também. Mas não acontece. Eu me sinto bem. Você e eu parece certo. Então fique comigo apenas por esta noite. Eu prometo que a levarei para casa em um só pedaço, tanto por dentro quanto por fora. Posso ter isso? Só essa noite? — Sim. — a palavra saiu dos meus lábios como uma confissão de sentimento. Sim, ele poderia ter esta noite. Sim, nós nos dávamos bem. E isso me assustava, mas eu não podia impedir. Um leve sorriso brincou em seus lábios, — Você vai me contar sobre o seu dia? Olhei em seus olhos escuros e senti-me centrar novamente. Eu me senti presa a algo novo. — Meu dia? Oh, foi tão chato. Tudo começou com Jace derrubando uma caixa inteira de frutas. Depois os apoios de pratos e, em

seguida,

recebi

um

telefonema

da

empresa

de

TV

a

cabo. Aparentemente, me esqueci de pagar as duas últimas faturas e,

depois, terminou com Lucy sujando de cheetos todo o meu vestido, o primeiro que experimentei esta noite. — Bem, pelo menos há algo para ser grato. — Por quê? — Graças a Lucy, eu consegui ver você neste. Eu não sei como era o outro vestido, mas estou muito feliz com este. Eu resisti à vontade de jogar meu guardanapo nele. — O outro era bem sensual. Peitos para todos os lugares. — eu acenei com a mão na frente do meu decote para demonstrar. Seus olhos escureceram quando ele riu da minha piada. — Agora você está sendo cruel. — Eu pensei que esta fosse uma noite normal de vinho. Eu só estou tentando ficar no personagem. Ele me olhou atentamente por um longo momento antes de dizer: — Eu estou feliz por você ter dito sim. — ele não me deixou responder, e chamou a garçonete para nos trazer um pouco de vinho. Passamos o resto da noite rindo e falando sobre a boa comida e bom vinho. Ben estava certo; não havia nenhuma diferença entre aqui e em casa. Eu gostava dele como sempre. Fiquei surpresa quando ele parou na minha garagem, eu não queria que a noite terminasse. Eu tinha me imaginado correndo de seu carro, e me escondendo em minha casa e evitando-o pelos próximos quatro meses. Mas ele tornou esta noite incrível e tão casual que não percebi que era algo mais do que uma de nossas noites habituais na minha cozinha. Não foi até que ele me acompanhou até a porta que realmente me lembrei que era um encontro. No restaurante havia uma mesa que nos separava. E mesmo que ele tivesse colocado a mão nas minhas costas

quando entramos ou saímos do carro, ele sempre fazia isso, então não era nada novo. Na minha varanda, ele se demorou. Isso era novo. E meus nervos notaram imediatamente. Eu olhei para ele, tentando decidir o que fazer e como terminar a noite. — Obrigada, Ben. Eu tive uma noite agradável. — Fico feliz. — ele murmurou e deu um passo furtivo adiante. — Eu me diverti também. — A comida estava ótima. Ele ignorou o meu comentário banal. — Você vai fazer isso de novo comigo? Obriguei-me a segurar o seu olhar firme. — Ben, eu não... Ele não teve paciência para a minha recusa. Uma de suas mãos envolveu o meu quadril e me puxou contra seu corpo duro. Sua boca desceu sobre a minha antes que eu tivesse a chance de entrar em pânico. Sua intensidade áspera exigente pulsou em torno de mim, mas sua boca se moveu docemente, suavemente, como se estivesse saboreando cada segundo disso. Lábios macios contra os meus lábios macios, sua língua passando pelo meu lábio inferior e, em seguida, eu encontrei-me abrindo para ele, deixando-me provar completamente. Eu o beijei de volta, incapaz de formar pensamentos coerentes ou qualquer coisa além deste momento. Meu coração batia ferozmente no meu peito. Minhas mãos deslizaram até seu colete e enrolaram em seu pescoço. Sua outra mão pressionou a parte inferior das minhas costas até que ficamos peito com peito, firmemente juntos.

Ele me beijou por um longo tempo, mais do que qualquer primeiro beijo que eu já tive. Ele não parecia querer parar. Ele mordiscava o lábio inferior e, em seguida, mergulhava sua língua dentro da minha boca. Engoli em seco por ar e sanidade, mas ele encheu cada respiração e sentido. Finalmente, assim que nosso beijo tornou-se frenético e nosso toque mais desesperado, ele abrandou. Ele terminou com o mais doce beijo. Ele se afastou um pouco, mas descansou sua testa contra a minha enquanto sua respiração se estabilizava. — Eu queria fazer isso há muito tempo. — suas palavras eram sussurros de adoração. Eu comecei a tremer. Eu não conseguia formar palavras ou compartilhar o mesmo sentimento. Eu nunca pensei em beijar o Ben. Nem uma única vez. — Eu te ligo amanhã. — prometeu. Eu balancei a cabeça, ainda incapaz de falar. Ele me soltou e tateei a maçaneta da porta. Eu não consegui olhar para ele quando fugi para dentro da casa escura. Fechei a porta atrás de mim e a tranca. Minhas costas bateram contra ela e a realidade desabou sobre mim. Eu comecei a chorar; parecia que não havia mais nada a fazer. Os gritos vinham direto do meu coração, soluços de cortar a alma, que eram tão profundos que nem faziam qualquer som. Eu deslizei para o chão, completamente desamparada. O que eu tinha feito? Eu traí Grady. Eu o traí. Suguei uma respiração ofegante e qualquer barreira que ainda existia foi completamente dissolvida. Meus gritos eram altos agora, feios e

desesperados. Eu coloquei as mãos sobre o rosto e chorei, enquanto minha alma se despedaçava. Emma veio correndo para a sala completamente assustada com meu colapso. — Oh, Liz. — ela engasgou quando me encontrou no chão. Senti seus braços me envolverem com tanta força que doeu quando ela deslizou para o meu lado. Ela me segurou contra o peito como uma criança pequena, me balançando para frente e para trás. Suas lágrimas se misturaram com as minhas e ela chorou comigo mesmo que não pudesse imaginar a pessoa horrível que eu era. Quando, finalmente, eu me acalmei um pouco, ela perguntou: — Foi horrível? Eu balancei a cabeça à medida que mais lágrimas começaram a cair. — Foi maravilhoso. — confessei. — Então por que você está chorando? — Porque foi maravilhoso. E porque ele me beijou! — Você não queria que ele fizesse isso? — Não. — eu balancei a cabeça e meu rosto enrugou enquanto as lágrimas quentes vazavam dos meus olhos. — Eu não queria que ele parasse. Ela, finalmente, entendeu o meu conflito interior. Ela me puxou para os seus braços e fiquei lá enquanto ambas chorávamos pelo marido que eu o amava e pelo marido que enterrei. Emma não podia entender todo o tumulto emocional que me atingiu, que despertou o meu interior e devastou o meu coração. Mas ela sabia que isso me machucava. Que tanto me matava e, de alguma forma, me costurava de novo.

Eu não sabia o que fazer com Ben ou se havia, ao menos, algo para fazer. A única coisa que eu sabia era que tinha sido uma das melhores noites da minha vida. E uma das piores.

Quarta Fase: Depressão

Havia uma tênue esperança dentro de mim enquanto eu passava através por estas fases do luto, que se tornaria mais fácil ao longo do caminho. Imaginei-me curando à medida que travava uma guerra com cada estágio, construindo gradualmente a armadura que iria me proteger do sofrimento, mágoa e desespero. Essa esperança era uma mentira. O luto não ficava mais fácil a cada etapa. A tristeza se tornava maior, mais difícil de enfrentar, consumia mais a cada respiração. Estava à deriva em um mar de confusão. Estava perdida em um deserto de dor de cabeça. Eu estava quebrada. E agora tinha que enfrentar a depressão. Esta era a última das grandes misérias. Eu deveria encontrar aceitação após esta fase, mas achava que isso não aconteceria. Eu não podia deixar de acreditar que ficaria perdida na depressão para o resto da minha vida. A única luz que podia ver, além dos meus filhos, era o Ben e ele carregava a sua própria agonia privada que rasgava o meu peito com garras tão afiadas quanto facas.

Ele era tanto conforto, quanto dor. Tanto liberdade, quanto vergonha. O alívio que sentia quando estava com ele estava em desacordo com a minha culpa privada. Culpa que eu tentava ignorar. Grady foi a única vida que conheci. Mas podia ainda haver vida na morte? Se eu me acorrentasse ao meu marido morto, nunca viveria realmente? E, no entanto, como podia deixar ir um amor e um homem que ainda significava tudo para mim? Havia muito em meu coração, muito peso sobre meus ombros. A depressão veio rápida e ferozmente, sem desculpas e sem trégua. Depressão deixava-me desamparada e sem esperança. Ben era o único ar fresco em meus pensamentos, obsoletos, estagnados. No entanto, eu acabaria por ter de deixá-lo ir também. E então minha depressão se tornaria dupla. Uma pelo homem que eu sempre amaria, mas nunca poderia ter novamente. E outra pelo homem que vou precisava escolher nunca ter em primeiro lugar. Era uma agonia viver assim. Eu amava um homem e estava me apaixonando por outro. Eu estava de luto e comemorando. Eu encontrei momentos em que fui verdadeiramente feliz. Mas no final do dia, quando estava sozinha com os meus pensamentos e minha dor, eu me achava muito deprimida. E era o meu começo e o fim. Eu não era nada, apenas deprimida.

Capítulo Vinte Cinco dias se passaram antes de eu ver o Ben novamente. Fiel à sua palavra ele me ligou no dia após o encontro. E quando eu não atendi, ele mandou uma mensagem pedindo-me para ligar de volta. Eu não liguei. Eu consegui evitar me encontrar com ele no fim de semana e na semana escolar. Meus filhos me mantiveram ocupada. A temporada de futebol estava em pleno andamento para ambos, dos pequenos aos mais velhos, e Lucy e Jace tinham começado aulas de natação. Eu os tinha matriculado semanas atrás, esperando usar a piscina de Ben durante o verão. Agora, as aulas pareciam pequenas escavações no meu coração, lembretes dolorosos do que eu tinha arruinado entre nós. Eu não podia encará-lo novamente. Eu não podia olhar em seus olhos e lembrar-me do beijo e não cair aos pedaços. O pior de tudo, eu não queria desistir disso. Dele. Eu queria mais. Agora quando eu deitada na cama à noite, eu estendia a mão para o lado de Grady e sentia o peso esmagador da sua ausência. Mas, depois, eu fechava os olhos e lembrava da sensação dos lábios do Ben contra os meus, a pressão dura de seu corpo, o aperto firme de suas mãos quando ele me segurou com força contra ele, tão desesperado por mim quanto eu estava por ele. Minha mente girava e meus pensamentos colidiam um com o outro. Meu coração não conseguia descobrir onde se estabelecer, entre a culpa ou exaltação, vergonha ou alegria. Era demais para mim. Eu passei

por esses dias com lágrimas que não paravam e uma sensação de malestar no estômago. Tentei me convencer de que, se eu sentia este mal-estar sobre Ben, então eu não deveria estar com ele. Um relacionamento não pode ser construído sobre emoções tão voláteis. Mas lá no fundo, no meu centro, eu sabia que não era Ben que causava esse trauma. Era minha recusa em reconhecer meus sentimentos por Ben que me amarrava. Era a supressão dos meus verdadeiros sentimentos que me deixava doente e com o coração partido. Eu sabia que ele se cansaria da minha fuga. Ben não era o tipo de homem que gostava de problemas. Ele enfrentava-os de cabeça e como em tudo, ele me desafiava a fazer o mesmo. Mas eu esperava desesperadamente que ele desistisse de mim. Eu precisava que ele se distanciasse e encontrasse alguém que realmente pudesse corresponder o que ele queria... o que ele precisava. Na quarta-feira à noite, uma batida na minha porta advertiu que tinha chegado o momento de enfrentar Ben. Sentei-me enrolada no sofá, um livro deitado apático em minhas mãos. Eu estava plantada ali há uma hora e não tinha lido uma única palavra. Eu olhei através da porta, coração já batendo, respiração já encurtada. Eu não conseguia me mover do sofá. Como eu iria enfrentálo? Como eu poderia dizer-lhe que eu não podia fazer isso? Meu cérebro guerreava com o meu coração. Minha alma discutia com o meu intelecto. Eu sabia o que deveria fazer, mas eu não conseguia me obrigar. Eu estava me forçando a perder alguém com quem eu me importava de novo, só que dessa vez não havia ninguém para culpar além de mim mesma.

Quando eu concordei com o encontro, eu fiquei tão preocupada em estragar as coisas com a minha falta de jeito e indisponibilidade emocional que deduzi que ele não gostaria de continuar qualquer tipo de relacionamento comigo. Nem mesmo a amizade. Mas foi fácil estar com Ben. Tão fácil. E depois daquele beijo... Eu sabia que era eu que teria que terminar as coisas com ele. Ele tinha me mostrado uma verdade que eu não estava pronta para ver. Ele tinha revelado uma parte de mim que eu havia negado por um longo tempo. Essas coisas me assustavam. Aterrorizavam. Ele se tornou o amigo com quem eu sempre podia contar, mas muito mais do que isso. Ele se tornou o homem que eu precisava. Que eu queria. Eu queria mais e ficar perto dele sem ter mais seria tortura. Ele era minha morte lenta. Ele bateu novamente, mais forte desta vez. Eu não pude deixar de sorrir com a sua persistência. Eu me empurrei para fora do sofá e procurei fundo por coragem. Eu era adulta. Uma mulher adulta com responsabilidades de adulto. Eu podia enfrentar Ben Tyler. Minha mão tremeu quando girei a maçaneta, me chamando de mentirosa. Ele estava lá com um braço dobrado em um ângulo no batente da porta. Sua testa descansava em seu pulso enquanto ele olhava para seus sapatos. Meu coração se apertou, ele parecia miserável. Seus olhos se levantaram para encontrar os meus e eu notei que ele não fazia a barba há alguns dias. O crescimento áspero lhe convinha e fez

algo com a minha barriga. Eu ansiava para passar a palma da mão sobre a barba, querendo saber a sensação nas pontas dos meus dedos. — Você está me ignorando agora? — ele murmurou com a voz rouca. Seus olhos escuros brilharam ferozmente. Eu balancei a cabeça imediatamente, negando a acusação. — Não. Ele se ergueu e passou por mim para entrar em casa. — Eu sabia que isso ia ser difícil, Liz. Mas você pode falar comigo sobre isso. Você poderia me dizer como está se sentindo. Eu poderia ajudá-la a passar por isso. O medo se transformou em raiva. — Então, nós vamos simplesmente saltar direto para isso, então? Eu estou bem, a propósito, obrigada por perguntar. — Eu sei que você está bem. Tão bem quanto possível. — ele rebateu. — Mas eu não estou. Suas palavras deram um soco na minha decisão, a minha respiração escapou. — Ben... — Nós somos feitos um para o outro, Liz. A outra noite... foi uma maldita boa noite. — Talvez... certo, foi um bom encontro, mas isso não significa que pode haver mais. Eu nem sei por que nos incomodamos. Nós nunca deveríamos ter tentado nada além da amizade. Ele me ignorou. — E todas as outras noites antes daquela? Também foram ótimas noites. Toda vez que estou com você, eu sinto isso, Liz. Sinto aqui. — ele pressionou a mão no coração e eu balancei com a emoção feroz inchando dentro de mim. — Eu sei que preciso ter cuidado com você. Eu quero ter cuidado com você, mas eu preciso de um pouco desse mesmo respeito em troca. — Eu não sei do que você está falando.



Retornar

minhas

ligações,

Liz. Falar

o

que

está

acontecendo. Compartilhar seus pensamentos de vez em quando! Eu estou tentando aqui, mas eu só posso fazer a minha parte. Você tem que me ajudar ou não vamos a lugar nenhum. — Ben, eu não posso fazer isso. Você não está me ouvindo! Eu não quero que isso vá a qualquer lugar! Você está pedindo muito de mim. — Eu não estou. — ele andou até mim. Seu peito arfava com frustração e algo mais... algo que eu não estava pronta para reconhecer ainda. — Eu vou ser gentil com você, Liz. Nós vamos tratar isso com delicadeza. Vamos

deixar

acontecer

lentamente,

vamos

cair

lentamente. Mas não estou pedindo muito de você. — Isso nunca vai funcionar! — eu rebati. — Estamos condenados desde o início. Eu amo outro homem, Ben! Um homem que você nunca será capaz de competir, porque ele está morto! As mãos de Ben estenderam para o meu rosto. Seus polegares esfregaram o meu rosto, enxugando as lágrimas que eu não tinha percebido que tinham começado a cair. — Eu não quero competir com Grady. — ele murmurou. — E eu nunca esperei que você parasse de amálo. Mas queira você admita, ou não, nós começamos algo grande. Você não tem que me provar que tem espaço para dois homens em seu coração. Você já fez isso. Eu acho que é hora de você perceber isso, para que possamos seguir em frente. Eu tropecei um passo para trás, afastando-me do seu toque. Suas palavras fizeram minha pele formigar e meu coração vibrar. Como ele sabia como dizer tais coisas perfeitas? Como ele sabia como me alcançar dentro de mim e arrancar os medos do meu peito e a hesitação da minha alma? Como tínhamos ido de amizade casual para isso? Senti a terra tremer... alma agitada... fundamental para a minha própria existência.

Eu estava em uma encruzilhada. Eu poderia continuar com a minha vida do jeito que estava, sofrendo por Grady e me recusando a assumir o controle da vida que eu tinha deixado de viver. Ou eu poderia tentar essa coisa com Ben. Eu poderia reconhecer que nem tudo na vida fazia sentido e que Ben estava certo. Eu amei Grady, mas eu me importava profundamente com Ben. Eu não tinha pensado que era possível gostar dos dois homens, mas meu coração já tinha feito isso. Parecia inoportuno e impossível, mas havia essa oportunidade incrível parada na minha frente em um pacote muito bom, que eu tinha chegado a acreditar que eu não poderia viver sem. — O que você espera que aconteça entre nós? Um sorriso terno apareceu em seus lábios. — Eu espero que nós levemos um dia de cada vez. Eu espero que você seja difícil e, que eu seja paciente e compreensivo e muito, muito calmo. Eu espero que nós gostemos um do outro, Liz. E não muito mais. Ainda não. — Eu já gosto de você. — eu olhei para ele, odiando que ele tivesse alcançado dentro de mim. Eu tinha que estar louca para sequer considerar isso! — Eu sei que sim. Deixei escapar um suspiro de frustração. — Isso não vai dar certo, Ben. Nós dois vamos acabar mal. — Você já está sofrendo, Liz. — ele deu um passo em minha direção novamente e colocou uma mecha de cabelo teimosa atrás da minha orelha. — É disso que estou falando. — meu queixo tremia enquanto eu me esforçava para não chorar novamente. Eu odiava não poder bloquear as minhas emoções. Eu odiava que a perda de Grady tivesse me quebrado tão severamente que meus olhos constantemente vazassem e minhas

emoções enlouquecidas sempre flutuassem perto do topo. Eu precisava normalizar. Mas ao olhar para os olhos de Ben e ver seu rosto bonito, implorando, eu soube que não iria acontecer a qualquer momento em breve. — Eu não aguento mais meu coração quebrado. — eu confessei em um sussurro trêmulo. — Então é uma coisa boa que eu não vá quebrar seu coração. — ele se inclinou e deu um beijo em meus lábios. Sua boca estava quente e esperançosa. Ele beijou-me como se eu fosse uma coisa delicada, frágil. Ele beijou-me com cuidado e uma doçura dolorida que tocou os lugares amargos dentro de mim e os trouxe de volta à vida. Eu revivia em seus braços, com os seus lábios contra os meus. Acordava dos mortos e florescia para algo tão bonito que ficava impressionada com a visão, algo que não existia até Ben Tyler entrar no meu mundo. Ele se afastou antes que eu estivesse pronta, mas eu não podia admitir isso. Nem mesmo para mim. Encontrei seu olhar firme novamente e fiz a pergunta que estava me incomodando mais. — Por que eu, Ben? Você poderia ter qualquer uma. Você poderia escolher mulheres sem complicações, sem filhos e sem maridos mortos. Você é todo o pacote. Qualquer garota teria sorte de estar com você. Eu só... Eu não entendo por que você me escolheu. Ele não hesitou. Uma das suas mãos veio descansar na minha cintura, a outra envolveu a minha nuca. — Você não foi a única que ficou perdida quando nos conhecemos. Eu encontrei algo em você que eu estava procurando por muito tempo. — O quê? — Eu mesmo. — ele sussurrou. Fechei os olhos e me esforcei para não ser arrastada pelas suas palavras. — Ben...

— Liz, eu não esperava me apaixonar por você, não assim... não tão completamente. E eu nunca esperei que você se apaixonasse por mim também. Mas aqui estamos. Vamos ver onde isso vai dar. Vamos ver o quão longe antes de cair. Eu balancei a cabeça concordando, incapaz de formar as palavras. Ele me puxou contra ele. — Sério? — Eu não posso dizer não a isso. Um sorriso satisfeito apareceu em seu rosto. — Eu imaginei. — Você é imperdoavelmente arrogante. Você sabe disso? — Eu tenho você para me lembrar. Eu tenho você... Suas palavras envolveram o meu coração e o segurou no bater frenético que ameaçava me rasgar. Seus olhos escureceram novamente e os lábios viraram para baixo em uma expressão séria. — Quando isso se tornar muito me diga. Tudo que você tem a fazer é me dizer como se sente e eu vou ajudá-la, Liz. Eu sei que não vai ser fácil. Eu sei que estamos pedindo muito um do outro. Mas também sei que vale a pena. Valemos a pena. Mas isso nunca vai funcionar a menos que eu saiba o que você está pensando e como você se sente. Tudo bem? Eu balancei a cabeça novamente. — Ok. — Diga-me quando for demais e eu vou recuar. Eu prometo. — Ok. — eu repeti. Ele fitou o meu rosto por alguns longos momentos antes de abaixar a cabeça e arrastar seu nariz ao longo da curva do meu queixo, dando um beijo carinhoso logo abaixo da minha orelha. — Ok. — ele sussurrou contra a minha pele. E então ele me violou, ali mesmo, no azulejo frio da porta de entrada.

Brincadeira. Em seguida, um dos meus filhos gritou como se tivesse um assassino sangrento do topo da escada. — Eu tenho que ir ver como ela está. — ele deu um passo para trás e acenou com a cabeça. — Espera por mim? Todo o seu corpo relaxou. Observei-o virar de pedra esculpida para um homem que poderia me matar com um de seus olhares aquecidos. Seus ombros relaxaram e seus membros atrativos tornaram-se familiares. — Eu vou esperar. — ele prometeu em um ruído surdo. Eu tremi e tentei ignorar a sensação de vibração que eu não sentia há muito tempo. Virei-me rapidamente, corri até as escadas para verificar Lucy. Ela se virou para mim quando liguei a luz do corredor. Seus pequenos braços levantados, implorando por um abraço. Eu peguei-a nos meus braços e dei um beijo em sua testa suada. — Você teve um pesadelo? Ela assentiu com a cabeça contra a minha bochecha. — Eu sinto falta do meu pai! — ela gritou. — Eu quero que ele volte para casa! Eu quero o meu pai! Tentei engolir o caroço na minha garganta. Eu não tinha palavras para esta pequena. Eu não tinha esperança ou promessas para oferecer. Tudo o que eu podia fazer era segurá-la com força no meu peito e chorar com ela. Fechei os olhos e me aconcheguei na sua cabeceira. Ela trocou de posição e se jogou em cima de mim, envolvendo os braços em volta do meu pescoço. — Eu quero o meu pai! — ela continuou a chorar. — Eu quero que ele venha para casa! — Shh. — eu cantei contra sua testa. — Shh, Luce. — Mamãe, onde ele está? Onde ele foi?

— Lucy, você sabe onde ele foi. Você sabe. Ela balançou a cabeça mais ou menos contra a minha. — Não. Minha doce, sensível Lucy. Ela esperou Grady voltar por tanto tempo. Mas ela completou cinco anos durante o inverno e, com um pouco mais de maturidade adicional, a realidade a atingiu. Era o luto mais uma vez enquanto ela lentamente aceitava a verdade de que o pai dela tinha ido embora para sempre. Ela acabava na minha cama na maioria das noites agora. Às vezes, ela tinha pesadelos terríveis e outras já acordava em lágrimas. Eu odiava que ela tivesse que passar por isso novamente. Eu odiava que a minha pequena Luce tivesse que entender que seu pai tinha ido embora para sempre. — Diga-me onde o seu pai está, Lucy Kate. — eu insisti. Ela continuou a sacudir a cabeça, seu cabelo enroscando nas lágrimas. — No céu. — ela soluçou. — Ele está no hhh-céu. — E ele vai voltar algum dia? Lucy chorou mais, mas nós tínhamos passado por isso muitas vezes até agora e ela sabia a resposta: — Não! — Mas, Luce, ele ainda nos ama? Mesmo que ele esteja no céu? — minha voz tremeu e minhas lágrimas se misturaram com as dela. Eu a abracei mais apertado contra mim, precisando de conforto, tanto quanto ela precisava de mim. — Eu não sei. — ela fungou. Meu peito doeu quando esfreguei suas costas e tentei forçar as palavras a saírem da minha boca. — Ele ama, Lucy. Ele te ama muito. — Então por que ele foi embora? — ela soluçou. — Oh, bebê. Ele queria ficar. Tanto. Mas ele ficou doente. E o médico não conseguiu deixá-lo melhor. Ele tentou muito ficar com a

gente. Ele fez tudo o que podia. — Lucy chorou mais enquanto eu a balançava gentilmente. A sombra alta de Ben escureceu a porta. Eu não olhei para ele por muito tempo. Certamente, era extremamente difícil para ele. Ele tinha acabado de me convencer a sair com ele e então teve que me encontrar com um dos meus filhos, chorando por causa do meu marido morto. Ele se aproximou e sentou-se na extremidade da cama, afastando os meus

receios. Ele

nos

observou

intensamente. Suas

sobrancelhas

franzidas e rosto preocupado apertaram o meu coração. Eu esperava que ele me dissesse que ia desistir. Eu pensei que ele fosse olhar para nós duas e sentir repulsa. Se a criança nos braços e a responsabilidade que ela representava não fossem suficientes para assustá-lo, então seriam as minhas lágrimas. Eu estava um desastre e não podia fazer parar ou fingir. No entanto, sua mão apertou meu joelho e ficou lá para oferecer um pouco de conforto. Ele não correu no primeiro sinal de dificuldade, ele saltou para dentro e segurou firme. E, de alguma forma, ele conseguiu me dar a coragem, que eu não sabia que eu poderia encontrar, e restabeleceu o meu espírito de uma forma que eu não imaginava possível. — Você sabe que ele te ama, Lucy? — sussurrei para minha menina. — Você sabe que ele sempre vai te amar? — ela concordou, pela primeira vez, fungando e gemendo na minha camiseta, agora encharcada. — Ele te ama mais do que qualquer coisa. Ele sempre amará. — Eu sinto falta dele. — sua pequena voz era um sussurro quebrado. — Eu sinto falta dele também. — Ben apertou meu joelho novamente. Respirei para me estabilizar e senti pequenos pedaços de meu

coração se emendar. — Mas ele ainda está cuidando de nós do céu. Ele nunca estará longe. Nós simplesmente não podemos mais vê-lo. Lucy mexeu em meus braços até que ficou confortável apoiada em mim. Ela cresceu tanto este ano. Suas pernas pendiam para o lado da cama, chutando em um ritmo suave. Ela estendeu a mão para brincar com alguns fios do meu cabelo, molhados por causa das nossas lágrimas. — É por isso que Ben está aqui? — as palavras dela me surpreenderam completamente. Minha mente ficou em branco. Eu tentei arrumar algum tipo de explicação ou desculpa para a razão de ele entrar no seu quarto tarde da noite, mas sua próxima pergunta provou que seus pensamentos estavam em uma direção diferente da minha. — Será que o papai enviou Ben para cuidar de nós? Meu coração assumiu um ritmo frenético, batendo tão alto que eu mal pude ouvir minha própria voz quando respondi. — Sim.

Capítulo Vinte e Um — Abby disse-me que ela é o sol hoje à noite? — a diversão da minha mãe ecoava claramente através do telefone. — Eu acho que foi ideia do seu professor de uma piada. Ele mal pode esperar para se livrar dela. —

Isso

não

pode

ser

verdade.



minha

mãe

rebateu

defensivamente. Eu amava a sua visão de avó. Mas realmente... Eu estava convencida de que o Sr. Hoya estava contando os minutos para que pudesse oficialmente acabar o ano letivo com a Abby. Eu estava na mesma situação que ele. Eu mal podia esperar para o verão chegar. Eu poderia parar de me preocupar com a necessidade de levar as crianças para a escola no horário e com a lição de casa à noite. Nossas atividades programadas quase desapareceriam, com exceção de algumas ligas divertidas que as crianças queriam jogar com seus amigos. Eu planejava usar a piscina de Ben tão frequentemente quanto pudesse e, na verdade, conseguir um bronzeado neste verão. Eu tinha três meses para acalentar meus filhos como eles quisessem até que começasse um novo ano escolar e eles conseguissem crescer sem eu notar. Verão sempre pareceu um quadro congelado. Eu podia vê-los de perto e mantêlos perto. Quando a escola começava, era uma corrida para acompanhar o ritmo deles. E no próximo ano, Lucy iria para o jardim de infância. Porque, obviamente, ela deixou de me amar. Caso contrário, ela não iria; ela ficaria em casa comigo para sempre e não me forçaria a vê-la crescer. — Desculpe, vovó; apesar da crença popular, Abigail não é uma aluna exemplar.

Minha mãe riu do outro lado. — Eu sou muito esperta para cair nessa, não é? — Você está dando uma de vovó de novo. — eu ri com ela. Ela

parou

por

um

momento,

sugando

uma

respiração

fortificante. Finalmente, ela disse: — Você parece feliz, Lizbeth. Você parece... ok. Parei perto do corrimão e segurei-me nele para não cair. Ela não dizia algo assim para mim desde muito antes de Grady morrer. Ela era muito perspicaz para isso. Mas agora suas palavras soaram através dos quilômetros que nos separavam e eu as senti dentro de mim, florescendo com nova vida e um coração inteiro. Eu estava feliz? De alguma forma eu estava. Ainda havia momentos sombrios de escuridão, momentos que eu pensava

que

não

conseguiria

sobreviver. Ainda

havia

lágrimas

derramadas e decisões difíceis para tomar. Ainda havia momentos em que eu falhava... completamente; quando os meus filhos não tinham o que eles precisavam ou eu não conseguia cumprir todas as minhas obrigações. Mas maio deste ano foi muito, incomparavelmente, diferente do que em maio passado. — Eu estou saindo com alguém. — eu sussurrei, com medo do seu julgamento. Eu pude sentir seu choque como se fosse uma coisa física. Ela não disse nada por muito tempo e eu comecei a me preocupar se eu deveria ter deixado cair a bomba um pouco mais delicadamente. — Você está? — ela sussurrou de volta depois de um minuto. — Eu estou. — O vizinho? — ela adivinhou. — O que tirou a neve?

Eu sorri. — Sim, o que tirou a neve. — Uau, Liz... Uau. — eu esperei pacientemente que ela digerisse. Ben e eu estávamos saindo já há dois meses e eu ainda não tinha digerido. Não podia esperar que minha mãe ficasse bem com o meu novo relacionamento apenas após alguns minutos. Não

houve

um

monte

de

encontros

em

nosso

curto

relacionamento. Eu tinha quatro filhos, afinal, e Emma era minha irmã, não a minha babá. Ainda assim, houve noites em que fugimos e fomos jantar ou ao cinema. A maioria do nosso relacionamento acontecia em torno de minha casa. Ele passava muito tempo com as crianças e comigo durante a noite e no fim de semana e ele vinha depois que as crianças estavam na cama na maioria das noites para passar algum tempo em paz. Eu me preocupava com o nosso tempo juntos e decidia que precisava de espaço, mas então ele tinha trabalho a fazer e eu não o via por algumas noites e percebia o quanto tinha aumentado o meu apego por ele. Eu sentia falta dele quando não estava com ele. Meus dedos coçavam para mandar uma mensagem ou ligar, e meu espírito esperava que ele aparecesse. E quando estávamos juntos? Ele tinha razão. Era muito bom. Nós não éramos pessoas perfeitas e nosso relacionamento estava longe de ser utópico, mas ele tinha sido fiel à sua palavra de ter cuidado comigo, ir devagar. Embora lento fosse difícil. Muito difícil.

Às vezes eu me sentia como uma adolescente novamente por causa do tanto que seus beijos me deixavam desesperada. Porém, ele nunca empurrava além desse ponto, nunca me pedia para tornar o nosso relacionamento físico tão profundo quanto o emocional. E na maioria das vezes eu ficava grata por isso. Mas então ele me beijava em um frenesi. Ele provocava os sentidos e despertava desejos que eu pensei que ficariam dormentes para sempre. Ele estava me trazendo de volta à vida em todos os sentidos e, em seguida, ele voltava para o contentamento preguiçoso, uma paixão persistente que me fazia esticar como um gato feliz e aninhar-me nele. Eu dei um sorriso secreto, lembrando da sensação do seu corpo duro contra o meu, das suas mãos sensuais explorando o meu corpo, da sua respiração misturando-se com a minha enquanto ele provava meus lábios e pele. Ele estava levando lentamente, mas meus sentimentos por ele pareciam acelerar a cada minuto com ele. Eu deveria ter medo disso. Eu deveria ter medo da nossa conexão e minha necessidade profunda por ele. Mas eu não conseguia impedir. Minha mãe estava certa, eu estava feliz. E eu não queria desistir de ser feliz e voltar à escuridão que eu tinha acabado de escapar. — Quando aconteceu? — ela perguntou sem fôlego. — Final de março. — confessei. — Estamos indo lentamente. Mas, eu não sei mãe... Não é algo que eu esperava. Eu só... eu gosto dele. Ela pareceu nada menos do que impressionada ao dizer: — Você gosta? Culpa me incomodou. — Eu não quero que você pense que eu parei de amar Grady ou qualquer coisa. Quero dizer, obviamente eu ainda o amo e eu... não... eu não me esqueci dele ou tentei esquecê-lo, eu só ...

— Elizabeth. — minha mãe interrompeu de uma forma que só a minha mãe podia. — Eu sei. Eu sei que isso não tem nada a ver com Grady. Eu conheço você bem demais para me preocupar com isso. Eu estou apenas agradavelmente surpresa. Só isso. — Agradavelmente surpresa? — Você é tão jovem, Lizzy. E essas crianças precisam de uma figura paterna. Eu só me preocupava com a sua solidão. Fico feliz que você tenha escapado da dor e voltado para a terra dos vivos. — Eu acho que nunca deixei a terra dos vivos. — eu tentei brincar, mas foi sem graça e sem vida. — Querida, você deixou. Você saiu. E eu não a culpo por isso. Mas posso sentir a sua luz de novo, o seu calor. Eu não conheço Ben muito bem, mas estou grata por ele ter te devolvido isso. — Você sabe, provavelmente vamos terminar em algum momento e eu vou cair morta novamente. Você não devia deixar suas esperanças crescerem muito. Ela riu levemente. — Eu acho que você não teria começado, se esperasse que isso acontecesse. Não importa o que aconteça, eu e seu pai vamos estar aqui. Nós te amamos, você sabe. — Eu também te amo, mãe. Embora eu tenha que deixar você ir ou Abby vai perder a sua estreia no centro do palco. — Mande beijos para as crianças, do seu pai e meus! — Mando. Falo com você em breve. Eu desliguei o telefone e afundei no degrau. As palavras de minha mãe arrepiaram minha pele. Ela estava certa? Eu sabia que as coisas, eventualmente, terminariam com Ben. Eu esperava por isso. Eventualmente, ele iria querer coisas de mim que eu não podia lhe dar. Éramos muito diferentes.

Ele queria começar uma família, mas eu já tinha uma. Ele queria uma esposa, mas eu já tinha sido uma. Ben queria um conto de fadas, mas eu estava vivendo em um pesadelo. Nós não podíamos durar muito mais tempo. E depois? Meu sangue se transformou em gelo enquanto eu tentava processar a minha vida sem Ben agora. Eu não consegui. Logo que Grady foi diagnosticado, eu tive muitos pensamentos horríveis sobre como seria perdê-lo. Ao longo de seu tratamento e quando o câncer do cérebro se agravou, muitas vezes eu encontrava tempo para simplesmente sentar e imaginar a minha vida sem o meu marido. Não eram pensamentos agradáveis, de qualquer maneira e, principalmente, me deixavam furiosa e perdida. Mas, eventualmente, eu tive que me conformar com esses pensamentos se tornando realidade. Agora, eu fiz a mesma coisa e imaginei o meu futuro como uma mulher solteira de novo... eu não podia. Meu cérebro se recusou a imaginar minha vida sem Ben. Meu coração começou a acelerar enquanto eu lutava para voltar aos meses escuros de quando Grady se foi e eu não tinha ajuda, sem esperança e nada para ansiar. Eles devem ter me traumatizado demais, porque minha mente consciente se recusava a ir para lá. Eu ri um pouco histérica. Era loucura pensar que Ben poderia ter um impacto tão grande sobre mim e a minha família. Eu me preocupava com ele, mas eu não o amava como eu amava Grady. Eu não o amava jeito nenhum. Certo…?

— Mãe, eu não consigo colocar essa coisa estúpida! — Abby chamou do andar de cima, me arrancando da minha confusão em espiral. — Não coloque! — gritei para ela. — Você nunca vai caber no carro! — eu corri até as escadas antes que ela pudesse rasgar seu traje do teatro da primavera e o apanhei a meio caminho sobre sua cabeça. — Nós vamos colocar logo que chegarmos lá. — eu suspirei enquanto lutava para tirar o traje estranho dela. — Além disso, não é quente? — Duh. — ela gemeu. — É o sol. Pressionei meus lábios e falhei em prender o riso. — E que belo sol, isso sim. Ela revirou os olhos para mim até que eu torci seu nariz. De repente, ela ficou pensativa. — Você acha que o Sr. Hoya está me punindo por irritá-lo tanto este ano? Eu a olhei com o melhor olhar materno e preparei para dizer algo inspirador. Em vez disso, a verdade veio à tona: — É uma possibilidade muito real, pequena. Ela suspirou. — Eu mal posso esperar pelo verão. — Você e eu. Ben apareceu cinco minutos depois e me ajudou a colocar as crianças na minivan. Abby tinha ficado com a parte de não falar do sol feliz, enquanto ao Blake foi dada uma parte de mais prestígio. Ele tinha sido escalado como o cachorro pouco acanhado na interpretação da escola primária de The Poky Little Puppy17. Nós tínhamos praticado as falas por um mês. Ele estava sempre confiante e relaxado, mas esta noite, obviamente, estava nervoso. E eu estava tão nervosa quanto ele.

17

Livro infantil escrito por Janette Sebring Lowrey, publicado em 1942.

Meu coração se apertou desejando que Grady pudesse estar aqui. Blake precisava de alguém para dar-lhe algumas palavras de incentivo. Eu não contava. Tudo o que eu dizia era ignorado porque, bem, eu era a mãe. E eu precisava que Grady estivesse aqui para passar esta noite comigo. Ambos os meus filhos estariam no palco. Isso parecia ser algo que o pai deveria ver. Ben deixou as crianças mais velhas e eu na porta porque estávamos um pouco atrasados, nenhuma surpresa. Apressei-os nos bastidores, deilhes grandes beijos na frente de todos os seus amigos e os deixei à mercê de professores que foram pagos para gritar com meus filhos. — Oi, Liz. — a mãe de um aluno da classe de Blake me parou no corredor, colocando a mão no meu antebraço. Eu parei. — Oi, Melissa. — eu sorri para ela. Blake e seu filho, Tanner, eram bons amigos. Um ano atrás, ela tinha levado Blake várias vezes em um esforço para me ajudar e distrair Blake do seu enfado. Blake não conseguia se distrair e cada vez que ela me via eu era um desastre de trem. Os encontros pararam durante o verão. Eu não tinha falado com ela durante todo o ano. — Como você está? — Melissa perguntou por via nasal, arrastando o tom, o que as pessoas pensam que é simpático. — Eu estou bem. — eu respondi honestamente. — Como você e sua família estão? — Oh, nós estamos bem. — ela sorriu brilhantemente. — Tanner está tão animado para o verão. Mal posso fazê-lo se concentrar nos trabalhos de casa! — Eu sei o que você quer dizer. — eu tentei me engajar na conversa, mas algo tinha acontecido comigo depois que Grady morreu. E eu supunha, depois da minha amizade falsa com o Ben. Eu tinha pouca

paciência para coisas superficiais nos dias de hoje. Eu simplesmente não suportava. As nossas vidas eram um presente precioso e tão curto. Eu queria passar meu tempo autenticamente, cercada por pessoas que realmente me amavam. Eu sabia que havia tempo e lugar para jogar conversa fora e não eu não queria aprofundar com a Melissa antes do teatro... mas era difícil ouvir a risada falsa enquanto minha família esperava por mim no auditório. — Então, escute. — Melissa começou. — Eu sei que não encontramos muito o Blake ultimamente, mas Tanner está implorando para vê-lo mais agora que ele está, bem, você sabe... melhor. Então, eu estava pensando... — Aí está você. — Ben apareceu ao meu lado. Ele deslizou seu longo braço sobre meu ombro e me puxou contra ele. Minhas bochechas ficaram vermelhas brilhantes e eu tentei não ser arisca. — Ei, onde estão as crianças? — Com a sua irmã. Katherine e Trevor chegaram aqui cedo para guardar nossos lugares. — toda a sua atenção focada em mim. Seus olhos sinceros observando cuidadosamente o meu rosto; seu braço em volta do meu corpo e me protegendo dos perigos dos pais do ensino fundamental. Se eu me importasse com a opinião de Melissa, eu iria querer desesperadamente explicar isso a ela. E eu não podia negar a vergonha e embaraço que se misturavam no meu peito. Eu queria fugir ou mandar Ben porta afora e dizer-lhe para me esperar no carro. Fechei os olhos e balancei a cabeça. Não faria sentido para qualquer outra pessoa que eu já tivesse seguido em frente, aparentemente. Mas a verdade era que eu não tinha seguido em frente. Eu não podia explicar isso para os outros, nem se eu quisesse. Eu ainda estava muito triste por Grady. Ben era apenas... Ben. Um homem que eu não

conseguia dizer não e de um relacionamento que eu não queria deixar acabar. E Melissa não era minha amiga e nem merecia uma explicação. Isso não diminuía a minha urgência para chegar ao meu assento, onde ela poderia parar de me julgar com seus olhos curiosos. — Eu sou Melissa. — ela interrompeu de qualquer maneira. Sua mão disparou para cumprimentar Ben. — Eu sou mãe de um aluno da classe de Blake. — Oi, Melissa. — Ben apertou a mão dela, mas não ofereceu mais detalhes sobre si mesmo. O olhar que Melissa atirou sobre mim quase me fez rir. — Eu vou ligar para combinar de eles se encontrarem para brincar. — eu disse a ela. Deixei-a passar e depois nós caminhamos para trás, em direção à entrada do auditório. Gemi, logo que estávamos suficientemente longe dela, inclinei-me para Ben, empurrando-o para o lado. — Ela vai correndo contar para todas as outras mães que eu trouxe um gigolô ao teatro da primavera. — Eu pareço como um gigolô? — Ben pareceu verdadeiramente alarmado. Eu comecei a rir, não conseguia parar. Tudo começou no meu estômago e espalhou para o resto do meu corpo. Eu tive que parar de andar e encostar-me contra a parede, muito histérica para manter-me de pé. Ben colocou a mão no meu ombro e riu comigo, embora ele não estivesse rindo completamente como eu. — Você está bem? — ele perguntou depois de um minuto. — Eu não tive a intenção de torná-la o centro das fofocas. Eu posso ir falar para aquela mulher que eu sou seu primo de fora da cidade se isso ajudar.

— Oh, Deus, não faça isso! — levantei-me e deslizei minhas mãos na cintura dele. — Isso colocaria mais lenha na fogueira. Você pode imaginar se ainda estivermos juntos no próximo outono? Então elas realmente irão falar. Eu só posso imaginar os rumores. — Nós vamos estar. — sua voz foi tão séria que eu tive que olhar para ele. Ele olhou para mim atentamente, procurando meus olhos e minha expressão por algo que eu não sabia se poderia lhe dar. — Liz, isso não é um caso. Você sabe disso, certo? — Eu sei que você acha isso, mas... Ele deslizou as pontas dos dedos ao longo da minha bochecha até que segurou meu rosto com uma de suas grandes mãos. — Liz, eu sei que não é uma aventura. — ele abaixou a cabeça, trazendo seus lábios apenas a alguns centímetros dos meus. — E você também. Meus olhos se fecharam quando ele me beijou. Não pude evitar. Este era o pior lugar para ele me beijar, mas estávamos quase sozinhos no corredor. O resto da agitação havia se mudado para o auditório, pronto para a peça começar. Eu tinha muitas dúvidas para acreditar que Ben e eu poderíamos continuar a longo prazo. Até que ele me beijou desse jeito. Sua língua varreu meu lábio inferior e, em seguida, mergulhou na minha boca com um gosto doce. Nossas bocas pressionadas em uma reunião sensual que me deixou ofegante e quente, embora tenha sido breve. Ele se afastou e me bateu com um de seus olhares intensos. — Não é uma aventura. — reiterou. Mordi meu lábio, esperando saboreá-lo por apenas mais um momento e balancei a cabeça para ele. Eu não podia analisar suas palavras, ou seu beijo, ou o fato de que ele tinha acabado de me beijar muito publicamente. Podíamos não ter tido um grande público, mas tivemos o suficiente. Fofoca se espalhava.

Eu não sabia como me sentir e então decidi pensar sobre isso mais tarde. Eu queria aproveitar meus filhos esta noite, sem pensamentos obsessivos e potencialmente negativos. E então eu decidi aproveitar esse momento com ele e não estressar. Bem, até que voltamos para o auditório e encontramos Katherine esperando por nós perto das portas. Meu estômago despencou enquanto eu tentava ler seu olhar. A mão de Ben estendeu para a minha e apertou com força, instando-me a ser corajosa... ser confiante. Inclinei meu queixo e prometi a mim mesma que falaria com Katherine sobre Ben... em breve. Se ela mencionasse. Ela não disse uma palavra para mim ou Ben enquanto nos levava para os nossos lugares. Na verdade, ela não me disse uma palavra pelo resto da noite. Eu posso ter sido capaz de suprimir a minha preocupação sobre os pais dos amigos de Blake e de Abby descobrirem que eu estava saindo alguém agora, mas eu não podia ignorar o olhar frio, ou o comportamento gelado de Katherine. Felizmente, havia o suficiente acontecendo para me distrair. Blake foi um Poky incrível. Lembrou-se de todas as suas falas e se deu bem com o público. Seu pai ficaria tão orgulhoso dele. E Abby atuou como sol exatamente como eu pensei que ela faria mal-humorada. Ela virou-se para as flores e chutou um osso por toda a extensão palco. Ela foi horrível. E foi tão adorável. Eu me levantei no final da peça e dei-lhe uma ovação de pé. Sr. Hoya teve exatamente o que ele pediu. O pai de Abby ficaria muito orgulhoso dela também. Mas eu nunca repetiria isso em voz alta.

Capítulo Vinte e Dois O ano letivo terminou em um piscar de olhos e o verão começou com dias preguiçosos de manhã e brincadeiras desenfreadas. Junho foi um mês cheio de churrascos ao ar livre, onde Ben ficava na grelha e gostava de encher a mesa do quintal com pratos de papel e espigas de milho. As crianças adoravam comer fora e não estava muito quente para desfrutar das noites de verão. Algumas noites Ben cuidava das crianças para mim enquanto eu dava uma corrida. Eles amavam esse tempo com Ben sem que eu tirasse a atenção. E eu amava o meu tempo sozinha. Nos fins de semana passávamos horas na piscina do Ben. Nós dois sempre de olho nas crianças. Emma se juntava a nós sempre que não tinha outros planos. Ben raramente passava uma noite longe de nós. E quando ele tinha que se afastar, não era somente eu que sentia falta dele. As crianças o queriam com a gente, na nossa mesa de jantar, em nossa casa, como parte de nossas vidas. Passamos o Quatro de Julho no lago, onde assistimos os fogos de artifícios e eu fiz s'mores18. Nós invadimos a cabana dos pais dele no fim de semana e foi a primeira vez que lhe permiti passar a noite. Não que ele tenha feito qualquer coisa além de dormir. Ainda assim, foi um grande passo para mim. Em meados de julho, eu já estava temendo o ano escolar e, simultaneamente, ansiosa para que os pequenos tivessem uma vida mais

18

Um s'more é uma sobremesa tradicional de fogueira noturna, popular nos Estados Unidos, consistindo de um marshmallow assado na fogueira e uma camada de chocolate intercalada entre dois biscoitos de água e sal.

estruturada. Lucy mal podia esperar para ir ao jardim de infância e Abby se acalmou o suficiente, eu até achava que seu professor do segundo ano pudesse sobreviver ao ano. Com a quantidade certa de oração. Antes eu levava a escola muito a sério, porém, decidi que precisávamos de mais dias na piscina. Porque era sábado, Ben pôde se juntar a mim e as crianças e podíamos sobreviver ao dia. — Não corra! — gritei enquanto Abby e Blake corriam em torno da piscina e lutavam para ver quem conseguia fazer o maior respingo saltando. Lucy estava com suas boias de braço e não tinha problemas com a profundidade da piscina e Jace estava desfrutando de sua rã inflável perto da parte rasa. Todas as crianças estavam a salvo no momento. Era um bom dia. Eu abri os braços ao longo da borda da piscina e deixei o cimento quente aquecer minha pele. Pisquei para o sol brilhante embriagada por estes felizes momentos. — Precisamos de outro encontro. — Ben murmurou, flutuando até mim. Seu torso magnífico estava exposto para o meu prazer, a água bateu contra seu peito enquanto ele se aproximava de mim. Meus dedos se contraíram, desesperados para correr sobre seus músculos em forma. — Por quê? — dei uma olhada por cima do ombro dele para me certificar de que todas as crianças estavam a salvo... e também distraídas. Meus dedos atravessaram a água até que rocei suas costelas. Suas mãos imitaram meus movimentos. Eu me contorci um pouco quando elas se arrastaram sobre a minha pele sob a água, fazendo minha respiração ficar instável e seus olhos escurecerem. — Porque eu preciso de você e deste traje de banho só para mim. — seus lábios caíram para minha clavícula, onde ele deu beijos quentes com

pingos de água fria até a ponta do meu ombro e seguiu para baixo. Joguei a cabeça para trás e fechei os olhos. Um pequeno gemido escapou da parte de trás da minha garganta e seu aperto suave tornou-se ferozmente necessitado. Ele agarrou a minha lateral e deslizou sua coxa entre as minhas pernas. Por causa do biquíni pequeno que eu estava usando, sua perna pressionou o meu núcleo com uma pressão chocante. Ergui a cabeça e abri os olhos, só para ficar cara a cara com a imagem mais pura do desejo que já vi. Eu parei de respirar e meu coração parou de bater. Um rubor tomou conta de mim de cima para baixo. Suas intenções estavam claramente escritas em seu rosto e eu não tinha nenhuma dúvida dos pensamentos que passavam pela sua cabeça. Nós estávamos namorando há cinco meses e isso nunca tinha se tornado tema de conversa para nós. Eu era aterrorizada demais para mencioná-lo e ele tinha sido muito cavalheiro. Mas, certamente, ele pensou sobre isso... e se perguntou o que aconteceria. Eu, certamente, pensei. Mas meus pensamentos sempre terminavam com uma grande campainha soando e um locutor declarando que estávamos atrasados. Eu não superava a minha própria humilhação para sequer pensar sobre as coisas boas. Eu sempre pensei que Grady seria o último homem a me ver nua. E eu gostava que fosse assim. Eu não podia imaginar me despir na frente de outro homem. Não depois de dez anos de casamento com o mesmo homem. E

não

vamos

nem

discutir

minhas

partes

femininas

destruídas. Obrigada, meus queridos filhos. Vocês não me deixaram exatamente na melhor condição.

Então não. Sexo era um problema para mim, porque isso nunca iria acontecer. Ben teria que terminar comigo se algum dia ele quisesse ficar com alguém novamente. E adivinhei pelo olhar aquecido em seus olhos, que causou arrepios correndo para cima e para baixo na minha espinha, que ele ia ter de romper comigo em breve. Ou ia entrar em combustão espontânea em milhões de pedaços. Ben continuou a dar beijos ao longo da minha mandíbula, na concha da minha orelha e, finalmente, na minha boca. Minhas mãos deslizaram em volta do seu pescoço e os nossos corpos se uniram naturalmente. — Eca! — todas as crianças gritaram ao mesmo tempo. Afastamo-nos rindo. Esta não tinha sido a primeira vez que fomos pegos. — Que tal hoje à noite? — ele balançou as sobrancelhas para mim e colocou uma distância segura entre nós. — Eu vou falar com Emma. — Talvez devêssemos pensar em encontrar outra baby-sitter. Uma menina que esteja mais disponível? Talvez uma garota do ensino médio, ou alguém que podemos pagar? Nós podemos pagar. Devêssemos pensar em encontrar outra baby-sitter. As palavras de Ben arrancaram meu sorriso fácil e cutucaram meus instintos maternais. Eu não sabia como me sentia sobre a sugestão de Ben, ou a sua insinuação de que estávamos tão sério. O que significava escolher uma babá juntos? Isso significava que ele tinha algum direito e eu tinha que ouvir a sua opinião? Ele se importava tanto com meus filhos para encontrar alguém que realmente cuidasse de

suas necessidades e tornasse a minha casa um ambiente divertido e seguro, mantendo algum tipo de ordem? Ele estava se oferecendo para pagar a babá? Ou estava fazendo com que a responsabilidade permanecesse inteiramente comigo? Ele interpretou mal a minha expressão. — Eu amo a Emma, Liz. Não me interprete mal. Ela é muito ocupada. Eu gostaria de encontrar alguém que pudesse vir semanalmente. Você precisa de uma pausa e eu preciso de você sozinho. Fiquei boquiaberta com suas palavras perspicazes. — Que direito você acha que tem nisso? — eu segui uma gota de água com o meu dedo que escorria pelo seu peito. Ele capturou minha mão e levou-a à boca para um beijo casto. — Um monte. — ele sorriu para mim. — Muitos. — Eu não estou tão certa... — o que eu realmente não tinha certeza era sobre convidar outra pessoa para entrar em nossas vidas. Eu gostava de como nós estávamos nos arranjando. Eu não queria perturbar o frágil equilíbrio que tínhamos alcançado. — Eu amo essas crianças. Eu quero o melhor para elas também. — Eu sei que você diz isso... — Eu falo sério. — sua voz assumiu um timbre grave que me deixou tensa. — Eu amo essas crianças, Liz. Mais do que eu jamais pensei que pudesse amar alguém. Se vamos levar essa relação mais longe, você não acha que eu deveria começar a trabalhar com você para tomar decisões que afetam toda a família? Ele falou sobre os meus filhos como se já fosse uma figura paterna para eles, e sobre a família como se já fosse uma parte dela. Eu não sabia como me sentir sobre isso. Francamente, ele me deixou um pouco sem fôlego.

Ou, er, sim, muito sem fôlego. Eu abri a boca para dizer algo, embora não soubesse o quê. Eu precisava pedir-lhe educadamente para recuar até que pudesse alcançálo. Eu não achava que queria Ben tão envolvido. Se ele fosse ocupar o lugar de Grady, isso significava que Grady seria empurrado para fora. E eu não queria que Grady fosse esquecido. Mas eu não queria que Ben nos deixasse. — Tio Trevor! — Abby gritou antes que eu pudesse juntar duas palavras. Um monte de espirro surgiu quando meus filhos saíram da piscina para atacar o tio com abraços molhados. Ele riu e deixou-os molhar por toda sua roupa de trabalho. Eu estendi a mão para proteger do sol, e silenciosamente agradeci Trevor por interromper justamente no momento certo. Eu empurrei Ben para longe para sair da piscina também. Uma vez que estava com uma toalha bem embrulhada em torno de mim, fui até meu cunhado para ver por que ele veio nos visitar. Depois do meu alívio inicial por ter interrompido um momento tenso entre Ben e eu, agora me sentia desastrosamente mal. Trevor não me procurou à toa. Tinha que haver um problema com o negócio. — Ei, Trev. — eu o cumprimentei. Ele olhou para mim com uma expressão muito perplexa e explicou. — Eu segui os gritos. Eu pude ouvir esses monstros da garagem. — todos riram e gritaram mais alto, provando seu ponto. — Está tudo bem? — as palavras saíram da minha boca antes que eu pudesse pensar algo melhor. Eu estava nervosa demais para esperar que ele dissesse algo. — Podemos conversar?

Limpei a garganta, sentindo-me mais nervosa conforme os segundos passavam. — Certo. — Sozinhos? — Sim. — eu balancei a cabeça com entusiasmo e apontei para a minha casa. — Eu esqueci o protetor solar de qualquer maneira. Vêm comigo? — Claro. — ele abaixou-se para beijar o topo da cabeça das crianças com promessas de levá-las para o fliperama. Olhei para Ben e tentei transmitir a minha preocupação com as sobrancelhas levantadas. Não estávamos namorando tempo suficiente para ele ler todas as minhas expressões faciais, mas eu esperava que esta fosse bastante óbvia. — Você pode ficar de olho em todo mundo? Estarei de volta em poucos minutos. Ben mudou-se para a escada e saiu com a graça ágil. — Quem precisa de um lanche? — ele falou para as coisas selvagens. Elas concordaram com mais gritos e aplausos. — Isso é ótimo! — ele disse enquanto as levava correndo em direção a sua porta de vidro deslizante. — Porque eu tenho três tipos diferentes de Pop-Tarts e eu preciso me livrar deles. — eu congelei no lugar. Ele tinha que estar brincando. Ele

olhou

para

mim

e

me

atirou

uma

piscadela

maliciosa. Aquele homem. Trevor e eu caminhamos em silêncio até a minha casa. Abri a porta da frente para ele e entrei na minha casa supergelada. Ou talvez estivesse apenas assim depois de descansar por horas no sol quente. Eu não tinha me incomodado em colocar chinelos porque meus pés estavam seguros com a grama-coberta, senti cada centímetro de madeira fria enquanto o levava para a cozinha, onde tinha deixado o protetor solar no balcão. — Eu não vejo você faz um tempo, como tem passado? — a verdade era que eu não vi muito Trevor ou Katherine ao longo dos últimos dois meses. Eu sabia que ela estava me evitando depois que ela pegou Ben me

beijando no corredor e me senti muito culpada e com vergonha para ligar primeiro. Trevor era uma vítima na minha fuga de Katherine. Embora, houvesse uma boa chance de que ele estivesse me evitando de propósito também. — Eu tenho estado ocupado. — ele soltou um suspiro que soou bom - muito melhor do que a última vez que o vi. — Sério? — a pergunta saiu da minha boca antes que pudesse processar e impedi-la. Eu esperava más notícias. Era estranho para mim que Trevor pudesse estar bem se ele tivesse pensando em falar em decretar a falência. Ele sorriu para mim. — Sério. O verão tem sido bom para mim e para o negócio também. Suas palavras me encheram de esperança. — Quão bom? — Liz, podemos estar de volta nos trilhos. Não perdemos dinheiro em três meses e estamos sem risco de quebra. E acho que vamos ficar assim também. Eu finalmente sinto que tenho meus pés debaixo de mim e uma noção sobre o que Grady estava fazendo. — Trevor, isso é incrível! Eu sabia que você conseguiria! Seu sorriso se transformou em um sorriso orgulhoso. — Ficava esperando que Grady pudesse voltar e colocar outra pessoa à frente dos negócios. — confessou. — Eu simplesmente não podia acreditar o que significava me colocar no comando. Eu não sou Grady. Eu nunca serei Grady. E, ainda assim, ele me deixou tanta coisa para cuidar. Eu tinha a sensação que ele tinha cometido um erro. — Ele não cometeu. O sorriso de Trevor morreu e a luz brilhante em seus olhos esmaeceu. — Eu ainda estou lutando para acreditar nisso. Mas o que você

disse na Ação de Graças, sobre como eu estava matando-o mais uma vez, realmente me fez começar a pensar. — Eu não deveria ter dito aquilo! — arrependimento bateu no meu estômago. Deus, quão cruel eu tinha sido! — Não era verdade, Trev. Eu estava tão irritada e... — Era verdade, Liz. E eu precisava ouvir aquilo. Eu precisava de um choque. Eu sorri e balancei a cabeça para ele. — Eu ainda sinto muito. — E eu já te perdoei. — ele olhou ao redor da cozinha, andando novamente. — Eu realmente não gosto daquele cara que você está namorando. Suas palavras sugaram o ar do ambiente. Eu não estava esperandoas e não soube o que responder. Fiquei ali sem jeito segurando o frasco de protetor solar. — Mas Grady gostaria. Meu coração caiu para o estômago e me esforcei para falar mais do que um sussurro. — O quê? — Grady teria gostado dele. — Trevor repetiu finalmente encontrando meus olhos. — Ele nunca quis que você ficasse sozinha, Lizzy. Ele nunca quis deixá-la, contudo. Tem sido difícil vir aqui desde que ele... morreu. Não apenas porque tudo nesta maldita casa me lembra dele, mas porque assistir você fazer tudo sozinha me matava. Eu amo essas crianças, mais do que já amei qualquer coisa. Elas precisam de um pai. Você precisa de ajuda. — Trev, Ben e eu não estamos sérios. De jeito nenhum. Eu nem estou pensando nele como um substituto para Grady. Ele sorriu pacientemente para mim, como se soubesse algo que eu não sabia. — Mas se você tem que ter um cara ao redor, ele é muito bom.

— Você realmente não o conhece. — Você está tentando me convencer que não gosta dele? — Trevor riu. Ele passou as duas mãos pelo seu cabelo despenteado e respirou fundo. — Quando Grady me falou sobre você pela primeira vez, ainda estava no ensino médio. Ele me ligou para dizer que ia levar uma menina para apresentar para nossa mãe. Eu era muito jovem para saber que significava alguma coisa, então fiz uma piada sem graça que ele não gostou. Lembro-me que ele ficou sério, imediatamente. Mas ele não gritou comigo, ou me repreendeu. Ele apenas disse: Quando você conhecer a Liz, você vai entender. Ela brilha, Trevor. Eu preciso desse tipo de luz na minha vida. — Trevor... — Ele não queria que isso acabasse junto com ele, Lizzy. Com um aperto na garganta, eu disse. — Ele disse algo assim para mim perto do fim. — Ele sempre pensava em você primeiro. Sempre. E ele sempre quis o melhor para você e as crianças. É por isso que ele trabalhou tão duro. É por isso que ele construiu o que ele fez. Ele simplesmente não conseguia nem imaginar lhe dar algo menos do que ele pensava que merecia. Ele foi o melhor cara que eu já conheci. — É difícil imaginar se contentar com qualquer outra pessoa. Eu acho que quem quer que seja sempre vai se sentir como o segundo melhor. Ou segunda opção, ou qualquer outra coisa. Trevor soltou uma gargalhada surpresa. — Sim, talvez. Mas quem quer que seja, vai ter um monte de trabalho. Então, talvez, não se preocupe com isso. Talvez apenas continue fazendo o que está fazendo e confie que tudo vai dar certo. — Quando você ficou tão sábio? — eu olhei para o meu cunhado do outro lado da cozinha e o vi de forma diferente. Ele havia crescido ao

longo do último ano. Ele não era a mesma criança imatura que seguia seu irmão para todo lado, desesperada pela orientação e aprovação de Grady. Ele era um homem. E, de alguma forma, ele se tornou um homem bom. Grady teria ficado orgulhoso dele. Trevor passou a mão pelo cabelo de novo e encolheu um ombro. — Acho que meu irmão me convenceu a crescer, afinal. — ele soltou um longo suspiro. — Droga, eu sinto falta dele. — Eu também. Acompanhei-o até seu carro e disse adeus, prometendo-lhe que mandaria uma mensagem em breve para um jantar. Eu vi seu carro sair da rua sem saída, eu fiquei ali envolta em minha toalha por um longo tempo, pensando sobre a nossa conversa. Quando finalmente voltei para a casa de Ben, percebi que era a primeira vez que Trevor e eu tínhamos falado sobre Grady e não tínhamos chorado.

Capítulo Vinte e Três — Eu não sei por que eu concordei com isso. — Eu olhei para a casa de dois andares, bem cuidada, em que Ben cresceu e me senti doente do estômago. O que eu estava pensando? — Você está nervosa? — Ben se acomodou no assento do motorista de seu Lexus e me observou inquieto. — Claro, estou nervosa. Nunca é fácil conhecer os pais de alguém. — Eles já te amam. — Ele me lembrou. Ele estava me dizendo isso há semanas enquanto tentava convencer-me a ir jantar. Tinha evitado isso o tempo que pude antes de começar a irritá-lo. — Você não tem nada com que se preocupar. — Parece tão... conclusivo, sabe? É o que as pessoas fazem em relacionamentos sérios. — eu brinquei com a prega da minha saia rodada azul marinho e me recusei a olhar para ele. Uma frieza encheu o carro quando ele disse. — Liz, o que você acha que estamos fazendo? Meus batimentos cardíacos aceleraram, mas não de um jeito bom. — Ben... — Estamos num relacionamento sério. Eu respirei rapidamente. Era o lugar e hora errada para ter esta conversa. — Não foi isso que eu quis dizer. — O que você quis dizer então? — sua mão alcançou o console para entrelaçar com o minha. — O que você acha que estamos fazendo? — Muita pegação? — eu arrastei meu olhar para cima para encontrar o dele e vi seus lábios se contorcerem.

— Não é o que estamos fazendo. — ele discordou seriamente. — Já não temos mais quinze anos. Ele podia ser tão irritante. — Então como você chamaria? — Preliminares. Seu corpo deslizou graciosamente do carro para que ele pudesse caminhar e abrir minha porta. Senti o sangue escorrer de meu rosto enquanto um fogo se acendia em minha barriga. Algo deliciosamente luxuriante rolou sobre minha pele, ao mesmo tempo em que eu lutava para não entrar em pânico. Engoli em seco contra um nó na garganta e tentei manter a respiração normal. Quando Ben abriu a porta e me ofereceu a mão, eu comecei a tremer. Ele me puxou do assento do passageiro e pousou a mão na minha cintura. Ele me empurrou para o lado para fechar a porta, mas me apoiou contra ela, firmando-me com seu corpo. — Liz, você significa muito para mim. Eu vou cuidar de você profundamente. — sua mão roçou minha mandíbula e seu olhar fixou no meu com incrível intensidade. — Eu me preocupo com você também. — eu odiava o tremor na minha voz, mas não havia nada que eu pudesse fazer sobre isso. Eu era desagradavelmente enferrujada quando o assunto era relação. Sentia-me mais imatura sobre meus sentimentos por Ben do que qualquer outra coisa na minha vida. Mas eu também não sabia como resolver isso. Eu não estava pronta para ser nada além de casual com ele. Eu não estava pronta para deixar Grady de lado e aceitar que meus sentimentos por Ben eram reais e significativos. Eu tinha começado meu ciclo de luto de novo só com esse relacionamento. Atualmente eu estava parada na negação. Eu gostava da negação.

A expressão de Ben não se suavizou quando ele disse: — Estou exausto de fingir que essa coisa entre nós é algo menos que sério. Quero mais de você, Liz. Quero mais de nós. Meu coração bateu até esgotar. — Eu não sei se posso te dar mais. Eu estou... Estou apenas tentando manter o que já somos. — Então conheça meus pais. — ele insistiu suavemente. — Só isso que estou pedindo. Viva este momento comigo e nós vamos chegar ao próximo momento juntos. Eu não vou deixar você fazer isso sozinha. Minhas mãos foram do seu peito para o pescoço. Eu precisava que ele me abraçasse, me mantivesse inteira. Ele envolveu as mãos na minha cintura e puxou-me firmemente para ele. Meu coração bateu contra seu peito, e quando eu respirei seu perfume familiar eu não pude deixar de relaxar. Fechei os olhos e deixei meu espírito voltar para casa. — Não saia do meu lado. — eu ordenei. — Não vou, Liz. Por nada. Ele apertou-me mais e eu senti sua promessa espalhar dentro de mim e acorrentar o meu coração. Eu não queria enfrentar o fato de que tínhamos uma relação séria, mas era. Ben tinha se tornado uma parte que não poderia ser tirada da minha vida. Ele se importava comigo e eu me importava com ele. Ele se preocupava com meus filhos e eles o amavam em troca. Eu tinha que abandonar a negação. Eu precisava enfrentar a realidade do nosso relacionamento. O que eu não precisava fazer era decidir o que isso significava. Um futuro permanente juntos ainda era impossível, mas eu não podia desistir dele ainda. E isso significava que eu precisava conhecer seus pais. — Ok. — eu concordei. — Leve-me para jantar.

Ele se afastou para dar um doce beijo em meus lábios. — Eu posso fazer isso. Tomando minha mão, ele me levou até a porta da frente da casa majestosa de dois andares de seus pais. Parecia o tipo de lugar que um advogado de sucesso morava. E ainda assim, eu tive que rir porque era tão diferente da casa atual de Ben. A casa de Ben era moderna, a mais moderna do nosso quarteirão. Esta casa tinha todo o caráter com que ele tinha descrito seus pais, colonial com telhado creme e belos canteiros de flores que envolviam a casa. Senti uma emoção de ansiedade. De repente, mal podia esperar para conhecê-los e ver o tipo de ambiente tedioso que Ben havia crescido. Seu relacionamento com seu pai melhorava diariamente, mas ele tinha compartilhado algumas das feridas de sua infância e eu sabia que ainda era difícil para ele aceitar que seu pai queria mudar, para salvar o que pudessem de seu laço familiar. Atravessamos a porta da frente e Ben gritou: — Mãe, estamos aqui! Ela correu para a entrada, um avental com babados amarrado à cintura. —Ben, oi! E você deve ser Liz! Sou Sharon, é tão bom finalmente conhecê-la. — um belo sorriso iluminou seu rosto feliz. Ela era tudo o que eu esperava pelas fotos penduradas na casa de Ben, mas muito mais na vida real. Seu cabelo castanho escuro se ajustava ao formato do rosto com elegância, sem grisalho em qualquer lugar à vista, e ela tinha uma graça digna que eu reconheci no modo como Ben se portava também. Ela olhou entre Ben e eu com uma quantidade chocante de afeto. Eu não sabia como aceitar sua imediata aprovação. Katherine foi tão distante durante meu casamento com Grady. Eu esperava algo parecido com Sharon. Uma irritação cresceu em mim. Eu não podia evitar odiar ter que passar por isso novamente. Já tinha sido ruim o suficiente com Grady, mas o que eu estava fazendo aqui com Ben?

Sua mão apertou a minha e eu tentei afastar o mau humor. — É bom conhecer você também, Sharon. Ben me falou muito sobre você. — eu sorri educadamente e endiretei meus ombros numa tentativa de afastar meus pensamentos negativos. Ela olhou para o seu filho adorado. — Ele falou? Ele não se calou sobre você e as crianças. É uma pena que você não pôde trazê-las com vocês. Estou tão ansiosa para conhecê-las. — Eu... Bem... Eu, uh, achei que seria melhor se elas ficassem em casa esta noite. Elas podem ser... um pouco demais. Ela gesticulou na frente do rosto como se tivesse descartando esse fato muito verdadeiro. — Oh, eu não acredito nisso. E se fossem, eu tenho certeza que é da melhor maneira. Ben fala tão bem delas, eu sei que são crianças muito especiais. Eu tentei conter a minha surpresa enquanto dizia. — Ben é um pouco parcial. — eu nunca tinha imaginado Ben falando bem dos meus filhos para os outros. O pensamento, literalmente, nunca cruzou minha mente. E se eu tivesse parado para pensar sobre o que ele diria, imaginava que seria de quão caótica minha vida era, ou o quanto era sobrecarregada. Fiquei um pouco ofegante que ele não parecesse se sentir assim. — Ben ama você. Claro, ele é parcial. — ela sorriu para mim. E então, como se suas palavras não tivessem acabado de destruir todo o meu mundo, ela nos indicou a sala de jantar. — O jantar está pronto e Mark nunca me perdoará se eu souber mais sobre você sem ele. Ela virou as costas para nós e começou a andar em direção à sala de jantar. Eu congelei no lugar. Eu não podia usar meus pés ou encontrar energia para segui-la. Meu corpo tinha ficado frágil, minha pele tinha se tornado fina e sensível, meu coração um pedaço de vidro delicado. — Não enlouqueça. — as palavras de Ben foram um sussurro contra o meu ouvido.

Tudo que eu pude fazer foi franzir os lábios e balançar a cabeça. — Liz. — ele murmurou antes de dar um beijo na minha mandíbula. — Ela é minha mãe e nunca me viu tão feliz antes. Claro, ela acha que eu te amo. Eu olhei bravamente para ele. — E você ama? — Se eu negar, você será capaz de ficar para o jantar? Eu acenei, ignorando o fino véu de suas palavras sobre a verdade que eu não queria aceitar. — Então eu não te amo. Você é a mulher mais irritante que já conheci. Eu mal posso tolerar você. — E meus filhos? — Oh, não. — ele ri. — Definitivamente, eu os amo. — Você ama? — uma afeição dolorida inundou meu corpo, preenchendo todas as rachaduras que o medo e a incerteza deixaram. Um calor emocional borbulhou em meu peito e envolveu meus membros rígidos com algo como esperança. — Sim, eu amo. Mas eles concordam comigo sobre você. Você irrita todos nós. — Vocês dois vêm? O assado está ficando frio. Ele colocou a mão na parte inferior das minhas costas e me levou para uma sala de jantar que tinha sido montada para uma noite elegante. Eu fiquei maravilhada com o aparelho de jantar e os talheres de prata. Sharon sabia como entrerter. Eu me senti severamente despreparada para a noite à minha frente, mas tinha muito pouco a ver com a mesa posta. O pai de Ben se levantou quando entramos na sala suavemente iluminada. Ele era uma figura imponente com um peito largo e cabelos

grisalhos impecavelmente penteados. Ele estendeu a mão para mim com um pequeno sorriso aquecendo sua expressão. — Liz, é tão bom finalmente conhecê-la. Estamos ansiosos por esta noite há muito tempo. — É bom conhecê-lo também, Mark. — eu sorri para ele. — Tudo está com cheiro delicioso. — Então vamos comer. — ele sorriu. Nós tomamos nossos assentos e começamos a passar pratos. Mark e Sharon atiraram-me pergunta após pergunta, parecendo intrigados por cada aspecto da minha vida. Fiquei sem fôlego durante toda a refeição, tentando acompanhá-los. Eles pareciam pessoas genuinamente gentis que queriam apenas saber mais sobre mim. Ainda assim, o interesse deles na minha vida era desconcertante. Eu tinha quatro filhos. Eu era viúva. Eu era a última pessoa que eles deveriam querer que seu filho de sucesso gostasse. Ben compartilhou histórias sobre as crianças e eles riram como se as conhecessem. Sharon contou anedotas da infância de Ben e eu me encontrei rindo junto com eles. Mark era mais reservado do que sua esposa, mas eu podia ver o esforço que ele fazia para me conhecer. Eu podia imaginá-lo como o pai distante com quem Ben conviveu a maior parte de sua vida, mas ele não era mais aquele homem. Eu me senti extremamente satisfeita com esta dedução. Eu estava orgulhosa de Ben por amar seu pai durante os anos difíceis e trabalhar para cultivar esse novo relacionamento que eles tinham começado a forjar. — Liz, adoraríamos conhecer as crianças. — Sharon anunciou sobre barras de limão compradas em lojas, eu apreciei isso sobre ela. Ela era uma cozinheira muito boa, mas alegou que sobremesas excediam suas limitações. Aparentemente, era o favorito de Ben. E eu gostei disso ainda

mais. Eu gostei de saber isso sobre ele. Gostei que ele tivesse um favorito e de eu ter descoberto dessa maneira. Eu tentei não analisar isso demais. — Claro. — eu disse a ela. — Eles ainda têm duas semanas de férias, então estamos bem disponíveis. Sharon olhou para o marido e então se virou para mim. — Estávamos pensando em levar todos para o lago. Pensamos que poderíamos ir num fim de semana? Nós vamos levar o barco dessa vez. — As crianças se divertiram tanto durante o feriado. Elas adorariam. — eu respondi enquanto a mão de Ben pousava em meu joelho nu sob a mesa. Seu polegar fez um caminho ao longo da parte externa da minha coxa. Eu tremi por causa do toque, mas senti o encorajamento que ele queria me dar. — Ele nos disse. — Sharon sorriu. — Mal podemos esperar para conhecê-los. — Eu tenho que admitir que estou surpresa que vocês estejam... aceitando a mim e todos os meus filhos. — as palavras escaparam antes que eu pudesse pensar melhor sobre elas. Eu estremeci quando vi Sharon olhar para Ben com incerteza. Eu sabia que eles estavam apenas fazendo o possível para me fazer sentir bem-vinda e talvez aliviar a estranheza de uma situação inesperada. Eu duvidava que eles esperassem que seu único filho e herdeiro estivesse em um relacionamento sério com uma mulher como eu. Com uma mulher que tinha tantos filhos quanto eu. — Oh, Liz... — Sharon parecia estar com o coração partido por causa das minhas palavras e eu desejava poder voltá-las para a minha boca e engoli-las. Meu peito deu uma pontada com a dor que eu tinha causado. Eu abri a boca para explicar, mas Mark me antecedeu.

— Tenho que admitir, Liz, que ficamos surpresos quando Ben nos disse que vocês dois estavam namorando, mas só porque finalmente você disse que sim. — seu sorriso provocador ajudou a mudar a atmosfera de volta para amigável. — Desde o primeiro dia em que a conheceu, ouvimos histórias sobre a vizinha dele e todos os filhos dela. Lentamente, essas histórias assumiram uma nota afetuosa e depois se transformaram em algo mais. Sempre soubemos como Ben se sentia por você e sua família. Nós simplesmente não sabemos se você vai sentir o mesmo, depois de tudo o que você passou. Năo podíamos estar mais emocionados por você estar aqui esta noite, Liz. Nós não poderíamos ficar mais felizes por ver o nosso filho tão feliz. Você tem que entender que Ben nunca nos deu muita oportunidade de dizer algo em sua vida. Ele faz praticamente tudo o que ele quer e nós o respeitamos por isso. Ele toma decisões sábias. E eu não posso deixar de ver que ele fez uma brilhante com você. Claro, aceitamos você e todos os seus filhos. Qualquer coisa que possa tornar nosso filho tão feliz é mais do que digno de nossa aprovação. A mão de Ben deixou meu joelho para deslizar sobre meus ombros e descansar em torno de mim. Ele me puxou para perto dele e deu um beijo no topo da minha cabeça enquanto eu tentava controlar minhas emoções. — Viu. — ele brincou. — Eles não são tão ruins. Eu pisco para ele e dou um sorriso sem graça, antes de voltar para Mark e Sharon. — Obrigada. Significa muito para mim. Obrigada. Mark piscou para mim. — O que quer que ele tenha dito sobre mim, só metade é verdade. Eu sorri levemente, desfrutando do seu humor doce. — Eu posso ver isso. Sharon passou a mão no rosto e enxugou os cantos dos olhos com o guardanapo. — Não, você é pior! — ela gritou para o marido. — Você não deveria me fazer chorar durante a sobremesa! Ninguém deve chorar durante a sobremesa!

— Ela nunca mais vai voltar se você continuar, mãe. — a mão de Ben brincava com a manga da minha blusa branca e amarela, tão familiar que meu corpo e alma não puderam deixar de notar. — Você arruinou barras de limão para ela para sempre. — Isso não é verdade! — eu ofeguei. — Essa noite tornou as barras de limão minhas preferidas. Para sempre. Nós estabelecemos em uma conversa fácil depois disso e eu pude realmente dizer que gostei da noite. À medida que Ben estacionou em sua entrada e me levou até a porta da frente, eu não conseguia parar de sorrir. Seus pais eram ótimos. Ele era ótimo. E às vezes, eu também era ótima. À minha porta, virei-me para ele e suas mãos pousaram em meus braços. Ele me puxou para um abraço e suspirou satisfeito. — Eu realmente gostei de seus pais. — confessei em seu peito. — Bom. — ele sussurrou. — Obrigado por ter ido comigo esta noite. Eu sei que não foi fácil para você. — Bem, eu não sou fácil para você, então eu imaginei que eu devia para você. — sua risada vibrou pelo seu peito e me fez apaixonar por ele um pouco mais. Eu tentava segurar, tentava impedir esta queda... mas eu era impotente contra esse homem que tinha se metido na minha vida e me fez precisar dele, me fez desejá-lo. — Você me deve. — ele murmurou, mergulhando sua cabeça para capturar minha boca com a dele. Eu caí no ritmo agora familiar de nossos beijos. Seus lábios se moldaram contra os meus, provando e saboreando cada toque e mordida. Sua língua pasosu pela minha boca até que eu a abri para ele e lhe dei um acesso mais profundo. Suas mãos caíram para meus quadris e me abraçaram firmemente. Os dedos puxaram minha blusa até que ele pôde deslizar sob o tecido sedoso e acariciar minha pele nua.

Minha respiração ficou difícil quando uma de suas mãos deslizou para cima, alcançando a alça do meu sutiã. Seu beijo se intensificou, aumentando cada um de meus sentidos e me fazendo afogar na luxúria por ele. Seus lábios se moveram sobre a minha mandíbula, descendo para o pescoço e atravessando a clavícula. — Liz. — ele sussurrou enquanto me empurrava contra a porta, me prendendo contra seu corpo endurecido. Eu ofeguei quando seus beijos se tornaram lentamente sensuais. Sua boca voltou para a minha e senti-me oprimida com a sensação dele, com seu toque viril e sua adoração consumindo meu corpo. O desespero dele aumentava conforme continuávamos a nos beijar nas sombras da minha entrada e da luz da lua. Seu polegar roçou meu mamilo, escondido atrás de meu sutiã de renda, e eu pensei que fosse desmoronar. Meus joelhos enfraqueceram e minhas coxas tremeram. Eu não esperava sentir isso com ele. Eu não esperava ficar tão excitada com seus toques sedutores e beijos de virar a cabeça. Ele me prendeu deslizando sua coxa entre as minhas pernas. Meu desejo se agigantou ainda mais e apoiei a cabeça contra a porta de tela de vidro, completamente perdida para Ben e o que ele quisesse fazer comigo. Seus lábios voltaram para minha garganta, fazeendo um caminho sensual. Sua língua mergulhou na cavidade da minha garganta e eu choraminguei.

Minha

mente,

geralmente

desordenada,

esvaziou

completamente e tudo que eu pude fazer foi sentir. A luz da varanda se acendeu e nós separamos em um pulo, ambos respirando pesado. Coloquei as mãos no vidro atrás de mim e tentei não derreter em uma piscina de luxúria. Ben me olhou com os olhos cheios de desejo. Seu peito arfava e eu podia sentir seu desejo a centímetros de distância. Eu também o queria.

E eu não sabia o que fazer sobre isso. — Vou pedir a Emma para ficar com as crianças durante a noite do próximo fim de semana. Suas palavras me atingiram como um soco de realidade. Eu me endireitei e tentei evitar o pânico. — Eu não acho que seja uma boa ideia. Ele estendeu a mão e emaranhou seus dedos com os meus. Seu toque era tão leve, mal notava, mas eu sentia nos meus dedos dos pés. Minha mente nadava com luxúria e medo, com desejo inebriante e antecipação arrebatadora. Mas eu não poderia ir tão longe com ele. Eu não poderia chegar na etapa final. Eu tinha tantos sentimentos por ele e eu tinha dado tanto do meu coração. E... sexo ... Eu achava que era a única coisa que Grady ainda possuía completamente. Talvez fosse exagero, mas era a única coisa tangível que eu tinha deixado. — Nós não temos que ter relações sexuais. — ele explicou rapidamente. — Mas eu quero uma noite onde eu não me sinta apressado para deixá-la. Quero uma noite onde possa te beijar o tempo que quiser e não me preocupar com alguém chamando a polícia ou uma das crianças andando lá embaixo. — Ben... — Nós não faremos sexo. — ele correu a mão sobre a mandíbula e um pouco da fome sonolenta saiu do seu olhar. — Ok? Não vamos. Vou recusar seus avanços. Eu não vou deixar você me seduzir. — eu não pude deixar de rir dele. — Só passe a noite comigo. — ele suplicou suavemente. — Fique comigo uma noite.

— Ok. — eu me ouvi sussurrar sem qualquer hesitação. Seus lábios romperam em um sorriso cambaleante. — Bom. A porta se abriu atrás de mim e Emma nos encontrou encarando um ao outro como adolescentes lunáticos. Voltei à realidade e soltei minhas mãos das dele. — Obrigada por me apresentar aos seus pais, Ben. Eu tive uma ótima noite. — Eu achei que você gostaria. — ele se inclinou para frente e deu mais um beijo na minha testa. — Boa noite, Liz. Eu entrei e Emma e eu o vimos voltar para casa. — Desculpe. — ela gemeu. — Eu não percebi que era você na porta. — Está tudo bem. — Eu interrompi qualquer coisa safada? — sua voz cantada não fez nada para disfarçar seu tom esperançoso. — Não esta noite. Ela empurrou meu ombro até que eu a encarei completamente. Suas sobrancelhas se levantaram comicamente e seus olhos saltaram, esperando mais informações. — Ele quer que eu passe a noite no próximo fim de semana. O seu grito empolgado, empolgação que eu ainda tinha que sentir, acordou Jace e Lucy.

Capítulo Vinte e Quatro Sexta-feira veio muito rápido, como um trem correndo solto nos trilhos que eu não podia parar. Nós só tínhamos mais algumas semanas até as aulas começarem, então eu tinha enchido nossos dias com o número máximo de atividades. E talvez eu tivesse tentado evitar pensar sobre esta noite. Ben era uma parte de nossas vidas, como de costume, só que agora, quando as crianças estavam dormindo em suas camas, seus toques demoravam, seus beijos ultrapassavam limites e suas intenções ficavam claras. Eu havia lhe dado permissão quando concordei em passar a noite e ele tinha passado a última semana criando a minha expectativa e me preparando para o que estava por vir. Mas ele tinha prometido nada de sexo e uma vez que eu sabia, sem dúvida, que eu não estava pronta para o sexo, eu suprimi o nervosismo com as suas palavras e tentei ser corajosa. — Boa sorte hoje à noite. — Emma sussurrou quando apareceu alguns minutos antes de Ben. — Nada vai acontecer. — eu sussurrei de volta. Ela me deu um olhar cheio de sarcasmo. — Sério, Emma. Mesmo se... mesmo se eu pensasse que estávamos prontos para isso, eu simplesmente não consigo ter intimidade com outra pessoa. É muito estranho. — Dá um tempo. — ela suspirou. — Você merece uma noite como esta. Relaxe e divirta-se. Esqueça as outras coisas. — Você é uma irmã terrível. Você deveria apoiar-me, não Ben.

— Eu apoio! — ela sussurrou irritada. — E eu apoio a realidade muito clara que você precisa transar! Ben entrou pela casa sem bater, como ele fazia agora, e nós nos calamos. — Tudo bem? — ele perguntou, olhando entre Emma e eu. — Sim! — Emma praticamente gritou com ele. — Nós estamos ótimas. Meu corpo ruborizou dos dedos dos pés até o topo da cabeça. Eu tentei sorrir para Ben, mas eu estava com aquele olhar meio perturbado. Os olhos de Ben escureceram com preocupação. — É a sua bolsa, Liz? — É. — eu resmunguei. — Vou levá-la para fora. Você sai quando estiver pronta? Eu balancei a cabeça, ansiosa para ter outro momento para mim. As crianças estavam felizes jantando, mas quando perceberam que Ben estava aqui, correram porta afora para dizer olá. Com algum momento para nós, Emma colocou as mãos nos meus ombros e falou bem na minha cara. — Você vai sobreviver a esta noite. — ela prometeu. — Eu não tenho certeza. — Você irá. Ben vai estar lá para orientá-la. — Você vai ficar desapontada comigo se nós não fizermos nada além de dormir? Ela balançou a cabeça e deixou suas ondas loiras saltarem em torno de seu queixo. — Nunca. — ela prometeu. — Eu só quero que você seja feliz outra vez... aconteça o que acontecer. Eu balancei a cabeça, reconhecendo que eu tinha a melhor irmã do mundo. — Você liga se houver problemas?

— Obviamente. — Se eu te enviar a mensagem código vermelho você vai ligar e inventar um problema? — Lizzy, vou colocar fogo na sua casa, se você precisar de mim. Agora vá! — Ok, eu vou. — parei na porta e me voltei para ela. — Em, não importa a mensagem, não coloque fogo na casa. Ela revirou os olhos e me dispensou. Nós três lutamos com as crianças para voltarem para dentro para que eu pudesse dar um beijo e um abraço em cada um e, em seguida, Ben nos levou para o nosso encontro... um encontro que era para durar a noite toda. — Onde você quer ir jantar? Eu olhei para ele, assustada com a pergunta. — Oh. Seu sorriso travesso fez todos os tipos de sentimentos vibrantes surgirem dentro de mim. — Você queria sair para jantar, não é? — Eu-eu, hum, sim. Ele pegou minha mão e me virou para encará-lo, parando na calçada entre as nossas duas casas. — Ou você quer ir direto para a minha casa? — ele abaixou a cabeça para dar um beijo lento ao longo da minha mandíbula, provocando arrepios pelas minhas costas. — O jantar está bom. — eu gritei. Sua risada sombria não fez nada para me ajudar a preparar para noite adentro. — Nós vamos levar essa noite no seu ritmo, Liz. Podemos fazer o que quiser esta noite. Prometo não violentá-la antes de você estar pronta. Como se essas palavras fossem me acalmar. — Eu sei. — Você está tremendo. — ressaltou.

— Eu estou nervosa. Ele se afastou para que eu pudesse olhar para aqueles olhos escuros insondáveis. Ele segurou o meu olhar tempo suficiente para eu saber que ele estava falando sério. — Você confia em mim? Eu murmurei. — Sim. — Então confie que eu quero você de qualquer maneira que você permita. Não há mais nada para se preocupar hoje à noite. Essas palavras eram tudo que eu precisava. Nós entramos em seu pequeno carro, que era livre de embalagens de fast food no chão e de adesivos colados às janelas. Ele me levou para um dos meus novos restaurantes favoritos, que ele tinha me apresentado. Fizemos uma refeição fantástica e, em seguida, ele me levou para uma longa caminhada pelo centro da cidade, para admirar a noite de verão e de mãos dadas. Tudo com Ben era novo e emocionante. Às vezes minha mente comparava-o ao Grady sem a minha permissão, mas na maior parte, este homem ao meu lado era muito diferente do meu marido e eu podia manter os pensamentos deles separados. Quando Grady segurava a minha mão, a sensação era de que tinha estado comigo por uma década. Era um amor que tinha surgido de uma muda para um vínculo inquebrável, maduro. Com Ben, tinha começado com algo pequeno e frágil, mas o que tínhamos nunca foi parecido com o que Grady e eu tivemos. Nossos sentimentos um pelo outro não começaram como uma semente, começaram como um oceano. Eu tinha a sensação que estávamos separados por milhas de água rochosas e turbulentas que poderia nos afogar a qualquer passo errado. E, conforme passamos tempo juntos, à medida que nos abrimos e compartilhamos nossas vidas, esse oceano

tinha encolhido. As águas entre nós diminuíram e ficaram menos assustadoras. A distância entre nós desapareceu. Nós nos tornamos algo diferente... algo profundo, mas eu ainda não sabia identificar o que era. Não achava a palavra certa para nomear. Nos limites do centro da cidade, Ben se inclinou contra um edifício e me puxou para a curva de seu corpo. — Posso te levar para casa agora? Fiquei olhando para o seu peito e murmurei. — Sim. — Você ainda confia em mim? — ele perguntou, inclinando meu queixo com um longo dedo para encontrar o seu olhar profundo. Eu balancei a cabeça, incapaz de falar através de meus medos. Nós dirigimos para casa em silêncio. Ben me perguntou se eu confiava nele e eu confiava, sem dúvida. Mas não era com ele que eu tinha que me preocupar. Era comigo. Eu confiava em mim mesma? Eu não confiava em mim para manter as mãos longe dele. E eu não confiava em mim para parar alguma coisa, se eu começasse. Eu era uma bagunça de ansiedade e desejo, incapaz de separar os dois. Ben parou o carro na garagem e abriu a porta para mim. Sua garagem era tão vazia comparada com a minha. Ele tinha uma bicicleta encostada na parede e um conjunto de ferramentas. Havia um caiaque pendurado no teto e algumas caixas de armazenamento empilhadas em prateleiras. Mas faltava-lhe o excesso que as crianças conseguiam acumular com várias bicicletas e triciclos e bolas e qualquer coisa para brincar lá fora. Normalmente, eu esperaria isso de alguém solteiro, como Ben, mas parecia errado por ser ele. Ele tinha se tornado uma grande parte de nossas vidas e eu esperava que sua garagem fosse cheia de coisas de criança também. Meus passos pareciam ecoar pela extensão vazia à medida que eu o seguia para dentro da casa. Sua casa, que parecia tão perfeita para ele há alguns meses, agora nem tanto.

Eu coloquei a bolsa ao lado da minha mala que ele trouxe e me juntei a ele na cozinha para um copo de vinho. O vermelho delicioso ajudou a acalmar alguns dos meus nervos frenéticos e eu tentei me concentrar só nele... em estar aqui com ele no silêncio de sua casa. — Isso é bom. — eu disse para preencher o nosso silêncio. — É estranho eu tê-la trazido de volta à minha casa? — Ben perguntou, demonstrando seus pensamentos profundos. — Eu achei que um quarto de hotel poderia parecer presunçoso... — Não é estranho. — Eu quero saber como você dorme. — ele continuou, parecendo não ouvir a minha resposta. — Isso é definitivamente estranho. Eu sei disso. — eu abri minha boca e depois fechei-a sem nada a dizer. Era um pouco estranho. Ele continuou a explicação. — Eu só... Eu sei muito sobre você. Eu sei como você gosta do seu vinho e como você gosta de sua comida. Eu sei como você fica quando você está brava com o mundo e com raiva de seus filhos. Eu já vi você rir e gargalhar, cozinhar uma refeição e dobrar uma cesta de roupas. Eu vi você chorar e se sentar em silêncio, tão perdida em pensamentos que o resto do mundo não existia. Mas eu nunca vi você dormir, Liz. É importante para mim compartilhar isso com você. — Ok. Ele colocou o vinho no balcão e se aproximou de mim. — Eu disse a mim mesmo que pegaria leve com você esta noite. — seu sorriso cauteloso derreteu qualquer defesa que eu ainda tinha levantada. — Eu quis isso por tanto tempo, mas estou tendo dificuldade em acreditar que é real. Que você está realmente aqui comigo. Eu abaixei o vinho para que pudesse pressionar a minha mão no seu coração. — Eu estou aqui, Ben. Estou com você.

Ele colocou a mão sobre o coração e segurou o meu olhar. Os olhos dele diziam algo que o meu coração se recusava a aceitar. Eu tive um momento de pânico onde eu sabia que deveria correr, mas ele começou a falar antes que eu pudesse convencer o meu corpo a se mover. — Liz, eu me apaixonei por você. — eu não disse nada. O silêncio se prolongou pelo cômodo enquanto eu esperava mais dele, uma modificação, ou uma desculpa, ou qualquer outra coisa que não fossem essas palavras. Ele sorriu pacientemente e seus dedos roçaram minha bochecha e, finalmente, a explicação veio. — Eu tentei lutar contra essa atração por um longo tempo. E depois achei que ficaria satisfeito com apenas o pouco que você estava disposta a me dar. Mas, quanto mais a conheci, mais profundamente eu me apaixonava. E não é só por você que me apaixonei, mas pela sua família, sua vida caótica. Eu não posso mais imaginar minha vida sem você e as crianças. Eu não espero que você sinta o mesmo por mim. Eu sei que Grady sempre estará lá com você. Mas eu queria que você soubesse como me sinto. Eu não tenho nada me segurando, Liz. Eu me apaixonei por você, porque essa era a única maneira de agir... de sentir. — Diga de novo. — eu sussurrei, surpresa com a minha reação forte a suas palavras. Eu esperava odiá-las se ele algum dia as dissesse. Eu esperava fugir delas o mais rápido possível, mas me senti bem. Eram como bálsamo

na minha alma ferida, como cola para meu coração

despedaçado. Senti-me em casa. — Eu te amo. Eu não disse de volta, mas eu não podia só ficar parada lá. Eu passei meus braços em volta do seu pescoço e puxei-o para um beijo desesperado. Nossas bocas caíram se juntaram com toda a profundidade e intensidade dessas belas palavras. Segurei-o firmemente contra mim,

deixando-o adorar a minha boca com a emoção que eu podia agora nomear. Sua mão tirou o copo de vinho cegamente do nosso caminho antes de ele agarrar minha cintura e me jogar em cima do balcão. Eu envolvi minhas pernas em volta da sua cintura quando ele encaixou em mim, deixando-me sentir a força e masculinidade de seus quadris. Suas mãos se moveram sobre o meu corpo com uma sedução hábil. Eu era impotente contra o fogo ardente que ele construiu dentro de mim. Eu me senti tonta de tesão. Meus dedos tremiam enquanto eu tentava abrir os botões da sua camisa. Ele deixou-me desabotoá-los pacientemente. Minhas mãos roçaram sobre o seu peito nu, saboreando a sensação de seus músculos duros e coração batendo. Eu tirei a camisa de cima dos seus ombros e ele soltou os pulsos até que formasse uma pilha no chão. Seus beijos mudaram para o meu pescoço e sobre minha garganta e seios. Ele beijou-me através do material fino do meu vestido ameixa. Eu tremi quando sua boca quente pressionou o meu mamilo. Seus dedos brincavam com o meu zíper, me provocando com seu desejo e incerteza. — Sim. — eu ofeguei. — Liz. — sua respiração acelerou quando ele puxou o zíper para baixo lentamente, provocando-me uma paixão cega. Eu encolhi meus ombros e o vestido sem mangas caiu pelos meus pulsos numa piscina na minha cintura. Ben olhou com olhos encobertos pelo meu corpo, meus seios escondidos atrás de um sutiã de renda e meu quadril marcado com estrias pálidas. Ele se curvou para remover meus saltos,

tendo

o

cuidado

de

puxá-los

com

toques

lentos

e

inebriantes. Então ele colocou as mãos na minha cintura nua e colocou-

me no chão. Meu vestido caiu aos meus pés e logo eu estava ali usando apenas a calcinha que eu tinha encomendado on-line apenas para o caso deste momento. Ele deu um passo para trás e esfregou os dedos rudemente ao longo de sua mandíbula. — Linda. — ele sussurrou. E nesse momento eu não me senti uma mulher usada ou uma mãe de quatro filhos. Eu não me senti com trinta e poucos anos com a gravidade trabalhando contra cada parte de mim. Eu me senti linda. Ele deu existência a essa palavra e nunca houve um momento mais puro, mais honesto do que aquele. Saí do meu vestido e corri os dedos sobre seu estômago, parando na faixa da cintura da calça jeans. Brinquei com o botão, chocada com a minha coragem e com a necessidade inegável que eu sentia por aquele homem. Vi meus dedos se moverem enquanto eu me lembrava de como desabotoar a calça de um homem. Eu empurrei-a até os tornozelos e ele saiu dela e ficou apenas com uma cueca boxer. Meus olhos viajaram por todo o seu comprimento, memorizando cada centímetro do seu corpo, cada parte deste homem incrível que mudou a minha vida tão profundamente. — Você tem certeza, Liz? Eu só quero fazer isso se você estiver certa. — Eu estou. — eu prometi a ele. — Estou pronta. Ele me pegou em seus braços e me levou para o quarto. Com um lance delicado, ele me deixou em sua cama enorme. Eu tive pouco tempo para observar seu quarto, sua cama king size, uma TV grande montada na parede, lençóis macios, sedosos. Seu corpo cobriu o meu e sua boca começou a provar toda a pele que ele nunca tinha tido acesso antes. As poucas roupas que eu ainda

usava desapareceram e as nossas mãos começaram a explorar lugares que tínhamos conseguido evitar até agora. Ele me perguntou mais uma vez se eu estava pronta e quando eu concordei, ele puxou um preservativo da gaveta de cabeceira e colocouo. Fiquei maravilhada com o seu corpo enquanto eu esperava, concentrando no músculo ondulante de seu abdômen e no peito, a força poderosa de suas coxas e seus calcanhares. Eu vi quando ele se arrastou para cima de mim e tentei respirar em meio ao medo de novo. Ele se inclinou e beijou meu quadril. Eu empurrei, abalada por seu toque, mas ele não se intimidou. Ele continuou me beijando, em toda a minha barriga e sobre os meus seios, a linha da minha garganta até que ele finalmente desembarcou em meus lábios. Lá ele tomou minha boca calmamente, sedutoramente e quando ele pressionou contra o meu núcleo, simplesmente pareceu natural. Ben empurrou para dentro de mim e eu senti rajadas de prazer me atravessar. Nós nos movemos juntos, aprendendo sobre o outro, nos conhecendo de uma forma que eu nunca tinha pensado conhecer outro homem. Ele aproveitou o tempo, desesperado e relaxado, perdido e centrado. E eu o deixei me levar. Deixei-o apagar todas as minhas dúvidas e medos e tristeza e qualquer outra coisa que se interpusesse entre nós. Deixei-o me ajudar a perceber exatamente como eu me sentia com ele, sem qualquer outra coisa nublando meus pensamentos. Quando acabou, ele rolou para o meu lado e me envolveu em seus braços. Ele me segurou lá com uma doçura que me comoveu. Durante três minutos, eu simplesmente fiquei lá, completamente absorvida e abandonada nele. Seus dedos fizeram um caminho preguiçoso ao longo da minha coluna e a nuca e seu queixo fez cócegas na minha testa. Nenhum de nós

falou. Eu não conseguia encontrar as palavras adequadas para descrever meus sentimentos e eu não tinha ideia do que Ben estava pensando. Mas, então, eu comecei a pensar. E quanto mais eu pensava mais rápido a minha mente girava. A neblina da luxúria e satisfação sumiu e eu fui deixada apenas com a realidade do que eu tinha feito. Eu tinha acabado de dormir com outro homem. Eu fiz sexo com outro homem. Um homem que não era Grady. O soluço atingiu o meu peito antes que eu pudesse impedir. A dor tomou conta de mim novamente quando pensei nas consequências de minhas ações. Tentei agarrar-me à sanidade e em um chão estável, mas não consegui encontrar nenhum. — Liz? — Ben parecia preocupado e eu não poderia culpá-lo. Lancei-me da cama e corri para o seu banheiro. Eu mal consegui chegar ao banheiro antes de eu soltar todo o meu jantar e meu pesar. Eu fiquei lá por intermináveis minutos, chorando histericamente enquanto meu corpo reagia fisicamente ao que eu tinha acabado de fazer e o compromisso que tinha feito. Ben entrou logo depois de mim e ficou lá comigo. Seus dedos suaves seguraram meu cabelo e suas palavras suaves ajudaram a aliviar a dor incapacitante da minha traição. Depois de um longo tempo, eu caí no chão. Ele não hesitou em puxar-me para os seus braços novamente e me abraçar contra seu peito. Eu não merecia sua bondade ou sua compreensão, mas sem ele, certamente, eu estaria quebrada em mil pedaços irregulares. Eu quebraria de verdade, permanentemente. Nós nos sentamos lá por tanto tempo que meu braço adormeceu e eu fiquei sem lágrimas. Ben tinha colocado a cueca antes de ir atrás de

mim e me cobriu com o seu roupão que estava pendurado ao lado do chuveiro. Sua consideração abriu novas feridas dentro de mim e quando eu finalmente falei, minha voz estava cheia de honestidade crua. Eu tinha chegado a um acordo com quem eu era agora esta noite. E também tinha admitido a realidade que Grady tinha ido embora para sempre. Que ele nunca voltaria. E que, de certa forma, eu tinha seguido em frente. Mas que eu não estava curada. Eu tinha arruinado algo bonito entre Ben e eu, algo que deveria ter sido sagrado e protegido. Eu não podia mudar a minha reação ou o meu comportamento até então, mas havia uma coisa simples que eu podia fazer para salvar a noite. Eu poderia dizer a Ben a verdade. Com a minha cabeça no seu peito e meus dedos fechados sobre o seu coração, eu sussurrei: — Ben, eu também te amo. Ele me segurou mais apertado, me esmagando contra seu corpo quente. Ele não disse nada. Ele não precisava dizer nada. Eu sabia como ele se sentia e agora ele sabia, para o bem ou mal, como eu me sentia.

Capítulo Vinte e Cinco Eventualmente, Ben e eu deixamos o chão do banheiro. Peguei minha bolsa de viagem para que pudesse escovar os dentes e lavar o rosto. Então peguei uma calcinha nova e uma camisola. Eu levei calça de pijama, mas pareceu um pouco inútil. Ben estava no batente da porta, encostado na porta, me olhando. — Isso é interessante? — perguntei com a boca cheia de pasta de dente. — Eu gosto disso, Liz. Eu gosto de intimidade com você. Abaixei o olhar para a pia e foquei em terminar o trabalho que comecei. Eu rastejei sob o edredom e me aconcheguei em um de seus travesseiros. Sua cama era melhor que a minha, e não apenas porque ela não tinha o fantasma de Grady. Ben veio atrás de mim e passou o braço em volta da minha cintura, segurando-me incrivelmente apertado contra o peito quente. Eu esperava que a minha mente acelerasse por causa dos acontecimentos da noite, por dormir com Ben, por trair Grady, por dizer eu te amo a um homem que não foi, nem jamais seria meu marido. Mas a respiração calma do Ben e seu toque protetor me levaram para um lugar aconchegante, ausente da sombra do meu marido de arrependimentos doces. — Gostaria de pedir desculpas por vomitar após o sexo. — eu brinquei. — Mas aposto que acontece muito com você. Senti seu corpo imóvel, surpreso com a minha piada. — Você acha que é esperta.

Olhei para ele por cima do ombro e através de fios despenteados de cabelo. — Eu sei que sou esperta. Eu gritei quando ele começou a me fazer cócegas. Como isso era uma resposta justa? Eu empurrei e lutei para me afastar da tortura, mas foi inútil. Eu caí de costas e ele me prendeu montando minha cintura. Eu estava rindo tanto que não fazia qualquer som. — Pare! — eu engasguei, resistindo contra ele. — Pare! — eu tentei apertar seu mamilo em retaliação, mas ele pegou minha mão e colocou-a para o travesseiro debaixo da minha cabeça. Seu nariz percorreu uma trilha lenta sobre o meu. Ele parou de me fazer cócegas para correr a mão livre pela minha lateral, através do meu estômago e ao longo da curva do meu seio. — Isso foi maldade. — eu ofeguei. Ele ainda estava me deixando louca, mas agora seu toque tinha virado sensual e minha respiração ficou ofegante por um motivo diferente. — Mmm. — ele murmurou enquanto mordiscava meu lábio inferior. — Mas vale a pena. — sua coxa deslizou entre as minhas pernas, separando-as para que ele pudesse deslizar entre elas. Dessa vez, eu não vomitei. Dessa vez, quando acabou, ele me puxou para a curva de seu corpo novamente e nós adormecemos, emaranhados um no outro. E quando eu acordei, eu sabia que estava com Ben e não Grady. Eu tinha medo de esquecer, que as minhas memórias colidissem com a realidade e eu realmente magoasse Ben por não lembrar que eu estava em sua cama. Mas eu despertei com o cheiro familiar de Ben enchendo minhas narinas, não do Grady. E foram as pernas magras e mais longas de Ben que se sobrepunham às minhas, e não as do Grady.

Acordei com um claro sentido de quem eu era e o que tínhamos feito. E eu estava bem. Quase. Ben nos fez um grande café da manhã de ovos e batatas com torradas. Descobri que Pop-Tarts não era a única coisa que ele sabia fazer. Nós rimos e conversamos entre o café compartilhado e sentimentos deliciosos de formigamento do que havia acontecido na noite passada. Quando ele me acompanhou até minha porta, ele me beijou com o conhecimento de um homem que conhecia meu corpo intimamente. — Eu vou passar aqui mais tarde. — disse ele. — Ok. Para o jantar? — Sim. Com uma mão na maçaneta da porta, eu virei para ele e pisquei à luz do dia. Eu não tive coragem esta manhã. Eu não consegui dizer as palavras novamente. Elas batiam no meu estômago, enchiam meu peito com ácido. Eu queria dizê-las. Eu queria acreditar que fossem verdade... Mas eu não podia. O dia estava muito brilhante, a manhã muito crua. — E-e-eu vou vê-lo mais tarde. — eu disse para ele no lugar. — Ok, Liz. Eu escapei para minha casa e fechei a porta atrás de mim, bloqueando Ben e os sentimentos e sensações que ele trazia com ele. Meus filhos me atacaram com gritos de mamãe e eu os peguei todos em um abraço e segurei-os firmemente contra mim. Emma estava sobre nós com uma expressão esperançosa no rosto. — Como foi?

Eu olhei para ela e pisquei para evitar as lágrimas que eu me recusava a deixar derramar. — Bom. — eu admiti. — Realmente, realmente bom. — ela sorriu, me cegando com seu brilho. — E ruim. — eu continuei a confessar. — Muito, muito ruim. As sobrancelhas franziram em confusão. — O que aconteceu? — Ele, uh, ele disse que me amava. — eu murmurei a última parte para que as crianças não ouvissem. Seus olhos ficaram enormes e sua boca caiu aberta. — E eu... hum, disse-lhe a mesma coisa. Se fosse possível, a expressão de Emma ficou ainda mais surpresa. — Oh, Lizzy. — ela sussurrou. Ela se aproximou de mim e me envolveu em um abraço apertado. Eu não chorei naquele momento. Eu não me permiti ter uma liberação emocional. Eu merecia essa dor. Eu merecia essa dor de cabeça. Ao contrário da doença e morte de Grady, eu tinha feito isso comigo. Meu coração parecia rasgado em dois. Uma parte iria ficar para sempre com Grady, leal ao meu primeiro amor e marido. A outra parte correu para Ben, para este novo amor. Emma me perguntou se eu estava bem, provavelmente quarenta vezes antes de ela me deixar para o dia. Eu disse a ela todas as vezes que eu ficaria. Eu não acreditava na minha mentira, e eu sabia que ela também não. No momento em que Ben chegou para o jantar naquela noite, eu estava nervosa. Ele entrou na casa sem bater. Ele vinha fazendo isso há um tempo, mas dessa vez aumentou a minha ansiedade. A porta da frente estava aberta naquele momento, mas mesmo que não tivesse, ele tinha uma chave. Ele tinha acesso à minha casa, minha família e agora ao meu coração. E eu simplesmente dei para ele.

Eu tinha dado tudo para ele. Como eu pegaria de volta? — Ben, quando é que você vai morar com a gente? — Abby perguntou em meio aos tacos. Eu derrubei o garfo. — O quê? — Eu perguntei para o Ben quando ele vai morar com a gente. — ela repetiu, como se não fosse a pergunta mais absurda do mundo todo. Ben riu, claramente mais tranquilo do que eu. — Por que você está perguntando isso, Abs? Blake lhe deu um chute por baixo da mesa. — Essa é uma pergunta tão estúpida. Por que ele moraria com a gente? Ele tem a própria casa. E tem uma piscina. A expressão de Abby brilhou com fúria, minha cabecinha quente que não conseguia controlar o temperamento. — Não é uma pergunta estúpida! — ela gritou para o irmão. — Ben ama a mamãe! Eu a ouvi dizer à tia Emma. Ele a ama! Então, por que ele não moraria com a gente? Pessoas que se amam devem viver juntas! — É diferente! — eu me apressei a falar com ela. — Algumas pessoas que se amam vivem juntas, mas outras vezes elas só moram... ao lado. — eu queria encarar meus feijões fritos. — Por quê? — Abby perguntou inocentemente. — Bem. — eu limpei a garganta e lutei para recuperar um pouco da minha compostura. — Às vezes as pessoas que se amam vivem juntas. Como nós. Eu te amo tanto que nunca vou querer que você se mude. Você pode morar aqui para sempre e sempre e sempre. — ela riu para mim e Blake gemeu. Os dois pequenos comemoraram essa ideia. — Mas, às vezes. — eu continuei. — As pessoas que se amam têm que viver separadas. Como sua vovó. Você ama a vovó Katherine, não é? — os quatro concordaram com entusiasmo. — Mas ela mora na casa dela e

vivemos na nossa. Isso não significa que nós a amamos menos, significa apenas que vivemos em lugares diferentes. — Mas quando você amava o papai, ele vivia com a gente. — Abby adicionou, oh, tão solícita. Meu coração caiu para o meu estômago. — Eu ainda amo o papai. Eu ainda o amo muito, Abby. Seu nariz enrugou com a confusão. — Eu pensei que você amava Ben. Eu fiz um som frustrado que atingiu meu peito. — Abby, você não devi ter ouvido isso. Você não pode simplesmente... — Liz. — Ben interrompeu com sua voz profunda e firme. Ele me deu um olhar suplicante para deixá-lo tentar. Eu voltei para o meu lugar e levantei minhas sobrancelhas para ele. Eu o culpava por isso. Isso era culpa dele. — Abby, você ama sua mãe? — Sim. — ela respondeu simplesmente. — E você ama o seu pai? Mesmo que ele não esteja mais aqui? — Sim. — ela sussurrou. — Você não acha que você vai amar o seu pai para sempre? — Sim. Para sempre e sempre. Ben sorriu carinhosamente para ela. — É assim que a sua mãe se sente sobre ele também. Ela o ama tanto que nunca vai deixar de amálo. E não queremos que ela deixe, não é? Nós queremos que ela sempre o ame. As crianças todas assentiram. Ben continuou, depois de tomar uma respiração profunda, — É fácil para você amar a sua mãe e seu pai? Mesmo que um esteja aqui e o outro não, você ainda pode amar os dois, certo? As crianças assentiram novamente. — Sim. — disse Abby.

— É assim que sua mãe se sente. Ela ama seu pai muito, muito mesmo. Mas ela também me ama. E mesmo que agora seu pai tenha ido, ela nunca vai deixar de amá-lo. Ela só também me ama agora. Não temos que limitar o número de pessoas que amamos. Nossos corações abrem espaço para tantas pessoas quanto permitirmos. Meu peito vibrou com suas palavras. Ele tinha explicado perfeitamente aos meus filhos. Todos eles compreenderam o que ele queria dizer e aceitaram sua explicação facilmente. Até eu achava fácil concordar quando ele colocava assim. Eu não queria aceitar que poderia ser tão simples; meu coração protestava que ele estava errado, mas eu não conseguia formular qualquer argumento para provar isso. — Então, você vai morar com a gente ou não? — Abby olhou seriamente para Ben, aparentemente de volta aos negócios. Ben olhou para mim. Ele viu minha expressão assustada e calculou meu pânico óbvio. Em seguida, ele ignorou toda a confusão em que eu estava e voltou-se para a minha filha e disse: — Um dia. — Logo? — disse ela. — Se eu conseguir. — ele disse a ela. Foi um milagre eu ter passado pelo resto do jantar. Eu fervia com frustração e raiva. Eu queria expulsá-lo da minha casa e lidar com ele mais tarde. Mas por causa dos meus filhos, eu lutei pelo resto da noite. Ben ficou por perto após o jantar e ajudou a colocar as crianças na cama. Ele tinha que saber que eu estava chateada com ele, mas ele não parecia se importar. Pelo menos não o suficiente para sair sem eu dizer que ele precisava. Eu dei abraços e beijos longos e extras nas crianças, escapando para os seus quartos para que eu pudesse evitar Ben o máximo possível. Ele

desceu depois que as crianças escovaram os dentes, então eu tive alguns minutos antes de precisar encará-lo. Eu fui para o quarto de Blake por último porque era mais próximo da escada. Encontrei-o deitado de costas com as duas mãos enfiadas debaixo de sua cabeça. Ele estava olhando para o teto em um pensamento profundo. Não foi até que eu me sentei ao lado dele, que ele olhou para mim. — Você realmente ainda ama o papai? — ele perguntou em voz baixa. Seus olhos verdes brilhavam com lágrimas que ainda não tinham caído. — Sim. — eu prometi imediatamente. — Mais que qualquer coisa. — Ben realmente vai morar com a gente? — Não! — eu me apressei para assegurar isso. — Não ele não vai. Ben vai continuar na casa dele e nós vamos ficar na nossa. Ele inclinou a cabeça para olhar para mim. De alguma forma ele tinha passado pela terceira série, fez nove anos, foi a estrela da equipe de futebol e se tornou o homem da casa durante o ano passado. Ele não era mais o meu bebê. Ele tinha amadurecido. Ele tinha se tornado uma criança que me deixava muito orgulhosa. Ele tinha se tornado uma criança que deixaria o pai orgulhoso. — Estaria tudo bem para mim, mãe. Se ele se mudasse. As palavras de Blake me chocaram profundamente. — Ele não virá, Blake. Por favor, não se preocupe com isso. Isso não vai acontecer. Ele não vai se mudar. — Ok. — seu olhar voltou para o teto e eu pude ver o desapontamento escrito por todo o seu corpo. Ótimo.

Eu beijei sua testa e desliguei o abajur. Parei de sentir raiva de Ben. Em vez disso, eu senti algo incrivelmente pior. A verdade do que eu precisava fazer. O peso do meu relacionamento com Ben me pressionava e ameaçava me esmagar. Eu perdi Grady com uma dor feroz que fraturou meu coração e alma. Eu não podia ter esses dois homens. Eu não podia ter qualquer um deles. Eu desci as escadas e encontrei Ben descansando no sofá. Ele estava esticado, passando os canais com uma das mãos apoiadas atrás da cabeça. A imagem dele me lembrou tanto o Grady que meus joelhos quase dobraram. Seus olhos se levantaram assim que me viu. Um sorriso brincalhão dançava em seus lábios e seus dedos giravam no controle remoto casualmente. Este homem nunca deveria ter se apaixonado por mim. Eu só ia destruí-lo. — Ei, você está bem? — ele sentou-se enquanto eu me dirigia a ele. A tensão escoou pelos seus ombros e endireitou sua espinha. — Não. — eu disse a ele honestamente. Ele ficou de pé e fechou a distância entre nós. — O que está errado? Eu engoli em seco e falei a verdade: — Eu não posso mais fazer isso, Ben. — Fazer mais o quê? — Nós. — Liz... — Eu não posso. — eu solucei. — Eu não posso ficar com você. Eu não posso te amar. Temos que parar.

— Não, você tem que parar. — sua voz se transformou em cascalho áspero, arrastando pelo meu coração. — Como você pode dizer isso? Depois da noite passada? Depois de tudo o que passamos? — Depois de tudo o que passei, você quer dizer! — eu lutei para manter minha voz baixa o suficiente para não acordar as crianças. — Eu não queria isso, Ben. Eu não pedi para você vir para a minha vida e me fazer gostar de você. Eu não pedi para você se tornar uma parte das nossas vidas e assumir de onde meu marido parou. — Liz, você sabe que eu nunca tentei assumir o lugar de Grady ou ser o que ele era para vocês. Eu nunca lhe pedi para ignorar ou esquecêlo. Isso não é justo. Eu continuei como se ele nunca tivesse falado. — E agora, meus filhos estão pedindo-lhe para morar com a gente! Você não pode substituir o pai deles! Você não pode simplesmente entrar e preencher o vazio que ele deixou para trás! — Eu não tentei fazer isso nem uma vez! — ele rosnou para mim. — Pare de transformar isso em algo que não é. — Então o que é? — eu gritei para ele. Eu balancei a cabeça e abaixei a minha voz de novo. — O que é isso? O que é isso? — Isso somos nós, Liz. — ele me implorou. — Somos eu e você. Estamos descobrindo aos poucos. Nenhum de nós esperava por isso, mas aconteceu. Nós precisamos um do outro. Nós... Nós nos amamos. — E daí? — eu disse cruelmente. — Onde é que isso nos deixa? Onde isso vai parar? — Liz... — Você não pode morar com a gente. Então, isso está fora de cogitação. Eu

não

vou

casar

novamente. Então

isso

também

é

indiscutível. Não podemos ser nada além do que somos agora, é o suficiente para você?

— Não. — sua resposta foi tão imediata e contundente que eu pulei. — Veja! — Não, eu não vejo. Por que não podemos morar juntos, Liz? Por que não podemos nos casar? Que diabo está nos impedindo? — Eu! — Certo! — ele deu um passo mais perto de mim e eu senti a vibração da sua raiva ondular em torno de mim. — Você! Nada mais. Nada mais está no nosso caminho. Então me diga, me diga agora, por que você está colocando um fim nisso? — Porque eu não posso mais fazer isso! — eu chorei. As lágrimas do dia finalmente caíram quando meu mundo desabou ao meu redor, pela segunda vez na minha vida. — Eu não posso estar com você quando eu sinto tanto a falta dele que meu corpo dói! Eu não posso estar com você e fazer uma vida com você quando tudo que eu quero é que ele volte. Eu não posso ter intimidade com você quando são as mãos dele que eu imagino me tocando, quando é com o corpo dele que eu sonho. Eu não posso estar com você quando eu nunca vou deixar de amá-lo. — eu fechei os olhos para me livrar da imagem da expressão quebrada de Ben e da postura derrotada. Eu não podia suportar aquela imagem dele. Meu vizinho confiante, desafiante e autoritário tinha sido esmagado por mim. Eu fiz isso. Eu destruí o segundo homem que eu amei. — Eu não posso te amar quando eu o amo assim. — Você está falando sério? — ele murmurou. — Você cansou de tentar? — Cansei. Eu preciso. — eu abri os olhos e pisquei através das lágrimas. Eu o vi aceitar as minhas palavras, eu as vi sendo absorvidas. — Você não tem que fazer isso, Liz. Poderíamos passar por isso juntos. Eu poderia compartilhar essa dor com você e nós poderíamos passar por isso.

Eu balancei a cabeça e desferi o golpe final. — Você não pode me ajudar, Ben. Esta é a minha dor. Este é a minha tristeza. Não há nada que você possa fazer além me deixar. Ele acenou uma vez antes de reunir suas coisas e sair. Vi a porta se fechar atrás dele e senti a avalanche de sofrimento sobre mim. Minha barragem de sofrimento e tristeza rompeu novamente e eu senti a agonia de perder alguém que eu amava mais uma vez. Eu tropecei para o sofá e não me levantei pelo resto da noite. Eu não poderia enfrentar minha cama de novo, não depois da noite que tive com Ben. Eu não poderia enfrentar o lado vazio do Grady da cama e chegar a um acordo com o que eu tinha feito. Eu me enrolei no sofá, no lugar que Ben tinha acabado de ocupar e chorei como louca. Eu fiquei lá até que não houvesse mais lágrimas, até que a depressão me embrulhou com suas garras esqueléticas e me levou para o túmulo que tinha sido lentamente preparado para mim. Foi meu marido que morreu, não eu. Mas não parecia dessa forma esta noite. Não sem Ben para me ajudar a passar pela dor. Não sem este novo amor para suavizar os golpes duros e implacáveis. Nós tínhamos sido tão ativos neste verão, mas depois daquela noite, eu parei de me mover. Deitei no sofá por dias. Meus filhos correram em volta de mim e Emma veio para ajudar a cuidar deles, mas diferente de antes eu fiquei imobilizada. Nem uma vez eu fui para o meu quarto ou olhei para a minha cama novamente sem me sentir intensamente mal do estômago. Nunca mais eu passei pela casa de Ben sem queimar com nova dor e sofrimento. Eu não parei simplesmente de tentar. Eu parei de viver.

Fase Cinco: Aceitação

Grady estava morto. Grady não ia voltar. Estas eram as verdades que eu tinha começado a aceitar. Precisou algum tempo, mais de um ano, mas eu finalmente atingi o estágio onde eu podia aceitar esta verdade devastadora. Levei muito tempo para chegar aqui e eu aprendi muito sobre mim ao longo do caminho. Houve momentos em que eu não acreditei que eu iria chegar a este ponto. Houve momentos em que eu estava convencida de que iria morrer primeiro, momentos em que eu soube que esta dor iria me matar. Houve momentos em que eu quis. Mas, apesar do meu sofrimento e dificuldades, eu, milagrosamente, passei por isso. Isso não significava que estava tudo fantástico agora. Não significava que eu me sentia ótima o tempo todo e que a vida era fácil. Realmente não significava que eu superei completamente e estava bem com o que aconteceu com Grady. Eu

não

estava. E

eu

ainda

sentia

falta

dele

ferozmente. Diariamente. Toda hora. Minuto a maldito minuto. Eu sentia falta de seu toque, seu sorriso, sua risada. Sentia falta do cheiro dele embrulhado em nossos lençóis. Eu sentia falta de vê-lo passar pela porta depois de um longo dia de trabalho. Sentia falta de sua presença na mesa de jantar e da maneira como ele fazia cada um de nossos filhos se sentir especial e amado. Sentia falta dele. Sentia muita falta dele.

Mas eu aprendi a viver sem ele. Eu aprendi a aceitar que ele se foi. E eu aceitei sua ausência. O luto não fica mais fácil. Foi algo que eu aprendi ao longo deste processo. Não ficava mais fácil, mas diminuía em intensidade. Enquanto eu superava a morte de Grady, eu pensava menos sobre ele, eu sentia menos... falta dele. Mas quando eu pensava sobre ele, a dor ainda estava lá, o desgosto era sempre tão forte. Talvez isso não faça sentido se você nunca perdeu alguém, mas eu não tinha certeza se algum dia poderia pensar em Grady e o nosso pouco tempo juntos sem chorar. Não tinha certeza se algum dia veria os nossos filhos crescer sem ele lá para vivenciar e sem odiar sua ausência. Não tinha a certeza se algum dia não sentiria falta dele. E essa é a verdade sobre perder alguém que você ama. Sempre dói. Sempre. O mesmo sentimento é verdadeiro sobre Ben. Eu o perdi também. E quanto mais eu tentava viver sem ele mais profundamente eu percebia quais eram os meus sentimentos por ele. Eu não podia aguentar essa dor. Não conseguia adicionar essa perda a de Grady e respirar durante o dia. Era muito. Grady tinha que ir. O mundo, sua doença e destino decidiu que não havia outra escolha. Mas fui eu que bani Ben e eu tinha medo de ter que lidar com essas consequências para o resto da minha vida miserável. Eu sentia falta de Grady. Mas eu sentia falta de Ben também. E a ausência de Ben era algo que me recusava a aceitar.

Capítulo Vinte e Seis — Mamãe! Eu tenho um projeto de ciências! — Abby gritou da entrada, onde ela se ajoelhou procurando na mochila depois da escola. Eu já tinha acomodado Blake com a sua enorme quantidade de trabalhos de casa na ilha e Lucy tinha fichas para trabalhar. Ela não tinha parado de falar desde que passamos pela porta, não esperou tão pacientemente que eu terminasse com Blake. Quando foi que o quarto grau de matemática ficou tão difícil? E por que eu não era inteligente o suficiente para estes problemas de história? — Que tipo de projeto de ciência, Abigail? — eu já tinha decidido que, se o projeto levasse mais tempo do que dez minutos, eu ia ter que vendê-la no eBay. Talvez eu pudesse usar o dinheiro para pagar um professor de matemática para ajudar Blake terminar a escola primária. Sua cabeça vermelha saltante entrou na cozinha e ela ergueu uma folha de instruções datada de uma semana. Mentalmente fui para o navegador da internet. Provavelmente encontraria um comprador imediato. — Eu tenho que fazer uma coisa. Em um vertebrado. — O que é uma coisa? — O que é um vertebrado? — Jace repetiu. — Um diafragma.

— Diorama19. — eu corrigi rapidamente. — Você tem que fazer um diorama. — Tanto faz. — ela leu a folha de papel. — E eu tenho que escrever um relatório. Tomei as instruções dela. — E colorir uma imagem. O que há de errado com a sua escola? É muito trabalho! Vocês todos têm muito trabalho! Eu decidi, a partir de amanhã, vamos estudar em casa. Blake riu. — Mas aí você não tem que fazer todo o trabalho? — Já que você é tão esperto, talvez você pudesse ensinar. — ele bateu o lápis em sua lição de matemática psicótica. Eu soltei um grito de frustração. — Ok, nós vamos precisar dividir e conquistar. Abby, o seu vertebrado é um macaco. Não discuta comigo. Lucy, vai buscar o Mr. Puddles. Essa instrução causou uma revolta dos selvagens. — Abby, eu não me importo se você quer levar o Mr. Puddles ou não! Esse é o único modelo que eu posso pensar em usar. Lucy, você tem que compartilhar com sua irmã! Ela vai trazê-lo de volta! Jace, saia da mesa! Eu queria me enrolar em posição fetal no chão, mas isso não ajudaria a resolver qualquer um destes problemas. Eu acalmei as crianças com gritos para que eu pudesse trabalhar e era sempre uma ferramenta eficaz. Eles foram para seus cantos da casa para pegar uma caixa de sapatos, uma estatueta de macaco magra, que Lucy chamava de Mr. Puddles depois que ela o derrubou, e eu fui para o computador para fazer uma pesquisa no Google por fotos de macacos para imprimir. — Blake, eu já volto! Faça o que der conta! — Eu entendi! — ele gritou de volta.

19

Diorama é um modo de apresentação artística tridimensional, de maneira muito realista, de cenas da vida real para exposição com finalidades de instrução ou entretenimento.

Pareceu demorar uma eternidade para imprimir as fotos de macaco. Meu computador era lento e a minha impressora não se conectava sem fio. Até o momento que eu tinha algo para Abby usar, os meus filhos, provavelmente, já conheciam todos os palavrões. Com as imagens impressas e seguras vitoriosamente em minhas mãos, eu saí do escritório e as derrubei pelo chão da entrada. Ben estava na porta, parecendo um pouco em pânico e mais do que um pouco confuso. — O que você está fazendo aqui? — eu fiquei totalmente sem fôlego quando o vi. Se possível, ele parecia mais lindo do que nunca. E de perto seu belo rosto fez meu coração e estômago tremerem. Eu só o via de longe há dois meses. Olhava-o buscar a correspondência ou cortar a grama do seu quintal. Observava se o carro estava por perto nos fins de semana ou se ele tinha algum encontro. Claro, eu nunca sabia se ele tinha um encontro ou não. Mas eu gostava de especular. Às vezes eu fazia Emma vir apenas para que pudéssemos especular juntas. Ele tinha deixado a barba por fazer crescer áspera, que combinava com ele. Ele estava com óculos de armação grossa que eu não conhecia e suas roupas estavam mais enrugadas do que me lembrava. No todo, ele parecia uma bagunça. Não que meu rabo de cavalo solto e calça de moletom fossem melhores. Era apenas chocante vê-lo tão... desgrenhado. — Eu recebi uma mensagem. — ele levantou o telefone para que eu pudesse ver a tela. — Você disse que era uma emergência. — Eu não te enviei uma mensagem.

Sua sobrancelha arqueou. — Liz, eu estava em uma reunião. Corri para cá. Eu fui rude com um cliente. — Ben, eu sinto muito. Eu... Não fui eu. — Fui eu. — a pequena voz veio da porta da cozinha. Blake estava pálido. — Eu não sabia que você estava ocupado. Eu sinto muito. Ben olhou de mim para Blake e depois voltou novamente. — Por que você me mandou uma mensagem, Blake? O que você precisa? — Preciso de ajuda com meu dever de casa e minha mãe está ocupada. Ela está muito ocupada e fica xingando. Eu só queria facilitar para ela. O olhar de Ben voltou para o meu. — Você fica xingando? Eu me senti traída pelo meu filho mais velho. — Palavras apropriadas para menores! Nada pior do que isso. Ben e Blake me olharam com incredulidade. — Eu atrapalhei o seu trabalho? — Blake perguntou com um leve tremor em sua voz. A expressão de Ben quebrou e um sorriso finalmente apareceu no seu rosto. — Não, não, você não atrapalhou. Eu só fui rude com o meu cliente, porque ele estava sendo um idiota comigo. Eu vou fazer as pazes com ele amanhã. Ele vai superar. Se precisa de ajuda com o seu dever de casa, eu posso ajudá-lo. Então, nós dois vamos ajudar a fazer o jantar, e sua mãe para de xingar. — Eu não estava xingando na verdade! — Isso é incrível! Obrigado, Ben! Blake desapareceu na cozinha enquanto eu abaixei para juntar as fotos espalhadas. — Você não tem que ficar, Ben. Tenho tudo sob controle.

— Tenho certeza que sim, Liz, mas se você não se importa, eu gostaria de ficar. Eu blindei meu nervosismo e encontrei seu olhar esperançoso. — Você gostaria? — Eu senti falta das crianças. — admitiu em um longo suspiro. — Demais. Já pensei em vir aqui, pelo menos uma centena de vezes para vêlos, mas eu não queria piorar as coisas. — Oh. — Ben! — Lucy gritou da escada. Ela pulou quatro degraus e correu para os seus braços. — Ben! Ben! Ben! Abby seguiu e Jace correu também. Eles atacaram-no com abraços, gritando seu nome e pulando para cima e para baixo. — Você vai jantar com a gente? — Abby perguntou animada. — Eu vou fazer o jantar para vocês. — ele disse, o que elevou o nível dos gritos. — Ok, se acalmem! Saiam ou o Ben não vai voltar! — tentei tirar meus filhos de cima dele, mas eles não cooperaram. — Você quer dizer que ele pode voltar? — Lucy colocou os braços em volta de mim em agradecimento por tirar Ben do exílio. Oh, meu Deus. O que eu tinha feito? — Se ele quiser. — eu disse a ela. Ela olhou para mim com os olhos verdes brilhantes e disse: — Ele quer! Eu sei que ele quer! Acenei com a cabeça e sorri para ela. Eu não achava que ele queria, mas eu não podia dizer isso para ela. — Vá ajudar Abby a encontrar os lápis de cor. — Jace galopou atrás dela. Quando sobrou apenas Ben e eu e milhas e milhas de distância entre nós, eu disse: — Você não tem que vir.

— Eu sei. — respondeu ele. — Você não tem que ficar. — Eu sei disso também. Ele enfiou as mãos nos bolsos e ficou ali estoicamente. Ele não fez nenhum movimento em direção à cozinha, mesmo que as crianças estivessem chamando seu nome. Ele me observou em vez disso, sem dizer nada, sem parecer querer dizer nada. O silêncio era demais para mim. Eu não conseguia olhar para ele sem preencher este espaço que nos separava de alguma forma. — Como tem passado? — eu estava chocada com o quanto eu queria tocá-lo. Eu tinha terminado com ele em uma tentativa de acabar com a minha mágoa, mas acabar as coisas com Ben apenas piorou a dor. Eu era uma bagunça antes de Ben, mas agora... agora eu era um desastre. Talvez, vistas de fora, as coisas tivessem começado a entrar nos trilhos. Conseguíamos chegar à escola no horário este ano. Eu não esqueci tantas atividades escolares. O jantar tinha caído em uma rotina. Meus filhos escovavam os dentes duas vezes mais do que no ano passado. Mas internamente... internamente eu estava uma pilha de cinzas. Eu estava quebrada, pedaços irregulares que cortavam e rasgavam e danificavam tudo o que tocavam. Uma de suas sobrancelhas se ergueu em desafio à minha pergunta fútil. — Como é que você está, Liz? Limpei a garganta e bani o tremor que ameaçou escapar. — Oh, você sabe... levando. Ele deu quatro passos para frente até que ele estava apenas a alguns centímetros de distância de mim. Seu olhar escuro, tempestuoso me bateu com a força de um furacão. — Mentirosa. — acusou.

Meus lábios entreabriram, algo prestes a sair deles. Eu só tinha que pensar o que antes! Ele se afastou de mim e entrou na cozinha. Olhei para as costas dele e decidi que provavelmente foi melhor assim. Eu não sabia o que eu teria dito. Eu duvidava que fosse algo bom. Ou talvez tivesse sido a verdade. Eu sentia falta dele… Eu precisava dele... Eu não sabia como conciliar os meus sentimentos em relação ao meu marido e os dele, mas eu queria tentar de novo... Esses pensamentos me assustavam mais do que qualquer coisa. Então, como a profissional que eu era, eu enterrei esse pensamentos o máximo possível e fui ajudar Abby com seu projeto de ciências. Enquanto Ben ajudava Blake com seu dever de casa e conversava com as crianças sobre a escola e o resto do verão, eu fiz o melhor diorama maldito de macaco que este mundo já viu. Ok, provavelmente era um B+. Mas nós tentamos. Eu trabalhei com Lucy em suas fichas, enquanto Ben e Blake fizeram o jantar como prometeram. Nós nos reunimos para sanduíches de queijo grelhado e sopa de tomate como uma família com a adição de nosso distante vizinho da porta ao lado. — Como estão seus pais, Ben? — perguntei sobre o riso das crianças. Ele olhou para cima, de onde tinha acabado de pintar o nariz de Abby de vermelho com sopa de tomate. O sorriso largo que ele mostrava morreu quando ele olhou para mim do outro lado da mesa. Seus ombros pararam de tremer com a risada e toda a sua atitude ficou séria. Ele me odiava.

E por que não deveria? — Eles estão bem, Liz. Ok, essa tentativa de conversa foi um fracasso. Aparentemente, ele não queria facilitar para mim. — Como está o trabalho? Ele respirou paciente e disse: — Está bem, também. Eu era teimosa demais para desistir. Eu deveria ter parado, mas eu não podia. — O projeto de arte de Lucy vai ser apresentado na feira de arte da escola no próximo mês. Seu olhar nivelou com o meu. — Eu sei. Emma me disse. Traição afiada e cortante me preencheu. — Emma? — Sim, Emma. — Quando você falou com a minha irmã? Ele se inclinou para frente, apoiando os cotovelos sobre a mesa. — Liz, Emma e eu nunca paramos de nos falar. Nós ainda somos bons amigos. — Ela nunca disse nada. — eu não podia acreditar que minha irmã tinha escondido isso de mim esse tempo todo! Eu a fiz vir e comer caixas de chocolate comigo apenas para que eu não tivesse que enfrentar isso sozinha e esse tempo todo ela tinha falado com ele? — Provavelmente, ela estava com medo de sua reação. Eu olhei para ele. — Eu não teria reagido. — Você pode ser muito irracional. Provavelmente, ela não queria arriscar. Ele tinha um pouco de razão. Mas eu não queria que ele soubesse disso. — Ela é minha irmã. Vou amá-la não importa o lado que ela escolher.

— Isso é engraçado. — disse ele com a expressão mais seca do que nunca. — Porque eu me sinto exatamente da mesma maneira sobre a sua irmã. O fôlego ficou em meus pulmões e eu quase derrubei minha tigela de sopa. — Bem... — Quem quer sobremesa? — ele perguntou em voz alta. — Eu vi picolés no congelador! Vi meus filhos saltarem ao redor das suas pernas, enquanto ele pegava as caixas de picolés, todos, exceto Blake que estava sentado à mesa, pensativo olhando a empolgação. Ben tratava cada criança pacientemente, certificando-se de que voltasse para a mesa com sua sobremesa gelada e tinha tudo o que precisava. Ele estendeu a caixa para Blake e depois puxou, assim quando Blake foi pegar um. Talvez tivesse sido um pouco brega, mas Ben fez Blake sorrir e isso era tudo o que importava. — Liz? — ele estendeu a caixa para mim. — Você quer um? — Não, obrigada. — Eles parecem muito bons. — ele empurrou. — Pode ajudar a refrescar você. — Eu não estou quente. Ele me deu um olhar ardente. — Você tem certeza sobre isso? Estendi a mão para pegar um de laranja. Os meus filhos tinham perguntado sobre Ben todos os dias desde a nossa “separação”. Essa palavra... toda essa ideia... Término. Parecia tão infantil em comparação com o que realmente aconteceu. Nós não terminamos. Eu terminei as coisas entre nós e coloquei o meu mundo em chamas, queimando o pouco que restava até as

cinzas. Tirei Ben das nossas vidas e vi meu coração me abandonar completamente. Ele nunca tinha sido meu namorado. Namorado era uma palavra usada para mulheres que nunca tinham passado pelo mesmo que eu. Para as mulheres que ainda acreditavam no amor. Para as mulheres que ainda acreditavam em felizes para sempre. Eu era muito esperta para pensar isso. Ben tinha sido meu salvador. Ben tinha sido o fôlego em meus pulmões. Batidas de volta ao meu coração. Volta do sangue às minhas veias. Ben

foi

encontrar,

em

vez

de

perder. Lar,

em

vez

de

abandono. Vida, em vez de morte. E, no entanto, ainda havia muito entre nós... muito que nos mantinha separados. Eu não podia simplesmente seguir em frente com ele. Eu não poderia esperar que meus filhos seguissem em frente. Ben não era a resposta para todos os meus problemas. Ele poderia ter aliviado a carga, mas não a levaria embora. O jantar terminou e eu enxotei as crianças para o andar superior para os banhos. Mas eles não foram antes de dar um abraço no Ben. A visão de três deles agarrados em suas pernas e cintura torcia as minhas entranhas. Talvez as crianças não precisassem seguir em frente antes que pudessem aceitar Ben. Talvez ele tivesse razão. Nosso coração só aceitava novo amor pela expansão, não por ser exclusivo. Blake não o abraçou ou pulou em cima dele, mas ele se aproximou para perguntar quando ele voltaria. — Você precisa de mais ajuda com matemática? — Ben nem sequer olhou para mim para ver se eu aprovava. Eu teria lhe dito para não se preocupar com ele, mas ele não olhou para mim. Ele olhou diretamente

nos olhos de Blake e deixou a minha resposta mais antiga por conta própria. — A mãe não é muito boa em matemática. — Blake confessou. — Eu sou sim. — eu disse a ninguém, porque ninguém estava prestando atenção em mim. — Eu vou voltar amanhã, certo? A boca de Blake se dividiu em um sorriso grande de dentes. — Sim. — ele estendeu a mão para Ben e eles fizeram aquela coisa boba de bater que eles inventaram durante o verão. — Tudo bem, patinhos, subam as escadas! Vão tirar o picolé desses dentes! — depois de mais alguns minutos de disputa, eles finalmente ouviram. Fui acompanhar Ben até a porta. Nós estávamos sozinhos de novo depois de várias horas de crianças gritando e outras coisas para ocupar a nossa atenção. Eu não sabia o que fazer com ele, exceto empurrá-lo para fora da minha casa. — Obrigado por ajudar Blake. — eu disse a ele. — Nós teríamos resolvido, mas foi bom ter mãos extra. — Sabe o que eu fico lembrando? — Ben perguntou seriamente. Eu balancei a cabeça. Eu não fazia ideia. Eu não tinha certeza se queria saber. — Da vez que você tentou pagar a mais pelo nosso jantar no Sullivan´s. A garçonete ficava tentando te dar o troco e você tentando entregar-lhe mais dinheiro. Tudo faz sentido agora. Você não sabe adição. Uma risada surpresa borbulhou dentro de mim. — Eu sei adição! Eu estava confusa naquela noite! Eles fazem umas contas estranhas lá! E a lição de casa de Blake é simplesmente insana. É como se eles esperassem que os alunos da quarta série não tivessem nada melhor para fazer com seu tempo do que resolver problemas de matemática. Eu não aprendi essas coisas quando eu estava na escola!

— Você não tem um mestrado em educação? — Certo, olhe para você, advogado bem-sucedido e gênio da matemática. Parabéns por ser impressionante. — Eu sinto sua falta. — as palavras dele mataram o nosso riso. Assassinaram. Minha respiração parou no meu peito e qualquer pensamento coerente que eu tivesse desapareceu. — Ben... — Eu não vou pedir desculpas por ter vindo esta noite. — Eu não pedi que você fizesse isso. — E eu quero continuar vendo seus filhos. — ele continuou. — E você. Eu pensei sobre isso por meses, Liz. Pensei em vir aqui noite após noite. Eu pensei sobre o que você disse e o espaço que você precisava. Mas eu estou cansado disso, Baby. Eu estou tão cansado disso. — O que você está dizendo? — Eu quero fazer parte da sua vida. Do jeito que você permitir. Nós éramos amigos antes de qualquer outra coisa e se isso é tudo que você vai me dar, então que assim seja. Meu estômago tremulou, borboletas despertaram de um sono dormente. Elas esticaram suas asas na minha barriga e levantaram voo, levantaram os rostos para o sol pela primeira vez em meses. — Você quer que sejamos amigos? Ele riu sombriamente: — Não, Liz. Eu quero ser muito mais do que amigos. Mas se isso é tudo que posso ter, então vou aceitar. — Você devia seguir em frente. — eu implorei para ele. — Você é um grande cara. Há tantas mulheres por aí que gostariam de estar com um homem como você. Sua mandíbula ficou tensa e seus olhos aqueceram. — Eu não quero ficar com outras mulheres, Liz. Eu quero ficar com você. — eu abri a boca

para discutir com ele, mas ele levantou a mão e me parou. — Ouça, eu entendo que Grady foi seu primeiro grande amor. Eu entendo que você teve esse casamento incrível com ele e ele era sua alma gêmea. Eu entendo isso. E eu nunca ia querer que ele fosse qualquer outra coisa. Nunca. Eu tenho um respeito sem fim por ele. Por te amar da maneira que ele amou, por criar essas crianças surpreendentes. Eu não sei se algum dia estarei à altura do legado que ele deixou para trás. Eu não sei se quero. Mas Liz, ele morreu. E você ainda está viva. E ainda há tanta vida para viver. Eu quero viver com você. Eu quero ser uma parte de tudo o que resta para você, boa e ruim. Eu quero estar lá para os seus filhos, para os seus dias estressantes, para os seus dias impressionantes, para todas as suas noites e para cada momento no meio. Tentamos o tempo separados, mas ficamos melhor juntos. Nós dois. Sim, Grady foi o seu grande amor, mas você é o meu. E se você me permitir, eu serei o seu também. Não há limite para o quanto podemos amar, Liz. Você teve Grady. Agora tem a mim. — Ben, eu... — Perdoe-se, Liz. Dê a si mesma a liberdade de viver novamente. — ele colocou a mão na porta e a abriu. Eu não consegui impedi-lo esta noite. Eu nem consegui formular palavras para responder a esse discurso. Ele me deu um sorriso lento esperançoso e desapareceu no crepúsculo sonolento. Eu o vi atravessar nossos gramados sem olhar para trás. Ele disse tudo o que tinha a dizer. Ele fez seu ponto. E, como tantas vezes antes, ele desafiou tudo o que eu pensava e acreditava e, depois, pediu-me para acreditar também. Eu podia fazer o que ele pediu? Eu o amava o suficiente para nos dar uma chance? Uma chance de verdade, sem as paredes que eu tinha construído em torno do meu coração, ou os fantasmas da vida de Grady nos assombrando?

Eu poderia fazer o que ele pediu e desistir da existência enterrada que eu me condenei e viver de novo? Eu nunca esqueceria Grady. Ele era o meu verdadeiro amor. Mas talvez algumas pessoas estivessem autorizadas a ter dois. Talvez a minha história de amor não terminasse com um homem, mas continuasse durante todo o curso da minha vida. Talvez Grady amasse a mulher que eu era, mas Ben poderia amar a mulher que eu ainda tinha que me tornar.

Capítulo Vinte e Sete Eu puxei a van para o acostamento e desacelerei para estacionar. Eu não tinha vindo aqui tão frequentemente quanto deveria, mas este lugar tinha uma familiaridade especial que sentia cada vez que eu vinha. Virei-me no carro e fiquei sentada tranquilamente por muito tempo. Eu precisava enfrentar algo hoje que não queria necessariamente. Lápides se mostravam nas colinas em cada lado meu, formando linhas puras, uniformemente espaçadas. Os túmulos tinham vários tamanhos e formas, mas todos declaravam o mesmo evento triste alguém tinha morrido. Eu sempre achei lápides eram fascinantes. Raramente elas eram concebidas por aqueles que descansavam debaixo delas. Elas eram, de fato, projetadas a partir dos sentimentos de entes queridos que permaneceram vivos. Ou o parente vivo mais próximo. Ou talvez pelo Estado. Elas diziam o que nós queríamos. Representavam uma parte do falecido que decidimos que devia ser exibida. Grady e eu tínhamos conversado muito antes dele morrer. Tivemos horas

para

planejar

seu

funeral

enquanto

ele

definhava

no

hospital. Tivemos longos dias para tomar decisões sobre as crianças e seus futuros. Nós falamos sobre o passado, o presente e o futuro. Falamos em tons de esperança e desesperado. Sussurramos segredos e palavras doces um para o outro. E nos apoiávamos um no outro como se o nosso amor tivesse o poder de mantê-lo vivo, deixá-lo saudável novamente. Nem uma vez discutimos sobre sua lápide ou como ela seria.

Depois que ele morreu, foi a primeira coisa que percebi que tinha que fazer e não conseguiria fazer sem ele. O homem tinha me ajudado a planejar seu próprio funeral. Ele escolheu as músicas que seriam cantadas e as pessoas que ele queria que falassem. Ele escolheu os carregadores e o ministro do seu grupo mais próximo de amigos e parentes. E, no entanto, ele nunca tinha mencionado que tipo de lápide ele queria acima de seu corpo sem vida. Quando me sentei com o agente funerário e ele começou a fazer perguntas sobre o tipo de caixão que Grady gostaria de ser enterrado e o que a pedra deveria dizer, me perdi completamente. Emma e meu pai estavam lá para me segurar quando caí no chão e chorei. O agente deu uma caixa de lenços para a minha irmã e se retirou da sala. Era óbvio que ele tinha visto o seu quinhão de viúvas em luto. Levei mais de seis horas antes que pudesse decidir algo. Eu chorei o tempo todo. Eu simplesmente não podia tomar uma decisão tão séria para Grady sem ele. A cor da pedra... a forma... as palavras gravadas na superfície lisa... Não importava o quanto amasse aquele homem, não me sentia preparada para escrever sua mensagem final para o mundo. Mesmo agora, enquanto eu olhava para a pedra através do meu para-brisa, eu não gostava. Não era Grady. Era a minha dor e tristeza. As palavras não eram da boca de Grady; eram do meu coração partido. Este lugar não me lembrava Grady e a vida que tivemos juntos. Este lugar me fazia lembrar de perda e sofrimento. Lembrava-me de tudo o que tinha sido tirado de mim. Quando eu queria ver meu marido, eu olhava para os nossos filhos. Olhava para a casa que ele tinha construído para mim.

Eu olhava no espelho para a mulher que ele amava com tudo o que ele era. Esta manhã, eu tinha acordado com a necessidade desesperada de falar com ele. Eu me virei mais de uma vez na nossa cama e senti a pontada lancinante da sua perda mais uma vez. Ele não estava lá, mas não conseguia afastar o desejo premente de falar com ele. Eu tinha perguntas que precisava fazer. Eu tinha pensamentos que queria compartilhar com ele. Eu precisava dele aqui. Eu precisava dele. Só que eu não poderia tê-lo. Então eu tinha feito a única coisa que pude pensar. Liguei para Emma e pedi-lhe pela milionésima vez para ir cuidar dos meus filhos. Por uma fração de segundo eu tinha contemplado trazê-los comigo. Eu descartei a ideia, logo que Jace derrubou seu copo cheio de água no chão. Eu precisava de paz e sossego ou esta viagem seria para nada. Quando contei para a Emma o que eu queria fazer, ela cancelou seus planos e correu. Eu disse que ela não precisava fazer isso, mas ela apoiou completamente esta minha missão. Ela me falou isso, pelo menos, treze vezes. Com um suspiro pesado, eu abri a porta e entrei na manhã aquecida. Outubro era bonito na última semana. As grandes árvores sussurravam com folhas amarelas e alaranjadas brilhantes. A grama tinha virado marrom por baixo das camadas de folhas caídas. O ar cheirava futebol e colheita. Eu puxei mais o meu casaco em volta da minha cintura e me arrastei em direção a lápide de Grady. Não havia ninguém por perto nesta manhã de quinta-feira. Eu tinha o lugar completamente para mim. As únicas pessoas ao redor para me fazerem companhia eram os fantasmas de outras vidas.

Corri meus dedos sobre a parte superior áspera da lápide por alguns minutos, familiarizando com a sensação da superfície da rocha reluzente. Eu fui

para

frente

da lápide e

comecei

a

remover

cuidadosamente os galhos e folhas que estavam amontoados. Eu andei pelo comprimento do lugar e, em seguida, voltei para o final. Fiquei alguns centímetros da pedra e tentei forçar-me a ficar confortável aqui. Eu lutava para encontrar Grady neste lugar, senti-lo perto de mim novamente. Mas ele não estava aqui. Ele havia partido da terra há mais de um ano e não havia nada que eu pudesse fazer para trazê-lo de volta. Ele tinha ido embora para sempre. Eu podia aceitar isso agora. Finalmente me sentei. Coloquei meu casaco verde e longo debaixo de mim e me encostei à lápide. Minhas pernas esticadas na minha frente e peguei uma folha cor de ferrugem para triturar em pedaços. — Eu encontrei alguém. — comecei suavemente. Eu tinha muito a dizer, mas não estava com pressa para terminar. — Certo, na verdade, ele me encontrou. Ele é nosso vizinho. Sabe, naquela casa que levou uma eternidade para vender? Mudou-se cerca de seis meses depois que você se foi. Seu nome é Ben. — parei de falar para tentar ouvir uma resposta, algum sinal de que Grady pudesse me ouvir. O vento soprava, as folhas deslizavam ao longo da calçada, o sol brilhava no céu, mas Grady não me respondeu. Então continuei. — Eu acho que o irritei no início. Eu fiquei fora de mim por muito tempo, Grady. Eu não consegui. Eu era uma catástrofe ambulante. Um desastre após o outro. Ben... Ben entrou e limpou minha bagunça. Ele tornou a vida mais fácil para mim. Ele tornou-se alguém com quem eu poderia contar. E então ele se tornou meu amigo. E a partir

daí... Eu ainda não tenho certeza de quando isso aconteceu, ou como isso aconteceu, mas parece que me apaixonei. — Eu não queria que isso acontecesse. Na verdade, eu lutei por um longo tempo. E acho que ele também. Não é exatamente fácil se apaixonar por uma mulher que tem quatro filhos. Embora isso seja sua culpa. Todas aquelas crianças... do jeito que você queria. Além disso, eu posso ser muito difícil. Você sabia disso melhor do que ninguém. Então, eu não sei o que estávamos pensando. Ou se nós estávamos pensando. Eu acho que aconteceu tão sutilmente que nenhum de nós soube como impedir. — Você foi como fogos de artifício. É assim que penso quando me apaixonei por você. Uma explosão bonita após a outra. A primeira vez que você me beijou. A primeira vez que fez amor comigo. A primeira vez que você disse que me amava. Quando você me pediu em casamento. O dia do nosso casamento. Quando assisti você se tornar um pai e, em seguida, um grande pai. Cada passo que demos juntos foi monumental. Eu me apaixonei muito por você e simplesmente continuei me apaixonando. — fiz uma pausa para enxugar lágrimas pesadas. — Deus, eu sinto sua falta. Levei vários minutos antes que eu pudesse continuar. — Ben não aconteceu assim. Não houve fogos de artifício ou momentos épicos. Eram apenas nós, perdidos e vagando. Era como se estivéssemos nesta viagem, nós dois, mas separadamente. Até que um dia começamos a fazer esta jornada juntos. Nenhum de nós sabia onde estávamos indo de início. Não até que nos conhecemos e começamos a caminhar juntos. Então, de repente, eu soube que tinha um destino novo, uma bússola. Nosso amor aconteceu conforme as milhas passavam e nos sentimos um pouco menos perdidos. Foi o que aconteceu, quando a estrada tornou-se mais clara e menos solitária. Ele veio como um suspiro, uma respiração suave de esperança. Ele me aconteceu em meio a lágrimas e tristeza e sentindo tanto a falta que o meu corpo doía. Meu coração doía.

— Mas agora eu me machuco por um motivo diferente. Eu falei para ele sair e ele ouviu. Grady, eu te amo. Eu acho que nunca vou deixar de te amar. Eu não posso. Você é uma parte grande de quem eu sou. Mas, de alguma forma, eu o amo também. E acho que não posso viver sem ele. — Eu tive que desistir de você. Contra minha vontade. Mas não tenho que desistir de Ben. Não se eu não quiser. Se você não tivesse morrido, acho que eu jamais teria chegado a conhecer Ben. Eu acho que ele teria ficado como um vizinho, nada mais que um conhecido que passava. Eu acho que ele teria encontrado alguém para amar. E você e eu teríamos vivido os nossos felizes para sempre. — Mas você morreu. E Ben e eu queremos ficar juntos e conhecer um ao o outro. Grady, você é o amor da minha vida. Isso nunca vai mudar. Só que por causa de Ben, minha vida não tem que acabar. Talvez ele seja o amor da minha segunda chance. — Você não pode me dizer como se sente, mas acho que eu já sei o que você diria. E eu vou te dizer como me sinto, você podendo me ouvir ou não. Foi você que me fez prometer não deixar que a minha luz morresse. Você sabia que isso aconteceria? Você esperava que eu encontrasse outro homem? Ou você simplesmente sabia que a sua morte me atingiria nessa intensidade? Durante muito tempo, eu achei que não poderia fazer isso sem você. Agora eu sei que posso, e é por sua causa. — Eu vou tentar novamente com Ben. Vou ver aonde isso vai com ele. Eu não imagino que vá ser fácil. Eu ainda sou uma grande confusão. Eu ainda me sinto um pouco perdida. Eu ainda sinto a sua falta. Ainda te amo. Mas Ben torna tudo mais fácil. Ele me obriga a viver novamente e me faz sorrir. Ele preenche todas as rachaduras de quando você me deixou. Eu te amo, Grady. Eu sempre vou te amar. Só por favor... por favor, me perdoe por não amar só você. — Oh, Liz!

Eu me virei, tão surpresa ao ver alguém de pé na minha frente. Pisquei através das minhas lágrimas e para o sol e encontrei Katherine soluçando. Seus ombros tremiam com a força de suas lágrimas. Eu não sabia como não tinha notado antes, mas fiquei mais do que um pouco envergonhada de que ela pudesse ter ouvido o meu discurso para seu filho. Antes que eu pudesse me levantar, ela caiu ao meu lado e envolveume em um abraço apertado. Seu choro continuou profundo de esmagar alma. Segurei-a forte, recusando-me a deixá-la passar por isso sozinha. Finalmente, depois de mais alguns minutos, ela se afastou para olhar nos meus olhos. Seu cabelo grisalho grudou no seu rosto molhado e os fios da frente estavam presos nas suas bochechas. Sua maquiagem tinha escorrido e sua blusa encharcada agora era inútil. — Ele te perdoa, Liz. — ela falou chorando para mim. — Oh, querida, ele te perdoa. Ele nunca a manteria presa à morte dele, ou sentiria menos por você por causa de Ben. — Como você sabe? — meu queixo tremia e minhas lágrimas começaram de novo. — Porque Grady sabia o prêmio que você era. Oh, você devia tê-lo ouvido se gabar para mim. Ele só achava que o mundo eram vocês. Ele sabia que você tinha algo especial, algo que qualquer homem seria além de sortudo por ter. E ele sabia que a beleza em você não morreria junto com ele. — ela estendeu a mão e envolveu a minha. — Liz, Grady te amava o suficiente para querer que você continuasse a viver por muito tempo depois que ele se foi. E acho que ele aprovaria Ben. Eu acho que ele ficaria muito feliz por você. — Eu pensei que você me odiasse. — limpei meus olhos, mas foi inútil. — Por que você achava isso? — ela engasgou.

— Você nos viu no jogo na primavera e... e... Eu fiquei tão envergonhada. Trevor o odiou. Achei que você devia também! E me odiavam porque eu seguido em frente tão rápido depois que Grady morreu. Ela sacudiu a cabeça com força. — Não, não, nunca pensei qualquer uma dessas coisas. Qualquer que a conhece pode ver como foi difícil perdê-lo, e não apenas por causa dos seus filhos ou da casa, mas porque você está sofrendo. Querida, eu sei que você amava meu filho. Isso não mudou, porque você encontrou alguém. — Mas você realmente não falou comigo em meses! Eu pensei... Pensei que estávamos fazendo progresso até que Ben apareceu e então... — eu não podia dizer mais nada. Eu queria que ela preenchesse os espaços em branco. Ela soltou uma risada triste. — Eu fiquei afastada por Ben, não por causa de Ben. Ele parecia um homem tão maravilhoso e assim como Grady, eu pude ver o quanto ele significava para você. Eu não queria assustá-lo. Eu não queria que ele ficasse hesitante sobre o seu relacionamento, porque toda vez que ele estava por perto, a mãe do marido morto da sua namorada estava lá. Eu achava que estava fazendo um favor. Eu ri através das minhas lágrimas á medida que o alívio me inundou. Eu nunca poderia ter previsto essa resposta. Katherine era uma surpresa. Foi uma pena eu não descobrir isso antes de Grady falecer. — Ben não é assim. — eu assegurei-lhe. — Ele... ele não tem medo de ser lembrado de Grady. Ele não se intimida com a minha dor. Ele, de alguma forma, consegue me ajudar a lidar com a dor e adicionar mais à minha vida do que eu mereço. — Não, querida... — ela apertou minha mão, para que eu percebesse que estava falando sério. — Você merece toda a felicidade que puder encontrar. Isso inclui Ben. Se você acha que está pronta para algo com ele,

então eu acho que você deveria investir nisso. Ir tão longe e rápido quanto desejar. Seu felizes para sempre está longe de terminar. Corei, percebendo o quanto do meu discurso ela tinha ouvido. — Obrigada, Katherine. — Não, Liz, eu que agradeço. Obrigada por me manter em suas vidas e trazer alegria para a minha. Isso me deixa muito orgulhosa do meu filho, por saber que ele encontrou um tesouro. Nós nos ficamos lá por mais uma hora, falando sobre Grady e lembrando as pequenas coisas que ele tinha dito ou feito. Nós, provavelmente, parecíamos ridículas sentadas na grama dura, chorando nossas emoções. Mas não notamos qualquer outra pessoa. Éramos apenas Katherine, eu e a memória de Grady. Seu fantasma tinha ido embora e eu fui deixada com apenas as memórias calorosas de um homem que eu amava. No momento em que nos despedimos eu tinha um sorriso no rosto e esperança no coração. E também tinha tomado uma decisão. Ben estava certo. Eu não tinha que desistir do Grady para ficar com ele. Eu só tinha que estar com Ben e confiar que meu amor por ambos só tornava a minha vida melhor.

Capítulo Vinte e Oito Eu não tive que esperar muito tempo para ver Ben novamente. Ele foi naquela noite depois que chegou em casa do trabalho, assim como ele tinha dito que faria. Eu estava mais controlada do que a última noite. Eu tinha um plano para o jantar, sem surpresas na lição de casa e Emma tinha ficado tempo suficiente para tomar uma chuveirada. Meu cabelo estava preso, fiz a maquiagem e meus filhos estavam, em sua maioria, cuidados. Ele bateu educadamente e Abby correu para deixá-lo entrar. Eu me forcei a esperar na cozinha por ele. Eu queria falar com ele, mas eu não queria fazer isso na frente das crianças. Tínhamos coisas a falar que eles não precisavam ouvir. Ainda assim, eu tinha amolecido tanto, que eu não pude deixar de sorrir quando ele apareceu na minha frente. Ele foi direto até o balcão onde eu estava cortando vegetais e cumprimentou-me primeiro. Eu sorri para ele, notando que ele tinha feito a barba e suas roupas estavam mais arrumadas hoje. Ele sorriu e disse: — Ei. — Ei. Quer ficar para o jantar de novo? Ele inclinou a cabeça para o lado e tentou me desvendar. Boa sorte, amigo. — Eu estou convidado? Eu olhei de volta para as minhas cenouras picadas. — Acabei de convidá-lo. — Bem, então eu acho que depende do que nós teremos.

— Empadão de frango. — Parece melhor do que comida para viagem. — Depende. Que tipo de comida? Ele franziu a testa. — China Garden. Eu fiz uma careta. — Eu não sei se compete com a China Garden. Eles têm rolinhos primavera. Ele colocou os cotovelos no balcão e roubou uma fatia de cenoura. — Isso é verdade. — admitiu. — Mas você tem lição de matemática e leite com chocolate. Eu me inclinei para a frente, fechando uma parte do espaço entre nós. — Lição de matemática é um trunfo maior que as outras coisas. — Mmm. — ele concordou. — Eu deveria vir aqui mais vezes. — Você, provavelmente, deveria. — Ben, eu preciso da sua ajuda! — Blake gritou antes que Ben poderia absorver totalmente essas palavras. Nós dois mudamos para o modo de sobrevivência conforme a hora do jantar se aproximava. As crianças nos mantiveram ocupados e agitados durante toda a refeição. Não houve qualquer oportunidade para falar um com o outro, mas eu podia sentir seus olhos em mim o tempo todo. Ben podia sentir ou ver a mudança em mim, mas ele não sabia o que significava ainda. Ele distraiu as crianças enquanto eu limpava a cozinha e então já estava na hora de eles irem para a cama. Eu retirei uma compra que eu tinha feito na cidade hoje e a coloquei sobre o balcão da cozinha. Ele e as crianças tinham começado um jogo de forca na mesa de arte, mas quando o vinho apareceu, o foco de Ben imediatamente mudou. — O que é isso? — perguntou ele. O tom de flerte que estava usando toda a noite desapareceu. Ele não queria me provocar mais.

O vinho significava muito. — Eu pensei que, talvez, você queira ficar um pouco? Depois que eu levar as crianças para a cama? Ele se afastou da pequena mesa e ficou de pé. Suas pernas longas devoraram o espaço entre nós em poucos passos largos. Ele pegou a garrafa e leu o rótulo antes de abaixá-la de volta no balcão. — Quando você comprou? — Emma ficou com as crianças para mim hoje. Eu tinha algo que precisava fazer. — O que era? Olhei em seus olhos escuros e sustentei seu olhar com uma confiança que eu nunca tinha sentido perto dele antes. — Eu fui falar com Grady. Eu tinha algumas coisas para dizer para ele. — O quê? Eu sorri. — Você não quer esperar até depois que eu levar as crianças para cama? Nós teremos privacidade. Será mais fácil. Ele estendeu a mão e me agarrou pela cintura; a outra se firmou no balcão. — Não me faça esperar, Liz. Eu não quero esperar. Meu coração bateu freneticamente no meu peito e minha pele formigava onde ele me tocou. — Eu disse para ele que me apaixonei por você. Pedi o seu perdão, mas então eu percebi que não precisava dele. Você estava certo, Ben. Eu posso amar dois homens. Eu posso amar Grady sem me segurar com você. E eu posso te amar, sem traí-lo. Eu não quero mais que sejamos vizinhos. Eu nem sequer quero que sejamos amigos. Eu só quero amar você. Por quanto tempo você permitir. Ele lançou-se em mim, me esmagando contra o seu peito e me envolvendo com os braços. — Eu quero isso também. — ele murmurou contra meu pescoço.

As crianças irromperam em sons grotescos, não satisfeitos com a nossa exibição pública de afeto. Ele se afastou para dar-lhes um pouco de paz, mas manteve suas mãos nas minhas costas, me tocando. — Você quer fazer isso? — as sobrancelhas levantadas, sua expressão ficou séria novamente. — Você está disposta a lutar por isso? Não vai ser fácil. — Eu sei que não. — disse a ele. — Mas eu te amo, Ben. Eu não posso ficar longe de você. Eu não quero. Eu me perguntei por um longo tempo como o encaixaria na minha vida, nas nossas vidas. Agora eu sei que você é minha vida... tanto quanto as crianças e Grady. Você me trouxe de volta à vida. Você nos deu um futuro para ansiar novamente. Eu já perdi um homem que eu amava. Eu não posso perder outro. A palma da mão segurou meu queixo e seu polegar tocou a minha bochecha. — Eu te amo, Elizabeth Carlson. Por mais difícil e irritante como você possa ser, eu te amo mais do que eu amei qualquer coisa ou alguém. Estou com você nisto. Eu estou com você para sempre. Ele se inclinou e me beijou na boca lentamente. As crianças eclodiram com mais desaprovação e gargalhadas. Eu me afastei dele, com relutância, para dar-lhes um olhar mal humorado. Ele pressionou a testa na minha e sussurrou: — Vamos levar essas crianças para a cama. Temos mais coisas para discutir. Eu fiz um som necessitado e não fiquei nada orgulhosa disso, era altamente inapropriado, na frente dos meus filhos. — Mamãe, podemos ficar com Ben agora que você o ama de novo? Olhei para Lucy e senti meu coração encher-se até o topo com amor e carinho por todas as pessoas nesta sala. Eu não transbordava de amor há muito tempo. Minha tristeza e dor tomaram o banco traseiro destes belos sentimentos.

— Sim, Luce, podemos ficar com o Ben. E o Ben pode apenas ficar conosco também. — ele apertou minha lateral para me assegurar de que ele faria. Olhei para Blake, notando que ele tinha ficado em silêncio. — Blake, o que você acha, amigo? Você esta preparado para isso? Suas bochechas se aqueceram com vergonha, mas ele ergueu o queixo e nos deu um olhar corajoso. — Você está feliz de novo, mãe. Ben pode ficar pelo tempo que você quiser. Ben riu. — É uma boa resposta, de um bom homem. Eu poderia aprender uma ou duas coisas com você, garoto. Ben me ajudou a levar as crianças para o andar de cima e preparálos para a cama. Ele passou a noite comigo, na minha cama. Levou algum ajuste mental, mas... eu não vomitei. E nós não tivemos relações sexuais. Ele me segurou durante a noite e eu adaptei a um corpo ao meu lado. Um corpo que não era de Grady. Eu sabia que levaria tempo. Eu estava bem com isso. E Ben estava bem com isso. Ainda demoraria mais um ano para ele me pedir em casamento. Ele esperou até que as crianças estivessem dormindo e, em seguida, em uma noite quente, ele me levou ao meu quintal onde ainda ficavam as cadeiras, e ele ajoelhou-se diante de mim e me pediu para ser sua esposa. Eu estava pronta até lá. Eu ainda chorei e, mais tarde naquela noite chorei de novo e disse adeus ao Grady novamente, mas eu também disse sim para o Ben. Até então, ele conhecia meus pais, meus sogros e minha irmã tão bem, que eles eram a sua família também. E eu conheci os seus pais e os meus filhos também os conheceram e aprenderam a chamá-los de vovó e vovô. Na verdade, eles chamaram Sharon e Mark de avós muito antes de chamarem Ben de pai.

Nós nos casamos no meu quintal, uma cerimônia pequena, com apenas nossos amigos mais próximos e familiares. Passei o anel de Grady para um colar que eu nunca tirava, e Ben colocou seu diamante no meu dedo anelar como meu marido. Eu troquei o meu nome de casada pelo nome de Ben e fiquei orgulhosa de ser a Sra. Tyler, embora os meus filhos todos mantivessem o Carlson. Nós colocamos a casa de Ben à venda logo depois disso, porque ele sempre tinha planejado morar com a gente. Como ele disse, minha casa sempre pareceria um lar para ele. Sua casa era apenas uma casa. Mas decidimos manter a cama dele. Era importante que nós não mantivéssemos tudo exatamente do jeito que estava na minha casa. Ben seria o pai que veria meus filhos crescerem e o marido que envelheceria comigo. Ele me ajudaria a levar os meus filhos à faculdade e caminharia com minhas filhas pelo corredor quando elas se casassem. Ele que seguraria os meus netos e veria a minha já grande família se expandir. Ele seria a minha segunda chance no amor e felicidade e uma continuação do meu felizes para sempre. Mas o mais importante, ele seria sempre o homem que me deu a vida após a morte. O homem que me ajudou a atravessar as cinco fases do luto. Eu sempre amaria o Grady. Mas eu sempre amaria o Bem, também. Às vezes o amor não faz sentido. E estava tudo bem. Era muito melhor conhecer o amor e aceitar o amor do que tentar compreendê-lo.
The Five Stages of Falling in L - Rachel Higginson 1

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