E S T A C A S 3

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4.2.6 – ESTACAS TRADO VAZADO SEGMENTADO (hollow auger) A denominação em inglês “hollow auger” (trado oco ou vazo) refere-se ao tubo metálico dotado externamente de hélice cortante, utilizado como ferramenta de penetração no terreno. O processo é caracterizado por ser o trado composto por segmentos (daí a denominação trado vazado segmentado) com comprimentos entre 1,0m e 2,0m. A ligação entre segmentos pode ser pinada ou rosqueada. O diâmetro usual é de 30cm (12”). O primeiro segmento é vedado por uma tampa na ponta que é perdida por ocasião da concretagem. A tampa com anel de vedação impede a entrada de água. O processo é relativamente recente contando com poucas referências e histórico de aplicação. Por utilizar um equipamento de pequeno porte a solução é bastante versátil podendo se adaptar bem em espaços limitados como no caso de reforço de fundação. Outros fatores que fazem com que o processo se torne atraente ao se trabalhar em estruturas existentes ou nas proximidades destas são: • • •

Ausência de vibração Garantia de não descompressão do terreno Praticamente não produz de refluxo de escavação, como a lama nas estacas raiz.

De acordo com os procedimentos executivos da NBR-6122:

Características gerais A estaca trado vazado sementado é uma estaca moldada in loco, executada mediante a introdução no terreno, por rotação, de um trado helicoidal constituído por segmentos rosqueados com comprimento de cerca de 1,0 m e injeção de concreto pela própria haste central do trado simultaneamente à sua retirada. Perfuração A introdução do trado se dá de forma contínua, por rotação. O trado é dotado de uma tampa na sua extremidade inferior para evitar que haja entrada de solo ou água na haste tubular central. Colocação da armadura Após o término da perfuração e antes do início do lançamento da argamassa, procede-se à descida da armadura no interior da haste central do trado. A armadura pode ser montada em feixe ou em gaiola. Injeção de preenchimento A haste central é preenchida com argamassa, mediante bomba de injeção, através de tubo plástico. O preenchimento é feito de baixo para cima. A tampa é então aberta. Retirada do trado Após o preenchimento da haste central, inicia-se a extração do trado com emprego de perfuratriz, complementando-se o volume de argamassa por gravidade, sempre que houver necessidade. Sequência executiva Não se devem executar estacas com espaçamento inferior a cinco diâmetros em intervalo inferior a 12 h. Esta distância refere-se à estaca de maior diâmetro. 57

A NBR-6122 indica 5,0 MPa de tensão para determinação da carga admissível (Pa) das estacas trado vazado segmentado, na ausência de provas de carga. Para avaliação da carga estrutural (Pe) com armadura mínima (As=0,5% Ac), pode-se aplicar a expressão (4) com  = 20 = 2,0 ⁄  e  = 1,8 (Tabela 4 da NBR-6122). Para os diâmetros entre 25 cm e 40cm pode-se definir assim os seguintes valores de referência para pré-dimensionamento e estudos, notando-se que Pe > Pa:

58

4.2.7 – ESTACAS HÉLICE CONTÍNUA Trata-se de um processo no qual um trado vazado de grande extensão, acionado por equipamento com torque apropriado, perfura o terreno até a cota prevista, podendo passar por terrenos bem compactos (NSPT acima de 30), sem que o trado seja retirado. Mantendo-se a rotação no mesmo sentido da perfuração, o concreto é injetado sob pressão, pelo interior da haste, simultaneamente à retirada do trado. A extremidade inferior da haste é dotada de tampa que impede a entrada de solo e que é liberada no início da injeção de concreto. Uma vez concluída a concretagem a armação é inserida. Todo o processo é monitorado, através de sensores, registrando-se: profundidade, inclinação, velocidade da rotação, torque, pressão e fluxo de concreto.

Mesa rotativa

Trado em hélice contínua Haste vazada

Centralizador / Limpador

A pressão do concreto injetado é controlada de forma a se garantir que os vazios ocasionados pela extração da hélice sejam preenchidos. Como o trado não é retirado em momento algum até a concretagem, não existe a possibilidade de significativo alívio do solo e o processo pode ser empregado em solos coesivos ou arenosos na presença ou não de lençol freático. O processo apresenta alta produtividade e não produz expressivas vibrações ou impactos.

59

Na ausência de provas de carga , a NBR-6122 indica tensão de 5,0 MPa para determinação da carga admissível (Pa) das estacas hélice contínua. A carga estrutural (Pe) para armadura mínima (As=0,5% Ac), pode ser avaliada aplicando-se a expressão (4) com  = 20 = 2,0 ⁄  e  = 1,8 (Tabela 4 da NBR-6122). Para os diâmetros entre 25 cm e 100cm pode-se definir os seguintes valores de referência para pré-dimensionamento e estudos. Para efeito de comparação apresenta-se na tabela os valores usuais da carga de catálogo de alguns fornecedores. Observa-se que Pe > Pa , sendo os valores obtidos pela expressão (4) sempre maiores do que os valores de catálogo dos fornecedores.

(*) Cargas indicadas nos catálogos das empresas GEOFIX, ENGECON e GEOSONDA

60

61

4.2.8 – ESTACAS HÉLICE DE DESLOCAMENTO São estacas de concreto moldadas “in loco” pelo interior de tubo metálico, introduzido no terreno por rotação com auxílio de ferramenta com trado em hélice. São estacas de deslocamento pois o solo não é retirado e sim deslocado durante o processo de introdução do trado. Existem alguns processos diferenciados basicamente pela forma da ferramenta. Em alguns processos a ponta metálica é perdida e a colocação pode se dar pelo interior da haste antes de sua retirada. Prezzi & Basu (2005) – “Overview of Construction and Design of Auger Cast in Place and Drilled Displacemente Piles”- apresentam diversos processos de estacas hélice de deslocamento, reproduzindo-se a seguir as ilustrações deste artigo: Processos utilizando ferramenta com trechos de hélice em sentidos opostos.

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Estaca APGD

Auger Pressure-Grouted Displacement (estaca de deslocamento com trado grouteado pressurizado) - Patenteado por Berkel & Company,

Estaca De Waal

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Estaca Ômega

A

forma

do

parafuso

Ômega

foi

desenvolvida de tal maneira que o volume de solo transportado entre as pás da hélice ômega pode ser armazenado em cada nível para as diferentes seções da hélice parafuso. Por exemplo, o volume entre as pás da seção VI – VI da figura é igual ao volume entre as pás da seção V - V. Este solo é deslocado até atingir o nível do diâmetro nominal, sendo então compactado à lateral do furo.

64

65

Processos com deslocamento duplo (“dual-displacement”) – o solo é compactado na entrada e na saída do trado – a estaca resultante apresenta fuste em forma de hélice.

Estaca Olivier

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Estaca Atlas

A seguir material reproduzido do catálogo da empresa Franki:

67

Estaca Fundex

68

De acordo com a figura a seguir, os diâmetros para definição das áreas de ponta e fuste, necessárias para avaliação da capacidade de carga, por exemplo, via método de Aoki-Velloso, são: • Db =diâmetro da base; • Df = diâmetro do fuste; • Dt = Diâmetro máximo do trado;

No caso das estacas tipo Olivier e Atlas, o diâmetro nominal pode ser tomado como 0,9Dt . As estacas hélice de deslocamento são adequadas em condições intermediárias de resistência de solo, ou seja, não são capazes de vencer solos muito compactos e nem podem ser executadas em solos muito frágeis ou com vazios. As estacas podem atingir entre 25m e 30m de comprimento e apresentam como potencial inconveniente o efeito de deslocamento lateral do solo. A NBR-6122 indica para tensão admissível, na ausência de provas de carga, o valor de 5,0 MPa para as estacas hélice de deslocamento. Para efeito de comparação com os outros processos, apresenta-se a seguir os valores das cargas indicadas no catálogo (Pe) de estacas Ômega da empresa FUNDESP, comparando-se com as cargas admissíveis (Pa) para 5,0 MPa de tensão e estimativas de carga estrutural aplicando-se a expressão (4) com armadura mínima (As=0,5% Ac) ,  = 20 = 2,0 ⁄  e  = 1,8 (Tabela 4 da NBR-6122).

Observa-se que Pe > Pa , sendo os valores avaliados com a expressão (4) sempre maiores do que aqueles indicados pelo catálogo do fornecedor. 69

4.2.9 – ESTACAS BARRETE São originadas das paredes diafragmas, executadas com as chamadas “diafragmadoras”, equipamentos de grande porte e alta produtividade que, uma vez mobilizados, podem ser utilizados para execução de elementos de fundação profunda (módulos de parede diafragma) denominados barretes. A escavação é normalmente estabilizada com lama (polímero ou bentonita) e a concretagem é submersa após a introdução da armadura, de forma semelhante às estacas escavadas de grande diâmetro.

70

71

A NBR-6122 não destaca a estaca barrete, mas pode-se considerá-la uma estaca escavada com D>70cm. Neste caso, para determinar a carga admissível (Pa), a NBR-6122 indica, na ausência de provas de carga, tensões de 5,0MPa. Para avaliação da carga estrutural (Pe), pode-se aplicar a expressão (4) com armadura mínima (As=0,5% Ac) ,  = 20 = 2,0 ⁄  e  = 1,8 (Tabela 4 – NBR-6122). Para as dimensões indicadas no catálogo da Franki, tem-se então as seguintes cargas, com Pa sempre menor do que as avaliações de Pe .

72

4.2.10 – ESTACAS RAIZ É um processo desenvolvido e patenteado na Itália na década de 1950, originalmente utilizado para reforço de fundação, denominado “pali radice”. A partir da década de 1970, expirada a patente, o processo passou a ser largamente difundido e executado por diversas empresas. Utiliza-se perfuratriz para escavação que avança em tubo de revestimento metálico com circulação de água. No caso de rocha são empregadas ferramentas apropriadas, sendo possível atravessar matacões e/ou ancorar em rocha. Uma vez atingida a profundidade desejada a armação é inserida no interior do tubo. O tubo é preenchido com argamassa injetada por haste de baixo para cima, expulsando-se toda a água no interior do revestimento. Visando garantir a continuidade da argamassa e a penetração desta no solo durante a retirada do revestimento podem ser aplicados golpes de ar comprimido ou bombeamento da própria argamassa sob pressão (baixas: ~0,5MPa). Após o preenchimento, o tubo é recuperado.

73

Ferramentas: coroa diamantada, tricone e martelo de fundo pneumático DTH (down the hole)

Perfuratriz

Misturador e bomba de argamassa

Estacas raiz – fundações de pilar do elevado Gunnar Vingren – Belém - PA 74

O diâmetro nominal da estaca raiz corresponde a uma estimativa da estaca acabada em solo, sempre maior do que o tubo (camisa). No caso de perfuração em rocha, a ferramenta de corte deve passar dentro do tubo metálico e, neste caso, o diâmetro da estaca acabada é sempre menor do que a camisa, conforme ilustrado a seguir:

Considerando-se os diâmetros usuais, conforme indicado no Anexo L da NBR-6122/ 2010, tem-se as seguintes características geométricas:

Nos catálogos dos fornecedores constam cargas e armaduras, como ilustrado a seguir: 75

A tensão admissível indicada pela NBR-6122 (15,5MPa) é bastante alta resultando em carga admissível (Pa) maior do que a estrutural (Pe) com armadura mínima. Assim, no caso de estacas raiz, torna-se importante definir cargas estruturais para cada caso de armadura. Por exemplo, para uma estaca com 25cm de diâmetro nominal (Ac=490 cm2 -As), armadura 6 φ 20 (As = 6 ×3,14 = 18,8 cm2) a carga estrutural pode ser estimada com a expressão (3):

0,85 × 490 − 18,8  × 2,0 /  18,8  × 50 /   + ! 1,6 1,15  = = 760 1,4 "1 + 6#25$ Para os diâmetros nominais usuais, tem-se então as seguintes estimativas de carga estrutural, em função de armaduras usuais, observando-se a limitação da carga admissível (15,5MPa) e a taxa máxima de 6% para a armadura, indicada pela nota (c) da tabela 4 da NBR-6122: 76

77

1.170

2.050

2.470

3.040

10,6

12,1

18,8

29,5

45,3

177

201

314

491

755

150

160

200

250

310

410 1.320 79,2

450 1.590 95,4

500 1.964 117,8

760

490

310

270

180

6,8

113

120

2

(cm )

995

731

398

241

123

80

59

45

Pe (kN)

59,7

43,8

23,9

14,4

7,4

4,8

3,6

2,7

630

450

320

240

230

180

680

500

370

290

270

720

530

400

320

800

610

480

2.020 1.490 1.550 1.580 1.670

1.540 1.230 1.280 1.320 1.400

1.130 1.030 1.090 1.120 1.210

620

370

190

120

90

70

1.840

1.570

1.370

960

760

2.010

1.740

1.540

1.120

2.180

1.900

1.700

2.350

2.070

1.870

2.520

2.240

2.040

2.690

2.410

2.860

3.030

As,máx Pa (kN) 3φ 16 4φ 16 3φ 20 4φ 20 6φ 20 8φ 20 10φ 20 12φ 20 14φ 20 16φ 20 18φ 20 20φ 20 6,0%Ac σa =15,5 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 6,0cm 8,0cm 9,4cm 12,6cm 18,8cm 25,1cm 31,4cm 37,7cm 44,0cm 50,2cm 56,5cm 62,8cm 2 MPa (cm )

407 1.301 78,1

356

305

225

175

125

101

87

76

2

(cm )

A

ESTACA EM ROCHA

As,máx Pa (kN) D 6,0%Ac σa =15,5 (mm) 2 MPa (cm )

D (mm)

A

ESTACA EM SOLO

Estribos φ 5 c.20 φ 6.3 c.20 φ 6.3 c.15

Quanto à penetração em rocha, deve-se considerar que o contato com meio muito mais rígido que o solo traz significativa alteração no comportamento solo-estaca, conforme ilustrado esquematicamente a seguir. Observa-se que, uma vez que a ponta da estaca se apoie na rocha, a resistência lateral torna-se praticamente desprezível para um certo nível de deslocamento.

A NBR-6122 indica para as estacas escavadas que no máximo 20% da carga seja resistida pela ponta, desde que o preparo da ponta seja garantido, ou seja, no mínimo 80% da carga deve ser suportado por atrito lateral. Na prática, no caso da estaca raiz em rocha, a limpeza da ponta pode não ser perfeita, restando resíduos de perfuração. Lembre-se que o diâmetro em rocha é sempre menor do que o diâmetro nominal, pois a ferramenta deve se deslocar no interior da camisa, não ocorre aumento de seção por ocasião da concretagem, como no trecho em solo. A tensão tangencial média admissível de atrito lateral entre rocha e concreto (τ) pode ser estimada em 5% da menor das duas resistências à compressão (rocha ou concreto). Adotado um valor mínimo de 5MPa para a resistência à compressão da rocha e o valor da resistência do concreto, indicado pela NBR-6122 para estaca raiz, de 20MPa, ter-se-ia para a tensão tangencial valores limites entre 0,25MPa e 1,0MPa. Considerando-se, para avaliação do embutimento em rocha, a carga admissível para cada diâmetro em rocha, tem-se os seguintes valores de referência correspondentes às tensões tangenciais entre 0,25MPa e 1,0MPa:

78

4.2.11 – MICROESTACAS A técnica de execução das chamadas microestacas (ou estacas escavada injetadas) é análoga aos procedimentos adotados na confecção de tirantes ancorados, como ilustrado a seguir:

Enquanto os tirantes trabalham tracionados e, em geral, próximos da direção horizontal, as microestacas são, em geral, comprimidas e executadas em direção próxima da vertical. O processo de escavação utiliza perfuratriz rotativa cuja ferramenta de corte avança com circulação de água (ou lama bentonítica) por dentro de tubo de revestimento metálico. Analogamente às estacas raiz, é possível atravessar solos duros ou mesmo rocha, dispondo-se de ferramentas apropriadas para o processo, como ilustradas a seguir:

Quanto à armadura existem basicamente duas possibilidades: • Armadura constituída por tubo metálico, com válvulas manchetes pelo interior do qual se faz a injeção; • Armadura convencional de barras de aço (uma única ou “gaiola”) com injeção através de tubo plástico também dotado de manchetes. A válvula manchete é constituída por furos no tubo de injeção, tamponados por trecho de camisa de borracha, ajustada de forma a permitir a passagem do material injetado a partir de determinada pressão. De acordo com a NBR-6122 as manchetes devem ser espaçadas no máximo a cada 1,0m no tubo de injeção. Para injeção de calda de cimento ou argamassa utiliza-se bomba com pressão controlada e haste com obturadores duplos. Ao contrário das estacas tipo raiz, a injeção se efetua com alta pressão. A primeira injeção, a partir da extremidade inferior do furo deve preencher o espaço entre o tubo de revestimento e o furo. Após a retirada do tubo de revestimento são efetuadas as injeções em cada válvula manchete, de baixo para cima, aplicando-se as pressões que, no mínimo, garantam a abertura das manchetes. 79

Quanto à tensão admissível a NBR-6122, na ausência de provas de carga, indica o mesmo valor de referência das estacas raiz (15,5 MPa), com diâmetros entre 100mm e 150mm.

80

4.2.12 – ESTACAS MISTAS Segundo a definição na NBR-6122:

Estaca Mista Estaca constituída por dois segmentos de materiais diferentes (madeira, aço, concreto prémoldado, concreto moldado in loco”, etc.) Observe-se que a norma distingue concreto pré-moldado e concreto moldado “in loco” como materiais diferentes. A estaca mista deve atender aos requisitos correspondentes aos dois materiais associados, como definido para cada um dos elementos estruturais. Nesta categoria situam-se todas as estacas em concreto moldado “in loco” com camisa metálica perdida. Exemplos típicos são as, já citadas, estacas Franki com fuste pré-moldado ou tubado:

Outro exemplo são as estacas pré-moldadas em concreto com extremidade em perfil metálico:

81

5 – TUBULÕES Nos tubulões o processo de escavação se dá, ao menos na etapa final, pela ação direta de trabalhadores dentro do furo, sem revestimento em solo estável e pouca profundidade ou, mais usualmente, no interior de camisa (revestimento) em concreto armado ou aço. No revestimento em concreto, o primeiro módulo possui a extremidade inferior afiada (“faca”) para facilitar a penetração no terreno com a remoção do material de seu interior. Uma vez que o módulo de camisa penetra no terreno, outro módulo é concretado (ou emendado no caso de camisa metálica) imediatamente acima e o processo se repete até a profundidade desejada. O deslizamento da camisa, que forma o fuste, praticamente elimina o atrito lateral e daí toda a carga da fundação em tubulão revestido deve ser transmitida por ponta. Atingida a profundidade adequada, pode-se executar uma base alargada. No caso de presença de nível d’água utiliza-se uma campânula como forma de tamponar o tubulão para pressurização e expulsão da água. O processo de escavação com ar comprimido requer rigorosa atenção às normas de segurança do trabalho: período de exposição às condições de pressão, taxas de descompressão, presença de profissionais da área de Medicina Hiperbárica, disponibilidade de câmara de recompressão, etc.

A NBR-6122 indica que se deve observar a legislação em vigor, representada pela da NR 15 do Ministério do Trabalho, cujos principais trechos são apresentados a seguir: 82

A NR15 apresenta na forma tabelas os tempos das etapas de descompressão em função do período de trabalho e nível de pressão. Os valores indicado pela NR15 podem ser visualizados sinteticamente através do seguinte gráfico:

83

Tubulão com camisa metálica

Armadura em tubulão sem revestimento

Tubulão com camisa em concreto armado

Câmara de recompressão hiperbárica

Observa-se que, de acordo com a NR15, a escavação sob ar comprimido não pode ultrapassar 3,4 kgf/cm2 (≅ 3,4 atm ≅ 0,34 MPa) de pressão, o que limita a profundidade de escavação abaixo do nível d’água a cerca de 34 metros. Menos usualmente, os tubulões podem apresentar seção transversal diferente da circular, sendo denominados caixões quando assumem forma quadrada ou retangular. Preferencialmente toda a armadura prevista para o fuste deve estar na camisa, no caso de revestimento em concreto, restando, antes da concretagem, posicionar a armadura de ligação fuste-base. No caso de camisa metálica esta pode ser recuperada ou perdida, caso em que sua resistência passa a ser considerada no cálculo da resistência estrutural. Quanto às dimensões, os tubulões na forma cilíndrica circular devem apresentar diâmetro interno mínimo de 70cm ou 80cm, de forma a permitir a entrada de um operário. No caso de revestimento em concreto, a espessura da camisa é da ordem de 20 a 30cm, sendo reduzida para a metade no trecho da câmara de trabalho. Assim para os tubulões revestidos com camisa de concreto o diâmetro mínimo é da ordem de 110 a 120cm. Para definição de carga admissível (Pa), os tubulões sem revestimento podem ser considerados como estacas escavadas com D>70cm (σa=5,0MPa). Neste caso (tubulões sem revestimento) a carga estrutural (Pe), com armadura mínima (As=0,5% Ac), pode ser avaliada aplicando-se a expressão (4) com  = 15 = 1,5 ⁄  e  = 1,9 (estaca escavada sem fluido). 84

Para o caso de tubulões com revestimento, a NBR-6122 não fixa tensões para determinação de carga admissível, mas indica & = 1,4 , ' = 1,15 e  = 1,4 para revestimento em concreto ou  = 1,5 para camisa metálica. No caso de camisa metálica incorporada (perdida), esta pode ser considerada na resistência estrutural como uma armadura incorporada (estaca mista), descontando-se uma espessura de corrosão, da mesma forma que as estacas metálicas. A determinação da carga estrutural (Pe), no caso de tubulão encamisado, segue então os procedimentos usuais de concreto armado, conforme a NBR 6118. Para avaliação preliminar de carga estrutural pode-se considerar armadura mínima = 0,5%Ac, fck=20MPa e camisa metálica em aço A-36 (fyk=250MPa) chapa de 10mm descontando 3mm de espessura de corrosão: concreto fck=20MPa

 =

(,)* +, -,. +1 -2. 0 / /, 1

3-

=

armadura 0,5% CA50

camisa 7mm A36

(,)* 4 56 6,(78⁄9:6  (,*%4 56 *(78⁄9:6  4>(,?,@6*78⁄9:6  0 0 ; /, ;×=,=* =,=*

A,B



A NBR-6122 determina ainda que armadura transversal (estribo) da camisa de concreto deve ser dimensionada considerando-se uma pressão 50% acima do valor máximo previsto da pressurização, desprezando-se empuxos externos de solo e água. Para os diâmetros usuais, tem-se assim os seguintes valores:

Observa-se que, no caso dos tubulões sem revestimento, as cargas admissíveis, embora inferiores às cargas estruturais, apresentam valores bem próximos destas. No caso de tubulões com revestimento em concreto as cargas estruturais resultam em valores cerca de duas vezes maiores do que as cargas admissíveis para o caso sem revestimento. A opção por este tipo de solução vem diminuindo pelos seguintes motivos: • •

Trabalho com baixa produtividade em condições extremamente arriscadas e insalubres; Alto custo para execução a ar comprimido (médico, câmara hiperbárica, NR15...); 85

6 – RESUMO COMPARATIVO Em resumo, a NBR-6122 indica que, não havendo prova de carga, deve-se limitar a carga admissível (Pa) em função de tensões máximas, fixadas em função do tipo de estaca conforme apresentado a seguir:

Para a determinação da carga estrutural (Pe) no caso de estacas em concreto moldadas “in loco”, a NBR-6122 limita o valor do fck , armadura mínima e fixa os coeficientes de ponderação das ações (& ) e das resistências do concreto ( ) e do aço (' ), conforme resumido a seguir:

86

O gráfico a seguir ilustra de forma esquemática as faixas de valores usuais de carga para os principais tipos de estacas. Devido à grande amplitude de variação, adota-se uma escala logarítmica para a indicação das cargas. O gráfico é baseado em valores extremos (mín./máx.) aproximados. A definição de valores mais precisos para cada caso depende do fornecedor (ou executor), características dos equipamentos, materiais, terreno, provas de carga, etc.

Vale lembrar que, conforme já exposto, em geral a carga admissível, indicada pela NBR-6122 na ausência de provas de carga, tende a ser inferior à carga estrutural com armadura mínima, exceto no caso das microestacas e estacas raiz. 87

Além das limitações de carga, alguns tipos de fundação apresentam uma profundidade máxima exequível (Lmáx), em função do equipamento, conforme ilustrado a seguir:

A resistência à penetração dependendo do tipo de solo, caracterizado pelo ensaio SPT (Nmáx), também representa outra limitação, conforme gráfico a seguir:

88

Importante observar a necessidade de perfurar ou ultrapassar rocha limita a solução às estacas escavadas e raiz, com ferramentas de corte apropriadas, ou mesmo tubulão, neste caso com uso de martelos rompedores, explosivos ou massas expansivas. Além destas limitações (capacidade, SPT e comprimento) a presença de nível d’água limita a execução de estacas broca, Strauss e os tubulões a céu aberto. Os tubulões a ar comprimido ficam limitados a cerca de 34m abaixo do nível d’água. Outra característica importante a ser observada é ocorrência de impactos e vibrações durante o processo executivo, podendo-se agrupar os diversos processos conforme quadro a seguir:

Consideração decisiva é a dimensão da obra, ou seja, equipamentos de grande porte tendem a se viabilizar economicamente somente em obras com razoável repetição de uma determinada solução. Observando-se todas estas considerações, compreende-se porque a solução em estaca raiz vem sendo cada vez mais empregada: abrange larga faixa de carga admissível, com diâmetros não mais limitados a 310mm, ultrapassa rocha, admite inclinação, produz pouco impacto e vibração, não apresenta limitação de comprimento e o equipamento é relativamente compacto, sem grande custo de mobilização, contando-se com diversas empresas capacitadas.

89
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