C.S. Poe ( Snow & Winter #1 ) - The Mystery of Nevermore

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ALGO ESTAVA PODRE. Eu não quis dizer em sentido figurado. Eu quis dizer que algo cheirava como se estivesse apodrecendo. – Merda. – Eu murmurei. Eu fiquei na porta da minha loja de antiguidades, com a mão no nariz. Tupperware. Tinha que ser um velho almoço. Era uma terça-feira miserável e invernal na cidade de Nova York, a duas semanas do Natal. A neve caía pesadamente às sete da manhã, cobrindo a cidade e produzindo um efeito misterioso e abafado. Eu tinha aparecido cedo para o meu negócio, o Snow's Antique Emporium, no centro de Manhattan, com a intenção de passar pelo inventário de alguns produtos recém-adquiridos. Em vez disso, eu estava pingando neve derretida no tapete de boas-vindas e tentando identificar esse fedor horrível. Eu rapidamente pendurei meu casaco e chapéu e troquei minhas botas pelo velho par de mocassins gastos ao lado da porta. Passei meus dedos pelo meu cabelo rebelde e alisei a frente do meu suéter enquanto caminhava pelos corredores minúsculos e lotados. Parei para acender as velhas lâmpadas enquanto eu seguia o cheiro. O brilho das luzes era subjugado, criando um visual cavernoso para a loja. No balcão, que tinha uma antiga caixa registradora de latão, subi o degrau para o piso elevado, examinando a loja. Cheirava ainda pior aqui. 6

Enfiei a mão no bolso do suéter e substituí meus óculos de sol por óculos de leitura com armação preta. Acendendo a lâmpada do balcão, estremeci e desviei o olhar da luz. Eu olhei para a porta entreaberta à minha direita. Era um minúsculo armário que servia de escritório, com um computador, uma cadeira e uma mini geladeira, tudo escondido para o meu uso. A comida tailandesa esquecida cheirava a morte depois de dois dias? Eu entrei, abri a geladeira e cheirei hesitantemente algumas caixas. Ok, eu precisava fazer uma limpeza séria, mas o que parecia ser um burrito meio comido não era a fonte do odor. Voltei para a registradora, gemendo alto quando olhei ao redor. Algo tinha que ter morrido - um rato, talvez? Eu me encolhi com a ideia de encontrar um roedor de Nova York na minha loja, mas me agachei e comecei a empurrar para o lado sacos e caixas usadas no checkout enquanto eu procurava. A porta da frente se abriu, o sino soando acima. – Bom di... o que é esse cheiro? – Meu assistente, Max, chamou. – Sebastian? – Por aqui. – Eu resmunguei. Max Ridley era um cara doce, um recém graduado da faculdade com um diploma de artes que ele percebeu rapidamente que não pagaria seu aluguel. Ele era esperto e conhecia sua história. Eu o contratei no mesmo dia em que ele entrou para preencher um requerimento. Max era alto e de ombros largos - um jovem bonito que talvez fosse bissexual ou talvez estivesse apenas experimentando tudo. Eu tinha ouvido histórias suficientes

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durante o café da manhã, lendo correspondências e precificando antiguidades para saber que a preferência de Max parecia ser em grande parte por qualquer pessoa. Me chame de antiquado, mas eu sou o tipo de cara de um homem só. – Deus, o tempo está uma droga hoje. Você acha que vai estar movimentado? – Max perguntou enquanto passeava pela loja. – Normalmente sim. – Eu disse, olhando para o balcão. – O que você deixou ficar de fora? – Nada. Eu acho que um rato morreu ou algo assim. – Posso ligar mais luzes? Vai ser mais fácil de encontrar. – Eu já estou com dor de cabeça. – Falei distraidamente. Eu me agachei de volta para baixo para terminar de retirar os suprimentos de debaixo do balcão. Eu nasci com acromatopsia, o que significa que não consigo ver cor. Nós temos dois tipos de células receptoras de luz em nossos olhos, cones e bastonetes. Os cones veem a cor na luz brilhante, as hastes veem preto e branco com pouca luz. Meus cones não funcionam. Em absoluto. O mundo para mim existe apenas em vários tons de cinza, e eu tenho dificuldade de ver em lugares com luzes brilhantes, porque as hastes não são feitas para fins de luz do dia. Normalmente eu uso óculos escuros ou lentes de contato especiais de cor vermelha como uma camada extra de proteção… – Eu esqueci minhas lentes. E a neve estava muito clara. – Mesmo para sombras? – Sim. Porra, de onde vem esse cheiro? – Eu perguntei em pé. Max apontou para a registradora. – Cheira pior aqui.

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– Sim. – Voltei para os degraus e prontamente caí para a frente quando a tábua rangente do chão escorregou de lado. Max saltou para fora e me agarrou antes que eu pudesse plantar meu rosto no chão. Ele me segurou firme, meu rosto se esfregou contra o seu sovaco. – Você teve outra briga com Neil na noite passada? – Por quê? – Eu perguntei quando me soltei do seu aperto. – Você tem algum mau humor seguindo você nessa manhã. – Não foi uma briga. Foi... quer saber, eu não estou falando sobre isso enquanto o cheiro de podridão continua a permear minha loja. – Voltei-me para o degrau e me inclinei para examinar a tábua que se libertara. Péssima ideia. O fedor de decadência encheu minhas narinas e eu lutei contra a vontade de vomitar. – Acho que você achou. – Murmurou Max, olhando por cima do meu ombro. – Eu vou pegar um saco. Eu balancei a cabeça silenciosamente, segurando meu nariz enquanto olhava para a abertura sob o chão. A coisa não era escura, como um rato morto. Não parecia ter pele, mas eu estaria mentindo se dissesse que tinha uma ótima visão quando se tratava de detalhes em close. – Max? Venha aqui. – O que? – Sua voz veio do escritório antes de ele se juntar a mim com um saco de lixo. – Você está bem? – Olhe lá. – Oh, vamos lá. Você não me paga o suficiente para isso. – Não, quero dizer, não acho que seja um rato.

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Max se ajoelhou e olhou para dentro antes de se afastar rapidamente. – Que diabos! Eu olhei para o chão. – Arrancai as tábuas! – Aqui, aqui! – É o batimento de seu odioso coração! – O que é isso? – Poe. – Eu respondi. – Deus, você é tão estranho, Seb. – Max murmurou. – O que mais devo dizer? – Eu perguntei, apontando para a carne podre. – É um coração. – Quem você matou? – Vou chamar a polícia. ‡‡‡ TENDO que explicar ao atendente que eu precisava da polícia não por causa de um corpo morto, mas havia um corpo lá fora que perdeu uma parte essencial, era certamente a coisa mais estranha que eu já havia feito em algum momento. Eu admito que a situação despertou meu interesse, mas há 1001 coisas na vida que eu simplesmente não tenho paciência, e encontrar o coração apodrecendo de alguém no chão da minha loja está no topo da lista. Max borrifou quase uma lata inteira de purificadores de ar enquanto esperávamos depois do telefonema. – Aroma de roupa fresca, ele afirmou enquanto lia a lata. – Oh bom. – Eu disse.

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– Lavanderia e morte. – Max corrigiu depois de uma pausa. – Às vezes eu quero morrer em vez de arrastar minhas roupas sujas para a lavanderia. – Max. – Suspirei. – Desculpa. Eu cruzei meus braços, olhando para os fundos da loja nas pilhas de caixas que haviam sido deixadas lá. Quando um novo inventário chegava, precisava ser cuidadosamente inspecionado, precificado e organizado na loja. Se fosse muito inestimável para a loja, ela precisava ser listada para leilão, não se sentando em uma maldita caixa no chão. Aquelas e várias outras estavam pegando poeira no meu apartamento. Tanto, para finalmente chegarem em torno de tudo isso nesta manhã. Houve uma batida na porta e eu fui até lá para destrancá-la. – Bom Dia. – Senhor. – Um dos policiais uniformizados disse. – Nós recebemos uma ligação – Há uma parte de corpo no meu piso. – Eu respondi rapidamente, levando-os através dos corredores em direção ao caixa. Estava bem claro que eles tinham sido enviados para dissipar qualquer medo ou confusão que o despachante pensasse que eu estava experimentando, mas eles seguiram sem reclamar ou comentar. O primeiro oficial removeu seu quepe enquanto se inclinava para a abertura que eu apontava. Ele apenas olhou para dentro antes de balançar a cabeça e se levantar. – Brigg. – Ele falou com sua parceira e a mulher se aproximou. Eu os assisti conferir brevemente antes que ela entrasse no rádio.

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– Então, – eu disse, – precisamos de algum time de materiais perigosos ou algo assim? – Posso pegar seu nome, senhor? – O oficial respondeu quando ele tirou um bloco de notas do cinto. – Sebastian Snow. – E você administra esse negócio? – Sim. – Possui o prédio? – Não, eu queria. Ele olhou para cima. – Aproximadamente quando você suspeitou que alguma coisa estava na loja? – Você quer dizer isso? – Eu perguntei enquanto olhava para o chão. – Quando abri a porta esta manhã, pude sentir o cheiro. Era cerca de sete. – Alguém mais tem acesso à loja? – O oficial olhou por cima do meu ombro para Max. – Max tem chaves, mas só eu e... só eu tenho acesso ao código de segurança. – Expliquei. A verdade era que meu parceiro de quatro anos, Neil Millett, também tinha as chaves e o código, mas mencionar seu nome em torno dos policiais era um pouco complicado. Ele era um detetive da unidade de investigações forenses do Departamento de Polícia de Nova York, e muito do armário. Tanto que as únicas pessoas que sabiam que estávamos morando juntas eram Max e meu pai. Neil não queria que outros policiais soubessem que ele era gay, e quando eu tinha 29 anos, com um coração todo animado com um

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detetive sexy, não me importei. Agora eu tinha trinta e três anos e estava me desgastando. O oficial anotou algumas notas. – Você tem câmeras? Você tem muitos itens caros aqui. – Eu tenho uma, mas tem estado em frangalhos desde o último mês. Eu vinha sofrendo de falta de energia mental ultimamente e simplesmente não tinha encontrado energia para dar uma merda sobre várias coisas, incluindo a câmera. Não era como eu. Eu sabia. Neil fez questão de mencionar minha atitude recente. Muito. Isso só me irritou mais. O policial continuou anotando minhas informações de contato, depois pediu o de Max também. Mais algumas perguntas básicas se seguiram e, em seguida, Brigg conduziu dois policiais à paisana da porta de entrada à nossa direção. Olhando ao redor do corredor agora congestionado, vi outra mulher entrar, carregando algum tipo de kit médico. As luzes do teto, que eu nunca usei, foram acesas sem aviso, e a sala inteira foi lavada para fora do campo de visão. Eu apressadamente cobri meus olhos e me virei, tropeçando e alcançando ao redor da bancada. Max foi até o outro canto para evitar a polícia e o coração, pegou meus óculos escuros e os entregou quando alguém falou meu nome. – Senhor… Snow, é isso? uma mulher perguntou. Virando-me enquanto colocava meus óculos, fui confrontado com os dois novos policiais. A mulher que falou tinha talvez a minha idade e não podia ter mais de um metro e meio de altura, com uma constituição forte e

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cabelos curtos. O outro, um homem, era alto e grande e preenchia seu traje apenas com músculos. Ele parecia mais velho que Neil, que tinha trinta e sete anos. Seu cabelo era leve, então imaginei que era o que me disseram ser loiro. Eu olhei para melhor estudá-lo. Ele tinha sardas. Muitas, na verdade. Eu meio que tinha uma queda por caras com sardas. Bochechas, nariz, testa - ele tinha sardas por toda parte, e isso deu a ele uma espécie de olhar doce inicialmente. Talvez o cabelo dele fosse vermelho. – Sebastian Snow. – Eu concordei. A mulher assumiu a liderança, estendendo a mão para apertar. – Sou a detetive Quinn Lancaster, e este é meu parceiro, o detetive Calvin Winter. – Uh, oi. Lancaster sorriu. – Como estão os negócios, Sr. Snow? – Tudo bem. – Eu disse confuso. Era estranho estar olhando para uma figura tão pequena de autoridade, mas ela tinha um ar de confiança que eu não estava disposto a questionar. – O que você pode me dizer sobre sua clientela? – Lancaster continuou. Eu encolhi os ombros enquanto cruzava meus braços. – Pessoas comuns, algumas com muito dinheiro, algumas procurando por curiosidades. Tipos corporativos, descolados – consigo um pouco de todo mundo aqui. Ela assentiu. – Estaria tudo bem se você removesse seus óculos escuros, senhor? – Eu não posso. Lancaster olhou para Winter brevemente antes de perguntar:

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– Por que isso? – Eu tenho uma sensibilidade à luz. Se você desligar as luzes de cima, eu tiro. – Falei enquanto apontava para cima. Winter virou-se e deu uma ordem a um dos policiais uniformizados. As luzes apagaram e a loja foi mais uma vez iluminada pelas lâmpadas estrategicamente colocadas. – Melhor? – Lancaster perguntou, seu tom não zombando ou indelicado. Eu puxei os óculos de sol para descansar em minha cabeça enquanto colocava meus óculos normais de volta. – Obrigado, eu disse rapidamente. – Isso é chamado de fotofobia, não é? – Ela perguntou. – Eu tenho acromatopsia. – Entendo. – Ela não se incomodou por mais detalhes. – Alguma coisa fora do comum aconteceu nas últimas semanas? – Não. Lancaster franziu a testa. – Quem encontrou a parte do corpo? – Quando cheguei, senti um cheiro horrível e comecei a procurá-lo. – Houve algum arrombamento ou itens roubados? – Ela perguntou. – Não. – Eu disse. – Isso é sobre o quê? Eu estou supondo que algo maior está em jogo aqui, caso contrário, vocês não estariam me interrogando. – Por que você diz isso? – Lancaster perguntou.

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Eu moro com um policial era o que eu queria dizer. Quatro anos de histórias de Neil, reconhecidamente, me deram um interesse pouco saudável em novelas policiais de mistério. Em vez disso, eu apenas dei de ombros. Winter falou pela primeira vez. – Você conhece Bond Antiques? – Sim, na Bond Street e Lafayette. – Confirmei. – Como é seu relacionamento com o dono? – Eu não consigo ver o que isso tem a ver com qualquer coisa. – Eu respondi. – Mike Rodriguez e eu nos conhecemos há algum tempo. – Vocês se dão bem? – Winter perguntou. – Ele é competitivo. – Afirmei. – O que está acontecendo? – Sebastian! – Chamou uma voz familiar. Ignorando a montanha imponente que era o detetive Winter, olhei ao seu redor para ver Neil andando pela loja, sacudindo a neve do casaco. Fiquei imediatamente feliz e frustrado ao vê-lo, o que não pareceu ser a resposta certa. Eu não tinha ligado para contar o que aconteceu, então não deveria haver razão para sua aparição. Eu me virei para o balcão. Max levantou as mãos defensivamente e balançou a cabeça. – O que está acontecendo? – Neil perguntou ao nos alcançar. Ele olhou para os outros dois detetives e removeu um distintivo de dentro do casaco. – Detetive Millett, CSU1. Lancaster não pareceu interessada. 1

Polícia forense do Estado de Nova Iorque.

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– Detetive Lancaster, homicídio, ela respondeu com um aceno de cabeça. – Meu parceiro, Winter. Nós não solicitamos forense ainda. – Homicídio? – Eu ecoei. Quero dizer, claro, eu acho que tecnicamente um coração sem um corpo poderia significar que algo mais sinistro estava acontecendo, além de um cadáver médico aparecendo para a aula e um pobre estudante reprovado quando ele não tinha coragem de dissecar. Eu olhei para Neil. Ele parecia preocupado e talvez nervoso, e por um minuto eu estava feliz porque ele estava preocupado comigo. O aborrecimento que eu vinha abrigando em relação a ele toda a manhã de repente desapareceu, e eu tive o desejo de chegar para um abraço. – Sebastian é um amigo. – Neil disse. – Amigo. – Winter repetiu em um tom que eu não gostei. – Ele me ligou. Porra, Neil. Ele estava tão convencido de que perderia o distintivo por ter uma vida fora de seu emprego, que depois de quatro anos eu ainda era apenas seu amigo em público. – Estamos no meio de fazer algumas perguntas ao Sr. Snow. – Winter disse antes de olhar para mim. Eu juro que seu olhar era intenso o suficiente para me despir até os ossos. – O negócio do Sr. Rodriguez foi arrombado na noite de domingo. – Lamento ouvir isso. – Respondi, me afastando de Neil. – Alguma coisa foi roubada? – A investigação ainda está em andamento. Ele apontou um dedo para você, no entanto. – E-Eu? – Eu perguntei surpreso. – O que... Mike acha que eu invadi?

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– Por que ele diria isso? – Winter perguntou. – Não faço ideia. – Respondi rapidamente. – Onde você estava no domingo à noite? – Lancaster perguntou. – Depois das oito. Eu podia sentir o desespero de Neil ondulando em seu corpo. Eu estava em casa com ele. Acredito que por volta das oito estivemos fodendo, o que terminou prematuramente e se dissolveu em uma discussão até cerca das nove. É onde eu estive. – Casa. – Eu disse simplesmente. – Olha, eu não estou respondendo mais perguntas sem um advogado, se é disso que eu preciso. Liguei porque encontrei um coração humano em minha loja e agora você está me acusando de roubar alguém. A mão de Neil estava no meu cotovelo, e ele estava nos desculpando enquanto me arrastava para longe. Parando perto da parte de trás da loja, ele soltou e virou-se como uma torre sobre mim. – O que diabos está acontecendo? – Ele sussurrou. – O que está acontecendo? – Eu repeti. – O que você está fazendo aqui? – Sou policial, Sebby... – Não me chame assim. – Que coração humano? Por que você não me ligou? Eu sinceramente não tinha pensado em ligar para Neil. Talvez um ano ou dois antes, a primeira reação que eu teria seria ligar para o meu namorado policial para resolver esse peculiar pequeno problema. Agora, ele nem sequer passou pela minha cabeça. Foi desconcertante.

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– Bela mentira que você disse, a propósito. – Eu disse em vez disso. – Eu te liguei? Por que diabos você veio se não fosse estar aqui para mim? – Pare com isso. – Ele ordenou em um sussurro áspero. – Não estamos tendo esse argumento novamente. – Volte para o trabalho, Neil. Está tudo bem. – Eu disse teimosamente. – Você não… – Ele hesitou. – Contei a eles sobre você? Não. Eu já sei como é. Neil cerrou o queixo. Ele parecia zangado. Ele se voltou para os outros detetives antes de dizer: – Aquele é Calvin Winter? – O que? Sim, por quê? – Cuidado com o que você diz para ele. – Por que, Neil? – Eu repeti. – Porque ouvi dizer que ele é homofóbico. – Disse Neil. Sem pensar, respondi: – Você é homofóbico. Neil olhou para mim com uma expressão estranha que eu não consegui identificar. – Muito legal, Sebby. – Ele disse depois de um momento. Eu não podia voltar atrás, mas quando eu olhei para Neil, quando todas as nossas recentes discussões no mês passado voltaram correndo, eu não me importei e não queria voltar atrás. – Volte ao trabalho. – Eu disse novamente. – Conversamos em casa, atrás de portas trancadas.

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Eu estava deixando-o irritado e não consegui me conter. Eu não sei o que deu em mim ultimamente. Neil e eu ficamos na garganta um do outro por semanas. Eu o provoquei, ou algo que ele disse ficou sob a minha pele de maneiras que nunca fez antes. Neil não disse outra palavra. Ele se virou enquanto fechava o casaco e passava os outros detetives em silêncio ao sair. Eu respirei fundo. Foi trêmulo. Eu estava sendo cruel com o homem mais importante da minha vida. Eu empurrei meus óculos até a ponte do meu nariz quando Lancaster deixou a mulher com os suprimentos médicos e caminhou em minha direção com um sorriso. – Boas notícias, Sr. Snow. – Oh, rapaz. – Não é humano. Quem, Neil? – O coração? – É o coração de um porco. – Ela respondeu. Um pequeno alívio. Tomei outro fôlego, levando mais tempo do que o necessário para me acalmar. – Então, posso abrir para negócios? Ela abriu as mãos. – Não houve nenhum jogo sujo, embora pareça que alguém queria fazer uma brincadeira com você. Eu sugiro que você invista em um pouco mais de segurança.

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Nenhum jogo sujo. Meu intestino disse o contrário. Dois detetives – de homicídios, nada menos - apareceram imediatamente, e eu joguei vinte perguntas sobre o infeliz porco e Mike Rodriguez, o último, o qual achei extremamente estranho. Por que seria desperdiçado tempo para enviar detetives para algo que provou ser nada? E ainda não explicava como o coração de porco acabou na minha loja para começar. Lancaster me agradeceu pelo meu tempo, para o qual eu murmurei um pouco de gentileza. Ela virou-se para sair com o médico legista. Winter, no entanto, aproximou-se de mim. – Seu amigo parecia chateado. Eu fiz uma careta enquanto olhava para cima. Eu estava no lado mais baixo, com apenas um metro e setenta e cinco de altura, e tanto Neil quanto Winter eram quase vinte centímetros mais altos. Neil era magro, como eu, o que contrastava com o corpo de tijolos que era o detetive Winter. Ele estava perto o suficiente novamente para que eu pudesse estudar suas sardas - o que para mim parecia realmente uma mancha cinzenta. Elas seriam mais claras se eu invadisse seu espaço pessoal ou olhasse para sua pele com uma lupa. Não recomendo fazer nenhum desses com alguém que você acabou de conhecer. Em comparação, seus olhos claros eram tão brilhantes e agudos que era quase enervante. Eles me lembraram de minerais em exibição no Museu de História Natural. Eles eram lindos, mas também, talvez, um pouco cansados. Eles pareciam ter visto algo que o endureceu e o cansou consideravelmente.

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Winter ocupou o ar ao meu redor. Era intimidante e um pouco reconfortante estar na presença dele. Ele cheirava bem também. Algum tipo de especiaria - muito diferente da colônia de Neil. – Eu não entrei na loja de Mike. – Eu disse novamente. – Para registro. Seu olhar desviou ligeiramente para as caixas atrás de mim. – O que é tudo isso? Eu olhei por cima do meu ombro, depois de volta para ele. – Novo estoque. – De onde? – Bond Antiques. – Eu respondi. – Jesus. É de uma venda estatal. Ele enfiou a mão no paletó e eu não teria ficado surpreso se ele puxasse a arma dele com o jeito que eu estava disparando minha boca. Em vez disso, ele me entregou um cartão de visitas. – Você poderia convenientemente se lembrar de algo? – Como matar alguns porcos? – Eu empurrei o cartão no meu bolso. – Tenha um bom dia, Sr. Snow. – Ele se virou e saiu da loja. ‡‡‡ A TEMPESTADE parecia ter assustado o tráfego do dia, que em qualquer outra tarde teria me preocupado, estando tão perto dos feriados quando as vendas eram necessárias. Mas eu não conseguia me concentrar em nada relacionado a negócios. Minha salada estava ao meu lado no caixa, meio comida e ficando encharcada enquanto se acomodava na piscina de molho vinagrete. Eu segurei uma lupa no correio enquanto lia.

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– Por que não obter lentes bifocais? Eu olhei para cima para ver Max me encarando, puxando o banquinho sobressalente para sentar. – O que? – A lupa é meio boba. Você a tira do bolso como se fosse um velho detetive. – Eu tropecei escada abaixo usando óculos bifocais quando eu era mais jovem. – Eu respondi enquanto colocava o copo de lado e empilhava o lixo e as contas juntos. – Quebrou meu braço. – Eca. – Max estendeu a mão para empurrar minha salada com o garfo. Se ele planejou roubar minha refeição, o encharcado deve ter o feito mudar de ideia. – Então, por que Neil estava aqui? – Eu não sei. – Levantei, levei a correspondência para o escritório e deixei cair na mesa. A manhã estava descansando pesadamente em minha mente. Normalmente eu estava fechado às segundas-feiras, mas as exigências das festas de fim de ano geralmente mudavam minha agenda, então eu tinha estado aberto ontem. Quando fechei a loja ontem à noite, pouco depois das seis, deu a alguém uma janela de treze horas para entrar. Max e eu passamos as horas restantes da manhã verificando a Emporium, e pelo que poderíamos dizer, nem um único item tinha sido extraviado. Foi isso que mais me intrigou. Por que invadir uma loja de antiguidades, passar o alarme de segurança, para não roubar nada? Então alguém entrou, colocou um coração de porco em decomposição sob as tábuas do assoalho, e correu sem levar mais que um velho botão?

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Mais perturbador foi o caso de Mike Rodriguez. Eu tinha trabalhado para Mike por alguns anos antes de abrir um negócio para mim. Eu respeitava o conhecimento dele e o sucesso de sua loja - ele estava nessa linha de trabalho há mais de vinte anos, mas ele era um velho filho da puta irritado. Ele não gostava tanto de mim quando eu trabalhava para ele, e tenho certeza de que ele se sentiu menosprezado, para dizer o mínimo, quando eu levei tudo que tinha aprendido para abrir o Emporium. Mike se especializou em antiguidades mais sofisticadas. Mobiliário georgiano e vitoriano, roupas, pinturas e outras obras de arte. Não era onde meus interesses estavam, o Emporium era entulhado e recheado, com livros e documentos antigos, mapas, fotos e todos os pequenos aparelhos de outro século. As pessoas gostam de coisas estranhas e bizarras, como macas vitorianas ou garrafas de lágrima. O Emporium estava indo muito bem depois de apenas alguns anos de negócios, e eu suspeitava que Mike estivesse insultado. Saí do escritório, encostei-me no batente da porta e cruzei os braços. Mike e eu não estávamos exatamente em condições amistosas ultimamente certamente não estávamos enviando cartões de Natal um para o outro, - mas como diabos ele chegara à conclusão de que eu deveria ser considerado um possível suspeito? Teria ele esperado três anos para se vingar de mim? E não foi nem mesmo vingança, mas insultar minha integridade e caráter. – Cara, olhe para ela descendo. – Max murmurou enquanto olhava em direção à porta da frente, observando a tempestade continuar. “Jingle Bells” começou a tocar nos alto-falantes da loja. Impetuoso através da neve, tudo bem. A cidade estava sendo enterrada.

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– Por que você não sai daqui cedo, Max. – Mesmo? – Sim. Os metrôs vão ficar em ruínas, aposto. – Eu disse enquanto caminhava até o balcão. – Você está saindo? Honestamente, eu queria passar pela casa de Mike e perguntar o que estava acontecendo, mas não parecia a ideia mais inteligente. Talvez eu ligasse para ele. Isso era menos ameaçador. Por mais idiota que ele fosse por me acusar de fazer algo como invadir seu local de trabalho, nós tínhamos uma longa história e eu queria ter certeza de que ele estava bem. – Provavelmente. – Vou sair com você, então. – Max respondeu quando ele se levantou e começou a fechar o caixa para mim. O telefone da loja tocou, e eu alcancei para tirá-lo do receptor. – Snow Antique Emporium. – Sou eu. Neil. Eu acalmei a mim mesmo. – Ei. – Ocupado? – Estamos fechando cedo. O tempo está ficando ruim e Max tem que pegar o metrô para o Brooklyn. – Estou indo embora. – Ele respondeu. – Eu vou passar por você. – Eu posso caminhar para casa. Neil suspirou forte.

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– Sebby, por favor, não discuta comigo apenas uma vez este mês, ok? Deixe-me pegar você. Por que eu estava ficando bravo com ele por querer me levar para casa em vez de me fazer andar nesse clima desagradável? – Tudo bem. Obrigado. – Quer que eu pegue alguma coisa para o jantar? – Eu pensei em cozinhar. – Eu disse sem pensar. Eu estava ficando doente de comida entregue. Neil não podia cozinhar para salvar sua vida, então dependia de mim se quiséssemos uma refeição caseira. – Isso parece ótimo. – Ele respondeu alegremente. – Eu estarei lá em vinte, no máximo. – Ele desligou e eu baixei o telefone. – Neil está vindo me buscar. – Eu disse a Max. – Eu vou terminar de fechar. Por que você não sai enquanto pode? Max riu e terminou sua contagem. – Obrigado, Seb. – Eu te ligo amanhã se parecer que teremos problemas para abrir por causa do tempo. – Eu planejarei vir a menos que eu ouça o contrário. – Ele saiu pela porta dentro de instantes, desaparecendo na tempestade. Tranquei a porta da frente e peguei meus pertences. Eu coloquei meu laptop na minha bolsa de mensageiro. Na eventualidade de ficarmos fechados, poderia pelo menos começar a catalogar o inventário que eu tinha em casa. Claro, eu estava dizendo isso a mim mesmo por duas semanas e nunca parecia ter energia para isso.

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Pela hora que desliguei as luzes, tranquei a loja e vesti meu traje de inverno, o BMW preto de Neil estava estacionado na frente. O carro tinha sido outra fonte de discussão entre nós. Eu não tenho uma licença por causa da quantidade de trabalho que as pessoas com acromatopsia têm que passar para poderem dirigir. Não vale a dor de cabeça quando eu moro em uma cidade com esse incrível transporte público. Dito isto, eu tinha concordado em comprar um carro com Neil e pagar por isso juntos, para que pudéssemos sair de Nova York de vez em quando. Neil tem um gosto caro. Ele não aceitaria nada menos que um novo cupê de luxo. Eu não entendia o ponto - nós economizaríamos tanto dinheiro com um carro usado decente. Esse argumento terminou comigo dizendo que eu me recusaria a ajudar com os pagamentos, com os quais ele teimosamente concordou e me disse para me foder. Com despeito infantil, eu tentei recusar todas as caronas oferecidas até agora. O carro estava quente quando abri a porta e sentei no banco do passageiro. Os limpadores de para-brisa trabalhavam duro para manter a neve pesada e pegajosa do vidro. Neil estava ouvindo algumas músicas de Natal e parecendo o seu eu sexy e legal. Eu tinha que admitir que ele parecia bem atrás do volante desse carro. Ele sorriu. – Pronto? – Sim. Neil recuou para a estrada, abrindo caminho devagar pelas ruas já enterradas na neve e lama marrom.

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– Você pode ficar preso pela neve amanhã se isso continuar como as previsões do tempo dizem. – Você vai ter que trabalhar? – Eu perguntei. – Os funcionários públicos não recebem dias de neve. Quente o suficiente? Murmurei uma resposta e fiquei em silêncio. Vivíamos em um apartamento apertado, muito pequeno para dois em Manhattan, não muito longe da minha loja. Normalmente não demoraria tanto para chegar, mas a estrada estava completamente enterrada e os carros à frente já escorregavam e deslizavam. Neil não estava se arriscando dirigindo rápido. Olhei para o perfil dele, vendo o mesmo rosto bonito que conheci há anos. Ele me disse que tinha olhos castanhos e cabelo castanho-claro, comparando-o a café com muito creme. Qualquer que fosse a cor, ele sempre foi atraente para mim e envelheceu maravilhosamente. Eu vi o homem por quem eu havia me apaixonado, olhando para ele. Por que nós estávamos brigando tanto? Meu bom velho pai disse que era porque eu estava perdendo a cabeça sendo empurrado de volta para o armário por causa da paranoia de Neil. Eu tinha negado isso há anos, que acabaria me deixando louco, mas ultimamente parecia que Pop2 estava fazendo algum sentido. Eu estava fora desde a faculdade e estava orgulhoso de quem eu era. Neil tinha sido meu primeiro relacionamento sério, e me jogou em uma espiral descobrir que ele não estava fora. Ainda me jogava. 2

Pai.

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– Me desculpe. – Eu disse baixinho. – Pelo quê? – Por te dar uma atitude esta manhã. – Eu olhei para minhas mãos. – Por que você veio ao Emporium? Ele suspirou. – Eu estava bem no lugar para ouvir os detetives sendo enviados para o endereço. Eu pensei que algo estava errado, que algo tinha acontecido com você. – Obrigado por se preocupar. – Eu bufei e balancei a cabeça. – Isso soa estranho. – Eu entendi o que você quis dizer. – Ele retirou uma mão brevemente do volante para acariciar minha coxa. ‡‡‡ NEIL DEIXOU-ME na nossa rua e foi procurar um lugar para estacionar. Entrei no prédio, subindo os três andares de escadas velhas e bambas até o nosso apartamento de um quarto. Os canos batiam ruidosamente quando os aquecedores de água estavam ligando. Eu pendurei meu casaco e chapéu e coloquei minhas botas no armário. Deixei minha bolsa no pé da nossa cama antes de ligar algumas lâmpadas ao redor do apartamento. Eu sei que Neil não gostava de morar em um lar tão escuro, mas ele era educado e lidava com isso sem uma palavra de queixa, então eu não precisava usar óculos escuros lá dentro. Eu tentei manter minha condição em segredo

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dele por um longo tempo. Ficou muito difícil quando ele perguntou algo como você poderia pegar minha camisa azul marinho para mim? Ou passar o molho verde? Enquanto come mexicano. Acabou saindo quando ele encontrou minha bengala na minha bolsa uma noite enquanto procurava por um preservativo. Eu ri baixinho para mim mesmo, abrindo a geladeira na cozinha. Isso matou o clima. Eu pensei então, que ele terminaria comigo. Ambos os namorados que eu tive antes me deixaram por causa da minha condição. Não era uma ameaça à vida, mas era um fardo, eu acho. Neil tinha ficado comigo, porém, e isso importava. Eu ouvi Neil na porta, removendo seu casaco e sapatos enquanto eu estava cortando cebolas e pimentões na cozinha. Eu joguei os legumes em cubos em uma panela para deixá-los cozinhar enquanto eu abria duas latas de molho de tomate. – Espaguete? – Neil chamou, o cheiro familiar. – Precisamos ir às compras. – Respondi. – Sem muitas outras opções. Ele se aproximou de mim e abriu a geladeira. – Quer uma cerveja? – Claro. Ele tirou a tampa de duas garrafas, colocou uma no balcão ao meu lado e recostou-se no lado oposto. – Então me diga o que aconteceu esta manhã. Recontei a história novamente pelo que parecia ser a centésima vez enquanto eu preparava o molho com sal, pimenta, tabasco e qualquer tempero que eu pudesse encontrar no fundo do armário.

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– Mas não era humano. Era um coração de porco. – O que os detetives disseram? Dei de ombros. – Lancaster me disse para abrir o negócio e obter mais segurança. – E aquele companheiro, Winter? Eu olhei por cima do meu ombro. – Por que você não gosta dele? – Eu te disse por que. – Ele deixou a questão sobre Mike cair e saiu. – Eu tinha me virado para mexer o molho, mas parei e olhei para Neil. – Você não ouviu nada sobre isso, ouviu? Invasão no Mike? Neil balançou a cabeça antes de tomar um gole de cerveja. – O caso de outra pessoa, não meu. – Por que você acha que Mike me acusaria de invadir a loja dele? – Porque ele é um idiota. – Sim, mas... – Mas nada. – Neil interrompeu. – Ele sempre teve isso por você, Seb. Tomando um gole de cerveja, considerei meu próximo comentário. – Eu estava pensando em ligar para ele hoje à noite. Neil me encarou como se tivesse crescido uma segunda cabeça em mim. – Você não é idiota, é? – Desculpe? – Sebby, fique fora disso. Deixe a polícia investigar o que aconteceu com Mike e não seja um idiota assediando ele. – Quem disse alguma coisa sobre assédio? Eu só ia ver se ele está bem.

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– Não importa. – Neil respondeu. – A polícia não precisa ver que você entrou em contato com ele depois que ele apontou o dedo para você em primeiro lugar, ok? Neil tinha um ponto válido, é claro, e quem saberia melhor como um policial pensaria do que outro policial? Tomando um gole e dando toda a atenção ao jantar, me voltei quando o ouvi dizer meu nome. – Seb, prometa que você não vai enfiar o nariz onde não deveria. – Por que você acha que eu vou? Essa pergunta fez Neil rir. – Porque você gosta da emoção. Os duzentos romances de mistério na estante da sala de estar dizem isso. – Eu não tenho duzentos. – Eu disse defensivamente. Mas e daí? Eu gostava de um bom quebra cabeça. – Seb. – Ele disse novamente, mais severamente. – Eu não vou. – Eu insisti, ficando irritado. – Eu entendo. – Antes que Neil pudesse dizer outra palavra, eu disse: – Como o coração acabou na loja ainda não foi explicado. – Hmm? – Como o coração de um porco foi parar sob as tábuas do assoalho, Neil? – Eu perguntei enquanto virava. – Eu não coloquei lá, e eu fui o único a fechar a noite passada. Não me esqueci de trancar o portão ou programar o alarme. – Provavelmente foi uma brincadeira. – Ele disse simplesmente, encolhendo os ombros.

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– Uma pegadinha? – Eu ecoei. – De quem? – Eu não sei. Crianças - adolescentes. Alguém doente na cabeça. Vamos lá. Você esteve ocupado como o inferno no Emporium. Você e Max não podem ficar de olho em tudo o tempo todo. Mais uma vez, o que Neil disse poderia facilmente ter sido verdade. Exceto hoje, estivemos cheios desde antes do Dia de Ação de Graças. Havia sempre um punhado de clientes perambulando de uma só vez, estoque chegando, itens saindo para leilão - eu não podia sempre ver tudo. – Mas qual é o ponto? – Qual é o objetivo de um concurso de comer cachorro-quente? – Neil respondeu com uma risada. – As pessoas fazem coisas estúpidas às vezes, Seb. – Eu acho. É um pouco dramático, no entanto. "O coração delator." – O quê? – Poe. – Eu disse. – É o batimento de seu coração odioso! – Ah, sim, acho que lembro de ter lido isso na escola. – Neil respondeu pensativamente. – Um homem velho com um olho cego é assassinado e mutilado. O assassino acha que ouve o coração sob as tábuas do assoalho onde ele colocou o corpo. – Expliquei. – Ele enlouquece de culpa enquanto a polícia olha para uma possível perturbação. – Bem, maldição. – Ainda bem que sou apenas legalmente cego. – Eu disse sarcasticamente. ‡‡‡

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NEIL E eu assistimos algum drama policial processual enquanto comíamos, o que, na realidade, foi apenas Neil reclamando por quarenta e cinco minutos que a equipe forense estava lidando com a cena incorretamente, e ninguém obtinha resultados de DNA tão rapidamente. Desapontado, ele acabou surfando pelos canais antes de encontrar “Esqueceram de Mim” e se decidir por isso. – Eu sempre quis fazer isso. – Ele disse quando nos sentamos no escuro, bebendo vinho no final da tarde. – Ser Macaulay Culkin? – Pegar gente má. – Respondeu Neil. – Você faz. – Eu apontei. – Apenas com brinquedos de menino grande. Você é um pouco velho demais para alcatrão nas escadas e armas de chumbinho. Neil passou um braço em volta dos meus ombros e eu fiquei confortável em seu abraço. Foi bom estar aproveitando a noite juntos e não brigando por merda estúpida. Neil deve ter pensado a mesma coisa, porque ele se inclinou e beijou o topo da minha cabeça. – Ei. – Ele murmurou. – Ei o que? – Eu respondi, olhando para cima. Acredite ou não, minha visão era consideravelmente melhor no escuro. Os detalhes mais sutis de Neil eram mais fáceis para eu ver aqui. – Por que não podemos sair daqui? – Para onde? – Eu ri. – O quarto seguinte. – Neil se inclinou para frente, colocando nossos copos na mesa de café antes de se levantar.

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Levantei, tomando a mão oferecida por Neil e me deixei conduzir para o nosso quarto apertado. Ele parou para colocar minha bolsa contra a parede e fechou a porta. – Com medo de que alguém veja? Ele fez uma pausa antes de se virar para olhar para mim. – Para manter o ar frio fora, Seb. – Ele corrigiu naquela voz que eu aprendi como sendo seu tom: Sebastian, você está sendo irracional. Eu não gostei, porque ele usou aquele tom em mim sempre que uma discussão de sua sexualidade voltava para assombrar. Neil estendeu a mão, agarrou minha cintura e a parte de trás da minha cabeça e me beijou com força. Ele provou um pouco doce e um pouco amargo, o que resumia nosso relacionamento. Ele havia perdido o paletó e a gravata desde que chegara em casa, mas eu rapidamente ajudei com a camisa e a calça restantes. Neil estava ocupado jogando de lado minhas calças e suéter quando ele riu contra a minha boca. – O que? – Você se veste como um vovô. – Ele sussurrou. – Eu gosto desse suéter. – É mais velho que você. – Eu não estou tentando ganhar um concurso de moda. Compras de roupas era estressante para mim. As lojas de departamento eram tão brilhantes, e aparentemente havia um conceito de cores conflitantes. Minha ideia de adicionar novas opções ao meu guardaroupa era sair para lojas de segunda mão com Pop, deixando-o pegar uma

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dúzia de itens em cores escuras, ele diz que não vai machucar ninguém se eu misturar e combinar, então nós saímos em dez minutos. – Vamos comprar uma camisa mais bonita. – Disse Neil, beijando meu pescoço. – Eu gosto dessa. – Eu respondi. – É da Legião da boa vontade. – E então? Eu não preciso de um suéter de Ralph Lauren de trezentos dólares, quando aquele faz um bom trabalho em me manter aquecido. – Eu disse na defensiva. – Você já acabou, Sebby? – Neil perguntou, se afastando para olhar para mim. – Você realmente quer discutir agora? Eu não queria, claro que não. Eu estava cansado de lutar, cansado de toda conversa terminando em um de nós ficando frustrado com o outro. Olhando para Neil no escuro, um pensamento familiar e terrível veio à mente novamente. Eu não era o que ele realmente queria. Era uma merda idiota, como o suéter. O que importava se eu usasse algo um pouco desmazelado? Ele queria que eu usasse algo chique e elegante, como o maldito carro. – Seb? Eu balancei a cabeça, passei meus braços em volta do pescoço dele e beijei Neil, tentando voltar ao clima. Qual foi o momento em que nosso relacionamento mudou? Ele me empurrou para a cama, beijando e chupando meu peito e estômago.

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Quando nos mudamos juntos, talvez. Eu estava de barriga para baixo e o estalo de uma garrafa precedia um dedo quente e oleoso que me pressionava. Quando eu fiquei tão defensivo? Tão amargo e ressentido com meu parceiro? As mãos de Neil estavam nos meus quadris, levantando-me antes de ele empurrar com força. Eu cerrei meus dentes quando ele começou a empurrar. Eu não gostava de quem eu tinha me tornado.

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– ESTAMOS EXPERIMENTANDO nevascas recorde para a cidade de Nova York em dezembro. – Disse o meteorologista na televisão na manhã seguinte. Sentei à pequena mesa do lado de fora da cozinha, observando a tela da TV do outro lado da sala enquanto comia uma tigela de Lucky Charms e tomava café da minha caneca do gato de Cheshire 3. Quando o líquido quente era colocado dentro, o gato do lado de fora desaparecia, deixando apenas seu sorriso. É a coisa mais curiosa! – ...treze polegadas durante a noite, e esperasse de dez a dezesseis mais durante todo o dia. Nós pedimos que os residentes permaneçam dentro. Os ventos atingirão velocidades de sessenta quilômetros por hora em Manhattan e nos bairros mais distantes, com velocidades de até noventa em Long Island. Eu grunhi para a mulher e dei outra mordida nos marshmallows encharcados. Eu já tinha mandado uma mensagem para Max e disse a ele para esquecer de entrar na cidade. O MTA suspendeu o serviço de ônibus e metrô depois que o prefeito citou preocupações de segurança. A cidade que nunca dorme estava paralisada.

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Peguei um livro que deixei na mesa outro dia, abri na página marcada e li com uma das minhas muitas lupas. Neil saiu do quarto enquanto vestia o paletó. – Mistérios e cereais? – Ele perguntou com uma carranca. – Claro. – Eu murmurei antes de virar a página. – Assassinos não esperam até depois do café da manhã, Watson. Neil fez uma careta. – Você não é o Sherlock. – Ele apontou para a tigela. – Isso é puro açúcar. – Vou me lembrar de marcar uma consulta com meu dentista. – Respondi antes de dar outra mordida. Ele não levou a isca de outro argumento. – Você vai ficar em casa hoje, certo? – Sim. Max não pode entrar na cidade de qualquer maneira. Eu ia usar o dia para passar pelas caixas de inventário que estavam empilhadas aqui, como eu disse a mim mesmo que faria na noite anterior. Mas eu não estava sentindo aquela empolgação antiga, a empolgação que tinha ao passar pelos incontáveis tesouros e mistérios dentro de cada nova remessa de antiguidades. Era como se alguém colocasse uma xícara sobre a chama e cortasse o oxigênio. Eu sentia falta do ímpeto. Eu não me sentia o mesmo Sebastian que eu tinha sido no começo do ano. Não desde que Neil se mudou. – Algo parecido deve ter acontecido com Mike. – Falei imediatamente. Eu coloquei a lupa para baixo e abri a caixa de cereal para encher minha tigela.

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– O que? – Neil estava ajeitando o cabelo no espelho na parede perto da porta. – Se os detetives que estão investigando seu arrombamento são os mesmos que foram chamados para o Emporium ontem. – Largue disso, Sebby. Você está apenas gastando energia pensando nisso. – Como você pode não achar estranho? – Eu sei, mas o detetive Lancaster está certo. Não houve crime. – Alguém invadiu. – Nós conversamos sobre isso ontem. Eu mexi o cereal no leite. – Apenas uma conversa rápida com Mike colocaria tudo em perspectiva. – Seb, estou falando sério. – Neil disse quando se virou para olhar para mim. – Se você for até lá, não vou tirar você da prisão quando for preso. – Bem, é bom saber onde você desenha a linha nesse relacionamento. Neil balançou a cabeça e pegou seus sapatos e casaco. – Estou indo embora. – Ele olhou para trás enquanto fechava o zíper. – Não vá até lá. – Sim, diretor. – Eu disse enquanto levantava a mão para zombar dele. – Você vai ligar para ter certeza que eu não quebre o toque de recolher também? – Bonito, Sebby. – Ele abriu a porta. – Seja bom. – Eu não tenho doze anos, Neil. – Disse, mas ele fechou a porta enquanto eu falava.

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Meu telefone tocou no tampo da mesa pouco depois, o identificador de chamadas piscando para papai. – Bom dia, garoto. – Disse William Snow alegremente. – Alguma tempestade que estamos tendo, hein? – Ei, papai. – Eu não estou interrompendo nada, estou? – Não, como você está? – Um pouco inquieto. Maggie e eu não podemos dar o nosso passeio. Vai ficar em casa hoje? – Ele perguntou. Eu zumbi em resposta ao redor de um bocado de cereal. – Imaginei que não há muito sentido em abrir o Emporium. – Neil também está em casa? – Não, ele tem que trabalhar. – Eu olhei de volta para a televisão. – Algum plano para o dia? – Nah. – Papai respondeu preguiçosamente. – Se importa se eu for até aí? – Claro que não, mas não há táxis. – Tudo bem. – Eu disse me pondo em pé e levei minha tigela para a pia da cozinha. – Vou escorregar e deslizar até aí. – Tudo bem, Sebastian? – Claro. – Eu disse, como se dizer em voz alta me convencesse de que era verdade. – Eu te vejo em breve. – Eu disse adeus e desliguei. Voltei para o quarto e empurrei a pilha de roupa suja no chão do armário. Eu puxei um par de Levi's desbotadas e vesti uma camiseta

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provavelmente branca, talvez cinza. No banheiro, eu encarei meu rosto no espelho e esfreguei minhas bochechas enquanto considerava fazer a barba. Não vale a pena o esforço. Corri meus dedos pelo meu cabelo algumas vezes, lavei meu rosto e escovei os dentes, coloquei desodorante e, em seguida, coloquei meus contatos vermelhos. Eles fizeram o meu - de acordo com Pop - olhos castanho-avermelhados, um marrom muito escuro, mas eles eram uma ótima proteção que fazia possível usar meus óculos regulares de prescrição. Eu me arrependi da decisão de sair no minuto em que minhas botas afundaram nas calçadas. A neve ainda estava caindo forte e a cidade estava assustadoramente silenciosa. Eu passei por algumas outras almas corajosas que estavam caminhando pela tempestade enquanto eu me dirigia para o centro em direção ao apartamento do meu pai. As ruas estavam vazias, o estrondo de neve ecoando nas proximidades. Quase tudo estava fechado, exceto por uma loja de limpeza a seco e o café ao lado. Parei o tempo suficiente para fazer uma compra de donuts frescos para usar como oferta de paz quando pop inevitavelmente começasse a reclamar da minha aparência sem brilho. Vinte e cinco minutos depois, que em qualquer dia que não fosse o Nevecalypse seria feito em quinze, finalmente cheguei ao prédio do meu pai. Eu estava na porta, esperando para ser destravada enquanto sacudia a neve do meu casaco e lenço. Eu cresci neste prédio. Era um daqueles arquitetonicamente lindos complexos pré-guerra. Papai era inquilino desde a adolescência e era um dos sortudos que tinha uma casa arrendamento controlado. Caso contrário, ele provavelmente teria sido forçado a entrar nos

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bairros após sua recente aposentadoria. A campainha tocou e a porta foi destrancada. Corri para dentro, subi as escadas até o quarto andar e bati. – Está aberto! Eu abri a porta da frente a tempo de ser atingido por um enorme pit bull. Ela pulou em suas pernas de trás e lambeu meu rosto e óculos de sol. – Oh, Maggie, vamos lá, toda vez! – Abaixo, garota. – Meu pai disse severamente. – Você só faz isso com Sebastian. – Ele castigou baixinho quando sua princesa correu para o seu lado, abanando a cauda alegremente. – Ei, Pop. – Eu disse com um bufar enquanto fechava a porta. Tirei meu casaco e cachecol, pendurando-os antes de tirar meus óculos de sol para limpá-los na minha camisa. – Eu estava preocupado que você se perdesse na selvagem tundra ártica. – Pop disse com uma risada. – Sim, quase. – Respondi. Retirei meus óculos do casaco antes de colocar a caixa de donuts no balcão. Pop olhou para o lado enquanto enchia a máquina de café com grãos. – O que é isso? – Da Little Earth. – Meu favorito. – Eu sei. – Peguei uma pequena bolsa dentro da caixa para revelar dois biscoitos de cachorro. Além de ser localmente famosa por seus donuts assassinos, Little Earth era a parada favorita de cada filhote em caminhadas por causa de seus doces caseiros. – Promete parar de pular em mim? – Eu perguntei a Maggie.

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Ela obedientemente sentou-se, olhando para cima com excitação ansiosa. Eu segurei os biscoitos, e ela pegou os dois em uma mordida. – Claro, eu disse a ela. Você vai pular de novo. – Você acabou de sair da cama? – Pop perguntou quando ele terminou de começar o café, apenas para virar e olhar para mim com uma expressão infeliz. – Eu escovei meus dentes. – Eu respondi enquanto me inclinei contra o balcão e olhei ao redor. O apartamento não mudou muito em trinta e poucos anos. Era um grande espaço aberto, com a cozinha longa e bem equipada à direita, assim que você entra. Havia uma pequena mesa de jantar perto das grandes janelas e um sofá no meio, cercado por estantes empilhadas até a capacidade máxima, e um sistema de entretenimento decente que eu havia ajudado pop a montar alguns anos antes. O banheiro ficava no final do corredor, assim como meu antigo quarto, agora um escritório que papai mal-usava desde sua aposentadoria. O quarto principal ficava logo atrás dele, no final da cozinha. As cortinas ao redor da sala haviam sido fechadas em preparação para a minha visita, e as lâmpadas estavam todas na posição mais baixa. – Bem, você esqueceu seu cabelo. – Meu pai disse. Ele chamou minha atenção quando ele estendeu a mão para acariciar os fios perdidos. – E eu não ensinei você a se barbear? Eu ri baixinho, esfregando minhas bochechas. – É meu dia de folga inesperado.

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Ele resmungou alguma coisa e pegou duas canecas de um armário e um prato para os donuts. – Maggie deveria ter treinado hoje, mas todos os abrigos estão fechados. – Isso é provavelmente o melhor. Papai tinha sessenta e três anos e acabou de se aposentar depois de trinta anos lecionando Literatura Americana na Universidade de Nova Iorque. Ele não podia lidar com o tempo livre, e antes que ele enlouquecesse, sugeri adotar um cachorro. Entra sua princesinha, Maggie. Pop e ela agora passavam seu tempo livre fazendo voluntariado, ajudando a reabilitar outros pit bulls resgatados na cidade. Maggie correu pela cozinha carregando um brinquedo estridente, parou ao meu lado e segurou-o. – Brinquedo novo? – Eu perguntei enquanto o pegava e o jogava suavemente pela sala. – É bom conseguir novos brinquedos. – Disse Pop. – Cães podem ficar entediados. Maggie trouxe o brinquedo de volta, guinchando. Eu joguei de novo antes de olhar meu pai. Eu parecia com ele. Ele envelhecera com uma graça que eu esperava ser hereditária. Nós tínhamos o mesmo cabelo castanho escuro, ele disse, embora na verdade o dele fosse mais cinza, e eu não me refiro apenas aos meus olhos. Nós dois tínhamos fortes sobrancelhas e o que meus ex-namorados chamavam de expressões faciais engraçadas e idiotas. Sexy não era um adjetivo que meu pai e eu ouvimos, coloque dessa maneira. – Café? Pop perguntou.

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– Certo. Ele colocou um pouco de creme em ambas as canecas. – Você parecia chateado no telefone. – Ele começou a servir café fresco. – Parecia? – Eu perguntei, pegando as xícaras e caminhando até a mesa com elas. – Como vai tudo com o Neil? – Papai perguntou em seguida. Sentei-me devagar, depois voltei para vê-lo vir com o prato de donuts. – Bem. Pop me olhou criticamente enquanto se sentava. – Mesmo. – Não foi uma pergunta. – As coisas estão bem. – Eu emendei. – Tem sido um pouco para cima e para baixo, isso é tudo. – Principalmente para baixo. – Pop disse. Ele quebrou um donut ao meio e deu uma mordida. Eu não discuti quando peguei um donut para mim. – Não é saudável, Sebastian. – Os donuts? Papai não achou engraçado. – Você passou por merda suficiente na escola. Você não deveria ter que lidar com esse drama em seus trinta anos. – Papai, eu passei merda na escola pelo meu guarda-roupa, não por ser gay. Lembrasse daquela vez que vesti acidentalmente calças roxas com uma camisa amarela? Eu ainda não entendi porque isso não era uma moda, no entanto.

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– Não importa. – Ele disse enquanto acenava com a mão. – Mas você é um adulto. Não vou me sentar aqui e criticar sua escolha em parceiros. – Eu aprecio isso. – Eu murmurei. Eu limpei minhas mãos antes de me inclinar para trás e descansá-las atrás da minha cabeça. – Algo estranho aconteceu no Emporium ontem. – Eu disse, dirigindo a conversa para longe, longe de Neil. Depois que eu contei a minha história para o papai, ele perguntou: – “O coração delator”? Eu ri baixinho. – Isso foi exatamente o que eu pensei. Pop conhecia sua literatura por dentro e por fora, especialmente uma alma tão talentosa e torturada quanto Edgar Allan Poe. Nós o agradecemos pela moderna história de detetive, papai sempre me dizia quando eu estava crescendo. Ele ajudou a moldar a ficção científica como a conhecemos hoje e tornou as mensagens codificadas populares. Pop poderia continuar e continuar falando sobre os escritores americanos e suas contribuições para a literatura. – É estranho né? – Eu perguntei. – Definitivamente não no espírito das festas. Como foi parar no seu piso? – Eu não sei. Neil imaginou que alguém fez uma brincadeira outro dia, e Max e eu estávamos ocupados demais para notar. Pop considerou isso pensativamente quando começou seu terceiro donut.

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– Eu não ouvi nada sobre a loja de Mike nas notícias. Isso é uma vergonha, no entanto. – Eu acho que ainda é uma investigação aberta. – Bebi meu café, vendo meu pai se distrair com Maggie. – Ei, Pop. – Eu disse baixinho enquanto colocava a caneca para baixo. – Posso te perguntar uma coisa? – Claro, garoto. – Ele respondeu enquanto esfregava a cabeça grande de Maggie. – Por que você nunca se casou novamente, depois que a mamãe foi embora? Pop fez uma pausa e olhou de volta. – Bem, isso saiu do nada. – Apenas curioso. – Eu disse com um encolher de ombros. – Eu estava muito ocupado cuidando de você. – Você não está mais me criando. – O trabalho de um pai nunca termina. – Eu não quero ver você sozinho. Isso é tudo. Ele riu. – Você acha que eu estou sozinho, Sebastian? Eu sabiamente mantive minha boca fechada e apenas dei de ombros. – Eu não estou. Mas você quer saber alguma coisa? Eu quero? – O que? – Não é inteligente projetar seus próprios sentimentos nos outros. ‡‡‡

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NOVA YORK City tem mais de oito milhões de habitantes. Oito milhões. E eu estava sozinho. Eu estava com Neil há quatro anos. Eu tinha caído de ponta-cabeça por aquele policial inteligente e sexy, e seis meses atrás eu finalmente pedi para ele morar comigo. Lembrei-me de pensar que marco era esse. Neil não iria querer mais se esconder se quisesse morar comigo. Ele estaria fora, e quando nós fossemos vistos juntos, as pessoas saberiam que eu era seu parceiro. Eu bufei para mim mesmo enquanto caminhava pela calçada depois de terminar a minha visita ao meu pai. Vivíamos juntos naquele pequeno apartamento, e nunca me senti mais longe dele em todos os nossos quatro anos juntos. Tudo tinha ido para o inferno seis meses atrás, e eu estava apenas chegando a um acordo com isso. Feliz merda de Natal, Sebastian. Estava frio e o vento era forte o suficiente para me empurrar, mas decidi ir falar com Mike. Eu não precisava da permissão ou aprovação de Neil. Eu era um maldito adulto, e se eu quisesse perguntar a Mike por que ele saíra me acusando de roubar, eu faria. Mesmo que não fosse longe do apartamento de Pop, quando cheguei à Bond Street, estava suficientemente congelado. Os carros estacionados ao longo das laterais da rua estavam enterrados em mais de trinta centímetros de neve, mas eu ainda conseguia pegar as aletas traseiras do famoso Chrysler New Yorker de 1957 de Mike. Supostamente foi pintado uma cor oficial de rosa-choque, mas os vizinhos apenas o chamaram de Peptomobile.

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Eu acho que seria engraçado se eu soubesse que cor Pepto-Bismol tinha. Pelo menos Mike com certeza estaria em casa. Ele morava em um dos apartamentos diretamente acima de sua loja. Fui até a porta à direita que dava acesso ao andar de cima, mas parei de repente. Bond Antiques estava escuro por dentro, mas a pesada porta da frente estava entreaberta o suficiente para balançar levemente ao vento. A neve estava empilhada na porta parcialmente aberta. O cabelo na parte de trás do meu pescoço arrepiou enquanto eu observava a porta ranger de um lado para o outro. Virando-me para olhar para cima e para baixo na rua, não vi ninguém indo ou vindo. Minhas mãos começaram a suar nos bolsos da minha jaqueta enquanto eu recuava da porta. Corri para a campainha do apartamento e acertei o número de Mike. Ninguém respondeu. – Vamos lá, seu resmungão. – Eu murmurei, batendo de novo e de novo. Eu corri para a estrada para olhar para as janelas do apartamento, mas entre a neve e a minha visão, eu não poderia dizer se havia luzes acesas ou não. Mike poderia simplesmente ter corrido para sua loja para pegar alguma coisa. Ele provavelmente estava dentro enquanto eu estupidamente estava no meio-fio. Mas por que ele não acendeu as luzes? Por que deixar a porta aberta nesta tempestade? Rangido. Rangido.

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Mike realmente precisava lubrificar as dobradiças da porta da frente. E eu quase ri alto que isso foi de repente o principal pensamento em minha mente. Meu próximo pensamento imediato foi chamar os policiais, mas lhes dizer o que? Eu estava do lado de fora do prédio do negócio, cujo dono tinha, em tantas palavras evidentes, me acusado de invadir sua loja? Peguei meu celular do bolso e peguei o teclado do telefone. Isso de repente pareceu uma boa ideia, porque e se a loja tivesse sido arrombada novamente? Eu tinha atingido nove e um antes de parar. O que eu estava fazendo? Eu poderia ir até a porta e checar. Isso era ridículo. – Mike? – Eu chamei na escuridão, batendo na porta enquanto eu lentamente a abria. Creeeeeak. Jesus Cristo. – Mike? É Sebastian Snow. – Eu chamei de novo, dando um passo para dentro. – Você deixou sua maldita porta aberta. O chão está todo molhado. – Eu estava conversando com um quarto silencioso. – Eu estou entrando, ok? Dei outro passo antes de fechar a porta atrás de mim e, cautelosamente, olhei em volta. A escuridão relativa da loja, em parte porque não havia sol a brilhar através das grandes janelas de vidro, tornava mais fácil distinguir as formas de cadeiras e mesas. Eu não estive na loja dele há algum tempo e o layout era novo. Eu me senti culpado por deixar rastros de neve e lama através do piso de madeira antigo enquanto eu fazia minha exploração. Deveria estar óbvio agora que Mike não estava aqui e que a porta estar aberta significava que algo

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estava errado e que eu deveria partir, mas fiz o que qualquer idiota faria continuei procurando. O silêncio não estava exatamente certo. Era como quando você entra em uma sala que você sabe que alguém está dentro e você pode apenas ouvir a existência da pessoa - mas não exatamente. Um arrepio subiu pela minha espinha e eu, nervosamente, limpei minhas mãos nos meus jeans. Parei na entrada do plano baixo em forma de T perto da traseira, com prateleiras altas ao redor. As vitrines imediatamente à frente pareciam ser de acessórios femininos - broches e luvas, desse tipo. Eu não conseguia ver o que havia nos corredores da esquerda ou da direita sem entrar. Mike não está aqui. Mike não está aqui. Saia, seu idiota! Mas não havia nenhum perigo óbvio presente, e eu só precisava ter certeza de que uma busca minuciosa havia sido feita antes de considerar chamar a polícia de verdade para relatar... o que quer que eu achasse que fosse necessário relatar. Eu respirei fundo e segui em frente. Virando à esquerda primeiro, eu esbarrei direto em algo peludo. Eu gritei e pulei para trás, olhando para cima e depois para frente. Que porra é essa! Parecia ser um gato. Mas morto. Certamente morto. Tinha que estar morto. A pobre criatura estava pendurada por uma corda amarrada no pescoço. Meu coração disparou, minha respiração saindo em suspiros curtos e em pânico quando olhei para cima para ver onde a corda tinha sido jogada ao redor da lâmina de um ventilador de teto. Não. Eu não estava tendo nada disso. Eu me virei, escorreguei no chão molhado e peguei uma prateleira para

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ficar em pé. Uma figura ficou imóvel e me encarou da seção direita do T. Absolutamente assustado, eu puxei a bunda de volta para a entrada do layout e fiz um duro movimento, correndo ao longo do lado externo do T para a porta. Eu não fui longe antes de tropeçar em algo grande e duro no chão, caindo direto em cima dele. Eu caí em algo pegajoso. – Oh meu Deus. – Eu me ouvi sussurrar quando eu apoiei minhas mãos no chão e me levantei com dificuldade. Mike olhou para mim através de olhos sem vida, semicerrados, um pedaço da cabeça dele faltando. O sangue agrupado e congelado ao redor dele como um halo.

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O DIA DE HOJE ESTAVA SUGANDO. E o Prêmio Eufemismo do Ano vai para: Sebastian Snow. Eu tinha que chamar a polícia depois disso. Claro. Aqueles poucos segundos depois de encontrar Mike foram quase surreais. Eu tinha caído na minha bunda, tropeçando para longe do corpo. Minhas mãos e jaqueta estavam cobertas de sangue. Por um momento me sentei no chão em transe, meu coração batendo contra o peito enquanto tentava recuperar o fôlego. O que eu faço? Puta merda Então uma lâmpada tremulou nos recessos da minha mente. Detetive Winter. Ele me deu seu cartão ontem. Eu tinha pensado em jogá-lo fora, mas finalmente enfiei no bolso. De repente, nenhum outro plano de ação parecia melhor ou mais seguro do que chamá-lo. Ele já estava lidando com o caso de Mike - ele ajudaria. Ele saberia o que fazer. Eu limpei minhas mãos trêmulas na minha Levi's e remexi nos bolsos, eventualmente recuperando seu cartão. Eu disquei e coloquei o telefone no meu ouvido. Um toque. Dois. Três. Jesus. Por favor, por favor, atenda.

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Eu estava ficando de pé, sentindo tontura e pronto para vomitar, quando houve uma saudação rouca do outro lado. – Detetive Winter. – E-eu preciso de ajuda. – Eu disse instantaneamente. Nada como ir direto ao ponto. – Quem é? O tom de Winter era forte e preocupado. – Sebastian Snow. – Snow? – Eu... ontem... você veio... – Eu lembro quem você é. O que está errado? Como explicar isso? Respirei fundo e, com uma voz que parecia calma demais, disse: – Houve um acidente na loja de Mike, Bond Antiques. Eu me virei para as vitrines. Alguém tinha estado de pé ali. Por que ele não veio atrás de mim? Foi ele que fez isso com o Mike - certo? – Que tipo de acidente? – Winter perguntou. Eu não respondi, zoneando para fora da chamada enquanto eu cautelosamente me aproximava da entrada do T novamente. Se eu fugisse agora, o assassino fugiria e ninguém saberia o que aconteceu com o maldito Mike. Eu estava com medo, mas continuei seguindo em frente. – Sebastian? Você está aí? Sebastian! – Ele disse com mais firmeza. – Shh. – Eu assobiei. – Você está bem?

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Eu estava quase na esquina. Algo não estava certo. Esse cara, ou garota, deveria ter saído agora. Eles deveriam ter ouvido minha ligação, até mesmo ouvido Winter através do telefone. Eu me preparei e virei a esquina. A pessoa ainda estava lá, vestindo um pesado vestido vitoriano com um chapéu na cabeça. Porque era um manequim. – Oh, foda-me. – Eu sussurrei, soltando um suspiro. – Fale comigo agora. – Winter ordenou. – Você está machucado? – Não. – Eu disse baixinho, me sentindo um idiota. – Mas o Mike está. – Vou mandar uma ambulância... – É tarde demais para isso. Houve uma breve pausa no fim antes dele dizer: – Eu estou no meu caminho. Não se mexa. Nos dez minutos seguintes, fiquei no balcão da loja, olhando para Mike. Toda vez que eu olhava para longe, meu olhar vagava de volta, como se eu não ficasse de olho nele, ele se levantaria e viria atrás de mim atrás de um cérebro substituto. Eu engoli a bílis ameaçando subir pela minha garganta. Eu nem era capaz de esperar do lado de fora. Acho que meu estado atual - encharcado de sangue - preocuparia os vizinhos. Quando senti que não suportaria mais um segundo sozinho naquela loja sem perder a cabeça, uma ambulância apareceu com as luzes acesas, mas sem sirene. Três carros de polícia estacionaram, seguidos por um carro sem identificação, do qual Winter e Lancaster saíram. Eles correram pela calçada e até a porta, seguindo oficiais uniformizados. Winter imediatamente parou quando me virei para encará-lo.

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Eu

posso

explicar.



Afirmei,

segurando

minhas

mãos

ensanguentadas como um ato de submissão, mas acho que deu o sinal errado. – Onde ele está? – Winter exigiu, depois olhou na direção que eu apontava. Ele se virou e deu ordens para que a loja fosse checada, e os policiais se separaram para fechar o local. Tanto Winter quanto Lancaster puxaram a SIG P226s de seus coldres. Winter avançou primeiro, com Lancaster logo atrás como backup. Dinâmica interessante. Eu sabia que ela não estava no comando, apesar de ter assumido a liderança em me questionar no dia anterior. Eles foram embora por vários momentos antes da cena ser declarada segura. Os policiais voltaram para a porta da frente, alguns saindo para isolarem a frente da loja. Winter estava em seu telefone, dando ordens severas para alguma alma infeliz do outro lado. Quando ele desligou, ele estava em pé perto do corpo de Mike, olhando para baixo. Ele se agachou para examinar sem tocar. Depois de uma pausa, ele se levantou, pedindo que as luzes se acendessem enquanto ele estudava o chão. Um dos policiais encontrou as luzes da loja, e eu estremeci um pouco quando o quarto ficou branco e empurrei meus óculos de sol de volta no meu nariz com um dedo sangrento. Winter deu passos cuidadosos ao redor da minha trilha de neve e sangue derretido, eventualmente voltando para mim. – Sr. Snow. – Detetive Winter.

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– Você dá a todos os homens em sua vida um caso de assassinato para o Natal, ou apenas os realmente especiais? – Ele perguntou, com as mãos nos bolsos quando ele parou para se elevar sobre mim. Merda. Por que chamá-lo parecia uma boa ideia? – Posso explicar? – Por favor. – Ele disse. Eu juro que ele quase rosnou. Comecei a dar-lhe uma história resumida - da casa do pai para a loja de Mike, para o Mike, para o Mike morto. – Quer que eu conte para você de trás para frente? – Eu perguntei depois de terminar. – Por quê? – Porque parece que você está me medindo para um uniforme laranja4 e, se eu estivesse mentindo, seria mais difícil recuperar os fatos diretamente. – Respondi. Isso fez ele bufar. – É assim mesmo? Por que você entrou na loja quando estava claramente fechada? – Eu te disse, a porta estava aberta. – E você não achou estranho? – Bem, não, achei, mas o Mike mora no andar de cima. Eu pensei que talvez ele tivesse acabado de correr para pegar alguma coisa. – Por que continuar quando ninguém atendeu seu chamado? – Eu não sei. – Eu admiti. – Algo não parecia certo. – Por que você não ligou para a polícia? 4

Roupa de prisioneiro.

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– Eu fiz. – Eu apontei para ele. Winter franziu a testa e ficou em silêncio por um momento, como um homem desesperadamente colecionando sua paciência. – O que aconteceu quando você me ligou? – Ele finalmente continuou. Eu olhei para minhas mãos pegajosas. – Na planta T, na parte de trás. Eu... tem um gato lá atrás. – Um gato? – Sim, mas estava morto. Quero dizer, estava pendurado por um laço. Eu corri, e um manequim estúpido atrás de mim parecia uma pessoa, e eu fiquei assustado. Não vi Mike e tropecei nele. O rosto primeiro. – Ah – E então, eu pensei que o manequim era a pessoa que matou o Mike. Você sabia quem eu era e quem era Mike. Eu não achei que deveria ligar para mais ninguém. Olha, podemos fazer isso depois? Eu realmente quero me trocar. Winter balançou a cabeça e apontou um dedo para mim. – Não se mexa. – Vamos, detetive! Eu estou coberto de sangue! O pau já estava se afastando. Eu me movi para olhar ao virar a esquina, observando-o entrar no espaço em T com o detetive Lancaster. Eu bufei e cruzei os braços antes de descruzá-los rapidamente. Tanto para este casaco. E jeans. Eu teria que esfregar minha pele crua no chuveiro também. Fui deixado ali, sob o olhar de um policial uniformizado que mantinha a mão no cinto, pronto para colocar uma bala no meu joelho se eu tentasse

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me esquivar. Foi quando a gravidade da situação começou a empurrar meus ombros. Eu disse a mim mesmo que tudo ficaria bem. Eles confirmariam tudo o que eu disse com a análise de evidências feita por alguém como Neil. Oh Deus. – Neil… – Ia me matar. Eu estava fazendo o meu melhor para inventar uma história suportável, além do mais, eu me ressenti de ser tratado como uma criança e queria desafiá-lo quando Winter se aproximou de mim com uma mulher de meiaidade. – Então, sobre a mudança. – Eu disse novamente. – Precisamos da sua roupa. – Sua o que? – Evidência. – Ele acenou para a mulher que tinha acabado de entrar um momento antes. – Vou precisar que você entregue a jaqueta e o jeans, e o que quer que esteja embaixo. – Ela confirmou enquanto calçava luvas de látex. – Eu não matei o Mike! – Eu protestei enquanto olhava para Winter. – Você está coberto de sangue. – Ele apontou. – Você foi encontrado sozinho em sua propriedade com o corpo. – Eu liguei para você depois de encontrá-lo! – Eu disse, a voz subindo. – Estou apenas tirando suas roupas. – Winter disse com firmeza, aproximando-se um passo e já enchendo o espaço ao nosso redor. – Mas se você continuar, eu ficarei mais do que feliz em te registrar e depois te despir. Uau. Eu engoli em seco, limpando a garganta.

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– Posso fazer uma ligação? – Por quê? – Eu não tenho nada para vestir. Apenas deixe-me fazer uma ligação, por favor? Um momento de deliberação interna foi seguido por um breve aceno de cabeça e Winter recuou. Peguei meu telefone manchado de sangue e peguei Neil dos contatos. – Seb? – Foi a primeira coisa que ele disse. – Está tudo bem? – Não. – Eu admiti. – Você pode ir para casa... – Estou no trabalho. – Eu sei, mas ouça. Eu preciso que você vá para casa. – Eu disse baixinho, olhando para cima para ter certeza de que Winter não estava ouvindo muito, mas ele estava falando com a mulher esperando para ver minhas regiões inferiores. – Eu preciso que você pegue uma muda de roupa para mim e um casaco. Venha para Bond Antiques. – O que está acontecendo? – Eu explicarei quando você chegar aqui, mas por favor se apresse. Ele se apressou. Neil estava lá em pouco menos de vinte minutos, o que não poderia ter sido seguro nesta tempestade, mas eu estava grato, já que o sangue estava bastante seco e duro e me deixando extremamente desconfortável neste momento. Eu observei Neil mostrar seu distintivo e entrar imediatamente na loja. Ele estava carregando uma mochila e olhando em volta com cautela. – Detective Millet? – Winter perguntou, interceptando Neil antes que eu tivesse a chance de chocá-lo com a minha aparência.

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Neil virou-se ao ouvir o nome dele. – Oh Winter. Olá. – Você faz parte da minha equipe de provas? Você está atrasado. Neil balançou a cabeça. – Não, eu não sou... – Ele fez uma pausa, meio que perdido com a situação. – Neil. – Chamei. Ele olhou por cima do ombro, e eu pude discernir sua expressão assustada na distância entre nós e com as luzes acesas, o que significava que ele provavelmente iria enlouquecer em três, dois, um... – Seb? Que diabos? – Ele perguntou, se aproximando de mim. – Jesus! Isso não é seu, certo? – Não. Neil, desculpe ter que ligar. Mas eles precisam colocar minhas roupas em evidência, e eu não queria ter um macacão, cortesia do NYPD. – Evidência para o que? – Neil exigiu. – Mike está morto. – Eu fiz sinal para mim mesmo. – Quero dizer, não, não! Eu o encontrei. Eu tropecei nele. Sua cabeça estava - posso apenas ter as roupas? – Eu perguntei cansadamente e peguei a mochila. – Não. – Me diga o que aconteceu. – Então você e o Sr. Snow são próximos? – Winter perguntou, tendo subido por trás de Neil em silêncio. – Amigos. – Neil respondeu severamente. Eu estava muito estressado para dar uma merda sobre essa mentira e deixei passar sem observação.

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– Amigos com chaves dos apartamentos um do outro? – Winter continuou. – Eu estou aqui apenas para deixar a roupa. – Neil advertiu em um tom com a ameaça subjacente de para trás, cara. Ele olhou para mim e empurrou o pacote para a frente. – Eu falo com você depois. – Ele estava saindo pela porta antes que eu pudesse pensar em algo para dizer. Winter virou seu olhar para mim e eu olhei de volta para ele. De todas as questões sérias que eu poderia ter focado, eu estava obcecado por seus olhos curiosos de novo. E aquelas sardas. Deus, ele as tinha até descendo pelo pescoço, desaparecendo sob a gola da camisa. Comecei a considerar o quão extensa era essa trilha de sardas... – Tire essa roupa. – Ele apontou com expectativa para a mulher que apareceu ao meu lado novamente para coletar as provas condenatórias. – Winter. – Lancaster chamou quando ela entrou na loja novamente com um homem que tinha que ser o médico-legista da cidade. Winter me deu um último olhar antes de sair. Aprendi que o nome da mulher de prova era Martha Stewart - nenhuma relação, ela acrescentou - e ela não tinha senso de privacidade. – Querido, se você acha que estou tentando dar uma olhada, não precisa se preocupar com nada. – Ela disse, colocando cuidadosamente minha jaqueta em uma sacola de coleta e etiquetando a frente. – Não? Por que isso? – Eu perguntei, tentando o meu melhor para ignorar o fato de que eu estava agora nu da cintura para cima em uma sala fria, com meia dúzia de policiais nas proximidades e um médico legista empurrando um termômetro de fígado no corpo do meu ex-chefe.

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– Você não é meu tipo. – Ela indicou enquanto guardava minha camiseta. – Aposto que você diz isso para evitar que todos os meninos corram. – Eu tenho uma esposa, querido. – Martha disse casualmente. – Calça. Vamos. Eu tenho muito o que fazer aqui. Eu nunca desabotoei tão rápido para ninguém, mas ela estava prestes a começar a bater no pé. – Você não é meu tipo também, Martha. – Oh, eu posso dizer. – Ela disse, rindo para si mesma. – O que isso significa? – Isso significa que você com certeza não está checando minhas mercadorias quando você tem um ruivo para cobiçar. Em vez de negar veementemente o fato de que encontrei o detetive Winter ainda que remotamente atraente, perguntei: – Então o cabelo dele é vermelho? Ela olhou curiosa. – Não consigo ver cor. – Esclareci. – Oh. Sim, é vermelho. Bem, mais laranja, como aquela cor de fogo. Você sabe. – Eu não sei, mas vou aceitar sua palavra. – Eu respondi. Eu olhei de volta para Mike. O médico-legista estava agachado ao lado dele, conversando com Winter, que fazia um bom trabalho em parecer um foda sexy e imponente que você veria em um drama de TV. E tive que fazer uma pausa enquanto tirava minhas calças porque agora estava dolorosamente consciente de que tinha uma ereção.

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De todos os lugares, tempos e pessoas a serem despertadas. – Ei. – Martha disse, estalando os dedos enluvados. – Posso colocar minha nova camisa? – Eu perguntei, parando. Ela suspirou pesadamente e pegou sua câmera. – Aguente. Eu preciso fotografar. – Ôa, o que, tudo de mim? – Eu nunca conheci alguém tão puritano. – Ela murmurou. – Mantenha as mãos para fora, palmas para baixo. Martha tirou várias fotos das minhas mãos em diferentes ângulos, assim como meu peito, onde uma pequena mancha de sangue havia acabado. Ao terminar, fui autorizado a colocar minha nova camisa, que deu tempo ao meu corpo abaixar sua saudação. Eu rapidamente terminei de me despir, tendo que fazer uma pausa para outra foto antes que Martha me considerasse terminado, e ela esperou ansiosamente enquanto eu me tornava apropriado. – Prazer em conhecê-la, Martha. – Eu disse, sem saber o que mais eu deveria dizer a uma mulher depois que me despi e postei para ela. – Gostaria de ter sido em situação melhor. Ela cantarolou distraidamente em resposta enquanto colocava a câmera de lado e pegava as sacolas. – Quer uma palavra de conselho? Fiz uma pausa, um braço na manga de uma jaqueta que era mais adequada para o clima frio do outono do que a tempestade lá fora. – Claro?

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– Não vá dar a Winter um tempo difícil, ou ele vai registrar sua bunda mais rápido do que você pode dizer sem coração. O que isso significa? – Uh... – Ele vê tudo. – Ela disse em tom de alerta. – E não tem paciência para nada disso. – Martha me deixou sozinho depois disso. Eu empurrei meus óculos de volta e cruzei os braços sobre o peito. De repente eu estava congelando, mas não foi um calafrio que me sacudiu até os ossos. Medo, isso é o que era. Vamos dar um passo para trás, olhar isso objetivamente. Neil me ensinou muito sobre crimes e provas, e eu precisava usar isso para minha vantagem. Eu não tinha interesse em me tornar um suspeito - ou pior, ser preso pelo detetive Winter. Rigor mortis começa a se pôr em torno de duas horas após a morte, e o corpo humano pode diminuir de temperatura a uma taxa média de um ponto cinco graus por hora. Eu precisava considerar, no entanto, que a porta da loja estava aberta por quem sabe quanto tempo, o que poderia afetar a leitura da temperatura no corpo. Se o rigor estivesse se estabelecendo, eu poderia suspeitar que o pobre Mike estava morto desde... Eu me virei para olhar o relógio de parede atrás de mim. O policial que estava me observando o tempo todo perguntou: – Algum lugar para ir? – Eu não posso ler a hora. Ele olhou para a parede. – Logo depois das doze.

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Tudo bem. Eu estava lá há quase uma hora, o que significa que já eram onze horas quando encontrei Mike. Então, no mínimo, ele foi morto por volta das oito da manhã. Eu tinha álibi. Pop, o funcionário da Little Earth - inferno, eu até arrastaria Neil para isso se significasse minha cabeça. Quando olhei para cima dos pontos de contagem dos meus dedos, Winter estava em pé na minha frente, uma expressão estranha no rosto. Divertido? Indulgente? Curioso? Foi difícil dizer. – Oi. – Eu falei. – Eu tenho mais algumas perguntas. Lancaster estava dando ordens em segundo plano para ter espaço quando uma maca foi trazida e o corpo de Mike foi colocado sobre ela. Tanto tempo, Mike... – Onde você estava as sete da manhã? – Winter perguntou. Ah-ha! – Mike só está morto há algumas horas? – Responda a questão. Eu sabia. Rigor mortis começava com o rosto - os olhos, a mandíbula, o pescoço. Seu corpo inteiro não foi afetado ainda, o que significava que ele tinha que ter sido atacado quando eu estava perto de outras pessoas. Dado, também, quanta neve havia acumulado na entrada, correspondia aproximadamente ao que a notícia estava dizendo sobre a precipitação esperada da cidade por hora. – Sete? Eu estava em casa. – Fazendo o que? – Pensando em sair da cama. – Você mora sozinho, Sr. Snow?

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Eu senti o músculo na minha garganta pular. Se eu dissesse sim, estaria mentindo para um policial, o que nunca foi bom. Se eu dissesse não, Winter desejaria as informações de contato do segundo indivíduo. Neil se importaria? É claro, mas dadas as circunstâncias, ele estaria disposto a se entregar a um detetive, que ele acreditava ser homofóbico, se isso significasse a segurança de seu namorado? Me preocupou muito que eu não tivesse uma resposta para essa pergunta. – Não, não exatamente. – Eu me ouvi responder. Winter parecia ansioso. – Eu moro com o meu namorado. Ele estava em casa. Ele iria atestar por mim. – Tenho certeza de que ele faria isso. – Winter disse em um tom que eu não conseguia identificar. – Vou precisar de suas informações de contato. – Ele pegou um bloco e uma caneta de dentro do casaco. Eu silenciosamente repeti o número de celular de Neil, observando enquanto Winter anotava. Não havia como voltar agora. Neil Millett. Ele fez uma pausa e olhou para cima. – CSU? – Sim. Winter fez um som que era uma espécie de bufo e uma risada. Ele escreveu o nome de Neil. – O que é isso? Eu perguntei. – Nada, além de estar surpreso.

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– Que eu sou gay? – Isso é fácil de ver. – Ele respondeu, sem olhar para cima. Eu não fazia ideia. Eu nunca pensei que fosse particularmente gay. – Eu não percebi que deixei meu letreiro neon acesso. – Entrarei em contato com o Sr. Millett. – Disse Winter. – Oh, alegria. – Me esclareça sobre sua manhã. – Desde as sete? – Quando ele balançou a cabeça, eu respirei e disse calmamente: – Fiquei na cama por um tempo. Neil se levantou para tomar banho. Eu fui para a cozinha, fiz café e tomei café da manhã. Eu assisti as notícias. Neil foi trabalhar um pouco antes das oito. Meu pai ligou quando ele saiu e eu me vesti para ir vê-lo. Parei na Little Earth - comprei donuts e biscoitos de cachorro. Saí do Pop por volta das quinze para as onze. – Eu dei a ele as informações de contato e o endereço de Pop, e o mesmo para o café. – Eu não poderia ter machucado Mike, e você sabe disso. – Eu disse. – Certo? Ele foi morto por volta das sete. É o que o examinador pensa. Winter não respondeu quando colocou o bloco de notas de volta no bolso e ajustou o paletó. – Eu não posso dirigir, e Neil tinha o carro de qualquer maneira. Você sabe que eu andei em todos esses lugares e que não há como eu ter tido tempo suficiente. Isso vai vir abaixo como eu disse. – Insisti. – Pegou tudo isso de Millett? – Não, baseio tudo isso nos fatos infalíveis de CSI e Law & Order. – Retruquei.

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Para minha surpresa, o detetive Winter não me estrangulou naquele momento. – Eu não tenho nenhum motivo para querer machucar Mike. – Eu tentei em seguida. – Nunca. Qual é o ponto? Onde está o motivo? – Motivo não é o fator mais importante. – Claro que sim. – Eu disse defensivamente. – Você não é um suspeito. – Winter disse baixinho, mudando de assunto. O alívio que passou por mim quase me derrubou no chão. – Mesmo? – Não fique tão surpreso. – Mesmo. – Ele disse rispidamente. – Mas eu não quero que você saia da cidade, entendeu? – O que eu vou fazer, andar até Jersey? – Eu deveria prendê-lo por ser um espertinho. – Provavelmente. – Eu concordei. Eu levantei minhas mãos. – Por favor, posso lavar isso? – Vá para a ambulância. – Winter acenou com a cabeça para um oficial uniformizado. – Veja que o Sr. Snow, aqui, fique limpo e depois o leve para casa. O oficial assentiu e pediu para eu segui-lo. Era por volta da hora do almoço quando cheguei em casa.

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EU ESTAVA sem roupa e ligando o chuveiro poucos minutos depois de atravessar a porta. Eu joguei as roupas que Neil me trouxe em uma pilha no chão do banheiro antes de entrar na banheira. Ensaboei meu corpo com sabão, peguei o pano e esfreguei cada centímetro de mim mesmo. Não importava que os paramédicos ajudaram a limpar minhas mãos. Tocar um cadáver - não, cair no sangue congelado de um cadáver - fará qualquer um querer tomar banho. Eu coloquei minhas mãos contra os azulejos depois, inclinando-me para a frente para deixar o spray bater na parte de trás da minha cabeça. Eu estava exausto. O assassinato era cansativo. Como pessoas como o detetive Winter lidavam com isso dia após dia? Laranja ardente, sabe? Cor, eu aprendi, era um conceito muito complicado. Não havia apenas laranja; havia tons diferentes, todos sutis e únicos, cada um capaz de produzir uma emoção ou reação diferente. Então, como era laranja ardente? Calvin Winter, com cabelos como uma laranja? Uma abóbora? Eu pensei que alguns sinais de construção eram laranja... Mesmo ardente como uma descrição era difícil para mim. Algumas pessoas me disseram que o fogo era amarelado, enquanto outras diziam mais vermelho. Ou poderia ser como queimar gás em um fogão, o que aprendi, é na verdade azul. Mas esses nomes de cor não significavam nada para mim.

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Para mim, Calvin era cinza. Seus olhos eram cinzas e suas sardas eram cinzas. Eu nunca experimentaria aquele tom de cabelo vermelho que ele tinha. Então, por que um homem - que era da mesma cor para mim como um pôr do sol ou merda de cachorro - parecia se destacar do mundo ao seu redor de uma maneira que ninguém nunca fez? Eu não consegui explicar. Não inteiramente. Calvin - e quando ele tinha ido de Winter para Calvin? - era quente e não vou negar isso. Ele era tão diferente de Neil, e não apenas na construção e penteado. Ele era um pouco áspero e um pouco duro, mas ele tinha uma energia intrigante e uma espécie de personalidade reservada. E quando ele estava ao telefone comigo, ele parecia genuinamente preocupado, nada parecido com o comentário coração frio que a Sra. Martha Stewart havia feito. Neil não estava preocupado. Pelo menos não sobre mim pessoalmente. Eu estava preso no meio de uma cena de assassinato e Neil nem sequer ficou para se certificar de que eu estava bem. Eu levantei minha cabeça e limpei meus olhos. A água quente estava limpando, e meu corpo e minha mente estavam se sentindo melhor. Então me lembrei que tinha ficado duro olhando para Calvin mais cedo. Inacreditável. Não é como se ele tivesse me tocado ou me dissesse que queria fazer coisas más comigo. Inferno, ele nem estava olhando para mim. Ele realmente estava prestando mais atenção a um homem morto do que em mim. Eu me inclinei contra a parede, pressionando as palmas das minhas mãos contra meus olhos. Não havia problema em encontrar alguém atraente

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quando você estava em um relacionamento sério? Fazia tempo que ninguém, a não ser Neil, fizera meu pau doer tanto quanto em Bond Antiques, e normalmente exigia um pouco de esforço da parte de Neil para me levar até lá. Apenas pensando em sexo no mesmo fôlego que Calvin me fez chegar até me tocar. Isso não era bom. Não era saudável, certo? Fantasiar sobre outro cara, e definitivamente não um que eu não poderia ter, porque eu estava namorando Neil. Mais ou menos. E porque Calvin não estava entre os caras. Eu não recebi a vibe homofóbica que Neil fez, mas eu certamente não estava recebendo uma gay também. Mas então eu estava duro novamente, e não importava se Calvin era gay ou hétero. Fechei meus olhos e imaginei a mão dele em vez da minha. Grande e musculosa, com palmas calejadas capaz de dar exatamente a quantidade exata de pressão e velocidade que eu precisava. Eu pensei sobre como devia ser ficar nu com ele. Sua forma forte me cercando. Seu corpo inteiro nada além de músculo sólido, peito coberto de cabelos claros e sardas por toda parte. Por toda parte. Jesus, eu nunca tinha sido tão ligado por sardas na minha vida. Um pouco mais forte, um pouco mais rápido. Eu estava vagamente ciente da minha própria respiração pesada. Na minha fantasia, Calvin estava pressionado contra mim, meu pau entre nós enquanto ele acariciava. Ele mergulhou a boca perto da minha orelha, em seguida, mordeu e chupou o lóbulo. Ele queria me foder e eu queria muito. Eu abri meus olhos quando gozei de repente.

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Bem então. Então havia essa pequena verdade. Talvez Calvin não tivesse interesse em me foder de verdade, mas isso não mudava o fato de que eu teria me curvado para ele em um piscar de olhos. Limpei a garganta de um modo estou envergonhado de mim mesmo, me lavei mais uma vez e desliguei a água. Sequei e mudei para um terceiro conjunto de roupas para o dia, entrei na sala da frente e sentei no sofá antes de ligar a televisão. Ainda estava nevando, estava me dizendo. Noticiário estelar. – Há outra frente de tempestade no fim desta que, deve atingir a cidade de Nova York dentro de quarenta e oito horas. Haverá uma pequena janela quando os cidadãos poderão sair, tirar os carros e fazer as compras antes que eles possam esperar ser cobertos por outros dez a quinze polegadas. – Disse o meteorologista. – Maravilhoso. Eu me levantei de volta, fui até a cozinha e procurei nos armários por comida, convencendo-me de que não tinha apenas me metido em fantasias sobre um policial que estava quase pronto para me algemar naquela manhã. Ok, isso não era inteiramente verdade. Calvin disse que eu não era suspeito, mas a ameaça de ficar na cidade me dizia que eu estava definitivamente no topo da lista de interesses deles. Eu estremeci. Não é um lugar que eu queria estar. Eu tirei a tampa de uma lata de sopa e coloquei a sopa de amêijoas em uma panela. Eu assisti o conteúdo borbulhar. Algo sobre aquela cena do crime tinha sido estranho. Pelo o que Mike tinha sido atacado? Uma faca de açougueiro? Foi uma fatia tão grande em sua cabeça...

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Eu engoli o gosto amargo vindo pela minha garganta. Não, mais estranho que isso. Tinha sido... – O gato. – Eu disse de repente. O pobre animal que estava pendurado em uma corda em volta do pescoço. O que tinha sido isso, um aviso talvez? Mike tinha se metido com o tipo errado de gente e abandonou algo sem permissão? O que me pareceu mais bizarro do que o próprio gato foi que essa história era familiar. Eu corri para fora da cozinha e empurrei para o lado algumas caixas dos ganhos de propriedade que eu estava acumulando para chegar à estante de livros na sala da frente. Os âncoras de notícias estavam discutindo o lado alternativo das regras de estacionamento na rua sendo suspensas para o dia seguinte enquanto eu derrubava vários livros empilhados das prateleiras apertadas. Um excesso de romances de mistério estrelados por uma solteirona inglesa e seu gato; Há muito tempo eu estava sem lugar para guardá-los todos. Perto do fundo havia uma cópia velha e surrada dos Contos e Poemas Completos de Edgar Allan Poe. Crescendo com um pai como meu pai, a literatura era importante em nossa casa. Para o horror do meu Pop, eu nunca tinha sido um fã de Faulkner ou Hemingway quando criança, mas pelo menos eu amava Poe. Um homem deprimido com uma alma e mente torturada. Ele ganhou mais dinheiro depois de sua morte do que teve toda a sua vida como escritor. Peguei o livro, segurando-o perto do meu rosto enquanto lia o índice. Lá estava, página 387, "O gato preto." Corri para a mesa, sentei-me e peguei a lente de aumento para ajudar com a pequena impressão. Agora lembrei de

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ler isso no ginásio e como eu estava profundamente perturbado com isso. Os detalhes da história haviam desaparecido com os anos em que eu me recusei a reler, tudo, menos a morte do gato. Pluto. Esse era o nome dele. “Certa manhã”, li “a sangue frio, coloquei uma corda no pescoço e o pendurei no galho de uma árvore”. E aí estava. Um gato enforcado até a morte. Quais eram as chances que o gato deixado na loja de Mike era preto? Eu olhei de volta para as páginas, balançando a cabeça. Isso era estranho. Não. Isso era fodido. Talvez eu estivesse lendo muito sobre isso, mas por que histórias curtas de Poe vieram à mente tanto nesta situação quanto na minha loja ontem? Continuei lendo, me refrescando com a história perturbadora que envolvia um homem perdido na loucura depois de se tornar alcoólatra. Ele havia matado sua esposa com um machado... “Para a cabeça”. Algo estava queimando. Eu desviei o olhar do livro antes de pular e correr para a cozinha. Tanto para o almoço. Eu não estava com tanta fome assim. Desliguei o queimador e abri as persianas da pequena janela da cozinha. Eu estremeci e apertei um pouco, mexendo no trinco antes de empurrar a janela para cima e usar um pegador de panela para guiar a fumaça para fora. Eu respirei longa e profundamente. Quais eram os fatos? A loja de Mike tinha sido arrombada na noite de domingo, e o velho rabugento apontou um dedo acusador para mim. Na manhã de terça-feira, encontrei um coração de

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porco apodrecendo sob as tábuas do assoalho e, na manhã de quarta-feira, Mike foi encontrado morto em sua loja. Então havia a curiosa adição do gato. Eu me perguntei quais seriam as circunstâncias da invasão. Os detetives

não

haviam

oferecido

nenhum

detalhe

ontem.

Algo

indubitavelmente estranho teria ocorrido, ou alguém tão calado quanto Mike Rodriguez não teria pedido ajuda. E não que eu estivesse exatamente prestando atenção mais cedo em sua loja, mas não parecia ter sido saqueada. Tudo estava em ordem, pelo que eu poderia dizer. Enfiei a panela de sopa queimada na pia e liguei a água. Estava faltando alguma coisa. O que Poe tem a ver com isso? Qualquer coisa? Eu não poderia estar imaginando a conexão com a escrita dele, poderia? O que Mike e eu tínhamos em comum era bem básico. Nós dois éramos proprietários de lojas de antiguidades e vivíamos em Manhattan. Foi isso. Eu tinha trabalhado para ele, mas isso tinha sido anos atrás. Nós não éramos amigos, mas dificilmente inimigos. Eu tinha trinta e três anos. Mike tinha que ter uns cinquenta e poucos anos. Eu era um homem gay em um relacionamento comprometido e de merda. Mike era hétero e tinha sido solteiro de longa data. Comecei a esfregar a panela e pensei em ligar para Calvin. Talvez essa fosse uma revelação importante - o que exatamente era esse caso. A mesma pessoa poderia estar por trás do coração de porco da minha loja e do prematuro desaparecimento de Mike. Eu considerei brevemente que o coração poderia ter sido um aviso para mim. Mas sobre o que?

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Eu ia ser esmagado na cabeça em seguida? – Você não é um policial. – Eu disse a mim mesmo severamente. – O que aconteceu com o Mike é horrível, mas não é seu trabalho encontrar o cara. Fique fora disso, ou você vai ser preso. Isso teria sido suficiente para impedir que uma pessoa comum fosse pego em um caso de assassinato. Inferno, talvez em circunstâncias diferentes, eu teria ouvido meu próprio aviso também. Mas eu estava com raiva. Furioso com Mike, zangado com Neil, zangado com muita gente. E meu negócio foi violado. Eu me senti justificado. Eu limpei minhas mãos no meu jeans enquanto procurava pelo meu celular. Segurei-o perto o suficiente para ler e passei por contatos anteriores, peguei o celular de Calvin Winter e pressionei chamar. Ele não respondeu e, em vez disso, sua voz gravada me disse para deixar uma mensagem. – Ei. É o Sebastian. Snow. Sebastian Snow Ele sabe seu nome. Cale a boca e vá direto ao ponto. – Olha, eu tive uma ideia sobre quem pode ter machucado o Mike. É um pouco forçado, mas se você não se importa, me ligue de volta? – No meio da mensagem, comecei a me sentir um idiota. Eu era um civil, não um detetive. Minhas ideias não ajudariam. As pessoas que resolviam esses casos eram Neil e Calvin. Talvez eu deveria contar a ideia para Neil. Se ele planejasse falar comigo de novo.

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Percebi que fiquei em silêncio por um período excepcionalmente longo. – Desculpe desperdiçar seu tempo. – Eu desliguei rapidamente. ‡‡‡ EU CAÍ duro depois e dormi o resto da tarde. Acho que o que inicialmente me acordou foi o par de cardeais que se aninhavam na árvore do lado de fora da janela do nosso quarto. Os cardeais acasalavam por toda a vida. Eu tinha aprendido isso uma tarde muitos anos atrás, quando me mudei para este apartamento. Sorte deles. Aposto que eles se deram bem. Eu rolei de costas na cama. Meus olhos doíam. Eu adormeci com minhas lentes. Ótimo. O quarto estava bem escuro, e os números vagos no alarme diziam algo como 6:DS, então eu assumi que Neil estaria em casa a qualquer hora. Eu me sentei, peguei meus óculos na mesinha de cabeceira, e os coloquei antes de ficar de pé. Eu ouvi um armário de cozinha aberto e latas sendo movidas ao redor. Falando no diabo. Abrindo a porta do quarto, eu esfreguei a parte de trás da minha cabeça distraidamente. Eu me perguntei se Calvin havia interrogado Neil sobre seu paradeiro matinal para confirmar meu álibi. Quando parei no batente da porta entre a cozinha e a sala da frente, Neil se virou para me encarar. Afirmativo, senhor. E o alvo parece hostil. Prossiga com cuidado.

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– Oi, Neil. – Eu disse, encostando-me no batente da porta e cruzando os braços. Ele não respondeu. Ele bateu a porta do armário com força suficiente para sacudir os pratos dentro do outro. – Então... – Seu amigo me fez uma visita no trabalho. – Neil interrompeu. – Meu amigo? – Detetive Winter. – Ele retrucou, voltando-se para olhar para mim. – Ah-ha – Sem ah-ha, Sebby. Você disse a ele. Você disse pra ele porra! – Que eu tinha um álibi que me manteria fora da cadeia? – Eu argumentei de volta. – Você está malditamente certo, eu disse a ele, Neil! E como você sai assim? Eu estava em uma cena de assassinato hoje, e você nem ficou para ter certeza de que eu estava bem! – O que eu te disse hoje de manhã? – Neil perguntou quando ele se aproximou de mim. – Eu disse para você não ir ao Mike. Você prometeu e o que você fez? Você se envolveu! – Tecnicamente eu nunca prometi… além disso, eu poderia ter me machucado! – Isso teria sido sua própria culpa! Fiquei atordoado por um instante. Não importa o quão bravo eu pudesse estar com Neil, se ele estivesse em apuros, eu sei que não daria uma única merda sobre argumentos no passado. O que teria importado era sua saúde e segurança. – Você é inacreditável. – Eu disse.

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– Foda-se, Sebastian. – Ele disse com os dentes cerrados. – Você disse a um policial que eu era gay. Isso é oficial agora! Isso está nos livros! Você sabe com que rapidez isso vai dar a volta? Você colocou em risco todo o meu sustento! Eu joguei minhas mãos para cima. – Certo, eu esqueci. Isso é tudo sobre você, Neil. Todo este relacionamento desde o início tem sido o melhor para você! – Sebby... – Pare de me chamar assim! Deus! Eu odeio isso! Neil balançou a cabeça e fez menção de me mover na porta. Eu parei ele dando um passo à frente. Não. – Eu exigi. – Você não vai sair da sala sem falar comigo. Estendi a mão para colocar a mão no peito de Neil, mas ele me empurrou. Forte. Eu bati no batente da porta quando ele passou por mim. – Como você acha que eu me sinto? – Eu chamei quando ele foi em direção ao quarto. – Ser alguém de quem você tem vergonha por quatro anos. Eu não posso nem andar muito perto de você em público sem você ficar estranho. – Cale a boca, Sebastian. – Eu precisei de você hoje, Neil! – Eu o segui até o quarto. – Eu estava com medo e poderia ter sido jogado na cadeia. Eu precisava do meu parceiro, e você acabou de me deixar! – Eu o vi enfiar as roupas em uma bolsa. – Onde diabos você está indo?

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– Eu prefiro dormir no meu carro do que olhar para você agora, Seb. – Isso é bom. Muito legal. – Eu retruquei de volta. – Estamos em um momento crítico em nosso relacionamento e você está saindo. – Isso mesmo. – Neil disse enquanto olhava para cima. – Eu estou. Eu não quero falar com você. Eu não quero ouvir você. Você fez... Eu estou tão bravo, Sebastian, que... eu não posso nem gritar porque estou além disso. – O que isso diz sobre nós, Neil? O que estava acontecendo? Ele honestamente esperava que nosso relacionamento ficasse em segredo para sempre? Eu não poderia viver assim. A realidade - ter que desistir de Neil se ele não se sentisse à vontade comigo - doía muito. Ele não estava me respondendo, apenas terminando de encher sua bolsa com mais alguns itens. – Neil. – Eu disse novamente, minha voz desesperada. Ele colocou a bolsa no ombro e me empurrou para o lado quando saiu do quarto. Eu me virei e o segui, me sentindo como um cachorrinho patético. – Você realmente só vai sair? Tratamento silencioso. – Neil, eu não posso viver assim. – Eu disse, ajeitando meus ombros. Ele colocou o casaco e botas na porta. – Neil! Porra! – Eu não podia lutar - não conseguia entender - se ele nem sequer me encontraria no meio do caminho. – Se você sair, eu estou trocando as porras das trancas. – Cai fora, Seb. – Ele abriu a porta e saiu.

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– VOCÊ PARECE uma merda. – Obrigado. O Emporium foi capaz de abrir na manhã seguinte, a tempestade terminou em algum momento durante a noite. O prefeito havia suspendido a proibição de dirigir, e a MTA5, por mais breve que fosse antes da próxima tempestade, estava correndo. Com atrasos. Claro. Max demorou mais de uma hora para chegar à loja, mas sinceramente não me importei. Eu estava sentado no meu escritório, olhando para a tela preta do computador quando ele entrou. – Não era para ser interpretado como um elogio. – Max continuou enquanto tentava consertar o cabelo depois de tirar a capa de inverno. – Eu sei, mas já que me sinto pior que merda... – Uma tênia na porcaria de gato. – Max ofereceu prestativamente. – Sim, claro. De qualquer forma. A merda é um elogio. Max se virou e apontou para o balcão. – Eu te trouxe um café. Eu olhei para cima com o que certamente seria um sorriso patético, porque Max de repente pareceu muito preocupado. – Obrigado. Eu fiquei de pé.

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Linha de metrô.

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– Neil? – Ele adivinhou. Não que fosse difícil. Eu gostaria de ter uma pequena irritação para reclamar, como se o aquecedor de água do meu prédio estivesse quebrado, ou os garotos da faculdade que moravam acima de mim tivessem uma festa até as quatro da manhã. Alguma coisa. Qualquer coisa. Mas a realidade era que meu aquecedor era extremamente bom em seu trabalho, e as crianças acima de mim eram do tipo livresco. – Tudo bem. – Eu disse enquanto acenava com a mão. Eu olhei os quatro copos. – Por que tantos? – Eles lançaram novos sabores. – Max explicou. – Dois para cada um de nós! Peguei um dos cafés que parecia ter meu nome rabiscado no lado e tomei um gole. Outra mistura açucarada da Starbucks, mas Max os amava. Ele estava tentando me convencer a favor deles, mas eu gostava do meu café escuro e amargo. Talvez isso tenha dito algo sobre mim. Eu coloquei o copo de lado e peguei um pedaço de doce saltwater que deixei em uma tigela no balcão. Café amargo e doce de velho. – ...O Japão tem o sabor de flor de cerejeira. – Max estava dizendo. – O quê? – Sakura, não é? Na primavera, eles têm frappés rosas. Eu quero ir lá então eu posso tentar um. – Tenho certeza de que há uma razão melhor para fazer uma viagem ao redor do mundo.

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– Por que você iria para o Japão? – Ele perguntou enquanto tomava sua bebida. – Eu? Na terra do sol nascente? Vamos. – Eu ficaria cego, eu brinquei de leve. Max riu. – O que você precisa fazer hoje? Respirei fundo e tomei outro gole de noz-moscada-caramelo-mochasoja-ou-o-que-diabos-isso-era, o que não combinava bem com o caramelo e depois acenei para as costas. – Nós devemos passar pelas caixas. – Finalmente? – Ele perguntou com um sorriso. – Limpeza de primavera. – Eu respondi. – Pouco cedo para isso. – Max comentou. – Eu preciso de um novo começo. – Eu disse. Me ouvir dizer isso foi... estranho. Será que eu quis dizer o que disse a Neil na noite anterior, sobre trocar as fechaduras? Ele entendeu o que eu impliquei com isso? Eu entendi no calor do momento? Eu acho que sim. – Pegue um par de luvas e a prancheta. Comece com a caixa um. – Sim, entendi. – Max disse, saindo com o café para fazer o que lhe pediam. Peguei meu celular do bolso e levantei para pegar meu pai nos contatos. Eu sabia o que ele diria sobre isso. Eu nem precisava ouvir. Não de verdade. Talvez. – Papai?

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– Ei, garoto. Tudo certo? Eu tentei te ligar ontem. – Você fez? – Uh-oh – Por volta das oito. Eu desliguei meu telefone depois que Neil saiu. Eu queria fazer um ponto, na possibilidade dele tentar ligar durante a noite. – Desculpe, Pop. Eu desliguei meu telefone. – O que está acontecendo com Mike Rodriguez? Um detetive me ligou ontem sobre sua visita. – Mike está morto, papai. – Eu disse baixinho, olhando para cima, mas Max estava longe na parte de trás da loja. – Bom Deus! – É complicado - não é exatamente por isso que eu liguei. – Admiti egoisticamente. – Você tem algo que vai superar isso? – Bem, não, mas… Neil saiu ontem à noite. Houve uma longa pausa ao lado do meu pai. Tanto que achei que a ligação havia sido perdida. – Papai? – Ele está voltando? – Ele finalmente perguntou. Eu não tinha certeza e disse a ele enquanto sentava no banco atrás do balcão. – Eu não sei o que fazer, Pop. – É a sua vida, Seb. Eu não posso te dizer como viver isso.

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– Você poderia me dar algumas dicas. – Eu brinquei. – Merda bateu no ventilador porque eu disse ao detetive que eu morava com Neil. Eu tinha que fazer isso. Ele estava me questionando. Eu ouvi meu pai suspirar. – Eu sei porque você está dividido sobre isso, Sebastian. – Você sabe? – Vocês estiveram juntos por um tempo. Não é fácil ter seu coração partido. Eu senti um nó inesperado e limpei minha garganta. Tal pai, tal filho. Minha mãe tinha largado meu pai e eu quando eu tinha cerca de seis anos de idade. Minhas lembranças dela não são ótimas, mas a devastação do meu pai? Isso eu me lembrava com clareza dolorosa. A porta da loja se abriu e ouvi Max cumprimentar o freguês. Virei as costas para continuar a ligação com meu pai. – Talvez só precisemos de algum tempo separados. – Eu disse, sem jeito. – Seb. – Meu pai começou. – Sebastian? – Max chamou. – Espere, papai. – Eu virei. – O que é? Max apontou. – É seu detetive. – Meu...? Neil? Não. Calvin entrou em vista ao redor de um pilar.

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– Bom dia. Meu coração deu um salto repentino de excitação, que definitivamente não era o que eu achava que deveria estar sentindo. –Eu, uh, desculpe, tenho que ir, Pop. Eu posso ligar para você depois? – Eu me despedi apressadamente antes de desligar e descer as escadas para encontrar Calvin. – Como está tudo aqui? – Ele perguntou. Eu olhei para Max, que entendeu e se desculpou antes de sair. – Tudo bem. – Eu disse, olhando para cima. – Livre de qualquer desmembramento ritualístico. – Bom. – Ele disse simplesmente, como se esperasse isso como minha resposta. – Eu estou preso? – Não, mas se você quiser tão ardentemente ver o interior de uma cela, apenas peça. – Calvin respondeu. Eu fui pego de surpresa pela resposta espertinha. Então ele fez algo que eu não tinha visto ainda. Ele sorriu. – Então você pode ficar sem palavras. – Ele afirmou. Eu realmente não sabia como responder. Eu olhei um pouco para ler melhor a expressão de Calvin. Apesar do sorriso, ele parecia cansado. Abatido, mas mantendo-se junto. – Você dormiu? Desde ontem? Ele consultou seu relógio, como se ele realmente não soubesse que horas eram. – Não.

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Para minha surpresa, perguntei: – Você quer café? – Isso seria legal. Conduzi Calvin até o caixa e peguei o segundo café que Max comprara para mim. – Eu não sei qual o sabor louco. – Eu avisei. – Eu não sou exigente, ele disse enquanto pegava. Obrigado. Eu assisti ele tomar a bebida. – Não que eu não goste da sua companhia. – Eu disse casualmente. – Mas por que você está aqui? – Você me ligou. – Eu fiz? – Ontem. – Oh. Certo. Eu não queria desperdiçar seu tempo. Isso foi um erro. – Você disse que pode ter uma ideia sobre o assassinato do Sr. Rodriguez. Isso não é um desperdício do meu tempo. – Por que você não me ligou de volta? – Eu prefiro que essas conversas aconteçam pessoalmente. – Calvin tomou outro gole. – Então? – Então o quê? Ele parecia mais cansado. – O que você quer me dizer? Eu balancei a cabeça. – Desculpa. Me desculpe, eu... tive uma noite ruim. – Podia-se argumentar que Calvin era o motivo. Se ele não tivesse falado com Neil - mas

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não. Foi infantil passar a culpa. O fato era que Neil era um homem de trinta e sete anos que se envergonhava de si mesmo. E de mim, por proximidade. – Tenho certeza. – Calvin murmurou. – O que? – Detetive Millett. – Ele olhou para cima, estudando a escrita secreta do barista no copo de café. – Eu suponho que você não precisa de mim para dizer mais. Eu esvaziei um pouco. – Não, eu admiti. – Por um instante, não houve som, a não ser o de Max usando um cortador de caixas. – De qualquer forma. É uma espécie de sugestão externa. – Eu olhei de volta, Calvin estava observando e esperando em silêncio educado. – Você conhece muito sobre Edgar Allan Poe? Um lampejo de algo traiu suas feições estoicas. Eu não tinha certeza do que tinha sido, mas eu poderia dizer que agora eu tinha o interesse dele. – Ele era um escritor. – Calvin forneceu. – Poemas e contos, ensaios e críticas. Conhecido pelo seu mistério e macabro. Expulso de West Point. Casou com sua prima em primeiro grau, Virginia Clemm. Ele morreu em circunstâncias misteriosas em Baltimore, em 1849. Fiquei surpreso, mas não tenho certeza do porquê. Tinha sido uma espécie de pergunta retórica, mas Calvin sabia mais do que eu esperava, o que foi rude porque quem era eu para dizer que ele não era do tipo literário? Ou até alguém intrigado pela misteriosa morte de um homem misterioso? Eu estava julgando Calvin baseado no meu conhecimento de Neil, que não era muito leitor de ficção.

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– Ah... isso mesmo. – Respondi estupidamente. – Você leu muito do seu trabalho? Calvin tomou um gole de café. – Especificamente "O Gato Preto". – Não. – Ele respondeu. – Um louco mata seu gato preto de estimação amarrando um laço em volta do pescoço e pendurando-o em uma árvore. – Expliquei. – A culpa do assassinato do primeiro gato faz com que o homem tente matar um segundo, mas ele acaba matando sua esposa. – Tenho certeza que você está chegando a um ponto. Eu fiz uma careta para a interrupção. – Ele a mata com um machado na cabeça. É considerado um dos seus contos mais terríveis. – Com um bom motivo. – De que cor era o gato? Ontem, na loja? – Certo, porque você tem acromatopsia. – Você lembra disso? Ele pegou o celular e rolou brevemente antes de ler em voz alta. A acromatopsia completa é um distúrbio visual não progressivo, caracterizado pela diminuição da visão, pela sensibilidade à luz e pela ausência de visão de cores. Afeta 1 em 33.000 americanos. Indivíduos com acromatopsia completa diminuem significativamente a acuidade visual à luz do dia, hemeralopia, nistagmo e fotofobia grave. – Eu não diria grave. – Eu murmurei.

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– Eu não noto nistagmo em você. – Ele afirmou, embolsando o celular e olhando para mim. O nistagmo era o movimento involuntário dos olhos, às vezes chamado de olhos dançantes. – Meu, eu estou lisonjeado. – Eu respondi zombeteiramente enquanto segurava a mão no meu peito. – Eu tive isso quando criança. Ficou melhor à medida que envelheci. Só acontece de vez em quando. – Sem cor, né? – Não. Ele assentiu pensativo e bebeu seu café novamente. – Interessante. – É? – Na verdade, não. – Eu diria que é mais uma dor. – Isso foi oficialmente diagnosticado? – Calvin perguntou. – Claro que sim. Você acha que eu brinco de cego por atenção? – As pessoas fazem muitas coisas malucas por atenção. Eu bufei e cruzei meus braços. – Vou te dar o número do meu oftalmologista. Podemos falar sobre o gato, por favor? – O gato era preto. – Calvin respondeu. – Essa é sua teoria? Algum cara enlouquecido está reencenando histórias de Edgar Allan Poe? – Eu, uh, não exatamente. – Eu disse. Essa era minha teoria? Tudo o que eu sabia era que a semelhança com a escrita de Poe era estranha e perturbadora. – “O Gato preto" é frequentemente comparado a "O Coração delator" por causa da culpa semelhante que o narrador experimenta sobre seu assassinato. – É assim mesmo? – Calvin não parecia interessado.

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– “O coração delator” é sobre... – Eu sei do que se trata. – Ele disse me cortando. – Eu também tive inglês. – Então você vai achar difícil negar que o que aconteceu na minha loja na manhã de terça-feira é exatamente como aquela história. – Não exatamente, a menos que você tenha encontrado o resto de um corpo hoje. – Disse Calvin. – Não, mas o foco da história é o coração. – Era o coração de um porco. – Eu joguei minhas mãos para cima. – Olha, tudo o que estou dizendo é que é estranho. Realmente estranho. Houve alguma outra morte ultimamente que... – Você não tem direito à essa informação. – Calvin respondeu rapidamente. – Eu não estou pedindo detalhes do caso. – Você é um civil. Eu aprecio sua teoria, mas deixe isso pra lá. Não comece a pensar que você pode brincar de detetive amador só porque você sabe uma coisa ou duas sobre cenas de crime. – Eu não estou! – Eu protestei. Max deixou cair uma caixa nos fundos e o barulho ecoou pela loja. Calvin se assustou abruptamente, quase comicamente, e deixou cair o café. A tampa se soltou e o líquido quente escorreu por todo o meu balcão. Ele ficou congelado no lugar por apenas um segundo, tempo suficiente para eu ver que o barulho realmente o assustara. Ele piscou e olhou para baixo.

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– Merda. Eu sinto muito. – Não, está tudo bem. – Eu saí para pegar um rolo de papel toalha do escritório e trouxe de volta para absorver a bagunça açucarada e pegajosa. – Max? – Desculpe, desculpe! Foi apenas livros! – Ele disse de volta. – Apenas livros? Eles estão bem? – Eu deixei a bagunça e corri para fora dos degraus e pelos corredores apertados. – Deixe-me ver. Max abriu a caixa no chão, apontando para as antiguidades. Todos presentes e contabilizados. – O que aconteceu? – Aranha. – Ele sorriu timidamente. Eu me agachei, olhando o conteúdo. – Passe por estes próximos. Certifique-se de que as lombadas e os cantos estão bem. Algumas delas parecem com encadernações originais da editora. – Tudo bem. Desculpe, Sebastian. Saí do lado de Max e voltei ao caixa para ver Calvin jogando as toalhas de papel sujas no cesto de lixo. – Não se preocupe com isso. Eu vou limpá-lo. Ele olhou para mim. – É melhor eu ir, se não houver mais nada que você precise me contar? Eu balancei a cabeça. – Não, foi isso. Calvin desceu e assentiu. – Eu entrarei em contato.

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Eu estava surpreso. – Você poderia? Ele parecia estar contemplando sua própria escolha de palavras. – Tenho certeza de que você vai entrar no meu caso novamente. – Caramba, valeu. Isso o fez rir e, sem outra palavra, Calvin se virou para sair da loja. ‡‡‡ O RESTO do dia no Emporium foi confortavelmente ocupado. Não tive tempo de pensar em Neil, o que foi um alívio. Nas horas vagas eu me dediquei a comer meu almoço de sushi, trazido a mim por um entregador muito bom, e me fixando nos casos de Calvin. Ou eu deveria dizer, caso. Porque meu pequeno fiasco era um livro fechado. Nada mais que uma brincadeira. Certo? E, no entanto, duas lojas de antiguidades na mesma semana tinham experimentado um evento muito reminiscente de Poe, e uma delas terminara com uma fatalidade. E se eu tivesse pegado o indivíduo na minha loja plantando o coração? Eu teria sido cortado e colocado debaixo do chão, assim como no Coração delator? Sim. Eu não estava obcecado com isso. Eu coloquei um rolo de atum na minha boca enquanto endossava alguns cheques que haviam sido entregues pelo correio. Eu precisava parar no banco a caminho de casa. Eu deveria comprar comida também.

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Eu poderia perguntar a Neil... Não. Eu não ia pensar sobre ele, sobre o nosso relacionamento que ele tinha essencialmente feito uma bola e jogado no lixo na noite passada. Ele não ligou, mandou uma mensagem, não tinha feito nada para indicar que estava arrependido. E eu certamente não estava me desculpando. Eu não tinha nada para pedir desculpas. O Gato Preto não era uma das histórias terrivelmente conhecidas de Poe, pensei, em vez disso, enquanto me recusava a reconhecer que estava direcionando meus pensamentos sobre Neil para um tópico igualmente insalubre. – Max? – Eu chamei do meu escritório. Olhei pela porta aberta do caixa, onde ele estava enrolando uma pequena bugiganga em papel de seda para um cliente. – O que você lembra quando eu digo Edgar Allan Poe? – "O Corvo" – Max ofereceu. Ele entregou a venda para a mulher mais velha, mostrando um de seus sorrisos assassinos e agradecendo-a por seus negócios antes de avisá-la para estar segura na calçada escorregadia. Era óbvio, mas acho que Max tinha razão. Se havia um trabalho pelo qual Poe era conhecido acima de tudo, provavelmente era O Corvo. Isso me deu uma ideia, e eu liguei meu computador. Os níveis de brilho da tela de boas-vindas foram reajustados. Eu xinguei, digitando a senha e baixando imediatamente as configurações. – Defina os níveis de brilho no computador de volta ao normal quando tiver terminado. – gritei para Max.

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– Desculpe! Você sabe, eles tecnicamente estão definidos como normais. – Ele brincou. Max enfiou a cabeça. – Desculpe. – Acrescentou novamente. Acenei para ele e continuei a comer sushi enquanto lia as manchetes dos jornais. Nada saltou fora como extraordinário, entretanto, levava um pouco para sacudir os nervos de um Nova-iorquino nativo. Tomei uma abordagem diferente e verifiquei as estatísticas criminais do NYPD para o final do ano. O crime global caiu 20% em relação ao mesmo período do ano anterior. Bem, isso era uma boa notícia, eu supus. Ah, mas sempre há um asterisco nesses comentários. Assassinato foi para cima. Um mapa interativo me contou exatamente onde também. Os bairros mais afastados, principalmente, mas meu bairro, o East Village, tinha um número surpreendente de bandeiras vermelhas. Eu ampliei o mapa e cliquei para detalhes do crime. Um assassinato e mais de uma dúzia de assaltos. Eu considerei o assassinato em particular por um momento. Não era a morte de Mike, já que o contador da web parecia estar atrasado em uma semana. Apesar do número de pessoas que moravam em Nova York, os bairros eram bastante apertados. Notícias viajavam. Um assassinato teria sido falado, ainda que brevemente. Alguns minutos de navegar na internet não trouxe nada de interesse substancial, no entanto. Caso aberto, ainda? Uma vida perdida e a mídia alegou ser sem importância? Eu poderia perguntar a Neil... não.

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Eu poderia perguntar a Calvin - ele me disse para ficar fora disso. Isso soa familiar. Tirei meus óculos e esfreguei o rosto em irritação. Eu não sei o que eu estava esperando encontrar, talvez www.assassinatosdavidarealdepoe.com? Eu coloquei meus óculos de volta e tentei isso. Não era um domínio real. Eu estava quase aliviado. Voltei ao mapa do crime e percebi, com uma espécie de curiosidade, que podia ampliar o mapa e ver as ruas transversais exatas de cada crime registrado no meu bairro. O assassinato foi um pouco ao norte do meu apartamento e loja. Abri outra página e vasculhei o bairro, mas o East Village era uma área rica e moderna, e eu não tinha como saber com certeza se o crime ocorrera em uma das fachadas do primeiro andar ou em um dos muitos apartamentos acima. Eu não poderia dizer ao certo por que eu estava obcecado com este único assassinato, de todos os outros que ocorreram na cidade. Eu acho que eu estava desesperado por alguma lógica - e eu uso a palavra livremente porque Mike foi morto. Calvin já estaria examinando os detalhes, para ver se havia alguma relação com qualquer outro crime não resolvido. E aí estava. Minha pista O olhar que Calvin me deu quando comecei a falar sobre Poe. Eu sabia. – Eu sabia disso! – Eu gritei triunfante. – Sabia o que? – Max falou de algum lugar da loja. – Uh... – Eu olhei para um dos anúncios ao lado da página. O Garden estava vendendo ingressos de hóquei. – Os Rangers estão bem para os playoffs nesta temporada!

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Eu podia ouvir Max falando com um cliente a caminho do escritório. Fechei as abas da internet e desliguei o computador quando ele enfiou a cabeça na porta. – Você não segue hóquei. – Ele apontou, como se eu estivesse perdendo a cabeça. – Eu não? Max bufou e riu. – Você está realmente começando de novo. Deus, Neil deve estar na casa do cachorro. Eu grunhi enquanto ficava de pé. – Está ocupado? – Algumas pessoas. – Max virou-se e correu para o balcão quando uma mulher elegante apareceu, segurando uma foto emoldurada. Eu parei na porta, segurando meu telefone perto para digitar uma mensagem. Qque acotecceuu em 13 entre 2ad e 3a avenida? Eu sou muito ruim em mensagens de texto. Eu sou um homem de setenta anos dentro do corpo de um em seus trinta anos. Eu não conheço muita gíria além do LOL e do ASL - que acho que está extinta de qualquer maneira - e, embora aparentemente meu telefone tenha uma enorme biblioteca de emojis, ainda não tenho ideia de como acessá-los. Enviei a mensagem e coloquei meu celular no bolso de trás antes de alisar minha camisa enrugada e fazer o meu caminho pelos corredores do Emporium. Uma pessoa familiar estava de pé ao longo das prateleiras de trás, vasculhando os títulos que já tinha visto centenas de vezes.

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– Boa tarde Beth. Beth Harrison se virou. – Oh, oi Sebby. – Sebastian, eu corrigi. – Ela nunca escutou. Beth tocava a livraria usada ao lado. Fazia parte da família dela quase tanto tempo quanto o Strand6 estivera ao redor, e embora nunca tivesse sido uma parte oficial do que uma vez foi a Book Row7, Beth estava determinada a manter sua lojinha em funcionamento. Ela fazia todos os tipos de eventos semanais e tinha uma quantidade impressionante de autores, conhecidos e ainda a serem descobertos, entrando e saindo de suas portas. Havia círculos de leitores, contratações, festas de lançamento - ela comia, dormia e respirava o negócio dos livros. Ela também tinha o hábito de passar pelo menos dois ou três intervalos de almoço por semana na minha loja, olhando meus livros antigos. Eu sinceramente esperava que não houvesse nada que ela quisesse hoje. Eu não estava pronto para pechinchar preços. – Nada de novo? – Ela perguntou, enrolando o cabelo grisalho atrás de uma orelha. Beth era uma mulher bonita, mais velha, com 50 e tantos anos, que se preocupava com moda tanto quanto eu. Ela usava óculos grandes e grossos que pendiam de uma corrente de strass. O cabelo dela estava enrolado para trás com uma caneta saindo do coque, e ela usava uma saia estampada com botões de flanela. Sim, ela não dava uma foda.

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Loja de livros usados. Área entre Union Square e Astor Place, em NY.

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– Não desde ontem. – Eu parei. – Isso não é uma frase de “A bela e a fera”?" – Princesa. – Beth murmurou enquanto se voltava para a coleção. – E quanto a todos aqueles da propriedade estatal? – Ainda estamos catalogando. – Respondi. Beth zombou. – Eu não posso te pagar se você não colocar os livros na prateleira, Seb. – Você não me paga de qualquer maneira. – Eu paguei minha conta na semana passada. – E imediatamente comprou minha primeira edição de “O cão de Baskervilles" – Respondi. – Você teria conseguido muito mais se tivesse na loja quando a segunda temporada de Sherlock foi ao ar. – Beth acrescentou. – Você ainda me deve três mil. – Na semana que vem. – Ela disse com um aceno de mão. – E eu pensei que nós concordamos em dois e oitocentos? – Três. – Eu disse com firmeza. – Estava em boas condições e sei que você cobrará mais do que o suficiente de seu cliente. Beth suspirou e sorriu. – Tudo bem, tudo bem, Sebby, mas só porque gosto de você. – Graças a Deus. – Você conhecia aquele pobre rapaz que faleceu. – Ela rapidamente começou. – O cavalheiro da venda de antiguidades - todos aqueles livros baratos que eu ganhei... – Eu sei que você ganhou. – Eu consegui cortar.

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Algumas semanas atrás, várias lojas de antiguidades tiveram a primeira chance de concorrer em uma impressionante biblioteca de livros antigos que um banco tentava liquidar depois que o proprietário idoso morreu. Eu tinha ganhado e então disse a Beth que os livros restantes - livros de bolso e do tipo - seriam vendidos ao público em geral se ninguém fizesse uma oferta pelo lote. Então ela fez, e Beth tinha sido feliz com o que ela ganhou e me levou para almoçar como um agradecimento. – Shh, escute. – Ela repreendeu. – Ele tinha tantos romances gays. – Mesmo? – Oh, toneladas, Sebastian. – Beth riu. – E você sabe, eles estão voando das minhas prateleiras. Muitos mistérios também. Ele tinha gostos muito diversos. – Hã. – Eu brevemente considerei trocar isso e passar o almoço de amanhã na casa ao lado. Talvez eu pudesse viver meu feliz para sempre através de alguns livros de bolso baratos e alegres. – Qualquer um com policiais? Beth bufou. – Muita coisa com bombeiros. – Eu prefiro armas sobre mangueiras. – Com licença? – Uma voz calma atrás de mim perguntou, interrompendo uma conversa que levaria a um buraco de coelho cheio de trocadilhos ruins. Virando-me, fui recebido por um homem talvez alguns anos mais novo que eu. Ele era muito alto e magro, com um grande sorriso e grandes olhos. – Olá. Posso ajudar você a encontrar alguma coisa?

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O estranho sorriu alegremente. – Eu queria saber se você tem quaisquer clássicos americanos. – Ele se virou para acenar para as estantes de livros. – Hemingway, Fitzgerald, Dickinson, Poe? Beth deu um tapinha no meu ombro e se inclinou para sussurrar. – Envie-o ao lado quando terminar. – Ela se desculpou e correu de volta para sua loja, Good Books. Quando Beth partiu, meu novo cliente imediatamente estendeu a mão. – Meu nome é Duncan Andrews. – Sebastian Snow. – Eu disse, apertando sua mão. – Você é o dono? – As contas são mandadas para mim. Ele riu. – Eu amo sua loja. É muito legal. Eu vim alguns dias atrás. Você tem muitos livros legais. – Ah, obrigado. – Eu disse humildemente. – Você está procurando por um presente de Natal? – Hmm... bem, para mim. – Duncan disse com uma espécie de sorriso culpado. – Acho que tenho algo de Emily Dickinson. – Falei, passando por Duncan até uma estante de livros mais abaixo na parede. Ele seguiu logo atrás. – Acho o trabalho de Dickinson muito triste. Você gosta de sua poesia? Parei ao lado da prateleira mais próxima da porta da frente e me virei para olhar para ele.

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– Honestamente, eu nunca fui um grande fã, mas estudei o trabalho dela na faculdade. O rosto de Duncan pareceu se iluminar. – Eu me formei em Literatura Americana na faculdade! – Meu pai ensinou por um longo tempo, eu disse. – Eu olhei para os livros e me inclinei para começar a verificar as lombadas. – Eu comecei a apreciar os grandes nomes quando eu fiquei mais velho, – continuei. – Mas se eu tivesse que escolher um poeta que escreveu sobre a morte... – Poe? – Perguntou Duncan. Eu olhei de lado. – Sim. Eu sou muito mais fã de Poe do que Dickinson. Duncan deu outro sorriso e passou a mão pelos cabelos. – Seu trabalho é realmente incrível. Eu o acho fascinante. – Muito misterioso. – Eu concordei quando imagens de corações de porco e gatos mortos entraram em minha mente. Eu peguei um pequeno livro e mostrei a Duncan. – Aqui está. Ele aceitou a oferta. – Eu suponho que você não tenha algum Poe também? – Eu não. – Respondi. – Mas Good Books ao lado com certeza tem algo, embora nada de antiguidade. Duncan assentiu. – Ok. Obrigado Sebastian. – Posso ligar para você? – Fiz sinal para ele me seguir através do emaranhado de exibições.

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Dean Martin estava fazendo serenata sobre os alto-falantes enquanto nós íamos para o caixa de latão. “Se eu o segurasse com força, ele estaria aquecido todo o caminho para casa”. Eu não sei, Dean. Eu meio que tenho uma queda por Frank Sinatra. Você não vai dizer a ele se eu segurar você, vai? – Você não tem nenhum enfeite de Natal. – Duncan apontou quando ele me devolveu o livro para embrulhar em papel de seda. – Oh. Sim, acho que nunca cheguei a isso. Mas eu tenho as músicas pelo menos. – Eu olhei para cima e sorri. Duncan olhou em volta para falar antes da porta da loja se abrir. – Sr. Snow! Sr. Snow, esqueci uma carta! – Minha enérgica e amável pequena dama do correio falou. Se alguma vez houve um funcionário da USPS que levou a sério a chuva e a neve, foi minha garota, Daphne. – Obrigado, Daphne. – Eu disse, estendendo a mão para aceitar o envelope. – Você poderia ter deixado para amanhã. Ela me calou e acenou. – Tenha uma boa tarde, querido! Duncan olhou para a carta. – Admirador secreto? Eu ri e coloquei o envelope de lado. – Duvidoso. – Oh, não pense isso. – Duncan deslizou seu cartão de crédito para pagamento. – Eu acho que você é muito... legal. Legal? Eu peguei seu cartão e entreguei de volta. – Oh.

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Espere. Deus, eu sou ruim nisso. – Oh. – Eu limpei minha garganta. – Uh, obrigado. Duncan abaixou a cabeça ligeiramente, falando com seus sapatos. – Jantar? – O que? – Almoço? – Ele emendou rapidamente. Eu me atrapalhei com a compra de Duncan e rapidamente terminei de envolvê-lo. Eu não tinha sido convidado para sair em um encontro há muito tempo. Eu nem conhecia esse cara. Claro, não é realmente esse o ponto de ir a um encontro, para conhecer a pessoa? Ele era meio fofo também. E a coisa com Neil… Coloquei o livro em uma sacola e empurrei-o pelo balcão. – Posso pensar sobre isso? Eu não quero ser rude. – Continuei. – É só... acho que estou no final de um relacionamento de longo prazo e talvez deva ir devagar. Duncan olhou de volta. – Você tem um namorado? Dei de ombros. – Não tenho tanta certeza nos dias de hoje. – Eu vou te ver novamente em breve. – Duncan prometeu enquanto pegava a bolsa. Eu senti meu rosto esquentar quando sorri. Eu vou ser honesto, a atenção foi legal.

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– Tudo bem. – Tchau, Sebastian. – Adeus. Duncan acenou e ofereceu outro grande sorriso torto antes de sair da loja. Não notei Max até Duncan sair do balcão. – Cara. – Ele disse rapidamente. – Você acabou de ser convidado? – Ah, sim, acho que sim. – Por que está corando? – Eu estou? Max apontou um dedo acusador. – O que aconteceu com Neil? Não diga: nada, Seb. Eu fechei minha boca e considerei uma resposta. – Muito pouco. – Espertinho. – Ele andou até o balcão e se inclinou sobre ele. – Vocês se separaram? – Ele sussurrou, por uma questão de privacidade, já que a loja não estava vazia. – Acho que devemos colocar as decorações do feriado. – São menos de duas semanas antes do Natal. – Antes tarde do que nunca. – Não mude de assunto. – Max avisou. Soltei um suspiro irritado e me inclinei para sussurrar. – Tivemos uma briga. Eu não sei o que vai acontecer, ok? E eu realmente não sabia.

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CALVIN NUNCA retornou meu texto sobre esse assassinato. Eu realmente esperava que ele fizesse? Mais ou menos. Ou pelo menos eu estava esperando que ele fosse, o que era idiota da minha parte porque ele era policial e não ia divulgar informações por meio de um maldito texto. Eu planejava ir ao banco e mercearia antes de ir para casa, mas acabei me desviando para a 13th Street, a localização do assassinato de East Village. Calma, limpa, alinhada com árvores nuas cobertas de neve, assim como a minha rua. Havia uma série de pequenos restaurantes e algumas lavanderias, mas os prédios eram multiusos e tinham três ou quatro andares de apartamentos acima das lojas. Uma mulher que passeava com um grande golden retriever parou nas proximidades. – Você está perdido? – Ela perguntou, talvez me confundindo com um turista muito confuso. Eu olhei para ela e sorri desajeitadamente. – Ah não. Na verdade, você mora por aqui? Ela me olhou, mas eu acho que eu parecia inofensivo o suficiente, ou ela confiava em seu cachorro para protegê-la, porque ela assentiu. – Sim claro. Por quê? – Isso pode parecer muito, muito estranho. – Eu avisei. – Mas você já ouviu falar de algum assassinato nesta área? – Você sabe... vá direto ao ponto.

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Ela cobriu a boca com a mão enluvada. – Oh meu Deus, sim, mas você não é um repórter ou qualquer coisa, não é? Eu balancei a cabeça. – Não, não. Eu moro perto. E sou apenas um idiota intrometido. Ela riu disso, mas lentamente colocou a mão no peito. – Foi cerca de duas semanas atrás, eu acho. As pessoas por aqui sabem, mas a polícia está muito quieta. Eu ouvi dizer que foi terrivelmente macabro. – De quem você ouviu isso? Ela encolheu os ombros. Então, cinquenta por cento de chance de ser verdade. – Aconteceu dentro de um desses restaurantes? – Quando ela hesitou, eu poderia dizer que tinha feito ela desconfortável. Merda, merda. – Eu nunca serei capaz de comer macarrão de novo. – Eu brinquei, olhando para a loja mais próxima. Ela soltou um riso abafado novamente e sorriu. – Não foi em um restaurante, mas um dos chefs do 1-2-3 Sushi disse a um amigo meu que aconteceu em um dos apartamentos acima de sua loja. – Ela apontou com a mão livre em direção ao prédio em questão. – Eu acho que a polícia teve que fechar tudo pelo dia. – Isso deve ter sugado. Ela cantarolou e concordou com a cabeça. – É assustador. – Eu disse baixinho. – É uma boa vizinhança. – Oh, eu sei. – Ela concordou. – Eu fiz o meu namorado passar a noite por uma semana. Eu estava tão assustada. – Ela suspirou e trocou a trela do cão para a outra mão. – De qualquer forma, é melhor eu ir.

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– Sim, desculpe, tenha uma boa noite. – Eu sorri e pisei de lado, deixando ela e o cachorro passarem. Eu olhei para 1-2-3 Sushi, e um sorriso cruzou meu rosto. Eu me senti... inferno, como um detetive, por falta de melhor descrição. Eu sabia que o assassinato de Mike e o arrombamento da minha loja tinham algo a ver com Edgar Allan Poe, e o olhar no rosto de Calvin tinha confirmado isso. Ele parecia ter muito conhecimento sobre o escritor também, o que poderia ter sido conhecimento pessoal ou algo recentemente pesquisado. E porquê? Tinha que haver algo em andamento, e de acordo com as estatísticas criminais do NYPD, havia apenas um assassinato no bairro que não era tão longe de Mike e eu. Assassinatos literários em série? Eu não tinha ideia do que esperar, mas não havia como curar minha curiosidade, a não ser indo em frente. Eu senti uma onda de emoção quando corri pela rua em direção ao restaurante e entrei. Era minúsculo e ocupado, mas felizmente, havia um assento vazio no bar onde os chefs trabalhavam. Foi só depois que me sentei e comecei a olhar em volta que comecei a bolar meu plano. Havia alguns chefs trabalhando – como eu saberia a qual a mulher se referia? Ele estaria trabalhando hoje à noite? O que eu ia perguntar? Houve algum assassinato ultimamente? Merda. – Posso ajudá-lo? – Perguntou uma mulher atrás do bar. Ainda bem que eu gostava de sushi, porque eu acho que eu estava tendo para o jantar também.

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– Uh, prato de jantar de sushi. – Eu disse, depois de rapidamente verificar o menu colado no vidro à minha frente. – Tamago ou ebi? – Ovo ou camarão para minha opção de sushi. – Ebi está bem. – Eu a vi acenar e começar a elaborar habilmente a minha refeição. Eu tamborilei meus dedos distraidamente e li seu crachá. – Você trabalha aqui há muito tempo, Ann? – Não, eu não quero ir a um encontro. – Ela respondeu. – O que? Ela olhou para mim, estreitando os olhos e me dando um olhar que avisou que eu estava prestes a ficar sem saco. Eu rapidamente acenei minhas mãos. – Apenas fazendo conversação educada. Eu sou gay. Eu não quero namorar você. – Eu estremeci e comecei a reformular a declaração para que não soasse como se eu estivesse insultando ela. Para minha surpresa, Ann riu. – Oh! Graças a deus. Eu sou chamada para sair pelo menos uma vez por semana. Eu odeio os homens às vezes. Eu assenti. – Eu também. Ela levantou a mão nua. – Eu não posso usar meu anel de casamento quando eu cozinho, você sabe? – Ela suspirou e balançou a cabeça enquanto colocava o sushi completo em um prato longo e estreito. – Eu preferiria não tem gorjeta do que ser cantada.

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– Bem, eu prometo não fazer nenhum movimento, e eu vou dar uma gorjeta antes de sair. – Melhor cliente o dia todo. – Você me lisonjeia. – Respondi. Ela olhou para cima quando começou a formar o próximo sushi em suas mãos. – Então você é um agente secreto ou algo assim? – Os óculos? Não, nada legal. Eu tenho uma sensibilidade à luz. Ela cantarolou baixinho e assentiu. Eu assisti enquanto ela terminava o próximo sushi. Ela estava sujeita a ir embora e ver outro cliente, uma vez feita minha refeição. Eu não tenho muito tempo. – Eu ouvi o que aconteceu aqui – Eu disse baixinho. – Foi o que, uma semana ou duas atrás? Ann olhou para cima, parando de colocar o ebi no arroz. – Aqui? – Bem, lá em cima. – O que aconteceu... oh. – Ela parecia séria. – Sim... Deus. – Ela balançou a cabeça e fez um som engraçado enquanto tremia de uma maneira exagerada. – Isso foi ruim? – Eu não vi nada exatamente. Eu não quero que você perca seu apetite. – Eu vou ficar bem. – Eu insisti. Ela estreitou os olhos novamente, me avaliando uma vez mais como se fosse capaz de dizer se eu era do tipo mais sensível. – Alguma senhora do

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andar de cima foi assassinada. - Ela sussurrou, inclinando-se para perto. – Eu gostava dela. Ela comia muito aqui. – Eu ouvi de... er, meu vizinho que foi bem macabro. – Eu disse, tentando fazer com que Ann continuasse falando. Ela assentiu. – Isso é o que eu ouvi também. Hiro, o chefe de cozinha daqui, disse que viu os paramédicos trazê-la para baixo. Foi assim que soube quem ela era. – Ann terminou os últimos pedaços de sushi. – Mas nunca foi para os jornais, foi? – Hmm… eu não sei. Nós tivemos que ficar fechados por dois dias. Eu acho que a polícia está tentando manter a calma. – Ela entregou o prato para mim. – Não conte a ninguém. – Ela sussurrou inclinando-se perto. – Mas Hiro nos disse que ele ouviu um dos paramédicos dizer: "Eles escreveram nas paredes com seu sangue". Eu não estava mais com fome. ‡‡‡ TALVEZ eu não tenha estômago para esse trabalho de detetive. Eu fiquei em uma das filiais de meu banco depois do expediente, depositando cheques no caixa eletrônico e tentando não pensar muito sobre um assassinato em que algo havia sido escrito com o sangue da vítima. Eu ainda não tinha como saber se eu estava perseguindo algo remotamente ligado ao assassinato de Mike. Eu não conhecia a mulher, nem

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os detalhes de sua morte. Tudo o que eu sabia era que as mortes dela e de Mike foram terríveis. Você gostaria de outra transação? Enfiei as mãos em meus bolsos, checando para ter certeza de que tinha depositado todos os meus cheques. Meus dedos escovaram um envelope dobrado e eu peguei a última carta que Daphne havia deixado. Max deve ter enfiado na pilha de cheques para mim, e eu peguei sem perceber. Eu rapidamente rasguei o topo e tirei uma única folha de papel. Sem cheque. Não devo apenas punir, mas punir com impunidade. Que porra é essa? Virei o papel, mas nada mais estava escrito nele. Esta transação será cancelada em trinta segundos. Eu olhei para a tela do caixa eletrônico e terminei meu depósito, peguei o recibo, e me afastei. Eu olhei para as palavras oblíquas e rabiscadas, lendo repetidamente. Punir com impunidade. Punir quem – eu? Eu virei o envelope. Não havia endereço de retorno, mas estava endereçado ao Emporium. Não eu especificamente, mas eu era o proprietário, por isso era seguro assumir que era para os meus olhos. Agora que minhas mãos estavam em toda a carta, Neil e a coleta de evidências me veio à mente, e eu cuidadosamente dobrei o papel e gentilmente enfiei no envelope novamente. Eu tentei não manusear demais,

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como se fizesse diferença. Isso já tinha passado através das instalações de triagem USPS, Daphne, Max, e eu mesmo. Estava começando a nevar novamente quando saí do banco. Não devo apenas punir, mas punir com impunidade. Eu entrei em uma loja de esquina. Eu precisava comprar comida, mas mais importante, eu precisava estar cercado por outras pessoas. Essa nota me deixou mais nervoso do que o mistério de assassinato da história contada por Ann. Eu olhei em volta. Não havia muitas pessoas - uma mulher idosa no caixa, um estoquista guardando bebidas e uma senhora grávida com uma braçada de batatas fritas. As luzes do teto eram funestamente brilhantes, e uma tremeluzia como uma contração nos olhos. Eu peguei uma das minúsculas cestas perto da porta e apressadamente joguei algumas latas de sopa, barras de granola, e vários recipientes de iogurte da área refrigerada nos fundos. Eu peguei uma caixa de sorvete de chocolate enquanto eu pesava os prós e principalmente os contras de chamar Neil. Será que ele se importaria que eu estivesse suficientemente assustado e necessitasse de, bem, alguém? Ele voltaria para casa se eu pedisse? Eu sabia que se eu pedisse, me desculpasse, implorasse - é claro que ele voltaria. Mas eu queria... ele? Meu intestino rolou. Eu sabia a resposta, mesmo que minha mente não admitisse isso. Eu teria dito o que eu disse para Duncan no início do dia se eu quisesse que Neil voltasse?

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Dane-se. Eu peguei um segundo recipiente de sorvete e uma pizza congelada. Minha cesta parecia a minha dieta da faculdade. A culpa me fez pegar algumas bananas de uma caixa ao lado dos pães antes de eu levar meus itens para o caixa. – Flores? – A mulher perguntou enquanto contava lentamente cada item. – O que? – Metade do preço, todas morrem em breve. – Disse ela em inglês quebrado enquanto apontava uma mão retorcida para o display de flores que tinha sido levado para dentro. – Não, obrigado. – Pegue, metade do preço. – Ela insistiu. – Eu não preciso de flores. – Para namorada. – Não. – Para namorado. – Não. Ela me deu uma olhada como se eu tivesse acabado de insultar seus pais. – Mau atitude. Trinta dólares. – O que, para sorvete e sopa? – Eu perguntei na defensiva. – Vinte e cinco com flores. – Isso não faz... bem. – Eu me virei e peguei um buquê de cravos. Ela me deu um sorriso insolente e lentamente ensacou meus mantimentos.

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Com minha pizza de degustação de papelão e cravos meio mortos que a vovó me disse para "dê a um garoto bonito, então faça sexo", eu parei um táxi e fui para casa. Subindo os degraus frágeis e rangentes até o terceiro andar, olhei ao longo da borda dos meus óculos de sol a tempo de ver uma grande massa escura de pé no patamar superior. – Oh Deus...! – Ei. Não era Neil. Aquela voz. – Calvin? – Estamos em uma base de primeiro nome agora? – Você assustou a merda fora de mim. – Desculpa. Você está chegando? – Sim, deixe-me apenas pegar meu coração do chão primeiro. – Subi os últimos degraus e fiquei ao lado dele, olhando para cima. – O que você está fazendo aqui? – Esperando você chegar em casa. – Eu posso ver isso. Quero dizer, como você entrou? Ele puxou a carteira e mostrou o distintivo para mim em reposta. – Oh bom, qual dos meus vizinhos pensa que estou sendo preso? – Eu perguntei, manobrando as duas bolsas para uma mão enquanto eu pescava minhas chaves. – Os do andar de cima. – Ele respondeu, pegando meus mantimentos para mim. – Eu... você não precisa segurá-los. – Eu protestei.

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– Eu gostaria de entrar em algum momento deste século. Eu zombei e murmurei o que poderia ter sido idiota sob minha respiração antes de destrancar a porta. Eu empurrei com o meu ombro, a sempre levemente torta moldura sempre prendia a porta. – Fique à vontade. – Eu entendo que o Sr. Millett não vai voltar para casa hoje à noite. – Calvin disse, fechando a porta atrás de si. O apartamento estava escuro antes de ligar uma lâmpada. Neil certamente não estava aqui. – Provavelmente não. – Eu concordei distraidamente. Eu chutei minhas botas e pendurei meu casaco antes de pegar de volta as sacolas. – Obrigado. – Eu corri para a cozinha, ligando outra lâmpada e colocando meus óculos de sol de lado e pegando as lentes regulares. Eu podia ouvir Calvin andando pela sala da frente e tentei ignorar seu exame curioso enquanto eu guardava o sorvete e os outros lixos que eu comprei. – Belas flores. – O quê? – Eu me virei de repente para encontrar Calvin encostado no batente da porta da cozinha. Olhei para os cravos e ri. – Oh. Sim. Longa história. – Você sabe o que seria mais curto? Você explicar porque você está se metendo em outro caso de assassinato meu. – Ah... – Como você sabia sobre o assassinato naquele endereço? Eu fechei a porta do freezer.

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– Ei, isso é informação pública. – O inferno que é. – Está no mapa criminal do NYPD, camarada. – Retruquei. Calvin entrou na cozinha. – O que você está fazendo se envolvendo com isso? – Alguém matou Mike... – E isso é para a polícia investigar. – Ele disse severamente. – Não um antiquário. – Mas eles estão relacionados, não é? Ambos os assassinatos e minha travessura. – Eu me movi para frente para encontrá-lo. – Eu pude ver, quando eu mencionei Poe. – Isso chamou sua atenção. Calvin cruzou os braços e não respondeu. – Uma mulher acima de uma lanchonete de sushi foi assassinada... – Comecei. – Eu sei disso. – Algo foi escrito em sangue – Onde diabos você ouviu isso? – Ele replicou, voz baixa e perigosa. – As pessoas falam. – Respondi rapidamente. – Talvez eles achem caras cegos cativantes e inofensivos e querem revelar seus segredos. – Com quem você falou, Sebastian? – Eu fui ao sushi bar. Os chefs me disseram. Calvin empurrou o casaco para descansar as mãos nos quadris, provavelmente contando até dez para evitar me matar. – O que foi escrito? – Eu me atrevi a perguntar. Ele balançou sua cabeça.

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Eu não esperava que ele compartilhasse aquele pedaço tão curioso de informação. Mesmo. – Quer uma cerveja? – Estou trabalhando. – Agua? Café? – Não. Eu olhei para trás. – Bem, você não parece estar com pressa de sair. Eu sei que minha personalidade é viciante, mas... – “Ela deve pressionar, ah, nunca mais”. Fiz uma pausa, considerei a resposta e perguntei: – Desculpe? – Isso é o que estava escrito. – Calvin esclareceu, sua voz calma, como se ele não quisesse que seu parceiro ou superiores ouvissem a confissão da informação. – Nunca mais. Isso é de 'O Corvo'. – Eu disse. Ele assentiu. – Eu sei. − Então isso está conectado! – Eu exclamei, sentindo-me indevidamente triunfante apesar de já ter havido dois assassinatos. Calvin acenou para mim de uma maneira irritada. – Fique quieto. Saí correndo da cozinha, animado demais para me acalmar. Eu peguei a cópia do trabalho de Poe que eu tinha deixado na mesa e abri na seção de poesia. – Eu lembro desse poema bem. – Eu disse enquanto levava uma lupa

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para a página e lendo brevemente. – Certo, é em relação a Lenore, o amor do narrador perdido há muito tempo. – Eu sei. – Disse Calvin novamente. – Mas eu não sei porque. – Por que essa linha? Ele assentiu, olhando para mim. Eu abaixei o livro. – Bem, o narrador é uma espécie de melodramático. Tudo em volta dele lembra Lenore, especificamente naquele momento que ela nunca descansaria a cabeça na almofada da cadeira novamente. É uma percepção de que ela verdadeiramente se foi. – Nunca mais é também o nome do corvo. – Acrescentou Calvin pensativamente. – Bem, sim, tecnicamente. – Eu concordei. – Quem era a mulher? – Você quer dizer, Lenore? – Não. – Eu fechei o livro. – A verdadeira mulher que foi assassinada. Calvin ficou em silêncio novamente, mas depois de uma breve pausa, removeu seu casaco e o colocou nas costas de uma cadeira à mesa. – Merriam Byers. Ela trabalhou para o Northeast Unlimited Bank. – Esse nome soa tão familiar. – Eu disse, esfregando minha nuca enquanto eu pensava. – Por favor não diga isso. Se eu puder conectar você a dois assassinatos... – Espere um minuto. – Eu disse de repente, levantando a mão. – Eu conheço esse nome! – Eu olhei ao redor do apartamento ansiosamente antes de abrir a primeira caixa de livros do leilão.

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Eu podia sentir Calvin me observando da mesa. – O que? – Ele perguntou em crescente curiosidade. – Eu falei com ela. – Como diabos você conhece essa mulher? – Ele resmungou. – Sem amigos ou família em comum, duas carreiras diferentes… Ele ainda estava falando enquanto eu colocava a caixa de cima no chão e começava a cavar pela próxima. – Northeast Unlimited. Eu fiz negócio brevemente com eles há algumas semanas. – Sebastian. – O que? – Pare e olhe para mim. Eu olhei por cima do meu ombro. Calvin tinha uma mão descansando em seu casaco, o outro em seu quadril. Seu terno escuro abraçou seu corpo deslumbrante, e a luz da cozinha fazia seu lado esquerdo brilhar, parecendo quase do outro mundo. Algo angelical. – Estou olhando. – Eu disse baixinho. Você teria que me pagar para virar longe de tal visão. – Você tem negócios com o banco National Trust. – Como você sabe disso? – É meu trabalho saber. – Respondeu Calvin. – Explique-me seus negócios com este banco em particular. – Deixe-me mostrar-lhe. – Eu ergui meu olhar para longe, e depois de cavar através de mais duas caixas, encontrei a papelada que eu sabia que existia em algum lugar nesse caos geral. – Aqui, vê? Eu fiz uma oferta

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algumas semanas atrás em uma venda estatal. Northeast era o banco a lidar com a liquidação de propriedade, e meu contato foi Merriam Byers. Calvin estendeu a mão e aceitou os registros dobrados e enrugados. – Você sabe como isso parece? – Ele perguntou. – Mas eu mal a conhecia, Calvin! Eu falei com ela uma vez ou duas vezes no telefone e a encontrei por um total de dez minutos quando eu fui recolher os livros. – Você é alguém que eu posso ligar a ambas vítimas. – Disse Calvin, mais apologeticamente. – Mas eu não os matei! Você sabe disso, certo? Você acredita em mim? – Aquele pânico que eu senti na loja de Mike estava começando a surgir novamente. E então, de repente, os braços de Calvin estavam embrulhados ao meu redor, uma forte mão na parte de trás da minha cabeça. Inicialmente eu congelei. O que diabos ele estava fazendo? Mas nada aconteceu. Ele estava apenas me abraçando. E foi tão... legal. Eu senti a tensão me deixar completamente, e eu lentamente deslizei meus braços sob os dele, segurando a parte de trás de seu paletó com força. Ele cheirava bem. Muito bom. Neil usava um perfume de marca de nome caro que sempre me deixava tentando adivinhar exatamente como deveria cheirar. Calvin usava um perfume que era natural e simples e provavelmente tinha um nome real. Picante.

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Isso me fez pensar em traços de canela e gengibre. Era masculino e sexy. Ele não tinha ideia de que esse abraço ficou muito mais estranho para mim. – Eu acredito em você, bebê. – Ele sussurrou. Uau. Espere. Puta merda. Ok, eu admito, Calvin Winter era sexy como o inferno, e eu o queria, mas que porra ele estava fazendo me chamando de bebê? Ele me queria? Pelo amor de Deus, por quê? – Quer repetir a última linha de novo? – Eu murmurei contra o seu ombro. – Você me ouviu. – Calvin respondeu, não me deixando ir. – Isso é estranho. – Por quê? – Podemos discutir isso cara a cara? – Eu perguntei. – Preferiria não. – Calvin não soltou. Eu quase ri de quão absurdo isso acabara por se tornar. – Ah, você está...? – Você está realmente esperando Millett de volta hoje à noite? – ele interrompeu. – Er... eu não penso assim. – Eu disse baixinho. – Bom. – Calvin se afastou e me beijou com força. Eu tropecei para trás e bati na parede atrás de mim. Calvin aproximouse com as mãos dos dois lados da minha cabeça. Ele pressionou contra mim, quente e áspero. Ele pegou minha boca, sua mandíbula raspando contra a

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minha enquanto ele contundia meus lábios com beijos. Calvin cutucou uma perna entre as minhas e pressionou sua ereção contra meu quadril. Eu me ouvi gemer, e isso foi o fim. Não voltando atrás. Eu estendi a mão e passei meus braços em volta do pescoço de Calvin, e então estávamos tropeçando de volta para a cozinha, que parecia um lugar decente o suficiente como qualquer outro. Ele me empurrou contra a geladeira, ímãs e fotos caindo no chão. Eu agarrei ele pela parte de trás do pescoço e o puxei para outro beijo ardente e quente. Sua língua empurrou contra meus lábios, e eu abri minha boca para a invasão quente. Ele tinha gosto de café, canela e macho. A combinação era erótica como o inferno. Meu corpo inteiro estava quente, pronto para explodir depois de apenas alguns beijos ásperos. Era como se eu nunca tivesse sido tocado antes, não realmente. Não como isso - como se eu precisasse disso. Duro e rápido, e ainda o único objetivo em mente de Calvin parecia ser o meu prazer. Eu agarrei um punhado de seu cabelo enquanto suas mãos começavam a desabotoar minhas calças. – Millett já fez isso por você? – Ele sussurrou contra meu pescoço. Eu gemi pateticamente quando ele mordeu. – F-fazer o que? – Chupar você? Oh bom Deus Isso não poderia ser real. – Ele realmente não gosta. – Eu sussurrei, prendendo a respiração quando ele mordeu meu pescoço novamente. Calvin levantou a cabeça, olhando para mim enquanto perguntava:

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– Mas e você? Você quer que eu te chupe? – Ele alcançou o interior das minhas calças e me acariciou através da minha cueca boxer. – Deus, sim. Aquele idiota sorriu quando ele se aproximou. – Deixe-me ouvir você implorar. – Q-que? – Me implore. – Ele ordenou. Calvin deslizou a mão na minha cueca em seguida e gentilmente me agarrou com a mão que eu tinha imaginado no dia anterior. Ele beijou meu pomo de adão quando eu inclinei de volta. – P-por favor. – Eu sussurrei, pressionando contra ele. – Por favor, me chupe, oh Deus...! Em algum lugar nos recessos da minha mente, eu reconheci que Calvin estava rindo de mim e eu estava prestes a bater nele sem sentido, mas depois eu abri meus olhos e ele estava ajoelhado na minha frente, deslizando minhas calças para fora dos meus quadris. Um arrepio percorreu-me quando ele libertou meu pau, duro e ansioso por atenção. Calvin se inclinou para a frente e deu uma boa lambida na cabeça. Suspirei e gentilmente empurrei meus quadris para mais. Calvin me agarrou com firmeza. – Não se segure, bebê. Eu quero que você foda meu rosto. – Q-quem é você, e onde está aquele idiota do Calvin Winter? – consegui perguntar. Ele sorriu, envolveu sua boca ao meu redor e se moveu no meu comprimento até o nariz dele apertar contra o cabelo cortado.

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Eu respirei fundo e olhei para baixo, observando como Calvin fazia garganta profunda. Era verdade que Neil não gostava de fazer boquetes. Eu não acho que eu tinha tido um em quase um ano. Eu quase me esqueci de como era incrível, e ainda mais quando o seu parceiro gostava disso. Molhado e apertado e - e era Calvin. A qualquer momento eu acordaria de, talvez, escorregar no gelo. Eu estaria deitado ao lado da calçada, olhando para o céu tempestuoso com uma ereção que se recusava a baixar, porque mesmo isso fazia mais sentido do que, um detetive que eu tinha certeza que era hétero, estar subitamente de joelhos no chão da minha cozinha, me dizendo para foder seu rosto. Assistindo Calvin através dos olhos meio encapuzados, eu me abaixei para segurar o cabelo dele. Ele cantarolou em resposta e soltou meus quadris para abrir suas calças. Ele libertou seu próprio pênis, ereto e enorme, e acariciou-se enquanto chupava. Mordi o lábio e, timidamente, empurrei sua boca, gentilmente, mas Calvin imediatamente gemeu e chupou mais rápido em resposta. Ainda segurando sua cabeça quando empurrei para dentro e para fora com mais entusiasmo. Foi uma incrível excitação vê-lo sair de si, ficar tão excitado ao me dar prazer que não se aguentava. Eu não tinha ideia do que estava acontecendo. Um minuto eu sou acusado de assassinato, no próximo eu estou recebendo o melhor boquete da minha vida. – Sim, sim. – Eu me ouvi gritar. Eu implorei por mais de alguma coisa, nunca sendo capaz de terminar o pensamento. Eu recuei e, em seguida, empurrei em sua boca com força, pensando que talvez eu estivesse sendo

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muito áspero, mas Calvin gemeu ao redor do meu pênis e me provocou a ir em frente. E novamente e novamente. Eu me perguntei se ele me deixaria gozar na boca dele? Tinha esse som que eu continuava ouvindo, tirando minha atenção do meu orgasmo iminente. Que raios era aquilo? Um telefone. Meu Deus. Calvin me puxou, sua respiração entrecortada e pesada. Ele enxugou os lábios nas costas de uma mão e soltou-se. – Foda-se isso. – Ele enfiou a mão no casaco e tirou o seu celular tocando, limpou a garganta e respondeu: – Detetive Winter. Você tem que estar brincando comigo. Eu estava prestes a explodir em todo o chão da cozinha, e ele precisava atender um telefonema? Um olhar para o rosto dele me disse que não iríamos terminar. Eu me abaixei e desajeitadamente me enfiei de volta em minhas calças. Eu fechei meus olhos para tirar a imagem do pênis duro de Calvin fora da minha mente, substituindo-o com os pensamentos de chuveiros frios, uma partida de golfe, preenchendo impostos - o que mais, o que mais? Esse beijo babado que as amigas da minha avó costumavam me dar quando eu era um garotinho. – Algo surgiu. Eu bufei e contive uma risada. Quando abri os olhos Calvin estava de pé e abotoando as calças. – Eu posso dizer. Ele não respondeu.

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– Recebo um adiamento até a segunda metade do encontro, ou nós terminamos? – Eu me afastei da geladeira, minhas pernas parecendo que finalmente apoiariam meu peso novamente. Calvin terminou de colocar sua camisa de volta no lugar diante de mim. – Desculpe. – Ele disse baixinho. Dei de ombros, meio que em uma perda. O que eu deveria dizer? – Nenhuma conversa de travesseiro sobre nossos sentimentos, então? Calvin olhou para o lado e saiu da cozinha, vestindo o casaco na mesa. Tudo bem então. Vamos fingir que o pequeno episódio não aconteceu. – E sobre a minha conexão com Byers? – Eu perguntei, saindo depois dele. – Não vai ser um problema, né? Calvin passou os braços pelo casaco quando se virou de volta para olhar para mim. – Não vá falar dela para as pessoas. Me dê um minuto para descobrir isso. Eu assenti. – Certo. Ok. Obrigado por não me prender. Ele grunhiu enquanto abotoava o paletó. – Estou levando isso. – Ele levantou os documentos da venda da propriedade. – Tudo bem. – Boa noite. ‡‡‡

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ERA sexta-feira e Neil ainda não ligara. Bem, eram seis da manhã e era mais provável ele estar dormindo. O que eu deveria estar fazendo, mas depois de me mexer sem parar por umas frustrantes três horas, desisti. Eu enfrentei a nova tempestade descendo sobre a cidade com força total agora e fui montar as decorações do feriado no Emporium. Porque quando não consigo dormir, eu enfeito os salões. – Maldição. – Eu parei de estender o festão e as luzes para desemaranhar outra seção. Quem guardou isso no ano passado? Eu ia matálo. Provavelmente tinha sido eu. Enfeitar os salões era um trabalho de dois homens. Pop me ajudou no primeiro ano que o Emporium abriu, e no ano passado Neil me ajudou a colocar o festão e montar uma pequena árvore. Tinha sido terrivelmente doméstico e - ouso dizer isso - fofo. Eu sentia falta disso. Ao contrário das evidências, eu não era sempre um cara cínico e excêntrico. Eu gostava dos feriados de fim de ano. Eles são tão festivos e edificantes. Eu gostava de passa-los com Neil. Ou eu gostei. Porque isso acabou. Certo? Caminhei pelo chão com a fileira de luzes e festão e me inclinei para ligar no final. Eu comecei a enrolar as luzes muito brilhantes ao redor do feixe de suporte ao lado da saída. Mesmo que não tivesse terminado, por algum milagre e, Neil voltasse para casa, o que acontecia com Calvin? Eu estava tentando processar nosso

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apressado, er... eu estava tentando processar a noite toda. Para mim, eram apenas nervos reprimidos, juntamente com uma queda por um cara realmente gostoso. Foi isso. Totalmente isso. Mas o que diabos estava passando pela mente de Calvin? Tive que despejar um balde mental de água gelada sobre mim quando a imagem de sua boca em mim voltou. Aquilo fora, sem dúvida, o melhor e mais quente boquete que eu já recebera. E nem consegui terminar. Eu acabei de volta ao que estava corroendo meu intestino a noite toda. Eu tinha traído? Sim. Eu acho que sim. Talvez. Eu tinha avisado Neil se ele saísse... mas uma ameaça de mudar as fechaduras - o que eu não fiz - estava bem longe de dizer, estamos terminando se você sair. E se Neil estivesse apenas se esfriando e não percebi? E se ele voltasse para casa? Pedisse desculpa? Eu não podia contar a ele o que aconteceu. Eu tinha certeza que Calvin também não diria uma palavra. Então eu poderia voltar para um relacionamento mais feliz com Neil, e seria isso. Tudo ficaria bem. – Vamos lá. – Resmunguei, puxando o cordão de festão comigo enquanto subia uma escada. Ela se emaranhou ao redor das pernas, e eu amaldiçoei longamente antes de me libertar. As coisas não estavam bem. O fato de eu não ter conseguido dormir era o suficiente. O que aconteceu com Calvin não foi apenas alimentado por um corpo quente e uma boca mais quente. Ele acreditou em mim, sabia que eu não tinha machucado ninguém, apesar do que sua crescente pilha de evidências dizia. Ele me apoiou quando Neil não. Ele mesmo me disse, contra toda razão.

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Eu acredito em você, bebê. Chame isso de palpite, mas eu tinha certeza de que ele não tinha o hábito de chamar seus suspeitos, bebê. Então... o que? Ele gostava de mim? Devo passar-lhe uma nota durante a aula? Você gosta de mim? Circule S ou N. Uma coisa era certa. Calvin me fez sentir seguro. Não apenas em relação a este caso, mas sua presença era incrivelmente reconfortante. Calmante, em certo sentido. Sempre senti que ele tinha controle total e não deixaria nenhum homem para trás. Eu prendi o festão no lugar no topo da viga e comecei o longo processo de colocá-la em volta da loja. Passei pelo balcão e registradora, e alcancei minha coleção de fotos e mapas quando tive um pensamento curioso sobre Calvin. Eu não sabia nada sobre ele. Bom Deus, eu deixei basicamente um estranho chupar meu pau. Tudo bem, não um completo estranho. Eu sabia que o nome dele era Calvin Winter, e ele tinha cabelos ruivos flamejantes. Ele era um detetive de homicídios da NYPD e parecia tão bem em um terno. Em comparação, ele conhecia meu namorado, meu pai, meu assistente, onde era meu banco, onde morava e que preferia cuecas boxer. Eu poderia suportar aprender uma coisa ou duas sobre ele. Quase tudo o que você deseja pesquisar pode ser encontrado na internet nos dias de hoje. Eu não estava descendo da escada e indo para o meu escritório para ser um idiota, é claro. Eu liguei o computador e fiz login.

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Ele tinha aquela presença autoritária que me intrigava. Se eu nunca o tivesse conhecido em minha vida e tivesse acabado de vê-lo em uma sala lotada, eu teria imaginado que ele era quem estava no comando. Ele emitia uma aura natural de autoridade. Eu gostava. Isso despertou meu interesse. Além disso, não era justo saber informações básicas sobre um dos policiais investigando você? Eu digitei Calvin Winter NYPD no Google e deixei voar. A busca trouxe uma tonelada de links para artigos e vários sites militares. Depois de olhar através de alguns, eu percebi exatamente porque Calvin era do jeito que ele era. Veterano do exército de doze anos. Quatro turnês, três no Iraque e uma no Afeganistão. Aposentado com o posto de major antes de retornar ao NYPD como detetive nos principais casos. Recentemente promovido a homicídio. Eu rolei através de um artigo listando as extensas realizações de Calvin enquanto estava em serviço antes de chegar a um parágrafo que cobria seus prêmios, e meu queixo bateu na mesa. Medalha de Honra. Estrela de prata. Coração roxo. No começo, admito, eu pensei que talvez fosse um Calvin Winter diferente, porque o que um ganhador da Medalha de Honra estaria fazendo em um trabalho estressante como homicídio? O que ele estaria fazendo comigo? Mas havia uma foto de Calvin em uniforme militar completo. Seu cabelo era mais curto e parecia alguns anos mais jovem, mas era ele. Sua história foi incluída em outro artigo que cobriu os recentes ganhadores da Medalha de Honra. Aparentemente, sua patrulha, enquanto

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no Iraque, foi emboscada e superada em número. Calvin tinha fugido da cobertura para resgatar seus camaradas caídos, todos eles vivendo por causa de seus esforços. Ele foi baleado por insurgentes enquanto transportava os soldados feridos para a segurança, mas continuou lutando com sua própria arma e jogando granadas vivas quando foram jogadas nele. Porra do inferno. Isso não podia ser... mas não, isso era real. Calvin era um herói da vida real. Alguns de seus colegas soldados foram citados no artigo, dizendo que deviam suas vidas a Calvin. Um disse que todos os dias que ele olha para o rosto de sua filha, ele tem que agradecer a Calvin por isso. Meu peito ficou apertado enquanto eu lia. Seus outros prêmios incluíam salvar civis no Afeganistão que estavam sendo usados como escudos humanos. Ele resgatou um homem, três mulheres e três crianças, depois foi baleado novamente e aparentemente não conseguiu salvar um homem idoso e seu neto por causa disso. Eu estava sem palavras. Toda a coisa caminhar pela sala e imediatamente respeitá-lo fez sentido. Doze anos de serviço militar. Doze. E a maioria não era bonita. Combate ativo e perigoso, e muito disso. O que achei interessante foi que sua autoridade não subiu à cabeça, pelo menos não ao meu redor. Ele estava no comando, com certeza, e mesmo quando ele estava com sua parceira, ele havia mostrado respeito, mas ele nunca pareceu viajar no poder. Ele esteve excessivamente quieto, na verdade.

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Mas talvez as pessoas soubessem. Talvez ele não tivesse que latir ordens ou jogar em torno de seu posto porque ele já conquistara o respeito de todos. Eu me perguntei por que ele havia decidido deixar o exército, mas não consegui encontrar nada sobre isso. Não houve entrevistas com ele sobre seus vários prêmios, apenas algumas fotos de quando ele recebeu a Medalha de Honra do presidente dos Estados Unidos. Apesar de estar carregado de informações sobre a última década de Calvin, ele era mais um mistério para mim do que antes, e como provado até agora, eu tinha uma queda por mistérios. Enquanto eu me sentei no silêncio, refletindo sobre o major aposentado - agora detetive - o sistema de alarme disparou.

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NÃO ERA o meu alarme. Eu levantei minha cabeça e corri para fora do escritório, olhando em volta. Na porta ao lado, o alarme de segurança da Good Books estava gritando. Nossas lojas estavam ligadas pelo lado de trás. Parecia dois prédios separados por causa do pequeno beco entre nós, mas na verdade era uma grande estrutura, e se algo estivesse acontecendo na loja de Beth, as chances eram de que alguém pudesse correr pela porta dos fundos e entrar na minha loja. Era muito cedo para Beth estar no trabalho, e o portão estava fechado na frente da loja quando eu passei. Eu corri através do Emporium e pelos fundos. O beco estava congelando, minha respiração visível no ar gelado. Envolvendo meus braços em volta de mim, fui até a entrada dos fundos da Good Books. Peguei a maçaneta da porta, pronta para encontrá-la trancada, mas em vez disso a porta se abriu. Eu congelei por um momento. O que eu estava fazendo? Alguém invadiu. Eles ainda podiam estar lá, roubando, o que além de livros de bolso gay, eu não tinha ideia, mas eu deveria sair desse inferno rápido. Eu nunca me escuto.

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Em vez disso, fiquei com raiva. Eu fiquei muito bravo, porque no fundo eu sabia que era a mesma porra doentia que matou aquela pobre mulher, que matou Mike. Que a mesma pessoa invadiu minha loja e agora eles estavam invadindo a loja de Beth. Sentindo-me invencível e pronto para uma batalha, eu invadi o interior. O alarme estava soando e o telefone da loja estava tocando provavelmente a empresa de segurança tentando contatar Beth. Coloquei minhas mãos em meus ouvidos, tentando reunir minha inteligência quando a sirene perfurou meu cérebro. Então as luzes se acenderam e tudo ficou branco. O brilho súbito, comparado com a luz fraca e confortável da minha loja e a escuridão do beco coberto, era tão intensa que quase me fez chorar. Era como olhar diretamente para o sol. Insuportável e doloroso. Sem minhas lentes protetoras, eu estava cego. De repente eu não era tão invencível. Meus sentidos estavam completamente sobrecarregados e, por um minuto, fiquei ali em pânico. Com os olhos fechados, pude sentir-me começando a caminhar em direção ao painel de segurança perto da porta. Eu conhecia o código de Beth - ela havia me dado um tempo atrás - e não consegui pensar em outra coisa a não ser acertar aquele alarme lamentando. Eu não fui longe, porque alguém me bateu na cabeça. Pelo menos ficou quieto. ‡‡‡

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ALGUÉM ESTAVA segurando minha mão. Era quente, um pouco áspera e agradável. – Neil? A mão afrouxou mas permaneceu. – É muito brilhante. – Eu sussurrei. Minha boca parecia grossa e estranha, como se eu estivesse tentando falar em torno de bolas de algodão. Mesmo com meus olhos fechados, eu podia sentir luzes brilhantes em mim, penetrando minhas pálpebras, fazendo o latejar na minha cabeça piorar. A mão me deixou de repente, e eu disse... alguma coisa, mas depois a sala estava escura e a mão voltou e tudo bem. Quando acordei pela segunda vez, fiquei um pouco mais ciente do mundo. Por um lado, eu estava deitado. Não era minha cama porque parecia muito alta e definitivamente não era tão confortável quanto um colchão com pillow-top. Em segundo lugar, eu estava vestindo significativamente menos roupas do que eu tinha começado o dia, o que eu achei estranho. Uma onda de náusea me atingiu em seguida, e eu engoli o gosto amargo e mantive meus olhos firmemente fechados. Algo estava errado. Onde Neil foi? – Neil? – Eu perguntei, minha própria voz soando distante. – Você está acordado, garoto? – Papai? – Eu abri um olho. O quarto estava escuro e extremamente confuso. Eu alcancei meu rosto, mas não estava usando óculos. – Oh Merda. – Eu me ouvi rir secamente. – Me ajude, eu estou cego.

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Eu podia distinguir a forma de bolha do meu pai se aproximando da cama. Ele pegou minha mão e deu um tapinha, mas não era o mesmo de antes. – Você está bem, Sebastian. – Ele disse com firmeza. – Tudo está bem. – Onde está Neil? – Eu perguntei novamente. Meu pai hesitou, mas eu fechei meus olhos novamente e não sabia por quê. – Ele não está aqui. – Para onde ele foi? – Ele não esteve aqui, Sebastian. – Ele estava segurando minha mão. Papai pausou novamente, então apenas deu um tapinha no meu braço mais uma vez. – Você acha que pode responder a algumas perguntas, Sebastian? – Outra pessoa perguntou. – Ôa. – Eu disse baixinho. – Eu conheço essa voz. É o Sr. Medalha de Honra. – O que? – Isso foi Pop. Eu abri meus olhos novamente e levantei minha outra mão ligeiramente, apontando para a figura em pé fora de foco. – Calvin é um herói. – De que diabos eu estava falando? Eu me ouvi rir de novo. – Minha cabeça está doendo. O que eu fiz? Calvin se aproximou da cama e sentou-se na cadeira próxima. – O que você lembra? Essa parecia uma pergunta bastante fácil.

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– Vamos ver. – Eu disse devagar, lambendo meus lábios. – Festão… – Por que você estava no Emporium tão cedo? – Seu tom era calmo e reconfortante. Isso fez minha cabeça doer menos. – Natal. – Eu murmurei. – Eu não queria ser um Grinch… – Você estava colocando enfeites? – Ele perguntou, mas parecia que ele já sabia disso. Eu comecei a acenar e então estremeci e fechei meus olhos novamente. – Então o que? – Ele calmamente pressionou. – Pensei em você. – Por quê? – ele perguntou. – Acho que você é gostoso. – Respondi, e mesmo quando me ouvi dizer isso, não me censurei. Eu estava drogado? – Eu pesquisei você. Mais uma vez, ele perguntou: – Por quê? – Medalha de Honra. – Eu murmurei. – Estrela de Prata, Coração Púrpura. – Mudei minha mão para dar um tapinha no meu pai. – Exército, papai. – Assim parece. – Pop respondeu. Abri os olhos e olhei para o meu pai, mas acho que ele estava olhando para o outro lado da cama para Calvin. Choque? Impressionado? Eu sei, eu também. Ele era um herói de filmes de ação, sem a parte do filme. Calvin pigarreou. – Sebastian? Por que você estava na porta ao lado? – Qual porta ao lado? – Good Books.

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– Oh merda, o alarme de segurança. – Eu murmurei. – Isso foi cuidado. – Calvin insistiu. – Eu o ouvi. Eu pensei... oh cara, é meio difícil de lembrar. – Tente. – Ele pressionou. – Eu fui lá porque estava com raiva. Eu queria chutar o traseiro do punk, mas depois ficou brilhante. – Acho que ele quer dizer que alguém acendeu as luzes. – Disse papai. – É como branquear para ele. Ele não consegue ver nada. – Doeu, acrescentei. Mas minha cabeça dói mais. O que aconteceu? – Alguém te derrubou. – Disse Calvin. – Uau. – Eu lentamente virei minha cabeça para olhar para ele. – Quem? – Boa pergunta. – Por que você está aqui? – Eu perguntei em seguida. – Você me chamou. – Cale a boca. Ele soou um pouco divertido quando disse: – Você fez. – Não me lembro. – Você não estava fazendo muito sentido. – Ele concordou quietamente. – Mas ouvi o alarme disparar e seu discurso foi arrastado. Eu sabia que algo estava errado, então cheguei lá antes que a empresa de segurança fizesse uma patrulha. – Você deveria ter outra medalha. Calvin ficou quieto por um instante.

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– Eu tenho o suficiente. – Ele finalmente disse. – Eu tenho uma concussão? – Sim. – Calvin respondeu. – Seu médico quer mantê-lo durante a noite para observação. – Eu tenho que ir para casa. – Eu respondi. – Você vai ficar, garoto. – Meu pai disse. – Mas tenho que trabalhar. – O trabalho pode esperar. – Pop disse severamente. – Eu já liguei para Max. Se você quiser que ele administre a loja, me avise, mas caso contrário, o Emporium pode ficar fechado por um dia. – Ele se afastou da cama. – Vou pegar seu médico agora que você está acordado. Detetive Winter, você poderia ficar por mais um momento e observá-lo? – Certo. Fechei os olhos, ouvindo os passos do meu pai saírem do quarto. – Você está me assistindo? – Sim. – Eu não vou morrer, acho. Você pode sair. – Eu vou ficar. – Ele disse baixinho. Agarrei os cobertores levemente, respirando fundo porque o mundo ainda parecia estar girando, mesmo com os olhos fechados. – Você me assustou. – Calvin disse baixinho. – Hmm? – Quando você ligou. Apertei meus olhos com mais força, pensando na livraria. Então acrescentei o lamento do alarme à memória e lembrei de caminhar em

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direção ao painel de segurança. Está certo. Eu ia desligar. Nove, nove, quatro, seis era o código de Beth. Mas então eu fui atingido. Não me lembrava de ter puxado meu celular nem de ligar para Calvin. Eu nem sequer lembro dele respondendo. – Sebastian? Onde está você? – Dói... machuca. Eu não posso desliiiigar. – Estou a caminho, querido. Por favor, continue falando comigo. Alguém te machucou? – Cabeça... dói muito. – Sebastian? – Estáááá alto...eu... eu estou doente. Lembrei-me de vomitar e depois nada. – Eu desmaiei no meu próprio vômito? – Eu sussurrei. – Ninguém além dos paramédicos e eu sabem. – Calvin disse, mas eu juro que ele falou com um sorriso. Eu abri meus olhos novamente. – Você gosta de apelidos carinhosos. – O que? – Bebê, querido. Você é do tipo romântico sob esse exterior severo. – Por que você procurou minha história militar? Acenei uma mão levemente. – Fiquei curioso. Como você tem a mais alta honra militar já concedida e não fala sobre isso? Calvin ficou em silêncio por um longo tempo.

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– Eu não posso ver seu rosto. Você está bravo? – Eu pareço bravo? – Não. Você parece... estranho. – Eu não gosto de falar sobre isso. – Ele respondeu gentilmente. – Oh. Desculpa. – Está tudo bem. – Calvin ficou quieto por um instante. – Você quer que eu ligue para Millett para você? – E-e sobre você? – Eu perguntei. – Aquela coisa toda de bebê e querido estava me fazendo pensar... – Ele é seu parceiro. Tenho certeza de que ele ficaria preocupado. – Calvin disse. – Eu vou dar a ele um toque. Foi assim que acabei vendo Neil novamente. Meu médico estava explicando para Pop e para mim que, por causa da pancada na cabeça e do fato de que eu estava doente e perdi a consciência, era um sinal de uma séria concussão que ele achava que era melhor monitorado por pessoal autorizado por vinte e quatro horas. Eu não tinha interesse em ficar no hospital e gastar alguns mil dólares para minha breve e desagradável estadia, mas papai não estava aceitando nada da minha putaria, então eu prontamente desisti. Eu vi a mancha de pé contra a parede perto da porta. Calvin havia chamado Neil como um honrado cavalheiro e me disse que ele estava a caminho. O médico mal havia saído da sala antes que Neil entrasse, sem fôlego e ansioso.

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Eu pensei que a reação dele deveria ter sido reconfortante - vê-lo chateado por mim - mas ao invés disso me agitou. Calvin estava chateado, mas ele manteve a calma o tempo todo. – Sebby? Eu deixo ir. – Oi. Neil ignorou Calvin quando ele passou por ele e largou o casaco na cadeira em que Calvin estava sentado antes. Ele andou para o meu lado. – Jesus, eles me disseram que você tem uma concussão. – Cabeça muito dura, no entanto. Estou bem. – Não faça piadas. Eu respirei fundo. De repente eu estava muito cansado. Neil sempre me fazia sentir assim? – Eu gostaria de dormir, eu disse enquanto fechava os olhos. ‡‡‡ LUZ PERSISTENTE estava entrando pelas cortinas fechadas quando acordei. Eu esfreguei meus olhos e bocejei. – Como está se sentindo? Eu olhei para a minha direita. Neil assumiu a cadeira. Eu olhei em volta. – Cadê papai e Calvin? – Calvin? Eu olhei de volta para Neil.

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– O que? – Você ligou para ele e não para mim. – Eu fui atingido na cabeça. Tenho sorte de ter conseguido ligar para qualquer um, Neil. Eu provavelmente acertei algo aleatoriamente. – Eu não gostava de não poder vê-lo. Sem óculos, eu não conseguia nem entender bem a postura do corpo e precisava confiar no tom dele para entender suas emoções. Neil suspirou pesadamente. – O tempo está ruim. Mandei um patrulheiro levar seu pai para casa. – Oh... obrigado. – Claro. Eu apontei para a janela. – Que horas são? – Quase quatro. – O que? Eu dormi o dia todo? Neil assentiu, eu acho. – As enfermeiras te acordaram algumas vezes, mas você estava um pouco louco. – Me sinto estranho. – Essa seria a concussão. Neil me ajudou com o controle remoto da cama assim que comecei a reclamar de ficar deitado por muito tempo. Ele colocou a cama em uma posição mais sentada para mim antes de tomar a cadeira mais uma vez. – Como você tem estado? Além disso. – Eu estive bem.

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– Você esteve? Voltei-me para Neil. – Onde você esteve hospedado? – Um hotel. – Ele respondeu. Eu olhei para as minhas mãos, esfregando-as distraidamente. Nós dois estávamos andando na ponta dos pés um com o outro. Ambos se perguntando a mesma coisa. Onde nos colocamos como casal? Eu pensei em Calvin. Eu deveria apenas dizer Neil ali e agora... – Sebby. – Ele disse. – Eu tenho pensado muito. Eu acho que era isso. – Sobre a tensão entre nós. Você sabe que eu te amo, certo? Parei de esfregar as mãos e olhei para cima. – Neil. – Eu protestei. – Eu acho. Se você puder ser paciente comigo, eu posso... sair sobre isso. – Paciente? – Eu ecoei. – Quatro anos não é tempo suficiente para esperar? – Seb. – Neil disse em seu tom de castigo. – É diferente para mim. Você sabe disso. Eu pressionei a mão suavemente na minha testa e fechei os olhos. – Eu não posso falar sobre isso agora, Neil. Isso só está me deixando com raiva. – Por que com raiva? – Eu não estou esperando mais quatro anos para segurar sua mão em público. – Eu respondi com firmeza. – Eu não posso. A culpa é minha, por

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não perceber muito mais cedo o quão difícil isso realmente foi para você… Neil, eu ainda preciso de um tempo para pensar sobre isso. – Você não quer que eu volte para casa? – Ele perguntou, parecendo surpreso. – Você é o único que saiu em disparada. – S-sim, mas você precisa de alguém para cuidar de você. – Não, não preciso. – Eu virei a cabeça um pouco para olhar para ele. – Eu sinto muito. Eu pensei que estava pronto para discutir isso, mas sinceramente esta não foi a resposta que eu esperava de você. – O que você esperava? – Quando não respondi, Neil perguntou: – Você quer terminar? Eu engoli a bola de beisebol alojada na minha garganta. – Eu não sei. Eu pensei que eu soubesse a resposta. Doze horas atrás eu tinha certeza disso. Mas talvez confrontado com Neil e nenhuma maneira de escapar me fez dar uma de galinha. Eu queria continuar montando as ondas do nosso relacionamento? Eu sabia que nenhum par era perfeito e as águas sempre o empurravam para baixo, mas não deveria um casal saudável... não estar lutando para quebrar a superfície o tempo todo? Eu simplesmente não sabia dizer isso. A concussão deve ter me tirado a coragem. Ou talvez eu simplesmente não soubesse como me despedir de algo que tinha sido parte de mim por tanto tempo. – Eu não posso fazer isso agora. – Eu sussurrei. – Sebby, se você não sabe se quer permanecer junto, você não acha que fala por si?

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– Neil, por favor. Ele soltou um de seus suspiros frustrados. – Bem. – Ele se levantou, inclinou-se e beijou minha testa tão gentilmente que me senti tocado por um segundo. – Me ligue quando eles estiverem prontos para te dispensar. Eu vou te levar para casa. Eu não respondi realmente, mas apertei sua mão e acenei quando ele saiu da sala. Eu precisava de outro cochilo. ‡‡‡ ESTAVA completamente escuro quando acordei de novo. Minha cabeça ainda doía como uma cadela, mas a névoa pesada que estava me fazendo sentir desorientado e perdido estava começando a clarear. Ajudou poder ver melhor nesta escuridão. Eu olhei ao redor do pequeno quarto. Meus óculos estavam colocados na pequena mesa com um braço móvel para que pudesse ser movido para a minha frente. Eu me aproximei e perdi umas duas vezes antes de pegá-los e colocá-los. Sentia-me melhor, sendo capaz de distinguir detalhes. Como Calvin dormindo na cadeira ao meu lado. Ele parecia desconfortável. Seus braços estavam cruzados sobre o peito, e o paletó, que ele usava como cobertor, caía no colo. Sua cabeça descansava desajeitadamente em seu ombro.

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Tinha que ser o meio da noite. O hospital estava quieto. Por que ele voltou? Com as preciosas poucas horas que ele tinha para dormir, ele escolheu aquela cadeira desconfortável ao meu lado em vez de sua própria cama? Meu coração inchou e bateu desconfortavelmente rápido. Ele também parecia frio. Eu me arrepiei e puxei o cobertor no meu peito. Eu estudei seu rosto adormecido por mais um minuto, querendo tanto tocar seu cabelo, envolver meus braços ao redor dele... Deus, o que estava acontecendo? – Calvin? – Eu sussurrei. Ele se assustou de repente e sentou-se na cadeira. Isso me pegou desprevenido. Eu não sabia que ele estava acordado. –V-você está bem? – Eu perguntei. Ele olhou para mim e soltou um suspiro, como se estivesse segurando. – Sim. Estou bem. Você está? Você precisa de mim para conseguir uma enfermeira? – Não. – Eu brinquei com o cobertor. – Por que você está aqui? Deve ser tarde. Calvin levantou o relógio, franzindo o cenho e franzindo a testa antes de puxar o celular e verificar a hora. – São três. – Sim, eu imaginei. Ele olhou de volta para mim. – Eu não queria você aqui sozinho.

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– Você parece cansado. – Eu disse em resposta. Ele sorriu, e aquele belo rosto esculpido pareceu brilhar. – Um pouco. Eu estou bem, no entanto. – Você pode deitar comigo. – Eu disse, nem mesmo processando a oferta. – O que? Recusei-me a desistir. O que eu queria com o Neil? Nada, talvez. Ele merecia saber disso - que eu acabara de lutar para consertar um navio emborcado. Mas o que eu queria com o Calvin? Agora, naquele momento, eu só queria segurá-lo. Eu cuidadosamente me movi para mais perto da beira da cama, liberando o espaço mais próximo de sua cadeira e puxando os cobertores para trás. – Se apresse. Este vestido não está exatamente me aquecendo. – Eu disse com uma risada silenciosa. Calvin virou a cabeça para a porta fechada, olhando um momento antes de se levantar. Ele largou o casaco na cadeira, sem palavras subiu na cama e se esticou de lado perto de mim. – Chegue mais perto. – Eu disse, movendo o braço para acomodá-lo. Calvin colocou a cabeça no meu peito e descansou a mão no meu pescoço, esfregando o polegar contra a minha barba por fazer. Coloquei a minha nos cabelos, passando os dedos pela vermelhidão espessa e ardente e desejando mais do que nunca poder experimentar a cor. – Eu não posso ficar aqui. – Ele sussurrou. – Tudo bem. – Eu murmurei. – Apenas relaxe.

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Isso o fez rir, mas eu não sabia por quê. – Como está sua cabeça? – Melhor que antes. Ele cantarolou em resposta, movendo a mão para baixo para pegar minha outra mão. Ele deslizou os dedos pelos meus e apertou levemente. – Essa mão parece muito familiar. Ele bufou. – Você ficava perguntando por Millett. – O que você esperava? Calvin deu de ombros. – Nada menos. – Você cheira bem. – Sim? Chama-se turno de quarenta e oito horas. – Eu levo de volta. Você precisa de um banho. Ele riu, e foi realmente uma risada legal. – Esqueci de elogiar seu vestido. Realmente traz cor aos seus olhos. – Bundão. – Não, mas várias pessoas viram a sua. Eu resmunguei. – Eu vi. – Calvin continuou. – Oh. Aceitável? – Muito. – Ele ronronou. Foi a minha vez de rir, e eu apertei meu abraço nele. Eu olhei para baixo, olhando para nossas mãos trancadas e estudando o respingo de sardas em sua pele.

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– Eu amo suas sardas. – Engraçado. – Eu não estou brincando. – Eu respondi. Calvin levantou a cabeça e, com o rosto tão perto do meu, pude ver toda a sua beleza áspera. Bonito, de aparência clássica - um estudo de obras de arte monocromáticas. Eu libertei minha mão da dele para tocar sua bochecha, traçando as manchas com a ponta do meu dedo. – Eu acho que você é um dos homens mais lindos que eu já vi. – Eu sussurrei. – Eu cuidadosamente movi meu dedo para os lábios dele. – Sardas em seus lábios também. Calvin sorriu timidamente. – Em todos os lugares, ele concordou. – Eu esperava que sim. Ele me encarou por um momento antes de se inclinar e gentilmente pressionar sua boca na minha. Nossas línguas se encontraram e acariciaram enquanto seus dedos brincavam com meu mamilo através do vestido de hospital. Minha respiração engatou e ele gentilmente beliscou meu lábio inferior. Eu gemi. – Curtiu isso? – Ele sussurrou, beliscando o mamilo. Eu respirei fundo. – Sim. Calvin me beijou novamente, tomando seu tempo enquanto ele explorava minha boca. Sua mão deixou meu peito e desceu para esfregar meu pau endurecido.

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– Quer que eu termine? – V-você não precisa. – Eu consegui, lutando contra todos os nervos gritando no meu corpo. Ele sorriu e empurrou os cobertores de lado. Calvin desceu da cama do hospital o suficiente para puxar meu vestido e tomar todo o meu comprimento em sua boca quente e perfeita. Ele subiu e desceu, encontrando a velocidade e a pressão certas de que eu precisava. Não demorou muito. Eu estava cansado e reprimido e a meio caminho de chegar antes mesmo de ele colocar a boca em mim. Mordi meus dedos para não gritar, empurrando fracamente e empurrando sua cabeça para baixo ao mesmo tempo. – Cal. – Eu sussurrei. – Oh Deus... – Meus músculos do estômago se contraíram e minha pele se arrepiou de suor. Eu estava em pé na borda, mais perto, mais perto, pronto para cair, esperando o último empurrão - e então houve uma explosão e eu estava caindo, gritando todo o caminho. Calvin colocou a mão sobre a minha boca enquanto ele ordenhava o último do meu orgasmo. Ele levantou os lábios da minha ereção suavemente, lambendo-os. – Sem gritar. – Ele disse com um brilho de diversão em seus olhos. – Não aqui, de qualquer maneira. – Ele puxou meu vestido de volta para baixo e colocamos os cobertores de volta sobre nós. Peguei sua camisa, puxei-o de volta para mim e o beijei, saboreandome nele. – E você? – Eu perguntei contra seus lábios.

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– Estou bem. – Ele sorriu e acariciou meu cabelo suavemente antes de se deitar contra o meu peito novamente. Eu estava vagamente ciente da pressão de sua ereção contra a minha perna, mas eu estava saciado e cansado e ele também, e eu caí em um dos mais confortáveis sonos que eu tive em um longo tempo.

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− SIM, POP. − Eu disse, falando ao telefone na manhã seguinte. Eu sentei na cadeira ao lado da cama do hospital, puxando meus sapatos. – Cal... er, o detetive Winter já estava aqui. Ele está me levando para casa. − Eu olhei para cima. Calvin permaneceu pacientemente na porta, casaco de inverno posto e as mãos nos bolsos. − Estou me sentindo muito melhor. Tudo bem. Eu te ligo depois de descansar um pouco em casa. Obrigado, pai. − Eu desliguei e coloquei o telefone no meu bolso. − Me desculpe por isso. − Sem problemas. Quando eu havia acordado, Calvin não estava mais na cama do hospital comigo, o que foi surpreendentemente deprimente. Eu estava começando a me preocupar com o que havíamos feito quando Calvin apareceu na porta. Ele parecia acordado e revigorado e vestia roupas diferentes. − Ei. − Ele disse, sorrindo. − Falei com seu médico. Ele está a caminho para verificar você. Quer uma carona para casa? Eu recebi um atestado de saúde bem cedo naquela manhã e insisti em sair imediatamente. Vestido com as roupas de ontem, fui até a porta com Calvin. Ele me entregou meus óculos de sol. − Eu peguei estes na sua loja ontem.

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− Obrigado. − Eu os coloquei. − A iluminação do hospital é a pior. − Segui Calvin para o corredor. − Onde você foi esta manhã? − Oh. Casa. Tomar banho e fazer a barba. − Ele esfregou sua bochecha para enfatizar seu ponto. − Você não tinha que voltar. − Eu protestei. − Você não tem que começar a trabalhar de qualquer maneira? − Não se preocupe. − Calvin colocou a mão no meu ombro e me guiou para outra curva em direção à saída. − Eu agradeço. Neil ia me levar, mas... − O que? − Eu não sei se eu posso lidar com vê-lo agora. − Eu vejo. − Ele não empurrou o assunto, e eu estava agradecido. Ainda estava nevando quando as portas do hospital se abriram e saímos. Carros estacionados durante a noite estavam enterrados. A entrada de carros havia sido arada e salgada para as ambulâncias que chegavam e abençoar aqueles pobres sujeitos que estavam dirigindo neste tempo. − Por aqui. − Calvin chamou, liderando o caminho para um Ford Fusion em alguma cor escura. − Eu gosto deste carro. − Eu disse, abrindo a porta do passageiro. − Gosta? − Ele subiu atrás do volante. − Acessível. − Eu disse quando entrei. − Sim. − Ele ligou o aquecedor e ajustou por um momento antes de ligar os limpadores de para-brisa. − Quente o suficiente? − Chegando lá. Você pode dirigir? Quer dizer, o prefeito baniu a condução no outro dia.

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− Sim, é provável que esteja em vigor novamente por esta noite. − Calvin puxou para fora e saiu do hospital. – Essas tempestades não estão nos dando um tempo. − Ele olhou para mim. − Mas sim, eu tenho um distintivo e uma arma. Eu posso fazer muitas coisas. Eu bufei. − Idiota. Ele sorriu. Eu me recostei no meu assento, vendo a cidade congelada e enterrada passar. – Ei. − Eu disse de repente. − Eu quis dizer uma coisa no outro dia. − Por que você não fez? − Você começou a chupar meu pau. − Oh. Eu dei tapinhas no meu casaco, enfiei a mão no bolso e tirei o envelope que recebi do correio. − Eu recebi essa carta Qua... não, quinta-feira. Pelo correio. Nenhum endereço de retorno ou qualquer coisa, mas está endereçado ao Emporium. − O que diz? − Perguntou Calvin, sem desviar o olhar da estrada. Eu cautelosamente abri a carta mais uma vez. − 'Eu não devo apenas punir, mas punir com impunidade'. – Olhei para Calvin. – Eu não sei se isso significa qualquer coisa sobre… qualquer coisa, mas é estranho. − Isso é tudo? − Sim. − Eu coloquei a carta de lado. − Isso significa alguma coisa para você? Ele estava relutante, mas acabou concordando. − Sim. − Mesmo? O que? − 'O Barril de Amontillado.'

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− O Barril... essa é outra história de Poe. − Eu xinguei sob a minha respiração. − Eu deveria ter percebido. − Você leu esse? Eu tive que procurar a frase. − Eu acho que sim. Não é aquele em que um homem mura seu inimigo? − Sim. − Respondeu Calvin. Eu hesitei com a minha próxima pergunta. – Mike recebeu a mesma carta? Mais uma vez, Calvin apenas disse: − Sim. − Jesus. − Olhei pela janela lateral. − Ele vai me matar. − A declaração foi uma espécie de revelação aterrorizante. − Ele realmente tentou ontem. − Ninguém vai matar você. − Disse Calvin severamente. − E ontem ele falhou. − Sim, mas... − Não discuta comigo, bebê. − Calvin olhou para o lado brevemente. − Ninguém vai te machucar novamente. Era difícil não lutar com ele, apontar que ele não poderia estar por perto 24 horas por dia, mas eu não tinha energia para reclamar. E além disso, tê-lo tão protetor comigo era meio que legal. − Sebastian? − Hmm? − Você sabe alguma coisa sobre cinzas africanos? − Repita? − O papagaio. Eu me virei para Calvin e meio que ri. − Não, eu deveria?

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− Apenas curioso. − Por quê? Quando ele não respondeu, eu pressionei. – Isso tem relação com o caso? −Eu não posso discutir isso. − Você discutiu outros pontos comigo. − E eu não deveria ter. Isso me irritou. − Sim, bem, eu não sei nada sobre papagaios. − Tudo bem. Soltei um suspiro irritado e olhei para ele novamente. Ao contrário de Neil. Sem brigas, sem putaria, e ele não me dava combustível para continuar sendo um idiota. − Meu pai. − Eu disse com relutância. − Ele é voluntário em muitos abrigos para animais de estimação. Eu sei que se trata de animais exóticos. Eu poderia pedir-lhe as informações de contato. Talvez eles possam ajudar. Ele sorriu. − Gostaria disso. Obrigado. Eu estava em casa não muito tempo depois, abrindo a porta da frente e conduzindo Calvin. − Preciso pegar um chuveiro. − Eu disse enquanto trancava a porta. − Uh, mas se você precisar ir... − Eu olhei de volta para a porta. Por que ele ficaria? Ele esteve comigo a noite toda, me levou para casa, e o homem não...

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− Eu posso ficar um pouco. − Calvin desabotoou seu casaco. − Vá refrescar-se. Um banho quente, fazer a barba e tirar o gosto horrível da minha boca depois disso, eu me senti praticamente humano. Eu coloquei meus contatos vermelhos e coloquei um par de Levi's velhos e uma camisa de manga longa de cor escura. Abrindo a porta do quarto, eu entrei na sala da frente. − Olhe para mim, bom como novo. Calvin estava de pé entre as caixas de livros do leilão, olhando por cima da minha estante de livros. Sua jaqueta estava cuidadosamente colocada sobre uma cadeira à mesa. − Como você se sente? − Ele perguntou, virando em minha direção. − Como uma nota de vinte dólares. Ele balançou a cabeça, e acho que ele estava rindo baixinho. − Você está com fome? Dei de ombros, esfregando meu estômago que se animava com a menção de comida. − Eu vou pegar algo mais tarde. − Eu posso fazer o café da manhã. − O que? Não. Vamos lá. Você não precisa fazer isso. − Estou com fome também. − Antes que eu pudesse protestar, Calvin estava entrando na cozinha. Ele abriu a geladeira e inclinou-se para remexer ao redor. − Você deveria ir às compras. − Eu fiz no outro dia, lembra? − Eu me lembro de pizza congelada e sorvete.

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− Está certo. Eu estava tendo uma crise de coração. − Eu disse, em pé na porta. Calvin olhou para mim e sorriu. − Como está o coração agora? Na verdade, estava batendo forte e fazendo o nervosismo cair até o meu intestino. −O-ok. − Eu gerenciei. Ele pegou uma caixa de ovos e um pouco de cebola e batatas. − Ovos mexidos e batatas fritas caseiras, bom? − Torradas também. Calvin assentiu e colocou os ingredientes no balcão. Ele abriu os armários, andando por aí como se ele conhecesse minha cozinha. Ele derramou um pouco de óleo em uma panela e começou a cortar as batatas. Eu entrei e peguei o pão do topo da geladeira. − Então você pode cozinhar também? − Você diz isso como se estivesse impressionado. − Eu estou. − Eu olhei para ele e sorri. − Eu nunca tive caras me fazendo o café da manhã. − Millett não cozinha? − Ah, não, ele não faz. Calvin assentiu. − Eu gosto de cozinhar. − Ele deixou cair a batata cortada na panela e adicionou algumas especiarias. Eu estupidamente não fiz nada além de colocar duas fatias de pão na torradeira antes de perceber que o café seria uma boa ideia e comecei uma

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garrafa. Observar Calvin era de longe um prazer maior que oferecer ajuda. Ele tinha suas mangas enroladas para trás, exibindo os cordões dos músculos em seus braços. Ele cantarolava baixinho enquanto trabalhava. Era relaxante. E honestamente um pouco perturbador ao mesmo tempo. Eu estava me apaixonando por ele com força e rapidez. Eu gostava de Calvin. Muito. Ele era quente e inteligente e rapidamente estava se tornando tudo que eu queria em um parceiro. Mas eu não tinha ideia de quão profundo era para ele, e apenas falar sobre isso parecia que quebraria o precioso momento. − Sebastian? Eu balancei a cabeça e olhei para cima para vê-lo me observando. − O que? Ele sorriu daquele jeito bonito e desequilibrado. − Eu perguntei se você gosta de cebola − Ah, com certeza. Ele acrescentou a cebola picada aos ovos. Eu peguei geleia da geladeira quando a torrada apareceu. Se eu não tomasse cuidado, eu ia me apaixonar por este pequeno momento doméstico. Eu sempre quis isso. Talvez fosse estúpido, mas dividir as tarefas e cozinhar juntos, passando tempo com alguém em um confortável, compreensivo silêncio - era isso que eu queria na vida. Torrada suficientemente lambuzada, café animador e ovos quentes, nos sentamos para comer. − Como está? − Ele perguntou, dando uma mordida. − Muito bom. Você quer vir e cozinhar mais frequentemente?

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Calvin sorriu para isso. − Eu acho que cozinhar é relaxante. Eu preciso disso algumas vezes. − Eu posso imaginar. Ele fez uma careta e assentiu, dando outra mordida. Eu o observei por um momento. Ele parecia ter ficado tenso. − Eu pensei que você fosse um idiota quando nos conhecemos. Calvin riu. − E agora? − Você ainda é um idiota. Mas você é um ótimo cozinheiro, então você pode ver como eu estou dividido. − Eu provoquei. − Eu pensei que você fosse um merda sarcástico e sua boca iria lhe causar sérios problemas. Eu arqueei uma sobrancelha. − Oh, rapaz. E que tal agora? − É cedo ainda. − O que? Calvin tomou um gole de café. − Ainda há muito tempo no dia para ainda ficar em apuros. Eu bufei e dei outra mordida. − Tem algo planejado para mim? − Eu posso pensar em uma coisa ou duas. − Disse Calvin. Eu não sabia como responder a isso. Será que ele me acharia dramático se eu perguntasse sobre seus sentimentos? Antes do sexo? Porque com certeza eu sabia que iríamos foder. Era só uma questão de terminar as torradas e ovos. Mas havia algum sentimento a ser discutido?

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Pensei no telefonema que fiz depois de ser atingido. Querido. Neil nunca me chamou de querido. Ou bebê, pelo o que importa. Eu gostei um pouco dos apelidos carinhosos. Para mim, porém, eles indicavam alguma forma de afeto mais profundo do que apenas luxúria. Eu olhei para Calvin novamente. O que eu esperava dele? Sexo apaixonado e alucinante? Sim. Absolutamente, 100%, por favor, sim. Mas meu instinto me dizia que eu queria mais. Meu coração me dizia que eu queria mais. Meu cérebro me dizia que eu era louco por pensar nisso. Trocar Neil por Calvin. Oh rapaz. Saltar de um relacionamento de longo prazo imediatamente para um novo relacionamento era uma má ideia. Assumindo que Calvin queria um relacionamento. Era ainda uma má ideia maior se envolver com o policial que está investigando você - mais ou menos. Isso era um conflito de interesses? Calvin não pareceu pensar assim. Ao menos, não havia conflito suficiente para o sexo. Eu tinha não menos que um milhão de pensamentos pulando em minha cabeça quando o café da manhã estava terminado e limpo. Fui ao banheiro, peguei um analgésico do armário de remédios e bebi com água da torneira fria. Quando saí, Calvin estava em pé na sala da frente, olhando pela janela com vista para a rua abaixo. − Como você está se sentindo? − Ele perguntou, olhando para cima. − Muito melhor. − Respondi. − Obrigado pelo café da manhã. − Claro. Obrigado por me deixar cozinhar. Eu lentamente caminhei para o lado dele, olhando para ele.

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− Então. − Então? − Ele repetiu. − Eu estou pronto para pular em você, mas eu acho que estou nervoso sobre se eu leio os sinais certos. − Eu ri. Calvin se virou completamente para mim e sorriu. Ele estendeu a mão, segurou meu rosto com as mãos grandes e beijou minha boca. Ele pressionou a língua contra os meus lábios e eu abri, gemendo quando o toque enviou eletricidade pela minha espinha. − Você tem certeza que está pronto para isso? − Ele sussurrou contra a minha boca. − Sim. − Prometa me dizer se você precisar parar − Eu prometo. − Respondi. Eu passei meus braços em volta do seu pescoço e ele nos levou de volta para a porta do quarto. A mão de Calvin estava sob a minha camisa e beliscou um mamilo enquanto eu puxei sua gravata solta. Uma trilha de roupas logo levou ao quarto escuro. − Sua cabeça está bem? – Calvin perguntou novamente. − Ok. − Eu confirmei sem fôlego. − Posso te foder? − Calvin perguntou baixinho entre beijos. Que maldito cavalheiro. − Sim. − Eu implorei. − Eu preciso de você dentro de mim. Uma vez que eu estava nu, Calvin me ajudou a descer para a cama e terminou de tirar suas calças desabotoadas. Seu pau enorme saltou para atenção quando foi libertado, e eu estava ao mesmo tempo emocionado e

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intimidado. Definitivamente maior e mais grosso que Neil. Totalmente nu, Calvin subiu na cama e se inclinou sobre mim, seu corpo musculoso me empurrando para o colchão. Ele era tão quente, tão incrivelmente sexy. Calvin me beijou e brevemente rolou seus quadris contra os meus. Um arrepio percorreu meu corpo quando nossas ereções se tocaram e esfregaram. − Sim, você gosta disso, bebê? − Ele sussurrou. − Sim! Cal, por favor. − Por favor, o que? − Ele murmurou antes de beijar suavemente ao longo do meu pescoço. − Por favor, me foda! Ele mordeu meu peito e eu me empurrei contra ele. − Eu vou. − Ele prometeu. Calvin estendeu a mão para me acariciar lentamente, provocando. − Eu vou enfiar cada centímetro de meu pau em sua bunda perfeita. Você quer isso? Minha mente estava tentando se manter à tona durante um furacão. Sim, eu queria isso! Tudo isso, cada pedacinho de Calvin eu queria dentro de mim. Eu queria que ele me esticasse e me enchesse de maneiras que eu nunca fui. Eu queria que ele continuasse falando, continuasse dizendo todas essas coisas sujas para mim, porque eu achava que era uma incrível maneira de me ligar, mas que eu sempre tive vergonha de pedir. Calvin era psíquico ou um parceiro sexual talentoso. Ele acariciou seu nariz brevemente contra o meu. − Você gosta que eu fale assim com você, não é?

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Eu assenti. − Eu pensei assim. − Ele me beijou mais uma vez e deu a meu pau mais alguns puxões. − Onde está o seu lubrificante? Ele sentou-se enquanto eu me movi para o lado da cama para vasculhar brevemente na mesa de cabeceira. Eu entreguei a pequena garrafa e um preservativo. − Preservativo ou nada de sexo. − Eu disse com firmeza. − Claro, um preservativo, bebê. Não se preocupe. − Calvin pegou o lubrificante em uma mão e envolveu sua outra em volta do meu pescoço. Ele apertou levemente, apenas o suficiente para me fazer ofegar quando ele me beijou. − Levante suas pernas acima. − Você me quer no meu estômago? − Não. Você precisa ir com calma e eu quero ver seu rosto. Se fosse possível ficar mais duro do que eu estava, eu consegui. Mudei minhas pernas conforme dito, segurando meus joelhos. Calvin sorriu largamente e se acariciou brevemente. − Jesus, você é tão lindo pra caralho. Ele esguichou algum lubrificante em seus dedos e estendeu a mão para pressionar o primeiro em mim. Ele empurrou o dedo para dentro e para fora gentilmente, sorrindo quando eu gemi. − Olhe para você, ficando todo excitado com um dedo. Ele acrescentou outro e começou a me esticar com extremo cuidado e precisão. − Oh Deus. Cal, por favor... não pare.

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Ele me beijou de novo, procurando com os dedos até encontrar o ponto que me fez pular. Calvin riu silenciosamente. − Assim? − Ele pressionou novamente mais algumas vezes, me reduzindo a uma bagunça trêmula. Depois de ter passado mais tempo do que eu estava acostumado a me preparar - não que eu esteja reclamando, porque os dedos nunca se sentiram tão bem - Calvin abriu o preservativo e puxou-o para si. − Isso cabe em você? Ele riu. − Que elogio. Sim, claro. − Ele esguichou mais lubrificante e ficou escorregadio antes de tomar meus quadris e alinhar. Ele pressionou a cabeça de seu pênis contra mim e empurrou devagar. Calvin levou muito mais tempo para se certificar de que eu estava pronto, e me vi estranhamente tocado. Neil tinha uma tendência a pressa, para cumprir uma tarefa em vez de prazer. Às vezes não era ótimo para mim e o sexo acabou ficando desconfortável, mas Calvin fez isso se sentir bem desde o início. Muito bom. E ele parecia estar gostando de fazer isso por mim. Mas ainda assim, ele era maior do que eu estava acostumado, e a cabeça do seu pênis era enorme. Eu balancei quando ele empurrou contra o anel de músculos, gemendo quando ele me encheu. Eu queria - amava - sexo violento, mas essa parte precisava ser gentil. Tão rápido e tão frenético quanto eu desejava ser fodido, os momentos iniciais tinham que ser lentos. Calvin leu esse pedido na minha linguagem corporal. Ele se inclinou sobre mim, pressionando nossas testas juntos quando ele fez uma pausa para

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me deixar ajustar. Ele se inclinou em seus antebraços em ambos os lados do meu peito. Ele beijou meus lábios, bochechas, nariz e meu pescoço. − Você está bem? − Ele sussurrou. Eu balancei a cabeça e soltei um suspiro. − Sim. − Quer que eu mude de novo? Eu agarrei seus bíceps com força. − Só um pouco lento. − Eu disse com voz trêmula. Calvin gentilmente empurrou para frente, deslizando um pouco mais de si mesmo em mim. Eu sabia que ele queria se mexer, mas Deus, sua paciência era a de um santo, enquanto esperava calmamente que meu aperto em seus braços se afrouxasse. − Foda-se. − Ele gemeu. – Sebastian. − Bom? − Eu perguntei. Ele riu silenciosamente e me beijou novamente. − Tão. Bom. Tão apertado. Eu cuidadosamente envolvi minhas pernas ao redor dos quadris de Calvin, instigando-o para frente. − Você pode se mover mais. − Certeza? Eu assenti. Calvin acreditou em minha palavra e pressionou até que suas bolas tocaram minha bunda. Aqueles momentos com ele me fizeram sentir como se eu fosse novo para sexo de novo. Eu não era virgem, claro que não. Eu tive três namorados e sexo com cada um deles. O primeiro, nós dois éramos

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inexperientes, então não era tão bom em retrospecto. O segundo foi melhor, mas muito exigente de mim. E Neil… vamos apenas dizer que Neil e eu nunca tivemos a química que eu estava sentindo com Calvin. Cada toque parecia acender um fogo sob a minha pele. Seus beijos eram inebriantes, seu gosto algo que eu me encontrei desejando. Ele pressionou sua poderosa estrutura contra a minha, me prendendo no lugar. Eu adorava ser capaz de cavar meus dedos em seus músculos, o que só parecia estimulálo. Ele falou sujo comigo, mas estava excepcionalmente consciente das minhas necessidades e bem-estar. Eu nunca me senti tão bem cuidado. − Ainda bem? − Ele perguntou, voz rouca. − S-sim. Seu pau empurrou para dentro e para fora, o arranhão ardente tão bom, fez meus dedos enrolarem. Os quadris de Calvin ficaram mais velozes conforme impulsionava para dentro mim. − Maldição, Sebastian. Você é tão malditamente bom. – Ele rosnou batendo duro com a última palavra. Eu gritei e arqueei minhas costas, encontrando cada um dos seus movimentos com minhas próprias tentativas meio-idiotas. − M-mais! Calvin! − Mais? − Calvin repetiu, um sorriso se espalhando por seu rosto. − Você já tem meu pau todo. − Ele parou de repente, permanecendo dentro, mas imóvel. Eu olhei para ele e agarrei seus braços. − Não pare agora!

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− Implore. − Ele ordenou. Eu estava um pouco envergonhado, mas a ordem era tão sexy, assim como com o boquete. − Eu preciso disso! – Movi minhas mãos até o traseiro de Calvin e apertei com força. Ele grunhiu, mas não se moveu. − Você precisa do quê? − Ele perguntou em vez disso. − Calvin! Vamos! Ele envolveu sua grande mão em volta do meu pescoço novamente, apertando suavemente e me fazendo gemer. Ele repetiu a pergunta. − Eu preciso de... de... você para me foder. Por favor, por favor, estou tão perto! − Com fome de meu pau? − Ele perguntou, lábios fantasma sobre os meus. Eu gemi em resposta e empurrei de volta contra ele novamente. − Sim, você é tão bom, tão grande! Ele me beijou enquanto alcançava entre nós para me acariciar. − Quer vir comigo dentro de você? − Murmurou. Eu agarrei sua mão enquanto tentava mover meus quadris contra os dele ao mesmo tempo. − Sim! E então Calvin estava empurrando em mim novamente, sua boca na minha. Ele me acariciou no ritmo de seus movimentos. Cada sensação, da sua língua ao seu pênis, era esmagadora, e eu mal tive uma chance de chorar antes de começar a vir em sua mão. Ele gemeu e

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xingou enquanto enterrava o rosto no meu pescoço, empurrando em meus músculos cerrados. − Sim, você ama isso, não é? Você ama meu pau. − Calvin gemeu. Meu corpo tremeu quando me desgastei e passei meus braços em volta do pescoço de Calvin. Eu mal podia suportá-lo dentro de mim agora, só porque meus nervos estavam tão cheios de prazer, mas ele estava quase lá. − Goze dentro de mim. − Eu gemi. Calvin pegou o lado do meu rosto com uma mão e me beijou novamente. Sua língua vacilou e ele abafou sua voz contra a minha boca quando começou a gozar. Ele estava respirando pesado e me beijando muito mais gentilmente antes de afastar seu rosto. − Você está bem? − Ele sussurrou, acariciando minha bochecha. Eu sorri, olhando para ele através de óculos oblíquos. − Eu estou fantástico. − Esclareci. Ele riu. − Bom. Calvin se retirou quando se sentou. − Um minuto. Ele se levantou e puxou o preservativo enquanto saía do quarto e entrava no banheiro. Peguei alguns lenços da caixa ao lado da cama para me limpar. Jogueios na lixeira e coloquei meus óculos de lado antes de ficar confortável. Eu estava esperando que Calvin voltasse, subisse na cama comigo e caísse em um cochilo exausto e saciado antes que a realidade amanhecesse. Era de manhã e ele tinha que trabalhar. Isto era sexo.

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Sem indicação de qualquer coisa mais. Ele não estava vindo abraçar. − Como a sua cabeça se sente? Calvin perguntou, voltando para o quarto. − Qual? − Ha-ha. Eu ri e inclinei a cabeça para olhar em sua direção. − O sangue está deixando uma a favor da outra. Eu estou bem. − Mova-se. − Você vai ficar? − Eu perguntei surpreso. Calvin fez uma pausa quando começou a puxar os cobertores para trás. − Eu devo ir? − Ele perguntou. − N-não, eu só imaginei que você tivesse lugares para estar. Ele grunhiu e foi para a cama, esticou-se ao meu lado e passou o braço pelo meu peito. Após um instante se mudando para ficar confortável, Calvin mais uma vez usou meu peito como travesseiro e serpenteou uma perna entre as minhas. Eu gostei disso, gostei de ele encontrar alívio em meus braços. Eu corri uma mão pelo seu lado e quadril até a coxa, onde senti a textura da pele mudar. Tecido cicatricial, talvez? Calvin murmurou sonolento. – Bala. − Ele murmurou. − O que? − Eu fui baleado aí. − No exército? Ele acenou com a cabeça contra mim. − Perdeu minha artéria femoral apenas por pouco.

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− Jesus. − Eu sussurrei. − Mas você foi baleado duas vezes, não foi? Ele inclinou a cabeça para cima, olhando para mim. − Sim. − Disse ele depois de uma pausa. Ele pegou minha mão, moveu para o seu ombro, e apertou um dedo contra um ponto. − Não foi tão ruim quanto a perna. − Você estava com medo? − Eu realmente não gosto de falar sobre o meu tempo no exército, Sebastian. Não foi rude ou irritado, o jeito que ele falou, mas foi cauteloso. Quase, cansado. − Desculpe. − Eu tive que segurar as perguntas. Calvin colocou a cabeça de volta para baixo. Fechei meus olhos, me perdendo nos toques gentis contra o meu corpo que Calvin fez com suas mãos firmes e calejadas. − Beth está bem? − Eu murmurei longamente. − Beth Harrison? − Calvin soou meio adormecido. − Sim, a Beth da livraria. − Ela está bem. Ninguém estava na loja quando foi arrombada. − Alguma coisa foi roubada? − Não tenho certeza. Eu acho que não. − Calvin respondeu. Ele beliscou meu mamilo, e eu o senti sorrir contra meu peito quando eu gritei. − Vá dormir. − Sim, oficial. − Espertinho. ‡‡‡

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EU DORMI mais do que me lembrava de fazer alguma vez. Eu acho que uma concussão juntamente com o sexo mais feroz que você teve em anos vai te bater por algumas boas horas. Ou metade do dia. Eu não tinha ideia de que horas eram, que dia era, e eu estava realmente, perfeitamente bem com isso. Acordei ao mudar de posição na cama, pressionado contra as costas de Calvin com um braço em volta da sua cintura. Menos o aborrecimento de ter dormido com meus contatos novamente, eu suspirei confortavelmente e enrolei mais apertado contra ele. Calvin estava acordado. Ele puxou meu braço até o peito e cobriu minha mão com a dele. Eu estava ciente o suficiente para registrar minha ereção pressionando contra a curva de sua bunda. Eu esperava que ele não se importasse. Eu geralmente preferia ser o fundo, por assim dizer. Eu amava as sensações esmagadoras que vinham com ser fodido. Eu gostava de me submeter um pouco, ter outra pessoa assumindo o controle e me levar junto. Dito isso, eu gostava da mudança ocasional de papéis. Era saudável, pensei, mas Neil só me deixou fazer isso uma vez antes de colocar o pé no chão. Eu estava horrorizado com o pensamento. Me deixou? A risada rouca de Calvin espalhou os pensamentos sombrios. − Dormiu bem? − Ele murmurou. − Melhor do que bem. − Eu disse em torno de um bocejo. − Sempre acorda assim? − Ele pressionou ligeiramente para trás. − Você dificilmente pode me culpar. Você se olhou em um espelho recentemente? − Sim. − Calvin rolou, seu rosto perto do meu. − Você já?

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− Sim. Velho e cinza, e eu quero dizer isso literalmente. − Você tem trinta e três. Não é velho. − Calvin balançou a cabeça. − Você sabe muito sobre mim. − Respondi. − Quantos anos você tem? Calvin parecia envergonhado. − Quarenta e Dois. − Uau! Sério? − O quê? − Ele perguntou, parecendo um pouco defensivo. − Não, não. Quero dizer, uau, eu não posso acreditar nisso. Você está fantástico. − Eu gostaria de ter trinta e três novamente. − Ele respondeu. − Não é tudo o que parece ser. Calvin resmungou, segurou meu rosto e me beijou. − Eu deveria ir. − Mas olhe para mim. − Eu disse, olhando para baixo de forma significativa. − O que eu devo fazer com isso? − Eu deveria cuidar de você toda vez que você fica duro? − Seria legal. Posso te colocar na discagem rápida? Calvin riu e me beijou novamente. − Eu não acho que tenho tempo. Eu odiaria apressar com o quão bom você é. O elogio fez minhas bochechas esquentarem. − Que tal eu nos masturbarmos juntos? Ele perguntou, estendendo a mão para envolver sua mão brevemente em torno de mim e deu um puxão. Eu imediatamente pressionei meus quadris para frente no toque.

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− Eu quero isso. − Eu sussurrei. − Precisa que eu coloque um preservativo? Eu considerei a questão por um momento. Ele era tão cuidadoso na cama. Eu realmente não sabia o que fazer disso. Eram a maioria dos caras como Calvin, ou eu estava simplesmente acostumado a atrair o tipo que não se importava tanto? Eu o beijei, colocando uma mão na parte de trás de sua cabeça para aprofundar o toque. − Não? − Ele murmurou contra a minha boca. − Não. − Eu concordei. Ele me puxou contra seu próprio corpo, envolveu a mão em torno de nossos dois pênis e acariciou eles lentamente. Calvin me beijou um pouco mais, mordiscou meu lábio inferior e se moveu ao longo do meu queixo e mandíbula. − Eu queria transar com você desde o minuto em que nos conhecemos. − Calvin sussurrou. Eu gemi baixinho, empurrando contra a mão dele ansiosamente. − R-realmente? − Realmente. − Ele me beijou novamente. − Mas eu sabia que algo estava acontecendo entre você e Millett. − Como você sabia? − Porque eu não comprei sua besteira de 'amigo'. Não quando você parecia um amante desprezado. Jesus, eu tinha parecido com raiva de Neil no dia em que encontrei o coração de porco? Mas pensar em Neil nesse momento não era o que eu queria.

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− Mais rápido. − Eu murmurei, envolvendo meu braço em volta do pescoço de Calvin. − Sim, bebê. Ele me beijou e fez o que eu disse, movendo a mão com maior urgência. Fechei os olhos e me concentrei em Calvin. O calor e a pressão de sua mão, a plenitude de seu pênis pressionando contra o meu. A respiração profunda e urgente que atingiu meus lábios antes de eu agarrá-lo em outro longo beijo explorador. Calvin acelerou e meus músculos se apertaram quando cheguei mais perto. − Cal. − Eu sussurrei. − Hmm? − Você me deixaria transar com você, se eu quisesse do outro jeito? − Claro, querido. − Ele me beijou, a língua pressionando contra a minha brevemente. Deus, era tão simples assim? − Merda. − Calvin gemeu. − Eu estou quase lá. − No meu estômago. − Eu disse, puxando gentilmente e rolando de costas. Eu empurrei os cobertores para baixo e continuei a masturbar a mim mesmo. Calvin se ergueu em seus joelhos, movendo-se para os lados de uma das minhas pernas. − Deus, olhe para você. − Disse ele, meio falando para si mesmo. − Você é tão gostoso. Sim, continue se tocando. Eu acho que teria sido muito mais autoconsciente com qualquer outro cara, me sentiria meio idiota me assistindo vir, mas Calvin estava olhando

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como se fosse a única grande experiência de sua vida e isso me fez sentir muito atraente. Não como um homem velho. Mas um cara sexy e jovem. Eu queria ser isso para ele. Eu estendi a mão e toquei seu estômago firme, os dedos segurando sua pele quente quando tudo ficou tenso. Fechei meus olhos e gemi quando gozei, o resultado úmido e pegajoso fazendo uma bagunça no meu corpo. Eu mal tinha terminado de acariciar o último do meu orgasmo quando senti outro jorro me atingir. Eu olhei para cima, observando Calvin vindo em cima de mim, sua boca inchada de beijos e olhos escuros com luxúria. − Porra. − Ele gemeu alto quando terminou, soltando-se. − Aquela expressão que você faz quando você vem. − Ele rosnou enquanto se inclinava para me dar um beijo duro e possessivo. − Você vai me manter em um loop infinito enlouquecedor. − Você me ouviu reclamando? −Eu ri. Calvin se moveu, arrastando sua língua pelo meu peito suado antes de começar a lamber meu estômago limpo. Ele lambeu cada gota antes de se sentar com um suspiro satisfeito. − Você gosta disso? − O gosto? − Sim. Ele assentiu. − Você não quer que eu faça isso? Eu acenei uma mão preguiçosamente.

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− Ah não. Eu não me importo. Calvin sorriu. − Você quer me chupar da próxima vez? − Deus sim, mas por favor não me provoque agora. − Eu murmurei. −Eu não sei se posso administrar uma terceira vez. Ele riu de novo daquela maneira aérea e despreocupada que muitas vezes se tem depois de orgasmos fantásticos. − Eu realmente tenho que ir agora. − Calvin desceu da cama e começou a recolher suas roupas e se vestir. Eu rolei para o meu estômago, vendo-o puxar as calças de volta e abotoar a camisa. − Obrigado. − Eu disse longamente. − Pelo quê? − Calvin se virou. − Tudo. No curso de um dia, você veio em meu socorro, me fez companhia, me trouxe em casa, cozinhou meu café da manhã e me deu dois - não, três orgasmos incríveis. − Eu sorri. − Isso tudo é parte

de ser um

funcionário público? Calvin ficou em silêncio, virou-se para pegar a gravata do chão e colocou o nó no pescoço. Eu levantei minha cabeça. − Ei, eu estava brincando. − Eu disse rapidamente. Calvin abotoou os punhos de sua camisa e terminou de ficar apresentável antes de se inclinar sobre a cama e beijar minha boca. − Eu sei. − Ele murmurou. − Fique na cama e relaxe hoje, ok? − Você está ordenando?

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− Eu vou, se eu descobrir que você se levantou deste lugar exato. − Disse ele com um pequeno sorriso. − E se eu tiver que mijar? − Tudo bem, isso é permitido, mas nada mais. Concussões são sérias. − Sim, estou ciente. Ele passou os dedos brevemente pelo meu cabelo. − Você tem o meu número. − Para que eu preciso disso? − Eu perguntei, inclinando minha cabeça em seu toque. Ele encolheu os ombros. − Qualquer coisa. − Quando vou te ver de novo? Calvin hesitou. − Talvez você deva considerar isso uma coisa feita. − O quê? Eu me sentei abruptamente. − Você está namorando Millett, Sebastian. − Disse Calvin, quando soltou: − Não é? Meu intestino rolou e me fez sentir doente. − Eu não sei. − Eu disse. − Você deveria dizer a ele. − Que nós transamos? Você está falando sério? − Sim. − Calvin respondeu calmamente. − Eu admito que é parcialmente minha culpa, mas eu sei que você não é o tipo de homem para enganar alguém.

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− Jesus Cristo, Calvin. Alguém te disse que você precisa trabalhar em sua conversa de travesseiro? – Eu olhei para ele, querendo levantar e argumentar, mas eu senti que não seria tão intimidante com uma bunda nua. − Quero dizer, não quero ficar todo mole como um adolescente, mas isso foi algo mais para você do que sexo? Eu vou ser sincero, você manda sinais bastante conflitantes. − Eu sei que sim. − Ele disse simplesmente. − Isso não é útil. − Eu repliquei. − Deus… Dane-se isso. Eu quero você, Calvin. − Millett... − Neil e eu andamos circulando pelo maldito dreno por seis meses. − Eu disse, agora com raiva. – Estive com muito medo de admitir isso. E agora você está aqui e nunca senti nada assim antes. Calvin ficou em silêncio por muito tempo. Eventualmente, ele disse: − Eu não deveria ter iniciado nada. Eu sinto muito. − Você não pode simplesmente se desculpar depois de tudo isso! Você está fodidamente louco? Eu assisti o músculo em sua mandíbula apertar. − Eu preciso ir, Sebastian. − Dane-se. − Eu respondi. Ele não respondeu, o que foi legal, porque eu poderia tê-lo estrangulado se ele tivesse.

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NEIL me ligou à tarde, acordando-me de um sono induzido por raiva, desprezo e analgésico. − Seb? Eu resmunguei, puxando os cobertores por cima da minha cabeça. − Você ainda está no hospital? − Não, estou em casa. − Por que você não me ligou? Eu fiquei quieto. Neil merecia saber. Calvin estava certo. Eu não podia perdoá-lo pela briga que tivemos e não mencionar que eu fiz sexo com outro homem na cama que compartilhamos juntos. Cobri meus olhos com a mão, respirando fundo. Eu tinha que ser honesto e ser honesto sobre isso - nós. Arrastar os dois em um relacionamento que meu coração e mente não podiam mais comprometer não era justo para Neil, e não era justo comigo mesmo. E não era assim por que eu poderia ter Calvin. Era estúpido querer estar com ele antes mesmo de eu ter pregado a tampa do caixão nesse romance com Neil. Eu estive com ele por quatro anos. Eu precisava respirar depois. Além disso, Calvin não queria namorar comigo. Isso foi óbvio. Foi apenas sexo. Realmente, sexo realmente incrível. Nada mais. − Seb? Você está aí?

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− Neil? − Perguntei, minha voz surpreendentemente grossa. − Você pode vir para casa? Eu... precisamos conversar. O silêncio em seu fim foi esmagador. Ele sabia o que eu estava pensando. − Sim, ele disse baixinho. Eu estarei aí em breve. Enquanto esperava por Neil, me vesti e esquentei uma pizza congelada para o almoço. Ou jantar. Que horas eram? Dane-se, eu não me importava. Eu estava na minha terceira fatia, sentado na frente da televisão, quando a porta da frente se abriu e Neil entrou. − Você não mudou as travas. – Foi a primeira coisa que ele disse, fechando a porta. − Não. Ele guardou as chaves, olhando ao redor. Ele estava nervoso. Eu também. Coloquei o prato no sofá e desliguei a televisão, levantei-me e fui até a mesa. − Podemos sentar e conversar? Neil assentiu, colocando sua bolsa e casaco de lado antes de se juntar a mim. − Seb. − Ele disse baixinho, estendendo a mão para as minhas mãos. Parecia errado tocar Neil intimamente e afastei minhas mãos. Eu tinha quebrado a confiança dele dormindo com Calvin, que, acredite em mim,

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agora que a luxúria tinha diminuído, eu me sentia como uma merda. Ainda mais, porém, parecia errado não ser Calvin me tocando. E esse pensamento só me fez... triste. − Eu sei o que está em sua mente. Eu balancei a cabeça. − Não você não sabe. Acredite em mim. − Experimente-me. − Ele disse gentilmente. − Eu dormi com Calvin. Um momento estranho de silêncio. − Calvin Winter... − Ele hesitou. Eu balancei a cabeça e olhei para cima. − Sim. − Você fez sexo com esse idiota? Ele nem é gay! − Sim, acho que ele é, e não o chame assim, Neil. − Você é... o que o... Sebastian, que diabos! – Ele levantou rapidamente. − Quando? − Hoje. − Hoje. − Ele repetiu. − Onde? Aqui? Você fodeu na nossa cama? − Tecnicamente é minha cama. − Cale a boca! Não comece a ser um espertinho comigo! Eu me recostei na cadeira, olhando para Neil. − Eu sinto muito. − Você acha que pode se desculpar por deixar outro cara enfiar seu pau em você e eu vou magicamente ficar bem com isso? − Não… eu só queria que você soubesse. Você tem o direito.

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− E agora o que? − Perguntou Neil. − Você está terminando comigo por ele? Eu balancei a cabeça. Eu não ia começar a chorar por isso. Agora não. Apenas passe por isso. − Acho que devemos nos separar, eu concordei. Mas eu não vou namorar Calvin. − Graças a Deus. − Neil respondeu alto e sarcasticamente. − Neil, fomos um acidente de trem por seis meses. Isso não é tudo minha culpa. − Você fodeu pelas minhas costas, Sebastian! − Enquanto estávamos prestes a terminar, Neil. Vamos. Eu teria dito isso ontem no hospital, mas não consegui. Eu estava muito fora de mim. − Isso não melhora! − Eu sei, e não estou querendo ser desculpado pelo que fiz. Mas essa relação está morrendo há meses. − Eu engoli o nó na garganta e doeu como o inferno. − Neil, não quero que nos obriguemos a ficar juntos por já termos conseguido por quatro anos. Não é... do jeito que deveria ser. Eu não estou feliz. E eu sei, mesmo que você não queira admitir isso, você também não está feliz. Neil sacudia a cabeça quando finalmente se sentou novamente. Ele esfregou o rosto e murmurou em torno de suas mãos. − Você realmente quer terminar? − Sim. − Eu disse simplesmente. Neil estava chateado. Mas ele também estava de coração partido.

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O mesmo aconteceu comigo. Não é fácil dizer adeus a algo assim, nunca é fácil dizer adeus a anos de compromisso, mas, enquanto respondi, senti uma onda de alívio. Estava feito. Terminou. Não mais de Max me perguntando sobre o que foi a luta da noite passada. Não mais os olhares e perguntas preocupadas de meu pai. Acabou com Neil, e eu não poderia ter Calvin, mas pelo menos poderia trabalhar para encontrar a felicidade dentro de mim. Em algum lugar ao longo deste caminho conturbado, eu o perdi. Neil estava assentindo, olhando para as mãos. − Tudo bem. − Ele sussurrou. − Eu vou ficar no meu irmão ou algo assim. Me dê um dia ou dois para pegar minhas coisas. − Tome o tempo que você precisa. − Eu respondi. Neil olhou de volta. − Eu não estraguei tudo o tempo todo, não é? − Não, claro que não, Neil. Eu não sei se é isso que ele queria ouvir ou não, mas ele assentiu. − Eu vou arrumar minhas roupas. Eu observei ele se levantar e ir para o quarto. Puxei meu telefone do bolso e coloquei-o na mesa, inclinei-me sobre ele e bati no teclado catando milho. Enviei um texto ao meu pai e imediatamente recebi uma resposta. Você precisa de mim para ir? Sim, eu meio que queria. Era estúpido querer meu pai? Eu era um homem adulto, mas meu pai era meu mundo. Eu escutei Neil se movendo

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silenciosamente pelo quarto, coletando o que ele poderia colocar em uma bolsa. Tmpo ruuim pop. Está bem. Sebastian moro a 15 minutos de distância. William Snow estava falando sério se tirou um tempo para escrever meu nome. Pofavor vem. Eu estarei aí em breve. − Isso não é… Winter, é? Eu olhei para cima do meu celular para ver Neil parado desajeitadamente na porta do quarto. − Não, meu pai. Seus ombros relaxaram visivelmente, e ele entrou no banheiro para recolher mais itens. Ele colocou sua bolsa perto da porta da frente, depois voltou para o quarto, murmurando: − Pelo menos você usou um preservativo. Eu acho que deveria ter tirado o lixo. Dez minutos depois, Neil tinha pego o suficiente de seus pertences para que eu pudesse ver a diferença no apartamento. Ele levou a maior parte para o carro em uma viagem antes de voltar para a última bolsa. Eu me levantei da mesa enquanto ele voltava para dentro, mexendo nas chaves de seu chaveiro. − Mantenha a chave. Não há pressa em desocupar. Quando você tiver tempo.

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Neil fez uma pausa, pesando suas palavras antes de simplesmente assentir e embolsar as chaves. − Obrigado. − Sim. Ele pegou sua bolsa. − Eu vou deixar você saber quando eu estou vindo para o resto. − Certo. − Ok. − Ele hesitou. − Seja bom. Deus, mesmo agora, isso ainda me incomodava. Provavelmente seria a última vez que eu ouvia, no entanto. Eu o assisti sair e descer silenciosamente as escadas frágeis, desaparecendo na esquina. Conhecendo Neil, ele arranjaria para pegar o resto de seus pertences quando eu não estivesse em casa e então me mandaria a chave. Fechei a porta e sentei no sofá. Foi silencioso. Não me mexi até que a campainha da porta soou cerca de trinta minutos depois. Meu pai estava no meu patamar, Maggie também, sorrindo seu grande sorriso bobo de cachorro com a língua pendurada para o lado. − Ei, papai. Papai entrou e me puxou para um abraço imediatamente. − Como você está? Eu envolvi meus dois braços ao redor dele e encolhi os ombros, não confiando em minha voz. − Neil já partiu? − Perguntou ele, batendo nas minhas costas. Eu balancei a cabeça contra ele.

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− Sim. − Eu coaxei. Eu relutantemente deixei-o ir, peguei sua jaqueta e fechei. − Este foi o seu jantar? − Perguntou papai, pegando o prato de pizza meio comida. − Eu vou fazer alguma coisa. − Eu não estou com tanta fome papai. – Eu disse, seguindo ele. − Ei. − Ele parou e se virou. − Garoto, acredite em mim, eu sei o que você está passando. − Ele sorriu e apertou meu braço. − Vamos ver o que você tem para cozinhar. Maggie nos seguiu até a cozinha, a cauda abanando feliz. Ela sentou, vendo meu pai jogar fora a pizza de merda, e então olhou para mim, como se não pudesse acreditar que ele deixaria isso ir para o lixo. Cocei atrás das orelhas e perguntei, para meu próprio horror. − Por que não posso manter um namorado? Meu pai se virou da geladeira, me dando uma olhada crítica. − Pai, acabei de terminar minha terceira tentativa desastrosa. − Você pode contar Marcus como namorado? Foi seu primeiro ano de faculdade. − Ele conta. − Eu insisti. − E Brian era um idiota e Neil... − Não era saudável para você, Seb. − Ele ofereceu em voz baixa. − Um homem que não pode amar a si mesmo não pode amar outra pessoa. Essa era a coisa sobre Pop. Não importava se você era gay, hétero, bi, qualquer que fosse seu sabor, não havia nada com que ele se importasse mais do que ter certeza de que estava contente consigo mesmo acima de tudo. Às vezes eu me perguntava se ele me considerava um fracasso a esse respeito.

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Eu sempre acabava sendo descartado ou comprometido com algo menos do que valia, de acordo com ele. Eu olhei para Maggie. Ela ficou hipnotizada pelo meu arranhar dos ouvidos. − Eu fodi tanto isso, Pop. Percebendo que não tinha nada remotamente decente para o jantar, meu pai foi para seu prato favorito: queijo grelhado e sopa de tomate. Ele fez isso sempre que eu estava triste, e durante toda a minha infância, sempre funcionou para me animar. Mas agora, pensando no fato de que ele teve que recorrer a isso, me deprimiu. − Você não fez nada de errado, Sebastian. − Sim, eu fiz. − Eu continuei olhando para Maggie, com vergonha de olhar para cima. − Eu... quero Calvin. − Quando o ouvi parar de se mexer, atrevi-me a olhar para cima. Pop estava me observando. Eventualmente ele disse: − Sim. Eu imaginei. − O que? − Seb. Eu vi você passar por alguns relacionamentos agora. − Ele ligou os queimadores e colocou o pão com manteiga para baixo. − Eu nunca te vi apaixonado. − Eu amei Neil. − Talvez o conceito de Neil, mas eu não acho que você realmente o amava profundamente. − Pop respondeu. Ele colocou algumas fatias de queijo para baixo e completou os sanduíches antes de colocar uma sopa em

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uma panela. − Mas eu vi seu rosto quando Calvin estava no hospital ontem, e vi como ele olhou para você. Meu coração começou a bater forte e rápido, fazendo-me sentir um pouco doente. − Pai, eu não estou, Deus não. Eu não estou apaixonado por Calvin. Eu só o conheço há alguns dias. − Estou ciente. − Então você sabe o quão estúpido - bobo, isso soa. − Eu corrigi. Pop olhou para mim. − Diga-me na minha cara que estou errado. ‡‡‡ MEU CICLO DE SONO estava começando a assumir um novo padrão terrível. Pior, melhor, pior - isso significava que hoje à noite tudo seria filhotes e luz do sol e eu adormeceria sem uma preocupação no mundo, certo? Sim claro. − Bom dia. − Max gritou, caminhando na calçada em minha direção. − Bom dia. − Eu murmurei enquanto destrancava a porta da frente do Emporium e batia no código de segurança. Não estava nevando naquele domingo, mas estava escuro e nublado, e o vento estava cortando a temperatura abaixo de zero. Esperava-se que estivesse frio nos próximos dias. As pessoas estavam chamando esta uma das piores tempestades que a cidade tinha experimentado em mais de cem anos.

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− Como você está? − Ele perguntou quando nós saímos dos ventos fortes. − Você deveria voltar ao trabalho tão cedo? − Vou manter a carga de trabalho leve. − Assegurei, ligando a lâmpada mais próxima. − Sim. − Max disse com um sorriso. − Estou muito feliz por você estar bem, Seb. − Ele continuou enquanto nós dois penduramos nossas roupas de inverno no cabide. − Eu também. − Eu concordei. − Beth se sente mal com o que aconteceu. − Por quê? Ela me derrubou? Max riu levemente. − Não, mas ela disse que você foi defender sua loja. − Eu só queria desligar o alarme das lamentações. Max revirou os olhos. − De qualquer forma, ela disse que queria falar com você, na primeira oportunidade que você tivesse. − Tudo bem, obrigado. − Eu já podia sentir que Max sabia que algo mais estava acontecendo, então me afastei antes que ele tivesse a chance de dizer qualquer coisa. Eu parei nos degraus até o caixa, olhando ao redor um pouco hesitante antes de ligar. − Max? − Sim. − Ele estava acendendo mais algumas luzes atrás de mim. − Você deixou isso? − Deixei o que? − Ele veio atrás de mim para ver que eu estava apontando para um buquê de flores ao lado do caixa. − Uau, de jeito nenhum. Seu pai e eu ficamos aqui um pouco pela manhã, mas só para cuidar do lugar.

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Nós não ficamos abertos para negócios. − Ele me olhou com cautela. − Isto é como a coisa do coração de porco? − Eu não sei. − Eu admiti. Max olhou para as flores e então assentiu para si mesmo, de repente entendendo. − Neil − O que? − Neil deve ter trazido. − Eu... acho que não. − Por que não? − Nós… terminamos na noite passada. − Oh merda. − Max pôs a mão no meu ombro. − Cara, sinto muito, Seb. Eu limpei minha garganta. − Obrigado. Ainda não explica as flores. − Quer que eu veja se tem uma nota? − Não, eu não tenho medo de rosas. − Eu murmurei. Subi as escadas e fiquei no balcão, olhando para o buquê. Elas foram embrulhadas em plástico barato para mantê-las juntos, mas elas pareciam murchas, como se tivessem ficado sem água por muito tempo. Eu tirei uma foto da posição deles ao lado da registradora com meu telefone antes de movê-las. Paranoico? Eu estava começando a chegar lá. − Bem? − Max perguntou com expectativa. Eu levantei as flores com um lenço de papel e encontrei um pedaço de papel embaixo.

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“Crescemos... e conosco o amor crescia... vagueando na floresta e nos desertos. Na tormenta meu peito a protegia e quando, amiga, a luz do sol sorria. E se ela contemplava os céus abertos, somente em seu olhar os céus eu via. " − Shakespeare ?, perguntou Max. − Não. Eu coloquei as flores para baixo. Poe Isto é do seu poema "Tamerlane". − Eu não acho que li. − Max respondeu. Ele parecia um pouco nervoso. − Eu escrevi um artigo sobre esse poema na faculdade. − Eu disse, me abaixando e pegando um grande saco de papel. Eu gentilmente coloquei o bilhete e o buquê dentro. − Eu preciso dar isso para Calvin. − Policial ruivo? − Sim, esse é o único. − Eu respondi, me colocando de pé. − Você ficará bem aqui sozinho por um tempo? − Claro, mas se eu tiver que ligar para o 911, a certa altura, a polícia ficará convencida de que esse endereço está amaldiçoado e vai parar de aparecer. − Muito engraçado. − Poe morreu em circunstâncias misteriosas, não foi? − Max perguntou enquanto se aproximava do balcão ao meu lado, pegando a bolsa de dinheiro e colocando o troco no caixa. − Sim porque?

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− Talvez uma maldição o tenha matado. − Oh, não comece, Max. − Eu balancei a cabeça e desci os degraus. − Ei. − Ele chamou, inclinando-se sobre o balcão para me ver ir em direção à porta. − Desde quando você chama o detetive pelo primeiro nome dele? Eu parei e me virei. − Eu não sei. Isso importa? Eu não conseguia ver a expressão de Max tão bem de longe, mas percebi que ele tinha que estar sorrindo quando disse: − Você dormiu com ele. − O-o que! − Porra, Seb. Os lençóis de Neil ainda nem esfriaram. − Não brinque com isso. − Mas é verdade, não é? − Eu… posso… ter. − Eu murmurei. − Um pouco. − Como ele foi? − Max, guarde na sua calça e cubra a loja. Volto em uma hora. − Parei na porta da frente, correndo para colocar meu casaco e meu cachecol de volta. − Eu queria que você não fosse daltônico! − Max gritou. − Eu preciso saber se o carpete combina com as cortinas! − Pelo amor de Deus, Max! ‡‡‡

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EU PEGUEI um táxi para o endereço no cartão de visita de Calvin, que eu agora carregava na minha carteira. Eu tinha pensado que estaria fazendo um favor a ele, chegando e deixando evidências suspeitas para que ele não precisasse ir até mim, mas assim que entrei na delegacia, não tinha tanta certeza. Como muitas das minhas ideias, eu não tinha pensado nisso. Ele iria querer me ver depois de ontem? Ele poderia separar a vida profissional e privada o suficiente para ser gentil comigo como o oficial envolvido no meu neste caso? As luzes do prédio eram terrivelmente brilhantes, e eu tinha que manter meus óculos de sol. − Posso ajudá-lo? − Uma mulher na recepção perguntou em um tom já impaciente. Ela estava destinada a ter um resto de dia de merda com essa atitude. − O Detetive Winter está? − Ele sempre está. Quem está perguntando? − Ela pegou o telefone da mesa e olhou esperançosa. − Snow. Sebastian Snow. − Espere. − Ela discou um ramal, esperou um toque e disse: − Sebastian Snow na recepção. Tudo bem, claro. − Ela desligou e fez sinal para o corredor. − Elevador. Eu olhei para lá. − Para onde? Ela acenou impaciente para um outdoor ao lado do elevador. − Aprecio a ajuda. − Eu murmurei, indo embora.

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Examinei a lista de nomes e departamentos, encontrando Winter, Calvin, Homicídios, no terceiro andar. Entrei no elevador e juntei-me a vários outros homens de terno antes que as portas se fechassem. Eu mantive minha cabeça baixa, olhando para as flores moribundas na bolsa. − Sr. Snow? Eu conhecia essa voz. Essa era a parceira de Calvin. Eu olhei para cima, depois para baixo. − Bom dia, detetive Lancaster. Ela me deu um sorriso. − Esta é uma agradável surpresa. − Para mim ou para você? Lancaster riu baixinho, como se a ideia de que eu estivesse particularmente feliz em vê-la apenas provocasse seu lado engraçado. − Educado. Eu olhei para os outros homens no elevador. Nenhum deles estava sorrindo. − Não posso dizer que esperava ver você entrar em uma delegacia de polícia. − Continuou Lancaster. − Eu também não. − Eu agarrei a bolsa com mais força. − Você está indo ver Calvin, eu presumo? − Perguntou ela. Eu peguei um dos outros caras olhando para nós. Ele me deu uma olhada e zombou enquanto olhava para longe. Hã. Isso provavelmente não foi bom. Lancaster sabia que Calvin era gay? Esses outros detetives? − Tempos desesperados exigem medidas desesperadas. − Eu disse a ela.

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Quando as portas do elevador se abriram no terceiro andar, Lancaster saiu comigo e apontou para uma área aberta com várias mesas com detetives sentados nelas. − Do outro lado da sala, naquele corredor. É o primeiro escritório à esquerda. − Vocês compartilham um escritório? − Sim. − Ela me deu uma espécie de bofetada amigável no ombro, mas Lancaster era mais forte do que parecia e me empurrou para frente. − Não é meu tipo, no entanto. Você está seguro. − Uh. − Falando do diabo. − Lancaster apontou para o outro lado da sala para uma figura que saiu de uma porta e parou no corredor. Não poderia ser ninguém além de Calvin. − Oh, rapaz. Eu me despedi de Lancaster e respirei antes de atravessar a sala. Eu assisti Calvin lentamente entrar em foco quando me aproximei. Ele estava encostado na parede, braços fortes cruzados firmemente sobre o peito. Ele usava gravata, mas não tinha terno e eu pude dar uma boa olhada no coldre de ombro que ele usava. Cara, ele provavelmente ia atirar em mim por ter vindo aqui. − Oi. − Eu disse baixinho quando cheguei ao corredor. Calvin não disse nada. Ele se endireitou e deu um passo para trás, apontando para uma sala. Era minúscula, ocupada principalmente por duas escrivaninhas apertadas, cadeiras e arquivo. Apesar da falta de espaço, era limpa e

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ordenada, a ponto de ser quase ridículo. As luzes de cima estavam apagadas e a única luz era o cinza nublado que entrava pela janela atrás da cadeira do computador. − Ah, obrigado. − Eu disse, começando a me virar. − Obrigado. − Alguém imitou quase o mesmo tempo que eu. Ao lado da porta havia um enorme pássaro cinzento em um poleiro. − Que diabos? Calvin fechou a porta atrás dele quando ele entrou. − O que você está fazendo aqui? − Perguntou ele rude. Eu olhei de volta para ele, depois para o pássaro uma ou duas vezes. − Papagaio legal. Seu? − Responda a pergunta. − Jesus, estou sendo interrogado? − Perguntei, olhando para cima e empurrando de volta meus óculos escuros. Calvin não parecia estar de bom humor. − Eu perguntei o que você está fazendo aqui, Sebastian. − Eu já te ouvi. − Eu observei enquanto puxava meus óculos normais do meu casaco e os colocava. − Eu tenho algo para te mostrar. − E você decidiu que seria sensato vir aqui? − Eu... pensei que você economizaria tempo. − Respondi devagar. Eu respirei fundo, me equilibrando. − Eu sei que você está com raiva por ontem. − Isto não é sobre ontem. − Não sobre aquela parte quando eu te disse para se foder? Calvin estreitou os olhos. − O que você precisa me mostrar?

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Eu entreguei a bolsa. − Seu pássaro parece doente. − Eu comentei quando Calvin aceitou a oferenda e olhei de volta para o papagaio. − Não é meu. E ele continua arrancando suas penas fora. Eu fiz uma careta. − Pobre pássaro. O papagaio inclinou a cabeça para o lado e olhou para mim. − De quem é isso? Calvin levantou os olhos do conteúdo da bolsa. − O que? − Ele parecia à beira da exasperação, que foi uma reviravolta completa de seu comportamento no quarto. − Lado errado da cama esta manhã ou o que? Calvin pigarreou. − Sebastian, você veio ao meu local de trabalho sem aviso prévio. − Você faz o mesmo comigo. − Eu sou um policial. É diferente. − Que diabos? Se você preferir não investigar o assédio que estou recebendo, vou lidar com isso sozinho. − Eu tentei pegar a bolsa, mas ele a manteve fora do alcance. − Por que você está sendo tão idiota hoje de manhã? − Eu não estou. Eu bufei. − Então esta é apenas sua atitude antes do café? Nenhum de nós se mexeu, mas a tensão súbita que saía de Calvin era palpável. Era como se ele estivesse construindo uma parede de tijolos bem na minha frente. Mantendo-me a distância. Uma distância segura.

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Foi como uma lâmpada ligando. − Você tem medo que alguém ache que você é gay por apenas estar perto de mim, não é? − Isso não é verdade. − Sim, eu respondi. Lancaster sabe? − Não. − Não tenha tanta certeza. Calvin ignorou o cutucão e levantou a bolsa. − O que é isso? − Que porra, parece? − Não fique arrogante comigo. − Ele exigiu. O pássaro de repente gritou alto. Calvin pulou com o barulho, olhando para o pássaro enquanto ele fazia sons parecidos com palavras, mas não muito compreensíveis. Eu o vi pular daquele jeito algumas vezes agora. Estresse do caso? Eu sabia que ele não estava dormindo muito. Eu não perguntei, no entanto. Ele já estava zangado e defensivo. Eu apontei para o pássaro. − Realmente, por que há um pássaro aqui? − Ben pertencia a Merriam Byers. − A bancária? Calvin assentiu. − Seja qual for a sentença deturpada, ele tem estado gritando sem parar. Agora me fale sobre essas flores. − Há uma nota também. − Sebastian.

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Eu estava olhando para Ben, o cinza africano, enquanto dizia: − Eles estavam no meu balcão esta manhã quando eu destranquei a loja. E não, antes de perguntar, definitivamente não foi Max. − Seus movimentos podem ser contabilizados ontem? − Perguntou Calvin. − Seus movimentos? − Eu ecoei antes de rir sarcasticamente. − Ele é um suspeito? Sim, meu pai esteve com ele ontem no Emporium. Calvin fez uma pausa para uma batida extra antes de perguntar: − E Millett? Meu coração bateu forte uma vez contra o meu peito e depois caiu no meu estômago. Eu olhei para cima. − O que tem ele? − Não são dele? Você disse que estão discutindo. − Neil nunca se desculparia com flores. No silêncio que se seguiu, não consegui descobrir por que simplesmente não disse a ele que havíamos terminado. Era importante que Calvin soubesse - que a sua avaliação de mim estava correta e que eu não era um homem que traía por trás das costas de seus entes queridos. Que eu tive coragem de fazer a coisa certa. Que eu estava disponível. Exceto que ser solteiro de novo não era um conhecimento vital para compartilhar com Calvin, porque ele ainda não havia indicado interesse em namorar, e eu realmente não sou do tipo que se diverte. Além disso, como já havia muitas vezes, disse a mim mesmo para me comprometer comigo, para uma mudança? Seja feliz consigo mesmo por um tempo, e não pule imediatamente para um novo namorado, especialmente outro policial.

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Outro policial aterrorizado. Calvin estava falando de novo, mas eu falei sobre ele e perguntei: − Quão profundo você está? Ele piscou e levantou uma sobrancelha. − Diga novamente? − Quer dizer, você está aparecendo com os sapatos, ou você está tão para trás, que está junto ao seu smoking do baile de formatura e você cheira a naftalina? − Quão literal de você, Sebastian. − Ele declarou secamente. − Estou falando sério. − Não é da sua conta. − Eu acho que é um pouco da minha conta, considerando o sexo que fizemos. Ben começou a gritar novamente. Eu agora podia ver porque Calvin estava no fim da sagacidade. Eu olhei para o pássaro antes de pegar a palavra que repetia. “Livro”. − O que? Eu segurei minha mão e ouvi quando Ben repetiu a frase antes de esfregar de forma agitada suas penas. − Três palavras, eu acho. Dun, dun, livro. Quem é o... Cadê o livro? − Como você pode saber? − Perguntou Calvin. − Você sabe, um sentido é fraco, então os outros compensam. − Eu respondi. − Eu tenho excelente audição. − O que você está dizendo? − Perguntou ele. − Então de qual livro estamos falando?

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− Eu não sei. − Trabalho excepcional de detetive, Sherlock. − Concluiu Calvin. − Uau, você está tão idiota hoje. − Alguém tem acesso ao código de segurança da sua loja. − Disse Calvin, ignorando o comentário enquanto levantava a bolsa para enfatizar seu ponto. − Você disse que só você tinha. − Ok, eu menti. − Quem mais sabe, Sebastian? − Neil e meu pai. Ah, e o enlouquecido assassino de Edgar Allan Poe, claro. Eu não mencionei esse? − Bati meu queixo pensativamente. Calvin jogou a bolsa na escrivaninha, virando a nota cuidadosamente pelo canto. Ele leu a mensagem rabiscada em silêncio. − Ameaças e notas de amor. − Soa como meu segundo namorado. − Eu brinquei. − Você é uma bagunça, Sebastian. − Lembre-se de dar uma gorjeta à sua garçonete. Calvin cruzou os braços e olhou para mim. − O que você sabe sobre essa nota? Dei de ombros. − É uma frase do poema de Poe, "Tamerlane". − Quando Calvin não respondeu, perguntei: − O que? − Tamerlane é um livro dele também? − Não, é só um poema. − Eu disse. − Bem, se a memória não me falha, ele lançou esse e alguns outros poemas sozinhos e se chamava Tamerlane, então sim, tecnicamente você está certo.

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Calvin se moveu ao meu redor, foi até seu arquivo, pegou uma pasta grande e folheou o conteúdo pesado. − O que foi que eu disse? − Você conhece um Gregory Thompson? − Eu devo? − Ele é um membro da comunidade de antiguidades. − Bem, não é como se todos nós nos reuníssemos para beber nas noites de terça-feira. − Eu respondi. − Ele está na cidade? − “As excentricidades de Marshall”. − Calvin respondeu quando ele se virou para olhar para mim, pasta ainda na mão. − Excentricidades. Sim, eu conheço essa loja. Eu conheci o cara uma vez antes, então. − E? Eu levantei minhas mãos. − E o que? Se bem me lembro, ele era um pouco idiota. − Parece que outras lojas de antiguidades têm um problema com você. − Oh não, excentricidades acabou de abrir. Ele é novo na cena. − Eu disse. − Ele me fez sofrer por causa de algum acordo que ofereci a um cliente por qualquer bugiganga que eles estivessem vendendo. Eu mal me lembro dos detalhes. Foi no começo deste ano. − Pareceu-me que ele lida com itens semelhantes a você. − Ele faz. Ou tenta, de qualquer maneira. − O que isso significa? − Isso significa que minha clientela está crescendo a cada ano, isso é tudo. Tome disso o que você quiser. O que isso tem a ver com alguma coisa?

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Calvin fechou a pasta e colocou-a cuidadosamente em sua mesa. − Thompson afirma ter recebido um telefonema perturbador, exigindo a entrega de "Tamerlane". Eu considerei esta informação cuidadosamente, sabendo que Calvin não deveria estar compartilhando, e eu queria aprender mais. − Quando ele recebeu o telefonema? − Ontem. − E? Calvin olhou para mim. − E o que? − Você acha que algo está errado, não é? − Como você adivinhou? − Eu não sei. Eu nunca recebi nenhum telefonema. Mike também, certo? Calvin balançou a cabeça. − Mas vocês dois receberam cartas pelo correio. Estou tentando obter registros do telefone do Sr. Thompson. − Você acha que esse psicopata está piorando? Talvez, Calvin admitiu. − Mas isso não parece certo. Ele sempre se manteve escondido atrás do trabalho de Poe. Suas ameaças - notas de amor - tudo tem a ver com Poe. Ele nunca admitiu ser ele mesmo, nunca se desapegou da escrita. − Você acha que o Sr. Excentricidades está inventando? − Eu considerei isso, mas mantivemos isso bem embrulhado. Eu não sei como ele teria conseguido esses detalhes.

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− Esse cara parece ser impressionante em todas as lojas de antiguidades da cidade, então. Talvez... espere, Gregory contou exatamente o que o homem disse no telefone? Calvin olhou para mim por um momento antes de abrir a pasta novamente e folhear várias páginas. − Onde está o livro. − Ele leu. − Ele disse que a voz estava distorcida e difícil de distinguir, soou como se houvesse algum choro, então terminou com o homem gritando por 'Tamerlane' e desligando. E então me atingiu como um trem-bala indo a toda velocidade. − Jesus. − Eu me ouvi dizer. −É por isso que… é por isso que ele foi para Merriam. Calvin estreitou os olhos. − O que você quer dizer? − Merriam... eu te disse, ela era a mulher com quem eu trabalhei na venda da propriedade. Puta merda. Cal, o lote que eu ganhei da oferta era todo de livros antigos. Ele tinha que saber sua conexão com a venda e tentou arrancar dela quem eram os donos das lojas que compraram todos os pertences. − E o pássaro. − Eu continuei apontando para Ben. – Onde está o livro? Tamerlane. Ele está perguntando sobre o livro de Tamerlane. Ela não deve ter dito a ele quais antiquários compraram os livros, então ele está apenas incomodando todos nós. E a livraria de Beth... ela fez uma oferta e ganhou todos os livros de bolso. Eu podia ver a mente de Calvin correndo uma milha por minuto agora. − Você tem este livro em sua posse?

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Eu balancei a cabeça. − Não. Max catalogou todos os livros da loja. Ele não encontrou nada do Poe. − Então Beth conseguiu. − Não, ela tem romances. Romances gays. Calvin colocou uma mão firme no meu ombro e me empurrou para a porta. − Eu preciso que você vá. − O que? Mas... − Sebastian, eu preciso entender isso agora. − Você não teria colocado dois e dois juntos sem mim. − Eu sou o policial. Agradeço sua ajuda, mas deixe-me fazer meu trabalho. − E a mensagem desta manhã? − Apontei para a mesa dele. − Eu vou lidar com isso. − Calvin. − Bebê, vá embora. Dizer que me senti menosprezado foi um eufemismo. Eu saí do recinto enquanto colocava meus óculos de sol. Enfiei minhas mãos nos bolsos e caminhei em direção ao final do quarteirão, longe dos policiais estacionados e dos policiais uniformizados no intervalo. − Snow! Parei de atravessar a rua e me virei. Lancaster estava encostada na parede de uma padaria, fumando uma cigarrilha longe de onde outros oficiais a incomodariam.

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− Detetive? − Para onde você vai com tanta pressa? Eu dei de ombros sem jeito. Ela se afastou da parede e caminhou em minha direção. − Se importa de andar ao redor do bloco comigo? − Lancaster não me deu uma escolha real, porque ela colocou uma mão firme no meu cotovelo e me direcionou para longe da rua. − Eu acho que deveria ter te avisado. − Sobre o que, senhora? Ela bufou e colocou a cigarrilha nos lábios brevemente. − Calvin. Ele está de em um humor hoje. − Eu vou dizer. − Eu murmurei. − Ele trabalha duro. − Ela disse, e eu pude ouvir a defesa em seu tom. − Às vezes ele se esquece de dormir, fica irritadiço é tudo. Isso não era tudo. Eu sabia que era mais, mas seria egoísmo pensar que era sobre mim. Era algo fora do alcance de minha compreensão. − Certo. Lancaster olhou para cima e parou de andar. Ela soprou fumaça e cheirava a baunilha. − Eu sei que você está interessado nele. − Ela disse, apontando para mim com a cigarrilha. − Sim, aparentemente eu mantenho um sinal em volta do meu pescoço. − Eu respondi breve. Lancaster balançou a cabeça e deixou a atitude deslizar. − E acho que ele também tem uma ligação com você. Ligação.

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Lancaster não tinha terminado, apenas tragou a cigarrilha novamente. − Vendo você na loja do Sr. Rodriguez, coberto de sangue, eu estava pronta para ler seus direitos, então, mas Calvin disse que não. Não era você e ele sabia disto. Ele é o detetive sênior - ele dispara os tiros. − Você acha que eu matei Mike? − Perguntei baixinho, meio horrorizado. Ela parou de novo, soprou fumaça e balançou a cabeça. − Não mais. Não tenho certeza. Eu não consigo entender você, Snow. − Sebastian. − Quinn − Prazer. − Eu terminei. − Sim, bem. − Quinn continuou. − Este caso está pronto para rasgar as costuras, e não podemos nos dar ao luxo de ter superiores ou a mídia olhando para vocês dois. Eu limpei minha garganta. − Eu sou uma pessoa discreta. − Não importa. − Ela respondeu, e eu calei a boca. Eu vou ser honesto, Quinn meio que me assustou. Mas ela tinha um ar autoritário sobre ela como se tivesse que lutar com unhas e dentes por respeito - o oposto polar de Calvin. E tenho certeza que ela fez. Ela era parceira de um herói da vida real, e isso poderia ter facilitado para ela às vezes, mas eu não tinha visto nenhuma outra detetive no andar de cima. Clube dos meninos. − Não fareje ao redor de Calvin.

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− Calvin... vai receber esse mesmo discurso? − Eu perguntei lentamente. − Ele já recebeu. Eu mordi minha língua. Ela precisava dar a ele novamente. Quinn olhou para a cigarrilha. Um policial não pode ser visto confraternizando com um suspeito. Até alguém como você. − O que isso significa? − Embora eu sinceramente não tivesse certeza, se queria saber. − Eu só tenho trabalhado com Calvin por alguns meses. − Quinn disse calmamente. − E… se a situação tivesse sido diferente, eu pensaria que você talvez fosse um bom estímulo para ele. Então ela sabia, ou ela estava assumindo sobre Calvin? − Olha. − Eu disse. − Eu não vou mentir para você. Eu sou gay. − Eu sei. − Ótimo. − Nenhum cara hétero olha para Calvin como você. − Quinn disse. − Ok, bem, ponto para você, mas... − Calvin não precisa dizer nada para mim. − Ela disse, terminando meu pensamento. − Se ele quer ficar quieto sobre isso - e ele deveria ficar - é o melhor em nossa linha de trabalho. Mas eu sei. Como se não houvesse luzes vermelhas e sirenes suficientes agora me dizendo para me afastar de Calvin. O sexo era fodidamente incrível e ele também, mas era claramente uma má ideia. Eu empurrei meus óculos de sol. – Eu entendo.

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ELLA FITZGERALD e Louis Armstrong estavam cantando para minha alma quando eu entrei na Exotic Animal Haven no Upper West Side depois de ser empurrado para fora da delegacia de polícia por Calvin e encurralado por sua parceira legitimamente preocupada. Eu permaneci na porta, deixando a linda voz de Ella acalmar meus nervos. Eu tinha alguns de seus trabalhos em 78 rpm, mas não tinha sido capaz de tocá-los desde que meu gramofone antigo estragou. Neil tinha acabado de me dizer para comprar uma réplica por duzentos dólares se eu gostava tanto da aparência estética, mas esse não era o ponto. Eu não queria um gramofone com Bluetooth e habilitado para USB. Eu queria o meu. O real McCoy que tinha o desgaste e o rasgo do uso e do amor. Aquele que precisava ter agulhas constantemente substituídas para manter os discos em perfeitas condições. Antiguidades falavam comigo. Não é apenas um trabalho. Cada pequeno item tinha uma história, um passado. O gramofone agora em um armário, tinha visto quantos donos no último século? Quantos discos diferentes tinha tocado? Qual era a música que movia essa pessoa? Era apenas mais um aspecto da minha vida que Neil não tinha entendido. ‘Louis ainda estava desejando seu beijo’ quando uma garota corajosa saiu de uma porta lateral e acenou para mim.

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− Bom Dia! − Oi. − Eu disse, forçando um sorriso. − William Snow está aqui? − Claro, mas ele está realmente com dois cães agora, dando lição comportamental. Posso ajudá-lo em vez disso? − Eu sou filho dele. − Oh… Você é Sebastian! − Ela apontou para as escadas que levavam onde Pop provavelmente estava. − Seu pai e Maggie são os melhores. Nós temos muitos voluntários, mas todos aqui amam William mais. − Eu sei que significa muito para ele. −Eu concordei. − Eu sou Charlotte. Eu apertei a mão dela. − Quer adotar um lagarto? − Ela perguntou com um sorriso esperançoso. − Uh, não estou realmente dentro do mercado. − Eu

disse. − Na

verdade, você negocia com papagaios, certo? − Claro! − Ela disse animadamente, e eu me senti mal porque acho que ela pensou que eu ia levar um para casa. − Posso fazer uma pergunta sobre os cinzas africanos? − Oh sim. O que você quer saber? − Por que um tiraria suas penas? Ela franziu a testa e bateu o queixo. − Parece um comportamento problema. Se ficarem agitados ou se sentirem desconfortáveis com seu ambiente, eles poderiam se prejudicar com o estresse. − E se um perdesse o dono de repente? Isso assustaria um pássaro?

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− Claro. Todos os animais têm um vínculo com seus donos. Não é seu, é? − Er... não, um amigo meu de repente acabou com um quando o dono... morreu. − Sinto muito por ouvir isso. − Respondeu Charlotte. Eu olhei para as escadas quando ouvi cachorros latindo e alguém rir. − Uma última pergunta? Esse cinza pode falar. Isso é comum? − Sim, todos eles podem aprender. Os cinzas africanos são extremamente inteligentes. − Eles poderiam aprender uma palavra depois de ouvir apenas uma ou duas vezes, no entanto? Ela encolheu os ombros, virando-se para assistir o primeiro cachorro na coleira descendo, puxando um empregado junto. − Eles poderiam. Se eles gostam do som ou se for fácil de imitar. Nós realmente temos um cinza aqui, e depois de ouvir um cliente tossir, começou a imitá-lo no dia seguinte. Huh. Agradeci a Charlotte ao mesmo tempo em que um grande pit bull se apressou a descer as escadas. Maggie saltou em suas pernas traseiras babando minha cara. − Maggie! − Abaixo garota! Oh, Sebastian! Eu empurrei Maggie para baixo e tirei meus óculos escuros.

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− Ei, Pop. − Mantive meus olhos fechados enquanto limpava as lentes na minha camisa sob minha jaqueta, em seguida, os coloquei de volta. Meu pai estendeu a mão e me deu um abraço rápido. − Como você está? − Ok. − Sim? A questão tinha um peso significativo. − Eu estou bem. − Eu disse novamente com um aceno de cabeça. − Ei, papai, posso te fazer uma pergunta se você tem um minuto? − Claro. −Ele se virou para Charlotte e disse: − Esses filhotes estão indo para sua caminhada agora. − Eu já vi Teddy descer com um. − Respondeu Charlotte. Ela se animou quando um cliente entrou na loja e tratou de se apressar. Pop se virou para mim. − Você poderia ter ligado, garoto. Dei de ombros, me movi em direção a um balcão lateral e folheei um fichário de animais adotáveis. − Papai, você sabe muito sobre o Tamelane de Poe? − Sim, o que você quer saber? − Ele lançou isso e alguns outros poemas em um livro e o chamou Tamerlane, não é? Eu perguntei. − Foi a primeira publicação de Poe.

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− É isso mesmo. − Eu concordei, a velha informação lentamente voltando para memória. – Isto não foi creditado para ele, no entanto. Saiu apenas como ‘um bostoniano’. Eu estava pensando em minha próxima questão, que formulei enquanto passeava pelo metrô. Talvez nós – isso é, a polícia e eu mesmo - não soubéssemos quem mataria e assaltaria várias pessoas em nome do Tamerlane, assim possivelmente nós deveríamos que focar no porquê e seguir essas pistas. Eu sabia que este caso estava se tornando um grande destaque dentro do NYPD, e tudo o que Calvin fazia era examinado. E ele estava sobrecarregado e estressado. Quinn tinha dito isso ela mesma. Então não faria mal eu dar uma olhada nas coisas que eu sentia não estava sendo dada ampla consideração, certo? Foda-se. Eu estava ajudando. Por que alguém mataria por este livro? Valor. Valor literário e histórico - claro, tinha isso - mas eu li sobre pessoas que mataram por vinte dólares. É sempre sobre dinheiro. – Pop, você sabe se o livro vale muito? Ele sorriu e deu um tapinha na cabeça de Maggie. – Você é o negociante de antiguidades, Sebastian. – E você sabe mais sobre Poe. – Eu respondi enquanto fechava a pasta de adoção. – Vale muito. – Ele concordou, assentindo. – Existem apenas doze cópias conhecidas. É uma das primeiras edições mais raras quando se trata de literatura americana. – Quanto vale isso?

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– Eu não sei, mas muito eu aposto. – Onde estão as doze cópias nos dias de hoje? Pop pareceu pensativo por um momento. – Eu sei que alguns são privados. Oh, a Biblioteca Pública de Nova York tem um em seu cofre de livros raros. – O que, realmente? O público pode ver isso? – Eu perguntei rapidamente. Meu pai inclinou a cabeça para o lado. – O que há com as vinte perguntas, Sebastian? – É... – Nada? – Ele acabou por mim. Ele sacudiu a cabeça e verificou seu relógio. – Quer fazer um lanche? ‡‡‡ NÓS DEIXAMOS Maggie no abrigo e pulamos para um pequeno restaurante do outro lado da rua. Ele bebeu um copo de suco de laranja e eu pedi um Café irlandês. – Uísque antes das onze? Meu pai perguntou curiosamente. – É o mínimo que eu posso fazer por mim mesmo. Tomei um gole do creme chantilly e café quente. – Beber não vai fazer isso melhor. – Eu não estou bebendo por causa de Neil. – Eu insisti, embora sem conhecimento do caso que Calvin estava trabalhando, eu podia entender

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porque meu pai pensou que era apenas sobre Neil. Pop não falou muito mais até que nossas refeições chegassem. Eu estava cutucando meus ovos quando ele perguntou: – Por que você não está no Emporium? – Eu tinha algumas tarefas para fazer. – Sebastian. Eu olhei para cima. Meu pai estava olhando severamente para mim, e eu senti como se eu devesse pedir uma segunda bebida, sem o café. Eu sabia que ele estava preocupado. Eu tinha sido atacado por um assaltante desconhecido e, em seguida, rompi com o meu namorado de longo prazo no dia seguinte. Eu acho que se eu fosse pai, também estaria preocupado, mas não consegui explicar para ele que achava que o homem que me atacou tinha matado duas pessoas e, sem dúvida, atacaria novamente se ele não conseguisse o que queria em breve. Então eu menti. Mais ou menos. – Estou apenas um pouco preocupado. – Continue. – Hoje eu fui ao local onde Calvin trabalha. – Por quê? Dei de ombros. – Não tenho certeza. – Eu disse, não mencionando as rosas e nota. – Ele não estava feliz em me ver. – Ele provavelmente estava ocupado. – Meu pai forneceu. – Ele está no armário. –Eu soltei. – Eu não sei porque eu assumi que ele não estava.

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– O que exatamente você sente por ele, garoto? Você está enviando mensagens conflitantes. Eu ri alto. – Eu que o diga. Ele também. Eu não sei pai. Quando somos apenas os dois, ele é tão diferente. Calvin é quieto e charmoso e doce. Eu nunca fui tratado assim por um cara - como se eu fosse um príncipe. – Ele te trata como Neil fez em público? – Ele perguntou, aquele afiado tom em sua voz novamente. – Não. Quero dizer, não de verdade. Eu não sei. Geralmente tem sido um ambiente profissional quando o vejo em público. Ele é severo. Pop baixou o garfo e recostou-se no banco. – Você está pescando para uma opinião? – Estou recebendo uma? – Ele é um bom menino. – Ele tem quarenta e dois, pai. – Um bom homem. – Ele corrigiu. – Mas eu não acho que seja sábio da sua parte envolver-se com alguém agora mesmo. Neil ainda nem se mudou. – Eu sei. Eu sei, você está certo. – Eu insisti. – E eu não acho que ele está interessado em um relacionamento de qualquer maneira. Pelo menos, ele não deu nenhuma indicação de que era mais do que sexo. Papai levantou a mão. – Seb, você dormiu com ele? – Uh. Eu disse isso? Filho da puta. Meu pai suspirou.

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– Você estava seguro? – Claro, pai. Vamos. Eu não sou adolescente. – Eu terminei minha bebida. – Eu só queria que eu não tivesse essa sorte de merda. Eu conheço um cara com quem eu realmente conecto e é outro policial no armário. – Não empurre ele. Se for para ser… Eu senti que tinha sido bastante calmo e realista sobre todos os eventos da semana passada. Dois cadáveres - um que eu encontrei, não menos - o arrombamento, o nocaute, a perda de Neil, as notas perturbadoras - eu levei tudo em consideração. Eu tinha sido capaz de lidar com uma investigação de assassinato muito bem. Deus, eu estava mesmo investigando apesar das ameaças de estar em águas quentes com um certo policial ruivo. Mas foi esse mesmo policial que me fez sentir como se meu coração estivesse quebrando. É uma sensação bizarra, a sensação de que você conheceu sua outra metade, mas é realmente o que Calvin me fez sentir. Como se eu estivesse vagando pela vida com um meio círculo no meu peito e todos com quem eu estive tivessem um quadrado no deles. Só que quando eu finalmente encontrei o cara que completa o meu círculo, acontece que ele não pode ficar comigo. Seja qual for o motivo. Casado com o trabalho, não um tipo de relacionamento, muito fechado - talvez ele fosse até mesmo o homossexual com auto-aversão que se casa com uma mulher para tentar ser ‘normal’. Pensando em Calvin dormindo naquela cadeira no hospital quando ele não estava disposto a sair do meu lado, voltando para me levar para casa, me abraçando depois do sexo - tudo isso tinha significado muito para mim.

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– Sebastian? Peguei meu guardanapo e alcancei meus óculos escuros para enxugar os olhos. – Sim? – Garoto, me desculpe. – Eu não queria que você chorasse, meu pai disse baixinho quando ele estendeu a mão para acariciar minha mão. – Eu estou bem. – Eu me ouvi insistir, minha voz soando muito diferente da minha. – Não é sua culpa. – Calvin disse alguma coisa para você esta manhã? – Perguntou Pop, na defesa novamente, vendo que seu filho adulto era na verdade um bebê patético chorando em público. – Não. Pai, não se preocupe. – Acabei de secar os olhos. – É difícil não me preocupar, quando você está tão chateado. Eu dirigi o tópico longe de mim depois disso. Terminamos o lanche com um peso desconfortável sobre nós, evitando discutir sobre Calvin e meu pai tentando não pressionar sua preocupação para mim. Talvez algumas pessoas não devessem ter um parceiro na vida. Eu suponho que eu poderia lidar com essa realidade. Era apenas solitário. ‡‡‡ MAX LIGOU quando eu estava andando de volta para o metrô. – Seb? – Ele parecia preocupado.

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– O que há de errado? – Perguntei imediatamente. – Estou voltando agora. – Ok. Legal. – Max? – Eu estava terminando com todas aquelas caixas de livros… Sebastian, acho que alguém passou por eles. Nada está faltando! Mas minha organização está toda desarrumada, e eu juro que quando seu pai e eu estivemos aqui ontem, estava perfeito. Parei de andar e me movi para a beira da calçada, fora do caminho. – Tem certeza de que não foi ninguém esta manhã? – Não. Apenas dois clientes chegaram até agora, e eu estava de olho neles o tempo todo. – Max insistiu. – Você pode por favor voltar em breve? Este lugar está começando a me assustar um pouco. – Beth está aberta? – Eu suponho que sim. – Ele respondeu. Eu respirei fundo. – Se você está nervoso por estar aí sozinho, Max, tranque e vá para a porta ao lado. – Mesmo? – Sim com certeza. Algo estranho está... – minha respiração ficou presa. Puta merda. Puta merda Eu esqueci completamente. Eu foda esqueci! – Puta... – Seb? Olá?

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– Eu estarei aí em breve, ok? Vá para a porta ao lado. – Desliguei e sinalizei um táxi. Voltei para o meu apartamento em vez do Emporium. Encoberto pelo meu argumento com Calvin e pelo breve período de auto-aversão que se seguiu, eu negligenciei o fato de que os livros da venda da propriedade em minha loja não eram o inventário completo. Eu ainda tinha várias caixas na minha sala de estar que nem tinha passado. Se nosso misterioso assassino, obcecado por Poe, iria atrás de alguma coisa, era da existência de uma décima terceira cópia de Tamerlane que ele estava empenhado em encontrar, e a forma como isso se liga a mim é que achava que isso fazia parte dos meus ganhos imobiliários. Mas a piada era sobre ele, porque estava começando a parecer que eu a tinha. Um livro que ninguém pensava que existia - apenas esperando no meu apartamento. Eu corri até as escadas, meu estômago nervoso. Eu estava animado, como se estivesse abrindo uma tumba antiga apenas para descobrir que os ladrões de túmulos nunca a haviam saqueado e que todos os artefatos misteriosos e ricos ainda estavam intactos. Em que tipo de condição o livro estaria? Pobre? Bem? Muito bem? Meus dedos tremiam quando tentei destrancar minha porta. Esse livro teria sido em torno quando Edgar Allan Poe estava vivo. Pelo que eu sabia, ele poderia ter tocado - segurado. Deus, aquela onda de excitação que eu recebi da caça ao tesouro estava de volta.

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Eu abri minha porta e parei em seco. Meu apartamento estava uma bagunça. As caixas estavam todas abertas e derrubadas, livros espalhados pelo chão sem preocupação ou cuidado com as condições deles. Meus livros pessoais foram retirados da estante de livros contra a parede, romances de mistério pregando o piso de madeira. Alguém invadiu minha casa. Como se fosse difícil adivinhar quem. Eu olhei para a maçaneta antes de me agachar para examinar a fechadura. A porta estava bem fechada - como eles haviam entrado? Quebrando a fechadura? Como eles conseguiram entrar e sair da minha loja e do meu apartamento sem quebrar as fechaduras ou tropeçar os alarmes? Eles não poderiam ter tido uma chave. As únicas pessoas que tinham uma chave para ambos eram Neil e eu. Eu amaldiçoei alto e entrei. Eu comecei a verificar as capas e as lombadas dos livros, procurando por Tamerlane, mas não encontrei. Eu não encontrei nenhum Poe. Eu verifiquei debaixo do sofá, a mesa de café, em todos os lugares da casa para ter certeza que eu não perdi algo entre a desordem. Se eu tivesse isso em uma caixa sem saber, tenho certeza que não tinha agora. Mas se o maluco o encontrasse e tivesse, teoricamente, as pessoas estavam a salvo agora. – Não. – Eu disse em voz alta. Ele não podia fugir disso. Ele não podia fugir com roubo, assalto, assassinato.

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Eu sentei no sofá e peguei meu telefone. Eu pretendia ligar para Calvin, mas fiz uma pausa. Eu não podia continuar com falta ele. Era meio patético. Claro, ele era o detetive que liderava este caso, mas foda-se. Eu poderia lidar com isso sem ter que ligar para a polícia e me envolver em besteiras pelo resto do dia. Abri o navegador da Internet no meu telefone e abri o site da Biblioteca Pública de Nova York. Após uma breve leitura sobre a coleção de livros raros, preenchi o formulário on-line para obter permissão para ver sua cópia do Tamerlane de Poe para mim. Eu tive que escolher um horário para a manhã seguinte, porque eles estavam fechados no domingo. Enviei o formulário, e amanhã só precisaria mostrar meu ID e meu cartão de biblioteca, e conseguiria ter um vislumbre desse livro raro para mim. Eu esperava discutir o valor e a história do livro com o curador enquanto eu estava lá. Deixei a bagunça como estava e corri para a porta para voltar ao Emporium.

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– SEBASTIAN! – BETH disse enquanto eu entrava na Good Books. Ela estava de pé perto de uma mesa no meio da loja, conversando com Max e um estranho muito alto, que tinha cabelos longos e escuros para um homem. – Eu vim buscar meu assistente rebelde. – Eu disse. Beth se apressou em vez disso, usando seus habituais óculos e outra saia de gato que eu não tinha visto antes. Ela jogou os braços ao meu redor, quase batendo o ar dos meus pulmões. – Você é corajoso, homem estúpido! – Beth, você é doce, mas eu definitivamente prefiro homens. – Eu consegui chiar para fora. Ela se afastou com uma zombaria e bateu no meu peito. – Não brinque. Eu estou sendo séria. Eu esfreguei o local, fazendo uma careta. – Desculpa? – Você e sua cabeça dura assustaram aquele filho da puta antes que ele tivesse a chance de causar sérios danos ao meu negócio. – Ouvir Beth xingar é como se minha avó estivesse xingando. – Max disse. Beth se virou e apontou um dedo para ele. – Cuidado, rapazinho. – Desculpe, vovó.

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– Você não deveria estar aberto hoje. – Ela repreendeu enquanto voltava para mim. – A saúde vem em primeiro lugar. Você precisa descansar. – Descansei bastante. – Insisti educadamente. – Eu estou bem, realmente. Beth franziu os lábios e pôs as mãos nos quadris. – As coisas certamente estão ficando estranhos por aqui. Essas invasões, e o que é tudo isso com Edgar Allan Poe? – Essa é uma longa história. – Eu disse, olhando para Max, que tinha que ter dito tudo a Beth. Max fez um sinal para si mesmo e balançou a cabeça antes de apontar para o alto estranho. Beth notou e acenou para o homem de cabelos escuros. – Greg aqui esteve nos contando sobre sua perseguição. – Greg? – Eu ecoei. O homem alto aproximou-se de nós enquanto dizia: – Greg Thompson. Nós nos conhecemos no início deste ano. Talvez você não se lembre de mim. Oh. Sr. Excentricidades. – Não, eu lembro de você. – Eu respondi com um sorriso educado enquanto sacudia a mão dele. Que você era um pau, eu adicionei mentalmente para mim mesmo. – A notícia é que você também tem um cara batendo na sua porta sobre Poe. – Greg disse para mim. – De quem é essa palavra? Eu perguntei com cautela.

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– Policiais e jornais. – Respondeu Greg, como se não acreditasse que eu já não soubesse disso. – Jornal? Max se aproximou de nós três, segurando um jornal dobrado. – Olha, saiu nas notícias, Seb. Eles não sabiam que foi você que foi atacado, mas eles mencionam a loja de Beth e seu antigo chefe! Ele está morto! – Aquele detetive sexy da entrevista do jornal chegou mesmo a aparecer. – Acrescentou Beth. Eu peguei o jornal de Max e fiz uma pausa para perguntar: – Detetive sexy? Max sorriu maliciosamente, mas não disse nada. Beth assentiu. – Cara alto, construído como uma rocha. – Detetive Winter. – Greg acrescentou solícito. – Eu o faria em um piscar de olhos. – Afirmou Beth. Max começou a rir. Limpei a garganta e escondi o rosto atrás do jornal. Era difícil ler sem uma lente de aumento, mas compreendi a essência, recapitulando o assassinato de Merriam e Mike, além de mencionar minha loja e a invasão de Beth. O repórter estava fazendo o melhor para ligar todas as histórias, apesar da entrevista com Calvin, onde ele foi citado como se recusando a mencionar os nomes de certos indivíduos, por causa de sua segurança. Ótimo. Ou Calvin não queria que os repórteres me assediassem, ou ele suspeitava o mesmo que eu - isso não acabara e eu ainda era um alvo.

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– Talvez sejam meus olhos. – Eu disse, olhando para Greg. – Mas não vejo você mencionado neste artigo. – Um telefonema de assédio dificilmente é tão interessante quanto o coração de um porco ou um gato morto. – Afirmou. Algo sobre a história de Greg não estava certa. Eu sei que não tenho nenhum treinamento de detetive real para apoiar minha declaração, apenas uma aparente excitação por policiais e prazer em ler mistérios bobos em meu tempo livre, mas até mesmo Calvin admitiu que era estranho. Por que o assassino de repente falaria com uma vítima em potencial? Por que ele iria se colocar lá fora - se tornar vulnerável a ser pego? A polícia pode rastrear telefones, identificar onde a ligação foi feita, marcar a área, tudo aquilo. Mas Greg Thompson inventaria o assédio? Por quê? Para chamar atenção? Calvin tinha dito isso para mim. As pessoas fazem muitas coisas malucas por atenção. Não era tão ridículo descartar. – Mas acho que você deve saber mais sobre o que está acontecendo do que os jornais dizem. – Disse Greg com um sorriso. Fiquei surpreso com o comentário. – Por que você acha isso? – O detetive Winter veio falar com você, mas seu ajudante fechou a loja. – Explicou Greg, enquanto apontava o polegar para Max. – Ele também foi o único a chegar quando você foi atacado no outro dia. Whoa. Espere aí.

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Perigo, perigo. – Quem te disse isso? – Eu perguntei lentamente. Como ele saberia? Ambas as lojas estavam fechadas, não havia ninguém por perto para ver, e eu duvidava muito que Calvin estivesse oferecendo essa informação de bom grado. – Sebastian? – Uma nova voz entrou na conversa. Todos nós nos viramos para a porta, e fiquei surpreso ao ver Duncan, o jovem a quem eu vendi um livro de Dickinson. Ele sorriu brilhantemente para mim, tirando o gorro e acenando. – Oh, Duncan, oi. – Eu disse, aproveitando a oportunidade para me afastar de Greg. – Eu vim para ver você, mas sua loja está fechada. – Sim, desculpe por isso. – Você está bem? – Ele perguntou preocupado. – Claro. Você sabe, eu deveria voltar, então se você quiser vir junto... – Eu me virei, sentindo a necessidade de inventar uma desculpa para Beth se juntar a mim, para afastá-la de Greg, porque eu estava rapidamente tirando conclusões muito desconfortáveis sobre ele, mas Greg estava encolhendo o casaco com a clara intenção de sair também. – Deixe-me saber se você precisar de alguma coisa hoje. – Disse Beth. – Obrigado, Beth. Max agarrou seu casaco e se juntou a Duncan e a mim. Enquanto caminhávamos até a porta, parei para me certificar de que Greg nos seguiria. – Tenha cuidado, Sebastian. – Disse ele quando entramos no frio congelante.

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Eu olhei para Greg. – De? Não pisar em rachaduras, para não quebrar as costas da minha mãe? Greg riu. – Você é um pouco idiota. – Ah, bem, muito obrigado. – Mantenha-me informado sobre o que está acontecendo, você vai? Você obviamente entrou em contato com os policiais. – Não tanto quanto você pensa. – Eu tive um policial em mim no outro dia, no entanto. Isso contava? Greg despediu-se e fui deixado para reabrir o Emporium. – Você colocou suas decorações. – Disse Duncan com um sorriso enquanto olhava para as luzes e festões. – Oh, bem, Max e meu pai fizeram a maior parte do trabalho. Eu estive no hospital brevemente. – Mas você está bem, certo? – Duncan perguntou, seus olhos ficando grandes. Eu acenei a mão com desdém. – Muito bem. – Eu insisti. Eu estava tentando ser legal, mas muitas pessoas me desejando bem eram exaustivas. Os alto falantes começaram a tocar músicas de Natal enquanto Max apressava-se a tornar a loja amigável aos clientes novamente. Duncan puxou seu lenço distraidamente, olhando em volta por um momento. – Eu queria levá-lo para almoçar.

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– Mesmo? Ele assentiu. Isso foi inesperadamente doce. Eu me lembrei dele dizendo que ele voltaria, mas eu realmente pensei que ele iria? – Você ainda tem namorado? – Ele perguntou em seguida. – Da última vez, você disse que não tinha certeza. A pergunta de Duncan era inocente, mas me atingiu como um soco no intestino. Não, eu não tinha namorado, mas no verdadeiro modo humano, a única coisa que eu queria era o que eu não poderia ter. Eu olhei para ele de novo - Duncan era mais novo do que eu, o que era um pouco duvidoso, mas ainda assim, ele era fofo e persistente e estava me convidando para sair como se fosse normal. Como se não fosse grande coisa. – Eu... não. – Respondi lentamente. Duncan imediatamente olhou para cima com um grande sorriso. – Almoço, então? – E quanto a Calvin? Max falou atrás de mim. Eu me virei e acenei a mão para ele. – Eu não preciso da sua ajuda. – Eu disse com os dentes cerrados. – Calvin? – Duncan ecoou, seu tom caindo. Eu olhei de volta para ele. – É… nada disso, não se preocupe. Duncan, eu não tenho certeza se posso almoçar hoje - eu estive fora toda a manhã e a loja esteve fechada. Eu me senti como um idiota. – Mas e amanhã? Talvez possamos fazer um lanche juntos. – Sim! Por favor! – Duncan estava sorrindo novamente. – Posso ligar para você amanhã?

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– Claro. – Eu alcancei meus bolsos e olhei ao redor. – Deixe-me encontrar algo para escrever meu número. Mas Duncan já tinha seu celular fora. – Apenas me diga e eu vou gravar isso. Eu recitei o número para ele. Duncan programou em seu telefone antes de dizer lentamente “Sebastian Snow” enquanto escrevia meu nome. Ele olhou para cima com um sorriso enquanto colocava o celular no bolso. – Eu adicionei um coração ao lado de seu nome. – Oh. − As pessoas faziam isso? Era uma coisa boa? – Então, eu vou ligar para você de manhã. – Disse Duncan. – Parece bom. – Existe alguma coisa que eu possa fazer antes de eu ir? – Fazer? Não, realmente. Obrigado. Duncan se aproximou e me bicou nos lábios, me dando um pequeno beijo antes que eu percebesse o que ele estava fazendo. – Adeus, Sebastian. Ele sorriu e puxou o cachecol mais perto antes de sair da loja. Max estava estalando a língua atrás de mim no balcão. – Vadia. Eu bufei enquanto me virava. – Isso vindo de você. – Você é o único com o ruivo picante, no entanto. – Não é assim. Max riu. – O quê? – Eu perguntei confuso. – Por que diabos você está rindo?

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– Nada, Seb. Você é apenas cegamente cego em todos os sentidos do termo. – Eu não entendo. – Max se inclinou sobre o balcão, descansando a mão sob o queixo e sorrindo. – Eu vi o rosto do Detetive Winter quando ele entrou na outra manhã. Ele é tão quente e preocupado com você. – Isso não significa nada. – Significa algo para ele. – Como você sabe? Você é uma cartomante durante a noite? – Não, mas eu posso ver mudanças sutis ao seu redor melhor do que você jamais vai. – Max acenou com a mão para mim. – Sou uma testemunha objetiva. Andei devagar pela loja até o balcão. – Ele não disse nada do tipo. – Eu admiti em voz baixa. – Talvez ele seja tímido. Eu estava prestes a negar isso, mas no outro dia, quando éramos apenas nós dois, seu comportamento era tão diferente. Era calmo, tranquilo e doce e talvez ele fosse um pouco tímido? – Ele está no armário, é tudo. – Eu disse, ouvindo o tom defensivo em minha voz. Max encolheu os ombros. – Tanto faz. Tudo o que eu estou dizendo é que eu posso ver os pequenos corações em seus olhos. ‡‡‡

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ENTRE MINHAS manhãs, tentando resolver crimes e trabalhar, foi um dia ocupado no Emporium enquanto ainda me recuperava de uma concussão, eu estava exausto. Tudo o que eu queria fazer era largar a bolsa, tirar a roupa e ir para a cama dormir por uma semana. Eu estava fantasiando sobre o quão bom aquele sono soava, quão grande meu travesseiro ia se sentir com o meu rosto enterrado nele, quando eu parei de subir as escadas para o meu apartamento. Sentado no patamar do terceiro andar estava Calvin. Seus braços estavam cruzados sobre o peito e sua cabeça estava encostada no corrimão da escada. Ele estava dormindo. – Cal? – Eu perguntei baixinho, não querendo assustá-lo como eu tinha feito antes no hospital. Felizmente não atraiu sua atenção, porque meio que me assustou do jeito que ele fez isso. Em vez disso, Calvin parecia grogue quando ele abriu os olhos e levantou a cabeça. – Seb? – O que você está fazendo aqui? – Eu perguntei, olhando das escadas para ele. Calvin esfregou o pescoço enquanto endireitava sua postura. – Eu estava esperando por você. – Eu vejo isso. Ele ficou de pé. – Podemos conversar dentro? É claro, eu não ia mandá-lo embora. Subi os últimos degraus e fui até a minha porta para desbloqueá-la.

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– Entre. – Eu disse depois de empurrar a porta aberta com o meu ombro. – O que diabos aconteceu aqui? – Calvin perguntou quando ele entrou, olhando em volta para a bagunça que eu tinha deixado. – Oh Deus, eu esqueci sobre isso. – Eu gemi. – Você fez isso? Eu balancei a cabeça. – Não. Alguém invadiu. Bem, eu digo alguém, mas você sabe quem. – Espere, o que? Calvin de repente parecia chateado, ou defensivo, ou algo próximo a isso. – Por que você não me ligou? – Eu não tenho que correr para você como uma donzela em perigo. – Eu retruquei. – Não havia ameaça para mim. Eu estava bem. – Nenhuma ameaça... ! – Calvin estendeu a mão e apertou a ponte de seu nariz. – Você

venha

para

mim. – Ele disse severamente. – Para

qualquer coisa a respeito deste caso. Eu estou sendo claro? – Eu tentei fazer isso hoje de manhã, e você quase mordeu minha cabeça. Você não pode fazer isso. Você não pode me mandar fazer algo, mas apenas onde ninguém nos vê juntos. Eu fiz isso, eu fiz isso por quatro anos, e não estou fazendo isso de novo! – Eu gritei. Tudo sobre Neil que me enfureceu de repente foi canalizado em Calvin, e eu não pude parar a mim mesmo. Calvin ficou quieto. Na verdade, ele não disse nada por um tempo extremamente longo e ficou estranho. Eventualmente ele saiu, primeiro indo

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para a cozinha, depois para o meu quarto. Ele olhou para o banheiro por último antes de voltar para mim. – Onde Millett foi? Ah, foi a escova de dentes única que deu a ideia? – Ele está no irmão dele. – Por quê? – Calvin pressionou. Eu me virei para afastar alguns dos livros que estavam espalhados pelo sofá antes de me sentar. – Porque nós terminamos. – Eu disse baixinho. – Noite passada. Eu não estava mais feliz. – Olhei para cima, observando Calvin empurrar o casaco para trás das costas para descansar as mãos nos quadris. Deus, ele era sexy quando fazia isso. – Ele ainda tem as chaves? –Hã? Sim. Ele ainda não terminou de se mudar. Eu disse a ele para tomar seu tempo. – E o Emporium? – Eu não recebi nenhuma das chaves. Por que você está perguntando? – Quase na mesma hora em que falei, me dei conta de onde Calvin estava indo, e isso me irritou. – Você acha que Neil fez isso? – Eu me levantei. – Eu não disse isso. – Não, mas você pensou. Calvin olhou para mim, sua expressão tão dura quanto pedra. – Estou pensando em muitas coisas agora. Eu não falei. Nem ele. O prédio estava quieto, apenas o som distante dos canos batendo enquanto o calor aumentava, quebrando a quietude. A

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energia entre nós estalou. A qualquer minuto nós estaríamos trocando socos ou fodendo. Calvin avançou, soltando as mãos de seus quadris e estendendo a mão para segurar meu rosto. Eu envolvi minhas mãos em torno de seus pulsos. – Você não pode fazer isso comigo. Você não pode ser doce e carinhoso em particular e depois me tratar como uma doença em público. Estando tão perto, pude ver a maneira dolorida como Calvin engoliu, o jeito que seu pomo de adão saltou. Eu podia ver como seus olhos cinzentos pareciam uma tempestade furiosa atrás deles. Sua boca estava apertada e desenhada. – Eu estou na parte de trás com o smoking de formatura. – Ele sussurrou. – O que? – No seu armário estúpido. – Disse Calvin. – Eu estou tão perdido nos fundos que não posso... encontrar a porta. – Ele se inclinou para frente para pressionar sua testa contra a minha. – Eu sinto muito, bebê. – Calvin… – Eu nunca me senti assim por um cara. Porra, Sebastian. – Ele disse sem qualquer malícia. – Acabei de sair de um relacionamento com alguém que me escondeu do mundo. – Eu disse. – Eu sei. Eu não estou pedindo para você passar por isso novamente. – Eu corri para Quinn quando saí esta manhã. Calvin ficou quieto por um minuto. – Eu sei o que ela disse. – Você vai ficar em apuros se alguém descobrir.

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– Este é um caso ativo. – Ele concordou automaticamente, mas não pareceu incomodá-lo. Essa não era sua preocupação. A porra do armário era. – Por que você tem que ser tão legal? – Eu gemi. – Isso torna ainda mais difícil. Ele sorriu, mas parecia triste. – Eu não posso mudar quem eu sou, assim como você não pode. – Mudar de ser legal ou mudar de estar no armário? Ele parou por um momento. – Ambos. – Não é verdade. – Bebê... – Cal. – Eu sussurrei. – Você tem quarenta e dois. – Eu estive no exército por doze anos. – Respondeu Calvin. – Quando ser pego com um cara significava um afastamento desonroso. – Isso não tem mais significado. – Eu insisti. – E você está aposentado do exército. – Eu sou um policial. – Rapaz, eu já ouvi essa desculpa antes. As mãos de Calvin apertaram instintivamente no meu rosto antes de soltar imediatamente. – Eu não estou pedindo nada de você. – Eu quero você, no entanto. – Eu consegui dizer quando minha garganta se apertou. – Eu quero que você me queira como eu faço com você. – Eu não posso namorar você. Eu não vou pedir para você negar quem você é por minha causa. – Calvin respondeu.

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– Isso é doce. Mas você não acha que não deveria negar a si mesmo também? Os tempos estão mudando, você sabe. – Não rápido o suficiente. – O que? – Meu primeiro caso, quando fui promovido a homicídios foi sobre um homem gay que foi pisoteado até a morte por um grupo de homens. Literalmente pisoteado até a morte, Sebastian. – Se você ficar com medo, eles ganham e nada fica melhor. – Eu sussurrei. – Eu não quero que isso aconteça com alguém... –Ele não terminou. Ele se aproximou novamente e me beijou gentilmente. Foi tão suave e simples e tão foda doce, que virou meu coração. Eu o odiei por fazer isso comigo. – Eu preciso pedir-lhe para fazer algo por mim. – Disse ele, soltando as mãos. – Eu pensei que você acabou de dizer...? Ele levantou a mão para me impedir de terminar. – Eu não quero que você fique aqui esta noite. – O que? – Não é seguro. – Calvin, você está exagerando. – Eu não estou. – Disse ele severamente. Suspirei e olhei em volta para os livros jogados em todos os lugares. Honestamente, agora que eu estava em pé novamente na confusão, dormir

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aqui sozinho, saber que alguém entrava e saía facilmente, me deixava um pouco nervoso. – Eu acho que posso ficar com meu pai. Eu realmente não quero que ele esteja pirando com este caso, mas se não puder ser evitado... – Fique comigo. Eu bufei. – Eu não acho que é uma boa ideia. – Eu não estou pedindo para você vir para que possamos foder. – Disse Calvin quietamente. – Eu quero você em algum lugar seguro. –Ele acrescentou como uma reflexão tardia. – Eu preciso discutir algo com você, sobre este caso. Isso despertou meu interesse. Além disso, eu poderia dizer a Calvin o que eu aprendi com minhas excursões matinais. – Tudo bem. – Eu concordei depois de outro momento de pensamento. – Deixe-me embalar algumas coisas. Eu fui e peguei uma muda de roupa e alguns itens do banheiro. Definitivamente não era uma festa do pijama para sexo se eu estivesse trazendo minha solução de lentes e escova de dentes, certo? Eu não podia dormir com Calvin novamente. Eu não podia. Eu queria estar com ele tanto que se eu me provocasse novamente, sabendo agora que ele simplesmente nunca iria me pedir para sair com ele - não. Doía muito. Nenhum sexo com Calvin. Eu dormiria no sofá dele, ele ficaria satisfeito por eu estar a salvo, e meu coração bateria por outro dia. Eu voltei para a sala da frente. – Reportando-se para o dever, capitão.

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Calvin ofereceu um sorriso torto. – Major. – Ele corrigiu. – Minhas desculpas, senhor. – Eu disse com um sorriso. – Idiota. Vamos. − Calvin abriu a porta e estendeu a mão. Eu deveria pegá-la? Com minha hesitação, Calvin tomou a decisão por mim. Ele pegou minha mão na sua e me levou para fora. Ele continuou segurando enquanto eu trancava a porta, seus dedos entremeavam nos meus. Esse homem seria a minha morte. Eu não posso namorar você. Eu não estou pedindo para você passar por isso novamente. Ele basicamente me disse que não valia a inevitável dor de cabeça. E ainda, Calvin agiu contra suas próprias palavras, como se ele não pudesse suportar para enfrentar sua solidão auto imposta ainda. Na escada ele segurou minha mão com afeição tão evidente que me destruiu, sabendo que uma vez que entrássemos no mundo lá fora, Snow e Winter nunca existiriam. E com certeza, muito cedo, a noite fria nos cumprimentou e sua mão se soltou da minha. ‡‡‡ O APARTAMENTO DE CALVIN era legal. Daquele jeito nunca teve ninguém morando. Então, realmente, senti que era muito solitário.

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Era muito limpo e muito minimalista, um contraste gritante com minha pequena morada abarrotada de livros, móveis demais para seu tamanho, antiguidades e coisas que eu não conseguia vender no Emporium. Era na verdade menor que o meu, um verdadeiro estúdio de Nova York do tamanho de um armário grande. Havia uma cama de tamanho decente perto das janelas na parte de trás, empurrada contra uma parede de tijolos nus. Uma fileira de luzes tinha sido pregada nos tijolos, seu brilho suave e caloroso exatamente o que meus olhos cansados precisavam. Tirei meus óculos de sol quando Calvin fechou a porta atrás de nós, colocando meus óculos normais. Havia uma televisão em frente à cama com um PlayStation ligado, o que me fez perceber o quanto mais eu tinha que aprender sobre Calvin, já que eu não tinha pensado que ele fosse o tipo de videogame. Havia uma mesinha de cabeceira ao lado da cama com uma lâmpada e depois um espaço aberto antes da porta da cozinha começar. Era menor do que a minha, com uma pequena geladeira vintage e um fogão com apenas dois queimadores e sem forno. Haviam dois armários em cima e uma prateleira, que continha produtos secos ordenadamente organizados sobre ele. Fora isso, era um lugar de solteiro ao extremo. Não havia fotos ou peças de arte penduradas, sem bugigangas por aí que poderiam ter falado sobre a personalidade do dono. Eu também notei que ele não tinha um sofá onde eu pudesse cair. Calvin tirou o casaco e pendurou na parte de trás da porta antes de apontar para o meu. Eu entreguei.

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– Lugar legal. – Eu disse baixinho. Ele encolheu os ombros. – O banheiro fica bem ali, se você precisar. – Disse ele apontando para a porta fechada logo depois da cozinha. Eu não podia imaginar o quão pequeno devia ser. – Com fome? – Calvin perguntou. – Na verdade, sim. – Eu disse com suave surpresa. – Não comi desde que vi meu pai hoje de manhã. Calvin levantou uma sobrancelha ao tirar o celular do bolso. – Depois que você foi para a delegacia? Eu assenti. Ele olhou para seu telefone, passando de lado algumas vezes antes de abrir um aplicativo. Após um momento de rolagem, ele perguntou: – Pizza? – Good pizza? – O melhor. – Ele concordou. – O que você gosta? – Apenas queijo. Calvin sorriu quando pegou no menu e fez o pedido. – O que? – Nada. Nós apenas gostamos da mesma pizza. – Quer se casar? – Cabeça de merda. – Ele murmurou. Eu ri, me movi mais para dentro do quarto e coloquei minha bolsa perto da cama. – Quer uma cerveja? – Calvin perguntou, abrindo a geladeira. – Claro. Obrigado.

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Ele pegou duas garrafas e abriu. Se aproximou e me entregou uma antes de arrastar um banquinho ao lado da prateleira de alimentos secos. – Aqui, sente-se. Calvin puxou um banquinho correspondente de uma pequena porta perto da cama que eu imaginei que era provavelmente um armário, e sentou perto de mim. – O que você queria discutir comigo sobre o caso? – Perguntei. Ele tomou um gole, parou e depois tomou outro. – Você não vai gostar. – Oh, ótimo. Calvin suspirou, esfregando a mão distraidamente em sua coxa, e notei com interesse que era a mesma onde tinha sido baleado. Eu me perguntei se ainda o machucava. Como, quando chovia... – A evidência está começando a se acumular em cima. – Contra mim? Jesus... – Não, você não. Bem, fiquei surpreso. – Quem, então? – Neil. Quase derrubei minha cerveja. – E-espera. Você quer dizer que... diabos, você não estava brincando, não é? Calvin balançou a cabeça. – Por quê? Como pode ele até mesmo ser um suspeito? Eu sou um suspeito melhor!

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– Porque nós decidimos sobre você com base em seus álibis. E você com certeza não se deu uma concussão. Veja. Neil tem chaves para o Emporium e sabe o código de acesso de segurança, não é? – S-sim. – Gaguejei, tentando encontrar uma palavra, mas Calvin continuou. – E ele tem as chaves do seu apartamento. Ainda. E seu lugar foi quebrado no dia depois que você aparentemente se separou? Como ele aceitou? – Calvin era todo policial agora, seu tom diferente. Severo. Um pouco duro. Ele deve ter jogado o policial mau com mais frequência do que não. – Bem, é claro que ele não estava entusiasmado com isso. – Eu protestei. – Eu admiti dormir com você e depois disse a ele que queria terminar um relacionamento de quatro anos. – Na manhã seguinte, você recebeu flores, que foram deixadas na loja antes da sua chegada. – Continuou Calvin. – Sim mas... – Você já estava tendo dificuldades em seu relacionamento quando tudo começou. – Disse Calvin. – E esses eventos estão se fixando em você, mais do que qualquer outra vítima. Minha garganta estava tão seca que eu precisava de outro gole de cerveja para engolir. – Neil não é... Deus não. Ele não é um assassino! Ele é um policial. – Isso nem sempre significa que eles são uma boa pessoa. – Disse Calvin calmamente.

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– Você percebe que está sugerindo que eu estive namorando e dormindo com um assassino demente, não é? Foda-se! Eu sei que minha escolha em caras não é sempre estelar, mas eu não sou tão ruim! – Eu só estou apresentando os fatos do jeito que eu os vejo. – Disse Calvin, um pouco mais gentil agora. Minha mente estava correndo. Isso não era possível. Nem mesmo perto. Pop disse que o Tamerlane deve valer uma pequena fortuna. Neil estava namorando um antiquário. Teria sido possível para ele perceber aquilo. Ele sabia tudo sobre a venda da propriedade e a bancária Merriam Byers. Ele estava desinteressado no fiasco do coração de porco e insistiu para eu não ir à loja de Mike no dia em que eu o encontrei morto. E se a raiva dele por mim quando eu disse a Calvin que ele era gay não fosse por causa de sua sexualidade, mas porque eu inconscientemente mandei os policiais apontarem suas lanternas nele? E as ameaças? Tão fácil quanto soltá-la em uma caixa de correio. Neil era um policial forense - ele sabia como cobrir pistas, o que seria procurado. Juro por Deus que meu coração parou de bater por um minuto. Eu devo ter ficado branco, porque Calvin estava de pé e me oferecendo um copo de água, sua mão quente e pesada no meu ombro como uma âncora. – Beba. – Ele insistiu, trocando o copo pela minha cerveja. Eu bebi a taça inteira. – As evidências podem ser distorcidas para parecerem um monte de coisas. – Eu disse depois de um momento.

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A mão de Calvin desceu pelas minhas costas, esfregando círculos suaves. Ele tinha que ter pensado em tudo o que eu fazia, senão ele não suspeitaria logicamente do meu ex-namorado de homicídio. – Neil já foi violento com você? – Não! – Estremeci quando me lembrei de ser empurrado para o batente da porta durante a nossa luta. – Comportamento estranho? Eu agarrei o copo com tanta força em minhas mãos, eu estava com medo de quebrar. – Não. Quero dizer, as horas dele são estranhas às vezes, mas você sabe como é. Vocês são policiais. Cal, por favor, ele não fez isso, porra. – Sinto muito, bebê. Eu fiquei de pé, olhando para Calvin. – É a minha vez de dizer o que penso. Ele pareceu surpreso e estava prestes a falar quando seu celular tocou. Calvin respondeu, dizendo: – Estou descendo. – Antes de desligar. – Pizza cara. Eu já volto. – Sua mão demorou uma fração de tempo antes de sair pela porta. Eu imediatamente entrei no banheiro e fechei a porta atrás mim. Eu me senti tonto e um pouco doente. Sentei-me na tampa do vaso sanitário, segurando minha cabeça e respirando longa e profundamente. Eu podia ver porque Calvin estava me contando a respeito de onde a evidência o estava guiando - afinal, era seu trabalho coletar e prender a pessoa mais suspeita. Não era com ele decidir se eram culpados ou inocentes; isso era para os advogados e tribunais.

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Independentemente disso, isso não me fez sentir melhor. Apesar de dizer a mim mesmo, que sabia que Neil era incapaz de tais atos horríveis, eu não podia explicar como a pessoa entrou na minha loja e na minha casa. – Sebastian? – Calvin chamou quando ele voltou para o apartamento. Eu levantei e saí do banheiro. Ele colocou a caixa no balcão e se aproximou. Ele tinha uma expressão preocupada no rosto. – Você está bem? – Sim. – Eu disse, oferecendo um sorriso que tenho certeza que não era convincente. Calvin colocou a mão em volta do meu pescoço, apertou as costas levemente e massageou os músculos. – Você ainda quer comer? – Assassinato não pode me impedir de comer pizza. Calvin não sorriu. Ele gentilmente me empurrou de volta para o banco antes de pegar os pratos de um armário e colocar uma enorme fatia em cada. – Então, o que é que você acha? – Ele perguntou, e eu pude ouvir relutância em seu tom. Ele me deu um prato, sentou-se e devorou sua fatia em, sem mentira, menos de três mordidas. – Ainda esperando. – Ele disse, levantando-se para buscar outra fatia. – Greg Thompson. – Eu finalmente falei antes de dar uma mordida na pizza. Calvin se virou, já trabalhando em sua segunda fatia enquanto se sentava. Ele não tinha comido o dia todo?

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– O que tem ele? – Ele perguntou com a boca cheia. Maneiras. Que vergonha. – Ele é obscuro. – Respondi. – Ele me deixa desconfortável. – Eu pensei que você não o tivesse visto desde o começo do ano. – Ele apareceu esta tarde, quando voltei para o Emporium. Expliquei que Max havia se fechado e estava se escondendo com Beth, uma vez que seus nervos levaram a melhor sobre ele. Eu disse a Calvin como Greg, surpreendentemente, também estava na Good Books quando eu passei por lá. Calvin não falou, apenas comeu em silêncio sua segunda e terceira fatia de pizza. – Ele mencionou que sabia que você tinha sido o primeiro a chegar quando eu fui nocauteado. Isso fez as sobrancelhas de Calvin se levantarem. – Como ele sabia disso? Dei de ombros. – Ele não disse. Greg me dá más vibrações, Cal. – Eu não posso prender alguém porque eles são um idiota. – Tem certeza? – Eu tentei, oferecendo um sorriso. Calvin sorriu de volta. – Eu tenho certeza. – Oh, bem. De qualquer forma, ele não era um idiota. Bem, mais ou menos, mas principalmente ele me deixou nervoso. Quando saímos da Good Books, ele me disse para ter cuidado. A maneira como ele disse não era...

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Eu não consegui encontrar a palavra que queria e acenei a mão preguiçosamente. – Sincera. – Calvin ofereceu. – Certo. Ele parecia estar insinuando que eu sabia mais do que eu estava deixando transparecer, ou que eu sabia mais por sua causa. Isso fez Calvin franzir a testa, e eu sabia que ele suspeitava que alguém pensasse que havia um relacionamento entre nós. – Eu vejo. – Ele murmurou. – Olha, eu não estou dizendo que Greg é o cara, mas algo não está certo. Calvin assentiu e se levantou, trazendo seu prato para a pia para lavar. – Quer ouvir mais alguma coisa? – Eu não tenho tanta certeza. Eu trouxe meu prato, e fiquei de pé ao lado dele. – Os greys africanos podem aprender a imitar palavras ou sons dentro de um dia, se for fácil ou algo do que eles gostam. O pássaro dessa senhora, ele pode muito bem, estar repetindo algumas das últimas palavras ouvidas em seu apartamento. – Esse cara gritando pelo livro. – Tamerlane. – Certo. – Disse Calvin, guardando os pratos. – Mas se Greg fosse o cara, porque ele teria se exposto e mencionado Tamerlane para mim? Eu não tinha certeza. – Desespero? Calvin balançou a cabeça. – Eu concordo que algo está errado sobre a sua história...

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– Quem veio ao meu apartamento esta manhã veio para os meus livros. – Eu interrompi. – Se você notou. Calvin se virou para mim, cruzando os braços. – Eu notei. Tem certeza de que não estava em sua posse? – Não. Mas agora como eu deveria saber? Se estava, não está lá agora. Eu chequei. Alguém pensou que eu tinha, no entanto. – Olha, querido, eu odeio trazer isso de novo, mas de todas as pessoas, Neil sabia que você tinha uma parte da venda da propriedade em sua casa. E ele tinha uma chave. – Mas as coisas que Greg disse... eu não acho que isso acabou. Chame isso de instinto, mas estou bem convencido de que o livro não estava em meu poder. Esse cara ainda está procurando por isso. – Greg sabe onde você mora? Eu fiz uma careta. – Você sabe tão bem quanto eu que informações como essa não são um segredo hoje em dia. Calvin concordou com a cabeça e saiu do balcão, soltando a gravata e jogando-a num pequeno cesto perto da televisão. Ele começou a desabotoar os punhos de sua camisa em seguida. – E o telefonema que Greg alega ter recebido? – Perguntei. – Ainda estou trabalhando nisso. Essas coisas não se movem tão rápido quanto... – Na televisão. – Terminei. – Eu sei. Calvin se virou quando ele tirou a camisa, o peito pálido e sardento ali para eu ver, mas não tocar. Ele jogou no cesto.

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– Você não se importa se formos para a cama? Estou meio cansado. Lembrei-me de encontrá-lo dormindo na escada, esperando por mim. Eu tinha a impressão de que Calvin não admitia facilmente qualquer tipo de fraqueza, nem mesmo estar cansado. – Claro. – Eu peguei minha bolsa. – Eu vou usar o banheiro. Eu o deixei seminu, mais arrependido, e fechei a porta atrás de mim. Troquei por alguma calça de pijama quadriculada de cor escura e uma camiseta presumivelmente preta. Lavei o rosto, escovei os dentes e tirei meus contatos vermelhos antes de sair. Calvin ficou no meio da sala, rolando no celular. Ele ainda não tinha colocado uma camisa, mas tinha vestido o que parecia com uma calça de pijama com tema natalino. Talvez a minha visão estivesse realmente falhando comigo. – Está tudo bem? – Eu perguntei. – Hmm. Sim, apenas checando alguns e-mails. Ele desligou e colocou na mesa de cabeceira antes de ir ao banheiro. Ele voltou um momento depois com a escova de dentes pendurada na boca. Calvin se moveu por mim quando ele retornou ao seu telefone. Ele cheirava bem. Ele parecia bem. Ele estava definitivamente vestindo calças de pijama com pequenos homens de Papai Noel e renas neles. – Você parece muito festivo. – Eu provoquei. Ele olhou para cima, escovando distraidamente.

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– O que? – Ele perguntou ao redor da escova de dentes antes de olhar para si mesmo. – Oh. – À espera de algo importante? – Eu solicitei uma pesquisa sobre o Livro de Tamerlane. – Ele resmungou. – Ainda não consegui. – Eu estou indo para a biblioteca amanhã. Eu tenho um compromisso para inspecionar a cópia do Tamerlane que eles possuem. Calvin virou-se para mim com surpresa. – Eu pensei que seria útil. – Você planejou me contar? – Ele perguntou depois de tirar a escova de dente da boca. Dei de ombros. – Provavelmente. Ele franziu a testa e caminhou de volta para o banheiro. – Você não é um policial. – Eu não preciso ser um policial para ir para a maldita biblioteca. Quando Calvin voltou, ele chegou perto o suficiente para que o cheiro de hortelã e homem fizesse minha cabeça girar. – Nós vamos discutir isso mais tarde. – Tudo bem, tanto faz. Eu não ia lutar sobre uma viagem para a biblioteca. Eu na verdade, só ouvi metade do que dizia, não podia ser ajudado quando ele estava tão perto que eu podia contar suas sardas. Estendi a mão para tocar o cabelo fino e claro em seu peito e segui-o para baixo. Calvin alcançou meu queixo e levantou-o. – Vá para a cama. – Uh, você vem?

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– Eu vou dormir no chão. – Cal, você não está dormindo no chão da sua própria casa. Vamos lá. Eu o puxei para a cama, joguei as cobertas para trás e deslizei para o lado contra a parede. – Viu? Muito espaço. – Ótimo. Ele caminhou até a porta da frente para verificar a fechadura e desligar as luzes. Eu me inclinei para colocar meus óculos na mesinha de cabeceira, depois virei de lado, de volta para Calvin enquanto ele silenciosamente subia na cama. Levou todo o meu autocontrole para não me enrolar ao lado dele, mas ele tinha sido firme em sua decisão comigo, e nenhum de nós estava indo tão bem quando se tratava de toques e apelidos. Alguém tinha que parar primeiro. A cama mudou, e Calvin chegou perto de mim. Ele serpenteou um braço entre o meu e envolveu-o no meu peito, me segurando firme. – Calvin. – Eu disse com um suspiro. Eu rolei para encará-lo. – Você não pode continuar sendo tão doce e sensível comigo se eu não tenho permissão para ter você. – Sinto muito. – Ele sussurrou. – Eu não posso me ajudar. – Não é justo. Calvin retirou a mão dele. – Eu sei. Eu sinto muito. Eu não pude deixar de imaginar que Calvin, com a maneira como ele tocava - tão gentil e como se fosse a maior experiência de sua vida -, tinha sido negado contato íntimo por um longo, longo tempo.

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– Eu não estou pedindo para você acenar uma bandeira de arco-íris ao redor. – Eu disse. – Você não tem que anunciar a todos com quem você trabalha que você está fodendo um cara. – Há mais do que isso, Sebastian. – Calvin respondeu. – Eu não sou uma boa escolha para um parceiro. Há muita coisa errada comigo que eu não quero sobrecarregar em outra pessoa. – Soa como uma desculpa. Calvin riu. – Acredite em mim, bebê, não é. – Ele estendeu a mão para tocar minha bochecha. – Eu sinto muito. Eu empurrei a mão dele e me aproximei, segurando-o com firmeza. – Toda vez que você me chamar de bebê, eu vou te abraçar. – O que você vai conseguir com isso? – Ele perguntou enquanto plantava seus dedos em meus cabelos. – Você larga isso constantemente, então talvez se você tiver abraços suficientes, você se anime o suficiente para namorar. Eu não sei. – Eu só sei que eu quero você e não posso suportar o pensamento de te perder. Mas eu não disse isso em voz alta.

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EU CAÍ em um sono que acho que nem os mortos possam obter. Isso tinha sido ótimo até que eu levei um soco no rosto e bati na parede de tijolos. Eu acordei assustado, todo o lado esquerdo do meu rosto doendo e a parede arranhando desconfortavelmente nas minhas costas. Eu acho que amaldiçoei, mas foi abafado pelos gritos de Calvin. Levei um segundo para perceber que ele não estava sendo morto, embora, se eu tivesse ido pelo som sozinho, era o que eu suspeitaria. Me sentei, estendi a mão sobre a cama e agarrei-o pelos ombros. – Calvin! Ele estava se debatendo em um pesadelo - não havia outra explicação para mim ter sido atingido com tanta força. Sua pele estava pegajosa e úmida ao toque. – Calvin! Acorde! Jesus...! Calvin! Ele acordou sobressaltado, sentando-se e lutando para respirar. Ele estava tremendo e rapidamente cobriu o rosto com as mãos enquanto soluçava incontrolavelmente. Oh Deus. O que estava acontecendo? Tirei minhas mãos de seus ombros e eles afundaram enquanto ele chorava. Seu lado da cama estava úmido de suor enquanto eu me movia para sair.

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Estes eram terrores noturnos. Verdadeiros, terrores reais que poderiam acordar um homem - um homem que eu suspeitava era mais forte e mais corajoso do que qualquer um que eu já conheci - de um sono profundo e reduzi-lo a uma confusão emocional em segundos. Foi então que aquelas pequenas coisas que eu tinha visto em Calvin começaram a se conectar. Os momentos em que ele tinha ficado surpreso Max largando a caixa, quando eu disse o nome dele enquanto ele estava meio adormecido, o grito do Africano cinzento... E os doze anos de serviço militar sobre qual Calvin se recusava a falar. Isso fazia sentido agora. TEPT. – Cal? Querido, você está bem. – Eu disse em voz alta, tentando ser ouvido sobre seu choro. – Você está na cama, no seu apartamento em Nova York. Você está aqui comigo. Tudo está bem. – Eu insisti. O momento era surreal, ver um homem tão poderoso reduzido a nada além de mágoa bruta e sangrenta. Com o que ele estava sonhando? O que o assombrou? A guerra no Oriente Médio durou tanto tempo que muitos americanos acabaram se esquecendo, inclusive eu. Agora que os soldados estavam em casa, exatamente quantos deles estavam voltando com feridas invisíveis que o público ainda discriminava por pura ignorância? O que um homem pode suportar ver antes de ver demais? – Cal? – Eu disse novamente. Eu rapidamente peguei meus óculos para que eu pudesse ver o que diabos eu estava fazendo antes de pegar seus pulsos e gentilmente puxá-los para revelar seu rosto.

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O escuro era meu amigo e eu podia vê-lo com maiores detalhes. Os olhos de Calvin estavam brilhantes de lágrimas, suas bochechas molhadas e seu cabelo uma bagunça. Ele parecia velho. Ele parecia vulnerável e quebrado. Isso me fez perceber que receber a Medalha de Honra e inúmeros outros prêmios emitidos pelo departamento de polícia e militares não o fez invencível. – Eu não pude salvá-los. – Ele sussurrou. – Havia muito sangue de merda. Eu não podia, eu não podia alcançá-los. Eu estava sentado de joelhos na frente da cama, olhando para ele. Era doloroso ver isso, doloroso como nada que eu já tenha experimentado. Eu o puxei para baixo e Calvin saiu da cama. Ele sentou-se de joelhos na minha frente, agarrando-se ferozmente e me abraçando com tanta força que eu mal conseguia respirar. Eu esfreguei as costas dele. – Você está seguro. – Eu insisti. – Eu os deixei morrer. – Calvin chorou. Eu movi minha mão até a cabeça dele e agarrei seu cabelo. – Não. Não pense nisso. Por favor, não faça isso. – Deixei aquele garotinho morrer. Eu manobrei Calvin de volta o suficiente para poder segurar seu rosto em minhas mãos. – Calvin. – Eu sussurrei. – Tudo vai ficar bem. – Eu não sabia mais o que fazer ou dizer, e foi assustador. Foi aterrorizante.

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Ele estava começando a se acalmar, no entanto. Calvin não estava mais tremendo e estava limpando seus olhos secos. Estes devem ter sido os problemas com que ele não queria me sobrecarregar. Quantas noites por semana ele acordava sozinho em absoluto medo e pânico? Ele estava recebendo ajuda? – Calvin? – Eu perguntei baixinho. – Sinto muito. Ele sussurrou, evitando contato visual. – Eu não achei que isso aconteceria hoje à noite. Eu estou apenas... estressado. Eu não sabia o que fazer ou dizer. Eu não queria afastá-lo novamente. – Você pode ficar de pé? – Perguntei. Ele acenou com a cabeça depois de um segundo e eu o ajudei a ficar de pé. – Que tal você ir tomar um banho rápido para refrescar? Você tem lençóis limpos? – O que? – Ele olhou de volta para a cama, percebendo que ele deveria ter suado tanto que eu precisava trazer isso à tona. – Eu sinto muito. – Não, está tudo bem. Não se preocupe. – Eu gentilmente o empurrei para o banheiro. – Vá tomar um banho. Eu esperei até Calvin fechar a porta do banheiro atrás dele e a água ligar, então fui até o armário e mexi ao redor por um tempo antes de encontrar lençóis dobrados e puxá-los para fora. Rapidamente refiz a cama, jogando os lençóis usados no cesto quando Calvin saiu do banheiro, molhado e nu. Ele vestiu um pijama limpo antes de se sentar na beira da cama. Eu me agachei na frente dele.

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– Posso pegar algo para você? Ele balançou sua cabeça. – Sinto muito que você teve que ver isso. – Ele murmurou. – Por favor, não se desculpe. – Eu te machuquei? – Não. – Eu me agito ao redor. Eu não quis. – Cal, eu estou bem. – Eu insisti, não me incomodando em trazer à tona o fato de que ele realmente tinha me batido em seu sono. Ele esfregou a mandíbula de maneira agitada. – Você... precisa falar sobre qualquer coisa? – Eu perguntei baixinho. – Você pode confiar em mim, se você precisar tirar algo do seu peito. – Não. – Ele respondeu imediatamente. – Calvin... – Não, Sebastian. – Ele disse novamente, mais forte. – Eu não estou... eu não quero falar sobre isso. A voz de Calvin ficou grossa novamente, e ele cobriu os olhos com a mão. Levantei-me e sentei ao lado dele na cama. – Tudo bem, tudo bem. Você não precisa. – Estendi a mão, peguei sua mão livre e liguei nossos dedos. Ele segurou minha mão duramente por vários minutos. Seu agarre finalmente começou a afrouxar quando ele parecia mentalmente se acalmar com qualquer que fosse a lembrança que ele estava observando. – Você já viu um médico? – Eu perguntei baixinho.

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Minha resposta foi o silêncio assim eu tomei isto como um não. O que me preocupou. – Que tal um hospital de veteranos? Eles são treinados para ajudar com esse tipo de coisa. – Eu não quero falar sobre isso! – Calvin respondeu com raiva. – Seb. Por favor, apenas pare. Por favor. – Ele ainda mantinha minha mão e se virou para olhar para mim. Eu vou ser honesto, isso assustou a merda de mim, sabendo que Calvin estava sofrendo de algum TEPT muito intenso, que aparentemente não estava sendo tratado, mas era o meio da noite e não era o momento apropriado para discutir sobre o médico. – Você quer tentar dormir mais um pouco? – Perguntei. Quando ele não respondeu, eu me inclinei em torno dele para baixar meus óculos novamente e deitei na cama. – Cal, venha aqui. Ele obedientemente se virou e deitou ao meu lado, colocando a cabeça no meu peito e envolvendo-se em torno do meu corpo. Eu puxei o edredom de volta sobre nós, e nós dois ficamos quietos. Eu acariciei sua cabeça por um longo tempo e, eventualmente, sua respiração se estabilizou e eu me permiti o seguir depois, dormindo com ele. ‡‡‡ NA PRÓXIMA vez em que acordei, não recebi um soco no rosto, o que foi legal. Ainda estava escuro, mas eu podia dizer pela mudança sutil de luz através das cortinas fechadas que já era hora de levantar. – Bom dia. – Resmungou Calvin.

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– Você já está acordado? – Eu perguntei antes de bocejar. Ele grunhiu. – Você dormiu muito? – Um pouco. – Ele concordou depois de um momento. Ele rolou para longe em suas costas. Eu me movi do meu lado, me inclinei e beijei seu peito. Foda-se. Foda-se tudo e todo mundo que disse que isso era uma má ideia, inclusive eu. O que eu sentia por Calvin era muito real, e nenhuma quantidade de falar que eu não poderia tê-lo, me influenciaria. Sim, eu sabia que pular de um relacionamento e ir direto para outro era incrivelmente estúpido. Eu sabia que o que era ainda pior era deixar um homem porque ele não poderia ser aberto sobre me amar, por outro homem com o mesmo problema, mas eu estava muito preocupado com Calvin para pisar no freio. E eu sabia que o que ele sentia por mim era real e tão intenso quanto o que eu estava lutando. Sua merda sobre não valer a pena não iria me afastar, especialmente vendo agora que ele se considerava um parceiro ruim devido a cicatrizes de guerra. Nós todos temos demônios. Se eu tivesse que balançar ele para dormir todas as noites, dizendo que estava tudo bem e que eu o amava, eu faria. Minha respiração ficou presa. Deus. Eu o amava. Não havia como voltar atrás.

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Sua mão encontrou meu cabelo, e ele cantarolou quando eu coloquei minha boca sobre um mamilo, chupando e mordendo suavemente. – Você não precisa fazer isso – Ele murmurou. – Fazer o que? – Eu perguntei enquanto me movia para o outro mamilo. Calvin gemeu baixinho. – Sentir-se mal por mim. Parei e levantei a cabeça. – Eu não tenho pena de você. – Eu montei os quadris de Calvin e me inclinei para perto para que eu pudesse ver seu rosto. – Eu quero estar com você. Suas mãos encontraram meus quadris e lentamente se moveram para segurar minha bunda. – Eu não posso. Eu não tenho estômago para ser a causa de seu coração partido. – Você não quebrou isto, entretanto. – É inevitável. Eu me debrucei abaixo e apertei minha bochecha contra a dele, nossas mandíbulas ásperas friccionando uma contra a outra. - Você quer estar comigo? – Eu perguntei calmamente. Suas mãos subiram pelas minhas costas e me envolveram com força. – Mais do que você imagina. – Então vamos ver o que acontece. – Eu respondi, levantando o rosto para encontrar sua boca e beijá-lo.

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Calvin deslizou as mãos por baixo da minha camisa e puxou-a por cima da minha cabeça antes de jogá-la no chão. Ele agarrou minha bunda novamente, empurrando-me para baixo enquanto empurrava para moer contra mim. Ele mordeu meu pescoço e começou a chupar a pele. – Oh Deus. – Eu gemi. – Cal, eu preciso de você. – O que você quer, bebê? Eu podia sentir um calor tímido espalhando sobre o meu rosto, e eu deixei cair minha testa em seu peito, beliscando-o em resposta. Calvin rosnou de brincadeira. – Você quer meu pau, não é? Você quer que eu foda seu rabo apertado até que você esteja gritando, certo? Eu me esfreguei forte contra ele. – Sim, eu quero. – Eu quero que você me chupe primeiro. – Calvin levantou minha cabeça asperamente. – Me deixe bem e molhado para você. Não havia nada mais sexy, nada mais erótico, do que acordar em uma manhã de segunda-feira e ser ordenado a chupar o pau desse homem delicioso. Deus, sim, eu queria tanto prová-lo que eu mal conseguia tirar as calças na minha excitação. A ereção de Calvin levantou-se, a cabeça enorme já pingando. Eu desci e segurei a base enquanto lambia o líquido salgado. Calvin gemeu apreciativamente. Eu envolvi minha boca ao redor dele, subindo e descendo o máximo que conseguia. Calvin murmurou palavras de aprovação. Ele agarrou meu cabelo e empurrou algumas vezes, tentando conseguir mais. – Sim, bebê. – Disse ele. – Isso é bom. Chupe mais forte.

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Eu murmurei em resposta e apertei minha boca ao redor dele, subindo e descendo rapidamente. Voltei para a cabeça, chupando forte, depois suave, duro, macio, repetidamente. – Porra! Sebastian! – Calvin me empurrou, sentou-se e me agarrou em um beijo rude. Sua língua empurrou contra minha boca, saboreando a si mesmo. – Termine de tirar a roupa – ele ordenou depois de puxar de volta. Ele se virou para a mesa de cabeceira e abriu a gaveta, procurando dentro enquanto eu apressadamente chutava minhas calças e as jogava no chão com o resto do nosso pijama. Calvin se virou para mim, me agarrando em outro beijo feroz e puxando meu pau algumas vezes. – Mãos e joelhos. – Ele ordenou. Eu me mudei para a posição solicitada, esperando ouvir o estalo de uma garrafa de lubrificante, mas não o fiz. Em vez disso, Calvin agarrou minhas nádegas firmemente, tateando e separando-as. – Olha como é bonito. – Ele murmurou. Então senti sua língua pressionando contra a minha entrada. Eu pulei para frente, mas Calvin segurou meus quadris com firmeza enquanto continuava empurrando sua língua para dentro e para fora. Eu gemi baixinho e abaixei a cabeça. Eu nunca tinha sido penetrado com uma língua antes, e foi emocionante, bizarro e me senti realmente bem. Calvin parou e mordeu uma bochecha. – Assim? – Sim. – Eu sussurrei. – Quer mais? Eu assenti.

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– Eu não posso ouvir você. – Calvin ronronou. – Sim, – Eu gemi. – Quero mais por favor. Por favor. Uma mão desceu firme na minha bunda e eu pulei de novo. Então a língua de Calvin estava empurrando dentro e fora, e bom Deus, era fodidamente incrível. Eu me inclinei sobre meus antebraços e somente senti. Calvin continuou a lamber e morder até que eu era uma bagunça trêmula. Ele se sentou, respirando com dificuldade enquanto colocava beijos ao longo da minha espinha. Então ouvi o estalo da garrafa e um dedo contundente me pressionou. – Eu amo sua bunda. – Calvin murmurou. – O jeito que está chupando meu dedo, desesperado por mais. Eu gemi em resposta, empurrando de volta para encontrar a mão de Calvin. Ele me aquietou. – Seja paciente. – Cal... Calvin puxou seu dedo livre e bateu na minha bunda com força. Ele acalmou a pele e murmurou algo em voz baixa antes de enfiar dois dedos dentro. Ele demorou a esticar e me preparar de novo, parando de vez em quando para bater na minha bunda. Doeu de uma maneira erótica. Eu nunca tinha experimentado isso antes, mas definitivamente queria novamente no futuro. – Cal. – Eu sussurrei quando ele empurrou três dedos para dentro e para fora. Calvin parou e se inclinou sobre mim. – Você está bem, bebê?

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– Sim. – Isso é muito? Eu balancei a cabeça. – Não, eu gosto disso. Eu senti o seu sorriso quando ele beijou o lado da minha cabeça. – Pronto para o meu pau, então? – Eu... uh... Calvin acariciou minha cabeça. – Não? Diga-me o que você quer. – Eu quero que você me foda. – Eu insisti. Calvin esfregou minha bunda novamente. Você gosta quando eu bato na sua bunda? É isso? – Sim. – Eu disse calmamente, enterrando meu rosto em meus braços. Calvin riu. – Não fique envergonhado. Eu vou te dar o que você quiser, querido. Ele se moveu para trás de mim, e eu escutei a folha de um envoltório de preservativo e mais lubrificante. A cabeça do pênis de Calvin pressionou suavemente contra mim, em seguida, facilmente, violando e me enchendo. Então ele me bateu forte, e meus músculos se apertaram instintivamente ao redor dele. – Oh, foda-se. – Ele gemeu enquanto esfregava minha bunda. – Está certo. Você gosta assim, não é? Eu tremi e balancei em minhas mãos e joelhos, meu pau duro como uma pedra entre as minhas pernas. – Sim, faça de novo!

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Calvin empurrou um pouco mais, movendo-se lentamente quando eu assobiei e xinguei sob minha respiração. – Ok. – Ele murmurou. Eu gemi algum tipo de resposta, feliz por Calvin estar empurrando lento. Ele me bateu de novo quando estava na metade do caminho, e o gemido que ele fez quando eu me apertei ao redor dele foi tão incrível. Eu me senti bem sabendo que eu estava dando a ele o mesmo tipo de prazer que ele era capaz de me dar. Eu tive mais um tapa antes que ele estivesse dentro de mim completamente. As mãos de Calvin subiram e desceram pelas minhas costas, acalmando minha bunda e meus lados. – Pronto? – Apenas me foda! Ele agarrou meus ombros e começou a bater em mim. Eu senti como se estivesse completamente à mercê dele. De costas, de joelhos com a minha bunda no ar, Calvin foi capaz de me foder rápido e duro. Toda vez que eu voltava para encontrá-lo, ele batia em minhas bochechas. Elas estavam quentes e doíam um pouco, mas a dor era tão fodidamente prazerosa, tudo que eu podia fazer era implorar impotente por mais. Mais do pênis de Calvin em mim, mais de suas mãos em mim, mais dele ditando a velocidade, o ângulo, a aspereza. Mais de cada coisinha suja que ele dizia, perdido em prazer. Ele me disse o quão bom eu era, como minha bunda era a melhor que ele já teve, como ele queria gozar dentro de mim e me lamber.

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Eu gritei alto, movendo meu peso em uma mão para acariciar a mim mesmo. Eu estava tão duro, doía - eu nunca precisei gozar tanto quanto eu precisei naquele momento. – Você está pronto para vir? Calvin perguntou, uma mão segurando meu cabelo enquanto ele me fodia. – Sim! Eu preciso. – Eu implorei. – Isso é bom querido. Continue se acariciando. – Não pare, não pare. – Eu disse enquanto desajeitadamente tentava continuar a me mover de volta para encontrá-lo. Minha respiração ficou presa no meu peito e cada músculo do meu corpo se apertou. – Oh Deus! Calvin! – E então eu estava vindo duro, jorrando nos lençóis limpos e choramingando quando ele bateu na minha bunda novamente, mais forte do que tinha até então. Eu podia sentir Calvin vindo, e suas mãos desceram para os meus quadris, mantendo-me pressionada contra ele enquanto ele cavalgava pelas sensações. – Você é tão lindo. – Ele disse. – Foda-se. – Calvin puxou para fora e me jogou de costas, inclinou-se sobre mim e me beijou com uma espécie de posse agressiva. Eu passei meus braços em volta do seu pescoço, puxando-o para baixo em cima de mim, nossos beijos, eventualmente, acalmando-se enquanto o nosso sangue esfriava. – Uau. – Eu finalmente disse rindo. Calvin sorriu e beijou meu nariz, minhas bochechas, minha testa.

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– Você gostou disso? – Sim. Eu nunca tive isso antes. – Parece-me que foi negado a você um monte de prazeres sexuais. Eu franzi meus lábios e encolhi um ombro. – Mais ou menos, eu acho. Calvin sussurrou baixinho, escovando o cabelo úmido da minha testa. – Nós devemos ir. Você tem que trabalhar hoje, não é? Eu me estiquei preguiçosamente. – Não. O Emporium é fechado às segundas-feiras. – Oh. Quais são seus planos, então? – Merda. – O que? – Eu tenho um encontro. Eu podia sentir Calvin tenso ao meu lado. – Entendo. Eu peguei meus óculos da mesa de cabeceira para que eu pudesse vêlo. – Não é o que você pensa. – Então o que é? Era uma estranha revelação ver que ele estava com ciúmes. – É apenas um cliente. Ele me convidou para sair algumas vezes, e ontem, depois que você ficou com raiva de mim, não achei que terminaria aqui com você. Eu planejo decepcioná-lo muito gentilmente. Calvin franziu a testa e colocou um braço em volta de mim com firmeza. – Isso é tudo?

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– A biblioteca. – Eu mencionei novamente. – Limpar minha casa, eu acho. – Não, não vá para casa. – Eu não posso viver em seu armário com você. – Eu disse, antes de emendar o comentário. – Quero dizer, o tamanho do seu apartamento. – Eu preciso da perícia para verificar o seu lugar. – Calvin, qual é o ponto? Eu já estive em casa duas vezes. Eu toquei em tudo, mudei os livros por aí. – Não importa, Sebastian. Se pudermos encontrar uma impressão digital, mesmo uma impressão parcial. Além disso, você precisa alterar as fechaduras também. Não é seguro. – Ele sentou-se, passando os dedos pelo cabelo até que ficaram cômicos. – Quer tomar banho comigo? – Juntos? – Eu perguntei com uma risada. – Nós dois vamos nos encaixar nesse minúsculo banheiro? – A menos que você queira se deitar coberto de esperma seco? − Calvin ofereceu enquanto se levantava e tirou o preservativo. – Jesus, quando você coloca dessa maneira. Eu levantei e o segui. Calvin jogou o preservativo enquanto ele acendia a luz no banheiro, depois a desligou. – Há luz suficiente vindo pela janela, certo? – Ele perguntou, apontando para a pequena abertura. O fato de que ele notou que eu não tinha contatos e que a luz do banheiro era muito dura me deixou extremamente pensativo.

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Calvin ligou o chuveiro e depois se moveu sob a corrente de água morna, me puxando com ele. Ele me beijou algumas vezes, as mãos se movendo sobre mim. – Espero que você esteja vestindo uma camisa de gola alta para o seu encontro. – Ele murmurou, manobrando-me sob a água enquanto pegava xampu. Eu abri meus olhos, observando sua figura embaçada na luz fraca. – Por que você diz isso? Calvin estendeu a mão e passou os dedos pelo meu cabelo molhado, ensaboando-o. Ele se inclinou para beijar o lado do meu pescoço. – Porque eu deixei uma marca. Minha mão chegou instintivamente, tocando o local que ele beijou. – Você fez? Calvin cantarolou distraidamente em resposta. – Desculpe. – Na verdade, eu não me importo. Ele deve ter sorrido porque eu podia ouvir uma nota de diversão em seu tom. – Mesmo? – É meio quente. – Você é meio quente. Lave seu cabelo. – Sim, senhor. Eu ri para mim mesmo enquanto me inclinei de volta no spray, deixando lavar o sabão. Troquei de lugar com Calvin para que ele pudesse lavar o próprio cabelo em seguida.

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– Você sabe. – Eu disse baixinho enquanto procurava pelo sabonete e pegava um pano. Eu acho que vou ter uma coisa sobre você e chuveiros. – Por que isso? – Calvin perguntou. – Porque apenas alguns dias atrás, eu estava me masturbando com meus pensamentos em você. Suas mãos vieram sobre as minhas, e ele pegou o sabão enquanto beijava minha boca. – Bom. – Bom? – Eu repeti. Suas mãos estavam em mim novamente, me lavando com o pano. – Sim, porque eu estava fazendo a mesma coisa. – Eu não posso imaginar isso. – Você duvida do quão sexy você é. Eu bufei. – Você tem prestado muita atenção? – Muita. – Calvin se abaixou para esfregar minhas pernas. – Eu não sou aquele com uma deficiência visual. – Oh, golpe baixo. Ele riu. – Eu acho que você é lindo pra caralho, bebê. Se você quer acreditar ou não, é sua opção. Ele se levantou, virou-me e passou a toalha nas minhas costas e na bunda. – Só sei que nenhuma quantidade de suéter malhumorado vai me fazer pensar diferente. – Fazer compras é difícil para mim. – Eu admiti. – Por quê?

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– Cores. O mundo depende muito de sua capacidade de ver cores. As cores provocam emoções, e talvez pareça estúpido para você, mas eu fico tão estressado tentando entender se uma camisa amarela vai colidir com o resto do meu traje que eu quero... chorar. Agora eu sabia o quão idiota soava. Eu estava essencialmente chorando sobre o leite derramado enquanto um veterano do exército chorava por crianças massacradas. Calvin me virou e me beijou. Eu passei meus braços por baixo dele e segurei-o por um momento. – Eu costumava tentar mais. – Acrescentei. – Eu tinha uma roda de cores de moda e tudo, mas era muito trabalhoso. É mais fácil confiar em meu pai para comprar uma sacola de segunda mão para mim em branco, cinza e preto, o que ele diz que não pode colidir, não importa o que aconteça. – Eu posso resolver isso para você. – Disse Calvin. – Mesmo? Transplante de olho humano completo? – Eu perguntei esperançosamente. – Não, basta sair nu. – Isso não resolve nada. – Isso vai me fazer feliz, no entanto. – Eu ri e empurrei Calvin de brincadeira. – Bundão. Me dê isso. – Eu disse, pegando o pano e sabonete. Eu comecei a esfregar seu peito e braços. Quando terminamos de lavar um ao outro, o que eu nunca fiz com um cara antes, mas era bem divertido e íntimo, saímos e nos secamos. Eu coloquei minhas lentes para que Calvin não tivesse que se barbear no escuro. Ele parou de ensaboar o rosto para segurar o meu e olhar curiosamente para os meus olhos.

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– Então elas fazem seus olhos escuros. – Sim. Proteção extra, como um segundo par de óculos escuros. – E se você não usar? – Tudo fica muito claro. Ele esfregou o lado do meu rosto com a ponta do polegar antes de soltar. Peguei minha bolsa e óculos do outro quarto e me juntei a ele novamente, sem ousar me barbear manualmente como Calvin. – Eu não posso ver bem o suficiente para confiar em uma navalha contra a minha jugular. – Eu expliquei, fazendo um barbear meia-boca em meu rosto com um barbeador elétrico. Calvin sorriu e continuou se barbeando em silêncio. Eu meio que gostei disso. Neil e eu nunca tínhamos compartilhado o banheiro para ficarmos prontos, mas era meio doce e doméstico fazer a barba juntos, mesmo que fosse muito apertado e lotado. – Você já esteve com muitos caras? – Eu perguntei enquanto escovava meus dentes. Calvin terminou de fazer a barba e estava lavando a espuma. – Defina muito. – Ele respondeu. – Mais de um a vários. – Então sim. – Ele respondeu secamente. – Muitos namorados? Ele balançou sua cabeça. – Não. – Quantos? Ele começou a escovar e não respondeu até que ele terminou.

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– Um ou dois. – É mesmo? Calvin acenou com a cabeça e pegou desodorante e colônia. – Sim. – Olhou para mim. – Por que, você conhece alguém que está interessado? Eu bufei e lavei minha boca. – Eu conheço um cara. – Eu concordei. – Eu acho que eu disse a ele não algumas vezes. – Ele é um merda persistente. – Eu vou dizer. Eu ri e me inclinei para ler o rótulo sobre a colônia de Calvin. – O quê? – Ele perguntou. – Nada. Eu só gosto desse cheiro. Calvin começou o café depois de terminar no banheiro. – Você pode ficar, ou você vai tomar o café com o seu encontro? –Ele perguntou, e não pense que não notei o tom com que disse encontro. – Eu posso ficar. – Eu respondi, a voz abafada quando eu puxei uma camiseta sobre a minha cabeça. Calvin estava na frente de seu armário em nada além de um par de cuecas boxer que abraçavam suas coxas, seu pau e bolas pesadas e apertadas no algodão macio. Eu me movi para trás dele e passei meus braços ao redor dele, pressionando perto. – Olá. – Ele disse, ainda trilhando as camisas penduradas. –Ei.

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– Eu não tenho tempo para dar uma segunda rodada, bebê, então não me excite. – Eu vou tentar não fazer isso. Eu inclinei minha testa contra suas costas quentes por um momento antes de beijar seu ombro cheio de sardas. – Quanto tempo levaria para eu beijar cada sarda que você tem? – Você estaria morto antes de terminar. Eu ri e deixei-o ir para que ele pudesse se vestir. – Você não gosta delas? – Eu não me importo. Eu as odiava quando criança. – Por quê? – Eu fui muito importunado. Era extremamente difícil imaginar alguém sendo idiota o suficiente para importunar alguém tão quente e perigoso quanto Calvin Winter. – Antes de descobrir que eu gostava de garotos, não consegui nenhuma namorada porque nenhuma delas queria namorar um ruivo. – Ele se virou enquanto puxava uma camisa sobre os ombros. – É mais fácil para garotas ruivas - todo mundo acha que elas são fofas. Não é tão fácil para os homens. – Eu vou ficar com você. – Eu ofereci. Ele sorriu levemente. – Sim, eu sei que você vai. – O que você quer no seu café? – Eu perguntei, andando de volta os dois passos inteiros para a cozinha. – Creme. – Disse ele, puxando as calças e colocando a camisa dentro. Sofrimento bom, a maneira como os músculos de Calvin ondulava e puxava o tecido... Olhe para longe, Olhe para longe.

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Eu ofereci a ele uma xícara fresca quando ele veio ao balcão. – Espere. – Eu disse, pegando sua gravata. – Está torta. Ele segurou ainda quando eu ajustei o nó antes de tomar um gole. – Obrigado. – Você tem tempo para comer? – Eu vou pegar um bagel antes de eu começar a trabalhar. – Ele respondeu. – Quando você está enviando a análise forense para o meu apartamento? Calvin sentou em um banquinho. – Primeira coisa que farei. Eu assenti. – Tudo bem. Enfiei a mão no bolso e tirei uma chave de um anel. – Caso você precise. Calvin aceitou a chave sem questionar. Ele tomou outro gole de café antes de ficar em pé e chegar perto de mim para pegar as chaves do balcão. Eu pensei que ele iria colocar o meu no anel para que ele não o perdesse, mas ao invés disso ele tirou um dos seus e o passou. – O que é isso? – Eu não sei quanto tempo vai levar. – Calvin respondeu. – Então se você precisar de algum lugar, somente venha para casa. Aqui... quero dizer. – Oh... obrigado.

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Ele assentiu e terminou o seu copo antes de ir para colocar seus sapatos Oxfords bem gastos com a biqueira larga e chata. Elegante e bonito em Calvin. Eu segui depois, e logo ambos estávamos encasacados contra o frio e prontos para ir. – Ligue depois da sua visita à biblioteca. – Disse ele enquanto trancava a porta. – Certo. – Ou se... alguma coisa acontecer. – Alguma coisa deveria acontecer? – Perguntei cautelosamente. Ele se virou e olhou para baixo. – Só tome cuidado, ok? – Vou fazer, oficial. – E não vá bisbilhotar onde não deveria. – Quem, eu? – Seb, estou falando sério. Sem investigar. Eu acenei a mão para ele antes de colocá-la no bolso da minha jaqueta. – Eu não vou. – Tudo bem. – Você tenha cuidado também. – Eu disse. Ele se inclinou e me beijou na privacidade de sua porta. – Tenha um bom dia. Eu sorri enquanto o seguia descendo as escadas para deixar o prédio. Isto foi tudo muito doce e doméstico. Exceto pela investigação de homicídios em andamento. Mas é sempre alguma coisa.

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A BIBLIOTECA Pública de Nova York levava a sério a sua coleção de livros raros. Eu acessei com meu cartão da biblioteca e identidade e tive meu casaco verificado. Nenhuma sacola, canetas ou qualquer coisa do tipo era permitido na sala. Para aqueles que estudavam os livros, as anotações só podiam ser feitas com lápis e as fotografias ficavam a critério do curador. – Sebastian Snow. – Uma mulher falou quando me permitiram entrar. – Você está aqui para examinar Tamerlane por Edgar Allan Poe, correto? – Sim, minha senhora. – Eu respondi. Ela era uma mulher alta, de ombros largos e bonita, com o cabelo amarrado elegantemente e um terno que a fazia parecer extremamente arrojada. – Meu nome é Kate Bell. Eu vou te mostrar o livro. – Maravilha. – Eu segui atrás dela enquanto ela me fez sinal. – Professor? – Ela perguntou. – O que? Ah não. Eu sou um negociante de antiguidades, na verdade. Eu meio que me interessei por Poe ultimamente. – Mais ou menos. – Entendo. Ela não ofereceu mais conversa, mas eu precisava continuar fazendo perguntas. Sobre qualquer coisa. Eu atingiria algo importante mais cedo ou mais tarde. Por mais que eu acreditasse que Calvin estava trabalhando duro para chegar ao fundo deste caso, eu temia que ele não chegasse a tempo.

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Coisas pesadas como papelada e procedimentos legais o prendiam, e com dois mortos e esse ziguezague em mim, eu não estava mais disposto a ficar parado. Eu tecnicamente não havia prometido a Calvin que eu não iria bisbilhotar. Eu ajudaria, se ele quisesse a ajuda ou não. – Muitas pessoas pedem para ver Tamerlane? – De vez em quando. – Kate respondeu, diminuindo o passo para olhar para mim. – Não é o trabalho pelo qual ele é conhecido. – Escrito por um Bostoniano. Ela sorriu. – Está correto. Poe publicou o trabalho anonimamente. O tipógrafo era um jovem chamado Calvin FS Thomas, a quem Poe contratou e pagou para produzir as cópias de Tamerlane. A quantidade é bastante contestada, mas, em geral, acredita-se que não mais de cinquenta cópias foram feitas. – Meu pai é professor aposentado de literatura americana – eu disse. – Ele me falou que há apenas doze exemplares conhecidos hoje. É assim mesmo? – Muito verdadeiro. – Kate parou de andar. – É conhecido hoje como o Santo Graal da literatura americana. Encontrar um, especialmente qualquer cópia que ainda não tenha sido contabilizada, seria inestimável. – Quanto vale isso? Claro, sua condição levada em consideração. – A última cópia vendida no leilão da Christie's custou mais de meio milhão de dólares, respondeu Kate. Alguns anos atrás. – Para um comprador privado?

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– Sim. Um ou dois, creio, são de propriedade de privada. O resto está em universidades, bibliotecas e no museu Poe. – Disse ela, assinalando os pontos em seus dedos. Nós começamos a andar novamente. Fiquei meio divertido com o fato de o impressor de Poe ser um homem chamado Calvin. Aqui estava eu, em uma busca por Tamerlane, como Poe teria procurado alguém para levar seu livro à realização, e um homem chamado Calvin. Não que eu quisesse ser Poe. Eu estava mais do que feliz com a minha própria aparência, não tinha desejo de casar com a minha prima - ou com uma mulher, de qualquer forma - e preferiria não morrer em circunstâncias trágicas e misteriosas em poucos anos. Calvin FS Thomas. Se não fosse por você, podíamos não estar nesta bagunça hoje. Ou talvez Poe nunca tivesse publicado seu trabalho. Imagine um mundo sem Edgar Allan Poe. Um pensamento mais surpreendente e egoísta me ocorreu: eu nunca teria conhecido meu Calvin. Kate me levou até uma mesa que havia sido preparada e Tamerlane foi trazido para fora. Depois que eu coloquei meus óculos regulares e expliquei meus problemas de visão, fui autorizado a olhar para o livro com a minha lupa. O livro era surpreendentemente simples. Não era nem mesmo um livro. Era um panfleto. Quarenta páginas intituladas Tamerlane e Outros Poemas. O papel era frágil e descolorido de todos os anos em que poderia ter sido armazenado em um sótão antes de encontrar a luz do mundo

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literário. Também era pequeno. Muito menor do que eu pensava que teria sido. – Não recebeu qualquer aclamação da crítica. – Explicou Kate. – Muito disso foi inspirado por Lord Byron. Você está familiarizado com ele? – Eu estudei seu trabalho na faculdade por um tempo. Eu estava autorizado a sentar e ler o poema de Tamerlane, o que foi uma experiência incrível. E minha curadora, Kate Bell, era outra coisa. Ela tinha inúmeros fatos para compartilhar sobre Poe e o livro, que eu estava sugando como uma esponja. ‡‡‡ – DETETIVE WINTER. – Calvin disse ao atender seu celular. – Sou eu. – Eu sei. Isso era algum tipo de código? Eu estou em público, então eu tenho que fingir que isso é uma ligação relacionada ao trabalho? Eu fiz uma careta, mas não disse nada sobre isso. – Estou ligando para dizer que terminei na biblioteca. – Onde você está indo agora? – Calvin perguntou baixinho. Eu podia ouvir outras vozes no fundo. – Patty's Diner. Há algumas quadras da biblioteca, na verdade. – Para o... brunch.

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– O encontro brunch. – Eu corrigi. – Sim. Ei, para registro, a última cópia de Tamerlane que foi para leilão foi vendida por mais de meio milhão de dólares. Isso é um motivo sério. – Quando foi isso? – Alguns anos atrás. Sabe-se que doze cópias existem. A curadora estava dizendo que o céu é o limite se houvesse uma décima terceira cópia encontrada. – E você viu o livro? – Na verdade é um panfleto, mas sim. Muito incrível. – Preciso do nome da curadora. – Disse Calvin. – Por que você não me pergunta qual informação você precisa? – Você não é policial, Sebastian. – Estou ciente disso. – Eu disse severamente. – Mas eu também não sou um idiota. – Eu nunca disse... – Não tem sido solicitado há algum tempo. Ninguém recentemente, com certeza, não há pistas. Na verdade, ela perguntou se eu estava lá por causa das notícias. – Repórteres fodidos. – Calvin murmurou. – Sebastian, agradeço a... ajuda, mas isso não é suficiente. Eu posso pedir muito mais informação do que você. Eu preciso do nome dela. – Por que você simplesmente não veio comigo, então? – Eu não sei porque eu estava ficando tão defensivo. Eu sabia que não era um policial e estava apenas tentando ajudar, mas isso havia chegado além disso agora. Os

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ataques contra mim eram pessoais. As pessoas do meu círculo imediato estavam sendo afetadas por causa desse psicopata. – Por que você está ficando tão chateado? – Calvin perguntou em um sussurro áspero. – Eu não sou um inútil. – Eu disse com firmeza. Eu estava na saída sul da biblioteca ao lado de uma das duas grandes esculturas de leão. Irônico que eu estava dando a Calvin tanta merda desnecessária ao estar ao lado do leão conhecido como Paciência. – Não sei por que você continua insistindo que penso essas coisas. – Disse Calvin. Levantei a cabeça para olhar para Paciência. Os leões tinham mais de um século e tiveram alguns nomes ao longo dos anos, mas na década de trinta o prefeito de Nova York os renomeou como Paciência e Fortitude, qualidades que ele disse que todos os cidadãos precisavam para sobreviver à Grande Depressão. A paciência tinha resistido muito mais na vida do que eu jamais faria. Mais de cem anos de alegria e celebração, tristeza e perda, destruição e construção, os leões tinham suportado com dignidade inabalável. Talvez eu estivesse dando um pedaço de mármore demais, mas eu coloquei minha mão contra o pedestal frio de Paciência e respirei fundo. – Me desculpe. – Eu disse para Calvin. – O que? – Me desculpe. – Eu repeti. Ele ficou quieto por um momento. – Está bem. Eu sei que isso está estressando você. E a luta acabou.

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Se isso tivesse sido com Neil, ainda estaríamos indo para lá. – Eu tenho que ir. – Kate Bell foi a mulher com quem eu falei. – Eu disse. – Obrigado. – Calvin despediu-se e desligou. ‡‡‡ ADMITIDAMENTE, quando cheguei ao restaurante que Duncan tinha me mandado uma mensagem para encontrá-lo, eu estava me sentindo um pouco culpado por ter um encontro com ele. Não é como se eu esperasse terminar com Calvin na noite anterior. Eu certamente não tinha pensado que estaria fazendo o sexo mais fenomenal ou contornando um relacionamento em potencial. Nós estávamos namorando? Não. Havia um nós? Difícil dizer. Eu não estava alheio a como ele evitou uma resposta direta naquela manhã quando eu falei sobre isso. E eu certamente não esperava aprender sobre o TEPT de Calvin. Isso me preocupou. Eu nunca tinha visto um homem quebrar tão repentinamente do jeito que ele tinha feito na noite passada, e esta manhã foi como se não tivesse acontecido. Era como assistir a um cavaleiro colocar sua armadura. Nada poderia alcançar Calvin quando ele estava no trabalho; ele estava focado apenas em seu trabalho como detetive. Mas por quanto tempo um cavaleiro pode aguentar o peso antes que ele se torne pesado demais e ele tenha que remover pedaços de sua cota de malha? Antes que ele deva se tornar vulnerável para respirar?

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Eu tinha aprendido, através da minha pesquisa inicial sobre Calvin, que ele havia deixado os militares há apenas alguns anos, mas quantas vezes, naqueles anos, ele havia despertado como na noite anterior? Tinha que ser exaustivo. Fisicamente, mentalmente, emocionalmente. Eu literalmente não conseguia imaginar o que ele estava passando, mas doía vê-lo sofrer sozinho. Decidi, enquanto estava sentado em uma cabine nos fundos, que, uma vez terminada aquela merda de caso, eu abordaria Calvin em busca de ajuda. Um soldado não deveria lutar uma guerra sozinho. Havia pessoas que poderiam ajudá-lo. Senti meu celular zumbir no bolso e o peguei. Texto de Calvin Winter. Eu sorri e abri o telefone com um golpe, sem saber o que esperar depois da nossa última conversa. Forense no apartamento agora. Que romântico Outro texto apareceu no meu telefone enquanto eu estava tentando pensar em uma resposta. Beth Harrison. Uau, não era o tipo popular hoje? Comemore o Mestre do Horror e do Macabro com uma revelação surpresa! Certifique-se de capturar os corações do mundo literário! Hoje à noite no Good Books, 7:00! O que? Eu não me incomodei com textos e imediatamente liguei para Beth. – Sobre o que diabos é essa mensagem? – Perguntei quando ela atendeu. – Bom dia para você também, Sebby. – Bom Dia. Que surpresa você vai revelar?

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– Seu pai nunca lhe ensinou o que surpresa significa? – Beth, vamos lá. O que é isso? – Oh bom Deus, Sebastian. É. Uma. Surpresa. Venha esta noite, entendeu? Quero dizer. Não perca isso. Vai ser enorme. – De que maneira. – Eu estava quase hesitante em perguntar. – Ótimo para negócios. Muito bom. Foi quando comecei a me perguntar... Se eu não tivesse a cópia de Tamerlane entre meus livros antigos, poderia ter terminado acidentalmente com os livros de segunda mão de Beth? Todo esse tempo, o assassino estava mirando lojas de antiguidades porque fazia sentido que seria onde o livro teria terminado. Mas era tão fácil confundir Tamerlane com nada além de lixo. Kate havia me contado sobre o negociante de antiguidades nos anos 80, que o vendeu por incríveis quinze dólares. Eles claramente não sabiam quem era um Bostoniano, ou pensavam que fosse um fac-símile. Apenas um panfleto de seis polegadas. Merda. – Beth, tenho que ir. Eu vou chamá-la de volta. – Você vai vir esta noite, certo? – Sim, claro. – Respondi rapidamente antes de dizer adeus e desligar. Eu chamei Calvin em seguida. – Eu não tenho tempo. – Ele afirmou ao responder minha ligação. Seu tom era muito oficial. Cara, ele podia desligar aquele lado doce de verdade. – Vai ser rápido. Você confirmou que Mike era uma das lojas de antiguidades que fizeram uma oferta pela coleção de livros da propriedade?

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Um momento de pausa. – Sebastian, ele disse baixinho. O que eu te disse hoje de manhã? – Apenas me responda. Você me contou tudo mais. – Não, não tenho. – Calvin. – Onde você está? – Estou no restaurante, me comportando como um bom menino e esperando por Duncan. – Duncan? – Andrews. O encontro. O cara. Vamos. Conte-me. Ele suspirou com tal nível de exasperação que se eu não soubesse melhor, eu diria a ele que ele precisava transar. – Sim Sebastian. Ele fez. – E Greg? – Seb. – Ele não fez, certo? – Todos vocês três fizeram. Isso me surpreendeu. – Você tem certeza sobre o Greg? Havia algo de estranho em sua oferta? – Nada, além de que ele ofereceu mais do que ele parece ser financeiramente capaz. – Calvin disse. – Por que você está ligando? Minha linha de pensamento foi interrompida quando eu olhei para cima e vi Duncan entrando. Ele imediatamente me viu e acenou antes de se apressar. – Eu tenho que ir, eu disse a Calvin.

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– Pare. de. Bisbilhotar. – Ele desligou. Eu baixei meu telefone. – Bom dia. – Eu disse com um sorriso forçado enquanto olhava para Duncan. Minha mente estava correndo um milhão de milhas por hora. Eu não tinha tempo para isso. – Bom Dia! Sinto muito que você esteja esperando. – Ele tirou a mão de trás das costas e produziu um buquê de rosas. – Para você. – O que? Oh, Duncan, isso não era necessário. – Agora a culpa estava vindo forte. Eu hesitantemente aceitei as flores. – Não seja bobo. – Ele respondeu, tirando o casaco e sentando-se à minha frente. – É o mínimo que posso fazer. O mínimo que você pode fazer? – Obrigado. – Eu disse devagar. – Então é isso... o outro cara está cuidando de sua loja hoje? – Outro... Max? Duncan encolheu os ombros. – Eu acho. – Não. Normalmente não estamos abertos às segundas-feiras. – Isso é bom. – Por quê? Ele pegou seu cardápio, olhando fixamente para as opções do café da manhã. – Ele só fica perto de você o dia todo. – Que pena para ele. Um garçom se aproximou e serviu-nos uma caneca de café antes dos pedidos. O sexo matinal me deixou faminto e eu fiquei ainda mais faminto

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depois do meu encontro na biblioteca. Eu pedi waffles com um lado de bacon e brevemente me perguntei o que Calvin teria pedido. Depois de ver como ele poderia colocar pizza para dentro quando pulava uma refeição, eu imaginei que ele poderia facilmente ter comido dois dos especiais de waffle. Duncan pediu ovos e torradas, e o garçom saiu. Então eu disse. – O que você faz? Você não está na escola, está? Ele sorriu. – Não, eu não sou tão jovem. – Oh? – Eu tenho vinte e quatro. Eu ri baixinho e tomei meu café. – Não me lembro de ter vinte e quatro anos. – Quantos anos você tem? Vinte e oito? – Lisonjeiro. – Trinta? Eu projetei meu polegar no ar para indicar mais alto. Duncan fez uma careta. – Você não é. – Tenho trinta e três anos. – Disse com um sorriso. – Uma boa idade chata. Estou na cama às dez. – Você não é chato! – Insistiu Duncan. – Eu acho você muito interessante. Mordi a língua enquanto tentava navegar delicadamente por essas águas escuras sem insultar o cara.

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– Bem, você realmente não me conhece. – Eu sei o suficiente. – Você faz? – Eu sei que você é realmente inteligente. Você não seria capaz de administrar uma loja de antiguidades se não fosse. Você gosta de literatura também. – Eu também gosto de romances bobos, eu apontei. – Por que você usa óculos de sol com tanta frequência? – Perguntou Duncan, ignorando o meu comentário. Eu os usava muito ao seu redor? – Eu tenho sensibilidade à luz. –

Seus

olhos

são

muito

bonitos. "Cujos

olhos

luminosos,

brilhantemente expressivos como os gêmeos de Léda" – Ele citou com um sorriso. – Ah, obrigada. – Eu respondi, ignorando o calor subindo pelas minhas bochechas. Duncan ainda sorria abertamente, parecendo terrivelmente animado. – Sua cabeça está bem? – Minha cabeça? – Você se machucou. – Ele disse com um tom preocupado. – Eu estou bem... como você sabia que era minha cabeça? – Eu ouvi a mulher da livraria mencioná-lo. – Beth? Ah, sim, estou bem. Obrigado por perguntar. Nossas refeições vieram rapidamente depois. Graças a Deus, porque meu estômago estava prestes a deixar escapar alguns daqueles grunhidos

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cavernosos, como um monstro das profundezas chegando para se alimentar. Os waffles estavam deliciosos. Quente, com manteiga derretida e xarope. O bacon tinha apenas a crocância perfeita para isso também. Eu tinha devorado metade da minha refeição em poucos minutos. Eu ouvi Duncan falar sobre livros, um assunto que ele era bastante apaixonado, e dei meus comentários educados entre mordidas de comida. Para ser honesto, entre o bacon e minha curiosidade pela grande proposta de Greg de que ele era financeiramente incapaz de sustentar, eu estava apenas prestando pouca atenção a Duncan. – Sebastian? Eu rapidamente limpei minha boca em um guardanapo. – Desculpa. O que? – Eu perguntei o que você está fazendo esta noite. Uh-oh. Hora de deixar o cara para baixo. – Eu estava pensando em ir à loja da Beth. Ela está tendo um grande livro revelado. Duncan inclinou a cabeça com curiosidade. – Realmente... – Ele colocou o garfo e faca para baixo. – Podemos ir juntos? Porcaria. – Na verdade, eu disse devagar. Duncan, você é um cara muito legal, mas acho que sou um pouco velho para você. – Não, você não é. – Ele disse simplesmente. – Bem, eu quero dizer que pode haver outra pessoa – Mas você me disse que não tinha namorado.

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– Eu não tenho. De verdade não. Mas há alguém que conheci antes de você. – Como? – Duncan perguntou, com um tom tão desesperado que você pensaria que eu tinha quebrado o coração dele. – É essa porra ruiva, não é? Eu pisquei surpreso com seu tom. – Ei. Vamos. Não seja rude. Como você sabe quem é? Duncan sacudiu a cabeça e pegou o cachecol e a jaqueta. – Eu não acredito que você faria isso. – Faria o que? – Perguntei na defensiva. – Me trair! – Jesus, Duncan. Você precisa se acalmar. – Cale a boca! – Duncan parecia que ia chorar. – Estou saindo. Ele levantou da cabine e saiu, puxando o casaco quando passou pela porta. Foi assim que acabei pagando por duas refeições. ‡‡‡ EU ESTAVA esperando pelo trem no Bryant Park, embora, para onde estava indo eu não tinha certeza. Eu poderia ir ao Emporium, fazer algum trabalho até a exposição da Beth. Porra. Porra. Beth Duncan me jogou fora do meu jogo!

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Beth e sua estúpida revelação surpresa! Supondo que houvesse, de fato, uma cópia do décimo terceiro exemplar de Tamerlane sendo descartada como parte da venda da propriedade, acabou em um dos dois lugares. Ou minha loja, fazendo parte do estoque de livros antigos, ou com os livros de bolso de segunda mão de Beth, onde poderia facilmente ter sido confundido com lixo e jogado dentro. Eu tinha que assumir, apesar de nunca ter olhado nas minhas caixas em casa antes de alguém ter tido a oportunidade de investigar por si mesma, que eu não tinha Tamerlane. Eu tive que assumir que nunca tive isso. Por quê? Porque Beth tinha. Há quanto tempo ela sabia, eu não sei, mas em algum lugar ao longo do caminho, ela encontrou. Sendo uma pessoa séria no negócio, ela sabia quem era o autor e a mina de ouro que ela tinha tropeçado. Uma revelação daquele livro para o público em geral, exclusivo da Good Books, antes de colocá-lo em leilão - e sua loja de tijolo e cimento estaria segura por anos e anos. O problema de Beth ter o livro era que eu tinha certeza que nosso assassino sabia também que ela o tinha. Caso contrário, eles não teriam invadido sua loja e eu não teria quase sido morto. E não importava se não havia provas de quem era que entrava na Good Books. Não fazia sentido que fosse alguém além dessa aberração da EAP. Eles conseguiram descobrir que eu era o negociante de antiguidades com a oferta vencedora da coleção cara. Deveria ter sido apenas uma questão de tempo para eles determinarem quem ganhou as brochuras baratas e chegar à mesma conclusão que eu. O fato de que nossas lojas eram vizinhas era muito conveniente.

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Beth estava, sem dúvida, fazendo de tudo para promover esse evento surpresa. Era como tocar o sino do jantar para um urso faminto. O assassino viria. Ele tinha que vir. Ele já havia matado duas pessoas em sua busca fanática pelo livro. Ele não teria escrúpulos em abater um terceiro. Mas eu estava preso entre a cruz e a espada. Se eu contasse a Beth e ela cancelasse o evento, o homem apenas ficaria à espera e atacaria quando não o esperássemos. Se eu dissesse a Calvin, ele teria policiais lá e talvez esse cara não aparecesse. Ele ainda estaria lá fora, ainda pronto e disposto a machucar mais pessoas - talvez ainda eu, e certamente Beth. E eu posso reclamar sobre Beth não ter pago sua conta a tempo, mas eu a conheço há anos. Ela é uma boa pessoa. Uma amiga. Eu não deixaria alguém machucá-la. Continuar com a revelação do livro sem comoção podia ser a única maneira de encurralar o assassino e pegá-lo. A única maneira de manter todos seguros, o livro nas mãos certas e levá-lo para trás das grades. Meu problema número um ainda era: quem. Eu sabia o que era: uma décima terceira cópia de Tamerlane and Other Poems. Eu sabia o porquê: Dinheiro. Muitos disso. Eu sabia onde: a loja da Beth. Eu sabia quando: Sete horas da noite. Mas eu não sabia quem. Eu tinha mais pistas do que sabia o que fazer, e nenhuma delas conseguia traçar uma linha sobre quem era esse cara. Minha melhor aposta ainda era Greg. Talvez Calvin tivesse o meu ex-namorado preso como o cara mais interessante, mas isso era simplesmente ridículo.

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Eu tinha decidido para onde ir.

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EXCENTRICIDADES DE MARSHALL. Eu nunca tinha estado realmente dentro. Era uma loja extremamente pequena – caberiam facilmente duas ou três delas dentro do Emporium. Havia apenas espaço suficiente para alguns clientes contornarem os displays de cada vez, mas estava vazio naquela segunda-feira à tarde. Vazia, exceto por mim e Greg Thompson. Ele estava sentado atrás do balcão, lendo o jornal e olhou para cima quando a porta se abriu. – Sebastian? – Oi. – Eu olhei ao redor da loja quando ele fechou a página que ele estava lendo e colocou as mãos na bancada. A loja estava bem iluminada e começava a incomodar a crescente dor de cabeça que eu sentia. As prateleiras não estavam tão cheias quanto as minhas, mas os itens eram semelhantes. O que meus clientes recorrentes me disseram sobre os negócios de Greg era que ele tinha produtos interessantes, mas tinha um preço mais alto do que o mercado pedia e não era tão bem informado no assunto. Eu estava cheio de fatos aleatórios, com certeza, e tomei isso como um elogio que meus clientes confiaram em mim e na minha pesquisa, apesar de ser um dos mais jovens antiquários da cidade. – Posso ajudá-lo? – Greg perguntou. – Ou você veio para espionar minha loja?

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– Ha-ha. – Eu pressionei um sorriso no meu rosto e parei a um pé ou dois no balcão. Eu me preparei para continuar. Eu acreditava que este era o homem que matou Mike Rodriguez e Merriam Byers, e eu vou ser honesto, meu coração estava batendo forte. – Não, eu vim para ver se você ouviu falar sobre o evento livro de Beth. – A misteriosa inauguração? Oh sim. Eu estarei lá. – Alguma ideia do que se trata? Greg encolheu os ombros. – Não posso dizer. O Mestre do Horror e Macabro, no entanto. Parece que você sabe quem. – Ouvi dizer que você foi um dos licitantes da venda da propriedade que ganhei. – Greg ficou quieto por um instante, e gostaria de estar mais perto para poder ler melhor sua expressão. – Eu aposto que você ouviu isso do seu amigo detetive, hein? – Eu não tenho certeza porque você acha que eu tenho um amigo da polícia neste caso. – Eu sei que você faz. Max estava nos contando. – Disse Greg. Nota para si mesmo: matar Max. – Tenho certeza que ele está enganado. – O que você realmente quer? Eu sei que você não gosta de mim, Sebastian, então eu duvido que foi para me convidar para o evento de Beth, se eu não tivesse ouvido falar sobre isso. – Como você sabia que foi o detetive Winter que me encontrou quando eu fui atacado? – Eu perguntei. O fato de que ele tinha esse conhecimento estava me incomodando.

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– Os jornais dizem que um detetive do caso chegou antes de oficiais uniformizados. Estou assumindo que era ele, já que ele parecia ser o líder na investigação. – Greg respondeu. – Eu sei porque você fez isso. – Afirmei abruptamente. Greg lentamente se levantou do banquinho atrás do balcão. – Fez o quê? – Relatou o falso telefonema. Ninguém havia descoberto que isso era a respeito de Tamerlane, assim você mostrou sua mão para ver quem

se

assustaria primeiro. Quem fez seria aquele com o livro, certo? Greg deu um passo ao redor do balcão. – Exceto que não funcionou também. Isso só fez de você um suspeito. – Você acha que eu relatei uma ameaça falsa? – Greg perguntou lentamente. – Eu sei que você fez. Você está duro por dinheiro e uma boa reputação. – Com licença? – Quanto tempo sua loja não tem clientes? – Perguntei. – Ter esse livro lhe daria prestígio, para não mencionar meio milhão de dólares. – Do que você está falando? – Perguntou Greg na defensiva. – Eu nem mesmo conhecia a porra do Tamerlane, até aquele psicopata me ligar gritando sobre isso! – Tamerlane e outros poemas, de Edgar Allan Poe. Primeira edição um dos livros mais inestimáveis da literatura americana de hoje! Meus clientes disseram que Greg não era tão bem informado. Eu nem mesmo conhecia a porra do Tamerlane. – Merda. – Eu sussurrei.

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Quantas revelações foram consideradas demais no decorrer de dois dias? Eu me senti mal do estômago. Greg deve ter notado. – Você está bem? – Ele perguntou hesitante. – O que? Sim. Não, sim. – O quê? – Não vá para Beth esta noite. – Eu disse com firmeza, dando um passo para trás. – Foda-se. – Respondeu Greg. – Eu estou falando sério, Greg! – Eu rebati. – Se você quer viver para ver o ano novo, não vá. Eu me virei e saí da loja, sinalizando para o táxi mais próximo. ‡‡‡ EU VOLTEI para o apartamento de Calvin e me deixei entrar com a chave que ele me dera. O lugar estava quieto. Ainda. Um silêncio que não pensei que pudesse existir em um lugar como Nova York. Sentei-me na beira da cama, ouvindo aquele zumbido agudo que preenche um espaço vazio. Eu não sei por quanto tempo. Vinte minutos. Uma hora. Duas? Por fim, levantei-me e comecei a procurar um bloco de anotações. Eu acabei vasculhando a cama de Calvin e encontrei uma caixa que tinha algum material de escritório descartado. Peguei um dos blocos de anotações e uma caneta e parei quando vi uma pequena caixa preta. Calvin tinha confiado em mim para não bisbilhotar suas coisas privadas quando me deu a chave, mas

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eu estava para fazer uma coisa muito estúpida, e se alguma coisa acontecesse comigo... Eu queria saber um pouco mais sobre ele. Dentro da caixa estavam suas medalhas de seu serviço militar. Havia uma foto de Calvin em seu uniforme de cadete da polícia, sorriso tão grande e, ao que parece, um pouco idiota. Ele parecia inocente. Virei para ver a data nas costas. Então ele estava na academia de polícia antes de partir para a guerra. Inocente, de fato. Havia mais algumas fotos enterradas no fundo. Em uma, Calvin posava ao lado de vários outros homens de uniforme, o pano de fundo era algum deserto distante no Oriente Médio. A parte de trás tinha alguns nomes rabiscados nela. Mais algumas fotos mostraram os mesmos homens, um ou dois rostos faltando dessa vez, e sorrisos mais puxados e desgastados. No fundo da pilha havia uma foto de Calvin que alguém deve ter tirado sem o seu conhecimento e dado a ele depois. Ele estava agachado em um joelho, rosto sujo e capacete faltando. Uma jovem estava em seus braços e parecia estar chorando enquanto segurava Calvin com força. Minha garganta apertou quando olhei através da caixa. Pequenos instantâneos do passado de Calvin, momentos em que ele não conseguia se soltar, mas que rasgavam sua mente dia após dia. Entre as fotos militares estava uma de uma família na frente de uma casa, incluindo Calvin em uniforme de gala com uma expressão sombria. Um homem mais velho e uma mulher posaram com ele, junto com outro jovem e uma mulher. Irmão e irmã? Família de Calvin? Eu me perguntava qual era o motivo deles estarem trancados nessa caixa.

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Talvez Calvin me falasse sobre eles um dia. Assumindo que eu vivesse a noite toda. Eu coloquei as memórias longe e empurrei a caixa de volta em seu lugar debaixo

da

cama. Eu

sentei

mais

uma

vez

e

comecei

a

escrever. Escrevi tudo o que sabia sobre as vítimas e os eventos que levaram a esse momento. Anotei todas as minhas suspeitas e evidências de que Duncan Andrews era o homem que matou duas pessoas, me agrediu e invadiu vários estabelecimentos em sua busca por Tamerlane. Eu fiz isso de modo que se eu não estivesse aqui para explicar eu mesmo, Calvin ainda teria minhas anotações. Talvez ele conseguisse pegar o bastardo em meu nome. Eu

não

podia

envolver

os

policiais

agora. Duncan

sabia

quem era Calvin e estaria procurando por ele. Se eu estivesse na Beth sem apoio, Duncan se sentiria seguro. Seria a minha única chance de detê-lo em um lugar que eu sabia que ele estaria. Virei a página e escrevi outra nota rápida para o meu pai. Eu mantive isso simples, porque pensar muito mais seria como admitir que eu seria morto. Eu amo você, papai. Obrigado por estar sempre presente para mim. Eu rapidamente virei a página novamente, mordendo de volta a vontade de chorar. Calvin... Por favor, visite um hospital do VA. Não faça isso sozinho. Eu te amo.

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Eu puxei as páginas de volta para o começo e soltei um suspiro. Deixei o caderno no travesseiro antes de levantar e ir até o relógio na parede para verificar a hora. Seis horas. Hora de começar. ‡‡‡ GOOD BOOKS estava cheia quando cheguei às quinze para as sete. As pessoas bebiam champanhe em taças de plástico e conversavam alegremente em grupos por toda a loja. A loja brilhava com luzes de Natal cintilantes e velas elétricas entre as vitrines da frente da janela e estantes de livros. A neve e a grinalda falsas decoravam as mesinhas de cabeceira, e biscoitos de festas estavam sendo servidos ao lado do álcool borbulhante. Música festiva tocava no alto. A estética não se encaixava realmente com Poe, mas, novamente, o que Beth teria feito para decorar para o Mestre de Macabro? Tocar gravações de um coração batendo e espalhar sangue falso pelos pisos e mesas? O Natal era um tema mais seguro. E mais limpo. Ella Fitzgerald veio em seguida na mistura. No ano que vem, todos os meus problemas estariam fora de vista, se eu estivesse inclinado a acreditar nela. Eu sorri e sacudi minha cabeça. Eu espero que sim, Ella. Eu realmente espero. Eu tive que manter meus óculos de sol por causa de toda a iluminação extra, apesar de estar escuro lá fora. Examinando os rostos por alguns instantes, eu vi Greg, que brevemente encontrou meus olhos e provavelmente

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franziu a testa, embora fosse difícil dizer a essa distância, antes de voltar para sua conversação. Sim, bem, ele poderia se ferrar. Eu estava procurando por Beth, de qualquer forma. – Sebastian! Eu me virei rapidamente para ver Max chegando com dois copos e me oferecendo um. – Max? O que você está fazendo aqui? – Beth me convidou. Aqui. Você parece que precisa de uma bebida. – Max, você precisa ir embora. – O que? Por quê? Acabei de chegar aqui. – Não é seguro estar aqui. – Respondi. – Seguro? Sebastian, você já está bêbado? – Não, Deus, eu queria estar. Max, por favor, apenas... – Fiz uma pausa quando vi Beth por cima do ombro de Max. Ela estava desligando o telefone atrás do balcão antes de acenar para mim. Beth correu para a sala de armazenamento antes de voltar empurrando uma tela sobre rodas, a parte superior coberta por um pano pesado. – Senhoras e senhores! – Ela chamou, batendo palmas depois de parar no meio da sala. – Obrigado a todos por suportarem estas temperaturas frias e saírem hoje à noite. Convidei todos vocês aqui para participar da inauguração de um magnífico pedaço da história que não existia no mundo literário. Deixei Max e comecei a procurar Duncan. Ele estava aqui; ele tinha que estar. Era por isso que estava esperando. Tamerlane estava aqui. O seu Tamerlane estava ao alcance.

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– A primeira publicação de Edgar Allan Poe foi feita em 1827 e foi uma pequena coleção de poesias intitulada Tamerlane e outros Poemas. Um simples panfleto de quarenta páginas lançado em julho, quando Poe tinha apenas dezoito anos de idade. Foi publicado sob o pseudônimo, “um Bostoniano”, e recebeu pouca aclamação do mundo literário. – Explicou Beth à sua extasiada audiência. – Na verdade, é um trabalho tão raro que, após a morte de Poe, acreditava-se que nunca existira! Pensava-se que apenas doze exemplares tivessem sobrevivido dos cinquenta originais. Até hoje. Um sussurro abafado percorreu a multidão. Eu entrei entre as pessoas, procurando por Duncan. – Hoje, meus queridos amigos. – Disse Beth. – Eu dou a vocês a décima terceira cópia da inestimável primeira publicação de Edgar Allan Poe. – Ela tirou o pano da vitrine. Dentro estava uma cópia de Tamerlane que parecia muito com aquele que eu havia visto mais cedo na biblioteca. Estava em condições notáveis, com uma cobertura intacta e pouca descoloração. Eu me distraí por um momento, aproximando-me para dar uma olhada na história que Beth estava compartilhando. Eu tinha cem perguntas sobre a condição no interior e, mais importante, como Beth tinha encontrado, mas esses pensamentos foram todos levados com uma parada brusca quando todas as luzes da loja se apagaram. Velas e luzes de Natal também. Alguém tinha desligado os interruptores. Um segundo de silêncio, depois o murmúrio de vozes. Eu podia ouvir Beth amaldiçoando e se afastando da vitrine, provavelmente para o quarto dos fundos.

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– B-Beth! – Eu gritei. Não volte lá. Não vá lá novamente. Então houve um tiro e as pessoas gritaram. Eu me abaixei e cobri meus ouvidos, o estouro fazendo minha cabeça girar. Eu levantei minha cabeça e olhei em volta. Obrigado a você pela escuridão, Duncan, seu pequeno fodido. Eu me mudei em direção a Beth agora que eu podia ver melhor. Eu coloquei uma mão no ombro dela. – Você está bem? – Eu perguntei em voz alta, falando sobre o zumbido nos meus ouvidos. Beth estava deitada no chão, mas levantou a cabeça e olhou para mim. Aterrorizada, mas viva. Ela assentiu. Houve outro tiro e depois um grito. – Não se mexa porra! Duncan. Eu estava agachado em frente ao monitor, e ele ainda estava mais no fundo da loja, tendo saído pelos fundos depois de apagar as luzes. Eu sabia que ele viria depois de eu ter mencionado o evento do livro de Beth. Eu tinha percebido que, mencionando isso, ele saberia imediatamente qual livro seria. Eu também sabia que ele tinha se fixado em mim e achava que eu traíra um relacionamento que ele acreditava que tínhamos. Ele não machucaria mais ninguém quando soubesse que eu estava aqui. Ele me seguiria. Ele seguiria o livro. Meu plano parecia muito, muito estúpido agora. Tirar o livro da loja. Ele seguiria atrás de mim. Eu não tinha pensado sobre o que aconteceria depois disso.

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Talvez os tiros disparados alertassem alguém para chamar a polícia. Talvez eu conseguisse escapar de Duncan tempo suficiente até que policiais chegassem. Não duvide de si mesmo. Eu me levantei entre as pessoas agachadas, tentando me esconder. – Duncan! Pare com isso! – Eu podia vê-lo acenando uma arma freneticamente antes de parar ao som da minha voz. – Sebastian? – Eu disse que estava vindo, não foi? – Você não veio comigo! – Ele gritou. – Você é uma prostituta! Você é uma puta! Você me traiu! – Duncan, eu não sei o que você acha que estava acontecendo entre nós dois, mas... – Cale a boca! – Ele gritou, acenando a arma novamente. – Eu sabia que você não roubaria meu livro! Eu sabia que você era melhor do que todos aqueles outros porcos gananciosos! Eu me desculpei! Eu te trouxe fodidas rosas! Eu esperava que Deus estivesse gravando isso em um telefone. – Mas você é pior que todos os outros! Você e aquele policial! Você riu de mim enquanto fodia com ele? – Duncan... – Você fez? – ele gritou novamente. – Vamos conversar sobre isso lá fora. – Eu disse calmamente, apesar do meu coração disparar com tanta força que me senti mal. – Vamos nos afastar dessas pessoas.

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– Não! Você vai chamar a polícia e jogar toda a culpa em mim! Eles vão acreditar em você por causa do seu namorado porco! – Que tal deixar meu telefone aqui? – Eu lentamente enfiei a mão no bolso para pegar meu celular e colocá-lo na mesa mais próxima. – Vê? Saia comigo. Então ouvi a porta da loja se abrir atrás de mim e Duncan gritou antes de disparar outra rodada. Ele me perdeu, mas juro por Deus que senti a brisa da bala enquanto ela zunia e batia na porta, quebrando a janela de vidro. Entre o caos súbito e os gritos renovados de patronos aterrorizados, peguei a bandeja de metal onde os biscoitos de Natal estavam colocados e bati no vidro onde Tamerlane estava depositado. Eu alcancei dentro dos cacos, me cortando enquanto eu agarrava o livro e enfiava no meu casaco. – Não! – Duncan chorou, e eu podia ouvi-lo correndo em minha direção. Eu me esquivei das pessoas mais próximas enquanto ia para a porta. Não pare, eu disse a mim mesmo. Somente corra. Leve ele para longe de Max. Longe de Beth. Longe de todos. Eu tinha acabado de abrir a porta da loja, mal entrei na noite gelada, quando uma mão agarrou a minha. Eu me assustei, mas não me libertei. Eu conhecia essa mão. – Corra. – Calvin disse severamente. Ele decolou para dentro da escuridão, a mão apertada em torno da minha, nunca soltando. Eu escorreguei e deslizei pela calçada congelada, mas os passos de Calvin nunca vacilaram. Ele me segurou, mantendo-me em pé enquanto descíamos o quarteirão e atravessamos a rua. O ar congelava meus pulmões

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enquanto nós corríamos, o vento queimava meu rosto com sua temperatura gelada. Mas continuamos correndo. O casaco de Calvin se abria ao redor dele, como asas escuras que nos levantariam do chão e nos levariam para a segurança. O vento rasgava a rua, e o cachecol de Calvin foi arrancado de seu pescoço. Tudo aconteceu tão depressa que pareceu diminuir a velocidade. Os pequenos detalhes que eu lembro parecem quase bobos agora. O estranho brilho da neve recém caída nos postes de luz. O eco dos nossos passos, como se a cidade estivesse completamente vazia, exceto por nós dois. Os passos que Calvin dava, muito poderosos para eu acompanhar, e ele tinha que me puxar para frente. Uma arma disparou atrás de nós, e Calvin derrapou até parar. Ele se virou, me puxando para ficar atrás dele como se ele fosse um escudo, enquanto alcançava seu casaco para soltar sua pistola. Calvin levantou a arma, nem mesmo conseguindo mirar na figura parada no meio da rua, entre os blocos, antes que outro disparo ecoasse na noite congelada. E então Calvin caiu. Ele caiu de costas na calçada, com a arma solta na mão. Ele estava olhando para o céu nublado como se estivesse surpreso. E depois em dor. Ele respirou fundo o que pareceu muito assustador. Duncan estava rindo. Gritando e berrando como se finalmente tivesse perdido a cabeça.

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Eu caí de joelhos ao lado de Calvin e estendi a mão sobre o peito dele. Seu lado direito estava molhado e quente, e ele fez outro som dolorido ao meu toque. – Oh Deus. – Eu sussurrei quando minhas mãos subiram cobertas de sangue. Eu estava tremendo tanto que mal conseguia controlar meus membros. – Cal? Oh Deus, oh Deus. – Eu arranquei minha jaqueta e a pressionei contra o ferimento de bala. Pare o sangramento. Coloque tanta pressão sobre ele quanto puder. – Isso é o que você merece, você filho de uma cadela, porco nojento! – Duncan estava gritando. – Sebastian! Não toque Sebastian! Não toque em Tamerlane! É meu, meu, meu! – Ele acenou a arma de fogo para nós. Eu olhei para Calvin. – Por favor. – Eu sussurrei. Eu precisava ligar para o socorro. Ele não ia conseguir. Eu me abaixei e segurei sua mão com força. – Sebastian! – Duncan gritou. Eu olhei para cima. – Afaste-se dele! – Duncan, abaixe a porra da arma! – Eu gritei. – Você atirou nele... você não está feliz agora? Coloque-a para baixo! – Fique longe dele! – Ele gritou novamente. – Traga Tamerlane! Eu olhei para o meu casaco, que estava absorvendo o sangue de Calvin, antes de cavar dentro para remover o panfleto. Estava coberto de sangue. De inestimável a inútil. – É isso que você quer, porra? Eu levantei e rasguei em dois.

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– Não! – Duncan gritou. – Não, não, não! Sebastian! O que você fez! Ele ia nos matar. Quando Duncan levantou a arma novamente, larguei o livro e agarrei a pistola caída de Calvin. Eu nunca havia tocado em uma arma antes, e o peso era frio e mortal. Tudo o que eu sabia era apontar e puxar o gatilho. Então eu fiz. O recuo foi forte e soltei a pistola de susto. O estouro foi tão alto, como se um trovão tivesse atingido meu cérebro. Enquanto meus ouvidos zumbiam, eu assisti Duncan cair no chão. Eu não tinha ideia de onde eu o atingi. Nem percebi que seria capaz de acertá-lo. Mas e se ele estivesse bem? Ele ainda tinha sua arma. Eu cambaleei para os meus pés, tropeçando em mim mesmo quando minhas pernas se recusaram a funcionar. Eu me aproximei de Duncan e olhei para ele cautelosamente. Ele tinha sangue correndo de sua boca, mas seus lábios ainda estavam se movendo, dizendo algo que eu não me importei em ouvir. Peguei a arma dele e corri de volta para Calvin. – Cal! Cal! Não morra, você me ouve porra? – Eu implorei quando eu voltei em meus joelhos ao lado dele. – Cal? Eu o sacudi com força. – Calvin! Tateei seu casaco, peguei seu celular e liguei para o 911. Eu disse ao despachante que um policial havia sido baleado e dei o nome da rua transversal. A espera pela ambulância foram os mais longos cinco minutos da minha vida. Não era assim que deveria terminar.

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O MEU CONHECIMENTO de que Duncan Andrews era o assassino não se baseava em nada além de evidências circunstanciais na melhor das hipóteses. Foi meu instinto que me disse, quando ele mencionou o amor por Poe quando nos conhecemos. Sua adoração de literatura, e as rosas que ele me trouxe na lanchonete, que eram idênticas às que apareceram na minha loja. Especialmente o comentário sobre meus olhos, que eu sabia era do poema de Poe, "A Valentine". Nada além de evidências circunstanciais. Graças a Deus eu estava certo. Não que isso importasse. Eu precisava ver Calvin, mas ninguém me deixaria. Quando a ambulância veio buscá-lo, eu não pude ir com ele. Quando fui ao hospital, fui rejeitado. Eu não era policial. Eu não era da família. Então, suma. A porra do meu coração estava se partindo. Eu era a razão para tudo isso. Se eu tivesse ligado para Calvin em vez de ir para Beth com um plano meio idiota, nada disso teria acontecido. Ele estava mesmo vivo? Ninguém me diria nada. Eu só precisava ter certeza de que ele estava bem. Até mesmo se ele nunca quisesse me ver de novo, eu ficaria bem com isso. Contanto que ele estivesse vivo. – Sebastian?

316

Eu estava rondando a sala de espera do hospital como uma pessoa louca, mas parei ao som do meu nome. Eu olhei para cima, levantando meus óculos. – Quinn. – Meu coração afundou em meu intestino. Ela gesticulou com um aceno curto de sua mão para que eu a seguisse para longe dos estranhos na sala, por um corredor silencioso. Eu corri atrás dela. Eu tinha estado acordado por quase dois dias seguidos e estava abastecido com nada além de café, adrenalina e medo absoluto. No momento em que Calvin tinha sido levado às pressas para o hospital e para a cirurgia, as horas de visita tinham acabado e me disseram para sair. Ninguém poderia me fazer descansar, não Pop, Max - Jesus, até mesmo Beth veio ao meu apartamento para ver que eu estava me cuidando. Voltei para o hospital pela manhã e teimosamente sentei no lobby, esperando, rezando que uma enfermeira ou um policial ao passar se sentiria mal por mim e me deixaria entrar para ver Calvin. – Quinn. – Eu disse, e minha própria voz soou muito estranha e distante. Ela parou e olhou para mim, estendendo a mão e tomando fôlego. – Por que você está aqui? – Você sabe porquê. Eu só quero saber se ele está… ninguém vai contar nada para mim. Quinn tirou o casaco. Ela parecia elegante de terno e gravata. Porra, eu estava tão cansado. Ela olhou de volta, segurando o casaco contra o peito com os dois braços cruzados. – Calvin está bem. Eu soltei um suspiro trêmulo e tive que pegar o corrimão na parede.

317

– Você sabe, todos os garotos o chamam de Sr. Invencível. – Ela apontou com um pequeno sorriso. Fechei os olhos, tirei os óculos escuros e rapidamente os esfreguei na manga. – Ele está realmente bem? – Sim. Eles já o tiraram da UTI. Eu coloquei meus óculos de volta e olhei para ela. – Obrigado. – Eu sussurrei. Quinn pareceu hesitar por um minuto, olhando por cima do ombro uma ou duas vezes. – Veja. Eu sei que a família de Calvin está aqui agora. Eles foram notificados ontem à noite. – Pensei na fotografia na caixa de Calvin embaixo da cama. – Mas eu posso ir falar com Calvin e obter permissão para vê-lo. Eu queria isso. Mais do que tudo. Vê-lo vivo e respirar e me desculpar até que eu estivesse rouco, mas não parecia certo. Eu não podia fazê-lo se sentir obrigado a me ver. E essa foto. A expressão de Calvin naquela foto me incomodou. Um homem infeliz. Um homem com segredos. Eu sabia naquele momento que sua própria família não sabia que ele era gay. Que pesadelo. – Não. – Eu disse, tendo que limpar minha voz. – Está tudo bem. – Tem certeza? – Quinn perguntou surpresa. Eu balancei a cabeça e dei um passo para trás. – Ele precisa descansar. – Fiz uma pausa. – Posso te fazer uma pergunta? Sobre o caso? Quinn encolheu os ombros e assentiu.

318

– Claro. – Duncan... – Ele está vivo. Você não o matou. – Interveio ela. – Oh. Ok. Bom. Eu acho. – Como Calvin sabia onde me encontrar? – Eles encontraram uma impressão em seu apartamento. Ele correu pelo sistema e voltou com Duncan Andrews. Ele foi condenado por agressão contra seu tio-avô há um ano ou mais. O falecido Edward Andrews, devo dizer. – A propriedade. – Respondi. Ela assentiu. – Ele não tinha testamento, não deixou nada para Duncan. Calvin mencionou que ele falou com você no telefone e que você estava almoçando com aquele cara. Quando as impressões voltaram e percebemos que era o mesmo Duncan, ele tentou ligar para avisá-lo para ficar longe, mas você nunca respondeu. – Eu fui para a biblioteca e deixei meu telefone para vibrar. Às vezes eu não... percebo. – Sim, bem, ele ligou para o Emporium, seu pai, e então ele experimentou o Good Books. A Sra. Harrison disse que você estava lá para um evento. Calvin saiu fodido sem mim. Lembrei-me, quando avistei Beth na noite anterior, ela estava desligando o telefone. Conversando com Calvin momentos antes de revelar o Tamerlane, e o evento inteiro ir para o inferno, por cortesia minha.

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– Como ele entrou na minha loja e apartamento? – Roubou suas chaves e fez cópias, aparentemente. – Respondeu Quinn. – Vou ser preso? – Perguntei em seguida, meio que surpreso com a minha pergunta. – Eu tive que atirar nele... Duncan. Eu já tinha passado por isso com os oficiais que responderam ao chamado, mas se eu não podia obter a confirmação do próprio Calvin, a palavra de sua parceira era tão reconfortante quanto. – Não. Inferno, não. Duncan Andrews matou brutalmente duas pessoas e agrediu você e seu próprio tio. Ele atirou em um detetive. Ele é definitivamente instável e provavelmente alegará insanidade, mas não, Sebastian. Você não vai para a cadeia. – Respondeu Quinn. Havia isso, pelo menos. ‡‡‡ EU NÃO ouvi de Calvin o resto da semana. Então eu acho que o que poderia ter acontecido entre nós acabou. Eu sei que eu tinha dito que ficaria bem com isso desde que ele estivesse vivo e bem, mas com toda a honestidade, eu não estava bem. Eu nunca me senti assim. Nunca me senti tão impotente e quebrado e devastado. Eu só conhecia Calvin por duas semanas, mas senti como se tudo na vida tivesse levado até nosso encontro. Nós deveríamos nos encontrar. Eu deveria amálo.

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Tentei apaziguar a amargura dentro de mim com o conhecimento de que nosso relacionamento certamente azedaria, como o meu com Neil. E se você namorou um policial no armário, você namorou todos eles. Mas isso só me fez ter que me trancar no banheiro do Emporium um pouco para que eu pudesse enxugar a porra dos olhos. Eu não podia vencer. E assim foram os dias até o natal. Estava nevando quando eu me preparava para ir para a casa do meu pai. Ele se ofereceu para vir até mim, mas eu precisava sair. Precisava andar e respirar aquele ar frio e festivo e, de uma vez por todas, aceitar o que o universo havia estabelecido para mim. Eu não começaria o ano novo com tanta escuridão na minha vida. Houve uma batida rápida na minha porta, e eu amaldiçoei com o pensamento de que Pop sentiu que precisava vir e ter certeza que eu chegasse ao seu apartamento bem. – Indo. – Eu gritei, saindo do banheiro e secando minhas mãos na minha calça. – Pop. – Eu resmunguei quando abri a porta. Calvin olhou para cima. Minha respiração ficou presa e meu estômago ficou cheio de borboletas. – Cal. – Eu sussurrei. – Estou interrompendo? – Ele perguntou. – N-não, não. Eu apenas... Eu olhei para ele. De pé, respirando, o braço em uma tipoia com a jaqueta sobre o ombro. – Você está realmente aqui.

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Ele levantou alguns pedaços de papel dobrados. – Eu precisava retornar suas cartas. – Cartas? Ele as entregou. – Inteligente. Sobre Duncan. Você imaginou tudo isso sem nenhuma das informações que eu tinha disponível. Senti

meu

rosto

esquentar

quando

abri

as

anotações,

eu

tinha esquecido sobre isso. Minhas evidências contra Duncan, para o caso de eu sair machucado. Minhas cartas de despedida para Pop e para Calvin. – Eu não... me desculpe por ter deixado isso. Eu não estava pensando. – Seb. – Ele disse. – Posso te dizer uma coisa? Eu engoli em seco e assenti. Sua expressão era crua e nua, tão exposta, diferente da aparência habitual que Calvin usava. – Eu sei que você não poderia estar com Neil porque ele negou seu relacionamento com você. Olha... bebê... eu não sou melhor. Eu cerrei meus dentes com força, mas assenti. Quanto hipócrita eu seria ao negar Neil, mas passar pelo mesmo assunto com Calvin? Isso era para o melhor. – Então eu contei para minha família. Eu imediatamente olhei para cima. – O que? Calvin parecia um pouco triste. – Eles vieram me ver enquanto eu estava no hospital. Nunca disse a nenhum deles que sou... gay. – Está tudo bem? – Perguntei, mas sabia que não estava.

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Calvin forçou um sorriso em seu rosto. – Eu sei que não é muito, mas se isso é um passo na direção certa para você... Eu deixei cair os papéis no chão e agarrei-o em um abraço. – Ai! Foda-se, bebê! – Eu sinto muito! – Eu exclamei, me afastando. Calvin estremeceu e colocou a mão no meu ombro, conseguindo outro sorriso. – Eu te amo, Sebastian. Você sabe aquela coisa de chorar Porque você está tão feliz? Eu estava muito perto disso. Eu sorri e limpei sob meus óculos. – Sim, bem, você não é tão ruim mesmo. – Eu disse, sorrindo. – Feliz Natal. – Feliz Natal, Cal. – Posso entrar? Ou vamos ficar no corredor para isso? Eu zombei e ri. – Quer vir tomar café com meu pai e eu? Calvin sorriu e foi lindo. – Eu gostaria.

323

Se alguém tiver interesse em conhecer mais a obra de Edgar Allan Poe, recomendo o livro “Contos de Imaginação e Mistério” – https://bit.ly/2GHDnOl

324
C.S. Poe ( Snow & Winter #1 ) - The Mystery of Nevermore

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