03-Livros históricos

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Livros históricos do Antigo Testamento Josué O livro de Josué toma o nome do protagonista dos fatos nele contidos. Moisés, libertando o povo da escravidão dos egípcios, organizou-o na península do Sinai e o conduziu até às margens do Jordão. Para continuar a mesma missão de Moisés, sucede-lhe Josué. Tinham na sua frente duas tarefas: ocupar a terra de Canaã ou Terra Prometida, expulsando os antigos habitantes, e dividir, o país entre as várias tribos de Israel. O livro de Josué é a narração, ora pormenorizada e viva, ora esquematizada, desta grande empresa. Daí a divisão lógica do livro em duas partes: ocupação da Terra Prometida e sua partilha; segue-se um apêndice sobre os últimos fatos de Josué. Os fatos aqui resumidos abrangem um período de cerca de 30 anos, como se pode inferir de dois indícios oferecidos pelo próprio livro. Josué, sendo quase da mesma idade de Caleb (Núm 13:68;14:6-38), tinha, no tempo do Êxodo, aproximadamente 40 anos (Jos 14:7); morreu com 110 anos. Tendo em conta os 40 anos passados no deserto, resulta que empreendeu a ocupação da Palestina aos 80 anos, sobrevivendo mais trinta. Cronologicamente, esses 30 anos coincidiram com a época de 'el-Amarna se, conforme alguns, colocarmos o Êxodo no reinado de Amenófis II; se, conforme outros, o colocarmos no de Menefta, então coincidiram com o fim do reinado de Ramsés III (1198-1167) e de seus fracos sucessores. Duas indicações do próprio livro de Josué estariam a favor dessa data: não existe indício algum duma dominação dos egípcios na Palestina; pelo contrário, encontramos firmemente estabelecidos e fortalecidos os filisteus (13:2-3), dois fatos explicados pela decadência do Egito sob a dinastia (XX) dos Ramésidas. O relato do glorioso passado visa à uma dupla finalidade: evidenciar a fidelidade divina no cumprimento das suas promessas (vide 21:43) e agir sobre o povo como um estímulo a repelir o desânimo no tempo da provação e a continuar fielmente no serviço do Senhor. O livro de Josué foi considerado pelas escolas críticas do século XIX, intimamente ligado ao Pentateuco. Os mesmos documentos do Pentateuco teriam servido para a sua compilação, que seria obra de vários autores sucessivos, e cuja última redação teria visto a luz por volta dos séculos V ou IV a.C. Hoje, a dita crítica modificou bastante a sua hipótese; começa-se, também por parte da maioria dos racionalistas, a considerar o livro de Josué como um livro independente; reconhece-se que a sua composição é diferente da composição do Pentateuco, formando um conjunto distinto e bastante harmônico. É uma espécie de retorno ao que a tradição judaica e cristã sempre defendeu. Apesar dessas concessões, entretanto, não se deixa de impugnar, embora sem sólido fundamento, a unidade do livro e a sua origem antiga. É verdade que se encontram alguns trechos de, estilo diferente, certas expressões e algumas repetições discordantes do corpo do

livro, mas para explicar isso seria suficiente supor um único autor que tenha aproveitado documentos parciais. Da unidade do livro não se pode facilmente chegar à determinação concreta e segura nem da data de origem, nem do autor. Alguns indícios levariam a concluir que o livro é anterior ao tempo de Isaías (cf. 8:28 com Is 10:28), de Salomão (16:10 com 1 Rs 9:16), de Davi (15:63 com 2 Sam 5:6-9). Não faltam, entretanto, dificuldades em contrário, que podem, porém, ser adequadamente solucionadas. Uma das principais é a repetição da fórmula: "até o dia de hoje" (4:9; 5:9; 6:25; 7:26; 8:29; 9:27; 10:27; 13:13; 14:14; 15:63; 16:10; 22:3-17), que faz supor se tenha passado um longo período de tempo entre os fatos e a composição do livro. Mas, os trinta anos decorridos entre estes fatos e a morte de Josué são espaço de tempo suficiente para legitimar tais expressões. A origem antiga do livro de Josué e o fim que o autor sagrado se propôs contribuem para fortalecer a autoridade do livro. Os seus relatos são confirmados, em muitos pontos, pelos documentos oficiais encontrados em el-Amarna, a oriente do Egito, bem como pelas escavações feitas na Palestina desde 1902 especialmente em Jericó, Betel, Gezer e Laquis, que nos revelaram vestígios da invasão dos israelitas, ou pouco antes. Juízes Juízes foram chamados certas personagens insignes que, depois da morte de Josué até à constituição do reino - isto é, desde o século XII ao XI a.C. - libertaram, em várias circunstâncias, o povo de Israel dos inimigos. Não formaram uma série ininterrupta, mas eram chamados pelo Senhor segundo as necessidades. Eram uma espécie de "ditadores" que, cumprida a missão libertadora, continuavam a exercer autoridade sobre o povo pelo resto da vida. Não dominavam sobre todo o povo, mas só nas tribos que libertavam do inimigo; desta forma não é impossível que alguns juízes exercitassem ao mesmo tempo sua função. O livro dos juízes narra as empresas desses beneméritos libertadores do povo eleito. Em vez de uma história propriamente dita, da época, é uma coleção de memórias dos diversos heróis. São doze ao todo, classificados em maiores e menores, não tanto pela diferente importância dos empreendimentos e dos heróis, quanto pelo modo de serem apresentados. Dos menores, o autor contenta-se com citar o nome, alguma notícia da família, a duração de sua atividade e o lugar da sepultura, sem especificar o empreendimento; ao passo que dos maiores narra a história com mais particularidades, segundo um esquema fixo, que comporta quatro momentos: o pecado do povo (práticas idolátricas), o castigo (dominação estrangeira), o arrependimento e a libertação por obra de um juiz. Esse esquema está em perfeita harmonia com o pensamento dominante (2:11-19) da introdução especial (2:6-3:6) ao corpo do livro, que defende a tese segundo a qual Israel foi feliz enquanto se manteve fiel ao Senhor, e infeliz quando se apartou dele. Com isto dá-nos a conhecer a finalidade do autor: afastar eficazmente os israelitas do culto idolátrico. Destarte o corpo da obra resulta composto, com sua própria introdução, à qual foi anteposta outra introdução geral (1:1-2:5) e foram acrescentados dois apêndices (17-18 e 19-221). Não é fácil precisar a data dos dois fatos narrados nesses apêndices; há, contudo, razões sérias para admitir que ambos se deram nos primeiros tempos dos juizes, pois no episódio dos danitas

aparece como sacerdote um neto de Moisés (Jz 18:30) e um neto de Arão é contemporâneo de outro episódio. A cronologia do corpo do livro é uma das dificuldades mais laboriosas que possam ocupar os intérpretes e entre as soluções propostas não há nenhuma que satisfaça plenamente. Como quer que seja, sem entrar em discussões inúteis, basta recordar que segundo (1Rs 6,1), entre o Êxodo e a construção do templo (4° ano do reinado de Salomão) passaram 480 anos. Portanto, se desse número subtrairmos 4 anos de Salomão, 40 de Davi e outros tantos de Saul (At 13:21), e ainda 70 anos que decorreram desde o Êxodo à primeira opressão, restariam ainda 330 anos para o período dos juízes. Esse resultado estaria suficientemente de acordo com o que disse Jefté ao rei de Amon (11:26). Somando-se, porém, todos os tempos das opressões e os dos domínios dos juízes, obtêm-se 410 anos. Deve-se, portanto, admitir que o autor relatasse números aproximados. A parte principal (2:6-16:31) é obra de um só autor, como prova o esquema delineado e fielmente seguido em toda a narração. O autor, porém, não podia ter sido testemunha de tudo o que narra, já que sua história abrange um período de quase dois séculos. Serviu-se, portanto, de documentos preexistentes e de tradições orais. A sua fidelidade às várias fontes se manifesta na concisão com que narra fatos de máxima importância e que um escritor menos escrupuloso teria ampliado a seu bel-prazer. Quando foi composto o livro? Com boa verossimilhança pode-se crer que foi nos primeiros anos do reinado de Saul. Com efeito, quatro vezes observa-se nos apêndices que os inconvenientes narrados aconteceram quando "em Israel não havia rei e cada um fazia o que lhe agradava." Tal coisa só podia ter sido escrita nos primeiros tempos da monarquia, quando se gozava dos seus bons efeitos e ainda não pesavam gravames que sobreviriam mais tarde. Rute A comovente história de Rute, que dá o título a este opúsculo, é um idílio pela suavidade e pelo ambiente campestre; um pequeno drama pela variedade e vivacidade das cenas. Apenas um terço de todo o livro pertence ao gênero narrativo, sendo o resto, diálogo. Os quatro capítulos em que se costuma dividi-lo são como quatro atos no drama; podemos assim resumi-los: 1. Em companhia da sogra que volta à pátria. Rute, jovem moabita, viúva sem filhos, de um hebreu que emigrara de Belém, não abandona a sogra que, depois da morte do marido e dos filhos, deseja voltar ao torrão natal. 2. A respigadura.. Para o sustento próprio e o da sogra, Rute vai respigar atrás dos segadores, conquistando com os seus encantos e suas virtudes a afeição de Booz, rico proprietário, parente de seu sogro. 3. A noite passada na eira. Por conselho da sogra, que pensa em casá-la com Booz, Rute passa uma noite junto de Booz na eira da colheita e aproveita a ocasião para lembrar ao mesmo o dever de desposar a viúva do parente falecido sem filhos. 4. As núpcias de Booz com Rute. O convite de Rute agrada a Booz, mas há outro parente com direito de precedência. Superado o obstáculo pela desistência deste parente, Booz desposa Rute, que o torna pai de Obed, de quem nasceu Isaí (Jessé), pai, por sua vez, do grande rei Davi, antepassado do Messias.

Dessa relação com Davi, provém a importância do opúsculo, bem como o seu lugar no cânon, entre Juízes e Samuel, ao primeiro dos quais pertence pela época dos acontecimentos narrados (Rut 1:1), e com o segundo se relaciona pela fundação da dinastia davídica, cf.(1Sam 16) (2Sam 2-8). É aqui, portanto, que as Bíblias gregas e latinas o inserem; os hebreus, antigamente, também o colocavam aqui, e só na Idade Média, devido ao uso litúrgico, foi colocado, juntamente com os outros quatro opúsculos (Cânt, Ecl, Lani, Est), entre os componentes da última das três partes na qual eles dividem os Livros Sagrados. Além desta importância histórica, Rute oferece numerosos e preciosos ensinamentos. A protagonista é um modelo de, piedade filial, de dócil obediência para com a sogra, de espírito de sacrifício no cumprimento destes seus deveres. Na sua história sobressai o papel da divina Providência que, por caminhos inesperados, premia a virtude de Rute, dando-lhe uma posição social elevada. Além disso, sob o aspecto religioso, é digno de nota como esta estrangeira, que deixa a pátria e os concidadãos para não abandonar a sogra hebreia, não somente é recebida na verdadeira fé para fazer parte do povo de Deus, mas também teve a honra de ser inscrita na genealogia do Messias (Mt 1:5). O autor de Rute nos é totalmente desconhecido. O tempo em que foi escrito, deve-se deduzir do próprio livro. Sem dúvida correu muito tempo entre os acontecimentos e sua narração (cf. 4:7). A linguagem, afora algumas particularidades, é da boa época da monarquia; o estilo, simples e polido, a beleza da narrativa, a pintura viva dos caracteres e dos costumes colocam Rute entre os melhores modelos de prosa narrativa do Antigo Testamento. Em Rute temos a amenidade da novela unida à singela veracidade histórica. Samuel O livro de Samuel, dividido pelos gregos e pelos latinos - não pelos hebreus - em dois, recebe o nome do santo profeta, cujas gestas constituem os seus primeiros capítulos, e cuja ação o dominam inteiramente. A matéria tratada divide-se marcadamente em três partes, segundo as três personagens que governam sucessivamente o povo de Israel: Samuel, Saul e Davi. 1a parte. Samuel, o último Juiz: 1) Nascimento de Samuel (1:1-2,10); sua juventude a serviço do templo; reprovação do sacerdote Heli e de seus filhos (2:11-3,21). 2) Primeira guerra filistéia; derrota, captura da arca, morte de Heli e de seus filhos (4). Retorno da arca santa (5-7). 3) Judicatura de Samuel: reforma religiosa, segunda guerra filistéia, vitória; governo de Samuel (7:3-17). 4) Mau governo dos filhos de Samuel. O povo pede um rei (8) Saul é ungido e proclamado rei (910). Vitória sobre os amonitas (11). Samuel abdica e despede-se do povo (12). 2a parte. Saul, primeiro rei: 1) Terceira guerra filistéia; desobediência de Saul; audácias de seu filho Jônatas; vitórias. Sumário do reinado de Saul (13-14). 2) Vitória sobre os amalequitas; e outra desobediência de Saul, que é por isso reprovado (15).

3) Samuel unge secretamente rei a Davi, que é chamado à corte de Saul, assaltado por mania furiosa (16). 4) Quarta guerra filistéia. Davi vai ao acampamento e mata o gigante Golias (17:1-54). Amizade de Jônatas com Davi e inveja de Saul para com o mesmo (17:55-18:9). 5) Saul procura matar Davi, o qual foge da corte (18,10-19,17); vai ter com Samuel, renova com Jônatas o pacto de amizade (19:18-21:1). 6) Davi anda errante por vários lugares (21:2-22:5) Saul mata os sacerdotes fautores de Davi (22:6-23). Davi em Ceila (23:1-13); em Zif salva-se de grave perigo (23:14-28) em Engadi poupa a vida a Saul (24) ofendido por Nabal, é aplacado por Abigail, que de pois desposa (25) novamente, poupa a vida a Saul (26) vive entre os filisteus (27). 7) Quinta guerra filistéia. Saul consulta a nigromante de Endor (28). Davi, afastado pelos filisteus (29), vence os amalequitas (30). Saul morre no campo de batalha (31) e Davi pranteia a sua perda (2Sam 1). 3a parte. Davi, fundador da dinastia (2Sam 2-24): 1) Rei de Judá em Hebron (2:1-7); guerra civil entre os dois partidos, progressos de Davi (2:8-3:5) assassínio de Abner (3:6-39) e de Isboset (4). 2) Rei de todos os Israelitas em Jerusalém (5:1-16) vitória sobre os filisteus (5:17-25) transladação da arca para Sião (6) promessa messiânica (7) conquistas no exterior (8) favores ao filho de Jônatas (9). 3) Desordens domésticas. Guerra amonita (10); duplo pecado de Davi (11); arrependimento de Davi (12); incesto de Amnon (13:1-22); vingança de Absalão (13:23-36); seu exílio e repatriação (13:37-14:33). 4) Revolta de Absalão (15:1-12) fuga de Davi (15:13-16:14) e entrada de Absalão em Jerusalém (16:15-17:23); guerra civil (17:24-18:8); morte de Absalão e luto de Davi (18:9-19:8). Davi retorna à capital (19:9-43) a rebelião de Seba é dominada (20:1-22) governo (20:23-26). 5) Diversos episódios. Cessa a fome, dando satisfação aos gabaonitas (21:1-14). Heroísmo de alguns homens contra os filisteus (21:15-22). Cântico triunfal de Davi (22). - Últimas palavras de Davi (23:1-7). Os heróis campeões (23, 8-39). Recenseamento do reino; a peste; ereção de um altar sobre o Sião (24). Todos esses acontecimentos encheram o período de cerca de um século e meio, aproximadamente os anos 1120-970 a.C., um lapso de história israelita isento de toda interferência quer do Egito, quer da Assíria e da Babilônia. Ao escrever o livro, o autor sagrado tem por finalidade mostrar-nos as vias providenciais pelas quais foi estabelecida no povo de Deus a monarquia e a dinastia davídica, de cuja cepa devia nascer o Messias, cujas glórias teriam perpetuado. Em Samuel apresenta-nos o modelo do ministro fiel de Deus, em Davi o tipo de magnanimidade aliada a uma sincera piedade. Reis Aos livros de Samuel, que narram a fundação da monarquia hebraica seguem-se Reis, cuja história continua até sua queda sob os assaltos dos poderosos impérios da Assíria e da Babilônia,

isto é, desde os últimos dias de Davi (cerca de 970 a.C). até à tomada de Jerusalém em 587 a.C., uma duração de cerca de quatro séculos. A cisão política e religiosa, que se seguiu à ascensão ao trono do segundo sucessor de Davi, cindiu a nação em dois reinos rivais, o de Israel e o de Judá, e findou com o desaparecimento do primeiro na luta com a Assíria (721 a.C.), delimitando este lapso de tempo em três períodos, com reflexos análogos na composição da obra. O livro é escrito à base de um esquema simples e transparente, sobretudo na segunda e maior parte, daquela dos reinos separados. Seu enredo é formado pelas notícias sobre cada um dos reis, quer de Judá, quer de Israel, redigido com um cunho uniforme e distribuído em três partes: 1) Introdução: sincronização do outro reino com o rei contemporâneo, duração do reinado no momento e para os reis de Judá também os anos de idade à elevação ao trono e nome da rainhamãe. 2) Corpo: qualidades morais relativamente à religião e ao culto mosaico, e breves referências a algum fato mais relevante. 3) Epílogo: envio para notícias mais amplas, aos "anais dos reis" (de Judá ou de Israel, segundo o caso), morte e sepultura. Nas linhas deste traçado, inserem-se os mais amplos e minuciosos relatos de coisas concernentes à religião e à atividade dos profetas, entre os quais avultam as grandiosas figuras de Elias e Eliseu. O interesse religioso, sobre o qual se fixa o olhar do autor sagrado, manifestase, inclusive nos poucos acontecimentos políticos narrados com abundância de pormenores fora do comum, como as ações de Acab (1Rs cc. 20-22), a ascensão de Jeú ao trono (2Rs 9:1-7), o cerco e libertação de Jerusalém do exército de Senaquerib (2Rs 18:13-19:37). Essas notícias mais abundantes formam o fundo do livro, ao passo que os esquemáticos perfis dos reis, donde lhe vem o título usual, constituem lhe como que a moldura e o enredo. As primeiras, o autor hauriu-as das histórias dos profetas, transmitidas, por escrito ou de viva voz; pelos discípulos dos mesmos. Nos segundos, isto é, na mencionada moldura, devemos ver um trabalho mais pessoal do redator final, baseado por certo em bons documentos. O valor histórico do livro dos Reis é incontestável. Garantido pela inspiração divina, é confirmado por documentos paralelos da história profana, cabendo a primazia à assírio-babilônica, que aqui se nos apresenta com tão grande riqueza, não igualada para nenhum outro livro do Antigo Testamento. Não nos foi transmitido quem seja o autor de Reis nem a data da sua existência; seu nome permanecerá provavelmente para sempre ignorado, ao passo que a idade pode ser deduzida do próprio livro. Se os últimos quatro vv. (2Rs 25:27-30) não são um apêndice ou acréscimo posterior, como em si é possível, sem, contudo, parecer provável, o autor teria terminado a sua obra entre os anos 560 (37° da prisão de Joiaquin) e 538 a.C., que marca o fim do exílio babilônico, porque não faz nunca alusão ou referência a este grande acontecimento. É visível o caráter essencialmente religioso desta história dos reis. Numerosos ensinamentos de doutrina e vida religiosa estão contidos especialmente na atividade dos profetas, que ocupam continuamente o centro da cena, e nas reflexões do autor sagrado sobre o procedimento dos reis e dos povos, que frequentemente rematam o quadro. Cumpre não deixar de notar o impressionante fato de que, enquanto no reino cismático de Israel houve em apenas dois séculos (c. 930-730 a.C.), nada menos de oito mudanças de dinastia, no vizinho e politicamente mais fraco reino de Judá dominou, por mais de 4 séculos (c. 1010-586 a.C.), constante e invariavelmente a descendência de Davi, embora não faltassem as violências e os contrastes a partir do exterior (intromissões de Atalia, de Necao, de Nabucodonosor). Verificava-se assim a promessa divina feita a Davi por boca do profeta Natan (2 Sam 7), anúncio e penhor do reino do

Messias, filho de Davi por excelência (Lc 1:32), insigne pedra miliar na preparação da salvação humana. Crônicas Samuel e Reis receberam uma obra paralela nas Crônicas. Nas Bíblias hebraicas constituem os mesmos um só livro e tem o título equivalente ao nosso termo "anais." É aquilo que nos Reis se lê tantas vezes no epílogo dos respectivos reinados. Seguindo uma sugestão de S. Jerônimo (no "prólogo Baleato" ou prefácio aos livros de Samuel e Reis), os modernos dão, comumente a esta obra, o nome de "Crônicas." Na versão grega dos LXX acha-se, dividida em dois livros e intitulase "Paralipômenos," que significa "coisas omitidas"; subentende-se, nos livros dos Reis. Este título com a respectiva divisão introduziu-se na Igreja latina. A narração das Crônicas, excetuando-se as genealogias dos nove primeiros capítulos e a alusão ao decreto de Ciro nos dois últimos vv., abrange o mesmo espaço de tempo de Samuel e Reis. Distingue-se deles, porém, pela extensão da matéria, pois, de um lado, restringe-se ao reino de Judá e, de outro, acrescenta muitas notícias relativas ao culto divino. Na verdade, a grande ideia central de toda a obra é o templo. O templo, único lugar destinado ao culto legítimo do Deus de Israel, é o centro vital de Jerusalém; Jerusalém é o centro de todo o Judá, que é a parte fiel do povo eleito. Destarte toda a vida de Israel palpita em torno do templo, o qual não é considerado como simples edifício material, fosse embora simbólico, mas como verdadeiro fator de unidade religiosa e nacional para todo Israel, mediante o único culto legítimo, exercido somente pelos descendentes de Levi. Donde o cuidado especial, a insistência, dir-se-ia, com que o autor desce a certas particularidades que a nós, tão afastados da sua época, nos parecem supérfluas, mas que então constituíam o fundamento da vida coletiva: assim as importantes genealogias, que eram verdadeiros documentos oficiais para provar o direito que todo o levita tinha de exercer os atos de culto; assim, as minuciosas normas litúrgicas, as amplas descrições de solenidades (da Páscoa, sobretudo), com o número das vítimas imoladas, sem faltar sequer as várias exceções ao rito legítimo, e todos os trabalhos executados no próprio edifício, desde os preparativos feitos por Davi até à restauração de Josias. Paralela, mas subordinada a esta ideia principal, desenvolve-se outra, a da dinastia davídica. A família davídica é a única depositária do poder legítimo sobre todo o Israel. Os seus membros, portanto, são os principais servos de Javé, e os reis que dela descendem têm como dever primordial o cuidado do templo, pois a sua autoridade régia é um reflexo da autoridade divina, que brilha no templo. Todavia, a distinção entre o poder régio e o sacerdotal é radical: o rei não deve usurpar funções sacerdotais. O monarca é realmente o primeiro servo do templo, mas é o primeiro servo "externo," fora do recinto sagrado. Destas duas grandes ideias basilares, tomadas em conjunto, explica-se por que o autor se estenda tanto na citação das genealogias de Levi e de Judá (à qual pertencia a família de Davi) e por que se desinteresse do reino do norte, que constituía a parte mais numerosa do povo eleito. Este reino rebelara-se contra a dinastia davídica e rejeitara o culto do templo de Jerusalém, fabricando para si os bezerros de ouro. Por isso, depois de narrar a sua defecção, o autor alija-o do esquema de sua obra. É evidente, e em mais de uma passagem (1 Crôn 10:13-20:1 etc.), que o autor supõe conhecida a história que narra, ao passo que, excetuadas as particularidades litúrgicas, raríssimos são os fatos que narra com exclusividade. Destes fatos, porém, um há que, em 1880, recebeu esplêndida confirmação das descobertas arqueológicas (cf. 2 Crôn 32:30). Quanto às frequentes

divergências entre as cifras de Crônicas e Reis, cumpre recordar que os números, no texto hebraico, têm muitas vezes contra si uma componente desfavorável; e muito mais em Crônicas, que na transmissão manuscrita, são dos livros mais corrompidos e mal conservados de toda a Bíblia. Literariamente, Crônicas são um produto da decadência. O material linguístico situa-o entre as obras mais tardias da Bíblia hebraica. O fraseado tortuoso, duro e insistente, é testemunho de uma época em que o hebraico já não era a língua comum, mas ia cedendo lugar ao aramaico. Esdras No texto hebraico e na versão dos LXX, Esdras e Neemias constituem um só livro, com o título comum de Esdras. Mas já no tempo de Orígenes (inícios do séc.III) eram divididos em dois. Na Vulgata latina são intitulados I e II de Esdras. Desde épocas longínquas, porém, chamam-se habitualmente Esdras e Neemias, nomes tomados da principal personagem de cada um deles. Com o título de 3° de Esdras, as Bíblias latinas (1 Esdras nas gregas) contam com um livro composto de nove capítulos, e que apresenta versão diferente daquela dos dois últimos capítulos das Crônicas, de todo o Esdras (com a transposição de 4:7-24 na fim do c. 1) e de (Neemias 8,112). Além disso, tem de próprio a longa descrição (3,1-5,6, antes de Esdras 2) de uma disputa literária entre três pajens da corte de Dario, o terceiro dos quais, Zorobabel, tendo saído vencedor, obteve do rei todas as facilidades para reconduzir à pátria os seus compatriotas judeus. Por causa desse relato não canônico, isto é, não inspirado, todo o livro foi colocado pela Igreja católica entre os apócrifos. O livro canônico de Esdras-Neemias descreve a volta dos judeus do exílio babilônico e a restauração religiosa, e, em parte, também a política da sua comunidade. Por sua própria natureza divide-se em três partes, em cujo centro estão as três personagens que encabeçam o movimento. 1. Regresso, sob as ordens de Zorobabel no tempo de Ciro (no 537 a.C) e reconstrução do templo (Esd 1-6). Decreto de Ciro permitindo a reconstrução do templo (1); elenco dos judeus que regressaram guiados por Zorobabel (2). Ereção do altar (3:1-6) e início da construção do templo (3:7-13) obstáculos da parte dos adversários e, suspensão dos trabalhos (4:1-5). Obstáculos opostos mais tarde pelos inimigos à reconstrução da cidade (4:6-24). Prosseguimento da construção do templo, término e inauguração entre grandes solenidades (5-6). 2. Retorno sob a direção de Esdras, no sétimo ano de Artaxerxes, e reforma dos costumes (Esd 7,10). Esdras obtém de Artaxerxes rescrito favorável (7); preparativos para a volta (8:1-30) partida e chegada a Jerusalém (8:31-36). Deploração da desordem dos matrimônios mistos (9), que são suprimidos (10:1-17). Rol dos culpados (10:18-44). 3. Regresso de Neemias, no vigésimo ano de Artaxerxes, reconstrução da cidade e restauração religiosa (Ne 1-13). Tendo recebido notícias alarmantes, Neemias obtém do rei permissão para ir a Jerusalém (1:12:10); inspeção das muralhas e decisão de reconstruí-las (2:11-20) elenco dos que restauraram

alguma parte delas (3) oposição e insídias de Sanabalat e outros inimigos (4). Extirpação da desordem econômico-social (5). Novas insídias dos inimigos; apesar delas, a muralha é terminada (6). Recenseamento do povo: elenco dos repatriados (7:6-57 = Esdr 2:1-55). Leitura pública da lei mosaica e festa dos Tabernáculos (8). Confissão pública e penitência (9) solene renovação da aliança com Deus (10). Medidas para repovoar Jerusalém (11:1-24); outras cidades repovoadas (11:25-36). Lista dos sacerdotes e levitas (12:1-26). Dedicação das muralhas de Jerusalém (12:27-42). Regulamentação das ofertas sagradas e dos matrimônios mistos (12:4313, 14:23-31); medidas para a observância do sábado, no ano trigésimo segundo de Artaxerxes (13:15-22). Os fatos aqui narrados abrangem o período de um século aproximadamente (537-432 a.C.), período importantíssimo para a história do povo eleito e da religião em geral.. O autor não pretende, porém, deixar-nos uma história completa daquele período memorável, mas descrevenos apenas os fatos principais, agrupado mais segundo uma ordem lógica do que segundo a sucessão cronológica. Neemias Neemias, cujo nome significa ―Deus Consola‖, era servo judeu do rei persa Artaxerxes (Longímano). Era copeiro do rei. Esta era uma posição de grande confiança e honra, e desejável, pois dava acesso ao rei em ocasiões em que este estava de espírito alegre e disposto a conceder favores. Entretanto, Neemias era um daqueles fiéis exilados que preferiu Jerusalém acima de qualquer ―causa de alegria‖ pessoal. (Sal. 137:5, 6) Não era posição ou riqueza material que ocupava o primeiro lugar nos pensamentos de Neemias, mas, antes, a restauração da adoração de Deus. Em 456 a.C., os ―que remanesceram do cativeiro‖, o restante judeu que retornara a Jerusalém, não estavam prosperando. Estavam numa situação lamentável. (Nee. 1:3) A muralha da cidade era um entulho, e o povo era um vitupério aos olhos de seus adversários sempre presentes. Neemias estava pesaroso. Contudo, era o tempo determinado do Senhor Deus para que se fizesse algo a respeito das muralhas de Jerusalém. Com ou sem inimigos, Jerusalém com sua muralha protetora precisa ser construída como marco no tempo, em conexão com uma profecia que Deus dera a Daniel sobre a vinda do Messias. (Dan. 9:24-27) Por conseguinte, Deus guiou os eventos, usando o fiel e zeloso Neemias para executar a vontade divina. Neemias é, sem dúvida, o escritor do livro que leva seu nome. A declaração inicial: ―As palavras de Neemias, filho de Hacalias‖, e o uso da primeira pessoa no texto prova claramente isto. (Nee. 1:1) Originalmente os livros de Esdras e Neemias eram um só livro, chamado Esdras. Mais tarde, os judeus dividiram o livro em Primeiro e Segundo Esdras, e ainda mais tarde, Segundo Esdras veio a ser conhecido como Neemias. Há um intervalo de cerca de 12 anos entre os eventos finais de Esdras e os eventos iniciais de Neemias, cuja história abrange então o período do fim de 456 a.C. até depois de 443 a.C.. — Neemias 1:1; 5:14; 13:6. O livro de Neemias se harmoniza com o restante da Escritura inspirada, da qual faz legitimamente parte. Contém numerosas alusões à Lei, fazendo menção de assuntos tais como alianças matrimoniais com estrangeiros (Deut. 7:3; Nee. 10:30), empréstimos (Lev. 25:35-38; Deut. 15:711; Nee. 5:2-11) e a Festividade das Barracas (Deut. 31:10-13; Nee. 8:14-18). Ademais, o livro marca o início do cumprimento da profecia de Daniel de que Jerusalém seria reconstruída, mas não sem oposição, ―no aperto dos tempos‖. — Dan. 9:25.

Que dizer da data de 455 a.C. para a viagem de Neemias a Jerusalém, a fim de reconstruir a muralha da cidade? Evidências históricas fidedignas de fontes gregas, persas e babilônicas apontam para 475 a.C. como o ano da ascensão de Artaxerxes e para 474 a.C. como seu primeiro ano de reinado. Isto faz com que seu 20.° ano seja 455 a.C.. Neemias 2:1-8 indica que foi na primavera setentrional daquele ano, no mês judaico de nisã, que Neemias, o copeiro real, recebeu do rei permissão para restaurar e reconstruir Jerusalém, sua muralha e seus portões. A profecia de Daniel declarava que se passariam 69 semanas de anos, ou 483 anos, ―desde a saída da palavra para se restaurar e reconstruir Jerusalém até o Messias, o Líder‖ — uma profecia que se cumpriu de modo notável, se harmoniza tanto com a história secular como com a bíblica. (Dan. 9:24-27; Luc. 3:1-3, 23) Deveras, os livros de Neemias e Lucas se harmonizam notavelmente com a profecia de Daniel em indicar ao Senhor Deus como o Autor e Cumpridor de profecias verdadeiras! Neemias faz realmente parte das Escrituras inspiradas. Neemias é enviado a Jerusalém (1:1–2:20). Neemias fica grandemente perturbado com o relato de Hanani, que retornou a Susã, vindo de Jerusalém, trazendo notícias sobre os grandes apuros dos judeus ali, e sobre o estado derrocado da muralha e dos portões. Ele jejua e ora ao Senhor como o ―Deus dos céus, o Deus grande e atemorizante, guardando o pacto e a benevolência para com os que o amam e que guardam os seus mandamentos‖. (1:5) Confessa os pecados de Israel e pede que Deus se lembre do Seu povo por causa do Seu nome, assim como prometera a Moisés. (Deut. 30:1-10) Quando o rei pergunta a Neemias sobre o motivo de seu semblante triste, Neemias lhe conta sobre a condição de Jerusalém e pede permissão para voltar e reconstruir a cidade e sua muralha. Seu pedido é concedido, e ele viaja imediatamente a Jerusalém. Após uma inspeção noturna da muralha da cidade, para se familiarizar com o trabalho à frente, revela seu plano aos judeus, frisando a mão de Deus no assunto. Diante disso, dizem: ―Levantemo-nos, e temos de construir.‖ (Nee. 2:18) Quando os vizinhos samaritanos e outros ficam sabendo que o trabalho foi iniciado, começam a zombar e escarnecer. A muralha reconstruída (3:1–6:19). O trabalho na muralha começa no terceiro dia do quinto mês, participando unida mente na labuta os sacerdotes, os príncipes e o povo. Os portões da cidade e as muralhas entre estes são consertados rapidamente. Sambalá, o horonita, escarnece: ―Que fazem estes judeus decrépitos? . . . Acabarão num dia?‖ A isto, Tobias, o amonita, acrescenta seu escárnio: ―Mesmo aquilo que estão construindo, se uma raposa subisse contra aquilo, certamente derrocaria a sua muralha de pedras.‖ (4:2, 3) Quando a muralha atinge a metade de sua altura, os adversários associados ficam furiosos e conspiram vir lutar contra Jerusalém. Mas Neemias exorta os judeus a lembrar-se de ―Deus, o Grande e o Atemorizante‖, e a lutar por suas famílias e por seus lares. (4:14) O trabalho é reorganizado de modo a enfrentar a situação tensa; alguns ficam de guarda com lanças, ao passo que outros trabalham com a espada sobre o quadril.4:18 Todavia, há também problemas entre os próprios judeus. Alguns deles cobram usura dos coadoradores de Deus, contrário à Sua lei. (Êxo. 22:25) Neemias corrige a situação, aconselhando contra o materialismo, e o povo aquiesce voluntariamente. O próprio Neemias, durante todos os seus 12 anos de governo. nunca reclama o pão devido a ele como governador, por causa do trabalho pesado a que o povo está sujeito. Os inimigos tentam então táticas mais sutis para interromper a construção. Convidam Neemias a descer para uma conferência, mas este replica que não pode largar o grande trabalho que está realizando. Sambalá acusa Neemias de rebelião e de planejar fazer-se rei de Judá, e contrata secretamente um judeu para amedrontar a Neemias, para que este se escondesse indevidamente no templo. Neemias não se deixa intimidar, e calma e obedientemente prossegue com sua

incumbência dada por Deus. A muralha é terminada ―em cinquenta e dois dias‖. — Nee. 6:15. Instruindo o povo (7:1–12:26). Há bem poucas pessoas e casas na cidade, porque a maioria dos israelitas reside fora, segundo suas heranças tribais. Deus orienta Neemias a reunir os nobres e todo o povo, a fim de registrá-los genealogicamente. Ao fazer isso, consulta o registro dos que voltaram de Babilônia. Convoca-se, a seguir, uma assembleia de oito dias na praça pública, junto ao Portão das Águas. Esdras inicia o programa, de pé num estrado de madeira. Bendiz a Deus e daí lê o livro da Lei de Moisés, desde o amanhecer até o meio-dia. É habilmente assistido por outros levitas, que explicam a Lei ao povo e continuam ‗a ler alto no livro, na Lei do verdadeiro Deus, fornecendo-se esclarecimento e dando-se o sentido dela; e continuam a tornar a leitura compreensível‘. (8:8) Neemias exorta o povo a festejar e a se regozijar, e a apreciar a força das palavras: ―O regozijo do Senhor Deus é o vosso baluarte.‖ — 8:10. No segundo dia da assembleia, os cabeças do povo realizam uma reunião especial com Esdras, para se inteirarem da Lei. Ficam sabendo da Festividade das Barracas que deve ser celebrada nesse sétimo mês, e tomam imediatamente providências para armar barracas para essa festa para Deus. Há ―muitíssima alegria‖ enquanto residem por sete dias em barracas, ouvindo dia após dia a leitura da Lei. No oitavo dia, realizam uma assembleia solene, ―segundo a regra‖. — Nee. 8:17, 18; Lev. 23:33-36. No 24° dia do mesmo mês, os filhos de Israel se reúnem outra vez e passam a se separar de todos os estrangeiros. Ouvem a leitura especial da Lei e então a recapitulação escrutinadora dos tratos de Deus com Israel, apresentada por um grupo de levitas. Esta tem como tema: ―Levantaivos, bendizei ao Senhor, vosso Deus, de tempo indefinido a tempo indefinido. E bendigam o teu glorioso nome, que é enaltecido acima de toda bênção e louvor.‖ (Nee. 9:5) Passam então a confessar os pecados de seus antepassados e pedem humildemente a bênção de Deus. Isto se dá na forma duma resolução atestada pelo selo dos representantes daquela nação. O inteiro grupo concorda em abster-se de formar alianças matrimoniais com os povos do país, em guardar os sábados, e em manter o serviço do templo e os trabalhadores. Uma pessoa de cada dez é selecionada por sorte para residir permanentemente em Jerusalém, dentro das muralhas. A dedicação da muralha (12:27–13:3). A dedicação da recém-construída muralha é um tempo de canto e felicidade. É ocasião de outra assembleia. Neemias providencia dois grandes coros de agradecimento e procissões para andarem sobre a muralha em direções opostas, encontrando-se finalmente para oferecer sacrifícios na casa de Deus. Fazem-se arranjos para contribuições materiais para o sustento dos sacerdotes e dos levitas no templo. Uma leitura adicional da Bíblia revela que os amonitas e os moabitas não devem ter permissão de entrar na congregação, e, assim, começam a separar toda a mistura de gente de Israel. Purificação da impureza (13:4-31). Depois de passar algum tempo em Babilônia, Neemias retorna a Jerusalém e descobre que se infiltraram entre os judeus novos atos condenáveis. Quão rapidamente as coisas mudaram! O sumo sacerdote Eliasibe chega a fazer um refeitório no pátio do templo para o uso de Tobias, um amonita, um dos inimigos de Deus. Neemias não perde tempo. Lança fora a mobília de Tobias e manda purificar todos os refeitórios. Descobre também que as contribuições materiais para os levitas foram descontinuadas, de modo que eles estão saindo de Jerusalém para ganhar a vida. Grassa o comercialismo na cidade. O sábado não é guardado. Neemias lhes diz: ―Acrescentais à ira ardente contra Israel, profanando o sábado.‖ (13:18) Ele fecha os portões da cidade no sábado para manter fora os negociantes, e ordena-lhes que fiquem longe da muralha da cidade. Mas há um mal pior do que este, algo que haviam concordado solenemente em não fazer de novo. Trouxeram esposas estrangeiras, pagãs, para

dentro da cidade. Já a prole de tais uniões não mais fala o idioma judaico. Neemias lhes faz lembrar que Salomão pecou por causa de esposas estrangeiras. Devido a este pecado, Neemias manda embora o neto de Eliasibe, o sumo sacerdote. Daí, organiza o sacerdócio e o trabalho dos levitas. Neemias termina seu livro com o simples e humilde pedido: ―Lembra-te deveras de mim, ó meu Deus, para o bem.‖ — 13:31. Ester É provável que desde o séc. V a.C. (cf. 2 Mac 15-27), os hebreus tenham celebrado a festa chamada "purim," em memória da eliminação do perigo de excídio decretado contra os seus antepassados durante a dominação persa. O livro de Ester narra os fatos que deram origem a essa festa, mostrando a providência especial usada por Deus com o seu povo eleito, naquela ocasião tão crítica. Duas redações nos chegaram deste livro: a hebraica e a grega dos LXX, com a única diferença, entre si, de que a grega, além da versão fiel do hebraico, contém mais seis seções, que, tomadas em conjunto, igualam a dois terços do livro hebraico. O rei da Pérsia, sob o qual se desenrolam esses acontecimentos, é chamado Ahasveros no texto hebraico (donde "Assuero" na Vulgata), transcrição imperfeita do nome persa Hsarjarsa, que os gregos transcreveram como Xerxes. A versão grega, ao invés, traz constantemente "Artaxerxes" no livro inteiro. Daqui as divergências em torno da pessoa do rei assim denominado. Hoje, a opinião mais comum e provável sustenta que seja Xérxes I, o qual reinou de 485 a 465 a.C. e é conhecido sobretudo por sua campanha infeliz contra a Grécia. Não perdeu, porém, a sua boa probabilidade a opinião dos antigos, assinaladamente de Eusébio e S. Jerônimo, de que se trata, ao invés, de Artaxerxes II, chamado o Mnemon (405-365 a.C.), que antes de subir ao trono tinha o nome de Arsu (V. PLUTARCO, Vida de Artaxerxes, I), forma abreviada ou carinhosa de Hsajarsu. O caráter efeminado de ambos os monarcas, como no-lo dão a conhecer os escritores profanos, condiz admiravelmente com o que se reflete no livro de Ester. Ambos entregues aos prazeres, ambos dominados pela influência de cortesãos e de mulheres, as histórias dos seus reinados são tecidas de intrigas, de amores ilícitos e também de, crueldades. Sobre Xerxes veja-se HERÓDOTO, Histórias, IX, 108-110. A respeito de Artaxerxes II, Plutarco, na Vida do mesmo, carrega as tintas sobre a sua moleza e volubilidade e afirma que no seu gineceu sustentava tantas mulheres quantos eram os dias do ano (24:3; 27:1-3; cf. Est 2:1-4). Esta é já uma das provas da verdade histórica do livro. Outras são: o conhecimento exato dos costumes persas, a descrição precisa do palácio real em Susa, confirmada por escavações recentes, a narração cheia de vida, colorido e particularizada, a ausência de todo anacronismo, a reiterada referência aos anais oficiais do reino (2:23; 6:10); o próprio fato da celebração da festa dos purim, desde tempos imemoriais, como foi dito acima, fato que, sem dúvida, deve sua origem a algum evento extraordinário na vida da nação hebraica; e não se tem provas para indicar outro qualquer, a não ser exatamente o que vem narrado neste livro. Pode-se ter como provável que, sobre um fundo comum, oral ou escrito, foram inicialmente redigidas: a narração hebraica atual e uma redação grega mais ampla; feita depois a tradução grega da narração hebraica, passou ela a ser adotada, inserindo-se as seções excedentes da redação grega, isto é, as seções deuterocanônicas. Assim chegou-se a atual versão grega, ao que parece, por obra do Lisímaco.

No que tange ao gênero literário, já S. Jerônimo notava grande diferença entre as duas redações, hebraica e grega, diferença que tem suas raízes profundas nos costumes estilísticos das respectivas literaturas. Mas, seja qual for o modo de pensar em torno disso, nenhuma das duas composições do livro de Ester tem por finalidade única recordar a origem da festa de purim, e sim também, e mesmo preponderantemente, mostrar os cuidados que Deus teve por seu povo naquele terrível transe da sua história sob a dominação persa; e bastaria isso, sem dúvida, para levar-nos a apreciá-lo altamente. Costuma-se lamentar sobre o livro o nacionalismo acanhado dos protagonistas hebreus e a sua dureza para com os adversários. Decerto, os seus sentimentos e atos estão assaz afastados da abertura de coração e mansidão do espírito cristão. Mas, cumpre julgar os homens pelo seu tempo. Em todas as épocas, até nos tempos modernos, acontecem casos de crueldades incompreensíveis.
03-Livros históricos

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